2
Secção de Formação CRUZ VERMELHA PORTUGUESA Secção de Formação Unidade de Socorro da Póvoa de Lanhoso Uma breve Biografia de Jean Henry Dunant A vida de Jean Henry Dunant (8 de Maio de 1828 30 de Outubro de 1910) é um verdadeiro caso de estudo de contrastes. Nasceu no seio de uma família abastada, mas veio a morrer abandonado num hospício; a sua meia-idade contrastou entre a fama generalizada e a total obscuridade, e o sucesso como empresário e a banca rota total; na sua velhice foi exilado da sociedade de Genebra da qual em tempos tinha sido o orgulho da mesma, e morreu num quarto solitário, deixando um testamento amargo. O seu humanitarismo apaixonado foi a única constante na sua vida, e a Cruz Vermelha o seu monumento vivo. Foi humanista e homem de negócios suíço, nascido em Genebra, o primeiro vencedor do Prémio Nobel da Paz (1901) como o filantropo fundador da Cruz Vermelha Internacional (1863) e promotor da Convenção de Genebra (1864), dividido com o pacifista francês Frédéric Passy. De uma família de forte tradição religiosa, teve educação humanitária e cívica. Dedicou grande parte de sua juventude a actividades religiosas até passou a viver tempo integral como representante da Associação Cristã dos Homens Jovens e viajou pela França, Bélgica e Holanda. Na idade adulta tornou-se um grande homem de negócios como representante de uma companhia genovesa, a Companhia das Colónias de Sétif na África do Norte e Sicília. Enfrentando alguns problemas num negócio de exploração de terras, dirigiu-se pessoalmente ao imperador francês Napoleão III, que na época se encontrava em Itália comandando o exército francês em apoio aos italianos na tentativa de expulsar os austríacos do território da Itália. Ao presenciar o sofrimento na frente de combate na Batalha de Solferino (1859), organizou de imediato um serviço de primeiros socorros. Desta sua experiência resultou o livro Un souvenir de Solférino” (Recordação de Solferino) (1862). O livro “Uma memória de Solferino” tem três temas. O primeiro é sobre a batalha em si. A segunda retrata o campo de batalha após o combate o sua «desordem caótica, desespero inexpressável e miséria de todos os tipos» - e conta a história principal dos esforços para cuidar e tratar dos feridos da batalha na pequena cidade de Castiglione. O terceiro tema é sobre o seu plano. Sugeria a criação de grupos nacionais de ajuda para apoiar os feridos em situações de guerra e propunha a criação de uma organização internacional que permitisse melhorar as condições de vida e prestar auxílio às vítimas da guerra. Em seguida participou da comissão criada pela Société genevoise d'utilité publique (1863) para estudar a viabilidade da proposta que resultou na fundação da Cruz Vermelha Internacional, reconhecida, no ano seguinte, pela Convenção de Genebra. Muitos mais trabalhos e propostas apresentou...

Breve Biografia de Jean Henri Dunant

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Breve Biografia de Jean Henri Dunant

Secção de Formação

CRUZ VERMELHA PORTUGUESA Secção de Formação

Unidade de Socorro da Póvoa de Lanhoso

Uma breve Biografia de Jean Henry Dunant

A vida de Jean Henry Dunant (8 de Maio de 1828 – 30 de

Outubro de 1910) é um verdadeiro caso de estudo de

contrastes. Nasceu no seio de uma família abastada, mas veio a

morrer abandonado num hospício; a sua meia-idade contrastou

entre a fama generalizada e a total obscuridade, e o sucesso

como empresário e a banca rota total; na sua velhice foi exilado

da sociedade de Genebra da qual em tempos tinha sido o

orgulho da mesma, e morreu num quarto solitário, deixando

um testamento amargo. O seu humanitarismo apaixonado foi a

única constante na sua vida, e a Cruz Vermelha o seu

monumento vivo.

Foi humanista e homem de negócios suíço, nascido em Genebra, o primeiro vencedor do

Prémio Nobel da Paz (1901) como o filantropo fundador da Cruz Vermelha Internacional

(1863) e promotor da Convenção de Genebra (1864), dividido com o pacifista francês Frédéric

Passy. De uma família de forte tradição religiosa, teve educação humanitária e cívica. Dedicou

grande parte de sua juventude a actividades religiosas até passou a viver tempo integral como

representante da Associação Cristã dos Homens Jovens e viajou pela França, Bélgica e

Holanda. Na idade adulta tornou-se um grande homem de negócios como representante de

uma companhia genovesa, a Companhia das Colónias de Sétif na África do Norte e Sicília.

Enfrentando alguns problemas num negócio de exploração de terras, dirigiu-se pessoalmente

ao imperador francês Napoleão III, que na época se encontrava em Itália comandando o

exército francês em apoio aos italianos na tentativa de expulsar os austríacos do território da

Itália. Ao presenciar o sofrimento na frente de combate na Batalha de Solferino (1859),

organizou de imediato um serviço de primeiros socorros. Desta sua experiência resultou o livro

“Un souvenir de Solférino” (Recordação de Solferino) (1862). O livro “Uma memória de

Solferino” tem três temas. O primeiro é sobre a batalha em si. A segunda retrata o campo de

batalha após o combate – o sua «desordem caótica, desespero inexpressável e miséria de

todos os tipos» - e conta a história principal dos esforços para cuidar e tratar dos feridos da

batalha na pequena cidade de Castiglione. O terceiro tema é sobre o seu plano. Sugeria a

criação de grupos nacionais de ajuda para apoiar os feridos em situações de guerra e propunha

a criação de uma organização internacional que permitisse melhorar as condições de vida e

prestar auxílio às vítimas da guerra. Em seguida participou da comissão criada pela Société

genevoise d'utilité publique (1863) para estudar a viabilidade da proposta que resultou na

fundação da Cruz Vermelha Internacional, reconhecida, no ano seguinte, pela Convenção de

Genebra. Muitos mais trabalhos e propostas apresentou...

Page 2: Breve Biografia de Jean Henri Dunant

Secção de Formação

CRUZ VERMELHA PORTUGUESA Secção de Formação

Unidade de Socorro da Póvoa de Lanhoso

Os oito anos de 1867 a 1875 provaram ser de um contraste total àqueles entre 1859 a 1867.

Em 1867 Dunant entrou em falência. A sua companhia tinha sido mal gerida, pois Dunant

apenas se interessava pelas causas humanitárias, descuidando totalmente a gestão da

companhia. Depois deste desastre económico, que envolveu financeiramente muitos dos seus

amigos Genoveses, Dunant deixou de ser bem-vindo na sociedade de Genebra. Em poucos

anos, vivia literalmente como um pedinte. Houve tempos, segundo palavras do próprio em

que “apenas comia pão duro, escurecia o seu casaco com tinta, branqueava o colarinho de pelo

do seu casaco com pó de giz e dormia nas escadas”*.

Durante os próximos vinte anos, de 1875 a 1895, Dunant desapareceu no anonimato. Após

breves passagens por vários locais, estabeleceu-se em Heiden, uma pequena aldeia Suíça. Foi

aqui que o professor da aldeia, Wihelm Sonderegger o encontrou em 1890 e informou o

mundo que Henri Dunant estava vivo, mas pouco interesse houve pela notícia. Devido a

doença prolongada, Dunant foi internado em 1892 no hospício da aldeia. E foi aqui, no quarto

12, que ele passou o resto dos seus dezoito anos de vida. No entanto, já não esquecido. Depois

de 1895, quando foi “redescoberto”, o mundo encheu-o de prémios e reconhecimentos.

Apesar dos prémios e honras atribuídas, Dunant nunca abandonou o quarto 12. Após a sua

morte, não houve cerimónia fúnebre, nem lamentos ou memoriais. Respeitando os seus

últimos desejos, foi transportado para a sua sepultura “como um cão”*.

Dunant nunca utilizou o dinheiro que recebera dos prémios e honrarias. Deixou alguns

legados àqueles que cuidaram dele no hospício, “comprou e legou” uma cama do hospício

para que permanecesse sempre livre e disponível para os mais pobres da aldeia e entregou o

resto do seu legado a instituições filantrópicas Suíças e Norueguesas.

Entre muitos outros prémios, recebeu também a Ordem de Cristo de Portugal (1897).

Publicou outros livros como “Notice sur la Régence de Tunis” (1858), “L'Esclavage chez les

musulmans et aux États-Unis d'Amérique” (1863).

Ricardo Luis Martin Sant’Anna

CVP – Núcleo da Póvoa de Lanhoso

(*) – Extraído de uma carta escrita por Henry Dunant, e publicada por Wihelm Sonderegger; citado por Gigon em “O épico da Cruz Vermelha”, pag. 147 - Biografia retirada, traduzida e adaptada do texto “Henry Dunant; The Nobel Peace Prize 1901 – A Biography” (http://nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1901/dunant-bio.html)