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JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO

AOS CADEIRANTES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Luciana Foletto Montefusco1

Prof. Drda Vânia de Fátima Matias de Sousa2

RESUMO: A inclusão de alunos com deficiência física no ensino regular é um assunto que vem sendo

abordado nas últimas décadas e, que apresenta grandes avanços no setor educacional. A educação física, uma disciplina curricular do ensino fundamental e médio, preocupada em atender as necessidades e especificidades desses alunos buscou oportunizar a práxis reflexiva na perspectiva inclusiva. Entretanto, por vezes essa prática não inclui ou garante efetivamente a participação desse aluno. Tendo essa compreensão, o estudo teve como objetivo analisar os benefícios dos jogos e brincadeiras para crianças cadeirantes como possibilidade de inclusão, proporcionando atividades lúdico-recreativas e prazerosas com o intuito de propiciar a interação e socialização desses alunos na turma do ensino fundamental. Caracterizando-se como uma pesquisa descritiva, utilizou-se como instrumento de coleta um questionário semiestruturado com análise de conteúdo, e a intervenção com práticas inclusivas nas aulas regulares de educação física. A pesquisa realizada em uma sala regular de ensino, contou com a participação de duas crianças com deficiência física e trinta crianças sem deficiência, de ambos os sexos, matriculadas no 8º ano do ensino regular no Colégio Estadual Branca da Mota Fernandes em Maringá-PR. Como resultado observou-se uma maior motivação e uma melhor participação do aluno cadeirante, nas atividades propostas em aula. Conclui-se que dentre outras situações, o fator de maior relevância deve-se ao professor em elaborar e adequar à aula para que esta possibilite a inclusão de alunos cadeirantes.

Palavras chaves: Inclusão. Jogos. Educação Física Escolar.

INTRODUÇÃO

A Educação Física como disciplina curricular do Ensino Fundamental e Ensino

Médio, está presente no desenvolvimento do educando em toda sua formação escolar,

não sendo diferente também para os alunos de inclusão com deficiência física, mais

especificamente, alunos cadeirantes.

A inclusão, por meio da educação, é apenas uma das dificuldades que as

pessoas com necessidades especiais enfrentam. Alunos estes que apresentam

limitações muitas vezes não só físicas, mas emocionais e de aprendizagens, além de

1 Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá - UEM; Pós-graduação em

Fisiologia do Exercício e do Desporto pela FACINTER-IBPEX. 2 Graduada em Educação Física pela UEL e em Pedagogia pela Fafifa; Especialista em

Psicopedagogia Clinica e Institucional pela Univale; Mestre em Educação Física pelo Programa de Pós Graduação Associado UEM/UEL; Doutorando do Programa de Pós Graduação em Educação da UEM.

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dificuldades em locomoções, acessibilidade, preconceitos e exclusões.

Cotidianamente essa temática perpassa como sendo um dos assuntos atuais

discutidos no âmbito escolar, por isto a importância de refletir, discutir e aprimorar a

cerca desse assunto, identificando assim, a necessidade de estudar e aprofundar os

conhecimentos sobre a inclusão a fim de atender as necessidades e expectativas

desse aluno nas aulas de Educação Física do ensino regular.

Este estudo teve como objetivo analisar o contexto dos jogos e brincadeiras

com possibilidade de inclusão de alunos com deficiência física (cadeirantes) na turma

do ensino regular. Conhecer o interesse e a necessidade dos alunos portadores de

deficiência física (cadeirantes); proporcionar atividades lúdicas e prazerosas para a

socialização dos alunos; integrar os alunos (cadeirantes) nas atividades propostas em

aula; promover o reconhecimento de valores como amizade, respeito, cooperação,

solidariedade e igualdade entre os alunos.

Os conteúdos estruturantes da Educação Física propostos nas Diretrizes

Curriculares da Educação Básica do Paraná (2008), foram definidos como os

conhecimentos de grande amplitude e considerados fundamentais para compreender

seu objeto de estudo/ensino, que são: Ginástica, Esportes, Jogos e Brincadeiras,

Lutas e Danças.

A escolha do conteúdo Jogos e brincadeiras como proposta de uma

possibilidade de inclusão aos cadeirantes nas aulas de educação física do ensino

regular, deu-se por ser um conteúdo dinâmico, motivador, que pode ser adaptado,

recriado e modificado conforme a necessidade do grupo participante.

Proporcionar ao aluno com deficiência esses momentos prazerosos nas aulas

de educação física, foi o objetivo maior deste trabalho que buscou um melhor

entendimento das necessidades e especificidades do educando com deficiência e

proporcionou uma melhorar qualidade de vida.

1- INCLUSÃO DE DEFICIENTES FÍSICOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Um marco nas discussões acerca da inclusão ocorreu em 1994 num congresso

internacional com a Declaração de Salamanca que resultou em avanços mundiais

quanto à política pedagógica da educação inclusiva, cujo documento propõe nova

forma de enxergar as pessoas com necessidades especiais permitindo acesso,

qualidade e apoio necessário para garantia de uma educação eficaz.

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Segundo a Lei nº 9394/96 art. 208, estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional o “atendimento educacional especializado as pessoas com

deficiência preferencialmente na rede regular de ensino e acesso ao ensino

obrigatório e gratuito”, na qual a educação representa um direito de toda a população

(BRASIL, 2001).

O ambiente escolar é para qualquer criança o espaço por natureza de interação de uns com os outros. É nesse espaço que nos vemos motivados a estabelecer comunicação, a sentir a necessidade de se locomover, entre outras habilidades que nos fazem pertencer ao gênero humano. O aprendizado de habilidades ganha muito mais sentido quando a criança está imersa em um ambiente compartilhado que permite o convívio e a participação. A inclusão escolar é a oportunidade para que de fato a criança com deficiência física não esteja à parte, realizando atividades meramente condicionadas e sem sentido (SHIRMER, et al, 2007 p.22).

As autoras citadas colocam que o ambiente escolar deve ser um meio para

promover desafios e aprendizagem, e se as crianças e os jovens forem privados

desses desafios estarão impedidos de se desenvolverem, ou seja, se limitarmos as

suas capacidades eles não encontrarão motivos para serem desafiados. A

incapacidade da criança e do jovem está na acessibilidade, podendo ser minimizado

quando as barreiras forem removidas pelos recursos disponíveis, tanto materiais

quanto humanos.

Para Mantoan e Prieto (2006) as escolas devem sair do comodismo em relação

à inclusão, ou seja, ela não pode ser ignorada. A falta de preparo dos professores e

os modelos conservadores do ensino acabam excluindo os alunos com deficiência. É

necessário que a escola reconheça e valorize as diferenças.

Consideram-se alunos com deficiência àqueles que têm impedimentos de longo

prazo, de natureza física, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas

barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na

sociedade (BRASIL, 2008).

Para Melo e Dias (2009) a educação física sempre foi vinculada a ideia de

corpo saudável, de eficiência, privilegiando a integridade física. Destacando a inclusão

pelo esporte, este deve focar a relação social com o corpo e com a deficiência

devendo assumir novos olhares sobre todos os corpos, deficientes ou não, e não

prevalecendo suas dificuldades, mas sim enxergando as possibilidades que cada um

tem para se expressar. Cada indivíduo tem suas potencialidades e limitações, na

inclusão vale a ideia de que o corpo tudo pode desde que as pessoas estejam

disponíveis em ampliar suas possibilidades de movimento.

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Pessoas com deficiência física têm grandes possibilidades de desenvolver

seu potencial, se a escola estiver aberta para responder às suas necessidades. É

necessário promover adequações no ambiente escolar e no currículo. Para tais

mudanças algumas providências deveriam ser tomadas, como por exemplo, suprir a

falta de professores de apoio especializados, de psicólogos, de professores com

formação adequada, de adaptar o espaço físico escolar para que sejam removidos os

obstáculos que impedem a inclusão, proporcionando uma acessibilidade em todos os

ambientes escolares. Promover a capacitação dos professores, pois esse

conhecimento é necessário ao docente para ajudar na elaboração de estratégias de

ensino que focalizem o potencial dos alunos estimulando a sua participação efetiva

nas aulas.

As Diretrizes Curriculares da Educação Física (2008 p.65) cita “a busca de

alternativas que permitam a participação de todos os alunos nas aulas de educação

física”, mas sem especificar em nenhum momento sobre alunos com deficiências.

Um fator fundamental no atendimento de pessoas com deficiência é a

qualificação profissional, para isso, torna-se necessário a capacitação dos professores

para atender as expectativas desses alunos e também dos demais alunos que vão

interagir com os colegas deficientes. “O professor deve ter atitudes abertas e flexíveis

no trabalho diário com os alunos, inclusive com os que possuem alguma deficiência”

(CIDADE, et al 2009 p.153), essa relação professor/aluno deve ser com muita

naturalidade.

Para entendermos sobre inclusão escolar é importante conhecermos algumas

características da deficiência física e as relações nesse processo inclusivo.

A terminologia “deficiência” muitas vezes conceituada como limitação,

dependência, impedimento de realizar tarefas, perda ou anormalidade de um

segmento corporal ou função orgânica com possibilidades restritas da pessoa de

realizar funções em condições normais (LIMA, SILVA e JACOBSEN, 2012).

No Decreto nª 3.298 de 1999 da Legislação Brasileira (apud SHIRMER, et al,

2007) encontramos o conceito de deficiência física, conforme segue:

Art. 4…: - Deficiência Física –alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o

desempenho de funções.

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A deficiência física pode ocorrer de duas formas: por má formação congênita

ou adquirida, por lesões neurológicas, neuromusculares ou ortopédicas.

As principais causas de deficiência física segundo autores Mazin Filho et al

(2009), Lima, Silva e Jacobsen (2012) são:

-Paralisia cerebral: lesões que agridem o sistema nervoso.

-Traumatismo crânio encefálico: lesões cerebrais que comprometem as funções

físicas, cognitivas, sociais, comportamentais e emocionais.

-Lesão medular: lesões na medula espinhal causando perda total ou parcial da função

motora.

-Poliomielite: paralisia causada por vírus.

-Má formação congênita: ocorre na formação do feto intrauterina.

-Amputações: perda de membros por traumas ou causas vasculares.

-Distrofia muscular: doença hereditária caracterizada pela degeneração dos

músculos.

As relações afetivas do aluno com deficiência física demostra certo receio de

se relacionar com alunos ditos “normais” preferem estar associados com pessoas que

apresentam a mesma deficiência. Podemos dizer que se sentem excluídos por não se

sentirem capazes de realizar as mesmas atividades, se sentem limitados e se isolam

da participação em grupos.

Com a prática de atividades físicas ocorre redução dos níveis de ansiedade,

de estresse e depressão, melhorando o humor e consequentemente o bem-estar

físico e psicológico, melhora também os aspectos relacionados com o convívio social,

e são efeitos positivos na percepção de bons níveis de qualidade de vida (NOCE,

SIMIM e MELLO, 2009).

Estimular o aluno na participação das atividades físicas propostas nas aulas de

Educação Física contribui na socialização, na compreensão do trabalho em equipe, e

que cada um do grupo tem uma fundamental importância para se obter um bom

desempenho. Para Mantoan e Prieto (2006 p.22) “o certo é que os alunos jamais

deverão ser desvalorizados e inferiorizados palas suas diferenças”.

Durante as atividades da educação física se torna indispensável, em certas

ocasiões, a interferência do professor no sentido de introduzir e privilegiar o aluno com

deficiência nas atividades, pois existem momentos em que a turma pode excluí-lo

durante uma atividade, principalmente se for competitiva.

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Os jogos e brincadeiras fazem parte da humanidade desde os tempos

primórdios da civilização, e até hoje está presente no cotidiano da criança. As

brincadeiras de faz de conta, o pega-pega, esconde-esconde, pular corda, jogos com

bola, de forma livre e prazerosa com regras estipuladas, modificadas e adaptadas

conforme a necessidade e interesse dos participantes no momento, sendo

fundamental para o desenvolvimento social, cultural e afetivo dos alunos.

Para Bregolato,

A necessidade de jogar implica na necessidade de viver, porque, a função lúdica é ser espontâneo, pode errar, tentar outra vez, criar, o que proporciona à pessoa ser autêntica e descobrir a si própria a cada momento (2005 p.71).

Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Física (2008), os Jogos e

Brincadeiras, fazem parte do conteúdo estruturante do Ensino Regular das escolas

públicas do Paraná. Estes conteúdos são complementares, mas cada um apresenta

suas especificidades, direcionado ao lúdico com possibilidades de reflexão,

flexibilização e organização, assim dando oportunidade as crianças e aos jovens de

produzirem as suas formas de jogar e brincar proporcionando autonomia de

adaptações de regras conforme os interesses dos participantes.

Os Jogos e Brincadeiras compõem um conjunto de possibilidades que ampliam a percepção da realidade, além de intensificarem a curiosidade, o interesse e a intervenção dos alunos envolvidos nas diferentes atividades (DCE, 2008 p.67).

Para Rosseto Júnior et al (2009) os jogos se destacam como elementos de

integração social, troca de conhecimento, ampliação das possibilidades de

convivência e instrumento educacional, é uma aprendizagem transformadora e valiosa

para a educação e a interação entre as pessoas e o desenvolvimento do ser humano.

Na construção de uma pedagogia educacional é importante respeitar os alunos na

sua individualidade buscar o ensino das habilidades motoras, mas principalmente o

ensino de valores, atitudes, fatos e conceitos.

O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de consciência de ser diferente da vida cotidiana. (HUIZINGA, 2007, p.33)

Considerando, que os Jogos e Brincadeiras são conteúdo da disciplina de

Educação Física, e que também estão presentes em qualquer classe social, cultural

e econômica promovendo interação social, elaboração de conhecimentos,

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cooperação, prazer e valorização da individualidade dos alunos, devem portanto ser

praticados por alunos com deficiência ou não.

O lúdico tem como uma de suas características fundamentais o prazer, sendo

este um sentimento de alegria e espontaneidade, tornando as atividades agradáveis

e atraentes para os alunos.

As situações lúdicas são estratégias de sedução para mudanças de princípios e comportamentos, compreendendo o papel da arte, da cultura popular e dos valores éticos como importantes à formação e reintegração dos excluídos, a re-significação cultural e a mobilização social”. (PINTO et al,1999 p.113)

Nos jogos é importante dar ênfase na participação do aluno e não priorizar o

resultado, o professor deve em sua metodologia iniciar pelos jogos mais simples até

chegar ao mais complexo. O grau de dificuldade vai depender da faixa etária dos

alunos e da necessidade correspondente. Ele deve também motivar e estimular

sempre os alunos a participarem, a criarem e se socializarem.

O compromisso do professor de educação física seja na quadra ou em outro

ambiente escolar, é sempre com a formação e desenvolvimento do aluno, indo além

da prática esportiva de resultados competitivos. Mostrar ao aluno que ele faz parte

desta sociedade e que através do conhecimento histórico ele poderá relacionar-se

com as práticas sociais do seu cotidiano favorecendo e transformando essas práticas

para um bem comum na sociedade.

2- METODOLOGIA

A pesquisa desenvolvida caracterizou-se como sendo do tipo descritivo, no qual

o autor Gil (2002, p.42) coloca que esta, “têm como objetivo primordial a descrição

das características de determinada população ou fenômeno ou então, o

estabelecimento de relações variáveis, dependendo do objetivo do pesquisador.”

Nesta pesquisa foi utilizado no processo de intervenção a aplicação de uma

entrevista semiestruturada que de acordo com Pádua (2004, p.70) “é uma série de

questões sobre o tema estudado, mas permite que o entrevistado fale livremente

sobre o assunto principal e outros que vão sendo desdobrados”. Este questionário

verificou no pré e pós teste/aplicação do projeto os avanços do grupo, averiguando a

motivação dos alunos cadeirantes em participar das aulas de Educação Física.

Para um entendimento das entrevistas será utilizado a análise de conteúdo,

sugerida por Bardin. Segundo este autor, a análise de conteúdo “é um conjunto de

técnicas de análise da comunicação” sendo orientada a partir de uma problemática

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teórica, explicar e sistematizar o conteúdo pesquisado, ou seja, interpretar os dados

coletados (1977 p.31).

Este estudo foi direcionado para o 8º ano do turno matutino, com 32 alunos

sendo 17 do sexo feminino e 15 do sexo masculino, devidamente matriculados e

frequentes no Colégio Estadual Branca da Mota Fernandes, localizado no município

de Maringá Pr. Este Projeto de Intervenção foi desenvolvido e aplicado com uma carga

horária de 32h/a divididos em cinco módulos no primeiro semestre do ano letivo de

2013.

Para tanto o projeto desenvolveu-se com um grupo experimental formado pela

turma do ensino regular da qual fazem parte um dos alunos cadeirantes e um aluno

com sequelas de meningite. Foi desenvolvido em três módulos com um total de 16h/a

as atividades de jogos e brincadeiras nas aulas de educação física do ensino regular.

E um grupo formado por 3 alunos cadeirantes da escola matriculados em séries

diferentes, fariam atividades de jogos e brincadeiras no contra turno em dois encontros

com 3h/a cada, e foi este grupo que respondeu ao questionário. O projeto foi dividido

em módulos para uma melhor distribuição das atividades programadas para os alunos

do ensino regular e para o grupo dos alunos cadeirantes.

Por meio do conteúdo Jogos e Brincadeiras pretendeu-se proporcionar e

estimular a participação dos alunos, principalmente os alunos cadeirantes para as

aulas teóricas e práticas de Educação Física.

Aplicou-se um questionário aos alunos cadeirantes antes de iniciar as

atividades teórico/prático, como meio de avaliação da motivação desses alunos em

participar das atividades nas aulas de Educação Física.

No primeiro módulo foi apresentado o projeto aos alunos da turma, e através

de atividades com o grupo do ensino regular, tais como: visualização de vídeo, leitura

de texto, debate e comentários sobre a inclusão de deficientes físicos nas aulas de

educação física, na escola e na sociedade.

O segundo módulo consistia em atividade de jogos de tabuleiros no período

contra turno com o grupo de alunos cadeirantes. Essa proposta teve as atividades

desenvolvidas na própria turma do 8º ano do ensino regular onde estão inseridos dois

dos alunos com deficiência física, dessa forma os jogos de tabuleiro foram realizados

com a participação de todos os alunos da classe. Confirmando realmente a

necessidade da inclusão ser feita na própria aula.

O terceiro módulo foi desenvolvido com jogos e brincadeiras, com atividades

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em grupos propostos para a turma do ensino regular, participaram no horário normal

da aula de educação física promovendo a socialização entre os alunos,

proporcionando a coletividade e cooperação e experimentaram variadas formas de

jogos.

No quarto módulo os alunos com deficiência se reuniriam no período contra

turno e as atividades propostas seriam desenvolvidas a partir de alguns materiais

recicláveis. Devido a impossibilidade do encontro ocorrer no contra turno, foi

desenvolvida na turma do ensino regular do 8º ano, confirmando realmente que a

inclusão deve ocorrer na própria turma.

No quinto e último módulo as atividades propostas foram de jogos e

brincadeiras desenvolvidos no horário normal das aulas de educação física do ensino

regular, oportunizando diversos jogos que proporcionaram melhorias nas habilidades

motoras e a participação em grupos.

Durante as aulas de Educação Física foram propostos diversos jogos e

brincadeiras, alguns da própria cultura popular, outros retirados de algumas

referências bibliográficas, porém repensados, adaptados e/ou elaborados de forma a

facilitar e propiciar a participação de todos. Foram selecionados jogos recreativos,

motores, cooperativos e competitivos sendo sugerido para a aplicação do projeto:

pega-pega, rebatida, queima, acerte o alvo, jogo dos passes, salve-se com um abraço,

voleibol sentado, bola ao tigre, acerte no balde, voleibol com bola grande de plástico,

brincadeiras com bexiga, gargalobol, entre outros. Utilizou-se materiais diversos como

bexigas, bolas de diferentes tamanhos e pesos, baldes, arcos, raquetes, peteca, jogos

de tabuleiros, garrafas plásticas e outros, sendo materiais de fácil manuseio e

deslocamentos. Houve também o momento onde os alunos “normais” vivenciaram

situações de um deficiente.

Após a proposta de jogos e brincadeiras novamente o questionário foi aplicado

aos alunos cadeirantes com o intuito de analisar se houve maior motivação por parte

desses alunos em participarem das atividades nas aulas de Educação Física.

3- ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O referente estudo teve como instrumento de pesquisa um questionário que foi

aplicado aos alunos cadeirantes matriculados no Colégio Branca da Mota Fernandes,

no início e término do projeto, com o intuito de verificar a motivação desses alunos em

participar das aulas práticas de educação física. O questionário foi elaborado pelo

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próprio aplicador do projeto e consistia de questões abertas e pessoais justificando

suas respostas, deixando o aluno livre para expressar de fato seus sentimentos.

Quatro alunos participaram desta entrevista, sendo três cadeirantes (alunos A, C, D)

e um com sequelas de meningite nos membros inferiores (aluno B), e responderam

as questões abaixo relacionadas. Somente os alunos “A” e “B” participaram de todas

as atividades propostas no projeto.

Os quadros abaixo demonstram o resultado da pesquisa realizada, através do

questionário, a fim de verificar a percepção dos alunos cadeirantes com relação a

prática das aulas de educação física.

1-Você gosta de participar das aulas de Educação Física? Justifique.

O aluno “A” “um pouco, mas acho muito importante participar da aula”.

O aluno “B” “sim, pois acho divertido”.

O aluno “C” “não, pois tenho medo de se machucar”.

O aluno “D” “às vezes” e não justificou.

1- Podemos perceber, através das respostas dos(as) alunos(as), que por não estarem

sempre participando das aulas de Educação Física, o gosto por elas ainda é tímido,

pois apesar de afirmarem ser divertido e importante, ainda não conseguiram ter uma

inclusão mais efetiva, o que prejudica o prazer em realizar as atividades. Cabe ao

professor(a) o papel de mediar essa proximidade.

2-Você se sente a vontade em participar das atividades propostas nas aulas de

Educação Física? Justifique.

O aluno “A” “algumas vezes, porque não tinha muita vontade de jogar nas aulas,

mas aprendi coisas novas nas aulas”.

O aluno “B” “sim, porque era muito legal”.

O aluno “C” “não, porque tenho dificuldades para socializar e sem muitos

motivos para estar nas aulas de Educação Física”.

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O aluno “D” “sim” sem justificar.

2- Nessa questão, os(as) alunos(as), deixam claro a vontade em participar das aulas

de Educação Física, que além de acharem legal também os(as) leva a aprenderem

coisas novas, porém ainda se sentem excluídos(as), pois alguns apresentam

dificuldades de socialização. Ao lermos essas respostas, percebemos que

infelizmente, os(as) alunos(as) que não apresentam nenhuma deficiência, não

proporcionam uma maior proximidade com os cadeirantes, podendo até estar

excluindo-os(as) de algumas atividades. Nesse momento a orientação do(a)

professor(a) quanto a inclusão do cadeirante nas aulas de Educação Física, para

os(as) alunos(as) que não apresentam nenhuma deficiência, é fundamental. Ele(a)

deve esclarecer que esses(as) alunos(as) têm direitos e capacidade de participar das

atividades, que deve haver colaboração entre o grupo, mostrar que todos possuem

diferenças, limitações e qualificações, e que é possível e essencial compartilhar e

cooperar para que todos possam realizar as atividades com alegria e prazer. E que

um time só é vencedor respeitando e apoiando o companheiro de equipe.

3-Você se sente acolhido pelo professor de Educação Física? Ele te incentiva na

participação das atividades?

O aluno “A” “muito, porque até quando não quero eu tenho que participar e não

me sinto esquecida na aula”.

O aluno “B” “é claro, eu me sinto acolhido pelos professores e ela não deixa eu

ficar parado”.

O aluno “C” “sim, eu me sinto acolhido pelo professor porque ele sempre acha

outra forma para eu participar da aula”.

O aluno “D” “sim, a professora sempre me incentiva a fazer as aulas de

Educação Física”.

3- Na questão 3, as respostas deixam claro, que um(a) professor(a) de Educação

Física que faz de suas aulas uma prática de cidadania, contribui não só para que

os(as) cadeirantes participem das aulas, mas também faz com que eles(as) se sintam

valorizados, ampliando suas expectativas em relação ao desenvolvimento de muitas

habilidades que possuem, mas que por serem cadeirantes, às vezes não são

exploradas e não as desenvolvem.

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4-Você se sente acolhidos pelos colegas da sala ao participar das atividades nas

aulas de Educação Física? Justifique.

O aluno “A” “sim, porque eles me ajudaram a jogar algumas coisas que eu não

conseguia”.

O aluno “B” “sim, os jogos era maneiro”.

O aluno “C” “sim, mesmo eu não participando eles me chamam para ir a aula”.

O aluno “D” “sim, porque não é só na sala que eles me acolhe fora também eles

são bem educados e gentil comigo”.

4- Nesta questão, os alunos relatam que se sentem acolhidos pelos(as) colegas. São

pequenos gestos, mas que fazem a diferença para eles. Isso é muito importante, pois

a solidariedade dos outros(as) alunos(as), que não são apenas gentis, mas também

incentivam os(as) cadeirantes a participarem das aulas. Esse é um fator fundamental

que o(a) professor(a) deve sempre instigar para que isso aconteça, criando situações

que promovam uma maior proximidade, um entrosamento entre eles, propiciando uma

participação mais efetiva dos cadeirantes nas atividades coletivas.

5-O que te deixa mais ou menos motivado em participar da aula de E.F.?

O aluno “A” “nada, porque eu não precisava de motivos para participar eu jogava

porque eu queria”.

O aluno “B” “a parceria dos amigos”.

O aluno “C” “o que me deixa menos motivado é a falta de entrosamento com

alunos”.

O aluno “D” “a ajuda na hora de fazer alguma coisa”.

5- As respostas desta questão, fundamentam tudo o que já comentamos nas outras

questões. O que vai motivar a participação dos(as) cadeirantes nas aulas de educação

física é a motivação, não só do professor, mas, em especial, dos(as) colegas, pois se

eles não chamarem, os(as) alunos(as) cadeirantes para participarem de suas equipes,

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não haverá motivação, logo não haverá também o entrosamento, tão importante para

que haja uma inclusão que permita valorizar o outro independente de suas limitações.

Por isso, faz-se necessário que o(a) professor(a) deixe claro que todos nós temos

nossas limitações, e que quando nos unimos, nos tornamos uma equipe, um time,

onde a limitação de um se completa com que o outro tem de sobra para poder dividir,

somar. Que o trabalho em equipe, do time é de todos(as) e deve ser compartilhado

sempre, assim como as vitórias e as derrotas, pois o mais importante é participar e

juntos buscar um resultado positivo.

Os alunos deficientes também apresentam seus anseios, expectativas, e

chegam à escola com a vontade de aprender, participar das atividades em grupos,

compartilhar e vivenciar experiências.

Por meio deste questionário respondido pelos alunos com deficiência física

verificou-se que esses alunos acham a educação física importante e divertida porém,

a motivação é diferenciada para cada um deles, um se sente mais motivado que o

outro em relação a participar e gostar das aulas de educação física. Notou-se então

que o aluno “B” (portador de sequelas da meningite) é o mais motivado em relação

aos outros (cadeirantes), que talvez por ter uma deficiência mais leve, ele é mais

independente e mais participativo.

Os alunos com deficiência física quando chegam à escola se sentem

envergonhados, tímidos e pensam que suas limitações atrapalham no

desenvolvimento das atividades, no relacionamento com outros alunos ou com o

grupo, acabam se isolando e deixando de participar das atividades com receio de não

corresponder ao que foi proposto, sendo assim, não se sentem motivados e se

excluem das aulas e até mesmo se isolam do grupo.

“As crianças deficientes, são em grande parte, carente socialmente e trazem

uma série de “nãos” que, de repente, lhe são impostos no dia a dia, ficando nele

retidas as capacidades de pensar, sentir e agir” (ROSADAS, 1986 p.26).

Para Bregolato (2005 p.69) “o homem é um ser social por natureza, significa

que se relacionando com os “outros” e viver coletivamente torna-se uma

necessidade”.

“As crianças deficientes possuem as mesmas necessidades que as crianças

sem problemas: necessidades afetivas, sociais, físicas e intelectivas. Possuem um

grande potencial que necessita ser despertado e acreditado” (ROSADAS,1986 p.04).

Considerando que para ocorrer aprendizagem, seja ela motora ou de

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compreensão de conceitos e apreensão de valores, esta só ocorre se a criança se

sentir motivada e são esses motivos individuais, que impulsionam o indivíduo à

atividade necessária para aprender, essa motivação varia de acordo com a idade,

cultura, ambiente e até mesmo com situações do dia a dia (VILARINHO,1985).

A mesma autora conceitua três elementos básicos:

Interesse – A atração emotiva exercida por um objeto ideal sobre a

individualidade consciente.

Motivação – Processo, interior, individual, que deflagra, mantém e dirige o

comportamento.

Incentivação – Implica nos motivos, que levarão o indivíduo à ação com

empenho e entusiasmo.

A motivação é própria de cada pessoa, sendo esta responsável pelo interesse

em aprender, mas também está relacionado às metodologias aplicadas, de recursos

complementares, da relação professor/aluno, das condições que a escola oferece e

também das condições sociais, culturais e familiares.

Segundo Samulski (2002), a motivação é caracterizada como um processo

ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores

pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos). Os motivos intrínsecos são

resultantes da própria vontade do indivíduo, enquanto os extrínsecos dependem de

fatores externos. O mesmo autor também diz que a motivação é caracterizada como

um processo ativo, interacional e dirigido a uma meta, o depende de fatores pessoais

e ambientais.

Podemos assim dizer que a motivação é uma característica de cada ser

humano e está relacionada a fatores emocionais, pessoais e também a fatores

externos que influenciam ou podem influenciar as ações de cada pessoa, portanto, na

sala de aula o professor tem um papel muito importante na aprendizagem do aluno,

pois ele pode despertar o interesse e incentivar os alunos e assim, influenciar na

motivação dos mesmos. Uma das maiores dificuldades encontradas pelos professores

para fazer um atendimento adequado nas salas de aulas, onde estudam alunos que

apresentam alguma deficiência, deve-se ao fato das turmas serem numerosas, não

possibilitando um atendimento mais individualizado a esses alunos. Não basta

somente matricular esse aluno no ensino regular e dizer que a inclusão está feita,

muitas medidas são necessárias e importantes por parte dos órgãos públicos, escolas,

professores e familiares para que esses alunos não se sintam ainda mais excluídos.

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O professor ao elaborar seu plano de trabalho deve considerar vários fatores

que envolvem a aula de educação física e a inclusão de alunos com deficiência.

Portanto deve, planejar, adequar, adaptar as atividades, jogos e brincadeiras de

acordo com as necessidades dos alunos, proporcionando a valorização, a

socialização, a construção de regras e a cooperação, fazendo com que os mesmos

se sintam mais confiantes e motivado em participar com o grupo das aulas práticas.

Essa motivação depende muito do interesse próprio dos alunos, mas também do

professor em proporcionar que a aula seja direcionada a todos os alunos.

Para que a criança com deficiência física seja verdadeiramente incluída na

Educação Física, não basta estar no mesmo espaço físico ou participar de algumas

atividades, mas ela deve fazer parte do grupo e participar de todos os jogos,

brincadeiras e atividades desenvolvidas durante a aula, mesmo que necessite de

ajuda e apoio do professor e de outros colegas.

O ambiente escolar deve ser um meio para promover desafios e aprendizagem,

por isso se tornou necessário que as adequações nas atividades, nas regras, na

utilização dos espaços, nos materiais fossem elaboradas para todos os alunos,

estimulando-os a quebrar barreiras possibilitando sua formação integral. “As

diferenças são criadas pela sociedade, que, mal informada, as transforma em

verdadeiras barreiras” (ROSADAS, 1986 p.26).

O professor, quando desenvolve as atividades promovendo a “igualdade” e

proporciona à turma do ensino regular momentos de reflexão, valorização e cidadania,

os alunos vão se conscientizando da importância da pessoa estar incluída no grupo e

participar igualmente das aulas, voltadas ao reconhecimento das diferenças e da

aprendizagem conjunta, estimulando a um convívio sem preconceitos, rejeições e

desigualdades. Assim, os alunos com deficiência vão se sentindo mais seguros e

confiantes perante o grupo e a sociedade tendo a oportunidade de expor seus

sentimentos e emoções.

Nossos alunos não têm ideia das dificuldades físicas, sociais e principalmente

emocionais que os portadores de deficiências sofrem. Portanto é preciso conscientizá-

los, e acima de tudo, sensibilizá-los para que compreendam como é importante estar

ao lado de seus companheiros com deficiência em todos os momentos.

Proporcionar esse tipo de debate entre pessoas ditas “normais” e com

deficiência é muito importante para que se coloquem na situação, discutam, reflitam e

se sintam responsáveis no processo de inclusão, é fundamental a pessoa com

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deficiência se tornar visível para a sociedade, pois sem a atuação delas, os outros vão

sempre achar que está tudo bem.

No decorrer do projeto, alguns alunos do ensino regular fizeram os seguintes

relatos:

“Para mim pessoas portadoras de deficiência é igual a gente não tem diferença eles

tem que ter os mesmos direitos como nós.” (ALUNO 1)

“Antigamente o deficiente vivia isolado da sociedade, pois o preconceito era enorme.

Hoje em dia temos recursos necessários para quase todo tipo de deficiência.” (ALUNO

2)

“Muitas pessoas tratam a deficiência com dó ou até mesmo desprezo, as pessoas

deficientes também tem sentimentos.” (ALUNO 3)

“A sociedade está evoluindo seu modo de pensar e agir com esses deficientes, pois

eles também são pessoas como todas as outras...” (ALUNO 4)

“...todas as atividades eram possível fazer para nós como os deficientes físicos e

melhorou muito.” (ALUNO 5)

“Acho que foi bom todas as aulas os alunos puderam participar sem dificuldades...”

(ALUNO 6)

“Acho que todos alunos puderam participar, principalmente os com deficiência física,

as brincadeiras com bexiga e outras que aconteceram...” (ALUNO 7)

Na aplicação do projeto, observou-se desde o início uma boa aceitação dos

alunos em participar e cooperar com os alunos de inclusão, demonstraram interesse

e satisfação com as atividades aplicadas e em colaborar com os alunos deficientes

para que eles também pudessem participar da aula.

Os alunos com deficiência física manifestaram entusiasmo com o projeto, visto

que, em muitas vezes não se sentiam motivados e se excluíam das aulas, como por

exemplo, antes da aplicação do projeto, a aluna cadeirante sempre dava desculpas

para não participar com o grupo das atividades propostas em aula. No decorrer do

projeto todos demostraram satisfação e em alguns momentos euforia ao participarem

das atividades. Foram ficando mais confiantes e aceitando melhor o que estava sendo

oferecido, inclusive a aluna acima citada. Na maioria dos jogos e brincadeiras houve

uma boa participação e envolvimento deles nas atividades e com o grupo, possibilitou

a socialização, cooperação e interação. O momento onde os alunos “normais”

vivenciaram situações de um deficiente levou a um momento reflexivo e satisfatório.

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Para Pinto et al (1999) é preciso romper com a visão essencialmente tecnicista

e acreditar na construção de uma práxis consciente buscando constantemente ações

lúdicas, éticas, críticas e criativas, promovendo uma sociedade mais igualitária, que

respeite as diferenças e crie possibilidades de democratização social em prol de

melhor qualidade de vida para todos.

A preocupação neste projeto centrou-se no atendimento das necessidades e

expectativas desses alunos a fim de tornar a aula de Educação Física mais atraente

para ele e os demais alunos da turma, para que a inclusão ocorra de fato.

Ao término do projeto foi constatado que os alunos com deficiência física se

mostraram motivados em participar das aulas de Educação Física, tendo em vista que

as aulas foram planejadas e adequadas para eles, constatando que a inclusão é

possível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação do aluno cadeirante na comunidade escolar é uma realidade que

cada dia vem crescendo, fazendo com que a inclusão seja repensada por parte dos

professores, direção, setor pedagógico e funcionários da escola, pois não podemos

ficar alheios a esta situação.

Para que o aluno cadeirante se sinta motivado a participar das aulas de

Educação Física, não depende de um único propósito e sim de um conjunto de

situações que fazem que este aluno se sinta incluído nas aulas, no grupo, na escola

e/ou na sociedade.

A Educação Física como disciplina curricular do ensino regular, muito tem a

contribuir para que o processo de inclusão se efetive, promovendo interação,

socialização e desenvolvimento para os alunos cadeirantes; favorecendo a

aprendizagem e aquisição de conhecimento; contribuindo também com o rompimento

das barreiras do preconceito; ampliando o respeito ao próximo e a cooperação entre

os alunos no grupo.

Para tanto, é importante que o professor esteja disposto a mudanças para

receber os alunos de inclusão, elaborando previamente as atividades propostas, com

adaptações e adequações necessárias a estes alunos, que participarão mais

efetivamente e se sentirão mais motivados para as aulas práticas de Educação Física.

O Governo como órgão provedor da educação básica, deve oferecer estrutura

arquitetônica, profissionais capacitados e especializados bem como recursos

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didáticos que favoreçam uma educação de qualidade e consequentemente uma boa

aprendizagem.

A escola deve oferecer apoio pedagógico e didático para um melhor

desenvolvimento intelectual, social, cultural e afetivo, oferecendo condições aos

alunos de exercerem a cidadania.

Os alunos devem romper as barreiras do preconceito e compreender que a

igualdade leva a uma sociedade mais justa.

O processo de inclusão é um conjunto de situações que, para dar certo é

necessário um esforço coletivo da comunidade escolar e da sociedade permitindo

reflexões, ideias e práticas que possibilitam o aluno a se sentir valorizado e incluso no

ambiente escolar.

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