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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS PARÂMETROS DE QUALIDADE NA PRODUÇÃO DE ABACAXI DESIDRATADO IRANI PEREIRA DOS SANTOS 2011

Dissertacao Irani Santos

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

    PARMETROS DE QUALIDADE NA

    PRODUO DE ABACAXI DESIDRATADO

    IRANI PEREIRA DOS SANTOS

    2011

  • IRANI PEREIRA DOS SANTOS

    PARMETROS DE QUALIDADE NA PRODUO DE ABACAXI DESIDRATADO

    Dissertao apresentada Universidade Estadual de Montes Claros, como parte das exigncias do Programa de Ps Graduao em Produo Vegetal no Semirido, rea de concentrao em Produo Vegetal, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.

    Orientadora Prof. D. Sc. Mrcia Regina Costa

    JANABA MINAS GERAIS BRASIL

    2011

  • Catalogao: Biblioteca Setorial Campus de Janaba

    Santos, Irani Pereira dos.

    S237p Parmetros de qualidade na produo de abacaxi desidratado [manuscrito] / Irani Pereira dos Santos. 2011.

    134 p.

    Dissertao (mestrado)-Programa de Ps-Graduao em Produo Vegetal no Semirido, Universidade Estadual de Montes Claros-Janaba, 2011.

    Orientadora: Prof. D.Sc. Mrcia Regina

    Costa.

  • IRANI PEREIRA DOS SANTOS

    PARMETROS DE QUALIDADE NA PRODUO DE ABACAXI DESIDRATADO

    Dissertao apresentada Universidade Estadual de Montes Claros, como parte das exigncias do Programa de Ps Graduao em Produo Vegetal no Semirido, rea de concentrao em Produo Vegetal, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.

    Aprovada em 30 de maro de 2011.

    Prof. D. Sc. Mrcia Regina Costa Prof. D.Sc. Milton Nobel Cano Chauca

    (Orientadora - UNIMONTES) (Coorientador - UFMG)

    Prof. D.Sc. Willian James Nogueira Lima Prof. D.Sc. Sidnei Tavares dos Reis (UFMG) (UNIMONTES)

    JANABA MINAS GERAIS BRASIL

    2011

  • minha me, pelas oraes, e aos meus queridos irmos, Jorge, Genival, Iraci, Ivanilde e Ivanete, pelo amor, carinho e cumplicidade em todos os momentos da vida.

    DEDICO

    Aos meus pais, Salvador e Balbina, e minha irm Iraci, pela oportunidade de estudo, pela confiana depositada em mim, pelos ensinamentos e valores transmitidos durante toda minha vida.

    minha me, que me deu como herana, determinao e exemplo de vida...

    Ela o meu norte, meu sul, meu leste, meu oeste. Minha semana de trabalho e meu domingo.

    Meu meio-dia, minha meia-noite. Minha conversa, minha cano.

    (W. H.Auden)

    OFEREO

  • AGRADECIMENTOS

    Nenhuma conquista o resultado exclusivo do nosso esforo. Ento, agradeo: A Deus, por me mostrar luz nos momentos difceis da minha vida e por colocar no meu caminho pessoas maravilhosas, mostrando-me que nada acontece por acaso. Fundao de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo suporte financeiro para a realizao da pesquisa. UNIMONTES, pela oportunidade de cursar o mestrado e por tudo de bom que ele vier a me proporcionar. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES, pela concesso de Bolsa de Estudos. Profa. Dra. Mrcia Regina Costa, pela orientao e pacincia. Ao Prof. Dr. Milton Nobel Cano Chauca, no apenas pela coorientao durante o mestrado, mas pelo crescimento humano e cientfico proporcionado. Ao Professor Dr. Sidnei Tavares dos Reis, pela realizao da anlise estatstica. Ao Professor Dr. Willian James Nogueira Lima, pela participao na banca de defesa da dissertao. Aos Professores Doutores Sidnei Tavares dos Reis e Wagner Ferreira da Mota pela participao da banca de Qualificao. A Alexandre Ribeiro Norte e Vanet Batista de Souza, meus fiis escudeiros, pelo companheirismo e ajuda no desenvolvimento dos experimentos. Sem vocs tudo seria mais difcil, quase impossvel. s colegas de laboratrio Fabola de Jesus Silva, Kamila Antunes Alves, Kelem Silva Fonseca, pelo companheirismo e preciosa colaborao na realizao deste trabalho. A todos os professores que fizeram parte da minha formao acadmica, meu carinho. Vocs fazem parte da minha histria.

  • minha famlia, pelo apoio incondicional, e aos meus sobrinhos, Joo Gabriel, Tayn, Fernando, Vitria, Anna Jllia, Maria Eduarda, Daniel, Ana Luza, Isadora e Arthur pelos momentos de alegria. Vocs so minha fortaleza e ao mesmo tempo minha fraqueza. Aos colegas de mestrado pela convivncia agradvel, em especial, Pollyanna e Suzane, pelas conversas, alegrias e angstias compartilhadas e pelo companheirismo sempre. A Cynthia, Rassa e Joseilton, pela amizade e preciosa ajuda sempre que solicitei. Aos queridos amigos Hilrio, Ivana, Mrcio, Lena, Virgnia e Renata, por me socorrerem em momentos diversos. Obrigada pela amizade sincera. A Shirley Janaine Barbosa, pelo apoio mpar em momentos to difceis. S Jesus na causa. A D. Olmpia, grande exemplo de ser humano e bondade, guia de luz na minha vida. Obrigada pelo carinho, amizade e suas oraes. Aos funcionrios da UNIMONTES, pela ateno, colaborao e convivncia agradvel, em especial D. Ana, D. Cidinha, Ftima, Penha, Tereza, Grazzielli, Mara, Sr. Nelson, Sr. Valdemar, Sr. Vlter e todos os funcionrios da biblioteca. A todos que contriburam direta ou indiretamente para concluso deste trabalho, minha gratido.

  • Momentos na Vida

    [...] A felicidade aparece para aqueles

    que choram.

    Para aqueles que se machucam.

    Para aqueles que buscam e tentam sempre.

    E para aqueles que reconhecem a importncia das

    pessoas que passam por suas vidas [...].

    Clarice Lispector

  • SUMRIO

    RESUMO........................ i

    ABSTRACT....................... ii

    1 INTRODUO................... 1

    2 REFERENCIAL TERICO .... 3

    2.1 Consideraes sobre a matria-prima.................................................... 3 2.1.1 Abacaxi .............................................................................................. 3 2.2 Atividade de gua (Aw) no produto desidratado .................................. 5 2.2.1 Atividade de gua e as reaes qumicas, enzimticas e microbiolgicas 8 2.3 Desidratao de frutas ............................................................................ 10 2.3.1 Fundamentos da secagem .................................................................... 2.3.2 Fatores que influenciam na secagem ..................................................

    14 15

    2.3.3 As fases do processo de secagem ....................................................... 18 2.3.4 Transformaes qumicas e fsicas durante a desidratao ................ 19 2.4 Curva de secagem .................................................................................. 21 2.5 Isotermas ................................................................................................ 23 2.6 Pr-tratamentos utilizados em frutas desidratadas ................................. 31 2.6.1 Antioxidantes ...................................................... ............................... 32 2.6.2 Sulfitao ............................................................................................ 33 2.6.3 Branqueamento ................................................................................... 34 2.6.4 Fermentao ........................................................................................ 36 2.6.5 Desidratao osmtica ........................................................................ 39 2.7 Parmetros de qualidade em alimentos desidratados............................. 41 2.7.1 Cor....................................................................................................... 42 2.7.2 Textura................................................................................................ 2.7.3 Encolhimento.......................................................................................

    47 49

    3 MATERIAL E METDOS.................................................................... 52 3.1 Local ...................................................................................................... 52 3.2 Matria-prima ........................................................................................ 52 3.3 Preparo das amostras ............................................................................ 52 3.4 Secagem.................................................................................................. 53 3.5 Anlises fsico-qumicas ........................................................................ 53 3.6 Anlise de cor ......................................................................................... 54 3.7 Anlise de textura .................................................................................. 55 3.8 Determinao do encolhimento .............................................................. 55 3.9 Anlise de higroscopicidade................................................................... 55 3.10 Determinao das isotermas de soro ................................................. 56 3.11 Avaliao da estabilidade das frutas desidratadas ................................ 3.12 Delineamento Experimental .................................................................

    57 58

  • 4 RESULTADOS E DISCUSSO............................................................. 59 4.1 Determinao da curva de secagem do abacaxi desidratado........................ 59 4.2 Propriedades fsico-qumicas do abacaxi desidratado.................................. 62

    63 63

    4.2.1 Anlise de umidade................................................................................... 4.2.2 Anlise de slidos solveis totais ( Brix) ................................................ 4.2.3 Anlise de atividade de gua .................................................................... 66 4.2.4 Anlise de pH ........................................................................................... 69 4.3 Parmetros de cor de abacaxi desidratado ................................................... 71 4.3.1 Anlise de diferena de cromaticidade (C*) .......................................... 71 4.3.2 Anlise de diferena de cor (E*)............................................................. 74 4.4 Anlise de textura de abacaxi desidratado.................................................... 76 4.5 Anlise de encolhimento de abacaxi desidratado ........................................ 76 4.6 Higroscopicidade de abacaxi desidratado .................................................... 77 4.7 Isotermas de soro de abacaxi desidratado ................................................ 79 4.8 Anlise de estabilidade de abacaxi desidratado ........................................... 86 4.8.1 ndice de cromaticidade (C*) .................................................................... 86 4.8.2 ngulo de tonalidade (h*) ........................................................................ 91 5 CONCLUSES ............................................................................................. 96

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................... 98

    ANEXOS...................................................................................................... 120

  • i

    LISTA DE TABELAS

    Pg. TABELA 1. Valores mdios de slidos solveis totais (Brix) de

    abacaxi desidratado obtido em funo do pH da soluo e tempo de fermentao (h), durante 60 dias de armazenamento....................................................................

    64

    TABELA 2. Valores mdios de slidos solveis totais (Brix) de abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de armazenamento (dias), tempo de fermentao (h) e pH da soluo ................................................................................

    65

    TABELA 3 Valores mdios de atividade de gua (Aw) de abacaxi desidratado obtido em funo do pH da soluo, tempo de fermentao (h) e tempo de armazenamento (dias)............

    67

    TABELA 4 Valores mdios de atividade de gua (Aw) de abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de armazenamento (dias), tempo de fermentao (h) e pH da soluo ................................................................................

    68

    TABELA 5 Valores mdios de pH de abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de armazenamento (dias) e tempo de fermentao (h)....................................................................

    70

    TABELA 6 Valores mdios para a diferena de cromaticidade (C*) do abacaxi antes e aps a secagem, obtido em funo do pH da soluo e tempo de fermentao...............................

    73

    TABELA 7 Valores mdios para a perda de cor (E*) do abacaxi antes e aps a secagem obtido em funo do pH da soluo e tempo de fermentao.........................................

    75

    TABELA 8 Valores mdios de absoro de gua (g H2O/ 100g do produto) de abacaxi desidratado obtidos em funo do pH da soluo e tempo de fermentao....................................

    78

    TABELA 9 Valores mdios de umidade de equilbrio (% em base seca) de abacaxi desidratado obtidos em funo do pH da soluo, tempo de fermentao e da atividade de gua......................................................................................

    79

  • ii

    TABELA 10 Parmetros de GAB, Peleg e Oswin estimados para abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de fermentao e pH da soluo 5,59.......................................

    82

    TABELA 11 Parmetros de GAB, Peleg e Oswin estimados para abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de fermentao e pH da soluo 3,5.........................................

    83

    TABELA 12 Valores mdios do ndice de saturao (C*) de abacaxi desidratado obtido em funo do pH da soluo e tempo de fermentao.....................................................................

    87

    TABELA 13 Valores mdios do ndice de saturao (C*) de abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de armazenamento (dias) e tempo de fermentao (h)............

    88

    TABELA 14 Valores mdios do ndice de saturao (C*) de abacaxi desidratado obtido em funo do pH da soluo e tempo de armazenamento (dias).....................................................

    88

    TABELA 15 Valores mdios do ndice de saturao (C*) de abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de armazenamento (dias) e pH da soluo...............................

    89

    TABELA 16 Valores mdios para a tonalidade (h*) do abacaxi desidratado, obtido em funo do pH da soluo e tempo de fermentao.....................................................................

    91

    TABELA 17 Valores mdios para o ngulo de tonalidade h* (em graus) de abacaxi desidratado obtido em funo do tempo de armazenamento (dias) e tempo de fermentao (h)........

    92

    TABELA 18 Valores mdios para a tonalidade (h*) do abacaxi desidratado, em funo do pH da soluo e tempo de armazenamento (dias ).........................................................

    93

    TABELA 19 Valores mdios para a tonalidade (h*) do abacaxi desidratado, em funo do tempo de armazenamento (dias) e pH da soluo..........................................................

    94

  • iii

    LISTA DE FIGURAS

    Pg. FIGURA 1 Fluxograma de processamento de alimentos

    desidratados..........................................................................

    14

    FIGURA 2 Exemplo de curvas de secagem de diferentes produtos para a temperatura de 60C...................................

    22

    FIGURA 3 Curva tpica das isotermas de soro................................... 25

    FIGURA 4 Tipos de formatos de isotermas de soro.......................... 27

    FIGURA 5 Representao grfica dos valores L, a e b......................... 45

    FIGURA 6 Curvas de secagem experimentais e calculadas atravs do modelo exponencial, para abacaxi em pH 5,59 na temperatura de secagem de 55 C .......................................

    60

    FIGURA 7 Curvas de secagem experimentais e calculadas atravs do modelo exponencial, para abacaxi em pH 3,5 na temperatura de secagem de 55 C .......................................

    62

    FIGURA 8 Efeito do tempo de fermentao (h) e do pH da soluo sobre o teor de slidos solveis totais (Brix) de abacaxi desidratado, durante 60 dias de armazenamento..................

    66

    FIGURA 9 Efeito do tempo de fermentao (h) e do pH da soluo sobre a atividade de gua de abacaxi desidratado, durante 60 dias de armazenamento...................................................

    70

    FIGURA 10 Efeito do tempo de fermentao (h) e armazenamento (dias) sobre o pH de abacaxi desidratado............................

    71

    FIGURA 11 Efeito da fermentao e do pH da soluo sobre a cromaticidade (C*) de abacaxi desidratado.........................

    74

    FIGURA 12 Efeito do tempo de fermentao (h) e do pH da soluo sobre a perda de cor (E*) de abacaxi desidratado.............

    75

  • iv

    FIGURA 13 Efeito do tempo de fermentao (h) e do pH da soluo sobre a higroscopicidade de abacaxi desidratado, exposto umidade relativa de 85% e temperatura de 25 C.............

    78

    FIGURA 14 Efeito do tempo de fermentao (h), pH da soluo e da atividade de gua (Aw) sobre a umidade de equilbrio de abacaxi desidratado..............................................................

    80

    FIGURA 15 Efeito da atividade de gua (Aw), tempo de fermentao (h) e pH da soluo sobre a umidade de equilbrio de abacaxi desidratado..............................................................

    81

    FIGURA 16 Ajuste do modelo de GAB s isotermas de adsoro de umidade de abacaxi desidratado..........................................

    84

    FIGURA 17 Ajuste do modelo de PELEG s isotermas de adsoro de umidade de abacaxi desidratado..........................................

    85

    FIGURA 18 Ajuste do modelo de OSWIN s isotermas de adsoro de umidade de abacaxi desidratado..........................................

    86

    FIGURA 19 Efeito do tempo de fermentao (h) e do pH da soluo sobre o ndice de cromaticidade de abacaxi desidratado.....

    90

    FIGURA 20 Efeito do tempo de fermentao (h) e do tempo de armazenamento sobre o ndice de cromaticidade de abacaxi desidratado..............................................................

    90

    FIGURA 21 Efeito do tempo de fermentao (h) e do pH da soluo sobre o ngulo de tonalidade (h*) de abacaxi desidratado...........................................................................

    94

    FIGURA 22 Efeito do tempo de fermentao (h) e do tempo de armazenamento (dias) sobre o ngulo de tonalidade (h*) de abacaxi desidratado.........................................................

    95

  • v

    LISTA DE QUADROS

    Pg. QUADRO 1 Atividade de gua mnima para o desenvolvimento de

    alguns microrganismos....................................................

    10

    QUADRO 2 Adaptabilidade de frutas a desidratao.............................. 11

    QUADRO 3 Modelos para ajustes de isotermas de soro de umidade... 26

  • vi

    RESUMO

    SANTOS, Irani Pereira dos. Parmetros de qualidade na produo de abacaxi desidratado. 2011. 132 p. Dissertao (Mestrado em Produo Vegetal no Semirido) Universidade Estadual de Montes Claros, Janaba, MG.1

    O presente estudo teve como objetivo avaliar os parmetros de qualidade na produo de abacaxi desidratado. O experimento foi realizado no Laboratrio de Tecnologia de Processamento de Produtos de Origem Animal e Vegetal (TPAV) do Departamento de Cincias Agrrias da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES, campus de Janaba, Minas Gerais. Antes da desidratao, os frutos de abacaxi Prola foram submetidos a pr-tratamentos utilizando soluo de sacarose a 70% e fermentao. O delineamento empregado foi o inteiramente casualizado (DIC), em esquemas fatoriais com trs repeties. Utilizaram-se 12, 36 e 60 horas de fermentao, soluo com pH 5,59 e 3,5. Foram determinadas as curvas de secagem, anlises fsico-qumicas, cor, encolhimento, textura, higroscopicidade, estabilidade e isotermas de soro. Um modelo matemtico exponencial ajustou satisfatoriamente as curvas de secagem. O abacaxi desidratado apresentou valores fsico-qumicos de atividade de gua, pH, slidos solveis totais e umidade adequados para sua estabilidade. Os tempos de fermentao e pH utilizados no tiveram efeito significativo sobre o teor de umidade, pH, encolhimento e textura do abacaxi. Os modelos de Peleg, GAB e Oswin produziram ajustes satisfatrios s isotermas de adsoro de umidade de abacaxi. As anlises indicaram que os frutos produzidos em pH 3,5 e tempo de fermentao 36 horas resultaram em menor perda de cor. Palavras chave: abacaxi desidratado, fermentao, qualidade

    1 Comit Orientador: Prof. Mrcia Regina Costa DCA/UNIMONTES (Orientadora); Prof. Milton Nobel Cano Chauca ICA/ UFMG. (Coorientador).

  • vii

    ABSTRACT SANTOS, Irani Pereira dos. Quality parameters in the production of dehydrated pineapple. 2010. 132 p. Dissertation (Masters degree in Plant Production) Universidade Estadual de Montes Claros, Janaba MG.2

    The present study aimed to evaluate the quality parameters in the production of dehydrated pineapple. The experiment was carried through in the Laboratory of Processing Technology of Products of Animal and Vegetal Origin (TPAV) of the Department of Agrarian Sciences of the Universidade Estadual de Montes Claros- UNIMONTES, campus of Janaba, Minas Gerais. Before the dehydration, the Prola pineapple fruits were submitted daily to pre-treatments using sucrose solution 70% and fermentation. The used design was entirely at random (DIC), in factorial schemes with three repetitions. They were used 12, 36 and 60 hours of fermentation, solution with pH 5,59 and 3,5. The drying curves, physical-chemical analyses, color, shrinking, texture, higroscopicity, stability and adsorption isotherms were determined. An exponential mathematical model adjusted the drying curves satisfactorily. The dehydrated pineapple presented physical-chemical values of water activity, pH, total soluble solids and humidity adjusted for its stability. The used fermentation times and pH did not present significant effect on the humidity content, pH, shrinking and texture of the pineapple. The Peleg, GAB and Oswin models produced satisfactory adjustments to adsorption isotherms of pineapple humidity. The analyses indicated that the fruits produced in pH 3,5 and fermentation time 36 hours resulted in lesser loss of color. Keywords: dehydrated pineapple, fermentation, quality

    2 Guidance committee: Prof. Mrcia Regina Costa (Adviser) ASD/UNIMONTES. Prof. Milton Nobel Cano Chauca - (Co-adviser) ASI/ UFMG

  • 1

    1 INTRODUO

    As frutas e os vegetais exercem um papel fundamental na nutrio

    humana, constituindo fontes indispensveis de vitaminas, minerais e fibras.

    Por apresentarem um alto contedo de umidade (cerca de 80%), so

    altamente perecveis e, por isso, devem ser refrigerados ou processados o

    mais rapidamente possvel aps a colheita, a fim de diminuir as perdas.

    No Brasil, entre a colheita e a mesa do consumidor, ocorrem perdas

    significativas das frutas, sendo esse desperdcio causado principalmente por

    falhas no armazenamento e transporte. Algumas perdas so decorrentes do

    amadurecimento precoce dos frutos e de deficincias no tratamento pr e

    ps-colheita, que, em conjunto, representam milhes de toneladas por ano.

    Esse fato justifica a utilizao de processos capazes de conservar tais

    produtos por um perodo maior.

    Umas das tcnicas mais antigas de preservao de alimentos

    utilizadas pelo homem a remoo da umidade dos alimentos atravs do

    processo de desidratao, sendo a secagem por ar quente uma das tcnicas

    mais utilizadas no Brasil para a preservao de alimentos. Suas vantagens

    so vrias, dentre as quais se destaca a reduo do peso da fruta ou hortalia,

    o que proporciona melhor conservao do produto e menor custo de

    armazenamento.

    Apesar dos aspectos positivos, a secagem pode alterar as

    caractersticas sensoriais e o valor nutricional dos alimentos, e a intensidade

    dessas alteraes dependente das condies utilizadas no processo de

    secagem e das caractersticas prprias de cada produto. As frutas

    desidratadas devem preservar o sabor, o aroma e a cor originais, e devem,

    preferencialmente, estar livres de aditivos qumicos e apresentar textura

    semelhante do produto fresco. Por outro lado, a secagem convectiva pode

    comprometer a qualidade final, fornecendo um produto com caractersticas

    como dureza excessiva, dificuldade de reidratao e alterao de cor e sabor,

  • 2

    fato que pode ser atenuado mediante o uso de pr-tratamentos adequados.

    O uso de pr-tratamentos melhora algumas propriedades

    nutricionais, sensoriais e funcionais do produto seco (TORREGGIANI e

    BERTOLO, 2001). Parmetros como a cor, sabor e aroma de frutas,

    sensveis secagem por conveco em ar aquecido, foram melhorados

    quando uma etapa prvia de desidratao osmtica foi utilizada (IKOKO e

    KURI, 2007). Alm disso, a desidratao osmtica melhora a textura e a

    estabilidade dos pigmentos durante a secagem e o armazenamento de frutas

    (RIVA et al., 2005).

    A preservao da qualidade das frutas desidratadas depende da

    matria-prima, tratamento qumico e de fatores caractersticos como,

    temperatura e velocidade do ar de secagem, tipo de secador, dentre outros. A

    utilizao de parmetros inadequados para a desidratao de determinado

    produto pode ocasionar perda de aroma e nutrientes, alteraes de cor,

    textura e sabor. Assim, o estudo de novas tecnologias como o uso de pr-

    tratamentos como a fermentao para obteno de frutas desidratadas de boa

    qualidade se reveste de grande relevncia oferecendo outra opo de

    consumo da fruta ou colocando um produto novo no mercado, e ao mesmo

    tempo possibilitando aproveitar o excedente de produo.

    Considerando tambm a importncia socioeconmica das frutas para

    a regio Norte de Minas Gerais, devido ao seu enorme potencial de

    aproveitamento integral de matria-prima e gerao de renda familiar,

    acredita-se que o aperfeioamento da tcnica de produo de frutas

    desidratadas que resulte em um produto de qualidade com alto valor

    agregado, e que tambm satisfaa as exigncias dos consumidores

    plenamente justificvel.

    O objetivo deste estudo foi avaliar a influncia da fermentao e do

    pH da soluo osmtica sobre a perda de cor, textura, encolhimento,

    propriedades fsico-qumicas do abacaxi desidratado e analisar a estabilidade

    durante o armazenamento, bem como determinar as curvas de secagem e

    isotermas dessoro do produto obtido.

  • 3

    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Consideraes sobre a matria-prima

    A produo de frutas no Brasil supera 43 milhes de toneladas. A

    base agrcola da cadeia produtiva das frutas abrange 2,1 milhes de hectares,

    gera mais de 4 milhes de empregos diretos (2 a 5 pessoas por hectare) e um

    valor bruto da produo agrcola de R$ 17,5 bilhes (IBGE, 2010).

    Consequentemente, o segmento de frutcola est entre os principais

    geradores de renda, de empregos e de desenvolvimento rural (EMBRAPA,

    2010).

    O Brasil ocupa o segundo lugar na produo mundial de abacaxi,

    com rea colhida com mais de 55,5 mil ha-, sendo que em 2010 a produo

    foi de 1.447.885 frutos (IBGE, 2011). um fruto de importncia econmica

    para o Estado de Minas Gerais. A regio Sudeste destaca-se por ser a

    segunda maior produtora de abacaxi do pas, com a produo mdia de 419,3

    mil frutos em 15,7 mil ha-. Minas Gerais representa 53% da produo dessa

    regio, sendo que o abacaxi a principal fruteira cultivada no estado (IBGE,

    2011).

    2.1.1 Abacaxi

    A espcie Ananas comosus (L.) Merrill pertence famlia

    Bromeliaceae, que contempla aproximadamente 46 gneros e 1.700 espcies,

    presentes principalmente em zonas tropicais (THE, 2001). O gnero Ananas

    vastamente distribudo nas regies tropicais por intermdio da espcie

    Ananas comosus (L.) Merrill, a qual abrange todas as cultivares plantadas de

    abacaxi.

    O abacaxi um fruto de grande aceitao pelo seu aroma e sabor,

    consumido em todo o globo terrestre, sendo rico em acares, sais minerais e

    vitaminas (GONALVES, 2000). O sabor e o aroma caractersticos do

  • 4

    abacaxi so atribudos presena e aos teores de diversos constituintes

    qumicos, ressaltando entre eles os acares e os cidos responsveis pelo

    sabor, e compostos volteis associados ao aroma (CARVALHO e BOTREL,

    1996). Os carotenoides so os responsveis pela colorao amarela da polpa,

    e as vitaminas e os minerais esto relacionados com o valor nutritivo,

    sobressaindo o cido ascrbico (vitamina C) e o potssio. Os principais

    cidos responsveis pela acidez so o ctrico e o mlico, os quais contribuem

    respectivamente com 80% a 20% da acidez total. A acidez titulvel total

    geralmente varia de 0,6% a 1,6% e expressa como porcentagem de cido

    ctrico, enquanto o pH da polpa se enquadra na faixa de 3,7 a 3,9

    (CARVALHO e BOTREL, 1996).

    O fruto apresenta polpa de cor amarela ou laranja-avermelhado,

    possuindo formato normalmente cilndrico ou ligeiramente cnico,

    constitudo por 100 a 200 pequenas bagas ou frutilhos fundidos entre si

    sobre o eixo central ou corao, formado por vrias flores que iniciam seu

    desenvolvimento na base do fruto e progride em espiral at o pice (THE,

    2001).

    No cenrio agrcola mundial de frutas, a cultura do abacaxi tem

    elevada demanda e alta rentabilidade (SANTOS, 2002). o segundo cultivo

    tropical de importncia mundial, depois da banana, representando cerca de

    20 % do volume mundial de frutas tropicais. Setenta por cento do abacaxi

    consumido no mundo na forma in natura (COVECA, 2002). No Brasil,

    mais de 90% do abacaxi produzido consumido in natura, com perdas em

    torno de 10-15% do produto colhido (AGRIANUAL, 2001).

    Segundo Cunha (2010), o abacaxi muito consumido em todo o

    mundo, tanto ao natural quanto na forma de produtos industrializados. uma

    fruta no climatrica, ou seja, deve estar no estdio timo de

    amadurecimento para consumo por ocasio da colheita, pois ao ser destacado

    da planta ele perde sua capacidade de amadurecimento e passa a apresentar

    queda na taxa respiratria.

    O abacaxi apresenta grande importncia econmica no s pelas suas

  • 5

    qualidades nutricionais e organolpticas, mas tambm por sua rentabilidade

    e importncia social, devido seu cultivo exigir intensiva mo de obra

    (CUNHA et al.,1994).

    Atualmente, a produo brasileira destinada, na maior parte, ao

    mercado interno, mas o aumento do consumo de abacaxi no mercado

    europeu tem levado empresas nacionais a traar planos para investir em

    exportaes (RODRIGUES, 2006).

    Melo et al. (2010) afirmam que o processamento dessa fruta

    ocasiona alteraes qumicas, fsicas e organolpticas, fazendo com que se

    tenha perda de vitaminas, havendo tambm escurecimento provocado por

    reaes enzimticas e no enzimticas. Por esse motivo, a escolha dos

    equipamentos e dos mtodos para processamento fundamental para a

    manuteno de suas caractersticas de qualidade.

    Dentre as cultivares mais exploradas em todo mundo destacam-se:

    Smooth Cayenne, Singapore Spanish, Queen, Red Spanish, Perola e

    Perolera (GONALVES, 2000), sendo que 70% da produo mundial de

    abacaxi provem da variedade Smooth Cayenne (FIGUEIREDO; QUEIROZ;

    NORONHA, 2003). As cultivares mais plantadas no Brasil so a Perola e

    a Smooth Cayenne, sendo a Perola considerada insupervel para o

    consumo ao natural, graas a sua polpa suculenta e saborosa (CUNHA,

    2010).

    A variedade Smooth Cayenne a mais importante para a

    industrializao, inclusive para a produo de passas. A garantia de um

    produto final de boa qualidade est vinculada ao processamento de uma fruta

    colhida no estdio de maturao adequado, ou seja, com a cor da casca

    amarela, envolvendo mais da metade da superfcie total do fruto (MELONI,

    2003).

    2.2 Atividade de gua (Aw) no produto desidratado

    A disponibilidade da gua para a atividade microbiolgica,

  • 6

    enzimtica ou qumica que determina a vida de prateleira de um alimento,

    e isso medido pela atividade de gua do alimento (FELLOWS, 2006).

    Segundo Fellows (2006), a atividade da gua definida como a

    razo da presso de vapor da gua no alimento e a presso de vapor saturada

    da gua na mesma temperatura, conforme equao (1).

    Aw = Pv (1) Pvs

    Em que Pv (pascal) a presso parcial de vapor da gua no alimento

    a dada temperatura, e Pvs (pascal) a presso de vapor de gua saturada na

    mesma temperatura do alimento.

    Quando um material biolgico exposto a certa umidade, ele perde

    ou ganha gua para ajustar sua prpria umidade a uma condio de

    equilbrio com o ambiente. Isso ocorre quando a presso de vapor da gua na

    superfcie do material se iguala presso de vapor da gua do ar que o

    envolve (TREYBALL, 1988).

    O grau de umidade de equilbrio o ponto em que a umidade do

    produto se iguala umidade do ar. Quando o produto perde umidade para

    entrar em equilbrio com a umidade do ar, ocorre o processo de dessoro.

    No entanto, quando o produto ganha umidade, o processo denominado de

    soro (FIOREZE, 1994).

    A desidratao de alimentos tem como finalidade reduzir a

    disponibilidade de gua para um nvel onde no exista perigo de crescimento

    microbiano. Sabe-se que os micro-organismos no podem crescer em

    sistemas de alimentos desidratados quando a atividade de gua est abaixo

    de 0,6-0,7; mas outras reaes enzimticas e no enzimticas continuam

    atuando no processo de armazenagem. A atividade de gua tem sido um

    parmetro usual para determinar o ponto final da secagem visando a reduzir

    a possibilidade de crescimento microbiolgico (ANTONIO, 2002).

    A atividade de gua pode ser estudada com as curvas de isotermas de

    soro. A curva descreve a relao de equilbrio da quantidade de gua

  • 7

    sorvida por componentes do produto e da presso de vapor ou umidade

    relativa, a uma dada temperatura. Essa relao depende da composio

    qumica dos alimentos, tais como gorduras, amidos, acares, protenas, etc.

    (PARK e NOGUEIRA, 1992).

    Nos alimentos, a gua se encontra em duas formas, ou seja, na forma

    de gua livre e na forma de gua ligada. De acordo com Ribeiro e Seravalli

    (2004), a gua ligada definida como a gua em contato com solutos e

    outros constituintes no aquosos, existindo em vrios graus de ligao. Ela

    pode ser dividida em: gua constitucional, que a gua ligada mais

    fortemente aos constituintes no aquosos do alimento, atravs de ligaes

    inicas; gua vicinal, aquela que ocupa os espaos mais prximos da maioria

    dos grupos hidroflicos (afinidade pela gua) presentes nos constituintes;

    gua de multicamadas representa a gua ligada de forma mais fraca aos

    constituintes no aquosos do alimento. A gua livre no alimento a gua

    que representa as mesmas propriedades da gua pura, e que est disponvel

    para o crescimento de microrganismos e para reaes enzimticas.

    Os mtodos utilizados para determinar a atividade de gua, segundo

    Fioreze (2004) so:

    - Mtodo esttico: consiste em se colocar o produto em repouso num

    recipiente fechado acima de uma soluo salina saturada ou cida, mas sem

    contato com a mesma; o recipiente deve estar em ambiente cuja temperatura

    seja constante. O produto pesado depois de alguns dias at manter peso

    constante e, a partir da, determinada a sua umidade de equilbrio.

    - Mtodo semiesttico: difere em relao ao esttico, posto que o produto

    sofre uma pequena agitao peridica para facilitar a difuso de umidade nas

    proximidades da sua superfcie para a atmosfera, dentro do recipiente, o que

    torna este processo um pouco mais rpido.

    - Mtodo dinmico: consiste em se colocar o produto em uma cpsula com

    um sensor de umidade relativa, com o menor espao livre possvel e em

    temperatura constante; devido ao pequeno espao livre, o equilbrio

    rapidamente atingido e a umidade relativa do ambiente, quando no sofre

  • 8

    mais variaes, corresponde atividade de gua do produto, que ento

    pesado para determinar sua umidade de equilbrio.

    A escala de atividade de gua de qualquer produto de 0 a 1, e no

    estado de equilbrio existe igualdade entre a presso parcial de vapor de gua

    no ar e da gua do produto. Dessa forma, podem-se utilizar as isotermas de

    adsoro e dessoro de umidade de cada produto para conduzir a secagem

    at estabelecer a umidade final ou a atividade de gua do produto, tal que

    garanta, nas condies de estocagem (temperatura e umidade relativa do ar),

    a integridade biolgica do produto (TRAVAGLINI et al., 1995).

    A medida de Aw de fundamental importncia, uma vez que por

    meio dela podem ser previstas reaes de oxidao de lipdios,

    escurecimento no enzimtico, atividade enzimtica e desenvolvimento de

    microrganismos, assim como o comportamento de misturas de alimentos

    com diferentes atividades de gua, visando a escolher os sistemas adequados

    de sua embalagem (FERREIRA e PENA, 2003).

    Lima et al. (2004), estudando meles desidratados osmoticamente e

    submetidos secagem em estufa a 65 C, alcanaram uma Aw mdia de

    0,733. Sousa et al. (2003-b), analisando goiabas desidratadas osmoticamente

    e secas em estufa, obtiveram uma Aw desejada menor que 0,75 (valor que se

    encontra na faixa de alimentos de umidade intermediria, que varia de 0,65

    a 0,85).

    2.2.1 Atividade de gua e as reaes qumicas, enzimticas e

    microbiolgicas

    A atividade de gua uma das propriedades mais importantes para o

    processamento, conservao e armazenamento de alimentos. Ela quantifica o

    grau de ligao da gua contida no produto e consequentemente sua

    disponibilidade para agir como um solvente e participar das transformaes

    qumicas, bioqumicas e microbiolgicas (MELONI, 2003).

    Nos alimentos ricos em gua, a Aw acima de 0,90 forma solues

  • 9

    diludas com os alimentos servindo de substrato para reaes qumicas e o

    desenvolvimento microbiano. Entre 0,40 e 0,80, h uma acelerao das

    reaes qumicas pelo aumento da concentrao dos substratos. Prximo a

    0,60, cessa a atividade microbiana e, para Aw inferior a 0,30, atinge-se a

    zona de adsoro primria (PARK et al., 2006).

    Castro et al. (2002), relataram que os microrganismos so inibidos

    quando os valores de atividade de gua se encontram abaixo de 0,60.

    Segundo Karathanos (1999), a determinao incorreta do contedo

    de umidade pode conduzir deteriorao do produto (microbiolgica e

    reaes enzimticas) e, consequentemente, levar perda da qualidade.

    Assim, o conhecimento do contedo de umidade exato e o procedimento

    apropriado para sua determinao so de suma importncia quando se trata

    de alimentos desidratados.

    A deteriorao de alimentos por microrganismos pode acontecer

    rapidamente, ao passo que as reaes enzimticas e qumicas ocorrem de

    modo mais lento durante a armazenagem. Em ambos os casos, o teor de gua

    um fator muito importante no controle da taxa de deteriorao. Apenas o

    conhecimento do teor de umidade no suficiente para predizer a

    estabilidade de um alimento. A disponibilidade da gua para a atividade

    microbiolgica, enzimtica ou qumica que determina a vida de prateleira

    de um alimento, e isso medido pela atividade de gua (Aw) do alimento

    (FELLOWS, 2006).

    Quando a atividade de gua est acima de 0,90, as bactrias so os

    microrganismos predominantes na maioria dos alimentos; enquanto abaixo

    de 0,85, os fungos filamentosos so os mais numerosos e diversos

    (ORDEZ et al., 2005). Para produtos do tipo frutas secas, com atividade

    de gua acima de 0,78, existe um risco maior de desenvolvimento de bolores

    e leveduras, havendo, nesse caso, a necessidade de utilizao de agentes

    fungistticos do tipo sorbato de potssio, para uma adequada conservao do

    produto (CANO-CHAUCA, 2000).

    O teor de gua um fator importante no controle da taxa de

  • 10

    deteriorao. Todos os micro-organismos tm uma atividade de gua mnima

    de desenvolvimento, conforme indicado no Quadro 1. De modo geral, as

    bactrias so mais exigentes quanto disponibilidade de gua que os bolores

    e leveduras (BRASEQ, 2006).

    QUADRO 1- Atividade de gua mnima para o desenvolvimento de alguns microrganismos.

    Microrganismos Atividade de gua mnima

    Bactrias 0,91

    Staphylococcus aureus 0,85

    Leveduras 0,88

    Bolores 0,80

    Bactrias halfilas 0,75

    Bolores xerfilos 0,61

    Leveduras osmotolerantes 0,60

    Fonte: Alves (2003)

    2.3 Desidratao de Frutas

    Segundo a RDC (Resoluo de Diretoria Colegiada) n 272

    (BRASIL, 2005), fruta seca o produto obtido pela perda parcial da gua da

    fruta madura, inteira ou em pedaos, por processos tecnolgicos adequados

    que possibilitem a manuteno de, no mximo, 25% de umidade (g/100g). O

    produto designado simplesmente pelo nome da fruta que lhe deu origem,

    seguida da palavra "seca". Os produtos preparados com mais de uma espcie

    de frutas, tero a designao de "frutas secas mistas", seguida do nome das

    frutas componentes. Pode tambm ser usada a palavra "passa", em lugar de

    "seca". Ex: uva-passa, jaca-passa.

    Matos (2007) afirma que o processamento de frutas desidratadas

    agrega valor ao produto, alm de reduzir custos com transporte, embalagem

  • 11

    e requerer menor rea para armazenamento. Porm, a qualidade final do

    produto que ser desidratado depende da matria-prima utilizada, visto que

    se as frutas utilizadas durante o processamento forem de boa qualidade, o

    resultado final ser fruta seca saudvel e saborosa.

    Ainda segundo o mesmo autor, as frutas frescas mais utilizadas para

    a desidratao so: ameixa, damasco, figo, uva, ma, banana, pssego,

    manga e abacaxi. O Quadro 2 mostra algumas frutas e sua adaptabilidade

    desidratao.

    QUADRO 2 - Adaptabilidade de frutas desidratao.

    Frutas Umidade in

    natura (%)

    Adaptabilidade desidratao

    Tempo de armazenamento a

    25 C (meses) Abacaxi 86 Excelente 6 a 8

    Ameixa 81 a 87 Boa 6 a 8

    Banana 75 Boa 5 a 8

    Coco 51 Excelente 2 a 4

    Figo 78 Excelente 4 a 6

    Frutas Ctricas 80 a 90 Pobre 6 a 8

    Ma 84 Excelente 4 a 6

    Manga 77 a 84 Boa 6 a 8

    Melo 85 a 95 Pobre 1 a 2

    Pssego 82 a 92 Excelente 4 a 6

    Papaya 88 a 90 Boa 4 a 6

    Fonte: Cruz (1989).

    Um mtodo clssico de preservao de alimentos a secagem, que

    aumenta a estabilidade, reduzindo seu ndice de umidade ou atividade de

    gua, e cria novos produtos (BOUDHRIOUA et al., 2002). Em relao a

    outros mtodos de conservao para perodos longos, como a apertizao, ou

    tratamentos qumicos, o processo de desidratao de custo mais baixo e de

    operaes mais simples. A secagem uma tcnica que consiste na remoo

  • 12

    de umidade. Essa remoo provoca a diminuio da atividade de gua (Aw)

    do produto, inibindo, portanto, o desenvolvimento de microrganismos e

    retardando algumas deterioraes de origem fsico-qumica. Alm disso,

    considerando que a maioria das frutas e vegetais constituda por mais de 80

    a 90% de gua, o processo de secagem implica uma considervel reduo de

    custo em transporte e manipulao do produto, alm de prover um efetivo

    mtodo de prolongamento de sua vida til (FELLOWS, 2006).

    A secagem de produtos agrcolas consiste em remover grande parte

    da gua inicialmente contida no produto, a um nvel mximo de umidade no

    qual possa ser armazenado em condies ambientais durante longos

    perodos, sem perdas de suas propriedades nutricionais e organolpticas

    (sabor e aroma). Tal efeito conseguido pela criao de condies

    desfavorveis ao desenvolvimento de microrganismos no produto e pela

    quase total eliminao de suas atividades metablicas (FIOREZE, 2004).

    Muitos alimentos passam pelo processo de secagem por necessidade

    de conservao; outros, para adquirirem sabores refinados, como o caso

    do tomate seco, vendido por altos preos no mercado (NAYAK, 2007).

    Normalmente se imagina um slido como um material com forma

    definida, em alguns casos o que se tem na alimentao do secador, uma

    pasta ou uma suspenso de slidos ou ainda uma soluo. Porm, em

    qualquer situao, o produto final slido com alguma umidade. Para que a

    secagem ocorra, necessrio que o sistema ou o meio de secagem esteja a

    uma temperatura superior quela do slido mido, permitindo a existncia de

    um fluxo de calor para o mesmo que possibilitar a vaporizao da umidade

    (BROOKER et al., 2004).

    A evoluo e as descobertas de novas tecnologias e metodologias

    aconteceram de forma a promover e otimizar o processo de secagem e a

    melhoria da qualidade do produto final (DOYMAZ e PALA, 2007).

    A desidratao um termo amplo referente remoo de gua de um

    produto por um processo qualquer, exceto pela operao unitria de

    evaporao. A secagem, por sua vez um termo mais restrito utilizado para

  • 13

    designar a desidratao por meio do emprego de ar aquecido, ou seja, um

    caso particular da desidratao (FERREIRA, 2003).

    A desidratao tem como principal objetivo preservar os alimentos

    por meio da reduo de seu teor de umidade, minimizando as perdas

    causadas por microrganismos, por reaes de oxidao, reaes qumicas e

    enzimticas (ARAJO, 2004; SOKHANSANJ e JAYAS, 2006). Esses

    autores afirmam que os produtos com atividade de gua na faixa de 0,2 a 0,4

    no sofrem reaes degradativas e crescimento microbiano. A desidratao

    de alimentos slidos deve, ainda, conferir ao produto final caractersticas

    organolpticas prprias e preservar ao mximo o seu valor nutricional

    (TRAVAGLINI et al.,1995).

    Existem diversos mtodos para desidratao de alimentos. O

    mtodo de escolha depende do tipo de alimento a ser desidratado, do nvel

    de qualidade que se deseja obter e de um custo que possa ser justificado.

    Dentre os mtodos mais comuns de desidratao, pode-se listar a

    secagem em cilindros rotativos (drum drying), por atomizao (spray

    drying), secagem a vcuo, liofilizao ou secagem pelo frio (freeze

    drying), cabines e tneis com circulao forada de ar quente, leito

    fluidizado dentre outros. Alguns desses mtodos so apropriados para

    alimentos lquidos ou pastosos e outros para alimentos em pedaos

    (FIOREZE, 2003).

    As frutas desidratadas so de fcil obteno (FIGURA 1), reduzem

    custos com transporte, embalagem, alm de proporcionar menor rea para

    armazenamento do produto (MATOS, 2007).

  • 14

    FIGURA 1 Fluxograma de processamento de alimentos desidratados

    (ORDEZ et al., 2005). 2.3.1 Fundamentos da secagem

    A secagem uma tcnica antiga de conservao de alimentos que

    consiste na remoo de gua ou qualquer outro lquido do alimento na forma

    de vapor para o ar no saturado. Esta tcnica vem sendo constantemente

    estudada e aperfeioada para obteno de produtos com maior qualidade e

    menor tempo de processamento (AKIPINAR et al., 2006).

  • 15

    O conhecimento do contedo inicial e final (equilbrio) de umidade

    do material, da relao da gua com a estrutura slida e do transporte da

    gua do interior do material at sua superfcie possibilita fundamentar o

    fenmeno da secagem (KARATHANOS, 1999; MARTINS, PORTO e

    PINTO, 2004).

    Segundo Fellows (2006), na secagem, a retirada da umidade obtida

    pela movimentao da gua, por uma diferena de presso de vapor da gua

    entre a superfcie do produto a ser secado e o ar que o envolve. A condio

    para que um produto seja submetido ao processo de secagem que a presso

    de vapor sobre a superfcie do produto seja maior do que a presso do vapor

    da gua no ar de secagem.

    De acordo com Lopes et al. (2000), ar quente mais empregado, por

    ser facilmente disponvel e mais conveniente na instalao e operao de

    secadores, e o seu controle no aquecimento do alimento no apresenta

    maiores problemas. O princpio bsico de secagem, quando se utiliza o ar

    como meio de secagem, est no potencial de secagem do ar ambiente

    aquecido, que forado na massa do produto que serve a duas finalidades:

    - Conduzir calor para o produto: a presso de vapor de gua do alimento

    aumentada pelo aquecimento do produto, facilitando, assim, a sada de

    umidade. Parte do calor do ar de secagem proporciona aumento da

    temperatura do produto (calor sensvel), e parte fornece o calor necessrio

    para a vaporizao da gua contida no produto (calor latente).

    - Absorver umidade do produto: aumentando a temperatura do ar ambiente,

    a sua umidade relativa diminui e, consequentemente, sua capacidade de

    absorver umidade aumenta.

    2.3.2 Fatores que influenciam na secagem

    De acordo com Doymaz (2007), o mecanismo de secagem

    estabelecido pela transferncia de calor e massa da fruta, durante a secagem,

    que resulta na remoo da umidade, ocorre por vaporizao trmica, com o

  • 16

    auxlio de ar aquecido, que flui pela superfcie da fruta. Essa vaporizao

    trmica se processa numa temperatura inferior de ebulio da gua e

    depende, essencialmente, dos seguintes fatores: presses de vapor d'gua na

    fruta e no ar de secagem; temperatura e velocidade do ar; velocidade de

    difuso da gua na fruta e, de menor importncia, a espessura e a superfcie

    exposta para secagem.

    a) Presso de vapor d'gua - trata-se da presso parcial exercida pelo vapor

    d'gua presente no ar. Essa propriedade varia em funo das concentraes

    de gua no produto e do vapor d'gua no ar. A evaporao depende do

    diferencial entre a presso de vapor d'gua existente na fruta e no ar;

    medida que se aumenta essa diferena aumenta-se a taxa de evaporao.

    b) Temperatura - quanto maior a temperatura do ar, menor a sua umidade

    relativa e maior a quantidade de energia que o mesmo pode fornecer,

    melhorando, dessa forma, a condio de secagem. Levando-se em

    considerao somente este fato, seria conveniente trabalhar com

    temperaturas de secagem bem elevadas. Porm, essa temperatura est

    limitada pela temperatura mxima que a fruta pode suportar, sem sofrer

    transformaes indesejveis na aparncia e nas suas qualidades

    organolpticas e nutricionais.

    c) Velocidade de difuso da gua no produto - de modo geral, os materiais

    apresentam duas ou mais fases distintas de secagem: uma que ocorre a uma

    taxa de evaporao constante, quando a gua livre evapora da superfcie do

    material e, nas demais, a taxa de evaporao decrescente e a secagem

    controlada pelo mecanismo de difuso.

    d) Velocidade do ar a taxa de evaporao diretamente proporcional

    velocidade do ar de secagem, principalmente na fase inicial. Entretanto, ela

    no deve ultrapassar 3 m.s -1, pois exigiria a utilizao de ventiladores de

    maior potncia, com maiores custos de investimento e operacional, o que

    no compensado pela reduo proporcional de tempo de secagem. Isso

    porque, na maior parte do ciclo de secagem, a taxa de evaporao no

    depende da velocidade do ar e est limitada pela velocidade de difuso de

  • 17

    gua do interior para superfcie da fruta.

    e) Espessura e superfcie disponvel o fator superficial disponvel est

    relacionado com a subdiviso da fruta, ou seja, quanto maior a superfcie

    exposta, menor a espessura dos pedaos. Isso faz com que haja maior

    quantidade de gua em contato com o ar para evaporao e uma maior

    facilidade na difuso da umidade interna do produto. Entretanto, a superfcie

    e a espessura vo ser determinadas pela forma como dever se apresentar o

    produto final, se inteiro ou fatiado.

    Arvalo-Pinedo e Murr (2005) estudaram experimentalmente a

    cintica de desidratao a vcuo de cenoura e abbora in natura e pr-

    tratadas por branqueamento e congelamento. Os ensaios experimentais

    foram conduzidos em um secador a vcuo, nas presses de 5, 15 e 25 kPa e

    temperaturas de 50, 60 e 70 C. Nesse estudo, foi verificada a influncia da

    presso e temperatura assim como os pr-tratamentos adotados sobre a

    cintica de secagem. A anlise do efeito dos pr-tratamentos e dos

    parmetros presso e temperatura sobre a velocidade de secagem revelou

    que os melhores valores foram obtidos com a temperatura de 70 C e presso

    de 5 kPa para as amostras pr-tratadas por congelamento. Quanto ao tipo de

    matria-prima utilizado, a abbora apresentou maiores velocidades de

    secagem que a cenoura, independentemente do tratamento recebido e da

    condio de secagem utilizada.

    Funebo et al. (2000) estudaram a estrutura celular de mas

    submetidas a secagens a 40, 60 e 80 C, com e sem prvio tratamento

    trmico em micro-ondas. Alm de o tratamento prvio injuriar mais as

    clulas, as maiores temperaturas de secagem provocam maiores danos no

    tecido, o que foi observado atravs de microscopia confocal por

    escaneamento a laser do material reidratado. Quanto maior a injria, mais

    espaos vazios entre as clulas foram observados, e mais paredes celulares

    rompidas foram detectadas.

    Prado et al. (2000 a) secando tmara verificou que a temperatura

    exerce maior influncia que a velocidade do ar, resultado semelhante foi

  • 18

    observado por Gouveia (1999) e Moura et al. (2001) secando gengibre e

    caju, respectivamente e tambm, por Krokida et al. (2000), quando afirma

    que a cintica de secagem de ma fortemente afetada pela temperatura do

    ar de secagem.

    2.3.3 As fases do processo de secagem

    De acordo com Brod, Silva e Park (1994), ao colocar o alimento no

    secador, devido diferena de temperatura (ambiente mais quente que o

    material) ocorre uma transferncia de calor da fonte quente para o material

    mido e tambm a evaporao da gua. A diferena de presso parcial de

    vapor dgua entre o ambiente quente e a superfcie do produto ocasionar

    uma transferncia de massa do produto para o ar, e assim o vapor ser

    arrastado do material. Se a gua no estiver ligada (ligao fsica e/ou

    qumica), a estrutura dos slidos caracterizada como gua livre e a energia

    envolvida no processo ser correspondente ao calor latente de vaporizao e,

    se a gua estiver ligada, a energia necessria para sua evaporao ser maior.

    Segundo Silva (1995), normalmente o processo de secagem

    apresenta um perodo de razo constante e um ou mais perodos de razo

    decrescente que so divididos em:

    a) Perodo de razo constante

    Quando o produto estiver completamente mido no incio da

    secagem, a gua escoa na fase lquida em um gradiente hidrulico. H

    decrscimo nos dimetros dos poros e capilares e, consequentemente,

    decrscimo de volume do produto aproximadamente igual ao volume da

    gua evaporada. Esse perodo no observvel em produtos agrcolas,

    porque, ao se iniciar a secagem, estes geralmente j se encontram no perodo

    de razo decrescente.

    b) Primeiro perodo de razo decrescente

    medida que a secagem prossegue, o teor de umidade decresce e a

    gua na fase lquida faz a ligao entre as partculas slidas (produto),

  • 19

    formando as pontes lquidas. Um escoamento de gua na fase de vapor pode

    ocorrer simultaneamente. A temperatura do produto atinge valores

    superiores ao da temperatura de bulbo mido.

    c) Segundo perodo de razo decrescente

    A gua nos gargalos dos poros pode migrar, arrastando-se ao longo

    das paredes capilares ou evaporando e condensando, sucessivamente, entre

    as pontes lquidas. A presso parcial de vapor decresce, e a contrao de

    volume do produto continua, porm em menor intensidade.

    d) Terceiro perodo de razo decrescente

    A secagem ocorre no interior do produto. O teor de umidade de

    equilbrio atingido quando a quantidade de gua evaporada se iguala

    quantidade condensada.

    2.3.4 Transformaes qumicas e fsicas durante a desidratao

    Algumas frutas, ao serem processadas sofrem um rpido

    escurecimento que altamente inconveniente e fator limitante para a vida de

    prateleira desses produtos. Esse processo esta associado elevao da

    atividade de algumas enzimas. Os fenis encontrados na polpa de

    determinadas frutas so oxidados, dando origem a compostos de colorao

    escura. Algumas destas enzimas agem desestruturando as membranas

    celulares, diminuindo sua permeabilidade seletiva; promovem, ainda, reaes

    em cadeia que levam a formao de radicais livres que podem causar danos s

    organelas e membranas, podendo alterar as caractersticas sensoriais do

    produto. Tratamentos qumicos base de cistena e cido ascrbico tm sido

    apontados como efetivos na preveno do escurecimento de produtos

    processados (MELO e VILAS BOAS, 2006). O escurecimento envolve a ao

    de polifenoloxidases que catalisam a oxidao de fenis a quinonas que se

    polimerizam dando origem a pigmentos escuros denominados melaninas

    (VILAS BOAS, 2002).

  • 20

    O escurecimento enzimtico pela ao da peroxidase e outras enzimas

    oxidativas ocorre na fruta durante a secagem, principalmente nas superfcies

    cortadas, onde ocorre com maiores velocidades. Basicamente, dois tipos de

    reaes podem ocorrer durante e aps o processamento de frutas secas:

    escurecimento enzimtico e no enzimtico. O primeiro ocorre,

    principalmente, nas operaes de preparo e de secagem da fruta e causado

    pela ao de enzimas do grupo das polifenoloxidases, que podem alterar a cor

    e o sabor do produto final. O segundo tambm denominado de reao de

    Maillard responsvel, principalmente, pelo escurecimento da fruta seca

    durante o seu armazenamento (CANO-CHAUCA, 2000).

    As informaes disponveis quanto s modificaes fsicas

    indesejveis que podem ocorrer durante o processamento e o armazenamento

    das frutas so escassas. Em geral, tm se observado que essas

    transformaes podem causar modificaes profundas na textura e na cor do

    produto final e essas parecem estar relacionadas aos mecanismos de difuso

    e evaporao de gua dentro e na superfcie do produto.

    O comportamento dos materiais, nesse aspecto, muito diverso e

    depende de sua composio e estrutura celular (PONTING, 1973). Na

    prtica, tem-se observado que a secagem sob condies severas do ar (altas

    temperaturas e umidade relativa baixa) pode causar um ressecamento

    excessivo e irreversvel da superfcie da fruta (MATOS, 2007). Alm disso,

    o uso da fruta em estgio precoce de maturao, com um teor elevado de

    amido residual, pode resultar em um produto final mais duro e de aspecto

    geral esbranquiado.

    Uma fase crtica da desidratao a finalizao, uma vez que pode

    ocorrer o ressecamento na superfcie do alimento e aumento de sua

    temperatura, o que diminui a qualidade desse produto alimentcio. Os

    defeitos mais comuns dos alimentos desidratados so: a dureza excessiva, o

    surgimento de rugosidade na superfcie do produto que denigre a sua

    aparncia, a dificuldade de reidratao, bem como a degradao da cor,

    aroma e sabor (FELLOWS, 1994).

  • 21

    O endurecimento da fruta seca durante seu armazenamento pode

    estar relacionado com as perdas de gua pelo produto armazenado em

    ambiente muito seco e quando a embalagem permite a passagem de vapor

    dgua para esse ambiente at que o equilbrio seja estabelecido. Finalmente,

    pode ocorrer um fenmeno de cristalizao de acares redutores e da

    sacarose, na superfcie da fruta seca, armazenada a temperaturas inferiores a

    20 C e que parece estar relacionada a variaes na atividade de gua do

    produto. Quando isso acontece, a superfcie da fruta seca adquire uma

    aparncia granulosa e esbranquiada que, na maioria das vezes, confundida

    com o crescimento de fungos. Essa cristalizao pode ser eliminada pelo

    aquecimento da fruta na embalagem a 50 C e, em seguida, resfriada

    (OLIVEIRA, 2009).

    As embalagens devem conferir boas caractersticas de

    impermeabilidade ao vapor dgua, sendo que a impermeabilidade ao

    oxignio no constitui fator de maior relevncia se a fruta no constituir

    fonte importante de componente oxidativos, como o betacaroteno e a

    vitamina C. A embalagem, por sua vez, dever proteger o produto da

    radiao ultravioleta que promove escurecimento pela ativao de

    determinadas reaes fotoqumicas indesejveis (PONTING, 1973).

    2.4 Curvas de secagem

    Vrios estudos sobre curvas de secagem tm sido realizados devido

    sua influncia na qualidade do produto desidratado. O contedo de umidade

    de determinado slido pode ser expresso em termos de massa total, base

    mida ou massa seca. Ao entrar em contato com o ar quente, ocorre

    transferncia de calor do ar para o produto, devido ao gradiente de

    temperatura existente entre ambos. Simultaneamente, a diferena da presso

    parcial do vapor de gua existente entre o ar de secagem e a superfcie do

    produto determina a transferncia de massa do produto para o ar em forma

  • 22

    de vapor de gua (NOGUEIRA, 1991).

    Quando um alimento desidratado, ele no perde gua a uma

    velocidade constante ao longo do processo. Com o progresso da secagem,

    sob condies fixas, a taxa de remoo de gua diminui. Isso pode ser visto

    na Figura 2, onde apresentada a curva de secagem para cenoura cortada na

    forma de cubos. Pelo grfico, pode-se observar que 90% da gua do produto

    removida em 4 horas e mais 4 horas sero necessrias para remover os

    10% remanescentes. Na prtica, sob condies normais de operao, o nvel

    zero de umidade nunca alcanado (MELONI, 2003).

    FIGURA 2 Exemplo de curvas de secagem de diferentes produtos

    para a temperatura de 60 C. Fonte: Meloni, 2003.

    Segundo Arvalo-Pinedo e Murr (2005), atravs de curvas de

    secagem, possvel verificar que a maior parte do processo transcorre dentro

  • 23

    de um perodo de velocidade decrescente. Nota-se tambm que a

    temperatura de secagem exerce influncia sobre a velocidade de secagem em

    cada tipo de alimento estudado, sendo o tempo de secagem menor com o

    aumento da temperatura. Assim como a temperatura, a presso tambm

    exerce influncias na cintica de cada tipo de alimento. Dessa forma, o

    aumento da temperatura causa uma diminuio do tempo de secagem em

    todos os casos e este tempo diminui ainda mais quando diminui a presso de

    secagem.

    medida que o alimento seca e atinge a umidade de equilbrio, no

    se tem mais secagem, e a velocidade cai a zero. Essas no so as nicas

    mudanas do alimento que contribuem para a forma de uma curva de

    secagem tpica, embora sejam os fatores principais. A forma precisa de uma

    curva de secagem normal varia conforme o alimento, com os diferentes tipos

    de secadores, e em resposta s variaes das condies de secagem tais

    como a temperatura, a umidade, a velocidade do ar, o sentido do ar, a

    espessura do alimento, entre outros fatores (MELONI, 2003).

    Ainda de acordo com esse autor, a secagem da maioria dos produtos

    alimentcios geralmente apresenta perodo de velocidade constante e de

    velocidade decrescente, e a remoo da gua abaixo de aproximadamente

    2%, sem danos ao produto, extremamente difcil.

    Park et al. (2001) estudaram, atravs do uso de um secador convectivo

    vertical de bandejas, as curvas de secagem da pera bartlett nas temperaturas de

    50, 60 e 70 C em trs velocidades do ar 0,5, 1,0 e 1,5 m.s -1. Eles observaram que

    os valores de difusividade aumentaram com o aumento da temperatura do ar,

    mostrando a diminuio da resistncia interna do alimento.

    2.5 Isotermas

    Isotermas de soro de gua so grficos que relacionam a

    quantidade de gua de um alimento com sua atividade de gua, em funo da

    umidade relativa da atmosfera que circunda o alimento, uma vez alcanado o

  • 24

    equilbrio a uma temperatura constante (ORDEZ et al., 2005). Ainda,

    segundo o autor, so prprias de cada grupo de alimentos e permitem estimar

    a estabilidade de um produto diante dos diversos agentes alterantes.

    Segundo Park et al. (2008), esta relao depende da composio qumica dos

    alimentos (gordura, amido, acar, protenas, etc.). Deve-se ressaltar que o

    conhecimento dessas curvas de soro indispensvel para a determinao

    do teor de gua final necessrio para um produto final estvel.

    A curva de uma isoterma pode apresentar-se de duas formas:

    isotermas de adsoro e isotermas de dessoro. As isotermas de adsoro

    so obtidas quando um alimento totalmente seco colocado em atmosferas

    com diversos incrementos de umidade relativa, sendo medido o aumento de

    peso desse alimento devido ao ganho de gua determinadas durante a

    hidratao. J as isotermas de dessoro so obtidas quando o alimento

    inicialmente mido colocado sob as mesmas condies atmosfricas

    criadas para adsoro, sendo medida neste caso a diminuio de peso do

    alimento, provocada pela perda de gua determinada durante a desidratao.

    Essas curvas de adsoro e dessoro no coincidem, e esta diferena entre

    as isotermas conhecida como o fenmeno de histerese (HOSSAIN et al.,

    2001). Uma curva tpica de isoterma de soro apresentada na Figura 3

    (PARK e NOGUEIRA, 1992).

  • 25

    FIGURA 3 - Curva tpica das isotermas de soro.

    Fonte: Park e Nogueira (1992).

    Na literatura, existem vrios modelos matemticos para descrever o

    comportamento das isotermas de soro de umidade de alimentos. Alguns

    desses modelos so baseados em teorias dos mecanismos de soro, como os

    modelos de BET (BRUNAUER et al., 1938) e GAB (BERG, 1981); outros

    so puramente empricos ou semiempricos, como os modelos de Oswin e

    Smith (OSWIN, 1946; SMITH, 1947) e Peleg (PELEG, 1993). De acordo

    com Gabas et al. (2007), os critrios usados para selecionar o modelo de

    soro mais apropriado so o grau de ajuste aos dados experimentais e o

    significado fsico do modelo. Lomauro et al. (1985) verificaram que a

    equao de GAB pode representar, com grande preciso, mais que 50% das

    isotermas de frutas, vegetais e carnes, quando comparada com equaes de

    dois parmetros.

    Mais de 200 equaes tm sido propostas para a modelagem dos

    dados de equilbrio, diferindo em seu carter emprico ou terico e no

    nmero de parmetros envolvidos (MORAES et al., 2005). Algumas dessas

    equaes so apresentadas no Quadro 3.

  • 26

    QUADRO 3 - Modelos para ajustes de isotermas de soro de umidade.

    Nome do Modelo Modelo LANGMUIR [11]

    w

    w

    m

    eqC.a1

    C.aXX

    BET (BRUNAER, EMMETT e

    TELLER [6]) eqX 1nwww

    1nw

    nwwm

    C.a1).a(C).(1a(1n.a1).a(n).(1.C.a(X

    BET linearizado (BRUNAER, EMMETT e TELER [6])

    .CX1).(Ca

    .CX1

    ).Xa(1a

    m

    w

    meqw

    w

    GAB GUGGHENHEIM, ANDERSON e de BOER (PARK &

    NOGUEIRA [13])

    eqX )C.K.ak.a).(1K.a(1.C.K.aX

    www

    wm

    HALSEY [9]

    B

    eqw X

    Aexpa

    OSWIN (CHINNAN &

    BEAUCHAT [9])

    B

    w

    weq a1

    aAX

    PELEG

    n2n1w2weq aK.aKX 1

    HENDERSON (ASAE [3]) neqw K.Xexpa1 CHUNG & PFOST [8] eqw B.X.expR.T

    ALn.a

    Fonte: Park et al. (2001). Onde: Xeq contedo de umidade de equilbrio, kg/kg;

    Xm contedo de umidade na monocamada molecular, kg/kg;

    aw atividade de gua, adimensional;

    T temperatura, C;

    A, B, C, n, K, k1, k2, n1, n2 constantes das equaes;

    R constante universal de gases.

  • 27

    De acordo com Brunauer et al. (1938), citados por Ascheri (1997), h

    cinco tipos de isotermas de soro, de acordo com a forma das curvas obtidas

    (FIGURA 4). Materiais como farinha de trigo, amidos, amidos modificados,

    etc. apresentam isotermas de soro do tipo II, cuja forma sigmoidal. A

    forma dessas curvas indica o tipo de foras existentes na ligao de gua com

    a superfcie do material higroscpico e permite avaliar a estrutura superficial

    do material.

    FIGURA 4. Tipos de formatos de isotermas de soro (BRUNAUER,

    et al., 1938).

    Segundo Ordez et al. (2005), a maioria das isotermas de soro de

    gua dos alimentos apresenta forma sigmoide, com pequenas variaes

    conforme a estrutura fsica, a composio qumica, a temperatura e a

    capacidade de reteno de gua do alimento. Contudo, h alimentos que

    apresentam uma zona mais plana na primeira parte da curva. Essas curvas, em

    forma de J so tpicas de alimentos com grande quantidade de acar e solutos

    e que apresentam pouca adsoro por capilaridade, como as frutas e os doces

    de frutas.

    Os alimentos que possuem elevadas concentraes de acar, como a

    maior parte das frutas, apresentam isotermas de soro que se assemelham

    tanto s isotermas do tipo II, com baixo valor da constante CBET, quanto s

  • 28

    isotermas do tipo III. Nas isotermas do tipo II, a primeira inflexo da curva

    depende do valor numrico de CBET , e o ngulo se torna menos agudo quando

    o valor da constante diminui. Quando CBET tem um valor positivo menor que

    2, o resultado uma curva com formato de isoterma tipo III (GREGG e SING,

    1967); a curva agora inteiramente convexa em relao ao eixo de atividade

    de gua. De acordo com Nogueira (2001), nesses alimentos, os slidos

    solveis (na maioria acares) adsorvem pouca gua sob baixas umidades

    relativas e a soro principalmente devida aos polmeros que geralmente

    acompanham os acares. Com o aumento da umidade relativa, a soro

    aumenta consideravelmente levando dissoluo dos acares. Conforme

    Brunauer et al. (1938), as isotermas do tipo I, IV e V no so de interesse para

    a rea de alimentos.

    Para determinao experimental de umidade de equilbrio, torna-se

    necessrio um ambiente com umidade relativa controlada. O mtodo de

    controle de umidade relativa mais usado o que utiliza compostos qumicos,

    tais como solues aquosas de cido sulfrico e solues de sais. Cada

    soluo apresenta um grau de ajuste de umidade relativa que pode ser obtido

    variando-se a concentrao das solues a diferentes temperaturas (PARK et

    al., 2000).

    Segundo Moreira (2000), as isotermas de equilbrio podem ser

    determinadas por dois mtodos: gravimtrico e higromtrico. Neste, durante

    a medida, o contedo de umidade do material mantido constante at que o

    ar circundante atinja um valor constante de equilbrio. A atividade de gua

    do ar medida via higrmetro ou manmetro. Naquele, durante a medida, a

    temperatura do ar e a atividade de gua so mantidas constantes at que o

    contedo de umidade da amostra atinja o valor de equilbrio. O ar pode ser

    circulado (mtodo dinmico) ou estar estagnado (mtodo esttico).

    Souza et al. (2000) comprovaram experimentalmente que, atravs do

    mtodo gravimtrico esttico, o uso de solues salinas e cidas apresentam

    desempenhos similares. O uso das solues salinas mais comum devido

    segurana no manuseio e pela facilidade de se manter a umidade relativa

  • 29

    constante, que uma das vantagens deste mtodo (ALMEIDA et al., 2002).

    Consoante Ordez et al. (2005), as isotermas de soro de gua dos

    alimentos so de grande utilidade em diferentes aspectos:

    1. Permitem avaliar a estabilidade dos alimentos. A diminuio da atividade

    de gua freia o crescimento dos microrganismos (nesta ordem: bactrias,

    leveduras e mofos), de tal forma que se detm totalmente a valores de 0,6 ou

    inferiores. Igualmente, a velocidade das reaes qumicas que ocorrem em

    um alimento, tanto enzimticas quanto no enzimticas, depende da

    quantidade de gua disponvel. medida que a atividade de gua diminui, a

    velocidade de reao vai se tornando mais lenta. Os valores compreendidos

    entre 0,2 e 0,3 cessam completamente. A exceo constituda pela

    oxidao lipdica, que mnima nesses valores, mas aumenta medida que a

    atividade de gua continua diminuindo. Portanto, a mxima estabilidade dos

    alimentos ocorre nesses valores.

    2. Permitem prever a atividade de gua de misturas de diversos ingredientes.

    Sempre h intercmbio de gua de um componente a outro do alimento para

    chegar ao equilbrio. As isotermas permitem conhecer a atividade de gua

    dos componentes da mistura e, consequentemente, a estabilidade de cada um

    deles e da mistura.

    3. Permitem estimar o tempo mximo de armazenamento do produto em

    embalagem, com uma permeabilidade ao vapor de gua conhecida, em

    funo da quantidade de gua adsorvida. Da mesma forma, pode-se

    estabelecer o comportamento de um alimento em diferentes condies de

    armazenamento.

    4. Permitem melhorar os processos de conservao fundamentados na

    reduo da quantidade de gua, j que, mediante isotermas de soro, pode-

    se determinar qual a quantidade de umidade residual ideal para

    determinado alimento. Se a umidade elevada demais, o produto apresenta

    menor estabilidade, ao passo que, se a umidade final muito baixa,

    representa um gasto adicional na operao. A facilidade ou dificuldade para

    eliminar gua est relacionada com a atividade de gua.

  • 30

    5. Permitem determinar a temperatura ideal para armazenamento de produtos

    congelados, estabelecendo uma relao entre essa atividade de gua. A

    imobilizao da gua em forma de gelo e o consequente aumento da

    concentrao de solutos na gua no congelada diminuem a atividade de

    gua do alimento.

    HOSSAIN et al. (2001) avaliaram a isoterma de soro de abacaxi e

    encontraram uma relao inversa entre o teor de umidade e o calor de

    soro. Segundo esses autores, em valores baixos de umidade ocorre a

    formao de stios altamente polares na superfcie do alimento que, ao se

    associarem com as molculas de gua, do origem a uma monocamada,

    elevando o calor de soro. Os abacaxis analisados apresentaram alto teor de

    umidade, condio na qual os stios ativos esto menos disponveis e as

    molculas de gua possuem um menor potencial energtico, explicando os

    valores de R2 obtidos.

    O modelo de GAB amplamente utilizado para descrever o

    comportamento de isotermas de alimentos por diversos pesquisadores:

    Kiranoudis et al. (1997) ajustaram as isotermas de soro de ma, pera,

    kiwi e banana ao referido modelo; Unadi et al. (1998), observaram que GAB

    foi a equao de soro mais satisfatria para predizer as isotermas de

    dessoro de tomate; Kechaou e Maalej (1999) verificaram que GAB

    representou satisfatoriamente as isotermas de dessoro de banana para

    temperaturas de 35, 50 e 70 C e valores de atividade de gua de 0 a 0,90.

    Telis et al. (2000) obtiveram um bom ajuste de GAB aos dados

    experimentais de isotermas de casca e polpa de uva, para temperaturas de 20

    a 70 C e atividades de gua entre 0,02 e 0,85. A escolha deste modelo

    encontra respaldo, ainda, em Rao e Rizvi (1986), para quem a equao de

    GAB descreve a soro de gua de quase todos os alimentos com atividade

    de gua variando de 0 a 0,9, por ter uma base terica fundamentada e

    apresentar trs parmetros, relativamente simples, que tm significado fsico

    do processo, e por ser capaz de descrever algum efeito da temperatura no

    processo de soro.

  • 31

    2.6 Pr-tratamentos utilizados em frutas desidratadas

    Em conformidade com Lima et al. (2000), frutas e vegetais so

    submetidos a pr tratamentos para melhorar as caractersticas de secagem e

    reduzir efeitos adversos durante o processamento e subsequente

    armazenagem dos produtos.

    O pr-tratamento visa a prevenir a reao enzimtica que causa o

    escurecimento nas partes externas expostas ao contato com oxignio e

    tambm proteg-las contra a deteriorao durante o perodo de

    armazenamento. A adio de acar, substncia orgnica, e de sulfitos,

    substncia inorgnica, so processos qumicos. Dentre os mtodos de pr-

    tratamentos esto o uso de antioxidantes como cido ctrico e cido

    ascrbico (MELO e VILAS BOAS, 2006), a sulfitao e o branqueamento

    (BARBOSA, 1976), fermentao (FELLOWS, 2006) e desidratao

    osmtica (ALVES, 2003).

    Em pesquisas recentes com produo de banana-passa e avaliao

    sensorial, a amostra de banana-passa (22% de umidade final), tratada com

    pr-desidratao osmtica, obteve a maior aceitao nos atributos cor, sabor

    e textura com 100% e, no atributo aroma, obtiveram 75% de aceitao. A

    segunda amostra mais bem aceita foi a tratada com soluo de sulfito de

    sdio 2%, obtendo 93,8%; 81,3%; 81,3% e 87,5% de aceitao nos atributos

    cor, aroma, sabor e textura, respectivamente. As amostras de banana-passa

    tratadas com o agente de sulfitao apresentaram porcentagem de dixido de

    enxofre (SO2) inferior ao exigido pela legislao. As amostras pr-tratadas

    com desidratao osmtica e sulfitao obtiveram porcentagens de aceitao

    bastante superiores aos da amostra comercial, que no recebe nenhum tipo

    de pr-tratamento. Portanto, recomenda-se a utilizao de desidratao

    osmtica e sulfitao para a produo de banana-passa (CELESTINO,

    2009).

  • 32

    2.6.1 Antioxidantes

    O cido ascrbico e seus vrios sais neutros so os principais

    antioxidantes para o uso em frutas e hortalias e seus sucos, visando a

    prevenir escurecimento e outras reaes oxidativas (MELO e VILAS BOAS,

    2006). Ele atua sequestrando o cobre, grupo prosttico da enzima polifenoloxidase (PPO), e reduzindo quinonas de volta a fenis, antes de

    formarem pigmentos escuros (SAPPERS e MILLER, 1998).

    Gonzlez-Aguilar et al. (2005) verificaram que tratamentos com cido

    isoascrbico e cido ascrbico em fatias de abacaxi reduziram a degradao

    de acares, vitamina C e compostos fenlicos.

    O cido ctrico o principal cido orgnico naturalmente encontrado

    em vegetais, age como um quelante e atua sinergisticamente com cido

    ascrbico e eritrbico e seus sais neutros (PINELLI, 2004). Apresenta efeito

    inibitrio duplo sobre a PPO no somente pelo abaixamento do pH do meio,

    mas tambm complexando com o cobre do centro ativo da enzima.

    Saraiva et al. (2010) relatam que o cido ascrbico inibiu o

    escurecimento enzimtico da ma e foi eficiente na combinao com o cido

    ctrico na preveno do escurecimento. Queiroz et al. (2007) observaram uma

    maior estabilidade da cor em goiabas desidratadas submetidas ao tratamento

    com cido ascrbico. A utilizao desses cidos no processamento tem a

    vantagem que o cido ctrico j um cido naturalmente presente em frutas e

    o cido ascrbico uma vitamina hidrossolvel.

    Segundo Mota (2005), o emprego de pr-tratamento com soluo

    antioxidante permite a elaborao de produtos desidratados padronizados,

    com colorao uniforme, sendo que estes mantm as caractersticas naturais

    da fruta, alm de ser um processo de fcil aplicao, rpido e relativamente

    barato levando-se em conta o custo total do processo de desidratao. Os

    cidos orgnicos, como o cido ctrico, so empregados com a finalidade de

    promover acidificao do meio, de maneira a impedir ou retardar a

  • 33

    multiplicao de micro-organismos.

    Outro antioxidante utilizado o EDTA que atua complexando cobre e

    ons ferro, por meio de um par no conjugado de eltrons em suas estruturas

    moleculares (PINELLI, 2004). Segundo Melo e Vilas Boas (2006), o

    tratamento contendo EDTA foi bastante efetivo na conteno do aumento

    das atividades da polifenoloxidase em banana-ma minimamente

    processada.

    2.6.2 Sulfitao

    A sulfitao o uso de agentes sulfitantes que previnem o

    escurecimento enzimtico e no enzimtico, alm de agirem como

    conservadores, inibindo a ao de fungos, leveduras e bactrias. O

    tratamento feito com a imerso do alimento numa soluo de gua e

    bissulfito de sdio de 2 a 5 minutos. O sulfito e o metabissulfito de sdio so

    agentes de sulfitao tambm utilizados. Esses sulfitos liberam o dixido de

    enxofre (SO2) nas condies de uso. Pode-se misturar o cido ascrbico, o

    cido ctrico e o agente de sulfitao em uma mesma soluo para

    intensificar a ao antioxidante (CELESTINO, 2009).

    O SO2 retarda a formao de pigmentos escuros, mas no previne a

    sua formao nem os branqueia aps terem sido formados. O tratamento

    pode ser realizado atravs da sulfurao pela queima de enxofre ou pela

    sulfitao em soluo aquosa com bissulfito de sdio (Na2S2O5). O dixido

    de enxofre ainda utilizado como desinfectante, antissptico e

    antibacteriano, como agente branqueador e conservador de produtos

    alimentares, nomeadamente frutos secos, e ainda na produo de bebidas

    alcolicas e particularmente no fabrico do vinho (MATOS, 2007).

    Segundo Matos (2007), no caso da utilizao desse mtodo de

    sulfitao, vale ressaltar que as frutas devem ser lavadas no final da etapa, de

    tal forma a atender os critrios exigidos pela legislao, alm de no

    comprometer a qualidade sensorial do produto final, uma vez que

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    concentraes mais altas de enxofre conferem caractersticas no desejveis.

    Anlises de dixido de enxofre geralmente so do tipo qualitativa,

    para averiguar a presena desta substncia no alimento, e quantitativa, para

    verificar a quantidade residual presente no alimento analisado. Como a

    anlise quantitativa um pouco mais complexa, faz-se primeiro o teste

    qualitativo. Se positivo, pode-se partir para o quantitativo. Se o alimento em

    questo no permite residual de aditivo, o teste qualitativo para verificar a

    presena suficiente para se concluir a anlise. O mtodo baseia-se no poder

    redutor do SO2 em meio cido sobre o iodato. O iodo liberado pela reduo

    do iodato reage com o amido dando um composto de adsoro de colorao

    azul (CELESTINO 2009).

    2.6.3 Branqueamento

    O branqueamento um pr-tratamento trmico comumente aplicado

    aps a colheita, seleo e lavagem de hortalias, com o objetivo de inativar

    enzimas, fixar cor, eliminar o oxignio dos tecidos, diminuindo o volume do

    produto inteiro ou dos pedaos, alm de diminuir a carga microbiana.

    comumente aplicado a vegetais antes do congelamento e desidratao

    (MORAES, 2006).

    Essa operao consiste em mergulhar os frutos em gua,

    temperatura pr-determinada ou utilizar vapor fluente ou superaquecido. O

    tempo e a temperatura variam conforme o tipo de matria-prima, a carga

    microbiana inicial, a dimenso e a forma do material a ser branqueado, o

    mtodo de aquecimento e o tipo de enzima a ser inativada. Aps serem

    submetidos ao branqueamento, os frutos devem ser, necessariamente,

    resfriados para evitar a contaminao por microrganismos termfilos e para

    no comprometer a sua textura. O resfriamento pode ser feito imergindo-os

    em banho de gua e gelo ou por meio de asperso de gua fria (EMBRAPA,

  • 35

    2005). uma operao complementar ao preparo de frutas e hortalias. Em

    frutas desidratadas, proporciona melhora na qualidade, resultando em

    produto translcido e fixando a cor e a textura dele (OETTERER et al.,

    2006).

    O branqueamento tambm promove o amaciamento dos tecidos

    vegetais, que facilita o envase, e remove ar dos espaos intercelulares,

    auxiliando, assim, a etapa de exausto (retirada do ar do produto e do espao

    livre das embalagens, antes do fechamento). A remoo de ar pode, ainda,

    alterar o comprimento da onda da luz refletida no produto, como ocorre em

    ervilhas, que adquirem uma cor verde mais brilhante (AZEREDO, 2004).

    Alm disso, o branqueamento propicia um cozimento parcial do

    tecido vegetal, que torna a membrana celular mais permevel passagem de

    vapor de gua, e resulta, no caso de secagem posterior, em taxas mais

    elevadas de secagem e melhora da textura do produto acabado (AGUIRRE et

    al., 1982).

    O branqueamento, alm de inativar enzimas, tem sido usado, em

    vrios trabalhos sobre secagem osmtica como etapa prvia, com o objetivo

    de tornar a estrutura celular do tecido mais aberta e facilitar a transferncia de

    massa (LEWICKI; PAWLAK, 2003). Entretanto, para alguns alimentos,

    conforme as condies de temperatura e velocidade do ar de secagem, esse

    pr-tratamento pouco altera a taxa de secagem e pode causar sua diminuio

    (DEMIREL; TURHAN, 2003).

    Dandamrongrak, Young e Mason (2002), analisando pr-tratamentos

    para a secagem de banana, compararam aumento de taxa de secagem com

    um congelamento prvio, branqueamento e a combinao dos dois pr-

    tratamentos e no observaram alterao significante da taxa de secagem com

    o branqueamento.

    Alvarez et al. (1995) constataram que morangos tratados

    termicamente tiveram aumento significativo da difusividade da gua durante

    a secagem, com ou sem o tratamento osmtico, quando comparado ao tecido

    sem nenhum tratamento. Esse efeito foi atribudo modificao da estrutura

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    celular, facilitando a transferncia do vapor de gua.

    Nieto et al. (2001) observaram que fatias de manga branqueadas e

    secadas apresentaram comportamento diferente do morango, onde a

    difusividade da gua foi semelhante fruta sem branqueamento, enquanto

    que as frutas branqueadas e tratadas osmoticamente apresentaram

    difusividade inferior s anteriores. Esse comportamento foi associado

    gelatinizao do amido da manga. Em outro trabalho com mas, Nieto et al.

    (1998) mostraram outro comportamento da difusividade, intermedirio ao

    observad