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Modernidade e estresse por Emerson Ciociorowski
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49BENSRevista da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul2 0 0 9
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Você precisa ser o alvo desua própria atenção
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Concretizandoo intangível
c omp o r t am e n t o
O esgotamentodo empresário
Núm
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25 –
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007
SUMÁR IOEXPEDIENTE
12 Soluções invisíveisSem um produto físico para apresentar, as empresas
que oferecem serviços enfrentam o desafio de
explicar suas características. A primeira saída é
prezar pela excelência no atendimento e pela eficiência
Publicação mensal do Sistema Fecomércio-RS
Federação do Comércio de Bens e de Serviços
do Estado do Rio Grande do Sul
Rua Alberto Bins, 665 – 11º andar – CentroCEP 90030-142 – Porto Alegre/RS – BrasilFone: (51) 3286-5677/3284-2184 – Fax: (51) 3286-2143www.fecomercio-rs.org.br – [email protected]
Presidente: Flávio Roberto Sabbadini
Vice-presidentes: Antônio Trevisan, Flávio José Gomes, Ivo JoséZaffari, João Oscar Aurélio, Joarez Miguel Venço, Jorge LudwigWagner, Júlio Ricardo Mottin, Luiz Antônio Baptistella, Luiz CaldasMilano, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suárez, Moacyr Schukster,Nelson Lídio Nunes, Olmiro Lautert Walendorff, Renato Turk Faria,Valcir Scortegagna e Zildo De Marchi
Vice-presidentes regionais: Cezar Augusto Gehm, CláudiaMara Rosa, Francisco Franceschi, Hélio José Boeck, IbrahimMahmud, Joel Vieira Dadda, Leonides Freddi, Níssio Eskenazi,Ricardo Tapia da Silva, Sérgio José Abreu Neves e Sérgio Luiz Rossi
Diretoria: Airton Floriani, Alécio Lângaro Ughini, André Arthur K.Dieffenthaler, André Luis K. Piccoli, André Luiz Roncatto, ArnildoEckhardt, Arno Gleisner, Ary Costa de Souza, Carmen Flores,Celso Canísio Müller, Derli Neckel, Edson Luis da Cunha, EugênioArend, Fábio Norberto Emmel, Francisco Amaral, Gerson JacquesMüller, Gilberto Cremonese, Hélio Berneira, Hildo Luiz Cossio,Ildemar José Bressan, Ildoíno Pauletto, Isabel Cristina Vidal Ineu,Itamar Tadeu Barbosa da Silva, Ivanir Gasparin, Ivar Ullrich, JairLuiz Guadagnin, João F. Micelli Vieira, Joel Carlos Köbe, JorgeRubem D. Schaidhauer, José Nivaldo da Rosa, Jovino AntônioDemari, Jovir P. Zambenedetti, Júlio César M. Nascimento, JuremaPesente e Silva, Leonardo Schreiner, Levino Luiz Crestani, LionesBittencourt, Lúcio Gaiger, Luis Fernando Dalé, Luiz Alberto Rigo,Luiz Carlos Dallepiane, Luiz Eduardo Kothe, Luiz HenriqueHartmann, Luiz Roque Schwertner, Marco Aurélio Ferreira,Maria Cecília Pozza, Marice Guidugli, Milton Gomes Ribeiro,Olmar João Pletsch, Paulo Anselmo C. Coelho, Paulo AntônioVianna, Paulo Ganzer, Paulo Renato Beck, Paulo RobertoKopschina, Paulo Saul Trindade de Souza, Régis Feldmann, RenzoAntonioli, Ricardo Murillo, Ricardo Pedro Klein, RobertoSegabinazzi, Rogério Fonseca, Rui Antônio Santos, Silvio HenriqueFröhlich, Sírio Sandri, Susana Fogliatto, Tien Fu Liu, Valdo DutraNunes, Walter Seewald e Zalmir Fava
Conselho Fiscal: Rudolfo José Müssnich, Celso LadislauKassick, José Vilásio Figueiredo, Darci Alves Pereira, SérgioRoberto H. Corrêa, Ernani Wild
Conselho Editorial: Antonio Trevisan, Derly Cunha Fialho,Everton Dalla Vecchia, Flávio Roberto Sabbadini, Ivo JoséZaffari, José Paulo da Rosa, Luiz Carlos Bohn, Manuel Suárez,Moacyr Schukster, Renato Turk Faria e Zildo De Marchi
Assessoria de Comunicação: Aline Guterres, Camila Barth,Catiúcia Ruas, Fernanda Borba, Fernanda Romagnoli, JoséPedro Fontoura, Juliana Maiesky e Simone Barañano
Coordenação Editorial: Simone Barañano
Edição: Fernanda Reche (MTb 9474) e Svendla Chaves (MTb 9698)
Reportagem: Bianca Alighieri, Francine de Souza, Leandro Melo,Tanara Araújo
Colaboração: Edgar Vasques, Moacyr Scliar, Paulo AfonsoPereira, Priscilla Ávila
Revisão: Flávio Dotti Cesa
Edição de Arte: Silvio Ribeiro
Tiragem: 25,5 mil exemplares
É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte.Os artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião do veículo.
s e r v i ç o s
FecomércioSERVIÇOSBENS &
Minha marca sou euO sucesso empresarial depende não apenas de conheci-
mentos específicos e empreendedorismo, é preciso uma
boa dose de elegância, bons contatos e educação
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SUMÁR IO
05FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
36
e n t r e v i s t a
A passagem do tempo 18
c o n s umo
Clube da LuluzinhaApaixonadas por compras, as
mulheres são sempre consumidores
em potencial; por isso, em quanto
maior número elas estiverem, mais
compras farão
42g a s t r o n om i a
Os efeitos da culináriaUm dia a paixão pela culinária
ultrapassa o ato de comer e
vira projeto de vida. Conheça
histórias de quem abandonou
tudo para ser gastrônomo
c omp o r t am e n to
O que fazer quando falta cordaA desmotivação também cai sobre o empresário, o
que pode afetar a equipe, prejudicando o andamento
dos negócios e a saúde do executivo
38
44f l o r e s t am e n t o
Plantando vida novaO planeta clama por ajuda. E a opção do plantio de
mudas nativas é uma boa alternativa para restaurar
biomas das matas brasileiras
p a l a v r a d o p r e s i d e n t e7
a l i m e n t o s
v i s ã o t r a b a l h i s t a
v i s ã o t r i b u t á r i a46
n o t í c i a s e n e g ó c i o s
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48
17
g u i a d e g e s t ã o14
m a i s & m e n o s 49
47
a g e n d a 6
vendas
a r g e n t i n a
40
s a i b a m a i s 32
34
c r ô n i c a50
O coach Emerson Ciociorowski tem o desafio
diário de ajudar empresários e executivos a se
permitirem um tempo para refletir sobre seus
sonhos e desejos; e planejar o futuro
AGENDA
06 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Núm
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009
* Mais informações sobre as atividades culturais do Sesc-RS estão no site www.sesc-rs.com.br/artesesc
ma i o
01Comemoração emSanta MariaDurante todo o mês de
maio o Sesquinho Santa Maria
realiza diversas atividades
em comemoração ao aniversário
de 10 anos da Escola.
Informações: (55) 3223-2288.
03Vale do Jacuí em festaInício da 6ª Semana de Aniversário
do Sindilojas Vale do Jacuí. A
entidade comemora
60 anos de fundação no dia 8/5,
e as comemorações se encerram
no dia 9/5 com jantar no Clube
Sociedade Rio Branco.
Informações: www.sindilojas.com.br.
05Prêmio Sescde Literatura 2009Inscrições gratuitas até dia 30 de
setembro, nas categorias
conto e romance. Informações:
www.sesc.com.br.
Feira de OportunidadesA terceira edição da feira acontece
simultaneamente nas 41 escolas
do Senac no Estado. Informações:
www.senacrs.com.br.
17Circuito SescMinimaratonaA etapa Erechim da minimaratona
será às 9h30. Informações:
www.sesc-rs.com.br/minimaratona.
21LivramentotechSenac Livramento promove evento
de tecnologia no Clube Caixeiral.
Informações: (55) 3244-4253.
25Semana do EmpreendedorSenac Santa Cruz do Sul realiza,
até o dia 29/5, a 4ª edição do
evento, na sede da instituição.
27Não ao sedentarismoSesc coordena no Estado o Dia do
Desafio. A proposta é fazer com o
que o cidadão saia da rotina
realizando algum tipo de atividade
física. No Rio Grande do Sul, 406
cidades participam da mobilização,
que acontece no mundo inteiro.
4º Festival Palco GiratórioEvento vai até 31 de maio com
programação diária. As apresentações
acontecem em diferentes teatros da capital,
parques e praças.Informações:
www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio.
8Sesc MúsicaEvento circulará pelo interior do Rio
Grande do Sul, durante o mês de
maio, com diversas atrações musicais.
O projeto integra o Arte Sesc –
Cultura por toda parte.
14Artes CênicasAté o dia 31/5 acontece a 1ª Etapa
do Circuito Sesc Palco Giratório, no
Estado. A iniciativa fará circular por
12 cidades gaúchas o espetáculo
“Choros e valsas – Um tributo à
Pixinguinha”, de Niterói (RJ).
16Dia da solidariedadeSesc e Senac realizam, no Parque da Re-
denção, em Porto Alegre, ações recrea-
tivas junto à comunidade, das 9h às 15h.
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07FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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Flávio Roberto Sabbadini
Presidente do Sistema Fecomércio-RS
relacionamento interpessoal é
inerente ao homem, planeja-
mos nosso comportamento
com base na imagem que acredita-
mos que o outro espera de nós. So-
mos produto da convivência. Esse
conceito ganha mais força se o levar-
mos para o mundo dos negócios,
onde lidamos ao mesmo tempo com
consumidores, fornecedores, amigos.
E não é exagero afirmar que a ma-
neira como nos relacionamos com
esses diversos públicos pode ajudar
ou até mesmo prejudicar o sucesso
do nosso empreendimento.
O networking aliado ao marke-
ting pessoal é ferramenta que opor-
tuniza a expressão das nossas habili-
dades, capacidades e competências;
e deve ser levado também para a re-
lação do nosso negócio com o clien-
te. Será que aquele que está à frente
da nossa empresa reflete o produto
ou serviço que oferecemos? É preci-
so que haja uma identificação e se co-
loque à disposição do público-alvo
aquilo que ele espera de nós.
É difícil encontrar colegas que
não vislumbram o marketing pessoal
como estratégia de ascensão social e empresarial. Educa-
ção, elegância, sociabilidade e trato no falar e no agir po-
dem ser fatores decisivos para fechar um negócio ou, sim-
plesmente, manter a boa relação profissional, aumentando
o networking. Os representantes comerciais sabem a que
me refiro, pois são profissionais que têm na labuta diária a
tarefa de vender não apenas um produto ou serviço, mas
uma boa imagem sua e da empresa que representa. E mes-
mo que o negócio não tenha sido fechado, se ficou uma
imagem positiva, suas chances de fechar uma venda no fu-
turo são ainda maiores.
No mundo altamente globalizado não podemos nos
dar ao luxo de ficar fechados em uma só rede de conta-
tos. A dinâmica empresarial nos exige flexibilidade para
circular nos mais diversos setores da economia, com pos-
tura e conhecimento de mercado. Com isso, trocamos
experiências e alargamos nossa rede de relacionamento,
instrumento fundamental de socorro em uma hora difícil.
É o momento de retornarmos aos almoços desprovidos
de grandes intenções ou ao café no meio da tarde, crian-
do ambientes de oportunidades.
O
identitáriasImagens
Divulgação/Fecomércio-RS
NOTÍC IAS & NEGÓCIOS
08 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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E d g a r V a s q u e s
Personalidades na Semana deEmpreendedorismoEntre os dias 11 e 15 de maio acontece em São Paulo a 5ª Sema-
na de Empreendedorismo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Desenvolvido para promover o surgimento de novos negócios e
o crescimento dos já existentes, o evento é destinado a estudan-
tes de administração e executivos interessados em empreende-
dorismo e novos negócios. Durante
cinco dias ocorrerão debates, apre-
sentações, mesas-redondas e pales-
tras, com participação de personali-
dades reconhecidas no mundo do
empreendedorismo, como Luciano
Huck, Fábio Barbosa (presidente do
Santander-Real) e David Neeleman
(presidente da Azul Linhas Aéreas).
O evento é aberto ao público e gra-
tuito. Informações e inscrições no
site www.fgvsp.br/cenn.
Cooperativas decrédito integram o SFNDesde abril as cooperativas de crédito passam a
seguir as mesmas regras das instituições financei-
ras. Essa conquista do setor ocorreu com a san-
ção pelo presidente da República da lei comple-
mentar que insere as cooperativas de crédito no
Sistema Financeiro Nacional (SFN). A lei esta-
belece uma legislação específica que determina
normas para o funcionamento dessas instituições
e regulamenta o Sistema Nacional de Crédito Co-
operativo, oferecendo assim segurança jurídica e
facilitando o acesso ao crédito para pequenos pro-
dutores, população de baixa renda, comerciantes
e industriais. Vale destacar que as cooperativas de
crédito continuarão a ser regidas pela lei coope-
rativista (5.764/71).
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FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
NOT ÍC IAS & NEGÓCIOS
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Erechim ganha novasede do SenacO Sistema Fecomércio-RS entregou à população de Ere-
chim, no final de abril, as novas instalações do Senac-RS.
Com estrutura totalmente inovadora e atualizada, a escola
passa a funcionar na rua Praça da Bandeira, 26, em um espa-
ço de 1,2 mil metros
quadrados. O Senac
Erechim possui agora
14 ambientes pedagó-
gicos, divididos em
oito salas de aula, qua-
tro laboratórios de
Tecnologia da Informação (TI) equipados com sistema wire-
less, laboratório de massagem, sala multiuso, Espaço Teen e
biblioteca. A nova unidade tem capacidade para ofertar pelo
menos 37 cursos sistematicamente, voltados principalmen-
te para as áreas de gestão e negócios, TI, comunicação, saúde
e idiomas. O Senac atua em Erechim há 12 anos, fomentan-
do a qualificação profissional.
Novas regras de call centersA Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) defi-
niu, no mês de abril, que o tempo de espera das chama-
das telefônicas feitas pelo consumidor que busca as con-
cessionárias de energia elétrica através de call centers
não deve ultrapassar 30 segundos. A margem para o cum-
primento da norma foi determinada pela Aneel em 75%
do total de chamadas. Outra determinação importante
para o setor atingiu o call center ativo. Desde o final de
março, as empresas estão proibidas de ligar para os con-
sumidores cadastrados pela Fundação Procon. Até o iní-
cio de abril, o número de consumidores de telefonia fixa
e móvel que colocaram seus nomes na lista já era de
mais de 280 mil pessoas.
Registro “.br” completa 20 anosO Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) comemora, em
abril, os 20 anos do código país “.br”. Presente ao final de muitos
endereços de internet, o código país, como o nome já sugere, indica
em qual nação do mundo o site foi registrado. Tudo começou no dia
18 de abril de 1989, quando o órgão internacional Internet Assigned
Numbers Authority (Iana) transferiu para a iniciativa acadêmica bra-
sileira em redes a administração do domínio para o Brasil, surgindo o
“.br”. Com a criação do CGI.br, em 1995, o registro de domínios sob
o “.br” deixou de ser feito de forma manual pelo Registro Brasileiro,
operado na Fundação de Amparo à Pesqui-
sa do Estado de São Paulo (Fapesp). A au-
tomatização do sistema trouxe eficiência e
segurança, o que permitiu chegar aos 20
anos com mais de 1,6 milhão de registros.
Acontece no dia
16 de maio a 3ª Fei-
ra de Oportunida-
des do Senac. Im-
portante iniciativa
de estímulo à qua-
lificação profissio-
nal, o evento acon-
tece simultanea-
mente nas 41 escolas da instituição no Estado. Serão
mais de 200 ações gratuitas e abertas à comunidade ao
custo simbólico de um quilo de alimento não perecível.
“Em tempos de crise e de falta de oportunidades no
mercado, temos convicção de que esta nossa iniciativa
é ainda mais oportuna e fundamental para o desenvol-
vimento de novos e bons profissionais”, afirma o dire-
tor regional do Senac-RS, José Paulo da Rosa. A feira
de Oportunidades do Senac acontece duas vezes por
ano e na mais recente edição capacitou de forma gratui-
ta 4,3 mil gaúchos. Mais informações podem ser obti-
das no site www.senacrs.com.br.
Orientação profissionalgratuita para os gaúchos
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NOTÍC IAS & NEGÓCIOS
10 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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Fevereiro vermelho para o comércio gaúcho
Fonte: Fecomércio-RS
Variação do Volume das Vendas do ComércioVarejista e Atacadista Segundo Grupos de Atividade - 2008/9 (%)
Atividades
Comércio
Comércio varejista
Produtos alimentícios,
bebidas e fumo
Combustíveis e lubrificantes
Veículos, motocicletas, partes,
peças e acessórios
Comércio atacadista
Produtos alimentícios,
bebidas e fumo
Combustíveis
Veículos, motocicletas, partes,
peças e acessórios
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-5,1
-5,7
-1,0
3,3
-9,0
-4,5
0,2
-2,9
-1,7
Fev
-7,9
-7,9
-5,7
-1,5
-8,6
-8,0
0-2,5
-10,5
0,7
MensalJan
-5,1
-5,7
-1,0
3,3
-9,0
-4,5
0,2
-2,9
-1,7
Fev
-6,5
-6,7
-3,3
0,9
-8,8
-6,2
-1,1
-6,6
-0,6
Acum. ano
Em fevereiro, o comércio gaúcho apresentou um
decréscimo de 7,9% no seu volume de vendas, na
comparação com o mesmo período de 2008. No
varejo, a queda foi igual, 7,9%, sendo o menor de-
créscimo sentido no setor de combustíveis e lubrifi-
cantes (-1,5%) e a maior queda nas vendas de livros,
jornais, revistas e papelaria (-25,3%). As informa-
ções são do Índice de Vendas do Comércio do Rio
Grande do Sul, divulgado mensalmente pela Feco-
mércio-RS em parceria com a Fundação de Econo-
mia e Estatística (FEE). No comércio atacadista a
queda foi um pouco maior, de 8%, com maior varia-
ção negativa no setor de material de construção,
madeira, ferragens e ferramentas (-26,4%). Na Re-
gião Metropolitana a queda em fevereiro foi de 11%,
no comparativo com o mesmo mês do ano passado.
Empresários gaúchostrazem números positivosOs números do estudo A Voz do Empresário Ga-
úcho, divulgados recentemente pela QualiData Pes-
quisas, apresentam importantes opiniões e perspec-
tivas sobre economia, gestão e investimentos. No
âmbito das questões estaduais, 67% dos empresá-
rios entrevistados acreditam que Caxias do Sul seja
o município com mais atrativos para abertura de no-
vos negócios e investimentos; 59,6% consideram
que o governo de Yeda Crusius teve influência po-
sitiva para a economia gaúcha; e 39% acreditam que
o desempenho econômico do Estado em 2009 será
maior que o ano passado. O estudo constatou tam-
bém que para 45% dos empresários gaúchos a crise
não está afetando seus empreendimentos; contra
15% que afirmaram estar sofrendo significativamen-
te com a instabilidade econômica. O levantamento
entrevistou 480 dirigentes em 46 muni-
cípios do Rio Grande do Sul entre os meses de no-
vembro de 2008 e janeiro de 2009.
Programa Mesa Brasil chega aosVales do Taquari e Rio Pardo
Desde o final do mês de abril, as
comunidades de Santa Cruz do Sul,
Venâncio Aires, Estrela e Lajeado
passam a contar com o Programa
Mesa Brasil Sesc. A estimativa é de
até o final do ano distribuir pelo
menos 100 toneladas de alimentos
nos Vales do Taquari e Rio Pardo,
complementando 1 milhão e 235 mil refeições. “O Mesa Brasil se pro-
põe a desenvolver um trabalho sobretudo educativo. Além de estimular
diretamente a redução do desperdício, o programa atua levando ações
específicas que promovem a inclusão e o desenvolvimento das comuni-
dades”, afirmou o vice-presidente do Sistema Fecomércio-RS, Moacyr
Schukster, durante a solenidade de lançamento do Mesa Brasil na região
(foto). Lajeado será a cidade-sede do programa, que já começou a visitar
as instituições e a cadastrar empresas doadoras. O Mesa Brasil é um
programa de complementação alimentar que coleta alimentos exceden-
tes de restaurantes e supermercados, por exemplo, e distribui imediata-
mente para instituições previamente cadastradas no projeto.
Joao
Alv
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NOT ÍC IAS & NEGÓCIOS
11FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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009
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do
le
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r
“Parabenizo a equipe
responsável pela revista
Bens & Serviços pelo
excelente trabalho.
A matéria Popularizando
os Clássicos, publicada
na edição 24, por exemplo,
é oportuna e de excelente
qualidade. Gostaria
imensamente de continuar
recebendo este veículo de
informação, destaque
entre as publicações
do nosso Estado.”
Fernando Keiber
Agência Gaia Cultura e ArtePorto Alegre/RS
Diversidade cultural no IV Festival Palco GiratórioA 4ª edição do Festival Palco Giratório Sesc/POA acontece entre os dias 1º e 31 de maio, em 18
locais da capital gaúcha. O evento terá programação diária e trará à cidade 33 grupos artísticos de
diferentes estados, que apresentarão 44 espetáculos em mais de 60 sessões. Além de priorizar a
diversidade dos locais de apresentação, atingindo assim um maior número de espectadores, o
Festival fomentará experiências inéditas através de intercâmbios entre profissionais da área, críti-
cos e público, com oficinas, palestras e workshops. Os destaques da programação incluem grupos
renomados como o Teatro Sarcáustico (RS) e o Lume Teatro (SP). O Festival Palco Giratório
Sesc/POA faz parte da programação do Arte Sesc –
Cultura por toda parte. “A proposta do Arte Sesc é in-
centivar a produção artística e facilitar o acesso da
comunidade gaúcha aos bens culturais”, ressalta o
diretor do Sesc-RS, Everton Dalla Vecchia. O pre-
ço dos ingressos varia entre R$ 5 e RS 10 para os
espetáculos; e entre R$ 15 e R$ 30 para as oficinas.
Mais informações sobre o evento podem ser
obtidas no site www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio.
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lber
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SERV IÇOSN
úm
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12 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Soluçõesinvisíveis
Mesmo
intangíveis,
serviços podem
driblar a falta
do produto físico
na hora de
conquistar
clientes. Bom
atendimento e
promessas
cumpridas
são meio
caminho andado
nesta jornada
ocê vai a uma loja e o vendedor tenta
lhe vender uma geladeira. Ele mostra o
produto e explica suas características.
Você pode vê-la, tocá-la, testá-la e não tem
problemas em entender por que precisa da-
quele produto. Em outro momento, você vai
a um escritório de consultoria, e o executivo
tenta lhe vender seus serviços. Ele não tem
um produto para mostrar, o que dificulta a
explicação das características. Você não pode
vê-lo, tocá-lo, testá-lo, e então pode ter pro-
Vblemas em entender por que precisa daquele trabalho.
Seja bem-vindo ao mundo da intangibilidade, pedra no
sapato número um de vários tipos de empresas presta-
doras de serviços.
Sócia da Villela Consultores Associados, a contadora
Ana Luiza Villela vive há oito anos o desafio de tornar
mais tangível a área da contabilidade – um dos exemplos
mais triviais, ao lado de empresas de TI, advocacia, asses-
sorias e corretoras. Segundo ela, um dos principais trun-
fos para garantir a adesão do cliente é apostar no tradici-
onal “boca a boca”: “O melhor veículo é, sem dúvida, o
Por Tanara Araújo
13FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
SERV IÇOS
Núm
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49 –
Mai
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009
testemunho de alguém que recebeu um trabalho eficien-
te, que teve um atendimento respeitoso da empresa”.
VitrineUma boa apresentação do local de trabalho também
pode ser um modo eficaz de tangibilização, desde que
adaptada à natureza da atividade. “Se a prestação de ser-
viços for ligada à higiene, deve transmitir higiene. Se for
segurança, deve transmitir segurança”, exemplifica o dou-
tor em Administração Mercadológica, professor Alexan-
dre Luzzi Las Casas. Entretanto, o cuidado com a apa-
rência não deve esbarrar na extravagância. “É necessário
ter um ambiente bom, mas um escritório de contabilidade
muito luxuoso pode até afastar o cliente, dar a percepção
de que cobro esse luxo nos honorários”, conta Ana Luiza.
Além do local, há outro fator fundamental quando o
assunto é prestar serviços: as pessoas que o executam.
“Não adianta nada contar com um serviço maravilhoso,
uma ideia fantástica, um ambiente bom, mas ser atendi-
do por alguém de mau humor ou maltreinado”, afirma o
consultor de empresas e professor Marcelo Guedes de
Nonohay. Na luta pela tangibilização de sua atividade,
Ana Luiza também investe na matéria humana: “Eu me
preocupo em ter pessoas que saibam falar bem, que se
comuniquem o melhor possível – o que é uma dificulda-
de extra se tratando de contabilidade –, pessoas que sai-
bam passar o que estão fazendo para o cliente”.
UniãoPara se tornarem mais atraentes, os serviços cada vez
mais têm flertado com a família dos produtos. Nonohay dá
um exemplo prático: “Uma coisa é o cliente chegar ao es-
critório, tomar um café com o advogado e depois ir para
casa pensar se vai contratá-lo ou não. Outra é ele sair de lá
com uma belíssima pasta, contendo o currículo do profissi-
onal e a descrição dos serviços prestados”. O inverso tam-
bém tem se mostrado uma tendência, ressalta o consultor:
“Empresas que tradicionalmente produziam e vendiam bens
físicos têm agregado serviços, como garantia estendida, pós-
venda, assistência técnica, para ampliar seu produto.”
Esse “casamento” – que, em marketing, também é co-
nhecido como evidências físicas – pode englobar itens
como folhetos, catálogos, portfólios e brin-
des, entre outros. Embora defenda que nada
substitui o bom atendimento, Ana Luiza
concorda que os detalhes são importantes: “Te-
mos caderno, folha timbrada, pastinha, cartão.
Para fazer nosso logotipo, contratei uma em-
presa de publicidade”, revela. No quesito apre-
sentação, o professor Luzzi Las Casas destaca
ainda o uso de sites como forma de aumentar
a interação dos clientes com os serviços.
TropeçosNa difícil batalha da tangibilização há, cla-
ro, aquelas práticas que devem ser evitadas e
eliminadas. De acordo com Luzzi Las Casas, é
extensa a lista dos erros cometidos por presta-
dores de serviços. Um dos principais é o exa-
gero da oferta: “Se a expectativa do cliente
sobe muito, também acabam crescendo as
chances de ele ficar insatisfeito, mesmo que o
serviço esteja adequado”, alerta. Para Ana Lui-
za, um dos perigos é quando o profissional se
afasta do seu propósito, de seus reais conheci-
mentos, só para garantir a venda do serviço.
Nonohay aponta que também é erro típico
confiar nas fórmulas prontas: “Há quem leia
livros de autoajuda e acredite que basta ado-
tar certos passos e dicas nas suas empresas”.
Para o consultor, se o valor que o prestador
está tentando agregar ao seu serviço não é per-
cebido pelo cliente, ele está investindo em algo
que não trará benefício.
Outra armadilha fatal é a alta flutuação da
demanda. “Como não é possível estocar ser-
viço e nunca se pode garantir o amanhã, mui-
tas empresas acabam aglomerando pedidos”,
observa Nonohay. O resultado, diz ele, pode
ser o comprometimento de prazos ou de qua-
lidade, gerando problemas com o contratante
e, por tabela, com seu próprio conceito no mer-
cado. E, mesmo intangível, “nome sujo na pra-
ça” os clientes sabem bem o que significa.
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14 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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A relação entre sócios é, ou deveria ser, como um matrimônio, para a vida toda.
Mas para que essa durabilidade aconteça e de maneira sustentável, é preciso que a
sociedade seja regida por regras transparentes e pelo respeito mútuo
empresarialCasamento
m dia, existiram três amigos que acre-
ditavam haver uma grande simpatia en-
tre eles, a ponto de decidirem abrir uma
empresa em sociedade. No outro dia, havia
apenas três sócios. O grande erro daqueles que
empreendem em sociedade é achar que a fra-
ternidade é fator único para começar um
negócio. Com esse pensamento destroem-se
Uamizades, criam-se intrigas familiares e, em muitos casos,
as divergências são tamanhas que levam as empresas à
falência. Encontrar a pessoa ideal para compartilhar o
sonho de ser seu próprio patrão deve seguir os preceitos
de um casamento, na essência da palavra, e as regras de
um contrato empresarial.
Antes de sair à caça de um pretendente, é preciso se
perguntar se você ou a sua empresa realmente precisa de
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15FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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um. “É importante começar fazendo a tarefa de casa, ma-
peando as necessidades que o negócio exige. Se o plano
de negócios indicar que eu preciso de alguém porque
minha competência não é suficiente, aí então vou procu-
rar uma pessoa para complementar, para somar”, acon-
selha Cláudio Forner, consultor do Sebrae e conselhei-
ro de Roberto Justus no programa televisivo “O
Aprendiz”. Em alguns casos, é possível que o plano de
negócios aponte para a necessidade de um aporte finan-
ceiro; aí Forner sugere que, às vezes, é melhor um finan-
ciamento do que um sócio.
Iniciada a procura, o psicólogo e especialista em re-
cursos humanos Newton Ferreira sugere que a busca por
um sócio deva ser encarada como uma seleção. “Assim
como acontece em um processo seletivo competente, essa
procura começa com a definição do perfil do sócio. Esse
perfil precisa ser estabelecido com isenção de preconcei-
tos, fantasias e subjetividades, sendo claramente focado
nas necessidades do negócio.” A recomendação de For-
ner é que, para ter vida longa, a relação precisa conter
complementaridade e integridade entre os sócios.
Onde procurarNem em anúncio de jornal nem em almoço de família.
“Não é que parente não possa ser um bom sócio, mas a
escolha de um familiar não deve ser motivada por fatores
emocionais, deixando assim de pensar no futuro”, explica
Forner. O mesmo conselho é dado por Ferreira: “Nessa
procura deve-se evitar um erro muito comum: escolher
como sócio aquele amigo ou parente que não está em um
bom momento, apenas para ‘dar uma força’ para ele. Aci-
ma de tudo, é preciso ser fiel ao perfil definido para o
sócio adequado ao negócio”.
Forner sugere a busca no relacionamento empresarial.
“Em palestras, associações, entre lideranças, ou seja, em
ambientes de junção de pessoas com interesses empreen-
dedores.” A rede de relacionamentos, ou melhor, ne-
tworking, também é um ótimo local para procurar. “Mes-
mo que não conheçamos diretamente candidatos a sócio,
podemos chegar até eles por meio de indicações; locais
que reúnem pessoas por afinidade de interesses, como
associações comerciais, clubes de serviço, entidades clas-
sistas, que também possibilitam boas opor-
tunidades na procura de sócios.”
O impensável também pode dar certo:
“Muitas vezes um possível concorrente pode
ser um sócio, pois ajuda a ganhar escala”, vis-
lumbra Forner, destacando que acima de tudo
é imprescindível que haja sinergia com as ne-
cessidades e o tipo de negócio.
Preto no brancoToda relação é baseada em um contrato,
seja o da palavra, seja aquilo que está escrito
no papel. No empreendimento em socieda-
de essa necessidade contratual se torna ain-
da mais importante, por oferecer segu-
rança para ambas as partes. “O contrato ins-
trumentaliza a sociedade; e ele deve conter
cláusulas de entrada, permanência e saída.
Ele é a verdadeira referência”, esclarece o
consultor do Sebrae.
Por mais confiável que seja a relação, é
possível que em alguns momentos a situação
saia da ordem, e o contrato será o melhor re-
curso para solucionar o problema. “Confiar é
bom, conferir é melhor”, brinca Ferreira. Para
evitar irresponsabilidades na sociedade: “In-
teresse-se! Participe! Converse! Avalie! Ques-
tione! Planeje e analise os resultados! Seja
Arq
uivo
pes
soal
Para o psicólogo Newton Ferreira, um bom sócio
pode influenciar no sucesso do empreendimento
GUIA DE GESTÃO
16 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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intransigente com irresponsabilidades na vi-
vência de um papel profissional!”.
Forner lembra que o contrato não é para
engessar, mas para prevenir possíveis ocorrên-
cias, principalmente quando elas acontecem
na emoção do relacionamento familiar, no caso
da sociedade entre parentes, por exemplo. É
nele também que devem constar as obriga-
ções de cada sócio.
Quem faz o quêA relação entre sócios, em geral, está ba-
seada na horizontalidade, o que dificulta a
definição de atividades e as cobranças entre
eles. O ideal, para evitar discórdias e desen-
tendimentos, segundo Forner, é definir tudo
em contrato. “É importante que as tarefas es-
tejam definidas contratualmente, seja na soci-
edade com sócio majoritário ou na sociedade
de paridades. É por isso que tem que haver
complementaridade”, destaca o consultor.
Para Ferreira, para que a sociedade seja
bem-sucedida ela deve basear-se em alguns
fundamentos essenciais, como a confiança.
“Quando eu confio de fato no meu sócio, aceitarei suas
‘cobranças’ como ações favoráveis ao bom desempenho
do negócio, e me permitirei fazer isso também na relação
com ele. As tarefas e responsabilidades, que devem ser
definidas mais por competência do que por afinidade, irão
compor esse papel profissional sujeito às cobranças do
sócio. Quando a finalidade é construtiva, as cobranças
tendem a favorecer a boa performance do negócio.”
Sócios e equipesAs divergências entre sócios não se restringem aos
setores administrativo ou financeiro, como muita gente
pensa. Questões sobre posicionamento diante da equipe
também podem causar desentendimentos que prejudi-
quem o funcionamento do empreendimento. “Para que a
autoridade de um sócio não se sobreponha à do outro, é
importante que essa definição também conste no contra-
to”, aconselha Forner.
A relação, como em todo ambiente profissional, deve
ser profissional. “Se ainda assim for possível cultivar bons
relacionamentos pessoais, que bom para todos os envol-
vidos”, completa Ferreira. Quando os desentendimentos
atingem a equipe é porque há um sério problema de co-
municação dentro da sociedade. Nesses casos, Ferreira
aconselha: “Desenvolver uma inteligência emocional para
superar e controlar o ego, visando ao cultivo de relaci-
onamentos produtivos. É preciso saber conversar, ou-
vir, argumentar e viabilizar entendimento ou ter a co-
ragem para aceitar que a sociedade tornou-se inviável”.
Empreender em sociedade é aceitar correr os ris-
cos da gestão compartilhada; da perda de dinheiro;
dos problemas jurídicos; e até mesmo dos riscos da
convivência diária. Por outro lado, une conhecimen-
to, sonhos, competências, força e valores. “Todos os
riscos imagináveis estão presentes numa sociedade.
Deve-se estar consciente deles e trabalhar para mini-
mizá-los. Mas jamais deixar de enxergar as oportuni-
dades de empreender em sociedade. Um bom sócio
pode nos complementar e influenciar diretamente no
nosso sucesso”, afirma Ferreira. Se a sociedade for re-
gida com base no respeito e em regras claras e objeti-
vas, o êxito é consequência.
Quem eu procuroPara ajudar a definir o perfil do futu-
ro sócio, Newton Ferreira – psicólogo e
especialista em recursos humanos –
sugere as seguintes questões:
Quais são os conhecimentos
necessários?
Quais experiências profissionais
ele deve ter?
Quais são as características
pessoais ideais?
Qual o poder de influência
desse sócio potencial no
mercado a ser trabalhado?
Precisa ter dinheiro ou tempo dis-
ponível para investir no negócio?
OPIN
IÃO
17FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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á dez anos, aportou no Brasil o concei-
to de marcas próprias, que já vinha sen-
do desenvolvido em outros países.
Com a criação da Associação Brasileira de
Marcas Próprias (Abmapro), entidade na qual
tivemos a honra de participar do Conselho,
iniciou-se um trabalho de incentivo à criação
de marcas exclusivas das empresas.
Uma das primeiras organizações no
Brasil a utilizar a marca própria em
seus produtos foi o Makro Atacadis-
ta, que comercializa a marca Aro.
Conforme previsões feitas na épo-
ca, o mercado seguiu, de certa for-
ma, tímido quanto à criação de mar-
ca própria, e as previsões de crescimento desta
área não chegavam aos 10%. Entretanto, di-
ferentemente do que se previa, atualmente as
marcas próprias já representam mais de 30%
das marcas comercializadas em supermerca-
dos, e a tendência é de crescimento.
A ideia pode ser muito eficiente, quando
entendida como uma extensão da marca da
empresa. No Rio Grande do Sul, a marca
Zaffari é o melhor exemplo desta extensão.
Consagrada no Estado, a mesma aproveitou o
bom conceito que tem perante os consumido-
res para lançar vários produtos com sua marca.
Hoje há uma infinidade de empresas que estão
H
emprestando sua marca tradicional para novos produtos,
como a Panvel, a Liss Best, entre outras, ampliando o con-
ceito que a mesma possui para expandir sua área comercial.
Especialmente neste período de turbulência em que se
encontra a economia, a opção de algumas empresas por
estender a sua marca a outros produtos, transformando-a
em uma marca própria, pode ser uma boa estratégia para
enfrentar mercados e diminuir custos em comunicação e
distribuição. Entretanto, é necessário não descuidar dos
investimentos na proteção da marca no segmento onde
vai ser ampliada a sua atuação.
O custo de manutenção de uma
marca conhecida é alto, pois de-
pende, e muito, de investimen-
tos em propaganda, promoções
e visibilidade nas gôndolas. Já
uma marca própria não necessi-
ta destes investimentos e pode
valer-se simplesmente da sua credibilidade para atrair os
clientes, que podem associar a qualidade a um preço mais
baixo, estendendo sua fidelização aos novos produtos.
Investir em marca é sempre vantajoso, pois é ela que
vende o produto, é ela que cria o liame de confiança, é ela
que se torna preferida e desejada pelos consumidores, é
através dela que as empresas lucram. É necessário, entre-
tanto, que se faça uma ação tecnicamente viável, forte e
com segurança para divulgar, solidificar, proteger e manter
a marca, que é o patrimônio intangível das empresas e, na
maioria das vezes, o seu valor maior.
Marca própria, saída
para a crise
Paulo Afonso Pereira
Especialista em Propriedade Intelectual e ex-presidente do INPI
Em períodos de
turbulência, a marca
própria pode ser uma
boa estratégia para
enfrentar mercados
ENTREV I STA
18 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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ENTREVISTA
Emerson Ciociorowski
Foto
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úcia
Sim
on
19FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
ENTREV I STA
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B & S Nossa época vem sendo marcada por fortes mu-
danças sociais, principalmente no que tange a tecnolo-
gia e trabalho. Como essas transformações interferem
na relação do indivíduo com ele mesmo e com o mundo
ao seu redor?
C i o c i o r o w s k i As demandas do mundo moderno são cada
vez maiores, fazendo com que o grande desafio atual seja a
administração do tempo. O excesso de tecnologia, por exem-
plo, não permite que sobre tempo para o indivíduo pensar em
si próprio. Antes achávamos um absurdo a demora em escre-
ver um texto numa máquina de datilografar; agora, mesmo
com as facilidades do computador, ainda nos falta tempo. Essa
questão passa a ser um grande problema, uma vez que as em-
presas estão cortando custos e diminuindo seu quadro de fun-
cionários, sobrecarregando aqueles que ficaram; esse sufoca-
mento afeta também o lado pessoal. A gente
percebe que as pessoas trabalham uma jorna-
da muito grande, ao passo que a tecnologia
estaria aí para nos ajudar, para nos proporcio-
nar mais tempo, e o que acaba acontecendo é
o oposto. Falta tempo para as pessoas para-
rem para pensar nelas mesmas.
B & S O estresse seria consequência dessa
dinâmica social? Por que as pessoas es-
tão tão estressadas?
C i o c i o r o w s k i Pela definição de Hans Se-
lye, que foi quem primeiro definiu essa ques-
tão, estresse é uma reação não específica do
organismo a qualquer processo de mudança;
logo, o estresse sempre nos acompanhou. O
que está acontecendo é um desequilíbrio na
Emerson Ciociorowski
Economista e pesquisador da área de inteligência
emocional, Emerson Ciociorowski é um coach,
profissional multidisciplinar que ajuda as pessoas a
refletir sobre suas potencialidades, seus sonhos,
medos e angústias. Quase um terapeuta empresarial,
Ciociorowski também orienta seus clientes na gestão
do tempo e na busca por valores individuais.
A passagemdo tempo
ENTREV I STA
20 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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pista de corrida: se ele ficar “zen” demais na hora da largada,
seu desempenho não será o esperado. O estresse nos coloca
para frente, ele dá motivação. Entretanto, nosso erro é não
darmos tempo para o nosso organismo voltar ao estado natu-
ral de não estresse. Começa a se emendar um fator de estresse
no outro e assim estamos em estresse constante, isso é a de-
masia do estresse, que obviamente traz consequências físicas
profundas. Outra questão extremamente importante é a difi-
culdade das pessoas em reconhecer suas limitações. Cada pes-
soa age de maneira diferente para um mesmo fator de estres-
se. Coloque isso no mundo corporativo, onde o estresse é
algo que te faz menos competitivo. Por instinto, as pessoas
acabam encobrindo, não percebendo os sinais do corpo, e
mesmo quando percebem escondem suas deficiências. Como
consequência vêm as doenças. A conscientização corporal é
fator fundamental para que as pessoas se percebam e saibam
os limites do seu estresse. Não espere também que alguém
olhe pra você e diga: “Como você está estressado!”. Quem
tem que perceber isso é o indivíduo. Estresse não é um pro-
blema médico, é um problema de comportamento.
B & S É possível tirar proveito dessas mudanças na vida
pessoal e profissional?
C i o c i o r o w s k i Hoje, falando em administração do tempo,
nós temos uma série de recursos que nos facilitam a vida. O e-
mail, por exemplo, é uma ferramenta bastante importante se
utilizado de maneira adequada, se soubermos selecionar e or-
ganizar. Há também as agendas eletrônicas e os softwares que
diminuem o nível de estresse ao ajudarem no controle do an-
damento de determinadas tarefas. Mas são ferramentas que
não utilizamos. Tenho feito uma pesquisa com as pessoas com
as quais eu trabalho e percebo que 70% delas não têm nenhu-
ma ferramenta de utilização para administrar seu tempo. Quan-
do pergunto como elas se organizam, respondem: “Vou colo-
cando em um pedacinho de papel”. A tecnologia hoje nos ofe-
rece uma gama de soluções com que não sabemos lidar. Sobre
esse assunto, estou esboçando um livro que irá se chamar
questão do tempo; se observarmos o período
das cavernas, veremos que o homem precisa-
va do estresse como motivador para ir à caça.
Hoje caçamos um urso a cada cinco minutos.
Não estamos sequer respeitando nosso siste-
ma biológico. Achamos que temos tempo para
tudo, então passamos a viver uma vida 24 ho-
ras. Há banco 24h, academia 24h, supermer-
cado 24h; e assim, trocamos o dia pela noite,
sendo sufocados pela falta de espaço. O nos-
so mecanismo de estresse foi desenvolvido
para atender a uma demanda e não estamos
respeitando essa limitação. A quantidade de
eventos que gera estresse hoje é muito maior
que no passado.
B & S O estresse, então, seria algo positivo?
C i o c i o r o w s k i Se bem utilizado, sim, por-
que o estresse nos dá motivação. Imagine, por
exemplo, um corredor que vai entrar numa
“A única maneira de melhorar a forma como lidamos
com o tempo é planejando. Tempo é um recurso
escasso e também inelástico.”
21FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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“Tecnolixo”, abordando tecnologias que estão disponíveis e
que não recebem o devido reconhecimento. Compramos por-
que está na moda e não valorizamos as ferramentas que po-
dem funcionar a nosso serviço. Precisamos ser mais seletivos
na escolha das tecnologias. No outro lado, é fundamental man-
ter equilíbrio entre o profissional e o pessoal, porque as de-
mandas para o trabalho sempre vão surgir. Quanto mais tec-
nologia, mais rápido vai se trabalhar, mais demandas você vai
ter. Nós precisamos aprender a impor limites para que haja
efetivamente uma vida equilibrada. Para atingir esse objetivo,
temos que olhar para fatores que nos envolvem e que são im-
portantes na nossa vida, seja a alimentação, o lazer, ou, sim-
plesmente, nos permitir um momento de ócio. As cobranças
sempre vão existir e ninguém vai impor os nossos limites no
nosso lugar. A gente tem que se colocar.
B & S O que dificulta a tomada de iniciativas em busca de
sonhos e objetivos?
C i o c i o r o w s k i Falta nas pessoas um profundo reconhecimen-
to dos seus valores, pois o valor é a base do vínculo e a gente
se compromete ou se vincula a algo que tem valor para nós.
Vivemos um momento onde as pessoas não têm tempo, nem
ambiente para parar e pensar em si mesmas, com isso há uma
crise que nos força a adotar valores que não são os nossos, são
da sociedade, da família, da mídia, aquilo que está moda. Mas
até mesmo a moda tem passado por transformações, indican-
do como tendência a autenticidade, o simples, o confortável.
A teoria do antropólogo Gregory Bateson, na qual meu traba-
lho está amparado, afirma que os valores estão no nível do
nosso inconsciente, então aquilo que tem importância para
nós está lá no fundo da nossa alma e tem a ver com a nossa
identidade, com aquilo que nos torna únicos. A falta de reco-
nhecimento nos deixa sem orientação. Quando se reconhecem
os próprios valores, tem-se a base da motivação. É por isso que
muitos processos de motivação dentro das empresas falham, por
não buscar reconhecer em seus funcionários aquilo que é impor-
tante para eles. Além disso, há sempre um sentimento de felici-
dade quando se atinge algo que é valoroso para você; essa moti-
vação transforma a busca em um ato contínuo.
B & S É nesse cenário de conflitos que sur-
ge o coach? Qual o seu papel e quem
precisa dele?
C i o c i o r o w s k i O coach é uma figura nova que,
antes de se solidificar no mundo dos espor-
tes, surgiu nas faculdades americanas para au-
xiliar os alunos que precisavam de um supor-
te extra. Nós não temos uma formação aca-
dêmica específica para essa atividade, mas
acredito que um dia haverá ao menos uma es-
pecialização abordando a multidisciplinarida-
de do coach. Ele é uma ferramenta que pode
ser usada por qualquer um em qualquer mo-
mento da vida. Principalmente em situações
de crise ou quando se deseja desenhar o seu
“Ao tentarmos ser super-homens, destruímos
nossa vida pessoal, perdemos eficiência e eficácia,
diminuímos nosso nível de criatividade.”
ENTREV I STA
22 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Núm
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49 –
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009 “O papel do coach é fazer com que as pessoas reflitam
sobre as suas potencialidades, suas limitações, seus
sonhos, seus medos e suas angústias.”
futuro. O papel do coach é fazer com que as
pessoas reflitam sobre as suas potencialida-
des, limitações, sonhos, medos e angústias. É
uma pessoa que por não estar envolvida emo-
cionalmente consegue ter uma visão mais am-
pla do indivíduo e fazer com que ele reflita e
busque as suas alternativas. O coach utiliza uma
série de instrumentos que podem facilitar essa
busca. Entretanto, é importante que o indi-
víduo assuma essa vontade de querer mudar,
de querer administrar algumas situações de
crise, de querer planejar. Eu costumo dizer
que a gente consegue ver floresta onde o cli-
ente só vê árvore. A partir dessa ampliação
de visão, se consegue determinar o que ele
quer fazer e aonde ele quer chegar. Esse pro-
cesso precisa ser monitorado pelo coach, ou
seja, não adianta só traçar metas, porque com
a falta de tempo e com a quantidade de ativi-
dades que a gente tem, acabamos fugindo dos
planos e sonhos e as estratégias caem na roti-
na. Monitoria é fundamental.
B & S Servindo como “treinadores de executivos”, os coa-
chs auxiliam na organização de planos e objetivos. Por
que é tão difícil tecer metas e segui-las?
C i o c i o r o w s k i Principalmente pela falta de tempo e a de-
manda absurda que se tem por apagar incêndios. Gasta-se
muito tempo em questões administrativas do dia a dia, fica
difícil atingir metas. É preciso parar para pensar e saber para
onde você está direcionando sua vida. Isso que estou fazendo
tem a ver comigo ou com os outros? Por isso é difícil estabe-
lecer as metas. Depois é difícil cumprir porque as metas são
muitas; aí passam a ser só sonhos, desejos, intenções.
B & S Quem é esse profissional que você qualifica já no
título do seu livro, Executivo, super-homem solitário?
Quando ele é super-homem? E quando é solitário?
C i o c i o r o w s k i Ele é super-homem quando não respeita seus
limites. Não somos super-homens, não somos sobre-huma-
nos, somos pessoas normais com limitações e que cometem
erros. Para superar essas limitações precisamos conhecê-las.
Ao tentarmos ser super-homens, destruímos nossa vida pes-
soal, perdemos eficiência e eficácia, diminuímos nosso nível
de criatividade. Ele é solitário, porque somos, por natureza,
seres solitários. Por mais solidariedade que se tenha da família
ou dos amigos, a decisão é sempre única na direção que a gen-
te acha que é correto. Não tem como escapar da solidão.
O executivo se sente solitário, principalmente porque no am-
biente em que convive não consegue dividir medos, angústias
e aflições. A competição do mundo corporativo não permite
que se compartilhem essas questões com um colega de traba-
lho ou com o chefe. É difícil achar pessoas em quem confiar e
com as quais se tenha intimidade. Ou sejam amigas e capazes
de dizer, ao menos: “Você fez uma besteira, mas estou ao seu
lado incondicionalmente”. Esses amigos são raros. O coach se
presta para isso, ele entra no mesmo barco, ele é cúmplice de
nossos projetos. No coaching o indivíduo se sente menos soli-
tário. Através da troca tentamos fazer com que ele se sinta
23FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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mais seguro sobre as suas necessidades e sonhos, ajudando-o
na tomada de decisões.
B & S Executivos e empresários enfrentam problemas se-
melhantes? O que os diferencia?
C i o c i o r o w s k i O empreendedor tem uma vocação natural
para ousar, além de ser uma função que exige uma alta carga
de ousadia e autoconfiança, pois para o micro, pequeno e
médio empresário, os efeitos de um erro são imediatos. Dife-
rentemente do que ocorre numa grande empresa, quando um
executivo falha, há tantos outros para remediar o problema. A
solidão do executivo e do empresário é a mesma, só que o
empresário carrega a falta de profissionalização ao ter como
sócios familiares e amigos sem competência para os negócios.
B & S Como colocar o tempo a nosso favor? Falta tempo
ou falta administração do tempo?
C i o c i o r o w s k i Falta administração do tempo. A única ma-
neira de melhorar a forma como lidamos com o tempo é pla-
nejando. Tempo é um recurso escasso e também inelástico,
ou seja, não é possível ampliá-lo. Eu sempre digo que Deus
foi democrático, ele nos deu 24 horas e falou “sejam felizes”.
Quando se fala em administração do tempo, retomamos a ques-
tão dos valores. Isso passa, primeiramente, por aquilo que é
importante na vida, ou seja, é uma questão de avaliar as esco-
lhas, também no ambiente profissional. Percebe-se claramen-
te que as pessoas têm forte tendência a desperdiçar tempo
com situações sem muita importância. Nós precisamos valo-
rar. E mais do que nunca é preciso pensar em longo prazo.
B & S Em geral, executivos veem o coach como a oportu-
nidade de colocar a vida em ordem; os empresários já
encaram a prática como uma interferência na sua admi-
nistração. Qual o motivo da resistência?
C i o c i o r o w s k i Eles veem a empresa como um filho e resis-
tem a qualquer mudança que altere o perfil da gestão. O em-
presário coloca muito das suas emoções no processo de ad-
ministração. E quando for preciso interferir
em alguns procedimentos, como redução de
custos ou mudança de comportamento, vai
haver uma resistência não apenas ao coach, mas
a qualquer processo de consultoria. Os em-
presários se sentem incomodados, não lidam
com o fato de a instituição viver depois dele.
Na verdade, a gente só busca mudanças se o
nosso inconsciente perceber que haverá
ganhos efetivos.
B & S Existe receita da felicidade profissio-
nal para empresários?
C i o c i o r o w s k i Não existe milagre ou receita
pronta, cada um tem que buscar a sua, basean-
do-se na busca de seus valores profundos e do
propósito naquilo que faz, sempre procuran-
do exercer seus pontos fortes e seus talentos.
“As cobranças sempre vão existir e ninguém vai
impor os nossos limites no nosso lugar. A gente
tem que se colocar.”
RESTAURANTESN
úm
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24 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Em um país onde
14 milhões de
pessoas não têm o
que comer, 40%
do resultado das
lavouras vai para o
lixo. Inclusive os
alimentos que
sobram em
restaurantes.
Combater o
desperdício é um
problema de todos
destinoão 12 horas, o restaurante está lotado.
A fila ao redor do buffet é grande e cres-
ce a cada minuto. A cozinheira confere
se está tudo certo. Três horas depois, os gar-
çons atendem os poucos clientes que resta-
ram com tratamento especial. A comida per-
manece lá, sob os cuidados atentos da equi-
pe, que começa a lamentar a visível sobra do
dia. O futuro daqueles alimentos preparados
com tanto apreço e dedicação é o mais ingra-
to possível: o lixo. Cacildo Vivian, presidente
do Sindicato de Hotelaria e Gastronomia de
Porto Alegre (SindPoa), explica que o desper-
dício de alimentos é uma das principais preo-
cupações dos empresários da gastronomia.
S“Eliminar o problema é impossível. Todos os esforços se
concentram em minimizá-lo.”
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE), 58 milhões de brasileiros vivem
em situação de insegurança alimentar e 14 milhões não têm
o que comer. Por outro lado, segundo a Fundação Getulio
Vargas, 26 milhões de toneladas de alimentos vão para o
lixo diariamente, ou seja, 40% de tudo que é produzido no
país vão parar no aterro sanitário.
Causas e efeitosVivian acredita que as causas para tanto desperdício são
inúmeras, mas entre as mais frequentes estão o condicio-
namento da mercadoria, preparo dos alimentos, erro na
estimativa de utilização. Além disso, existem todas as ra-
Comida sem
Lúc
ia S
imon
25FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Núm
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RESTAURANTES
zões externas, como estradas e o clima. “ É nos processos
internos que ocorre o maior desperdício. A única solução
para isso é o treinamento da equipe.” Há também, lem-
bra o presidente do SindPoa, o retorno em prato, que é
“questão de educação”. Na China, os restaurantes estão
multando clientes que deixam comida no prato. Nos
buffets, segundo o sindicato, 15% da produção vai fora.
Em locais onde a comida é servida de forma à la carte,
uma das alternativas apresentadas é o meio prato. Vivian
acrescenta que há a opção de um prato e meio para duas
pessoas. Para os buffets, o presidente do SindPoa – que
possui experiência com o formato – aconselha que a ex-
pectativa de público seja subestimada e que se tenha sem-
pre um plano B caso o local encha. “Cada estabelecimen-
to deve estudar a melhor sistemática e adequá-la ao seu
público de interesse.”
Na hora de avaliar o quanto deve ser servido, o admi-
nistrador deve construir estimativa com base em uma sé-
rie de variáveis, como dia da semana, condição climática,
a existência de algum evento próximo ao estabelecimen-
to e público.
Barreiras regulatóriasConforme a legislação vigente no país, a pessoa física
ou jurídica que doa alimentos é responsável pelo produto.
Ou seja, caso o beneficiado com a comida passe mal, quem
doou terá que arcar com a responsabilidade, inclusive em caso
de morte, podendo responder a processo por homicídio.
“Eu assumo a responsabilidade pela comida que está
em meu restaurante. Depois que ela passa pela porta não
posso mais garantir que está boa”, exclama Vivian. Por isso,
pouquíssimos são os estabelecimentos que assumem o ris-
co pelo bem do próximo.
A legislação é negativa por dificultar a doação de ali-
mentos; por outro lado, essa mesma lei garante que pes-
soas mal-intencionadas não utilizem a população carente
para dar fim àquilo que não querem mais. “O resto é um
estorvo para o empresário.” A solução, na opinião do Sin-
dPoa, é uma estrutura administrada pelo governo federal
ou estadual que busque os alimentos e os distribua entre a
população carente. “O dono de um restaurante não tem
como arcar com tamanha responsabilidade”, alega Vivian.
Por meio do programa Fome Zero, do go-
verno federal, a legislação passou a ser discuti-
da e questionada. Inclusive, tramita na Câma-
ra, desde 2003, um projeto de lei que promete
desonerar o empresário.
Alternativas viáveisA experiência do presidente do SindPoa
aponta a doação da comida para criatórios de
animais conveniados à prefeitura municipal.
“Essa é a solução mais em conta. O empreen-
dedor paga uma taxa mensal para a retirada de
resíduos sólidos e orgânicos, que são recozidos
e dados para animais.” Há, ainda, a produção
de húmus. A dica de Vivian é que o empresário
siga à risca a legislação e esteja sempre pesqui-
sando alternativas mais adequadas ao seu negó-
cio. Investir na qualificação da equipe e na edu-
cação dos clientes são outras táticas infalíveis.
Diariamente, 26 milhões de toneladas de
alimentos vão para o lixo
Do campo até a despensa do brasileiro, 30%dos grãos são perdidos
Neste mesmo percurso, 35% da frutas ficam
nas estradas ou apodrecem em caixas
50% das hortaliças não chegam ao seu destino
No total, 40% de tudo que é produzido no
país vão parar no aterro sanitário
58 milhões de brasileiros vivem em
situação de insegurança alimentar
14 milhões não sabem qual será a
próxima refeição
Direto para o lixoO Brasil é conhecido mundialmente
por sua enorme capacidade de produzir
alimentos. Entretanto, uma percenta-
gem significativa do seu potencial
econômico é desperdiçada.
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27FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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Minha marcasou eu
ão, não se trata apenas de conseguir
emprego. Nem só de fechar contratos.
Também não é reserva para executivos,
nem para funcionários. O sucesso nos
negócios e na vida pessoal depende da
forma como nos relacionamos com o
mundo. A literatura já nos deu as pistas:
em Por quem os sinos dobram, Ernest He-
mingway parafraseou o poeta inglês John
Donne, afirmando que “nenhum homem é uma ilha, sozi-
nho em si mesmo; cada homem é parte do continente,
parte do todo”.
Educação, elegância, distinção e uma boa dose de so-
ciabilidade ajudam qualquer pessoa a integrar territórios.
O que e quem você conhece faz toda a diferença nas suas
decisões, ações e opiniões. Esse conjunto constrói a sua
fama e com ela você abre ou fecha portas,
atrai ou afasta pessoas, trabalhos e oportu-
nidades. Uma lei natural às vezes relegada
ao esquecimento, mas que invariavelmente
cobra sua pena. Exemplos não faltam. Sua
empresa já foi preterida por outra que co-
bra preços maiores? Alguém com menos
qualificação formal já ocupou uma vaga que
você almejava? Em geral, tais situações são
vistas de forma sarcástica, alegando-se “apa-
drinhamento”. Mas essa não é necessariamen-
te a resposta certa. Talvez seja preciso pensar
qual imagem você está oferecendo ao setor
em que atua.
Pode parecer fútil que uma barba malfeita
ou um sapato desgastado superem um currí-
NPor Leandro Melo
As relações pessoais influenciam diretamente o
desempenho individual e também o ambiente
social. Postura, visão e bons contatos, tanto
quanto cursos e experiências, compõem o mix
de atributos necessários para o êxito de uma
trajetória profissional e empresarial
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28 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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culo de valor. Ou que a timidez de um empresário o leve
a perder um cliente potencial, mesmo que a tarefa não
exija desenvoltura. É preciso lembrar, no entanto, que
nós também julgamos os demais pela impressão que nos
transmitem e que, na maior parte das situações que viven-
ciamos, quem toma as decisões são as pessoas, não os
papéis ou computadores. Rótulos não são agradáveis, mas
são inevitáveis. Se alguém com piercings, roupas desali-
nhadas e muitas gírias no vocabulário lhe atende em uma
farmácia, certamente vai provocar estranhamento. Esse
vendedor, em uma loja de CDs, pode conquistar a simpa-
tia da clientela. Mesmo vivenciando uma época de rom-
pimento de alguns paradigmas, é preciso ter em mente o
que nosso público-alvo espera de nós em determinadas
situações – e que imagem queremos oferecer.
O fato é que tudo o que precisamos está nas outras
pessoas e em como elas nos veem, afirma José Augusto
Minarelli, presidente da Lens & Minarelli Associados –
Consultoria de Outplacement e Aconselhamento de Car-
reira de Executivos. Sob essa perspectiva, formando uma
boa base de conhecimento, uma imagem positiva, e co-
nhecendo muita gente, temos à nossa disposição um vas-
to universo de informações e oportunidades. Atitude tal-
vez seja o mais importante. “Isso gera um capital social, o
que em certas situações vale mais que dinheiro. Já tentou
trocar dinheiro por boa vontade? Não é possível. Mas se
em algum momento você ajudou uma pessoa, é certo que
poderá contar com ela”, lembra Minarelli.
Quem se destaca, geralmente, é aquele que se mostra
adequado ao ambiente, é educado, está sempre disposto
a resolver problemas, ou conhece quem pode fazê-lo.
São pessoas com boa instrução e que sabem e gostam de
tirar proveito de suas experiências pessoais. Com o tem-
po, esses indivíduos aprendem a aplicar esse dom em
benefício próprio e começam a galgar posições na escala-
da empresarial.
A construção desse bem imaterial supera a simples
obtenção de negócios ou vagas de trabalho. Imagine a
situação de buscar uma linha de crédito junto a um banco
para o seu empreendimento. A documentação necessá-
ria, um sólido plano de negócios e a saúde fiscal da em-
presa são requisitos de sua única responsabilidade – neles
Conteúdo é fundamentalNenhuma imagem se sustenta
se não estiver estruturada sobre
um caráter verdadeiro. E
conteúdo, nesse caso, não se
restringe a currículo: gentileza,
honestidade, real interesse
sobre o outro e retidão são
posturas que devem ser
cultivadas em todas as esferas
de relacionamento.
Dica: Dedique aos outras a atenção que você gostaria de receber. Seja transparente.
Bem-vindo à redeA sociologia nos fornece a teoria dos vínculos fortes e fracos.
Os primeiros são familiares e amigos próximos. A medida
que alcançamos outras esferas – amigos dos amigos, colegas,
conhecidos eventuais –, os vínculos tornam-se mais fracos.
No entanto, são esses
elos frouxos que
trazem oportunidades
e informações novas.
Preserve-os e tente
aproximá-los de você.
Dica: Mantenha contato
com o seu grupo sempre que
possível e for oportuno.
Falando bemFalar e expressar-se de maneira clara atrai
a atenção. O consultor Marcelo
Miyashita afirma ser tão importante
quanto o conteúdo da conversa a forma
como se fala. E mais importante ainda:
ser um bom ouvinte, para estabelecer
empatia e conhecer realmente seu interlocutor.
Dica: Concentre seu discurso em como você pode contribuir com a outra pessoa.
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29FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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não se pode errar, poucos irão fazê-lo. Uma vez que as
regras do jogo são únicas, resta usar do bom relaciona-
mento com o gerente do banco ou com pessoas que
tenham influência sobre a instituição financiadora para
facilitar o processo. Nessa hora, a segurança que você
transmite, as pesssoas que podem referenciá-lo e seu his-
tórico de bom pagador são fundamentais. Todos esses
quesitos remetem à sua postura e aos seus relacionamen-
tos – não apenas a documentos recheados de números.
Você constrói sua famaO networking, quando não confundido com oportu-
nismo, começa a mostrar seu real valor nesse período de
economia voraz e horas escassas. As qualidades de uma
ampla e bem construída rede de contatos são basicamente
a troca de informações e gentilezas, o comprometimento
dos envolvidos e acima de tudo a transparência. Quem
estiver fora desse jogo perderá muitos pontos na carreira.
Uma vez que é você o seu principal produto, fazer
networking é antes de tudo uma mudança de comporta-
mento. Seu networking deve ser um grupo de pessoas que
estão dispostas a ajudá-lo ou confraternizar com você, da
mesma forma que você com elas.
O que hoje utilizamos como ferramenta do mundo
corporativo, no passado se chamava vizinhança. Quando
se buscava uma informação, um sócio ou um funcionário
se recorria aos amigos, aos frequentadores do clube ou da
igreja – pessoas nas quais confiávamos. O que hoje cha-
mamos de networking é um resgate desse tipo de parceria.
O exemplo vale para lembrar que o ideal é conversar, co-
nhecer bem as pessoas, seus interesses, gostos pessoais,
anseios e demonstrar interesse genuíno. “Simbolicamente,
nossa imagem e comportamento ficam na memória e no
coração de quem se relaciona conosco, desde a infância.
Na memória ficam os dados objetivos e no coração os
subjetivos”, explica José Augusto Minarelli.
Dessa forma, se você procura por um engenheiro, ou
um vendedor, a pessoa que o está ajudando certamente vai
pensar em uma série de profissionais capacitados e experi-
entes. Vai contrabalançar, porém, com o que lembra sobre
as atitudes e comportamentos desse indivíduo, fornecen-
do o denominador comum dessa equação. Respeito, co-
Obrigado, LeeO cientista britânico Timothy Berners-Lee inventou a
internet como a conhecemos hoje e graças a sua criação
podemos encontrar mais facilmente pessoas e informações
de que precisamos. A ideia de conexão em rede encurtou
distâncias e criou novos espaços de relacionamento, como
as redes sociais e conversação por chat ou mensagens de
correio eletrônico.
Dica: Inscreva-se em redes sociais de áreas do seu interesse ou ligadas
ao seu ramo de negócio para trocar experiências.
Com que roupa?A primeira impressão é
a que fica. No caso do
vestuário mais
apropriado para cada
ocasião ou encontro,
vale a regra da
adequação ao
ambiente. Em um
evento, onde você será
apresentado a pessoas
que talvez não volte a
encontrar, é melhor
causar a impressão correta, pois esse será o seu único
registro visual por um bom tempo.
Dica: Vista-se de forma a estar alinhado com sua maneira
de agir e pensar e preparado para participar de um almoço com clientes
ou um evento social.
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30 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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nhecimento acerca do outro e reciprocidade são algumas
das regras para que esse tipo de relação se estabeleça. As-
sim a impressão será sempre positiva.
O consultor Marcelo Miyashita, da Miyashita Consul-
ting, e professor de networking, trata essa “impressão” de
fama. Basta perceber que não são a televisão, o noticiário
ou a publicidade os únicos responsáveis pela projeção de
um indivíduo. A fama só acontece pelo reconhecimento,
notoriedade de seus atores por parte de um grupo. Se seus
colegas o consideram mestre em estratégia comercial ou é
a você que perguntam as melhores dicas para o final de
semana, isso se deve a uma fama criada pouco a pouco
sobre a sua imagem. “Há pessoas com índole mais sociá-
vel. Naturalmente encantam, tem bons valores e bom cará-
ter. Outras desenvolvem essas características durante a vida.
Mas não se trabalha a imagem pela imagem. É uma cami-
nhada do desenvolvimento humano”, salienta Miyashita. A
ressalva vale especialmente porque a internet e os forma-
tos de comunicação em tempo real transformam fama em
armadilha. Não importa se é construída sobre bons ou maus
predicados, vai para o mercado, não fica mais restrita à
empresa. Lembre-se de que educação e elegância no trato
com as pessoas serão sempre bem recebidos.
A opinião alheia, requisitada ou não, nos auxilia a tomar
decisões, pois compõe o grupo de informações de que
dispomos para agir. Aí entram no jogo personagens já de-
senhadas pelo jornalista Malcolm Gladwell no livro O ponto
de desequilíbrio: os disseminadores de ideias. Essas pessoas
apresentam características básicas. Podem ser “conecto-
res” – por meio dos contatos e relacionamentos que man-
têm, ligam pessoas, seja para o jogo de futebol na quarta-
feira, apoio ao chá beneficente ou mesmo uma sociedade
empresarial. Há também os “especialistas”, com marca
pessoal bastante forte e arraigada aos seus conhecimentos,
tornando-se referência no grupo. E os “comunicadores”,
interlocutores que buscam a participação ativa no círculo
de relacionamentos, interagindo e mantendo contato cons-
tante com as pessoas. Não necessariamente apenas um perfil
estará presente em cada pessoa. Eles podem aparecer con-
juntamente, ou alternar-se de acordo com a situação.
Hoje não há emprego para todos, acredita José Augus-
to Minarelli. Mas basta procurar um pouquinho, entre as
Mais de mil cartões!De nada adianta guardar
os contatos na gaveta
sem saber quem são as
pessoas, o que fazem
ou por que estão lá. É
fundamental colocar
tudo em ordem, seja
em um editor de
planilhas ou em
softwares específicos
para organização de
contatos e agenda. Se
pretende guardar os
cartões, anote suas
impressões sobre a
pessoa, data, ocasião e local em que se deu o encontro.
Dica: Identifique cada um desses contatos e agrupe-os por
áreas de interesse: emprego, lazer, cultura, entre outros. Assim será
mais fácil acessá-los.
Por_favor@obrigadoEspecialmente no que diz respeito ao correio eletrônico,
tornou-se fundamental seguir algumas regras básicas de
etiqueta – nesse caso, a netiqueta. Evite enviar mensagens
com texto em maiúsculas ou grifadas em demasia. Essa
prática pode ser entendida como um “grito” ou tentativa de
chamar atenção com exagero. Textos curtos e objetivos,
com as informações indispensáveis, ajudam o conteúdo a
ser mais bem
compreendido e
aceito, entre
centenas de
mensagens diárias.
Dica: Escreva e
trate todos como você
gostaria de ser
tratado. Aliás, isso
vale para tudo.
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31FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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pessoas de seu convívio pessoal, e um empregador poten-
cial vai surgir. Segundo o consultor, 80% das vagas são pre-
enchidas por indicação, um mercado invisível de empre-
gos. “Quem não fala com quem decide se submete às
pequenas autoridades. O tempo é um capital precioso para
os líderes, executivos de empresas, mas se a solicitação
vem por um amigo, eles sempre conseguem um espaço na
agenda”, garante.
Eu conheço alguémA experiência do empresário Renato Grinberg, dire-
tor-geral da Trabalhando.com.br e especialista em mercado de
trabalho, confirma a assertiva de Minarelli sobre a impor-
tância de conhecer quem decide. Atualmente à frente da
operação brasileira da holding chilena de portais de em-
prego Trabajando.com, Grinberg tem no histórico uma
bem-sucedida passagem pelas empresas Sony Pictures e
Warner Bros., em Los Angeles: “Fiquei oito anos nos Esta-
dos Unidos, enquanto cursava MBA. Os contatos que pre-
servei foram úteis quando chegou a hora de buscar uma
colocação. Um de meus conhecidos trabalhava na Sony;
quando solicitei, me indicou para uma vaga. Pelas vias tra-
dicionais talvez eu nunca soubesse dessa oportunidade”.
O executivo ressalta que é preciso sair da zona de confor-
to. Contatar pessoas, entrosar-se, aprender sobre nossos
assuntos, tudo isso é necessário e fundamental para am-
pliar e qualificar a rede de relacionamentos.
Qualificação é, aliás, um dos ganhos que se tem com a
participação ativa em grupos e com a troca de informa-
ções. A Trabajando.com é apontada pelo Instituto Empre-
ender Endeavor como uma das cinco empresas com maior
projeção do mundo e, por isso, passou a integrar o World
Class Company. Assim, os criadores da empresa vão aos
Estados Unidos a cada dois meses para debater estratégias
com gurus da economia e de grandes corporações. Quer
melhor networking do que esse?
Claro que é uma longa caminhada até esse patamar,
mas pode começar hoje mesmo. De contato em contato,
uma rede se forma e novas oportunidades começam a sur-
gir. Imaginando que os sinos de Hemingway avisam sobre
um bom negócio, quando eles dobram por alguém da sua
rede de contatos, eles também dobram por você.
Você conhece um interesseiro?É fácil reconhecer quando alguém busca tirar proveito das
situações, usando de subterfúgios pouco agradáveis para ter
contato com pessoas ou conseguir favores. Foi por esse tipo
de atitude que o termo networking adquiriu, para algumas
pessoas, sentido de oportunismo. Seja verdadeiro.
Dica: Aja positivamente sem buscar algo em troca. Muitas vezes, o
benefício vem justamente de onde menos se espera.
Eu sou mais euLimpeza e zelo
demonstram,
mais que
preciosismo, o
quanto você
gosta e cuida de
você mesmo.
Uma roupa cara
perde a classe se
estiver muito amarrotada; e se o local de trabalho é um
escritório, ninguém vai deixar de notar unhas sempre sujas.
São cuidados simples, não dependem de recursos
financeiros, apenas de asseio pessoal.
Dica: Não tenha vergonha de usar o espelho em casa, no trabalho ou em
um evento. Preste atenção aos detalhes.
32 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
SA IBA MA ISN
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e m t e m p o
AMarcando presença no mercado
o completar 200 anos de vigência
no país, a propriedade intelectual
ainda é pouco utilizada pelos brasileiros.
A proposta surgiu na Inglaterra, em 1709,
através do Statute of Anne, que estabelecia
a conceituação e proteção legal para as
criações. O objetivo era incentivar as
inovações que tinham valor comercial.
Por aqui, o propósito é garantir aos in-
ventores, responsáveis por qualquer tipo
de produção intelectual, o direito de re-
compensa sobre a criação. Para a Orga-
nização Mundial de Propriedade Intelec-
tual (OMPI), são consideradas proprie-
dades intelectuais as invenções, obras li-
terárias e artísticas, símbolos, nomes,
imagens, desenhos e modelos utilizados
pelo comércio ou indústria. Devido à
importância do tema para o desenvolvi-
mento das empresas, foi realizado em
Brasília, no final de abril, o “Seminário
Internacional: 200 anos de Propriedade
Intelectual no Brasil”. Entre os tópicos
debatidos estavam o papel da proprie-
dade intelectual sob a ótica judiciária, o
impacto das marcas na estratégia empre-
sarial e o direito de concorrência.
Alternativa ambiental A busca por opções
mais viáveis para o meio ambiente resultou
em um novo formato de “boy”. Agora
quem precisar enviar ou receber pacotes
pode contar com o serviço de bike-entrega,
já disponível também em Porto Alegre.
Utilizada em grandes cidades como
Londres, Nova York, São Paulo e Rio de
Janeiro, a alternativa pode ser ainda mais ágil
que os motoboys e conta, em média, com os
mesmos preços. A única preocupação que
fica é a segurança dos ciclistas-entregadores
nas movimentadas ruas das capitais.
Diversidade A variedade de personalidades e opiniões pode
ser um dos maiores valores de uma organização se
trabalhada de forma correta. Para o professor da Brazilian
Business School, Marcelo Mariaca, a convivência de
talentos diversos contribui para aumentar a criatividade,
melhorar a qualidade do ambiente interno, humanizar as
relações e ampliar a massa de conhecimentos e
experiências da empresa. Mas trabalhar com a diversidade
não é tarefa fácil e exige esforço extra do gestor. Mariaca
aconselha que, para integrar todos esses talentos, a
empresa precisa adotar uma política e incentivar práticas
que favoreçam a integração e a colaboração, sem, contudo,
sacrificar – pelo contrário, deve-se valorizar – as
características individuais.
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Mais informações na edição 42 da B&S
SA IBA MA IS
33FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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Um livro que li recentemente foi
A boa vida segundo Hemingway. É uma
compilação de fotos, frases e
aforismos de Hemingway coletadas
por um de seus melhores amigos.
Por ele ser um dos meus autores
favoritos e ter essa característica
de bon vivant (o que em muito
marca o meu personagem Radicci),
foi muito legal conhecer um pouco
sobre a vida fantástica que ele teve,
cheia de viagens, fatos e aconteci-
mentos extraordinários. Vale a
pena, e a edição está muito
caprichada!
Carlos Enrique Iotti
Jornalista e chargista
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Experiência Desde setembro do ano passado, a crise econômica faz parte
do cotidiano de todos, seja direta ou indiretamente. Dizem os especialistas
que a experiência é a melhor arma para combater qualquer problema.
Nesse sentido, o que você aprendeu até agora? Para aproveitar todo o
aprendizado e sair por cima, siga as dicas a seguir:
Cautela deve ser a palavra de ordem
Mantenha a comunicação entre as prioridades
Pondere gastos e evite endividamentos
Reavalie projetos e siga em frente
Prepare-se para as alterações que devem ocorrer com o fim da crise
Reunião Pesquisa desen-
volvida pela Doodle,
empresa fornecedora de
ferramenta on-line de
agendamento, apontou
que executivos de países
europeus e dos Estados
Unidos gastam, em
média, 4,9 horas para
organizar sete reuniões
por semana. De acordo com o estudo, na hora de organizar os encontros, o e-
mail é a primeira opção dos executivos, com 34%, enquanto os profissionais
administrativos o utilizam em 30% das situações. Foram entrevistadas 2.500
pessoas do Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha e países nórdicos.
Mic
helle
Ho/
Sto
ck.x
chng
Segurança virtual De acordo com estudo desenvolvido pela Associação Brasileira de Auditores de Sistema, cerca de US$ 2 bilhões
são perdidos em documentos anualmente pelas empresas brasileiras. Uma das causas para tal prejuízo é o uso indevido dos
sistemas de informações. Para a NetSafe Corp, especializada em soluções de segurança em TI, são oito os erros mais comuns:
Acesso a Wi-Fi público
Cópia ou transferência de dados para dispositivos móveis
Envio de dados para endereço pessoal
Clicar em links desconhecidos
Pagamento de contas em bancos ou lojas virtuais
Administração de senhas de forma incorreta
Uso de computadores públicos
Utilização de aplicativos bloqueados
Rol
ve/S
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ARGENT INAN
úm
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34 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
O terreno arenoso
por baixo do
comércio
internacional faz
com que novas
dificuldades surjam
diariamente. Hoje,
os holofotes miram
a relação entre Brasil
e Argentina
mercadosDisputando
velha rivalidade entre Brasil e Argenti-
na não é exclusividade dos gramados:
brasileiros e argentinos discordam tam-
bém quando o assunto é comércio interna-
cional. Recentemente, o desacordo foi tema
de grande atenção por parte da imprensa na-
cional. A razão para tanta importância são as
barreiras comerciais impostas pelo outro lado
da fronteira. A atitude adotada pela presi-
dente argentina tem sido chamada de prote-
cionista; em contrapartida, Cristina Kirchner
lembra que o Brasil também tem ações do
mesmo formato.
Cristina, que esteve no Brasil em pleno
turbilhão de reclamações por parte da indús-
Atria e do comércio nacionais, declarou à mídia que a razão
para tais medidas é o déficit argentino de US$ 4 bilhões
no comércio bilateral no ano passado. Em entrevista co-
letiva, a argentina declarou: “Uma licença não automática
pode parecer uma medida protecionista em matéria co-
mercial. Então poderíamos verificar que há medidas pro-
tecionistas de um lado e de outro. Talvez umas sejam
menos perceptíveis que outras, mas existem em matéria
fiscal, de financiamento e monetária”.
O diretor do Conselho de Comércio Exterior da Fe-
comércio-RS, Arno Gleisner, acredita que a decisão deve
prejudicar a economia do vizinho. “Estas divergências
comerciais decorrem do porte e do desequilíbrio nas con-
tas bilaterais.” Para Jorge Moacir Flores, gestor de negó-
cios da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, a utiliza-
Lúci
a S
imon
35FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
ARGENT INA
Núm
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Mai
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009
ção de licenças não automáticas na exportação para a Ar-
gentina não é barreira, e sim políticas de atuação. “Todo
país tem políticas industriais e comerciais que visam à pro-
teção do mercado interno.”
Negócios à parteToda essa discussão entre os dois países levanta uma
questão: e o Mercosul? O Tratado de Assunção, assinado
em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, pos-
teriormente, Venezuela (ainda em fase de negociação),
determinou a criação de mercado comum entre estas na-
ções, o Mercosul. De acordo com o tratado, “em matéria
de impostos, taxas e outros gravames internos, os produ-
tos originários do território de um Estado Parte gozarão,
nos outros Estados Partes, do mesmo tratamento que se
aplique ao produto nacional”.
Jorge Flores acredita que o Mercosul é algo a ser rea-
lizado ainda. “Não é como o Mercado Comum Europeu,
onde tudo é facilitado entre os signatários.” Apesar de o
bloco ter se mostrado fraco, as regras apresentadas no
Tratado de Assunção nortearam a decisão do governo ar-
gentino. “Para não aumentar tarifas, se expandem as bar-
reiras burocráticas. Assim a lentidão adia a entrada de
novos players.”
Ao mesmo tempo em que impede o crescimento das
empresas daqui, protege os empreendimentos de lá. O
representante da Câmara Brasil-Argentina destaca que a
economia do país vizinho é infinitamente menor que a
brasileira e, por isso, mais frágil. Para evitar que o elefan-
te esmague a formiga são utilizadas artimanhas. Neste
caso, destaca Gleisner, o comércio de bens no mercado
interno não é atingido; o comércio exportador, que é
pequeno, sim; os serviços ao comércio exterior são parti-
cularmente afetados.
Briga de cachorro grandeProtecionismo é uma das expressões mais temidas e
ao mesmo tempo mais usadas no comércio internacional.
Mas, apesar do nome, medidas que têm por objetivo pro-
teger a economia de determinado país podem acabar pre-
judicando este mesmo mercado. Conforme Flores, os
governos pensam no curtíssimo prazo, somente no pri-
meiro momento das relações comerciais glo-
bais. “O protecionismo indefinido é o pro-
blema. Prejudica por ser irracional.” Nesta li-
nha, um país deve se proteger quando houver
um perigo eminente, mas não pode manter-
se assim por muito tempo. É uma situação
temporária. “A função das barreiras é suprir a
economia nacional, evitar o desabastecimen-
to e preservar o emprego”, explica o gestor
de negócios da Câmara Brasil-Argentina.
Um exemplo de proteção às avessas se deu
no setor automobilístico brasileiro há pouco
mais de uma década. Enquanto os modelos
mais atualizados tinham sua entrada no país
dificultada ou proibida, os produzidos aqui
enfrentavam um verdadeiro processo de su-
cateamento. “A concorrência externa gera o
aprimoramento dos produtos e serviços, en-
quanto o oposto trava a economia.” De outro
lado, as nações vítimas dessas medidas, como
agora o Brasil em relação ao país vizinho, re-
clamam da falta de liberdade para atuar.
O volume de exportação fica limitado ao ta-
manho da barreira, o que prejudica também o
crescimento das empresas nacionais.
Hecho em BrasilA Argentina é o destino de:
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior
Itens da indústria metal-mecânica
(como tubos de ferro, aço)
Automóveis
Autopeças
Tratores
Linha branca (como geladeira,
fogão, lavadora)
Calçados
Chocolates
Plásticos
Papéis
Inseticidas
Carnes
Equipamentos para agricultura
Produtos de higiene
Café
Algodão
Cobre
Lápis
Rolhas e tampas
Têxteis
Motocicletas
CON SUMON
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36 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Clube da
Luluzinha
Que são elas as
donas da decisão
de compra não há
dúvidas. Todos
sabem que elas
adoram passar o
cartão de crédito e
assinar cheques.
O questionamento
é como chegar
até elas.
Uma estratégia útil
é o bom e velho
Clube da
Luluzinha
ulher adora reunir as amigas para dar
uma fofocadinha básica. Atualizar as
informações sobre família, amigos,
moda, trabalho e cultura é um dos programas
prediletos do público feminino, e se esses en-
contros incluírem situações de consumo o
momento se torna perfeito para muitas delas.
Para Denise Gallo, sócia-diretora da Uma a
Uma Pesquisa e Estratégia, consultoria voltada
especificamente para o universo feminino, a
razão para a preferência se dá porque as mu-
lheres se interessam mais pelo contato inter-
Mpessoal, são bastante inclinadas às amizades e parcerias e,
em geral, conectam-se pelo sentimento de empatia.
Essa característica faz parte da vida feminina há sécu-
los. Ainda na Idade Média era comum que as mulheres da
corte se reunissem para olhar as últimas confecções; vesti-
dos e joias eram os itens prediletos da monarquia. Hoje
essa prática é conhecida por grande parte do público femi-
nino. Afinal, atire a primeira pedra aquela que nunca partici-
pou de uma reuniãozinha pra ver as semijoias que a amiga
vende ou, ainda, roupas, cosméticos, itens de utilidade do-
méstica. Aliás, a variedade de produtos é proporcional à
diversidade de personalidades.
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A procura por este tipo de consumo é tão significativa
que hoje existem empresas focadas nos encontros de ne-
gócios, como é o caso da Avon. Luciano Linardi, diretor
de Desenvolvimento de Vendas da empresa, comenta que
o negócio aposta na venda direta e, por isso, o relaciona-
mento é fundamental. Seguindo esta linha, são promovi-
dos eventos com funcionários da empresa e revendedoras.
“São realizados 19 encontros em cada campanha de ven-
das. As gerentes de setor têm disponíveis materiais audio-
visuais que ajudam na ambientação do local, além, é claro,
de todo suporte de treinamento para que estejam prepara-
das e capacitadas para representar a companhia e oferecer
as informações necessárias para que as revendedoras te-
nham sucesso na sua atividade.”
Bem mais casuais são os encontros de negócios realiza-
dos pela família de Ana Paula Oliveira. Assistente da Secre-
taria de Justiça e Desenvolvimento Social do Estado no ho-
rário comercial e empreendedora durante as 24 horas do dia,
a gaúcha já vendeu de tudo. “Comecei a vender lanches na
faculdade, mas vi que não estava funcionando muito bem e
há dez anos optei pelos bombons.” Semanalmente ela e a
família do namorado realizam a Janta das Lulus.
Com o propósito de trocar experiências, conversar e
dividir novas ideias sobre vendas, as participantes expõem
seus produtos e acabam realizando compras e vendas ali
mesmo. “Todas vendem algo. Desde alimentos, chocola-
tes, joias, guardanapos, até produtos de limpeza.” Ana Pau-
la garante que o importante é ter itens para pronta-entrega
e, seguindo essa regra básica, os resultados tendem a ser
bastante positivos. “Gera renda a mais. Sem dúvida com-
pensa bastante”, comemora.
Tagarelas e flexíveisElas comunicam-se com muita facilidade e gostam de
trocar experiências, dar e pedir conselhos. No processo
de compra feminino, as opiniões de amigos e conhecidos
funcionam como um atalho, um facilitador da decisão.
“Esta prática é tão comum que, nos Estados Unidos, sur-
giu o termo croping, de credible opinion (opinião com credibi-
lidade), para designar o hábito feminino de recorrer a opi-
niões de terceiros como uma etapa no processo de deci-
são”, comenta Denise.
Neste sentido, reuniões femininas são am-
bientes propícios a estas manifestações. “É por
isso, também, que o boca a boca entre as mu-
lheres é tão intenso e que, cada vez mais, os
profissionais de marketing estão atentos às for-
mas de otimizá-lo em favor das marcas. As
pesquisas mostram que as mulheres dissemi-
nam mais informações, acreditam mais nos
dados obtidos através de recomendações e
têm maior inclinação para agir a partir daí.” Já
para o público masculino a tática não funciona
bem. Os homens são mais objetivos e prag-
máticos na hora da compra. Não buscam tan-
tos detalhes, valorizam a autonomia. “Costu-
ma-se dizer que o processo de compra mas-
culino se dá de forma linear, e o feminino, de
forma espiral”, explica Denise.
Nos encontros proporcionados pela Avon
são várias as vantagens. “Eles tornam o conta-
to com a empresa um momento muito agradá-
vel e informativo, porque visamos a melhorar
a sua lucratividade, a oportunidade de experi-
mentação dos cosméticos e a troca de experi-
ências. Além disto, nesses encontros elas tam-
bém têm acesso a informações sobre sua saú-
de e as causas que a empresa
abraça, como a prevenção do
câncer de mama e a questão
da violência doméstica”, co-
menta Linardi.
Conforme a consultora da
Uma a Uma, há muitas variá-
veis que irão interferir na quan-
tidade que se vai consumir.
“O que podemos dizer é que
a experiência de compra, in-
serida em um contexto de
opiniões confiáveis e favorá-
veis, de troca, empatia e so-
ciabilidade, pode ser um im-
portante impulso ao consu-
mo feminino.”
Vamos às compras?Vender para mulher parece fácil. E em
geral é. Mas elas costumam ter preferên-
cias por alguns tipos de produtos:
Lanches
Doces
Joias (bijuterias)
Artesanato
Itens de utilidade doméstica
Roupas
Cosméticos
Objetos de decoração
Sapatos
Bolsas (acessórios em geral)
COMPORTAMENTON
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38 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
O que fazer quando
falta cordaRecompensas e
prestígio nem
sempre garantem a
motivação dos
gestores na hora
de conduzir o
barco. O segredo é
conhecer e amar o
que se faz.
O resto é lucro!
os olhos da maioria dos mortais, espe-
cialmente dos que almejam abrir uma
empresa ou ascender à liderança, man-
ter distância do relógio-ponto e ter liberdade
de traçar o próprio caminho pode ser sinôni-
mo de eterna felicidade profissional. Quem já
possui a alcunha de chefe, porém, sabe que a
vida de gestor não é cor-de-rosa e, frente aos
entraves cotidianos, pode ser assombrada a
qualquer instante pelo fantasma da desmotiva-
ção. Executivo há 15 anos, o jornalista e pro-
prietário da Spicy Media, Adriano Silva, con-
fessa que a experiência de virar dono do pró-
prio nariz é, de fato, cheia de altos e baixos. “É
Aum teste frequente de autoconfiança, perseverança e capa-
cidade de lidar bem com a pressão e a ansiedade”, avisa.
Experiente em educação relacionada a gestores, o eco-
nomista Roberto Tranjan, autor do livro Pegadas — como
atravessar os sete mercados e alcançar prosperidade nos negócios e na
vida, afirma que é comum encontrar executivos desmoti-
vados, um perigo latente para a saúde pessoal e dos negó-
cios. “Um gestor é sempre referência para sua equipe.
Quando está desmotivado, isso contagia todos ao seu re-
dor, afetando o desempenho e os resultados.”
No longo prazo, as consequências da falta de motiva-
ção podem ser devastadoras. Carente de estímulo, a ten-
dência é que o gestor passe a só ver pontos negativos na
empresa e nas pessoas, o que pode acarretar problemas
de relacionamento e perda do poder criativo. “A capaci-
dade de decisão é afetada, e decisões erradas causam efei-
tos negativos”, observa o coach e autor do livro Sucesso ou
Fracasso? 21 Leis do Poder, Daniel de Moraes.
Me dê motivo...Amplas responsabilidades, excesso de burocracias e
pouco tempo para o lazer e a família. Embora, à primeira
vista, esses possam ser fatores que induzam os executivos
à desmotivação, Tranjan ressalta que a maior vilã é a au-
sência de valores, propósito e significado no ambiente de
trabalho: “Esse é o grande mal que assola as empresas,
principalmente em tempos de crise, quando as atenções
se canalizam para a sobrevivência, custe o que custar”.
Cinco armas para combater a desmotivação
Fortalecer o autoconhecimento: identificar o que
realmente se quer e por quê
Adotar uma atitude positiva: crer que pode ser feito,
conquistado, acreditar no sucesso almejado
Livrar-se das desculpas: evitar o “eu não posso”,
“não tenho conhecimento”, “não tenho saúde”,
“não tenho inteligência”
Usar bem o tempo: definir metas e prioridades,
as ações importantes que nos levarão ao
nosso objetivo
Sempre lembrar que também há vida lá fora!
39FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
COMPORTAMENTO
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O economista aponta que os gestores candida-
tos a perder o ânimo são justamente aqueles que se
deixam seduzir por recompensas extrínsecas, como
bônus, prêmios ou extras financeiros e materiais:
“Não que isso não seja importante, mas não pode
exceder as recompensas intrínsecas, como o senso
de propósito e auto-realização”, lembra.
A escassez de motivação de gestores também
pode ter outras várias origens. Falta de reconheci-
mento por parte de superiores, resultados negati-
vos, mudanças bruscas no mercado e falta de plano
de carreira que permita crescimento profissional e
pessoal são alguns exemplos. Para Moraes, entre os
fatores mais sérios está a falta de compreensão por
parte do executivo do valor de sua atividade. Con-
forme ele, a desmotivação surge quando não há cla-
reza a respeito das finalidades pessoais e profissio-
nais que movem o gestor.
É solução pra mim...Para resolver – ou ao menos minimizar – proble-
mas de desmotivação em seu quadro, algumas em-
presas têm adotado a figura do coach. Praticamente
um consultor, o coach atua como “porto seguro” de
gestores que buscam conselhos e indicações para de-
senvolver suas competências. Conhecedor da tarefa,
Moraes explica que a ideia é efetuar mudanças: “A
base das sessões são perguntas. O coach é um pergun-
tador com objetivo de gerar ações. Mas, ao contrário
de terapias, ele centra-se no presente e no futuro”.
Nessa jornada pela busca de soluções, um dos
questionamentos é a crença de que a motivação
tenha relação direta com o lucro, o que, segundo Tranjan,
é um grande erro por parte dos executivos. “A desmoti-
vação está na perda de significado, não de dinheiro”, ad-
verte. Moraes também defende que a inércia tem mais
vínculos com a falta de realização do que de cifras: “Pas-
samos grande parte de nossa vida trabalhando e outra pen-
sando no trabalho. Se não temos amor pelo que fazemos,
o resultado é a desmotivação”.
Para Adriano Silva, a solução também desemboca no
amor pela atividade: “O fundamental é buscar fazer algo
de que você gosta, que considera fazer bem e
que os outros reconhecem como uma com-
petência central sua”. O jornalista destaca
ainda que é importante o gestor ter consciên-
cia de que cada dia é um dia, que nos negóci-
os não há nada definido, portanto viver o pre-
sente é fundamental. “Projetar o futuro e re-
mexer no passado são exercícios importantes.
Mas é essencial manter a cabeça no presente.
É no presente que a vida acontece.”
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VENDASN
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40 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
Andarilhocomercial
Ele sai de casa todas as manhãs com a tarefa de vender o
produto ou serviço da sua empresa; por isso a relação entre
empresário e representante comercial deve estar pautada na
amizade e na parceria inerentes a um trabalho em equipe
No tempo em que não havia internet nem telefone, e
em que para vencer as longas distâncias entre uma ci-
dade e outra eram precisos dias sobre um cavalo ou
carroça, ele era conhecido como caixeiro viajante. Passava
dias longe de casa e sua maleta estava sempre cheia de ob-
jetos que agradavam ao gosto do freguês. As facilidades de
comunicação oriundas da evolução do tempo, como o te-
lefone móvel ou até mesmo a criação do automóvel, foram
decisivas para agilizar o dia a dia destes vendedores andari-
lhos. A importância deles, entretanto, não mudou muito,
apenas se adaptou à nova dinâmica da economia mundial.
Se antes eles eram o único elo entre o cliente e a empresa,
hoje os representantes comerciais são ferramenta essencial
para vencer a concorrência.
Por conta dessa posição significativa, as ações de ven-
das executadas pelo representante comercial devem estar
inseridas no planejamento estratégico da empresa. “A rela-
ção entre o empresário e sua rede de representantes preci-
sa ser de amizade e parceria”, aconselha Wilson Mileris,
conferencista, treinador e consultor nas áreas de liderança,
motivação e vendas. A percepção de que o trabalho
conjunto dará certo deverá acontecer já na escolha do pro-
fis-sional; lembrando que ele irá não apenas vender o seu
produto, mas levar a imagem da sua empresa para o com-
prador em potencial. “Antes de selecionar, é interessante
traçar o perfil do cargo, ou seja, definir qual a formação
exigida, o nível de responsabilidade, as tarefas a serem de-
senvolvidas e todas as demais questões fundamentais no
momento de desenhar a vaga.”
Autônomo ou contratado?É também na hora de traçar o perfil do cargo que se
escolhe pelo representante autônomo ou contratado. An-
tes, é preciso saber quem são estes dois profissionais. Se-
Ste
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oods
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ck.x
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VENDAS
Perfil
Presidentes dos Sindicatos dos Representantes
Comerciais (Sirecom) do interior do Estado
traçam o perfil deste profissional
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gundo Mileris, o representante autôno-
mo tem como principal característica a
autogestão; por trabalhar por conta pró-
pria, o autônomo é um empreendedor
mais maduro. “Eles possuem um me-
lhor conhecimento de mercado e apre-
sentam um nível de resposta mais au-
tomático.” O profissional contratado,
para o empresário, oferece a vantagem
de um controle maior sobre suas ações.
“É possível impor regras mais rígidas.”
A grande diferença entre eles está
na exclusividade: “Enquanto o repre-
sentante autônomo trabalhará com
outras empresas, o contratado será ex-
clusivo, o que pode render estratégias
mais direcionadas e treinamentos mais
pontuais”. Para Mileris, a opção mais
saudável é ter os dois tipos de profissi-
onais; entretanto, o representante au-
tônomo é mais indicado para praças
pulverizadas, por oferecer um risco
menor; e nas grandes empresas, onde
há um movimento significativo de
compras, uma força própria é a alter-
nativa mais interessante.
Gerenciar e treinarAlinhar o representante comercial
às estratégias de atuação da empresa
exige empenho de ambos, com inves-
timento em treinamentos. “Neste mer-
cado é comum encontrarmos profissi-
onais autodidatas e que possuem um
conhecimento empírico; entretanto,
muitos deles só possuem o nivel mé-
dio e deixaram de se atualizar”, obser-
va o consultor. O ideal, segundo Mile-
ris, é promover a educação continua-
da, aumentando assim o poder de ne-
gociação, compreendendo um pouco
mais sobre estratégia e sobre ponto
de venda. “Para superar o pouco co-
nhecimento sobre essas questões, o
representante assedia muito mais o cli-
ente, uma prática que nem sempre é
bem vista, por isso é preciso possuir
esse saber específico da área.”
Os representantes estão a par da
importância desse conhecimento: “A fi-
gura do representante carregador de
pasta não existe mais, quanto maior o
grau de formação melhor o conheci-
mento de mercado; ele deve estar, no
mínimo, cursando uma faculdade”, des-
taca Valdir Applet, presidente do Sin-
dicato dos Representantes Comerciais
de (Sirecom) Lajeado. “É preciso olhar
para a profisão como uma oportuni-
dade de trabalho e não como um que-
bra-galho”, completa Airton Floriani,
presidente do Sirecom Erechim.
Fuja da informalidadeNão é difícil encontrar um relacio-
namento entre empresário e represen-
tante comercial regido pela informalida-
de, a fim de economizar impostos. En-
tretanto, Mileris adverte que essa práti-
ca pode ter efeito contrário, uma vez que
em caso de desentendimento o repre-
sentante possui amparo legal para en-
trar na Justiça contra o empresário com
igual direito de um profissional contra-
tado. “Em alguns casos, o prejuízo é
maior do que se o empresário tivesse
um representante com vínculo empre-
gatício. É fundamental preservar a rela-
ção e incluir no contrato um cláusula
de renúncia que não traga ônus exorbi-
tante”, adverte. Divergências à parte,
alinhando ética e responsabilidade a
produtos e serviços de qualidade, o su-
cesso dessa parceria é fórmula certa.
“O conhecimento de mercado é importante para
quem deseja obter sucesso na profissão.”
Darci Alves Pereira
Presidente do Sirecom Santa Maria
“Empreendedor e planejador são características
fundamentais em um representante comercial. ”
Maria Cecília Pozza
Presidente do Sirecom Caxias do Sul
“O representante tem que ter caráter,
honestidade e ética. Ser uma pessoa
equilibrada emocionalmente e ter em mente o
seu produto e não o do concorrente.”
Valdir Applet
Presidente do Sirecom Lajeado
Div
ulga
ção/
Sir
ecom
Laj
eado
“O representante comercial deve ser uma
pessoa idônea e ética, ciente das suas
obrigações com a categoria.”
Liones Bittencourt
Presidente do Sirecom Uruguaiana
“Boa apresentação e honestidade com os clientes
são questões importantes na profissão.”
Antônio Clóvis Kappaun
Presidente do Sirecom Vale do Rio Pardo
“A tarefa não é fácil, por isso persistência e
seriedade são fundamentais.”
Hildo Cossio
Presidente do Sirecom Pelotas
“Ele precisa estar atualizado em todos
os aspectos: informática, produto e
conhecimento de mercado.”
Elvio Ranzi
Presidente do Sirecom Bento Gonçalves
“A profissão exige automotivação,
caráter e comprometimento.”
Airton Floriani
Presidente do Sirecom Erechim
GASTRONOMIA
42 FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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alta apenas uma hora para o bar abrir.
As cadeiras ainda estão sobre a mesa,
as caixas de bebida ainda estão no sa-
lão. Sob o olhar atento do proprietário, os
funcionários se revezam na limpeza do local,
no preparo da comida, na lavagem de copos,
talheres, pratos e demais utensílios que com-
põem a rotina do Boteco Natalício. Entretan-
to, tudo está sobre controle, logo mais às 17h
as portas serão abertas para os fregueses habi-
Os efeitos daculinária
O cheirinho da comida no fogão pode despertar
muito mais do que o desejo de degustá-la. É fator
desencadeante de uma nova paixão. Não é à toa que
a cada dia cresce o número de pessoas que trocam
antigos empregos pelos prazeres da gastronomia
tuais que aproveitam o local para um happy hour ou sim-
plesmente para uma conversa fiada entre amigos. Próxi-
mo ao centro de Porto Alegre, o boteco é propriedade de
Eduardo Natalício, 28 anos, pernambucano. O jovem che-
gou em terras gaúchas há cerca de cinco anos e trouxe
consigo a experiência empresarial de quem já foi proprie-
tário de uma casa lotérica, lá no Recife, e o dom pela culi-
nária, herdado do pai, também cozinheiro.
A ideia inicial era continuar a venda de churrasqui-
nho, negócio que ele tinha no balneário de Porto de Gali-
nhas (PE), nos supermercados gaúchos – prática comum
no Nordeste. Sem sucesso, Natalício recusava-se a retor-
nar ao empreendimento lotérico. Decidiu fazer um curso
de gastronomia no Senac-RS e ali profissionalizou o dom,
o que o incentivou a trazer para Porto Alegre um novo
conceito de bar. “O Natalício quebra, além da tradição
gaúcha de café e pubs, o antigo conceito de boteco pé-
FFo
tos:
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43FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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GASTRONOMIA
sujo”, explica o proprietário, que além de ter elaborado
todo o cardápio – que inclui a famosa casquinha de siri e o
caldinho de feijão servidos nas praias nordestinas – é res-
ponsável pela decoração do ambiente, que inclui o diver-
tido espalhar de ditos populares pelas paredes do bar.
Dos livros para a panelaAssim como Natalício, dezenas de pessoas seguiram
seu instinto e trocaram antigos empregos pelo prazer
proporcionado pela culinária. A cozinha, para elas, é
quase um laboratório de alquimia, onde a mistura de in-
gredientes desperta uma paixão sem precedentes. So-
bre o efeito enigmático da gastronomia também se en-
contra o advogado André Rigo, 36 anos, gaúcho: “É um
prazer criar pratos novos”. Desestimulado pela rotina
da advocacia, profissão que exerce há mais de 15 anos,
Rigo decidiu seguir o conselho de um amigo e hoje re-
serva suas manhãs para o mesmo curso de gastronomia
feito por Natalício no Senac. “A gastronomia me leva da
teoria para a prática. Fico maravilhado com todos os pas-
sos para o preparo de um prato, da escolha dos ingredi-
entes à apresentação”, conta.
Em busca de novos desafios para a carreira profissio-
nal, Rigo pretende, ao final do curso, abrir seu próprio
restaurante. “O Direito me
deu a chance de juntar re-
cursos que me permitem
seguir nessa empreitada,
mas não recusaria ser em-
pregado na cozinha de um
bom restaurante”, conta.
Acredita-se que a valo-
rização da culinária brasi-
leira por chefs estrangeiros
tenha sido um dos princi-
pais agentes motivadores
do aumento da oferta de cursos de gastrono-
mia, e da procura por eles. Hoje, os interes-
sados em seguir a profissão não precisam mais
deixar o país, é possível encontrar boas esco-
las também no Brasil. Entretanto, apesar do
fascínio transmitido pela possibilidade de ino-
var a cada prato preparado, é bom lembrar
que ser chef não significa apenas saber inte-
ragir com ingredientes. “Cabe ao chef toda a
administração da cozinha do estabelecimen-
to, passando pela liderança de equipe até a
limpeza do local”, destaca Natalício.
É na cozinha que se aprendetroca da antiga profissão pela
gastronomia parece tão comum
quanto receita de bolo. O próprio pro-
fessor do Curso de Cozinheiro Bási-
co do Senac-RS já passou por essa
experiência. Formado em engenha-
ria civil, Sander Beschor teve seu
desejo pela culinária despertado
durante período que passou estu-
dando inglês em Londres. “Para me
sustentar comecei lavando pratos e
aos poucos fui me envolvendo com
o preparo dos alimentos”, conta.
Mesmo com a proposta de trabalhar
na cozinha do Hotel Hilton, San-
der retornou à cidade de Santa Ma-
ria, onde concluiu a graduação e fez
um curso de cozinheiro no Senac
local. Entre 2004 e 2006, exerceu a
profissão de engenharia no Nordes-
te, quando, cansado do trabalho,
passou a trabalhar à noite em um res-
taurante de massas. Seu trajeto inclui
um retorno a Londres, um renomado
curso de gastronomia na Argentina e
a participação na cozinha de um re-
sort catarinense, até o retorno a Por-
to Alegre, onde há um ano é profes-
sor do Senac-RS. Há cerca de um
mês abriu seu próprio restaurante, o
Farofa, no prédio do Sindicato dos
Bancários, na capital. No Senac,
Sander ensina técnicas do trabalho
de cozinheiro, planejamento de car-
dápios, boas práticas para serviços
de alimentação e serviço de restau-
rante, totalizando 400 horas-aula.
Mais informações sobre o curso no
site www.senacrs.com.br.
A
Eduardo Natalício
posa na janela da
cozinha ornada com
a foto de seu avô
FLO
RESTAMENTO
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Plantando
vida novaReflorestar é palavra de ordem em tempos
de recursos naturais cada vez mais escassos.
A Mata Atlântica tem hoje apenas 7,3% de
sua área original. A floresta é só um
exemplo para o estado de alerta
antiga a discussão sobre as formas de coibir o des-
matamento e a redução da área coberta por árvo-
res nativas no Brasil, com especial destaque para a
Mata Atlântica. Essa floresta, predominantemente dis-
tribuída na faixa litorânea brasileira, ocupando parte de
11 estados, sofre constantes ataques com a exploração
comercial e imobiliária. Para agravar o problema, uma
indústria bem organizada sobrevive da extração da ma-
deira nativa dessa região.
Ao desmatar o meio ambiente, não apenas se abre
espaço para a concentração de gás carbônico na atmos-
fera: impede-se o desenvolvimento de outras espécies
de plantas, animais e até insetos, necessários na manu-
tenção do equilíbrio natural. Dois movimentos são de
extrema importância: impedir efetivamente o desmata-
mento e ampliar o reflorestamento, com árvores nativas,
de acordo com cada região.
O processo é lento e dispendioso, pois envolve a
preparação do solo, cultivo, manutenção das mudas e
mapeamento do plantio. São utilizadas espécies pionei-
ras, cujo crescimento é mais rápido e se adapta às seve-
ras temperaturas, formando uma cobertura natural que
fornece melhores condições de sombra e umidade. As-
sim, o terreno fica apto a receber espécies nobres, não
É
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45FECOMÉRCIO – BENS & SERVIÇOS
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F LORESTAMENTO
pioneiras. Ao longo dos anos, essas mudas crescem, ul-
trapassam as primeiras, que eventualmente morrem de-
pois de cumprir o seu papel. O objetivo é chegar o mais
próximo possível da composição original.
Perto de nósNo Rio Grande do Sul, onde há dois biomas princi-
pais, o Pampa e a Mata Atlântica, diversas iniciativas bus-
cam a sustentabilidade dessas florestas. No início da
atual década, um convênio firmado entre o Estado e a Uni-
versidade Federal de Santa Maria originou o Inventário
Florestal Contínuo RS, atualizado em 2007 e até hoje sem
similar no país. O estudo utilizou modernas técnicas de
geoprocessamento e um sistema computacional específi-
co, fornecendo informações para conferir e classificar a
vegetação, determinar sua situação atual, estruturas, po-
tencial madeireiro e de regeneração natural, entre outras.
“Os dados nos ajudam a monitorar os biomas do Esta-
do. Na comparação entre 2003 e 2007, por exemplo, no-
tamos que as áreas de floresta de Mata Atlântica não so-
freram degradação. Um avanço que demonstra o resultado
efetivo das políticas e iniciativas ambientais”, comenta Vera
Lucia Lopes Pitoni, gerente executiva do Projeto Con-
servação da Mata Atlântica. O projeto integra o Pacto pela
Restauração da Mata Atlântica, iniciativa nacional lançada
em abril por entidades ambientalistas, governos, empre-
sas e instituições de pesquisa.
O papel do Estado é fazer a manutenção
das políticas públicas e também propor e
apoiar iniciativas, como as que já vêm sendo
realizadas junto a produtores rurais, localiza-
dos nas regiões de floresta. “Essas pessoas pre-
cisam da área para o plantio. Nosso trabalho é
fornecer a orientação e também fiscalizar o uso
sustentável da terra. A Lei da Mata Atlântica
já prevê o cultivo de frutos e produtos não
madeiráveis. O Pacto, assim como o progra-
ma estadual, reforça a atuação da legislação.”
Pitoni lembra que todas as ações de reflo-
restamento são benéficas, pois manter o que
sobrou da Mata Atlântica já não é suficiente.
É necessário replantar. “São soluções locais
para um problema global”, afirma.
A restauração florestal garante a manuten-
ção e o fortalecimento das espécies e bióti-
pos remanescentes da Mata Atlântica. Propi-
cia ainda a troca genética e a consequente
proteção da biodiversidade, a regulação do
clima e a redução dos efeitos da poluição. Im-
portante também é a restauração das matas
ciliares, que conservam as margens dos rios e
bacias, evitando desmoronamentos causados
pela erosão do solo e servindo de salva-guar-
das para enchentes.
NO nosso desafio
o dia 27 de maio, o Sesc-RS
promove o plantio de 250 mil
mudas de árvores nativas como par-
te do desafio social do movimento
Dia do Desafio (DDD). O objeti-
vo da iniciativa é mobilizar os gaú-
chos nas questões ambientais e as-
segurar a preservação de um dos
maiores bens naturais que possuí-
mos. As mudas serão disponibiliza-
das nos municípios participantes do
DDD 2009, envolvendo prefeituras
e secretarias de Agricultura e de
Meio Ambiente. A expectativa é en-
volver de crianças a idosos na res-
tauração do ambiente natural.
Realizado anualmente na última
quarta-feira de maio, o Dia do Desa-
fio é uma iniciativa que já tomou pro-
porção mundial, propondo que as pes-
soas mudem sua rotina. Inicialmente
voltado só às atividades físicas, o
DDD, que no Brasil é capitaneado
pelo Sesc, já abrange ações de lazer,
saúde, meio ambiente e responsabili-
dade social. Mais informações no site
www.sesc-rs.com.br.
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egundo um conhecido e antigo provér-
bio italiano, quando l’aqua toca el culo, se
impara a nadare. As medidas fiscais ado-
tadas pelo governo federal, em virtude da gra-
ve crise que assola o sistema financeiro mun-
dial – afetando a liquidez e o consumo –, pa-
recem decorrer mais desse im-
pulso instintivo de sobrevi-
vência do que de um conca-
tenado plano destinado ao
crescimento econômico e ao
controle “qualitativo” (e não
apenas “quantitativo”) das
despesas públicas.
A desoneração tributária
sobre o consumo parece correta, embora a
eleição dos tributos sujeitos a essa medida
atinja, diretamente, as receitas dos estados e
dos municípios. Isso porque o IPI integra o
Fundo de Participações desses entes, de acor-
do com a repartição das receitas tributárias
prevista pela Constituição. Além de represen-
tar esmola paga parcialmente com dinheiro
alheio (uma redução na escorchante alíquota
de 7,6% da Cofins seria mais sincera), a propalada redu-
ção do IPI significa mais um disparo contra a precária
situação financeira desses entes federativos, que já ha-
viam sido atingidos pela redução das alíquotas do im-
posto de renda (pessoa física). Além disso, a redução é
tímida, e não desata um dos grandes entraves ao cres-
cimento econômico e à geração de empregos: a contri-
buição previdenciária sobre a folha de salários. A su-
pressão da contribuição sobre a folha – tributo incidente
sobre despesa – teria como efeito imediato a desoneração
de um pesado fardo suportado por
quem gera empregos e possibilitaria
a criação de novos postos de traba-
lho; gerando aumento no consumo e
na arrecadação, indireta e direta, com
o próprio imposto de renda.
Não se compreende como a rela-
tivização dos direitos trabalhistas pode
ser considerada a pauta do dia pelo
governo, quando ele próprio parece não colaborar com
sua parcela na redução dos custos incidentes sobre a
geração de empregos. Antes de pedir que os outros
abram mão, o governo federal deveria fazer sua parte,
alterando aquilo que está ao seu alcance e não atinge os
direitos ou a arrecadação de terceiros. Ou seja, deixar o
discurso e dar o exemplo.
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exemploRafael Pandolfo* O discurso e o
*Consultor tributarista da Fecomércio-RS
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A redução do IPI não
desata um dos grandes
entraves ao
crescimento
econômico e à geração
de empregos
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AL IMENTOS
A padronização no manuseio, transporte e armazenamento dos produtos in natura
comercializados na Ceasa-RS é o ponto-chave do Programa Ceasa no Capricho. Os empresários
precisam agora se adaptar às mudanças, em vigor desde março
jeito certo
s enormes pilhas de caixas de madeira, por muito
tempo aglomeradas no terreno e nas imediações
da Central de Abastecimento (Ceasa-RS), e tam-
bém alternativa de renda extra para mais de 60 pessoas
que revendem o material, estão com os dias contados. O
sistema denominado de Central de Caixas do Programa
Ceasa no Capricho, em implantação desde 2008 e que
consumiu mais de R$ 3,5 milhões, entrou em vigor no
início de março com a proposta de adequar os procedi-
mentos de manuseio, transporte e armazenamento das
mercadorias a uma instrução normativa conjunta de An-
visa, Inmetro e Ministério da Agricultura.
A determinação federal, em vigência há seis anos, pre-
tende barrar a contaminação de lavouras por infestações
de fungos e pestes que podem se alojar nas fibras da ma-
deira das caixas. Também a queda na cadeia produtiva –
do campo até o varejo – deve ser reduzida, já que as em-
balagens plásticas são higienizáveis e as hortaliças, frutas,
legumes e outros vegetais são acondicionados de forma
sistemática e padronizada.
O que mudaPara o empresário que faz as compras no entreposto,
a principal mudança promovida pelo sistema é segurança
da procedência, a qualidade dos produtos e, ao que tudo
indica, uma sensível queda nos preços, uma vez que o
custo sobre a perda poderá ser reduzido. “O gasto com
caixas será menor. Embora produtores e clientes paguem
em média R$ 15 em cada peça, se bem conservada ela
Na caixa e do
pode durar seis ou sete anos”, avalia Luciano
Medeiros, sócio da Central de Caixas.
O sistema consiste na troca das caixas
entre compradores e revendedores. É como
um produto com embalagem retornável, po-
rém, com validação por um cartão de crédi-
tos. Por exemplo, se o comprador adquiriu 10
caixas, ele carrega o cartão com 10 créditos.
Na hora da compra ele leva 10 caixas de pro-
duto e transfere os seus créditos para o forne-
cedor. Quando retornar ao Ceasa, ele entrega
as embalagens à Central de Caixas para se-
rem higienizadas e pode recarregar seu car-
tão com os créditos ou receber o valor cor-
respondente. “Ele só vai comprar uma vez as
caixas de que necessita. A partir daí, utiliza o
cartão para negociar.”
Até o momento, 250 pessoas foram cadas-
tradas em um universo de aproximadamente
1.000 produtores e 250 atacadistas, além dos
clientes diários.
A
Mais detalhes da Central de Caixas
Garantia de que o peso e a quantidade dos produtos estarão corretos
Maior agilidade e menor custo operacional interno
Papelão e madeira são agora opções descartáveis – só se utiliza uma vez
O Ceasa-RS funciona às segundas-feiras das 4h às 18h e de terça a
sexta-feira das 13h30 às 19h
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governo federal, em janeiro deste ano,
através do Decreto 6.727, revogou dis-
positivo do Regulamento da Previdên-
cia Social, que elencava de forma expressa o
aviso prévio indenizado como verba não in-
tegrante do salário de con-
tribuição. Segundo o Exe-
cutivo, com a alteração
produzida, passa a ser exi-
gível o recolhimento de
contribuição previdenciária
(da empresa e do emprega-
do) sobre a parcela.
O dispositivo legal,
contudo, não tem o alcance pretendido. Ora,
na forma do art. 28 da Lei 8212/91, somente
integram o salário de contribuição as parce-
las de natureza salarial. Não é este o caso do
aviso prévio indenizado. A expressão utiliza-
da pelo legislador, “destinados a retribuir o
trabalho”, atrai a ilação lógica de que as par-
celas de natureza indenizatória não integram
o salário de contribuição. O aviso prévio in-
denizado, como a própria denominação su-
gere, é uma parcela de natureza indenizató-
ria. Não há retribuição de trabalho (conceito de salário
de contribuição), mas tão-somente indenização ao em-
pregado pelo período em que seu empregador optou por
não usufruir a prestação de serviços.
Salta aos olhos, até do observador menos avisado,
que esse simples decreto não pode, em um passe de
mágica, alterar a natureza jurídica de uma parcela.
Neste cenário, a Confederação dos Trabalhadores no
Comércio ingressou com medida judicial em Brasília e
obteve liminar garantindo para todos os
comerciários brasileiros o não desconto
de parcela previdenciária incidente sobre
o aviso prévio indenizado. Como as em-
presas são meramente agentes de descon-
to e repasse desta parcela, instalou-se um
clima de insegurança jurídica, pois sen-
do a ação futuramente julgada improce-
dente poderão ser as empresas instadas
ao pagamento da contribuição que não descontaram.
De outra banda, o recolhimento previdenciário da
empresa sobre a mesma parcela onera a rescisão. Assim,
algumas empresas e sindicatos na representação destas
estão se socorrendo do judiciário e obtendo provimen-
tos liminares para não cumprimento da nova exigência.
Nossa expectativa é de que as ações sejam julgadas pro-
cedentes, mas aconselhamos que os valores, por cautela,
sejam depositados em conta judicial.
Aviso prévio ePrevidência
O
*Advogado trabalhista-sindical da Fecomércio-RS
Flávio Obino Filho*
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Esse simples
decreto não pode, em
um passe de
mágica, alterar a
natureza jurídica de
uma parcela
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MAIS & MENOS
Paixão pela rede
dos adultos brasileiros, entrevista-
dos pela recente pesquisa da
Norton Online Living Report,
revelaram que já se apaixonaram
por alguém na web, número acima
da média mundial (14%)
Medo de fraudes
dos entrevistados pelo Índice de
Segurança Unisys para o Brasil
acreditam que a crise mundial pode
aumentar o risco de roubo de
identidade e crimes relacionados,
como fraudes com cartão de crédito
70%
25%
Protestos em alta
títulos emitidos por pessoas jurídi-
cas foram protestados na região
Sul, só no mês de março. Um
volume 33,63% maior que o
mesmo período de 2008, segundo
informações da Equifax
154.989
Dinheiro guardado
Pesquisa do Instituto Brasileiro de
Estudos e Defesa das Relações de
Consumo (Ibec) sobre
a crise mundial revela que
dos internautas entendem que
é hora de poupar
54%
Sonho do carro próprio
No primeiro trimestre deste
ano, a venda de veículos
novos no Estado cresceu
na comparação com o mesmo
período do ano passado.
A informação é do Sindicato
dos Concessionários e Distri-
buidores de Veículos no Estado
4,78%
Recursos para o agronegócio
em crédito serão liberados para as
empresas do agronegócio. O anún-
cio foi feito no início de abril pelo
Conselho Monetário Nacional
Exportações em baixa
A exportação industrial brasileira caiu
no primeiro trimestre de 2009,
comparado com 2008. Os dados
são do Radar, novo boletim de
análise econômica do Ipea
26%,
0%Locação de automóveis
As locadoras de automóvel brasilei-
ras garantiram
empregos diretos e indiretos em
2008. Os números constam no
recente Anuário da Associação Bra-
sileira de Locadoras de Automóveis
209.061
O preço de uma refeição
Almoçar fora de casa pode
custar em média
aos brasileiros. O valor compõe
levantamento feito pela empresa de
pesquisas Ipsos e divulgado pela
Associação das Empresas de
Refeição e Alimentação Convênio
para o Trabalhador
R$ 16,26
R$ 12,6 bilhões
Desoneração para vendas
Depois dos automóveis,
o governo federal reduziu, em
meados de abril, para
o Imposto de Produtos Industrializa-
dos (IPI) da Linha Branca
CRÔNICA
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A glória dagastronomia
Por Moacyr Scliar
descoberta de um novo prato faz mais
pela felicidade humana do que a des-
coberta de uma nova estrela.” A frase
é do francês Jean Anthelme Brillat-Savarin
(1755 – 1826), um dos mais famosos gastrô-
nomos de todos os tempos. Ao contrário do
que se poderia pensar, Brillat-Savarin não era
um “chef”; poderia sê-lo, mas fez advocacia e
dedicou-se à política: durante a Revolução
Francesa, tornou-se deputado da Assembleia
Nacional Constituinte, onde ficou conheci-
do como um “linha dura”, que defendia in-
clusive a pena de morte. Mais tarde exerceu a
magistratura, mas tornou-se conhecido mes-
mo por seu livro, “Fisiologia do Gosto”, que
é um clássico da gastronomia. Brillat-Savarin
não é, claro, uma figura única; gênios da culi-
nária existem desde há muito tempo, e um
outro exemplo famoso é o de Marcus Gavius
Apicius, que viveu em Roma por volta do primeiro sé-
culo d.C. e a quem são atribuídas inúmeras receitas, tan-
tas, na verdade, que o nome Apicius passou a ser sinôni-
mo de gurmê.
Voltando à frase de Brillat-Savarin, o que nos im-
pressiona é o conhecimento da natureza humana que ela
revela. A descoberta de uma nova estrela pode ser um
acontecimento importante, e não raro dá manchetes de
jornais, mas as estrelas estão longe, e, a não ser do ponto
de vista astrológico e simbólico, pouco influenciam o
nosso cotidiano. Mas comida é coisa diária, e a comida
(ou ausência dela) podem fazer, de um lado, a nossa ale-
gria, e de outro nossa infelicidade. Comer não é apenas
satisfazer a nossa necessidade de calorias e de nutrien-
tes; comer é mais do que isto, é uma coisa simbólica,
como a Santa Ceia demonstra-o bem. De novo Brillat-
Savarin: dize-me o que comes e eu te direi quem és.
Não é de admirar, portanto, que em nosso tempo a
gastronomia seja muito valorizada. É uma profissão re-
conhecida e respeitada, e não apenas pelos gurmês. Co-
mer bem, comer adequadamente, tornou-se uma neces-
sidade nesta época em que a obesidade virou epidemia
mundial (e já preocupa no Brasil). As pessoas confun-
dem comer bem com comer muito, e neste sentido a
gastronomia pode funcionar como uma importante aju-
da para a saúde. E como uma verdadeira lição de vida:
num prato artístico e bem feito aprendemos que o ver-
dadeiro prazer não depende do excesso, depende da
moderação e sobretudo daquele gosto artístico que Api-
cius e Brillat-Savarin cultivaram com tanto entusiasmo.
“A