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Introdução O transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é uma terapia cada vez mais utilizada no tratamento de doenças hematológicas, malignas e não malignas. A quimioterapia em altas doses é o princípio básico deste tratamento e tem a mieloablação como consequência, com períodos variáveis de pancitopenia grave cujos efeitos podem ser amenizados com suporte clínico e transfusional. A terapia transfusional se baseia principalmente na profilaxia e tratamento de manifestações hemorrágicas e dos sintomas de anemia, bem como na prevenção da aloimunização na fase pré-transplante, o que pode contribuir para o sucesso do transplante. 1 Princípios Gerais Todos os componentes sanguíneos, incluindo unidades plasmáticas e crioprecipitado, devem ser transfundidos após passarem por um filtro capaz de reter coágulos sanguíneos, fibrina e outros macroagregados. O equipo padrão de transfusão já apresenta “in line” um filtro com poro de 170 – 260 micra, capaz de reter estes agregados. Filtros para redução de leucócitos agem por afinidade entre a carga da superfície do filtro e os leucócitos da unidade, mas também são capazes de reter macroagregados. Portanto, a leucorredução no momento da transfusão (bed-side) é suficiente para reter macroagregados e por isso não necessita ser utilizado em conjunto com equipo padrão de transfusão. Por outro lado, hemocomponentes leucorreduzidos pré-estoque devem obrigatoriamente ser transfundidos com a utilização de equipos com filtros. 2 O único fluido de utilização intravenosa que pode ser administrado em conjunto com a transfusão de hemocomponente é a solução salina isotônica 0,9%. Ringer Lactato não pode ser utilizado por conter cálcio e, consequentemente, poder deflagrar a coagulação do sangue. A infusão concomitante de solução salina hipo ou hipertônica ou de solução glicosada resultará em hemólise. Da mesma forma, medicamentos não podem ser

Introdução - SBTMO · como consequência, com períodos variáveis de pancitopenia grave cujos efeitos podem ser amenizados com suporte clínico e transfusional. A terapia transfusional

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Page 1: Introdução - SBTMO · como consequência, com períodos variáveis de pancitopenia grave cujos efeitos podem ser amenizados com suporte clínico e transfusional. A terapia transfusional

Introdução

O transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é uma terapia cada vez

mais utilizada no tratamento de doenças hematológicas, malignas e não malignas. A

quimioterapia em altas doses é o princípio básico deste tratamento e tem a mieloablação

como consequência, com períodos variáveis de pancitopenia grave cujos efeitos podem ser

amenizados com suporte clínico e transfusional. A terapia transfusional se baseia

principalmente na profilaxia e tratamento de manifestações hemorrágicas e dos sintomas de

anemia, bem como na prevenção da aloimunização na fase pré-transplante, o que pode

contribuir para o sucesso do transplante.1

Princípios Gerais

Todos os componentes sanguíneos, incluindo unidades plasmáticas e

crioprecipitado, devem ser transfundidos após passarem por um filtro capaz de reter

coágulos sanguíneos, fibrina e outros macroagregados. O equipo padrão de transfusão já

apresenta “in line” um filtro com poro de 170 – 260 micra, capaz de reter estes agregados.

Filtros para redução de leucócitos agem por afinidade entre a carga da superfície do filtro e

os leucócitos da unidade, mas também são capazes de reter macroagregados. Portanto, a

leucorredução no momento da transfusão (bed-side) é suficiente para reter macroagregados

e por isso não necessita ser utilizado em conjunto com equipo padrão de transfusão. Por

outro lado, hemocomponentes leucorreduzidos pré-estoque devem obrigatoriamente ser

transfundidos com a utilização de equipos com filtros.2

O único fluido de utilização intravenosa que pode ser administrado em conjunto

com a transfusão de hemocomponente é a solução salina isotônica 0,9%. Ringer Lactato

não pode ser utilizado por conter cálcio e, consequentemente, poder deflagrar a coagulação

do sangue. A infusão concomitante de solução salina hipo ou hipertônica ou de solução

glicosada resultará em hemólise. Da mesma forma, medicamentos não podem ser

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infundidos na mesma via e de maneira concomitante com a transfusão de componentes

sanguíneos. Se houver necessidade de administração de algum medicamento durante a

transfusão, esta deve ser realizada em acesso venoso diferente daquele que está sendo

utilizado para transfusão. Exceção deve ser feita aos cateteres de duplo lúmen, inseridos em

veias de alto fluxo, que permitem a infusão simultânea de fluídos sem que haja mistura

entre os mesmos.2

A transfusão rápida de grandes volumes de sangue refrigerado pode levar à

arritmias e parada cardíaca. Aquecedores de sangue podem ser utilizados em situações de

emergência quando a velocidade de transfusão necessita ser superior a 100 ml por minuto.

Nestas situações, certificar-se de que o aquecedor utilizado garanta a temperatura adequada

ao hemocomponente. Aquecimento exagerado de componentes sanguíneos pode levar à

hemólise.

Antes da transfusão de um hemocomponente, os seguintes testes devem ser realizados2

➢ Determinação do tipo sanguíneo ABO e Rh (D) em amostra do receptor. Se necessário,

outros antígenos eritrocitários do receptor também devem ser determinados;

➢ Pesquisa de anticorpos eritrocitários irregulares em amostra de soro ou plasma do

receptor;

➢ Confirmação do tipo sanguíneo ABO /Rh do hemocomponente a ser transfundido;

➢ Teste de compatibilidade entre as hemácias do doador e o soro ou plasma do receptor

(no caso de transfusão de sangue total, concentrado de hemácias, concentrado de

granulócitos, concentrado de linfócitos ou de células progenitoras hematopoéticas).

Para transfusão de componentes plasmáticos, crioprecipitado e concentrado de

plaquetas não há necessidade da realização deste teste, a menos que o hemocomponente

a ser transfundido tenha um volume eritrocitário igual ou superior a 1 ml.

Transfusão de Concentrado de Hemácias

O Concentrado de Hemácias (CH) é obtido a partir da remoção do plasma de uma

unidade de sangue total ou através de coleta automatizada. Cada unidade tem um volume

aproximado de 280 ml. A concentração mínima de hemoglobina no componente é de 45

g/unidade e o Hematócrito varia de 65-80% se coletado em CPDA-1 e de 50-70% se

coletado com uma solução aditiva (AS). Deve ser estocado à temperatura de 4 ° C ± 2° C.

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O tempo de estoque varia de acordo com a solução anticoagulante / criopreservante

utilizada. Para CPDA-1, o tempo de estoque é de 35 dias. Se houver adição de uma solução

aditiva o tempo de estoque pode ser estendido para 42 dias.

A transfusão de CH tem como principal objetivo restaurar a capacidade de transporte

de oxigênio reduzida em decorrência de queda da hemoglobina (Hb) no sangue. No

entanto, a literatura não define um valor único de hemoglobina que possa ser utilizado

como gatilho transfusional de CH. As seguintes condições devem ser consideradas no

momento da indicação de uma transfusão de CH: A anemia é aguda ou crônica? A anemia é

sintomática? O paciente apresenta doença cardiovascular ou respiratória associada? O

paciente está séptico ou apresenta sangramento ativo? A anemia está retardando a

recuperação do paciente?3

Muito embora atualmente tenha sido utilizada uma conduta cada vez mais restritiva em

termos de indicação de transfusão de CH em pacientes assintomáticos no sentido de

transfundir apenas os pacientes com Hb ≤ 7,0 g/dl, um nível de hemoglobina entre 7-9 g/dL

pode ser utilizado como gatilho para transfusão de hemácias em pacientes submetidos a

transplante de medula óssea, desde que assintomáticos e sem outras morbidades. Por outro

lado, pacientes com doença cardiopulmonar, insuficiência coronariana, doença vascular

periférica, Diabetes Mellitus, infecção associada ou qualquer outra situação que diminua a

tolerância à anemia, devem ser transfundidos quando a hemoglobina for igual ou inferior a

9-10 g/dL. Na presença de sintomas cardiopulmonares ou de baixo débito decorrentes da

anemia a transfusão de concentrado de hemácias deve ser realizada, independentemente do

nível de hemoglobina.1,3

Em geral, em um adulto, a transfusão de uma unidade de concentrado de glóbulos

vermelhos eleva o Hematócrito em 3-4% e o nível de hemoglobina em 1-1,2 g/dl. O

concentrado de hemácias deve ser submetido à irradiação gama para prevenção da Doença

do Enxerto Contra Hospedeiro Transfusional e, sempre que possível, leucorreduzido para

prevenção de alo-imunização e da transmissão de CMV.

Transfusão de Concentrado de Plaquetas

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A transfusão de plaquetas é utilizada na prática clínica para prevenir ou tratar

manifestações hemorrágicas em pacientes com trombocitopenia pós-tratamento

mieloablativo e/ou transplante de medula óssea.4 A disponibilidade de concentrados de

plaquetas a partir da década de 60 reduziu a mortalidade por sangramento em pacientes

com leucemia aguda. Apesar do avanço considerável nos últimos anos, controvérsias

persistem com relação ao gatilho transfusional, dose ideal e transfusão profilática ou

terapêutica de plaquetas.5 A administração em pacientes sem evidência de sangramento

ativo, ou seja, transfusão profilática de plaquetas, é a estratégia padrão na prática clínica

desde os anos 70. Esta conduta foi determinada fundamentalmente por estudos

observacionais não randomizados e contagem plaquetária inferior a 20.000/mm3 passou a

ser indicativa de transfusão profilática.6 Ao longo da década de 90 vários estudos

retrospectivos e prospectivos demonstraram que a redução do gatilho transfusional de

20.000 para 10.000/mm3 em pacientes estáveis não levou a maior incidência de

hemorragia.7,8 Em decorrência disto, atualmente, o gatilho transfusional de 10.000/mm3 é

recomendado e amplamente utilizado na prática clínica em pacientes estáveis com

trombocitopenia pós quimioterapia e sem fatores de risco adicionais para hemorragia.

Febre, sepse, instabilidade hemodinâmica, queda rápida na contagem plaquetária,

hiperleucocitose e coagulopatia são algumas das condições associadas a maior risco de

sangramento. Nestas situações, transfusão profilática com contagem plaquetária entre

15.000 a 20.000/mm3 é aceitável.9

O paciente submetido a transplante de medula óssea (TMO) geralmente apresenta

maior risco de desenvolver mucosite quando comparado àquele em tratamento

quimioterápico convencional para leucemia aguda. Apesar disto, os dados disponíveis até o

momento sugerem que contagem plaquetária de 10.000/mm3 também é o gatilho

transfusional recomendado no paciente estável pós-transplante de medula óssea.10

Situações associadas a risco adicional de sangramento nesta população de pacientes,

além das já citadas anteriormente, e nas quais se recomenda transfusão com contagem

plaquetária inferior a 20.000/mm3 inclui: mucosite grave, Doença Enxerto Contra

Hospedeiro aguda, tratamento com globulina anti-timocitária.11

Um aspecto importante a ser lembrado é que a contagem plaquetária é um dos

parâmetros que deve ser analisado na indicação profilática de plaquetas. A observação

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clinica cuidadosa para detecção precoce de risco adicional de sangramento e elevação do

nível do gatilho transfusional quando necessário, constituem o alicerce da indicação

adequada para transfusão profilática de plaquetas.12

A conduta transfusional no paciente com trombocitopenia submetido a procedimentos

invasivos ou cirúrgicos é baseada principalmente em recomendações de um painel de

especialista da American Society of Clinical Oncology – ASCO10. Este painel sugere que

contagem plaquetária acima de 40.000 a 50.000/mm3 é adequada para procedimentos

invasivos ou cirurgias de grande porte sem coagulopatia associada. Exemplos de

procedimentos invasivos incluem passagem de cateter venoso central, biópsia endoscópica

de esôfago e traqueia, biópsia hepática, broncoscopia, cirurgias de grande porte. Por outro

lado, estudos demonstram que biópsia de medula óssea e mielograma podem ser executadas

com segurança com contagem plaquetária inferior a 20.000/mm3. Já para as cirurgias

neurológicas e oftalmológicas considera-se seguro nível plaquetário acima de

100.000/mm3.

A transfusão terapêutica é definida como a administração de plaquetas na vigência de

sangramento significante (grau WHO >2) associado à contagem plaquetária inferior a

50.000-100.000/mm3. O sistema de classificação da Organização Mundial da Saude –

WHO, descrito na tabela I, é o mais utilizado para definir a gravidade do sangramento.13

Tabela I – Sistema Classificação de sangramento Organização Mundial Saúde (WHO)

Grau

WHO Descrição

0 Sem sangramento

1 Sangramento petequial; sangramento retiniano sem comprometimento visual

2 Sangramento leve: melena, hematúria, hematêmese, hemoptise

3 Sangramento moderado em qualquer sítio e que requer transfusão de hemácias

4 Sangramento grave; sangramento retiniano ou em sistema nervoso central com

alta morbidade ou evolução fatal

A dose ideal ainda não está estabelecida e o conceito mais aceito é que a transfusão

terapêutica deve elevar a contagem plaquetária o suficiente para restaurar a hemostasia. A

dose na transfusão profilática é mais controversa e, na maioria dos centros, varia de 3 a

6x1011 plaquetas. Um estudo multicêntrico, controlado e randomizado recente não

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demonstrou diferença estatisticamente significante na incidência de sangramento quando

comparada transfusão profilática de dose baixa - 1,1x1011 versus dose alta – 4,4 x1011 de

plaquetas.14

Concentrado de plaquetas com tipagem ABO idêntica a do receptor é a primeira

escolha e deve ser transfundido sempre que possível. A transfusão de concentrado

plaquetário ABO não idêntico tem sido associada a menor incremento em alguns estudos,

mas sem repercussão na eficiência hemostática do componente, o que torna esta conduta

aceitável na prática hemoterápica. Entretanto, concentrado de plaquetas do grupo O só deve

ser transfundido em receptor de outros grupos sanguíneos se o título de anti-A e anti-B não

for elevado. Atualmente, não há consenso com relação ao melhor teste laboratorial,

padronização e valor de corte para definir título elevado.10,15

Receptor do sexo feminino RhD negativo em idade fértil deve receber transfusão de

concentrado plaquetário RhD negativo sempre que possível. Caso esta receptora tenha sido

transfundida com componente RhD positivo, recomenda-se a administração de

imunoglobulina anti-D. Uma dose de 300 UI desta imunoglobulina é capaz de neutralizar

05 doses de plaquetas num adulto por um período de 06 semanas. A administração via

endovenosa é a recomendada no paciente trombocitopênico.10

O concentrado plaquetário deve ser submetido à irradiação gama para prevenção da

Doença do Enxerto Contra Hospedeiro Transfusional e, sempre que possível,

leucorreduzido para prevenção de alo-imunização e da transmissão de CMV.

A eficácia do uso do concentrado de plaqueta é avaliada pela resposta clinica, quando

há sangramento, ou pelo incremento na contagem plaquetária pós transfusional.

Refratariedade plaquetária pode ser definida simplesmente como um incremento pós

transfusional abaixo do esperado. A fórmula mais utilizada para avaliar a resposta é o

incremento da contagem corrigido (CCI):

CCI = (plaqueta pós - plaqueta pré) x superfície corpórea (m2) Total plaquetas transfundidas (1011)

O diagnóstico de refratariedade requer o cálculo do CCI em pelo menos duas

avaliações sequenciais após transfusão de plaquetas ABO compatível com tempo de

estocagem inferior a 72 h. A amostra para contagem plaquetária deve ser coletada 1 ou 24

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horas após a transfusão. A obtenção de CCI <7,5x109/L 1 hora ou <4,5x109/L 24 horas

após a transfusão caracterizam refratariedade plaquetária.1,10

As causas mais comuns de refratariedade plaquetária são não imunológicas e incluem:

esplenomegalia, febre, infecção, sangramento ativo, coagulação intravascular disseminada,

drogas (Anfotericina, Vancomicina, heparina etc). A presença de anticorpos anti-HLA e

anti-plaquetários é a principal causa imunológica de refratariedade.

O gatilho transfusional num paciente com refratariedade plaquetária não deve ser

diferente do estabelecido para o paciente não refratário. O tratamento da condição de base

ou a remoção do agente etiológico é a conduta para contornar a refratariedade de causa não

imunológica. Já, na refratariedade de causa imunológica, a transfusão de concentrado de

plaquetas HLA compatível melhora o rendimento pós transfusional. A obtenção deste

componente é possível através de duas estratégias: 1) identificação e coleta de concentrado

de plaquetas de um doador HLA compatível com o receptor; 2) seleção de um componente

através de prova de compatibilidade plaquetária. Em muitos pacientes, estas duas

estratégias são complementares.6,10

A transfusão de concentrado plaquetário não compatível num paciente alo-imunizado e

refratário sem incremento pós transfusional não é recomendada. Este paciente deve ser

transfundido somente se apresentar sangramento.10

Em resumo, transfusão de plaquetas é uma ferramenta terapêutica adjuvante importante

no manejo de pacientes com trombocitopenia associada à quimioterapia ou transplante de

medula óssea. Apesar da extensa experiência clínica, ainda não está estabelecido se

transfusão profilática é a melhor alternativa, qual é a dose ideal e os parâmetros ideais para

avaliar a eficiência da transfusão.

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Infusão de Linfócitos do Doador

A infusão de linfócitos do doador (DLI) é uma alternativa terapêutica para recaída das

doenças hematológicas malignas após o transplante alogênico de células-tronco

hematopoiéticas (TCTH) e os transplantes de condicionamento não mieloablativos. O

sucesso terapêutico do TCTH está relacionado ao efeito anti-tumoral (GVL - Graft versus

Leukemia) induzido pelos linfócitos T do doador, e esta é a base para o uso da DLI nas

recaídas após TCTH.19,20

Evidências do efeito GVL mediadas por linfocitos T do doador 21 foram extensamente

descritas e apoiadas em algumas observações clínicas, tais como, pacientes submetidos a

TCTH singênicos recaíram mais que os que TCTH alogênicos; em muitas situações a

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diminuição mais rápida da imunossupressão profilática para DECH induz a remissões, e um

maior número de recidivas em pacientes que receberam enxertos depletados de células T.

A principal indicação para a realização de DLI é a recaída da doença de base após

TCTH alogênico,20,22 seguida da diminuição progressiva do quimerismo após TCTH

alogênico não mieloablativo (exceção ao quimerismo misto presente na maior parte dos

pacientes que receberam um regime de condicionamento não mieloablativo e que não está

relacionado com pior prognóstico e, portanto, não há indicação da realização de DLI).23

Embora a morbidade e mortalidade relacionadas ao DLI não sejam um obstáculo às

suas indicações, a infusão de linfócitos do doador é contra indicada em algumas situações:

DECH aguda ≥ Grau II, DECH crônica extensa ou localizada, infecções em curso e

quimerismo do doador menor que 5%.20,22,23

Apesar de controverso, a dose inicial recomendada é de 1 x 107 células T CD3 / kg em

pacientes com doadores relacionados HLA idênticos. Em receptores de enxerto HLA

idêntico não relacionado preconiza-se uma dose inicial de 1 x 106 células T CD3 / kg. Na

ausência de GVHD, a DLI pode ser repetida, utilizando doses escalonadas de células (com

incremento de ½ a 1 log / transfusão), com intervalos mínimos de 4 a 6 semanas. 22,24, 25, 26

Não há evidencias que doses iniciais mais altas de DLI estejam relacionadas com aumento

da taxa de remissão.22 Em transplantes haploidênticos a dose inicial recomendada é de 1 x

105 células T CD3 / kg.27,28

A coleta das células T CD3 deve ser realizada por aférese. O produto deve ser ABO

compatível com o receptor, não deve ser submetido à irradiação gama e deve ser infundido

logo após o término da coleta e da realização das provas pré transfusionais.

A ocorrência de DECH aguda (DECHa) está relacionada a uma adequada resposta à

DLI e sobrevida livre de doença a longo prazo. A DECHa ocorre em 50 a 60% dos

pacientes que recebem dose total superior a 1 x 108 células T / Kg de peso, e em menos que

10% naqueles que receberam dose total inferior a 107 células T / Kg de peso.

Interessantemente, a mortalidade relacionada a DECH é baixa após a DLI. 20,24

Aplasia de medula óssea após DLI ocorre em cerca de 20 a 40% dos pacientes, não

possui causa conhecida e merece apenas tratamento de suporte até a recuperação

hematológica, que em geral é espontânea. 20,24

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Diferente do que ocorre nos transplantes de órgãos sólidos, a compatibilidade ABO

não é considerada crítica para seleção de potenciais doadores de células progenitoras

hematopoéticas (CPH) já que as CPH mais primitivas e as CPH multipotentes não

expressam antígenos do grupo ABO. No entanto, um transplante de CPH com

incompatibilidade entre doador e receptor nos antígenos do sistema ABO pode levar a

complicações imunematológicas que incluem hemólise intravascular e prolongamento do

tempo para enxertia celular. As consequências imunematológicas que podem ocorrer no

transplante de CPH ABO incompatível estão resumidas na Tabela II.

Tabela II - Consequências imunohematológicas dos transplantes ABO incompatíveis Incompatibilidade

ABO Consequencias Causas

● Reação hemolítica Aguda

● Infusão de hemácias incompatíveis

● Retardo na enxertia de

granulócitos e plaquetas

● Perda de CPH no processo de deseritrocitação do produto medular

● Expressão de antígenos do grupo ABO em granulócitos e plaquetas

● Retardo na enxertia eritróide

● Persistência de isohemaglutinina anti-doador

● Aplasia pura de série vermelha

Menor ● Hemólise Aguda ● Altos títulos de isohemaglutinina no

plasma do doador

● Reação hemolítica tardia

● Transferência de linfócitos B do doador produtores de isohemaglutinina anti-receptor

A hemólise decorrente do transplante alogênico ABO incompatível pode ser dividida

em aguda ou tardia, de acordo com o momento do seu aparecimento. A hemólise aguda

ocorre imediatamente após a infusão do enxerto ABO incompatível, levando à lise dos

eritrócitos do doador por isohemaglutininas presentes no receptor (incompatibilidade ABO

maior) ou lise dos eritrócitos do receptor por isohemaglutininas presentes no enxerto

(incompatibilidade ABO menor). Já, a hemólise tardia está sempre relacionada com

incompatibilidade ABO menor; pode ocorrer devido à infusão de grande quantidade de

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plasma ABO incompatível juntamente com as células progenitoras hematopoéticas ou em

decorrência da presença de linfócitos B no enxerto capazes de produzir isohemaglutininas

após serem estimulados por eritrócitos do doador.

O atraso no tempo de enxertia eritróide ocorre independente da recuperação

leucocitária ou plaquetária. Este fenômeno é atribuído à presença de isohemaglutininas do

receptor dirigidas contra eritrócitos maduros e precursores eritróides do doador, os quais

também expressam antígenos do sistema ABO. A forma mais intensa deste quadro é

caracterizada por uma aplasia pura da série vermelha, com reticulocitopenia prolongada

(superior a 60 dias) e ausência de precursores eritróides na medula óssea.

A remoção de eritrócitos do enxerto (deseritrocitação) tem sido a conduta tomada pela

maioria dos centros transplantadores com o objetivo de minimizar o risco de hemólise

aguda durante a infusão da unidade incompatível. Entretanto, não existe um consenso sobre

o nível seguro de hemácias incompatíveis que pode ser infundido no paciente sem que

ocorra quadro hemolítico de grande significância clínica. O volume geralmente aceito é de

até 20 ml de hemácias. Para evitar a perda de CPH que ocorre durante o procedimento de

deseritrocitação, alguns autores sugerem a redução do título da isohemaglutinina

incompatível no receptor através de troca plasmática ou de imunoadsorção in vivo. Na

Tabela III estão esquematizadas as ações que podem ser tomadas para minimizar os riscos

agudos e tardios da infusão de CPH com incompatibilidade ABO maior, menor ou

bidirecional.29

Além dos cuidados que devem ser tomados no momento da infusão do produto de CPH

ABO incompatível, alguns critérios devem ser respeitados na escolha do hemocomponente

a ser transfundido no receptor, tanto no período pré transplante quanto no período pós

transplante. Em linhas gerais, nos transplantes ABO incompatíveis os componentes

plasmáticos e concentrados de plaquetas, sempre que possível, devem ser compatíveis com

as hemácias do receptor e do doador. Já, a escolha dos concentrados de hemácias vai

depender da fase do transplante em que o paciente se encontra. As recomendações para

uma seleção adequada de hemocomponentes para suporte transfusional no paciente

submetido a transplante de CPH ABO incompatível estão apresentadas na Tabela IV.30,31

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Tabela III - Cuidados no momento da infusão da unidade de CPH ABO incompatível

Título Receptor ≤ 1/16 ≥ 1/32

● Infundir o produto

sem modificação

● Deseritrocitação do

componente, e/ou

● Remoção da

isohemaglutinina do

receptor

CPSP com < 20 ml de volume

total de hemácias

● Infundir sem

modificação

● Infundir sem modificação

CPSP com mais de > 20 ml de

volume total de hemácias

● Infundir sem

modificação

● Deseritrocitação do

componente, e/ou

● Remoção da

isohemaglutinina do

receptor

Título da isohemaglutinina

incompatível no doador ≤ 1/128

● Infundir sem modificação

≥ 1/256 ● Depleção de plasma do

componente

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Tabela IV - Recomendação de suporte transfusional pós transplante em receptores de CPH ABO incompatíveis

Fase I Fase II Fase III

Recepto

r

Doado

r

Tipo de

Incompa

-

tibilidad

e

Todos

Hemoco

m

ponentes

Concentrad

o de

Hemácias

Concentrad

o de

plaquetas

Plasm

a

Todos

Hemocomponente

s

Primeira

escolha

Próxima

s

escolhas

A O Menor A O A AB;B;O A;AB O

B O Menor B O B AB;A;O B;AB O

AB O Menor AB O AB A;B;O AB O

AB A Menor AB A AB A;B;O AB A

AB B Menor AB B AB B;A;O AB B

O A Maior O O A AB;B;O A;AB A

O B Maior O O B AB;A;O B;AB B

O AB Maior O O AB A;B;O AB AB

A AB Maior A A AB A;B;O AB AB

B AB Maior B B AB B;A;O AB AB

A B Maior e

Menor

A O AB A;B;O AB B

B A Maior e

Menor

B O AB B;A;O AB A

Fase I: do início da preparação do paciente até o início do condicionamento;

Fase II: do início do condicionamento até o teste direto de antiglobulina se tornar

negativo e a tipagem direta do paciente se tornar igual ao doador;

Fase III: a partir do momento em que a tipagem direta e reversa do paciente for igual

ao doador.

Obs.: A partir da Fase I: todos os hemocomponentes devem ser irradiados e se possível

filtrados.

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Reações Transfusionais

Toda transfusão de sangue leva a um risco imediato ou tardio; por isso deve ser

criteriosamente indicada. Os efeitos adversos diretamente relacionados com a transfusão de

sangue e hemocomponentes são denominados reações transfusionais. De acordo com o

tempo de aparecimento, estas reações podem ser classificadas em:

- - As reações transfusionais agudas e tardias e suas respectivas etiologias estão listadas na

Tabela V.

Toda a equipe envolvida na administração e acompanhamento da transfusão deve ser

capaz de reconhecer os sinais e sintomas associados com reações transfusionais e estar apta

a tomar ações no sentido de preveni-las e tratá-las. Os sinais e sintomas que podem ser

indicativos de uma reação transfusional incluem32:

● Febre: definida como incremento de 1º C ou mais na temperatura corporal acima de

37ºC;

● Tremores, com ou sem calafrios;

● Alteração respiratória incluindo tosse, chiado no peito e dispneia;

● Hiper ou Hipotensão arterial;

● Dor abdominal, nos flancos ou na região lombar;

● Dor no sítio da infusão da transfusão;

● Manifestações cutâneas como urticária, rash cutâneo, prurido e edema localizado;

● Icterícia ou hemoglobinúria;

● Náuseas e vômitos;

● Sangramento anormal;

● Oligúria ou anúria.

Ao primeiro sinal de reação transfusional, as seguintes ações devem ser tomadas33:

1. Suspender imediatamente a transfusão;

2. Manter a via de infusão venosa com Solução Fisiológica 0,9%;

3. Checar novamente a identificação do paciente e do hemocomponente transfundido;

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4. Informar imediatamente o médico que assiste o paciente;

5. Notificar o Banco de Sangue da reação transfusional;

6. Enviar a bolsa envolvida com a reação e uma nova amostra de sangue do receptor ao

Banco de Sangue.

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Tabela V – Reações Transfusionais

Tipo de Reação

Reação hemolítica aguda Anticorpo do receptor dirigido

contra antígeno de membrana de

eritrócito do doador

Reação febril não

hemolítica

Anticorpo dirigido contra

antígenos leucocitários do

doador;

Citocinas acumuladas no

componente durante estoque

Lesão pulmonar aguda

Relacionada com a

transfusão (TRALI)

Anticorpos do doador dirigidos

contra antígenos leucocitários do

receptor (ocasionalmente pode

ser o inverso)

Substancias biologicamente

ativas acumuladas no

hemocomponente durante o

estoque

Reação urticariforme Anticorpo do receptor dirigido

contra proteínas plasmáticas do

doador

Reação anafilática Anticorpo do receptor dirigido

contra proteínas plasmáticas do

doador (mais freqüente anti-IgA)

Não

Imunológica

Sobrecarga circulatória Sobrecarga de volume

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Reação atípica associada

ao uso de inibidores da

enzima conversora de

angiotensina

Acúmulo de bradicinina na

circulação

Contaminação bacteriana

do produto sangüíneo

Infusão de bactérias e toxinas

bacterianas na circulação através

do hemocomponente

Hemólise não

imunológica

Agentes químicos / físicos

Tardias Imunológica

Púrpura pós transfusional Anticorpos anti-plaquetários do

receptor (habitualmente anti-

HPA1)

Doença do enxerto contra

o hospedeiro

Linfócitos imunologicamente

competentes do doador

Reação hemolítica tardia Resposta imune anamnéstica

contra antígenos de membrana

eritrocitária

Aloimunização Resposta imune contra antígenos

eritrocitários ou

leucoplaquetários

Não

Imunológicas

Sobrecarga de ferro Sobrecarga de ferro decorrente

de múltiplas transfusões

Transmissão de doenças

infecciosas

Patógeno presente no

hemocomponente transfundido

Transmissão de citomegalovirus (CMV) pela transfusão

O citomegalovirus (CMV) é membro da família Herpesviridae e sua transmissão

ocorre através do contato de um indivíduo com sangue ou fluidos corpóreos infectados. O

CMV é um patógeno comum com distribuição global homogênea. A prevalência de

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sorologia positiva para CMV na população adulta varia 50 a 90%, sendo mais elevada nos

grupos com baixa condição socioeconômica.35

A história natural da infecção pelo CMV pode ser dividida em infecção primária,

infecção latente e reinfecção.36 A infecção primária num adulto imunocompetente é

assintomática na grande maioria dos casos e, quando sintomática, consiste de uma síndrome

similar à mononucleose: febre, astenia, linfadenopatia generalizada, erupção cutânea,

faringite e artralgia. Manifestações menos frequentes incluem pneumonia, hepatite, colite,

gastrite, nefrite, polineuropatia, miocardite e meningo-encefalite.37

O CMV tem a capacidade de permanecer latente por período prolongado após a

infecção primária podendo ser ocasionalmente reativado. Esta reativação temporária

geralmente é assintomática e induzida pela alteração do equilíbrio imunológico entre

hospedeiro e o vírus que pode ser desencadeada, por exemplo, por gestação, doenças

consumptivas e drogas imunossupressoras. A reinfecção é decorrente da contaminação por

um tipo antigênico diferente, sendo clinicamente indistinguível da reativação36.

A infecção latente assintomática, associada à alta soroprevalência na população

adulta, torna o doador de sangue um potencial fonte de transmissão do CMV. A infecção

pelo CMV pode ocorrer de 3 a 8 semanas após a transfusão de hemocomponente

soropositivo para CMV. O receptor imunocompetente raramente apresenta repercussão

clínica e, mesmo quando há sintomatologia, o prognóstico é bom. Por outro lado, o receptor

com a imunidade comprometida pode apresentar infecção primária ou recorrente totalmente

assintomática ou, mais frequentemente, desenvolver viremia associada a períodos de febre

e manifestações variáveis de comprometimento hepático, pulmonar, gastrointestinal ou

retiniano. A infecção por CMV está associada à morbi/mortalidade significativa em

receptores imunodeprimidos como neonatos de baixo peso, portadores do vírus HIV e

pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos e de medula óssea.36,38,39

A reativação do CMV é a principal causa de infecção grave em pacientes

submetidos a transplante de órgãos sólidos e medula óssea. Fatores preditivos do risco de

infecção por este agente incluem o grau de imunossupressão, necessidade transfusional,

presença de doença enxerto contra hospedeiro e sorologia CMV do doador e do receptor40.

O risco de desenvolver infecção grave pelo CMV é alto no receptor de transplante

alogênico e autólogo de medula óssea. A manifestação clínica mais importante é a

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pneumonia intersticial e o CMV é o agente infeccioso mais frequentemente associado à

evolução fatal neste grupo de pacientes41.

Portanto, a prevenção da transmissão do CMV pela transfusão, portanto, é um

aspecto importante no controle hemoterápico do receptor de transplante de medula óssea. O

índice de transmissão em receptor imunodeprimido soronegativo para CMV descrito é de

até 50% após transfusão de sangue total ou de componentes celulares não leucoreduzidos.

A transfusão de hemocomponentes de doador soronegativo para CMV nesta população de

alto risco tornou-se o padrão ouro no final da década de 80, após evidência que esta

estratégia reduzia significativamente a taxa de infecção por este agente associada à

transfusão.33,40 Entretanto, a logística para manter um estoque de componentes

soronegativos e outro de soropositivos para CMV é trabalhosa, além da dificuldade de se

obter quantidade adequada de componentes negativos numa população com alta

prevalência de sorologia positiva.43

Estudos têm monstrado que o CMV permanece latente em células da linhagem

monocitária-macrofágica nas quais pode ocorrer a replicação viral. Filtros de terceira

geração removem aproximadamente 3 logs dos leucócitos de um hemocomponente,

reduzindo em teoria a probabilidade de transmissão do CMV por transfusão.43

A prática de utilizar componentes soronegativos para CMV ou leucorreduzidos tem

sido eficaz na prevenção de infecção associada a transfusão. A introdução da leucorredução

universal em vários países trouxe à tona o questionamento da necessidade de se manter a

triagem sorológica e um estoque de componentes soronegativos para CMV44. Um estudo

randomizado comparou a eficácia destas duas estratégias na prevenção de infecção pós

transfusional em 502 receptores de transplante de medula óssea soronegativos para CMV.

A incidência de infecção por CMV associada à transfusão não foi diferente: 2,4% no grupo

que recebeu componentes leucorreduzidos versus 1,4% no grupo com componentes CMV

soronegativos (p=0.5)43. Em contrapartida, o maior estudo clínico comparando estas duas

estratégias concluiu que o uso de componentes soronegativos para CMV talvez seja

superior aos componentes leucorreduzidos e considerou provavelmente prematuro

abandonar a triagem sorológica para CMV na era da leucorredução universal.42

Uma metanálise verificou o risco de infecção por CMV associada à transfusão em

11 estudos envolvendo 829 receptores de componentes leucorreduzidos e 12 estudos com

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878 receptores de componentes soronegativos para CMV. Dentre os receptores de

transplante de medula óssea, o risco de infecção por CMV foi, respectivamente, de 3,01%

(21/697 pacientes) e 1,63% (11/674 pacientes). As duas estratégias foram virtualmente

equivalentes e a redução do risco foi de 92,3% com leucoredução e 93,1% com componente

soronegativo para CMV. Ainda assim, a literatura disponível sugere que o risco de infecção

por CMV associada à transfusão varia atualmente de 1,5 a 3,0% nos pacientes

soronegativos para CMV submetidos a transplante de medula óssea44. Uma reunião de

consenso canadense realizada em 2000 concluiu que não havia evidência consistente para

definir se a triagem sorológica para CMV poderia ser abandonada com a introdução da

leucorredução universal. A recomendação foi manter a provisão de componentes

soronegativos para CMV para gestantes soronegativas para CMV, transfusão intrauterina e

receptores de transplante alogênico de medula óssea. Em contraste, um painel de

especialistas reunido pelo University Health System Consortium nos Estados Unidos

definiu que componentes leucorreduzidos pelas técnicas atuais são equivalentes aos

componentes soronegativos para CMV, opinião corroborada pela AABB (Advancing

Transfusion and Cellular Therapies Worldwide). No Brasil, a Portaria 1353, do Ministério

da Saúde, preconiza que componentes celulares leucorreduzidos (<5,0x106 leucócitos

residuais) podem substituir a utilização de componentes soronegativos para prevenção da

transmissão de CMV pela transfusão.34

Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro Associado à Transfusão

As manifestações clínicas associadas com doença do doença do enxerto-contra o

hospedeiro associado com transfusão (DECH-T) geralmente se iniciam entre 4 – 30 dias

após a transfusão. Os sintomas incluem febre, rash morbiliforme de evolução centrífuga,

febre, enterocolite com diarreia aquosa, elevação das enzimas hepáticas e pancitopenia.

Diferente da DECH secundária ao transplante alogênico de CTH, a DECH-T causa

profunda aplasia de medula, com índice de mortalidade superior a 90%. A evolução é muito

rápida, com óbito em 1 a 3 semanas após o início dos sintomas46,47. A biópsia de pele revela

infiltrado linfocitário perivascular, queratinócitos necróticos e formação de bolhas.48

A fisiopatologia da doença está relacionada com a incapacidade do receptor em

rejeitar células imunocompetentes presentes na bolsa transfundida. Na DECH-T, os

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linfócitos imunocompetentes transfundidos montam uma resposta imunológica contra

antígenos do receptor. De acordo om Billinghan, os três principais fatores que determinam

o risco para o desenvolvimento de DECH-T são: grau de imunodeficiência do receptor;

número de linfócitos-T viáveis no hemocomponente transfundido e o grau de diversidade

genética da população49.

Estados de imunodeficiência considerados de risco para o desenvolvimento de

DECH-T incluem: leucemias, linfomas, transplante de CPH, uso de drogas

imunossupressoras, imunodeficiências congênitas e alguns estados neonatais. Já, o número

mínimo necessário de linfócitos viáveis para causar DECH-T não é conhecido. Embora a

leucorredução promova redução significativa no número de linfócitos presentes no

hemocomponente, não é capaz de eliminar o risco de GVHD-T. A irradiação do

componente é a única maneira de garantir redução no número de linfócitos viáveis

suficiente para a prevenção da DECH-T50.

O tratamento se baseia na administração de drogas imunossupressoras. Infelizmente,

a doença é quase sempre fatal. Por esta razão, deve ser dada ênfase à prevenção da

doença51,52. A DECH-T pode ser prevenida através da gama irradiação dos

hemocomponentes celulares. A Portaria MS nº 1.353 de 13.06.2011 estabelece uma dose

mínima de 25 Gy (2500 cGy) sobre o plano médio do hemocomponentes e, no mínimo,

15Gy (1500 cGy) em qualquer ponto do hemocomponente. Componentes não celulares

como unidades plasmáticas e crioprecipitado não necessitam ser irradiados34.

Fonte da Célula Progenitora Hematopoiética

O transplante de célula progenitora hematopoiética (CPH) evoluiu de uma estratégia

experimental utilizada em poucos centros acadêmicos para tratamento de primeira linha em

várias doenças hematológicas adquiridas ou congênitas ou oncológicas. Os primeiros

relatos de transplante alogênico de medula óssea (TMO) com doadores aparentados HLA

compatíveis e receptores com imunodeficiência realizado com sucesso são do final da

década de 60.52

Nas décadas de 70 e 80, a técnica utilizada para obtenção da CPH era a coleta

cirúrgica através de múltiplas punções e aspirações da medula óssea. A descrição da

presença de CPH na circulação no início da década de 60 foi o ponto de partida para utilizar

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o sangue periférico como fonte desta célula. Entretanto, para obtenção de quantidade

suficiente de CPH para promover a recuperação da hematopoese após tratamento

mieloablativo seria necessário aumentar significativamente o total destas células na

circulação. A constatação de que este aumento ocorre na fase de recuperação após

quimioterapia mielossupressora, associada ao desenvolvimento tecnológico dos

equipamentos de aférese, tornou viável a coleta de quantidade adequada de CPH do sangue

periférico (CPH SP). A partir do relato de sucesso de um transplante no início da década de

80, o sangue periférico passou a ser a fonte preferencial no transplante autólogo54.

Estudos da década de 70 descrevem a presença de CPH com potencial de restaurar a

hematopoese no sangue de cordão umbilical e placentário (SCUP) e o primeiro transplante

utilizando esta fonte foi realizado em 1988 num paciente portador de anemia de Fanconi55.

A CPH apresenta diferenças qualitativas e funcionais em função da sua fonte:

células de SCUP são consideradas mais embrionárias, com maior capacidade de enxertia e

proliferativa quando comparadas às do SP e de MO. Estas características tornam o SCUP

uma fonte alternativa atraente para realização de transplante com algum grau de

incompatibilidade HLA e um total de CPH inferior ao preconizado com MO e SP. A

evolução clínica após transplante também varia de acordo com a fonte de CPH. As

vantagens e desvantagens do TMO de acordo com a fonte de CPH estão descritas na tabela

VI:56,57

Tabela VI – Vantagens e desvantagens no TMO alogênico de acordo com a fonte de CPH CPH SCUP CPH MO CPH SP aparentado

Vantagens Maior flexibilidade na

compatibilidade HLA

Menor taxa DECH

crônica

Enxertia mais rápida

Sem risco para o doador

Melhor sobrevida

em doença avançada

Menor taxa DECH

Desvantagens Enxertia mais tardia Enxertia mais tardia Maior taxa DECH

crônica

Aumento mortalidade

associada ao transplante?

Risco para o doador Risco para o doador

Sobrevida pior (x SP)

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em doença avançada

A coleta de CPH de MO requer anestesia geral e múltiplas punções na crista ilíaca

posterior. Efeitos adversos decorrentes podem ocorrer devido à anestesia, mas o mais

frequente é dor local. A dose ideal de CPH não está estabelecida e geralmente o alvo

desejado é dado pelo total de células nucleadas (TCN) de acordo com o peso do receptor.

Atualmente, a prática mais comum tem como objetivo atingir TCN de 2 a 3,0 x108/kg, com

o cuidado de não ultrapassar 20 mL/kg de volume coletado. Uma dose mínima de 1x108/kg

é necessária para promover recuperação hematopoiética56. A fonte de célula tronco

hematopoética mais utilizada nos transplantes haploidenticos com ciclofosfamida pós-

infusão é a medula óssea. O alvo de células é maior do que nos transplantes HLA

compatível: objetivo é atingir 4,0 x108/kg.58

A coleta de CPH de SP requer a mobilização de grande quantidade desta célula para

a circulação. A administração de fator de crescimento hematopoiético, mais frequentemente

o fator estimulador de colônias granulocíticas (G-CSF), é utilizada para mobilização em

doador alogênico e autólogo. Já, a associação de quimioterapia e fator de crescimento

hematopoiético é uma estratégia restrita ao transplante autólogo.

O Plerixafor (Mozobil) é uma droga da classe das quimiocinas, com capacidade de

mobilizar CPH da medula óssea para o sangue periférico. Seu mecanismo de ação baseia-se

no bloqueio reversível da ligação do receptor CXCR4 da membrana celular ao seu ligante

cognato na matriz celular SDF-1. O pico de mobilização ocorre após 12 horas da

administração da droga. Embora seja uma droga bastante eficaz como agente mobilizador

com poucos efeitos adversos, tem sido utilizada apenas em pacientes/doadores que não

apresentaram mobilização aos esquemas habitualmente utilizados, devido ao seu alto

custo.59

Atualmente, a expressão do antígeno CD34+ é o marcador mais utilizado para

determinar o início e a dose de CPH a ser coletada. Geralmente, a leucaférese é iniciada

com contagem de células CD34+ no SP superior a 10-20/mm3. A dose mínima de células

CD34+ necessária para promover a recuperação hematopoiética adequada é de 1x106/kg

peso do receptor e, atualmente, o alvo recomendado varia de 2 a 5x106/kg. Doses maiores

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não têm impacto significativo no tempo de recuperação neutrofílica, mas estão diretamente

associadas a um menor tempo para recuperação plaquetária. Os efeitos adversos da coleta

de CPH de SP incluem manifestações associadas ao uso do G-CSF, complicações relativas

ao acesso venoso (periférico ou cateter central) ou sintomas secundários à hipocalcemia

induzida pela solução anticoagulante utilizada (citrato de sódio)59,60.

O SCUP é coletado através da canulação da veia umbilical presente no cordão

umbilical, pré ou após dequitação da placenta, sempre após a retirada do recém nascido.

Um volume de aproximadamente 100 mL é coletado. O órgão regulatório americano (FDA

– Food and Drug Administration) recomenda que a unidade coletada deve conter TCN

≥5x108, células CD34+ ≥1,25x106 e viabilidade celular ≥85%. Para o receptor, a

celularidade de uma unidade de CPH de SCUP é cerca de 10 vezes menor do que a CPH de

MO, fator que contribui para retardo na recuperação hematopoiética57. A dose celular

desejável para um transplante com sangue de cordão umbilical depende da compatibilidade

HLA entre o doador e receptor e da patologia de base. Quanto maior a incompatibilidade

HLA maior é necessidade de células para que obtenha melhores resultados (menor

mortalidade e maior sobrevida livre de doença. Unidades com compatibilidade 5/6 ou 6/6

requerem a dose de TCN > 3.0x 107/Kg enquanto unidades com compatibilidade 4/6 devem

ter a celularidade > a 5.0x107/Kg 61.

Criopreservação da Célula Progenitora Hematopoética

Na grande maioria dos transplantes autólogos e em alguns transplantes alogênicos a

unidade de CPH coletada necessita ser congelada e estocada até o momento da sua infusão.

Entretanto, em decorrência da desidratação celular e da formação de cristais de gelo, o

congelamento pode levar à diminuição da viabilidade e lise celular, comprometendo a

qualidade do enxerto. Por esta razão, a técnica de criopreservação das células progenitoras

tem como principal objetivo diminuir os efeitos do congelamento e garantir o maior grau de

viabilidade e capacidade clonogênica celular possível após o seu descongelamento. Esses

efeitos adversos do congelamento podem ser minimizados através da adição de um agente

crioprotetor e da redução lenta e gradual da temperatura da célula.

O DimethylSulfóxido (DMSO), principal agente crioprotetor utilizado no

congelamento de CPH, é uma molécula que penetra a membrana celular e modera o

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balanço osmótico que ocorre no interior da célula durante o processo de congelamento,

diminuído a quantidade de água absorvida pelos cristais de gelo e, consequentemente, o seu

tamanho57.

A maioria das soluções crioprotetoras utilizadas no congelamento de células

mononucleares são compostas de 20% de DMSO, 40% de plasma autólogo ou albumina

humana e 40% de solução eletrolítica tamponada ou meio de cultura celular. A solução

crioprotetora é combinada com um volume igual de células, de forma a obter uma

concentração final de DMSO de 10%. O HidroxiethylStarch (HES), uma substância

polimérica estritamente extracelular, também tem sido utilizada como agente crioprotetor

em combinação com o DMSO. Neste caso, a solução crioprotetora é composta de DMSO,

HES e albumina humana em concentrações finais de 5%, 6% e 4%, respectivamente62.

Os danos celulares que ocorrem durante o congelamento, especialmente durante a

mudança do citosol e do meio extracelular do estado líquido para o estado sólido, são

minimizados com a redução lenta e controlada da temperatura das células. Este efeito é

obtido através da utilização de sistemas computadorizados que promovem um

congelamento celular sob taxas pré-estabelecidas e controladas de resfriamento, com

redução de 1-3 graus C/minuto63.

Para garantia da viabilidade da célula congelada por um período superior a dois

anos, a temperatura ideal de estoque deve ser igual ou inferior a 145º C negativos. Esta

temperatura pode ser obtida com freezers mecânicos ou com nitrogênio líquido. O

nitrogênio líquido, tanto em sua fase de vapor quanto em na fase líquida, oferece maior

segurança ao estoque.

Um método alternativo e de custo inferior para o congelamento de CPH é a

utilização de freezers mecânicos de temperatura de 80º C negativos, onde as unidades são

depositadas sem ser submetidas à taxa controlada de resfriamento. Nesta condição, a

solução crioprotetora utilizada é composta da associação de DMSO com HES e, apesar de

não controlada, a taxa de resfriamento celular é gradual pelo simples fato da unidade ser

acondicionada no interior de um estojo metálico antes de ser colocada no interior do

freezer. A viabilidade por este método é garantida por um período de até dois anos de

estoque57, no entanto o sucesso na enxertia com células congeladas desta forma e

infundidas após dois anos de congelamento já tenha sido relatada. Publicações confirmam

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que viabilidade celular não se modifica de maneira significativa nos primeiros 5 anos,

mesmo com congelamento não-programado com DMSO a 5%64.

Descongelamento e Infusão da Célula Progenitora Hematopoética

O descongelamento da unidade de CPH deve ser feito de maneira rápida, em banho-

maria contendo água estéril ou solução salina a temperatura de 37º C. Uma vez

descongelada, a infusão da unidade deve ocorrer o mais breve possível já que o DMSO à

temperatura ambiente é tóxico para a célula.

A infusão deve ser realizada preferencialmente em acesso venoso central, com ou

sem a utilização de filtro padrão de transfusão (170μm). A velocidade de infusão deve ser

de aproximadamente 10-15 ml/minuto. A dose máxima recomendada de DMSO para ser

infundida em uma única sessão é de 1g/kg ou 10ml/kg de uma solução com DMSO a 10%.

Volumes e quantidades superiores de DMSO devem ser divididos em duas doses e serem

infundidas em dias consecutivos ou uma dose pela manhã e a outra à tarde63. Uma

alternativa para remover o DMSO é lavar o produto antes da infusão, prática comum

quando se utiliza CPH de SCUP em crianças. Entretanto, deve-se ter em mente que este

procedimento leva a perda de CTH55. Uma alternativa mais usa é diluir a unidade de cordão

com solução de albuman e dextran com o intuito de diminuir a incidência de reações

adversas na infusão sem que haja perda celular decorrente da lavagem.65

Os efeitos adversos associados com a infusão da unidade descongelada incluem:

náuseas, vômitos, febre, tremores, rubor facial, instabilidade cardiovascular, dor abdominal

e toxicidade neurológica. Esses efeitos são decorrentes da infusão do DMSO e de restos

celulares presentes na unidade e podem ser minimizados com a prévia administração de

anti-histamínicos, antitérmicos e antieméticos, hidratação e alcalinização da urina.66,67

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Temas Revisor

1. Princípios Gerais Alfredo

2. Transfusão de Concentrado de Hemácias Dante

3. Transfusão de Concentrado de Plaquetas Dante

4. Transfusão de Concentrado de Granulócitos Alfredo

5. Infusão de Linfócitos do Doador Alfredo

Andreza

7. Reações Transfusionais Alfredo

8. Transmissão de citomegalovírus (CMV) pela transfusão Andreza

9. Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro Associado à Transfusão Andreza

10. Criopreservação de células progenitoras hematopoéticas Alfredo

11. Descongelamento e infusão de células progenitoras hematopoéticas Alfredo

12. Dessensibilizarão pré-transplante em pacientes com anticorpo Anti-

HLA

Andreza