Upload
dangdieu
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
INICIATIVAS PARA ALAVANCAR O TURISMO E A GASTRONOMIA
MISSIONEIRA: O FESTIVAL INTERNACIONAL DA COZINHA MISSIONEIRA1
Aline Prestes Roque2
Camila Nemitz de Oliveira Saraiva3
Flavia de Araújo Pedron4
Laiane Flores 5
Resumo: O presente artigo tem por objetivo divulgar as iniciativas para alavancar o turismo e a gastronomia na
região missioneira. Para tanto, foi realizado o Festival da Cozinha Missioneira que apresentou alternativas de
desenvolvimento para à região missioneira por meio de festivais do turismo e da gastronomia. O I Festival da
Cozinha Missioneira ocorreu em dezembro de 2014, no Instituto Federal Farroupilha em São Borja - RS, foi uma
promoção de muitas entidades do âmbito público e privado, com o intuito de preservar os saberes e fazeres da
culinária local. O II Festival Internacional da Cozinha Missioneira ocorreu na mesma Instituição de ensino em
novembro de 2016, obteve maior visibilidade e tornou-se um evento internacional com a participação da
Municipalidad Santo Tomé – Argentina. O resultado foi a promoção da cultura, culinária local e a participação de
alunos, professores, instituições de ensino, agricultura familiar, comércio local e comunidade local. O evento
apresentou várias atrações que nunca tinham sido trazidas à região missioneira, fazendo com que centenas de
pessoas participassem, no Brasil e na Argentina, manifestando a união de povos através da gastronomia.
Palavras-chave: Gastronomia, Turismo, Região Missioneira.
INTRODUÇÃO
A alimentação se constitui como uma necessidade fisiológica básica para sobrevivência
do ser humano, mas também pode ser entendida e compreendida como fonte de identificação
dos laços e das representações da cultura popular de diferentes povos. O fenômeno que estuda
os processos relativos à relação do homem com a alimentação, à cultura alimentar e a todos os
fatos ligados a eles é chamado gastronomia (GODOY; D’ ÁVILA, 2009). Já Schülter
(2003) chama a atenção para o fato de que este tema de estudo está adquirindo cada vez mais
importância e busca se afirmar através de raízes culinárias e da forma de se entender as
manifestações culturais e de um lugar e as suas contribuições com o próprio local. Os
eventos gastronômicos, ou festas populares e gastronômicas, como também são chamados,
1Gastronomia, turismo e sustentabilidade 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha. [email protected]. 3 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha. [email protected]. 4 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha. [email protected]
5 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha. [email protected]
2
surgiram como uma forma de atrair pessoas para que voltem a sua atenção para os grandes
atrativos que são a devoção, a preservação da cultura, o lazer e apreciação da boa comida.
O Festival
Internacional da Cozinha Missioneira, foi um evento promovido em parceria pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - Campus São Borja, Prefeitura
Municipal de São Borja, Municipalidad Santo Tomé, Turismo Santo Tomé Corrientes -
Secretaria de Turismo y Cultura Municipal e Associação Comercial, Industrial, de Prestação
de Serviços e Agropecuária de São Borja - ACISB, e contou com importantes patrocinadores
e apoiadores para sua realização. O I e II
Festival Internacional da Cozinha Missioneira, assumiram compromisso com a preservação da
memória, da história e da cultura alimentar da fronteira São Borja / Santo Tomé. No evento
ocorreram muitas atividades culturais, artesanatos, pratos regionais, bebidas locais e produtos
da agricultura familiar. O público que participou do evento constituiu-se de produtores locais,
em especial da agricultura familiar, pesquisadores, professores e estudantes de gastronomia e
nutrição, jornalistas especializados em gastronomia e agricultura, setores públicos e privados,
turistas e comunidade local. Diante do exposto, a
pesquisa que resulta este artigo, identifica que a cultura gastronômica de um local pode ser
presença de desenvolvimento socioeconômico e cultural. O intuito deste estudo foi de verificar
a propagação cultural por meio da gastronomia e de festivais, e a sua participação no processo
de desenvolvimento dos municípios missioneiros.
Desenvolvimento do Turismo e da Gastronomia por meio de Festivais
O turismo é um setor prestador de serviços, e tem o papel relevante na economia de
lugares que o utilizam como ferramentas de desenvolvimento. Masina (2002) argumenta que
os impactos econômicos positivos do turismo provocam um aumento da renda na economia do
país receptivo, estimulando novos investimentos, gerando empregos diretos e indiretos. O
autor considera que além dos ganhos econômicos, o turismo bem planejado realça outros
importantes aspectos socioculturais, como: melhor nível de escolaridade, qualificação da mão
de obra e desenvolvimento de uma consciência da preservação ambiental e cultural.
É importante mencionar a ligação do turismo com os outros setores da sociedade, bem
como, a importância do fomento da atividade por meio de políticas públicas em diferentes
níveis: municipal, estadual ou federal. Como salienta Barreto (2000, p. 45):
3
O fenômeno turístico, ou a atividade turística, como preferiu denominá-la, tem um
aspecto social tão importante quanto o desenvolvimento econômico, isto é, a
possibilidade de expansão do ser humano, seja pelo divertimento, seja pela
possibilidade de conhecer novas culturas e enriquecer conhecimentos por meio de
viagens. É uma atividade que deve ser fomentada por políticas públicas, não só como
fonte de divisas, mas também como saudável prática de lazer.
A mesma autora explica que o turismo possui um aspecto social tão importante quanto
o econômico, pois dá possibilidades do ser humano se expandir, se divertir e conhecer novas
culturas. Afirma ainda ser uma atividade que merece atenção por parte do poder público por
trazer divisas e lazer tanto para quem pratica como para quem recebe. O turismo pode ser
considerado um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de
indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso,
cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro (BARRETO, 2000).
Boullón (1991) explica que a melhor forma de determinar um espaço turístico é
analisando empiricamente a distribuição territorial dos atrativos, definindo agrupamentos e
concentrações proeminentes. Neste sentido, o turismo cultural no contexto gastronômico
possibilita aos turistas conhecer os costumes, tradições culinárias e a história do lugar visitado,
através da exploração de suas tradições, muitas populações locais usam seus costumes como
um atrativo turístico, buscando atrair os turistas para suas localidades. O turismo
gastronômico cultural contribui para o desenvolvimento das comunidades locais. Neste
contexto, Figueiredo (2006) assevera que a concepção de desenvolvimento aí presente não se
resume ao desenvolvimento econômico, abarcando também, a melhoria de qualidade de vida
dos atores sociais envolvidos. O turismo
cultural corresponde à valores criados pelo homem como cultura, tradição e história. A
identidade dos povos e, também em razão do princípio de alteridade que lhe é inerente, a
diversidade cultural. No turismo cultural, a motivação central corresponde à busca do
conhecimento, busca essa que envolve satisfação da curiosidade, inclusive em relação ao
patrimônio humano (IRVING; AZEVEDO, 2002). A cultura alimentar nas Américas está
fortemente associada aos povos que trouxeram hábitos, necessidade, variedades de alimentos,
tempero (SCHÜLTER, 2003). Na concepção de Martins (2003), a cozinha brasileira é o
4
resultado das influências portuguesas, negra e indígena, mas também de outros imigrantes que
aqui se instalaram: italianos, alemães, japoneses, espanhóis, árabes, suíços e outros. A região
das missões fronteira – oeste e noroeste do Rio Grande do Sul fazem parte desta miscelânea de
sabores.
A gastronomia, para Franco (2006), é antes de tudo, cultura, expressão e arte de um
povo. Nutre-se das tradições culinárias de todas as camadas sociais. É um grande caldeirão
cultural onde se tem representados os elementos mais simples. A gastronomia induz a fazer do
comer uma imensa fonte de satisfações, uma experiência sensorial total.
Sendo assim, a gastronomia como patrimônio local está sendo incorporada aos novos
produtos turísticos orientados a determinados nichos de mercado, permitindo incorporar os
agentes da própria comunidade na elaboração desses produtos, assistindo ao desenvolvimento
sustentável da atividade (SCHÜLTER, 2003).
Os elementos intangíveis subjacentes como a gastronomia realocam a cultura e podem
cooperar de múltiplas formas. A cultura deve ser avaliada como um processo de compreensão
e transformação de lugares, no qual se estabelecem relações inerentes entre diferentes aspectos
da vida humana e ao qual se incorporam normas econômicas, sociais, intelectuais, entre outros
(OLIVEIRA; MARINHO, 2006). Conforme
salienta Lévi-Strauss (apud MATTE, 2004, p. 62) a preservação das diversidades culturais se
faz relevante:
Para preservar a diversidade das culturas não basta acalentar tradições locais,
concedendo uma trégua aos tempos passados. O que deve ser salvo não é o conteúdo
histórico que cada época lhe deu e que nenhuma sociedade seria capaz de perpetuar
para além de si mesma. A atitude perante a diversidade de conteúdos e formas de
expressões sociais é de prever, compreender e promover o que cada forma seja uma
contribuição para a maior generosidade das outras.
Sendo assim, pode-se comparar aos eventos voltados à alimentação que surgiram como
forma de atrair pessoas, e mover a sua atenção para os grandes atrativos que fazem do ato de
se alimentar um lazer. De acordo com Gregson (2005, p. 49), um evento com enfoque em uma
cultura específica tem nos alimentos o complemento à retratação almejada.
O festival gastronômico é um retrato momentâneo de uma localidade, povo e/ou região
geográfica, preparado de maneira especial, com serviço cuidadoso e com oferta abundante de
alimentos típicos e característicos da cultura retratada.
5
Os eventos possibilitam um dos principais atrativos de uma região, tanto para
moradores locais quanto para visitantes, gerando momentos de lazer e descontração por parte
de todos os envolvidos (VENDRUSCULO, 2009). Transmite também, informação sobre os
participantes e sobre suas tradições culturais. Realizados ano após ano, geração após geração,
os rituais traduzem mensagens, valores e sentimentos do momento. São atos sociais em que
alguns participantes se sentem mais envolvidos do que outros (SCHÜLTER, 2003).
O desenvolvimento do turismo cultural através de eventos é estimulado em razão de
sua capacidade de gerar receita e empregos no lugar em que se manifesta. A identidade também
é expressa pelas pessoas através da gastronomia, que reflete suas preferências e aversões,
identificações e discriminações, e, quando imigram, a levam consigo, reforçando seu sentido
de pertencimento ao lugar de origem (BARRETO, 2008). A
apresentação deste patrimônio intangível deve ser compreendida como necessidade de partir
do conceito de instrumento de valorização e proteção de uma prática cultural, de forma que a
gastronomia não pode ser vista como um conhecimento que se encerra no preparo de um prato,
mas sim como algo que agrega, por trás daquele produto final, um universo simbólico que
envolve conhecimentos, práticas e tradições, resgatando o legado das mais diversas culturas
(SCHÜLTER, 2003).
METODOLOGIA
Os procedimentos que fazem a consolidação desta pesquisa são o bibliográfico e o
documental. O bibliográfico foi efetivado através da pesquisa em livros e artigos científicos
relacionados ao tema, para melhor compreensão dos objetos de estudo e área de trabalho. Para
Dencker (1998, p. 68) “nenhuma pesquisa se inicia do nada”. O documental foi levantado
através da coleta de documentos em arquivos públicos e particulares (TRIVIÑOS, 1987).
No entendimento de Pádua (2004), a pesquisa é tomada num sentido amplo, refere-se a
toda atividade voltada para a solução de problemas: como atividades de busca, indagação,
investigação e inquirição da realidade. A autora enfatiza que desta forma, toda pesquisa possuí
uma intencionalidade de elaborar conhecimento, possibilitando compreender e transformar a
realidade (PÁDUA, 2004). Vergara
(2004) ressalva que os sujeitos da pesquisa são as pessoas que fornecem os dados de que o
pesquisador necessita. A autora considera as pessoas em si, os atores locais que reportam as
informações referentes à história, tradições, práticas, conhecimentos, hábitos, comportamentos
6
e atitudes que conduzirão estas representações, constituindo-se estas em importantes
mananciais para se alcançar um conjunto de elementos para a pesquisa. Para tanto a pesquisa
se deu através de entrevista e contato direto com os sujeitos da pesquisa, a entrevista seguiu
um roteiro estruturado e os dados foram gravados.
I Festival de Cozinha Missioneira de São Borja
O I Festival ocorreu nos dias 4, 5 e 6 de dezembro de 2014, foi uma promoção da
ACISB (Associação Comercial, Industrial, de Prestação de Serviços e Agropecuária de São
Borja), juntamente com o GT Gastronomia Regional do Palácio Piratini do RS, EMATER,
IFFar, Prefeitura Municipal de São Borja, UNIPAMPA e SENAC e que contou com patrocínio
do IRGA, conforme o folder do evento apresentado na figura 01. Foi uma ação voltada para a
valorização da produção primária do Estado e preservação de saberes e fazeres da culinária
gaúcha.
Figura 01: Folder do I Festival da Cozinha Missioneira
Fonte: Site do evento (2017).
Os objetivos do Festival foram, de acordo com os dados do projeto de realização do
evento, fornecido pela ACISB:
1. Valorizar a gastronomia da região das Missões e os produtos regionais, através de
ações de pesquisa, debates, aulas-shows, que auxiliem a potencializar o turismo, a gastronomia,
a produção agropecuária e o setor de bebidas regionais;
7
2. Promover e valorizar a diversidade da gastronomia regional por meio do resgate de
hábitos alimentares, história e cultura, divulgação de métodos sustentáveis na preparação e
consumo de alimentos, além de destacar a produção primária da região;
3. Incentivar o turismo gastronômico da Região das Missões, dando visibilidade com a
presença de chefs do Rio Grande do Sul e de outros estados que tenham trabalhos e pesquisas
formatados;
4. Promover um debate em torno da valorização da cultura alimentar regional e dos
produtos locais dentro da merenda escolar, tendo como público alvo as merendeiras da rede
escolar municipal e estadual;
5. Promover os produtos locais, incentivando os pequenos produtores a participarem da
Feira da Agroindústria Familiar (parte da programação do Festival), com o objetivo de divulgar
a sua produção para os participantes do evento.
Durante o evento, ocorreram diversas atividades como palestras e aulas-shows nas quais
chefs e profissionais de cozinha, historiadores, técnicos de turismo e nutrição, além de
produtores, apresentaram temas da gastronomia e cultura alimentar missioneira. Ocorreu
também a comercialização de produtos regionais, com exposição destes, para que os visitantes
conhecessem a riqueza dos produtos oriundos da agricultura familiar da região, estimulando
possibilidades de negócios para os produtores locais.
Paralelos a esta programação, ocorreram cursos de boas práticas e utilização integral de
alimentos para os trabalhadores de restaurantes, ambulantes locais e para as merendeiras da
rede pública municipal e estadual de ensino. Na abertura do Festival, aconteceu um coquetel
de integração cultural, em que os chefs desenvolveram pratos com produtos locais para
salientar a importância da valorização destes e dos pratos da culinária missioneira. Esse evento
foi de extrema importância para que a comunidade são-borjense se sensibilizasse ainda mais
para a imensa gama de hábitos e produtos locais, que são de grande valor cultural e precisam
ser cultivados, conforme relato da coordenadora do evento. Foi importante também, para a
divulgação da gastronomia local, com a presença de chefs no Rio de Janeiro, Porto Alegre e
São Paulo, pois, muitas vezes, por São Borja ser um território distante dos grandes centros, fica
resguardada apenas nas suas fronteiras ou na sua região
A coordenadora do evento afirmou que “a longo prazo, pretendemos que este Festival
firme-se como um grande evento da região atraindo turistas e gerando aumento de renda e
desenvolvimento social e cultural”. Acrescentou ainda, sobre o tema da gastronomia, cultura
8
e desenvolvimento, que a comida, os hábitos alimentares e a cultura gastronômica de um local
é o patrimônio material e imaterial presente, que fala de toda a história da região, da produção,
da cultura local, das relações sociais dos atores envolvidos no cotidiano da comunidade
(Coordenadora do evento e do GT de Gastronomia Regional). O
desenvolvimento regional seja ele, econômico, cultural ou social, só ocorre se houver um
compartilhamento de responsabilidades do poder público, do privado, do papel de cada ator e
das universidades ou instituições de ensino que cumprem um papel fundamental, de
salvaguardar esse patrimônio através de pesquisas, do ensino, da criação de novos paradigmas
e pensamentos para uma comunidade. “O desenvolvimento regional se dá na organização
pública e privada, social que pode constituir um elemento agregador e a gastronomia pode
ser um belo elemento agregador nos municípios” (Coordenadora do evento e do GT de
Gastronomia Regional). Ainda de
acordo com a entrevistada: em São Borja, a gastronomia é um vetor do desenvolvimento para
o município, e isso foi bem explorado no Festival, pois reuniu os produtores, as pessoas que
trabalham na preparação de alimentos, os estudantes de gastronomia e turismo, professores e
todos os envolvidos nesta cadeia no município. Afirmou que é necessário que ocorram mais
eventos desse tipo, para que esse contato e trocas de experiências perdurem e continuem
acontecendo.
II Festival da Cozinha Internacional Missioneira
Dado o sucesso da I edição, reedita-se o II Festival Internacional da Cozinha
Missioneira, na figura 02 consta o folder de divulgação do evento. O festival foi realizado entre
os dias 03 à 11 de novembro de 2016, em São Borja. Teve como tema: Valorização dos
produtos e produtores locais - preservação da cultura alimentar regional. O evento foi realizado
através da parceria entre o IFFar - São Borja, Prefeitura Municipal de São Borja e ACISB. Teve
como objetivo recuperar e valorizar a cultura alimentar missioneira e os produtos locais, dando
visibilidade e capacitando o mercado gastronômico de fronteira São Borja/Santa Tomé -
Argentina, construindo uma rede de conhecimento através de palestras, oficinas práticas, aulas
shows, exposições, visitas guiadas e city tours, buscando atender aos profissionais, estudantes
e interessados na área da gastronomia.
Figura 02: II Festival Internacional da Cozinha Missioneira de São Borja
9
Fonte: Site do evento (2017).
O objetivo do evento de 2016 foi de recuperar e valorizar a cozinha missioneira, através
de ações de integração, cooperação e convivência com os países vizinhos, auxiliando na
potencialização da gastronomia regional, do turismo, da produção local, revelando toda a
singularidade e diversidade desta região. De acordo com os dados do projeto, fornecidos pela
ACISB, os principais objetivos do festival foram:
1. Dar visibilidade às pesquisas e estudos relacionados à cultura alimentar na região das
Missões;
2. Promover e valorizar a diversidade da culinária e das bebidas regionais, por meio de
estudos de produtos, da recuperação de hábitos alimentares, história e cultura;
3. Debater e divulgar métodos sustentáveis de produção, preparo e consumo de
alimentos;
4. Apresentar trabalhos que abordem a temática do turismo na região das Missões e sua
relação com a gastronomia e o desenvolvimento regional;
5. Promover debates e ações acerca do papel da alimentação escolar na atualidade, na
formação dos hábitos das crianças e adolescentes;
6. Incentivar a comercialização dos produtos locais, através dos pequenos produtores e
participantes da feira de agroindústria familiar.
Durante o evento ocorreram muitas atividades voltadas à cultura missioneira. Como foi
um evento intenso, pode-se demonstrar muito do que se tem na cultura missioneira.
Durante todo o período do Festival, aconteceu o Circuito de Pratos Missioneiros, onde
restaurantes apresentaram pratos que remetessem à cultura missioneira. O festival contou com
10
a participação de estabelecimentos do setor de restauração de São Borja e Santo Tomé. No
primeiro dia de evento ocorreu o Jantar de abertura, como o tema “Nossos Peixes, Nosso Rio”,
tendo sido realizado na “Casa do Peixe” da Dona Maria, foi apresentado “o histórico do bairro
do Passo e as famílias ribeirinhas”, ministrado por professores da Universidade Federal do
Pampa UNIPAMPA. No segundo dia de evento os professores do IFFar ministraram oficinas
em uma escola estadual e outra municipal, com o tema “Chef na Escola”, que teve como
objetivo a alimentação saudável e a readaptação do cardápio escolar, objetivando a alimentação
mais atrativa e nutritiva para os estudantes. A EMATER e a Secretaria
de Agricultura Municipal promoveram visitas guiada ao mercado público, e visita à uma
agroindústria da agricultura familiar. O público presente teve a oportunidade de conhecer o
trabalho destes profissionais e prestigiar o produtor local. Durante o evento ocorreu
também o I Seminário de Alimentação Escolar, em parceria com o CREA e a Secretaria de
Educação Municipal. O evento foi destinado às merendeiras das escolas. As palestras
ministradas no seminário foram: Cultura, alimentação, consumo e saúde; O uso dos produtos
na Alimentação Escolar (PNAE); Hortas escolares; Oficina de boas práticas. O seminário foi
de grande relevância e atingiu o público visibilizado. Para prestigiar a colônia de
pescadores do Município, foi realizado o Passeio de Barco - Encontro Binacional nas Águas
do Rio Uruguai, realizado no Cais do Porto de São Borja e Santo Tomé. O grupo amador
“Os Angueras” participou do Festival através da abertura do museu, com a apresentação
cultural do “Museu Vivo”. Também foi realizado o Jantar da Culinária Campeira São-borjense
com show cultural. Santo Tomé também realizou um jantar cultural. Dando destaque aos
museus do município, o IFFar promoveu o City Tour “Conhecendo o Primeiro dos Sete Povos
das Missões”. A visita iniciou-se pela Praça XV de Novembro e percorreu três museus da
cidade. Na Praça da Estação Férrea, ocorreu o
Piquenique Cultural, possibilitando o público presente conhecer o Centro Cultural de São Borja
e prestigiar a exposição fotográfica do V Memória em Foco, foram apresentados Shows
culturais, participação de Food Trucks com comidas típicas, exposição da agricultura familiar
e de produtos locais. Durante o festival procurou-se incentivar o
contato entre o pequeno agricultor e os estabelecimentos do setor alimentício. Para tanto, foi
realizado uma “Rodada de Aproximação entre produtores locais, hotéis, bares, restaurantes e
similares” contando com a palestra “Atualidades e Rumos do Mercado Gastronômico”,
ministrado pelo SEBRAE. No SINDILOJAS e no IFFar foram promovidas oficinas de “Boas
11
Práticas de Manipulação dos Alimentos e Atualização de Serviço de Salão.
Um importante tema apresentado no Festival foi a Mostra
de Cadernos de Receitas e apresentação de receitas antigas, uma vez que tem sido ao longo do
tempo, instrumento fundamental de socialização da cultura culinária, objeto de interesse e
investimento feminino. Nesta programação contou-se com a participação de grupos de Melhor
Idade, alunos do IFFar e pessoas da comunidade local.
O IRGA participou do Festival com duas oficinas, com a temática
“Arroz”, intitulada "Os benefícios do Consumo do Arroz na Alimentação Diária" e "Pratos
Tradicionais à Base de Farinha de Arroz", incentivando o consumo deste produto que faz parte
da economia local. Neste mesmo dia foi apresentada a pesquisa realizada pelo grupo GT de
Gastronomia Regional de 2011 a 2014, “Lombo de Xirú”.
O festival conseguiu reunir três vinícolas da região Missioneira, apresentando o melhor
da produção vitivinícola regional, com a participação da Malgarin Vinhos, Vinícola Campos
de Cima e Vinícola Fin, através da introdução ao mundo do vinho e degustação orientada. No
último dia do evento houve participação de Universidades e entidades, no quadro 01 apresenta-
se a relação das mesmas e temática abordada no evento, através de palestras e aulas shows.
Quadro 01: Palestras e aulas shows apresentadas no evento
Entidade Representante Temática
Fernanda Valente e
Rodrigo Schlee
Mate Chimarrão - A bebida símbolo dessa fronteira
UFPEL Alcides Gomes Uma combinação clássica da pampa gaúcho: mandioca e
cordeiro
UNISINOS Ágata Moreno de
Britto
Uma aula de confeitaria a partir de alguns produtos
básicos presentes na culinária Guarani
Alimentação dos
Cozinheiros
Movimento Slow Food
Argentina
Perla Herro O movimento Slow Food, que trabalha
pelo alimento bom, limpo e justo
Empresária Arika Messa Valorização de linguiças artesanais e produtos do nosso
Mercado Público Municipal
FEEVALE Daniel Bonho Valorizando os peixes do rio Uruguai e frutas nativas
IPHAN Raquel Rech A Integração Histórica, Cultural e Econômica das
Missões através da alimentação
Fonte: Autores, (2017).
Concomitantemente ao II Festival da Cozinha Missioneira ocorreu o II Fórum
Científico Internacional de Gastronomia Missioneira, em parceria com a Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI – Santo Ângelo. Foram apresentados
artigos científicos relacionados aos GT’s de Gastronomia onde os alunos e comunidade
12
regional puderam expor seus trabalhos de pesquisas relacionados à Gastronomia, conforme
quadro 02.
Quadro 02: Relação de temáticas apresentadas pelos grupos de GT’s
GT’s Tema
Gt 1) Gastronomia, identidade e turismo
Gt 2) Gastronomia e qualidade alimentar
Gt 3) Gastronomia e desenvolvimento territorial
Gt 4) Gastronomia contemporânea
Gt 5) Gastronomia e gestão organizacional
Gt 6) Gastronomia e patrimônio histórico-cultural
Fonte: Autores, (2017).
O quadro 03 apresenta a relação de palestras, mesas de debates e palestrantes que
participaram do II Fórum Científico Internacional de Gastronomia Missioneira.
Quadro 03: Relação de palestras e mesas de debates apresentadas no evento
Palestra/Mesa de Debate Tema Palestrantes
Palestra
“A produção, distribuição e
consumo das leguminosas nas
Missões: uma gestão para a
sustentabilidade?”
Luís Claudio Villani Ortiz
Mesa de Debate
“Gastronomia, turismo e
desenvolvimento de Território”
Mediadora: Raquel Lunardi
(IFFar-SB)
Perla Herro (Aliança dos
Cozinheiros do Slow Food da
Argentina); Priscyla Hammerl
(IFFar-SB); Lurdes Froemming
(UNIJUÍ), Rodolfo Meyer (PUC);
Carmen Regina Dorneles
(UNIPAMPA – SB)
Mesa de Debate
“A integração histórica, cultural e
econômica das Missões através da
alimentação”
Mediador: Fernando Rodrigues
(Centro Cultural de São Borja)
Debatedores: Eilamaria Lombardi
(URI_ AS); Rachel Rech
(IPHAN); Ricardo Almeida
(Assessor do Comitê de
Fronteira)
Palestra “Mate Chimarrão: patrimônio
imaterial”
Fernanda Valente e Rodrigo
Schlee (pesquisadores de Arte e
Cultura Gaúcha)
Palestra “A formação da Culinária
Brasileira”
Dr. Carlos Alberto Dória (SP)
Fonte: Autores, (2017).
O público participante do II Fórum Científico Internacional de Gastronomia
Missioneira, foram os alunos do IFFar, alunos da URI – Santo Ângelo, alunos da UNISINOS,
alunos do IF Sul – Santana do Livramento, alunos da UNICRUZ, alunos da Escola de
Gastronomia de Santo Tomé e comunidade local/regional.
O Fórum foi finalizado com a palestra do Sociólogo Dr. Carlos Alberto Doria, com a
13
palestra "A formação da Culinária Caipira: o Guarani na Cultura Culinária Brasileira". No final
da palestra foi assinado o Protocolo de Cooperação entre instituições participantes firmando
ações futuras para auxiliar o desenvolvimento da Região Missioneira por meio da gastronomia.
Houve também um jantar de encerramento e integração, promovido pelos Chefs das
Universidades já citadas e os alunos do Curso Técnico em Cozinha e Tecnologia em
Gastronomia do IFFar, o cardápio servido no jantar encontra-se no quadro 04. Durante o jantar
teve lançamento do livro "Vida no Butiazal” e do vídeo Amamos Butiá por Alberi Noronha
(EMBRAPA – Clima Temperado).
Quadro 04: Cardápio do jantar de finalização do 2º Festival Internacional da Cozinha Missioneira
Couvert Entrada Prato Principal Sobremesa
Pão Missioneiro de
Erva Mate,
acompanhado de
pasta de azeitonas,
geleia de pimentas.
Primeira Entrada: Bolinho
de miolos com molho.
Segunda Entrada: Mix de
folhas acompanhado de iscas
de matambre, regado ao
vinagrete de butiá e mel.
Primeiro Prato: Humita de
milho verde, file de peixe do
rio.
Segundo Prato: Costela
desossada acompanhado de
legumes missioneiros na
brasa.
Biscoito de milho,
cocada mole, doce de
leite e frutas
regionais.
Fonte: Autores (2017).
O evento contou com várias atrações que nunca tinham sido trazidos ao público,
fazendo com que centenas de pessoas participassem, tanto no Brasil quanto na Argentina,
mostrando a união de povos através da gastronomia. A Comida é um dos principais elementos
formadores da cultura, da história, das memórias e as paisagens culturais que fazem parte do
turismo em localidades, da valorização e da recuperação do patrimônio cultural de regiões.
Um evento pode ser uma fonte das atividades econômicas, uma fonte de lazer e
qualidade de vida da população, uma circunstância para fomentar as relações sociais da
sociedade em que está inserido, além de uma motivação para se preservar e divulgar a cultura
local, neste contexto a região Missioneira foi evidenciada no II Festival Internacional da
Cozinha Missioneira.
CONCLUSÃO
A alimentação, é muito mais do que simples necessidade básica para a sobrevivência
humana, adquire cada vez mais uma série de simbolismos que estão estritamente interligados
com várias vertentes, a cultura de localidades é uma delas. Nessa perspectiva, a alimentação
deixa de ser apenas uma necessidade básica de sobrevivência para se tornar também uma
14
importante marca de distinção social de povos.
São Borja é um município missioneiro que comporta uma comunidade de pequenos e
médios agricultores e agroindústrias, quais necessitam de alternativas sustentáveis para sua
sobrevivência. Sua importância reveste-se pela demanda por qualidade organizacional e
empresarial de forma a atender as necessidades socioeconômicas, mercadológicas e políticas
relacionadas aos alimentos que produzem.
O Festival Internacional da Culinária Missioneira foi de extrema importância para que
a comunidade são-borjense se sensibilizasse ainda mais para a imensa gama de hábitos e
produtos locais, que são de grande valor cultural e precisam ser cultivados.
Os elementos intangíveis subjacentes como a gastronomia realocam a cultura e podem
cooperar de múltiplas formas. Nesse sentido, inciativas como o Festival Internacional da
Cozinha Missioneira incentivam este olhar diferenciado para a gastronomia e o turismo local.
Divulgando a região missioneira como fonte de Patrimônio Cultural material e imaterial, que
se consolida no cenário nacional como destino turístico histórico, cultural e gastronômico.
REFERÊNCIAS
BARRETO, E. A. (org.). Patrimônio cultural e educação: artigos e resultados. Goiânia:
Gráfica Talento, 2008.
BARRETO, M. Turismo e legado cultural. São Paulo: Papirus, 2000.
BAULLÓN, R. Planificación de lespacio turístico. Bauru: Educs, 1991.
DENKER, A de F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 1998.
FIGUEIREDO, A. M L. A função turística do patrimônio: questionamento sobre ideia do
turismo cultural. Caderno Virtual de Turismo, vol. 5, N. 4, 2005, p. 43-49. Universidade
Regional do Rio de Janeiro. Brasil, 2005.
FRANCO, A. De caçador a Gourmet: uma história da gastronomia. São Paulo. Senac, 2001.
GODOY, Adelice Leite de; D’ Ávila, César Kyn. Tutorial: a hierarquia das necessidades
de Maslow. CEDET – Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico, 2009.
Disponível em:<<http//www.cedet.com.br>>. Acesso em nov. 2016.
GREGSON, P.W. Festival Gastronômico: aspectos históricos, práticos e administrativos de
um evento. Barueri: Minha Editora, 2005.
15
IRVING, M de A; AZEVEDO, J. Turismo: o desafio da sustentabilidade. São Paulo: Futura,
2002.
MARTINS, J. C. (org.). Turismo, Cultura e Identidade. São Paulo: Roca, 2003.
MASINA, R. Introdução ao estudo do turismo. Conceitos básicos. Porto Alegre, Mercado
Aberto, 2002.
MATTE, D. Um estudo sobre as dinâmicas simbólicas, sociais, econômicas, políticas e
indenitárias entre os Kaingangs de Guarita –Rs. Ijuí: Unijuí, 2004.
OLIVEIRA, A. M de; MARINHO, M. Comunidade Quilombola de Furnas do Dionísio:
manifestação culturais, turismo e desenvolvimento local. Caderno Virtual de Turismo. ISSN:
1677-6976. Vol. 5, N° 1.BARRETO, M. Turismo e legado cultural: as possibilidades do
planejamento. Campinas: Papirus, 2000.
PÁDUA, E. M. M de. Metodologia da pesquisa: Abordagem teórico-prática. 10 ed. São
Paulo. Papirus, 2004.
SCHLÜTER, R. G. Gastronomia e turismo. São Paulo: Aleph, 2003.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Slva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VENDRUSCULO, R. “Somos da Quarta Colônia”: Os sentidos de uma identidade territorial
em construção. 2009. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) – Programa de Pós-graduação
em Extensão Rural, UFSM, Santa Maria.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 5. Ed. São Paulo:
Atlas, 2004.