22
Curitiba, Vol. 1, nº 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028 REVISTA VERSALETE JORDÃO, Clarissa M. Des-vincular o inglês... 278 DESdVINCULAR O INGLÊS DO IMPERIALISMO: HIBRIDISMO E AGÊNCIA NO INGLÊS COMO LÍNGUA INTERNACIONAL DEPLINKING ENGLISH FROM IMPERIALISM: HIBRIDITY AND AGENCY IN ENGLISH AS AN INTERNATIONAL LANGUAGE Clarissa Menezes Jordão 1 RESUMO: Este texto aborda algumas das representações sociais sobre a língua inglesa como língua de comunicação entre usuários com diferentes línguas maternas, examinando possíveis impactos destas representações no trabalho com Inglês em sala de aula. O embasamento teórico que orienta a análise apresentada fundamentadse em (1) concepções pósdestruturalistas de sujeito, discurso, saber e poder, assim como em (2) teorias pósdcoloniais sobre identidade, resistência e mudança. A análise apresentada ressalta o caráter híbrido das construções identitárias dos professores de línguas estrangeiras (tanto aquelas construídas por eles quanto as construídas para eles), especialmente no engajamento de tais construções com as línguas/culturas estrangeiras e na interpolação de suas línguas/culturas nativas. Palavrasdchave: inglês como língua estrangeira; pósdestruturalismo; pósdcolonialismo. ABSTRACT: This article discusses some of the social representations about the English language as the means of communication for users of various first languages, examining some of the implications of these representations for Brazilian teachers of English. The theoretical underpinnings of the analysis presented here are based on (1) poststructural conceptualizations of subject, discourse, knowledge and power, as well as (2) postcolonial theories on identity, resistance and change. Such analysis foregrounds the hybrid character of foreign language teachers´ identity constructions (both those made by them and those made for them), especially as far as the engagement with the foreign linguadculture and the interpolation of their native linguadculture are concerned. Keywords: English as foreign language; poststructuralism; postcolonialism. ...esse grandioso papel organizador da palavra estrangeira — palavra que transporta consigo forças e estruturas estrangeiras e que algumas vezes é encontrada por um jovem povo conquistador no território invadido de uma cultura antiga e poderosa (cultura que, então, escraviza, por assim dizer, do seu 1 UFPR.

Desvincular o inglês do imperialismo

Embed Size (px)

Citation preview

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    278!

    %

    DESdVINCULAR%O%INGLS%DO%IMPERIALISMO:%HIBRIDISMO%E%AGNCIA%NO%

    INGLS%COMO%LNGUA%INTERNACIONAL%

    DEPLINKING%ENGLISH%FROM%IMPERIALISM:%HIBRIDITY%AND%AGENCY%IN%

    ENGLISH%AS%AN%INTERNATIONAL%LANGUAGE%

    !

    Clarissa%Menezes%Jordo1%

    %RESUMO:%Este%texto%aborda%algumas%das%representaes%sociais%sobre%a%lngua%inglesa%como%lngua%de% comunicao% entre% usurios% com% diferentes% lnguas% maternas,% examinando% possveis% impactos%destas%representaes%no%trabalho%com%Ingls%em%sala%de%aula.%O%embasamento%terico%que%orienta%a%anlise%apresentada%fundamentadse%em%(1)%concepes%psdestruturalistas%de%sujeito,%discurso,%saber%e%poder,%assim%como%em%(2)%teorias%psdcoloniais%sobre%identidade,%resistncia%e%mudana.%A%anlise%apresentada% ressalta% o% carter% hbrido% das% construes% identitrias% dos% professores% de% lnguas%estrangeiras%(tanto%aquelas%construdas%por%eles%quanto%as%construdas%para%eles),%especialmente%no%engajamento% de% tais% construes% com% as% lnguas/culturas% estrangeiras% e% na% interpolao% de% suas%lnguas/culturas%nativas.%Palavrasdchave:%ingls%como%lngua%estrangeira;%psdestruturalismo;%psdcolonialismo.%%ABSTRACT:%This%article%discusses%some%of%the%social%representations%about%the%English%language%as%the%means%of%communication%for%users%of%various%first%languages,%examining%some%of%the%implications%of% these% representations% for% Brazilian% teachers% of% English.% The% theoretical% underpinnings% of% the%analysis% presented% here% are% based% on% (1)% poststructural% conceptualizations% of% subject,% discourse,%knowledge%and%power,%as%well%as%(2)%postcolonial%theories%on%identity,%resistance%and%change.%Such%analysis%foregrounds%the%hybrid%character%of%foreign%language%teachers%identity%constructions%(both%those%made%by%them%and%those%made%for%them),%especially%as%far%as%the%engagement%with%the%foreign%linguadculture%and%the%interpolation%of%their%native%linguadculture%are%concerned.%Keywords:%English%as%foreign%language;%poststructuralism;%postcolonialism.%%

    ...esse%grandioso%papel%organizador%da%palavra%estrangeira%%palavra%que%transporta%consigo%foras%e%estruturas%estrangeiras%e%que%algumas%vezes%%

    encontrada%por%um%jovem%povo%conquistador%no%territrio%invadido%de%uma%cultura%antiga%e%poderosa%(cultura%que,%ento,%escraviza,%por%assim%dizer,%do%seu%

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1%UFPR.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    279!

    tmulo,%a%conscincia%ideolgica%do%povo%invasor)%%fez%com%que,%na%conscincia%histrica%dos%povos,%a%palavra%estrangeira%se%fundisse%a%ideia%de%poder,%de%fora,%de%santidade,%de%verdade,%e%obrigou%a%reflexo%lingustica%a%voltardse%de%maneira%

    privilegiada%para%seu%estudo%%(BAKHTIN/VOLOSHINOV,%2004,%p.101).%

    %

    %

    1.%CONTEXTUALIZAO%%

    Em% outro% artigo2% afirmei% que% o% perodo% colonial% supostamente% j% acabou:% a%

    maioria%das%exdcolnias%europeias% so%agora%naes% independentes.%Afirmei% tambm%

    que,% mesmo% assim,% os% imprios% continuam% a% nos% assombrar,% exercendo% forte%

    influncia% no% apenas% nas% naes% antes% dominadas% por% eles% poltica,% econmica% e%

    culturalmente,%mas% no% planeta% como% um% todo.% Embora% o% colonialismo%per% se% no% se%

    instaure% ou% revele% nas% sociedades% contemporneas% como% ele% costumava% fazer% nas%

    sociedades% coloniais,% existe% outra% forma% de% colonialismo% no%mundo% hoje,% exercendo%

    uma% dominao% nem% sempre% fcil% de% ser% identificada.% As% naes% conhecidas% como%

    adiantadas%(ALTBACH,%1971)%%hoje%chamadas%de%Norte%Global,%desenvolvidas,%

    naes% de% primeiro%mundo% ou%mesmo% genericamente% Europa%%ainda% tm% forte%

    influncia% sobre% outras% naes,% especialmente% em% termos% do% que% conta% como%

    conhecimento/desenvolvimento,% cultura%e% educao.%Nossos%modos% contemporneos%

    ocidentais%de%saber,%de%produzir%e%distribuir%conhecimento,%cincia,%produtos%culturais,%

    bem% como% nossas% vidas% intelectuais,% por% assim% dizer,% so% diretamente% informadas% e%

    influenciadas% pelas% formas% de% construir% o%mundo% de% nossos% antigos% colonizadores%

    (MIGNOLO,%2000).%

    Uma% destas% formas% est% na% construo% do% ensinodaprendizagem% de% lnguas%

    estrangeiras% a% partir% da% instaurao% de% uma% distino% entre% falantes% nativos% e% nod

    nativos%como%construto%central%nas%teorias%de%aquisio%de%lnguas.%Tal%distino,%com%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    280!

    origem%no%perodo%colonial,%foi%reforada%no%incio%da%abordagem%comunicativa%dentro%

    da% rea% de% ensinodaprendizagem% de% lnguas% (JORDO,% 2013),% e% ainda% informa% as%

    identidades% de% professores% de% ingls% e% influencia,% portanto,% as% maneiras% como% tais%

    professores% se% veem% e% so% vistos% por% suas% comunidades.% O% ensino% de% uma% lngua%

    estrangeira%(LE),%mesmo%quando%explicitamente%visando%a%comunicao%internacional%

    (entre% usurios% nodnativos% do% ingls,% por% exemplo),% costuma% posicionar% os% nod

    nativos% localmente% envolvidos% no% processo% de% ensinodaprendizagem% numa% relao%

    subalterna% perante% a% autoridade% atribuda% aos% nativos% em% relao% ao% que% se%

    considera%sua%prpria%lngua3.%

    Em%funo%disso%existem%tentativas%de%construir%novos%modelos%que%distinguem%

    entre% ingls% como% lngua% estrangeira% e% ingls% como% lngua% internacional% (DEWEY,%

    2007;%GRADDOL,%1997;%RAJAGOPALAN,%2005;%PRODROMOU,%2006;%GIMENEZ%ET%AL,%

    2010).%Muitos% pesquisadores% insistem% em% que% se% usem% novos% termos% para% destacar%

    funes% mais% recentes% da% lngua% inglesa% na% cena% global,% termos% como% Ingls% como%

    Lngua%Franca% (SEIDLHOFER,%2001;% JENKINS,%2006,%CANAGARAJAH,%2006),%ou% Ingls%

    como%Lngua% Internacional% (MCKAY,%2003;%SIQUEIRA,%2011),%ou%World%English(es)%%

    Ingleses% Mundiais% (RAJAGOPALAN,% 2003)4.% Entretanto,% as% conotaes% ligadas% a% cada%

    termo%variam%grandemente%entre%os%pesquisadores,%e%lngua%estrangeira%ainda%parece%

    ser%o%termo%que%primeiro%nos%ocorre%ao%pensar%no%ensinodaprendizagem%de%ingls%no%

    Brasil.% Portanto,% ILE% (Ingls% como% Lngua% Estrangeira)% pode% ser% usado% como% uma%

    espcie%de%termo%guardadchuva%que%abarca%tanto%os%pressupostos%envolvidos%no%uso%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!2%JORDO,%Clarissa%M.%A%Postcolonial%Framework%for%Brazilian%EFL%Teachers%Social%Identities.%Revista%Matices,%Universidad%Nacional%de%Colombia,%v.%2,%2008.%O%presente%texto%retoma%vrios%aspectos%do%texto%publicado%anteriormente,%revisando%e%atualizando%a%argumentao.%3%Utilizo%aspas%nesses%termos%para%ressaltar%que%eles%tm%sido%amplamente%questionados%por%muitos%pesquisadores% na% lingustica% aplicada.% Alguns% destes% pesquisadores% so% Halliday,% (2005);% Holiday%(2005);% Llurda% (2004);% Kumaravadivelu% (2003);% Davies% (2003);% Phillipson% (1992);% Rajagopalan%(2003,%2005,%2010).%4% Para% possveis% distines% entre% os% termos% lngua% franca,% lngua% internacional,% lngua% global,% ver%JORDO% (2013)% no% prelo.% No% presente% texto% os% termos% so% tomados% como% sinnimos,% ignorando%estratgica%e%intencionalmente%as%diferentes%implicaes%de%cada%um%deles.%%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    281!

    tradicional% de% ILE% quanto% o% que% se% tem%mais% recentemente% chamado% de% ILF% (ingls%

    como% lngua% franca)% ou% ILI% (ingls% como% lngua% internacional),% sendo% que% os% dois%

    ltimos% termos% (e% seus% correlatos)% relacionamdse% a% uma% necessidade% explcita% de%

    descolonializao% ou% desdligamento,% como% veremos% adiante.% Neste% texto,% entendo% e%

    utilizo%o%termo%ILE%como%englobando%necessariamente%as%questes%voltadas%ao%uso%do%

    ingls%como%lngua%internacional.%

    ILE%virou%uma%commodity%reservada%s%classes%mdias%e%altas%(JORDO,%2004a).%

    O%ingls%%comprado%e%vendido%como%mercadoria,%com%base%na%crena%generalizada%de%

    que%o%domnio%desta% lngua%traz%s%pessoas%(inclusive%s%das%classes,%raas%e%culturas%

    menos%privilegiadas)%possibilidades%de%melhoria%na%estratificao%social%(MAY,%2001).%

    Outra% crena% comum% partilhada% por%muitos% pesquisadores% % aquela% que% equaciona%

    letramento% com% racionalidade% e% habilidade% intelectual5% (NORTON,% 2007,% p.% 9)% e%

    posiciona% a% lngua% inglesa% como% a% lngua% internacional% da% cincia,% da% mdia% e% da%

    tecnologia.%Segundo%Norton% (2007,%p.%9),%desta%dupla%crena%decorre%a%possibilidade,%

    ainda% mais% complicada,% de% que% as% pessoas% letradas% em% ingls% [possam% ser%

    consideradas]% como%mais% racionais% e%mais% intelectualmente% capazes% do% que% aquelas%

    que%no%sabem%ingls6.%

    O% ensinodaprendizagem% de% ILE% no% Brasil% tem% sido% historicamente% uma%

    reproduo% dos% ditos% modelos% internacionais% de% aprendizagem% de% lnguas% % a%

    maioria% desenvolvida% no% Norte% Global% ou,% em% outras% palavras,% na% Inglaterra% e% nos%

    Estados%Unidos.%A% formao%de%professores%de% ILE% tem%seguido%os%mesmos%modelos,%

    normalmente% tendo% como% objetivo% final% desenvolver% conhecimento%para%a% prtica,%

    raramente%preocupados%com%o%conhecimento%da%prtica%(COCHRANdSMITH;%LYTLE,%

    1999).%Alunos%e%professores7%de%ILE%no%Brasil%tm%oferecido%resistncia%a%tais%modelos,%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!5%equates%literacy%with%rationality%and%intellectual%ability%Traduo%nossa.%%6%people%literate%in%English%[could%be%considered]%as%more%rational%and%intellectually%able%than%those%who%are%not%Traduo%nossa.%7%Usarei%aqui%o%generalizador%masculino,%por%uma%questo%de%economia%e%clareza,%embora%reconhea%com% isso% estar%me% submetendo% a% (e% reforando% para% o% leitor)% o% carter% discriminatrio% da% lngua%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    282!

    fazendo% dos% desejos% e% pressupostos% importados% e% projetados% por% modelos%

    estrangeiros% ao% ensinodaprendizagem% de% ILE% neste% pas% tornaremdse,% por% um% lado,%

    experincias%de%fracasso%e%impotncia%(ouvedse%comumente%de%alunos%e%professores%de%

    ingls% afirmaes% como% no%queremos% aprender,% nem%devemos% estudar% a% lngua%do%

    imperialismo,% no% se% aprende% ingls% na% escola% pblica%mesmo),% e% por% outro% lado,%

    experincias% de% sucesso% tingidas% com% pedidos% velados% de% desculpas% (visveis% em%

    comentrios% como% aprendi% ingls,% apesar% da% m% qualidade% do% ensino,% ou% tive% o%

    privilgio%de%aprender,%nem%todos%tm%a%mesma%sorte%8).%

    Embora% os% professores% de% ILE% invarivel% e% insistentemente% apontem,% sempre%

    que% podem,% as% mesmas% restries% que% afligem% seu% trabalho% h% anos% (como% a%

    desvalorizao%da%profisso,%os%baixssimos%salrios,%as%condies%precrias%no%diadad

    dia%das%escolas,%a%m%formao%inicial%e%continuada%que%recebem,%etc.),%nada%parece%ter%

    causado%tanta%comoo%nacional%na%categoria%quanto%a%oferta%obrigatria%do%espanhol%

    como%LE%nas%escolas%pblicas%nos%idos%de%2004.%Talvez%isso%seja%uma%evidncia%do%quo%

    poltica%%a%educao,%do%quanto%a%escolha%da%LE%a%ser%ensinadadaprendida%no%Brasil,%

    pas%com%tanta%diversidade,%seja%uma%questo%que%precisa%ser%debatida%com%a%opinio%

    pblica.%As%associaes%de%professores%costumam%se%manifestar%pouco,%e%somente%em%

    reao% a% propostas% de% polticos% mal% informados,% assim% como% as% autoridades% em%

    lingustica,%os%pesquisadores%universitrios,%tambm%pouco%se%manifestam%e,%quando%o%

    fazem,% % via% de% regra% em% resposta% a% um% movimento% iniciado% por% outrem:% temos%

    dificuldade%de%propor%aes%a%partir%das%bases,%de%construir%planejamentos%lingusticos%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!portuguesa.% Acredito% que% o% uso% do% gnero% masculino% permite% s% mulheres% que% se% identifiquem%constantemente% com% seu% lado% feminino,% cerceando% os% homens% de% uma% oportunidade% para%identificaremdse% com% seu% lado% feminino.%O% uso% do% feminino% como% generalizador,% entretanto,% ainda%causa%estranheza%e%desviaria%a%ateno%para%questes%importantes,%mas%no%diretamente%tratadas%no%texto.%8%Tais%afirmaes%foram%realmente%produzidas%por%professores%de%ILE%em%escolas%pblicas%brasileiras%e%coletadas%durante%meu%trabalho%como%consultora%da%Secretaria%de%Educao%do%Estado%do%Paran%em%2004%e%2005.%Os%oito%anos%que%se%passaram%parecem%no%ter%modificado%esta%realidade:%continuo%ouvindo% tais% argumentos% no% trabalho% desenvolvido% mais% recentemente% tanto% junto% ao% Ncleo% de%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    283!

    ns%mesmos,%de%apresentar%projetos%de%polticas%pblicas%para%o%ensino%de%lnguas%no%

    pas,%de%tomar%a%iniciativa,%enfim.%Enquanto%no%conseguimos%nos%organizar,%as%aes%

    dos%governos%parecem%ser%construdas%de%cima%para%baixo,%normalmente%ignorando%as%

    universidades,% os% professores,% as% associaes% profissionais,% que% por% sua% vez% no%

    conseguem%lidar%com%suas%diferenas%para%unirdse%em%torno%de%propostas%comuns.%

    Em%termos%gerais,%%neste%e%para%este%contexto%que%se%voltam%minhas%reflexes,%

    contexto% para% o% qual% as% teorias% psdcoloniais% tm% muito% a% dizer.% Ao% considerar% as%

    formas% das% relaes% neodcoloniais% na% contemporaneidade,% o% escopo% das% teorias% psd

    coloniais% tem% se% alargado% desde% que% a% academia% primeiramente% considerou% com%

    seriedade%questes%de%dominao%cultural%nas%colnias%e%exdcolnias.%De%acordo%com%

    Ashcroft,%Griffiths,%e%Tiffin%(2006,%p.%2),%o%tecido%complexo%do%campo9%da%teoria%psd

    colonial%envolve%a%discusso%da%experincia% [colonial]%em%vrios% formatos:%migrao,%

    escravido,% supresso,% resistncia,% representao,% diferena,% raa,% gnero,% lugar,% e%

    respostas% aos% influenciadores% discursos%mestres% da% Europa% imperial,% como% histria,%

    filosofia%e% lingustica,% e%as%experincias% fundamentais%de% falar%e%escrever%atravs%das%

    quais%tais%discursos%vm%a%ser10.%

    Se% tomarmos% esse% como% escopo% da% teoria% psdcolonial,% veremos% que% a%

    educao/formao%de%professores,%e%mais%especificamente%de%professores%de%ILE%no%

    Brasil% enquadradse% bem% neste% tecido,% pelo% menos% em% relao% aos% aspectos%

    apresentados%no%desenvolvimento%deste%texto.%%

    %

    %2.%HIBRIDISMO%PSdCOLONIAL:%RESISTNCIA%E%AGNCIA%EM%ILE%%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Assessoria%Pedaggica%da%UFPR%quanto%no%PIBIDdUFPR,%aes%que%me%colocam%em%contato%constante%com%os%professores%de%ingls%da%educao%bsica.%9%complex%fabric%of%the%field%Traduo%nossa.%10%involves%discussion%about%experience%of%various%kinds:%migration,%slavery,%suppression,%resistance,%representation,%difference,%race,%gender,%place,%and%responses%to%the%influential%master%discourses%of%imperial% Europe% such% as% history,% philosophy% and% linguistics,% and% the% fundamental% experiences% of%speaking%and%writing%by%which%all%these%come%into%being%Traduo%nossa.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    284!

    Para% relacionar% a% noo% de% hibridismo% da% teoria% psdcolonial% com% estudos% em%

    lingustica% aplicada% % importante% compreender% como% a% diferena% % concebida% neste%

    referencial.% Mais% do% que% um% trao% biolgico% herdado% (como% raa)% ou% um% aspecto%

    cultural% conferido% pelo% local% de% nascimento% (como% nacionalidade),% diferena% %

    entendida% como% um% processo% de% representaes/definies% simblicas% construdo%

    discursivamente,%num%movimento%constante%de% identificaes%e%desdidentificaes.%O%

    sujeito,% portanto,% % construdo% como% sendo% discursivo% tambm:% % fragmentado,%

    contraditrio,% contingente,% fixado% apenas% provisoriamente.% % um% sujeito% falante% e%

    falado,% determinado% pelo% discurso% e% ao%mesmo% tempo% dele% determinante.% Embora% o%

    processo% de% diferena% (que% tambm% pode% ser% entendido% como% um% processo% de%

    construo% de% sentidos,% e% neste% caso% chamado% de% meaningPmaking)% no% possa% ser%

    controlado% de% forma% absoluta% pelo% sujeito,% o% sujeito% pode% resistir% a% este% processo% e%

    pode%agir%sobre%ele,%especialmente%nos%momentos%em%que%o%deslizamento%dos%sentidos%

    se% torna%aparente.%O%pressuposto%aqui%%de%que%os%sentidos,%assim%como%a%diferena,%

    tambm%existem%em%fluxo%constante,%movendodse%de%um%momento%a%outro%de%fixidez%

    provisria,% nunca% se% fixando% definitivamente% e% deste% modo% existindo% em% diffrance%

    (DERRIDA,% 1978),% ou% seja,% estabelecido% apenas% em% um% momento% transitrio,% numa%

    relao% de% diferena% com% outros% sentidos% possveis% e% de% adiamento% do% desejo% de%

    completude% que% tenta% fixar% os% sentidos.% Tal% movimento% implica% em% haver% sempre%

    espaos%de%entremeio,%onde%os%sentidos%so%fabricados%criativamente%para%em%seguida%

    serem% novamente% fixados% de% forma% provisria.% % justamente% nestes% espaos%

    rizomticos% de% intermezzo% (DELEUZE;% GUATTARI,% 2009;% FOGAA;% JORDO,% 2012),%

    chamados%de% terceiro%espao%por%Bhabha%(1994,%1985),%que%a%resistncia%e%a%agncia%

    acontecem.%%

    Assim,%a%interveno%no%processo%de%construo%de%sentidos%(ou%a%agncia%sobre%

    ele)%no%%necessariamente%informada%por%um%outro%sistema%de%representao%que%se%

    oponha% radicalmente% ao% primeiro,% ou% que% venha% a% substituidlo,% mas% sim% % uma%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    285!

    consequncia% do% posicionamento% do% sujeito% num% espao% fronteirio,% num% terceiro%

    espao% que% no% % nem% aquele% ocupado% pelo% colonizador% (pelo% pensamento%

    hegemnico%ou%dominante,%por%exemplo),%nem%pelo%colonizado%%%um%espao%hbrido%

    no%qual%as%narrativas%totalizantes,%caractersticas%do%que%Bakhtin%chamou%de%discurso%

    autoritrio% (que% se% julga% monolgico),% so% desafiadas% e% a% suposta% estabilidade% dos%

    sentidos%se%rompe,%um%espao%no%qual%o%carter%conflitante%de%nossas%representaes%%

    percebido.% Homi% Bhabha% se% refere% a% este% espao% como% uma% quebra% temporal% na%

    representao11% (BHABHA,% 1994,% p.191)% onde% a% ambivalncia% do% discurso% de%

    autoridade%%revelada%e%a%subverso%se%torna%possvel:%%

    %Se%o%efeito%do%poder%colonial%%visto%como%um%produto%da%hibridizao,%ao%invs%de%ser%visto%como%o%comando%ruidoso%da%autoridade%colonial%ou%como%a%represso%silenciosa% das% tradies% nativas,% ento% acontece% uma% mudana% importante% de%perspectiva.%Ela%revela%a%ambivalncia%na%origem%dos%discursos%tradicionais%sobre%a%autoridade,%e%possibilita%uma%forma%de%subverso,%fundada%nesta%incerteza,%que%transforma%as%condies%discursivas%da%dominao%em%bases%para%a% interveno12%(BHABHA,%1985,%p.%144,%grifo%nosso).%%

    %

    De% acordo% com% Costa% (2006),% para% Bhabha% a% possibilidade% de% agncia% e%

    resistncia% est% na% multiplicidade% da% diferena,% nas% possibilidades% de% construir%

    diferentes% formas% de% saber% no% hibridismo.% Esses% espaos% (e% sujeitos)% hbridos,% que%

    resultam%dos%deslocamentos%de%sentido,%podem%resistir%aos%discursos%totalizadores%e%

    criar% possibilidades% para% a% articulao% de% novos% sentidos.% Segundo% Costa% (2006,% p.%

    126),% o% deslocamento% do% signo% tem% o% potencial% de% hibridizar% modos% de% saber% e%

    construir% sentidos/saberes,% introduzindo% a% incerteza,% a% ambivalncia,% o% rudo% e% a%

    dvida%naquilo%que%parecia%coerente,%puro,%preciso,%ordenado.%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!11%temporal%break%in%representation%Traduo%nossa.%12%If%the%effect%of%colonial%power%is%seen%to%be%the%production%of%hybridization%rather%than%the%noisy%command% of% colonialist% authority% or% the% silent% repression% of% native% traditions,% then% an% important%change%of%perspective%occurs.% It% reveals% the%ambivalence%at% the%source%of% traditional%discourses%on%authority%and%enables%a% form%of% subversion,% founded%on% that%uncertainty,% that% turns% the%discursive%conditions%of%dominance%into%the%grounds%of%intervention%Traduo%nossa.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    286!

    Portanto,% a% resistncia% discursiva% no% se% d% de% forma% prdestabelecida,%

    registrada% num% plano% de% ao% explicitamente% delineado:% ela% % efeito% de% uma%

    ambivalncia% produzida% dentro% das% regras% de% reconhecimento% de% discursos% de%

    dominao% conforme% eles% articulam% signos% de% diferena% cultural% e% os% redimplicam%

    dentro% das% relaes% deferenciais% do% poder% colonial% % hierarquia,% normalizao,%

    marginalizao,%e%assim%por%diante13% (BHABHA,%1985,%p.%41).%A%agncia% (da%qual% faz%

    parte%a%resistncia)%se%d%no%mesmo%esquema:%ela%%a%interpolao%discursiva,%em%meio%

    a% relaes% de% poder,% de% formas% diferentes% de% representao% (de% si% e% dos% outros,% de%

    saberes% e% modos% de% saber)% e% sua% transformao.% Mais% ampla% do% que% a% especfica% e%

    necessariamente% observvel% ao,% a% agncia% no% pressupe% um% plano% organizado% e%

    prdconcebido%para%se%atingir%fins%prddeterminados:%agncia%referedse,%na%teoria%psd

    colonial%de%Bhabha,% a%uma%prtica%que%acontece%no%processo%discursivo%de%meaningP

    making,% na% produo% de% discursos% que% constroem,% definem% e% categorizam,%

    hierarquizando,%pessoas,%ideias,%conhecimentos%e%formas%de%conhecer.%

    %

    3.%LETRAMENTO%E%ILE:%FUNDAMENTAL%SER%CRTICO%%

    Crena% amplamente% difundida:% o% ensinodaprendizagem% de% ILE% nas% escolas%

    pblicas% do% Brasil% no% tem% sido% bem% sucedido.% Embora% a%maioria% dos% alunos% tenha%

    aulas%de%ingls%a%partir%pelo%menos%do%quinto%ano%do%ensino%fundamental,%continua%a%

    crena,%eles%no%esto%aprendendo%(CELANI,%2003).%De%acordo%com%pesquisas%recentes%

    (LIMA,%2011;%LIMA;%SALES,%2007;%CAMPANI,%2006)%e%com%a%impresso%generalizada%na%

    sociedade%brasileira,%os%alunos%no%sabem%falar%nem%ler%nem%escrever%em%ingls,%no%

    conseguem% acompanhar% filmes% ou% programas% de% TV% em% ingls,% no% sabem% traduzir%

    nada,%no%so%capazes%nem%de%atender%ao%telefone%em%ingls.%As%razes%apontadas%para%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!13%the%effect%of%an%ambivalence%produced%within%the%rules%of%recognition%of%domination%discourses%as%they%articulate%the%signs%of%cultural%difference%and%reimplicate%them%within%the%deferential%relations%of%colonial%power%d%hierarchy,%normalization,%marginalization,%and%so%forth.%Traduo%nossa.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    287!

    tal% desastre% vo% desde% recursos% humanos%mal% formados% (professores% de% ingls% no%

    falam% ingls,% no% sabem% dar% aulas,% so% incompetentes)% at% problemas% de% infrad

    estrutura% nas% escolas% (salas% superlotadas,% inadequadas,% barulhentas,% sem% recursos%

    didticos)% e% questes% financeiras% (o% governo% no% investe% o% suficiente,% as% famlias% e%

    comunidades%no%se%envolvem%com%as%escolas,%os%salrios%dos%professores%so%muito%

    baixos)14.%

    A% comparao% entre% o% ensino% de% ingls% nas% escolas% pblicas% e% nos% institutos%

    particulares%de%idiomas%parece%acentuar%ainda%mais%o%baixssimo%desempenho%ou%o%

    dficit% das% escolas% pblicas,% aparentemente% mostrando% evidncias% de% que% aprender%

    ingls%%possvel,%uma%vez%garantidas%alguns%elementos%mnimos%s%escolas,%alunos%e%

    professores.% Tais% condies% so% idealizadas% por% alunos% e% professores% das% escolas%

    pblicas,% que% acreditam% que% seus% papis% e% posies% na% sociedade% s% podero% ser%

    realizados%se%a%eles%forem%garantidas%as%mesmas%condies%mnimas%de%infraestrutura%

    que%tm%os%institutos%particulares:%poucos%alunos%por%turma,%salas%ambiente%(onde%se%

    respira%ingls%por%todos%os%lados,%desde%psteres%nas%paredes%at%quadros%brancos%e%

    marcadores%ao% invs%de%giz),% treinamento%e%atualizao%constantes%nas% tcnicas%mais%

    modernas%de%ensino%(ou%seja,%aquelas%estratgias%desenvolvidas%em%pases%nativos%e%

    importadas% por% ns),% e% alunos% classificados% e% separados% em% nveis% conforme% seus%

    conhecimentos%prvios%de%ingls%(BRASIL,%2006,%p.%88d90).%Entretanto,%tais%condies%

    esto%muito%longe%da%realidade%das%escolas%pblicas,%e%o%efeito%do%desejo%frustrado%de%

    emular%os%contextos%dos%institutos%de%idiomas%tem%sido%devastador:%baixa%autoestima,%

    sensao% de% incapacidade,% inferioridade,% conformismo% e% passividade% em% alunos% e%

    professores,%apenas%para%dar%alguns%exemplos.%%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!14%Tais%problemas%tm%sido%mencionados%%exausto%na%literatura%sobre%formao%de%professores%e%em% documentos% oficiais% produzidos% pelo% prprio% governo% na% rea% de% ensinodaprendizagem%de% LE,%como,%por%exemplo,%no%Relatrio%do%Segundo%Seminrio%para%as%Diretrizes%Curriculares%Estaduais%do%Paran%para%o%Ensino%Fundamental%%Lngua%Estrangeira,%produzido%pela%Secretaria%de%Estado%da%Educao%do%Paran%em%2004;%ver%tambm%Bellotto,%2002,%Gasparini,%2005%e%Barcelos,%2006.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    288!

    Contudo,% tal% frustrao% s% tem% lugar% quando% a% eficincia% do% ensinod

    aprendizagem%de% ingls%% informada%por%objetivos%exclusivamente% lingusticos% (em%

    oposio% a% discursivos),% que% buscam% indicadores% de% aprendizagem% no% repetio%

    mecnica% de% estruturas% lingusticas% (regras% gramaticais% e% vocabulrio).% Esta% viso%

    restringe% a% importncia% da% aprendizagem% de% uma% LE% % instrumentalizao,%

    desconsiderando%outros%benefcios%do%contato%com%uma%LE%alm%do%uso%mecanizado%

    de% frmulas% verbais,% como% por% exemplo,% a% ampliao% das% possibilidades% de%

    participao% em% comunidades% interpretativas% diversas;% a% conscincia% sobre% como%

    lnguas% podem% ser% culturalmente% (assim% como% estruturalmente)% diferentes% e%

    possibilitar%diferentes%modos%de%comunicao%e%interao%entre%as%pessoas,%diferentes%

    modos%de%entender%e%fazer%sentido%do%mundo;%a%percepo%e%experimentao%com%os%

    papis% que% diferentes% lnguas% desempenham% em% diferentes% sociedades% (BRASIL,%

    2006);% o% potencial% que% uma% LE% tem% para% transformar% nossas% formas% de% saber% e%

    conhecer,%e%para%transformar%nossos%modos%de%nos%relacionarmos%com%conhecimentos%

    diferentes%e%nossas%formas%de%construir%nossas%identidades%e%as%dos%outros%(JORDO,%

    2006).%

    O%silenciamento%destes%benefcios%mais%amplos%e%menos%mensurveis%que%uma%

    sociedade%pode%ter%com%o%aprendizado%de%um%LE,%ao%lado%da%projeo%dos%objetivos%do%

    ensino% dos% institutos% para% as% escolas% pblicas,% confere% aos% institutos% privados% uma%

    aura% de% sucesso% e% s% escolas% pblicas% a% posio% de% fracasso% causado% por% um% dficit%

    aparentemente%irreparvel%sem%enormes%investimentos%financeiros%e%vontade%poltica,%

    ou% seja,% um% dficit% que% no% est% ao% alcance% dos% indivduos% (alunos,% professores,%

    diretores,% pais,% etc)% superar.% Em% outras% palavras,% os% institutos% particulares,% que%

    costumam%ter%o%foco%do%ensino%em%usos%instrumentais%de%uma%LE,%consideramdse%bem%

    sucedidos;% as% escolas% pblicas,% vivendo% pelo% desejo% de% atingir% os% mesmos% fins%

    instrumentais% dos% institutos,% mas% dentro% de% uma% estrutura% fsica% e% humana%

    completamente% diferente% da% deles,% consideramdse% fracassos% completos% no% ensino% de%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    289!

    LE%(BRASIL,%2006;%LIMA;%SOARES,%2007;%LIMA,%2011).%A%percepo%crescente%de%que%a%

    lacuna% entre% os% setores% educacionais% pblico% e% privado% no% Brasil% pode% no% ser% to%

    abismal%quanto%tem%parecido,%uma%vez%que%alunos%da%rede%privada%tambm%parecem%

    no% aprender% ingls% to%bem%assim15% e% que%professores%do% setor%particular%parecem%

    menos%motivados%e%valorizados%do%que%se%costuma%alardear,%tem%ajudado%a%aproximar%

    os%dois%setores%em%sua%dificuldade%em%promover%o%ensinodaprendizagem%de%LE%no%pas.%%

    Ainda%assim,%tal%percepo%aponta%para%uma%dupla%falha:%os%alunos%parecem%no%

    aprender% na% escola% (e% podedse% facilmente% ampliar% o% escopo% desta% constatao% para%

    incluir%outras%disciplinas%alm%das%LE),%quer%esteja%ela%em%um%ou%outro%setor.%Se%isso%

    for%verdade,%ento%aos%educadores%parece%haver%duas%alternativas:%desistir%da%escola%

    como% um% todo,% procurando% novas% formas% de% ensinar% e% aprender% em% outros% espaos%

    (comunidades%de%prtica,%internet,%famlia,%redes%sociais),%ou%conformardse%a%ensinar%o%

    mnimo%como%o%menor%dos%males%(GEE,%2004),%na%esperana%de%que%pelo%menos%uma%

    quantidade% mnima% de% informao% possa% entrar% na% cabea% dos% alunos% durante% sua%

    escolarizao.%Esta%ltima%alternativa,%evidentemente,%refora%justamente%o%que%Freire%

    chamou% de% educao% bancria% (FREIRE,% 1996):% em% tempos% de% crise,% depositadse% o%

    mnimo%e%esperadse%um%retorno%mnimo%pelo%investimento.%

    Bem,%chegamos%na%metade%do%texto.%Se%nesta%altura%da%argumentao%voc%est%

    absolutamente%deprimido,%deixedme%tentar%animdlo%um%pouco.%Se%voc%est%furioso%e%

    discorda%em%gnero,%nmero%e%grau%do%que%foi%apresentado%como%situao%do%ensino%

    de%LE%no%Brasil,%permitadme%tentar%acalmdlo.%De%qualquer%maneira,%agradeo%por%ter%

    continuado%a%leitura%at%aqui%e%peo%que%persista%mais%um%pouco.%

    A% viso% que% chamei% acima% de% dupla% falha% no% % a% nica% perspectiva% sobre% o%

    processo%educacional%a%nossa%disposio.%Existe%pelo%menos%uma%terceira%alternativa%

    s% duas% descritas% no% antepenltimo% pargrafo.% Essa% terceira% alternativa% apresenta% a%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!15%Ver,% por% exemplo,% o% resultado%da%pesquisa% realizada%pelo% instituto%Global%English,% publicado%em%reportagem%da%Folha%de%So%Paulo%em%24%abr.%2013.%Disponvel%em%%Acesso%em%set.%2013.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    290!

    possibilidade% de% caracterizardse% num% terceiro% espao% que% torna% possveis% a%

    resistncia% e% agncia.% E% talvez% este% espao% possa% ser% construdo% a% partir% de% uma%

    abordagem% mais% crtica% % educao,% baseada% na% perspectiva% foucaultiana% de% que,%

    juntamente%com%os%usos%opressivos%do%poder,%as%relaes%de%poder%nas%sociedades%so%

    potencialmente%positivas,%produzem%conhecimento%ao%estabelecer%ou%modificar%certas%

    relaes% entre% diferentes% formas% de% saberdpoder% e% os% conhecimentos% que% elas%

    constroem%(FOUCAULT,%2006).%%

    A% escola% pode% assim% ter% como% objetivo%maior% oportunizar% aos% sujeitos,% em% especial%

    alunos% e% professores,% uma% agncia% sobre% as% prticas% discursivas% (e% assim% sociais% e%

    polticas),% examinando% seus% pressupostos,% ou% seja,% os% quadros% de% referncia% que% as%

    tornam%possveis,%e%suas%implicaes%nas%vidas%concretas%das%pessoas%dentro%e%fora%da%

    escola%%e%deste%modo,%produzindo%entendimentos%de%como%as%ideologias%e%as%prticas%

    por%elas%informadas%vm%a%existir%e%como%elas%funcionam%na%sociedade,%caracterizando%

    conhecimentos% e% sujeitos,% objetos% e% pessoas.% Tais% entendimentos,% modificados% e%

    localizados,%podem%levar%%manuteno%ou%transformao%destas%prticas,%conforme%os%

    analisamos%nossos%espaos,%nossas%relaes,%nossas%identidades,%nossos%contextos.%%

    %

    4.%PODER%E%AGNCIA%NA%CRITICIDADE%DO%LETRAMENTO%%

    Agncia%e% situacionalidade%assim%entendidas%permitem,%portanto,% a% construo%

    de% um% conceito% de% criticidade% fundamentalmente% diferente% daquele% que% embasa%

    algumas% pedagogias% crticas.% Vou% mencionar% aqui% apenas% uma% das% principais%

    diferenas% entre% as% agora% clssicas% pedagogias% crticas% dos% anos% 80% e% 90% e% a%

    abordagem% que% no% Brasil% chamamos% de% letramento% crtico,% que% tenho% apresentado%

    como%uma%alternativa%vivel%para%tornar%a%escola%mais%significativa%para%a%sociedade16.%

    Na%pedagogia%crtica,%os%educadores%recebem%a%funo%de%ajudar%os%alunos%a%trilharem%!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!16%Para%maior%detalhamento,%ver%Jordo,%2004b;%Jordo,%2013%%no%prelo.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    291!

    o%caminho%de%libertao%que%seus%professores%crticos%trilharam%%o%caminho%da%luta%

    contra% as% injustias% e% a% opresso% atravs% do% uso% da% razo% (entendida% como%

    pensamento% crtico)% e% do% engajamento% com% as% causas% sociais% em% forma% de% ao%

    participativa% (GIROUX,% 1993;% 1997a;% 1997b).% Esse% caminho,% percebido% como% O%

    caminho%para%uma%viso%das%coisas%como%elas%realmente%so%e%para%o%crescimento%do%

    indivduo,% para% a% ao% socialmente% responsvel% e% engajada,% no% % desafiado% pelas%

    pedagogias% crticas% como% sendo% uma% construo% subjetiva,% de% carter% narrativo% e%

    localizado,% realizada% colaborativamente% no%mundo% social.% Esse% caminho% permanece,%

    nas%pedagogias%crticas,%como%A%alternativa%universalmente%vlida%e%efetiva%para%que%

    se% alcance% um% mundo% mais% justo,% independentemente% dos% diferentes% sentidos% que%

    diferentes%sociedades%possam%atribuir%a%categorias%como%justia,%e%apesar%de%tal%ideal%

    muitas% vezes% assujeitar% as% pessoas% a% uma% construo% local% de% subjetividade% que% se%

    projeta%como%universal%(GARCIA,%2002;%JORDO,%2004b).%

    Por% outro% lado,% a% noo% de% poder% que% embasa% a% viso% de% agentividade% do%

    letramento%crtico%est%associada%%ideia%de%que%cada%conhecimento,%cada%saber,%cada%

    ao% e% cada% sujeito% so% sempre% localizados% (BHABHA,% 1994),% ou% seja,% pressupem%

    realidades% culturalmente% construdas% nas% relaes% que% estabelecem% entre% diferentes%

    perspectivas.% Essas% realidades,% entendidas% como% narrativas,% constituemdse% em%

    discursos%e%ao%mesmo%tempo%constituem%os%discursos%que%as%tornam%possveis,%sempre%

    imersos% em% relaes% de% poder% como% entendido% por% Foucault.% A% partir% dessas%

    percepes%sobre%a%natureza%e%o%funcionamento%do%poder%e%da%agncia%relacionadas%ao%

    discurso,% as% perspectivas%psdestruturalistas% trazidas% ao% ensinodaprendizagem%de%LE%

    pelo% letramento% crtico% caracterizamdse% como% alternativas% poderosas% %

    homogeneizao% universalizante% do% pensamento% moderno.% O% letramento% crtico%

    apresentadse% assim% como%uma%perspectiva% que%pondera% sobre% os% diversos% caminhos%

    que% se% podem% tomar% ao% (e% para)% valorizar% diferentes% formas% de% conhecimento% e% de%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    292!

    conhecer,%assim%como%confere%s%pessoas%que%as%(re)produzem%um%papel%fundamental%

    no%processo%de%construo%de%sentidos.%%

    Gosto%de%pensar%no% letramento%crtico%como%uma%viso%educacional%que%reflete%

    sobre% as% diferentes% valoraes% que% produzimos% sobre% a% qualidade% de% aes% e% de%

    valores,% assim% como% sobre% os% sujeitos% destas% aes% e% valores.% Este% processo% de%

    valorao% caracteriza% e% define% objetos% e% sujeitos,% constri% nossa% realidade;% como% tal,%

    facilita%ou%dificulta%a%agncia%das%pessoas%conforme%seja%mais%ou%menos%autoritrio%e%

    monolgico% (BAKHTIN,% 1981).% O% letramento% crtico% entende% que% cada% concepo% de%

    conhecimento% e% de% boa% prtica% est% imersa% em% pressupostos% culturais,% morais,%

    ideolgicos,%cujo%valor%e%importncia%lhe%so%conferidos%por%grupos%sociais%diferentes%

    em% contextos% diferentes.% Dependendo% do% prestgio% e% poder% atribudos% a% uma% certa%

    comunidade,% tambm%seus%valores%(e%os%conhecimentos%e%prticas%adotadas%por%ela),%

    assim%como%seus%procedimentos%interpretativos%tero%mais%ou%menos%legitimidade%aos%

    olhos%das%outras%comunidades%e%at%a%seus%prprios%olhos.%Isso%no%significa%que%tudo%

    seja% vlido% ou% que% as% relaes% de% poder% so% ou% devam% ser% eliminadas% da% equao:%

    significa%sim%que%o%mundo%%visto%em%sua%natureza%discursiva%e,%portanto,%vem%com%o%

    reconhecimento%de%que%os%valores%construdos%pelas%sociedades,%inclusive%aqueles%que%

    nos% so% mais% caros% (como% liberdade% e% democracia,% por% exemplo),% so% tambm%

    construes%locais%projetadas%como%globais%e%construdas%em%relaes%de%poder.%Como%

    tal,% no%podem%ser% impostos% como%se% fossem%verdades%absolutas% e% condies%nicas%

    para% a% salvao,% sob% o% risco% de% negarem% a% si% mesmos% e% estabelecerem% ditaduras%

    culturais.% Precisam% ser% problematizados,% contextualizados% em% suas% narratividades,%

    questionados%em%sua%capacidade%de%informar%nossos%processos%de%meaningPmaking.%

    Se% conseguirmos% contrabandear% tal% perspectiva% em% nossos% sistemas%

    educacionais,% poderemos% ser% capazes% de% ver% alunos% e% professores% construindo,%

    compartilhando%e%manifestando%suas%opinies%e%permitindodse%transformar%no%contato%

    uns% com% os% outros% e% com% a% diferena.% Poderemos,% acredito,% possibilitar% a%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    293!

    transformao% de% si% e% do% outro,% exercer% nossa% agncia% de% maneira% informada% e%

    participativa.%Se%as%transformaes%que%se%fazem%neste%processo%sero%boas%ou%ruins,%

    difcil% prever:% bom%e% ruim% s%podem% ser% definidos% em%perspectiva,% com% referncia% a%

    sistemas% de% valores% e% relaes% de% poder% que% dependem% de% como% grupos% sociais%

    especficos%(no%restritos%a%barreiras%geogrficas,%mas%construdos%na%medida%em%que%

    compartilham%procedimentos%interpretativos)%constroem%seus%mundos%%ao%invs%de%

    serem%caracterizados%pelo% desejo%de%poder% (FOUCAULT,%1980,%2006;%WIELEWICKI,%

    2002)% absoluto% e% arrogante%que% a%possibilidade%de% existncia%de%uma%verdade%nica%

    poderia%conferir%a%alguns%poucos%escolhidos.%

    %

    5.%CONSIDERAES%FINAIS%%

    Uma%anlise%da%educao%baseada%na%contingncia%de%nossa%agncia,%ao%invs%de%

    focada% em% solues% milagrosas% do% tipo% tamanho% nico,% impededme% de% listar%

    procedimentos% locais% e% provisrios,% alternativas% contextuais% disfaradas% de% solues%

    globais.%No%tenho%propostas%bem%definidas%para%resolver%os%problemas%apresentados,%

    como% alguns% leitores% podem% estar% esperando.% Isso% se% deve% %minha% crena% tanto% na%

    natureza% situada% e% contextual% de% cada% alternativa% concebida,% quanto% na% noo%

    freireana%de%prxis%como%uma%prtica%terica%e%uma%teoria%prtica.%

    Para%Freire%(1998,%1999)%existe%uma%interao%profunda%entre%teoria%e%prtica,%a%

    ponto%de%embaralhar%a%distino%entre%elas%e%trazer%%tona%a%noo%de%teoria%como%uma%

    forma% de% prtica.% Palavras% e% agncia.% Assim,% discusses% tericas% e% alternativas%

    apontadas%por%teorias%caracterizamdse%como%prticas%em%si,%e%como%tal%constituemdse%

    em%modos% de% saber% e% construir% realidades.%Outra% implicao%da% prxis% freireana% % a%

    reconceituao%de% agncia% em%discurso,% num%entendimento%de% agncia% como%prtica%

    reflexiva% (no% exclusivamente% racional% % MATURANA,% 2001)% que% desafia%

    constantemente,% com% base% em% diferentes% perspectivas% ideolgicas,% seus% prprios%

    pressupostos% e% as% implicaes% de% suas% prticas,% enfocando% a% transformao% e%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    294!

    reavaliao% constantes% dos% procedimentos% interpretativos,% assim% como% dos%

    conhecimentos%e%sujeitos%que%eles%produzem.%

    Desse% modo,% discutir% e% promover% a% transformao% de% perspectivas,%

    conhecimentos% e% formas% de% saber% (como% textos% acadmicos% tericos% costumam% se%

    propor%a%fazer)%%exercer%a%agncia%e%levar%outros%a%exercdla%tambm.%%oferecer%bases%

    para%outras%prticas%nas%prticas%dos%outros,%e%para%o%desenvolvimento%de%diferentes%

    ordens%de%propostas% (concretas,% tericas,% ticas,% polticas,% estticas,% etc.)% atravs%das%

    quais% outros% sujeitos,% em% outros% contextos,% podem% contingentemente% resolver%

    problemas%de%forma%contextualizada.%

    Portanto,%a% recusa%em%apresentar%aqui%propostas%concretas%como%solues%no%

    deve%ter%como%consequncia%pessimismo%e%passividade.%Pelo%contrrio:%a%consequncia%

    de% no% se% ter% uma% proposta% prdfabricada,% do% tipo% tamanho% nico,% significa% que%

    precisamos% sempre% levar%em%conta%a% situacionalidade%de%nossas%prticas%e% construir%

    novas%prticas%de%forma%colaborativa.%%

    Muitos% pesquisadores% e% educadores,% assim% como% setores% da% sociedade%

    organizada,%mesmo%que%cientes%das%dificuldades%do%sistema%educacional%veem%a%escola%

    com% confiana% e% esperana:% confiana% nos% seres% humanos% que% habitam% o% espao%

    escolar,% e% esperana% de% que% os% espaos% institucionais% na% educao% se% tornem%

    oportunidades%para% resistncia,% agncia% e% transformao%em%colaborao.%Essa%viso%

    de% educao% se% faz% possvel% dentro% da% perspectiva% psdestruturalista% que% enfatiza% a%

    qualidade%discursiva%do%conhecimento,%os%aspectos%narrativos%da%cultura,%a%estrutura%

    capilar%do%poder.%Ao%invs%de%levar%a%uma%atitude%supostamente%passiva%e%conformista,%

    o% entendimento% de% que% o% poder% est% em% todos% os% lugares,% como% algo% produtivo% e%

    destrutivo%ao%mesmo%tempo,%pode%construir%a%viso%de%que%justamente%nos%interstcios%

    do% poder% esto% sempre% a% resistncia% e% a%mudana% (FOUCAULT,% 2006),% que% s% sero%

    efetivas%se%desenvolvidas%de%forma%contextualizada%e%colaborativa.%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    295!

    Como%sujeitos%hbridos,%alunos%e%professores%operam%nas%fissuras%dos%discursos%

    autoritrios,% e% so% capazes% de% transformar% % contingentemente% % estes% mesmos%

    discursos.%Agncia,%na%perspectiva%psdestruturalista,%adquire%tons%diferentes%daqueles%

    das% lutas% revolucionrias% pela% libertao:% agncia% aqui% no% se% baseia% em%

    autodeterminao,%mas%em%diferena%e%conflito,%concebidos%como%condies%positivas%

    para% a% aprendizagem% acontecer.% Agncia% pressupe% abertura% para% o% diferente,%

    percepo%de%contexto%e%formas%de%resistncia,%assim%como%reflexividade%criativa,%uma%

    vez%que%problematiza%suas%prprias%certezas%no%encontro%com%outras%formas%de%saber.%

    Agncia%acontece%em%discursos%que%podem,%ao%mesmo%tempo,%restringir%e%permitir%%

    reforar%e%transformar%%a%construo%de%sentidos%em%prticas%sociais%concretas.%

    No% domnio% educacional,% portanto,% agncia% tem% um% papel% extremamente%

    significativo:%seu%pressuposto%de%que%conhecimentos%diferentes%e%formas%de%saber%no%

    so% inerentemente%boas%ou%ms,% superiores%ou% inferiores,%mas%que%%a%prtica% social%

    que% os% faz% como% as% percebemos,% permite% a% professores% e% alunos% engajaremdse% em%

    dilogos%crticos%com%suas%prprias%formas%de%meaningPmaking.%Tal%dilogo,%dialgico%

    em%sua%natureza%(BAKHTIN,%1981),%uma%vez%que%iniciado%a%partir%de%uma%curiosidade%

    sobre%e%uma%preocupao%com%diferentes%formas%de%saber,%quando%materializado%nas%

    prticas%dirias%dos%sujeitos%em%sala%de%aula,%pode%construir%encontros%com%a%diferena%

    que%desafiam%os%participantes%e%seus%conhecimentos,%que%transformam%suas%formas%de%

    construir%e%atribuir%sentidos%na%constatao%de%que%dependemos%uns%dos%outros%para%

    entender%a%ns%mesmos%e%o%mundo%a%nossa%volta.%

    %

    REFERNCIAS%%ALTBACH,% Philip% G.% Education% and% neodcolonialism.% Teachers% College% Record.% New% York,% Columbia%University,%v.%100,%n.%3,%1971.%%ASHCROFT,% B.;% GRIFFITHS,% G.;% TIFFIN,%H.% General% introduction.% in% ASHCROFT,% B.;% GRIFFITHS,% G.;%TIFFIN,%H.%(Ed.).%The%postPcolonial%studies%reader.%Oxford:%Routledge,%2006.%%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    296!

    BAKHTIN,% Mikhail.% The% dialogic% imagination:% Four% essays% by% M.% M.% Bakhtin.% Austin:% University% of%Texas%Press,%1981.%%%______.%(VOLOSHINOV).%Marxismo%e%Filosofia%da%Linguagem.%So%Paulo:%Hucitec,%2004.%%BARCELOS,%A.%M.%F.%Narrativas,%crenas%e%experincias%de%aprender%ingls.%Linguagem%&%Ensino,%v.%9,%n.%2,%p.%145d175,%julddez,%2006.%%BELLOTTO,%M.%E.%Ensino%de%ingls%para%crianas:%uma%proposta%construtiva.%Dissertao%de%mestrado.%Faculdade%de%Cincias%e%Letras%Assis,%Universidade%Estadual%Paulista,%2002.%%BHABHA,% Homi% K.% Signs% taken% for%wonders:% questions% of% ambivalence% and% authority% under% a% tree%outside%Delhi,%May%1817.%Critical%Inquiry%,%v.%12,%n.%1,%p.%144d165,%1985.%%______.%The%location%of%culture.%London:%Routledge,%1994.%%BRASIL.% Orientaes% curriculares% para% o% ensino% mdio:% Linguagens,% cdigos% e% suas% tecnologias.%Braslia:%Secretaria%de%Educao%Bsica,%Ministrio%da%Educao,%2006.%%CAMPANI,%Daiana.%Reflexes%sobre%Ensino%de%Lnguas%Materna%e%Estrangeira%no%Brasil:%aproximaes,%distanciamentos%e%contradies.%Linguagem%&%Ensino,%v.%9,%n.%2,%p.%201d221,%2006.%%%CANAGARAJAH,%Suresh.%Negotiating%the%local%in%English%as%a%Lingua%Franca.%Annual%Review%of%Applied%Linguistics,%v.%26,%p.%197d218,%2006.%%CELANI,%M.%A.%A.%Professores%e%Formadores%em%Mudana.%Campinas:%Mercado%de%Letras,%2003.%%COCHRANdSMITH,%Marilyn;%LYTLE,%Susan.%Relationships%of%knowledge%and%practice:%Teacher%learning%in%communities.%Review%of%Research%in%Education,%v.%24,%p.%249d301,%1999.%%COSTA,% Srgio.% Desprovincializando% a% sociologia:% A% contribuio% psdcolonial.% Revista% Brasileira% de%Cincias%Sociais,%v.%21,%n.%60,%p.%117d134,%2006.%%DAVIES,%Alan.%The%native%speaker:%Myth%and%reality.%England:%Multilingual%Matters,%2003.%%DELEUZE,%Gilles;%GUATTARI,%Flix.%Mil%Plats:%capitalismo%e%esquizofrenia.%vol%1.%So%Paulo:%Editora%34,%2009.%%%DERRIDA,%Jacques.%Writing%and%difference.%London:%Routledge,%1978.%%DEWEY,%M.%English%as%a%lingua%franca%and%globalization:%an%interconnected%perspective.%International%Journal%of%Applied%Linguistics,%v.%17,%n.%3,%2007.%%FOUCAULT,%Michel.%Poder%e%saber.%in%Ditos%e%escritos.%Rio%de%Janeiro:%Forense%Universitria,%2006.%%______.% Power/Knowledge:' Selected% Interviews% and% Other% Writings% (1972d77)% by% Michel% Foucault.%Brighton:%Harvester%Press,%1980.%%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    297!

    FREIRE,%Paulo.%Pedagogia%da%Autonomia:%saberes%necessrios%%prtica%da%autonomia.%So%Paulo:%Paz%e%Terra,%1998.%%%______.%Pedagogia%da%Esperana:%um%reencontro%com%a%pedagogia%do%oprimido.%So%Paulo:%Paz%e%Terra,%1999.%%%______.%Pedagogia%do%Oprimido.%Rio%de%Janeiro:%Paz%e%Terra,%1996.%%GARCIA,%M.%M.%A.%Pedagogias%Crticas%e%Subjetivao:%uma%perspectiva%foucaultiana.%Petrpolis:%Vozes,%2002.%%GASPARINI,% Edmundo.% Sentidos% de% Ensinar% e% Aprender% Ingls% na% Escola% de% Ensino% Mdio% e%Fundamental%%uma%anlise%discursiva.%Polifonia%(10),%p.%159d175.%Cuiab:%EDUFMT,%2005.%%GEE,%James.%New%times,%new%literacies:%Themes%for%a%changing%world.%in%A.%F.%Ball;%S.%W.%Freedman%(Eds.).%Bakhtinian%perspectives%on%language,%literacy%and%learning,%p.%279d306.%New%York:%Cambridge%University%Press,%2004.%%GIMENEZ%et%al%(Orgs.).%Ingls%como%Lngua%Franca:%ensinodaprendizagem%e%formao%de%professores.%Campinas:%Pontes,%2011.%%GIROUX,% Henry.% Border% Crossings:% cultural% workers% and% the% politics% of% education.% New% York:%Routledge,%1993.%%______.%Os%Professores%como%Intelectuais.%Porto%Alegre:%Artes%Mdicas,%1997a.%%______.%Pedagogy%and% the%Politics% of%Hope:% theory,% culture% and% schooling.% Colorado:%Westview%Press,%1997b.%%GRADDOL,%David.%English%Next.%London:%The%British%Council,%2006.%%'HALLIDAY,% Michael% Alexander.% Struggle% to% teach% English% as% an% international% language.% New% York:%Oxford%University%Press,%2005.%%INSTITUTO%DE%INVESTIGAO%E%DESENVOLVIMENTO%EM%POLTICA%LINGSTICA.%Carta%de%Pelotas,%2004.%%Acesso%em%set.%2013.%%%JENKINS,%Jennifer.%Current%perspectives%on%teaching%World%Englishes%and%English%as%a%Lingua%Franca.%TESOL%Quarterly,%v.%40,%n.%1,%2006.%%JORDO,%Clarissa%Menezes.% O%Ensino%de%Lnguas%Estrangeiras:%de%cdigo%a%discurso.% in%BONI,%Vaz.%Tendncias%Contemporneas%no%Ensino%de%Lnguas.%Unio%da%Vitria:%Kaygangue,%2006.%%______.% Abordagem% Comunicativa,% Pedagogia% Crtica% e% Letramento% Crtico% % farinhas% do% mesmo%saco?% in% MACIEL% &% ROCHA% (Orgs.).%Ensino% de% Lngua% Estrangeira,% Formao% Cidad% e%Tecnologia.%Campinas:%Pontes,%2013.%%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    298!

    ______.%Aprendendo%Lngua%Estrangeira%com%o%Professor%Jacotot:%criticidade%na%pedagogia%crtica%e%no%letramento% crtico.% in% MATEUS,% Elaine;% BUENO,% Nilceia.% (Orgs.).% Estudos% Crticos% da% Linguagem% e%Formao%de%Professores/as%de%Lnguas:%Contribuies%TericodMetodolgicas,%2013.%No%prelo.%%______;%FOGAA,%Francisco%Carlos.%Carvalhos,%Juncos,%rvores%e%Rizomas:%paradigmas%na%formao%de%professores.%Revista%Brasileira%de%Lingustica%Aplicada,%v.%12,%n.3,%p.%493d510,%2012.%%______.% A% lngua% inglesa% como% commodity:% Direito% ou% obrigao% de% todos?% Conhecimento% local% e%conhecimento%universal.%Anais%do%ENDIPE,%v.%3,%n.%1,%p.%272d295,%2004a.%%______.%Thinking%Critically%of%Critical%Thinking:%critical%pedagogies%revisited.%Situation%Analysis,%v.%4.%p.%21d30.%Nottingham:%University%of%Nottingham,%2004b.%%%KUMARAVADIVELU,%B.%Critical%Language%Pedagogy:%a%postdmethod%perspective%on%English%language%teaching.%World%Englishes,%v.%22,%n.%4,%2003.%%LIMA,%Digenes% Cndido% de.% (Org.)% Ingls%em%escolas% pblicas% no% funciona?%Uma%questo,%mltiplos%olhares.%So%Paulo:%Parbola%Editorial,%2011.%%LIMA,% F.% de% F.;% SALES,% L.% C.% As%Representaes% Sociais% do%Aluno%de%Escola% Pblica% Partilhadas% por%Professores%de%Lngua%Inglesa%que%Ensinam%em%Escolas%Pblicas%e%Particulares%de%Teresina.%Atos%de%Pesquisa%em%Educao,%v.%2,%n.%1.%Blumenau:%Universidade%Regional%de%Blumenau%(FURB),%2007.%%LLURDA,% E.% Nondnativedspeaker% Teachers% and% English% as% an% International% Language.% International%Journal%of%Applied%Linguistics,%v.%14,%n.%1,%p.%314d323,%2004.%%%LYOTARD,%Jean%Franois.%O%psPmoderno.%Rio%de%Janeiro:%Jos%Olympio,%1986.%%MATURANA,%Humberto.%Cognio,%Cincia%e%Vida%Cotidiana.%Belo%Horizonte:%UFMG,%2001.%%MAY,% Stephen.% Language% and% minority% rights:% Ethnicity,% nationalism% and% the% politics.%Harlow,% UK:%Pearson%Education,%2001.%%MCKAY,% Sandra.% Toward% an% appropriate% EIL% pedagogy:% redexamining% common% ELT% assumptions.%International%Journal%of%Applied%Linguistics,%v.%13,%n.%1,%p.%1d22,%2003.%%MIGNOLO,% Walter.% Local% Histories/Global% designs:% Coloniality,% subaltern% knowledges,% and% border%thinking.%Princeton:%Princeton%University%Press,%2000.%%NORTON,% Bonny.% Critical% literacy% and% international% development.% Critical% Literacy:% Theories% and%Practices,%v.%1,%n.%1,%p.%6d15,%2007.%%PHILLIPSON,%Robert.%Linguistic%Imperialism.%Oxford:%Oxford%University%Press,%1992.%%%PRODROMOU,% L.% A% Reader% responds% to% J.% Jenkinss% Current% perspectives% on% teaching% World%Englishes%and%English%as%a%Lingua%Franca.%TESOL%Quarterly,%v.%40,%n.%1,%2006.%%%

  • !Curitiba, Vol. 1, n 1, jul.-dez. 2013 ISSN: 2318-1028!!!!!!!!!!!!!!!!!REVISTA VERSALETE!

    !!

    JORDO, Clarissa M. Des-vincular o ingls...

    299!

    RAJAGOPALAN,% K.% A% geopoltica% da% lngua% inglesa% e% seus% reflexos% no% Brasil:% por% uma% poltica%prudente%e%positiva.%in%LACOST,%Y.%(Org.)%A%Geopoltica%do%Ingls.'So%Paulo:%Parbola,%2003.%%%______.%The%English%language%in%Brazil:%a%boom%or%a%bane?%in%BRAINE,%G.%(Ed.)%Teaching%English%to%the%World:%history,%curriculum%and%practice.'Mahwah:%Lawrence%Eribaum,%2005.%%______.% The% English% Language,% Globalization% and% Latin% America:% Possible% Lessons% from% the% Outer%Circle.%in%SAXENA,%M.;%OMONIYI,%T.%(Orgs.).%Contending%with%Globalization%in%World%Englishes.%Bristol:%Multilingual%Matters,%2010.%%SECRETARIA% DE% ESTADO% DA% EDUCAO% DO% PARANA.% Relatrio% do% II% Seminrio% Estadual% para% a%elaborao% coletiva% das% Diretrizes% Curriculares% Estaduais% do% Ensino% Fundamental% % Lngua%Estrangeira%Moderna.%Curitiba,%Paran,%Brasil,%2004.%%%SEIDLHOFER,% Barbara.% Closing% a% conceptual% gap:% the% case% for% a% description% of% English% as% a% lingua%franca.%International%Journal%of%Applied%Linguistics%,%v.%11,%n.%2,%2001.%%'SIQUEIRA,% S.% Ingls% como% Lngua% Franca:% o% desafio% de% ensinar% um% idioma% desterritorializado.% in%GIMENEZ,% T.;% CALVO,% L.% C.% S.;% EL% KADRI,%M.% S.% Ingls% como% Lngua% Franca:% ensinodaprendizagem% e%formao%de%professores.%Campinas:%Pontes,%2011.%%WIELEWICKI,%V.%Literatura%e%sala%de%aula:%sncopes%e%contratempos:%a%agncia%discente%e%as%literaturas%de% lngua% inglesa%em%cursos%de% licenciatura%em%Letras.%Tese%de%doutorado.%FFLCH,%Universidade%de%So%Paulo,%So%Paulo,%2002.%%