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Museu da Língua Portuguesa DESAFIOS NO ESTUDO DA LINGUA FALADA Ataliba Teixeira de Castilho Professor Emérito da FFLCH da USP Professor Titular aposentado da Unicamp e da USP Assessor Linguístico do Museu da Língua Portuguesa 1. Primórdios dos estudos da língua falada no Brasil A Linguística nunca deixou de considerar que a língua falada é a manifestação primordial de uma língua natural, e muitas vezes sua manifestação único, no caso dos povos ágrafos, como os indígenas do Brasil. Documentar, transcrever e descrever a língua falada é uma atividade que se acelerou grandemente depois dos anos 70, graças ao desenvolvimento do Estruturalismo linguístico. Outros modelos teóricos que se sucederam continuaram a demonstrar a conveniência do estudo dessa variedade. Enquanto a língua escrita é a língua do Estado, adquirida nos bancos escolares, a língua falada é a língua da família, e a primeira que adquirimos em nossa infância. Se nos perguntarmos sobre como é que a mente humana cria uma língua, sem dúvida as respostas estão na observação atenta da língua falada. Os estudos da oralidade no Brasil decorreram de um conjunto de fatores desencadeados nos anos 70 e 80: a expansão dos cursos pós-graduados de Linguística,o surgimento dos projetos coletivos de pesquisa e a insistência de vários linguistasem que passássemos a dispor de descrições mais atentas ao uso brasileiro da língua portuguesa. Em 1969 foi fundada a Associação Brasileira de Linguística, e a partir de1972 passaram a ser implantados os Programas de Pós-Graduação em Linguísticae Língua Portuguesa, hoje em grande número. Essefato novo na vida universitária brasileira teve diversas consequências: (i) o surgimentoda Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras eLinguística, em 1984, (ii) a fundação de dezenas de revistas especializadas em Linguística, compublicação regular, (iii) a concessão de bolsas de estudo a muitos jovens brasileiros, que partiram para o exterior, em busca de doutorado em áreas aindanão existentes no Brasil, e, finalmente, (iv) a organização sistemática de

Desafios no estudo da língua - Ataliba Teixeira Castilho

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Desafios no estudo da língua - Ataliba Teixeira Castilho

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  • Museu da Lngua Portuguesa

    DESAFIOS NO ESTUDO DA LINGUA FALADA

    Ataliba Teixeira de Castilho Professor Emrito da FFLCH da USP

    Professor Titular aposentado da Unicamp e da USP Assessor Lingustico do Museu da Lngua Portuguesa

    1. Primrdios dos estudos da lngua falada no Brasil

    A Lingustica nunca deixou de considerar que a lngua falada a manifestao

    primordial de uma lngua natural, e muitas vezes sua manifestao nico, no caso

    dos povos grafos, como os indgenas do Brasil.

    Documentar, transcrever e descrever a lngua falada uma atividade que

    se acelerou grandemente depois dos anos 70, graas ao desenvolvimento do

    Estruturalismo lingustico. Outros modelos tericos que se sucederam

    continuaram a demonstrar a convenincia do estudo dessa variedade.

    Enquanto a lngua escrita a lngua do Estado, adquirida nos bancos

    escolares, a lngua falada a lngua da famlia, e a primeira que adquirimos em

    nossa infncia. Se nos perguntarmos sobre como que a mente humana cria uma

    lngua, sem dvida as respostas esto na observao atenta da lngua falada.

    Os estudos da oralidade no Brasil decorreram de um conjunto de fatores

    desencadeados nos anos 70 e 80: a expanso dos cursos ps-graduados de

    Lingustica,o surgimento dos projetos coletivos de pesquisa e a insistncia de

    vrios linguistasem que passssemos a dispor de descries mais atentas ao uso

    brasileiro da lngua portuguesa.

    Em 1969 foi fundada a Associao Brasileira de Lingustica, e a partir

    de1972 passaram a ser implantados os Programas de Ps-Graduao em

    Lingusticae Lngua Portuguesa, hoje em grande nmero. Essefato novo na vida

    universitria brasileira teve diversas consequncias: (i) o surgimentoda

    Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Letras eLingustica, em

    1984, (ii) a fundao de dezenas de revistas especializadas em Lingustica,

    compublicao regular, (iii) a concesso de bolsas de estudo a muitos jovens

    brasileiros, que partiram para o exterior, em busca de doutorado em reas

    aindano existentes no Brasil, e, finalmente, (iv) a organizao sistemtica de

  • seminrios e congressose o estabelecimento de uma poltica de aquisio de

    bibliografia especializada.

    A instalao da Lingustica entre ns e a profissionalizao dos

    linguistasbrasileiros teve por efeito a busca de uma temtica de interesse para o

    desenvolvimentoda cultura nacional. Os linguistas sentiram o peso de suas

    responsabilidadessociais e polticas. Sem descurar de sua formao terica,

    elespassaram a buscar assunto para suas pesquisas nas centenas de lnguas

    indgenasbrasileiras, na variabilidade do portugus brasileiro, e nas diversas

    situaesde contacto lingustico. Da para a organizao de projetos coletivos

    deinvestigao foi um passo, logo dado pelas seguintes iniciativas: Projeto

    deEstudo da Norma Lingustica Urbana Culta (UFBa, USP, UNICAMP, UFPE,

    UFRJ,UFRS, a partir de 1970); Projeto Censo Lingustico do Rio de Janeiro,

    hojePrograma de Estudos de Usos Lingusticos (UFRJ, desde 1972); Projeto

    deAquisio da Linguagem (UNICAMP, a partir de 1975). J nos anos 90

    surgiramo Projeto Variao Lingustica do Sul do Brasil (UFPR, UFSC e UFRS,

    desde1992), o Programa de Histria do Portugus (UFBa, desde 1991), o

    Projetodo Atlas Lingustico Brasileiro (UFBA, UFJF, UEL, UFRJ, UFRS, desde

    1997),o Projeto para a Histria do Portugus Brasileiro (UFAL, UFBa, UFCE,

    UFMG, UFPb, UFPR, UFPe, UFPO, UFRJ, UFRN, UFSC, USP, UNICAMP, UNESP

    Araraquara e So Jos do Rio Preto,a partir de 1997), entretantos outros.

    Outro fato que assinalou esse perodo foi a crescente preocupao para

    quedispusssemos de bons dicionrios e de boas gramticas, mais conformes

    aouso brasileiro do portugus. No domnio dos dicionrios, foram

    publicados:Ferreira (1986), Borba (1990), Houaiss (2001) e Borba (2002). No

    domniodas gramticas, cinco iniciativas assinalaram a busca da mudana: Perini

    (1995, 2010), Bechara (1999), Neves (2000), Castilho (2010) e Bagno (2011).

    Quanto renovao das gramticas, deu-se uma notvel coincidncia, pois

    no mesmo ano foram publicados no pas quatro livros de carter programtico:

    Ilari (1985), Perini (1985), Luft (1985) e Bechara (1985). Mesmo partindo de

    perspectivas diferentes, seus autores confluamna defesa da preparao de uma

    nova gram|tica do portugus, mais atenta{s alteraes que se vinham notando

    na realidade lingustica do pas. O surgimentoentre ns dos estudos sobre a

    lngua falada daria uma resposta decisivaaos planos desses autores.

  • 2. Sistematizao dos estudos sobre o portugus falado no Brasil

    A partir dos anos 60, grupos de pesquisadores afiliados a vrias

    universidadesbrasileiras se engajaram na tarefa de documentar, descrever e

    refletir sobre alngua falada.

    Em toda a sua histria, a Lingustica sempre esteve atravessada pela

    ideiade que a lngua falada a manifestao primordial da linguagem e seu

    objetoprimeiro de estudos. Mas esses belos propsitos s puderam se

    transformarem aes cientficas efetivas depois de uma inovao tecnolgica, a

    invenodo gravador porttil. Podia-se, finalmente, pr em marcha um programa

    sistemticode investigao da oralidade.

    A Amrica Latina antecipou-se nesse movimento cientfico. Em 1964,

    JuanM. Lope-Blanch, linguista espanhol radicado no Mxico, obteve junto

    aoPrograma Interamericano de Lingustica e Ensino de Idiomas (PILEI) a

    aprovaode seu Proyecto de EstudioCoordinado de la Norma Lingustica

    Cultade lasPrincipalesCiudades de Iberoamrica y de la Pennsula Ibrica: Lope-

    Blanch (1964-1967, 1986). Seu projeto representava uma notvel mudana

    derumo dos estudos dialetolgicos: deixava-se de privilegiar o falar residualde

    pequenas comunidades rurais, perdidas enlosvaricuetos de una

    sierra,partindo-se para a documentao e a descrio dalinguagem-padro das

    grandes metrpoles que iam surgindo,as quais alteraram a proporo

    populao rural x populao urbanaat ento vigente. Lope-Blanch mostrava,

    por exemplo, que em vrios pasesda Amrica Latina metade da populao

    habitava suas capitais, o que poderiaafetar o conjunto lingustico do pas, dada a

    previsvel fora de irradiao davariedade da capital.

    Desde o comeo, o Proyecto previa a incluso da Amrica portuguesa,

    almda Espanha e Portugal. Convidado a opinar sobre o assunto, o professor

    NlsonRossi, da Universidade Federal da Bahia, e delegado brasileiro junto

    aoPILEI, apresentou uma proposta ao Simpsio do Mxico: Rossi (1968). Ele

    ponderaali que, contrariamente Amrica espanhola, a execuo do projeto no

    Brasilno poderia limitar-se capital do pas, e nem mesmo ao Rio de Janeiro:

    arriscoa impresso de que a cidade do Rio de Janeiro, apesar de sua

    excepcionalsignificao como aglomerado urbano e como centro de irradiaode

  • padres culturais, no daria por si s a imagem do portugus do Brasil:Rossi

    (1968-1969, p. 49). Apresenta ento suas ideias sobre o policentrismocultural

    brasileiro, e argumenta que, desenvolvendo-se o projeto em cinco capitais,sendo

    quatro fundadas no sculo XVI (Recife, Salvador, Rio de Janeiroe So Paulo) e

    uma no sculo XVIII (Porto Alegre), estariam abarcados dozemilhes e meio de

    habitantes aproximadamente, o que equivale a um stimoda populao atual do

    pas (ibidem).

    Desconhecendo esses arranjos, conhecendo, porm, o Proyecto de Lope-

    Blanch, eu tinha proposto sua adaptao a parte do pas, num texto

    intituladoDescrio do portugus culto na |rea paulista: Castilho (1968).

    Informadopor Nlson Rossi das decises tomadas no PILEI, e por ele convidado a

    integraro projeto mais amplo, aceitei suas ponderaes e desisti do plano

    anterior.

    Finalmente, a 11 de janeiro de 1969, aproveitando a presena de

    vriosprofessores brasileiros reunidos no III Instituto Interamericano de

    Lingustica,promovido pelo PILEI na Universidade de So Paulo, juntamente com

    o IICongresso Internacional da Associao de Lingustica e Filologia da

    AmricaLatina (ALFAL), o professor Rossi convocou uma reunio de que

    participaramos futuros coordenadores das equipes do projeto, que viria a ser

    conhecidoentre ns como Projeto NURC: Albino de Bem Veiga (Porto Alegre),

    IsaacNicolau Salum e Ataliba T. de Castilho (So Paulo), alm do prprio

    Rossi,coordenador do projeto em Salvador. Posteriormente, seriam indicados

    CelsoCunha (Rio de Janeiro) e Jos Brasileiro Vilanova (Recife). Reuni num

    livrinhoeditado pelo Conselho Municipal de Cultura de Marlia os

    documentosento gerados: Castilho (org., 1970).

    Para discutir a metodologia da pesquisa e seus rumos no pas, foram

    realizadas14 reunies nacionais do projeto: I, Porto Alegre, 1969; II,

    Capivari,1970; III, Recife, 1971; IV, Rio de Janeiro, 1971; V, Salvador, 1972; VI,

    PortoAlegre, 1973; VII, So Paulo, 1974; VIII, Recife, 1974; IX, Rio de

    Janeiro,1975; X, Rio de Janeiro, 1977; XI, Salvador, 1981; XII, Rio de Janeiro,

    1984; XIII,Campinas, 1985; XIV, Porto Alegre, 1987. As atas dessas reunies

    esto depositadasno Centro de Documentao Lingustica e Literria Alexandre

    Eullio,do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP.

  • Designadas as equipes locais, cuja listagem aparece em Castilho (1990,pp.

    147-49), teve incio o trabalho de documentao da fala de 600 Informantesde

    formao universitria, selecionados entre pessoas nascidas na cidade, filhasde

    pais igualmente nascidos na cidade, divididos por igual em homense mulheres e

    distribudos por trs faixas etrias (25-35 anos, 36-55 e de 56 emdiante).

    A fala dos Informantes foi gravada em trs situaes distintas: Dilogo

    como Documentador (DID), Dilogo entre Dois Informantes (D2) e aulas e

    conferncias(EF). A equipe nacional desistiu de realizar as gravaes

    sigilosasprevistas no projeto original. As entrevistas eram tematicamente

    orientadas,fundamentando-se em cerca de 20 centros de interesse, abrangidos

    por maisde 4 mil quesitos.

    As gravaes foram realizadas entre 1970 e 1977, tendo-se apurado um

    corpusgigantesco, constante de 1.870 entrevistas com 2.356 Informantes,

    totalizando 1.570horas de gravaes.

    Comeou ento a rdua tarefa de transcrever parte dessecorpus,

    organizando-se o corpus compartilhado, um conjunto de 18 entrevistaspor

    cidade, selecionadas de acordo com os parmetros sociolingusticos doprojeto, e

    distribudas a todas as cidades participantes.

    As seguintes normas foram aplicadas ao labor das transcries,

    publicadas em Castilho e Preti (1987).

    OCORRNCIAS SINAIS EXEMPLIFICAO Incompreenso de palavras ou segmentos

    ( ) ...do nvel de renda... ( ) nvel de renda nominal..

    Hiptese do que se ouviu (hiptese) (estou) meio preocupado (com o gravador)

    Truncamento / e com/ e reinicia Entoao enftica maisculas porque as pessoas reTM moeda Alongamento de vogal ou das consoantes [r], [s]

    :: ou ::: ao emprestarem os... h:: o dinheiro

    Silabao - por motivo tran-sa-o Interrogao ? o Banco Central... certo? Qualquer pausa ... so trs motivos... ou trs razes Comentrios descritivos ((minsculas)) ((tossiu)) Comentrios do locutor que quebram a sequncia temtica

    __ a demanda da moeda vamos dar essa conotao demanda de moeda por motivo

    Superposio, simultaneidade de vozes

    [ ligando linhas

    A. na casa da sua irm? [ sexta feira?

  • Citaes literais, reproduo de discurso direto ou leitura de textos

    Pedro Lima... ah escreve na ocasio... O cinema falado em lngua estrangeira no precisa de nenhuma baRREIra entre ns...

    Fonte: Castilho e Preti (orgs. 1987: 9-10).

    Amostras do corpus comearama ser publicadas em 1986: So Paulo

    Castilho e Preti (orgs., 1986, 1987),Preti e Urbano (orgs., 1988); Rio de Janeiro

    Callou (org., 1992), Calloue Lopes (orgs., 1993, 1994); Salvador Motta e

    Rollemberg (orgs., 1994, 2006);Recife S, Cunha, Lima e Oliveira (orgs., 1996,

    2005); Porto Alegre Hilgert (org.,1997). As amostras das trs ltimas cidades

    ainda esto incompletas.

    Em 1988, representantes do Projeto do Portugus Fundamental

    (sediadono Centro de Lingustica da Universidade de Lisboa) e do Projeto

    NURC/Brasilfirmaram um protocolo de intercmbio de dados, de tal sorte que

    atualmenteambas as equipes dispem de elementos para eventuais comparaes

    entre asmodalidades europeia e americana do portugus falado culto. Este

    propsito, entretanto, no se realizou.

    De acordo com a metodologia do projeto, a anlise dos materiais

    assimrecolhidos se faria a partir de um guia-questionrio, que forneceria um

    roteirobsico para a pesquisa, visando a assegurar a comparabilidade

    dosresultados. A comisso brasileira adaptou a verso espanhola j

    publicadadesse roteiro: Cuestionario(1971-1973). Os quesitos compreendiam

    trssetores: fontica e fonologia, morfossintaxe e lxico. A partir de 1978

    asanlises tiveram incio, tendo seguido duas grandes direes: estudos

    gramaticaise estudos de pragmtica da lngua falada. Parte desses trabalhos

    foipublicada em coletneas: Castilho (org., 1989), Preti e Urbano (orgs.,

    1990),Preti (org., 1993, 1997, 1998). Muitos textos foram publicados em revistas

    cientficase anais de congressos, outros so teses, como Menon (1994). O

    lxicodo Rio de Janeiro foi concludo e publicado: Marques(1996). O estudode

    So Paulo foi empreendido por Del Carratore, Laperuta Filho (2009). Para a

    histria do Projeto NURC e a bibliografia gerada at 1990, verCastilho (1990).

    As anlises gramaticais mostravam j em 1981 que haveria problemas

    paraa continuao dos trabalhos, na forma como eles tinham sido concebidos

  • nofinal dos anos 60 pelo projeto congnere do espanhol da Amrica, acolhido

    pelas equipes brasileiras, visto que:

    1) no tinha havido uma discusso sobre a especificidade do oral, e os

    instrumentosde anlise tomavam a lngua escrita como ponto de partida;

    2) o modelo terico adotado, que combinava elementos da gramtica

    tradicionalcom uma sorte de estruturalismo mitigado, no dava contade uma

    srie de fenmenos tpicos da modalidade falada;

    3) novas tendncias da indagao lingustica, surgidas posteriormente

    concepo do projeto, mostravam-se mais sensveis modalidade

    falada,particularmente as aproximaes entre a sintaxe e o discurso. Parauma

    anlise dessas e de outras questes, ver Castilho (1984, 1990).

    Apesar desses acidentes de percurso, deve-se reconhecer que esse

    projetose mostrou plenamente vitorioso em sua fase de coleta e organizao dos

    dados.Graas a ele, a Lingustica brasileira se manteve atualizada quanto

    organizaode inventrios da lngua falada e sua anlise, atividade que passava a

    ocuparum lugar importante na Lingustica mundial.

    3. Projeto de Gramtica do Portugus Falado

    A organizao do Projeto de Gramtica do Portugus falado foi uma das

    consequncias imediatas das falhas identificadas no Projeto NURC. Assim, em

    1987, a convite da professora Maria Helena de Moura Neves, coordenadorado

    Grupo de Trabalho de Descrio do Portugus da AssociaoNacional de

    Pesquisa e Ps-Graduao em Letras e Lingustica, apresentei aorespectivo

    Encontro Nacional, realizado na Universidade Federal do Rio deJaneiro, o Projeto

    de Gramtica do Portugus Falado, voltado para a preparaocoletiva de uma

    gramtica do portugus falado, com base nos materiaisdo Projeto NURC/Brasil.

    Tendo havido boa receptividade ideia, convoquei em 1988 o I

    Seminriodesse projeto, realizado em guas de So Pedro (SP), no qual se

    debateu o planoinicial, que era o de preparar uma gram|tica referencial do

    portugus culto faladono Brasil, descrevendo seus nveis fonolgico,

    morfolgico, sint|tico e textual.

  • Reconheceu-se nesse primeiro encontro que seria impossvel selecionar

    umanica articulao terica que desse conta da totalidade dos temas que se

    esperaver debatidos numa gramtica descritiva, numa gramtica de

    refernciacomo a que se planejava escrever. As primeiras discusses

    cristalizaram essereconhecimento, tendo-se decidido dar livre curso

    convivncia dos contrriosno interior do projeto. Como forma de organizao,

    distriburam-se os pesquisadorespor Grupos de Trabalho (GTs), sob a

    coordenao de um deles.Cada GT traaria o perfil terico que pautaria suas

    pesquisas e organizaria suaagenda de pesquisas. Os textos que fossem sendo

    discutidos e preparados nointerior de cada GT seriam posteriormente

    submetidos discusso pela totalidadedos pesquisadores, reunidos em

    seminrios plenos.

    O corpus utilizado uma seleo de entrevistas do Projeto NURC/Brasil,

    realizada de acordo com as caractersticas desse projeto. Eis o quadro das

    entrevistas

    escolhidas:

    POA RJ SP REC SSA

    EF 278 379 405 337 049

    DID 045 328 234 131 231

    D2 291 355 360 005 098

    POA = Porto Alegre, RJ = Rio de Janeiro, SP = So Paulo, REC = Recife, SSA = Salvador, EF = Elocuo formal, DID = Dilogo entre o informante e o documentador, D2 = Dilogo entre dois informantes.

    Os Grupos de Trabalho decidiram proceder a um levantamento

    exaustivodos dados na totalidade desse corpus, ou a um levantamento

    noexaustivo,naqueles casos em que a continuidade da investigao j no

    revelasse fatosnovos. Ao longo do levantamento dos dados, no tinham ainda

    sido publicadastipograficamente as transcries das entrevistas gravadas em

    Porto Alegre, Riode Janeiro, Salvador e Recife, usando-se para esse fim as

    transcries datilografadaspreparadas pelas equipes respectivas. Com isso, as

  • abonaes nesta gramticapodem no corresponder exatamente s das edies

    tipogrficas.

    Entre 1988 e 1998 foram realizados dez seminrios plenos, terminados

    osquais os textos apresentados e debatidos eram reformulados e publicados

    emuma srie prpria, editada pela Editora da UNICAMP: Castilho (1990; org.,

    1993),Ilari (org., 1992), Castilho e Baslio (orgs., 1996), Kato (org., 1996), Koch

    (org.,1996), Neves (org., 1999), Abaurre e Rodrigues (orgs., 2002). A Fundao

    deAmparo Pesquisa do Estado de So Paulo financiou as atividades, tambm

    apoiadasvez e outra pelo Conselho Nacional de Pesquisas. Atuaram no PGPF

    cercade 32 pesquisadores, ligados a 12 universidades brasileiras, distribudos

    pelosseguintes GTs:

    1) Fontica e Fonologia, coordenado inicialmente por Joo Antnio de Moraese

    posteriormente por Maria Bernadete Marques Abaurre;

    2) Morfologia Derivacional e Flexional, coordenado por Margarida Baslioe

    ngela Ceclia de Souza Rodrigues, respectivamente;

    3) Sintaxe das Classes de Palavras, coordenado inicialmente por RodolfoIlari e

    posteriormente por Maria Helena de Moura Neves;

    4) Sintaxe das Relaes Gramaticais, coordenado inicialmente por

    FernandoTarallo e posteriormente por Mary Aizawa Kato;

    5) Organizao Textual-Interativa, coordenado por IngedoreGrunfeld

    VillaaKoch.

    Os seguintes pesquisadores atuaram na elaborao dos ensaios

    publicadosnos oito volumes da Coleo Gramtica do Portugus Falado, que

    precedeuesta gramtica:

    ngela Ceclia de Souza Rodrigues (USP)

    Antonio Jos Sandman (UFPR)

    Ataliba Teixeira de Castilho (USP, UNICAMP)

    Carlos Franchi (USP, UNICAMP) (in memoriam)

    Clia Maria Moraes de Castilho (doutora, UNICAMP)

    Clia Terezinha Guio da Veiga Oliveira (UFRJ)

  • Charlotte Galves (UNICAMP)

    Cllia Cndida A. SpinardiJubran (UNESPAssis, UNESPSo Jos do Rio Preto)

    Dercir Pedro de Oliveira (UFMS)

    Dinah Maria IsenseeCallou (UFRJ)

    ErotildeGoretiPezatti (UNESPSo Jos do Rio Preto)

    Esmeralda Vailati Negro (USP)

    Fernando Tarallo (UNICAMP) (in memoriam)

    Giselle Machline de Oliveira e Silva (UFRJ) (in memoriam)

    Hudinilson Urbano (USP)

    Iara Bemquerer Costa (UFPR)

    Ieda Maria Alves (USP)

    IngedoreGrunfeld Villaa Koch (UNICAMP)

    Joo Antnio de Moraes (UFRJ)

    Jos Gaston Hilgert (UFPasso Fundo)

    La Gamarski (PUCRJ)

    Leda Bisol (PUCRS)

    Leonor Lopes Fvero (USP, PUCSP)

    Luiz AntonioMarcuschi (UFPe)

    Luiz Carlos Cagliari (UNICAMP)

    Luiz Carlos Travaglia (UFUberlndia)

    Marco Antnio de Oliveira (UFMG)

    Margarida Baslio (UFRJ)

    Maria Bernadete Marques Abaurre (UNICAMP)

    Maria Ceclia Prez de Souza e Silva (PUCSP)

    Maria do Carmo O. T. Santos (Universidade Estadual de Maring)

    Maria Guadalupe de Castro (doutora, PUCSP)

    Maria Helena de Moura Neves (UNESPAraraquara)

    Maria Lcia da Cunha Victrio de Oliveira Andrade (USP)

    Maria Luiza Braga (UFRJ)

    Mary Aizawa Kato (UNICAMP)

    Maura Alves de Freitas Rocha (UFUberlndia)

    Mercedes SanfeliceRisso (UNESPAssis)

    Michael Dillinger (UFMG)

  • Mlton do Nascimento (PUCMG)

    Odette G. L. A. S. Campos (UNESPAraraquara)

    Paulo Galembeck (UNESPAraraquara)

    Roberto Gomes Camacho (UNESPSo Jos do Rio Preto)

    Rodolfo Ilari (UNICAMP)

    Rosane de Andrade Berlinck (doutora, UNICAMP)

    Srio Possenti (UNICAMP)

    Yonne de Freitas Leite (UFRJ)

    Zilda G. Oliveira Aquino (USP)

    A partir de 1990, solicitou-se ao professor Mlton do Nascimento

    quedebatesse os problemas tericos suscitados pelos trabalhos apresentados,

    naqualidade de assessor acadmico do PGPF. Isso ocorreu sistematicamente a

    partirdo IV Seminrio, resultando da alguns textos, um dos quais apresentado

    aoCentro de Lingustica da Universidade de Lisboa, em 1993, em reunio

    convocadapelos doutores Maria Fernanda Bacelar do Nascimento e Joo

    MalacaCasteleiro: Nascimento (1993a, b).

    Encerrada a agenda do PGPF, deu-se incio em 2000 consolidao, em

    cinco volumes, dos ensaios e teses publicados. Saram, ento, trs volumes da

    Gramtica do portugus culto falado no Brasil, publicados pela Editora da

    Unicamp: Jubran; Koch (Orgs., 2006), Ilari; Moura Neves (Orgs., 2009) e Kato;

    Nascimento (Orgs., 2009), todos publicados pela Editora da Unicamp.

    A Editora Contexto publicou a primeira edio do volume referente

    construo fonolgica da palavra (Abaurre Org., 2013) e a do volume referente

    construo morfolgica da palavra (Alves; Rodrigues Orgs., no prelo). A estes

    volumes se seguiro, em segunda edio, este volume I (Jubran Org., no prelo), o

    desdobramento em trs do volume 2 (IlariOrg no prelo, vols. II e III, Neves Org

    no prelo, vol. III), e o volume IV, relativo construo da sentena (Kato;

    Nascimento Orgs., no prelo), totalizando sete volumes.

    A Gramtica voltada para o pblico universitrio,interessando

    igualmente aos professores de portugus do curso mdio, alunos e

    professoresdos cursos de graduao e ps-graduao em Letras e

  • pesquisadoresps-graduados, alm de interessados nos desenvolvimentos da

    lngua portuguesaocorridos no Brasil na segunda metade do sculo XX.

    A seguir, vou sumariar as discusses tericas sobre a lngua falada e

    suadescrio que embasaram esta gramtica. Cada um dos volumes elencados

    noitem 5 ser precedido de uma introduo terica maisdetalhada.

    4. Articulao terica da Gramticado Portugus Culto Falado no Brasil

    Podem-se reconhecer dois momentos nas reflexes tericas do grupo, que

    poderiam ser assim denominados:

    1) convivncia dos contrrios;

    2) processamento do discurso e conhecimento sinttico: um ponto de

    convergncia?

    4.1 A convivncia dos contrrios

    Por ocasio do I Seminrio do PGPF, no se chegou a um acordo nem

    quantoao objeto emprico, nem quanto ao objeto terico, cindindo-se as posies

    empelo menos duas grandes direes, para cuja formulao valem at certo

    pontoas distines entre uma teoria formal e uma teoria funcional da

    gramtica.Mesmo correndo o risco da caricatura, assim formulei tais posies em

    Castilho(org., 1990, p. 15):

    1) Quanto ao objeto emprico:

    A) A lngua falada e a lngua escrita integram um mesmo sistema, diferenciando-se na frequncia dos processos ou das categorias de que dispem.

    B) A lngua falada um objeto autnomo em relao lngua escrita. Sobretudo, no correto admitir a agramaticalidade dessa variedade.

    2) Quanto ao objeto terico:

    A) A lngua um conjunto de oraes, cujo correlato psicolgico a competncia, entendida como a capacidade de produzir, interpretar e julgar a gramaticalidade das oraes. Segue-se que as oraes devem ser descritas independentemente de sua localizao contextual, e a Sintaxe autnoma com respeito Semntica e

  • Pragmtica. Diferentes graus de idealizao dos dados podem ser considerados, sendo indispensvel seguir considerando uma Lngua I, distinta de uma Lngua E.

    B) A lngua um instrumento de interao social, cujo correlato psicolgico a competncia comunicativa, isto , a capacidade de manter a interao por meio da linguagem. Segue-se que as descries das expresses lingusticas devem proporcionar pontos de contacto com seu funcionamento em dadas situaes. A Pragmtica um marco globalizador, dentro do qual deve estudar-se a Semntica e a Sintaxe.

    No seguimento das pesquisas, os GTs de Fontica e Fonologia,

    MorfologiaDerivacional e Sintaxe das Relaes Gramaticais elegeram uma

    percepo formal das tarefas, enquanto os GTs de Sintaxe das Classes de

    Palavras eOrganizao Textual-Interativa elegeram uma percepo

    funcionalista. Convencionou-se, naquele momento, que os diferentes volumes

    da gramticaadvertiriam o leitor a respeito das diferentes opes tomadas.

    Num ponto estavam todos de acordo: o projeto teria uma vocao

    emprica,buscaria realizar uma descrio exaustiva, controlando os dados

    quantitativamente,sempre que possvel, limitando as pesquisas ao portugus

    brasileiroculto documentado pelo Projeto NURC/Brasil.

    A fundamentao em dados idnticos acabaria por matizar as

    diferenasapontadas acima, abrindo caminho a uma possvel convergncia dos

    pontosde vista, alguns dos quais perceptveis na segunda fase do debate

    terico.Entretanto, nessa fase as diferenas ainda permaneceram bem visveis.

    Conforme apontei atrs, alguns GTs se inclinaram para uma

    abordagemmais formal dos dados, enquanto outros buscaram uma abordagem

    funcional.O exame das respectivas propostas tericas e dos trabalhos realizados

    mostraisso claramente. Passo a reproduzir trechos dos documentos por eles

    produzidos.

    4.1.1 A perspectiva formal

    1) GT de Fontica e Fonologia

    Segundo esse GT,

    o componente fonolgico de uma gram|tica aquientendido como um conjunto de princpios, parmetros e convenes queorganizam o sistema de oposies estabelecidas no plano fnico, e as possibilidadesde escolha das atualizaes dessas oposies,

  • facultadas aos falantesem contextos especficos, lingusticos e extralingusticos.

    Trabalhos em fonologia mtrica acompanham essa perspectiva.

    Entretanto,devem-se lembrar as pesquisas sobre fontica acstica e sobre o

    ritmo, necessrias caracterizao do portugus do Brasil.

    2) GT de Morfologia

    Os pesquisadores do GT de Morfologia sustentam que

    [...] uma abordagem gerativa para o estudo do componente morfolgico, levando procura de padres que definiriam a competncia lexical, [...] coloca a questo de como estudar a produtividade lexical no portugus falado, a partir de ocorrncias verificadas no corpus mnimo do PGPF. [...] O conceito de produtividade lexical de fundamental importncia na teoria lexical [podendo ser definido] como a possibilidade que essa regra tenha de formar novas palavras no lxico da lngua. Uma regra improdutiva, ao contrrio, embora possa ser utilizada para reconhecimento de relaes lexicais, tem sua distribuio limitada a uma lista de bases com que ocorre. [...]. As condies de produtividade de uma regra devem ser distintas das condies de produo, que dependem de fatores de ordem paradigmtica, discursiva e sociocultural. [Os fatores paradigmticos so determinadas pela existncia de regras em competio; o tipo de discurso utilizado permitir ou estimular certos tipos de formao; as condies culturais criam referentes a serem rotulados.] Tanto as condies de produtividade quanto as condies de produo esto ligadas a funes dos processos de formao. Temos sobretudo trs funes na formao de palavras: a mudana categorial, a rotulao e a avaliao expressiva.

    Um ponto a destacar nessas formulaes reside em que nelas se

    puseramem contacto, no nvel terico, os princpios constitutivos da estrutura

    eos princpios discursivos de processamento dessas estruturas, problemascom

    os quais os pesquisadores se viram s voltas em seu trabalho dirio,e que

    retornariam na segunda fase dos debates tericos.

    3) GT de Relaes Gramaticais

    Esse GT estipulou

    a utilizao do quadro conceitual da Teoria de Princpios e Parmetros da teoria gerativa, aliada a uma metodologia de manipulao e quantificao dos dados na linha laboviana. A metodologia justifica-se pelo fato da prpria teoria chomskiana admitir que uma teoria de uso da lngua inclui uma

  • gramtica da competncia, que atua, no desempenho, com outros mdulos da mente. A viso modular da gramtica e de seu uso levou a uma metfora metodolgica de trabalho por camadas de representaes: uma primeira, constituda de estruturas de predicao e complementao e a segunda de estruturas de adjuno e de elementos discursivos.

    Deve-se reconhecer que esse GT apresentou ao PGPF uma grande

    inovao,que foi a de estabelecer um casamento entre a teoria gerativa e a

    teoria davariao, promovido pelos professores Mary Kato e Fernando Tarallo.

    Masum fato sem dvida interessante foi que, munidos de hipteses fortes, e

    decerta forma arrastados pelo charme dos dados, os linguistas aqui

    associadosdeixaram para um segundo momento o exame do ncleo duro da

    orao, oufundo, examinando prioritariamente a camada mais extrema

    gram|tica,ou figura, constituda pelos elementos discursivos e pelos adjuntos,

    que atuamcomo ruptores da gram|tica nuclear, mas que so justamente os

    elementos indispensveispara a realizao das relaes gramaticais no discurso,

    ou na falaefetiva. Para uma discusso do par conceptual fundofigura, ver

    Nascimento(1993a).

    Partindo do princpio de adjacncia de caso formulado por Timothy

    Stowell,segundo o qual o elemento que atribui caso deve estar adjacente ao

    receptordesse caso, esse GT verificou se as mesmas fronteiras so disputadas

    pelosmesmos elementos, constatando que, a despeito da nocorrespondncia

    entrefronteira e funo, possvel identificar preferncias bem marcadas. As

    relaesambguas esto sendo analisadas tanto do ponto de vista sinttico

    quantodo fonolgico-prosdico. Foi possvel concluir que o portugus falado no

    Brasil marcado negativamente no que diz respeito aos requisitos da adjacncia

    entrea cabea e o constituinte que dela recebe o caso.

    4.1.2 A perspectiva funcional

    1) GT de Sintaxe das Classes de Palavras

    Esse GT descartou, desde o incio, a aplicao de alguma teoria

    lingusticaimportante, optando por levar a srio a metfora de Neurath, sempre

    lembradapor Rodolfo Ilari, segundo a qual se vai construir um navio ao mesmo

    tempoem que se est| navegando nele. Assim, tentou-se desde logo explicar

  • porque a estrutura do portugus falado como ela , partindo de

    abordagensintuitivas, que permitiram operar com critrios originrios de uma

    literaturavariada, que vai dos gramticos antigos at a Gramtica Gerativa,

    passandopela Anlise da Conversao e pela Semntica. Mas tudo isso sem

    muitoradicalismo, num raciocnio suaviter in modo, embora se reconhea que h

    umsabor mais vincadamente funcionalista naquilo que se vem fazendo.

    O que unifica os pesquisadores reunidos nesse GT, decerto o mais

    heterogneodo PGPF, tomar como objeto mais amplo de estudo a

    competnciacomunicativa, entendida, na formulao de Maria Helena de Moura

    Neves,como a capacidade que os falantes tm no apenas de acionar a

    produtividadeda lngua (jogar com as restries), mas tambm e

    primordialmente de proceder a escolhas comunicativamente adequadas

    (operaras variveis dentro do condicionamento ditado pelo prprio processo

    de produo).

    As classes de palavras so o objeto emprico desse GT. As pesquisas

    comearampelo estudo dos advrbios, vindo depois os adjetivos, os pronomes,

    osverbos e as conjunes. As preposies foram agregadas posteriormente.

    Partindodas propriedades habitualmente atribudas a essas classes de

    palavras,examina-se at que ponto elas so aplicveis ao estoque de itens

    constantesdo corpus. Atuando assim, os pesquisadores se deram conta de que

    nem todosos advrbios, por exemplo, podem ser realmente entendidos como

    tais. Paraencaminhar o problema, foram postulados quatro processosbsicos de

    constituiodo enunciado: a referenciao, a predicao, a conjuno e a

    foricidade,que inclui a dixis.

    Na anlise dos advrbios, esses processos foram assim utilizados:

    i) no que respeita predicao, distinguiram-se advrbios predicativos (modalizadores,qualificadores, aspectualizadores) de nopredicativos (focalizadoresde incluso/excluso, de afirmao/negao); ii) quanto ao processo da conjuno, notou-se que muitos advrbios promovemum amarramento textual das pores de informao progressivamenteliberadas ao longo da fala, como Mercedes Risso reconheceu, ao estudaros empregos de agora, a que se seguiram estudos de outros itens tais comoa, ento etc. Esses conectivos textuais foram descritos pelo GT de OrganizaoTextual-Interativa;

  • iii) finalmente, no que toca ao processo da foricidade, notou-se a grande importnciade itens tais como aqui, l, agora, hoje etc., solicitados pela funo interacionalna conversao, pela permeao de vozes na produo oral e pela remissotextual. O exame dos pronomes, dos adjetivos e das conjunes vemconfirmando a relevncia desses processos na descrio das expresses orais.

    2) GT de Organizao Textual-Interativa

    O GT de Organizao Textual-Interativa parte de

    uma concepo especficade linguagem, que passa a ser vista como uma forma de ao, uma atividadeverbal exercida entre dois protagonistas, dentro de uma localizaocontextual, em que um se situa reciprocamente em relao ao outro, levandoem conta circunstncias da enunciao, de que fazem parte os entornos espcio-temporale histrico-social que unem os interlocutores.

    O ponto forte da articulao desse GT est| em sua viso de linguagem

    comomanifestao de uma competncia comunicativa, definvel como

    capacidadede manter a interao social mediante a produo e o entendimento

    de textosque funcionam comunicativamente. Seus pesquisadores insistem em

    queessa competncia comunicativa no tem, com relao competncia

    lingustica,um carter de excluso ou de adio. Por outras palavras, no se trata

    de

    ampliaro objeto de estudos da Lingustica Estrutural, acrescentando-lhe componentespragmticos. Trata-se, na verdade, de um enfoque particular do heterogneo fenmenoda linguagem, com o consequente estabelecimento de um objeto deestudos que leva a pesquisar a lngua sob a forma com que ela comparece socialmente,e no sob a forma de um sistema abstratode signos.

    O texto enquanto objeto de estudo deve ser definido como um

    produtolingusticomarcado pela dinmica da atuao interacional. A Pragmtica,

    a Anliseda Conversao e a Lingustica do Texto fornecem os marcos dentro

    dosquais se movimentam as an|lises: a viso do texto falado como uma

    atividadeestruturada, que apresenta regularidades prprias de organizao,

    sustenta apossibilidade de uma abordagem gramatical do texto.

    Para operacionalizar tais conceitos, esse GT investigou a naturezae

    especificidade de produo do texto falado, sua organizao tpica, os processos

  • de construo textual e os marcadores discursivos, pondo em destaqueas

    funes textuais e interacionais desempenhadas pelos processos emecanismos

    de elaborao do texto falado.

    4.2 Para um modelo de processamentodo discurso: um ponto de

    convergncia?

    A maior expectativa que as pessoas alimentam ao consultar uma

    gramticade referncia encontrar ali, devidamente hierarquizados, um

    conjunto deprodutos lingusticos, o chamado enunciado, disposto em planos

    classificatriosmais ou menos convincentes.

    A presente gramtica deixou de lado essa estratgia, tendo buscado

    identificarnas descries feitas os processos acionados para a produo do

    enunciado.Indo nessa direo, Nascimento (1993b) prope que o texto o

    lugaronde possvel identificar as pistas indicadoras das regularidades que

    caracterizama atividade lingustica do falante. A esse respeito, ele fez as

    seguintesafirmaes, que gozam de certo consenso entre os pesquisadores:

    a) Uma concepo da linguagem como uma atividade, uma forma de ao, a verbal, que no ode ser estudada sem se considerar suas principais condies de efetivao.

    b) A pressuposio de que, na contingncia da efetivao da atividade lingustica do falante/ouvinte [na produo e recepo de textos] temos a manifestao de sua competncia comunicativa, caracterizvel a partir de regularidades que evidenciam um sistema de desempenho lingustico constitudo de vrios subsistemas.

    c) A pressuposio de que cada um desses subsistemas constituintes do sistema de desempenho lingustico [o Discursivo, o Semntico, o Morfossinttico, o Fonolgico...] caracterizvel em termos de regularidades definveis em funo de sua respectiva natureza.

    d) A pressuposio de que um dos subsistemas constituintes desse sistema de desempenho lingustico o subsistema Computacional, [entendido como uma noo mais ampla que a de Lngua I], definvel em termos de regras e/ou princpios envolvidos na organizao morfossinttica e fonolgica dos enunciados que se articulam na elaborao de qualquer texto. e) A pressuposio de que o Texto o lugar onde possvel identificar as pistas indicadoras das regularidades que caracterizam o referido sistema de desempenho lingustico.

    Pode-se reconhecer, portanto, que o texto o ponto para onde

    convergemmuitas das posies dos pesquisadores. Outros pontos de

  • convergncia foramassinalados por Mary Kato, na Introduo ao volume V, por

    ela organizado:a organizao da gramtica, a metodologia adotada e os

    pressupostostericos, mesmo divididos como atrs mencionado (Kato, org.,

    1996).

    5. Plano geral da gramtica

    AGramtica do Portugus Culto Falado no Brasil constar, em sua segunda

    edio, de sete volumes, adiante enumerados, indicando-se entre parnteses

    seus organizadores:

    - Volume 1: Construo do texto falado (Cllia Cndida Abreu SpinardiJubran,

    Universidade Estadual Paulista, Pesquisadora do CNPq).

    - Volume 2: Construo da sentena (Mary A. Kato, Universidade Estadual de

    Campinas, Pesquisadora do CNPq).

    - Volume 3: Classes abertas (Rodolfo Ilari, Universidade Estadual de Campinas).

    - Volume 4: Classes fechadas (Rodolfo Ilari, Universidade Estadual de Campinas).

    - Volume 5: Processos de construo (Maria Helena de Moura Neves,

    Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pesquisadora do CNPq).

    - Volume 6: construo morfolgica da palavra (ngela Ceclia de Souza

    Rodrigues, Universidade de So Paulo; Ieda Maria Alves,

    Universidade de So Paulo).

    - Volume 7: Construo fonolgica da palavra (Maria Bernadete Marque Abaurre,

    Universidade Estadual de Campinas, Pesquisadora do CNPq).

    Em outra ocasio, detalharei as caractersticas da lngua falada e as

    consequncias que seu estudo trouxeram para a renovao das teorias sobre as

    lnguas.

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