Divinum Illud Munus Leao Xiii

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    Carta Encclica

    Divinum Illud MunusDo Sumo Pontfice Leo XIII

    Sobre a Presena e Virtude Admirveldo Esprito Santo

    Introduo

    1. Aquela divina misso que, recebida do Pai embenefcio do gnero humano, to santamente desem-penhou Jesus Cristo, tem como ltimo fim fazer queos homens cheguem a participar de uma vida bem-

    aventurada na glria eterna; e, como fim imediato, quedurante a vida mortal vivam a vida da graa divina,

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    que ao final se abre florida na vida celestial.Por isso, o Redentor mesmo no cessa de convidar

    com suma doura a todos os homens de toda nao elngua para que venham ao seio de sua Igreja: Venhamtodos a mim; Eu sou a vida; Eu sou o bom pastor.Mas, segundo seus altssimos decretos, no quis Elecompletar por si s incessantemente na terra tal mis-so, mas que, como Ele mesmo a tinha recebido doPai, assim a entregou ao Esprito Santo para que a le-vasse a perfeito trmino. Apraz, com efeito, recordaras consoladoras frases que Cristo, pouco antes deabandonar o mundo, pronunciou diante dos Apstolos:

    Convm a vs que eu v! Porque, se eu no for, oParclito no vir a vs; mas se eu for, vo-loenviarei. Jo 16,7

    E ao dizer assim, deu como razo principal de suaseparao e de sua volta ao Pai o proveito que seusdiscpulos haveriam de receber com a vinda do Espri-to Santo; ao mesmo tempo que mostrava com este eraigualmente enviado por Ele e, portanto, que dEle pro-cedia como do Pai; e que com advogado, como conso-lador e como mestre concluiria a obra por Ele iniciadadurante sua vida mortal. A perfeio de sua obra re-dentora estava providencialmente reservada mltipla

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    virtude desse Esprito, que na criao adornou oscus[a] e encheu a terra[b].

    2. E Ns, que constantemente temos procurado,com o auxlio de Cristo Salvador, prncipe dos pasto-res e bispo de nossas almas, imitar seus exemplos, te-mos continuado religiosamente sua mesma misso,encomendada aos Apstolos, principalmente a Pedro,cuja dignidade tambm se transmite a um herdeiro

    menos digno[c]. Guiados por esta inteno, em todos osatos de nosso pontificado a duas coisas principalmentetemos atendido e sem cessar atendemos. Primeiro, arestaurar a vida crist tanto na sociedade pblica comona familiar, tanto nos governantes como nos povos;

    porque somente de Cristo pode se derivar a vida paratodos. Segundo, a fomentar a reconciliao com aIgreja daqueles que, por causa da f ou por obedin-cia, esto separados dela; pois a verdadeira vontade domesmo Cristo que haja s um rebanho sob um s

    Pastor[d]. E agora, quando nos sentimos prximos do

    [a] J 26,13spiritus ejus ornavit clos et obsetricante manu ejuseductus est coluber tortuosus. (Vulg.)

    [b] Sb 1,7quoniam spiritus Domini replevit orbem terrarum ethoc quod continet omnia scientiam habet vocis. (Vulg.)

    [c] So Leo Magno. Sermo III [Al. II] De Natali ipsius III; habitus inanniversario die assumptionis ejusdem ad summi pontificii munus. PL 54,147A Caput VI.

    [d] Jo 10,16 Tenho ainda outras ovelhas que no so deste aprisco.Preciso conduzi-las tambm, e ouviro a minha voz e haver

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    fim de nossa carreira mortal, apraz consagrar todanossa obra, qualquer que tenha sido, ao Esprito San-

    to, que vida e amor, para que a fecunde e a madure.Para cumprir melhor e mais eficazmente nosso desejo,em vsperas da solenidade de Pentecostes, queremoslhes falar da admirvel presena e poder do mesmoEsprito; ou seja, sobre a ao que Ele exerce na Igrejae nas almas graas ao dom de suas graas e carismascelestiais. Resulte disso, como nosso desejo ardente,que nas almas se reavive e se vigore a f no augustomistrio da Trindade, e especialmente cresa adevoo ao divino Esprito, a quem de muito sodevedores todos quanto seguem o caminho da verdadee da justia; pois, como assinalou So Baslio, toda aeconomia divina ao redor do homem, se foi realizada

    por nosso Salvador e Deus, Jesus Cristo, tem sidolevada a cumprimento pela graa do Esprito Santo[e].

    O Mistrio da Trindade

    3. Antes de entrar na matria ser conveniente etil tratar algo sobre o mistrio da sacrossanta Trinda-de.

    Este mistrio, o maior de todos os mistrios, poisde todos princpio e fim, chamado pelos doutores

    um s rebanho e um s pastor.[e] So Baslio Magno, PG 32, 134 De Spiritu Sancto 16,39.

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    sagrados substncia do Novo Testamento; para co-nhec-lo e contempl-lo foram criados, no cu os an-

    jos e na terra os homens; para ensinar com maior cla-reza o que foi prefigurado no Antigo Testamento,Deus mesmo desceu dos anjos aos homens: Ningum

    jamais viu Deus. O Filho nico, que est no seio doPai, foi quem o revelou Jo 1,18.

    Assim pois, quem escreve ou fala sobre a Trindadesempre dever ter em vista o que prudentemente ad-monesta o Anglico: Quando se fala da Trindade,convm faz-lo com prudncia e humildade, pois como diz Agostinho em nenhuma outra matria in-telectual maior o trabalho ou o perigo de equivo-car-se ou o fruto uma vez alcanado[f]. Perigo que

    procede de confundir entre si, na f ou na piedade, aspessoas divinas ou de multiplicar sua nica natureza;pois a f catlica nos ensina a venerar um s Deus naTrindade e a Trindade em um s Deus.

    4. Por isso, nosso predecessor Inocncio XII noatendeu a petio daqueles que solicitavam uma festaespecial em honra do Pai. Se existem certos dias festi-vos para celebrar um dos mistrios do Verbo Encarna-do, no existe uma festa prpria para celebrar o Verboto somente segundo sua natureza; e ainda a mesmasolenidade de Pentecostes, j to antiga, no se refere

    [f] So Toms de Aquino Suma Teolgica, I q.31 a.2; De Trin.1,3.

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    simplesmente ao Esprito Santo por si, mas que recor-da sua vinda ou misso externa. Tudo isso foi pruden-

    temente estabelecido para evitar que ningum multi-plicasse a divina essncia, ao distinguir as Pessoas.Mais ainda: a Igreja, a fim de manter em seus filhos a

    pureza da f, quis instituir a festa da Santssima Trin-dade, que logo Joo XXII mandou celebrar em todasas partes; permitiu que se dedicassem a este mistriotemplos e altares e, depois de celestial viso, aprovouuma Ordem religiosa para a redeno dos cativos, emhonra da Santssima Trindade, cujo nome a distinguia.

    Convm assinalar que o culto tributado aos Santose Anjos, Virgem Me de Deus e a Cristo, redundatodo e se termina na Trindade. Nas preces consagradasa uma das trs pessoas divinas, tambm se faz menodas outras; nas litanias, assim que se invoca a cadauma das Pessoas separadamente, se termina por suainvocao comum; todos os salmos e hino tem a mes-ma doxologia ao Pai, ao Filho e ao Esprito Santo; as

    bnos, os ritos, os sacramentos, ou se fazem emnome da Santa Trindade, ou lhes acompanha sua inter-cesso. Tudo o que j havia anunciado o Apstolocom aquela frase: Dele, por ele e para ele so todasas coisas. A ele a glria por toda a eternidade!

    Amm Rm 11,36; significando assim a trindade das

    Pessoas e a unidade de natureza, pois por ser esta umae idntica em cada uma das Pessoas, procede que a

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    cada uma se tribute, como a um e mesmo Deus, igualglria e coeterna majestade. Comentando aquelas pa-

    lavras, diz Santo Agostinho: No se interprete confu-samente o que o Apstolo distingue, quando dizDele, por ele e para ele; pois diz dele pelo Pai,por ele por causa do Filho; para ele, em relaoao Esprito Santo[g].

    Apropriaes

    5. Com grande propriedade, a Igreja costuma atri-buir ao Pai as obras de poder; ao Filho, as da sabedo-ria; ao Esprito Santo, as do amor. No porque todasas perfeies e todas as obras ad extra no sejam co-muns s trs Pessoas divinas, pois indivisveis so asobras da Trindade, como indivisa sua essncia [h],

    porque assim como as trs Pessoas divinas so insepa-rveis, assim obram inseparavelmente[i]; mas que poruma certa relao e como afinidade que existe entre asobras externas e o carter prprio de cada Pessoa, seatribuem a uma melhor que as outras, ou comodizem se apropriam. Assim como da semelhanado vestgio ou imagem existente nas criaturas nos

    [g] Santo Agostinho PL 42. De Trinitate Liber 6, caput 10; Li-ber 1,6.

    [h] Santo Agostinho PL 42. De Trinitate Liber 1, caput 4 e 5.[i] Santo Agostinho PL 42. De Trinitate Liber 1, caput 4 e 5.

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    servimos para manifestar as divinas Pessoas, assimfazemos tambm com os atributos divinos; e a

    manifestao deduzida dos atributos divinos se dizapropriao[j].

    Desta maneira, o Pai, que princpio de toda aTrindade[k], a causa eficiente de todas as coisas, daEncarnao do Verbo e da santificao das almas: DeDeus so todas as coisas; de Deus, por relao aoPai: o Filho, Verbo e Imagem de Deus, a causaexemplar pela qual todas as coisas tm forma e beleza,ordem e harmonia, ele, que caminho, verdade e vida,tem reconciliado o homem com Deus; por Deus, porrelao ao Filho; finalmente, o Esprito Santo a cau-sa ltima de todas as coisas, posto que, assim como avontade e ainda toda coisa descansa em seu fim, assimEle, que a bondade e o amor do Pai e do Filho, dforte impulso forte e suave e como a ltima mo aomisterioso trabalho de nossa eterna salvao: emDeus, por relao ao Esprito Santo.

    O Esprito Santo e Jesus Cristo

    6. J precisados os atos de f e de culto devidos augustssima Trindade, o qual tudo nunca se inculcar

    bastante ao povo cristo, nosso discurso agora se diri-

    [j] So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte I, q.39 a.7.[k] Santo Agostinho PL 42. De Trinitate Liber 4, caput 20.

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    ge a tratar do eficaz poder do Esprito Santo. Antes detudo, dirijamos um olhar a Cristo, fundador da Igreja e

    Redentor do gnero humano. Entre todas as obras deDeus ad extra, a maior , sem dvida, o mistrio daEncarnao do Verbo; nele brilha de tal modo a luzdos divinos atributos, que nem possvel pensar nadasuperior nem pode haver nada mais saudvel para ns.Este grande prodgio, ainda quando realizado por todaa Trindade, sem embargo se atribui como prprio aoEsprito Santo, e assim diz o Evangelho que a concep-o de Jesus no seio da Virgem foi obra do EspritoSanto[l], e com razo, porque o Esprito Santo a cari-dade do Pai e do Filho, e este grande mistrio da bon-dade divina[m], que a Encarnao, foi devido aoimenso amor de Deus ao homem, como adverte SoJoo: Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo,que lhe deu seu Filho nico (Jo 3,16). Acrescenta-se

    [l] Mt 1,18Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua me, estava

    desposada com Jos. Antes de coabitarem, aconteceu que elaconcebeu por virtude do Esprito Santo. [] 20Enquanto as-sim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em so-nhos e lhe disse: Jos, filho de Davi, no temas receber Mariapor esposa, pois o que nela foi concebido vem do EspritoSanto.

    [m] 1Tm 3, 16Sim, to sublime - unanimemente o proclamamos- o mistrio da bondade divina: manifestado na carne, justifi-cado no Esprito, visto pelos anjos, anunciado aos povos, acre-ditado no mundo, exaltado na glria!

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    que por dito ato a natureza humana foi levantada unio pessoal com o Verbo, no por mrito algum,

    mas somente por pura graa, que dom prprio doEsprito Santo: O admirvel modo diz Santo Agos-tinho[n] com que Cristo foi concebido por obra doEsprito Santo, nos d a entender a bondade de Deus,

    posto que a natureza humana, sem mrito algum pre-cedente, j no primeiro instante foi unida ao Verbo deDeus em unidade to perfeita de pessoa que um mes-mo fosse de uma vez Filho de Deus e Filho do ho-mem[o].

    Por obra do Esprito Divino teve lugar no somentea concepo de Cristo, mas tambm a santificao desua alma, chamada uno nos Sagrados Livros[p], e as-sim como toda ao sua se realizava sob o influxodo mesmo Esprito[q], que tambm cooperou de modoespecial a seu sacrifcio, segundo a frase de So Pau-

    [n] Santo Agostinho Enchiridion ad Laurentium sive de Fide,Spe et Charitate Liber unus PL 40,252.

    [o] So Toms de Aquino Suma Teolgica Parte III Tratadodo Verbo Encarnado Questo 32 Sobre o Principio ativo daconcepo de Cristo, Art. 1. Deve atribui-se ao Esprito Santoa obra da concepo de Cristo? soluo segunda.

    [p] At 10,38Vs sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazar como Esprito Santo e com o poder, como ele andou fazendo obem e curando todos os oprimidos do demnio, porque Deusestava com ele.

    [q] So Baslio Magno, PG 32, 134. Liber de Spiritu Santo, ca-put 16.

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    lo: Cristo, que pelo Esprito eterno se ofereceu comovtima sem mcula a Deus[r]. Depois de tudo isto, j

    no se estranhar que todos os carismas do EspritoSanto inundassem a alma de Cristo. Posto que nElehouve uma abundncia de graa singularmente plena,de maneira maior e com maior eficcia que se pudesseter; nele, todos os tesouros da sabedoria e da cincia,as graas gratias datas, as virtudes, e plenamente to-dos os dons, j anunciados nas profecias de Isaas[s], jsimbolizados naquela misteriosa pomba aparecida noJordo, quando Cristo com seu batismo consagravasuas guas para o novo Testamento.

    Com razo nota Santo Agostinho que Cristo norecebeu o Esprito Santo tendo j trinta anos, mas quequando foi batizado estava sem pecado e j tinha o Es-

    prito Santo; ento, ou seja, no batismo, no fez senoprefigurar o seu corpo mstico, ou seja, a Igreja na

    [r] Hb 9,14 quanto mais o sangue de Cristo que, por um Espritoeterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vtima sem man-

    cha, h de purificar a nossa conscincia das obras mortas paraque prestemos um culto ao Deus vivo.[s] Is 42,1 Eis o meu servo que eu sustenho, o meu eleito, em

    quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu esprito, ele trar ojulgamento s naes.Is 11, 2 Sobre ele repousar o esprito de Iahweh, esprito desabedoria e de inteligncia, esprito de conselho e de fortaleza,esprito de conhecimento e de temor de Iahweh: 3 no temor deIahweh estar a sua inspirao. Ele no julgar segundo a apa-rncia. Ele no dar sentena apenas por ouvir dizer.

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    qual os batizados recebem de modo peculiar o EspritoSanto[t]. E assim a apario sensvel do Esprito sobre

    Cristo e sua ao invisvel em sua alma representavama dupla misso do Esprito Santo, visvel na Igreja einvisvel na alma dos justos.

    O Esprito Santo e a Igreja

    Nos Apstolos, bispos e sacerdotes

    7. A Igreja, j concebida e nascida do corao mes-mo do segundo Ado na Cruz, se manifestou aos ho-mens pela primeira vez de modo solene no clebre diade Pentecostes com aquela admirvel efuso, que ha-via sido vaticinada pelo profeta Joel[u]; e naquele mes-mo dia se iniciava a ao do divino Parclito no msti-co corpo de Cristo, pousando sobre os Apstolos,como novas coroas espirituais, formadas com lnguasde fogo, sobre suas cabeas[v].

    [t] Santo Agostinho PL 42, 1093. De Trinitate Liber 15, caput26.

    [u] Em Latim Jl 2,28.29Jl 3, 1 Depois de tudo isso, derramarei omeu esprito sobre todos os viventes. E, ento, todos os vossosfilhos e filhas falaro como profetas: Os ancios recebero emsonho suas mensagens e os jovens tero vises. 2 At sobre es-cravos e escravas derramarei naquele dia o meu esprito.

    [v] So Cirilo de Jerusalm. PG 33, 987B. Catechesis DecimaSeptima Illumindarum De Spiritu Sancto II.

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    E ento os Apstolos desceram do monte, como es-creve o Crisstomo, no mais levando em suas mos

    como Moiss tbuas de pedra, mas o Esprito Santoem sua alma, derramando o tesouro e fonte de verdadee de carismas[w]. Assim, certamente se cumpria a lti-ma promessa de Cristo a seus Apstolos, a de lhes en-viar o Esprito Santo, para que com sua inspiraocompletara e de certo modo selar o depsito da revela-o: Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas noas podeis suportar agora. Quando vier o Parclito, oEsprito da Verdade, ensinar-vos- toda a verdade.[x]

    O Esprito Santo, que esprito da verdade, poisprocede do Pai, Verdade eterna, e do Filho, Verdadesubstancial, recebe de um e outro, juntamente com aessncia, toda a verdade que logo comunica Igreja,assistindo-a para que no erre jamais, e fecundando osgermes da revelao at que, no momento oportuno,cheguem maturidade para a sade dos povos. Ecomo a Igreja, que meio de salvao, h de durar ata consumao dos sculos, precisamente o Esprito

    [w] So Joo Crisstomo. PG 57, 15. Commentarius in SanctumMatthum Evangelistam. Homilia I,1 (final); citando 2Cor3,3.

    [x] Jo 16,12 Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas no soiscapazes de compreender agora. 13 Quando ele vier, o Espritoda Verdade, vos guiar em toda a verdade. Ele no falar por simesmo, mas dir tudo quanto tiver ouvido e vos anunciar oque h de vir.

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    Santo a alimenta e acrescenta em sua vida e em suavirtude: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dar outro

    Parclito, para que fique eternamente convosco.[y]Pois por Ele so constitudos os bispos, que en-gendram no s filhos, mas tambm pais, isto , sacer-dotes, para gui-la e aliment-la com aquele mesmosangue com que foi redimida por Cristo: O EspritoSanto vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja

    de Deus, que ele adquiriu com o seu prprio san-gue[z]; uns e outros, bispos e sacerdotes, por singulardom do Esprito tm poder de perdoar os pecados, se-gundo Cristo disse a seus apstolos: Recebei o Esp-rito Santo; queles a quem perdoardes os pecados,

    ser-lhes-o perdoados; queles a quem os retiverdes,ser-lhes-o retidos.[aa]

    Nas almas

    [y] Jo 14, 16 E eu pedirei ao Pai, e ele vos dar um outro Defensor,

    que ficar para sempre convosco:

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    o Esprito da Verdade, queo mundo no capaz de receber, porque no o v, nem o co-nhece. Vs o conheceis, porque ele permanece junto de vs eest em vs.

    [z] At 20,28 Cuidai de vs mesmos e de todo o rebanho sobre oqual o Esprito Santo vos estabeleceu como guardies, comopastores da Igreja de Deus que ele adquiriu com o seu sangue.

    [aa] Jo 20,22 Ento, soprou sobre eles e falou: Recebei o EspritoSanto. 23 A quem perdoardes os pecados, sero perdoados; aquem os retiverdes, ficaro retidos.

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    8. Nada confirma to claramente a divindade daIgreja como o glorioso esplendor de carismas que por

    todas as partes a circundam, coroa magnfica que elarecebe do Esprito Santo. Baste, por ltimo, saber quese Cristo a cabea da Igreja, o Esprito Santo suaalma: O que a alma em nosso corpo, o EspritoSanto no corpo de Cristo, que a Igreja[ab]. Se as-sim, no cabe imaginar nem esperar ainda outra maiore mais abundante manifestao e apario do DivinoEsprito, pois a Igreja tem j o mximo, que h de du-rar at que, desde o estado da milcia terrena, seja ele-vada triunfante ao coro feliz da sociedade celestial.

    No menos admirvel, ainda que em verdade sejamais difcil de entender, a ao do Esprito Santo nasalmas, que se oculta a todo olhar sensvel.

    E esta efuso do Esprito de abundncia tanta queo mesmo Cristo, seu doador, a assemelhou a um rioabundantssimo, como afirma So Joo: Quem crem mim, como diz a Escritura: Do seu interior mana-ro rios de gua viva; testemunho que glosou o mes-mo evangelista dizendo: Dizia isso, referindo-se ao

    Esprito que haviam de receber os que cressem nele.[ac]

    [ab] Santo Agostinho, Serm. 187 de temp.[ac] Jo 7, 38 quem cr em mim conforme diz a Escritura: Do

    seu interior correro rios de gua viva. 39 Ele disse isso falan-do do Esprito que haviam de receber os que acreditassem

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    No Antigo e no Novo Testamento

    9. Certo que ainda nos mesmos justos do AntigoTestamento j habitou o Esprito Santo, segundo sabe-mos dos profetas, de Zacarias, do Batista, de Simeo ede Ana; pois no foi no Pentecostes quando o EspritoSanto comeou a habitar nos Santos pela primeira vez:naquele dia aumentou seus dons, mostrando-se maisrico e mais abundante em sua generosidade[ad]. Tam-

    bm aqueles eram filhos de Deus, mas ainda permane-ciam na condio de servos, porque tampouco o filhose diferencia do servo, enquanto est sob tutela[ae];ainda que a justia neles no era seno pelos previstosmritos de Cristo, e a comunicao do Esprito Santodepois de Cristo muito mais copiosa, como a coisa

    pactuado vence em valor a garantia, e como arealidade excede em muito a sua figura. E por issoassim o afirmou Joo: Pois ainda no fora dado oEsprito, visto que Jesus ainda no tinha sido glorifi-

    nele; pois no havia ainda o Esprito, porque Jesus ainda nofora glorificado.

    [ad] So Leo Magno, Homila 3. De Pentecostes.[ae] Gl 4,1 Quero dizer o seguinte: enquanto o herdeiro menor de

    idade, ele no se diferencia em nada de um escravo, embora jseja dono de todos os bens. 2 que ele depende de tutores e cu-radores at data marcada pelo pai.

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    cado[af]. Assim que Cristo, ascendendo ao alto, tomouposse de seu reino, conquistado com tanto trabalho,

    com divina munificncia abriu seus tesouros, repartin-do aos homens os dons do Esprito Santo[ag]: E no que antes no houvesse sido mandado o Esprito San-to, mas que no havia sido dado como o foi depois daglorificao de Cristo[ah]. E isto porque a naturezahumana essencialmente serva de Deus: A criatura serva, ns somos servos de Deus segundo anatureza[ai]; mais ainda: pelo primeiro pecado todanossa natureza caiu to abaixo que se tornou inimigade Deus: ramos como os outros, por natureza,verdadeiros objetos da ira (divina) (Ef 2,3). Noexistia fora capaz de nos levantar de queda togrande e nos resgatar da runa eterna. Mas Deus, quenos criou, se moveu de piedade; e por meio de seuUnignito restituiu ao homem nobre altura de ondehavia cado, e ainda lhe realou com mais abundanteriqueza de dons. Nenhuma lngua pode expressar estetrabalho da divina graa nas almas dos homens, peloque so chamados, nas Sagradas Escrituras e nos

    [af] Jo 7,39 Ele disse isso falando do Esprito que haviam de rece-ber os que acreditassem nele; pois no havia ainda o Esprito,porque Jesus ainda no fora glorificado.

    [ag] Ef 4,8 Por isso, diz a Escritura: Subindo s alturas, levou ca-tivo o cativeiro e distribuiu dons aos seres humanos.

    [ah] Santo Agostinho PL 42, 910. De Trinitate Liber 4, caput 20.[ai] So Cirilo de Alexandria, Thesam. 1,5, c.5.

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    escritos dos Padres da Igreja, regenerados, novascriaturas, participantes da divina natureza, filhos de

    Deus, deificados, e muito mais ainda. Agora bem:benefcios to grandes propriamente os devemos aoEsprito Santo.

    Ele o Esprito de adoo dos filhos, no qual cla-mamos: Abba, Pai; inunda os coraes com a do-ura de seu paternal amor: d testemunho a nosso es-

    prito de que somos filhos de Deus[aj]. Para declarar oquo oportunssima aquela observao do Anglico,de que tem certa semelhana entre as duas obras doEsprito Santo; posto que pela virtude do EspritoSanto Cristo foi concebido em santidade para ser filhonatural de Deus, e os homens so santificados para se-rem filhos adotivos de Deus[ak]. E assim, com to gran-de nobreza ainda que na ordem natural, a gerao es-

    piritual fruto do Amor incriado.

    Nos Sacramentos

    10. Esta regenerao e renovao comea paracada um no batismo, sacramento no qual, arrancado

    [aj] Rm 8,15 Com efeito, no recebestes um esprito de escravos,para recair no temor, mas recebestes um esprito de filhos ado-tivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! 16 O prprio Esprito seune ao nosso esprito para testemunhar que somos filhos deDeus.

    [ak] So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte III q.32, a.l

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    da alma o esprito imundo, desce a ela pela primeiravez o Esprito Santo, tornando-a semelhante a si: O

    que nasceu do Esprito esprito[al]. Com maisabundncia nos dado o mesmo Esprito na confirma-o, pela qual nos infunde fortaleza e constncia paraviver como cristos; o mesmo Esprito que venceunos mrtires e triunfou nas virgens sobre as bajulaese perigos. Temos dito que nos dado o mesmo Esp-rito: Porque o amor de Deus foi derramado em nos-sos coraes pelo Esprito Santo que nos foi dado [am].E em verdade, no s nos enche de dons divinos, masque autor dos mesmos e ainda Ele mesmo o domsupremo porque, ao proceder do mtuo amor do Padree do Filho, com razo dom do Deus altssimo. Paramelhor entender a natureza e efeitos deste dom, con-vm recordar quanto, depois das Sagradas Escrituras,ensinaram os doutores sagrados, isto , que Deus sefaz presente em todas as coisas e que est nelas: por

    potncia, enquanto se fazem sujeitas a sua potestade;por presena, enquanto todas esto abertas e patentesa seus olhos; por essncia, porque em todas se fazcomo causa de seu ser[an]. Mas na criatura racional se

    [al] Jo 3,6 O que nasceu da carne carne, o que nasceu do Esprito esprito.

    [am] Rm 5,5 E a esperana no decepciona, porque o amor deDeus foi derramado em nossos coraes pelo Esprito Santoque nos foi dado.

    [an] So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte I q.8, a.3.

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    encontra Deus ainda de outra maneira; isto ,enquanto conhecido e amado, j que segundo

    natureza amar o bem, desej-lo e busc-lo.Finalmente, Deus, por meio de sua graa, est na almado justo na forma mais ntima e inefvel, como emseu templo; e disso se segue aquele mtuo amor peloque a alma est intimamente presente a Deus, e estnele mais do que possa suceder entre os amigos maisqueridos, e goza dele com a mais agradvel doura.

    Na habitao

    11. E esta admirvel unio, que propriamente sechama habitao, e que somente na condio ou esta-do, mas no na essncia, difere-se do que constitui afelicidade no cu, ainda que realmente cumpre-se porobra de toda a Trindade, pela vinda e morada das trsPessoas divinas na alma amante de Deus, viremos aele e nele faremos nossa morada[ao], se atribui, semembargo, como peculiar ao Esprito Santo. E certoque at entre os mpios aparecem vestgios do poder esabedoria divinos; mas da caridade, que comonota prpria do Esprito Santo, to somente o justo

    participa.

    [ao] Jo 14,23 Jesus respondeu-lhe: Se algum me ama, guardar aminha palavra; meu Pai o amar, e ns viremos e faremos nelea nossa morada.

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    Acrescente-se que a este Esprito se d o apelativo(sobrenome) de Santo, tambm porque, sendo o pri-

    meiro e eterno Amor, nos move e excita a santidade,que em resumo no seno o amor de Deus. E assim,o Apstolo, quando chama aos justos 'templo deDeus', nunca lhe chama 'templos do Pai' ou 'do Filho',mas 'do Esprito Santo': Ou no sabeis que o vossocorpo templo do Esprito Santo, que habita em vs,o qual recebestes de Deus?[ap]. habitao do Espri-to Santo nas almas justas segue a abundncia dos donscelestiais. Assim ensina Santo Toms: O EspritoSanto, ao proceder como Amor, procede em razo dodom primeiro; por isto diz Agostinho que, por meiodeste dom que o Esprito Santo, muitos outros donsse distribuem aos membros de Cristo[aq]. Entre estesdons esto aqueles ocultos avisos e convites que sefazem sentir na mente e no corao pela moo doEsprito Santo; deles depende o princpio do bomcaminho, o progresso nele e a salvao eterna. E postoque estas vozes e inspiraes nos chegam bemocultamente, com toda razo nas Sagradas Escrituras

    [ap] 1Cor 6, 19 Ou no sabeis que o vosso corpo templo do Esp-rito Santo, que habita em vs, o qual recebestes de Deus e que,por isso mesmo, j no vos pertenceis? 20 Porque fostes com-prados por um grande preo. Glorificai, pois, a Deus no vossocorpo.

    [aq] So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte I q.38, a.2.Santo Agostinho, De Trin. 15,19.

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    alguma vez se dizem semelhantes ao sussurro dovento; e o Anglico Doutor sabiamente as compara

    com os movimentos do corao, cuja virtude toda sefaz oculta: O corao tem uma certa influnciaoculta, e por isso ao corao se compara o EspritoSanto que invisivelmente vivifica a Igreja e a une[ar].

    Nos sete dons e nos frutos

    12. E o homem justo, que j vive a vida da divinagraa e opera por congruentes virtudes, como a alma

    por suas potncias, tem necessidade daqueles setedons que se chamam prprios do Esprito Santo. Gra-as a estes a alma se dispe e se fortalece para seguirmais fcil e prontamente as divinas inspiraes: tan-ta a eficcia destes dons, que a conduzem ao topo dasantidade; e tanta sua excelncia, que preservam intac-tos, ainda que mais perfeitos, no reino celestial. Gra-as a esses dons, o Esprito Santo nos move e reala adesejar e conseguir as bem-aventuranas evanglicas,que so como flores abertas na primavera, como ind-cio e pressgio da eterna bem-aventurana. E muito

    prazerosos so, finalmente, os frutos enumerados peloApstolo[as] que o Esprito Santo produz e comunica

    [ar] So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte II q.8, a.l.[as] Gl 5, 22 Ao contrrio, o fruto do Esprito caridade, alegria,

    paz, pacincia, afabilidade, bondade, fidelidade, 23 brandura,

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    aos homens justos, ainda durante a vida mortal, cheiosde toda doura e gozo, pois so do Esprito Santo que

    na Trindade o amor do Pai e do Filho que enche deinfinita doura as criaturas todas[at].

    E assim o Divino Esprito, que procede do Pai e doFilho na eterna luz de santidade como amor e comodom, depois de ter-se manifestado atravs de imagensno Antigo Testamento, derrama a abundncia de seusdons em Cristo e em seu corpo mstico, a Igreja; ecom sua graa e saudvel presena levanta os homensdos caminhos do mal, transformando-lhes de terrenase pecadores em criaturas espirituais e quase celestiais.Pois tantos e to assinalados so os benefcios recebi-dos da bondade do Esprito Santo, a gratido nos obri-ga a voltar-nos a Ele, cheios de amor e devoo.

    EXORTAES

    Fomente-se o conhecimento e amor do EspritoSanto

    13. Seguramente faro isto muito bem e perfeita-mente os homens cristos se cada dia se empenharemmais em conhec-lo, am-lo e lhe suplicar; a esse fimtem esta exortao dirigida aos mesmos, tal como sur-

    temperana. Contra estas coisas no h lei.[at] Santo Agostinho PL 42. De Trinitate Liber 5,9.

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    ge espontnea de nosso paternal nimo.Acaso no faltem em nossos dias alguns que, ao

    serem interrogados como em outro tempo foram al-guns por So Paulo se haviam recebido o EspritoSanto, responderiam por sua vez: No, nem sequerouvimos dizer que h um Esprito Santo![au]. Que se atanto no chega a ignorncia, em uma grande parte de-les muito escasso seu conhecimento sobre Ele; tal-vez at com frequncia tem seu nome nos lbios,enquanto sua f est cheia de crassas trevas. Recor-dem, pois, os pregadores e procos que lhes perten-cem ensinar com diligncia e claramente ao povo adoutrina catlica sobre o Esprito Santo, mas evitandoas questes rduas e sutis e fugindo da nscia curiosi-dade que presume indagar os segredos todos de Deus.Cuidem recordar e explicar claramente os muitos egrandes benefcios que do Divino Doador nos vmconstantemente, de forma que sobre coisas to altasdesaparea o erro e a ignorncia, imprprios dos fi-lhos da luz. Insistimos nisto no s por tratar-se de ummistrio, que diretamente nos prepara para a vida eter-

    [au] At 19,2 Recebestes o Esprito Santo, quando abraastes a f?Responderam-lhe: No, nem sequer ouvimos dizer que h umEsprito Santo! 3 Ento em que batismo fostes batizados?, per-guntou Paulo. Disseram: No batismo de Joo. 4 Paulo ento re-plicou: Joo s dava um batismo de penitncia, dizendo aopovo que cresse naquele que havia de vir depois dele, isto ,em Jesus.

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    na e que, por isso, necessrio crer firme e expressa-mente, mas tambm porque, quanto mais clara e ple-

    namente se conhece o bem, mais intensamente se quere se ama. Isto o que agora queremos lhes recomen-dar: Devemos amar o Esprito Santo, porque Deus:Amars o Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, detoda a tua alma e de todas as tuas foras [av]. E h deser amado, porque o Amor substancial eterno e pri-meiro, e no h coisa mais amvel que o amor; e de-

    pois tanto mais lhe devemos amar quanto que nos te-nha enchido de imensos benefcios que, se atestam a

    benevolncia do doador, exigem a gratido da almaque os recebe. Amor este que tem uma duplautilidade, certamente no pequena. Primeiramente nosobriga a ter nesta vida um conhecimento cada diamais claro do Esprito Santo: O que ama, diz SantoToms, no se contenta com um conhecimentosuperficial do amado, mas se esfora por conheceruma das coisas que lhe pertencem intrinsecamente, eassim entra em seu interior, como do Esprito Santo,que amor de Deus, se diz que examina at o

    profundo de Deus[aw]. Em segundo lugar, que ser

    [av] Dt 6,5 Amars o Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, detoda a tua alma e de todas as tuas foras.

    [aw] 1Cor 2,10 Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Esprito,porque o Esprito penetra tudo, mesmo as profundezas deDeus. So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte I-II q.28,a.2.

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    maior ainda a abundncia de seus dons celestiais, poiscomo a frieza faz fechar a mo do doador, o

    agradecimento a faz alargar-se. E cuide-se bem de quedito amor no se limite a ridas disquisies ou aexternos atos religiosos; porque deve ser operante,fugindo do pecado, que especial ofensa contra oEsprito Santo. Quanto somos e temos, tudo dom dadivina bondade que corresponde como prpria aoEsprito Santo; sem dvida o pecador o ofende aomesmo tempo que recebe seus benefcios, e abusa deseus dons para ofender-lhe, ao mesmo tempo que,

    porque bom, se levanta contra Ele multiplicandoincessantemente suas culpas.

    No O entristeamos

    14. Acrescente-se, ademais, que, ento o "EspritoSanto esprito de verdade", se algum falta por debi-lidade ou ignorncia, talvez tenha alguma desculpa di-ante do tribunal de Deus; mas aquele que por malciase ope verdade ou a evita, comete gravssimo peca-do contra o Esprito Santo. Pecado to frequente emnossa poca que parecem ter chegado os tristes tem-

    pos descritos por So Paulo, nos quais, obcecados oshomens por justo juzo de Deus, reputam como verda-

    deiras as coisas falsas, e ao prncipe deste mundo, que mentiroso e pai da mentira, o crem como mestre da

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    verdade: Por isso, Deus lhes enviar um poder que osenganar e os induzir a acreditar no erro[ax]: O Es-

    prito diz expressamente que, nos tempos vindouros,alguns ho de apostatar da f, dando ouvidos a espri-tos embusteiros e a doutrinas diablicas[ay]: E j que oEsprito Santo, segundo temos dito antes, habita emns como em seu templo, repitamos com o Apstolo:No contristeis o Esprito Santo de Deus, com o qualestais selados para o dia da Redeno[az]. Para istono basta fugir de tudo que imundo, mas que ohomem cristo deve resplandecer em toda virtude,especialmente em pureza e santidade, para nodesagradar a to grande hspede, posto que a pureza ea santidade so prprias do templo. Por isso exclama omesmo Apstolo: No sabeis que sois o templo deDeus, e que o Esprito de Deus habita em vs? Sealgum destruir o templo de Deus, Deus o destruir.Porque o templo de Deus sagrado - e isto soisvs[ba]; tremenda ameaa, porm justssima.

    [ax] 2Ts 2,10 Ele usar de todas as sedues do mal com aquelesque se perdem, por no terem cultivado o amor verdade queos teria podido salvar.

    [ay] 1Tm 4,1 O Esprito diz expressamente que, nos tempos vin-douros, alguns ho de apostatar da f, dando ouvidos a espri-tos embusteiros e a doutrinas diablicas,

    [az] Ef 4,30No contristeis o Esprito Santo de Deus, com o qualestais selados para o dia da Redeno

    [ba] 1Cor 3, 16No sabeis que sois o templo de Deus, e que o Esp-

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    Peamos o Esprito Santo

    15. Por ltimo, convm rogar e pedir ao EspritoSanto, cujo auxlio e proteo todos necessitamos emextremo. Somos pobres, dbeis, atribulados, inclina-dos ao mal: ento recorramos a Ele, fonte inesgotvelde luz, de consolo e de graa. Sobretudo, devemos lhe

    pedir perdo dos pecados, que to necessrio nos ,posto que o Esprito Santo dom do Pai e do Filho, eos pecadores so perdoados por meio do Esprito San-to como por dom de Deus[bb], o qual se proclama ex-

    pressamente na liturgia quando ao Esprito Santo lhechama remisso de todos os pecados[bc].

    Qual seja a maneira conveniente para invoc-lo,aprendamo-la da Igreja, que suplicante se volve aomesmo Esprito Santo e o chama com os nomes mais

    rito de Deus habita em vs? 17 Se algum destruir o templo deDeus, Deus o destruir. Porque o templo de Deus sagrado

    e isto sois vs.[bb] So Toms de Aquino Suma Teolgica, Parte III q.3, a.8 ad3.

    [bc] Missal Romano 3 Feira das Temporas de Pentecostes. OraoDepois da Comunho. Missal Qoutidiano e Vesperal. BRU-GES, Belgium, 1957. pg. 941, Ordinrio da Missa.Tambm: Missal Dominical Missal da Assemblia Crist.Paulus, So Paulo, 1995. pg. 594. Rito da Missa Orao Eu-carstica I ou Cnon Romano, Comunicantes Prprios DaViglia Pascal ao 2 Domingo da Pscoa.

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    doces de Pai dos pobres, Doador dos dons, Luz doscoraes, Consolador benfico, Hspede da alma,

    Aura de refrigrio; e lhe suplica encarecidamente quelimpe, cure e regue nossas mentes e nossos coraes,e que conceda a todos os que nEle confiamos o pr-mio da virtude, o feliz final da vida presente, o perenegozo na futura. Nem cabe pensar que essas preces nosejam escutadas por aquele de quem lemos que roga

    por ns com gemidos inefveis[bd]. Em resumo, deve-mos suplicar-lhe com confiana e constncia para quediariamente nos ilustre mais e mais com sua luz e nosinflame com sua caridade, dispondo-nos assim pela fe pelo amor a que trabalhemos com denodo para ad-quirir os prmios eternos, posto que Ele a garantiade nossa herana[be].

    Novena do Esprito Santo

    16. Vede, venerveis irmos, os avisos e exortaesnossas sobre a devoo ao Esprito Santo, e no duvi-damos que por virtude principalmente de vosso traba-

    [bd] Rm 8,26 Outrossim, o Esprito vem em auxlio nossa fraque-za; porque no sabemos o que devemos pedir, nem orar comoconvm, mas o Esprito mesmo intercede por ns com gemi-dos inefveis.

    [be] Ef 1,14 que o penhor da nossa herana, enquanto esperamosa completa redeno daqueles que Deus adquiriu para o louvorda sua glria.

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    lho e solicitude, se produziro saudveis frutos nopovo cristo. Certo que jamais faltar nossa obra em

    coisa de to grande importncia; mais ainda, temos ainteno de fomentar esse to belo sentimento de pie-dade por aqueles modos que julgaremos mais conve-nientes a tal fim. Entretanto, posto que Ns, h doisanos, por meio do breve Provida Matris, recomenda-mos aos catlicos para a solenidade de Pentecostes al-gumas oraes especiais a fim de suplicar pelo cum-

    primento da unidade crist, nos apraz agora acrescen-tar aqui algo a mais. Decretamos, portanto, e manda-mos que em todo mundo catlico neste ano, e sempreno porvir, festa de Pentecostes preceda a novena emtodas as igrejas paroquiais e tambm ainda nos demaistemplos e oratrios, a juzo dos Ordinrios.

    Concedemos a indulgncia de sete anos e outrastantas quarentenas por cada dia a todos os que assisti-rem a novena e orarem segundo nossa inteno, acres-cida da indulgncia plenria em um dia de novena, ouna festa de Pentecostes e ainda dentro da oitava, sem-

    pre que confessados e comungados orarem segundonossa inteno. Queremos igualmente tambm quegozem de tais benefcios todos aqueles que, legitima-mente impedidos, no possam assistir aos ditos cultos

    pblicos, e isto ainda nos lugares onde no puderem

    celebrar-se comodamente a juzo do Ordinrio notemplo, com tal que privadamente faam a novena e

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    cumpram as demais obras e condies prescritas. Enos apraz acrescentar do tesouro da Igreja que possam

    lucrar novamente uma e outra indulgncia todos osque em privado ou em pblico renovem segundo sua

    prpria devoo algumas oraes ao Esprito Santocada dia da oitava de Pentecostes at a festa inclusiveda Santssima Trindade, sempre que cumpram as de-mais condies acima indicadas. Todas essas indul-gncias so aplicveis tambm ainda s benditas al-mas do Purgatrio.

    O Esprito Santo e a Virgem Maria

    17. E agora nosso pensamento se volta aonde co-meou, a fim de obter do divino Esprito, com inces-santes oraes seu cumprimento. Uni, pois, venerveisirmos, a nossas oraes tambm as vossas, assimcomo as de todos os fiis, interpondo a poderosa e efi-caz mediao da Santssima Virgem. Bem sabeis quontimas e inefveis relaes existem entre ela e o Esp-rito Santo, visto que sua Esposa imaculada. A Vir-gem cooperou com sua orao muitssimo assim aomistrio da Encarnao como vinda do Esprito San-to sobre os apstolos. Que Ela continue, pois, realan-do com seu patrocnio nossas comuns oraes, para

    que no meio das aflitas naes se renovem os divinosprodgios do Esprito Santo, celebrados j pelo profeta

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    Davi: Se enviais, porm, o vosso sopro, eles reviveme renovais a face da terra[bf].

    Dado em Roma, junto a So Pedro, no dia 9 demaio de 1897, vigsimo de nosso pontificado.

    [bf] Sl 104(103),30 Se enviais, porm, o vosso sopro, eles revivem e