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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A DISTÂNCIA O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO COM ÊNFASE NO LÚDICO COMO FACILITADOR DO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM IRACILDA ARAÚJO DE OLIVEIRA Orientadora: Narcisa Castillo Melo BRASÍLIA / DF 2010

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO COM ÊNFASE NO LÚDICO … · importância do “lúdico” e como ele, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras podem ser ... embasamento teórico necessário

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A DISTÂNCIA

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO COM ÊNFASE NO LÚDICO COMO FACILITADOR DO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

IRACILDA ARAÚJO DE OLIVEIRA

Orientadora: Narcisa Castillo Melo

BRASÍLIA / DF 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO COM ÊNFASE NO LÚDICO COMO FACILITADOR DO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, como parte das exigências para conclusão do curso de Pós-Graduação em Administração Escolar. por:

IRACILDA ARAÚJO DE OLIVEIRA

BRASÍLIA 2010

2

Agradeço a Deus, pelas oportunidades colocadas em minha vida no decorrer de minha existência.

3

Dedico este trabalho a todos que primam pela educação, um caminho de sucesso juntamente com a comunidade escolar.

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RESUMO

Este trabalho tem como principal motivação a necessidade de analisar o papel

do psicopedagogo com ênfase no lúdico como facilitador do processo ensino-aprendizagem. Para alcançar este objetivo e conseguir as informações e dados necessários, foi utilizado questionário estruturado, que foram aplicados em alunos que lecionam na 2ª série e professores desta mesma série. Através do referencial teórico pretende-se mostrar o quanto o “lúdico” pode ser um instrumento indispensável na aprendizagem, no desenvolvimento e na vida das crianças, tornar evidente que os profissionais da educação devem e precisam tomar consciência disso, ter conhecimento de alguns conceitos, como o “lúdico” e muitas outras questões sobre a relação do brincar com a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. A partir disso, mostra-se a importância do “lúdico” e como ele, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras podem ser importantes para o desenvolvimento e para a aprendizagem das crianças. De acordo com os dados obtidos, constata-se que o lúdico exerce um papel importante na aprendizagem das crianças, favorecendo o desenvolvimento sadio.

Palavras-chave: Ensino-aprendizagem. Lúdico. Psicopedagogo.

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METODOLOGIA

Para a elaboração da monografia foram utilizadas como metodologia, o

método dedutivo que, segundo Vergara (2000, p.46-55) constitui a base da pesquisa

científica, visto que o primeiro passo para a pesquisa é a observação dos fatos. Este

método busca a análise sistemática dos acontecimentos em um determinado ambiente

(tema escolhido), relacionando a influência entre os fatos.

A outra metodologia é de caráter bibliográfico, na qual se buscou o

embasamento teórico necessário para analisar o papel da psicopedagogia e do lúdico no

processo ensino-aprendizagem nas escolas públicas, além da pesquisa qualitativa.

Verifica-se que o estudo qualitativo é de suma importância para educação,

sendo assim tal estudo irá subsidiar a pesquisa, que dará ênfase ao resgate das atividades

lúdicas como facilitadora do processo ensino-aprendizagem.

Para a realização desta pesquisa, foi utilizado o método qualitativo que

objetiva captar o pensamento e a expressão dos atores envolvidos na problemática que

se quer estudar. Sua característica está calcada na interpretação dos dados e

informações, que segundo Pedron (1997, p.23) partindo-se do pressuposto de que a

realidade não se encontra fora do indivíduo, mas é por ele construída e, desta forma,

somente por meio de seu discurso pode-se percebê-la.

Dentro desta perspectiva, o papel do pesquisador passa a ser a do

observador que consegue captar a informação, interpretá-la e redigir de forma a que

outros possam também ‘vivenciar’ a experiência.

O método de abordagem utilizado nesta pesquisa foi o dedutivo, o qual

consiste na construção de conjecturas, que devem ser submetidas a testes, as mais

diversas possíveis, à crítica intersubjetiva, ao controle mútuo pela discussão crítica e ao

confronto com os fatos, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas.

Deve se exercitar o método da observação diariamente para que se possa

obter um aprendizado contínuo sobre os fatos que ocorrem no dia a dia, mas não a mera

observação (ver e não notar) e sim uma observação criteriosa. Cada fato observado

apresenta diversas constatações, que muitas vezes são desnecessárias ao objetivo

buscado, embora interessantes. O observador não deve se deixar levar por informações

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supérfluas para sua pesquisa e também não deve deixar de lado fatos que ele considere

irrelevantes, pois muitas vezes isso venha a contribuir com os resultados.

O método de procedimentos que foi utilizado é o histórico, que tem sua

razão na investigação dos acontecimentos, esse método consiste em investigar

acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na

sociedade atual. Quanto aos procedimentos e técnicas utilizadas, ocorreram da seguinte

forma: pesquisa bibliográfica, para um conhecimento mais abrangente; e pesquisa

documental.

Para Octavian; Paulescu & Muniz (apud Vergara, 2000), o observador deve

ser imparcial quanto aos dados coletados, estando atento aos acontecimentos, ter

conhecimento sobre o tema como a curiosidade, paciência e persistência, visto que em

uma pesquisa científica nem sempre as coisas saem como esperado. Outro fator que

deve ser respeitado são as atitudes éticas quanto às observações que foram divulgadas.

A pesquisa bibliográfica consiste no exame do conjunto de livros escritos

sobre o assunto proposto e de documentos, para que deslumbre a eficiência e a eficácia

do trabalho ora apresentado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................08

CAPÍTULO I .................................................................................................................10

ATIVIDADES LÚDICAS, SOCIALIZAÇÃO, PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO TEÓRICO...................10

1.1 O processo de Socialização ..................................................................................10

1.2 Teoria da Interação Social ....................................................................................12

1.3 A importância do jogo para a criança ...................................................................14

1.4 O jogo na formação do professor .........................................................................16

1.5 O lúdico na Educação ...........................................................................................18

1.6 a importância do jogo nas interações sociais e no contexto sócio-cultural...........21

1.7 Conhecendo o processo de ensino-aprendizagem ................................................23

CAPÍTULO II ...............................................................................................................28

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS .....................................................................28

2.1 Tema em estudo ...................................................................................................28

2.2 Tipo de estudo ......................................................................................................29

2.3 Local e Sujeitos da pesquisa .................................................................................30

2.4 Coleta de Dados ....................................................................................................30

CAPÍTULO III..............................................................................................................40

ORGANIZAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ..................................40

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................44

APÊNDICE ...................................................................................................................47

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INTRODUÇÃO

Observa-se na atualidade que a prática psicopedagógica é marcada por uma

proposta que enfatizam a repetição e a fixação como princípios do processo de ensino-

aprendizagem. Em relação a esta questão Rubens Alves apresenta a seguinte reflexão:

A respeito das atividades de repetição e fixação, como aparecem nos manuais, as crianças são ensinadas e aprendem bem. Tão bem que se tornam incapazes de pensar coisas diferentes. Tornam-se ecos das coisas ensinadas e aprendidas. Tornam - se incapazes de dizer o diferente. Se existe uma forma certa de pensar e fizer as coisas, porque se dar ao trabalho de se meter por caminhos não explorados? Basta repetir aquilo que a tradição sedimentou... O saber sedimentado nos riscos da aventura de pensar (1994, p 95).

Sistematizar o brincar significa uma reorganização do diagnóstico da prática

psicopedagógica desempenhada, que deve abandonar os moldes da educação bancária,

dita esta por Paulo Freire como educação que consistem no depósito e acúmulo do

maior número de informações possíveis no aluno realizada por meio da repetição e

fixação de conteúdos, e absorver o jogo como o instrumento principal para a

socialização da criança. O jogo e a maneira como o psicopedagogo dirige o brincar,

pode auxiliar no diagnóstico da dificuldade de aprendizagem ligada ao desenvolvimento

intelectual, emocional, físico-motora e socialmente a criança, e por isso os espaços para

se jogar são imprescindíveis nos dias de hoje.

O jogo desenvolve a criatividade, a capacidade de tomar decisões e ajuda no

desenvolvimento motor da criança, além destas razões, os jogos tornam as aulas mais

atraentes para os alunos, diminuindo a evasão escolar.

É consensual, para diversos autores descritos neste estudo que ao considerar

a Psicopedagogia como uma abordagem para a compreensão da criança, do adolescente

através da descrição e investigação das mudanças psicológicas porque passam no

decorrer do tempo e é percebido na escola por meio de atividades lúdicas.

Faz-se necessário abordar que a atividade lúdica não é apenas uma forma de

brincar e sim são ações sérias que facilitam a socialização, pelo exercício de vários

papéis sociais com suas normas de conduta e pela formação de lealdades sociais com os

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seus aspectos morais, podendo sobressair o sentido da área psicopedagógica de objetivar

o indivíduo na constituição de sua autonomia, vinculando o ‘eu’ as suas relações com a

aprendizagem.

Este estudo tem como questionamento: Como o lúdico auxilia o processo

ensino-aprendizagem, em que o trabalho pedagógico possibilita a produção do

conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento?

Cabe ao psicopedagogo nos espaços educativos buscar a forma de aprender

e ensinar com prazer, proporcionando que a palavra prazer esteja presente nas ações e

estratégias de aprendizagem, em que o profissional possa interagir sua ação e a teoria

para proporcionar a atividade fim de diagnosticar.

Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem afetam o educando em sua

dinâmica educativa, tendo interferência nas instâncias do corpo e da inteligência. A

aprendizagem é probabilidade de acertos e desacertos, mas sem o querer não se

transforma em chance de aprender a realidade do mundo.

Nas experiências vivenciadas nas escolas tenho presenciado, como

professora da Educação Infantil, a busca permanente de aprendizagem para saborear a

teoria com a prática, e a temática deste estudo trará o sentido criativo e lúdico para

poder compartilhar experiências e para o educando compreendê-lo por meio de

brincadeiras, podendo num momento de reflexão, ser uma mediadora na formação

integral do aluno.

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CAPÍTULO I

ATIVIDADES LÚDICAS, SOCIALIZAÇÃO, PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO

Pode-se dizer que as atividades lúdicas são muito importantes em nossa

vida, pois elas fazem com que possamos aprender, ensinar, evoluir, por meio da

socialização. Isto descrito pelos autores deste referencial teórico em que na infância, a

atividade lúdica se confunde com a própria vida. Brincadeira e saúde tornam-se

sinônimos e pela definição da Organização Mundial de Saúde – OMS pode-se constar

esta veracidade em que “saúde é uma situação de completo bem-estar físico, mental,

social e espiritual”. Conforme esta definição anterior tem-se que a psicopedagogia

estaria ligada aos processos educativos podendo proporcionar vínculos saudáveis com o

conhecimento, e assim um processo ensino-aprendizagem mais eficaz e eficiente.

1.1 O Processo de Socialização

Na escola, a criança recebe e aceita o seu primeiro papel específico: o de

aluno. Isso implica a aceitar um determinado tipo de comportamento que corresponde à

expectativa do professor e dos colegas.

No grupo social que forma com os colegas, a criança passa a perceber a

existência de outros grupos independentes. Professores e alunos de outras classes, com

as quais se relaciona, e acaba por compreender, que o relacionamento tem regras

próprias para cada grupo. Ela não se comunica da mesma forma. Esse aprendizado

constitui assim aspecto dos mais importantes no processo de formação de sua

personalidade.

Segundo Inforzato (1979, p. 105), a sociologia considera a educação como

um processo de adaptação do homem ao ambiente em que vive e que por ambiente

compreende-se o meio sócio-cultural no qual o indivíduo está inserido, portanto a

educação visa essencialmente adaptar o homem ao meio social.

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Na visão do autor, há uma mudança permanente neste meio sócio-cultural,

ou seja, essa adaptação do individuo ao meio social, não deve visar uma ordem social,

acabada e estática, mas sim, a um estado de causas instáveis e a educação cabe tentar

adequá-lo a estas desadaptações.

O autor acrescenta ainda que a educação deva se adaptar a uma ordem social

futura, tendo em vista que ela é um processo de adaptação do homem à sociedade, com

aproveitamento das potencialidades neuropsíquicas comuns a todos os indivíduos da

espécie e das particularidades excessivas de cada um, visando a um só tempo os

interesses da coletividade e as do próprio indivíduo (INFORZATO, 1979, p. 106).

Do ponto de vista do autor, uma sociedade antes de tudo é um agrupamento

de indivíduos que por si só não são suficientes para construir uma sociedade. É

necessário que os indivíduos sejam portadores de uma cultura comum, obedecendo a

idênticos padrões de comportamentos e devem viver em permanente associação, pois

em tais condições, produz-se certo grau de solidariedade que garante a ordem social e

certa tradição que assegura a continuidade do tempo (INFORZATO, 1979, p. 106).

Ao observar uma simples brincadeira, a velha brincadeira de “estátua”, em

uma turma de 1.ª série da Educação Infantil, tendo como regras: sortear um orientador;

o orientador faz um movimento em círculo em cada participante, este escolhe uma

posição e fica paralisado; o orientador observa cada participante e estimula-os a mexer-

se; ganha o jogo aquele que não se mexer, sendo o próximo o orientador.

Um educando ao se mexer, saiu da brincadeira sem reclamar e juntou-se aos

outros que já tinham saído. Antigamente, quando se mexia, não admitia e discutia com

os colegas querendo uma nova oportunidade. Mas nesta brincadeira aprendeu o respeito

às regras estabelecidas, um senso de auto-crítica e aceitação às decisões dos

companheiros.

Percebe-se que neste ponto do processo de socialização, o universo da

criança já foi bastante ampliado e não há egoísmo, e sim dá lugar a cooperação e

solidariedade e a integração do grupo e muito boa. É notório que no jogo exemplificado,

e acelerado o processo de socialização podendo levar a criança a participar mais

ativamente, não somente aderindo passivamente ao papel que terá que desempenhar,

mas agir sobre este, o que é fundamental.

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Outro aspecto da socialização é que a criança não é um pedaço de massa de

modelar, portanto, socialização não é um mero ajustamento ou adaptação social. Nem

poderia ser assim concebida, uma vez que se sabe, que as sociedades não são estáticas e

por sua vez os papéis a serem aprendidos, estão sempre, e cada mais, em mutação no

mundo globalizado em que estamos inseridos. Além disso, outros fatores influenciam na

relação do “ser” com o ambiente, como a personalidade, que não é apenas aprendida, e,

portanto desta relação papel/personalidade vai, obviamente, surgir o conflito. É este que

provocará a mudança, onde o psicopedagogo deverá atuar.

1.2 Teoria da Interação Social

Neste subtópico tem-se a teoria interacionista de Piaget (1974) onde retrata

que a construção do conhecimento dá-se através da relação entre o sujeito e o objeto e

que esta modifica os dois. Pelo dizer inicial tem-se que o autor Piaget não parece

conhecer a questão social, isto devido que ele comentar apenas a relação do indivíduo

com o objeto de conhecimento e as implicações e mudanças que acontecem em ambos

ao interagirem.

Para Piaget (1974), as relações sociais são sistematicamente abordadas e

modeladas de tal forma a compor um conjunto de regras, valores e sinais, onde cada um

tem uma função significativa na construção das trocas sociais estabelecidas.

A criança é um ser dinâmico, que a todo o momento interage com a

realidade, agindo ativamente com o mundo que a rodeia, fazendo a construção da

estrutura mental e adquirindo maneiras para fazê-las funcionar. O ponto principal é a

interação organismo-meio que acontece através dos processos: organização interna e a

adaptação ao meio, funções essas exercidas pela estrutura do corpo ao longo da vida.

Forma-se, desse modo, como uma cadeia de interestímulos e respostas. A

interação constitui, portanto, o ponto-chave para uma concepção dinâmica das relações

sociais.

Ao interagirem, as pessoas não se vêem apenas como objetos físicos, mas

como indivíduos dotados de atitudes, expectativas de comportamento, sentimentos e

capacidade de julgar. Portanto, a ação de cada uma terá como base não só suas próprias

atitudes para com a outra, mas também suas próprias expectativas quanto ao

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comportamento da outra, ou melhor, às prováveis reações ou respostas do outro para

consigo.

Conforme Inforzato (1979, p. 74), alguns sociólogos admitem que baseado

na vida social de sua organização e dinamismo, a ação acontece entre os homens. O

contato entre os seres humanos produz influências mútuas, ou seja, a interação,

nascendo a partir daí a cultura, a sociedade e a personalidade.

No entender do autor, interação significa “uma ação recíproca, um

relacionamento mútuo e que segundo a Teoria da interação social, tudo o que acontece

no universo sócio-cultural, é fruto das relações entre os homens” (INFORZATO, 1979,

p. 78).

Neste sentido, a socialização realiza-se principalmente na família, nos

grupos de brincadeiras, na escola, mas é como processo que não tem fim e pode

envolver todos os grupos sociais, aos quais a pessoa vai se incorporando com o decorrer

do tempo. Para o autor, o processo é universal e o conteúdo da cultura varia com os

povos e a época, mas os recursos para a socialização são os mesmos, baseados na

imitação, na sugestão, na simpatia, nos prêmios, nos encorajamentos, nas repressões e

castigos.

Em essência, a socialização consiste na formação de atitudes que levam a

respeitar os padrões de comportamento grupal. Sendo assim, o jogo tem uma forte

influência na formação social do indivíduo por lhe ensinar que existem regras de

convivência para os seres.

Os jogos de um modo geral buscam diversão e entretenimento (Souza, 1997,

p.51). Desta forma, pode contribuir, se bem empregado, como processo fundamental na

socialização de indivíduos e na formação da personalidade.

A socialização surge de processos estabelecidos pela sociedade vigente onde

o individuo se insere e agrupa novos conceitos a sua conduta social que derivam de sua

participação e convivência em grupo na família, na escola e na sociedade de um modo

geral. Devido que a socialização é o processo pelo qual os indivíduos são preparados

para participar de sistemas sociais e em contrapartida a socialização é a habilidade para

a convivência social. O conhecimento social surge a partir da primeira socialização

ocorrida na família onde a criança conhece os valores e hierarquias familiares, depois

ele se expande por toda a vida da criança, do jovem e ao adulto.

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Nos jogos estas características de conhecimento social e socialização do

comportamento são evidentes e notórias, já que as relações de sociabilidade estão

intrinsecamente ligadas ao brincar, dínamo do conhecimento infantil.

1.3 A importância do jogo para a criança

A criança tem necessidade de brincar e jogar para se orientar no espaço,

para pensar, para comparar, para perceber e sentir. “Vamos brincar?”. É a frase mais

repetida pela criança. Brincando ela descobre o mundo, integra-se com o meio em que

vive, constrói o seu conhecimento, socializa-se. Os aspectos afetivos são determinantes

na construção da personalidade e eles se revelam de forma explicita no jogo.

Talvez depois da necessidade de afeto, nenhuma outra necessidade seja tão

intensa na criança como a necessidade do jogo, da brincadeira. Pelo jogo desenvolve-se

a criatividade, a espontaneidade, a inteligência, a linguagem, a coordenação, o controle

sobre si mesma, o prazer de realizar algo, o autocontrole e a autoconfiança.

O jogo é para a criança a via para experimentar, para organizar suas

experiências, para estruturar e construir sua inteligência e sua personalidade.

Para a criança, os jogos se identificam com a vida. É sua resposta à

realidade que a rodeia. Jogando, as crianças imitam o que observam e aprendem sobre

elas mesmas e sobre o mundo. Fazendo assim, podem expressar suas emoções

mostrando-se felizes ou tristes. As atividades lúdicas são geralmente uma forma de

auto-expressão (KISHIMOTO, 1998, p.85).

Os seres humanos sempre tiveram atitudes diferentes em relação aos jogos,

que são importantes processos na socialização do indivíduo e, até, na formação do eu.

A criança seleciona e apropria-se de elementos da cultura adulta,

incorporando-os ao seu universo infantil dando-lhes forma de brincadeira, como por

exemplo, ao brincar de ‘casinha’, destaca-se o papel do pai, da mãe dos irmãos. De

forma encantada, copia modelos e vivências, a seu modo, do mundo adulto, preparando-

se para o futuro.

Brincar é meio de expressão, é forma de interagir-se ao ambiente que o cerca. Através das atividades lúdicas a criança assimila valores, adquire comportamentos, desenvolve diversas áreas do conhecimento, exercita-se fisicamente e aprimora habilidades motoras. No convívio com outras pessoas, a criança aprende a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, a compartilhar momentos bons e ruins, a ter tolerância e respeito,

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enfim, desenvolve a sociabilidade. Através dos jogos, o raciocínio é treinado de forma prazerosa (SANTOS, 1997, p. 56).

Antigamente, algumas pessoas consideravam as atividades recreativas como

pecado. Atualmente as brincadeiras são consideradas como necessárias ao

desenvolvimento infantil. As atividades lúdicas sadias ajudam a criança a desenvolver

atitudes e corpos saudáveis. No momento do jogo a criança encontra equilíbrio entre o

real e o imaginário, alimenta sua vida interior, descobre o mundo e torna-se operativa.

Tanto que as crianças dos diversos países têm as mesmas necessidades e praticam jogos

semelhantes.

A personalidade de uma criança cresce à medida que ela aprende a fazer

alguma coisa e desenvolve confiança através de jogos. A maior parte dos jogos para

crianças pequenas não só diverte como ajuda a desenvolver habilidades físicas e a

capacidade de observação. Além disso, jogos e brincadeiras ajudam os participantes a

aprenderem a se adaptar as novas situações e a seguir regras (SANTOS, 1997, p.73).

Um jogo é mais uma atividade entre um, dois ou mais tomadores de

decisões que procuram alcançar seus objetivos em algum contexto limitador.

Em geral, este contexto limitador consiste em um conjunto de regras e de

procedimentos que são apresentados aos jogadores antes da partida e deverão nortear

suas ações.

Um dos aspectos mais interessantes do jogo é a sua semelhança com muitas

situações da vida real que também envolvem tomadas de decisão em função de

determinados objetivos, em contextos limitadores. Daí as expressões populares como “a

vida é um jogo”, e o ”jogo da vida”. Mediante este fato Santos (1997, p. 89) destaca

que: “o comportamento e a interação da criança durante o jogo pode envolver

competição, cooperação, conflito e uma série de outros sentimentos como insegurança,

auto-afirmação, medo, curiosidade”.

A principal implicação educacional do jogo é a valorização da atividade

lúdica, que tem como conseqüências o respeito às necessidades afetivas da criança,

contribui para a criança, para diminuir a opressão dos sistemas extremamente rígidos

(SANTOS, 1997, p.92).

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Além de resgatar o direito à infância, os jogos tentam salvar a criatividade

da criança ameaçada pela tecnologia educacional de massa. Por isso, o lúdico, os

desafios e conflitos devem se construir em práticas cotidianas na sala de aula.

1.4 O Jogo na formação do professor

Não há dúvida de que atualmente um dos grandes desafios para o professor

é aumentar o nível de motivação de seus alunos, principalmente na educação infantil e

séries iniciais do Ensino Fundamental, pois o conhecimento, as atitudes e as habilidades

desenvolvidas nestes determinam o seu desempenho posterior.

Como explicar o fato de que os alunos que não estão motivados para

aprender na escola, muitas vezes apresentam alto nível de motivação em outras

atividades? Porque uma criança se envolve tanto nas brincadeiras com seus colegas e

fica alheia nas atividades escolares propostas?

Levanta-se então a seguinte questão:

As diferenças nesses dois ambientes, pelo menos quanto ao grau de atenção e interesse na participação, são parcialmente explicadas pela intensidade do drama no ambiente de jogo e a freqüente falta de drama no ambiente escolar. Esse” drama “envolve conflitos de resultados incertos entre atores com os quais a criança pode se identificar, nos jogos as crianças tornam-se personagens que representam e participam dos conflitos proporcionados por seus papéis. A aplicação desses elementos excitantes a atividades na escola pode estimular a criança a aprender novos conceitos intelectuais (RONCA e ESCOBAR, 1982, p. 64).

Uma das grandes vantagens do jogo é exatamente provocar um alto

interesse pela aprendizagem. Os alunos ficam motivados a estudar as questões

envolvidas e também a participar mais das atividades propostas. Na realidade

educacional brasileira, o principal objetivo da maioria dos professores é transmitir

conhecimentos. São poucos os que se preocupam em desenvolver habilidades como as

de aplicação, analise, síntese e são raríssimos os que procuram aumentar nos alunos a

capacidade de compreensão intuitiva. Pelo contrário, em muitas situações as instituições

são punidas e os professores não ensinam seus alunos a pensar intuitivamente, pois é de

suma importância a preparação de um professor que saiba trabalhar com os jogos e as

brincadeiras em seu cotidiano escolar, e a instituição devem ter como um dos principais

objetivos capacitar seus profissionais (ESCOBAR, 1982, p.75).

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No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, alem de seu comportamento diário; no brinquedo é na realidade como no foco de uma lente de aumento, os brinquedos contem todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo grande fonte de desenvolvimento (VYGOTSK apud, VELASCO 1996, p. 117).

No momento em que os pedagogos em geral despertam para atribuir

importância ás atividades lúdicas no processo do desenvolvimento humano e propõem a

disseminação dos jogos, principalmente na primeira serie do ensino fundamental, como

forma de inovar a maneira de pensar a pedagogia, é necessário rever os cursos de

formação.

Segundo Santos (1997, p.80) uma das formas de repensar os cursos de

formação é introduzir na base de sua estrutura curricular um novo pilar para a formação

lúdica. A formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a criatividade, o

cultivo da sensibilidade, a busca da atividade, a nutrição da alma, proporcionando aos

futuros educadores vivencia lúdica, experiência corporais, que se utilizam à ação do

jogo em sua fonte dinamizadora. Isso significa ao valorizar as atividades lúdicas como

um meio a mais na alavancagem dos processos de desenvolvimento e aprendizagem,

requer concomitante pensar a preparação daqueles que se dispõem a atuar neste campo

emergente.

Para Drouet (1990, p.107), quando se entende o jogo como uma

possibilidade e necessidade humana, que cobre as necessidades de diversão,

compreende-se a sua relevância no desenvolvimento cultural da humanidade – cultura

lúdica, tendo a missão de divertir e de facilitar a aprendizagem e como isso o

desenvolvimento social e pessoal. Desta forma, podemos entender que é fundamental

desenvolver formação especifica para quem atua na área.

Neste sentido, a formação do educando ganharia qualidade se em sua

sustentação estivesse presente á formação teórica, a formação pedagógica e como

inovação à formação lúdica.

Na avaliação de Santos (1997, p.96), a formação teórica deve focalizar

fundamentalmente as principais teorias que tratam do desenvolvimento e da

aprendizagem, do jogo e do desenvolvimento, do tempo livre, da recreação e do lazer,

marcando bem suas diferenças e em que paradigmas se situam.

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A formação pedagógica deve oportunizar uma vivência concreta no âmbito

da experiência lúdica, ou seja, uma formação que complementa a formação teórica,

onde se constrói pela vivência e não apenas pela consciência. De acordo com Drouet

(1990, p. 118), se for possível, em diferentes contextos com crianças, adolescentes e

adultos devem “experimentar” o lúdico em sua prática diária, sendo uma visão

inovadora na formação do caráter e da personalidade.

Um fato foi presente por muito tempo da formação lúdica do educador deu-

se por meio dos cursos de formação de profissionais da área educacional que geralmente

se processava por meio de práticas de ensino ou de estágio supervisionado. Sendo que

em sua maioria não estavam centrados em um embasamento teórico que conduzisse o

profissional a compreender a importância do lúdico para a sua formação.

Deste modo, ocorre que as práticas do profissional ficam desvinculadas da

formação ideal, não permitindo assim uma reflexão crítica por parte do professor e

como conseqüência o assunto não é debatido evitando a reformulação dos conteúdos

tradicionais que eram ministrados durante a formação do educador. Em contrapartida,

hoje os cursos de formação mostram-se preocupados em formar o futuro professor com

oportunizando o contato com teorias a respeito da temática na disciplina Educação e

Movimento.

Conforme destaca Drouet (1990, p.125) em que na realidade, o aluno em

formação fica muito desprotegido, ao passo que o professor formado pode discursar á

vontade, porque aquilo que propõe não terá uma aplicação imediata.

Ainda em relação à formação pessoal, deve oportunizar que o pedagogo em

formação vivencie, por um lado, experiências lúdicas ou que tenham esta finalidade,

sem preocupação com o aspecto técnico. Por outro lado, que oportunize vivências na

sensibilização corporal na relação com objetos e jogos, constituindo assim em um meio

a mais que vai completar sua formação que utiliza ação, pensamento e linguagem como

elemento pedagógico.

1.5 O Lúdico na Educação

Para Kishimoto (2007), enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o

sentido que cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que demonstra por que

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dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas. Como por

exemplo, tem-se o arco e a flecha que aparecem como brinquedo, e em certas culturas

são instrumentos de caça e pesca.

Segundo Gonçalves (2009), o jogo caracteriza-se por constituir um sistema

de regras, do uso de determinado tipo de objeto e também do contexto social em que

este se apresenta. Enquanto que o brinquedo não pressupõe o emprego de regras e

enquanto objeto, é sempre um suporte para a brincadeira, sendo que esta, nada mais é do

que a atividade lúdica em ação.

O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete para a

relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de

desenvolvimento infantil. Ao considerar que a criança aprende de modo intuitivo,

adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro

com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha

um papel de grande relevância para desenvolvê-la. Ao permitir a ação intencional

(afetividade), a construção de representações mentais (cognição), a manipulação de

objetos e o desempenho de ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas interações

(social), o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas

inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil

(KISHIMOTO, 2007).

Criança, jogo e brincadeira estão intrinsecamente interligadas, mas, em

algumas escolas não é possível notar essa interligação, sendo que a criança tem a

necessidade de estar envolvida por momentos de socialização saudáveis, bem como das

suas necessidades de movimento, expressão e de construção de seu conhecimento a

partir do seu próprio corpo. A escola precisa apreender que a criança sempre está em

constante desenvolvimento.

Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com

vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que

mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança

para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar as

atividades lúdicas na educação significa transpor para o campo do ensino-aprendizagem

condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades

do lúdico, do prazer, da capacidade de indicação e ação ativa e motivadora.

20

Assumindo a função lúdica e educativa, o brinquedo/brincadeiras é

considerado como um preparo da criança para a vida adulta. Brincando, a criança

aprende, e aprende de uma forma prazerosa, mesmo que apesar da riqueza de situações

de aprendizagens que propicia, nunca se tem a certeza de que a construção do

conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada pelo professor.

Na vivência com as atividades lúdicas, as crianças podem recriar sua leitura

de mundo e o modo de agir. As atividades lúdicas podem ser utilizadas nas tarefas da

angústia/ansiedade, devido que esse sentimento compromete a capacidade de atenção,

de concentração, relações interpessoais, auto-estima, e, desta forma, a aprendizagem;

onde a psicopedagogia dá o amparo que necessita.

Os limites das crianças, bem como suas opiniões, sendo ela mesma, através

da aplicação das regras nas atividades lúdicas se formam prazerosamente,

proporcionando experiências inovadoras, na medida em que erra e acerta, reconhecendo

como adequado; desenvolvendo sua organização espacial e ampliando seu raciocínio

lógico na medida que exige estratégias de planejamento e estimula a criatividade.

O uso de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos, do ponto de vista

psicopedagógico, necessita da percepção do contexto em que se encontram inseridos. É

preciso que o professor e/ou psicopedagogo identifiquem a matriz simbólica anterior do

objeto, para entender melhor as necessidades e dificuldades mais imediatas dos alunos.

É desta forma que a criança constrói um espaço de experimentação, de

transição entre o mundo interno e o externo. Neste espaço transicional, dá-se a

aprendizagem.

Huizinga (1992) se destina a estudar o papel do lúdico de forma ampla e

aplicada ao ser humano independentemente de idade ou cultura. E também em

manifestações que vão além do jogo propriamente dito como a dança, a música, o teatro

e até certos ritos tribais.

Enfim, o brincar permite, aprender a lidar com as emoções equilibrando as

tensões provenientes de seu mundo cultural, construindo sua individualidade, sua marca

pessoal, sua personalidade. Mas segundo Piaget (1994) o brincar implica uma dimensão

evolutiva. Crianças de diferentes idades, com características especificas, tem formas

diferenciadas de brincar e deve-se considerar a socialização dela com as demais e não a

brincadeira em si.

21

1.6 A Importância do jogo nas Interações Sociais e no Contexto Sócio-Cultural

Segundo a linha teórica interacionista - construtivista, deve-se destacar as

interações sociais de uma criança com outras ou com adultos no processo de construção

do conhecimento. Nessa interação, através da experiência social, a criança tem acesso à

cultura, aos valores e aos conhecimentos históricos.

Leontiev (1903-1979) amplia essa idéia afirmando que, além da experiência

individual, existe no homem a experiência histórico-social, que é o produto do

desenvolvimento transmitido de uma a outras gerações.

Vygotsky (1984), que se aprofundou no estudo do papel das experiências

sociais culturais a partir da análise do jogo infantil, afirma que no jogo a criança

transforma, pela imaginação, os objetos produzidos socialmente. Ele ainda ressalta a

importância dos signos para a criança "internalizar" os meios sociais. A certa altura do

seu desenvolvimento, a criança amplia os limites de sua compreensão, integrando

símbolos socialmente elaborados (valores, crenças sociais, o conhecimento acumulado

da cultura e os conceitos científicos) ao seu próprio conhecimento. Esse processo

dialético entre a criança e a sociedade tem na linguagem um dos signos mais

importantes do desenvolvimento infantil.

No jogo, a criança pode experimentar tanto as convenções estipuladas na

sociedade como as variações dessas convenções. Assim, durante o jogo, a criança pode

escolher entre aceitar ou discordar de certas convenções, promovendo seu

desenvolvimento social. O jogo oferece, muitas vezes, a possibilidade de aprender sobre

solução de conflitos, negociação, lealdade e estratégias, tanto de cooperação como de

competição social. Os padrões iniciais praticados durante o jogo são padrões de

interações sociais que as crianças irão usar mais tarde nos seus encontros com o mundo.

O jogo pode ser muito significativo no que se refere ao conhecimento social

mais amplo e à melhoria do comportamento em prol do social. Porém o jogo também

pode ser um meio de promover aprendizagens ou induzir comportamentos que os

adultos não desejam encorajar. Se despertar nas crianças a consciência dos

conhecimentos sociais que estão acontecendo durante o jogo, esse conhecimento poderá

ser usado no sentido de ajuda-las no desenvolvimento de uma compreensão positiva da

sociedade e na aquisição de habilidades.

22

Percebe-se que Vygotsky (1984), assim como Piaget (1994), defende a idéia

de que a criança não é a miniatura de um adulto e sua mente funciona de forma bastante

diferente. Esta compreensão tem grandes implicações para os professores porque nos

obriga a compreender o aluno da forma com que ele é, e não da forma com que nós

compreendemos o mundo.

Assim, para a formação docente é de vital importância o estudo das

diferentes teorias do desenvolvimento de forma que nos permitam abordar o processo de

ensino-aprendizagem do modo que o mesmo venha a responder às necessidades

particulares da natureza infantil.

Tanto Piaget (1994) como Vygotsky (1984) pensam que o desenvolvimento

do indivíduo implica não somente em mudanças quantitativas, mas sim, em

transformações qualitativas do pensamento. Ambos reconhecem o papel da relação ente

o indivíduo e a sociedade e, em Vygotsky (1984) é esta relação que determina o

desenvolvimento do indivíduo.

Em face desse entendimento de Vygostky temos que nos perguntar, como

professores, que tipos de ambientes de aprendizagem são mais adequados para gerar

aprendizagens e favorecer o desenvolvimento da criança.

Vygotsky (1984) tem uma visão sócio-construtivista do desenvolvimento

com ênfase no papel do ambiente social no desenvolvimento e na aprendizagem; a

aprendizagem se dá em colaboração entre as crianças e entre elas e os adultos.

Colocando de outra forma, para Vygotsky (1984) a aprendizagem é produto

da ação dos adultos que fazem a mediação no processo de aprendizagem das crianças.

Neste processo de mediação, o adulto usa ferramentas culturais tais como a linguagem,

bem como outros meios, sendo assim um processo de internalização, no qual a criança

domina e se apropria dos instrumentos culturais como os conceitos, as idéias, a

linguagem, as competências e todas as outras possíveis aprendizagens.

Para ele, portanto, o desenvolvimento dos processos cognitivos superiores, é

resultado de uma atividade mediada.

Ou seja, com este enfoque tem-se que Vygotsky nos fornece uma pista,

sobre o papel da ação docente: o professor é o mediador da aprendizagem do aluno,

facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos diferentes instrumentos culturais. Mas, a

ação docente somente terá sentido se for realizada no plano da Zona de

23

Desenvolvimento Proximal. Isto é, por trás desse nome complicado, há uma idéia

extremamente simples: o que a criança faz hoje em conjunto com outros poderá fazer

sozinha amanhã. Assim, o professor constitui-se na pessoa mais competente que precisa

ajudar o aluno na resolução de problemas que estão fora do seu alcance, desenvolvendo

estratégias para que pouco a pouco possa resolvê-las de modo independente.

1.7 Conhecendo o Processo de Ensino-Aprendizagem

Vygotsky (1994) conceituou o desenvolvimento intelectual de cada pessoa

em dois níveis: real – já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz

de fazer por si própria; potencial - quando a criança ainda não aprendeu tal assunto, mas

está próximo de aprender, e isso se dará principalmente com a ajuda de outras pessoas.

Desta forma, Vygotsky (1994) conceitua as zonas de desenvolvimento proximal como

a distância entre o nível de desenvolvimento que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinando através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou de companheiros mais capazes (p. 72).

Mediante a colocação da conceituação acima tem-se uma nova perspectiva

para a prática pedagógica, privilegiando a busca do conhecimento e não de respostas

corretas. Ao professor/educador cabe seu papel fundamental na aprendizagem, afinal,

para o aluno construir novos conhecimentos precisa de alguém que o oriente. Assim, o

professor deve cumprir com seus alunos a partir de suas possibilidades, bem como o

trabalho conjunto entre colegas, que favorece também a ação do outro na Zona de

Desenvolvimento Proximal - ZDP. Vygotsky (1994) acreditava que a noção de ZDP já

se fazia presente no bom senso do professor quando este elaborava suas aulas.

Assim, pode-se afirmar que o professor é o suporte para que a aprendizagem

do educando sobre um conhecimento novo seja satisfatória. Para isso, o professor tem

que interferir na ZDP do aluno, e para Vygotsky (1994), a linguagem era o caminho

essencial.

Desta forma, a educação não fica à espera do desenvolvimento intelectual da

criança, mas sim em função de levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais

se desenvolve mentalmente. Segundo Vygotsky (1994), esse processo por

24

desenvolvimento é característica das crianças. Se elas próprias fazem da brincadeira um

exercício de ser o que ainda não são, o professor que se contenta com o que elas já

sabem é dispensável.

Para Piaget (1991) a aprendizagem do aluno será significativa quando esse

for um indivíduo ativo, ou seja, quando a criança receber informações de ensino-

aprendizagem para organizar suas atividades e agir sobre elas. O que se percebe é que

os professores “jogam” o conteúdo da matéria ser dada aos alunos, afirmando falta de

tempo. Para o autor, esse tempo utilizado apenas para a verbalização do professor é um

tempo perdido, e deve ser gasto de forma a permitir que os alunos usem a abordagem de

tentativa e erro, esse tempo gasto a mais será, na verdade, um ganho.

Wallon retrata que na concepção do desenvolvimento do indivíduo, a

inteligência ocupa lugar de meio, o desenvolvimento cognitivo aumenta a capacidade de

independência infantil, em que as brincadeiras são criadas da forma mais simples

possíveis, tais como: utiliza objetos não lúdicos como forma de brincar, por exemplo,

garfo/colher (La Taille, 1992, p.41-43).

As disciplinas mentais para Wallon são a capacidade de controlar os

movimentos, mas que só se estabelecem por volta dos seis aos sete anos, sendo um

processo lento, pois as crianças não conseguem se concentrar em uma mesma coisa por

muito tempo, sendo assim a escola exerce um importante papel para a consolidação das

disciplinas mentais (Wallon, 1992, p.89-107). Desta forma, há um entrelaçamento

perpétuo entre as condições de substrato orgânico e as condições de substrato social.

No contexto educacional a aprendizagem dos alunos é o objetivo maior,

sendo uma opção que deve consolidar e ampliar o conhecimento, valorizando as

experiências e ajudar as crianças a superar os obstáculos na aprendizagem.

É interessante observar que as metodologias inovadoras para intervir na sala

de aula são significativas e todas as crianças possam aprender de acordo com suas

realidades e possibilidades, como por exemplo, as atividades lúdicas. Nesse sentido, o

professor deve estar sempre repensando sua prática pedagógica a fim de suprir as

necessidades dos alunos. As metodologias mais condizentes com o processo ensino-

aprendizagem segundo (Kishimoto (2007, p.28-39) são:

• Planejar as aulas de acordo com a realidade dos alunos;

25

• Propor trabalhos diversificados, colocando o aluno em contato com vários tipos

de textos. Por exemplo: Ida a biblioteca;

• Tratar o conteúdo de cada disciplina de acordo com que o aluno possa se

adequar por meio de atividades significativas, levando em conta o potencial deles, os

diversos tipos de interação dos estudantes com o meio e história de vida de cada um;

• Valorizar o diálogo, o debate, a troca de idéias e a participação.

• Desenvolver hábitos de leitura, ler diversos gêneros literários.

É importante frisar que, para se chegar ao sucesso desejado, é

imprescindível que o professor/educador trabalhe com parceria, ou seja, coletivamente

mobilizando pais, alunos e responsáveis para que se envolvam e percebam os benefícios

que as situações inovadoras podem trazer a todos os alunos.

Nesse caso, será importante considerar uma adequada escolha dos textos e

das atividades, tendo em vista que o trabalho pedagógico pautado na diversidade

textual, não significa considerar que os alunos possam realizar todo tipo de atividade

com qualquer tipo de texto. É necessário ter critérios de seleção, considerando, por

exemplo, a complexidade do texto, a familiaridade dos alunos com o tipo de texto, a

adequação do assunto à faixa etária, e a adequação dos textos selecionados à realidade

dos educandos.

Nesse sentido, percebe-se que mesmo a leitura sendo extremamente

importante. Constitui-se de um grande desafio a ser superado não só nas séries/anos

escolares iniciais, como também nos níveis de graduação, presenciado nos dias de hoje.

No entanto, a prática pedagógica demonstra que ao se trabalhar com a

diversidade considera-se praticamente que a aula é adequada, desde que o conteúdo

possa interessar, pois o professor atua como mediador entre eles e o texto. Mas se a aula

não gerar interesse o texto se destina à leitura feita pelos próprios alunos, é preciso

considerar suas reais possibilidades de realizar a tarefa, para que o desafio não seja

muito difícil. Um educador ciente do seu papel de promotor do desenvolvimento e

habilidades na leitura percebe que até na rotina estabelecida dentro da sala de aula,

constitui também, uma situação de ensino e aprendizagem, a despeito de não

necessariamente ser planejado como tal.

26

Para esse caso, as sugestões de atividades são as seguintes (Kishimoto

(2007, p. 98):

• Leitura diária feita pelo professor.

• Roda semanal de leitura.

• Oficinas de produção de textos.

• Hora das notícias.

• Discussão semanal dos conhecimentos adquiridos, etc.

As propostas do sistema educacional no papel são algo que se pode destacá-

lo, mas, em sua prática, desperta apenas preocupação, em muitos aspectos, até mesmo

em relação às atividades diferenciadas que raramente são consideradas pela Escola.

Nesse sentido o psicopedagogo, trabalhando juntamente com o professor, apresentará

outras formas de atingir o aluno. Buscando-se sempre o desenvolvimento das

habilidades necessárias. A equipe Psicopedagógica visa então recolocar aqueles alunos,

até então as margens da sala de aula, como integradores e participantes. Contribuindo

assim para o seu desenvolvimento e aquisição de conhecimentos.

O aluno ao atingir um grau de maturação, começa a perceber que está

ficando aquém do rendimento necessário e começa a se rotular, criando mesmo sem

perceber ou querer um complexo de inferioridade. Estas questões que passam pela

mente do aluno, muitas vezes, encontrarão na escola, a esperança de modificação e

superação. No entanto, se ela consegue uma escola comprometida com o seu

desenvolvimento e que compreenda as suas necessidades em vez de torna-se prisioneira

por várias horas, com certeza será uma criança que alcançará os objetivos e vencerá

obstáculos.

Mesmo não conseguindo dominar algumas habilidades, ela sempre

demonstra disposição em aprender. A escola deve aproveitar todas as manifestações de

alegria da criança e canalizá-la emocionalmente através de atividades que desenvolvam

a aprendizagem. Atividades, quando bem direcionadas, trazem grandes benefícios que

proporcionam saúde física, mental, social e intelectual à criança, ao adolescente e, até

mesmo ao adulto.

27

Aceitar que a criança possa ler ou escrever de diferentes formas, sem ter de

passar obrigatoriamente pelo domínio do código, significa reconhecer que ela pode

gerar conhecimentos próprios e complexos sobre a escrita, não se limitando ao

reconhecimento da letra ou o tipo de unidade (letra, sílaba, palavra, frase), uma vez que

já traz um repertório ao ingressar na escola. Naturalmente, fatores de ordem

sociocultural influenciam no estágio em que se encontram isto porque a maioria das

crianças segue passos semelhantes antes de se apropriar do sistema de escrita. Em cada

momento ou nível, os alunos usam procedimentos de construção comuns, formulando

hipóteses diferentes daquelas nas quais se apoiavam e das quais utilizarão no futuro,

sempre buscando construir um sistema que se assemelhe à escrita dos adultos. Porque

então muitos não conseguem atingir este nível? É preciso usar diferentes formas para se

alcançar resultados. Segundo Ferreiro (1999)

Quando se comprova que no começo do Ensino Fundamental, na mesma sala de aula, há crianças que não conseguem compreender os conteúdos, é preciso aceitar outros educadores trabalhem com os mesmos. O problema é que ninguém supunha que as crianças sabiam algo relevante sobre a aprendizagem antes de entrar na escola (p.109).

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) investigações recentes

demonstraram que o domínio das habilidades relacionadas ao processo de ensino-

aprendizagem não é uma tarefa simples para a criança, já que requer um processo

complexo de construção, em que suas idéias nem sempre coincidem com as dos adultos.

Segundo essas autoras, essas dificuldades têm ocupado lugar de destaque na

preocupação dos educadores. Porém, apesar da variedade de métodos ensaiados para se

ensinar conhecimentos, existe um grande número de criança que não aprende.

Estas afirmações têm se baseado em certas suposições que à luz das

investigações da Psicopedagogia mencionam que fatores internos influenciam nas

dificuldades de aquisição de conhecimentos.

A partir das teorias psicogenéticas e conceituações sobre o ato de brincar de

Wallon, Piaget e Vygostky tem-se no capítulo seguinte uma pesquisa qualitativa no

intuito de estabelecer as relações entre as atividades lúdicas, a criança e a educação para

seu desenvolvimento e o processo ensino-aprendizagem.

28

CAPÍTULO II

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

2.1 Tema em estudo

Como existem várias pesquisas relacionadas a utilização do lúdico, esse

trabalho foi desenvolvido com o propósito de lançar mais um novo olhar sobre o tema

em que facilita o processo ensino-aprendizagem. De acordo com o exposto no decorrer

desta pesquisa, pode-se constatar que o profissional em psicopedagogia surgiu a partir

da necessidade de obter-se um maior entendimento sobre o processo de aprendizagem

do homem, procurando sempre focar este homem como um ser múltiplo, influenciado

tanto por aspectos físicos, cognitivos, quanto emocionais.

No movimento de procurar entender estes aspectos é que o psicopedagogo

constrói o seu trabalho, visando a diminuição dos problemas de aprendizagem e do

fracasso escolar. É nesse contexto de múltiplas interações que as atividades lúdicas são

utilizadas no processo ensino-aprendizagem, pois fazem com que as crianças revelem

aspectos que não aparecem em situações mais formais.

O material a ser utilizado em tais atividades deve ser muito bem selecionado

de acordo com os objetivos específicos do trabalho, da idade das crianças, do tempo

disponível e, é importante estar atento para que esse material funcione como um atrativo

pelo seu possível uso (colorir, escrever, modelar, construir, pregar, colar, prender,

juntar), tendo em vista a construção do conhecimento e do saber por parte da criança.

Fica, portanto, evidenciado a essencialidade do lúdico no trabalho educativo, tanto no

aspecto clínico quanto no institucional, este pode ser encarado como uma possibilidade

de compreender o funcionamento dos processos cognitivos e afetivo-sociais.

O propósito deste trabalho é analisar a relação do lúdico como facilitador do

processo ensino-aprendizagem. Partindo dessa premissa, deseja-se prosseguir com uma

proposta que tente mostrar como a ludicidade está sendo trabalhada nas escolas

públicas.

Segundo Marli apud Andrade; Rodrigues (1995):

29

Os brinquedos e as brincadeiras, embora sendo elementos presentes no mundo da criança em todas as épocas, culturas e classes sociais não tinham a conotação que tem hoje, eram vistos como fúteis e tinham como único objetivo a distração e o recreio. Foi preciso que houvesse uma profunda mudança na sociedade, para que pudesse associar a uma visão positiva às suas atividades espontâneas, surgindo como decorrência a valorização dos brinquedos e da forma de brincar. O aparecimento do Brinquedo como fator de desenvolvimento infantil proporcionou um amplo campo de estudos que pouco vêm influenciando na prática da educação infantil, pois a maioria das nossas escolas ainda considera o brinquedo como não sério e utilizando-o como divertimento e passatempo (p.34).

Desta forma, percebe-se que os autores acima descrevem que o lúdico ainda

não é visto como facilitador da aprendizagem pelos professores e quando utilizados não

é conferido o valor real das atividades lúdicas para o desenvolvimento infantil.

Na curiosidade de obter um conhecimento, sobre este assunto resolveu-se

pesquisar como a ludicidade é tratada no contexto de sala de aula com crianças da 2ª

série do ensino fundamental como facilitador do processo ensino-aprendizagem.

Em virtude do desfavorecimento do processo ensino-aprendizagem

estabelecido pela educação tradicional este trabalho tem como proposta o resgate da

ludicidade como uma das alternativas de ensino, por acreditar-se que a educação deve

ser um processo prazeroso despertando as trocas de experiências e o interesse de

exploração do educando.

2.2 Tipo de Estudo

Verifica-se que o estudo qualitativo é de suma importância para educação,

sendo assim tal estudo irá subsidiar a pesquisa, que dará ênfase ao resgate das atividades

lúdicas como facilitadora do processo ensino-aprendizagem.

Para a realização desta pesquisa, foi utilizado o método qualitativo que

objetiva captar o pensamento e a expressão dos atores envolvidos na problemática que

se quer estudar. Sua característica está calcada na interpretação dos dados e

informações, que segundo Pedron (1997, p.23) partindo-se do pressuposto de que a

realidade não se encontra fora do indivíduo, mas é por ele construída e, desta forma,

somente por meio de seu discurso pode-se percebê-la.

30

Dentro desta perspectiva, o papel do pesquisador passa a ser a do

observador que consegue captar a informação, interpretá-la e redigir de forma a que

outros possam também ‘vivenciar’ a experiência.

O paradigma qualitativo, por considerar os diversos fatores que envolvem o

objeto e a atuação dos atores sociais, bem como, do próprio pesquisador, requer um

estudo de cruzamento de dados e de interpretação deste à luz do contexto e da

compreensão, tornando-o subjetivo, ou seja, próprio.

Desse modo, a presente pesquisa se constituirá em criar condições para que

se desenvolva uma atitude de reflexão crítica, acerca da importância da ludicidade no

contexto facilitador do processo ensino-aprendizagem.

2.3 Local e Sujeitos da pesquisa

A pesquisa qualitativa faz uso da subjetividade e não analisa a aquisição de

conhecimento como algo neutro, fez-se necessário pesquisar a ludicidade na Escola

Classe na 2.ª série do Ensino Fundamental, situado em Sobradinho/DF, enfatizando a

utilização das atividades lúdicas para o desenvolvimento do processo ensino-

aprendizagem.

2.4 Coleta de Dados

Para dar início a este trabalho fez-se necessário primeiramente um

levantamento da literatura acerca do tema escolhido, em seguida houve visitas na escola

informalmente. Inicialmente houve uma conversa informal com os professores da 2.ª

série do Ensino Fundamental acerca do tema de estudo.

Os instrumentos utilizados foram um questionário para os professores,

contendo 08 perguntas (apêndice 01) e outro contendo 07 questões abertas (apêndice

02) para os alunos, abordando a temática em questão no contexto de sala de aula.

A escolha procedeu-se em virtude de entender que o instrumento de coleta

de dados do questionário com questões abertas é o mais adequado para o estudo

pretendido com professores (as) e alunos (as), pois fornecerá um contato direto e

prolongado com todos os sujeitos integrantes deste estudo.

31

Para complementar os dados de coleta foram utilizados a observação direta

no contexto de sala de aula com o objetivo de melhor confirmar as respostas concedidas

pelos entrevistados, pois se acredita que enquanto pesquisadora é preciso estar atenta

não apenas ao roteiro das questões abertas e as respostas dos entrevistados, mas também

aos detalhes não verbais, que só o contato direto com os entrevistados pode oferecer.

Para Thiolente apud Ludke e André (1986):

Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais, hesitações, alterações de ritmo, enfim toda uma comunicação não verbal cuja capitação é muito importante para a compreensão e avaliação do que foi efetivamente dito (p.63).

Com base no exposto acima acredita-se ser necessário na realização da

pesquisa a observação acompanhada do questionário dos professores e dos alunos para

que possa ser confirmado com maior contextualização o que foi respondido.

32

CAPÍTULO III

ORGANIZAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1 Análise dos Dados dos Professores

A partir da análise dos questionários pode-se observar que os professores

consideram a necessidade de atividades lúdicas para crianças no processo ensino-

aprendizagem, essa afirmativa pode ser analisada através das seguintes afirmações

quanto a conceituação do que seja jogos:

Professora A

Jogos são sinônimos de brinquedos, brincadeiras, rondas, divertimentos tradicionais infantis, cantados, declamados, ritmados ou não, de movimento.

Professora B

Os jogos fazem parte da vida da criança, desde seu nascimento, pois são as brincadeiras que seus pais fazem, bem como os brinquedos que possui e as rodas de brincadeiras na escola.

Com relação a conceituação da palavra jogo, Piaget (1998, p.35) acredita

que ele é fundamental na vida da criança, isto devido que no início tem-se o jogo de

exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro

prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em torno dos 2 aos 6 anos percebe-se a ocorrência

dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança de não somente recordar

o mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.

Após os 6 anos surgem os jogos de regras, que são transmitidos

socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de importância

de acordo com o avanço do seu desenvolvimento social. Para Piaget (1998, p.36), o

jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil, já que as

crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade.

33

Concordando com a autora Macedo et al (2005, p.22) o jogo faz com que as

crianças comuniquem, através da ação, sua forma de pensar, sabendo-se que o

observador deve reconhecer nas ações os indivíduos que está buscando para realizar sua

avaliação. Desta forma, ele é importante na área educativa, dando ênfase como

facilitador para o processo ensino-aprendizagem devido transformar as informações,

sempre presentes, em dados significativos.

Na segunda questão sobre se existe diferença entre jogos e brincadeiras, os

professores responderam que

Professora A o jogo é participar de competição em que alguém vai ser o vencedor e a brincadeira é se divertir sem se preocupar em ganhar, livre e leve.

Professora B Muitos autores diferenciam os dois como sendo brincadeira de caráter totalmente lúdico, sem a exigência de "regras". E jogo já exigindo regras e uma maior complexidade. Outros dizem que são a mesma coisa..."brincar de pega-pega" ou "jogar pega-pega"? Definir o seu conceito, o que entendo. Você acredita que nas brincadeiras de "casinha" não existem regras?.

De acordo com autores, percebe-se que há variedade de elementos

considerados como jogo demonstrando a dificuldade de definição e aumenta mais

quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou não-

jogo. Este fato é observado na fala das duas professoras em que para um observador

externo uma mesma conduta pode ser jogo ou não-jogo, em diferentes culturas,

dependendo do significado a ela atribuído, ou mesmo o objetivo caracterizado naquela

brincadeira (Kishimoto, 1999).

Dessas considerações, Kishimoto (1999, p. 28), conceitua brinquedo como

objeto, suporte de brincadeira, descrição de uma conduta estruturada, com regras e jogo

infantil para designar tanto o objeto e as regras do jogo da criança – brinquedo e

brincadeiras. O brinquedo é o suporte da uma brincadeira, seja ela qual for. O brinquedo

tem sempre como referencial a criança e sua história está ligada com a história da

criança.

34

Ao emprego do termo jogo, quando se referir a uma descrição de uma ação

lúdica, com situações estruturadas pelo próprio tipo de material utilizado, tais como:

jogo de xadrez, trilha, dominó, dentre outros. Divergindo da brincadeira, o jogo só se

explica dentro do contexto em que for utilizado.

O uso de jogos na sala de aula como instrumento de avaliação na questão 3

é visto pelas professoras como:

Professora A

“Considero que seja às vezes viável a utilização de se avaliar por meio de atividades lúdicas, pois os alunos ficam críticos e livres para demonstrarem o que aprenderam na atividade educativa em sala de aula”.

Professora B

“Já utilizei algumas vezes, mas não me parece ser muito prático, pois os alunos ficam dispersos e a brincadeira vai mais além não caracterizando o objetivo inicial que queria”.

Demonstra-se nesta fala que deve haver objetividade ao se tratar das

atividades lúdicas, isto devido que elas são instrumentos didáticos que efetivam a

prática educativa no âmbito escolar demandam um professor com uma visão de mundo

que seja capaz de trazer uma teoria que articule os conteúdos trazidos pelos alunos com

os conteúdos escolares e que reconheça o jogo, a brincadeira e o brinquedo como

instrumentos culturais que possibilitam a aprendizagem e o desenvolvimento da criança,

bem como a formação e apropriação de conceitos, a qual se efetiva por meio de

mediações do educador em sala de aula. E se percebeu na fala da professora B que não

houve este entrosamento da didática com o objetivo proposto para a atividade lúdica

para se avaliar, por isso houve esta quebra em seu trabalho pedagógico.

Como as professoras utilizam o lúdico no cotidiano escolar sem tirar deste a

espontaneidade, a imprevisibilidade que são uma das características que o tornam

prazeroso e rico, na questão 4, obteve como respostas:

Professora A

“É importante considerarmos que a infância tem que ser respeitada, pois se reduzirmos a criança a um adulto em miniatura será pior para ela como também a sociedade, pois a vida cobra as etapas não

35

vividas. Sabemos que as necessidades lúdicas e afetivas da criança têm a mesma importância que as suas necessidades físicas”.

Professora B

“O lúdico leva as crianças de forma solitária ou nos grupos a explorarem as situações ao alcance de sua compreensão como organizar espaços, criar regras, estabelecer desafios, construir novos conhecimentos e desenvolver a linguagem verbal”.

Na escola em estudo o que se pode observar é que as salas de aulas possuem

uma forma de organização tradicional: a mesa da professora à frente da classe com sua

respectiva cadeira, quadro negro, mesas e cadeiras espalhadas em toda a sala, o que

diminui o espaço físico, e um armário de alumínio o qual guarda os materiais, o mesmo

permanece sempre trancado e somente é aberto quando a professora necessita retirar

materiais pedagógicos.

Neste contexto verifica-se que o primeiro entrave a utilização do lúdico se

dá a partir da organização física da sala de aula a qual se observa não somente nesta

escola, mas nas demais escola da rede pública de ensino, onde o espaço foi planejado

apenas para o aprendizado formal e tradicionalista. Porém tal estrutura não possibilita a

livre locomoção dos alunos uma vez que é muito trabalhoso a movimentação das mesas

e cadeiras para iniciar atividades, pois as mesmas são ergonomicamente inadequadas a

estrutura físicas das crianças, pois são grandes, altas e pesadas.

Para Bourdie apud Zóboli (1995, p. 89) a escola enquanto instituição que

prepara o indivíduo para o mercado de trabalho deixou de lado a criança, preocupou-se

com o conteúdo a ser adquirido, assim a imagem deturpada de infância ainda

permanecem na memória de alguns dos profissionais de educação.

Sobre a importância da utilização de atividades lúdicas na escola na questão

5, as professores destacam que:

Professora A

“As brincadeiras são linguagens não verbais, nas quais a criança expressa e passa mensagens, mostrando como ela interpreta e enxerga o mundo, por isso considero importante as atividades lúdicas na escola, o aluno demonstra o que sente e como se sente”.

36

Professora B

“Toda criança que participa de atividades lúdicas, adquire novos conhecimentos e desenvolve habilidades de forma natural e agradável, que gera um forte interesse em aprender e garante o prazer”.

Na fala das duas professoras demonstra-se que a potencialidade das

atividades lúdicas como fenômeno humano faz uma íntima relação ao processo criativo,

onde o indivíduo explora suas potencialidades. Em que segundo Kishimoto (2002,

p.56), o uso da atividade lúdica é uma as formas de revelar os conflitos interiores da

criança, e ainda que ela atende às necessidades do desenvolvimento infantil.

Como utilizar o jogo, o brinquedo sem que estes se tornem um trabalho na

questão 06, foi respondido que:

Professora A

“Eu uso jogo geralmente para apresentar conceitos. A questão da divisão, jogos que eu possa estar trabalhando com a criança, por exemplo, a quantidade, a conservação dessa quantidade... Principalmente pra construção de conceitos iniciais de capacidade, não me deixo levar para ser um trabalho“.

Professora B

“Nunca considerei que fosse um trabalho e sim um meio para poder me auxiliar e fazer que a aprendizagem em sala de aula fosse mais gratificante para os alunos e aprendessem com mais prazer”.

Para Kishimoto (2002) tanto o trabalho como o brinquedo pode representar

um interesse pela atividade ‘em si mesma’, mas, no caso do brinquedo, a atividade que

recebe o interesse é mais ou menos casual segundo o acaso das circunstâncias, do

capricho ou da determinação alheia; no caso do trabalho a atividade fica enriquecida

pelo sendo de que ela nos leva a um fim, importa em alguma coisa.

Na sétima questão sobre de que forma usar o lúdico na sala de aula, no

sentido de contribuir no processo de aprendizagem e no desenvolvimento do aluno, as

professores responderam que:

37

Professora A

“A finalidade é desenvolver o raciocínio, desenvolver estratégia de pensamento, a sociabilização... é... normas de condutas, e também a interpretação”.

Professora B

“[...] a gente trabalha o jogo para entreter a criança, pra criança apenas se divertir, pra ela passar um momento legal pra ela estar se distraindo com o amigo dela e ir relaxando daqueles momentos mais tensos da escola, e assim poder aprender de forma mais adequada”.

O jogo no sentido de contribuir para o processo ensino-aprendizagem deve

ser visto como integração para a criança em que ela necessita brincar, jogar, criar e

inventar para manter seu equilíbrio com o mundo. A importância da inserção e

utilização das atividades lúdicas na prática pedagógica é uma realidade que se impõe ao

professor. Brinquedos não devem ser explorados só para lazer, mas também como

elementos bastantes enriquecedores para promover a aprendizagem. Através dos jogos e

brincadeiras, o educando encontra apoio para superar suas dificuldades de

aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo (Kishimoto, 1998, p.

56). Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que traz

enormes contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar.

Na última questão tem-se a pergunta temática deste estudo que é a

importância dos jogos e brincadeiras para o processo ensino-aprendizagem fazendo um

elo da pergunta anterior, e os professores retratam que:

Professora A

“Acredito que a ludicidade influência no aprendizado das crianças, independente da sua faixa etária, pois com ela o aluno perde o medo de aprender e brincando aprende sem perceber. Ludicidade é um tema que me interessa muito, pois sou professora há seis anos e procuro sempre inserir a ludicidade em minha prática pedagógica. Estou sempre em busca de novas atividades lúdicas para aprimorar minha prática”.

Professora B

“acredito que o lúdico seja a única maneira de ver nossa crianças realmente aprendendo com prazer”.

38

O jogo oferece estímulo e o ambiente necessários para propiciar o

desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos além de permitir que o professor

amplie seus conhecimentos sobre técnicas ativas de ensino e desenvolva suas

capacidades pessoais e profissionais, estimulando-o a recriar sua prática pedagógica

(BRASIL, 1999).

Esse tipo de atividade apresenta um diferencial frente a outras já conhecidas

e difundidas, pois os jogos são elementos muito valiosos no processo de apropriação do

conhecimento, permitindo o desenvolvimento de competências no âmbito da

comunicação, das relações interpessoais, da liderança e do trabalho em equipe e

utilizando a relação cooperação/competição em um contexto formativo, pois o aluno

coopera com os colegas de equipe e compete com as outras equipes que são formadas

pelos demais colegas da turma.

Finalmente, a partir dos resultados obtidos no questionário dos professores

tem-se que as atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido à

influência que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos

emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-

aprendizagem.

3.2 Análise dos Dados dos Alunos

A partir dos resultados obtidos no questionário dos dois alunos da 2.ª série

de uma escola pública do DF percebe-se que as atividades lúdicas são bem vindas e

estimulam o processo ensino-aprendizagem, isto devido as respostas encontradas nas 07

questões abertas aplicadas, conforme pode ser verificado abaixo na primeira questão

sobre o que acham sobre o uso de jogos na sala de aula.

Aluno A “Algo divertido que ajuda para eu aprender melhor”.

Aluno B

“Uma forma de divertir e aprender ao mesmo tempo”.

A partir das respostas obtidas, observa-se que as atividades lúdicas são

caracterizadas pelo ato de brincar, passatempo, diversão. Isso porque é através do

39

brincar que as crianças constroem sua aprendizagem acerca do mundo em que vive, da

cultura em que está inserida. De acordo com Bertoldi (2003) os jogos são uma pequena

parte da atividade de brincar da criança em que constroem o seu saber.

Na segunda questão sobre quando estão jogando com os colegas na sala de

aula quais os sentimentos que sente, obteve-se as seguintes respostas:

Aluno A

“Me sinto feliz, pois brinco com meus amigos”.

Aluno B

“Dá mais vontade de sorrir, pular e aprender”.

Os jogos utilizados em sala de aula pelos professores no Instituto Caputo

demonstram que servem de estímulo para o estudo, ficando mais fácil de entender o

assunto, a aula fica mais interessante, saindo de monotonia tornando-se mais

incentivadora do processo de ensino-aprendizagem, ainda segundo os alunos através dos

jogos pode-se conhecer mais os colegas/alunos e seus comportamentos.

A criança quem tem seus primeiros contatos com a aprendizagem de forma

lúdica, provavelmente vai ter a chance de desenvolver um vínculo mais positivo com a

educação formal, vai estar mais fortalecida para lidar com os medos e frustrações onde

segundo Kishimoto (1998) fortalece o processo de aprendizagem.

Na terceira questão sobre quando o professor usa um jogo ou uma atividade

diferenciada na sala de aula, se o aluno gosta, destacam que:

Aluno A

“Eu adoro, pois fico mais ligado nas atividades que a professora passa de dever”.

Aluno B

“Gosto, pois fico curioso em saber como é o jogo, aí me interesso mais”.

40

Os alunos envolvidos nesta pesquisa possuem a visão que quando o

professor utiliza um jogo ou uma atividade diferenciada na sala de aula à mesma torna-

se mais interessante, pois são diferentes das aulas normais, que eles chamam de

monótonas, eles também dizem que através dessas atividades eles compreendem os

assuntos de forma mais clara e diferente fazendo com que eles prestem mais atenção nas

aulas além da existência da motivação, pois os alunos se tornam mais unidos e alegres,

gerando uma melhor aprendizagem.

Na quarta questão sobre se eles (alunos) aprendem mais com os jogos e

brincadeiras, responderam que sim, não justificando a resposta, desta forma apreende-se

que a aprendizagem é influenciada positivamente com a utilização de jogos e atividades

lúdicas. Conforme Wallon (apud Kishimoto, 2002, p. 117) a diversidade de canais para

a expressão, auxiliado como as brincadeiras e jogos sublinha o caráter pedagógico.

Na quinta questão quando ele (aluno) é avaliado através de um jogo ou

brincadeira se aprende com mais facilidade o conteúdo, destacam que:

Aluno A

“Eu aprendo mais”.

Aluno B

“Não percebo quando a minha professora está me avaliando, apenas brinco”.

Demonstram nestas respostas que os alunos se envolvem bastante nas

atividades lúdicas, não percebendo o enfoque avaliativo, há interesse nos jogos e

assuntos abordados pelos mesmos, diversas maneiras de aprender e passar por situações

diferentes, aula motivadora, sem repetições, ajudando a enfrentar situações distintas,

ocorre um clímax de opiniões, testa a inteligência brincando, entre outros. Para

Vygotsky (1987, p. 34) os processos criativos se refletem nas brincadeiras e jogos, desta

forma tem-se que a atividade lúdica é um bom momento de se avaliar analisando a

criatividade dos alunos.

Na sexta questão, “se você fosse professor, qual o tipo de atividade lúdica

você faria com seus alunos?” eles responderam que:

41

Aluno A

“Várias em que todo mundo se divertisse muito”.

Aluno B

“De roda, pedia para cada um inventar uma brincadeira diferente”.

Os jogos são baseados em modelos de situações reais, ou seja, as crianças

querem se divertir, estar livres para correr, saltar, gastar a energia para seu

desenvolvimento físico e motor. Como quaisquer modelos, simplificam a realidade,

recortando-a ao longo de determinadas perspectivas e para determinados fins, onde

através da simulação de situações reais (jogos/ atividades lúdicas) do cotidiano do aluno

podem-se observar as formas com que os mesmos irão se comportar, assim as respostas

acima afirmam que a brincadeira é uma forma de estar apto a aprendizagem.

Na última questão para darem sugestão de jogos que gostaria que fossem

jogados para aprender alguma disciplina, foram variadas não sendo necessário aqui

enumerar todas, pois são de roda, de regras, historinhas infantis, casinha, bola, pique-

pega, dentre outros. A explicação para essas respostas está no fato de os jogos segundo

Bertoldi (2003) possibilitam à criança aprender de forma prazerosa, num contexto

desvinculado da situação de aprendizagem formal.

Através da aprendizagem do próprio jogo, do domínio das habilidades e

raciocínios utilizados, o aluno tem possibilidade de redimensionar sua relação com as

situações de aprendizagem, com o seu desejo de buscar novos conhecimentos. Tem

também a oportunidade, de acordo com Bertoldi (2003, p. 78), de lidar com a frustração

do não saber, com alternativas entre vitórias e derrotas. Estas mudanças na percepção de

si mesmo e do objeto de conhecimento podem ser estendidas às situações de

aprendizagem formal, na medida em que se restabelecem o desejo e a confiança da

criança na sua capacidade de aprender.

Enfim, após a análise do questionário dos alunos, juntamente com as

respostas dos professores tem-se que no processo de ensino-aprendizagem as atividades

lúdicas ajudam a construir uma prática emancipadora e integradora, ao tornarem-se um

instrumento de aprendizagem que favorece a aquisição do conhecimento em

perspectivas e dimensões que perpassam o desenvolvimento do educando.

42

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jogo oferece estímulo e o ambiente necessários para propiciar o

desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos além de permitir que o professor

amplie seus conhecimentos sobre técnicas ativas de ensino e desenvolva suas

capacidades pessoais e profissionais, estimulando-o a recriar sua prática pedagógica.

As atividades lúdicas são elementos valiosos no processo de apropriação do

conhecimento, permitindo o desenvolvimento de competências no âmbito educativo.

Criança, jogo e brincadeira estão intrinsecamente interligadas, mas, em algumas escolas

não é possível notar essa interligação, sendo que a criança tem a necessidade de estar

envolvida por momentos de socialização saudáveis, bem como das suas necessidades de

movimento, expressão e de construção de seu conhecimento a partir do seu próprio

corpo. A escola precisa apreender que a criança sempre está em constante

desenvolvimento.

Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com

vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que

mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança

para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar as

atividades lúdicas na educação significa transpor para o campo do ensino-aprendizagem

condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades

do lúdico, do prazer, da capacidade de indicação e ação ativa e motivadora.

Assumindo a função lúdica e educativa, o brinquedo/brincadeiras é

considerado como um preparo da criança para a vida adulta. Brincando, a criança

aprende, e aprende de uma forma prazerosa, mesmo que apesar da riqueza de situações

de aprendizagens que propicia, nunca se tem a certeza de que a construção do

conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada pelo professor.

Na vivência com as atividades lúdicas, as crianças podem recriar sua leitura

de mundo e o modo de agir. As atividades lúdicas podem ser utilizadas nas tarefas da

angústia/ansiedade, devido que esse sentimento compromete a capacidade de atenção,

de concentração, relações interpessoais, auto-estima, e, desta forma, a aprendizagem;

onde a psicopedagogia dá o amparo que necessita.

43

Finalmente, a partir dos resultados obtidos pode-se afirmar que a introdução

de jogos e atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido à

influência que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos

emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-

aprendizagem.

44

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47

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO - PROFESSORES

Sou Iracilda de Araújo Oliveira, aluna do Universidade Cândido Mendes – UCAM do Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia e estou concluindo o TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, com tema “O papel do psicopedagogo com ênfase no lúdico como facilitador no processo ensino-aprendizagem” e por isto preciso colher algumas informações que serão confidenciais.

Obrigada, pela sua participação!

1. Como você conceituaria o que são jogos ?

2. Existe diferença entre jogos e brincadeiras?

3. Em sua opinião o uso de jogos na sala de aula como instrumento de avaliação é:

4. Como você utiliza o lúdico no cotidiano escolar sem tirar deste a

espontaneidade, a imprevisibilidade que são uma das características que o

tornam prazeroso e rico?

5. Você importante a utilização de atividades lúdicas?

6. Como utilizar o jogo, o brinquedo sem que estes se tornem um trabalho?

7. De que forma usar o lúdico na sala de aula, nas atividades escolares, no sentido

de contribuir no processo de aprendizagem e no desenvolvimento do aluno?

8. Você considera jogos e brincadeiras importante para o processo de ensino-

aprendizagem?

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QUESTIONÁRIO - ALUNOS

Sou Iracilda de Araújo Oliveira, aluna do Universidade Cândido Mendes – UCAM do Curso de Pós-graduação em Piscopedagogia e estou concluindo o TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, com tema “O papel do psicopedagogo com ênfase no lúdico como facilitador no processo ensino-aprendizagem” e por isto preciso colher algumas informações que serão confidenciais.

Obrigada, pela sua participação!

1. O que você acha sobre o uso de jogos na sala de aula?

2. Quando você está jogando com seus colegas na sala de aula quais os sentimentos

que sente?

3. Quando o professor usa um jogo ou uma atividade diferenciada na sala de aula,

você gosta?

4. Você acha que aprende mais com os jogos e brincadeiras? Por que?

5. Quando você é avaliado através de um jogo ou brincadeira você acha que

aprende mais fácil o conteúdo a ser avaliado? Por que?

6. Se você fosse professor, qual o tipo de atividade lúdica você faria com seus

alunos?

7. Dê a sugestão de jogos que gostaria que fossem jogados para aprender alguma

disciplina?