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Curso de Toxicologia ANVISA - RENACIAT - OPAS – NUTES/UFRJ - ABRACIT 1 MÓDULO II Conhecimentos Gerais Autor Heloísa Rey Farza (GGTOX - ANVISA) Tutor Heloísa Rey Farza (GGTOX - ANVISA) Aparelho digestivo Anatomia O tubo digestivo é constituído por um duto de calibre variável, atravessando o corpo, da boca ao ânus. Ele é composto de vários segmentos que se iniciam pela cavidade bucal e a faringe, seguidos do esôfago, que atravessa o pescoço e o tórax e se termina pelo esfíncter esofagiano inferior ou cárdia, na sua junção com o estômago. O estômago tem, quando vazio, uma forma de “J” maiúsculo. É uma bolsa com capacidade para armazenar até 1,5L de alimentos, formada por um segmento superior ou "porção vertical”, mais volumoso, que compreende duas partes superpostas - a grande tuberosidade, no alto, e o corpo do estômago, abaixo -, seguido da pequena tuberosidade ou antro, disposta obliquamente em relação ao corpo, e se terminando pelo piloro, através do qual o estômago se comunica com o intestino. A borda direita do estômago, côncava, é chamada pequena curvatura; a borda esquerda, convexa, é dita grande curvatura. O intestino se divide em várias partes. O intestino delgado, de 4 a 8 metros de comprimento, que se dobra em um número importante de alças e comporta uma parede interna cheia de vilosidades e membranas celulares ciliadas, de

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MÓDULO II Conhecimentos Gerais Autor Heloísa Rey Farza (GGTOX - ANVISA) Tutor Heloísa Rey Farza (GGTOX - ANVISA) Aparelho digestivo Anatomia O tubo digestivo é constituído por um duto de calibre variável, atravessando o corpo, da boca ao ânus.

Ele é composto de vários segmentos que se iniciam pela cavidade bucal e a faringe, seguidos do esôfago, que atravessa o pescoço e o tórax e se termina pelo esfíncter esofagiano inferior ou cárdia, na sua junção com o estômago. O estômago tem, quando vazio, uma forma de “J” maiúsculo. É uma bolsa com capacidade para armazenar até 1,5L de alimentos, formada por um segmento superior ou "porção vertical”, mais volumoso, que compreende duas partes superpostas - a grande tuberosidade, no alto, e o corpo do estômago, abaixo -, seguido da pequena tuberosidade ou antro, disposta obliquamente em relação ao corpo, e se terminando pelo piloro, através do qual o estômago se comunica com o intestino. A borda direita do estômago, côncava, é chamada pequena curvatura; a borda esquerda, convexa, é dita grande curvatura. O intestino se divide em várias partes. O intestino delgado, de 4 a 8 metros de comprimento, que se dobra em um número importante de alças e comporta uma parede interna cheia de vilosidades e membranas celulares ciliadas, de

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modo a multiplicar vantajosamente sua superfície de absorção. Ele começa pelo duodeno que é constituído de quatro segmentos: o bulbo duodenal, horizontal, seguido de uma porção vertical, onde desembocam, em um orifício comum chamado ampola de Vater, o colédoco que vem do fígado e o canal de Wirsung que vem do pâncreas; uma terceira seção horizontal e uma quarta, ascendente, terminam o duodeno. Ao duodeno segue o jejuno e, em seguida, o íleo, que desemboca no intestino grosso através da válvula de Bauhin.

O intestino grosso ou cólon tem cerca de 1,20 a 2 m de comprimento e um diâmetro bem maior que o do intestino delgado. Ele emoldura o intestino delgado, e seus segmentos não são bem individualizados morfologicamente. À direita, ele compreende uma ampola que corresponde ao ceco, no qual desemboca o íleo e, abaixo dele, um divertículo, o apêndice. Ele se continua pela parte ascendente do cólon, forma um ângulo reto para seguir pelo cólon transverso, sob o diafragma, e dobrar-se para baixo, formando o cólon descendente. Ao segmento descendente segue o cólon sigmóide, que desenha uma alça e desemboca no reto. O reto divide-se em três porções: o terço superior, o terço médio e o terço inferior. Inicia-se arbitrariamente no promontório sacro e termina no anel anorretal.

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Histologia O tubo digestivo é formado por cinco túnicas distintas. Do interior para o exterior das cavidades tem-se: a mucosa, a muscularis mucosae, a submucosa, a muscular e a serosa ou a túnica conjuntiva externa. A mucosa tem um epitélio de revestimento, e um tecido conjuntivo rico em vasos e folículos linfóides e que contém glândulas endócrinas e exógenas. Segmento Mucosa Esôfago Epitélio pavimentar, exceto no nível do esfíncter esofagiano

superior, onde coexistem os epitélios pavimentar e cilíndrico Estômago Epitélio cilíndrico, abrangendo dois tipos de glândulas,

gástricas e pilóricas. As glândulas gástricas ou fúndicas constituem 70 a 80% das glândulas gástricas e secretam muco, pepsinogênio, ácido clorídrico e fator extrínseco. A superfície da mucosa apresenta pregas criadas pela contração da muscularis mucosae, particularmente salientes no nível do corpo, e menos salientes no antro. pH = 1 a 3,5

Duodeno Epitélio cilíndrico, comportando células caliciformes produtoras de muco, células de Paneth e células endócrinas. As células cilíndricas atapetam as vilosidades e as criptas glandulares cujo tamanho aumenta na segunda e terceira porções do duodeno. Mucosa lisa nos 4 a 5 primeiros centímetros, mas, apresentando pregas em forma de crescentes na parte descendente do tubo. O bulbo é percorrido por pregas longitudinais pouco profundas, que desaparecem quando o duodeno está distendido. Na junção do primeiro e segundo segmentos, encontram-se as pregas circulares permanentes, chamadas de válvulas coniventes ou pregas de Kercking, características do intestino delgado. pH =3

Jejumo e íleo O epitélio é cilíndrico, contendo células caliciformes

produtoras de muco e placas de Peyer ; estas placas correspondem a associações volumosas de folículos linfóides presentes principalmente na parte terminal do íleo. As válvulas coniventes são espessas, altas e numerosas no jejuno e contrastam com o aspecto em lingüiça das alças

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ileais, onde as válvulas coniventes se tornam gradualmente menos numerosas e menos salientes. pH = 6 a 8

Cólon Mucosa sem vilosidades, de aspecto relativamente liso, mas

semeada de numerosas glândulas que se abrem na superfície. Os tipos celulares presentes são similares aos do intestino delgado, mas o número de células caliciformes é muito maior. As células secretam muco na luz do intestino grosso que se observam, às vezes, nas fezes, sob a forma de filamentos.

A mucosa íleo-jejunal apresenta, além de inúmeros dobramentos maiores, milhões de dobras menores (4 a 5 milhões), ditas vilosidades e as válvulas coniventes. As válvulas coniventes correspondem a pregas da mucosa de 6 a 8 mm de altura que multiplicam a superfície de 3 a 10 vezes. Toda a mucosa é eriçada de vilosidades de 1 mm de altura que multiplicam a superfície de 30 a 60 vezes. O resultado é uma área de absorção de mais ou menos 20 m2. As microvilosidades ou bordas em escova das membranas celulares íleo-jejunais, fazem com que essa mesma área atinja cerca de 300m2, gerando uma superfície de absorção significativa. A muscularis mucosae é constituída por uma fina camada de fibras musculares lisas e nela se encontram amplos plexos vasculares sangüíneos e linfáticos. Esta camada não existe no terço superior do esôfago e no canal anal. A submucosa é formada de tecido conjuntivo e compreende o plexo nervoso de Meissner, assim como numerosos vasos sangüíneos e linfáticos que irrigam a mucosa intestinal. A muscular está disposta em duas camadas de fibras musculares lisas, das quais uma é circular e interna e, a outra, longitudinal e externa. Entre as duas, se localiza o plexo nervoso de Auerbach. Três espessamentos da camada circular vão constituir o piloro, a junção ileocecal ou válvula de Bauhin, e o esfíncter interno do ânus. A túnica externa forma, ou um adventício, ou uma serosa. Nas extremidades do tubo digestivo ela é constituída por um tecido conjuntivo frouxo que a torna solidária dos órgãos vizinhos ao qual se dá o nome de adventício. Entre as duas extremidades, a túnica externa formada por um tecido conjuntivo revestido, do

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lado externo, por um epitélio simples (ou mesotélio). Neste caso ela é chamada de serosa e constitui o folheto visceral da serosa peritonial. Fisiologia O aparelho digestivo tem diversas funções: 1. Função motora As substâncias ingeridas (alimentos ou não) sofrem transformações mecânicas graças à trituração dos alimentos pela mastigação e aos movimentos peristálticos primários do tubo digestivo, que, após a deglutição, fazem avançar o bolo alimentar a uma velocidade de 25 cm/min. Esses movimentos começam na faringe e se prolongam por todo o aparelho digestivo. O peristaltismo secundário colabora com o peristaltismo primário com o objetivo de mobilizar um bolo alimentar mais volumoso.

Esses movimentos no estômago transformam o bolo alimentar em um amálgama chamado quimo. No intestino, aparece um outro tipo de movimento que é a contração segmentar. Ela ocorre, concomitantemente, em vários pontos do intestino, dando um aspecto de colar aos trechos estimulados. Este processo começa pela distensão da parede intestinal pelo quimo, que provoca uma contração reflexa. A contração empurra o conteúdo da alça para as zonas adjacentes que se distendem, em seguida se contraem, empurram o bolo e o ciclo recomeça. O bolo não migra obrigatoriamente para adiante, e pode retroceder sob o efeito da contração. Esta atividade produz um movimento de vai-e-vem que reduz a velocidade de progressão do quimo, mas, apesar disso, permite a homogeneização do bolo, fragmenta a massa em partículas menores e aumenta o tempo de contato dos produtos com as enzimas e as paredes do trato digestivo.

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Agentes reconhecidos por reduzir o tônus do esfíncter esofagiano inferior Teofilina Cafeína Refeição rica em gorduras Chocolate Menta Tabaco Etanol Anticálcicos Morfina Meperidina Benzodiazepinas Agonistas ß-adrenérgicos Derivados nitrogenados Anticolinérgicos (inclusive os antidepressores tricíclicos) 2. Função secretora, de absorção e excretora A função de secreção corresponde ao transporte de água, eletrólitos e outras substâncias, das células do trato digestivo para a luz dos órgãos ou em direção ao sangue. A absorção é a passagem dos elementos simples da luz digestiva para o meio interno (os produtos já ingeridos na forma de moléculas simples não necessitam intervenção das enzimas gastrintestinais), e a excreção se traduz pela eliminação dos produtos não absorvidos, com a possibilidade de sua eliminação pelas fezes. A digestão começa na cavidade bucal graças à hidratação e lubrificação dos alimentos, a solubilização das substâncias aromatizantes, a ação de duas enzimas salivares, a amilase e a lipase, que transformam o amido e as gorduras, e se continua no estômago. Neste é produzido o suco gástrico, líquido claro, transparente, muito ácido, que contêm muco, ácido clorídrico e várias enzimas, entre as quais a pepsina, a renina e a lipase. Em presença de ácido clorídrico, a pepsina cinde as cadeias de proteínas em moléculas menores, liberando aminoácidos. A renina coagula o leite e a lipase age sobre alguns tipos de gordura. A mucosa gástrica produz também o fator intrínseco, necessário à absorção da vitamina B12. O estômago tem uma função, sobretudo, de armazenamento dos alimentos e, através de movimentos de segmentares de suas paredes, de mistura e transformação dos produtos ingeridos em pequenas partículas que facilitam a digestão. Sua acidez (pH entre 0,9 e 2,0) inibe as contrações de seus músculos parietais e a abertura do piloro, esteriliza o quimo, transforma o ferro ferroso (Fe2+) ingerido em ferro férrico (Fe3+), e ioniza o cálcio para facilitar sua absorção.

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A digestão propriamente dita ocorre no duodeno e é realizada pelas enzimas pancreáticas, a bílis (pH da bile oscila entre 8,0 e 8,5) e as enzimas do intestino delgado. A presença de proteínas e lipídios parcialmente digeridos provoca a secreção de tripsina, quimiotripsina e carboxidase pancreáticas. Todas são elaboradas sob forma de precursores e ativadas unicamente quando atingem a luz intestinal. A tripsina e a quimiotripsina hidrolisam polipeptídios, transformando-os em oligopeptídeos. Os lipídios de grande cadeia molecular são inicialmente emulsificados, e os triglicerídeos são hidrolisados pela lipase pancreática e solubilizados pelos ácidos biliares. Os carboidratos são hidrolisados pela amilase pancreática. A absorção dos produtos do ocorre através de mecanismos ativos ou passivos, nas regiões do jejuno e do íleo. O intestino grosso ou cólon, de 125 cm de comprimento, garante principalmente a reabsorção de íons de sódio e cloro e a eliminação de potássio e íons bicarbonato. Ele contém aproximadamente 99% das bactérias do organismo que degradam a uréia em amoníaco, o qual é evacuado pelo fígado, e participam da fermentação dos glucídios não absorvidos pelo intestino delgado. O processo de fermentação e putrefação bacteriana facilita a absorção dos produtos de degradação, a recuperação da maior parte da água (concentração e desidratação do bolo fecal) e eliminação dos produtos putrefatos através do reto e do esfíncter anal. Esquematização da progressão dos produtos ingeridos pelo tubo digestivo:

1. Após mastigação e ação das enzimas salivares, o bolo alimentar percorre o esôfago em 10 minutos.

2. No estômago, a água e os líquidos que chegam sozinhos passam diretamente para o duodeno, em aproximadamente 10 minutos. Um bolo alimentar líquido (sopas, cremes, etc.) passa em 30 min. Os sólidos (massas, pão, arroz com feijão, etc.) levam uma hora e meia para serem totalmente evacuados do estômago, mas a presença de gorduras (carne, óleo, manteiga, etc.) diminui a velocidade de esvaziamento, exigindo até três horas para a passagem completa dos produtos sólidos, ainda que boa parte do bolo já tenha migrado para o intestino delgado. Quanto mais o estômago está cheio, menor é a sua velocidade de esvaziamento.

3. No intestino, a progressão do quimo não é regular. As primeiras partes ingeridas atravessam o intestino delgado em 20 min e chegam à válvula de Bauhin em 120 min: efeito de hidratação e continuação do fracionamento dos produtos ingeridos, absorção dos derivados resultantes da digestão química. A trajetória dentro do intestino grosso dura aproximadamente 3 a 4 horas.

Fisiologia hepática A unidade estrutural de base do fígado é o lóbulo hepático, constituído de hepatócitos dispostos radialmente em torno de uma veia hepática central. A

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unidade funcional é o ácino, formado pelas células de vários lóbulos hepáticos agrupadas em torno da tríade portal: vasos sangüíneos (arteríolas e vênulas), fibras nervosas e canais biliares. A rede vascular converge da região periportal, onde se localiza a tríade, em direção à veia hepática central, e é constituída de sinusóides hepáticos, separados dos hepatócitos pelo espaço de Disse ou espaço intersinusoidal. As paredes dos sinusóides são compostas por células endoteliais, células de Kupffer e células de ito, cuja ordenação cria fenestrações ou poros, por donde flui o ultrafiltrado sangüíneo que vai constituir a linfa. Aproximadamente a metade da linfa formada no organismo é produzida no fígado. Ela passa do espaço de Disse para o interior dos capilares linfáticos existentes na região periportal e daí para a rede linfática sistêmica. Os hepatócitos distribuídos em cordões celulares são circundados por canalículos biliares centrais que constituem os dutos iniciais de coleção da bile. A circulação biliar se dá no sentido oposto ao fluxo sangüíneo, ou seja, corre do centro do lóbulo hepático em direção à tríade portal. A vascularização hepática se dá através da veia porta e da artéria hepática. A veia portal drena sangue proveniente dos órgãos abdominais trazendo as substâncias absorvidas pelo estomago e intestinos. Ela se une à artéria hepática formando a veia central dos lóbulos, que se divide em capilares sinosóides. É a partir deles que os produtos da digestão são captados pelos hepatócitos para serem metabolizados. Os sinosóides vão associar-se para formar a veia hepática e lançar-se na circulação geral através da veia cava abdominal. O fígado tem por função regular a concentração sérica de várias substâncias que têm um papel importante no organismo, quanto de outras que, apesar de agirem sobre tecidos e órgãos, não tem um papel no funcionamento normal do organismo. Ele é responsável pelo metabolismo dos carboidratos, dos lipídios e das proteínas, a síntese de proteínas, a degradação de hormônios, a inativação de produtos tóxicos, o armazenamento de vitaminas e metais, e a excreção do colesterol, metabólitos da hemoglobina e ácidos e sais biliares. O sistema biliar é composto pelos canalículos biliares que se associam progressivamente em dutos biliares e duto cístico, levando a bile ao seu local de armazenamento constituído pela vesícula biliar. A contração da vesícula e o relaxamento do esfíncter de Oddi resultam da ação da colecistoquinina ou CCK liberada após estimulação das células do intestino delgado pela presença de gorduras na luz intestinal. Daí a bile é excretada para o duodeno, estimulada pela presença de gorduras no bolo alimentar.

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Ciclo entero-hepático O ciclo entero-hepático se define como o processo em que os sais biliares e outras substâncias excretadas pelo fígado são reabsorvidos pela mucosa intestinal e retornam ao fígado através da circulação portal. Ele se destina ao processo de digestão e absorção das gorduras. Tal processo se efetua em várias fases distintas, associadas às funções do pâncreas, do fígado, da mucosa intestinal e do sistema linfático.

No estômago, os triglicerídeos são hidrolisados pelas lipases gástricas (ativas em meio ácido), produzindo diacilglicerol e ácidos graxos livres. Os triglicerídeos não transformados são emulsionados e formam esferas, ditas micelas simples, resultantes do posicionamento exterior das extremidades polares das moléculas, que lhes asseguram um caráter hidrofílico, e à aglutinação interna das extremidades não polares, lipofílicas. A presença de todas estas formas de gordura no duodeno provoca a liberação de colecistoquinina produzida pelas células da mucosa, a qual leva a vesícula biliar a se contrair e liberar ácidos biliares e outros produtos na luz intestinal.

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O efeito detergente dos ácidos biliares, associado a uma concentração significativa dessas substâncias na bile (concentração micelar crítica), faz com que eles também formem uma solução micelar. A associação das micelas de ácidos biliares com as de glicerol, ácidos graxos livres e ß-monoglicerídeos produz um agregado polimolecular e mantém as gorduras numa forma hidrossolúvel. Este processo de emulsão das gorduras cria uma fonte local de ácidos graxos e colesterol que, sob ação da lípase pancreática, saem das micelas e penetram nas células da mucosa. No interior das células, os ácidos graxos se associam para formar novos triglicerídeos, os quais se combinam com pequenas quantidades de colesterol e se recobrem de fosfolipídios e proteínas para formar um tipo de lipoproteínas chamadas quilo. Os quilos se dirigem à região basal das células mucosas intestinais e passam para os quilíferos centrais das vilosidades intestinais. A partir daí, são transportados pela linfa até o canal torácico e atingem a circulação geral. Os quilos transportados pelo sangue se dirigem aos órgãos de utilização periférica tais como o fígado (via veia porta, criando a circulação entero-hepática), músculos e tecido adiposo, ou aos sítios de eliminação, representados pela luz do intestino delgado. No intestino delgado os produtos podem sofrer um outro processo de recirculação ou serem eliminados pelas fezes.

Todas as substâncias que são eliminadas pela bile, logo, que são lipossolúveis, podem sofrer esse mesmo mecanismo de excreção-reabsorção até sua eliminação total do organismo.

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As principais vias de eliminação dos produtos tóxicos são as vias hepato-biliares e as vias renais. O fígado transforma os toxicantes em metabólitos, com o objetivo de torná-los mais solúveis para que sejam eliminados pelas vias renais, ou de associá-los aos sais biliares para excretá-los pelas fezes, ou, ainda, anular seus efeitos tóxicos. No entanto, tais processos de detoxificação do organismo podem resultar em ação contrária à esperada devido à formação de metabólitos mais agressivos. A ação tóxica dos produtos se exerce diretamente sobre as células do fígado e causam lesões nas regiões periportais dos lóbulos hepáticos (metais) ou, o que constitui a maioria dos casos, após oxidação pelas células, geram alterações nas zonas centro-lobulares (clorofórmio). Estes dois tipos de hepatotoxicidade direta são dose-dependentes. Existe ainda um outro tipo de distúrbios de mecanismo, dito imunoalérgico, que gera uma hepatotoxicidade indireta onde a sintomatologia é independente da dose, mas muito ligada à repetição das exposições (halotano).

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Pele A pele se divide em duas zonas que correspondem a um tipo particular de tecido:

- a epiderme, situada em superfície, é constituída por um tecido epitelial queratinizado em superfície; - a derme, situada em profundidade, é formada por dois tipos de tecido conjuntivo, frouxo e denso. Estes dois tecidos estão estreitamente ligados um ao outro. - a hipoderme ou tecido subcutâneo encontra-se abaixo da derme, constituída essencialmente por um tecido adiposo. A hipoderme une a pela às estruturas subjacentes através de feixes irregulares de fibras colágenas, absorve os choques e isola as estruturas mais profundas contra as mudanças bruscas de temperatura.

Epiderme A epiderme é constituída de um epitélio pavimentoso estratificado, estruturado em 4 ou 5 camadas de células, segundo a região do corpo:

camada basal – a mais profunda e em contato com a derme, formada de células pouco diferenciadas e de forma cúbica, que se multiplicam incessantemente; camada espinhosa – constituída de células mais achatadas, queratinizadas, que estabelecem contato estreito umas com as outras através de desmossomas; camada granulosa - contendo células achatadas, ricas em queratina e fibras de colágeno, e contendo lisossomos ricos em enzimas; camada lúcida – presentes na pele glabra, ela apresenta células achatadas, de aspecto hialino, contendo enzimas auto-digestivas, responsáveis pela destruição de suas organelas citoplásmicas e seus núcleo; camada córnea – formada de células muito achatadas, cujo citoplasma contém quantidades importantes de queratina.

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As células que compõem a epiderme são de vários tipos: Queratinócitos: elas são as mais numerosas e produzidas pelas células da camada basal. Sintetizam a queratina e, à medida que migram para a superfície, se transformam progressivamente, formando uma camada córnea ou queratinizada, caracterizada por células que, perdendo seus núcleos, suas organelas citoplásmicas e suas membranas celulares, deixam no lugar estruturas achatadas e rígidas de queratina. A queratina, proteína fibrosa filamentosa, dá firmeza à epiderme, garante a impermeabilização da camada externa e a protege da desidratação. Essa proteína contém uma elevada taxa de ácidos aminados a base de enxofre, cisteína em particular, que formam pontes dissulfeto entre as moléculas e conferem rigidez ao conjunto. A perda das células superficiais é o resultado do atrito e outros fenômenos externos sofridos pela pele. A renovação total da epiderme se dá a cada 25 a 50 dias.

Melanócitos: são células especializadas, presentes, sobretudo na camada basal, que podem sintetizar um pigmento escuro, a melanina, cuja função é de

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proteger a pela contra os raios ultravioletas do sol. A exposição à luz solar provoca a produção de maiores quantidades de melanina. As efélides ou sardas correspondem a uma hiperpigmentação fotorreactiva em alguns pontos da pele e, os melanomas benignos ou pintas, a uma acumulação local de melanina. Células de Langerhans: são células imunitárias gigantes, de forma estrelada graças à presença de prolongamentos membranares que se estendem entre os queratinócitos. Elas são produzidas pela medula óssea e migram para a epiderme onde atuam como macrófagos e contribuem à ativação do sistema imunitário. As células de Langerhans são capazes de ingerir partículas estranhas e microorganismos e, em seguida saem da epiderme e passam para os gânglios linfáticos satélites onde apresentam os determinantes do antígeno aos linfócitos T. Células ou discos de Merkel: elas estão presentes entre a epiderme e a derme em pequena quantidade. Ligam-se estreitamente à terminação nervosa sensitiva e têm um papel de receptores do tato e de pressão. Ainda que as camadas mais superficiais da epiderme sejam compostas de células ditas “mortas”, atualmente se sabe que elas são o sítio de uma atividade metabólica importante, mas, contrariamente ao que se passa em outros tecidos, essa atividade é essencialmente extracelular. Isto resulta da ação das enzimas secretadas pelas células da camada granulosa da epiderme e que são liberadas, em grânulos, nos interstícios entre aquelas da camada córnea. Essas enzimas são hidrolases pouco específicas: glicosidade, fosfolipase, esfingomielinase, fosfatase, algumas esterases, sulfatases e proteases, e têm uma ação importante na apoptose da epiderme. Estudos recentes demonstraram que o aumento da atividade da enzima fosfolipase A2, e do trocador sódio-hidrogênio presente nessa região, está relacionado com a acidificação do filme líquido na superfície da camada córnea da epiderme. O pH da superfície cutânea, situado entre 4 e 6,5, mas podendo variar segundo as áreas do corpo, garante a integralidade e a coesão tissular e faz com que a pele seja menos permeável à água e outros produtos polares1 e menos susceptível à ação de microorganismos patogênicos. O efeito de lavagens múltiplas e de produtos que modificam a composição ou eliminam o filme hidrolipídico (solventes, tensioativos e outros), alteram as funções da camada córnea e o pH da pele, que vão requerer mais de 14 h para serem restaurados. Toda agressão interveniente durante esse período

1 As substâncias polares possuem uma ou mais zonas de carga positiva e outras tantas zonas de carga negativa que formam dipolos, os quais atraem por eletrostática o(s) dipolo(s) da outra(s) molécula(s), de forma a potencializar a solubilização. As moléculas orgânicas possuem uma parte polar, solúvel em água e uma parte apolar, insolúvel em água, mas solúvel em lipídios. À medida que se aumenta o número de carbonos no grupo dos álcoois e ácidos carboxílicos, por exemplo, a solubilidade, em meio aquoso vai diminuindo. - Substância polar dissolve substância polar e não dissolve ou dissolve pouca quantidade de substância apolar. - Substância apolar dissolve substância apolar e não dissolve ou dissolve pouca quantidade de substância polar.

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concorrerá para o prolongamento desse estado de suscetibilidade. O eczema2 agudo e a dermatite atópica3 podem causar um aumento do pH cutâneo até 7,3 ou 7,4. A epiderme se invagina na derme e origina:

- os folículos pilosos que, na exposição ao frio, são levantados pelos músculos eretores, aprisionando bolhas de ar estático junto à pele que retardam as trocas de calor; - as glândulas sebáceas, são responsáveis pela oleosidade da pele. Mais numerosas e maiores na face, couro cabeludo e porção superior do tronco, não existem nas palmas das mãos e plantas dos pés. Elas excretam sua secreção no folículo pilo-sebáceo. Muitas substâncias lipofílicas se diluem na mistura formada pelo suor e o produto das glândulas sebáceas, aumentando seu tempo de contato com a pele e tendo, assim, facilitada sua absorção por essa via; outras são absorvidas quando diluídas em um solvente que destrói esse filme lipoprotéico; - as glândulas sudoríparas, são glândulas tubulosas simples terminadas por um ducto único e estreito. A porção secretora localiza-se na derme. Elas podem ser de dois tipos: glândula sudorípara apócrina – elimina uma minúscula parte do citoplasma associada à secreção propriamente dita, e glândula sudorípara écrina – elimina exclusivamente sua secreção. O suor secretado é uma solução extremamente diluída, que contém algumas proteínas, sódio, potássio, cloreto, uréia, amônia e ácido úrico, e provoca a diminuição da temperatura corporal ao evaporar-se da superfície da pele. Alguns produtos de secreção são eliminados através do suor.

Derme A derme é um tipo de envelope resistente e flexível que cobre e sustenta o organismo. Sua espessura é variável, aproximadamente quatro vezes mais espesso que a epiderme: ela é mais espessa na palma das mãos e na planta dos pés, e mais delgada nas pálpebras. Amplamente vascularizada, ela tem um papel importante no controle da temperatura do corpo através da dilatação de seus vasos que se enchem de sangue quente, para irradiar o excesso de calor para o exterior, ou se esvaziam quando a temperatura externa baixa, a fim de

2 O termo eczema deriva do grego ekzein (ek= fora; zein= ferver). Constitui um estado patológico da pele em que predominam condições inflamatórias caracterizadas pelos sinais eritema, edema, vesiculação, secreção, papulovesiculação, infiltração, crostas, escamas e liquenificação, associados sempre ao sintoma prurido, em intensidades variáveis e, às vezes, ao ressecamento da pele. Predomina em regiões flexíveis do corpo, como a parte posterior do joelho e as dobra do braço e das mãos. Essa palavra é freqüentemente utilizada para designar a dermatite atópica, causada por uma alergia. 3 A atopia é a predisposição genética do organismo a produzir resposta mediada por imunoglobulinas de tipo IgE a alérgenos ambientais. Corresponde a uma reação dita alérgica e pode traduzir-se por lesões cutâneas (dermatites atópicas), asma, etc...

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evitar o resfriamento interno do organismo. Os vasos sangüíneos também são responsáveis pela alimentação da epiderme, permitindo a difusão de nutrientes e oxigênio para as camadas celulares mais profundas; a migração celular implica na hipoxia e na falta de elementos nutritivos e causam a morte das células das camadas mais superficiais. As principais células da derme são os fibroblastos que produzem grandes quantidades de fibras conjuntivas de colágeno e elastina que garantem a sustentação, a extensibilidade e a resistência da pele. Estas fibras se rarefazem progressivamente com a idade, para desaparecer entorno dos 45 anos. Eles também produzem uma substância amorfa, gelatinosa, que sustentam os elementos dérmicos.

A derme é organizada em três camadas de tecido conjuntivo: a camada papilar, situada abaixo da membrana basal de epiderme é rica em células e capilares sangüíneos, fibras nervosas e corpúsculos táteis. Nela se encontram fibras especiais de colágeno, fibras de elastina, a fibronectina que condicionam as ondulações da junção dermoepidérmica e que têm um papel importante na aderência entre os tecidos, fibrócitos responsáveis pela síntese de macromoléculas que formam o tecido conjuntivo do derme, histiócitos responsáveis pela fagocitose de corpos estranhos e alguns mastócitos e células sangüíneas. Do ponto de vista neurológico, a derme contém os receptores sensitivos da dor e da temperatura (terminações nervosas livres) e do tato (corpúsculos de Meissner). Estes últimos encontram-se mas concentrados em áreas muito sensíveis ao toque de leve, como as pontas dos dedos, palmas das mãos, solas dos pés, lábios, língua, face, pele externa dos órgãos genetias e mamilos. As papilas da derme das pontas dos dedos, a palma da mão e a planta dos pés conferem à superfície externa um relevo acidentado, denominado “impressão digital”, feito de cristas e sulcos que aumentam a capacidade de aderência da pele e deixam passar um filme delgado de transpiração;

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a zona reticular é mais densa e pobre em células, mas ricas em colágeno e elastina, fibronectina, fibroblastos, histiócitos e líquido intercelular. Ela contém vasos sangüíneos, glândulas sebáceas e sudoríparas, receptores de pressão (corpos lamelares) e numerosas células fagocitárias que impedem a passagem das bactérias em profundidade. Fibras de colágeno e elásticas são abundantes nessa área da derme. a derme profunda é dificilmente diferenciada da zona reticular. Ela penetra na hipoderme e se compõe de grandes feixes de fibras colágenas. Na sua face interna e em algumas regiões do corpo, ela contém também fibras musculares lisas e/ou músculos eretores do pêlo. Hipoderme A hipoderme é a camada mais profunda e mais espessa da pele. Ela se invagina na derme e se amarra nela graças às fibras de colágeno e elastina. A hipoderme é constituída de células especializadas no armazenamento de gorduras, os adipócitos, que se agrupam para constituir lóbulos separados por tecido conjuntivo e formar o tecido adiposo. A hipoderme é extremamente maleável e tem por função servir de interface entre a derme e as estruturas móveis situadas abaixo dela, tais como os músculos, os tendões, etc. Ela serve ainda de reserva lipídica e protege o organismo de choques e das variações externas de temperatura. Sua espessura varia segundo a localização, o sexo e a idade. A hipoderme representa 15 a 30% do peso corporal.

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Aparelho respiratório e respiração Em contato permanente com o meio externo, o epitélio das vias aéreas é frequentemente agredida por agentes tóxicos e infecciosos, que podem causar a perda da integridade da barreira epitelial ou a descamação parcial ou total das células da mucosa. Para de restaurar sua função, o epitélio deve, não só reparar as lesões, como também reconstituir e regenerar um epitélio funcional. Este processo demanda migração, proliferação e diferenciação celular, reguladas por citoquinas4, proteínas da matriz extracelular e enzimas proteolíticas. A vascularização da mucosa das fossas nasais é extremamente abundante. Fisiologicamente, a cada meia hora, todos os vasos de uma delas se abrem completamente, provocando uma tumefação notável da mucosa dessa área. Este fenômeno de repouso periódico limita a passagem do ar por uma fossa nasal, impedindo a dessecação do seu epitélio.

O epitélio das duas fossas nasais é, na sua parte mais externa, parecido com o da pele: estratificado, queratinizado e apresentando pêlos5 que retêm o muco e as grandes partículas. Mais ao fundo, passa a ser do tipo respiratório, recobrindo também a parte interna da traquéia, dos brônquios e bronquíolos. Ele é pseudo-estratificado nas partes mais largas da árvore respiratória, tornando-se cilíndrico uniestratificado e, por fim, cúbico, nas partes mais estreitas dos bronquíolos. O epitélio pseudo-estratificado é formado de células ciliadas6, células caliciformes - secretoras de mucina-, células basais de

4 Citoquinas: citoquinas ou interleuquinas são proteínas de baixo peso molecular, essenciais para a comunicação intercelular; são produzidas por diferentes células, principalmente aquelas do sistema imunitário. Eles controlam várias funções fisiológicas críticas tais como a diferenciação e maturação celular, inflamação, resposta imune local e sistêmica, reparação tissular, hematopoiese, apoptose e outros processos biológicos 5 Apêndice filiforme de origem dérmica e formado por queratina 6 Apêndice das células eucarióticas que apresenta movimento constante numa única direcção. É formado por uma membrana que envolve uma matriz feita de nove microtúbulos rodeando um núcleo central constituído de dois microtúbulos

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substituição e umas quantas células neuroendócrinas. O desaparecimento da camada queratinizada facilita a absorção das substâncias inaladas ou aspiradas, o muco representando a única barreira física. O batimento dos cílios encaminha essa secreção, e os gases e partículas nela fixados, para a faringe, onde ele é deglutido e passa para o tubo digestivo.

O ar respirado é transportado pelas vias de condução: vias respiratórias superiores (fossas nasais, boca, nasofaringe, orofaringe e laringe) e inferiores (traquéia, brônquios e bronquíolos). Atinge a área respiratória propriamente dita quando chega aos canais alveolares e alvéolos, onde se dá a troca gasosa entre o ar e o sangue. Do ponto de vista anatômico, o pulmão contém, não somente a totalidade da porção respiratória (alvéolos e bronquíolos respiratórios), mas também a parte inferior da árvore respiratória (brônquios intrapulmonares e bronquíolos).

Os alvéolos são pequenas cavidades de 200 µ de diâmetro, reunidos em sacos alveolares, de paredes muito finas e constituídas de uma camada delgada de pneumócitos granulares de tipo 1 sobrepostos às células do endotélio vascular. Esta parede estreita permite que as trocas O2-CO2 se façam por simples difusão. Sua delgadeza é recoberta de um filme líquido que tende a ocupar a menor superfície possível, podendo causar o colabamento das cavidades. Este fenômeno é contrariado pela força de expansão do pulmão pela caixa torácica

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e a pleura, mas exige também a presença de um surfactante, secretado pelos pneumócitos granulares de tipo 2 (P II).

O surfactante é constituído por proteínas e fosfolipídios (essencialmente dipalmitoilfosfatidilcolina e fosfatidilglicerol) dispostos em camada monomolecular sobre a face interna dos alvéolos que, graças à sua polaridade (pólos hidrófilos e hidrófobos) reduz a tensão de superfície do filme líquido das cavidades. Esse efeito aumenta a complacência pulmonar, diminui o trabalho inspiratório, evita o colabamento dos sacos alveolares e dos bronquíolos terminais durante a expiração e mantém os alvéolos secos, já que faz com que o liquido sangüíneo saia da luz dos alvéolos para dentro dos capilares. O surfactante também é responsável pela inibição da broncoconstrição mediada por receptores e permite que bronquíolos e alvéolos mantenham sua função de conduzir o ar respirado e efetuar a troca gasosa. Suas proteínas têm a capacidade de reconhecer os oligossacarídeos de superfície de bactérias, fungos e vírus e constituem, em associação com os macrófagos (monócitos e polinucleares de origem sangüínea) presentes na luz dos alvéolos e nos septos interalveolares, um sistema de proteção contra os agentes infecciosos. O surfactante tem ainda um papel importante nos processos de fibrose pulmonar induzidos por material particulado. As substâncias gasosas tóxicas têm uma capacidade de acesso aos alvéolos muito maior que as particuladas, pois não são freadas pelo tamanho das moléculas. Elas serão absorvidas por simples difusão através das mucosas e membranas ou por diluição no muco traqueobrônquico e no filme fosfolipídico alveolar. As substâncias orgânicas são absorvidas em função do tamanho de suas moléculas e sua capacidade de diluição nas secreções bronco-alveolares. Quanto menor o peso molecular e maior a sua lipossolubilidade, maior a absorção e menor a intervenção dos macrófagos presentes nas cavidades das vias aéreas.

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Os solventes e outras substâncias têm o poder de destruir a camada de surfactante e permitir a passagem de muitos produtos do ar respirado para o tecido pulmonar e o sangue, distribuindo-as a todo o organismo. Várias anormalidades da estrutura e da função do surfactante têm sido associadas com doenças obstrutivas pulmonares, infecções respiratórias, síndromes do desconforto respiratório, doença pulmonar intersticial, proteinose alveolar pulmonar, cirurgia de derivação cardiopulmonar7 e tabagismo. Conclusão É importante notar, assim, que a barreira representada pelo epitélio dos sacos alveolares e dos capilares é extremamente frágil e fina, permitindo a penetração de substâncias agressivas que são absorvidas por um processo de difusão, por fagocitose ou por destruição, tanto do filme de surfactante, quanto dos pneumócitos e do endotélio capilar. A membrana respiratória representa uma grande área de absorção, com superfície que atinge de 85 a 100 m2.

7 Desvio do fluxo sanguíneo da entrada do átrio direito diretamente para a aorta (ou artéria femoral) através de um oxigenador, excluindo o coração e os pulmões da circulação.

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Fisiologia renal Anatomia O aparelho urinário é formado de dois órgãos volumosos, os rins, que exercem a função de filtração, secreção e reabsorção de água, sais e outras substâncias, formando a urina que é evacuada para a bexiga através dos ureteres e eliminada pela uretra para o exterior do organismo.

Os rins têm uma forma ovóide e seu grande eixo mede aproximadamente 12 cm. Estão localizados na parte superior do abdômen, atrás do peritônio e de cada lado da coluna vertebral, na altura das últimas vértebras dorsais e das primeiras lombares. Possuem uma cápsula fibrosa que protege o córtex, zona periférica, e a medula, zona interna. O ureter é o tubo que conduz a urina até a bexiga. Cada rim é formado de tecido conjuntivo que sustenta, nutre e dá forma ao órgão, e milhões de unidades filtradoras, os nefros, localizados na região medular. À parte superior de cada rim se sobrepõe uma glândula supra-renal e o conjunto é envolvido por um tecido gorduroso. Função A função dos rins é remover os resíduos produzidos pelas células e outras substâncias. Além dessa função excretora, eles também são responsáveis pela osmorregulação, que se traduz pela eliminação de água e sais na urina.

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a. Filtração glomerular As artérias renais trazem o sangue até os rins, ramificando-se no interior do órgão e originando um grande número de arteríolas aferentes, que se ramificam, por sua vez, no interior da cápsula de Bowman do néfrom, formando um enovelado de capilares ou glomérulo de Malpighi. Os capilares do glomérulo deixam extravasar passivamente diversas substâncias presentes no sangue (água, uréia, glicose, aminoácidos, sais e diversas moléculas de tamanho reduzido), através de suas finas paredes. Dentro da cápsula de Bowman se coleta o filtrado glomerular que segue para o túbulo proximal (urina inicial) e tem composição química semelhante à do plasma sanguíneo. Normalmente, só as proteínas sanguíneas não atravessam as membranas dos capilares, devido à sua grande massa molecular. b. Reabsorção tubular A passagem glomerular gera 120 mL de filtrado por minuto, o que corresponderia à eliminação de aproximadamente 180 L por dia. No entanto, só 1,5 L de urina são excretados em 24h, o que significa que um processo intenso de reabsorção deve intervir para evitar a perda maciça de água. O tubo proximal reabsorve 80% do volume filtrado: um gradiente elétrico recupera os íons cloro e a água é transferida passivamente com as substâncias reabsorvidas. Esse fenômeno é dependente da aldosterona supra-renal. Glicose e aminoácidos são retirados ativamente do filtrado, contra um gradiente de concentração, graças a transportadores que consomem energia. A alça de Henle é impermeável à água, mas age sobre a concentração dos íons sódio, tornando o filtrado hipotônico. Ainda aqui, é a aldosterona que regula a bomba de sódio na parte ascendente da alça. No tubo distal e no tubo coletor o hormônio antidiurético hipofisário transfere a água da luz dos condutos para o tecido intersticial e a aldosterona recupera mais íons sódio. c. Secreção tubular Os íons de amônia na urina são secretados no tubo proximal e os íons de hidrogênio e de potássio, no tubo distal. d. Papel do rim no equilíbrio ácido-básico

Acidificação da urina Os ácidos orgânicos, sulfúrico e fosfórico que foram neutralizados pelo íon sódio no organismo e filtrados pelo glomérulo, voltam a ionizar-se

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pela reabsorção do sódio em troca dos íons de hidrogênio provenientes da decomposição do ácido carbônico formado nas células tubulares. Excreção da amônia O amoníaco (NH30) produzido pela glutamina passa livremente das células para a luz dos túbulos renais e se liga aos íons H+ presentes no filtrado tubular. O pH ácido da urina favorece a formação de radicais NH4+: essa forma iônica já não poderá atravessar a membrana das células tubulares e é trocada pelos íons Na+,que são reabsorvidos. O processo cria um gradiente favorável à saída do NH3 das células tubulares e sua expulsão do organismo, assim como a recuperação do Na+ e a redução dos ácidos livres gerados pelo metabolismo e que circulam no sangue.

e. Regulação renal O funcionamento renal é regulado pela circulação sangüínea, com uma relação íntima entre o volume do fluxo renal e o do filtrado glomerular, e por um grupo de hormônios. As glândulas supra-renais produzem a aldosterona e o cortisol, que regulam a excreção da água e dos eletrólitos e o hormônio antidiurético, produzido pela hipófise, age sobre o túbulo distal e o tubo coletor. Urina Diariamente passam pelos rins, quase 2 mil litros de filtrado glomerular. A urina inicial caminha sucessivamente pelo túbulo contorcido proximal, pela alça de Henle e pelo túbulo contornado distal, de onde é lançada no duto coletor. Durante o percurso, as paredes dos túbulos renais reabsorvem várias substâncias exógenas, metabólitos, glicose, vitaminas, hormônios, parte dos sais e a maior parte da água que compunham a urina inicial.

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As substâncias reabsorvidas passam para o sangue dos capilares que envolvem o néfrom. A uréia, por não ser reabsorvida pelas paredes do néfrom, é o principal constituinte da urina. Em caso de intoxicação por substâncias químicas (como o mercúrio e o tetracloreto de carbono), vários tipos de lesões podem aparecer nas diferentes partes do sistema urinário. A mais comum é a glomerulonefrite, onde as lesões dos glomérulos de Malpighi causam um grave prejuízo da função renal.

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A condução nervosa A condução do influxo nervoso se baseia essencialmente nas forças elétricas e químicas que constituem o motor do movimento iônico. Cada íon está submetido, na realidade, no efeito de duas forças distintas: a de seu gradiente de concentração química, que tende a levá-lo da região mais concentrada àquela menos concentrada e a da força eletrostática resultante da carga elétrica deste íon que repele as cargas semelhantes e atrai as cargas opostas. Transmissão Sináptica As grandes etapas da transmissão sináptica (síntese, excreção, fixação e desativação dos mediadores nervosos) são bem conhecidas para vários neurotransmissores clássicos, como a dopamina.

As três flechas mostram as vesículas da porção final de um axônio. As letras PS indicam duas células pós-sinápticas. O triângulo negro mostra o espessamento associado à membrana pós-sináptica e o branco, a membrana pré-sináptica 1. Síntese dos mediadores nervosos Os neurotransmissores clássicos são sintetizados localmente, na parte terminal do axônio. Os precursores dessas pequenas moléculas são transformados em neurotransmissores ativos graças a uma ou mais enzimas contidas no próprio axônio. O tamanho muito maior dos neuropeptídeos, como os opióides endógenos (encefalinas), por exemplo, os obrigam a serem sintetizados no corpo celular dos neurônios, onde se encontram as organelas necessárias (ribossomos) para associar os diferentes aminoácidos. 2. Excreção dos mediadores nervosos A maior parte das vesículas contendo neurotransmissores está ligada a elementos do citoesqueleto (rede de fibras intracelulares) próximos das zonas ativas. A entrada maciça de cálcio que acompanha a chegada do potencial de

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ação ao segmento distal do axônio, vai criar uma cascata de reações que levará à liberação das vesículas que aí se encontram e a sua migração em direção das zonas ativas. A exocitose (do latim exo- fora e do grego cytose – cavidade, célula) é o mecanismo de transporte das moléculas de transmissores para o exterior das células.

As vesículas soldam-se à membrana celular, abrem para o exterior e evacuam seu conteúdo. Em seguida, elas restabelecem a integridade da membrana e se deslocam no citoplasma para encher-se de novo de mediadores químicos. 3. Fixação dos mediadores nervosos Os transmissores liberados no espaço sináptico vão se fixar sobre os receptores membranosos da célula justaposta ou pós-sináptica. No exemplo da acetilcolina, a fixação sobre os receptores provoca a abertura dos canais iônicos e a entrada do sódio na célula. Esta entrada se acompanha da despolarização da membrana do axônio pós-sináptico e, assim, da excitação neuronal.

Em troca, a abertura dos canais de cloro dos receptores do ácido gama-aminobutírico8 (ou GABA, principal neurotransmissor inibidor do cérebro)

8 GABA - o receptor do ácido gama-aminobutírico transmembranoso se localiza na sinapse neuronal e é constituído por cinco unidades protéicas, agrupadas de modo a delimitar um poro. A molécula de GABA

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provoca uma hiperpolarização da membrana e, conseqüentemente, uma inibição neuronal. Os benzodiazepínicos estimulam a fixação do GABA nos receptores da glicoproteína. 4. Desativação dos mediadores nervosos Quando os neurotransmissores rompem suas ligações com os receptores, eles retornam para a fenda sináptica onde deverão ser desativados para que seu efeito cesse (senão, eles voltam a se fixar sobre os receptores dos canais iônicos). Esses mediadores podem ser desativados por um ou mais dos mecanismos: por simples difusão para fora da fenda sináptica, por degradação sob a ação de uma enzima presente na fenda sináptica (como a acetilcolinesterase que rompe a acetilcolina), por retomada pela parte terminal do axônio (é o caso da dopamina, da serotonina ou da noradrenalina), ou através da ação dos astrócitos (célula glial) que retiram os neurotransmissores da fenda sináptica. A Acetilcolina A acetilcolina é um mediador nervoso sintetizado no citoplasma dos neurônios pré-sinápticos a partir da colina e da acetil-coenzima A, numa reação catalisada pela colina acetiltransferase.

Ela é armazenada na parte distal dos axônios, dentro de vesículas que podem conter 5 000 a 10000 moléculas deste neurotransmissor. A chegada de um influxo nervoso nessa região do neurônio provoca a penetração de íons cálcio no axônio e a fusão das vesículas com a membrana. Uma vez a acetilcolina liberada na fenda por exocitose, ela se liga aos seus receptores de membrana do outro lado da fenda, despolariza a membrana pós-sináptica e, em seguida, se desloca de volta para a fenda onde é separada em colina e acetato pela acetilcolinesterase presente nessa área. A colina é recuperada na fenda sináptica graças a um transportador ativo que utiliza íons de sódio. A meia-vida da acetilcolina na fenda sináptica é de 1 a 2 milissegundos e estas sinapses são ditas sinapses colinérgicas.

endógena se fixa ao seu receptor específico, modifica a forma da proteína e faz com que o poro se abra. Os íons cloro que se encontram em concentração extracelular superior à intracelular, passam para o interior do axônio seguindo o gradiente eletroquímico, e hiperpolarizam a célula. O efeito final é de inibição da passagem do influxo nervoso. Os barbitúricos, alguns esteróides, os benzodiazepínicos e outras substâncias têm efeitos semelhantes sobre os canais de cloro.

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Os receptores pós-sinápticos específicos da acetilcolina são principalmente de dois tipos: nicotínicos e muscarínicos. A despolarização da membrana pós-sináptica representa a passagem da informação nervosa de um neurônio à célula seguinte. No caso do sistema nervoso vegetativo, a acetilcolina age sobre as fibras ortossimpáticas periféricas (contração de músculos lisos, taquicardia, midríase) e parassimpáticas (bradicardia por ação sobre o nervo vago, aumento do peristaltismo intestinal, aumento da secreção de glândulas digestivas, salivares e intestinais, relaxamento da maioria dos esfíncteres do trato gastrintestinal, miose). A acetilcolina também age sobre as junções que ligam os neurônios às fibras musculares esqueléticas, provocando a contração muscular. Receptores muscarínicos Os receptores muscarínicos se dividem em cinco classes diferentes: M1, M2, M3, M4 e M5. Os receptores M1 (sistema nervoso central, estômago e gânglios), M3 e M5 são acoplados a uma fosfolipase C e possuem uma atividade excitatória. A ativação da fosfolipase9 pode criar, em função do tecido onde age, a contração muscular, a liberação de adrenalina10 ou a modulação da excitabilidade de outros neurônios. Os receptores M2 (coração, músculos lisos) e M4 são responsáveis pela abertura dos canais de potássio que provoca uma hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Receptores nicotínicos Os receptores nicotínicos existem no cérebro, na medula espinhal, nos gânglios dos sistemas ortossimpático e parassimpático, e nas sinapses entre os neurônios ortossimpáticos e os órgãos efetores. Eles formam um canal de 6,5 Å de diâmetro, que se abre após a fixação da acetilcolina. Os receptores N1 deixam passar íons sódio e potássio nas células pós-sinápticas; os de tipo N2, situados nas junções neuromusculares, deixam passar os íons de cálcio e provocam a contração dos músculos esqueléticos. Tecido Efeito da acetilcolina Receptor Sistema nervoso Memorização e

aprendizagem M1

Coração Bradicardia M2 Vasos sangüíneos Vasodilatação, queda da

pressão arterial M3

Pulmão Broncoconstrição, M3 9 A PLCg ou PLC é uma enzima acoplada a receptores de membrana, responsável pela formação de mensageiros secundários que intervêm na liberação do cálcio armazenado no retículo endoplasmático das células. O aumento desse íon tem um papel importante em várias atividades celulares, como, por exemplo, na hipercontração das células musculares lisas vasculares e estriadas cardíacas, no aumento do armazenamento de triglicerídeos nos adipócitos, na secreção hormonal, e na ativação de enzimas como a fosfolipase A2 que atua na replicação celular, e das endonucleases que, alterando o DNA, levam à apoptose ou morte celular. 10 Adrenalina ou epinefrina é um hormônio e um neurotransmissor da família das catecolaminas, secretado nos estados de estresse e de grande atividade física. Ela causa uma aceleração do pulso, um aumento da força de contração do coração e da pressão arterial. Seus efeitos dependem da dose e da repartição dos receptores alfa e beta nos órgãos.

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secreção Intestinos, estômago Contração, secreção M3 Glândulas salivares Secreção M3 Olho Miose, lacrimejamento M3 Glândula supra-renal Liberação de adrenalina N

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Tecido muscular Estrutura Os músculos são órgãos contráteis, que permitem a execução dos movimentos voluntários e involuntários necessários à sobrevivência do organismo humano. Os músculos estriados esqueléticos agrupam várias fibras musculares separadas por um tecido conjuntivo bem vascularizado ou endomísio, e encapsuladas por uma fáscia. Segundo a importância do músculo, ele será composto por um número maior ou menor de feixes de fibras, entre os quais circulam vasos sangüíneos de calibre mais importante. Um perimísio envolve os feixes . Uma fibra muscular é composta da fusão de várias células durante o desenvolvimento embrionário, formando um sincício11.

As fibras do músculo estriado contêm um número importante de miofibrilas contráteis, de estrutura tubular alongada, com 1 a 2 µm de diâmetro e formada de miofilamentos. Esses miofilamentos, por sua vez, compreendem uma estrutura fina que associa moléculas de actina, de tropomiosina e de troponina, fixadas sobre uma proteína sustentação, a a-actinina, e filamentos grossos de miosina. As miofibrilas se organizam paralelamente umas às outras, deixando pouco espaço para o citoplasma celular ou sarcoplasma. Ao microscópio, e em corte longitudinal, notam-se as faixas mais claras ou bandas I, que correspondem essencialmente à actina. Dentro das bandas I, a linha Z, escura, é constituída pela fixação das extremidades das fibras de actina sobre a a-actinina. As bandas A, escuras, comportam, nas suas extremidades, fibras de actina e miosina superpostas e, no seu centro, uma área mais clara, ou zona H, formada exclusivamente pelas fibras de miosina. A linha M contém enzimas importantes para o metabolismo energético do músculo, como as creatinoquinases12. A unidade de base organizacional das miofibrilas é o

11 Sincício: massa de protoplasma com muitos núcleos e sem divisão em células. 12 A creatinoquinase ou creatinofosfoquinase é uma enzima que desempenha importante papel regulador no metabolismo intracelular dos tecidos contráteis, em células musculares lisas e estriadas e no tecido cerebral, catalisando o caminho metabólico creatina-creatinina. Ela é formada por moléculas diméricas compostas de subunidades M e B e existem na forma de isoenzimas MM, MB e BB.

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sarcômero , que se repete ao longo do comprimento da fibra muscular e corresponde ao segmento entre duas linhas Z consecutivas .

A junção neuromuscular e a contração dos músculos A contração muscular é reversível. Ela é controlada pelo sistema nervoso central – cérebro (movimentos voluntários) e a medula espinhal (movimentos reflexos) –, e se traduz por uma diminuição do comprimento das fibras. Ao atingir o músculo, os neurônios motores provenientes dessas duas áreas se dividem em vários ramos, para inervar um dado número de fibras musculares. Sua função será a de provocar a contração desse grupo, que constituirá, assim, uma “unidade motora”. Quanto mais o controle motor for preciso, menor é a unidade motora que o executa. Por exemplo, um motoneurônio pode provocar a contração de menos de 10 fibras musculares nos músculos oculares; na laringe, um motoneurônio pode ativar apenas 2 a 3 fibras; ao contrário, as unidades motoras da

Um aumento acima dos níveis séricos normais indica trauma em células com alto teor de CPK. O fracionamento e medição de três isoenzimas distintas de CPK - CK-BB (ou CK1), CK-MB (ou CK2) e CK-MM (ou CK3) - substituíram o uso de níveis de CPK total, permitindo a localização da destruição tecidular. A CK-BB, raramente vista no soro normal, é a mais prevalente no tecido cerebral. A CK-MM predomina no músculo esquelético. A CK-MB se encontra no músculo cardíaco, mas as lesões cardíacas liberam as duas isoenzimas CK-MM e CK-MB no soro.

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panturrilha comportam 1000 a 2000 fibras musculares distribuídas em todo o músculo.

A ordem originada no cérebro ou na medula espinhal, sob forma de potencial de ação, é veiculada por um neurônio motor que a transmite ao longo do seu axônio . O potencial de ação abre os canais de cálcio da membrana axônica e, o cálcio que penetra no neurônio, provoca a migração das vesículas intracitoplamáticas contendo o neurotransmissor acetilcolina até a membrana celular do botão sináptico. A identidade estrutural das paredes das vesículas com a da célula permite a fusão das duas e a liberação do mediador na fenda sináptica. As moléculas de acetilcolina liberadas se fixam sobre os receptores acetilcolinérgicos nicotínicos do sarcolema e abrem outros canais iônicos, desta vez sódio-potássio, causando uma entrada importante de sódio e uma saída de potássio da fibra muscular. Como os canais são mais permeáveis ao sódio do que ao potássio, não há compensação da entrada de íons positivos pela saída e fibra se carrega positivamente, criando um novo potencial de ação. A distribuição da excitação às partes mais profundas da fibra se dá através da rede de túbulos transversais13, ativando os canais de cálcio do retículo endoplasmático de todo o sincício. O cloro se extravasa no citoplasma celular, age sobre as proteínas contráteis e provoca a contração do músculo .

13 Túbulos transversais ou túbulos T – invaginações profundas do sarcolema, encontradas nos músculos esqueléticos e cardíacos, que permitem que a despolarização da membrana atinja rapidamente o retículo endoplasmático

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Movimentos involuntários Tremores Movimento oscilatório rápido, ritmado, mais ou menos regular, resultante da contração fásica e alternada de músculos agonistas e antagonistas, podendo ser fisiológico, aparecendo durante as contrações intensas e prolongadas, ou traduzir uma patologia subjacente tal como uma doença de Parkinson ou uma ataxia cerebelar. Fasciculação Atividade de uma unidade motora, anormal e espontânea, sem capacidade de provocar um movimento, revelada por uma tremulação breve na superfície de um músculo. Ela pode ocorrer em um músculo em repouso ou ser favorecida por exposição ao frio, percussão do músculo ou ser a manifestação de uma patologia do motoneurona ou do sistema nervoso periférico. Traduz a transmissão de descargas pré-sinápticas múltiplas. Cãibra Contração espasmódica, involuntária, intensa e dolorosa, de todo ou parte de um músculo. Pode ocorrer como um fenômeno isolado ou ser a manifestação de um hipotireoidismo, uma uremia elevada ou da disfunção de um motoneurona. Mioquimia Contrações rápidas e sucessivas de um grupo de unidades motoras, de duração prolongada, de caráter ondulatório, com tendência a difundir-se aos grupos adjacentes, associada a um distúrbio da sensibilidade e traduzindo um distúrbio muscular crônico. Mioclonia

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Contrações involuntárias e intermitentes de um músculo ou grupo de músculos, de ritmo e amplitude irregular, geralmente assíncrona e assimétrica, de duração curta e seguida de relaxamento. Poder ser isolada ou repetir-se várias vezes. Coréia Movimentos sem finalidade aparente, breves, bruscos, sem ritmo, desordenados e irregulares, predominantes, na face. na língua e nas articulações distais dos membros. Elas são causadas por deficiência de acetilcolina no núcleo caudado e no putâmen e podem ser secundarias a uma intoxicação crônica por agrotóxicos organofosforados. Atetose Movimentos lentos, irregulares, sinuosos, sem ritmo e de caráter tônico. Eles aumentam a tensão muscular e produzem atitudes típicas. São predominantes nas extremidades livres dos membros, podendo atingir tronco, pescoço, face e língua.

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A saúde do trabalhador do ponto de vista toxicológico Histórico Referências à questão da saúde dos trabalhadores se encontram em papiros egípcios datando de 2600 anos antes de nossa era, vinculadas à construção das pirâmides e à exploração de minas de cobre e de turquesa. Na época dos faraós já se contava com assistência médica, licença por enfermidade, pensão por invalidez e cobertura de gastos com saúde. Nos escritos de Hipócrates (Ilha de Cós, Ilhas do Dodecaneso, Grécia, costa este da Turquia, 460-375 a.C.), Platão (Atenas, Grécia, 427-347 a.C.) e Aristóteles (Estagira, Província de Macedônia, Grécia, 384-322 a.C.), no Antigo Testamento (Livro do Êxodo, compilação de leis e tradições judaicas inseridas no Pentateuco, data?), nos trabalhos de Lucrécio (Atenas, Grécia, 96-55 a.C.), de Plínio, o Velho (Como, região da Lombardia, Itália, 23-79 d.C.) e de Galeno (Pérgamo, antiga cidade grega da costa leste da Turquia, 129-199 d.C.) há relatos de doenças em indivíduos praticando certas profissões, sem estabelecimento de relação de causa e efeito. Entre o V e o XI séculos (Idade Média), durante o período obscurantista do mundo ocidental, grandes médicos orientais como Ibn Sina, dito Avicena (Boukhara, antiga cidade persa da região sudeste do Uzbequistão, 980-1306 d.C.), continuavam a observar e descrever doenças profissionais no Oriente. Mas, só são as grandes mudanças tecnológicas do XV e XVI séculos que vão fazer aparecer as primeiras publicações ligando as atividades profissionais à deterioração da saúde dos trabalhadores. Esta nova abordagem culminou com os livros de Georgius Agrícola (Glauchau, Cantão da Saxônia, Alemanha, 1494-1555) - De Re Metallica, 1556, de Paracelso (Zurique, Suíça, 1493-1541) - Von der Bbergsucht und anderen Bergkrankeheitem, 1533, e, sobretudo o primeiro tratado sobre as doenças relacionadas com o trabalho, de Bernardino Ramazzini (Carpi, região de Emilia-Romagna, Itália, 1633-1714) - De Morbis Artificum Diatriba, 1700, que trata pela primeira vez do conceito de determinação social da doença, da análise coletiva (epidemiológica) e da necessidade da prevenção primária das doenças relacionadas com o trabalho.

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A deterioração da saúde do trabalhador: a relação de causa e efeito e a noção de risco Os efeitos nefastos (da ilusão) da imparcialidade da ciência manifestam-se de forma muito premente no surgimento do cientificismo biologicista. Suas bases conceituais se baseiam numa compreensão do processo saúde-doença pautada na relação causal e determinista das doenças. Pretendem descrever traços universais da natureza humana como, por exemplo, o comportamento inseguro, o alcoolismo e a agressividade, adotando a tese de que tais traços universais estão codificados nos nossos genes, como se a natureza humana influenciasse diretamente os comportamentos sociais (uma sociedade agressiva explicar-se-ia a partir de um conjunto de determinações hereditárias agressivas). No final, defendem a existência de uma lei universal de luta pela existência e pela sobrevivência dos mais aptos (seleção natural). Há já muito tempo, esse entendimento da geração de doenças e de outros eventos indesejáveis não tem bastado para explicar o quadro de morbi-mortalidade dos diferentes grupos humanos. Dentro da área de saúde, a questão da relação de causa e efeito resta um tema muito controvertido, não só do ponto de vista científico, mas, também, do ponto de vista ético. O surgimento do conceito de determinação social da doença veio tornar essa discussão ainda mais árdua. Na área específica da saúde do trabalhador, a complexidade desta mesma questão esbarra em interesses econômicos importantes e contraditórios, e é objeto de um grande debate sobre as noções de risco14, fatalidade15 e determinismo genético16. O homem, no seu empenho de libertação das condições naturais e de transformação da matéria que afirmam sua humanidade e promovem o desenvolvimento da sociedade, afronta riscos e agressões ambientais que não são obrigatoriamente fatais nem insuperáveis. A ampliação de seus conhecimentos lhe permite de antecipar e criar meios de proteção e de intervenção, a fim de atuar com o máximo de segurança. Só se pode falar de fatalidade quando o homem se confronta com eventos novos e imprevisíveis contra os quais ele não pôde prever nenhum meio de defesa. A mesma lógica se aplica às atividades produtivas humanas: nesse caso, não há determinação natural ou fatalidade. A relação é intermediada pela tecnologia que o próprio homem desenvolve: o dano provém da utilização de um procedimento ou de um sistema produtivo criado por ele, sobre o qual sabe o que conhece e onde começa o seu desconhecimento. Se a matéria ou a tecnologia é agressiva e, apesar disso, é transformada ou utilizada, é porque

14 Probabilidade de ocorrência de um evento desfavorável (WHO Regional Publications - Epidemiology - Occupational health, European Series No. 20, editors M.Karvonen et M.I.Mikheev, World Health Organisation, Copenhagen, 1986). 15 Do latim fatalitate: sorte inevitável; acontecimento funesto. Aurélio B. de Holanda, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2a. ed., 1986. 16 Relação rigorosa entre a presença de determinados genes no patrimônio cromossômico de um indivíduo e o aparecimento subseqüente de anomalias, doenças ou comportamentos específicos.

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alguns homens julgam válido expor outros homens a tais processos. Neste caso, há uma opção de quem decide que integra certo nível de risco para quem opera. Não se trata mais de uma fatalidade, mas de um risco mais ou menos deliberadamente ou implicitamente medido, previsível e escolhido. Só existiria fatalidade, e seria então uma “fatalidade social”, uma escolha imperativa, se o objeto a ser produzido fosse absolutamente necessário à sobrevivência de uma coletividade e que tal coletividade não dispusesse de nenhum outro meio de produção desse objeto do que aquele implicando na deterioração da saúde ou na perda da vida de um ou mais de seus membros. Neste caso limite, as perdas humanas não resultam da existência de uma realidade desconhecida, mas são determinadas, em pleno conhecimento de causa, por uma exigência de sobrevivência envolvendo um sacrifício. É a sociedade ou quem a representa que seleciona aqueles que serão expostos ao risco. A fatalidade social atinge a toda a coletividade e não um indivíduo em particular, ainda que só parte dela seja sacrificada pelo bem de todos. Este imperativo de sobrevivência ocorre unicamente em situações excepcionais. Ao contrário, não se pode mais falar de “fatalidade social”, mas sim de “escolha social”, toda vez em que houver um meio de se eliminar ou de se prevenir um risco. A execução do trabalho passa a incorporar um custo humano que é integrado aos custos de produção e economicamente e socialmente aceito ou imposto. A deterioração da saúde dos executantes é incorporada ao custo do produto e seu valor é pago pelo contribuinte e o consumidor. Em conclusão, o desgaste do trabalhador não constitui um processo inerente à produção: não se trata de um fenômeno nem natural, nem inelutável. Tampouco é o resultado da incapacidade de adaptação dos trabalhadores: ele é dissimulado através da omissão da informação aos que estão expostos ao risco, ou mascarado sob a forma de necessidade social. Trata-se de um processo definido, reforçado e/ou agravado por parte da sociedade, e diferenciado em função do nível de inserção dos indivíduos dentro do sistema produtivo. Porém, sempre que houver um mecanismo de substituição ou de prevenção do risco e que esta possibilidade não for utilizada, a determinação social se fará por omissão. A questão dos dados epidemiológicos O aparecimento da Epidemiologia permitiu o estudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados à saúde em populações específicas, e suas aplicações no controle de problemas de saúde (Last JM. - A dictionary of epidemiology. New York/Oxford/Toronto: Oxford University Press, 1995.). Classicamente, o enfoque primordial do trabalho epidemiológico se centrou nas doenças infecciosas, mas hoje esta ciência se aplica ao amplo espectro de eventos relacionados à saúde. Uma das características mais importantes da Epidemiologia é o fato de abranger grupos de pessoas em lugar

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de casos individuais. Os dados gerados pelos estudos orientam decisões de Saúde Pública e contribuem para o desenvolvimento e avaliação de ações de prevenção e de controle de problemas de saúde. É importante lembrar que os trabalhadores compartilham os perfis de adoecimento e morte da população geral, em função de sua idade, gênero, categoria social e grupo específico de risco. Além disso, podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho, como conseqüência do seu nível de inserção no processo de trabalho e da área de produção em que exercem e exerceram suas atividades. Assim, o perfil de morbi-mortalidade dos trabalhadores resulta da combinação desses fatores e vai gerar um conjunto de doenças relacionadas com o trabalho. Estas se dividem, desde um ponto de vista reducionista, mas legalmente admitido, em dois grupos:

- os agravos específicos ou “doenças profissionais” (http://www.mte.gov.br/Empregador/segsau/Legislacao /conteudo/conv042.asp: Convênio 042 (revisado) da Organização Internacional do Trabalho, de 04/06/1934, sobre a indenização das doenças profissionais.) , para os quais se considera que o trabalho ou as condições em que ele é realizado são “causas diretas”, reconhecidas no âmbito do Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT) da Previdência Social, e cuja ocorrência deve ser notificada segundo regulamentação na esfera da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho; - dois outros grupos são formados por doenças consideradas de etiologia múltipla, ou causadas por vários fatores de risco. Nestas doenças, o trabalho poderia ser entendido como um fator de risco contributivo ou agravador, ou seja, “um atributo que está associado a uma probabilidade aumentada de ocorrência de uma doença, mas não necessariamente um fator causal” (Last JM. - A dictionary of epidemiology. New York/Oxford/Toronto: Oxford University Press, 1995.) . Elas não são reconhecidas automaticamente pela legislação vigente, mas geram estudos que podem levar a um reconhecimento futuro. Sua caracterização etiológica ou nexo causal é essencialmente de natureza epidemiológica.

Categoria Exemplos de patologia I - Trabalho como causa necessária

“Doenças profissionais” legalmente reconhecidas

II - Trabalho como fator contributivo, mas não necessário.

Doença coronariana Hepatite tóxica Câncer

Em pessoas com antecedentes pessoais ou familiares

III - Trabalho como provocador de um distúrbio latente, ou agravante de doença já estabelecida.

Bronquite crônica Dermatite de contato alérgica Asma Doenças mentais

(CID.10 - o distúrbio denominado Personalidade Borderline está incluído no capítulo dos Transtornos de Personalidade

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Emocionalmente Instável - Organização Mundial de Saúde.)

O principal instrumento para a investigação das relações Trabalho–Saúde–Doença no âmbito dos serviços de saúde, é representado pela anamnese ocupacional. O relato feito pelo trabalhador faz parte do exame clínico e compreende dados sobre:

- a história clínica atual detalhada; - os antecedentes clínicos pessoais e familiares; - sua história ocupacional (dados atuais e passados), - seus hábitos e estilo de vida.

Ele será complementado:

- pelo exame físico minucioso; - e pelos exames laboratoriais complementares de que se dispõe.

A problemática do diagnóstico da intoxicação ocupacional O desenvolvimento tecnológico e industrial gerou um incremento considerável da utilização de substâncias químicas, cujos efeitos sobre o organismo humano - isolados e, sobretudo, associados a outros fatores de risco - baseados em estudos clínicos, toxicológicos e epidemiológicos, são mal ou pouco conhecidos. Paralelamente, as intoxicações vinculadas às atividades profissionais aumentaram de maneira significativa no mundo inteiro. A intoxicação aguda de trabalhadores resulta da exposição a fortes doses de produtos químicos, em períodos de tempo limitados, correspondendo, na maioria dos casos, a acidentes massivos, coletivos (por ex., ruptura de reservatórios contendo gazes ou líquidos tóxicos em usinas) ou individuais (por ex., picada de animal peçonhento em agricultor), ou a exposições voluntárias, com fins suicidas (por ex., ingestão de “chumbinho”). A intoxicação crônica é secundária à exposição a pequenas doses quotidianas, durante períodos de tempo maiores. Não obstante, enquanto os quadros clínicos de intoxicação aguda são relativamente bem identificados, em particular, graças à investigação feita junto aos pacientes e seus próximos, o diagnóstico das intoxicações crônicas responde à associação de sinais e sintomas estatisticamente reconhecidos, mas pouco ou não específicos, tais como dores, náuseas, vômitos, febre, sudorese, fadiga, etc,

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dentro de um contexto clínico que abarca elementos evocatórios, específicos da trajetória, do metabolismo e da excreção do produto em questão. Um fator suplementar vem complicar o diagnóstico das intoxicações crônicas: a exposição a uma combinação de vários produtos. Isto resulta do uso de compostos industriais (um ou mais ingredientes ativos associados a solventes, conservantes, fixadores, emetizantes, dispersantes, substâncias odorantes, corantes, etc.), na utilização concomitante de dois ou mais produtos comerciais ou na combinação de substâncias produzidas por fontes diferentes no mesmo ambiente de trabalho. Os efeitos aditivos (a+b=c), sinérgicos (a+b=d>c) e potencializadores (a+b>>|a+b|), independentemente do que se sabe sobre os efeitos inerentes a cada substância, constituem um elemento agravante do estado de desconhecimento global ao qual se confrontam toxicólogos, médicos, enfermeiros, biólogos, farmacêuticos-bioquímicos, geneticistas e outros profissionais envolvidos no estudo da saúde do trabalhador. Frente a esse quadro complexo e levando-se ainda em conta a carência de formação em Saúde do Trabalhador e em Toxicologia Clínica nos currículos universitários da área da Saúde, não é surpreendente que os profissionais tenham grandes dificuldade no atendimento dos trabalhadores e na elaboração de programas de prevenção de intoxicações. Essa deficiência gera um tipo de prática que condiciona o estabelecimento do diagnóstico à busca imperativa de indicadores biológicos de exposição e de intoxicação. Os resultados pouco explícitos e a inexistência de testes que corroborem algumas situações de exposição, não obstante evidentes, negam aos trabalhadores os seus direitos constitucionais de promoção, proteção e recuperação da saúde.

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Acesso à informação toxicológica através da internet Autor Dr. Diego González Machín (Assessor Regional em Toxicologia - SDE/OPS) Introdução A industrialização que caracteriza a época contemporânea pôs nas mãos do homem uma grande quantidade de substâncias químicas que geram intoxicações e têm um impacto negativo no ambiente. O incremento no número das sustâncias às quais podemos estar expostos tem-se acompanhado de uma explosão da informação disponível em diferentes meios, tanto impressos como eletrônicos, o que torna necessária uma seleção rigorosa. O aparecimento da Internet constituiu uma solução alternativa de atualização e de disseminação da informação entre os profissionais. No entanto, ela gerou, ao mesmo tempo, um risco vinculado à facilidade da difusão do conhecimento e à quantidade de dados aos quais o usuário pode ter acesso, muitas vezes sem que se conheça o grau de confiabilidade das fontes. O objetivo principal desta apresentação é de dar orientações sobre as principais fontes que podem ser acessadas via Internet quando se procura dados referentes a substâncias químicas e, em especial, nos aspectos relacionados com a Toxicologia Clínica: propriedades físico-químicas dos compostos, toxicocinética, mecanismos de ação, quadros clínicos de intoxicação, exames de laboratório e atendimento ao paciente intoxicado. Um dos desafios impostos por essa explosão de informação sobre áreas específicas de conhecimentos é a grande quantidade de páginas web institucionais que pode ser consultada. Para enfrentar a dificuldade de acesso, a Organização Pan-americana de Saúde /Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), através da BIREME (Centro Latino-americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e contando com a colaboração das áreas técnicas, tem desenvolvido, desde alguns anos, a metodologia de bibliotecas virtuais em saúde (http://www.bireme.br). Estas bibliotecas têm como objetivo principal organizar a informação sobre determinadas áreas e realizar o controle de qualidade da informação. Na área da Toxicologia, desenvolveu-se a Biblioteca Virtual de Toxicologia da SDE/OPAS (Área de Desenvolvimento Sustentável e Saúde Ambiental/Organização Pan-americana de Saúde) (http://www.bvsde.paho.org/sde/ops-sde/bv-toxicol.shtml) e a Biblioteca Virtual de Toxicologia do Brasil (http://tox.anvisa.gov.br). O que é a BVSDE-Toxicologia?

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http://www.bvsde.paho.org/sde/ops-sde/bv-toxicol.shtml A BVSDE-Toxicologia é uma ferramenta de trabalho que facilita o acesso à informação sobre as substâncias químicas que causam intoxicações e têm um impacto negativo sobre o ambiente. Esta biblioteca é administrada pela área de Área de Desenvolvimento Sustentável e Saúde Ambiental da Organização Pan-americana de Saúde. Profissionais de toda a América Latina e do Caribe participam de sua atualização. Ela conta, ainda, com uma estrutura que permite ao usuário fazer buscas com grande agilidade. O que é a BVS-Toxicologia do Brasil? http://tox.anvisa.gov.br A BVS-Toxicologia do Brasil é o resultado do esforço conjunto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT), da OPAS/Brasil e da BIREME/OPAS para disponibilizar e facilitar a busca de informação sobre temas relacionados com a Toxicologia, dando prioridade à produção científica em língua portuguesa, ainda que sem se limitar a este idioma. Como está organizada a informação nas bibliotecas virtuais de Toxicologia? Em ambas as bibliotecas citadas acima, a informação está organizada de tal modo que se pode fazer uma busca em:

• Bases de dados bibliográficas • Bases a texto completo • Legislação • Materiais educativos com diferentes formatos de apresentação, tais como folders, manuais, cursos de auto-aprendizagem, aulas em PowerPoint, histórias em quadrinhos etc. • Diretórios de instituições (incluídos os centros de informação e assistência toxicológica – http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/centros.htm) e de eventos • Endereços eletrônicos (links) relacionados • Comunidades virtuais

Para visualizar a organização da informação nas duas bibliotecas virtuais, recomendamos de aceder aos dois endereços eletrônicos. Que bases de dados são as mais recomendadas para ter acesso à informação sobre os temas abrangidos por este curso? Quando se faz uma busca de informação em Toxicologia, pode-se ter acesso a bases de dados bibliográficas e a bases de dados a texto completo.

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Base de dados bibliográficas Como seu nome indica, faz-se uma busca de bibliografia relacionada com um tema definido. Essas bases são úteis na elaboração de uma pesquisa, na preparação de teses de graduação ou, simplesmente, quando se quer conhecer o que se tem publicado sobre uma substância química em nível internacional. Geralmente, não se tem acesso ao texto completo da publicação, mas sim a citações bibliográficas que incluem o título, os autores e o resumo do documento. Dentro dessa categoria de base de dados pode-se mencionar:

• Biblioteca da Escola Nacional de Saúde Pública - FIOCRUZ http://www.bvssp.cict.fiocruz.br/cgi-bin/wxis1660.exe/lildbi/iah/?IsisScript=lildbi/iah/iah.xic&base=ENSP&lang=p&form=A

• Centro de Documentação da OPAS http://bvs.opas.org.br/cgi-bin/wxis1660.exe/lildbi/iah/?IsisScript=lildbi/iah/iah.xic&base=CEDOC&lang=p

• LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=LILACS&lang=p

• MEDLINE - Literatura internacional em Ciências da Saúde e Biomédica http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=MEDLINE&lang=p

• REPIDISCA - Literatura em Engenharia Sanitária e Ciências do Ambiente http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=REPIDISCA&lang=p

• OPAS - Acervo da Biblioteca da Organização Pan-americana da Saúde http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=PAHO&lang=p

• TOXLINE - Toxicology Information Online http://toxnet.nlm.nih.gov/cgi-bin/sis/htmlgen?TOXLINE

• WHOLIS - Sistema de Informação da Biblioteca da OMS http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=WHOLIS&lang=p

Um resumo do conteúdo de cada uma dessas bases pode ser encontrado acessando a BVS-TOX do Brasil (http://tox.anvisa.gov.br) e clicando em bases de dados bibliográficos. O exercício de busca de informação a seguir pode ser realizado, utilizando-se como ferramenta a base de dados LILACS/BIREME.

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Exercício 1 Foi detectado um problema de contaminação ambiental, com impacto sobre a saúde, em uma zona onde existem depósitos de chumbo. As autoridades de saúde, em conjunto com a indústria e a comunidade, vão iniciar um monitoramento ambiental e biológico, como parte do sistema de vigilância epidemiológica. Foi solicitada informação sobre a existência de estudos já realizados sobre esta questão. Em geral, as telas de busca nas bases de dados bibliográficas são similares. Veja-se, por exemplo, a que é utilizada pela base de dados LILACS/BIREME:

O resultado da pesquisa, neste tipo de base de dados, costuma ser uma lista de referências relacionadas com artículos de revistas, apresentações em congressos, capítulos de livros e seus resumos. Em alguns casos, as telas proporcionam a opção de obter-se o documento a texto completo, mas isto não é o habitual. Exercício 2 Detectaram-se vários casos de insuficiência renal em estado terminal numa região onde existe exposição a diversas substâncias químicas. Quer-se saber se já existe algo publicado sobre este tema. Palavras ou frases-chave: end stage renal failure (insuficiência renal terminal). Para resolver o exercício, utiliza-se a base de dados MEDLINE/BIREME:

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Como pode ser notado, o procedimento de busca é similar na maioria das bases de dados bibliográficos. Caso seja importante aprofundar o aprendizado de busca de dados bibliográficos, recomenda-se a leitura do “Tutorial de pesquisa em bases de dados” que aparece no seguinte endereço eletrônico: http://usuario.bvsalud.org/apresentacoes/Tutorial_BVS_pt.pdf Base de dados a texto completo Estas bases são particularmente úteis para a solução de problemas em Toxicologia, como por exemplo, no atendimento de um paciente intoxicado, ou na resolução de um problema de contaminação ambiental, ou ainda, quando se deve que fornecer uma resposta rápida a um acidente que envolve produtos perigosos. A estratégia de busca na maioria das bases de dados a texto completo é similar: deve-se digitar o nome do produto químico ou seu número de identificação (ICSC – International Chemical Safety Cards, das Nações Unidas, CAS – Chemical Abstracts Service, etc.). Em seguida, aparecerá um menu que requer a seleção de uma opção ou, diretamente, um documento completo sobre a substância em questão. É importante verificar se o nome ou o número da substância foi corretamente digitado, pois, uma pequena modificação poderia impedir a obtenção da informação procurada, e proporcionar dados sobre outro produto qualquer. Existem múltiplas bases de dados a texto completo acessíveis a partir do portal de bases da BVSDE-Toxicologia. Elas estão classificadas pelo tipo de informação requerida (http://www.bvsde.paho.org/bvstox/e/bd/bd.html). A seguir, estão algumas das mais utilizadas: 1. Base de dados INTOX/OMS – http://www.intox.org/databank/index.htm Neste banco de informação, pode-se pesquisar da seguinte maneira:

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- Através de buscas livres, utilizando o nome da substância (em inglês), o número CAS ou o número das Nações Unidas, ou através do tipo de substância, seja ele um medicamento, um agrotóxico, um produto industrial, etc. O resultado deste tipo de pesquisa levará à informação a texto completo sobre o produto em questão, proveniente de diferentes bases de dados; - Entrando pela opção PIMs (Monografias de Substâncias Químicas), tem-se uma lista alfabética de substâncias a partir da qual se obterá informações sobre suas propriedades físico-químicas, mecanismo de ação, toxicidade, toxicocinética, diagnóstico laboratorial, efeitos agudos e crônicos e tratamento do paciente intoxicado. O interessante nesta base de dados é a apresentação de casos clínicos que consta ao final de cada monografia; - Optando pelas Fichas de Tratamento, aparecerá uma lista (em inglês, francês, espanhol ou português) de manifestações clínicas e/ou complicações de intoxicações e, a partir delas, se receberá informação sobre definição, causas tóxicas ou não tóxicas possíveis, quadro clínico, exames de laboratório e tratamento. Muitas outras opções aparecem neste banco de informação. A página web permite a exploração de todas as suas possibilidades. Exercício 3 O Centro de Informação e Assistência Toxicológica recebe a chamada telefônica de um serviço médico de um estabelecimento industrial que refere que um trabalhador que deslocava recipientes de produtos químicos sofreu queimaduras nas mãos e perdeu consciência quanto tentou conter o vazamento de um galão que se rompeu durante o procedimento. O produto é um líquido oleoso, incolor, rotulado como “ACELERADOR XP36” e exibindo o número CÃS 111-69-3. De que substância se trata? 2. Base de dados HSDB/NLM – http://toxnet.nlm.nih.gov/cgi-bin/sis/htmlgen?HSDB Aqui se pode fazer a pesquisa pelo nome da substância (em inglês) ou pelo número CAS. O resultado exibirá dados sobre a substância em causa e um menu contendo as seguintes informações:

- Propriedades físico-químicas - Toxicocinética (absorção, distribuição, biotransformação, acumulação e eliminação) - Toxicodinâmica (mecanismos de ação) - Dados de toxicidade - Efeitos agudos e crônicos em seres humanos - Efeitos no ambiente - Métodos de diagnóstico

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- Ações a serem realizadas em casos de emergência (derramamentos, vazamentos, incêndios, etc.) - Equipamento de proteção individual (EPI) - Tratamento das pessoas intoxicadas - Limites de exposição

Exercício 4 Utilizando a substância do exercício anterior (ACELERADOR XP36, de número CAS 11-69-3), responder às seguintes perguntas, utilizando a base de dados HSDB/NLM 1. Existe algum antídoto específico? 2. Que exames de laboratório devem ser solicitados? 3. Que recomendações podem ser dadas aos responsáveis de saúde e segurança do estabelecimento industrial para evitar futuros acidentes e se prepararem para fornecer primeiros socorros? Recomendações finais Nesta apresentação não se pretende abordar todas as bases de dados a texto completo existentes, mas tão somente induzir os leitores a saber que existe informação de qualidade e que ela está disponível na Internet. Para tanto é necessário: a) explorar as bases de dados através da BVSDE e a BVS-Tox Brasil e conhecer outras tantas, tais como:

Toxicological profile de ATSDR (Agência para Sustâncias Tóxicas e Notificação de Enfermidades - Estados Unidos) – http://www.atsdr.cdc.gov/toxpro2.html INCHEM/IPCS/OMS – http://www.inchem.org/ SIA (Sistema de Informação sobre Agrotóxicos) da ANVISA – http://www4.anvisa.gov.br/agrosia/asp/default.asp

b) acessar:

- motores de busca de produtos químicos, onde, uma vez o produto químico identificado, o usuário é dirigido a outros sítios web ou bases de dados específicos que contêm informações sobre o produto. Exemplos:

CHEMID PLUS/NLM – http://chem.sis.nlm.nih.gov/chemidplus/

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CHEMFINDER – http://chemfinder.cambridgesoft.com/ CHEMINDEX – http://ccinfoweb.ccohs.ca/chemindex/search.html

- informação para a gestão de emergências químicas (incidentes químicos): uma vez o produto identificado, estas bases fornecem informação sobre efeitos na saúde e no meio ambiente, equipamento de proteção individual para intervenção de emergência, ações a serem desenvolvidas em caso de derramamento, incêndio ou vazamento, e primeiros socorros. Exemplos:

ERG 2004 – http://hazmat.dot.gov/pubs/erg/gydebook.htm FISQ – http://www.ilo.org/pubcgi/links_ext.pl?http://www.mtas.es/insht/ipcsnspn/spanish.htm WISER (além da informação que oferece quando se conhece o produto químico, fornece ajuda para a identificação de produtos a partir de suas propriedades e efeitos sobre a saúde) – http://sis.nlm.nih.gov/sitemapsearch.html

Finalmente, é importante mencionar que nestas bibliotecas virtuais pode-se encontrar espaço dedicado à formação, com cursos desenvolvidos na modalidade de auto-aprendizado. Recomenda-se visitá-los no endereço eletrônico: http://www.bvsde.paho.org/sde/ops-sde/cursotoxi.html.