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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS DO MAR Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas “ ESTUDO RETROSPECTIVO DOS VALORES DE GLICÉMIA DOS PACIENTES DIABÉTICOS TIPO 2 REGISTADOS PELOS CENTROS DE SAÚDE PÚBLICOS DO MINDELO, CABO VERDE ” Relatório de Estágio do Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas Realizado por: Maraika dos Reis Cardoso São Vicente 2012

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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS DO MAR

Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas

“ ESTUDO RETROSPECTIVO DOS VALORES DE GLICÉMIA DOS

PACIENTES DIABÉTICOS TIPO 2 REGISTADOS PELOS CENTROS

DE SAÚDE PÚBLICOS DO MINDELO, CABO VERDE ”

Relatório de Estágio do Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas

Realizado por:

Maraika dos Reis Cardoso

São Vicente

2012

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UNIVERSIDADE DE CABO VERDE

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS DO MAR

Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

TÍTULO: “Estudo retrospectivo dos valores de Glicémia dos pacientes diabéticos tipo 2

registados pelos Centros de Saúde públicos do Mindelo, Cabo Verde.”

PALAVRAS-CHAVE: Diabetes Mellitus tipo 2, glicémia, Cabo Verde.

LOCAL DE ESTÁGIO: Biomédica, Laboratório de Análises Clínicas, Lda e Centros de

Saúde públicos do Mindelo, São Vicente.

DURAÇÃO: 01 de Abril a 21 de Setembro de 2012

Estagiária Coordenadora Orientador Co-orientador

_________________ ________________ ________________ _______________

/ Maraika Cardoso // Carina Fernandes/ / Maurício Figueroa / /Domingos Santos/

(DECM-Uni-CV) (BIOMEDICA, LDA) (DS-SV)

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ESTE DOCUMENTO DEVE SER CITADO COMO:

Cardoso, M. 2012. “Estudo retrospectivo dos valores de glicémia dos pacientes diabéticos

tipo 2 registados pelos Centros de Saúde públicos do Mindelo, Cabo Verde.” Relatório de

Estágio do Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas, São Vicente, Departamento

de Engenharias e Ciências do Mar, Universidade de Cabo Verde. 61p.

Relatório preparado no âmbito do Estágio de Fim de Curso desenvolvido na Clínica de Saúde

Biomédica, enquadrado no Plano Curricular do Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e

Pescas, ministrado no Departamento de Engenharias e Ciências do Mar (DECM).

O conteúdo deste relatório é da exclusiva responsabilidade da autora:

________________________________________

Maraika dos Reis Cardoso

Departamento de Engenharias e Ciências do Mar (DECM)

CP 163, Ribeira de Julião, São Vicente, Cabo Verde

E-mails: [email protected];

Telefone: (+238) 987 75 46

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I

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Xavier Cardoso e Gregória Cardoso, que sempre me

fizeram acreditar na realização dos meus sonhos e trabalharam muito para que eu pudesse

realizá-los.

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II

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, por toda dedicação e luta para que os filhos

tivessem um futuro que a eles não lhes foi permitido.

Agradeço ao meu orientador, Dr. Mauricio Hernández e à minha coordenadora Dra.

Carina Fernandes pela total disponibilidade, sugestões, incentivo, apoio, dedicação, confiança

e orientação durante o trabalho.

Ao técnico de estatística da Delegacia de Saúde, Sr. Domingos Santos, pela sua

disponibilidade e ajuda.

À Universidade de Cabo Verde, aos docentes, colegas e funcionários pela amizade e

formação.

Ao Dr. Odair Teixeira, por toda paciência e apoio incondicional nos momentos mais

difíceis. Obrigada por me ouvires e pela tua capacidade de me acalmar.

Às minhas amigas, colegas e companheiras desse percurso, muito obrigada pelos bons

momentos e por tudo.

A todos aqueles que me ajudaram, de uma forma directa ou indirecta, nessa caminhada,

um muito obrigado e que Deus vos proteja sempre.

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III

Resumo

O incremento global da industrialização e urbanização, particularmente nos países do Terceiro Mundo,

tem determinado a aquisição massiva de hábitos dietéticos pouco saudáveis e menor actividade física.

Neste contexto a Diabetes mellitus de tipo 2 (DM2) emerge com proporções epidémicas, significando

um desafio colossal para os sistemas nacionais de saúde. Tendo em conta que esta doença mostra

padrões variáveis segundo as características de cada região, resulta obvio que só contando com

registos fiáveis e informatizados poderá ser feita a gestão adequada deste problema. Neste trabalho foi,

em primeiro lugar, criada uma base de dados digital a partir dos registos existentes nos Centros de

Saúde públicos da cidade do Mindelo, São Vicente até Agosto de 2012, correspondentes à glicemia em

jejum determinados na altura do diagnóstico de pacientes diabéticos tipo 2. Os campos incluídos nesta

base foram: sexo, data de nascimento, data do diagnóstico e valor da glicemia. Em segundo lugar, foi

efectuada uma análise estatística descritiva, observando-se um número desproporcionalmente maior de

pacientes do sexo feminino, quando comparado com as prevalências estimadas de diabetes para ambos

sexos. A comparação das distribuições dos valores de glicémia entre sexos mostrou diferenças

significativas para o grupo de idades entre 45 a 49 anos (α=0,05). A partir de dados bibliográficos

correspondentes à distribuição por idades e sexos da população cabo-verdiana e prevalências globais

estimadas da DM, foi calculado um Factor de Oportunidade de Rastreio (FOR) como medida da

probabilidade do paciente ser diagnosticado e inferindo-se que o mesmo é proporcional à frequência

de utilização dos serviços de saúde. A análise de regressão feita através dum modelo exponencial

mostra uma forte correlação (R²=0,58) entre o FOR e a mediana dos valores de glicemia, sugerindo

que a frequência de utilização dos serviços de saúde é o factor determinante do estágio no qual é

diagnosticada a doença, independentemente do sexo ou a idade.

Palavras-Chave: Diabetes mellitus de tipo 2, glicemia, Cabo Verde.

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IV

Abstract

The overall increase of industrialization and urbanization, particularly in Third World countries, has

determined the massive acquisition of unhealthy dietary habits and less physical activity. In this

context Diabetes mellitus type 2 (DM2) emerges with epidemic proportions, meaning a huge challenge

to national health systems. Given that this disease shows variable patterns depending on the

characteristics of each region, it’s obvious that only relying with reliable and computerized records can

be done the proper management of this problem. In this work, firstly, was create a digital database of

existing records from public health centers in the city of Mindelo, Sao Vicente up to August 2012, of

fasting glucose determined at diagnosis of type 2 diabetic patients. The fields included in this base

were: gender, date of birth, date of diagnosis and blood glucose value. Secondly, it was made a

descriptive statistical analysis, observing a disproportionately greater number of female patients, when

compared with the estimated prevalence of diabetes for both sexes. The comparison of the

distributions of glycemia between genders showed significant differences for the age group among 45

to 49 years (α = 0.05). From bibliographic data corresponding to the distribution by age and sex of the

Cape Verdean population and estimated global prevalence of DM, we calculated a Factor of Screening

Opportunity (FSO) as a measure of the probability of patients being diagnosed and inferred that is

proportional to the frequency of use of health services. Regression analysis done by a exponential

model shows a strong correlation (R² = 0,58) between the FSO and the median blood glucose values,

suggesting that the frequency of use of health services is the key determinant of the stage at which it is

diagnosed disease, regardless of gender or age.

Key-Words: Diabetes Mellitustype 2, glycemia, Cape Verde.

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V

ÍNDICE

1. Introdução……………………………………………………………………………..1

1.1 Objectivos ………………………………………………………………………….2

1.1.1 Objectivo Geral ………………………………………………………………...2

1.1.2 Objectivos Específicos………………………………………………………….2

1.2 Justificação ………………………………………………………………………...2

2. Fundamentos Teóricos ……………………………………………………………….3

2.1 Definição e Classificação da Diabetes Mellitus ……………………………….3

2.2 Epidemiologia …………………………………………………………………6

2.3 Diabetes Mellitus em Cabo Verde…………………………………………….7

2.4 Diagnóstico…………………………………………………………………….8

2.5 Detecção…………………………………………………………………...….10

2.6 Custo-Efectividade…………………………………………………………...12

2.7 Insulina…………………………………………………………...………….13

2.8 Fisiopatologia da Diabetes Mellitus………………………………….……….15

2.9 Estágios da Progressão……………………………………………….……….18

2.10 Complicações da Diabetes Mellitus………………………………….19

2.11 Tratamento da Diabetes Mellitus e Controlo da Glicémia………………….21

3. Materiais e Métodos………………………………………………………………...24

3.1 Método Analítico……………………………………………………………..24

3.2 Procedimento…………………………………………………………………24

3.3 Análise Estatística…………………………………………………………….25

4. Resultados……………………………………………………………………………..26

4.1 Estatísticas Descritivas………………………………………………………..26

4.2 Inferência e Provas de Hipótese………………………………………………28

5. Análise de Regressão…………………………………………………………………..29

6. Discussão……………………………………………………………………………….32

7. Conclusão /Recomendações…………………………………………………………..36

8. Referências Bibliográficas……………………………………………………………37

9. Glossário ………………………………………………………………………………40

10. Anexos………………………………………………………………………………..41

Anexo 1…………………………………………………………………………….......42

Anexo 2………………………………………………………………………………....43

Anexo 3…………………………………………………………………………...........44

Anexo 4 ………………………………………………………………………………...45

Anexo 5 ………………………………………………………………………………...46

Anexo 6 ………………………………………………………………………………...50

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VI

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1. Evolução global da Diabetes…………………………………………………………...6

FIGURA 2.variação da GPJ na população de cabo verde (idades a partir de 25 anos) entre 1980 e

2008. .......................................................................................................................................................7

FIGURA 3.Fases na secreção da Insulina………………………………………………………...…15

FIGURA 4. Progressão da Diabetes Mellitus (DM) tipo 2…………………………………………..16

FIGURA 5. Deterioro funcional das células-β na DM tipo 2……………………………………….17

FIGURA 6.Alteração nas fases da secreção da insulina na DM tipo 2…………………………....18

FIGURA 7.Complicações crónicas da DM…………………………………………………………20

FIGURA 8. Causas da hiperglicemia e acção dos antidiabéticos orais…………………………......22

FIGURA 9.Prevalência global da DM por idades e sexos…………………………….…………….32

FIGURA 10.Variação da glicémia em relação a massa de células beta………………………..….34

FIGURA 11. Mecanismo geral da progressão da DM…………………………………………….…34

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1. Espectro da homeostase da glicose e diabetes mellitus (DM)………………….………..3

TABELA 2.Classificação Etiológica da Diabetes Mellitus…………………………………..….........4

TABELA 3. Perfil populacional estimado da DM em Cabo Verde em 2010 e projecção para

2030a………………………………………………………………………………………………..…..7

TABELA 4. Critérios de diagnósticos para diabetes mellitus………………………………………....8

TABELA 5. Factores de risco para Diabetes Mellitus tipo2………………………………………...13

TABELA 6. Estágios propostos da disfunção das células-β durante a progressão da DM…………19

TABELA 7.Objectivos terapéuticos em adultos diabéticos…………………………………………21

TABELA 8.Características da GPJ e a HbAc1 para o diagnóstico e seguimento do paciente

diabético…………………………………………………………………………………………….…23

TABELA 9. Dados gerais………………………………………………………………………….…26

TABELA 10. Glicemia, estatísticas descritivas……………………………………………………....27

TABELA 11. Comparação das distribuições de glicemia: Teste de Kolmogorov-Smirnov

Bilateral………………………………………………………………………………………………..28

TABELA 12. Comparação das distribuições de glicemia entre sexos e grupos de idades………….28

TABELA 13. Valores do FOR e a glicemia mediana entre sexos e grupos de idade……………….30

ÍNDICE DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Distribuição das idades por sexo……………………………………………………...26

GRÁFICO 2. Distribuição dos valores de glicemia por sexo………………………………………..27

GRÁFICO 3. Número de pacientes por grupos de idade e sexo……………………………………..29

GRÁFICO 4. Glicémia mediana por grupos de idade e sexos……………………………………….30

GRÁFICO 5. Relação entre o FOR e a glicemia mediana…………………………………………...31

GRÁFICO 6. Percentagem dos Sexos por Grupos de Idades na População de Cabo Verde no ano

2010……………………………………………………………………………………………………33

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1. INTRODUÇÃO

A Diabetes mellitus (DM) é uma desordem metabólica de etiologia múltipla,

caracterizada por hiperglicemia crónica com distúrbios no metabolismo dos carbohidratos,

lípidos e proteínas, com uma sequência de defeitos na secreção ou acção da insulina, ou uma

combinação de ambas. Diabetes mellitus de tipo 1 (DM1) é causada pela ausência quase total

da produção endógena de insulina do pâncreas, enquanto que na Diabetes mellitus de tipo 2

(DM2), o aumento de glicose no sangue é devido a uma combinação de factores como a

predisposição genética, uma dieta pouco saudável, inactividade física e ganho de peso com

distribuição central. A DM está associada com o desenvolvimento de lesão em órgãos-alvo

produzido pela longa duração da doença microvascular (complicações da diabetes). Os

pacientes diabéticos possuem também um risco mais elevado de doença cardiovascular,

cerebrovascular e periférica.

A Federação Internacional da Diabetes estimou que no ano 2010 existiam 285 milhões

de diabéticos em todo mundo, e as previsões apontam para que, num período de 20 anos, este

número ultrapasse os 400 milhões, encontrando-se dois terços destes em países de

desenvolvimento baixo ou médio.

De forma geral os estudos mostram que o principal determinante dos custos da diabetes

não é a doença em si ou seu tratamento, mas as complicações causadas por ela. Além dos

custos médicos directos, devidos sobretudo aos internamentos, é necessário referir os

prejuízos relacionados com perdas de produtividade causadas por licença médica, reforma

antecipada e mortalidade prematura.

Contudo, uma evidência crescente mostra que o diagnóstico precoce unido a um

acompanhamento periódico e eficaz, assim como um envolvimento consciente e responsável

do paciente, pode atenuar senão prevenir o impacto das complicações associadas a este

transtorno.

Neste contexto, achou-se proveitoso estudar o estado do paciente em termos analíticos

na altura do diagnóstico, utilizando os dados registados nos Centros de Saúde do Mindelo,

São Vicente (CS-SV), tendo em conta que estas instituições centralizam, em grande parte, o

controle dos pacientes diagnosticados no período analisado.

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2

1.1 OBJECTIVOS

1.1.1 OBJECTIVO GERAL

Estudar retrospectivamente os dados analíticos dos pacientes diabéticos tipo 2

registados pelos Centros de Saúde do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde.

1.1.2 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS

Desenvolver uma base de dados digital.

Efectuar estatísticas descritivas.

Comparar os valores de glicémia na altura do diagnóstico entre sexos e idades, e a sua

relação com a utilização dos serviços de saúde.

1.2 JUSTIFICAÇÃO

A partir do ano 2010, os Centros de Saúde de São Vicente(CS-SV) centralizaram, como

serviço público, no diagnóstico e controle analítico dos pacientes diabéticos. Porém o formato

utilizado para efectuar o registo (papel), dificulta o processamento deste grande volume de

dados para a extracção de informação útil.

Neste trabalho, só foram digitalizados os registos de glicémia na altura do diagnóstico

existentes nos Centros de Saúde da cidade do Mindelo, São Vicente, servindo a base de dados

criada, como um simples ponto de partida para a informatização completa destes.

Pela relevância actual e futura desta doença para o país, considerou-se que esta

informação pode e deve ser aproveitada para uma gestão criteriosa dos recursos necessários

para enfrentar esta epidemia.

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3

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 DEFINIÇÃO ECLASSIFICAÇÃO DE DIABETES MELLITUS

A Diabetes mellitus (DM) é um grupo de desordens metabólicas comuns que

partilham o fenótipo de hiperglicemia. Existem vários tipos diferentes de DM devido a uma

interacção complexa entre factores genéticos e ambientais. Dependendo da causa da DM, os

factores que contribuem para a hiperglicemia podem ser a secreção deficiente da insulina,

diminuição da absorção de glicose pelos tecidos, ou aumento da produção da mesma.

O transtorno de regulação metabólica que acompanha a DM provoca alterações

fisiopatológicas secundárias em vários sistemas orgânicos, e coloca um fardo pesado sobre o

indivíduo com a doença e o sistema de saúde. Na maioria dos países desenvolvidos, a DM é a

principal causa do estágio final da doença renal, amputações não traumáticas de membros

inferiores e cegueira em adultos. Também predispõe à doença cardiovascular. Devido a que a

sua incidência está aumentando em todo o mundo, continuará a ser uma das principais

causas de morbilidade e mortalidade num futuro próximo (WHO, 2006).

A DM é classificada com base no processo patogénico que culmina na hiperglicemia

(TABELA 1).As duas grandes categorias de DM são designados tipo 1 e tipo 2 (TABELA

2). A diabetes de tipo 1 é o resultado de uma deficiência completa ou quase completa da

insulina, o tipo 2 é um grupo heterogéneo de doenças caracterizadas por graus variáveis

de resistência à insulina, deterioro na secreção do hormona e produção aumentada da

glicose.A DM tipo 2 é precedida por um período de homeostase anormal da

glicose classificado como glicémia alterada em jejum (GAJ) ou tolerância alterada à glicose

(TAG) (WHO, 2006; FAUCI,et al., 2010; American Diabetes Association, 2012).

TABELA 1.Espectro da homeostase da glicose e diabetes mellitus (DM).

Tipo de Diabetes

Tolerância

normal à

glicose

Hiperglicemia

Pre diabetes Diabetes Mellitus

Glicose alterada em

jejum ou tolerância

alterada à glicose

Não necessita

de insulina

Necessita de

insulina para

controle

Insulina

necessária para

supervivência

Tipo 1

Tipo 2

Outros tipos específicos

Diabetes gestacional

Tempo (anos)

GPJ

GP- 2 horas

<110 mg/dL

<140 mg/dL

110-125 mg/dL

140-199 mg/dL

>= 126 mg/dL

>= 200 mg/dL

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4

O espectro da tolerância normal à glicose para a diabetes tipo 1, tipo 2 e outros tipos

específicos de diabetes é mostrado da esquerda para a direita. Na maioria dos tipos, o

indivíduo começa por uma tolerância normal à glicose, passando por uma tolerância alterada

à glicose até diabetes evidente. As setas indicam que, em alguns tipos, a transição dum estado

ao outro podem ser bidireccional. Por exemplo, indivíduos com DM tipo 2 podem retornar à

categoria de TAG com a perda de peso, na diabetes gestacional (DG), o estado pode retornarà

TAG ou mesmo tolerância normal a glicose (TNG) após o parto. A glicose plasmática em

jejum (GPJ) e a glicose plasmática determinada 2 horas após sobrecarga oral de glicose (GP-

2 horas), são mostrados na parte inferior da tabela. Estes valores não são válidos para o

diagnóstico de diabetes gestacional (WHO, 2006; FAUCI,et al., 2010).

Dois aspectos da classificação actual da DM diferem das classificações anteriores.

Primeiro, os termos diabetes mellitus insulino-dependente, (DMID) e diabetes mellitus não-

insulino-dependente (DMNID) se tornaram obsoletos. Como muitos indivíduos com DM tipo

2, eventualmente, necessitam de terapia com insulina para o controle glicémico, a utilização

do termo DMNID gerava muita confusão. Uma segunda diferença é que a idade já não é

considerada como critério no novo sistema de classificação. Apesar que a DM tipo 1 se

desenvolve na maioria das vezes antes dos 30 anos, esta pode ser causada por um

processo de destruição auto-imune das células beta em qualquer idade. De facto, estima-

se que, entre 5 e10% das pessoas com DM após 30 anos de idade têm DM tipo 1.Do mesmo

modo, embora seja mais típico de desenvolver DM tipo 2 ao longo dos anos, também

ocorre em crianças, especialmente em adolescentes obesos(WHO, 2006; FAUCI,et al., 2010).

TABELA 2.CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DA DIABETES MELLITUS

I. Diabetes tipo 1 (destruição das células beta, geralmente causando deficiência

absoluta de insulina), 5-10% dos casos de DM.

A. Imune

B. Idiopática

II. Diabetes tipo 2 (varia desde uma resistência à insulina como rasgo

predominante com deficiência relativa de insulina, a uma deficiência na secreção

de insulina como característica principal associada à resistência à insulina), 90-

95% dos casos de DM.

III. Outros tipos específicos de diabetes

A. Defeitos genéticos da função das células beta.

B. Defeitos genéticos na acção da insulina

C. Doenças do pâncreas exócrino

D. Endocrinopatias

E. Induzida por medicamentos ou produtos químicos

F. Infecções de rubéola congênita, citomegalovírus, vírus coxsackie

G. Formas raras de diabetes imune

H. Outras síndromes genéticas algumas vezes associadas com o diabetes

IV. A diabetes gestacional (DMG)

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5

OUTROS TIPOS DE DM

Outras causas de MD são defeitos genéticos específicos na secreção ou acção da

insulina, distúrbios metabólicos que comprometem a secreção de insulina, doenças

mitocondriais e inumeráveis situações que alteram a tolerância à glicose(TABELA2). A

diabetes dojovem com inicio na maturidade (maturity-onset diabetes ofyoung, MODY) é um

subtipo de DM que é caracterizada por ser transmitida por herança autossômica dominante,

início precoce da hiperglicemia (geralmente antes dos 25 anos de idade) e transtorno da

secreção de insulina. As mutações do receptor de insulina causam um conjunto de alterações

pouco frequentes caracterizadas por uma resistência grave à insulina.A DM pode ser

o resultado de uma doença do pâncreas exócrinoquando é destruída uma grande parte

dos ilhéus pancreáticos. As hormonas que antagonizam a acção da insulina podem

produzir DM.Por esta razão, a DM é muitas vezes uma manifestação dedeterminadas

endocrinopatias, incluindo acromegalia e síndrome de Cushing. A destruição dos ilhéus

pancreáticos tem sido atribuída a infecções virais, mas são uma causa extremamenterara

de DM (WHO, 2006; FAUCI,et al., 2010).

DIABETES GESTACIONAL

Durante a gravidez pode-se desenvolver e descobrir por primeira vez intolerância à

glicose.A resistência à insulina relacionada comalterações metabólicas no final de

gravidez aumentam as necessidades de insulina e podem causar hiperglicemia ou intolerância

à glicose.A diabetes mellitusgestacional (DMG) ocorre em aproximadamente 7% das

gestações, e a maioria das mulheres recuperam uma tolerância normal à glicose após o parto,

mas têm um risco substancial (30 a 60 %) de padecerdiabetes em etapas posteriores da vida

(WHO, 2006; FAUCI,et al., 2010).

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6

2.2 EPIDEMIOLOGIA

A prevalência mundial de DM tem vindo a aumentar dramaticamente nos

últimos30 anos, em 1985 havia cerca de 30milhões de casos, enquanto que no ano

2000 estima-se que existiam 171milhões.Ajustado às tendências actuais, atéo ano

2030 estima-se que mais de 366 milhões de pessoas terão diabetes. A prevalência de diabetes

tipo 1 e tipo 2 está aumentando globalmente, mas o tipo 2 o faz muito mais rapidamente,

devido ao aumento da obesidade e níveis reduzidos de actividadefísica, na medida em que se

industrializa um número cada vez maior de países. Isso acontece em quase todas as nações e

seis dos 10 países com as maiores taxas de DM encontram-se na Ásia. Ao mesmo tempo a

elevação da esperança de vida contribui ao aumento da prevalência da diabetes nestas

populações. A nível mundial a prevalência é semelhante em homens e mulheres em quase

todas as faixasetárias (10,5 e 8,8% em pessoas com mais de20 anos), mas é

ligeiramente maior em mulheres acima de 60 anos. As estimativas mundiais indicam que em

2025 o maior número de diabéticos terão de 45 a 64 anos de vida.Estas projecções podem

variar dum estudo ao outro, mas o quadro global resultante é significativamente próximo entre

todos eles (International Diabetes Federation, 2003; Funding, etal, 2011).

FIGURA 1. EVOLUÇÃO GLOBAL DA DIABETES.

Fonte:http://www.who.int/diabetes/facts/world_figures/en/

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7

2.3 DIABETES EM CABO VERDE

Segundo a Federação Internacional da Diabetes (IDF), a prevalência de DM em Cabo

Verde no ano 2010 foi de 4,3% prevendo 5,2% para o ano 2030 (International Diabetes

Federation, 2003) (TABELA3).

TABELA3. Perfil populacional estimado da DM em Cabo Verde em 2010 e projecção para 2030a

Ano População

(milhares)

Prevalência

(%)

Área Sexos Faixas etárias

Total Rural Urbana M F

20-

39

40-

59

60-

79

2010 289 4,3 2,1 10,4 6,0 6,4 4,8 5,1 2,5 12,4

2030 494 5,2 3,1 22,8 13,6 12,2 7,3 11,5 7,0 25,9 a para o grupo de idades compreendido entre 20-79 anos

No ano 2011 foram publicados os resultados do estudo mais alargado realizado até essa

data, referentes à GPJ e prevalência da DM em 199 países e territórios desde o ano 1980 até

20085. Este estudo revela um panorama ainda mais alarmantepara Cabo Verde, estimando-se

uma prevalência de 15,6%(10,4-21,6) para os indivíduos adultos do sexo masculino, é

14,7%(10,0-20,1) para indivíduos femininos. Os valores de GPJ média na população geral,

ajustados por idades, mostram também uma tendência crescente nesse período (FIGURA2).

FIGURA 2. Variação da GPJ na população De Cabo Verde (idades a partir de 25 anos) entre1980 e 2008.

Fonte: Funding Bill et al, 20111

O gráfico da esquerda corresponde aos indivíduos do sexo masculino e o da direita aos

indivíduos femininos. A linha sólida representa o valor médio estimado de GPJ (dado em

mmol/L). Azona sombreada abarca o intervalo de confiança (α=0,05).

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2.4 DIAGNÓSTICO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs os critérios diagnósticos de DM

(TABELA 4), baseadosnos seguintes pressupostos:

1. O espectro de glicose plasmática em jejum (GPJ)e areacção a uma sobrecarga de

glicose pela via oral (PTOG) variam entre indivíduos normais.

2. A DM é definida como o nível de glicemia no qualocorremas complicações

específicas deste transtorno, mais que desvios em relação a uma média baseada na

população (WHO, 2006; FAUCI,et al., 2010).

TABELA 4. CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICOS PARA DIABETES MELLITUS

Sintomas de diabetes mais concentração de glicose “ao acaso”a>= 11,1 mmol

/L (200 mg/100 ml) ou

Glicose plasmática em jejumb >=7,0 mmol / L (126 mg/100 ml) ou

Glicose plasmática 2-h > =11,1 mmol / L (200 mg/100 ml) durante um teste de tolerância à

glicose

adefine-secomo acolheita "ao acaso", independentemente dotempo decorrido desde a última ingestão de

alimentos.

b é definido como "jejum" a não ingestão calórica por pelo menos oitohoras.

c este teste deve ser realizado com uma carga de glicose contendo o equivalente a 75 g de

glicoseanidra dissolvida em água.

Nota: Na ausência de hiperglicemia inequívoca e descompensação metabólica aguda, esses

critériosdeverãoser confirmados pela a sua repetição num dia diferente.

TOLERÂNCIA ALTERADA À GLICOSE

A tolerância à glicose é classificada em três categorias, considerando o valor de glicose

plasmática em jejum (GPJ):

1. GPJ<5,6 mmol / L (110 mg/100 ml) é o valor normal,

2. GPJ = 5,6 a 6,9 mmol / L (110-125 mg/100 ml) é definida como pré-diabetes, ou seja,

glicose alterada em jejum, e

3. GPJ>=7,0 mmol / L (126 mg / 100 ml) justifica o diagnóstico de diabetes mellitus.

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Tomando como base os resultados da prova de tolerância oral à glicose (PTOG):

1. A tolerância alterada à glicose (TAG) é definida como níveis de glicose no sangue

entre 7,8 e 11,1 mmol / L (140 e 199 mg/100 ml) e

2. Diabetes é definida como o valor de glicose maior do que 11,1 mmol / L (200 mg/100

ml) 2-h após a ingestão de 75 g de glicose.

Os indivíduos com GAJ, TAG, ou ambos, apresentam um risco significativo de

desenvolver DM tipo 2 (risco de 25 a 40% nos próximos cinco anos), e apresentam um

aumento do risco de doença cardiovascular.Os critérios actuais de diagnóstico de DM insistem

em que a glicose em jejum é o método diagnóstico mais confiável e conveniente de DM em

indivíduos assintomáticos.Uma concentração de glicose no plasma >=11,1 mmol/L (200

mg/100 ml), colhidas ao acaso e acompanhado dos sintomas clássicos de diabetes (poliúria,

polidipsia e perda de peso) é suficiente para o diagnóstico de DM. A prova da tolerância à

glicose oral (PTOG), embora continue a ser um método válido de diagnóstico de DM não é

recomendada como parte do atendimento de rotina (WHO, 2006; FAUCI, et al., 2010;

American Diabetes Association, 2012).

Algumas organizações médicas nacionais e regionais tem definido o limite de

normalidade da GPJ em 5,6 mmol/L(100 mg/dL), inferior ao valor estabelecido pela OMS 6,1

mmol/L(110 mg/dL). Esta consideração baseia-se em dados que mostram um risco

acrescentado de desenvolver DM tipo 2 em indivíduos com GPJ entre 5,6 mmol/L(100

mg/dL) e 6,05 mmol/L(109 mg/dL) (American Diabetes Association, 2012).

No ano 2011 a OMS propôs a utilização do ensaio da Hemoglobina Glicada (HbAc1)

para o diagnóstico da DM. Para isto o valor deve ser igual o superior a 6,5% desta fracção da

hemoglobina, sublinhando-se que valores inferiores não excluem o diagnostico pelos métodos

anteriormente referidos. Ao mesmo tempo a OMS reconhece que a utilidade e conveniência

da HbAc1 quando comparada com as medidas de glicose plasmática deve ser ponderada, já

que os ensaios para determinar a HbAC1 não se encontram disponíveis em muitos países, e

quando existem,o mesmo não está estandardizado devidamente para este uso (WHO, 2011).

O diagnóstico de DM tem profundas implicações para os pontos de vista individuais do

médico e financeiro. Portanto, esses critérios diagnósticos devem ser atendidos antes de

confirmar que o indivíduo experimenta DM.Para efectuar um diagnostico definitivo estas

anormalidades devem persistir em estudos repetidos, a menos que sejam graves distúrbios

metabólicos ou concentrações plasmáticas de glicose marcadamente elevadas (WHO, 2006;

FAUCI, et al., 2010; American Diabetes Association, 2012).

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2.5 DETECÇÃO

O maior e mais longo estudo sobre pacientes diabéticos tipo 2 (U.K. Prospective

Diabetes Study), mostrouqueos indivíduos que apresentavam osvalores mais baixos da

glicémia na altura do diagnóstico (presumivelmente, por se encontrar num estágio inicial da

doença),desenvolviammenos eventos clínicos adversos, apesar de ter uma progressão

glicémica posterior semelhanteaos outros grupos.Em particular, os indivíduos com valores de

glicémia inferiores a 140 mg/d no momento do diagnóstico, mostram um risco

significativamente menor de complicações e mortes relacionadas com a diabetes,mortalidade

por todas as causas, enfarto do miocárdio, doença vascular periférica edoença microvascular.

Isto sugere que a detecção activa de casos poderia ser a forma mais eficaz de prevenir

ouretardar o desenvolvimento destas complicações (WEIR GC, 2004).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definerastreiocomo o processo de

identificaçãodaqueles indivíduos que tem um risco o suficientemente elevado de sofrer uma

doença específica para justificar uma investigação mais aprofundada ou uma acção directa.

1. Existe um período prolongado, latente e assintomáticono qual acondição pode ser

detectada;

2. Uma proporção substancial de pessoas com diabetes tipo 2 não está diagnosticada;

3. Uma proporção substancial de novos casos referidos de diabetes tipo

2evidenciacomplicações micro-vascularesdadiabetes;

4. A prevalência crescente da diabetes tipo 2 em todo o mundo;

5. A gravidade dos efeitos imediatos e a longo prazodas complicações da diabetes tipo 2;

6. Evidências da eficácia do controle glicémico intensivo, da tensão arterial e o controle

de lípidos no sanguena diabetes tipo 2 e

7. Acumulação de provas que o tratamento da hipertensão e adislipidemiapodeprevenir

doenças cardiovasculares em pessoas com diabetes tipo 2.

Efeitos do rastreio sobre os indivíduos, o sistema de Saúde e a sociedade.

As políticas e práticas para o rastreio da diabetes tipo 2 têm profundas implicações para

os indivíduos, sistemas de saúde e da sociedade como um todo.

Implicações para os indivíduos incluem:

O tempo e outros recursos necessários para se submeter ao exame-teste (ou testes) e

qualquer teste de diagnóstico posterior (ou testes);

Os efeitos psicológicos e sociais dos resultados se oteste de rastreio mostra "positivo"

ou "negativo" e se ou não odiagnóstico da diabetes de tipo 2 é subsequentemente feito e

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Os efeitos adversos e custos dum tratamento precoce da diabetes tipo 2ou de quaisquer

medidas preventivas instituídas como resultado de o indivíduoser diagnosticado. Estes podem

incluir discriminação ocupacionale/ou aumento dos custos ou dificuldade na obtenção

dumseguro.

Os efeitos sobre o sistema de saúde e da sociedade como um todo são:

Os custos e outras implicações (especialmente na atenção básica eserviços de apoio,

tais como bioquímica clínica) de realizar oteste de rastreio (ou testes) eo teste confirmatório

necessário (outestes);

Os custos adicionais do tratamento inicial daqueles pacientes detectadoscom diabetes,

ou aqueles que tem um risco elevado de desenvolvimento de diabetes oudoenças

cardiovasculares no futuro e;

As implicações de falsos negativos e falsos resultados positivos quesão inevitáveis,

uma vez que qualquer teste inicial será um teste de rastreio enão um teste de diagnóstico

completo (excepto no caso de umaPTOG comvalores marcadamentealterados).

Qualquer prejuízo produtivo como consequência do diagnóstico precoce dacondição

(absentismo ou oportunidades de trabalho reduzidos, por exemplo).

Os potenciais benefícios da detecção precoce da diabetes tipo 2 são:

Maior esperança de vida e/ou qualidade de vida, que podem resultar duma redução da

gravidade e frequência dos efeitos imediatos dadiabetes, ou a prevenção ou retardamento das

suas complicações a longo prazo.

Poupança ou redistribuição de recursos da saúde, que é possível como resultado da

redução dos níveis de cuidados necessários para as complicações da diabetes (menor número

de internamentos e duração dos mesmos, etc.).

Existem várias abordagens possíveis para o rastreio da diabetes:

1. Rastreio massivode toda a população

2. Rastreio selectivo ou dirigido realizadonum subgrupo de pacientes quejá foram

identificados como estando em risco relativamente elevado em relação aidade, peso corporal,

etc.

3. Rastreio oportunista realizado num momento em que as pessoas são vistas,

porprofissionais de saúde, por uma razão que não seja a doença em questão.

Os rastreios “oportunistas” e os “selectivos” não sãomutuamente exclusivos, pois em

ambos o rastreio pode ser limitado àqueles de maior risco. No rastreio oportunista, a decisão

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de iniciar a consulta com o profissional éfeita pelo indivíduo, embora por razões não

relacionadas com a condição derastreio que é oferecido. Isto o distingue dos programas de

rastreio nos quais o convite para vir a ser rastreado faz parte do programa.

2.6 CUSTO-EFECTIVIDADE DO RASTREIO

Dados descritivos sugerem que o custo do rastreio em si mesmo é relativamente baixo

embora possa haver um substancial custo de oportunidade, tanto para o sistema como para

osindivíduos em causa. Os custos do tratamento posterior da diabetes são provavelmente

muito mais elevados do que os custos dorastreio. Para que o rastreio resulte custo-efectivo

vários aspectos devem ser ponderados no contexto onde se pretende realizar:

Epidemiológicos

1. Prevalência da diabetes não diagnosticada

2. Grau em que a diabetes está associadaao risco dedoenças cardiovasculares,

complicações específicas da diabetes e outros indicadores de saúde nessa população.

Capacidades do sistema de saúde

1. Para realizar o rastreio

2. Para proporcionar serviços adequados a aqueles pacientes com resultados positivos

3. Para enfrentar as necessidades psicossociaisdos que participam no rastreio

4. Paraimplementar uma prevenção eficaz, daqueles que, embora não foi confirmada a

presença da diabetes nesse momento, possuem alto risco de seudesenvolvimento

futuro.

População

1. Aceitação dos convidados a participar no rastreio

2. A medida em que a falta de aceitação reduza absorção

3. O impacto psicossocial de cada resultado do rastreio -positivo e negativo, "verdadeiro"

e "falso"

4. Capacidade daqueles indivíduos identificadosde estar em risco de desenvolvimento de

diabetes para modificar esses riscos no futuro.

Económicos

1. Custo da detecção precoce para o sistema de saúde e para o indivíduo

2. Custos adicionais de tratamento após a detecção precoce

3. A relação custo-efectividade da detecção precoce em comparação com

adetecçãoclínica dos casos.

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Ponderando o anterior, a Organização Mundial da Saúde recomenda praticar testes de

rastreiopara qualquer pessoa acima de 45 anos, a cada três anos, e fazer o mesmo com

pacientes num estágio inicial da vida se tiverem sobre peso (índice de massa corporal,IMC >

25 kg/m2) e também quando apresentem um factor de risco para diabetes (WHO, 2006;

COLAGIURI, 2002)(TABELA 5).

TABELA 5. FACTORES DE RISCO PARA DIABETES MELLITUS TIPO2

História familiar de diabetes (por exemplo, pais ou irmãos com diabetes tipo 2)

Obesidade (IMC >25 kg/m2)

Inactividade física habitual

Raça ou etnia (por exemplo, africanos, afro-americanos, hispano-americano, nativos

americanos, asiáticos das ilhas do Pacífico)

GAJ previamente identificada ou TAG

História do DMG ou peso ao nascer> 4 kg

Hipertensão (pressão arterial > 140/90 mmHg)

Concentração do colesterol HDL <35 mg/100 ml (0,90 mmol / L),

Triglicerídeos> 250 mg/100 ml (2,82 mmol / L) ou ambos

Síndrome do ovário policístico ou acantose nigricans

História de doença vascular

Nota: IMC, índice de massa corporal, GAJ, glicemia alterada em jejum, TAG, tolerância alterada à

glicose, DMG, diabetes mellitusgestacional, HDL, lipoproteína de alta densidade.

2.7 INSULINA

a) BIOSSÍNTESE

A insulina é produzida pelas células beta dos ilhéus pancreáticos. Inicialmente é

sintetizada como um precursor com uma única cadeia polipeptídica de 86 aminoácidos,

chamado pré-proinsulina. O processamento proteolítico subsequente remove o péptido de

sinal aminoterminal, gerando proinsulina. A clivagem de um fragmento interno de 31

resíduos da proinsulinagera o péptido-C e as cadeias α (21 aminoácidos) e β (30 aminoácidos)

de insulina, ligadas entre si por pontes de dissulfureto. A molécula de insulinaeopéptido-C

são armazenados em conjunto e são secretadas simultaneamente a partir dos grânulos

secretores de células beta. Dado que o péptido-C é menos sensível à degradação hepática que

a insulina, é um marcador útil da secreção de insulina e ainda serve para diferençar a insulina

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de origemendógenoe exógeno no estudo dahipoglicemia. Actualmente, a insulina humana é

produzida pela tecnologia doDNA recombinante, e as alterações estruturais em um ou mais

resíduos são úteis para alterar as suas características físicas e farmacológicas (American

Diabetes Association, 2012).

b) SECREÇÃO

A glicose é o principal regulador da secreção de insulina pelas células beta do pâncreas,

mas também podem influir outras moléculas como aminoácidos, cetonas, vários nutrientes,

péptidos gastrointestinais e neurotransmissores.As concentrações de glicose superiores a 3,9

mmol/L (70 mg/100 ml) estimulam a síntese de insulina, devido fundamentalmente a uma

intensificação da tradução e processamento da proteína.A glicose começa a estimular a

secreção de insulina quando é introduzida na célula beta pelo transportador da glicose

GLUT2. A fosforilação da glicose pelaglucoquinase é o passo limitante da velocidadena

secreção de insulina regulada pela glicose. O metabolismo adicional de glucose-6-fosfatopela

via da glicólise gera trifosfato de adenosina (ATP), que inibe a actividade de um canal de K+

sensível ao ATP. Este canal é constituído por duas proteínas separadas: um é o receptor de

certos agentes hipoglicemiantes orais (por exemplo, sulfonilureias, meglitinidas), eo outro é

uma proteína de canal de K+ rectificador para dentro. A inibição deste canal de K

+ induz a

despolarização da membrana das células beta, abrindo os canais de cálcio voltagem-

dependentes (com a posterior entrada de cálcio na célula) estimulando a secreção de

insulina. As características da secreção da insulina revelam um modelo de descargapulsátil da

hormona, com pequenasdescargasa cada aproximadamente10 min, as que se sobrepõem a

descargas de maior amplitude (80-150 min). As células neuroendócrinas do tracto

gastrointestinal libertam incretinasapós a ingestão de alimentos, as que amplificam a secreção

de insulina estimulada pela glicose e suprimem oglucagão. O péptido glucagonóide 1

(glucagon-likepeptide 1, o GLP-1),é a incretina mais potente, eo mesmo é libertado a partir de

células L no intestino delgado estimulando a secreção de insulina apenas quando o nível de

glicose no sangue é superior ao jejum. Os análogos daincretinas, como o exenatide, têm sido

utilizados para aumentar a secreção de insulina (American Diabetes Association, 2012).

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FIGURA 3. FASES NA SECREÇÃO DA INSULINA

FONTE: D. Porte, et al.

C) ACÇÃO

Uma vez que a insulina é secretada para o sangue venoso portal, quase 50% é degradado

no fígado. A insulina restantealcança a circulação geral, ligando-se à seus sítios alvo. Uma

vez ligada ao seu receptor estimula a actividade intrínseca da tirosinquinase o que resulta na

autofosforilação do receptor eo recrutamento de moléculas de sinalização intracelulares, tais

como os substratos do receptor da insulina (IRS). Estas proteínas adaptadoras e outros

complexos iniciam uma cascata de reacções de fosforilação e desfosforilação, que em última

instância conduzem aos diversos efeitos metabólicos e mitogénicos da insulina. Por exemplo,

a activação da via dafosfatidilinositolquinase 3 '(PI-3) estimula a transposição de

transportadores de glicose (por exemplo, GLUT4) para a superfície celular, um evento crucial

para captação de glicose pelo músculo e tecido adiposo. A activação de outras vias de

sinalização do receptor da insulina, induz a síntese de glicogénio, a síntese de proteínas, a

lipogénese e a regulação de diversos genes em células que respondem à insulina (American

Diabetes Association, 2012).

2.8 FISIOPATOLOGIA DA DM

A progressão da DM pode ser descrita, fundamentalmente, pelo declínio da função das

células beta e o aumento da resistência à insulina (FIGURA4).Nos estágios iniciais, a

tolerância à glicose permanece quase normal, apesar da resistência à insulina, porque as

células beta logram a compensação pelo aumento da produção da hormona. Na medida que

evolui a resistência à insulina e consequentemente surge uma hiperinsulinemia compensatória,

os ilhéus pancreáticos nalguns indivíduos não conseguem conservar este estado

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hiperinsulinémico e é nesta altura que aparece a TAG, que se caracteriza por incrementos no

nível de glicemia pos-prandial. A diminuição ulterior da secreção de insulina e o aumento da

produção de glicose pelo fígado culminamna diabetes franca com hiperglicemia em jejum.

Finalmentesobrevéma insuficiência das células beta. Tudo o anterior significa que o declínio

progressivo da secreção de insulina pelas células beta, principalmente a secreção na primeira

fase que acontece imediatamente depois do aumento daglicémia, é provavelmente o defeito

funcional mais crítico no desenvolvimento da DM (COLAGIURI,2002).

FIGURA 4. Progressão da Diabetes Mellitus (DM) tipo 2. Fonte:Fauci, et al, 2010.

A secreção de insulina e a sensibilidade

a esta encontram-se relacionadas, e

conforme o individuo se torna mais

resistente a esta hormona (ao passar do

ponto A ao ponto B) é incrementada a

sua secreção. A incapacidade de

compensar o problema mediante o

aumento da secreção de insulina leva a,

inicialmente, transtorno da tolerância à

glicose (IGT, ponto C) e finalmente DM de tipo 2 (Type 2 DM, ponto D) (FAUCI,et al.,

2010).

A resistência à insulina é fundamental para a instauração da DM tipo 2, e ela aparece em

todos os tecidos dependentes de insulina como o fígado, músculo e tecido adiposo. Esta

resistência se caracteriza pela diminuição do transporte e metabolismo da glicose nos

adipócitos e na musculatura esquelética, assim como pela alteração da produção hepática de

glicose.A sensibilidade à insulina é influenciada porfactores como idade, peso, etnia, gordura

intra-abdominal, actividade física e fármacos. A obesidade central está directamente

implicada com a resistência à insulina, hiperinsulinemia e distúrbios lipídicos. O tecido

adiposo intra-abdominal (visceral), além de servir como reserva de lípidos, produz ácidos

gordos livres (AGLs) em excesso, através da lipólise, expressa níveis elevados de adipocinas

pró-inflamatórias (TNF-alfa e IL-6) e produz menos adiponectina.A ligação entre a elevação

de AGLs e a resistência à insulina envolve o acúmulo de triglicérideos no músculo, fígado,

miocárdio e células β.Essa deposição ectópica de gordura (lipotoxicidade) induz alterações na

secreção e acçãoinsulínicas, podendo resultar em esteatose hepática, aterosclerose e DM.Nas

células β essa regulação acelera a apoptose e reduz a massa dessas células. Se não houver um

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controle glicémico adequado, será exercido um efeito tóxico nas células β e nos tecidos

sensíveis à insulina, perpetuando um ciclo de agravamento dos defeitos e mantendo o estado

hiperglicémico (glucotoxicidade). Odeterioro funcional das células β ocorre desde o começo

da doença.Naaltura do diagnóstico da DM, aproximadamente o 50% ou mais da função das

células beta já terá sido perdida,continuando a progredir ainda com tratamento (FIGURA5).

Em termos terapêuticos, o anterior significa que, além do controle glicémico, é

necessário encontrar formas de evitar ou minimizar a perda da massa de células-β (FAUCI,et

al., 2010).

FIGURA5. DETERIORO FUNCIONAL DAS CÉLULAS-Β NA DM TIPO 2

Fonte:Holman, 1998

Supondo que o deterioro funcional das células-β é linearatravés de toda a história da

doença, pode-se estabelecer o início da mesma até 10 anos antes do diagnóstico.

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2.9 ESTÁGIOS DA PROGRESSÃO DA DM

Foram propostos cinco estágios na progressão da diabetes, caracterizados cada um deles

por diferentes alterações da massa, fenótipo e função das células-β:

Estágio 1 seria de compensação: a secreção de insulina aumenta para manter a

normoglicémia devido à resistência à insulina (DM2) ou diminuição da massa de células-β

(DM1). Este estágio é caracterizado pela manutenção da função diferenciada com a secreção

aguda de insulina estimulada pela glicose (SAIEG) intacta.

Estágio 2 ocorre quando os níveis de glicose aumentam até concentrações de (90-125)

mg/dL, sendo isto um estado estável de adaptação das células-β com a perda da sua massa e

destruição da sua função o que é evidenciado pela diminuição da SAIEG e a perda da função

especializada (FIGURA 6).

Estágio 3 é um período transitório instável de descompensação inicial no qual os níveis

de glicose aumentam de forma relativamente rápida para a diabetes franca do Estágio 4, que

caracteriza-se como a descompensação estável e uma diminuição mais severa da

especializaçãocelular.

Finalmente, o Estágio 5 é caracterizado por uma descompensação grave representada

por uma profunda redução da massa de células-β e progressão para cetose (LEAHY,2010;

American Diabetes Association, 2009).

FIGURA 6. ALTERAÇÃO NAS FASES DA SECREÇÃO DA INSULINA NA DM2

Fonte:D. Porte, et al.

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TABELA6. Estágios propostos da disfunção das células-β durante a progressão da DM

ESTÁGIO 1. COMPENSAÇÃO (glicemia “normal”)

Hipertrofia e hiperplasia das células-β

Secreção normal ou aumentada de insulina glicose-induzida

ESTÁGIO 2. ADAPTAÇÃO ESTÁVEL (hiperglicemia leve, 90-125

mg/dL)

Perda da secreção aguda de insulina glicose-induzida (1ª fase)

Preservação da resposta à secretagogos

Inicio da perda da função celular especializada

ESTÁGIO 3. DESCOMPESAÇÃO INSTÁVEL INICIAL (126-270

mg/dL)

Perda progressiva da secreção aguda de insulina glicose-induzida

(2ª fase)

Diminuição da resposta aos secretagogos

Severa perda da função especializada

ESTÁGIO 4. DESCOMPESAÇÃO ESTÁVEL (271-360 mg/dL)

Apoptose

Depósitos de amilóide e glicogénio

Fibrose

ESTÁGIO 5. DESCOMPESAÇÃO SEVERA (>360 mg/dL)

Cetoacidose diabética resultante duma marcada destruição das

células-β

Necessidade de insulina exógena para a super vivência

2.10 COMPLICAÇÕES DA DM

a) COMPLICAÇÕES AGUDAS

A cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperosmolar hiperglicémico (EHH) são

complicações agudas provocadas por esta doença. A CAD era considerada anteriormente um

quadro característico da DM de tipo 1, mas esta pode acontecer também em pessoas que

carecem das alterações imunitárias da DM de tipo 1 (estes indivíduos com DM de tipo 2 são

sobretudo de origem hispano ou africano). O EHH acontece de maneira primordial em

indivíduos com DM de tipo 2. Ambos transtornos são acompanhados de deficiência insulínica

absoluta ou relativa, depleção do volume intravascular e anormalidades do equilíbrio ácido

básico.Tanto umcomo o outro transtorno devem ser diagnosticados e tratados oportunamente,

dada a gravidade potencial destas complicações (FAUCI,et al., 2010).

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20

A hipoglicemia (HG) é a complicação mais importante e temível da terapia

farmacológica da DM. A mesma determina grande parte da morbilidade recorrente na maioria

dos pacientes com DM de tipo 1 e muitos com DM de tipo 2. Quando não é fatal, deteriora os

mecanismos compensatórios é de alerta contra subsequentes hipoglicemias, deixando o

paciente indefeso perante concentrações de glicose insuficientes para suster o funcionamento

normal do cérebro, no primeiro lugar, e os restantes órgãos. Por isto constitui o factor crítico

para a completa realização dosbenefícios do controle glicémico a curto e longo prazo(WHO,

2006).

b) COMPLICAÇÕES CRÓNICAS

As complicações crónicas da DM podem afectar muitos sistemas orgânicose sãoa causa

de grande parte da morbilidade e mortalidade que devida a este transtorno O risco de

complicações crónicas aumenta com a duração da hiperglicemia.Como a DM de tipo 2 pode

ter um período prolongado de hiperglicemia assintomática, muitos indivíduos com DM de

tipo 2 já apresentam complicações no momento do diagnóstico (FAUCI,et al., 2010)

(FIGURA 7).

FIGURA 7. COMPLICAÇÕES CRÓNICAS DA DM

Fonte:International Diabetes Federation, 2003.

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21

2.11 TRATAMENTO E CONTROLO DA DM

Os objectivos do tratamento da DM de tipo 1 ou 2 são:

1. Eliminar os sintomas relacionados com a hiperglicemia,

2. Reduzir ou eliminar as complicações de microangiopatia ou macroangiopatia a

longo prazo, e

3. Permitir ao paciente um modo de vida tão normal como seja possível.

Para alcançar estes objectivos, o médico deve identificar uma meta de controlo

glicémico em cada paciente, proporcionar a este os recursos de educação e fármacos para

lograr este nível, vigiando e tratando as complicações relacionadas com estadoença (FAUCI,et

al., 2010).

TABELA 7. OBJECTIVOS TERAPÉUTICOS EM ADULTOS DIABÉTICOSa

ÍNDICE VALOR ALVO

Controlo da glicémiab

Hemoglobina glicada (HbAc1) <7.0% c

Glicose plasmática capilar na fase pré-prandial 5.0-7.2 mmol/L (90-130 mg/100 ml)

Glicose plasmática capilar na fase pos-prandial (máximo) <10.0 mmol/L (<180 mg/100 ml)d

Tensão arterial <130/80e

Lípidosf

Lipoproteínas de baixa densidade (LDL) <2.6 mmol/L (<100 mg/100 ml)

Lipoproteínas de alta densidade (HDL) >1.1 mmol/L (>40 mg/100 ml)g

Triglicerídeos <1.7 mmol/L (<150 mg/100 ml)

aÉ importante estabelecer objectivos ou metas para cada paciente, já que estes podem ser diferentes em algumas

populações de doentes.

bA Hemoglobina glicada (HbAc1) é a meta primaria.

cMesmo recomendando que a HbAc1 seja menor de 7.0%, de forma geral, no doente individual sugere-se que

esta seja o mais próxima possível do valor normal (<6.0%) sem hipoglicemia significativa.

d Uma a 2 h após o inicio duma refeição.

e Em indivíduos com filtração glomerular diminuída e macroalbuminuria o valor alvo seria <125/75.

f Em ordem descendente de prioridades.

g No caso das mulheres, sugere-se um valor alvo ligeiramente maior: 1,4 mmol/L (50 mg/100 ml)

O controlo da glicémia envolve a necessidade de uma mudança do estilo de vida,

manutenção de peso ideal e o uso de agentes hipo ou normoglicemiantes. A escolha de cada

agente se faz em função do seu mecanismo de acção, das características fisiopatológicas da

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doença de cada caso no momento, de eventos colaterais, facilidade de administração ao

paciente e o custo (FAUCI,et al., 2010) (FIGURA 8).

FIGURA8.CAUSAS DA HIPERGLICEMIA E ACÇÃO DOS ANTIDIABÉTICOS ORAIS

Fonte:http://www.medscape.org/viewarticle/533668_14

GLICOSE, CONSIDERAÇÕES ANALÍTICAS

A glicose medida no plasma é aproximadamente 11% mais elevada do que a glicose

medida no sangue total. No entanto, esta diferença é dependente do hematócrito, aumentando

para 15% a um hematócrito de 0,55 e diminuindo para 8% a uma hematócrito

de 0,30.Por esta e outras razões a conversão de glicose no sangue completo para glicose

plasmática é problemática. Também deve ser notado que muitos dispositivos portáteis de

medição da glicose ainda são calibrados para sangue total, apesar de que a Federação

Internacional de Química Clínica (IFCC) recomenda que todos estes dispositivos deveriam

reportar os resultados para valores plasmáticos. Podem ademais existir diferenças nos valores

medidos, dependendo do local de recolha da amostra de sangue. As amostras venosas e

capilares darão o mesmo resultado no estado de jejum, mas num estado diferente as

amostras capilares reportarão resultados mais elevados do que as venosas (WHO, 2006).

Devido a que a concentração de glicose da amostra começa a diminuir imediatamente

(5-7% por hora), o processamento após a recolha é importante para garantir uma medição

precisa deste metabolito no plasma. Isto requer a separação rápida do plasma após a recolha

(dentro de minutos), mas é reconhecido que isto ocorre raramente por não ser prático. O

requisito mínimo estabelece que o tubo da amostra deve ser colocado imediatamente em água

gelada e, mesmo assim, deve-se efectuar a separação do plasma num período máximo de

30min (American Diabetes Association, 2011; SACKS, 2011).

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23

Actualmente os métodos enzimáticos são praticamente os únicos utilizados para a

quantificação da glicose. Estes métodos estão relativamente bem estandardizados, são rápidos,

precisos e baratos.

HEMOGLOBINA GLICADA

A quantificação de proteínas glicadas, sobretudo a hemoglobina (HbAc1), é utilizada

para monitorar o estatus glicémico dos pacientes durante longos períodos. O termo “glicada”

refere-se à hemoglobina modificada pela adição não enzimática da glicose. A velocidade de

síntese da HbAc1 está determinada, fundamentalmente, pela concentração de glicose à qual

ficarem expostos os eritrócitos, conjuntamente com o tempo de exposição. Por isto, a HbAc1

resulta ser uma medida clinicamente útil da glicemia média durante os últimos 120 dias (vida

média dos eritrócitos), e ao mesmo tempo, esta representa um índice do risco de desenvolver

complicações (WEIR GC, 2004). São utilizados aproximadamente 100 métodos diferentes

para medir a HbAc1. Comercialmente, os métodos mais utilizados estão baseados em

imunoensaios, e técnicas cromatográficas (WHO, 2003; HUMAN GESELLSCHAFT FÜR

BIOCHEMICA UND DIAGNOSTICA, 2011).

COMPARAÇÃO ENTRE AMBOS MÉTODOS

Quando se utiliza a GPJ ou HbAc1 para o diagnóstico e monitorização do paciente

diabético devem ser consideradas várias questões clínicas e analíticas (HUMAN

GESELLSCHAFT FÜR BIOCHEMICA UND DIAGNOSTICA, 2011) (Tabela 8).

TABELA 8. Características da GPJ e a HbAc1 para o diagnóstico e seguimento do paciente diabético

GPJ HbAc1

Vantagens

Amostra pode ser colhida em qualquer altura do dia

Largamente disponível Pequena variabilidade biológica

Custo baixo Amostra estável

Automatização Não é alterada por factores agudos (stress, exercício)

Reflecte o estado da glicemia por períodos longos

Prognostica o desenvolvimento de complicações

Desvantagens

Exige jejum de > 8 horas

Grande variabilidade biológica Pode ser afectada por outros factores além da glicemia

Amostra instável Não disponível em muitos laboratórios

Afectada por factores agudos (stress, doença) Alto custo

Reflecte a homeostase da glicose num ponto

Menor correlação com as complicações

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24

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MÉTODO ANALÍTICO

Foram colectados todos os valores de glicémia em jejum de pacientes diabéticos na

altura do diagnóstico, registados pelos Centros de Saúde da cidade do Mindelo, São Vicente

(CS-SV) até Agosto de 2012. O método utilizado para obter estes resultados foi enzimático-

colorimétrico, no qual a glicose é determinada após a oxidação enzimática na presença da

glicose-oxidase (GOX). O peróxido de hidrogénio formado reage sob catálise da peroxidase

(POX) com fenol 4-aminobenzofenazona originando a quinonimida que é um cromôgeno

vermelho - violeta. A absorvância deste cromôgeno é então medida, sendo a mesma

proporcional à concentração de glicose. O fabricante declara que o ensaio é linear até uma

concentração de glicose de 22,2 mmol/L (400 mg/dL) (ADDINSOFT, 2012).

REACÇÃO

1. Glicose + O2 + H2O → GOX → Ácido glucónico + H2O2

2. 2H2O2 + 4-aminonzofenona + Fenol → POX → Quinonimida + 4H2O

3.2 PROCEDIMENTO

O sangue completo do paciente é colheitado por venopunção das veias da fossa

antebraquial (cubital médias ou cefálicas preferentemente). Posteriormente o sangue total é

centrifugado a 1.500 G durante 10 minutos para separar a fracção celular do soro ou plasma.

A 1000 µL do reagente enzimático são adicionados 10 µL da amostra (plasma, soro). A

mistura se homogeneiza e incuba 20 minutos á 20-25ºC ou 10 minutos á 37ºC. A absorvância

é então medida com um espectrofotómetro previamente calibrado com o reagente branco e um

padrão de glicose, utilizando um comprimento de onda de 500 nm e uma cubeta de 1 cm de

largura (ADDINSOFT, 2012).

O espectrofotómetro utilizado foi o Humalizer 2000/3000 que, ao igual que o reagente

enzimático, é fabricado pela HumanDiagnostics (Alemanha).

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25

3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICO

Os registos existentes no laboratório da DS-SV foram transferidos manualmente ao

formato digital, utilizando um computador portátil TOSHIBA Satellite Pro (CPU Intel Core 3

Gigahertz).Primeiramente foi criada uma base de dados numa folha de cálculos (EXCEL

2007, Microsof) que incluía 4 campos (colunas) nomeadamente: sexo do paciente, data de

nascimento, data do diagnóstico e resultado da análise (glicémia). A análise estatística foi

efectuada utilizando um add-inpara o Microsof EXCEL (XLSTAT 2012, Addinsoft) num

computador DATABOX Boxartic (CPU Pentium Dual-Core 2,5 GHz) (TECK-ONN LIM

FRCP, 2002).

Tendo em conta que os dados analisados pertencem a uma mistura heterogénea de

pacientes caracterizados por se encontrar em diferentes estágios da doença e muitos outros

factores que influem nos valores observados, seria plausível considerar a existência de várias

subpopulações de medidas de glicémia e não uma única população (DAGNELIE P, 1975).

Sendo assim, duas abordagens podem ser utilizadas para a comparação das diferentes

populações através de provas de hipótese:

1. Paramétrica

2. Não paramétrica

A abordagem paramétrica implica a caracterização completa (tipo de distribuição,

parâmetros e peso) das diferentes subpopulações e a obtenção dum modelo misto de

distribuições. Os métodos não paramétricos permitem comparar as distribuições sem conhecer

a lei ou modelo que as descreve (distribution-free).

Neste trabalho, a comparação das distribuições foi realizada por métodos não

paramétricos, reservando a aplicação dos métodos paramétricos para um trabalho futuro. Na

análise de regressão o modelo escolhido não pretende ser explicativo senão ilustrativo da

correlação entre as variáveis consideradas.

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26

4.RESULTADOS

4.1 ESTATISTICAS DESCRITIVAS

Dos 578 pacientes com registos de valores de glicémia superior a 125 mg/dL na altura do

diagnóstico, 189 pertencem ao sexo masculino (32,7%) e 389 ao sexo feminino (67,3%).

TABELA 9. Dados gerais

Centro de Saúde Masculino Feminino TOTAL

CHÃ DE ALECRIM 22 46 68

32,4% 67,6% 100,0%

FONTE INÊS 56 120 176

31,8% 68,2% 100,0%

MONTE SOSSEGO 55 122 177

31,1% 68,9% 100,0%

RIBEIRINHA 32 61 93

34,4% 65,6% 100,0%

RIBEIRA DE CRAQUINHA 24 40 64

37,5% 62,5% 100,0%

TOTAL 189 389 578

32,7% 67,3% 100%

A idade média dos pacientes de sexo masculino é de 59,9 anos (DP=13,3), enquanto que

para o sexo feminino esta foi de 62,8 anos (DP=13,4). As frequências relativas das idades

mostram uma distribuição bimodal para ambos sexos.

GRÁFICO 1. Distribuição das idades por sexo.

A distribuição dos valores de glicémia mostra uma assimetria á direita

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

Mas Fem

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27

GRÁFICO 2. Distribuição dos valores de glicémia por sexo.

TABELA 10. Glicémia, estatísticas descritivas

Masculino Feminino

Mediana 188,700 186,100

Máximo 697,000 580,000

Rango 572,000 455,000

Media 219,645 207,320

Media geométrica 204,917 195,566

Media armónica 193,135 186,049

Curtosis (Pearson) 3,804 2,643

Asimetría (Pearson) 1,634 1,516

Curtosis 4,013 2,722

Asimetría 1,660 1,528

Coeficiente Variação 0,411 0,374

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

0,250

13

5

17

5

21

5

25

5

29

5

33

5

37

5

41

5

45

5

49

5

53

5

57

5

61

5

65

5

69

5

Mas

Fem

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4.2 INFERENCIA E PROVAS DE HIPÓTESE

A realização do teste bilateral de conformidade da proporção ou percentagem dos

indivíduos masculinos, relativamente á estimativa de prevalência para o ano 2010 (TABELA

7), mostra diferenças muito significativas. Neste caso o valor observado (10,53) é maior que o

valor crítico até para α=0,001 (3,29). Uma comparação das medidas totais de glicemia entre

ambos sexos, não resultou em diferenças significativas.

TABELA 11. Comparação das distribuições de glicémia: Teste de Kolmogorov-Smirnov Bilateral

D 0,089

p-valor 0,237

Alfa 0,05

A realização do teste anterior para cada grupo de idades não mostrou diferenças

significativas entre sexos, excepto para o grupo de idades entre 45 a 49 anos (α=0,05).

TABELA 12. Comparação das distribuições de glicémia entre sexos e grupos de idades.

Grupo de

Idades D p-valor

30-34 0,167 0,999

35-39 0,215 0,981

40-44 0,250 0,796

45-49 0,409 0,023

50-54 0,096 0,988

55-59 0,148 0,820

60-64 0,265 0,323

65-69 0,127 0,931

70-74 0,268 0,123

75-79 0,191 0,651

80-84 0,308 0,621

85-89 0,375 0,836

* Não foram incluídos os grupos de idades entre 25-29 e maiores de 89 anos, por dados insuficientes. A diferença

significativa aparece em cursiva negritada.

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29

Como foi referido na INTRODUÇAO, a fisiopatologia da DM pode ser descrita por

cinco estágios os quais poderiam ser caracterizados analiticamente por valores crescentes da

glicémia em jejum conforme se degrada a função das células-beta durante a progressão da

doença:

ESTÁGIO 3. 125-270 mg/dL

ESTÁGIO 4. 271-360 mg/dL

ESTÁGIO 5. Maior de 360 mg/dL

Como pode observar-se na TABELA 16 (ANEXOS), existem diferenças significativas

(α=0,05) entre ambos sexos na faixa etária de 45-49 anos, no referente à proporção de

pacientes no estágio 5 da doença.

5.ANÁLISE DE REGRESSÃO

A observação dos GRÁFICOS 3 e 4 ilustra uma tendência inversa entre o número de

pacientes na escala de idades (tendência ascendente), e os valores medianos da glicemia na

mesma escala (tendência decrescente). Isto pode apontar no sentido de que quanto maior for a

utilização dos serviços de saúde devido ao aumento natural da morbilidade geral com a idade,

maior será a probabilidade do paciente ser rastreado num estágio inicial da DM.

GRÁFICO 3.Número de pacientes por grupos de idade e sexo

0

10

20

30

40

50

60

Mas Fem Freq.R

Idades

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30

GRÁFICO 4. Glicémia mediana por grupos de idade e sexos

Para testar esta hipótese foram utilizados os dados disponíveis na bibliografia referentes

a distribuição por idades da população caboverdiana, assim como as prevalências globais

estimadas para a DM. Com isto foi calculado o Factor de Oportunidade de Rastreio (FOR)

pela seguinte fórmula:

FOR= Número de Pacientes Diagnosticados / (Prevalência *População)

Os valores possíveis para o FOR variam entre 0 (não há pacientes diagnosticados) e 1

(são diagnosticados todos os pacientes diabéticos existentes na população). Considerando a

assimetria da distribuição dos valores de glicémia (TABELA 10), foi utilizada a mediana dos

mesmos como medida de tendência central sendo mais adequada que a média aritmética neste

caso, por não ser afectada pelos valores extremos(WILD, 2004; INSTITUTO NACIONAL

DE ESTATISTICAS, CABO VERDE, 2011).

TABELA 13. Valores do FOR e a glicémia mediana entre sexos e grupos de idade.

Grupo de

Idade

Masculino Feminino

FOR MED FOR MED

30-34 0,017 274 0,020 238

35-39 0,011 192 0,058 208

40-44 0,021 246 0,019 252

45-49 0,027 259 0,054 175

50-54 0,051 190 0,066 193

55-59 0,065 170 0,069 187

60-64 0,083 199 0,143 183

65-69 0,145 179 0,145 186

70-74 0,112 157 0,141 190

75-79 0,136 180 0,221 180

* Não são mostrados os valores correspondentes aos grupos de idade maiores de 79 anos por insuficiência de

dados.

125

145

165

185

205

225

245

265

285

Mas Fem Glicémia mediana

Idades

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O GRÁFICO 5 mostra uma relação não linear entre o FOR e a mediana da glicémia na

altura do diagnóstico. A análise de regressão mostra uma forte correlação (R²=0,58) do

modelo exponencial considerado.

GRÁFICO 5. Relação entre o FOR e a glicémia mediana.

125

145

165

185

205

225

245

265

285

0,000 0,050 0,100 0,150 0,200 0,250

Mas Fem Calc

Y=95*EXP(-20*X)+171

R²=0,58

Glicémia mediana

FOR

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32

6- DISCUSSÃO

6.1 Diferenças de Género no Diagnóstico da DM em Cabo Verde

Globalmente, a prevalência da diabetes é semelhante em homens e mulheres, mas esta é

ligeiramente maior em homens com menos de 50 anos e em mulheres nas idades mais

avançadas. Em geral, a prevalência de diabetes é maior em homens, mas há mais mulheres

com diabetes do que homens. O efeito combinado de um maior número de mulheres idosas do

que os homens na maioria das populações, e o aumento da prevalência da diabetes com idade

é a explicação mais plausível para esta observação (WILD S, 2004) (FIGURA 9 e GRÁFICO

6).

FIGURA 9. Prevalência Global da DM por Idades e Sexos.

Fonte:WILD S, 2004

É ligeiramente maior em homens (azul) com menos de 50 anos e em mulheres

(vermelho) nas idades mais avançadas.

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33

GRÁFICO 6. Percentagem dos Sexos por Grupos de Idades na População de Cabo Verde no ano 2010.A

partir dos 50 anos passam a predominar os indivíduos de sexo feminino.

Além disso, os estudos têm mostrado consistentemente que as mulheres usam mais os

serviços de saúde que os homens. Estas diferenças podem estar associadas com a biologia

reprodutiva e condições específicas do género, as taxas mais elevadas de morbilidade em

mulheres, as diferenças na percepção de saúde assim como a comunicação de sintomas e

doenças, ou uma maior probabilidade das mulheres procurar ajuda para a prevenção e o

tratamento das doenças. Padrões referenciados na prática médica também podem, em parte

explicar, as taxas de cuidados especiais e testes de diagnóstico (BERTAKIS, 2000).

6.2 Variação da glicemia com a utilização dos serviços de saúde

Conforme mostra o GRÁFICO 6 existe um aumento significativo da glicemia mediana

na altura do diagnóstico, na medida em que a utilização dos serviços clínicos se aproxima de

zero, sem sofrer grandes variações com uso maior destes serviços. Isto é devido a que a

glicemia em jejum não é um indicador sensível do deterioro das células beta, já que a

homeostase da glicose pode ser conservada mesmo com uma massa muito reduzida deste tipo

celular (descompensação instável inicial - Estágio 3). Só a partir de níveis de destruição

celular massivos (90-95%) é que poderá observar-se um incremento abrupto da glicémia.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Masculino Feminino

Anos

%

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34

FIGURA 10. VARIAÇÃO DA GLICÉMIA EM RELAÇÃO A MASSA DE CÉLULAS BETA.

Fonte:TOPP B, 2000

FIGURA 11. MECANISMO GERAL DA PROGRESSÃO DA DM.

Fonte: TOPP B, 2000

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35

Na FIGURA 11 aparece descrito o mecanismo geral da progressão da DM considerando

as velocidades de replicação e destruição das células beta (eixo vertical), relativamente a

glicémia (eixo horizontal). Na zona I (glicémia menor de 100 mg/dL) a velocidade de

destruição celular (linha grossa) supera a replicação diminuindo a sua massa o qual resulta

num aumento da glicemia. Na zona 2 (glicémia entre 100 e 250 mg/dL) a replicação

predomina sobre a destruição, aumenta a massa celular com a consequente diminuição da

glicemia (retroalimentação negativa). A zona 3 (glicémia maior de 250 mg/dL) representa a

descompensação estável ou severa, provocada pelo efeito tóxico da glicose sobre as células

beta levando a um agravamento da hiperglicemia (retroalimentação positiva) (TOPP, 2000).

Todo o anterior pode explicar o porquê de não existirem (excepto no grupo de idades

entre 45 e 49 anos) diferenças significativas na distribuição dos valores de glicémia entre

ambos sexos, mesmo existindo uma utilização menor dos serviços de saúde por parte dos

homens.

6.3 Diferença na distribuição da glicemia entre sexos no grupo de idades entre 45 e

49 anos

Levando em conta que o padrão de morbilidade geral é diferente entre os sexos, pode-se

sugerir que a diferença detectada entre as distribuições da glicémia no grupo de idades entre

45 e 49 anos, deve-se ao facto de que as mulheres se antecipam no rastreio mais intensivo

aproximadamente 5 anos (45-49 anos nas mulheres e 50-54 nos homens) TABELA 12.

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36

7. CONCLUSÃO/ RECOMENDAÇÕES

O presente trabalho foi realizado nos centros de saúde do Mindelo, nos pacientes com

valores de glicémia superior a 125 mg/dL na altura do diagnóstico, compreendidos numa faixa

etária de 25 a 97 anos de idade, com um total de 578 pacientes, sendo que 189 (32,7%)

pertence ao sexo masculino e 389 (67,3%) ao sexo feminino.

De acordo com os resultados, pode-se concluir que mesmo com prevalências estimadas

semelhantes para ambos sexos, a proporção de pacientes diagnosticados do sexo feminino é

significativamente maior devido a uma utilização mais intensiva por parte das mulheres dos

serviços de saúde.

A relação entre a utilização dos serviços de saúde e o valor de glicémia é uma relação

não linear, visto que quando maior for a utilização do serviço por parte dos pacientes, menor

será o valor de glicémia, ou seja os valores de glicémia tendem a aproximarem –se

teoricamente do limiar do diagnóstico (126 mg/dL) aquando a utilização dos serviços de saúde

determina o diagnostico de todos os pacientes diabéticos existentes na população (FOR=1).

Assim, após este estudo, pode-se recomendar às instituições responsáveis a realização

duma análise de custo – efectividade para a realização do rastreio selectivo activo no grupo de

idades entre 30 e 50 anos, principalmente em homens, visto que nesta faixa etária o rastreio

oportunista não é eficaz na detecção de pacientes em estágios precoces da doença. Tendo em

conta que a efectividade dum programa de rastreio activo pode ver-se comprometida pela

aceitação dos indivíduos convidados, então sugere-se a utilização de tecnologias de rastreio

não invasivas (ANEXO 6).

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37

8. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Journal of Family Practice, volume 49, number 2.

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Type 2 Diabetes Associated With Improved Outcomes?.Diabetes Care, volume 25,

number 8.

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Resultados definitivos do recenseamento geral da população e habitação-2010.

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http://www.medscape.org/viewarticle/533668_14

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WHO, 2006. Definition and diagnosis of diabetes mellitus and intermediate

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39

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40

9. GLOSSARIO

Autoimunidade é a falha em uma divisão funcional do sistema imunológico chamada de

autotolerância, que resulta em respostas imunes contra as células e tecidos do

próprio organismo. Qualquer doença que resulte deste tipo de resposta é chamada de doença

autoimune.

Custo-efectividade é a comparação do custo relativo e os efeitos de diferentes procedimentos.

Fisiopatologia é o estudo do mecanismo que leva ao aparecimento de doenças, permitindo a

elaboração de estratégias de prevenção e tratamento das mesmas.

Glicemia pós-prandial é o aumento das concentrações de glicose, na corrente sanguínea após

determinada refeição.

Homeostasia (ou Homeostase) é a propriedade de um sistema aberto, seres vivos

especialmente, de regular o seu ambiente interno para manter uma condição estável, mediante

múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação inter-

relacionados

Prevalência pode referir-se ao número total de casos existentes numa determinada população

e num determinado momento temporal.

Retroalimentação negativo é a reacção pela qual o sistema responde de modo a reverter a

direcção da mudança.

Retroalimentação positivo é a resposta que amplifica a mudança da variável. Isto tem um

efeito desestabilizador, pelo que não contribui para a homeostase.

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41

10. ANEXO

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42

Anexo 1

TABELA 14: Os três testes no Estágio III da progressão da Diabetes Mellitus

Teste Qui-quadrado Método de Monte Carlo Procedimento de

Marascuilo

Grupo de

Idades

Valor

observado

Valor

crítico GL

p-

valor Valor

observado

Valor

crítico GL

p-

valor Valor

observado

Valor

crítico

30-34 0,066 3,841 1 0,797 0,066 3,355 1 1,000 0,071 0,543

35-39 0,209 3,841 1 0,648 0,209 3,160 1 1,000 0,108 0,431

40-44 1,691 3,841 1 0,193 1,691 2,939 1 0,310 0,233 0,325

45-49 3,878 3,841 1 0,049 3,878 3,307 1 0,064 0,263 0,268

50-54 0,238 3,841 1 0,626 0,238 3,208 1 0,777 0,046 0,187

55-59 1,034 3,841 1 0,309 1,034 2,790 1 0,358 0,100 0,180

60-64 0,092 3,841 1 0,762 0,092 2,615 1 1,000 0,027 0,186

65-69 0,414 3,841 1 0,520 0,414 3,733 1 0,738 0,062 0,195

70-74 0,084 3,841 1 0,772 0,084 3,698 1 1,000 0,026 0,175

75-79 0,001 3,841 1 0,971 0,001 3,788 1 1,000 0,004 0,221

80-84 0,492 3,841 1 0,483 0,492 1,302 1 1,000 0,077 0,102

85-89 0,413 3,841 1 0,521 0,413 2,474 1 1,000 0,125 0,229

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43

Anexo 2

TABELA 15:Os três testes no Estágio IV da progressão da Diabetes Mellitus

Teste Qui-quadrado Método de Monte Carlo Procedimento de

Marascuilo

Grupo de

Idades

Valor

observado

Valor

crítico GL

p-

valor Valor

observado

Valor

crítico GL

p-

valor Valor

observado

Valor

crítico

30-34 0,034 3,841 1 0,853 0,034 2,996 1 1,000 0,048 0,504

35-39 1,385 3,841 1 0,239 1,385 2,389 1 0,513 0,231 0,229

40-44 4,074 3,841 1 0,044 4,074 3,246 1 0,092 0,333 0,267

45-49 0,112 3,841 1 0,738 0,112 3,257 1 1,000 0,038 0,228

50-54 0,011 3,841 1 0,915 0,011 3,288 1 1,000 0,008 0,153

55-59 1,601 3,841 1 0,206 1,601 3,472 1 0,167 0,115 0,161

60-64 0,092 3,841 1 0,762 0,092 2,609 1 1,000 0,027 0,186

65-69 0,001 3,841 1 0,971 0,001 2,548 1 1,000 0,003 0,166

70-74 0,000 3,841 1 0,986 0,000 3,179 1 1,000 0,001 0,152

75-79 0,135 3,841 1 0,713 0,135 3,812 1 1,000 0,034 0,173

80-84 0,238 3,841 1 0,625 0,238 3,307 1 1,000 0,038 0,074

* Não são apresentados os valores correspondentes ao grupo de idades de 85-89 anos por não existir pacientes diagnosticados neste estágio

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44

Anexo 3

TABELA 16: Os três testes no Estágio V da progressão da Diabetes Mellitus

Teste Qui-quadrado Método de Monte Carlo Procedimento de

Marascuilo

Grupo de

Idades

Valor

observado

Valor

crítico GL

p-

valor Valor

observado

Valor

crítico GL

p-

valor Valor

observado

Valor

crítico

30-34 0,258 3,841 1 0,612 0,258 3,683 1 1,000 0,119 0,448

35-39 0,554 3,841 1 0,457 0,554 1,931 1 1,000 0,123 0,379

40-44 1,257 3,841 1 0,262 1,257 1,215 1 0,451 0,100 0,186

45-49 5,661 3,841 1 0,017 5,661 3,209 1 0,030 0,225 0,219

50-54 0,366 3,841 1 0,545 0,366 3,366 1 0,668 0,038 0,127

55-59 0,129 3,841 1 0,720 0,129 2,633 1 1,000 0,016 0,090

65-69 1,195 3,841 1 0,274 1,195 1,838 1 0,563 0,059 0,120

70-74 0,242 3,841 1 0,623 0,242 2,310 1 1,000 0,028 0,100

75-79 0,265 3,841 1 0,607 0,265 2,237 1 0,628 0,038 0,161

80-84 0,238 3,841 1 0,625 0,238 3,338 1 1,000 0,038 0,074

85-89 0,413 3,841 1 0,521 0,413 2,450 1 1,000 0,125 0,229

* Não são apresentados os valores correspondentes ao grupo de idades de 60-64 anos por não existir pacientes diagnosticados neste estágio

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45

Anexo 4 –ANÁLISE DE REGRESSÃO

Predições e resíduos:

Observações FOR MED Pred(MED) Resíduos

Obs1 0,017 274,000 238,089 35,911

Obs2 0,011 191,700 246,750 -55,050

Obs3 0,021 246,350 233,554 12,796

Obs4 0,027 259,000 226,613 32,387

Obs5 0,051 189,550 205,305 -15,755

Obs6 0,065 170,000 197,048 -27,048

Obs7 0,083 199,300 189,138 10,162

Obs8 0,145 179,300 176,068 3,232

Obs9 0,112 157,200 181,040 -23,840

Obs10 0,136 180,400 177,167 3,233

Obs11 0,020 238,000 234,276 3,724

Obs12 0,058 207,900 200,623 7,277

Obs13 0,019 251,550 236,347 15,203

Obs14 0,054 175,100 203,344 -28,244

Obs15 0,066 192,500 196,467 -3,967

Obs16 0,069 187,300 194,627 -7,327

Obs17 0,143 183,300 176,317 6,983

Obs18 0,145 185,700 176,101 9,599

Obs19 0,141 189,500 176,548 12,952

Obs20 0,221 179,800 172,028 7,772

Regressão não linear da variável MED:

Estatísticas da bondade de ajuste:

Observações 20,000

GL 17,000

R² 0,579

SSE 8739,183

MSE 514,070

REQM 22,673

Iterações 1000,000

Parâmetros do modelo:

Parâmetro Valor Erro padrão

pr1 95,355 20,958

pr2 -20,000 12,671

pr3 170,869 15,532

Equação do modelo:

MED = 95,3547983918981*Exp(-20*FOR)+170,868908199398

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46

Anexo 5 –Comparação das distribuições de glicémia entre os grupos de idades menores de 50 e maiores de 50 anos.

Masculino

Estadísticas descriptivas:

MAS Frecuenci

a Media Varianza Desviación

típica Desviación típica de la

media Mínimo PrimerCuarti

l Mediana TercerCuarti

l Máximo

30-49 42 268,00

7 13988,34

8 118,272 18,250 125,000 182,000 244,600 323,600 697,000

Maior 49 147 205,82

7 5714,968 75,597 6,235 125,000 151,200 180,400 248,000 500,000

Prueba de Mann-Whitney / prueba unilateral a laderecha:

Nota: se calculólavarianzadel U de Mann-Whitneyteniendoencuentalos empatados

U 4133,500 U (esperanza) 3087,000

U (varianza) 97752,04

6 Z (valor

observado) 3,347 Z (valor crítico) 1,645 p-value

unilateral 0,000 Alpha 0,05 El U de Mann-Whitney está estandarizada y comprobadarespecto a laley normal

Conclusión:

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47

Al umbral de significación Alfa=0,050 se puederechazarlahipótesis nula segúnla cual los valores de lamuestra 1 no son superiores a la de lamuestra 2.

Dicho de otro modo, la hipotética superioridad de los valores de lamuestra 1 es significativa.

Prueba de Kolmogorov-Smirnov:

D 0,313 p-value 0,002 Alpha 0,05

Conclusión: Al umbral de significación Alfa=0,050 se puederechazarlahipótesis nula segúnla cual lasmuestras no son diferentes.

Dicho de otro modo, la diferencia entre lasmuestrases significativa.

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

0,250

125 165 205 245 285 325 365 405 445 485 525 565 605 645 685

30-49

Maior 49

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48

Feminino

Estadísticas descriptivas:

FEM Frecuencia Media Varianza Desviación

típica Desviación típica de la

media Mínimo PrimerCuarti

l Mediana TercerCuarti

l Máximo

30-44 29 235,26

9 7022,59

4 83,801 15,561 127,000 164,500 210,000 289,000 436,000

Maior 44 358 205,43

5 5907,37

8 76,859 4,062 125,000 145,900 185,500 239,200 580,000

Prueba de Mann-Whitney / prueba unilateral a laderecha:

Nota: se calculólavarianzadel U de Mann-Whitneyteniendoencuentalos empatados

U 6368,500 U (esperanza) 5191,000

U (varianza) 335679,03

7 Z (valor

observado) 2,032 Z (valor crítico) 1,645 p-value

unilateral 0,021 Alpha 0,05 El U de Mann-Whitney está estandarizada y comprobadarespecto a laley normal

Conclusión: Al umbral de significación Alfa=0,050 se puederechazarlahipótesis nula segúnla cual los valores de lamuestra 1 no son superiores a la de lamuestra 2.

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49

Dicho de otro modo, la hipotética superioridad de los valores de lamuestra 1 es significativa.

Prueba de Kolmogorov-Smirnov:

D 0,243 p-value 0,071 Alpha 0,05

Conclusión: Al umbral de significación Alfa=0,050 no se puederechazarlahipótesis nula segúnla cual lasmuestras no son diferentes.

Dicho de otro modo, la diferencia entre lasmuestras no es significativa.

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

0,250

125 165 205 245 285 325 365 405 445 485 525 565

30-44

Maior 44

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50

Anexo 6 (a)

(a) O conteúdo deste anexo vem numa pasta a parte por ser um documento em PDF