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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 IMPLEMENTANDO UM SISTEMA INTEGRADO PARA A GESTÃO TERRITORIAL NO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2012-2013 Melissa Giacometti de Godoy Celso Donizetti Talamoni Alexandre Iamamoto Ciuffa Maíra Eufrásio Tafarello

IMPLEMENTANDO UM SISTEMA INTEGRADO PARA A … · ocorrendo e de implementação do Sistema Integrado de Gestão Territorial, é preciso ... No caso da União Europeia, o planejamento

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013

IMPLEMENTANDO UM SISTEMA INTEGRADO PARA A GESTÃO TERRITORIAL NO

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2012-2013

Melissa Giacometti de Godoy Celso Donizetti Talamoni

Alexandre Iamamoto Ciuffa Maíra Eufrásio Tafarello

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Painel 12/046 Planejamento e orçamento no ESTADO de São Paulo: uma experiência integradora de gestão por resultados

IMPLEMENTANDO UM SISTEMA INTEGRADO PARA A GESTÃO

TERRITORIAL NO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2012-2013

Melissa Giacometti de Godoy

Celso Donizetti Talamoni Alexandre Iamamoto Ciuffa

Maíra Eufrásio Tafarello

RESUMO O objetivo deste artigo é analisar a implementação desde maio de 2012 de um sistema integrado para a gestão territorial no Governo do Estado de São Paulo (GESP). O Estado de São Paulo (ESP) responde por aproximadamente 1/4 da população e 1/3 do PIB do Brasil, possui 4 regiões metropolitanas e importantes áreas de conservação, as quais, no entanto, sofrem pressão constante oriunda da pujança econômica do Estado. Como o ESP é um território tão complexo, seu Governo também o é, possuindo cerca de 700 mil funcionários na ativa e uma quantidade imensa de informação regularmente coletada, o que traz pelo menos dois enormes desafios: integrar e articular ações transversalmente aos diversos órgãos de Governo e com a sociedade civil, criando um novo modelo de Governança, e dar um importante próximo passo tecnológico na gestão territorial estratégica, no que se refere ao planejamento e desenvolvimento regional sustentável. O Sistema Integrado de Gestão Territorial visa dar respostas para tais desafios e nossa análise mostra que este pode ser o início de um importante processo de mudança no GESP, conduzindo a um novo patamar de governança para resultados mais efetivos para o cidadão.

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INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E METODOLOGIA

O aprimoramento da Gestão e o Desenvolvimento Regional e

Metropolitano constituem desafios que estão no centro da agenda do Governo do

Estado de São Paulo na gestão 2011-2014. Além destes desafios, a reponsabilidade

transferida à Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional é enorme por

sua missão de revisar, mesmo que gradualmente, os instrumentos de planejamento,

orçamento e gestão, tornando sua orientação a resultados mais efetiva. A

implementação do Sistema Integrado de Gestão Territorial, que descreveremos aqui,

combina o enfrentamento a estes desafios ao de obter maior integração das políticas

públicas em curso – essencialmente para sua melhor eficiência, eficácia e

efetividade –, e ao desafio da promoção da coesão social no território paulista, por

sua vez conceito fio condutor do conteúdo da política de Desenvolvimento Regional,

como será apresentado.

Um Sistema Integrado de Gestão Territorial é necessário a um Estado do

tamanho e complexidade de São Paulo. Trata-se de construção de um Sistema

como modus operandi com suas partes integradas, ou seja, para além da ferramenta

de TI propriamente dita. O Estado de São Paulo (ESP) é complexo pois responde

por aproximadamente um quarto da população e um terço do PIB do Brasil, possui

quatro regiões metropolitanas e importantes áreas de conservação, as quais, no

entanto, sofrem pressão constante oriunda da potência da economia paulista. Como

São Paulo é um território tão complexo, seu Governo também o é, possuindo cerca

de 700 mil funcionários na ativa e uma quantidade imensa de informação

regularmente coletada, o que nos traz pelo menos dois enormes desafios (conforme

introduzimos acima): integrar e articular melhor as ações transversalmente aos

diversos órgãos de Governo e com a sociedade civil, criando um novo modelo de

Governança, e dar um importante próximo passo tecnológico na gestão territorial

estratégica, no que se refere ao planejamento e desenvolvimento regional

sustentável. O Sistema Integrado de Gestão Territorial visa dar respostas para estes

entraves e nossa análise mostra que ele pode ser parte do início de um importante

processo de mudança no GESP, conduzindo a um novo patamar de governança

para resultados mais efetivos para o cidadão, conforme discutiremos.

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As quatro diretrizes do Plano Plurianual (PPA) 2012-2015, elaborado em

2011, demonstram o fato de que o aprimoramento da Gestão e o Desenvolvimento

Regional e Metropolitano são desafios que estão no centro da agenda do Governo

de São Paulo. São elas:

1. Estado promotor do desenvolvimento humano com qualidade de vida.

2. Estado indutor do desenvolvimento econômico comprometido com as

futuras gerações.

3. Estado integrador do desenvolvimento regional e metropolitano.

4. Estado criador de valor público pela excelência da gestão.

Do ponto de vista da gestão, tais diretrizes inspiraram o desenvolvimento

de um novo método de Gestão por Resultados (GpR) e de um novo método de

Orçamento por Resultados (OpR); ambos são objetos de projetos específicos da

Secretaria de Planejamento, que não serão detalhados aqui. O importante é

ressaltar que, embora iniciativas distintas, OpR e GpR são completamente

integrados na formulação e implementação das ações da Secretaria de

Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo.

Martins e Marini (2010) possuem rica definição sobre Gestão para

Resultados, que expressa o que se têm buscado alcançar no Estado de São Paulo:

(...) modelos abrangentes e integrados de gestão para resultados devem ser dinâmicos (engendrando a contínua formulação, implementação, avaliação de resultados), abrangentes (integrando esforços e resultados) e multidimensionais (levando em consideração e alinhando múltiplos fatores que atuam predominantemente na produção de resultados, tais como estratégias, estruturas, processos, pessoas, recursos, etc); (MARTINS e MARINI, 2010, p. 229)

(...) Gestão para resultados é um processo de mudança organizacional ou governamental que busca introduzir transformações nas estratégias, estruturas, processos, pessoas, alocação de recursos etc. Como tal, lida com uma pluralidade de aspectos da realidade organizacional e requer uma adequada estratégia de intervenção. Não se trata de pensar processos de mudança de maneira formal (emanada de atos legais) ou heurística (ordenada segundo fases pré-definidas), mas é necessário reconhecer que processos de transformação são uma combinação instável (imprevisível no que se refere à possibilidade de controlá-los ex-ante, ex-cursum, ou ex-post) de problemas, soluções, apoios e empreendedores da mudança (a partir da construção de significados sobre problemas e soluções) e mobilizam apoios (internos e externos) criando ou se aproveitando de janelas de oportunidades. (...). (MARTINS e MARINI, 2010, pp.230-231)

No processo de promoção de amplas mudanças visando planejamento,

orçamento e gestão mais orientados a resultados, a Secretaria de Planejamento e

Desenvolvimento Regional (SPDR) redefiniu em 2012 sua missão e sua visão,

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e construiu Um Novo Olhar sobre o PPA – uma releitura estratégica do PPA –

destacando as cinco áreas de resultados mais importantes para o Estado de São

Paulo e repactuando os programas e projetos prioritários para alcançar tais

resultados.

Vale destacar aqui a nova missão e a nova visão da SPDR:

Missão: “Promover a eficiência, eficácia e efetividade das políticas

públicas por meio de um sistema de planejamento, monitoramento e

avaliação capaz de articular as ações governamentais, integrando

planejamento, orçamento e dimensão regional, com vistas à promoção do

desenvolvimento social e economicamente sustentável do Estado de São

Paulo.”

Visão: “Ser reconhecida como órgão promotor da inovação e criador de

valor público para o Estado de São Paulo.”

As cinco áreas (ou dimensões) de resultados são:

Figura 1 – Dimensões de Resultados do PPA Paulista 2012-2015

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A Missão e a Visão da SPDR são sinergicamente relacionadas às

diretrizes do PPA, visando operacionalizá-las. E o Sistema Integrado de Gestão

Territorial pode ser entendido como um Subsistema desse Sistema maior de

Planejamento, Monitoramento e Avaliação, respondendo pela parte que colaborará à

integração da dimensão regional às demais. O Sistema Integrado de Gestão

Territorial será uma ferramenta importante para estruturar o Planejamento Regional

do Estado para que este confira orientação estratégica às iniciativas territoriais de

governo. Com o planejamento regional estruturado, espera-se como resultado que

as ações de governo traduzam a lógica regional, ou seja, espera-se que a visão

integrada do planejamento regional possibilite à Administração prever melhor

impactos territoriais diversos das políticas públicas e das ações da sociedade, os

quais, incidindo sobre uma mesma porção do território, se acumulam; e, ainda,

espera-se que ao prever melhor tais impactos, o poder público possa geri-los com

mais eficácia em caráter preventivo de mitigação de problemas, ou de indução de

boas práticas.

Para completar a exposição do contexto no qual essas mudanças estão

ocorrendo e de implementação do Sistema Integrado de Gestão Territorial, é

preciso ainda mencionar um fato importante em termos da sinalização do

posicionamento do Governo: desde 2011 (Decreto nº 56.635, de 01/01/2011), a

então Secretaria de Economia e Planejamento passou a se denominar Secretaria

de Planejamento e Desenvolvimento Regional (SPDR). Ao explicitar essa nova

competência da SPDR, o Governo do Estado de São Paulo sinalizou sua ênfase na

busca de maior integração das atividades econômicas localizadas em seu território

e de redução das desigualdades sociais ainda presentes nas várias regiões do

Estado de São Paulo, com sustentabilidade ambiental, por meio de uma política de

desenvolvimento regional.

A reformulação e a implementação da política de desenvolvimento

regional do Estado de São Paulo e a implementação do Sistema Integrado de

Gestão Territorial constituem ações complementares, de modo que a seguir

apresentaremos estas duas experiências em curso.

O objetivo deste artigo, assim, é realizar uma análise e um debate sobre o

desafio e o esforço de implementar certas ações e institucionalidades, tidos pela

literatura corrente como boas práticas para o planejamento e a gestão territorial,

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visando o desenvolvimento regional, considerando que São Paulo é um Estado

bastante complexo, pelo seu porte territorial, populacional e econômico.

Destaca-se também que a metodologia para elaboração do artigo utilizou-

se da técnica de pesquisa participante, uma vez que todos os autores são agentes

dos processos de mudança (CICOUREL, 1980).

IMPLEMENTANDO UM SISTEMA INTEGRADO PARA A GESTÃO TERRITORIAL

Afirmamos acima que o Sistema Integrado de Gestão Territorial será uma

ferramenta importante para estruturar o Planejamento Regional do Estado para que

este confira orientação estratégica às iniciativas territoriais de governo. Cabe

portanto perguntar: de qual conceito de planejamento regional se está partindo? E

de qual desenvolvimento regional se está falando?

No caso da União Europeia, o planejamento espacial era definido como “os

métodos utilizados largamente pelo setor público para influenciar a distribuição futura

das atividades no espaço.” E ainda: “o planejamento espacial abraça medidas para

coordenar os impactos de outras políticas setoriais, para atingir uma distribuição mais

igualitária de desenvolvimento econômico entre as regiões do que aquela que seria de

outra maneira criada pelas forças do mercado, e para regular a conversão dos usos

da terra e de propriedade.” (CEC, website, tradução nossa, 1997).

Para Glasson e Marshall (2007), o planejamento regional significa uma

atividade de fato focada no controle e na gestão do uso do solo e da mudança

espacial, mas a qual deve ser entendida a partir de uma compreensão das

mudanças espaciais na sociedade, na economia e no meio ambiente. Então,

consideram seu entendimento mais restrito: nem similar ao planejamento estatal,

nem ao planejamento social, nem com elevadas metas Keynesianas, mas sim algo

mais limitado, que em sua visão está em conformidade com a era atual. E sua visão

considera o elemento espacial na aspiração de planejamento, especialmente nas

aspirações por integração efetiva. Entendem que, se em parte não há como escapar

de ser um planejamento parcialmente subserviente ao mercado, objetivam um

planejamento que, ainda assim, visa ordenar o espaço de maneira coerente.

Um tema permanente em suas preocupações é se, e de que maneira, as tensões

entre essas duas aspirações podem ser contidas e gerenciadas.

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Glasson e Marshall (2007) elencam alguns desafios ao entendimento e à

prática do planejamento regional, decorrentes de outras abordagens:

Na abordagem do urban design, há o desafio de o componente

estratégico, ou regional propriamente dito do planejamento se perder de vista, pelo

foco limitado na criação de novos lugares ou na remodelagem de lugares antigos,

sem realizar análises mais abrangentes e sem uma perspectiva ampla da realidade.

Na abordagem do pós-modernismo, há o desafio do questionamento

sobre se fazer planejamento é possível ou desejável, pois são inúmeras barreiras

para que o planejamento dê certo, então não valeria a pena fazer planejamento.

Na abordagem mercadológica está o terceiro desafio, que é a crença de

que os mercados deveriam ditar a localização de novos desenvolvimentos, a criação

de novas cidades, entre outros, em linha com uma posição ideológica liberal.

Diante destes desafios, Glasson e Marshall (2007) advogam por um

posicionamento crítico perante o planejamento regional por sua fluidez,

complexidade e relações com outros campos de política pública. Assim, ele não é

algo bom ou ruim em si, mas pode facilmente ser usado para fortalecer alguns

conjuntos de valores ou outros. Os argumentos técnicos a favor do planejamento

regional podem ser muito convincentes, mas sempre é importante estar consciente e

atento, como em qualquer planejamento, às condições de contexto e

enquadramento do planejamento regional em questão.

A política de desenvolvimento regional do Estado de São Paulo está em

revisão, embora permaneça simultaneamente em implementação. A reformulação

da política e a elaboração do Sistema Integrado de Gestão Territorial fazem parte do

mesmo processo, conforme contextualizamos na Introdução.

A reformulação da política de desenvolvimento regional na Secretaria de

Planejamento e Desenvolvimento Regional já envolveu a definição de seus

princípios e de suas diretrizes, que a seguir apresentaremos. Vale lembrar que,

como a reformulação está em curso, essas definições ainda estão sujeitas a

revisões, mesmo no curto prazo.

Os princípios1 definidos são:

1 Os princípios da política aqui apresentados são de autoria do Assessor de Gabinete da Secretaria

de Planejamento e Desenvolvimento Regional, Sinésio Pires Ferreira, em 2012, que os redigiu em um esforço de síntese dos debates da equipe da Secretaria.

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Princípios da política de desenvolvimento regional de SP

1. O desenvolvimento regional deve ser considerado um dos elementos

centrais de todas as ações de governo e não daquelas sob a

responsabilidade de uma secretaria ou órgão específico;

2. Os instrumentos e programas governamentais devem ser desenhados

e implementados de forma coordenada, buscando reduzir as

desigualdades sociais ainda presentes no território paulista;

3. Esses instrumentos e programas devem privilegiar ações que busquem

a integração regional e a coesão social, evitando a competição

interna;

4. O patrimônio natural e o construído, considerados relevantes para o

Estado de São Paulo e suas regiões, devem ser tratados como ativos

sociais, ambientais e culturais e não como entraves ao

desenvolvimento econômico;

5. Os esforços dos diferentes atores sociais que atuam regionalmente

devem ser conjugados em busca de objetivos comuns, socialmente

construídos, implicando o desenvolvimento de uma estrutura de

governança regional que agregue esses atores na identificação ou

validação desses objetivos.

As diretrizes da política foram definidas na SPDR como parte de um

processo de debates interno ao Governo do Estado, também pautado pelo Governo

Federal. Este iniciou em 2012 a redefinição da Política Nacional de Desenvolvimento

Regional por meio de um processo de conferências participativas em âmbito

estadual, macrorregional e nacional. Para a Conferência de Desenvolvimento

Regional do Estado de São Paulo, o Governo do Estado de São Paulo, por meio da

Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, elaborou as diretrizes aqui

apresentadas e pôde debatê-las com os segmentos representantes de Governos,

Sociedade Civil, Universidades e Setor Privado. As diretrizes elaboradas pelo

Governo do Estado de São Paulo são:

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Diretrizes propostas para a Conferência Estadual de Desenvolvimento

Regional pelo GESP

1. Promover a integração das políticas públicas estaduais por meio da

disseminação de uma abordagem regional para as diferentes ações

de governo;

2. Promover o desenvolvimento das regiões paulistas por meio do

incentivo ao aumento da sua competitividade, combinado com a

redução das suas desigualdades sociais e territoriais;

3. Reforçar as ações governamentais que busquem a conexão inter-

regional, a coesão social e a sustentabilidade ambiental, por meio do

reconhecimento dos problemas e das potencialidades das diferentes

regiões do Estado;

4. Tratar o patrimônio natural e construído das regiões do Estado de São

Paulo como ativos sociais, ambientais e culturais, e não como

entraves ao desenvolvimento;

5. Promover a criação de uma estrutura de governança regional que

conjugue os esforços dos diferentes atores sociais que atuam

regionalmente;

6. Promover o debate acerca dos territórios cujas dinâmicas ultrapassam

as fronteiras estaduais e suas implicações para as políticas públicas;

7. Promover a construção de sistema georreferenciado de informações

que potencialize a integração, o monitoramento e a avaliação das

diversas ações governamentais, especialmente aquelas com maiores

impactos sociais e territoriais;

8. Promover a criação e estruturação do Fundo Estadual de

Desenvolvimento Regional, visando financiar a implementação da

Política Estadual de Desenvolvimento Regional;

9. Promover a criação de espaços de diálogo institucional contínuo entre

entes federativos e sociedade civil no âmbito da Política Nacional de

Desenvolvimento Regional;

10. Contribuir para a construção de um Sistema Nacional de

Desenvolvimento Regional (SNDR) que inclua os Fundos Estaduais

de Desenvolvimento Regional, bem como fóruns de negociação

federativa, contemplando todos os Estados da Federação como

agentes da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR).

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Faz-se importante ressaltar que, tanto na literatura sobre o tema, quanto

nos debates mais empíricos propiciados inclusive pelo espaço das conferências de

desenvolvimento regional, o grande desafio sobre o qual há consenso é quanto à

dificuldade de integrar e articular as políticas públicas setoriais, em si, e também

com o objetivo de imprimir uma visão estratégica territorial às ações de Governo.

Esta é uma das razões que justificam o esforço de desenhar e implementar um

sistema integrado de gestão territorial, no âmbito de um sistema de gestão por

resultados. O conhecimento do território colaborará para uma visão integradora.

Porém, como outra face da mesma questão, a dificuldade de integrar as políticas

públicas permitindo analisá-las sob um prisma mais estratégico e territorial também é

uma razão importante para compreender porque é tão difícil implementar tal sistema.

Uma questão fundamental é como implementar planejamento e gestão

territorial para o desenvolvimento regional. E a resposta a ela passa pela

compreensão desse desafio de integração das políticas de uma maneira mais

contextualizada e mais aprofundada.

Para Keating (1997), a ligação entre território e poder político foi atenuada

e o poder se dispersou em redes e múltiplas esferas de autoridade. Porém, afirma o

autor, o território está sendo reinventado e reestruturado, identidades coletivas estão

sendo reforjadas e novos sistemas de ação coletiva têm emergido no âmbito do

Estado e da Sociedade Civil, de modo que novas formas de autonomia e de

dependência aparecem. Keating afirma também que as regiões em si possuem um

papel ativo que intervém nos novos e complexos sistemas de produção e

distribuição (como também afirmou o Geógrafo Milton Santos em tantas

oportunidades e ao redefinir o conceito de espaço geográfico no livro A Natureza do

Espaço de 1996). Para Keating (1997), a reestruturação territorial já foi muito longe

para que haja insistência no modelo antigo de Estado-Nação. O que se faz preciso,

portanto, é explorar a necessidade por novas formas de responsabilização

(accountability) democrática e integração de políticas públicas na nova ordem

territorial, o que não é um desafio fácil.

Relatório recente da OCDE (2012) aponta que a descentralização é ainda

um longo processo histórico no Brasil, caracterizado por avanços e retrocessos, e

intensificado pela grande autonomia municipal garantida pela Constituição de 1988.

Dessa forma, para a OCDE o Brasil ainda está explorando mecanismos diversos

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para a governança em múltiplos níveis e para a coordenação multidimensional de

políticas públicas. A coordenação da ação governamental transversalmente a

setores e níveis de governo é identificada como um grande desafio também neste

relatório. As dificuldades existem porque a autonomia de estados e municípios é

ampla e porque superar a múltipla fragmentação das políticas públicas (horizontal e

vertical) é difícil, especialmente em um contexto onde muitos atores cruciais não são

preparados para exercer suas funções. Para a OCDE, houve muitos avanços na

última década, mas ainda estamos em uma fase de experimentação. Justamente por

isso, alguns esforços institucionais duplicados ocorrem, o que é normal nesse

estágio do processo. O importante para a OCDE (2012) é avaliar a efetividade dos

instrumentos recentemente criados, para generalizar e fortalecer aqueles que

funcionarem melhor e para afinar a coerência geral do sistema. Assim, conclui o

relatório que investir nas instituições de governança é um passo necessário para

maximizar os benefícios das políticas públicas desenhadas para implementar a

agenda governamental brasileira.

Desta forma, há consenso sobre as vantagens de uma abordagem

transversal e multidimensional, que seria a abordagem do planejamento e

desenvolvimento regional, e há consenso sobre a enorme dificuldade de superar a

fragmentação e efetivamente implementar o que estamos chamando de gestão

territorial de políticas públicas integradas. No esforço de acessar a visão estratégica

territorial e a partir daí gerir as políticas públicas articuladas com foco em resultados,

algumas áreas do conhecimento, como a Cartografia, e algumas ferramentas de

análise e de gestão, como infraestruturas de dados espaciais disponibilizadas e

visualizadas em portais web, são essenciais. Vamos falar sobre elas antes de expor

detalhes sobre o estágio da implementação do Sistema Integrado de Gestão

Territorial Paulista.

Contribuição da Cartografia para o Sistema Integrado de Gestão Territorial

A alimentação do Sistema de gestão no formato proposto pressupõe o

levantamento de dados de caráter oficial de alta confiabilidade e regularmente

atualizados. Tão importante quanto os dados de estatística vital, são os produtos

cartográficos que representam o território em questão. O conhecimento do território

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e dos fenômenos que nele ocorrem, sejam eles ambientais, sociais ou econômicos,

torna-se consideravelmente mais abrangente e completo quando o gestor dispõe de

material cartográfico de qualidade.

O Estado de São Paulo retomou a produção da cartografia oficial de seu

território com a contratação de serviços de mapeamento sob a organização e

supervisão do Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC, órgão vinculado à

Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, dando continuidade a uma

tradição iniciada em 1978, com a elaboração dos primeiros mapas topográficos na

escala 1:10.000.

O novo mapeamento está sendo realizado com base em fotografias

aéreas digitais tomadas em 2010/2011 com recobrimento de todo o território

paulista. A partir deste insumo serão produzidas ortofotocartas na escala 1:25.000,

além da restituição da hidrografia e do Modelo Digital de Terreno. O projeto teve

início em 2012 com a contratação de 60.000 km² na porção oeste do Estado de São

Paulo, área cujo mapeamento datava da década de 70 na escala 1:50.000 (Figura

2). A conclusão deste primeiro lote está prevista para maio de 2013, com a meta de

fechamento do Estado em 2014, totalizando 248.600 km² de área mapeada.

Figura 2 – Mapeamento na escala 1:25.000 do Estado de São Paulo - primeiro lote

É importante ressaltar que o processo de elaboração de produtos

cartográficos deve ser realizado valendo-se da melhor tecnologia disponível e, acima

de tudo, obedecendo a rígidos critérios de precisão e completitude. Assim, questões

envolvendo o ordenamento territorial como: jurisdição territorial; precatórios;

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regularização fundiária; divisas municipais e estaduais, entre outros, somente são

passíveis de solução adequada com o georreferenciamento das áreas em questão

sobre uma base cartográfica dotada da garantia de uma chancela oficial.

Da mesma forma, considerando-se a pujança econômica do Estado, e a

crescente necessidade de regulação do uso de suas terras sob a ótica da

sustentabilidade ambiental, a implementação de um Zoneamento Ecológico-

Econômico (ZEE) encontra-se na agenda do dia (iniciativa em formulação na

Secretaria do Meio Ambiente). Neste contexto, o conhecimento proporcionado pela

cartografia atualizada do território, permite ao gestor identificar e localizar áreas a

serem protegidas, as quais destacamos: as áreas de proteção ambiental (APA);

áreas de proteção permanente (APP); os parques estaduais e municipais; as áreas e

patrimônios tombados; as áreas de risco, ou seja, porções do território onde o

interesse econômico deve adequar-se, respeitando e não prevalecendo sobre o

interesse ecológico ou social, ou ainda cultural. Por outro lado, um zoneamento

criterioso e eficiente deve também permitir a identificação de áreas com potencial a

uma ou outra atividade econômica, cabendo ao Estado induzir o desenvolvimento de

forma organizada e competente.

Dessa maneira, procuramos demonstrar a importância da cartografia

como instrumento fundamental de conhecimento e análise do território que,

somado às estatísticas vitais, constituem insumos imprescindíveis a um sistema

integrado de gestão.

Atualmente, o gestor pode ainda contar com ferramentas de

geoprocessamento, cujo diferencial, entre outros, é possibilitar a visualização de

dados estratégicos de forma espacial, constituindo-se de outro valioso recurso ao

monitoramento e avaliação como veremos adiante na implantação da plataforma

Geoportal IGC.

A Plataforma Geoportal IGC

Os avanços da tecnologia aplicada aos sistemas de aquisição,

processamento, extração e análise de dados geoespaciais, levaram, entre outros, ao

desenvolvimento dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Partindo

inicialmente de uma ideia simples de unir dados tabulares às geometrias constantes

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nos mapas, tais sistemas rapidamente foram se tornando cada vez mais

sofisticados, gerando, desde mapas temáticos partindo de uma única variável, até

análises espaciais complexas envolvendo mapas e dados estatísticos provenientes

de diversas fontes, além de algoritmos capazes de simular modelos realistas de

possíveis cenários.

Além dos desafios técnicos, a popularização desta tecnologia gerou

novas necessidades. Em primeiro lugar, constatou-se a crescente demanda por

mais rápido e fácil acesso às informações georreferenciadas, demanda esta

fortemente influenciada pelo desenvolvimento da internet. Em segundo lugar,

destaca-se a necessidade de visualização conjunta das informações geradas,

especialmente no âmbito governamental, com o importante objetivo de fornecer

subsídios à tomada de decisão e, paralelamente, disponibilizar as informações de

interesse público ao cidadão, contribuindo ao processo de transparência da ação

pública. Finalmente, com a massiva geração de dados nas esferas federal, estadual

e municipal, os sistemas passaram de simples visualizadores a sistemas que

passaram a constituir as infraestruturas de dados espaciais (IDE).

A plataforma Geoportal foi concebida nesta filosofia, ou seja, parte de

um objetivo inicial de difundir e ampliar o acesso aos dados cartográficos

produzidos pelo Estado, e pode crescer indefinidamente no sentido de agregar

informações produzidas de forma permanente, provenientes de diversas

Secretarias de Estado. Neste ponto, convém ressaltar o conceito de

interoperabilidade, por meio da qual os dados produzidos permanecem em suas

Secretarias ou Órgãos de origem e o acesso pelo Geoportal é realizado de forma

remota, mantendo-se assim resguardada a garantia de atualização, bem como a

governança sobre o dado produzido.

Objetivo fundamental do Geoportal é organizar todas as bases de dados

do IGC e disponibilizá-las na forma de serviços a todos os demais entes do poder

público e à sociedade em geral. A Figura 3 mostra a tela inicial do Portal em fase

final de desenvolvimento – a publicação será em abril de 2013.

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Figura 3 – Tela inicial Geoportal IGC

Contudo, o Geoportal em si é uma tecnologia que somente cumprirá seus

objetivos por meio de sua correta e criativa utilização. Neste sentido, este ambiente,

onde encontram-se reunidos dados sobre orçamento e investimentos; convênios e

fundos; equipamentos e serviços; indicadores socioeconômicos e ambientais,

programas prioritários de Governo por áreas de resultados, entre outros, deverá ser

modelado partindo de uma perspectiva regional, servindo como instrumento de

orientação às políticas públicas, auxiliando-as em sua missão de induzir o

desenvolvimento regional, reduzir as disparidades do território e promover a coesão

social (Figura 4).

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Figura 4 – Espacialização de dados socioeconômicos no Geoportal IGC

A convergência entre o desenho do Geoportal IGC e os propósitos da

revisão da política de desenvolvimento regional levaram à escolha da ferramenta

Geoportal como a plataforma tecnológica de hospedagem da infraestrutura de dados

espaciais que embasará a construção do Sistema Integrado de Gestão Territorial,

conforme apresentaremos na próxima seção.

Análise da experiência de implementação do Sistema Integrado

Para os gestores e técnicos envolvidos nas negociações com o Banco

Mundial (BIRD) visando o financiamento a um novo projeto nas áreas de transporte,

logística e meio ambiente, a identificação da necessidade premente por um Sistema

Integrado de Gestão Territorial ocorreu em maio de 2012. Além destas áreas

temáticas, a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional – SPDR

também participa do processo (em conjunto com o Instituto Geográfico e

Cartográfico – IGC). As negociações por esse novo projeto fomentaram um debate

mais intenso do que o corrente entre as secretarias envolvidas: Secretaria do Meio

Ambiente – SMA (e Instituto Geológico – IG, responsável pela parte de gestão de

risco) e Secretaria de Logística e Transportes – SLT (além de SPDR e IGC).

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Todas as áreas temáticas envolvidas – transporte, logística, meio

ambiente, risco, desenvolvimento regional e cartografia – têm forte natureza

territorial, o que ficou evidente ao se debater as iniciativas de planejamento de cada

órgão para a construção do projeto, quais sejam: o Plano Diretor de Logística e

Transportes 2030 (SLT); a Política Estadual de Mudanças Climáticas (multitemática),

a qual dialoga com a Política Nacional de Defesa Civil, abordando, entre outras, a

problemática do risco geológico (IG); a elaboração do Zoneamento Econômico-

Ecológico (ZEE) do Estado (SMA); e a revisão da política estadual de

desenvolvimento regional, acompanhada da construção do Geoportal (SPDR e IGC).

O novo projeto foi criado para tratar da construção e manutenção de

estradas principais e vicinais por todo o Estado – visando incentivar modais

alternativos, pois tais novas estradas farão necessárias ligações com a Hidrovia

Tietê-Paraná e com as ferrovias paulistas –, e para promover a sustentabilidade

ambiental, por meio do ZEE com sua ampla normatização, por meio do

monitoramento ambiental da CETESB (vinculada à SMA) e por meio do

monitoramento das áreas de risco (IG). Conforme os debates se intensificaram na

formulação do planejamento do projeto, ficou clara a oportunidade de integrar os

esforços das várias áreas com os esforços em construção na SPDR – quais sejam: a

revisão da política de desenvolvimento regional, a atualização da base cartográfica

do Estado pelo Projeto de Mapeamento do IGC e a construção da ferramenta

Geoportal IGC. Além disso, ficou clara também a oportunidade de aproveitar a

temporalidade de um momento de integração de políticas territorialmente intensivas

na fase de planejamento, para construir um Sistema Integrado de Gestão Territorial,

papel que coube à SPDR liderar, à frente de um grupo gestor do Sistema, composto

pelos órgãos envolvidos.

Como de fato é consenso entre líderes, gestores e técnicos da

Administração Pública Estadual que integrar políticas públicas a partir de uma visão

estratégica territorial é um desafio de grandes proporções (conforme discutido

acima), após a identificação da oportunidade de dar início à construção do Sistema,

a ideia de começar com um piloto aproveitando a experiência do projeto em

negociação com o Banco Mundial foi de certa forma uma consequência lógica. Vale

observar que a continuidade do piloto independe do projeto específico com a

participação do Banco Mundial ser efetivado, embora, caso isso aconteça,

certamente que será benéfico para a iniciativa de construção do Sistema Integrado

de Gestão Territorial.

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Foi pactuado entre as equipes dos órgãos públicos envolvidos e a equipe

do Banco Mundial o resultado esperado de, em três anos a partir de 2013 (este

inclusive), ter concluído a formulação de uma política de gestão territorial integrada e

ter implantadas as ferramentas de monitoramento e gestão dessa política

(lembrando que o contexto é de fortalecimento da GpR no Estado). E outro resultado

pactuado foi: em cinco anos a partir de 2013 (este inclusive), ter três ações de

governo em curso fundamentadas nessa política.

Com base nesta pactuação e nesse contexto, houve uma divisão de

tarefas entre os órgãos responsáveis. As negociações estão previstas para terminar

em maio de 2013, quando – se tudo correr conforme o previsto – o financiamento e,

portanto, o próprio projeto, terão início. A identificação da necessidade real por um

Sistema Integrado de Gestão Territorial, a pactuação entre os atores

governamentais e o consenso acerca das ações que têm que ser feitas, já fizeram

com que a divisão de tarefas começasse a ser executada, pelo menos desde agosto

de 2012 (como dito acima, independentemente da participação do Banco Mundial e

de o projeto vingar).

A seguir descreveremos as ações em curso na Secretaria de

Planejamento e Desenvolvimento Regional e no Instituto Geográfico e Cartográfico

para a construção do Sistema. Antes, porém, destaca-se que as ações em curso na

Secretaria de Logística e Transportes, na Secretaria do Meio Ambiente e no Instituto

Geológico, para a construção do Sistema, envolvem principalmente a revisão e

ampliação dos seus respectivos sistemas de informação geográfica (SIG), de modo

a colaborar para a interoperabilidade entre os SIGs, a ser obtida por meio da

expansão do projeto Geoportal IGC; e o debate conjunto (com a SPDR) sobre o

modelo de governança e sobre o formato de operação do grupo gestor do Sistema

Integrado, que talvez venha a ser um Comitê Gestor.

Na SPDR e no IGC estão em curso, assim, a arquitetura e o

desenvolvimento da expansão do projeto Geoportal, da Secretaria de Planejamento

e Desenvolvimento Regional e Instituto Geográfico e Cartográfico, para a Secretaria

do Meio Ambiente, Instituto Geológico, Secretaria de Logística e Transportes e DER.

A expansão trata justamente do desenvolvimento de aplicativos que possibilitem a

interoperabilidade das bases de dados geoespaciais selecionadas e organizadas,

para a sua visualização no Geoportal, permitindo assim sua disseminação e

adotando as seguintes premissas:

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Dotar o Governo do Estado de Infraestrutura de Dados Espaciais,

subsidiando os gestores com instrumento auxiliar à tomada de decisão

e ao planejamento territorial, possibilitando articular bases de dados de

diversas secretarias;

Conferir maior orientação estratégica às ações do Governo a partir da

ampliação do conhecimento sobre o território; e

Melhorar o atendimento ao cidadão.

O estágio da expansão ainda é inicial e de desenho, inclusive porque,

como mencionado acima, o Geoportal IGC será lançado no início de abril de 2013.

Com a expansão pronta e a conclusão do piloto do Sistema Integrado do ponto de

vista da tecnologia, espera-se que já seja possível identificar, por meio das análises,

as principais tendências da dinâmica territorial e do desenvolvimento regional do

Estado de São Paulo, em suas dimensões econômica, social, ambiental e da própria

ação pública. A expansão do Geoportal IGC deve ficar pronta ao final de 2013.

As outras ações em curso na SPDR para o Sistema Integrado de Gestão

Territorial visam desenvolver planejamento estratégico, gestão, monitoramento e

avaliação de projetos, segundo a perspectiva regional e territorial. Está em curso,

para tanto, a preparação institucional para o desenvolvimento de Planejamento

Estratégico Regional e Territorial do Estado de São Paulo (2030): as competências

internas – a partir de levantamento realizado sobre as mesmas – estão mobilizadas

e realizando ações específicas de preparação, e está sendo estudada a contratação

de apoio externo. Este é o estágio atual dessas ações.

São objetivos desse Planejamento Estratégico: permitir ao Estado a

implementação de políticas públicas mais efetivas, voltadas a resultados e às reais

necessidades dos cidadãos paulistas, conforme as diferentes vocações e

necessidades regionais; colaborar para a distribuição futura dos serviços e

equipamentos públicos, entre outros, no espaço; propor medidas de gestão para

coordenar estrategicamente os impactos territoriais das políticas setoriais; utilizar a

ferramenta Geoportal; e propor medidas de gestão para atingir uma distribuição mais

igualitária e sustentável do desenvolvimento socioeconômico entre as regiões do

Estado. Também se entende tal ação como fundamental para a promoção do

alinhamento dos planos setoriais das Secretarias de Estado e de seus órgãos

vinculados à estratégia governamental de desenvolvimento regional, à luz das metas

ambientais já estabelecidas e em consonância com as diretrizes gerais de Governo.

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Para tanto, será necessário o desenvolvimento de metodologias para

elaboração do planejamento, da gestão que o implementará, e do seu

monitoramento e avaliação. Quando todas as atividades previstas nesse ciclo

estiverem concluídas, o Sistema Integrado de Gestão Territorial estará operando, o

que está previsto para o início de 2014. As atividades que serão realizadas são:

Elaboração de diagnóstico sobre a situação atual do Estado de São

Paulo, visando identificar e propor alinhamento de ações

desenvolvidas, considerando instrumentos como plano plurianual,

planos setoriais e leis orçamentárias.

Desenvolvimento de metodologia para elaboração de planejamento de

longo prazo que considere a perspectiva regional e territorial das ações

do Estado.

Capacitação de equipes das Secretarias envolvidas para elaboração e

disseminação da metodologia desenvolvida.

Apoio à estruturação de planos de implementação para os projetos

prioritários, incluindo definição e elaboração de indicadores.

Desenvolvimento de instrumentos de Monitoramento e Avaliação para

avaliação de impacto das ações regionais e territoriais implementadas

no âmbito do Plano Estratégico Regional e Territorial do Estado de

São Paulo.

Certamente que a implementação bem-sucedida do Sistema Integrado de

Gestão Territorial não depende exclusivamente da qualidade do seu desenho

técnico. Também são fundamentais ao processo uma gestão eficiente e eficaz do

projeto de construção do Sistema e a permanência sempre renovada do

comprometimento das lideranças e equipes envolvidas (conforme ensina o INDG,

comunicação verbal, 2012). Nesse sentido, a pactuação construída acerca da

percepção coletiva entre os atores governamentais sobre a necessidade premente

em se ter tal Sistema é um elemento-chave a ser continuamente renovado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste artigo buscamos analisar e debater acerca do desafio que

é a implementação do Sistema Integrado de Gestão Territorial paulista, o qual

certamente colaborará para o planejamento e a gestão territorial, visando o

desenvolvimento regional, além de ser parte do contexto maior de GpR no Estado

de São Paulo. Contribuem para que a implementação seja um desafio a questão da

dificuldade de integrar as políticas públicas setoriais e o fato de que São Paulo é um

Estado complexo, de grande porte territorial, populacional e econômico no contexto

do Brasil.

Com o Sistema Integrado de Gestão Territorial será possível compreender

melhor os impactos cumulativos da ação pública, e também ao menos parcialmente

da privada, na mesma porção do território. O Estado poderá reforçar suas ações de

mitigação de impactos negativos e também potencializar ações de impacto

claramente positivo para a população. Por este motivo, o Sistema será uma parte

importante da GpR no Estado e poderá ser de utilidade significativa também às

iniciativas de avaliação de impactos de políticas públicas em curso em São Paulo.

A Cartografia e a Gestão são muito importantes para a implementação do

Sistema, mas elas são essencialmente ferramentas. Por isso dissemos acima que as

lideranças e as equipes envolvidas são fundamentais. Além disso, o conhecimento

técnico sozinho também não é suficiente. A combinação equilibrada desses fatores

(INDG, comunicação verbal, 2012) colaborará para que a implementação seja bem-

sucedida. Outro fator importante que motiva o processo é o conteúdo almejado da

mudança, é o porquê se ambiciona construir o Sistema, que, além do que foi dito,

pode ser explicado pela citação abaixo:

É impossível imaginar uma cidadania concreta que prescinda do componente territorial. (...) a igualdade dos cidadãos supõe, para todos, uma acessibilidade semelhante aos bens e serviços, sem os quais a vida não será vivida com aquele mínimo de dignidade que se impõe. Isso significa, em outras palavras, um arranjo territorial desses bens e serviços de que, conforme a sua hierarquia, os lugares sejam pontos de apoio, levando em conta a densidade demográfica e econômica da área e sua fluidez. (SANTOS, 2002, p.144)

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Espera-se que o Sistema venha a colaborar para a construção de uma

cidadania mais efetiva do ponto de vista territorial. Acredita-se que o Sistema

Integrado de Gestão Territorial estará operando no início de 2014, conforme o

previsto. E é por estes motivos que nossa análise considera que este pode ser o

início de um importante processo de mudança no Governo do Estado de São Paulo,

conduzindo a um novo patamar de governança, para resultados melhores e de mais

impactos benéficos para o cidadão.

REFERÊNCIAS

CICOUREL, Aaron. Teoria e método em pesquisa de campo. In: GUIMARÃES, Alba Zaluar (org.). Desvendando Máscaras Sociais. 2a Edição. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves Editora, 1980. pp. 87-103.

GLASSON, J. e MARSHALL, T. Regional Planning. London and New York: Routledge, 2007.

KEATING, M. The invention of regions: political restructuring and territorial government in Western Europe. Environment and Planning C: Government and Policy, 1997, volume 15, pp. 383-398.

MARTINS, Humberto Falcão; MARINI, Caio. Um guia de governança para resultados na administração pública. Brasília, Publix Editora, 2010.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD). OECD Territorial Reviews. The case of Brazil. Public Governance and Territorial Development Directorate. Territorial Development Policy Committee. Oct-2012.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Edusp, 2002. (Coleção Milton Santos; 8).

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AUTORIA

Melissa Giacometti de Godoy – Geógrafa e Doutora em Geografia Humana pela USP, Assessora Técnica de Gabinete na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected] Celso Donizetti Talamoni – Geógrafo pela UNESP e Mestre pela USP, Diretor do Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC, Estado de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected] Alexandre Iamamoto Ciuffa – Geógrafo pela USP, Diretor Técnico da Gerência de Cartografia do Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC, Estado de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected] Maíra Eufrásio Tafarello – Geógrafa pela USP, Subgerente de Cartografia Temática do Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC, Estado de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected]