14
1 CONTROLE DE ESCAVAÇÃO SUBTERRÂNEA EM AMBIENTES CÁRSTICOS EXEMPLO DA MINA DE VAZANTE Marcus Vinícios Andrade Silva, Geólogo Rogério de Lima Lopes, Eng. de Minas Edmar Eufrásio de Araújo, Geólogo Cristóvão Teófilo dos Santos, Eng. de Minas Romero Gontijo Pessoa, Técnico em Mineração João Carlos Musa Machado, Gerente de Lavras Vanio de Bessa, Gerente de Geologia [email protected] RESUMO O presente trabalho descreve a metodologia e os controles utilizados na abertura de escavações subterrâneas em ambiente cárstico na mina subterrânea de Vazante, usando a análise hidrogeológica e geomecânica para previsão do comportamento do afluxo de água para o interior das galerias. Esta previsão fornece informações que permitem a tomada de decisões com relação as escavações subterrâneas, tais como critérios de controle e adequação de posição de galerias, quando necessário. São utilizados métodos geofísicos, mapeamento lito-estrutural e sondagem para identificação das principais estruturas portadoras de água. Uma vez identificadas tais estruturas a metodologia prevê ações especificas, tais como cimentação, inspeções das frentes de lavra/desenvolvimento e retroanálises a partir da calibração das estruturas geológicas mapeadas nas galerias. Palavras Chave: Escavações; ambiente cárstico; hidrogeologia ABSTRACT The present work describes the methodology and the controls used in underground openings in carstic environment at Vazante mine, using hydrogeological and geotechnical analysis to predict the behavior of the water flow into the mine. This analysis supplies information that support the decisions in relation to the underground excavation, such as control criteria to design the new openings, when necessary. Geophysical methods, lito-structural mapping and drilling investigation for identification of the main carrying water structures are used. Once identified such structures the methodology foresees specific actions, such as cement injections, face inspections and updating the mapped geologic structures. Key words: Excavation; carstic environment; hydrogeology

Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

6° Congresso Brasileiro de Mina Subterrânea / Workshop Fechamento de Mina Controle de escavação subterrânea em Ambientes Cársticos

Citation preview

Page 1: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

1

CONTROLE DE ESCAVAÇÃO SUBTERRÂNEA EM AMBIENTES CÁRSTICOS –

EXEMPLO DA MINA DE VAZANTE

Marcus Vinícios Andrade Silva, Geólogo

Rogério de Lima Lopes, Eng. de Minas

Edmar Eufrásio de Araújo, Geólogo

Cristóvão Teófilo dos Santos, Eng. de Minas

Romero Gontijo Pessoa, Técnico em Mineração

João Carlos Musa Machado, Gerente de Lavras

Vanio de Bessa, Gerente de Geologia

[email protected]

RESUMO O presente trabalho descreve a metodologia e os controles utilizados na abertura de

escavações subterrâneas em ambiente cárstico na mina subterrânea de Vazante, usando a

análise hidrogeológica e geomecânica para previsão do comportamento do afluxo de água

para o interior das galerias. Esta previsão fornece informações que permitem a tomada de

decisões com relação as escavações subterrâneas, tais como critérios de controle e adequação

de posição de galerias, quando necessário. São utilizados métodos geofísicos, mapeamento

lito-estrutural e sondagem para identificação das principais estruturas portadoras de água.

Uma vez identificadas tais estruturas a metodologia prevê ações especificas, tais como

cimentação, inspeções das frentes de lavra/desenvolvimento e retroanálises a partir da

calibração das estruturas geológicas mapeadas nas galerias.

Palavras Chave: Escavações; ambiente cárstico; hidrogeologia

ABSTRACT

The present work describes the methodology and the controls used in underground openings

in carstic environment at Vazante mine, using hydrogeological and geotechnical analysis to

predict the behavior of the water flow into the mine. This analysis supplies information that

support the decisions in relation to the underground excavation, such as control criteria to

design the new openings, when necessary. Geophysical methods, lito-structural mapping and

drilling investigation for identification of the main carrying water structures are used. Once

identified such structures the methodology foresees specific actions, such as cement

injections, face inspections and updating the mapped geologic structures.

Key words: Excavation; carstic environment; hydrogeology

Page 2: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

2

INTRODUÇÃO E OBJETIVO

O município de Vazante está localizado no noroeste de Minas Gerais, é o maior distrito

mineral produtor de zinco do Brasil. As mineralizações, sob forma de willemita e calamina,

estão associadas a brechas de falha, com distribuição irregular ao longo das mesmas, mas

sempre nas fácies inferior e base da fácies média do membro Pamplona, Grupo Vazante, de

idade Paleoproterozóica.

Atualmente, são utilizados na Mina de Vazante dois métodos de lavra subterrânea,

denominados VRM (Vertical Retreat Mine) e C&F (Cut and Fill), ambos aplicados devido à

necessidade de recuperação de pilares de minério deixados para sustentação do maciço

rochoso.

Tendo em vista a natureza solúvel da rocha dolomítica, é freqüente a ocorrência de cavidades

naturais, zonas de baixa densidade e espaços vazios de pequeno diâmetro no interior do

maciço rochoso.

A mina subterrânea tem enfrentado, ao longo dos anos, complexos desafios relacionados à

extração mineral e ao bombeamento de água em área cárstica dolomítica. A experiência

adquirida pelos profissionais da empresa, aliada à rica contribuição recebida por consultores,

pesquisadores e professores do Brasil e exterior, proporcionou um considerável

aprimoramento do nível de conhecimento sobre o aqüífero cárstico da área, assim como,

métodos de prevenção e mitigação de problemas ambientais e operacionais relacionados.

Cientes da necessidade de um mecanismo que possibilitasse uma gestão integrada da questão

ambiental cárstica na mina, foi criada e implementada uma detalhada política de

gerenciamento dos riscos associados à extração mineral em rochas dolomíticas. Este plano de

gerenciamento, de modo a se tornar efetivo, conta com a participação ativa de todos os níveis

operacionais, técnicos e gerenciais da empresa, tanto do ponto de vista conceitual como

prático. A aplicação deste plano tornou a empresa bem preparada, do ponto de vista

prevencionista, bem como para responder com rapidez e eficiência a eventuais futuros

problemas na área da mina e em seu entorno.

Após a elaboração do projeto de desenvolvimento das galerias subterrâneas, baseado no

modelamento geológico dos corpos de minério, iniciam-se as atividades de pesquisa

hidrogeológica e geomecânica das frentes a serem desenvolvidas. Tal pesquisa inicia-se com

aquisições de dados estruturais a partir de campanhas de geofísica em superfície (destaque

para os métodos elétricos) denominada pesquisa de longo prazo, seguido de sondagens

rotativas em subsolo denominada pesquisa de médio prazo e perfurações curtas de até 18m

com os equipamentos de lavra/desenvolvimento denominada pesquisa de curto prazo. O

objetivo principal desta série de pesquisas é definir os trechos de maior risco de interceptação

de estruturas geológicas carstificadas condutoras de água o que dá subsídio para a locação da

galeria.

O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar a metodologia adotada para

minimizar os riscos geológicos/hidrogeológicos das escavações subterrâneas em áreas

cársticas, usando como exemplo as técnicas aplicadas na mina subterrânea de Vazante MG.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

Localização

A mina de subterrânea de Zinco de Vazante, pertencente à Votorantim Metais situa-se no

município de Vazante/MG. A Mina situa-se a 8 Km a norte da cidade de Vazante a cerca de

Page 3: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

3

300 Km de Brasília e 500 Km de Belo Horizonte. O mapa de localização pode ser visto na

figura 1. A produção é de cerca de 1,3 Mt/ano com teor de 15,0% ZnW e 12800m de

desenvolvimento exploratório e produtivo.

Figura 1 – Mapa de acessos a Vazante (Acervo técnico da Votorantim Metais).

Aspectos Geológicos

A área do município de Vazante está inserida na Faixa Brasília, que corresponde a uma

seqüência de rochas metamórficas de baixo a alto grau, seqüências ígneas intrusivas e

vulcano-sedimentares e coberturas sedimentares. Esta Faixa alinha-se na direção norte-sul,

estendendo-se por mais de 1000 km ao longo da borda oeste do Cráton São Francisco

(Dardenne, 2000 apud Rostirolla et al., 2000), conforme pode ser visto na figura 2.

Dardenne (1978, 2000) define o Grupo Vazante, de idade Meso/Neoproterozóica inserido em

uma espessa seqüência de rochas sedimentares e metassedimentares juntamente com os

Grupos Arai e Serra da Mesa (Paleo/Mesoproterozóico); Grupos Paranoá e Canastra,

(Mesoproterozóico); Grupos Araxá e Ibiá (Meso/Neoproterozóico); e Grupo Bambuí

(Neoproterozóica). Estas unidades estão representadas no perfil esquemático da figura 3.

Page 4: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

4

Figura 2 – Mapa geológico simplificado das unidades paleo-meso-neoproterozóicas da

Faixa Brasília (modificado de Rostirolla et al. 2002, apud Dardenne 2000).

Figura 3 – Perfil esquemático apresentando a relação entre os grupos Vazante, Araxá,

Ibiá, Canastra e Bambuí (modificado de Dardenne, 1978).

Geologia Estrutural

Segundo o IPT (2004), é observado um bandamento composicional com espessura

centimétrica a decimétrica e direção modal de N40E/20NW.

Segundo Rostirolla et al. (2000,2002), são identificadas na área pelo menos cinco fases

deformacionais denominadas D1 a D5 (Figura 4). As duas primeiras fases evidenciam

deformação em regime predominantemente dúctil e estão associadas a uma tectônica

convergente com formação de empurrões, dobramentos holomórficos e superfícies de foliação

penetrativas do arcabouço regional.

A fase deformacional D3 possui características de formação em regime dúctil-rúptil, marcada

por um sistema de falhas direcionais sinistrais de direção predominante NE, dobramentos

homoclinais descontínuos e basculamentos. Esta fase foi responsável pela geração da zona de

falha de Vazante.. Rostirolla et al. (2000,2002) identificou intenso hidrotermalismo,

teorizando que o fluxo foi gerado por fragmentação mecânica em regime rúptil-dúctil, com

entrada de fluidos.

As fases D4 e D5, formadas sob regime rúptil, registram movimentações pouco significativas,

embora importantes para a evolução do carste da região. A fase D4, representada por um

sistema extensional, responsável pela geração de falhas normais com direção NE. Estas falhas

Page 5: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

5

remobilizaram parte da mineralização de zinco. A quinta fase formada também em regime

rúptil gerou dois sistemas de fraturas e falhas extensionais N40-60W e EW, menos freqüentes

e de caráter regional. Estas falhas controlam em grande parte o fluxo hidrogeológico na

região.

Figura 4 – Blocos diagrama das fases D1 a D5 (modificado de Rostirolla ET al. 2002).

Aspectos Hidrogeológicas

Do ponto de vista hidrogeológico é importante ressaltar alguns aspectos geológicos e

geomorfológicos regionais. Como a mina de Vazante está localizada em uma área cárstica,

foram definidos os limites físicos da bacia dolomítica com auxílio das técnicas de

sensoriamento remoto (imagens de satélite e fotografias aéreas) e posteriormente o

mapeamento geológico detalhado, conforme figura 5.

Figura 5 – Bacia dolomítica de Vazante (Acervo técnico da Votorantim Metais).

Toda a área da mina encontra-se em meio a calcários, dolomitos e brechas dolomíticas que

podem ou não apresentarem intercalações com filitos. Por se tratar de uma mineralização

Page 6: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

6

tipicamente gerada em zona de cisalhamento, o fluxo hídrico subterrâneo é condicionado

pelas falhas e fraturas (denominadas neste trabalho como “estruturas”) podendo haver fluxos

mais intensos ao longo das estruturas carstificadas, caracterizando assim um meio

heterogêneo e anisotrópico.

Segundo Frasa (1991), existem nas proximidades da mina subterrânea cinco sistemas

aqüíferos distintos descritos na figura 6, onde é mostrada a inter-relação espacial entre os

sistemas. O aqüífero Lapa Superior apresenta permeabilidade secundária elevada e

heterogênea, devido a processos de dolomitização, fraturamento e carstificação.

O aqüífero Lapa Inferior encontra-se relativamente isolado em relação aos demais sistemas

devido à presença de uma intercalação de pelitos carbonáticos de baixa permeabilidade. As

rochas dolomíticas do sistema aqüífero Capa apresentam boa permeabilidade por

fraturamento e carstificação. As rochas dolomíticas do sistema brechado poderiam ter boa

permeabilidade devido ao seu elevado grau de fraturamento. Todavia, os fluidos hidrotermais

tardios a remobilização de willemita, calcita e sílica constituem um selo impermeabilizador,

funcionando como um aquitardo e separando os aqüíferos Lapa Superior e Capa. O sistema

aqüífero Maciço Fraturado, constituído por epicarste, integra uma camada superior sobre os

aqüíferos Lapa Superior, Lapa Inferior e Capa, que pode alcançar profundidades de 100m,

possuindo uma carstificação muito pronunciada e propiciando uma boa comunicação

hidráulica entre os distintos sistemas.

A rede de monitoramento hidrogeológico possui atualmente 150 poços piezométricos

localizados na área da mina e adjacências, tais poços são utilizados principalmente para a

medição do nível de água subterrânea com uma freqüência de medição mínima semanal. Tal

atividade fornece dados para a geração do mapa potenciométrico apresentado na figura 7.

Dentre as várias análises feitas a partir do mapa potenciométrico destaca-se o

acompanhamento sistemático da evolução do cone de rebaixamento e a pressão hidráulica

aproximada, a qual pode ser determinante para tomadas de decisão com relação a abertura de

uma galeria subterrânea, uma vez que altas pressões impedem o desenvolvimento de uma

galeria devido ao risco de inundação da mesma.

Figura 6 – Perfil esquemático dos sistemas aqüíferos nos arredores da mina subterrânea de

Vazante. Modificado de Bittencourt et al. (2008).

Page 7: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

7

Figura 7 – Mapa potenciométrico (Acervo técnico da Votorantim Metais).

PROCEDIMENTOS E CONTROLES PARA ABERTURA DE GALERIAS EM

AMBIENTES CÁRSTICOS

Para a viabilização das atividades da mina subterrânea é realizado o rebaixamento controlado

dos compartimentos aqüíferos. Durante as escavações das frentes de desenvolvimento há um

risco de encontro com afluxos de água provenientes das estruturas geológicas interceptadas

pelas galerias subterrâneas.

Sendo assim, para as escavações em regiões onde existem evidências de estruturas

condutoras de água, para garantir o bom andamento das operações da mina e redução e/ou

eliminação do risco de inundação, antes de iniciar uma escavação, faz-se necessário adotar

uma série de procedimentos e controles, tais como: campanhas de geofísica em superfície

denominada pesquisa de longo prazo, pesquisas de médio e curto prazo, monitoramento do

nível de água, inspeções de superfície e subsolo. Todas estas ações fornecem subsídios para a

definição do layout da galeria, bem como os controles a serem adotados durante a escavação.

A seguir são detalhados os procedimentos e controles adotados na mina de Vazante.

Pesquisa Hidrogeológica

Devido à forte anisotropia do meio rochoso em que está inserida a mina de zinco em

Vazante, não é possível conhecer as características do maciço sem a realização de estudos

prévios, denominados estudos de sondagem. A sondagem do maciço divide-se em três fases

principais: longo prazo, médio prazo e curto prazo. Para a sondagem de longo prazo utilizam-

se métodos geofísicos. Para a sondagem de médio prazo utilizam-se furos de sonda rotativa.

No curto prazo são realizados furos com equipamentos de perfuração da

lavra/desenvolvimento de mina. Cada fase de sondagem será realizada conforme o

desenvolvimento da mina e o conhecimento já adquirido a respeito da geometria do corpo

rochoso.

Page 8: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

8

Pesquisa de longo prazo

Fase inicial para pesquisa, objetiva-se com a realização deste tipo de sondagem o

reconhecimento da geometria das rochas da mina subterrânea, em especial a caracterização de

estruturas capazes de conduzir água, em áreas amplas da mina, onde não se dispõe de

conhecimento suficiente sobre tais estruturas e que serão desenvolvidas dentro de um prazo

superior a 06 (seis) meses O método utilizado para determinação das feições na sondagem de

longo prazo é o caminhamento elétrico, exemplificado na figura 8.

Figura 8 – Perfil geofísico de resistividade elétrica com interpretação regional de estruturas

(Acervo técnico da Votorantim Metais).

Pesquisa de médio prazo

Sondagem a se realizar em locais que necessitem de detalhamento mais completo e

confirmação dos dados geofísicos. Destina-se ao reconhecimento da geometria das rochas da

mina subterrânea, em especial a caracterização de estruturas condutoras de água, em áreas que

serão lavradas em um prazo de até 06 (seis) meses. Os furos são projetados de modo a

interceptar e caracterizar as estruturas citadas, segundo suas características geomecânicas,

geológicas e hidrogeológicas, dando subsídios ao planejamento de modo a não comprometer

as atividades de mineração. De posse dos dados e interpretações da sondagem rotativa,

dependendo das características levantadas, poderão ser realizadas sondagens complementares

de curto prazo.

Pesquisa de curto prazo

Sondagem a se realizar em galerias com possibilidade de interceptar estruturas condutoras de

água, proporcionando um pilar de segurança de aproximadamente 4 metros, de acordo com

sondagens previamente realizadas e/ou mapeamentos de estruturas existentes. Destina-se ao

reconhecimento detalhado das estruturas condutoras, das vazões esperadas e a dar subsídios à

decisão das ações a serem tomadas dependendo do volume de água encontrado.

Inspeções

Ao longo do desenvolvimento das galerias subterrâneas são realizadas inspeções

geomecânicas e hidrogeológicas com o intuito de verificar a qualidade do maciço rochoso e

mapear as estruturas condutoras de água, as quais compõem o banco de dados estrutural do

setor de hidrogeologia. Após cada inspeção é emitido um relatório sobre as condições das

frentes em desenvolvimento/lavra, e havendo riscos hidrogeológicos para o avanço da galeria

Page 9: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

9

são tomadas as medidas cabíveis, que podem variar desde interdições temporárias até

alteração no projeto, propondo-se novas alternativas de locação das galerias.

Abertura de galerias

Após definido o ponto de interceptação da estrutura condutora de água é feito a liberação com

restrição do projeto para a escavação, ou seja a mesma poderá ser escavada de modo que haja

uma sobreposição de 10 metros entre a face da escavação e o ponto de interceptação da

estrutura. Neste caso, é feito uma perfuração de detalhe, de modo a identificar a espessura da

estrutura, pressão hidrostática e vazões. De acordo com os dados, são definidos 3 cenários:

- Coluna d’água abaixo de 20m e vazões com tendência de queda e/ou estabilizadas a frente é

liberada para escavação.

- Coluna d’água acima de 20m e vazões acima de 100m³/h sem tendência de queda, cuja

estrutura é fechada, aplica-se cimentação.

- Caso não ocorra nenhum dos cenários anteriores, é feita uma nova campanha de sondagem

de modo a identificar o local mais apropriado para locação da escavação.

Injeção de cimento

O método de cimentação nada mais é, que a injeção de uma mistura de água e cimento, areia,

aditivos sob a pressão nos estratos ou em fissuras de percolação de água, de modo a assegurar

de que todas as cavidades, fissuras, rachaduras ou interstícios existentes no maciço rochoso

estejam preenchidos, reforçados e impermeáveis à passagem de água, ou outros líquidos.

Basicamente, o princípio envolvido é que ao injetar uma solução de água/cimento em uma

fissura, as partículas de cimento começam a se depositar nas paredes laterais das mesmas,

com bombeamento contínuo as camadas de partículas de cimento vão engrossando

gradualmente até que nenhuma mistura adicional possa ser injetada, mesmo aplicando uma

pressão de 2,5 vezes a carga estática da água.

Perfuração

O layout de perfuração deve conter preliminarmente 9 furos com o mesmo espaçamento, 36

metros de comprimento e com uma sobreposição de 6 metros, permitindo um avanço de 30

metros entre eventos. A furação deve iniciar pelo furo central, cuja direção deve seguir a

direção do projeto da galeria. Os demais furos, por efeito de padronização, devem ser

realizados, conforme figura 9.

O diâmetro de perfuração recomendável é de 76 mm, de modo a melhorar a produtividade de

perfuração e a colocação do obturador.

A cimentação deverá ser iniciada somente após a conclusão da perfuração de todos os furos.

Durante a perfuração os furos devem ser mantidos abertos para verificar se os furos estão se

comunicando. Isto pode ser notado, através da variação de vazão dos mesmos.

O motivo de realizar a furação de todos os furos antes de iniciar a cimentação é obter uma

melhor informação no que diz respeito à interseção de fendas com água. Se a cimentação

ocorrer concomitantemente com a perfuração às informações não serão originais, ou seja,

caso a injeção ocorrer após a perfuração de cada furo, ao perfurar os demais pode ocorrer de

que os mesmo já estejam vedados (fraturas preenchidas por calda de cimento), sendo assim,

Page 10: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

10

não representará a sua condição original, conseqüentemente mascarando a situação do maciço

podendo prejudicar a tomada de decisão.

Indicação da inclinação dos furos:

Furo 1 – Horizontal (greide) – comprimento de 36 metros;

Furo 2 – +3° e 3° para direita – comprimento de 36 metros;

Furo 3 – -3° e 3° para direita – comprimento de 36 metros;

Furo 4 – -3° e 3° para esquerda – comprimento de 36 metros;

Furo 5 – +3° e 3° para esquerda – comprimento de 36 metros;

Furo 6 – +3°– comprimento de 36 metros;

Furo 7 – 3° para direita – comprimento de 36 metros;

Furo 8 – -3° – comprimento de 36 metros;

Furo 9 – 3° para esquerda – comprimento de 36 metros;

Layout da perfuração dos 13 furos na face – Furos intercalados aos preliminares:

Serão executados furos intercalados aos preliminares com a mesma profundidade, se após a

primeira etapa de injeção durante a etapa de repassagem dos furos a vazão de um furo for

superior a 30m3/h ou se o somatório da vazão de todos os furos for superior a 60m3/h.

Figura 9 – Representação esquemática em planta, perfil longitudinal e transversal do modelo

padrão (Acervo técnico da Votorantim Metais).

Dependendo da avaliação da frente, juntamente com o pessoal da hidrogeologia, outros furos

também poderão ser intercalados de forma sucessiva desde que a vazão se situe neste patamar.

A perfuração dos 4 furos adicionais deve começar através do furo de No. 6, e depois deve-se

seguir a seguinte ordem: 7, 8 e 9, conforme figura 10.

Page 11: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

11

Indicação da inclinação dos furos:

Furo 1 – Horizontal (greide) – comprimento de 36 metros;

Furo 2 – +3° e 3° para direita – comprimento de 36 metros;

Furo 3 – -3° e 3° para direita – comprimento de 36 metros;

Furo 4 – -3° e 3° para esquerda – comprimento de 36 metros;

Furo 5 – +3° e 3° para esquerda – comprimento de 36 metros;

Furo 6 – +3° comprimento de 36 metros;

Furo 7 – 3° para direita – comprimento de 36 metros;

Furo 8 – -3° comprimento de 36 metros;

Furo 9 – 3° para esquerda – comprimento de 36 metros;

Furo 10 – Horizontal

Furo 11 – Horizontal

Furo 12 – Horizontal

Furo 13 – Horizontal

Figura 10 – Representação esquemática em planta, perfil longitudinal e transversal para o

modelo de 13 furos (Acervo técnico da Votorantim Metais).

Traço

A principio a cimentação deve ser iniciada utilizando traço água/cimento (w/c) 1:1, ou seja, 1

parte de água para 1 de cimento na primeira batelada (100 litros de água para 100Kg de

cimento). Se não ocorrer mudança de pressão durante o intervalo de uma hora a mistura

deverá ser engrossada como indicado no tabela 1. Durante a injeção ocorrer um aumento na

pressão de bombeamento a mistura não deve ser alterada por pelo menos 1 hora;

Page 12: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

12

A segunda calda deve-se utilizar relação água/cimento de 0,7 (70 litros de água para 100Kg

de cimento). No intervalo de 1 hora se não houver variação da pressão deve-se engrossar a

calda.

Finalmente, deve-se utilizar traço com relação w/c 0,5 e esta relação deve ser mantida até a

completa injeção do furo, ou seja, até atingir a pressão de injeção, conforme definido no item

posterior. É bom ressaltar que em situações que não houver variação da pressão de injeção por

mais de 1 hora a nata (calda de cimento) deverá ser engrossada, ou seja, aumentar a

quantidade de cimento em relação à quantidade de água.

Durante a injeção as válvulas dos demais furos devem permanecer abertas, caso comece a sair

calda de cimento por algum furo, deve-se fechá-la. Continuar com a injeção até que o furo

esteja completamente cheio, ou seja, até atingir a pressão de injeção. O furo seguinte a ser

injetado será o furo que teve comunicação com o furo anteriormente injetado, ou seja, o furo

que saiu nada de cimento por ele.

As injeções serão executadas em sub trechos de 3 m, ou seja, caso intercepta uma fissura o

furo deve ultrapassá-la em 2 metros, para tanto o obturador deve ser colocado a 1,0m antes da

fissura, de modo a atender o intervalo de injeção. Em situação em que a injeção for executada

de forma ascendente haverá necessidade de utilização de obturadores duplos.

Tabela 1 – Relação água e cimento (A/C) de acordo com a condição de pressão, bem como o

tempo de duração de injeção que é função da condição de pressão (Acervo técnico da

Votorantim Metais).

A/C Duração da injeção

(h)

Condição de

pressão A/C utilizada

1:1 1 Não há mudança 0,7:1

0,7:1 1 Não há mudança 0,5:1

0,5:1 1 Não há mudança 0,45:1

0,45:1 Até selar Há mudança Fluída quanto

possível

Pressão de injeção

A pressão de injeção é função da pressão da água proveniente do furo. Abaixo segue tabela 2

em que apresenta a pressão de injeção em função da pressão de água.

Para determinar a pressão de selagem, deve-se adotar as recomendações dos consultores

sulafricanos, ou seja, a pressão estática é determinada pela medida da pressão da água e

multiplicando este valor por 2,5 kg/cm². Além disso, é bom ressaltar que, para cada metro de

furo deve-se adicionar 0,25 kg/cm2 na pressão de injeção, isso se deve a perda através dos

furos.

Tabela 2 - Pressão de injeção em função da pressão de água (Acervo técnico da Votorantim

Metais).

Pressão de água Pressão de injeção

2 3 - 5

3 4 - 7

4 5 - 9

5 6 - 10

6 7 - 13

7 8 - 17

Page 13: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

13

Injeção

A injeção deve-se iniciar pelo furo central, de modo a permitir de que a nata (calda de

cimento) flui do centro, de maneira radial, em direção as laterais e teto das galerias. A injeção

de ser iniciada sempre pelo furo central, caso contrario a cimentação pode ficar

comprometida.

Os furos devem estar munidos de válvula (registro), durante a injeção a válvula dos demais

furos deve ser mantida aberta, de modo a verificar se há fluxo de nata de cimento através dos

mesmos. Caso positivo à válvula deve ser fechada imediatamente. O bombeamento deve

continuar até atingir a pressão de injeção. Ao atingir a pressão de injeção, deve-se paralisar a

injeção fechar a válvula e mover a injeção para o furo que teve comunicação com o

anteriormente injetado, ou seja, o furo o qual teve fluxo de nata de cimento. Caso os furos não

estejam comunicando o segundo furo a ser injetado pode ser qualquer um.

Durante a injeção, caso esteja saindo nata de cimento no nível imediatamente inferior a

pressão de injeção deve ser ligeiramente superior à pressão de água, além disso, a injeção não

deve ser executada de maneira continua e sim em intervalos, ou seja, ao notar que está saindo

nata em outros níveis à injeção deve ser interrompida e aguardar por um intervalo de 2 horas

para retomá-la. Neste caso a pressão de injeção deve ser ligeiramente superior a da água, de

modo que consiga movimentá-la. Além disso, havendo necessidade, deve-se engrossar a nata

(calda de cimento).

Desvio da escavação

Em locais em que não seja viável a cimentação e que a estrutura condutora de água possua

uma pressão hidrostática superior a 2KgF/cm² (~ 20m de coluna d’água) e vazões superiores a

100m³/h e sem tendência de queda é feito uma nova campanha de sondagem, de modo a

identificar o local mais apropriado para locação da escavação. A figura 11 exemplifica a

alteração de um projeto de galeria a partir das informações obtidas com a pesquisa médio e

curto prazo.

Figura 11 – Representação esquemática de um desvio de escavação (Acervo técnico da

Votorantim Metais).

Page 14: Controle de escavação subterrânea em ambientes cársticos

14

CONCLUSÕES

A metodologia de desenvolvimento de galerias e lavra subterrânea em áreas cársticas

apresentada neste trabalho vêm se mostrando muito eficaz quanto a minimização dos riscos

geológicos e hidrogeológicos existentes na mina de Vazante. A constante interface entre os

diferentes setores da mina subterrânea (planejamento, geologia, hidrogeologia, topografia e

operação de mina) através de reuniões de alinhamento e integração de dados e informações é

de suma importância para o sucesso da aplicação da metodologia proposta o que permite

reduzir o risco de grandes afluxos de água para o interior das galerias. Tal metodologia

proporciona um controle eficaz de todos os riscos hidrogeológicos e geomecânicos existentes

neste tipo de ambiente geológico.

Esta metodologia pode ser aplicada em outras minas, inclusive fora de ambientes cársticos,

fazendo-se as devidas adaptações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acervo técnico da Votorantim Metais – Unidade Vazante. Vazante MG.

BITTENCOURT, C. (2008). Carstificação hipogênica e epigênica – Influências sobre a

exploração de minério de zinco da mina de Vazante – MG. Tese de mestrado, Universidade

Federal do Paraná UFPR.

FRASA INGERIEROS CONSULTORES.(1991). Estudo Hidrogeologico-Minero em la Mina

Subterrânea de Morro da usina, Vazante, Minas Gerais. Vazante, Votorantim Metais,

Relatório Interno, 159p.

KONKOLA COPPER MINES, (2004): Mining Procedure: Piloting, cover drilling and

grouting (cementation), p. 8.

MURRAY & ROBERTS, (2004): Corporate procedure: High pressure injection, Reference

CMD-WP-10017, revision 3, p. 30.

ROSTIROLLA, S. P. et al. (2002). Análise estrutural da mina de Vazante e adjacências:

geometria, cinemática e implicações para a hidrogeologia. In: Revista Brasileira de

Geociências. P59-68.

SKANSKA – Cementation Mining Drilling Division – Ring cover procedure, Ref.

CEM.RCO.1, Rev. 0, p. 12