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10/03/2016 http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Filosofia/alogicatomista.php http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Filosofia/alogicatomista.php 1/14 Lógica A Lógica Tomista por Paulo Faitanin - UFF 1. Origem: Aristóteles [384-322] é o pai da lógica, mas poderíamos dizer que os métodos de pesquisa de Zenão de Eléa, Sócrates, a dialética de Platão, a dos Eleatas e a dos Sofistas já eram lógica, tendo ele dado continuidade a um esforço já começado. Foi Alexandre de Afrodísia [200 d.C] que denominou Ôrganon [Órganon que significa Instrumento], à série de obras lógicas do Estagirita: Tópicos, Refutações Sofísticas, Primeiros Analíticos, Segundo Analíticos, Sobre a Interpretação, Categorias. Foi o próprio Alexandre de Afrodísia quem por primeiro valeu-se da palavra lógica logik» para designar o raciocínio e o objeto de estudo destes tratados, pois como nos atesta D. Ross, este nome era desconhecido de Aristóteles, embora não o fosse o de dialética dialektikh/. A Lógica é a disciplina mais importante para os que se iniciam no estudo filosófico. A Lógica é ciência diretiva da razão. Por Lógica Tomista entende-se o conjunto de doutrinas que o Aquinate considerou ao longo de seu Corpus Thomisticum. O Aquinate não desenvolveu nenhum estudo sistemático de lógica, nem mesmo alçou algum descobrimento sobre algum tema. Não obstante, tratou dela como instrumento para o bem pensar. Destacamos, a seguir, as principais doutrinas da Lógica do Estagirita: A Lógica de Aristóteles Tópicos Estatísticas: Obra dividida em VIII Livros. Livro I considera as generalidades sobre os métodos da dialética. Livro II Os lugares do acidente. Livro III Os lugares do acidente. Livro IV O Gênero. Livro V O Próprio. Livro VI A Definição. Livro VII A identidade e Livro VIII A prática dialética. Doutrina: O raciocínio dialético. Assim ele apresenta o objetivo de sua obra: “Nosso tratado se propõe encontrar um método de investigação graças ao qual possamos raciocinar, partindo de opiniões geralmente aceitas, sobre qualquer problema que nos seja proposto e sejamos também capazes, quando replicamos a um argumento, de evitar dizer alguma coisa que nos cause embaraços. Devemos, em primeiro lugar, explicar o que é o raciocínio e quais são as suas variedades, a fim de entender o raciocínio dialético: pois tal é o objeto de nossa pesquisa no tratado que temos diante de nós” [Tópicos, I, 1, 100ª 18-24]. Antes mesmo de estabelecer a dialética como um tipo de raciocínio, o autor começa por dizer o que é o raciocínio: “O raciocínio é um argumento em que, estabelecidas certas coisas, outras coisas diferentes se deduzem necessariamente das primeiras” [Tópicos, I, 100ª 25-26]. Feito isso, distingue quatro tipos de raciocínios, dos quais um é o dialético: “o raciocínio é dialético quando parte de opiniões geralmente aceitas” [Tópicos, I, 100ª 30]. E, para tanto, ele precisa que: “a proposição dialética é uma interrogação provável, quer para todos, quer para a maioria, quer para os sábios e dentro destes, quer para todos, quer para a maioria, quer para os mais notáveis”[ Tópicos, I, 104ª 8-10]. Refutações Sofísticas Estatísticas: Alguns consideram ser o Livro IX dos Tópicos. Contudo, por possuir um corpo doutrinal bem independente, constitui uma obra a parte. Dividida em 34 capítulos. Doutrina: Trata dos falsos raciocínios. Cap. 1 a 11 tratam dos raciocínios, tipos, finalidades, as refutações e suas espécies; Cap. 12 a 14 tratam dos objetivos da sofística; Cap. 15 a 21 tratam da ordenação, resolução e solução dos argumentos sofísticos e Cap. 22 a 34 tratam das soluções e conclusão. Assim ele apresenta o objetivo de sua obra: “Vamos tratar agora dos argumentos

Lógica Tomista

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Lógica

A Lógica Tomistapor Paulo Faitanin - UFF

1. Origem: Aristóteles [384-322] é o pai da lógica, mas poderíamos dizerque os métodos de pesquisa de Zenão de Eléa, Sócrates, a dialética dePlatão, a dos Eleatas e a dos Sofistas já eram lógica, tendo ele dadocontinuidade a um esforço já começado. Foi Alexandre de Afrodísia [200d.C] que denominou Ôrganon [Órganon que significa Instrumento], à série deobras lógicas do Estagirita: Tópicos, Refutações Sofísticas, Primeiros Analíticos,Segundo Analíticos, Sobre a Interpretação, Categorias. Foi o próprio Alexandre deAfrodísia quem por primeiro valeu-se da palavra lógica logik» para designar

o raciocínio e o objeto de estudo destes tratados, pois como nos atesta D. Ross, este nome eradesconhecido de Aristóteles, embora não o fosse o de dialética dialektikh/. A Lógica é a disciplinamais importante para os que se iniciam no estudo filosófico. A Lógica é ciência diretiva da razão. PorLógica Tomista entende-se o conjunto de doutrinas que o Aquinate considerou ao longo de seu CorpusThomisticum. O Aquinate não desenvolveu nenhum estudo sistemático de lógica, nem mesmo alçoualgum descobrimento sobre algum tema. Não obstante, tratou dela como instrumento para o bempensar. Destacamos, a seguir, as principais doutrinas da Lógica do Estagirita:

A Lógica de Aristóteles

Tópicos

Estatísticas: Obra dividida em VIII Livros. Livro I considera as generalidadessobre os métodos da dialética. Livro II Os lugares do acidente. Livro III Oslugares do acidente. Livro IV O Gênero. Livro V O Próprio. Livro VI ADefinição. Livro VII A identidade e Livro VIII A prática dialética. Doutrina: Oraciocínio dialético. Assim ele apresenta o objetivo de sua obra: “Nosso tratado sepropõe encontrar um método de investigação graças ao qual possamos raciocinar,partindo de opiniões geralmente aceitas, sobre qualquer problema que nos sejaproposto e sejamos também capazes, quando replicamos a um argumento, deevitar dizer alguma coisa que nos cause embaraços. Devemos, em primeiro lugar,explicar o que é o raciocínio e quais são as suas variedades, a fim de entender oraciocínio dialético: pois tal é o objeto de nossa pesquisa no tratado que temosdiante de nós” [Tópicos, I, 1, 100ª 18-24]. Antes mesmo de estabelecer a dialéticacomo um tipo de raciocínio, o autor começa por dizer o que é o raciocínio: “Oraciocínio é um argumento em que, estabelecidas certas coisas, outras coisasdiferentes se deduzem necessariamente das primeiras” [Tópicos, I, 100ª 25-26]. Feitoisso, distingue quatro tipos de raciocínios, dos quais um é o dialético: “o raciocínioé dialético quando parte de opiniões geralmente aceitas” [Tópicos, I, 100ª 30]. E,para tanto, ele precisa que: “a proposição dialética é uma interrogação provável,quer para todos, quer para a maioria, quer para os sábios e dentro destes, quer paratodos, quer para a maioria, quer para os mais notáveis”[ Tópicos, I, 104ª 8-10].

RefutaçõesSofísticas

Estatísticas: Alguns consideram ser o Livro IX dos Tópicos. Contudo, porpossuir um corpo doutrinal bem independente, constitui uma obra a parte.Dividida em 34 capítulos. Doutrina: Trata dos falsos raciocínios. Cap. 1 a 11tratam dos raciocínios, tipos, finalidades, as refutações e suas espécies; Cap. 12 a 14tratam dos objetivos da sofística; Cap. 15 a 21 tratam da ordenação, resolução esolução dos argumentos sofísticos e Cap. 22 a 34 tratam das soluções e conclusão.Assim ele apresenta o objetivo de sua obra: “Vamos tratar agora dos argumentos

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sofísticos, isto é, dos que parecem ser argumentos ou refutações, mas em realidadenão passam de ilogismos” [Ref. Sofísticas, c.1, 164a 20-23].

PrimeirosAnalíticos

Estatísticas: Obra dividida em II Livros. Livro I trata da teoria geral do raciocínioe o Livro II trata das propriedades dos raciocínios, as conclusões falsas e outrosargumentos. Doutrina: Trata da teoria do raciocínio e suas propriedades. Assimobjetiva a obra: “Consideremos primeiro o que é a investigação e a quecorresponde, explicando o que é a demonstração e a que corresponde a ciência dademonstração, logo o que é uma proposição e o que é uma conclusão e ainda oque é um raciocínio, procurando saber qual é o raciocínio perfeito e qual éimperfeito e, também, saber em que consiste dizer que uma coisa se diga de outra evice-versa, já que denominamos predicar de todos e de nenhum” [Prim. Analíticos,I, c.1, 24a 10-15]. Define o silogismo como: “discurso no qual, postas certas coisas,algo outro que esses dados resultam necessariamente pelo único fato desses dados”[Prim. Analíticos, I, c.1, 24b 18-20]. E precisa acerca do silogismo dizendo que:“quando três termos estão entre si em relações tais que o menor está contido natotalidade do médio e o médio contido ou não na totalidade do maior, então hánecessariamente entre os extremos silogismo perfeito” [Prim. Analíticos, I, c.4, 25b32-35].

SegundosAnalíticos

Estatísticas: Obra dividida em II Livros. Livro I trata da teoria da demonstração eo Livro II trata da teoria da definição e da causa. Doutrina: Trata da ciência, doconhecimento e da utilidade científica dos silogismos nas demonstrações,definições e consideração das causas. Assim objetiva a obra: “Todo ensino e toda aaprendizagem pelo pensamento se produzem a partir de um conhecimentopreexistente. E isso resulta evidente aos que observam cada uma dasaprendizagens; com efeito, entre as ciências, as matemáticas procedem deste modo,assim como cada uma das outras artes. De modo igual ocorre no caso dosargumentos, tanto os que procedem mediante raciocínio como os que procedempor comprovação, pois ambos realizam ensino através de conhecimentos prévios:uns, tomando algo como entendido por mútuo acordo; outros, demonstrando ouniversal através do fato de ser evidente o singular. Do mesmo modo convencemtambém os argumentos retóricos: pois, ou convencem por meio dos exemplos, oque é uma forma de comprovação, ou por meio de raciocínios prováveis, que éuma forma de raciocínio” [Seg. Analíticos, I, c.1, 71a 1-12]. E precisa o uso dosilogismo como método científico: “Estimamos possuir a ciência de uma coisa deforma absoluta e não de modo meramente acidental, à maneira dos sofistas,quando pensamos conhecer a causa pela qual uma coisa é, sabendo que esta é acausa dessa coisa e que não é possível que a coisa seja de outra forma que ela é”[Seg. Analíticos, I, c.2, 71b 9].

Sobre ainterpretação

Estatísticas: Obra dividida em 14 capítulos. Cap. 1 trata da escrita, da voz, dopensamento e da realidade; Cap. 2 trata do nome; Cap. 3 trata do verbo; Cap. 4trata do enunciado; Cap. 5 trata das asserções simples e compostas; Cap. 6 trata daafirmação e da negação; Cap. 7 trata do universal e do singular; Cap. 8 trata daunidade e da pluralidade; Cap. 9 trata da oposição e dos futuros contingentes; Cap.10 trata da oposição das asserções; Cap. 11 trata das asserções compostas; Cap. 12trata da oposição das asserções modais; Cap. 13 trata da derivação das asserçõesmodais; Cap. 14 trata da contrariedade das asserções. Doutrina: Trata dasenunciações, ou seja, estuda do ponto de vista lógico a estrutura das proposições,não mais como premissas, mas como os frutos próprios de nossos juízos, comoenunciações complexas. Assim define o enunciado: “o enunciado é um somsignificativo, qualquer uma das partes é significativa por separado comoenunciação, mas não como afirmação. Digo que homem, por exemplo, significaalgo que não seja o que realmente seja, não obstante, uma sílaba de homem não ésignificativa” [Sobre a interpretação, c.4, 16b 26-32].

Categorias

Estatísticas: Obra dividida em 15 capítulos. Cap. 1 trata dos homônimos,sinônimos e parônimos; Cap. 2 trata dos termos independentes e combinados;Cap. 3 trata da transitividade da predicação; Cap.4 trata das categorias e dospredicamentos; Cap.5 trata da substância; Cap.6 trata da quantidade; Cap.7 trata darelação; Cap.8 trata da qualidade; Cap.9 trata da atividade e da passividade; Cap.10trata dos opostos; Cap.11 trata dos contrários; Cap.12 trata do que é anterior;Cap.13 trata do que é simultâneo; Cap.14 trata do movimento e Cap.15 trata doter. Doutrina: Trata dos elementos da enunciação, ou seja, da substância e dosnove predicamentos ou categorias. Assim explica a relação de predicação entresujeito e predicado: “Quando uma coisa se predica de outra como de seu sujeito,

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sujeito e predicado: “Quando uma coisa se predica de outra como de seu sujeito,tudo o que for dito do predicado também será do sujeito” [Categorias, c.3, 1b 10-12]. E define a substância, ou seja, o que não se predica de nada, mas é antes osujeito da predicação: “Substância é a que é dita, no sentido mais fundamental,primeiro e absoluto, a que não é dita de nenhum sujeito, nem está em algumsujeito, por exemplo, o homem individual e o cavalo individual” [Categorias, c.3, 1b10-12]. E precisa acerca do que são os predicados: “A partir do que já foi dito,torna-se evidente que, das coisas que são ditas do sujeito, é necessário que tanto onome quanto o enunciado sejam predicados do sujeito...Portanto, tanto o nomequanto o enunciado serão predicados do sujeito” [Categorias, c.3, 1b 10-12].

2. A Lógica Tomista: Tomás de Aquino [1225-1274] não comentou todo o Órganon aristotélico.Dedicou-se ao comentário do Peri Hermeneias ou De interpretatione e do Segundos Analíticos. A redação docomentário do Peri Hermeneias de Aristóteles, dedicado a Guilherme Berthout, presbítero de Louvain,deve ser situada entre a condenação de 10 de dezembro de 1270 e meados de outubro de 1271.Inacabado, o comentário pára no cap. II, 2 [Bekker 19b 26]. O manuscrito foi enviado de Nápolescom a exposição dos Segundos analíticos, aos mestres da faculdade de artes de Paris, que desejavam teresses dois livros, após a morte de Tomás. Quanto ao conteúdo e ao método, essa obra de lógica e dehermenêutica, segue bem de perto a letra do texto de Aristóteles. O Comentário dos SegundosAnalíticos de Aristóteles foi iniciado nas cercanias imediatas do comentário do Peri Hermeneias, ao qualprovavelmente sucedeu [outubro de 1271]. Desse modo, uma primeira parte foi redigida em Paris [I,1-26], seguindo a tradução de Tiago de Veneza. A obra foi continuada em Nápoles, onde o Aquinatepassa a comentar a tradução de Moerbeke [I, 27-II 20], até o final de 1272. Após a sua morte, foienviado, como dito acima, aos mestres da faculdade de artes de Paris, juntamente com o comentáriodo Peri Hermeneias. A parte destes dois comentários, merece destaque o De veritate que aborda muitostemas lógicos, alguns dos quais abordaremos em nosso breve léxico. Destacam-se, também, algunsopúsculos considerados inautênticos, referem-se às questões lógicas. O primeiro deles é o De falaciis[Sobre as falácias], um pequeno tratado de lógica para iniciantes, que examina os raciocíniosincorretos. Foi considerado, até o início do século XX, obra de juventude de Tomás. Pensava-se, emgeral, que teria sido composto durante a detenção em Roccasecca, em 1244-1245. Dependendo devários autores, especialmente de Pedro de Espanha, é na verdade posterior a essa data e hojereconhecido inautêntico. O segundo é o De propositionibus modalibus [Sobre as proposições modais],considerado por muito tempo, como o tratado De falaciis, obra de juventude, que teria compostodurante sua detenção em Roccasecca, dirigido a seus discípulos de Nápoles [1244-1245], essepequeno tratado de lógica é considerado, como o precedente, inautêntico. Figuram ainda estesopúsculos atribuídos ao Aquinate, mas considerados inautênticos. São eles: De demonstratione, De naturaaccidentis, De natura generis, De natura syllogismorum, De quatuor oppositis.

2.1. Prolegômenos: (a) Noção de Lógica: O Aquinate define a Lógica como “a arte diretiva do próprioato da razão, por meio da qual o homem, em seu próprio ato da razão, ordena facilmente e procedesem erro” [In I Anal. post. lec1]. A primeira questão que fica é a seguinte: a Lógica é Arte ou Ciência? ALógica é uma e outra coisa ao mesmo tempo: como arte - habilidade pessoal para realizar umaatividade, que pode e deve melhorar com o exercício - tem um fim prático e serve de instrumentopara conhecer retamente e como ciência - conhecimento universal e certo pelos princípios - tem umafinalidade especulativa, pois tenta descobrir e desenvolver a maneira de pensar do homem. As noçõesde razão, raciocinar, raciocínio e racionabilidade são fundamentais para a lógica. Por isso, asconsideremos primeiramente. Razão é a parte da potência intelectiva da alma humana responsávelpelo raciocinar, ou seja, ir de um objeto conhecido a outro; mas isso não difere a razão do intelecto,senão por causa das funções e não da natureza, pois uma coisa é o conhecer, que é simplesmenteapreender a verdade inteligível, e outra coisa é raciocinar, como foi dito acima [STh I,q79,a8,c].Portanto, raciocinar é proceder de um entendimento a outro, na busca da compreensão da verdade[STh.I,q79,a8,c] e raciocínio é o ato da razão. Racional diz-se do que é da natureza do intelecto[STh.I,q3,a5,c] e racionabilidade é princípio da diferença racional [De ente et ess.c4]. Em síntese,denomina-se o intelecto humano de razão, na medida em que é uma potência do intelecto que deduzconclusões de certos princípios. Seguem o raciocínio, a simples apreensão, por meio da qual seformula os conceitos e o juízo, por meio do qual se afirma ou nega a verdade deste conceito. Oobjeto próprio da Lógica é o raciocínio e para tanto, considera a simples apreensão e o juízo, enquantoordenam-se ao raciocínio. (b) Método da Lógica: A lógica é um instrumento da inteligência. É própriodo intelecto o conhecimento reflexivo, posto que ninguém começa conhecendo as idéias e osconceitos. Os conceitos resultam de uma atividade reflexiva do intelecto. Por isso, o método da lógicaé reflexivo: reflete-se sobre os atos de conhecer e seus conceitos para saber como se conhece. Nestaatividade reflexiva a lógica realiza uma análise da linguagem, justamente porque o conhecimento seexpressa por uma linguagem. (c) Utilidade da Lógica: A lógica é útil por excelência, justamente por seruma habilidade. Sem ser absolutamente necessária, a lógica é útil e conveniente para a perfeição daatividade científica. Por esta razão, a lógica não é o fundamento do conhecer científico, mas seu

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instrumento. (d) Divisão da Lógica: Tal como nós vimos, o pensamento humano articula-se em trêsoperações fundamentais: a simples apreensão que concebe as noções ou conceitos; o juízo que compõealguns conceitos com outros e o raciocínio que combina os juízos, por cuja combinação se obtemnovas verdades. O Aquinate adota a clássica divisão da lógica. Analisando a operação do intelecto emsi mesma o Aquinate adverte que é dupla a operação do intelecto: uma é denominada indivisível[simples apreensão], pela qual o intelecto apreende a essência de cada coisa em si mesma e outra é aque compõe e divide [juízo], mas acrescenta, também, uma terceira que é o raciocinar, na medida emque a razão procede do mais conhecido ao menos conhecido [In I Periher. lec1]. Os antigosconsideravam as partes de uma ciência, a partir de uma análise hilemórfica, ou seja, de saber qual é aforma e a matéria de dada ciência. Portanto, no raciocínio distingue-se a forma e a matéria. Uma parteda lógica estuda a forma do raciocínio e, por isso, é denominada, Lógica Formal. Outra parte da lógicaestuda a matéria do raciocínio e, por isso, é denominada, Lógica Material. A Lógica Formal consideraos conceitos e a Lógica Material o modo de ordená-los e expressá-los, para que o raciocínioformalmente seja reto e materialmente verdadeiro. Um raciocínio pode ser reto, mas não verdadeiro,como neste raciocínio: Todo animal é racional; Ora, cão é animal; Logo, cão é racional. Segundo o Aquinatenão se pode ter algum juízo certo sem se voltar para os primeiros princípios. E este voltar para osprimeiros princípios pertence a esta ciência, ou seja, à Lógica, que é denominada Analítica ouresolutiva. A análise da forma é estudada na obra Primeiros Analíticos e a análise da matéria doraciocínio na obra Segundos Analíticos [In I Anal. post. lec1,n.6]. (e) Lógica e outras disciplinasfilosóficas: - Lógica e Psicologia - A Lógica tem de comum com a Psicologia a reflexão sobre os atos doconhecimento. Diferem porque a Lógica estuda o que significam estes atos de conhecimento e aPsicologia o que são estes atos. A Lógica estuda o aspecto subjetivo e a Psicologia o objetivo. ALógica supõe a Psicologia. - Lógica e Gnosiologia - A Gnosiologia supõe a Psicologia e a Lógica e servede introdução à Metafísica. A Gnosiologia ou Teoria do Conhecimento considera o problema doconhecimento e a Lógica o problema de sua ordem e significado. - Lógica e Filosofia da Linguagem - AFilosofia da Linguagem supõe a Lógica. A Lógica exige a linguagem para expressar os seus conceitose realiza uma análise filosófica da mesma ao refletir sobre ela. - Lógica e Epistemologia - AEpistemologia ou Teoria da Ciência supõe a Lógica. A Epistemologia propõe uma análise e umacrítica dos princípios da ciência, dos raciocínios científicos, enquanto a Lógica propõe uma análisereta e verdadeira dos conceitos e dos princípios que constituem os raciocínios científicos. - Lógica eÉtica - A Lógica estuda a ordem especulativa dos atos e conceitos da inteligência, enquanto a Éticaestuda a ordem prática dos atos humanos. Na medida em que ordena o bem pensar para o bem agir,a Ética supõe a Lógica. - Lógica e Metafísica - A Lógica e a Metafísica se aproximam porque estudamtodas as coisas: seu objeto tem a mesma extensão, alcança a universalidade de todos os seres [In IVMet. lec.4]. O ente é o objeto comum do lógico e do metafísico: o lógico considera os entes enquantoestão na razão, enquanto o metafísico os estuda enquanto são entes [In VII Met.lec. 13]. A Lógicasubordina-se à Metafísica, pois conhecer (lógica) é apreender o que as coisas são (metafísica).

2.2. Lógica Formal: Como vimos acima, a parte da Lógica que considera a simples apreensão doconceito, o juízo e o raciocínio denomina-se Lógica Formal. Analisemos, pois, os seus principais temase questões.

2.2.1. Lógica do Conceito: (a) A simples apreensão: a simples apreensão se define como o ato pormeio do qual o intelecto conhece alguma essência, na medida em que simultaneamente afirma ounega, por cujo conhecimento produz-se o conceito. Em outras palavras, por apreensão simples entende-se o ato, por meio do qual, o intelecto apreende de modo absoluto, a seu modo e tornando o queapreende semelhante a si mesmo, algo do real [STh.I,q30,a3,ad2;In II Sent.d24,q3,a1,c]. Por isso, oAquinate, seguindo o que Aristóteles afirmara, denominou a simples apreensão de intelecção indivisível.Por intelecção indivisível entende-se a intelecção absoluta que o intelecto produz, por si mesmo, daqüididade de alguma coisa [In I Periher. lec. 3,n.3]. (b) O singular: O intelecto produz o conceito, apartir do que considera da realidade. Mas a realidade, fora da mente, apresenta-se em sua existênciasingular. O que é o singular? Por singular entende-se algo individual, de nenhum modo comunicável amuitos [STh.I,q11,a3,c], cuja nota essencial é ser único e distinto de todos os demais [STh.I,q13,a9,c],de tal maneira que não pode ser definido [STh.I,q29,a1,ad1]. Do que se segue, que o singular não éapto naturalmente a ser predicado de muitos, senão de um só, ou seja, de si mesmo [In I Periher.lec.10]. Neste sentido, o singular é o que pode ser mostrado, designado, apontado ou indicado com odedo [STh.I,q30,a4,c]. Assim sendo, o intelecto apreende, por abstração, a natureza do singular, deum modo mental, universal e a expressa por um conceito. Mas o que é abstração? (c) A abstração: Porabstração entende-se o ato de abstrair, que é o ato que o intelecto faz quando apreende e tornauniversal e semelhante a si mesmo, uma realidade singular que existe fora do próprio intelecto.Abstrair é separar de algo singular toda a sua materialidade e movimento [In II Sent.d2,q2,a2,ad4;STh.I,q55,a2,ad2]. Neste sentido, a abstração significa o ato intelectual, por meio do qual o própriointelecto torna inteligível o que ele considera e que existe fora da mente, de modo singular, sensível eindividual. No ato do conhecimento, a abstração é o primeiro e mais nobre ato do intelecto, comosendo a sua mais perfeita operação [STh.I-II,q4,a6,ad3]. Em outras palavras, a abstração é o modo

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pelo qual o intelecto processa o conhecimento do real concreto, inclinando-se a ler por dentro - intuslegere - a natureza, a essência do real concreto que ele considera, pois só abstraindo-a de suasensibilidade pode ele conhecer a sua forma em ato [CG.I,44], a sua natureza, já que para conhecer osingular é sempre necessário abstrair [STh.II-II,q173,a3,c]. Mas o que busca o intelecto? O intelectoquando abstrai busca considerar o singular em sua universalidade; busca, portanto, produzir umarepresentação universal do singular [STh.I,q85,a2,ad2], ou seja, o intelecto produz uma similitudeuniversal, inteligível do que no real existe de modo singular e material. Mas se o intelecto ordena-se aproduzir, pela abstração, uma similitude universal do que considera do real, a primeira questão, asaber, é: o que é universal? (d) O Universal: Etimologicamente, universal significa unum versus alia, umque se verte em muitos. Em seu significado real, universal é o que por natureza é apto a predicar-se demuitos [In I Perih. lec10]. Ora, se o universal é o que é apto de predicar-se de muitos, isso significaque o que é universal é comum de muitos. Do que se segue, que universal e comum de muitos sãosinônimos [In I De trin. lec.1; In VII Met. lec 13]. Cabe frisar que o intelecto somente produz ouniversal por abstração [STH.I-II,q29,a6,c], pois o intelecto, pela abstração, ao produzir o universal,concebe o conceito, a partir do qual se expressa a essência universal da coisa particular, que eleconsiderou. Assim, pois, algo é considerado universal não somente quando o nome predica-se demuitos, mas, também, quando o que é significado pelo nome, pode dar-se em muitos [In I Perih.lec.10]. Cabe, ainda, distinguir o universal lógico do universal metafísico: o universal considerado em simesmo, em seu conteúdo real e metafísico, é o universal metafísico; o universal enquanto conceitouniversal, desde um ponto de vista de sua predicação, é o universal lógico [In VII Met. lec13]. Ouniversal lógico é real, porém abstrato [De ente et ess. c3]. Em face disso, cabe saber o que é oconceito. (e) O conceito: O conceito é fruto da concepção que o intelecto faz pela abstração, aoconsiderar a universalidade da natureza de algo singular. Por concepção entende-se, neste contexto dalógica, a geração ou a produção de um conceito, por parte do intelecto [STh. III,q13,a12,c]. Pelaconcepção o intelecto produz uma palavra ou verbo mental, no qual se encontra a similitude inteligívelabstraída da coisa concreta, sem que com isso se estabeleça uma identidade entre natureza queconcebe e a natureza concebida, pois o que o intelecto produz é uma similitude do objeto real[STh.q27,a2,ad2]. O conceito é uma voz mental, cujo sinal sensível é um nome que indica certosignificado [In I Sent.d2,q1,a3]. Por isso, aquelas simples concepções que são produzidas pelointelecto são vozes mentais - palavras interiores - [CG.IV,11] que significam alguma coisa [In IPerih.lec.16]. Alguns conceitos, por razão de sua universalidade, são mais abrangentes do que outros,como o conceito animal que é mais extenso do que o conceito homem, já que aquele se estende e sepredica de mais realidades do que este. Ao contrário, o conceito homem é mais compreensível do queo de animal, porque é menos extenso do que aquele. Esta distinção, segundo a universalidade, é o quedetermina a extensão e a compreensão do conceito. Exigem-se, para a expressão do verbo mental, os sinaislingüísticos, que por meio de palavras, nomes e verbos expressam o conceito e o seu significado. (f) Alinguagem - palavra, nome e verbo: O conhecimento intelectual do homem traduz-se, exteriormente,num conjunto de sinais sensíveis, falados ou escritos, que compõem a linguagem humana. O que é umsinal? Sinal é aquilo que serve para o conhecimento de outro [STh.III,q60,a4,c], ou seja, é o que seinstitui para significar outra coisa. A linguagem humana é composta por sinais da fala e da escrita. Alinguagem falada é expressão da fala. A fala é a manifestação, pela voz, da palavra interior que seconcebe com a mente [De ver.q.9,a4]. A linguagem escrita é a expressão gramatical da linguagem falada.O que é expressão gramatical? Em primeiro lugar convém saber o que é a ciência da gramática nocontexto da filosofia tomista. A gramática é a ciência, por cujo hábito, o homem tem a faculdade defalar corretamente [STh.I-II,q56,a3,c]. A faculdade de falar corretamente, também, manifesta-se naescrita. A ciência da escrita é a Literatura. A Literatura é, em outras palavras, a ciência das letras. Asletras são, pois, sinais das vozes mentais [In I Perih.lec2]. Tanto falada, quanto escritas as vozesformam a linguagem. Assim, pois, a linguagem é formada pela palavra mental que pode ser apenaspensada ou mesmo proferida, falada e pela palavra escrita, que sempre representa a própria palavra mentalmediante um sinal visível, impresso. Portanto, a parte elementar da linguagem é a palavra. Mas o que éa palavra? A palavra é uma voz convencional significativa de um conceito, que por sua vez é umasimilitude da coisa [In I Perih. lec.10; STh.I,q13,a1], produzida pelo intelecto ao abstrair da realidadesua similitude inteligível [De nat. verbi intellectus]. O que é a voz? A voz é um sinal material, sensívelda palavra, que permite a sua comunicação aos demais homens [In I Perih. lec.4] e consiste naemissão oral dos sons como efeito orgânico das cordas vocais [STh.I,q51,a3,obj4]. A palavra significaa coisa mediante o conceito, pois segundo o modo como entendemos algo, assim o nomeamos[STh.I,q13,a1]. Mas o que é nomear? Nomear é dar nome. O que é o nome? Nome é uma vozsignificativa, isto é, uma voz que tem significado [In I Perih. lec.4]. Em síntese, o nome é um sinalinteligível do conceito [In IX Met. lec.3] manifesto numa palavra falada ou escrita. Uma coisa é aetimologia do nome, que indica a sua origem e outra coisa é a significação do nome, que indica o seusignificado. Da etimologia conhece-se a origem de um nome para dar significado a algo. Asignificação do nome dá-se, segundo aquilo a que é imposto o nome significar [STh.II-II,q92,a1,ad2;I,q31,a1,ad1]. Se os nomes designam as coisas, os substantivos, os verbos designam os atos dascoisas, seus movimentos e paixões. Por fim, cabe analisar o que tanto na linguagem falada, quantoescrita, serve para conectar, predicar as palavras e os nomes entre si. Eis o verbo. O que é o verbo? O

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verbo é uma voz significativa declinável com o tempo -presente, passado e futuro-, utilizado, às vezes,como substantivo ou considerado em si mesmo, em seu ato abstrato, no infinitivo [In I Perih. lec5].Pelo que vimos anteriormente, embora um nome por sua origem etimológica sirva para significaralgo, por seu uso e convenção pode ser tomado para significar outra coisa, como o nome cão quesignifica o animal, mas que pode ser tomado para significar a constelação. É a isso que se refere osignificado dos conceitos. (g) O significado dos conceitos - unívoco, equívoco e análogo -: Como vimos,mediante um nome, os conceitos podem ser utilizados para significar outras coisas. E isso ocorreporque se distingue o significado de uma palavra, do modo como é utilizado para significar [CG.I,30].Neste sentido, fica claro que os termos da linguagem, como as palavras e o nomes, nem sempreconservam o mesmo significado. Por este motivo, cabe estabelecer a seguinte divisão: termo unívocodiz-se do nome que significa uma mesma essência, que se diz de uma única natureza, ou seja, aconveniência do nome com a natureza [S.Theo.I,q5,a6,ad3/q13,a10,c/In II Sent. 22,1,3,ad2], comoquando se toma o nome coelho para designar a uma espécie de animal e que conserva sempre estemesmo sentido; termo equívoco indica a indução de significar várias coisas por um mesmo nome[C.G.4,49]. É sinônimo de ambigüidade, onde não se toma a similitude entre as realidades, mas aunidade do nome [C.G.1,33]. Equívoco diz-se da não proporcionalidade entre o nome e a essência,ou seja, o nome é comum, mas as substâncias diversas [S.Theo.I,q4,a2,c], como quando se toma onome quarto para significar um número ordinal ou um cômodo da casa e, por fim, termo análogo diz-se de algo que comumente se aplica a muitos [In I Sent.22,1,3,ad2], segundo uma comparação porproporção [S.Theo.I,13,a5,c], em que o nome, segundo um significado aceito, é posto na definição domesmo nome, com outro significado [S.Theo.I,13,a10,c], como quando se toma o nome liberdade paraaplicá-lo ao sentido moral ou para usá-lo no sentido penal. (h) A oposição dos conceitos: Conceitosopostos são os que significam atributos que não podem inerir simultaneamente, num mesmo sujeito[In X Met.lec10]. Oposição consiste em afirma e negar ao mesmo tempo, como afirmar branco e não-branco, de um mesmo sujeito [STh.I-II,q35,a4,c; In I Perih.lec11]. Distingue-se em oposição própriae imprópria. A oposição própria é a que se dá por repugnância, mas com certa relação entre si, comoentre virtude e vício. A oposição imprópria se dá, também, por repugnância, mas entre coisas que não serelacionam entre si, como a oposição entre virtude e pedra. A oposição própria pode ser por contradição,por privação, por contrariedade e por relação. A oposição por contradição se dá entre conceitos que se excluempor negação, como a que se dá entre homem e não-homem. A oposição por privação é a que se dá porcarência de perfeição no sujeito, como a que se dá entre pedra e visão, pois a pedra não é vidente,nem cega. A oposição por contrariedade é a que se dá entre conceitos que são contrários entre si só pelaespécie, mas não pelo gênero, como a que se dá entre os vícios prodigalidade e avareza. A oposição porrelação é a que se dá entre conceitos que se relacionam entre si, mas que guardam oposição, como aque se dá entre os conceitos de pai e filho.

2.2.2. Lógica do Juízo: (a) O juízo: Se a primeira operação do intelecto - a simples apreensão -considera a natureza simples e abstrata do conceito, a segunda operação do intelecto considera o ser,que sempre se dá na composição, nas coisas finitas [In De trin. lec2,q1,a3]. Esta composição oudistinção que por um ato do intelecto afirma ou nega o ser de algo é o juízo. O que é o juízo? O juízoé justamente a operação do intelecto, por meio da qual se compõem ou se distinguem os conceitos,atribuindo propriedades a um sujeito, mediante o verbo ser ou não ser [In I Perih. lec3,n2; Dever.q14,a1], em que se afirma ser algo verdadeiro ou falso: O homem é um animal racional [In I Perih.lec7,n5]. No caso da composição, ou seja, da afirmação, o verbo ser indica certa união [In IXMet.lec11], certa identidade [STh.I,q85,a5, ad3] e no da negação, certa distinção. O Juízo compõe oudivide, segundo a união ou distinção real das coisas, como na composição dos termos: rosa e branca,em que pelo juízo, afirma-se ou nega-se: a rosa é branca [In De trin. lec2,q1,a3]. O intelecto pelo juízocerto e evidente, expressa a verdade da coisa. (b) Verdade: É a máxima expressão do conhecimento. Éa adequação entre o que o intelecto concebe do real e o que é o real em si mesmo. A verdadeconsiste, pois, nalguma adequação entre o intelecto e a coisa e é uma exigência fundamental dointelecto [In III Sent.d33,q1,a3,sol3]. Por adequação entende-se, aqui, a igualdade. Por igualdadeentende-se, aqui, certa proporção ou similitude que se afirma entre duas coisas que se relacionamentre si [De malo,q16,a3,c;STh.I,q42,a1,ad2]. Ora, sendo uma exigência fundamental do intelecto, averdade é uma noção só perceptível pela mente [In I Sent.d19,q5,a1,c], mas manifesta e declara o serda coisa [De Ver., q.1,a.1,c]; por isso, a verdade existe principalmente no intelecto e só,secundariamente, nas coisas, na medida em que são comparadas com o intelecto, como a umprincípio [STh.I,q16,a1,c]. Existe primeira e propriamente no intelecto divino [STh.I,q16,a5,ad2] e sóprópria e secundariamente no intelecto dos homens [De ver.q1,a4,c;STh.I,q16,a1,c]. Pode-se dizerque a verdade encontra-se nos sentidos, mas não do mesmo modo como se encontra no intelecto,pois no intelecto ela está por reflexão e nos sentidos como resultado dos seus atos, sem conhecer averdade em si [De ver.q1,a9,c]. A verdade pode encontrar-se na mente: em potência - quando ointelecto não a possui ainda em ato, seja por mera negação, na medida em que o intelecto não podeconhecer a verdade [De princ.nat.c2], ou por privação, na medida em que pode e deve conhecer averdade, mas dela ainda se encontra privado [In I De caelo,lec6;In I Sent.d13,q1,a4,c]; o erro é o juízofalso ou inadequado que ocorre no estado em que a verdade encontra-se em potência no intelecto, ou

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seja, é aprovar o falso por verdadeiro [De malo,q3,a7,c]; em ato imperfeito - quando o intelecto aindanão a possui em perfeição, por algum impedimento, seja a dúvida, quando o intelecto versa sobre averdade sem o assentimento ou juízo, por encontrar-se entre duas teses opostas [In IIISent.d17,q1,a4,c;De ver.q14,a1,c], seja a opinião, quando o intelecto versa sobre a verdade com oassentimento ou juízo, que aceita uma proposição, com o temor que seja verdadeira a suacontraditória [STh.I,q79,a9,ad4;In III Sent.d23,q2,a2,c1;De ver.q14,a1,c]; em ato perfeito: quando ointelecto o possui perfeitamente, com certeza, ou seja, com a firme adesão da faculdade cognitiva aoobjeto conhecido [In III Sent.d26,q2,a4;d23,q2,a2,c3], pelos princípios universais indemonstráveis[STh.I-II,q112,a5,c]. Deus é a única e absoluta verdade incriada, enquanto tudo demais criado sãoverdades. Portanto, há uma única verdade incriada e diversas criadas. Por isso, a fonte de todaverdade é Deus, a primeira verdade, a verdade eterna [STh.Iq16,a7,ad4 e c;De ver.q1,a4,ad3] a que,por meio das Sagradas Escrituras, derivaram as muitas outras verdades nas mentes dos homens [Dever.q1,a8,c;De div.nom.I,lec1;CG.III,47] e tem o seu fim na verdade de fé que é o próprio Cristo[STh.III,q96,a6,ad10]. Por isso, a verdade existe de modo próprio e primeiro no intelecto divino e seidentifica com Ele [STh.I,q16,a5,ad2], próprio, mas secundariamente, no intelecto humano, namedida em que imita a verdade da mente divina [CG.I,60] e impróprio e secundariamente nas coisas[De ver.q1,a4,c;STh.I,q16,a1,c]. Deus é a verdade incriada e tudo demais criado é fonte de verdadepara o intelecto, na medida em que se tratam de verdades criadas e apreendidas pelo próprio intelecto[STh.I,q16,a6,ad1;In I Sent.d19,q5,a2,obj2;De ver.q1,a4,ad7], posto que estas verdades têmfundamento nas coisas [In I Sent.d19,q5,a1,c]. Ora, se a verdade existe principalmente na mente,assemelha-se a ela por natureza; mas a natureza do intelecto é imortal e incorruptível, portanto, anatureza da verdade é a de um conceito incorruptível [STh.I,q61,a2,ob23;De ver.q1,a5,obj13-15;CG.II,83], embora só em Deus seja imutável e no intelecto mutável, já que no intelecto pode-semudar de verdade para falsidade [STh.I,q16,a8,c;CG.III,47]. De três modos o intelecto conhece averdade: de um modo natural, quando conhece a sua própria natureza, a verdade inerente [Dever.q1,a5,c] e seus verdadeiros princípios e isso, mediante a reflexão, adquirida, quando conhece averdade das coisas, mediante os seus primeiros princípios verdadeiros, por abstração e, por infusão,quando a conhece por revelação divina, direta ou indiretamente [STh.I,q60,a1,ad3]. A verdade que ointelecto adquire, ele apreende da realidade e na medida em que se confirma o ser da realidade nointelecto [STh.I,q16,a5,c]. Segundo os modos de conhecer a verdade, estabelecem-se três tipos deverdade: a verdade lógica, a verdade ontológica e a verdade eterna. A verdade lógica é a que se refere aoque resulta do juízo que o intelecto faz sobre alguma realidade, ao afirmar ou negar se ela é ou nãoverdadeira [De ver.q1,a3,c;In III Sent.d23,q2,a2,c1;In VI Met.lec4]. A verdade lógica não existeformalmente na simples apreensão, mas só no juízo. E ela existe no intelecto enquanto término doconhecimento, ou como o que é conhecido pelo intelecto [In VI Met.lec4,n.1233-1236;In III Deanima, lec11,n746;De ver.q1,a3 e 9;CG.I,59;STh.I,q16,a2,c]. Por isso, o Aquinate afirma que averdade tem o seu fundamento na coisa, mas ela se realiza formalmente na mente, quando elaapreende a coisa como ela é [In I Sent.d19,q5,a1]. Neste caso, o que mede é a mente e o medido é acoisa [In I Perrih.lec3,n29-30]. A verdade ontológica é a da coisa, enquanto ela existe em si mesma. Averdade ontológica é substancial ou acidental. A verdade ontológica substancial é a que é causa darealidade do ser [STh.I,q16,a1,c;De ver.q1,a2e4] e a verdade ontológica acidental é o efeito produzidopelo ente no intelecto, e é denominada de inteligibilidade, que é o manifestar da coisa à mente[STh.I,q16,a3,ad3]. A verdade eterna é a verdade divina que ilumina a mente humana pela revelação,ela é única e imutável [In I Sent.d19,q5,a3,ad4;STh.I,q16,a7,c]. A verdade é um valor? Sim! A verdadeé como dissemos uma valor objetivo, porque é expressão intelectiva do ser da coisa. O que é valor?Vejamos: Cada coisa e cada ação estão dotadas de uma intrínseca nobreza e grandeza, mediante asquais são dignas de estima, próprio por aquilo que são e não pelo interesse que por ela tenhamos,pelo sentimento que nos inspira, pela utilidade que nos propõe, pelo bem ou prazer que possam noscausar. Há valor na rosa e no cravo, na água e no fogo, na águia como no leão, no automóvel comono livro, na verdade como na beleza. O valor, portanto, não é o interesse, o preço que o homemmanifesta por uma coisa, o apreço por uma pessoa ou por uma ação, senão aquela grandeza, nobreza,dignidade que pertencem à coisa, à pessoa e à ação e que estão na origem do interesse e do preço.Neste sentido, valor é de certo modo um valor transcendental, porque segue o ser da coisa e o valorapelo que ela é. Não é tautológico dizer que o bem é um valor, que a verdade é um valor, pois valor sediz de um e de outro, mas não se identifica nem com um nem com outro. Há hierarquia de valores?Sim! Como vimos acima, nem todos os valores são iguais: não possuem um mesmo valor umautomóvel e um copo com água no deserto, uma vida de santidade e uma vida de perversidade. Ahierarquia dos valores se dá pela hierarquia dos graus de perfeição das coisas e pela nobreza,dignidade e importância de cada ser: há graus de perfeição do ser – o vegetal tem mais ser do que omineral, porque possui a perfeição do ser mineral e mais a vida vegetativa; o animal tem mais ser doque o vegetal, porque possui a perfeição vegetal mais a vida sensitiva e o homem tem mais ser do queo animal, porque possui a vida sensitiva e mais a intelectiva. Deste modo, há hierarquia segundo o ser,a dignidade, a importância, o interesse e a estima: um graveto não vale o mesmo que uma casa; e umlivro não vale mais que o seu autor. Portanto existem coisas e ações mais nobres e mais importantes eoutras menos nobres e importantes. Na escala de valores o máximo ser, digno, importante,

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interessante e estimado é o máximo valor: Deus, porque é o princípio de todo ser, dignidade,importância e estima [STh. I, q.2, a.3,c]. A hierarquia de valores expressa uma hierarquia de verdades?Sim! Ora, se a verdade é expressão do ser, havendo multiplicidade de seres haverá multiplicidade deverdades e havendo graus de perfeição do ser haverá igualmente graus de valor de verdade. Quantomais digno, nobre, estimado e perfeito o ser, mais digna, nobre, estimada e perfeita a sua verdade. Hágraus de ser pela perfeição de cada ser; graus de verdade segundo tais perfeições e graus de valorsegundo tais verdades. O sumo ser será a suma verdade e o sumo valor: Deus. E como em Deus ser everdade se identificam, em seu intelecto só há um ser e uma só verdade primeira e eterna [De Ver.,q.1,a.5,c], mas no intelecto humano haverá muitas verdades temporárias e mutáveis [De Ver.,q.1,a.4,c], que não são eternas, nem subsistentes por si mesmas. Sendo, pois, Deus a única verdadeeterna a que tende o intelecto [De Ver.,q.1,a.6,c]. O contrário da verdade é a falsidade. O que é afalsidade? Do mesmo modo, a falsidade que é a expressão intelectiva de inconveniência,inconformidade e inadequação do intelecto e da coisa, pela dessemelhança da coisa existente fora daalma, ela só existe na mente [STh I,q17,a4/De ver.q1,a10-11]. A falsidade pode ser: lógica, ou ainadequação do intelecto com a coisa ou ontológica, a inadequação da coisa com o intelecto[STh.I,q17,a1,c;a3,c;De ver.q1,a9,c]. O juízo em seu ato de compor ou distinguir forma a oração ouum enunciado. O que é a oração? (c) Certeza: a certeza é a firme adesão da faculdade cognitiva aoobjeto conhecido [In III Sent.d26,q2,a4;d23,q2,a2,c3], pelos princípios universais indemonstráveis[STh.I-II,q112,a5,c]. Duas coisas importam para a certeza: a adesão firme e a evidência [Dever.q14,a1,ad7;CG.III,47STh.I,q85,a6]. A certeza primeiramente, por ser um estado da mente, umapropriedade da verdade, ela é subjetiva, posto que a verdade existe na mente [In I Sent.d19,q5,a1,c],mas secundariamente, por analogia de atribuição da certeza, é objetiva, pois o nome é indicado para,também, significar o objeto. A certeza é meramente subjetiva se não se funda na certeza objetiva. Acerteza verdadeiramente subjetiva, que se funda na objetiva, é certeza formal e possui dois fundamentos: aevidência objetiva ou evidência da verdade e a autoridade, manifesta pela evidência de credibilidade. Acerteza formal distingue-se em: certeza de evidência, fundada na certeza da verdade e certeza de fé, fundadano testemunho de autoridade, manifesto pela evidência de credibilidade. A certeza de evidênciadistingue-se em: certeza absoluta ou metafísica e certeza condicionada. A certeza condicionada é certeza físicae certeza moral. A certeza metafísica é absoluta porque se funda na própria essência da coisa. A certezafísica é condicionada porque, se por um lado se funda nas leis naturais, por outro lado, sob certacondição, o milagre não descarta agir para além destes princípios. A certeza moral é condicionadaporque, se por um lado o homem é regido por suas leis morais, ordenando suas inclinações e açõespara o bem da natureza, por outro lado, sob certa condição, como pelas circunstâncias dos atos e dasinclinações, pode-se limitar sua orientação moral. A certeza de fé distingue-se em: natural, ou certezade fé humana e sobrenatural, certeza de fé divina [STh.II-II,q1,a4,c;De ver.q14,a1,c;In IIISent.d23,q2,a2,c3]. Prova-se a evidência ser o fundamento da certeza por sua infalibilidade, porque averdade lógica é inseparável da verdade ontológica do objeto. A evidência é clareza de um conceito ouproposição à mente, fundamentado em princípios universais; a evidência é propriedade da verdade, eesta, por sua vez, propriedade do intelecto, na medida em que há adequação do intelecto com a coisa[STh.I,q17,a4,c]. (e) Causa: por causa entende-se, aqui, aquilo de que algo procede como efeito ouaquilo de que, por necessidade, segue uma outra coisa [In V Met. lec.7, n.749] e influi naquilo de queé causa [In V Met. lec.1, n.751]. A causa da certeza subjetiva é a veracidade das potências cognitivas,que atestam sua reta ordenação ao conhecimento da verdade da realidade[CG.III,107;Quodl.V,a9,ad2;VIII,a3;STh.I,q78,a4,ad2;I,q85,a2,ad3], embora os sentidos externospossam errar, por acidente, na busca de tal verdade [STh.I,q17,a2,c;I,q85,a6,c;De ver.q1,a11,c]. Acausa da certeza objetiva não é nem o instinto nem as paixões, a afetividade propensa à utilidade davida, mas a evidência objetiva [In III Sent.d23,q2,a2,c3]. O ceticismo é a doutrina que coloca em dúvidaos princípios de conhecimento. O ceticismo, enquanto tal, é fisicamente impossível e formalmentecontraditório. O ceticismo é universal, quando se estende a tudo e pode ser considerado: de fato,enquanto resume-se na atitude individual de agir pondo tudo em dúvida e de doutrina, enquantoresume-se na atitude de propalar, por doutrina, a todos, os princípios da dúvida universal. Oceticismo universal factual é fisicamente impossível, pois é impossível suspender o assentimento detudo e não aceitar ao mesmo tempo alguns princípios necessários para a própria suspensão doassentimento [In IV Met.lec9,n661]. O ceticismo universal doutrinal é formalmente contraditório,porque afirma e nega ao mesmo tempo tudo que duvida, violando o primeiro princípio da nãocontradição [In IV Met.lec9,n661,lec7,n611]. O ceticismo é particular, quando se estendem a algunsprincípios. Pode ser acerca da existência do próprio sujeito, ceticismo subjetivo ou acerca da verdade doobjeto, ceticismo objetivo ou subjetivismo. (d) A oração: É uma voz significativa, cujas partes são onome e o verbo [In I Perih. lec6,n2]. A oração pode ser perfeita ou imperfeita. Diz-se perfeita quandocompleta a sentença e imperfeita quando não a completa e o seu proferimento soa sem sentido, paraquem o ouve [In I Perih. lec7,n4]. A oração perfeita pode ser: enunciativa, porque enuncia algo,argumentativa, porque argumenta e ordenativa, seja esta vocativa - reclama a atenção -, interrogativa - requeruma resposta -, imperativa - expressa uma ordem - e deprecativa - manifesta um pedido [In I Perih.lec7,n5]. A oração imperfeita pode ser: aquela em que a oração não manifesta claramente a definiçãode algo; a oração que expressa claramente a definição de algo, mas que não completa a sentença,

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como na oração: é racional; e a oração que expressa claramente a divisão dos componentes da oraçãoem gênero, espécie e diferença, como na oração: Pedro é animal racional. (e) A definição: é aexpressão da essência da coisa, que enuncia o gênero próximo e a diferença específica, porqueresponde à pergunta: o que é isso? [In VII Met. lec3,n1328; In II Anal. post. lec8,n7]. A definiçãopode ser: nominal, quando pretende dizer o que significa uma palavra - o que é especulação?; Descritiva,quando menciona as propriedades ou as partes constitutivas de algo - a água é uma substânciaincolor, inodora e insípida; genética, quando se define algo pelo modo como ela foi composta - a mulaé um híbrido do cavalo com o asno; causal, quando se define algo por sua causa eficiente ou final - aOdisséia é um poema escrito por Homero; real, quando se pretende dizer o que é uma coisa - razão éuma potência da alma [In VII Met.lec4,n1339]. As regras da definição: a definição deve ser breve, clara,precisa, evitando a vaguedade e a generalização, própria, para não confundir o definido com uma desuas espécies, como quando acontece ao dizer que o triângulo é uma figura de três lados iguais, nãocircular, para evitar conter em seus termos o definido, como quando se define a paz como a ausênciade guerra e, por fim, positiva, na medida em que se evita definir pela negação do que não é, comoocorre quando define-se o triângulo eqüilátero como não sendo o que é isósceles, nem escaleno. (f) Adivisão: é a operação lógica, por meio da qual o intelecto divide, classifica uma oração ou as suaspartes em gênero e espécies [In II Anal. post. lec14,n2; STh.I,q77,a1,ad1;I-II,q95,a4]. Em algunscasos, na divisão os gêneros dividem-se em espécies analógicas, que realizam o gênero de diversosmodos, como ocorre nos casos de tais noções: conhecimento, ciência, sabedoria etc. [Quodl. II,q2,a3; De ver.q12,a12] e em unívocas, que realizam o gênero de um único modo, como ocorrequando se toma o nome coelho para designar a uma espécie de animal e que conserva sempre estemesmo sentido. Dizem-se espécies analógicas, porque participam mais ou menos da perfeição do seugênero. Pode, inclusive, ocorrer que o mesmo gênero seja não só mais extenso que suas espécies,senão também, mais rico em sua compreensão [De ver. q12,a12]. O mesmo se diga da espécie, comrelação ao indivíduo, já que nenhum indivíduo esgota, em si mesmo, toda a perfeição que concerne àespécie [In I De cael et mundo, lec19]. No interior desta classificação emerge a oposição entre asorações, justamente, em razão da oposição entre os conceitos.

2.2.3. Lógica do Raciocínio: (a) O raciocínio: É a expressão de uma oração significativa derivada deum processo pelo qual a razão procede resolvendo, e chega aos primeiros princípios [STh.I,q79,a8,c],sendo um ato investigativo da razão [De ver.15,1,c]. (b) A proposição: é um enunciado verdadeiro oufalso que indica um significado [STh.I,q13,a12]. É uma oração constituída de nome e verbo, que podeser simples ou composta. A proposição simples é a que se limita a compor ou dividir um atributo deum sujeito. A proposição simples é, tamém, denominada categórica. A matéria da proposição são ostermos: sujeito (s) e predicado (p). A forma da proposição é a cópula ou o verbo ser: O homem (s) é(cópula) mortal (p). O conceito mortal é mais extenso que o de homem, por isso, homem (s) estácontido sob mortal (s). A proposição composta é a que se compõe de várias proposições simples,unidas entre si por uma unidade de significado. Vejamos o quadrado das oposições de proposições: aproposição universal afirmativa (A) - Todo homem é justo -; a proposição universal negativa (E) -Nenhum homem é justo; a proposição particular afirmativa (I) - Algum homem é justo -; a proposiçãoparticular negativa (O) - Algum homem não é justo. Observa-se que neste quadro as proposições seopõem: a) contraditórias: A e O; I e E; uma é a simples negação da outra e, por isso, não admitem grausintermediários. Se uma é verdadeira, a outra é falsa e vice-versa. b) contrárias: A e E; não podem ser aomesmo tempo verdadeiras, mas porque admitem graus intermediários, podem ser ao mesmo tempofalsas, como ocorre no exemplo supracitado. c) subcontrárias: I e O; não podem ser falsas ao mesmotempo, mas podem ser ao mesmo tempo verdadeiras. d) subalternas; A e I; E e O; se a universal éverdadeira, também o é a particular, mas não vice-versa; e se a particular é falsa, também o é auniversal, mas não ao contrário. Há a possibilidade de conversão das premissas: A converte-se em I;E converte-se em O [De quat. opp.]. As proposições são denominadas modais quando em suacomposição enunciam determinados modos. Por modo entende-se algo que adjetiva o nome, quedetermina o substantivo: Homem branco, ou por algum advérbio que determina o verbo: corre velozmente.Há três modos: o que determina o sujeito; que determina o verbo e o que determina a composição desujeito e predicado. Seis são os modos que determinam a composição: verdadeiro, falso, possível,impossível, necessário e contingente [De prop. mod.]. (c) A argumentação: A argumentação é umraciocínio, composta de diversas proposições, cuja conseqüência da relação entre elas, de uma e deoutra, é uma conclusão que expressa a verdade ou falsidade das proposições ou de suas ilações [Dever. q14,a2,ad9]. (d) O silogismo: O silogismo designa um tipo de argumentação. Trata-se de discursono qual, feitas afirmações, outras daí se seguem [In I Anal. post. lec1,n4; STh.I,q14,a7]. Um silogismoenvolve três proposições, duas premissas e a conclusão. Os termos do silogismo são os sujeitos epredicados dessas proposições e devem ser três. O sujeito da conclusão é o termo menos, indicadopor t e o predicado da conclusão é o termo maior, indicado pot T. Cada termo aparece exatamenteduas vezes. O terceiro termo que estabelece o vínculo entre t e T é denominado termo médio,indicado por M. A premissa que contém T é denominada de premissa maior e por convenção sempreé mencionada em primeiro lugar. Em segundo lugar aparece a premissa menor, na qual ocorre t. Aconclusão, envolvendo t e T, não envolvendo M, é mencionada em terceiro lugar: Todos os livros são

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úteis; algumas coisas úteis são agradáveis; alguns livros são agradáveis. É a indução o princípio doraciocínio que estabelece no silogismo o processo de ir-se do sensível ao inteligível, das verdadesparticulares a uma verdade universal [In I Anal. post. lec1, n3]. É a dedução o raciocínio que vai dosprincípios universais a enunciados sejam particulares ou universais. É sinônimo de paragogia. Peladedução dos princípios se investiga o conhecimento da verdade [S.Theo.II-II,q.180,a3,c]. As leis dosilogismo são: possuir três termos; o termo médio deve ser tomado sempre no mesmo sentido; otermo médio deve ser usado ao menos uma vez; os extremos não podem possuir na conclusão maisuniversalidade que nas premissas; a conclusão segue a premissa mais débil; nada se conclui daspremissas particulares e nada se segue das premissas negativas. O silogismo tem sempre a mesmaestrutura essencial, mas admite certa complexidade, segundo os diversos modos de predicação eacepção dos termos e, por isso, pode-se construir de muitas maneiras. Esta complexidade se dá pelasfiguras e modos. As figuras do silogismo são as formas que revestem o silogismo, segundo a posiçãoque o termo médio ocupe nas premissas. Há quatro figuras: 1° Figura: M é P/S é M/ S é P; 2° Figura:P é M/ S é M/ S é P; 3° Figura: M é P/ M é S/ S é P; 4° Figura: P é M/M é S/ S é P. Modos são asconfigurações de cada figura, conforme as premissas sejam A, E, I, O. As combinações possíveisdestas 4 proposições numa figura de três proposições são 64, que para as 4 figuras dá um total de 256possibilidades. Os lógicos medievais os denominavam com regras mnemônicas: cada caso legítimorecebe um nome, cujas três vogais indicam o tipo de proposição da premissa maior, menor e aconclusão. Barbara indica, por exemplo, que partindo de duas premissas A-A, conclui-se A. Daí osexemplos: 1° Figura: Barbara, Celarent, Darii, Ferio/2° Figura: Cesare, Camestres, Festino,Baroco/3° Figura: Darapti, Felapton, Disamis, Datisi, Bocardo, Ferison/4° Figura: Bamalip,Camenes, Dimatis, Fesapo, Fresison. O silogismo completo e entimema, reto e oblíquo, afirmativo enegativo, simples e composto, absoluto e modal, apodítico, provável e errôneo. Pode ser, também,hipotético e este, por sua vez, condicional, disjuntivo e conjuntivo. Um silogismo construídodeliberadamente a fim de induzir ao erro é um sofisma. (e) Os sofismas: O sofisma é um raciocíniofalacioso. Por falácia entende-se uma argumentação não dedutivamente legítima, raciocíniosincorretos, caso em que recebem o nome genérico de falácias. O sofisma é um tipo de falácia [Defallaciis, c3]. (f) A disputa: A disputa escolástica é uma disputa que observa a forma, o rigor silogísticopara a demonstração de um raciocínio, tanto para defender, quanto para argüir.

2.3. Lógica Material: Já vimos em outro lugar que a parte da Lógica que considera os predicáveis eos predicamentos denomina-se Lógica Material. Analisemos, pois, os seus principais temas e questões.

2.3.1. Lógica Predicamental: (a) Os predicáveis - modos lógicos universais predicáveis dos conceitos:Os universais lógicos dividem-se em cinco predicáveis. No âmbito do conhecimento universalproduz-se, devido ao modo peculiar de conhecer, um desmembramento das idéias, por exemplo,animal divide-se em racional e irracional, e uma interna hierarquia entre elas. Alguns conceitosincluem-se em outros, por exemplo, ouro implica metal, liberdade implica vontade, elaborandogrupos de noções opostas, como cegueira e visão, virtude e vício. Tudo isso supõe a existência derelações lógicas complexas entre os conceitos, que devem exprimir a complexidade do real.Denominam-se predicáveis os distintos modos de atribuir um conceito a um sujeito, com relação aalguma característica sua: branco é acidente com relação a homem, mas é uma propriedade específicade neve. Os predicáveis são tipos universais desde o ponto de vista de sua predicação. São: o gênero[animal], a espécie [homem], a diferença [racional], o próprio [rir] e o acidente [músico]. O gênero é umdos cinco predicáveis e é parte da definição [S.Theo.I,q3,a5,c] e é o que indica uma parte da essênciacomum a outras espécies [De ente et ess. c.3;STh.I,q85,a3,ad2], como por exemplo, o viver ditocomumente de Pedro e do vegetal. A espécie é o predicável que significa a essência completa doindivíduo [STh.I,q13,a9], em que inclui a totalidade de suas características definidoras. A espécie é oque é constituído pelo gênero e pela diferença [STh. I,q3,a5], mas indica também no contextognosiológico a imagem intencional com a qual a mente conhece as coisas [STh.I,q.85,a2]. A diferença éo predicável que significa a característica própria da espécie, que a distingue de outra [In V Met.lec12,n916; In X Met. lec4, n2017; STh.I,q3,a8,ad3;CG.I,17]. A diferença é o que constitui a espécie[STh.I,q50,a2,c]. O próprio é o predicável que convém a espécie e a todos os indivíduos desta espécie.Mas pode-se dizer, também, que o próprio é o predicável que indica algo que não é da essência, masque necessariamente deriva dela. É um acidente necessário. Alguns próprios são exclusivos daespécie, outras são comuns de várias espécies. Há o próprio individual, causado por princípiosindividuais. O próprio tem grande importância, porque muitas vezes, o conhecemos antes doconhecimento da essência. O próprio é o que convém a um só [In I Sent.d8,q1,a1]. Nem tudo que épróprio de algo, pertence a sua essência, como risível dito do homem [In II Anal. Post. lec3, n.2]. Oacidente lógico é um predicável que indica uma característica de um sujeito, que não resultanecessariamente de sua essência. Para o homem é acidental ser músico, para o governante é acidentalser desportista, mas não o é ser justo. Denomina-se acidente lógico devido a seu caráter predicável eseu vínculo com a essência, pois o fato de que um certo médico seja aficionado à música é real [Deanima, a12,ad7;De Spir. creat. a11]. (b) Os predicamentos - modos lógicos universais substancial eacidental dos conceitos: considerando o universal formalmente, em razão de sua intencionalidade

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universal, nas relações lógicas, têm-se os cinco predicáveis, mas considerando o universalmaterialmente, em razão daquilo que é o sujeito da intencionalidade universal, na relação dapredicação real, tem-se os dez predicamentos. O ente divide-se em substância e nove predicamentos,ou categorias acidentais que se dizem da substância [In III Phys. lec5; In V Met.lec9] e que sedistinguem entre si, segundo o modo de predicar. (c) A substância: Denomina-se substância o ente quesubsiste e existe em ato, por isso, ente se diz primeira e propriamente da substância [In III Met.lec.12, n.488-493]. A substância é a base, o fundamento, o sujeito, o suposto para tudo que exista noente ou se diga do ente [In III Sent. d23,q2,a1,ad1], porque é antes o que existe por si e subsiste aparte de tudo que exista nele ou que se predique dele [In IISent.d37,q1,a2,c/STh.I,q6,a4,c/CG.I,25/CG.II,52]. Diz-se substância primeira a que existe de modoindividal, fora da mente como este homem que é Pedro, este cavalo que é campeão, esta árvore que éum abacateiro; e substância segunda a que existe, de modo universal, na mente, fruto da abstração -operação própria do intelecto - que abstrai toda materialidade do real, suas notas individuais, quandoa concebe, como quando se concebe homem, animal e vegetal [In I Sent.d25,q1,a1,ad7]. Divide-se emsubstância simples a que não se compõe com nada e substância composta que se compõe com outra, comoa de matéria e forma ou de ato e potência [STh.I,q75,a7c;CGIII,20], em substância divina e substânciacriada [Sth.I,q13,a7;CG.I,3]. A substância divina é a substância imóvel ou eterna e simples [In XII Met.lec12, n.2424-2427]. As substâncias criadas são as substâncias móveis. As substâncias criadas podem serainda denominadas: substância sensível incorruptível ou substância inanimada as que são como os astros, oscorpos naturais, como os minerais, substância sensível corruptível, ou substância animada as que são como asplantas e os animais [In XII Met. lec12, n.2424-2427], substância racional ou intelectiva dita a substânciahomem [STh.I,q108,a5,c;q29,a1,c;CG.II,44;III,110], substância separada ou angélica, a que existe comoanjo [In XII Met. lec12, n.2424-2427]. Diz-se substância completa ou perfeita a que não depende deoutra para ser o que é, como a substância separada, mas diz-se substância incompleta ou imperfeita a quenecessita unir-se a outra para existir completa, como a mão em relação ao corpo[STh.III,q2,a2,ad3;I,q75,a4,ad2;CGII,55]. (d) Os acidentes: Denomina-se acidente o ente que não existe,nem subsiste por si, senão em outro [STh.I,q77,a1,ad5;q28,a2,c;Quodl.IX,q3,a5,ad2;In IVSent.d12,q1,a1,ad2;De pot.q8,a2,c]. O que significa existir em outro? Existir em outro não significa aexistência por acomodação ou justaposição, ou seja, a existência daquilo que se acomoda ou sejustapõe a outro, enquanto em si mesma é parcialmente autônoma e, portanto, parcialmenteindependente. O acidente não é nem autônomo, nem independente parcial ou totalmente frente àsubstância. De fato, o acidente não existe fora da substância. Mas isso não impede que o nossointelecto assim possa pensá-lo. Pode o nosso intelecto pensar a cor verde como algo acidental damaçã, já que não é necessário que toda maçã seja por essência verde. É neste sentido que o intelectopensa certas propriedades das substâncias como lhe sendo acidentais, ou seja, não lhe são essenciais enecessárias. Na substância há os acidentes naturais ditos assim porque existem nas substâncias, noscorpos naturais. Na mente após abstração e só nela, há os acidentes lógicos ou predicáveis, que resultam daconsideração e abstração do intelecto sobre as propriedades das substâncias. São ditos predicáveisporque resultam de uma relação lógica de predicação que o nosso intelecto estabelece entre osconceitos. Nosso intelecto quando conhece e concebe conceitos predica uns dos outros. Assim,nosso intelecto desmembra do conceito de homem, os conceitos de animal e racional e os classificasegundo uma distinção mental, sendo denominados predicáveis porque são ditos predicados doconceito de homem. Deste modo os conceitos de animal e racional, que são desmembrados doconceito de homem, são classificados segundo uma relação lógica que o nosso intelecto faz segundouma distinção mental em gênero, espécie, diferença, próprio e identidade. Vejamos, pois, cada umdos cinco predicáveis. O primeiro predicável é a espécie, que é um dos cinco predicáveis que representaa essência completa do indivíduo e que é indicada na definição [In VII Met. lec5,n1378], não égênero, nem diferença, mas o princípio deles [In VII Met. lec5,n.1378-1379] e o que nas substânciascompostas significa a composição de matéria e forma [In VII Met.lec9,n.1469] e no homem acomposição de corpo e alma. Por isso a espécie é dita humana. Assim, a espécie é homem. O segundopredicável é o gênero que é um dos cinco predicáveis que indica uma parte da essência, comum aoutras espécies, como animal dito do homem e do cavalo; portanto o gênero forma parte da definiçãoque se dá a uma realidade conhecida [S.Theo.I,q3,a5,c]. O terceiro predicável é a diferença que é umdos cinco predicáveis que indica a nota específica que diversifica no interior do gênero uma coisa deoutra, como a racionalidade no gênero animal [STh.Iq3,a5,c;q31,a2,ad2;q50,a4,ad1]. Esta diferença é arazão. O quarto predicável é a identidade que é o oposto da diferença [STh.I,q40,a1,ad2]. O quintopredicável é o próprio que é um dos predicáveis que se diz só daquele que convém e não é necessárioque pertença à sua essência, como o riso do homem [In I Sent.d8,q1,a1;In II Anal.lec3]. Os acidentesnaturais, ou seja, que existem nas substâncias naturais e que são concebidos pelo intelecto sãodenominados em sua consideração lógica de predicamentos ou categorias, mas enquanto tais existemrealmente na substância. Como Aristóteles, o Aquinate estabelece nove categorias de acidentes dasubstância. A primeira categoria é denominada quantidade, na medida em que é o primeiro acidenteque existe na substância natural, de tal maneira que não existe substância natural que não possua aquantidade como extensão, magnitude, pela qual a substância seja pequena ou grande, leve ou pesadaetc. Suas notas são: segue a matéria na substância, a divide e a multiplica, é sujeito da qualidade

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[SThI,q28,a2,c;In I Phys.lec3;In V Met.lec15; In III Phys.lec5]. A segunda categoria é denominadaqualidade, na medida em que é o acidente que segue a quantidade e que a modifica intrinsecamente e,por conseqüência, a própria substância, sem que com isso a substância deixe de ser o que é, mas queseja capaz de apresentar, não ao mesmo tempo, figuras diferentes, propriedades extensivas diferentes,como calor, cor etc. [SThI,q13,a1,ad3;q28,a2,c;In III Phys.lec5;In I Sent.d22,q1,a1,ad3]. A terceiracategoria é denominada relação, na medida em que se diz não intrinsecamente da substância, mas dareferência ou ordenação de uma substância ou de um acidente da mesma com outra substância ouacidente da mesma ou de outra substância, como por exemplo, entre substâncias: filiação,paternidade; entre acidente e substância: o branco desta neve; entre acidentes da mesma substância oazul do mar é diferente aqui e lá; entre acidentes de substâncias distintas: o verde da folha dalaranjeira é diferente do verde da fola do abacateiro [SThI,q28,a2-4;In III Phys.lec1;In IVSent.d27,q1,a1]. A quarta categoria é denominada ação enquanto é na substância princípio agente demovimento da substância em outro sujeito como, por exemplo, aquecer, lançar uma bola etc.[SThI,q41,a1,ad2;CGII,9]. A quinta categoria é denominada paixão, enquanto é na substância oprincípio passivo de atividade de outro sujeito como, por exemplo, ser aquecido, ser lançado etc.[CGIV,66;In III Phys.lec6;SThII-II,q171,a2,c;]. A sexta categoria é denominada lugar, na medida emque se refere o espaço comum que uma substância pode ocupar com relação a outras substânciascorpóreas adjacentes como, por exemplo, este espaço aqui, aquele espaço ali etc.[SThI,q76,a5;I,q33,a2;q36,a2;In III Pys.lec3;In V Met.lec9]. A sétima categoria é denominada posição efaz referência ao modo como a substância está no lugar como, por exemplo, na vertical, nahorizontal, etc. [SThI,q3,a1;In IV Phys.lec7;Quodl.III,q3,a3,c;]. A oitava categoria é denominada possee faz referência à substância ter ou não algo contigüo a si como, por exemplo, estar coberto ou não,usar caneta etc. [SthI,q49,a1,c;SThIII,q2,a6]. A nona categoria é denominada tempo e faz referência àmedida do movimento da substância, de sua duração temporal corpórea como, por exemplo, ontem,hoje, amanhã etc. [STh.I-II,q31,a2,c;In IV Sent.d49,q3,a1,c;In IV Phys.lec20].

2.3.2. Lógica Demonstrativa: (a) A demonstração: A demonstração é um silogismo categórico, pormeio do qual se conhece certo e verdadeiramente, pela causa [De demonstratione, n1; In I Anal.post.lec4,n9]. Os princípios de demonstração são comuns a todas as concepções [In III Met. lec.5,n.387]. O princípio de demonstração não pode ser demonstrado [In IV Met. lec.15, n.710]. Ademonstração pode ser da natureza - quia - ou da causa - propter quid. A demonstração que diz anatureza de algo, demonstra o seu ser e a sua verdade. A demonstração que diz a causa de algo,demonstra a causa próxima ou remota de algo, seja ela física ou metafísica. [In I Anal. post.lec23,n1;In II De anima, lec3,n253; De anima, a17; In VIII Phys. lec21,n8]. A conclusão é deduzida dasverdades pré-concebidas, em cujos princípios a sua veracidade se encontra virtualmente. Trata-se deuma nova verdade extraída das verdades das premissas precedentes, de cujas emana a verdade dapremissa conclusiva [In I Anal. post. lec2, n1]. A demonstração se fundamenta na evidência dosprimeiros princípios. Para o Aquinate princípio significa aquilo de que algo procede e que contribuipara a produção e demonstração de qualquer coisa [STh.I q33 a1, c]. Segundo o Aquinate, estáinscrito na natureza intelectiva do homem o hábito dos primeiros princípios teóricos, também conhecidoscomo hábitos dos primeiros princípios do conhecimento. É a partir do uso do hábito dos primeirosprincípios que se intui o hábito dos primeiros princípios da demonstração do conhecimento. Por talintuição não somente se aperfeiçoa a inteligência como, também, a inclina para o conhecimento daverdade universal. Tal exercício dispõe a virtude intelectual especulativa dos hábitos dos primeirosprincípios [STh. I-II,q57,a1]. A tal intuição do primeiro princípio de demonstração, segue-se aconcepção do ente, como aquilo que é, e do não-ente, como aquilo que não é. Tal concepção énecessária e a constatação do princípio é evidente para o intelecto, quando concebe o ente. Estaevidência conclama o estabelecimento da existência do primeiro princípio do conhecimento,denominado princípio de contradição, ou princípio da não-contradição, este que não precisa serdemonstrado, porque é antes o que demonstra tudo mais que o intelecto concebe e que marca aoposição por contradição entre coisas que são e as que não-são [STh.I-II,q35,a4,c], entre o universal eo particular [STh.I-II,q.77,a2,ob3] e entre a afirmação e a negação [In I Peri. c.16], de cuja oposição sesegue o corolário de que é impossível afirmar e negar ao mesmo tempo [STh.I-II,q94,a2] e que o ente é e nãoé, simultaneamente, uma mesma realidade [In IV Met. lec.6]. Do primeiro princípio da contradição,no qual todos os demais princípios se fundamentam [STh.I-II,q94,a2;De ver.q5,a2,ad7], seguem-se oprincípio de identidade, que afirma que o ente é o que é [STh.I,q13,a7], o princípio do terceiro excluído, quesustenta não haver um meio termo entre ente e não-ente [STh.I-II,q94,a2;De ver.q5,a2,ad7], oprincípio de causalidade, que afirma toda causa produzir um efeito proporcional [In IVSent.d1,q1,a4;STh.I,q79,a13] e o princípio de finalidade, que sustenta que todo agente opera por causa deum fim [In I Sent.d35,q1,a1]. Como conseqüência da reta e verdadeira demonstração emerge aciência. (b) A ciência: A ciência é a reta razão das especulações [STh.I-II,q56,a3,c] ou o conhecimentocerto e verdadeiro de algo, por sua causa [CG.I,94]. Ciência é o conhecimento certo pelas causas, ouseja, segundo a demonstração propter quid. A ciência resulta da demonstração de algum conhecimentopor suas causas, oriunda da aplicação certa e eficiente dos hábitos dos primeiros princípios [In I Anal.post.lec36]. Neste sentido a ciência é um hábito [STh.I,q14,a1]. É o intelecto que demonstra, portanto

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a ciência está no intelecto [In I Phys.lec1]. Se a ciência é o que resulta de uma demonstração, elamesma é uma conclusão de algum conhecimento pela causa [STh.I,q14,a1,c; STh.I-II,q53,a1,c]. Emúltima instância, a ciência não é outra coisa senão a descrição inteligível na alma, das coisas sensíveis[De ver.q2,a1;q11,a1]. Não há ciência do singular, senão só do universal [In I Anal. post.lec42 e 44].A ciência é essencialmente especulativa, mas as artes, habilidades que são essencialmente práticas sãodenominadas analogicamente, ciências. A reta razão de fazer e agir não deixam de ser conhecimentocerto pelas causas e, por isso, são analogicamente denominadas de ciências In III De anima,lec15,n820; In II Met.lec2,n290; In VI Etica,lec2,n1129;De ver.q3,a3,c; STh.I,q14,a16;q79,a11;I-II,q57,a3-5]. A ciência especulativa divide-se em três categorias ou sub-espécies: a física, que trata doente móvel abstraído de suas condições individuais [dela derivam: cosmologia, antropologia,psicologia, ética, química, mineralogia, botânica, zoologia]; a matemática, que trata do ente estáticoabstraído não só da matéria singular, senão, também, da matéria sensível [dela derivam: a geometria ea aritmética] e, por fim, a teologia, que considera o ente abstraído absolutamente da matéria, ou doente absolutamente imaterial [dela derivam: lógica, metafísica e a teologia da fé] [In VIMet.lec1,n1166; In I Phys.lec1,n1].

3. Léxico da Lógica: Vejamos, pois, a contribuição tomista colocando em evidência suas principaisdefinições:

Léxico de Lógica

Abstração

Designa em seu sentido lógico o mesmo que resolução. Designa a universalidadeda coisa ou a sua natureza [S.Theo. I,85,a.2,ad.2]. Torna as formas inteligíveis emato [C.G.1,44]. É dupla: uma, o universal do singular, outra, a forma da matéria[S. Theo. I,40,a.3,c].

AfirmaçãoÉ a enunciação acerca de algo. É composição [In I Peri. lec.8]; e negação não sãosimultâneos [De pot.q.1,a3]; é anterior à negação [S. Teo.II-II,122,a.2,ad1]; écausa da afirmação [C.G.3,39].

Anagogia É o mesmo que redução [In VI Met. lec.3].

Analogia

Em Tomás tem fundamental valor e uso. É comparação por proporção[S.Theo.I,13,a5,c]; em analogia é necessário que o nome segundo um significadoaceito é posto na definição do mesmo nome com outro significado[S.Theo.I,13,a10,c]. Análogo se diz de algo que comumente se aplica a muitos [InI Sent.22,1,3,ad2].

Analítico

Designa em Tomás o processo da razão pela necessidade de induzir de tal modoque não seja possível haver falsidade da verdade, e por meio deste processo darazão a ciência adquire certeza, e porque não se pode ter um juízo certo acercados efeitos, a não ser reduzindo aos primeiros princípios, esta operação éanalítica, isto é, ciência resolutória [In I Anal. 1]. É o processo de demonstração[In I Anal. 33].

Argumentação

É a oração significativa do discurso da razão [S.Theo,I-II,q.7,a1]. É de quatroespécies: silogismo, entimema, indução e exemplo [S.Theo.I-II,90,a1]. Há umaespécie dita local [De falaciis, 2]. Argumento é o processo da razão que vai damanifestação das coisas mais evidentes às menos evidentes [In IIISent.23,2,1,ad4]. Argumento é o que induz à manifestação da verdade[S.Theo.III,q.55,a5,c].

Categoria

Diz-se categoremático o que coloca o significado de algo em algum sujeito,como branco dito de homem [S.Theo.I,31,a3,c]. É predicado como afirmaAristóteles em Categorias [S.Theo.I-II,q100,a6,ob2]. Categórica é a proposiçãopredicativa [In I Peri. 8;C.G.1,67].

Compreensão É o que importa uma plenitude de conhecimento da parte da coisa conhecida[S.Theo.II-II,q28,a3,ad3].

Concepção É sinônimo de compreensão [C.G.4,11].

Conceito Verbo mental, ato do intelecto [S.Theo.I,q.34,a1,c/q.107,a1.c]. Significa a voz dointelecto [S.Theo.I,q34,a1,c].

ContradiçãoÉ princípio de oposição [S.Theo.I-II,q35,a4,c]. É a oposição que há entreuniversal e particular [S.Theo.I-II,q.77,a2,ob3]. Consiste na remoção daafirmação pela negação e a oposição desta àquela [In I Peri. c.16].

Dedução É sinônimo de paragogia. Pela dedução dos princípios se investiga oconhecimento da verdade [S.Theo.II-II,q.180,a3,c].É o que se significa pelo nome [S.Theo.I,q29,a4,ob3]. É a determinação de algo

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Definição [S.Theo.I,q85,a1,ob2]. É a conclusão da demonstração ou a demonstração doprincípio [STh.I,q3,a5,c].

Demonstração É uma espécie de argumentação [De ver.2,4,ad5]. A ciência é o seu efeito [In IVMet. lec.4].

Dialética É um tipo de silogismo [S.Theo.I-II,q67,a3,ob3]. É um processo da razão queinvestiga a verdade, a partir de proposições plausíveis [S.Theo.II-II,q48,a1,c].

Enunciado É sinal de composição ou divisão no intelecto [S.Theo.I,q58,a4,ob3]. Enunciaçãoé oração [In I Peri. 7].

Equivocação

É a indução de significar várias coisas por um mesmo nome [C.G.4,49]. Ésinônimo de ambigüidade, onde se toma a similitude entre as realidades, mas aunidade do nome [C.G.1,33]. Equívoco diz-se da não proporcionalidade entre onome e a essência, ou seja, o nome é comum, mas as substâncias diversas[S.Theo.I,q4,a2,c].

Extensão É sinônimo de amplificação [S.Theo.I,q14,a1,c].Falácia É o dolo, engano pela palavra [S.Theo.II-II,q118,a8,c].

Falsidade É o que se opõe ao verdadeiro [S.Theo.I,q17,a1,c]. É a inadequação do intelectocom a realidade [De ver.1,10,c].

Gênero É um dos cinco predicáveis. É parte da definição [S.Theo.I,q3,a5,c].Identidade É o oposto da diferença [S.Theo.I,q40,a1,ad2].

JuízoÉ o que pertence ao intelecto [S.Theo.II-II,q83,a3,ad2]. Verdadeiro quando julgaa coisa ser o que ela é e falso quando julga a coisa ser o que ela não é [S. Theo.II-II,q51,a3,ad1].

LógicaÉ a arte necessária diretiva da própria razão, por meio da qual o homem procedeno conhecimento da verdade evita o erro [In I Per. 1]. É a ciência da razão[S.Theo.I-II,q90,a1,ad2].

Nome É um sinal que significa a substância [S.Theo.I,q13,a1]. É uma das cinco coisasque caem na definição; é um signo da intenção do intelecto [S.Theo.I-II,q.7,a1,c].

ParalogismoÉ falsa conclusão ou silogismo aparente [In I Anal. 22]. Causa a ignorância e opecado [n.1049]. É efeito de ação [n.1056]. Pertence à parte sensitiva[nn.595,1571,1604,1873,2114].

Predicamento É sinônimo de categoria [In V Met. lec./S.Theo.I,q.5,a6,ob6]. Predicação é atodo intelecto de compor e dividir [S.Theo.I,q41,a3,ob1].

Proposição É parte da enunciação [S.Theo.I,q14,a13,c].

Raciocínio É processo pelo qual a razão procede resolvendo e chega aos primeirosprincípios [S.Theo.I,q79,a8,c]. É a investigação da razão [De ver.15,1,c].

Significado É o que expressa a essência de algo [S.Theo.I,q1,a10,c].Signo É aquilo pelo que se chega ao conhecimento de outra coisa [S.Theo.III,q60,a4,c].

Singular É o que não se predica de nada [S.Theo.I,q11,a3,c]. É o que não pode serdefinido [S.Theo.I,q29,a1,ad1].

Universal É o que é predicado de muitos e é o que resulta da abstração da matériaindividual [S.Theo.I,q29,a6,c].

UnívocoDiz-se do nome que significa uma mesma essência, que se diz de uma únicanatureza, ou seja, a conveniência do nome com a natureza[S.Theo.I,q5,a6,ad3/q13,a10,c/In II Sent. 22,1,3,ad2]

Verdade Existe principalmente no intelecto [S.Theo.I,q16,a1,c]. É a adequação dointelecto e da coisa [De ver.1,1]. É só perceptível pela mente [In I Sent.19,5,ob4].Tem fundamento no real [In I Sent.19,5,1,c].