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Neomondo 53maro abril2013

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Neo Mondo - Maio 2008 4

Alga capaz de reverter completamente a calvície.

Serpente marinha cujo veneno pode ser modificado para rejuvenescer a pele.

Crustáceo que produz enzima capaz de reduzir a obesidade em até 80%.

Ajude a preservar os oceanos. Nem que seja por egoísmo.22 de Março. Dia Mundial da Água.

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5Neo Mondo - Maio 2008

Alga capaz de reverter completamente a calvície.

Serpente marinha cujo veneno pode ser modificado para rejuvenescer a pele.

Crustáceo que produz enzima capaz de reduzir a obesidade em até 80%.

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Neo Mondo - Maio 2008 6

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Mondo Um olhar consciente

As crianças vão se encantar com essa história bem-humorada sobre um reino distante onde há um castelo, um rei e um espelho. Mas diferentemente das outras histórias, esse espelho não é mágico - ele mostra apenas a realidade. E a realidade é que, um dia, o rei desse reino distante

olhou-se no espelho e viu que seu belo umbigo havia desaparecido de sua barriga. Quem teria roubado o umbigo? Um grande mistério a ser descoberto pelos leitores. As alegres

e coloridas ilustrações de Ricardo Girotto dão o toque mágico a essa história escrita por Márcio Thamos em que umbigos escondidos sob grandes barrigas e umbigos à mostra em barrigas que roncam de fome apresentam uma trama delicada sobre compreensão, respeito e solidariedade.

Em um mundo marcado por brinquedos eletrônicos que funcionam a partir do botão power, que tal dar à criança o poder para construir seus próprios brinquedos? Imaginação acionada, materiais fáceis e disponíveis, fotos grandes mostrando o passo a passo e lá vem um divertido índio cara de pet,

um charmoso robô que movimenta a boca, um teatro e suas marionetes e...diversão garantida!Do mesmo autor do consagrado livro FÁBRICA DE BRINQUEDOS, essa obra, além da proposta

lúdica e divertida de criar brinquedos a partir de embalagens, tampinhas e outros materiais descartados no dia a dia, é uma excelente oportunidade para a criança experimentar a autonomia e

o prazer de imaginar, criar, construir e brincar.

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7Neo Mondo - Maio 2008

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As crianças vão se encantar com essa história bem-humorada sobre um reino distante onde há um castelo, um rei e um espelho. Mas diferentemente das outras histórias, esse espelho não é mágico - ele mostra apenas a realidade. E a realidade é que, um dia, o rei desse reino distante

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Seções

ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUAHidropirataria

Tráfico de água doce na foz do Rio Amazonas

Artigo: Dilma de Melo Silva A importância da águaem diversas Culturas

El Niño O lado bom do menino

20

Artigo: Márcio ThamosMitologia clássica: Júpiter e Calisto

19

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ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA

PErfIL10

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ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA

ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA 36

ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA 48

Artigo: Denise de La Corte Bacci Origem e ciclo da Água no Planeta

26

Ana Mansoldo

Educadora Incansável

Velho ChicoTransposição Parcial

VenezaSob o signo da água

Artigo: Ilma de C. P. BarcellosÁgua virtual

32

28

Artigo: Paulo ArkotA Insustentabilidade doDesenvolvimento Sustentável

34

Artigo: João Carlos MucciacitoÁgua - Essência da vida

ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Humberto MesquitaAs “Lenda das Águas”

42

Podemos sim produzir águaFacilitando a reposição das águas nosaquíferos e preservando as florestas

4440

A dualidade da águaA água do dilúvio pode ser a água que batiza. E – não importa a crença – todos somos chamados e cultuar a água como esperança de vida. A natureza é sábia, assim como sábio é quem entende a natureza e a preserva.Exemplo é Kaká Werá, para quem “a água é mãe, e como tal é respeitada nas comunidades indígenas”. Ele é citado no mais recente livro de Ana Mansoldo, Perfil desta edição, educadora que nos convida à simplicidade das pessoas do campo, ao reconhecer que a água está no cerne da questão ambiental. O sociólogo Narciso Cechinel, 40 anos de vivência nos problemas do Nordeste brasileiro, nos alerta para os perigos de se mexer de modo equivocado com a natureza sem cuidar das pessoas que dela dependem e nela interagem. Tal e qual, no seu entender, acontece com o ambicioso projeto de transposição parcial de águas do Rio São Francisco.Narciso é apenas um dos especialistas que estão nesta edição na primeira abordagem que fazemos do polêmico tema, e já não era sem tempo. Para esses estudiosos da realidade regional no contexto nacional, o Velho Chico agoniza, e melhor seria cuidar de sua recuperação do que gastar fortunas em projetos mirabolantes.Queremos que os leitores se sintam batizados ao mergulhar nas páginas de NEO MONDO, cujo foco é o Dia Mundial da Água, e dela saiam mais conscientes do que cabe a cada um fazer para que se alcance a desejada Ecologia Integral, preconizada por Ana Mansoldo.

Boa leitura a todos!

Editorial

Oscar Lopes LuizPresidente do Instituto Neo Mondo

[email protected]

Expediente Publicação

Diretor responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Vinicius Zambrana

redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)

revisão: Instituto Neo Mondo

Diretora de Arte: renata Ariane rosa

Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Tradução: Efex Idiomas – Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick rodrigues ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo Mondorua Antônio Cardoso franco nº 250, Casa Branca – Santo André – SPCep: 09015-530

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 2669-0945 / 8234-4344 / 7987-1331

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

A revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

9Neo Mondo - Março/Abril 2013

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Neo Mondo - Março/Abril 201310

Perfil

É sabido que vida de professoras e professores não é fácil, ainda mais em países como o Brasil, em que o déficit educacional é ainda expressivo.

O que dizer então de quem se dedica a disseminar conhecimento e práticas ambientais de acordo com os princípios da ecologia integral.

Incansável nessa missão, Ana Mansoldo coordena e ministra cursos e palestras como colaboradora do Centro de Ecologia Integral (CEI), com sede em Belo Horizonte (MG).

Entre seus livros destacam-se Educação ambiental na perspectiva da ecologia integral (autenticaeditora.com.br 2012) e Educação ambiental urbana: reflexão e ação (publicação independente 2005), além de ser coautora do Manual do Educador Ambiental (2001-2002).

Nesta entrevista concedida por e mail a NEO MONDO, Ana fala de sua proposta de “ampliar a percepção e a consciência ambiental, provocando novas maneiras de ver, sentir, pensar e agir, comprometidas com a transformação da realidade, tendo em vista a preservação, e não o desfalque da Terra para as futuras gerações” a partir do conceito de ecologia integral.

Ana explica: “O termo vem do grego oikos, que quer dizer casa, ou seja, a casa plane-tária, a Terra com toda a vida ali existente”.

Só é possível assimilar o que seja ecologia integral pela compreensão de suas três dimensões integradas: a ecologia pessoal, a ecologia social e a ecologia da na-tureza. “Somos todos interdependentes, o ser humano, a sociedade e a natureza”, define a educadora.

Nesta edição dedicada à “Água esperança de vida”, esta entrevista – que se insere entre as imperdíveis - é mais um presente de NEO MONDO a seus leitores.

Graduada em psicologia com especialização em educação ambiental, Ana Mansoldo defende

a ecologia integral em cursos, palestras e livros Gabriel Arcanjo Nogueira

NEO MONDO - Seus livros, sobretudo o mais recente, foram escritos pen-sando em educadores e educandos, mas não só neles. É isso?Ana Mansoldo - Considero, como Paulo Freire, que educar é um ato de amor, um encontro entre sujeitos que ensinando aprendem e apren-dendo ensinam. Assim, somos todos educadores e aprendizes, sempre.

NEO MONDO - Qual a aceitação que essa literatura tão qualificada e ob-jetiva tem recebido das instituições de ensino brasileiras?Ana Mansoldo - A educação ambien-tal institucional normalmente se pauta em datas comemorativas ou em discursos pontuais, tais como “economizar água, reciclar o lixo

etc.”. Claro, isso também é impor-tante, mas o enfoque que integra o sujeito, a cultura e a natureza desperta uma nova consciência ambiental e uma visão crítica em re-lação a toda a vida na Terra. Temos desenvolvido com escolas, empresas e comunidades uma formação em Ecologia Integral com resultados muito bons.

NEO MONDO - O capítulo “A água nossa de toda vida” está pratica-mente no miolo do livro, como se fosse o cerne, o âmago da questão ambiental. Foi algo pensado em vista da “importância da água, simplesmente vida” com tudo o que isso implica de responsabilidade e compromisso das pessoas?

Ana Mansoldo: Essa colocação do texto não foi assim planejada, mas é inte-ressante a sua visão, pois a água com certeza é o cerne de toda a vida na Terra e hoje, sem dúvida, a transversal de toda preocupação ambiental.

NEO MONDO: No Brasil há obras gigantescas em andamento, que ganham manchetes na mídia (a exemplo da construção das hidrelé-tricas e da transposição parcial do rio São Francisco), ao lado de inicia-tivas bem mais modestas, como a de indígenas que visam utilizar água de igarapés em microturbinas. Como a educação ambiental se insere nesse quadro? A solução do macroproble-ma da água pode vir de empreendi-mentos menores?

Ana enfatiza: “a água com certeza é o cerne de toda a vida na Terra... e o problema é complexo, pois não se trata só de empreendimentos, mas de justiça, de considerar o uso social da água”

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EDUCADORA INCANSÁVEL

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11Neo Mondo - Março/Abril 2013

Ana Mansoldo : O problema da água é muito mais complexo, pois não se trata só de empreendimentos, mas de justiça, de considerar o uso social da água. Sabemos que mais de 90% da água doce é consumida na agro-pecuária e na indústria, enquanto quase 1 bilhão de pessoas no mundo (ONU/2012) carecem do mínimo necessário à sua sobrevivência.

NEO MONDO: A simplicidade me pa-rece constante no livro, como sugere o capítulo que trata da sabedoria da gente do campo ou o que versa sobre a tolerância como ética para a paz. Como se daria isso na prática?Ana Mansoldo: Na verdade, ser simples nessa sociedade individu-alista, competitiva e consumista dá trabalho... Pois simplicidade é se importar com o outro e com a vida; é priorizar o necessário para sobreviver e ser feliz; é praticar cotidianamente os valores essen-ciais de responsabilidade, tolerân-cia, solidariedade, respeito, amor e compaixão.

NEO MONDO: A senhora é otimista, realista ou pessimista com a educa-ção ambiental que se faz no país?Ana Mansoldo: Para mim a vida só se justifica se houver esperança, do verbo esperançar, estimular, fazer acontecer. E essa é a função do educador: provocar novas maneiras de ver, sentir, pensar e agir para

transformação do mundo, e não ser um mero reprodutor da ideologia dominante. Talvez muitas perdas ambientais já sejam irreversíveis, mas sempre é possível encontrar peque-nos focos de esperança e coragem.

NEO MONDO: Como e quando surgiu a ideia de se criar o Centro de Eco-logia Integral (CEI). Qual o alcance de suas iniciativas e realizações no território brasileiro?Ana Mansoldo: O CEI foi criado pelo casal Ana Maria Vidigal Ribeiro e José Luiz Ribeiro de Carvalho, em 2001, com base nos princípios da Universidade Internacional da Paz (Unipaz). É uma associação sem fins econômicos, sediada em Belo Horizonte, que tem como principal finalidade trabalhar por uma cultura de paz e pela ecologia integral, apoiando e desenvolvendo ações para a defesa, elevação e manu-tenção da qualidade de vida do ser humano, da sociedade e da nature-za. Nossas atividades são principal-mente educativas, seja na educação formal, não formal e informal, tanto em Belo Horizonte como outras cidades de Minas Gerais.

NEO MONDO: O CEI atua em parcerias ou repassa seu know how a institui-ções públicas ou privadas, nos mais diversos segmentos? Em quais esta-dos isso ocorre? Pode citar exemplos bem-sucedidos dessa atuação?

Ana Mansoldo: As atividades presen-ciais do CEI são cursos, seminários, palestras, oficinas, caminhadas eco-lógicas, dentre outras, tanto pagas quanto gratuitas, para o público em geral. Também atendemos deman-das para atividades em parceria com instituições públicas ou privadas. Atualmente, nossa grande atuação é o Grupo Consciência e Consumo. Além disso, o CEI publica, desde 2001, a Revista Ecologia Integral, distribuída gratuitamente para vários estados do Brasil, e a partir de 2010, ela passou a ser eletrônica, podendo ser baixada gratuitamente pelo site www.ecologiaintegral.org.br.

NEO MONDO: A senhora se diz encantada com uma expressão que encontrou na internet. Seria a que o cineasta James Cameron (de Avatar) usou em uma de suas visitas ao Brasil, ao sugerir que devemos nos preocu-par com que crianças deixaremos para o mundo, e não que mundo elas her-darão de nós? Ou seja, a salvação do planeta está nas novíssimas gerações?Ana Mansoldo: Não acredito em salvação do planeta, acredito em transformação, em evolução, na capacidade que o ser humano tem de tornar o mundo cada vez melhor, a cada geração. Nessa caminhada valem a experiência do velho e a ou-sadia do novo, com todos os acertos e erros, mas sempre investigando, corrigindo, transformando.

EDUCADORA INCANSÁVEL

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Perfil

NEO MONDO: Há quem diga - e isso me parece ser o mais correto - que é a civilização, tal e qual a temos, que corre riscos de sumir, e não o planeta, porque a natureza é sábia e se renova, podendo demorar mais ou menos tempo. Qual o papel da edu-cação nessa perspectiva e o que fazer para torná-la mais eficaz no Brasil?Ana Mansoldo: Também penso assim... Afinal, somos apenas uma das espécies no Planeta e quando significarmos um risco à teia da vida (parece que estamos bem perto disso), a natureza nos colocará no devido lugar e seguirá o seu ciclo. O papel da educação am-biental é nos alertar sobre os efeitos da nossa arrogância, nos achando uma espécie superior, com direito de nos apropriar de todas as outras. Come-çamos a entender que vivemos numa comunidade planetária, num ecossiste-ma formado de elementos interconec-tados, interdependentes, organizados em ciclos coerentes, onde milhões de espécies diversificadas (não superiores ou inferiores) executam suas funções específicas, perpetuando a vida.

NEO MONDO: A senhora defende, entre outros aspectos, o choque anticonsumista. Há avanços nesse sentido, em experiências aqui ou acolá, e em que grau isso acontece?

Ana Mansoldo: Somos seres divididos, incompletos, carentes de signi-ficado, e a economia capitalista, astutamente, se apropriou de nossa angústia existencial com o canto da sereia, preenchendo nossa falta com coisas descartáveis: drogas, comidas, roupas, diversão. Um canto belo e sedutor, porém destruidor da vida. É um desafio enorme manter uma posição subjetiva na contracorrente, quando a maioria segue a multidão ingênua, acrítica, mas felizmente já existem muitas atuações nesse senti-do. O Grupo Consciência e Consumo no CEI, por exemplo, tem tido uma demanda crescente de palestras, ofi-cinas, feiras para públicos diversos, abordando a urgência na mudança dos hábitos de consumo atuais.

NEO MONDO: A seu ver, a reciclagem seria apenas paliativo, e não solu-ção. Por quê?Ana Mansoldo: Estima-se que menos de 20% dos resíduos produzidos no mundo sejam reciclados, tanto pelo custo muito alto quanto por não serem recicláveis. Reciclagem de verdade é a perpetuação do ciclo da vida, como ensina a natureza: O gafanhoto come a folha, a codorna come o gafanhoto, a raposa come a codorna, o corvo come a raposa

que depois devolve os nutrientes à terra, que vai sustentar a folha, que é comida pelo gafanhoto e o ciclo de vida recomeça. Nossas cadeias produtivas, ao contrário, extorquem recursos naturais para além dos seus limites de recarga, e os resíduos gerados nem de longe se prestam novamente ao ciclo da vida.

NEO MONDO: A senhora é também crítica da responsabilidade social. Por que: tudo não passaria de frau-de, hipocrisia ou teria apenas efeito anestésico sobre provável sentimen-to de culpa?Ana Mansoldo: Absolutamente não critico a responsabilidade social verdadeira e indispensável, mas a demagogia de instituições, em-presas, indústrias (não preciso citar exemplos) que se enriquecem com a destruição de patrimônios culturais e naturais, não compartilham seu lucro com a sociedade, ambientalizam seus discursos sem alterar suas práticas e, em contrapartida, repartem algumas migalhas aos mais impactados, po-sando de “empresas cidadãs”, cheias de “generosidade social”.

NEO MONDO: Seu livro propõe, na primeira parte, refletir sobre concei-tos, ideias, aspectos relevantes da questão ambiental; e na segunda, práticas socioambientais. Fale-nos um pouco mais sobre quais seriam e como tornar efetivas essas práticas. Ana Mansoldo: A educação ambiental na perspectiva da ecologia integral propõe a ampliação da percepção ambiental, visando o despertar de uma consciência crítica para trans-formação do mundo. Esse é o prin-cipal objetivo das práticas sugeridas no livro. São exercícios para reflexão e ação no ambiente cotidiano.

NEO MONDO: Um último recado aos leitores de NEO MONDO...Ana Mansoldo: Gostaria de insistir que a transformação do mundo começa dentro de cada um. As mudanças de atitudes necessárias à construção de um mundo melhor dependem de nossas escolhas, de sermos responsáveis pela nossa subjetividade e pelas nossas relações com a sociedade e com a natureza.

Neo Mondo - Março/Abril 201312

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Educadora lembra: “Reciclagem de verdade é a perpetuação do ciclo da vida, como ensina a natureza”

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Para as comunidades indígenas,a água é mãe, e como tal é respeitada

(Kaká Werá, citado no livro)

13Neo Mondo - Março/Abril 2013

Ante esse quadro, Ana alerta: “... água é igual a vida,

‘não água’ é igual a ‘não vida’, e isso chamou nossa aten-

ção para o futuro que estamos deixando para os nossos

filhos, um mundo sem água, um mundo sem vida”.

E, depois do alerta, vem o chamado da educadora “à

responsabilidade e ao compromisso individual para:

• reduzir a produção de lixos e, sobretudo, não

jogá-los nas ruas e nos rios;

• evitar o consumismo e o desperdício (os processos

agrícola e industrial utilizam muita água);

• exigir das autoridades

sanitárias o tratamento

dos esgotos domésticos

e industriais;

• reduzir o consumo de água e

energia elétrica em nossas

atividades diárias;

• conhecer a história dos rios e participar

dos projetos de revitalização de

bacias hidrográficas”.

Mundo sem água X compromisso

“A água nossa de toda vida”

A preocupação de Ana no livro Educação ambiental na perspectiva da ecologia integral está expres-sa logo na capa: “Como educar neste mundo em desequilíbrio?”. Desafio que a autora pretende vencer com sua proposta educativa transformadora e consistente.Exemplo é o capítulo dedicado à água, do qual transcrevemos trechos esclarecedores:“A afirmação de que toda a vida na Terra provém da água já era feita pelos antigos filósofos, e cada vez mais a ciência tem confirmado este fato: a vida tem origem na água e constitui a matéria predominante em todos os seres vivos. Seu estado líquido encontrado na Terra é o respon-sável por toda forma de vida que hoje conhecemos. Apesar disso, pouca atenção lhe dedicamos. Já paramos para pensar em quantos

milhões de litros de água consumi-mos durante a vida?”. Ana enumera a onipresença hídrica em nossas vidas desde “o líquido amniótico, água quentinha e con-fortável que nos abrigou por tanto tempo no útero materno”. Depois vêm, entre outros, “as toneladas de frutas, raízes e folhas que nos alimentam e que são constituídas de 70% de líquidos”; “todas as células do nosso corpo constituídas de 70% de líquido”; “toda a excreção dos produtos tóxicos de nosso corpo é feita por via hídrica – urina, suor”. São milhões de litros de água consu-midos numa só existência humana, e nem sempre “paramos para pensar” nisso. Estão aí:

• “a energia elétrica que movi-menta nossos aparelhos elétricos e eletrônicos e ilumina nossa casa e nossa cidade, proveniente das usinas hidroelétricas”;

• “a água utilizada nos proces-sos industriais que constroem nossos veículos, aparelhos domésticos, alimentos, roupas, calçados etc.”;

• “a água consumida na agri-cultura que produz nossos alimentos do dia a dia”.

Não podemos ignorar:

• “o confortável banho diário, o prazeroso banho em mares e ca-choeiras, os sucos, refrigerantes... o cafezinho da manhã, aquele copo de água fresquinha”.

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Neo Mondo - Março/Abril 201314

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

Prevista para estar concluída em dezembro de 2012, o grande trunfo social da obra seria garantir água a 12 milhões de pessoas em 390 municípios do semiárido brasileiroGabriel Arcanjo Nogueira

Uma obra gigantesca, que ainda pode entrar para a história do Bra-sil como redentora de uma dívida

social do País para com seus habitantes em estados da região Nordeste, é também uma das que sofre críticas mais severas de brasileiras e brasileiros que vivem por lá.

Até greve de fome de bispo já marcou a polêmica em torno do ambicioso projeto, que, segundo a Agência Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação EBC), é “uma das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento. A previsão era que a obra es-taria pronta até o fim de 2012. O projeto ligará as águas do rio às bacias hidrográ-ficas do Nordeste Setentrional, a fim de garantir água para cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios do Agreste e do Sertão de Pernambuco, do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

“A obra está dividida em duas partes. O Eixo Leste, com 220 km, prevê a construção de canal, estações de bombeamento, reser-vatórios, túneis e aquedutos entre os mu-

nicípios de Monteiro e Floresta, ambos na Paraíba. No Eixo Norte, que tem 402 km, o trabalho será realizado entre as cidades de São José de Piranhas (PB) e Cabrobó (PE)”.

Em meados de fevereiro de 2013, ainda de acordo com a Agência Brasil, o Ministério da Integração Nacional (MI) es-tava “concluindo um processo que levan-ta suspeitas de inconformidade em me-dições feitas em cinco dos 14 trechos de obras de integração do Rio São Francisco. Neste momento, quatro desses processos - iniciados em maio de 2012 - estão em fase de conclusão na consultoria jurídica do ministério. Um já foi concluído.

“A previsão é que, até abril, todos os processos tenham sido encaminhados ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União. De acordo com o ministério, foram encontradas até o mo-mento inconsistências em medições nos contratos de obras e serviços nos trechos 1, 2, 9, 10 e 11. Para cada lote foi aberto um processo no ministério.

“Os indícios de irregularidades fo-ram identificados durante levantamento feito pelas empresas supervisoras. Os cinco processos abertos têm por base a lista de retificações apresentadas a partir desses trabalhos”.

Estudiosos e especialistas de vários setores apontaram, entre os principais equívocos do ambicioso empreendimen-to (que leva o pomposo nome de Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Seten-trional), o alto custo (R$ 8,5 bilhões, em valores corrigidos) e a baixa abrangência territorial e populacional: apenas 5% do território e 0,3% da população do semiá-rido brasileiro.

Mais grave ainda, estragos ao ecossis-tema regional já se fizeram sentir, entre eles, perda da biodiversidade, assorea-mento, salinização. Para esses críticos, mais correto teria sido investir na recupe-ração do Velho Chico, que vem num pro-cesso de anos de degradação.

Mitos e realidadena transposição parcial do

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15Neo Mondo - Março/Abril 2013

O catarinense Narciso Cechinel já viajou por esse mundo de Deus, aí incluídos estudos superiores na Europa, e vive no Nordeste brasileiro há 40 anos. Nessa região o sociólo-go e professor de cidadania é conhecido por trabalhos em ONGs. Não por acaso um de seus filhos se chama Vandré, homenagem ao poeta e cantador que melhor do que ninguém soube cantar com todo vigor o quanto o nordestino é potencialmente rico de cultura, de princípios e ao mesmo tempo pobre ao ser explorado por potências internas.

Comunidades X multinacionaisNarciso tenta ser sucinto ao falar da

transposição: “Para começar o custo é as-tronômico, e com esse dinheiro daria para resolver uma infinidade de pequenas neces-sidades: cisterna, pequenos açudes, reflo-restamento, assistência técnica e creditícia, entre outras. O projeto da transposição corta inúmeras aldeias indígenas e quilombolas, destruindo a vida dessas comunidades. As multinacionais já compraram as melho-

res terras nas imediações da passagem das águas... Claro, muita gente terá trabalho temporário nas obras da transposição, e ha-verá certo progresso por onde ela passa”.

A dura constatação de Narciso, em 2013, é que o cenário não mudou para melhor no

Nordeste, antes pelo contrário: “Estamos, mais uma vez, em plena seca. Então, não dá para plantar árvores, mas para plantar ideias. Ou resolvemos o problema da seca ou ani-mais continuarão morrendo, pessoas sofren-do fome/doenças e alimentos escasseando”.

Mitos e realidadena transposição parcial do

Comunidades quilombolas, segundo sociólogo, também estariam ameaçadas pelo projeto da transposição

ABr

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ESPECIAL - Dia Mundial da Água

É desse jeito que ele procura chamar a atenção e despertar a consciência de brasileiras e brasileiros ao redigir o trabalho “Plantando Árvores e Ideias ou a Volta da Asa Branca”,escrito no Sertão de Pajeú. Para Narciso, “o semiárido é viável”, desde que respeitados os direitos básicos de sua população.

Ele explica: “O sertão/semiárido com seu sol, sua poeira, sua sede, sua fome, suas mortes, suas lágrimas, suas doenças, suas saudades, sua fé, sua esperança é viá-vel. Essa é a ideia que precisamos plantar, começando pela cabeça das pessoas que vivem no semiárido. Não é verdade que as ideias movem e transformam o mundo? Já era sonho de Dom Fragoso (Crateús–CE): ‘Conscientizar o povo do campo para que descubra sua dignidade, se organize e ande com seus próprios pés... para que lute pela justiça e pelos seus direitos’.

“As pessoas do semiárido, pelo simples motivo de cidadania, têm direito à terra, à água, ao trabalho, à segurança alimentar e outros direitos. Quem mora nas brenhas do sertão não deve ser lembrado (a) só em épo-ca de eleição para comprar seu voto ou no tempo da seca para receber esmolas. É pre-ciso formar a consciência crítica/política da gente sertaneja, combatendo assim o tráfico de votos, fruto de quem vende, e o banditis-mo eleitoral, fruto de quem compra o voto. Que tal uma CPI sobre o tráfico de votos? Os políticos não vão dar um tiro no próprio pé. Sobraria pouco político com ficha limpa...”

Em seu trabalho Narciso cita Eça de Queiroz: “Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mes-ma razão”.

Bicicleta sem rodaPesquisadores apontam a “extinção

inexorável” do rio São Francisco. É o caso do professor José Alves Siqueira, da Uni-versidade Federal do Vale do São Francis-co (Univasf), em Petrolina, Pernambuco, que reuniu 100 especialistas e publicou o livro Flora das caatingas do Rio São Fran-cisco: história natural e conservação (An-drea Jakobsson Estúdio).

A obra, recém-lançada (fevereiro de 2013), é citada no blogspot “Meu Velho Chico um rio pede socorro”, de João Carlos Figueiredo.

Figueiredo se define “poeta, pensador, espeleólogo, montanhista, mergulhador, fotógrafo amador, amante da Natureza, e agora canoísta, gosto da vida como ela é, repleta de surpresas e relacionamentos, às vezes complexos, outras, deliciosamente simples e diretos, como devem ser o amor e a amizade. Navegar é preciso... nas águas do velho Chico! Quero percorrer seus ca-minhos, reviver suas lendas... proteger o seu povo... defender suas águas...”.

Vale a pena conferir como ele descre-ve o intenso e extenso trabalho desses pesquisadores:

“É equivalente a dar oito voltas na Terra - ou a andar 344 mil quilômetros -

a distância percorrida por pesquisadores durante 212 expedições ao longo e no entorno do Rio São Francisco, entre julho de 2008 e abril de 2012. O trabalho ma-peia a flora do entorno do Velho Chico en-quanto ocorrem as obras de transposição de suas águas, que deverão trazer profun-das mudanças na paisagem. Mais do que fazer relatórios exigidos pelos órgãos am-bientais que licenciam a obra...

“Em 556 páginas e quase três quilos de textos, mapas e muitas fotos, a publicação é o mais completo retrato da Caatinga, único bioma exclusivo do Brasil e extre-mamente ameaçado. O título do primeiro dos 13 capítulos, assinado por Siqueira, é um alerta: “A extinção inexorável do Rio São Francisco”.

“- Mostro os elementos de fauna e da flora que já foram perdidos. É como uma bicicleta sem corrente, como anda? E se ela estiver sem pneu? E se na roda estiver fal-tando um raio, e quando a quantidade de raios perdidos é tão grande que inviabiliza a bicicleta? Não sobrou nada no Rio São Francisco. Sinceramente, não sei o que vai acontecer comigo depois do livro, mas precisava dizer isso - desabafa o professor da Univasf. - Queremos que o livro sirva como um marco teórico para as próximas décadas. Vou provar daqui a dez anos o que está acontecendo.

“Ao registrar o estado atual do Rio São Francisco, o pesquisador estabelece pontos de comparação para uma nova pesquisa, a

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Narciso, sociólogo com 40 anos de vivência nos problemas nordestinos, avalia que a contrataçãode mão de obra temporária é um dos poucos ganhos da gigantesca obra

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ser feita no futuro, medindo os impactos dos usos do rio. Além do desvio das águas, há intenso uso para o abastecimento hu-mano, agricultura, criação de animais, recreação, indústrias e muitos outros. Desaguam no Velho Chico milhares de li-tros de esgoto sem qualquer tratamento. Barramentos - sendo pelo menos cinco de grande porte em Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó - criam re-servatórios para usinas hidrelétricas. Elas produzem 15% da energia brasileira, mas têm grande impacto. Alteraram o fluxo de peixes do rio e a qualidade das águas, aca-baram com lagoas temporárias e deixaram debaixo d’água cidades ou povoados intei-ros, como Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Sobradinho.

“Com o fim da piracema, uma vez que os peixes não conseguiam mais subir o rio para se reproduzir, o declínio do número de cardumes e da variedade de espécies foi intenso. Entre as mais afetadas, as chamadas espécies migradoras, entre elas curimatá-pacu, curimatá-pioa, dourado, matrinxã, piau-verdadeiro, pirá e surubim.

“Não foram as barragens as únicas culpadas pelo esgotamento de estoques pesqueiros do Velho Chico. Programas de incentivo da pesca, que não levaram em consideração a capacidade de recuperação dos cardumes, aceleraram a derrocada da atividade. Espécies exóticas, introduzidas no rio com o objetivo de aumentar sua pro-dutividade, entre elas o bagre-africano, a

carpa e o tucunaré, se tornaram verdadeiras pragas, sem oferecer lucro aos pescadores.

“A região do São Francisco, que já foi considerado um dos rios mais abundantes em relação a pescado no país, precisa li-dar com a importação em larga escala de peixes, sobretudo os amazônicos, para suprir o que não consegue mais fornecer. Uma das espécies mais comercializadas na Praça do Peixe, a 700 metros do rio, é o ca-chara (surubim) do Maranhão ou do Pará. Nos restaurantes instalados nas margens do Rio São Francisco, o cardápio oferece tilápias cultivadas ou tambaquis importa-dos da Argentina.

A mudança provocada pelo homem tanto nas águas do Velho Chico quanto na vegetação que o circunda foi drástica e rá-pida. Tendo como base documentos histó-ricos disponíveis, entre eles ilustrações de expedições de naturalistas importantes, como as do alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, é possível ver a exuberância do passado. Um desenho feito há 195 anos mostra os especialistas da época deslum-brados com árvores de grande porte, lago-as temporárias, pássaros em abundância. Ou seja, uma enorme biodiversidade, que hoje não existe mais.

“Menos de dois séculos depois, restam apenas 4% da vegetação das margens do Rio São Francisco. Desprovidas de cober-tura verde, elas sofrem mais com a erosão, que assoreia o rio em ritmo acelerado. Os solos apresentam altos índices de saliniza-

ção e os açudes ficam com a água salobra. Aumentam as áreas de desertificação. O Velho Chico está praticamente inviável como como hidrovia. Espécies foram ex-tintas e ecossistemas estão profundamen-te alterados.

“Diante da expectativa da ‘extin-ção inexorável do Rio São Francisco’, o livro ressalta a importância de gerar conhecimento científico. Não apenas os pesquisadores precisam se debruçar mais sobre o bioma como também o senso comum criado sobre a Caatinga a empobrece. Por isso o título do livro optou por «Caatingas», no plural, chamando a atenção para sua enorme diversidade.

“- O processo que levará ao fim do Rio São Francisco não começou hoje. Basta olhar a ilustração para ver o que aconteceu em tão pouco tempo, menos de 200 anos. A imagem nos mostra um bioma surpre-endente: o tamanho das árvores, a diver-sidade de animais, a exuberância - ressalta Siqueira. -Observamos que ocorre um efei-to em cascata. Tanto que, se algo não for feito agora, de forma veemente, o impacto do aquecimento global na Caatinga, que é o local mais ameaçado pelas mudanças cli-máticas, será dramático”.

Vandré, o cantador, fez “versos com certeza... não separa dor de amor”. É dele uma verdade que nos parece absoluta: “... a vida não muda mudando só de lugar”. Que esse verso não seja profético em rela-ção ao Velho Chico.

Um dos trechos concluídos em 2012 é o do canal e barragem em Cabrobó (PE) com as obras executadas pelo Exército

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NEO MONDO, coerente com seu slo-gan “Um olhar consciente”, selecionou trechos do trabalho de Narciso pelo que representam de prático no cotidiano nor-destino. Confira a seguir:

“Todas as pessoas que amam o semi-árido são responsáveis pelo plantio des-sas ideias. Mais de perto as associações rurais, os sindicatos, as cooperativas, etc. Também as escolas, as emissoras de rádio, publicações locais, etc. A religião pela sua ligação entre os fieis e Deus que pode plan-tar ideias com facilidade total, já que às vezes Ele não manda a chuva...

Guardar água (cisterna, barragem, açude, etc.).

Sempre ouvi dizer que o problema não é bem falta de água. Ela “chove” abun-dante durante alguns meses e vai quase toda embora. O certo então é guardá-la . Deixá-la ir embora e depois trazê-la de volta é insensatez, para não dizer burrice./transposição. Pelo que cada módulo rural/familiar deve ter uma cisterna com pelo menos 50 mil litros. Essas de plástico, de 15 mil litros é piada ou enrolação... Um

módulo rural deve ter também um peque-no açude ou barreiro, barragem subterrâ-nea, etc.

Enfim deve ser retida a água que cai numa propriedade, para não ter que ir buscá-la depois!

Cobertura VegetalUm módulo rural deve ter uma área

de mata permanente, outra para o cul-tivo, outra para o pastoreio. Qual seria então a área ideal para um módulo rural? O que diriam os (as) agricultores (as), o MST, o INCRA? Temos aqui um pro-bleminha: o minifúndio. Mas no sertão também há o latifúndio...

O fantasma da desertificação ame-aça o semiárido. É preciso convencer o (a) agricultor (a) a evitar qualquer tipo de queimada. Queimar é crime. A mata está sendo usada para a cozinha, para a cerca, para a churrascaria, para a padaria, etc.. Andando pelas estradas encontra--se vários caminhões com lenha, estacas, carvão, etc. Alô poderes legislativos (municipal, estadual e federal) é preciso leis severas para evitar o desmatamento.

Reflorestamento/arborização.Alô agricultores (as) prefeituras, estados

e governo federal: não basta cessar o des-matamento. É urgente reflorestar/arborizar. É preciso plantar árvores em cada palmo de terra do campo e da cidade. Onde há arbori-zação sente-se a diferença de temperatura. O clima é agradável porque tem árvores, arbus-tos, etc. Pessoas, animais e o planeta ganha-rão com isto. Existem muitas organizações, departamentos, projetos, institutos, univer-sidades, etc Temos capacidade para esse trabalho junto com os (as) agricultores (as) e com experiências exitosas, (ASA, Centro Sa-biá, Caatinga, etc.) Mas é preciso reconhecer: é um pingo d’agua num oceano de sêca.

“Os (as) agricultores (as) conhecem bem as diversas árvores que suportam a estiagem e fornecem alimento para o gado. É preciso juntar o saber empírico com a visão científica que órgãos de pesquisa po-dem fornecer, facilitando a preparação de sementes/mudas. Cada município ou pelo menos cada região do sertão precisa ter um campo de fornecimento de sementes/mu-das e acompanhamento técnico. Plante essa ideia e as árvores, para salvar o sertão”.

Cada pessoa pode plantar árvores e ideias

ABr

“... o semiárido é viável”, desde que sejam respeitados os direitos básicos de sua população, entre eles o acesso a terras férteis

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Marcio Thamos

— Suma já daqui e não se atreva a ma-cular estas águas sagradas! – foi a sentença que a deusa dardejou de pronto.

Quando a criança nasceu, Juno, que já sabia de tudo, sentiu-se aviltada, e sua có-lera foi terrível:

— Não ficará sem castigo essa bele-za que enfeitiçou meu marido! – disse e cruelmente transformou a rival em uma ursa peluda.

Calisto, no entanto, mantinha no cor-po disforme sua mente humana e sentia o quanto Júpiter era ingrato. Enquanto ela vivia amedrontada entre as feras, Árcade, seu filho, crescia e se tornava um exímio caçador. O destino não tardou a colocá-los frente a frente. Ao reconhecer o menino, agora quase um rapaz, a mãe emocionada quer falar e solta grunhidos horrendos. Assustado mas corajoso, ele está pronto para desferir a lança que traz à mão. Po-rém Júpiter, que a tudo acompanhava, não permite um desfecho tão atroz: no último instante, arrebata mãe e filho e os trans-forma em estrelas vizinhas, para sempre a brilhar no céu.

V ivia na região da Arcádia uma ninfa muito bela chamada Calisto. Em-bora fosse uma princesa, não ficava

enfiada dentro de casa cardando a lã ou penteando-se o dia todo, como em geral faziam as boas moças naquele tempo. Não gostava de se embonecar e vestia-se com muita simplicidade. Sua paixão era percor-rer os montes atrás das feras, munida de um dardo ou carregando a tiracolo a aljava cheia de flechas. Diana, a virgem deusa da caça, acostumada à companhia das ninfas, dentre todas preferia Calisto. Mas não per-duram sempre as boas graças – sem culpa a moça em breve sofreria.

Júpiter, não era de hoje, havia notado aquela jovem e andava fascinado com sua beleza. Mas, receoso do amargo ciúme da esposa, o deus todo-poderoso refreava seus impulsos, adiando assim a tragédia de Calisto.

Certa vez, a ninfa adentra um bosque jamais pisado por nenhum caçador. Ali, no meio da tarde ensolarada, em sombra fresca sobre a relva, ela deita, recostando a cabeça na aljava. Diante de tal oportunida-de, Júpiter já não se contém:

— Minha esposa não vai descobrir nada – diz consigo. — Mas também se descobrir, deixo que ela xingue um pouco, pois valerá a pena, e como valerá!

Sabendo que a virgem fugia à primeira aproximação de qualquer homem, ele as-sume a aparência de Diana e em seguida com voz doce à ninfa se dirige:

— Por onde andou caçando, minha querida?

Ao vê-la assim chegar, Calisto se levanta:— Salve, ó deusa a quem adoro mais

que ao próprio Júpiter!O deus sorri, achando graça num dizer

tão inocente, e beija a moça exagerando no carinho. Antes que ela possa perceber alguma coisa, ele a detém nos braços com violência, revelando ao mesmo tempo seu desejo e sua face verdadeira. A ninfa tenta se esquivar e resiste o quanto pode, mas é inútil seu esforço – o pudor enfim cede ao poder. Satisfeito, Júpiter sobe ao Olimpo e descansa de seu triunfo leviano. Calisto, en-vergonhada, corre sem rumo pelos montes, mas não consegue deixar para trás a humi-lhação que agora a persegue por toda a par-te. Eis que um dia ao encontrar Diana, foge pensando que fosse Júpiter, e só se junta à deusa depois de ver as ninfas que a acompa-nham. Mesmo assim, já não se põe à frente do séquito como de costume e, sentindo-se culpada, caminha cabisbaixa.

Passam-se os meses, e Calisto se tor-na cada vez mais amuada e arredia. Certo dia, encontrando uma fonte fresquíssima depois de uma caçada extenuante, Diana convida as ninfas a se banharem:

— Vamos, meninas, não há ninguém por perto, podemos ficar bem à vontade!

Enquanto todas já se despiram, só Calisto hesita e se mantém à parte. As colegas então vêm puxá-la para junto das outras e brincando tiram-lhe a roupa. A moça infeliz cora e se apavora e procura cobrir o ventre com as mãos. Mas não pode esconder o que o corpo claramente denuncia (como algumas já suspeitavam).

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Linguística

da UNESP-FCL/CAr, credenciado no Programa de Pós-Grad-uação em Estudos Literários da mesma

instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU

– Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

Mitologia clássica: Júpiter e Calisto

Júpiter e Calisto de Jacopo Amigoni

19Neo Mondo - Março/Abril 2013

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Denúncias recorrentes sobre tráfico de água doce na foz do rio Amazonas levam a crer que não são parte do imaginário fantástico

dos que buscam defender a área. Artigo sobre hidropirataria em revista jurídica cobra as autoridades

Antônio Marmo

20 Neo Mondo - Março/Abril 2013

A Amazônia ainda fica tão, tão longe do Sul Maravilha que as notícias sobre ela aqui ainda ganham con-

tornos fantasiosos no imaginário comum. Pois não é que agora retomam-se denún-cias recorrentes de que há um bom tempo vem ocorrendo o tráfico de... -suspense- ...sim, tráfico de água doce a partir da foz do rio Amazonas?

Pois isso saiu nos jornais de lá e corre a Internet há 2 meses depois que uma Agên-cia de Notícias da região mas com sede em Brasília resolveu repercutir a denúncia vei-culada em um insuspeito veículo especiali-zado em temas forenses, a revista Consu-lex, nº 310, de dezembro último.

Em artigo intitulado “A Organização Mundial de Comércio e o mercado interna-cional de água”, a advogada capixaba Ilma de Camargo Pereira Barcellos (ler “Não é fan-tasia”, na página 12), de forma clara e sem juridiquês, fala em navios-tanque fazendo a captação no ponto em que o rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico.

Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Orien-te Médio. Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessaliniza-ção das águas oceânicas (US$ 1,50).

Notícia recorrenteA Agência Amazônia, com sede em

Brasília, dirigida por um amigo acreano, o jornalista Chico Araújo, também de-nunciou a prática há três anos, utilizan-do o termo “hidropirataria”. Agora Chico retoma o tema, reproduzindo o artigo da advogada, logo acatado pelos assinantes da agência entre os jornais amazônicos e também muito replicado na Internet.

Para a revista Consulex, essa prática ile-gal, no entanto, não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, uma vez que são considerados bens da União os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio (CF, art. 20, III).

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

HIDROPIRATARIA

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O trabalho divulgado pela revista Consulex não é centrado na denúncia da hidropirataria em si. Ele começa cha-mando a atenção para o fato de que “a Or-ganização Mundial do Comércio (OMC) tem tratado a água como mercadoria que merece regulamentação internacional. Elevar a água à categoria de mercadoria e submetê-la às regras do comércio interna-cional é expressão da realidade com que se trata o assunto”.

Ilma entende que, desde a reunião re-alizada no Catar, em 2001, a Declaração de Doha incluiu nas leis do comércio todos os chamados “serviços ambientais”, os quais abrangem o fornecimento de água, o que pode significar mais uma iniciativa, no en-tender de Ilma, para forçar a privatização desses serviços.

Assim, diz ela, “não é de se estranhar que a OMC tenha como pauta de discus-sões o comércio mundial de águas, pois se trata de um serviço essencial à Vida e alta-mente lucrativo nos últimos anos”.

Controlar os controlesA Organização Mundial do Comércio

administra regras comerciais internacio-nais, aí incluído o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que define as águas naturais, artificiais ou gasosas como sendo uma mercadoria negociável.

Assim, o artigo XI do acordo proíbe espe-cificamente o uso de controle de exportação para qualquer fim e elimina as restrições quan-titativas sobre importação e exportações.

De forma didática, Ilma explica que “se um País rico em água, como o Brasil, impusesse uma proibição ou até mesmo uma cota sobre as exportações do produto em grande volume por razões ambientais, essa decisão poderia ser questionada sob a ótica da OMC como uma medida comer-cialmente restritiva e uma violação das re-gras do comércio internacional”.

A Associação Norte-americana de Li-vre Comércio (Nafta) também já declara a água como uma “mercadoria negociável”, classificando-a como um bem comercial, um serviço e um investimento.

Bolsões de águaSó após essas premissas jurídicas sobre

comércio exterior é que o artigo de Ilma passa então a informar especificamente sobre o transporte internacional de água, realizado através de grandes petroleiros que saem do pais de origem com petróleo e voltam com tanques especiais cheios de água doce. O líquido nos tanques petrolei-ros, claro, pode funcionar como lastro mas ele seria reaproveitado depois, ou como ela diz na entrevista abaixo, “uniu-se o útil ao agradável”.

O primeiro país a permitir a exporta-ção de água doce, com destino à China e ao Oriente Médio, é o Alasca, na informa-ção da advogada. Dali saem navios-tan-que carregando milhões de litros.

Uma nova tecnologia já foi introdu-zida nesse transporte interoceânico: são os bolsões-de-água, water-bags, técnica já utilizada na Inglaterra, Noruega e EUA (Califórnia). O tamanho dessas bolsas, segundo Ilma, excede o de muitos navios juntos, com capacidade muito superior ao dos superpetroleiros.

Tais bolsões podem ser projetados de acordo com a necessidade e quantidade de água, puxadas por embarcações rebocadoras convencionais. NEOMONDO pesquisou al-guns sites sobre o tema e lá estão informa-ções adicionais em inglês e com fotos.

Perdidas no oceanoAs gigantescas waterbags, segundo os

sites, não seriam, ainda, um método co-mum, usual de transporte de água mas um sistema que começa a chamar a atenção, comparando-se com os custos, digamos, de transportá-la por foguetes.

Mais de uma companhia está come-çando a desenvolver o método, alegando que elas podem ser úteis em situações de desastres naturais (os recentes terremotos no Haiti e Chile, por exemplo), levando água fresca até as zonas sinistradas ou en-tão em áreas sob forte estiagem.

Essas bolsas são descritas como mui-to “semelhantes às usadas por fazen-deiros americanos para estocar grãos.

Outro dispositivo, a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recur-sos hídricos de domínio da União. A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. A Agência, consultada por NEOMONDO nem res-pondeu ao mail.

Para a advogada Ilma de Camargo Pe-reira Barcellos, a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade. É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os re-cursos hídricos do País de interesses eco-nômicos ou políticos internacionais.

O MERCADO INTERNACIONAL DE ÁGUAOrganização Mundial do Comércio, em declarações específicas,

busca forçar a privatização internacional dos serviços ambientais, aí incluindo a venda de água, segundo especialistaHIDROPIRATARIA

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Medem cerca de 200 metros ou 2 cam-pos de futebol e podem carregar até 35 mil toneladas do líquido (35 milhões de litros). São feitas de poliéster, costuradas com linha plástica, resistente.”

Uma das companhias que teriam usa-do tais bolsões é a Nordic Water Supply, da Noruega. Comentando sobre a segurança destes equipamentos, um dos executivos da empresa comparou o sistema com os cintos-de-segurança dos carros ou seja, eles salvam vidas mas também têm seus riscos.

Bolsões deste tipo desgarraram-se dos rebocadores em pleno oceano. Então elas foram equipadas com alarmes ou balizas eletrônicas luminosas -“homing beacon”- para evitar colisões com navios e possibili-tar sua localização.

Nota da redação: Aparentemente o negócio do transporte de água só deu prejuízos pelo menos à empresa citada na

matéria. Na mesma pesquisa via Internet verificamos que a Nordic Water Supply te-ria decretado falência (banckruptcy) por volta de 2003, quando planejava desenvol-ver water-bags para até 100 mil toneladas.

Ela ficou nesse mercado só cinco anos, tendo saído da lista de companhias ligadas à “Oslo Stock Exchange”. Não confirma-mos se ela retomou as atividades poste-riormente. Há outras empresas no ramo.

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

A primeira reação de quem já conhece a Amazônia é perguntar se uma informação tão esdrúxula -tráfico de água doce, hidro--pirataria- não estaria entre os surtos do imaginário sulista sobre a região, sempre abordada –há trabalhos acadêmicos sobre isto- como um mundo fantástico, de imen-sidões despovoadas e ainda fornecedora de notícias e documentários sobre o exótico.

A denúncia-base, no entanto, não saiu em nenhuma publicação engajada na defesa daquela região. Com periodicidade quinzenal, a revista Consulex, instalada num daqueles endereços complicados de Brasília, busca des-tacar-se no cenário das publicações jurídicas pela análise de temas relevantes mas sem a aridez própria da linguagem técnica inerente ao Direito, isto é, sem juridiquês.

De leitura agradável, a publicação se propõe a abordar assuntos nacionais e in-ternacionais que implicam em análise ju-rídica, bem como da evolução doutrinária e jurisprudencial.

Provocando a MarinhaMas a denúncia não encontrou guarida

na grande imprensa do Sudeste. Por isso bus-quei contato com o Ministério da Marinha, em Brasília. A Marinha, através de sua asses-

soria de Comunicação, informou que sim, já tinha tomado conhecimento de tal noticiário.

A tenente que me atendeu disse que a Instituição nunca foi “provocada” direta-mente, e que eu teria sido o primeiro jorna-lista a contatar quem de direito. Mostrava--me com um pé atrás quanto à história. Ela teria encaminhado as questões ao Comando de Operações Navais e ainda aguardava uma resposta até o fechamento desta matéria.

Mas pela Internet verifica-se que eu não fui o único a “provocar”, vale dizer, a entrar em contato com a instituição. No dia 3 de março último um internauta preocupado com o tema, Eduardo Fróes, também cobra-va posição da Marinha.

Ele teve uma resposta formal de um ofi-cial da Inteligência, Marcelo Palma, dizendo que “o assunto constante de sua denúncia já foi informado aos órgãos competentes e que providências estão sendo tomadas, a fim de apurar a responsabilidade e coibir práticas ilícitas como as mencionadas na carta”

Palma termina agradecendo “em nome de comandante e em meu nome a preo-cupação nacionalista de nos informar a respeito de tão importante assunto. Res-peitosamente, CF(FN) Palma (Oficial de Inteligência).”

Marcelo Palma é do 1º Comando Naval, que fica no Rio de Janeiro. O problema ocor-re 6 mil km longe, na foz do Amazonas.

A “Amazônia azul”Em artigo especial publicado no site

do Yahoo em 11 de março último, assina-do por Danilo Almeida, a manchete dizia que “Marinha tenta superar defasagem para vigiar a Amazônia Azul”.

Em contraste com a Amazônia verde, das matas, a azul estaria esparramada por 4,5 mi-lhões de quilômetros quadrados da superfície marítima brasileira, uma riqueza incalculável; nos 55 mil quilômetros quadrados de bacias, a capacidade hídrica é pujante e a reserva de água doce é a maior do planeta. Enfim, um pa-trimônio inestimável para se tomar conta, uma vastidão a ser vigiada”, dizia o artigo.

E prosseguia lembrando que “para quem al-meja protagonismo entre as grandes potências, exercer soberania nesse terreno é lei. É o fator determinante por trás da retomada dos inves-timentos e dos planos de modernização da Ma-rinha”. O artigo falava do reaparelhamento da Força, aí incluindo um caro submarino nuclear esperado para o longinquo 2.024, ao custo total de R$ 15 bilhões, dentro de um pacote frances que inclui mais 4 submarinos convencionais.

IMAGINÁRIO AMAZÔNICO?A notícia de que existiria um tráfico internacional de águas amazônicas surpreende

mesmo jornalista escolado na região. Mas o histórico local sempre foi de predação.

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23Neo Mondo - Março/Abril 2013

Chico Araújo, da agência Amazônia, lembra que um artigo do jornalista Erick Von Farfan já tocava no tema da hidro-pi-rataria há seis anos atrás. Numa reporta-gem no site Eco21 Fartan lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, ago-ra a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce.

Farfan ouviu Ivo Brasil, à época Dire-tor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas -ANA. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, como a Marinha, ele aguardava -lembre-se, 6 anos atrás- uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias.

Ivo Brasil insistia que “são necessários amparos legais para mobilizar tanto a Ma-rinha como a Polícia Federal, que neces-sitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. “Tenho ouvido co-mentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, insistiu.

Pela NEOMONDO, voltei a cobrar isso da agência dias atrás, perguntando se a “de-núncia oficial” deveria chegar através do bispo do Amapá, do Comando da Marinha ou de quem? O mail não foi respondido.

Claro, a mobilização fiscalizadora no lo-cal seria dispendiosa. A captação seria feita por petroleiros na foz do rio Amazonas ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságüe do Amazonas no Atlântico

tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a profun-didade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área.

Essa água, apesar de conter resíduos pesados, a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia.

O custo por litro tratado seria mui-to inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrar-se do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existen-tes, principalmente, dos rios europeus

Um processo de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável. Assim levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa

A cola do GurijubaErick von Farfan, citando pesquisado-

res brasileiros, questionava também se sob o tal tráfico de água doce não se esconde-ria, na verdade, a prática de bio-pirataria, ou tráfico de organismos vivos aquáticos, a linha de raciocínio usada pelo professor do Departamento de Hidráulica da Uniersidde Federal do Paraná, Ary Haro para quem “o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso economicamente”.

Um navio petroleiro, segundo ele, arma-zenaria o equivalente a meio dia de água utili-zada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas po-demos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou.

Um outro colega de jornadas amazôni-cas, o jornalista Elson Martins, que morou longo tempo no Amapá, também mostra--se surpreso com a denúncia de tráfico de água doce mas confirma a biopirataria. Ele diz que “a pirataria ali na foz do grande rio corre solta há seculos! Nem parece mais pirataria, mas sim prática legal”.

“Eu não sabia do lance da água doce, mas não me surpreendo com o saque”, enfatiza Élson. O choramingão do Ludwig levou fortunas em madeiras do sul do Ama-pá, enquanto alegava prejuízo com seus dó-lares investidos numa fábrica de celulose.

E pergunta: “já ouviu falar da cola do peixe Gurijuba? Japoneses e norte-ameri-canos a exploram há décadas recolhendo toda a produção de pescadores da costa do Amapá. Ela contém uma cola poderosa que já sai pronta de uma bolsa na barriga do peixe. É usada em produtos com tecno-logia de ponta, instrumentos farmacêuti-cos sofisticado e até em astronaves”. Exó-tico?. Para o Élson não há nada de exótico.

Élson explica que é Belém a sede do saque e não no Amapá. Tudo ali é permi-tido e nossos caboclos não resmungam. Bah! Essa da água dói no saco!”. E aconse-lhava a procurar fontes em Belém pois no Amapá ninguém iria falar.

HIDRO OU BIOPIRATARIA?Há quem questione a viabilidade econômica do tráfico de água pela água. Pesquisadores acreditam

que o interesse maior está em organismos aquáticos que vão com o líquido, peixes ou plantas

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Neo Mondo - Março/Abril 2013

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

A revista encaminhou algumas perguntas à advogada Ilma Barcellos questionando justamente se não há algo fantasioso na denúncia. Veja abaixo as respostas:

NEOMONDO: “tomamos conhe-cimento de seu artigo na revista Consulex (“A OMC e o mercado internacional de água”) e gostaría-mos que nos brindasse com algumas considerações extras sobre o tema, seguindo as perguntas abaixo:O que a rodada Doha classifica, exa-tamente, como serviços ambientais e onde entra a água aí?

ILMA: Tais serviços ambientais são classificados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, sigla em inglês), basicamente em três gru-

pos: manejo de poluição; tecnologias e produtos mais limpos (bens mais eficientes no uso de recursos do que as alternativas já existentes); bens que contribuem para o manejo sustentá-vel de recursos florestais, pesqueiros ou agrícolas.Resumidamente são aqueles provenientes da natureza, o ciclo hidrológico, abastecimento de água, aí incluindo tratamento de águas residuais industriais e urbanas, a diversidade biológica, as funções do solo, descontaminação e recupe-ração de áreas degradadas; trans-porte e gestão de resíduos sólidos e perigosos; resumindo: são águas residuais, eliminação de lixo e deje-tos e saneamento e a proteção da biodiversidade. Porém a OMC apenas indica os tipos de serviços acima citados não defi-nindo uma lista de tais serviços. Pelo que tenho lido, no meu ponto de vista, a finalidade da OMC em 2001 quando incluiu os serviços de água na rodada de Doha,na realidade a intenção era forçar a privatização dos serviços de água, que já era uma iniciativa altamente lucrativa em vários países. Até mesmo porque a água é maté-ria prima básica para praticamente tudo, carro, geladeira, computa-dor, plástico, alumínio, móveis, roupas, indispensável para qual-quer agricultura, lazer, e enfim, a própria vida. Sem mencionar a quantidade de “água virtual” in-corporada na produção e comércio de alimentos e produtos de consu-mo que são exportados. Somando-se a estes fatores pode-mos citar os países ricos em petróleo e extremamente carentes de água potável. Se hoje, nós que vivemos num país com abundancia de água já pagamos no litro de água quase o mesmo valor de um litro de gasolina ou álcool, o que você acha, qual é a sua conclusão?

NEOMONDO: Segundo o artigo, a comercialização da água é negócio corrente no Mundo. Mas a novidade em seu trabalho é a denúncia de que águas brasileiras estão sendo “fur-tadas”, milhões de litros são levados sorrateiramente em navios-tanques para a Europa e Oriente Médio. A no-tícia não é um tanto fantasiosa como muitas envolvendo a Amazônia?ILMA: Desculpe Antônio, mas a hidropirataria em nosso país não é uma novidade, nem tampouco se trata de uma notícia fantasiosa. O que ocorre é o silencio e a omissão das nossas autoridades. No site onde busquei tais informa-ções eu vi o que o jornalista Erik von Farfan publicou (ver citações dele acima). Também o recentemen-te quando da publicação do meu artigo na Consulex o jornalista Chico Araujo, assim como você, também ficou curioso e contactou um fun-cionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Amazonas. Ele também foi contactado por uma advogada de São Paulo que após ler o artigo lhe informou que, há 5 anos, fez sua tese de mestrado exatamente sobre o tema. Chico Araujo fora informado ainda que, o Departamento de Estado dos Estados Unidos encomendou em 2004 um relatório a uma consultoria independente, afirmando que em decorrência de a água ser o motivo de guerras regionais futuramente, o Rio Amazonas evidentemente faz parte deste cenário.

NEOMONDO: No caso dos petrolei-ros, a água não funcionaria como “lastro”? Porque até agora auto-ridades policiais (Marinha, princi-palmente) não denunciaram ou coibiram? As tais bolsas transporta-doras parecem bem fáceis de serem detectadas, são visíveis...ILMA: A água de lastro serve para manter a estabilidade e integridade

“NÃO É FANTASIA”Em entrevista a advogada Ilma Barcellos diz que a hidro-pirataria no Brasil não é novidade

nem é notícia fantasiosa. O que ocorre é só omissão das autoridades.

A advogada Ilma de Camargo Pereira Barcellos

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pois sabemos que “a água é um recurso limitado, dotado de valor econômico”, porque não houve nenhum tipo de providencia? Com relação as bolsas para transporte de água, não tenho co-nhecimento do seu uso em nosso país.

NEOMONDO: Se ainda não há legis-lação a criar mecanismos especí-ficos para reprimir esse, digamos, “tráfico”, essa dita “usurpação” não é legal? E quem deve criar essas leis, o Brasil ou a OMC?ILMA: Conforme publicado no ar-tigo, existem sim leis que proíbem tais atos e elas estão tanto na Constituição Federal, no art. 21, inciso XIX, que indica a competên-cia da União para “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso”. No que tange à competência formal, o art. 22, inciso IV, deter-

estrutural do navio em alto mar. Eles sempre foram carregados com água do mar. No entanto agora estão carregando tais navios com água doce, ou seja, uniram o útil ao agradável, por tais motivos já esclarecidos no artigo da Consulex.Conforme dito acima, acredito que muitas autoridades já têm conhe-cimento de tais fatos, no entanto, nossas autoridades em muitos casos preferem se omitir. Na época o diri-gente da ANA alegou que para tomar providências junto à Marinha e Policia Federal precisava de amparos legais. Como, se ele era um dos diretores da ANA ( Agencia Nacional de Água), sendo ele responsável pela “outor-ga”, “cobrança” e “fiscalização”, de assuntos relacionados à água? Pelo pouco que entendo, para fiscalizar algo não precisa de nenhum tipo de denúncia. E se tais embarcações não tinham as devidas autorizações para tal,

minou a competência privativa da União para legislar sobre água, já na Lei 9.984 de 17 de julho de 2000, estão definidas as atribuições da ANA, que são de supervisionar, controlar e avaliar as ações e ativi-dades decorrentes do cumprimen-to da legislação federal pertinente aos recursos hídricos, compete à ANA dentre outros, a fiscalização da água, controlando o mecanis-mo de gerenciamento das águas incluindo a outorga e cobrança. Existe também a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que regu-lamentou parcialmente o art. 21, inciso XIX, através da criação do Sistema Nacional de Gerenciamen-to de Recursos Hídricos, e outras, ou seja, leis existem, e muitas.

Deus nos livre e guarde de algum dia a OMC legislar sobre tal bem ambiental.

A Agência Amazônia, em outro artigo de Chico Araújo, conta a saga do empresário americano Jeff Moats. Ele tam-bém descobriu que vender água é um negócio lucrativo.

Ele Investiu US$ 12 milhões para lançar uma nova marca de água mineral, a Equa Water. E adivinhem da onde vem essa água, pergunta Chico? A fábrica está sendo construída uma área de 1.500 hectares nos arre-dores de Manaus, no coração da Amazônia.

Jeff quer extrair a água de um aquífero muito antigo situado 200 metros abaixo da superfície. A água desse aquífero tem o maior grau de pureza do mundo. O mo-tivo está envolto por quartzo rosa, que atua como um guardião da pureza da água.

A idéia é posicionar a marca como a mais pura dentre as águas da terra e explorar na comunicação

justamente o mistério que envolve a Amazônia. Jeff irá construir sua marca com base em três pilares: pu-reza da água, design da garrafa (minimalista) e no branding, este último fundamental. Competirá com marcas já bem estabelecidas no mercado, entre as quais a Evian, a Tynant, a Fiji e a Vittel.

Contudo, acredita-se, Jeff não terá muitos proble-mas para emplacar seu produto. A primeira vantagem é o exotismo da origem da água. Americanos adoram a Amazônia e, pelo menos na terra do Tio Sam, as chances de sucesso são boas. O mercado de água mineral cresce a uma taxa de 25% ao ano e já é um mercado que movi-menta US$ 60 bilhões no mundo.

Que tal você tomar a água mais pura, mais cristalina e mais misteriosa do mundo, conclui o amigo Chico Araújo?

A misteriosa Equa Water

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26 Neo Mondo - Março/Abril 2013

C onsiderando a importância da água em todos os sentidos, acredito ser importante entendermos a sua ori-

gem, o ciclo que ela percorre e sua parti-cipação nos processos modeladores da superfície terrestre.

A água tem sua distribuição na atmos-fera e até uma profundidade de cerca de 10 km na crosta terrestre. Forma reservatórios como rios, lagos, oceanos, geleiras, aqüí-feros subterrâneos, atmosfera e biosfera, compondo o que se denomina hidrosfera.

Mas, qual a origem da água no nosso pla-neta? A quantidade que temos hoje disponível é a mesma desde sua formação? Essa quantida-de foi aumentando ou tudo se formou de uma só vez? A água no planeta vai acabar?

A água existe também em outros planetas do Sistema Solar, não é um privilégio da Terra. No entanto a Terra é o único planeta no qual encontramos água em seu estado líquido.

Uma das teorias diz que a origem da água está relacionada à formação da at-mosfera terrestre num processo de libe-ração de gases por um sólido ou líquido quando aquecido ou resfriado, princi-palmente vapor de água e gás carbônico. Originalmente a água estava aprisionada em certos minerais. Quando a Terra se

aqueceu e seus materiais se fundiram par-cialmente, o vapor de água e outros gases foram liberados e levados para a superfície pelo magma, sendo lançados na atmosfe-ra pela atividade vulcânica. Esse proces-so pode ser observado hoje nas erupções vulcânicas, que forma a denominada água

juvenil, ou seja, dão origem à água da mes-ma maneira desde a sua formação original.

Outra teoria aponta que a maior parte da água da Terra atual veio de fora do sistema solar por meio do impacto de corpos ricos em voláteis após a formação do planeta. A água está presente em vários meteoritos e

Origem eCiclo da Água no Planeta

Fonte: Decifrando a Terra: Teixeria, Toledo, Fairchild e Taioli, Oficina de Textos.2000.

Ciclo da Água

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Neo Mondo - Março/Abril 2013 27

cometas. Incontáveis cometas bombardea-ram a Terra nos primórdios de sua formação, fornecendo água e gases que posteriormen-te deram origem aos oceanos e à atmosfera primitiva, o que indica que a hidrosfera e at-mosfera são secundárias

O volume de água gerado desde então sofreu pequenas alterações, mantendo-se praticamente o mesmo de hoje e a atmosfe-ra terrestre formou-se de uma só vez num certo momento da história do planeta. Isso indica que a quantidade de água pouco se alterou em bilhões de anos, e que é pouco provável que a água do planeta acabe.

A água, então, a partir da precipitação meteórica, que representa a condensação de gotículas a partir do vapor de água, passou a se acumular formando os reservatórios e a circular entre eles, originando o ciclo hidro-lógico como conhecemos atualmente.

A água passa por todas as esferas ter-restres. O movimento cíclico da água vai dos oceanos e plantas para a atmosfera por evaporação e evapotranspiração, de volta para a superfície por meio da preci-pitação e, então para os rios e aquíferos pelo escoamento superficial e infiltração, retornando aos oceanos. Esse caminho da água forma o ciclo hidrológico (Figura 1),

Denise de La Corte Bacci

Denise de La Corte BacciGraduada em Geologia pela UNESP, Campus de Rio Claro, mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela

UNESP e doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano e University

of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP.

Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP.

E-mail: [email protected]

fundamental para o abastecimento dos reservatórios naturais, em termos de transferência da água entre eles e trans-formação entre os estados sólido, líquido e gasoso.

O ciclo hidrológico tem importância essencial na gestão dos recursos hídricos e também na transformação das paisagens terrestres, pois a água é um importante agente modelador da superfície.

Muitas paisagens que vemos hoje foram esculpidas pelos processos fluviais (rios), la-custres (lagos) e pelas geleiras além de rea-ções químicas que envolvem a presença da água (intemperismo), que altera os minerais e ajuda a destruir as rochas da superfície. O Grand Canyon nos Estados Unidos é um dos exemplos mais famosos de erosão fluvial e, no Brasil, Vila Velha no Paraná também sofreu a ação da água, além da erosão pelo vento, esculpindo formas únicas, sendo con-siderados patrimônios naturais.

Vales esculpidos pelo gelo mostram a força de erosão das geleiras. Os vales da Serra Nevada também nos Estados Unidos e muitas feições no Sul no Brasil mostram a força desse agente erosivo.

Os processos dinâmicos da Terra agem constantemente modelando as formas da

paisagem que vemos hoje, as quais não são estáticas, mas se modificam ao longo do tempo geológico. Compreender a importân-cia da água em seu ciclo natural e os proces-sos em que ela atua faz-se importante para que entendamos como a ação do homem pode interferir na natureza modificando ou intensificando os processos naturais e quais ações e cuidados devemos tomar para que nossas ações não sejam mais fortes e dese-quilibrem os ciclos e as paisagens naturais.

Referência Bibliográfica:

Teixeira, W., Fairchild. T.R., Toledo, C.M.M.de, Taioli, F. Decifrando a Terra. 2ª. Edição. Companhia Editora Nacional, 2009.

Origem eCiclo da Água no Planeta

Os vales da Serra Nevada nos Estados Unidos mostram a força da erosão das geleiras

Grand Canyon nos Estados Unidos é um dos exemplos mais famosos de erosão fluvial

Fonte: Decifrando a Terra: Teixeria, Toledo, Fairchild e Taioli, Oficina de Textos.2000.

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Misteriosa e única no mundo por sua peculiaridade urbanística, Veneza conserva em suas águas a razão de existir, suas alegrias e suas dores tambémCamila Turriani,De Viareggio (Itália),Especial para NEO MONDO

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

Sob o Signo da

A cidade parece flutuar sobre a laguna. Sereníssima, como era chamada no período em que era uma das mais in-

fluentes repúblicas marítimas da Itália. Sobre suas águas navegaram grandes marinheiros, mercadores e exploradores, como um de seus

mais ilustres filhos, Marco Polo. Shakspeare relembra a tradição mercantil da cidade em sua instigante obra O Mercador de Veneza, que nos remete a um passado de glória e poder.

E quem, ao ouvir falar de Veneza, não pensa logo em um passeio de gôn-

dola por entre seus cerca de 180 canais? A água para os venezianos foi sempre fonte de prazer, luxo e riqueza. Sem ela, a cidade perderia sentido. A incrível la-guna é, certamente, seu órgão vital, o seu coração.

Até Missa do Galo já teve seu horá-rio antecipado por força do avanço

das águas na Praça San Marco

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Hoje, porém, a história recente de Veneza deixa no pretérito os requintes. Como dizem os italianos, nem tudo é rose e fiori. Problemas relacionados à água interferem nos negócios de turis-mo da cidade e afetam, principalmente, seus habitantes. São constantes os con-tratempos causados pela alta da maré, que em 2010 não deu trégua. Os mais evidentes estão relacionados aos danos às estruturas, à mobilidade interna e ao tráfego aquático.

No último Natal, por exemplo, o sacerdote da Basílica de San Marco chegou a adiantar o horário da missa, sugerindo aos fiéis calçarem botas de borracha. Isso porque bastam 80 cm de maré alta para alagar a catedral e, na-quela noite, era previsto um aumento de 130 cm a partir da meia-noite - horá-rio em que tradicionalmente é celebra-da a Missa do Galo.

Marés preocupamPara que a população não seja pega de

surpresa, a Prefeitura criou, em 1980, um centro de controle e previsão das marés – Centro Maree. Ele fornece online infor-mações sobre o nível das águas e também oferece dois sistemas de alarme em caso de acqua alta. Um deles é por meio de SMS, enviados aos assinantes deste ser-viço. Outro é por meio de um moderno sistema de sirenes. Neste ano, porém, na primeira noite de alta da laguna, o sistema apresentou falhas. Causa: falta de verbas para a manutenção.

Nunca como em 2010 a sequência de alta das marés foi tão dura em Veneza. A quantidade expressiva superou todos os recordes de maré acima dos 80 cm, até então. E não foi o único recorde do ano. O número de ligações ao centro de previsão superou a marca de 500 mil chamadas; foram 2,5 milhões de visitas à internet, mais de 1 milhão de SMS, e as sirenes de alerta acionadas 31 vezes.

O principal ícone de Veneza, a Praça San Marco, é um dos pontos que mais

sofrem. A água invade o local cerca de 200 vezes ao ano e tem provocado sé-rios danos à pavimentação. A Prefeitu-ra promete providenciar a realização de obras de elevação e impermeabilização da praça, com um custo na ordem de 50 milhões de euros. Mas terá de esperar pelo financiamento do Estado italia-no. Enquanto isso, já abriu as portas a empresas privadas para o patrocínio de obras de restauração dos monumentos.

Além das fortes chuvas e do vento que empurra as águas do mar Adriá-tico para dentro de Veneza, a elevação desmedida da laguna nos últimos tem-pos, segundo especialistas, tem ligação direta com o aumento do nível do mar, um reflexo do global warming. Em uma conferência da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultu-ra (Unesco), organizada no final do ano passado em Veneza, o cientista italiano Paolo Pirazzoli disse que recentes estu-dos revelam que o mar poderá elevar-se de 1,40 m até 2100, com um mínimo de

50 cm e uma média de 80 cm - dado vis-to com maior probabilidade.

Cenário bem diferente do previsto, anos atrás, pelos especialistas do Minis-tério de Pesquisa Cientifica italiano, cujos dados reportavam um aumento em torno de 22 cm e até 31,5 cm como o número mais alarmante. Tais estudos foram efe-tuados para avaliação do sistema Mose. Trata-se do projeto gigantesco promovi-do pela capital italiana, hoje já em fase de construção, que prevê a realização de uma megaestrutura para barrar a entrada da água na laguna, em casos de maré alta.

Entretanto, Pirazzoli ressaltou a ina-dequação deste sistema em termos de longevidade e funcionalidade. “O proje-to foi pensado para um aumento previs-to do nível do mar entre 20 cm e 30 cm, marca hoje superada pelas previsões atu-ais. As barragens deverão estar sempre fechadas, e a água continuará a passar do mesmo jeito. O Mose poderá ser in-suficiente para defender Veneza”, disse na ocasião.

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A operacionalidade do porto será garantida por uma eclusa para grandes embarcações

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As discussões sobre como salvar Veneza dos alagamentos pro-vocados pela maré alta começaram em 1966. Neste ano, a maré su-biu quase 2 metros, provocando verdadeiro desastre. De lá para cá, o problema assumiu maiores dimensões, tornando-se mais intenso e frequente. Com o intuito de proteger a cidade desse fenômeno, que em 2010 sofreu grande intensificação, o governo italiano cons-trói gigantescas barragens móveis. Serão quatro no total, posicio-nadas nas três “bocas” de entrada da laguna: Lido, Malamocco e Chioggia. Este sistema, conhecido como Mose, é uma das maiores obras hidráulicas italianas dos últimos anos, e sua técnica não tem precedentes no mundo todo, nem mesmo tendo sido testada antes.

Inseridas no fundo do mar, as barragens entram em ação por meio de um sistema pneumático, desfrutando assim o princípio de Arquimedes. O ar é insuflado dentro de cada uma delas, fazen-do com que a água que as mantém abaixadas seja expelida e, por consequência, elas se levantem. O que deverá acontecer todas as vezes que a maré atingir o marco de 1,10 metro.

Falta autonomiaOutra pedra no sapato dos venezianos é

a falta de autonomia sobre o seu território. Dá para imaginar a onda de preocupação e perplexidade que atingiu a cidade, quando no início do ano uma voz anunciou a revogação de um decreto de 1904, o qual passava os po-

deres dos canais de Veneza da Prefeitura para o Estado. Mas tudo foi prontamente desmen-tido pelo ministro da Simplificação Norma-tiva Roberto Calderoli, que assegurou que o Canal Grande, a principal via d’água e cartão--postal de Veneza, era e continuaria a ser uma jurisdição municipal. Meno male, porque a questão repropunha com força a delicada ma-téria das competências sobre as águas inter-nas da laguna - uma questão polêmica em Ca’ Farsetti, sede do governo municipal.

Para se ter uma ideia, o jornal local La Nuova anunciou recentemente que o pre-feito Giorgio Orsoni teria descoberto a exis-tência de um projeto sobre as águas de San Marco lendo a notícia em suas páginas. “Se quisermos manter a cidade viva, devemos dar à Prefeitura plena autonomia sobre o seu território e capacidade de decidir o seu futu-ro. É também uma questão psicológica. So-bre grande parte das águas, nós não temos autoridade alguma”, declarou o prefeito.

O projeto em questão prevê a cons-trução de um píer de 54 metros na baía

de San Marco, com um espelho d’água de 2,5 mil metros quadrados destinados, ao menos até o momento, a dois iates de luxo. A proposta foi feita por uma socie-dade privada à Autoridade Portual - en-tidade que decide sobre a concessão de utilização daquelas águas.

Projeto Mose é pioneiro no mundo

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

“Veneza é uma cidade frágil, que necessita de manutenção cons-tante”, diz o assessor municipal de Planejamento Estratégico, Pier Fran-cesco Ghetti. A água salgada que invade a cidade causa danos à sua estabilidade, uma vez que possui efeito corrosivo sobre suas estruturas e alicerces. Além disso, provoca distúrbios de mobilidade interna que impedem os cidadãos de realizarem suas atividades normais. “Tive-mos um número crescente de maré alta que leva a cidade a uma situ-ação particularmente danosa e até folclórica. Os turistas ficam encan-tados com esse evento, pois lhes dá a sensação de que a cidade está saindo da água. Para eles é um fato único e se divertem caminhando com grandes botas de borracha sobre a água”, conta o assessor.

Mas a brincadeira é só para os turistas. Em base ao nível médio do mar, a água pode subir até 1 metro sem que invada as margens da cidade. Qualquer centímetro a mais, a água aparecerá sobre as estradas. Há mais um porém: nem todas as margens de Veneza têm a mesma altura. A Praça San Marco, por exemplo, fica embaixo d’água já aos 80 centímetros. Para resolver o problema, está em andamento um proces-

• 3 metros é a maré máxima que o sistema poderá barrar (a maior até hoje foi de 1,94 metro).

• 60 centímetros em 100 anos é o aumento do nível do mar que o Mose poderá suportar.

• 46 quilômetros de litoral estão sendo reforçados.• 65% da obra já foi completada. • 3.000 pessoas envolvidas direta ou indiretamente. • 9.000 metros de recifes artificiais criados dos 9.850 necessários

para amenizar a intensidade das correntes marítimas.

o projeto em números

• 4 complexos de barragens móveis serão inseridas nas “bocas” de entrada da laguna: duas em Lido, uma em Malamocco e uma em Chioggia. Cada uma delas é composta por um determinado número de comportas - 78 no total.

• 1 eclusa para grandes embarcações na “boca” de Malamocco garantirá a operacionalidade do porto, mesmo com as barra-gens em funcionamento.

• 3 eclusas menores (duas em Chioggia e uma em Lido) garantirão o trânsito de barcos pesqueiros, iates e lanchas de resgate.

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Giorgio Orsoni: cidade viva, só com autonomia da Prefeitura

Ghetti, do Planejamento Estratégico: manutenção permanente

Fonte: www.salve.it (site do Ministério de Infraestrutura e Transportes italiano para a proteçao de Veneza e sua laguna)

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31Neo Mondo - Março/Abril 2013

so de elevação de todas as margens de Veneza à quota 100 centímetros (1 metro). Uma vez nivelada, o Mose fará o resto do trabalho.

O sistema já se encontra em fase avançada de construção (65% concluídos) e custará aos cofres públicos cerca de 4,5 bilhões de euros. Esta fortuna vai para o Consórcio Veneza Nova, concessio-nário único para a realização do projeto formado pelas principais construtoras da Itália. Veneza goza de uma lei especial, que lhe garante uma elevada verba do governo italiano para a manutenção do seu patrimônio. Entretanto, devido aos altos custos do projeto, parte desse dinheiro não chega mais, e áreas como a cultura ficam “a ver navios”. Motivo que gerou grande contestação nas esferas política e social na época de sua implementação.

Iniciado em 2003, o sistema torna-se indispensável para a se-gurança da cidade e deve ficar pronto em 2014. Com as previsões de mudança climática, a obra faz-se mais urgente. Mas o fato de ser uma iniciativa inédita no mundo levanta algumas questões sobre sua

efetiva funcionalidade e durabilidade. Há a preocupação da parte de cientistas e grupos da comunidade civil quanto aos riscos de um me-canismo que permanece no fundo do mar - dando poucas possibili-dades de correção e manutenção – e à sua capacidade de bloquear as marés, caso as previsões mais catastróficas se confirmem.

Mas o governo tranquiliza esses setores. Um verniz especial será utilizado para proteger as barragens das agressões do ambien-te marinho. Além disso, garante que o Mose é capaz de proteger Veneza das marés de até 3 metros e foi projetado para enfrentar as mudanças climáticas que preveem aumento de até 60 centímetros do nível do mar nos próximos 100 anos. O problema, segundo o cientista italiano Paolo Pirazzoli, é que os últimos estudos reve-lam dados mais alarmistas, como a possibilidade de o aumento do nível do mar chegar a 1,40 metro. Caso em que o Mose não seria suficiente. Posição que reacende o debate sobre a grande obra: o Mose é irreversível, e as incertezas são muitas.

Não são somente iates que entram no golfo de Veneza. Petroleiros, porta-contêine-res, balsas e navios de cruzeiro são visitantes assíduos de suas águas, já bem frequentadas por gôndolas, barcos-táxi, vaporetos e ferry-boats. Em 2010, mais de 2 milhões de turis-tas entraram na cidade via mar. O mercado está em contínua expansão e levou o porto de Veneza a ser classificado como o primeiro home port do Mediterrâneo. Mas será que essa geração de riqueza justifica alguma coi-sa? Grupos engajados na preservação da la-guna dizem que não. Segundo fontes locais, toda essa movimentação provoca efeitos danosos. As grandes embarcações movem

DataAltura (cm)

16 de abril de 1936 + 147

12 de novembro de 1951 + 151

15 de outubro de 1960 + 145

4 de novembro de 1966 + 194

3 de novembro de 1968 + 144

22 de dezembro de 1979 + 166

1° de fevereiro de 1986 + 158

8 de dezembro de 1992 + 142

6 de novembro de 2000 + 144

16 de novembro de 2002 + 147

1° de dezembro de 2008 + 156

25 de dezembro de 2009 + 145

24 de dezembro de 2010 + 144

milhares de toneladas de água e, sobretudo, sugam água dos canais, aumentando a ero-são e danificando as suas margens.

É uma questão difícil. Mas as autori-dades estão trabalhando em medidas que mantenham um equilíbrio entre as ativi-dades produtivas e a conservação ambien-tal. De acordo com a entidade que realiza as obras do Mose, as barragens não defen-dem somente a cidade de Veneza, mas um ecossistema grande de 550 km quadrados - uma das zonas úmidas mais importantes do Mediterrâneo. E muitas ações para re-cuperar a morfologia e a biodiversidade da laguna já estão sendo efetivadas.

os maiores picos de maré

Percentuais de alagamento de acordo com a quota de maré+ 100 cm: 5%+ 110 cm: 14%+ 120 cm: 29%+ 130 cm: 43%A partir de 140 cm, mais de 54% do território de Veneza é alagado

Projeto Mose, mais de 60% concluídos, ainda causa polêmicas e gera incertezas

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Fonte: Prefeitura de Veneza (www.comune.venezia.it) Fonte: Prefeitura de Veneza (www.comune.venezia.it)

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A água é imprescindível à existên-cia dos seres vivos, mas também ao exercício de atividades indus-

triais, comerciais, agrícolas e à prestação de serviços.

ARJEN HOEKSTRA, Professor de Ges-tão das Águas na Faculdade de Tecnologia e Engenharia da Universidade de Twente (Holanda), denominou de “água virtual” a quantidade de água doce incorporada, direta ou indiretamente, ao processo pro-dutivo de qualquer bem, mercadoria ou serviço, destinados ao consumo humano, estabelecendo uma relação entre a gestão da água e o comércio.

No âmbito do comércio internacional, diz-se recordista na utilização da “água vir-tual” todo país que se destaca em ativida-des relacionadas à exportação. É o caso do Brasil, que figura no ranking dos maiores exportadores de grãos, carne bovina, aço, etanol, alumínio e derivados etc., dentre outros produtos. Para ilustrar, cite-se que, em 2005, o País exportou o equivalente a 50 bilhões de m³ de “água virtual” somente com o processamento da soja para expor-tação, e que, no ano anterior, aproximada-mente 20 trilhões de litros de água doce foram incorporados à industrialização de carne bovina e de frango destinadas ao ex-

PRODUTO “ÁGUA VIRTUAL” (l/km) PRODUTO “ÁGUA VIRTUAL” (l/km)

Arroz 1.400 a 3.600 Laranja e outros cítricos 378

Aveia 2.374 Leite 560 a 865

Aves 2.800 a 4.500 Manteiga 18.000

Azeite de oliva 11.350 Milho 450 a 1.600

Azeitona 2.500 Óleo de soja 5.405

Banana 499 Ovos 2.700 a 4.700

Batata 105 a 160 Queijo 5.280

Beterraba 193 Soja 2.300 a 2.750

Cana-de-açucar 318 Tomate 105

Carne de boi 13.500 a 20.700 Trigo 1.150 a 2.000

Carne de porco 4.600 a 5.900 Uva 455

terior, segundo dados do Instituto de Eco-nomia Agrícola da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Para tornar compreensível o conceito de “água virtual”, listamos a quantidade de água utilizada no processamento e indus-trialização de alguns produtos.

Em 2003, o País já ocupava o 10º lugar entre os exportadores de “água virtual” do mundo, acrescentando CORTEZ que “O volume de água exportado pelo agronegó-cio é mais do que significativo, mas a ‘água virtual’ também tem peso em outros se-tores. No Brasil, nossa geração de energia elétrica é essencialmente hidrelétrica (...).

VirtualÁgua

QuaNTIDaDE DE LITROS DE Água POR QuILO DE aLIMENTO PRODuZIDO

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Neo Mondo - Março/Abril 2013 33

Ilma de Camargos Pereira Barcellos Graduada em Administração pela

Faculdade Cândido Mendes (Vitória-ES) e em Direito pelo Centro Univer-

sitário Vila Velha (UVV). Presidente da Comissão Estadual de Advogados em

Início de Carreira (CEAIC) e Membro da Comissão de Meio Ambiente da Ordem

dos Advogados do Brasil – Seccional do Espírito Santo. Advogada militante.

Ilma de Camargos Pereira Barcellos

Isto é muito claro na indústria eletrointen-siva (alumínio, siderúrgica, ferro ligas, pa-pel e celulose, e petroquímica)”.2

Tomemos como exemplo a produção brasileira de uma tonelada de aço, em que são utilizados 15 mil litros de água, sem falar no consumo de energia elétrica, o que também envolve a água, já que gerada por usina hidrelé-trica. Assinale-se, ademais, que 28,8% da ener-gia elétrica são consumidos por 408 indústrias eletrointensivas, sendo que 41% do custo final do alumínio corresponde à energia elétrica.

Sobre o tema, afirma CORTEZ que “[...] É por isso que o Japão produzia 1,1 milhão de toneladas de alumínio por ano e baixou a pro-dução para apenas 41 mil toneladas/ano, pas-sando a importar o restante. Neste caso, a in-dústria eletrointensiva é ‘competitiva’ porque, como toda exportação de bens primários, de baixo valor agregado, soma mão de obra ba-rata, energia elétrica subsidiada e gigantescas quantidades de ‘água virtual’”. E conclui: “[...] se não compreendermos a importância de se implementar políticas públicas de proteção aos mananciais e ao acesso à água, estaremos subsidiando o poder econômico e político de quem controlar os estoques de água”.3

JOHN ANTHONY ALLAN, cientista bri-tânico que descobriu a fórmula matemática para se aferir a quantidade de água utilizada na produção de um bem (“água virtual”) e que, por isso mesmo, em 2008, foi agraciado com o “Stockholm Water Prize”, uma espécie de Prêmio Nobel concedido pelo Instituto

Internacional da Água de Estocolmo, afirma que atualmente o Brasil é o maior “exporta-dor de água virtual” do mundo.

EXTERNaLIDaDES NEgaTIVaSDiante do excessivo consumo mundial

de “água virtual” e da imprescindibilidade da água para se assegurar as diferentes formas de vida no Planeta Terra, leciona CALDERONI: “[...] Surge então a necessi-dade de se encontrar um mecanismo que torne possível a internacionalização das externalidades, de modo que as empresas e os indivíduos compreendam claramente que existem custos e benefícios sociais, ou seja, é necessário levar em consideração seus efeitos positivos e negativos na im-plantação de uma atividade econômica”.4

Considerando-se que para a produção de um litro de álcool, gasta-se 13 litros de água, e que cada litro de etanol produz aproximada-mente 10 a 13 litros de vinhoto, que contamina os rios e a água subterrânea5, há que se atentar para esse fator de degradação ambiental cujos custos, também denominados “externalidades negativas ambientais”, devem ser suportados pelo explorador da atividade econômica, cum-prindo-lhe, ademais, reparar eventuais prejuí-zos causados ao meio ambiente.

Urge, portanto, uma conscientização glo-bal visando ao consumo racional da água que, embora sabido tratar-se de um recurso natural finito, pouca ou nenhuma atenção tem mereci-do a sua preservação e correta utilização.

NOTAS

1. Disponível em: < http://www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedirect/?temp=4&proj=sabesp& pub=T&db=&docid=01DA58C98B0A62D7832571CA0046F76C> Acesso em: 18.07.07.

2. In: CORTEZ, Henrique. O Século do Hidronegócio. Disponível em: . Acesso em: 04.07.07.

3. Idem,ibidem.

4. CALDERONI, Sabetaí. Economia Am-biental. In: Curso de Gestão Ambiental, da autoria de Arlindo Philippi Jr., Marcelo de Andrade Roméros e Gilda Collet Bru-na. Barueri: Manole, 2004, p. 571-616.

5. Disponível em: http://www.midiain-dependente.org/pt/blue/2007/03/374894.shtml. Acesso em: 28.08.07.

Virtual

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34 Neo Mondo - Março/Abril 2013

A Insustentabilidade doDesenvolvimento Sustentável

O s eventos mais significativos, que subsidiam a compreensão da evo-lução da questão ambiental e a sua

relação com a Terra, são materializados pe-las reuniões do Clube de Roma, em 1968, e, posteriormente, pela Convenção das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento – Estocolmo 72, sem deixar de conside-rar encontros importantes que ocorreram como decorrência da necessidade de con-trole do uso de armas nucleares no Japão, ao final da Segunda Guerra Mundial.

A contribuição do Clube de Roma se deu por meio de um relatório intitulado “Os Limites do Crescimento”, produzido por cientistas do Massachusetts Institute of Technology, que se caracterizou como a primeira iniciativa global voltada a avaliar a

severidade de problemas cruciais para o de-senvolvimento da humanidade, no que tan-ge ao uso dos recursos naturais e energia, com o consequente aumento da poluição, a falta de alimentos e saneamento básico e suas implicações para a saúde, o desenvol-vimento tecnológico e os riscos associados ao aumento da população na Terra.

Posteriormente, em 1972, tendo como referência os resultados do Clube de Roma, realizou-se, em Estocolmo, a Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNU-MAD), que se colocou como a grande refe-rência e marco conceitual para a abordagem da temática ambiental e a necessidade de sua inclusão no rol das políticas públicas.

No caso do Brasil, a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), instituída em

1981, resultou, em grande parte, das discus-sões e acordos realizados nessa CNUMAD.

Naquele momento, a população da Terra era de pouco mais de 3 bilhões de habitantes. A superfície dos continentes apresentava grandes áreas para expan-são das atividades humanas, o papel dos oceanos na regulagem do clima era ainda desconhecido, e os complexos processos associados aos grandes biomas não pare-ciam ter papel mais importante.

O cenário, portanto, era outro e mui-to mais simplificado. Em um contexto no qual as alterações e impactos ambientais causados pelos seres humanos eram, ain-da, relativamente simples ao se considerar as vastas fronteiras e áreas ainda inexplo-radas da Terra.

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Neo Mondo - Março/Abril 2013 35

Paulo F.Garreta Harkot

Paulo F. Garreta Harkot Oceanógrafo, mestre em saúde

pública/epidemiologiaProfessor de cursos de graduação e

pós-graduaçãoDiretor da Sinergética Estudos e ProjetosAtuou em todos os estados litorâneos

brasileiros com atividades relacionadas ao Programa Nacional de Gerenciamen-

to Costeiro (PNGC), participou da im-plantação do Projeto Peixe-Boi Marinho,

na Paraíba, além de outras atividades com unidades de conservação.

Atua também na área de controle da erosão costeira, qualidade das águas e planos de gestão costeira na esfera

pública e na iniciativa privada. Foi consultor do PNUD para fins de avaliação do PNGC para subsidiar a

participação brasileira na Rio 1992 e, posteriormente, na Rio + 20, em 2012.

Não eram conhecidas, tampouco, as intrínsecas e sensíveis relações exis-tentes entre as espécies, ecossistemas e conjuntos de ecossistemas. Nem o papel que essas relações apresentavam para os serviços naturais, uma vez que as informa-ções existentes ainda não possibilitavam o entendimento das importantes funções desempenhadas pelos ecossistemas e pela associação deles, que se mostram como que basilares para a manutenção da vida na Terra, de maneira geral, e da espécie humana, em termos específicos.

Pressão crescenteNo presente, com a população da Ter-

ra tendo já ultrapassado os 7 bilhões de pessoas, com os biomas já bastante di-minuídos e simplificados e já quase que inexistente presença de fronteiras a serem ocupadas, com exceção de algumas áreas ocupadas por florestas tropicais, tem-se claro que os sistemas que regem e supor-tam a vida na Terra encontram-se abala-dos e sob intensa e crescente pressão.

Adicionalmente, e a despeito do grande incremento e quase infinda quantidade de informações existentes, ainda não se dis-põe de informações precisas para a tomada de decisões que contribuam, efetivamente, para a sustentabilidade da vida na Terra.

Ao se considerar as áreas de conhe-cimento que buscam avaliar o impacto causado pelas ações antrópicas sobre os ecossistemas e serviços gerados por eles, constata-se gritante falta de informações no que tange ao entendimento das con-sequências das ações humanas sobre os processos que ocorrem entre os comparti-mentos dos ecossistemas.

A apreciação, avaliação e aprovação de instrumentos legais voltados para a temá-tica ambiental são, como todos os demais, discutidos e votados em plenários nas câ-maras e assembleias estaduais e federal.

Nesse processo, considerado como que democrático, muitas vezes, não são aprovados instrumentos que se mostram capazes de ferir interesses de grupos orga-nizados que atuam em prol daqueles mes-mos grupos que representam.

Como, geralmente, tais interesses são de ordem pecuniária, as preocupa-ções acabam se focando no curto prazo e no atendimento de objetivos sectários, muito pouco contribuindo para a manu-tenção dos serviços naturais assegurados pelos ecossistemas.

O aumento da pressão sobre os pro-cessos que asseguram a ocorrência dos serviços naturais, decorrente do aumen-to da população humana e da maior ne-cessidade de recursos como resultado do desenvolvimento tecnológico, coloca em risco essas unidades funcionais e pode resultar na simplificação das suas carac-terísticas com perda dos processos e ser-viços naturais.

O desconhecimento generalizado da população acerca da unicidade, caracte-rísticas e fragilidades dos serviços ecos-sistêmicos, bem como a fragilidade e a leniência da legislação e os interesses econômicos e pecuniários no curto prazo dos grupos dominantes, permitem vis-lumbrar um cenário preocupante no que respeita às opções de uso dos espaços e ecossistemas naturais.

A base da pirâmideAo mesmo tempo, e tendo em conta

o elevado contingente populacional que apresenta baixos indicadores de quali-dade de vida, torna-se possível antever as sérias ameaças à qualidade ambiental que decorrerá das atividades que buscam atender aos interesses da população na base da pirâmide, em uma economia vol-tada ao consumo e balizada pela obsoles-cência programada e uso abusivo de maté-ria-prima oriunda de petróleo.

Como amálgama desse grande movi-mento, os veículos de comunicação apa-rentam não ter condições de cumprir um papel relevante no que tange à divulgação de informações de interesse público volta-das para o médio e longo prazo.

Nesse contexto, é de se esperar que as ameaças, pressões e impactos junto aos ecossistemas tornem-se cada vez mais inten-sos e prejudiciais à sua manutenção, como alertam as projeções da Avaliação Ecossis-

têmica do Milênio e os cenários relativos à oferta dos serviços naturais em 2050.

Assim, falar em economia verde, azul, verde-azulada ou azul-esverdeada, sem con-siderar os processos que respondem pela existência das espécies, ecossistemas e bio-mas, é, literalmente, esperar que das correias saia o couro.

Algo que se mostra inverossímil de ocorrer.

Nesse quadro, as perspectivas de insustentabilidade do alardeado desen-volvimento sustentável demonstram desconhecimento e, em alguns casos, má-fé daqueles que fazem uso e divul-gam essa temática, em um caso de gran-de descaso governamental nos seus di-ferentes níveis.

Longe de pretender ser pessimista, te-mos que, a partir dos dados, informações e tendências vislumbradas no presente, colocarmo-nos como realistas, já que, à luz da ciência, tanto maior a chance de cura do doente quanto mais preciso, e realista, se mostrar o diagnóstico realizado.

E, ao se tratar de diagnósticos, lembrar que não existe otimismo ou pessimismo.

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36 Neo Mondo - Março/Abril 2013

De toda a água existente no planeta, apenas 0,008% é potável e está dis-ponível para o consumo humano.

Só isso já deveria ser o suficiente para mu-darmos nosso comportamento. Mas, por mais óbvio que pareça, não há uma cons-ciência generalizada de que simplesmente não há vida sem água.

Pelas características privilegiadas de água farta, morar no Brasil faz parecer que a escassez é uma realidade muito distan-te, o que não é verdade. Muitos países já sofrem com o racionamento do mais pre-cioso dos líquidos - até mesmo alguns em franco desenvolvimento, como a China.

Na Região Metropolitana de São Paulo, onde está situado o Grande ABC, o proble-ma é ainda mais grave. Pode não parecer, mas temos quase tanta água disponível quanto o árido Nordeste brasileiro.

Preciosa, ESCASSA e VitalA água é um bem essencial à vida.

Um ser humano não sobrevive mais do

ÁGUA –

que dois dias sem ingeri-la. A natureza foi generosa e forneceu abundantes reserva-tórios em todo o mundo. São aproximada-mente 1,39 bilhão de km³ de água - ou 70% da massa do planeta. Esse total está dis-tribuído em mares, lagos, rios, aquíferos, gelo, neve e vapor. Não à toa, por muitos séculos acreditava-se que estávamos dian-te de um recurso infinito.

De toda água do mundo, 97,5% é sal-gada, imprópria para o consumo e até mesmo para utilização em indústrias. Des-sa forma, só há 2,5% de água doce potável disponível, cerca de 34,6 milhões de km³.

Essa água doce não está totalmente apropriada para consumo imediato. Parte dela está fora do alcance humano em calo-tas polares, geleiras e subsolos congelados. O que sobra para ser utilizado pela vida ani-mal e vegetal está em lagos, rios e na umi-dade do ar e do solo. Isso representa cerca de 0,008% do total existente na Terra.

O problema é que na idade moderna a população cresceu consideravelmente.

O que é água potável?

É aquela que pode ser consumida sem riscos à saúde. Isso não

significa que ela está livre de impurezas, mas sim que não

causará mal algum se ingerida.

Dia Mundial da Água

Foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993.

É comemorado em 22 de Março. Em 2003, o Congresso Nacional

oficializou o Dia Nacional da Água na mesma data.

Para se ter uma ideia, há 2.000 anos, o nú-mero de pessoas no mundo correspondia a 3% do contingente atual. Em contrapar-tida, a quantidade de água disponível não se alterou - e nem irá.

Essência da vidaSó depende de nós

Foto

lia

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Neo Mondo - Março/Abril 2013 37

João Carlos MucciacitoNO BRASIL

O nosso país possui aproximadamente 12% de toda a água do mundo. A princípio esta situação parece cômoda, mas não é. Exatamente por esse motivo é muito difí-cil conscientizar a população a respeito da economia de água. Tem-se a ideia de que, uma vez que temos tanta água, o recurso nunca irá acabar. A Nação ainda sofre com péssimas condições de saneamento bási-co, poluição e consumo exagerado.

Aquífero GUARANIA exploração excessiva atinge até mes-

mo os reservatórios subterrâneos, possíveis alternativas ao esgotamento da água potável no mundo. Aquíferas são rochas permeáveis que conseguem armazenar e transmitir atra-vés de seus poros as águas que penetram na terra, boa parte vinda de chuvas. O Aquífero Guarani é o maior reservatório subterrâneo de água doce da América e um dos maiores do mundo. Atinge 29 milhões de pessoas, e cerca de 70% de seu total (1,2 milhão de km²) estão em território brasileiro.

A principal preocupação é a possível contaminação das águas subterrâneas por despejos sanitários, industriais, agrotóxi-cos, fertilizantes e outras substâncias tóxi-cas provenientes de vazamentos como de tanque de combustível.

O reservatório causa polêmica entre es-pecialistas. Boa parte o considera um respi-ro extra para o mundo: o Guarani conteria água suficiente para suprir as necessidades do planeta por 200 anos. Do outro lado, al-guns o classificam como um engodo, uma vez que a sua correta exploração implicaria custos iguais ou maiores aos de tecnologias como a dessalinização das águas do mar.

Uma questão de distribuiçãoA má distribuição da água e o cresci-

mento da população são os principais vi-lões da escassez no mundo. Para se ter uma ideia, por ano chove cerca de 7.000 m³ de água doce na Terra para cada pessoa. Se fos-se distribuído de maneira uniforme, o volu-me seria suficiente para a maior parte das necessidades, já o consumo anual do mun-do é de 4.000 km³ por pessoa, diariamente.

A maior parte dessa água é utilizada na agricultura. O consumo doméstico, em mé-dia, é de apenas 170 litros por pessoa/dia. O problema é que a água não chega a alguns países de regiões mais secas da África e da Ásia - e seus habitantes não têm condições de se mudar para locais com abundância. Em países como a Índia, a quantidade de água já é preocupante.

Aquífero Guarani

Abundância

Angola

Austrália

Bolívia

Brasil

Canadá

Chile

Indonésia

Noruega

Peru

Rússia

Suécia

Suficiência Relativa

Argentina

Áustria

EUA

Estônia

Grécia

Japão

Lituânia

México

Portugal

Tailândia

Água Insuficiente

Afeganistão

Bulgária

China

Espanha

França

Irã

Itália

Nigéria

Reino Unido

Turquia

Água no Limite

África do Sul

Alemanha

Coreia do Sul

Índia

Moldávia

Polônia

Romênia

Ucrânia

Zimbábue

Água Escassa

Argélia

Arábia Saudita

Hungria

Bélgica

Ruanda

Somália

Síria

Jordânia

Cingapura

Wik

ipéd

ia

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38 Neo Mondo - Março/Abril 2013

Não é possível analisar as condições das sete cidades da região isoladamente, pois o sistema de distribuição do Estado é interligado.

Comparada a outras regiões metropo-litanas espalhadas pelo mundo, a primeira diferença é a localização. A maioria das outras grandes cidades está situada na foz dos rios, onde o volume de água é menor. “Isso já nos cria um déficit de água logo de saída”, lamenta a coordenadora de agên-cia ambiental da Universidade Metodista, Waverli Maia Neuberger.

Os números são preocupantes. Na bacia Alto Tietê, que abrange a Grande São Paulo, a disponibilidade de água é de 201 m³ por habitante/ano, o que, se-gundo a classificação da ONU, é crítico. “Estamos muito abaixo do nível esti-pulado, que é 1.500 m³ por habitante/ano”, diz Waverli.

Os moradores da região não parecem notar a escassez. Definitivamente, o con-sumo de água não é regrado. “As pessoas

No Brasil a situação também é proble-mática. Apesar da grande quantidade de água que dispomos, a distribuição do re-curso ainda é muito precária. Para se ter uma ideia, a Região Norte conta com ape-nas 7% da população brasileira, mas dis-põe de mais da metade da água.

De onde vem a água no Grande ABC?

SANTO ANDRÉ

69% Rio Claro25% Rio Grande

6% Pedroso

SÃO BERNARDO

100% Rio Grande

não têm preocupação em utilizar a água de forma racional”, aponta Waverli.

O crescimento desordenado é outro problema. Mais população sempre deman-dará mais água. Além disso, a ocupação irregular sobre as áreas de mananciais pre-judica a produção de água.

Os vazamentos também complicam a vida da população. De acordo com o professor Maurício Waldman, doutor em Recursos Hídricos, existe um levan-tamento - surrealista, segundo ele - de que pelo menos 60% da água retirada dos aquíferos existentes nos subter-râneos da Região Metropolitana têm como fonte os vazamentos em adutoras e tubulações da Sabesp.

Reúso: simples e baratoA reutilização da água já é uma reali-

dade em muitos lugares. Vista como uma boa alternativa de economia, é muito mais barata que a potável. Seu funcionamento é relativamente simples. Seja doméstico, industrial ou pluvial, o esgoto é coletado e enviado para uma estação de tratamento. Esse tratamento retira diversas impurezas da água, mas não a torna potável. No Es-tado de São Paulo, quem faz este serviço é a Sabesp.

Em larga escala, a água de reúso pode ter diversas aplicações. Por exem-plo, geração de energia, refrigeração de equipamentos ou em processos indus-triais que não necessitem de um nível alto de pureza, como é o caso da criação de componentes eletrônicos.

Dentro das residências, a utilidade também é grande. A água de reúso pode servir em todas as operações diárias que não necessitem de potabilidade, como la-var calçadas e carros, regar plantas e até mesmo vasos sanitários.

De acordo com a Sabesp, 780 milhões de litros são aproveitados por mês atual-mente. Se fosse potável, essa quantidade será suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Taubaté, no Vale do Paraíba.

Para o professor da Faculdade de Saú-de Pública da USP, Pedro Caetano Mancu-so, um dos maiores obstáculos da água de reúso ainda é o preconceito. “Em se tra-tando das indústrias não há preconceito, mas, em residências, sim”, diz. Ou seja, ainda é difícil se conscientizar de que não existem riscos em utilizar esse tipo de água. “Esses problemas devem ser venci-dos com educação sanitária.”

Uma boa explicação é que o ciclo da água no mundo, desde sempre, é o mes-mo. “A água evapora, chove e evapora de novo”, frisa. “Não existe água que não te-nha sido reutilizada. Teoricamente, toda água é de reúso.”

Sistema de Água de Reúso: de acordo com a Sabesp, 780 milhões de litros são reaproveitados por mês

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39Neo Mondo - Março/Abril 2013

SÃO CAETANO100% Cantareira

DIADEMA100% Rio Grande

MAUÁ72% Rio Claro28% Alto Tietê

RIBEIRÃO PIRES100% Ribeirão da Estiva

RIO GRANDE DA SERRA100% Ribeirão da Estiva

João Carlos MucciacitoQuímico da CETESB, Mestre em

Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da

Universidade de São Paulo, professor no SENAC, no Centro Universitário Santo André - UNI-A e na FAENG -

Fundação Santo AndréE-mail: [email protected]

Teoricamente, as soluções podem vir de ações bem simples. “O quintal das pes-soas, por exemplo. Não é necessário ci-mentá-lo por inteiro, mas só na faixa por onde passam os pneus”, afirma Waverli. “Veja quantas áreas poderíamos transfor-mar. Isso iria ajudar na produção de água e na contenção das enchentes.”

Para Waldman, as administrações municipais são as responsáveis por boa parte da solução. A troca da tubulação é necessária para impedir a perda no mo-mento da distribuição, assim como tratar o esgoto de cada cidade. “Mas ainda creio que o fundamental deva vir do cidadão comum. Ele é o principal responsável pela transformação social.”

Billings: tesouro ameaçadoO maior reservatório do Grande ABC

é o Sistema Billings. Com 127,5 km² de área inundada, pode armazenar até 123 bi-lhões de litros de água potável. Com tanta água perto de nós, como é possível que os especialistas falem em escassez? Simples, porém triste: o reservatório sofre com poluição e contaminação - o que, conse-

quentemente, prejudica sua capacidade de abastecimento. Entre os principais proble-mas há a eutrofização da água (alto nível de nutrientes, que provocam o aumento de matéria orgânica em decomposição), a contaminação por metais pesados e a pro-liferação de micro-organismos e de algas tóxicas, que esgotam o oxigênio da água.

O depósito de sedimentos no sis-tema também é agravante, além dos resíduos trazidos pelas chuvas que atra-palham a circulação das águas, explica Waldman. “Dessa forma, a capacidade da Billings caiu, nos últimos anos, de 1,23 bilhão de m³ para algo em torno de 1,16 bilhão de m³”, revela.

A ocupação irregular é outro grande vilão. A floresta nativa é fundamental para a produção de água em quantida-de e qualidade adequadas. É necessária uma maior área descoberta no solo para abastecer as nascentes. Em regiões muito urbanizadas, como a do Grande ABC, o solo está muito impermeabilizado, o que atrapalha a produção da água.

Para garantir um fácil acesso ao re-servatório, as áreas de mananciais têm

sofrido muito com as ocupações desorde-nadas, que destroem a mata nativa.

A Lei de Proteção dos Mananciais pre-cisa, efetivamente, protegê-los. “Uma saí-da seria transformar as áreas ainda não in-vadidas em parques ecológicos e recuperar as nascentes dos rios”, diz Waverli.

Para Waldman, é aí que entra o papel do cidadão, que deve cobrar um maior envol-vimento do governo com o meio ambiente. “É da sua conscientização e mobilização que a engrenagem política pode ser movida em favor do meio ambiente”, afirma.

Represa Billings está com a sua capacidade reduzida e sofre de ocupação irregular

Div

ulga

ção

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40 Neo Mondo - Março/Abril 2013

Em todas as culturas, encontramos referências aos elementos da natu-reza que possibilitam a vida em nos-

so planeta: fogo, ar, terra e água.Em comunidades antigas, como a dos

Celtas, na Europa Ocidental, encontramos referências à realização de rituais propi-ciatórios ligados especificamente à água, considerada elemento imprescindível para a sobrevivência.

No mundo oriental, na China e Japão, o xintoísmo caracteriza-se pelo culto à na-tureza, tendo como uma de suas práticas mais importante celebrar a existência de kami, que pode ser definido como “ener-gia”, “espírito”, “essência” e é materializa-do em múltiplos formatos. Em alguns ca-sos, apresentam uma forma humana; em outros, animística, e em outros é associa-do às forças mais abstratas e presentes na natureza : rios, vento, ondas, montanhas, rochas ,árvores.

Em Quioto, no Japão, há um templo dedicado à água: Kiyomizu-dera, o templo da água pura. Há mais de mil anos, pere-grinos de todos os lugares para ali se diri-gem a fim de purificarem em suas fontes.

Em todas as religiões, encontramos referências à agua como elemento sacra-lizado, tendo lugar especial nas celebra-ções. No Batismo, por aspersão, a água é borrifada, espalhada ou chuviscada sobre o batizando, ou seja, procura-se derramar a

água com a mão sem o uso de algum uten-sílio, ela acaba se espalhando. A intenção é aplicar a água sobre o batizando. Esta for-ma é adotada por algumas igrejas cristãs, em especial a Igreja Católica e os primeiros movimentos protestantes surgidos a partir da Reforma, tais como o Luterismo, o An-glicanismo, o Presbiteranismo, o Congrega-cionalismo e a Igreja Metodista do Brasil.

Existe ainda o batismo por imersão, em que o batizando é submergido e emer-gido. Aquilo que era considerado pecado em sua vida fica para trás, surgindo desse ato um ser humanos novo, renovado.

Nas religiões de matriz africana, encontradas no Brasil e em todas as Américas,a água se faz presente em vá-rias instâncias, reverenciada como enti-dade, associada à fertilidade feminina e presente em todos os rituais: omi (água em língua ioruba) é imprescindível para a existência. Dada à sua importância, os adeptos desses cultos atribuem caracte-rísticas diferentes, de acordo com sua origem. O uso em rituais obedece a di-ferentes procedências em dez campos, considerados sagrados, tendo diferentes qualidades:

A importância da águA em diversas culturas

Rocha - Água detida em saliências nas rochas. Ligada ao orixá Xangô – entre suas funções, traz força física, disposição, boa-vontade, sabedoria.

Mar - Ligada ao orixá Iemanjá – imã de energias, antisséptico e cicatrizante, fertilidade, calma.

Mina - Ligada aos orixás Oxum e Nana – força, vitalidade – é a mais indicada para se utili-zar nas quartinhas e em assentamentos de protetores.

Mar Doce- Encontro de rio e mar. Ligada a Ewá – trato do corpo sentimental, humor, bom senso e independência.

Chuva - Ligada aos orixás Nana e Oxum – excelente função de limpeza.

Cachoeira - Ligada a Oxum e Xangô – sentimentos, afeto, força de pensamente, alegria, jovialidade.

Rio - Ligada a Oxum (na correnteza) e a Obá (nas margens) – determinação, bons pensamentos.

Poço - Ligada a Nanã – resistência, sabedoria.

Lagos e Lagoas - Ligada a Oxumarê – inventividade, imaginação.

Orvalho - Recolhido das folhas, ao alvorecer do dia. – Ligado a Oxalá – calma, paciência, fecundidade.

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Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Es-tudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto.

E-mail: [email protected]

Dilma de Melo SilvaA importância da águA em diversas culturas

Como vemos, a água aparece em di-mensões sacralizadas, devido à sua impor-tância para a existência humana.

Em 22 de março de 1992, as Nações Unidas instituíram o Dia Mundial da Água, destinado a uma reflexão sobre a mesma. Nessa ocasião, foi promulgada também a:

Declaração Universal dos Direitos da Água

Art. 1º - A água faz parte do patri-mônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cida-de, cada cidadão é plenamente responsá-vel aos olhos de todos.

Art. 2º - A água é a seiva do nos-so planeta.Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela, não poderíamos con-ceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos funda-mentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Decla-ração dos Direitos do Homem.

Art. 3º - Os recursos naturais de transformação da água em água potá-vel são lentos, frágeis e muito limita-dos. Assim sendo, a água deve ser ma-nipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.

Art. 4º - O equilíbrio e o futuro do nos-so planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem perma-necer intactos e funcionando normalmen-te para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oce-anos, por onde os ciclos começam.

Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obriga-ção moral do homem para com as gerações presentes e futuras.

Art. 6º - A água não é uma doação gra-tuita da natureza; ela tem um valor econômi-co: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

Art. 7º - A água não deve ser desperdi-çada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgota-mento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.

Art. 8º - A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem

ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua pro-teção e as necessidades de ordem econô-mica, sanitária e social.

Art. 10º - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Cabe a nós a tarefa de colaborarmos para a implementação desses Direitos.

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42 Neo Mondo - Março/Abril 2013

Uma das coisas mais fantásticas que aconteceu na minha vida de jorna-lista foi ter a oportunidade de co-

nhecer o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. Visitei e produzi programas do Mon-te Caburaí em Roraima ao Arroio Chuí no Rio Grande do Sul e da nascente do rio Moa no Acre até a Ponta do Seixas na Paraíba. Produzi e apresentei mais de cem progra-mas “Isto é Brasil” e nesse espaço vi coisas e conheci muita gente. Entrevistei o caiçara e o caipira, o homem urbano e o suburbano, sertanejos e matutos e aprendi muito. O povo é sábio no seu dizer e sabe narrar com precisão os fatos verdadeiros ou as lendas que criou ao longo do tempo e que se eter-nizaram no saber popular.

Como esta edição de NEO MONDO é voltada para as águas, eu vou aqui locali-zar duas histórias cujos personagens da mitologia indígena vivem no fundo dos rios e se envolvem em situações com o homem comum das cidades.

Estava eu em São Félix do Araguaia fazendo entrevistas com pessoas que cos-tumavam apanhar e vender tartarugas centenárias contribuindo também para a extinção desse réptil. Passava um pito em dois meninos que vendiam esses quelônios nas ruas de São Félix quando apareceu um homem de baixa estatura de nome Val-domiro, que fez questão de me dizer que

luz, e seus olhos brilham no escuro como se fossem archotes, iludindo pescadores incautos que são atraídos pelo perverso réptil. E quando a Boiuna resolve sair do rio e andar pela mata provoca no seu cami-nhar um som que lembra o tamborilar da chuva caindo. Conta a lenda que numa tri-bo indígena da Amazônia uma índia ficou grávida de um encantado da Boiuna e deu à luz duas crianças, sendo um menino que recebeu o nome de Honorato e uma meni-na com o nome de Maria. Para se livrar dos filhos, a mãe jogou as crianças num rio, e ali elas cresceram e passaram a viver. Honora-to não fazia mal, mas sua irmã era perversa e atacava bichos e pessoas, levando Hono-rato a matá-la para resolver o problema.

Honorato, em noites de luar, deixa-va de ser cobra, saía do fundo do rio e se transformava em um belo e elegante rapaz. Ao amanhecer ele voltava para o rio. Para “quebrar seu encanto” e ele voltar a ser gen-te era preciso que alguém tivesse coragem de derramar leite na boca da enorme cobra e fazer um ferimento na sua cabeça até sair sangue. Um dia um soldado, a pedido de moças apaixonadas pelo Honorato, resol-veu enfrentar a cobra e conseguiu libertar Honorato do terrível encanto.

Essas histórias são repassadas de pais para filhos e percorrem séculos nessas regi-ões do Norte do Brasil. O povo acredita na fi-

ele deixou de utilizar essa prática quando quase foi mordido por uma Boiuna, uma cobra d’água, segundo ele, com mais de cinqüenta metros de comprimento. A par dos exageros quis saber o que aconteceu, e ele me convidou para conhecer uma área ribeirinha ao rio que leva o nome da cida-de. E aí o senhor Valdomiro deitou falação: “Olhe aqui moço. Eu estava aqui na beira do rio para pegar tartarugas, mas de repente ouvi um barulho muito forte, e do meio do rio vindo em minha direção uma coisa que parecia ter nos olhos bola de fogo. Ela se enroscava toda e estava furiosa. Ela se enroscava e se transformava. Eu pensei pri-meiro que fosse um barco, mas depois que aquele bicho veio para a beira do rio eu saí correndo e só parei quando entrei na mi-nha casa. Depois eu fiquei sabendo que era a Boiuna, uma cobra muito grande que de-vora animais e devora também as pessoas. Ela mora no fundo do rio, mas às vezes ela vem para terra para ter o que comer”.

A narrativa do senhor Valdomiro me levou a obter mais informações de outros moradores e também de figuras mais aba-lizadas que conhecem a história: a Boiuna seria uma cobra descomunal que vive no fundo dos grandes lagos e rios num lugar que é conhecido pelo povo como “Boiaçu-quara” ou “Morada de cobra grande”. Seu corpo seria brilhante, emanando uma forte

w ESPECIAL - Dia Mundial da Água

As “Lendas das Águas”

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Jornalista, Escritor e Editorialista.Apresentador de TV e Rádio.

Humberto Mesquita

delidade dos fatos, e todo mundo se assom-bra e se preocupa com a presença da Boiuna.

A outra lenda eu vi contada em Belém do Pará. É a história do boto-cor-de-rosa. Um peixe que se transforma em homem para atrair moças em eventos juninos ou até mesmo em festas caseiras. Essa lenda faz parte da mitologia amazônica. É um peixe que tem o poder mágico de sair à noite do fundo dos rios e se transformar num homem, para seduzir as moças que se sentem atraídas por esse estranho ser.

A falta de dados mais concretos nos leva a crer que a lenda seja baseada em ori-gem branca e mestiça com projeções nas culturas indígenas e ribeirinhas. A lenda do Boto é muito difundida na região Norte do Brasil, e está intimamente ligada aos folguedos que acontecem na região onde as moças se reúnem para conhecer novos parceiros de namoro. Nessas noites, geral-mente de luar, o Boto aparece em forma de gente para conquistar corações despedaça-dos. E as moças com seus trajes atraentes se encantam com os galanteios projetados por este ser misterioso, gentil, afável e ao mesmo tempo estranho. As moças se en-cantam com a figura, mas ele escolhe com muita sutileza a sua presa que precisa ser bonita e ingênua. Ao primeiro descuido dos pais ele a leva para a beira do rio. E o amor se expande cheio de encanto e

magia. Depois, o rapaz desaparece e não é mais visto nas redondezas, enquanto que a garota leva no ventre o produto de uma noite de encantamento. E nascerá, em nove meses, o filho do Boto ou na verda-de o filho de um fanfarrão que se veste de Boto para seduzir a incauta donzela.

A verdade é que no Norte eu conheci muitos filhos de Boto e conheci até um po-eta de nome Antonio Juraci Siqueira, que escreveu um poema ao Boto:

“Eu venho de um mundoque tu não conhecesdo onde, do quandodo nunca talvezEu venho de um rio perdidoPerdido em seus sonhosUm rio insondávelQue corre em silencioEntre o ser e o não serSou filho das ondasQue gemem na PRAIASou feito de sombrasDe luz, de luar.E trago em meu rostoMandinga e mistérioE guardo em meus olhosFunduras de um rioCuidado caboclaCuidado comigoQue eu sou sempre tudoQue anseias que eu sejaTeus ais, teus segredosTua febre e teu cioSe em noites de luaSentires insôniaE a fome de sexoQueimar tuas entranhasA sede de beijosTua boca secarE em brasa teu corpoMeu corpo exigirContigo estareiNa rede de encantoCativo, nas malhasDa teia do amor”.

As “Lendas das Águas”

O Boto, produto dessa inspiração mitológica, é um cetáceo exclusivamente Aquático que habita rios do Norte brasileiro, principalmente a Amazônia. Tem uma cabeça grande, um bico dentado e corpo afilado, quase desprovido de pelos, com grandes nadadeiras na frente e duas mamas em posição posterior e uma cauda que termina na nadadeira longa e horizontal; tem também um sistema de sonar sofisticado que se localiza na cabeça, de onde emite ondas sonoras. Pesa 7 quilos quando nasce e 150 quilos quando adulto. O Boto no Norte do Brasil é símbolo de sedução e energia, porque seus órgãos sexuais se assemelham aos dos humanos. O Boto está em extinção por culpa do homem que tenta buscar nele dotes mágicos e usa seus atributos para fabricação de remédios, amuletos e rituais.Mamiraná, que fica a 530 quilômetros de Manaus, é o lugar com a maior concentração de boto-cor-de-rosa, e a cada ano se registra uma queda de 10% na população desses animais. Isso se deve também à construção de hidrelétricas na Bacia do Amazonas que isolam esses mamíferos dificultando a reprodução. Os botos existem há mais de 5 milhões de anos e chegaram ao rio Amazonas nadando pelo oceano Atlântico.

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Apontado por muitos como causador de catástrofes naturais, o fenômeno El Niño também tem consequências positivas que vão desde contribuir com determinados cultivos até ajudar na manutenção dos mananciais em alta

Rosane Araujo

48 Neo Mondo - Março/Abril 2013

“F úria Natural - Fenômeno cli-mático mais assustador do mundo, o El Niño prepara

um novo ataque”. A manchete da revista Veja de 8 de outubro de 1997 não deixava qualquer dúvida sobre a má reputação do fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico.

A fama não veio à toa. A versão 1997-1998 do El Niño foi a pior registrada até hoje, produzindo condições meteorológi-cas extremas e destruição por todo o he-misfério sul e partes do norte.

Suas tempestades afetaram a costa e cidades do oeste da América Latina, ma-tando centenas de pessoas ali e em outras partes do planeta, além de causar bilhões de dólares em prejuízos na Ásia e Austrália.

No Brasil, os efeitos foram igual-mente fortes.

A cidade de São Luiz do Paraitinga, que no início deste ano sofreu com enchentes fortíssimas, também foi alvo de inundações em 1997, porém em menor escala.

A experiência foi suficiente para a ci-dade organizar sua Defesa Civil que, em 2010, já estruturada e experiente, teve papel fundamental no socorro às vítimas das inundações e, agora, ajuda na recons-trução do município.

No final, o El Niño ajudou. Na mesma matéria de Veja, iniciada

com descrição apocalíptica, os efeitos do evento foram minimizados. “Cinco meses depois do início do El Niño, que, esperava--se, traria um rastro de desgraças em sua passagem, o balanço não tem sido ruim. Porque choveu em maio, os agricultores plantaram sua safrinha de inverno em óti-mas condições. Trigo, aveia, centeio, mi-lho, cana-de-açúcar e mandioca cresceram rapidamente.”

Pelo que parece, os benefícios a esses cultivos não foram exceção daquele ano.

Estudo realizado por pesquisadores do Centro de Ciências Rurais da Univer-sidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, simulou o conteúdo de

água disponível no solo e o rendimento das culturas de trigo, soja e milho, asso-ciando-os ao fenômeno.

O trabalho constatou que a menor disponibilidade hídrica no solo está re-lacionada a anos neutros, ou seja, sem a ocorrência de fenômenos, enquanto a maior disponibilidade está ligada a eventos do El Niño, favorável ao ren-dimento de grãos de soja e milho. “Fi-cou evidente que os anos classificados como neutros são os de maior risco de perda de rendimento de grãos destas duas culturas de verão, em consequên-cia da menor disponibilidade hídrica no solo, o que é uma informação importan-te no planejamento de estratégias para o agronegócio”, concluiu o trabalho que considerou o período de 1969 a 2003 e foi divulgado pela Embrapa em 2006.

Isso quer dizer que durante todos esses anos, o fenômeno foi injustiçado? Nem tanto.

“O El Niño não é vilão nem bonzi-nho. Mesmo dentro do país, pode ser

El Niño- o lado bom do menino

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

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bom ou ruim, dependendo da região”, explicou a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Denise Cybis Fontana.

Especialista em Agrometeorologia, a professora explica que, no Sul do país, em geral os efeitos são benéficos.

“Aqui a maior parte dos cultivos é de pri-mavera / verão, não contam com irrigação. Por isso, ele acaba sendo benéfico: tem mais chu-va, mais água, logo, maior produção”, revelou.

Já no caso de culturas irrigadas, como o arroz, segundo a professora, os efeitos são ruins. “Menos sol significa menos pro-dução de arroz. Mas, claro, tudo depende da intensidade do fenômeno”, disse.

Em uma análise rápida, a profes-sora classifica o El Niño da temporada 2009/2010 como moderado.

Ainda assim, enquanto o Sul benefi-ciou-se com as chuvas, o Espírito Santo e o norte de Minas Gerais registraram seca, prejudicando a produção de café e a pecuária destas regiões.

Nem bandido nem mocinhoOutra demonstração de que o El Niño

tem aspectos negativos, mas também posi-tivos, são as cheias das represas que abas-tecem a região metropolitana de São Paulo.

As recentes chuvas, intensificadas pelo fe-nômeno, fizeram com que os reservatórios de água atingissem níveis altíssimos. O Sistema Cantareira, por exemplo, o mais importante da região e responsável pelo abastecimento de cerca de 13 milhões de pessoas, operava com 95,2% de sua capacidade, em março.

Com a situação favorável, a Sabesp prevê que o abastecimento da região está garantido até 2012.

O lado negativo ficou com as comuni-dades no entorno das represas e rios que compõem o sistema.

Já em janeiro, devido às cheias, as comportas das represas foram abertas, o que colaborou para o transbordamento do rio Atibaia. Bairros da cidade, que leva o nome do rio, sofreram com enchentes e registraram centenas de desabrigados.

Neo Mondo - Março/Abril 2013 49

Até o início de março, muitos deles ainda habitavam contêineres improvisa-dos como moradias.

Versão atualizada e revistaAinda não existe consenso na comu-

nidade científica, mas alguns pesquisa-dores acreditam que as mudanças climá-ticas já estão influenciando os efeitos do fenômeno.

A ascensão do chamado El Niño Modoki (palavra japonesa que significa “parecido, mas diferente”) foi prevista em simulações de computador e de-talhadas em artigo na revista científi-ca Nature divulgado em setembro do ano passado.

Nele, o pesquisador Sang-Wook Yeh e uma equipe do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Oceânico da Coreia do Sul usaram o histórico do El Nino, de 1850 até hoje, juntamente com pro-jeções sobre o aquecimento para avaliar como será o fenômeno neste século.

- o lado bom do menino

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A conclusão é de que sua forma mais atípica pode se tornar cinco vezes mais co-mum, trazendo consequências como secas no Sudeste e no Sul do Brasil, ou seja, uma inversão dos efeitos registrados pela ver-são tradicional do evento.

“Essa definição - El Nino Modoki - con-tinua sendo um aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacifico Equa-torial, todavia, um aquecimento na parte central do Oceano, ligeiramente diferente do padrão comumente observado que é aqueci-mento próximo a costa oeste da América do Sul”, explicou o metereologista Lincoln Mu-niz Alves, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE.

Segundo a pesquisa coreana, caso os es-tudos futuros confirmem uma maior frequen-cia de El Nino Modoki isso mudaria os efeitos habituais do fenômeno porque alteraria tam-bém parte da circulação atmosférica.

Nos últimos 150 anos, entretanto, os registros da forma Modoki foram bem

inferiores à forma normal do evento - apenas sete casos da primeira, contra 32 da segunda.

Apesar de não haver comprovação científica da maior incidência desse tipo alterado, Alves afirma que um planeta mais quente favorece o fenômeno, mesmo em sua forma habitual.

“Há bastante incerteza nessas pro-jeções, por isso é prematuro afirmar que, no futuro, teremos uma frequên-cia maior de El Nino Modoki. No mo-mento, podemos falar que num plane-ta mais aquecido as projeções indicam uma frequência maior de El Nino e isto é resultado somente de alguns modelos. Outros, porém, não indicam nenhuma mudança tanto na frequência como na intensidade”, afirmou.

Na hipótese que considera maior inci-dência do fenômeno, o pesquisador afirma que ela “estaria, sim, relacionada ao aque-cimento global”.

ESPECIAL - Dia Mundial da Água

El NiñoRepresenta o aquecimento anormal das águas superficiais e

sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial.

Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de

águas mais quentes de Corriente de El Niño, em referência ao Niño

Jesus ou Menino Jesus, já que se manifesta próximo ao Natal.

Na atualidade, os fenômenos El Niño e La Niña representam uma

alteração do sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacífico tropical,

e que tem conseqüências no tempo e no clima em todo o planeta.

La NiñaO termo (“a menina”, em espanhol) surgiu pois o fenômeno se

caracteriza por ser oposto ao El Niño. Pode ser chamado também de

episódio frio, ou ainda El Viejo (“o velho”, em espanhol).

Corresponde ao resfriamento anômalo das águas superficiais do

Oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental formando uma

“piscina de águas frias” nesse oceano.

Observações:

Os eventos El Niño e La Niña tendem a se alternar a cada três e sete anos.

Porém, de um evento ao outro, o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos.

As intensidades dos eventos variam bastante em cada caso. O El

Niño mais intenso desde a existência de “observações” ocorreu em

1982-83 e 1997-98.

Já os episódios recentes do La Niña ocorreram nos anos de 1988/89

(que foi um dos mais intensos), em 1995/96 e em 1998/99.

Fonte: CPTEC / INPE

A opinião é semelhante ao ponto de vista do climatologista Carlos Nobre, tam-bém pesquisador do INPE e chefe do Cen-tro de Ciência do Sistema Terrestre (CST).

Na última edição de NEO MONDO, Nobre opinou sobre as últimas manifestações natu-rais: “Fenômenos climáticos e meteorológicos extremos – que provocam chuvas torrenciais e nevascas, por exemplo - acontecem regular-mente e fazem parte da variabilidade natural do planeta. Porém, como resultado do aque-cimento global antropogênico, espera-se um aumento da variabilidade do clima e eventos como os citados poderão ser mais frequentes”.

Por enquanto, as previsões do CPTEC indicam que o El Niño atual já se encontra entre a fase madura e de decaimento.

Segundo o órgão, no segundo semes-tre de 2010, os modelos numéricos apon-tam para a formação da La Niña.

Depois do menino, é a vez da menina agitar o clima, para azar de alguns e sorte de outros.

Condições de El Niño

Condições de La Niña

Condições de Normais

50 Neo Mondo - Março/Abril 2013

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Neo Mondo - Outubro 200851

Modo de fazer:

Preparo: Corte o tofu no formato retangular e passe no shoyu com o gengibre em pó e leve ao forno pré-aquecido para assar por 20 minutos e reserve.

Para a pasta de lentilha bata no liquidificador a lentilha com a água, cebola, alho, tofu defumado e o sal até formar um patê, retire do liquidificador e junte a salsinha.

Montagem: distribua sobre cada retangulo do tofu um pouco da pasta de lentilha e decore com a macadâmia..

Espaço Gourmet Villa Natural

Ingredientes

• 1 unidade de Tofu

• 100 ml de Shoyu

• 1 pitada de Gengibre em pó

• 150 g de Lentilha cozida

• 100 ml de Água

• 1 Cebola média refogada• 1 dente de Alho refogado• 30 gramas de Tofu defumado• Sal a gosto• Salsinha a gosto• Macadâmia a gosto

Tofu assado com pasta de Lentilha e Macadâmia

Alexandra Midori Morita Zanoli

Formada em Educação FísicaPós-graduada em Nutrição Desportiva

Pós-graduada em Ginástica Postural CorretivaProfessora de Yoga

Chef do Villa Natural e Sócia do Villa Natural

Villa Natural Restaurante

Rua Cel. Ortiz, 726 - V. Assunção - Santo André(11) 2896-0065 - www.villanatural.com.br

Rico em proteínas e poderoso na prevenção ao câncer de mama, o tofu alimentou valentes samurais e sábios monges budistas no Oriente. No Ocidente, ele é um dos ingredientes mais versáteis na culinária vegetariana.Por ser um derivado da soja, o tofu contém as mesmas propriedades da leguminosa. Em 100 g encontram-se 85% de água, 7,5 g de proteína e apenas 70 Kcal. É uma fonte excelente de proteínas, além de ser rico em minerais como cálcio, fósforo e magnésio. O tofu é uma das mais importantes fontes protéicas na dieta vegetariana. Ele possui digestibilidade melhor que o grão de soja ou a PVT (proteína texturizada de soja) e complementa a dieta com outros alimentos ricos em proteínas como as demais leguminosas, castanhas e sementes.

TO F U

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