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Estudo de CasoAnálise da dinâmica
produtiva e inovativa emarranjos produtivos
locais:O APL vitivinícolana Serra Gaúcha
(Produto 2)
Estudo de Caso
Análise da dinâmica produtiva einovativa em arranjos produtivoslocais:O APL vitivinícola na Serra
Gaúcha
Produto 2
Contrato de Prestação de Serviços Nº 022/2013
Convite Nº 001/2013 – Processo Nº 3489/2013
Contrato firmado entre a Agência Brasileira deDesenvolvimento Industrial – ABDI e Savi E Geremia
Planejamento, Consultoria & Auditoria LTDA.
Estudo de CasoAnálise da dinâmica produtiva e inovativa em arranjosprodutivos locais:O APL vitivinícola na Serra Gaúcha
(Produto 2)
Execução:SAVI E GEREMIA PLANEJAMENTO, CONSULTORIA & AUDITORIA LTDA.
Responsável técnico: Marco Antonio Vargas
Sumário
1. Introdução ................................................................................................................. 1
2. Origem e desenvolvimento da indústria vinícola no Sul do país: Histórico deformação do APL .......................................................................................................... 2
3. Panorama do setor vitivinícola: atividades produtivas, produtos e mercados: ............. 5
4. Estrutura do APL: segmento produtivo .................................................................... 12
5. Formas de governança e arcabouço institucional: caracterização das principaisinstituições presentes no APL ..................................................................................... 18
5.1. Instituições de governança e coordenação interempresarial ............................... 18
5.2. Organizações ligadas à pesquisa e formação de recursos humanos .................... 20
6. Breve caracterização dos processos de aprendizagem, formas de interação ecooperação .................................................................................................................. 21
7. Considerações finais: Sugestão de ações a partir do diagnóstico do APL. ................ 28
Bibliografia ................................................................................................................. 31
Quadro
Quadro 1: Principais instituições de coordenação das relações inter empresariais noArranjo vitivinícola ..................................................................................................... 20
Figura
Figura 1: Principais regiões produtoras de vinho no Brasil ............................................ 7Figura 2: Produção de uvas no Estado do Rio Grande do Sul ...................................... 13Figura 3: Sistema de Inovação da uva e do vinho no APL vitivinícola da Serra Gaúcha ................................................................................................................................... 26
Tabela
Tabela 1: Produção de vinhos, sucos e derivados do Rio Grande do Sul, em litros ....... 10Tabela 2: Principais segmentos de empresas vinícolas na Serra Gaúcha ...................... 17
1
1. IntroduçãoEste relatório apresenta os resultados de um estudo sobre a dinâmica competitiva
e inovativa do APL de vitivinicultura na região da Serra Gaúcha, no estado do Rio
Grande do Sul.
O processo de abertura comercial e desregulmentação que teve lugar ao longo da
década de 90, resultou num aumento expressivo nas importações de vinhos de países
como Chile e Argentina e colocou importantes desafios competitivos para os diferentes
segmentos de vinícolas localizadas em diversos municípios da Serra Gaúcha.
Entretanto, a análise da trajetória recente deste arranjo aponta para o sucesso de
determinadas estratégias adotadas pelas empresas do arranjo e associadas
particularmente à busca de capacitações produtivas e inovativas voltadas paraoacesso ao
mercado de vinhos finos no Brasil e no mundo.
A existência de um novo arcabouço institucional para articulação de ações
cooperativas e voltadas para inovação, somada ao papel de uma infraestrutura científica
e tecnológica já constituída na região, foram alguns dos fatores fundamentais para a
sobrevivência competitiva das empresas mais antigas do APL e para o surgimento de
um núcleo dinâmico de cantinas familiares voltadas à produção de vinhos finos para o
mercado nacional e internacional (Vargas e Cassiolato, 2005).
O principal objetivo deste estudo consiste na análise das estratégias competitivas e
inovativas adotadas no APL vitivinícola da Serra Gaúcha e sua relação com os
principais elementos que integram o sistema nacional de inovação em uva e vinho no
Brasil. Neste contexto, o principal foco de análise do presente trabalho recai sobre a
caracterização dos principais atores e configurações institucionais que compõem o
arranjo vitivinícola, com vistas a analisar as relações entre o processo de capacitação
inovativa das empresas e a existência de externalidades dinâmicas em nível local.
Adicionalmente, o estudo se propõe a avaliar as mudanças na trajetória de evolução
deste arranjo local ocasionadas pelo processo de liberalização econômica no decorrer da
década de 90 e a discutir proposições de políticas de desenvolvimento com vistas a
promover a capacitação inovativa dos agentes do arranjos a partir de sinergias com o
ambiente local.
O estudo encontra-se organizado da seguinte forma. A próxima seção apresenta a
trajetória histórica de desenvolvimento do APL desde suas origens no século XIX, até
2
os dias de hoje. A terceira seção apresenta um panorama global e nacional sobre o setor
vinícola e procura situar a importância do APL vitivinícola da Serra gaúcha no contexto
da indústria vinícola nacional.A quarta seção analisa a estrutura do APL tendo em vista
os diferentes segmentos de vinícolas que operam no arranjo atualmente e sua forma de
inserção na produção de vinhos finos e comuns. A quinta seção analisa o arcabouço
institucional e caracteriza as principais organizações e as formas de governança
presentesno APL tendo em vista sua relação com a articulação e cooperação
interempresarial ou com infraestrutura voltada à capacitação tecnológica e inovativa de
atores locais. A sexta seção discute as principais formas de interação e processo de
aprendizagem que ocorrem em âmbito local, bem como sua relação com diferentes
segmentos de atores localizadas no território ou fora dele. A sétima seção tece algumas
considerações finais, faz uma síntese dos principais fatores que explicam a atual
dinâmica inovativa do APL e apresenta algumas proposições de políticas de apoio.
2. Origem e desenvolvimento da indústria vinícola no Sul do país: Histórico deformação do APL
A tradição do cultivo da uva e elaboração de vinho no RS remonta aos primórdios
do povoamento do Estado quando da chegada dos portugueses. Entretanto, foi com a
chegada dos primeiros imigrantes italianos que a atividade vitivinícola passou a ganhar
maior impulso e evoluir de uma produção voltada para o consumo próprio para uma
estrutura de comercialização com abrangência estadual e nacional.
Até o ano de 1880, a história da vitivinicultura gaúcha apresentou duas origens e
localizações distintas. A primeira vinculada à colonização espanhola na região das
Missões e adjacências que se desenvolveu a partir de 1726 e a segunda ligada a
colonização portuguesa na região litorânea - a partir de Rio Grande, Pelotas e Porto
Alegre – que se desenvolveu entre os anos de 1732 e 1773. Entretanto, o grande marco
da vitivinicultura gaúcha do ponto de vista social e econômico ocorre por volta de 1875,
quando da implantação pelos imigrantes italianos dos primeiros vinhedos no sistema de
latadas que se mantém até os dias de hoje.
Na medida em que a produção de vinho foi crescendo, o mercado local e regional
se tornou insuficiente para absorver a totalidade da oferta levando o arranjo à busca de
3
novas estruturas de comercialização, produção e uma nova dinâmica empresarial em
torno desta atividade.
O primeiro ciclo de industrialização ocorre a partir de 1910, quando fatores como
o incremento do cooperativismo e a chegada da via férrea até o município de Caxias do
Sul desempenharam um papel fundamental. Em 1926, como decorrência do incremento
e funcionalidade do cooperativismo das atividades vitivinícolas, o governo do Estado
decide criar o Instituto Rio-grandense do Vinho como orgão responsável pela
fiscalização e tabelamento dos preços da uva.
Entre a década de 30 e a década de 60 não ocorreram alterações significativas nos
aspectos técnicos da produção. No decorrer deste período, o arranjo vitivinícola
manteve um padrão tecnológico relativamente baixo em termos de processamento
industrial juntamente com uma produção vitícola proveniente de cepas híbridas e
americanas. Foi na década de 70 que ocorreu o primeiro grande salto de qualidade do
arranjo vitivinícola da Região da Serra Gaúcha a partir da modernização do parque
industrial local e da melhoria significativa da produção vitícola.através da importação
de mudas para formação de novos vinhedos mais adaptados às condições climáticas da
região.
A partir de 1974, a entrada de empresas vinícolas de procedência européia e
norte-americana passa a promover uma mudança qualitativa no setor. Aliado a
modernização do parque industrial - que coloca a indústria vinícola do RS como uma
das mais avançadas da América Latina – ocorre a importação maciça de mudas para
formação de vinhedos próprios e multiplicação do material vegetativo.
Em 1975, cria-se em Bento Gonçalves a Embrapa/CNPUV, como Centro
Nacional de Pesquisa da Uva e do Vinho, vinculada ao Ministério da Agricultura, que
foi a primeira instituição de pesquisa voltada exclusivamente para as demandas
tecnológicas específicas do setor.
No arranjo vitivinícola, o ingresso de empresas transnacionais no setor esteve em
grande parte ligado ao crescimento do mercado interno brasileiro nos anos 70. Tal
crescimento se deu através da ampliação do poder aquisitivo das camadas médias
urbanas e possibilitou a criação de um mercado consumidor de vinhos finos nacionais
em substituição aos produtos importados. Além disso, as empresas locais de maior porte
foram capazes de absorver as mudanças tecnológicas necessárias no decorrer do
processo de reorganização e modernização da produção vinícola. Neste contexto, a
4
entrada de capital externo no arranjo ocorreu principalmente através de alianças de
empresas nacionais com grupos externos. A dinâmica que assume este processo de
alianças é bem ilustrada pelas das estratégias adotadas pela principal empresa do
arranjo, a Cooperativa Vinícola Aurora (Vargas, 2000 e 2002).
Investimentos diretos de empresas multinacionais (FDI) visando explorar o
mercado nacional de vinho, juntamente com diversos outros tipos de alianças
mercadológicas entre vinícolas nacionais e multinacionais foram fatores que
desempenharam um papel importante no processo de capacitação tecnológica do arranjo
vitivinícola na Serra Gaúcha. A Chandon, subsidiária da vinícola francesa Moet-
Chandon, que iniciou sua produção de espumantes no Brasil na década de 60 nessa
região, é um exemplo deste processo. A Cooperativa Vinícola Aurora Ltda que
estabelece nesse mesmo período um acordo de comercialização com a Seagram para
introdução de vinhos finos no mercado brasileiro e para inserção no mercado
americano.
BOX 1 – Desenvolvimento e capacitação da indústria vinícola brasileira na década de 70;a trajetória da Vinícola Aurora.
A história da Cooperativa Vinícola Aurora no Brasil teve início em 1930, quando 16 famílias deimigrantes italianos resolveram formar uma cooperativa para produção de vinhos comuns. Em1962, esta empresa inicia o processo de engarrafamento de vinho de vinífera para a BernardTaillan Importadora (de origem francesa), que atuava na intermediação de vinhos na França,Brasil e América do Norte. Esta associação ampliou consideravelmente a capacidade técnica daCooperativa Vinícola Aurora e permitiu a sua vinculação ao mercado de vinhos finos. Já noinício da década de 70, a Vinícola Aurora associou-se com a Seagrans, ampliando ainda maissua inserção no mercado de vinhos finos com o lançamento da marca Forestier.
Em 1973, a empresa iniciou sua exportação para os Estados Unidos com a remessa anual de20.000 caixas de vinho comum (sangue de boi). Entre 1988 e 1998, a estratégia de exportaçãoda Aurora esteve associada ao acordo estabelecido com a CanandaiguaWineCo. para exportaçãode uma nova marca de vinho fino, Marcus James, para o mercado americano. Entretanto, esteacordo foi cancelado em 1998 devido à problemas no processo de controle de qualidade e aCanandaiguaWineCo passa a importar vinhos finos da Argentina. Por um lado, o crescimentoacelerado do mercado brasileiro tornou o mercado externo menos atrativos para a vinícolaAurora. Por outro, apesar do impacto decorrente do cancelamento do contrato com aCanandaigua nas exportações da vinícola para o mercado americano, o vinho Marcus Jamesveio a ser tornar uma das marcasmais vendidas de vinho fino tinto no Brasil, atingindo umaprodução de 1,8 milhões de caixas em 1998. Até início da década de 2000 a vinícola Auroradetinha cerca de 30% do mercado brasileiro de vinhos finos.
Em 2003, a vinícola Aurora tinha um faturamento anual de US$ 80 milhões e contava comcerca de 1.300 produtores de uva associados à cooperativa com uma produção de 50 a 65milhões de kilos de uva por ano.Source: Wines and Vines, May 2001; IBRAVIN
5
Assim, o processo de capacitação da indústria vinícola no Sul do Brasil na
década de 70teve uma importância fundamental na medida em que representou um
movimento pioneiro de desenvolvimento científico e tecnológico associado ao setor
vitivinícola no País. Apesar das diferenças marcantes entre os avanços que ocorreram na
esfera de produção agrícola nas atividades de processamento e vinificação, esse impulso
inicial de modernização representou uma importante base para o desenvolvimento
posterior do setor e contribuiu para o sucesso do novo ciclo de inovação que passa a
ocorrer na década de 90. Neste novo ciclo destaca-se o papel de um conjunto de
pequenas cantinas familiares criadas no início dos anos 80 que passam a investir na
qualificação da sua produção vitícola e vinícola para produção de vinhos finos
(Cassilato e Vargas, 2005).
3. Panorama do setor vitivinícola: atividades produtivas, produtos e mercados:
Apesar de não ocupar uma posição de destaque no cenário da indústria vinícola
mundial - o Brasil ocupa a 12a.posição na produção mundial de vinhos e é terceiro maior
mercado produtor de vinhos na América do Sul depois da Argentina e Chile - o
complexo vitivinícola brasileiro envolve um conjunto considerável de empresas e
instituições. O País conta com uma área de produção vitícola de mais de 80.000 ha,
sendo que a maior parte da produção vitícola está situada no estado do Rio Grande do
Sul, nas regiões da Serra Gaúcha, Campanha, Serra do Sudeste e Campos de cima da
Serra.
De acordo com dados do IBRAVIN (2013), o RS produz 85% da área vitícola do
Brasil e é responsávelpor 90% da produção de vinhos no país. Esta representação é
ainda maior quando se considera exclusivamente o cultivo de espécies vitis-vinífera. O
principal núcleo da produção de uva e vinho no Estado localiza-se na Serra Gaúcha
abrangendo uma área de 800 km2 e envolvendo cerca de 40 municípios. Dos 35.000
hectares de parreiras que são cultivados, cerca de 5.000 ha são destinados ao cultivo de
variedades nobres. As atividades ligadas a este setor são desenvolvidas em mais de 700
empresas entre cantinas e cooperativas vinícolas envolvendo cerca de 14 mil famílias
numa estrutura fundiária marcada pela predominância de pequenas propriedades. Ao
mesmo tempo em que a região Colonial Italiana (MR- 016) detém a maior parte da
produção no Estado, verifica-se também a importância crescente que vem assumindo
6
novas áreas de produção tais como Santana do Livramento e Pinheiro Machado. Além
disso, destacam-se algumas novas fronteiras de produção vitícola como na região do
Planalto Catarinense no estado de Santa Catarina e no Vale do São Francisco na região
nordeste do País. As principais regiões produtores de vinho no Brasil são apresentadas
na figura 2.
São Paulo é o maior mercado consumidor e responde por quase 40% do consumo
nacional de vinhos, seguido pelo Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com cerca de 12%
do consumo nacional, Paraná (9,5%) e Minas Gerais (6,2%).
Gráfico 1 - Produção Mundial de vinhos- principais países
Fonte: Milan(2013).
7
Figura 1 - Principais regiões produtoras de vinho no Brasil
Fonte: Milan (2013)
Conforme destacado por (Mello, 2011) não existem estatísticas precisas sobre a
produção e comercialização de vinhos e suco de uvas no País. Entretanto, as
informações relativas à produção de uvas, vinhos e derivados e à comercialização no
Rio Grande do Sul permitem estabelecer uma aproximação sobre a produção nacional
de uva e vinhos conforme os dadosapresentados na tabela abaixo.
Em termos nacionais a produção de uvas no Brasil abrange a região Sul, Sudeste e
Nordeste, onde se destacam Estados como Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa
Catarina, Paraná e Pernambuco (Gráfico 2). Em 2011 a produção nacional de uvas foi
de 1,46 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul foi responsável por 56% da
produção total de uvas com 829 mil toneladas, enquanto que o estado de Pernambuco
foi responsável por 14% da produção total. Cabe ressaltar que o montante total de
produção engloba tanto uvas vitiviníferas destinadas para produção de vinhos como
uvas destinadas ao consumo in natura. Na medida em que se considera somente o
volume de produção de uvas para processamento de vinhos e derivados a participação
do Rio Grande do Sul chega a 85% (Ibravin, 2013).
PIRAPORA
VALE DO SÃO FRANCISCO
CALDAS, ANDRADAS, STA.RITA
SÃO ROQUE, BANDEIRANTES
PLANALTO CATARINENSE
CAMPOS DE CIMA DA SERRA
SERRA DO SUDESTE
NOVA MUTUM
ROSÁRIO DO IVAÍ SERRA GAÚCHA
CAMPANHA
VALE DO RIO DO PEIXE
SERRANA, ESPÍRITO SANTO
ROLÂNDIA, MARIALVA, MARINGÁ
JALES
SANTA HELENA DO GOIAS
8
Gráfico 2 - Produção de uvas no Brasil
Fonte: elaboração própria a partir de dados apresentados em Mello (2010).
Em termos da área plantada de videiras em ha, percebe-se igualmente a forte
participação do Rio Grande do Sul quye respondia em 2011 por mais de 61% da área
plantada total de videiras no Brasil, seguido pelos estados de São Paulo (11,9%),
Pernambuco (8,5%) e Paraná (7,3%)., conforme ilustrado no gráfico 3.
-
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
2008 2009 2010 2011
162.977 158.515 168.225 208.660184.930 177.934 177.538 177.227
776.027 737.363 692.692829.589
1.399.262 1.345.719 1.295.442
1.463.481
Pernambuco Bahia Minas Gerais São Paulo
Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Brasil
9
Gráfico 3 - Área plantada de videiras em ha
Fonte: elaboração própria a partir de dados apresentado em Mello (2010).
Em termos da produção vinícola, de acordo com Mello (2013), a produção de
vinhos, sucos e derivados do Rio Grande do Sul, em 2012, foi de 579,31 milhões de
litros mantendo-se estável em relação ao ano de 2011. Deste total, 212 milhões de litros
corresponderam à produção de vinhos de mesa (vinho comum) e 49 milhões decorrentes
da produção de vinhos finos. Já no estado de Santa Catarina foram produzidos 21
milhões de litros de vinhos em 2012, sendo que 72,57% deste volume correspondeu à
produção de vinhos de mesa.
A evolução da produção desde a década de 80 manteve-se relativamente
estabilizada, seguindo a trajetória de crescimento na produção de vinho comum que é
responsável por cerca de 89% do total produzido. No decorrer da década de 90 verifica-
se uma tendência ao aumento na produção de vinhos finos e sucos. No período mais
recente percebe-se a crescente inserção
A evolução da produção de vinhos e derivados no Rio Grande do Sul é
apresentada na tabela 1 abaixo.
8,5%
3,4%
1,0%
11,9%
7,3%
6,1%61,8%
Pernambuco
Bahia
Minas Gerais
São Paulo
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
10
Tabela 1 - Produção de vinhos, sucos e derivados do Rio Grande do Sul, em litros
PRODUÇÃO 2008 2009 2010 2011 2012*
VINHO DE MESA 287.506.811 205.399.206 195.267.979 257.840.749 212.777.037
Tinto 241.057.928 164.124.454 157.290.088 210.113.358 175.875.432
Branco 42.942.053 39.211.278 35.408.083 46.007.504 34.938.249
Rosado 3.506.830 2.063.474 2.569.809 1.719.887 1.963.356
VINHO FINO 47.334.502 39.900.568 24.805.713 47.598.471 49.787.016
Tinto 27.583.032 18.209.043 11.401.406 24.104.740 24.030.589
Branco 18.812.571 21.366.975 13.013.027 22.739.426 25.230.524
Rosado 938.898 324.550 391.280 754.305 525.903
SUCO DE UVA INTEGRAL 11.817.941 16.034.003 26.887.259 39.487.800 31.908.829
SUCO CONCENTRADO* 115.073.230 115.032.285 116.193.425 147.821.620 188.129.275
MOSTO SIMPLES 53.683.415 53.418.555 45.912.040 77.285.998 93.341.575
OUTROS DERIVADOS 5.959.360 4.043.975 5.298.716 8.774.925 3.365.288
TOTAL 521.375.259 433.828.592 414.365.132 578.809.563 579.309.020
Fonte: Mello (2013)
Impactos da Abertura
A atividade vitivinícola no Brasil ainda apresenta uma competitividade inferior
em relação aos principais países produtores e frente aos parceiros do Mercosul,
particularmente quando comparada à Argentina. Essa diferença pode ser percebida pelo
próprio consumo per capita de vinho que situa-se em torno de 1,5 litros no Brasil
enquanto que na Argentina chega a cerca de 60 litros/ano. No Rio Grande do Sul esta
média é de cerca de 6 litros/ano, chegando a quase 30 litros/ano na região produtora de
Caxias.
O processo de abertura comercial e liberalização econômica intensificado a partir
do início da década de 90 e a crescente integração econômica no âmbito do Mercosul
representou um grande desafio para este setor que passou a concorrer no mercado
nacional com países da Comunidade Européia e Argentina que já apresentavam um
elevado grau de competitividade em nível internacional.
Em termos comparativos com a produção vitivinícola européia é possível destacar
os seguintes indicadores:
Os países lideres da produção européia e mundial (Itália e França) apresentam
uma produção de vinhos e derivados da uva cerca de 20 vezes superior à
brasileira;
11
A produção vinícola total da CEE é cerca de 11 vezes superior ao do Mercosul e
70 vezes superior a do Brasil
As exportações de vinho e derivados da União Européia para terceiros países,
equivalentes a cerca de 1 bilhão de litros, é 20 vezes superior às do Mercosul e
100 vezes à do Brasil (excluídos os sucos de uva)
No final da década de 80, a média de consumo per capita na União Européia era
de cerca de 41 litros, enquanto que no Brasil situava-se em torno de 2,4 litros.
Em comparação com a Argentina que é o quinto maior produtor mundial (gráfico
1) e quarto maior mercado interno, a produção de vinho e de uvas argentina é de seis a
oito vezes maior que a brasileira, a produção de uvas viníferas é trinta vezes maior, a
área plantada de seis à sete vezes maior e a exportação seis a oito vezes maior.
O Gráfico 4 mostra os dados de consumo interno e consumo per capita para o
Brasil, Argentina, Chile e Uruguai para o ano de 2009. Ainda que o Brasil apresente o
segundo maior consumo interno entre os países da região, equivalente a 320 milhões de
litros em 2009, o seu consumo per capita de aproximadamente 1,8 litros por habitante é
consideravelmente menor do que o consumo per capita na Argentina (26,5
litros/habitante), Chile (15,2 litros/habitante) e Uruguai (25 litros/habitante). Além disso
uma parte crescente do consumo interno de vinhos finos no Brasil vem sendo suprida
pela importação de vinhos desses países.
Gráfico 4 - Consumo Interno de vinhos em países selecionados
Fonte:Ibravin (2013)
12
O gráfico 5 mostra a evolução na participação de vinhos nacionais e importados
na composição do consumo do consumo doméstico de vinhos finos no Brasil a partir de
dados do IBRAVIN. Conforme pode ser observado no gráfico, verifica-se um aumento
expressivo no consumo de vinhos importados a partir de meados da década de 90. A
participação de vinhos finos nacionais no consumo aparente de vinhos finos no País
chegou a apresentar um pequeno aumento ao longo da década de 80 até meados da
década de 90. Com a intensificação do processo de abertura comercial a partir dos anos
90 a produção nacional de vinhos finos perde competitividade principalmente para
importações oriundas de países como Chile e Argentina.
Gráfico 5 - Evolução na comercialização de vinhos finos importados e nacionais,1980-2012 (em milhões de litros)
Fonte Ibravin (2013)
4. Estrutura do APL: segmento produtivo
O Complexo agro-industrial Vitivinícola no RS encontra-se concentrado
espacialmente na região da Serra no Nordeste do Estado (microregião 016) que
responde por 88% da produção de uvas e 96% da produção de vinho e mosto no Estado.
Cerca de 65% da produção de uvas é destinada a elaboração de vinhos enquanto que os
restantes 35% são direcionados para consumo in natura. A produção primária
13
caracteriza-se pelo predomínio de pequenas propriedades, produção familiar e pelo
elevado número de variedades produzidas (Vargas, 2002).
A figura 2 mostra o perfil da produção de uvas no estado do Rio Grande do Sul de
acordo com dados da Produção Agrícola Municipal para ano de 2012 (PAM-IBGE).
Observa-se uma forte concentração da produção na região da Serra gaúcha
Figura 2 - Produção de uvas no Estado do Rio Grande do Sul
Fonte: PAM (IBGE, 2013)
Ao todo o sistema produtivo vitivinícola gaúcho congrega atualmente cerca de
700 estabelecimentos entre cooperativas, cantinas rurais e estabelecimentos industriais,
sendo que a maior parte da produção encontra-se concentrada nos grandes
estabelecimentos. É possível verificar o crescimento expressivo no número de empresas
vinícolas no Rio Grande do Sul entre 2001 e 2013. De acordo com dados do Ibravin
(2013), no inicio da década, em 2001, existiam 439 estabelecimentos ligados à produção
de vinhos e derivados no rio Grande do Sul. Em 2007 já existiam 682 estabelecimentos
e, em 2013 foram identificados 735 empresas dedicadas à produção de vinhos e
14
derivados no estado. A evolução no número de empresas vinícolas no Rio Grande do
Sul é mostrada no gráfico 6.
Gráfico 6 - Evolução do número de empresas vinícolas no RS 2001-2013
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Ibravin
O gráfico 7 apresenta a estrutura do emprego nas atividades de produção vinícola
nos principais municípios que integram a indústria vitivinícola no RS1. De acordo com
os dados da RAIS, as atividades de produção de vinhos nesses municípios respondiam
por1.851 postos de trabalho em 2002 e passaram a responder por 2.519 em 2012,
representando um aumento de quase 40% no emprego associado à indústria vinícola no
período. Em termos do porte da empresas, verifica-se que em 2002 a maior parte destes
postos de trabalho 45,5% estava empregada em empresas de pequeno porte, enquanto
que 34,3% estava empregada em microempresas e apenas 20,2% do emprego residia
em empresas de médio porte. Em 2012verifica-se o predomínio do emprego no
segmento das empresas de médio porte (39,4%), seguido das pequenas empresas que
respondiam por 38,1% do emprego e das microempresas responsáveis por 22,5% do
total do emprego gerado nas atividades de produção de vinho. Tal mudança aponta para
um aumento no porte médio das vinícolas.
1Antonio Prado, Bagé, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Cotiporã, Encruzilhada do Sul, Farroupilha,Flores da Cunha, Garibaldi, Ipê, Monte Belo do Sul, Nova Pádua, Santana do Livramento, SãoMarcos
439
512 525
634669 682 702
729 738 741 751 734 735
300
400
500
600
700
800
900
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Empresas Linear (Empresas)
15
Gráfico 7 - Emprego em atividades relacionadas com a Fabricação de vinhos no RS, 2002-2012
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da RAIS (2012)
É possível identificar atualmente três segmentos distintos de empresas vinícolas
no arranjo vitivinícola na Serra Gaúcha Em primeiro lugar, destaca-se o segmento das
vinícolas com capacidade de processamento superior a seis milhões de litros/ano e que
atuam na produção de vinhos finos. Neste segmento encontram-se tanto empresas de
capital nacional, como a Cooperativa Vinícola Aurora que é a maior no setor,como
divisões de grupos transnacionais como a Vinícola De Lantier, ligada ao Grupo
Bacardi-Martini, que é a segunda maior vinícola em comercialização no país2. Apesar
de representarem menos de 2% dos universo de empresas vinícolas, as empresas deste
segmento respondem por quase 30% do total da produção de vinhos no arranjo3.
A Cooperativa Vinícola Aurora está entre o conjunto de vínicolas que integram
este primeiro segmento e ainda representa uma das marcas dominantes que responde por
cerca de 27% doo mercado doméstico de vinhos finos. A vinícola Aurora conta com 13
unidades de produção que cobrem uma área de 110.000 metros quadrados, com uma
produção anual de 85 milhões de litros de vinho. A subsidiária da Seagram (marcas
Forrestier e Almadén), e a cooperativa Garibaldi também estão entre as principais
vinícolas de maior porte no arranjo. A vinícola Salton é outro exemplo do uso de
2 Dentre as principais empresas transnacionais que atuam no arranjo vitivinícola da Serra Gaúchaatualmente encontram-se: Domeck do Brasil (Espanha); Chandon do Brasil (França) e a Seagram doBrasil (Canadá)3 De acordo com dados disponibilizados pela UVIBRA para o início da década de 90.
34,3%
45,5%
20,2%
2002
Micro Pequena Média
22,5%
38,1%
39,4%
2012
Micro Pequena Média
16
tecnologias de produção avançadas característico do primeiro segmento de vinícolas de
maior porte. Esta vinícola conta com armazéns refrigerados para conservação das uvas
trazidas pelos cerca de 1000 produtores associados, além de equipamentos para
vinificação de última geração (Cassiolato e Vargas, 2005).
Em segundo lugar, situado no extremo oposto, encontra-se o segmento de
pequenas cantinas que produzem menos de três milhões de litros/ano, mas respondem
por mais de 50% da produção total de vinho na região. Em geral, a maior parte das
vinícolas deste segmento dedica-se a produção de vinhos comuns e apresentam um
nível reduzido de capacitação tecnológica. Neste aspecto cabe destacar o elevado grau
de associativismo existente nas relações entre produtores de uva e vinícolas no arranjo.
A cadeia produtiva da uva e do vinho na Serra Gaúcha congrega cerca de 20
cooperativas associadas à FECOVINHO - Federação Riograndense de Cooperativas
Vinícolas. Este modelo de organização chegou a representar cerca de 60% de toda a
produção vinícola no estado, mas atualmente está restrito a cerca de 25% da produção
vinícola. A crise enfrentada pelas associações de produtores e a concorrência de
vinícolas privadas com modelos de produção integrada estão entre os principais fatores
que levaram à redução das cooperativas vinícolas no mercado doméstico. Entretanto,
verifica-se que este modelo de cooperativas vinícolas ainda é forte na região da Serra
Gaúcha na medida em que envolve cerca de 5.000 famílias de produtores e gera um
faturamento de aproximadamente US$ 80 milhões. Além disso, a integração de
pequenos produtores de uva através de cooperativas vinícolas apresenta características
bastante distintas daquelas existentes em outros segmentos como o de fumo e de
produção avícola, onde um pequeno número de grandes empresas (geralmente
multinacionais) controlam integralmente a cadeia produtiva e os canais de
comercialização.
Um terceiro segmento de vinícolas é composto por um grupo restrito mas muito
importante de pequenas cantinas familiares produtoras de vinhos finos que emergiu em
meio ao universo de pequenas e médias empresas do arranjo no decorrer das décadas de
80 e 904. Estas pequenas cantinas familiares vem conquistando importantes prêmios em
âmbito nacional e internacional, principalmente em países da União Européia que
4 A produção de vinhos finos corresponde hoje a menos de 20% do volume total produzido pela indústriavinícola brasileira e envolve um percentual ainda menor quando se considera o seleto grupos de empresascom capacitação tecnológica para este tipo de produção.
17
integram o grupo dos principais produtores mundiais de vinhos finos. Apesar de
constituir um grupo ainda restrito de pequenas e médias vinícolas,este segmento tornou-
se um dos principais vetores de capacitação do arranjo produtivo vitivinícola da Serra
Gaúcha no decorrer da última década5 (Cassiolato e Vargas, 2005).
Originalmente, a inserção deste segmento de empresas familiares no arranjo se
refletia através do seu papel de abastecedoras primárias de uva ou de vinho a granel
para o segmento da grandes empresas6. Gradativamente, entretanto, uma parcela destas
cantinas logrou atingir um elevado padrão de qualidade na produção de vinhos finos
através da modernização de equipamentos e da qualificação técnica dos filhos dos
proprietários enviados para cursos de formação superior em enologia em países como
Argentina e França. Muitas destas pequenas cantinas tem uma inserção qualificada no
mercado nacional de vinhos finos como é caso das Vinícolas Miolo, Valduga, Cave
Amadeu e Don Laurindo, para citar apenas algumas das principais.
Tabela 2 - Principais segmentos de empresas vinícolas na Serra Gaúcha
Segmento Principais característicasGrandes vinícolas
(Aurora, Salton, Bacardi, AlliedDomeck,Chandon do Brasil, entre outras)
Alta capacidade de processamento (acimade3milhões de litros)
Foco na produção de vinhos finos e espumantes.Envolve tanto empresas nacionais como
multinacionaisTecnologias modernas de processamento e
vinificaçãoInvestimentos substanciais em P&D e marketingVoltadas para o mercado nacional e globalAssociadas da UVIBRA
Pequenas e médias vinícolas
(Jota Pe, Abegê, Monte Lemos, etc.)
Baixa capacidade de processamento (50,000 a500,000 litros)
Foco na produção de vinhos comunsPredomínio de pequenas cooperativas de produtoresmenor nível de capacitação na produção vinificaçãoinvestimentos reduzidos em capacitação e marketingVoltadas para mercados locais e/ou nacional de
baixo preçoAssociadas a AGAVI
Cantinas familiares
Miolo, Valduga, Cave Amadeu, DonLaurindo, Don Giovanni, Angheben,Boscato, Marson, Lovara, etc)
Iniciam com capacidade reduzida de processamento(50,000 to500,000 litres); mas algumas vem ampliandoconsideravelmente essa capacidade.
Foco exclusivo na produção de vinhos finos eespumantes
Práticas de viticultura voltadas á valorização doTerroir
5 Conforme dados da UVIBRA estima-se que entre as quase 200 pequenas cantinas localizadas na SerraGaúcha, não chega a 15 o número das que compõe esse grupo de produtores com elevado grau decapacitação.6 Também vale destacar que a trajetória de aprendizado e inovação dessas grandes emnpresas remonta aoprimeiro ciclo de modernização do arranjo na década de 70.
18
Esforço de criação de selos de indicação geográficana região da Serra Gaúcha.
Elevada capacitação tecnológica no processamento evinificação
Investimentos substanciais em capacitação emarketing
Amplo uso de consultorias na área vinícola e vitícolaVoltadas para produtos de qualidade e preço
Premium no mercado nacional e internacionalAssociados da APROVALE
Fonte: elaboração própria
É importante ressaltar que a produção de vinhos finos demanda um elevado nível
de capacitação no processo de vinificação que se reflete não somente no nível
tecnológico dos equipamentos utilizados mas também no conhecimento técnico das
melhores práticas enológicas. Da mesma forma, o sucesso na produção de vinhos finos
exige um elevado padrão de qualidade na matéria-prima utilizada. Assim, o processo de
evolução das empresas em direção ao domínio na fabricação de vinhos finos se constitui
no melhor indicador das trajetórias de aprendizado tecnológico e inovação no arranjo
vitivinícola.
5. Formas de governança e arcabouço institucional: caracterização das principaisinstituições presentes no APL
O arcabouço institucional que regula as relações inter empresariaisno complexo
agro-industrial vitivinícola na Serra Gaúcha denota uma considerável diversidade e grau
de cooperação entre os atores locais. Esta seção busca apresentar as principais
organizações que integram o arcabouço institucional do APL e as formas de governança
presentes no mesmo. Tal anaálise busca diferenciar as organizações e associações
ligadas à representação e articulação interempresarial , daquelas vinculadas à
infraestrutura científica, tecnológica e de capacitação.
5.1. Instituições de governança e coordenação interempresarial
A constituição do Instituto Brasileiro do Vinho – IBRAVIN no decorrer da década
de 90, constitui o exemplo mais emblemático do esforço conjunto empreendido pelos
diferentes segmentos de empresas vinícolas do arranjo na reestruturação produtiva do
setor na região. O IBRAVIN foi criado originalmente com a proposta de gerir e
executar uma serie de projetos aprovados através do chamado Fundo de Apoio ao Setor
Vitivinícola (Fundovitis)constituído com recursos oriundos da renúncia fiscal doo
19
governo do Estado. Inicialmente, o instituto logrou aglutinar o interesse das principais
associações do setor em torno de um amplo esforço de reconversão de toda a cadeia
produtiva vitivinícola. Esse processo seria alavancado pelo desenvolvimento de projetos
que abarcavam aspectos como o estudo do mercado brasileiro de vinho, a realização de
um cadastro vitivinícola na região, zoneamento agroclimático, uma nova proposta de
legislação para o setor, entre outros. O Instituto passou a ser visto como uma instância
potencial para regulação e controle do setor emulando, em parte, um modelo que foi
aplicado com sucesso no processo de reconversão do setor vitivinícola no vizinho
Uruguai no decorrer da década de 807 . Da mesma forma,a sua estrutura refletia o
interesse crescente em aproximar as demandas da cadeia produtiva do esforço de
pesquisa desenvolvido nos centros de pesquisa e universidades da região. O exemplo
mais claro desse objetivo se traduziu na escolha de um pesquisador da Embrapa ligado
ao Centro Nacional de Pesquisa da Uva e do Vinho – CNPVU para a primeira gestão na
presidência do instituto (Cassiolato e Vargas, 2005).
Além disso, a existência de vinícolas que operam em segmentos diferenciados de
mercado possibilitoua criação de diversas associações voltadas para os interesses e
necessidades específicas de cada um desses segmentos conforme demonstra o quadro 1
abaixo. Além disso, verifica-se que essas instituições desempenham um papel
importante na disseminação de informações e no processo de capacitação produtiva e
inovativa das empresas no interior do arranjo. Cabe ressaltar que a participação das
associações empresariais no processo de desenvolvimento do arranjo vitivinícola ocorre
através de diferentes formas: atravésda promoção de contatos e troca de experiências
entre as empresas na região, na organização de viagens de estudos ao exterior ou na
organização das empresas para participação em feiras internacionais.
7 Para uma discussão detalhada sobre o processo de reconversão do arranjo vitivinícola uruguaioverSnoeck (1999)
20
Quadro 1 - Principais instituições de coordenação das relações inter empresariais noArranjo vitivinícola
- União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA), fundada em 1967, conta com cerca de 150associados em nível nacional além de concentrar a maioria das empresas que atuam naprodução de vinhos finos na região;
- Associação Gaúcha de Vinicultores (AGAVI), representa os interesses de cerca de 60pequenos e médios produtores dedicados a produção de vinhos comuns no Rio Grande doSul;
- Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (APROVALE), criada em1997, congrega 11 adegas de vinho finos que possuem vinhedos próprios e constituem oseleto grupo de pequenas cantinas familiares agrupadas em torno do objetivo comum deviabilizar a criação de um selo de origem controlada no Brasil.
- Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul e Federação dasCooperativas Vinícolas (OCERGS/FECOVINHO), que foi fundada em 1952 e representahoje cerca de 22 cooperativas vinícolas.
- Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), criado no início da década de 90 com o intuito decoordenar o processo de reconversão do setor vitivinícola brasileiro através do Fundo deApoio ao Setor Vitivinícola – Fundovitis, criado pelo governo do Estado.
- Associação Brasileira de Enologia (A.B.E), criada em 1976 com o objetivo de promover acultura vitivinícola é responsável pela organização de uma das principais feiras do setor aFenavinho na cidade de Bento Gonçalves. A realização anual da Fenavinho coincide comoutro evento organizado pela A.B.E, a Avaliação nacional de Vinhos que fecha o calendárioanual do setor.
5.2. Organizações ligadas à pesquisa e formação de recursos humanos
No arranjo vitivinícola verifica-se também a existência de um importante núcleo
de organizações voltadas para a pesquisa específica neste setor. OCentro Nacional de
Pesquisa de Uva e Vinho da EMBRAPA (CNPUV-EMBRAPA) e a Escola Agrotécnica
Federal Juscelino Kubitschek, ambos localizados no município de Bento Gonçalves,
constituem-se nos principais centros de pesquisa e formação de recursos humanos deste
arranjo. O CNPUV é um centro de referencia nacional para pesquisa vitivinícola. O
centro foi criado em 1975, durante o ciclo de modernização do setor vitivinícola na
região, e tem como função principal o desenvolvimento de tecnologias de produto e de
processo relacionadas ao complexo agro-industrial vitivinícola.
A Escola Agrotécnica Federal Juscelino Kubitschek, por sua vez, foi constituída
ainda em 1959 sendo a única instituição de ensino do Brasil que oferece a habilitação de
técnico em Enologia em nível de segundo grau e técnico. Escola Agrotécnica Federal
21
“Presidente Juscelino Kubitschek: foi criada em 1959, com a denominação de Escola de
Viticultura e Enologia e iniciou o seu funcionamento em 1960. É a única escola a
propiciar a habilitação de Técnico em Enologia em nível de 2ograu através de um curso
que tem duração de três anos que abrange também a formação técnica específica e
envolve um estágio supervisionado de 360 horas. Desde 1975 a escola oferece também
a habilitação de técnico em Agricultura que, em 1985, foi transformada para Técnico
em Agropecuária. Desde a sua fundação a Escola já formou mais de 750 técnicos em
enologiae cerca de 1.250 técnicos em agricultura e agropecuária. Desde 1995 a Escola
passou a oferecer o Curso superior de Tecnologia em Vitivinicultura e Enologia que é o
único existente no país. Este curso conta hoje com 44 alunos matriculados, provenientes
de 11 municípios do RS e de 3 unidades da Federação. A organização do curso contou
com a colaboração da ENFA (Escola Nacional de Formação Agronômica) de Toulouse-
França e com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. A
Escola mantém intercâmbio com a ENFA, através do envio de professores para estágios
em diversas regiões vitivinícolas da França e do intercâmbio de professores e alunos em
programas de aperfeiçoamento técnico. Do mesmo modo, a Escola mantém diversos
convênios de cooperação com universidades, centros de pesquisa, empresas e
prefeituras na região (Cassiolato e Vargas, 2005).
Além dessas duas instituições ligadas à pesquisa e capacitação, destaca-se o papel
da EMATER. O escritório da EMATER de Bento Gonçalves prioriza a orientação aos
agricultores quanto à melhoria na qualidade do vinho, bem como práticas culturais e
combate a viroses e doenças fúngicas. No escritório de Caxias do Sul, as atividades
estão direcionadas para os parreirais das variedades de uvas híbridas ou americanas e
para orientação para diversificação de culturas.
6. Breve caracterização dos processos de aprendizagem, formas de interação ecooperação
Apesar dos saltos de qualidade que tem sido verificados na produção vitícola no
Estado nos últimos anos a qualificação da etapa de produção agrícola constitui-se ainda
hoje num dos maiores desafios para o aumento da competitividade do arranjo
vitivinícola da Serra Gaúcha. Em 1989 do total de 380 mil toneladas produzidas por 16
mil famílias de pequenos agricultores 26% corresponderam a variedades nobres e 74% a
22
variedades comuns, híbridas ou americanas utilizadas somente para produção de vinhos
comuns e sucos. Na safra de 1999, por outro lado, das 430 mil toneladas produzidas,
apenas 13,5% corresponderam a uvas nobres. Dados recentes sobre o perfil da produção
vitícola no arranjo evidenciam poucas mudanças no perfil da produção de uvas no APL.
Em 2012 foram processados 620 milhões de quilos de uvas no Rio Grande do Sul.
Deste total, apenas 11% corresponderam à variedades viníferas e 89% corresponderam
ao processamento de variedades híbridas e americanas. A evolução no perfil de
processamento de uvas no Rio Grande do Sul é mostrado no gráfico a seguir.
Gráfico 8: Uvas processadas no Rio Grande do Sul, total (em milhões de kg e participaçãopor tipo de uva, 2001-2013
Fonte: Uvibra
A preocupação com relação a melhora no perfil da produção vitícola constitui um
consenso entre os diferentes atores do arranjo e tem levado muitas vinícolas a
ampliarem seus investimentos em áreas próprias e a importarem uma maior quantidade
de mudas dos principais países produtores. Da mesma forma, essa preocupação se
reflete claramente como o principal foco de ação dos projetos a serem desenvolvidos
nos próximos anos através do IBRAVIN. Neste aspecto, cabe destacar que o circuito
inovativo da produção vitícola abrange um conjunto mais amplo de atores onde se
incluem, além das empresas, centros de pesquisa e de transferência tecnológica
existentes em nível local tais como Embrapa e Emater. Esse esforço de capacitação da
produção agrícola envolve ações como a distribuição de porta-enxertos,
desenvolvimento de novos cultivares de uva destinados à vinificação ou difusão de
orientação técnica no manejo da cultura e no controle de doenças. As principais
vinícolas do arranjo importam mudas de variedades mais nobres como Chardonay,
88,5% 89,9% 88,7% 89,2% 85,7% 86,6% 87,3% 86,8% 86,5%91,3% 88,3% 89,1% 87,9%
11,5% 10,1% 11,3% 10,8% 14,3% 13,4% 12,7% 13,2% 13,5% 8,7% 11,7% 10,9% 12,1%
384,9426,6
340
516,3
422,6367
498,4550,3
462,1 480,8
626,9620,6 537,3
0
100
200
300
400
500
600
700
0%10%
20%30%40%
50%60%
70%80%90%
100%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Americanas/híbridas Viníferas Produção total
23
PinotNoir, Cabernet Sauvignon e Merlot da Franca, Italia, Africa do Sul e Austrália. Em
1998, uma das grandes vinícolas do arranjo, aChandon, importou 100 mil mudas, das
quais cerca de 60%, foram distribuídas para seus produtores conveniados (Gazeta
Mercantil, 21/10/99).
Não obstante as limitações que o arranjo ainda enfrenta na qualificação da sua
produção vitícola,verifica-se que existe um elevado nível de capacitação tecnológica das
empresas do arranjo no processo de vinificação8. Desde o primeiro grande ciclo de
modernização do arranjo na década de 70, as principais empresas do arranjo passaram a
introduzir importantes inovações no processo produtivo que resultaram tanto na
realização de investimentos em equipamentos como também em novas técnicas de
controle do processo produtivo. Atualmente, a utilização de tanques de aço inoxidável
para armazenamento do vinho constitui uma prática amplamente difundida no arranjo
mesmo entre as empresas de menor porte. Do mesmo modo, esse tipo de equipamento
conta hoje com um importante núcleo de fornecedores locais. Outros tipos de
equipamentos como filtros especiais a vácuo ou equipamentos de frio encontram-se
restritos a um número menor de cantinas. Os equipamentos de frio, por exemplo, que
são utilizados no controle do processo de fermentação, clarificação e estocagem de
vinhos e mostos e são indispensáveis para a produção de vinhos finos. Esses
equipamentos mais complexos, bem como alguns dos principais insumos como cortiça e
barris de carvalho ainda são importados de países como Itália, Argentina e Espanha. Por
outro lado, percebe-se um esforço de integração com fornecedores locais através de
diferentes iniciativas (Cassiolato e Vargas, 2005).
Um dos exemplo deste tipo de postura, se reflete numa parceria entre a Adega
Miolo e a empresa de moveis Bentec para a produção de barricas de carvalho que
permitiu a substituição de fornecedores externos da Franca e Estados Unidos. Esse
processo reflete também o esforço de inserção das empresas vinícolas de oferecer um
produto de maior qualidade e mais adequado as tendências do mercado internacional
(Gazeta Mercantil, 21/09/99). Além do investimento em novos equipamentos,
importantes avanços tem sido feitos na parte de controle dos processos de vinificação
mediante o uso crescente de enzimas coadjuvantes na maceração, maceração pelicular,
equipamentos automatizados, e dilatando-se o tempo de maceração de 4 a 5 dias para
8 O processo de elaboração do vinho envolve, basicamente as seguintes etapas: Desengaçamento,prensagem, decantação, fermentação, clarificação e filtração, estabilização, conservação, corte, filtração earmanzenamento.
24
20, 30 e até 40 dias. Na fermentação alcoólica estão sendo usadas leveduras
biotecnologicamente melhoradas, praticando-se também a fermentação malolática em
todos os tintos e técnicas de remontagens diferenciadas. Além disso, foi multiplicada a
utilização de barricas de carvalho no amadurecimento dos vinhos tintos. A adoção de
inovações na etapa de produção vinícola reflete também a capacitação do arranjos em
termos da qualificação dos técnicos e enólogos que atuam nas cantinas. Além do papel
desempenhado pela Escola de Enologia na região, a crescente inserção internacional das
empresas do arranjo viabilizou o maior intercâmbio com outras empresas nos principais
países produtores como França, Itália e Argentina. Nas principais empresas do arranjo
esse fluxo de conhecimento ocorre de forma sistemática através da contratação da
assessoria de enológos estrangeiros para acompanhamento e melhorias nos processos.
Além disso, as a participação em feiras internacionais e a organização de viagens de
estudo aos principais países produtores, promovidas através das associaçõesempresas
tem contribuído para disseminação de novas práticas entre empresas dos diversos
segmentos do arranjo. No caso das pequenas cantinas familiares que se especializaram
na produção de vinhos finos, a capacitação de recursos humanos ocorreu
fundamentalmente através da formação técnica dos filhos dos proprietários nas
melhores escolas de enologia em países como França eArgentina.
De uma maneira geral, dentre as principais inovações identificadas na
vitivinicultura brasileira nas últimas décadas destacam-se:
adaptação de tecnologia de fermentação à baixa temperatura, permitindo
um salto na qualidade dos vinhos brancos;
modernização de equipamentos e instalações (tanques de aço inoxidável
e controladores de temperatura;
melhoria nos sistemas de produção da uva, onde se incluem o controle de
doenças da videira, uso de material isento de vírus, uso de porta-enxertos adequados,
entre outros;
introdução de novas variedades de uvas viníferas que seriam utilizados
para elaboração de vinhos finos, bem como novas cultivares para elaboração de vinhos
comuns e uvas rústicas para mesa;
formação de recursos humanos especializados, contando com
profissionais qualificados (pós-graduados);
25
A figura abaixo procura sistematizar o papel desempenhado pelos diferentes
atores e instituições que integram o sistema local e nacional de inovação da uva e vinho.
O marco regulatório e o arcabouço institucional composto pelo conjunto de agências
governamentais (em âmbito local, estadual e federal) apresenta um elevado impacto
tanto nas atividades de produção de uvas como nas atividades de processamento e
vinificação.
A figura 3 procura diferenciar os principais fluxos de informação e conhecimento
presentes no APL de acordo com três maiores circuitos de inovação: i) fluxos de
conhecimento na produção de uvas; ii) fluxos de conhecimento no processamento e
vinificação; iii) fluxos de conhecimento relacionados com a gestão organizacional e de
marketing e comercialização. Os circuitos de inovação na produção de uvas estão
relacionados principalmente ao desenvolvimento de clones, sementes de variedades vitis
viníferas e controle de enfermidades. No circuito inovativo do processamento e
vinificação de uvas destaca-se a modernização de plantas, novos processos de
fermentação e controles enzimáticos, etc. No circuitos inovativos associados à gestão
organizacional e marketing destacam-se as melhorias na certificação e criação de selos
de denominação geográfica, desenvolvimento e promoção de marcas e participação em
competições internacionais.
26
Figura 3 - Sistema de Inovação da uva e do vinho no APL vitivinícola da Serra Gaúcha
Fonte: Elaboração própria
27
6.1. O processo de capacitação das pequenas cantinas familiares
A transição do segmento de pequenas cantinas familiares para produção de vinhos
finos é bem ilustrada pela trajetória de capacitação da vinícola Miolo. A origem desta
cantina remonta ao ano de 1897 quando o imigrante italiano Giuseppe Miolo recebeu
uma parcela de terras na região da Serra Gaúcha, na localidade que hoje é conhecida
como Vale dos Vinhedos. Inicialmente toda a produção de uvas originárias de
variedades comuns americanas e européias eram destinadas para processamento fora da
propriedade em cooperativas vinícolas da região. Em meados da década de 90, dois
membros da família Miolo concluíram seus cursos de enologia, um na Escola Técnica
de Bento Gonçalves e outro na Faculdade Don Bosco em Mendoz- Argentina, e
decidiram iniciar a construção de sua própria vinícola para produção de vinhos finos
com uma marca própria. Em menos de uma década a vinícola Miolo se tornou a
segunda maior produtora de vinhos finos no País e adquirou considerável porte e
capacidade de produção. Os investimentos destinados à produção de vinhos finos
resultaram num aumento do faturamento que passou de menos de cerca de R$ 500 mil
em 1998 para cerca de R$ 7 milhões em 2001 e continua a crescer em função dos novos
investimentos em vinhedos e plantas para processamento de uvas. Em 1999 a vinícola
Miolo iniciou a produção de vinhos finos na região do Vale do São Francisco no estado
de Pernambuco através de um acordo com produtores locais de uvas. O sucesso do
empreendimento levou a empresas a expandir seus vinhedos e sua produção vinícola na
atual área de expansão vitivinícola no estado, na região da Campanha, próxima à
fronteira com o Uruguai. A vinícola Miolo conta atualmente com uma capacidade de
processamento superior a 6 milhões de litros/ano, emprega mais de uma dezena de
enólogos e conta com consultoria de enólogos que atuam no mercado mundial
(flyingwinemakers) como Michel Rolland e que tem auxiliado a empresas na definição
estratégias para lançamento de novos produtos.
Entre as cantinas familiares que, a exemplo da Miolo, transformaram-se em
vetores de melhoria de qualidade e competitividade no APL e no mercado brasileiro
destacam-se as vinícolas Valduga, Cave Amadeu, Don Laurindo, Cave de Pedra e
Angheben, entre outras. De uma maneira geral, o nível de capacitação tecnológica
obtida nos processos de vinificação neste segmento de vinícolas encontra-se no mesmo
patamar daquele encontrado nas melhores vinícolas de países produtores tracionais.
28
Conforme destacado anteriormente, uma parte significativa dessas cantinas
familiares produtores de vinhos finos é encontrada hoje na região, na localidade do Vale
dos Vinhedos, situada entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo.
O Vale dos Vinhedos encontra-se numa área de 81 Km2 e beneficia-se de um
microclima marcado por invernos rigorosos e períodos excepcionais de sol durante o
verão. Essa localidade é considerada pelos produtores locais como uma das melhores
localidades para produção de variedades vitiviníveras na região e tornou-se uma marca
registrada para algumas das principais vinícolas. Por essa razão o Vale dos Vinhedos
foi uma das primeiras localidades da Serra Gaúcha a obter uma certificação de origem
geográfica.O reconhecimento como Indicação Geográfica, foi obtido em 2002, sendo
este selo concedido aos vinhos que estivessem dentro dos padrões estabelecidos pela
Aprovale com o selo de Indicação de Procedência (IP). A partir de 2012, com o
reconhecimento do Vale como Denominação de Origem (DO), para ostentarem esta
classificação, os produtos passaram a obedecer a regras mais específicas em relação à
produção da uva e à elaboração do vinho.De acordo com informações da Aprovale, a
obtenção do selo de indicação geográfica foi outro elemento fundamental para o
aumento da qualidade da produção vitícola e vinícola nesta região
Tais melhorias se refletem no maior valor médio da produção de uvas e de vinhos
e pela expansão no número de vinícolas e outros empreendimentos vinculados ao
enoturismo que passaram a se instalar na localidade do Vale dos Vinhedos e em áreas
adjacentes. Finalmente, o sucesso desta iniciativa tem servido de exemplo para outras
localidades produtoras de vinho na região da Serra Gaúcha que também vem buscando
ampliar a qualidade dos vinhedos e da produção vinícolas com vistas à obtenção de
cetificações como a Indicação de Procedência (IP) e denominação de origem (DO).
7. Considerações finais: Sugestão de ações a partir do diagnóstico do APL.
Atualmente os principais desafios que são colocados para o APL de uva e vinho
na Serra Gaúcha repousam precisamente sobre os extremos opostos da cadeia de valor
do complexo vitivínicola nacional. De um lado, ainda existe um amplo caminho a
percorrer em termos da qualificação do perfil da produção vitícola, tanto no que se
refere ao aumento da produção de variedades viti-viníferas como em termos do aumento
29
da produtividade da produção. De outro lado, existe um potencial considerável
relacionado com o aumento da participação da produção nacional de vinhos finos e
espumantes no mercado doméstico. A participação brasileira no mercado mundial de
vinhos finos ainda é muito restrita, assim como a participação no mercado doméstico,
que apresenta um grande potencial de crescimento, mas este espaço vemsendo
crescentemente ocupado pela importação de países como Argentina e Chile.
Além disso, é importante enfatizar que, no decorrer da última década, a produção
de espumantes na região da Serra Gaúcha conheceu um desenvolvimento significativo,
tanto em termos quantitativos como em termos qualitativos. Tal processo esteve
associado ao crescente reconhecimento da qualidade dos espumantes nacionais como ao
aumento do consumo de espumantes no mercado doméstico.
Assim, ainda que tenha ocorrido uma notável evolução nos processos de
capacitação produtiva e inovativa no APL vitivinícola da Serra Gaúcha ao longo das
duas últimas décadas, não foram estabelecidos todos os elos e ligações característicos de
um sistema local de inovação ligado ao complexo vitivinícola na região. Pode-se dizer
que um circuito inovativo dinâmico foi estabelecido no âmbito da produção de uva e
vinho, mas a consolidação deste sistema local ainda depende de políticas de caráter
sistêmico que permitam aos produtores locais avançar no processo de reconversão da
produção de uvas para variedades vitiviníferas e na qualificação das atividades de
processamento e vinificação.
A análise da dinâmica tecnológica e de aprendizado interativo na indústria
vinícola brasileira e no APL da uva e do vinho na região da Serra Gaúcha suscita uma
questão fundamental referente às formas de inserção competitiva de vinícolas de médio
e pequeno num ambiente crescentemente globalizado. Neste aspecto, as evidências
empíricas levantadas neste estudo permitem destacar algumas estratégias que apontam
para a possibilidade de se promover processo dinâmicos de capacitação produtiva e
inovativa de atores locais com base em estratégias ativas de aprendizado e foco em
mercados locais. Da mesma forma, apesar da clara evidência quanto à importância que
assumem determinadas fontes externas de conhecimento para o APL, ressalta-se que a
habilidade dos atores locais em promover a disseminação destes conhecimentos e de
processos interativos de aprendizado que determina a dinâmica de inovação no arranjo.
Finalmente, a experiência de diversos países que já atingiram um elevado nível de
competitividade internacional na indústria vinícola demonstra que este tipo de trajetória
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virtuosa não ocorre simplesmente a partir de relações de mercado. Ao contrário, esses
processos requerem a adoção de políticas de apoio específicas e voltadas para inovação
e para capacitação em diferentes níveis.
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