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Curso de Mestrado em Enfermagem
Área de Especialização
Enfermagem Médico-Cirúrgica
Vertente Pessoa Idosa
A Pessoa Idosa Algaliada em Contexto Hospitalar:
Intervenções de Enfermagem para a Prevenção da
Infeção do Trato Urinário
Liliana Patrícia de Almeida Guerreiro Torres
2015 Não contempla as correções resultantes da discussão pública
Curso de Mestrado em Enfermagem
Área de Especialização
Enfermagem Médico-Cirúrgica
Vertente Pessoa Idosa
A Pessoa Idosa Algaliada em Contexto Hospitalar:
Intervenções de Enfermagem para a Prevenção da
Infeção do Trato Urinário
Liliana Patrícia de Almeida Guerreiro Torres
Professora Maria Emília Brito
2015
DEDICATÓRIA
À Beatriz, a minha pequena princesa, que tanto tempo privei de atenção e
amor maternal. Foi sem dúvida a minha motivação nos momentos mais difíceis.
Aos meus pais, às minhas irmãs e ao meu marido, que sempre acreditaram em
mim e me apoiaram incondicionalmente.
À Magda e à Filipa, pela amizade, companheirismo e cumplicidade ao longo
deste percurso.
À professora Emília Brito, por todo o apoio, dedicação e conhecimentos
transmitidos.
À enfermeira Graça Oliveira, pelo seu espírito crítico e por me dar a confiança
necessária para “embarcar” nesta aventura.
À equipa da ECCI, pelo carinho e pelas aprendizagens que me
proporcionaram.
A todos os profissionais e utentes que de alguma forma contribuíram para a
implementação do projeto.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACES - Agrupamentos de Centros de Saúde
ARSLVT – Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo
CAUTI - Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter
CCI – Comissão de Controlo de Infeção
CDC - Centers for Disease Control and Prevention
CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem
CSP - Cuidados de Saúde Primários
DGS – Direção-Geral da Saúde
ECCI – Equipa de Cuidados Continuados Integrados
ESEL – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
GCLPPCIRA - Grupo de Coordenação Local do Programa de Prevenção e
Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos
HICPAC – Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee
HPS - Health Protection Scotland
IACS – Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde
INE – Instituto Nacional de Estatística
IPI – Inquérito de Prevalência de Infeção
ITU – Infeção do Trato Urinário
NICHE - Nurses Improving Care for Health System Elders
OE – Ordem dos Enfermeiros
OMS – Organização Mundial de Saúde
PPCIRA - Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos
Antimicrobianos
RLVT – Região de Lisboa e Vale do Tejo
RNCCI – Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
SAPE – Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem
SNS – Serviço Nacional de Saúde
UCC – Unidade de Cuidados na Comunidade
WHO - World Health Organization
RESUMO
À escala mundial, assiste-se atualmente a um envelhecimento populacional
e a um crescente número de Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde
(IACS), tornando-se num imperativo económico, político e social.
A pessoa idosa, devido às alterações provocadas pelo processo de
envelhecimento, à coexistência de doenças crónicas e à fragilidade do seu
sistema imunitário, apresenta um risco acrescido de desenvolver infeções.
A Infeção do Trato Urinário (ITU) é a infeção mais comum entre os idosos e
no contexto hospitalar a algaliação é responsável por 80% das ITU. Neste
sentido, foi implementado um projeto no serviço de cirurgia geral, de um
hospital da Região de Lisboa e Vale do Tejo, com a finalidade de contribuir
para a prevenção da ITU Associada ao Cateter (CAUTI) na pessoa idosa.
Atendendo à metodologia de projeto, foram inicialmente identificadas
necessidades de formação dos enfermeiros, através da aplicação de um
questionário e da realização de auditorias aos registos e às práticas da equipa
de enfermagem, sendo que estas últimas permitiram também avaliar, numa
segunda fase, os resultados das intervenções de enfermagem desenvolvidas.
As intervenções de enfermagem implementadas, baseadas no estado da
arte, passaram por monitorizar diariamente a necessidade de algaliação e os
cuidados de manutenção ao cateter vesical, auditorias à higiene das mãos,
elaboração de uma norma para prevenção da CAUTI, elaboração de um
algoritmo para remoção da algália, formação aos enfermeiros e reflexão sobre
as práticas no seio da equipa de enfermagem.
Considerando a importância do ambiente e dos cuidados de manutenção
da vida à pessoa idosa para prevenção da CAUTI, seguiu-se como fio condutor
de enfermagem o quadro concetual de Orem e de Collière.
Os resultados da implementação do projeto traduzem uma maior reflexão
pela equipa de enfermagem acerca da indicação da algaliação, verificando-se
uma crescente preocupação em remover precocemente a algália.
Palavras-Chave: Cateter Urinário, Cuidados de Enfermagem, Idoso, Infeção
Hospitalar, Prevenção e Controlo.
ABSTRACT
Worldwide, the population is getting older and associated with this condition
the number of Healthcare-associated infections (HAI) is increasing, making it an
economic, political and social imperative.
The elderly, due to changes caused by the aging process and the
coexistence of chronic diseases, associated to the weakness of their immune
system, are a group with an increased risk of developing infections.
The Urinary Tract Infection (UTI) is the most common infection among the
elderly, so in hospitals catheterization is responsible for 80% of UTI. In this
sense, a project has been implemented in the general surgery service of a
hospital in Lisbon and Tejo Valley, in order to contribute to the prevention of UTI
Associated with Catheter (CAUTI) in the elderly.
Given the project methodology, there were initially identified training needs
among nurses, by applying a questionnaire and subsequently audit the records
and the nursing team practices and later, in a second phase, the results of the
nursing interventions that were performed.
The nursing interventions implemented, based on state of art, were
monitoring the daily need of catheterization and the maintenance care to urinary
catheters, hand hygiene audits, development of a standard rule for prevention
of CAUTI, development of an algorithm for the civet removal, formation to
nurses and reflections on practices within the nursing team.
Considering the importance of the environment and the maintenance care of
life at the elderly for prevention of CAUTI, there were followed as nursing
“conducting wire” the conceptual framework of Orem and Collière.
The results of the project implementation translate further considerations by
the nursing team about the indication of catheterization. There is now a growing
concern in the early removal of the urinary catheter.
Keywords: Urinary Catheter, Nursing Care, Elderly, Hospital Infection,
Prevention and Control.
ÍNDICE Pág.
INTRODUÇÃO 11
1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA EM ESTUDO 15
2. REVISÃO DA LITERATURA 19
2.1. A pessoa idosa e a infeção do trato urinário 19
2.2. O papel do enfermeiro na prevenção da infeção do trato urinário na
pessoa idosa
21
3. FILOSOFIA E CONCEÇÃO DA PRÁTICA DE CUIDADOS DE
ENFERMAGEM
25
4. METODOLOGIA 29
5. IMPLEMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES E APRESENTAÇÃO
DOS RESULTADOS
33
5.1. Prestação de cuidados de enfermagem à pessoa idosa e família em
contexto da comunidade e hospitalar
35
5.2. Implementação de intervenções sistematizadas de enfermagem para
a prevenção da CAUTI na pessoa idosa
42
5.2.1. Desenvolver competências para a prevenção e controlo da CAUTI na
pessoa idosa
45
5.2.2. Capacitar a equipa de enfermagem para a prevenção e controlo da
CAUTI na pessoa idosa
48
5.2.3. Intervir com enfermeira especialista na sistematização das intervenções
de enfermagem para a prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa
53
CONSIDERAÇÕES FINAIS/PERSPETIVAS FUTURAS 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 65
ANEXOS
Anexo I - Autorização para implementação do projeto pelo diretor e
enfermeira chefe do serviço de cirurgia geral
Anexo II - Autorização do conselho de administração do hospital para
implementação do projeto
APÊNDICES
Apêndice I – Plano de atividades propostas na fase de planeamento
Apêndice II – Breve caraterização dos locais de estágio
Apêndice III – Norma da UCC para a prevenção da CAUTI
Apêndice IV - Estudo de caso
Apêndice V - Consentimento informado, livre e esclarecido para participar em
projeto de estágio
Apêndice VI - Questionário acerca das recomendações baseadas na
evidência para a prevenção da CAUTI
Apêndice VII – Grelha de auditoria às práticas e registos de enfermagem para
a prevenção da CAUTI
Apêndice VIII – Checklist para monitorização diária da necessidade de
algaliação e cuidados de manutenção ao cateter vesical
Apêndice IX – Divulgação do projeto à equipa de enfermagem
Apêndice X – Resultados dos questionários aplicados aos enfermeiros sobre
a prevenção da CAUTI
Apêndice XI – Resultados das auditorias aos registos e às práticas da equipa
de enfermagem (1ª Fase)
Apêndice XII – Resumo com os resultados dos questionários e auditorias
(1ª Fase) às práticas e registos da equipa de enfermagem
Apêndice XIII – Análise do preenchimento das checklist´s para avaliar
diariamente a necessidade de algaliação e os cuidados de manutenção ao
cateter vesical, aplicadas aos idosos algaliados
Apêndice XIV – Norma do serviço de cirurgia geral para prevenção da CAUTI
Apêndice XV - Algoritmo para remoção da algália
Apêndice XVI – Poster com algoritmo para remoção da algália
Apêndice XVII – Resultados das auditorias aos registos e às práticas da
equipa de enfermagem (2ª Fase)
Apêndice XVIII – Resumo com os resultados das auditorias (2ª Fase) às
práticas e registos da equipa de enfermagem
Apêndice XIX - Apresentação dos resultados da implementação do projeto
aos enfermeiros
11
INTRODUÇÃO
O envelhecimento demográfico da população é uma realidade à escala
mundial. A Europa é uma das regiões mais envelhecidas do mundo, sendo
designada por continente grisalho. Portugal, no contexto europeu, é um dos
países que observa um maior envelhecimento demográfico (Instituto Nacional
de Estatística - INE, 2013).
Em Portugal, os estudos demográficos demonstram um aumento
progressivo da população idosa, devido à diminuição da mortalidade e do
consequente aumento da esperança média de vida, mas também à redução da
natalidade, que está bem evidente na diminuição dos níveis de fecundidade
(INE, 2013).
Por outro lado, a tecnologia ao serviço da saúde introduziu meios de
diagnóstico e tratamento inovadores, contribuindo para a longevidade da
população, mas aos quais existem riscos associados, sendo um dos mais
importantes a infeção.
As Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS), atualmente assim
designadas, correspondem às infeções adquiridas pelas pessoas em
consequência dos cuidados de saúde prestados, podendo afetar também os
profissionais de saúde no exercício da sua atividade profissional (Ministério da
Saúde, 2007). Este é um conceito abrangente, que se refere a todas as
unidades prestadoras de cuidados de saúde.
As IACS estão entre as complicações mais frequentes da hospitalização,
sendo causa de significativa morbimortalidade.
O envelhecimento da população e o crescente número de IACS, aliados ao
facto da Infeção do Trato Urinário (ITU) ser a infeção mais frequente na pessoa
idosa, atingindo 20% das mulheres e 10% dos homens, sendo que esta
prevalência duplica após os 80 anos (Nazarko, 2013; Corrêa & Montalvão,
2010; Pompeo et al, 2004), conduziram-me para a problemática em estudo.
12
Segundo os dados da Comissão de Controlo de Infeção (CCI) do hospital
onde exerço funções, a ITU também é a mais comum no referido hospital, com
uma taxa de prevalência de infeção de 29,2% no Inquérito de Prevalência de
Infeção (IPI) efetuado em 2012, o que me levou a desenvolver o projeto no
serviço onde trabalho (serviço de cirurgia geral).
A infeção urinária nosocomial (hospitalar) corresponde à aquisição de
bacteriúria significativa no decurso do internamento, sendo definida usando os
critérios para ITU sintomática ou assintomática. Pode envolver qualquer parte
do sistema urinário, incluindo a uretra, a bexiga, os ureteres e os rins (Centers
for Disease Control and Prevention - CDC, 2014). Entre as complicações mais
frequentes surge a pielonefrite, cistite, bacteriemia secundária, sépsis e
prostatite (Pina, Ferreira, Marques & Matos, 2010).
Sabe-se que a cateterização vesical é o principal fator de risco para a ITU,
sendo que 80% dos casos estão associados à algaliação (Blodgett, 2009).
As alterações funcionais e orgânicas do trato geniturinário, associadas à
fragilidade do sistema imunitário do idoso e frequentemente também à
desnutrição, colocam-no em risco acrescido de desenvolver ITU.
Uma vez que o enfermeiro é o profissional de saúde que permanece as 24
horas junto do doente, compete-lhe avaliar diariamente a necessidade de
algaliação da pessoa idosa e sendo esta realmente necessária, oferecer os
devidos cuidados na inserção, manutenção e remoção da algália.
Os cuidados de manutenção que o enfermeiro deve proporcionar à pessoa
idosa algaliada, minimizando o risco de ITU, bem como a promoção do bem-
estar e do autocuidado da pessoa idosa em ambiente hospitalar, são conceitos
fundamentais nesta problemática, pelo que a realização deste projeto foi
norteada pelo quadro concetual de enfermagem de Orem e de Collière.
Assim, em virtude da frequência do Curso de Pós-Licenciatura de
Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica, vertente Pessoa Idosa,
surgiu a oportunidade de desenvolver esta temática, nomeadamente as
intervenções de enfermagem para a prevenção da ITU na pessoa idosa
algaliada, em contexto hospitalar. Além de ser um tema do meu interesse, uma
13
vez que também sou membro dinamizador da CCI no serviço onde trabalho,
este vai ao encontro da revisão crítica da literatura efetuada e das políticas de
saúde, que têm a prevenção das IACS como prioridade.
Este projeto visa contribuir para a prevenção da Infeção do Trato Urinário
Associada ao Cateter (CAUTI) na pessoa idosa e melhorar a qualidade dos
cuidados de saúde ao idoso, baseando a intervenção de enfermagem na
evidência científica, que oferece orientações para evitar/minimizar este
problema.
Foi utilizada a metodologia de projeto, que se baseia numa investigação
centrada num problema real identificado e na implementação de estratégias e
intervenções eficazes para a sua resolução.
Este relatório representa o trabalho final de um estágio de 750 horas e de
todo o percurso teórico efetuado ao longo de três semestres que integram o
curso. O estágio constitui um espaço privilegiado para a integração dos
conhecimentos adquiridos ao longo do curso, e para o desenvolvimento das
competências no cuidado à pessoa idosa em situação de doença crónica e/ou
crónica agudizada e sua família, em contexto intra e extra hospitalar.
Assim, o estágio foi desenvolvido no contexto dos Cuidados de Saúde
Primários (CSP), integrando durante 4 semanas uma Equipa de Cuidados
Continuados Integrados (ECCI) da Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) e
em contexto hospitalar decorreu num hospital também da RLVT, onde durante
uma semana estagiei com o Grupo de Coordenação Local do Programa de
Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos
(GCLPPCIRA) e as restantes 13 semanas decorreram no serviço de cirurgia
geral, onde exerço funções.
O facto de abranger o contexto dos CSP e hospitalar contribuiu para uma
visão mais abrangente, enquanto enfermeira especialista, dos cuidados de
enfermagem prestados à pessoa idosa com doença crónica e/ou crónica
agudizada e sua família.
A implementação deste projeto teve assim como objetivos gerais:
14
1. Desenvolver competências na prestação de cuidados de
enfermagem à pessoa idosa e família.
2. Implementar intervenções sistematizadas de enfermagem para a
prevenção da CAUTI na pessoa idosa.
Dotada de um pensamento crítico acerca do trabalho efetuado, considerei
pertinente no final do estágio alterar o título do projeto para o título atual, mais
adequado à sua essência e centrado na pessoa idosa, pelo que é possível
encontrar títulos diferentes nos anexos/apêndices do relatório.
Neste trabalho apresenta-se inicialmente a problemática em estudo, uma
revisão da literatura sobre a pessoa idosa e a infeção do trato urinário e o papel
do enfermeiro na prevenção da ITU na pessoa idosa, a filosofia e conceção da
prática de cuidados de enfermagem que sustentou o projeto, seguindo-se a
metodologia utilizada.
Posteriormente, apresentam-se as atividades desenvolvidas no projeto e os
resultados obtidos, nomeadamente na prestação de cuidados de enfermagem
à pessoa idosa e família, em contexto da comunidade e hospitalar, e na
sistematização das intervenções de enfermagem para a prevenção e controlo
da CAUTI na pessoa idosa, analisando-se as competências desenvolvidas. Por
fim, surgem as considerações finais e perspetivas futuras, bem como as
referências bibliográficas.
15
1. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA EM ESTUDO
A transição demográfica e epidemiológica que se assiste não apenas em
Portugal, como em todo o mundo, apesar de ser um dos maiores triunfos da
humanidade, é também um dos grandes desafios, trazendo importantes
repercussões a nível económico, político e social.
A problemática em estudo surge assim atendendo a duas realidades com
grande impacto mundial, por um lado, o envelhecimento da população, por
outro, o crescente número de IACS.
As IACS incluem-se hoje entre as complicações mais frequentes da
hospitalização, estimando-se que em toda a União Europeia haverá
aproximadamente 5 milhões de casos identificados anualmente, com 50000
mortes relacionadas (World Health Organization - WHO, 2012a; Proux, Gerbier
& Metzger, 2008). Por outro lado, conduzem ao consumo acrescido de
recursos hospitalares e comunitários, sendo um imperativo económico,
sobretudo em países como Portugal, no momento de dificuldade financeira que
atravessa, com escassez de recursos humanos e materiais em saúde. Estima-
se que na Europa cerca de 13-24 biliões de euros por ano sejam gastos com
as IACS (WHO, 2012a).
Não sendo um problema novo, as IACS assumem cada vez mais
importância, constando da lista de prioridades da Organização Mundial de
Saúde (OMS) no que respeita à segurança dos doentes, por serem um dos
efeitos adversos da prestação de cuidados de saúde potencialmente evitáveis
(WHO, 2009a). Existem estudos que revelam que pelo menos 20% das IACS
poderiam ser evitadas (Pina et al, 2010).
A segurança dos doentes - Patient Safety – é hoje internacionalmente
reconhecida como uma componente extremamente importante da Qualidade
em Saúde. Talvez por isso, este seja um dos temas incontornáveis que nos
últimos anos e de forma crescente, tem dominado a agenda das políticas de
saúde em vários países de todo o mundo, sendo igualmente um assunto
16
central na estratégia de várias organizações internacionais, de que é exemplo a
World Alliance for Patient Safety, lançada em 2004 pela OMS (Sousa, 2006).
A segurança do doente é entendida como a ausência de danos evitáveis ao
doente durante o processo de cuidados de saúde (WHO, 2009a). Este é um
tema que afeta todos os países, independentemente do seu nível de
desenvolvimento, sendo que a pesquisa efetuada nos hospitais dos países
desenvolvidos demonstra que 1 em cada 10 doentes admitidos no hospital
sofre um efeito adverso (cerca de 10%). Este é entendido como um incidente
no qual um doente é prejudicado, e inclui além das IACS, o erro e o atraso no
diagnóstico, erros de medicação, erros de identificação de doentes, entre
muitos outros (WHO, 2012a).
Ao longo dos anos tem-se assistido a um aumento das taxas de
prevalência de infeção, e Portugal é um dos países da Europa com maiores
taxas de infeção, verificando-se no IPI efetuado em 2012, uma taxa de
prevalência de 10,6%, versus 6,1% da média europeia (Direção-Geral da
Saúde - DGS, 2013).
Assim, em Portugal esta problemática assumiu recentemente o caráter de
Programa Prioritário de Saúde, tendo sido criado em 2013 o Programa de
Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA),
sendo as IACS consideradas um indicador relevante para a qualidade dos
cuidados de saúde prestados (DGS, 2013).
Entre as IACS, destaca-se a ITU, que de acordo com os resultados do IPI
de 2012, em Portugal, é a segunda IACS mais frequente - 21,1%, precedida
apenas das infeções do aparelho respiratório - 29,3% (Ministério da Saúde,
2013).
Nas pessoas idosas, atende-se ao processo de envelhecimento como um
processo biológico, psicológico e social, contudo, é o envelhecimento biológico,
nomeadamente as alterações fisiológicas que vão ocorrendo com o avançar da
idade, que condicionam e predispõem o idoso à ITU.
Orem (2001, p.5) considera que as pessoas idosas e as crianças exigem
mais cuidados de enfermagem, definindo a Enfermagem como “uma estrutura
17
que deriva de ações deliberadas, selecionadas e executadas por enfermeiras,
para ajudar o indivíduo ou grupo sob sua responsabilidade, a manter ou alterar
condições em si próprios ou no seu ambiente” (trad. do autor).
O ambiente em que a pessoa idosa vive assume extrema importância no
processo de envelhecimento, sendo que aquando do internamento é da
responsabilidade do enfermeiro fomentar um ambiente terapêutico e seguro,
que promova o autocuidado, sendo este entendido como “(…) a prática de
atividades que os indivíduos iniciam e efetuam em seu benefício tendo em vista
a manutenção da vida, saúde e bem-estar” (trad. do autor) (Orem, 2001, p.35).
Collière (2003) enfatiza os cuidados de manutenção da vida que, aliados a
um ambiente terapêutico seguro, são fundamentais para a prevenção da
infeção na pessoa idosa, reconhecidamente mais frágil devido à diminuição
progressiva da reserva funcional, resultante do processo de envelhecimento.
Apesar de ser definida de várias formas, a fragilidade parece ser
consensualmente entendida como uma síndrome caraterizada por uma menor
capacidade adaptativa aos eventos agressores, resultando numa maior
vulnerabilidade a efeitos adversos, como as infeções, quedas, hospitalizações,
incapacidade e a morte (Davin, Paraponaris & Verger, 2009).
De acordo com Perry (2012), devido à diminuição da sua reserva funcional,
os idosos acabam por estar mais vulneráveis a desenvolver complicações
durante a hospitalização, estando assim mais suscetíveis às IACS.
Esta é também uma problemática do meu contexto de trabalho, onde foi
aplicado o projeto de estágio. De acordo com os dados divulgados pela CCI
deste hospital da RLVT, no IPI de 2012, 51,2% da população estudada tinha
idade ≥ 65 anos e as infeções mais comuns foram a ITU (29,2%), seguida da
pneumonia e infeção da corrente sanguínea (ambas com 23,1%) e infeção do
local cirúrgico (15,4%). Do total de doentes com IACS (12,5%), 31,9% tinha
cateter urinário.
A prevalência da algaliação avaliada no serviço de cirurgia geral para
diagnóstico de situação a 1/7/14 foi de 24%. Destes, 77% eram idosos e 50%
18
dos quais estavam algaliados sem indicação válida (segundo a análise
efetuada aos processos clínicos).
Por outro lado, na prática diária, constatei que os enfermeiros do serviço
poderiam melhorar os cuidados na manutenção do cateter urinário e investir na
desalgaliação precoce dos doentes, bem como atender a pessoa idosa tendo
em consideração a singularidade do processo de envelhecimento.
A pertinência deste projeto para a Enfermagem justifica-se pelo que foi
abordado anteriormente relativamente ao imperativo económico, político e
social em que as IACS se tornaram em todo o mundo, constituindo um
indicador da qualidade dos cuidados de saúde prestados, mas sobretudo na
medida em que se trata de uma questão deontológica, ética e moral - pela
ausência de danos evitáveis à pessoa idosa, que deve reger a prestação de
cuidados de enfermagem.
De acordo com artigo 81, do Código Deontológico do Enfermeiro, da Ordem
dos Enfermeiros (OE, 2009), o enfermeiro assume o dever de “salvaguardar os
direitos da pessoa idosa, promovendo a sua independência física, psíquica e
social e o auto-cuidado, com o objectivo de melhorar a sua qualidade de vida”,
pelo que assume um papel de relevo na prevenção das IACS, nomeadamente
da CAUTI, proporcionando e mantendo um ambiente terapêutico e seguro.
Este último é descrito pela Ordem dos Enfermeiros (OE, 2010, p.7):
“considerando a gestão do ambiente centrado na pessoa como condição
imprescindível para a efectividade terapêutica e para a prevenção de incidentes
(…)” o enfermeiro deve atuar “(…) proactivamente promovendo a envolvência
adequada ao bem-estar e gerindo o risco”.
Os dados anteriormente apresentados relativamente à percentagem de
IACS em Portugal, com todos os seus impactos associados, reforçam a
necessidade de implementação de intervenções de enfermagem para
prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa.
19
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. A pessoa idosa e a infeção do trato urinário
Na lista de prioridades de intervenção da WHO Patient Safety constam as
IACS, com programas como o Clean Care is Safer Care, a campanha Save
Lives: Clean Your Hands, entre outros, que incidem em áreas prioritárias como
por exemplo, a higiene ambiental, a higiene das mãos ou o uso de
equipamento de proteção individual, bem como os cuidados às pessoas idosas
e frágeis (WHO, 2012a).
O conceito de fragilidade tem sido bastante estudado nos últimos anos, e
como já foi referido anteriormente, surge frequentemente como uma síndrome
geriátrica. De acordo com Clegg & Young (2011), a fragilidade é caraterizada
por uma combinação de fatores, incluindo o processo de envelhecimento,
doenças crónicas e uma diminuição da vitalidade. Adicionalmente, fatores
comportamentais, físicos, sociais e ambientais, podem tornar os indivíduos
mais suscetíveis à infeção, a um aumento da dependência, a hospitalizações
ou até à morte (Amaral, Guerra, Nascimento & Maciel, 2013; Wallace et al,
2012).
É esta fragilidade do idoso, que o torna reconhecidamente mais suscetível
às infeções. A fragilidade do seu sistema imunitário e as alterações fisiológicas
que ocorrem com o envelhecimento, levam a que a infeção do trato urinário
seja a mais comum entre os idosos, atingindo 20% das mulheres e 10% dos
homens (Nazarko, 2013; Corrêa & Montalvão, 2010; Pompeo et al, 2004).
Segundo Dallacorte, Schneider & Benjamin (2007), as principais alterações
fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento e que colocam o idoso em risco
acrescido de desenvolver ITU são as seguintes:
Mulheres – Alteração da flora vaginal protetora pós-menopausa, pela
diminuição dos estrogénios; aumento do volume residual de urina; cistocelo;
contaminação fecal e o enfraquecimento do soalho pélvico.
20
Homens - Hipertrofia prostática, que dificulta o esvaziamento vesical;
diminuição da atividade bactericida das secreções prostáticas; estenose uretral
e as infeções prostáticas.
Ambos - Anomalias urológicas e bexiga neurogénica.
A ITU entre os idosos inclui as infeções sintomáticas e assintomáticas,
sendo mais comum a bacteriúria assintomática, e é consensual que esta não
deve ser tratada (Bergman, Schjott & Blix, 2011).
O quadro de infeção urinária nos idosos assume particular destaque,
uma vez que frequentemente se pode manifestar com sinais e sintomas
atípicos, tais como: confusão; incontinência; inquietação; diminuição do
apetite; letargia; quedas e ausência de febre - o que dificulta o diagnóstico e
atrasa o tratamento, aumentando assim o de risco morte (Perry, 2012;
Tingström, Milberg & Sund-Levander, 2010; Corrêa & Montalvão, 2010;
Bellmann-Weiler & Weiss, 2009).
Para Blodgett (2009) a ITU é a IACS mais frequente e 80% dos casos estão
associados à algaliação. Mori (2014) também considera que a CAUTI é a mais
comum, correspondendo a cerca de 40% de todas as IACS. Contudo, realça
que vários estudos demonstram que metade dos doentes estão algaliados sem
uma indicação válida, justificando assim medidas interventivas nesta área.
Assim, a presença do cateter urinário é o principal fator de risco para a ITU
nos idosos algaliados em contexto hospitalar, sendo que o risco de infeção está
diretamente relacionado com o tempo de cateterização e aumenta cerca de 5%
por cada dia de algaliação (Pratt & Pellowe, 2010; Nicolle, 2005).
Vários estudos demonstram que o agente causal de 90% das ITU em
idosos é a Escherichia Coli (Nazarko 2013, Corrêa & Montalvão, 2010;
Dallacorte et al, 2007).
Estima-se que, aplicando medidas de controlo de infeção adequadas, se
possam evitar até 69% das infeções urinárias, o que representa cerca de
380.000 infeções e 9.000 óbitos por ano (Gould, Umscheid, Agarwal, Kuntz &
Pegues, 2009), justificando assim que se faça neste trabalho uma análise ao
papel do enfermeiro na prevenção da CAUTI entre idosos.
21
2.2. O papel do enfermeiro na prevenção da infeção do trato urinário na
pessoa idosa
Como enfermeiros, há que compreender que frequentemente entre os
idosos as doenças se apresentam de forma atípica, tal como já foi explicitado
no caso da infeção urinária. Assim, Terry Fulmer debruçou-se sobre o papel do
enfermeiro especialista em geriatria e desenvolveu em 1988 um trabalho que
permite avaliar a condição dos doentes idosos hospitalizados, atendendo às
grandes síndromes geriátricas, através do acrónimo SPICES:
S – Sleep Disorders
P – Problems with eating or feeding
I – Incontinence
C – Confusion
E – Evidence of falls
S – Skin breakdown
Este acrónimo integra o Nurses Improving Care for Health System Elders
(NICHE), um projeto que visa identificar e ajudar os hospitais a implementar as
melhores práticas nos cuidados aos idosos, desde 1990. Permite aos
enfermeiros que, conhecendo estes problemas que acontecem com o avançar
da idade, possam prevenir iatrogenias desnecessárias e otimizar o processo de
envelhecimento (Fulmer, 2007).
Segundo Fulmer (1991), frequentemente não atendemos às grandes
síndromes geriátricas e se, por exemplo, um doente idoso sofre de
incontinência urinária, rapidamente lhe colocamos uma fralda ou o algaliamos
para “controlar esse problema”. Afirma que a incontinência pode ser
contornada de outras formas, como por exemplo, relembrando frequentemente
a pessoa idosa da necessidade de urinar.
A avaliação SPICES, feita regularmente, pode sinalizar a necessidade de
uma avaliação mais específica e contribuir para a prevenção e tratamento
destas condições comuns entre idosos (Fulmer, 2007).
22
A prevenção da ITU na pessoa idosa é uma problemática multifatorial e de
responsabilidade coletiva (Silva et al, 2012). Contudo, a equipa de
enfermagem, por passar 24 horas junto do doente e ser responsável pela
técnica de algaliação e pela supervisão/manutenção do cateter urinário,
assume um papel de relevo nesta questão (Giarola et al, 2012; Figueiredo &
Gomes, 2011).
Assim, atendendo à posição de destaque que o enfermeiro ocupa no seio
da equipa multidisciplinar e junto do doente/família, ele assume um importante
papel na edução contínua/formação de pares e dos restantes elementos da
equipa (Giarola et al, 2012). A formação é apontada por vários autores como a
principal estratégia na prevenção da ITU (Giarola et al, 2012; Figueiredo &
Gomes 2011; Dias, 2010), indo ao encontro das guidelines preconizadas para a
inserção, manutenção e remoção do cateter urinário.
Como referido anteriormente, a ITU na pessoa idosa manifesta-se muitas
vezes atipicamente, podendo o reconhecimento tardio dos seus sinais e
sintomas dificultar o diagnóstico, atrasar o tratamento e assim aumentar o risco
de complicações associadas à infeção urinária (Perry, 2012).
É fundamental que o enfermeiro tenha conhecimento dos sinais e sintomas
de ITU no idoso, para os saber diagnosticar precocemente, justificando-se
também a formação nesta área.
Barbosa & Siqueira (2009) realçam a importância de envolver o doente e
família na educação que é feita pelo enfermeiro, uma vez que se pretende
estimular o autocuidado. Estas autoras falam também da importância da
vigilância epidemiológica, neste caso relativa às ITU, com informação de
retorno/feedback aos profissionais de saúde, como estratégia de
responsabilização e sensibilização dos mesmos.
Para Dias (2010) a higiene das mãos assume um papel importante na
prevenção das IACS, com uma relação satisfatória custo-benefício, não sendo
exceção na prevenção da ITU. Pina et al (2010) reforçam a importância da
higiene das mãos e de existirem auditorias a esta prática, através de
observação direta da mesma.
23
Na revisão sistemática da literatura efetuada por Gregorius (2012), além
das atividades já mencionadas anteriormente, realça-se a importância do uso
de equipamento de proteção individual, o controlo dos fatores ambientais
e a realização de protocolos de atuação, neste caso, para prevenir a ITU.
A ITU está intrinsecamente relacionada à algaliação, que sem indicação na
pessoa idosa, é associada a situações de gestão da incontinência ou a
ausência de informação para remover o cateter urinário (Caramujo, Carvalho &
Caria, 2011).
Sabe-se que o tempo de permanência do cateter urinário é um dos
principais fatores de risco para a CAUTI. Estima-se que por cada dia de
algaliação, o risco de infeção aumente entre 3-10%, chegando aos 100% ao
fim de 30 dias de internamento (Mori, 2014).
Neste sentido, torna-se extremamente importante o enfermeiro avaliar a
necessidade de algaliação e minimizar o seu uso, sobretudo entre os
idosos, embora algumas situações o justifiquem, como é o caso de existir
retenção urinária; necessidade de uma monitorização rigorosa dos débitos
urinários, em pós-operatórios complicados; incontinência urinária na presença
de úlceras na região sagrada ou perineal; entre outras (Gould et al, 2009).
Gould et al (2009) pressupõem cinco níveis de intervenção para a
prevenção da CAUTI: 1. Avaliação da necessidade de algaliação, com base na
avaliação do risco individual do doente; 2. Seleção do tipo de algália, de acordo
com a duração prevista da algaliação; 3. Inserção assética da algália; 4.
Manutenção da algaliação; 5. Remoção da algália.
Vários estudos apontam para a remoção precoce da algália como a
principal estratégia de intervenção na prevenção da CAUTI, através de:
lembretes físicos ou virtuais (Chen et al, 2013; Bernard, Hunter & Moore, 2012;
Blodgett, 2009); de um algoritmo para avaliar a necessidade de algaliação e
manutenção do cateter urinário (Winter et al, 2009); avaliação diária pelo
enfermeiro, documentando a necessidade de algaliação e a manutenção que é
feita ao cateter (Dailly, 2011); criação de um protocolo para o enfermeiro
remover precocemente o cateter urinário – Nurse-Driven Protocol (Mori, 2014).
24
Pina et al (2010) apontam para o conceito de “care bundles”. Neste caso, a
bundle da algaliação é um conjunto de medidas que aplicadas em simultâneo
acabam por ter melhores resultados do que isoladamente, na prevenção da
ITU (Rosenthal et al, 2012; Winter et al, 2009).
25
3. FILOSOFIA E CONCEÇÃO DA PRÁTICA DE CUIDADOS DE
ENFERMAGEM
A prevenção da ITU na pessoa idosa implica uma conceção de cuidados
centrados na pessoa, que segundo McCormack & McCance (2006) deve
atender: aos atributos do enfermeiro (ser profissionalmente competente,
competências interpessoais e de comunicação); ao contexto dos cuidados
(combinação de competências, sistemas que facilitem a tomada de decisão, a
relação entre os profissionais e sistemas de suporte organizacional); ao
processo de cuidados centrado na pessoa (presença simpática,
empenhamento, respeitar as suas crenças e valores, partilhar a tomada de
decisão e satisfazer as suas necessidades) e aos resultados esperados
(satisfação com os cuidados, sentimento de bem-estar e ambiente terapêutico).
Collière (1999, p.151) considera que a pessoa não é apenas “… objecto
portador da doença x, y, z, mas constitui, realmente, a finalidade dos cuidados
que não adquirem sentido, senão a partir dele, daquilo que é, do que
representa no seio do seu ambiente social”.
Assim, de acordo com a mesma autora (Collière, 2003, p.243)
uma das funções do enfermeiro é aprender a discernir o que favorece o desenvolvimento
da vida das pessoas e o que lhes cria obstáculo, afim de evitar que a doença apareça
(prevenção primária), se instale (prevenção secundária) e se agrave (prevenção terciária).
Collière (2003) fala ainda dos cuidados de manutenção da vida, como
cuidados que sustentam e mantêm as capacidades adquiridas para fazer face
às necessidades do quotidiano, e que se enquadram na problemática em
estudo.
Orem (2001) aborda também conceitos fundamentais para esta
problemática, que vão ao encontro dos enunciados descritivos da Ordem dos
Enfermeiros (2012), nomeadamente, a importância de promover o bem-estar,
estimular o autocuidado (sendo este o conceito central da sua teoria) e prevenir
complicações, como é o caso da infeção do trato urinário.
Assiste-se frequentemente no internamento a situações de idosos que não
usavam fralda e que passam a usar porque os enfermeiros “assim entendem
26
que é melhor para o doente”, facilitando o seu trabalho, ou o fácil acesso às
algálias, que acaba por se traduzir em muitas algaliações desnecessárias,
colocando o idoso em risco acrescido de desenvolver infeção urinária (Bernard
et al, 2012).
Orem (2001), na sua teoria, considera que o Doente é definido como um
agente de autocuidado ou um agente dependente de cuidados. O Ambiente
inclui condições físicas e psicológicas externas ao doente. A Saúde é definida
como um estado que é caraterizado pela sensação de bem-estar das
estruturas humanas e do funcionamento do corpo e da mente. A Enfermagem é
entendida como um conjunto de ações destinadas a promover as capacidades
de autocuidado da pessoa que apresenta défice do mesmo.
Segundo a mesma autora, o autocuidado é o desempenho ou a prática de
atividades da vida diária que o indivíduo realiza em seu benefício para manter a
vida, a saúde e o bem-estar. Para que tal aconteça, o indivíduo tem de ser
capaz de se adaptar ao autocuidado, tomando como requisitos as atividades de
vida diária (manutenção de ingestão hídrica, ar, alimentos, manutenção do
equilíbrio entre a solidão e interação social, entre outros). Essa capacidade é
afetada por fatores como: idade, sexo, estado de saúde, questões ambientais,
etc.
A teoria desenvolvida por Orem (2001) é composta por três teorias inter-
relacionadas:
●Teoria do Autocuidado, que descreve como e porque as pessoas cuidam
de si próprias;
●Teoria do Défice de Autocuidado, que explica como as pessoas podem
ser ajudadas pela Enfermagem;
●Teoria dos Sistemas de Enfermagem, que descreve as relações que têm
de ser desenvolvidas e mantidas para que se produza Enfermagem, sendo
esta última considerada como a teoria unificadora, incluindo todos os princípios
fundamentais.
Orem (2001) considera três requisitos para o autocuidado: Universais, de
Desenvolvimento e por Desvios de Saúde. É sobretudo neste último que
27
considero que se enquadra a problemática em estudo, por se basear na
suposição de que os desvios da integridade estrutural e funcional e do bem-
estar, como é o caso da pessoa idosa algaliada, implica a sua prevenção,
controlo e minimização dos seus efeitos.
Por outro lado, podemos também enquadrar as questões da prevenção da
CAUTI nos requisitos universais do autocuidado, nomeadamente na prevenção
de riscos à vida humana, funcionamento e bem-estar humano. Orem (2001)
associa a prevenção primária aos requisitos universais e de desenvolvimento
do autocuidado, e a prevenção secundária e terciária aos requisitos dos
desvios de saúde do autocuidado (embora também possa estar associada aos
outros dois requisitos).
A teoria de Orem é bem aceite por toda a comunidade de enfermagem,
sendo a sua obra utilizada em todo o mundo, nas diferentes fases do ciclo vital
e em diferentes contextos (Taylor, 2004).
Orem (2001) considera que os idosos requerem cuidado ou assistência
total, quando as suas capacidades físicas e mentais entram em declínio e
limitam o autocuidado. Contudo, o processo de envelhecimento é único e
individual, pelo que apesar de existir um desvio de saúde, neste caso a
existência de uma algália no processo de eliminação, a pessoa idosa pode não
ser dependente no autocuidado e necessitar apenas de orientação/ensino na
manutenção da algaliação.
Assim, Orem (2001) aborda 5 métodos gerais de ajuda: 1) agir ou fazer
para outro; 2) Orientar o outro; 3) Apoiar o outro (física ou psicologicamente); 4)
Fornecer um ambiente que promove o desenvolvimento pessoal; 5) Ensinar o
outro.
Realço nesta problemática a importância do enfermeiro fornecer um
ambiente de desenvolvimento, que ajude a proporcionar condições ambientais
que motivem a pessoa a estabelecer metas e alcançar resultados específicos.
Neste caso, o enfermeiro deve algaliar a pessoa idosa apenas quando for
necessário e incentivá-la no autocuidado eliminação. No idoso algaliado, deve
promover as boas práticas nos cuidados de inserção, manutenção e remoção
da algália e ser um dinamizador da desalgaliação precoce.
29
4. METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a metodologia de projeto, em que a teoria se
encontra ligada à prática e o trabalho se desenvolve no próprio contexto
(Ruivo, Ferrito & Nunes, 2010). Esta metodologia, através da pesquisa, análise
e resolução de problemas reais do contexto, é promotora de uma prática
fundamentada e baseada na evidência.
Segundo Ruivo et al (2010), a metodologia de projeto é constituída por
cinco etapas:
1) Diagnóstico da situação – Foi efetuado a partir de uma preocupação
relativamente a esta problemática, enquanto membro dinamizador da CCI e
através do trabalho de campo desenvolvido no contexto onde foi implementado
o projeto.
2) Definição dos objetivos – Foram definidos os objetivos gerais já
apresentados na introdução e respetivos objetivos específicos (que constam do
apêndice I).
3) Planeamento – De acordo com os objetivos traçados, foram delineadas
as atividades a desenvolver e os respetivos resultados esperados (apêndice I),
atendendo ao tempo e recursos disponíveis.
4) Execução e avaliação – A execução das atividades planeadas foi
possível através da realização de estágios nos locais selecionados, sendo que
a avaliação da implementação do projeto foi efetuada através de auditorias às
práticas e registos da equipa de enfermagem.
5) Divulgação dos resultados – Esta é a fase atual, que corresponde à
elaboração do relatório de estágio.
Para Fortin (1999) o ponto de partida da investigação é uma situação que
suscita interrogações, mal-estar ou uma inquietação que requer uma melhor
compreensão.
O tema deste projeto é “A pessoa idosa algaliada em contexto hospitalar:
intervenções de enfermagem para a prevenção da infeção do trato urinário”,
30
sendo a questão de partida para a compreensão desta temática: “Quais as
intervenções de enfermagem na prevenção e controlo da infeção urinária (I) no
idoso algaliado (P), em contexto hospitalar (Co)?
Foi assim efetuada uma pesquisa com recurso ao motor de busca
EBSCOhost, para acesso às bases de dados CINAHL Plus with Full Text e
MEDLINE with Full Text, atendendo às palavras-chave: Urinary catheter,
Nursing Care, Elderly, Hospital Infection, Prevention and Control, utilizando os
boleanos AND e OR.
Dos resultados obtidos foi efetuada uma revisão crítica da literatura, bem
como da pesquisa bibliográfica que foi efetuada em livros, artigos e outros
documentos pesquisados na biblioteca da ESEL e na internet, que foi uma
constante ao longo do projeto e permitiu sustentar/basear as intervenções de
enfermagem implementadas no estado da arte.
Na implementação do projeto, para identificar as necessidades de formação
dos enfermeiros, foi inicialmente aplicado um questionário e foram realizadas
auditorias às práticas e registos da equipa de enfermagem, sendo estas últimas
um instrumento valioso numa segunda fase, para avaliar a implementação das
intervenções de enfermagem.
De salientar, que os instrumentos utilizados, neste caso o questionário e a
grelha de observação das práticas e registos da equipa de enfermagem, foram
construídos por mim, atendendo a várias pesquisas efetuadas e sob a
supervisão da enfermeira responsável pela CCI do hospital onde exerço
funções e pela enfermeira chefe do serviço onde foi implementado o projeto.
As reuniões com estes dois últimos elementos assumiram extrema
importância e foram uma constante ao longo de todo o projeto, sendo
determinantes para o desenvolvimento do mesmo.
As reuniões de orientação tutorial foram igualmente fundamentais ao
desenvolvimento do projeto: discutiram-se estratégias e atividades a
desenvolver face aos obstáculos encontrados; promoveu-se a análise e
reflexão do trabalho desenvolvido; partilharam-se experiências e vivências.
31
Por sua vez, a realização de um portefólio1 ao longo deste percurso
permitiu a reflexão acerca dos conhecimentos adquiridos e das atividades
desenvolvidas, consciencializando-me da necessidade de aquisição de novos
conhecimentos.
Para a implementação do projeto e comunicação com a equipa de
enfermagem, foi fundamental a elaboração de um dossiê, que foi colocado em
ambas as alas do serviço de cirurgia geral, junto ao balcão de enfermagem,
onde constam os resultados dos questionários e auditorias realizados, bem
como todo o material relativo ao projeto.
O recurso ao correio eletrónico foi uma estratégia utilizada para facilitar a
comunicação e “fazer chegar” a informação pertinente a toda a equipa de
enfermagem, sendo que ao longo do estágio foram enviados vários emails aos
enfermeiros do serviço, por intermédio da enfermeira chefe.
Durante a implementação do projeto foram proporcionados vários
momentos de reflexão no seio da equipa de enfermagem, acerca dos cuidados
de enfermagem prestados à pessoa e idosa e família, nomeadamente,
refletindo acerca da indicação da algaliação na pessoa idosa.
Estes momentos de reflexão assumem particular importância numa altura
em que é difícil solicitar aos enfermeiros que despendam do seu pouco tempo
livre para vir a reuniões de formação, e na medida em que as formações
clássicas e escolarizadas, são reconhecidamente ineficazes quando se
pretendem produzir mudanças de comportamento numa organização (Canário,
1999).
De acordo com o mesmo autor (1999), a otimização do potencial formativo
das situações de trabalho passa pela criação de dinâmicas formativas, que
propiciem, no ambiente de trabalho, as condições necessárias para que os
trabalhadores transformem as experiências em aprendizagens.
1 Portefólio em educação corresponde a uma coleção organizada e planeada de trabalhos
produzidos pelo estudante, ao longo de um determinado período de tempo, de forma a poder proporcionar uma visão alargada e detalhada dos diferentes componentes do seu desenvolvimento cognitivo, metacognitivo e afetivo (Valadares & Graça, 1998).
33
5. IMPLEMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES E APRESENTAÇÃO
DOS RESULTADOS
A implementação das atividades só foi possível através da realização de
um ensino clínico, que teve a duração de 18 semanas e foi desenvolvido
abrangendo dois contextos da prática: intra e extra hospitalar. Este teve como
finalidade o desenvolvimento de competências para cuidar da pessoa idosa
em situação de doença crónica e/ou crónica agudizada e sua família, em
ambos os contextos.
Assim, decidi efetuar estágio numa Unidade de Cuidados na Comunidade
(UCC) da RLVT, integrando a Equipa de Cuidados Continuados Integrados
(ECCI), que de acordo com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e
Vale do Tejo (ARSLVT, par. 6) direciona
a sua intervenção multidisciplinar a pessoas em situação de dependência funcional,
doença terminal, ou em processo de convalescença, com rede de suporte social, cuja
situação não requer internamento. O seu desenvolvimento, para além dos Cuidados de
Saúde Primários, contempla também a intervenção da rede social, no apoio social
domiciliário.
Esta escolha baseou-se no facto de pretender conhecer melhor a realidade
das UCC, por serem unidades com autonomia técnica e funcional, com uma
carteira de serviços específica e cuja atividade se desenvolve em estreita
articulação com as demais unidades dos Agrupamentos de Centros de Saúde
(ACES). Por outro lado, são constituídas por uma equipa multidisciplinar
(enfermeiros, médicos, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, entre
outros), coordenadas por um enfermeiro, que visam prestar cuidados
assistenciais na comunidade, nomeadamente nos domicílios, escolas,
empresas, etc. (OE, 2012).
O estágio intra hospitalar decorreu no hospital da RLVT onde exerço
funções, com início no GCLPPCIRA, onde estagiei uma semana, seguindo-se
13 semanas de estágio no serviço de cirurgia geral, o meu local de trabalho e
onde decidi implementar o projeto.
34
A opção por estagiar no GCLPPCIRA deste hospital baseou-se no facto de
já ser membro dinamizador do mesmo no serviço de cirurgia geral,
reconhecendo o seu trabalho e competência, pelo que pretendia conhecer a
dinâmica deste grupo, recentemente assim designado, bem como compreender
o papel dos enfermeiros que dele fazem parte, nomeadamente em relação às
orientações para a prevenção e controlo das ITU.
O serviço de cirurgia geral, sendo o local onde exerço funções e por isso
conheço a sua realidade, nomeadamente em termos de prevenção e controlo
de infeção, surgiu assim na fase de diagnóstico de situação como um local
privilegiado para o desenvolvimento do projeto. Por outro lado, apesar de
trabalhar no serviço de cirurgia geral há 12 anos e conhecer o perfil de doentes
que dele fazem parte, atualmente este está diferente, assistindo-se cada vez
mais a um crescente número de idosos internados, com situações de doença
crónica e/ou crónica agudizada, exigindo cuidados de enfermagem
especializados na área de intervenção da pessoa idosa e sua família.
Para um maior conhecimento acerca dos locais de estágio acima referidos,
remeto para a leitura do apêndice II, onde é efetuada uma breve caraterização
dos serviços em questão, contextualizando-os relativamente à missão de cada
um e respetivos recursos humanos e físicos.
35
5.1. Prestação de cuidados de enfermagem à pessoa idosa e família em
contexto da comunidade e hospitalar
A prestação de cuidados de enfermagem à pessoa idosa e família foi uma
constante ao longo de todo o ensino clínico, sendo que o estágio na
comunidade foi sobretudo desenhado com esse propósito.
Contexto da Comunidade
O estágio na ECCI teve a duração de 4 semanas e decorreu entre 29 de
setembro e 26 de outubro de 2014.
Neste ensino clínico, pretendeu-se essencialmente dar resposta ao primeiro
objetivo geral do estágio, que diz respeito ao desenvolvimento de
competências na prestação de cuidados de enfermagem à pessoa idosa e
família.
O contexto da comunidade é um contexto com o qual só tive contacto
enquanto estudante, no curso de base, pelo que a oportunidade de estagiar na
ECCI foi um grande contributo para alcançar este objetivo.
Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) considerados como o pilar central
do sistema de saúde pelo Decreto-Lei n.º 28/2008 de 22 de fevereiro, são o
primeiro acesso dos cidadãos à prestação de cuidados de saúde e ligação a
outros serviços para a continuidade dos cuidados, nomeadamente os hospitais.
O reforço dos CSP, como fundação para a obtenção de ganhos em saúde e
melhor gestão de doenças crónicas, é recomendado pelo Plano Nacional de
Saúde 2012-2016 (Ministério da Saúde, 2012).
As UCC conseguem, se forem bem apoiadas, trazer benefícios para o
Serviço Nacional de Saúde (SNS), ao proporcionarem cuidados no domicílio 7
dias por semana, evitando muitas idas desnecessárias aos serviços de
urgência por parte dos utentes e suas famílias (OE, 2012).
Na prática, a integração à equipa da UCC, mais especificamente à equipa
da ECCI, decorreu sem complicações, sendo uma equipa recetiva, dinâmica e
36
proativa, que de imediato se disponibilizou em tentar oferecer as mais variadas
experiências de aprendizagem, com o intuito de enriquecer o estágio,
atendendo aos objetivos propostos.
Assim, para o desenvolvimento de competências na prestação de cuidados
de enfermagem à pessoa idosa e família, estabeleci dois objetivos específicos:
1) Aprofundar conhecimentos sobre a pessoa idosa/família, suas
necessidades e especificidades de cuidados;
2) Intervir como enfermeiro especialista na capacitação da pessoa idosa e
família.
Em relação ao primeiro objetivo específico, este foi alcançado através da
constante pesquisa bibliográfica efetuada, bem como da vivência e contacto
diário com as pessoas idosas e suas famílias, que o contexto domiciliário
proporcionou.
As visitas domiciliárias permitiram o contacto direto com os utentes e suas
famílias, sendo que o facto de entrar nas suas casas e conhecer um pouco “do
seu mundo” facilitou uma avaliação mais adequada das suas necessidades de
cuidados, atendendo aos seus projetos de vida.
Foi possível durante o estágio acompanhar diariamente vários utentes
idosos e suas famílias, conversar com os mesmos e perceber, juntamente com
os enfermeiros da ECCI, quais as intervenções de enfermagem a desenvolver,
sendo muitas vezes necessário recorrer à colaboração de outros elementos da
equipa de saúde, como por exemplo, o médico ou a assistente social, ou até
encaminhar para o hospital.
A prestação de cuidados ao utente idoso e família permitiu que aplicasse os
instrumentos de avaliação dos mesmos e que me confrontasse com algumas
dificuldades na sua utilização, sendo a maioria dos instrumentos
desconhecidos pelos enfermeiros da ECCI, que utilizam além das escalas de
Morse e Braden, o Índice de Barthel ( instrumento de avaliação das Atividades
Básicas de Vida Diária).
Foi curioso e uma mais valia poder encontrar nas visitas domiciliárias
efetuadas, muitas delas pela primeira vez, utentes que já conhecia do contexto
37
hospitalar onde trabalho (tendo sido referenciados pelo serviço de cirurgia geral
para a ECCI), e aproveitar o conhecimento e a relação que tinha com estes
utentes e famílias, para funcionar como elemento de ligação entre os
enfermeiros da ECCI e os utentes/família, sendo nalguns casos o elemento de
referência para estes últimos, aprimorando a prestação de cuidados como
enfermeira especialista à pessoa idosa e família.
Por outro lado, a análise da intervenção do enfermeiro no cuidado à pessoa
idosa e família em contexto domiciliário, também me permitiu desenvolver
competências na prestação de cuidados à pessoa idosa e família, sendo que
fiquei surpreendida com o importante papel que os enfermeiros da ECCI
desempenham na vida dos seus utentes/famílias.
Estes enfermeiros desempenham assim um papel crucial, respondendo aos
3 níveis de prevenção (primária, secundária e terciária): dão ênfase ao
acompanhamento dos processos de transição das famílias, prevenção da
doença, promoção da saúde e reabilitação, para além da dimensão curativa e
paliativa (OE, 2012).
A equipa da ECCI inicia o dia de trabalho verificando se existem novos
utentes admitidos na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
(RNCCI)2 e discutindo algumas situações pertinentes. Depois, os 4 enfermeiros
dividem-se em duas equipas e dão início aos domicílios, abrangendo áreas
geográficas diferentes, mantendo diariamente cada enfermeiro os mesmos
utentes. Considero que, se por um lado está aqui implícita uma gestão de
tempo e recursos, por outro, promove-se a continuidade de cuidados e o
estabelecimento de uma relação terapêutica com aqueles utentes/famílias.
Em muitas das situações, ao contrário do que frequentemente se assiste no
internamento, o enfermeiro da ECCI demonstrou ir ao domicílio cuidar da
2 A RNCCI pretende implementar um modelo de prestação de cuidados adaptado às
necessidades do cidadão e centrado no utente, onde este possa aceder aos cuidados necessários, no tempo e locais certos, e pelo prestador mais adequado. A RNCCI dirige-se a pessoas em situação de dependência, independentemente da idade, que precisem de cuidados continuados de saúde e de apoio social, de natureza preventiva, reabilitativa ou paliativa, prestados através de unidades de internamento e de ambulatório e de equipas hospitalares e domiciliárias (ARSLVT, par. 3).
38
família, como é o caso das situações de fim de vida, em que tentam
acompanhar não só o utente, mas sobretudo a família.
Tive oportunidade de conhecer a carteira de utentes da ECCI na sua
globalidade, abrangendo as várias áreas geográficas. A grande maioria dos
utentes são idosos, sendo possível constatar que, se na maior parte dos casos
existe suporte familiar, situações há em que o único apoio dos utentes são as
instituições comunitárias.
Esta foi uma realidade com a qual não estava à espera de me deparar,
tendo encontrado situações em que pessoas totalmente dependentes nas suas
atividades de vida diária permanecem toda a noite sozinhas em casa, contando
apenas com a presença de profissionais de saúde e das instituições de apoio,
por alguns períodos do dia. Considero que esta situação também gera algum
sentimento de impotência para os enfermeiros da ECCI, que apesar de se
articularem com os parceiros comunitários e terem uma assistente social na
equipa, pouco mais conseguem oferecer.
Contudo, estes enfermeiros estão sem dúvida numa posição privilegiada
em relação aos demais profissionais de saúde, no que concerne ao conhecer o
utente e sua família. O facto de oferecerem um acompanhamento
personalizado e sistemático, na maior parte dos casos diariamente, aos seus
utentes/famílias, promove o estabelecimento de uma relação de confiança com
os mesmos. Ao entrarem diariamente em suas casas têm também disponível a
informação que a própria casa oferece, “contando” muito da história de vida
daquela pessoa e/ou família.
O enfermeiro da ECCI quando entra no domicílio dos utentes está assim
atento a todas as formas de comunicação, sendo que estas são determinantes
para a sua intervenção junto daquele utente/família.
Semanalmente, a ECCI tem uma reunião multidisciplinar para discutir os
casos mais problemáticos, pelo que existe todo um conceito de equipa que
envolve uma tomada de decisão conjunta.
Esta magnitude da intervenção de enfermagem e a variedade de
experiências vivenciadas, contribuíram para o alcançar dos objetivos propostos
39
e para o desenvolvimento de competências comuns de enfermeiro
especialista, nomeadamente na gestão dos cuidados e da
responsabilidade profissional, ética e legal.
O segundo objetivo específico proposto foi também alcançado na prestação
diária de cuidados ao idoso e sua família, mais especificamente na prevenção
da CAUTI, em que a equipa da ECCI me reconheceu competências para
dinamizar a desalgaliação precoce (sempre que possível) junto dos seus
utentes. Esta situação foi possível em três dos utentes, dois deles idosos, com
sucesso.
Por outro lado, apesar da prevenção da ITU ser uma preocupação
constante dos enfermeiros da ECCI, tentando seguir as recomendações
nacionais e internacionais, não existia nenhum protocolo ou norma de serviço.
Assim, em consonância com a enfermeira membro dinamizador da
Comissão de Controlo de Infeção do ACES na ECCI, apresentei uma proposta
de norma para a prevenção da CAUTI (apêndice III), que tentei articular
previamente com a enfermeira responsável pela CCI do ACES para a sua
elaboração, sem sucesso. Esta norma foi aprovada pela enfermeira orientadora
do estágio e pela enfermeira coordenadora da UCC, sendo que ficou disponível
para consulta no dossiê de normas da ECCI e nos seus computadores, para
um fácil acesso a todos os profissionais.
Apesar da elaboração desta norma não estar prevista inicialmente, na fase
de planeamento, considerei pertinente a sua elaboração no sentido contribuir
para a difusão das boas práticas de enfermagem na prevenção e controlo da
CAUTI, permitindo o desenvolvimento de competências comuns de
enfermeira especialista no domínio da melhoria contínua da qualidade e
das aprendizagens profissionais.
Por outro lado, neste contexto foi também possível desenvolver
competências específicas de enfermeiro especialista na área médico-
cirúrgica, nomeadamente na pessoa idosa, agindo como dinamizadora da
sua capacitação na gestão da doença aguda e/ou crónica e perita na
prestação de cuidados ao utente idoso algaliado.
40
Contexto Hospitalar
O estágio no contexto hospitalar, nomeadamente no serviço de cirurgia
geral, teve sempre subjacente a prestação de cuidados de enfermagem à
pessoa idosa e família. Contudo, sendo o local onde foi implementado o
projeto, grande parte das atividades desenvolvidas visaram alcançar o segundo
grande objetivo geral.
O ensino clínico no serviço de cirurgia geral teve a duração de 13 semanas
e decorreu entre 3 de novembro de 2014 e 13 de fevereiro de 2015.
Este estágio permitiu aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do
curso, mobilizando-os e efetuando novas aprendizagens, através da
permanente pesquisa bibliográfica, que foi essencial para uma tomada de
decisão fundamentada.
A reflexão acerca da prática de cuidados de enfermagem foi uma constante
no meu dia a dia, sendo que refletir sobre a experiência desafia à identificação
de novas maneiras de atuação (Johns, 2000). Assim, esta reflexão contribuiu
para uma mudança de comportamentos, nomeadamente na prestação de
cuidados de enfermagem à pessoa idosa e família, em que passei a atender
mais à pessoa idosa com conhecimento das suas especificidades de cuidados,
mas também dos seus projetos de vida, encarando-a como um ser único,
inserido numa família, também ela alvo da minha atenção e dos meus
cuidados.
Foi possível, em contexto de estágio, com mais tempo disponível para a
pessoa idosa e sua família, conhecer realmente o doente, mas também a
família, que como referi anteriormente, muitas vezes é descurada, sendo
procurada apenas no momento da alta. Além de parceira nos cuidados3 à
pessoa idosa, a família foi também alvo de cuidados, como pude vivenciar com
uma doente em fim de vida, que a filha deixou de cuidar de si, para
3 O conceito de Parceria é entendido como um processo dinâmico, negociado em conjunto por
doentes e enfermeiros no respeito pelos saberes de cada um. Este processo implica que seja dado à pessoa o direito e a responsabilidade de fazer escolhas, envolver-se na tomada de decisão em liberdade, no respeito pela sua autonomia e liberdade (Gomes, 2009). A construção do processo de parceria carateriza-se por cinco fases: revelar-se, envolver-se; capacitar ou possibilitar; comprometer-se; assumir o controlo de Si ou assegurar o cuidado do Outro (Gomes, 2009).
41
acompanhar a mãe neste período, ficando noite e dia junto da mesma.
Considero que esta experiência foi uma mais valia, pelo facto de ter
efetivamente cuidado desta família, tendo apoiado a filha da doente no que ela
necessitou e encaminhado a situação para a equipa de cuidados paliativos
intra-hospitalar, que dotada das competências necessárias, conseguiu dar um
suporte adequado à doente e família.
Como estratégia de auto aprendizagem elaborei estudos de caso (apêndice
IV), que “consistem no exame detalhado e completo de um fenómeno ligado a
uma entidade social (individuo, família, grupo)” (Fortin, 2009, p.241).
O respeito pelas questões éticas foi sempre salvaguardado,
nomeadamente, explicando ao doente o contexto em que se inseria o trabalho
e os seus objetivos, pedindo a sua colaboração, garantindo a confidencialidade
dos dados obtidos, e ainda, salvaguardando a possibilidade de desistir da sua
participação, sem que com isso prejudicasse os seus interesses (Fortin, 2009).
Assim, foi possível aprofundar conhecimentos sobre a pessoa idosa e
família através da elaboração de estudos de caso, com recurso a instrumentos
para a avaliação multidimensional da pessoa idosa e família, que promoveram
momentos de reflexão individual, mas também no seio da equipa de
enfermagem. Apenas na prática foi possível treinar a utilização destes
instrumentos e constatar as suas qualidades e limitações, uma vez que, tendo
sido apresentados em contexto de sala de aula, praticamente não tinham sido
trabalhados. Neste sentido, sinto que ainda necessito de aplicar mais estes
instrumentos para me sentir mais à vontade na sua utilização.
A prestação de cuidados de enfermagem à pessoa idosa e família teve
sempre subjacente a promoção do autocuidado, integrando os 5 métodos
gerais de ajuda (Orem, 2001). A pessoa idosa precisa de cuidados centrados
em si, numa perspetiva antropológica, que “consiste em ficar próximo das
pessoas, deixando vir a nós o que formos capazes de agarrar, o que
conseguirmos aprender com elas a partir do que nos revelam por sua própria
iniciativa” (Collière, 2003, p.148).
42
5.2. Implementação de intervenções sistematizadas de enfermagem para
a prevenção da CAUTI na pessoa idosa
Foi no serviço de cirurgia geral, onde exerço funções, que decidi
implementar o projeto de estágio, sendo que para tal, foi necessário
previamente solicitar autorização ao diretor e à enfermeira chefe do serviço,
bem como ao conselho de administração do hospital.
O projeto foi assim aceite pela direção do serviço a 17.11.14 (anexo I),
tendo sido submetido nessa data ao centro de investigação do hospital, para
análise e aprovação pela comissão de ética e conselho de administração, com
parecer favorável (anexo II).
Uma vez que o projeto visava auditorias às práticas e registos de
enfermagem, atendendo aos pressupostos éticos e legais, considerei
pertinente efetuar um consentimento informado, livre e esclarecido para os
enfermeiros participarem no projeto de estágio (apêndice V), que também foi
submetido a análise pelo centro de investigação e respetiva comissão de ética.
A segurança do doente é uma preocupação mundial, sendo que o
enfermeiro tem uma responsabilidade acrescida nesta matéria, ao ser o
profissional de saúde que mais contacto tem com o doente (Giarola et al,
2012), pelo que optei por intervir junto do mesmo.
As intervenções de enfermagem que decidi implementar para prevenção da
CAUTI na pessoa idosa, resultaram da revisão da literatura efetuada, sendo
que desta, selecionei as intervenções mais pertinentes, de acordo com a
realidade do serviço de cirurgia geral.
Assim, emergiram as seguintes intervenções de enfermagem:
Formação dos profissionais de saúde – A educação dos profissionais
de saúde, realizada em vários países, com efeitos positivos, é considerada
uma das estratégias eficazes na prevenção e controlo de infeção, seguindo as
orientações da OMS/guidelines internacionais (WHO, 2012b).
Auditorias à Higiene das Mãos – Gregorius (2012) efetuou uma
revisão sistemática da literatura acerca das intervenções de enfermagem
43
eficazes na prevenção e controlo das infeções hospitalares, emergindo a
prática de higienização das mãos como um importante instrumento na
prevenção e controlo das mesmas.
A OMS afirma que a higiene das mãos, efetuada de forma correta e em
momentos adequados, é a principal medida necessária para reduzir as
infeções hospitalares, podendo salvar vidas (WHO, 2009b).
Auditorias às práticas dos enfermeiros na prevenção da CAUTI –
Devem-se estabelecer planos de auditorias, antes e após as intervenções para
prevenir a CAUTI junto da equipa de enfermagem, de modo a permitir
monitorizar os resultados e a evolução do processo de melhoria da qualidade
dos cuidados, dando informação de retorno aos profissionais envolvidos
(Daillly, 2012; Pina et al, 2010; Dias, 2010).
Criação de Bundles e normas para a prevenção da CAUTI – A bundle
é uma forma estruturada de melhorar os processos de cuidados. Corresponde
a um pequeno conjunto de práticas baseadas em evidência (geralmente 3 a 5),
que quando realizadas coletivamente e de forma confiável, têm
comprovadamente melhores resultados para os doentes (Resar et al, 2005).
Deve-se apostar na elaboração de normas e criação de bundles de
cuidado, que incluam medidas simples, exequíveis e com evidência científica
(Jansen et al, 2012; Rosenthal et al, 2012; Pina et al, 2010; Dias, 2010).
Monitorização diária pelo enfermeiro da necessidade de algaliação
e dos cuidados de manutenção ao cateter – A evidência científica demonstra
que a algaliação só deve ser considerada em situações específicas e deve ser
mantida pelo mínimo tempo possível. Neste sentido, os enfermeiros
desempenham um papel crucial ao assegurar a técnica assética na inserção da
algália, as boas práticas nos cuidados de manutenção da mesma e a sua
remoção precoce.
Dailly (2011) valorizou a existência de um instrumento para monitorizar a
necessidade de algaliação e registar informações relacionadas com a mesma
(incluindo os cuidados na inserção e manutenção da algália), como estratégia
44
eficaz para ajudar a equipa de enfermagem a refletir sobre o motivo da
algaliação e as práticas de enfermagem, promovendo a desalgaliação precoce.
Criação de algoritmo para avaliar diariamente a necessidade de
algaliação – Rhodes et al (2009) estudaram os fatores de risco modificáveis
para a prevenção da CAUTI, concluindo que se deve evitar sempre que
possível a algaliação e intervir no sentido diminuir a sua duração. Para tal, são
focadas 2 estratégias eficazes: a utilização de uma bundle e a criação de um
algoritmo para avaliar diariamente a necessidade de algaliação.
Esta última estratégia vem dar resposta às recomendações do Healthcare
Infection Control Practices Advisory Committee (HICPAC) para a prevenção da
CAUTI, nomeadamente ao primeiro e último níveis de intervenção, que dizem
respeito à avaliação da necessidade de algaliação e à remoção da algália
(Gould et al, 2009).
No serviço de cirurgia geral, a técnica de algaliação não ocorre em grande
número, sendo que a maioria dos doentes vem algaliado de outros serviços,
maioritariamente do bloco operatório. Este facto levou-me a incidir as
intervenções de enfermagem para a prevenção da CAUTI na pessoa idosa, nos
cuidados com a manutenção da algália e na remoção precoce da mesma.
Assim, de modo a atingir o segundo grande objetivo geral: implementar
intervenções sistematizadas de enfermagem para a prevenção da CAUTI na
pessoa idosa, definiram-se 3 objetivos específicos (apêndice I), para os quais
foram realizadas as atividades que seguidamente se apresentam.
45
5.2.1 Desenvolver competências para a prevenção e controlo da CAUTI na
pessoa idosa
Este objetivo foi sendo desenvolvido ao longo do estágio, na permanente
pesquisa bibliográfica efetuada, na prestação de cuidados à pessoa idosa
algaliada em ambos os contextos (domiciliário e hospitalar), como já foi referido
anteriormente, e com um forte contributo do estágio no GCLPPCIRA, que teve
a duração de 1 semana, e decorreu entre 27 de outubro e 2 de novembro 2014.
O GCLPPCIRA é constituído por 9 médicos (um dos quais é o
coordenador) e dois enfermeiros, sendo estes os únicos elementos que se
dedicam exclusivamente ao trabalho no Grupo, pelo que foi a sua atividade que
acompanhei durante o estágio.
Deste modo, efetuei observação participativa da atividade dos enfermeiros
no Grupo e a sua intervenção a nível hospitalar. Este estágio decorreu numa
semana em que os enfermeiros se encontravam direcionados essencialmente
para a problemática do Ébola.
Assim, tive oportunidade de colaborar na realização de uma apresentação
acerca das questões teóricas e práticas relativas ao Ébola, em articulação com
o elemento médico coordenador do grupo, bem como assistir à mesma, que foi
dirigida a todos os profissionais de saúde do hospital.
Além de adquirir mais conhecimentos acerca da problemática em questão,
a realização destas atividades permitiu-me analisar a intervenção dos
enfermeiros neste Grupo e a articulação que existe entre os seus vários
elementos. Considero que, uma vez que o elemento coordenador (médico) não
dedica a sua atividade a tempo inteiro para o Grupo, acabam por ser os
enfermeiros a estar mais envolvidos e a ter um papel mais ativo nas atividades
a desenvolver, sendo na minha ótica, a “cara” do GCLPPCIRA.
Segundo Martins (2011), o enfermeiro de controlo de infeção gere
diariamente as atividades inerentes à implementação de todas as ações
necessárias para o controlo de infeção: elaborar planos de prevenção e
controlo da infeção; formar, sensibilizar e aconselhar todos os profissionais do
46
hospital nesta área; elaborar recomendações e procedimentos/normas de
controlo de infeção, atendendo às constantes atualizações; efetuar auditorias
dos cuidados para avaliar o cumprimento das boas práticas; efetuar vigilância
epidemiológica, ou seja, detetar os casos de infeção nos doentes internados e
fazer o estudo dessas infeções; divulgar os resultados dos trabalhos realizados
pelo Grupo a todo o hospital, objetivando a melhoria dos cuidados prestados
aos doentes; implementar projetos na área do controlo de infeção.
Considero assim, que os enfermeiros têm um papel fundamental no
GCLPPCIRA, abrangendo três vertentes: vigilância epidemiológica (exigindo
um trabalho diário em conjunto com o laboratório de microbiologia do hospital);
a elaboração e monitorização de normas e recomendações de boas práticas e
a formação dos profissionais de saúde.
Este estágio permitiu-me constatar a exigência e a necessidade que os
enfermeiros do GCLPPCIRA têm de estar constantemente atualizados em
relação às várias abordagens do controlo de infeção, como foi o caso do Ébola.
De acordo com regulamento nº 533/2014, publicado em Diário da
República, 2ª Série, nº 233 de 2 de dezembro de 2014, a norma para o cálculo
de dotações seguras dos cuidados de enfermagem prevê que a CCI possua,
no mínimo, 1 enfermeiro, o qual deve ser especialista com competência
reconhecida na área do controlo de infeção. Neste hospital estes critérios são
cumpridos, sendo que os dois enfermeiros do GCLPPCIRA são especialistas e
um deles tem um mestrado em controlo de infeção.
Foi possível durante o estágio acompanhar os enfermeiros numa visita a
vários serviços do hospital, atendendo à implementação do Projeto Nacional de
Campanha da Higiene das Mãos, para perceber o ponto da situação do Projeto
nos serviços, dando orientações e apoiando no necessário.
Durante esta semana, foi também possível consultar e analisar as
guidelines do GCLPPCIRA relativas à prevenção das IACS, nomeadamente a
CAUTI e discuti-las com os enfermeiros do Grupo, no sentido de, baseada nas
mesmas, construir os instrumentos a aplicar na fase de implementação do
projeto no serviço de cirurgia geral.
47
Assim, sob orientação de um dos enfermeiros do Grupo, meu orientador no
local de estágio, e atendendo aos resultados da revisão da literatura efetuada,
elaborei durante este estágio os seguintes instrumentos:
○ Questionário para diagnosticar necessidades formativas, a aplicar
aos enfermeiros da cirurgia geral, acerca das recomendações baseadas na
evidência científica para a prevenção da CAUTI (apêndice VI);
○ Grelha de auditoria às práticas e registos de enfermagem para a
prevenção da CAUTI (apêndice VII);
○ Checklist para monitorização diária da necessidade de algaliação e
cuidados de manutenção ao cateter vesical (apêndice VIII);
Apesar de existirem alguns instrumentos disponíveis acerca desta temática
já testados, optei por ser eu a construir os instrumentos a aplicar no projeto,
obrigando-me a testar os mesmos, a aplicar os vários conhecimentos
adquiridos em diferentes áreas e a analisar e criticar o desenvolvimento do
conhecimento que sustenta a prática de enfermagem, contribuindo para o
desenvolvimento de competências comuns de enfermeiro especialista no
domínio da responsabilidade profissional, ética e legal, bem como das
aprendizagens profissionais.
Assim, na primeira semana de estágio na cirurgia geral realizei os pré-
testes aos instrumentos criados, sob orientação da enfermeira chefe do
serviço, orientadora do local de estágio, tendo sido feitos alguns ajustes aos
mesmos.
O facto de ser membro dinamizador e elo de ligação da cirurgia geral à CCI
do hospital, foi uma mais valia e possibilitou que ao longo do estágio estivesse
em permanente articulação com os enfermeiros do Grupo, que estiveram
sempre disponíveis em colaborar no projeto e deram toda a orientação
necessária, nomeadamente, validando os instrumentos elaborados.
Para além do desenvolvimento de competências para a prevenção e
controlo da CAUTI, o estágio no GCLPPCIRA contribuiu para o
desenvolvimento de competências de mestre.
48
5.2.2 Capacitar a equipa de enfermagem para a prevenção e controlo da
CAUTI na pessoa idosa
Para dar resposta a este segundo objetivo específico, no início do estágio
(no dia 11.11.14), foi efetuada uma reunião com a equipa de enfermagem
para divulgar o projeto (apêndice IX) e convidar os colegas a participar num
grupo de trabalho para dinamizar o mesmo. Esta reunião contou com a
presença de 50% da equipa de enfermagem, sendo este o resultado esperado
na fase de planeamento e difícil de superar, dadas as condições atuais de
trabalho.
Estava previsto, na fase de planeamento, esta reunião ter ocorrido logo na
primeira semana de ensino clínico. Contudo, como no serviço existia mais uma
colega a desenvolver um projeto no âmbito do mesmo curso de pós-
licenciatura em enfermagem e só iniciou o estágio nessa semana, decidimos
divulgar ambos os projetos conjuntamente, dados os constrangimentos de
tempo e recursos humanos.
Durante a fase de planeamento do projeto, houve dois enfermeiros que se
mostraram interessados em dinamizar o mesmo, sendo que na reunião de
divulgação do projeto houve mais dois elementos interessados. Estes 4
enfermeiros, apesar de pertencerem ao serviço de cirurgia geral, prestam
habitualmente cuidados em alas diferentes, visto que fisicamente a cirurgia
geral está repartida em cirurgia I e cirurgia II, o que a meu ver foi positivo,
facilitando a articulação com a equipa de enfermagem.
Uma vez que a cirurgia geral é o meu contexto habitual de trabalho, a
integração na equipa constituía um facto. Contudo, sendo que habitualmente
exerço funções na cirurgia II, estando mais próxima dos seus elementos,
considero que foi mais fácil a aceitação e implementação do projeto pelos
mesmos.
Seguiu-se o levantamento de necessidades formativas da equipa de
enfermagem na prevenção e controlo da CAUTI, tendo sido aplicado o
questionário elaborado (apêndice VI). Este foi entregue no serviço de cirurgia
geral no dia 12.11.14 e recolhido a 28.11.14, pelo que os enfermeiros tiveram
49
cerca de 2 semanas para responder ao questionário, período que decidi ser o
ideal para obter a participação do maior número possível de enfermeiros.
O questionário foi respondido por 32 enfermeiros do serviço, o que
correspondeu a 80% dos enfermeiros. Considero esta percentagem bastante
significativa, atendendo a que dos 8 enfermeiros que não responderam ao
questionário, 4 se encontravam ausentes por licença parental e atestado
médico desde há alguns meses.
Os resultados dos questionários (apêndice X), no global, atingiram um
score de conformidade nas respostas de 78%, encontrando-se num índice de
qualidade Muito Bom (superior a 75%).
Contudo, existiram algumas respostas que ficaram aquém dos 75%,
nomeadamente acerca do calibre recomendado da algália e a remoção
precoce da mesma, com indicação médica, que obtiveram 41% de respostas
corretas e que constituíram aspetos a trabalhar junto dos enfermeiros.
Por outro lado, os cuidados na inserção da algália (com 31% dos
enfermeiros a considerar a utilização de antissético na sua inserção), a
substituição do saco de drenagem vesical (que obteve 75% de respostas
corretas) e a fixação da algália (com 66% dos enfermeiros a considerar a
fixação como uma boa prática), podem-se traduzir também em oportunidades
de melhoria nos cuidados de enfermagem prestados.
No sentido de identificar as práticas da equipa de enfermagem em relação
à prevenção da CAUTI, foram efetuadas auditorias às práticas e registos
da equipa (com recurso à grelha elaborada – apêndice VII), no início e no
final do ensino clínico, de modo a avaliar o impacto da intervenção realizada
junto da equipa. As auditorias tiveram a duração de 2 semanas, sendo que a
primeira fase decorreu de 17 a 30 de novembro de 2014 e a segunda fase de
19 de janeiro a 1 de fevereiro de 2015, o que correspondeu no total a 12 dias
de auditoria (6 dias em cada fase).
Os registos de enfermagem, para além da obrigação legal que acarretam,
têm como essência “promover a continuidade dos cuidados; produzir
documentação dos cuidados; possibilitar a avaliação dos cuidados; facilitar a
50
investigação sobre os cuidados; optimizar a gestão dos serviços” (Figueiroa–
Rêgo, 2003, p.40).
Assim, constituem um indicador da qualidade dos cuidados de enfermagem
prestados, devendo ser efetuados de forma organizada e sistemática, de modo
a dar visibilidade aos cuidados de enfermagem e possibilitar uma análise e
avaliação dos mesmos (Figueiroa-Rêgo, 2003).
No serviço de cirurgia geral os registos de enfermagem são baseados na
Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE, versão Beta
2), encontrando-se informatizados no Sistema de Apoio à Prática de
Enfermagem (SAPE).
No padrão parametrizado para a cirurgia geral, as intervenções no SAPE
relacionadas com a prevenção da CAUTI surgem associadas à atitude
terapêutica Algaliação.
De acordo com as orientações do CDC, referidas por Almeida, Coelho &
Paramés (2013), todos os procedimentos envolvendo a algália e o sistema de
drenagem devem ser registados nas notas de enfermagem. No mínimo, devem
incluir: o nome do profissional; a data de inserção; o tipo e calibre da algália; o
volume da água do balão (medidas de Categoria II – Medidas de adoção
sugeridas para implementação, apoiadas em estudos epidemiológicos ou
clínicos sugestivos ou em fundamentação teórica).
Contudo, na prática diária, foi possível constatar que por vezes estes
registos não se encontravam completos, pelo que considerei pertinente intervir
ao nível dos mesmos, auditando-os e com base nos resultados definir
orientações.
No global, na primeira fase, os resultados das auditorias às práticas de
enfermagem atingiram os 82% de conformidade e os registos 81% (apêndice
XI), encontrando-se também num índice de qualidade Muito Bom.
Contudo, a análise destes resultados permitiu concluir que apesar de no
global o índice de qualidade ser Muito Bom, existem aspetos a melhorar,
nomeadamente:
51
Nos registos de enfermagem: registar a primeira eliminação
espontânea após desalgaliação (registada em apenas 45% dos casos); registar
o tipo e calibre do cateter vesical, que obteve 74% de conformidade.
Na prática de enfermagem: O calibre do cateter vesical deve ser de 12-
14Ch nas mulheres e 14-16Ch nos homens, sendo que este critério foi avaliado
tanto na prática como nos registos, com uma conformidade de 60%; na
inserção da algália, sobressai o uso do campo esterilizado com orifício como
oportunidade de melhoria; os cuidados de manutenção ao cateter vesical
obtiveram 76% de conformidade, sendo possível melhorar a fixação do cateter,
que ocorreu apenas em 22% dos casos e evitar o contacto do saco coletor de
urina com o chão, que foi verificado em 34% das situações; na remoção do
cateter vesical, há oportunidade de melhorar a limpeza do meato urinário com
soro fisiológico antes e após a remoção do cateter, com 43% de conformidade.
Analisando e comparando os resultados dos questionários e da primeira
fase de auditorias, é possível verificar que alguns aspetos são comuns,
nomeadamente ao nível do calibre recomendado da algália e da fixação da
mesma, que se revelaram como oportunidades de melhoria.
Não sendo possível realizar mais uma reunião para divulgar os resultados
dos questionários e auditorias, devido à escassez de recursos humanos
vivenciada no serviço, com recurso muitas vezes a turnos extraordinários,
estes foram divulgados aos colegas por correio electrónico, no início de
dezembro, com análise dos resultados, apresentando oportunidades de
melhoria (apêndices X e XI), tendo ficado também disponíveis no dossiê do
projeto criado, colocado em ambas as alas (cirurgia I e II).
Para facilitar a divulgação dos resultados aos colegas, foi elaborada uma
versão resumo da mesma (apêndice XII), que ficou disponível para consulta na
sala de enfermagem da cirurgia I e II, além de ter sido também enviada por
correio eletrónico e constar do dossiê do projeto.
Proporcionar momentos de reflexão e discussão de situações no seio
da equipa de enfermagem, demonstrou ser uma estratégia eficaz para a
prevenção da CAUTI, sendo que de acordo com Santos & Fernandes (2004) a
prática reflexiva tem vindo a constituir-se como um importante meio de
52
capacitação de estudantes e profissionais de enfermagem na aquisição de um
profundo conhecimento dos seus saberes e das suas práticas.
Estas questões remetem-nos para a esfera da Andragogia, ou seja, para o
que Knowles (1990) designou de arte e ciência de promover a aprendizagem
dos adultos, dando um contributo para a diferenciação entre aprendizagem de
adultos e crianças.
Knowles (1990) foi o primeiro a teorizar sobre educação de adultos,
fundamentando-se em 6 pressupostos andragógicos: 1) Necessidade de saber;
2) Conceito de si; 3) Papel da experiência; 4) Vontade de aprender; 5)
Orientação da aprendizagem; 6) Motivação.
De acordo com estes pressupostos, considero que esta metodologia de
projeto, em que se efetuou o diagnóstico da situação e procurou ir ao encontro
das necessidade formativas dos enfermeiros, atendendo ao contexto, é
promotora da aprendizagem de adultos.
Por outro lado, a prestação de cuidados à pessoa idosa algaliada e família
também constituiu uma estratégia de formação de pares, no sentido de na
minha prática diária tentar servir como modelo para os colegas, indo ao
encontro das boas práticas recomendadas pela evidência científica e
promovendo a sua disseminação.
Assim, considero que no contexto de prevenção da CAUTI na pessoa
idosa, desempenhei um papel de dinamizadora da desalgaliação precoce,
promovendo a reflexão da indicação da algaliação junto dos enfermeiros.
Foi gratificante perceber que o facto de estar a desenvolver este projeto
permitiu que a equipa de enfermagem me reconhecesse competências na
prestação de cuidados à pessoa idosa nesta área, solicitando-me
frequentemente opiniões acerca de determinadas questões práticas, como por
exemplo, como proceder no caso de doentes que foram desalgaliados e
fizeram retenção urinária, se determinado doente tinha indicação para ser
desalgaliado, entre outras.
53
5.2.3 Intervir como enfermeira especialista na sistematização das intervenções
de enfermagem para a prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa
Visando dar resposta a este objetivo, foram desenvolvidas algumas das
atividades que emergiram da revisão da literatura efetuada.
Assim, nos meses de novembro e dezembro, durante 3 dias, colaborei no
projeto institucional e nacional de Campanha de Higiene das Mãos,
efetuando observações a esta prática. Esta atividade surgiu no sentido de,
aproveitando a formação que tenho acerca da mesma enquanto membro
dinamizador do GCLPPCIRA no serviço, sensibilizar não só a equipa de
enfermagem para importância da higiene das mãos na prevenção das IACS,
como também os demais profissionais de saúde. Simultaneamente, pretendi
contribuir para a implementação da Campanha da Higiene das Mãos no serviço
de cirurgia geral, em que são necessárias pelo menos 200 observações por
serviço, tendo colaborado com 70 observações (apesar de ter proposto
inicialmente efetuar 100, mas não houve oportunidade para tal, dando
prioridade a outras atividades).
A higiene das mãos foi também um aspeto valorizado e transversal aos
instrumentos criados, sendo um dos critérios a avaliar na grelha de auditorias
às práticas, bem como na checklist para monitorizar a necessidade de
algaliação e os cuidados de manutenção ao cateter vesical. De acordo com os
dados obtidos, a adesão a esta prática rondou os 100%, um resultado muito
positivo.
No dia 1 de dezembro deu-se início ao preenchimento da checklist para
monitorizar diariamente a necessidade de algaliação e os cuidados de
manutenção ao cateter vesical aos idosos algaliados (apêndice VIII).
Esta checklist surgiu como um lembrete físico para a desalgaliação precoce
da pessoa idosa, e foi criada durante o estágio no GCLPPCIRA, apesar de ter
sido inicialmente prevista a sua criação junto da equipa de enfermagem do
serviço de cirurgia geral, nomeadamente do grupo dinamizador do projeto. Esta
antecipação na sua elaboração justifica-se, na medida em que não poderia
54
submeter o projeto ao centro de investigação sem a checklist estar elaborada,
para ser alvo de análise pela comissão de ética.
Indo ao encontro das guidelines internacionais, que remetem para a revisão
diária da necessidade de algaliação, a checklist foi criada com o intuito de ser
preenchida diariamente, no turno da manhã, pelo enfermeiro responsável pelo
idoso algaliado e colocada na capa do processo físico do doente. Quando este
fosse desalgaliado ou aquando da alta, as checklist´s eram colocadas no
dossiê do projeto, para depois eu avaliar a sua informação.
A aplicação e monitorização da mesma decorreram até ao dia 2.2.15 (com
interrupção para férias do Natal, de 18.12.14 a 4.01.15), o que correspondeu a
aproximadamente 1 mês e meio.
Em simultâneo, durante o respetivo período, foi diariamente por mim
avaliada a lotação do serviço, o nº de doentes algaliados internados, e destes
quantos eram idosos.
Apesar de ter proposto na fase de planeamento efetuar a monitorização
semanal do preenchimento das checklist´s, com informação de retorno aos
enfermeiros, esta não foi possível ser efetuada semanalmente, devido às
inúmeras atividades que tinha para realizar no ensino clínico.
Deste modo, no dia 7.1.15 divulguei por correio eletrónico aos colegas os
resultados da monitorização efetuada até à data, com uma taxa de adesão ao
preenchimento das checklist´s de 38%, solicitando uma maior adesão e
indicando oportunidades de melhoria retiradas da análise efetuada.
Os resultados finais desta monitorização foram divulgados por correio
eletrónico aos colegas no dia 9.2.15, ficando também disponíveis no dossiê do
projeto, e constam do apêndice XIII. Com base na informação recolhida
diariamente e nas checklist´s preenchidas, no final deste período foi possível
constatar que a adesão ao preenchimento das checklist´s pelos enfermeiros
correspondeu a 52%, com uma maior adesão ao longo do tempo.
Esta percentagem de adesão está aquém dos 80% que tinha proposto
inicialmente, na fase de planeamento do projeto, contudo, considero que a
conjuntura atual de trabalho, aliada à falta de motivação dos profissionais em
55
investir e participar em projetos institucionais, não promove taxas de adesão
muito superiores aos valores encontrados. Por outro lado, esta percentagem
corresponde às checklist´s que se encontravam no dossiê do projeto, pelo que,
de acordo com o que constatei na prática, existiram algumas que se
extraviaram, enviesando assim o resultado final.
Durante o período de aplicação da checklist, 19% dos doentes internados
no serviço estiveram algaliados, sendo que destes, 81% eram idosos, com uma
média de idades de 77,8 e uma moda de 80 anos.
Entre os idosos algaliados, 55% eram do sexo masculino e 45% do sexo
feminino.
Os resultados da monitorização das checklist´s indicaram uma média de
dias de algaliação de 6,48, com uma moda de 1. Em 98% dos casos os
enfermeiros consideraram que o doente estava algaliado com uma indicação
válida, sendo a mais comum, a monitorização rigorosa do débito urinário (59%),
indo ao encontro do facto de grande parte dos doentes algaliados se encontrar
internado na unidade de cuidados intermédios.
Em relação aos cuidados de manutenção da algaliação assumidos pelos
enfermeiros no preenchimento das checklist´s, apenas um deles ficou abaixo
dos 90% de conformidade, que correspondeu à fixação da algália, com 63% de
adesão a esta prática. Estes resultados vão ao encontro do que tinha proposto
na fase de planeamento do projeto.
Em dezembro iniciou-se também a elaboração da norma de serviço para
a prevenção da CAUTI (apêndice XIV), em colaboração com a enfermeira
chefe (orientadora do estágio na cirurgia geral) e a enfermeira orientadora do
estágio no GCLPPCIRA, razão pela qual esta só ficou pronta no final de
janeiro, atendendo a que tiveram que ser efetuadas algumas reuniões com
estes elementos, de acordo com as suas disponibilidades, para rever a norma.
Os elementos dinamizadores do projeto no serviço também tiveram
oportunidade de analisar a norma e dar a sua opinião sobre a mesma.
Esta norma foi ao encontro da norma institucional de procedimento geral
para prevenção da ITU em doentes com algaliação de curta e média duração,
56
elaborada pela CCI, em dezembro de 2013. Contudo, foram efetuadas algumas
alterações à mesma, baseadas na evidência científica atual e adequadas à
realidade do serviço de cirurgia geral.
A norma foi apresentada aos colegas no final do estágio e ficou disponível
no dossiê do projeto, bem como no manual de qualidade do serviço, que se
encontra nos computadores da cirurgia geral, para facilitar a sua consulta por
todos os profissionais do serviço.
Na fase de planeamento do projeto tinha proposto a elaboração de uma
bundle da algaliação, contudo, ao longo do estágio, em discussão com a
enfermeira coordenadora do GCLPPCIRA, a enfermeira orientadora do estágio
na cirurgia geral e com a professora orientadora do projeto, conclui que a
construção de uma bundle implicava tempo para ser testada e validada, pelo
que optei por adotar a bundle do Health Protection Scotland (HPS), que a CCI
adotou na norma que elaborou em 2013, mas na versão mais atualizada, de
2014.
Em janeiro iniciei a construção de um algoritmo para avaliar a
necessidade de algaliação. Tal como todas as outras atividades realizadas
neste ensino clínico, esta intervenção de enfermagem emergiu da evidência
científica como uma eficaz estratégia para a prevenção da CAUTI.
Contudo, para a sua elaboração foi necessário efetuar novamente pesquisa
bibliográfica, tendo constatado, na pesquisa que efetuei, que em Portugal não
existem publicados algoritmos para remoção da algália. Existem alguns
construídos internacionalmente, como é o caso do algoritmo criado pela Patient
Safety Authority, na Pensilvânia, pela Washington State Hospital Association,
entre outros.
Na procura de algoritmos existentes em Portugal, nomeadamente nas
instituições de referência, contactei a DGS, na pessoa da Dra. Elaine Pina, por
correio eletrónico, que prontamente respondeu, referindo não existir nenhum
algoritmo elaborado por esta instituição para remoção da algália ou no sentido
de prevenir a CAUTI. Contudo, remeteu-me para a CCI de um Centro
Hospitalar da Região de Lisboa, com referência a trabalho realizado nesta
área.
57
Assim, contactei telefonicamente com uma das enfermeiras do
GCLPCCIRA do respetivo centro hospitalar, que imediatamente se prontificou a
colaborar, marcando uma reunião para o dia 12.1.15. Nesta reunião, as
enfermeiras do GCLPCCIRA foram extremamente disponíveis em partilhar o
trabalho realizado nesta área pelo seu centro hospitalar, sendo que também
não elaboraram nenhum algoritmo para remoção da algália, mas o que têm
construído é um fluxograma de algaliação.
Apesar de não ter previsto esta reunião na fase de planeamento do projeto,
ela foi extremamente importante para o desenvolvimento de competências
comuns de enfermeiro especialista no domínio das aprendizagens
profissionais, da melhoria contínua da qualidade (OE, 2010) e de
competências de enfermeiro especialista na área médico-cirúrgica,
nomeadamente da pessoa idosa, e mais especificamente para a
prevenção e controlo da CAUTI.
Assim, construí um algoritmo para remoção da algália (apêndice XV)
baseado nos algoritmos que pesquisei, em colaboração com a enfermeira
chefe do serviço de cirurgia geral e com alguns colegas do serviço, que se
mostraram interessados em participar. Foi muito interessante a sua construção
e a orientação que decidi dar, no sentido de trabalhar a questão da retenção
urinária após desalgaliação.
Nos algoritmos pesquisados, a remoção da algália estava muito centrada
em torno do enfermeiro avaliar diariamente a indicação de algaliação e eram
exploradas estas indicações. Por outro lado, encontrei algoritmos que
trabalhavam apenas a questão da retenção urinária, sendo que muitas
decisões eram encaminhadas para o médico.
No meu contexto de trabalho, atendendo ao interesse e às dúvidas
levantadas pelos colegas, considerei pertinente elaborar um algoritmo que
focasse não só a remoção da algália, mas também a retenção urinária após
desalgaliação, que frequentemente origina intervenções de enfermagem
diferentes (nomeadamente algaliações desnecessárias), pretendendo-se
assim, orientar a prática dos enfermeiros e uniformizar procedimentos.
58
Depois de construído o algoritmo, pedi o parecer sobre o mesmo ao
GCLPPCIRA, cujos enfermeiros se mostraram agradavelmente surpreendidos
com o resultado final e solicitaram que o algoritmo constasse da norma de
procedimento geral da instituição para prevenção da ITU nos doentes com
algaliação de curta e média duração.
O algoritmo foi colocado em apêndice na norma de serviço elaborada para
prevenção da CAUTI e elaborei também um poster (apêndice XVI) com o
mesmo, tal como estava previsto inicialmente, que no final do estágio foi
colocado em frente ao balcão de enfermagem, em ambas as alas da cirurgia.
No sentido de avaliar a capacitação dos enfermeiros para a prevenção da
CAUTI na pessoa idosa, no final do estágio, foram efetuadas novamente
auditorias aos registos e às práticas de enfermagem, num período de 2
semanas (de 19 de janeiro a 1 de fevereiro de 2015), que corresponderam a 6
dias de auditoria.
Os resultados desta segunda fase de auditorias (apêndice XVII), apesar de
ligeiramente superiores, foram muito semelhantes aos da primeira, obtendo-se
83% de conformidades na auditoria aos registos de enfermagem (versus 81%
na primeira fase) e 88% de conformidades na auditoria às práticas (versus 82%
na primeira fase).
Os aspetos que mereceram mais destaque na primeira fase de auditorias,
sendo alvo de melhoria, mantiveram-se nesta segunda fase, nomeadamente: o
facto do calibre do cateter vesical não corresponder ao indicado (com 60% de
conformidades na 1ª fase e 45% na 2ª fase); o registo do tipo e calibre do
cateter vesical (com 74% de conformidades na 1ª fase e 76% na 2ª fase); a
fixação do cateter vesical (com 22% de conformidade na 1ª fase e 33% na 2ª
fase); a limpeza do meato urinário com soro fisiológico antes e após a remoção
do cateter vesical (com 43% de conformidade em ambas as fases de auditoria).
Ainda assim, há que sublinhar, na auditoria aos registos, a evolução que
houve no registo da primeira eliminação espontânea após remoção do cateter
vesical, que passou dos 45% de conformidade para os 82%.
59
Por outro lado, os cuidados com o saco de drenagem vesical,
nomeadamente o evitar o seu contacto com o chão, também melhorou
substancialmente, tendo passado de 66% de conformidade na primeira fase de
auditorias, para 84% na segunda.
De realçar ainda, o facto de em 91% dos casos os enfermeiros conhecerem
a indicação da algaliação, com uma melhoria em relação à primeira fase (81%)
e que na observação da prática coincidiu com um maior questionamento pelos
enfermeiros da necessidade de algaliação.
Tal como na primeira fase de auditorias, foi efetuada uma versão resumo
dos resultados obtidos nesta segunda fase (apêndice XVIII), que foi enviada
por correio eletrónico aos colegas, disponibilizada no dossiê do projeto e
impressa e colocada na sala de enfermagem de ambas as alas (cirurgia I e II),
para fácil consulta.
Por fim, na última semana de estágio, na impossibilidade de realizar uma
reunião de serviço para dar feedback aos colegas das atividades desenvolvidas
e os resultados obtidos, em concordância com a enfermeira chefe do serviço,
optei por realizar pequenas sessões para divulgação dos resultados do
projeto nas passagens de ocorrências (apêndice XIX).
Como fisicamente a equipa de enfermagem se encontra separada na
prestação de cuidados em dois serviços (cirurgia I e II), a passagem de
ocorrências da equipa da cirurgia geral também ocorre separadamente. Este
facto dificultou a estratégia selecionada para dar informação de retorno aos
colegas acerca do projeto, contudo, aproveitei o facto de este ser também o
meu local de trabalho, para tentar nos dias em que estava de serviço realizar
as sessões de divulgação, de modo a abranger as passagens de ocorrências
nas duas alas (foram efetuadas sessões na passagem de ocorrências Noite-
Manhã e Manhã-Tarde).
Assim, existiram 5 momentos para divulgação dos resultados do projeto,
com grupos restritos, que oscilaram entre as 2 e as 6 pessoas, com a duração
de aproximadamente 40 minutos (atendendo a que foram apresentados
também pela colega do mesmo curso, em estágio no serviço, os resultados da
implementação do seu projeto).
60
Esta estratégia de formação permitiu abranger 21 pessoas, o que
correspondeu a cerca de 50% da equipa de enfermagem (são 40 enfermeiros
no total), sendo que os restantes elementos, por impossibilidade de horário ou
por opção (uma vez que implicava nalguns casos terem que permanecer para
além do seu horário de trabalho), não estiveram presentes nas reuniões.
Considero que, apesar de se ter tornado algo repetitivo para mim, estas
reuniões em pequenos grupos favoreceram um clima de proximidade, com
maior envolvimento e partilha de conhecimentos e opiniões entre os presentes.
Ao longo deste ensino clínico, através das estratégias implementadas e da
informação transmitida à equipa, baseada na evidência científica, pretendeu-se
capacitar a equipa de enfermagem para a prevenção e controlo da CAUTI na
pessoa idosa, envolvendo a equipa num processo de mudança de práticas,
visando a melhoria da qualidade dos cuidados prestados. Assim, foi possível
desenvolver competências específicas de enfermeiro especialista na área
médico-cirúrgica, nomeadamente na pessoa idosa, agindo com
dinamizadora na construção e divulgação do saber ao nível da pessoa idosa e
competências de mestre, ao desenvolver processos de inovação das práticas
de cuidados e questionar as mesmas.
Ainda neste ensino clinico, visando o desenvolvimento de competências
comuns de enfermeiro especialista no domínio da gestão dos cuidados,
na semana de 8 a 12 dezembro, durante 3 dias acompanhei a atividade da
enfermeira chefe, que focou alguns aspetos fundamentais da gestão, como a
gestão de recursos materiais e humanos; a elaboração de horários; as
dotações seguras e os indicadores de qualidade do serviço.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPETIVAS FUTURAS
O processo de envelhecimento torna a pessoa idosa mais vulnerável às
infeções, o que associado às suas grandes síndromes, à fragilidade do seu
sistema imunitário, às doenças crónicas e à polimedicação, realça a
importância da problemática em estudo.
O cuidado à pessoa idosa e família impõe um conhecimento sobre as
mesmas que dá relevo ao papel do enfermeiro especialista na área. Apenas o
enfermeiro que possui conhecimentos acerca do processo de envelhecimento e
o encara como algo individual, poderá estar atento às necessidades da pessoa
idosa, suas potencialidades e projetos de vida, sabendo avaliá-la em todas as
suas dimensões e assim estabelecer intervenções junto da mesma.
Sendo que a ITU é a infeção mais frequente entre os idosos, urge repensar
práticas e olhar para o idoso como agente do seu autocuidado, estimulando-o
ao máximo, na procura do seu bem-estar.
É fundamental que o enfermeiro especialista na pessoa idosa seja um
modelo de boas práticas e responsável pela educação dos restantes pares e
elementos da equipa de saúde, nomeadamente, despertando-os para a
particularidade dos sinais e sintomas de ITU na pessoa idosa e evitando a sua
algaliação ou promovendo a desalgaliação precoce.
A implementação deste projeto para prevenção da CAUTI na pessoa idosa,
indo ao encontro de problemáticas atuais e sensíveis aos cuidados de
enfermagem, será certamente para manter no meu contexto de trabalho, onde
desenvolvi o ensino clínico.
Considero que neste processo fui e serei o elemento impulsionador do
projeto e da mudança de práticas na equipa de enfermagem, relativamente a
esta temática. Contudo, e os resultados obtidos nas auditorias às práticas dos
enfermeiros traduzem este facto, julgo que cerca de dois meses (o tempo em
que foi implementado o projeto) são insuficientes para uma mudança radical e
efetiva das práticas.
62
Apesar dos resultados das auditorias efetuadas traduzirem uma mudança
pouco significativa, relativamente às minhas expetativas, na prática dos
enfermeiros, não faço a sua leitura como um fracasso na implementação do
projeto, considerando que a grande mensagem que pretendia passar “refletir
sobre a indicação da algaliação na pessoa idosa e promover a desalgaliação
precoce” foi apreendida pela equipa. Assim, podem-se evitar/minimizar as ITU
associadas à algaliação na pessoa idosa e portanto contribuir para a melhoria
da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados.
Se implementar o projeto no local de trabalho parecia inicialmente ser um
aspeto positivo e favorável ao seu desenvolvimento, atualmente considero que
este facto foi prejudicial à sua implementação. Por um lado, porque alguns
colegas não compreenderam a mudança de estatuto que se me imponha
nestas condições (ora estudante, ora enfermeira), sendo mais difícil aceitar as
orientações para uma mudança de práticas, ainda que fundamentadas na
evidência científica.
Por outro lado, o facto de ser enfermeira no serviço levou a que em dias de
estágio sentisse “obrigação” de ajudar os colegas nas suas atividades diárias,
sobretudo em turnos caóticos e sobrecarregados de trabalho, deixando para
trás algumas atividades no âmbito do projeto, como por exemplo, desenvolver
um pouco mais a avaliação multidimensional de pessoa idosa. Esta é um dos
aspetos que considero ainda necessitar de desenvolver na minha prática diária,
pois os turnos dedicados exclusivamente à prestação de cuidados foram
insuficientes para me sentir à vontade na aplicação dos instrumentos.
A implementação do projeto permitiu-me concluir que a checklist criada
para monitorizar diariamente a necessidade de algaliação na pessoa idosa e os
cuidados de manutenção ao cateter vesical terá que ser abandonada no futuro.
Perceciono-a como uma sobrecarga de trabalho para a equipa de enfermagem,
também sentida por mim enquanto enfermeira do serviço, em que os
enfermeiros podem assumir cuidados que não prestam (como foi visível nos
resultados das auditorias, em que apenas 33% dos enfermeiros fixaram a
algália, mas analisando as checklist´s essa percentagem duplicou),
63
reconhecendo contudo, a sua utilidade em refletir práticas na prevenção e
controlo da CAUTI.
Neste sentido, atendendo aos lembretes virtuais para a desalgaliação
precoce, emergentes da revisão da literatura, solucionei que futuramente será
parametrizado na SAPE da cirurgia geral a intervenção de enfermagem:
“remover cateter urinário”, associada à atitude terapêutica algaliação, que
deverá ser programada em turno fixo (manhã), obrigando o enfermeiro a
conhecer a razão pela qual o doente se encontra algaliado. Esta nova
estratégia foi apresentada à chefia e aos colegas, tendo sido aceite pelos
mesmos, constando já da norma de serviço para prevenção da CAUTI.
Futuramente considero pertinente envolver a equipa médica do serviço na
implementação do projeto, sendo que enquanto membro dinamizador do
GCLPPCIRA no serviço, poderei articular com os elementos médicos
dinamizadores e investir nesta problemática, evitando sempre que possível a
algaliação e quem sabe elaborar um protocolo para remoção da algália, que
Mori (2014) demonstrou ser eficaz na prevenção da CAUTI.
Ainda perspetivando o futuro e atendendo ao facto de que grande parte dos
doentes da cirurgia geral são algaliados com calibres acima do indicado
noutros serviços, nomeadamente no bloco operatório e urgência geral, será
pertinente reunir com os enfermeiros membros dinamizadores do GCLPPCIRA
dos respetivos serviço/chefias e intervir no sentido de algaliar os doentes com o
calibre recomendado.
Analisando todo o percurso efetuado neste ensino clínico, considero que
atingi os objetivos propostos, tendo cumprido atempadamente as atividades
planeadas, que foram sem dúvida fundamentais para o desenvolvimento de
competências de mestre e enfermeiro especialista na área médico-cirúrgica,
nomeadamente na pessoa idosa e especificamente na prevenção da CAUTI.
Para tal, dou ainda ênfase ao ensino clínico na ECCI, que permitiu contactar
com uma realidade totalmente diferente da que vivencio diariamente e valorizar
a intervenção do enfermeiro da comunidade junto da pessoa idosa e sua
família.
65
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Anexo I – Autorização para implementação do projeto pelo diretor e enfermeira
chefe do Serviço de Cirurgia Geral
Descrição das atividades planeadas e resultados esperados, de acordo com os objetivos traçados
Objetivo Geral 1: Desenvolver competências na prestação de cuidados de enfermagem à pessoa idosa e família.
Objetivos Específicos
Atividades/Estratégias Resultados esperados
1.1 – Aprofundar conhecimentos sobre a pessoa idosa/família, suas necessidades e especificidades de cuidados.
1. Revisão narrativa da literatura sobre o processo de envelhecimento, necessidades e especificidades de cuidado à pessoa idosa e família; 2. Análise da intervenção do enfermeiro no cuidado à pessoa idosa e família, em contexto domiciliário e hospitalar.
1. O estudo de caso demonstra as necessidades e especificidades do cuidado à pessoa idosa e família; 2. Analisa a intervenção do enfermeiro especialista no cuidado à pessoa idosa/família, no contexto domiciliário e hospitalar.
1.2 – Intervir como enfermeiro especialista, na capacitação da pessoa idosa e família.
1. Avaliação multidimensional da pessoa idosa, intervindo de acordo com as suas necessidades, potencialidades e projeto de vida, através da realização de estudos de caso; 2. Prestação de cuidados à pessoa idosa e família, atendendo ao papel do enfermeiro especialista, em contexto domiciliário e hospitalar, através da realização do estágio de 4 semanas numa UCC e 13 semanas no serviço de cirurgia geral de um hospital da Região de Lisboa e Vale do Tejo; 3. Utilização da prestação de cuidados ao idoso e família como estratégia de formação de pares; 4. Ações educativas à pessoa idosa e família na gestão da sua doença aguda ou crónica.
1. Elabora um estudo de caso que reflete mobilização de conhecimentos, a avaliação multidimensional da pessoa idosa e família (com recurso aos instrumentos de avaliação dos mesmos) e uma intervenção baseada na evidência científica; 2. Presta cuidados à pessoa idosa e família, intervindo de forma diferenciada junto dos mesmos, baseada na evidência científica; 3. Os pares reconhecem no enfermeiro competências na prestação de cuidados à pessoa idosa e família e solicitam a sua intervenção quando necessário;
4. Demonstra no estudo de caso elaborado que as ações educativas ao idoso/família foram estratégias eficazes na resolução dos problemas identificados.
Objetivo Geral 2: Implementar intervenções sistematizadas de enfermagem para a prevenção da Infeção do Trato Urinário
Associada ao Cateter (CAUTI) na pessoa idosa.
Objetivos Específicos
Atividades/Estratégias Resultados esperados
2.1 – Desenvolver competências para a prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa.
1. Pesquisa bibliográfica em bibliotecas, internet e bases de dados, nomeadamente a EBSCO, com as palavras-chave: Cateter Urinário; Cuidados de Enfermagem; Idoso; Infeção Hospitalar e Prevenção e Controlo, procurando conhecer as intervenções de enfermagem na prevenção da CAUTI na pessoa idosa; 2. Observação participativa da atividade da enfermeira da CCI e a sua intervenção a nível hospitalar, realizando 1 semana de estágio na CCI de um hospital da Região de Lisboa e Vale de Tejo; 3. Consulta e análise das guidelines da CCI relativas à prevenção das IACS, nomeadamente a CAUTI; 4. Prestação de cuidados à pessoa idosa algaliada, atendendo à evidência científica, incluindo ações educativas à pessoa idosa/família sobre os cuidados no manuseamento do saco coletor de urina e de higiene perineal.
1. O relatório de estágio apresenta um enquadramento teórico que justifica a problemática em estudo e revela o estado da arte acerca da mesma; 2. Realiza uma semana de estágio na CCI e acompanha e participa nas atividades da enfermeira responsável; 3. Conhece as guidelines para prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa, e atende às mesmas na revisão de normas de procedimento sobre os cuidados na inserção, manutenção e remoção do cateter urinário; 4. Os estudos de casos elaborados traduzem uma prestação de cuidados à pessoa idosa/família baseada na evidência científica.
2.2 – Capacitar a equipa de enfermagem para a
1. Divulgação do projeto à equipa de enfermagem e convite a participar num grupo de trabalho que dinamize o mesmo;
1. Divulga o projeto à equipa de enfermagem e existe um X número de enfermeiros interessados em dinamizá-lo;
prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa
2. Identificação dos conhecimentos e das práticas da equipa de enfermagem acerca da prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa, através de: * Elaboração e aplicação de uma grelha de observação das práticas da equipa de enfermagem na prevenção e controlo da CAUTI, na pessoa idosa, realizando auditorias às mesmas no serviço de cirurgia, no inicio e final do estágio; * Elaboração e aplicação de um questionário para avaliar os conhecimentos da equipa de enfermagem do serviço de cirurgia sobre a prevenção da CAUTI na pessoa idosa; * Análise das respostas dos enfermeiros ao questionário aplicado e dos resultados das auditorias efetuadas; 3. Reuniões de formação com a equipa de enfermagem do serviço de cirurgia geral de um hospital da Região de Lisboa e Vale do Tejo: * No início do estágio - Para apresentar o projeto: Diagnóstico da situação; estado da arte e atividades a desenvolver; * No final do estágio - Para dar feedback das atividades desenvolvidas e resultados obtidos e solicitar opiniões/dúvidas/aspetos a melhorar no futuro; 4.Discussão com a equipa de enfermagem de casos em que se avalie a indicação da algaliação da pessoa idosa.
2. Elabora uma grelha de observação das práticas da equipa de enfermagem na prevenção e controlo da CAUTI, na pessoa idosa; 3. Efetua pelo menos 2 auditorias às práticas da equipa de enfermagem na prevenção da CAUTI na pessoa idosa; 4. Pelo menos 80% da equipa de enfermagem responde aos questionários elaborados; 5. Analisa os resultados dos questionários e das auditorias efetuadas no serviço; 6. Apresenta na primeira reunião de formação os resultados das auditorias efetuadas e questionários aplicados, o estado da arte da problemática em estudo e as atividades a desenvolver. Na reunião final apresenta as atividades realizadas e os resultados obtidos, aspetos a melhorar e solicita sugestões à equipa; 7. Presença de pelo menos 50% da equipa de enfermagem da cirurgia geral nas reuniões;
8. Discute com a equipa de enfermagem a indicação da algaliação na pessoa idosa, utilizando estudos de caso.
2.3 – Intervir como enfermeira especialista na sistematização das intervenções de enfermagem para a prevenção e controlo da CAUTI, na pessoa idosa.
1.Elaboração, em conjunto com a equipa de enfermagem, de um guia de orientação para a prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa, onde se inclui:
* Construção de uma checklist para monitorizar a necessidade de algaliação da pessoa idosa e os cuidados de inserção, manutenção e remoção do cateter urinário; * Criação de uma “bundle” da algaliação; * Elaboração de um algoritmo para avaliar a necessidade de algaliação; 2. Implementação das intervenções de enfermagem para prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa:
* Monitorização diária, pela equipa de enfermagem, da necessidade de algaliação da pessoa idosa e os cuidados na inserção, manutenção e remoção do cateter urinário, aplicando a cheklist criada; * Avaliação semanal do preenchimento das cheklist’s e devolver feedback aos enfermeiros dos resultados;
* Construção de um poster para afixar no serviço onde conste o algoritmo para avaliar a necessidade de algaliação e a sua “bundle”; * Realização de auditorias à higiene das mãos no serviço de cirurgia geral (como estratégia de sensibilização da equipa para a mesma), utilizando a grelha da CCI do hospital;
1. Elabora em conjunto com a equipa de enfermagem um guia de orientação para a prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa, que contém a checklist, a“bundle” de algaliação e o algoritmo criados; 2. 80% das checklist’s que constam dos processos clínicos, encontram-se totalmente preenchidas; 3. Avalia semanalmente o preenchimento das checklist’s pelos enfermeiros e devolve-lhes feedback; 4. Elabora um poster onde consta o algoritmo para avaliar a necessidade de algaliação e a sua “bundle”, que se encontra exposto no serviço; 5. Realiza pelo menos 100 observações à higiene das mãos, aos profissionais do serviço de cirurgia geral;
3. Avaliação dos resultados das intervenções de enfermagem implementadas para a prevenção e controlo da CAUTI:
* Auditorias aos processos dos doentes, através do SAPE, antes e após a implementação das intervenções sistematizadas de enfermagem para a prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa, avaliando a % de idosos algaliados e respetiva indicação; * Auditorias às práticas da equipa de enfermagem na prevenção e controlo da CAUTI, na pessoa idosa, antes e após a implementação das intervenções sistematizadas de enfermagem, utilizando a grelha de observação elaborada; * Avaliação das informações da checklist, recolhendo os dados relativos aos cuidados com inserção, manutenção e remoção do cateter urinário, bem como a informação relativa à % de idosos algaliados e sua indicação.
6. Realiza 2 auditorias aos registos SAPE, e espera-se que no final do estágio, a remoção precoce da algália na pessoa idosa (assim que possível) é uma preocupação da equipa de enfermagem e ocorre em pelo menos 90% dos casos; 7. A auditoria às práticas de enfermagem demonstra que, no final do estágio, pelo menos 80% das intervenções para prevenção e controlo da CAUTI na pessoa idosa se encontra em conformidade com a evidência científica; 8. Avalia semanalmente as informações da checklist e no final do estágio 90% dos items avaliados estão em conformidade com as últimas guidelines para prevenção e controlo da CAUTI.
Prevê-se a utilização de recursos físicos (locais de estágios - UCC da Margem Sul do Tejo, Comissão de Controlo de
Infeção e Serviço de Cirurgia Geral de um Hospital da Região de Lisboa e Vale do Tejo; Bibliotecas da ESEL e casas dos utentes
da UCC), materiais (computador com acesso à internet e bases de dados para pesquisa, Impressora, datashow, folhas em
branco, poster, lápis e canetas, viatura automóvel da UCC para deslocação aos domicílios dos utentes) e humanos (utentes
idosos e sua família, docente orientador do projeto e enfermeiros orientadores do local de estágio, equipa multiprofissional da UCC
e da Cirurgia Geral).
BREVE CARATERIZAÇÃO DOS LOCAIS DE ESTÁGIO
1. UNIDADE DE CUIDADOS NA COMUNIDADE (UCC) DA REGIÃO DE
LISBOA E VALE DO TEJO
Esta UCC é uma unidade funcional do Agrupamento de Centros de Saúde
(ACES) da Margem Sul do Tejo e iniciou funções em 2010. É constituída por
dois pólos, sendo que para rentabilizar os recursos humanos e materiais,
encontra-se a funcionar nas instalações de um dos pólos.
Tem por missão prestar cuidados de saúde e assegurar apoio psicológico e
social, através de atividades que visam o bem-estar e desenvolvimento da
comunidade, a proteção e promoção da saúde (com especial incidência em
determinados contextos - escolas, locais de trabalho), a prestação de cuidados
a grupos populacionais particularmente vulneráveis e intervenções ao
individuo/família em situações de grande dependência física ou funcional e/ou
de doenças que exijam acompanhamento no domicílio.
A UCC é constituída por uma equipa multiprofissional, que inclui: 11
enfermeiros a 40h (dos quais 5 são especialistas: 1 de Reabilitação, 1 de
Saúde Pública, 2 de Saúde Infantil e Pediatria e 1 de Saúde Materna) e um
enfermeiro chefe a 20h semanais; 2 enfermeiras especialistas em Saúde
Materna (5h e 3h semanais); 1 psicóloga (7h semanais); 1 assistente social (7h
semanais); 2 fisioterapeutas (40h e 15h semanais).
Para além destes profissionais, a UCC conta ainda com a cooperação de
outros profissionais do ACES, nomeadamente: higienista oral, assistente
operacional, médicos de saúde pública, técnicos de saúde ambiental e
nutricionista.
O Controlo de Infeção encontra-se incluído na Gestão de Risco, que
abrange assim 3 áreas: Controlo de Infeção, Gestão de Resíduos Hospitalares
e Saúde Ocupacional Interna. O Serviço de Gestão de Risco foi criado em
Outubro de 2010, tendo sido restaurado em Fevereiro de 2013, devido a
reconfigurações existentes no ACES.
A equipa da Gestão de Risco deste ACES é constituída por um médico
coordenador, duas enfermeiras (uma das quais responsável pela comissão de
controlo de infeção), um médico responsável pela saúde ocupacional, duas
técnicas de saúde ambiental (uma das quais responsável pela gestão de
resíduos hospitalares) e uma assistente técnica.
Em cada unidade funcional foram nomeados elementos dinamizadores
locais, que articulam com a equipa de Gestão de Risco do ACES e colocam em
prática as suas orientações. Nesta UCC a equipa de membros dinamizadores é
constituída por uma enfermeira (elemento responsável), uma técnica de saúde
ambiental, uma assistente operacional e uma assistente técnica.
O estágio foi realizado integrando a Equipa de Cuidados Continuados
Integrados (ECCI) da UCC. A ECCI divide-se na prática diária em duas
equipas, sendo que cada uma abrange áreas geográficas diferentes. Esta
equipa é constituída por um grupo multidisciplinar, destinado à prestação de
serviços e cuidados domiciliários a pessoas em situação de dependência
funcional, doença terminal ou em processo de convalescença.
As ECCI’s asseguram cuidados a utentes que se consideram admitidos
após processo de referenciação, validação/autorização pela equipa de
coordenação local da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
(RNCCI), da área de residência preferencial do utente, mediante proposta. Os
utentes podem provir do hospital ou do centro de saúde, sendo a referenciação
efetuada pela Equipa de Gestão de Altas (EGA) do hospital ou pelas unidades
funcionais do ACES, através de critérios estabelecidos pela RNCCI.
Atingida a capacidade assistencial da ECCI (40 vagas), os utentes ficam a
aguardar vaga, em lista de espera, sendo os cuidados de enfermagem
assegurados pelos enfermeiros das unidades funcionais do respetivo ACES,
onde se encontram inscritos.
Os critérios de referenciação para a ECCI são utentes residentes no
concelho, portadores de diversos tipos e níveis de dependência, que
necessitem de intervenções sequenciais de saúde e apoio social, sendo
critérios de inclusão: frequência da prestação de cuidados domiciliários
superior a uma vez por dia e sete dias na semana; necessidade de cuidados
que requeiram um grau de diferenciação que exceda a equipa básica, por
exemplo, enfermagem de reabilitação, apoio social, etc.; prestação de cuidados
multiprofissionais que excedam uma hora e trinta minutos por dia.
A ECCI funciona em estreita articulação com todas as unidades de saúde
do respetivo ACES, em especial com a equipa de enfermagem de cuidados
domiciliários e médicos de família dos utentes.
A UCC funciona de 2ª a 6ª feira, das 8h às 20h. Aos sábados, domingos e
feriados das 8-16h para os utentes integrados na ECCI.
2. HOSPITAL DA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO
Este hospital iniciou a sua atividade em Setembro de 1991, em substituição
do antigo hospital do concelho. Em 2003, como consequência do seu
desenvolvimento e grau de diferenciação, foi classificado como hospital central,
o único na margem sul do Tejo, deixando de pertencer ao setor público
administrativo e passando para o setor empresarial do estado, desde 2006 até
à atualidade como entidade pública empresarial (EPE).
O hospital serve atualmente uma população de cerca de 350 mil habitantes
e dispõe de uma lotação de 545 camas, distribuídas pelas várias
especialidades.
Tem como missão prestar cuidados de saúde diferenciados à população
dos concelhos que abrange. É também sua missão desenvolver atividades de
investigação e formação, pré e pós-graduada, de profissionais de saúde, assim
como atividades de ensino, em colaboração protocolada com entidades
públicas e privadas.
2.1. Grupo de Coordenação Local do Programa de Prevenção e
Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos (GCLPPCIRA)
A criação do GCLPPCIRA surge no âmbito do Programa de Prevenção e
Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), pelo
Despacho nº 2902/2013 de 22 de Fevereiro, publicado no Diário da República,
2ª Série, nº 38, sendo assim objeto de fusão o Programa Nacional de Controlo
de Infeção com o Programa Nacional de Prevenção das Resistências aos
Antimicrobianos, ao qual foi dado o caráter de programa prioritário de saúde
(Direção-Geral da Saúde - DGS, 2013).
De acordo com a DGS (2013), este programa tem como objetivos gerais a
redução da taxa de IACS, a promoção do uso correto de antimicrobianos e a
diminuição da taxa de microrganismos com resistência aos mesmos.
A criação do GCLPPCIRA surge neste hospital a 5/09/14, por deliberação
do Conselho de Administração, de acordo com o despacho nº 15423/2013 de
26 de Novembro de 2013, do Diário da República 2ª Série, dando-se a fusão
da Comissão de Controlo de Infeção com a Comissão de Antibióticos do
hospital.
A este GCLPCCIRA compete, como principais funções:
Supervisionar as práticas locais de prevenção e controlo de infeção e
uso de antimicrobianos;
Garantir o cumprimento obrigatório dos programas de vigilância
epidemiológica de infeção associada a cuidados de saúde e resistência
aos antimicrobianos;
Promover e corrigir práticas de prevenção e controlo de infeção e de
uso de antibióticos;
Garantir o retorno de informação sobre vigilância epidemiológica de
infeção e de resistências aos antimicrobianos às unidades clínicas;
Fazer integrar as suas atividades no plano e relatório anual de
atividades da Comissão de Qualidade e Segurança do Doente.
O GCLPPCIRA é um órgão de assessoria técnica de apoio à gestão. Tem
um caráter técnico, executivo e multidisciplinar, que deve ser representativo e
ajustado à modalidade de gestão da instituição.
2.2. Serviço de Cirurgia Geral
O serviço de cirurgia geral integra-se no departamento de Cirurgia e
encontra-se fisicamente repartido em duas alas, cirurgia I (internamento de
homens) e cirurgia II (internamento de mulheres), que acaba por ser misto,
quando a gestão de vagas assim o exige.
O serviço possui em cada ala (cirurgia I e II) 27 camas, sendo 23 de
enfermaria e 4 de unidade de cuidados cirúrgicos diferenciados. Cada serviço
possui 7 quartos de 3 camas e 2 quartos de 1 cama.
A equipa médica é constituída pelo diretor de serviço, especialistas e
internos e é comum aos dois serviços. A equipa de enfermagem é constituída
por 40 enfermeiros (com equipas fixas na cirurgia I e II) e uma enfermeira
chefe, comum aos dois serviços. A equipa de Assistentes Operacionais (AO) é
comum à cirurgia geral e constituída por 20 elementos. Além destes
profissionais, fazem parte da equipa multidisciplinar do serviço a dietista, a
assistente social, os fisioterapeutas, a farmacêutica e a psicóloga.
A admissão dos doentes neste serviço pode ser efetuada através das
consultas externas, do serviço de urgência e de outros serviços ou unidades de
internamento.
As patologias mais comuns são: oclusão intestinal, colecistite, apendicite,
doenças das vias biliares e pâncreas, esofagite, hérnias abdominais/inguinais,
neoplasias gástricas e intestinais, patologia da mama e tiróide.
No serviço os registos de enfermagem são efetuados através do SAPE
(Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem), e os médicos através do SAM
(Sistema de Apoio ao Médico).
O método de trabalho utilizado pela enfermagem é o individual.
Em relação ao controlo de infeção, o serviço nomeou 4 membros
dinamizadores do GCLPPCIRA, sendo constituído por dois médicos e duas
enfermeiras, que articulam e fazem cumprir no serviço as orientações deste
último.
Norma para prevença o da Infeça o do Trato Urina rio Associada ao Cateter
Finalidade: Estabelecer orientações para prevenir e controlar a Infeção do Trato
Urinário (ITU) associada à algaliação
Destinatários: Enfermeiros
Autor(es): Liliana Torres (estudante do 5º curso de Pós-Licenciatura e Mestrado em
Enfermagem Médico-Cirúrgica, Vertente Pessoa Idosa)
Elaborada em: 25/10/14
Lista de Siglas:
CAUTI - Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter
CDC – Centers for Disease Control and Prevention
Ch – Unidades Cherrière
IACS – Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde
ITU – Infeção do Trato Urinário
SABA – Solução Antissética de Base Alcoólica
Introduça o
As infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS), atualmente assim designadas,
correspondem às infeções adquiridas pelas pessoas em consequência dos cuidados de
saúde prestados, podendo afetar também os profissionais de saúde no exercício da sua
atividade profissional (Ministério da Saúde, 2007). Este é um conceito abrangente, que
se refere a todas as unidades prestadoras de cuidados de saúde.
Não sendo um problema novo, as IACS assumem cada vez mais importância,
constando da lista de prioridades da Organização Mundial de Saúde (OMS) Patient
Safety, por serem um dos efeitos adversos da prestação de cuidados de saúde
potencialmente evitáveis (WHO, 2009). Existem estudos que revelam que pelo menos
20% poderiam ser evitadas (Pina, Ferreira, Marques & Matos, 2010).
Em Portugal, a Infeção do Trato Urinário (ITU) é a segunda IACS mais frequente
(21,1%), precedida apenas das infeções do aparelho respiratório (29,3%) (Ministério da
Saúde, 2013).
A infeção urinária corresponde à aquisição de bacteriúria significativa, sendo
definida usando os critérios para ITU sintomática ou assintomática. Pode envolver
qualquer parte do sistema urinário, incluindo a uretra, a bexiga, os ureteres e os rins
(Centers for Disease Control and Prevention - CDC, 2014). Entre as complicações mais
frequentes surge a pielonefrite, cistite, bacteriémia secundária, sépsis e prostatite (Pina
et al, 2010).
Sabe-se que a cateterização vesical é o principal fator de risco para a ITU, sendo
que 80% dos casos estão associados à algaliação (Blodgett, 2009).
Também Mori (2014) considera que a Infeção do Trato Urinário Associada ao
Cateter (CAUTI) é a mais comum, correspondendo a cerca de 40% de todas as IACS,
contudo, refere que vários estudos demonstram que metade dos doentes algaliados não
tem uma indicação válida para a mesma.
Por outro lado, o risco de infeção está diretamente relacionado com o tempo de
cateterização (Pratt & Pellowe, 2010; Nicolle, 2005). Estima-se que por cada dia de
algaliação, o risco de infeção aumente entre 3-10%, chegando aos 100% ao fim de 30
dias de algaliação (Mori, 2014).
Com base nas definições do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), a
algaliação é considerada:
*Curta Duração (7-10 dias)
*Média duração (< 28 dias)
*Longa Duração (≥ 28 dias)
As vias urinárias são a porta de entrada mais frequente de sépsis por Gram
negativos, sendo que os principais microrganismos responsáveis pela ITU são:
Escherichia Coli, Proteus Mirabilis, Klebsiella spp, Staphylococcus Saprophyticus,
Enterococcus spp e Pseudomonas Aeruginosa.
A infeção urinária pode ocorrer durante o ato de cateterização, imediatamente após
a inserção da algália ou posteriormente, devido à flora que coloniza o sistema.
As bactérias entram na via urinária cateterizada pelas vias:
○ Extraluminal – Pode ocorrer mais rapidamente, através da inoculação direta das
bactérias na bexiga, na altura da inserção da algália ou, mais tarde, ascendendo do
períneo por ação capilar na mucosa contigua à parede externa da algália.
○ Intraluminal – Em que os microorganismos ascendem do lúmen do cateter devido
a falhas de manutenção do circuito fechado de drenagem de urina, despejo inadequado
dos sacos coletores ou contaminação dos mesmos.
Estima-se que, aplicando medidas de controlo de infeção adequadas, se possam
evitar até 69% das infeções urinárias, o que representa cerca de 380.000 infeções e
9.000 óbitos por ano (Gould, Umscheid, Agarwal, Kuntz & Pegues, 2009).
Indicaço es va lidas para a algaliaça o (Gould et al, 2009)
● Resolver obstrução do trato urinário ou situações de retenção urinária;
● Necessidade de uma monitorização rigorosa dos débitos urinários;
● Incontinência urinária na presença de úlceras/feridas na região sagrada ou
perineal;
● Proporcionar conforto aos doentes em fase terminal;
● Durante e após cirurgias complexas, que justifiquem a algaliação;
● Necessidade de lavagem vesical contínua ou intermitente;
● Utentes que necessitem uma imobilização prolongada (ex. traumatismos da
coluna lombar)
Prevença o da CAUTI
Gould et al (2009) pressupõem cinco níveis de intervenção para a prevenção da
CAUTI:
1. Avaliação da necessidade de algaliação (com base na avaliação do risco
individual da pessoa);
2. Seleção do tipo de algália (de acordo com a duração prevista da algaliação);
3. Inserção assética da algália;
4. Manutenção da algaliação;
5. Remoção da algália.
Categorizaça o das Recomendaço es
As recomendações foram classificadas quanto à evidência, tendo por base o sistema
de categorização do CDC:
● Categoria IA – Medidas de adoção fortemente recomendadas e apoiadas por
estudos epidemiológicos, clínicos e experimentais bem desenhados.
● Categoria IB – Medidas de adoção fortemente recomendadas e apoiadas por
alguns estudos epidemiológicos, clínicos e experimentais e por uma forte
fundamentação teórica.
● Categoria IC – Medidas preconizadas pelas recomendações de Associações ou
Federações.
● Categoria II – Medidas de adoção sugeridas para implementação, apoiadas em
estudos epidemiológicos ou clínicos sugestivos ou em fundamentação teórica.
● Questão não resolvida – Medidas para as quais a evidência é insuficiente ou não
existe consenso quanto à sua eficácia.
Princí pios Gerais
○ O uso de algália deve ser limitado às necessidades clínicas, diariamente
reavaliadas – Categoria IB
○ Avaliação de métodos alternativos à algaliação, de acordo com a situação clínica
do doente, nomeadamente: fralda, dispositivo do tipo penrose, cateterização
suprapúbica, drenagem vesical intermitente – Categoria II
○ Desinfeção higiénica das mãos imediatamente antes da algaliação ou qualquer
manipulação da algália ou sistema de drenagem. Desinfeção feita, preferencialmente,
com recurso a soluções antisséticas de base alcoólica – Categoria IA
○ O sistema de drenagem deve funcionar em circuito fechado. Este só deve ser
quebrado por motivos específicos, limitados e claramente definidos – Categoria IA
○ O sistema de drenagem deve ter preferencialmente um local referenciado que
permite a colheita assética de urina - Categoria IC
○ Se ocorrer quebra de técnica assética, ou desconexão do sistema de drenagem, o
mesmo deve ser substituído, usando técnica assética após desinfetar a junção algália-
saco com álcool – Categoria II
○ As lavagens / irrigações/ instalações da bexiga não previnem a infeção associada
à algaliação, pelo que devem ser efetuadas apenas por razões clínicas específicas e não
por rotina – Categoria IB
○ A substituição da algália deve ser fundamentada nas necessidades clínicas de cada
pessoa, tendo em conta as recomendações do fabricante. Não deve ser feita por períodos
fixos ou arbitrários ou estabelecidos por rotina do serviço – Categoria IB
○ Todos os procedimentos envolvendo a algália e o sistema de drenagem devem ser
registados nas notas de enfermagem. No mínimo devem incluir: o nome do profissional;
a data de inserção; o tipo e calibre da algália; o volume da água do balão – Categoria II
Inserça o da alga lia
○ O calibre da algália refere-se ao seu diâmetro interno, que é expresso em unidades
Charrière (Ch) –1Ch = 0,33mm. Deve escolher-se o diâmetro mais pequeno desde que
assegure a drenagem eficaz. O calibre recomendado é de 12 a 14 Ch na mulher e 14 a
16 Ch no homem – Categoria II
○ A algália deve ser selecionada com a duração prevista da algaliação e a avaliação
clínica da pessoa. Na escolha do tipo de algália, é necessário inquirir a pessoa e/ou
pessoas significativas, acerca de possível alergia ao látex – Categoria II
○ Se é previsível uma irrigação contínua ou regular deve ser selecionada uma
algália de três vias – Categoria II
Tipo de Algália Informações Importantes
Curta Duração
(≤ 10 dias)
Látex *Torna-se irritante quando o seu uso é prolongado;
*Nas situações em que haja coágulos, não é recomendável a
sua utilização;
*É de difícil introdução nos casos de obstrução.
Média Duração
(< 28 dias)
Teflon
PVC
*Não é adequado para pessoas alérgicas ao látex, apesar de
menos irritante;
*Mais fácil de colocar;
*Menos probabilidade de obstruir;
*Pode degradar-se se prolongar o seu uso para além do
estipulado;
Longa Duração
(≥ 28 dias até 12
semanas)
Silicone
Revestimento
silicone
*É o material menos irritante;
* A sua consistência pode dificultar a sua introdução.
Tabela 1- Tipos de Algália e sua duração (Almeida et al, 2013; Slater, 2011; Dingwall, 2008)
○ É extremamente importante a manutenção da técnica assética durante todo o
procedimento de colocação da algália, de forma a minimizar o risco de infeção:
*Uso de barreiras de proteção – Categoria IB
*A algália deve ser inserida com técnica assética e equipamento estéril –
Categoria IB
○ Deve adotar-se um sistema que assegure a manutenção de um campo estéril sem
receio de contaminação. Se a algália se contaminar durante a inserção deve ser
substituída – Categoria IB.
○ A área genital deve ser lavada com água e sabão antes da inserção da algália. Para
este procedimento usar luvas de procedimento (limpas) – Categoria II
○ O meato urinário deve ser limpo com água ou soro fisiológico. Não há vantagem
em usar soluções antisséticas para limpeza do meato uretral, previamente à inserção da
algália, como forma de prevenir a infeção urinária na pessoa algaliada – Categoria IA.
○ Questão não Resolvida: não há evidência de que a água ou o soro fisiológico a
utilizar na limpeza do meato urinário devam ser estéreis.
○ Usar lubrificante apropriado, gel anestésico estéril de uso único, para reduzir o
trauma uretral – Categoria II
○ O balão deve ser dilatado com a quantidade correta de água estéril (volume
necessário – 5 a 10ml no adulto) – Categoria II
○ Fixação da algália, com vista a prevenir os movimentos da mesma e pontos de
fricção na uretra, assegurando uma boa drenagem – Categoria IC:
*Homem – parte superior da perna;
*Mulher – face interna da coxa.
Manutença o da algaliaça o
○ Descontaminar as mãos e usar um novo par de luvas limpas antes da manipulação
da algália e lavar as mãos após a remoção das luvas – Categoria IA
○ A higiene do meato deve ser efetuada com soro fisiológico a intervalos
apropriados de modo a mantê-lo livre de incrustações e contaminações. Não é
necessário usar antisséticos na higiene diária do meato urinário como forma de prevenir
a CAUTI – Categoria IB
○ Depois da inserção assética do cateter vesical, deve ser mantido um sistema de
drenagem fechado – Categoria IB
○ Devem ser cumpridos alguns requisitos do saco de drenagem – Categoria IC:
*De encerramento seguro e fácil de posicionar;
*Com válvula antirrefluxo;
*Com torneira de despejo, de modo a assegurar a manutenção do circuito
fechado de encerramento seguro;
*Com tubagem resistente;
*Com sistema de medição fiável da urina.
○ O saco deve ser mantido sempre abaixo do nível da bexiga e estar colocado em
suporte que previna o contacto com o chão e a contaminação subsequente da válvula de
despejo – Categoria II
○ A posição e integridade do sistema devem ser mantidas, de modo a ser
compatível com o conforto e mobilidade do doente – Categoria IC
○ No despejo do saco de drenagem atender – Categoria II:
*Evitar o contacto da torneira com qualquer superfície;
*Higienizar as mãos antes e após cada despejo;
*Usar luvas e avental, estes deverão ser removidos depois de cada despejo;
*Evitar a dispersão de gotas aquando do esvaziamento;
*Em cada despejo deve ser usado um recipiente limpo e individualizado; deve
ser lavado e mantido seco após cada utilização;
*No final, limpar a torneira com uma compressa seca ou toalhete.
○ O saco de drenagem não deve ser substituído por rotina mas sim – Categoria II:
*Na altura da substituição da algália;
*Quando estiver danificado ou com fugas;
*Quando se verificar acumulação de sedimento e/ou coágulos;
*Se houver saída acidental do saco e/ou sistema.
○ O saco de drenagem deve ser despejado e a torneira fechada antes de a pessoa
entrar no banho. As pessoas algaliadas devem tomar banho acompanhadas, porque o
saco de drenagem pode ficar obstruído ou preso, levando à deslocação/remoção da
algália. Se ocorrer uma destas situações, deve substituir-se todo o sistema após o banho.
Se não for necessário remover a algália, substituir apenas o saco, cumprindo os
princípios recomendados para esta prática – Categoria IC
○ Manter sempre o sistema de drenagem fechado e assegurar a sua manipulação
com técnica assética. Se ocorrer alguma falha durante a técnica assética de algaliação
(desconexão tubagem, contaminação) substitua o cateter e todo o sistema drenagem –
Categoria IB
○ Em algaliações de curta duração deve manter-se o mesmo saco coletor, se não
houver obstrução. Se for necessário proceder à substituição do saco, a junção
algália/tubo deve ser desinfetada com álcool antes da desconexão.
Remoça o da alga lia
○ A remoção da algália deve ser feita o mais cedo possível – Categoria IA
○ O procedimento de remoção da algália, deve seguir as seguintes fases –
Categoria IC:
*Higienizar as mãos com solução antissética de base alcoólica (SABA) e calçar
luvas limpas;
*Desinsuflar o balão;
*Limpar o meato urinário e a região periuretral com soro fisiológico;
*Retirar a algália suavemente;
*Limpar novamente o meato e a região periuretral;
*Vigiar a eliminação vesical espontânea.
○ Registar em notas de enfermagem, a data e o motivo da remoção da algália, bem
como a eliminação pós desalgaliação – Categoria IC
Material e procedimento da algaliaça o
Material:
* Kit de algaliação descartável ;
* Algália de tipo e calibre adequado à situação do doente;
* 1 par de luvas não esterilizadas;
* Soro fisiológico para limpeza perineal;
* Saco coletor esterilizado com torneira;
* Adesivo hipo alérgico;
* Campo esterilizado com orifício;
* Resguardo absorvente impermeável.
Procedimento:
* Informar a pessoa sobre o procedimento que se vai realizar e como pode
colaborar;
* Preparar e transportar o material para junto da pessoa;
* Manter a privacidade da pessoa;
* Preparar fisicamente a pessoa, expondo unicamente a região genital e colocando o
resguardo sob a mesma:
- Homem: decúbito dorsal com os membros inferiores em abdução
- Mulher: decúbito dorsal com os membros inferiores fletidos e em abdução
* Higienizar as mãos;
* Calçar as luvas não esterilizadas e fazer uma limpeza dos órgãos genitais;
* Descalçar as luvas e higienizar as mãos;
* Abrir o kit com técnica assética;
* Retirar o invólucro externo da algália colocando-o dentro do kit e abrir de seguida
o saco coletor de urina. Colocar o soro fisiológico na taça;
* Calçar luvas esterilizadas e proceder a nova limpeza utilizando a pinça:
- No homem: Com a mão não dominante posicionar o pénis perpendicularmente
à zona pélvica, retraindo o prepúcio. Com a mão dominante limpar o meato utilizando
uma compressa de cada vez, com movimentos circulares em sentido descendente, do
meato para a glande.
- Na mulher: Inicia-se a limpeza pelos grandes lábios, utilizando uma compressa
para cada um, num movimento descendente e único, do lado mais afastado para o mais
próximo. Seguidamente a mão não dominante afasta os grandes lábios e a outra mão
executa a limpeza dos pequenos lábios, respeitando os passos anteriormente descritos.
Por último procede-se à limpeza do meato num movimento único.
* Colocar campo esterilizado com orifício;
* Adaptar saco coletor de urina à algália e lubrificar a sua extremidade;
* Introduzir a algália de forma suave e com movimentos rotativos até ao
aparecimento de urina no tubo do saco coletor. No homem colocar com a mão não
dominante o pénis num angulo de 90º com a zona pélvica e na mulher com a mão não
dominante manter os grandes lábios afastados enquanto se faz a introdução da algália
com a mão dominante.
* Introduzir água destilada em quantidade adequada à capacidade do balão (cuff) e
exteriorizar ligeiramente a algália até se sentir resistência;
* Retirar as luvas e higienizar as mãos;
* Fixar a algália, alternando a sua posição diariamente;
* Diariamente realizar os cuidados de higiene perineal com água e sabão e mudar a
posição da algália;
* Avaliar e registar as características da urina diariamente.
* Informar o doente/familiar sobre os cuidados na manutenção da algaliação,
despiste de sinais de infeção urinária (piúria, alterações de coloração, hematúria, dor,
ardor, exsudado purulento ao nível do meato urinário) e a data de mudança da algália –
Categoria II
* Incentivar o doente à ingestão de líquidos a fim de promover uma boa diurese,
se não existir contraindicação clínica.
Colheita de urina para exame microbiolo gico
Deve ser usada técnica assética e material estéril, cumprindo os seguintes passos:
- Clampar a algália durante alguns minutos;
- Preparar o material necessário;
- Higienizar as mãos;
- Colocar luvas esterilizadas;
- Desinfetar com álcool a área a puncionar;
- Aspirar com seringa 5 a 10ml de urina, puncionando na parte oposta do canal do
balão com um ângulo de 45º e colocar em frasco esterilizado devidamente rotulado,
evitando tocar no frasco;
- Retirar a pinça de clampagem e limpar o local de punção após a colheita;
- Enviar a amostra de urina para o laboratório o mais rápido possível (no prazo
máximo de 1 hora). Se isto não for possível, a amostra deve ser refrigerada para evitar a
proliferação de bactérias;
- Não puncionar o tubo de plástico ou saco coletor;
- Não desconectar a algália para recolher a urina.
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Associada aos Cuidados de Saúde. Lisboa: Direção Geral da Saúde.
Ministério da Saúde (2013). Prevalência da Infeção Adquirida no Hospital e do Uso de
Antimicrobianos nos Hospitais Portugueses – Inquérito 2012. Lisboa: Direção-
Geral da Saúde
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Lisboa: Administração Central do Sistema de Saúde, IP.
WHO (2009). Global priorities for patient safety research. Suíca:WHO Library.
ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE LISBOA
5º Curso de Mestrado em Enfermagem
Área de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica
Vertente Pessoa Idosa
Unidade Curricular – Estágio com relatório
Estudo de Caso
“Prevenção da Infeção do Trato
Urinário Associada à Algaliação na
Pessoa Idosa”
Discente:
Liliana Patrícia de Almeida Guerreiro Torres, nº 5385
Docente Orientador:
Maria Emília Brito
Lisboa
Março, 2015
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABVD - Atividades Básicas da Vida Diária
AIVD - Atividades Instrumentais de Vida Diária
Bpm - Batimentos por minuto
CAUTI – Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter
CIPE – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem
EV- Endovenosa
IACS – Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde
IAI – Instrumento de Avaliação Integral
IMC – Índice de Massa Corporal
ITU – Infeção do Trato Urinário
MNA - Mini Nutritional Assessment
SC - Subcutânea
Sra. – Senhora
UP – Úlcera de Pressão
ÍNDICE Pág.
INTRODUÇÃO 3
1. DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DA PESSOA IDOSA E
CONTEXTO FAMILIAR
5
1.1. Dados Sociodemográficos 5
1.2. Projeto de vida/Sentido dado à doença 5
1.3. Ambiente Familiar 6
1.4. Antecentes Pessoais 7
1.5. Medicação Domiciliária 7
1.6. História da doença actual 8
1.7. Avaliação multidimensional da pessoa idosa 9
1.8. Identificação da situação de cuidados à luz do quadro
concetual de Dorothea Orem
10
2. PLANO DE CUIDADOS 19
3. REFLEXÃO SOBRE O CASO EM ESTUDO 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27
APÊNDICES/ANEXOS
Apêndice I – Genograma e Ecomapa
Anexo I – Mini Nutritional Assessment (MNA)
Anexo II – Índice de Barthel
Anexo III - Índice de Lawton
Anexo IV - Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage
Anexo V - Escala de Braden
Anexo VI – Escala de Morse
3
INTRODUÇÃO
O estudo de caso é entendido como um estudo aprofundado de um
indivíduo, família, grupo ou organização (Fortin, 1999), e com potencial para
aumentar o conhecimento referente ao cuidado de enfermagem (Galdeano,
Rossi, & Zago, 2003).
Foi escolhida a Sra. Rosa (nome fictício) para a elaboração deste estudo
de caso por ser uma pessoa idosa, que se encontra internada num serviço de
cirurgia geral, de um hospital da Região de Lisboa e Vale do Tejo e que
vivencia a problemática em estudo. Por outro lado, por ser um exemplo de
“envelhecimento ativo”, que na sua idade não é comum encontrar no perfil de
doentes da cirurgia geral e que por isso me marcou pela sua positividade,
energia e vontade de viver.
O “Envelhecimento Ativo” é entendido como um processo de um
envelhecimento planeado, saudável, participativo, apoiado em políticas que
proporcionem o desenvolvimento de um bem-estar fisíco, mental e social
(WHO, 2005).
O envelhecimento ativo depende de diversos fatores determinantes onde
estão envolvidos não só os indivíduos, como as famílias e os países. Esses
determinantes aplicam-se à saúde das pessoas em todas as idades, e são
eles: relacionados com a cultura e o género, os sistemas de saúde e serviço
social, os fatores comportamentais, os aspetos pessoais, o ambiente físico e
social e os fatores económicos (WHO, 2005).
A Sra. Rosa foi algaliada na sequência de uma cirurgia abdominal (no
intra-operatório), no entanto, sem outra razão aparente, manteve-se algaliada
por não existir indicação médica em contrário, encontrando-se a cada dia que
passou mais exposta ao risco de desenvolver uma Infeção do Trato Urinário
(ITU). Esta situação enquadra-se perfeitamente na justificação da problemática
efetuada no relatório, uma vez que apesar de se tratar de uma pessoa idosa,
esta é autónoma nas suas atividades básicas de vida diárias (ABVD), inclusivé
na eliminação, não sendo aceitável que continue algaliada sem indicação
válida para tal.
4
Cabe ao enfermeiro, sendo o profissional de saúde que permanece 24
horas junto dos doentes, estar alerta para as questões de segurança dos
mesmos, nomeadamente para a prevenção das Infeções Associadas aos
Cuidados de Saúde (IACS) e, no caso da Infeção do Trato Urinário Associada
ao Cateter (CAUTI), evitar sempre que possível a algaliação. Sendo esta
realmente necessária, deve promover a desalgaliação precoce.
A avaliação da doente foi realizada através de várias fontes de informação
(observação, exame físico, entrevista, aplicação de vários instrumentos de
avaliação da pessoa idosa e consulta de processo clínico), considerando os
seus aspetos biopsicossociais e atendendo ao modelo concetual de Dorothea
Orem.
Para a realização deste estudo foram garantidos e respeitados os príncipios
éticos subjacentes, nomeadamente, foi pedido consentimento à Sra. Rosa para
efetuar uma colheita de dados exclusivamente para o fim do estudo de caso e
garantida a confidencialidade e anonimato em relação às informações obtidas.
Pretendeu-se com este estudo de caso refletir sobre um caso prático, que
traduzisse a problemática da prevenção da CAUTI na pessoa idosa, e
simultâneamente sobre o envelhecimento ativo, que tanto os enfermeiros
“gostam de fomentar”, mas que na prática não refletem sobre o mesmo.
Seguidamente é efetuda uma avaliação da Sra. Rosa e do seu contexto
familiar, onde se inclui a identificação da situação de cuidados à luz do quadro
concetual de D. Orem, que esteve subjacente à implementação do projeto de
estágio. Com base na mesma, foi efetuado um plano de cuidados com recurso
à Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), utilizada
no serviço de cirurgia geral.
Por fim, é efetuada uma reflexão acerca do estudo de caso apresentado.
5
1. DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DA PESSOA IDOSA E
CONTEXTO FAMILIAR
1.1. Dados Sociodemográficos
A Sra. RSC gosta de ser tratada por Rosa, tem 81 anos de idade, tendo
nascido a 13 de Agosto de 1932 na Sertã, onde fez o 4º ano de escolaridade e
viveu até aos 14 anos. Nesta altura, veio para Lisboa acompanhar a irmã mais
velha e ajudar a tomar conta do sobrinho.
Aos 20 anos começou a trabalhar como costureira numa fábrica, onde
conheceu o seu marido. Casou-se aos 27 anos de idade e vieram morar para o
Funchalinho, onde compraram uma moradia com um grande terreno. Teve o
primeiro filho aos 30 anos de idade, que acabou por morrer no parto. Seis anos
mais tarde foi mãe novamente de uma menina, que hoje tem 45 anos, é casada
e tem 3 filhos.
A Sra. Rosa reformou-se aos 55 anos e ficou viúva há 4 anos, pelo que
desde então reside na companhia da filha, netos e genro, que foram morar
para junto desta. Próximo à sua moradia, reside a sua irmã mais nova e os
sobrinhos, sendo que a irmã mais velha já faleceu.
1.2. Projeto de Vida/Sentido dado à doença
A Sra. Rosa tem como projeto de vida viajar por Portugal, em excursões
com os seus vizinhos e amigos, bem como continuar a cultivar no seu terreno e
realizar atividades físicas que a mantenham ativa. A força anímica para viver é
o crescimento e a educação dos netos, sobretudo a neta mais nova, com quem
passa muito tempo. Refere ter uma família muito unida e que este é o motivo
da sua alegria e vontade de viver.
Se existem forças que apelam ao morrer, é o fato de ter perdido o seu
marido há 4 anos, vítima de um crancro no pâncreas, de quem sente muita
falta.
6
A Sra. Rosa tem perceção do seu diagnóstico e encara a doença como um
obstáculo que a impossibilita de estar com os seus familiares e amigos.
Contudo, está sobretudo preocupada pela sua situação de saúde não a permitir
ajudar a filha com a neta mais nova, de quem refere ter muitas saudades.
Encara esta situação de doença como sendo própria da idade e considera
que se encontra melhor de saúde que muitas pessoas na sua idade, pois esta
é a segunda vez na sua vida que está internada, esperando recuperar
brevemente. Foi aplicada a escala de depressão geriatrática de Yesavage
(versão curta), que confirma ausência de depressão (anexo IV).
Os seus familiares mais próximos (filha e genro) têm perceção da sua
situação clínica e estão presentes no internamento diariamente, estando
bastante interessados na preparação da alta da doente.
1.3. Ambiente Familiar
Agregado familiar- Vive com a filha, o genro (que considera como um
filho) e os 3 netos (de 17, 13 e 6 anos) na sua moradia do Funchalinho,
existindo, segundo refere, uma excelente relação familiar entre eles. Foi
efetuado o genograma, que consta no apêndice I (Genograma e Ecomapa).
Contactos: Susana (filha - 96*******) e Mário (genro - 96*******).
Espaço relacional com a família- Tem 1 irmã que mora bastante
próximo, também ela viúva, com quem convive diariamente no cultivo do seu
terreno e na prática de hidroginástica. Os sobrinhos também moram próximo,
na Costa da Caparica, pelo que no mínimo semanalmente tem contacto com
eles. A filha e o genro são ambos professores e só chegam a casa ao fim da
tarde, bem como os netos mais velhos, que têm aulas até cerca das 19h. A
neta mais nova anda na escola primária e é a Sra. Rosa que a vai buscar à
escola, perto das 17h e passam o resto do dia juntas.
A Sra. Rosa é a responsável pelas tarefas domésticas durante a semana,
já que segundo refere, ao fim de semana a filha “faz questão de fazer tudo”
7
(sic). Aos fins de semana costumam receber amigos e familiares em casa,
sendo que a Sra. Rosa aprecia esse convívio.
Rendimentos agregado familiar- O rendimento do agregado familiar
provém da reforma da Sra. Rosa e marido (que ronda os 800 euros) e dos
ordenados da filha e genro, que segundo ela, pagam quase todas as despesas
da casa.
Relacionamento com a vizinhança- reside no mesmo local há cerca de
55 anos e sendo um espaço quase rural, conhece e relaciona-se bem com toda
a vizinhança, tendo feito várias amizades. Frequenta o clube recreativo da
zona, onde convive com outros vizinhos e amigos.
Foi efetuado ecomapa que consta do apêndice I (Genograma e Ecomapa).
Caracterização da habitação- reside numa moradia com 5 assoalhadas,
com eletricidade, água, gás natural, saneamento básico e TV por cabo. Tem
telefone e internet, sendo que a doente não é utilizadora desta última. É uma
moradia com 2 andares, mas a Sra. Rosa, apesar de ter alguma dificuldade em
subir e descer escadas devido às artroses nos joelhos, não precisa de o fazer
constantemente, visto o primeiro andar só ter os quartos e uma casa de banho.
1.4. Antecedentes Pessoais
A Sra. Rosa desconhece alergias e tem os seguintes antedentes pessoais:
Hipertensão arterial;
Arritmia;
Artroses joelhos;
Excisão de nódulo da mama esquerda há 14 anos.
1.5. Medicação Domiciliária
*Losartan + Hidroclorotiazida (100mg + 12,5mg) – 1 comprimido ao
pequeno-almoço
*Zanitec 10mg – 1comprimido ao almoço
*Omeprazol 20mg – 1 comprimido em jejum
*Alprazolam 1mg – 1 comprido em SOS
8
1.6. História da doença atual
Em Setembro de 2014, ao fazer análises de rotina solicitadas pelo médico
de família, a pesquisa de sangue oculto nas fezes revelou-se positiva. A Sra.
Rosa referia sentir-se apenas mais cansada, mas não valorizou, pois não tinha
qualquer outra sintomatologia.
Após o resultado das análises, efetuou colonoscopia, que diagnosticou
neoplasia do colon esquerdo. Manteve-se sempre assintomática. Foi
encaminhada para a cirurgia geral deste hospital, tendo sido internada no dia
07/12/14, para ser submetida a hemicolectomia esquerda laparoscópica no dia
seguinte, cujo pós-operatório decorreu favoravelmente.
No dia 10/12/14, quando efetuei a sua avaliação, encontrava-se a fazer a
seguinte terapêutica, em veia periférica no antebraço esquerdo:
Soro Polieletrolítico (1000ml/dia);
Paracetamol 1gr EV – 8/8h;
Metamizol magnésio 2gr EV – 8/8h (alternado com paracetamol);
Ondansetrom 8mg EV – 12/12h;
Enoxaparina 40mg SC – 12/12h.
Retomou neste dia a sua medicação domiciliária.
Encontrava-se também algaliada desde a cirurgia com uma folley teflon
nº16, sem aparente justificação para a permanência da algália (foi desalgaliada
a 11.12.14).
A Sra. Rosa teve alta a 15.12.14, a tolerar a dieta e bem adaptada aos
seus novos hábitos alimentares e de vida, embora com alguma alteração no
trânsito intestinal, encontrando-se nos últimos dias com dejeções semi-líquidas,
acastanhadas, mas em menor quantidade no dia da alta. As suturas
apresentavam uma boa evolução cicatricial, tendo indicação para penso
simples, em dias alternados, no Centro de Saúde. Segundo a doente, uma das
sobrinhas, enfermeira no hospital, iria ser responsável pela execução do
mesmo.
9
1.7. Avaliação multidimensional da pessoa idosa
Foi efetuada no dia 10/12/14 uma avaliação multidimensional da Sra. Rosa
com base no instrumentos dísponiveis para avaliar a pessoa idosa, que
considerei pertinentes aplicar, face à situação clínica da doente.
Deste modo, questionando diretamente a doente, foram utilizados os
seguintes instrumentos:
a) MNA (Mini Nutritional Assessment) – Permite uma avaliação do
estado nutricional e identificação dos idosos desnutridos ou em risco de
desnutrição, sem recurso a parâmetros analíticos. A informação é obtida
através do questionário direto ao idoso ou familiares/cuidadores.
Resultado: 26,5 pontos – estado nutricional normal (Anexo I – MNA)
b) Índice de Barthel – É um instrumento de avaliação das Atividades
Básicas de Vida Diária (ABVD), sendo composto por 10 ABVD. Cada atividade
apresenta entre dois a quatro níveis de dependência, em que a pontução 0
corresponde à dependência total e a independência varia entre 5, 10 ou 15
pontos, em função dos níveis de diferenciação (Sequeira, 2010).
Resultado: 75 pontos - Ligeiramente dependente (Anexo II – Índice de
Barthel).
c) Índice de Lawton - Permite a avaliação da autonomia do doente nas
Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), isto é, nas atividades que
possibilitam a sua adaptação ao meio e independência para viver na
comunidade (Sequeira, 2010).
Resultado: 10 pontos - moderadamente dependente, necessita de uma
certa ajuda (Anexo II – Índice de Lawton).
d) Escala de depressão geriátrica (Escala de Depressão Geriátrica de
Yesavage – versão curta) – É utilizada para o rastreio da depressão, avaliando
aspetos cognitivos e comportamentais tipicamente afetados na depressão do
idoso. A informaçã é obtida através de questionário direto ao idoso.
10
Esta escala tem uma versão completa com 30 questões, contudo, a
versão curta está validada pelo autor e os resultados são sobreponíveis aos da
versão completa, pelo que é a mais utilizada.
Resultado: 1 ponto – sem depressão (Anexo IV – Escala de Depressão
Geriátrica de Yesavage)
e) Escala de Braden – É a escala usada na instituição e permite avaliar o
risco de úlcera de pressão (UP). É uma avaliação que é feita sistematicamente
a todos os doentes no momento da admissão e da alta e consonte o risco, a
valiação é feita de 5/5 dias, ou sempre que se verifique alteração do estado de
saúde do doente.
Resultado: 21 Pontos – Baixo risco de desenvolver UP (Anexo V – Escala
de Braden).
f) Escala de Morse – É a escala usada na instituição para avaliar o risco
de queda. A monitorização é feita de forma idêntica ao risco de úlcera de
pressão.
Resultado: 35 Pontos – Médio risco de queda (Anexo VI – Escala de
Morse).
1.8. Identificação da situação de cuidados à luz do quadro concetual de
Dorothea Orem
O quadro concetual de D. Orem norteou a implementação do projeto de
estágio e enquadra-se na problemática em estudo, justificando-se a sua
utilização na apreciação da Sra. Rosa. Assim, a avaliação foi efetuada no dia
10/12/14, dando relevo às três categorias de requisitos de autocuidado e tendo
como objetivo a identificação de deficits no mesmo.
Requisitos de autocuidado universais – Segundo Orem (2001),
algumas carências ou requisitos de autocuidado são comuns a todos os seres
humanos e estão associados aos processos de funcionamento e de vida
humanos, sendo muita vezes referidos como necessidades humanas básicas.
A avaliação é feita atendendo aos oito requisitos universais:
11
1) A manutenção da inspiração de ar suficiente:
No domicílio a Sra. Rosa refere não ter habitualmente dificuldade em
respirar, acessos de tosse ou expetoração.
No internamento apresenta uma respiração toraco-abdominal, simétrica,
de amplitude normal, com uma frequência de 13 ciclos por minuto.
Está sem aporte de O2, apesar de nas primeiras horas do pós-operatório
(recobro) o mesmo lhe ter sido colocado por máscara a 3l/m, mas deixou ser
necessário na chegada ao serviço. Apresenta pele e mucosas coradas,
encontrando-se bronzeada na face e nos membros superiores, do sol que
apanha enquanto cultiva no terreno.
Parâmetros vitais a 10/12/14: Tensão arterial – 127/65 mmHg; Pulso – 82
bpm, arrítmico e cheio; Temperatura – 36,3ºC; Saturação de O2 – 97%; VAS
(Escala analógica visual) = 2 (dor ligeira).
2) e 3) A manutenção de ingestão suficiente de água e de alimentos
A Sra. Rosa no domicílio refere que costuma ingerir cerca de 1l de água
por dia, sobretudo nos dias de maior calor. Habitualmente faz 4 refeições por
dia (as 3 principais e o lanche), sendo que ao jantar está habituada a comer
apenas sopa e fruta.
Apresenta prótese dentária parcial superior, mas refere que come todo o
tipo de alimentos, exceto melão, que não gosta. A sua alimentação é pobre em
sal, devido à hipertensão arterial.
Pesa 66,3 Kg, tem 1,60m e o Índice de Massa Corporal (IMC) é 25,9. Tem
de circunferência braquial 35 cm e circunferência da perna 39 cm. De acordo
com a aplicação do MNA, verifica-se que se encontra num estado nutricional
normal.
Não apresenta deficits de autocuidado relativo ao alimentar-se ou preparar
refeições.
12
Durante o internamento, no pré e pós-operatório imediato ficou em dieta 0.
Gradualmente passou a dieta líquida, e atualmente tem uma dieta ligeira,
personalizada pela dietista. Autocuida-se sem ajuda.
A Sra. Rosa ainda não tem a carta da dietista relativa às indicações
alimentares pós cirurgia e também não foi iniciada educação pelos enfermeiros
relativa aos hábitos alimentares a adotar no domicílio, pelo que apresenta um
deficit de conhecimentos nesta área.
4) A promoção dos cuidados associados com a eliminação
Habitualmente a Sra. Rosa é autónoma neste autocuidado, utilizando o
Wc para o efeito. Refere que urina várias vezes ao dia e durante a noite vai
cerca de duas vezes à casa de banho (urina de características normais).
Apresenta incontinência de esforço, que segundo refere é esporádica.
Em relação à eliminação intestinal, refere ser regular, mas desde há cerca
de 3 meses tem sido obstipada, evacuando aproximadamente de 3/3 dias,
fezes duras, escuras.
No internamento, desde a cirurgia que se encontra algaliada com uma
folley teflon nº 16 (foi algaliada no intra-operatório), com monitorização rigorosa
do débito urinário nas primeiras 24 horas, mas atualmente não existe razão
aparente para a sua permanência. A Sra. Rosa refere desconforto pela
presença da algália e desconhece os cuidados na manutenção da mesma,
encontrando-se muitas vezes a deambular pelo serviço com o suporte do saco
coletor suspenso no suporte de soro. Apresenta urina clara, sem sedimento,
com diurese de 1700ml.
A 11/12/14, após questionada a equipa médica acerca da necessidade de
manter o cateter urinário, foi desalgaliada às 11h e urinou espontaneamente no
Wc cerca das 14h.
Apresenta peristaltismo, com emissão de gases, mas ainda não evacuou
após a cirurgia.
13
5) A manutenção do equilíbrio entre a atividade e o descanso
A Sra. Rosa refere que habitualmente dorme cerca de 7 horas por noite,
sendo que não é um sono contínuo, acordando algumas vezes a meio da noite.
Nos dias em que por alguma razão tem dificuldade em adormecer, como refere
que foram os dias que antecederam o internamento, toma alprazolam 1mg, por
indicação do seu médico de família, e dorme toda a noite.
Deita-se cerca das 0h e acorda aproximadamente às 7h, para tratar da
sua higiene e porque de gosta de ser ela a preparar o pequeno-almoço para a
família.
Apesar de ser uma mulher que “não gosta de estar parada” (sic), refere
que após o almoço aprecia muito a pequena sesta que faz no sofá, que a
revitaliza para o resto da tarde.
Durante o internamento passa grande parte do tempo no quarto,
alternando períodos em que está sentada no cadeirão ou deitada na cama.
Ainda assim, deambula pelo serviço por períodos e refere não o fazer mais
vezes porque tem que trazer consigo o suporte de soro e o suporte do saco
coletor de urina, que dificultam a deambulação.
Refere que está com dificuldade em adormecer à noite, estranhando as
rotinas do serviço, sendo que quando se deixa dormir já é muito tarde, razão
pela qual, por vezes de manhã ainda passa algum tempo na cama a dormitar.
6) A manutenção do equilíbrio entre a solidão e a interacção social
A Sra. Rosa considera-se uma pessoa muito ativa, passando pouco tempo
em casa. Habitualmente acorda cedo e no período da manhã permanece no
seu terreno, a cultivar, muitas vezes acompanhada pela irmã.
Às 2ªs, 4ªs e 6ªs feiras, cerca das 10h vai à hidroginástica na Costa da
Caparica, utilizando o transporte da junta de freguesia, que proporciona esta
oportunidade aos idosos da localidade, regressando à hora do almoço. Depois
de almoço costuma descansar um pouco no sofá, orienta as tarefas domésticas
e o jantar. Às 17h vai buscar a neta à escola e habitualmente, de caminho, vai
14
com esta ao clube recreativo, onde é sócia e convive com os seus amigos e
vizinhos, enquanto a neta brinca com as outras crianças.
No final da noite, refere que depois de jantar arruma a cozinha com a filha
e gosta de ver as telenovelas na sala, até cerca das 0h, altura em que se vai
deitar.
Assume-se como católica, mas refere que vai poucas vezes à igreja, indo
apenas em datas específicas ou quando sente necessidade.
Refere ir frequentemente a excursões com a irmã e vizinhos.
Segundo a doente, incentivada pela filha e pelo marido, frequentou há
cerca de 10 anos a universidade sénior de Almada, que deixou de frequentar
aquando da morte do marido, “pois ficou sem companhia” (sic).
No internamento a Sra. Rosa está sempre acompanhada pelas 2 parceiras
de quarto, conversando muito com elas, sobretudo com a sua “vizinha do lado”.
Apesar de passarem a maior parte do dia no quarto, depois de jantar juntam-se
na sala de estar do serviço para conviver com outras doentes e assistir às
telenovelas.
A Sra. Rosa é uma pessoa sem problemas na comunicação, apesar de
referir ligeira diminuição da acuidade auditiva à esquerda e visual, utilizando
óculos para ver ao perto. É uma pessoa simpática e bem-disposta, recebendo
frequentemente visitas dos familiares e vizinhos. A filha e o genro visitam-na
diariamente.
7) A prevenção dos riscos para a vida humana, para o funcionamento
humano e para o bem-estar humano
A Sra. Rosa habitualmente é uma pessoa bastante cuidadosa com a sua
saúde, estando atenta aos perigos relacionados com o avançar da idade, razão
pela qual se procura manter ativa e fazer hidroginástica.
Costuma jogar jogos de tabuleiro com as vizinhas, no clube recreativo que
frequenta, pois “estimulam o cérebro” (sic), bem como fazer contas de cabeça
quando ajuda a neta nos trabalhos de casa, fazendo questão de não utilizar
máquina calculadora.
15
Nunca sofreu nenhuma queda, mas é uma preocupação sua e da família,
pelo que usa calçado confortável e baixo. Na banheira tem um tapete
antiderrapante e uma barra lateral, que colocaram na altura que o marido
esteve doente, mas que agora refere ser muito útil para entrar e sair do banho.
No chão da casa existem poucos tapetes, para que a doente não tropece
neles, bem como a neta mais nova.
Reconhecendo os perigos associados à hipertensão arterial, cumpre uma
dieta pobre em sal e a medicação de forma rigorosa. Por sua vez, os trabalhos
mais pesados, que exigem esforços que ultrapassam as suas condições
físicas, a Sra. Rosa não executa, solicitando ajuda à filha e ao genro.
Habitualmente toma duche diariamente, mas só lava a cabeça nos dias da
hidroginástica.
No internamento apresenta uma higiene cuidada, sendo capaz de se
autocuidar, apesar de ser uma higiene parcial, devido à necessidade de não
molhar o penso.
A Sra. Rosa necessita ainda de alguma orientação nas transferências,
sendo que apesar de lhe ter sido efetuado ensino sobre como se mobilizar no
leito e transferir, esquece-se e transfere-se muitas vezes de forma inadequada.
Em relação aos restantes cuidados com a ferida cirúrgica, a Sra. Rosa recebeu
ensinos acerca dos mesmos e compreende porque não pode molhar os
pensos, reconhecendo os sinais de infeção aos quais deve estar atenta.
Por outro lado, a presença de uma algália exige alguns cuidados para
prevenir a CAUTI, sendo que a Sra. Rosa já recebeu orientações de
enfermagem nesse sentido, mas frequentemente se esquece, nomeadamente
no manuseamento do saco coletor de urina.
O facto de estar a fazer soroterapia exige que a Sra. Rosa deambule com
o suporte de soro, acrescido do suporte do saco coletor de urina, que
contribuem para o risco de queda, existindo necessidade de ensinar e orientar
neste requisito de autocuidado.. Resultado da aplicação da Escala de
Morse=35 (médio risco de queda)
16
8) A promoção do funcionamento e desenvolvimento humano dentro de
grupos sociais de acordo com o potencial humano, as limitações do homem e o
desejo de ser “normal”
Como todos os outros, este requisito está relacionado com os anteriores,
sendo que no seu dia a dia a Sra. Rosa procura desenvolver atividades que
promovam o desenvolvimento humano.
Apesar de ter sido submetida a uma cirurgia, a Sra. Rosa, de acordo com
a escala visual analógica, tem dor em grau reduzido (VAS 2), permitindo-lhe
durante o internamento ser agente do autocuidado. Relaciona-se com os vários
elementos da equipa de saúde, familiares e doentes, tendo em vista a
promoção da normalidade, sendo esta entendida como estando de acordo com
as características genéticas e constitucionais dos indivíduos (Orem, 2001).
Como foi referido anteriormente, é necessário dar à Sra. Rosa orientação,
apoio e ensino para estar atenta aos desvios das suas normas estruturais e
funcionais, neste caso aos cuidados inerentes à cirurgia e também na
manutenção da algaliação.
Requisitos de autocuidado de desenvolvimento – Estes surgem
conforme o estadio de desenvolvimento do indivíduo e o ambiente em que ele
vive, em termos do seu efeito no desenvolvimento. Relacionam-se com as
mudanças de vida do indivíduo, ou com as fases do ciclo de vida (Orem, 2001).
A Sra. Rosa refere ter passado uma infância feliz na Sertã, junto das suas
irmãs. Aos 12 anos perdeu os pais num acidente de viação, e foi com a irmã
mais velha que viveu desde então.
Aos 27 Anos casou-se e teve a primeira gravidez aos 30 anos, tendo o
filho morrido à nascença. Refere ter sido uma fase difícil da sua vida, uma vez
que foi uma gravidez muito desejada, pelo que sentiu necessidade de fazer o
luto deste filho, razão pela qual só 5 anos mais tarde ela e o marido decidiram
tentar novamente engravidar. Esta foi uma gravidez que correu linearmente,
apesar da sua idade e também ela muito desejada.
17
A fase mais difícil pela qual voltou a passar foi a morte do marido há 4
anos atrás que, segundo refere, sofreu muito com a doença. A Sra. Rosa
encara, contudo, a morte do marido como o alívio desse sofrimento, razão pela
qual lidou melhor com a mesma.
Em relação ao processo de envelhecimento, encara-o de forma natural,
como fazendo parte do ciclo da vida, referindo que o espelho não reflete o seu
interior, pois ainda se sente com energia e vitalidade, tentando aproveitar ao
máximo o que a vida ainda tem para lhe dar.
Requisitos de autocuidado por desvios de saúde – Estes surgem
devido à doença e são carências que aparecem porque a doença ou
incapacidade impõem uma mudança no autocuidado (Orem, 2001).
A Sra. Rosa considera ter poucos problemas de saúde e que estes nunca
a incapacitaram de realizar o seu autocuidado. Apesar da cirurgia atual, a
doente consegue ser o agente do autocuidado, necessitando contudo de um
sistema de enfermagem educativo e de suporte, nomeadamente em relação
aos cuidados na manutenção da algaliação.
19
2. PLANO DE CUIDADOS
O plano de cuidados vai ao encontro da identificação da situação de cuidados efetuada anteriormente, tendo por base a
classificação CIPE (Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem), Versão 2:
Diagnóstico de
Enfermagem Intervenções de Enfermagem
Avaliação
10/12 – Risco de infeção
Relacionado com:
Presença de Ferida
Cirúrgica e Algália
*Monitorizar os sinais e sintomas de infeção;
*Monitorizar a eliminação urinária;
*Vigiar a eliminação urinária;
*Otimizar catéter urinário (aplicar os devidos cuidados na
manutenção do cateter urinário);
*Remover catéter urinário (rever diariamente a indicação de
algaliação);
*Promover o autocuidado (orientar a Sra. Rosa nos cuidados de
higiene perineal e devido manuseamento do saco coletor de
•Ausentes
•Diurese de 1700 ml
•Urina amarela clara, aspeto límpido e sem
sedimento
•Cateter urinário optimizado, encontrando-se sem
dobras, abaixo do nível da bexiga e não está em
contacto com o chão
•11/12 – Foi questionada a equipa médica: a
doente não tem indicação para estar algaliada,
pelo que foi desalgaliada às 11h e já urinou
20
urina, bem como nos cuidados com a ferida cirúrgica);
*Incentivar a ingestão de líquidos;
*Executar penso simples à ferida cirúrgica de 2/2 dias;
*Vigiar ferida cirúrgica.
espontaneamente.
•A Sra. Rosa apesar de receber os ensinos
acerca dos cuidados que deve ter com a ferida
cirúrgica e algália, continua por vezes a manusear
indevidamente o saco coletor de urina.
•Foi efetuado hoje o penso e as suturas estão
sem sinais inflamatórios.
10/12 -
Conhecimento
sobre medidas de
segurança
comprometido
Relacionado com:
Presença de Algália
Manifestado por:
Cuidados indevidos no
manuseamento do saco
coletor de urina.
*Ensinar medidas de segurança (cuidados na manutenção do
cateter urinário);
*Avaliar a resposta ao ensino;
*Promover o autocuidado (supervisionar os cuidados da Sra.
Rosa ao saco coletor de urina);
•Feitos ensinos à Sra. Rosa sobre os cuidados
que deve ter na manutenção do cateter urinário;
•11/12 – A doente conhece e tem os devidos
cuidados na manutenção do cateter urinário.
A Sra. Rosa deambula pelo serviço segurando no
suporte do saco coletor de urina, em vez de o
pendurar no suporte de soro.
21
10/12– Conhecimento
sobre o regime dietético
comprometido
Relacionado com:
Cirurgia Intestinal
Manifestado por:
Ausência de ensinos
acerca dos hábitos
alimentares a adotar após
a cirurgia
*Ensinar sobre o regime dietético a seguir após a cirurgia
(Evitar: alimentos condimentados, gorduras, refrigerantes, água
com gás, cerveja e bebidas alcoólicas, frutos secos, café e
leguminosas)
*Providenciar material educativo (folhetos do serviço sobre a
alimentação na pessoa submetida a cirurgia intestinal)
*Gerir o regime dietético (de acordo com restrições e as
preferências da Sra. Rosa);
*Solicitar serviço de nutrição (pedir apoio da dietista para plano
alimentar personalizado);
*Avaliar a resposta ao ensino.
•Feitos ensinos à Sra. Rosa sobre o regime
dietético a cumprir
•Entregue folheto à doente relativo ao regime
dietético a cumprir
•Foi solicitado apoio da dietista por telefone.
A dietista falou com a doente e entregou plano
alimentar personalizado a 12/12/14.
•A doente conhece o regime dietético a cumprir
10/12 - Ferida cirúrgica
presente no abdómen
central
Relacionado com:
Cirurgia intestinal
*Executar penso simples à ferida cirúrgica de 2/2 dias;
*Vigiar ferida cirúrgica;
*Vigiar penso da ferida;
*Avaliar a cicatrização da ferida;
•Executado hoje, pela primeira vez, o penso à
ferida cirúrgica;
•Ferida cirúrgica sem sinais inflamatórios;
•Penso externamente limpo e seco.
•Boa evolução cicatricial.
22
Manifestado por:
Presença de suturas na
região abdominal
10/12 – Médio risco de
Queda
•Conhecimento sobre
prevenção de queda
comprometido
Relacionado com:
Condição de saúde atual
da Sr.ª Rosa
Manifestado por:
Resultado da aplicação da
escala de Morse=35
(médio risco)
*Monitorizar risco de queda através da escala de Morse de 5/5
dias ou sempre que se justifique;
*Vigiar a pessoa na deslocação às instalações sanitárias;
*Informar a pessoa sobre o risco de queda;
*Informar a pessoa sobre medidas preventivas da queda;
*Assistir a pessoa a identificar condições de risco para a queda;
*Ensinar sobre a prevenção de quedas (utilizar o duplo degrau
quando se levantar da cama, não entrar no Wc se o chão estiver
molhado,..);
*Gerir a segurança do ambiente (proporcionar um ambiente livre
de elementos que facilitem a queda, como pequenas tampas de
torneira no chão, mobiliário do quarto mal arrumado,…)
•Resultado da escala de Morse = 35 pontos
(Médio Risco)
•A Sra. Rosa apresenta uma postura estável e
equilibrada nas suas deslocações
•Na admissão ao serviço a Sra. Rosa foi
informada pelo enfermeiro sobre o risco de queda
e medidas preventivas para a mesma,
conhecendo-as.
•A Sra. Rosa reconhece no suporte de soro e no
saco coletor de urina fatores de risco para a
queda e adotou estratégias para prevenção da
mesma (nomeadamente solicita à enfermeira que
“feche” o aceso venoso periférico quando vai
deambular pelo serviço).
23
10/12 - Sono
comprometido
Relacionado com:
Rotinas do serviço
Manifestado por:
Dificuldade em adormecer
*Gerir o ambiente físico (proporcionar um ambiente calmo,
escuro e silencioso durante a noite);
*Vigiar o sono;
*Administrar medicamento (alprazolam 1mg) que a doente faz
no domicílio em SOS;
*Avaliar a resposta à medicação;
*Solicitar o médico (se a doente mantiver o sono
comprometido);
11/12
•Houve atenção por parte da enfermeira em tentar
apagar as luzes logo que possível e em minimizar
o ruído.
•A doente mantém dificuldade em adormecer;
•Cerca da 1h foi administrada a sua medicação
domiciliária (alprazolam 1mg);
•Adormeceu cerca das 2h até às 8h. Sono calmo,
por longos períodos.
10/12 –
Transferir-se:
•Dependente em grau
reduzido
•Conhecimento sobre
estratégias adaptativas
para se transferir
comprometido
*Assistir a pessoa na transferência (sempre que necessário);
*Incentivar a pessoa a transferir-se;
*Ensinar estratégias adaptativas para se transferir (utilizar duplo
degrau para sair do leito. Ao se levantar, lateralizar-se, apoiando
o cotovelo na cama e com a outra mão segurar na barriga);
*Instruir a utilização de estratégias adaptativas para se
transferir;
*Treinar o uso de estratégias adaptativas para se transferir;
•Feitos ensinos à Sra. Rosa sobre como se
transferir;
•A Sra. Rosa utiliza os equipamentos adaptativos
para se transferir, mas por vezes ainda não se
levanta de forma correta, esforçando os músculos
abdominais.
•Transfere-se com o apoio de equipamento
adaptativo (duplo degrau), por vezes com alguma
dificuldade.
24
•Aprendizagem de
habilidades para se
transferir comprometida
Relacionado com:
Presença de ferida
cirúrgica abdominal
Manifestado por:
Cuidados indevidos nas
transferências
*Providenciar equipamento adaptativo para se transferir (duplo
degrau e trapézio);
*Supervisionar a pessoa na transferência.
10/12 –
Risco de Eliminação
Intestinal alterada
Relacionado com:
Cirurgia intestinal
*Incentivar a ingestão de líquidos (ingerir pelo menos 1l de água
por dia)
*Incentivar a pessoa a deambular;
*Gerir o regime dietético (dentro das restrições alimentares e
preferências da doente);
*Solicitar serviço de nutrição (se necessário, para ajustar dieta);
*Vigiar a eliminação intestinal.
•A Sra. Rosa ingere cerca de 1l de líquidos por
dia, entre água e chá;
•A Sra. Rosa deambula pelo serviço pelo menos
2x turno (exceto à noite), sendo incentivada a tal.
•Não foi necessário gerir o regime dietético ou
solicitar a dietista. No dia 12/12 evacuou pela
primeira vez, fezes semi-líquidas, castanhas, em
moderada quantidade, passando a evacuar cerca
de 3 vezes por dia, embora em pouca quantidade.
25
3. REFLEXÃO SOBRE O CASO EM ESTUDO
O caso em estudo revela uma situação de cuidados em que perante uma
pessoa idosa que foi submetida a uma cirurgia intestinal, que possa ser
considerada complexa, e que segundo as recomendações do HICPAC (2009)
tem indicação para estar algaliada, não houve reavaliação diária pelo
enfermeiro da indicação da algaliação.
Esta ausência de uma reavaliação diária da necessidade de algaliação,
levou a que a Sra. Rosa, uma doente ligeiramente dependente nas ABVD (de
acordo com o resultado do índice de Barthel), estivesse desnecessariamente
exposta ao risco de infeção, além do desconforto que a própria manifestou com
a presença da algália e do facto do manuseamento do saco coletor ter causado
alguns constrangimentos na sua mobilidade.
O tempo de permanência do cateter urinário é um dos principais fatores de
risco para a CAUTI, estimando-se que por cada dia de algaliação, o risco de
infeção aumente entre 3-10%, chegando aos 100% ao fim de 30 dias de
internamento (Mori, 2014). Por esta razão, e a Sra. Rosa é um apenas um
exemplo, tratando-se de uma idosa que esteve cerca de dois dias algaliada
sem indicação, considero de extrema importância a intervenção do enfermeiro
para prevenir e minimizar o risco de CAUTI, avaliando diariamente a indicação
da algaliação.
Por sua vez, este é um exemplo prático dos resultados das auditorias
efetuadas no serviço, em que a doente foi algaliada no intra-operatório com
uma algália de calibre superior ao recomendado, justificando mais uma vez a
articulação e o trabalho futuro com o respetivo serviço.
Considero ainda, que este caso fez emergir conceitos como o de
envelhecimento ativo e máscara do envelhecimento. Este último, caraterizado
pela ambiguidade de um corpo que está a envelhecer, mas uma mente que
ainda se sente jovem (Motta, 2002) e que a Sra. Rosa traduziu perfeitamente,
quando referiu que apesar de “velha”, ainda se sentia com muita energia,
vitalidade e ânimo para continuar a viver.
26
Em Portugal, a promoção do envelhecimento ativo constitui hoje uma
estratégia prioritária no âmbito do Programa Nacional para a Saúde das
Pessoas Idosas, que mobiliza organizações não-governamentais, autarquias,
universidades, grupos de cidadãos e configura estratégias sociais e políticas,
que acrescentem não só anos à vida, mas também qualidade aos anos de vida
que se ganham com o aumento da esperança média de vida das populações
(Ministério da Saúde, 2004).
A enfermagem, como arte e ciência que acompanha o ser humano no seu
processo de vida global, deve procurar evoluir na especificidade dos cuidados
ao idoso e na perspetiva da preparação para um envelhecimento ativo.
Contudo, questiono e reflito: como poderemos nós promover um
envelhecimento ativo (neste caso, com o qual a própria doente se preocupa),
se questões “tão básicas” como promover o autocuidado e bem-estar da
doente, preconizados na teoria de Orem, foram “esquecidos” ao manter a Sra.
Rosa algaliada para além do tempo necessário?
Parece-me que a questão do envelhecimento ativo é pouco refletida pelos
enfermeiros, até em termos do seu próprio envelhecimento, desempenhando
aqui o enfermeiro especialista na área médico-cirúrgica, nomeadamente no
cuidado à pessoa idosa, um papel fundamental, intervindo junto dos pares e da
pessoa idosa na promoção de um envelhecimento ativo.
27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(N. Salgueiro, Trad.). Loures: Lusociência. (Tradução do original do francês
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elaboração de um estudo de caso. Revista Latino-Am. Enfermagem, 11(3),
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Disponível em http://www.portaldasaude.pt/NR/rdonlyres/1C6DFF0E-9E74-
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Disponível em http://www.spmi.pt/docs_nucleos/GERMI_36.pdf
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Sequeira, C. (2010). Cuidar de idosos com dependência física e mental. Lousã:
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28
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de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde
http://www.mna-elderly.com/forms/MNA_portuguese.pdf
1930-2010
1959
RSC
81A
CA
1962
SSCP
45A MVP
51A
FCP
17A
ACP
13A
ARCP
6A
GENOGRAMA
Relacionamento dominante
Legenda:
Pessoa índice
Morte
Agregado familiar
ANEXO I – Mini Nutritional Assessment (MNA)
(Fonte: http://www.mna-elderly.com/forms/MNA_portuguese.pdf)
ANEXO II – Índice de Barthel
(Fonte: Sequeira, C. (2010). Cuidar de idosos com dependência física e mental.
Lousã: Lidel - Edições Técnicas, Lda., p. 47)
Resultado=75
Pontuação Nível de Dependência
90-100 Independente
60-89 Ligeiramente dependente
40-55 Moderadamente dependente
20-35 Severamente dependente
<20 Totalmente dependente
ANEXO III – Índice de Lawton
(Fonte: Sequeira, C. (2010). Cuidar de idosos com dependência física e mental.
Lousã: Lidel - Edições Técnicas, Lda., p. 54)
ANEXO IV – Escala de Depressão Geriátrica de
Yesavage (versão curta)
(Fonte: Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina
Interna - GERMI)
ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA DE YESAVAGE
(versão curta)
Resultado: 1 Ponto
Pontos
Sem Depressão 0-5
Depressão Ligeira 6-10
Depressão grave 11-15
CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM PROJETO DE ESTÁGIO
Por favor, leia com atenção a seguinte informação. Se considerar que algo está
incorreto ou que não está claro, não hesite em solicitar mais informações. Se concorda
com a proposta que lhe foi feita, queira assinar este documento. Se for do seu
interesse, solicite cópia.
Título do projeto: Prevenção da Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter na
pessoa idosa: Intervenção do enfermeiro especialista.
Enquadramento: No âmbito do 5º Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em
Enfermagem Médico-Cirúrgica, Vertente Pessoa Idosa, da Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa (ESEL), irei realizar estágio no serviço de Cirurgia Geral, de 3 de
novembro de 2014 a 13 de fevereiro de 2015.
Durante este período tenho como objetivos gerais desenvolver competências na
prestação de cuidados à pessoa idosa e família e implementar intervenções
sistematizadas de enfermagem para a prevenção da Infeção do Trato Urinário
Associada ao Cateter (CAUTI), na pessoa idosa.
Assim, é meu propósito desenvolver um projeto no serviço de Cirurgia Geral, no
âmbito académico, que visa conhecer quais as práticas da equipa de enfermagem do
respetivo serviço na prevenção e controlo da CAUTI, bem como os conhecimentos dos
enfermeiros acerca desta temática, a fim de introduzir melhorias na prática dos
cuidados.
A co-orientação do projeto de estágio é da responsabilidade da Sra. Enfermeira
Chefe Maria Graça Oliveira, Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica, sendo a
Sra. Enfermeira Maria Emília Brito, professora da ESEL, a orientadora do projeto.
Explicação do projeto: A realização deste projeto implica a resposta a um
questionário pelos enfermeiros da Cirurgia Geral, bem como a observação de
procedimentos na sua prática, relacionados com os cuidados ao doente idoso
algaliado.
Os momentos de observação da prática dos enfermeiros serão realizados de forma
aleatória, no contexto da prestação de cuidados ao doente idoso algaliado. Irão
também ser auditados os registos de enfermagem de todos os respetivos pacientes.
Existirão assim dois períodos distintos de auditorias, sendo o primeiro de 17 a 30
de Novembro de 2014 e o segundo de 19 de Janeiro a 1 de Fevereiro de 2015.
Durante o período de estágio será colocada uma checklist no processo dos doentes
idosos algaliados, que será preenchida pelo enfermeiro responsável pelos mesmos, no
turno da manhã, para avaliar diariamente a necessidade de algaliação e os cuidados de
manutenção ao cateter vesical.
Confidencialidade e anonimato: É garantida a total confidencialidade e anonimato dos
participantes no projeto, sendo os dados recolhidos para uso exclusivo do mesmo.
Este projeto mereceu parecer favorável da Comissão de Ética do hospital.
Desde já agradeço a atenção que me foi dispensada,
Liliana Torres
(Enfermeira da Cirurgia Geral do HGO, EPE; contacto telefónico: 21 2727118, endereço
electrónico [email protected])
Assinatura: … … … … … … … … … ... … … … …... … … … … … … … … … … … …
-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-
Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais que me foram fornecidas pela pessoa que acima assina. Foi-me garantida a possibilidade de, em qualquer altura, recusar participar sem qualquer tipo de consequências. Desta forma, aceito participar neste projeto e permito a utilização dos dados que de forma voluntária forneço, confiando que apenas serão utilizados para este projeto e nas garantias de confidencialidade e anonimato que me são dadas. Nome: … … … … … … … …... … … … …... … … … … … … … … … … … …
Assinatura: … … … … … … … …... … … … … ... … … … … … … Data:…… /…… /………..
Caros colegas,
No âmbito do 5º Curso de Pós-licenciatura de Especialização em Enfermagem
Médico-Cirúrgica, Vertente Pessoa Idosa, da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
(ESEL), pretendo desenvolver um projeto no serviço. O tema é a prevenção da Infecção
do Trato Urinário Associada ao Cateter (CAUTI) na pessoa idosa, tendo por base um
diagnóstico prévio dos conhecimentos e das práticas da equipa de enfermagem.
Neste sentido, agradeço desde já a vossa colaboração na resposta a um questionário
sobre a prevenção da CAUTI. Este é anónimo, de resposta simples, contendo 14
perguntas de escolha múltipla.
A informação recolhida será essencial para ir ao encontro das necessidades de
intervenção nesta temática e consequentemente, contribuirá para a melhoria da
qualidade dos cuidados de enfermagem prestados.
Comprometo-me a salvaguardar os princípios éticos, nomeadamente a assegurar a
confidencialidade dos dados e o anonimato das fontes, assim como a não utilização para
outros fins que não os do projeto.
Grata pela atenção dispensada,
__________________________
(Liliana Torres)
Questionário acerca das recomendações baseadas na
evidência para a prevenção da CAUTI
Parte I - Dados Sociodemográficos
Idade: _______
Sexo: M □ F □
Tempo de experiência profissional:_______ anos
Tempo de exercício profissional no serviço de cirurgia geral:_______ anos
Habilitações Literárias:
Bacharelato □
Licenciatura □
Pós-Graduação □
Especialização/Mestrado em enfermagem □
Parte II – Prevenção da CAUTI
Leia atentamente todas as questões e assinale com um círculo em torno da alínea
correspondente à resposta que considera correta. No final, verifique se respondeu a
todas as questões.
1) O principal fator de risco para a infeção do trato urinário:
a) São os maus cuidados de higiene ao meato urinário.
b) A baixa ingestão de água.
c) A algaliação.
d) Não sei.
2) A algaliação está indicada:
a) Nas situações de incontinência urinária na pessoa idosa.
b) Em situações específicas, como: retenção urinária; incontinência urinária na
presença de úlceras/feridas na região sagrada ou perineal; necessidade de uma
imobilização prolongada, entre outras.
c) Para monitorizar a diurese.
d) Não sei.
3) No doente algaliado, a avaliação da necessidade de algaliação deve ser
efetuada:
a) Diariamente.
b) Na data prevista para substituição da algália.
c) Quando existir indicação médica.
d) Não sei.
4) O sistema de drenagem vesical deve funcionar:
a) Em circuito aberto.
b) Em circuito fechado que nunca pode ser quebrado.
c) Em circuito fechado que apenas pode ser quebrado por motivos específicos,
limitados e claramente definidos.
d) Não sei.
5) A higienização das mãos, preferencialmente com solução antissética de base
alcoólica (SABA), deve ser efetuada:
a) Imediatamente antes da algaliação.
b) Em qualquer manipulação da algália ou sistema de drenagem.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei.
6) As lavagens/irrigações/instalações da bexiga devem ser efetuadas:
a) Apenas por razões clínicas específicas.
b) Para prevenir a infeção do trato urinário associada à algaliação.
c) Nenhuma das anteriores.
d) Não sei.
7) A substituição da algália:
a) Deve ser fundamentada nas necessidades clínicas de cada doente.
b) Não deve ser feita por períodos arbitrários, salvaguardando as recomendações do
fabricante.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei.
8) Na escolha do tipo de algália deve-se atender a:
a) Possível alergia ao látex.
b) Duração prevista da algaliação.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei.
9) O calibre recomendado da algália é:
a) De 12-14 Ch na mulher e 14-16 Ch no homem.
b) De 14-16 Ch na mulher e 16-18 Ch no homem.
c) Nenhuma das anteriores.
d) Não sei.
10) A inserção da algália implica:
a) Técnica assética e equipamento estéril.
b) Limpeza prévia do meato urinário com solução antissética.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei.
11) O saco de drenagem deve ser substituído:
a) Na altura da substituição da algália ou se houver saída acidental do saco e/ou
sistema.
b) Quando se verificar acumulação de sedimento e/ou coágulos.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei.
12) A fixação da algália, com rotação dos locais de fixação:
a) Está recomendada, com vista a prevenir os movimentos da algália e pontos de
fricção na uretra.
b) Não está recomendada, pois pode traumatizar a uretra e a zona de fixação.
c) É uma questão não resolvida.
d) Não sei.
13) O saco de drenagem:
a) Deve ser mantido abaixo do nível da bexiga.
b) Deve estar colocado em suporte que previna o contacto com o chão e a
contaminação subsequente da válvula de despejo.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei
14) A remoção da algália deve ocorrer:
a) Quando existir indicação médica.
b) O mais precocemente possível.
c) Todas as anteriores.
d) Não sei.
Obrigada pela sua colaboração!
Grelha de auditoria às práticas e registos de enfermagem para a
prevenção da Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter
Serviço:_________________ Data:____/____/_____
Auditoria nº:____ Doente nº:__________
Idade:_______ Sexo:_______________ Nº Dias de Algaliação:_____
Critérios SIM NÃO N/A Observações
REGISTOS
Consta do processo do doente:
1) Qual a indicação da cateterização vesical?
2) Quem inseriu o cateter vesical?
3) O tipo de cateter vesical?
4) O calibre do cateter vesical?
Encontra-se registado no processo do doente:
1) As características da eliminação urinária?
2) A data de remoção do cateter vesical?
3)1ª Eliminação espontânea após remoção do cateter
vesical?
O calibre do cateter vesical corresponde nas mulheres
a 12-14 Ch e nos homens 14-16 Ch?
Existe registo de alguma intercorrência relacionada
com a cateterização vesical?
PRÁTICA
O enfermeiro conhece a indicação da cateterização
vesical? Se sim, especifique.
INSERÇÃO DO CATETER VESICAL
É realizada a higiene das mãos:
*Antes da inserção do cateter vesical?
*Após a inserção do cateter vesical?
O meato urinário é limpo com água ou soro
fisiológico antes da inserção do cateter?
Para a inserção do cateter vesical são utilizadas:
* luvas esterilizadas?
* campo esterilizado?
* compressas estéreis?
* solução estéril para limpeza do meato urinário?
* embalagem de uso único estéril de lubrificante?
É mantida a técnica assética durante a inserção?
MANUTENÇÃO DO CATETER VESICAL
O cateter vesical está conectado a um sistema de
drenagem em circuito fechado?
É realizada a fixação do cateter vesical, nos homens
na parte superior da perna e nas mulheres na face
interna da coxa?
O saco de drenagem encontra-se mantido abaixo do
nível da bexiga e colocado em suporte que previna o
contacto com o chão?
É mantido o cateter e sistema de drenagem sem
dobras?
É efetuada a limpeza diária do meato urinário com
água e sabão?
DESPEJO DOS SACOS DE DRENAGEM
O saco coletor de urina é esvaziado de acordo com o
preconizado?
No despejo é usado um saco limpo para cada doente?
São usadas luvas na manipulação do sistema de
drenagem?
Após cada despejo do saco coletor de urina é
efetuada:
*higiene das mãos?
*troca de luvas?
REMOÇÃO DO CATETER VESICAL
Antes da remoção do cateter vesical:
*foi efetuada a higiene das mãos?
*foram colocadas luvas limpas?
Foi efetuada a limpeza do meato urinário com soro
fisiológico antes e após a remoção do cateter
Observações:
Apêndice VIII - Checklist para monitorização diária da necessidade de
algaliação e cuidados de manutenção ao cateter vesical
Monitorização diária da necessidade de algaliação
e cuidados de manutenção ao cateter vesical
Data:___/___/___ Este é o _____ dia de algaliação!
Páre! Reflita e … evite a algaliação se possível!!
Identificação do paciente
RECOMENDAÇÕES Sim Não
O paciente encontra-se algaliado com indicação válida:
●Monitorização rigorosa do débito urinário?
●Obstrução ou retenção urinária?
●Disfunção neurogénica?
●Cirurgia urológica e estruturas contíguas?
●Incontinência urinária na presença de úlceras/feridas na região sagrada
ou perineal?
●Durante e após cirurgias complexas, que justifiquem a algaliação?
●Necessidade de lavagem vesical contínua ou intermitente?
●Necessidade de uma imobilização prolongada (ex. traumatismos da coluna
lombar)?
●Outra. Especifique:
Se sim, os cuidados de manutenção do cateter vesical foram assegurados?
O cateter vesical encontra-se fixo, nos homens na parte superior da perna e nas
mulheres na face interna da coxa?
O saco de drenagem encontra-se mantido abaixo do nível da bexiga e
colocado em suporte que previna o contacto com o chão?
É efetuada a limpeza diária do meato urinário com água e sabão?
O saco coletor de urina é esvaziado de acordo com o preconizado?
A higiene das mãos é efetuada antes e após o manuseamento do cateter
vesical?
Observações:
coloque a vinheta do paciente
Resultados dos questionários aplicados aos enfermeiros sobre a
prevenção da CAUTI
Serão de seguida apresentados os resultados obtidos nos questionários respondidos
por 32 enfermeiros do serviço de cirurgia geral, o que correspondeu a 80% dos
enfermeiros do serviço.
O número de enfermeiros que participaram no estudo correspondeu ao que tinha
proposto inicialmente (80%), sendo que este resultado é bastante positivo, atendendo a
que dos 8 enfermeiros que não responderam ao questionário, 4 se encontram ausentes
por licença parental e atestado médico desde há alguns meses.
Os questionários foram entregues no serviço de cirurgia geral no dia 12.11.14 e
foram recolhidos a 28.11.14, pelo que os enfermeiros tiveram cerca de 2 semanas para
responder ao questionário, período que decidi ser o ideal para poder obter a participação
do maior número possível de enfermeiros.
Apenas dois dos enfermeiros acertaram em todas as questões, e ambos tinham o
curso de especialização/mestrado em enfermagem, apesar de com anos de experiência
profissional e de serviço bem distintos.
2.1 Dados sociodemográficos
A média de idades dos enfermeiros que responderam ao questionário foi de 37,6
anos e a moda 33 anos, sendo que apenas 3 dos inquiridos eram do sexo masculino, o
que correspondeu a 9% do universo em estudo.
A média de anos de experiência profissional foi de 14,3 anos e a moda 10, sendo
que oscilou entre um máximo de tempo de serviço de 34 anos e um mínimo de 2 anos.
Por outro lado, o tempo médio de serviço na cirurgia geral e a moda foram ambos
de 10 anos, que oscilou entre os 23 anos de exercício profissional no serviço e os 0
anos.
É de realçar que para 56% dos enfermeiros, o tempo de experiência profissional
corresponde ao tempo de exercício profissional no serviço de cirurgia geral.
As habilitações literárias dos enfermeiros estão representadas no gráfico 1:
Gráfico 1 – Habilitações literárias dos enfermeiros inquiridos
O gráfico nº 1 permite percecionar que mais de metade da equipa de enfermagem
inquirida (63%) possui a licenciatura em enfermagem, existindo ainda uma percentagem
significativa de enfermeiros especialistas (25%) e uma minoria com pós-graduação e
bacharelato em enfermagem (ambas com 6%).
2.2. Prevenção da Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter (CAUTI)
Serão apresentados e analisados os resultados de cada uma das 14 questões
separadamente.
Por último, surgirá o gráfico com a percentagem de respostas corretas, em todas as
questões, que permitirá diagnosticar as maiores necessidades formativas ou os aspetos a
trabalhar junto da equipa.
6%
63%
6%
25%
Distribuição das Habilitações Literárias
Bacharelato
Licenciatura
Pós-Graduação
Especialização/Mestradoem enfermagem
Gráfico 2- Respostas dos enfermeiros à 1ªquestão: “O principal fator de risco para a
Infeção do Trato Urinário:”
Na questão nº1, um dos enfermeiros respondeu com duas opções, razão pela qual a
sua resposta não pôde ser validada, passando para 31 o universo de respostas. Contudo,
30 enfermeiros responderam acertadamente a esta questão, o que corresponde a 97% de
respostas corretas e indica que os enfermeiros reconhecem na algaliação a maior ameaça
para a Infeção do Trato Urinário.
Gráfico 3- Respostas dos enfermeiros à 2ª questão: “A algaliação está indicada:”
1 0
30
0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) São os mauscuidados de higieneao meato urinário.
b) A baixaingestão de água.
c) A algaliação. d) Não sei.
Tota
l de
Inq
uir
ido
s
0
31
1 0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Nas situ
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ein
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ária na
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ssoa id
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b) Em
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c) Para m
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d) N
ão se
i.
Tota
l de
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s
A questão nº 2 obteve 31 respostas corretas, o que corresponde a 97% das respostas.
Apenas um enfermeiro não respondeu corretamente, considerando que a algaliação está
indicada para monitorizar a diurese.
Gráfico 4- Respostas dos enfermeiros à 3ª questão: “No doente algaliado, a avaliação da
necessidade de algaliação deve ser efetuada:”
A questão nº 3 também obteve 97% de respostas corretas, com apenas 1 enfermeiro
a considerar que a avaliação da necessidade de algaliação deve ser efetuada quando
existir indicação médica.
Contudo, apesar dos enfermeiros conhecerem que a avaliação da necessidade de
algaliação dever ser efetuada diariamente, na primeira fase de auditorias à prática a
remoção da algália ocorreu maioritariamente após indicação médica, sem que os
enfermeiros questionassem previamente a indicação da algaliação.
31
0 1 0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Diariamente. b) Na data previstapara substituição da
algália.
c) Quando existirindicação médica.
d) Não sei.
Tota
l de
Inq
uir
ido
s
Gráfico 5- Respostas dos enfermeiros à 4ª questão: “O sistema de drenagem vesical deve
funcionar:”
A questão nº 4 permitiu concluir que, com 88% de respostas corretas, alguns
enfermeiros têm dúvidas quanto ao funcionamento do sistema de drenagem vesical, que
4 dos enfermeiros (22%) consideraram nunca poder ser quebrado.
Gráfico 6- Respostas dos enfermeiros à 5ª questão: “A higienização das mãos,
preferencialmente com SABA, deve ocorrer:”
0
4
28
0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Em circu
ito ab
erto
.
b) Em
circuito
fechad
oq
ue n
un
ca po
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qu
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o.
c) Em circu
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0 3
29
0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Imed
iatamen
tean
tes da algaliação
.
b) Em
qu
alqu
erm
anip
ulação
da algália
ou
sistema d
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m.
c) Tod
as asan
teriore
s.
d) N
ão se
i.To
tal d
e In
qu
irid
os
A questão nº 5 obteve 91% de respostas corretas, com 29 enfermeiros a demonstrar
conhecer quando deve ser efetuada a higiene das mãos. Contudo, 3 dos enfermeiros não
ponderaram a higienização das mãos imediatamente antes da algaliação, o que indica
que, apesar de uma medida básica em controlo de infeção, a higiene das mãos é um
aspeto sempre pertinente a trabalhar.
Gráfico 7- Respostas dos enfermeiros à 6ª questão: “As lavagens/irrigações/instilações da
bexiga devem ser efetuadas:”
A questão nº 6 obteve 100% de respostas corretas, sendo a única a obter tal
resultado. Este vai de encontro ao que foi constatado durante a primeira fase de
auditorias à prática, em que se verificou que as lavagens vesicais efetuadas pelos
enfermeiros ocorreram sempre com justificação clínica.
32
0 0 0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Apenas porrazões clínicas
específicas.
b) Para prevenira infeção do tratourinário associada
à algaliação.
c) Nenhuma dasanteriores.
d) Não sei.
Tota
l de
Inq
uir
ido
s
Gráfico 8- Respostas dos enfermeiros à 7ª questão: “A substituição da algália:”
A questão nº 7 obteve 26 respostas corretas, o que corresponde a 81%, sendo que os
restantes 19% consideraram que a substituição da algália deve ser fundamentada apenas
nas necessidades clínicas de cada doente.
Gráfico 9- Respostas dos enfermeiros à 8ª questão: “Na escolha do tipo de algália deve-se
atender a:”
6
0
26
0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Deve ser
fun
dam
en
tada n
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ecessidad
es clínicas
de cad
a do
ente.
b) N
ão d
eve ser feita
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0
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0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Possívelalergia ao látex.
b) Duraçãoprevista daalgaliação.
c) Todas asanteriores.
d) Não sei.
Tota
l de
Inq
uir
ido
s
Com 25 respostas corretas (78%), a questão nº 8 traduz que 28% dos enfermeiros
não ponderam a possível alergia ao látex na escolha da algália, pelo que este pode ser
um dos aspetos a melhorar na prática.
Gráfico 10- Respostas dos enfermeiros à 9ª questão: “O calibre recomendado da algália é:”
Se existiram questões que não deixaram margens para dúvidas e os enfermeiros
sabiam as respostas, a questão nº 9 sobressaiu com apenas 41% de respostas corretas.
Apesar de 13 enfermeiros conhecerem qual o calibre recomendado da algália, a maioria
não soube responder a esta questão, com 11 enfermeiros a considerarem o calibre
errado.
As respostas à questão nº 9 vão ao encontro do que as auditorias à prática
permitiram concluir, nomeadamente o facto de constatar que o calibre do cateter vesical
(sobretudo nas mulheres) não correspondia ao indicado. Talvez as dúvidas relativas ao
calibre do cateter vesical justifiquem esta desadequação do calibre verificada na prática,
contudo, este é um problema que ultrapassa a equipa de enfermagem da cirurgia geral,
uma vez que em grande parte das situações os doentes já vêm algaliados de outros
serviços, e este será possivelmente um aspeto a trabalhar nos mesmos.
13 11
7
1
0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) De 12-14 Chna mulher e 14-16
Ch no homem.
b) De 14-16 Chna mulher e 16-18
Ch no homem.
c) Nenhuma dasanteriores.
d) Não sei.
Tota
l de
Inq
uir
ido
s
Gráfico 11- Respostas dos enfermeiros à 10ª questão: “A inserção da algália implica:”
A questão nº 10 parece ter causado algumas dúvidas, uma vez que 10 enfermeiros
(31%) consideraram que além de técnica assética e equipamento estéril, a inserção da
algália implica a limpeza prévia do meato urinário com solução antissética, o que
atualmente não está indicado, bastando apenas a limpeza com soro fisiológico.
Gráfico 12- Respostas dos enfermeiros à 11ª questão: “O saco de drenagem vesical deve
ser substituído:”
22
0
10
0 048
121620242832
a) Técnica assética e
equ
ipam
en
to e
stéril.
b) Lim
peza p
révia do
meato
urin
ário co
mso
lução
antissé
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c) Tod
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i.To
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0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
a) Na altu
ra da
sub
stituição
da algália
ou
se h
ou
ver saída
acide
ntal d
o saco
e/o
usiste
ma.
b) Q
uan
do
se ve
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to e/o
uco
águlo
s.
c) Tod
as asan
teriore
s.
d) N
ão se
i.To
tal d
e In
qu
irid
os
A questão nº 11 obteve 75% de respostas corretas, com 24 enfermeiros a responder
corretamente. Contudo, 8 enfermeiros (25%) não consideraram que a acumulação de
sedimento e/ou coágulos justifique a substituição do saco de drenagem.
Gráfico 13- Respostas dos enfermeiros à 12ª questão: “A fixação da algália, com rotação
dos locais de fixação:”
A questão nº 12 foi corretamente respondida por 21 enfermeiros, sendo que obteve
66% de respostas corretas. Os restantes 34% não recaíram sobre uma única hipótese de
resposta, pelo que todas as opções foram consideradas.
Este resultado vai ao encontro do que foi constatado nas auditorias efetuadas à
prática dos enfermeiros, em que a fixação do cateter vesical é uma prática pouco
habitual no serviço de cirurgia geral, existindo aqui uma evidente oportunidade de
melhoria.
21
2 5 4
048
121620242832
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Gráfico 14- Respostas dos enfermeiros à 13ª questão: “O saco de drenagem:”
A questão nº 13 obteve 31 respostas corretas, o que corresponde a 97%. Esta
percentagem sugere que, grande parte da equipa de enfermagem conhece quais os
cuidados a ter na manutenção do saco de drenagem vesical, contudo, as auditorias
efetuadas à prática permitiram concluir que estes conhecimentos não impediram a
existência de situações em que o saco coletor arrastou pelo chão, como foi observado
em alguns dos doentes internados na unidade de cuidados intermédios.
Gráfico 15- Respostas dos enfermeiros à 14ª questão: “A remoção da algália deve ocorrer:”
0 1
31
0 0
4
8
12
16
20
24
28
32
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0 0
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8
12
16
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24
28
32
a) Quando existirindicação médica.
b) O maisprecocemente
possível.
c) Todas asanteriores.
d) Não sei.
Tota
l de
Inq
uir
ido
s
A questão nº 14 dividiu opiniões, sendo que dos 32 enfermeiros inquiridos, apenas
13 (41%) consideraram que a remoção da algália além de dever ser efetuada o mais
precocemente possível, deve ocorrer com indicação médica.
Esta situação contrasta com o que foi observado nas primeiras auditorias à prática.
Apesar de nos questionários todos os enfermeiros reconhecerem que a remoção da
algália deve ocorrer o mais precocemente possível, não valorizando tanto a indicação
médica, na prática foi verificado que a remoção dos cateteres vesicais ocorreu, na sua
maioria, por indicação médica.
Gráfico 16- Score de conformidade global das respostas a cada uma das questões.
Da análise do gráfico 16 sobressaem os 41% de conformidade atingidos nas
questões nº 9 e 14, que correspondem, respetivamente, ao calibre recomendado da
algália e à remoção precoce da mesma (com indicação médica), que são sem dúvida os
aspetos a trabalhar junto dos enfermeiros.
Por outro lado, a cor-de-rosa aparecem as questões que obtiveram um score de
conformidade inferior ou igual a 75%, não conseguindo alcançar um índice de
qualidade Muito Bom (que implica um score médio ≥ 75%). Estas questões prendem-se
97% 97% 97%
88% 91%
100%
81% 78%
41%
69%
75%
66%
97%
41%
78%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
com os cuidados na inserção da algália, a substituição do saco de drenagem vesical e a
fixação da algália, que se podem traduzir em oportunidades de melhoria nos cuidados de
enfermagem prestados.
No global, os resultados dos questionários atingiram um score de conformidade de
78%, que apesar de ligeiramente inferior aos 82% de conformidade atingidos na
primeira fase de auditorias à prática de enfermagem, ambos se encontram num índice de
qualidade Muito Bom.
Apêndice XI – Resultados das auditorias aos registos e às práticas da equipa
de enfermagem (1ª Fase)
Resultados das auditorias efetuadas aos registos e às práticas da equipa
de enfermagem para a prevenção da CAUTI na pessoa idosa
- 1ª FASE -
Foram efetuadas auditorias aos registos e às práticas da equipa de enfermagem para
prevenção da CAUTI, num período de 2 semanas (de 17 a 30 de Novembro de 2014),
que corresponderam a 6 dias de auditoria.
Neste período, 20 doentes internados no serviço de cirurgia geral encontraram-se
algaliados, 18 dos quais eram idosos, e apenas estes foram alvo do estudo. A média de
idades dos doentes idosos foi de 77,8 anos, apresentando a moda de 69 e 92 anos. A
amostra dividiu-se entre 50% homens e 50% mulheres.
Durante esta primeira fase de auditorias, o serviço esteve sempre com uma taxa de
ocupação abaixo da lotação máxima, que correspondeu a aproximadamente 70%.
Foi utilizada a grelha de auditoria construída, sendo que foi aplicada uma grelha
para cada doente idoso algaliado, em cada um dos dias de auditoria. O nº de auditoria
variou em função das auditorias efetuadas a um mesmo doente (o nº de doente,
corresponde ao nº de processo).
Em relação aos registos, a auditoria foi efetuada apenas uma vez para cada idoso
algaliado, uma vez que à partida estes critérios não se alteram, à exceção dos doentes
que foram realgaliados e dos critérios “Registo das características da eliminação
urinária” e “Registo de alguma intercorrência relacionada com a cateterização vesical”,
que foram considerados sempre, em todas as auditorias, uma vez que implicam uma
vigilância contínua. Este último critério, implicava primeiro questionar os enfermeiros e
depois consultar os registos de enfermagem.
O critério “O calibre do cateter vesical corresponde nas mulheres a 12-14 Ch e nos
homens 14-16 Ch” apesar de constar no campo dos registos, implicava sempre
validação na auditoria à prática, indo observar o calibre do cateter.
No preenchimento da grelha, ainda no campo dos registos, considerou-se que,
sempre que um doente se encontrava na unidade de cuidados intermédios, não era
necessário estar registada a indicação da cateterização vesical (critério não aplicável),
uma vez que a maioria dos doentes internados na unidade tem indicação para uma
monitorização rigorosa dos débitos urinários.
Na auditoria à prática, todos os doentes idosos algaliados, em cada dia, foram
auditados. O número de auditoria a preencher na grelha, variou consoante o número de
vezes que determinado doente foi auditado.
Em relação ao critério da prática “O enfermeiro conhece a indicação da
cateterização vesical”, a auditoria ao mesmo implica que o enfermeiro seja questionado
acerca da respetiva indicação e, em caso de resposta afirmativa, deve especificar a
indicação.
Sempre que algum critério não tenha sido observado, foi considerado como não
aplicável.
Durante o período de auditorias, o serviço de cirurgia geral apresentou o seguinte
panorama:
1º Dia 2º Dia 3º Dia 4º Dia 5º Dia 6º Dia
Taxa de
Ocupação
70% 63% 72% 56% 78% 83%
Nº de doentes
internados
38 34 39 30 42 45
Nº de doentes
algaliados
3 4 6 9 8 8
Nº /
percentagem de
doentes idosos
algaliados
3
7,8%
4
11,7%
5
12,8%
8
26,6%
8
19%
7
15,5%
Quadro 1 – Taxa de Ocupação e Percentagem de doentes idosos algaliados na Cirurgia
Geral, nos vários dias de auditoria.
O quadro número 1 revela que, perante uma taxa de ocupação de aproximadamente
70% durante o período de auditoria, cerca de 17% dos doentes internados estiveram
algaliados e destes, aproximadamente 92% eram idosos.
Os doentes auditados permaneceram, em média, 7,5 dias algaliados, com uma
moda de 1, sendo que 3 dos doentes estiveram mais de 20 dias algaliados e foram
aqueles que os enfermeiros desconheciam a indicação da algaliação, o que leva a uma
reflexão das práticas de enfermagem.
Sabe-se que, a cada dia que passa, o risco de Infeção do Trato Urinário Associada
ao Cateter (CAUTI) aumenta entre 3 a 5%, pelo que será desejável que o enfermeiro
conheça a indicação da algaliação e quando a desconhece, questione o médico acerca da
mesma, promovendo a desalgaliação precoce.
De seguida, serão apresentados os resultados das auditorias efetuadas aos registos e
às práticas de enfermagem, em percentagem de conformidade com os critérios
recomendados internacionalmente.
Inicialmente apresentam-se os resultados da auditoria aos registos de enfermagem,
com respetiva análise, e em seguida os resultados/análise da auditoria às práticas de
enfermagem para a prevenção da CAUTI na pessoa idosa, em cada uma das suas
vertentes (inserção do cateter vesical, manutenção do cateter vesical, despejo dos sacos
de drenagem e remoção do cateter vesical). Por fim, será apresentado o resultado global
de todos os critérios da prática.
Gráfico 1- Resultado da auditoria aos registos de enfermagem
86% 79% 74% 74%
100% 100%
45% 60%
86% 81%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
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a cateterização
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Existe registo
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Score
Glo
bal
Os resultados das auditorias efetuadas demonstram 81% de conformidade global
nos registos de enfermagem, sendo que a maior lacuna se encontra no registo da
primeira eliminação espontânea após remoção do cateter vesical, que foi encontrado
apenas em 45% dos casos.
Há ainda a realçar que o registo do tipo e calibre do cateter vesical pode ser
melhorado, com um resultado de 74% de conformidade dos registos, bem como o
calibre do cateter vesical não corresponder ao indicado em 40% dos casos, sendo as
mulheres frequentemente algaliadas com cateteres vesicais de calibre 16 e 18 Ch, sem
aparente distinção entre homens e mulheres (critério validado também na auditoria à
prática).
Em 86% dos casos, as intercorrências relacionadas com a cateterização vesical
estavam registadas, porém existiram 14% de situações em que se verificaram
intercorrências não registadas, surgindo aqui uma oportunidade de melhoria.
Apesar das auditorias aos registos não abrangerem a programação da troca do
cateter vesical, a mesma foi avaliada, verificando-se alguns erros pontuais na
programação do cateter, que justificam a validação da seguinte informação:
* Folley látex – programar troca para 10/10 dias
* Folley silicone – programar troca para 30/30 dias
Assim que possível esta informação constará da norma de serviço acerca da
prevenção da CAUTI, que está em revisão e será disponibilizada no computador, na
pasta do manual da qualidade do serviço, bem como no dossiê do projeto.
Gráfico 2 – Resultado da auditoria à prática na inserção do cateter vesical
Em relação à inserção do cateter vesical, apenas houve oportunidade para fazer uma
auditoria, tal como esperado, pois esta não é uma prática comum no serviço (a maioria
dos doentes vem algaliado do bloco operatório ou do serviço de urgência). Com apenas
uma situação observada, a inserção do cateter vesical obteve um resultado global de
conformidade de 89%, com a utilização do campo esterilizado a ser o único critério não
cumprido, pelo que obteve 0%.
O enfermeiro utilizou o campo das luvas como campo para a técnica de algaliação,
e esta é uma prática comum no serviço, contudo, deve ser utilizado um campo
esterilizado com orifício aquando da inserção da algália, surgindo aqui uma
oportunidade de melhoria.
100% 100% 100% 100%
0%
100% 100% 100% 100% 89%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
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uran
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Score G
lob
al
Gráfico 3 - Resultado da auditoria à prática na manutenção do cateter vesical
A manutenção do cateter vesical obteve um resultado global de 76% de
conformidades, sobressaindo um alerta para a necessidade de mudar práticas e passar a
fixar o cateter vesical (com rotação do local de fixação), com apenas 22% de situações
em que o cateter se encontrava fixo.
Por outro lado, o saco de drenagem vesical encontrava-se em contacto com o chão
em 34% das situações observadas, o que da minha observação permitiu concluir que
este número corresponde aos doentes internados na unidade de cuidados de intermédios,
e que facilmente pode ser corrigido se o suporte do saco de drenagem vesical for
colocado mais acima nas camas e/ou se estas também estiverem mais elevadas.
A mesma situação acontece quando os doentes da unidade de cuidados intermédios
estão sentados no cadeirão, em que o saco de drenagem vesical arrasta no chão,
justificando uma maior preocupação com o seu posicionamento.
100%
22%
66%
97% 100%
76%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
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Score G
lob
al
Gráfico 4 – Resultado da auditoria à prática no despejo dos sacos de drenagem vesical
Relativamente ao despejo dos sacos de drenagem vesical, este obteve um resultado
global de 96% de conformidade, sendo a higiene das mãos após cada despejo do saco
coletor o principal aspeto a melhorar, que ainda assim obteve um resultado de 83% de
conformidade.
O despejo dos sacos de drenagem vesical é da responsabilidade dos Assistentes
Operacionais (AO), pelo que nesta matéria, foram as suas práticas, com conhecimento e
autorização prévia dos intervenientes, que foram observadas. Apesar de esta ser uma
auditoria às práticas dos enfermeiros, este critério não poderia deixar de ser avaliado,
uma vez que os AO cumprem as indicações dos enfermeiros nesta atividade.
Gráfico 5 – Resultado da auditoria à prática na remoção do cateter vesical
100% 100% 100%
83%
100% 96%
75%
80%
85%
90%
95%
100%
O saco
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Score G
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100% 100%
43%
81%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Antes da remoção docateter vesical foi
efetuada a higiene dasmãos?
Antes da remoção docateter vesical foram
colocadas luvas limpas?
Foi efetuada a limpezado meato urinário comsoro fisiológico antes e
após a remoção docateter?
Score Global
A remoção do cateter vesical obteve um resultado global de 81%, existindo,
contudo, alguns aspetos a trabalhar, como a limpeza do meato urinário com soro
fisiológico antes e após a remoção do cateter, verificada apenas em 43% das situações.
Esta remoção ocorreu, na grande maioria dos casos, após indicação médica, sem que o
enfermeiro a questionasse previamente.
Gráfico 6 – Resultado global de todos os critérios da prática
Da análise das práticas, é possível constatar que o resultado global é de 82% de
conformidade.
Verificou-se que, em 81% dos casos, os enfermeiros conheciam a indicação da
algaliação, sendo que cerca de 78% dos doentes auditados encontravam-se na unidade
de cuidados intermédios, o que facilitou a justificação dessa indicação.
Considero que os resultados globais foram bastantes positivos, sendo notórios os
aspetos a trabalhar. Há que investir na desalgaliação precoce, questionando-nos
diariamente e questionando a equipa médica acerca da necessidade de algaliação, razão
pela qual é introduzida no serviço a checklist para monitorizar diariamente esta
necessidade e os cuidados de manutenção ao cateter vesical, com vista a minimizar o
risco de exposição do doente idoso à infeção.
81% 89% 76%
96% 81% 82%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
O enfermeiroconhece a
indicação dacateterização
vesical?
INSERÇÃO DOCATETERVESICAL
MANUTENÇÃODO CATETER
VESICAL
DESPEJO DOSSACOS DE
DRENAGEM
REMOÇÃO DOCATETERVESICAL
Score Global
Apêndice XII – Resumo com os resultados dos questionários e auditorias (1ª
Fase) às práticas e registos da equipa de enfermagem
Resultados dos questionários e 1ª Fase de auditorias às práticas e registos
de enfermagem, realizados em Novembro, no âmbito do Projeto
Prevenção da CAUTI na Pessoa Idosa
-Versão Resumo-
1. Resultados dos Questionários
Score de conformidade Global de 78%
Critérios Score
conformidade
A saber… Observações
○Calibre
recomendado da
algália
41% O calibre recomendado da
algália é de 12-14ch na
mulher e 14-16Ch no
homem.
○Remoção
precoce da
algália, com
indicação médica
41% A remoção da algália deve
ocorrer o mais
precocemente possível,
sempre com indicação
médica, devendo ser
questionada diariamente.
A maioria dos
enfermeiros
considerou a
remoção precoce da
algália, mas não a
indicação médica,
sendo esta
igualmente
importante neste
processo.
Contudo, na prática
constatou-se que a
maior parte das
desalgaliações
ocorreu após
indicação médica.
○Fixação da
algália
66% A fixação da algália deve
ser efetuada no homem na
parte superior da perna e na
mulher na face interna da
coxa.
○Cuidados na
inserção da
algália
69% Não deve existir desinfeção
prévia do meato urinário
com soluções antisséticas,
estando indicada a limpeza
com soro fisiológico.
○Substituição do
saco de
drenagem vesical
75% A substituição do saco deve
ocorrer quando se verificar
acumulação de sedimento
e/ou coágulos e aquando da
substituição da algália ou
saída acidental do saco.
2. Resultados das auditorias aos registos de enfermagem
Score de conformidade Global de 81%
Critérios Score
conformidade
Oportunidades de
melhoria
Observações
○Registo da 1ª
eliminação
espontânea após
remoção da
algália
45% Registar em notas de
enfermagem a 1ª eliminação
espontânea após remoção da
algália.
○Calibre
Recomendado da
algália
60% Algaliar as mulheres com
cateteres vesicais de calibre
12-14Ch e os homens com 14-
16Ch.
Na prática
verificou-se que
os doentes
estavam
algaliados com
cateteres de
calibre superior
ao recomendado,
sobretudo as
mulheres.
Contudo, na
maior parte dos
casos, a
algaliação foi da
responsabilidade
de outros
serviços.
○Registo do tipo
e calibre da
algália
74% Na atitude terapêutica
ALGALIAÇÃO, deve constar
na coluna das observações, o
tipo e calibre da algália, bem
como a data da troca.
3. Resultados das auditorias às práticas de enfermagem
Score de conformidade Global de 82%
Critérios Score
conformidade
Oportunidades de
melhoria
Observações
○Utilização de
campo
esterilizado na
inserção da
algália
0% Colocar campo esterilizado
com orifício após efetuar
limpeza dos genitais com soro
fisiológico.
Este score
corresponde
apenas a uma
única
oportunidade de
observação.
○ Fixação da
algália
22% Fixar a algália, no homem na
parte superior da perna e na
mulher na face interna da
coxa, com rotação do local de
fixação.
Nos resultados do
questionário, 66%
dos enfermeiros
conheciam esta
recomendação.
○ Limpeza do
meato urinário
com Soro
Fisiológico antes
e após a remoção
da algália
43% Efetuar limpeza do meato
urinário, antes e após a
remoção da algália.
○O saco de
drenagem
encontra-se
66% Colocar o saco de drenagem
em suporte apropriado.
Verificou-se na
auditoria às
mantido abaixo
do nível da
bexiga e colocado
em suporte que
previna o
contacto com o
chão
Elevar as camas de unidade de
modo a que o urimiter não
contacte com o chão.
Fixar o urimiter (com as suas
presilhas) no suporte inferior
do braço da unidade, quando o
doente está sentado no
cadeirão.
práticas de
enfermagem que
a grande
percentagem de
não
conformidades
deste critério
ocorreu com os
doentes da
unidade, pelo que
são propostas
medidas de
melhoria.
Como podem constatar, no global ambos os resultados se encontram num índice de
qualidade Muito Bom (que implica um score médio ≥ 75%) e por isso estamos de
parabéns!
Contudo, fiz sobressair neste resumo uma análise dos resultados mais pertinentes,
que criam oportunidades de melhoria na nossa prática diária.
Há que investir na desalgaliação precoce, questionando-nos diariamente e
questionando a equipa médica acerca da necessidade de algaliação, razão pela qual
foi introduzida no serviço a checklist para monitorizar diariamente esta necessidade e os
cuidados de manutenção ao cateter vesical, com vista a minimizar o risco de exposição
do doente idoso à infeção.
Neste sentido, aproveito para solicitar novamente a vossa colaboração no
preenchimento da checklist, diariamente, no turno da manhã, pelo enfermeiro
responsável pelo idoso algaliado. Relembro também que aquando da desalgaliação ou
da alta do idoso, as checklist’s devem ser colocadas no respetivo compartimento do
dossiê do projeto.
Brevemente será apresentada a revisão da norma do serviço acerca da prevenção da
Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter, bem como uma bundle da algaliação
(conjunto de medidas com evidência científica nível 1, que aplicadas em simultâneo têm
melhores resultados que isoladamente) e um algoritmo para avaliar a necessidade de
algaliação.
No final de Janeiro, serão efetuadas novas auditorias aos registos e às práticas de
enfermagem.
Estou ao vosso dispor para qualquer dúvida.
Atenciosamente,
Liliana Torres
´
Apêndice XIII - Análise do preenchimento das checklist´s para avaliar
diariamente a necessidade de algaliação e os cuidados de manutenção ao
cateter vesical, aplicadas aos idosos algaliados
Análise do preenchimento das checklist´s para avaliar diariamente
a necessidade de algaliação e os cuidados de manutenção ao
cateter vesical, aplicadas aos idosos algaliados
A aplicação e monitorização das checklist´s teve início a 1.12.14 com término a
02.02.15 (com interrupção para férias do Natal, de 18.12.14 a 4.01.15), tendo decorrido
por um período de aproximadamente um mês e meio. A sua aplicação deveria ocorrer
diariamente, a todos os doentes idosos algaliados, pelo enfermeiro responsável no turno
da manhã. Depois de preenchidas, eram colocadas na face externa da capa do processo
físico do doente. Aquando da desalgaliação ou alta do serviço, estas checklist´s
deveriam ser colocadas no dossiê do projeto, para minha monitorização.
Em simultâneo, durante o respetivo período, foi diariamente por mim avaliada a
lotação do serviço, o nº de doentes algaliados internados, e destes quantos eram idosos.
Assim, de acordo com a informação apresentada no gráfico 3, durante este período o
serviço apresentou uma lotação de 87%, sendo que, em média, 19% dos doentes
internados se encontraram algaliados, e destes, 81% eram idosos (gráfico 4).
A média de idades correspondeu a 77,8 anos, com uma moda de 80 anos.
Entre os idosos algaliados, 55% eram do sexo masculino e 45% do sexo feminino
(gráfico 5).
Com base nesta informação e nas checklist´s preenchidas, no final deste período foi
possível constatar que a adesão ao preenchimento das checklist´s pelos enfermeiros
correspondeu a 52%, com evolução positiva ao longo do tempo (gráfico 6). Os dias
em que se observa 100% de adesão corresponderam a dias de estágio, em que pude
controlar a implementação da checklist. Todas as checklist´s recolhidas estavam
preenchidas na totalidade.
Os 52% de adesão correspondem às checklist´s que se encontravam no dossiê do
projeto, pelo que de acordo com o que constatei na prática, existiram algumas que se
extraviaram, enviesando assim o resultado final, que poderia ser superior.
Segundo a informação recolhida nas mesmas, 60% dos idosos algaliados a quem
foi aplicada a checklist eram mulheres.
A média de dias de algaliação correspondeu a 6,48 dias, com uma moda de 1 dia.
Gráfico 1 – Indicação da algaliação dos idosos internados a quem foi aplicada a
checklist
Em 98% dos casos os enfermeiros consideraram que o doente estava algaliado
com uma indicação válida, sendo que de acordo com o gráfico 1, a mais comum (com
59%) foi a monitorização rigorosa do débito urinário, indo ao encontro do facto de
que a maior parte dos doentes algaliados se encontram internados na unidade de
cuidados intermédios.
Por outro lado, verificou-se que em 33% dos casos os enfermeiros consideraram
que a indicação correspondia ao pós-operatório de cirurgias complexas
(frequentemente em simultâneo com a indicação da monitorização rigorosa dos débitos
urinários). Seguiu-se a incontinência urinária na presença de úlceras ou feridas na região
sagrada/perineal, com 12%, e com 8% os enfermeiros identificaram igualmente a
indicação de cirurgia urológica e/ou estruturas contíguas, bem como situações de
retenção urinária. Com apenas 2% surgiu a necessidade de lavagem vesical, bem como
outras indicações, nomeadamente a indicação médica e a incontinência urinária com
necessidade de monitorizar diurese.
59%
8% 0%
8% 12%
33%
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Gráfico 2 – Cuidados de manutenção ao cateter vesical assumidos pelos
enfermeiros no preenchimento das checklist´s
Em relação aos cuidados de manutenção ao cateter vesical assumidos pelos
enfermeiros no preenchimento das checklist´s (gráfico 2), em 100% dos casos
consideraram ser efetuada a limpeza diária do meato urinário com água e sabão, que o
saco coletor de urina foi esvaziado de acordo com o preconizado e que a higiene das
mãos foi efetuada antes e após o manuseamento do cateter vesical.
Em 94% das checklist´s preenchidas o enfermeiro considerou que o saco de
drenagem vesical foi colocado devidamente (mantido abaixo do nível da bexiga e em
suporte que previna o contacto com o chão), existindo aqui 6% de situações em que
este critério não foi cumprido, inferiores aos 16% encontrados na última fase de
auditorias realizadas às práticas dos enfermeiros.
Em 37% dos casos os enfermeiros assumiram não ter efetuado a fixação da
algália, correspondendo a 63% de adesão a esta prática. No entanto, as auditorias
realizadas à prática dos enfermeiros revelaram percentagens de adesão à fixação da
algália inferiores, nomeadamente de 22% na primeira fase de auditorias e 33% na
segunda.
63%
94% 100% 100% 99%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
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Gráfico 3 – Dotação do serviço e percentagem de doentes algaliados ao longo do tempo
85%
83% 81%
83% 83%
69% 67%
80% 78%
81%
87% 87%
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94% 96%
78%
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81% 81%
100%
89% 94%
100% 96%
85% 83%
100% 100%
96%
100%
94% 96%
93% 93% 94%
74% 70%
89% 87%
94% 96%
87%
17%
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9% 11% 11%
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15% 17%
16% 15%
18%
12% 7%
23% 22%
31%
24% 20%
25% 25%
20%
25% 25%
19%
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15% 16% 17%
15% 15% 11%
18% 19%
16%
18% 20%
28%
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27%
34%
29% 27%
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20%
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dia
% Lotação % algaliados
Gráfico 4 – Percentagem de idosos algaliados e adultos não idosos algaliados ao longo do tempo
50% 50%
75% 75%
100%
100%
100%
100%
100%
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88% 83% 80%
67% 67%
100% 92%
83% 73%
92% 90%
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92% 100%
100%
100%
100%
100%
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88%
75% 83%
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75% 78%
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73% 67%
77% 69%
73%
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50% 50%
25% 25%
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20% 33% 33%
8% 17%
27%
8% 10%
27% 27% 18%
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33%
13%
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22% 20%
25%
22% 20%
27%
33%
23%
31% 27%
29%
19%
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20%
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60%
70%
80%
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% Idosos Algaliados % Adultos Não Idosos Algaliados
Gráfico 5 – Distribuição dos idosos algaliados por sexo ao longo do tempo
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% Idosos Mulheres Algaliados % Idosos Homens Algaliados
Gráfico 6 – Adesão ao preenchimento das checklist´s pelos enfermeiros ao longo do tempo
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67% 67%
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15
Mé
dia
Serviço cirurgia
NORMA DE PROCEDIMENTO CIR-GER – 3005
APROVAÇÃO
ASSUNTO: Prevenção da Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter
FINALIDADE: Estabelecer diretrizes para prevenir e controlar a Infeção do Trato Urinário
Associada ao Cateter
DESTINATÁRIOS: Enfermeiros do Serviço de Cirurgia Geral
PALAVRAS-CHAVE: Cateter Urinário; Cuidados de Enfermagem; Infeção Urinária; Prevenção e
Controlo
Autor (es) Liliana Torres; Maria Graça Oliveira Data de elaboração
Verificação C. Qualidade
Data de Verificação
Aprovação Data de Aprovação
Divulgação Data de Divulgação
Versão 5 Data de Revisão 2014.12.12
REGISTO DE ALTERAÇÕES V
ers
ão
Nº
Data de elaboração
Data de divulgação
Elaborado por Motivo da Alteração
1 20-08-1999 [doc. Original] Equipa de enfermagem cirurgia II
2 20-10-2010 20-10-2010 Mª João Santana, Sílvia Arrifes, Vanda Valentim
Atualização
3 24-01-2012 Magda Santos, Cremilde Ramalho Atualização
4 13/03/12
Fernanda Carolino, Verónica
Fernandes, Liliana Torres
Atualização
5 2014.12.12 Liliana Torres, Maria Graça Oliveira Atualização
Lista de Siglas
CAUTI - Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter
CCI – Comissão de Controlo de Infeção
CDC – Centers for Disease Control and Prevention
Ch – Unidades Cherrière
HICPAC – Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee
HPS - Health Protection Scotland
IACS – Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde
IHI - Institute for Healthcare Improvement
IPI – Inquérito de Prevalência de Infeção
ITU – Infeção do Trato Urinário
SABA - Solução Antissética de Base Alcoólica
WHO - World Health Organization
Definiço es/Conceitos
Infeção Urinária Nosocomial – Corresponde à aquisição de bacteriúria significativa no decurso
do internamento, sendo definida usando os critérios para Infeção do Trato Urinário (ITU)
sintomática ou assintomática. Pode envolver qualquer parte do sistema urinário, incluindo a
uretra, a bexiga, os ureteres e os rins. (Centers for Disease Control and Prevention - CDC, 2014)
Infeção do Trato Urinário Associada à Algaliação – Corresponde à ITU associada à presença
de um cateter urinário, que esteve no local por um período superior a 2 dias na data da infeção
(com o dia da colocação do cateter sendo considerado o dia 1) e um cateter urinário que esteve
no local na data da infeção ou no dia anterior. Se um cateter urinário esteve no local por um
período superior a 2 dias e foi depois removido, para que possa ser considerada ITU associada
ao cateter, a data da infeção deve corresponder ao dia da desalgaliação ou ao dia seguinte.
(CDC, 2014)
Bundle - É uma forma estruturada de melhorar os processos de cuidados e os resultados dos
doentes. Corresponde a um pequeno conjunto de práticas baseadas em evidência (geralmente 3
a 5), que quando realizadas coletivamente e de forma confiável, têm comprovadamente
melhores resultados para os doentes (Resar et al, 2005).
Contextualizaça o
As infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS), atualmente assim designadas,
correspondem às infeções adquiridas pelas pessoas em consequência dos cuidados de saúde
prestados, podendo afetar também os profissionais de saúde no exercício da sua atividade
profissional (Ministério da Saúde, 2007). Este é um conceito abrangente, que se refere a todas
as unidades prestadoras de cuidados de saúde.
Não sendo um problema novo, as IACS assumem cada vez mais importância, constando da
lista de prioridades da Organização Mundial de Saúde (OMS) Patient Safety, por serem um dos
efeitos adversos da prestação de cuidados de saúde potencialmente evitáveis (World Health
Organization - WHO, 2009). Existem estudos que revelam que pelo menos 20% poderiam ser
evitadas (Pina, Ferreira, Marques & Matos, 2010).
Em Portugal, de acordo com os resultados do Inquérito de Prevalência de Infeção (IPI)
realizado em 2012, a infeção do trato urinário é a segunda IACS mais frequente (21,1%),
precedida apenas das infeções do aparelho respiratório (29,3%) (Ministério da Saúde, 2013).
A cateterização vesical de longa duração é responsável por aproximadamente 80% das
infecções urinárias nosocomiais (Blodgett, 2009). Entre as complicações mais frequentes da ITU
surge a pielonefrite, cistite, bacteriémia secundária, sépsis e prostatite (Pina et al, 2010).
Mori (2014) considera que a Infeção do Trato Urinário Associada ao Cateter (CAUTI) é a
mais comum, correspondendo a cerca de 40% de todas as IACS. Contudo, refere que vários
estudos demonstram que metade dos doentes algaliados não tem uma indicação válida para a
mesma.
O risco de infeção está diretamente relacionado com o tempo de cateterização (Pratt &
Pellowe, 2010; Nicolle, 2005). Estima-se que por cada dia de algaliação, o risco de infeção
aumente entre 3-10%, chegando aos 100% ao fim de 30 dias de algaliação (Mori, 2014).
Com base nas definições do CDC, a algaliação é considerada:
*Curta Duração (7-10 dias)
*Média duração (< 28 dias)
*Longa Duração (≥ 28 dias)
As vias urinárias são a porta de entrada mas frequente de sepsis por Gram negativos,
sendo que os principais microrganismos responsáveis pela ITU são: Escherichia Coli, Proteus
Mirabilis, Klebsiella spp, Staphylococcus Saprophyticus, Enterococcus spp e Pseudomonas
Aeruginosa.
A infeção urinária pode ocorrer durante o ato de cateterização, imediatamente após a
inserção da algália ou posteriormente, devido à flora que coloniza o sistema.
As bactérias entram na via urinária cateterizada pelas vias:
○ Extraluminal – Pode ocorrer mais rapidamente, através da inoculação direta das bactérias
na bexiga, na altura da inserção da algália ou, mais tarde, ascendendo do períneo por ação
capilar na mucosa contigua à parede externa da algália.
○ Intraluminal – Em que os micro-organismos ascendem do lúmen do cateter devido a
falhas de manutenção do circuito fechado de drenagem de urina, despejo inadequado dos sacos
coletores ou contaminação dos mesmos.
O Institute for Healthcare Improvement (IHI) desenvolveu o conceito de bundles para ajudar
os profissionais de saúde a prestar o melhor cuidado possível a doentes submetidos a
intervenções com riscos inerentes, como é o caso da algaliação.
A bundle é composta por medidas com evidência nível 1, pelo que não deve existir
controvérsia ou discussão acerca das medidas incluídas na mesma. Prevê-se que o Programa
Nacional de Controlo de Infeção venha a propor esta metodologia como estratégia eficaz na
redução da CAUTI.
A Health Protection Scotland (HPS) desenvolveu em 2013 uma bundle para a prevenção da
CAUTI, a qual foi adotada pela Comissão de Controlo de Infeção (CCI) deste hospital na norma
de procedimento geral: Prevenção da Infeção do Trato Urinário em doentes com algaliação de
curta e média duração. Esta bundle foi revista pelo HPS em Janeiro 2014, pelo que adotamos
aqui a versão mais atualizada.
Estima-se que, aplicando medidas de controlo de infeção adequadas, se possam
evitar até 69% das infeções urinárias, o que representa cerca de 380.000 infeções e 9.000
óbitos por ano. (Gould, Umscheid, Agarwal, Kuntz & Pegues, 2009)
Exemplos de situaço es clí nicas que justificam a algaliaça o (HICPAP, 2009)
● Resolver obstrução do trato urinário ou situações de retenção urinária;
● Necessidade de uma monitorização rigorosa dos débitos urinários;
● Incontinência urinária na presença de úlceras/feridas na região sagrada ou perineal;
● Proporcionar conforto aos doentes em fase terminal;
● Durante e após cirurgias complexas, que justifiquem a algaliação;
● Necessidade de lavagem vesical contínua ou intermitente;
● Utentes que necessitem uma imobilização prolongada (ex. traumatismos da coluna
lombar)
Prevença o da CAUTI
O HICPAC (2009) pressupõe cinco níveis de intervenção para a prevenção da CAUTI:
1. Avaliação da necessidade de algaliação (com base na avaliação do risco individual da
pessoa);
2. Seleção do tipo de algália (de acordo com a duração prevista da algaliação);
3. Inserção assética da algália;
4. Manutenção da algaliação;
5. Remoção da algália.
Categorizaça o das Recomendaço es
As recomendações foram classificadas quanto à evidência tendo por base o sistema de
categorização do CDC:
● Categoria IA – Medidas de adoção fortemente recomendadas e apoiadas por estudos
epidemiológicos, clínicos e experimentais bem desenhados.
● Categoria IB – Medidas de adoção fortemente recomendadas e apoiadas por alguns
estudos epidemiológicos, clínicos e experimentais e por uma forte fundamentação teórica.
● Categoria IC – Medidas preconizadas pelas recomendações de Associações ou
Federações.
● Categoria II – Medidas de adoção sugeridas para implementação, apoiadas em estudos
epidemiológicos ou clínicos sugestivos ou em fundamentação teórica.
● Questão não resolvida – Medidas para as quais a evidência é insuficiente ou não existe
consenso quanto à sua eficácia.
Princí pios Gerais
○ O uso de algália deve ser limitado às necessidades clínicas, diariamente reavaliadas –
Categoria IB
○ Avaliação de métodos alternativos à algaliação, de acordo com a situação clínica do
doente, nomeadamente: fralda, dispositivo do tipo penrose, cateterização suprapúbica,
drenagem vesical intermitente – Categoria II
○ As indicações da algaliação devem incluir, entre outras: obstrução urinária, disfunção
neurogénica, cirurgia urológica e estruturas contíguas, medição rigorosa da eliminação urinária
nos doentes críticos - Categoria II
○ Desinfeção higiénica das mãos imediatamente antes da algaliação ou qualquer
manipulação da algália ou sistema de drenagem. Desinfeção feita, preferencialmente, com
recurso a soluções antisséticas de base alcoólica – Categoria IA
○ O sistema de drenagem deve funcionar em circuito fechado. Este só deve ser quebrado
por motivos específicos, limitados e claramente definidos – Categoria IA
○ O sistema de drenagem deve ter preferencialmente um local referenciado que permite a
colheita assética de urina - Categoria IC
○ Se ocorrer quebra de técnica assética, ou desconexão do sistema de drenagem, o mesmo
deve ser substituído, usando técnica assética após desinfetar a junção algália-saco com álcool –
Categoria II
○ As lavagens/irrigações/instalações da bexiga não previnem a infeção associada à
algaliação, pelo que devem ser efetuadas apenas por razões clínicas específicas e não por
rotina – Categoria IB
○ A substituição da algália deve ser fundamentada nas necessidades clínicas de cada
pessoa, tendo em conta as recomendações do fabricante. Não deve ser feita por períodos fixos
ou arbitrários ou estabelecidos por rotina do serviço – Categoria IB
○ Todos os procedimentos envolvendo a algália e o sistema de drenagem devem ser
registados nas notas de enfermagem. No mínimo devem incluir: o nome do profissional; a data
de inserção; o tipo e calibre da algália; o volume da água do balão – Categoria II
○ A separação espacial dos doentes algaliados infetados e os não infetados pode minimizar
o risco de ITU cruzada, pelo que deve evitar-se que estes doentes sejam colocados em camas
adjacentes. É particularmente importante durante surtos de infeção documentados,
nomeadamente por microorganismos multirressistentes – Categoria IC
Inserça o da alga lia
○ O calibre da algália refere-se ao seu diâmetro interno, que é expresso em unidades
Charrière (Ch) –1Ch = 0,33mm. Deve escolher-se o diâmetro mais pequeno desde que assegure
a drenagem eficaz. O calibre recomendado é de 12 a 14 Ch na mulher e 14 a 16 Ch no homem –
Categoria II
○ A algália deve ser selecionada atendendo à duração prevista da algaliação e à avaliação
clínica da pessoa. Na escolha do tipo de algália, é necessário inquirir a pessoa e/ou pessoas
significativas, acerca de possível alergia ao látex – Categoria II
○ Se é previsível uma irrigação contínua ou regular deve ser selecionada uma algália de
três vias – Categoria II
Tipo de Algália Informações Importantes
Curta Duração
(≤ 10 dias)
Látex *Torna-se irritante quando o seu uso é prolongado;
*Nas situações em que haja coágulos, não é recomendável a sua
utilização;
*É de difícil introdução nos casos de obstrução.
Média Duração
(4 a 6 semanas)
Teflon
PVC
*Não é adequado para pessoas alérgicas ao látex, apesar de menos
irritante;
*Mais fácil de colocar;
*Menos probabilidade de obstruir;
*Pode degradar-se se prolongar o seu uso para além do estipulado;
Longa Duração
(6 semanas a 6
meses)
Silicone
Revestimento
silicone
*É o material menos irritante;
* A sua consistência pode dificultar a sua introdução.
Tabela 1- Tipos de Algália e sua duração (Almeida et al, 2013)
○ É extremamente importante a manutenção da técnica assética durante todo o
procedimento de colocação da algália, de forma a minimizar o risco de infeção:
*Uso de barreiras de proteção – Categoria IB
*A algália deve ser inserida com técnica assética e equipamento estéril – Categoria IB
○ Deve adotar-se um sistema que assegure a manutenção de um campo estéril, sem receio
de contaminação. Se a algália se contaminar durante a inserção, deve ser substituída –
Categoria IB.
○ O profissional que vai inserir a algália deve proceder à desinfecção higiénica das mãos
antes de calçar as luvas estéreis, a fim de manter a técnica assética durante a inserção –
Categoria IA
○ A área genital deve ser lavada com água e sabão antes da inserção da algália. Para este
procedimento usar luvas de procedimento (limpas) – Categoria II
○ O meato urinário deve ser limpo com água ou soro fisiológico. Não há vantagem em usar
soluções antisséticas para limpeza do meato uretral, previamente à inserção da algália, como
forma de prevenir a infeção urinária na pessoa algaliada – Categoria IA.
○ Questão não Resolvida: não há evidência de que a água ou o soro fisiológico a utilizar
na limpeza do meato urinário devam ser estéreis.
○ Usar lubrificante apropriado, gel anestésico estéril de uso único, para reduzir o trauma
uretral –Categoria II
○ O balão deve ser dilatado com a quantidade correta de água estéril (volume necessário –
5 a 10ml no adulto) – Categoria II
○ Fixação da algália, com vista a prevenir os movimentos da mesma e pontos de fricção na
uretra, assegurando uma boa drenagem – Categoria IC:
*Homem – parte superior da perna;
*Mulher – face interna da coxa.
○ Se for usada a algaliação intermitente, execute-a em intervalos regulares para impedir a
super-distenção da bexiga – Categoria IB
○ Considere usar um dispositivo portátil de ultrassom para avaliar o volume da urina nos
doentes que se submetem a algaliação intermitente com essa finalidade – Categoria II
Manutença o da algaliaça o
○ Descontaminar as mãos e usar um novo par de luvas limpas antes da manipulação da
algália e lavar as mãos após a remoção das luvas – Categoria IA
○ A higiene do meato deve ser efetuada com soro fisiológico a intervalos apropriados de
modo a mantê-lo livre de incrustações e contaminações. Não é necessário usar antisséticos na
higiene diária do meato urinário como forma de prevenir a CAUTI – Categoria IB
○ Depois da inserção assética do cateter vesical, deve ser mantido um sistema de
drenagem fechado – Categoria IB
○ Devem ser cumpridos alguns requisitos do saco de drenagem – Categoria IC:
*De encerramento seguro e fácil de posicionar;
*Com válvula antirrefluxo;
*Com torneira de despejo de modo a assegurar a manutenção do circuito fechado de
encerramento seguro;
*Com tubagem resistente;
*Com sistema de medição fiável da urina.
○ O saco deve ser mantido sempre abaixo do nível da bexiga e estar colocado em suporte
que previna o contacto com o chão e a contaminação subsequente da válvula de despejo –
Categoria II
○ A posição e integridade do sistema devem ser mantidas, de modo a ser compatível com o
conforto e mobilidade do doente – Categoria IC
○ No despejo do saco de drenagem atender – Categoria II:
*Evitar o contacto da torneira com qualquer superfície;
*Higienizar as mãos antes e após cada despejo;
*Ao uso de um saco coletor limpo e individualizado para cada despejo;
○ O saco de drenagem não deve ser substituído por rotina, mas sim – Categoria II:
*Na altura da substituição da algália;
*Quando estiver danificado ou com fugas;
*Quando se verificar acumulação de sedimento e/ou coágulos;
*Se houver saída acidental do saco e/ou sistema.
○ O saco de drenagem deve ser despejado e a torneira fechada antes de a pessoa entrar
no banho. As pessoas algaliadas devem tomar banho acompanhadas, porque o saco de
drenagem pode ficar obstruído ou preso, levando à deslocação/remoção da algália. Se ocorrer
uma destas situações, deve substituir-se todo o sistema após o banho. Se não for necessário
remover a algália, substituir apenas o saco, cumprindo os princípios recomendados para esta
prática – Categoria IC
○ Manter sempre o sistema de drenagem fechado e assegurar a sua manipulação com
técnica assética. Se ocorrer alguma falha durante a técnica assética de algaliação (desconexão
tubagem, contaminação) substitua o cateter e todo o sistema drenagem – Categoria IB
○ Em algaliações de curta duração deve manter-se o mesmo saco coletor, se não houver
obstrução. Se for necessário proceder à substituição do saco, a junção algália-tubo deve ser
desinfetada com álcool antes da desconexão.
Remoça o da alga lia
○ A remoção da algália deve ser feita o mais cedo possível – Categoria IA
○ O procedimento de remoção da algália deve seguir as seguintes fases – Categoria IC:
*Higienizar as mãos com solução antissética de base alcoólica (SABA) e calçar luvas
limpas;
*Desinsuflar o balão;
*Limpar o meato urinário e a região periuretral com soro fisiológico;
*Retirar a algália suavemente;
*Limpar novamente o meato e a região periuretral;
*Vigiar a eliminação vesical espontânea.
○ Registar em notas de enfermagem, a data e o motivo da remoção da algália bem como, a
eliminação pós desalgaliação – Categoria IC
Foi elaborado um algoritmo para remoção da algália, que consta do apêndice I.
Material e procedimento da algaliaça o (Veiga et al, 2011)
Material:
* Kit de algaliação descartável ;
* Algália de tipo e calibre adequado à situação do doente;
* 1 par de luvas não esterilizadas;
* Soro fisiológico para limpeza perineal;
* Saco coletor esterilizado com torneira;
* Adesivo hipo alérgico;
* Campo esterilizado com orifício;
* Resguardo absorvente impermeável.
Procedimento:
* Informar a pessoa sobre o procedimento que se vai realizar e como pode colaborar;
* Preparar e transportar o material para junto da pessoa;
* Manter a privacidade da pessoa;
* Preparar fisicamente a pessoa, expondo unicamente a região genital e colocando o
resguardo sob a mesma:
- Homem: decúbito dorsal com os membros inferiores em abdução
- Mulher: decúbito dorsal com os membros inferiores fletidos e em abdução
* Higienizar as mãos;
* Calçar as luvas não esterilizadas e fazer uma limpeza dos órgãos genitais;
* Descalçar as luvas e higienizar as mãos;
* Abrir o kit com técnica assética;
* Retirar o invólucro externo da algália colocando-o dentro do kit e abrir de seguida o saco
coletor de urina. Colocar o soro fisiológico na taça;
* Calçar luvas esterilizadas e proceder a nova limpeza utilizando a pinça:
- No homem: Com a mão não dominante posicionar o pénis perpendicularmente à zona
pélvica, retraindo o prepúcio. Com a mão dominante limpar o meato utilizando uma compressa
de cada vez, com movimentos circulares em sentido descendente, do meato para a glande.
- Na mulher: Inicia-se a limpeza pelos grandes lábios, utilizando uma compressa para
cada um, num movimento descendente e único, do lado mais afastado para o mais próximo.
Seguidamente a mão não dominante afasta os grandes lábios e a outra mão executa a limpeza
dos pequenos lábios, respeitando os passos anteriormente descritos. Por último procede-se à
limpeza do meato num movimento único.
* Colocar campo esterilizado com orifício;
* Adaptar saco coletor de urina à algália e lubrificar a sua extremidade;
* Introduzir a algália de forma suave e com movimentos rotativos até ao aparecimento de
urina no tubo do saco coletor. No homem colocar com a mão não dominante o pénis num angulo
de 90º com a zona pélvica e na mulher com a mão não dominante manter os grandes lábios
afastados enquanto se faz a introdução da algália com a mão dominante;
* Introduzir água destilada em quantidade adequada à capacidade do balão (cuff) e
exteriorizar ligeiramente a algália até se sentir resistência;
* Retirar as luvas e higienizar as mãos;
* Fixar a algália, alternando a sua posição diariamente;
* Diariamente realizar os cuidados de higiene perineal com água e sabão e mudar a posição
da algália;
* Avaliar e registar as características e o volume da urina diariamente;
* Informar o doente/familiar sobre os cuidados na manutenção da algaliação, despiste de
sinais de infeção urinária (piúria, alterações de coloração, hematúria, dor, ardor, exsudado
purulento ao nível do meato urinário) e a data de mudança da algália – Categoria II
* Incentivar o doente à ingestão de líquidos a fim de promover uma boa diurese, se não
existir contraindicação clínica.
Bundle para a prevença o da ITU na inserça o e manutença o do cateter urina rio (HPS, 2014):
Critérios para a INSERÇÃO do cateter urinário:
1. Foram consideradas alternativas à algaliação e a razão clínica para a mesma está
claramente documentada.
2. Foi utilizada técnica assética na inserção do cateter urinário.
3. O cateter urinário tem o menor calibre e uma vez inserido, o balão foi preenchido
com o nível recomendado, ou seja, 10ml (exceto se clinicamente recomendado).
4. O meato urinário foi limpo com soro fisiológico esterilizado e foi utilizado
lubrificante de uso único esterilizado antes da inserção do cateter urinário.
5. A técnica asséptica foi aplicada e mantida ao conectar o cateter urinário ao
sistema de drenagem fechado estéril.
Critérios para a MANUTENÇÃO do cateter urinário:
1. Tem havido revisão diária da necessidade do cateter urinário e a razão clinica
para a sua presença está claramente documentada. O cateter urinário foi
removido, se possível.
2. A conexão entre o cateter urinário e o sistema de drenagem não foi quebrada,
exceto para atender aos requisitos clínicos (por exemplo, trocar o saco de acordo
com as recomendações do fabricante).
3. Foi executada a higiene diária do meato urinário.
4. O saco de drenagem foi esvaziado quando clinicamente indicado. A torneira de
despejo do saco de drenagem não está em contacto com qualquer superfície
ambiental.
5. A higiene das mãos foi realizada imediatamente antes do acesso ou manipulação
do cateter urinário.
Colheita de urina para exame microbiolo gico:
Deve ser usada técnica assética e material estéril, cumprido os seguintes passos:
- Clampar algália durante alguns minutos;
- Preparar o material necessário;
- Higienizar as mãos;
- Colocar luvas esterilizadas;
- Desinfetar com álcool a área a puncionar;
- Aspirar com seringa 5 a 10ml de urina, puncionando na parte oposta do canal do balão
com um ângulo de 45º e colocar em frasco esterilizado devidamente rotulado, evitando tocar no
frasco;
- Retirar a pinça de clampagem e limpar o local de punção após a colheita;
- Enviar a amostra de urina para o laboratório o mais rápido possível (no prazo máximo de 1
hora). Se isto não for possível, a amostra deve ser refrigerada para evitar a proliferação de
bactérias;
- Não puncionar o tubo de plástico ou saco coletor;
- Não desconectar a algália para recolher a urina.
Registos no SAPE:
No SAPE programar a atitude terapêutica ALGALIAÇÃO e na coluna das observações
colocar o motivo da algaliação, o tipo e calibre da algália, com a data de troca e o volume
da água no balão (se este for conhecido). Planear as intervenções associadas:
Vigiar a eliminação urinária – sem horário (uma vez por turno);
Trocar cateter urinário – programar a troca para o turno da manhã (látex -
10/10 dias; PTFE/Teflon - 28/28 dias; Silicone – 30/30 dias);
Monitorizar a eliminação urinária – hora fixa (7h/15h/21:30h);
Inserir cateter urinário – agora;
Optimizar cateter urinário – sem horário (uma vez por turno);
Remover cateter urinário – intervenção de enfermagem ainda a introduzir
na parametrização SAPE, mas deverá ficar programada: turno fixo,
Manhã.
Preparaça o do doente algaliado para a alta:
○ Cuidados domiciliários – Fornecer ao doente/familiar informação escrita com linguagem
apropriada sobre os cuidados na manutenção do circuito fechado e despiste precoce de sinais
de infeção urinária e a mudança da algália (data e local) – Categoria II
○ Deve constar da carta de alta para o centro de saúde informação que permita a manutenção
do sistema de drenagem e a continuidade de cuidados, devendo no mínimo incluir:
Data de inserção do cateter vesical;
Tipo e calibre da algália;
Volume de água no balão;
Sinais/suspeita de infeção;
Antibioterapia dirigida ou empírica que o doente eventualmente esteja a fazer;
Isolamento de estirpes multirresistentes e enviar cópia dos resultados de bacteriologia –
Categoria II
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Algoritmo para remoção da algália
O enfermeiro conhece a
indicação para o doente
estar algaliado?
Não Sim
O doente mantém indicação médica para a algaliação?
Questionar o médico responsável acerca da mesma.
Sim
o
Não
Remover a algália.
Rever
diariamente a
necessidade de
algaliação
Sim Não
Registar em notas de enfermagem a 1ª
eliminação espontânea após desalgaliação
Mas sente vontade de urinar? Não
Sim
Avaliar volume de urina com o bladder scann. O volume é ≥400ml?
Sim
Não
Após 2h ou SOS
Promover a eliminação urinária: *Estimulação sensitiva; *Incentivar a ingestão de líquidos; *Proporcionar levante e privacidade.
O doente urinou?
Sim Não
Efetuar esvaziamento vesical e registar o volume de urina drenado.
Ponderar algaliação se nas 24h seguintes houver necessidade de novo esvaziamento vesical.
Se 10h após desalgaliação o doente não sente vontade de urinar e o volume de urina é < 400 ml
O doente urinou nas primeiras 6h após desalgaliação?
Questionar o médico
sobre a indicação de
algaliação
Exemplos de indicações válidas para a algaliação (HICPAC, 2009): ● Resolver obstrução do trato urinário ou situações de
retenção urinária; ● Necessidade de uma monitorização rigorosa dos débitos
urinários; ● Incontinência urinária na presença de úlceras/feridas na
região sagrada ou perineal; ● Proporcionar conforto aos doentes em fase terminal; ● Durante e após cirurgias complexas, que justifiquem a
algaliação; ● Necessidade de lavagem vesical contínua ou
intermitente; ● Cirurgia urológica e estruturas contíguas; ● Outra indicação.
Apêndice XVII – Resultados das auditorias aos registos e às práticas da
equipa de enfermagem (2ª Fase)
Resultados da auditoria efetuada aos registos e às práticas da
equipa de enfermagem para a prevenção da CAUTI na pessoa
idosa
- 2ª FASE -
Foram efetuadas auditorias aos registos e às práticas de enfermagem para a
prevenção da CAUTI, num período de 2 semanas (de 19 de janeiro a 1 de fevereiro de
2015), que corresponderam a 6 dias de auditoria.
Neste período, encontraram-se 29 doentes algaliados internados no serviço de
cirurgia geral, 22 dos quais eram idosos e apenas estes foram alvo do estudo. A média
de idades dos doentes idosos foi de 78,8 anos, apresentando a moda de 90. A amostra
dividiu-se entre 45,5% homens e 54,5% mulheres.
Durante esta segunda fase de auditorias, o serviço apresentou uma taxa de
ocupação de aproximadamente 88%.
Foi utilizada a mesma grelha que na primeira fase de auditorias, seguindo os
mesmos critérios, já enunciados nos resultados da primeira fase de auditorias.
Durante este período de auditorias, o serviço de cirurgia geral apresentou o seguinte
panorama:
1º Dia 2º Dia 3º Dia 4º Dia 5º Dia 6º Dia
Taxa de
Ocupação
100% 96% 94% 93% 74% 70%
Nº de doentes
internados
54 52 51 50 40 38
Nº de doentes
algaliados
9 8 9 9 11 12
Nº /
percentagem de
doentes idosos
algaliados
6
11,1%
6
11,5%
7
13,7%
7
14%
8
20%
8
21%
Quadro 1 – Taxa de Ocupação e Percentagem de doentes idosos algaliados na Cirurgia
Geral, nos vários dias de auditoria.
O quadro 1 traduz um panorama em que, perante uma taxa de ocupação de
aproximadamente 88% durante a 2ª fase de auditorias, cerca de 20% dos doentes
internados estavam algaliados e destes, aproximadamente 72% eram idosos.
Os doentes auditados permaneceram, em média, 6,3 dias algaliados,
apresentando uma moda de 1. Oito dos doentes estiveram mais de 7 dias algaliados, 1
dos quais esteve quase 40 dias algaliado, influenciando a média de dias de algaliação.
Contudo, ao contrário da auditoria efetuada em Novembro, os enfermeiros tinham
bem presente a indicação destas algaliações de média e longa duração.
De seguida, serão apresentados os resultados das auditorias efetuadas aos registos e
às práticas de enfermagem, em percentagem de conformidade com os critérios
recomendados internacionalmente. Como será possível constatar individualmente, no
geral, estes resultados foram ligeiramente superiores aos das primeiras auditorias
efetuadas em Novembro.
Inicialmente apresentam-se os resultados da auditoria aos registos de enfermagem,
com respetiva análise e em seguida os resultados/análise da auditoria às práticas de
enfermagem para a prevenção da CAUTI, em cada uma das suas vertentes (manutenção
do cateter vesical, despejo dos sacos de drenagem e remoção do cateter vesical).
Durante os 6 dias de auditoria não houve oportunidade de auditar os cuidados na
inserção da algália, razão pela qual não existe qualquer gráfico ou análise relacionados
com os mesmos.
Por fim, será apresentado o resultado global de todos os critérios da prática.
Gráfico 1- Resultado da auditoria aos registos de enfermagem
Os resultados das auditorias efetuadas demonstram 83% de conformidade nos
registos de enfermagem (na primeira auditoria obtiveram-se 81%), sendo que a maior
lacuna se encontra no facto do calibre do cateter vesical não corresponder ao
indicado em 45% dos casos, sobretudo entre as mulheres, que são frequentemente
algaliadas com o calibre nº16. Verificou-se também que alguns homens (4) foram
algaliados com o calibre nº18. Apesar de este critério surgir na auditoria aos registos, é
de salientar que ele é validado na prática, através da observação do calibre.
Contudo, tal como foi mencionado na primeira fase de auditorias, a maioria dos
doentes são algaliados noutros serviços, pelo que a responsabilidade do calibre ser
superior ao indicado não pode ser apenas atribuída aos enfermeiros do serviço de
cirurgia geral. Ainda assim, 5 das algaliações ocorreram no próprio serviço, verificando-
se em dois dos casos que os doentes foram algaliados com um calibre superior ao
indicado (duas mulheres foram algaliadas com uma algália nº16).
De realçar que o registo do tipo e calibre do cateter vesical pode ser melhorado,
com um resultado de 76% de conformidade, ligeiramente acima do verificado na
primeira fase de auditorias (74%).
Saliento ainda, que deverá constar no processo do doente a indicação da algaliação,
bem como quem inseriu a algália, surgindo aqui também uma oportunidade de
86% 85% 76% 76%
100% 100% 82%
45%
88% 83%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Qu
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a cateterização
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Ch
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Existe registo
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ma
inte
rcorrên
cia relacio
nad
a com
acate
terização ve
sical?
Score
Glo
bal
melhoria, com respetivamente 86 e 85% de conformidade. Nas situações em que não foi
o enfermeiro do serviço a algaliar o doente, esta informação deve constar nos registos
SAPE, na coluna das observações da atitude terapêutica algaliação (Por exemplo:
doente veio algaliado de casa ou do serviço X).
Em 88% dos casos, as intercorrências relacionadas com a cateterização vesical
estavam registadas, porém, existiram 12% de situações em que se verificaram
intercorrências não registadas, surgindo aqui uma oportunidade de melhoria, já
verificada na auditoria anterior (em que se obtiveram 86% de conformidades).
Em relação à primeira fase de auditorias, é de salientar a evolução que houve no
registo da 1ª eliminação espontânea após remoção do cateter vesical, que passou dos
45% de conformidade para os 82%. Ainda assim, é um aspeto a melhorar.
Apesar das auditorias aos registos não abrangerem a programação da troca do
cateter vesical, a mesma foi avaliada, verificando-se alguns erros na programação do
cateter, nomeadamente uma situação em que não se programou a troca da algália, a
programação de algálias de PTFE (novas no serviço) para 10 dias e a programação da
toca de algálias de silicone também para 10 dias.
Valida-se assim a seguinte informação, de acordo com as recomendações do
fabricante das algálias disponíveis atualmente no serviço:
* Folley látex – programar troca para 10/10 dias
* Folley PTFE/Teflon – programar troca para 28/28 dias
* Folley silicone – programar troca para 30/30 dias
Esta informação consta da norma de serviço acerca da prevenção da CAUTI, que
foi revista e está disponível no computador, na pasta do manual da qualidade do serviço,
bem como no dossiê do projeto.
Gráfico 2 - Resultado da auditoria à prática na manutenção do cateter vesical
A manutenção do cateter vesical obteve um resultado global de 82% de
conformidades, ligeiramente superior ao alcançado na primeira auditoria (76%).
Contudo, continua a sobressair a fixação do cateter vesical como um dos aspetos a
melhorar, apesar de se ter constatado uma evolução de 22% para 33% de adesão a esta
prática. A fixação do cateter é recomendada pelas guidelines do CDC (Centers for
Disease Control and Prevention), uma medida de Categoria IC (medidas preconizadas
pelas recomendações de associações ou federações), com vista a prevenir os
movimentos da algália e pontos de fricção na uretra, justificando-se a sua adoção.
Por outro lado, os cuidados com o saco de drenagem vesical, nomeadamente o
evitar o seu contacto com o chão, podem ainda ser melhorados. Os resultados
alcançados foram de 84%, que apesar de muito positivos e superiores aos da primeira
fase de auditorias (66%), sugerem, de acordo com minha observação, uma maior
atenção aos doentes internados na unidade de cuidados de intermédios.
Esta observação vai ao encontro da primeira fase de auditorias, em que quando os
doentes estão deitados nas camas de unidade, o saco por vezes arrasta no chão, o que
facilmente pode ser corrigido, se o suporte do saco de drenagem for colocado mais
acima nas camas e/ou se estas por sua vez também estiverem mais elevadas. Por outro
100%
33%
84% 93% 100%
82%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
O cate
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sical estáco
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É realizada a fixação
do
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pe
za diária
do
me
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rinário
com
água
e sabão
?
Score G
lob
al
lado, a mesma situação acontece com estes doentes quando estão sentados no cadeirão,
em que o saco de drenagem arrasta no chão. Assim, proponho que se coloque o urimiter
fixo com as suas presilhas na parte inferior do braço da unidade, em vez de o colocar
num suporte de saco coletor, como algumas vezes foi observado.
Gráfico 3 – Resultado da auditoria à prática no despejo dos sacos de drenagem
Os resultados desta segunda fase de auditorias não poderiam ser melhores: com um
score global de 100%, registou-se uma evolução, em relação à primeira fase de
auditorias, na higiene das mãos após o despejo de cada saco coletor, que passou de 83%
para 100%.
Estes resultados são animadores e estas boas práticas para manter. Contudo, existe a
consciência de que, como em todas as auditorias, o facto de os profissionais saberem
que estão a ser observados nestes momentos poderá influenciar a sua prática, e por sua
vez, os resultados.
100% 100% 100% 100% 100% 100%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
O saco
coleto
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esvaziado
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No
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Ap
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ca de
luvas?
Score G
lob
al
Gráfico 4 – Resultado da auditoria à prática na remoção do cateter vesical
Os resultados da auditoria à remoção do cateter vesical ficaram aquém do desejado,
com 71% de conformidades no global, abaixo dos 81% conseguidos na primeira fase
de auditorias. De registar, que apenas em 43% dos casos foi efetuada a limpeza do
meato urinário com soro fisiológico antes e após a remoção do cateter vesical, sendo
este um aspeto a melhorar desde a auditoria anterior, em que se obtiveram os mesmos
43% de adesão a esta prática.
Por outro lado, há que relembrar a importância da higiene das mãos e promover a
sua prática antes da remoção do cateter vesical, cuja adesão baixou de 100% na primeira
auditoria para os atuais 71%, surgindo aqui uma oportunidade de melhoria.
Da observação efetuada, é importante valorizar uma maior preocupação dos
enfermeiros em questionar diariamente a necessidade da algaliação, sendo esta a
intervenção que se espera do enfermeiro perante o doente algaliado: rever diariamente a
necessidade de algaliação.
71%
100%
43%
71%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Antes da remoção docateter vesical foi
efetuada a higiene dasmãos?
Antes da remoção docateter vesical foram
colocadas luvas limpas?
Foi efetuada a limpezado meato urinário comsoro fisiológico antes e
após a remoção docateter?
Score Global
Gráfico 5 – Resultado global de todos os critérios da prática
Da análise do gráfico 5 sobressaem os 88% de conformidade às boas práticas
alcançados globalmente (ligeiramente acima dos 82% da primeira fase de auditorias) e
os 100% alcançados no despejo dos sacos de drenagem vesical.
De realçar ainda, o facto dos enfermeiros em 91% dos casos conhecerem a
indicação da cateterização vesical, com uma melhoria em relação à primeira fase
(81%), e que na observação da prática coincidiu com um maior questionamento pelo
enfermeiro à equipa médica da necessidade de algaliação.
Apesar da maioria dos doentes algaliados se encontrar internado na unidade de
cuidados intermédios, o que facilita o conhecimento da indicação da algaliação,
existiram nesta segunda fase de auditorias mais doentes algaliados fora do contexto da
unidade e que os enfermeiros conheciam a indicação da algaliação.
Tal como foi referido anteriormente, o facto de não ter sido observada nenhuma
inserção de cateter vesical levou a que apareça 0% de conformidade nos procedimentos
desta prática. Contudo, de acordo com algumas dúvidas colocadas pelos enfermeiros ao
longo do estágio, reforço a mensagem de que não é necessária a desinfeção com
betadine antes da inserção da algália, sendo indicada apenas a limpeza com soro
fisiológico. Reforço também, a importância da higiene das mãos e da manutenção da
técnica assética, pelo que para assegurar o seu cumprimento seja importante a utilização
do campo esterilizado com orifício, em vez do campo das luvas, que na nossa prática
diária sabemos ser frequentemente utilizado.
91%
0%
82% 100%
71% 88%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
O enfermeiroconhece a
indicação dacateterização
vesical?
INSERÇÃO DOCATETERVESICAL
MANUTENÇÃODO CATETER
VESICAL
DESPEJO DOSSACOS DE
DRENAGEM
REMOÇÃO DOCATETERVESICAL
Score Global
Apêndice XVIII – Resumo com os resultados das auditorias (2ª Fase) às
práticas e registos da equipa de enfermagem
Resultado da auditoria às práticas e registos de enfermagem,
realizada em janeiro/fevereiro 2015, no âmbito do Projeto para
Prevenção da CAUTI na Pessoa Idosa
- Versão Resumo -
Resultados da auditoria aos registos de enfermagem
Score de conformidade Global de 83%
Critérios Score
conformidade
Oportunidades
de melhoria
Observações
○Calibre
Recomendado
da algália
45% Algaliar as mulheres
com cateteres vesicais
de calibre 12-14Ch e os
homens com 14-16Ch.
Critério a melhorar desde
a 1ª auditoria. Os doentes
são algaliados com
cateteres de calibre
superior ao recomendado,
sobretudo as mulheres.
Contudo, na maior parte
dos casos, a algaliação foi
da responsabilidade de
outros serviços.
○Registo do
tipo e calibre
da algália
76% Na atitude terapêutica
ALGALIAÇÃO, deve
constar na coluna das
observações, o motivo
da algaliação, o tipo e
calibre da algália, bem
como a data da troca e o
volume da água no
balão, se este for
conhecido.
Consultar a norma para
a prevenção da infeção
do trato urinário
associada ao cateter, que
foi revista e está
disponível no
computador (na pasta de
enfermagem, manual de
qualidade do serviço),
bem como no dossiê do
projeto.
Resultados da auditoria às práticas de enfermagem
Score de conformidade Global de 88%
Critérios Score
conformidade
Oportunidades
de melhoria
Observações
○ Fixação da
algália
33% Fixar a algália no
homem na parte superior
da perna e na mulher na
face interna da coxa,
com rotação do local de
fixação.
Esta é recomendada pelas
guidelines do CDC, uma
medida de Categoria IC,
com vista a prevenir os
movimentos da algália e
pontos de fricção na
uretra, justificando-se a
sua adoção.
Houve, contudo, uma
melhoria em relação à
primeira fase, em que se
obteve 22% de adesão.
○ Limpeza do
meato urinário
com Soro
Fisiológico
antes e após a
remoção da
algália
43% Efetuar limpeza do
meato urinário, antes e
após a remoção da
algália.
Recomendação com
oportunidade de
melhoria desde a
auditoria anterior (em
que se obtiveram os
mesmos 43%).
○Higiene das
mãos antes da
remoção do
cateter vesical
71% Efetuar a higiene das
mãos antes de remover o
cateter vesical,
nomeadamente,
imediatamente antes de
calçar as luvas limpas.
A higiene das mãos é uma
medida básica, mas
fundamental, nunca
esquecendo os 5
momentos preconizados
pela OMS.
○O saco de
drenagem
encontra-se
mantido
abaixo do nível
da bexiga e
colocado em
84% Colocar o saco de
drenagem vesical em
suporte apropriado.
Elevar as camas de
unidade de modo a que
o urimiter não contacte
Verificou-se uma melhoria
em relação à primeira fase
(em que obteve 66% de
adesão). Apesar de estar
acima dos 80%, volta-se a
reforçar que as medidas
suporte que
previna o
contacto com o
chão
com o chão.
Fixar o urimiter (com as
suas presilhas) no
suporte inferior do braço
da unidade, quando o
doente está sentado no
cadeirão.
simples propostas podem
melhorar os resultados
obtidos.
Como podem constatar, tal como na primeira fase de auditorias, no global ambos os
resultados se encontram num índice de qualidade Muito Bom (que implica um score
médio ≥ 75%) e por isso continuamos de parabéns!
Houve, no global, uma ligeira melhoria em relação à auditoria efetuada em
novembro. Contudo, voltam-se a reforçar os aspetos mais pertinentes que criam
oportunidades de melhoria na nossa prática diária, algumas das quais já identificadas na
primeira auditoria.
Uma vez que a maior parte das decisões de algaliar não acontecem no nosso
serviço, decidi incindir no não menos importante papel de refletir diariamente a
necessidade de algaliação e questionar a equipa médica quando esta não é
conhecida. Neste sentido, foi elaborado um algoritmo para ajudar o enfermeiro na
decisão de remoção da algália e os cuidados após a mesma, que consta em anexo
deste documento, e é parte integrante da norma de serviço acerca da prevenção da
CAUTI, que foi revista e está disponível no computador, na pasta do manual da
qualidade do serviço, bem como no dossiê do projeto.
Na referida norma de serviço consta também uma bundle, que para alguns de vós o
conceito pode ser desconhecido, mas que corresponde a um pequeno conjunto de
práticas baseadas em evidência, que quando realizadas coletivamente e de forma
confiável, têm comprovadamente melhores resultados para os doentes.
Pela importância que têm estas medidas aplicadas coletivamente, considero
pertinente divulgar também aqui a bundle adotada, construída e validada pela Health
Protection Scotland (HPS), e que foi revista em 2014:
Critérios para a INSERÇÃO do cateter urinário:
1 Foram consideradas alternativas à algaliação e a razão clínica para a
mesma está claramente documentada.
2 Foi utilizada técnica assética na inserção do cateter urinário.
3 O cateter urinário tem o menor calibre e uma vez inserido, o balão foi
preenchido com o nível recomendado, ou seja, 10ml (exceto se
clinicamente recomendado).
4 O meato urinário foi limpo com soro fisiológico esterilizado e foi utilizado
lubrificante de uso único esterilizado antes da inserção do cateter urinário.
5 A técnica assética foi aplicada e mantida ao conectar o cateter urinário ao
sistema de drenagem fechado estéril.
Critérios para a MANUTENÇÃO do cateter urinário:
1 Tem havido revisão diária da necessidade do cateter urinário e a razão
clinica para a sua presença está claramente documentada. O cateter
urinário foi removido, se possível.
2 A conexão entre o cateter urinário e o sistema de drenagem não foi
quebrada, exceto para atender aos requisitos clínicos (por exemplo, trocar
o saco de acordo com as recomendações do fabricante).
3 Foi executada a higiene diária do meato urinário.
4 O saco de drenagem foi esvaziado quando clinicamente indicado. A
torneira de despejo do saco de drenagem não está em contacto com
qualquer superfície ambiental.
5 A higiene das mãos foi realizada imediatamente antes do acesso ou
manipulação do cateter urinário.
Esta bundle, que abrange os cuidados com a inserção e manutenção da algália,
reforça que temos alguns aspetos importantes a melhorar na nossa prática diária.
A checklist criada e colocada nos processos dos doentes idosos algaliados, que
muitos de vós preencheram, cujo intuito era refletir a necessidade de algaliação e os
cuidados de manutenção com a algália, revelou-se pouco útil e como uma sobrecarga de
trabalho.
Neste sentido, indo de encontro à evidência científica que aborda a eficácia dos
lembretes virtuais para a remoção da algália e ao que é a primeira medida da bundle
adotada para os cuidados de manutenção do cateter urinário: “Tem havido revisão
diária da necessidade do cateter urinário e a razão clinica para a sua presença está
claramente documentada”, será parametrizada na atitude terapêutica ALGALIAÇÃO, a
intervenção Remover cateter urinário. Esta deverá ser programada com o horário turno
fixo - manhã, sendo que o enfermeiro deve justificar a razão pela qual o doente
permanece algaliado e não removeu o cateter.
Agradeço a vossa dedicação e estou ao dispor para qualquer dúvida.
Atenciosamente, Liliana Torres