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N.' 498 - 2'7 DE ABRIL DE 1980 - 15$00 N.' 498 - 2'7 DE ABRIL DE 1980 - 15$00 MAPUTO - REPÚBLICA POPULAR DE MOCAMBIQUE lli ¡ 1 111I ¡ IU 1 Fw! NIL'~ II,'' 11111 DNPP== lonmucmmtmfmm O PAIS G Visita do Primeiro-Ministro-da Guiana a Moçambique 0,È .» 1 .1o Suruma: Primeiro degrau da degradao ............. .... .... 16 Das indelicadezas da DETA às frescas águas das Chocas (crónica de uma viagem) .... .... .............. .... .... .... .... .... 22 INTERNACIONAL Zimbabwe ....t.... *...i... .a . .. 26 , Arqo~ f/st. d â. * 0 papel das minas na construção do pais * o casamento da terra com o pov* A escola ------ Intenacional/imagéns ........................................... 36 Cartas dos leitores .... .... .... .... .... .... ... .... .... .... .... 38 Marco/8O - O garganta do império ............................. 44 Na morte de Jean-Paul Sartre .................................. 47 Círculo de cinema Búlgaro: A riqueza em conteúdo e forma ......... 0 Uma história que. fez histõria: Há 110 anos nasceu Lenine ........... 52 Poesia: Sobre Lenine disseram ................................ 56 Conto: Uma carta de Lenine .... .... ... ....... .... ... ... .... 58 Palavras cruzadas ................................... ....64 CAPA: Independência do Zimbabwe. Has;tear da bandeira do novo Estado Slide de Kok Nem semana nacional PRESIDENTE SAMORA MACHEL RECEBEU MINISTRO DA R.P. DO CONGO Momento em que o rresuzenie samora m«acfteL- Tucutu u Ministro dos Neqóeos Estrangeiros da R.P. do Congo O Presidente do Partido FRELIMO e Presidente da República Popular de Moçambique, Samora Moisés Machel, recebeu no pas o dia 20, no Gabinete da

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DNPP==lonmucmmtmfmm

O PAIS GVisita do Primeiro-Ministro-da Guiana a Moçambique 0,È .» 1 .1oSuruma: Primeiro degrau da degradao ............. .... .... 16Das indelicadezas da DETA às frescas águas das Chocas (crónica deuma viagem) .... .... .............. .... .... .... .... .... 22INTERNACIONALZimbabwe ....t.... *...i... .a . .. 26, Arqo~ f/st. d â.* 0 papel das minas na construção do pais* o casamento da terra com o pov* A escola ------Intenacional/imagéns ........................................... 36Cartas dos leitores .... .... .... .... .... .... ... .... .... .... .... 38Marco/8O - O garganta do império ............................. 44Na morte de Jean-Paul Sartre .................................. 47Círculo de cinema Búlgaro: A riqueza em conteúdo e forma ......... 0 Uma históriaque. fez histõria: Há 110 anos nasceu Lenine ........... 52Poesia: Sobre Lenine disseram ................................ 56Conto: Uma carta de Lenine .... .... ... ....... .... ... ... .... 58Palavras cruzadas ................................... ....64CAPA:Independência do Zimbabwe. Has;tear da bandeira do novo EstadoSlide de Kok Nem

semana nacionalPRESIDENTE SAMORA MACHELRECEBEUMINISTRO DA R.P. DO CONGOMomento em que o rresuzenie samora m«acfteL- Tucutu u Ministro dos NeqóeosEstrangeiros da R.P. do CongoO Presidente do Partido FRELIMO e Presidente da República Popular deMoçambique, Samora Moisés Machel, recebeu no pas o dia 20, no Gabinete da

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Presidência em Maputo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da RepúblicaPopular do Congo, Pierre Nzee, portador de uma mensagem, do Chefe de Estadodaquele país para o dirigente máximo da Revolução Moçambicana.Durante o encontro,. em que esteve também presente o Ministro dos NegóciosEstrangeiras moçambicano, Joaquim Chissano, o Presidente Salmora Maehelexplicou ao diplomata congolês os objectivos da recente ofensiva política eorgaizacional desencadeada em todo o Pais, afirmando ne a^ nova batalha contrao inimigo visa a revitalização do Aparelho de Estado. «Herdámos um Aparelho deEstado -que não é nosso. Temos que criar um Aparelho de Estado que sirva osnossos interesses.»- afirmou o Chefe de Estado moamlbicano.CONSELHO DE MINISTROS APROVOUPLANO DE TAREFAS E PRAZOSSob a direcção do Presidente do Partido FRELIMO e Prmsidente da RepúblicaPopular de Moçambique, Samora Moisés Machel, reuniu-se no passado sábadoem Maputo o Conselho de Ministros do tosso País Nele participaram tambémos Vice-Ministros e os Secretários de Estado. Foi aprovado, após apreciação, oPlano de Tarefas e Prazoa elaborao pela Comissão Interministerial nomeada parao efeito na última Sessão do Conselho de Ministros, realizadE no dia 10 docorrente mês de Abril.O Plano de Tarefas e Prazos estabelece medidas a tomar no que se refere às Lojasdo Povo (medida essa da qual nos referimos pormenor=zadamente numa outranotícia), umas imediatas, outras a médio prazo, com vista a mAterializar asorientações do Presidente Samora Machel.Assim, é criado o Gabineic de Organização do Abastecimento da Cidade deMaputo, para dinamizar e controlar emnovo sistema de abastecimento de prndutos de primeira necessidade ao nível destacidade.A criação de um Gabinete dps Zonas yerdes foi outia das questões que constitutiumatéria de análise e decisão do Conselho de Ministros. Este Gabinete terá a tarefade efectuar o levantamento da situação da ocupação da terra na Província e naCidade de Maputo, promover acções para a sua correcta utilização, tendo emconta a necessidade de acabar com o desemprego, subdesemprego emarginalidade.Foram decididas outras medidas a tomar no respeitante ao APIE, da DirecçãoEstatal da Cidade de Maputo e do Aparelho de Estado.Finalmente, foram decididas diversas medidas a tomar no campo dos transportes,sendo de destacar as acções tendentes a acabar com a indisciplina no trânsitoe.acidentes .de viação«0 desejo dos povos não é sobreviver. O desejo dos povos é viver e triunfar.Todos os Povos do mundo aspiram à felicidade.» - afirmou o Presidente SamoraMachel quando, na passada segunda-feira, dia 21 de AbriL recebia o ComandanteDaniel Ortega, membro da direcção da Frente Sandinista de Libertação Nacional eda Junta Governativa da Nicarágua. O dirigente nicaraguano chegara no mesmodia a Maputo, proveniente da República do Zimbabwe, onde estivera a participarnos festejos da /ndepeh-

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dência deste novo Estado Africano.No momento do encontro estavam também presentes membros do ComitéPolítico Permanente do Comité Central do Partido FRELIMO, do Conselho de -Ministrosí, e outros dirigentes do Partldo e do Es. tado. O Presidente SamoraMachel discutiu com o Comandante Daniel Ortega questões relacionadas com asituação nos dois países acentuando que a solidariedade é a 'força pri ncipal paratransformar a opressão em felicidade, a tir da obra do Imperialis-TEMPO N.. 498 -pég. 2,DANIEL ORTEGA ESTEVE EM MAPUTO

Entretanto, em Tete, capital da província com o mesmo nome, TeodatoHunguana, Ministro da Justiça, presidiu a uma outra cerimónia kdêntica em quese efectuou a transmissão de poderes do Governador cessante, Fé1ix Ameno, paraJoão Baptista Cosme.criação de novos Ministérios, envolve o aproveitamento dos quadros temperadosna iuta, para os ministérios e governos provinciais.» De igual modo, TeodatoHunguana orientou um comício popular onde, pa. ra além da população de Teto,participaram populações dosPresidente Samora Machel recebendo o Comandante Daniel Ortega. O abraçofraternal e solidário entre dirigentes dede dois povos que lutam pelo socialismomo. «(...) tanto na América Latina como em Africa o Imperialismo está, sendodestruído.» - acrescentaria o Presidente Samora Machel. Daniel Ortega, visitoualgumas instituições históricas, económicas e sociais do nos-so País. De referir que a visita a Moçambique culminoucom o estabelecimento derelações diplomáticas, a nível de Embaixada, da Nicarágua com Moçambique.Em Tete e Nampula:TRANSFERÊNCIA DE PODERES PARA NOVOS GOVERNADORESPROVINCIAISTomada de posse do novo Governador de Nampula: Jorge Rebelo, Secretário doComité Central para o Trabalho Ideológico do Partido, usa da palavra após atransferência depoderes entre Daniel Mbanze e Feliciano GundanaDurante aquela cerimónia o* Ministro da Justiça disse quecom vista a se alcançarem os objectivos da ofensiva a presente remodelaçãogovernamental era «a mais vasta. mais profunda que se fez no Governo desde aproclamação aa Independência. Ela envolve adistritos de Moatize e Changara, para a apresentação do novo dirigente daprovíncia. Na ocasião abordou também várias outras questões relocio. nadas coma conjuntura política, social e económic3 do País.eO membro do Comité Político Permanente do Comité Central do PartidoFRELIMO, Jorge Rebelo, presidiu no passado dia 19 deste mês à cerimóniasolene de transmissão de poderes ao novo Governador da Província de Nampula,Feliciano Gundana.

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Depois da tomada de posse seguiu-se um comício popular orientado por aquelemembro do C.P.P. onde se procedeu à apresentação do novo responsável daquelaprovíncia.°Dirigindose à população que se concentrara no Bairro de Muhala, Jorge Rebelofalou dos objectivos da ofensiva política e organizacional actualmente em cursono País e fez um apelo para que as populações se engajem efectiva-mente na denúncia dos infiltrados nos vários sectores de actividade. Faloutambém da necessidade de valorização das riquezas da Província de Nampulapara melhorar as condições de vida da populaç.o e consolidar a Independência-Em visita ao paisJORNALISTAS NÓRDICOSCONTACTAM COM REALIDADESECONôMICASDesde o último sábado, dia 19 de Abril, encontram-se em Moçambique umgrupo de vinte e dois jprnalistas dos países nórdicos, nomeadamente, Suécia,Dinamarca, Noruega e Finlândia. Durante a sua estada, que se prolongará até aopróximo dia seis de Maio, aqueles jornalistas terão a oportunidade de visitarvários projectos de desenvol-vimento sócio-económico do País, mais precisamente, os sectores da Agricultura.Pescas e Habitação, onde Moçambique temn vindo a receber apoio dos paísesnórdicos. Nia passada segunda-feira, o Ministro da Informação do nosso Pais.José Luís Cabeço, reuniu-se com este grupo de jornalistas, aos quais deu umainformação básica sobre o pa-TEMPO N.' 498 - pág. 3

norama geral que vão encontrar nos diversos sectores quevão visitar.Após se ter referido aos aspectos de fundo da herança herdada dos quinhentosanos de colonialismo, .o Ministro- José Luís Cabaço indicou, poroutro lado, os esforços de reorganização que se têm vindo a verificar, emMoçambique, a exemplo da reorganização do sector dos Caminhos de Ferro, apósa Independência do nosso País oCHEFE DA DIPLOMACIA CHINESA VISITOU OFICIALMENTEMOÇAMBIQUE0 Reforço da ãrea de cooperaçãoProveniente da República do Zimbabwe, onde participou nos festejos daIndependência daquele País africanp, esteve de visita oficial ao nosso Pais oMinistro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Huang Hua.Conversações entre a RPM ecojuntos nos festejos da Independência do Zimbabwe e espero que amanhãestejamos novamente juntos nos da Namíbia e África do Sul.» O Ministro dosNegócios Estrangeiros da China aproveitou também a ocasião para felicitar oPovo moçambicanoa RPC: ala operação

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m1ento da drea depelos sacrifícios consentidos em apoio à luta de libertação do Zimbabwe,acrescentando estar optimista quanto ao futuro desta zona do continente africano,expressando-se nos seguintes termos: «Espero que a situação na Africa Austral semodifique rapidamente» oMomento em que, no Aeroporto de Mavalane, Joaquim Chissano. Ministro dosNegócios Estrangeiros da RPM, recebiýi o seu homólogo chinês Huang Hua«A, visita do Ministro doaNegócios Estrangeiros da Cfiina a Moçambique, vai'permitir que os povos dosdois países se conheçam melhor.» diria Joaquim Chissano. Mi<nistro dosNegócios Estrangeiros da RPM.I quando usava da palavra no inicio das conversaSções havidas com aquele paísasiáticoCom efeito, 'no âmbito dasta sua primeira visita a Moçambique, oMinistro dos Negócios Estrangeiros da China.* chefiando uma delegação doseu país, manteve conversações com uma delegação che-fiada pelo seu homólogo moçambicano, as quais visam a definição de áreas decooperação entre Os dois Estados. No início das conversações o chefe dadiplomacia moçambicana referiu-se à importância desta visita, acentuando que elarepresenta um passo importante para o desenvolvimento das relações decooperação nos vários domínios. A situação na AÁfrica Austral foi também outrodos temas abordados pelas duas partes, tendo o Ministro Joaquim Chissanoafirmado a propósito que «acabamos de participarEm apoio aos povos da África AustralVAI-SE REALIZAR EM MAPUTO CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DAJUVENTUDENo último trimestre deste ano terá lugar em Maputo, cauital da República Popularde Moçambique, uma Conferência Internacional da Juventude em apoio aospovos em luta na região da Africa Austral. Neste sentido foram recentementeiniciadas uma série de conversações entre a Organização da JuventudeMoçambicana, o Movimento Pan-Africano da Juventude e a Federação Mundialda, Juventude Democrática.Realizar-se-ão mais encontros entre as organizações juvenis acima citadas noâmbito dos preparativos para a realização da referida conferência.Para este mesmo efeito encontram-se desde há dias na capital do nosso País oSecretário-Geral do Movimento Pan-Africano da Juventude . o' Presidente daFederação Mundial da Juventude Demo-crática, que chefiam delegações compostas por membros destas organizações dajuveritude.Num primeiro contacto entre as três organizações efectuado no passado dia 21 deAbril, Zacarias KupeIa, Secretário-Geral da Organização da JuventudeMoçambicana apontou a importância da conferência a realizar, dizendo que «ajuventude progressista deTEMPO N.I 45>1 - pãg. 4

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todo o Mundo vai, em conjunto, encontrar as vias mais eficazes para a liquidaçãodefinitiva do colonialismo, o racismo; vai demonstrar o seu reconhecimento aopapel de.Esta Conferência Internacional da Juventude realizar-se-a numa altura em que aluta libertadorá ganha novos rumos na África Austral., Zacarias Kupela fezlembrar na sua intervenção que quan-Aspecto das conversações entre a OJM e as suas congéne. res internacionaisnomeadam nte o Movimento Pa-Africano da Juventude e a Federação Mundial daJuventude Democráticasempenhado pelos países da Linha da Frente na luta de libertação dos povosoprimidos e explorados da Africa' Austral.»do se pensou na realização desta conferência o Zimbabwe ainda 'era uma colóniae que hoje já se tornou num país independente e soberano *Lojas do Povo: O INICIO DA TRANSFORMAÇÃO«Em cumprimento das orientações de Sua Excelência o Presidente do 'PartidoFRELIMO e Presidente da República Popular de Moçambique, o Ministério doComércio Interno avisa todos os interessados na compra de salões deCabeleireiro, Barbearias, Boutiques, Sapatarias, Padarias e Talhos situados naProvíncia do Maputo, pertencentes às Lojas do Povo, bem como todos aquelesque, tendo sido abandonados pelos seus antigos proprietários, se encontrem ounão encerrados que devem dirigir os seus pedidos ao Ministério do CoymércioInterno que ao fim de 30 dias responde aos interessados sobre a situação dos seuspedidos»w este o teor de um aviso publicado no passado domingo pelo jornal«Notícias» de Maputo.Trata-se do início da implementação de um plano mais vasto traçado peloPresidente Samora Machel no discurso de 18,de Março, segundo o qual uma sériede actividades até aqui directamente realizadas pelo Estado deverão passar a ficar-a cargo das cooperativas ou de privados.O comércio retalhista, a exemplo da actividade das Lojas do Povo, está, dentreas actividades que segundo orientações do dirigente máximo da Revoluçãomoçambicana devem deixar de ser exerçidas pelo Estado.O Estado desperdiçava ali uma boa parte dos seus esforços em prejuízo dasactividades de outro carácter que conduzam ao aumento da produção e do bem-estar do nosao Povo.Assim, está já iniciado o processo de transformação dos estabelecimentosretalhis-tas. salões de cabeleireiros, boutiques e barbearias, sapatarias, padarias e talhos,pertencentes à empresa, Lojas, do Povo. Mas, dentro do mqsmo ramo, estãotambém abrangidos aqueles que tendo sido abandonados pelos seus antigosproprietários, encontrando-se presentemente quer encerrados, quer emfuncionamento. O tacto quê determina a transformação deste últimi tipo deestabelecimentos é que ali se observava fundamentalmente o mesmo tipo deproblemas que determinaram a transtormação das Lojas do Povo, trespassn. do-aspara as cooperativas e privados.Inforrmações colhidas pelo jornal «Noticias» no Ministério do Comércio Internoindicam que, imediatamente após o discurso pronunciado pelo Presidente Samora

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Machel, em 18 de Março último, entrou naqueles serviços uma verdadeiraavalancha de pedidos de privados requerendo autorização para trespasse deunidades nos diversos ramos do comércio retalhista que até aqui eram geridaspelo Estado. Todavia só a partir da data da publicação do anúncio a que nosreferimos se começa a iniciar o processo de transformação.Neste processo os pedidos deverão serem feitos em impressos próprios, a adquirirnas instalações do M.C.I., para facilitar a análise correcta dos inúmeros pedidos.Sabe-se que dentro de dias o processo abrangerá todo o País*TEMPO N° 498 - pág 5COOPERAÇÃO FINANCEIRAMOÇAMBIQUE-$UAZIIÃNDIADelegações do Banco de Moçambique e do Banco Central da Suaz ndiareuniram-se recentemente em Maputo na procura de uma definição para acooperação a nível flnanceiro e de acordos de pagamentos entre os dois Estados,por forma a permitir o incremento de trocas comerciais e da cooperação bilateral.As delegações dos dois países eram chefiadas pelos vice-Governadores dosrespectivos Bancos respectivamente Prakash Ratllal da parte moçambicana, e oPríncipe P. Diamine chefiando a parte suázi.Este encontro enquadra-se no quadro da recente cimeira de Lusaka, na qual foiaprovada uma declaração sobre a libertino económica da Africa Austral, assinadapelos Chefes fde Estado e de Governo de nove países desta zona do continente.Durante a sua estada em Moçambiue o chefe da delegação da Suazilândia foirecebido nelo Governador do Banco de Moçam!biae, sendo de anotar algumasvisitas feitas pela mesmá delegação a diversas unidades de produção e instala -,es,portuárias.

MINISTRO DAS SEYCHELLES VISITOU MOÇAMBIQUEe ainda uma outra em Ressano Garcia, vila localizada perto da fronteira com aÁfrica do Sul.Nos seus planos de expansão, a Interfranca conta também abrir outras lojasfrancas noutras cidades onde a situação o justifique. A cidade de ,Teta encontra-senesta perspectiva.Declarações prestadas por um elemento ligado à direcção dos estabelecimentos acriar na Beira adiantam que as lojas da Interfranca irão vender cerca de 75 porcento de artigos importados e que não pagarão direitos para a sua saída do País.Para além de artigos de primeira necessidade, electrodomésticos, confecções dealta qualidade e perfumaria, haverá também venda de carros e motos quefuncionará à base de encomendas oGinástica Artística EQUIPA BÚLGARA VEM ACTUAR EM MOÇAMBIQUEEsteve durante alguns dias em Moçambique o Minis4ro dos Transportes eTurismo da Seychelles, M.A. Servina, que se deslocou em visita no âmbito dacooperação regional no sector portuário. Dentro do programa da sua estada nonosso pais, M.A. Servina visitou o porto de Maputo, acompanhado pelo Ministrodos Transportes de Superfície, Luis Alcântara Santos, onde se inteirou do seufuncionamento. O Ministro seychellense dos Transportes e Turismo, que jádeixou o nosso país, declarou em Dar-Es-Salaam, capital da Tanzania, que dos

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contactos mantidos com as autoridades moçambicanas ficou estabelecido que atéfins do ano em curso Maputo irá ser palco de uma conferência regional sobrepescasINTERFRANCA EXPANDE-SEPARA AS PROViNCIASA Empresa lnterfranca. sediada em Maputo e criada há cerca, de um ano sob -umadirectriz do Ministério do Comércio interno visando o reforço da economia,através da captação de .divisas existentes no País, propõe-se este ano estender asua activida-de para outros pontos de Moçambique.Neste: sentido, já se iniciou o trabalho preparatório para a abertura de um «Free-Shop» no aeroporto da Beira e uma loja na capital da Província de Sofala; umaoutra em Chimoio. capital provincial de Manica,As «raparigas de oiro» da equipa nacional de ginástica artística da RepúblicaPopular da BulgáriaA Equipa Nacional de Ginástica Artística da República Popular da Bulgária,campeã euroneia e mundialmente conhecida, chega este domingo, dia 27 de Abril,ao nosso país, estando esta deslocação inserida nos acordos de coooeraçãoassinados entre Moçambique e a Bulgária.A representação Nacional Búlgara é composta por 10 famosas atletas, sendo seisas chamadas «raparigas de oiro», assim designadas por terem conquistado asprimeiras seis medalhas de oiro na primeira competição europeia da modalidade.A Equipa Nacional de Ginástica Artística Búlgara fará a sua primeira exibição nodia 29 deste mês terça-feira, no cinema «Gil Vicente> e no dia 1 e 3 de Maio noPavilhão do Maxaquene, em Maputo.TEMPO'N.. 498 - pág. 6m

Nas Zonas de ConservaçãoDISPARANDO CONTRA A LEIPESSOAS LIQUIDAM FAUNA BRAVIAContrariando a legislao existente, inúmeraspessoas ao longo do País, têm vindo a exercer a«tividades de caça furtiva ecriminosa nas zonas de Conservação, nomeadamente, Parques Nacionais,Reservas e Zonas em Regime de Vigilância.- Essas pessoas disparam contra a lei e matam a nossa fauna bravia - afirmourecentement e um elemento ligado precisamente ao Departamento de FaunaBravia do Ministério daAgricultura.A-situação é ainda mais grave quando se sabe, através de uma circular 'do próprioMinistério da Agricultura enviada para todas as estruturas do Aparelho de Estadoque se tem verificado que algumas pessoas «incluindo responsáveis com altoscargos dentro do Partido e Governo, quer militares, quer civis, não respeitam asrestrições, dificultando assim a acção de conservação e de disciplina dentro dasZonas de Conservação».

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Pelo Departamento de Fauna Bravia do Ministério da Agricultura têm sido larga.mente divulgadas junto das estruturas do Aparelho de Estado (Ministérios,Governos Provinciais e Direcções Nacionais e Provinciais) as principaisdisposições reguladoras das actividades de caça estabelecidas pelo Decreto n.7/78, de 18 de Abril e portaria n.° 117/78 de 16 de Maio.Por outro lado o Ministério da Agricultura através do mesmo Departamento deFau-na Bravia tem feito sobressair a disposição relativa à proibição de abate deanimais nas Zonas de Conservação que são os Parques Nacionais. Reservas eZonas em Regime de Vigilância, definidas em diplomas que se mantém em vigor,disposição esta que consta do art.' 100 do referido Decreto e que é punida compena de multa e prisão, nos termos do art.° 13' do mesmo Diploma Ministerial.ZONAS DE CONSERVAÇAO EM MOÇAMBIQUENos últimos anos tem-se desenvolvido uma vasta campanha de recuperação dopatrimónio faunístico do País tão delapidado no período colonial. Todavia pelosfactos já apontados, desrespeito pela lei alguns responsáveis tem contribuído paraaumentar a dúvida e confusão que, infelizmente, ainda persistem no espírito doscamponeses à cerca do real significado e valor das mesmas Zonas de Con.servação.Vamos em seguida inumerar e recordar as Zonas de Conservação de todo o País:Parque Nacional da gorongosa (Província de Sofala); Parque Nacional do Zinave(Província de Inhambane); Parque Nacional de Bazaruto (Província deInhambane); Parque Nacional de Banhine (Província de Gaza). Reserva Especialdo Maputo (Província do Maputo); Reserva Parcial de Pomene (Província deInhambanp); Reserva Especial de Marromeu (Província de Sofala); ReservaParcial de Gilé (Província da Zambézia) e Reserva Parcial do Niassa (Provínciado Niassa).Zonas em Regime de Vigilância temos as seguintes em todo o País:Zona á Sul do Rio Maputo, ocupando toda a área não abrangida pela ReservaEspecial do Maputo; Rio Incomáti,desde Incanine até à foz, no distrito de Marracune (Provincia de Maputo); RioLimpopo numa extensão de 4 quilómetros a montante da albufeira e a partir daponte da Barragem no Chókwè (Província de Gaza); Zona extinta da Coutada 1 aNorte do Parque Nacional da Gorongosa (Província de Sofala); Zona extinta daCoutada 3, a Noroeste do Parque Nacional da GOrongosa (Província de Sofala);Zona limite a Noroeste da Reserva Parcial de Gilé (Província da Zambézia) eainda todas as ilhas e ilhotas existentes ao longo da costa'e-, ,-*. . TEMPO N.' 498 -- pág, 7

TEMPO N 498 - pág. 8ARTISTAS PORTUGUESESMOÇAMBIQUE EM CONFERÊNCIAS EM MOÇAMBIQUEDA O.U.A. Segundo anuncia o jornal «Notícias» nasua ediMinistr dosNeg Estras ção de 23 do corrente chega dentrode dias a

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Mi õ ds N õcios Estrangeiros, Moçambique uma delegação de artistasportugueJoaquim Chissano, ses que engloba nomes bemconhecidos do mundoparte para Lagos da canção portuguesa. São eles, FernandoTordo,Ary dos Santos, Helena Isabel, Manuel Mendonça, O Ministro dos NegóciosEstrangeiros, Joa- Mário Coelho, Moreno Pinto, Teresa Coelho e MáquimAlberto Chissano partiu no passado dia 23 rio Pereira. de Maputo com destino aLagos, capital da Nigéria, A deslocação desta delegação verifica-se a cononde vaiparticipar na próxima Conferênca Ex- vite da Direção Nacional de Cultura daRPM.odvaiprtiipard nalh próxima onfro nia Exg - As actuações verificar-se-ão de 28de Abril a 18 traordinária do Conlho de Ministros da Organi- de Maio períodoem que a delegação se exibirá em zação de Unidade Africana. Posteriormente,oMi- Maputo, Sofala, Zambézia e Namoula. Ntüna das 1listro dos NegóciosEstrangeiros, renresentará o actuações serão realizadas gravaçoes para efeitosPresidente Samora Mache.l na, Cimeira Extraordi- de edição de um disco LP.nária dps Chefes de Estado da OUA para os Assuntos Económicos, a realizar-seigualment^ na ALTO DIRIGENTE CUBANOcaRital nigeriana. VISITA MOÇAMBIQUE«A Conferência Extraordinária da OUA situa-se no contexto da luta doContinente Africano contra a dominaço imperialista que culminou com a vitóriado Zimbabwe e a esuerança da vitória da Namíbia», explicou o Ministro JoaquimChissano sobre aquele acontecimento.Em relação à Cimeira Económica Extraordinária dos Chéfes de Estado, o chefe dadiplomacia mo ambicana revelou que «vai analisar asnectos relacionados com avalorização das riquezas do Continente Africano. «A, abordagem não .erá aindacompleta desta vez, mas é um grande avanço: começou-se em Monróvia(Libéria), abordou-se o mesmo problema em Adis-Abeba e agora a cimeira dosChefes de Estado voltará ao problema, disse a concluir Joaquim Chissano,PURIFICAÇÃO, DO PARTIDO Juan de Almeida Bosque,membro do «Bureau,,EMRIFAÇÃO Político do Partido Comunista Cubano eVice-Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros da O Ministro do Interiore Ministro Residente em República de Cuba iniciou uma visita de trabalho SofalaMariano Matsinhe, suspendeu das suas funçoes por corrunção material e sexual oSecre- e de amizade, no dia 23 do corrente mês, à Repúblitário do ComitéProvincial para a Organização do ca Popular de Moçambique. O visitante, quechePartido daquela província, Felisberto David Mas- fia uma delegação do seupaís, recebeo boas vinsingue. Durante a reunião em que foi tòmada esta das noaeroporto de Mavalane de Alberto Joaquim medida também foram suspensosBernardino da Chipande, membro do Comité Político PermanenCosta,Guilaze, membro do Comité Provincial do Partido, Primeiro Secretário do Comitéda Cidade te do Comité Central do Partido FRELIMO e Miç Presidente doConselho Executivo da cidade da nistro da Defesa Nacional da República>Popular Bira. Este, foi saneado por arrogância, e corrim- de Moçambioue.

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Aguardavam-no, ainda, outros &o sexual. Do mesmo modo foi saneado Antónioresponsáveis do nosso Governo, o embaixador daJosé Mariano Bonga, membro do Comité Provincial do Partido e responsável deligação com os distritos do Departamento de Organização do Par- Diaz, einternacionalistas cubanos residentes nestatido. cidade.

25 DE ABRILPassa hoje mais um aniversário do 25 de Abril, dia em que militares progressistasdo exército português derrubaram o governo ditatorial de Salazar/Marcelo. Esseacontecimento veio acelerar o processo de descolonização das então colóniasportuguesas uma vez que esses militares sabiam de experiência vivida que aguerra estava perdida em Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Nasequência da descolonizaão também logrou ganhar a independência o arquipélagode S. Tomé e Príncipe. Apenas Timor-Leste, onde as autoridades portuguesasprimaram pela ambiguidade e mesmo pelo compromisso com as forçasreaccionárias, não viu as aspiraçSes do seu povo reconhecidas pela autoridadecolonial e de lá para cá enfrenta uma guerra injusta e expansionista, autênticogenocídio do Povo maubere. Por seu turno o Povo português, que aquando do 25de Abril de 1974 criou esperanças de ver uma revolução implantar-se no paisenfrenta cada vez mais situações descritas pelos jornais progressistas portuguesescomo antipopulares e por culpa dos sucessivos governos o último dos quais tidocomo de direita.TEMPOEstão a b e r t a t Inscrições para admissão, através de concurso, de Desenhadores,Maquetistas, Angariadores de Publicidade e Revisores.Os interessados dever-se-ão inscrever. na Secção de .Pessoal da Tempogra ficadentro das horas no rmais de expediente até * pró. xima quarta-feira inclusive.o nossojardimFlores frescas recebidas diãriamente de manhã e à tarde.Variado sortido de Plantasornamentaisem vasos.Arranjos florais Para datas festivase comemorativas.Arbustos e Plantas Para jardins.,zA BELEZA PARA O SEU LARO ENCANTO PARA O SEU JARDIMna baixa da cidadeAv. Guerra Popular n-" 214-Tele£ 24275 - MAPUTOTEMPO N.R, 498 - pág. 9

FORDES DUR EM MAPUTOUM ABRACOENTRE MOCAMBIQUE E GUIANA

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a luta pela libertação de todas A delegação visitante, que incluIa as formas deopressão que une os po- o Ministro dos Negócios Estrangeiros vos deMoçambique e da Guiana. Esta R.E. Jackson-entreoutros responsáveis frase, ditaem diversos momentos, ex- do governo guianês - chegou a Maputo pica o climade amizade, fraternidade. no passado dia 20 tendo realizado, durante três dias,conversações oficiaise solidariedade militantes que caracte- com uma delegação de alto nível do rizou avisita do Primeiro-Ministro da nosso Estado, chefiada pelo Presidente RepúblicaCooperativa da Guiana, For- Samora Mache. Visitou igualmente lobes Burnham,e esposa, é República cais de interesse histórico e económico, Popular deMoçambique. na cidade de Maputo e arredores.TEMPO N., 498 - pág. 10

Numerosos ele. mentos da população de Maputo estiveram no aeroporto paradar es boas vindas à delegação da Repúbüca Cooperativa da Guiana. Na foto,FObes 'Bur. nham cumprimenta um elemento da :populaçãoAntiga colónia inglesa, ii a Guiana tem uma superfície de 215 milquilómeA tros quadrados (um pouco mais do dobro da área da província daZambézia). É povoada por cerca de um milhão de hiabitantes, na sua maior partedescendentes de escravos africanos e pessoas originárias da india que à4aí trabalhavam em regime de semi-escravaturaTEMPO N.' 498 - pág. 11Apesar de se situar a cerca de sete mil milhas de Moçambique (dezoito horas devoo em Boeing 707, aproximadamente)na América do Sul existem aspectoscomuns na base das relações existentes entre os dois países.

-alémn de outros nficleos étnicos, tais como, arnerindios, chineses e portugiieses.Itfteressa registar, amda, urna das .caracteristicas, deste territ6rio, que faz'fronteiras com o Brasil, a Venezuela e o Surinamn: a presenga de nuInerososcanais de ågua. Estes distribuem-se porle urna boa parte do interior e drenarn asåguas provenientes do mar e tåas suasj numerosas artérias fluvlais ,quando estasinundam o territ6rio, situado4 miuito abaixo do nivel do mar.Em cima: A delegagäo visitante aprecia alguns ntimeros de clan gas mogarnbicanas, no aeroporto de MavalaneAo lado. Apresentapåo do Corpo Diplomdåticp ao Pi. J meiro-Miniis tro, daGuiana. Durante ~rna recepgäo posteiormente realizada, Forbes .8urnhamsalientou a importåncia de os diplomotas ntåo sö representatremi 0 seu pais, comotambém promoverem a cooperagäo en tre os estadosErn baixo: A vioita ao Muscu da RevoIugflo permitiu conieer aspe~toimportantes da tuta de iertaQäo do Pr»Vo mogambicanoEconomica m en te, aSulana possul abundantes o2quezas, entre as quais baux'ite, agucar, arroz, madeli r as, manganésio , cauilino,otiro e diaman- 00~tes. Ao emnpreender, a partir de 1970, (quatro anos apös a indepenidén- ~ cia) umverdadeiro processo de descolonizag~äo o k

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governo dö Primeiro-Ministro L i nd en Forbes Sampson Burnhamn nacionalizouas indå~strias em poder das transnacionais- norte americaflas, in,glesas e canadianas. ATEMPO W. 498 - påg. 12

Durante os encontros realizados entre delegações da Guiana e de Moçambique, oPrimeiro.Ministro Forbes Burnham e o Presidente Samora Machel sublinharam oslaços de amizade que unem os nossos povos e a importância do reforço dacooperação parapromover o desenvolvimento de ambos os paísesNa Machamba Estatal «3 de Fevereiro» no Umbelúzi (arredoren d.e Maputo) adelegação da Guiana conheceu uma das unidades mais importantes do .País,produtora de citrinos para exportação. Na fotó, Marcelino dos Santos, Secretáriodo Comité Central do Partido FRELIMO para a Política Económica exvlica aForb&s Burnham aspectos da produçãopartir de então, transformadas as éstruturas sócio-económicas o pais* entrou numperíodo de am-: pias e profundas reformas, cuja primeira fase (já concluída), foiceebrada no passado dia 23 de Fevereiro, décimo aniversário da RepúblicaCooperativa da Guiana.Desde 1976, o governoassumiu a responsabilida- : de total em-matéria educacional, do ensino primárioao universitário, pondo termo à propriedade privada de certos estabelecimentos. Exi stem actualmente projectos de construção de estradas, pontes, barragens eoutras realizações económico-sociais, para promover o progresso e bem-estar dopovo.Desde os primeiros anos da década 70, a República Cooperativa da Guianaestabeleceu uma quota'd4o:TEMPO N.' 498 - pág. 1II

I~ »w80 anugo Forbes Bur- sidente Samora Machel.nham, representa a forega numa homenagem ao, vida resistýncia humana, sitante.«V cés foram esrepreseRta a história - eravos lå e resistiram; disse, por sua vez, oPre- nós também o fomos, e presentemente construiA -Amos o Socialismo,,.Nos contactos que teve com diplomatas, em conversaýóes oficiais e visi'tas aunidades de produýao, o Primelro-Ministro da Re&blica Cooperativa da Guianareiterou que o seu pals, tal como Moýambique, nåo se sentiria verdadeiramentelivre enquanto houver outros poI V0S aindaoprimidos.Outro aspecto por ele realýado foi que a indeUndéncia politica n å o temsignificado sema independéncia, económica. «Nesta, luta - disse numa reuniåopfiblica - devemos estar unidos nos nossos palses e entre os V,ýpaisesem desenvolvimento».A delegaqdo guianesa visitou de7porada e as da TEXL0M,unidade-pilotodéprodug5o de texteis A TEXLOM, na Mato"la, considerada uma emTEMPO N.* 498 ~påg.ý14

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«.1 Guiana e .Mocamb que nao descansarão enquanto POVOS como .os da-Namíb ia e da A frica do Sul não, alcançarem a sua liberdade - disse For.bes Burnham, na re1união Pública com os trabalhadores da TEXLOM«A fase actual de combate nos países Não-Alinhados Ivrecisa de Burnham e deOrtega para injectarem nova força» - expressou o Presidente Samora Machel,durante um encontro que teve conjuntamente com o Primeiro -Ministro daRepxblica Cooperativa da Guiana e com o membro da direcção da FrenteSandinista de Libertação Nacional e da Junta Govcrnativa da Nicarágua, DanielOrtega Saavedra, q"e se vêem na fotopresa-piloto no ramo das indústrias têxteis - foi uma das unidades de produçãovisitadas pela delegação, do Primeiro-Ministro da Guiana. Esta empresa mista,com capital majoritário do Esta-do moçambicano, produz doze milhões de metros quadrados de tecidos vários(popelines, capulanas, sarja), projectando atingir a meta de 15 milhões, uma vezconcluída a segunda fase de suaampliação. Tanto os aspectos da produção como a organização dos trabalhadoresmereceram a atenção e o elogio dos visitantes.Durante a reunião com .os, cerca de 1 500 traba-lhadores, estruturas políticas e direcção da TEXLOM, Marcelino dos Santos,membro do Comité Político Permanente e Secretário do Comité Central doPartido FRELIMO para a Política Económica, assim como o Primeiro-MinistroForbes Burham, reafirmaram a natureza dos laços que unem os dois países.«O nosso objectivo disse o Primeiro-Ministro- é a construção do Socialismo, que significa õ fim da injustiça e da opressão, aigualdade de oportunidades para todos, o contrôle da economia por nós, osproletários, nós, as massas populares».«Devem fazer, para alcançarem a independência económica, os mesmos esforçosque fizeram para a independência política - disse Forbes Burnham, numamensagem dirigida a todo o Povo moçambicano.TEMIO N.' 498 -pio. 15

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«Aqiuele que importe ou exuorte, cultive ministre, guarde, transporte, compre ouvenda, entregue ou consuma drogas será sujeito a sanções penais».(Da Lei sobre Drogas)«Ninguém nega que Os adeptos da droga são, em geral, indivíduos inconstantes,indignos de confiança e parasitas nas suas relações com a família e os amigos.Tomam a droga para esquecer os seus problemas sem procurar resolvê-los.Medrosos e sexualmente confusos, procuram, na droga, alívio para as suasaflições. A própria dependência que as drogas produzem é desejada pelosdrogados, que assim adquirem uma preocupação importante na vida conseguir adroga. Pouco lhes importam, a partir de então, os seus fracassos e as suasdeficiências.São indivíduos que sofrem de distúrbios emocionais mas que nem por isso estãoloucos.»(Extraído de «SA13DE NO MUNDO»,, Julho de 1967, revista editada pelaOrganização Mundial de Saúde)Texto de AREOSA PENA e de HAROON PATEL Fotos do ArquivoEra uma noite quente sem lua. Um grupo de silhuetas sentava-se no muro -pendente à barreira do Maxaquene, que delimita o jardim em frente do LiceuJosina Machel.f Um morrão incandescente que, pormomentos, luzia mais vivamente,passava de mão em mão.Jovens «passavam-se», isto é, fumavam suruma.O nome científico da planta que picada e enrolada em papel vulgar lhes serviapara fumar e «voar» é um arbusto: «Cannabis Satina 1,, um arbusto de aspectoinsignificante e inofensivo de sessenta a oitenta centímetros de altura.Mas esta planta de onde se retira uma série de substâncias psicoactivas e tóxicas,que cresce espontaneamente nas regiÕes temperadas e intertropicais, toma cente1,nas de nomes diferentes, quasetantos como os das línguas faladasno mundo.Segundo um relatório da -Organização das Nações Unidas, emitido por um grupocientífico da Organização Mundial de-Saúde, os nomes que a droga pode tomarvariam não só de região para região,como em relação as partes da Cannabis Satna utilizadas pelos viciados para sedrogarem. Assim, as fólhas superiores ou terminais dos pequenos ramos e asinflorescências, onde se acumulam mais as substâncias intoxicantes, dão origemdepois de secas, esmagadas e comprimídas, à «marij4ana» para ser absorvidapelos iniciados como se fosse fumo de tabaco. Deste fumo rescende um cheiroacre que se faz sentir a alguns metros de distância.Se o preparado é feito apenas de inflorescências é denominado ,ganja>'. Se oproduto é totalmente resinoso e extraido das flores toma o nome de «haxixe». (Atítulo de informação complementar, esclarecemos que a palavra «assassino»deriva de «haxixe», pois, segundo uma crença popular europeia muito antiga, oscriminosos iam buscar coragem para matar alguém fumando haxixe. Hoje há

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reservas científicas sérias de que qualquer preparado extraído da «Cannabis» sejaimpulsionador de violência)Por outro lado, no Brasil, chama-se à suruma tmaconha»; emTEMPO N.' 498 - pág. 17

Cultura de «Cannabis satina» suruma - que em Moçambique nasceesvontâneamente. mas que noutras partes do mundo é cuidadosamente cultivadanaclandestinidadeAngola «liamba», na República da África do Sul «dagga», em MarrocOs «kif,, naindia «bhang», se - ., 'for um preparado para ser bebido k *como o chá, e «charas», se for fumo.Outro dos termos mais genera- 5'lizados no Ocidente, entre Os ini- t'«ciados, é «erva», palavra de giria tomada dos Estados Unidos da América, onde a«Cannabis» é vulgarmente conhecida por «grass»(erva).Se um não iniciado e inocentetranseunte ouve falar em «erva» í»quando passa por um grupo de jovens pode seguir confiado, julgan- .do que se estão a referir a pastos ou a plantas parasitárias de jardins.«SUMBULANA»Tanto quanto as autoridades sa'bem. em entrevistas que recolhemos emdepartamentos do Ministério do Interior e do Ministério da Saúde, é, a «CannabisSatina. o produto mais procurado pelos toxicomaniacos em Moçambique.Mas não é só agora que a suruma é fumada em Moçambique pelos jovens.Sempre tem sido consumida, pelo menos de há 30 anos para cá, com períodosalternados demaior ou menor procura.Em meados de 1953, grupos de meninos-bem, filhos de famílias da chamada altasociedade introduziram nos seus círculos o uso da suruma. A imagem que aEuropa capitalista fornecia da juventude era a do jovem «Beatnick», irreverente e«não ligando» às convenções sciais. O modelo burguês exportado, das capitaiseuropeias era o do jovem que se desvia dos preconceitos sem no entanto os negarou combater., Ete modelo, na altura só atingia os filhos da burguesia colonial.TEMPO N. 498 - pág- 18

". DROGA:PARAISO DOS TOLOSOra o preço do produto seco contido em latas de cera custavam precisamentecinquenta escudos. Printa anos depois o preço mantém-se. E recordamo-nos quena gíria dos iniciados locais da época ninguém falava em suruma ou em «passa»como todos lhe chamam agora mas em «sumbulana».Nessa época o grupo restringia-se a - alguns poucos -- alunos dos últimos anos doliceu e a homossexuais. Não haveria, em toda a cidade, meia centena detoxicomaníacos.

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Hoje, o nome de «sumbulana» caiu no esquecimento, pois ninguém o usa já, a nãoser para se referir ao dinheiro empregue em qualquer compra.Desde há poucos anos o termo em voga é «passa» e, mais recentemente,«mbangue» - nome dado à planta na língua changane.O AUGE DO CONSUMOO período em que se consumiu mais droga em Moçambique - e não era sósuruma, como veremos adiante - foi entre 1970 e 1976.Nesta altura, os filhos da burguesia colonial eram os únicos e grandesconsumidores de droga.Compravam suruma e fumuvam-na descaradamente nos restaurantes, nos átriosdos cinemas, nas ruas, nas «boites» e nos «partyes» em casas particulares.Assaltavam farmácias - de uma das vezes a própria farmácia do então HospitalMiguel Bombarda- e roubavam medicamentos que contivessem opiácios (produtos extraídos daspapoilas: ó5pio, iiorfina e heroína), benzedrinas e anfetaminas.Tudo lhes servia para se drogarem, inclusive a coca-cola misturada com quaisquercomprimidos que produzissem uma beberagem alucinogénea.Além de assaltarem farmácias, laboratórios e as caixas de primeiros socorros maisou menos inocentes, que os pais tinham em casa para curativos e dores de cabeça,falsificavam receitas médicas para levanfãrem drogas nas farmácias.Cheiravam os «surumáticos» :de uma maneira execrável. Assim como eraexecrável a forma como se vestiam e se comportavam: viviam sujos, barbasgrandes por aparar, cabelos até aos ombros, «jeans» porcas, unhas debruadas anegro, tudo isto culminando com o ferrete ignominioso do imperialismo nascamisolas: «USA ARMY». Isto no que se refere a «eles» porque no que se referea «elas» há mais: usavam saias compridas às florinhas, andavam descalças e decabelos desalinhados por pentear, dispensavam o uso de roupa interior, diziampalavrões que faziam corar um marinheiro e, quando estavam em pleno «voo»,não eram exigentes quanto àqueles que as procuravam e a quem concediam osseus favores.O ANO DAS GRANDES MEDIDAS: 1978Convém esclarecermos aqui que o consumo de drogas parece ter diminuidosubstancialmente, após a Independência Nacional.Também devido a vários factores que mobilizavam as Forças Policiais para outroscampos não ha-TEMPO N. 498 -pg. 19

O GRANDE ALIADO DA SURUMA . A OCIOSIDADEvia tanto, contrôle em relaç.ão às drogas.Surgiu, no entanto, um recrudescimento ,preocupante durante o ano de 1978.Aumipenta o consumo das drogas, com particular incidência por parte lde jovensda pequena burguesia nacional nascente, que herdaram a toxicomania dos jovens,filhos dos côlonialistas que haviam abandonado, o País,-Registaram-se, de novo, assaltos a farmácias, falsificação de receitas, tráicoatravés das fronteiras e do correio (foi apanhada uma carta onde estavam

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escondidos alguns compýimidos de LSD), aumento de grupos de fumadores desuruma nas escolas do ensino secuiidárío.0 problema foi estudado e tomaram-se medidas, as mais drásticas até então,quanto a drogados em Xoçambique: prenderam-se os vendedores de suruma,enviaram-se Os consumidores para campos de reeducação, exigiu-se um maiorrigor .no contrôle das receitas médicas.Diversas estruturas. foram sensibilizadas para o problema e cada tuma, no seuramo, participou no combáýe à droga.NOS ITLTIMOS ANOSA acção atempada e vigorosa das Forças Policiais, no ano de 1978, quase fezdesaparecer os toxicómanos,.-Agora em 1980, sabe-se que existem grupos de drogados pela suruma, mas emescala muito mais reduzida..Eles continuam a adquirir por cinquenta escudos (às vezes por cem) aoscamponeses uma «banana'n de suruma. A lata de cera «Cobra» desapareceu e foisubstituída por uma folha de palmeira onde se-colocam certas partes da Cannabis, enrolando-a depois e atando-lhe as pontas,dando-lhe a forma de uma banana.Estudantes consomem a suruma, fumando-a em terrenos baldios, em zonasescuras depois das aulas nocturnas, mas discretamente, de molde a nãodespertarem as atenções.Desconhece-se o seu número exacto e quantos são os grupos de fumadores, poisainda há aqueles que só se «passam» em festas organizadas em casas particulares.Uma das características do fumador de suruma é que não gosta de fumar só. A suadelícia é passar-se» num grupo, onde haja jovens de ambos os sexos, e -a mesma«beata» ser chupada de boca em boca, enquanto se afastam cada vez mais darealidade.Um toxicómano fora do grupo, é quase normal de c¢omportamento, mesmoquando drogado. Sósse distjngue pelos olhos muito brilhantes, pupilas dilatadas,pas,os vacilantes e o cheiro acre que se evolue das suas roupas, se fumOu, hápouco, suruma.A SURUMAENTRE OS CAMPONESESVerificamos, muitas vezes, em alguns pontos de Moçambique, os mesmossintomas, descritos no parágrafo anterior; em camponeses.Conquistada a sua confiança, eles - que não fumam em grupo-,diziam-nQs que fumavam a suruma para lhes «dar mais estaleca», pois asuruma, actuando como euforizante e estimulante, lhes dá, na altura, mais, energiapara desempenhar um trabalho árduo. Depois ficam ainda mais prostrados.Outros diaaeram-nos que era para «tirar, as dores da' fome no estõmago». Sucedeo mesmo nas zonas pobres da índia e da América do Sul e Central entre osamericanos.Dificilmente, tomados pelo mínimo espírito de justiça .e sabendo que o direitoconsuetudinário (lei não escrita) não se preocupa com o consumo da surumaaopodemos enquadrar estes 'camponeses., que levam uma vida dura de trabalho, desol a sol passando por vezes fome, no mesmo çonjunto de ociosos que, nas

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cidades, se dedicam suruma, por desfastio, para se mostrarem adultos, adultosque preeisam de arranjar coragem para se divertir, na droga.OPINIOES DIVERGENTESDiversas comissões da O.M.S., grupos científicos independentes, brigadas daInterpol, sociólogos e psiquiatras têm submetido a suruma e os seus consumidoresa estudos, lavrando relatórios que 'chegam a conclusões diferentes..TEMPO N. 498 - pág. 20

Uma das conclusões mais populares - pelo menos entre os fumadores de ýCanabise por razões óbvias -afirma que a «suruma é muito menos perniciosa para oorganismo que o tabagismo» (vício do tabaco) mas que se ataca a suruma e não otabaco «porque este é defendido pelos grandes monopólios» que têm muitodinheiro em jogo e não querem ir à falência, mais que certa, caso os governos seresolvam a liberalizar a venda do Cannabis Satina.Outra conclusão é a de que a Cannabis Satina é o primeiro degrau que umtoxicómano desce na desagregação da sua personalidade, criando por habituaçãonecessidade de drogas cada vez mais fortes. Os autóýes desta conclusãoobservaram, em toxicómanos sob a sua vigilância, uma habituação progressiva àCannabis Satina. Que essa habituação os conduzia ao aumento periódico'dequantidades de fumo inalado para atingir o êxtase artificial queprocuram e queacabam por passar para outra droga mais forte e desta para outra, até que morrem,debilitaidos e com os órgãos todos do corpo apresentando lesões.«Que o uso ininterrupto da «Cannabis Satina» durante cinco anos ,provoca gravesafectações no cérebro, atacando sobretudo as circvn.voluções cerebrais e todo ocou junto de acções psicomotoras, e isto já foi proyado cientificamente em 1845,-por Moreau e pelo Professor Nahas da Faculdade de Medicina de Paris, em 1970.Mas todos Os cientistas estão de acordo num ponto, sejam a favor ou contra: ofumo dáa Cannabis Satina provoca alterações no comportàmento quando se estásob a sua acção tóxica que dura, de quatro a oito horas, conforme a dose fumada ea resistência do organismo.Esta alteração no comportamento também é diferente de pessoa para pessoa.Todos os toxicómanos acham que sob o efeito da suruma sentem como se«voassem». A suruma desinibe-os - é ponto assente.Contudo a «desinibição» sentida é menos orgânica que social e cul tural. Oaspecto fundamental é de que a utilização da, suruma é, por norma, acompanhadapela adopção de modelos incorrectos de comportamento. O jovem fuma surümaporque aceita globalmente o esquema mental e cultural de uma juventude que apropaganda capítalista apresenta como livre desinibida e despreconceítuada.Daí que o combate contra a droga no seio da juventude seja iminentementecultural e ideológico. É evidente que é necessário reprimir aqueles quecomercializami e difundem o uso das drogas. Mas é sobretudo necessário,combater a mentalidade burguesa que leva os jovens a comportarem-se, vestiremfalarem de forma alienante. A ocupação correcta dos tempos livres desempenhaum papel fundamental no combate às drogas. A educação socialista não se limitaao pèríodo escolar, mas preocupa-se com a globalidade da vida dos jovens. Todaa sociedade educa como:uma escola permanente.

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Demos grandes passos no combate contra a alienação juvenil. Mas é necessáriocerrar fileiras. Se os jovens são a nossa aposta num futuro melhor é necessárioisolar os pequenos grupos de jovens alienados, sobretudo nos centros urbanos. Napromoção massiva de actividades culturais, desportivas e recreativas está osegredo da vitória deste combate.Areosa PenaHaroon Patel44 TEMPO N.' 498 - p~g. 21TEMPO N.° 498 - pág, 21

DAS INDELICADEZAS DA AS FRESCAS RGUAS DI(Crónica de uma Viagem)Deslocámo-nos à província de Nampula, uma das visitas que o Grupo Musical daRádio Moçambique tem vindo a efectuar a diversas províncias do país, pararealização dos já conhecidos Programas Recreativos.A presença do «Grupo R.M.» em Nampula foi, efectivamente, uma realizaçãopositiva, senão das que maiores sucessos obteve,, quer pelo elevado nível deorganização das estruturas provinciais q u e apoiaram a deslocação, quer pelaprópria evolução artística dos próprios programas.Mas por muito estranho que pareça aos leitores, a crónica que nos propomos apublicar, está longe de se referir aos aspectos artísticos desta viagem, para focaroutros permenores de suma importância para o momento actual da nossa vida.A nossa viagem durou três semanas, e ao longo deste período pudemos visitar,apreciar e suportar as mais estranhas situações, quando neste momento decorreuma ofensiva política e organízacional que tem como principal objectivo limpar aimagem estática, cavernosa e decrépita com que muitos querem atingir o nossopaís, uma ofensiva que se propôs: «varrer a nossa casa».Alguns leitores poderão achar desnecessário recordar a q u e 1 e slogan que oscolonialistas propo. sitadamente criaram para fazer desacreditar a luta evoluntariedade do povo moçambicano: <são preguiçosos e não gostam detrabalhar...»Pois a reacção, de novo, pretende criar a confusão, aproveitando a ociosidade einércia dos que, comodamente, se instalam nas últimas, mas ainda agradáveiscarruagens do comboio, (ten. tando de unhas enterradas no soalho, não perder aboleia, ou ficar perdidos num apeadeiro sem sombras), fazendo soar de novo esseslogan racista até, nas esquinas invisíveis, em trocadilhos surdos sobre esse<Laissez faire Laissez passer». Por isso alertamos para essa situação.E é verdade que ao longo da ýviagem meramente artística, decidimos avançarcom esta crónica e olhar para as coisas com outra óptica.0 AEROPORTOChegar ao aeroporto de Mavalane e tentar fazer o «shake in» é ainda, uma dor decabeça que as pessoas, gostariam de não sentir mais.Éramos três colegas e enquanto o dito balcão não abria íamos ouvindo o históricodiscurso do Presidente Samora Machel de 18 de Março.O avião estava já atrasado. Tornou-se um hábito a que os passageiros já seacostumaram. Está tudo psicologicamente preparado para os atrasos.

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Mas, por mais introspectivo e calmo que se seja, não se consegue tolerãncia capazde superar a febre perante a antipatia, a indelicadeza, a arrogância, e o«vampismo» até, dos funcionários daDETA que se «encostam» ao tal balcão do tal «shake in».Uma superioridade que demonstra uma preocupante ausência de estudo econsciência polí tica, faz com que a actuação de alguns destes funcionários variecom uns e com outros (todos) passageiros, de acordo com o aspecto social quecada qual apresenta.-Reproduzimos, na maior aproximação possível, e se a memória não nos falha,um diálogo mantido entre uma assistente e um passageiro com destino a Tete.O passageiro, trabalhador e possivelmente operário ou mineiro, fez o seu <shakein».Ao entregar a bagagem, coloca na balança um desses amplicadores a pilhas,conhecidos vulgarmente por «Xinguere» que não pesaria mais de cinco quilos, ede tamanho um pouco maior que um saco de viagem.- Isso não pode ir por aqui... Nós não nos responsabilizamos...- diz a funcionária que segreda algo ao colega.O colega avança.- Trazem essas coisas «depois rompem-se e vêm reclamar!... Vá despachar isso àsecção de carga...Tudo isto, nele e nela, com um total desprezo pelo passageiro. Nem lhe viram acara.E o passageiro, tímido, na sua condição de desconhecedor dessas lides, indagapelpa Secção de carga.O funcionário vocifera:- É lá ao fundo, lã fora...São os outros passageiros que, gentilmente, se fazem de assistentes e indicam olocal.TEMPO N., 498 - pág. 22

Mas o passageiro em causa ainda per gunta.- Mas isto chega hoje a Tete?O funcionário torna a vociferar:- Não sei... Talvez não...Tanto lhe fazia que chegasse o u não, pois ele nem se preocupa com o problemado passageiro...Perguntammo-nos:- ua äalé a diferença, no que respeita a segurança do objecto, em ser despachadoali ou na Secção de Carga?Segundo o funcionário pelo despacho, como carga acompalnhada havia perigo dese romper e na secção de carga já não.Vamos lá compreender isto!Se ele tivesse falado em embalagem... Mas nem era o caso. Foi falta de respeito,incúria, má educação, arrogância e o não-te-ralesO romper ou não o forro de um amplificador, uma mala, um estojo depende só esó dos cuidados dos trabalhadores da DETA na arrumação das bagagens. Quando

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não, qualquer dia teremos. que viajar com malas de ferro. O mesmo se aplica aosextravios.Para os passageiros, só. é responsável quem manusea a carga, se bem que aDETA advirta no bilhete de viagem que não se responsabiliza pelos tais extravios.Mas estamos no aeroporto e o avião estava atrasa do.O bar do 2.o piso estava aberto ao público.Subimos e pedimos o que comer e beber, precavendo-nos da fominha a passar aolongo da viagem.Aqui o aspecto, à data, é de uma grande tasca de terceira.A determinada altura ficámos sem saber quem eram os empregados de mesa, poispara além destes, encontrámos outros trabalhadores da DETA, fardados, deemblema e «rachat» ao peito, servindo-se da cerveja que ali se vendia. Deduzimosde imediato que ali bebe-se durante as horasde serviço. Estaremos enganados?A vontade de trabalhar, o respeito pelo cliente, a limpeza, são tão poucos que sepode dizer que grande parte dos ditos emprega-dos nem respondem ao cliente mas balbuciam, não atendem mas aguardam, nãose movimentam mas vão indo, no seu estilb próprio do «deixa andar».A imagem é desesperante. É o sonambulismo colectivo que se arrasta sobre umchão sujo. Alguns deles adormecem de pé junto à vitrina do balcão. Os clienteschamam, e a resposta vem quando vier. Outros preferem ver o avião levantar...Enfim! A coisa vai rendendo e o vencimento cal.O .AVIÃOExecutadas as operações preliminares de bordo o avião atira-se para os céus. Estãum dia solarento e estão tódos para uma longa viagem a Nampula com escala emTete.Aproxima-se a hora do almoço.Foram vendidas algumas cervejas enquanto se distribuíam os sumos.O avião vai completamente lotado ao que nos pareceu. No corredor apertadíssimoda «versão cento e doze» viajam as assistentes e os carros com as refeições.A cada passageiro uma indiscutível ementa de fome:- duas sandes tísicas- um bolo rudimentar, ou berlinde adocicado do tamanho de um biscoito.O passageiro abre a boca"e à terceira dentada está almoçado, sem que se lhe possachamar alarve.O meu colega comenta:- Com esta história da versão «cento e doze» economizaram comida. O que erapara 90 passa a ser para 112... Se talhar pensam que isso é que é socialismo...Faço uma observação acerca da ausência dos sacos de enjoo. O meu outro colegaresponde sapiente:- Para quê?.... Não são preci. sos... O que te deram para comer não dá paraenjoar...E a contrastar, a delicadeza do comandante que aqui e ali ia informando osp a s sage i r odos grandes aspectos geográficos do pais.- TEMPO N.' 498 - pág 23

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Chegámos a pensar em como deve ser difícil ser-se simpático a bordo com tantascarências, com tanta falta de oração que vem de terra.-Reclamar?... Aonde?Chegámos a Nampula... Ali, restava esperar pela bagagem que vem vindo...NAMPULA:DO HOTEL DO PARTIDO AO HOTEL NAC.ALAChegar à recepção do Hotel do Partido na cidade de Nampula e repentinamentetirar-se conclu. sões e sem dúvida uma atItude precipitada.Praticamente, ficámos com uma boa impressão logo à chegada. Houve uma coisaque nos saltou logo à vista: - a higiene.A par uma simpatia e um respeito pelos clientes que cada um dos recepcionistassoube propor. cionar.Quando nos disseram que não se tratavam de especialistas no assunto, não nosadmirámos, pois notámos insuficiências diversas que no âmbito de todo ocomportamento passam despercebidas e serão ultrapassadas com faci. líd4de.Ali, encontrámos a boa educação, a limpeza, o sorriso, e a abertura. Aas pessoasestão sempre dispostas a servir bem e pacientemlente.Os quartos apresentam-se igual mente, limpos e assistidos no mais pequenopormenor.O-serviço de restaurante tenta funcionar da melhor forma se bem que existamalguns aspectos protocolares que devem ser assumidos mais concretamente pelosem. pregados, assim como a pouca variedade de menus.Não seria justo dizer-se que ali vai tudo bem, nem Isso estiroularia quem látrabalha.Mas há avanços.Quando conversámos com cada um dos empregados ficávamos a, saber mais dotrabalho ali desenvolvido.Quanto a nós, esse bem-estar que sentimos no Hotel do Partido é resultado doTrabalho político desenvolvido junto dos trabalhadores. Sente-se isso.Sentimos no Hotel do Partido a abertura à crítica directa. . quando dizíamos «istonão está correcto», justificando, o problema era solucionado de imediato.Sugerimos, porém, que se dê uniforme a todos os trabalhado. res.Em contrapartida «fomos a enterrar» num outro Hotel da mesma província, oHotel Nacala.Dizemos que «fomos a enterrar» porque é difícil viver-se numa pocilga por muitotempo.Ou se morre na porcaria ou se se adapta à lama e tem que se ser suíno.Num edifício oblíquo à direita, esse dito Hotel apresenta-se com uma amplaentrada e majestosa, cheia de suicos, pedregulhos, e buracos, virada para abelíssima baia de Nacala.O restaurante é qualquer coisa de esquisito pois adormece na decadência de todoo Hotel.Sobe-se à chamada recepção sobre um manto de cor incerta que em tempos sechamou alcatifa e vai-se inspirando um fedor aba, fado a retrete que se espalhapor todo o andar.Registámo-nos ,no princípio da noite.

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Eu, e o colega de quarto, seguimos o «groom», que de «gro, om» não tinha nada,ao quarto, que nos fora destinado.Havia um truque para abrir a porta. IA luz não acendia nem com truques. Deram-nos uma vela enquanto se arrancava uma lâmpada de um corredor qualquer.Sair daqui, o mais depressa possível era o desejo de ambos.Chegou a lâmpada... Antes tivéssemos ficado às escuras.Quando o quarto "se iluminou, deparámos com o resto da. desgraça.Cortinados (que foram) rotos; lençóis (que teriam sido) encardidos; almofadas(seriam?) imun. das; três baratas passeavam nu. ma das camas... A casa-de-banho«privativa», tinha o lavatório partido a meio para que um balde de metal sesentisse útil e recebesse os resíduos de água sula do chão... Do resto da«privativa» nem fa-lar.... Foi preferível não se estar nela muito tempo...A nossa solução foi, sairmos a passear até nos cansarmos, para regressarmos omais cansados possível, única forma de conciliar algum sono.Dormimos com as baratas e de madrugada, despertámos, contámos Os dedos dospés, não fosse faltar algum e fugimos da pocilga quanto antes, para esquecê-la...Na primeira manhã, deparámos com um senhor, estrangeiro, que se encontrava nadita esplanada aguardando Transporte. Ficámos seriamente preocupa. dos...O que Pensaria daquilo? E aqueles que, pareceu-nos, deviam trabalhar nochamado Hotel, cruzavam connosco num vai-indo vem- i n d o irresponsável,TEMPO N.' 498 -pág, 24

nesse passo de camaleão hesitante e lento, quando não se sentavam, também, naesplanada, como qualquer cliente, vendo a bala brilhar num cómodo «deixaandar»,. Numa autêntica «dolce vita de fare niente».CHOCAS-MAR:A GRANDE PERSPECTIVA DE TURISMONo distrito de Moussuril o ocea. no entrega-se a uma das praias mais belas dopaís.Aquilo que fora privilégio da burguesia colonial e, mais tarde, da superstruturamilitar colonial em apaziguamento, apresenta-se-de novo coimoÓ uma extraor.dinátia estância de férias. Foram criadas s Organizações ChÓcas-Mar com a tarefade rea-proveitar todo um complexo turístico que esteve abandonado depois da fuga doscolonos.Se bem que a superlotação do complexo prejudicasse a análise, verdade é quesentimos nas casas, na apresentação de toda área e no serviço de apoio que nasChocas se efectuou trabalho. Deparámos com insuficiências e erros no serviçode Restaurante, que não consegue dar vazão ao afluxo de turistas quando emgrande número. Muitos desses turistas informaram-nos que essa deficiência setem vindo a notar com frequência.Verdade é que o Complexo reúne todas as condições para que se transforme noCentro Túristlco número um de todo o pais. A beleza natural de Chocas.-Mar. é incomparável, enquadra-

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da, aliás, no tipo de costa da régião norte do pais, e para além disso. oferece aoturista uma vasta possibilidade de diversões e ocupação de tempos livres.A poucos quilómètros do Complexo, menos de 30 quilómetros, existem diversosmonumentos históricos que se bem em estado de abandono, reflectem períodosbem definidos da história do nosso povo.- Uma mesquita construída cem anos antes da chegada dos Portugueses às costasmoçambicanas;- Ruínas de palácios e outras residências ocupadas pelos invasores nas campanhasditas de pacificação;São alguns exemplos.As populações da área transportam desde muitas gerações as histórias dessas"pedras e dessas muralhas que devem ser fruto de atenção do serviço Nacional deMuseus. 'Muito vagamente, estas São as perspectivas de uma região turística onde jáexistem infra-estruturas num elevado grau de reôuperação e desenvolvimento. 'Aqui em Chocas-Mar é preciso que não se caia no «deixa andar», pois deparámosque os responsáveis do Complexo estão conscien. tes dos problemas deabastecimento aos turistas. Resta que os órgáos competentes se aliem pra que aotrabalhador que descansa numa das praias mais bélas de todo o pais seja possívelconhecer um pouco da sua história no contýcto directo com os monumentos a quenos referimos.E nesta crónica da nossa viagem a Nampula, resta-nos referir que, se há quem seempenhe em cumprir as orientações do Presi. dente Samora Machel no históricocomfíco de 18 de Março, há-os que adormecem na comodica de do vencimentomensal, e pretendem toda a alegria do nosso viver liberto quando optam em serviro inimigo. Para eles a palavra de ordem não é «criar condições para a vitória sobreo subdesenvolvimento» mas sim «deixa andar... »Santana AfonsoTEMPO N., 490 pg 25

ZIMADWE:O PAPEL DAS MASNA CoNSTIICAO no PAISA economia do regime ilegal rodesiano mereceu de muitos comen.taristas económicos enormes elogios pela forma saudável como se.apres ntavadepois de vários anos do guerra. A opinião tem fundamento somente porque ela baseia-se na aparência.0 sector das minas como o sector da agricultura e da indústria temgrandes e graves problemas para resolver. O potencial existoe é aí que reside aesperança do novo país independente para em poucos anos poder satisfazer asnecessidades do movo. Mas primeiko necessariamente virá uma crise que tem assuas origens na forma como o regime ilegal construiu o sou estado ilegal, naforma como fez sobreviver a sua econo-Segundo os números oficiais rodesianos para o ano de 1979, o sector das minasproduziu para o pais uma quantia de 315 milhões " de 'dólares rodesianos, o quecorresponde a cerca de doze milhões de contos. Este avultado número,

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-pensa-se aqui, pode vir a aumentar este ano, embora haja a este respeitodiferentes opiniões e mesmo algumas dúvidas.Com efeito, em 1978 o montante de capital produzido na exploração de minériosfoi de cerca de 252 milhões de dólares ,(rod.), mas o volume de produção foisensivelmente o mesmo que em 79, conforme nos explicaram em Salisbúria naSede da Câmara das Minas. A razão para o aumento «fenomenal» dos valores decapital explica-se basicamente pela excessiva subida do ouro, cujos preçosatingiram no ano passado os 650 escudos por grama (cerca de 16 dol rod.)Seis minerais dos quarenta enm exploração por todo o Zimbabwe contribuem deforma decisiva Para a sobrevívência de uma econo-mia que estava minada por uma guerra já às portas de Salisbúria, cujos custosultrapassavam Os 50 mil contos por dia (mais de 18 milhões de contos por ano).Minerais de importância estratégica para a economia mundial como o ouro,crómio, asbestos, níquel e carvão de coque, constituíram sempre desde a UDIcomo que a «Maçã de Adão» para as potências ocidentais, no cumprimento dassanções.Estados Unidos da América, Inglaterra, França, Alemanha Federal, Zaire e outrospaíses da Europa nunca deixaram de adquirir estes «frutos proibidos» produzidosna Rodésia. O crómio refinado em Gwelo pela Union Carbide, para servir aindústria armamentista, e o ouro vendido através ,dos mercados da Africa do Sulnunca deixaram de circular pelo mercado mundial.Trinta e oito por cento da produção de divisas rodesianas vêrm ainda hoje daexportação d minérios. E, se a esta percentagem se juntar a exportação dasmatérias-primas produzidas nas refi-narias de crómio, cobre e em'outras fábricas de tratamento dos minerais emexploração, *a percentagem pode alcançar, segundo apuramos, os 50 por cento ciaentrada total de divisas para o pais que agora nasce.Para este ano os responsáveis da Câmara das Minas deste pais esperam que o seusector possa produzir os 480 milhes de dólares (rod) o que, juntando-se aosprodutos refinados, pode atingir valores da orcem ds setecentosS,. milhões damesma moeda.As esperanças que aqui e0icontramos em se proauzir tal montante rjsidemsubstancialmente na grande quantidae de pedidos já leitos por compa i asmuiUnacionais para terem o monopóliq da prospecção ou. mesmo da exploraçãodos minérios, Os pedi, dos de licenças «choveram» a partir da assina±uza do'acordoô de Lancaster House, como bem se' pode adivinhar.A rentabilidade das mna , com particular incidência para as de ouro, é bastantecontroversa. Um engenheiro responsável pelo apoio estatal a empresas priy4.dasem Gwelo, afirmou-nos quQ,,,« rentável trabalhar-se uma toíelada de, miner-alpara se obe ma grama de ouro ».Segundo o enehi6NýMa rentabilidadei da míor 5t4. das mina s deouro é viável até, à obtenção de unmínimo d três gramas de ouro pór tonelada de mineral, mas acima disso «as minasserão obrigadas .i fechar». Isto porque a iande parte das minas não tem :gran esãépõsitos de ouro, tendo-se' ecorrido essencialmente pelo baixo preço pago à

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mão-de-obra, a juntar todas as gramas de ouro a fim de fazer sobreviver aeconomia rodesiana.Equipada com maquinaria que nos foi descrita por Alan Marsh como«ultrapassada e obsoleta» o sector mineiro necessita de gran- : des investimentos.A este r -sp to a Câmara dpa. "s~ fiq ue m to 1 n onalização ste sector não beniciará em, nada o seu devoI'limento; r que são necessáios invêstimeitos».TEMPO N.' 498 -- pág. 26

Confrontado com esta situação de sobrevivência na base da exploração da mão-de-obra, o governo agora eleito tem, como bem se pode adivinhar, enormespreocupações e dificuldades sobre a definição de uma política nacional para aexploração mineira.Em termos imediatos, este sector da economia não necessita apenas de novosinvestimentos como ainda reequipar grande parte das minas e mesmo fazer umestudo sobre a rentabilidade da sua maior parte. Segundo afirmou um especialistaeuropeu a «política mineira do regime ilegal só sobreviveu pela imposição desalários e condições de exploração, que são totalmente inaceitáveis em condiçõesnormais».Com efeito, o governo rodesiano impôs às companhias mineiras impostos sobreos lucros que se podem considerar altos. 49,3 por cento do lucro obtido por cadamina fica reservado para o Estado, o que leva os conselheiros do governo doPrimeiro-Ministro Mugabe a pensarem ser desnecessário fazer-se nacionalizações.Por outro lado, porém, o novo governo terá de enfrentar as causas que levaram oEstado ilegal aimpor tais impostos às companhias mineiras: trocar os 49,3 por cento de impostosobre os lucros totais, pela garantia de manter os salários baixos, recrutamento demão-de-obra e ainda, garantia da não possibilidade de existência de greves.Naturalmente que o novo governo tem a este nível que introduzir algumasalterações. Mas, ao mesmo tempo isto poderá vir a impor o fecho de muitasminas, dada a sua fraca rentabilidade.Segundo nos informámos, das quatrocentas minas em exploração, 310 têm menosde cem trabalhadores e, destas últimas, cerca de 200 exploram o ouro. Aexplicação para a sobrevivência das minas de ouro com menos de cemtrabalhadores é fundamentalmente a utilização de muita mãode-obraacompanhada de maquinaria obsoleta para se obter em muitos dos casos um quilode ouro num mês.Para além deste aspecto, a indústria m i n e i r a confronta-se igualmente comoutros problemas não menos graves, como o problema de energia e transportes.Segundo nos afirmaram, embora a Africa do Sul tenha até aqui da-As muLtunaclonaís nunca deixaram de explorar as minas e de exportar o seuproduto durante todo o tempo do UDI violándo, assim, as sanções. Hoje essasminas são uma das esperanças de recuperação rdpida da economia zimbabweanado imensos apoios em projectos, estudos, fornecimento de técnicos e técnica, ospreços que cobra pe. lo transporte de minérios são altíssimos.

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Os responsáveis da Câmara das Minas com quem contactámos em Salisbúriainsistem que continua a ser renltável a utilização da linha férrea para a Africa JoSul Mas, a explicação para tal insistência «é sem dúvida o facto de existir umprojecto de electrificação da linha (férrea) de Beith Bridge», conforme meafirmou um perito do sector.O outro argumento em favor da continuação da utilização da linha férrea sul-africana em que «as linhas para Maputo e Beira são insuficientes para fazer toda aexportação, a menos que a linha para Maputo seja duplicada». A este níveltambém e uma vez mais, um elemento dos Caminhos de Ferro Rodesianos disseque «não há razão para preocupações, pois o problema pode ser facilmenteresolvido com a racionalização do uso das linhas».A questão da energia não A contudo imaginária. Neste momento o país édeficitário na produção de energia, sendo um terço das suas necessidadesprovenientes de unidades hidroeléctricas, um terço do carvão e o outro um terçode energia de vapor e petróleo. Embora exista um plano para a construção de umanova barragem no rio Zambeze entre as barragens de Kariba e Cahora Bassa, averdade é que em termos imediatos e para fazer face a um aumento da produçãomineira, a República do Zimbabwe terá fortes problemas de energia.Os 58 mil trabalhadores actualmente envolvidos na exploração mineira, .dosquais cerca de cinco mil e 500 são brancos, apresentam-se como potenciaisreivindicadores de novos salários, se se tomar e mconta que o salário mínimodefinido pelo regime ilegal - 38 dólares por mês (menos de mil e 500 esc.) - não«está de maneira nenhuma a ser aplicado», como nos declararam em Gwelo.Utilizando um sistema verdadeiramente repressivo para man-TEMPO N.° 4980- pág, 27

As questões de trabalho, e rentabilidade dqs minas preocuvar o governozimbabweano que crou o 'MinistfriQ das Minas para coordenar o seu crescimento.Mais de 30% das exportações do pai s provêm dos minérioster, os trabalhadores não qualificados ligados à mina, o regime ilegal deixou aonível de problemas laborais. uma pesada herança.Com efeito, e como pudemos verificar em visitas que efectuámos a duas minas(uma na zona de Salisbúria, outra na de Gwelo), que -ao lado ou dentro do terrenodemarcado para as minas existiam verdadeiros campos de concentração de ondeos operários-mineiros só podiam sair depois de cumprirem complicadíssimasformalidades.A famosa «lei de conciliação industrial», que prevenia a possibilídade de severificarem greves de qualquer tipo é, como afirmou o ministro das Minas,Maurice Nyagumbo, «uma ofensa aos direitos dos mineiros».Segundo Alan Marsh, o presidente da Câmara das Minas, a lei em causa «crioumedidas preventivas contra a greve ou lock-out, bem como definiu medidas aserem comadas em casos de acidentes». Na prática, porém, e de acordo comafirmações de vários mineiros a lei tinha somente por objectivo que ý«nãofôssemos para a greve. Aqui'- (Union Carbide em Gwelo) - nunca um trabalha-doracidentado foi protegido, masa companhia sempre estava protegida para nos despedir».

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Os Sindicatos mineiros de acordo com a imagem que criámos da conversa comAlan Marsh, não passavam de meros instrumentos do patronato.De quatro em quatro meses uma reunião do chamado Conselho IndustrialNacional tinha. lugar onde, «estavam representados os sindicatos»: a Associação,dos Trabalhadores Mineiros, «representando» os mineiros pagos ao dà ~e, oSindicato dos, Trabalhadores Qualificados.Nos encontros eram decididos contratos entre as Companhias, a Câmara dasMinas e os Sindicatos em termos de salários por dois anos, mas mesmo essasdecisões nem sempre eram implementadas.O caso mais recente comprovativo desta «política, de fachada» é o facto de osalário mínimo de 38 dólares, decidido o ano passado, não estar a ser aplicado em«grande parte das minas, porque caso isso acontecesse elas poderiam fechar».O sistema de pagamento, utilizado para definir a política salarial o «famoso»sistema Paterson, tendo-se definido seis catègorias de trabalhadores: nãoqualificados, semi-qualificados, qualifica-dos,. técnicos, administração. direcção. A primeira categoria inclui pessoas quecortam relva e a última, naturalmente, os directores e accionistas.Segundo apurámos, os trabalhãdores pretos só estão representados nesta escala atéà terceira categoria (qualificados), havendo «alguns técnicos (4' categoria), masnenhum aos níveis cinco e seis»i, até aqui exclusivamenté ocupados por brancos»Apesar da relativa calma que agora reina entre os trabalhadores mineiros, depoisde passadoo clima de agitação que há algu mas semanas levou milhares deles a decidirem-sepela greve, é de prever que as ciuestões salariais tenham de ser imediatamentetomadas em consideração, bem assim como todo um sistema de reclassificaçãoprofissional até aqui abertamente discriminatóro como se pode adivinhar.A solução ou soluções para este problema, -podem contudo trazer algumasconsequências sérias para a indústria mineira, porque podem, levar as mias maispequenas a terem de fechar por não se ju,tificar a sua mecanJação, ou mesmo por-ser impossível uma elevação grande do seu nível de produtividade.TEMPO N.. 498 - pág. 28

0 governo eleito e em partIcu- tuámos chegámos à conclusão lar a Ministério dasMinas, tem que «nenhuma das estimativas e mostrado grande preocupaçãocorecta, sendo o valor mais corpor esta situação que pode deter- recto do que foiproduzido as deminar a que «na melhor däs alter. zasseis toneladas. nativassejamos obrigados a na- -É certo que mesmo que baixe cionalizar para quepossamos a produção aurifera, os preçosmanter os trabalhadores ocupa- agora praticados no mercado in. dos até quesejam criadas condi- ternacional e, «o facto de não terções mais rentáveis noutrospro-ý mos de vender através dos merjectos mineiros para' onde pas- cados , sul-africanos, deixam.nÓs sam então ser desviados». acreditar que alcançaremoscomrEmbora existam toda esta sé- um menor volume de exportaçãá rie delactores,que levam os res- um mesmo valor na entrada do ponsáveis governiméXitais e dadivisas», como me disse um ele

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.omaram já posse os ministros e vice-ministros do governozlnbhabweano. Assim, o gabinete de'Robert Mugabe conta com 23 dirigentes doestado. Uma das primeiras medidas tomadas por esteoverno foi a supressão da taxa que era aplicada a uma série deprodutos de prirneira, necessidade Por outro lado os produtos considerados deluxo ou sunérfluos vão sofrer um agravamento na taxa. Estas decisões foramanunciadas pelo Ministro das Finanças.Foi também anunciada pelo Prineiro-Ministro Robert Mugabeunma amnuústiapara cerca de nove mil zmbabweanos. Muitos dos -abrangidossão cidafdão.os que não quiseram ingressar nas fileiras do exérlto racista tendo,em face disso, sido condenados segundoa U! Marcial então em vigor.Estas medidas tomadas peloGoverno zimbabweano são francamente progressistase vão de encontro às aspirações da populaRecorde-se que,.nonhuma delas foitomada pelo 1 governo deMuzorewa e apenas Lord Soames decretara una aministia para os-- míi-ný t" mpoamn iaaim nãurna todos) tnc1n1Câmara das Minas a admitir que a indústria minei a irá passar por <uma crisepassageira», a verdade é, que as potencialidades do Zfrnbabwe são enormes.Embora se pense que a produção do ouro possa vir a decrescer pela imposição deum novo leque salarial obrigatório, a outros níveis haverá necessariamente umaumento de produção que virá a compensar as divisas que se venham a perder dadiminuição da exploração deste mineral.Segundo as estatísticas governamentais, a Rodésia produziu no ano <passado«éntr'e 12 e 14 toneladàsde ouro», enquanto que as estatIsticas sul-africanasafirmam a este respeito que foram produzidas 21 toneladas de ouro. No entanto,em contactos que efec-mento do Ministério das Minas.Para fazer face a esta hipótese de crise, e governo abriu a aceitação de pedidos deexploração <para cerca de 600 minas de ouro» agora com grande viabilidade deproduzirem dada a situação de paz alcançadas.Mas, onde de f a c t o existem enormes esperanças de uma imediata expansão daindústria mineira é ao nível da exploração do carvão, platínio, paladium, cobre,urânio e naturalmente, o crómiq.Segundo nos informaram no sector do carvão foram já recebidos 21 pedidos deexploração desde Janeiro deste ano. Esta «corrida».de pedidos deve-se ao facto,de este mineral ser considerado uma alternativa para a presente crise energéticasendo de notarTEMPO N 498 - pág. 29que o ZimbabWe tem; tal como Moçambique, a, vantagemi, de possuir enormesjazigos-de carvão de coque com.maior poder calorifico qe ' outros carvões e, doqual, nã o estem grarides teservas noutr os países püdutores deste mineral.certo que o processo de reabertura das minas de carão,. «levarão quatro a cincoanos ma nessa altura também os preços serão necessariamente ma altos.

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A par do carvão existe também a ideia de se iniciar a e ploraçýão dos minerais delý,tínio epaladium que existem junto ais jazigos- de urânio neste paí , cujasreservas estão estimadas em 415 milhões de toneladas.A indústria de exploraçÉ0 de asbestos e crómio, considerados mineraisestratégicos, espera-se também que seja desenvolvida,. uma vez que agora estásob o monopólio de três empresas - a Union Carbide (EUA), a Rodiesian Alloy,(do grupo Anglo-American) e a Rio Tinto (de capitais multinacionais).De aco do com o que nos foi dito no Ministério das Minas. a presente ideia doGovernO, é ce-ftrar os investimentos no alargamento da indústria transformadorados minerais explor0dos'á fim de < ão nos termos de sujeitar à sua exportação embruto» a preços mais baixos zo que aos que poderiam ser conseguidos casofossem exportados com alguma transformação.Com a produção de alguin equJpamento para as minas, considerado pelos peritoscomo de.boa qualidade, a indústria inneia zimbabweana tem o potencial e asinfra-estruturas para «no, espaço de um à dois anos. depois de reequipada commaquinaria mais moderna a possibilidade de poder produzir capital que vai sernecessário à criação de melhores condições de vida para o povo» como medeclarou o DwIinistrto Nyagumbo.

ZiMBABWE:O CASAMENTO DA TERRA COM O POVOAs fotos que a seguir publicamos reportam a alegria do Povo zimbabweanoaquando da declaração da Independência. Estas imagens são históricas porque foia primeira vez que a população dos bairros suburbanos e periféricos de Salisbúriacantaram e dançaram nos passeios proibidos da cidade, diante das montrasproibidas, em cima das ruas interditas. Na verdade a Independência do Zimbabwesignificou um passo largo na liquidação de velhos preconceitos, na liquidação deuma secular timidez, retraimento e medo. Como disse certa vez à nossareportagem uma camponesa moçambicana a Independência é, na verdade, nocasamento da terra com o Povo e do Povo com a- terra»TEMPO N.° 498 - pâg. 30

ISliuShine Capi~aI~I -,,Salisbúria, Capital (do Sol Brilhante) do Zimbabwe Dá-lhes as Boas Vindas» -lê-se neste painel luminoso coloca« do na estrada que vai para oaeroportoDançando, cantando, gritando de alegria, festejando a bandeira, o Povo zimba.bweano deu largas à sua aquando do18 de AbrilUma marcha cantada em plena cidade de Salis.búria. Homens e mulheres irmanados na mesma felicidadeTEMPO N,° 498 -pág 31

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A comunidade indiana em Salisbúria exibiu-se no Estádio de Rufaro na noite daIndependência. O mesmo fizeram alunos de algumas escolas para brancos econjuntos culturais das populações suburbanasTEMPO N.' 498 - pág- 32

nrCNEGGD A VIRDABIIRIAý, INDI HDINCIA,-ÅNGI,",1Depols da «Independånc~ de Smith a Muzorewa4~0 batalhäo de repörteres de todc o mundo hö Estådio de RufajroTEMPO W 498 -påg. 33

Esta estátua de Cecil Rhodes em Salisbúria por duas vezes foi assaltada pelapopulação tentando destrui.la- Apesar de ter ficado danificada não caiu..; tantomais que foi destacada a polícia para guarnecê-la1 TEMPO N. 498 - pág. 34

ZIMBABWEAESCOLAO problema para a futuraNação do Zimbabwe é sério.Sessenta por cento das escolas estão fechadas, os alunos sofrem de uma altapercentagem dó subalimentação, os professores ganham comoreis.O exemplo de Vungwi é oexemplo da maioria das escolas primárias do Zimbabweno campo.Vungwi está numa «TerraTribal- herança do regimecolonial.David, uma criança com sete anos de idade da escola de Vungwi na TTL domesmo nome estava juntamente com outras estudando ao ar livre., O Director daescola chamou-o e olhando para ela mostra-nos os sinais da subnutrição. Os seusdedos depois de retiredos da face de David ficam lá marcados por segundos - osangue não circula, os olhos da criança são brancos de anemia.Vungwi é uma escola que nunca fechou. durante a guerra de libertação. Masnuma das salas de aula há sinais evidentes de um combate que teve lugar há cercaje um ano, quando «nenhuma criança estava na escola.»As facilidades que a escola d4Vungwi oferece são óptimas se so tiver em conta que 60 por cent( dosestabelecimentos de ensino pri mário do pais estão ainda fecha dos. No entanto, ascondições sãc bem diferentes das escolas da cida.de, das escolas para os menin.brancos.

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As salas de aula têm poucas cadeiras e carteiras em comparação com o número dealunos. As crianças da primeira classe têm de estudar sentadas no chão frio,embora por detrás delas haja fotografias que simbolizam palavras como«alimentação» onde se pode ver uma criança muito rosada e gorda comendo umsorvete.O ambiente da escola é diferente e por si mostra a Outra face da ex-Rodésia deaparência rica, atraente, saurdável e turística. Na própria escola há esse contraste.0 director da escola com quem falámos, Matonse Tomirai, ganha nada menosnada mais do que 900 dólares.por mês (cerca de 36 contos), mas diz-nos muitorespeitosamente que «há fome, subnutrição e falta de apoio social nesta TTL».O salário do Director é alto, mas o dos professores também 7- cerca de 16 contospor mês. A razão disto explica-nos Matonse é «uma medida tomada pelo Governode Muzorewa para ver se ganhava o nosso apoio». Ele diz que Muzorewa errouporque nenhum dos seis professores da escola nem nenhum dos pais das 650crianças votou por ele, mas sim «pelo galo».O problema porém é a herança. O novo governo, o governo.do galo é que vai terde pagar os novos salários e em 60 por cento das escclas que estão fechadas háque pagar os tais 900 dólares a todos os directores de escola primária.O Ministro da Educação muito preocupado com esta situação disse-me comgrande ênfase aue «vai ser difícil para o nosso Ministério poder ter orçamentopara abrir todas as escolas e ao mesmo tempo cumprirmos a necessária oferta deciucação livre pelo menos para a instrução primária».e A afirmação do Ministro DzingaiKangai é real. Em Vungwi quase nenhuma criança vem para a escola- tendo mata-bichado e o Director- Matonse diz-nos muito francamente que «nem penso em exigir que- tragam uniformes porque eles custam 10 a 15 dólares para os rapazes e de 5 a 10para as raparigas».A escola, centro influente sobreas populações que enviam os seus filhos a estudar tem porém a preocupaçãogeneralizada de rezolver o maior problema da zona: a infertilidade da terra daTTL.Numa experiência que tivemosoportunidade de ver em Vungwi, nem a utilização de fertilizantes aumentou aprodução de um hectar onde tinha sido semeado milho. Não muito diferente dasproduções do mesmo cereal que pertencem às populações o «terrenoexperimental» da escola tinha maçarocas tão infezadas quanto a dos restantescamponeses.Matonse diz-me ainda com a mão sobre uma espiga de milho nascida do arealonde o fertilizante foi utilizado que «esta é a prova que o Governo tem dedistribuir terra mais rica ao povo. Não se pode tirar nada desta terra e é por istoque há fome».Os programas escolares são porém a antitese da situação real onde estáenquadrada a escola de Vungwi. «Aqui só se ensina ainda a respeitar.os brancos»- dz-me a professora da terceira classe num dos intervalos. «Temos métodosnovos de levar as criancas a estudarem colectivamente que nos decidimos

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introduzir, mas a matéria que se estuda está em desacordo total com a vitóriaeleitoral do Presidente Mugabe».Mudar esta situação não irá ser nada fácil como se pode depreender.Isto porque a mudanca dos programas para as escolas envolve necessariamente acriação de novas condições de vida para os camponeses e isso significa tambémresolver o problema da terraALVES GOMESTEMPO N,° 498 - pág' 35

,,tra.a IMAGENSA imagem reporta o momento em que o Primeiro-Ministro da República do 4t! *Zimbabwe mantinha _c nversações c o mClaudo Cheysoon, Comissírio, pa ra o Desenvolvimento da ComunidadeEconómicaEuropeia (CEE), com vista à admissão do Zimbabwe como membro daConvenção de Lomé. Os produtos zimba ens terão livre circulação e isentos'detaxas dentro do mercado coencontroA guerra civil que eclodiu há vkrias semanas na República do Chade, está tendocada vez maiores repercussoes funestas no seio das populações. Apesar' dasmediações feitas por países africanos e pelo Secretário-Geral da OUA, EdemKodjo, com vista a, um cessar-fogo, continuam os combates entre as forçasdoMinistro da Defesa, Hissene Habré, e as do Presidente Oueddey. Mais de. 1500mortos e milhares de feridos, 4o últimó balanço conhecido das confrontações.A gravura mostra um elemento da população gravemente ferido a ser transportadopara o hospitalTEMPO N 498 -pg. 36

Esteve em Teerão a convite do Presidente do Irão, Abolhassane Bani-Sadr, SoonMacride, um dos fundadores da Amnistia Internacional. MacBride esteve no Irãoduas vezes durante a presente crise anericano-iranäia, tentando formar umaComissão internacional para a ajuda à libertaçãodos reféns norte-americanos empoder dos estudantes iranianos.Na foto, o Presidentei Bani-Sadr (à esquerda) e MacBrideTEMPO N.' 498 - pág. 37

-+4-,,-' ~-.~+44.~4+4+4+< - -dos leitoresO QUE SE PASSANO CINEMA 700?Esta ,ê uma questão que não só me preocupa a mim, mas de certo, a mais algunsespectadores que costumam frequentar a sala de espectáculos deste cinema, com ointuito de ir assis¡tir a alguns filmes que ali se projectam.Ora, indo ao encontro dos factos, caros leitores, cada um de nós,.pode chegar avárias conclusões, porque na realidade a situação naquele cinema é a seguinte: Éraro o dia em que se assiste a um filme em perfeitas condições de visibilidade e de

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compreensão no tocante às ima. gens e às respectivas legendas, pois que essas,aparecem (caso apareçam) muito fora do contexto'da cena que se estádesenrolando, acontecendo frequentenente até,que as legendas que deveriam estarem determinada cer.,a,ý arcem muito antes ou muito depois, confundindo porcompleto o espectador que ansioso em compreender o filme, chega no fim sem tercompreendido patavina do que assistiu. E o mais triste é que esta situação gerasempre reacççes. espontâneas em certos indivíduos menos pacientes que semanifestam em gritarias na cabina de projecção, reclamando o reajustamento daslegendas com as respectivas imagens.Digo sem exagero, aue no «Cine-700» já se entrou num círculo vicioso, de assistira filmes que poderiam ser considerados mudos, pois o elemento responsável pelaprojecção das legendas não está lá muito seguro da sua tarefa.Acho que a solução para este problema, que, aliás é grave'Cabe, priorítaríamenteàs estruturas daquele cinema, pois urge que realmente o problema se solucioneporque o público utente do Cinema-700 tem andado muito descontente.Martinho da C. SimãoB. da MatolaAqui no nosso distrito, principalmente nos círculos verifica-se uma falha na partedos nossos pais.Um dos pais mandou sua filha sair da escola para se casar e a menina saiu, ecasou-se sem gostar do homem.Isso não aconteceu a essa só, mas sim. a muitas meninas a quem fizeram omesmo.Nós como filhos da revolução, perguntamos sempre aos nossos pais porquedé quetiram as nossas irmãs das escolas?Então eles respondem assim: «quem vai comprar as roupas para ela poder gingarse não trabalha?»Obrigam a casar enquanto s"o pequenas e depois nas casas deles não há condiçõesde entendimento.Amor compra-,se? Mas há alguns amigos que compram! Amor vende-se? Háalguns nossos pais que vendem.Nós achamos que amor é um sentimento. Se não for ao andar do tempo a mulherdesliga do marido. O marido depois bate na miúda.Quando criticámos os nossos pais devido ao seu comportamento falam que«Vocês são brutos, não sabem o que é a vida».Silva Vitor Natótia NuculivaZambéziaLOBOLO NA SERRA CHÔAFoi precisamente na localidade da serra Chôa, no Distrito do Báruè, província deManica, onde assisti a um problema que tratava de lobolo. Aconteceu que umsolteiro, pedia namoro a uma miúda, mas a miúda aceita mas coloca a questão dosseus pais necessitarem do lobolo.O rapaz diz que há-de tratar depois de casar com ela. Lá para casar é necessáriocumprir muitas ordens tradicionais.

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O rapaz leva a esposa sem cumprir essas ordens, portanto os pais da miúda dizemao seu genro para tirar do lobolo, dez contos e vinte bois e mais três contos parapagar a sua desobYediência.Caros leitores: Mas será que a filha desse homem é de ferro, não fica doente nemmorre? Acho realmente que na RPM não é admitido nenhum indivíd Uo ou sejacidadão moçambicano negociar o ser feminino como produto, porque ela gozatambém dos seus direitos igualmente como os homens.Portanto com a prioridade da revolução e do estado peço com- toda minha honra,para eliminar totalmente esse tipo de exploração na RPM. principal. mente nessalocalidade acima citada.« ,Sidini ti Níot'ic-eCatandica - B èruê /* MariltaTEMPO ,N 498 - pág 38AMOR VENDE-SE?

ATÉ QUANDO ISTO?Caros leitores escrevo estacarta bastante preocupada de uma situação cie quesomos' Vítimas nós os moradores desta grande cidade de Maputo. , A impr s çosT.P.U. é uma empresa que f oi criada para servir o povo.O Governo tem-se preocupado em abastecer-nos em autocarros, o Governo fazplanos para a meloria dos transportes e para que todos tenhamos transporte e quenos sirIva para os locais de trabalho, escolas, hospitais.Maá Um caso curioso; bá falta de coordenação dos próprios tra. balhadores nosT.P.U. E esta falha abrange mais aos trabalhadores que lidam directamente comos autocarros. Não vou culpar a direcção porque poe acntecer r o caso de a mesmasaber' da existência de um certo plano, quando cá fora os outos fazen outrosplanos.o que é certo, apelamos à Direcçã0 para qute ponha em conta o plano da empresae síntese dasituação que hoje atravessamos principalmenté desde há umas quiatrosem~anas.Não s#í' ao certo qual nem quantoé 'a frota de carros dist 'uida para cada bairro. 'as- o espectáculo què-deparamos todos os dias é o seguinte: Uma pessoa levanta-se às 5.00 horas prepara-se e às 5.30 horas está na bicha, quer apanhar o carro ças6.00 horas que lhe deixa no'en prego 4s 7.00 horas para que 4s 7.30 horas esteja atrabalhar.Ora muto certo, a pessoa que costumava fazer isso e continua a fazer só apanha ocarro às 8.00 horas ou 9.00 horas. Agora isto por uma situação que de repentecomeçou nesta enpresa voltando um pouco atrás dizia que não sabemos ao certoqual é a frota de carros por bairro.Mas verificamos una atitude negativa por parte dos coordeiadores.Acontq qtite. i~sto é um Um pi4p l está de serviço e ficario bairro do Jardim como pontopara fazer a distribuição; vêm 10 carros, ele entende que deve mandar 7 para oInfulene e 3 para Mahlazine ora vejamos; o pessoal do Infulene fica beneficiado

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até ao excessoe o pessoal do Mahlazine fica prejudicado porque esta via por suavez leva pessoal do Bairro 25 de Junho, Benfica, Nhagóie e Mahlazine.Mas tudo isto às vezes por simples interesse« pessoal do coordenador só porquequer ganhar fama de bom perante os seus companheiros de b a i r r o porque ofiscal que faz isto é porque mora no bairro que beneficia e quer ser bem visto.Mas não são todos que assim fazem, é uma minoria que encara muito mal osproblemas que são de todos.Os outros, o caso do condutor e cobrador têm o seu papel neste trabalho porqueeles desconhecem o verdadeiro valor do seu trabalho pelo seguinte:Um condutor que tem o carro atrasado e vê o cobrador a fazer o seu trabalho nascalmas e que depois o mesmo condutor anda a 20 oua 40 por hora não vê queestá'a prejudicar muitos trabalhadores? Não exigimos excesso de velocidadeapenas que respeite o trabalho dos outros.São muito poucos os trabalhadores que compreendem e satisfazem o povo e asnecessidades do Povo.Outro ponto é a situação do coleguismo. Vamos supor que um enfermeiro estádoente, tem paludismo, o mesmo benefigja de resoquina mas não da caixa deresoquina.Um empregado de loja não deve levar arroz sem pagar porque é da loja.Um funcionãrio dos correios não vai meter uma carta sem pagar o selo defranquia porque é dos correios.Mas os trabalhadores dos TPU têm os seus próprios carros de serviço.Este carro recolhe todo o pessoal e na saída vai deixá-lo nosTEMPO N.. 498 - pág. 39seus locais de residência, o que me admira é o seguinte: aparecem estes,trabalhadores fardados ou não, entram nos autocarros conversam, às vezes só paradescerem na paragem a seguir, outras vezes é o condutor que para num sítioqualquer para levar ou deixar o colega, outras vezes leva-o só para conversarem,etc.'É certo que o colega que faz isto não está de serviço.Este senhor primeiro faz com' queo condutor corra o risco do acidente porquequando ele pára de repente para levar alguém talvez o carro de trás não tenhareparado. Isto é uma coisa que todos nós sabemos seguindo este senhor baixa aprodução porqueý não paga e aumenta as divisas. Porque se pagýasse com aqueledinheiro os TPU já podiam ao menos comprar uma peça ou comprar um pneupara o carro que está parado.Terceiro, penso que todo o trabalhador dos TPU que não estiver de serviçofardado ounão, se e1.trar num carro que esteja em circulação pública tem o direitoe dever de' pagar a taxa do transporte.É certo que cada um de nós 4--em c .rivilégió'de ser prioritár.,ý seu local detrabalho, para que não haja baixa de produção no seu sector, mas isto não implicaque a gente faça dos móveis da emnrsa um interesse particular quando o Governotr..ça que os mesmos são para n3s servir à. Lodos sem prejue.ícar.Encontramo-nos num Pais em desenvolvimento e queremos combater aindisciplina, negligência, incompatibilidade, desleixo por essa razão vamos ,serconscientes.

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E para os trabalhadores dos TPU que praticam esse tipo de indisciplina deviamganhar consciência porque com esta ofensiva no dia em que ai chegar a vez destesdesleixados. as medidas serão drásticas.Lurdes da Conceição, CossaFuncionária dos C.TM.Maputo

UM PARADOXO . . .Sou estudante desta cidade de Quelimane e venho esclarecer o que se passoucomigo no torneio organizado -pela «Direcção Provincial de Educação Física eDesporto» desta cidade.Nos dias 9 e 10 de Junho do ano passado, foram realizadas provas de atletismo devárias especialidades, sendo eu um dos participantes às provas de 100 e 1500metros, nas quais tive asclassificações de 2.0 e 1.0 lugares respectivamente.Na altura da distribuição dos prémios, estando presente o responsável daquelesector e outros professores de Educaçáo Física, quando chegou a minha vez dereceber os respectivos prémios, deram-me uma caixa de sapatos embrulhada.Pensando na verdade qua aquela caixa contivesse sapatos. Porém, chegado a casa.abri a caixa na qual se encontra-va uma estatua, esse sizjuÁo da religião c a t ó l i c a denominada «NossaSenhora».Em face de tal comecei a pensar ao artigo 19.° da Constituiýção da RPM que dizque a RPM é um Estado laico; isto quer dizer que a nossa República não dependeda religião.Lácima AiubaQuelimane/ZambéziaTRANSPORTES OLIVEIRA: BICHAS E PRIVILÉGIOSCaros leitores, é pela primeira 7 vez que escrevo à revista «TEMPO», e sendoassim, espero que os leitores admitam insuficiências que figuram nesta carta.Foi no passado dia 21-12-79 que me dirigi à Empresa Oliveira Transporte eTurismo, Lda.; a fim de comprar 3 bilhetes para mim e mais o meu irmão e aminha irmã esta última com duas crianças, e que tinhamos necessidade de nosdeslocarmos ao distrito de Manjacaze.Como hábito, os bilhetes são Comprados um dia antes do dia previsto para oembarque. Eu atendendo que Dezembro é o mês em que se verifica maiorafluxo da população naquela empresa, fui passar toda a noite do dia 21 na bichapara poder alcançar o meu obJectivo de seguirmos ao nosso destino no dia 23.Coisa que nem se verificou, dado que só consegui arranjar os bilhetes no própriodia 23 para poder embarcar no dia 24. Entretanto após este sacrifício todo, surgeuma outra situação de ter que ir passar a noite do dia 23, a fim de no dia 24conseguir arranjar assentos no autocarro, porque seria-nos dificil eu e.a minhairmã aguentarmos com as crianças de pé ato ao destino.'No próprio dia 24 encontrei-me em primeiro lugar na bicha para entrar noautocarro, se-POI-5 F-SOiO ISTO AGORA ESTA~fN . RA R1 'JuE [oGt

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encontravam no interior do machimbombo sentiram-se acabrunhados e sairampara fora do autocarro. Mesmo assim, após eu ter entrado, os mesmosoportunistas invadiram a bicha e conseguiram apanhar cadeiras, ficando de péindivíduos que passaram-a noite chuvosa do dia anterior com a esperança deconseguir lugares.Agora pergunto:- Será que aqueles senhores é que têm o direito de obter bilhetes no próprio dia doembarque?E sem ter nada que aguentar com a bicha?O senhor cobrador recebeu do seu responsável a ordem de atender os seuscomparsai no local de embarque?Não está este senhor a espalhar a discriminação e divisão no seio do POvO?Sérgio M. Chaguala Maputoguindo atrás as duas pessoas que ,estavam na minha companhia e os restantespassageiros sucessivamente.Caros leitores, momentos antes de começarmos a entrar no autocarro, o senhorcobrador de nome Elias, não tardou vender quatro bilhetes a individuos seusconhecidos, e, o pior é que imediatamente os ditos indivíduos entraram noautocarro pela porta da frente, não obedecen do à ordem da bicha eu fiqueiaborrecido por aquela atitude de indisciplina praticada por aqueles senhores,porque perdi duas noites para arranjar o bilhete e mais uma noite para conseguir olugar no autocarro. Então dirigi-me ao senhor cobrador e quis saber o porquê, detudo quando eu observava e em contrapartídã este não me respondeu nada. Masdepois de uma longa insistência e com o apoio dos restantes passageirôk, osquatro elementos que já seTEMPO N.° 498 -pág. 40i

ONDE~VAI O DINHEIRO RASGADO?No dia 11/12/79, cheguei a uma cantina do bairro 7 da cidade. Encontrei umabicha grande com o objectivo de comprar 2 quilos de arroz e 1 quilo de açúcar.Eu, também fui estar na bicha.Eram 17.40 horas. As 18.50 horas já eu entrava na cantina.Quando entrei, à minha frente estavam algumas mulheres que traziam notas de100$00. O cantineiro disse que não tinha troco, pelo que mandou entrar pessoasque tinham dinheiro trocado. E assim foi. E agora a comerciante conseguiudespachar as mulheres que estavam na minha frente e depois, afastou-se dobalcão, no qual ficou sua mulher. Eu entreguei uma nota de50$00 com o objectivo de pagar 2 quilos de arroz e 1 de açúcar. A mulher disse-me para aumentar $50 para melhor arranjar o troco-E eu assim fiz. Mas a mulherdo cantineiro levou aquela nota e mostrou-a ao marido perguntando se a podialevar porque estava rasgada até ao meio. O comerciante disse que não pode levaresse dinheiro porque não tenho cola para colá-la.Só por esse motivo foi-me impossível comprar arroz ou mesmo açúcar. Durante omuito tempo que estive organizado na bicha foi de graça.Mas este comerciante será que está a servir bem o povo? É por

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isso que eu quero saber onde vai o dinheiro rasgado! obrigado.Daniel Joaqum Machacúle Mocita de Xai-Xai /GazaN.R. - Uma nota rasgada,toda ou em parte, deve ser colada pela pessoa que vai entregá-la para efectuar umpagamento.Porque a não ser assim, além de se transferir uma obrigação própria para' outrem,contribui-se para que a nota se deteriore cada vez mais. Quanto a uma notarasgada e devidamente co lada, ela tem que sér obrigatoriamente aceite, desde queos dois números da emissão, respectivamente à esquerda o à direita na parte dafrente da nota, sejam iguais.SOBRE A CARTA INTITULADA «O QUE ACHAM DO PRONTOPAGAMENTO» 1Peço que publiquem esta minha ideia na revista «TEMP »:Inteirei-me muito na leitura da carta do senhor Enesto Daniel Chambisso, a qualfoi publicada na página dos leitores da revista «TEMPO» n.' 493, de 23/ 3/980 -que intitulou: -- QUE ACHAM DO PRONTO PAGAMENTO.A minha maneira de encarar este assunto, salvo melhor opinião pública é que defacto, houve umas ideias autênticas deste assunto do «PRONTO PAGAMENTO»e foram ouvidos diversos indivíduos, não me recordo o número da revista«TEMPO» onde isto se tratou; mas. alguns leitores podem-se lembrar e ajudar-me.A maioria, foram daqueles que aprovaram a ideia do «PRONTO PAGAMENTO»julgo q ue sáo aqueles que auferem 15 000$00 :)u mais mensalmente, ou sãocomerciantes, porque, nada lhes custa na vida para comprarem uma geleira, umfogão, uma mobília, um rádio, a pronto pagamento ou vendendo um artigo ereççb, duma vez a quantia; a compra duma só vez destes arti-gos, sobram-lhes o suficiente para viverem.Todos nós, compreendemos que um homem sempre quer viver bem; ter boa casae vestuário decente, boa alimentação, ir ao cinema e assistir a actividades culturaisorganizadas; como poderá este mesmo homem, comprar artigos de primeiranecessidade, a pronto pagamento,.vivendo ele, sua esposa e 6 filhos e ganhandoapenas 5000$00 ou menos?Na verdade, mesmo ganhando mais, é pesado comprar os artigos de primeiranecessidade a pronto pagamento.,Sim, mesmo ssim, seria melhor que as compras de certos artigos, fossemvendidas.a prestações e que o vendedor, observasse e exigisse ao comprador umdocumento da Empresa que comprovasse os seus salários e não têm o suficiente.Poderia ser pago por empréstimo um valor que não chegasse a um terço dosvencimentos do comprador.Aproveito_ também para lançar umaideia, sobre como podeia funconnar ascooperativas de consumo; elas não aceitam qual,quer sócio que não seja residente naquela zona da cooperativa.Há zonas ou bairros que não reúnem condições para realizar a cooperativa porqueo u t r o s não têm o suficiente. Poderia ser aceite em qualquer cooperativa aqualquer indivíduo para combater o privilégio d e s d e que trouxesse os

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documentos exigidos e o dinheiro; esta organização de cooperativa, a sua origemé para acabar com as bichas, que muitas das vezes resultam-em pancadarias, roubos e demoras desnecessárias, para as donas de casa quequerem fazer a comida dentro da hora para os maridos irem ao serviço e ascrianças à escola.Ora, o que acontece é que a cooperativa está perto da sua residência, mas como azona ali termina, tem de andar quilómetros para a cooperativa da sua zona paraadquirir os produtos de que necessita.Isto é a minha ideia, caros leitores; aceito a vossa critica e peço ,para medesculparem dos erros que se notarem.Alfredo Rufino SantacaNampula;3- TEMPO N.' 498 -í1péç

MILICIAS POPULARESCaros leitores, venho pela primeira vez avistar-me convosco através desta escrita,por uma falha que penso ver nesta Vila de Cumbana, solicitando a vossacontribuição quanto a esta situaçào.ýA população daquela Vila tem vindo a sofrer naás bichas a compra dos seguintesgéneros ali-mentícios: açúcar, sãbão e arroz.A questão é a seguinte:- As Milícias desta vila, todos os dias quando há um dos gé-. neros a ser vendido,formam. a sua bicha junto com as estruturas dos Grupos Dinamizadores dascélulas para a compra dos mesmos e, o povo em geral for-OS TRABALHADORES DA APIE NÃO TIVERAM 365 DIAS DE FÉRIASA situação da APIE deixa-me bastante duvidoso; por isso, com esta minha cartagostaria que quem compreender melhor comó trabal áa a APIE me pudesseesclarecer.Tenho requisitado serviços à m nutenção da APIE e, sempre que vou lá outelefono para o n . 31121 procurar saber a situa ção das minhas requisições quepassa muito tempo, eles colocam o facto de terem muito trabalho atrasado -centenas e centenas de pedidos de trabalho e que nem sabem quando é que seráconicluido porque estão com o trabalho di meses de Setem. bro a Dezembro/78.E, do ano 1979 nem foi mexido, quanto maif>1 de 1980 nem se fala. Nos dias 12,13/2/80 contactei com os do sector-5 sobre as requisições de urgência devido aochão da casa onde resido e. procurei saber quando iriam executar o0 ttabalhorequisitado para o chão da minha casa. A resposta foi:-Meu. sr. vê lá estas pastas todas; vê-lá estes livros todos!... Estão cheios depedidos, de trabalhos para vossas casas e nós estamos ainda nos pedidos dosmeses de Novembro a Dezembro/77 e de Janeiro a Junho/78; pedidos do ano1979 e de 1980 ainda não mexemos. E, para que eu também não fico a pagarrenda da casa, que,.nko está em condições, perguntei se podia trocar a casa oumesmo deixar já que nem sabem quando seráarranjada as partes precisas. «Isso depende deles lá. Eu perguntei lá mas aonde? -Lá onde fizeste o contrato da casa... Jd não lembras? - Ouça meu sr. o sector de

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arrendamento é que deve resolver o teu problema, caso queres mudar da casa; atéque este sector-5 só falta poucos dias será E.E., já não será da APIE!. . Eperguntei se no sector de arrendamento não precisarão de qualquer observação dosector-5. Bem é possível, mas isto basta «um papelinho que dizia (Henrique-Sector-5)»! E quase à minha saídw. para o sector de arrendamento, o tal sr. dosector-5 chama-me só para me recomendar que o sector-5 passará dentro depoucos dias a ser Empresa Estatal. Claro o meu interesse não era de saber ~Empresas Estatais, sai sem qualquer palavra.O mais que admirei e cheguei à conclusão de que os trabalhadores tenhamgozado 365 dias de licenças, é quando cheguei no sector de arrendamento e expuso meu assunto da casa que já está péssima no seu chão e na varanda, devido àságuas das chuvas que não têm por ondeescorrerem e já a varanda tem 4 rachas devido à água estagnada. Bem, meu srsobre esse assunto é bom falar com o chefe, porque nós aqui, ainda ý estamos nospedidos do ano de 1978. Do ano de 1979 nem sabemos quando havemos de osmexer, a xão ser que a nova Direcção nos dê no-- 00ývas orientações. Portanto se po des aguentar até 1981 ou 1982 nós podemos te darimpressol para pedir outra casa; apósestý acabar de falar, logo ooutro ir terveio noassunt(>., ia mei sr. esse assunto só pode ser re solvido na manuten:ã0, se a manutençáo não consegue paciên cia, nós também não sabeos Deve a manutençãode!araqui não consegue arranjar a, casa caso não!.,. Não vale, pena vi: aqui.Tive de contar de novo com< foi até. me encontrar com elei nequele ,sector,sendo j4 a 3.' ve! a dar Voltas do eo. 5. de,- a nutenção para o sector de arrendamento. Todo gneu escla rec'mento foi em vão; porquTÊMPO. N.'498 - pág. 42ma a sua bicha também, na po ta ficam milícias para organizao povo e as coisassão compra das pelas estrutUras e as pr6 prias milícias, na bicha popular sópodem comprar 6 ou u ele' mentos. E, por outro lado, os cantineiros da mesma sevieaçúcar ou sabão para vender eles não podem vender na ausérê .la dasestruturase milícias, esperando que elas venham dar ordens para vender.

Eu pergunto aos senhores leitores e a todos que terão a oportunidade deler estacarta se esta loja e estas e struturas estáo a servir na realidade o povo?Aceito qualquer contribuição e crítica pedindo desculpa pelo português malescrito nesta carAdriano Simonè CumbaneInhambaneeles têm muito trabalho atrasado, além de não _terem orientaÇões para esseefeito.Sem mais nada, saí fui-me em. bora. E, fiz uma carta para o chefe damQnutenção,mas até à data ainda não tive resposta.Agora não sei se a APIE é a única repartição do Estado com muito serviço; e, seassim eles pensarem, estão bem errados., Pergunto se tenho ou não direito dedeixar a casa ilegalmente, porque s da APIE não têm orientações de nada sobre oassunto.

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Claro se fosse a falta de ma, terial, eu talvez compreenderia, mas já é uma dascanções ultrapassadas a qualquer; eles andam sempre dizer que não há material,quando só porque eles não querem se maça "m deslocar às empresasfornecedoras.Mas Contudo, os trabalhadores da APIE, devem terem gozado 365 dias de férias,não se justifica haver atraso de serviço de um ano inteiro quase em todos ossectores.Por ltimo apelo à APIE se de urgente possível podem arranjar as partes precisasna casa acima mencionada, porque caso não, dentro de 5 a 6 meses não teráqualquer aproveita. mento, e assim o desejo do povo independente através dosangue derramado, não fica por cumprir.Temos de ser exemplares a todo o uifiufldo.8ébastião Márb- Langa M~aputoRESTAURANTE DO DISTRITO DE PANDA NÃO TEM ÁGUA SÓ TEMCOMIDApela primeira vez que escrevo para à revista «TEMPO», a fim de expressar aminha vasta admiração pelo restaurante acima referido.Foi no dia 31 de Janeiro do ano em curso, que me desloquei até lá por motivo defazer ligações ao meu regresso a Maputo. Entrei no tal restaurante com o meuprimo a fim de irmos jantar, como as mesas possuiam copos, logo pedimos doisjanta: res e dois refrescos. A senhora servente disse que não havia, então, pedimosque nos desse dois copos de água e a resposta foi idêntica à da primeira dizen. doque: não temos água, só temos comida.Eu por me admirar tanto perguntei se o responsável estavaPREÇO DO PEIXE MUITOEscrevo à revista «TEMPO» para só falar aos senhores leitores, que tenhoverificado já por várias vezes quando compro daquilo aos pescadores do BairroSanquari.Existe lá uitn pescador o qxal a sua mulher e a filha têm-mne vendido o seu peixeda espécie Mungo a 50$00 cada quilo e enquanto os seus amigos o vendem por23$00 cada quilo. No dia 21 de Março de 1980, novamente fui comprar o mesmopeixe aperto e ela, disse que estava perto. Solicitei para falar com o senhor responsável oque veio também dizer a mesma coisa mas com um aumento da confusão pordizer que estava avariada a máquina que fornece água àquele distrito.Mas o que resta saber é de que só a tal máquina não funcionava para ali naquelerestaurante!Digo isto porque nas outras lojas havia água.Pergunto eu aos caros «Leitores»:- Será que este restaurante funciona de boa maneira Servindo mal o Povo?Júlio Nassone Cumbane MaputoEXAGERADO50$00 o quilo: quando perguntei. deu-me como resposta que este nosso peixe émais fresco do que o dos-outros pescadores, se quiseres compra e se não quiserespodes deixar, mas atendendo a como, queria o peixe tive que comprar assim.Mas não é justo, o preço de venda de peixe tão exagerado.

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Antonio Novais AmiadoQuelimaneTEMPO N., 498 - pág. 43

àO GARGANTA DO IMPftRIO"Todos sabemos 1cno fascismo é cruel. Maisi cruel ainda e o colonIal-fascismo,como o nosso pivo bem o sentiu na cameosMas o fasçismo tem múltiplos aspaStes ridículos que fizeram rir as gargalhadas osmoçambicanos - à socapa, é claro, que, a palmatória e o chamboco dos sipaiosandavam sempr 'por perto.Um dos espécimes mais ridículos que o Terreiro do Paço mandavaperiodiéRmente c, - todos os anos peio'tempo fresco a ganhar ajudas de custo-chorudas, era»um senhor irspector suprior ultramarino Horítêncio Estêvão deSousa .- conhocido por «#0 Gargata -do Império. "e por «O Elíefante Branco..A última vez que veio a Moçambique foi em 1966.- se' n o estamos em erro.Vinha ganhar, as suas újti. mas ajudas de custo, pagas pelos contribuintes, poisnesse ano atingia o limi. de idadý-70 anos-pela ta bela do Lisboa e tinha, por forçade Lei, de reformarse.VeiÕ, cantou loas ao Salazarismo, prometeu viagens a Lisboa aos régulosembasbacados pelas maravi-lhas que ele cantava da «capital do ImpérioPortuguês., chorou ao falar <'deste Moçambique que levava no coração», e dasnotas de mil reis de multos subornos que tinha aceite, segundo se diz, nos ános,40o 59. Mas sob . isto não faloú.Foi+se embora em -etembro, que o tpqmpo estava~a começar a aquecer,desembarcou em Usboa e foi direitinho fazer uma cura de ãguas, à Curia, quelevava o fígado inchado dos Whiskys. Milhares de Whiskys que tinha emborcadonos beberetes ea sua homenagem, organizados por administradores, governadoresdos então distritos e «pelas forças vivas» (que eram «forças mortas» da cameiradaque diziam sim a tudo).Chegou, falou, comeu, bebeu, inspeccionou pouco, ensaiou uns discursospaternalistas, que o seu couro elefantismo já começava a sentir os ventos da,mudança o partiu. SDepoisdisso, nunca mais se ouviu falar dele em Mõçambique.Ora este senhor inspector superior ultramarino, espécie de embaixadorplenipotenciário enviado pelo Milnitro das Colónias (perdão! do Ultramar,), quevinha inspeccionar ninguém sabia o quê, era, de facto, pelas suas atitudes, pel5rsuas Plavras e pelo seu fisico, um dos expoentes máximos do ridículo, em que ofascismo caía tantas e repetidas vezes.Vinte e três,anos antes, em, 1943, viera para Moçpmbique como admi nistrador,apadrinhado pelo sonhor Professor Doutor António Oliveira Salazar - tambémconhecido pelo ,Manholas»,,nome popularizado num Ivro; pelo capião Henrique-Galvãoý também ex-Inspector,supeýwr ultramarino e que mais tarde desvlou'opaquete Santa Maria.. ,N. 498 - pg. 44TMPOTEPO

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Desemb rcou em os ombros carregados do folhas de louro, na então LourençoMarques, de velho *Miasse' a fumegar negro das sua três chaminés, pintadas coma bandeira. v~ a vermelha, a atestar a «neutralIdade colaboracionista, com osnais. Estava-se em plena guerra, e um submarino podia distrair-se eaif tê aooun a.foi de Lourenço Mariqos para a Zam .ia, utilizando vários meios de transpori.Lembremo-nos que se estava em guerra- na i Guerra Mundial e, antro os muitosprodutos r cioados e até inexistentes, encontrvadm-si os pus. Assim, o nvl eenormne administrador fez-se transpertar junto & costa, por navios de cab gempelo Zambeze acima, de cmnhQeira e, de Tete à administração no InierIor, emlonjuras afastndas. de ôuachiia.De 'machila! Um «bicho,, que tinhaJustifcadamente, a alcunha de o UEefaiteBranco»., pois se não apresentava tromba, pesava, nomi Õó10 arrobas (vinte anos depois' dia-so que já pesava só oito: 12 quilos). Oadministrador Horténcl de Sousa ia comodamente deitadI na'machila, que seispobres machileroas vestidos apenas de casquinh, aerregavam por montes e vales*tMvéÉ da rios e m'curros-». Atrás dele noura machila, um aspirante qualqueresportinho, e, depois, os caregadores com os mantimentos,entro os quais abundavam as garrafas de «Whisky»».A frente, seguia o régulo da'área, enquadrado por dois ou três sipaios armados de«Leo-Enfields, e, ao lado do mElefant Branco»,. seguia, solícito, o intérprete,também conhecido por o -língua,.0 passo era de corrida. E a machila bamboleava-se com .160 quilos do gorduraesparramados sobre ela.Durante a segunda noite, passada numa cantina Perdida no mato, 'a caminho doZObuè,, os cmaileros cansados da carregar aquele avantestma, confabularambaixinho, lngo dos ouvidos do régulo, -do «línguau e dos sipaios.Depois de combinaram o que fariam no dia seguinte, deitaram-se, antegozando apartida que tinham preparado.Numa planície do capim elefante, sermeadas de micais altas e entroncedas(daquelas micaias que têm os picos em forma de anzol)e morros de muchã, omachileiro que ia à frente começou a gritar:«Leão! Leio!-enquanto arriava com toda a força a mochila, no que foiacompanhado pelos outros machileiros, que deitaram a fugir para trás de ummorro de muchã. mais alto.«0 Elefante Branco. do costados no chão e patas a espernear no, r, rebolava o bojopela poeira do caminho até se pôr de pé e ir, direitinho refugiar-se na micaia,estrategi-comente, a menos -de doe metros dele, por esperteza do machileiro-guia.Entretanto, gritava para os sipaios, encolhidos do medo:- Atirem!... Façam fogol... Matem-no seus estúpidos!...- Onde está?... Onde está?... perguntavam os 4ipaios, virando as espingardas emtodas as direcções.E o coro dos machileiros respondia, escondendo o riso, o apontando para umameda de arbustos, cem metros à frente;

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- Ali!... Vocês não o vêem!... Mata,, matal...E os sipaioS começaram a dar ao gatilho, esburacando tudo o que esteva trintametros em redor da meda. Mas os machileiros estavam à espera do melhor eanunciaram:- Fugiu! Fugiu! Lá vai ele...E quando o «Elefante Branco», erguendo a sua volumosa barriga, como se setratasse da caixa toráxica, se preparou para majestosamente sair do seuescenderijo, viu-se agarrado por centenas de espinhos da micaia.Tentou com mais força, atirando as dez arrobas para'a frente. Não se libertou, masouviu-se o ruído de caqui a rasgar-se. Uma boa meia-hora depois, com a ajuda dotoda a conxitiva soitaram-no, farda em farrapos arranhõos fundos no toucinhomuito branco., O funde das calças e grande parte das cuecas ficaram comodespojos da micaia, drapejando ao vento.-. :. "TEMPO:N.0 498 -pág 45

O GARGANTA DO IMPÉRIOPouco depois, seguia o cortejo caminho, mas Hortêncio Estêvão de Sousa pararestabelecer a sua dignidade, virou pelas goelas abaixo meia garrafa de ,Whisky,,.Arrotou onimpi camente e deixou-se adormecer, enqiuanto a machila balouçava,balouçava..1.( 0 padrinho, lá -no Terreiro do Paço, não se esquecia dele. E Salazar, emmenos, de tres anos, promovou-o de administrador, a intendente, de intendente agovernador , . tura em que ganhou o nome de~. O ,Garganta do império--- epassou-o para um lugar mais burocrático, inspector privativo da InspecçãoAdministrativa da Colónia de Moçambique (Nessa altura ainda era colónia e nãoprovíncia. como oito anos depois foi crismada).Como inspector, dizem os que o conheceram bem, fechava os olhos às vulgaresnegocictas o trafulhices administrativas, desde que lhe recL assom os bolsos denotas e o estômago de iguarias e de »,whjsky».Ga.thou o gosto pela oratória, nessa década de 40. Inflamava-se em discursospatrioteiros em, que reaerenciava a «figura eminentíssima, do inteligente político"que não tinha rivai no mundo, e que era o de.temido timoneiro do grande navio,cha,mado Império Português,. Voz tronitruante, com lágrimas nos olhos,comovidissimo ao falar do padrinho distante mas protector, «O Garganta doImpério- afogava o calor dos discursos em repetidos copos, de «whisky->. Nofim, olhava em redor e aguardava, inchado, as aclamações dõs cortesãosbajuladores.E assim, depois de uma carreira em postos superiores em Mo¢ambique, ondechegara com 47 anos antes estivera a fazer a sua tarim. ba por terras de Angola-Horténcio Estêvão de Sousa veio pela últi-ma voz a Moçambique, já como Inspector Superior Ultramarino, a que tinha sidopromovido mia dúzia de anos ant eDesta vez não precisou de andar de machila, deslocou-se em «Mercedes Benzi. oem táxis-aereos.Ora, quando «inspeccionava,, o Xai-Xai «o Elefante Branco. acomodou-se mais oseu secretário e o governador de Gaza, num avião «Píper'-Comanche#>, e

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levantou voo em direcção ã circunscrição do Alto Limpopo, ator rando napovoação extrema do Oeste de Gaza, que então se chamava Malvérnia(anteriormente Marco XIV e hoje Chicualacuála). Ali passou dois dias, comendoe bebendo. Depois meteu-se de novo, mais a comitiva, na avioneta e regressou aoXai-Xai.Mas porque as últimas libações tivessem rrdado o descolar do avião ou porquedemorou mais tempo a arrumar o inspector superior ultramarino e as presas deelefante co que ohaviam presenteado, o que é certo 6 que o «Piper Comanche» foiapanhado no ar, pelo lusco-fusco, ainda a umas centenas de qu lómetros do Xai-Xai. E a navega. ção, que até aí tinha sido feita a «olhómetro,, polo piloto, nassoua ser um acto de adivinhação.Como é de calcular, a bordo, esStavam 'todos preocupados, pois nin guém sabiaque zona sobrevoavam. Passou-se mais de meia-hora, com o avião voando cadavez mais baixo, para qUe se reconhecesse, pela topo grafia do ,erreno, emt queponto se ,encontreva e os passageiros suavam frio.,O Senhor inspector SupgriorUltramarino entrou em pânico térnando-se incapaz' de contmlar as itanifes. taçõesdos seus órgãos internos.TEMPO N, 498 -- ág. 46Finalmente, o governador reconheceu, do alto, a povoação que dantes se chamavaMadragoa (actualmente Chilembane). Indicou-a ao piloto. que resolveu fazer umaaterragem de emergência na estrada ao sair da povoação. O piloto, que era exímio,aterrou sem novidade, O «Elefante Branco,, porém, não tugia nem mugia. Tinhademasiado de susto. Lá tiraram, conforme puderam, do pequeno avião, aquelamontanha de carne, condicionaram-na num automóvel e acompanharam-na aoentão Hospital Miguel Bombarda na capital. Os médicos disseram que ele estavaem estado de choque e mete ram-no na cama.Alguns dias depois, ao receber visitas, o homem demonstrou que, ape ser doabalo, náo deixara de ser «0 Garganta do Império,,:" «Que magnífica oportunidade que perdi de morrer gloriosamente ao serviço daPátria, do nosso grandioso Império. Sua Excelência, o Senhor Presidente doConselho, Professor Doutor Antonio de Oliveira Salazar teria orgulho em mim.Nunca me conformarei por me ter salvo! Que fim de vida digno dos nossosantepassados que se desperdiçou...»Duas semanas depois, com glória ou sem glóri, o ,,Garganta do Ima pério».preferiu regressar a Lisboa,-no navio iAngola., e desprezar a oportunidade de seguir no avião ,Super-Constelatin», dos TAP que o tinha trazido.Co reendem: era mais demorado mas sempre era muito, muito mais seguro.Areosa Pena

NA~M ORTE. , .D E "IEAN-PADLJean-Paul Sartre e Simone Sde Beauvoir, sua companheira de sempre, em 1960Filósofo, romancista, dramaturgo, ensaísta, legou u m a vasta obra. Aos 59 anospublicou o romance autobiográfico «As palavras» em que. com extraordinãrio

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poder de memória, visualização e interpretação, historia e analisa a sua infânciaaté cerca dos 10 anos. Nascido em 21 de Janeiro de 19%5, de uma joý vem timidaque na infância amou como uma irmã mais velha, e de um homem que entrou nafamília e morreu catalogado intruso fugaz Sartre foi criado eni casa dos avósmaternos: o avô Charles (Karl) Schweitzer, professor de alemão e, depois deaposentado, Pro»ssor de francês do por ele fundado Instituto de Línguas Vivas,que o idolatrava e a criança adorava, ambos possessivamente;a avó, mulher viva e rriliciosa e fria a quem o marido inspirava medo e irritação epor vezes também amizade desde que ele não lhe tocasse; e, no mesmo lar, a máàe, gove!rnanta, enfermeira, mordomo, dama de companhia, criada, gratuita. Nãosabendo ainda ler, o pequeno Jean..Paul exigia livros seus, porque o avô tii.ha asua biblioteca que ele. aliás, vasculhava a seu bel-prazer, reverenciando as obras.A mãe contava-lhe muitas histórias.Um dia, de livro na mão, recitando o que tinha de cor e decifrando o qt1ý nãotinha, ao fim sabia ler. «Foi nos livros que eu conheci o universo: assimilado, c-lassficado, rotulado, pensado, ainda temível; e confundi a desordem das minhasexperiências li-vrescas com o curso aventuroso dos acontecimentos reais. Dai .,veio-esseidealismo de que levei trinta anos a desfazer-me». Menino mimado, recluso entreos três familiares, respirava uma felicidade que sentia profundamente porquejulgava a única possível. Nesse mundo fechado e delirante, actuava comoimpostor em público, vivia como um imaginário inglório na sua intimidade.1 A mãe passou a levá-lo frequentemente ao cinema e tocava no piano peçasclássicas. «Nunca esgaravatei a terra nem andei à caça de ninhos, não herborizeinem atirei pedras aos pássaros. Mas os livros foram os. meus passarinhos e osmeus ninhos, os meus animais domésticos, o meu estábulo e o meu campo; abiblioteca era o mundo colhido num espe,ho; tinha a sua espessura infinita, a suavariedade e a sua imprevisibilidade». Excluído do convívio com outras crianças,acabou por se opor a si próprio,' cair no orgulho, na generosidade por~ 1 « , 1~ 1 - 1, ~~~~ ~ , .... . . . ...~.~~~~ . " ~ TEMPO N.° 498 .- Pág. 47 'Faleceu em 15 do corrente, com 75 anos de idade, Jean-Paul Sartre, pensadorfrancês quê, apesar de largamente controverso, ocupou sem dúvida *uma posiçãosuperior desde a década de 40, no seu pais e no mundo.

reacção. No entanto, as suas raras experiências escolares (falhadas porque o«menino prodigio» estava sempre aquém dos conhecimentos correntes na classepara que o avô o propunha) tra um igual e por vezes mais dinâmico nasbrincadeiras com os companheiros. Pela leitura e pela audição da música, tomou-se criador de heróis, actor pantomínico; e logo, o receio da repetição e novamentea certeza no destino, no futuro, pela revelação das histórias dos filmes, pelainfluência de outras leituras. Mas sozinho, no meio dos adultos, era um adulto emniniatura, fazia leitura de adultos, permanecendo uma crian. ça. A seguirdescobriu a maravilha das histórias em fascículos e ilustradas.Dos 7 para os 8 anos começou a escrever «romances» em que a imaginaçãoplagiava o que lera. Insatisfeito, desiludido, parou e voltou a escrever, outros

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«romances» já com alguma originalidade, influenciados pela corrente dofantástico que caracterizava o meio literário burguês da época ante-guerra. O avôestimulava-lhe amorosamente a paixão da leitura e gabava-se da precocidade dorebento em 2.' geração. Mas ao princípio complacente com as tentativas literárias,acabou por temê-las e desencorajou r-everamente a sua «loucura». Seguidamente,porém, compreendendo que seria inevitável, admitiu que ele deveria ser escritor,mas nunca como profissional, porque esta condição o reduziria à * miséria.Escolheria portanto uma profissão principal prática que conviria fosse a deprofessor, com muitos tempos livres e adequada h literatura. «Perdido, aceitei,para obedecer a Karl, a carreira aplicada de um escritor menor. Em suma, eleatirou-me para a literatura pelo cuidado que pôs em desviar-me dela: a tal pontoque me acontece ainda hoje perguntar-me, quando esý tou de mau humor, se nãoconsu, mi tantos dias e tantas noites, se não cobri tantas folhas com a minha tintae lancei no mercado tantos livros,que não eram desejados por ninguém, na única elouca esperança de agradar ameu avô. Seria cómico: com mais de cinquenta anos, ver-me-ia embarcado, pararealizar as vontades de um morto muito velho, numa empresa que ele certamentedesaprovaria».Todavia entre ambiguidades, pressões e apelos para um futuro cómodo econfortável (e literariamente <rentável») a criança tinha a certeza da vocação.Mas, como consequência de tudo, a sua nrimeira obra. o romance <A Nãusea» sóapareceria em 1935. Em <As Palavras», Jean-Paul Sartre diz, como conclusao:«Durante muito tempo tomei a pena por uma espada; agora conheço a nossaimpotência. Não importa: faço e farei livros, são necessários, sempre servem,apesar de tudo. A cultura não salva nada nem ninguém, não justifica.- Mas é umproduto do homem: o homem projecta-se nela; só esse espelho crítico lhe devolvea própria imagem. (0..). O que eu amo na minha loucura é o facto de me terprotegido, desde o primeiro dia. contra, as seduções da elite: nunca me julgueifeliz proprietá. rio de um «talento»; a minha ünica preocupação era salvar-menada nas mãos, nada nos bolsos- pelo trabalho e pela fé. Desta feita, a minha pura opção não me elevava acima deninguém: sem equipamiento, sem ferramentas, dei-me -inteiro à acção para mesalvar. Se arrumo a impossível Salvaçã.o para o quarto das velharias, o que meresta? Apenas um homem que os vale a todos e a quem, por sua vez valemquaisquer outros».<As Palavras», com a sua terna e corajosa crueza, a sua magia confessional, a suaabertura de uma estrada para a razão e a liberdade crítica, é um livrofundadamental ao entendimento de Jean-Paul Sartre enquanto escritor e, emcerta medida, também enquanto filósofo.Seguindo o «bom» conselho do avô Karl, Jean-Paul Sartre formou-se na EscolaNormal Supe-. rior de Paris e foi professor de Filosofia no ensino liceal. Após asuaestreia com <A Náusea», públicou um livro de contos «0 Muro», e romanceem trilogia «OsCaminhos da Liberdade». A sua obra de teatro é vasta.Em 1959, Sartre concedeu à jornalista, critico literário francesa MaceleineUnapsal, uma entrevista que mais tarde, com outras a escritores franceses,

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apa:receu no livro «Os Escritores e a Literatura». Aí Sartre torna evidente quepara ele a filosofia estava em primeiro lugar e não havia uma fronteira nítida entrea literatura e a filosofia. Referindo-se a «0 Ser e o Nada», diz que se compõe depequenas histórias sem fiíosofia e, por outro ia< do admite a necessidade de ecrover sobre a Dialéctica para poder falar do romancista Flaubert e que em <ACrítica da Ra, zão Dialéctica» transmite longa passagens que tinha projectado,ýincluir no livro sobre aquele 4' critor. Significativa também í sua declaração, sóaparentementÇ contraditória, de que desejou e, crever alguns romances e teatrácmuito tempo antes de saber que era filosofia e de que aind4! então (1959)desejava isso e o 40'" sejaria toda a vida. E Jean-PFt Sartre toma posiçãoinequívoca;... a Poesia e a Prosa trnaran.-se Artes Críticas: por isso larmé chamava à sua própria poe sia «Poesia Crítica».Escrever é colocar sempre em questao toda, a escrita. Hoje. E a mesma oacontece na Pintura, na-EsculttV ra, na Música: a Arte inteira com. promete-se naaventura de um só homem; ele procura e afasta os seus limites, Mas a escrita iiãqpode ser crítica se não colocar tudo em questão: é o seu conteúdo. A aventura daescrta~, em da escritor, põe em causa os ho-' mens».TEMPO W ' 498 - pág. 48

volumes, o primeiro, publicado em 1947,,além de ensaios críticos, inclui umnotável estudo de problemática filosófica sobre «A Liberdade Cartesiana» queconclui de maneira lapidar: «Serão precisos dois séculos de crise - crise da Fé,crise da Ciência - para que o homem recupere a liberdade criadora que Descartesatribuiu a Deus e para que se conceba finalmente essa verdade, base essencial dohumanismo: o homem é o ser cuja aparição faz com que um mundo exista. Masnão censuramos Descartes pelo facto de ter atribuído a Deus o que nos pertencepor direito; admiramo-lo principalmente p o r ter, numa'época autoritária, lançadoas bases da democracia, por ter seguido até ao fim as exigências da ideia de«autonomia» e por ter compreendido, muito antes do Heidegger de «Vom Wesemdes Grundes», que o único fundamento do ser era a liberdade».Filósofo e escritor em que a violência é muitas vezes dóminante, tem sido,também violentamente, acusado não apenas pelo seu engajamento político masainda pelas suas. atitudes nas «condições de esquerda» e de absentismo. Assim,participaído, depois da II Guerra Mundial, com os comunistas franceses naactividade política, entra em conflito com o PCF e funda em 1946 a revistapolítico-literária «Os Tempos Modernos»; em 1964 não aceita o Prémio Nobel daLiteratura que lhe fora atribuído; no célebre Maio de 68 desvia.so da sua posiçãointercalar de intelectual independente para se declarar pronto a assumir tarefaspolíticas «justas» e «pedidas»; seguidamente toma a direcção do jornal de feiçãomaoista «A Causa Popular»; durante 1973 e 1974. dirige o diário «Libertação»,órgão da extrema-esquerda.Jean-Paul Sartre teve várias afirmações de digna coragem cívica: integrado noexército francês, feito prisioneiro em 1940 e libertado em 1941, 'fez parte domovimento de resistência contra o nazismo no seu pais ocupado Pelos alemães;foi um dos intelectuais que mais desassombradamente condenaram a política

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francesa na guerra de libertação da Argélia («E eis-nos aí solidários: mergulhadosna violência, sempre cada vez mais. Quando Frantz (de «Os Sequestrados deAltona») morre, o carrasco somos nós, sou eu»); assumiu a p.residência doPrimeiro Tribunal Russell que apresentou ao mundo os crimes de guerra norte-americanos na invasão do Vietname.Jean-Paul Sartre acaba de morrer. Atingiu a celebridade em vida. Muitos não lheperdoaram nem perdoarão incoerências. Ele próprio confessou que escolheu afunção de escritor contra a morte e porque não tinha fé, o que representava umaespécie de fraqueza. Dizia então (1959): «aos sete ou oito anos, vivia com~aminha mãe, que era viúva, no meio de uma avó católica e de um avó protestante.(...). Ora, nessa mesma idade, a morte causou-me muito medo. Porquê? Talvezporque não possuía o mito benfazejo (para as criança) da sobrevivência. Euescrevia já, como fazem todos os garotos. Paguei o meu gosto de escrever, o meudesejo de sobrevivência. Da sobrevivência, literária, bem entendido. Esta ideia dasobrevivência literária, que abandonei depois, tem sido seguramente o centro departida dos meus bloqueios». Estarão nos motivos desta declaração e no sequestrociosamente amoroso de uma inancia tornada tão imainativa, contada em «AsPalavras», algumas das explicações para'os «desmandos»do grande pensadorfrancês? Mas as suas pelo menos parciais. respostas, deu-as o lomem, ointelectual, o político nos volumes mais recentes de «Situações» e no livro«Temos Razão para nos Revoltarmos»._______________Orlando Mendes TEMPO Nl° 498 - pág. 49

C&lo de cinema b4lgaroEM[Mi&àTerminou no fim -de-semana passado, o ciclo de cinema búlgaroque apresent as d e.,ý pecáculos da capital, mete filmes, seis do4uais emestreia no nosso Pats.Pese embora o atraso da re~o que a seguir se insere, julga mos necessário teceralgumas consider&çSes sobre aquele ciclo tanto mais que os filmes estão emcircuito normãl no Pais e o ciclo inicia-se amanhã na cidade da Beira.Quando, junt&do Instituto Ncional do com a grande afluência de público dCinema. pretndemos fazer im b- -que ciclo registou, era uma conse,lanço prévioao que tinha sidoo iclo 4uência directa do ambiente de expec. ,de CinemaBúlgaro ocorrido em Mapu- t'Miva que rodeou o ciclo por parte das ,to umpormenoo chao te e- pu as que habitualmente são especçao.tadores de cinema.Ao contrário queta t &c&~ Ouviamos dizer em relação ao ciclode, em alguns ou~ cicios já reaI-z. , que já se dizia em relação a alguns dos noPais (no~.dau ente, it~lan -utos provenientes dos países sociao o brasileiro), avenda de cademetas, INotas de leste: <Esse tipo de filmes 'que permitiria aosespectadores asse- sãe chatos, de fraca qualidade, etc. gurarem a possibilidade deveren t- Mas, essas mesmos espectadores dos os filmes, tinha sido bast~ bai ogerlizavam e afirmavam já ter xa. -i is flmas bastante bons.

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ResultaContudo, esta informação, c~ ~va daqui a dúvida e expectativa em tavacom o facto de, por exemplo, no relação a este ciclo, tantomais que se filme«Agua Forte» a lota~ se te tratsvs de um Pais cuja cinematograesgotado muitocedo ficando *H6~eras: fia era praticamente desconhecida enpessoas sem apossibilidad 4 e - tire másfilmee. A ' medida que o ciclo foidecorrenTentámos, em conjunto, lhdimt~r õo, ns cM#, nas conversas de amistasfactos aparentemente conta gos começaram a correr opiniões fatrios everificamos que a questi tanto ao nível da temáticabaixa venda de ca&rneta ce*ê#1S q1 u.alidode o que levou ao apa-recimento, diríamos mesmo surpreendente, deste raro fenómeno do espectáculocinematográfico: Em cada dia que passava, a afluência de público aumentou atéao ponto de as salas não responderem ao desejo dos espectadores por falta delugares.PORQUÊ?O que aconteceu em relação ao ciclo de cinema búlgaro é tanto mais interessantequanto demonstra uma maior maturidade por parte do espectador, pese embora otrabalho cutural à volta do fenómeno cinematográfico ser ainda pequeno ebastante incipiente.Com efeito, a expectativa em relação ao ciclo a que nos referimos, resulta do factode o espectador procurar já uma melhor qualidade temática e técnica em relaçãoaos filmes que correm entre nós o que, sem dúvida, é um fenómeno a ter em contanomeadamente no que respeita à selecção e informação pública do que se estreiano País.PRECONCEITOS ERRADOSMas, existe ainda umo outra questão relacionada com o ciclo que acabamos depresenciar em Maputo. ÉO N1 498 - pág 50

que a propaganda reaccionária (não nos esqueçamos da vizinha África do Sul)tent-se empenhado em tentar demonstrar que tudo quanto vem do socialismo émau e de baixa qualidade. Essa actuação, aliada ao facto de, por vezes, se ter tidopouco cuidado na selecção dos filmes que correm entre nós, tem conduzido a que,muitas vezes inconscientemente, sejamos levados a preferenciar filmes dos paísescapitalistas por julgarmos serem de melhor qualidade ou que alcancem melhor oobjectivo de distrair (é importanto não perdermos de vista que na maior parte dasvezes é e critério da distracção que conduz o espectador a uma determinada salade espectáculos e não a outra).W Este ciclo é, nesse sentido, uma deuonstração notável de que as dúvidasegítimas) que se podem levantar a ou outro filme não nos devem conlqduzir auma generalização que assuzma a categoria de um preconceito que, além deerrado, alimenta a propaganMa reaccionária.t; Pelo contrário o ciclo de cinema %úlgaro dá-nos uma forte ajuda nadeUnonstração que dizemos: Que o saciaDsmo é uma correcta visão da históMa(«Emenda à lei sobre a Segurança do Estado-, gO Rei e o General») que osocialismo é a projecção do homem na sua dimensão cultural (-Tem-

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po dos Homens, ««Cono da Ç íis, que o socialismo é o amor .huma. («LÁdrão dePêssegos») que e socielismo é a exigência da qualidade (todos, mas «O Corno daCabrá. principalmente), que o o socialismo tem problemas e os enfrenta de ummodo que não pode ser compreendido no quadro duma perspectiva capitalista (-Ãgua Forte») etc.O ciclo apresentado permite-nos também concluir que a cinematogra-TEMPO DOS HOMENS: A colocação do homem na sua dimensão culturalTA DO ESTADO: Uma visão histórica de ssado de lutafia búlgara, está empenhada no combate pela qualidade, pela inovação estética(recordem-se os documentários de desenhos animados) e que os seus filmes bemcomo a sua organização da indústria cinematográfica (ver brochura distribuída)resultam de uma correcta definição do papel do cinema na sociedade socialista.A contribuição do ciclo para o combate que travamos e a que acabámos de nosreferir ultrapassa ainda amera questão cinematográfica.1 que esse combate não é só (nemprihcipalmente) no cinema: São os IFAs, os IKAROS, enfim,1 o que nos vem dospaises socialistas em que, nas mais simples coisas, nos é permitido demonstraruma superioridade que se manifesta não só -no terreno ideológico como tambémno terreno material.SOL CARVALHO1 - CORNO DA CABRA: Um dos filmes de melhor qualidade do ciclo2-O JUIZ DA INSTRUÇÃO E AFLORESTA:A preocupação pelo ser humano..... no socialismo . . 3-TEMPO DOS HOMENS: A projecção do homem nasuadimensão cultural4 -EMENDA A LEI SOBRE A SEGURANÇA DO ESTADO: 1 Uma visão dahistóriaTEMPO N,? 498 - pág 51

UMA ýHISTORIA QUE FEZ HISTORIAPetrógrado, 1917. No Palãcio dos Comissí rios do Povo trabalha-se vinte e quatrohoras por dia. Lá fora nas ruas, o proletariado, de armas na mão; desaloja aburguesia dos seus centros do poder.No Palácio um soldado procura por água quente para fazer um chá,. Um homembaixo, olhos oblíquos, barba ponteaguda oferece-se para ir buscar a agua. Os doishomens sentam-se e conversam longamente sobre a revolução que está em curso.O soldado procura saber como é, fisicamente, esse dirigente, chamado Lenine,que tinha entrado, pouco tempo antes clandestinamente no Pais, para dirigir ainsurreição.,Os dois homens despedem-se desejando um futuro radioso à revolução. Poucotempo depois o soldado é informado que tinha estado a falar com VIadimir llitchUlianov, o nome desse Lenine que quisera conhecer...Em 1887. deDois de concluir os estudos no liceu com medalha de ouro Leninematriculou-se ýna fa£uldade de direito da Universidade de Kázan. Mas, aos

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quatro meses era expulso por participar numa reunião de estudantes.Seguidamente sucederam a prisão e o desterro para uma zona rural. Assim, aos 17anos, começou a sua trajectória revolucionária. Em 1893 Lenine, ao terminar porcorrespondência a Faculdade Jurídica da Universidade de São Petersburgo,mudou-se para essa ci-dade, centro da luta e do pensamento revolucionários do proletariado da Rússia.Lenine imprimiu aos círculos marxistas criados nas fábricas um activa dinâmica,escreveu nesta altura o livro «Quem são os amigos do povo: e como lutam ossocial-democratas?», que segundo testemunham os contemporâneos, tornou-seum autêntico manifesto da social-democracia da Rússia.No Outono de 1895, dirigiu a unificação dos círculos marxistas dispersos por SãoPetersburgo naorganização política «União para a luta pela libertação da classe operária»,pormenor do partido marxista da Rússia. A «União» começou, pela primeira vez,a unir, num todo único, as ideias do socialismo científico com o movimentooperário. Quando a polícia se inteirou da actividade que estava desenvolvendo a«União», Lenine e vários outros membros foram presos.Após 14 meses de prisão, Lenine foi desterrado por um período de 3 anos para aSibéria. No desterro, completou a obra fundamental «O desenvolvimento docapitalismo na Rússia». Iniciada no cárcere em São Petersburgo, preparou oprojecto do programa do partido, escreveu mais de trinta obras sobre as tarefasdos social-democratas russos.na sua luta contra a deologia burguesa e orevisionismo, e pela vitória sobre o czarismo e o capitalismo.Em Dezembro de 1900, vivendo na emigração política, Lenine consegue realizara sua ideia de editar um jornal político para toda a Rússia. O jornal foi impressona Alemanha. Inglaterra e Suíça sob o simbólico nome de «Iskra» («A centelha»).Na Rússia era introduzido clandestinamente. O jornal «Iskra» a obra de Lenine«Que fazer?» e outras, permitiram elaborar os princípios ideológicos eorganizativos do partido marxista de novo tipo na Rússia que foi fundado em1903.TEMPO N.. 498 - pág. 52

Há 110 anos nasceu LenineLogo no começo das suas actividades, o partido bolchevique apareceu como avanguarda da classe operária da Rússia, apetrechada ideologicamente com aideologia marxista-leninista. Esta sua missão histórica revelou-se em plenamedida durante a primeira revolução popular na Rússia (1905-1907).No outono de 1905 o movimento revolucionário no pais alcançou o seu apogeu.Nos começos de Novembro, Lenine regressou a São Petersburgo. Dirigiu então osComités dos bolcheviques Central e de São Petersburgo, apresentou relatórios dasreuniões do partido, e publicou diversos artigos. O ponto culminante darevoluçãofoi a insurreição do proletariado moscovita em Dezembro quando vários milharesde operários armados sustentaram uma heróica luta contra as tropas czaristas*durante wnais de uma semana. Mas as forças eram desiguais. O governo czaristareprimiu ferozmente os insurrectos. A revolução

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começou a perder vigor e foi derrotada. Lenine viu-se obrigado a abandonarnovamente a Rússia voltando ao «status» de emigrado político durante quase dezlongos anos. Ao apreciar, em todos os seus aspectos, os ensinamentos dare~volução, Lenine lutou infatigavelmente para conservar o combativo partidomarxista e por mobilizar as suas forças para uma nova revolu-fábricas surgiram greves. Nessa luta incorporavam-se Os camponeses, o exército,a marinha de guerra. Em Janeiro de 1912 celebrou-se em Praga a conferência dopartido de toda a Rússia, que desempe húou um importante papel na vida doPartido. A referida conferência escolheu o Comité Central com Lenine à frente, oqual fundou o diário legal bólchevique «Pravda», come-gados da Décima Conferência do Partido de toda a Rússíaem Maio de 1921Em Novembro de 1905. Lentne regressou a São Petersburgo tendo apresentadodiversos relatórios do Partido epublicado inúmeros artigosção, cuja inevitabilidade foi cientificaménte, argumentada por ele.A derrota da primeira revolução russa conduziu à agudização da luta de classes noseio do POSDR. Uma ala do Partido defendeu a colaboração com a burguesiatendo as contradições evoluído até à cisão. A linha pequeno-burguesa, conhecidapelos mencheviques e o partido designado também por Bolchevique empreendeuum enorme esforço na denúncia dos revisipnistas, na qual Lenine teve um papelfundamental.Pouco depois, como havia pressagiado Lenine. o movimento operário na Rússiavoltou a experimentar uma nova vitalidade. Nasçou a sair na primavera de 1912. Até ao encerramento do «Pravda» (Julho de1914) o diário inseriu mais de 280 artigos e outros materiais de Lenine.A primeira guerra mundial imperialista, que eclodiu em 1914, agudizou até aoextremo as contradições e acelerou a explosão revolucionária na Rússia. Leninepermaneceu na Suiça durante a contenda donde lançou a palavra de ordem deconverter a guerra imperialista em guerra civil, tendo batalhado pela unidadeinternacionalista de todas as forças revolucionárias. Desmascarou a políticatraidora e social-chauvinista praticada pelos líderes da segunda Internacional.TEMPO N.° 498 - pág. 53

Em 1917 triunfou na Rússia a revolução democrática-burguesa de Fevereiro.Em Abril de 1917, VI. Lenine regressou da emigração. Em Petrógrado, osoperários e os soldados tributaram-lhe uma entusiástica recepção. No dia seguinteproferiu um discurso uSóbre as tarefas do proletariado na revolução actual»,conhecido na história como as «Teses de Abril». Neste extraordinário documentoda história do marxismo foi argumentada cientificamente a passagem darevolução democrático-burguesa à sociedade-socialista e determinadias as suasforças motrizes: a aliança da classe operária e dos camponeses pobres. As teses deAbril continham um programa de luta pela paz, a solução da questão dasnacionalidades e a plataforma económica do partido. Tornaram-se programa deacção do partido e do povo na sua, luta pelo triunfo da revolução socialista.

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No outono de 1917, a luta revolucionária atingiu a sua máxima tensão. No país foidespoletado um amplo movimento de operámos. camponeses e soldados. Lenineexortou o partido a preparar e realizar a insurreição armada. Elaborou o planoconcreto de acção dedicando a esta quéstão vários artigos e cartas.Lenine em 1887.. ano de forma çâo na escola secunddria da cidade de SimbirskA 24 de Outubro (6 de Novem. bro) tiveram lugar em Petrógrado avanços quederam início à realizaçaão do plano leninista de insurreição. Lenine assumiu adirecção. Na manhã do 25 de Outubro (7 de Novembro no caleidário gregoriano)a capital do império russo estava nas mãos dos operários. Os soldados e osmarinheiros ergueram-se em armas. Nesse mesmo dia foi tornado público o apelo<Aos cidadãos da Rússia», redigido por Lenine. Este documento anunciava aomundo o triunfo da revolução socialista, que marcou o começo de uma nova erana história universal.Na noite do 25 de Outubro (7 de Novembro) no Smolni, foi inaugurado o segundocongresso dos Sovietes, que proclamou a passagem de talo o poder aos Sovietes,forma de ditadura do proletariado, promulgada por Lenine. O congresso aprovou,baseando-se nas exposições de Lenine, os mundialmente famosos decretos sobre apaz e sobre a terra, elegeu o órgão máximo do (oder o Comité Executivo Centraldos Sovietes de deputados de operários e soldados de toda a Rús-sia e formou o governo, o Conselho de Comissários do Povo com Lenine à frente.Depois dos decretos sobre a paz e sobre a terra foram aprovadas «A Declaraçãodos direitos dos povos da Rússia», que proclamou a igualdade de todos os povosdo multinacional país, e outras leis so bre reestruturaÕes sócio-económicas epolíticas primordiais.A 11 de Março de 1918 o Gover no soviético transferiu-se para Moscovo,convertida em capital do Estado Socialista Soviético.As classes exploradas derrubadas pela revolução e os partidos das mesmasdesencadearam aguerra civil. Acorreu em sua ajuda o imperialismo internacional, que empreendeuuma intervenção militar aberta ao jovem Estado soviético. O Povo soviético, sob adirecção do Partido Comunista conseguiu vencer a coligação apesar das enormesdificuldades existentes.O oitavo congresso do patido reuniu-se quando a guerra estava no seu apogeu.Inaugurado a 18 de Março de 1919, discutiu e aprovou o novo programa dopartido, que figura na história como o progra-TEMPO N.' 498 - pág. 54

scurso sobre a situaçã9 internacional na nacional Comun'ista realizado emPetrólha de 1920ma da construção do socialismo. No mesmo mês de Março teve lugar o primeirocongresso, o constituinte, da terceira Internacional Comunista, fundada por V.LLenine. A fundação da terceira Internacional constituiu o triunfo das ideiasleninistas do internacionalismo proletário.Depois de vencer os invasores e os guardas brancos, os soviétiços lançaram-se natarefa de restabelecer a economia nacional destruída pela guerra. V.I. Lenineelaborou uma nova política económica (NEP). A colocação em prática da NEP

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consolidou a aliança da classe operária e o campesinato, permitiu restabelecer, embreve prazo, a economia nacional. O intenso trabalho e as consequências dosferimentos provocados durante o atentado de que foi alvo em 1918, debilitaram asaúde de Lenine. Os médicos insistiram em que, a partir do inverno de 1921,Lenine interrompesse o seu trabalho e fosse submetido a tratamento. Todavia,apesar da enfermidade, Lenine dedicava-se diariamente aos assuntos do Estado. A22 de Novembro de 1922 pronunciou um discurso noLenine dirigindo-se aos elementos do exército que iam partir para a icombate, em Moscovo. 5 de Maio de 1920Plenário do Soviete de Moscovo. Expressou a sua firme convicção de que «aRússia da NEP converter-se-á na Rússia socialista». Esta foi a última aparição empúblico de Lenine, que dirigiu ainda a formação da União das RepúblicasSocialistas Soviéticas em 1922 o que constitui um verdadeiro triunfo da políticanacional leninista. Em Janeiro-Fevereiro de 1923, Lenine sentiu erta melhoria noseu estado do & Aprmrs-itov',nu-a pa-ra ditar os seus célebres artigos. Estreitamente vinculados entre si elesrepresentam, de facto, um trabalho, único no qual Lenine concluiu .a ',elaboraçãodo plano de construção do socialismo na URSS.Lenine faleceu a 21 de Janeiro de 1924, deixando ao mundo um dos maioresmananciais teó'ricos da história das lutas pelo Poder do Povo.Adaptado de um textoda NovostiTEMPO N.' 498 - pág. 55

poesiaSobre Lenine dissermPara homenagear literariamente, com singeleza, o grande líder e combatente quedemonstrou e Ievou à prática a ideologia marxista, Vladimir Lenine, nesta datacomemorativa do seu nascimento, seguimos a via testemunhal. Assim,publicamos um poema que canta a «visão» pessoal que dele teve um dos maiorespoetas soviéticos, e um conto que mostra, em notãvel beleza e convicção, ainfluência pessoal e política que Lenine exercia sobre os trabalhadores naprimeira Revolução Socialista do mundo de que foi máximo dirigente.VLADIMIR ILITCH LENINE(Excerte do poema)Quandopeneiroaquilo que vivi e resumo os diasqual o pior, recordoo melhorvinte e cinco.o primeiro dia Baionetasbrilhandogorjeando faiscas, marinheirosbrincandocom bombas como se fossem bolas. Do tumultotremia

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a agitada Bmoiny. Nas barricadasem baixo, os metralhadoras.-0 camarada Estálinechama-o. Terceiraà direita,eleestá ai'."Camaradas,que nada vos detenha! Aos carros blindados.oPor ordemdo camarada Trotskyl, mPronto.,Virou-see desapareceu, e sóna fitado boné à luzbrilhou«Aurora,.Uns correm a pedir*ordens,marchar sobro os Correios!.ou juntam-se a discutir,TEMPO N.° 498 - pág. 50

outros batemnas portascom o joelho esquerdo. Para aqui,do fundo do corredor do lado,veio,sem ninguém notar, Lenine. Já era elequem dirigiaa luta, mas aindanão o conhecendopor retrato, empurravam-se,gritavam,as baionetas afiadas dos soldados sua frente. E por. entre essa ânsiade tempestade do ferre, llitch,como se estivesse a dormir, caminhou,ergueuos olhos esfregandoos, estendeu os braços,. pôs as mios atrás das costas. Num cantoqualquerdoitado cobriuos olhos cansados como seo seu coraçãosob as palavras estivesse exausto,como sea sua alma

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se arrastasse sob es frases. Mas eu sabiaque aqueles olhoscaptavam verdadeiramentetudoo que se diziagritos de camponesese gritos de guerra,e a vontade dos operários de Nobália,e a vontade dos operários de Putivola. O seu crâniocontrolava com províncias e pensavaem bilião e meio do pess .,Pesouo mundono decurso dessa noite. e de manhã proclamou: «A todos!A todos!A'todósos que na frente,estão cansado da guer,â aos -escravosde todos os tipos. na servidãodos ricos!Todo o poder aos sovietes! A terr-a aos camponoses! O mundo ao povo! Pão aosque têm fome!.Viadimir Mayakovsky1924O poeta soviético Viadimir Mayakovsky, também dramaturgo, morreu em 1930,com 37 anos. Filiou-se aos 14 anos no partido socialista russo (bolchevique) tendosido preso várias vezes. Começou a publicar poesia em 1912. Foi redactor darevista aFrente esquerda da arte., fundada em 1923. Aderiu em 1930 à Associaçãodos Escritores Proletários da Rússia. Foi um revolucionár'o n .poesa e naintervenção social. Neste poema, primeiro dia alude a 25 de Outubro de 1917 (novelho calendário) em que se iniciou a Revolução. Em Smony, onde se encontravao Estado-Maior do Exército revolucionário, o poeta viu Lenine.TEMPO N. 498 - pág."

contoNo final do ano de 1920, logo depois de Wrangel ser decisivamente derrotndo,Kijawin, membro do conselho de guerra revolucionário de um dos exércitos dafrente sul, foi deslocado pelo Comité Central -juntamente com outrosorganizadores militares do partido - para a tarefa de reconstrução da Indústria. Emtodo o paísiiteo, esgotado por quatro anos de guerra lmperialista e por trêsanos deguerra civil, funcionava ainda um único alto-fordo: o alto-forno de Staro-Petrowsk. Foi para aqui, paraa seciedade 'Staro-Petrowsk, que abrangia muitospoços e instalações de fundição, que mandaram Kljawin como director,Numa noite de inverno, o seu comboio chegou ao destino com o Estado-iMaior ea sua repartição política.Uma locomotiva de manobras puxou as carruagens paraos carris de desvio. Da plataforma da carruagem, Kljawin olhava através daescuridão - mal encoberta pelo fraco clarão vermelho do, Ito-forno = para os

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perfis taciturnos'dos aquecimetos, que pareciam gigantescos projécteis deartilharia colocados em fila vertical. Das cinzentas casas decimento espreitavampequenas janelas negras com vidrosk par tidas.A Kljawin, que nunca tinha trabalhado numa fábrica, que, fora professor dematemática antes da Revolução, estes pionstros estáticos despertavam uma n9,vavida.,Começou com o emprego- dos conhecidos métodos de coacção militar. Davaordens severas, mas nada conseguia. Depois introduziu todos os dias -turnosespeciais de voluntários e ele próprio dirigia essas colunas de volumtáros. Osoperários, vindos do exército e os membros do partido,,conseguiram inflamar a talponto o entusiasmo dos operários, que o seu ímpe" to podia, vencer quaqueradversário que penssse esquivar-se. Kljawin notou isto com o instinto, de umsoldado m fronte de- botalha.E pôs-se em movimento o entorpecilo colosso. Mas,,algumas semanas epois,decaíu fatalmente a produtiviode dos operários, afrouxaram osimulsos, não sealcançou o prodígioõque . ambicionava. As colunas encolhiam e dia para dia. Noentanto, Kljawin %o desistia; embora visse nitidamente derrota, marçhava denovo à frenteUMA DEIde um pequeno grupo de soldados do exército vermelho e de operários, paraformar um novo grupo especial.fNão conseguia dormir e não podia, não era capaz de achar uma forma dedominar a situação.E, no entanto, foi possível.Aconteceu que Kljawin, uma noite, em Maio de 1921, estava sentado na sala deespera de Lenine.Kijawin estava só - a secretária anunciou-o logo. No seu rosto pálido e jovemhavia um sorriso feliz, que desaparecia ac. mais leve ruído, para logo depoisbrilhar outra vez. Na Staro-P4trowsk, distante e desconhecida, ele tinhademonstrado, na prática, num curto espaço de tempo, a exactidão de uma tesesocialista «cada um segundo o seu rendimento». Os documentos eram diagramase relatórios que iria apresentar a Lenine.A-porta da sala de trabalho abriu-se, a secretária saiu com um grosso maço depapel. Kljawin saltou da cadeira, como se de repente o tivessem soltado. e correupara ela.- Entre, camarada. Simplesmente... não detenha Wladimir lljítsch C)or muitotempoPor detrás de uma pequena mesa Lenine levantou-se para o cumprimentar; sorria.Oh, como emagreceu! Seja bem-vindo, camarada Kljawin!Com estas palavras, o' visitante susteve a respiração e os lábios fica,rammomentaneamente secos. Como é que Lenine se recordava dele? Dois anos antes,em .1919, Kljawin tijba tomado parte algumas vezes no Conselho dosRepresentantes do Povo, como um dos Tschusosnabarm (assim se chamava aSecção Extraordinária do Conselho de Defesa para o Futuro do Exército) e umavez Lenine tinha conversado com ele. Uma só vez. E ainda se recordava dele,desde então? O que valia realmente paraKljawin esta voz?

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CARTA1ENINEKljawin deu uma volta pela sala, não vendo à sua frente senão a face sorridente,os olhos cerrados amigavelmente e a testa vigorosa e clara. Engoliu em seco edepois, com esforço, proferiu: Bom dia, Wladimir lljitsch!- Sente-se, relate o que há de novo em Donbass.Todas as bonitas frases preparadas desapareceram sem deixar vestigio. Kljawinagarrava os documentos com as duas mãos - estava tudo lá dentro e, em breve, elediria, ele iria dizer...Como que por teimosia, o fecho não se deixava abrir. Torturado pelo silêncio epela sua falta de jeito, ar rancou com toda a força a paleta e, de repente -quehorror, que vergonha! - da bolsa que se abriu, voaram para cima dos papéis deLenine um pedaço de sabão e uma esponja, uma esponja vulgar como se usa nobanho.Lenine desatou a rir, alegremente. Imóvel como uma pedra, muito vermelho,Kljawin olhava para os documentos e para o fecho que arrancara, inèapaz deerguer os olhos e de olhar Lenine. «Maldita Galka! Ela cavaqueara sobre o banhode vapor e metera-lha aquilo na pasta».- Tem que ir logo tomar banho em Moscovo?Sim.- Tomar talvez um banho de vapor? Então as saunas funcionam nos nossosbanhos em Moscovo?- Sim, funcionam.Lenine empurrou- para trás a cadeira de braços a foi, de casaco aborto, até àestante alta, envidraçada, andando de um lado para o outro.- Acho isso grandioso! Portanto, até os bolchevistas podem tomar banho devapor?Esfregou as mãos uma na outra com força, passou-as pelas costas, gemeu comprazer, como se tivesse vertido sobro si água quente duma tina. OsIPO N.' 498 --pág., 58,

olhos peszanejavarn e ria, ria, o bigoae ruivo deixava ver os lábios cheios, agorasemi-abertos.iNo riso não se expressava a satisfação do dono de casa que governa, mas antesalgo bem diferente: simples alegria desinteressada. Este sentimento, que delepartia, era tão humano, tão compreensível, que Kljáwin esqueceu imediatamente aquestão da esponja e perdeu a timidez; sentiu-se aliviado junto de Lenine.Kljawin pensou que cada minuto do dia de trabalho de Lenine era prócioso, quedevia poupar o seu tempo; por essa razão, começou logo a dar informações.Em cima da secretária de Wladimir lljitsch estavam duas velas de estearinao. Astorcidas negras, carbonizadas, testemunhavam a ruína económica que,furiosamente, tinha atingido o país e que também aqui se evidenciavam, poistambém aqui de vez em quando caía a tempestade - sempre que as turbinas devapor da central eléctrica de Moscovo estavam paradas. Lenine sentou-se,levantou-se logo a seguir outra vez e empurrou as velas para o lado - elasocultavam o rosto de Kljawin.

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Fincou os cotovelos na mesa, encostou o peito, para estar mais perto:semi-corrou o olho esquerdo, a sobrancélha mostrava uma ruga funda, o rostodenunciava tensão concentrada e viva. De vez em quando, um sorriso maliciosopassava-lhe pelo rosto e, algumas vezes, levantava o olhar inquiridor paraKljawin, um olhar que parecia penetrar o outro inteiramente.'Não sentindo já timidez, não se apercebendo de qualquer barreira junto deLenine, Kljawin falou, arrebatada e apressadamente, das suas tentativas falhadas,das suas ideias e dúvidas.- Vale como um axioma, Wladimir Ilitch, que temos de inventar algo inteiramentenovo, algo em princípio diferente dos métodos de trabalho capitalistas. - E entãolançou uma ideia: -, Porquê, a dizer a verdade, porque não se havia de recorrer aosalário por ajuste, ao elementar salário por ajuste, sobre o qual já escrevera Marx?Porque não?- Assim, simplesmente? Ora, continue...- Há mil e oitocentas pessoas: o mesmo para todas. Não se poderiadistribuir o pão de outro modo? Não se poderia repartir como remuneração pelotrabalho, pela produtividade e não como simples pertença da classe proletária? Osnossos sindicatos consideram isso uma heresia, custou uma grande batalha, mas,apesar disso, introduzi em Março o sistema do pão como remuneração e aquiestão,Wladimir llitch, os resultados.Kljawin tirou do bolso uma folha,um diagrama, e estendeu-6 sobre a mesa. A linha vermelha, que primeiro s4 torciaalgures lá no fundo, elevava-se abruptamente e subia por fim, descrevendo umacurva comprida, por cima da linha negra, que indicava a produtividade de ummineiro no ano de 1913.O olhar de Lenine acompanhava as linhas, detinha-se nos números o nasexplicações.Como se processava antes esta remuneração? Por que trabalho recebe um mineiro,digamos, quilo e meio de pão? Há normas comprovadas?- Realizei onze conferências sebre tabelas. Estou dias inteiros reunido com ostrabalhadores de certa idade.- Está bem. Está bem. Continue.Lenine tornou-se mais animado e perguntou, interessado, alguns pormenores: -Como se organizam as conferências de tabelas, quais as questões, obstáculos epropostas que daí surgiam. - Kljawin sentia uma ilimitada felicidade, pois via queas suas comunicações acertavam em cheio, que llitch se interessava pelos maispequenos pormenores sobre o que se tinha conseguido em Staro-Petrowsk.Kljawin falava, arrebatado, involuntariamente referia-se a si próprio, ao seu papel,aos seus feitos e vivências. Sem rudeza, mas intransigentenente, Lenine puxou ofio da conversa para outro campo - inteýessavam-lho os factos que caracterizavma vida dos operários de fábricas.- Esse sistema é simples? São es operários capazes de o compreender? Nãocomplicou demais, não o tornou demasiado dificil de entender? Não há nenhumareclamação?

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Kljawin puxou dos livros de escrita, nos quais estava registado o montante daprodução, as senhas de liquidação de contas dos operários e os vales para levantaro pão. Estava meio levantado e, estendia os papéisTEMPO N.* 498 - pág. 59

diante de Lenine. Este observou tudo atentamente e faz novas perguntas. EmMaio de 1921, depois de três anos de guerra do comunismo, o salário por ajustesignificava para a República soviética uma descoberta.Depois de ter analisado os papéis, Lenine encostou-se para trás e exclamou: -Teríamos que discutir isto num congresso de sindicatos. Mas nós ocupamo-nosmais de discussões gerais, em vez de seleccionarmos, entre centenas de exemplos,um único válidoi para o estudar e reproduzir.Está bem, está bem a sua Staro-Petrowsk. Está em ordem!Olhou pela mesa, fez estalar os dedos, procurou algo, agarrou-o por baixo dodiagrama e tirou um pequeno bloco de papel de carta com o timbre do Presidentedo Conselho dos Delegados do Povo; com letras grandes e enfticas escreveuqualquer coisa, sem corrigir uma única vez.Kljawin nada mais podia fazer, lançou o olhar ao papel e leu o cabeçalho as linhasque Lenine escrevia eram dirigidas aos operários da Staro-Petrowsk.Lenine assinou, pousou a caneta, arrancou a folha do bioco.e estendeu-a aKljawin.- Leve-lhes isso - disse, e, logo a seguir, perguntou outra coisa: Que tal vai a vidapor lá em'Donbass?Fez ainda mais perguntas sobre Donbass e depois disse: - Sabe, c'amarãdaKljawin, não se detenha muito tempo em Moscovo, regresse dentro em pouco aotrabalho. Virão dias difíceis, o futuro está mau.Ao levantar-se, Lenine informou-se sobre a saúde de Kljawin e dissu que, se fossenecessário, a sua secretária o ajudaria a fazer todas as compras em Moscovo.Kljawin compreendeu que era tempo de ir o despediu-se.Alguns dias depois Kljawin estava de novo em Staro-PetroWsk. Como nos anosanteriores, também desta vez, nos meses de Primavera, as condíções deabastecimento, o fornecimento do pão necessário, particularmente difícil,tornavamse alarmantes.O racionamento do gro não chegou a replizar-se: em Staro-Petrowsk- cortas carruagens de mercadorias foram desatreladas no. caminho .e [evadaspara outro lado. Kljawin galopau de noite com uma ordenança atéBachmut, a quarenta quilómetros de distância.Não havia outrora nenhumas luzes que iluminassem, à noite, DonbassGorlowka,que se situava a meio caminho, não se divisava à distância pelos candeeiros, maspor pequenas labaredas de enxofre, azuis e tremeluzentes, que se avistavam nosvazadouros do lixo, amontoados durante décadas.Kljawin chegou a Bachmut ao nascer do sol.Apesar de hora tão matinal, estavam diante do edifício do liceu feminino, ondeestava agora aquartelada a central de abastecimento do exército, em filascompactas,como para o moercade anual, os cavalos -selados ou atrelados. Umasentinela vigiava a entrada; lá dentro as portas eram constantemente abertas com

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violência e fechadas com uma pancada; soavam vozes nervosas e excitadas; nascar roças e no chão dorminam pessoas que, provavelmente, esperavam aqui desdealguns dias.Kljawin mostrou o cartão de livre trânsito e entrou no edifício. O director interinoque, normalmente, despachava todas as questões correntes, não estava. Noscorredores e na antecâmera esperavam directores de fábricas, encarregados dosabastecimentes, presidentes de comités de fábricas e de minas, com expressãosombria, até serem recebidos. O director da Central, Jepifanow, estava sentado aotelégrafo em ligação directa; na sala do telégrafo a sentinela não deixava entrarninguém.Kljawin foi até à porta; tentou passar, com os papéis habituais, mas a sentinelarecusou sem dizer palavra.-Vai para o diabo. Deixa-me passar tenho uma carta de Lenine! gritou Kljawin,desesperado.Tirou o documento da carteira, dasdobrou-o, a sentinela viu o timbre doPresidente do Conselho dos Delegados do Povo, a assinatura de Lenine: hesitouum segundo - Kljawin alcançou a porta e precipitou-se na sala do telégrafo.Aí dentro martelava o que escrevia Morse, lentamente a estreita tira de papel iasendo empurrada para foraJepifanow levantou os olhos que observavam,perturbados, vermelhos de insónia; franziu as sobrancelhas a pronunciou, numresmungar: - Rua!TEMPO N. 498 - pég. 60498 - págW 60TEMPO W.

Nada de conversa! Tratar tudo com o director interino, com o director interino!____Depois dirigiu-se, a Kljawin - um hómem forte, de ombros largos - à voltadas suas botas enrolavam-se muitos, muitos metros da tira de Morse e empurrou-o; o sol entrava pela janela, mas sobre o homem que escrevia Morse brilhava umalâmpada incandescente. Aqui tinha-se perdido a noção do dia e da noite.Kljawin, ervorosamente, estendeu a mão com a carta de Lenine. S Jepifanowpegou nela, leu, a suaexpressão serenou, e disse: - Isto está mau, camarada Kljawin. E vai ficar aindapior. Que posso fazer?Kljawin começou a falar: - Não se deve abafar o importante, é paira isto queLenine chama aqui a atenção; deve incrementar-se de qualquer modo a Staro-Petrowsk; cada saco de cereal que para aí se forneça será repartido, não segundo oprincípio «O mesmo para todos», mas segundo o rendimento efectivamente:apresentado.Jepifanow escutava. Era continuamente distraído, chamavam-no ao aparelho.Nervoso, mexendo o queixo rude e grosso, estabeleci3 ligações com estações decaminho de ferro, seguia a trajectória de cada comboio que se aproximava deDonbass, a trajectória de cadacarruagem demercadorias com víveres, m a n ti nh a contacto com os cais de embarque, ditava ordens concisas e urgentes.E disse a Kljawin: - No que diz respeito ao cereal, não te prometo absolutamentenada. Reduziram-me os fundos para a metalurgia a uma quarta parte, o que se

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passa nas fábricas pertence a Charkow. Provavelmente nós não podemos deter oplano por sua causa. Por mim, posso conceder-lhe algumas carruagens de óleo decozinha. Jepifanow ostentou um fraco sorriso: - Pois está bem, por causa dellitch, mais uma carruagem de R milho.Kljawin não desistiu ainda, negociou uma carruagem maior e ainda mais metadede outra carruagem.Jepifanow tomou nota dos números das carruagens, chamou asecretária. mandou copiar as ordekis e aconelhou Kljawin a procurar aindaWladimirow o delegado do povo ucrariáno para o comércio e abastecimento.- Talvez ele possa, da sua parte. ceder alguma coisa mais.TEMPO N. 498 - 0ág. 01

Onde está ele presentemente?- a estação Woiowacha. Ondeele está de manhã, não se sabe.De Bachmut, Kljawin foi até Chaikow, até à administração central da indústriapesada. Ai insistiu por-uama alteração do sistema de repartição, que projectava adistribuição de *viVeres segundo o número de pessoas.Não conseguiu nada e saiu praguejando e chamando nomes: ao presíidenotéchamou um 'Lorde da beneficiência».Correu atrás do delegado do povo para o comércio e abastecimento, cujo comboioespecial circulava nas estações de caminhode ferro da Ucrânia.Com toda essa movimentação de um lado para outro conseguiu' lucrar isto eaquilo, prometeram-lhe muito, mas o resultado era insignificante para aorganização Staro-Petrowsk, que contava muitos milhares de cabeças.De novo na fábrica, Kljawin conferencioü com a direcção do partido e, à noite,prestou' informações sobre a situação do abastecimente, numa sessão do comitéda fábrica. Os representantes da secção da empresa, na maior parte os operáriosmais velhos sem partido, escutavam, de semblante sombrio, enquanto ele falavaem voz baixa. Relatou as dificuldades com o fornecimento de cereais, explicou-lhes de que modo se tinha esforçado, enumerou de que modo tinha conseguid'lucrar algurma coisa e de quantas carruagens se - tratava. De cabeça baixa, comose pensasse em voz alta, prestou contas de tudo.o essencial tinha sido proteger o tra'balho da empresa, fomentar a produção diáriade combustível. Isto é que decidia o êxito .da batalha. Para os mineiros devia, emtodo o caso, man-' ter-se a possibilidade de ganharem um quilo ou quilo e meio depão por turno, com 'base num salário sem limites.' Quanto ficava então para asoutras' profissões? Ele somou, dividiu; dava uma quarta por cabeça em cada'dia.Tinham que aguentar-se assim até às,-novas colheitas.'Kljawin terminou o seu discurso, sentou-se, mergulhou em reflexão e, de repente,fez-se um silêncio que o atinaiu como uma nancada. Levantou a cabeça. Osoperários ficaram calados. Mais próximo dele estava sentado Rodíon Nikitin, umhomem alto, de biqode, que trabalhava no alto_forno. tinha lágrimas nos olhos.Kljawin porTEMPO N,° 498 - pág. 62

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cebou: uNikitin tem uma família numerosa-. Nikitin passou a mão pelos olhes,mas nem uma só lágrima roIava pelas faces escurecidas pelas chamas constantesdo alto-forno.Kijawin ia olhando para os rostos- nenhum se mexia, todos permaneciam calados.Durante os anos de 'Revolução, Kljawin experimentara muitas dificuldades: arevolta contra-revolucionária em Kasan, a retirada de Warschau, a morte demuitos camaradas. E, no entanto, estes minutos de silêncio, estas lágrimasreprimidas com esforço, o simPles facto de ficarem calados - isto era o maisinquietante. Se as pessoas tivessem protestado, vociferado, gritado, teria sidomuito mais fácil.Depois de breve discussão o comité da fábrica aprovou o plano dê distribuição devivere,De dia para tua a sittpação tornava-se mais difícil. O mês de Julho de 1921 foi omês terrível para Donbass. Em Maio, Donbass tinhq produzido vinte e quatromilhões de «Pud» de carvão, em Junho dezoito, em Julho nove. Isso nem sequerchegava para a extracção, por meio de bombas, da água dos poços.'As maiores minas ene-ntravam-se débaixo de água, perdiam-se reservas mineirascompletas. As provisões de combustível nas estações de caminho de ferro, queantes tinham sido instaladas por precaução para mais longa necessidade, já não semediam agora por dias mas por horas. O fornecimento de madeira para as minasde Zarizyn terminou, chegou quase a desaparecer inteiramente o tráfego nas viasde abastecimento do Cáucaso; muitas vezes o carvão não chegava para aslocomotivas, que deviam ir buscar cereais á região de Kuban.Extinguiram-se os altos-fornos em Makojewka e1 Jusowka, que tinham sidopostos em actividade no princípio desse ano, o primeiro ano de paz para aRepública Soviética. Em todo o vale do Don apenas se conservava ainda o fornode Staro-Petrowsk na sua carreira ardente.Para maior desventura, caiu sobre Donlbass umVerão quente e seco. Sopravacontinuamente o terrível vento seco, Yrrendo grãozinhos de oó negros,chamuscados, sobre a estepe. Nos aços amontoavam-se os cavalos esgotados, semforças. Não havia pasto, os prados estavam queimados, nas aldeias tinham que tirar a palha dostelhados. A noite traziam os cavalos dos poços e eles arrancavam - cegos,emagrecidos - um pouco de erva dura e seca. Pela manhã mandavam-nosnovamente para baixo. Nas velhas vagonetas de Donbass mal cabia um cavalo;atavam-lho as quatro patas, puxavam com força e assim balançavam o animal,que tremia e estremecia, na vagoneta.Estes três meses passou-os Kljawin constantemente no caminho entre Staro-Petrowsk o Bachmut. Nos barrancos da estepe, cobertos de árvores e matagalescondiam-se quadrilhas, que no Verão só disparavam do s01ol Kljawin mantinhaa arma sempre àmão e por duas vezes, no caminho, se servIu dela num tiroteio nocturno.Empregava toda a força da razão e da vontade para arranjar uma, duas carruagensde cereais, lentilhas ou óleo de cozinha, cem ou duzentos «Pud,, do arenquesvermelhos, cor de ferrugem, três ou quatro barris de gor dura.

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E, ,não obstante, dias havia em que os operários nem sequer recebiam uma quartade algo que se assemelhasse a pão.Num destes dias Kljawin recebeu inesperadamente uma chamada do grupo dopartido na divisão dos altos-fornos.-Que se passa?- O secretário do partido - respondeu, excitado: - Verás. Deixa tudo e vem!

Galgando alguns degraus de cadavez, segurando a pistola, que oscilava de um lado para o outro, Kljawin desceu, acorrer, as escadas do andar superior do escritório principal e apressou-se para osaltos-fornos. Até mesmo no ar, na sufocante atmosfera de Julho, ele pressentiualgo de sinistro.Alguns segundos depois compreendeu - parou de súbito, apurou o ouvido.Faltava no ar o bramido persistente do alto-forno e o ruído cadenciado do motor.A fábrica imobilizara-se. Kljawin sufocou, através dos dentes apertados unscontra os outros, mas continuou.A distância, ele avistava já umamultidão apinhada no pátio da fundição; vozes sonoras confundiam-se num surdobramido. Um subiu ao andaime, começou a falar; os outros colocaram-se à voltadele.Nos muros rugosos da mina, nacouraça negra do aquecimento, nas vagonetas, na cabina do guindaste, por, cima epor baixo - por toda a parte, estava escrito a giz com letrasenormes: Pão! Pão! Pão!Kljawin reparou no secretário do i partido, Gluschko, que vinha a correrdo outro lado. Pálido como a cal das parede.s, Gluschko ml'ý.mií.flIII- iýMmultidão foi rompendo até ao loçal, : para onde, agora mesmo, tinham feitodescer o homem. Kljawin correu atrás dele. Deslocando-se com movimentos deombros e de cotovelos, apertando a pistola, aguentando os empurrões +, malintencionados que as pessoas lhe davam, tomi semare avançando.Gluschko foi o primeiro a atirar-separa o fundo de ferro de uma carroça, que estava virada. Kjawin saltou atrás dele.Alguns comunistas da fábrica tinham já aborto caminho até aí, outros iam,justamente a avançar por entre a multidão. Kljawin perdeu o boné, arrancaram-seos botões do casaco castanho da farda, o colarinho estalou, deixou a descobertouma camisa sujae o peito nu.Uma multidão constituída por milhares de pessoas desesperadas lançou-se sobreos dois, que estavam lá em cima. Ultrapassara-se a proporção antecipadamentedeterminada, até ao ponto do as energias não poderem ser dominadas.Kljawin olhou para aqueles rostoscontorcidos, enegrecidos pelo pé do minério e do carvão. À volta brilha-vam olhos cintilantes. Os op ies- plto, e, na rigidez estranha da fábri tavamcobertos de 'farrapos, muis ca imobilizada, fo + repetidamen. traziam bonés feitosde luvas de e~ te ouvidas as pulavras do Lenine. Paque eles próprios tinhamcosido. lavras que levaram as pessoas a esGluschko esticou o braço e come- catar

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atentamente, gravaram-se-lhes çoua gritar acerca do dever do pro- na memóriapor muito tempo, senão letariado revolucionário. Não o deia- mesmo eternamente.ram continuar a falar; a multidAameaçando, apinhou-se à volta da a. »..A situação da classe operàtria é roça.começou aqui e. ali a desrdem, desesperadamente difícil. E a. sofre mãos negrasagarraram-se ao blusão horrivelmente...» militar de Gluschko, tentaram rasgá-lo.Neste momento Kljawin cometeu um llitch conseguia facilmente qualerroimperdoável, grave - pegou in- quer coisa que é o mais difícil quevoluntariamente na arma- Entre gritos existe no mundo: dizer, simples enatugerais e selvagens, um operário, ho- ralmente, a verdade. Ela vai aoenconmem alto e forte, saltou para a car- tro, das pessoas, impressiona-as,subroça, deitou abaixo Gluschko com um 1u~a-as, só a verdae a verdade dura sóempurrão, e rasgou a sua própria e crua. camisa, na parte da frente, como sé.estivesse fora de si..«........ .í... ,..Não existe, de momento, outra- Atira! Uma pessoa não podo vi- - alternativa. Tem de empreender-se um verassim! Dispara, cão! esforço único, incomparavelmente granKljawinreconheceu Rodion Nikitia de, um -esforço, do qual, até agora, o operário doalto-forno, que, na se á- ,enhum&ctasse foi capaz, nem nenhusão do comité dafábrica, quase tinha - - clase, a não ser a classe operachorado. Kljawin perdeuimediatamen- ria, a classe mais revolucionária, a te toda a coragem, toda aesperança. mais heróica na História da Humani Percebeu que lhe faltavam asforças dade ... para se tornar senhor da multidão de. - , ua Nkitin leu em voz altaas sesperada. Olhou à sua volta. Atrás .ltimas ~s da carta, passou a mao de sierguia-se, silencioso, o alto-frir-»ela testa, olhou à sua volta e pergunno, queestava parad; amah e -tu em voz baixa: - E agora, canmapróprio, que não tinhades do -rada? nunca durante os quatro anos- dp Rq C- td iemportuaram, cada uivolução, seria um cadáverarrefei ~,- vera letra de ne, quis apalpar estaria tambémparado. p folha de papel com os seus IprópriosO operário do alto-forno dirigiuse ~s.- n&ktin passou a cart4 a outro: então,lentamente, de peito fo e nu.~ 1ida novamente, circulavana multipara Kljawin -os lábios contraíd«. de mão em mão. torcidos, um pouco de espuma branca Acarta não voltou para Kljawin. aos cantos da boca. Klj sentia » so usguiu vermais. Foi como, que em breve iria suceder g de ~ se a carta se fosse desfazendo,se fosrivel. Então, de repente, como que lI- se dissolvendo entre aqueles a quemminado, meteu a mão ao bolso, tirou ora dirigida. Soube-se mais tarde que acarteira e gritou, rouco: tinha ainda sido lida outra vez. lá em- E a carta de Lenine? Já a esque- "xó na mna. No entanto, ignoravqa-s coram?quem a possuía ou quem a tinha visteAgarrou depressa no w~ ecios em últiuio lugar.e com um movimento brusco, enten- A carta está, provavelmente, perdideu-opara Nikitin. 0 operário pegou- da, sem remédio, apenas dela ficou es-lhe,desconfiado, desdobrou-*, viu a te histériaassinatura, as suas mãos tremeram, -'Éainda necessárie dizer-se auo o o rosto tornou-se novamente claro e alto-forno deStaro-Ptrowsk não secomeçou a decifrar, em voz alta, as extinguiu? Foi mantidoem actividade linhas que Lenine tinha escri. durante todo o Verão de 1921, oúnico

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Nem todos tinham ainda compree.- no sul, até à colheita seguinte.ddO o que se passava à sua frente, na E esta história da carta de Lenine carroçavirada; às ondasde barulho di. vive ainda hoje entre os velhos operá minuiram,porém, Imediataente, s* rios de Donb s. breveio gradualmente um silêncioe s-Até pare. uma lenda.. . .. . . . TEM PO N .' 498 - pág 63

.....__ PROBLEMATema: EXTREMOS MUNDIAISHORIZ. 1 - Maior ilha do mundo (2 175 600 km2). 2 - Habitamos. 3 - Separe;semítica. 4-Ouro (s.q.) elem. compos. de palavras que exprime a ideia de «ar.roz»; Einsténio (s.q.). 5 - Actínio (s.,q.) repercussão; nota musical. 6 - Lugar. 7 -Tanto (inv.) parente; despida. 8 - Perto; entoais. 9 - Berra; palácio (inv.). 10 -Anterior sigla do INIA; além; Ipréf. quedesigna «boca-. 11 - sufixo de agente ouprofissão; país mais populoso do mundo (cerca de 900 000 de habitantes); contr.de prep. e art.VERT. 1 - Roteiro; cidade mais populosa do mundo (cerca de 13 000 000habitantes). 2 - Pron. Possessivo; sentir alucinações. 3 - Princípio; (fig.) maiordepressão de Ãfrica e segunda mundial (134 metros abaixo do nível médio daságuas do mar). 4 - Rio de maior extensã* e caudal do mundo (6677 km): curada. 5Maior elevação montanhosa do mundo (8845 metros); exclamação de espanto. 6 -Estuda; elevei: cento e cinauenta e cinco romanos. 7 - Rio de maior bacia fluvialdo mundo (7000000 km2); pref. de neqacão. 8 - Elem. de compos. de palavrasque exprime a ideia1 2 3 4 5 6 7 8. 910112 3478i911"de novo; alam. comp. palavra que exprime a ideia de ovo. 9 - Direcção dosServiços de Agricultura (sigla); País de maior densidade populacional (25 000habitantes por km2). 10 - Monarca; Mãe d'Água (Bras.). 11 - Maior deserto domundo - 7 178 000 km2 (inv.) maior lago do mundo (438 000 km2).PALAVRAS CRUZADASSOLUÇÃO1 2 34 5 6 7 8911.no M G nonoRf o BOMã E aM@- ama o p'1nuili8uExiocT'YL~

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8 ~<491O U ~E UTEIMPO %s.' 498 - pág. 64Sim, quanto à chuva artificial, temos feito progressos...,lva cuaa -*plv scra s -- paava cru-..

*kIOB1MIPo offseto tipografiao todo o génerode impressosjornaislivrosrevistasGRAFICA

BANDEIRA DO ZIMBABWESimbolo das cores e desenhos:VERDE - Riqueza agrícola AMARELO - Riqueza mineral VERMELHO -Sangue derramado pelo Povo PRETO - Continente africano BRANCO - PazESTRELA - Internacionalismo PÁSSARO - Símbolo histórico do poder estatal