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SUMÁRIO Introdução .................................................. ............................................................. .............3 Capítulo 1 – Ergonomia.................................................... ....................................................4 1.1 – O que é Ergonomia.................................................... ...................................................4 1.2 – Histórico ................................................... ............................................................. ......4 1.3 – Benefícios da Ergonomia.................................................... .........................................6 1.4 – A Evolução da Ergonomia.................................................... ........................................8 Capítulo 2 – LER.......................................................... .........................................................9 2.1 – Conceito..................................................... ............................................................. ......9 Capítulo 3 – DORT......................................................... ......................................................15 3.1 – Definição.................................................... ............................................................. .....15 3.2 – Histórico.................................................... ............................................................. ......16 3

Monografia Pós

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Page 1: Monografia Pós

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................................3Capítulo 1 – Ergonomia........................................................................................................41.1 – O que é Ergonomia.......................................................................................................41.2 – Histórico ......................................................................................................................41.3 – Benefícios da Ergonomia.............................................................................................61.4 – A Evolução da Ergonomia............................................................................................8Capítulo 2 – LER...................................................................................................................92.1 – Conceito........................................................................................................................9Capítulo 3 – DORT...............................................................................................................153.1 – Definição......................................................................................................................153.2 – Histórico.......................................................................................................................163.3 – Conseqüências do DORT.............................................................................................173.4 – Etiologia.......................................................................................................................183.5 – Mulheres e DORT........................................................................................................193.6 – Sintomas e estruturas comprometidas..........................................................................21Capítulo 4 – A atuação do profissional de fisioterapia nas empresas...................................244.1 – Histórico da fisioterapia preventiva.............................................................................244.2 – Fisioterapia e Saúde.....................................................................................................264.3 – O processo de Intervenção preventiva.........................................................................434.4 – o fisioterapeuta do trabalho..........................................................................................284.5 – o programa de prevenção.............................................................................................324.6 – A interferência do Estresse no Trabalho......................................................................33Capítulo 5 – Fisioterapia preventiva nos casos de DORT....................................................355.1 – Intervenção Terapêutica...............................................................................................355.2 – Estratégias para o desenvolvimento da intervenção preventiva...................................365.3 – Práticas efetivas............................................................................................................395.4 – O alongamento muscular..............................................................................................405.5 – Recursos pré cinéticos..................................................................................................425.6 – A presença do DORT no cotidiano..............................................................................425.7 – Ginástica laboral e exercícios laborais compensatórios..............................................435.8 – Ginástica laboral.........................................................................................................45Capítulo 6 – Considerações Finais.......................................................................................49

Bibliografia .........................................................................................................................51

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Page 2: Monografia Pós

Introdução

A ação fisioterapêutica vem crescendo nas empresas, devido ao

reconhecimento pelos empresários sobre a importância de investimentos em

ações preventivas em suas empresas, para combater doenças osteomusculares,

que atrapalham o rendimento dos funcionários, e consequentemente a

produtividade da empresa. Os empresários brasileiros conseguiram compreender

que investir na saúde do trabalhador é importante para o desenvolvimento do seu

negócio.

Essa relação entre empresa e trabalhador é uma relação complexa, e

existem pessoas que acreditam que trabalhar com máquinas é mais fácil do que

trabalhar com seres humanos. Essa idéia é justificada pelo fato dessas pessoas

acreditarem que caso não haja

imprevisto, como por exemplo, problemas mecânicos, as máquinas

desempenharam um trabalho perfeito.

Porém, essas pessoas se esquecem de que a relação com o ser humano,

nos seus devidos graus e medidas, é parecida com a relação com a máquina, ou

seja, ou ser humano necessita de boas condições ambientais, físicas, alimentares,

assim como a máquina, precisa de combustível, manutenção, etc. Portanto, para

obtenção de um local de trabalho saudável e de uma maior produtividade, é

necessário que se invista na qualidade de vida e, aí incluída, a saúde do

trabalhador.

Portanto, a intenção desse trabalho é realizar, através uma pesquisa

bibliográfica, um histórico sobre a ação fisioterapêutica no mundo do trabalho,

mais especificamente, como se desenvolver essas ações nas empresas. Para

isso, foi necessário enfatizar duas das doenças mais comuns, quando se trata do

trabalho em empresas: a LER e o DORTs. Esse trabalho pretende, portanto,

enfatizar essas duas doenças, descrevendo-as e, entendendo como a atuação

fisioterapêutica pode ajudar nesses casos.

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Page 3: Monografia Pós

Cápitulo 1. Ergonomia

1.1 O que é Ergonomia

Para pensarmos a ação fisioterapeutica nas empresas é antes necessário

compreender o conceito de ergonomia. A palavra ergonomia é derivada de duas

palavras gregas: Ergos, que significa trabalho, e Nomos, que significa leis,

normas, regras. Portanto, Ergonomia é a ciência que estuda a relação entre o

homem e o seu trabalho. Esse estudo é feito levando em consideração a

diversidade de aspectos contidos nessa relação como, por exemplo, o

equipamento e o ambiente. Essa é uma das definições de Ergonomia, porém,

existem outras, que na sua essência são substancialmente parecidas com essa,

como, por exemplo, a seguinte definição: “Ergonomia é a ciência que objetiva

adaptar o trabalho ao trabalhador e o produto ao usuário" (MEISTER; 1998).

Portanto, a Ergonomia é uma ciência que trata das relações de trabalho, e

que procura soluções para problemas na relação entre homem e máquina. A

Ergonomia é, então, responsável por solucionar os problemas relacionados ao

homem, e sua relação com a tecnologia presente no seu trabalho.

Assim, a Ergonomia é de fundamental importância para uma melhor

qualidade de vida do ser humano, já que, a maioria dos seres humanos adultos

trabalha e, deste modo, desenvolve um relacionamento com seus instrumentos de

trabalho. Assim, essa ciência se preocupa em estudar o homem em seu ambiente

de trabalho, suas relações com este ambiente, e tudo o que o compõe, com a

finalidade de solucionar problemas existentes nessa relação, visando sempre a

melhor qualidade de vida do trabalhador.

1.2 HISTÓRICO

A História da Ergonomia é uma história antiga, já que ela está presente

nas sociedades humanas desde muito tempo. Isso fica claro, se pensarmos as

primeiras relações de trabalho do homem, já na pré-história. Nesse período, os

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Page 4: Monografia Pós

homens criaram ferramentas, adaptando parte na natureza, com a finalidade de

facilitar o seu trabalho. Um exemplo disso é a criação de machadinhas, que era

composta por pedras e por madeira.

A finalidade delas era facilitar o trabalho do homem, e podia ser utilizada,

também, como instrumento de caça. Um outro exemplo é a criação da roda, que

foi de fundamental importância para o desenvolvimento das sociedades humanas.

A criação da roda veio como modo de tornar mais fácil e rápido o transporte de

cargas e, mais tarde, a locomoção de seres humanos e cargas.

Seguindo o curso da história, temos, no final do século XVIII, a

Revolução industrial, onde ocorre uma significativa mudança no modo de

execução do trabalho. Com o nascimento das fábricas e da produção em massa, a

produtividade se tornou uma questão central para o avanço do sistema capitalista,

que estava em processo de constituição. O trabalho nas fábricas foi intensificado,

em prol de uma maior produtividade, porém as condições de trabalho nessas

fábricas eram precárias e desumanas.

Além disso, esse era um momento de elogio à máquina, ou seja, de

enaltecimento de suas qualidades e, conseqüentemente, de desvalorização do

trabalho do homem. Todo esse contexto histórico proporcionaria conseqüências

futuras.

No começo do século XIX, a situação sobre as condições de trabalho e o

que elas estavam produzindo nos seres humanos era evidente, e foi, então, que

se iniciaram as pesquisas na área da fisiologia do trabalho. Inicialmente, essas

pesquisas foram desenvolvidas nos EUA, onde surgiu o laboratório de fadiga, na

Universidade de Harvard.

É de fundamental importância compreender que, o surgimento das

pesquisas e do laboratório, foram reflexo da situação dos anos anteriores, ou seja,

da precarização das condições de trabalho e, conseqüentemente, da saúde do

trabalhador.

Os estudos realizados nas fábricas apontaram o óbvio, ou seja, o sistema

de trabalho aplicado nas fábricas afetava diretamente à saúde dos trabalhadores

submetidos a esse processo de trabalho. É diante desse contexto que surgem

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Page 5: Monografia Pós

entidades responsáveis por cuidar da saúde dos trabalhadores e seus direitos. As

pesquisas realizadas sobre as condições dos trabalhadores nas fábricas foram

úteis para a reformulação do Taylorismo.

O Taylorismo era o sistema de produção predominante na época.

Segundo esse sistema, o trabalho deve ser programado para que, cada tarefa

específica seja executava em um determinado tempo e que, para cada

especificidade do trabalho seja usada uma determinada ferramenta, visando

sempre a maior produtividade do trabalhador.

Durante a Primeira Guerra Mundial, criou-se uma necessidade de

aumentar a produtividade de armamentos e, nesse momento, fisiologistas e

psicólogos foram convocados para realizar esse trabalho. Foi também, nesse

momento, que foi criada a comissão de saúde dos trabalhadores, na própria

indústria de armamentos. Mesmo com o fim da guerra, a comissão permaneceu

ativa e prosseguiu realizando estudos voltados para as condições de saúde dos

trabalhadores. Essa comissão, surgida na Inglaterra, país pioneiro na revolução

industrial, recebeu, então, o nome de Instituto de Pesquisas da Fadiga Industrial.

Em seguida, a Segunda Guerra Mundial foi um momento que representou

a necessidade de investir em tecnologias para a criação de armamentos, aviões, e

tudo que pudesse ser utilizado em guerras. Essa necessidade de aprimoramento

das tecnologias também surtiu efeitos na relação entre o homem e o trabalho, já

que, durante esse aprimoramento, as máquinas foram desenvolvidas, adaptadas,

para que sua utilização se tornasse mais fácil e assim, diminuísse o percentual de

erros.

Após o término da segunda guerra, a questão da precarização do trabalho

ficou mais eminente. Devido a esse fato, em 1949, um grupo de pesquisadores

reunidos na Inglaterra, resolveu institucionalizar esse novo ramo da ciência,

destinado a pesquisas da relação do homem e seu trabalho e, finalmente, em

1950, esse novo ramo da ciência foi oficialmente batizado de Ergonomia.

No Brasil, a Ergonomia começou a ganhar visibilidade no início da década

de 70, e mais especificamente em 1975, quando apareceram os primeiros postos

informatizados. A partir de 1980, houve uma crescente demanda de atuação

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Page 6: Monografia Pós

profissional nessa área, e a necessidade de profissionais especializados em

Ergonomia.

Essa demanda surgiu devido ao enfático aumento de problemas nas

relações de trabalho no Brasil, especialmente nos digitadores, que desenvolveram

alterações osteomusculares. Na década de 90, a Ergonomia consolidou-se no

país como uma ciência de extrema importância.

1.3 Benefícios da Ergonomia

Uma das razões de investimentos em programas de prevenção a DORT

(Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), nas empresas e a

relação custo/benefício, produzida por este investimentos. Investir na saúde do

trabalhador, ou mesmo na prevenção de doenças destes, significa investir

diretamente em sua empresa, e, além disso, o trabalhador saudável produz mais.

Como as empresas estão interessadas em sempre manter ou aumentar sua

produtividade, os investimentos na saúde dos trabalhadores foi uma das

estratégias adotadas por estas.

Companhias gastam milhões de dólares por ano na manutenção

preventiva de suas máquinas. Não veremos razão para não fazermos o

mesmo com nossos funcionários.” (Peter Thigper).

Porém, para que seja integrado a uma empresa, um projeto de prevenção

deve provar que sua relação custo/benefício é satisfatória, ou seja, ele tem que

participar da lógica do capital, da lógica de lucratividade das empresas. No

entanto, quando tratamos dessa questão, é necessário salientar que os resultados

desse processo se dão a longo ou médio prazo, ou seja, não são imediatos.

Essa questão deve, portanto, ser refletiva conjuntamente com os

empresários, levando sempre em conta o futuro da empresa, e a melhor qualidade

de vida e condições de trabalhos que essa atuação pode proporcionar. Na

verdade, como os resultados não são imediatos, existe uma contradição com a

lógica do capital, que está sempre relacionada a produtividade, lucratividade, e

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Page 7: Monografia Pós

estes são fatores relacionados a um curto espaço de tempo. Esse tipo de conduta

não leva em questão as condições humanas e a saúde do ser humano que

executa esse trabalho. É uma visão completamente materialista, que visa apenas

os lucros previstos de acordo com a produtividade alcançada.

Essa questão é contraditória, pois, quando se investe na qualidade de

vida, na saúde do trabalhador, a produtividade, o lucro, deixam de ser fatores

centrais e absolutos no ambiente da fábrica. O investimento preventivo vai além

da atuação fisioterapeutica, é necessário investir em esportes, socialização,

cultura, tudo em prol de uma melhor qualidade de vida para o ser humano que

desempenha esse trabalho. Essa melhor qualidade de vida vai refletir no trabalho,

mas essa é uma questão que demanda tempo.

Portanto, a conclusão que podemos obter desse processo é que, para

que se possa atingir uma melhor qualidade de vida, é antes necessário estreitar a

relação entre custo e benefício. Uma das soluções para que se incentivasse esse

processo foi a atuação do governo, através dos certificados de qualidade. Assim,

as empresas que optaram por investir nesses casos tiveram, como retorno, o

certificado ISO 9000, que gera a possibilidade de uma visibilidade mundial para a

empresa.

1.4 A evolução da Ergonomia.

Com a evolução dos meios de comunicação, existe hoje uma maior

possibilidade de acesso a informação. Essa democratização da informação teve

reflexo, também, no caso da Ergonomia e da sua atuação nas empresas. Diante

dessa maior facilidade de acesso a informações, os trabalhadores estão mais

conscientes sobre essas questões. Além disso, a atuação dos sindicatos tem

ajudado a luta pelos direitos dos trabalhadores por melhores condições de

trabalho, e maior qualidade de vida.

A crescente competição entre as empresas é um outro fator que contribui

para o fortalecimento da Ergonomia, enquanto estratégia empresarial. Diante da

competição, as empresas que não oferecem as condições mínimas de qualidade

de trabalho e saúde para os trabalhadores perdem espaço no mercado. A

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Page 8: Monografia Pós

certificação de qualidade criou a necessidade de uma adequação a essa nova

realidade e, esse é, com certeza, um fator positivo, que mostra a evolução

Ergonomia, e das condições de trabalhos dos seres humanos, no curso da

historia.

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Page 9: Monografia Pós

Capítulo 2 LER

2.1 Conceito

Este capítulo tem, como pretensão, desenvolver o conceito de LER

(Lesão por esforço repetitivo). O que, a princípio, aos olhos de um leigo pode

parecer fácil, é uma tarefa um tanto quanto complicada, já que, o próprio termo

LER não segue a taxonomia habitual, usada na medicina. Nas definições

convencionais na medicina, a idéia de LER quase sempre se remete ao segmento

ou aparelho atingido.

O termo LER, por si só, pressupõe dois fatores: o esforço e a repetição,

que seriam as causas geradoras do problema. Essa é uma idéia que é valida para

a maioria dos casos de LER, porém, esses não são sempre os únicos fatores que

contribuem para gerar lesões.

Segundo Silverstein, existem inúmeros fatores que podem conduzir a

LER. Devido a essa diversidade de fatores, foi estabelecida uma nova

nomenclatura, LTC (Lesão por Traumas Cumulativos). Entre esses outros fatores

que contribuem na geração da LER, podemos destacar: a velocidade, temperatura

ambiente, a sobrecarga, etc. Esses são fatores importantes no aparecimento de

lesões. O termo LTC passou, então, a ser utilizado com maior freqüência,

principalmente em países de língua inglesa.

Hoje em dia, surgiram outras várias denominações. Dentre essas

nomenclaturas, a que ganhou maior visibilidade foi o termo DORT (Distúrbio

Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). Porém, devido a sua incidência

histórica, e por ser precursora no caso, a sigla LER, é usada no mundo todo. No

Brasil, desde o inicio das pesquisas sobre o assunto, a sigla LER foi a utilizada.

Devido, então, à sua precedência histórica, o termo utilizado com maior freqüência

é esse.

A LER se manifesta, na maioria das vezes, através de síndromes já

habituais para profissionais da ortopedia, reumatologia e clínica médica. O quadro

clínico denominado LER é uma indicação de que tais síndromes são resultados do

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Page 10: Monografia Pós

abuso das estruturas osteomusculares.

Portanto, o diagnostico da LER indica apenas a sua origem laboral, sendo

necessário, então, a definição da síndrome desenvolvida. Sendo assim, ao se

realizar um diagnóstico de LER, é necessário indicar a origem laboral (que possui

graves implicações, do ponto de vista sócio-profissional) e a síndrome que foi

desenvolvida.

A LER pode ser desenvolvida através do abuso da musculatura, e

também, em decorrência de um trabalho exercido em condições ruins, ou seja,

onde não existam condições ergonômicas adequadas. Ao se diagnosticar a LER,

é necessário que o profissional encarado dessa tarefa realize uma descrição

detalhada do local de trabalho da pessoa, assim como das funções e atividades

exercidas por ela, durante o seu trabalho, movimentos, horas de trabalho, ou seja,

tudo deve ser extremamente detalhado, para uma melhor exatidão do diagnostico.

A LER é caracterizada como uma doença do trabalho, e não como uma

doença profissional. Isso acontece devido à necessidade de se estabelecer uma

relação entre causa e efeito. A “doença do trabalho” pode ser conhecida também

como mesopatia, e a “doença profissional” como tecnopatia.

As doenças profissionais são aquelas em que o agente provoca a lesão,

independente da atividade que esteja sendo exercida pelos hospedeiros, isso é

claro, diante uma situação de trabalho que possibilite essas agressões

musculares. São exemplos de doenças profissionais as que são fruto da

contaminação, por algum tipo de metal pesado, como, por exemplo, chumbo e

mercúrio.

Perante a legislação vigente, não há diferenciação entre acidentes de

trabalho, doenças profissionais e doenças do trabalho, todas são entendidas da

mesma forma, ou seja, não há distinção legal para cada doença especifica.

É importante compreender que a LER é uma doença que se desenvolve

durante a atividade de trabalho, e que os sintomas se manifestam irregularmente,

ou seja, a LER não é uma doença aguda. Geralmente, os sintomas da LER se

manifestam após o termino da jornada de trabalho, ou quando há uma esforço de

maior intensidade. A dor provocada pela LER, em muitos casos, perdura até após

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Page 11: Monografia Pós

a jornada de trabalho, diminuindo, ou sendo menos evidente, no tempo em que o

trabalhador está em repouso.

Contudo, ela se acentua quando o ritmo do trabalho passa a ser intenso.

Entre os sintomas da LER estão o desconforto causado pela dor, a insônia e, em

alguns casos, o formigamento das extremidades e perda de força. Os sintomas da

LER atrapalham o desenvolvimento das atividades cotidianas da pessoa, como

abrir portas, mudar a marcha do carro, etc.

Caso as condições de trabalho permaneçam as mesmas, a LER continua

a desenvolver-se, progressivamente e, como conseqüência, aparecem novos

sinais, sintomas, que podem agravar a situação de outros grupos musculares, até

então, não atingidos. Portanto, quando está diante de situações inadequadas de

trabalho, ou seja, situações onde existe uma agressão dos músculos, onde se

exige um grande esforço laboral, a tendência é o surgimento de novas lesões.

Conjuntamente a todos esses fatores, adiciona-se o stress provocado por

toda essa situação. Esses são todos problemas graves, que, se não tratados,

tendem a aumentar e se tornar mais prejudiciais à saúde do trabalhador, com

passar do tempo.

É importante salientar que, existem fatores psicossociais envolvidos

nessa questão, que, também, contribuem para o agravamento da condição do

trabalhador. O ambiente inadequado, não harmonioso de trabalho, pode gerar,

como conseqüência, fatores psicossociais, como o stress psicológico, que,

associado a fatores ergonômicos, formam a base de fatores que podem conduzir à

LER.

Essa questão da LER é uma questão muito contemporânea, pois a briga

entre produtividade e qualidade do trabalho ainda é atual. No mundo

contemporâneo, as inovações tecnológicas procuram sempre a otimização da

produtividade a qualquer preço, e essa estratégia gera um relacionamento

dialético entre homem, máquina e produção.

Essas novas tecnologias investem na especificação do trabalho, ou seja,

cada trabalhador deve realizar uma função muito específica. O problema é que,

em grande parte dos casos, essa é uma atividade repetitiva (como apertar um

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Page 12: Monografia Pós

botão), e essa repetição constante, aliada a fatores como a temperatura ambiente,

ferramentas utilizadas, são prejudiciais a saúde do trabalhador e contribuem na

constituição da doença.

A questão da LER e dos problemas relacionados a partir dela estão

presentes em uma escala mundial. Segundo as estatísticas do BUREAU of labor

statistic, do ano de 1994, 65% das doenças do trabalho nos EUA são decorrentes

da LER. Na Europa, a situação não é diferente, já que, a LER é um dos problemas

mais freqüentes relacionados ao trabalho.

A LER é resultado do uso abusivo dos músculos e tendões, através de

movimentos rápidos, repetitivos e que demandam força. Tudo isso ocorre em

posições estáticas e inapropriadas para o corpo. Mediante essas condições, o

corpo não possui capacidade de recuperar as lesões causadas nos músculos.

A exigência de um pesado trabalho físico, aliado a questões individuais

são determinantes nas características da força muscular e de sua extensão em

função do tempo, que é determinante para as necessidades do músculo. A

exigência de energia é um dos fatores que levam a fadiga e, conseqüentemente, a

lesões musculares.

A resposta do músculo para esse esforço pode ser caracterizada como

uma seqüência de eventos mecânicos e bioquímicos. A resposta do músculo inclui

a deformação do mesmo e aumento da pressão intramuscular e, esse aumento

pode afetar diretamente ao fluxo de sangue do corpo. Essa questão fica mais

clara, e evidente na seguinte passagem:

A resposta inicial parte da excitação elétrica, troca de íons, ativação das

proteínas contráteis e deformação mecânica dos tecidos musculares.

Estas respostas são seguidas por trocas de nutrientes e metabólitos. As

alterações são conduzidas ao sistema nervoso central pelos nervos

aferentes sensitivos e causam correspondentes sensações de fadiga e

desconforto. Ensejam também estímulo cardiorespiratório para aumentar

o aporte do fluxo sanguíneo para suprir o músculo de nutriente, oxigênio

e prevenir o acumulo de metabólitos. Entretanto, se a pressão intracelular

é mantida em altos níveis por períodos prolongados, especialmente na

contração estática, o fluxo de sangue torna-se insuficiente gerando

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Page 13: Monografia Pós

alterações na homeostase. Como resultado da lata tensão, a lesão

muscular induz à ruptura das fibras musculares na zona Z. Tais lesões

são comumente encontradas no músculo lesado, e são reversíveis se o

músculo é colocado em repouso. A recuperação das lesões musculares

inclui a regeneração das fibras contráteis, tanto quanto do tecido

conjuntivo. Muitas vezes a recuperação é maior que o dano origina, e

nesses casos o músculo suporta bem os agravos que geraram a lesão. A

recuperação pode se completar após semanas ou meses. (Oliveira, 1998:

19).

Como fica claro na passagem anterior, as lesões que ocorrem

diariamente pelo exercício do trabalho, podem ter uma capacidade de

regeneração insuficiente, e, portanto, podem não ser reparadas. É, portanto,

necessário tempo, para que possa haver uma recuperação, caso contrário, a lesão

pode se agravar a cada dia, e chegar a um ponto onde não exista mais uma

recuperação completa do músculo lesionado.

Se o suprimento de sangue e nervo é interrompido por um tempo mais

longo, o músculo se atrofia. Os tendões contem fibras colágenas que não

se alongam ou contraem. A superfície do tendão torna-se áspera,

impedindo os movimentos através de outros tecidos. Se for

demasiadamente forçada, as fibras dos tendões podem se romper e

formar tecido cicatricial, que cria tensão crônica que é facilmente

relesionada. (KROMER, 1993).

A passagem anterior mostra que, quando sujeito a um esforço maior, o

músculo e o tendão estão sujeitos a um rompimento, com maior facilidade. Esse

fato explica a alta freqüência de lesões, quando o trabalhador é exposto a

condições não ideais de trabalho, ou seja, quando é obrigado a realizar um

esforço maior do que o permitido pelo corpo.

Devemos lembrar que a LER não pode ser associada apenas a uma

questão médica, ela é muito mais ampla que isto. O desenvolvimento da LER é,

também, uma questão socioeconômica. O mundo capitalista contemporâneo é um

mundo baseado na idéia do lucro da produtividade. Sendo assim, as concepções

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Page 14: Monografia Pós

teóricas de Ford e Taylor, ocupam um enorme espaço no desenvolvimento das

empresas capitalista.

Essas são concepções empresariais que visam apenas a lucratividade, a

produtividade, e, portanto, o homem, nessas concepções, é apenas um objeto a

ser utilizado para se conseguir esses objetivos. O homem é tratado como meio de

obtenção de lucros, entendido como objeto, assim como a máquina.

A LER é um indicativo de que as relações do homem com o trabalho são

problemáticas. A alta incidência dessa doença é um fato significativo, que não

pode ser ignorado. Os homens estão adoecendo em seu ambiente de trabalho e,

essa é uma realidade mundial. Ao analisar a bibliografia sobre o assunto, vê-se

que, a LER é um assunto mundial, que atinge todo tipo de pessoa que esteja

sujeitada a condições ergonômicas inadequadas, independente de sua atividade

de trabalho. Assim, há médicos com LER, músicos, caixas de banco, de

supermercado, costureiros, metalúrgicos, etc.

O tratamento da LER é complexo, pois, exige extrema dedicação de toda

uma equipe, composta por uma vasta gama de profissionais, e os resultados nem

sempre são animadores. Isso se deve ao fato, de a LER ser mais facilmente

tratada em seu princípio, porém, esse momento é justamente o mais difícil de

diagnosticar.

A LER, em seu estagio mais avançado é muito difícil de ser tratada, e

produz efeitos devastadores no indivíduo, já que, ela é socialmente excludente.

Devido a essas características, acredita-se ser de extrema importância o

investimento em ações preventivas nas empresas.

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Page 15: Monografia Pós

Cápitulo 3 DORT

3.1 Definições

Existem várias definições para as lesões ou problemas que podem afetar

nossos músculos, tendões, ossos, nervos, etc. Essas lesões ou problemas podem

ser um fato isolado ou não, mas o fato é que as conseqüências desses problemas

ou lesões são dores, inflamações, etc. Esses problemas podem conduzir o

paciente a um quadro grave de decadência funcional, em atividades cotidianas e,

em casos mais graves, podem conduzir a sérios problemas emocionais.

Como já dito antes, existem diversas nomenclaturas para esse tipo de

problemas. As mais conhecidas são: DMO (distúrbio músculo-esquelético

ocupaciona); LER ( Lesão por esforço repetitivo); LTC (lesão por trauma

cumulativo; e DORT (distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho) essa é

nomenclatura mais recente e foi adotada pela norma do INSS desde 1997.

A denominação mais conhecida no senso comum é LER, porém, esse

termo é muito específico e deixa subentendido que a lesão é causada por esforço

repetitivo, apenas isso. Porém, a repetição dos esforços não é causa única desses

problemas e lesões, e essa nomenclatura pode atrapalhar até mesmo na

compreensão da doença, e gerar problemas e até insucessos na maioria das

doenças ocupacionais.

É necessário que não se limite as causas da doença apenas por esforços

repetitivos, pois, existem outros fatores, como postura e ferramentas de trabalho,

que são tão importantes quanto o esforço repetitivo e, necessitam ser estudados

com maior meticulosidade, para o avanço do tratamento desses problemas.

Devido a esses problemas com a nomenclatura, surgiu uma nova

nomenclatura que desvincula a doença ocupacional somente como esforço

repetitivo. Assim, surgiu o termo DORT, que é a terminologia utilizada hoje, e que

deixa subentendida uma relação mais ampla da causa para as doenças

ocupacionais diretamente relacionadas ao trabalho.

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Page 16: Monografia Pós

3.2 Histórico

Precisar historicamente qualquer fato é por si só, uma tarefa complexa, o

trabalho histórico consiste em procurar evidencias que indiquem caminhos para

que possamos situar os eventos históricos no espaço temporal. Quando tratamos

das doenças ocupacionais, existem registros históricos em alguns manuscritos

médicos, anteriores a revolução industrial, que nos indicam o caminho, apontando

para a longa existência dessas doenças.

Nesses registros se encontram anotações que indicam problemas

relacionados ao esforço exagerado, a postura incorreta, que são evidencias de

que, já nesse período, havia manifestações dessas doenças. Profissões antigas

como sapateiro e escriba, onde se permanece muito tempo na mesma posição e

realizando tarefas repetitivas, são evidências da existência dessas doenças no

passado.

A incidência de DORT ficou evidente após a Revolução Industrial (século

XVII), onde surgiram as máquinas e, conseqüentemente, o trabalho se tornou

mais específico, ou seja, mais repetitivo. A Revolução Industrial não deu tempo

para que as pessoas se adaptassem à velocidade das transformações que vinham

ocorrendo no mundo. Diante da expansão capitalista, a exigência de maior

produtividade e lucro colocou em segundo plano os problemas dos trabalhadores,

pois, naquele momento era necessário produzir em grande escala.

A revolução eletrônica foi um passo adiante na incidência de DORT, na

sociedade contemporânea. Com a introdução dos computadores na vida cotidiana,

criou-se um novo estágio de desenvolvimento da doença. Horas sentados à frente

de um computador, realizando movimentos repetitivos, contribuíram para o avanço

das doenças ocupacionais. Deve-se deixar evidente que, o corpo humano não foi

criado para permanecer por muito tempo em uma mesma postura e, essas

profissões modernas exigem que isso se realize, e como conseqüências disso as

doenças ocupacionais aumentaram na população.

Essa nova realidade social representou um avanço por um lado,

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Page 17: Monografia Pós

imprimindo um ritmo maior à produção e, portanto, aumentado a produtividade e,

conseqüentemente, a lucratividade, favorecendo o capital. Porém, por outro lado,

as doenças ocupacionais aumentaram consideravelmente nesse período, devido

aos fatos já abordados antes.

O problema do aumento dessas doenças são as grandes despesas

médicas que elas geraram para os capitalistas. Além das despesas, em muitos

casos os funcionários tenham que se afastar durante um longo período da

empresa, o que, inevitavelmente, interferia na produtividade e, conseqüentemente,

na lucratividade da empresa. Diante desse problema, tornou-se imprescindível

investir em ações preventivas. Para a realização dessas ações, seria necessário

uma junta de profissionais de várias áreas, e é nesse momento que o profissional

de fisioterapia ganha espaço.

3.3 Conseqüências do DORT

A realidade dos portadores de DORT é uma realidade cruel e, por muitas

vezes, desconhecida e ignorada. A diferença entre os graus da doença

geralmente tem relação direta com tipo de trabalho exercido e com a região

lesionada. A velocidade e a atenção são fatores determinantes no tratamento da

doença que, quanto mais cedo for tratada, mais chance de recuperação total

possui.

Porém, quanto mais demorado for o atendimento da doença, mais

probabilidade de invalidez do portador. As situações de invalidez são

completamente prejudiciais para a saúde do trabalhador, tanto mental como física.

Um maior comprometimento dos responsáveis, em termos de cumprimento das

normas previstas na lei, conjuntamente com uma fiscalização mais eficaz,

ajudariam a evitar grande parte dessas situações.

Quando tratamos das doenças ocupacionais, não podemos que esquecer

que, antes de tudo, está em jogo uma vida humana, a dignidade humana, e,

portanto, é fundamental que se respeite os direitos do homem. O ser humano é

constituído de duas esferas: a psicológica (social) e a biológica (corpo). Portanto,

19

Page 18: Monografia Pós

é necessário que haja equilíbrio entre essas duas esferas para que o ser humano

possa ter uma qualidade de vida adequada.

Ao nascer, o individuo inicia seu desenvolvimento nas duas esferas, tanto

a biológica (que já vem se desenvolvendo desde sua concepção) e a esfera

psicológica ou sócio-cultural. Nesse processo de desenvolvimento, ele, o ser

humano em desenvolvimento, vai aprendendo a ser relacionar com mundo,

estabelece suas primeiras relações, que tendem a evoluir durante toda a sua vida.

Das experiências vividas durante esse período de desenvolvimento e

durante a vida toda, é que vai se constituindo nossa personalidade e nosso modo

de compreensão do mundo.

Ao se inserir no campo de trabalho, seja qual for seu trabalho, o individuo

traz, consigo, todas essas experiências acumuladas durante seu tempo de vida.

Esse processo de experiência pessoal é o que nos torna diferentes, ou seja, cada

indivíduo possui uma experiência própria, única e, por esse motivo, ele é único no

mundo.

Porém, quando é integrado ao mundo do trabalho, essas características

de sua experiência pessoal não são levadas em conta, ou seja, todos os

trabalhadores de uma empresa são compreendidos e tratados como iguais, e

espera-se deles os mesmo desempenho ou, além, cobra-se deles os mesmo

desempenho, mesmo sendo fisicamente, psicologicamente, socialmente

diferentes.

Essa realidade vivida pelos empregados por muitas vezes é angustiante e

provoca uma série de conflitos, tanto físicos como psicológicos, que acabam por

afetar sua saúde. Esta combinação perigosa é reflexo do massivo processo de

produção, e pode gerar problemas como o “stress”, que é uma resposta do corpo

a uma determinada solicitação, entendida pelo mesmo, como uma ameaça ou

algo que exige um esforço maior do que ele é capaz de produzir e,

conseqüentemente, é entendido como uma forma de mal-estar.

Existe, presente no senso comum, uma idéia errônea de que apenas

trabalhadores braçais estão sujeitos a problemas de saúde em seu ambiente de

trabalho. A realidade existente hoje em dia desmente essa teoria, pois temos

20

Page 19: Monografia Pós

profissionais de vários segmentos que sofrem de DORT, como, por exemplo,

digitador, atendente de tele marketing, caixa de bancos, garis, dentistas,

fisioterapeutas, engenheiros, médicos, etc. Portanto, o DORT é um problema

relacionado ao trabalho, independente da categoria de trabalho, e esse é um dos

motivos pelo quais ele deve receber maior atenção da sociedade.

3.4 ETIOLOGIA

As causas que levam ao DORT são diversas e a associação dessas

causas conduz ao estresse osteomuscular e psicológico. Para a compreensão

desses fatores, iremos tratar destes em uma divisão em dois grupos. O primeiro

grupo de causas são aquelas conhecidas como predisponentes.

As causas predisponentes são aquele grupo que compreende alterações

na anatomia do músculo, e lesões provocadas por alterações hormonais, idade,

etc. O segundo grupo é conhecido como desencadeantes e é compreendido como

fatores de risco que podem levar às lesões e, esse grupo, pode ser divido em:

Biomecânicos, Organizacionais do trabalho e sociais.

Entre os fatores biomecânicos podemos citar: repetitividade; inadequação

na postura; força excessiva ao realizar tarefa; etc. Os fatores organizacionais do

trabalho são outra parte que compõem esse segundo grupo. Quando se fala de

fator organizacional, estamos tratando de tudo aquilo que compõe o ambiente e as

relações de trabalho.

Assim, as condições de trabalho, a mobília, as ferramentas, as pressões

para produção, a urgência em executar as tarefas, são todos fatores de risco e,

por isso, compõem uma parte desse segundo grupo. A ultima parte dessa

subdivisão do segundo grupo se refere as relações sociais desenvolvidas no

ambiente de trabalho.

Existem uma série de problemas sociais que acontecem durante o

período de trabalho que também contribuem no quadro de desenvolvimento das

DORTs, por exemplo, questão salarial, a dupla jornada de trabalho, sedentarismo,

a vida rápida nas grandes metrópoles e a falta de repouso.

21

Page 20: Monografia Pós

Além dos fatores já citados, existem ainda outras práticas cotidianas que

podem contribuir para o desenvolvimento de DORTs. A pratica de esportes como

tênis e vôlei, são um exemplo disso, assim como, os afazeres cotidianos de uma

dona da casa. Ambos casos, se realizados de maneira inadequada e sem

cuidados, podem levar a uma sobrecarga, além da permitida pelo corpo, e

consequentemente gerar uma DORT.

O que se pode notar, com toda essa discussão, é que o DORT é uma

doença que não possui uma única origem, ou seja, ela é resultado de uma

diversidade de fatores agregados e, esses fatores associados levam à degradação

da saúde do trabalhador e, muitas vezes, essa degradação o leva à inutilidade

completa, tanto nas tarefas do trabalho, como, também, nas tarefas simples do

cotidiano.

3.5 Mulheres e DORT.

É importante ressaltar que o DORT atinge tanto homens quanto mulheres,

em várias faixas etárias. Porém, a incidência de DORT é maior em mulheres na

fase profissional mais produtiva. Essa maior incidência no caso feminino se deve

ao aumento significativo da participação das mulheres no mercado de trabalho.

Essa participação vem aumentando devido a uma diversidade de fatores,

onde os mais comuns são a necessidade de complementar a renda familiar e a

evolução da figura feminina, que deixou de ser a representação da mulher como

“dona de casa”. Hoje em dia, a figura feminina só vem crescendo e ganhando

espaço no mundo do trabalho, existem áreas onde a mulher tem alcançado um

maior espaço, como, por exemplo, na enfermagem, fonoaudiólogia, e na própria

fisioterapia.

A maior inserção da mulher no mercado de trabalho não é o suficiente

para justificar a maior incidência das DORTs em mulheres, então,será necessário,

em seguida analisar alguns fatores que contribuem para que esses casos sejam

maiores em mulheres.

O primeiro fato que pode justificar essa maior incidência das DORTs em

22

Page 21: Monografia Pós

mulheres é o fator de, além da profissão que ela exerce, em muitos casos, a

mulher ainda é responsável por realizar as tarefas do lar, e, essa acumulação de

tarefas é indiscutivelmente prejudicial à saúde da mulher e, portanto, um dos

fatores que contribuem para que a incidência de DORT na população feminina

seja maior que na masculina.

Outro fator que justifica essa maior incidência é a antropometria, ou seja,

a relação de tamanho das mulheres. As mulheres são geralmente doze

centímetros menores que os homens. Esse fator é prejudicial na medida em que a

maior parte das maquinas e acessórios utilizados nas empresas são projetados

tendo, como modelo, os padrões masculinos.

Portanto, as mulheres são obrigadas a se “adaptar” a um sistema que não

foi pensado para elas e, assim sendo, o trabalho se torna bem mais difícil e

fatigante, além de expor muito mais as mulheres a acidentes e lesões.

Além dos dois fatores já citados acima, existe, ainda, uma questão de

ordem biológica, ou seja, as mulheres têm menor resistência muscular que os

homens. A capacidade muscular da mulher é cerca de 70% menor que a de um

homem, logo, caberia às mulheres executarem tarefas que exigissem menor

esforço.

O último fator que contribui pra esse quadro é o fato de a mulher sofrer

constantes alterações hormonais. O ciclo menstrual da mulher dura cerca de 28

dias; aproximadamente. No quarto dia anterior à menstruação, acontece uma

queda em um hormônio feminino denominado progesterona. Essa queda na

produção de progesterona gera irritabilidade na mulher, além de tensão,

depressão, e outros sintomas psicológicos.

Outro problema é relacionado à gravidez ou à menopausa, onde pode-se

observar, também, uma grande variação hormonal que, no trabalho, pode resultar

em uma maior vulnerabilidade e que, conseqüentemente, pode leva-la a erros e

acidentes.

Portanto, fica evidente o porquê de os casos de DORT serem mais

freqüentes em mulheres. Essa é uma situação complexa, pois, essa é uma

condição que, por um lado, é histórico-social (mulheres compreendidas como

23

Page 22: Monografia Pós

donas de casa, acumulação de tarefas.) e por outro lado é uma questão biológica,

fisiológica.

3.6 Sintomas e estruturas comprometidas

O DORT atinge geralmente as regiões cervical, escapular e membros

superiores. Isso ocorre devido ao fato de essas serem as regiões mais

sobrecarregadas durante o desempenho de atividades, independente de estas

serem realizadas sentadas ou em pé.

Existem diversos sintomas que podem indicar a presença de DORT,

porém, esses são variáveis, de acordo com o local e a estrutura atingida. O

prognostico é, geralmente, benigno, no entanto, quando a patologia se torna

crônica, a recuperação é lenta e eventualmente pode deixar seqüelas que, por sua

vez, podem tornar o indivíduo inapto para a realização de algumas tarefas.

Como já dito antes, o DORT, atinge diversas regiões do corpo, ou seja,

sua extensão de problemas pode ser ampla. Devido a grande possibilidade de

diferentes áreas que podem ser comprometidas pelo DORT, a seguir, será feita

uma análise de alguns desses casos. O primeiro caso que será observado é um

caso muito comum, é quando o DORT compromete os nervos. É de extrema

importância lembramos que o os nervos são os responsáveis por algumas de

nossas atividades motoras, vasomotoras e sensitivas.

Além disso, uma de suas funções mais importantes é transmitir

mensagens ao sistema nervoso central, essa função é específica dos nervos

periféricos. Os nervos periféricos estão sujeitos a três tipos de lesões: a

Axonotmese, ou seja, a ruptura do axônio; a Neurotmese, ruptura do tronco

nervoso; e a Neuroproxia, que é o bloqueio da condução nervosa.

Dentre esses três casos, no que se refere a DORT, o mais importante é

neuropraxia, que é um bloqueio na condução nervosa, e que conduz a uma perda

temporária da funcionalidade do nervo. Esse problema pode ter graves

conseqüências como, por exemplo, a paralisia.

Outra estrutura afetada pelo DORT são os ossos. Ossos são compostos

24

Page 23: Monografia Pós

basicamente de tecidos rígidos e cartilagem, que compõem o esqueleto dos seres

vertebrados. As funções desempenhadas pelos ossos são diversas como:

Proteger órgãos fundamentais como o cérebro e a medula espinhal, depósito de

cálcio e fósforo e oferecer apoio estrutural às ações musculares. Existem dois

tipos de alterações anatômicas que ocorrem nos ossos: Os osteófitos e as

artroses.

Os osteófitos são alterações provocadas pelo atrito durante a

movimentação do corpo. Os casos mais comuns ocorrem na coluna vertebral, em

locais onde existe o contato entre corpos vertebrais. Por sua vez, a artrose, é um

tipo de afecção articular degenerativa. Geralmente, é um conseqüência do

envelhecimento e, em médio e longo prazo, ela pode ser resultado, também, da

realização de movimentos repetitivos.

Os músculos são outro tipo de estrutura importante do corpo humano, que

são afetadas pelo DORT. Os músculos possuem um grande poder de contração e

relaxamento, que são utilizados na realização de uma diversidade de movimentos.

Esse processo de contração e relaxamento pode ou não, ser voluntário.

Quando se trata de músculos, geralmente são divididos em duas

categorias: estriado e liso. Os músculos estriados são divididos em outras duas

subcategorias: Esqueléticos (possuem ação voluntária) e Cardíacos (possuem

ação involuntária). Os músculos denominados lisos são apenas de ação

involuntária. Eles formam as paredes dos sistemas tubulares (aparelho

circulatório, tubo digestivo, órgãos de reprodução e aparelho respiratórios) e as

paredes das vísceras (bexiga e estômagos).

Quando se trata de músculos, o mais importante nos casos de DORT é o

músculo estriado esquelético. Esse músculo é responsável pela movimentação e

manutenção da postura. Esses são os músculos afetados nos casos de DORT,

pois, em caso de esforços acima do permitido pelo corpo, esses músculos podem

sofrer lesões, que ocorrem através de um processo de auto-intoxicação devido ao

acumulo de determinadas substancias, especialmente, o ácido lático.

Os tendões são outras estruturas importantes, em se tratando dos casos

de DORT. Tendões são compostos por tecido fibroso redondo ou achatado, onde

25

Page 24: Monografia Pós

terminam os músculos. Eles são responsáveis pela origem dos músculos nos

ossos. A principal função dos tendões é padronizar a transmissão das forças, para

que não aconteça uma grande concentração de cargas entres os diversos

componentes do sistema muscular-esquelético. Essa função é fundamental, pois é

nessas regiões onde ocorrem às concentrações de cargas que geralmente

acontecem às lesões.

Para finalizar essa breve analise das estruturas mais comuns atingidas

por DORT, observa-se, como ultimo exemplo, os ligamentos. Os ligamentos são

estruturas compostas por tecido fibroso, resistente, e que penetra em

extremidades ósseas ou cartilaginosas. Esse processo forma uma união entre

articulações e partes ósseas e cartilaginosas. Os tendões desempenham a função

de modelar a transmissão das forças, tendo, como objetivo, não permitir a

concentração repentina de cargas entre os diversos componentes do sistema

muscular-esquelético. Essa é uma função fundamental, pois nos locais onde

ocorrem as concentrações de cargas, podem ocorrer diversos tipos de lesões,

como, por exemplo, o rompimento do ligamento.

Como visto, nessa breve analise das estruturas, o DORT, pode

comprometer diversas estruturas de nosso corpo. As estruturas escolhidas e

analisadas brevemente nesse tópico são apenas exemplos de alguns desses

casos.

26

Page 25: Monografia Pós

Capítulo 4 A atuação da profissional de fisioterapia nas empresas

4.1 Histórico da fisioterapia preventiva

Durante muito tempo, a fisioterapia mantinha seu campo de atuação

restrito a espaços médicos, ou seja, clínicas e hospitais. A relação entre a

fisioterapia e o trabalho era muito restrita, limitando-se aos centros de reabilitação

profissional do INSS. Esses centros de reabilitação tinham como função tornar

aptos, novamente, para o trabalho, profissionais que haviam sofrido algum tipo de

acidente e que, por esse motivo, ficariam afastados do trabalho por um longo

período.

Quando o profissional não possuía condições de se recuperar

completamente da lesão, esses centros, então, investiam em treinamento para

que esses profissionais pudessem atuar em outra área da empresa, ou de seu

trabalho. Essa medida foi tomada para evitar a antecipação da aposentadoria

desses profissionais que, em alguns casos, eram muito novos.

A aposentadoria precoce é um problema grave de fundo psico-social, pois

o trabalhador exposto a essa situação, sente-se inútil perante a sociedade e,

perante aos seus pares. As conseqüências desse sentimento de inutilidade são

muitas, em muitos casos, podem conduzir o trabalhador a um quadro profundo de

depressão.

Os centros de reabilitação do INSS eram compostos por uma diversidade

de profissionais, tais como: fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais,

fonoaudiólogos, etc. É claro, que a atuação desse grupo de profissionais

especializados era de extrema importância, porém, essas intervenções eram

tardias, já que, em grande parte dos casos as lesões já haviam ocorrido e em

alguns deles já havia seqüelas.

Portanto, em grande parte dos casos, não havia muitas possibilidades de

recuperação total do trabalhador, ou nem mesmo, de recuperação deste para o

trabalho em sua empresa.

27

Page 26: Monografia Pós

Um dos maiores problemas enfrentados pelos centros de reabilitação era

o baixo investimento na área de saúde, aliado ao rápido desenvolvimento

tecnológico das empresas. A união desses dois foi determinante para o insucesso

desses centros. O investimento necessário para equipar adequadamente os

centros de reabilitação eram muito altos, e, portanto, essa tornou-se uma prática

inviável.

Como conseqüência, a capacidade de reabilitação dos mesmos reduziu-

se. Porém, os centros de reabilitação foram de extrema importância, pois, foi a

partir dessa experiência que surgiu a demanda por estudos que trabalhassem a

prevenção nesses casos.

Diante dessa nova possibilidade, os profissionais de fisioterapia entraram

em conflito com a classificação da categoria que, nesse momento, era incluída na

área de saúde terciária, ou seja, a responsável apenas por reabilitação. Assim, os

profissionais que romperam com essa denominação, passaram a incluir a

fisioterapia na área da Saúde primaria, ou seja, a área responsável pela

prevenção.

Foi nesse momento que surgiram as primeiras oportunidades de ação de

fisioterapia nas empresas, sendo estas reconhecidas como úteis para a

manutenção do processo produtivo. Em seu momento inicial, essas ações ainda

se encontravam presas ao paradigma da cura, ou seja, os fisioterapeutas eram os

responsáveis por “curar” os profissionais que se acidentassem ou sentissem

algum desconforto durante o processo de trabalho.

A idéia da prevenção começou, então, de modo precário, ou seja, havia

divulgação de como se prevenir (através de palestras e cartazes), porém, não

havia nenhuma ação efetiva de prevenção.

Essa situação começou a ser alterada com a introdução dos conceitos de

Ergonomia no Brasil, que foram disseminados pelo renomado professor Itiro Iida e

alguns outros profissionais. Entre os elementos principais difundidos por ele estão

as biomecânicas ocupacionais, de fundamental importância para a entrada dos

fisioterapeutas nas equipes de saúde das empresas.

Esse foi o passo inicial, para se atingir o quadro que se encontra hoje,

28

Page 27: Monografia Pós

com grande participação de fisioterapeutas nas empresas. Hoje em dia, empresas

renomadas no país e no mundo como Petrobrás, Coca-Cola, Ford, possuem

fisioterapeutas em sua equipe de Saúde Ocupacional.

4.2 Fisioterapia e Saúde.

A fisioterapia preventiva tem sido compreendida como ações na área da

Saúde Pública ou coletiva e, dessa forma, é direcionada a intervenções em casos

como o câncer de mama e de doenças respiratórias. Além disso, como já dito

antes, as abordagens em muitos casos se restringem a palestras e divulgação de

cartazes e folder explicativos. Esse tipo de ação é um empecilho para o

desenvolvimento de intervenção fisioterapêutica nas empresas, que devem ser

compreendidas como o ato de prevenção com a participação do profissional

fisioterapeuta.

É importante salientar que a ação fisioterapêutica preventiva é de extrema

utilidade pro trabalhador, mas, não apenas para o desenvolvimento de seu

trabalho e sua vida em seu ambiente de trabalhado. O trabalho de prevenção

desenvolvido pode ser levado adiante por esse trabalhador, para o seu lar, sua

comunidade, sua família, seus amigos, ou seja, ele pode contribuir para a melhora

significativa da qualidade de vida de uma parte considerável da sociedade.

Portanto, é necessário que a fisioterapia deixe os consultórios, clínicas e hospitais

e atinja toda a sociedade, contribuindo para uma melhoria da saúde coletiva.

4.3. O processo de intervenção preventiva.

A fisioterapia preventiva ainda é um tema controverso e existem

diferentes pontos de vista sobre o assunto. A própria disciplina de Fisioterapia

Preventiva, na grade do curso de fisioterapia, na maioria dos casos, era entendida

como uma disciplina secundária, para a formação do fisioterapeuta. Devido a

esses e outros fatores, havia pouquíssimos profissionais especializados nessa

29

Page 28: Monografia Pós

área, e aptos para ministrarem essa disciplina com excelência.

A situação começou a modificar-se com a explosão dos casos de AIDS.

Esse foi o momento histórico em que a medicina preventiva ganhou espaço e

abriu-se espaço para discussão sobre a prevenção, nessa e em outras áreas.

Essa mudança de paradigma, no entanto, sofreu resistências e se deu de modo

gradual.

Muitos dos que se opunham à mudança tinham como argumento a idéia

pré-concebida do prevencionista, como um burocrata. Porém, essa idéia é

equivocada, pois para trabalhar sobre uma perspectiva de prevenção, é

necessário que, antes, se realizem estudos, se estabeleçam metas, objetivos e

cuidados. A prevenção trabalha com a antecipação do problema, com o objetivo

de que esse não aconteça e, caso venha a acontecer, seja identificado em seu

estagio inicial, onde existe uma maior possibilidade de cura completa.

Atualmente, a situação já apresenta melhoras, com grande parte dos

profissionais envolvidos na questão preocupados com a dimensão preventiva.

Hoje em dia, por exemplo, já existem intervenções preventivas em diversas

empresas e, em alguns casos, estas ocorrem incluindo a aplicação de recursos

curativos aplicados de modo preventivo, ou seja, o que se vê é uma significativa

mudança, fundamental para uma melhor qualidade de vida.

É importante, para essa discussão, compreender como se dá o processo

preventivo. Portanto, nesse momento será proposta uma análise mais específica

de como ele se dá. O processo preventivo é dividido em quatro etapas: Conhecer

os processos fisiopatológicos, divulgação de informações, ação pró-ativa e

conscientização.

O primeiro passo no processo de prevenção é conhecer os processos

fisiopatológicos, ou seja, quando se trata da prevenção de algum caso, é

importante, antes, conhecer a forma como essa ação se manifesta. É necessário

entender os possíveis contratempos que podem ocorrer.

Assim, é de fundamental importância que se possa identificar os sintomas

iniciais, ou seja, qualquer tipo de alteração fisiológica e suas manifestações no

corpo. Para que esse processo possa ser efetivado, com sucesso, é necessário,

30

Page 29: Monografia Pós

portanto estar atento a todo o contexto que envolve a ação do trabalho do

individuo.

A segunda etapa do processo de prevenção é informar amplamente a

população trabalhadora sobre os riscos e sintomas. A informação é uma

ferramenta de extrema importância no processo de prevenção, já que, não há

como se prevenir do que não conhece.

Portanto, é necessário que todo o saber adquirido seja amplamente

divulgado, de formas simples e objetiva, pois existem muitos casos de doenças

que se desenvolvem por falta de informação a respeito de como prevenir-se delas.

A terceira etapa nesse processo é a ação pró-ativa, ou seja, a ação

preventiva que obtém resultados satisfatórios é aquela que é fruto de um maior

esclarecimento. Através desse processo de esclarecimento forma-se uma base

para que os profissionais possam ser treinados para apreender a identificar

situações de risco ou, até mesmo, sintomas iniciais. Portanto, é fundamental

oferecer acesso a esses profissionais, mas não apenas a esses, os leigos também

necessitam desse acesso.

A ultima etapa do processo preventivo é a conscientização. Essa etapa é

complicada, pois o processo de conscientização não é instantâneo, ele é

demorado. A conscientização não é sinônimo de inculcar nas cabeças alheias um

modo de viver, ela é algo bem mais amplo. Para que esse processo se efetive

com sucesso, é necessário uma série de fatores, tais como: Atuação de

profissionais capacitados, o desenvolvimento de ações planejadas e a inserção de

conceitos chaves. Essas ações tem como resultado a construção da consciência

preventiva nos indivíduos.

4.4 O Fisioterapeuta do trabalho

Como visto, até esse momento, a construção da fisioterapia preventiva é

um processo longo e complexo, que trabalha com uma imensa diversidade de

fatores. Entre esses fatores, é de fundamental importância analisar quem são os

profissionais que trabalham nessa área, como são formados, quais são suas

31

Page 30: Monografia Pós

possibilidades. Portanto, nesse momento, nos preocuparemos com o perfil do

fisioterapeuta do trabalho.

É necessário estar atento a alguns pontos específicos, nesse caso, pois

existem diferentes pontos de vista relacionados a formação do profissional de

fisioterapia. Em grande parte dos casos, a formação desses profissionais tem uma

maior ênfase na dimensão curativa e, conseqüentemente, há uma menor ênfase

na dimensão preventiva.

A própria fisioterapia está situada no setor da Saúde Terciária, ou seja, o

setor da reabilitação. Nesse setor não se trabalha a prevenção, esse setor está

destinado a trabalhar a reabilitação do profissional, ou seja, ele já está lesionado.

Portanto, esse setor compreende a intervenção fisioterapêutica curativa. Nesse

tipo de intervenção, espera-se que o profissional necessitado procure o

fisioterapeuta, seja por indicação médica ou por sentir algum sintoma derivado da

lesão.

Em relação ao do fisioterapeuta do trabalho, ocupacional ou mesmo das

empresas, deve-se ter em mente que esse profissional tem que atingir o publico

alvo de algum modo. Assim, é necessário que ele demonstre a importância de se

investir na prevenção como uma forma de melhorar a qualidade de vida. Portanto,

quando o individuo compreende a necessidade e, além disso, a importância da

prevenção, ele pode mais facilmente procurar um profissional para desenvolver o

trabalho de prevenção.

Assim sendo, quando o individuo se reconhece enquanto paciente o

caminho se torna mais fácil, pois quando enquadrado nessa categoria ele deve

procurar ajuda médica e, assim, o profissional de fisioterapia fica responsável por

realizar o trabalho. É claro que, esse profissional deve preferencialmente ser

especializado em fisioterapia do trabalho.

Como no Brasil não existe uma cultura efetiva de prevenção, cabe ao

fisioterapeuta realizar o processo de busca por clientes, por empresas, ou seja, ele

deve apresentar uma proposta de trabalho, evidenciando os aspectos positivos da

fisioterapia preventiva. Portanto, enquanto não existir uma cultura de fisioterapia

preventiva, é necessário que se busque alternativas para que se possa

32

Page 31: Monografia Pós

desenvolver esse tipo de cultura no país.

Campanhas realizadas pelo ministério da saúde, por ONGs, e por outros

meios de comunicação seriam uma forma de incentivar essa prática, porém,

enquanto isso não acontece, é de extrema importância a participação do

profissional de fisioterapia nessa área. Um ponto de apoio para esse problema é a

satisfação do cliente que passou pelo processo e serve como um agente

conscientizador, ou seja, ele é um meio de propagar esse tipo de prática.

O primeiro curso de fisioterapia do trabalho aconteceu no Rio de Janeiro

em 1992 e, desde essa época, existe uma grande diversidade de obstáculos

impostos aos profissionais que se dedicam a essa área. O programa Médico do

Trabalho não conseguia atender a demanda que lhe cabia e, foi a partir desse

problema, que surgiu o espaço para o fisioterapeuta do trabalho.

O médico do trabalho estava preso ao setor de saúde ocupacional, por

sua vez, o fisioterapeuta do trabalho surge como a possibilidade de atuação direta

no campo de atividade do trabalhador. É importante deixar claro que alguns tipos

de intervenção devem ser realizadas em ambulatórios, clinicas ou centro médicos,

por serem intervenções curativas, porém, esse trabalho se atem a intervenções

preventivas.

Mesmo diante de alguns avanços, a fisioterapia do trabalho ainda

continuava enfrentando uma diversidade de problemas. Existiam inúmeras

sugestões para o caso, como a proposta da criação de um centro de serviços

fisioterapêuticos que atendessem aos trabalhadores.

Entretanto, é extremamente fundamental compreender que a fisioterapia

do trabalhado não se limita a aplicação de termoterapia e eletroterapia, sua

atuação é muito mais ampla. A fisioterapia do trabalho não pode ser resumida

apenas a inserção do profissional fisioterapeuta na empresa, é necessário um

trabalho de formação desse profissional.

Para realizar um trabalho de fisioterapia do trabalho adequado, é

necessário que o profissional possua conhecimentos básicos sobre Saúde

Ocupacional, e mais especificamente sobre a saúde do trabalhador, já que existe

uma série de doenças que são características das atividades exercidas durante o

33

Page 32: Monografia Pós

tempo de trabalho.

Essa série de doenças próprias do mundo do trabalho necessita de uma

atenção especial, para que possam ser tratadas de forma adequada, ou seja, é

necessário estar atento às Normas regulamentares específicas, a intervenção de

outros profissionais que compõem a equipe de Saúde Ocupacional, aos registros

de acidentes e seus controles.

As doenças relacionadas ao trabalho são muito especificas e, estão

relacionadas a cada atividade praticada pelo trabalhador durante o período de

trabalho. Sendo assim, não se podem limitar essas doenças a casos de DORT. É

necessário que haja uma ação conjunta entre toda a equipe, com participação de

profissionais diversos, como fonoaudiólogos, médicos, enfermeiros, psicólogos,

assistentes sociais.

Outro ponto de fundamental importância quando se trata de fisioterapia do

trabalho é estar atento às normas de segurança do trabalho. É imprescindível o

conhecimento das Normas e Procedimentos de Segurança do Trabalho,

principalmente para o profissional que ira atuar com outros profissionais da

Segurança do Trabalho.

A intervenção da Segurança do Trabalho é indispensável para qualquer

empresa, pois é ela que ira assegurar a segurança de todos que trabalham no

local e evitar acidentes e problemas. A intervenção da Segurança do Trabalho é,

portanto, também, um modo de prevenção.

A Ergonomia também é um outro ponto essencial quando se trata da

fisioterapia do trabalho. A ergonomia é a base para o reconhecimento dos

mecanismos responsáveis por causar lesões e, além disso, é a partir de suas

constatações que se desenvolvem estratégias para solucionar esses problemas.

Não se pode esquecer também, que a ergonomia trata da relação do homem com

o trabalho, com suas atividades de trabalho, com seu ambiente de trabalho, com

as ferramentas utilizadas por ele nesse processo.

O conhecimento de ergonomia é uma ferramenta de extrema utilidade

para o profissional de fisioterapia e, mais especificamente, para o profissional de

fisioterapia do trabalho. O profissional que possui conhecimentos ergonômicos

34

Page 33: Monografia Pós

mantém um olhar mais atento aos aspectos da vida laboral, podendo contribuir

para melhoria dessas através desses conhecimentos.

Um dos pontos essenciais para a execução dessa tarefa é a observação

biomecânica ocupacional, que é uma das áreas de domínio do profissional da

fisioterapia do trabalho. O conhecimento ergonômico permite a esse profissional

compreender melhor a atividade laboral e suas relações e, assim, ajudar o

indivíduo durante esse processo.

A presença de um profissional formado em psicologia, e se possível,

especializado em psicologia do trabalho é, também, de fundamental importância

para uma empresa. Esse profissional é responsável por compreender como o

paciente pensa, como ele reage a certos problemas ocorridos durante a atividade

laboral, e como isso afeta sua vida, tanto física como psicológica.

O trabalho conjunto entre fisioterapeuta e psicólogo é de extrema

importância para o diagnóstico mais preciso do paciente. Além disso, é necessário

que o profissional de fisioterapia se aproxime mais de seu paciente, isto é, ele tem

que demonstrar sua preocupação com o lado humano do processo de trabalho.

O fisioterapeuta tem que demonstrar que é um profissional, que está além

dos aspectos técnicos, frutos de sua profissão, ou seja, tem que ser humano. É

necessário que o profissional que opte por trabalhar nessa área, seja consciente

de que sua principal preocupação é com a melhoria da qualidade de vida das

pessoas.

Não é possível atuar nessa área, distanciando do ser humano, o contato

com o humano ( trabalhador) é de fundamental importância para o sucesso do

trabalho. Colocar-se no lugar do trabalhador é um fundamental para a

compreensão das variações comportamentais correntes.

4.5 O programa de prevenção

Uma das maiores demandas na área de fisioterapia do trabalho tem sido

35

Page 34: Monografia Pós

a necessidade da criação de programas de prevenção nas empresas. Essa é uma

situação complicada, pois para que essa possibilidade possa se efetivar na

realidade é necessário um alto investimento em profissionalismo, para que os

resultados obtidos sejam satisfatórios. O cuidado na formulação e na

apresentação de programas de prevenção é fundamental, pois em casos de

programas não bem sucedidos a resistência a eles tende a aumentar.

Para a criação de um programa de prevenção de DORT satisfatório é

necessário que se conheça a empresa com um maior grau de profundidade. A

análise específica e das especificidades de cada empresa é um passo

fundamental para o sucesso do programa.

Um bom programa de prevenção deve se preocupar com alguns fatores

como: abrangência, objetividade e clareza, implantação fácil, controle e custo

acessível. Quando se trata de um programa de prevenção de boa qualidade é

evidente a necessidade de que ele atenda o maior número possível de pessoas. A

idéia é que a prevenção funcione como multiplicadora, ou seja, as pessoas que

tiverem acesso a esses programas preventivos se tornam multiplicadores,

podendo levar esses conhecimentos aos seus familiares, amigos, à sua

comunidade, etc.

A objetividade e a clareza do programa também são pontos importantes.

É necessário que o programa seja simples e eficiente, pois um programa

complexo, contendo muitas especificidades acaba se tornando de difícil

compreensão para as pessoas. E quando se trata de programas de prevenção, a

intenção é que até leigos no assunto possam compreender do que se trata. Dessa

forma, a clareza e a objetividade desempenham um papel de extrema importância.

A facilidade de implantação do programa também é uma outra

característica importante nesse processo. O programa deve ser viável para o

maior número de empresas possível e de rápida e fácil implantação. É importante

lembrar sempre, que o objetivo é atender o maior número possível de pessoas.

Assim, quanto mais simples sua implantação mais adeptos pode ter e,

conseqüentemente, mais pessoas o programa deverá atingir. E, por fim, quando

se trata da preparação de um programa preventivo, deve-se, evidentemente, ter a

36

Page 35: Monografia Pós

consciência da condição socioeconômica do local onde se pretende implanta-lo.

O programa deve ter um custo acessível, pois caso contrário ele acaba

tornando-se inviável. Não é uma questão de desvalorização do trabalho do

profissional, mas sim, de adequação à realidade social existente, e também, à

necessidade de implantação desses programas para uma valorização do

profissional fisioterapeuta.

A implantação bem sucedida destes programas é uma forma mais que

obvia de demonstrar a importância da fisioterapia no cotidiano das pessoas. Além

disso, não se pode esquecer que o profissional que opta por essa área tem que

estar consciente que é prioridade a preocupação com a melhoria da qualidade de

vida das pessoas.

4.6 A interferência do Estresse no Trabalho

O stress é um elemento importante na constituição de algumas doenças

derivadas do trabalho. Devido a esse fato, acredita-se ser de suma importância

uma breve abordagem desse assunto. Para iniciar essa questão, é necessário

então definir o conceito de Stress.“O estresse é a reação do organismo a uma

situação ameaçadora. Os estressores são causas externas, enquanto estresse é a

resposta do corpo humano aos estressores” (COOPER, 1996; RODHAL, 1993).

Essa é uma das definições de estresse, e é uma opção feita para uma

compreensão mais simples e eficiente do problema. É evidente que existem

variações dessa conceituação. Vale a pena lembrar também, que o conceito de

estresse foi desenvolvido pelo médico canadense SEYLE ( COOPER, 1996).

Como se sabe, o mundo do trabalho exige uma enorme dedicação do

trabalhador, e o desempenho cobrado desse é, em alguns casos, superior ao que

ele suporta. Engendrado nessa cadeia de pressão que é trabalhar sobre

condições que, às vezes, vão além de sua capacidade, em muitos casos o

trabalhador acaba excedendo seus limites e causando danos à sua saúde física e

mental. É nesse contexto que estão inseridos muito dos casos de estresse, como

fica claro na seguinte passagem:

37

Page 36: Monografia Pós

“o estado emocional causado por uma discrepância

entre o grau de exigência do trabalho e os recursos

disponíveis para gerencia-lo. É, essencialmente, um

fenômeno subjetivo e depende da compreensão individual

de gerenciar as exigências do trabalho” ( GRANDJEAN,

1998)

Essa é uma das formas de compreensão da forma como se da o

fenômeno do estresse. Porém, existem outras diversas formas de compreensão,

entre elas valem a pena destacar outras duas:

“O estresse é uma condição ambiental, suscetível de

definições e mensuração objetivas. A ênfase esta no

estresse como estímulo, uma variável independente, um

fator de risco, uma influencia variável, medidos

objetivamente em suas propriedades”( COOPER, 1996)

“estresse é um termo relacional particular, ligando

características ambientais e pessoais, em particular,

excesso de demanda ambiental, confrontando-se com a

capacidade individual” (COOPER, 1996)

Como observado nas passagens anteriores, o conceito de estresse

possui diversas definições. O objetivo desse trabalho não é abordar a

complexidade desse conceito, ou buscar uma melhor definição de estresse, o que

se pretende com essa abordagem, é apenas apresentar a idéia do que é estresse

para que se possa compreender sua relação com o mundo do trabalho.

A relação de estresse pode ser percebida em atitudes cotidianas dos

trabalhadores. O desenvolvimento de tiques nervosos, de estado de vigilância

constante, o balançar de pernas e braços constantes são exemplos e sintomas

38

Page 37: Monografia Pós

desses casos. Em muitos desses casos o estresse ou os tiques desenvolvidos por

esse problema são descontados em imobiliários ou nas pessoas que estão mais

próximas.

Muitas vezes quando os efeitos são descontados no imobiliário, os

trabalhadores justificam esse ato dizendo que este não possui condições

adequadas, ou seja, não é um imobiliário ergonômico. Portanto como é possível

observar, o estresse é um problema que mantém relação com o trabalho e, por

este motivo, os profissionais envolvidos nessa área devem estar atentos aos

casos de estresse.

CAPÍTULO 5 Fisioterapia preventiva nos casos de DORT.

5.1 Intervenção Terapêutica

Como já foi dito no capítulo anterior, vivemos em uma cultura curativa, e

esse fato é significante para que se possa compreender as dificuldades

encontradas para a compreensão da população sobre a intervenção preventiva.

Diante dessa situação a imagem que predomina sobre a intervenção preventiva é

a de que sua função se limitaria à produção de cartazes, palestras, avaliações de

postura. É evidente que, para realizar a prevenção, é necessária a utilização de

todas essas estratégias, porém a fisioterapia preventiva representa algo além

dessa imagem presente no imaginário social.

O fisioterapeuta do trabalho não restringem sua atuação apenas a

avaliação de postura, de fichas e dados, ou seja, ele não é um burocrata. A

análise dos dados são de extrema importância para o processo de diagnóstico,

39

Page 38: Monografia Pós

porém, a intervenção preventiva e o trabalho do fisioterapeuta não se resumem

apenas a esse fato. A aplicação de recursos físicos utilizados na fisioterapia é um

exemplo disso.

Quando se trata de prevenção, é necessário que haja um processo de

antecipação das possíveis doenças, e esse processo se dá através da buscas de

sinas, ou seja, é necessário que o profissional esteja atento aos sintomas

apresentados pelos trabalhadores.

Portanto, para que essa identificação ocorra com maior facilidade, é de

fundamental importância que o fisioterapeuta esteja em contato com o trabalhador,

e sempre atento as suas atividades durante o exercício de seu trabalho.

A atividade do fisioterapeuta do trabalho que atua com a intervenção

preventiva está sujeita à barreiras como, por exemplo, o aspecto legislativo da

saúde, de classificar a fisioterapia no setor de reabilitação e, portanto, impede que

algumas ações na área preventiva sejam concretizadas. Esse problema com a

legislação impede, por exemplo, em alguns casos, que o profissional da

fisioterapia atue na equipe de Saúde Ocupacional, que é a responsável pela

prevenção.

Os próprios gerentes de Recursos Humanos das empresas, em grande

parte dos casos, não admitem o profissional na equipe de saúde ocupacional. A

saída para esse problema é o trabalho conjunto com outros profissionais que já

estão conscientes da importância da fisioterapia preventiva. Assim, com a ajuda

de médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, os fisioterapeutas começam a ganhar

espaço nas equipes de Saúde Ocupacional.

Outro ponto importante que tem que ser trabalhado para que a fisioterapia

preventiva se desenvolva com maior facilidade, é a questão da idéia de paciente e

cliente. A quebra do paradigma é de extrema importância, pois é necessário

desenvolver a idéia de trabalhar com clientes e não com pacientes.

Porém, essa é uma tarefa difícil, modificar a idéia de quem sempre se

enxergou como paciente e os fazer se reconhecer enquanto clientes. Para que

esse processo se desenvolva é necessária uma campanha de esclarecimento

sobre o assunto, que deixe claro que o paciente é o cliente que já esta doente, por

40

Page 39: Monografia Pós

sua vez, o cliente não esta doente ainda, e pode através de informações sobre

possíveis sintomas evitar que uma possível doença se desenvolva.

5.2 Estratégias para o desenvolvimento da intervenção preventiva

Para o desenvolvimento de intervenções preventivas é necessário traçar

estratégias para que essa prática penetre o imaginário social, e possa ser aceita

com maior facilidade. Sendo assim, neste momento, serão abordadas algumas

dessas práticas, como a palestra, o auxílio na constituição de uma cultura de

prevenção e outras.

Anteriormente, já abordamos a questão da palestra como um dos meios

de divulgação da prática da intervenção preventiva, mesmo assim, retornaremos a

esse ponto que é importante. A palestra é uma forma comum e de alcance

satisfatório, quando se trata da inserção de conceitos na sociedade. Através dela

as informações são divulgadas com maior clareza e simplicidade, atingindo,

assim, um público bem mais amplo.

A palestra tem o poder de informar e esclarecer acerca do assunto e,

através delas, o público pode esclarecer suas dúvidas e tomar conhecimento

sobre o assunto, podendo, assim, desvincular-se de mitos ou informações

errôneas, divulgadas em meios de comunicação, como revistas e jornais.

Além disso, a palestra é uma ótima oportunidade do profissional de

fisioterapia preventiva apresentar seu programa de prevenção, suas estratégias de

trabalho, e conscientizar a população sobre o assunto.

Estabelecer uma relação de confiança mútua entre profissional, clientes e

empresa, também é uma estratégia importante no desenvolvimento de uma

cultura pró intervenções, preventivas. Através dessa relação de confiança, pode-

se facilitar o acesso dessas pessoas a informações técnicas a respeito do

assunto. Esse é um passo importante, pois o acesso a essas informações pode

colaborar na identificação de sintomas e, desse modo, facilitar a cura.

O estabelecimento da relação de confiança também dá espaço para que

o colaborador sinta-se à vontade em procurar o profissional de fisioterapia a

41

Page 40: Monografia Pós

qualquer momento, informando, a este, o que sente. Nesses casos, com o

desenvolvimento prévio de uma cultura de prevenção, o trabalhador incomodado

pode procurar o profissional quando sentir-se incomodado e, não mais apenas

quando sentir dor.

Assim, pode-se investir em ações preventivas e não apenas em cura.

Portanto, investir em cartazes, palestras, ou até mesmo promover semanas da

saúde, só são ações bem sucedidas, se combinadas com o trabalho do

profissional de fisioterapia e com sua aproximação com seus clientes. Desse

modo, fica evidente, a necessidade da participação ativa do profissional em todo o

processo.

O desenvolvimento de uma cultura de prevenção também é primordial,

nesse caso. A constituição desse processo pode ser feita através de abordagens

constantes, mediante a situações inapropriadas. O reconhecimento de algum

problema como uma postura inadequada deve ser trabalho e corrigido através de

um projeto longínquo de conscientização. Tem que se deixar claro que, apenas a

promoção de palestras não é o suficiente para que se mude de atitude. A

construção de uma cultura exige trabalho, atenção, dedicação e repetição. É um

processo longo e gradual.

Segundo Vidal e Couto (1998), uma estratégia importante é a realização

de avaliações ergonômicas das atividades exercidas durante o processo de

trabalho. Através dessas análises, o profissional pode desenvolver um trabalho de

ajuste necessário para que as condições de trabalho se tornem apropriadas. Além

disso, estes profissionais podem auxiliar os trabalhadores a realizar intervenções

preventivas em seu lar, através de treinamentos que os ajudem a realizar

mudanças em problemas que identifiquem em sua casa, comunidade, casa de

amigos.

É importante, também, que o profissional analise a empresa e tome

contato com sua realidade específica. Cada empresa pode desenvolver, em maior

ou menor grau, algum tipo de problema e cabe a esse profissional estar atento a

essas especificidades para a elaboração de seu projeto preventivo.

Após essa etapa de contato com a empresa, é interessante utilizar

42

Page 41: Monografia Pós

cartazes como um meio de divulgação simples e direto, e também, realizar

palestras específicas, mostrando o que foi constatado durante o tempo

observação na empresa. Essa proximidade com a realidade local produz um maior

efeito sobre os espectadores, que percebem sua relação com os problemas

apresentados.

Uma outra estratégia fundamental na constituição desse processo é a

inserção da prática no cotidiano do trabalho. Essa inserção pode ser realizada

através da prática de exercícios laborais compensatórios, que podem ser

realizados individualmente ou em grupos pequenos. O ideal é que esses

exercícios sejam executados com um grupo laboral que possua uma mesma carga

de trabalho.

O diagnóstico de sintomas, como desconfortos e, em casos mais

avançados, dores, são nortes para a realização da prática de exercícios laborais

compensatórios. É importante lembrar que, essa prática, por muitas vezes sofre

resistência dos mais interessados, ou seja, dos trabalhadores.

Em muitos casos, como essa não é uma pratica comum à sua sociedade

ou cultura, ele se sente ridicularizado, e nega-se a realizá-la, ou as realiza sem

atenção necessária, com displicência. Portanto, dentro dessa estratégia de inserir

a prática de exercícios laborais em uma empresa, é necessário que se pense

também uma forma de vencer essas barreiras expostas. O profissional deve

procurar tornar esse pratica prazerosa, para que os trabalhadores as desenvolvam

com atenção.

Outro ponto fundamental na formação de sujeitos conscientes em relação

ao seu corpo é o incentivo à pratica de atividades físicas, não apenas no ambiente

da empresa, mas também fora dela. A pratica de atividades físicas, esportivas, é

um elemento importante nesse processo.

Porém, a pratica de atividades físicas deve estar sempre sob a orientação

de um profissional, pois o exagero nesses casos pode conduzir a lesões. A

presença do profissional ajuda a prevenir que lesões mais graves possam ocorrer,

decorrentes de uma prática mal orientada.

Segundo Oliveira (1998), a realização de exercícios de relaxamento e

43

Page 42: Monografia Pós

alongamento são fundamentais, especialmente em casos onde existam

incômodos inicias, ou seja, quando a lesão está dando seus primeiros sinais. É

importante, nesses casos, orientar a aplicação de recursos fisioterápicos de

acesso fácil. Entre esses recursos podemos citar alguns exemplos simples como:

a compressa de gelo, e a compressa de calor.

Por fim, uma outra estratégia interessante é a aplicação de recursos

fisioterapêuticos variados, pois estes possuem propriedade analgésica,

antiinflamatórias e antiflogísticas. Dentre esses recursos, podemos citar, como

exemplo, o ultra-som, a compressa de gelo, etc. Esses recursos são importantes e

tem o adendo de serem recursos de fácil acesso, ou seja, podem ser conseguidos

e aplicados com maior facilidade, portanto, promovem o acesso.

Além disso, a intervenção com esses recursos pode contribuir na

identificação de sintomas, e também qualquer sinal de incômodo identificado pode

ser trabalhado e, desse modo, a evolução do sintoma pode ser controlada.

5.3 Práticas efetivas

Como visto, existem diversas formas e modos de trabalhar a construção

de uma cultura preventiva. Além disso, existem, também, diversas estratégias que

podem auxiliar nesse processo. Portanto, para deixar a compreensão mais clara,

iremos abordar alguns tipos de práticas efetivas de prevenção, para efeito de

compreensão.

É importante deixar claro que existem inúmeras práticas efetivas que

podem e devem ser realizadas, quando se trata desse assunto; dentre elas foram

escolhidas algumas para abordar mais especificamente.

A primeira delas é o trabalho muscular estático. O trabalho se realiza de

forma estática quando exige contração continua de alguns agrupamentos

musculares, com o fim de manter determinada postura ou, em outros casos,

manter a estabilidade da ação praticada. Esse tipo de trabalho é altamente

fatigante e deve ser evitado para não causar problemas posteriores.

Caso não seja possível evitar esse tipo de trabalho, é necessário que se

44

Page 43: Monografia Pós

realize uma avaliação do trabalho, procurando encontrar soluções para a melhora

desse quadro. Essas soluções podem ser conseguidas através, por exemplo, da

mudança das peças ou uma adequação dessas ao tipo de trabalho e também

através da criação de apoios para as partes do corpo que auxiliem na diminuição

das contrações estáticas dos músculos. Outra alternativa é a introdução de

pausas no período de trabalho para descanso dos músculos, para aliviar a fadiga

e não comprometer os músculos.

Outra prática importante se refere ao trabalho muscular dinâmico. Esse é

o tipo de trabalho muscular que se realiza de modo dinâmico, isto é, quando há

contrações e relaxamentos alternados dos grupamentos musculares envolvidos.

Essas situações são presentes no nosso cotidiano e por muitas vezes passam

despercebidas. Entre elas, podemos citar situações corriqueiras, como: martelar,

serrar, digitar, caminhar, etc.

Esse tipo de situação pode provocar uma série de lesões. Portanto,

nesses casos, é importante manter o ritmo dos movimentos, de forma que eles

sejam executados da forma mais suave possível. A indicação mais comum é que

se evite a pratica da contração estática, como uma maneira de prevenção.

5.4 O alongamento muscular

Ainda no campo das práticas preventivas, o alongamento muscular é um

ponto importante e, por esse motivo, merece uma atenção especial. O trabalho de

alongamento muscular é uma grande ferramenta de auxílio à prevenção e deve

ser utilizada com maior freqüência pelos fisioterapeutas.

“O movimento articular depende da forma de articulação, do

posicionamento dos ligamentos e da ação dos músculos envolvidos.”(OLIVEIRA

apud BRUNSTORM,1999). Diante disto, é fácil compreender que os

encurtamentos musculares tenham uma ação limitante, quando se trata da

articulação. Existem algumas causas para esse encurtamento, como, por

exemplo, a restrição da mobilidade.

Existem alguns processos patológicos comuns quando se trata de

45

Page 44: Monografia Pós

DORTs, especialmente quando se refere a repetição de movimentos. A

inflamação, os edemas, a limitação da movimentação são exemplos disso. A

limitação da mobilidade articular pode conduzir à produção de tecido fibroso denso

que surge para substituir o tecido mole normal e, desse processo, resulta a perda

de elasticidade do tecido mole e como conseqüência disso o movimento torna-se

limitado.

Outro caso importante é o das contraturas que são encurtamentos do

tecido mole, e que podem ser tratadas com alongamento. O tratamento da

contratura surtirá maior efeito caso seja identificado no início, ou seja, quando esta

apresentar um incômodo local. O alongamento muscular atua reduzindo a tensão

mecânica que há nos tendões, aliviando, assim, os tendões que se encontram

inflamados e, desse modo, ela atua como um modo de prevenção das tendinites,

que são lesões nos tendões.

Existem diversas técnicas a ser aplicadas, com o fim de oferecer maior

conforto aos trabalhadores (sejam eles digitadores, trabalhadores de uma linha de

produção de uma fabrica) e também que podem atuar como prevenção. Esse tipo

de aplicação é favorável para os dois lados: empregador e empregado.

Geralmente, elas são de fácil aplicação e ajudam na divulgação da prevenção.

O alongamento é uma prática simples, que pode ser aplicada sobre

tendões, músculos e ligamentos. Ele é aplicado através da produção de uma forca

ativa nessas estruturas citadas, e pode ser classificado em quatro tipos: ativo,

passivo, balístico. O alongamento ativo é aquele que acontece a partir da

aplicação ativa de tensões em músculos contrários. Já o alongamento passivo é

aquele que ocorre a partir da aplicação de uma força de alongamento diferente da

tensão entre os músculos contrários.

Por sua vez, o alongamento estático é aquele que acontece através da

manutenção de uma posição de alongamento lento, controlado e persistente

durante certa quantidade de tempo, como, por exemplo, trinta segundos. Por fim,

existe o alongamento balístico que é brusco e de alta intensidade, porém sua

duração é curta e devido a esse fato ele representa um perigo às estruturas

fragilizadas, devido a esse fato, ele não deve ser utilizado como intervenção

46

Page 45: Monografia Pós

preventiva.

Dentre os tipos apresentados de alongamento, o passivo é o mais

eficiente, quando tratamos de prevenção. Nesse caso, a presença do

fisioterapeuta é fundamental, especialmente, quando é preciso realizar uma

intervenção mais eficiente. Porém, isso não significa que a pessoa em questão

não possa ou deva realizar o alongamento sem a presença do fisioterapeuta.

Existem políticas positivas, quando tratamos dessa questão, como, por

exemplo, orientações preventivas que vêm junto com produtos como mouse pads,

que contém explicações de como realizar exercícios de auto-alongamento. Essa é

uma ação completamente positiva e um reflexo da evolução desses casos.

Porém, ela é insuficiente para resolver o problema como um todo. A

presença de um profissional formado em fisioterapia, e preferencialmente

especializado em fisioterapia do trabalho, é imprescindível para o sucesso das

práticas preventivas.

5.5 Recursos pré-cinéticos

Em muitos casos, o alongamento não é suficiente para resolver uma série

de problemas. Existem momentos em que há uma dificuldade comum em relaxar a

musculatura, e essa é uma dificuldade que em muitos casos é proveniente da dor.

Diante desses casos, é de extrema importância a presença recursos

fisioterapêuticos pré-cinéticos.

Esses recursos são extremamente importantes, pois desempenham uma

função analgésica, ou seja, aliviam as dores sentidas pelo indivíduo. Esse alívio é

fundamental para que o cliente relaxe e assim possa realizar o processo de

alongamento muscular.

Esses processos podem ser auxiliados por recursos técnicos como o

ultra-som, que é fundamental na identificação de um processo inflamatório.

Esses são recursos que devem estar disponíveis em empresas e que

requerem certo investimento. Desse modo, quando uma empresa se preocupa

com a saúde de seus trabalhadores, existe a necessidade de investimento em um

47

Page 46: Monografia Pós

projeto. O ideal é que haja uma sala adequada para que se realizem esses

procedimentos, para que se minimize qualquer situação de timidez, ou vergonha

por parte dos funcionários. É importante, que todos se sintam à vontade com os

procedimentos que serão realizados, e nesse ponto, a formação e atuação da

equipe de saúde são fundamentais.

5.6 A presença do DORT no cotidiano.

Para a prevenção do DORT é fundamental a compreensão de que ele se

manifesta em atividades corriqueiras, cotidianas. Determinadas práticas habituais

que não precisam estar relacionadas com a atividade laboral são fontes de

produção desses problemas, pois se realizam através de movimentos repetitivos.

Atividades como limpar a casa, varrer o chão, lavar louça, trocar de roupas, são

em menor ou maior intensidade e freqüência fontes desse problema.

A prevenção desses casos é, geralmente, complicada, pois recomenda-se

que a repetição dessas tarefas seja evitada e, em muitos casos, o indivíduo que

executa a tarefa, principalmente a doméstica, não pode abdicar dele, e nem

tampouco ter a presença do fisioterapeuta o aconselhando.

Além das práticas domésticas, existem outras atividades cotidianas que

são favoráveis ao desenvolvimento de DORT, se não praticadas com cuidado,

como, por exemplo, as práticas desportivas. Em muitos desses casos, há uma

imposição de força, ou melhor, de uma sobrecarga de força que atingem os

tendões e os músculos e podem conduzir a um tipo de lesão.

A intenção dessa breve passagem é alertar para o fato de o DORT está

presente na vida de qualquer indivíduo, e não apenas na atividade laboral. Assim

sendo, a importância do processo de conscientização e desenvolvimento de uma

cultura preventiva é de fundamental importância em todos os setores da

sociedade.

5.7 Ginástica Laboral e exercícios laborais compensatórios

48

Page 47: Monografia Pós

É comum a confusão entre os termos ginástica laboral e exercícios

laborais compensatórios, mas deve-se ficar atento, pois estes são termos

distintos. Entre as diferenças que podemos identificar, estão a forma de

abordagem e os exercícios que são, em si, diferentes. A ginástica laboral é uma

atividade lúdica, é exercida em grupos, e possui um caráter de descontração,

integração do grupo. Por sua vez, o exercício laboral compensatório é uma pratica

direcionada e exercida individualmente, ou em grupos bem restritos. Ela é utilizada

geralmente, em correção das posturas adotadas durante a atividade de trabalho.

A ginástica laboral é aplicada, normalmente, com o objeto de prevenção

de casos de DORT, com uma eficácia considerável. Porém, deve-se deixar claro

que, essa não é uma solução permanente, ela é apenas uma forma de auxilio a

esse problema. Vale a pena ressaltar que a ginástica laboral praticada nas

academias das empresas tem conseguido excelentes resultados, algumas vezes

até mais satisfatórios que os realizados em postos de trabalho.

Porém, existe um problema que deve ser evidenciado, que é o fato de

muitos profissionais da fisioterapia ultrapassar a barreira lhes cabe e invadirem o

espaço que pertence ao profissional formado em educação física. Isto ocorre

quando estes profissionais aplicam modelos de atividades físicas como forma de

prevenção de DORT nas empresas.

É importante ressaltar que, não é uma questão de competição, existe

espaço para os dois tipos de profissionais nas empresas e, como já dito antes,

uma equipe de saúde adequada, deve ser formada por uma diversidade de

profissionais das mais variadas áreas. A integração entre a equipe de saúde é um

passo fundamental no processo preventivo.

Os exercícios laborais compensatórios são de cunho terapêutico, e

possuem como, uma de suas principais características, o trabalho individual. Esse

tipo de exercício tem, como finalidade, atingir os grupos musculares que estão

sobrecarregados pela atividade de trabalho.

Normalmente, durante o período de trabalho o indivíduo já apresenta

sinais de fadiga e de incômodo em diversas regiões do corpo. Tanto a fadiga

como o incômodo são resultados da atividade muscular exercida durante o

49

Page 48: Monografia Pós

período de trabalho. Diante desse caso a pausa programada seria uma eficiente

forma de intervenção preventiva. Essa pausa pode ser ativa ou livre, porém na

maioria dos casos ela é livre.

A pausa livre é aquela que é usada geralmente para tomar um café, ir ao

banheiro, sentar-se, ou conversar com os colegas de trabalho, ou seja, ela não é

direcionada para uma atividade pré-determinada. Sendo assim, sua eficiência nos

casos de DORTs é limitada.

Porém, isso não significa que ela não seja importante e necessária para

os trabalhadores. Por sua vez, a pausa ativa é aquele que é direcionada para um

fim específico, ou seja, durante esse tempo é realizada uma série de exercícios

preventivos e esse é o momento perfeito para a introdução dos exercícios laborais

compensatórios, sejam eles ativos ou passivos.

Sendo assim, fica evidente a importância da realização dos exercícios

laborais compensatórios. Eles estão intimamente ligados a uma análise prévia

ergonômica das situações de trabalho às quais estão submetidos os trabalhadores

em questão. Assim, fica clara a importância fundamental que a ergonomia tem na

formação do profissional da fisioterapia do trabalho.

5.8 Ginástica Laboral

A ginástica laboral é uma pratica comum, há algum tempo, em diversas

empresas. Com o surgimento de demandas por uma melhor qualidade de vida no

trabalho, a ginástica laboral ganhou espaço e passou a ser utilizada como prática

freqüente.

A ginástica laboral é utilizada como prática preventiva. Atualmente muitas

empresas possuem em suas instalações academias de ginástica destinadas a

essa prática. Os profissionais que trabalham nessas academias são

especializados em capacitação física, e em prevenção de doenças como estresse

a também doenças cardiovasculares.

Por sua vez, os profissionais formados em fisioterapia com ênfase em

ergonomia são especializados em prevenção de DORTs. Mas essa realidade não

50

Page 49: Monografia Pós

condiz com a maior parte das empresas. A ginástica laboral tem sofrido uma

grande resistência em alguns setores das empresas.

A realização dessa prática é necessária para a atividade de trabalho, e

esse fator incomoda os empresários que, em sua grande parte, vêem esse fato

como perda do rendimento, da lucratividade de sua empresa. Um outro problema

enfrentado pelos defensores dessa prática é a acusação de que essa prática seria

ineficiente.

Há diversas formas para o desenvolvimento da ginástica laboral, ela pode

ser aplicada de diferentes maneiras. Para fins de estudo, esse trabalho irá se

atear apenas ao modelo brasileiro, pois é este que condiz com nossa realidade

imediata.

No Brasil o modelo adotado é baseado no alongamento, na coordenação

motora e no fortalecimento muscular. Esses exercícios têm uma duração média de

doze minutos. Existem outros modelos aplicados, porém a variação é pequena, e

a base é comum.

O que varia de um modelo para outro, geralmente é o tempo de duração,

ou a freqüência com que a atividade é aplicada. Porém, existem algumas

empresas, no país, onde a atividade laboral não é o centro das atividades

praticadas, ela possui um papel secundário.

Diante desse fato, surgiram muitos questionamentos sobre a eficácia da

aplicação da ginástica laboral, já que, muitas empresas já a haviam colocado em

um papel secundário. O tempo de duração médio de doze minutos é um dos

pontos questionados. Existem muitas controvérsias sobre esse assunto, e a

pergunta que se faz geralmente é: Seria esse tempo suficiente para realizar o

agrupamento de grande parte dos grupos musculares?

Além disso, ainda relacionado à questão do tempo, caso esse tempo não

fosse suficiente para realizar o alongamento da maior parte dos grupos

musculares, o aumento do tempo do alongamento não afetaria diretamente a

produtividade.

Outro questionamento recorrente é derivado da faixa etária variada dos

funcionários de uma empresa. Diante desse fato, o questionamento que surge é

51

Page 50: Monografia Pós

sobre o fato de os exercícios serem realizados em conjunto, independente da faixa

etária, ou se seria necessária a divisão, de acordo com a faixa etária.

O auto-alongamento é um outro ponto polêmico. Existe um alto índice de

questionamento acerca de eficiência dessa prática. A presença do fisioterapeuta

seria dispensável, então, já que os funcionários podem realizar o auto-

alongamento?

Existe uma série de questionamentos a respeito do tema, esses

apresentados são apenas uma forma de ilustrar a situação. É importante saber

que, esses questionamentos não tornam a prática da atividade laboral inválida ou

ineficiente. Porém, deve-se deixar claro que, a inserção da ginástica laboral não

representa a solução dos problemas.

A ginástica laboral, por si mesma, não tem o poder de redução dos casos

de DORTs. Se não aplicada mediante a um projeto consciente de prevenção, ela,

em certo ponto, pode ser prejudicial, pois pode mascarar os sinais e sintomas

iniciais das lesões.

É necessário estar atento à individualidade, ou seja, ao fato de que,

quando trabalhamos com seres humanos, estamos lidando com uma diversidade

de fatores e, que, nesses casos, qualquer tipo de homogeneização é prejudicial. A

prevenção deve ser realizada de acordo com essa inúmera série de fatores e,

desse modo, a individualidade é um ponto de extrema importância.

Esse tipo de prática não pode ser encarado apenas com o caráter lúdico

que contém, ou, até mesmo, como forma de aliviar um desconforto ou uma tensão

muscular. É necessário que os desconfortos, incômodos, sejam tratados de forma

particular antes de se tornarem dores efetivas.

Nesse ponto a ergonomia desempenha um papel fundamental, já que, a

atenção para a particularidade das atividades de trabalho e a forma como são

exercidas são fundamentais no processo de prevenção e recuperação. A postura

dos trabalhadores durante a atividade de trabalho, os esforços realizados, a

repetição das tarefas, são pontos que o profissional com conhecimentos

ergonômicos deve identificar para que possa realizar posteriormente o trabalho

preventivo.

52

Page 51: Monografia Pós

Um outro ponto importante é estar atento às relações dos trabalhadores

para que essa prática não venha a se tornar um insucesso entre estes. Expor os

trabalhadores a situações inadequadas, a trabalhar conjuntamente com desafetos,

e especialmente quando envolve o corpo.

Compreender as relações dentro de uma empresa é um fator

determinante para o sucesso de qualquer prática ou projeto que venha a ser

implementado nesta e, com relação à ginástica laboral, não é diferente.

Portanto, a ginástica laboral, nas empresas, é um importante meio de

auxílio a saúde do trabalhador. Porém, se for exercida de modo isolado, seus

efeitos são limitados. Portanto, é necessário que haja contato entre os diferentes

tipos de profissionais que trabalham nessa área, visando sempre a melhoria da

qualidade de vida do trabalhador.

Apenas uma intervenção completa, com a participação de todos os

profissionais inseridos em um projeto com a finalidade de prevenir, é que pode

obter resultados positivos. Os atos isolados são insuficientes quando se trata das

DORTs.

Capítulo 6 Considerações finais

A fisioterapia do trabalho tem a propriedade de transformar paradigmas

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Page 52: Monografia Pós

tanto para os fisioterapeutas quanto para a sociedade. Além disso, ela representa

um processo de humanização do profissional fisioterapeuta, ou seja, uma

aproximação deste das pessoas com quem trabalha, visando o bem estar destas.

Esse processo seria como uma reeducação do profissional de fisioterapia,

que na maior parte dos casos, é preparado apenas para trabalhar em clínicas,

hospitais, e se preocupar com o aspecto curativo e não com a prevenção.

Nesse tipo de fisioterapia, o profissional tem que se relacionar com as

pessoas, observar seu cotidiano, estabelecer uma relação mutua de confiança

com estes. Ele tem que estar atento às relações, ao ambiente de trabalho, a

possíveis problemas que venham a surgir. Sua tarefa é de observador, de amigo.

Através desse tipo de ações é que se pode criar a confiança necessária para o

processo de prevenção.

Ao ver no fisioterapeuta uma pessoa presente em seu dia a dia, como um

colega de trabalho qualquer, as pessoas se sentem mais à vontade para procurá-

lo, caso sintam algum incômodo, algum desconforto. Essa atitude é fundamental

para o desenvolvimento de uma fisioterapia preventiva, sem essa relação, o

trabalho do fisioterapeuta se torna bem mais complicado e, muitas vezes recaem

no campo da reabilitação e não dá prevenção.

Além disso, cabe ao fisioterapeuta realizar uma outra tarefa que, por si só,

é complexa: a conscientização. Esse é um processo longo, e seu

desenvolvimento é gradual. As estratégias para sua abordagem devem ser

desenvolvidas por uma equipe de profissionais de acordo a realidade local.

A exposição de cartazes, as palestras informativas são meios que devem

ser utilizados para se atingir esse objetivo. Como já dito em um momento anterior,

o Brasil é um país onde não há a cultura da prevenção, portanto, é necessário que

se formem pessoas com esse novo tipo de formação, para que aos poucos se crie

esse tipo de cultura.

Outro ponto de fundamental importância é a questão de transformar o

cliente em paciente. O cliente é aquele que está bem, porém sente sinais e

sintomas que representam indicativos de que seu corpo esta sujeito a algum

processo patológico. O cliente, então, tem a oportunidade de tratar esses sintomas

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prévios, ou seja, de prevenir-se se uma futura lesão.

Em uma situação diferente, está o paciente, visto que, o paciente é

aquele já se encontra com um processo patológico em desenvolvimento. Entre

suas alternativas não está a prevenção, cabe a ele apenas o tratamento da

doença, e em muitos casos essa recuperação não é total.

Desse modo, a fisioterapia preventiva procura agir positivamente sobre a

sociedade, contribuindo para o bem estar das pessoas, para a melhoria da

qualidade de vida do trabalhador e, de alguma forma um progresso no modo como

se encara a medicina preventiva.

Assim, o profissional dessa área está exercendo sua cidadania e, além

disso, sua responsabilidade social, e evidentemente, esse processo será

recompensado de diversas formas, e o reconhecimento de todos aqueles que

tiveram a chance de evitar o desenvolvimento de uma patologia é uma dessas

formas de recompensa. A fisioterapia do trabalho é, portanto, fundamental na

construção de um profissional mais humano, preocupado com as pessoas e com

melhoria de sua qualidade de vida.

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Bibiografia

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