Upload
others
View
4
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
PROacute-REITORIA DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ndash PRPPG
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM BOTAcircNICA ndash PPGB
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
RECIFE ndash PE
2018
ii
MIRELA NATAacuteLIA SANTOS
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica ndash PPGB da
Universidade Federal Rural de Pernambuco como
parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Botacircnica
Orientador
Dr Ulysses Paulino de Albuquerque
(Universidade Federal de Pernambuco)
Coorientador
Dr Reginaldo de Carvalho
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
RECIFE ndash PE
2018
iii Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central Recife-PE Brasil
S237v Santos Mirela Nataacutelia Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca Manihot esculenta Crantz no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do Brasil Mirela Nataacutelia Santos ndash Recife 2018 63 f il Orientador(a) Ulysses Paulino de Albuquerque Coorientador(a) Reginaldo de Carvalho Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal Rural de Pernambuco Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica Recife BR-PE 2018 Inclui referecircncias 1 Agricultura tradicional 2 Agrobiodiversidade 3 Etnobiologia 4 Plantas Alimentiacutecias I Albuquerque Ulysses Paulino de orient II Carvalho Reginaldo de coorient III Tiacutetulo CDD 58115
iv
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL
DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
MIRELA NATAacuteLIA SANTOS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade
Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de
Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo
de Mestre em Botacircnica
Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018
_____________________________________________
Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente
(Universidade Federal de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
________________________________________________
Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente
(Universidade de Pernambuco)
Recife 2018
v
Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos
e aos agricultores envolvidos na pesquisa
Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento
a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia
oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador
Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado
A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre
estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela
doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse
exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo
e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a
Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e
bondosa
Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras
que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me
deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem
comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS
Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo
verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me
hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo
Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha
formaccedilatildeo pessoal e profissional
A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia
Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao
lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel
Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima
Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive
ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o
desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo
Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo
de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de
crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora
Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
ii
MIRELA NATAacuteLIA SANTOS
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica ndash PPGB da
Universidade Federal Rural de Pernambuco como
parte dos requisitos para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Mestre em Botacircnica
Orientador
Dr Ulysses Paulino de Albuquerque
(Universidade Federal de Pernambuco)
Coorientador
Dr Reginaldo de Carvalho
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
RECIFE ndash PE
2018
iii Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central Recife-PE Brasil
S237v Santos Mirela Nataacutelia Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca Manihot esculenta Crantz no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do Brasil Mirela Nataacutelia Santos ndash Recife 2018 63 f il Orientador(a) Ulysses Paulino de Albuquerque Coorientador(a) Reginaldo de Carvalho Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal Rural de Pernambuco Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica Recife BR-PE 2018 Inclui referecircncias 1 Agricultura tradicional 2 Agrobiodiversidade 3 Etnobiologia 4 Plantas Alimentiacutecias I Albuquerque Ulysses Paulino de orient II Carvalho Reginaldo de coorient III Tiacutetulo CDD 58115
iv
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL
DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
MIRELA NATAacuteLIA SANTOS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade
Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de
Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo
de Mestre em Botacircnica
Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018
_____________________________________________
Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente
(Universidade Federal de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
________________________________________________
Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente
(Universidade de Pernambuco)
Recife 2018
v
Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos
e aos agricultores envolvidos na pesquisa
Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento
a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia
oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador
Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado
A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre
estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela
doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse
exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo
e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a
Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e
bondosa
Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras
que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me
deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem
comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS
Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo
verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me
hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo
Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha
formaccedilatildeo pessoal e profissional
A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia
Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao
lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel
Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima
Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive
ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o
desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo
Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo
de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de
crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora
Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
iii Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP) Sistema Integrado de Bibliotecas da UFRPE Biblioteca Central Recife-PE Brasil
S237v Santos Mirela Nataacutelia Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca Manihot esculenta Crantz no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do Brasil Mirela Nataacutelia Santos ndash Recife 2018 63 f il Orientador(a) Ulysses Paulino de Albuquerque Coorientador(a) Reginaldo de Carvalho Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal Rural de Pernambuco Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Botacircnica Recife BR-PE 2018 Inclui referecircncias 1 Agricultura tradicional 2 Agrobiodiversidade 3 Etnobiologia 4 Plantas Alimentiacutecias I Albuquerque Ulysses Paulino de orient II Carvalho Reginaldo de coorient III Tiacutetulo CDD 58115
iv
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL
DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
MIRELA NATAacuteLIA SANTOS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade
Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de
Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo
de Mestre em Botacircnica
Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018
_____________________________________________
Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente
(Universidade Federal de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
________________________________________________
Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente
(Universidade de Pernambuco)
Recife 2018
v
Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos
e aos agricultores envolvidos na pesquisa
Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento
a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia
oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador
Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado
A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre
estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela
doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse
exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo
e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a
Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e
bondosa
Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras
que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me
deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem
comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS
Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo
verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me
hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo
Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha
formaccedilatildeo pessoal e profissional
A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia
Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao
lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel
Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima
Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive
ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o
desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo
Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo
de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de
crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora
Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
iv
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO TRADICIONAL
DE MANDIOCA Manihot esculenta Crantz NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
MIRELA NATAacuteLIA SANTOS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade
Federal Rural de Pernambuco desenvolvido dentro da Linha de Pesquisa de
Etnobotacircnica e Botacircnica Aplicada como parte das exigecircncias para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo
de Mestre em Botacircnica
Aprovada pela Banca Examinadora em ______2018
_____________________________________________
Dr Ulysses Paulino de Albuquerquendash Presidente
(Universidade Federal de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Andrecircsa Suana Argemiro Alves- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dra Ivanilda Soares Feitosa- Titular
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
________________________________________________
Dra Elcida de Lima Arauacutejo - Suplente
(Universidade Federal Rural de Pernambuco)
_____________________________________________
Dr Marcelo Alves Ramos - Suplente
(Universidade de Pernambuco)
Recife 2018
v
Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos
e aos agricultores envolvidos na pesquisa
Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento
a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia
oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador
Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado
A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre
estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela
doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse
exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo
e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a
Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e
bondosa
Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras
que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me
deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem
comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS
Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo
verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me
hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo
Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha
formaccedilatildeo pessoal e profissional
A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia
Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao
lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel
Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima
Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive
ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o
desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo
Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo
de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de
crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora
Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
v
Aos meus pais Maacutercia Santos e Maacutezio Santos
e aos agricultores envolvidos na pesquisa
Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento
a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia
oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador
Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado
A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre
estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela
doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse
exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo
e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a
Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e
bondosa
Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras
que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me
deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem
comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS
Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo
verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me
hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo
Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha
formaccedilatildeo pessoal e profissional
A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia
Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao
lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel
Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima
Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive
ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o
desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo
Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo
de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de
crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora
Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
vi
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr Ulysses Paulino de Albuquerque de quem recebi o acolhimento
a orientaccedilatildeo e por quem experimentei um sentimento de admiraccedilatildeo Obrigada pela paciecircncia
oportunidades e por todo o conhecimento transmitido Agradeccedilo tambeacutem ao meu coorientador
Reginaldo de Carvalho que me abriu as portas para a realizaccedilatildeo do mestrado
A minha famiacutelia minha matildee Maacutercia meu pai Maacutezio e meu irmatildeo Maacutercio pois sempre
estiveram ao meu lado me incentivando e dando todo o suporte emocional Agradeccedilo pela
doaccedilatildeo e esforccedilos para que eu consiga alcanccedilar meus objetivos Pai obrigada por ser esse
exemplo de honestidade forccedila de vontade e dedicaccedilatildeo Agradeccedilo pela paciecircncia compreensatildeo
e sacrifiacutecios de longos trajetos que tivemos que enfrentar durante nossas idas e vindas para a
Universidade Matildee obrigada pela sua feacute e por me ensinar tanto com sua natureza humilde e
bondosa
Meus mais sinceros e profundos agradecimentos a todos os agricultores e agricultoras
que participaram desta pesquisa pela acolhida e confianccedila Obrigada por generosamente me
deixarem entrar em suas casas nos seus roccedilados na intimidade suas vidas e por compartilharem
comigo um pouco de seus conhecimentos dificuldades e principalmente ESPERANCcedilAS
Especialmente a Arlindo Ferreira Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo e Juvenal Oliveira que satildeo
verdadeiros exemplos de humildade e solidariedade A Janete Alves e seu esposo Dida que me
hospedam em sua casa e me ajudaram de vaacuterias formas durante as minhas viagens de campo
Foi uma experiecircncia memoraacutevel e cada minuto embora difiacutecil foi fundamental para minha
formaccedilatildeo pessoal e profissional
A Viniacutecius Barbosa pela cumplicidade compreensatildeo e principalmente pela paciecircncia
Agradeccedilo por Deus ter me dado a oportunidade de compartilhar momentos inesqueciacuteceis ao
lado de uma pessoa tatildeo incriacutevel
Agradeccedilo tambeacutem agraves minhas amigas Amanda Eloi Jeacutessica Arruda Rayana Lima
Rayanne Gusmatildeo pela amizade de longas datas por todo apoio e compreensatildeo quando estive
ausente em nossos encontros Ao meu amigo Bartolomeu Neto pela ajuda com o
desenvolvimento do mapa das aacutereas em estudo
Aos meus companheiros de trabalho e parcerias do Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo
de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) que estiveram comigo durante este periacuteodo de
crescimento pessoal e profissional Em especial a Andreacute Borba Ivanilda Soares Juliane Hora
Nylber Silva Regina Ceacutelia Risoneide Henriques e Roberta Caetano
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
vii
A Rafael Zaacuterate agradeccedilo por toda disposiccedilatildeo dedicaccedilatildeo e aprendizado adquirido
Obrigada pelas horas de discussotildees sobre os temas do trabalho pelas ajudas em campo com as
anaacutelises estatiacutesticas e pela paciecircncia
Por fim agradeccedilo ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) pela oportunidade de realizaccedilatildeo do mestrado e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoloacutegico (CNPq) pela concessatildeo da bolsa de
incentivo a pesquisa
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
viii
ldquoEl mundo que nos rodea es un misterio ndash dijo-
Y los hombres no son mejores que ninguna otra cosardquo
Carlos Castaneda - Viaje a Ixtlaacuten
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
ix
LISTA DE FIGURAS
INTRODUCcedilAtildeO GERAL E REVISAtildeO DE LITERATURA
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento 52
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco 53
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados
54
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias 55
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era
feita a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio 55
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango)
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria
56
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 57
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
x
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE
TEAM 2017) 58
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 59
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo 59
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
xi
LISTA DE TABELAS
CAPIacuteTULO IVARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 60
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro
Dantas n=21) 61
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em
estudo 62
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca
63
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
xii
SUMAacuteRIO
RESUMO GERAL xiii
1 Introduccedilatildeo Geral 14
2 Revisatildeo bibliograacutefica 17
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais 17
22Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca 18
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca 20
3 Referecircncias bibliograacuteficas 22
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO LOCAL DE
MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE PERNAMBUCO
NORDESTE DO BRASIL 25
Resumo 26
Introduccedilatildeo 27
Material e meacutetodos 29
Resultados 36
Discussatildeo 40
Conclusatildeo 45
Agradecimentos 45
Referecircncias bibliograacuteficas 46
ANEXOS 51
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
xiii
RESUMO GERAL
Agricultores de pequena escala que praticam agricultura de modo tradicional em roccedilas
desempenham um importante papel na geraccedilatildeo manutenccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
agrobiodiversidade local Dentre as espeacutecies mais cultivadas em roccedilas a Manihot esculenta
Crantz (mandioca) em sua diversidade intrespeciacutefica eacute um dos recursos agriacutecolas de maior
importacircncia econocircmica e de subsistecircncia para diversas populaccedilotildees locais no mundo Acredita-
se que as praacuteticas de manejo dedicadas ao cultivo da mandioca associadas ao conhecimento de
agricultores resultam no aumento da diversidade intraespeciacutefica assim como na conservaccedilatildeo
dessa diversidade Diante disso a pesquisa teve como objetivo compreender os processos
envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola da mandioca por meio do acesso ao
conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais fatores podem
estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para isso o estudo foi
desenvolvido junto a agricultores tradicionais de sete comunidades rurais localizadas na regiatildeo
semiaacuterida do estado de Pernambuco A abordagem metodoloacutegica foi baseada em entrevistas
semiestruturadas conversas com os informantes e visitas aos roccedilados para caracterizar e
compreender a importacircncia manejo da agricultura de sequeiro e das redes sociais estabelecidas
entre os agricultores bem como identificar as variedades de mandioca atualmente cultivadas
A partir do conhecimento da diversidade manejada analisamos a estrutura da rede de interaccedilatildeo
social formada pelas trocas de etnovariedades entre os agricultores A partir destas informaccedilotildees
discutimos sobre o importante papel dos agricultores na manutenccedilatildeo do conjunto de
etnovariedades regionais Um total de 22 etnovariedades foram citadas as quais satildeo
identificadas pelos agricultores principalmente por meio de sete caracteres morfoloacutegicos A
estrutura em redes de trocas de variedades favorece a manutenccedilatildeo e amplificaccedilatildeo das diferentes
variedades locais
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade
Plantas alimentiacutecias Redes sociais
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
xiv
ABSTRACT
Small-scale farmers who practice traditional agriculture fields have an important role in
generation maintenance and conservation of local agrobiodiversity Among the most cultivated
species the Manihot esculenta Crantz (cassava) in its intrespecific diversity is one of the
moust important agricultural resources of economic importance and livelihood for many local
people in the world It is believed that the management practices dedicated to the cultivation of
cassava associated with the knowledge of farmers result in increased intraspecific diversity
and the conservation of this diversity Therefore the research aimed to understand the processes
involved in the dynamics of agricultural diversity of cassava through access the knowledge of
farmers as the management of practices and understand what factors may be related to the
generation and maintenance of local diversity For this the study was developed with the
traditional farmers of seven rural communities located in the semiarid region of the state of
Pernambuco The methodological approach was based on semi-structured interviews
conversations with informants and visits to fields to characterize and understand the
importance of management of dry framing and social networks established between farmers
and to identify the cassava varieties currently grown From the knowledge of managed
diversity we analyze the structure of social interaction network formed by the exchange of
landraces among farmers From this information We discussed the important role of farmers
in the overall regional landraces maintenance A total of 22 landraces were cited which are
identified by farmers mainly through seven morphological characters The structure of
varieties sharing networks favors the maintenance and amplification of different local varieties
Keywords Agrobiodiversity Dry Farming Food plants Social networks Traditional
agriculture
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
14
1 Introduccedilatildeo Geral
Ao longo dos anos populaccedilotildees tradicionais foram adquirindo aprimorando e transmitindo
seus conhecimentos sobre o manejo dos recursos naturais existentes em suas respectivas
regiotildees e assim foram desenvolvendo teacutecnicas para se adaptar e sobreviver ao ambiente Essas
populaccedilotildees foram domesticando uma grande variedade de espeacutecies de plantas alimentiacutecias
numa agricultura de pequena escala (BALLEacute 2006 CLEMENT et al 2010)
Essa interaccedilatildeo pessoas-planta por meio do cultivo e manejo das espeacutecies vegetais vem
contribuindo para ambos com alteraccedilotildees adaptativas por meio da seleccedilatildeo artificial Essas
alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica das espeacutecies vegetais pelo manejo da
seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas fisioloacutegicas e econocircmicas das plantas E essa seleccedilatildeo
consciente ou inconsciente das plantas se traduz em uma grande variaccedilatildeo intraespeciacutefica nas
populaccedilotildees vegetais sob diferentes regimes de manejo (CARMONA CASAS 2005)
Por meio do cultivo agricultores em comunidades tradicionais desempenham um papel
fundamental no processo dinacircmico de geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em
sistemas de roccedilas Essas roccedilas satildeo aacutereas de agricultura tradicional localizadas dentro de
comunidades caracterizadas natildeo soacute pelo grande nuacutemero espeacutecies cultivadas mas tambeacutem pela
alta diversidade intraespeciacutefica que essas espeacutecies apresentam (MARTINS 2005) Dentre as
espeacutecies comumente cultivadas nesse sistema a mandioca (Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae) eacute considerada uma cultura de alto valor econocircmico nutricional utilitaacuterio
cultural e social para muitas populaccedilotildees humanas no mundo (CLEMENT et al 2010) Aleacutem
disso a mandioca apresenta uma grande diversidade intraespeciacutefica e por essas caracteriacutesticas
tornou-se uma espeacutecie-modelo para compreender como os diferentes padrotildees e estrateacutegias de
manejo adotadas pelos agricultores podem influenciar na diversidade local (ELIAS et al 2001
EMPERAIRE PERONI 2007 EMPERAIRE ELOY 2008)
Segundo PERONI amp MARTINS (2000) as diferentes praacuteticas de manejo desse
importante recurso favorecem a alta diversidade intraespeciacutefica em roccedilas de agricultura
itinerante1 Um dos fatores responsaacuteveis pela geraccedilatildeo dessa diversidade consiste na capacidade
de incorporaccedilatildeo de novos germoplasmas por meio da reproduccedilatildeo sexuada associada ao manejo
agriacutecola tradicional (PUJOL et al 2005 EMPERAIRE PERONI 2007) Apesar de propagada
1 Agricultura caracterizada por ciclos de uso e pousio como por exemplo corte e queima
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
15
vegetativamente pelos agricultores a mandioca (M esculenta) ainda manteacutem a sua capacidade
de reproduccedilatildeo sexual sendo este um aspecto muito importante para dinacircmica evolutiva da
cultura (PUJOL et al 2007 CLEMENT et al 2010) Apoacutes a fecundaccedilatildeo cruzada e dispersatildeo
das sementes um banco destas eacute formado no solo e as novas variedades germinam nas roccedilas
(MARTINS 2005) Antes de serem imcorporadas ao acervo essas lsquolsquovariedades-voluntaacuteriasrsquorsquo
passam por um filtro cultural ou seja seratildeo reconhecidas pelos agricultores por meio de
caracteriacutesticas morfoloacutegicas experimentadas e entatildeo selecionadas (MARTINS OLIVEIRA
2009)
Outro evento envolvido na geraccedilatildeo de diversidade intraespeciacutefica eacute incorporaccedilatildeo de
novas variedades de mandioca por meio de uma rede social de troca de material propagativo
estabelecida entre os agricultores (CAVECHIA et al 2014) Esse mecanismo permite a
circulaccedilatildeo das manivas2 tanto a niacutevel local quanto regional permite tambeacutem o acesso aos
diferentes conjuntos de variedades cultivadas entre as comunidades e ainda que o conjunto de
etnovariedades3 locais eou regionais seja conservado (EMPERAIRE ELOY 2008) Dentro
dessas redes sociais de troca as relaccedilotildees entre os agricultores atuam como mecanismo
fundamental para dispersatildeo e experimentaccedilatildeo das etnovariedades entre as roccedilas E satildeo essas
relaccedilotildees e decisotildees estabelecidas entre os agricultores que iratildeo definir quais etnovariedades
seratildeo mantidas ao longo do tempo e quais seratildeo abandonadas (LIMA et al 2012)
Sendo os agricultores e as interaccedilotildees entre eles fundamentais para o estabelecimento da
diversidade local (PINTON EMPERAIRE 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) torna-se
pertinente entender como as diferentes estrateacutegias adotadas pelos agricultores influenciam na
dinacircmica da agrobiodiversidade local Muitos trabalhos com esse enfoque foram desenvolvidos
nas regiotildees Amazocircnica e Sudeste mas pouco se discute sobre a dinacircmica da agrobiodiversidade
em regiotildees semiaacuteridas
Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco O
objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola por
meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e entender quais
quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade local Para esse
estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia econocircmica e de
subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) caracterizar o manejo
2 Satildeo pedaccedilos das hastes ou ramas da mandioca usadas para o plantio 3 Variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta) identificadas pelos agricultores por nomenclatura
popular local (Martins 2005)
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
16
da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros socioeconocircmicos influenciam
na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente cultivadas e identificar os
diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das
etnovariedades e (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre os agricultores e a
diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender como essas relaccedilotildees
podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local
a
b c
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
17
2 Revisatildeo bibliograacutefica
21 Manihot esculenta Crantz e conhecimento local de agricultores tradicionais
O gecircnero Manihot Miller (Euforbiaceae) possui cerca de 98 espeacutecies distribuiacutedas em 19
seccedilotildees das quais 13 delas ocorrem no Brasil (ROGERS APPAN 1973) Dentre as espeacutecies do
gecircnero Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute a principal cultivar uma vez que compotildee a
base da dieta alimentar de diversas populaccedilotildees rurais principalmente em regiotildees tropicais A
mandioca foi domesticada na Ameacuterica do Sul pois eacute onde se encontra o maior centro de
diversificaccedilatildeo Estudos relacionados ao entendimento de sua origem botacircnica tecircm contribuiacutedo
para a compreensatildeo das accedilotildees humanas no processo de domesticaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo da
diversidade da espeacutecie (OLSEN SCHAAL 1999 ELIAS et al 2004 ELLEN 2012)
As diferentes variedades da espeacutecie satildeo reconhecidas em dois grandes grupos principais
o das variedades mais toacutexicas e o de variedades menos toacutexicas baseadas no potencial de
glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCN) contido na polpa das raiacutezes (ELIAS et al 2004) Variedades
com baixa toxicidade contecircm baixas concentraccedilotildees de glicosiacutedeos cianogecircnicos (HCNlt100
mgKg-1) e satildeo conhecidas em comunidades agriacutecolas variando entre regiotildees ou grupos eacutetnicos
como ldquomacaxeirasrdquo ldquomandiocas doces ou mansasrdquo ou ldquoaipinsrdquo As variedades mais toacutexicas
com altas concentraccedilotildees de HCN (HCNgt 100 mgKg-1) satildeo reconhecidas como ldquomandiocasrdquo
ou ldquomandiocas amargas ou bravasrdquo (PERONI et al 2007 MCKEY et al 2010) E portanto
precisam passar por um processo de desintoxicaccedilatildeo para se tornarem aptas ao consumo como
por exemplo pelo processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 1) Apesar do seu
potencial toacutexico as variedades amargas possuem teores mais elevados de amido e se adaptam
bem a solos pobres e aacutecidos aleacutem de serem mais resistentes aos patoacutegenos e pragas em
comparaccedilatildeo com as variedades doces (FRASER et al 2010)
Sob o ponto de vista botacircnico esta dicotomia natildeo eacute reconhecida mas existem alguns
trabalhos que evidenciam a relaccedilatildeo entre a coerecircncia da taxonomia popular com a diferenciaccedilatildeo
geneacutetica para separaraccedilatildeo das variedades ldquodocesrdquo e ldquoamargasrdquo (ELIAS et al 2004 PERONI
et al 2007) O conhecimento das caracteriacutesticas morfoloacutegicas das plantas e a coerecircncia na
identificaccedilatildeo dessas variedades com niacuteveis distintos de HCN eacute de grande importacircncia
adaptativa para as populaccedilotildees que gerem esse recurso sobretudo pelo risco de intoxicaccedilatildeo
(RIVAL MCKEY 2008)
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
18
No estudo realizado por AMOROZO (2000) por exemplo os agricultores geralmente
classificavam as variedades que tinham raiacutezes brancas como ldquobravasrdquo e aquelas que tinham
raiacutezes vermelhas como ldquomansasrdquo embora eles reconhecessem algumas exceccedilotildees Em pesquisas
realizados por FARALDO et al (2000) MKUMBIRA et al (2003) ELIAS et al (2004) e
PERONI et al (2007) os agricultores foram consistentes na distinccedilatildeo de suas variedades
lsquolsquodocesrdquo e ldquoamargasrsquorsquo e com base no conhecimento de caracteres morfoloacutegicos distintos os
nomes das variedades refletiram na diversidade geneacutetica A partir dessas evidecircncias podemos
inferir que o conhecimento local dos agricultores associado agrave experiecircncia eacute importante natildeo
somente para o reconhecimento das variedades locais por si soacute mas tambeacutem por conter
informaccedilotildees relevantes sobre o papel que esses recursos podem desempenhar nos sistemas
agriacutecolas de pequena escala e para as populaccedilotildees locais (GADGIL et al 1993)
O conhecimento tradicional dos agricultores trata-se de um conjunto de saberes praacuteticas
e crenccedilas baseadas no contato direto nas observaccedilotildees experimentaccedilotildees diaacuterias e nas
dependecircncias econocircmicas eou de subsistecircncia dos recursos que satildeo geralmente transmitidas
oralmente dentro e entre as geraccedilotildees (AMOROZO 2000 DOMINGUES ARRUDA 2001
BEGOSSI 2004) Sendo assim o conhecimento tradicional de agricultores que praticam a
agricultura de pequena escala realizada em comunidades tradicionais eacute importante pois tem
garantido a perpetuaccedilatildeo dos conhecimentos e das praacuteticas agriacutecolas desenvolvidas durante
milhares de anos entre os agroecossistemas locais
22 Manejo tradicional em roccedilas e diversidade intraespeciacutefica da mandioca
A agricultura de pequena escala praticada em comunidades locais tem garantido a
perpetuaccedilatildeo do conhecimento sobre o manejo e a diversidade de espeacutecies agriacutecolas O sistema
de cultivo em roccedilas eacute tipicamente praticado por agricultores de comunidades tradicionais em
aacutereas uacutemidas no mundo inteiro As roccedilas satildeo aacutereas de cultivo de pequena escala localizadas
dentro de comunidades proacuteximas umas das outras que se tornaram objeto de estudo em vaacuterias
pesquisas antropoloacutegicas etnobotacircnicas geneacuteticas e ecologias especialmente por apresentarem
grande diversidade de espeacutecies cultivadas e pelo manejo destinar-se agrave subsistecircncia de grupos
familiares de agricultores de pequena escala (PUJOL et al 2007)
Aleacutem da diversidade de espeacutecies outra caracteriacutestica dessas roccedilas eacute o grande nuacutemero de
variedades dentro de cada espeacutecie Esta diversidade intraespeciacutefica pode ser referida como
etnovariedades que eacute um termo utilizado para definir grupos de indiviacuteduos identificados por
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
19
nomenclatura popular local a qual pode expressar elementos do contexto cultural econocircmico
e social das populaccedilotildees associado ao uso (PERONI MARTINS 2000 EMPERAIRE
PERONI 2007)
Dentre as vaacuterias espeacutecies cultivadas em roccedilas a mandioca (M esculenta) em seu
nuacutemero de etnovariedades eacute uma das principais culturas de importacircncia econocircmica e
nutricional para populaccedilotildees que utilizam esse sistema Sua diversidade pode estar relacionada
ao sistema reprodutivo da cultura ao modo de gestatildeo da agricultura pelas pressotildees de seleccedilatildeo
exercidas pelo proacuteprio homem ou ateacute mesmo por causas naturais (MARTINS 2005
CLEMENT et al 2010)
As caracteriacutesticas de manejo empregadas no cultivo da mandioca em roccedilas favorecem
a elevada diversidade intraespeciacutefica dessa cultura O modo de propagaccedilatildeo da mandioca eacute feito
pelos agricultores por meios de estacas (manivas) que satildeo selecionadas de acordo com as
caracteriacutesticas desejaacuteveis que elas apresentam seja para fins econocircmicos ou utilitaacuterios Apesar
de propagada vegetativamente que eacute um meacutetodo usado pelas populaccedilotildees humanas para plantio
e multiplicaccedilatildeo de plantas a mandioca natildeo perdeu a sua capacidade de reproduccedilatildeo sexual
sendo esse um aspecto importante para dinacircmica evolutiva da cultura (PUJOL et al 2007)
Esse meacutetodo de propagaccedilatildeo permite o fluxo e a circulaccedilatildeo do material geneacutetico entre os
diferentes roccedilados por meio de um sistema de redes sociais de troca de etnovariedade de
mandioca entre os agricultores tanto a niacutevel regional (entre comunidades) quanto em escalas
menores (entre vizinhos e parentes) (ELIAS et al 2004 EMPERAIRE OLIVEIRA 2010)
Segundo Emperaire e Peroni (2007) esse mecanismo de troca de germoplasma eacute uma grande
forccedila de dispersatildeo que resulta na agrobiodiversidade regional mais elevada pois estabelece
viacutenculos entre as diferentes roccedilas e promove oportunidades de seleccedilatildeo e cruzamento entre as
diferentes etnovariedades (EMPERAIRE ELOY 2008)
Atributo bioloacutegicos da espeacutecie tambeacutem estatildeo relacionados com o aumento da
diversidade intrespeciacutefica como a capacidade de dormecircncia das sementes e a dispersatildeo
autocoacuterica que propiciam o desenvolvimento de um banco de sementes no solo ao longo do
tempo permitindo o cruzamento entre as novas variedades adquiridasplantadas e entre estas
com variedades que existiram anterioemente na mesma aacuterea (PERONI MARTINS 2000
MARTINS 2005) A presenccedila dessas ldquoplantas-voluntaacuteriasrdquo ou seja aquelas nascidas de
germinaccedilatildeo expontacircnea eacute um dos eventos identificados como precursores de diversidade
intraespeciacutefica nas populaccedilotildees de mandioca cultivadas (PUJOL et al 2007)
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
20
Contudo muitos esforccedilos vecircm sendo empregados em estudos que observam a ecologia
da mandioca e o manejo agriacutecola associado agrave geraccedilatildeo de diversidade varietal e geneacutetica na
espeacutecie para tentar entender como esses mecanismos influenciam na diversidade de
etnovariedades locais e na sua dinacircmica (PUJOL et al 2007 KOMBO et al 2012 ELIAS et
al 2001)
23 Redes sociais de troca e circulaccedilatildeo de etnovariedades de mandioca
Sistemas agriacutecolas de pequena escala dependem de uma grande diversidade de espeacutecies e
variedades cultivadas e do fluxo destas por meio de redes sociais de troca material vegetativo
estabelecidas entre agricultores podendo o alcance da circulaccedilatildeo variar em escala local eou
regional (EMPERAIRE ELOY 2008) As trocas dependem de dois mecanismos principais
dos padrotildees de interaccedilatildeo social entre os agricultores e dos padrotildees de uso dos recursos
(CAVECHIA et al 2014) e as redes variam em funccedilatildeo das caracteriacutesticas culturais
econocircmicas e sociais das comunidades (EMPERAIRE PERONI 2007 PAUTASSO et al
2012)
No caso da mandioca (Manihot esculenta Crantz) a propagaccedilatildeo se da por estaquia o que
favorece a troca de material de vegetativo entre os agricultores e permite o fluxo entre
variedades locais e regionais (MARTINS 2005) As trocas de variedades de mandioca entre os
agricultores geralmente acontecem por alguma circunstacircncia que leve o agricultor a pedir o
material propagativo para o plantio com por exemplo para o plantio de uma nova roccedila ou por
alguma fitopatologia deslocaccedilatildeo ou estaccedilotildees de chuva e seca prolongadas (EMPERAIRE et
al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008) Em alguns casos como no de algumas comunidades
agriacutecolas de pequena escala as redes de casamento satildeo utilizadas para a circulaccedilatildeo de
variedades (EMPERAIRE PERONI 2007 DELEcircTRE et al 2011)
O processo de manutenccedilatildeo da diversidade nesses sistemas resulta do interesse ou da
necessidade do agricultor em adquirir ou abandonar variedades testar e selecionar novas
etnovariedades de mandioca Dentre os fatores que dirigem a seleccedilatildeo de etnovariedades estatildeo
as preferecircncias individuais dos agricultores Alguns podem optar por cultivar todas as
etnovariedades comuns eou disponiacuteveis na regiatildeo enquanto que outros optam apenas por
manter um conjunto especiacutefico dessa diversidade (CAVECHIA et al 2014) Seja para atender
a alguma demanda individual pelo interesse em aumentar a produtividade ou pela necessidade
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
21
de conservar o material vegetativo para o proacuteximo plantio no caso de perda de material por
algum fator ambiental adverso (EMPERAIRE et al 2001 EMPERAIRE ELOY 2008)
Nesse sentido satildeo os agricultores os maiores responsaacuteveis por determinar como e quais
etnovariedades seratildeo compartilhadas e mantidas entre as comunidades (PAUTASSO et al
2012) E a chave para a compreensatildeo da dinacircmica da diversidade varietal eacute por meio desse
intercacircmbio e dos fatores que influenciam essa conectividade entre as comunidades pois essas
redes representam um grande impacto sobre a diversidade de variedades cultivadas E eacute por
meio dessas redes que se diminui coletivamente os riscos de perda total de diversidade geneacutetica
local (EMPERAIRE ELOY 2008)
Desse modo as relaccedilotildees estabelecidas pelos agricultores entre as comunidades por meio
das redes troca de germoplasma podem ter consequecircncias importantes sobre a diversidade
varietal da mandioca E compreender os processos envolvidos na manutenccedilatildeo ou perda de
germoplasma nos sistemas agriacutecolas eacute importante uma vez que compreendendo a maneira
como os agricultores usam esse conjunto de etnovariedades de mandioca e as compartilham
vai trazer importantes discussotildees a cerca da qualidade e a quantidade do recurso que seraacute
mantido transmitido ou perdido dentro dos sistemas ao longo do tempo
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
22
Referecircncias bibliograacuteficas
AMOROZO M C DE M Management and conservation of Manihot esculenta Crantz
germplasm by traditional farmers in Santo Antonio do Leverger Mato Grosso State Brazil
Etnoecologica v 4 n 6 p 69ndash83 2000
ARRUDA R S V DIEGUES A C Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil Brasiacutellia
Ministeacuterio do Meio Ambiente 2001
BALLEacute M et al The thinking production system Reflections v 7 n 2 p 1ndash12 2006
CARMONA A CASAS A Management phenotypic patterns and domestication of Polaskia
chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid Environments
v 60 n 1 p 115ndash132 2005
CAVECHIA L A et al Resource-use patterns in swidden farming communities implications
for the resilience of cassava diversity Human ecology v 42 n 4 p 605ndash616 2014
CLEMENT C R et al Origin and domestication of native Amazonian crops Diversity v 2
n 1 p 72ndash106 2010
ELIAS M et al Unmanaged sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a
vegetatively propagated crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming
system Molecular Ecology v 10 n 8 p 1895ndash1907 2001
ELIAS M et al Genetic diversity of traditional South American landraces of cassava (Manihot
esculenta Crantz) an analysis using microsatellites Economic Botany v 58 n 2 p 242ndash256
2004
ELLEN R F SOSELISA H L A comparative study of the socio-ecological concomitants of
cassava (Manihot esculenta Crantz) diversity local knowledge and management in Eastern
Indonesia Ethnobotany Research and Applications v 10 p 15ndash35 2012
EMPERAIRE L DE OLIVEIRA J Redes sociales y diversidad agriacutecola en la Amazonia
Brasilentildea un sistema multiceacutentrico 2010
EMPERAIRE L ELOY L A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro
(Amazonas Brasil) Boletim do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas v 3 n
2 p 195ndash211 2008
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
23
EMPERAIRE L PERONI N Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a case
study of manioc Human Ecology v 35 n 6 p 761ndash768 2007
FARALDO M I F et al Variabilidade geneacutetica de etnovariedades de mandioca em regiotildees
geograacuteficas do Brasil Genetic variability of landraces of cassava in geographical regions of
Brazil Scientia Agricola v 57 n 3 p 499ndash505 2000
FRASER J A The diversity of bitter manioc (Manihot esculenta Crantz) cultivation in a
whitewater Amazonian landscape Diversity v 2 n 4 p 586ndash609 2010
GADGIL M BERKES F FOLKE C Indigenous knowledge for biodiversity conservation
Royal Swedish Academy of Sciences v 22 n 23 p 151ndash156 1993
KOMBO G R et al Diversity of cassava (Manihot esculenta Crantz) cultivars and its
management in the department of Bouenza in the Republic of Congo Genetic Resources and
Crop Evolution v 59 n 8 p 1789ndash1803 2012
LIMA D STEWARD A RICHERS B T Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas v 7 n 2 p 371ndash396 2012
MARTINS P S Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos Avanccedilados
v 19 n 53 p 209ndash220 2005
MCKEY D et al Chemical ecology in coupled human and natural systems People manioc
multitrophic interactions and global change Chemoecology v 20 n 2 p 109ndash133 2010
MKUMBIRA J et al Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica v 132 n 1 p 7ndash22
2003
OLSEN K M SCHAAL B A Evidence on the origin of cassava phylogeography of
Manihot esculenta Proceedings of the National Academy of Sciences v 96 n 10 p 5586ndash
5591 1999
PAUTASSO M et al Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review
Agronomy for sustainable development v 33 n 1 p 151ndash175 2012
PERONI N KAGEYAMA P Y BEGOSSI A Molecular differentiation diversity and folk
classification of ldquosweetrdquo and ldquobitterrdquo cassava (Manihot esculenta) in Caiccedilara and Caboclo
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
24
management systems (Brazil) Genetic Resources and Crop Evolution v 54 n 6 p 1333ndash
1349 10 mar 2007
PERONI N SODERO MARTINS P Influecircncia da dinacircmica agriacutecola itinerante na geraccedilatildeo
de diversidade de etnovariedades cultivadas vegetativamente Interciencia v 25 n 1 2000
PINTON F EMPERAIRE L Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et
marcheacute Genetic Sel Evol v 33 n 1 p 491ndash512 2001
PUJOL B et al The unappreciated ecology of landrace populations Conservation
consequences of soil seed banks in Cassava Biological Conservation v 136 n 4 p 541ndash
551 maio 2007
PUJOL B DAVID P MCKEY D Microevolution in agricultural environments how a
traditional Amerindian farming practice favours heterozygosity in cassava (Manihot esculenta
Crantz Euphorbiaceae) Ecology Letters v 8 n 2 p 138ndash147 2005
RIVAL L MCKEY D Domestication and diversity in manioc (Manihot esculenta Crantz
ssp esculenta Euphorbiaceae) Current anthropology v 49 n 6 p 1119ndash1128 2008
ROGERS D J APPAN S G Manihot and Manihotoides (Euphorbiaceae) a computer
assisted study Flora neotropica v 13 p 1973ndash278 1973
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
25
VARIACcedilAtildeO INTRAESPECIacuteFICA CONHECIMENTO E MANEJO
LOCAL DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) NO SEMIAacuteRIDO DE
PERNAMBUCO NORDESTE DO BRASIL
Artigo submetido ao perioacutedico Human Ecology
Normas para submissatildeo em anexos
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
26
Variaccedilatildeo intraespeciacutefica conhecimento e manejo local de mandioca 1
(Manihot esculenta Crantz) no semiaacuterido de Pernambuco Nordeste do 2
Brasil 3
Mirela Nataacutelia Santos12 Jhonatan Rafael Zaacuterate-Salazar1 Reginaldo de Carvalho1 amp 4
Ulysses Paulino de Albuquerque2 5
6
1 Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Botacircnica Departamento de Biologia Rua Dom Manuel de Medeiros 7
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) sn Dois Irmatildeos Recife Pernambuco 52171-8
900 Brasil 9
2 Laboratoacuterio de Ecologia e Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA) Departamento de Botacircnica 10
Avenida Professor Moraes Rego Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sn Cidade 11
Universitaacuteria Recife Pernambuco 50670-901 Brasil 12
Resumo 13
Historicamente a espeacutecie Manihot esculenta Crantz (mandioca) eacute uma espeacutecie de grande valor 14
econocircmico e de subsistecircncia para populaccedilotildees em comunidades tradicionais Variedades de 15
mandioca satildeo selecionadas com base nos interesses dos agricultores conduzindo uma evoluccedilatildeo 16
especiacutefica sobre a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local Diante disso a mandioca 17
tornou-se espeacutecie-modelo em estudos que buscam compreender como os padrotildees e estrateacutegias 18
adotadas pelas populaccedilotildees humanas influenciam na diversidade intraespeciacutefica local em regiotildees 19
tropicais No entanto os fatores que influenciam a diversidade da mandioca em regiotildees 20
semiaacuteridas ainda natildeo foram bem documentados Nesse sentido objetivo geral do estudo foi 21
compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade agriacutecola em sete 22
comunidades tradicionais localizadas na regiatildeo semiaacuterida do estado de Pernambuco (Nordeste 23
do Brasil) por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo 24
para tentar quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 25
local Com os resultados da anaacutelise de redes verificamos uma alta diversidade de 26
etnovariedades cultivadas e a sua composiccedilatildeo eacute determinada pelas preferecircncias e 27
comportamentos individuais dos agricultores que foram provavelmente os mecanismos 28
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
27
responsaacuteveis pelo surgimento da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede Esse padratildeo 29
aninhado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas tambeacutem pode resultar 30
em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 31
Palavras-Chave Agricultura tradicional Agricultura de sequeiro Agrobiodiversidade 32
Etnobiologia Plantas alimentiacutecias 33
34
Introduccedilatildeo 35
Historicamente as populaccedilotildees humanas foram acumulando conhecimentos sobre 36
praacuteticas da agricultura desenvolvendo teacutecnicas adaptadas ao meio natural e assim foram 37
domesticando uma grande variedade de cultivos alimentares para garantirem a sua 38
sobrevivecircncia (Balleacute 2006 Clement et al 2010) Essa interaccedilatildeo pessoas-plantas por meio do 39
cultivo e manejo das espeacutecies vegetais considerando tanto os aspectos sociais quanto naturais 40
dos sistemas dinacircmicos eacute uma importante ferramenta para o entendimento do conhecimento 41
dos agricultores sobre os agroecossistemas locais ( Alcorn 1995) 42
Aleacutem disso essas interaccedilotildees vem contribuindo com alteraccedilotildees nas populaccedilotildees vegetais 43
por meio da seleccedilatildeo artificial Essas alteraccedilotildees resultaram em mudanccedilas na estrutura geneacutetica 44
dessas populaccedilotildees que satildeo determinadas geralmente pela seleccedilatildeo de caracteriacutesticas fenotiacutepicas 45
fisioloacutegicas eou econocircmicas das plantas refletidas em classificaccedilotildees e nomenclaturas 46
especiacuteficas baseadas em percepccedilotildees individuais (Carmona amp Casas 2005) 47
Muitos pesquisadores tentam explicar o papel dos agricultores de pequena escala na 48
seleccedilatildeo classificaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da agrobiodiversidade local em roccedilas tradicionalmente 49
manejas em regiotildees uacutemidas (Emperaire amp Peroni 2007 Emperaire amp Eloy 2008 Marchetti et 50
al 2013) Essas roccedila satildeo aacutereas de cultivo caracterizadas por conter uma alta diversidade 51
intraespeciacutefica de espeacutecies (Martins 2005) Dentre elas a Manihot esculenta Crantz 52
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
28
(mandioca) Euphorbiaceae em sua diversidade de etnovariedades eacute a espeacutecie mais importante 53
sob ponto de vista econocircmico e de subsistecircncia para as populaccedilotildees locais e mais cultivada 54
devido a sua grande adaptabilidade ambiental e baixos custos de gestatildeo (Elias et al 2001) 55
A alta diversidade da mandioca nessas aacutereas pode ser atribuiacuteda agrave possibilidade de 56
introduccedilatildeo de novas variedades via reproduccedilatildeo sexuada associada a ecologia da espeacutecie Esse 57
mecanismo permite o fluxo gecircnico entre as variedades de mandioca cultivadas do mesmo local 58
e entre estas com variedades de locais vizinhos (Pujol et al 2007) Outro mecanismo que 59
favorece essa diversidade eacute agrave circulaccedilatildeo de material propagativo por meio redes sociais de troca 60
variedades entre os agricultores (Pujol et al 2005 Emperaire amp Peroni 2007 Clement et al 61
2010) Esse mecanismo de troca eacute fundamental para o estabelecimento de interaccedilotildees entre as 62
diferentes aacutereas de roccedila promovendo oportunidade de seleccedilatildeo e cruzamento entre os diferentes 63
conjuntos de variedades aleacutem de permitir que este conjunto seja conservado (Emperaire amp Eloy 64
2008) 65
Diante desse cenaacuterio podemos observar que a agrobiodiversidade local natildeo eacute fruto 66
apenas de fatores naturais mas eacute tambeacutem influenciada pelas caracteriacutesticas culturais e 67
socioeconocircmica das populaccedilotildees locais refletidas especialmente no conhecimento e manejo 68
local Nesse sentido o presente estudo visa investigar as interaccedilotildees entre agricultores 69
tradicionais de comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco 70
O objetivo geral eacute compreender os processos envolvidos na dinacircmica da diversidade 71
agriacutecola por meio do acesso ao conhecimento dos agricultores quanto as praacuteticas de menejo e 72
entender quais quais fatores podem estar relacionados a geraccedilatildeo e manutenccedilatildeo da diversidade 73
local Para esse estudo a mandioca foi escolhida como modelo devida agrave sua importacircncia 74
econocircmica e de subsistecircncia para comunidades locais Os objetivos especiacuteficos foram (i) 75
caracterizar o manejo da agricultura de sequeiro bem como analisar se os paracircmetros 76
socioeconocircmicos influenciam na diversidade local (ii) registrar as etnovariedades atualmente 77
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
29
cultivadas e identificar os diferentes criteacuterios morfoloacutegicos utilizados pelos agricultores para a 78
seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo das etnovariedadese (iii) descrever a estrutura da rede de interaccedilatildeo entre 79
os agricultores e a diversidade de etnovariedades de mandioca cultivadas para tentar entender 80
como essas relaccedilotildees podem influenciar na manutenccedilatildeo ou perda da diversidade local 81
Material e meacutetodos 82
Aacutereas de estudo 83
Amostramos sete comunidades rurais estabelecidas na regiatildeo semiaacuterida de 84
Pernambuco Nordeste do Brasil Uma das comunidades (Caratildeo) pertence ao Municiacutepio de 85
Altinho (ldquo8deg 29rsquo 10rdquo S e 36deg 03rsquo 49rdquo W) e as demais (Satildeo Joseacute do Bola Brejo velho 86
Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima Lajedo Dantas e Aracuatilde) ao Municiacutepio de 87
Panelas (8 deg 39 48 S e 36 deg 01 23 W) (Fig 2) 88
O modelo agriacutecola adotado na regiatildeo segue o sistema tradicional de sequeiro4 e todas 89
as comunidades em estudo possuem histoacuterico de cultivo de mandioca (M esculenta) As aacutereas 90
de cultivo satildeo estabelecidas por unidade familiar e as atividades satildeo realizadas em sua maioria 91
por homens tendo cada agricultor cerca de um a dois hectares de aacuterea para plantio Aleacutem da 92
mandioca os cultivos mais utilizados na comunidades satildeo milho (Zea mays) e feijatildeo (Phaseolus 93
sp) 94
Para os membros das comunidades a produccedilatildeo da farinha de mandioca (Fig 3) eacute uma 95
das atividades agriacutecolas mais importantes tanto pelo seu papel na dieta alimentar quanto pela 96
importacircncia social e econocircmica 97
Caracteriacutesticas das comunidades do estudo 98
A comunidade do Caratildeo localiza-se sob domiacutenio de Caatinga caracterizado por climas 99
quentes e secos com regimes escassos de chuvas correspondente ao tipo BSrsquoh segundo a 100
4 Eacute o cultivo praticado sem irrigaccedilatildeo em regiotildees onde a pluviosidade eacute diminuta
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
30
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumlppen A vegetaccedilatildeo eacute composto por espeacutecies perenes que 101
conseguem sobreviver mesmo em periacuteodos de seca e espeacutecies anuais que aparecem apenas em 102
periacuteodos com chuva (Cruz et al 2013) 103
De acordo os dados de precipitaccedilatildeo do Laboratoacuterio de Anaacutelise e Processamento de 104
Imagens de Sateacutelites (LAPIS) no ano de 2012 foi registrada a menor meacutedia anual de 105
precipitaccedilatildeo dos uacuteltimos 10 anos para essa regiatildeo (3784 mm) Essa realidade ambiental quando 106
comparada com estudo realizado por de Sieber e colaboradores (2011) na mesma comunidade 107
observa-se que houve uma diminuiccedilatildeo considerada das praacuteticas agriacutecolas realizadas pelos 108
membros da comunidade culminando em uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como a perda 109
de plantaccedilotildees e animais Essa perda de produtividade afetou a estrutura econocircmica da 110
comunidade uma vez que a principal fonte de subsistecircncia das famiacutelias eacute a agricultura 111
Associada as atividades agriacutecolas os moradores complementam a dieta e a renda 112
familiar com a venda dos excedentes da produccedilatildeo em feiras-livres ou centros comerciais da 113
regiatildeo (Cruz et al 2013) E com a pecuaacuteria de pequena escala bovina caprina e com avicultura 114
No entanto a diminuiccedilatildeo da forragem natural e cultivada causada pela escassez de chuvas 115
associada aos elevados custos envolvidos na compra de raccedilatildeo levou muitos animais agrave morte 116
(Fig 4) 117
No Municiacutepio de Altinho a comunidade do Caratildeo foi inicialmente escolhida devido ao 118
reconhecimento preacutevio do registro de agricultores realizado em estudos desenvolvidos pelo 119
nosso grupo de pesquisa facilitando assim o acesso agraves informaccedilotildees necessaacuterias para o 120
desenvolvimento da pesquisa 121
As comunidades Aracuatilde Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima 122
Lajedo Dandas e Satildeo Joseacute do Bola amostradas no estudo pertencem ao Municiacutepio de Panelas 123
que se limita ao Norte com o Municiacutepio de Altinho Essas comunidades estatildeo localizadas em 124
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
31
no domiacutenio morfoclimaacutetico de Caatinga O clima eacute do tipo semiaacuterido Bsrsquoh segundo a 125
classificaccedilatildeo climaacutetica de Koumleppen 126
A maior parte dos membros dessas comunidades assim como no Caratildeo tecircm como 127
principal fonte de subsistecircncia a agricultura de sequeiro principalmente o cultivo da mandioca 128
(Fig 5) Como renda extra a pecuaacuteria de pequeno porte com criaccedilatildeo bovina caprina e 129
avicultura sendo os excedentes dos alimentos produzidos vendidos em feiras locais ou para 130
escolas 131
As atividades agriacutecolas entre as comunidades tambeacutem foram duramente afetadas pela 132
seca na regiatildeo nos uacuteltimos anos A escassez de chuvas desestimulou o plantio a produccedilatildeo de 133
mandioca foi fortemente comprometida e a colheita foi adiada devido ao subdesenvolvimento 134
das raiacutezes gerando impactos econocircmicos para os membros das comunidades 135
As comunidades amostradas neste muniacutecipio foram escolhidas em funccedilatildeo das 136
indicaccedilotildees dos agricultores entrevistados a princiacutepio na comunidade do Caratildeo que reportaram 137
manter viacutenculos sociais com os agricultores do municiacutepio vizinho 138
Coleta de dados 139
Acessamos as comunidades com a ajuda de um liacuteder comunitaacuterio (Alexandre O 140
Nascimento) em companhia de outros pesquisadores que desenvolviam pesquisas na regiatildeo 141
Previamente as entrevistas todos objetivos e procedimentos para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram 142
apresentados aos entrevistados e todos que aceitaram participar foram convidados a assinar um 143
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a Resoluccedilatildeo 46612 do 144
Conselho Nacional de Sauacutede concordando com a realizaccedilatildeo das entrevistas e avaliaccedilotildees 145
morfoloacutegicas em campo O presente trabalho foi submetido ao Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da 146
Universidade de Pernambuco (UPE) 147
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
32
Em todas as comunidades o meacutetodo de acesso ao informante foi o mesmo a partir do 148
primeiro contato com um informante-chave identificamos outros potenciais agricultores 149
seguindo a teacutecnica de ldquobola de neverdquo (Albuquerque et al 2014a) Esse meacutetodo consistiu na 150
amostragem intencional dos participantes e nesse particular os agricultores chefes de famiacutelia 151
(ge 18 anos) da regiatildeo que declararam cultivar mandioca (M esculenta) em suas roccedilas 152
Reunimos informaccedilotildees socioeconocircmicas desses agricultores tais como nome idade gecircnero 153
escolaridade renda experiecircncia na agricultura e tamanho da aacuterea de cultivo para tentar 154
identificar se esses paracircmetros socioeconocircmicos tecircm uma relaccedilatildeo com a agrobiodiversidade 155
local 156
Em seguida conduzimos entrevistas semiestruturadas (Albuquerque et al 2014b) com 157
o objetivo de caracterizar o modo de vida dos agricultores o manejo da agricultura bem como 158
obter dados sobre o conhecimento uso e caracterizaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca 159
5cultivadas Aleacutem disso neste momento tambeacutem aplicamos a teacutecnica da lista livre 160
(Albuquerque et al 2014b) a fim de registrar as variedades de mandioca atualmente cultivadas 161
pelos agricultores e identificar as de maior importacircncia local Apoacutes as entrevistas realizamos 162
visitas aos roccedilados para o registro fotograacutefico georreferenciamento das roccedilas e caracterizaccedilatildeo 163
morfoloacutegica das variedades cultivadas 164
Entrevistamos 50 agricultores no total distribuiacutedos nas sete comunidades Caratildeo (3) 165
Satildeo Joseacute do Bola (10) Brejo velho (7) Japaranduba de Baixo (7) Japaranduba de Cima (8) 166
Lajedo Dantas (9) e Aracuatilde (6) Destes 10 satildeo mulheres e 40 homens com idade variando entre 167
31 e 82 anos A maioria dos entrevistados natildeo apresentava instruccedilatildeo formal (46) mais da 168
metade eram aposentados (56) e os demais apresentaram renda inferior a um salaacuterio miacutenimo 169
5 Entende-se por etnovariedade de mandioca o conjunto de variedades intraespeciacuteficas de mandioca (M esculenta)
reconhecidas pelos agricultores por nomenclatura popular local (Peroni 2004)
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
33
O tempo meacutedio de experiecircncia na agricultura foi de 40 anos Cada agricultor possui entre um e 170
dois roccedilados (aacuterea de plantio) com aproximadamente um a dois hectares 171
Redes de interaccedilatildeo social 172
Confeccionamos a rede que descreve as interaccedilotildees entre os agricultores e as 173
etnovariedades cultivadas a partir de uma matriz de incidecircncia R (presenccedilaausecircncia) onde nas 174
linhas estavam as etnovariedades de mandioca cultivadas (j) e nas colunas os agricultores locais 175
(i) O elemento Rij dessa matriz foi 1 (um) no caso de a etnovariedade j ser cultivada pelo 176
agricultor i caso contraacuterio seria atribuiacutedo 0 (zero) As interaccedilotildees entre os agricultores e as 177
etnovariedades foram descritas em dois modos (Pires et al 2011) onde os ldquonoacutesrdquo da esquerda 178
representam os agricultores que foram vinculados aos ldquonoacutesrdquo da direita representados pelas 179
etnovariedades citadas durante as entrevistas Esses ldquonoacutesrdquo seriam o espelho das decisotildees dos 180
agricultores em manter um determinado conjunto local de etnovariedades em suas roccedilas 181
Avaliamos a estrutura da rede que conecta os agricultores agraves etnovariedades cultivadas 182
a partir de trecircs cenaacuterios hipoteacuteticos (Fig 6) segundo Cachevia et al (2014) No primeiro se os 183
agricultores apresentassem diferentes graus de seletividade para a utilizaccedilatildeo de suas 184
etnovariedades a estrutura seria aninhada (Fig 6a) Isso significa que alguns agricultores 185
cultivam vaacuterias etnovariedades enquanto que outros cultivam o subconjunto mais 186
disponiacutevelcomum dessas etnovariedades Em segundo lugar se a rede apresentasse uma 187
estrutura modular (Fig 6b) significaria que os agricultores apresentam semelhanccedila na seleccedilatildeo 188
do recurso ou seja subgrupos de agricultores cultivam subgrupos distintos de etnovariedades 189
regionalmente disponiacuteveiscomuns E o terceiro se os agricultores natildeo apresentassem 190
preferecircncias quanto a seleccedilatildeo das etnovariedades entatildeo a rede apresentaria uma estrutura 191
aleatoacuteria (Fig 6c) 192
O objetivo da anaacutelise de rede nesse estudo foi tentar entender se o conjunto de 193
etnovariedades presentes no local do estudo constituem uma subamostra de um conjunto mais 194
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
34
amplo no caso de um alto grau de aninhamento ou se a sua composiccedilatildeo eacute determinada por 195
variaacuteveis locais (Ulrich 2008) Onde as conexotildees entre os informantes e as etnovariedades 196
representam as decisotildees dos agricultores de manter um conjunto determinado de variedades de 197
mandioca dentre as comunidades Esta anaacutelise tambeacutem nos permitiu identificar quais os nuacutecleos 198
de etnovariedades que apresentam maior conexatildeo com os diferentes perfis dos agricultores 199
Diversidade fenotiacutepica 200
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 201
Apoacutes as entrevistas buscamos identificar quais os caracteres morfoloacutegicos considerados 202
mais importantes para a diferenciaccedilatildeo das etnovariedades de mandioca a partir do seguinte 203
questionamento ldquoQuais as diferenccedilas que vocecirc reconhece para separar uma qualidade de 204
mandioca (variedade) de uma outrardquo Assim os agricultores mencionaram quais os criteacuterios 205
mais importantes utilizados para a caracterizaccedilatildeo de suas etnovariedades 206
Compilamos uma listagem dessas caracteriacutesticas baseada nas indicaccedilotildees dos 207
agricultores e a partir delas selecionamos os caracteres morfoloacutegicos mais citados para a 208
caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo tais como cor da folha (cor da folha desenvolvida) olho 209
(cor do broto foliar) cor do talo (cor do peciacuteolo) maniva (cor externa do caule) embriatildeo 210
(protuberacircncia da cicatriz foliar) cor da entrecasca (coacutertex da raiz) e cor miolo (polpa da raiz) 211
(Tabela 1) O objetivo dessa caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica foi indicar como estaacute distribuiacuteda a 212
variaccedilatildeo fenotiacutepica das etnovariedades de mandioca nas comunidades na regiatildeo semiaacuterida de 213
Pernambuco bem como identificar que caracteriacutesticas satildeo mais importantes para distinguir 214
esses grupos no intuito de tentar entender como os agricultores classificam suas variedades de 215
mandioca 216
Nas sete comunidades para cada etnovariedade citada no roccedilado caracterizamos ldquoin 217
siturdquo trecircs indiviacuteduos de M esculentade de cada uma totalizando 171 indiviacuteduos (Aracuatilde=11 218
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
35
Caratildeo=4 Satildeo Joseacute do Bola=13 Brejo Velho=16 Japaranduba de Baixo=6 Japaranduba de 219
Cima=3 e Lajedo Dantas=4) Fotografamos e avaliamos todos os indiviacuteduos com base em parte 220
dos descritores morfoloacutegicos seguindo recomendaccedilotildees de Fukuda amp Guevara (1998) e aleacutem 221
disso georreferenciamos todas as aacutereas de roccedila 222
Anaacutelise dos dados 223
Analisamos os dados socioeconocircmicos das entrevistas semiestruturadas por meio de 224
estatiacutestica descritiva para explicar os aspectos da realidade econocircmica e social dos agricultores 225
Para identificar se a diversidade intraespeciacutefica da mandioca cultivada localmente eacute 226
influenciada por paracircmetros socioeconocircmicos utilizamos o coeficiente de correlaccedilatildeo de 227
Spearman (Ple005) (Sokal amp Rohlf 1995) 228
Com base na lista livre das variedades de mandioca cultivadas pelos agricultores 229
calculamos a frequecircncia de citaccedilatildeo o ranking e o iacutendice de saliecircncia com o objetivo de 230
identificar quais as mais importantes ou preferidas para as comunidades O iacutendice de saliecircncia 231
considerou a frequecircncia de citaccedilatildeo e o ranking referente ao posicionamento das variedades 232
dentro das listas livres (Thompson amp Juan 2006) As etnovariedades mais citadas e com maior 233
valor de saliecircncia representam as de maior importacircncia ou preferecircncia para as comunidades 234
Anaacutelise de rede 235
Medimos o grau de aninhamento (NODF) para investigar a estrutura de rede de 236
interaccedilatildeo social dos agricultores em funccedilatildeo das variedades cultivadas As matrizes altamente 237
aninhadas apresentam NODF tendendo a 1 caso contraacuterio tentem a ser 0 238
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 239
Para o estudo das semelhanccedilas e diferenccedilas fenotiacutepicas entre as variedades de mandioca 240
ldquoin siturdquo realizamos anaacutelises multivariadas para identificar possiacuteveis grupos de variedades que 241
compartilham semelhanccedilas entre si 242
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
36
A anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla (MCA) permitiu identificar como as variedades 243
de mandioca estatildeo ordenadas em funccedilatildeo dos seus descritores etnobotacircnicos As etnovariedades 244
foram plotadas ao longo um plano cartesiano bi ou tridimensional onde a variaccedilatildeo total eacute 245
explicada pelos dois primeiros eixos Complementar a esta anaacutelise realizamos a anaacutelise de 246
agrupamento hieraacuterquico (Cluster) para identificar como estatildeo agrupadas as etnovariedades de 247
acordo seus descritores Conferimos a consistecircncia do dendrograma com coeficiente de 248
correlaccedilatildeo cofeneacutetica conforme Sneath amp Sokal (1973) que quantifica se a correlaccedilatildeo entre a 249
matriz de distacircncias originais e a matriz de distacircncias cofeneacuteticas eacute representativa Para 250
mensurar as dissimilaridades entre as variedades de mandioca foi utilizada a distacircncia 251
euclidiana e com o meacutetodo de Ward 252
Softwares utilizados 253
Para a anaacutelise da lista livre usamos o software ANTROPAC versatildeo 10 O software 254
ANINHADO 30 (Guimaratildees amp Guimaratildees 2006) foi usado para medir o grau de aninhamento 255
da rede Utilizamos o software estatiacutestico R (R core team 2017) para a anaacutelise de correlaccedilatildeo 256
de Spearman com o pacote corrplot (Wei amp Simko 2013) o desenho da rede que descreve a 257
interaccedilatildeo entre os agricultores e as etnovariedades com o pacote bipartite (Dormann et al 258
2017) E com os pacotes FactoMineR (LEcirc et al 2008) factoextra (Kassambara et al 2016) e 259
vegan (Oksanen et al 2017) foram realizadas as anaacutelises de cluster de correspondecircncia 260
muacuteltipla (MCA) e de correlaccedilatildeo coefeneacutetica respectivamente 261
Resultados 262
As diferentes etnovariedades de mandioca encontradas no estudo suprem a demanda 263
local por alimento enquanto outras atendem agraves preferecircncias individuais ou do comeacutercio As 264
variedades que possuem maior rendimento e a farinha produzida apresenta coloraccedilatildeo branca 265
satildeo as de maior valor comercial para os agricultores devido agraves preferecircncias do mercado Jaacute 266
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
37
outras variedades que satildeo mais moles e apresentam coloraccedilatildeo amarelada natildeo satildeo empregadas 267
na produccedilatildeo de farinha mas sim consumidas cozidas ou assadas A depender da demanda local 268
os agricultores intencionalmente aumentam ou diminuem a frequecircncia de suas variedades nos 269
roccedilados seja por alguma exigecircncia do comeacutercio ou para consumo familiar 270
Nas comunidades os agricultores separam suas variedades de mandioca em dois grupos 271
como observado em outras comunidades na mata Atlacircntica por Emperaire e Peroni (2007) o 272
das ldquomacaxeirasrdquo que satildeo as variedades exploradas basicamente para o consumo familiar sem 273
processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo cujas raiacutezes satildeo consumidas fritas eou cozidas Sendo 274
utilizadas tambeacutem como complemento na dieta dos animais E o grupo das ldquomandiocasrdquo que 275
satildeo as variedades que necessitam de processo preacutevio de desintoxicaccedilatildeo para o consumo 276
utilizadas comumente para a produccedilatildeo de farinha de mandioca Para os agricultores as 277
ldquomandiocasrdquo possuem maior valor comercial pois apresentam maior rendimento e 278
rentabilidade pois a farinha produzida eacute branca e atende as preferencias do comercio local 279
Aleacutem da farinha outros produtos e subprodutos produzidos dentre os quais foram citados 280
ldquotapioca ou gomardquo ldquobijurdquo ou ldquobolo de mandiocardquo satildeo utilizados para o consumo proacuteprio ou 281
eventual comercializaccedilatildeo 282
Os informantes natildeo possuiacuteam conhecimento sobre a origem dos nomes das variedades 283
de mandioca Quanto a compreensatildeo da geraccedilatildeo da diversidade intraespeciacutefica identificamos 284
que apesar de 66 dos agricultores citarem que conhecem variedades fruto de germinaccedilatildeo de 285
suas sementes nenhum deles utiliza as manivas para o plantio por essas variedades de 286
mandioca ldquovoluntaacuteriasrdquo natildeo apresentarem bom rendimento 287
Observamos que existe uma baixa correlaccedilatildeo entre a diversidade de variedades 288
atualmente cultivadas e as variaacuteveis socioeconocircmicas como no caso do nuacutemero de roccedilados 289
(r=028 Ple005) e do tamanho do roccedilado (r=033 Ple005) (Fig 7) Essa baixa correlaccedilatildeo pode 290
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
38
ser explicada pelo fato de existirem grupos de agricultores que preferem manter as variedades 291
de maior valor econocircmico e de subsistecircncia mesmo com aacutereas maiores de cultivo 292
Verificamos tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva moderada entre o nuacutemero de variedades 293
conhecidas com o nuacutemero de variedades atualmente cultivadas (r=054 Ple005) Na lista livre 294
foram identificadas 22 etnovariedades de mandioca cultivadas (132 citaccedilotildees no total) sendo 295
oito dessas mais citadas com maiores valores de saliecircncia (entre 047 e 0082) (Tabela 2) As 296
etnovariedades ldquoMacaxeira Rosardquo e ldquoMandioca Isabel de Souzardquo exibiram os maiores valores 297
de saliecircncia 047 e 037 respectivamente Logo essas variedades satildeo as mais conhecidas 298
dentro das comunidades com 66 e 48 das citaccedilotildees respectivamente 299
Dentre as etnovariedades citadas 12 foram idiossincraacuteticas pois apresentaram menor 300
frequecircncia de citaccedilatildeo e menores valores de saliecircncia (entre 0032 e 0006) (Tabela 2) 301
Redes de interaccedilatildeo social 302
A rede apresentou uma estrutura aninhada com grau de aninhamento significativamente 303
superior aos modelos nulos (N=3072 Plt0001) para as comunidades sendo um nuacutecleo de 304
etnovariedades altamente conectado aos agricultores (Fig 8) A estrutura aninhada nos permite 305
inferir que existe um grupo de agricultores que cultiva uma maior diversidade de etnovariedades 306
de mandioca em suas roccedilas enquanto que outro subgrupo que tem menor diversidade cultivam 307
as mais comuns ou disponiacuteveis (Cavechia et al 2014) Isso significa que os agricultores locais 308
mesmo em diferentes comunidades cultivam um nuacutecleo de etnovariedades comum entre eles 309
(n=6 Tabela 2) 310
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 311
Observamos que a maioria dos indiviacuteduos de mandioca satildeo caracterizados por meio de 312
um conjunto de sete caracteres morfoloacutegicos os quais foram citados pelos agricultores como 313
mais importantes para a caracterizaccedilatildeo de suas variedades Nas visitas aos roccedilados registramos 314
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
39
as etnovariedades atualmente cultivadas e a tabela 3 fornece a lista completa com as 17 315
etnovariedades de mandioca e o local de registro 316
Por meio da anaacutelise de correspondecircncia muacuteltipla as variedades de mandioca foram 317
ordenadas em funccedilatildeo de seus descritores ao longo do primeiro e segundo eixo correspondentes 318
a 3680 da variacircncia total (Fig 9) 319
As variaacuteveis mais correlacionadas e que agruparam as variedades de mandioca no 320
primeiro eixo foram cor da folha desenvolvida (CFD) (r= 07239 Ple0001) cor do coacutertex da 321
raiz (CDR) (r= 06473 Ple0001) cor do broto foliar (CBF) (r= 06880 Ple0001) cor do peciacuteolo 322
(CDP) (r= 05250 Ple005) cor externa do caule (CEC) (r= 06883 Ple005) cor da polpa da 323
raiz (PDR) (r= 02473 Ple005) Para o segundo eixo as variaacuteveis correlacionadas foram cor 324
da folha desenvolvida (CFD) (r= 07220 Ple0001) cor externa do caule (CEC) (r= 08718 325
Ple0001) e cor do peciacuteolo (CDP) (r= 06927 Ple005) 326
O agrupamento de todas as variedades caracterizadas ldquoin siturdquo gerou uma aacutervore 327
hieraacuterquica (dendrograma) (Fig 9) utilizando a distacircncia euclidiana seguindo o criteacuterio de 328
Ward O dendrograma gerado apresentou um coeficiente de correlaccedilatildeo cofeneacutetica r= 06780 329
indicando que existe consistecircncia com os dados originais no agrupamento quanto agrave 330
classificaccedilatildeo e estrutura de tal forma que as variedades foram agrupadas em oito classes as 331
quais foram explicadas pelas variaacuteveis mais significativas descritas na tabela 4 332
O resultado do agrupamento (utilizada a distacircncia euclidiana e com o meacutetodo de Ward) 333
observamos que as etnovariedades de mandioca caracterizadas ldquoin siturdquo foram agrupadas em 334
dois grandes agrupamentos indicados na Fig 10 pelos retacircngulos em vermelho A partir dessa 335
anaacutelise percebemos que os caracteres morfoloacutegicos selecionados pelos agricultores natildeo foram 336
suficientes para separar as variedades de macaxeira e mandioca pois em ambos os 337
agrupamentos encontramos tanto macaxeiras quanto mandiocas 338
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
40
As variedades da classe 1 foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 339
(CDP) verde A classe 2 agrupou as etnoveriedades caracterizadas pela protuberacircncia da cicatriz 340
foliar (PCF) mais protuberante Esse descritor segundo os agricultores era identificado como 341
ldquoembriatildeordquo A classe 3 consiste apenas da variedade ldquoMandioca Pretonardquo indicada pela presenccedila 342
de cor do peciacuteolo (CDP) vermelho A classe 4 agrupou trecircs variedades caracterizadas pelos 343
agricultores pela presenccedila de cor coacutertex da raiz (CDR) rosa e cor da polpa da raiacutez (PDR) branca 344
identificadas como ldquoMacaxeira vermelhardquo ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo ldquoMacaxeira Rosardquo As 345
variedades agrupadas na classe 5 foras as variedades de mandioca caracterizadas pelos 346
agricultores por apresentarem cor do coacutertex (CDR) da raiacutez branca A classe 6 agrupou 347
variedades identificadas pelos agricultores pela cor do broto foliar (CBF) verde A classe 7 348
consiste apenas da variedade ldquoMacaxeira Sementerdquo identificada pelos agricultores pela cor do 349
peciacuteolo (CDP) roxo e protuberacircncia da cicatriz foliar pouco proeminente Essa variedade 350
segundo os agricultores era fruto do nascimento espontacircneo no roccedilado poreacutem eles geralmente 351
natildeo utilizam essas variedades por apresentarem apenas uma raiz pequena e de baixo 352
rendimento Na classe 8 as variedades foram identificadas pelos agricultores pela cor do peciacuteolo 353
(CDP) verde amarelado e protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) pouco proeminente As 354
ldquoMandioca Isabel de Souzardquo ldquoMandioca Isabel trecircs galhosrdquo segundo os agricultores se 355
diferenciavam pelo maior nuacutemero de caules presentes na variedade ldquoIsabel trecircs galhosrdquo 356
Discussatildeo 357
As sete comunidades estudadas manejavam um nuacutemero consideraacutevel de variedades 358
locais A quantidade de etnovariedades registradas eacute proacutexima a encontrada por Bender et al 359
(2009) e Cavechia et al (2014) em comunidades na regiatildeo sul e sudeste por Oler e Amorozo 360
(2017) em uma comunidade tradicional na regiatildeo centro-oeste Poreacutem foi quantitativamente 361
inferior quando comparada a estudos como os de Elias et al (2001) e Kawa et al (2013) em 362
comunidades na regiatildeo amazocircnica pois possuiacuteam uma alta diversidade Essa alta diversidade 363
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
41
na regiatildeo amazocircnica pode estar relacionada com o fato de que essa regiatildeo eacute o provaacutevel centro 364
de origem da mandioca (M esculenta) (Allem 1994) 365
As etnovariedades registradas neste estudo estatildeo disponiacuteveis para a maioria dos 366
agricultores dessa regiatildeo e esse fator favorece a circulaccedilatildeo das etnovariedades entre as 367
comunidades locais Por isso haacute semelhanccedilas das etnovariedades utilizadas entre os agricultores 368
da mesma comunidade e entre comunidades vizinhas 369
Parte dos agricultores optam por manter uma alta frequecircncia de variedades mais 370
utilizadas enquanto que outros optam por manter etnovariedades de baixa frequecircncia 371
Conforme discutido por Amorozo (2013) os agricultores escolhem seu acervo de acordo com 372
as necessidades e contexto em que vivem A reduccedilatildeo da diversidade de etnoveriedades por 373
exemplo pode ser impulsionada por fatores que simplificam o sistema como a seleccedilatildeo de 374
etnovariedades para a produccedilatildeo de farinha resultando no cultivo de poucas ou ateacute de uma uacutenica 375
etnovariedade (Peroni amp Hanazaki 2002) mesmo em aacutereas maiores 376
377
Redes de interaccedilatildeo social 378
Com as anaacutelises de rede demonstramos que os agricultores de diferentes comunidades 379
em uma mesma regiatildeo efetivamente trocam variedades de mandioca entre si corroborando 380
com estudos realizados por Emperaire amp Eloy (2008) Pautasso et al (2012) e Cavechia et al 381
(2014) Nesses estudos os autores tambeacutem consideram que as trocas de etnovariedades por 382
meio da rede de intercacircmbio entre os agricultores eacute um mecanismo fundamental para a 383
manutenccedilatildeo da diversidade local 384
A visualizaccedilatildeo da rede demonstrou que entre as comunidades os agricultores 385
compartilham um nuacutecleo de etnovariedades mais utilizadas dentre as quais estatildeo as de maior 386
valor econocircmico e de subsistecircncia Essas de maior frequecircncia satildeo aquelas altamente produtivas 387
utilizadas pelos agricultores para atenderem agraves demandas de mercado por farinha e para o 388
consumo proacuteprio (Kawa et al 2013) 389
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
42
No entanto observamos que existe outro nuacutecleo de etnovariedades menos frequentes 390
Essas etnovariedades raras podem ser resultantes do processo de experimentaccedilatildeo ou 391
preferecircncias individuais dos agricultores Outra possiacutevel razatildeo para a baixa frequecircncia de 392
algumas etnovariedades poderia ser explicada pela variaccedilatildeo da nomenclatura pelos 393
agricultores que segundo Peroni amp Hanazaki (2002) pode ocorrer durante o processo de troca 394
e introduccedilatildeo de novas variedades aos roccedilados Ainda assim natildeo descartamos a hipoacutetese de que 395
essas etnovariedades raras possam ser provenientes do cruzamento entre variedades diferentes 396
cultivadas da mesma roccedilado ou em roccedilas vizinhas De acordo com Martins (2005) essas 397
variedades fruto de germinaccedilatildeo expentacircnea satildeo incorporadas aos roccedilados pelos agricultores 398
pela curiosidade em experimentar novas variedades agraves suas coleccedilotildees 399
Nesse estudo admitimos que optar por etnovariedades raras entre as comunidades 400
estudadas eacute um comportamento adotado por agricultores que manejam uma maior diversidade 401
corroborando com os estudos de Cavechia et al (2014) e Emperaire et al (2016) em regiotildees 402
uacutemidas Para esses autores etnovaridedades de baixa frequecircncia representam um subconjunto 403
das de alta frequecircncia cultivadas por agricultores que manteacutem a maior diversidade em seus 404
roccedilados Sendo assim inferimos que no geral entre as comunidades satildeo os agricultores 405
generalistas aqueles que cultivam maior diversidade os responsaacuteveis por incorporar novas 406
etnovariedades aos roccedilados 407
As decisotildees dos agricultores em manter o acervo direcionado principalmente para 408
atender a demanda de mercado por exemplo podem levar a uma homogeneizaccedilatildeo nas roccedilas 409
colocando em risco a manutenccedilatildeo da diversidade local (Peroni amp Hanazaki 2002) Como 410
discutido por Elias et al (2000) os agricultores que selecionam apenas um nuacutemero reduzido e 411
especiacutefico de variedades mais produtivas tendem a fazer com que as variedades menos 412
frequentes desapareccedilam ao longo do tempo Essa tendecircndia pode influenciar na capacidade de 413
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
43
resiliecircncia do sistema assim como dos agricultores em lidar com possiacuteveis adversidades 414
ambientais que possam ocorrer 415
Caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica das etnovariedades 416
No geral os agricultores demonstraram uma tendecircncia em classificarseparar suas 417
diferentes etnovariedades de mandioca a partir da combinaccedilatildeo de um conjunto de sete 418
caracteres morfoloacutegicos distintos e de faacutecil percepccedilatildeo os quais natildeo tem relaccedilatildeo com o uso 419
como por exemplo a cores das raiacutezes caule e folhas Logo consideramos que esses caracteres 420
morfoloacutegicos podem ser considerados como uma forma de classificaccedilatildeo pelos agricultores 421
baseada na capacidade percepccedilatildeo das diferenccedilas morfoloacutegicas que cada etnovariedades 422
apresenta (Boster 1985) Estes resultados nos levam a entender que entre os agricultores o 423
conhecimento sobre a diversidade da mandioca estaacute relacionado ao conhecimento de 424
caracteriacutesticas morfoloacutegicas consistentes 425
A existecircncia de alguns fenoacutetipos comuns nos permitiu avaliar a classificaccedilatildeo da 426
consistecircncia da taxonomia popular entre os agricultores Por exemplo as etnovariedades 427
ldquoMaxaceira Rosardquo e ldquoMacaxeira Rosa Brancardquo e ldquoMacaxeira vermelhardquo foram agrupadas no 428
mesmo cluster (C4) por apresentaram fenoacutetipos semelhantes Notamos que os agricultores 429
classificaram essas variedades de acordo com os traccedilos morfoloacutegicos mais relevantes como a 430
cor do coacutertex da raiz rosa e cor branca da polpa O mesmo ocorreu com as etnovariedades 431
ldquoMandioca varudardquo ldquoMandioca campina da granderdquo e ldquoMandioca campinardquo caracterizadas 432
pela presenccedila do peciacuteolo verde agrupadas no cluster (C1) 433
A partir dessas evidecircncias consideramos a hipoacutetese de que as variedades mesmo 434
apresentando caracteriacutesticas morfoloacutegicas muito semelhantes estatildeo sujeitas a variaccedilatildeo 435
nomenclatural durante o processo a incorporaccedilatildeo aos roccedilados pelos agricultores pois a 436
capacidade para distinguir e nomear variedades entre os agricultores da mesma regiatildeo pode 437
variar (Sambatti et al 2001 Elias et al 2001 Mekbib 2007) Consideramos tambeacutem que pode 438
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
44
existir variaccedilatildeo geneacutetica entre os indiviacuteduos identificados por um mesmo nome ou entatildeo que 439
os agricultores datildeo o mesmo nome para variedades diferentes E esta situaccedilatildeo pode levar a uma 440
superestimaccedilatildeo ou subestimaccedilatildeo da diversidade de mandioca cultiva nas aacutereas de estudo 441
Sabemos que a mandioca eacute propagada vegetativamente pelos agricultores por meio de 442
estacas em sistemas de agricultura tradicional No entanto alguns variedades produzem flores 443
e sementes que germinam e podem originar outras variedades ou outros clones por meio de 444
fecundaccedilatildeo cruzada (Elias et al 2001) Nesse contexto a etnovariedade ldquoMacaxeira Sementerdquo 445
presente no cluster (C7) trata-se de um uacutenico indiviacuteduo amostrado em uma roccedila de um dos 446
agricultores Esta apresentava algumas caracteriacutesticas morfoloacutegicas distintas das demais 447
reconhecidas pelo agricultor como por exemplo a produccedilatildeo de uma raiz uacutenica e 448
consequentemente de baixo rendimento Encontramos apenas um indiviacuteduo dessa 449
etnovariedade e nossa hipoacutetese de que esta poderia ter sido originada da germinaccedilatildeo da 450
semente mesmo quando 100 dos informantes declararam natildeo dar qualquer importacircncia e 451
descartar essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo foi confirmada pelo agricultor que afirmou que se 452
tratava de uma variedade nascida da germinaccedilatildeo da semente Esse comportamento vai de 453
encontro ao estudo de Fraser et al (2012) pois apesar dos agricultores reportarem nas 454
entrevistas que conhecem essas ldquovariedades-voluntaacuteriasrdquo nenhum agricultor faz o uso delas 455
Peroni et al (1999) e Agre et al (2016) analisando morfologicamente as variedades 456
locais de mandioca mantidas por agricultores em sistemas agriacutecolas tropicais tambeacutem 457
demonstraram que os agricultores satildeo coerentes quanto a separaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de suas 458
etnovariedades a partir da formaccedilatildeo de grupos de coesos quanto a nomenclatura local utilizada 459
No entanto para o melhor entendimento dessa diversidade aleacutem da caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica 460
o uso de anaacutelises complementares como anaacutelise molecular seria importante para tentar 461
identificar se esses grupos representam a mesma variedade com nomes distintos ou se satildeo 462
variedades distintas com o mesmo nome 463
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
45
Conclusatildeo 464
O estudo demonstrou que no sistema de manejo da mandioca ao niacutevel de roccedila em 465
comunidades localizadas na regiatildeo semiaacuterida de Pernambuco compotildee uma diversidade 466
intrespeciacutefica de mandioca para atender agraves demandas econocircmicas e de subsistecircncia das 467
populaccedilotildees locais 468
Com relaccedilatildeo a anaacutelise de rede demostramos que haacute um nuacutecleo de etnovariedades 469
fortemente conectado aos agricultores e sua composiccedilatildeo eacute direcionada pelas preferecircncias e 470
necessidades individuais dos agricultores que foram os fatores responsaacuteveis pelo surgimento 471
da estrutura aninhada observada na anaacutelise rede entre as comunidades deste estudo E esse 472
padratildeo aninhado observado contribui na conservaccedilatildeo das etnovariedades mais comuns mas 473
tambeacutem pode resultar em perda daquelas de menor frequecircncia ao longo do tempo 474
A caracterizaccedilatildeo morfoloacutegica ldquoin siturdquo nos permitiram inferir que os agricultores 475
reconhecem as diferentes caracteriacutesticas morfoloacutegicas de suas cultivares e satildeo coerentes na 476
separaccedilatildeo de suas variedades de mandioca e macaxeira Entretanto esses resultados sugerem a 477
realizaccedilatildeo de um estudo em niacutevel de diversidade geneacutetica exploratoacuterio para identificar se as 478
consistecircncias morfoloacutegicas refletem em consistecircncias geneacuteticas elucidando assim as possiacuteveis 479
confusotildees atribuiacutedas aos nomes das etnovariedades de mandioca 480
Agradecimentos 481
Agradecemos ao liacuteder comunitaacuterio Alexandre O Nascimento aos agricultores e 482
agricultoras das comunidades pela acolhida confianccedila e pela gentileza de compartilharem 483
conosco seus conhecimentos e contribuiacuterem com este estudo Especialmente a Arlindo Ferreira 484
Edgar Antocircnio Joseacute Sebastiatildeo Juvenal Oliveira e Janete Alves Ao Laboratoacuterio de Ecologia e 485
Evoluccedilatildeo de Sistemas Socioecoloacutegicos (LEA - UFPE) E agradecemos ao CNPq pelo apoio 486
com a bolsa de estudos do primeiro autor 487
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
46
Referecircncias bibliograacuteficas 488
489
Agre A P Gueye B Adjatin A Dansi M Bathacharjee R Rabbi I Y amp Gedil M 490
(2016) Folk taxonomy and traditional management of cassava (Manihot esculenta Crantz) 491
diversity in southern and central Benin International Journal of Innovation and Scientific 492
Research 20(2) 500ndash515 493
Albuquerque U P de Lucena R F P amp Neto E M de F L (2014) Selection of research 494
participants In Methods and techniques in ethnobiology and ethnoecology (pp 1ndash13) 495
Springer 496
Albuquerque U P Ramos M A de Lucena R F P amp Alencar N L (2014) Methods and 497
techniques used to collect ethnobiological data In Methods and techniques in 498
Ethnobiology and Ethnoecology (pp 15ndash37) Springer 499
Alcorn J B The scope and aims of ethnobotany in a developing world (1995) In SCHULTES 500
R E REIS S V (Eds) Ethnobotany evolution of a discipline Portland Discoriedes 501
Press p 23-29 502
Allem A C The origin of Manihot esculenta crantz (Euphorbiaceae) (1994) Genetic 503
Resources and Crop evolution Dordrecht v 41 p 133-150 504
Balleacute M Beauvallet G Smalley A amp Sobek D K (2006) The thinking production system 505
Reflections 7(2) 1ndash12 506
Bender M Assis A L Tiepo E Hanazaki N amp Peroni N (2009) Crantz ssp esculenta 507
and landscape dynamics at Santa Catarina Island Brazil In Recent Developments and 508
Case Studies in Ethnobotany (pp 271ndash287) 509
Boster J S (1985) Selection for perceptual distinctiveness Evidence from Aguaruna cultivars 510
ofManihot esculenta Economic Botany 39(3) 310ndash325 511
Bousquets Llorente J (1990) La buacutesqueda del meacutetodo natural 512
Carmona A amp Casas A (2005) Management phenotypic patterns and domestication of 513
Polaskia chichipe (Cactaceae) in the Tehuacaacuten Valley Central Mexico Journal of Arid 514
Environments 60(1) 115ndash132 515
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
47
Cavechia L A Cantor M Begossi A amp Peroni N (2014) Resource-use patterns in 516
swidden farming communities implications for the resilience of cassava diversity Human 517
Ecology 42(4) 605ndash616 518
Clement C R de Cristo-Arauacutejo M Coppens DrsquoEeckenbrugge G Alves Pereira A amp 519
Picanccedilo-Rodrigues D (2010) Origin and domestication of native Amazonian crops 520
Diversity 2(1) 72ndash106 521
Cruz M P Peroni N amp Albuquerque U P (2013) Knowledge use and management of 522
native wild edible plants from a seasonal dry forest (NE Brazil) Journal of Ethnobiology 523
and Ethnomedicine 9(1) 79 524
Delecirctre M McKey D B amp Hodkinson T R (2011) Marriage exchanges seed exchanges 525
and the dynamics of manioc diversity Proceedings of the National Academy of Sciences 526
of the United States of America 108(45) 18249ndash54 527
httpsdoiorg101073pnas1106259108 528
Dormann C F Fruend J amp Gruber B (2017) Visualising Bipartite Networks and 529
Calculating Some (Ecological) Indices 2nd edn R packages 530
Elias M Penet L Vindry P McKey D Panaud O amp Robert T (2001) Unmanaged 531
sexual reproduction and the dynamics of genetic diversity of a vegetatively propagated 532
crop plant cassava (Manihot esculenta Crantz) in a traditional farming system Molecular 533
Ecology 10(8) 1895ndash1907 534
Emperaire L amp Eloy L (2008) A cidade um foco de diversidade agriacutecola no Rio Negro 535
(Amazonas Brasil) Boletim Do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Ciecircncias Humanas 3(2) 536
195ndash211 537
Emperaire L Eloy L amp Seixas A C (2016) Redes e observatoacuterios da agrobiodiversidade 538
como e para quem Uma abordagem exploratoacuteria na regiatildeo de Cruzeiro do Sul Acre 539
Boletim Do Museu Paraense Emrsquoilio Goeldi Ciecircncias Humanas 11(1) 159ndash192 540
Emperaire L amp Peroni N (2007) Traditional management of agrobiodiversity in Brazil a 541
case study of manioc Human Ecology 35(6) 761ndash768 542
Fraser J A Alves-Pereira A Junqueira A B Peroni N amp Clement C R (2012) 543
Convergent adaptations bitter manioc cultivation systems in fertile anthropogenic dark 544
earths and floodplain soils in Central Amazonia PLoS One 7(8) e43636 545
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
48
Fukuda W M G amp Guevara C L (1998) Descritores morfoloacutegicos e agronocircmicos para a 546
caracterizaccedilatildeo de mandioca (Manihot esculenta Crantz) Embrapa Mandioca E 547
Fruticultura-Documentos (INFOTECA-E) 548
Guimaraes Jr P R amp Guimaraes P (2006) Improving the analyses of nestedness for large 549
sets of matrices Environmental Modelling amp Software 21(10) 1512ndash1513 550
Hanazaki N Zank S Pinto M C Kumagai L Cavechia L A amp Peroni N (2012) 551
Etnobotacircnica nos Areais da Ribanceira de Imbituba Compreendendo a biodiversidade 552
vegetal manejada para subsidiar a criaccedilatildeo de uma reserva de desenvolvimento sustentaacutevel 553
Biodivers Bras 2 50ndash64 554
Kassambara A amp Mundt F (2016) Factoextra extract and visualize the results of 555
multivariate data analyses R Package Version 1(3) 556
Kawa N C McCarty C amp Clement C R (2013) Manioc varietal diversity social networks 557
and distribution constraints in rural Amazonia Current Anthropology 54(6) 764ndash770 558
Lecirc S Josse J Husson F amp others (2008) FactoMineR an R package for multivariate 559
analysis Journal of Statistical Software 25(1) 1ndash18 560
Lima D Steward A amp Richers B T (2012) Trocas experimentaccedilotildees e preferecircncias Um 561
estudo sobre a dinacircmica da diversidade da mandioca no meacutedio Solimotildees Amazonas 562
Boletimdo Museu Paraense Emilio GoeldiCiencias Humanas 7(2) 371ndash396 563
httpsdoiorg101590S1981-81222012000200005 564
Marchetti F F Massaro L R de Mello Amorozo M C amp Butturi-Gomes D (2013) 565
Maintenance of manioc diversity by traditional farmers in the State of Mato Grosso 566
Brazil a 20-year comparison Economic Botany 67(4) 313ndash323 567
Martins P S (2005) Dinacircmica evolutiva em roccedilas de caboclos amazocircnicos Estudos 568
Avanccedilados 19(53) 209ndash220 569
Mekbib F (2007) Infra-specific folk taxonomy in sorghum (Sorghum bicolor (L) Moench) in 570
Ethiopia folk nomenclature classification and criteria Journal of Ethnobiology and 571
Ethnomedicine 3(1) 38 572
Mkumbira J Chiwona-Karltun L Lagercrantz U Mahungu N M Saka J Mhone A hellip 573
Rosling H (2003) Classification of cassava into ldquobitterrdquoand ldquocoolrdquoin Malawi From 574
farmersrsquo perception to characterisation by molecular markers Euphytica 132(1) 7ndash22 575
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
49
Oksanen J Blanchet F G Kindt R Legendre P Minchin P R Orsquohara R B hellip others 576
(2017) Package ldquoveganrdquo Community Ecology Package Version 2(9) 577
Pautasso M Aistara G Barnaud A Caillon S Clouvel P Coomes O T hellip others 578
(2012) Seed exchange networks for agrobiodiversity conservation A review Agronomy 579
for Sustainable Development 33(1) 151ndash175 580
Peroni N amp Hanazaki N (2002) Current and lost diversity of cultivated varieties especially 581
cassava under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest Agriculture 582
Ecosystems amp Environment 92(2ndash3) 171ndash183 583
Peroni N Martins P S amp Ando A (1999) Diversidade inter-e intra-especiacutefica e uso de 584
anaacutelise multivariada para morfologia da mandioca (Manihot esculenta Crantz) um estudo 585
de caso Inter-and intraspecific diversity and use of multivariate analysis for the 586
morphology of cassava (Manihot esculent Scientia Agricola 56(3) 587ndash595 587
Pinton F amp Emperaire L (2001) Le manioc en Amazonie breacutesilienne diversiteacute varieacutetale et 588
marcheacute Genet Sel Evol 33(1) 491ndash512 589
Pires M M Guimaratildees P R Arauacutejo M S Giaretta A A Costa J C L amp Dos Reis S 590
F (2011) The nested assembly of individual-resource networks Journal of Animal 591
Ecology 80(4) 896ndash903 592
Pujol B Renoux F Elias M Rival L amp Mckey D (2007) The unappreciated ecology of 593
landrace populations Conservation consequences of soil seed banks in Cassava 594
Biological Conservation 136(4) 541ndash551 httpsdoiorg101016jbiocon200612025 595
Sambatti J B M Martins P S amp Ando A (2001) Folk taxonomy and evolutionary 596
dynamics of cassava a case study in Ubatuba Brazil Economic Botany 55(1) 93ndash105 597
Sieber S S Medeiros P M amp Albuquerque U P (2011) Local perception of environmental 598
change in a semi-arid area of Northeast Brazil a new approach for the use of participatory 599
methods at the level of family units Journal of Agricultural and Environmental Ethics 600
24(5) 511ndash531 601
Sneath P H A Sokal R R amp others (1973) Numerical taxonomy The principles and 602
practice of numerical classification 603
Sokal R R amp Rohlf F J (1995) 1995 Biometry WH Freeman San Francisco Sulikowski 604
JA J Kneebone S Elzey P Danley WH Howell and PWC Tsang--2005 The 605
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
50
Reproductive Cycle of the Thorny Skate Amblyraja Radiata in the Gulf of Maine Fish 606
Bull 103 536ndash543 607
Team R C (2017) R A Language and Environment for Statistical Computing Vienna 608
Austria Retrieved from httpswwwr-projectorg 609
Thompson E C amp Juan Z (2006) Comparative cultural salience Measures using free-list 610
data Field Methods 18(4) 398ndash412 611
Wei T amp Simko V (2013) corrplot Visualization of a correlation matrix R Package Version 612
073 230(231) 11 613
614
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
51
ANEXOS 615
616
Nome da revista 617
Human Ecology 618
Link de acesso 619
httpsgooglDVLbFj 620
Qualis-CAPES 621
B1 em Biodiversidade 622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
52
Figuras 643
644
645
Fig 1 Partes do processo de fabricaccedilatildeo de farinha de mandioca Onde a raspagem b e c 646
processo de trituraccedilatildeo e d peneiramento Foto registrada em Abril de 2017 por Mirela Santos 647
648
649
650
c
d
b
a
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
53
651
Fig 2 Mapa de localizaccedilatildeo geograacutefica dos Municiacutepios de Altinho e Panelas e das comunidades 652
estudadas na regiatildeo semiaacuterida do Estado de Pernambuco (Elaborado por SANTOS 2018) 653
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
54
654
655
656
657
Fig 3 Processo de fabricaccedilatildeo da farinha de mandioca Apoacutes a colheita as raiacutezes satildeo lavadas 658
raspadas e trituradas (a) A massa extraiacuteda eacute prensada e coada Ao sair da prensa a massa 659
peneirada (b) e em seguida eacute torrada (c) em fornos artesanais ou parcialmente mecanizados 660
Imagem registrada em janeiro de 2017 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 661
662
663
a
b c
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
55
664
Fig 4 a Sede da Comunidade do Caratildeo b Agricultor transportando a palma forrageira que eacute 665
um exemplo de estrateacutegia adaptativa para suprir a falta de alimento dos animais devido agrave seca 666
c Feira-livre que acontece na comunidade a cada quinze dias Imagem registrada em julho de 667
2016 na Comunidade do Caratildeo por Mirela Santos 668
669
670
Fig 5 a O agricultor nos explicava as mudanccedilas que vem fazendo em seus roccedilados para se 671
adaptar aos longos periacuteodos de seca b Quando o agricultor nos mostrava as diferentes 672
etnovariedades que mantinha em sua roccedila c Durante a pesquisa nos explicavam como era feita 673
a colheita da mandioca e como selecionavam as manivas para o proacuteximo plantio Foto registrada 674
em abril de 2017 na Comunidade do Brejo Velho por Mirela Santos 675
a
b c
c b
a
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
56 676
677
Fig 6 Possiacuteveis estruturas de rede que descrevem as interaccedilotildees dos agricultores (losango) 678
ligados as etnovariedades (ciacuterculos) que cultivam Onde a Aninhada b Modular c Aleatoacuteria 679
(Fonte Cavechia et al 2014 com adaptaccedilotildees) 680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
a c b
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
57
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
Fig 7 Correlaccedilatildeo de Spearman entre a diversidade de etnovariedades de mandiocas conhecidas 708
como cultivadas e variedades atualmente cultivadas por agricultor e as variaacuteveis 709
socioeconocircmicas Onde Nvc= nuacutemero de citadas como cultivadas Nve= nuacutemero de variedades 710
atualmente cultivadas Esc= escolaridade Id= idade Gen= gecircnero Tr= tamanho do roccedilado 711
Exp= experiecircncia na agricultura Sld= renda Nr= nuacutemero de roccedilados Cores distintivas 712
representam correlaccedilotildees significativas (Ple005) 713
714
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
58
715
Fig 8 Modelo individual de rede de etnovariedades de mandioca citadas (esquerda) por 716
agricultores como cultivadas (direita) nos Municiacutepios de Altinho e Panelas As redes foram 717
desenhadas com o pacote bipartite (Dormann et al 2017) usando o software R (R CORE 718
TEAM 2017) 719
720
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
59
721
Fig 9 Anaacutelise de Correspondecircncia Muacuteltipla das 17 etnovariedades de mandioca considerando 722
os sete descritores morfoloacutegicos utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo em roccedilas de 723
agricultores tradicionais de sete comunidades no semiaacuterido de Pernambuco 724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
McCambadinha
McCampina
McCampinaDaGrande
McCampinaRasteira
McCampinaVaruda
McGauba
McIsabelDeSouza
McIsabelTresGalhos
McOlhoDePombo
McOlhoVerde
McPretinha
McPretona
MxBranca
MxRosa
MxRosaBrancaMxRosaVermelha
MxSemente
CFD_Verde_Arroxeado
CFD_Verde_ClaroCFD_Verde_Escuro
CBF_Roxo
CBF_Verde_ArroxeadoCBF_Verde_Claro
CBF_Verde_Escuro
CDP_Verde
CDP_Verde_Amarelado
CDP_Verde_Avermelhado
CDP_Vermelho
CEC_Cinza
CEC_Dourado
CEC_Laranja
CEC_Marrom_Claro
CEC_Marrom_Escuro
CEC_Prateado
CEC_Verde_AmareladoCicatriz_M
Cicatriz_P
PDR_Branco
PDR_Creme
CDR_BrancoCDR_Creme CDR_Rosa
-4
-2
0
2
4
-4 -2 0 2 4
Dim1 (206)
Dim
2 (
162
)
MCA - Biplot
00
10
Hierarchical Clustering
inertia gain
McC
am
pin
aV
aru
da
McC
am
pin
aD
aG
rande
McC
am
pin
a
McG
auba
McP
retin
ha
McP
reto
na
MxR
osaV
erm
elh
a
MxR
osaB
ranca
MxR
osa
McC
am
pin
aR
aste
ira
McC
am
badin
ha
McO
lhoV
erd
e
MxB
ranca
MxS
em
ente
McIsabelT
resG
alh
os
McIsabelD
eS
ouza
McO
lhoD
eP
om
bo
00
05
10
15
Hierarchical Classification
Heig
ht
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Fig 10 Agrupamento hieraacuterquico das 17 etnovariedades de mandioca caracterizadas de acordo
com os descritores utilizados para caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
60
Tabelas 738
739
Tabela 1 Caracteres e estados utilizados pelos agricultores como descritores botacircnicos para 740
caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das etnovariedades de mandioca 741
Caracter Sigla Estados
Folha
Cor da folha desenvolvida CFD 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do broto foliar CBF 1- verde claro 2- verde escuro 3- verde arroxeado 4- roxo
Cor do peciacuteolo CDP 1- verde amarelado 2- verde 3- verde avermelhado 4- roxo
5- vermelho
Caule
Cor externa do caule CEC 1- laranja 2- verde amarelado 3- dourado 4- marrom claro
5- prateado 6- cinza 7- marrom escuro 8- verde
Protuberacircncia da cicatriz foliar PCF 1- pouco proeminente 2- muito proeminente
Raiacutez
Cor da poupa da raiz PDR 1- branco 2- creme
Cor do coacutertex da raiacutez CDR 1- rosa 2- branco 3- creme
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
61
Tabela 2 Lista das 22 etnovariedades de mandiocas citadas (132 citaccedilotildees) como cultivadas nas 752
comunidades pertencentes aos Municiacutepios de Altinho (Caratildeo n=8) e ao Municiacutepio de Panelas 753
(Aracuatilde Satildeo Joseacute do Bola Brejo Velho Japaranduba de Baixo Japaranduba de Cima e Lajeiro 754
Dantas n=21) 755
Etnovariedade Frequecircncia () Ranking Saliecircncia
Macaxeira Rosa 66 179 0472
Mandioca Isabel de Souza 48 179 0372
Mandioca Campina 24 217 0148
Macaxeira Branca 20 210 0134
Macaxeira Rosa branca 18 122 0168
Mandioca Pretona 16 338 0082
Mandioca Cambadinha 12 283 0071
Mandioca Isabel trecircs galhos 10 180 0075
Mandioca Gauacuteba 10 260 0070
Mandioca Pretinha 8 225 0053
Mandioca Peacute de pombo 4 400 0011
Mandioca Olho verde 4 350 0012
Macaxeira Rosinha 4 200 0027
Mandioca Campina varuda 4 200 0032
Mandioca Campina rasteira 4 300 0021
Mandioca Caboquinha 2 500 0007
Macaxeira Rasteira 2 200 0013
Macaxeira Paraacute 2 100 0020
Mandioca Barra ferro 2 300 0007
Mandioca Campina da grande 2 100 0020
Mandioca Olho de pombo 2 300 0010
Mandioca Jasmim 2 600 0006
756
757
758
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
62
Tabela 3 Lista de 17 etnovariedades atualmente cultivadas nos roccedilados das comunidades em 759
estudo 760
Ca Ar Bo Br Jb Jc Ld
Etnovariedade
Macaxeira Branca x x x x
Macaxeira Rosa
x x x x x x
Macaxeira Rosa Branca x x x x
Macaxeira Rosa Vermelha
x
Macaxeira Semente
x
Mandioca Cambadinha x
x
Mandioca Campina
x
x
x
Mandioca Campina da Grande x
Mandioca Campina Rasteira
x
Mandioca Campina Varuda
x
Mandioca Gauacuteba
x
Mandioca Isabel de Souza
x x x
Mandioca Isabel trecircs Galhos
x
x
Mandioca Olho de Pombo
x
Mandioca Olho Verde
x
Mandioca Pretinha
x
Mandioca Pretona x x x
Comunidades Ca= Caratildeo Ar=Aracuatilde Bo= Satildeo Joseacute do Bola Jb= Japaranduba de Baixo 761
Jc= Japaranduba de Cima Ld= Lajedo Dantas 762
763
764
765
766
767
768
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772
63
Tabela 4 Descriccedilatildeo das classes do agrupamento por meacutetodo de Ward agrupadas pelo conjunto 769
dos descritores mais significativos para a caracterizaccedilatildeo ldquoin siturdquo das variedades de mandioca 770
Classes Descritores in situ p-valor
C1 Cor do peciacuteolo (CDP) 0016
C2 Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
C3 Cor do peciacuteolo (CDP) 0012
C4 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0004
Cor da poupa da raiacutez (PDF) 0021
C5 Cor do coacutertex da raiz (CDR) 0003
C6 Cor do broto foliar (CBF) 0002
C7 Cor da folha desenvolvida (CFD) 0004
Cor externa do caule (CEC) 0040
C8 Cor do peciacuteolo (CDP) 0005
Protuberacircncia da cicatriz foliar (PCF) 0023
Valores de Ple005 satildeo significativos 771
772