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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 2/150 - Versão 01
EExxpplliiccaaççããoo pprréévviiaa
1. Sempre nos preocupámos com as metodologias de estudo e investigação.
Quando editámos Pensar a Economia 10º Ano (1993) dedicámos uma parte
inicial aos “Métodos de Estudo”. Considerámos que era o mais importante daquele
livro, embora constatássemos posteriormente que tanto professores como estudantes
do Secundário pouco lhe ligassem, empenhados na resposta às perguntas. Na
sequência desse escrito, com as evoluções conceptuais pessoais que registámos
(desbravar da aplicação da teoria do caos à Economia; aprofundar a
interdisciplinaridade) resolvemos avançar para um guia inovador que lograsse orientar
os estudantes de mestrado e doutoramento (antes Bolonha). A nossa responsabilidade
por disciplinas de metodologia em mestrados foi o despoletar do processo.
Então dedicámos algum tempo à leitura de obras de especialidade e, tendo-se
encontrado livros de enorme qualidade em todos descobrimos deficiências. Uns eram
muito dogmáticos, descritivos de procedimentos e acríticos. Outros estudavam o
qualitativo e remetiam para segundo plano, ou esquecimento, o quantitativo. Outros
ainda tinham grande qualidade (ainda hoje consideramos o livro de Umberto Eco um
monumento de sapiência) mas estavam tecnologicamente ultrapassados. Em todos
constatámos uma abordagem disciplinar ou generalista, sem atender à especificidade
que uma focagem interdisciplinar comporta.
O nosso objectivo era escrever um estudo que reunisse o qualitativo e o
quantitativo (agradecemos ao colega Luís Torgo os documentos de base que serviram
para escrever o anexo sobre a utilização do R), a operacionalidade do estudante com a
reflexão crítica das suas opções e, sobretudo, que ajudasse quem o lesse a praticar a
interdisciplinaridade. Sim, a interdisciplinaridade exige uma metodologia própria, e a
experiência disciplinar de cada um desemboca automaticamente numa pobre
metodologia disciplinar bastante acrítica.
2. Modificações nos mestrados a que estávamos ligados e o envolvimento noutras
tarefas remeteram para “um dia repegamos”, enquanto fomos percorrendo outros
rumos.
Alguns dos aspectos que mais nos inquietavam ao começarmos a escrever este
trabalho foram positivamente superados com a publicação do nosso livro
Interdisciplinaridade nas Ciências Sociais (2013), ele próprio o culminar de longos
anos de trabalho interdisciplinar (influência de Armando Castro; direcção de equipes
interdisciplinares ligadas ao desenvolvimento regional, ao sistema educativo e à
fraude; investigação que nos acompanhou desde a tese de doutoramento e que está
plasmado em diversos artigos sobre a interdisciplinaridade ou a epistemologia).
Acabámos, há dois dias, de escrever a versão definitiva de um livro sobre
“Paradigmas da Economia e Racionalidade”, depois de quatro anos de trabalho. Dele
resultaram novas prioridades de escrita, a acompanhar o trabalho simultâneo e
continuo sobre a fraude. Percebi que este livro nunca seria acabado.
Por isso decidimos colocá-lo em linha como está… Creio que mesmo assim
ainda pode ter alguma utilidade. Há matérias que estão completamente escritas.
E desculpem não termos chegado para mais!
.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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EESSTTRRUUTTUURRAA Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar exige abordar um conjunto
de matérias que de seguida se enunciam. Muito provavelmente a elaboração do livro
vai exigir modificar pontos, certamente vai impor subpontos adicionais, mas desde já
se apresenta um esquema geral provisório.
1. Introdução
Apresentação dos objectivos do livro e da metodologia seguida. É necessário,
sobretudo esclarecer os seguintes pontos: (1) havendo tantos livros sobre metodologia
de investigação será necessário mais um? (2) Referindo o título “tese” este livros só é
aplicável a essa situação? (3) Há metodologias diferentes conforme as disciplinas
científicas e, no caso de se responder afirmativamente, a que ciências se aplica este
livro? (4) O que diferencia a metodologia disciplinar da metodologia em “contexto
interdisciplinar”?
2. Oportunidade desta temática
Qual a importância da metodologia? Qual o momento mais adequado para a sua
apresentação pelo professor e a sua leitura pelo estudante? São estas duas questões a
que se pretende responder neste ponto introdutório.
3. Considerações preliminares
Toda a actividade intelectual exige rigor. Uma investigação científica que, por
definição, é uma sistemática incursão no desconhecido, no novo, por muito que
tenhamos que relativizar este termo, obriga a um rigor acrescido, a uma enorme
precisão terminológica e conceptual. Do ponto de vista científico é um erro grave
“admitir-se que todos sabemos” as questões epistemológicas e sociológicas essenciais
relacionadas com a noção de conhecimento, ciência, sociedade do conhecimento,
práticas sociais e funcionamento das instituições. Neste ponto pretende-se fazer um
sobrevoo – pela natureza introdutória destas matérias, pelo conteúdo do livro e pela
própria «complexidade» das problemáticas –, faz-se apenas uma rápida e ligeira
abordagem destas matérias, aliciando, quiçá, para leituras complementares por parte
dos leitores.
3.1. Conhecimento e conhecimento científico
3.2. Ciência e ciências
3.3. Sociedade do conhecimento
3.3.1. Características gerais
3.3.2. Importância das redes
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 5/150 - Versão 01
3.4. Conflitualidade interna e “Colégios Invisíveis”
3.4.1. Significado da conflitualidade interna
3.4.2. Raízes da conflitualidade
3.4.3. “Colégios invisíveis” e ciência oficial
3.5. Instituição universitária
3.6. Conhece-te a ti próprio
3.6.1. Características psico-somáticas
3.6.2. Liberdade e determinismo
4. Gosto e eficácia no estudo
Não há investigação sem estudo. Estudo do muito que foi previamente descoberto e
transmitido, estudo das melhores formas de investigar, estudo das informações
obtidas, estudo das dificuldades e erros encontrados. Não pode haver bom
investigador sem ter o gosto pelo estudo. Gostar de estudar e saber estudar pode ser
decisivo. Contudo consideramos matéria adquirida e dispensamo-nos de tratar de uma
forma sistemática estas questões. Contudo, ainda a título introdutório, faremos
algumas breves alusões a alguns assuntos, numa ténue tentativa de obrigar a repensar
as formas de estudar.
4.1. Entre os conhecimentos corrente e científico
4.2. Tudo saber, sem angústia
4.3. Direccionamento do estudo
4.4. Aumento da eficácia
5. Sobre a tese
A referência deste livro é a tese. Uma tese tem elementos diferenciadores em relação a
outros tipo de documentos científicos. Por outro lado esse mesmo termo pode ser
aplicado a diversas situações. Este é o último ponto “introdutório” esclarecendo
brevemente estas noções.
5.1. O que é uma tese
5.2. Tipos de tese
5.3. A tese e a vida futura
6. Aproximação à “realidade” que se pretende estudar
Este capítulo é o primeiro de tratamento do cerne do problema: como se faz uma
investigação científica e se a divulga? Trata especificamente da primeira parte, de um
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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segmento da primeira parte: Qual o percurso de uma investigação científica? A
investigação é também uma relação dialéctica entre o real e o investigador cuja síntese
é a constituição de um objecto científico próprio. Essa síntese resulta de múltiplos
factores e exige um longo caminho a percorrer. Primeiro há que segmentar a realidade
e escolher o que queremos estudar, compreendendo qual é o duplo espaço a
preencher: espaço da relação concreto-abstracto, espaço de disciplinaridade e
interdisciplinaridade. Depois há que observar a “realidade escolhida” recorrendo a um
conjunto de procedimentos e técnicas que, em grande medida, só serão abordados no
capítulo seguinte. Após a separação, o isolamento, da realidade a estudar, há que
proceder à sua parcial reintegração, que já pressupõe uma multireferencial leitura
dessa mesma realidade, processo frequentemente designado de contextualização.
Estamos então em condições de formular as questões a que pretendemos responder, de
transformar a anterior “leitura” da realidade em problema que carece de uma nova
fase da investigação. Estão então criadas as condições para interpretar –
independentemente do que se possa pretender designar por esse termo – a realidade
seleccionada.
O tratamento destas questões tem de ser pormenorizado. Tomando como referência as
ciências da realidade humana, mas ganhando com a experiência das outras ciências,
atendendo às questões disciplinares, mas tendo sempre em vista uma leitura
interdisciplinar.
6.1. Escolha da “realidade” a estudar
6.2. Observar a realidade
6.3. Contextualizar a realidade
6.4. Problematizar a realidade
6.5. Interrogar a realidade
6.6. Interpretar a realidade
6. 7. “Companheiros” da aproximação
6.7.1. Razão e sentimentos
6.7.2. Curiosidade e imaginação
6.7.3. Cultura
7. Metodologia e técnicas de investigação científica
Como se afirmou anteriormente, para interpretar a realidade é necessário utilizar
determinadas metodologias e determinadas técnicas. Centrados essencialmente nas
ciências da realidade humana apresentam-se algumas das metodologias e algumas das
técnicas. Umas são exclusiva ou dominantemente utilizadas por algumas ciências
enquanto outras são comuns a diversas disciplinas ou até de aplicabilidade global.
Como a nossa preocupação é interdisciplinar é importante saber que metodologias e
técnicas existem, para que se recorra a elas quando necessário.
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Tendo em atenção que cada vez mais a exigência da interdisciplinaridade aconselha
ou impõe a utilização de metodologias e técnicas de uma disciplinas científicas por
outras, este conhecimento extensivo é vital. A necessidade de utilização de uma
dessas técnicas exigirá que se proceda a um estudo mais intensivo do que o realizado
aqui. Simultaneamente deve-se ter presente que a utilização do computador modifica
o ponto de vista de abordagem destas técnicas e metodologias. Hoje há condições para
sermos utilizadores esclarecidos de diversos programas, isto é, utilizadores que não
necessitam de conhecer pormenorizadamente os algoritmos, mas que, no entanto, tem
uma clara visão de conjunto da ferramenta, do seu significado e das alternativas que
se colocam.
Os pontos que se seguem pretendem fazer uma abordagem deste tipo das
metodologias e técnicas, pelo que este capítulo deve ser articulado com alguns dos
anexos deste livro. Anexos porque são complementares, mas nem por isso menos
importantes.
7.1. Metodologia
7.1.1. Da ruptura com as “evidências”
7.1.2. Das metodologias consagradas ao anarquismo metodológico
7.1.3. Dedução e indução
7.1.4. “Teoria” e “prática”
7.1.5. Do qualitativo e do quantitativo
7.1.6. Teoria e investigação “empírica”
7.1.7. Modelização
7.1.8. Classificação consciente
7.1.9. Experimentação
7.1.10. Questões problemáticas
7.1.11. Delimitação do tema
7.2. Técnicas
7.2.1. Pesquisa e utilização de informações sobre o assunto
7.2.2. Fontes históricas
7.2.3. Inquéritos
7.2.4. Entrevistas
7.2.5. Observação participante
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7.2.6. Sondagens
7.2.7. Uso de estatísticas
7.2.8. Análise de casos
7.2.9. Simulação informática
7.2.10. Análise de conteúdo
8. A problemática, o modelo e a “verificação”
Uma tese pode ter objectivos mais ou menos ambiciosos conforme a sua inserção
institucional e quem a realiza, mas na sua formulação mais completa uma tese
envolve a elaboração de um modelo explicativo da “realidade” seleccionada e
reconstruída. Por isso mesmo é interessante que antes de redigir a tese o estudante
saiba claramente do que se está a falar. Também aqui é imperioso ter conceitos e
ideias claros. Este ponto visa precisar o conceito de modelo e como é que este se
insere no desenvolvimento do conhecimento científico.
8.1. Potencialidades e condicionantes da problemática
8.2. Modelo científico
8.2.1. Características
8.2.2. Veracidade e aceitabilidade
8.2.3. As hipóteses
8.2.4. As variáveis
8.2.5. As lógicas
8.3. A complexidade e os modelos
8.4. Verificabilidade e falsabilidade
9. Redacção de trabalhos científicos
Feita a investigação há que expor aos outros o trabalho realizado ou as conclusões a
que se chegou. Há que combinar as informações obtidas, as características individuais
na exposição das ideias, as técnicas consagradas e estabelecidas, nacional ou
internacionalmente, a eficácia em função do público a que se dirige, utilizando uma
determinada forma de comunicação. Assumiremos que na grande maioria das
situações essa forma é a escrita, utilizando o papel, embora cada vez mais outras
alternativas se apresentem com eficácia.
O objectivo deste capítulo é responder à pergunta multifacetada: qual a melhor forma
de apresentar a minha investigação?
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Procurando dar uma visão de conjunto damos particular atenção a algumas questões
que tradicionalmente ou são esquecidas ou são centro de dificuldades por parte dos
alunos.
9.1. Condicionantes prévios
9.1.1. Considerações preliminares referidas
9.1.2. Lógica de investigação versus lógica de redacção
9.1.3. Destinatários
9.2. Título e Plano provisório
9.3. Plano definitivo
9.4. Sequência de redacção
9.5. “Estilo” da redacção
9.6. Alguns cuidados com a redacção
9.6.1. Bibliografia, latus sensus
9.6.2. Corpo do trabalho, notas e anexos
9.6.3. Inclusão de informação quantificada
9.7. Questões formais e de apresentação
9.8. Revisão do texto
9.8.1. Importância da primeira frase
9.8.2. Inventário dos cuidados a ter
9.8.3. Técnicas de revisão
10. Apresentação do trabalho científico
O texto foi escrito e entregue. Segue-se a necessidade de, formal ou informalmente,
fazer a sua defesa oral. Apresentam-se aqui alguns comentários sobre o assunto.
11. Especificidades de um trabalho interdisciplinar
Todas os assuntos tratados nos capítulos anteriores foram feitos no âmbito de um
tratamento interdisciplinar, o que pressupõe também a abordagem disciplinar. No
entanto, ao terminar este longo percurso sobre a epistemologia e a metodologia
científicas, é conveniente retomar mais explicitamente a interdisciplinaridade, precisar
um pouco mais o seu significado, recapitular o que lhe é específico, aliciar os leitores
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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para a importância de romperem com as amarras disciplinares sem delas abdicar. É
esse singelo exercício que é feito neste ponto.
11.1. Notas breves sobre interdisciplinaridade
11.2. Contextualização, importação, reconstrução
11.3. Interparadigmacidade
11.4. Interculturalidade
11.5. Especificidades
11.5.1. De conteúdo
11.5.2. De processo
11.5.3. Individual e colectivo
A. ANEXOS
Algumas das matérias abordadas ao longo do livro aconselham algumas informações
complementares, um tratamento sistemático de algumas matérias que são melhor
tratadas se agrupadas em anexos. Há uma concepção generalizada que os anexos são
matéria secundária. Neste caso seria contraproducente pensar-se assim. Dizemos que
são matéria diferente, exigindo um tratamento diferente e diferenciado. Admitimos até
que os assuntos tratados em alguns capítulos só produzem efeito se o leitor se
apropriar das ideias contidas nos anexos seguintes. Reduzimo-los ao mínimo
indispensável.
A.1: Estudo eficiente e agradável
Apontamentos sobre algumas questões relacionadas com o estudo que têm de ser
integralmente dominadas para que a investigação produza efeito: a leitura exige
correcta interpretação; a pesquisa bibliográfica e sua consulta exige um tratamento
que permita rápida e eficaz utilização futura; a capacidade de sintetizarmos em poucas
ideias, em poucas palavras, os trabalhos dos outros é indispensável para uma correcta
apresentação da nossa investigação.
A.1.1. Considerações gerais
A.1.3. “Fichas” em computador
A.1.3.1. Sistematização da informação
A.1.3.2. Sua utilização
A.1.3.3. O computador e o raciocínio modular
A.1.3. Leitura e Interpretação
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A.1.4. Resumos
A.1.5. Utilização do computador
A.1.6. Palavra-chave
A.2: Rudimentos de tratamento quantificado
Nas ciências da realidade humana há disciplinas que fazem intensa utilização do
tratamento quantificado, há as que às vezes utilizam o tratamento quantificado e as
que nunca o utilizam. Enquanto alguns investigadores são entusiastas do tratamento
numérico outros arranjam todos os subterfúgios para fugir dele. Esta diversidade de
posições é altamente prejudicial para a construção científica, para o diálogo entre
diferentes investigadores, para a interdisciplinaridade. Um trabalho científico tanto
pode ser quantitativo como qualitativo, mas o que marca a diferença deve ser o tema e
a metodologia, nunca os preconceitos dos investigadores ou o medo das Matemáticas.
Neste anexo visamos três objectivos diferentes. Em primeiro lugar reduzir as
diferenças entre os investigadores face à Matemática, mais enquanto atitude do que
enquanto conhecimentos. Em segundo lugar mostrar que em muitas circunstâncias a
“fuga aos números” é uma fuga à cientificidade, que um trabalho científico exige
frequentemente quantificações. Finalmente chamar a atenção que a necessidade de
utilização da Matemática é viável, mesmo para investigadores que há muitos anos se
divorciaram delas.
Este último aspecto não significa que as Matemáticas sejam (sempre) simples, mas
significa que há necessidade de trabalhar em rede, mesmo quando a investigação é
“individual”. Significa ainda que hoje existem programas informáticos gratuitos de
grande qualidade, com aplicabilidade em situações muito diversas.
Procura-se ampliar esses horizontes informáticos, frequentemente pouco explorado.
A.2.1. Permutações, Arranjos e Combinações
A.2.2. Universo e amostra
A.2.3. Descrição estatística
A.2.4. Índices
A.2.5. Correlação
A.2.6. Teste de hipóteses
A.2.7. Classificação
A.2.8. O auxilio do computador
A.2.8.1. Bases de dados
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A.2.8.2. Representação gráfica
A.2.8.3. Programas tratamento da informação
A.2.9. Modelos de simulação
A.3: Tese como projecto
Um trabalho de investigação é sempre um projecto. Define-se hoje o que se pretende
obter no futuro. Quanto mais soubermos da gestão de projectos mais poderemos ser
precisos na definição dos objectivos, na estruturação das tarefas, na afectação dos
recursos.
Numa investigação associada à elaboração de uma tese o projecto é elementar e não
exige conhecimentos de gestão de projectos. Numa investigação interdisciplinar há
maior exigência. Numa investigação interdisciplinar em equipe e a médio prazo, a
utilização da gestão de projecto é indispensável.
Apenas pretendemos alertas para estes facto, criando disponibilidade para
futuramente, se necessário, aprofundar estas questões.
A.3.1. Objectivos e tempo
A.3.2. Tarefas e sua articulação
A.3.3. Recursos e sua utilização
A.3.4. Avaliação
A.4: Apontamentos sobre a Redacção de outros documentos
A nossa atenção concentra-se, ao longo do livro, nas teses. Aqui procura-se chamar a
atenção para algumas questões complementares que outro tipo de documentos
exigem.
A.4.1. Relatório de Investigação
A.4.2. Artigo de revista especializada
A.4.3. Comunicação em conferência
A.4.4. Artigo de revista não especializada
A.4.5. Livro
A.5: Correcção tipográfica
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Simples apresentação do conjunto de símbolos tradicionalmente utilizados na
correcção de provas tipográficas. Referência a processos de correcção utilizando
documentos electrónicos.
A.6: Pesquisa em Computador
A investigação exige a utilização da Internet. Cada vez mais há o seu reconhecimento
e uma habituação a esta situação. Contudo, não é despiciendo algumas observações
sobre esta matéria.
Glossário
Ao longo do trabalho utilizaremos o conjunto de termos que são específicos das
matérias tratadas, que muitas vezes têm significados diferentes conforme a ciência
que os utiliza. Aqui pretendemos de uma forma sintética elucidar o(s) seu(s)
significado(s).
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Investigar e Redigir uma Tese
em contexto interdisciplinar
Í N D I C E
ESTRUTURA ................................................................................................................ 1
Convenções de apresentação ........................................................................................ 16
Oportunidade desta temática ........................................................................................ 17
Aproximação à “realidade” que se pretende estudar ................................................... 25
Escolha da “realidade” a estudar .............................................................................. 27
A escolha do assunto ............................................................................................ 29
Questões prévias .............................................................................................. 29
Algumas grandes opções .................................................................................. 38
Conhecimentos prévios e assunto .................................................................... 46
Que assunto? .................................................................................................... 52
A delimitação do objecto ..................................................................................... 52
As questões problemáticas iniciais ...................................................................... 52
Observar a realidade ................................................................................................ 54
Contextualizar a realidade ........................................................................................ 54
Problematizar a realidade ......................................................................................... 54
Interrogar a realidade ............................................................................................... 54
Interpretar a realidade .............................................................................................. 54
“Companheiros” da aproximação ............................................................................ 54
Razão e sentimentos ............................................................................................. 54
Curiosidade e imaginação .................................................................................... 54
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Cultura .................................................................................................................. 54
Redacção de trabalhos científicos ................................................................................ 55
Alguns cuidados com a redacção ............................................................................. 55
Bibliografia, latus sensus ..................................................................................... 55
Tipos de Bibliografia ....................................................................................... 59
Formas de Apresentação da Bibliografia ......................................................... 64
Sistemas bibliográficos ................................................................................ 64
Informações sobre a obra referenciada ........................................................ 73
Localização da bibliografia na tese .............................................................. 87
Estruturação da Bibliografia ........................................................................ 88
Recomendação ............................................................................................. 90
Relações entre o Texto e a Bibliografia ........................................................... 91
A02: Rudimentos de tratamento quantificado ........................................................... 107
Exemplos iniciais ................................................................................................... 107
Exemplo 1 – Precaver-me com o R ................................................................... 107
Porquê escolher o R? ..................................................................................... 108
Como instalar o R? ......................................................................................... 109
Aspectos gerais e breves de como funciona o R? .......................................... 110
Como saber que função utilizar? .................................................................... 112
Como usar e instalar packages extra? ............................................................ 117
Como mantê-lo sempre actualizado? ............................................................. 119
Exemplo 2 – Uma questão de altura .................................................................. 120
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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CCoonnvveennççõõeess ddee aapprreesseennttaaççããoo
Coloca-se em janela, com borda de duplo traço, os desafios que se lançam aos
alunos em termos de resultado final da obra a editar.
Coloca-se em janela, com borda a tracejado, os exemplos utilizados para
ilustrar algumas situações. Estão apresentados dessa forma todos os exemplos
que justificam uma apresentação autónoma.
Coloca-se em janela, com borda denteada, o que constitui uma síntese de uma
determinada matéria e são recomendações essenciais para o leitor deste
trabalho.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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OOppoorrttuunniiddaaddee ddeessttaa tteemmááttiiccaa
“fazer uma descoberta não é muito diferente de estar apaixonada ou
de fazer amor” (GOODFIELD [sd], 35)
“Deixemo-nos transportar, mesmo que só por um momento, ao
coração destas matérias, «sintamo-las» precisamente como as sente
em certas ocasiões especiais quem as vive por dentro, com a
imaginação e com o sentimento. Todas as matérias emitem as suas
cintilações próprias.” (PALMARINI 1992, 176)
A ignorância da ignorância é atroz. O conhecimento da ignorância é frutuoso.
A ignorância da ignorância é desconhecermos os limites do nosso saber. É
aniquilarmos a construção de um percurso consciente, estruturado, eficaz de aquisição
de novos conhecimentos. É desprezarmos metas futuras de objectivos a atingir ou os
caminhos para a sua concretização. Poderá a vontade individual ou os imperativos
sociais exigirem trabalho de obtenção de conhecimento, quiçá da sua divulgação, mas
o esforço substitui a clarividência, a sua intensidade a eficácia, a angústia a alegria.
“Só sei que nada sei” de Sócrates perdura como um longo caminho da Filosofia, mas
também como um saber popular, que fica atónito entre o trocadilho das palavras e as
rupturas que o conhecimento corrente exigiria para se superar a si próprio, para
procurar o que sei que não sei.
Muito frequentemente desconhecemos que ignoramos os métodos de investigação e
essa ignorância é atroz. Fazer investigação é sempre trilhar caminhos que
desconhecemos. É descobrir caminhando e em cada passo saber observar, interpretar a
observação, decidir sobre o passo seguinte. E quando se chega ao fim de um percurso
de investigação deve-se aproveitar integralmente o caminho percorrido, dá-lo a
conhecer. O método de investigação pode ser um mapa, deve ser sabê-lo interpretar,
convém ser a sua utilização como guia, acrescentando-lhe informações, melhorando-
o. Poderemos encontrar um terreno de caminho fácil e não sentiremos grande falta do
mapa, poderemos defrontarmo-nos com obstáculos de difícil transposição ou
encruzilhadas sem indicação de destinos e desejaríamos ter um mapa por perto;
poderemos perder-nos e apenas precisarmos de encontrar uma alternativa de
sobrevivência. Não devemos assumir que sabemos metodologia de investigação se
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 18/150 - Versão 01
ainda não a estudámos. Não devemos assumir que sabemos tudo sobre ela quando já
começamos a trabalhar com e sobre ela. Eis um primeira razão para nos ocuparmos
deste tema.
O conhecimento da ignorância é frutuoso. Permite superar-nos individual e
colectivamente. Permite manter-nos na prática científica, seleccionarmos espaços de
ignorância a serem explorados, inventariarmos antecipadamente ferramentas e apoios
logísticos para essa exploração, assim como os tempos necessários previsíveis,
definirmos projectos de investigação. Projectos porque definimos os objectivos a
alcançar; porque o futuro comanda o presente; porque procuramos uma combinação
inteligente de dificuldades, recursos e tempos. Simultaneamente, porque a época
histórica de podermos saber tudo o que de relevante se descobriu no passado, de ser-
se sabiamente enciclopédico está há muito ultrapassada, o projecto evita-nos a
“angústia de não termos tempo em vida para ler todos os livros da biblioteca”, exige e
mantém a clarividência da escolha. Eis uma segunda razão para nos ocuparmos desses
assuntos.
O projecto científico actual é dominantemente especializado. Ciência é, quase sempre,
sinónimo de disciplina. O que marca a especialização não é a escolha de uma
determinada realidade formal, da natureza ou da realidade humana para estudo, mas
fazê-lo com uma focagem, metodologia, teorias e modelos, próprios de uma
determinada ciência, ficarmos encerrados no terreno que nós próprios balizámos,
sejam quais forem as razões que levem a tal. Se sabemos que a disciplinaridade é um
percurso para a construção de sábios ignorantes – com todas as virtudes de serem
sábios no assunto que conhecem, investigam e divulgam; com todas as restrições de
serem ignorantes de tudo o resto, dramaticamente ignorantes de outras focagens,
metodologias, teorias e modelos que estudam a mesma realidade, que tratam das
fronteiras desta –, se tivermos a pretensão de reduzirmos, por pouco que seja, essa
ignorância, deveremos estar atentos e escolhermos os caminhos adequados. Se o
caminho da investigação do novo é inexplorado o caminho da interdisciplinaridade –
chamemo-lhe assim, para já – é vedado com arame farpado, recheado de obstáculos.
Se não tivermos os métodos adequados para o percorrermos não iremos longe. Eis
uma terceira razão para nos ocuparmos desses assuntos.
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As considerações anteriores parecem convencer-nos das vantagens de começar um
trabalho de investigação, como farão muitos dos leitores destes apontamentos, pelo
estudo da sua respectiva metodologia. Contudo nem sempre assumimos essa atitude,
raramente encontramos unanimidade sobre tal assunto. Com efeito, investigando e
ensinando sobre estas matérias há mais de um quarto de século, procurando aplicá-las
a diversos níveis de ensino e em diferentes contextos sócio-geográficos, não
mantivemos sempre a mesma posição sobre a importância de antes de qualquer
investigação abordar os assuntos que aqui fazemos. Esclareça-se, no entanto que a
dúvida não é científica, é pedagógica (ou só é científica porque é pedagógica).
É pedagógica porque diferentes são as posturas adoptadas pelos alunos no tratamento
das questões relacionadas com a metodologia de investigação.
Se o aluno de metodologia de investigação continua a ficar deslumbrado com o cheiro
de uma rosa, com as cores de um Gaugin, o diálogo instrumental em Wagner ou com
o mistério revelado na multiplicidade de leituras de um poema, se é capaz de estudar
chinês pela simples apropriação de uma cultura milenar, ao apresentarmos
metodologia de investigação antes da investigação se iniciar ele assimilará o máximo
de conhecimentos, registará situações e problemas para futura reflexão. A experiência
é um pilar do conhecimento, os sentimentos de prazer viabilizam uma aprendizagem
profícua, pelo que alguns enunciados poderão ser mal compreendidos, ficando
latentes até ao momento em que os caminhos da investigação os façam saltar
novamente para o consciente. Estes alunos merecem sempre o nosso esforço.
Muitos alunos são menos emotivos na apreciação da situação, são mais pragmáticos, o
conhecimento faz-se para ser aplicado. O conhecimento é um instrumento, neste caso
de novo conhecimento. Para estes os ensinamentos sobre metodologia de investigação
são mais úteis no momento em que se defrontam com as dificuldades, quando têm que
agir. Certamente que este grupo de alunos também tirará vantagem na prévia
abordagens dos assuntos aqui tratados, mas é modesta. Será preferível ir-lhes
transmitindo os ensinamentos a pouco e pouco, no decorrer da investigação, de
preferência após a investigação, antes de passar ao registo do novos conhecimentos
adquiridos.
Estamos em crer que o primeiro tipo de alunos é uma minoria. Não são melhores ou
piores que os outros, tão somente são diferentes. Provavelmente grandes
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investigadores mundialmente reconhecidos pertencerão indiferentemente a um ou
outro grupo.
Defrontando-nos com estes diferentes públicos, algumas vezes optámos pelo primeiro
cenário (fornecer toda a metodologia no início), outras vezes pelo segundo (fornecer a
metodologia a pouco e pouco ao longo da investigação), particularmente quando era
possível transmitir a todos os alunos todos os ensinamentos, escolhendo o momento
mais oportuno para cada um1.
Mantendo sempre subjacente estas alternativas, actualmente considero preferível esta
abordagem prévia. Três razões alicerçam esta opção:
1) As razões científicas devem imperar sobre as pedagógicas. Em muitas situações ou
há uma abordagem inicial ou muitos alunos ficarão privados de conhecimentos que
podem ser decisivos. Essa lacuna é individualmente colmatada, perante a ignorância
da ignorância, pelo recurso ao conhecimento corrente, a expedientes cientificamente
inadequados. A existência de um texto de referência que se pode consultar, quando se
considerar necessário, pode ser decisivo.
2) A nossa abordagem é num contexto interdisciplinar. Ou se está alertado à
partida para o que tal significa, e quais são os melhores caminhos para o conseguir,
mesmo que o resultado seja sempre relativamente incerto, ou nunca se fará uma
investigação interdisciplinar. A tendência espontânea do investigador é enveredar pela
disciplinaridade. É desde o início que se têm de fazer outras opções. É do início que
se tem de ter consciência da existência de outras técnicas.
3) Admitimos frequentemente que a ignorância da ignorância e o conhecimento da
ignorância são os extremos de situações limite e que nas situações concretas há uma
combinação de ambas. Somos mesmo levados ingenuamente a admitir que em cursos
de pós-graduação o peso relativo do conhecimento é superior ao da ignorância.
1 Nas opções não deixou de contar o percurso inicial. Não me situando em nenhum dos dois tipos
anteriormente referidos, tenderei dominantemente para o segundo: saber a pouco e pouco à medida das
necessidades. Contudo frequentemente me defrontei com a situação “se tivesse sabido disto antes tinha
poupado tantos meses de trabalho!”. Por tentativa e erro fui-me aproximando cada vez mais do
reconhecimento da importância do conhecimento aprofundado destas problemáticas na fase inicial da
investigação. As minhas investigações em epistemologia e sobre a interdisciplinaridade mais me
convenceram dessa importância pois apercebi-me que há “forças”, “tendências”, “colégios” que
espontaneamente nos podem encaminhar para percursos que não serão os mais correctos ou, pelo
menos os mais adequados a uma leitura interdisciplinar, abrangente.
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Contudo este conhecimento espontâneo tem tanto de válido quanto o contrário até ao
momento da sua quantificação científica. Vários anos a acompanhar trabalhos de
investigação em diversas áreas das ciências do conhecimento humano permite-nos
constatar que em fases avançadas da investigação muitos alunos continuam a
desconhecer totalmente questões essenciais.
Eis algumas razões para anteciparmos a investigação tratando da metodologia de
investigação em contexto interdisciplinar.
As relações entre metodologia da investigação e epistemologia são grandes. Como
poderemos, por exemplo, compreender o que “científico” se não soubermos o que é
Ciência. Assim sendo podemos estabelecer uma relação entre os diferentes níveis da
Epistemologia e os da metodologia da investigação. Poderemos então falar de uma
Metodologia de Investigação Geral, de uma Metodologia de Investigação Regional,
de uma Metodologia de Investigação Disciplinar e ainda de uma Metodologia de
Investigação Interdisciplinar2.
Pertencerão à Metodologia de Investigação Geral todos os temas e problemas que são
aplicáveis a todas as investigações, independentemente do seu objecto real ou teórico.
Serão, por exemplo, os casos do entendimento do que é Ciência ou a possibilidade de
se divulgar o resultado de uma investigação utilizando a sequência de investigação ou
a sequência de exposição.
Pertencerão à Metodologia de Investigação Regional todos os temas e problemas que
são aplicáveis às investigações que têm determinados objecto e metodologia que lhes
transmite um conjunto de características diferenciadoras. Tomando como referência
do conjunto as disciplinas, as regiões disciplinares dependem das classificações que
adoptarmos, estando a história marcada por várias, diferentes entre si. Assumimos,
sem as explicações que o problema exigiria mas com a certeza de que este não será o
local mais apropriado para o fazer, com todas as limitações que as classificações
apresentam, a distinção de GODIN:
2 Utilizamos a terminologia de CASTRO (1975). Fala em Epistemologia Geral, que trata da ciência em
geral; em Epistemologia Regional que trata do que específico de um determinado conjunto de ciências,
por exemplo as ciências da natureza; em Epistemologia Disciplinar que estuda cientificamente uma
determinada ciência, tal como Química, Linguística ou Matemática.
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“Les sciences peuvent être rangées en trois grandes familles - les sciences
logico-mathématiques, les sciences de la réalité physique et les sciences de la
réalité humaine. Elles diffèrent d'abord, bien entendu, par leurs objets, mais
cette divergence de préoccupation en induit toute une série d'autres :
concepts, méthodes, statut de la preuve, degrés de vérité et de
certitude.”(GODIN 1997, p. 116)
Preocupar-nos-emos essencialmente com a terceira região, as ciências da realidade
humana:
“Le quatrième et dernier chapitre de ce livre sur la totalité réalisée dans les
sciences concernera les sciences de la réalité humaine. Peirce les appelait
sciences nomothétiques ou nomologiques - l'expression de sciences humaines
a fini par l'emporter - ; nous préférons, quant à nous, parler, en regard des
sciences de la réalité physique, des sciences de la réalité humaine.”(GODIN
1997, p. 119)
São exemplos de temas e problemas da Metodologia da Investigação das Ciências da
Realidade Humana o Homem ser sujeito e objecto da investigação, a possibilidade ou
especificidade da experimentação, a utilização da informação estatística.
Dentro dela há ainda metodologias de investigação de cada uma das disciplinas.
Temos uma formação disciplinar. A experiência adquirida na direcção de projectos
interdisciplinares, no ensino e investigação com participantes de várias áreas do saber,
a preocupação em acompanhar a evolução geral das ciências, o estudo empenhado da
interdisciplinaridade, o reconhecimento da pluralidade de paradigmas dentro das
disciplinas contribuíram para uma fuga à clausura disciplinar mas não nos forneceram
conhecimentos para tratar com a mesma profundidade a metodologia da investigação
em História, em Economia ou em Linguística. No entanto temos a ambição deste livro
conseguir abarcar grande parte dessas situações, fornecendo a uns uma visão de
metodologias e técnicas utilizadas por outros. Aliás essa é a única forma de
consistentemente tratar todos os assuntos numa perspectiva interdisciplinar.
Para concretizar esse projecto contamos com a colaboração de todos os
mestrandos, esperando que cada um tenha perante este livro, quiçá com
a ajuda dos exercícios e outros materiais disponibilizados no espaço de
e-learning:
»» uma atitude de crítica, sendo leitores implacáveis
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 23/150 - Versão 01
»» uma atitude de colaboração, abordando várias questões numa
perspectiva disciplinar diferente da minha.
A todos ficaremos reconhecidos e essas colaborações não serão
esquecidas nem assimiladas sem uma expressa referência aos seus
autores.
O que está frente a vós é, em certa medida, um projecto de livro
colectivo.
Pertencerão à Metodologia de Investigação disciplinar o tratamento da documentação
histórica, a utilização da econometria, a investigação participada, a construção de
amostras para um inquérito, por exemplo.
Pertencem à Metodologia de Investigação Interdisciplinar todos os temas e problemas
que abordam a possibilidade de ir para além do quadro disciplinar de especialização
actualmente existente. Na actual fase histórica o grande salto qualitativo é passar de
uma investigação estritamente disciplinar para uma relação dialéctica dentre aquela e
uma leitura da mesma realidade envolvendo a contribuição de diversas ciências, seja
partindo dos contributos das diversas disciplinas, seja formulando novas
problemáticas, seja encarando de forma diferente conhecimento-acção, seja ainda
conseguindo observar o que antes não o era.
São exemplos de campos desta metodologia a classificação e tipificação das diversas
interdisciplinaridades ou dificuldades objectivas ou subjectivas ao trabalho
interdisciplinar. Trata-se de um espaço de reflexão em que muitos problemas ainda
não obtiveram resposta satisfatória, em que muitas questões ainda não foram
adequadamente formuladas.
Nestes apontamentos não temos a preocupação de caminhar do geral para o particular,
embora em diversas situações seja esse o percurso, em começar por trabalhar a
Metodologia da Investigação Geral e terminar na Disciplinar ou na Interdisciplinar.
Vamos articulando todas elas a propósito de cada assunto.
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Uma última recomendação. Sobre cada um dos assuntos procuraremos ser o mais
exaustivos possível, sem nunca perdermos a visão de conjunto, sem nos perdermos no
pormenor. Sobre cada assunto muito foi conscientemente excluído, mas, mesmo
assim, várias páginas são ocupadas no desenvolvimento do tema.
Distinguindo o que são exemplos (colocados em janelas próprias ou remetidos para
notas de fim de página) e colocando no fim de certas matérias a sistematização das
opções que cada um deverá fazer quando se defrontar com o problema, estamos a
contribuir para uma mais fácil leitura. Contudo estas pode ser vantajosamente feita a
dois ritmos e em dois tempos. Numa primeira fase ler e compreender o que é
essencial. Numa segunda retomar os pormenores que nos fazem falta para o nosso
trabalho.
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AApprrooxxiimmaaççããoo àà ““rreeaalliiddaaddee”” qquuee ssee pprreetteennddee eessttuuddaarr
O título deste capítulo exige alguns esclarecimentos prévios.
Em primeiro lugar as razões da utilização da palavra realidade “protegida” por aspas.
Os conceitos de “real” e de “realidade” estão no cerne de muitas investigações e,
simultaneamente de muitas controvérsias filosóficas e científicas: a alternativa
idealismo–materialismo ou idealismo–realismo–materialismo; relações entre o
ontológico e o gnosiológico, entre o ontológico e o epistemológico; a ciência
«moderna» e «pós-moderna»; a relação entre «observador» e «observado». Com os
desenvolvimentos recentes das neurociências e, já antes disso, da física quântica, estes
debates, que pareciam exclusivamente filosóficos, transformaram-se em questões
centrais para a compreensão da ciência, logo do conhecimento, actual.
Poderia não ser descabido aqui retomar essas questões, pelo menos fazer o ponto da
situação dessas diversas posições, mas certamente que extravasaria muito os nossos
propósitos, bem mais modestos, para além, de poder revelarem-se pedagogicamente
desastrosos.
A utilização de “realidade” no título deste capítulo visa tão somente chamar a atenção
para alguns aspectos que já são bastante bem nossos conhecidos:
os objectos científicos são uma certa leitura dos factos
o concreto “ultrapassa” as nossas capacidades descritivas e interpretativas
partimos para a observação dos factos com um conjunto de modelos que
funcionam como filtros de leitura.
Assuntos bem nossos conhecidos, mas que exigem uma vigilância permanente: o
nosso conhecimento das situações, a sua descodificação e interpretação em cada caso;
a procura de procedimentos capazes de nos garantir uma leitura mais completa, uma
interpretação mais holista; uma redução da subjectividade, uma mais “eficiente” e
“verdadeira” aproximação ao factos relevantes.
Uma “aproximação à realidade” que pode seguir percursos que a nossa tendência
espontânea, a nossa inevitável ligação ao conhecimento corrente, podem tender a
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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ignorar ou considerar como “caminhos tortos”. Contudo a ciência pode ter que seguir
esses “caminhos tortos” para escrever direito, para escrever correctamente.
Um exemplo.
“Conhecer o quadro «Les Demoiselles
d’Avignon»” poderá ser para muitos, na melhor
das hipóteses, deslocar-se ao museu em que ele
se encontra e olhá-lo, eventualmente trocar
algumas opiniões sobre a obra. Cientificamente
olhá-lo é legítimo, mas de pouco servirá se não
conhecer a vida de Picasso, se não souber
bastante da história da pintura, das artes
plásticas no período em que é legítimo situar o
autor, se não entender de estética, se não
atender aos novos conceitos de tempo e espaço
que a física revelava, se não discutir os
contributos diversos que diferentes ciências (da
Psicologia à Sociologia, da Física à Semiótica, etc.) podem fornecer na interpretação
daquele quadro, enfim se não reflectir os contributos que muitíssimos especialistas
expressaram sobre esse famoso quadro de Pablo Picasso. O conhecimento daquela
obra, exigido num trabalho científico, tem vários percursos, diríamos uma infinidade
deles, cabendo ao investigador seleccionar os que são mais relevantes para as suas
preocupações atendendo também às limitações de partida. Os caminhos mais
relevantes dependem das investigações a fazer. São certamente bastante diferentes se
“conhecer «Les Demoiselles d’Avignon»” visa fazer a psicanálise de Picasso através
da sua produção artística, se visa estudar uma obra significativa de uma escola
pictória, se visa explicitar a representação artística dum espaço quadridimensional, se
visa dissecar o mercado da arte através desse exemplo, se visa elucidar aspectos da
complexidade e da importância da interdisciplinaridade, se visa qualquer outra coisa
que nem sequer somos capazes neste momento de admitir. Atendendo às limitações de
partida que podem ir desde o tempo disponível para proceder à investigação aos
recursos financeiros do investigador, dos conhecimentos linguísticos para ler a
bibliografia à formação de partida em estética.
Em segundo lugar esclarecer que ele pretende cobrir todo o processo de investigação,
desde a reflexão primeira sobre o seu futuro objecto de estudo – que muito
frequentemente se designa por “escolha do assunto”, “pergunta de partida”,
“delimitação do objecto de investigação” – até à construção de um modelo
interpretativo da realidade – utilizando a bem organizada sequência invocada por
QUIVY {1992 #960}, para além da “pergunta de partida” engloba a “exploração”, a
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“problemática”, “a construção do modelo de análise”, “a observação” e as
“conclusões”3; cada uma destas fases e o conjunto.
Feitos estes dois esclarecimentos iniciais estamos em condições de avançar.
EEssccoollhhaa ddaa ““rreeaalliiddaaddee”” aa eessttuuddaarr A possibilidade e liberdade de escolha da realidade a estudar depende de diversas
circunstâncias.
Muitas vezes o estudante ou o investigador é confrontado com uma situação
específica: (1) “vais fazer um trabalho sobre o papel do futebol nas sociedades
actuais”; (2) “o nosso centro de investigação tem trabalhado sobre o cancro no
estômago e o seu contributo vai ser particularmente importante nas experiências de
manipulação ...”; (3) “sendo o mestrado em estudos africanos a realidade a estudar
terá necessariamente a ver com África”. Muitos de nós já nos defrontamos com estas
diversas situações.
Outras vezes é remetido para o estudante ou investigador a responsabilidade de definir
o que pretende estudar e é frequente termos respostas muitíssimo diversas: (4) “já que
estou a fazer este mestrado gostava de trabalhar em algum tema que fosse útil para a
região em que vivo”; (5) “ainda não consegui encontrar um tema que considere
interessante”; (6) “há tantas hipóteses de trabalho que não sei para que lado me hei de
virar”; (7) “o meu objectivo é a eco-arquitectura e dinâmicas territoriais em Nairobi,
Quénia”.
Não se pode enunciar as vantagens e inconvenientes de uma ou outra situação porque
aqueles dependem das características do estudante, da forma como o docente ou o
coordenador de uma equipe sugere, orienta e trabalha, do contexto social, individual e
colectivo, em que o trabalho se processa. Há, no entanto, dois aspectos a salientar:
1. Um trabalho de investigação é um trabalho apaixonadamente racional. O
prazer de pôr “as celulazinhas cinzentas a funcionar”, o prazer de confirmar ou
3 A fase de “análise das informações” é, na nossa opinião, um aspecto da observação e remete para a
utilização de um conjunto de técnicas que tratamos autonomamente.
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infirmar hipóteses, o prazer de superar as dificuldades, o prazer de adquirir
novos conhecimentos, de rasgar novos horizontes.
2. O investigador deve conhecer-se bem, aproveitar o percurso para cada vez
mais se conhecer a si próprio. Este conhecimento ajuda a perceber até onde se
pode ir, a melhor forma de superar as dificuldades, a capacidade de reviver e
reactivar o prazer do seu trabalho.
Infelizmente nesse sempre essas condições óptimas estão reunidas, muitas vezes a
investigação faz-se exactamente em contextos opostos ao que aqui referimos: a
ciência ao serviço da barbárie, conflitos entre a estratégia de sobrevivência e as
preocupações éticas do cientista, a instauração da rotina e da burocracia. Nas
considerações que se seguem vamos admitir, por hipótese, que estão criadas as
condições para o trabalho de investigação se processar nas melhor condições
individuais e colectivas ou que, pelo menos, está ao alcance do investigador criá-lo.
Consideraremos ainda, como hipóteses de trabalho, que compete ao estudante ou
investigador escolher, com total liberdade, o assunto a tratar, que será ele a decidir os
paradigmas e as disciplinas a utilizar, que é da sua responsabilidade, acompanhado
por colegas ou pelo orientador, delimitar o objecto de estudo4.
4 Dissemos, e mantemos, que as diferentes situações em que o estudante ou investigador é colocado
deve ser globalmente apreciado, tendo em conta um vasto conjunto de variáveis individuais e
contextuais, mas as sete situações anteriormente referidas correspondem, sem a transposição exacta, a
situações com que, ao longo dos anos, nos defrontamos no acompanhamento de trabalhos de
investigação, e poderá ter algum interesse, desde já, alguns comentários introdutórios.
“Vais fazer um trabalho sobre o papel do futebol nas sociedades actuais”. O professor enunciou um
vastíssimo assunto dentro do qual o aluno tem de se movimentar. Se o professor está ciente desta
situação e acompanha o aluno no processo de escolha do tema dentro desse vasto assunto estamos
perante um percurso correcto. Se o aluno tem consciência que o trabalho a realizar não é sobre todo
aquele assunto mas apenas sobre uma parte dele poderá corrigir a indicação que lhe foi dado.
Infelizmente temos constatado ao longo dos anos situações destas em que o professor não tem uma
visão clara do que está a pedir e o aluno não tem conhecimentos para superar a situação.
“O nosso centro de investigação tem trabalhado sobre o cancro no estômago e o seu contributo vai ser
particularmente importante nas experiências de manipulação ...” é quase certamente uma situação de
sucesso. O investigador faz uma escolha consciente dentro das possibilidades que se lhe ofereciam, o
centro tem uma estratégia e uma organização que permite integrar o investigador, dando-lhe tarefas
bem precisas e, simultaneamente, uma visão de conjunto.
“Sendo o mestrado em estudos africanos a realidade a estudar terá necessariamente a ver com África”.
Reflecte as “regras de jogo” conhecidas à partida: um determinado mestrado ou doutoramento exige
um determinado tipo de investigação e tese. Contudo este tipo de posições reflecte por vezes uma
leitura rotineira – “burocrática”, no sentido de conduzir um trabalho em esforço, monocórdico, sem
entusiasmo.
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AA eessccoollhhaa ddoo aassssuunnttoo
QQuueessttõõeess pprréévviiaass
O primeiro cuidado a ter é aparentemente simples: conhecermo-nos a nós próprios.
É certo que já Camões nos alertava contra os perigos de falar de si próprio5
“«Que outrem possa louvar esforço alheio,
Cousa é que se costuma e se deseja;
Mas louvar os meus próprios, arreceio
Que louvor tão suspeito mal me esteja;”
{CAMÕES, 2005 #7560, Canto III 4}
e que outros autores já o fizeram com argumentação científica6. É certo que o
“conhece-te a ti próprio” é sempre limitado, que esse conhecimento das nossas
“Já que estou a fazer este mestrado gostava de trabalhar em algum tema que fosse útil para a região em
que vivo”. É uma atitude válida, frequentemente válida, mas que pode enfermar de um excessivo
pragmatismo. Corre-se o risco de o “útil” ser entendido como algo de aplicação imediata, de
reconhecimento mediático, poder transportar uma grande carga de significância do conhecimento
corrente. Sem dúvida que o estudioso, o cientista, deve procurar manter-se ligado à realidade, respirar
os anseios das pessoas, das instituições, das sociedades, mas simultaneamente deve criar algum
distanciamento em relação ao imediato. Como alguém dizia, “uma investigação é como uma matança
do porco, tudo se aproveita”, mas com a diferença que na investigação o aproveitamento pode não ser
imediato.
“Há tantas hipóteses de trabalho que não sei para que lado me hei de virar”. Embora pareça revelar uma
certa desorientação na escolha do assunto ou na precisão do tema, uma tal afirmação é frequentemente
um início muito promissor. Ao afirmá-lo o estudante revela abertura a uma diversidade de
problemáticas, expressa que já pensou no assunto e, sobretudo, parece apontar para uma dose
interessante de imaginação, esse bem raro. Quando se pretende que o trabalho seja interdisciplinar esta
“abertura de espírito” pode ser um bom indicador da sua atenção à diversidade de leituras disciplinares
e paradigmáticas. Contudo há que ter cuidado e o docente deve calendarizar e balizar essa procura do
assunto e do tema. O período que medeia entre esta afirmação alegre e a escolha (quase) definitiva do
tema é frequentemente de grande actividade intelectual, de grande exigência em toma de decisões, de
enorme angústia pessoal. Sobretudo quando o aluno assume – erradamente – que a tese que vai fazer é
“o trabalho da sua vida”. As decisões têm de ser assumidas num prazo breve e com confiança e alegria.
“O meu objectivo é a eco-arquitectura e dinâmicas territoriais em Nairobi, Quénia”. Esta é uma posição
que seria assumida com entusiasmo por muitos orientadores. O aluno “revela que sabe o que quer”.
Em muitas situações assim é, sobretudo quando é o resultado de um trabalho de investigação anterior
que se deseja continuar. Contudo uma tal posição pode ser indiciadora de alguns perigos: não
aproveitar a nova situação criada – ex. estar num novo curso de mestrado ou doutoramento – para
repensar as suas certezas, pouca disponibilidade para ouvir a opinião dos outros e aproveitar o ambiente
interdisciplinar.
Em todas as situações convém uma vigilância do estudante e do orientador em relação ao seu próprio
trabalho e à actuação colectiva.
5 Esta referência de Camões foi-nos sugerida por {[sa], [sd] #25183}
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tendências para o estudo e a investigação vai sendo mais perfeito ao longo do
processo, que nós próprio, enquanto objecto observado, mudamos de forma
descontínua. Contudo, e apesar de todas estas limitações é de todo conveniente
sabermos quais as nossas tendências fundamentais no que se refere ao estudo, à
investigação, à escrita.
ECO distingue os monocrónicos e os policrónicos7. Observemos o que ele nos diz:
“Há indivíduos monocrónicos e indivíduos policrónicos. Os monocrónicos só
trabalham bem se começarem e acabarem uma coisa de cada vez. Não
conseguem ler enquanto ouvem música, não podem interromper um romance
para ler outro, pois de outro modo perdem o fio à meada e, nos casos limite,
nem sequer podem responder a perguntas quando estão a fazer a barba ou a
maquilhar-se.
Os policrónicos são ao contrário. Só trabalham bem se cultivarem vários
interesses ao mesmo tempo e, se se dedicarem a uma só coisa, deixam-se
vencer pelo tédio. Os monocrónicos são mais metódicos, mas frequentemente
têm pouca fantasia; os policrónicos parecem mais criativos, mas muitas vezes
são trapalhões e volúveis.” {ECO, 1980 #3741, p. 105}
Certamente que esta diferença condiciona a organização do trabalho, mas também
condiciona a escolha do assunto e a delimitação do tema. Um tema muito delimitado,
exigindo a repetição de certos procedimentos, pode ser muito interessante para um
monocrónico, enquanto o policrónico sentir-se-ia melhor num objecto de estudo mais
geral, exigindo formas de abordagem muito diversificadas. Enquanto há uma
tendência para os primeiros ficarem melhor enquadrados em trabalhos de investigação
que se centram no particular, que caminham deste para o geral, os segundos
frequentemente preferem partir do geral para o particular. Utilizando uma linguagem
simbólica habitual, o monocrónico trabalha bem sobre a árvore sem conhecer a
floresta e o policrónico só consegue conhecer a árvore depois ter uma visão sobre a
floresta.
6 Ver por exemplo {HOLLANDA, 1993 #25184}, onde se faz uma referência a alguns desses
trabalhos.
7 Três observações. (1) a designação na língua original em que o texto foi escrito, o italiano, é
monocronici e policronici; (2) esta distinção, que nem sempre é tão abrupta e que exige gradações
intermédias, é bastante relevante; contudo não conseguimos encontrar estudos psicológicos e outros
que tratassem mais sistematicamente do problema; (3) por vezes, estas duas alternativas de
comportamento face ao tempo tem sido utilizado para caracterizar “culturas”, para classificar o
comportamento de agregados sociais face ao tempo.
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Uma outra distinção “clássica” é entre espírito geométrico e espírito de finura de que
falava Pascal:
“Diferença entre o espírito de geometria e o espírito de finura. – Num, os
princípios são palpáveis, mas distanciados do uso comum; de maneira que se
torna difícil olhá-los, por falta de hábito: mas, por pouco que se olhe, vêem-
se os princípios em cheio; e seria preciso ter o espírito completamente
desafinado para raciocinar mal sobre princípios tão importantes que é quase
impossível que escapem.
Mas, no espírito de finura, os princípios são do uso comum e estão à vista de
toda a gente. Não tem que se esforçar o olhar nem que se fazer violência; é
apenas questão de ter boa vista, mas é preciso que seja boa; pois os princípios
são tão subtis e em tão grande número, que é quase impossível que não
escapem. Ora, a omissão de um princípio conduz ao erro; assim, é preciso ter
o olhar bem preciso para ver todos os princípios, e depois um espírito exacto
para não raciocinar falso sobre os princípios conhecidos.
Todos os geómetras seriam, pois, subtis, se tivessem boa vista, pois não
raciocinam falso sobre os princípios que conhecem; e os espíritos subtis
seriam geómetras se pudessem dobrar o seu olhar sobre os princípios
invulgares da geometria.” {PASCAL, 1959 #4365, p. 29}
sem que, no entanto, nos elucidasse devidamente. Muitas vezes esta distinção serve
para explicitar diferentes níveis de utilização da imaginação, de combinação desta
com a estrita observação racional. Outras vezes procura explicitar maior ou menor
tendência para a abstracção ou concretização. Ainda com este tipo de preocupações
alguns autores fazem referência a esta distinção para referir maior ou menor
capacidade para o “pensamento complexo” {DESHAIES, 1997 #25078, p. 185} Esta
distinção é apresentada pelo autor de forma tão vaga8 que também permite relacioná-
la com a maior ou menor perspicácia para a intuição e capacidade para a sua
utilização cientifica.
Uma última distinção é entre os “imitadores” e os “criativos”:
“Há perto de um século, o geólogo T. C. Chamberlin considerava que
existiam dois modos de aprender: um primeiro, por imitação, e um segundo,
por criação. A imitação consiste sobretudo em memorização. Na linguagem
da investigação actual, fala-se em replicação, quer dizer em reprodução ou
repetição de uma experiência ou de um estudo. O conhecimento ou a perícia
podem ser adquiridos desta maneira. Ela corresponderia àquilo a que
8 Também sobre ela não conhecemos estudos de Psicologia que analise cientificamente as diferenças
que aqui estão referidos. Não dizemos que não haja. Apenas desconhecemos.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Chamberlin chamava «a regra da teoria». Quanto ao outro modo, a criação,
pressupõe um esforço de descoberta, quer dizer uma tentativa de pensarmos
por nós próprios, apesar de podermos estar num campo de conhecimentos
conhecido ou não. Para alcançar este fim, Chamberlin propunha a utilização
do método das múltiplas hipóteses de trabalho visando desenvolver um
modo de «pensamento paralelo» ou «complexo».” {DESHAIES, 1997
#25078, p. 180}
Feita a referência a algumas das classificações dos indivíduos atendendo a algumas
das suas características, e insistindo que termos conhecimento das nossas próprias
características ajuda a escolher o assunto, o tema e a forma de abordagem da tese, é
importante relativizarmos o seu significado:
Não se pode deduzir das diferenças qualquer relação quantitativa, de
superioridade e inferioridade. Como alguns autores têm o cuidado de salientar,
é possível encontrar investigadores relevantes com uma ou outra característica.
O fundamental é ajustar os procedimentos às suas características.
Muitas destas classificações, embora reflictam alguns aspectos da realidade,
não estão suficientemente estudadas psicológica e sociologicamente para delas
deduzirmos as devidas conclusões.
É hoje suficientemente reconhecido que cada indivíduo é o resultado de
características biológicas, ontogenética e filogeneticamente determinadas, da
interacção com o seu meio, das relações sociais e de si próprio, das relações
que estes elementos estabelecem entre si. O homem é existência e, numa
lógica de projecto, uma investigação científica é uma oportunidade para se
modificar.
O conhecimento de nós próprios é sempre incompleto. Em primeiro lugar
porque somos uma realidade concreta e o conhecimento completo do concreto
é impossível. Depois pelas limitações resultantes da unidade entre sujeito e
objecto.
Há outras questões prévias que nos devem preocupar. Analisemos algumas.
O que esperam do nosso trabalho?
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Elaborar uma tese, assim como qualquer outro documento relacionado com a
aquisição de conhecimentos, pode ter significados muito diversos conforme o país, a
época histórica, a instituição, o curso, a disciplina ou o docente.
ECO distingue entre “tese de compilação” e “tese de investigação” {ECO, 1980
#3741, p. 13}. O objectivo da primeira é fazer o ponto da situação da investigação
sobre um determinado assunto, enquanto o da segunda é apresentar alguns resultados
novos, seja provando a falsidade de algo admitido até então, seja abrindo a
possibilidade de novos entendimentos. Normalmente a tese de primeiro tipo é menos
exigente em termos de tempo e esforço e a segunda é de resultado mais incerto,
exigindo o despertar de características que quotidianamente não nos são exigidas.
Contudo, o autor parece tirar uma conclusão que, para nós, nem sempre é a mais
adequada:
“a escolha entre tese de compilação e tese de investigação está ligada à
maturidade e à capacidade de trabalho do candidato” ({ECO, 1980 #3741, p.
13}
embora de seguida acrescente que factores económicos também podem influenciar.
Se é verdade que as características individuais podem levar a optar por um ou outro
tipo, frequentemente são os contextos anteriormente referidos que mais influenciam9.
9 Consideremos, para referência, três tipos de “tese”: de licenciatura, de mestrado, de doutoramento.
Em muitas situações entende-se que a primeira é para o jovem investigador começar a exercer com
correcção todas as técnicas de instigação, a segunda para fazer o ponto da situação sobre determinado
assunto (“tese de compilação”) e a terceira para levar a novas descobertas num determinada área
disciplinar ou interdisciplinar. Contudo quando as teses de doutoramento são raras tende-se a exigir
mais das teses de mestrado e quando estas também escasseiam as teses de licenciatura tendem a
cristalizar todas as expectativas de investigação, tanto da parte dos docentes e das instituições como dos
próprios estudantes. Algumas das poucas teses de licenciatura de alguns países africanos dariam boas
teses de mestrado, até bons inícios de teses de doutoramento, na Europa. Uma tese de mestrado em
Portugal há 50 anos tinha de ter mais atributos que algumas teses de doutoramento actuais. E não se
infira que os licenciados africanos são melhores que os europeus ou que o nível dos doutoramentos e
mestrados em Portugal diminuiu nos últimos cinquenta anos. pelo menos não se infira a partir das
situações anteriormente referidas.
Contudo considerar o contexto institucional exige uma leitura mais fina: num mesmo momento certas
áreas científicas são “mais exigentes” que outras, duas escolas superiores da mesma área científica
terão objectivos diferentes, que se reflectem na exigência. Enquanto para uma, por exemplo, o essencial
de uma tese é permitir elaborar um artigo publicável em certas revistas internacionais, para outra é
garantir ao jovem investigador uma boa iniciação nessa nova actividade, entusiasmá-lo a prosseguir.
Escusado será dizer que todas as opções reflectem-se tanto no trabalho exigido como no assunto a
tratar, na problemática a construir. Se o mestrando pretender estudar as condições laborais em Portugal
(assunto que levaria a um tema preciso e a uma questão problemática) os aspectos a abordar e a forma
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É também preciso compreender que a fronteira entre os dois tipos de tese é difusa,
seja porque uma tese de investigação exige uma síntese dos conhecimentos já
existentes e porque um ponto da situação pode rasgar de imediato hipóteses de novos
conhecimentos, seja porque uma boa tese de compilação é muito melhor que uma má
tese de investigação.
Antes de tomar opções convém estar bem informado sobre o que esperam de si. Essa
é uma das funções iniciais que o orientador deve desempenhar, Esse é um primeiro
novo conhecimento a que deve estar aberto, sem ideias pré-estabelecidas e
irredutíveis, e atento.
Não se deixe enganar por declarações formais10
.
Tenha a consciência que uma descoberta científica para se impor nos meios
científicos internacionais e adquirir credibilidade pública precisa de muito mais do
que ser descoberta11
.
Quanto tempo tenho para a investigação e a redacção?
de o fazer serão bastante diferentes se o objectivo for publicar um artigo numa revista americana (terá
que pegar em aspectos preferencialmente aceites pela referida revista e talvez numa análise comparada
com outros países) ou aumentar as suas capacidades de investigação (em que se poderá concentrar
sobre Portugal pegando no que considera ser as vertentes mais relevantes para o conhecimento da
realidade laboral).
10 Por vezes o que se diz nos documentos oficiais de um curso ou de uma instituição pode não
corresponder exactamente ao que se pretende. As instituições são por vezes levadas a afirmações
pomposas que não correspondem a nada. Será bom assistir a algumas provas académicas, consultar
alguns trabalhos recentes, falar com os docentes, para perceber melhor o que se pretende. Sobretudo
quando se está a trabalhar com investigações interdisciplinares. É bonito falar-se em
“multidisciplinaridade” ou em “transdisciplinaridade”, às vezes sem se saber muito bem o que é isso.
Outras vezes as instituições têm uma leitura burocrática das exigências. Admitem, por exemplo, que
quando limitam a dimensão máxima de uma tese de duzentos para cento e cinquenta ou cem páginas
está a diminuir o nível de exigência. Pode ser verdade, se o júri esperar menos por a tese ter menor
dimensão, mas poderá ser exactamente o contrário se o júri esperar o mesmo em menos páginas. Além
disso a dimensão depende dos assuntos e da metodologia de abordagem. Muito frequentemente a
dimensão necessária diminui à medida que aumenta a matematização. As expressões matemáticas que
modificaram o mundo podem ser apresentadas e justificadas em muito poucas páginas, em muito
poucas linhas.
11 Por vezes o jovem investigador admite que uma descobertas científicas será tanto mais reconhecida,
aproveitada, mediatizada, quanto mais importante for. Errado. Pode não haver, pelo menos no
imediato, qualquer correlação entre os dois aspectos. Se não lhe bastar olhar à sua volta aconselhamos a
leitura de {FEYERABEND, 1991 #3784} ou {FEYERABEND, 1988 #3093}.
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O tempo oficialmente estabelecido é um dado. Poderemos transformá-lo em mais ou
menos tempo efectivo conforme a parte do dia que podemos dedicar à tese, conforme
a intensidade de cada hora de trabalho, conforme a nossa rapidez de leitura, de
tratamento matemático, de trabalho laboratorial, de manipulação do computador e dos
diversos programas necessários, de escrita, de raciocinar sobre os assuntos. A situação
é bastante diferente se a gestão do tempo depende exclusivamente de nós ou se
estamos dependentes de terceiros12
.
Aconselhamos, no entanto, muita prudência neste tipo de análise por diversas razões,
relativamente óbvias:
Por muita experiência que tenhamos da gestão do tempo a realização de uma
investigação, seja de que tipo for, é sempre uma incursão no desconhecido e a
previsão nessas circunstâncias tem sempre uma grande margem de erro.
Quando se está a fazer um trabalho interdisciplinar pode haver necessidade de
avançar em áreas científicas que nos são menos habituais, aconselhando
estudos complementares, que inicialmente não estavam previstos.
Existem sempre “acidentes de percurso” que ultrapassam as nossas
possibilidades de intervenção. Podemos fazer regularmente cópias de
segurança dos documentos que temos no computador para nos precavermos de
um problema com o equipamento. Podemos contratar alguém que faça as
entrevistas ou recolha os dados estatísticos se temos recursos para tal e
receamos que tal seja demorado. Podemos ter aprendido antecipadamente
leitura dinâmica para aumentar a nossa velocidade de consulta dos
documentos. Podemos pedir a ajuda de uma amigo para fazer a revisão do
texto. Pouco ou nada podemos fazer se a “vulgaridade” do tema fazia supor a
existência de muita bibliografia e na verdade são muito escassas as obras sobre
o assunto. Pouco podemos fazer se em determinado momento descobrimos
que há um documento fundamental para o tratamento do assunto e ele está
geograficamente longe e indisponível via Internet. Pouco podemos fazer, ou só
o podemos com tempo disponível, se todas as indicações apontavam para
12 Esta dependência pode ser de diverso tipo: do orientador, do fornecimento de alguma obra
considerada fundamental, dos dados estatísticos que não dependem de nós, da observação da instituição
que primeiro tem de dar o seu consentimento, etc.
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existência de muitos dados estatísticos e depois eles não existem ou não são
fiáveis.
O “tempo de investigação” é um tempo muito próprio, um tempo que tem os
seus próprios ritmos: as ideias novas, as relações anteriormente insuspeitas
podem exigir “tempo de maturação no subconsciente”, podem exigir práticas
totalmente alheias à própria investigação (ler poesia ou ouvir música13
, ver
tranquilamente um pôr do sol, participar na luta social14
, olhar para as nuvens
à procura do indecifrável15
, fazer exercício físico16
, etc.)
Mais, os prazos estabelecidos são constrangimentos que nos balizam positivamente,
que devemos encarar como algo a cumprir.
O prolongamento excessivo do trabalho em torno de uma tese é psicologicamente
contraproducente, podendo mesmo conduzir à angústia, à depressão e à não realização
da mesma.
Qual a relação com o orientador?
Chamemos de orientador o docente ou investigador com maior experiência, ou grau
académico, com quem se trabalha durante o período de investigação. Essa relação
pode ser mais ou menos importante conforme as características de ambos e o espaço
institucional em que se movimentam.
Há orientadores que dão ao orientado uma ampla margem de decisão quanto ao
assunto e questão problemática, enquanto outros são muito impositivos e exigem que
o orientado estude um assunto muito específico, por vezes até obriga à adopção de
certos paradigmas, de certas ideias. Para alguns orientadores uma nova tese é um
trabalho a que não podem fugir ou que convém para o seu curriculum, enquanto para
outros é uma oportunidade de abordar novas problemáticas. Certos orientadores
13 Recorde-se a importância da “rêverie” na filosofia de Gaston Bachelard
14 Recorde-se, por exemplo, a estreita relação entre a luta política e a obra científica em Marx.
15 A necessidade de rever o que sempre vimos é particularmente importante nos momentos de mudança
qualitativa (mudança paradigmática, mudança individual). Por isso é interessante, a este propósito, ler
{GLEICK, 1989 #3753}
16 É uma prática habitual, por exemplo, dos grandes jogadores de xadrez.
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reconhecem que o trabalho científico é sempre de equipe e procuram articular os
conteúdos e formas de abordagens dos diversos orientados enquanto outros
privilegiam o trabalho individual do orientado. Há orientadores para quem
acompanhar um trabalho de investigação é uma actividade entusiasmaste que o
enriquece intelectualmente e outros que consideram que é um favor que prestam ao
orientado. Há orientadores para quem todos os actos são um espectáculo de
narcisismo e outros que pecam por excessiva modéstia. Há orientadores honestos, que
dão o seu melhor, e outros que são desonestos ao ponto de se apropriarem do trabalho
alheio17
.
Há orientados que gostam de executar o que lhes é imposto, ou tão somente sugerido,
enquanto outros preferem ter um campo de manobra bastante maior, mesmo correndo
o risco de errar18
. Há orientados para quem a elaboração de uma tese é uma obrigação
que tem de ser cumprida para se progredir na carreira e outros que a assumem como
um desafio pessoal entusiasmante. Há orientados que gostam e têm a possibilidade de
trabalho em equipe, nomeadamente com os que investigam sobre a matérias
semelhantes e outros que preferem trabalhar isolados, escondendo os seus resultados
de todos, potenciais usurpadores das suas ideias. Há orientados que vêm no seu
trabalho, frequentemente mais no que esperam fazer do que no já feito, “o ovo de
Colombo” capaz de transformar o mundo enquanto outros manifestam uma
confrangedora falta de confiança nas suas capacidades. Há orientados que são muito
bons numa determinada matéria e revelam uma confrangedora falta de cultura quando
saiem dela e outros eventualmente menos conhecedores na sua especialidade, mas
com uma vasta e sólida cultura geral. Há orientados honestos e outros desonestos19
.
Quase que poderíamos dizer que há orientadores e orientados para todos os gostos e
que a probabilidade de compatibilidade entre ambos, da sua relação ser harmónica, é
muito pequena.20
17 Esta listagem, incompleta, não é um exercício de retórica. Certamente que alguns comportamentos
são mais habituais que outros, mas para todos encontro exemplos com rosto.
18 Não há processo de construção de novos conhecimentos sem o erro. Já tivemos oportunidade de
tratar deste assunto {CORREIA, 2000 #8608}, o qual é matéria de muitos trabalhos.
19 Também aqui temos presente situações concretas destas diversas alternativas.
20 Dois comentários. (1) Esta situação ainda se agrava quando há co-orientação. Se é difícil uma relação
a dois, muito mais o é a três. (2) A conclusão que aqui tiramos é uma consequência lógica. No entanto
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O orientado escolher um orientador é uma arte. Este perceber a melhor forma de se
relacionar com aquele um processo de tentativa e erro, por vezes com falhas de
percurso graves.
ECO parece considerar que este problema é facilmente ultrapassável:
“Como evitar estes inconvenientes? O estudante, ao abordar um determinado
docente, já terá ouvido falar dele pelos seus amigos, terá contactado
licenciados anteriores e ter-se-á feito uma ideia da sua correcção. Terá lido
livros seus e terá reparado se ele cita frequentemente os seus colaboradores
ou não. Quanto ao resto, intervêm factores imponderáveis de estima e
confiança.” {ECO, 1980 #3741, p. 52}
mas muitas vezes não o é, e é inegável que essa relação é importante para o sucesso.
Uma similitude entre os assuntos a abordar pelo orientando e os trabalhos de
investigação ou os temas de docência do orientador é, provavelmente a razão mais
frequente de uma escolha, para além das imposições dos regulamentos. Sendo
importante, não é suficiente. Em trabalhos interdisciplinares ainda pode ser menos
importante.
AAllgguummaass ggrraannddeess ooppççõõeess
É impossível catalogar todas as opções que se colocam a quem começa a conceber o
início de uma investigação, a elaboração de uma tese. Muito menos o é inventariar as
alternativas que deveriam colocar a si e que, no entanto, nem lhe passaram pela
cabeça.
Se a dúvida é sobre a sua capacidade para a investigar científica a resposta é simples:
basta que a dúvida surja para revelar que quem a coloca tem maturidade suficiente
para avançar, que é capaz. Poderá ter mais ou menos dificuldades, necessitar de mais
ou menos trabalho e imaginação, mais ou menos tempo, mais ou menos
acompanhamento, mas desde já lhe pudemos garantir que realizar uma investigação
está ao seu alcance.
raramente verificamos incompatibilidade e, ainda menos, conflito. Pensamos que esta “inadequação”
entre a nossa conclusão e a realidade observada na relação orientador-orientado resulta dos conflitos
serem “absorvidos”, dramaticamente absorvidos, pela relação de poder do orientador em relação ao
orientado.
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Se a dúvida é sobre a sua capacidade de planear detalhadamente o percurso a
realizar21
, nada melhor que as palavras avisadas de quem há muito trabalha sobre
estas problemáticas:
“dificuldade em começar de forma válida um trabalho tem, frequentemente,
origem numa preocupação de o fazer demasiado bem e de formular desde
logo um projecto de investigação de forma totalmente satisfatória. É um erro.
Uma investigação é, por definição, algo que se procura. É um caminhar para
um melhor conhecimento e deve ser aceite como tal, com todas as hesitações,
os desvios e as incertezas que isto implica. Muitos vivem esta realidade como
uma angústia paralisante; outros, pelo contrário, reconhecem-na como um
fenómeno normal e, numa palavra, estimulante.” {QUIVY, 1992 #960, 29}
Se a dúvida é sobre o interesse e vantagem em abandonar o seu estrito reduto
disciplinar e ingressar na aventura da interdisciplinaridade respondemos que seria
vantajoso optar pela interdisciplinaridade, mas vale mais um bom trabalho disciplinar
que um mau trabalho interdisciplinar.
As questões que aqui pretendemos referir são, eventualmente, mais comezinhas.
Como diz QUIVY, se não equacionar essas questões poderá ter oportunidade no
futuro, caso se revele relevante, fazê-lo. Contudo, se à partida tivermos ideias claras
sobre alguns assuntos poderemos ter o trabalho facilitado, poderemos sobretudo
poupar tempo e fugir a algumas “tentações” que a investigação criará.
Formulemos então algumas e esbocemos algumas hipóteses de resposta.
Tese monográfica ou tese panorâmica?
Esta é a primeira questão que ECO {ECO, 1980 #3741, 19} levanta.
Nem sempre essa opção se coloca. Se um investigador trabalha numa equipe, se já
está inserido numa divisão de trabalho científico, se o não está mas essa é a situação
do orientador, o qual procura enquadrar os seus mestrandos e doutorandos no trabalho
global da instituição, quase naturalmente caminha-se para uma tese monográfica.
21 Esta dúvida pode ser reforçada pelo que tem lido neste mesmo livro. Há questões que colocamos,
alertas que fazemos, referências que consideramos importantes, que certamente lhe podem provocar
uma reacção deste tipo: “nunca tinha pensado no assunto... provavelmente ainda não tenho as ideias
suficientemente amadurecidas”. Seria inadequada uma tal conclusão.
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Depende também das áreas disciplinares e do grau de pormenorização que a
investigação assume internacionalmente.
Os maiores perigos de se pretender fazer uma tese panorâmica surge de quem se vai
iniciar numa investigação sobre assuntos anteriormente não estudados por si. Aí surge
a tendência para pretender colocar no trabalho tudo o que vai aprender, tudo o que
resulta do seu trabalho, tendo dificuldade de discernir o que já é conhecido da
comunidade científica e quais são os seus verdadeiros contributos, afinal o que é
importante transmitir aos outros.
Em algumas situações a tendência para uma tese panorâmica pode resultar de
excessiva vaidade do investigador, dum excessivo orgulho ou mesmo de algum
narcisismo. Nesses casos as causas são quase patológicas e há claramente um
problema a resolver, pois essas causas podem também conduzir a dificuldade de
diálogo, a pouca receptividade à aprendizagem, a inflexibilidade intelectual, a ser
arrastado pelas suas “evidências”. Haverá o risco de tudo lhe correr mal e nem sequer
ter a capacidade para aprender que a responsabilidade é sua, não dos outros.
Do que ficou dito parece claro que uma tese monográfica é vantajosa em relação a
uma tese panorâmica. Analisemos algumas das razões.
Uma tese tem sempre um tempo limitado, como já referimos. Em princípio uma tese
panorâmica tenderá a levar mais tempo até se conseguir obter resultados novos.
Sobre um assunto genérico há muitos mais intelectuais que possuem informação,
parcial ou completa, sobre o assunto, enquanto um tema monográfico só é conhecido
de especialistas. Esta situação conduz a três consequências que são nefastas para o
jovem investigador:
Há mais «ideias feitas» sobre o tema e torna-se bastante mais difícil para o
jovem investigador apresentar leituras alternativas aceites pela comunidade
científica. É certo que na tese pode-se tentar combater essas «ideias feitas»
mas a vastidão do assunto e quantidade destas não deixarão tempo e espaço
para rebater aprofundadamente todos esses obstáculos a uma leitura
alternativa.
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Como é impossível conhecer tudo sobre um tema panorâmico e aprofundar
uma leitura crítica dos diversos materiais, há muito mais possibilidade de
crítica, vinda dos mais diversos sectores.
A defesa da tese é um momento particularmente sensível em que a «correlação
de forças dos conhecimentos mútuos» pode jogar um papel. Numa tese
monográfica a capacidade do jovem investigador ser um especialista, o maior
especialista, é francamente maior.
Acrescente-se ainda que numa tese panorâmica é, por vezes mais difícil formular
perguntas precisas, elaborar questões problemáticas rigorosas.
1. “A poluição nas sociedades contemporâneas” é manifestamente o título, se
correctamente formulado, de uma tese panorâmica, quase certamente de uma tentativa
de tese, pois haveria dificuldade em lhe associar um conjunto de questões
problemáticas.
“A relação indivíduo-sociedade na obra de José Saramago” é, quase certamente, o
título, se correctamente formulado, de uma tese monográfica, a que não será difícil
associar um conjunto de questões problemáticas.
A primeira, apesar do amplo (impreciso) significado de qualquer um dos termos, não
poderia deixar de analisar os diversos tipos de poluição, de classificar as sociedades
segundos certos critérios e de estabelecer fases diferentes da situação mesmo
considerando um número reduzido de anos recentes.
A segunda, apesar de se centrar na obra de José Saramago – o que já por si é bastante
vasta – não pode deixar de ignorar os debates filosófico milenares sobre a relação
indivíduo-sociedade e as contribuições científicas para o seu esclarecimento.
Provavelmente o candidato a investigador ao formular o primeiro título acima referido
não visava indicar qual seria o objecto da sua tese, mas tão somente referir que
gostaria de investigar sobre um tema que se enquadrasse naquele assunto.
Provavelmente pretendia exprimir a preocupação que hoje a poluição apresenta-se
objectiva e subjectivamente de forma diferente do que acontecia na primeira metade
do século XX. “Análise comparada da poluição nos períodos 1900-1925 e 1980-
2005” ou “Causas da evolução da poluição após 1980” parecem ser assuntos mais
delimitados, mas ainda correm o risco ou de dizerem “o que todos sabem” ou de
levarem a constatações diferente dos vulgarmente aceite, difíceis de se imporem. As
questões problemáticas também terão dificuldade de serem válidas.
2 Nem sempre a natureza monográfica ou panorâmica é clara. Por outras palavras,
podemos ter uma tese que aparentemente é de um tipo mas que nas intenções do autor
é de outro. Mais um exemplo que, se tiver alguma semelhança com a vida real é pura
coincidência. Depois de muitos debates o título acabou por ficar Pobreza nos E.U.A.
– Abordagem crítica do contributo das teorias marxista e neoclássica para a sua
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análise. Aparentemente é monográfica; depois de precisar o(s) conceito(s) de pobreza,
a partir de uma série de informações estatísticas quantificar e modelizar o fenómeno
nas últimas décadas daquele país. Contudo o subtítulo é tendencialmente panorâmico,
sobretudo se estivesse escrito da forma que o mestrando gostaria: Abordagem crítica
do contributo das teorias do valor marxista e neoclássica para a sua análise e
hipóteses alternativas. Com efeito, qualquer que fosse a arrumação das matérias o
que abordava das teorias marxista e neoclássica era o valor e terminava o trabalho
apresentando uma proposta alternativa. Sabendo-se que a teoria do valor é um tema de
debate desde a autonomização disciplinar da Economia, que as duas correntes
referidas consubstanciam o essencial do confronto de posições e, ainda por cima tendo
a pretensão de apresentar uma proposta alternativa, não resta dúvida que o que o
mestrando considerava essencial era panorâmico. Centena e meia de páginas como
limite, um título monográfico e um subtítulo (e verdadeira intenção) panorâmico só
poderia dar o que ECO refere na generalidade, provavelmente pensando em diversos
casos concretos:
“Em teses deste género, o estudante acaba geralmente por acusar os membros
do júri de não o terem compreendido, mas estes não podiam compreendê-lo
e, portanto, uma tese demasiado panorâmica constitui sempre um acto de
orgulho” {ECO, 1980 #3741, 19/20}
Dito isto convém acrescentar alguns argumentos a favor de uma tese (mais)
panorâmica, para que não se transforme em “causa perdida”.
Em primeiro lugar uma tese é um acto intelectual em que a componente afectiva
também é muito importante. Alguns terão dificuldade em “falar da árvore sem ver a
floresta”, em focalizar-nos num problema muito circunscrito, muito limitado.
Em segundo lugar há diferentes histórias de vida que conduzem à elaboração de uma
tese. São muito diferentes as situações do jovem licenciado que tem que elaborar uma
tese para terminar o seu curso e a do investigador que resolve enveredar por um
doutoramento como consagração de uma trabalho de estudo conduzido durante muitos
anos ou mesmo uma vida. Alguns desses percursos podem justificar a adopção por
temas panorâmicos.
Em terceiro lugar em muitas áreas há mais carência de trabalhos de síntese, de uma
síntese criadora, que de investigação de alguns aspectos particulares, que de
apresentação de resultados de especialidade22
.
22 No entanto faz aqui sentido recordar um aviso de ECO. Uma síntese inovadora pode ser interpretada
como trabalho de génio se o autor é consagrado – e todos reconhecerão que citar umas coisas e
esquecer outras é o resultado de uma escolha consciente – ou como um trabalho negligente se o autor
não é consagrado – em que “esquecer outras” será entendido como ignorância ou negligência.
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Convém também recordar que quer a tese seja monográfica ou panorâmica terá
sempre a sensação ao longo do trabalho de que o objecto de estudo deveria ter sido
ainda mais restrito. Numa tese do segundo tipo há uma grande extensão de matérias a
abordar, mas numa do primeiro há sempre que aprofundar mais e mais, explorar cada
pormenor até à exaustão23
.
Qualquer um dos dois tipos de tese podem ser válido se der lugar a um conjunto de
questões problemáticas24
correctamente formuladas, inovadoras e coerentes. E quando
se consegue concretizar essa fase inicial da investigação as fronteiras entre um tipo e
outro tende a dilui-se.
Apesar desta diluição parece-nos válida a recomendação de ECO
“recordemos este princípio fundamental: quanto mais se restringe o campo
melhor se trabalha e com maior segurança. Uma tese monográfica é
preferível a uma tese panorâmica. É melhor que a tese se assemelhe mais a
um ensaio do que a uma história ou uma enciclopédia” {ECO, 1980 #3741,
23}
Devemos escolher um tema “quente”?25
“Juntar o útil ao agradável” parece ser uma preocupação frequente. “Já que vou
elaborar uma tese, que seja sobre um assunto que hoje preocupa as pessoas, que
aconselhe uma justificação política inevitável”.
Embora nunca seja de pôr de lado nenhuma alternativa sem ser cuidadosamente
estudada, embora seja sempre de compreender as razões que levam a referir um
determinado assunto e tema para uma tese, poderemos quase categoricamente afirmar
23 Por muito restrito que seja o objecto de estudo acontecerá com o investigador o que na história se
passou com a microfísica. Durante séculos, considerou-se que a mais pequena partícula da matéria era
o átomo e que decomposta aquela em átomos teríamos o conhecimento completo da matéria. Depois
olhou-se para o átomo. Afinal o que era considerado indivisível tinha electrões, núcleo, que mais uma
vez são considerados como o “indivisível”. Entretanto constata-se que o núcleo é constituído de protões
e neutrões. E a história continua.
24 Trataremos em breve das “questões problemáticas”, conjunto de perguntas correctamente formuladas
orientadoras do objecto de estudo e do trabalho de investigação..
25 ECO, mais uma vez tomamo-lo como referência, nunca formula explicitamente esta pergunta,
embora formule outras que indirectamente parecem conduzir a esta.
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que optar por um “tema quente”, por um “tema que está na ordem do dia26
” é uma das
piores alternativas.
Em primeiro lugar, em nenhum momento se pode esquecer que o trabalho a realizar é
científico. Por outras palavras, está fora do âmbito de um tese de investigação a
realização de uma “tese política”. Ainda dito de outra forma, é legítimo abordar
problemáticas que tenham impactos políticos, que sejam preocupação de uma grande
percentagem de cidadãos, que merecem a atenção dos órgãos de informação, mas essa
legitimidade passa pelo seu tratamento científico, pela capacidade do investigador
manter uma atitude crítica em relação à realidade, ao seu trabalho e às suas
conclusões.
Em segundo lugar e em reforço do afirmado anteriormente, deve-se ter consciência
que um tema “quente” é muito mais “exigente cientificamente”. Com efeito, a luta
contra as evidências é social e psicologicamente mais difícil. As fronteiras entre os
conhecimentos corrente e científico, por um lado, e entre este e a ideologia, tendem a
modificarem-se e diluírem-se se não houver a devida cautela da nossa parte. Se se
pretende que o contributo científico seja tido em conta é necessário explicita ou
implicitamente combater as “ideias feitas” que dificultam leituras alternativas e ter
uma capacidade argumentativa muito forte.
Em terceiro lugar a atenção nos temas “quentes” pode estar associada a uma
sobrevalorização do trabalho a realizar. Os “ciclos” dos temas “quentes” têm
frequentemente tempos inferiores aos exigidos para a elaboração de uma tese. Nunca
devemos perder de vista que socialmente o impacto de uma tese é muito pequena.
Quando os temas, para além de “quentes”, são contemporâneos, a informação válida
sobre eles (artigos científicos, dados estatísticos, etc.) é muito menor27
.
1. O ascenso mundial da ideologia neoliberal, que tanto se situa no plano das ideias
como da acção, da actuação política, fez com que o tema das privatizações estivesse
na ordem do dia em muitos países, abrangendo desde participações do Estado em
26 “Um tema que está na ordem do dia” tanto pode estar associado a um assunto contemporâneo como a
uma assunto temporalmente passado.
27 No que se refere à informação há o reverso da medalha: a contemporaneidade permite que seja o
investigador a recolher os dados, a obter informações in loco.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 45/150 - Versão 01
empresas industriais à segurança social. Por isso era habitual os estudantes
pretenderem fazer trabalhos sobre esse assunto.
Por vezes eram «panorâmicos» (“Privatizações”; “Privatizações em Portugal”;
“Privatização da Segurança Social”) outras situar-se-iam entre o «panorâmico» e o
«monográfico» (“Privatização da Energia em Portugal”; “União Europeia e
Privatizações”) e outras claramente monográficas (“Vantagens das Privatizações da
Segurança Social em Portugal”).
Contudo, em quase todas as situações enfrentava a dificuldade de ser um tema
“quente”, o que significava que o estudante partia com um conjunto de ideias feitas,
de “evidências”, que nunca eram explicitadas, que não se transformavam em hipóteses
de trabalho a serem testadas: “a gestão privada é superior à pública”, “a privatização
aumenta a liberdade dos consumidores”, “quanto menos Estado melhor”, etc. eram
evidências à partida. Simultaneamente eram ignorados muitos aspectos relacionados
que nunca eram matéria da comunicação social: as nacionalizações, a natureza social
do Estado, as relações objectivas e subjectivas entre a chamada sociedade civil e o
Estado, a estrutura oligopolista da economia mundial e nacional, etc.
Significa que, pelo facto das privatizações serem um tema “quente”, não possa ser
estudado, não possa ser objecto de uma tese científica? Nada disso. Apenas se torna
necessário decompor o problema, escolher uma das suas facetas, formular correctas
questões problemáticas, introduzir a interdisciplinaridade, utilizar uma metodologia
adequada.
Sendo a economia algumas facetas de uma sociedade que constitui um todo, quais são
os impactos da nacionalização ou da privatização de uma grande empresa num sector
estratégico? poderia dar uma tese com um título do tipo Contributos para a
inventariação dos impactos sociais das nacionalizações e das privatizações numa
sociedade capitalista, podendo-se ainda acrescentar uma referência à metodologia
(ex. uma análise de casos) ou à matriz disciplinar (ex. uma leitura económica, uma
leitura sociológica, uma leitura psicológica, uma leitura histórica, uma leitura
interdisciplinar).
Quais são os pressupostos (científicos, ideológicos ou outros) do pensamento
neoliberal ao defender as privatizações? poderia dar uma tese com um título do tipo
As privatizações na obra de Milton Friedman.
Os acontecimentos passados de nacionalização e privatização permitem-nos tirar
conclusões políticas aplicáveis no contexto social presente? poderia dar uma tese com
um título do tipo Contributos para a história das nacionalizações e privatizações em
França após a II Guerra Mindial.
As nacionalizações e as privatizações têm os mesmos pressupostos e as mesmas
consequências em todas as sociedades ou depende da estrutura destas? Em que
medida é que o dualismo pode influenciar uns e outras? são questões que poderiam
dar lugar a diversos trabalhos, tais como Análise comparada das privatizações nas
economia desenvolvidas e subdesenvolvidas após a queda do muro de Berlim, ou
Especificidades das nacionalizações e privatizações nas sociedades africanas pós
independência – o caso do país X, ou ainda, numa leitura mais abstracta, As
nacionalizações e privatizações nos principais modelos de crescimento e
desenvolvimento de orientação estruturalista. E a lista poderia continuar.
Qual o significado e relevância que os cidadãos dão à palavra “privatização”? é uma
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 46/150 - Versão 01
pergunta que se orienta para um tipo de investigação totalmente diferente das
anteriores, remetendo fortemente para uma interdisciplinaridade entre a Psicologia
(Psicologia Económica), a Linguística, a Semiótica, a Antropologia, a Sociologia, a
Economia, pelo menos, dando lugar a um trabalho que pode eventualmente ter o título
Contributos para o significado individual e colectivo de privatização – uma leitura
interdisciplinar.
Qual o impacto das nacionalizações e privatizações sobre as importações e
exportações de bens e serviços dos países em que aquelas se realizam? poderá dar
lugar a um tema do género Impactos das nacionalizações e privatizações sobre a
balança comercial – das estatísticas à sua interpretação.
A lista de pergunta e as hipóteses de trabalho são imensas. Ficam aqui apenas alguns
exemplos.
CCoonnhheecciimmeennttooss pprréévviiooss ee aassssuunnttoo
Os conhecimentos possuídos quando se começa a preparar o trabalho de investigação
são uma restrição objectiva ao trabalho a desenvolver.
Se a minha formação é estritamente de Linguística e nunca me dediquei ao estudo
aprofundado da Física não será justificável avançar para uma tese nesta última
disciplina. Se a minha formação e prática é de Medicina não parece haver nenhuma
razão válida para fazer uma tese de Sociologia. Se toda a minha actividade e
conhecimentos é de Literatura não parece haver razões para optar por uma tese de
Economia. Dir-me-ão que é evidente, que se fizessem esse tipo de opção nem sequer
saberiam escolher o assunto a tratar, o tema preciso a investigar, as questões
problemáticas a que deverão responder. Se a vossa reacção é essa, podemos ficar por
aqui na apreciação da validade destas opções de rumo28
.
É certo que é fácil fazer uma listagem de personalidades do mundo da ciência que se
licenciaram numa área disciplinar e fizeram o mestrado ou doutoramento noutra, mas
tal não está contra o que afirmamos anteriormente. Quando falamos em
conhecimentos adquiridos anteriormente estamos a englobar tanto os formais como os
informais. Qualquer um de nós pode adquirir um título académico numa área e, no
28 Acrescentaria que nem sempre as opções são tão claras. Os investigadores das “ciências moles”
quase certamente não se atreverão em avançar em teses das “ciências duras”, mas a recíproca não é
totalmente verdadeira.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 47/150 - Versão 01
entanto, dedicar-se de forma mais ou menos formal, mais ou menos autodidacta a
outra área disciplinar.
Contudo o que temos vindo a afirmar coloca um problema quando defendemos que há
vantagens em adoptar uma postura interdisciplinar. Quase ninguém tem uma
formação interdisciplinar e na quase totalidade das instituições de ensino a nível
mundial a interdisciplinaridade (com este ou outros nomes) é muito frequentemente
anunciada, mas muito raramente promovida. Se a formação do licenciado, mestrando
ou doutorando é disciplinar como pretender-se que ele avance interdisciplinarmente29
?
Podemos responder a esta intrigante pergunta com as seguintes observações:
Defendemos que grandes saltos entre os conhecimentos possuídos e o trabalho
de investigação que se pretende realizar é ilógico, inadequado e altamente
explosivo, mas também defendemos que se aproveite um processo de
investigação, de penetração no «novo», para rasgar novos horizontes.
Como é sabido há diversos graus de interdisciplinaridade (que vai do que
frequentemente se designa por multidisciplinaridade até à
transdisciplinaridade) e a mudança pode ter uma gradação quase infinita entre
a “disciplinaridade estrita” e a “interdisciplinaridade absoluta” (se é que esta
pode existir). A tese é um importante momento para mudanças de atitude.
A interdisciplinaridade começa por uma mudança de atitude (renegar um
imperialismo disciplinar, consciência de participar duma comunidade
científica altissimamente diversificada, estar atento aos conhecimentos dos
outros, promover comportamentos articulados com os outros, etc.), por um
estudo que se prolonga ao longo de toda a vida e, sobretudo por uma procura
de novo posicionamento institucional. Trabalhar em rede e participar em redes
é decisivo. Há muito que não é possível o “homem enciclopédico”.30
29 Há alguns anos, um professor catedrático de longa experiência, defensor da interdisciplinaridade
,afirmava que uma tese de doutoramento interdisciplinar era o melhor passaporte para uma reprovação.
E justificava-lo no facto de uma tese interdisciplinar exigir que no júri estejam especialistas de diversas
áreas científicas, muito provavelmente com uma leitura muito disciplinar, que nunca ficarão satisfeitos
com o que lhes é dado apreciar, porque estariam sempre à espera de uma maior aprofundamento
disciplinar.
30 Estas redes podem ser mais ou menos formais, mas é importante termos em atenção que hoje a
Internet é uma poderosíssima ferramenta de cruzamento de saberes. Esse assunto foi magistralmente
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 48/150 - Versão 01
Seria louvável que as instituições também se apercebessem das mudanças em curso e
encontrassem outras formas de funcionamento e de diálogo.
Alberto tem uma formação específica em língua portuguesa. Aproveitando essa
formação (Linguística) pretende fazer uma análise comparativa entre o português de
Portugal e o português do PALOP X. Para o efeito teve que recorrer a processos de
amostragem e tratamento de dados (Matemática). Entretanto considerou ser útil
conhecer a génese de formação da língua em X (História) e perceber em que medida a
orografia influenciou o processo (Geografia). Tendo dado conta que o contexto
geopolítico influenciava a evolução social na região considerou útil ter uma visão,
embora sumária, da globalização (Economia). Fez uma contextualização do problema
linguístico que exigiu entrar, embora de forma insipiente, na interdisciplinaridade.
Ricardina tem uma formação matemática e ficou entusiasmada com o que leu sobre a
Etnomatemática, o que desde logo exigiu que se apercebesse da importância da
Antropologia. Considerou que a tese de doutoramento era um momento oportuno para
aprofundar o problema. Porque a Etnomatemática era essencialmente trabalhada junto
de populações de África, colocou-se-lhe o problema: não será que a Etnomatemática é
aplicável às populações europeias? Para tal equacionou um conjunto de situações e
problemas matemáticos e projectou fazer uma análise comparada de comportamentos
numa limitada população africana e europeia. Teve que aprofundar a Antropologia,
que até então só tinha abordado como curiosidade. Para uma mais adequada
explicação considerou importante entender as diferenças cognitivas entre as duas
populações, o que lhe exigiu aprofundar as Neurociências e a Anatomia. Apercebeu-
se que subjacente a estes processos existiam procedimentos lógicos que pareciam ser
diferentes. O que tinha lido sobre as culturas greco-latina e banto pareciam dar
consistência a essa possibilidade. Formulada essa hipótese teve de introduzir a Lógica.
Por este facto, e também para compreender a relação entre os números e operações e a
forma de pensar os povos que tinham diversas línguas, teve que tentar compreender
quais oscontributos que a Linguística (especialmente a Psicolinguística e a
Sociolinguística) poderia dar. O campo de investigação estava já demasiado amplo.
Os desafios eram aliciantes, mas incompatíveis com o tempo disponível, apesar da
muita informação que a Internet lhe permitia obter rapidamente, apesar de ter
conseguido estabelecer contacto regular com alguns dos mais eminentes especialistas
nestas matérias que ficaram entusiasmados com a utilização das suas especialidades
numa tal investigação. Aliás alguns sites sobre Etnomatemática e o um livro editado
na Nova Zelândia foram pontos de partida fundamentais e a utilização comum do
inglês permitiu a comunicação fácil. Comparando a investigação previsível e o tempo,
assim como outros recursos, resolveu delimitar ainda mais o seu objecto de estudo e
remeter para investigações futuras uma parte do trabalho que inicialmente tinha
pensado realizar. Apesar deste “contratempo” lucidamente resolvido, estava contente
e estava certa que tinha dados importantes passos na descoberta do novo, o que só lhe
tratado em {CHAZAL, 2004 #25309}, cuja leitura aconselhamos vivamente. A este propósito é
imperioso chamar a atenção que o computador não é apenas mais um instrumento de trabalho, que a
Internat não é apenas mais um local de contacto entre pessoas e fornecimento e obtenção de
informações. Está em jogo uma mudança de atitude.
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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 49/150 - Versão 01
tinha sido possível graças à interdisciplinaridade e à participação em redes
internacionais.
Depois de ter escrito e defendido a tese com sucesso mandou um exemplar da mesma,
com os agradecimentos, para Paulus Gerdes31
e Helen Verran32
por terem sido autores
que a alertaram para a problemática.
Analisemos agora dois aspectos particulares dos nossos conhecimentos: o nosso
conhecimento de línguas, o nosso conhecimento do mundo.
No que se refere às línguas ECO é perentório:
“1) Não se pode fazer uma tese sobre um autor estrangeiro se este autor não
for lido no original.
(...) 2) Não se pode fazer uma tese sobre um tema se as obras mais
importantes sobre ele estão escritas numa língua que não conhecemos.
(...) 3) Não se pode fazer uma tese sobre um autor ou sobre um tema lendo
apenas as obras escritas nas línguas que conhecemos” {ECO, 1980 #3741,
32}
embora introduza diversas atenuantes no se refere ao terceiro ponto.
Hoje, com a utilização generalizada do inglês nos trabalhos científicos, com a
possibilidade de aplicar programas automáticos de tradução (que geralmente fazem
um trabalho muito deficiente mas que, mesmo assim, pode ajudar a entender algumas
passagens) a comunicação está muito mais facilitada. Contudo não resolve todos os
problemas e os pontos anteriormente colocados, particularmente os dois primeiros,
são pertinentes.
Uma tradução, por muito cuidada que seja, é uma dupla reconstrução do texto: porque
passa a estar redigido noutra língua; porque o tradutor interveio. Por isso não será
legítimo estudar a obra de um autor – um estudo que exige atenção sobre todos os
aspectos dos textos publicados, quiçá traduzidos, mas que também pode exigir
consultar manuscritos – sem conhecer aprofundadamente a língua em que se
exprimiu.
Não é viável fazer uma tese sobre A poesia de Shimazaki Toson sem conseguir ler
aquele autor em japonês. Não será muito adequado fazer uma tese sobre Also sprach
31 Holandês de nascimento, moçambicano de naturalização após a independência foi um dos
precursores da Etnomatemática constituindo uma valorosa equipe de investigadores nesta área. São
muitas as obras editadas ou escritas por ele sobre estas problemáticas.
32 {VERRAN, 2001 #55}
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Zarathustra de Nietzsche sem ler em alemão. Seria um absurdo fazer uma tese sobre
As figuras de estilo no Canto IV dos Lusíadas de Luís de Camões sem saber
português. Como se poderia escrever uma tese sobre História Postal das Ilhas Fëroe
se uma parte dos documentos postais a consultar estão em feróico, língua oficial local
próxima do islandês, que não conhecemos?
Poderia ser bastante imprudente escrever uma tese sobre Influência de Italo Calvino
na literatura italiana sem saber italiano pois poderia ser necessário ler na língua
original algumas partes da sua obra e um parte da bibliografia está escrita
exclusivamente naquela língua. Poderia ser muito arriscado escrever sobre Menger no
contexto científico germânico no século XIX sem saber alemão porque provavelmente
seria necessário ler alguns autores que não estão traduzidos e porque há uma forte
probabilidade de bibliografia significativa estar em alemão.
Comparado com as situações anteriores seria bastante menos arriscado escrever uma
tese sobre História Postal Pré-filatélica da África do Sul apesar de alguma
bibliografia poder estar em africânder ou investigar sobre A influência de Nietzsche na
Filosofia Ocidental do Século XX apesar de poder haver obras interessantes em
línguas que não conhecemos (alemão, dinamarquês, etc.)
Acrescente-se que em algumas das situações anteriores é possível modificar
ligeiramente o tema para contornar a dificuldade do conhecimento linguístico.
Para além da dificuldade da acessibilidade linguística, refira-se a da acessibilidade
geográfica. Há livros editados em alguns países que, embora sejam escritos em
línguas nossas conhecidas, são de muito difícil acesso, seja porque foram editados por
instituições muito pouco conhecidas, porque não entram nos “circuitos comerciais”33
,
etc.
Claro que esta dificuldade é adicional quando o trabalho de investigação exige o
acesso a documentos (livros, artigos, apontamentos, partituras, etc.) que nunca foram
publicados e que não estão disponibilizados na Internet. Em alguns casos ainda é
necessário previamente averiguar da sua existência.
Para terminar algumas breves notas sobre o conhecimento do local onde os
acontecimentos tratados na tese se desenrolam.
33 Poderia apresentar vários exemplos de situações destas quando trabalhamos com temáticas
relacionadas com África. Alguns dos melhores livros lidos, algumas obras que marcaram o meu
percurso intelectual só as conheci porque passei por esses países, porque alguém falou neles, porque
num monte de livros emprestados ele constava.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 51/150 - Versão 01
Há alguns anos FRAZÃO era desafiado para escrever sobre a história postal do
Porto34
. Na introdução afirma:
“Comecei assim praticamente do zero, tentando antes do mais sentir um
pouco da cidade que visitava todas as semanas por motivos profissionais, e
que admirava mas não conhecia. Para tal recorri a dois instrumentos de
trabalho: o livro «História da Cidade do Porto», que li como um romance,
complementado por inúmeros passeios a pé por toda a zona da cidade
correspondendo à superfície que tinha até meados do século XIX. E quanto
mais lia e mais andava, mais me agradava a ideia, embora maior me
parecesse a tarefa, pois que se desde o fim do século XVIII e até meados do
século XIX já tinha coligido alguns dados, daí para trás era um vazio quase
total.” {FRAZÃO, 1997 #913, 7}
Considero particularmente interessante a referência aos passeios a pé.
Em muitas áreas científicas não faz qualquer sentido o conhecimento pessoal do local
(desgraçada Astronomia se assim fosse!), mas nas ciências da realidade humana, no
tratamento de instituições e sociedades com usos e costumes diferentes dos que
formaram a personalidade do investigador, o conhecimento do local pode ter algum
interesse. Não é indispensável, mas pode transmitir uma forma diferente de encarar os
problemas35
.
Se a tese versa um tema actual, se incide sobre sociedades que não se conhece
pessoalmente, obviamente que é recomendável que leia livros genéricos sobre elas.
De História, de Geografia, de outro tipo, mas aconselho particularmente que leiam
cronistas, contistas, romancistas, poetas36
.
TTeessee,, ppuubblliiccaaççããoo ee ccuurrrriiccuulluumm
34 Este desafio deu lugar a dois volumes: {FRAZÃO, 1997 #913} e {FRAZÃO, 1997 #912}.
35 Ao longo de vários anos tenho estado em júris de provas de mestrado e doutoramento relacionadas
com países africanos. Da leitura das teses, sem conhecer quase nada do candidato, costumo tirar as
minhas conclusões sobre o grau de conhecimento in loco por parte do candidato. Nota-se quando estão
a falar de uma realidade com a qual não tiveram esse contacto.
36 “Conhecer uma sociedade” naquilo que a “intuição” pode fornecer é essencialmente aperceber-se do
todo que constitui o seu quotidiano. Essa totalidade facilita e torna mais fiável a dissecação disciplinar.
Ora esse todo é mais perceptível num quadro, numa estátua, numa música, num poema, num romance
que em obras científicas. Um bom romance não carece de interdisciplinaridade porque ele revela, no
objecto de narração, uma totalidade que as disciplinas científicas não são capazes de reter.
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QQuuee aassssuunnttoo??
Afinal sobre que assunto devemos versar a tese?
Apenas podemos responder que a escolha é de cada um.
Note bem, estamos a falar de assunto e ainda não de tema. Este resultará da
delimitação do assunto, da interligação entre essa delimitação e a possibilidade de se
formularem questões problemáticas correctas.
Apenas uma sugestão: escolham o assunto de forma que não se encerrem à partida as
possibilidades de interdisciplinaridade.
As religiões no Mali é um bom assunto, embora seja necessário percorrer um longo
caminho até se tornar num objecto de estudo claramente identificado. Os modelos de
desenvolvimento utilizados em África é um bom assunto que provavelmente exige
delimitação temporal e paradigmática. A gramática da língua changana pode ser um
assunto interessante e viável, pode abrir-se para uma leitura disciplinar, mas
apresenta-se à partida excessivamente vinculado à Linguística. Uma estratégia
educativa para África é um assunto, grosso modo interessante e viável, mas apresenta
dois riscos: ser demasiado amplo, o que é fácil de resolver, correr o risco de estar
demasiado virado para o futuro, recorrendo mais a hipóteses políticas que científicas.
AA ddeelliimmiittaaççããoo ddoo oobbjjeeccttoo
AAss qquueessttõõeess pprroobblleemmááttiiccaass iinniicciiaaiiss
»»» Assuma o trabalho de investigação que vai realizar como um momento
importante, nunca decisivo, da sua vida. A seriedade e ponderação têm de ser
permanentes companheiros de viagem neste breve percurso.
»»» Face às opções que se lhe apresentam procure traçar alguns rumos ao seu
trabalho que mais se adaptam às suas características pessoais. Essa adequação
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do trabalho à sua personalidade pode poupar-lhe equívocos e até dissabores,
mas assuma essa reflexão sem dramatismos. O trabalho de investigação e
escrita também o ajudará a conhecer-se melhor e as opções não são
irreversíveis. Está sempre a tempo de corrigir o rumo.
»»» Aproprie-se do ambiente institucional em que vai realizar o trabalho de
investigação e fazer a sua defesa. Observe atentamente e assuma as atitudes de
afirmação da sua personalidade como cidadão e investigador que considere
mais adequadas à circunstância.
»»» Muito do que fizer durante o processo de investigação é reversível. Os
erros são momentos inevitáveis da construção científica, e não há que receá-
los desde que estejamos sempre prontos a corrigi-los37
. Apenas a escolha do
orientador e a institucionalização da relação é, muitas vezes, irreversível.
Estude pois atentamente o problema confrontando, pelo menos
hipoteticamente, diversas alternativas.
»»» Quanto mais alternativas explicitar no início, e mais opções fizer com
plena consciência das suas consequências, melhor. Contudo não invente. Más
alternativas e deficientes opções podem ser pior que não as colocar. Este
poderá ser um tema para uma primeira conversa com o seu orientador. Nesse
diálogo não se iniba de dizer tudo o que pensa, sem medo dos erros. É através
destes que mais avançará.
»»» A não ser que tenham muito poderosas razões para fazer uma opção
diferente, opte por uma tese monográfica, isto é, visando um assunto preciso,
realista para o tempo de que vai dispor.
»»» Não dê muita importância à “actualidade” do tema, a não ser na medida
em que tal o estimule, o que é muito provável que aconteça. De qualquer
forma resista às tentações que os temas de actualidade possam apresentar e
nunca, mesmo nunca, perca de vista que o seu trabalho é científico.
37 Uma frase similar é o “cartão de visita” do grande investigador, professor e cidadãos Bento Jesus
Caraça a partir do momento em que uma tal frase acompanha a sua representação no Instituto Superior
de Economia e Gestão em Lisboa.
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»»» Tenha em conta os seus conhecimentos (nas potencialidades e limitações),
aceite as restrições do trabalho futuro que daí resultam, mas, após medir os
prós e contras, assuma os riscos da inovação para os quais se sinta preparado.
OObbsseerrvvaarr aa rreeaalliiddaaddee
CCoonntteexxttuuaalliizzaarr aa rreeaalliiddaaddee
PPrroobblleemmaattiizzaarr aa rreeaalliiddaaddee
IInntteerrrrooggaarr aa rreeaalliiddaaddee
IInntteerrpprreettaarr aa rreeaalliiddaaddee
““CCoommppaannhheeiirrooss”” ddaa aapprrooxxiimmaaççããoo
RRaazzããoo ee sseennttiimmeennttooss
CCuurriioossiiddaaddee ee iimmaaggiinnaaççããoo
CCuullttuurraa
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RReeddaaccççããoo ddee ttrraabbaallhhooss cciieennttííffiiccooss (...)
AAllgguunnss ccuuiiddaaddooss ccoomm aa rreeddaaccççããoo
BBiibblliiooggrraaffiiaa,, llaattuuss sseennssuuss3388
Analisámos anteriormente a procura de informação. Já sabemos que é impossível
recolher toda a informação existente sobre um assunto, muito menos toda a que esteja
directamente relacionada com ele. Já abordámos esse assunto ao definir um conjunto
de critérios delimitativos da procura que realizámos, resultantes dos objectivos da
investigação, do tempo disponível ou das nossas limitações. Perante essa
impossibilidade temos que revelar muita argúcia na selecção das fontes de
informação, na capacidade para tentarmos atingir uma situação limite: com uma
determinada quantidade de fontes de informação obtermos o máximo de informação
relevante; para obtermos toda a informação relevante utilizarmos o mínimo de fontes.
Essas fontes de informação são muito variadas. Deve haver uma preocupação para
que assim seja, quer porque o tipo de informação está, de alguma forma, associado ao
38 [nota temporária] Este ponto ocupa no livro em construção uma posição quase terminal, tendo-se
adoptado pela sua elaboração porque é um dos pontos em que mais frequentemente sentimos fortes
carências.
Para perceber melhor o seu posicionamento indica-se os grandes pontos anteriores e o enquadramento
específico deste:
Introdução
Oportunidade desta temática
Considerações preliminares
Gosto e eficácia no estudo
Sobre a tese
Aproximação à “realidade” que se pretende estudar
Metodologia e técnicas de investigação científica
A problemática, o modelo e a “verificação”
Redacção de trabalhos científicos
Condicionantes prévios
Título e Plano provisório
Plano definitivo
Sequência de redacção
“Estilo” da redacção
Alguns cuidados com a redacção
Bibliografia, latus sensus
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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meio da sua divulgação39
, quer porque há certeza de uma maior cobertura da
informação existente.
É a referência a esse conjunto de fontes de informação que, aqui e em quase todos os
locais, se designa por bibliografia. No entanto este termo comporta ambiguidades que
por vezes se transforma em problema para quem redige ou defende uma tese.
Originalmente “bibliografia” está muito associado aos documentos escritos,
essencialmente aos livros:
“bibliografia, s.f. descrição ou conhecimento dos livros quanto à edição,
papel e tipo; notícia acerca das obras de determinado autor ou assunto;
secção de um jornal ou revista destinada à recensão crítica das obras
recentemente publicadas. (do gr. bibliographía, «transcrição de livros», pelo
fr. bibliographie, «bibliografia»),” (COSTA and MELO 1994, p. 263)
“bibliografia (...) 1. Ciência da descrição e classificação detalhada dos
textos publicados ou impressos e das respectivas edições. 2. Relação ou
catálogo de livros ou obras publicadas sobre um assunto ou autor, geralmente
com elementos descritivos dos documentos que permitem a sua identificação.
Bibliografias internacionais, nacionais, regionais. Bibliografias
especializadas, selectivas. Bibliografias analíticas, críticas. Consulta de +.
3. Secção de uma revista ou outra publicação onde se divulgam e se criticam
as obras recentemente publicadas. 4. Referência das obras consultadas para a
elaboração de um trabalho, geralmente colocado no fim do documento e
ordenada alfabeticamente por autores ou títulos, com ou sem comentários
acerca da obra ou do seu autor.” (Academia de Ciências de Lisboa 2001, p.
523)
“bib-lio-graphy, (...) 1 [C] listo f books or articles about a particular subject
or by a particular author: There is a useful bibliography at the end of each
chapter. 2 [U] study of the history of books and their production. (…)”
(COWIE 1991, p. 104)
“BIBLIOGRAPHIE (...) n. f. 1633; du gr. biblion «livre» et graphein
«écrire» 1. DIDACT Science des documents écrits (analyse, description,
39 Note-se:
“Enquanto suporte material da comunicação, o meio tende a ser definido como transparente,
inócuo, incapaz de determinar positivamente os conteúdos comunicativos que veícula. A sua
única incidência no processo comunicativo seria negativa, causa possível de ruído ou
obstrução na veículação da mensagem. Pelo contrário, McLuhan chama a atenção para o facto
de uma mensagem proferida oralmente ou por escrito, transmitida pela rádio ou pela televisão,
pôr em jogo, em cada caso, diferentes estruturas perceptivas, desencadear diferentes
mecanismos de compreensão, ganhar diferentes contornos e tonalidades, em limite, adquirir
diferentes significados. Por outras palavras, para McLuhan, o meio, o canal, a tecnologia em
que a comunicação se estabelece, não apenas constitui a forma comunicativa, mas determina o
próprio conteúdo da comunicação.” (POMBO 1994, p. 40)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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classification, publication), et SPÉCIALT des livres. 2. Repertoire des écrits
relatifs à un sujet donné. Une abondante bibliographie. => litérature (I, 2º).
Consulter la bibliographie d’une thèse, la liste des ouvrages cités, des
sources. Bibliographie d’un auteur. => biobibliographie. ABRÉV. FAM.
(1943) BIBLIO. 3. Liste périodique d’ouvrages récement parus. «La
Bibliographie de la France».” (ROBERT, REY-DEBOVE, and REY 1993,
p. 217)
embora a utilização do termo “obra” possa dar-lhe um significado mais vasto.
As obras consultadas são cada vez mais diferentes entre si no suporte e na forma e não
há nenhuma razão, do ponto de vista da organização do trabalho e do processo de
registo da informação, para fazer classificações conducentes a incluir uns e a excluir
outros da “listagem das obras”. Ultrapassando a tradição o termo bibliografia tende a
englobar uma grande diversidade de fontes de informação. Isso mesmo reflectem as
normas sobre bibliografia, embora estas não se atrevam a redefinir este termo:
“A presente Norma destina-se a especificar os elementos das referências
bibliográficas relativas a: monografias (na totalidade, em partes ou volumes
e contribuições), publicações em série (na totalidade ou em parte), artigos de
publicações em série, séries monográficas (como monografia ou como
publicação em série), teses, actas de congressos, relatórios científicos e
técnicos, documentos legislativos e judiciais, publicações religiosas, patentes,
normas, música impressa e resumos.” (Instituto Português da Qualidade
1995, p. 5)
“A presente Norma destina-se a especificar os elementos das referências
bibliográficas relativas aos seguintes documentos: documentos icónicos
(cartazes, gravuras, postais e cartões estereográficos), filmes (filme em
bobina e filme "loop"), microformas (microfichas e microfilmes),
multimédia, registos vídeo (cassetes vídeo e discos vídeo), registos sonoros
(discos compactos, discos sonoros e cassetes sonoras), objectos (brinquedos,
modelos, etc.), projecções visuais (diapositivos e transparências) e partes
componentes de alguns tipos destes documentos.
Esta Norma deverá ser sempre utilizada juntamente com a NP 405-1”
(Instituto Português da Qualidade 1998, p. 2)
“A presente Norma destina-se a especificar os elementos das referências
bibliográficas relativas aos seguintes documentos não publicados:
documentos impressos de tipologia variada (monografias, publicações em
série, cartas, ofícios, circulares), manuscritos, música manuscrita, materiais
cartográficos e materiais não livro. Não são abrangidos documentos
integrados em fundos de arquivos.
Esta Norma deverá ser sempre utilizada juntamente com a NP 405-1 e NP
405-2 nas quais são contemplados todos os aspectos gerais e comuns.”
(Instituto Português da Qualidade 2000, p. 2)
“Tem aparecido em suporte electrónico um número crescente de documentos
que são criados, armazenados e difundidos por um sistema informático.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 58/150 - Versão 01
Um documento electrónico pode ser definitivo e imutável ou, aproveitando
as vantagens do seu ambiente informático. modificado, quer no seu suporte,
quer no seu conteúdo. Um documento electrónico pode ter ou não um
equivalente em suporte papel ou outro. Dado que os utilizadores da
informação têm necessidade de fazer as referências bibliográficas das fontes
electrónicas com que se documentaram, esta Norma fornece urna orientação
para a sua apresentação.
Embora um documento electrónico se possa assemelhar a uma publicação
impressa (como urna monografia, uma publicação em série, um artigo ou um
capítulo). as características físicas inerentes às publicações impressas podem
não aparecer no suporte electrónico. Por exemplo, a existência de volumes,
números e páginas é essencial para os formatos impressos, mas não para os
electrónicos. As particularidades que permitem ao utilizador deslocar-se à
vontade de um ponto de um documento electrónico para um outro ponto ou
mesmo para um outro documento, adicionam uma complexidade que não se
encontra na natureza linear tradicional dos formatos impressos.
Embora se possa estabelecer uma correspondência entre certas publicações
impressas e certos documentos electrónicos. estes têm a sua própria
identidade enquanto programas de computadores, bases de dados. ficheiros
ou registos que existem num suporte electrónico, corno sistema em linha,
CD-ROM banda magnética, disco ou qualquer outro meio de
armazenamento. As referências bibliográficas destes documentos devem
reflectir essa identidade e não a de substitutos do papel.
(...) O âmbito da parte 4 da NP 405 c a especificação dos elementos a
mencionar nas referências bibliográficas (tos seguintes documentos
electrónicos: monografias (livro electrónico ou qualquer outro documento
monográfico), bases de dados, programas, partes e contribuições desses
documentos. publicações em série, artigos e outras contribuições; BBS(s),
news groups. listas de discussão e mensagens.
Esta norma deverá ser sempre utilizada com a NP 405-1, na qual são
contemplados todos os aspectos gerais e comuns” (Instituto Português da
Qualidade 2002, p. 2).
Um programa especializado de tratamento da bibliografia considera, na sua última
versão, os seguintes tipos de fontes de informação:
“has three unused and 34 pre-defined reference types: Artwork, Audiovisual
Material, Bill, Book, Book Section, Case, Chart or Table, Classical Work,
Computer Program, Conference Paper, Conference Proceeding, Edited Book,
Electronic Book, Electronic Journal, Electronic Source, Equation, Figure,
Film or Broadcast, Generic, Government Report or Document, Hearing,
Journal Article, Legal Rule/Regulation, Magazine Article, Manuscript, Map,
Newspaper Article, Online Database, Online Multimedia, Patent, Personal
Communication, Report, Statute, Thesis, and Unpublished Work”
(ResearchSoft 2004, help: reference types)
Deste modo, quando falamos em bibliografia a procurar, bibliografia a utilizar ou
bibliografia a apresentar estamos sempre a ter um entendimento amplo desse termo:
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 59/150 - Versão 01
listagem de fontes de informação de algumas forma utilizadas na investigação e na
redacção de um tema científico.
Obtido este entendimento, de alguma forma implícito no que tratamos sobre procura
de fontes de informação, e tendo-se já abordado a procura da bibliografia existente e a
sua selecção, tratemos pois das seguintes questões:
Tipos de bibliografia
Formas de apresentação da bibliografia
Relação entre o texto e a bibliografia.
Estas questões nunca devem perder de vista o essencial:
“Come capite il problema cambia secondo il tipo di tesi, e la questione sta
nell'organizzare una-bibliografia che permetta di distinguere o di individuare
fonti primarie e fonti secondarie, studi rigorosi e materiale meno attendibile,
eccetera.
In definitiva, e alla luce di quanto si è detto nei capitoli precedenti, i fini di
una bibliografia sono: (a) rendere riconoscibile l'opera a cui ci si riferisce; (b)
facilitarne la reperibilità e (c) connotare familiarità con gli usi della disciplina
in cui ci si laurea.” (ECO 1998, p. 234/5)40
TTiippooss ddee BBiibblliiooggrraaffiiaa
Designar a lista de fontes de informação apenas por Bibliografia é impreciso quanto
ao conteúdo e pode ser inadequado deontologicamente.
Com efeito pode haver diversos tipos de bibliografia, nomeadamente
Bibliografia completa
Bibliografia consultada
Bibliografia citada
40 “Como se compreende, o problema varia com o tipo de tese, e a questão está em organizar uma
bibliografia que permita distinguir e identificar fontes primárias e fontes secundárias, estudos rigorosos
e material menos digno de crédito, etc.
Em definitivo, e à luz de tudo o que se disse nos capítulos anteriores, os objectivos de uma bibliografia
são: (a) tornar reconhecível a obra a que nos .referimos; (b) facilitar a sua localização e (c) conotar
familiaridade com os usos da disciplina em que se faz a tese.” (ECO 1980, p. 200/201)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 60/150 - Versão 01
Se optamos pela bibliografia completa estamos a apresentar um inventário de tudo o
que foi produzido até ao momento de elaboração do trabalho sobre uma determinada
matéria. Certamente há muitas fontes de informação cuja existência foi identificada
por nós mas que não lemos, seja pelos critérios de selecção adoptados quer por
impossibilidade humana e temporal.
Se optamos pela bibliografia consultada apenas referimos as fontes de informação
que de alguma forma foram utilizadas por nós para a realização do trabalho. A
expressão utilizada “de alguma forma” é propositadamente ambígua, mas com ela
queremos designar que nela é legítimo incluir tanto o livro que lemos cuidadosamente
e que utilizámos permanentemente como referência obrigatória, como a gravação que
depois de escutada constatamos ser irrelevante para o nosso objectivo; tanto o livro
que mereceu os cuidados anteriormente referidos como o que foi “lido em diagonal”
porque rapidamente nos apercebemos que apenas reproduzia o que outros já tinham
dito. Mas a expressão é ambígua porque deixa sem resposta concludente várias
perguntas: (1) devemos englobar o artigo de que só lemos o resumo? (2) devemos
referir uma obra que consideramos aberrantemente anticientífica?
Aceitamos que podem existir diferentes respostas, embora devamos perceber que as
razões da diversidade são diferentes num caso e noutro.
Na nossa opinião, a primeira questão merece, na generalidade das situações, uma
resposta negativa. A leitura dos resumos é frequentemente uma fase importante do
trabalho, mas prévio ao estudo da bibliografia; faz parte da pré-selecção que é
inevitável fazer. Mas podem existir circunstâncias particulares que justifiquem a sua
inclusão como, por exemplo, se consideramos que o artigo era importante, utilizamos
algumas das suas ideias e, apesar dos esforços desenvolvidos, não conseguimos
encontrar o artigo. Inclusão que deve alertar para essa mesma situação e
especificidade.
Quanto à segunda questão responderíamos afirmativamente. Contudo deve-se estar
atento a uma questão: pode haver conveniência em este tipo de bibliografia ser
anotada, isto é, após cada fonte de informação fazer-se um pequeno texto sobre ela.
Utilizando em todas as obras o mesmo critério tanto se pode colocar um resumo muito
sintético da obra (permitindo ao leitor aperceber-se do que se trata) ou uma apreciação
crítica do autor.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 61/150 - Versão 01
Se optamos pela bibliografia citada apenas indicamos as fontes de informação que
utilizamos ao longo da redacção do texto, ou fazendo transcrições ou chamando a
atenção que a ideia foi retirada de certa obra ou ainda que se trata de uma fonte de
referência sobre aquela matéria.
Por qual optar?
ECO é peremptório ao afirmar
“La risposta più ovvia è che la bibliografia di una tesi deve contener solo
l’elenco delle opere consultate e ogni altra soluzione sarebbe disonesta”
(ECO 1998, p. 235)41
mas logo de seguida introduz uma série de atenuantes.
Independentemente da opção que fizermos é decisivo que fique muito claro que tipo
de bibliografia é que utilizamos e quiçá a sua justificação42
.
Poderemos ainda tomar alguns cuidados adicionais para que não haja qualquer
interpretação incorrecta. Exemplo, assinalar com um caracter explicado em nota de
fim de página, quais as obras consultadas (ECO 1980, p. 201)
Podem existir diversos critérios para optar por um ou outro tipo de bibliografia. Eles
têm de ser ponderados em conjunto e não existe nenhum manual que possa substituir-
se ao autor na tomada de decisão. Façamos, contudo, algumas referências indicativas,
começando pelos critérios científicos.
Se um tema é bastante delimitado, se não existem trabalhos anteriores de bibliografia
geral sobre esse tema, se a própria inventariação das fontes de informação pode ser
considerado um trabalho científico relevante, se a sua divulgação pode trazer um
contributo significativo a investigações posteriores, pode-se justificar optar por uma
bibliografia completa.
Justificar a opção pela bibliografia consultada é despiciendo pois é normalmente a
situação adoptada seja porque espelha o trabalho de investigação realizado seja
41 “A resposta mais óbvia é que a bibliografia de uma tese deve conter apenas a lista das obras
consultadas e qualquer outra solução seria desonesta” (ECO 1980, p. 201)
42 Esta justificação pode ser feita ou no início da Bibliografia ou na Introdução do trabalho. Dum ponto
de vista lógico seria ainda possível apresentar essa explicação noutros locais (ex. num ponto sobre a
metodologia utilizada) mas correr-se-ia o risco de não ser lida com a devida atenção.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 62/150 - Versão 01
porque fornece aos leitores todos os elementos para confirmar ou infirmar as
conclusões a que o autor chega.
Se a bibliografia consultada é muito vasta, quiçá de qualidade muito variada, se é
quase impossível fazer uma referência completa às fontes de informação consultadas,
se é pedagogicamente aconselhável reduzir a bibliografia ao mínimo, podemos optar
pela bibliografia citada.
Não tenhamos ilusões. Qualquer decisão por mais ponderada e sensata que seja tem
sempre contra-indicações43
.
Seríamos, contudo, muito ingénuos se apenas considerássemos critérios científicos e
pedagógicos na nossa opção. As limitações intransponíveis ou optativas adoptadas na
pesquisa bibliográfica, assunto que já tratamos, o tempo disponível, a probabilidade
da bibliografia ser considerada pelo júri ou pelo leitor como o capítulo mais
importante da tese, até as manifestações simbólicas que acompanham todo o acto de
apreciação de um trabalho, podem justificar outras opções. A experiência do autor
também pode ser um elemento muito importante44
.
Nos trabalhos de investigação interdisciplinar há uma forte possibilidade das fontes de
informação serem muito diversificadas em forma e conteúdo, pertencendo a diversas
disciplinas científicas. Este aspecto dever ser tido em conta na opção que estamos a
43 Alguns exemplos.
(1) O assunto do trabalho é “a vinha na poesia contemporânea”, numa primeira investigação não se
encontrou nenhuma inventariação completa das fontes de informação existentes sobre o assunto, o
conteúdo da tese aconselha um conhecimento vasto do tema (embora certamente o tema seja bastante
mais limitado que o assunto referido) e decide-se optar por uma bibliografia completa. Há sempre a
probabilidade que numa fase subsequente da investigação vir a constatar que essa inventariação já está
feita e que, quando muito apenas se justificaria uma actualização.
(2) Para não enfastiar o leitor com longa bibliografia ou para apenas referir o essencial pode optar pela
bibliografia citada. Contudo essas preocupações pedagógicas podem-se esvaziar porque em
determinada fase do trabalho cita uma série de obras que considera erradas e que, por isso mesmo,
foram citadas para serem combatidas.
44 Um autor com longos anos de investigação transporta para a obra em construção todos os
conhecimentos anteriormente adquiridos, havendo uma forte probabilidade daqueles serem dos mais
diversos campos do conhecimento (particularmente se o tema é vasto ou aberto, se o autor tem
interesses diversificados ou se o trabalho é interdisciplinar). Uma frase lida em Nicolai Hartmann,
apesar de estar inserida em outros contextos, um poema de Dionísio, o Sofista, um comentário do
historiador Tayeb Chenntouf ou ainda uma frase jocosa de Albert Einstein podem ter repercussões
directas ou indirectas sobre um ensaio que se está escrever sobre A lógica multivalente no tratamento
da complexidade em Sociologia.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 63/150 - Versão 01
tratar, assim como nas formas de apresentação, pois nunca se pode perder de vista a
quem se destina o trabalho que escrevemos.
Em qualquer das circunstâncias poderá optar-se por uma bibliografia anotada ou não.
Fica ainda um pequeno problema para resolver: como designar a bibliografia.
“Molte volte l'attendibilità di una bibliografia è data dal titolo che ha. Essa
può intitoarsi Riferimenti Bibliogrrafici, Opere consultate, Bibliografia
generale sull'argomento X, e capite benissimo come sulla base del titolo le
verranno rivolte richieste che essa dovrà essere in grado di soddisfare o sarà
autorizzata a non soddisfare. Non potrete intitolare Bibliografia sulla II
guerra mondiale una magra raocolta di una trentina di titoli in italiano.
Scrivete Opere consultate e sperate in Dio.” (ECO 1998, p. 236)45
A modéstia científica é o resultado do conhecimento da ignorância. É, por isso, um
bom prenuncio. Mas ela não deve ser excessiva, atribuindo um título que acaba por
ser inadequado.
»» Comece por verificar quais são as normas adoptadas pela
instituição onde apresentará o documento que está a elaborar ou pela
publicação para onde está a escrever. Se essas normas são explícitas
siga-as. Se concorda com elas trabalha tranquilamente. Se não
concorda por alguma razão (ex. obriga-o a colocar de lado o
resultado de uma parte do seu labor de investigação) aplique-as na
mesma, procurando alguns artifícios legítimos para minimizar o seu
desagrado.
»» Se não existem normas estabelecidas, se as pessoas com quem
trabalha ainda não fizeram opções definitivas ou deixam a si inteira
liberdade, comece por ponderar os aspectos científicos e
pedagógicos e fazer uma opção provisória.
»» Pondere sobre os restantes factores que podem influenciar a sua
opção.
»» Decida “definitivamente” sobre o tipo de bibliografia que vai
apresentar no trabalho e da necessidade, ou não, de em algum local
justificar a opção.
45 “Muitas vezes a credibilidade de uma bibliografia é dada pelo seu titulo. Ela pode intitular-se
Referências Bibliográficas, Obras Consultadas ou Bibliografia Geral sobre o Tema X, e vê-se muito
bem como na base do titulo se lhe põem exigências que ela deverá estar em condições de satisfazer ou
será autorizada a não satisfazer. Não se poderá intitular Bibliografia sobre a Segunda Guerra Mundial
uma magra recolha de uma trintena de títulos em italiano. Escrevam Obras Consultadas e tenham
confiança em Deus.” (ECO 1980, 202)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 64/150 - Versão 01
»» Só como solução última adopte a apresentação de duas
bibliografias e nesse caso veja qual a melhor forma de o fazer46
.
»» Se não existem motivos muito fortes para optar por uma
bibliografia anotada é preferível limitar-se a colocar adequadamente
as referências à obra sem qualquer resumo ou comentário.
»» Escolha o título adequado. Se se trata de uma bibliografia
completa pode ser adequado optar por Bibliografia sobre .... Se se
trata de uma bibliografia consultada poderá ficar bem Referências
bibliográficas. Se se trata da bibliografia citada ou põe-se isso
mesmo, como diz ECO, ou Referências bibliográficas citadas.
»» Recorde-se que as decisões ainda não estão todas tomadas. Terá
ainda que optar por diversas hipóteses de formas de apresentação e
de citação.
FFoorrmmaass ddee AApprreesseennttaaççããoo ddaa BBiibblliiooggrraaffiiaa
Precisamos o significado de “bibliografia”, Verificámos a existência de diversos tipos.
Independentemente destes há diversas formas de apresentação da bibliografia. É disso
que nos vamos ocupar agora, tratando em sequência três aspectos:
Sistemas bibliográficos
Localização da bibliografia na obra
Estruturação da bibliografia
Concluiremos pela existência de diversas formas de apresentar a bibliografia e da
conveniência do autor manter alguma margem de manobra, mas é importante, como
instrumento auxiliar e como referência, conhecermos as normas existentes sobre a
matéria.
SSiisstteemmaass bbiibblliiooggrrááffiiccooss
Os sistemas bibliográficos tem a ver com três aspectos:
1. Forma de no nosso texto indicar uma certa obra alheia
46 Admitamos por exemplo que se procedeu à inventariação completa da bibliografia do tema X,
considerando-se que essa foi uma parte importante do trabalho de investigação e que esse produto deve
ser disponibilizado aos leitores. Contudo, muita dessa bibliografia não foi consultada por nós. Poderá
ser adequado apresentar a “bibliografia completa” como parte da investigação, colocando-a num anexo,
e colocar como bibliografia propriamente dita a “bibliografia consultada”.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 65/150 - Versão 01
2. Conteúdo e forma das informações sobre a obra alheia
3. Articulação entre os dois aspectos anteriores.
SERRANO faz uma boa síntese do que designa por sistemas mais usados, e que
exactamente o são, porque são protótipos da forma de solucionar determinadas
preocupações:
“Os sistemas de referenciar bibliografia actualmente mais usados são os
sistemas nome e ano, numérico-alfabético, e por ordem de menção (...):
SISTEMA NOME E ANO
Consiste em, após a transcrição ou a paráfrase, apresentar, entre parêntesis
curvos, uma notação de referência formada pelo nome (último nome) do
autor e pela data de publicação do trabalho citado. Por exemplo: (Dermaches,
1988). A lista de referências não é numerada e é ordenada por ordem
alfabética do último nome do autor.
SISTEMA NUMÉRICO-ALFABÉTICO
Consiste em numerar cada uma das citações do texto segundo uma lista de
referências ordenada alfabeticamente pelo último nome do autor. A lista de
referências é numerada sequencialmente de 1 a n e a essa numeração
corresponde uma sequência alfabética segundo o último nome do autor. (...)
A cada autor citado, logo após a citação e entre parêntesis curvos, é atribuído
o algarismo determinado pelo ordenamento alfabético da lista de referências
(...)
SISTEMA POR ORDEM DE MENÇÃO
Segundo a ordem em que é mencionada a primeira vez no texto, cada
transcrição ou paráfrase é identificada com um número (colocado entre
parêntesis curvos), número que irá crescendo de 1 para n à medida que outros
autores vão sendo citados e as páginas do relatório evoluem (...). A lista de
referências é ordenada numericamente segundo o último nome do autor e não
segue a ordem alfabética, uma vez que as Referências são ordenadas de
acordo com a sua citação no texto.” (SERRANO 1996, p. 126/7)
Comecemos por apresentar mais em pormenor estes três sistemas, analisando as
eventuais vantagens e desvantagens de cada um. Porque há uma tendência para
apresentarmos em último lugar a opção que nos parece estar melhor posicionada na
comparação entre vantagens e desvantagens, seguimos a ordem inversa à do autor
anterior47
.
47 Sugerimos que nesta fase da análise ainda não se preocupem com os detalhes do tipo: conteúdo de
cada referência bibliográfica e sua forma, por que esses aspectos são de abordagem posterior.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Se adoptarmos o sistema por ordem de menção o texto e a bibliografia têm a
seguinte apresentação:
tigos que ajudassem a ultrapassar o problema dos artigos médicos
produzidos em França: apesar da sua qualidade científica, os artigos
franceses não conseguiam facilmente ser publicados em revistas
internacionais e, se o eram, ninguém os entendia (19).
O problema foi rapidamente diagnosticado. Para além de alguns
defeitos de estrutura, os artigos médicos franceses pecavam sobretudo
pelo seu estilo caseiro (franceses pensando e escrevendo apenas para
compatriotas), elíptico, pouco preciso e redundante.
Até tarde, na segunda metade deste século, a França marcou
fortemente a cultura portuguesa, nomeadamente através do idioma, da
literatura, do cinema e da música. As escolas médicas portuguesas,
umas mais outras menos, não escaparam ao fenómeno.
Essa influência pode ser apreciada na nomenclatura anatómica
adoptada por algumas faculdades, na bibliografia aconselhada aos ,
alunos de Medicina e, consequência de todo o processo, no estilo da
redacção médica portuguesa, bouquet composto por pecadilhos
semelhantes aos que ensombravam o discurso dos escritos médicos
gauleses.
E embora, à luz do valor intrínseco da pesquisa, tudo isto pareça
secundário e apenas uma questão de estilo, o certo é que uma
investigação que não se entende é uma investigação inviável, com a
qual não vale a pena perder tempo, ou desperdiçar papel.
Assim o consideram mais de 400 revistas da área biomédica, entre as
quais as quatro revistas médicas mais lidas em todo o mundo: Lancet,
Science, British Medical Journal e New England Journal of Medicine,
que recusam sistematicamente a publicação de trabalhos que não
observem as normas internacionais de redacção de artigos biomédicos
(11)(12)(16)(20)(21). Exemplos portugueses de revistas que seguem as
normas internacionais de redacção médica podem ser ilustrados pela
Acta Médica Portuguesa e pela Revista Portuguesa de Clínica Geral.
Essas normas exigem que a redacção médica obedeça a regras
estruturais definidas e aos valores e princípios que caracterizam o estilo
científico: simplicidade, clareza, precisão e brevidade.
Referências
1. Roland, Francisco, ed. O Vade Mecum do Médico, ou Breve
Resumo de Medicina Prática. Lisboa: Typografia Rollandiana,
1804.
2. Vigarello, Georges. O Limpo e o Sujo. Lisboa: Editorial
Fragmentos, 1988.
3. Sournia, Jean-Charles, e Jacques Ruffie. As Epidemias na História
do Homem. Lisboa: Edições 70, 1986.
4. Dubos, René. Man Adapting. New Haven and London: Yale
University Press, 1980.
5. Gehlbach, Stephen H. Interpreting the Medical Literature. 3rd ed.
New York: McGraw-Hill, 1993.
6. Bailar III, John C; Louis, Thomas A.; Lavori, Philip W.; Polansky,
Marcia. A classification for biomedical research reports. New
England Journal of Medicine 1984; 311(23):1482-1487.
7. Popper, Karl. O Realismo e o Objectivo da Ciência. 2.a ed. Lisboa:
Publicações D. Quixote, 1992.
8. Pallás, J. Argimón, e J. Jiménez Villa. Metodos de Investigacion:
Aplicados a la Atención Primaria de Salud. Barcelona: Doyma,
1991.
9. Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Guia Para
Preparação de Comunicações Científicas para Publicação. Lisboa:
LNEC, 1990.
10. Farfor, J. A. Enseigner la rédaction médicale, II: La structure du
compte rendu de recherche. Cah. méd. (Paris) 1976; (2)12. 11. Day, Robert A. Cómo Escribir y Publicar Trabajos Científicos.
Washington: Organización Panamericana de la Salud, 1990. 12. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Br.
Med. J. 1991; 302:338-41.
Página de texto Página de bibliografia
Retirado de (SERRANO 1996, p. 56 e 311)
Na página de bibliografia constatamos que a cada fonte de informação corresponde
um número (1, 2, 3, ..., 12, ...) que indica a ordenação em que essa referência
bibliográfica apareceu na versão final do texto (a 1ª referência foi a obra de
Farnscisco Roland, a 2ª a de Georges Vigarello, e assim sucessivamente).
No texto a identificação do autores das ideias ou de um textos transcritos é feita pela
colocação do número ou números das obras donde foram tiradas (a ideia contida no
primeiro parágrafo da página, sequência do anterior, foi retirada da obra 19,
identificada como um trabalho de J. A. Farfor; a informação de que há revistas “que
recusam sistematicamente a publicação de trabalhos que não observem as normas
internacionais de redacção de artigos biomédicos” está nos trabalhos (11), (12), ...).
Este procedimento tem as características essenciais exigidas a um sistema
bibliográfico: (1) clara identificação das fontes bibliográficas; (2) clara identificação
da autoria da ideia; (3) possibilidade do leitor localizar as obras utilizadas pelo autor;
(4) fácil articulação entre o texto e a bibliografia.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 67/150 - Versão 01
No entanto apresenta alguns inconvenientes: (1) ao consultar-se autonomamente a
bibliografia não há um ordem, pois esta resulta exclusivamente do fluir do texto; (2)
quando se remete do texto para uma obra na bibliografia não há uma indicação precisa
de que parte da obra foi retirada a ideia ou a transcrição, o que dificulta a
reconstituição do percurso seguido pelo autor; (3) a sequência da bibliografia faz-se
na base da primeira referência a essa obra, pelo que a mesma numeração aparece
diversas vezes no texto, com uma ordem “aleatória”; (4) não é possível organizar a
bibliografia atendendo a outros critérios48
.
Um sistema bibliográfico com estas características aconselha vivamente que na
redacção do texto e colocação das referências bibliográficas ao longo do texto se
utilize um sistema informático automático que articule o processamento de texto com
as referências bibliográficas49
. Caso contrário a redacção de um texto – que quase
sempre é elaborado de forma modular, não sequencial – e a sua revisão levaria a
sucessivas renumerações, sempre fastidiosas.
Uma variante deste sistema é o que por vezes é designado por sistema francês
(TORRES 2000, p. 12): no texto remete-se para uma nota de fim de página e é nesta
que é colocada a referência bibliográfica, com explicitação do local exacto donde foi
retirada a transcrição ou a ideia. Tem a seguinte apresentação:
vineuse, acéteuse, aromatique, fétide, styptique, etc. ». L'abbé Poncelet
ne manque pas de dénoncer par ailleurs (p. 103) « l'abus des termes
(qui) a répandu d'étranges ténèbres sur les notions que l'on croit avoir
des êtres abstraits ou métaphysiques » (comme le mouvement). C'est un
trait assez curieux de l'esprit scientifique de ne pouvoir diriger ses
critiques contre soi-même. L'esprit scientifique a une tout autre
puissance d'auto-critique.
Ainsi que nous en avons fait la remarque pour la coagulation, nous
pouvons aussi donner des exemples où le concept trop général de
fermentation reçoit une extension manifestement abusive. Pour
Geoffroy1 : a La Végétation est une sorte de fermentation qui unit
quelques-uns de ces mêmes principes dans les Plantes, tandis qu'elle en
écarte les autres ». La fermentation est tel un processus si général qu'il
totalise les contraires. Un auteur inconnu, écrivant comme Geoffroy en
1742, s'exprime ainsi2 : «Dans la grappe de raisin, le suc vineux ne
48 Este aspecto será melhor entendido num ponto seguinte.
49 Hoje é quase impensável não se possuir um qualquer programa informático para o tratamento da
bibliografia. A questão está no que se entende por “tratamento”. Como vimos em ponto anterior, hoje
não faz sentido utilizar fichas de diversos tipos para manusear o resultado das nossas leituras. Isso
significa que necessitamos de uma base de dados para arquivar os resultados das nossas pesquisas
bibliográficas e para guardar os nossos apontamentos de leitura. A generalização dos processadores de
texto também fazem com que alguns aspectos da bibliografia possam ser trabalhados utilizado as
ferramentas que aqueles disponibilizam. Um tratamento mais completo permitirá articular a existência
da base de dados com o processamento de texto (transferindo da base de dados para o texto segundo
determinadas regras) e o processamento de texto com a base de dados (transferindo do texto para a base
de dados segundo certas instruções). Há vários programas disponíveis, tanto comerciais como gratuitos.
procure o que se adapta ao seu processador de texto e às suas necessidades.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 68/150 - Versão 01
fermente pas autrement que dans le tonneau... Mêmes ferments, mêmes
actions, fins égales ; auxquelles vous pouvez comparer généralement
tout ce qui se passe dans l'histoire des végétaux. Ainsi la fermentation
est établie sur un système général (qui ne fait) que varier dans les
sujets». De cette généralisation excessive et sans preuve on peut
rapprocher l'opinion de Boerhaave qui affirme que tous les végétaux,
préparés par une fermentation convenable, donnent des Esprits vineux
qui s'exhalent: a Ainsi on peut regarder l'Air comme une nuée d'Esprits
de Vin3 »
Naturellement, la notion de fermentation porte sa valeur d'explication
dans le règne minéral. Pour Lémery4 a la fermentation, qui agit comme
le feu, écarte dans la production du métal les parties terrestres et
grossières... Il faut un degré de fermentation pour la production des
métaux qui ne se trouve pas dans toutes les terres... Comme le métal est
un ouvrage de la fermentation, il faut nécessairement que le Soleil ou la
chaleur des feux souterrains y coopèrent ». n La fermentation fait
souvent élever jusqu'au haut de la montagne... des filets de mine
pesante ou quelque marcassite » (p. 76). Ici encore, comme nous l'avons
1. Histoire de l'Académie des Sciences, p. 43.
2. Sans nom d'auteur, Nouveau traité de Physique sur toute la nature ou méditations,
et songes sur tous les corps dont la Médecine tire les plus grands avantages pour
guérir le corps humain ; et où l'on verra plusieurs curiosités qui n'ont point paru, 2
vol., Paris, 1742, t. 1, p. 181.
3. Herman BOERHAAVE, Eléments de Chymie, traduits du latin par J. N. S.
Allamand, membre de la Soc. Roy. de Londres, 2 vol., Leide, 1752, t. I, p. 494.
4. Nicolas LÉMERY, Cours de Chymie, 7• éd., Paris, 1680, p. 75. Página de texto com as respectivas notas.
Não há no fim do livro uma listagem da
bibliografia50
.
A primeira vez que uma obra é referida a respectiva nota de fim de página (também
poderia ser uma nota de fim de capítulo ou de livro) dá uma informação completa
sobre a obra. Nas vezes seguintes apenas dá a informação necessária para associar a
referência a algo que já foi anteriormente citado. Ex. a próxima vez que foi feita uma
referência à obra citada na nota 3 do exemplo colocar-se-ia apenas “Ver
BOERHAAVE (H.), Éléments..., pag. 145” ou, tão somente, “BOERHAAVE, loc.
cit., p. 145” ou “BOERHAAVE, Ob.. cit., p. 145”. Se em duas notas seguidas o autor
é o mesmo, poderemos colocar em vez do nome do autor “Idem” e se o título da obra
é o mesmo “Ibidem”.
A colocação da referência bibliográfica em nota resolve alguns dos problemas
anteriormente referidos, mas coloca dois novos problemas: (1) A “lista da
bibliografia”, se assim se pode chamar, encontra-se dispersa por todas as páginas do
livro; (2) A referência a uma obra, quando a nota remete para uma outra nota anterior,
torna-se penosa.
Para obviar ao primeiro inconveniente podemos completar esta forma de anotação
com uma listagem, segundo um qualquer critério, normalmente por ordem alfabética
50 A exemplificação utilizou (BACHELARD 1999, p. 70)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 69/150 - Versão 01
do último nome dos autores, bibliográfica. Frequentemente este procedimento é
acompanhado por uma simplificação do conteúdo da nota.
Quanto ao segundo aspecto
“Há quem considere que a referência bibliográfica deve ser feita de forma
quase completa (ou pelo menos só com o título) em qualquer nota onde ela
surja. Dizem, em parte com razão, que poderemos citar uma obra na nota 10
e voltar a fazê-lo na nota 123; então, ao pormos "Ob. cit. ", teremos que
percorrer todas as notas (ou ter de ir à Bibliografia) para ver a referência.”
(SOUSA 2003, p. 70)
mas, se pretendermos ser rigorosos na aplicação das regras nada há a fazer.
Analisemos agora o sistema numérico-alfabético.
perfused cartridges) to study osteogenesis under controlled in vitro
conditions. Isolated and culture-expanded cells were positive for MSC
markers, and had a capacity for selective differentiation into either
cartilage-or bone-forming cells. When cultured on highly porous
protein scaffolds for up to 5 weeks, MSC formed mineralized bone
matrix, and the density, structure, and orientation of bone matrix
depended on scaffold degradation and hydrodynamic conditions of the
in vitro cultivation. These results suggest that osteogenesis in cultured
MSC can be modulated by scaffold properties and flow environment,
and that the cell–scaffold–bioreactor systems which mimic some
aspects of the native environment can be utilized in controlled studies
of cell function and tissue development.
An ideal cell source for tissue engineering should have the capacity
to first proliferate and then differentiate in vitro, in a manner that can be
reproducibly controlled. The type or maturity of the cells may
substantially influence the robustness and nature of the regenerative
response. MSCs isolated from adult human bone marrow are an obvious
choice for engineering autologous bone grafts, in vivo and in vitro, as
these cells have a documented potential for osteogenic and
chondrogenic differentiation.4,8,28,40
The MSC nature of the cells used in
this study was determined on the basis of the expression of
CD105/endoglin (a putative marker of MSCs,3,29
), and CD71 (a
receptor expressed in proliferating cells20,25
) as well as the lack of
expression of CD31 and CD34 (markers for cells that are of
endothelial7
or hematopoietic origin.7,36,48
) (Fig. 1(A) and 1(B), Table
2). Importantly, expanded cells could be induced to undergo either
chondrogenic or osteogenic differentiation via medium supplementation
with chondrogenic or osteogenic factors, respectively (Fig. 1(C) and
1(D)), without notable differences in cell differentiation capacity over
three passages in culture (Fig. 1(E) and 1(F)). Taken together, the
robust capacity of MSC for proliferation and differentiation establish
bone-marrow-derived cells as a suitable cell source for bone tissue
engineering.
The chemistry and the architecture of the two scaffolds clearly
influenced the progression of bone formation. Collagen scaffolds used
in our study had excellent biocompatibility and supported the
attachment, chondrogenic and osteogenic differentiation of MSC (Fig.
4). Comparable extent of mineralization on collagen films and
scaffolds, assessed by the amount of calcium per unit DNA (Fig. 2),
was unexpected. High porosity, in conjunction with large
interconnected pores, is the likely explanation for this result observed in
static cultures.
Ideally, a biomaterial scaffold is gradually replaced by engineered
tissue deposited by the cells. MSCs begin calcium deposition between
weeks 2 and 3 of culture (Fig. 3). On collagen scaffolds cultured in
spinner flasks, the deposition of mineralized matrix was accompanied
by a substantial loss in the scaffold weight and in DNA content, both of
which decreased to 25% of initial over 4 weeks of culture
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Garcia, A. J., P. Ducheyne, and D. Boettiger. Effect of surface
reaction stage on fibronectin-mediated adhesion of osteoblastlike cells
to bioactive glass. J. Biomed. Mater. Res. 40:48–56, 1998.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 70/150 - Versão 01
Texto51
Referências Bibliográficas
As referências bibliográficas foram ordenadas alfabeticamente tomando como
elemento o último nome do primeiro autor e foi-lhes atribuída uma numeração
sequencial. Quando no texto se pretende indicar que uma dada ideia ou uma certa
transcrição foi retirada de um certo autor indica-se o respectivo número.
Este sistema de referência bibliográfica é dos menos utilizados, mas diversas
publicações científicas o exigem (por exemplo, em fisiologia e a engenharia).
Os comentários são em parte comuns ao sistema anterior:
Tem os elementos essenciais: (1) clara identificação das fontes bibliográficas; (2)
clara identificação da autoria da ideia; (3) possibilidade do leitor localizar as obras
utilizadas pelo autor; (4) fácil articulação entre o texto e a bibliografia. Além disso é
um sistema adequado para quem pretenda introduzir, como veremos, diversos
critérios de classificação da lista das obras consultadas.
No entanto apresenta um inconveniente: quando se remete do texto para uma obra na
bibliografia não há uma indicação precisa de que parte da obra foi retirada a ideia ou a
transcrição, o que dificulta a reconstituição do percurso seguido pelo autor.
Um sistema bibliográfico com estas características aconselha vivamente que na
redacção do texto e colocação das referências bibliográficas ao longo do texto se
utilize um sistema informático automático que articule o processamento de texto com
as referências bibliográficas. Caso contrário a obtenção de uma nova referência
bibliográfica e sua utilização altera uma parte da numeração (nas referências
bibliográficas e no texto).
Analisemos, por último, o sistema nome e ano, certamente um dos mais utilizados,
quase sempre utilizado nas ciências da realidade humana, frequentemente designado –
de uma forma genérica e apesar das suas variantes – como sistema anglo-saxónico. É
um nome abusivo pois, como vimos, diversas revistas científicas de países anglo-
saxónicos exigem os sistemas anteriormente referidos. Pensamos que esta designação
51 Utilizado como exemplo (MEINEL, KARAGEORGIOU, and Others 2004, p. 120/1)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 71/150 - Versão 01
resulta da divulgação das normas de Chicago (15ª, versões A e B) nas publicações de
humanidades52
.
Alguns livros sobre metodologia continuam a referir-se à versão A (ex. (TORRES
2000)), mas é a seguinte, neste momento, que faz escola.
Comecemos por ilustrar a utilização da metodologia53
:
lacks a common unit of account, and may contain elements that cannot
be easily expressed according to any quantitative or qualitative scale.
The characteristics of cultural goods which give rise to their
cultural value might include their aesthetic properties, their spiritual
significance, their role as purveyors of symbolic meaning, their historic
importance, their significance in influencing artistic trends, their
authenticity, their integrity, their uniqueness, and so on. These are also
the characteristics of such goods that we might identify as economists if
we were to adopt a Lancastrian approach to depicting their demand. In
other words the preferences of individuals for a cultural good are likely
to be formed by many of the same attributes of the good as contribute to
its cultural value, suggesting that the economic value of the good as
defined above is likely to be closely related to its cultural value in many
cases. But if, as we have argued, CVM and other weapons in the
economist’s tool kit should fail to capture some sources or types of
value in evaluating cultural goods, the relationship will not be perfect.
Although there are aspects of cultural value that cannot be
expressed in monetary terms, this does not imply that the implicit
cultural value assigned to a cultural good in an economic study is zero.
Rather it is to say that we are talking about different metrics, and
although there is likely to be a broad correlation between them across a
range of cultural goods, it is quite possible in specific cases for low
economic value to be associated with high cultural value and vice versa.
Nevertheless, as the examples mentioned earlier make clear, even a
state-of-the-art CVM study will tend systematically to undervalue a
cultural good to the extent that there exist significant positive elements
in the good’s value that are incapable of expression as individual WTP.
A disjunction between an economic approach to the value of art
and a broader social or cultural approach has been recognised in recent
writings in the cultural arena. Joseph and Lisbet Koerner, for example,
suggest that current critical theories of the art object as a source of
value are united in their attempt to account for the irrationalityof art
value in opposition to the abstracting rationalismof the assessment of
art within neoclassical economics (Koerner and Koerner, 1996, p. 300).
Michael Benedikt distinguishes between aesthetic, moral and economic
values, and argues that they have to be made commensurable, “if only
because real life asks us so often to compare and choose amongst them
in the name of some ‘larger’ value” (Benedikt, 1997, p. 54).
Contributors to Avrami et al. (2000) speculate about economic and
cultural values as contrasting imperatives in the assessment of cultural
heritage projects. These and many other writings suggest that the
standard neoclassical model, despite its considerable theoretical and
empirical power, will be unable on its own to provide a fully satisfying
account of the value of cultural goods.
In concluding this section, it is useful to ask how cultural value
might be determined. This is a critical question for a number of
disciplines interested in art, culture and society.13
If we were to adopt
the mind-set of the neoclassical economist, we might suggest that the
cultural worth of an artistic good could
References
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Values and Heritage Conservation. Getty Conservation Institute,
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Bille Hansen, Trine (1997) "The Willingness-to-Pay forthe Royal
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The Case Study of Noto (Italy)". Paper presented at Conference of
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Head, John G. (1990) "On Merit Wants: Reflections on the Evolution,
Normative Status and Policy Relevance of a Controversial Public
Finance Concept", in Geoffrey Brennan and Cliff Walsh (eds.),
Rationality, Individualism and Public Policy. Centre for Research
52 Sinteticamente
Chicago 15th A ens.
This style requires both footnotes and bibliography. To add cited pages to your in-text
citations and footnotes, include them in your in-text citation by adding an "@" symbol
followed by the pages: [Waugh, 1945 #32@ 88]
Chicago 15th B ens.
This version of the Chicago style does not include footnotes. For footnotes, use Chicago 15th
A. (ResearchSoft 2004)
53 Nesta exemplificação utilizamos (THROSBY 2003)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 72/150 - Versão 01
on Federal Financial Relations, Australian Nationa lUniversity,
Canberra.
Texto54
com referências para a bibliografia Referências bibliográficas ordenadas por nome e
data
A listagem das obras está ordenada pelo último nome do primeiro autor e dentro de
cada autor ou conjunto de autores está ordenado por data de edição da obra. No caso
de haver várias obras do mesmo autor editada no mesmo ano acrescenta-se à data a, b,
etc. (ex. 2003a 2003b etc.). Para tornar mais visível a ordenação destaca-se o nome do
autor, começando no início da linha. No texto a indicação de que a ideia ou a
transcrição foi retirada de uma determinada obra faz-se indicando à frente do nome do
autor o ano da edição (ex. Avrami et al. (2000)) ou indicando em conjunto autor e
ano (ex. (ThrosbyandWithers, 1984)). Se pretendemos precisar exactamente de onde
foi retirado acrescenta-se a página (ex. (Benedikt, 1997, p. 54)).
Para ilustrar mais em pormenor consideremos uma passagem do texto anterior.
“Michael Benedikt distinguishes between aesthetic, moral and economic
values, and argues that they have to be made commensurable, “if only
because real life asks us so often to compare and choose amongst them in the
name of some ‘larger’ value” (Benedikt, 1997, p. 54).”
Esta última informação diz-nos que a transcrição anterior (if ...value) foi retirada da
obra editada por Benedikt em 1997. Observando as referências bibliográficas ficamos
a saber que
Benedikt, Michael (1997) "Value and Psychological Economics: An
Outline", in Michael Benedikt et al. (eds.), Value: Center 10/Architecture
and Design in America. University of Texas Press, Austin.
a transcrição foi retirada de um artigo (capítulo de livro ou comunicação) intitulado
Value and Psychological Economics: An Outline que foi editado num livro editado
pelo autor do artigo conjuntamente com outros autores e que se designa Value: Center
10/Architecture and Design in America. Sabemos ainda que a obra foi publicada em
1997 pela University of Texas Press, a qual se situa em Austin55
.
54 Foi utilizado neste exemplo (THROSBY 2003)
55 Apresentamos aqui esta precisão de informação, mas ela podia perfeitamente ser retirada igualmente
dos sistemas retirados anteriormente. As diferenças não se situam ao nível da informação que
transmitem, pois aí há grande similitude.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 73/150 - Versão 01
Que dizer das vantagens e desvantagens em relação aos sistemas anteriormente
referidos? Tal como os anteriores este sistema apresenta, como não podia deixar de
ser os elementos essenciais de qualquer sistema bibliográfico: (1) clara identificação
das fontes bibliográficas; (2) clara identificação da autoria da ideia; (3) possibilidade
do leitor localizar as obras utilizadas pelo autor; (4) fácil articulação entre o texto e a
bibliografia.
Apesar de apresentar algumas vantagens em relação a um ou outro dos anteriores (ao
consultar-se autonomamente a bibliografia há uma ordem; quando se remete do texto
para uma obra na bibliografia há uma indicação precisa de que parte da obra foi
retirada a ideia ou a transcrição; é fácil acrescentar bibliografia e é indiferente a
sequência de produção do texto, não exigindo qualquer procedimento informático de
articulação texto-bibliografia) também apresenta alguns inconvenientes: (1) dificulta a
estruturação da bibliografia segundo procedimentos diversos, a que faremos alusão
oportunamente; no caso de uma mesma ideia estar em muitas das obras indicadas na
bibliografia, a sua indicação é mais enfadonha que nos sistemas anteriores56
.
Um último apontamento: o que se disse não gosta as maneiras de indicar as fontes
bibliográficas e de articular o texto com o seu inventário. É possível encontrar formas
de combinação de sistemas diferentes e porque há sempre outras alternativas.
Além disso até agora não nos preocupámos com a informação que devemos colocar
para identificar adequadamente uma obra57
. É deste aspecto que nos ocuparemos no
ponto seguinte.
IInnffoorrmmaaççõõeess ssoobbrree aa oobbrraa rreeffeerreenncciiaaddaa
Quais os elementos identificadores de uma obra que devem ser referidos?
56 Em (POMBO 2004, p. 125/7) duas notas de com referências bibliográficas ocupam cerca de duas
páginas do livro, o que resulta da aplicação criteriosa deste sistema bibliográfico.
57 Cada sistema de referência bibliográfica tem, nas suas diversas variantes, a especificação dessas
informações, mas não foi sobre esse aspecto que concentrámos a atenção.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 74/150 - Versão 01
A resposta genérica é simples:
pelo menos os essenciais para uma correcta e fácil identificação
apresentados de uma forma que chame a atenção do leitor para o essencial
atendendo às especificidades de identificação cada tipo de obra.
Contudo os pormenores destas considerações podem ser concretizados de formas
muito diversas conforme as normas, as publicações, os autores58
.
Porque seria pedagogicamente inadequado apresentar todas essas variantes e
perfeitamente inoportuno: seria enfadonho e susceptível de uma rápida
desactualização, limitar-nos-emos a referir o que consta das normas portuguesas sobre
bibliografia59
.
Consideremos a obra sobre o qual temos a seguinte informação:
Tipo de obra: Livro
Autor: Matt Ridley
Ano de edição: 2001
Título: Genoma
Subtítulo: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos
Colecção: Ciência Aberta
Número na colecção: 111
Local do Editor: Lisboa
Editor: Gradiva
Número de volumes: 1
Número de páginas: 352
Edição: 1ª
Desenho da capa: Tom Lau
Impressão e acabamento: Tipografia Guerra/Viseu
Tradução: REGO, Carla (Tradução); ALMEIDA, José Soares (Revisão)
ISBN: 972-662-772-9
Nome da Publicação original: Genome - The Autobiography of a Species in 23
Chapters
Data da edição original: 1999
Editor original: ?60
Data da 1ª edição inglesa: ?
58 Como exemplo diga-se que o programa de tratamento informático da bibliografia que utilizamos
neste momento identifica 1186 estilos tipo (ResearchSoft 2004), sendo um estilo uma combinação de
sistema bibliográfico e diferentes pormenorizações na sua concretização.
59 Em termos de normas tenha-se em conta que cada país pode ter as suas normas e que além disso há
as normas da International Organization for Standardization (ISO) (SERRANO 1996)
60 “?” indica que na edição que se possui não constam esses elementos.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 75/150 - Versão 01
Sendo um livro a forma de o referenciar é a que é especificada para as Monografias.
É considerado essencial a indicação do autor ou autores, título, edição, publicação
(local, editor e ano) e ISBN.
No nome do autor podem ser utilizadas abreviaturas “desde que fiquem
inequivocamente identificados” (Instituto Português da Qualidade 1995, p. 31), o que
não se revela necessário neste caso. O apelido do autor deve ser em letras maiúsculas
“quando no início da referência bibliográfica”, o que acontece sempre porque “o
nome do autor deve aparecer como o primeiro elemento da referência bibliográfica”
(Instituto Português da Qualidade 1995, p. 33). Além disso
“O nome do autor deve ser dado como aparece na fonte, mas invertido de
forma a referir em primeiro lugar o último apelido ou o penúltimo no caso
dos apelidos compostos ou com relações familiares. Os nomes espanhóis
devem ser referenciados pelo apelido que aparece a seguir ao nome próprio”
(Instituto Português da Qualidade 1995, p. 33).
O título da obra está em caracteres romanos pelo que não carece de transliteração, a
qual deveria seguir normas internacionais. O título deve ser reproduzido como
aparece na fonte. Como “a pontuação e a apresentação tipográfica devem tornar os
pormenores das referências facilmente compreensíveis” e o título (e subtítulo) é um
elemento fundamental de identificação num livro, “deve recorrer-se à utilização de
sublinhados (...) ou relevos tipográficos” (Instituto Português da Qualidade 1995, p.
32)61
.
Uma referência bibliográfica deve ser feita de forma que o leitor do trabalho
facilmente a encontre e possa certificar-se que o autor do documento a utilizou
adequadamente. Ora a localização de algo pode variar de edição para edição, pelo que
a sua indicação é um aspecto essencial. Convém que se forneça todas as indicações
sobre ela (é uma edição revista? por quem? foi ampliada? etc.) podendo-se utilizar
abreviaturas.
E sobre essa edição (muitas vezes não há indicação, seja porque é a primeira e o editor
considera irrelevante referir seja porque a sua não referência permite evitar
61 Quando se utilizava a máquina de escrever o mais habitual era o sublinhado. Com o computador
utiliza-se habitualmente o itálico ou o carregado.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 76/150 - Versão 01
pagamentos de direitos a autor ou editora original) deve-se fornecer os dados da
publicação. O local onde se situa a editora deve ser transcrito como se encontra na
obra (se não indicar colocar [S.I:] iniciais de “sem local” em latim. No caso presente é
irrelevante, mas é cada vez mais frequente tratar-se de uma editora multinacional e
indicar uma lista de locais; nesse caso coloca-se o que está mais evidência ou em
primeiro lugar acrescido de [etc.]. Uma outra situação muito habitual actualmente é a
obra ser editada por mais de uma editora; deve-se indicar as diversas editoras e
respectivos locais. No caso presente o local da editora é bem conhecido e não se
necessita de fornecer ao leitor qualquer informação adicional, mas nem sempre é
assim. Se o nome do local se presta a confusão ou pode não haver conhecimento
imediato por parte do leitor pode-se acrescentar entre [] (símbolo que é
sistematicamente utilizado quando se trata de dados adicionais fornecidos por nós)
outros aspectos referentes à localização: [região], [país], etc. A editora pode ser
colocada com informação completa (ex. Gradiva – Publicações Ldª) ou parcial desde
que inequívoca (ex. Gradiva). Se o editor for desconhecido, o que não é o caso,
coloca-se, utilizando mais uma vez abreviaturas do latim, [s.n.]. Para um livro a data
é apenas o ano ou o mês ano. Quando a data não existe ou se coloca a data de
impressão (imp. ano) ou a data dos direitos de autor (cop. ano) ou a data do depósito
legal (D.L. ano) ou a presumível ([ano?]).
O ISBN também é um elemento essencial embora para livros anteriores a uma certa
data não exista esta informação62
.
62 Eis uma informação sobre o ISBN constante do seu site na Internet:
“O sistema ISBN (International Standard Book Number) é controlado pela Agência
Internacional do ISBN, sediada em Berlim, na Alemanha, que supervisiona a sua utilização,
aprova a definição e estrutura dos grupos (linguísticos ou geográficos), e delega poderes às
Agências Nacionais designadas em cada país.
A APEL é a Agência Portuguesa do ISBN desde 1988, sendo responsável, entre outras
funções, pela atribuição de números de identificação a monografias, i.e., a publicações não
periódicas editadas em Portugal, pela atribuição de prefixos de editores, pelo fornecimento do
Manual ISBN aos editores e pela promoção da utilização do sistema a nível nacional.
O princípio fundamental em que assenta o sistema é que cada ISBN identifica um livro numa
determinada edição, com todas as vantagens que daí advêm, a nível económico e cultural, ao
possibilitar uma mais fácil recuperação e transmissão de dados em sistemas automatizados,
para fins públicos ou privados, ao facilitar a pesquisa e a actualização bibliográfica, bem como
a interconexão de bibliotecas e arquivos. (...)
- o ISBN é constituído por uma série de números separados por um hífen (-). Pegando no
ISBN 972-9202-43-5 como exemplo:
"972" é o identificador de grupo (grupo nacional, geográfico, linguístico ou outro similar;
actualmente, os prefixos nacionais são "972" e "989");
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 77/150 - Versão 01
No exemplo anteriormente referido a referência bibliográfica deve, no mínimo,
apresentar-se da seguinte forma:
RIDLEY, Matt – Genoma. 1ª ed. Lisboa: Gradiva, 2001. ISBN 972-662-772-9.
É, no entanto recomendável que se indique também o subtítulo (complemento de
título) e a descrição física, para dar ao leitor uma ideia mais precisa da obra.
O complemento de título segue no essencial o que se disse para o título. Quanto à
descrição física pretende-se dar uma informação sobre a dimensão da obra, o que
pode ser feito pela indicação do número de volumes que constitui a obra ou o seu
número de páginas.
Entrando com as informações essenciais e recomendadas a referência bibliográfica
assumiria a seguinte forma
RIDLEY, Matt – Genoma: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos. 1ª ed.
Lisboa: Gradiva, 2001. 352 p. ISBN 972-662-772-9.
Na maior parte das situações esta informação é suficiente. Contudo se algumas obras
têm uma grande importância para a tese que estamos a elaborar justifica-se a
apresentação de informações complementares63
.
Nos casos apontados devem figurar na referência bibliográfica alguns ou todos os
elementos facultativos: “responsabilidade secundária”, “série” e “notas”.
"9202" corresponde ao prefixo de Editor (identifica um Editor em concreto);
"43" é o identificador do título (identifica um título específico ou a edição de uma obra
publicada por um Editor em concreto);
"5" é o dígito de controlo (permite a verificação automática de que o ISBN está correcto);
(...)
- em livros editados em co-edição, recomenda-se a atribuição de um número ISBN para cada
Editor;
- edições de um mesmo livro em vários idiomas, implicam um número ISBN para cada
edição; “ (APEL, "Sistema ISBN". [em linha]. [consult. 25 Dez 2004]. Disponível na Internet:
<URL: http://www.apel.pt/default.asp?s=12204>)
63 Alguns exemplos: se a nossa tese é uma comparação sobre a concepção inicial e actual da
relatividade restrita, a informação bibliográfica sobre as obras dos autores principais deve conter o
máximo de elementos; se estamos a fazer uma tese sobre Tolstoi e não sabemos russo justifica-se que
nas obras consultadas de Tolstoi forneçamos outras informações que permitam aquilatar da obra a
partir da qual se fez a tradução e da qualidade desta; se o nosso trabalho é sobre um romance de Eça de
Queiroz convém que todas as edições consultadas sejam referidas com o máximo de dados.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 78/150 - Versão 01
Continuemos a seguir de perto das normas portuguesas.
Para além do autor de um livro outras pessoas podem ter uma responsabilidade
secundária sobre o seu conteúdo: o eventual autor do prefácio ou da introdução; o
revisor do texto na língua em que foi escrito; o tradutor; o revisor da tradução,
eventualmente qualquer comentador do conteúdo em algumas notas. Estes elementos
podem ter interesse em muitas circunstâncias.
“Os editores literários, compiladores, anotadores e directores literários
podem ser tratados como autores, desde que apareçam destacados na página
do título. Neste caso devem acrescentar-se ao nome as abreviaturas
correspondentes à função antecedidas de vírgula (...) Os nomes das pessoas
ou colectividades com responsabilidade secundária no documento e as suas
funções (editores literários, tradutores, ilustradores, inventores, organismos
responsáveis, etc.) podem figurar depois do título ou do complemento do
título” (Instituto Português da Qualidade 1995, p. 36/7)
A informação sobre a série é, no essencial, a colecção em que se integra o livro e,
eventualmente, o seu número. Há colecções com tal prestígio que esta informação
quase que seria suficiente para procurar a obra em qualquer livreiro.
Em notas podem ser dadas outras informações consideradas relevantes.
Entrando em conta com todos os elementos teríamos, no nosso exemplo:
RIDLEY, Matt – Genoma: Autobiografia de uma espécie em 23 capítulos. Trad. Carla
Rego; rev. trad. José Soares Almeida. 1ª ed. Lisboa: Gradiva, 2001. 352 p. (Ciência
Aberta; nº 111). Tradução de: Genome - The Autobiography of a Species in 23
Chapters; 1999. ISBN 972-662-772-9.
Outros aspectos de que temos informação (ex. tipografia) é suficientemente
irrelevante para se colocar, por muito pormenorizada que seja a informação.
Neste nosso exemplo referimo-nos à situação mais habitual e simples: o livro.
Contudo a diversidade de documentos informativos é grande e cada um apresenta
especificidades.
A utilização exaustiva das normas estabelecidas pode ser enfadonho e exigir
demasiado tempo. Enfadonho porque exige considerar um grande conjunto de
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 79/150 - Versão 01
pormenores; porque as redes informáticas internacionais obriga-nos a assumirmos
decisões sobre situações que ainda não estão normalizadas ou que estando não cobre
todas as situações; porque a excessiva preocupação pelas questões formais e de
apresentação pode enfraquecer a nossa atenção sobre o conteúdo. Exigir demasiado
tempo porque há que conhecer muito em pormenor as normas e consultá-las
frequentemente; porque quase sempre umas normas remetem para outras normas;
porque exige em diversas situações investigações complementares sobre os
documentos actualizados para obter algumas referências que a norma considera
essenciais ou recomendáveis, porque cada vez menos é aconselhável seguir apenas as
normas de um país, havendo que estabelecer comparações entre países ou destes com
as normas internacionais. Contudo, apesar destes inconvenientes, as normas devem
ser tidas em conta porque nos ensinam procedimentos, porque nos introduzem na
lógica de apresentação das fontes, porque nos pode salvar de críticas desnecessárias.
Utilizemo-las com conta, peso e medida, como diz o bom senso popular.
Vejamos, então, essas normas mais em pormenor, identificando as situações,
resumindo o que elas dizem64
.
(Instituto Português da Qualidade 1995) refere-se a documentos impressos:
(A) As monografias são a situação mais geral
“Monografia – publicação contendo texto e/ou ilustrações apresentados em
suportes destinados à leitura visual, completa num único volume, ou a ser
completada num número determinado de volumes” (8)
e as fronteiras com outro tipo de documentos são por vezes difusas. Nuns casos a
nossa referência bibliográfica aplica-se à monografia no seu conjunto, como no
exemplo que apresentámos (A1)65
, noutros a partes ou volumes de monografias (A21)
ou a contribuições em monografias (A22).
64 Quem pretenda conhecê-las em pormenor deve fazer a sua leitura e tê-las à mão quando surgem
dificuldades.,
65 Esta simbologia e outras seguintes serão utilizadas nos quadros de síntese das normas para os
diversos tipos de documentos.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 80/150 - Versão 01
(B) As publicações em série são uma das fontes mais utilizadas na investigação
científica, pois as revistas da especialidade são muito frequentemente, o primeiro local
de divulgação das descobertas científicas.
“Publicação em série – publicação, impressa ou não, editada em fascículos
ou volumes sucessivos, ordenados geralmente numérica ou
cronologicamente, com duração não delimitada à partida e
independentemente da sua periodicidade. As publicações em série incluem os
periódicos (revistas, jornais, boletins, anuários), as séries de actas e relatórios
de instituições e congressos, bem como as série monográficas” (8)
Podem surgir situações em que pretendemos fazer referência bibliográfica para a
totalidade da publicação em série (B1), embora frequentemente consideremos apenas
uma parte da publicação (B2) ou apenas um artigo (B3).
As série monográficas são referidas como publicação em série, mas podem ser
tratadas ou como monografias (B41) ou como publicação em série (B42).
(C) As teses, dissertações e outras provas académicas não se enquadram em nenhuma
das situações anteriores.
“Tese (dissertação) – documento que apresenta uma investigação e os seus
resultados, proposto para apreciação, pelo seu autor, em princípio destinado à
obtenção de um grau académico ou de uma qualificação profissional” (8)
(D) As actas de congressos (“com ou sem título próprio”, com ou sem “editor
literário”) têm um tratamento similar às monografias. Os “relatórios científicos e
técnicos” também se podem configurar como algumas das situações anteriores.
(E) Os documentos legislativos e judiciais têm um tratamento similar a algumas das
situações anteriores:
“A ordem dos elementos da referência bibliográfica das publicações de
carácter legislativo e judicial é a mesma das monografias, partes ou volumes
e contribuições em monografias, capítulos e páginas de monografias,
publicações em série e artigos de publicações em série” (8)
Se assim ´+e, o que se deve colocar como autor de um Decreto-Lei, por exemplo? É
frequente considerar como autor a instituição que foi responsável pela sua criação (ex.
Assembleia da República para uma Lei, Governo para um Decreto-Lei, etc.) e
considerar que ela é parte do Estado (pelo que o referido Decreto-Lei teria como autor
PORTUGAL. Governo). Contudo os exemplos constantes da norma não referem
autor.
Em muitas publicações religiosas também não há referência ao autor.
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(F) Também as patentes se encontram entre os documentos impressos fornecedores de
informações para a investigação.
“Patente – Descrição de uma invenção destinada a obter ou a justificar os
direitos de propriedade industrial” (8)
(G) As normas poderiam ter um tratamento similar aos documentos legislativos, mas a
norma que temos estado a analisar autonomiza este tipo de documento.
(H) A música impressa é ainda outro tipo de referência bibliográfica.
Num ponto anterior colocámos a questão: devemos englobar o artigo de que só lemos
o resumo? Não devemos englobar o artigo mas podemos colocar o resumo (I) e ao
fazê-lo devemos seguir as normas estabelecidas para os documentos anteriores tendo-
se o cuidado em nota colocar “a indicação de resumo, a fonte de onde foi extraído e o
número de resumo” (30).
Designando com E o que é essencial, R o que é recomendável e F o que é facultativo
temos:
A1 A21 A22 B1 B2 B3 B41 B42 C F G H
Autor(es) E R R R E E E R E
Entidade Responsável R
Título E R R E E R E R E R R E
Sigla e Nº da Norma E
Complemento do Título R R R R R F R
Responsabilidade F F F
Responsabilidade Secundária F F F F F R
Autor(es) da totalidade E E
Título da totalidade66
E E E
Edição E E E E E E E E
Numeração F
Publicação E E E E E E
Local R R R R F
Editor F F F F R
Data E E E E
País E
Descrição Física R R R R F R
Designação tipo documento E E
Série F F F R F
Notas F F F F F E
ISBN/ISSN F E E E E E E E
Localização na totalidade E E E
Volume E
66 Neste quadro sintético designamos por “totalidade” a obra em que se insere uma certa parte
considerada (o artigo tem como totalidade a revista, o capítulo tem como totalidade o livro, etc.).
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Número E E
Ano E
Código de Classificação F
Área R
Placa de matrícula E
Grande parte dos elementos considerados já foram abordados quando do exemplo
inicial com base num livro. Explicitemos apenas que
a Área da norma serve para indicar a que aquela se aplica;
a Placa de Matrícula na música impressa é “o número de série atribuído pelo editor a
cada publicação musical para o seu registo e identificação” (8).
(Instituto Português da Qualidade 1998) refere-se a materiais não livro
(J) O documento icónico – “Documento cuja principal característica é a
representação de imagens a duas ou, aparentemente, a três dimensões.” (4) – cartaz é
o primeiro tipo de documento a ser considerado.
(K) O filme, entenda-se “fita de filme fotográfico”, em bobina (K1) ou em «loop»
(K2) são considerados separadamente embora tenham, aparentemente, o mesmo
tratamento bibliográfico.
(L) A microficha – "documento que necessita de ampliação para ser utilizado", “em
folha transparente, na qual as microimagens são apresentadas em grelha” – é o único
tipo de documento que necessita de ampliação apresentado nesta norma. Caso se
tenha utilizado outro tipo destes documentos há que estabelecer as semelhanças e
diferenças para a sua referência.
(M) Os registos de som e imagem, combinados ou isolados ocupam as referências
seguintes. A norma trata da multimédia (M1) – “Item composto por duas ou mais
categorias diferentes de material, em que nenhuma é considerada de primordial
importância e que,em geral, se destinam a ser usadas como um todo unitário” (5) – do
registo vídeo: cassete (M2), do registo vídeo: disco (M3), do registo sonoro: disco
compacto (M4), disco sonoro (M5) e cassete sonora (M6), embora só trate
explicitamente de alguns, admitindo-se que os restantes são situações similares.
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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 83/150 - Versão 01
(N) A referência seguinte é para o objecto, cuja imprecisão de significado aconselha
que comecemos por explicitar o que a norma designa por tal:
“Artefacto de três dimensões. O termo pode ser usado para designar um
objecto ou um conjunto de partes separadas.” (5).
(O) O diapositivo (O1) e a transparência (O2) são os dois tipos de projecção visual
considerados, sendo de admitir que o segundo segue as regras constantes do primeiro.
(P) Em todas as considerações anteriores considerou-se a totalidade da componente,
mas muitas vezes o que é utilizado é apenas uma parte (a banda sonora de um filme, o
vídeo de um multimédia, etc.) É esse aspecto que é tratado na parte final desta norma,
referindo explicitamente o registo sonoro (P1) e dando exemplos de documento
icónico (P2) e de projecção visual (P3).
Utilizando a terminologia e simbologia já nossa conhecida, temos a seguinte situação
síntese:
J K1 L M1 M2 M4 N O1 P1
Autor(es) E E E E E E E E R
Título E E E E E E E E R
Complemento do Título R R R R R R R R R
Responsabilidade Secundária R R R R R R R F
Autor(es) da totalidade E
Título da (totalidade) E
Responsabilidade secundária da totalidade F
Localizana na totalidade E
Edição E E E E
Publicação (Local, Editor, Data) E E E E E E E E E
Descrição Física
Designação específica E E E E E E E E E
Outras indicações físicas R R R R R R R R R
Dimensões F R F F F F F F F
Material acompanhante F F F F F F F F F
Designação tipo documento F F F F F F F F F
Série F F F F F F F F F
Notas F F F F F F F F F
Número normalizado F F F F F F F F F
(Instituto Português da Qualidade 2000) refere-se a documentos não publicados.
Os documentos expressamente considerados neste documento foram (Q1)
Documentos Impressos: Monografias e Publicações em série; (Q2) Cartas, ofícios,
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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 84/150 - Versão 01
circulares, etc.; (R) Manuscritos; (S) Música manuscrita; (T) Materiais cartográficos;
(U) Materiais não livro: Diapositivos.
Eis um conjunto de documentos particularmente importantes em teses em que a
História seja uma disciplina relevante. Certamente que outros haverão, mas estes
funcionam como uma referência importante.
Mais uma vez podemos de uma forma muito sintética apresentar as recomendações
através do seguinte quadro: Q1 Q2 R S T U
Autor(es) E E E E E E
Título E E E E E
Complemento do Título R
Responsabilidade Secundária R
Numeração R
Referência E
Data E E E E E E
Acessibilidade E E E E E E
Descrição Física R R R
Designação específica E E
Outras indicações físicas F R
Dimensões F F
Material acompanhante F F
Designação tipo documento E E E F F
Assunto R
Série F
Escala E
Informação adicional da escala F
Notas F F E E F F
Identificador do documento E E E
Justificam-se alguns comentários adicionais:
Tratando-se de documentos não publicados a “acessibilidade” – “Local onde
se pode consultar um determinado documento.” (3) – assume uma importância
essencial.
A “numeração” em Q1 apenas se aplica às publicações em série.
Se existir um elemento identificador daquele este “Deverá transcrever-se tal
como se apresenta no documento.”
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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(Instituto Português da Qualidade 2002) é o último documento actualmente existente e
trata dos documentos electrónico.
A relevância que os documentos electrónicos assumem, as confusões que por
vezes fazemos na sua utilização, a tendência para transpor mecanicamente o
que sabemos das “publicações tradicionais” para este novo tipo de
documento, justifica a releitura do prâmbulo desta norma, apresentado
quando discutimos o significado de bibliografia.
Registe-se que:
a fonte de informação não é o suporte electrónico mas um certo documento,
uma certa informação, que está nesse suporte magnético;
o acesso à informação nos documentos electrónicos é modular (não
dominantemente sequencial), onde as redes e os cruzamentos de saberes e
informações, onde os entrelaçamentos de disciplinas e de paradigmas, são
intensos;
os documentos em suporte magnético têm muitas especificidades formais.
Registe-se ainda que a grande quantidade de documentos electrónicos, sobretudo em
páginas web, têm frequentemente referências bastante mais difusas que os
documentos que estivemos a analisar até agora.
Esta norma refere-se primeiramente às “monografias, bases de dados e programas”
considerando estes como documentos completos (V1), sejam partes de documento
(V2) , sejam ainda contribuições em documentos (V3). Em cada uma destas situações
as monografias, as bases de dados – “Conjunto de dados estruturados armazenados
sob forma electrónica e acessíveis por computador” (4) – e os programas – “Conjunto
de instruções para a execução em computador de determinadas tarefas” (5) – têm
algumas especificidades.
As publicações em série constituem o segundo conjunto, enquanto documento
completos (W1) ou como “artigos e outras contribuições” (W2).
BBS(s) – “sistema de computadores no qual a informação emensagens respeitantes a
um determinado tema ou temas são disponibilizadas para visualização por utilizadores
remotos” (4) –, news groups – “serviço na Internet no qual a informação e mensagens
respeitantes a um determinado tema ou temas são disponibilizadas para visualização
por utilizadores remotos” (5) –, listas de discussão – “grupo de discussão sobre
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 86/150 - Versão 01
determinado tema ou temas através de uma rede informática entre os assinantes de
uma lista de correio electrónico, no qual as contribuições dos participantes individuais
são enviadas automaticamente por correio electrónico a todos os subscritores” (4) – e
mensagens constituem o terceiro conjunto, seja enquanto “sistemas completos de
mensagens” (X1) seja enquanto “mensagens electrónicas” (X2).
A norma pode ser especificada de forma resumida por
V1 V2 V3 W1 W2 X1 X2
Autor(es) E E E E E
Título E E E E E E E
Responsabilidade Secundária F F F
Autor(es) da totalidade E E
Título da (totalidade) E E E
Responsabilidade secundária da totalidade F
Edição E E E E
Tipo de suporte E E E E E E E
Publicação (Local, Editor, Data) E E E E E E
Data de actualização ou revisão E E E E
Data de consulta E/F E/F E/F E/F E/F E E
Disponibilidade e Acesso E/F E/F E/F E/F E/F E E
Série F F
Notas F F F F F F F
Número normalizado E E E E E
Numeração no documento F F
Capítulo ou designação equivalente F
Localização na totalidade E E E
Numeração no interior do sistema F
Localização no sistema de mensagens E
Quanto ao tipo de suporte recomenda-se que “o tipo de suporte electrónico deve ser
indicado entre parênteses rectos depois do título. Recomenda-se a utilização das
seguintes palavras ou equivalentes: [CD-ROM] [Disco] [Disquete] [Em linha]. Se se
desejar pode também precisar-se o tipo de documento: monografia, publicação em
série, programa, base de dados, mensagem, etc. Ex.: [Base de dados em linha]
[Monografia em CD-ROM] [Jornal em linha] [Programa em disco] [BBS em linha]
[Mensagem em linha] [Lista em linha] [Programa em disquete] [Resumo em CD-
ROM] [Revista em linha]” (21/2).
“Disponível em :WWW <URL:http://listas.sdum.uminho.pt>" ou “Também
disponível em versão Postscript em: <URL:
http://www.thomson.com/itcp/WebExtras>” são exemplos de informação sobre
disponibilidade e acesso.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 87/150 - Versão 01
Quanto à data de consulta a norma indica “no caso de documentos susceptíveis de
utilização frequente ou naqueles em que não tenha sido possível encontrar a data de
publicação deve ser referida a data em que o documento foi consultado precedida da
abreviatura consult. e entre parênteses rectos.” (19), mas na nossa opinião existe outra
razão importante para a referir: muitos dos documentos electrónicos estão em
frequente mudança e nada garante que o mesmo endereço electrónico tenha o mesmo
conteúdo (exista) quando foi consultado por quem elaborou a tese e quando foi
acedido pelo seu leitor. A referência da data de consulta funciona como garantia da
veracidade da informação constante na referência bibliográfica.
LLooccaalliizzaaççããoo ddaa bbiibblliiooggrraaffiiaa nnaa tteessee
Conforme o sistema de referência bibliográfica utilizada assim o local onde podemos
encontrar o conjunto das obras utilizadas para a realização do trabalho. É possível que
seja necessário, enquanto leitores, percorrermos as notas (colocadas no fim de página,
no fim do trabalho ou em qualquer outro local) para conhecer quais foram essas obras.
É possível que exista, para além doutros aspectos anteriormente referidos, uma
listagem bibliográfica. É dessa situação que trataremos muito singelamente neste
ponto.
Se o objectivo é facilitar a leitura das obras utilizadas a lista das referências
bibliográficas devem estar concentradas num único local do trabalho. Seria
desaconselhável, por exemplo, espalhar num livro a bibliografia pelos diversos
capítulos, mesmo que se pretenda referenciar os trabalhos utilizados em cada um
deles. E o local mais indicado para a colocar é o fim do texto. Tratando-se de uma
tese, situação que nos ocupa particularmente, no fim da tese. Se somos responsáveis
pela edição de uma obra que tem a contribuição autónoma de vários autores as
bibliografias devem estar no fim de cada um desses textos autónomos (artigos,
comunicações, por exemplo).
E o que se deve entender por fim do texto? Temos encontrado dois entendimentos:
(a) fim do corpo do trabalho, o que faz com que os anexos venham depois da
bibliografia:
“A apresentação de notas ao longo do trabalho não prescinde o registo
sistemático das referências bibliográficas consultadas ao longo do mesmo, ou
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 88/150 - Versão 01
ainda, e caso tenham sido consultadas, de fontes manuscritas, impressas,
computorizadas, ou outras. Vem sequencialmente, após a conclusão”
(SOUSA 2003, p. 65)
(b) fim da do trabalho, colocando-se a bibliografia depois de todos os anexos. Se for
hábito colocar no fim os índices, só estes iriam depois da lista bibliográfica.
Porque os anexos também podem remeter para bibliografia e porque é de mais fácil
localização pelo leitor esta parece-nos ser a solução mais adequada.
EEssttrruuttuurraaççããoo ddaa BBiibblliiooggrraaffiiaa
Já fizemos alusão ao facto de ECO sugerir que se distinga as fontes primárias das
fontes secundária, o que exemplifica:
“Non ci resta che aggiungere alcune istruzioni su come pub strutturarsi una
bibliografia. ?so.. ciamo l'esempio di una tesi su Bertrand Russell, La
bibliografia si suddividerà in Opere di Bertrand Russell e Opere su Bertrand
Russell (potrà ovviamente avere anche una sezione più generale di Opere
sulla storia della filosofia del secolo XX). Le opere di Bertrand Russell
saranno elenoate in ordine cronologico mentre le opere su Bertrand Russell
saranno in ordine alfabetico. A meno che il soggetto della tesi fosse Gli studi
_su Russell dal 1950 al 1960 in Inghilterra, nel qual caso, allora, anche la
bibliografia su Russell potrebbe giovarsi di un ordine cronologico.
Se invece si facesse una tesi su I cattolici e l'Aventino la bibliografia
potrebbe avere una divisione del genere; documenti e.atti parlamen tari,
articoli di giornali e riviste della stam pa cattolica, articoli s riviste della
stampa fascista, articoli e riviste di altra parte politica, opere
sull'avvenimento (e magari una sezione di opere generali sulla storia italiana
del periodo).” (ECO 1998, p.233/4)67
67 Tanto no original como na tradução portuguesa, que se apresenta de seguida” utiliza o sublinhado e
não o itálico pois essas páginas são reproduzidas directamente de texto escrito em velha máquina de
escrever:
“Só nos resta acrescentar algumas instruções sobre como se deve estruturar uma bibliografia.
Ponhamos como exemplo uma tese sobre Bertrand Russell. A bibliografia subdividir-se-á em Obras de
Bertrand Russell e Obras sobre Bertrand Russell (poderá evidentemente também haver uma secção
mais geral de Obras sobre a história da filosofia do século XX). As obras de Bertrand Russell serão
enumeradas por ordem cronológica, enquanto as obras sobre Bertrand Russell estarão por ordem
alfabética. A menos que o assunto da tese fosse Os estudos sobre Russell de 1950 a 1960 em Inglaterra,
caso em que, então, tambem a bibliografia sobre Russell poderia beneficiar com a utilização de uma
ordem cronológica.
Se, pelo contrário, se fizesse uma tese sobre Os católicos e o Aventino, a bibliografia poderia ter uma
divisao do género: documentos e actas parlamentares, artigos de jornais e revistas da imprensa
cató1ica, artigos e revistas da imprensa fascista, artigos e revistas de outros sectores políticos, obras
sobre o acontecimento (e talvez uma secçáo de obras geraís sobre a história italiana da epoca).” (ECO
1980, p. 200/1)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Outros autores também admitem essa possibilidade:
“Em termos genéricos, todas as fontes, obras monográficas e publicações em
série consultadas, referidas ou não nas notas, devem ser agrupadas num item
designado por "Fontes e Bibliografia", ou só `Bibliografia", se não tiver
havido consulta de outras fontes.
Vejamos a seguinte sequência de apresentação, que recomendamos:
- Fontes manuscritas;
- Fontes impressas;
- Fontes iconográficas;
- Fontes computorizadas;
- Bibliografia (esta pode eventualmente ser dividida);
- Monografias;
- Periódicos.
Recentemente, os investigadores tiveram acesso a uma nova fonte de
informação que importa saber localizar: as fontes computorizadas, ou seja,
aquelas que podem ser obtidas através dos computadores. Vamos incluir
neste conceito os CD Roms, mas também, e sobretudo, os dados extraídos da
INTERNET. Em ambas as realidades, tal como nas restantes indicações das
fontes e bibliografia, impera o critério de ordenação alfabética.
Há quem complexifique este item, estabelecendo várias bibliografias de
acordo com os temas tratados. Se bem que prefiramos um agrupamento
unitário, tal subdivisão não é metodologicamente incorrecta, e tem até sido
utilizada por prestigiados investigadores. É uma questão de opção
metodológica. Há quem também inclua, o que sucede neste trabalho, uma
bibliografia temática, ou seja, uma bibliografia que inclui obras consultadas,
podendo igualmente dela constar estudos que não foram utilizados pelo autor
na feitura do trabalho, mas que se incluem na temática do mesmo.
Devia ainda ser observada, neste item, a sequência alfabética da ordenação,
seja, nas fontes manuscritas, dos diversos arquivos ou colecções onde se
encontram, e, nestes, por agrupamentos (ex.: no Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, poder-se-ia colocar 1.º Chancelaria de D. José I; 2.º ; 3.º
Habilitações para a Ordem de Cristo; 4.º Habilitações para o Santo Ofício,
etc.). Na bibliografia, o critério alfabético é aplicado à primeira palavra ou
conjunto de palavras mencionadas (seja de autor ou título). No que diz
respeito aos artigos em publicações em série, devem ser incluídos os limites
extremos do mesmo (p. ex.: p. 5-29).” (SOUSA 2003, p. 65/6).
Todos esses critérios de decomposição da lista bibliográfica podem ser aplicados com
rigor, mas temos de ter consciência que
classificar não é fácil, e se por vezes o parece talvez seja porque não
reflectimos suficientemente sobre o problema e porque há hábitos adquiridos,
quiçá nem sempre correctos, sobre a matéria;
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não se deve introduzir critérios secundários no processo de decomposição; por
exemplo, uma monografia tem sempre as mesmas características seja editado
em papel ou electronicamente, e seria um erro sobrevalorizar, no conjunto das
suas características, o suporte em que se encontra;
muito frequentemente a distinção entre “obra do autor” ou “obras sobre o
autor”, entre “fontes manuscritas” e “fontes impressas”, entre “livros” e não
livros” é naturalmente feita seguindo em pormenor as recomendações
constantes das normas.
RReeccoommeennddaaççããoo
»» Analise cuidadosamente se a instituição para que está a redigir o trabalho
científico tem normas para as citações e referências bibliográficas. Se tem,
estude-as, analise a melhor forma de as aplicar e faça-o de forma cuidada.
»» Se não está vinculado a nenhum procedimento específico como condição
de publicação do seu texto preocupe-se em analisar quais são as práticas
habituais, o que certamente corresponde ao que as pessoas esperam de si.
Frequentemente esses hábitos reflectem o domínio de certos procedimentos
em certas áreas científicas. Atendendo aos “hábitos da instituição”, ao tipo de
obra que está a escrever e ainda aos seus gostos pessoais, faça uma opção.
Feita esta, deve segui-la escrupulosamente durante a primeira redacção do
trabalho.
»» Na revisão do trabalho estará em condições, se considerar oportuno, de
introduzir algumas “inovações” que considere adequadas. Contudo só o deve
fazer se for fortemente aconselhável e será bom que dedique algumas linhas
a justificá-lo.
»» Em todo esse processo tenha em conta as normas nacionais e
internacionais existentes, as quais podem ajudar a esclarecer o que é
essencial e secundário, a resolver situações de dúvidas. Se a obra é decisiva
no seu trabalho considere todos os elementos da norma, incluindo os
facultativos. Se não é decisivo considere o que é essencial e recomendável.
Esta diferença entre uma e outras exige acautelar para não se pôr em causa a
uniformidade de procedimentos.
»» Quando lhe surgirem dúvidas sobre qual o texto que deve ser destacado
numa referência bibliográfica pergunte a si próprio: qual o elemento que
servirá para o leitor encontrar este documento? Se for uma monografia será
essencialmente pelo título e autor que ele o encontrará na livraria. Logo o
título deve ser destacado. Se for um artigo de uma revista é essencialmente
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 91/150 - Versão 01
pelo nome da revista que o poderá encontrar numa livraria ou numa base de
dados bibliográfica, pelo que será aquele que deve ser destacado68
.
»» Sempre que seja possível – tão somente porque o sistema bibliográfico o
exige, ou porque não contraria essa possibilidade – apresente uma listagem
bibliográfica, dando-lhe o título adequado (já vimos esse assunto).
»» Se nada estiver esclarecido em contrário coloque as “referências
bibliográficas” no fim do texto, depois de todos os anexos.
»» Sempre que possível construa as referências bibliográficas sem qualquer
decomposição, lista única. Tal facto exige uma aplicação mais rigorosa das
normas.
»» Se algum conjunto de obras exige uma pormenorização de informação
maior (por exemplo, as “obras do autor” normalmente exigem que se recorra
às versões originais e que se indique tanto o que é essencial ou recomendável
como o que é facultativo) que as restantes alinhe pelas de maior exigência.
RReellaaççõõeess eennttrree oo TTeexxttoo ee aa BBiibblliiooggrraaffiiaa
Ao longo dos assuntos anteriores já analisámos com bastante minúcia os aspectos
formais de articulação entre a referência a um autor ou obra no texto e a indicação
bibliográfica. Pelos menos concluímos que é um assunto bastante estudado, que há
um conjunto de regras que combinam diversas cambiantes: epistemológicas
(explicitar o rigor da investigação), éticas (“o seu ao seu dono”), pedagógicas
(facilidade de acompanhamento pelo leitor), estéticas (sequências, tipos de letras,
etc.), institucionais (hábitos consolidados em determinados grupos), disciplinares (o
tipo de referências depende da disciplina) e até políticas (há normas homologadas
pelo Estado, por exemplo).
Não nos parece necessário voltar ao assunto, embora nunca fique tudo dito e, muito
menos, definitivamente. O que agora nos ocupa é mais uma preocupação de conteúdo:
em que circunstâncias é que se deve remeter para um autor ou uma obra? Que
cuidados deve haver com as transcrições ou as paráfrases? Como proceder se
conhecemos um autor através de outro autor? Merecerá ainda a pena falar um pouco
68 Tem que se reconhecer que a evolução dos motores de busca na Internet tornam as respostas menos
lineares.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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do plágio, temática que é frequentemente abordada nos meios académicos e que tem
assumido internacionalmente uma crescente importância.
As duas primeiras situações que exigem uma referência para o autor do texto ou da
ideia são nossas bem conhecidas:
“Durante a redacção do texto (...) teve de referir trabalhos de outros autores,
que o ajudaram a fundamentar (teórica e empiricamente) os seus
enquadramentos, argumentos e comparações.
Essas menções podem ser feitas de duas maneiras: citando directamente as
linhas que lhe interessam desses autores (transcrição), ou integrando as
ideias ou afirmações dos autores no seu próprio discurso e, se este for o caso,
terá cometido uma paráfrase.
Ambos os métodos são legítimos para inserir no texto material de outros
autores, mas a paráfrase é mais difícil de praticar do que a transcrição, pois
implica uma fusão das afirmações de outros autores no nosso próprio
discurso, procedimento que exige uma subordinação do nosso pensamento ao
que outros escreveram. (...).
Em qualquer um dos casos deverá assinalar, no espaço imediatamente a
seguir à transcrição ou à paráfrase, que aquele pedaço não é seu.”
(SERRANO 1996, p. 114/5)
Em muitas outras situações pode ser aconselhar, mesmo exigível, remeter-se para um
autor: a utilização de uma terminologia própria de um determinado autor; o estar-se a
tratar de uma problemática, de um modelo ou de uma teoria que foi particularmente
tratada por alguns autores; a condução do leitor para obras que lhe permitirão
aprofundar um assunto.
TORRES coloca, a este propósito, uma questão interessante, a que não dá resposta:
“Lendo um autor, acontece por vezes que, ao virar de página, um conceito,
ideia ou imagem despertam uma intuição que podemos desenvolver. Não
fora a centelha desencadeada por essa leitura talvez não tivéssemos tido
"intuição" alguma...
Será excessivo "pagar" essa dívida com uma simples menção?” (TORRES
2000, p. 116)
Atrever-me-ia a responder negativamente: não, não é excessivo.
Optar pela transcrição ou pela paráfrase depende do estilo do autor, dos hábitos
institucionais, da combinação entre a fase de investigar e a de escrever. A paráfrase é
frequentemente mais agradável para o autor, mas há maior probabilidade de não se
assumir plenamente o que o autor disse. Em qualquer dos casos é necessário rigor e
correcto entendimento.
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Em ciência todos os argumentos só são válidos enquanto não forem reconhecidos
como falsos, todos os argumentos estão sujeitos à crítica, à verificação experimental, à
confrontação com os modelos construídos. O argumento de autoridade (X disse, logo
há que aceitar como verdadeiro) é irrelevante. A história das ideias revela com
facilidade a importância da crítica metódica, tão magistralmente apresentada por
Descartes.
Mas há, na produção e difusão científica o reverso da medalha. Em muitas situações a
validade de um modelo ou experiência depende da aceitação pela comunidade
científica. A verdade não resulta do confronto com o objecto que se pretende
descrever e interpretar. O poder social e institucional de um paradigma em relação a
outros pode não resultar de uma superioridade epistemológica – provavelmente nem
se poderá por assim o problema –. mas antes ser a expressão da correlação de forças
social e da forma como esta é validada pela “comunidade científica”, em que os
“colégios invisíveis” têm, por vezes, uma função decisiva69
.
Contrabalançamos entre a ausência de validade ou o seu reconhecimento no caso dos
argumentos de autoridade. É nesta oscilação que as transcrições de autores
reconhecidos numa tese assume a função de “escudo invisível” contra as críticas. É
mais frequente nas teses de literatura e ciências da realidade humana, menos nas
ciências da realidade física, menos ainda das ciências lógico-matemáticas.
69 Recorde-se as palavras contundentes de DEMO, ao tratar exactamente “O Argumento de
Autoridade”:
Embora autoridade não seja, por ela mesma, argumento algum, não se pode desconhecer o
fenômeno constante de que a evocação de certas autoridades desperta imensa respeitabilidade.
Para muitos, uma análise científica repleta de citações de Marx, Weber, Platão e Fernando
Henrique será considerada especialmente científica, em vista do apelo a tais autoridades. A
mesma análise, elaborada de próprio punho exclusivamente, poderá ser tachada de
diletantismo de principiante. Escrevem-se obras para justificar alguma atitude dúbia de um
mestre - por exemplo, problema da anomia em Durkheim, da neutralidade em Weber, do
determinismo científico em Marx, do isomorfismo em Parsons -, que se pode passar por um,
momento de rara profundidade intelectual, deslocando-se então a dubiedade do mestre para o
intérprete; neste, porém, se não for célebre, a dubiedade será declarada simplesmente de
dubiedade. Talvez seja um dos pontos mais infantis da produção científica o apego exagerado
à crendice na autoridade, o substituto moderno e elegante da justificação dogmática, típica da
abordagem teológica. As ciências sociais estão repletas de monstros sagrados que estereotipam
o trabalho científico preconceitualmente. (DEMO 1981, p. 29)
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ECO (ECO 1998, p. 170/7; 1980, p. 152/9) enuncia dez princípios orientadoras das
citações que podem ser tomados como ponto de partida para algumas recomendações
sobre a matéria, tendo também em conta a contribuição de outros autores e a nossa
experiência70
.
1ª) As transcrições podem ser curtas ou longas, tendo cada um destes tipos as
suas formas próprias.
Que podem ser curtas ou longas não é surpresa para ninguém. A questão coloca-se no
estabelecimento das fronteiras. Há diversas opiniões entre 3 e 10 linhas, sem
pormenores de especificação da sua dimensão em palavras ou caracteres. Uma
referência frequentemente aceite e tão válida ou inválida quanto qualquer outra: três
ou menos linhas é uma citação curta, mais do que três é uma citação longa. O que está
em jogo é apenas a apresentação a dar à transcrição, de forma a corresponder à
preocupação de separar claramente o que é de nossa autoria e o que é dos outros. Se
for uma citação curta é integrada na sequência do texto, havendo o cuidado de a
colocar entre aspas (“”) e citando autor. Se é uma citação longa deve destacar-se do
restante texto, aumentado a margem do lado esquerdo.
Nunca podemos perder de vista que “la tolerancia es un valor perteneciente a la ética
de la convivencia” (VINUESA, 2000: 225) pelo que deve ser analisado nos contextos
sociológico, da convivência entre os homens, e da moral, valores de conduta humana.
Esta é uma citação curta, integrado no texto que estamos a escrever.
Contrariamente ao que se poderia admitir o funcionamento da democracia faz apelo a
outros aspectos diferentes da tolerância:
“Por otra parte, libertad e igualdad, en una sociedad democrática, implican el
derecho del otro a tener sus propias opiniones, a expresarlas abiertamente y a
actuar de acuerdo con ellas, siempre que nada de ellas interfiera en el
70 Não seguimos a ordem de ECO. Agregamos recomendações diferentes.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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derecho de los demás. Pero esos derechos y libertades no equivalen a la
tolerancia; son ajenos a ella. El ejercicio de los derechos efectivos del otro no
motiva ni requiere mi tolerancia, sino mi propia subordinación o sujeción al
ordenamiento jurídico. Nadie tolera los derechos y libertades de los demás.”
(VINUESA, 2000: 265)
Creio que desta forma fica mais claro ...
Esta é uma citação longa, que mereceu o devido destaque.
Se todos os autores estão de acordo com a forma de apresentar as citações curtas, o
mesmo não se passa com as longas. No caso anterior não só de aumentou a margem
esquerda como se reduziu o espaçamento entre as linhas, mas segundo alguns autores
não deveria haver essa diferença entre o que é nosso e o que é dos outros. No caso
anterior, colocámos aspas no início e no fim, mas outros autores consideram que tal
não é necessário (o que concordamos, apesar de usarmos) e outros ainda consideram
categoricamente que não se deve usar aspas, pois já basta a diferente apresentação.
Para além do procedimento aqui adoptado poderíamos ter utilizado outros
expedientes, já que o essencial é garantir uma clara diferença entre o nosso texto e o
dos outros: aumentar também a margem do lado direito; ter um maior espaçamento
entre o nosso texto e a transcrição no início e no fim ou só no fim; utilizar o mesmo
tipo de letra mas com caracteres mais pequenos; ou usar outro tipo de letra.
Se não existem normas estabelecidas na instituição onde está a elaborar a tese ou na
revista para onde está a enviar o artigo – o que é pouco provável – faça como melhor
entender, procurando sempre soluções simples e de formatação habitual. A surpresa
do leitor por qualquer forma de apresentar mais extravagante não é um elogio mas
uma crítica.
SERRANO (SERRANO 1996, p. 119) recorda que há outros aspectos a que se deve
atender:
“Embora a distinção entre transcrições curtas e transcrições longas se baseie
fundamentalmente na sua extensão, este não deve ser o único critério usado
na opção entre umas ou outras. Outros factores merecem ser considerados:
* Homogeneidade: Se, por exemplo, decidiu que vai considerar transcrição
longa todas aquelas que ocupam mais do que quatro linhas de texto,
mantenha o critério uniformemente ao longo de todo o trabalho e não
apresente citações de três linhas destacadas do texto;
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 96/150 - Versão 01
* Finalidade: Se as transcrições possuem uma relativa autonomia em relação
ao texto do autor ou se destinam a ser analisadas comparativamente,
apresente-as todas entalhadas, incluindo aquelas que possuem apenas uma ou
duas linhas de extensão;
* Atenção do leitor: Um número demasiado grande de transcrições longas
distraem o leitor e, quase inevitavelmente, levam-no a saltar essas partes do
texto (33). De igual modo, um trabalho repleto de transcrições de tamanho
desigual (curtas e em texto; longas e destacadas) levará à dispersão do leitor
e neste caso o melhor é apresentar todas as transcrições incluídas no correr
natural do texto, mesmo que tenham mais do que dez linhas (25).”
2ª) “As citações devem ser fiéis”
Parece uma afirmação tão facilmente compreensível que pareceria desnecessário
estarmos a referir. E no entanto não é tão simples quanto aparenta e é um princípio
multifacetado.
Em primeiro lugar coloca-se o problema da língua em que devem ser feitas. Se as
citações devem ser fiéis, se uma tradução é sempre uma adaptação ou recriação, as
transcrições devem ser feitas, em princípio, na língua em que estão escritas.
Colocámos “em princípio” porque a aplicação desta regra tem graus da aplicabilidade
diferente conforme as circunstâncias e têm que ser adaptadas a diversos aspectos.
Quando se estuda a obra (literária, filosófica) de um autor estrangeiro é quase
imprescindível lê-lo na língua original e as transcrições devem ser na língua original.
Como seria possível alguém estudar a obra de Pablo Neruda sem o ler em espanhol?
Mas surgem muitas outras situações similares. Será possível alguém estudar a
sociedade chinesa (independentemente da disciplina que se utilize) numa determinada
época histórica sem saber chinês? Se assim fosse apenas seria capaz de conhecer o
que os outros dizem sobre a China e nunca seria capaz de trabalhar a opinião dos
próprios chineses (mesmo que em épocas mais recentes comecem a surgir textos de
autores chineses escritos em inglês). Em síntese em diversas situações é
imprescindível ler textos em línguas estrangeiras (originais ou traduções que
consideramos fidedignas) e se elas são importantes, como nos exemplos anteriores,
para a investigação a tese deve reproduzi-los na língua original. Admitindo que
existem leitores que não conhecem suficientemente essas línguas há toda a
conveniência de em nota apresentar a tradução para a língua em que está escrita a
tese.
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Citar na língua original em que está escrita o texto que transcrevemos e apresentar em
nota a sua tradução parece ser o princípio que mais razoavelmente se deve aplicar em
todas as situações.
Contudo não podemos nunca perder de vista a quem se destina o documento que
redigimos. Se numa tese, de mestrado ou de outro tipo, esse princípio pode ser
aplicado em absoluto, num livro para o grande público tal procedimento surgiria
enfadonho e tenderia a afastar muitos leitores. Então pode-se justificar apresentar a
citação na nossa língua e colocar o texto original em nota ou anexo ou tão somente
apresentarmos apenas a tradução. A referência bibliográfica, que mostra claramente
que se tomou como referência uma obra estrangeira, indica implicitamente que
procedemos à tradução do texto original.
Na nossa opinião tudo o que dissemos anteriormente se aplica a variantes da mesma
língua, apenas com a especificidade de nunca se justificar a “tradução”. Quando muito
pode justificar-se uma qualquer referência à nacionalidade do autor se, e só se, tal não
ressaltar claramente da referência bibliográfica71
. Se se deve respeitar ao máximo a
obra de onde estamos a fazer as citações é necessário que:
assinalemos a supressão de uma qualquer parte do texto colocando (...) ou
[...] em sua substituição.
assinalemos eventuais alterações introduzidas; por exemplo, se
consideramos que uma determinada frase deve ser assinalada porque é
importante para o nosso trabalho, podemos coloca-la em itálico mas colocando
logo de seguida [itálico nosso].
os comentários nossos no meio de uma citação devem ser reduzidos ao
mínimo indispensável e devem ser sempre feitos entre [ ].
E se o texto que estamos a transcrever tem um erro (factual, lógico ou
ortográfico)? Na grande maioria das situações basta colocar logo a seguir ao erro
[sic], que significa «deste modo», o que transmite ao leitor que estamos a seguir
estritamente o que estava escrito, que nos apercebemos do erro e que alertamos disso
71 Se, por exemplo, estamos a transcrever um autor brasileiro devemos fazê-lo com o grafismo
brasileiro utilizado pelo autor.
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o leitor. Se se trata de um erro ortográfico pode-se a seguir à palavra errada colocar
[palavra certa].
Permitam-me ainda que, a este propósito, retomemos um assunto já abordado. Se eu
estou a fazer a citação de um texto que está numa certa página (chamemo-lhe X) do
livro que tenho na mão, é este livro que tenho que referenciar na bibliografia.
Provavelmente a mesma obra publicadas por outros editores ou por este noutras
edições, tem essa mesma citação noutra página. Assim o rigor da informação obriga-
nos a colocar na referência bibliográfica este livro que temos na mão, incluindo a sua
data de edição. É assim que está certo: depois da citação colocamos uma referência
para a obra que está indicada na bibliografia. Se o sistema utilizado implica colocar
(AUTOR, data, página) podemos ter situações como (ARISTÓTELES, 1987, 23),
(GALILEU, 2004, 15) ou (RICARDO, 1963, 231). Se o leitor perceber claramente
que se trata da data de edição tudo é claro, mas se associar erradamente a data à
eventual criação da ideia, as confusões podem ser muitas. Se receamos estes
equívocos, ou utilizamos um dos outros sistemas bibliográficos atrás analisados ou na
referência bibliográfica no fim do trabalho acrescentamos alguma informação sobre a
data em que essa obra foi inicialmente escrita72
.
3ª) “De todas as citações devem ser claramente reconhecíveis o autor e a fonte” e
a “referência ao autor e à obra deve ser clara”
Tudo o que dissemos sobre os sistemas de referência bibliográfica tem por objectivo a
resposta a esta regra e já verificámos há diversas soluções possíveis e, todas elas,
inteiramente satisfatórias.
Implicitamente verificámos igualmente que é incorrecto começarmos por referir que
em determinado assunto seguimos de perto um autor e depois utilizarmos frases e
ideias dele sem uma referência explícita à sua autoria e localização.
72 Um apontamento final. Se utiliza o scanner e algum programa de OCR (programa de reconhecimento
dos caracteres ortográficos) para fazer as transcrições não confie demasiado na técnica e não deixe de
fazer a revisão dos textos obtidos.
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Refiramos apenas uma situação que é frequente ponto de confusão: faz-se uma citação
de Y porque no livro de X está essa citação que consideramos interessante para os
nossos propósitos. No fim da citação indico o autor Y ou X?
Esta é uma questão frequentemente colocada. Contudo antes de formularem esta
pergunta haveria uma outra, mais importante, que deveriam formular e à qual deviam
responder: é legítimo tomar em consideração, utilizar, citar um autor que não
consultamos, de que só conhecemos os seus textos através de outro?
A resposta pode ser diferente conforme as circunstâncias: (1) se a posição de Y é
importante para o nosso trabalho devemos consultar directamente a obra de Y; (2) se a
posição de Y não é importante para o nosso trabalho pode ser suficiente conhecê-la
através da obra de terceiros, mas não teremos necessidade em citá-la. Contudo há
algumas situações que não apresentam esta clareza e que exige encontrar soluções
hábeis: se é importante, mas não conseguimos ter acesso ao original73
? Então pode ser
legítimo ou conveniente utiliza-lo, apesar de só o conhecermos através de terceiros.
Mas ao fazermos devemos sempre explicitar que a nossa fonte é outro autor, é outra
obra:
Segundo SIMÕES “...” (ALCIBIADES, 1974: 37)
Tenha-se sempre em atenção que “...” (SIMÕES, in ALCIBIADES, 1974: 37)
Tenha-se sempre em atenção que “...” [6]74
Tenha-se sempre em atenção que “...”k
________________
k Afirmação se SIMÕES em A lenda do cavaleiro maldito citada por ALCIBIADES, Lendas
Maléficas, (... restantes informações)
Devemos fazê-lo por honestidade intelectual (“o seu a seu dono”) e para nossa própria
defesa: quem nos garante que a transcrição está correcta? quem nos garante que
73 Esta dificuldade de acesso pode ter diversas razões. A obra citada pode ser um livro que é
relativamente raro e difícil de encontrar, pode ser um manuscrito que se encontra geograficamente
longe, não está digitalizado e a instituição que o possui não fornece fotocópias, pode ser um disco em
vinil que há muito está fora do mercado, etc.
74 [6] refere a obra de ALCIBIADES.
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aquele autor disse efectivamente aquilo? Certamente ficaria espantado com as
desonestidades que existem nestas matérias!
Sublinhemos o que é essencial: Deve-se utilizar os autores importantes em primeira
mão. Mais, “As citações de fontes primárias são feitas, na medida do possível,
com referência à edição crítica ou à edição mais reputada [carregado da nossa
responsabilidade]” (ECO 1980, p. 154)
4ª) Citar apenas trabalhos relevantes
Mais uma afirmação de simples bom senso. Se estamos a citar um autor é
provavelmente porque
1. a(s) sua(s) obra(s), as suas formas de comunicação, são nosso objecto de
estudo e consideramos útil fornecer ao leitor as posições que vamos apreciar
para que ele possa acompanhar-nos mais fácil ou criticamente;
2. é o autor de uma ideia que é relevante para o nosso trabalho e consideramos
por alguma razão (por uma “questão de justiça”, porque “melhor que ninguém
o autor soube apresentar a ideia”, porque temos receio de não interpretarmos
fielmente o que nos deixou, etc.) que é conveniente reproduzi-lo;
3. pretendemos mostrar ao júri, aos leitores, que não estamos sozinhos num
determinado tipo de posições e que outros autores corroboram as nossas
ideias;
4. admitimos que num trabalho interdisciplinar recorramos a diversas áreas do
saber que serão desconhecidas de uma parte dos leitores75
.
75 Se estou a escrever um trabalho de linguística admito que os meus leitores têm alguma formação em
linguística e que, portanto têm por adquirido, por exemplo, a diferença entre “língua” e “linguagem”.
Contudo se a temática ou a forma de a abordar é interdisciplinar poderei ter leitores que têm uma
formação disciplinar muito diversa (Física, Biologia, Economia, Filosofia) e que desconhecem aquela
“pequena” diferença essencial. Então eu posso sentir a necessidade de elucidar um pouco mais o leitor,
tendo o cuidado de não escrever um livro dentro de outro livro. Como proceder? Há diversas formas,
frequentemente complementares:
inclusão de um glossário em anexo;
alertar para o problema numa nota e remeter o autor que desconhece a diferença para algumas
obras fundamentais;
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Não se excluem outras situações, mas certamente se exclui fazer uma citação para
nela colocar o que todos sabem, o que é já do conhecimento corrente, o que é banal.
Um amigo dizia, com razão, que várias citações em teses são do tipo “como disse X o
dia tem 24 horas” ou “como refere L. Testut ‘o corpo humano divide-se em cabeça
tronco e membros’.” (SERRANO 1996, p. 115). Se na maior parte dos trabalhos esta
“citacidite” não surge, nos trabalhos académicos e sobretudo em teses, esta “doença”
ataca frequentemente, atingindo até investigadores que pareciam de boa saúde.
5ª) “Os trechos objecto de análise interpretativa são citados com uma extensão
razoável”
Este é corolário de alguns aspectos já anteriormente referidos. Se estamos a trabalhar
sobre um poema, sobre um romance, sobre uma partitura, sobre um filme76
, sobre uma
obra específica; se admitimos que pode haver dúvidas sobre o que o autor estudado
efectivamente realizou; se é aconselhável fornecer ao leitor o essencial das fontes
primárias estudadas, então devemos citá-lo, obviamente de forma clara.
Frequentemente a clareza pressupõe apresentar o texto e (uma parte d) o contexto.
Estas situações conduzem ao que se afirma em epígrafe.
Contudo, se a afirmação é demasiado longo, e não consideramos conveniente fugir a
essa situação, devemos remeter a citação para um anexo e no corpo do texto manter o
mínimo indispensável.
6ª) “A citação pressupõe que se partilha da ideia do autor citado, a menos que o
trecho seja precedido e seguido de expressões críticas”
Mais uma afirmação óbvia.
colocar em anexo alguns extractos de obras que permitam o leitor obter uma primeira
informação correcta sobre o assunto
etc.
76 Neste caso poderíamos estar a falar de uma tese que em vez de assumir a forma escrita tradicional
assumisse a forma multimédia (se a lei o permitir!)
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 102/150 - Versão 01
Faz sentido citarmos um autor que tem as mesmas posições que nós sobre um assunto,
ou semelhantes, apesar dos perigos do argumento de autoridade.
Não faz sentido, por exemplo, estar a defender a tese que o Senhor X é o melhor
treinador de futebol mundial e sem mais colocar a citação de uma obra que defende
que o melhor treinador é, indubitavelmente, o Senhor Y. A apresentação desta posição
divergente, só se justifica se eu a utilizar para a criticar, se a utilizar para reforçar as
minhas posições.
Muitas vezes a referência a autores que têm posições diferentes das nossas faz parte
de uma estratégia de autodefesa ou de convencimento do leitor. Por exemplo, se
sabemos que há forte probabilidade de um certo académico estar no júri da prova de
doutoramento e conhecemos que existem fortes divergências entre nós e ele, porque
não “fazer uma jogada de antecipação” e tecer a crítica a autores que lhe são
queridos? Se sabemos que a nossa interpretação de uma dado fenómeno social não é o
apresentado habitualmente pelos meios de informação e que a opinião pública é
diversa, porque não, aqui e além, partir dessas posições generalizadamente aceites
para mostrar a sua inconsistência?
Em algumas circunstâncias a forma do documento em elaboração pode ser bastante
ajustada a este tipo de preocupações.77
7ª) Uma citação pressupõe a nossa capacidade de demonstrar que os autores
referidos são dignos de crédito e que as citações também.
Um “intelectual da nossa praça” dizia-me que em polémicas em que começa a ser
difícil defender as suas posições afirma com ar sério e convicto “Como disse Senhor
K, ...”. O truque resultava apesar do Senhor K não existir, ter sido inventado por ele
na ocasião. E acrescentava: “nunca ninguém se atreveu a perguntar quem era o senhor
K; as pessoas têm receio de mostrar ignorância”. Aqui está uma atitude altamente
repreensível em todos os aspectos mas que mostra a importância deste princípio.
77 Recordem-se os diálogo de Platão e como eles são particularmente ajustados para “esgrimir
argumentos”, para partir de posições contrárias às nossas e mostrarmos a maior correcção destas. Não
serão alguns romances magistrais obras sociológicas, conseguindo conduzir o leitor para posições que
dificilmente alcançariam de outro modo?
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Não só as citações devem ser de autores existentes, como de autores que merecem
toda a credibilidade. Por outras palavras, o autor citado foi seleccionado entre vários
em resultado de um processo de investigação; não foi o acaso que levou a
encontrarmos uma determinada obra que utilizámos. Sabemos que as nossas
capacidades de leitura e a razoabilidade de referências bibliográficas e de citações faz
com que ao optarmos por alguns autores estamos a colocar outros de lado: não basta
sabermos o que ganhamos com esses autores, mas também o que perdemos em não
utilizar outros (o que os economistas chamam “custo de oportunidade”).
Também devemos estar em condições de defender a nossa escolha entre as diversas
versões, revisões e edições de uma determinada obra. Porque escolhemos a gravação
da Nona Sinfonia de Bethoven dirigida por um determinado maestro, gravada por uma
determinada editora num determinado ano? Porque escolhemos uma determinada
publicação e edição da Critica da Razão Pura de Kant?
Nada deve acontecer por acaso. Tudo deve ser o resultado criterioso das opções que
mais se ajustam à investigação que pretendemos realizar.
Se as regras anteriores forem seguidas escrupulosamente há menor probabilidade de
plágio, mal ele pode continuar a existir, até porque tanto pode surgir na citação como
na paráfrase como ainda no texto original que escrevemos.
Este tema exige algumas considerações adicionais, até porque
“Os critérios que separam uma utilização legítima e frutuosa do trabalho de
outrem de um plágio infame são ligeiramente (só ligeiramente) diferentes de
época para época, de sector para sector. Os professores de literatura ensinam-
nos que em épocas passadas era frequente, e era considerado normal,
reelaborar assuntos e temas já desenvolvidos por outros autores (a famosa
contaminatio). Hoje pensa-se de maneira diferente. O que está agora
consolidado é o princípio de que também existe uma propriedade intelectual
e de que não é lícito desfrutar o trabalho resultante do engenho de outro sem
se pedir a autorização do autor e sem se dividir com ele (ou com os seus
herdeiros) os benefícios morais (e materiais). Nem sempre aquilo que é
estritamente legal é também moralmente lícito.” (PALMARINI 1992, p.
273/4)
A interpretação do que é plágio alterou-se ao longo dos anos, mas o que conta para
nós é a situação actual. E o seu significado é claro. Plágio é “roubo literário ou
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científico”, “acto ou efeito de plagiar”; plagiar é “apresentar como seu aquilo que
copiou ou imitou de obras alheias” (COSTA and MELO 1994, p. 1407).
Se por vezes os dicionários não são suficientemente adequados para determinadas
abordagens, estas explicitações são bastantes ajustadas e precisas. Partindo delas
começaríamos por referir dois aspectos:
Não há qualquer referência à intencionalidade.
Trata-se do roubo de uma ideia, que pertence aos campos literário ou
científico, e não de um texto.
A ausência de referência à intencionalidade nas definições é importante, porque o
argumento mais habitual utilizado pelo plagiador é “não era minha intenção”, “foi um
descuido involuntário”, “não me apercebi que estava a fazer plágio”. Já encontrámos
argumentos mais descarados (“como poderia fazer a tese se não recorresse às ideias
dos outros?”; “nunca admiti que percebesse que esse texto não era meu”, etc.) e até
construções maquiavelicamente montadas (onde o plágio era bastante mais difícil de
detectar), mas na maioria das situações o plágio resulta de improvidências, que podem
ser de diversos tipos:
(1) Atreveu-se a fazer uma tese, a elaborar um trabalho científico, sem nunca se ter
preocupado em ler algum trabalho sobre metodologia da investigação e técnicas de
redacção, orgulhosamente ignorantes da sua ignorância, admitindo que um tal
trabalho é um simples prolongamento dos trabalhos que realiza no seu local de
trabalho (onde frequentemente também há plágio, mas que não tem sanção). No
extremo desta situação o pretenso investigador nem sequer sabe o que é plágio, que
ele existe e que evitá-lo deve ser uma das suas grandes preocupações.
(2) Pensam que o plágio refere-se exclusivamente às citações. Então substituem
espontaneamente esta pela paráfrase e julgam que estão libertos da obrigação de
referir o autor da ideia. Não se apercebem de duas coisas importantes: (a) o plágio
refere-se à ideia; (b) as referências bibliográficas não reduzem a importância do seu
trabalho (“afinal, as ideias que apresentam não são dele”), mas, antes pelo contrário,
aumentam-na (“fez uma boa investigação”, “soube aproveitar o que já tinha sido
descoberto”, “teve honestidade intelectual”, “comportou-se com modéstia”)
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Se tivesse copiado
“Já no que respeita à poesia o discurso é muito diferente, estando hoje tão
posta de parte na vida quotidiana que se tornou um «objecto de consumo»
quase exclusivamente escolástico.”
talvez se sentisse na obrigação de citar o seu autor, mas se optou por escrever
no que se refere à poesia a situação é bastante diferente, pois ela não faz parte da
nossa vida quotidiana, pelo que se tornou um bem de consumo, usufruído
escolasticamente
considera que o texto já é seu.
(3) Foi um estudioso criterioso e atento e fez fichas de leitura das obras lidas. Nessas
fichas de leitura colocou, sem uma ordem pré-estabelecida, um resumo da obra,
algumas das citações que considerou mais relevantes – colocando a indicação da
página de onde as tirou – e comentários seus. Contudo não foi suficientemente
minucioso e houve uma citação em que não colocou o número da página. Porque esse
era o único elemento diferenciador entre as citações e os seus comentários, quando
passados anos ou meses repegou na ficha de leitura admitiu que era uma apreciação
sua.
(4) Teve consciência que a ideia utilizada era de outro, mas como essa ideia foi obtida
por um processo diferente da leitura (opinião de um especialista, entrevista na rádio,
etc.) teve dificuldade em explicitar quem lhe transmitiu. Perante a dificuldade, perante
esse entendimento restrito de bibliografia, quiçá admitindo que a ausência de escrita
diminuiria os seus riscos, “deixou cair”.
Eis algumas situações de plágio que não são “inteiramente intencionais”, mas que
objectivamente são tão graves como as intencionais. Assim como a ignorância da lei
não justifica o seu incumprimento, também a ausência de intencionalidade não
justifica o seu perdão. Quando muito poderá permitir um comportamento diferente da
parte do orientador na fase de investigação e redacção.
Temos de ter clara consciência da gravidade que hoje representa o plágio:
“Nos meios académicos, o plágio é uma ofensa muito séria; só a invenção de
dados é considerada mais grave. Quando o plágio é comprovado numa
universidade de prestígio, a sanção é única: professores são demitidos,
graduados perdem seus diplomas, e estudantes são expulsos (...). Fora da
academia, o plagiário arrisca-se a cair no descrédito e a ser levado perante o
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tribunal face a exigências para compensar o autor legítimo pelos danos
sofridos” (COUGHLIN and LANGA 1997, p. 220)
Acrescente-se ainda – na medida em que o aumento da probabilidade de o ladrão ser
apanhado aumenta o seu receio em roubar – que é bastante fácil detectar que estamos
perante um plágio (pelo estilo da escrita, pela terminologia, pelo assunto tratado e seu
enquadramento, por transmitir uma informação que não pode resultar da investigação,
etc.), embora seja por vezes mais difícil detectar donde foi feito (uma ideia não
apresenta o princípio da exclusão: a utilização por um não impede a utilização por
outro, antes pelo contrário!). Contudo também a sua detecção é quase sempre possível
e hoje há alguns meios bastante eficientes para o conseguirmos.
Fujam, pois, do plágio como “o diabo da cruz”.
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AA0022:: RRuuddiimmeennttooss ddee ttrraattaammeennttoo qquuaannttiiffiiccaaddoo7788
EExxeemmppllooss iinniicciiaaiiss O que se pretende com estes exemplos, antes de um tratamento um pouco mais
sistemático dos conceitos é familiarizar os leitores, sobretudo os menos habituados a
estas questões, com diferentes situações que a investigação coloca.
Se se começa a introduzir conceitos e métodos de tratamento da informação,. a
ensinar algumas técnicas de manuseamento informático, o decisivo é chamar a
atenção para o que é importante na investigação, que decisões metodológicas
quantitativas devemos assumir.
EExxeemmpplloo 11 –– PPrreeccaavveerr--mmee ccoomm oo RR
Ao longo da nossa investigação vamos defrontar-nos muitas vezes com a necessidade
de recolher informação, tratar a informação e guardarmos os resultados obtidos.
Muitas vezes estes serão parcial ou totalmente englobados na tese, no corpo do texto,
em notas ou em anexos, mas muitas outras servirão apenas de suporte para ideias que
apresentamos.
É sempre possível fazer os cálculos manualmente ou utilizando uma máquina de
calcular, mas todos estaremos de acordo que não é o processo hoje mais adequado. Os
computadores são um indispensável instrumento de trabalho. É certo que termos de
aprender a funcionar com o computador, termos de aprender a trabalhar bem com o
sistema operativo e ainda termos de aprender a manusear bem um programa
específico exige tempo, exige esforço, exige desviar-nos temporariamente da nossa
preocupação de investigar os documentos e os dados, de escrever a tese, mas toda
“essa perda de tempo” é, contrariamente ao que pode parecer, um enormíssimo ganho
de tempo79
. Mais, de algo que se ganha para toda a vida e não apenas para o período
em que se está a elaborar a tese.
78 Todo este ponto conta com a prestimosa colaboração de Luís Torgo, especialista do programa R. É
dele a autoria de todos textos referentes a esse programa.
79 Continuamos a recorrer aos exemplos, porque eles têm uma nitidez muito grande. Quando me
licenciei (1971) o meu primeiro trabalho foi calcular a sazonalidade de algumas séries de produção e
venda de alguns bens. Calcular a sazonalidade significa determinar padrões típicos de evolução dos
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Estejamos, pois, convencidos, da vantagem em funcionar bem com um programa de
tratamento da informação quantificada. Vamos optar que um programa que tem as
vantagens acumuladas se ser de grande qualidade, aplicar-se a uma multiplicidade de
situações, é pouco exigente quanto ao equipamento em que pode ser instalado e é
gratuito.
Podemos precavermo-nos desde já.
PPoorrqquuêê eessccoollhheerr oo RR??
O R é uma linguagem e ambiente para computação estatística. Uma das características
que o tornam mais atractivo é o facto de ser completamente gratuito e ser um software
de código aberto. Quer isto dizer que qualquer utilizador, caso esteja interessado, pode
inspeccionar, alterar e usar o próprio R bem como as centenas de extensões que
existem para trabalhar com ele. Esta característica torna-o bastante atractivo pois
garante uma grande adaptabilidade às necessidades do utilizador.
Por outro lado este programa está disponível para todos os principais sistemas
operativos e arquitecturas de computadores, desde os tradicionais PC com Windows a
computadores Apple com o sistema operativo MacOS, passando por estações de
trabalho com sistemas operativos tipo Unix (e.g. Linux).
Por fim, e de um ponto de vista mais científico, o facto de todo o código que constitui
este software estar disponível, permite a qualquer pessoa verificar a validade do
mesmo, originando assim uma saudável detecção de eventuais erros ou incorrecções
dados ao longo dum ano (trabalhando com dados, por exemplo, diários). O que interessava não era
apenas determinar essa sazonalidade mas retirá-la das séries de dados de forma a fosse possível analisá-
las sem esse “ruído”. Usando uma máquina de calcular mecânica de roldana (a primeira máquina de
calcular elctrica seria comprada por mim em França três anos mais tarde), demorei cerca de seis meses
de trabalho.
Alguns anos depois (1975), defrontado com problema similar num estudo sobre salários considerei que
a única possibilidade era encomendar esse trabalho numa empresa de informática. Estávamos ainda no
tempo da exclusividade dos grandes computadores com sistema operativos próprios, porque era
necessário introduzir os dados fazendo a perfuração de cartões e a verificação de eventuais erros (de
conteúdo e de paridade), escrever e testar o programa e finalmente meter o computador a trabalhar e a
produzir os resultados. O custo era elevadíssimo. Tive que desistir.
Entretanto surgiram as primeiras máquinas de cálculos em que se podia armazenar os dados, elaborar
um programa e executá-lo, imprimir os resultados. Eram as “Texas Instrument”. Foi então possível
realizar o trabalho pretendido, o que demorou cerca de um mês, em que uma parte significativa do
trabalho foi carregar os dados.
Hoje, com qualquer computador pessoal, fazem-se os cálculos em menos de um minuto e, se os dados
estivessem disponíveis de forma digital, a sua obtenção exige igual tempo.
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teóricas em algumas das rotinas que muitos de nós usamos, enquanto que noutros
programas temos que nos resignar a confiar “cegamente” na competência de um
qualquer programador sem rosto da empresa que o vende.
Apesar do seu carácter gratuito estamos em face de um programa de grande
qualidade, como se disse. O R é considerado por muitos eminentes estatísticos e
outros cientistas, o melhor software deste tipo que se encontra disponível hoje em
dia. Para isso muito contribui o seu carácter de código aberto, o que o sujeita a um
constante escrutínio de uma cada vez maior comunidade, bem como a equipa de
cientistas de renome mundial que são responsáveis pelo seu desenvolvimento. A
juntar a esta qualidade o R acrescenta ainda diversos documentos (livros, manuais,
etc.) gratuitos disponíveis no seu portal (www.r-project.org), bem como uma
excelente lista de e-mail de apoio aos seus utilizadores.
Por todas estas razões o R posiciona-se como uma das melhores escolhas, senão a
melhor, em termos de programa para análise de dados e computação estatística.
CCoommoo iinnssttaallaarr oo RR??
Nesta nossa descrição sobre como instalar o R vamos focarnos na plataforma
PC/Windows por ser claramente o mais comum.
O primeiro passo para proceder a esta instalação é ter um PC com acesso à Internet
para desse modo irmos ao portal do R buscar esse programa. Partindo desse
pressuposto basta-nos então abrir num qualquer browser (por exemplo o Internet
Explorer) o portal www.r-project.org.
Uma vez nesse portal poderemos seguir o link com o nome “CRAN” diponível no
menu do lado direito por baixo da palavra download. Podemos em seguida escolher
um portal para fazer o download, de preferência um que esteja mais perto do nosso
país.
O passo seguinte consiste em escolher o sistema operativo para no qual pretendemos
instalar o R, que no nosso caso é o Windows. Seguido esse link vamos agora escolher
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o link base para então sim carregar no link “rw2001.exe”80
que é o programa que
vamos fazer download.
Escolhemos então uma pasta do nosso computador onde vamos colocar o ficheiro que
estamos a transferir, o qual permite instalar o programa.
Após terminarmos esse download, essa transferência, vamos executar esse ficheiro
que já está no nosso computador. Isso irá então despoletar o processo de instalação do
R no nosso computador. Seguir-se-ão uma série de passos de resposta óbvia e comum
a qualquer instalação típica de um programa em Windows. Findo este processo
ficamos então com o R disponível no nosso computador, podendo executá-lo através
do processo habitual, ou através do link que normalmente aparecerá no nosso visor ou
no menu.
Quando o tiver instalado e o fizer correr aparecerá com o aspecto seguinte. É no local
do cursor que escreverá o necessário.
AAssppeeccttooss ggeerraaiiss ee bbrreevveess ddee ccoommoo ffuunncciioonnaa oo RR??
A interacção do utilizador com o R poderá parecer um pouco estranha a princípio. De
facto, após a execução do R o que vamos ver aparecer é aquilo que se chama o prompt
do R (um sinal de maior, ‘>’), que mais não que um local onde podemos introduzir
um comando para o R executar. Isto consiste em digitar o nome do comando, seguido
80 Este é o nome do ficheiro na altura em que a versão actual do R é a 2.0.1, sendo que o nome será
diferente se a versão actual do R entretanto mudar como é natural.
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de carregar na tecla “Enter”. Assim, a nossa interacção com o R vai ser feita,
normalmente, por uma sequência de pedidos de execução de comandos aos quais o R
responde produzindo o resultado a ele associado. Isto quer dizer que o início da
aprendizagem do R poderá ser um pouco mais custoso por obrigar o novo utilizador a
saber que comandos produzem que resultados81
. Veremos, no entanto, que esta forma
de interacção também tem as suas vantagens.
Um outro aspecto fundamental do R é podermos guardar qualquer resultado da
execução de um comando num “objecto”, isto é num entidade que tem um nome
escolhido por nós e ao qual podemos então associar um qualquer valor (que pode ter
um grau muito diverso de complexidade, desde um simples número até um modelo ou
um gráfico). Dessa forma podemos mais tarde voltar a utilizar o resultado do
comando, caso o desejemos. Guardar um qualquer resultado num objecto pode ser
feito usando uma das operações mais básicas da linguagem R, que é a atribuição.
Vejamos um exemplo, forçosamente simples82
:
> idade <- 34
Neste exemplo colocamos (atribuímos) o número “34” a um objecto que resolvemos
chamar “idade”. Como podemos ver, o sinal correspondente à operação de atribuição
é formado por um sinal de menor (‘<’) imediatamente seguido por um sinal menos (‘-
‘). O nome de um objecto é da responsabilidade do utilizador, que normalmente
deverá escolher um nome que o ajude a facilmente memorizar o conteúdo do objecto.
Existem algumas restrições ao tipo de nomes que podemos usar, sendo que a mais
notória é a impossibilidade de usarmos espaços (por exemplo ‘preço com iva’ é um
nome inválido por ter espaços).
Terminamos esta abordagem introdutória indicando a forma como se abandona o R.
Há duas possibilidades:
usando o botão usual para o efeito de qualquer aplicação Windows (o “X” no
canto superior direito da sua janela)
81 Com efeito o utilizador dos programas em ambiente Windows está habituado a ir ao menu e escolher
uma das opções que se lhe apresentam. O ambiente do R, de que apresentámos a imagem, também tem
menus que ajudam em certas operações, mas no essencial o seu funcionamento passa por se proceder
como aqui se indica.
82 Para distinguir uma operação no R do resto do texto utilizamos um tipo de letra diferente.
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executando a função “q()” do R que tem esse mesmo objectivo.
Em qualquer dos casos, irá aparecer uma caixa de diálogo com 3 opções para a
pergunta “Save workspace image?”:
a opção “sim” permite ao utilizador gravar o estado actual do R, o que poderá
ser útil para continuar mais tarde o que quer que tenha estado a fazer no R,
exactamente no mesmo ponto; quando voltar a abrir o programa aparecer-lhe-á
a mensagem “[Previously saved workspace restored]”;
a opção “não” não grava o estado actual do R;
enquanto a opção “cancelar” termina o processo de abandono do R, isto é,
mantem-se no programa.
CCoommoo ssaabbeerr qquuee ffuunnççããoo uuttiilliizzaarr??
Como já mencionamos atrás, a interacção com o R vai ser feita primordialmente
através da execução de comandos ou funções83
com o objectivo de obtermos
determinados resultados.
Nesta altura é importante perceber como podemos usar uma função do R. Uma
função, como qualquer outro objecto do R, tem um nome, e é através da digitação
desse nome que vamos pedir ao R que execute a função.
83 Uma função em R é também um objecto que tem um conteúdo, como qualquer outro objecto do R.
Recorde que mencionamos a possibilidade de um objecto poder guardar conteúdos bastante complexos.
O conteúdo de uma função é o conjunto de comandos do R que têm que ser executados de modo a
calcular o que quer que a função produza. Em princípio, não temos que nos preocupar com o conteúdo
das funções disponíveis no R, a não ser que as queiramos alterar de alguma forma para melhor se
adequarem aos nossos objectivos, ou então caso queiramos confirmar como algo é calculado em R.
Ainda assim, é importante perceber o que é uma função, uma vez que uma das coisas que é possível em
R, é os próprios utilizadores criarem funções, e assim estender o R. Exploraremos mais tarde esta
possibilidade.
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Além disso, todas as funções do R podem ter parâmetros, que mais não são objectos
aos quais nós pretendemos aplicar a função. Esses parâmetros são indicados entre
parênteses curvos a seguir ao nome da função. Vejamos um exemplo simples, com a
função “sqrt” que calcula a raíz quadrada do seu argumento. Se eu pretender calcular
a raíz quadrada de 984
, então esse é o argumento com que devo chamar a função, isto
é:
> sqrt(9)
[1] 3
Qualquer função do R, tem que ser executada indicando o seu nome imediatamente
seguido dos parênteses curvos, entre os quais colocamos eventuais argumentos da
função separados por vírgulas. Mesmo quando não queremos usar os parâmetros das
funções temos que indicar os parênteses, como vimos anteriormente na execução da
função “q” que termina o R,
> q()
Qualquer função dá como resultado um valor qualquer (3 no caso da chamada
“sqrt(9)”), e poderá ainda ter como consequência qualquer outro efeito complementar
(por exemplo o aparecimento de um gráfico ou terminar a execução do R). Esse valor
poderá ser simplesmente escrito no écran, como no exemplo acima, ou então ser
guardado num objecto para mais tarde o re-utilizarmos, como por exemplo,
> rq5 <- sqrt(5)
Neste caso, o R não escreve o resultado da função no écran, limitando-se a guardá-lo
no objecto que indicamos do lado esquerdo da operação de atribuição, o objecto com
o nome “rq5”. Em qualquer altura podemos questionar o R sobre o valor de um
objecto digitando o seu nome seguido da tecla “Enter”85
,
> rq5
[1] 2.236068
84 Recordemos: 3
2, o que se lê como “três ao quadrado” ou “três elevado à potência de dois” é o mesmo
que 3 x 3, o “numero três multiplicado por si próprio duas vezes”, logo igual a 9. Calcular a raiz é a
operação contrária. 2 9 lê-se “raiz quadrada de nove” e tem como resultado 3.
85 Recorde-se, para se entender, o resultado seguinte, que o R, como grande parte dos programas de
computador, utiliza a anotação americana dos números: 2.5 é, na anotação portuguesa, 2,5; dois e meio.
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Ou seja o conteúdo do objecto “rq5” que havíamos criado anteriormente é o número
2.236068 (a raiz quadrada de 5)86
.
O R é um programa muito completo, como dissemos. Por outras palavras, o R possui
uma quantidade muito grande de funções de todo o tipo. A isto acresce que o R pode
ser extendido através da instalação de centenas de packages extra que estão
disponíveis com funcionalidades mais específicas de diversas áreas do saber87
. Neste
contexto, torna-se imperioso saber como podemos procurar informação sobre as
funções disponíveis. Qualquer instalação do R vem com um sistema de ajuda
incorporado. A função base que pode ser usada para obter ajuda sobre uma qualquer
função é a função “help”.
Por exemplo, se pretendessemos saber algo mais sobre a função “sqrt” que usamos
anteriormente poderiamos executar a seguinte função do R,
> help('sqrt')
A função “help” tem como argumento o nome de uma função (um valor textual,
também conhecido como uma string, que por isso deve ser indicado entre pelicas ou
aspas), e tem como efeito lateral o aparecimento de uma janela com ajuda sobre a
função em causa. Estas janelas de ajuda possuem uma estrutura genérica semelhante
para todas as funções, detalhando os argumentos das funções e seu significado, o
valor retornado, eventuais referências, funções relacionadas, bem como exemplos
ilustrativos de utilização das funções.
86 O significado do “[1]” que aparece antes dos resultados será explicado mais tarde quando
introduzirmos a noção de vector.
87 Expliquemos um pouco melhor. Quando se instala o R ele coloca no nosso computador um conjunto
de ficheiros que contêm os códigos para executar um elevado conjunto de funções. As mais habituais.
Contudo, se se estiver a realizar cálculos muito específicos, habitualmente não realizados, pode ser
necessário carregar ficheiros adicionais com funções adicionais.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Os exemplos são bastante úteis para aprender mais sobre as funções. Além disso
permite por copy e paste88
desses exemplos para a linha de comando do R.
Também poderá executar a função help() utilizando um atalho, o que é mais rápido
de digitar, fazendo,
> ? sqrt
Note que esta alternativa tem exactamente as mesmas funcionalidades da utilização da
função “help”.
Uma outra facilidade de ajuda do R consiste em utilizar o menu HELP do R para
aceder a diversas formas de documentação de ajuda.
88 O que, como é sabido, corresponde à utilização das teclas Ctrl+C para o Copy e Ctrl+V para o Paste.
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Uma que vem com qualquer instalação do R, está disponível na sub-opção “Html
help” desse menu. Esta opção faz lançar um browser onde podemos consultar
diversos manuais gratuítos de ajuda sobre R. Recomendamos vivamente a sua
consulta, e em particular o manual An Introduction to R, que contém uma breve
introdução a várias facetas do R.
Finalmente, existem alturas em que não sabemos exactamente qual o nome preciso da
função que procuramos, mas temos uma ideia da funcionalidade que pretendemos. Por
exemplo, poderíamos estar interessados na “função de distribuição de Poisson”, mas
não nos lembrarmos de quais as funções disponíveis. O R dispõe da função
“help.search” que pode ajudar nestas situações, sugerindo locais onde procurar
funcionalidades relaccionadas com o que pretendemos. Vejamos um exemplo89
. Se eu
fizer,
> help.search('poisson distribution')
vai-me aparecer uma janela com as funções relaccionadas com estes termos que se
usou, bem como as packages onde estas funções se encontram (o nome da package
aparecer entre parênteses a seguir ao nome da função disponível, sendo que o package
chamado base é o R base que nós instalamos. Em face desta informação poderemos
agora usar a função “help” para procurar ajuda sobre as funções sugeridas pelo
“help.search” para vermos qual a que melhor se adequa às nossas necessidades.
89 Nunca nos esqueçamos que o programa utiliza o inglês.
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Note que, no caso de funções pertencentes a packages que não a base poderá ter que
carregar e eventualmente instalar essas mesmas packages antes de poder obter essas
mesma ajuda. Esse é o tópico da próxima secção.
CCoommoo uussaarr ee iinnssttaallaarr ppaacckkaaggeess eexxttrraa??
O R foi concebido como uma ferramenta facilmente extensível. Para isso conta com
um sistema de packages, extras que adicionam certo tipo de funcionalidades, a maior
parte das vezes sobre uma área específica. Basta que os utilizadores os obtenham,
também gratuitamente, e instalem se quiserem ter acesso a essas funcionalidades90
.
Podemos ver a lista (constantemente a crescer) de packages actualmente disponíveis
para o R, no portal do R. Relativamente à instalação do R disponível no nosso
computador, uma package pode:
estar instalada mas não “carregada” ;
estar instalada e “carregada”;
não estar instalada.
Quando instalamos o R, de facto o programa que usamos instalou já várias packages
seleccionadas pela sua utilidade. Algumas destas são mesmo automaticamente
carregadas sempre que executamos o R. Isso quer dizer que podemos usar em
qualquer altura as suas funcionalidades sem nos preocuparmos com mais nada.
Podemos saber que packages são carregadas automaticamente fazendo na linha de
comando:
> search()
[1] ".GlobalEnv" "package:methods" "package:stats"
[4] "package:graphics" "package:grDevices" "package:utils"
[7] "package:datasets" "Autoloads" "package:base"
90 Embora possa parecer que esta forma de funcionar do R não é prática, na realidade é bastante mais
racional que muitos dos programas que normalmente utiliza. Quando por exemplo instala o Word
instala todas as suas funcionalidades, mesmo que depois só utilize 10% das mesmas. Entretanto enche
o disco, exige processador mais rápidos, exige uma ligação à Internet mais potente para as
actualizações, etc. Os programas estão frequentemente a dizer “que o seu computador é velho”. Na
lógica do R instala o que utiliza, só utiliza os recursos do computador estritamente necessários.
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 118/150 - Versão 01
Esta função mostra-nos uma série de informações91
, entre a qual figuram as packages
que estão neste momento carregadas, ou seja, cujas funções podem ser usadas sem
mais.
Podemos saber quais as packages que estão instaladas no nosso computador (que
incluem as automaticamente carregadas, mas também outras por carregar), fazendo:
> library()
ou em alternativa, indo ao menu “Packages” e escolhendo a opção “Load package...”
o que faz aparecer uma caixa de diálogo onde nos é mostrada a lista de packages
disponíveis para serem carregadas no nosso computador.
Como decorre do mencionado anteriormente, se pretendemos carregar uma package
instalada no nosso computador, mas ainda por carregar, o processo mais simples é
seleccioná-la na caixa de diálogo que aparece na opção “Load package...” do menu
“Packages” e carregar no botão “Ok” da referida caixa. O mesmo efeito pode ser
conseguido, através da função “library”, como vemos neste exemplo:
> library(cluster)
O efeito da execução desta função é carregar a package cujo nome indicamos como
argumento, e que é suposto estar instalada no nosso computador, mas até agora ainda
por carregar.
Finalmente, iremos ver como ter acesso a uma package que nem está carregada no
nosso computador, nem aparece na lista de packages disponíveis, ou seja ainda não
está instalada. Para instalar uma nova package precisamos de ter o nosso computador
ligado à internet. Assumindo que tal é verdade, podemos ir ao menu “Packages” e
escolher a opção [Install Package(s) from CRAN...]. Aparece uma caixa de diálogo
semelhante à anterior, mas agora com uma lista de packages mais vasta (todas as
packages disponíveis para o R, que não estejam instaladas no seu computador). Em
face desta lista basta-nos seleccionar a(s) package(s) que pretendemos instalar e
carregar em seguida no botão “OK”, tratando o R de fazer tudo o resto (download,
91 A sua utilidade pode para já ficar por especificar por obrigar a saber coisas que ainda não
aprendemos sobre o R
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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instalação, actualização do help, etc.). Fazer tudo o resto, não sem perguntar se
pretende apagar os ficheiros que serviram de base à instalação, o que é recomendável.
Depois de instaladas as novas packages elas passam a estar disponíveis para serem
carregadas usando o processo descrito acima.
CCoommoo mmaannttêê--lloo sseemmpprree aaccttuuaalliizzaaddoo??
O R é um programa em constante escrutínio por uma comunidade cada vez maior,
devido às suas características de código aberto. Isto leva a que vão aparecendo com
alguma frequência novas versões com pequenas correcções. Tipicamente, têm saído
duas versões do R por ano, embora isto não seja uma regra. Para além disso, cada
package individual segue o seu próprio ritmo de desenvolvimento em função do seu
criador. Veremos então como actualizadar packages e como actualizar o próprio R.
Para saber se existem packages instaladas no nosso computador para as quais existem
versões mais recentes no portal do R, podemos fazer (mais uma vez o nosso
computador tem que estar ligado à Internet para fazermos isso):
> old.packages()
Isto faz aparecer uma lista com as packages que estão desactualizadas no nosso
computador. Em concreto são apresentados os seus nomes, bem como a versão
instalada no nosso computador e a versão mais recente disponível no portal do R
(coluna “CRAN”). Casa queiramos podemos actualizá-las todas de uma vez fazendo:
> update.packages()
ou escolhendo a opção do menu [Packages] / [Update Packages from Cran]
Quanto ao R propriamente dito, o processo de actualização para uma nova versão é
exactamente igual ao processo de instalação que descrevemos anteriormente. Ou seja
consiste em instalar a versão mais recente disponível no portal, executando todos os
passos que descrevemos anteriormente. O programa de instalação, coloca cada versão
do R num directório diferente com o nome da versão. Isto quer dizer que vamos ficar
com duas versões do R instaladas no nosso computador. A ideia deste processo é
possibilitar ao utilizador usar ambas enquanto não tem a certeza absoluta que prefere a
versão mais recente, bem como verificar que tudo o que desenvolveu para a versão
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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anterior funciona da mesma forma na nova versão. Em princípio isso será o que
acontece, salvo quando o R muda de versão major (por exemplo das versões 1.xx para
as versões 2.xx), o que normalmente só acontece quando existem modificações mais
profundas entre as versões, o que poderá levar a algumas incompatibilidades de
código. Note no entanto que, sempre que aparece uma nova versão, todas as
modificações são claramente documentadas no portal do R para facilitar a
identificação destes eventuais pequenos problemas que possa ocorrer.
Caso o utilizador decida optar definitivamente pela nova versão, poderá desinstalar a
versão anterior, usando a operação para esse efeito disponível no menu Iniciar do
Windows na secção Programas onde está o R.
EExxeemmpplloo 22 –– UUmmaa qquueessttããoo ddee aallttuurraa
Pedro está neste momento a fazer uma investigação em que a altura dos cidadãos é
uma variável que pode ter algum interesse.
Aproveitou a aula e a presença dos 23 alunos para lhes perguntar qual as suas alturas,
tendo obtido o dados que constam da tabela seguinte.
1 Tiago 1,73
2 Anabela 1,64
3 Ricardina 1,69
4 Hortense 1,82
5 António 1,66
6 Pedro 1,83
7 Catarina 1,72
8 Gustavo 1,58
9 José 1,98
10 Carlos 1,80
11 Francelina 1,76
12 Alfredo 1,82
13 Humberto 1,77
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14 Ana 1,58
15 Maria do Céu 1,69
16 Rosa 1,87
17 Asdrúbal 1,77
18 Manuel 1,84
19 Emanuel 1,99
20 Miguel 1,73
21 Gonçalo 1,69
22 Teresa 1,71
23 Armanda 1,66
Que leitura pode fazer desses dados?
De facto nesse contexto ele pode calcular, por exemplo, o valor máximo, o valor
mínimo, a média, o desvio padrão, talvez outras medidas estatísticas, mas o seu
significado social é pequeno, pois para que tais medidas estatísticas assumam
significado precisam de aplicar-se a grandes números92
.
Apesar do seu nulo significado para o trabalho calculemos esses indicadores
estatísticos. Porque temos poucas observações (23) os cálculos podem ser feitos à
mão. Assim, para a média teríamos duas fases no seu cálculo:
Fase 1: somar todas as idades: 1,73 + 1,64 + 1,69 + 1,82 + 1,66 + 1,83 + 1,72
+ 1,58 + + 1,98 + 1,80 + 1,76 + 1,82 + 1,77 + 1,58 + 1,69 + 1,87 + 1,77 + 1,84
+ 1,99 + 1,73 + + 1,69 + 1,71 + 1,66 = 40,33
Fase 2: dividir pelo número de observações: 40,33 / 23 = 1,75
(arredondadndo)
Contudo, o tempo e o rigor é precioso e podemos começar por utilizar o R para fazer
o cálculo da média e de outros indicadores.
Como veremos é possível obtê-lo facilmente, exigindo duas fases:
introdução dos dados
92 Quando alguém pretende menosprezar a importância do tratamento estatístico costuma contar a
anedota bem conhecida: “se tu comeres um frango e eu não comer nenhum, em médio comemos meio
frango cada um”. Certamente que não pretende ridicularizar a formula de cálculo, mas sim o seu
significado social. Se assim é, apenas menospreza a sua ignorância ao aplicar um “exemplo” sem
signhificado.
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aplicação de algumas funções
Contudo, porque é a primeira vez que estamos a lidar com estas matérias, convém
algumas explicações complementares.
Em R a estrutura de dados mais adequada para armazenar uma tabela de dados93, como a
do exemplo acima, é o data frame. Um data frame é formado por um conjunto de colunas
que representam as variáveis que estamos a estudar sobre um conjunto de indivíduos (as
linhas do data frame). Existem várias formas de criar data frames em R. Podemos ler os
dados de um ficheiro externo ao R (por exemplo um ficheiro de texto, uma folha de
cálculo, ou uma base dados) usando funções do R para esse efeito, ou podemos introduzir
os dados directamente no R.
Para este pequeno exemplo das alturas dos alunos vamos seguir esta segunda via. Ainda
assim temos duas hipóteses. A primeira consiste em usar a função data.frame() do R
indicando o conteúdo de cada coluna da tabela de dados, separadas por vírgulas.94
Vejamos como,
> turma <- data.frame(nomes = c('Tiago', 'Anabela',
'Ricardina', 'Hortense', 'Antonieta', 'Pedro',
'Catarina', 'Gustavo', 'Josefina', 'Carlos',
'Francelina', 'Alfredo', 'Humberto', 'Ana', 'Maria',
93 Tabela de dados é uma designação muitas vezes utilizada em informática, havendo programas que
tornaram a sua construção particularmente simples, como é o caso do Excel. Uma tabela de dados é um
conjunto de números em que cada um pertence a uma determinada linha (cada linha se refere, por
exemplo, a um indivíduo) e coluna (cada linha refere-se, por exemplo, a uma característica dos
indivíduos, neste exemplo, a altura). A esse conjunto de números em que cada um dos seus elementos
pertence a uma e só uma linha e a uma e só uma coluna, designa-se por matriz. Cada número
(genericamente X) é identificado por pertencer à linha i (Xi) e à coluna j (Xij). A dimensão da matriz é
dada pela quantidade de números que a constitui, que é igual ao numero de linhas vezes o numero de
colunas.
94 Ainda um apontamento para se perceber melhor o que se segue. Já anteriormente dissemos como se
atribui um valor a uma objecto:
> minha_turma <- “Carlos”
o que se pode confirmar.
> minha_turma
[1] "Carlos".
Se se pretende atribuir dois ou mais valores a um mesmo objecto, isto é, se pretendermos atribuir ao
objecto uma matriz (com uma dimensão unitária, isto é vector) utilizamos a função c().
> minha_turma <- c("Carlos", 1.76)
> minha_turma
[1] "Carlos" "1.76"
Para mais pormenor sobre esta função fazer
> help(c)
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'Rosa', 'Asdrubal', 'Manuel', 'Emanuel', 'Miguel',
'Carlota', 'Teresa', 'Armanda'), alturas = c(1.73, 1.64,
1.69, 1.82, 1.66, 1.83, 1.72, 1.58, 1.98, 1.80, 1.76,
1.82, 1.77, 1.58, 1.69, 1.87, 1.77, 1.84, 1.99, 1.73,
1.69, 1.71, 1.66))95
Se quisermos agora ver o conteúdo do data frame que acabamos de criar basta-nos fazer:
> turma
nomes alturas
1 Tiago 1.73
2 Anabela 1.64
3 Ricardina 1.69
4 Hortense 1.82
5 Antonieta 1.66
6 Pedro 1.83
7 Catarina 1.72
8 Gustavo 1.58
9 Josefina 1.98
10 Carlos 1.80
11 Francelina 1.76
12 Alfredo 1.82
13 Humberto 1.77
14 Ana 1.58
15 Maria 1.69
16 Rosa 1.87
17 Asdrubal 1.77
18 Manuel 1.84
19 Emanuel 1.99
20 Miguel 1.73
21 Carlota 1.69
22 Teresa 1.71
23 Armanda 1.66
Uma nota sobre a forma como indicamos os valores de cada coluna quando criamos o
data frame. Cada coluna tem 23 valores correspondentes aos 23 alunos. A forma de
guardar um conjunto de valores em R é através de um vector, que pode ser criado usando
a função c(), como já tínhamos referido. Esta função recebe como argumentos os valores
que formam o conjunto separados por vírgulas96. Veremos mais tarde outras utilidades
dos vectores de valores.
95 Os espaços em branco antes e depois das vírgulas e antes e depois do sinal de igual são ignorados
pelo R
96 Reparem que no exemplo anterior há duas operações:
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A outra hipótese para introduzir a tabela de alturas, seria ter usado a função edit() do R
que permite usar um interface tipo folha de cálculo para introduzir os dados. Vejamos
como:
> turma <- edit(data.frame())
Primeiro. atribuição de um vector de valores a nomes e alturas
> nomes = c('Tiago', 'Anabela', 'Ricardina', 'Hortense',
'Antonieta', 'Pedro', 'Catarina', 'Gustavo', 'Josefina',
'Carlos', 'Francelina', 'Alfredo', 'Humberto', 'Ana',
'Maria', 'Rosa', 'Asdrubal', 'Manuel', 'Emanuel',
'Miguel', 'Carlota', 'Teresa', 'Armanda')
> alturas = c(1.73, 1.64, 1.69, 1.82, 1.66, 1.83, 1.72,
1.58, 1.98, 1.80, 1.76, 1.82, 1.77, 1.58, 1.69, 1.87,
1.77, 1.84, 1.99, 1.73, 1.69, 1.71, 1.66)
Depois, construção de uma matriz com dois vectores:
> data.frame(nomes,alturas)
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Uma vez no interface de introdução dos dados podemos começar por dar o nome que
queremos às colunas da nossa tabela, carregando no respectivo cabeçalho da coluna o que
fará aparecer o seguinte diálogo:
Aqui podemos dar o nome à coluna, por exemplo “nomes”, e também definir o tipo de
valores que ela vai conter: números (numeric) ou texto (character). Depois de dar o nome
às duas colunas do nosso data frame podemos então preencher os valores para os 23
alunos, sendo que no fim da introdução podemos carregar no botão com um “X” do editor
de dados para voltar ao R. O efeito será o mesmo que a introdução dos dados usando a
função data.frame().
Posteriormente, se pretendessemos alterar o conteúdo do data frame (por exemplo porque
nos enganamos na introdução de algum dado, ou mesmo para acrescentar mais linhas ou
colunas ao data frame), poderíamos fazê-lo do seguinte modo:
> turma <- edit(turma)
Um data frame espalha os seus dados por duas dimensões, as linhas e as colunas. Para
vermos o conteúdo de todo o data frame podemos, como vimos acima, simplesmente
escrever o nome do objecto na linha de comando97. Haverão certamente alturas em que
não pretendemos ver todos os dados do data frame. Vejamos como podemos aceder a
partes dos dados contidos num data frame. Para obtermos a altura do primeiro aluno
podemos fazer:
97 Recorde-se que isto é comum a qualquer objecto seja ele um data frame ou qualquer
outro objecto
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> turma[1,2]
[1] 1.73
Isto pode ser lido como: “Mostra-me o conteúdo da segunda coluna da primeira linha do
objecto que se chama turma”. Em alternativa, como demos nomes às colunas, podemos
usar:
> turma[1,'alturas']
[1] 1.73
Se pretendermos o conteúdo de toda uma linha podemos omitir o índice (número)
referente à coluna:
> turma[4,]
nomes alturas
4 Hortense 1.82
Neste exemplo perguntamos ao R qual o conteúdo da quarta linha do data frame. De igual
forma podemos pedir ao R o conteúdo de toda uma coluna omitind o número referente à
linha, como no seguinte exemplo:
> turma[,'alturas']
[1] 1.73 1.64 1.69 1.82 1.66 1.83 1.72 1.58 1.98 1.80
1.76 1.82 1.77 1.58 1.69
[16] 1.87 1.77 1.84 1.99 1.73 1.69 1.71 1.66
Repare que o conteúdo de uma coluna é um vector (conjunto) de valores e como tal o R
mostra-nos todos os 23 valores. Podemos agora entender qual o significado dos números
entre parênteses rectos que o R usa quando lhe perguntamos o conteúdo de objectos.
Quando o objecto tem vários valores, como é o caso de um vector, o seu conteúdo pode
ser formado por vários elementos que não cabem numa só linha. Para nossa informação o
R diz qual o número de ordem do primeiro elemento apresentado em cada linha. Assim,
no exemplo acima, a primeira linha começa por mostrar o 1º elemento do vector de
alturas, e a segunda linha começa por mostrar o 16º elemento.
Vamos ver que existem várias outras formas de obter partes dos dados de um data frame.
Para já ficamo-nos por estas mais básicas.
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Tendo então os dados dos 23 alunos no data frame turma, vejamos como obter algumas
estatísticas sobre esses dados. Por exemplo se pretendermos saber qual a maior altura (o
máximo) podemos fazer:
> max(turma[,'alturas'])
[1] 1.99
Portanto, a função max() pega num conjunto de números (um vector) e dá como resultado
o maior deles. De forma equivalente existe a função min(). Experimente obter a menor
altura da turma.
Poderíamos estar interessados em saber qual o aluno (ou alunos) que têm a altura
máxima. Para isso poderiamos usar a função which.max() do R que nos indica qual o
elemento (em termos de ordem num vector de números) onde está o máximo. Por
exemplo,
> which.max(turma[,'alturas'])
[1] 19
Isto quer dizer que o 19º número é a altura máxima. Tirando partido da forma como
vimos que podíamos aceder ao conteúdo de uma linha de um data frame, poderíamos
saber qual o aluno que tem a maior altura da seguinte forma:
> turma[which.max(turma[,'alturas']),]
nomes alturas
19 Emanuel 1.99
Tente perceber o que fizemos com esta instrução. Repare que a função which.max() dá
como resultado um número e que vimos anteriormente como obter linhas específicas de
um data frame. Se quiser pode experimentar também com a função which.min() que faz
algo equivalente para o valor mínimo.
Poderíamos querer saber outras estatísticas sobre as alturas. Uma forma simples de obter
várias estatísticas descritivas de um conjunto de números é através da função
summary(),
> summary(turma[,'alturas'])
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
1.580 1.690 1.730 1.753 1.820 1.990
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Esta função dá-nos os valores máximo, mínimo e médio das alturas, bem como o 1º e 3º
quartil e a mediana98.
Se preferirmos uma representação gráfica dos dados referentes às alturas dos alunos,
poderíamos escolher apresentar um histograma99 dessas alturas, o que pode ser obtido da
seguinte forma em R:
> hist(turma[,'alturas'],main='Histograma das alturas da
Turma',xlab='Alturas',ylab='Frequências')
Isto faria aparecer o seguinte gráfico:
O que o R fez foi dividir o intervalo de alturas num número significativo de sub-
intervalos e depois contou quantos alunos tinham a altura em cada sub-intervalo,
98 De forma informal, quando dizemos que o 1º quartil é1.690, estamos a dizer que 25% dos alunos têm
uma altura inferior a este número. O 3º quartil tem uma leitura equivalente mas indica o limite abaixo
do qual estão 75% dos alunos, enquanto que a mediana tem 50% dos alunos abaixo dela.
99 O histograma é um gráfico de colunas que nos indica o número de ocorrências nos diversos
intervalos de uma variável. Neste caso, por exemplo, quantos alunos existem com alturas entre
determinados intervalos.
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desenhando uma barra para representar esse número. Assim, podemos ler no gráfico que
existem 5 alunos com altura no intervalo de 1,65 a 1,70 cm.
A forma como usamos a função hist() merece alguns comentários sobre o uso de funções
do R em geral. Repare que chamamos a função hist() com 4 argumentos. No entanto, a
forma como indicamos os valores dos argumentos foi diferente. Tentemos então perceber
como a chamada de funções do R funciona. Qualquer função do R pode ter vários
argumentos. Pedindo ajuda sobre uma qualquer função100 vemos entre outras coisas, quais
os argumentos da função e qual o seu significado. Vejamos um extracto da ajuda sobre a
função hist(),
> ? hist
A secção “Usage” da ajuda de qualquer função indica-nos quais os argumentos da
mesma. Como podemos ver no exemplo da função hist() ela tem como primeiro
argumento “x” que mais abaixo na ajuda (secção “Arguments”) nos é dito que deve
conter o vector de número para os quais pretendemos obter um histogram. Depois vem
um parâmetro “breaks” que é indicado de modo diferente: breaks = “Sturges”. Os
argumentos indicados desta forma podem ser vistos como opcionais, ou seja, quando
usamos a função não necessitamos de os indicar. Se optarmos por não os indicar, então o
R vai usar o valor que aparece à frente do sinal igual (neste caso “Sturges”), que é
conhecido como o valor por omissão do argumento. Sempre que um argumento não tem
qualquer valor por omissão então temos que indicar o seu valor quando usamos a função,
100 Como já vimos anteriormente podemos usar a função help() ou usar antes ?.
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pois de contrário o R irá dar uma mensagem de erro. Portanto, neste caso temos que dar
um valor para o primeiro argumento (“x”), ou seja, para usarmos a função hist()
precisamos de indicar qual o vector de números para o qual pretendemos um histograma,
o que tem a sua lógica! Já os outros argumentos são opcionais. Ao usar uma função
podemos indicar os valores dos argumentos de duas formas: pela sua posição, ou pelo seu
nome. No nosso exemplo de chamada da função hist() usamos estas duas formas.
Começamos por colocar no primeiro argumento da função o conjunto de números
“turma[,'alturas']”. Como não indicamos o nome do argumento que deveria
ficar com esse conjunto de números o R assume que será o primeiro argumento, isto é o
“x”. Usamos portanto a indicação do argumento pela sua posição. Já nos outros
argumento, optamos por indicar o nome do argumento seguido do sinal igual e do valor
que pretendemos que o argumento tome (p. ex. “xlab=’Alturas’”). Esta segunda forma é
mais prática quando as funções têm muitos argumentos, e o argumento que pretendemos
usar é dos últimos (p.ex. o argumento xlab é o 14º da função hist()), o que tornaria pouco
prática a indicação do valor do argumento pela sua posição. Para o R, a forma que
escolhemos é indiferente, podendo nós decidir o que é mais prático para nós.
Relativamente à função hist() ainda mais alguns detalhes sobre o significado dos
argumentos que usamos. O argumento “main” permite-nos dizer ao R qual o título que
pretendemos que apareça no gráfico. O argumento “xlab” qual o título do eixo dos X’s, e
o argumento “ylab”, qual o título do eixo dos Y’s.
Feita esta leitura dos dados chegou pois, à conclusão, que não lhe servia para grande
coisa a recolha que tinha feito dos alunos presentes na aula. O que ele efectivamente
precisava era de saber a altura dos portugueses.
Altura de cada um ou do conjunto?
Se pretendesse utilizar essa informação para fazer comparações ou integrar num
modelo que apenas exigisse essa informação, provavelmente seria suficiente utilizar
um indicador que tivesse em conta a situação de conjunto, eventualmente a média.
Contudo, não é essa a situação. O que pretende é explicar a altura o que exige
relacionar a altura de cada pessoa com outros dados que a caracterizam biológica ou
socialmente.
De todos os portugueses ou da população adulta numa fase de estabilidade de altura?
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É notório que é a segunda opção que lhe interessa. Se estivesse a incluir crianças ou
pessoas muito idosas estaria a afastar-se do que pretende analisar: em que medida é
que certo conjunto de factores biológicos e sociais influencia a altura da pessoa?
Decidiu incluir apenas cidadãos dos 20 aos 60 anos.
Estarão já disponíveis esses dados?
A única possibilidade desse dado estar disponível nas fontes estatísticas nacionais,
mesmo que não publicado, seria constar uma pergunta sobre a altura no
recenseamento geral da população. Tal não acontece. Poder-se-ia ainda dar o caso de
algum estudo demográfico, sociológico ou biológico já se ter preocupado com o
problema e ter recolhido esses dados. Contudo, nessa hipótese seria desaconselhável
repegar nesses dados, devendo o actual estudo servir para confirmar ou infirmar as
conclusões desse trabalho.
Como obter esses dados?
Não há outra alternativa. Só por amostragem101
. Haveria, em abstracto duas
possibilidades para obter esses dados: ou através de uma escolha aleatória na base de
101 Nem sempre é possível obter uma amostra ou esta tem significado. Há essencialmente três situações
que não permitem seguir este percurso:
Não conhecemos o universo. Vamos admitir que o nosso objectivo é estudar como é que os
portugueses (não apenas os “portugueses ilustres” mas todos os portugueses,
independentemente de profissão e cultura) reagiram ao reconhecimento da independência do
Brasil por D. João VI. Não sabemos qual é o universo. É necessário proceder a “análise de
casos” com base em documentos que relatem acontecimentos da época.
Conhecemos o universo mas não conseguimos determinar a amostra. Vamos admitir que o
nosso objectivo é estudar o comportamento das empresas portuguesas face à “sociedade da
informação”. Sabemos quantas empresas portuguesas existem e até é possível obter, vamos
admitir, uma listagem; é possível decompô-las por sectores e regiões, mas tal é irrelevante; é
possível decompô-las por dimensão segundo diversos critérios, mas é pouco provável que seja
relevante; temos conhecimento de algumas empresas bem sucedidas e outras mal sucedidas.
Por outro lado a empresa é uma “instituição complexa” e são muitos os aspectos a ter em conta
na análise do problema. A solução mais viável é recorrer à “análise de casos”.
É possível conhecer o universo, é possível obter uma amostra, mas é demasiado oneroso.
Vamos admitir que é nosso propósito numa tese de mestrado conhecer qual é a “intensidade”
de utilização da língua portuguesa pelas populações actuais do território angolano. É possível,
vamos admiti-lo com algum erro, o universo, é possível encontrar critérios de determinação de
uma amostra aleatória representativa, mas a especialização exigida ao entrevistador, a
quantidade de entrevistas a realizar, a sua dispersão geográfica, os custos de viagem e estadia e
o tempo necessário torna esse processo demasiado oneroso. Neste caso também não é viável
recorrer à “análise de casos” que desvirtuaria o que se pretende estudar. Estamos perante uma
situação em que o melhor poderá ser reformular o objecto de estudo.
Na situação de análise de casos há que perceber que estes podem ter diversas naturezas e coloca-se
sempre as dificuldades da generalização.
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dados do Arquivo de Identificação; ou inquirindo, por alguma forma, um conjunto de
cidadãos. A primeira hipótese não são é inviável – felizmente essa base de dados não
é acessível – como é irrelevante para a quantificação de algumas variáveis escolhidas
para explicar o fenómeno. Assim não resta que inquirir.
Como não sabia muito sobre amostragem, depois de consultar alguns livros e de falar
com um colega – forma embrionária das redes, inevitáveis nos trabalhos
interdisciplinares, como dissemos – apercebeu-se que o caminho que tencionava
percorrer
definir a amostra
escolher as variáveis explicativas
contactar as pessoas
estava errado. Com efeito para a escolha da amostra já necessita de saber quais são
essas variáveis.
Resolveu optar por três variáveis “explicativas”102
:
Sexo (H/M).
Rendimento. Aqui surgiu um problema. Perguntar a alguém, que não se
conhece, qual é o seu rendimento é impedir a obtenção de qualquer resposta.
Além disso há grande probabilidade de a resposta ser errada (por muitíssimas
razões, sem ser possível dizer, pelo menos, se a resposta está sub ou
sobrestimada). Por isso optou por cinco intervalos de rendimento,
suficientemente amplos. Esta precaução, conjuntamente com o anonimato, é
capaz de superar o problema. Falemos então em níveis A / B / C / D / E em
que este é o rendimento mais baixo.
Viver na cidade (I) ou no campo (O)
Contudo saber escolher amostras ou poder recorrer a alguém especializado nessa área é, muito
frequentemente, condição indispensável para o rigor de uma investigação nas ciências do conhecimento
humano.
102 Muita atenção. Este é um exemplo que tem por preocupação iniciar os menos habituados à
quantificação a começarem a trabalhar com os dados. Qualquer estudo demográfico sobre a altura da
população adulta teria de entrar com muitas outras variáveis, tendo em conta os objectivos do estudo.
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tendo procedido, de seguida à escolha da amostra103
, à opção sobre o método de
obtenção da informações e ao seu calendário. Optou por uma amostra estratificada
que no total envolve 2000 indivíduos de nacionalidade portuguesa com idade entre os
20 e os 60 anos..
Finalmente tem os dados. Como estava minimamente familiarizado com o Excel
resolveu colocar os dados numa tabela desse programa: cada linha corresponde aos
dados de um indivíduo e cada coluna refere-se a um indicador. Chamou a esse
ficheiro de Excel T001104
, de que se apresenta aqui uma parte105
:
Indivíduos Sexo Rendimento Cid/Camp Altura
1 M B O 1,93
2 M A I 1,92
3 M B O 1,90
4 M A I 1,69
5 F D O 1,85
Esses mesmos dados podem ser objecto de diversos tratamentos, mais ou menos
sofisticados, mais ou menos complicados, mas é bom nunca perdermos de vista o que
pretendemos: fazer uma leitura dos dados recolhidos que nos permita tirar conclusões
103 A amostra pretendida da altura da população considera as variáveis sexo, rendimento e localização
geográfica (campo/cidade), tendo cada uma delas vários níveis: Sexo (2 níveis), Rendimento (5 níveis)
e Localização geográfica (2 níveis). Temos, portanto, ao todo 2 x 5 x 2 = 20 estratos da população. Um
dos processos utilizados para este tipo de sondagens consiste na estratificação proporcional, por estrato.
Ou seja, inquirir em cada estrato, uma proporção de indivíduos igual à proporção existente na
população. Isso obriga-nos a conhecer a composição de cada estrato na população. Por exemplo,
quantos homens possuem um determinado rendimento e vivem na cidade. Pode-se tentar obter a
informação para a população portuguesa e fazer uma matriz com estes 20 estratos.
Para se determinar a dimensão total da amostra, convém impor um limite máximo (que seja coerente),
mas que garanta um limite mínimo de, por exemplo, 30 indivíduos nos estratos menos representativos.
O resto são cálculos de proporções para fazer com que cada estrato amostral seja proporcional ao
estrato populacional.
Para a selecção dos indivíduos, o INE, por exemplo, recorre habitualmente a bases de dados de
moradas, o que torna o processo demasiado caro e moroso, mas que garante o calculo de erros, da
precisão, etc. Quando essa base não está acessível, costuma-se fazer (normalmente fazem-no a maioria
das empresas de sondagens) a recolha de informação com alguma aleatoridade, através de entrevista
telefónica ate se recolherem os indivíduos que cumprem os requisitos de todos os estratos. Esta variante
tem o nome de amostragem por quotas. Esta muito em moda hoje em dia. (Informação prestada por
Pedro CAMPOS).
Sobre esta matéria veja-se, por exemplo {VICENTE, 1996 #9} e {CAMPOS, 1997 #7}
104 Chama-se a atenção que os dados constantes desta tabela não correspondem a uma recolha de dados
efectivamente realizada. As alturas foram “inventadas” por um processo que só pode ter como
consequência os resultados que apresentamos de seguida.
105 Pode ter acesso ao quadro todo por html mas não é necessário.
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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 134/150 - Versão 01
sobre a altura dos cidadãos e da relação entre a altura e algumas outras variáveis
escolhidas por nós.
Para esse efeito vamos mais uma vez usar o R.
Comecemos por ver como poderemos usar os dados que temos no nosso ficheiro
Excel chamado T001, no R.
Existem diversas formas de passar os dados do Excel (bem como de outras aplicações
disponíveis no Windows) para o R. Aquela que talvez seja a mais simples consiste em
fazer os seguintes passos: Começar por abrir a folha de cálculo no Excel e, após
seleccionar toda a área onde estão os dados106
, fazer “copia”107
ou seja copiar os dados
para o “Clipboard” do Windows. Feito isto, podemos agora ir para o R e aí introduzir
o comando,
> dados <- read.table(file('clipboard'),header=T,dec=',')
O objecto dados contem toda a informação que estava em
Excel108
.
> head(dados)
Sexo Rendimento Cid.Camp Altura
1 M B O 1.93
2 M A I 1.92
3 M B O 1.90
4 M A I 1.69
5 F D O 1.85
6 F C I 1.73
106 Aqui convirá seleccionar unicamente as colunas B, C, D e E, uma vez que a coluna A não tem
informação relevante para a nossa análise, sendo somente um número de ordem dos indivíduos. Note
bem, seleccione as colunas e não apenas a tabela referente a aquelas colunas.
107 Utilizando o Menu do Excel fazer fazer “EDIT” seguido de “COPY”. Ou simplesmente fazendo
“Ctrl+C”.
108 Por exemplo, se fizer
> dados
aparecer-lhe-ão todos os dados, assim como se fizer
> dados[2,]
lhe aparecerão os dados da segunda linha.
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A primeira instrução leu os dados que haviam sido anteriormente colocados no
“Clipboard” para um data frame que resolvemos chamar “dados”. Essa leitura foi
feita usando a função read.table() que é uma das várias funções que podem ser usadas
no R para ler dados de fontes externas, nomeadamente de ficheiros. O argumento
“header=T” indica ao R que aquilo que estamos a ler tem na primeira linha um
cabeçalho com o nome das variáveis, e portanto esta primeira linha não deve ser
interpretada como um indivíduo. O argumento “dec=’,’” indica ao R que as casas
decimais dos números estão representadas por vírgulas no ficheiro que estamos a ler.
Isto é necessário porque o R assume o ponto como separador decimal como já vimos,
por ser essa a norma anglo-saxónica. Depois de ler os dados podemos ver as primeiras
linhas dos dados lidos, só para confirmar que tudo está bem, usando a função head()
que mostra as primeiras linhas de qualquer data frame.
Se quisermos saber quantos indivíduos foram lidos podemos perguntar ao R qual o
número de linhas do data frame,
> nrow(dados)
[1] 2000
Temos portanto todos os nossos 2000 indivíduos no data frame dados. Vamos então
agora ver alguma análise que podemos fazer com esta amostra.
Uma forma fácil de ficarmos rapidamente com uma perspectiva global das estatísticas
descritivas dos dados é usar de novo a função summary() que quando aplicada a um
data frame nos fornece as estatísticas descritivas básicas de todas as variáveis
(colunas) da tabela de dados,
> summary(dados)
Sexo Rendimento Cid.Camp Altura
F: 963 A:405 I: 956 Min. :0.910
M:1037 B:389 O:1044 1st Qu.:1.570
C:387 Median :1.720
D:399 Mean :1.701
E:420 3rd Qu.:1.870
Max. :2.040
Faça a leitura destes dados e descreva o que é que eles significam. Por outras
palavras, ponhas por palavras o que os números dizem.
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No casos de variáveis numéricas, a função dá-nos os valores mínimo, máximo e
médio, bem como o 1º quartil, o 3º quartil e a mediana, o que nos permite de imediato
ter uma ideia não só do valor central da Altura (informação dada quer pela média quer
pela mediana), bem como a dispersão das Alturas o que nos é estimado pelos 1º e 3ºs
quartis, uma vez que sabemos pela sua definição que 50% da amostra se encontra
entre estes dois valores. Refira-se que se preferirmos outras medidas de dispersão de
uma variável como por exemplo a variância ou o desvio padrão, poderemos usar as
respectivas funções do R que calculam estas estatísticas,
> var(dados[,'Altura'])
[1] 0.04165124
> sd(dados[,'Altura'])
[1] 0.2040864
Acrescente ao texto anteriormente elaborado o que estes dados traduzem.
Se não sabe o que são a variância e o desvio padrão significam comece por
entender o seu significado.
Voltando à função summary(), no caso de variáveis nominais ela indica-nos qual o
número de vezes que cada valor da variável ocorre na tabela de dados. Assim,
podemos verificar que dos 2000 indivíduos, 963 são do sexo feminino e os restantes
1037 do sexo masculino. No caso da nossa amostra ter valores desconhecidos em
alguma variável, a função summary() também iria mostrar essa informação, o que não
acontece nos nossos dados. Os valores desconhecidos em R são representados por
“NA” de non available109
.
109 Não disponível em inglês.
Vejamos um pequeno exemplo só para ficarmos com a ideia como isto funciona em
R. Vamos criar um pequeno vector de números com as idades de 5 indivíduos e
vamos supor que não sabemos a idade do 3º indivíduo,
> idades <- c(32,21,NA,45,23)
> summary(idades)
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max. NA's
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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 137/150 - Versão 01
Continuemos pois a nossa exploração das propriedades estatísticas da nossa amostra
de indivíduos. Se pretendermos saber a distribuição percentual dos mesmos, pelos
diferentes valores de cada uma das variáveis nominais, podemos obter tal informação,
por exemplo, da seguinte forma:
> 100*table(dados[,'Sexo'])/nrow(dados)
F M
48.15 51.85
Nesta cálculo usamos a função table() que pega num conjunto de valores de uma
variável nominal (que em R são conhecidos como factores) e conta quantas vezes
aparece cada valor distinto (uma informação idêntica à que nos foi fornecida pela
função summary() mas para todas as variáveis). Em seguida dividimos essa contagem
pelo número total de indivíduos (o número de linhas do nosso data frame dados), e
multiplicamos o resultado por 100 para termos os valores em percentagem. Assim,
ficamos a saber que 45.15% dos indivíduos são do sexo feminino e os restantes
51.85% do sexo masculino. Poderíamos obviamente proceder de igual modo para
qualquer uma das outras variáveis nominais dos nossos dados,
> 100*table(dados[,'Rendimento'])/nrow(dados)
A B C D E
20.25 19.45 19.35 19.95 21.00
> 100*table(dados[,'Cid.Camp'])/nrow(dados)
I O
47.8 52.2
Como temos vindo a observar, é bastante frequente referir-mo-nos ao conjunto de
valores de toda uma coluna da nossa tabela de dados (p.e. dado[,’Sexo’]). Por essa
razão o R possibilita o uso de formas mais sucintas de nos referirmos ao conteúdo de
toda uma coluna. Veja os seguintes exemplos,
21.00 22.50 27.50 30.25 35.25 45.00 1.00
Como já haviamos visto anteriormente a função c() permite-nos criar vectores (ou conjuntos) de
números (ou mesmo de outro tipo de informação, como por exemplo nomes). Os elementos que
formam o conjunto devem ser indicados separando-os por vírgulas, e no nosso exemplo, o 3º elemento
foi indicado como NA, para informar o R que não sabemos o seu valor. Desta forma, quando pedimos
um sumário das estatísticas descritivas deste conjunto de números, usando a função summary(), o R dá-
nos a informação habitual e ainda a informação de que existe 1 valor NA neste conjunto de números.
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> 100*table(dados$Sexo)/nrow(dados)
F M
48.15 51.85
> max(dados$Altura)
[1] 2.04
Assim, podemos usar o esquema DataFrame$NomeDaColuna110
para nos referimos
aos valores dessa coluna111
. No casos de data frames estáveis, ou seja cujo conteúdo
não iremos mudar, podemos ainda facilitar mais o acesso às colunas através da função
attach(). Esta função, quando aplicada a um data frame faz com que as suas colunas
passem a poder ser referenciadas directamente pelo seu nome. Vejamos uns exemplos,
> attach(dados)112
> 100*table(Sexo)/nrow(dados)
Sexo
F M
48.15 51.85
> max(Altura)
[1] 2.04
Portanto, a partir do instante que executamos a função attach() aplicada a um data
frame passamos a poder referir as suas colunas directamente. Nos exemplos que se
seguem iremos usar esta facilidade.
Continuemos a nossa análise. Por vezes estamos interessados em fazer tabulações
cruzadas de várias variáveis nominais113
. Por exemplo, poderíamos querer ver como
se distribuem os indivíduos pelas diferentes combinações de sexo e classes de
rendimento,
> table(Sexo,Rendimento)
Rendimento
110 No nosso caso, se quisermos listar a coluna dos rendimentos fazemos
> dados$Rendimento
Tome atenção com as maiusculas e as minusculas, porque são interpretadas como letras diferentes.
111 Note a ausência de aspas no nome da coluna.
112 Note que é a utilização aqui desta função que permite que as funções seguintes sejam escritas como
são.
113 Por outras palavras, cruzar informações.
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Sexo A B C D E
F 205 183 170 206 199
M 200 206 217 193 221
Se pretendermos esta informação sob a forma de percentagens do número total de
indivíduos podemos fazer,
> 100*table(Sexo,Rendimento)/nrow(dados)
Rendimento
Sexo A B C D E
F 10.25 9.15 8.50 10.30 9.95
M 10.00 10.30 10.85 9.65 11.05
Por outro lado, poderíamos estar interessados em saber qual a percentagem de cada
sexo, dentro de cada classe de rendimentos, o que conseguimos aplicando a função
prop.table() ao resultado obtido com a função table(),
> 100*prop.table(table(Sexo,Rendimento),2)
Rendimento
Sexo A B C D E
F 50.61728 47.04370 43.92765 51.62907 47.38095
M 49.38272 52.95630 56.07235 48.37093 52.61905
O argumento 2 que usamos na função prop.table() tem como significado (pode-se
confirmar na ajuda da função), que estamos a calcular as percentagens por coluna, ou
seja para cada classe de rendimento. Se pretendêssemos uma resposta para a pergunta
inversa, ou seja, como se distribuem percentualmente as classes de rendimentos por
cada sexo, poderíamos usar um 1 em vez do 2,
> 100*prop.table(table(Sexo,Rendimento),1)
Rendimento
Sexo A B C D E
F 21.28764 19.00312 17.65317 21.39148 20.66459
M 19.28640 19.86500 20.92575 18.61138 21.31148
Refira-se que as tabelas cruzadas obtidas com a função table() não precisam de se
restringir a duas variáveis. Veja se entende o significado do seguinte exemplo,
> table(Sexo,Rendimento,Cid.Camp)
, , Cid.Camp = I
Rendimento
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Sexo A B C D E
F 84 87 87 105 88
M 102 88 103 102 110
, , Cid.Camp = O
Rendimento
Sexo A B C D E
F 121 96 83 101 111
M 98 118 114 91 111
Podemos também usar variáveis numéricas nestas tabulações. Com isso vamos
conseguir explorar as eventuais relações da altura com os outros factores. Para fazer
este tipo de tabulações podemos criar intervalos de estudo para a altura de modo a não
ter demasiados valores para a altura o que tornaria a tabela pouco legível e
eventualmente com pouca significância estatística. Para criar intervalos podemos usar
a função cut(),
> table(Sexo,cut(Altura,5))
Sexo (0.909,1.14] (1.14,1.36] (1.36,1.59] (1.59,1.81]
(1.81,2.04]
F 9 66 181 377 330
M 8 67 228 388 346
O segundo argumento da função cut() pode especificar o número de intervalos em que
queremos dividir os valores das alturas. O que o R fez foi dividir o intervalo
observado de alturas em 5 sub-intervalos de igual amplitude. Se esta divisão não fizer
sentido para o nosso estudo, podemos explicitar no segundo argumento os limites dos
intervalos, como no exemplo seguinte,
> table(cut(Altura, c(0.5,1,1.5,1.7,1.8,1.9,2.1)),
Rendimento)
Rendimento
A B C D E
(0.5,1] 1 0 0 0 0
(1,1.5] 64 62 64 52 64
(1.5,1.7] 130 129 123 144 119
(1.7,1.8] 79 58 69 57 74
(1.8,1.9] 65 72 55 75 79
(1.9,2.1] 66 68 76 71 84
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Note-se que também é possível fazer este tipo de tabulações para todos os valores
observados da altura, embora como mencionamos isso leve a muita dispersão da
informação por existirem demasiadas alturas diferentes. De qualquer modo, caso fosse
esse o nosso objectivo poderíamos fazê-lo do seguinte modo114
,
> table(as.factor(Altura),Rendimento)
Rendimento
A B C D E
0.91 1 0 0 0 0
1.01 0 0 0 0 1
1.03 0 0 1 0 0
1.05 1 0 0 0 0
1.07 0 0 1 0 0
1.09 1 1 0 0 0
1.11 0 0 0 0 1
1.12 0 0 3 0 1
1.13 3 0 1 0 1
1.14 0 1 0 0 1
A função as.factor() transforma uma variável numérica numa variável nominal (um
factor na nomenclatura do R, como já mencionámos).
Podemos agora estudar a forma como se distribuem as alturas para diferentes grupos
de indivíduos de acordo com alguma das outras variáveis. Por exemplo, podemos
estar interessados em saber as estatísticas descritivas básicas da altura, para cada
grupo sexual,
> by(Altura,Sexo,summary)
INDICES: F
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
0.910 1.570 1.720 1.704 1.870 2.040
---------------------------------------------------------
INDICES: M
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
1.010 1.560 1.720 1.698 1.860 2.040
A função by() é uma função bastante genérica que nos permite aplicar uma qualquer
função (no exemplo acima a função summary()), a subconjuntos do seu primeiro
114 Não apresentamos todo resultado do comando por ser demasiado extenso.
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argumento (neste caso a Altura), de acordo com um factor (neste caso o Sexo). Isto
permite toda uma série de variações, como por exemplo,
> by(dados,Sexo,summary)
Sexo: F
Sexo Rendimento Cid.Camp Altura
F:963 A:205 I:451 Min. :0.910
M: 0 B:183 O:512 1st Qu.:1.570
C:170 Median :1.720
D:206 Mean :1.704
E:199 3rd Qu.:1.870
Max. :2.040
---------------------------------------------------------
Sexo: M
Sexo Rendimento Cid.Camp Altura
F: 0 A:200 I:505 Min. :1.010
M:1037 B:206 O:532 1st Qu.:1.560
C:217 Median :1.720
D:193 Mean :1.698
E:221 3rd Qu.:1.860
Max. :2.040
Neste exemplo factorizamos todos os indivíduos do data frame dados de acordo com
o seu sexo e aplicamos a função summary() a cada um dos dois sub-grupos.
> by(Altura,list(Sexo,Cid.Camp),summary)
: F
: I
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
0.91 1.56 1.70 1.69 1.87 2.04
---------------------------------------------------------
: M
: I
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
1.010 1.540 1.700 1.687 1.850 2.040
---------------------------------------------------------
: F
: O
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
1.030 1.590 1.740 1.716 1.880 2.040
---------------------------------------------------------
: M
: O
Min. 1st Qu. Median Mean 3rd Qu. Max.
1.090 1.570 1.740 1.709 1.860 2.040
Investigar e redigir uma tese em contexto interdisciplinar
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Neste outro exemplo, factorizamos as alturas usando todas as combinações de Sexo e
Cid.Camp, aplicando a função summary() a cada grupo. Isto permite-nos ver as
estatísticas descritivas básicas da altura para cada um destes sub-grupos.
Por vezes diz-se que uma imagem vale mil palavras, e de facto esta informação ficaria
provavelmente mais legível com o seguinte gráfico,
> boxplot( Altura ~ Sexo + Cid.Camp, outline = FALSE,
main='Boxplots da Altura por Sexo e Cid.Camp',
xlab='Combinações de Sexo e Cid.Camp')
que nos mostra a mediana, os quartis e os valores extremos para cada intersecção
Sexo / Cidade-Campo.
Acrescente ao texto anteriormente elaborado outras análises da situação, seja
pegando nos dados e gráficos anteriormente apresentados seja fazendo novos
cálculos, utilizando o R.
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Provavelmente os resultados obtidos não correspondem ao que estaríamos à
espera ou, mais rigorosamente, não confirmam as hipóteses eventualmente
formuladas. Tente encontrar uma justificação para essa situação.
A melhor forma de encontrar as funções do R que correspondem às suas
necessidades é consultar o help() do R, é ler os manuais de introdução, é saber
o que quer obter e utilizar os termos em inglês.
Contudo, fazemos aqui um primeiro apanhado das funções que temos vindo a
utilizar.
OPERAÇÕES
<- atribuição
* multiplicação
/ divisão
c() atribuir conjunto de valores
sqrt() raiz quadrada
FUNCIONAMENTO DO R
help() ajuda
? ajuda
help.search() procura de ajuda
search() procura de packages carregados
library() procura e instalar packages
old.packages() packages a actualizar
update.packages() actualizar packages
q() sair
by() aplicar função a várias situações
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MANIPULAR DADOS
attach() permissão para variáveis serem identificadas pelo nome
cut() divisão em intervalos
data.frame() atribuir matriz
edit() utilizar quadro para atribuir valores
file() ler ficheiro
head() listagem inicial de dados
nrow() número de linhas
read.table() ler matriz
TRATAMENTO ESTATÍSTICO
max() máximo
sd() desvio padrão
summary() conjunto de informações estatísticas
table() criação de matrizes e tabulações cruzadas
var() variância
which.max() quem tem máximo
GRAFICOS
boxplot() gráficos boxplot
hist() histograma
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Fundamentos Interdisciplinares Carlos Pimenta Página 146/150 - Versão 01
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Glossário
Bibliografia
Epistemologia
Gnosiologia
Interdisciplinaridade
Plágio
Média
Mediana
Moda
Desvio padrão
Amostra
Variável
Indicador
Índice
Modelo
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