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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL BIOLOGIA REPRODUTIVA E ALIMENTAR DE Bubulcus ibis (LINNAEUS, 1758) (CICONIIFORME, ARDEIDAE) E SUA OCORRÊNCIA EM PERNAMBUCO, BRASIL. SAMANTA DELLA BELLA Recife, 2003

BIOLOGIA REPRODUTIVA E ALIMENTAR Bubulcus ibis (L , 1758 ...€¦ · (Acarina, Ixodidae), aranhas (Aranea) e anfíbios. A sugerida especialidade alimentar de B.ibis encontrada no

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL

BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,,

AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,, BBRRAASSIILL..

SAMANTA DELLA BELLA

Recife, 2003

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BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,, AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,,

BBRRAASSIILL..

SAMANTA DELLA BELLA

Dissertação apresentada ao Departamento

de Zoologia da Universidade Federal de

Pernambuco como parte dos requisitos

para a obtenção do título de Mestre em

Biologia Animal.

Recife, 2003

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SAMANTA DELLA BELLA

BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,, AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,,

BBRRAASSIILL..

ORIENTADOR: PROF. DR. SEVERINO MENDES DE AZEVEDO JUNIOR

Dissertação apresentada ao Departamento

de Zoologia da Universidade Federal de

Pernambuco como parte dos requisitos

para a obtenção do título de Mestre em

Biologia Animal.

Recife-PE Novembro de 2003

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Bella, Samanta Della

Biologia reprodutiva e alimentar de Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) (Ciconiiforme, Ardeidae) e sua ocorrëncia em Pernambuco, Brasil / Samanta Della Bella. – Recife : O autor, 2003.

145 folhas ; il., fig., tab. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco. CCB. Biologia Animal, 2003. Inclui bibliografia 1. Biologia animal – Reprodução e alimentação. 2.

Aves – Garça (Bubulcus ibis) – Brasil (PE) – Reprodução, alimentação e ocorrência. 3. Garça-vaqueira – Agreste (PE) e Fernando de Noronha (PE) – Reprodução, alimentação e ocorrência. I. Título.

598.34 CDU (2.ed.) UFPE 598.34 CDU (21.ed.) BC2004-274

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BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,, AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,,

BBRRAASSIILL..

SSAAMMAANNTTAA DDEELLLLAA BBEELLLLAA Dissertação defendida e aprovada pela banca examinadora: Examinadores: _______________________________________ (Prof. Dr. Severino Mendes de Azevedo Junior) ________________________________________ (Profa. Dra. Eduarda Lacerda de Larrazábal) ________________________________________ (Profa. Dra. Miriam Camargo Guarnieri) ________________________________________ (Profa. Dra. Luciana Iannuzzi) Data da aprovação: 07 de novembro de 2003.

Recife

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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

A Universidade Federal de Pernambuco e a CAPES pelo apoio financeiro durante parte

do período do mestrado;

A Universidade Federal Rural de Pernambuco pela viabilização de transporte para as

excursões ao agreste de Pernambuco;

A secretaria do mestrado, Ana e profa. Maria Eduarda Larrazabal pelo apoio e auxílios.

Ao prof. Dr. Severino Mendes de Azevedo-Junior pela oportunidade e apoio.

Ao IBAMA/FN, Marcos Aurélio, Ban, Miriam, e Pedro pela colaboração;

Aos professores e biólogos que auxiliaram na identificação dos conteúdos dos

regurgitos: Argus Vasconcelos, Jacqueline Bianchi, Antônio Brescovit, Luciana

Iannuzzi, Débora Suzuki, Ana Carolina Carnaval, Claudio Cazal, Miriam Camargo

Guarnieri e Deoclécio Guerra, pela colaboração, incentivo, companheirismo e idéias

compartilhadas;

Ao Fabio Olmos pelo incentivo e inspiração;

Ao prof. Deodato de Souza pela idéias e bibliografia;

A Mariinha e Dna. Josefa pelo apoio logístico em Brejão, acolhimento e amizade;

A Preta pelo companheirismo, amizade e total colaboração durante as atividades de campo;

A Tchaylene pela ajuda e companhia durante as atividades de campo;

A Mendes pelo apoio, companheirismo (e por não ter dormido ao volante);

A Paulo e Mário pelo auxílio nas atividades de campo, laboratório, materiais, métodos...

A Robson Silva e Silva pelo convite para a excursão ao Arquipélago;

Ao José Martins Silva pelas informações;

A Fernanda Camargo pela ajuda e incentivo;

Aos companheiros Carmem, Caio, Gabi e Tati pela leitura crítica e sugestões, além da

amizade e apoio em todos os momentos;

Aos amigos Alê, Mércia, Sheila, Cláudio, Sandra, Vivi, Wallace, Rachel por toda a

força;

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A minha família, por tudo.

A Olinda e Recife.

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RREESSUUMMOO

A garça-vaqueira, Bubulcus ibis, originária da Europa Mediterrânea e da África,

desde o século XX vem expandindo sua área de ocorrência e reprodução. No Brasil, o

primeiro registro da espécie foi em 1964 e atualmente é encontrada em todo o território

nacional. Objetivou-se no presente estudo, prover informações acerca da biologia e

ocorrência de Bubulcus ibis no Estado de Pernambuco, sobretudo na região Agreste e no

Arquipélago de Fernando de Noronha, a partir de dados coletados em visitas a estas

localidades entre 2000 e 2003. No Agreste foram registrados três ninhais típicos de B.

ibis, construídos nas margens de açudes, em oposição aos dois sítios reprodutivos

observados no Arquipélago de Fernando de Noronha, em ilhas desprovidas de água doce.

Foi observada uma grande variação do número de indivíduos durante excursões pelas estradas

do Agreste, talvez conseqüência de flutuações populacionais em razão de deslocamentos

característicos da espécie, desconhecidos no Brasil. Durante o monitoramento de uma

colônia no Agreste, B.ibis apresentou gerações a cada dois meses. Garças-vaqueiras

com plumagem reprodutiva foram avistadas em todos os meses, indicando que esta

espécie teria potencial biológico para reproduzir durante todo o ano, dependendo apenas

das condições ambientais e das interferências antrópicas. Dados sobre o tamanho da

postura e estrutura do ninho foram obtidos concordando com o já descrito na literatura e

sugerindo baixa freqüência de competição intraespecífica para essas garças. A análise

da composição da dieta de B. ibis mostrou a preferência por gafanhotos (Orthoptera) na

alimentação no Agreste pernambucano. Outros grupos representativos foram carrapatos

(Acarina, Ixodidae), aranhas (Aranea) e anfíbios. A sugerida especialidade alimentar de

B.ibis encontrada no ambiente pecuário do Agreste é confrontada com o oportunismo

alimentar que se manifesta sob condições ambientais extremas, como no Arquipélago.

A sua presença no Agreste parece trazer benefícios para a atividade pecuária, podendo

controlar a população de pragas e parasitas. Entretanto, um efeito contrário estaria

acontecendo em um ambiente como o Parque Nacional Marinho de Fernando de

Noronha, devido à competição por sítios reprodutivos com aves costeiras e pela

predação de fauna nativa. Com isso fica evidenciada a plasticidade da biologia

reprodutiva e alimentar desta garça, que se manifesta de acordo com as exigências

ambientais, resultando no sucesso da expansão e do estabelecimento desse ardeídeo

durante o último século em diferentes partes do mundo.

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AABBSSTTRRAACCTT

The Cattle Egret Bulbucus ibis is originally from Mediterranean Europe and

Africa, but during the 20th century spread its range. B. ibis was firstly recorded in Brazil

in 1964, and currently it is found throughout all Brazilian territory. This study provides

information on the occurrence and biology of Cattle Egret in northeast Brazil, especially

in the Agreste region of Pernambuco and in the Archipelago of Fernando de Noronha.

Data was collected during several expeditions between 2000 and 2003. On the Agreste,

three breeding colonies were recorded. All were built on the edge of lakes, differing

from the nesting places observed on the Archipelago of Fernando de Noronha, on

Islands without fresh water. A variable number of Cattle Egrets were observed, while

driving along roads in the Agreste, probably due to Cattle Egret’s population

movements (translocation and migration), which are unknown in Brazil. A monitored

colony presented B. ibis offsprings each two months. Cattle Egrets with breeding

plumage were observed during all months, suggesting it has a biological potential to

nest year round, depending on the environmental conditions and human disturbances.

Data of clutch size, and nest arrangement agree with other studies, and suggest a low

frequency of intraespecific competition in this colony. The analysis of the diet of Cattle

Egret indicated the preference of grasshoppers (Orthoptera) in the Agreste of

Pernambuco. Other representative groups were ticks (Acarina, Ixodidae), spiders

(Aranea), and frogs (Amphibia). The apparently specialized diet of Cattle Egret on the

Agreste differs from the opportunistic feeding behavior that emerges when it is under

extreme environmental conditions, like on the Archipelago. The presence of the Cattle

Egret in the Agreste seems to benefits the cattle industry trough potentially controlling

populations of plagues and parasites. But its occurrence might brings other effects on

the Archipelago of Fernando de Noronha through the competition for breeding places

with sea-birds and predation of native fauna. This situation reflects the heron’s breeding

and feeding biology plasticity, which fits well to different environmental conditions,

resulting on the expansion and establishment of this Ardeidae worldwide during the last

century.

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SSUUMMÁÁRRIIOO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................1

1.1 Aspectos gerais sobre a garça-vaqueira....................................................................1

1.2 Colonização..............................................................................................................2

1.3 Biologia reprodutiva...............................................................................................4

1.4 Biologia alimentar...................................................................................................6

2. OBJETIVOS.................................................................................................................8 2.1 Objetivos gerais........................................................................................................8

2.2 Objetivos específicos................................................................................................8

3. ÁREA DE ESTUDO.....................................................................................................9 3.1 Agreste pernambucano.............................................................................................9

3.2 Arquipélago de Fernando de Noronha....................................................................10

4. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................12 4.1 Ocorrência de Bubulcus ibis no Nordeste do Brasil...............................................12

4.2 . Biologia reprodutiva de B. ibis no Agreste pernambucano..................................12

4.2.1 Descrição da colônia.....................................................................................12

4.2.2 Outras espécies.............................................................................................13

4.2.3 Número de indivíduos..................................................................................13

4.2.4 Ninhos..........................................................................................................14

4.2.5 Número de ovos, ninhegos, juvenis, adultos...............................................14

4.2.6 Filhotes........................................................................................................15

4.2.7 Movimento com gravetos............................................................................16

4.2.8 Movimento de Retorno...............................................................................16

4.3. Composição da dieta de B. ibis no Agreste pernambucano..................................17

4.3.1 Coleta de regurgito e pelotas.......................................................................17

4.3.2 Identificação e quantificação dos itens alimentares....................................17

4.3.3 Freqüência relativa.......................................................................................18

4.3.4 Amplitude de nicho.....................................................................................19

4.4 Ocorrência de B. ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha...........................20

5. RESULTADOS...........................................................................................................21 5.1. Ocorrência de B. ibis no Agreste pernambucano..................................................21

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5.1.1. Registro de colônias....................................................................................21

5.1.2. Ocorrência e atividade................................................................................24

5.2. Biologia reprodutiva de B. ibis no Agreste pernambucano..................................26

5.2.1 Descrição da colônia...................................................................................26

5.2.2 Outras espécies............................................................................................37

5.2.3 Número de indivíduos.................................................................................41

5.2.4 Ninhos.........................................................................................................43

5.2.5 Número de ovos, ninhegos, filhotes, adultos..............................................51

5.2.6 Filhotes.......................................................................................................54

5.2.7 Movimento com Gravetos..........................................................................58

5.2.8 Movimento de Retorno...............................................................................59

5.3 Composição da dieta de B. ibis no Agreste pernambucano....................................63

5.3.1 Principais grupos de presas.........................................................................65

5.3.2 Orthoptera....................................................................................................70

5.3.3 Acarina.........................................................................................................77

5.3.4 Aranea............................................................................................................78

5.3.5 Outros Insecta................................................................................................83

5.3.6 Vertebrata......................................................................................................86

5.3.7 Freqüência de ocorrência..............................................................................95

5.3.8 Amplitude de nicho....................................................................................100

5.4. Ocorrência de B. ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha.........................101

6. DISCUSSÃO.............................................................................................................104 6.1 Ocorrência de B. ibis no Agreste pernambucano..................................................104

6.2 Biologia reprodutiva de B.ibis no Agreste pernambucano...................................108

6.3 Composição da dieta de B. ibis no Agreste pernambucano..................................121

6.4 Ocorrência de B. ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha..........................133

6.5 Considerações finais.............................................................................................137

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................139

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11..IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

A chegada e a rápida dispersão da garça-vaqueira no Novo Mundo durante o

século XX representou uma oportunidade de se observar um imigrante se estabelecer

em novos ambientes, tendo que adaptar seus hábitos alimentares e reprodutivos ao

mesmo tempo em que o ambiente também se transformou, e comunidades nativas com

nichos envolvidos tiveram que se adequar.

A ocupação por B. ibis de áreas de descanso e reprodução das garças nativas tem

causado preocupação entre ornitólogos e conservacionistas desde meados do século

passado (FOGARTY & HETRICK, 1973). Porém, no Brasil, com exceção dos registros

feitos em censos e alguns pontos de reprodução, muito pouco se sabe sobre os hábitos

adquiridos desta ‘nova’ espécie neste ‘novo’ ambiente.

11..11 AASSPPEECCTTOOSS GGEERRAAIISS SSOOBBRREE AA GGAARRÇÇAA--VVAAQQUUEEIIRRAA

A garça-vaqueira, Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758)

(Figura 1), pertence à Ordem Ciconiiformes, Família

Ardeidae, caracterizada por aves de vasta distribuição,

sendo na sua maioria paludícolas. Essas aves apresentam

plumagem rica em pó, responsável por manter a

elasticidade e a impermeabilidade das suas penas. O

comprimento total de B. ibis (ponta do bico até o fim da

cauda) é de aproximadamente 49cm (SICK, 1997).

Esta é a garça mais terrestre da família, amplamente distribuída e notavelmente

adaptada a muitos habitats, tanto terrestres quanto aquáticos. Diferentes dos outros

Ardeídeos, as garças-vaqueiras não dependem do ambiente aquático, mas o usam

regularmente. Talvez seja mais bem descrita como uma espécie adaptada a áreas

naturalmente perturbadas e convertidas em paisagens abertas, como as típicas pastagens

ou fazendas e áreas urbanas (e.g. parques, campos de esporte, bordas de estrada,

gramados e áreas de abandono e dejeto das cidades) (TELFAIR, 1994).

Figura 1. Desenho (SICK, 1997) de uma garça-vaqueira.

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Não há dimorfismo aparente entre os machos e as fêmeas, porém a plumagem

juvenil difere da adulta, que por sua vez apresenta variação no período reprodutivo

(detalhes sobre a mudança de coloração da plumagem e das partes nuas, e

comportamento durante o período reprodutivo são descritos por LANCASTER (1970)):

��Adulto não reprodutivo: Totalmente branco, com o bico, íris e tarsos amarelos e

dedos pardacentos (SICK, 1997). As pernas são ardósia esverdeada, o que à distância

parece preto, e as solas do pé são ocres (RIDDELL, 1944).

��Adulto reprodutivo: de vértice, peito e costas cor de ferrugem, bico e pernas

fortemente avermelhados (SICK, 1997).

��Imaturos: de bico, tarso e dedos anegrados (SICK, 1997).

Originalmente a espécie vivia na África tropical onde ocupava preferencialmente

as planícies de inundação periódica (SIEGFRIED, 1976 apud RUIZ et al., 1981). Desta

região várias dispersões ao longo do tempo têm propiciado a expansão da espécie e sua

diferenciação em subespécies (RUIZ et al., 1981): Bubulcus ibis ibis (Linnaeus, 1758)

encontrada na África e Madagascar, sudoeste da Europa até o mar Cáspio e nas

Américas, do Canadá até a Terra do Fogo; Bubulcus ibis coromandus (Boddaert, 1783),

do sudeste asiático até a Austrália, Nova Zelândia e Japão; e mais algumas formas

intermediárias, ainda duvidosas, nas ilhas do Oceano Índico, Bubulcus ibis

seychellarum (Salomonsen, 1934) e B. i. ruficristus, recomendada por Clancey, 1968,

para a Etiópia (TELFAIR, 1994).

11..22 CCOOLLOONNIIZZAAÇÇÃÃOO

A espécie B. ibis é originária da Europa Mediterrânea e da África, de onde

migrou para o Novo Mundo, supostamente sem a ajuda do homem (SPRUNT, 1955 apud

HEATWOLE, 1965).

A primeira observação desta espécie nas Américas foi feita na Guiana Inglesa, no

final do século XIX, entre 1877 e 1882, e já estava presente na Colômbia em 1917

(WETMORE, 1963). Tornou-se tão abundante nas porções setentrionais da América do Sul

(Suriname, Colômbia) que de lá pôde facilmente colonizar outras áreas, como, por

exemplo, o Brasil, tendo atualmente já sido vista até na Antártica (SICK, 1997).

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Em 1948, B. ibis, invadiu a América do Norte (SPRUNT, 1953 apud RICE, 1956)

se expandindo (DAVIS, 1960) e tornando-se, num intervalo de 30 anos, a garça mais

numerosa na América do Norte (FOGARTY & HETRICK, 1973). Em 1962 já se reproduzia no

Canadá (BURKLE & MANSELL, 1963). Seu número aumentou também na África (VINCENT,

1947) e colonizou a Austrália (SICK, 1997).

No Brasil, o primeiro registro desta espécie foi feito por SICK (1965) em 1964,

na Ilha de Marajó (Pará), onde essas aves estavam associadas a búfalos e nidificando em

bom número junto a outras espécies de garças. Segundo o mesmo autor a espécie existia

na localidade ao menos desde 1962 e atualmente é encontrada por todo o território

nacional além de registros em ilhas brasileiras (e.g. ANTAS et al., 1990 e AZEVEDO-

JUNIOR, 1992), tendo sua ocorrência e reprodução disseminada por todo o país.

A garça-vaqueira é uma ave migratória, com altas tendências à dispersão.

Distinções entre migração e dispersão são difíceis, já que essas aves tendem a percorrer

grandes extensões, exibindo repetidas incursões, colonizações temporárias, recuos e

estabelecimentos, dependendo das condições (HANCOCK & KUSHLAN, 1984). Jovens

são conhecidos por se deslocarem por grandes distâncias da colônia natal (BROWDER,

1973; TELFAIR, 1994).

As populações altamente nômades do oeste da África evitaram o deserto do

Saara e dispersaram pelo sul ao longo da costa, em resposta aos modelos de chuva que

promovem condições ótimas de alimentação e reprodução (HANCOCK & KUSHLAN,

1984). Essas aves (Oeste Africano) também foram registradas em várias ilhas do

Atlântico Sul (SEAMAN, 1955; TELFAIR, 1994) e em navios em alto-mar (ORGEIRA,

1995). Isso sugere a origem das garças do Novo Mundo. SIEGFRIED (1978 apud

TELFAIR 1994) especulou, depois de cálculos fisiológicos, que o potencial para o vôo

transatlântico, sem parada, era possível para a garça-vaqueira, ainda que assistido por

ventos favoráveis. Porém, como exatamente a primeira garça-vaqueira chegou ao Novo

Mundo pode nunca ser conhecido (ARENDT, 1988).

Apesar de ter hábitos migratórios e dispersivos, B. ibis não apresenta

comportamento migratório transatlântico. Assim, sua chegada no Novo Mundo foi

provavelmente fortuita. Aves migrantes têm sido tiradas de seu curso devido ao clima

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adverso, este é um fenômeno comum o suficiente, mas para ele resultar no estabelecimento

de novas colônias apenas sob condições muito favoráveis (RICE, 1956).

LOWE-MCCONNELL (1967) sugere que o sucesso do estabelecimento da garça-

vaqueira na Guiana deve-se principalmente, à sua biologia reprodutiva e às atividades

humanas mudando o ambiente. O crescimento da indústria pecuária constituiu o

impulso decisivo para esse crescimento populacional e o ritmo de propagação de B. ibis.

(RICE, 1956).

11..33 BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA

A garça-vaqueira vem expandindo sua área de reprodução desde o século XIX,

mas a fase de explosão ocorreu principalmente entre 1950 e 1970 (PAREJO et al., 2001).

A biologia reprodutiva desta espécie, caracterizada pelo agrupamento em

colônias mistas com outras espécies de garças, é documentada por vários autores, entre

eles, LOWE-MCCONNEL (1967) e KOPIJ, (1997) na África; RIDDELL (1944), RUIZ et al.

(1981) e PAREJO et al. (2001) na Espanha; JENNI (1969) e DUSI & DUSI (1970) na

América do Norte. Mas, existem poucas informações sobre sua reprodução no Brasil

(SICK, 1997), onde se pode citar os trabalhos de BELTON (1994) e PETRY & HOFFMANN

(2002) no Rio Grande do Sul, SOUZA & FREITAS (1997) e LIMA et al. (1997 e 1998) na

Bahia; NASCIMENTO (1999) na Paraíba e TOLEDO (2000) em São Paulo.

Segundo TELFAIR (1994), os ninhais ocupados por B. ibis, e estabelecidos por

garças nativas em arbustos ou árvores, são basicamente de quatro tipos: (1) pequenas

regiões de floresta, com riachos ou lagos adjacentes; (2) ilhas localizadas em

reservatórios; (3) pântanos e brejos; e (4) ilhas costeiras.

Os principais fatores que contribuem para a colonialidade nas aves relacionam-

se a predação e a utilização de recursos. Colônias são geralmente visíveis a predadores e

a redução da predação se faz através da coloração críptica de ovos e filhotes, construção

de ninhos em locais inacessíveis e comportamentos grupais antipredatórios. A sincronia

na reprodução (presumivelmente causada por estímulo social) também leva a um

decréscimo na predação por produzir alimento superabundante (jovens e ovos) em

momentos concentrados. A colonialidade pode aumentar a competição por recursos

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como: espaço, material para ninho, parceiros e alimento. A competição por alimento é

minimizada quando a colônia age como um centro de informação, onde forrageadores

que não foram bem sucedidos seguem os que tiveram sucesso. Em garças todos estes

fatores atuam, e as vantagens de colônias mistas incluem minimização da competição

por ninho e alimento, e maximização do comportamento antipredatório além de

aumentar as interações sociais e transferência de informação (BURGER, 1981). A maior

desvantagem da colonialidade é o aumento da transmissão de doenças e parasitas

(MCKILLIGAN,1996).

SICK (1997) afirma que o potencial biótico de B. ibis é maior do que o de muitas

outras garças, pois começam a procriar já no fim do primeiro ano de vida e fazem

freqüentemente duas posturas por estação. Acreditando inclusive que podem nidificar

antes de obter a plumagem adulta. Entretanto outros autores (RIDDELL, 1944; VINCENT,

1947; LOWE-MCCONNEL, 1967) afirmam que esta garça não assume a plumagem

reprodutiva antes do segundo ano e que não necessariamente se reproduz durante o

primeiro ano no qual essa plumagem está completa, ou seja, com três anos de idade

ainda não estariam reproduzindo. RIDDELL (1944) ainda coloca que garças com

plumagem de inverno (não reprodutiva) inquestionavelmente freqüentam as colônias

durante os meses reprodutivos, mas não se sabe se só para pernoitar ou se também

reproduzem.

Segue uma descrição sobre as áreas de atividade da espécie tendo-se em vista

que os sítios de pernoite diferem dos de reprodução e dos de alimentação (VINCENT,

1947).

��Sítios de alimentação: SICK (1997) descreve os campos secos e baixos como sendo o

ambiente de preferência da garça, pois facilita a localização e captura de insetos.

��Sítios ou colônias de pernoite: No fim da tarde, as garças têm a tendência de se

agrupar, antes de partirem para suas áreas de descanso, onde permanecem até o

amanhecer (VINCENT, 1947).

��Sítios de reprodução, ninhais ou colônias reprodutivas: durante o período

reprodutivo os sítios de pernoite podem ser transformados em colônias reprodutivas,

com a formação de casais e construção de ninhos (VINCENT, 1947).

55

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17

11..44 BBIIOOLLOOGGIIAA AALLIIMMEENNTTAARR

Estudos prévios sobre os hábitos alimentares da garça-vaqueira mostraram que a

espécie é primariamente insetívora (SEAMAN, 1955; JENNI, 1969; 1973 e GASSET et al.,

2000 no Novo Mundo e FOGARTY & HETRICK, 1973 no Velho Mundo).

Apesar de primariamente insetívoras, as garças-vaqueiras são oportunistas e

obtêm uma variedade de outros itens alimentares: muitas formas aquáticas de

invertebrados (FOGARTY & HETRICK, 1973), pequenos anfíbios, répteis, mamíferos

(GASSET et al., 2000; FOGARTY & HETRICK, 1973), aves (FOGARTY & HETRICK, 1973 e

CUNNINGHAM, 1965) e peixes (LOWE-MCCONNEL, 1967).

No Brasil, num exame do conteúdo estomacal realizado por ALVARENGA (1974

apud SICK, 1997), em São Paulo, obteve-se 23 aranhas, 17 gafanhotos, cinco grilos, oito

moscas, uma lagarta e duas pequenas rãs. AZEVEDO-JUNIOR (1997), em Pernambuco,

sugere a preferência por insetos na dieta alimentar de B.ibis, destacando duas espécies

de gafanhotos (Schistocerca pallens e Rhammatocerus sp.).

Essa garça é encontrada freqüentemente associada com grandes mamíferos,

principalmente com o gado bovino (HEATWOLE, 1965). De uma existência

aparentemente comensalista com os ungulados das planícies africanas (comensalismo

obrigatório para RICE, 1956), a garça-vaqueira se adaptou à técnica de capturar presas

atraídas ou espantadas pelo gado pastando (FOGARTY & HETRICK, 1973). Nessa relação

encontra-se uma das principais razões para sua expansão; o crescimento da indústria da

pecuária tornou disponível para as garças-vaqueiras um vasto e novo território, pois

nenhum grande mamífero pastador vivia nos trópicos do Novo Mundo anteriormente

(RICE, 1956).

Freqüentemente assume-se que invertebrados encontrados no corpo do gado,

como moscas e carrapatos, constituem grande parte da dieta da garça-vaqueira sendo

esta a base da associação (HEATWOLE, 1965), originando inclusive o nome de “Tick

bird” (Tick=carrapato, bird=ave) para B. ibis (FOGARTY & HETRICK, 1973). Porém essa

relação não está claramente definida, ou pelo menos não é uma regra geral. HEATWOLE

(1965) conclui que as garças se alimentam de uma grande variedade de invertebrados e

66

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18

pequenos vertebrados e que ectoparasitas ou insetos pegos diretamente do corpo do

gado são relativamente pouco importantes no seu orçamento alimentar.

Nos estudos de FOGARTY & HETRICK (1973), 90% dos alimentos identificados

eram insetos comuns de pastos – variedades que parecem ser perturbadas pelo gado.

Sendo que o gado teria um papel importante espantando e movendo os insetos dos quais

as garças então se alimentam, e não como hospedeiros desse alimento. HEATWOLE

(1965) mostrou que as garças associadas com o gado não apenas obtém mais alimento

por unidade de tempo que aquelas se alimentando sozinhas, mas que elas gastam menos

energia fazendo isso. THOMPSON et al. (1982) também mostraram a preferência e os

benefícios das garças-vaqueiras em forragearem juntamente com o gado.

Existem muitos estudos pelo mundo envolvendo o comportamento dos

hospedeiros da garça-vaqueira, itens obtidos em associação com o hospedeiro, e

análises de adaptação e vantagens desta associação. Porém, não existe um claro

consenso sobre o tipo de relação simbiótica, se comensalismo, mutualismo ou

protocooperação, mas a associação traz benefícios para o ótimo forrageamento, no qual

a quantidade de presa obtida e a energia gasta, são maximizadas e a energia ou o tempo

gasto são minimizados (TELFAIR, 1994).

Outro aspecto da alimentação oportunística de B. ibis são as observações de

FEARE (1975) da espécie se alimentando em locais de concentração de lixo e carniça.

Este autor acredita que o comportamento de se alimentar de carniça deva ter se

desenvolvido recentemente, talvez derivado da captura de insetos associados ao lixo.

77

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19

22.. OOBBJJEETTIIVVOOSS

22..11 OOBBJJEETTIIVVOOSS GGEERRAAIISS

Objetivou-se no presente estudo prover informações acerca da ocorrência,

biologia reprodutiva e alimentar de Bubulcus ibis no nordeste do Brasil, sobretudo na

região Agreste do Estado de Pernambuco, e no Arquipélago de Fernando de Noronha.

Comparando essas informações ao que é observado em outras regiões, e assim,

fornecendo elementos para a compreensão de sua expansão e estabelecimento em

diversos ambientes, além de impactos potenciais decorrentes dessa ocupação.

22..22 OOBBJJEETTIIVVOOSS EESSPPEECCÍÍFFIICCOOSS

��Avaliar a ocorrência de Bubulcus ibis no Nordeste do Brasil, sobretudo no

Agreste pernambucano;

��Descrever aspectos da Biologia Reprodutiva de Bubulcus ibis no Agreste

pernambucano; e avaliar aspectos desta biologia a partir da comparação com o

descrito para outras regiões;

��Determinar da composição da dieta de Bubulcus ibis no Agreste pernambucano;

e avaliar seus hábitos alimentares a partir de comparações com informações

disponíveis para outras regiões;

��Avaliar da ocorrência de Bubulcus ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha.

88

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20

33.. ÁÁRREEAA DDEE EESSTTUUDDOO

33..11.. AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

O presente estudo foi realizado no Estado de Pernambuco, localizado na porção

Nordeste do Brasil entre os paralelos de 7°15’45’’ e 9°28’18’’ Sul e os meridianos de

34°48’35’’ e 41°19’54’’ Oeste (Figura 2A).

ANDRADE-LIMA (1960 apud SALES et al., 1998) dividiu o estado de Pernambuco

em quatro zonas fitogeográficas: Litoral, Mata, Caatinga e Savana. A zona litorânea

compreende cerca de 20% do estado sendo representada pela mata Atlântica. A zona das

Savanas, constituída por vegetação de Cerrado, apresenta-se em tabuleiros litorâneos e

na Chapada do Araripe. A zona de Caatinga ocupa a maior extensão, com

aproximadamente 85.505 km2 representando 58% da superfície do estado. Esta zona é

caracterizada pelo domínio do clima semi-árido, tendo como cobertura vegetal principal

a vegetação de caatinga. Tomando como base níveis pluviométricos e altitudinais, além

do tipo de solo, ANDRADE-LIMA (op.cit.) dividiu esta zona em duas subzonas: Agreste e

Sertão. Dentro desta zona, especialmente na subzona do Agreste (Figura 2B),

encontram-se formações florestais úmidas, os “brejos de altitude” (SALES et al., 1998).

No geral o Nordeste está constituído principalmente por climas semi-áridos na

sua porção interiorana e por climas superúmido, úmido e semi-úmido, ao longo do

litoral. Em Pernambuco, os valores pluviométricos mostram-se superiores a 1.500mm,

atingindo no município de Barreiras, sul do estado, valores da ordem de 2.464mm. Em

contrapartida, a porção interiorana apresenta em quase 50% de sua extensão 750mm de

precipitação anual, com algumas áreas atingindo 1.000mm. Essa região é

profundamente marcada pela desigualdade na distribuição das chuvas, que se concentra

em apenas três meses consecutivos do ano (SALES et a.l, 1998).

A economia regional nordestina depende, substancialmente, da agropecuária. A

pecuária que constitui o mais importante aspecto da agricultura na região é mais

praticada nas áreas relativamente mais secas, que não são consideradas muito

apropriadas para a produção econômica vegetal (SOBRINHO, 1970).

Nos estudos de AZEVEDO-JUNIOR (1997) os maiores bandos de B. ibis no Estado,

foram registrados na região do Agreste Setentrional e Meridional, onde se observa a

99

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pecuária bovina, e onde se concentraram os esforços de amostragem do presente

trabalho.

Figura 2. Área de estudo. A. Brasil, destaque para Nordeste, Pernambuco. B. Estado de Pernambuco, destaque para a zona do Agreste. C. Arquipélago de Fernando de Noronha.

33..22.. AARRQQUUIIPPÉÉLLAAGGOO DDEE FFEERRNNAANNDDOO DDEE NNOORROONNHHAA

O Arquipélago de Fernando de Noronha, que é Distrito Estadual de Pernambuco,

teve 70% de sua área total transformada em Parque Nacional Marinho em 1988, sendo

administrado pelo IBAMA.

O Arquipélago, localizado a 356 km da costa nordestina, entre as latitudes 3°45'

e 3°57' Sul e longitudes 32°19' e 32° 41' Oeste (Figura 2C), é de origem vulcânica, e

composto por 21 ilhas, com uma área total de 26 km2. A localidade possui clima

tropical, com temperatura média anual de 27°C, e com as chuvas concentradas entre os

32°25’

32°27’

03°50’

Oceano Atlântico

0 1 2 km C Oceano Atlântico

Brasil

Nordeste

Uruguai

Peru

Colômbia

Venezuela

Guianas e Suriname

PE

FN

40°

15°

30°

70°

Argentina

Paraguai

Pernambuco Piauí

Paraíba

Bahia

Alagoas

Ceará

Oceano

Atlântico

SERTÃO AGRESTE MATA

38°

36°

40°

0 50 100 km

03°52’

A

B

1100

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22

meses de março a agosto, sofrendo influência oceânica. A precipitação média anual é de

1.294mm, porém oscila muito (OREN, 1982).

Esse Parque Nacional abriga as melhores colônias de aves marinhas entre as

Ilhas oceânicas da faixa tropical do Atlântico (ANTAS et al., 1990), das quais ainda

temos poucos estudos (e.g. OREN, 1982; 1984; NACINOVIC & TEIXEIRA, 1989 e ANTAS

et al.,1990). WILLIAMS (1984) também cita que Olson (1981) considera a população de

aves marinhas de Fernando de Noronha a mais ‘saudável’ de todas do Atlântico sul,

apesar de não existirem dados pretéritos, nem presentes, sobre o número destas

populações.

Alguns autores (e.g. ANTAS et al.,1990) acreditam que Fernando de Noronha

pode representar o ponto intermediário da colonização de espécies expandindo-se em

direção ao continente americano, como no caso de B. ibis.

O primeiro registro da garça-vaqueira no Arquipélago foi feito em 1986

(TEIXEIRA et al., 1987) e sua atividade reprodutiva foi observada em 2000 por J. M.

SILVA (com. pess.). Essa é a primeira ocorrência de reprodução da espécie em ilhas

oceânicas brasileiras.

1111

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23

44.. MMAATTEERRIIAAIISS EE MMÉÉTTOODDOOSS

44..11.. OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA DDEE BBUUBBUULLCCUUSS IIBBIISS NNOO NNOORRDDEESSTTEE DDOO BBRRAASSIILL

Os registros de reprodução de B. ibis no Nordeste do Brasil foram obtidos com

base na literatura somadas à observações de campo na região Agreste de Pernambuco e

no Arquipélago de Fernando de Noronha (as considerações sobre a ocorrência de B. ibis

no Arquipélago de Fernando de Noronha são apresentadas à parte -item 4.4).

As colônias no Agreste pernambucano foram localizadas acompanhando-se os

bandos avistados nas margens das estradas e a partir de informações com a população

local, durante viagens a campo realizadas entre 2000 e 2003. A posição exata das

colônias foi obtida com o auxílio de GPS, e o número de indivíduos estimado com o

auxílio de binóculos.

Para a estimativa do número total de aves presentes, dividiu-se o grupo em

blocos de acordo com o tamanho da colônia (BIBBY et al., 1992), não sendo

determinado o erro intrínseco desse método. Essas contagens foram efetuadas no fim do

dia, quando todos os indivíduos retornam para pernoitar.

Para avaliação da ocorrência de B. ibis no Agreste ainda foram registradas todas

as garças avistadas, bem como a atividade que estavam realizando (forrageamento,

repouso ou vôo), durante percursos realizados com automóvel. Uma excursão mensal

foi realizada de maio de 2002 a abril de 2003, porém em junho, agosto, setembro e

novembro de 2002 a ocorrência de chuvas nos trajetos impossibilitou a observação.

Essa amostragem foi feita de forma aleatória, sendo que diferentes estradas foram

percorridas (apresentadas nos resultados, item 5.1: Figura 5 e Tabela 3) entre as 7:30 e

14:00 horas, totalizando 2.459 km e 49,3 horas de observação.

44..22.. BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA DDEE BB..IIBBIISS NNOO AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

4.2.1 DESCRIÇÃO DA COLÔNIA

Uma colônia reprodutiva localizada no Agreste pernambucano, município de

Brejão, teve sua atividade monitorada mensalmente, de maio de 2002 a abril de 2003,

1122

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para a obtenção dos dados sobre a biologia reprodutiva e alimentar da garça-vaqueira.

As datas das visitas encontram-se na tabela 1.

Tabela 1. Datas das excursões - ano (primeira linha), dias e mês - realizadas à colônia reprodutiva de Bubulcus ibis no Município de Brejão.

2002 2002 2003 18 a 23 / maio 7 a 12 / setembro 24 a 26 / janeiro 15 a 20 / junho 19 a 26 / outubro 26 a 27 / fevereiro 13 a 19 / julho 16 a 19 / novembro 19 a 21 / março 17 a 22 / agosto 13 a 14 / dezembro 26 a 28 / abril

Para obtenção dos dados sobre a biologia reprodutiva de B. ibis, inicialmente

procedeu-se ao mapeamento da colônia. As árvores, utilizadas para a construção dos

ninhos, foram marcadas com placas plásticas numeradas e amarradas com fios de nylon

ao tronco. Para complementar a descrição da estrutura da colônia, a altura das árvores

foi estimada com auxílio de uma vara metrada e o diâmetro basal das árvores foi

medido com auxílio de uma trena.

4.2.2 OUTRAS ESPÉCIES

Observações sobre a ocorrência de outras espécies na colônia são apresentadas.

Realizou-se o monitoramento da presença de outro ardeídeo (Ardea alba, Garça-branca-

grande) na colônia de Brejão, durante o período das observações, através de contagens

do número de ninhos e filhotes.

4.2.3 NÚMERO DE INDIVÍDUOS

O número de indivíduos na colônia foi estimado em todos os meses de

monitoramento (da mesma forma descrita no item 4.1.) dividindo-se o grupo em blocos

de acordo com o tamanho da colônia (BIBBY et al., 1992). Os valores do número de

indivíduos, de maio a dezembro, representam uma média de seis contagens por mês, três

ao amanhecer, e três ao anoitecer; e de janeiro a março, média de três contagens, uma ao

amanhecer e duas ao anoitecer.

1133

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4.2.4 NINHOS

Contagens do número de ninhos em cada árvore foram realizadas durante todos

os meses de visita à colônia.

Alguns ninhos foram identificados com placas plásticas, visando auxiliar o

monitoramento do ciclo reprodutivo, sendo aferido em cada visita o número de ovos e

filhotes presentes. Desses ninhos foram obtidas medidas da altura, tamanho

(comprimento x largura x altura) e distância aos ninhos mais próximos, com auxílio de

uma trena. Foram escolhidos ninhos de diversas alturas tanto nas árvores com base

submersa na água do açude como aquelas localizadas na margem seca.

Nos ninhos com o conteúdo visível, foram feitas observações quanto ao número

de ovos e número de filhotes por ninho. Os ovos encontrados nos ninhos acessados (ver

item 4.2.6), assim como os encontrados caídos no chão da colônia (intactos, sem

rachaduras), durante os diversos meses de coleta foram medidos (comprimento x largura

e peso), com auxílio de um paquímetro (±0.01mm) e uma balança Pezola 300g

(±0.05g).

Os ovos intactos encontrados no chão da colônia foram coletados e depositados

na coleção de aves do Laboratório de Ornitologia de Universidade Federal de

Pernambuco.

Dados comparativos foram obtidos com base na literatura.

4.2.5 NÚMERO DE OVOS, NINHEGOS, JUVENIS E ADULTOS

Cada árvore da colônia teve o número de ovos, ninhegos, juvenis e adultos

chocando contabilizado durante os meses de coleta de dados.

Filhotes foram considerados “ninhegos” quando não saem do ninho, e “juvenis”,

quando já podem se deslocar pelas copas das árvores e voar, ainda apresentando

coloração preta do bico e pernas.

Esses números são muito imprecisos, já que muitos ninhos devido à localização

e posição do observador não tinham seu conteúdo visualizado, principalmente quando

com ovos e ninhegos. Além disso, a presença do observador na colônia fazia com que

juvenis se afastassem, se deslocassem para outros ninhos ou que adultos chocando se

1144

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levantassem. Porém, ainda assim, esses dados representam padrões gerais da colônia e

são apresentados juntamente com observações pertinentes.

4.2.6 FILHOTES

Os ninhos foram acessados com o auxílio de uma escada (3m), cuidadosamente

apoiada ao tronco principal da

árvore, e os ninhegos (filhotes

em idade que não se movem do

ninho) capturados. Para os

ninhos localizados em árvores

com a base submersa foi

utilizado o mesmo procedimento,

com o uso adicional de um

macacão de borracha, para evitar

o contato do pesquisador com a

água/lodo do açude.

Os filhotes foram marcados com anilhas fornecidas pelo CEMAVE (Centro de

Pesquisas para a Conservação das Aves Silvestres/IBAMA/MMA) (Figura 3), pesados,

com o auxílio de uma balança Pezola 300g (±0.05) e medidos (tarso, cúlmem total e

narina-ponta) com auxílio de paquímetro (±0.01mm). Após as medidas e marcação, os

ninhegos foram recolocados em seus respectivos ninhos. As anilhas poderão ser

recuperadas e futuramente fornecer informações sobre o paradeiro destes filhotes.

Visando avaliar o desenvolvimento dos filhotes de B. ibis, 35 filhotes de

diversas idades, capturados entre julho e setembro, foram medidos com intervalos de 2

ou 3 dias. Com base nas diferenças das medidas apresentadas nesse intervalo, foi

calculada a relação de tempo pelo crescimento (�T/dL). A partir desta relação foi

construído um gráfico relacionando �T/dL com o comprimento inicial da medida e

traçada uma curva que melhor representasse a distribuição destes pontos, obtendo-se

uma equação (equação 1) de primeiro grau (y = ax+b, onde y = �T /dL e x = tamanho

inicial). A equação de segundo grau (equação 2) primitiva desta obtida de primeiro grau

(y=(a/2)x2+bx+c) descreveria o crescimento dos filhotes ao longo do tempo, onde y

Figura 3. Figura ilustrando a marcação (indicada pela seta) realizada em filhotes. Exemplar de B. ibis anilhado na colônia de Brejão em agosto de 2002.

1155

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seria a idade e x o tamanho, faltando para isto apenas determinar o valor da constante c,

que aparece por substituição dos valores de x e y (tamanho e idade) conhecidos.

A partir do tamanho das medidas de cúlmem foi estimada a idade dos filhotes

segundo as relações encontradas por KOPIJ (1997), onde filhotes com um a sete dias

(uma semana) de vida teriam entre 16 e 25mm de comprimento de cúlmem; com 8-14

dias (duas semanas), comprimento de 26-33mm; de 15-21 dias (três semanas), 34-37

mm; e mais de 21 dias de idade, com medidas maiores que 38mm de cúlmem.

Não foram obtidos os trabalhos de Ricklefs & White (1975: A method for

constructing nestling growth curves from brief visits to seabird colonies.) e Ricklefs

(1957: A graphical method of fitting equations to growth curves) que desenvolveram

método para construção de curvas de crescimento e ajuste, ficando para futuros

trabalhos comparações e aplicações com estes métodos já conhecidos. TELFAIR (1994)

afirma que o ganho de peso e o crescimento do cúlmem encaixam-se bem em equação

logística, mas a descrição dessa equação, assim como a sua aplicação encontra-se numa

tese de doutorado no Texas que não foi acessada, ficando também para futuras

comparações.

4.2.7 MOVIMENTO COM GRAVETOS

Nos meses em que as garças apresentaram o comportamento de retorno à colônia

carregando gravetos para a construção dos ninhos, o número de indivíduos envolvidos e

o horário desta atividade foram registrados.

4.2.8 MOVIMENTO DE RETORNO

Mais um parâmetro da dinâmica desta colônia foi avaliado pelo movimento de

retorno dos indivíduos vindos da área de forrageamento para pernoite na colônia.

Durante todos os meses de monitoramento realizou-se a contagem do número de

indivíduos, indivíduos por grupo, direção de origem, e horário dos bandos de garça-

vaqueira que retornam para pernoite na colônia. A direção de origem dos grupos foi

obtida com o auxílio de uma bússola. Para cobrir todo o campo de visão, houve a

necessidade de dois observadores posicionados em direções opostas. As médias

apresentadas referem-se a contagens realizadas durante três dias consecutivos.

1166

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44..33.. CCOOMMPPOOSSIIÇÇÃÃOO DDAA DDIIEETTAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

4.3.1 COLETA DE REGURGITOS E PELOTAS

Foram coletados 157 regurgitos de ninhegos em seis meses, entre maio e outubro

de 2002, durante as visitas à colônia de Brejão. A partir de novembro, com a interrupção

da atividade reprodutiva e conseqüente ausência de filhotes, não foi possível a obtenção

deste material. Em fevereiro de 2003, apesar da atividade reprodutiva ter sido retomada,

havia poucos ninhos e de difícil acesso, impossibilitando a coleta de regurgitos.

Diferentes quantidades de regurgito foram coletadas em cada mês, conforme a

variação na disponibilidade (número de filhotes presentes e possibilidade de captura).

Este material era espontaneamente regurgitado quando os filhotes eram capturados para

marcação e obtenção de medidas (ver item 4.2.6). Em algumas circunstâncias os jovens

regurgitavam do próprio ninho, em razão da presença do observador na colônia, sem a

necessidade de manipulação. No mês de setembro alguns dos regurgitos foram obtidos

do mesmo filhote: um único filhote chegou a regurgitar quatro bolotas, outros três

regurgitaram duas vezes.

Os regurgitos coletados foram congelados e transportados ao laboratório. No

laboratório de Ornitologia da Universidade Federal de Pernambuco, foram organizados

em potes, devidamente etiquetados e preservados em álcool 70% para posterior análise.

Realizaram-se paralelamente coletas de ‘pelotas’ de adultos (material não

digerível, regurgitado), encontradas no chão da colônia. Esse material foi seco em estufa

50° C e armazenado para posterior análise. As pelotas de adultos puderam ser obtidas ao

longo de todo o ano de estudo. Contudo, por conterem apenas fragmentos não digeríveis do

alimento, além de não proverem informações diretas do volume dos itens, sua análise foi

descartada deste estudo, sendo analisados apenas os regurgitos obtidos dos filhotes. Este

material foi depositado no laboratório de Ornitologia da Universidade Federal de

Pernambuco para futuros estudos.

4.3.2 IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DOS ITENS ALIMENTARES

Os regurgitos obtidos de ninhegos foram triados, com a separação do seu

conteúdo nos principais táxons. Posteriormente esse material foi identificado com a

1177

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colaboração de especialistas em cada táxon. A identificação dos Orthoptera foi auxiliada

pelo Prof. Dr. Argus Vasconcelos do Departamento de Zoologia da Universidade

Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); os Acarina foram identificados pela Profa. Dra.

Jacqueline Bianchi do Departamento de Zoologia da UFRPE; os indivíduos da Ordem

Aranea pelo Prof Dr. Antônio Brescovit do Laboratório e Artrópodes Peçonhentos do

Instituto Butantan/São Paulo; demais grupos de invertebrados (Insecta) pela Profa. Dra.

Luciana Iannuzzi e pela biológa Débora Suzuki do Departamento de Zoologia da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os Amphibia foram identificados pela

doutoranda Ana Carolina Carnaval da Universidade de Chicago; os lagartos (Lacertilia)

pelo mestrando Claudio Cazal e as Serpentes pela Profa. Dra Miriam Camargo

Guarnieri, ambos do Departamento de Zoologia da UFPE. O único mamífero

encontrado foi analisado pelo Prof. Dr. Deoclécio Guerra do Departamento de Zoologia

da UFPE.

Cada item teve seu volume estimado com o auxílio de provetas de 5, 10, 100 ou

250 ml.

4.3.3 FREQÜÊNCIA RELATIVA

Os itens identificados com seu respectivo volume foram analisados, ao longo dos

meses de coleta, sob os seguintes aspectos:

��Número de indivíduos por regurgito (N/R);

��Volume dos itens por regurgito (V/R);

��Freqüência relativa por abundância: N/NT (número de indivíduos de um grupo

em relação ao número total de indivíduos, em porcentagem);

��Freqüência relativa por volume: V/VT (Volume dos indivíduos de um grupo

em relação ao volume total da amostra, em porcentagem);

��Freqüência de Ocorrência (n°de amostras nas quais o item ocorre/ total de

amostras).

Visando facilitar a análise, os indivíduos foram reunidos em grupos de diferentes

hierarquias taxonômicas, levando-se em conta principalmente a importância na

participação da dieta.

1188

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30

Para alguns grupos ao invés da somatória do número ou volume de indivíduos

encontrados e divisão pelo número total de regurgitos obtidos no mês (N/R e V/R, por

mês), calculou-se a média de itens por regurgito obtido no mês, e seu desvio (M(N/R) e

M(V/R), por mês). Os únicos meses que tiveram seus regurgitos individualizados foram

agosto, setembro e outubro. Nos meses de maio, junho e julho, os regurgitos foram

agrupados por dia de coleta, assim se num dia foram obtidos cinco regurgitos, estes

foram agrupados e analisados em conjunto, dividindo-se o conteúdo total por cinco, o

que pode resultar num menor desvio em relação à média descrita acima. É por essa

razão que o agrupamento de todos os itens e divisão pelo número total foi mais

utilizado, na tentativa de uniformizar os resultados obtidos.

Dados comparativos foram obtidos com base na literatura.

4.3.4 AMPLITUDE DE NICHO

Para medir a diversidade da dieta, levando em conta a distribuição quantitativa

de cada presa (na categoria de ordem e família), aplicou-se o Índice (B) de amplitude de

nicho de Levins (1968). Se poucos itens têm alta proporção na dieta o índice tende a ser

menor (mínimo de amplitude, máximo de especialização). No caso de vários itens

apresentarem proporções semelhantes, o valor do índice tende a ser maior (máximo da

amplitude). O índice (B) vai de 0 a n, onde n é o número total de categorias (ordens ou

famílias). Para expressar essa relação em escala de 0-1, foi então foi calculado o Índice

de Levins padronizado (Ba) segundo Hurlbert (1978), onde os valores variam de 0

(especialista) a 1 (generalista) (KREBS, 1989). Segue a fórmula utilizada para o cálculo

dos Índices:

B=1/ΣΣΣΣ Pj 2, onde:

B= Índice da amplitude de nicho de Levins;

Pj = Proporção do item alimentar j encontrado na dieta (ΣPj = 1).

Ba= B-1/n-1, onde:

Ba= Amplitude do nicho de Levins padronizado;

B = Indice de amplitude de Levins;

N = número de categorias.

1199

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31

44..44.. OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AARRQQUUIIPPÉÉLLAAGGOO DDEE FFEERRNNAANNDDOO DDEE

NNOORROONNHHAA

No período de 4 a 14 de fevereiro de 2003 realizou-se visita ao Arquipélago de

Fernando de Noronha, para avaliação da ocupação deste ambiente pela garça-vaqueira.

Nesta ocasião foram identificados os locais de descanso, alimentação e nidificação desta

espécie.

O número de indivíduos presentes no Arquipélago foi estimado a partir da

contagem das garças que retornavam para as colônias no fim do dia para pernoitar.

Foram também registrados todos os indivíduos avistados e a atividade que

estavam realizando (forrageamento, repouso ou vôo), durante percursos realizados com

carro, barco, ou a pé.

2200

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32

55.. RREESSUULLTTAADDOOSS

55..11.. OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA DDEE BBUUBBUULLCCUUSS IIBBIISS NNOO NNOORRDDEESSTTEE DDOO BBRRAASSIILL

5.1.1. REGISTRO DE COLÔNIAS

As colônias reprodutivas registradas para o Nordeste estão relacionadas na tabela

2. Foram avistadas três colônias reprodutivas e uma colônia de pernoite de B. ibis, além

de vestígios da ocorrência de um sítio de reprodução no Agreste pernambucano. Todas

apresentaram aspecto geral semelhante (Figura 4), construídas nas margens de açudes,

sobre galhos da Jurema Piptadenia obliqua (Pers) Maclar (Leguminosae) e da

Algarobeira Prosopsis juliflora (SW) DC (Leguminosae).

Figura 4. Aspecto geral de uma colônia reprodutiva de B. ibis construída nas margens de um açude sobre galhos de Jurema (Piptadenia obliqua).

Duas colônias reprodutivas foram localizadas em julho de 2000, uma delas no

município de Ameixas (08°06’25’’S e 35°46’40’’W) e outra em São Bento do Una

(08°29’07’’S e 36°21’23’’W), com aproximadamente 1.500 e 10.000 indivíduos adultos

(reprodutivos e não reprodutivos), respectivamente. Essas localidades foram novamente

visitadas em maio de 2002, quando as colônias haviam se dissolvido. Em Ameixas, o

açude estava com cerca de 30% do volume de água observado anteriormente, e em São

Bento do Una a maioria das árvores haviam sido cortadas.

2211

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33

O terceiro ninhal foi avistado em novembro de 2001, no município de Brejão

(09°00’37’’S e 36°31’01’’W) com cerca de 12.000 indivíduos, sendo observados ninhos

com ovos e filhotes.

Em janeiro de 2003 foi localizada uma colônia de pernoite no município de

Pombos (08°08’29’’S e 35°23’45’’W), com cerca de 250 garças-vaqueiras. Alguns

destes indivíduos apresentavam plumagem de reprodução, porém foram encontrados

apenas dois ninhos abandonados, caídos no chão. No mesmo período foram observados

vestígios de ninho de B. ibis em uma fazenda no município de Altinho (08°29’23’’S e

36°03’34’’W), apesar de não ter sido avistado nenhum indivíduo. Relatos de moradores

da localidade sugerem a ocorrência de reprodução da garça-vaqueira nos anos

anteriores. Os municípios onde foram localizadas as colônias estão representados na

figura 5.

Tabela 2. Registros de colônias reprodutivas no Nordeste do Brasil. São apresentados para cada registro: o município; o estado; a data; o número de indivíduos de B.ibis; o número de outros ardeídeos quando presentes; o período onde foi observada reprodução; e o autor do respectivo registro.

Município Estado Data do Registro

Número de B. ibis

Número de outros ardeídeos

Período de reprodução

Referência

Serrinha BA Outubro 1996

1500 -

400 Nycticorax nycticorax

-

Outubro a Novembro/1996

Junho a

Agosto/1997

Lima et. al., 1997

Lima et. al.,

1998

Quijingue BA Agosto 1996

250 ninhos - Agosto a Outubro

Souza & Freitas, 1997

Patos PB Fevereiro 1995

1500 3000 Ardea alba 500 Egretta

thula

Ano todo? Nascimento, 1999

Brejo do Cruz

PB Abril 1996

500 30 Ardea alba 80 Egretta thula

Abril/1997 e 1998

Nascimento, 1999

Cajá PB Agosto

1997 14000 5 Ardea alba Março e

Agosto/1997 Nascimento,

1999

Ameixas PE Julho 2000

10000 - Julho/2000 Presente estudo

São Bento do Una

PE Julho 2000

1500 - Julho/2000 Presente estudo

Brejão PE Novembro 2001

12000 78 Ardea alba Ano todo Presente estudo

2222

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34

1.2. Ocorrência e atividade

Durante os percursos pelas estradas do Agreste pernambucano (Figura 7) foram avistados 1724 indivíduos de B. ibis em 49.3 horas de observação (tabela II). Nos meses de junho, agosto, setembro e novembro de 2002 a ocorrência de chuvas durante as viagens impossibilitou a observação.

Do total de B. ibis observadas, 48.5% ocorreram em uma única excursão, em maio de 2002 (tabela II). O valor obtido do desvio padrão mostrou uma assimetria em relação à média de indivíduos avistados por quilômetro (M=6.6, S=7.7), nos diferentes meses e trajetos.

O trajeto B (figura 5D), percorrido em diversos meses (tabela II), apresentou uma média de 5.7 (S = 3.00) indivíduos avistados por quilômetro. Este mesmo trajeto soma 35.8% do total de indivíduos observados.

Os maiores bandos, registrados durante estes percursos, ocorreram na região centro-oeste do Agreste, nos municípios de São Caetano, Cachoeirinha, São Bento do Una e Lagedo. A outra localidade com ocorrência de grupos com mais de 50 indivíduos foi município de Pombos, de posição mais setentrional, limite entre o Agreste e a zona da mata de Pernambuco (Figura 7).

Do total de aves, observadas nas margens das estradas, 67,5% estava em atividade de forrageamento, 31,9% estavam em repouso e apenas 0,6% em atividade de vôo. Das garças avistadas forrageando 69,5% encontrava-se associada com o gado bovino, 7,4% associava-se a eqüinos. E entre as aves que estavam em repouso, 37,7% encontravam-se aglomeradas com o gado também descansando e 42.6% estavam próximas a açudes ou brejos (Tabela III). Em todos os meses de observação foram registradas garças com plumagem de reprodução

Figura 5. A. Estado de Pernambuco, em destaque o Agreste. B. Locais de ocorrência de B. ibis no Agreste de Pernambuco, com a representação dos trajetos percorridos e municípios onde foram avistados bandos de B. ibis(grupos grandes, de 50 indivíduos a 150 indivíduos; grupos médios, de 15 a 50 indivíduos e grupos pequenos, com menos de 15 indivíduos). Os municípios onde foram localizadas colônias de reprodução ou pernoite de B. ibisestão representados pelos símbolos vazados (de acordo com o tamanho dos bandos avistados nas respectivas margens das estradas).

PERNAMBUCO PIAUÍ

PARAÍBA

ALAGOAS

CEARÁ

Oceano Atlântico

Sertão Agreste Mata

- 8°

- 9°

- 38°

- 36°

- 40°

0 100 km

A

BAHIA

50

4

1

5

3 2

6 7

8

9

10

11

12 13

14

15

16

17

18 19

20

30

29

28

26

27

25

21

22 24

23

- 36°°°° - 37°°°°

- 9°°°°

AGRESTE

LEGENDA Trajeto Estrada Cidades � � PE095 1/2/3 ♦♦♦

� � �

BR232 BR232 PE180 PE193

4/5 6

A

� � � BR423 PE218

7/8/9/10 11

BR232 12/13/14

♦♦♦ BR232 4/5

B

� � � BR423 PE218

7/8/9/10 11

= = = � �

PE090 PE095

1/15/16 2/3

♦♦♦ BR232 4/5

C

� � � BR423 PE218

7/8/9/10 11

� � � PE218 17 D

+ + +

BR424 18/19/20

BR232 12/13/14 E � � � PE103

PE109 PE120 PE149 BR104 PE177

21/22 23 24 25/26 28/29/30

F � � ♦♦♦ � � �

PE095 BR232 BR423 PE218

1/2/3 4/5 7/8/9/10 11

G

= = = � � � � �

PE090 PE095 BR104 PE170 PE158 PE177

1/15/16 2/3 4/23/25 27 28/29/30

Municípios com grupos maiores que 50 indivíduos

Municípios com grupos de 15 a 50 indivíduos

Municípios com grupos menores do que 15 indivíduos

Cachoeirinha (7) Jupi (9) Lagedo (8) São Caetano (5)

Bom Jardim (15) Bonito (22) Camocim de São Félix (21)

Caruaru (4) Garanhuns (10) Limoeiro (1) Poço Comprido(19)

Agrestina (23) Angelim (29) Bezerros (14) Canhotinho(28)

Correntes (20) Gravatá (13) R. Almas(3) IIrraattaammaa ((1188)) Jurema (27)

Panelas (25) Quipapá (26) São João (30) Surubim (16) Terezinha (17)

Pombos (12) São Bento do Una (6)

Brejão (11)

Altinho (24) Ameixas (2)

B

2233

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35

55..11..22.. OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EE AATTIIVVIIDDAADDEE

Durante os percursos pelas estradas do Agreste pernambucano (Figura 5) foram

avistados 1.724 indivíduos de B. ibis, dos quais 48,5% ocorreram em uma única

excursão, em maio de 2002 (Tabela 3).

O valor obtido do desvio padrão mostrou uma assimetria em relação à média de

indivíduos avistados por quilômetro (M=6,6, S=7,7), nos diferentes meses e trajetos. O

trajeto B (Figura 5B), percorrido em diversos meses (Tabela 3), apresentou uma média

de 5,7 (desvio padrão: S = 3,0) indivíduos avistados por quilômetro. Este mesmo trajeto

soma 35,8% do total de indivíduos observados.

Trajeto D (Km)

T (h)

N°°°° B.ibis

% B. ibis

Ind/10km

Maio/2002/A

284

7,7

837

48,5

29,5

Julho/2002/B

214 4,0 194 11,3 9,1

Outubro/2002/B

214 4,0 66 3,8 3,1

Dezembro/2002/C

260 5,8 126 7,3 4,8

Janeiro/2003/B

214 3,0 114 6,6 5,3

Janeiro/2003/D

105 3,5 57 3,3 5,4

Janeiro/2003/E

226 4,3 77 4,5 3,4

Fevereiro/2003/B

214 4,0 185 10,7 8,6

Março/2003/F

213 5,0 2 0,1 0,1

Abril/2003/B

214 3,0 58 3,4 2,7

Abril/2003/G

301 5,0 8 0,5 0,3

Total 2459 49,3 1724 100 M = 6,6 S = 7,7

Tabela 3. Relação das excursões realizadas e resultados obtidos. (Trajeto):mês/ano/código do percurso realizado, esses percursos estão explicitados na figura 5C; (D): distância percorrida, em quilômetros; (T): tempo de observação, em horas; (N°°°° B.ibis): número de indivíduos de B. ibis avistados; (% B.ibis): número de garças-vaqueiras observadas em cada trajeto em relação ao total observado, expresso em porcentagem; (Ind/10km): número garças-vaqueiras avistadas em relação à quilometragem percorrida, expresso em número de indivíduos a cada dez quilômetros. Total de quilômetros percorridos, horas de observação e indivíduos avistados. Média(M) e desvio padrão (S) do número de indivíduos avistados em relação à quilometragem percorrida.

2244

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36

Os maiores bandos, registrados durante estes percursos, ocorreram na região

Centro-oeste do Agreste, nos municípios de São Caetano, Cachoeirinha, São Bento do

Una e Lagedo. A outra localidade com ocorrência de grupos com mais de 50 indivíduos

foi o município de Pombos, de posição mais setentrional, limite entre o Agreste e a zona

da mata de Pernambuco (Figura 5).

A maioria das aves avistadas nas margens das estradas estava em atividade de

forrageamento. Destas, 69,5% encontrava-se associada com o gado bovino. Entre as

aves que estavam em repouso, 37,7% encontravam-se aglomeradas com bovinos

também descansando e 42,6% estavam próximas a açudes ou brejos. Apenas 0,6% das

aves observadas estavam em atividade de vôo (Tabela 4). Em todos os meses de

observação foram registradas garças com plumagem de reprodução.

Tabela 4. Atividades realizadas pelas garças observadas, durante os percursos pelas estradas do Agreste pernambucano, expressas em porcentagem de ocorrência: 1. Forrageamento, quando caminham procurando por alimento. 2. Repouso, quando empoleiradas, ou paradas. 3. Vôo. As garças, que estavam em atividade de forrageamento e repouso, foram distribuídas em três categorias de acordo com a presença ou não de gado ou alagados próximos.

Atividade

Ocorrência (%)

Atividade

Ocorrência (%)

1. Forrageamento 67,5 1A. Forrageando com o gado bovino 69,5 1B. Forrageando com eqüinos 7,4 1C. Forrageando sem pastadores 23,1 2. Repouso 31,9 2A. Repousando próximo ao gado 37,7 2B. Repousando próximo de açudes 42,6 2C. Repousando sem gado ou água 29,7 3. Vôo 0,6

2255

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37

55..22.. BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

5.2.1 DESCRIÇÃO DA COLÔNIA

O monitoramento da atividade reprodutiva foi realizado na colônia de garça-

vaqueira localizada na Vila de Santa Rita, Município de Brejão (09°00’37’’S e

36°31’01’’W), Agreste pernambucano.

Este ninhal se estabeleceu nas margens de um açude, construído próximo de uma

pequena estrada de terra. Segundo informações dos proprietários do açude, as garças já

ocupavam a área há aproximadamente quatro anos (desde 1998), ininterruptamente,

iniciando a ocupação um ano depois da construção do açude.

A figura 6 mostra um desenho esquemático desta área. Os ninhos foram

confeccionados sobre galhos de uma vegetação homogênea e monoespecífica

constituída de Juremas (Piptadenia obliqua) concentradas na margem Sudeste (C1 –

Figura 6 e 7) e Leste (C2-Figura 6 e 9) do açude. Um agrupamento de capim e pequenos

troncos de Jurema, na margem sul servia de local para pernoite e chegou a ser usado

para a construção de alguns ninhos (D1-figura 6 e 8). Nas margens Oeste e Sul, plantas

flutuantes (aguapé e taboa), foram utilizadas para pernoite nos meses com maior

número de aves na colônia (D2 e D3-figura 6).

Figura 6. Desenho esquemático do açude onde estava situada a colônia estudada, localizado em uma Fazenda na Vila de Santa Rita, Município de Brejão. C1 e C2.Localização das árvores utilizadas pelas garças para a construção de ninhos. D1, D2 e D3. Locais utilizados pelas garças apenas para pernoite.

2266

C1

C2

D1

D3 AÇUDE

ESTRADA

N

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38

Figura 7. Árvores utilizadas para a construção de ninhos por B. ibis, da área denominada C1 da colônia de Brejão.

Figura 8. Área D1 da colônia de Brejão utilizada como dormitório pelas garças-vaqueiras.

Figura 9. Árvores utilizadas para a construção de ninhos por B. ibis, da área denominada C2 da colônia de Brejão.

2277

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39

O diâmetro basal médio de 70 árvores localizadas na margem seca da colônia

(área C2) foi de 51,51cm com desvio padrão de 14,03 cm.

A altura de média de 16 árvores emersas (área C2) foi de 5,47±1.56m, de 10

árvores com a base submersa (área C2) foi de 3,59 ± 1,12 m e de sete árvores com a

base submersa em água (área C1) foi de 2,88 ± 0,35. No total a altura das árvores variou

de 1,6 a 8,0 m de altura com média de 4,72 e desvio padrão de 1,67 m.

As árvores utilizadas para pernoite e construção dos ninhos na área C2 foram

mapeadas para auxiliar no monitoramento:

Árvores com base submersa (C2)

As árvores com a base submersa na água do açude apresentaram grandes

concentrações de ninhos de garça-vaqueira, e o mapeamento destas 47 árvores está

indicado na figura 10.

Durante os períodos de coleta de dados, os meses de maio a agosto

apresentaram-se como chuvosos. A partir daí as chuvas diminuíram, ocorrendo com

baixa freqüência até o mês de abril. Em outubro a diminuição das chuvas já se notava

pelo aspecto seco da vegetação. As figuras 11 e 12 indicam a diminuição no nível de

água do açude durante o ano de monitoramento da colônia de Brejão. Esta variação

esteve relacionada ao regime de chuvas, além do desvio da água do açude para a

irrigação de plantações da fazenda. Com isso, mais da metade das árvores, inicialmente

com a base submersa no açude, ficaram em solo seco.

Em outubro o lago começou a ser coberto por aguapé, que chegou a ocupar toda

a extensão da superfície do lago em dezembro. Em março duas árvores foram tombadas

(A13 e A34), e em abril outras 21 árvores inicialmente com a base submersa na água

foram derrubadas. Restaram apenas 24 árvores das 47 existentes inicialmente, sendo 16

destas com a base na água e 8 em solo seco (Figura 12).

2288

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29

A3

A42

A41

A43

A40

A44

A39

A38

A37A36

A35

A34

A33

A32

A31

A30

A29A

A29

A28

A27

A26

A23

A25

A22

A21

A20

A18

A19

A17

A16

A15

A14

A13

A10

A11

A12A9

A8

A6

A24

A7A6A

A5

A4

A2

A1A

A1

0

2

4

6

8

10

12

14

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74Distância longitudinal (m)

Dis

tânc

ia tr

ansv

ersa

l (m

)

Figura 10. Posição das árvores com a base submersa na água da margem do açude da colônia de Brejão (C2), utilizadas para a construção dos ninhos de B. ibis, no início do monitoramento (junho de 2002). O zero do eixo das ordenadas indica a margem do açude.

2299

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30

A1

A1A

A2

A4

A5

A6AA7

A24

A6

A8

A9A12

A11

A10

A13

A14

A15

A16

A17

A19

A18

A20

A21

A22

A25

A23

A26

A27

A28

A29

A29A

A30

A31

A32

A33

A34

A35

A36A37

A38

A39

A44

A40

A43

A41

A42

A3

0

2

4

6

8

10

12

14

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74Distância longitudina (m)l

Dis

tânc

ia tr

ansv

ersa

l (m

)

Figura 11. Posição das árvores submersas da colônia de Brejão no mês de dezembro de 2002, indicando, pelo deslocamento do eixo da abscissa, que o nível da água do açude desceu aproximadamente 5 m em relação ao nível no início do monitoramento.

3300

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31

A3

A41

A43 A42

A40

A21

A20

A29A

A29

A27

A28

A23

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A7

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0

2

4

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8

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12

14

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74

Distância longitudinal (m)

Dis

tânc

ia tr

ansv

ersa

l (m

)

Figura 12. Posição das árvores ainda remanescentes no mês de abril de 2003, que no início do monitoramento possuíam a base submersa na água do açude da colônia de Brejão. Mostrando que o nível da água do açude desceu aproximadamente oito metros em relação ao nível inicial, indicado pelo deslocamento do eixo da abscissa.

3311

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32

T58

T61

T60

T59

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T55T57T53

T50

T54T49A

T48T47

T49T46

T51

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T25

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T33

T47A

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T39T31AT31

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T16T14T11

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0

2-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70

Distância Longitudinal (m)

Dis

tânc

ia T

rans

vers

al (m

)

Figura 13. Posição das árvores na margem seca do açude da colônia de Brejão, utilizadas para a construção de ninhos de B.ibis, no início do monitoramento (junho de 2002). O zero do eixo das ordenadas indica a margem do açude.

3322

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33

T62

T64

T63

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T3

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T6 T7

T8

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T10T14T11

T12

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T39

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T31T31A

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T104

T87T92

T46

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T47A

T49 T49A

T50

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T59

T113

T61

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T67T68

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T86 T88T91T89

T90

T93

T94 T95

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T100

T101

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T106 T107 T108

T109 T110

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2-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70

Distância Longitudinal (m)

Dis

tânc

ia T

rans

vers

al (m

)

Figura 14. Posição das árvores na margem seca do açude da colônia de Brejão, utilizadas para a construção de ninhos de B.ibis, em setembro de 2002.

3333

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34

T62

T63

T65

T4

T5

T6

T9

T10T14T11

T13

T15

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T18

T20

T21

T23 T24

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T95

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-38

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2-4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70

Distância Longitudinal (m)

Dis

tânc

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rans

vers

al (m

)

Figura 15. Posição das árvores utilizadas para a construção de ninhos de B.ibis, que não foram derrubadas até o mês de abril de 2003, na margem seca do açude da colônia de Brejão.

3344

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86

86

Árvores com base emersa (C2)

A margem seca do açude apresentou um número de árvores, disponíveis como

substrato para construção de ninhos, superior ao número de árvores submersas na água,

alcançando, em setembro de 2002, um total de 114 árvores ocupadas com ninhos de B. ibis.

O mapeamento destas árvores encontra-se na figura 13. Em julho de 2002 foram

contadas 28 árvores derrubadas em torno da colônia e mais três árvores que continham

ninhos (T1, T2 e T3).

Em agosto, novas 44 árvores foram ocupadas pelos ninhos de B.ibis, além das

que já eram utilizadas no início do monitoramento (Figura 14). Inicialmente só eram

encontrados ninhos em árvores distantes até 14 m da margem do açude, e em agosto as

garças passaram a utilizar árvores até 32 m distantes da margem.

Em setembro de 2002 foi observado novo incremento na ocupação de árvores

utilizadas para a construção de ninhos (Figura 15), com o uso adicional de oito árvores

ainda mais distantes da margem do açude (entre 32 e 38 metros de distância da margem

do açude).

Em outubro houve a

derrubada de uma árvore

utilizada para a nidificação

das garças (T66), e outras

árvores encontravam-se

feridas, com marcas de

machado, e galhos

derrubados. Essas árvores

derrubadas eram cortadas

e transportadas para

venda (Figura 16).

Em dezembro, outras seis árvores com ninhos abandonados foram tombadas

(T5, T8, T30, T79, T110 e T113). Em janeiro, mais oito árvores com vestígios de

ninhos foram derrubadas (T6, T39, T106, T107, T108, T109, T111, T112), sendo que

seis destas, as mais distantes da margem, deram lugar a uma plantação de melancias.

Figura 16. Árvores utilizadas para construção de ninhos das garças vaqueiras da colônia de Brejão, transformadas em toras para venda.

3355

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87

87

Ainda em janeiro foi ativada uma bomba para levar água do açude para a

plantação de melancias. Neste mesmo mês foram encontrados vestígios de fogueira na

área correspondente a C2, além da presença de um trator na área da colônia (Figura 17).

Em fevereiro notou-se a derrubada de outras duas árvores com ninho (T22 e

T75) e em março, mais duas árvores deixaram de compor a colônia (T12 e T32). Neste

mês a atividade reprodutiva foi retomada, porém apenas nas árvores com base

submersa.

Na última visita realizada a colônia, em abril de 2003, constatou-se que mais 21

árvores haviam sido derrubadas (T7, T17, T19, T31, T31A, T40, T47, T47A, T48, T49,

T49A, T50, T51, T53, T54, T55, T56, T57, T62, T80 e T105) (Figuras 17 e 18). No

total, durante o período de monitoramento, foram derrubadas 71 árvores da área da

colônia, sendo que destas 43 eram utilizadas para a construção de ninhos.

Figura 17. Presença de trator na colônia reprodutiva de Brejão, auxiliando na derrubada de uma árvore com a base submersa, anteriormente utilizada como substrato para os ninhos de B.ibis.

Figura 18. Árvore marcada para monitoramento, utilizada para construção de ninhos das garças-vaqueiras da colônia de Brejão, derrubada.

3366

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88

55..22..22 OOUUTTRRAASS EESSPPÉÉCCIIEESS

A colônia reprodutiva de Brejão

foi a única colônia mista encontrada no

Agreste. Em maio de 2002 avistou-se o

primeiro casal de garça-branca-grande,

Ardea alba (Ardeidae), construindo ninho

junto com as garças-vaqueiras (Figura 19).

O número de casais de A. alba foi

aumentando até agosto, quando

apresentaram 39 ninhos. Todos os filhotes

desta espécie deixaram seus ninhos em

novembro de 2002, e até abril de 2003 não

ocorreu mais atividade reprodutiva de A.

alba na colônia de Brejão (Figura 20).

Os ninhos de A. alba (Figura 21) foram confeccionados apenas nos galhos mais

altos de árvores com a base submersa nas águas do açude, enquanto B. ibis, além destas,

também nidificaram em árvores até 38m distantes da margem do açude, em solo seco.

Figura 20. VariaçFigura 20. Variação do número de ninhos e filhotes de Ardea alba, garça-branca-grande, na colônia de Brejão no período de maio de 2002 e abril de 2003.

Figura 19. A seta indica o primeiro casal avistado de A. alba, garça-branca-grande, construindo ninho na colônia reprodutiva localizada no município de Brejão. Maio de 2002.

0

5

10

15

20

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35

40

45

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ninhos

filhotes

3377

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89

89

Figura 21. Localização dos ninhos de A. alba na colônia reprodutiva de Brejão. Outubro de 2002. A. Adulto de A. albapousando próximo a seu ninho. B. Setas indicam adultos e jovens de A. albapróximos ou no ninho. C. Jovens (seta curta) e adultos (setas longas) de A. alba no ninho na copa de uma árvore.

C

A

A. alba apresentou um período reprodutivo mais definido que B. ibis. Sua

atividade reprodutiva estendeu-se por seis meses na colônia de Brejão. Porém, o tempo

gasto para a reprodução por casal esteve entre três a quatro meses, já que, como

mostrado na figura 20, os últimos ninhos de A. alba foram construídos em agosto, e em

novembro a maioria dos filhotes já tinha abandonado o ninho. Diferente de B.ibis,

terminado o período reprodutivo essa garça não continuou freqüentando o local para

pernoite. Indivíduos isolados foram avistados na colônia em dezembro, janeiro e março.

3388

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90

90

Nenhuma interferência sobre a dinâmica dos casais de B.ibis ocorreu devido a

presença de A. alba na colônia. Apenas poucas interações agonísticas foram observadas

quando B. ibis se aproximavam muito do ninho de A. alba (e vice-versa),

comportamento também apresentado entre os casais de B. ibis, que com o afastamento

do intruso logo cessava.

Além de A. alba, nidificaram juntamente com B.ibis na colônia de Brejão,

passeriformes e gruiformes.

Em todos os meses foi observada a presença de Certhiaxis cinnamomea

(Garrancheira, Furnaridae), na colônia. Em março construíram ninhos nas árvores A5 e

T45, em outubro foi observado um ninho na A45, e em abril um casal ocupava a A5.

Ninhos de Fluvicola nengeta (Lavadeira, Tyranidae), também foram registrados

na colônia (C2 e D1 e D2), sendo que para o revestimento interno do ninho foram

utilizadas penas de garças encontradas na área da colônia (Figura 22).

Em abril, seis ninhos que

foram construídos e ocupados por

garças no início do monitoramento,

foram transformados em ninhos de

F. nengeta, Tyrannus

melancholicus (Suiriri, Tyranidae)

e C. cinnamomea. Um ninho de T.

melancholicus foi observado em

C1 em março. Casais de

Arundinicola leucocephala

(Viuvinha, Tyranidae) também

construíram ninhos neste ambiente,

porém não nas árvores utilizadas

pelas garças.

Em outubro foi observado um indivíduo de Gallinula chloropus (Frango-d’água-

comum, Rallidae) ocupando um ninho de garça encostado na água, na árvore A32.

Outras aves comuns no açude foram: Amazonetta brasiliensis (Pé-vermelho,

Anatidae), Rallus sp. (Saracura, Rallidae), Porphyrula martinica (Frango-d’água-azul,

Rallidae), Vanellus chilensis (Quero-quero, Charadriidae), Jacana jacana (Jaçanã,

Figura 22. Ninho de lavadeira, Fluvicola nengeta, Tyranidae, construído na Árvore T53 da colônia de Brejão. Outubro de 2002.

2cm

3399

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91

91

Jacanidae), Latteralus melanophaius (Pinto-d’água-comum, Rallidae) e Butorides

striatus (Socozinho, Ardeidae), os dois últimos em menor número e freqüência.

PREDAÇÃO

Indivíduos de Catarthes aura (Urubu-de-cabeça-vermelha, Cathartidae) foram

avistados em todos os meses rondando a colônia, com maiores aproximações registradas

em outubro e novembro. Em novembro um vôo rasante aos ninhos da colônia fez com

que as garças presentes voassem. O Falconidae Caracara plancus (Caracará) foi visto

com freqüência na área, porém nenhuma aproximação foi registrada.

A única avistagem do Sagui-de-tufo-branco (Callithrix jaccus, Callithrichidae)

nas árvores da colônia, ocorreu no mês de setembro. Este poderia ser um potencial

predador de filhotes recém eclodidos ou ovos, em ninhos desprotegidos, porém além da

algazarra nenhuma predação foi observada.

Pegadas de mamífero foram registradas em março de 2002 (Figura 23) na

margem do açude ocupada pela colônia, entretanto não foi possível a identificação.

A presença de penas espalhadas próximas a carcaças de ninhegos e juvenis, nos

meses de setembro e outubro sugere a presença de predadores na colônia, não sendo

este, porém, identificado.

Figura 23. Pegadas de mamífero não identificado nas margens do açúde da colônia de Brejão. Março de 2003.

10cm

4400

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92

92

55..22..33 NNÚÚMMEERROO DDEE IINNDDIIVVÍÍDDUUOOSS

O número de indivíduos de B. ibis presentes na colônia em todos os meses de

monitoramento encontram-se representados na figura 24. Este número representa

indivíduos reprodutivos e não reprodutivos utilizando a colônia para pernoite.

Iniciado o monitoramento, em maio de 2002, a colônia possuía cerca de 6.000

indivíduos, atingindo aproximadamente 11.000 em setembro e decrescendo até cerca de

500 garças em abril de 2003. A partir de julho de 2002 a colônia começou a sofrer

interferência antrópica, com a presença de trator e derrubada das árvores utilizadas pelas

garças nas margens do açude (ver item 5.2.1).

A diminuição de ninhos não foi acompanhada pelo número de indivíduos

freqüentando a colônia, nos meses de julho e setembro, que continuou crescendo. Em

agosto houve aumento no número de ninhos e no número de indivíduos, mas somente

em outubro o número de indivíduos começou a sofrer decréscimo, acompanhando a

diminuição no número de ninhos. Em novembro a colônia não apresentou mais

atividade reprodutiva, consistindo apenas de ninhos inativos e com pronunciada

diminuição dos indivíduos que retornavam para pernoite (Figura 24).

Garças-vaqueiras com plumagem reprodutiva foram avistadas o ano todo na

colônia, assim como indivíduos sem plumagem de reprodução. Pelo número de ninhos

multiplicado por dois obteve-se o número de indivíduos reproduzindo na colônia. A

diferença entre o número total e o número de indivíduos ocupando ninhos foi de cerca

de 3.400 a 6.800 indivíduos não-reprodutivos de maio a outubro, ou seja, de 40 a 75%

das garças presentes na colônia não estavam com ninhos. Os maiores valores

encontram-se em julho e outubro (cerca de 70 e 75% dos indivíduos não-reproduzindo),

quando houveram abruptas diminuições no número de ninhos, o que não significa que

os animais reprodutivos tenham abandonado a colônia, ou que tenham chegado novas

aves, já que estes números foram calculados a partir do número de ninhos. Em

novembro, dezembro e janeiro a interrupção da atividade reprodutiva é acompanhada

pela diminuição do número de indivíduos, com a totalidade dos indivíduos presentes na

colônia como não-reprodutivos. De fevereiro a abril tem-se cerca de 80 a 90% dos

indivíduos não-reprodutivos (cerca de 900 a 1400 indivíduos), ou seja, não ocupando

ninhos (Figura 24).

4411

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93

93

O número de ninhos de A.alba foi plotado na figura 24 com a finalidade de

comparar os ciclos das duas espécies. Além do número de A. alba ser muito reduzido

frente a B.ibis, sua presença na colônia ocorreu apenas de maio a novembro. O número

máximo de ninhos de A. alba coincide com o número máximo de ninhos de B.ibis. A

diminuição sofrida pelos ninhos de B.ibis em julho, não ocorreu com A. alba, porém se

for considerado que há uma tendência linear no aumento dos ninhos desta espécie de

maio para agosto, o mês de julho então estaria apresentando uma diminuição nesse

crescimento.

Figura 24. Número de indivíduos (reprodutivos e não-reprodutivos), indivíduos reprodutivos (ind. rep), indivíduos não reprodutivos (Ind. Não-rep) e ninhos de Bubulcus ibis, além do número de ninhos de Ardea alba na colônia de Brejão, ao longo dos meses do ano. Os valores do número de indivíduos, de maio a dezembro, representam uma média de seis contagens por mês, três ao amanhecer, e três ao anoitecer, e de janeiro a março, média de três contagens, uma ao amanhecer e duas ao anoitecer. O desvio padrão destas médias é apresentado pelas barras verticais.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

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Núm

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Ninhos de B. ibis

Indivíduos de B.ibis

ind rep. B.ibis

Ind. Não-rep. B. ibis

Ninhos de A. alba

4422

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94

94

55..22..44 NNIINNHHOOSS

O número de ninhos na colônia, em todos os meses de observação, está

representado na tabela 5. A tabela 6 mostra a relação do número de ninhos por árvore ao

longo do ano, onde se pode notar que a concentração de ninhos é, na maioria dos meses,

superior nas árvores com a base submersa na água. Nos meses de junho e setembro essa

relação fica semelhante entre as duas categorias de substrato para ninho.

Já haviam 813 ninhos sendo utilizados por casais no primeiro mês de

monitoramento. No mês de junho ocorreu um aumento no número de ninhos, tanto nas

árvores com a base submersa quanto nas da margem seca do açude. Em julho este

número decresce, principalmente nas árvores emersas (Figura 25 e 26). Neste mês

ocorreu o corte das árvores do entorno da colônia. Em agosto foi retomado o

crescimento da colônia em termos de número de ninhos, que se manteve até outubro.

Em novembro houve a interrupção da atividade reprodutiva, não sendo observado

nenhum ninho ativo (Figura 27A) até o mês de janeiro, quando foi avistada uma única

garça atendendo um ninho, com dois ovos. Em fevereiro, foram novamente ocupados 83

ninhos (Figura 27B), sendo acompanhada a reprodução até abril do mesmo ano. Neste

último mês os ninhos ainda continham jovens, e concentravam-se em 3 árvores com a

base submersa na água (C2) e no aglomerado da área C1 (Figura 28C).

Ninhos ativos inativos Meses Nágua Nterra C1D1 Total Nágua Nterra Total Maio 538 240 35 813 - - - Junho 883 1170 90 2143 - - - Julho 854 298 103 1255 - - -- Agosto 896 1711 130 2737 - - - Setembro 743 1754 110 2607 - - - Outubro 346 710 42 1098 - - - Novembro - - - - 263 466 729 Dezembro - - - - 187 379 566 Janeiro 1 - - - 145 333 478 Fevereiro 53 - 30 83 66 277 343 Março 62 - 55 117 62 248 310 Abril 71 - 32 103 vestígios

Tabela 5. Número de ninhos ativos e inativos na colônia de Brejão ao longo dos meses de observação. Nágua: ninhos localizados nas árvores com a base submersa na água, na área C2. Nterra: ninhos localizados nas árvores da margem seca do açude, na área C2. C1D1: ninhos localizados nas áreas C1 e D1 da colônia (todos em árvores com base submersa).

4433

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95

95

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

M J J A S O N D J F M AMeses

Núm

ero

de n

inho

s

NáguaNterraC1D1

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

M J J A S O N D J F M Ameses

núm

ero

de n

inho

s

ativos

inativos

Figura 26. Número total de ninhos ativos e abandonados (inativos) na colônia ao longo dos meses de observação.

Tabela 6. Número de ninhos por árvore, nos diferentes meses de amostragem. A. Número de ninhos em relação ao número total de árvores com a base submersa na água do açude. T.Número total de ninhos em relação ao número de árvores localizadas na margem seca do açude nas áreas C1 e D1 do açude.

Figura 25. Representação do número de ninhos ativos ao longo do ano nos diferentes locais da colônia: Nágua: ninhos localizados nas árvores com a base submersa na água. Nterra: ninhos construídos nas árvores localizadas na margem seca do açude. C1D1: ninhos localizados nas áreas C1 e D1 do açude.

Ninhos/Árvore Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr 11,45 18,79 18,17 19,06 15,81 7,36 - - 1,00 1,13 1,38 2,96 A

T 3,69 18,00 4,81 16,14 15,39 6,28 - - - - - -

4444

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96

96

Figura 27. Aspectos sobre a nidificação da garça-vaqueira na Colônia de Brejão nos meses de novembro de 2002, fevereiro e abril de 2003. A.Ausência de casais nidificando na colônia em novembro de 2002, os poucos pontos brancos são juvenis. B. Adultos chocando nos ninhos re-ocupados em fevereiro de 2003 na A5 da área C2 da colônia. C. Jovens e ninhos remanescentes na área C1 da colônia, em abril de 2003.

B

A

C

4455

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97

97

A figura 28 apresenta o número de ninhos que foram marcados e seu conteúdo

(ovos e ninhegos) ao longo dos meses de observação. Em julho foram marcados 30

ninhos que somados contavam com 14 ovos e 47 ninhegos. Em agosto, dos 30 ninhos

marcados seis já haviam sido abandonados e neste mês procedeu-se a marcação de

outros 24 ninhos. O número de ninhos ativos foi decrescendo ao longo dos meses.

O mês que apresentou maior número de ovos nestes ninhos foi agosto e,

setembro apresentou o maior número de ninhegos. Em julho e setembro tem-se número

elevado de ninhegos, sendo que apenas dois ninhos marcados em julho apresentaram

ninhegos em setembro. O restante dos filhotes foi de ninhos marcados em agosto.

Apesar de setembro ter apresentado 25 ovos nos ninhos marcados, apenas sete filhotes

foram encontrados em outubro. A partir de novembro, alguns ninhos permaneceram

intactos, porém vazios.

0

10

20

30

40

50

60

J A S O N D J F MMeses

Núm

ero

de n

inho

s, o

vos

e fil

hote

s

ninhosovosninhegos

Figura 28. Número de ninhos marcados na colônia de Brejão e seu conteúdo (ovos e ninhegos) de julho de 2002 a março de 2003.

Houve elevada deserção ou abandono nesses ninhos. Dos 48 ninhos marcados

em agosto, restaram apenas 22 em outubro.

Oito ninhos foram utilizados para mais de uma postura, se do mesmo casal ou de

casais diferentes, não foi possível detectar. Apenas dois deles apresentaram intervalo de

dois meses entre uma postura e outra, os outros seis tiveram intervalo de apenas um

mês. Um desses ninhos foi observado com ovo durante três meses seguidos.

O tamanho médio dos ninhos (tabela 7) mostra que o diâmetro maior e o menor

são muito similares, resultando num formato circular (Figura 29). A medida da

4466

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98

98

espessura dos ninhos foi de aproximadamente metade do diâmetro. A altura dos ninhos

marcados variou de 0,4 a 4,5 m com uma média de 2,08 m e desvio padrão de 0,78 m

(Figura 30). Os ninhos mais próximos estiveram em média a 35,4 cm de distância um

do outro, 53,5 cm distantes do segundo ninho mais próximo e 65,5 cm distantes do

terceiro ninho mais próximo, sendo que este último número sofreu a maior variação.

Comparando os resultados obtidos com o de outros autores (Tabela 8), tem-se

dois aspectos relevantes, a distância entre os ninhos da colônia de Brejão apresentou-se

menor que as obtidas em outros estudos, e tiveram a maior amplitude das alturas dos

ninhos.

Tabela 7. Média (M) e desvio padrão (D) das medidas de 30 ninhos marcados: comprimento ou diâmetro (D1), largura ou diâmetro perpendicular ao D1 (D2) e espessura do ninho e distância até o primeiro ninho mais próximo (N1), ao segundo ninho mais próximo (N2) e ao terceiro ninho mais próximo (N3).

(cm) Diâmetro 1 Diâmetro 2 Espessura N1 N2 N3 M 28,67 28,57 14,00 35,43 53,5 65,56 D 5,59 4,55 4,66 10,69 23,14 31,86

Figura 29. Aspecto de um ninho (contendo dois ovos) de Bubulcus ibis fotografado na colônia de Brejão.

30cm

4477

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99

99

Tabela 8. Comparação das medidas obtidas para os ninhos no presente estudo com outros realizados em outras localidades. A primeira linha apresenta o nome dos autores e ano da publicação dos trabalhos, seguido pelo local onde o estudo foi desenvolvido. A terceira linha apresenta o número de ninhos analisados (n). São apresentados média e desvio do diâmetro, espessura, distância ao ninho mais próximo (N1), em centímetros. Média e desvio da altura (H) e altura máxima e mínima dos ninhos observados (Hmin/max), em metros. Autor, data Local N

Burger, 1978

New Jersey

16

Telfair, 1983

Texas

106

Arendt & Arendt, 1988

West Indies

290

McCrimmon, 1978

CarolinaNorte

76

Lowe-McConnel,

1967 Guiana

1700

Maxwell & Kale 1977

Florida

54

Jenni 1969

Florida

76

Presente estudo, 2003

Pernambuco

54 Diâmetro (cm) 35,8±7,9 31,9±7,3 17,9±2,9 28,7±5,6 Espessura (cm) 20,1±7,7 11,8±4,0 12,9±3,3 14±4,7 N1 (cm) 92,0±35,0 54,4±20,6 148,0±65,0 35,4±10,7 H (m) 0,7±0,3 1,8±0,7

2,37±1,0 2,3±0,4 2,7 2,2±0,05 2,4±0,05 2,1±0,8

Hmin/max (m) 0,03/1,1 0,7/5,0 1,8/3,7 1,8/2,7 1,7/3.7 1,2/2,4

0/4,5

Figura 30. Fotos representando a variada distribuição de ninhos de B. ibs na colônia de Brejão. A. Ninhos construídos nas árvores com a base submersa na água do açude. B. Ninhos construídos em uma árvore localizada na margem seca do açude.

A B

4488

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100

100

O tamanho da postura e o

número de filhotes por casal de

B. ibis nesta colônia foram

obtidos pela contagem do

número de ovos e filhotes nos

ninhos (Figura 31) nos diversos

meses de monitoramento.

A figura 32 mostra

proporção relativa de ninhos

encontrados com um, dois, três e

quatro ovos, sendo que 47% dos ninhos analisados possuíam dois ovos. A média para o

conteúdo destes 75 ninhos foi de 2,28 ovos por ninho com um desvio padrão de 0,78. A

figura 32B mostra a proporção entre o número de ninhegos por ninho, onde 52% dos

ninhos amostrados possuíam dois filhotes e o restante estava igualmente dividido entre

ninhos com um ou três filhotes. O número médio de filhotes por ninho foi de 2,00 com

o desvio de 0,69 (n=105 ninhos).

Os ovos de B. ibis apresentam a casca lisa, com coloração verde clara e a tabela

9 mostra os valores médios obtidos para o tamanho (comprimento, largura) e peso

destes, que apresentaram baixa variação (desvio padrão).

Tabela 9. Média (M) e desvio padrão (D) das medidas de 97 ovos da colônia de Brejão: comprimento, largura e peso.

Ovos (n=97)

Comprimento (mm)

Largura (mm)

Peso (g)

M 45,38 32,72 27,40 D 3,30 1,62 3,73

ninhegos/ninho

24%

52%

24%

1

2

3

ovos/ninho1%

15%

37%

47%

1

2

3

5

Figura 31. Prole de B. ibis. Fotografia de um ninho com dois filhotes e um ovo de garça-vaqueira.

Figura 32. A Proporção da ocorrência de ninhos com um, dois, três ou quatro ovos, de um total de 75 ninhos analisados. B. Proporção da ocorrência de ninhos com um, dois ou três filhotes, de um total de 105 ninhos analisados.

4499

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101

101

A tabela 10 compara dados de tamanho de ovo e número de ovos por ninho

obtidos com os padrões encontrados em diversas localidades, mostrando que as médias

de tamanho dos ovos (comprimento e largura) apresentaram pouca variação (de 43 a 47

cm comprimento e de 31 a 34 cm de largura). O peso dos ovos apresentou maior

variação entre os diversos estudos (22-34 g). Dentre esses intervalos de variação

(comprimento, largura e peso dos ovos) os dados obtidos no presente estudo insere-se

com valores medianos. O número de ovos por ninho no presente estudo mostrou-se

pequeno em relação aos de outras localidades, sendo maior apenas do que o número

obtido nas Guianas por LOWE-MCCONNEL (1976).

Tabela 10. Comparação entre o tamanho (comprimento e largura), peso dos ovos e o número de ovos por ninho em diversos locais. A primeira coluna relaciona o nome dos autores e ano das publicações dos dados relacionados. A segunda coluna relaciona o local onde foram efetuadas as coleta. N. número amostrado. Local n Comprimento

(mm) Largura (mm) Peso (g) Ovos/Ninho

Jenni, 1969

Flórida 85 3,5 ±0,1

Lowe-McConnel, 1967

Guianas 335 2,2

Weber, 1975

Florida 36 40,0-49,0 30,0-34,5 24,0 2,9

Arendt & Arendt, 1988

West Indies 45,6±2,0 32,2±1,3 24,0±2,5 2,2±0.7

Ruiz et al., 1981

Espanha 4,0±0,7

Maxwell & Kale, 1977

Florida

31 3,3

Georganna et al., 1991

Alabama 2,9

Telfair, 1994

Texas 275 45,2±2,4 33,0±2,4 22,0-31,0

Parsons, 1995 EUA 34 3,5±0.6 52 3,1±0.6 Lima, 1997

Bahia 9 47,0 34,0 34,7

Kopij. 1997

África do Sul 3,0

Souza & Freitas, 1997

Bahia 43,3 31,6 21,5

Lima et al., 1998

Bahia 170 43,1 32,5 25,1

Bachir et al., 2000

Algéria 64 2,8

Presente estudo, 2003 Pernambuco 75 45,4±3,3 32,7±1,6 27,4±3,7 2,3±0,8

5500

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102

102

55..22..55 NNÚÚMMEERROO DDEE OOVVOOSS,, NNIINNHHEEGGOOSS,, JJUUVVEENNIISS EE AADDUULLTTOOSS

O número de ovos, ninhegos, juvenis e adultos chocando presentes na colônia de

Brejão, ao longo dos meses de observação, está representado na figura 33. No mês de

junho um elevado número de ovos foi visualizado nos ninhos, além de haver 278 ovos

derrubados no chão da colônia, juntamente com 20 carcaças de ninhegos. Neste mês

também ocorreu o maior número de garças trazendo gravetos para o ninho (ver item

4.2.7).

0

50

100

150

200

250

300

350

400

M J J A S O NMeses

Núm

ero

de o

vos,

nin

hego

s, ju

veni

s e

adul

tos Ovos

ninhegosJuvenisAdultos chocando

Figura 33. Gráfico representando as contagens do número de ovos, ninhegos, juvenis e adultos chocando ocupando as árvores da colônia de Brejão no período de maio de 2002 a abril de 2003.

Em julho e agosto foram avistados muitos juvenis forrageando no chão da

colônia. Em agosto foi novamente encontrado um grande número de ovos nos ninhos, e

com elevado número de ninhegos contados no mês seguinte (Figura 33).

Em setembro, além do elevado número de ninhegos contados nos ninhos, foram

encontrados muitos filhotes (e penas) caídos no chão, mortos. Porém diferente do mês

de junho, apenas um ovo foi visto no chão. Neste mês também foi observada uma ave

adulta com plumagem de reprodução bicando um ninhego morto no chão da colônia.

Em outubro a colônia ficou estranhamente silenciosa, apresentando supremacia

de filhotes médios e grandes, principalmente de A. alba (Figura 21, item 5.2.2). Foram

contados 110 juvenis forrageando no chão da colônia (Figura 34A), alguns com o bico

já ficando amarelo e um indivíduo foi observado com uma carcaça de filhote no bico

(Figura 34B). Havia 214 carcaças de filhotes no chão da colônia. Em algumas ocasiões

5511

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103

103

Figura 34. Juvenis de B. ibis fotografados no mês de outubro na colônia de Brejão. A. Grupo de juvenis forrageando no chão da colônia. B. Juvenil com um filhote de B. ibis morto no bico.

os filhotes andando pelos galhos das árvores, por vezes caíam, e quando sobreviviam as

quedas não eram mais capazes de subir ao ninho, acabando por morrer de fome.

A presença de tantas carcaças associada às fezes e à falta de chuvas causaram

um odor forte de amônia e a presença de muitas moscas na colônia. Algumas carcaças

mostravam sinais de predação, com partes e penas espalhadas. Ainda no mês de outubro

foi observado que quando um adulto chegava na colônia para alimentar seus filhotes, os

jovens dos ninhos vizinhos, invadiam o ninho para roubar o alimento, causando um

tumulto que por vezes fazia com que o alimento caísse no chão (ou o ninhego), o qual

era rapidamente devorado pelos juvenis forrageando nas proximidades da colônia. Os

pais eram tão incomodados pelos filhotes implorando por alimento, que atacavam ou se

retiravam.

Em novembro a atividade reprodutiva foi totalmente interrompida, nenhum

ninho estava sendo utilizado por casais (ver Figura 27A do item 5.2.4). A colônia ficou

ainda mais silenciosa durante o dia, com poucos juvenis de B. ibis e A. alba,

perambulando. O chão da colônia estava cheio de penas e branco de fezes. No fim da

tarde ainda chegavam garças para pernoite com plumagem reprodutiva, o que também

foi observado em dezembro, janeiro e fevereiro, apesar da ausência de reprodução.

5522

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104

104

De acordo com a figura 33, de forma geral, os ovos de junho poderiam ter se

tornado ninhegos em julho, e juvenis em agosto, quando se iniciou outra fase de

postura. Os ovos contados em agosto resultariam no elevado número de ninhegos em

setembro (padrão também observado na figura 28, do item 5.2.4) e no número de

juvenis presentes em outubro. Com isso têm-se novas gerações de B. ibis a cada dois

meses, com a sobreposição da fase de juvenis de uma geração com os ovos da próxima.

5533

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105

105

55..22..66 FFIILLHHOOTTEESS

Os cálculos para estimativa do crescimento dos filhotes foram efetuados para

todas as medidas obtidas (tarso, cúlmem, narina-ponta e peso), porém as retas (equação

1) apresentaram um R2 muito baixo, significando que os pontos estavam muito

distantes, ou seja, que tal reta não estaria representando adequadamente esta

distribuição. O peso, por exemplo, varia muito se o animal foi recentemente

alimentado ou não, assim foram encontrados indivíduos com valores de peso menores,

três dias depois da primeira pesagem. Outras equações, não obtidas neste trabalho

podem ser capazes de adequar estas medidas ao crescimento dos filhotes.

Apenas os resultados obtidos para a medida de tarso são apresentados, pois entre

todas as variáveis aferidas esta se mostrou mais adequada. A figura 35 representa a

distribuição dos pontos e a reta obtida a partir da relação da diferença de idade por

diferença de tamanho (�T/dL) e do comprimento inicial (Li - equação 1). A tabela 11

mostra os valores utilizados para a construção da equação 2, que relaciona a idade em

função do tamanho do tarso (Figura 36). Para o cálculo de c, utilizou-se o valor do

menor filhote (Figura 37) medido, que sabidamente havia nascido naquele dia, já que o

ninho avistado no dia anterior continha apenas ovos.

Figura 35. Gráfico apresentando a relação tempo de crescimento (�T / dL = intervalo de tempo dividido pela diferença de tamanho) entre os diferentes tamanhos iniciais dos filhotes medidos (Li). E a reta traçada que melhor descreveria a distribuição destes pontos (equação 1) com seu respectivo R2.

Y1= 0,0067x + 0,3565R2 = 0,087

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50Li (mm)

�T/

dL

5544

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106

106

Figura 36. Gráfico representando a equação obtida para descrever a idade do filhote em função do tamanho do tarso (equação).

Tabela 11. Funções obtidas a partir das diferenças das medidas de tarso em intervalos de dois ou três dias. Y1: equação 1, função linear que melhor descreveu a relação entre o comprimento inicial e o tempo pela diferença de tamanho apresentada. a: coeficiente angular da função Y1, utilizada na construção da função Y2 (a/2 = equação 2). b: coeficiente linear obtido da função Y1 utilizado para a construção da função Y2. x: tamanho do tarso de um indivíduo com um dia de idade, em milímetros. y: idade do filhote que apresentou a medida x do tarso. c: constante calculada pela substituição dos valores x e y em Y2. Y2: equação 2, que descreve a idade em função do tamanho do filhote.

Y1= 0,0067X1+ 0,3565 (equação 1) a B tarso idade c x (mm) y (dia)

0,00667 0,03565 9,2 1 -2,56

Y2=0,00335 X22 + 0,3565 X2 - 2,56 (equação 2)

A fim de verificar se a equação obtida

estaria descrevendo adequadamente a idade em

função do tamanho dos indivíduos, foram

substituídos os valores conhecidos de tamanho de

26 filhotes medidos a intervalos de três dias,

utilizados na confecção da equação 1, mostrando

que a equação representa de forma adequada a

diferença de idade entre as medidas aplicadas, já que

a média dos resultados obtidos pela função Y2 foi

igual ao intervalo conhecido de 3 dias (Tabela 12).

Assim temos uma equação de segundo grau

descrevendo o crescimento dos filhotes (Figura

36). Os filhotes com mais de 23 dias de idade já

estão aptos a se movimentar pelos galhos,

escapando da captura. A partir de observações de

indivíduos marcados, com cerca de 30 dias de

idade eles são capazes de voar e iniciam sua fase

de vida fora do ninho, começando o aprendizado

de procurar do próprio alimento. Nesta fase ainda

atacam os pais quando retornam a colônia, em

busca de alimento, que por sua vez rebatem com

fortes bicadas.

Y2= 0.03355 X2+0.3565-2.56

0

5

10

15

20

25

30

35

40

9 14 19 24 29 34 39 44 49 54 59 64

Tamanho de tarso (mm)

Idad

e (d

ias)

5555

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107

107

Tabela 12. Eficiência da equação Y2. As medidas de tarso obtidas a intervalos de tempo conhecidos de três dias, utilizadas na confecção das equações para descrever o crescimento, foram substituídas na função para avaliação de sua eficiência. Li. Tamanho inicial do tarso, em milímetros. Lf. Tamanho do tarso do mesmo indivíduo, três dias depois da obtenção da medida Li. Y2. valores de idade obtidos substituindo Li e Lf na equação 2 construída para descrever a idade em função do tamanho do filhote, Y2=0,00335 X2

2 + 0,03565 X2 - 2,85. [Y2(x=Lf) - Y2 (x=Li)]: intervalo de tempo (�T) entre as idades calculadas a partir da equação Y2. M. média do intervalo de tempo calculado com base na equações Y2 . D. desvio padrão da média do intervalo de tempo.

Tarso (Y2=0,00335 X22 + 0,3565 X2 - 2,56)

Ninhegos Li Lf Y2 (x=Li) Y2 (x=Lf) [Y2(x=Lf) - Y2 (x=Li)] (mm) (mm) (idade em dias) (idade em dias) �T

1 16,9 25,0 4,42 8,44 4,02 2 17,2 23,2 4,56 7,51 2,95 3 18,2 23,6 5,03 7,72 2,68 4 21,1 26,2 6,45 9,08 2,63 5 23,0 26,6 7,41 9,29 1,88 6 23,7 29,8 7,77 11,04 3,27 7 23,7 27,7 7,77 9,88 2,11 8 24,2 29,5 8,03 10,87 2,84 9 24,4 33,0 8,13 12,85 4,72 10 26,5 33,2 9,24 12,96 3,73 11 26,6 28,5 9,29 10,32 1,03 12 28,0 31,2 10,05 11,82 1,78 13 29,4 33,9 10,81 13,37 2,56 14 29,8 31,7 11,04 12,10 1,07 15 30,5 35,6 11,43 14,37 2,95 16 30,5 39 11,43 16,44 5,01 17 32,3 39,2 12,45 16,56 4,11 18 35,7 41,0 14,43 17,68 3,25 19 36,2 36,7 14,73 15,03 0,30 20 36,8 44,1 15,09 19,67 4,58 21 39,0 46,2 16,44 21,06 4,62 22 39,0 46,2 16,44 21,06 4,62 23 39,8 45,8 16,93 20,79 3,86 24 39,8 43,8 16,93 19,48 2,55 25 43,0 45,0 18,96 20,26 1,30 26 44,5 49,3 19,93 23,15 3,22

M 3,0 D 1,3

Figura 37. Ninhego de Bubulcus ibis com cerca de um dia de idade, no seu ninho da colônia reprodutiva de Brejão.

5566

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108

108

Com os valores de cúlmem dos mesmos 26 filhotes, cujas medidas de tarso estão

representadas na tabela 12, foi calculada a idade dos filhotes (em semanas) utilizando as

relações de medias de Kopij (1997). A tabela 13 apresenta os resultados obtidos e

compara com os valores obtidos a partir dos cálculos efetuados com o tarso (dos

mesmos filhotes). Cerca de 70% das idades calculadas pelos dois métodos coincidiram

(37 medidas). Excetuando-se a segunda medida do filhote 22, todas as outras idades

comparadas, que não coincidiram (14 medidas), apresentaram valores menores de idade

do que o obtido pelos cálculos utilizados a partir das medidas de tarso.

Tabela 13. Comparação da idade encontrada pela equação obtida no presente estudo a partir das medidas de tarso e a relação encontrada por Kopji (1997) entre o tamanho de Cúlmem e idade. Ninhegos: amostrados cujas medidas foram utilizadas nos cálculos das medidas de tarso. Cúlmem1: medida do cúlmem em milímetros dos ninhegos cujas medidas de tarso foram utilizadas na confecção da equação 2. Cúlmem2: Medida do cúlmem, 3 dias depois da medida cúlmem1, para o mesmo ninhego. semanas/cúlmem: idade em semanas calculada a partir da relação de Kopij (1997) com o tamanho do cúlmem. semana/tarso: idade calculada a partir da relação obtida no presente estudo a partir das medidas de tarso. Em negrito estão os valores que não coincidiram entre os métodos.

Ninhego

Cúlmem1 (mm)

semanas/ cúlmem1

semanas/ tarso

Cúlmem2 (mm)

semanas/ cúlmem2

semanas/ tarso

1 20 1 1 23,5 1 2 2 20,8 1 1 22,7 1 1 3 18,8 1 1 23,1 1 1 4 19 1 1 23,8 1 2 5 22,4 1 1 23,9 1 2 6 23,5 1 1 27,4 2 2 7 23,9 1 1 26 2 2 8 24,4 1 1 26,7 2 2 9 22,8 1 1 26,2 2 2 10 24,3 1 2 27,3 2 2 11 24,2 1 2 27 2 2 12 25,1 1 2 27,3 2 2 13 26,7 2 2 29,4 2 2 14 27,5 2 2 28,8 2 2 15 26,3 2 2 31,3 2 2 16 28,6 2 2 32,2 2 3 17 26 2 2 29,2 2 3 18 30,8 2 2 32 2 3 19 31,4 2 2 32,4 2 2 20 30,5 2 2 34 3 3 21 30,7 2 3 34,4 3 3 22 39,2 2 3 42,8 4 3 23 32 2 3 37,4 3 3 24 29,3 2 3 32,8 3 3 25 34,5 3 3 35,2 3 3 26 32,5 2 3 35,5 3 4

5577

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109

109

Figura 38. Indivíduo adulto reprodutivo de Bubulcus ibis carregando um graveto roubado de um ninho. Colônia de Brejão, maio de 2002.

55..22..77 MMOOVVIIMMEENNTTOO CCOOMM GGRRAAVVEETTOOSS

Nos meses de maio, junho e julho de

2002 foi observado um grande fluxo de garças,

retornando pela manhã para a colônia,

carregando gravetos no bico (Figura 39). A

partir de agosto esse movimento não foi mais

observado. Apenas em abril de 2003 foram

novamente visualizadas garças com este

comportamento, porém em menor número do

que o observado nos meses anteriores.

Essa atividade tinha início às 6h

cessando às 8h da manhã, com o maior número

de indivíduos se movimentando entre 7:15h e

7:30h (Figura 39).

Entre os meses de maio e agosto foi

observado com freqüência o roubo de gravetos de

ninhos onde os pais se ausentavam (Figura 38).

0

100

200

300

400

500

600

700

M J J A S O N D J F M AMeses

Núm

ero

de in

diví

duos

com

gra

veto

Figura 39. Número de garças observadas carregando material para a construção de ninhos de maio de 2002 a abril de 2003, na colônia de Brejão.

5588

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110

110

55..22..88 MMOOVVIIMMEENNTTOO DDEE RREETTOORRNNOO

As figuras 40 e 41 mostram o horário da movimentação de garças retornando à

colônia, com o início no fim da tarde por volta das 16:15h, com um pico, quando o

maior número de aves retorna, entre 16:45h e 17:30h (dependendo da época do ano),

que decresce até anoitecer. Depois do que, a movimentação e o barulho na colônia vão

diminuindo e esta fica silenciosa até o amanhecer.

A variação no comprimento do dia ao longo do ano (ou horário do anoitecer),

coincide com o horário de retorno das aves à colônia, sendo que tanto o inicio, quanto o

pico e o decréscimo de movimentação de chegada se deslocam dependendo da época do

ano (Figuras 40 e 41).

Na figura 40 tem-se a variação do número de indivíduos a cada quinze minutos

durante o fim do dia durante os meses de outono (março, abril, maio) e inverno (junho,

julho e agosto), sendo o horário de início de retorno à colônia entre às 16:00h e 16:30h e

o horário quando o maior número de indivíduos chega à colônia entre as 16:45h e

17:00h, com exceção dos meses de março e maio. O primeiro apresentou um padrão

diferente, sem um pico de ocorrência, e sim um patamar entre as 16:30h e 17:30h. E em

maio o maior número de indivíduos ocorreu mais cedo, por volta das 16:30h. O

rareamento de movimentação ocorreu entre 17:15h e 18:00h, início da noite.

A figura 41 mostra a variação do número de indivíduos retornando à colônia nos

meses de setembro a fevereiro (primavera/verão). O início da movimentação de chegada

nesse período se deu às 16:15h e 16:45h, quinze minutos depois do padrão observado

para os meses de outono/inverno. O horário em que já não eram mais avistados grupos

de garça chegando esteve entre 17:30h e 18:00h.

O horário de maior freqüência de chegada nos meses de primavera/verão esteve

entre 17:15h e 17:45h. Setembro teve seu pico de movimentação entre 17:00h e 17:15h,

quinze minutos antes do pico obtido na figura 41. Outubro, novembro e dezembro

tiveram um pico entre 17:15h e 17:30h, 30 minutos à frente do encontrado para

outono/inverno. Janeiro e fevereiro tiveram o pico entre 17:30h e 17:45h, sendo que

janeiro apresentou um padrão diferente, com a existência de outro pico entre 17:00h e

17:30h e um decréscimo do número de indivíduos chegando à colônia entre esses dois

valores máximos.

5599

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111

111

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

16:15 16:30 16:45 17:00 17:15 17:30 17:45 18:00 18:15

16:00 16:15 16:30 16:45 17:00 17:15 17:30 17:45 18:00Horário

N. d

e in

diví

duos

/N. T

otal

MAR

ABR

MA

JN

JL

AG

Figura 40. Proporção do número de indivíduos contados a cada quinze minutos chegando para pernoitar na colônia, nos meses de março a agosto correspondendo aos meses de outono e inverno.

Figura 41. Proporção do número de indivíduos contados a cada quinze minutos chegando para pernoitar na colônia, nos meses de setembro a fevereiro que correspondem à primavera e verão.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

16:15 16:30 16:45 17:00 17:15 17:30 17:45 18:00 18:15

16:00 16:15 16:30 16:45 17:00 17:15 17:30 17:45 18:00Horário

N. d

e in

diví

duos

/N. t

otal

ST

OU

NOV

DEZ

JAN

FEV

6600

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112

112

Quando retornavam dos locais de forrageamento para pernoitar na colônia, B.

ibis chegavam isoladamente ou em bandos de diversos tamanhos. O número de

indivíduos por grupo foi contado ao longo dos meses de estudo, e a proporção entre

essas categorias está representada nas figuras 42 e 43.

Mais de 60% dos grupos que chegavam na colônia foram constituídos de um a

dez indivíduos e cerca de 16% tinham de 11 a 20 indivíduos. Aproximadamente 10%

dos grupos continham de 21 a 30 indivíduos. As outras categorias, que variaram entre

31 e 200 indivíduos por grupo, somadas, perfizeram um pouco mais do que 10% de

participação no número total de grupos (figura 42).

Quando analisamos a contribuição em número de indivíduos das diferentes

categorias de bandos (figura 43), os grupos contendo de um a 30 indivíduos são os que

tiveram maior representatividade, sendo que cada uma destas três categorias contribuiu

com cerca de 20% dos indivíduos que chegaram na colônia. Os grupos maiores que 30

indivíduos têm sua representatividade aumentada na figura 43 (em relação à figura 42),

pois apesar de terem menor freqüência de ocorrência, trazem um número superior de

indivíduos.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

0-10 11-20g 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-200Categorias de grupos (número de indivíduos)

Núm

ero

de g

rupo

s/To

tal

Figura 42. Média do número de grupos por categoria de tamanho entre os meses de amostragem, dividida pelo número total de grupos.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0-10 11-20g 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-200Categorias de grupos (número de indivíduos)

Pro

porç

ão d

o nú

mer

o de

in

diví

duos

/ gru

po

Figura 43. Média do número de indivíduos por categoria de tamanho de grupo entre os diversos meses de amostragem, dividido pela somatória do número de indivíduos em todas as categorias.

6611

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113

113

A direção de origem, dos grupos de garças que retornavam à colônia no fim da

tarde, também foi registrada em todos os meses de monitoramento, e a proporção obtida

do número de indivíduos chegando entre as quatro principais direções, está representada

na figura 44.

A maior parte dos grupos de indivíduos vinha da direção Leste/Sudeste de junho

até novembro quando começaram a decrescer. Contrariamente os grupos com origem

Nordeste eram numericamente pouco representativos do total de grupos chegando à

colônia em junho e foram aumentando sua representatividade ao longo dos meses até

março.

Os grupos vindos do Oeste apresentaram uma diferença na representatividade ao

longo dos meses menor que os de outras direções, ainda assim apresentaram pequenas

oscilações: sendo mais numerosos em maio, decrescendo até setembro, crescendo até

novembro, descrendo novamente até fevereiro, e finalmente crescendo até abril, onde

representaram a direção de origem mais numerosa.

Do Sul vieram poucos grupos em relação às outras direções, sendo mais

numerosos no começo do monitoramento, e decrescendo ao longo dos meses. As

direções Leste e Nordeste parecem inversamente proporcionais, quanto menos grupos

começam a chegar de Leste mais grupos passam a chegar de Nordeste.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

M J J A S O N D J F M AMeses

Pro

porç

ão d

o nú

mer

o de

indi

vídu

os p

or d

ireçã

o de

orig

em

Leste/SudesteSulOeste/ Sudoeste/ NoroesteNorte/Nordeste

Figura 44. Proporção do número de indivíduos entre quatro direções, chegando a colônia no fim de tarde. O desvio representa a diferença de proporção obtida em três dias de contagem, em cada mês.

6622

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114

114

55..33.. CCOOMMPPOOSSIIÇÇÃÃOO DDAA DDIIEETTAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

Foram identificados 3.529 itens alimentares em 157 regurgitos de filhotes da

colônia reprodutiva de Brejão, coletados entre maio e outubro de 2002. O volume médio

foi de 5,8 ± 1,7 ml, com uma média de 22,4 ± 14,7 itens por regurgito (Tabela 14).

Diferentes quantidades de regurgito foram coletadas em cada mês como mostra a figura

46A, onde junho e setembro foram os meses com maior número de regurgitos, e agosto

foi o menos representativo, com apenas 10 regurgitos.

Em relação ao número de itens, outubro contribuiu com 29% do total, apesar de

ser apenas 13% do total de regurgitos coletados e 20% do volume total. O mês de julho

também teve uma participação maior em termos do número de itens por regurgito frente

ao número de regurgitos (Figura 45).

Além dos regurgitos foram coletados dois anfíbios (Leptodactylidae,

Leptodactylus ocellatus) encontrados em ninhos e uma cobra (Serpente, Colubridae,

adulto de Liophis lineatus), que jovens tentavam engolir, no chão da colônia. Estes itens

apresentaram volume elevado (23,0; 19,5 e 30,0 ml, respectivamente), e não foram

incluídos nas análises.

Tabela 14. Regurgitos coletados durante o período de estudo: R: número total de regurgitos coletados em cada mês; NT: número total de itens obtidos no mês; M(N/R): média do número de itens por regurgito obtidos em cada mês; D(N/R): Desvio padrão da média do número de itens por regurgito obtidos em cada mês; VT: Volume total dos regurgitos obtidos no mês; M(V/R): média do volume de cada regurgito por mês; D(V/R): Desvio padrão do volume dos regurgitos coletados no mês; MT: média e desvio no número de itens e volume dos regurgitos coletados em todos os meses; Total: total de itens encontrados e volume total dos regurgitos coletados.

R NT M(N/R) D(N/R) VT M(V/R) D(V/R) Maio 16 165 10,70 2,26 88,5 5,91 2,13 Julho 43 594 11,70 6,88 222,57 4,96 2,13 Julho 29 729 23,67 12,87 171,72 6,67 2,30 Agosto 10 117 15,08 11,39 23,95 3,80 4,71 Setembro 38 870 22,89 15,50 194,33 5,11 2,94 Outubro 21 1.054 50,19 44,44 180,46 8,59 5,44 MT 22,37 14.69 5,84 1,66 Total 157 3.529 881,53

6633

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115

115

A figura 46A representa graficamente a média do número de itens por regurgito

(Tabela 14) nos diferentes meses de coleta. Nota-se que outubro teve um número muito

elevado de itens (relativo ao número de regurgitos) em relação aos outros meses.

Outubro também apresentou a maior variação no número de itens por regurgito. Quatro

dos 21 regurgitos de outubro foram responsáveis por 48% do número total de itens

obtido para este mês e 30% do seu volume, dois deles eram compostos basicamente por

carrapatos (Acari), um por larvas de mosca (Diptera), e o último teve elevado número

de gafanhotos (Orthoptera) e baratas (Blattariae).

A figura 46B mostra uma oscilação menor no volume, quando comparada à

variação no número de itens. Considerando o desvio padrão apresentado por estas

médias verifica-se que as amostras não são tão heterogêneas ao longo dos meses. Ainda

vale notar que o desvio apresentado para o mês de agosto foi maior que a média do

volume dos regurgitos. Isso ocorreu devido a um único regurgito, que apresentou um

volume de 10,85 ml, sendo mais do que o dobro do valor obtido para os outros nove

regurgitos deste mês.

Figura 45. Proporções relativas das amostras de regurgito obtida dos filhotes de B. ibis no período de maio a outubro de 2002, na colônia de Brejão. A. Quantidade relativa de regurgitos (R) coletados por mês. B. Número (N) total de itens encontrados por mês nos regurgitos analisados. C. Volume (V) total dos regurgitos obtidos em cada mês.

R

JL18%

AG6%

JN28%

MA10%

OU13%

ST25%

V MA10%

JN26%

JL19%

AG3%

ST22%

OU20%

N MA5% JN

17%

JL21%

AG3%

ST25%

OU29%

A B C

Figura 46. A. Média e desvio padrão do número de itens por regurgito ao longo dos meses de coleta. B. Média e desvio padrão do volume dos itens por regurgito ao longo dos meses de coleta

0

20

40

60

80

100

M J J A S OMeses

Méd

ia d

o nú

mer

o de

iten

s po

r reg

urgi

to

0

24

6

8

1012

14

16

M J J A S OMeses

Méd

ia d

o vo

lum

e do

s re

gurg

itos

(ml)

A B

6644

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116

116

55..33..11 PPRRIINNCCIIPPAAIISS GGRRUUPPOOSS DDEE PPRREESSAA

A tabela 15 mostra o número de indivíduos e o volume de cada grupo de presas.

Dividindo-se o número de itens obtidos pelo número de regurgitos analisados, cada

regurgito apresentou onze ortopteróides, três aranhas, três carrapatos, mais três

invertebrados e a cada dois regurgitos seria encontrado um vertebrado. Em termos de

volume, os Orthoptera teriam maior contribuição, seguidos pelos vertebrados.

Tabela 15. Principais grupos (Filo, Classe e Ordem) de presas identificadas e fragmentos (NI: não identificados) nos regurgitos coletados de filhotes, nos meses de maio a outubro de 2002, na colônia reprodutiva de B.ibis em Brejão, agreste pernambucano. NT. Número total de indivíduos de cada grupo de presa. VT. Volume total dos indivíduos obtidos nos 157 regurgitos. NT/RT. Freqüência relativa da abundância por regurgito: numero total de indivíduos de cada grupo dividido pelo número de regurgitos analisados. VT/RT. Freqüência relativa do volume por regurgito: volume de cada grupo em relação ao número total de regurgitos analisados.

Cerca de 20% do volume total foram de fragmentos decompostos, não passíveis

de identificação, além de material vegetal e mineral. Os Orthoptera constituíram 53% do

total dos itens identificados, correspondendo a 46% do volume total. Cerca de 16,3%

dos itens eram carrapatos (Acarina, Ixodidae), que contribuíram com 3,1% do volume

total. Aranhas (Aranea) constituíram 14,6% dos itens, correspondendo a 4,6% do

volume total. Outros invertebrados (Mandibulata, Insecta), divididos em 11 ordens,

somaram 13,4% dos itens e 6,0% do volume total. Os vertebrados foram cerca de 2,8%

do total de itens identificados, contribuindo com 20,4% do volume total (Figura 47).

Filo/Subfilo Classe Ordem NT VT(ml) NT/RT VT/RT(ml) Mandibulata Insecta Orthoptera 1865 404,68 10,66 2,31 “Outros Insecta” 473 52,92 2,70 0,30 Chelicerata Arachnida Aranea 515 41,08 2,94 0,23 Acarina 577 27,90 3,30 0,16 Chordata/Vertebrata 99 179,76 0,57 1,03 Fragmentos (NI) - 175,20 0,00 1,00 Total 3.529 881,53 22,47 5,61

6655

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117

117

O desvio padrão da média do número de indivíduos e do volume nos diferentes

meses de coleta (Tabela 16 e 17) mostrou que a representatividade de cada grupo varia

ao longo dos meses. Orthoptera variou de 67% do número de itens (Tabela 16) a 42% e

de 37% a 62% do volume total dos regurgitos (Tabela 17). Sua representatividade por

regurgito, também se mostra variável ao longo dos meses, sendo mais elevada em julho

e outubro (Figuras 48 e 49).

O mês de agosto apresentou elevadas proporções de Orthoptera e Acarina, com

apenas 4,3% de aranhas, apresentando baixas freqüências dos itens por regurgito frente

aos outros meses (Figuras 48 e 49).

O número de carrapatos (Acarina) foi mais elevado nos últimos três meses de

coleta em relação aos primeiros, e sua representatividade nos regurgitos se mostrou

crescente ao longo dos meses (Figuras 48 e 49). Já o volume relativo dos vertebrados

pareceu decrescer de maio até outubro.

O desvio padrão das médias dos diferentes grupos ao longo dos meses foi mais

acentuado para o número de indivíduos do que para o volume relativo, ou seja, o

volume sofreu menor variação.

N / N T

Aranea14,59%

Acarina16,35%

Outros Insecta13,40%

Vertebrata

2,81%

Orthoptera

52,85%

V / V T

Aranea4,66%

Acarina3,16%

Outros Insecta6,00%

Vertebrata

20,39%

NI19,87% Orthopter

a45,91%

Figura 47. Proporção dos indivíduos identificados em cada grupo de presa. A. Freqüência relativa por abundância: número de indivíduos de cada grupo em relação ao número total de indivíduos. B. Freqüência relativa por volume: volume dos indivíduos de cada grupo em relação ao volume dos regurgitos. NI: conteúdo não identificado.

6666

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118

118

Tabela 16. Proporção do número de indivíduos de cada grupo de presa, em relação ao número total de indivíduos obtidos em cada mês de coleta, expresso em porcentagem (N/NT%). Total. Total de indivíduos de cada grupo dividido pelo total de itens encontrados em todos os regurgitos analisados. M. Média da proporção de cada grupo de presas nos diferentes meses. D. Desvio padrão das proporções encontradas para cada grupo de presa durante os meses de estudo. N/NT (%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Total M D Orthoptera 67,3 64,5 59,0 65,0 48,3 42,2 52,8 55,8 10,1 Outros Insecta 6,1 4,2 7,7 1,7 10,1 27,7 13,4 10,3 10,3 Aranea 15,2 17,2 22,1 4,3 16,8 7,2 14,6 13,5 7,5 Acarina 3,6 9,3 9,7 28,2 22,3 20,7 16,4 18,0 8,3 Vertebrata 7,9 4,9 1,5 0,9 2,5 2,2 2,8 2,4 1,5 Tabela 17. Proporção do volume dos indivíduos de cada grupo de presa, em relação ao volume total dos indivíduos obtidos em cada mês de coleta, expresso em porcentagem (V/VT%). Total. Volume total de cada grupo dividido pelo soma do volume de todos os regurgitos analisados. M. Média da proporção de cada grupo de presas nos diferentes meses. D. Desvio padrão das proporções encontradas para o volume de cada grupo de presa durante os meses de estudo. V/VT(%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Total M D Orthoptera 41,5 37,0 53,2 62,0 49,9 45,7 45,9 48,2 8,9 Outros Insecta 1,0 8,2 3,8 0,4 5,7 8,9 6,0 4,7 3,6 Aranea 1,5 4,7 6,2 3,1 5,7 3,8 4,7 4,2 1,7 Acarina 0,3 1,3 1,6 9,8 5,5 4,8 3,2 3,9 3,6 Vertebrata 28,5 26,7 20,5 16,7 13,9 16,1 20,4 20,4 6,0 Fragmentos (NI) 27.3 22.1 14.6 7.9 19.3 20.7 19.9 18,7 6,7

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Aranea Acarina Vertebrata Orthoptera Outros Insecta NIPrincipais grupos de presa

Vol

ume

dos

itens

/regu

rgito

(V/R

) (m

l)

M

J

J

A

S

O

Figura 48. Proporção do número de indivíduos de cada grupo em relação ao número total de regurgitos em cada mês de coleta.

6677

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119

119

As tabelas 18 e 19 comparam os dados obtidos com outros estudos feitos em

diversas regiões. Com exceção dos estudos nas Ilhas Virgens e na Algéria, a maior

proporção do número de indivíduos e do volume pertenceu a Orthoptera. Na Algéria, os

gafanhotos deram lugar a um maior número de outros invertebrados assim como nas

Ilhas Virgens, onde houve uma quantidade elevada de Lepidoptera, com grande

representatividade deste grupo também em volume. As aranhas tiveram uma

representação elevada no presente estudo, sendo esta proporção observada apenas nas

Ilhas Virgens e em um ano de coleta na Lousiana. Os vertebrados tiveram sua maior

representação nas Ilhas Virgens e na Flórida.

O número de itens por regurgito foi mais elevado para a Algéria, atingindo quase

o dobro do obtido no presente estudo, acompanhando sua menor representatividade de

Orthoptera e alta representatividade por outros invertebrados, que geralmente

apresentam tamanho/volume individual reduzido quando comparado aos outros itens. O

número de itens por regurgito (N/R) é menor do que o número de itens por conteúdo

estomacal (N/C) obtidos de adultos, não sendo estas medidas comparáveis.

Quanto ao volume, destaca-se depois de Orthoptera, a contribuição dos

vertebrados, apesar de não serem tão representativos em número. Este padrão foi

observado em todas as regiões relacionadas exceto nos estudos de FOGARTY & HETRICK

(1973).

Figura 49. Proporção do volume dos indivíduos de cada grupo em relação ao número total de regurgitos coletados em cada mês.

0

5

10

15

20

25

Aranea Acarina Vertebrata Orthoptera Outros InsectaPrincipais grupos de presa

Núm

ero

de ít

ens/

núm

ero

de re

gurg

itos

(N/R

) M

J

J

A

S

O

6688

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120

120

Tabela 18. Freqüência relativa de abundância (N/NT) dos principais grupos de presas, e Freqüência relativa de abundância por regurgito (N/R) ou por conteúdo estomacal (N/C) obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R).

Tabela 19. Freqüência relativa de volume (V/VT) dos principais grupos de presas, obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R). V/VT(%) Presente estudo,

2003

Brejão Maio/Out/02

Gasset et al., 2000

lhas Virgens Janeiro

Fogarty & Hetrick, 1973

Florida Verão

Jenni, 1973

Florida Maio-Jullho

Jenni, 1969

Florida Maio/Jullho

n 157R 44C 410C 50R 50R 50R 50R Orthoptera 57,4 21,1 81,7 57,6 64,7 58,8 56,6 Outros invertebrados

11,4

33,5

7,4

1,1

1,6

1,1

1,5

Aranea 5,8 6,5 4,7 1,7 3,7 2,9 5,2 Vertebrata 25,4 39,0 6,2 40,2 30,0 37,2 36,8

N/NT(%) Presente estudo, 2003

Pernambuco Maio/Out/02

Burns & Chapin, 1969

Louisiana Verão/66

Burns & Chapin, 1969

Louisiana Verão/67

Gasset et al., 2000

Ilhas Virgens

Janeiro

Jenni, 1969

Florida

Maio/Jullho

Jenni, 1973

Florida

Maio/Jullho

Telfair, 1981

Texas

Boukhemza et al., 2000

Algeria

Nov-Out n 157R 36C 38C 44C 50R 50R 50R 50R 500R 150 R Orthoptera 52,9 85,1 65,5 15,9 87,0 86,4 84,1 79,4 78,6 31,5 Outros Invertebrados

29,7

6,2

20,2

55,6

1,7

3,5

2,9

3,3

6,1

66,0

Aranea 14,6 8,0 13,4 15,4 5,2 3,1 6,5 9,1 9,9 1,0 Vertebrata 2,8 0,7 0,9 13,2 6,1 7,0 6,5 8,2 4,6 1,5

N/R (N/C)

22,5

142,7

90,3

-

32,0

19,7

29,6

22,0

-

40,0

6699

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121

121

55..33..22 OORRTTHHOOPPTTEERRAA

Foram encontrados 1.835 Orthoptera nos 157 regurgitos analisados, distribuídos

em 5 famílias, como mostra a tabela 20. Dividindo-se o número total de Orthoptera

pelo número total de regurgitos tem-se aproximadamente 11 ortopteróides por

regurgito, correspondendo a cerca de 2,6 ml (44,8%) do volume do regurgito.

A família Acrididae (gafanhotos) foi a mais numerosa (N/NT=56,30%, Figura

50A), seguida por Tettigonidae (esperanças) e Gryllidae (grilos). Em volume, a família

Gryllidae (V/VT = 37.42%, Figura 50B) teve maior representação seguida por

Acrididae e Tettigonidae.

Ninfas e adultos ocorreram em todas as famílias, porém a distribuição entre os

estágios de vida não fez parte das análises do presente estudo.

Tabela 20. Orthoptera encontrados nos regurgitos distribuídos nas famílias identificadas. N: número de indivíduos encontrado nos regurgitos. V: Volume dos indivíduos identificados. N/R: número total de indivíduos dividido pelo número total de regurgitos. V/R: Volume total dos indivíduos dividido pelo número total de regurgitos.

NT V (ml) N/R V/R (ml) Acrididae 1050 139,41 6,69 0,89 Romaleidae 29 21,2 0,18 0,14 Pyrgomorphidae 18 2,47 0,11 0,02 Tettigonidae 365 70,5 2,32 0,45 Gryllidae 395 151,45 2,52 0,96 Fragmentos 8 19,65 0,05 0,13 Total 1835 404.68 11,69 2,58

Figura 50. Gráficos mostrando a proporção entre as famílias de ortopteróides encontradas nos regurgitos analisados. A. Número de exemplares de cada família, dividido pelo número total de ortopteróides. B. Volume dos indivíduos de cada família dividido pelo volume total dos Orthoptera.

N/NT Pyrgomorphidae

0,97%

Fragmentos0,43%

Romaleidae1,55% Tettigonidae

19,57%

Acrididae56,30%

Gryllidae21,18%

V/VT

Gryllidae37,42%

Acrididae34,45%

Tettigonidae17,42%

Romaleidae5,24%

Fragmentos4,86%

Pyrgomorphidae

0,61%

B A

7700

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122

122

Observa-se que a média das proporções das famílias de Orthoptera nos

diferentes meses (Tabelas 21 e 22) tem valores diferentes dos obtidos dividindo-se o

número e o volume de cada família pelo total da Ordem (Figura 50). Porém sem alterar

a representatividade total, ou seja, nas duas situações Acrididae, por exemplo, é a maior

representante em termos de número e Gryllidae em volume.

Tabela 21. Proporção do número de indivíduos de cada família encontrados por regurgito (N/R) de cada mês em relação ao número total de Orthoptera, em porcentagem. M. Média do número de indivíduos por regurgito em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média do número de indivíduos por regurgito nos diferentes meses.

Tabela 22. Proporção do volume dos indivíduos de cada família encontrados por regurgito em relação ao volume total de Orthoptera (V/R) de cada mês, em porcentagem. M. Média da proporção do volume por regurgito das famílias em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média da proporção do volume por regurgito das famílias em todos os meses de coleta.

A família Tettigonidae teve maior representatividade nos meses de julho,

setembro e outubro, quando se analisa a proporção entre as famílias de Orthoptera

(Tabelas 21 e 22) e também quando se divide o número ou volume de Tettiogonidae

pelo número total de regurgitos do mês (Figura 51).

Comparando-se as figuras 51 e 52, tem-se a representação das diferenças entre

(a) os cálculos através da somatória do número ou volume de indivíduos encontrados

dividida pelo número total de regurgitos por mês e (b) através da média de itens por

regurgito obtido no mês, e seu desvio. Observa-se que o padrão geral não sofre

interferência. Mas no segundo cálculo tem-se a informação adicional do desvio,

mostrando que as amostras têm grande variação interna, ou seja, os regurgitos obtidos

no mesmo mês não apresentam a mesma composição, ou uma grande uniformidade

nesta composição. Lembrando que os meses de agosto, setembro e outubro, por terem

N/R Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Gryllidae 36,08 23,14 25,39 30,38 14,60 20,63 25,04 7,52 Tettigonidae 9,28 7,43 23,98 16,46 28,96 21,54 17,94 8,47 Acrididae 51,55 66,57 47,85 53,16 53,71 55,33 54,70 6,35 Romaleidae 3,09 0,57 2,08 0 1,49 2,04 1,85 0,92 Pyrgomorphidae 0 2,29 0,69 0 1,24 0,45 1,17 0,81

V/R Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Grylidae 63,95 34,2 39,3 53,2 22,8 36,4 41,6 14,6 Tettigonidae 7,37 9,0 24,3 13,6 24,8 22,0 16,9 7,8 Acrididae 21,16 54,8 29,7 33,2 44,5 31,9 35,9 11,9 Romaleidae 7,52 0,9 6,5 0 7,2 9,0 5,2 3,8 Pyrgomorphidae 0 1,1 0,2 0 0,6 0,6 0,4 0,4

7711

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123

123

Figura 51. Variação na quantidade de Tettigonidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Número de indivíduos por regurgito nos diferentes meses (N/R). B. Volume dos indivíduos por regurgito nos diferentes meses de coleta (V/R).

Figura 52. Variação na quantidade de Tettigonidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Média do número de indivíduos de Tettigonidae por regurgito, por mês M(N/R)). B. Média do volume dos indivíduos de Tettigonidae por regugito, por mês (M(V/R)).

os regurgitos individualizados, apresentam maior desvio padrão quando comparados

com os meses de maio, junho e julho, onde os regurgitos foram agrupados por dia de

coleta (ver item 4.3.3).

Mais um exemplo desta variação está em Gryllidae, que quando analisados

agrupados (Figura 53) e quando se calcula a média (Figura 54), apresentam o mesmo

padrão: maio maior que junho, julho com uma quantidade elevada de grilos, que vai

decrescendo até setembro e se eleva novamente em outubro. Porém, os números

absolutos diferem principalmente nos meses de agosto e julho, onde o agrupamento de

todos os indivíduos encontrados no mês indicou o número de 3,7 grilos por regurgito

em julho, e a média apresentou 6,9 grilos por regurgito com um desvio padrão de 10,4

grilos. Essa diferença ocorreu em razão de no mês de julho, um dos dias de coleta ter

apresentado um número excepcional de grilos (28 grilos em um único regurgito),

enquanto os outros dias de coleta tiveram de um a cinco grilos por regurgito. Quando

somamos o total de indivíduos e dividimos pelo total de regurgitos, essa variação se

0

2

4

6

8

10

M J J A S OMeses

M [N

(Tet

tigon

idae

)/R]

A

0

0,4

0,8

1,2

1,6

2

M J J A S OMeses

M[V

(Tet

tigon

idae

)/R

)

B

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

M J J A S OMeses

V(T

ettig

onid

ae)/

R (

ml)

B

0

1

2

3

4

5

M J J A S OMeses

N(T

ettig

onid

ae)/

R

A

7722

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124

124

torna menos aparente, mas como uma aproximação não se mostra menos real, já que

encobriu um regurgito que diferiu muito dos outros.

No mês de agosto ocorreu fato semelhante, um único regurgito, contendo 17

grilos, foi responsável pela média ter sido o dobro da soma dos indivíduos em relação

ao número total de regurgitos (NT/RT = 2,4 e M(N/R) = 4,8 ± 8,1).

A figura 55 mostra o número de indivíduos das famílias Acrididae, Romaleidae,

Pyrgomorphidae e fragmentos encontrados por regurgito nos diferentes meses. A

família Acrididae aumenta sua representatividade de maio até julho, diminuindo em

agosto (lembrando que este mês teve uma pequena amostragem) e voltando a crescer

em setembro, com a maior quantidade em outubro. O volume dos indivíduos segue

padrão semelhante ao número (figura 56).

As outras duas famílias (Romaleidae e Pyrgomorphidae) se mostraram em

menor número não sendo visualizada nenhuma tendência ao longo dos meses de coleta.

Figura 53. Variação na quantidade de Gryllidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Número de indivíduos por regurgito nos diferentes meses (N/R). B. Volume dos indivíduos por regurgitonos diferentes meses de coleta (V/R).

0

4

8

12

16

20

M J J A S OMeses

M[N

(Gry

llida

e)/R

]

0

1

2

3

4

5

6

M J J A S OMeses

M[V

(Gry

llida

e)/R

] (m

l)

A B

Figura 54. Variação na quantidade de Gryllidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Média do número de indivíduos de Gryllidae por regurgito por mês (M(N/R)). B. Média do volume dos indivíduos de Gryllidae por regugito, por mês (M(V/R)).

0

1

2

3

4

5

M J J A S OMeses

N(G

rylli

dae)

/R

0

0,4

0,8

1,2

1,6

M J J A S OMesesV

(Gry

llida

e)/R

(m

l)

B A

7733

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125

125

Porém, quando se olha para a figura 56, que relaciona o volume de cada família ao

longo dos meses verifica-se que apesar da família Romaleidae ter sido encontrada em

menor número, ela tem uma considerável representatividade em volume.

Figura 55. Número de indivíduos, por regurgito (N/R), pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, além de fragmentos de Orthopteras não identificados ao nível de família, nos diferentes meses de coleta.

Figura 56. Volume dos indivíduos por regurgito (V/R), pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, além de fragmentos de Orthopteras, nos diferentes meses de coleta.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

Acrididae Romaleidae Pyrgomorphidae FragmentosFamílias

N/R

M

J

J

A

S

O

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,1

1,2

1,3

Acrididae Romaleidae Pyrgomorphidae FragmentosFamílias

V/R

(ml)

M

J

J

A

S

O

7744

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126

126

Para os indivíduos das famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae foi

possível a identificação até a categoria de subfamília, gênero ou espécie, e os números

encontrados para cada categoria estão representados na tabela 23. A família Acrididae

foi representada por cinco subfamílias e 9 espécies identificadas. A família Romaleidae

foi constituída unicamente por Xileus sp. e a família Pyrgomorphidae representada por

Algete brunneri.

A proporção encontrada para as espécies identificadas encontra-se na figura 57,

em relação ao número, e na figura 58, em relação ao volume. Abracris sp. foi a

principal responsável pela elevada representatividade em número da família Acrididae,

já em volume a contribuição de Gomphocerinae teve papel mais representativo, através

de Rammatocerus sp. e Amblytropidia ferruginosa.

Tabela 23. Número de indivíduos (N) das espécies e subfamílias identificadas, pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, da Ordem Orthoptera. Família Subfamília N Gênero/Espécie N Acrididae Ommatolampinae 551 Abracris dilecta 119 Abracris sp. 432 Gomphocerinae 160 Rammatocerus sp. 48 Amblytropidia ferruginosa 112 Leptysminae 54 Stenopola sp. 40 Cylindrotettix reverae orientalis 6 Sternacris xantoclora 8 Cyrcanthacridinae 5 Schistocerca pallens 5 Acridinae 14 Eutrixalis filata 14 NI 210 NI 210 Fragmentos 56 Fragmentos 56 Romaleidae Romaleinae 29 Xileus sp. 29 Pyrgomorphidae Pyrgomorphidae 18 Algete brunneri 18

7755

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127

127

N/NT

5,1%

2,6%

1,6%

39,4%

10,8%

19,1%

0,7%

0,5%

0,5%

1,3%

3,6%10,2% 4,4%

Abracris dilecta

Abracris sp.

Rammatocerus sp.

Amblytropidia ferruginosa

Stenopola sp.

Cylindrotettix reverae orientalis

Sternacris xantoclora

Schistocerca pallens

Eutrixalis filata

NI

Fragmentos

Xileus sp.

Algete brunneri

Figura 57. Freqüência relativa da abundância (N/NT) das espécies identificadas, pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, Ordem Ortopthera, obtidas nos regurgitos analisados.

V/VT

23,9%

8,5%

1,3%

9,5%

10,3%

11,2%

1,0%6,8%

19,3%

3,8%

3,2%

0,8%

0,4%

Abracris dilecta

Abracris sp.

Rammatocerus sp.

Amblytropidia ferruginosa

Stenopola sp.

Cylindrotettix reverae orientalis

Sternacris xantoclora

Schistocerca pallens

Eutrixalis filata

NI

Fragmentos

Xileus sp.

Algete brunneri

Figura 58. Freqüência relativa do volume (V/VT) das espécies identificadas, pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, Ordem Ortopthera, obtidas nos regurgitos analisados.

7766

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128

128

55..33..33 AACCAARRIINNAA

Foram encontrados 577 carrapatos (Chelicerata, Acarina) todos pertencentes à

família Ixodidae e a espécie Boophilus microplus. Com exceção de um único indivíduo

macho, todos eram fêmeas teleóginas, com o aparelho bucal intacto.

Em média, foram encontrados três a quatro carrapatos por regurgito, porém o

desvio foi elevado, indicando uma grande variação neste número. Pode-se observar que

enquanto em maio foi encontrado um carrapato em cada dois ou três regurgitos

analisados em outubro tem-se mais que 10 carrapatos por regurgito. Apesar de

numerosos a contribuição em volume é pequena, correspondendo a 27,9 ml (3,2%) do

volume total de todos os regurgitos e a uma média de 0,19 ml (3,3%) por regurgito

(Tabela 24).

Nota-se também, na tabela 24, a quantidade crescente de carrapatos encontrados

por regurgito ao longo dos meses de coleta, tanto em número quanto em volume (como

já foi observado no item 5.3.1).

Tabela 24. Carrapatos encontrados nos meses amostrados. N. número de indivíduos obtidos no mês. V. Volume total dos indivíduos encontrados no mês correspondente. N/R. Número de indivíduos em relação ao número de regurgitos de cada mês. V/R. Volume dos indivíduos de cada mês dividido pelo número de regurgito. Total: do número de carrapatos encontrados na amostragem, do volume dos carrapatos encontrados, do número total de carrapatos encontrados dividido pelo número total de regurgitos da amostra e do volume total dos carrapatos dividido pelo número total de regurgitos. M. média do número de indivíduos e do volume por regurgito por mês. D. Desvio padrão do número de indivíduos e do respectivo volume por mês. Ixodidae Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Total M D N 6 55 71 33 194 218 577 V(ml) 0,25 3 2,8 2,35 10,75 8,75 27,9 N/R 0,38 1,28 2,45 3,30 5,11 10,38 3,68 3,81 3,61 V/R(ml) 0,02 0,07 0,10 0,24 0,28 0,42 0,18 0,19 0,15

7777

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129

129

55..33..44 AARRAANNEEAA

Foram encontradas 515 aranhas, pertencentes a oito famílias, nos 157 regurgitos

coletados, constituindo 41,08 ml (4,7%) do volume total analisado (Tabela 25).

Dividindo-se o número total de aranhas encontradas pelo total de regurgitos coletados

têm-se cerca de três aranhas por regurgito, correspondendo a 0,26 ml (4,5%) do volume

do regurgito.

Tabela 25. Aranhas encontradas nos regurgitos distribuídos nas famílias identificadas. N: número de indivíduos encontrados nos regurgitos. V: Volume total dos indivíduos encontrados. N/R: número total dividido pelo número total de regurgitos. V/T: Volume dos indivíduos dividido pelo número total de regurgitos coletados.

Aranea N V(ml) N/R V/T(ml) Lycosidae 363 28,65 2,31 0,18 Araneidae 55 3,80 0,35 0,02 Oxyopidae 36 0,55 0,23 0,00 Psauridae 24 5,45 0,15 0,03 Salticidae 3 0,10 0,02 0,00 Theraphosidae 1 0,10 0,01 0,00 Philodromidae 1 0,00 0,01 0,00 Anyphaenidae 2 0,10 0,01 0,00 Aranhas NI 20 1,08 0,13 0,01 Fragmentos de aranha 10 1,25 0,06 0,01

515 41,08 3,28 0,26

As figuras 59 e 60 mostram a proporção das oito famílias de aranhas

identificadas nos regurgitos. A família Lycosidae foi responsável por cerca de 70% do

total de aranhas encontradas tanto em volume como em número de indivíduos. A

segunda família mais numerosa foi Araneidae com aproximadamente 10% do número e

do volume de aranha. A família Oxyopidae, apesar de constituir 7% das aranhas

identificadas contribuiu com apenas 1,3% do volume de aranhas consumido.

Contrariamente, a família Psauridae com 4,6% do número de aranhas obtidas,

contribuiu com 13% do volume total de aranhas nos regurgitos.

Quando se calcula a média das proporções entre as famílias de aranhas ao longo

dos meses (Tabelas 26 e 27) tem-se a família Lycosidae com cerca de 76% da

representatividade tanto em número como em volume, seguida por Araneidae com

apenas 9% do total de aranhas encontradas. A média neste caso aumenta ainda mais a

representatividade de Lycosidae em relação ao total de aranhas (N/NT).

7788

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130

130

Figura 59. Proporção do número de indivíduos obtidos por família pertencentes à Ordem Aranea encontrados nos regurgitos coletados.

Figura 60. Proporção do volume dos indivíduos obtidos em cada família, em relação ao volume total dos itens pertencentes à Ordem Aranea encontrados nos regurgitos coletados.

N/NT

Lycosidae70,5%

Fragmentos de aranha1,9%

Araneidae10,7%

Oxyopidae7,0%

Anyphaenidae0,4%

Philodromidae0,2%

Theraphosidae0,2%

Psauridae4,7%

Salticidae0,6%

AranhasNI3,9%

V/VT

Lycosidae69,8%

Fragmentos de aranha

3,0%

Araneidae9,3%

Oxyopidae1,3%

Anyphaenidae0,2%

Theraphosidae0,2%

Psauridae13,3%

Salticidae0,2%

AranhasNI2,6%

7799

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131

131

Tabela 26. Proporção do número de indivíduos pertencentes a cada família identificada de Aranea ao longo dos meses de coleta, assim como de aranhas não identificadas (NI) e fragmentos. M. Média da proporção do número de indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média do número de indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. N/R (%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Lycosidae 96,00 87,25 74,53 100,00 60,27 43,64 76,95 21,88 Araneidae 4,00 2,94 5,59 - 23,29 15,27 8,52 8,90 Oxyopidae - 4,90 10,56 - 8,90 - 4,06 4,81 Psauridae - 1,96 3,73 - - 31,27 6,16 12,39 Salticidae - - 0,62 - 1,37 - 0,33 0,57 Theraphosidae - - 0,62 - - - 0,10 0,25 Philodromidae - - - - 0,68 - 0,11 0,28 Anyphaenidae - - - - - 1,45 0,24 0,59 AranhasNI - - 2,48 - 3,42 8,36 2,38 3,28 Fragmentos de aranha - 2,94 1,86 - 2,05 - 1,14 1,30

Tabela 27. Proporção do volume dos indivíduos pertencentes a cada família identificada de Aranea ao longo dos meses de coleta, em relação ao total de aranhas de cada mês. M. Média da proporção do volume dos indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média do volume dos indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. V/R (%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Lycosidae 84,62 78,37 71,96 100,00 71,72 43,64 75,05 18,61 Araneidae 15,38 2,40 2,80 - 18,25 15,27 9,02 8,11 Oxyopidae - 0,96 1,87 - 2,28 - 0,85 1,03 Psauridae - 15,38 15,89 - - 31,27 10,42 12,77 Salticidae - - 0,00 - 0,46 - 0,08 0,19 Theraphosidae - - 0,93 - - - 0,23 0,39 Philodromidae - - - - 0,00 - 0,00 0,00 Anyphaenidae - - - - - 1,45 0,24 0,59 AranhasNI - - 0,93 - 1,82 8,36 1,85 3,27 Fragmentos de aranha - 2,88 5,61 - 5,02 - 2,25 2,63

As figuras 61 e 62 mostram o número e o volume das famílias identificadas de

aranhas por regurgito nos diferentes meses de coleta. A família Lycosidae teve uma

representação elevada em todos os meses, apresentou um crescimento em número e

volume de maio até julho (mês com o máximo de representatividade), decrescendo até

outubro em volume. O mês de agosto apresentou um número menor de Lycosidae, em

relação aos outros meses, que, entretanto não foi acompanhado pelo volume. Assim, um

número menor de aranhas desta família foi capturado este mês, porém com maior

volume.

A família Araneidae teve sua maior representatividade nos meses de setembro e

de outubro. A família Psauridae ocorreu com maior freqüência nos meses de julho e

outubro. As outras quatro famílias tiveram ocorrência muito baixa em relação às

primeiras em todos os meses.

8800

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132

132

Figura 62. Volume dos indivíduos das famílias de Aranea encontrados em relação ao número de regurgitos coletados por mês, além das aranhas que não puderam ser identificadas (NI) e dos fragmentos encontrados.

Figura 61. Número de indivíduos identificados de cada família de Aranea em relação ao número de regurgitos obtidos por mês, além das aranhas que não puderam ser identificadas (NI) e dos fragmentos encontrados.

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

Lyco

sidae

Arane

idae

Oxyop

idae

Psaur

idae

Saltici

dae

Thera

phos

idae

Philod

romida

e

Anyph

aenid

ae

Aranh

asNI

Fragm

entos

de ar

anha

Famílias

Vol

ume

por r

egur

gito

(ml)

MJJASO

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

5,5

Lyco

sidae

Arane

idae

Oxyop

idae

Psaur

idae

Saltici

dae

Thera

phos

idae

Philod

romida

e

Anyph

aenid

ae

Aranh

asNI

Fragm

entos

de ar

anha

Famílias

Núm

ero

de in

diví

duos

por

reg

urgi

to MJJASO

8811

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133

133

Fica evidenciado pela tabela 28 que o mês de julho teve uma representatividade

do grupo Aranea bem mais elevada (sete indivíduos por regurgito) que os outros meses

(de 0,5 a 3,8 indivíduos por regurgito). Essa diferença também é representada pelo

volume, porém em menor escala. Em média, de maneira semelhante ao encontrado

dividindo-se o total de aranhas pelo total de regurgitos, têm-se quase três indivíduos por

regurgito com elevado desvio e 0,3 ml (5,2%) por regurgito, correspondendo a aranhas.

Parte das aranhas encontradas foram identificadas até a categoria de espécie.

Dentro da família Araneidae foram identificados indivíduos de Argiope argentata; da

família Psauridae, Thaumasia sp. e Ancylometes rufus. A família Oxiopidae foi

representada por Oxyopes salticus e a família Anyphaenidae, por Teudis sp.

Tabela 28. Número de aranhas por regurgito por mês (N/R) e Volume dos indivíduos de aranha por mês (V/R). M. Média do número e volume dos indivíduos nos meses de coleta. D. Desvio padrão da média do número e volume dos indivíduos nos meses de coleta. Aranea Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D N/R 1,56 2,37 7,00 0,50 3,84 1,00 2,71 2,41 V/R (ml) 0,08 0,24 0,47 0,20 0,29 0,33 0,27 0,13

8822

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134

134

55..33..55 OOUUTTRROOSS IINNSSEECCTTAA

Além de Orthoptera, outras 11 ordens do Filo Mandibulata, Superclasse

Hexapoda, Classe Insecta, foram identificadas no conteúdo dos regurgitos coletados

(Tabela 29). Dentre estas, as ordens mais representativas foram: Diptera (moscas),

Blattariae (baratas), Mantodea (louva-deus) e Lepidoptera (mariposas).

Tabela 29. Ordens identificadas de Insecta, exceto Orthoptera, encontradoas nos regurgitos analisados, com seus respectivos: N. número de indivíduos presentes nos regurgitos. V. Volume dos indivíduos presentes na amostra. N/R. Número de indivíduos em relação ao número de regurgitos analisados. V/R. Volume dos indivíduos de cada grupo em relação ao número total de regurgitos. NI. Insecta não identificado. Total de “Outros Insecta”. Outros Insecta N V (ml) N/R V/R (ml) Mantodea 66 4,67 0,42 0,03 Phasmida 6 1,90 0,04 0,01 Blattariae 68 11,95 0,43 0,08 Lepidoptera 24 7,52 0,15 0,05 Odonata 5 0,50 0,03 0,00 Hymenoptera 7 0,17 0,04 0,00 Diptera 234 14,33 1,49 0,09 Hemiptera 5 2,90 0,03 0,02 Homoptera 9 3,17 0,06 0,02 Coleoptera 7 1,52 0,04 0,01 Neuroptera 2 1,20 0,01 0,01 NI 40 3,10 0,25 0,02 Total 473 52,92 3,01 0,34

(N/NT)

1,5%

8,5%0,4% 14,0%

1,3%

14,4%

49,5%

1,5%

1,1%

5,1%

1,9%

1,1%

Mantodea

Phasmida

Blattariae

Lepidoptera

Odonata

Hymenoptera

Diptera

Hemiptera

Homoptera

Coleoptera

Neuroptera

Hexapodas NI

Figura 63. A. Representação da proporção do número de indivíduos das diversas ordens de Insecta (exceto os Orthoptera), encontrados nos regurgitos analisados. B. Representação da proporção do volume dos indivíduos das diferentes ordens encontrados nos regurgitos analisados.

(V/VT)

5,5%6,0%

14,2%

0,9%0,3%

27,1%

22,6%

3,6%

8,8%

2,3%5,9%

2,9%

Mantodea

Phasmida

Blattariae

Lepidoptera

Odonata

Hymenoptera

Diptera

Hemiptera

Homoptera

Coleoptera

Neuroptera

Hexapodas NI

A B

8833

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135

135

Como apresentado na figura 63, Diptera contribui com quase 50% do número

dos insetos (exceto Orthoptera) encontrados nos regurgitos e foram responsáveis apenas

por 27% do volume destes invertebrados. Por outro lado, os outros dois grupos mais

abundantes, Blattariae e Lepidoptera, tiveram menor contribuição em número (14,4 e

8,5%, respectivamente) frente à representatividade em volume (22,6 e 14,2%,

respectivamente).

Vale notar que dentro das ordens Diptera e Lepidoptera foram encontradas

distinções entre a fase do ciclo de vida (Tabela 30). Lepidoptera tem seus indivíduos

igualmente distribuídos nas duas fases em número, sendo que as lagartas superam em

volume a fase metamorfoseada. Diptera também apresentou um número elevado do

estagio larval frente à fase adulta. Todas estas larvas de Diptera fizeram parte de um

único regurgito, obtido em julho, com poucos adultos e predominância das larvas.

Mesmo retirando-se esse regurgito da amostra de outubro, este ainda foi o mês onde se

obteve o maior número de “Outros Insecta” (Figura 64).

Tabela 30. Número de indivíduos (N), volume (V) e relação com o número total de regurgitos (N/R e V/R) dos representantes das ordens Lepidoptera e Diptera, de acordo com a etapa do ciclo de vida: larval ou adulta.

N

V (ml)

N/R

V/R (ml)

Lepidoptera Larvas 12 4,05 0,08 0,03 Adultos 12 3,47 0,08 0,02 Diptera Larvas 139 8,63 0,89 0,05 Adultos 95 5,70 0,61 0,04

0

2

4

6

8

10

12

14

M J J A S OMeses

N(O

utro

s In

sect

a)/R N/R total

OU/20R

0

0,2

0,4

0,6

0,8

M J J A S OMeses

V(O

utro

s In

sect

a)/R

(m

l)

V/R total

OU/20R

B A

Figura 64. A. Número de Insecta (excetuando-se os Orthoptera) em relação ao número de regurgitos coletados em cada mês de amostragem. B. Volume de Insecta (excetuando-se os Orthoptera) em relação ao número de regurgitos coletados em cada mês de amostragem. No mês de outubro tem-se duas colunas: em cinza está representada a amostra total com 21 regurgitos, e com linhas diagonais, apenas 20 regurgitos, onde o regurgito contendo apenas Diptera foi retirado da análise.

8844

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136

136

A tabela 31 compara os resultados obtidos com outros estudos, em outras

regiões. Com exceção dos estudos de GASSET et al. (2000), onde foram encontradas

quantidades elevadas de Lepidoptera em relação às outras localidades, a freqüência de

abundância deste grupo esteve entre 0,6 (presente estudo) e 1,7%. Nota-se que a

presença relativa em número de larvas e adultos de Lepidoptera manteve-se constante

(aproximadamente 50% de cada fase) nos diferentes estudos, sendo que, evidentemente,

as larvas de Lepidoptera apresentam volume mais expressivo que os adultos.

Larvas de Diptera não foram encontradas na maior parte dos estudos, e mesmo

na colônia de Brejão estes estiveram presentes apenas em um dos regurgitos. A

presença de Diptera esteve entre 4,65 a 16,7% de freqüência de abundância, sendo estes

valores máximos e mínimos pertencentes a estudos da mesma localidade em anos

diferentes (BURNS & CHAPIN 1969). A presença de Blattariae só foi representativa no

presente estudo, sendo encontradas também na Algéria e na Flórida em quantidades

reduzidas. O mesmo se aplica à ordem Mantodea.

Tabela 31. Freqüências relativas de abundância (N/NT) e volume (V/VT) em porcentagem (%) obtidas para algumas ordens de Insecta em diversos estudos. Primerira linha: nome e ano da publicaçào,; segunda linha: localidade e época da coleta; Terceira linha número amostral (n), onde R, significa amostras de regurgitos de filhotes e C, de conteúdo estomacal. Presente estudo,

2003

Brejão Maio/Out

Boukhemza et al. 2000

Algéria

Gasset et al., 2000

Ilhas Virgens

Janeiro

Fogarty & Hetrick,1973

Florida Verão

Burns & Chapin 1969

Lousiana

N 157R 150R 44C 410C 36C 38C N/NT V/VT N/NT V/VT N/NT V/VT N/NT V/VT N/NT V/VT N/NT V/VT Lepidoptera Larva 0,3 0,46 - - 21,2 11,7 - 1,5 0,5 - 0,96 - Adulto 0,3 0,40 0,02 - 21,8 15,8 - 0,4 - 0,76 - Diptera Larva Adulto

3,9 2,7

0,10 0,07

0,02 0,06*

- -

- 7,9

- 1,7

-

- 2,0

- - 16,7 -

- - 4,65 -

Blattariae 1,9 1,35 0,03 - - - - 0 - - - - - Mantodea 1,9 0,53 0,35 - - - 0 - - - -

* mais 6 Imagos de Diptera (N/NT = 0,1)

8855

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137

137

55..33..66 VVEERRTTEEBBRRAATTAA

Foram encontrados 99 vertebrados nos 157 regurgitos analisados, que

contribuíram com 179,76 ml (20,4%) do volume total, o que equivale à cerca de 1,14 ml

(24,1%) por regurgito (Tabela 32). Em virtude do elevado volume destes indivíduos,

este grupo teve contribuição representativa no conteúdo dos regurgitos, apesar do

número de indivíduos ser pequeno em relação aos outros grupos (e.g. “Outros Insecta”).

Os anfíbios tiveram a maior representação constituindo quase que 80% do

número total de vertebrados, tanto em número quanto em volume. Seguidos pelos

lagartos com cerca de 20% do número e volume de vertebrados obtidos nos regurgitos

(Figura 65). Apenas um mamífero (Rodentia, jovem) foi encontrado e duas serpentes.

Tabela 32. Classe e subordens pertencentes ao subfilo Vertebrata encontrados nos regurgitos analisados. N. número de itens encontrados na amostra; V. volume dos itens encontrados na amostra. N/R. número de indivíduos dividido pelo número total de regurgitos analisados. V/R. Volume dos indivíduos encontrados divididos pelo volume total de regurgitos analisados. Total de vertebrados obtidos nos regurgitos.

Classe Subordem N V(ml) N/R V/R(ml) Amphibia 78 138,86 0,50 0,88 Reptilia Lacertilia 18 37,40 0,11 0,24 Serpentes 2 3,30 0,01 0,02 Mammalia 1 0,20 0,01 0,00 Total 99 179,76 0,63 1,14

Figura 65. A. Proporção do número de indivíduos dos diferentes grupos de vertebrados encontrados na amostragem. B. Proporção do volume dos indivíduos nos diferentes grupos de vertebrados encontrados na amostragem.

N/NT

Amphibia79%

Mammalia2%

Lacertilia18%

Serpentes1%

V/VT

Mammalia2%Lacertilia

21%

Amphibia77%

Serpentes0%

A

8866

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35

35

De acordo com os estudos relacionados na tabela 33, entre os grupos dos

vertebrados, os anfíbios são os mais encontrados na dieta de B. ibis, seguidos dos

lagartos, com exceção do trabalho de GASSET et al. (2000), onde os lagartos superam os

anfíbios e no caso de BOUKHEMZA et al. (2000) onde os mamíferos foram mais

abundantes. A presença de peixes foi obtida apenas na África. Poucas aves foram

encontradas na Lousiana (EUA) e Algéria (África). No presente estudo, nenhuma ave

foi encontrada nos regurgitos, porém um juvenil foi visto tentando engolir um ninhego

que se encontrava morto no chão da colônia (ver item 5.2.1). Em relação ao volume

(Tabela 34) segue-se o padrão obtido para a freqüência relativa de abundância.

Tabela 33. Freqüência relativa de abundância (N/NT) dos vertebrados obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas na dieta da garça-vaqueira. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R).

Tabela 34. Freqüência relativa do volume (V/VT) dos vertebrados obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas, na dieta da garça-vaqueira. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R).

N/NT(%) Presente estudo, 2003

Pernambuco

Maio/Out

Burns & Chapin, 1966

Louisiana

Verão

Gasset et al., 2000

Ilhas Virgens

Janeiro

Jenni, 1969

Florida

Maio/Jullho

Jenni, 1973

Florida

Maio-Jullho

Boukhemza et al., .2000

Algeria

Nov-Out N 157R 36C/38C 44C 50R 50R 50R 50R 150 R Amphibia 2,20 0,62/0,60 0,40 5,90 6,80 6,40 8,20 0,40 Reptilia Lacertilia 0,50 0,06/0,30 12,70 0,20 0,20 0.06 - 0,05 Serpentes 0,06 - /0,03 - - - - - - Mammalia 0,03 - /0,03 0,10 - - - - 0,63 Aves - - /0,03 - - - - - 0,17 Osteichthyes - - - - - - - 0,28

V/VT(%) Presente estudo, 2003

Pernambuco

Maio/Out

Gasset et al., 2000

Ilhas Virgens

Janeiro

Jenni, 1969

Florida

Maio/Jullho

Jenni, 1973

Florida

Maio-Jullho N 157R 44C 50R 50R 50R 50R Amphibia 15,75 0,80 32,40 38,20 29,70 37,20 Reptilia Lacertilia 4,24 34,10 4,40 2,00 0,40 - Serpentes 0,37 - - - - - Mammalia 0,02 1,60 - - - - Aves - - - - - - Osteichthyes - - - - - -

8877

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36

36

N/NT fragmentos

8%

Leptodactylidae51%

Bufonidae4%

Hylidae15%

NI22%

V/VTNI

8%fragmento

s1%

Leptodactylidae81%

Bufonidae6%

Hylidae4%

A B

AAMMPPHHIIBBIIAA

Os anfíbios encontrados nos regurgitos foram identificados como pertencentes a

três famílias, sendo a mais numerosa Leptodactylidae. Dividindo-se o número total de

anfíbios pelo número total de regurgitos tem-se que a cada dois regurgitos encontrar-se-

ia um anfíbio, contribuindo com 0,88 ml (15,2%) de cada regurgito (Tabela 35).

Cerca de 18% dos anfíbios encontrados não puderam ser identificados, por

estarem já parcialmente digeridos. À família Leptodactylidae pertenceram os maiores

exemplares, sendo que em volume constituíram cerca de 80% do total de anfíbios, e em

número cerca de de 50% (Figura 66).

Tabela 35. Famílias dos anfíbios obtidos na amostragem. NI. Anfíbios não identificados. N. número de indivíduos de cada grupo. V. Volume dos indivíduos de cada grupo. N/R. Número de indivíduos obtidos na amostragem dividido pelo número de regurgitos analisados. V/R. Volume dos indivíduos obtidos na amostragem dividido pelo número de regurgitos analisados.

N V (ml) N/R V/R (ml) Leptodactylidae 44 113,40 0,28 0,72 Bufonidae 5 11,80 0,03 0,08 Hylidae 11 2,06 0,07 0,01 NI 14 10,60 0,09 0,07 fragmentos 4 1,00 0,03 0,01 Amphibia 78 138,86 0,50 0,88

Figura 66. A. Proporção do número de indivíduos pertencentes as diferentes famílias de anfíbios. B. Volume relativo de cada família de anfíbio.

8888

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37

37

A tabela 36 mostra a variação da participação dos anfíbios nos diferentes meses,

com a média do número e do volume superiores ao calculado pela divisão do número

total de indivíduos pelo número total de regurgitos (tabela 35), e com uma variação

relativamente menor quando comparada a outros grupos (e.g. aranhas).

Tabela 36. Número de indivíduos por regurgito (N/R) e Volume dos indivíduos por regurgito (V/R) do grupo Amphibia nos diferentes meses de coleta. M. média do número e volume de índividuos por mês. D. desvio padrão da média do número e volume de indivíduos por mês.

Maio Junho Julho Setembro Outubro M D N/R 0,69 0,47 0,21 0,47 1,00 0,57 0,30 V/R (ml) 1,54 0,87 1,00 0,60 1,14 1,03 0,35

O maior número de leptodactilídeos ocorreu no mês de maio como mostra a

figura 67 e a tabela 37, tendo este mês também a maior ocorrência de Bufonidae (84%),

sem a presença de Hylidae. Apesar de julho ter a menor ocorrência de leptodactilídeos

em número, esse padrão não foi acompanhado pelo volume (Figura 68 e Tabela 38),

significando que menos indivíduos foram capturados, porém de maior tamanho. A

amostragem do mês de agosto não apresentou nenhum anfíbio, tendo também um menor

número regurgitos amostrado. Os meses de junho e setembro foram os únicos que

apresentaram representantes das três famílias. Em outubro têm-se 80% dos Hylidae

encontrados nos regurgitos (Tabelas 37 e 38), que apresentaram-se em número

semelhante ao dos leptodactilídeos, porém em volume os últimos são mais

representativos (Figuras 67 e 68).

A última linha das tabelas 37 e 38 mostra o número e o volume de cada mês de

coleta em relação à somatória de todos os meses, e, assim como a tabela 36, indicam

que maio e outubro foram os meses que apresentaram maior quantidade de anfíbios,

sendo maio superior em volume e outubro, em número.

Quando em estado de conservação adequado os indivíduos foram identificados

até a categoria de gênero ou espécie. A tabela 39 mostra as espécies encontradas,

pertencentes às três famílias tratadas e sua ocorrência (número e volume, por regurgito).

Os representantes mais numerosos foram: Leptodactylus ocellatus e Physalaemus sp.

(Figura 69) pertencentes à família Leptodactylidae e Hyla oliverai à família Hylidae.

8899

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38

38

Figura 67. Número de indivíduos das diferentes famílias de Amphibia encontradas, por regurgito nos diferentes meses de coleta, além de fragmentos e indivíduos não identificados (NI).

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

Leptodactylidae Bufonidae Hylidae NI FragmentosFamílias

Vol

ume

dos

indi

vídu

os p

or re

gurg

ito (m

l)

M

J

J

S

O

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

Leptodactylidae Bufonidae Hylidae NI FragmentosFamílias

Núm

ero

de in

diví

duos

/Reg

urgi

to

M

J

J

S

O

Figura 68. Volume dos indivíduos das diferentes famílias de Amphibia encontradas, por regurgito nos diferentes meses de coleta, além de fragmentos e indivíduos não identificados (NI).

9900

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39

39

Tabela 39. Espécies identificadas de anfíbios. N. Número de indivíduos encontrados em toda a amostra. V. Volume total dos indivíduos de cada espécie, N/R. número de indivíduos da espécie dividido pelo número total de regurgitos. V/R. Volume dos indivíduos da espécie dividido pelo número total de regurgitos. NI. Indivíduos não identificados. Família Espécie N V N/R V/R Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus 16 83,30 0,10 0,53 Physalaemus cuvieri 1 0,30 0,01 0,00 Physalaemus sp. 16 14,15 0,10 0,09 Leptodactylus sp. 3 14,50 0,02 0,09 NI 4 0,45 0,03 0,00 Bufonidae Bufo granulosus 3 8,00 0,02 0,05 Hylidae Hyla sp. 2 0,45 0,01 0,00 Hyla oliverai 9 3,51 0,06 0,02 Philomedusa hypocondrialis 1 1,80 0,01 0,01 NI NI 17 11,05 0,11 0,07 fragmentos 6 1,35 0,04 0,01 Total 78 138,86 0,45 0,88

N/R Maio Junho Julho Setembro Outubro Leptodactylidae 0,33 0,12 0,08 0,20 0,26 Bufonidae 0,84 0,16 0,00 0,00 0,00 Hylidae 0,00 0,04 0,00 0,15 0,81 NI 0,00 0,55 0,18 0,14 0,13 Fragmentos 0,00 0,00 0,19 0,29 0,52 Total 0,24 0,16 0,07 0,17 0,35

V/R Maio Junho Julho Setembro Outubro Leptodactylidae 0,29 0,16 0,20 0,11 0,25 Bufonidae 0,82 0,18 0,00 0,00 0,00 Hylidae 0,00 0,05 0,00 0,58 0,37 NI 0,00 0,37 0,49 0,13 0,02 Fragmentos 0,00 0,00 0,72 0,13 0,15 Total 0,30 0,17 0,19 0,12 0,22

Figura 69. Item identificado nos regurgitos de garça-vaqueira. Anfíbio pertencente a família Leptodactylidae, gênero Phisalaemus sp., camuflado em uma árvore próxima da colônia de Brejão.

Tabela 38. Proporção do volume dos anfíbios das diversas famílias por regurgito de Amphibia entre os meses de coleta.

Tabela 37. Proporção do número de indivíduos das diversas famílias por regurgito de Amphibia entre os meses de coleta.

9911

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40

40

RREEPPTTIILLIIAA

Os Reptilia constituiram cerca de 20% dos vertebrados. Como mostra a tabela 40

este grupo foi representado por 18 lagartos (Lacertilia) e duas serpentes (Serpentes). Os

lagartos foram identificados como pertencendo a três famílias sendo a mais

representativa (em número e volume) Scincidae (Figura 70). Os Scincidae pertenceram

todos a uma mesma espécie Mabuya agmostichia. O único Teidae foi identificado como

sendo um exemplar de Ameiva ameiva. Obteve-se apenas um exemplar da família

Anguidae. Duas serpentes foram encontradas no mês de junho, ambas eram exemplares

jovens pertencentes à família Colubridae, espécie Liophis lineatus.

Os lagartos foram observados todos os meses nos regurgitos. O número foi

decrescendo de maio a setembro e em outubro cresceu (Figura 71). Em termos de

volume o padrão não é tão uniforme, sendo que julho, agosto e outubro apresentaram

quantidades mais elevadas que os outros meses e, dentre esses, agosto foi o que teve

maior contribuição (Figura 72). Anguidae e Teidae foram ocasionais, o primeiro

ocorrendo apenas no mês de junho e o segundo em julho.

Tabela 40. Grupos de Reptilia encontrados nos 157 regurgitos obtidos de filhotes, na colônia reprodutiva de Brejão, no período de maio a outubro de 2002. Relaciona-se Subordem, Família e Espécies identificadas ao número obtido (N), volume total dos indivíduos (V), número dividido pelo total de regurgitos (N/R) e volume dos indivíduos dividido pelo número total de regurgitos(V/R).

SubOrdem Família Espécie NT VT NT/RT VT/RT Lacertilia Scincidae Mabuya agmostichia 16 29,40 0,10 0,19 Teidae Ameiva ameiva 1 5,00 0,01 0,03 Anguidae 1 3,00 0,01 0,02 Serpentes Colubridae Liophis lineatus 2 3,30 0,01 0,02 Total 20 40,7 0,13 0,26

Figura 70. A Proporção relativa do número de indivíduos de cada grupo de Squamata. B. Proporção encontrada entre os volumes dos indivíduos pertencentes a cada grupo de Squamata.

N/NT

Scincidae80%

Colubridae

10%Anguidae

5%

Teidae5%

V/VT

Teidae12%

Scincidae73%

Anguidae7%

Colubridae

8%

A B

9922

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41

41

0

0,04

0,08

0,12

0,16

Scincidae Teidae AngidaeFamílias

No.

de

indi

vídu

os p

or re

gurg

ito

M

J

J

A

S

O

Figura 71. Número de indivíduos pertencentes às famílias de Lacertilia por regurgito distribuídos ao longo dos meses de amostragem.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

Scincidae Teidae AngidaeFamílias

Vol

ume

dos

indi

vídu

os p

or re

gurg

ito (m

l)

M

J

J

A

S

O

A figura 73 mostra que cerca de 56% do número de Scincidae nos regurgitos,

foram representados apenas pela presença de suas caudas, e que animais inteiros

perfizeram 25% do número de M. agmostichia e quase 20% foram animais sem a cauda.

Em termos de volume a maior contribuição se dá através dos indivíduos inteiros.

Figura 72. Volume dos indivíduos das diferentes famílias da subordem Lacertilia obtidos a partir das amostras de regurgito ao longo dos meses.

9933

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42

42

N/NT

sem cauda19%

inteiro25%só cauda

56%

V/VT

só cauda22%

inteiro47%

sem cauda31%

A B

Figura 73. Proporção em número (A) e em volume (B) das partes encontradas de Scincideos (Mabuya agmostichia): indivíduos inteiro, completos; indivíduos sem cauda; e indivíduos representados apenas pela presença da cauda nos regurgitos.

9944

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43

43

55..33..77 FFRREEQQUUÊÊNNCCIIAA DDEE OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA

A freqüência de ocorrência dos diversos grupos encontrados em toda amostra de

regurgitos está representada na tabela 41. Os meses de setembro e outubro tiveram suas

freqüências calculadas isoladamente (tabelas 42 e 43, respectivamente), e agrupados

(tabela 44), em razão dos regurgitos obtidos nesses meses terem sido individualizados

(item 4.3, Materiais e Métodos).

Classe Ordem Família FO (%) Insecta Orthoptera 100,00 Tettigonidae 100,00 Grillydae 100,00 Acrididae 100,00 Romaleidae 83,33 Pyrgomorphidae 66,67(“Outros Insecta”) 100,00 Mantodea 100,00 Blatodea 100,00 Phasmidea 66,67 Lepidoptera 66,67 Odonata 66,67 Himenoptera 66,67 Diptera 66,67 Homoptera 66,67 Coleoptera 50,00 Hemiptera 33,33 Heteroptera 16,67 Neuroptera 16,67Arachnida Aranea 100,00 Lycosidae 100,00 Araneidae 83,33 Oxyopidae 66,67 Psauridae 50,00 Salticidae 33,33 Theraphosidae 16,67 Philodromidae 16,67 Anyphaenidae 16,67 Acarina Ixodidae 100,00(subfilo: Vertebrata) 100,00Amphibia 83,33 Leptodactylidae 83,33 Bufonidae 50,00 Hylidae 50,00Reptilia 100,00 Scincidae 100,00 Teidae 16,67 Anguidae 16,67 Colubridae 16,67Mammalia 16,67

Tabela 41. Frequência de ocorrência (FO) nos meses dos diversos grupos (Ordem/ Família) encontrados regurgitos analisados (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).

9955

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44

44

Classe Ordem Família FO (%) Insecta Orthoptera 100,00 Tettigonidae 69,44 Grillydae 63,89 Acrididae 86,11 Romaleidae 13,89 Pyrgomorphidae 13,89(“Outros Insecta”) 61,11 Mantodea 33.3 Blatodea 8,33 Phasmidea 19,44 Lepidoptera 8.33 Odonata 5,56 Himenoptera 2,78 Diptera 2,78 Homoptera 27,78 Coleoptera 0.00 Hemiptera 2,78 Heteroptera 8,33 Neuroptera 0,00Arachnida Aranea 77,78 Lycosidae 69,44 Araneidae 41,67 Oxyopidae 19,44 Psauridae 0,00 Salticidae 5,56 Theraphosidae 0,00 Philodromidae 2,78 Anyphaenidae 0,00 Acarina Ixodidae 63,89Amphibia 33,33 Leptodactylidae 16,67 Bufonidae 5,56 Hylidae 0,00Reptilia 5,56 Scincidae 5,56 Teidae 0,00 Anguidae 0,00 Colubridae 0,00Mammalia 0,00

Tabela 42. Freqüência de ocorrência (FO) em 36 regurgitos dos diversos grupos (Ordem/Família) encontrados no mês de setembro (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).

9966

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45

45

Tabela 43. Freqüência de ocorrência (FO) em 19 regurgitos dos diversos grupos (Ordem e Família) encontrados no mês de outubro (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).

Classe Ordem Família FO (%) Insecta Orthoptera 94,74 Tettigonidae 89,47 Grillydae 73,68 Acrididae 73,68 Romaleidae 36,84 Pyrgomorphidae 10,53(“Outros Insecta”) 84,21 Mantodea 42,11 Blatodea 0,00 Phasmidea 10,53 Lepidoptera (adulto) 57,89 Lepidoptera (larva) 5,26 Odonata 10,53 Himenoptera 5,26 Diptera 47,37 Homoptera 5,26 Coleoptera 5,26 Hemiptera 5,26 Heteroptera 10,53 Neuroptera 10,53Arachnida Aranea 10,53 Lycosidae 78,95 Araneidae 57,89 Oxyopidae 21,05 Psauridae 5,26 Salticidae 15,79 Theraphosidae 0,00 Philodromidae 0,00 Anyphaenidae 0,00 Acarina Ixodidae 47,37Amphibia 36,84 Leptodactylidae 31,58 Bufonidae 0,00 Hylidae 21,05Reptilia 10,53 Scincidae 10,53 Teidae 0,00 Anguidae 0,00 Colubridae 0,00Mammalia 0,00

9977

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46

46

Tabela 44. Freqüência de ocorrência (FO) em 55 regurgitos dos diversos grupos (Ordem e Família) encontrados no mês de setembro e outubro (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).

Classe Ordem Família FO (%) Insecta Orthoptera 98,18 Tettigonidae 76,36 Grillydae 67,27 Acrididae 81,82 Romaleidae 21,82 Pyrgomorphidae 12,73(“Outros Insecta”) 69,10 Mantodea 36,36 Blatodea 5,45 Phasmidea 32,73 Lepidoptera (adulto) 9,09 Lepidoptera (larva) 5,45 Odonata 5,45 Himenoptera 3,64 Diptera 34,55 Homoptera 1,82 Coleoptera 1,82 Hemiptera 3,64 Heteroptera 9,09 Neuroptera 3,64Arachnida Aranea 78,18 Lycosidae 65,45 Araneidae 34,55 Oxyopidae 14,55 Psauridae 5,45 Salticidae 3,64 Theraphosidae 0,00 Philodromidae 1,82 Anyphaenidae 3,64 Acarina Ixodidae 58,18Amphibia 52,72 Leptodactylidae 21,82 Bufonidae 0,00 Hylidae 10,91Reptilia 7,30 Scincidae 7,27 Teidae 0,00 Anguidae 0,00 Colubridae 0,00Mammalia 0,00

9988

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47

47

Considerando a freqüência de ocorrência, apresentaram-se como itens constantes

ao longo dos meses de coleta os Orthoptera (Famílias Tettigonidae, Gryllidae, Acrididae

e Romaleidae), as Aranea (famílias Lycosidae e Araneidae), os Acarina (Ixodida), os

Amphibios (Leptodactylidae) e os lagartos (Squamata, Scincidae) (Tabela 41).

Analisando-se a freqüência de ocorrência por regurgito (tabelas 42 e 43) tem-se

com mais de 80% de ocorrência somente os Orthoptera (Acrididae) em setembro e

outubro. Em outubro “Outros Insecta” também foram constantes, mas em termos de

Ordem, nenhuma das categorias de “Outros Insecta” apresentou-se com mais de 60% de

ocorrência.

Itens freqüentes em setembro (maiores que 50% de ocorrência) foram as aranhas

(Família Lycosidae), os carrapatos (Ixodidae), os “Outros Insecta”, juntamente com as

famílias Tettigonidae e Grylidae (Orthoptera). Diferente de setembro, em outubro os

Ixodidae estão com um pouco menos do que 50% de ocorrência; dentre os Orthoptera,

seriam freqüentes as famílias Gryllidae e Acrididae, e a família Blattariae (Outros

Insecta) apresenta-se com quase 60% de freqüência de ocorrência.

Outra ordem que merece destaque dentre o grupo “Outros Insecta” são as

moscas presentes em 27,8 e 47,3% dos regurgitos em setembro e outubro,

respectivamente. Valendo salientar novamente que outubro foi um mês quando muitas

moscas estavam presentes na colônia.

As famílias Psauridae e Anaphaenidae (Aranae) que não ocorreram em nenhum

regurgito em setembro, apareceram com 15,8% e 10,53% nos regurgitos de outubro.

Quando se agrupam os regurgitos obtidos em setembro e outubro (Tabela 44),

tem-se a freqüência de quase 100% para os Orthoptera, e dentre estes aparece com

maior freqüência nos regurgitos os Acrididae, seguidos dos Tettigonidae e Gryllidae. O

segundo grupo mais freqüente é a ordem Aranea, tendo sua presença em quase 80% dos

regurgitos, através da representatividade decrescente das famílias Lycosidae, Araneida e

Oxyopidae. E ainda tem-se, com presença em mais da metade dos regurgitos, os

Acarina e Amphibia.

9999

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48

48

55..33..88 AAMMPPLLIITTUUDDEE DDEE NNIICCHHOO

O Índice de Levins (B) apresentou um

valor de 2,93, e o Índice de Levins Padronizado

(Ba) o valor de 0,14, com base no número de

indivíduos de 15 grupos representados nos

regurgitos (as 14 Ordens de invertebrados mais

um grupo representado pela somatória dos

vertebrados) (Tabela 45).

Esses números indicam que poucas

categorias (representadas por Aranea, Acarina e

Orthoptera) ocorrem em grande número e muitas

categorias apresentam-se em pequeno número na

composição da dieta de B. ibis. O valor de 0,14

para o Índice de Levins padronizado (Ba) mostra-

se próximo a zero, o que aponta para

especialidade, ou pequena amplitude de nicho.

Quando se reduz para 5 categorias o grupo

componente da dieta da garça-vaqueira

(Orthopthera, Aranea, Acarina, Outros Insetos e

Vertebrados) tem-se o Índice de Levins (B) de

2,85 e o Índice Padronizado (Ba) de 0,46 (Tabela

46). Essa redução de grupos aproxima a ave de

um hábito um pouco menos especializado de

alimentação, já que quase 3/5 das categorias é

responsável pela maior parte da alimentação da

garça, levando o índice padronizado ao “meio do

caminho” entre uma espécie generalista e

especialista.

Categorias N Pj 1 Orthoptera 1865 0,534 2 Aranea 515 0,148 3 Acarina 577 0,165 4 Mantodea 66 0,019 5 Phamidae 6 0,002 6 Blatodea 68 0,019 7 Lepdoptera/larva 24 0,007 8 Odonata 5 0,001 9 Himenoptera 7 0,002

10 Diptera 234 0,067 11 Hemíptera 5 0,001 12 Homoptera 9 0,002 13 Coleóptera 7 0,002 14 Neuroptera 2 0,001 15 Vertebrados 99 0,028

B = 2,93 Ba = 0,14

Categorias N Pj

1 Orthoptera 1865 0,53 2 Aranea 515 0,15 3 Acarina 577 0,16 4 Outros insetos 433 0,12 5 Vertebrados 99 0,03

B=2,85

Ba = 0,46

Tabela 45. Categorias das presas obtidas nos regurgitos de filhotes de B.ibis com seus respectivos números de ocorrência (N) e proporção (Pj) apresentados na amostra coletada e utilizados para o cálculo do Índice de Levins (B) e do Índice de Levins padronizado (Ba).

Tabela 46. Categorias reduzidas de presas obtidas nos regurgitos de filhotes de B.ibis, com seus respectivos números de ocorrência (N) e proporção (Pj) apresentados na amostra coletada e utilizados para o cálculo do Índice de Levins (B) e do Índice de Levins padronizado (Ba).

110000

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49

49

Oceano Atlântico

0 1 2 km

32º27’

32º25’

03º50’

03º52’

Figura 74. Arquipélago de Fernando de Noronha. As setas indicam os locais, Ilha Cabeluda (abaixo) e Ilha Sela Ginete (acima), onde foram encontradas colônias de reprodução de B ibis em fevereiro de 2003.

55..44 OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AARRQQUUIIPPÉÉLLAAGGOO DDEE FFEERRNNAANNDDOO DDEE NNOORROONNHHAA

Foi estimada uma população de

cerca de 380 indivíduos de garça-

vaqueira no Arquipélago de Fernando

de Noronha, divididos entre duas

colônias. Uma colônia na Ilha

Cabeluda e outra na Ilha Sela Ginete

(Figura 74), com aproximadamente

350 e 30 indivíduos, respectivamente.

Em ambas as ilhas estava ocorrendo

reprodução, os ninhos foram

construídos sobre galhos de Pinhão-

branco Jatropha pabliana Muell.

(Euphorbiaceae) e da Gameleira Ficus noronhae Oliver (Moraceae), ao lado de ninhos

de Atobá-de-pés-vermelho, Sula sula (Sulidae) (Figura 75).

Do total de indivíduos de B. ibis observados durante os percursos realizados

nesta excursão, 88% encontrava-se em atividade de forrageamento e 11,3% em repouso

nas margens de açudes (tabela 47).

Dentre as aves observadas à procura de alimento, a maioria foi encontrada no

aeroporto, em grupos intraespecíficos. Nesse local ocorreu o maior bando da espécie,

com 135 indivíduos (68,3% do total observado), onde, em uma ocasião, foram vistas

acompanhando o cortador de grama. Observou-se um grupo de 85 garças (20,7% do

total observado) no local de depósito e tratamento de resíduos sólidos, alimentando-se

de larvas de insetos que se desenvolviam nos montes de compostagem (Figura 76). As

demais garças ocorreram associadas a habitações humanas ou a mamíferos pastadores,

individualmente ou em grupos que variaram de 2 a 25 indivíduos.

Ainda foram vistas duas garças-vaqueiras perambulando na Ilha do Morro do

Leão e na Ilha do Morro da Viuvinha. Nessas ilhas casais dos larideos, Sterna fuscata

(Trinta-réis-das-Rocas), Anous stolidus (Andorinha-do-mar-preta), Anous minutus

(Trinta-réis-preto) e de um Phaethontidae, Phaethon lepturus (Rabo-de-palha-de-bico-

laranja) cuidavam de ovos e alguns filhotes, e revoavam a cada movimento das garças.

110011

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50

Tabela 47. Atividades e local de ocorrência dae 462 garças-vaqueiras avistadas durante percursos realizados no Arquipélago de Fernando de Noronha, no período de 4 a 14 de fevereiro de 2003. As atividades estão expressas em porcentagem do total de indivíduos. E os locais onde as garças foram observadas, estão representados em relação ao total de aves em cada atividade, também em porcentagem.

Atividade

% indivíduos

Locais

% indivíduos

Repouso 11,3 Açudes 100,0 Forrageamento 88,7 Aeroporto 68,3 Depósito de resíduos 20,7 Ao lado de bois, cavalos ou cabras 7,8 Habitações humanas 2,7

Ninhais de outras aves

0,5

Figura 75. Colônia mista de B. ibis e Sula sula, na Ilha Cabeluda, Arquipélago de Fernando de Noronha, em Fevereiro de 2003. A. Sula sula guardando seu ninho e logo abaixo um ninho de B. ibis, sem os pais, contendo um ovo. B. Vista geral da colônia onde se pode visualizar indivíduos reprodutivos de B. ibis (a esquerda, setas) e Sula sula (a direita).

A B

110022

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Figura 76. Garças-vaqueiras forrageando nos montes de compostagem. de um depósito de resíduos em Fernando de Noronha, fevereiro de 2003.

110033

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52

66.. DDIISSCCUUSSSSÃÃOO

66..11 OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO NNOORRDDEESSTTEE

CCOOLLOONNIIZZAAÇÇÃÃOO

É peculiar que a espécie existente no baixo Amazonas desde a década de 60

jamais tenha ocupado a vasta área de pecuária extensiva do Nordeste brasileiro

(TEIXEIRA et al., 1987). TEIXEIRA (1992) na releitura das pinturas do “Libri principis” e

das descrições de Marcgrave indica a presença da garça no Nordeste do Brasil no século

XVII, acreditando ser mais um indício da chegada de aves nas Américas do Velho

Mundo do que uma expansão das populações do Brasil para Nordeste.

Assim, apesar da falta de registros, a ocorrência da garça-vaqueira no Nordeste

pode ter se dado muitíssimo antes, como sugerido por TEIXEIRA (1992). E a colonização

do Brasil teria ocorrido pelo Norte (SICK, 1997), se irradiando tanto para Nordeste

quanto para o Sul do país. Somando-se à chegada de novos grupos vindos diretamente

da África, já que as garças provavelmente ainda chegam nas Américas vindas do Velho

Mundo (BROWDER, 1973).

É bem aceito que a menor distância entre a África e a América do Sul (Senegal-

Rio Grande do Norte) não teria sido a rota preferencial das garças-vaqueiras para a

colonização do Novo Mundo, já que os registros de sua presença nas Guianas são muito

anteriores aos brasileiros. Além disso, se as aves fizessem este trajeto encontrariam

ventos desfavoráveis (CROSBY, 1972). Contudo, isto não exclui a possibilidade de que

alguns grupos tenham chegado diretamente ao Brasil pelo Nordeste, como sugere a

ocorrência de B. ibis e outros ardeídeos do Velho Mundo em Fernando de Noronha, nos

Rochedos de São Pedro e São Paulo (TEIXEIRA et al. 1987) e Atol das Rocas (AZEVEDO-

JUNIOR, 1992).

CCOOLLÔÔNNIIAASS,, BBAANNDDOOSS EE AATTIIVVIIDDAADDEE

A presença de água doce perto da colônia parece essencial para a nidificação. Na

ausência de água doce as garças não nidificam e se a água secar logo depois de sua

chegada, elas abandonam a colônia. O que sugere que a água perto da colônia é,

inclusive, um pré-requisito para o início da reprodução da garça-vaqueira

(MCKILLIGAN, 1997). Esta pode ser uma justificativa para o aspecto geral apresentado

110044

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pelas colônias encontradas no Agreste pernambucano. São numerosos os açudes

construídos no Agreste, com finalidade de suprimento de água ao gado. Estes, quando

margeados por árvores, tornam-se local ideal para o estabelecimento de uma colônia, ao

lado das pastagens fornecedoras de alimento. Porém, não justifica o cenário observado

no Arquipélago de Fernando de Noronha, onde a despeito da existência de um açude, as

garças escolheram locais com ausência de água doce, para sua nidificação.

Os proprietários dos açudes no Agreste pernambucano não apreciam a presença

das garças, pois acreditam que a água, altamente eutrofizada, devido ao grande aporte

de nutrientes vindos da colônia (fezes, ovos e carcaças), torna-se imprópria para o gado.

Além disso, as árvores (Jurema) utilizadas pelas garças para a construção de ninhos,

servem para a venda (lenha, combustível). A derrubada das árvores, e possivelmente

tiros, ou fogos de artifício, justificaram o abandono de sítios de reprodução, pelo menos

em duas das colônias observadas (São Bento do Una e Brejão).

Apesar da sugestão de ERWIN (1984) de que longas distâncias favorecem vôos

grupais, ou seja, de que grupos grandes seriam encontrados a distâncias maiores das

colônias e bandos pequenos mais próximos, nas proximidades das estradas onde se

observaram os maiores bandos forrageadores de B.ibis, também foram registradas

colônias. No Centro-Oeste observou-se, em 2000, a colônia reprodutiva de São Bento

do Una, e em 2003, indícios de um ninhal no município de Altinho, mesmo local em

que foi registrado um sítio de pernoite por AZEVEDO-JUNIOR (1997). Pombos teve a

ocorrência de uma colônia de pernoite e, embora esteja localizado no limite do Agreste

com a zona da Mata, apresenta, como as outras localidades, pronunciada atividade

pecuária.

Essa ocorrência no Centro-Oeste difere das observações de AZEVEDO-JUNIOR

(1997), apesar de no Agreste Setentrional e Meridional também terem sido registradas

colônias reprodutivas. Nas proximidades da colônia de Ameixas e Brejão foram

avistados apenas bandos com menos de 50 indivíduos, sendo que a primeira já se

encontrava inativa nesse período.

As aves se alimentam a uma distância ao redor da colônia até atingirem um

limite onde já não compensa percorrer, mesmo que exista alimento. Para uma colônia

com 650 casais de B. ibis, foi estimado um raio de 10 a 12 km como área de

forrageamento (LEITÃO & FARINHA, 1998) e segundo BATEMAN (1970 apud TELFAIR,

1994) essas garças viajam pelo menos de 26-32 km em busca de alimento. Se as

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populações de garças-vaqueiras do Nordeste brasileiro se comportarem da mesma

forma, espera-se encontrar ainda outros sítios reprodutivos e de pernoite, já que muitos

bandos forrageadores, incluindo animais com plumagem reprodutiva, foram observados

mais distantes das colônias localizadas.

A grande variação do número de garças-vaqueiras observadas nas margens das

estradas do Agreste pernambucano se justifica pela não sistematização dos percursos,

meses e do número de horas das excursões, impossibilitando conclusões no âmbito

quantitativo. A análise de apenas um percurso em diferentes meses, como o trajeto B

(Figura 5, Tabela 3, ítem 5.1.2), ainda apresentou considerável variação no número de

indivíduos avistados por quilômetro, sugerindo, que pode também estar contribuindo

para esse resultado, a ocorrência de migrações e deslocamentos característicos da

espécie (BROWDER, 1973). Esses deslocamentos são desconhecidos no Brasil e podem,

no nordeste, estar relacionados com a sazonalidade dos períodos de chuva, que constitui

fator condicionante da disponibilidade de alimento. Estudos da ocorrência, flutuação

populacional e marcação de indivíduos precisam ser desenvolvidos para o conhecimento

do comportamento deste fenômeno no Brasil.

Como os trajetos foram percorridos no período da manhã, era esperado que a

maioria das aves estivesse executando atividades de alimentação, durante as quais

ocorrem breves períodos de descanso. As garças-vaqueiras deixam o local de pernoite

ao amanhecer em busca de alimento, retornando apenas ao anoitecer, salvo os

indivíduos com prole, que retornam durante o dia para a colônia a fim de alimentar seus

filhotes (LEHMANN, 1959). Assim, indivíduos em atividade de vôo serão encontrados

com maior freqüência apenas durante o crepúsculo.

Concordando com os hábitos característicos da espécie, foi observada uma alta

proporção de garças forrageando em associação com o gado bovino no Agreste, frente

às outras possibilidades de procura de alimento (associações com outros pastadores,

individualmente ou em grupos intraespecíficos).

As garças observadas descansando com bovinos, podem também estar em busca

de mais uma oportunidade de alimento. Apesar da possibilidade de simplesmente

estarem sincronizando seu período de repouso com o gado, pode também servir como

aumento na proteção contra predadores (THOMPSON, 1982). Garças-vaqueiras são

observadas capturando principalmente moscas atraídas pelo gado descansando

(MEYERRIECKS, 1960; VINCENT, 1946; BURNS & CHAPIN, 1969).

110066

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A proporção de aves avistadas repousando próximas a alagados, tanto no

Agreste quanto no ambiente insular, sugere uma preferência por estes locais. Mais uma

vez, esse “repouso” pode estar relacionado à obtenção de alimento nas margens da água.

MORA (1992) observou uma elevada freqüência de aves forrageando em campos

irrigados, lembrando que SIEGFRIED (1978 apud MORA, 1992) diz que a expansão de B.

ibis ocorreu na África não por causa do gado, mas pelo desenvolvimento do sistema de

irrigação e fazendas mais intensivas. FOGARTY & HETRICK (1973) também descrevem

garças obtendo alimento na água. Assim as garças podem estar se aproveitando da

disponibilidade de presas que se concentram nas margens das águas paradas dos açudes.

Embora B.ibis não seja capaz de capturar presas em água profunda (LOMBARDINI et al.,

2001) estas podem ser obtidas nas margens ou na superfície da água. Essa observação

justifica e concorda com a representatividade de alguns itens na composição da dieta

garça-vaqueira no Agreste, aspecto que será retomado adiante.

110077

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66..22 BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA DDEE BB..IIBBIISS NNOO AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

A seleção natural opera sobre o indivíduo, não sobre a população. Porém, a

soma dos efeitos da seleção natural sobre os indivíduos constitui o sucesso reprodutivo

para a população, ou colônia. Apenas por comparação das figuras do sucesso

reprodutivo sobre muitos anos e para muitas colônias de diferentes espécies podemos

começar a entender como os fatores podem aumentar ou diminuir o sucesso

reprodutivo.(...)

Fatores que causam baixo sucesso reprodutivo incluem distúrbios humanos,

suprimentos de alimento insuficientes e destruição de habitat. Pesticidas deixam o

alimento indisponível e a predação por aves e mamíferos também contribuem para

diminuir o sucesso reprodutivo em Ardeídeos.(...)

Sobre o tempo evolutivo, estas causas de diminuição do sucesso reprodutivo têm

modelado o comportamento e a ecologia das aves coloniais, resultando numa larga

extensão de comportamentos temporais e espaciais de nidificação. Algumas espécies

respondem ao alimento não se reproduzindo na totalidade, por reduzir o tamanho da

prole ou por abandonar os ninhos. Adaptações ao incremento climático envolvem

mudanças do local do ninho, re-nidificação depois do fracasso e nidificação em áreas

com proteção suficiente (BURGER, 1981).

Assim não se pretende elucidar a totalidade dos fatores que regeram a atividade

reprodutiva da garça-vaqueira na colônia estudada, apenas apresentar alguns elementos

observados durante o estudo, conhecendo que se trata de um momento pontual e uma

situação particular, inserido num contexto muito mais amplo e ainda pouco explorado.

CCOOLLÔÔNNIIAA

O distúrbio humano é reportado como a causa mais importante do baixo sucesso

reprodutivo de colônias costeiras e continentais (BURGER, 1981). Na colônia

reprodutiva tratada no presente estudo, torna-se difícil qualquer avaliação da atividade

reprodutiva sem levar em consideração as ações humanas que estiveram presentes de

forma intensa durante o período de monitoramento. Acreditando-se inclusive que as

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perturbações causadas pela presença do observador não tenham interferido de forma

significativa, frente à derrubada das árvores e outras possíveis interferências não

presenciadas (fogo, tiros, fogos de artifício).

Dessa maneira, a variação apresentada no número de indivíduos ao longo do ano

não pode ser analisada apenas como um padrão de deslocamento ou migração das

garças, pois tais perturbações devem ter interferido ou ao menos influenciado a

dinâmica ou o ciclo desta colônia.

O número de indivíduos presentes na colônia de forma geral acompanhou a

atividade reprodutiva (com exceção dos meses de julho e setembro), ou seja, quanto

maior o número de ninhos maior o número de indivíduos (ou vice-versa), apesar de

parte deles não estar envolvida no processo de reprodução. Nos estudos de RUIZ et al.

(1981) na Espanha, as zonas marginais da colônia foram utilizadas como dormitório

pelos jovens de B. ibis que não reproduziram, mas acompanharam os adultos quando

estes abandonaram os dormitórios para se transportar para a colônia de reprodução. Da

mesma forma que a colônia espanhola, as áreas D1, D2 e D3, que poderiam ser

chamadas de periféricas, foram utilizadas para pernoite de indivíduos que não

nidificaram. É desconhecido se esses indivíduos, que não reproduziram e utilizaram a

colônia de Brejão para pernoite, estariam acompanhando o deslocamento das garças

reprodutivas, mas esta pode ser uma alternativa.

No mês de julho de 2002, diferente do número de indivíduos, o número de

ninhos refletiu diretamente a intensidade das perturbações. Os indivíduos reprodutivos

presentes neste período aparentemente não deixaram a colônia, apesar de terem

abandonado seus ninhos. Possivelmente as mesmas aves tenham retomado a atividade

reprodutiva no mês seguinte, que foi caracterizado por um elevado número de ovos,

além do mais elevado número de ninhos no período de estudo. Já a partir de outubro, ou

mais severamente a partir de novembro, as aves passaram a abandonar a colônia.

Entretanto, mais uma vez, não se pode afirmar que este seja um padrão natural de

deslocamento (em virtude das condições climáticas, disponibilidade de alimento, ciclo

reprodutivo, etc.), já que coincide com as tais interferências antrópicas, que parecem ter

um efeito direto sobre os indivíduos nidificantes.

O comportamento dos indivíduos não-reprodutivos não deve ser tão afetado

pelas perturbações quanto o dos indivíduos reprodutivos, já que os primeiros utilizam a

colônia apenas para pernoite. Ainda assim, apesar de terem sido observados indivíduos

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sem plumagem reprodutiva, os números que simbolizaram a quantidade destes se

limitam a representar indivíduos que não estão ocupando ninhos, o que não significa

que não estivessem aptos a reprodução.

Aparentemente, as perturbações detectadas em Brejão não interferiram na

atividade reprodutiva de A. alba. Em julho de 2002, quando houve deserção de cerca de

40% dos ninhos de B. ibis, o número de ninhos de A. alba foi superior ao do mês

anterior, provavelmente por estarem em locais mais protegidos (ninhos em alturas

elevadas e em árvores com base submersa). De maneira semelhante, nos estudos de

MCCRIMMON (1978) os locais de ninho da A. alba foram significantemente diferentes

de todas as outras espécies, elas nidificaram em árvores maiores, mais distantes do chão,

e em geral, próximos a margem da colônia. Em outubro, o ciclo desta espécie já estava

terminando na colônia estudada, com a presença apenas de juvenis em poucos ninhos, e

em abril de 2003 já não havia casais de A. alba na colônia.

Pelo pequeno número de ninhos marcados, pelo intervalo entre as visitas ter sido

mensal, e pela presença das perturbações, pouca informação sobre o ciclo reprodutivo

pôde ser obtida com precisão. Se fosse possível estimar o sucesso reprodutivo de B. ibis

com base nesses dados, certamente se obteria uma subestimativa. Houve elevada

deserção ou abandono de ninhos marcados, além das constatações da presença de ovos

nos ninhos em curtos intervalos, provavelmente resultante da reposição da prole pelo

mesmo casal, ou abandono do ninho e ocupação por um novo casal. Mesmo assim,

somando-se as informações obtidas por marcação e contagem tenta-se sugerir fases no

ciclo desta colônia.

A construção dos ninhos é feita por ambos os sexos, principalmente pela fêmea

usando material trazido pelo macho (TELFAIR, 1994). A coloração da plumagem

reprodutiva está no seu auge durante este momento (MEYERRIECKS, 1960). O ninho está

pronto para postura depois de 3-7 dias, mas com apenas um terço do tamanho final,

mais material será ainda adicionado durante a incubação e depois da eclosão (TELFAIR,

1994; MEYERRIECKS, 1960; JENNI, 1969). Assim o grande número de garças

observadas nos meses de maio, junho e julho na colônia de Brejão carregando gravetos

para os ninhos provavelmente indica o início de um ciclo de atividade reprodutiva. Este

momento foi acompanhado pelas observações de roubo de gravetos de ninhos vizinhos,

que nessa fase se comporta como um recurso limitante para o sucesso reprodutivo

(PETRY & HOFFMANN, 2002). Estudos mostraram que quando pouco material para ninho

111100

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está disponível na vizinhança há um aumento no roubo de gravetos entre as aves

nidificantes (KOPIJ, 1997).

Este não foi o único período de formação de casais. O reaproveitamento de

ninhos utilizados pela geração anterior foi comum na colônia de Brejão e também é

reportado em outras colônias (e.g. JENNI, 1969). No fim do monitoramento ainda foram

encontrados ninhos intactos e abandonados há pelo menos quatro meses, que estariam

em condições de serem re-ocupados, como foi o caso dos ninhos em fevereiro de 2003.

O mês de junho de 2002 foi o que apresentou maior número de indivíduos

carregando material para ninho, o que provavelmente resultou no número de ninhegos

observado em julho, já que o período de incubação tem sido estimado em torno de 21-

26 dias (JENNI, 1969; RODGERS, 1987; WEBER, 1975; TELFAIR, 1994).

A atividade de construção de ninhos que ainda se prolongava em julho, teria sido

responsável pelo número de ninhegos de agosto. Neste mês, apesar de não ter sido

observado nenhum movimento dos casais carregando gravetos, houve novo ciclo de

postura, representado pelo grande número de ovos observados na colônia, pelo elevado

número de ninhegos em setembro, e de juvenis em outubro. Os casais que iniciaram a

postura em agosto, assim como os que retomaram atividade reprodutiva em fevereiro,

estariam reutilizando os ninhos já construídos no ciclo anterior.

Este padrão indicou novas gerações a cada dois meses, intervalo de tempo

encontrado por outros autores como período necessário entre a construção do ninho até

o jovem abandona-lo (e.g. LOWE-MCCONNELL, 1967; TELFAIR, 1994). E já que foi

observada sobreposição da fase de postura com a de filhotes, supostamente não seriam

os mesmos casais se reproduzindo a cada dois meses. Assim, em outubro seria esperado

um elevado número de ovos, o que não ocorreu, acarretando o fim da atividade

reprodutiva na colônia em novembro.

Acredita-se que não foram formados novos casais devido à presença das

perturbações antrópicas. Também pode ter contribuído para a interrupção da atividade

reprodutiva a escassez de alimento devido à falta de chuvas. Porém, acreditando-se que

a sazonalidade da disponibilidade de alimento não tenha diferido de um ano para outro,

em visita à colônia em novembro do ano anterior foram observados muitos ninhos com

ovos e filhotes. Salientando-se novamente que, o tempo entre a eclosão do ovo até a

saída do filhote do ninho é de aproximadamente dois meses (op. cit.), era esperado

111111

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encontrar atividade reprodutiva nos meses de interrupção. A grande quantidade de

filhotes (com 4-5 semanas de idade) implorando agressivamente por alimento na

colônia nesse mesmo período poderia também ter contribuído para a não formação de

novos casais, mas a presença de juvenis em junho não teve este efeito. Este

comportamento agressivo dos juvenis também é descrito por outros autores (WEBER,

1975; TELFAIR, 1994).

Esse ciclo visualizado não é regra para todos os casais já que ninhegos foram

avistados em todos os meses, de maio a outubro, e ainda alguns juvenis permaneciam

em novembro na colônia. LOWE-MCCONNELL (1967) observou essa irregularidade nas

Guianas onde alguns pares começam a nidificar depois da maioria ter terminado de criar

seus filhotes.

A ocorrência de plumagem reprodutiva nas garças-vaqueiras da colônia de

Brejão em todos os meses de observação é mais um argumento indicando que, na

ausência de perturbação, a reprodução em Pernambuco pode se estender durante todo o

ano, já que os indivíduos estavam no estado fisiológico adequado, pelo menos

fenotipicamente. LOWE-MCCONNELL (1967) novamente coloca que nos trópicos, onde

as estações são menos definidas e mais elásticas do que nas zonas temperadas, existe

uma grande variação no estado fisiológico dos indivíduos, em qualquer momento do

ano.

Há uma grande variação na extensão do período reprodutivo de B. ibis em

diferentes partes do mundo. Na Espanha a reprodução tem duração de quatro a cinco

meses (PROSPER & HAFNER, 1996), enquanto no Norte da África foi estimada em quatro

meses (BACHIR et al., 2000), assim como na Flórida (WEBER, 1975). No Texas esse

período apresentou-se mais prolongado com duração de sete a nove meses (TELFAIR,

1994). Nas Guianas foram detectados dois picos de atividade reprodutiva nos períodos

chuvosos, acreditando-se que os mesmos casais podem reproduzir em ambas estações

(LOWE-MCCONNELL, 1967). As bases dessa variação provavelmente residem na

sazonalidade climática que interferirá na biologia (reprodutiva e alimentar) das garças

de maneira mais ou menos severa dependendo da região do globo.

No Brasil os registros não se mostram menos variáveis, o período reprodutivo

foi observado entre os meses agosto a fevereiro em São Paulo (TOLEDO, 2000), o ano

todo no Rio de Janeiro (SICK, 1997), e entre outubro a dezembro (BELTON, 1994) e

agosto a março (PETRY & HOFFMANN, 2002) no Rio Grande do Sul. No Nordeste tem-se

111122

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registro de reprodução na Bahia de junho a novembro (SOUZA & FREITAS, 1997; LIMA

et. al, 1997 e 1998), e na Paraíba nos meses de março, abril e agosto, sendo sugerida a

reprodução ao longo de todo o ano (NASCIMENTO, 1999).

Monitoramentos se fazem necessários para uma melhor avaliação dessa variação

no Brasil. Acredita-se que, como o observado no Agreste pernambucano, a garça-

vaqueira tenha potencial biológico para reproduzir ao longo do ano todo, dependendo

para tanto das condições externas, regidas pelo ambiente, e pelo homem.

EESSTTRRUUTTUURRAA DDAA CCOOLLÔÔNNIIAA

ARENDT & ARENDT (1988) comparando colônias mistas e monoespecíficas, que

possuíam altura da vegetação semelhante, encontrou uma forte tendência para as alturas

de ninhos de garça-vaqueira, em colônias mistas, terem uma uniformidade maior do que

em colônias onde nidificam sozinhas. Os resultados obtidos nesse estudo concordam

com essas observações, se for considerado que a colônia de Brejão comportou-se como

uma colônia monoespecífica, apesar da presença dos casais de A. alba, que em termos

de número tiveram pouca participação no ninhal não influenciando na conduta de

construção de ninhos de B.ibis.

Os mesmos autores também postularam que a distância do ninho vizinho mais

próximo deveria ser menor, ou, menos variável em colônias mistas do que em colônias

exclusivas de B.ibis. Contudo, tanto os dados apresentados por eles quanto os obtidos

por este estudo não corroboraram esta suposição. ARENDT & ARENDT (1988)

argumentaram que a disponibilidade limitada de lugares para ninho na vegetação de sua

colônia poderiam ter influenciado nesta relação. Na colônia de Brejão, este pode ter sido

um fator limitante no caso das árvores com base submersa, onde foi observada uma

maior concentração de ninhos, porém a margem seca do açude ainda oferecia local para

construção de ninhos.

BURGER (1978) sugere que a altura e a distância dos ninhos pode ser

conseqüência da intensidade de interações agressivas. Ninhos seriam colocados tanto

mais longe quanto a agressão interespecífica aumentar. Assim, a baixa pressão inter e

intraespecífica de competição por locais de ninho na colônia de Brejão, poderia ter sido

responsável pela proximidade dos ninhos, considerando-se que a altura dos ninhos vai

111133

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refletir a menor competitividade pela elevada amplitude e não pela distância, e que a

vegetação utilizada para construção dos ninhos nesta colônia apresentou-se homogênea.

Entretanto, a agressão intraespecífica geralmente é até mais comum do que

interespecífica (MCCRIMMON, 1978), juntamente com a disponibilidade de locais para

ninhos e abundância de alimento, a agressividade territorial de B.ibis é inclusive

apontada como uma das razões para a disseminação e aumento da sua população

(MAXWELL & KALE, 1977). Além do que, vegetações heterogêneas oferecem uma

variedade de substratos para ninho, sendo capaz de reduzir a competição entre as

espécies, o que não foi o caso da vegetação da colônia de Brejão.

Para elucidar a sugestão, de baixa agressividade entre indivíduos de B.ibis na

colônia de Brejão como condicionante da pequena distância entre os ninhos e a grande

amplitude na distribuição das alturas dos mesmos, ter-se-ia que avaliar a intensidade de

agressões intraespecíficas nessa colônia, o que não foi realizado no presente estudo.

Outro fator seria comparar a estrutura da vegetação com a de outras colônias, pois

apesar dela não ser heterogênea, pode, pela disponibilidade de substrato e não pela

variedade estar reduzindo a competição e assim a distância entre os ninhos.

Outro estudo mostra que a densidade dos ninhos esteve correlacionada

positivamente com a sobrevivência, apontando uma vantagem da proximidade entre os

ninhos (GEORGANNA et al., 1991), o que pode ser mais um fator condicionante da

distância dos ninhos em Brejão.

Além da presença da água doce para consumo, os agrupamentos em colônias são

especialmente importantes para evitar a predação (BURGER, 1982). Apesar de entre os

Ciconiiformes não existir nenhum comportamento individual ou em grupo de defesa de

ninho, mesmo um pequeno número de predadores aparentemente é capaz de destruir

colônias bem grandes, e a evitação da predação dos ninhos parece ser acompanhada por

uma seleção de sítios para ninhos inacessíveis, sempre em ilhas rodeadas por água

(FREDERICK & COLLOPY, 1989; e como o já discutido no item 6.1). Justificativa que se

aplicaria à suposta preferência para construção de ninhos nas árvores com a base

submersa na água do açude de Brejão.

111144

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63

TTAAMMAANNHHOO DDAA PPRROOLLEE

O tamanho da postura é um parâmetro de reprodução de grande interesse nas

aves, já que depende em maior ou menor grau da taxa de reprodução de uma espécie ou

de uma população (RUIZ et al., 1981). O tamanho médio de uma postura é o resultado

de uma adaptação, por seleção natural, de um maior número de filhotes que os pais

podem criar em um determinado lugar, que também é afetado pelo intervalo de eclosão,

a taxa de crescimento dos filhotes, a pressão de predação e o papel desempenhado por

cada um dos pais durante a criação (LACK, 1954).

Ainda segundo LACK (1954), a eclosão assincrônica seria uma adaptação que,

enquanto permite a produção do número máximo de jovens em anos de abundância de

alimento, rapidamente ajusta o número de filhotes ao número que os pais podem

alimentar. Em garças-vaqueiras foi observado que o filhote mais novo, quando os pais

falham em prover comida o suficiente, fica em tal desvantagem que rapidamente morre

de fome e se o alimento for muito reduzido, o segundo mais jovem também morre

(JENNI, 1969).

MAXWELL & KALE (1977) ainda relacionam fatores sociais de estresse das

condições do agrupamento, competição, condições de tempo em momentos críticos do

ciclo reprodutivo e até os níveis variáveis de químicos tóxicos e hormônios nos

nidificantes como variáveis condicionantes do tamanho da postura e sugerem menores

posturas para colônias marinhas do que para as de água doce.

Apesar de todos estes fatores, dados publicados mostram que a média do

tamanho do número de ovos por ninho nas garças-vaqueiras está geralmente

correlacionada com a latitude (ARENDT & ARENDT, 1988), possivelmente como

resultado do aumento do comprimento do dia e abundância de alimento em latitudes

mais ao Norte (LACK, 1954).

Os resultados obtidos para o tamanho da postura inserem mais um ponto na lista

de ARENDT & ARENDT (1988) que relaciona o tamanho da postura com a variação na

latitude. O número de 2,28 ovos por ninho obtidos em Brejão (latitude 9oS) fica entre o

intervalo obtido pelo último autor na Costa Rica de 2,7 (latitude 10oN – Leber, 1980) e

nas Guianas de 2,17 (latitude 7oN – Lowe-McConnell, 1967). Ao sul a média obtida

para Brejão é coerentemente mais elevada que a média de 1,86 ovos por ninho da

Indonésia (7oS – Hellebrekers & Hoogerwerf, 1967), porém é também maior que os 2,2

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ovos por ninhos obtidos em Zimbabwe (Browns et al., 1982) que está a 20oS, o que não

deveria ocorrer de acordo com as predições de LACK (1954). Neste último caso ter-se-ia

que procurar por outros fatores determinantes que poderiam justificar o baixo número

em Zimbabwe ou o elevado número em Brejão.

Aves colonizadoras, em um ambiente novo, rapidamente produzem novos

valores das características reprodutivas que são independentes do seu estado original

(CODY, 1971 apud RODGERS, 1979). De fato, o grande tamanho da prole das populações

de garça-vaqueira na Austrália e nos EUA comparadas às populações nativas do sul da

África pode refletir uma fase de expansão e o tamanho da postura nas populações da

América revela uma tendência ao declínio ao longo do tempo, corroborando a idéia que

a população está perto da capacidade do nicho (RODGERS,1987). Neste caso, o alto valor

encontrado para o tamanho da postura das garças da colônia de Brejão frente a uma

latitude mais elevada (Zimbabwe) poderia indicar que essa população continua na sua

fase de expansão.

Apenas um ninho com cinco ovos foi observado no presente estudo, podendo ser

explicado por duas posturas no mesmo ninho. KOPIJ (1997) justifica a presença de oito

ovos em um ninho pela possibilidade deste ter sido compartilhado por duas fêmeas. Já a

ocorrência de apenas um ovo no ninho não foi tão rara (15% dos ninhos), podendo

representar ninhos que a fase de postura ainda não terminou. Esse raciocínio poderia

também ser usado para os ninhos com dois ovos, porém a alta representatividade destes

torna menor essa probabilidade.

LIMA et al. (1998) analisando ninhos de garça-vaqueira na Bahia encontraram

uma maior proporção de ninhos com três ovos (44,15%) do que a obtida para Brejão.

Porém, a relação do número de filhotes por ninho foi semelhante a deste estudo, com

mais da metade dos ninhos analisados com dois filhotes. LOWE-MCCONNEL (1967), nas

Guianas, encontrou que 67% dos ninhos tinham dois jovens, 25% três e 7% tinham

apenas um filhote, concluindo que grandes ninhadas não são uma das maneiras pelas

quais a garça-vaqueira ganha em número sobre as espécies nativas.

Por outro lado, GEORGANNA et al. (1991) concluíram que a sobrevivência esteve

fortemente e negativamente correlacionada com o número de ovos nos ninhos,

afirmando que muitos fatores podem influenciar significantemente a sobrevivência dos

filhotes de garça, incluindo a altura e densidade dos ninhos, além do número de ovos

por ninho.

111166

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O tamanho da postura pode variar geograficamente devido a fatores ecológicos e

ambientais. Porém a variação geográfica do tamanho dos ovos de garça-vaqueira

reportados na literatura é pequena: ARENDT & ARENDT (1988) encontraram pouca

correlação entre o tamanho dos ovos e a latitude. Os dados obtidos no presente estudo

são muito semelhantes aos obtidos em diferentes regiões geográficas. ARENDT &

ARENDT (1988) encontraram a maior média no comprimento para União Soviética com

47,4 mm, e a menor de 43,4 mm para a Flórida, e quanto à largura esta foi maior na

Índia com 36,5 mm e menor com 32,2mm para EUA (West Indies). Isso mostra que a

variação não é muito elevada e que os resultados obtidos em Brejão encontram-se nesse

intervalo.

Já o peso dos ovos apresentou uma variação maior nos diferentes estudos,

provavelmente devido à perda de água durante a incubação, estando esta perda entre

11,8 e 18% do peso inicial (ARENDT & ARENDT, 1988).

FFIILLHHOOTTEESS

TELFAIR (1994) descreve que, a partir de suas equações, verifica-se que os

filhotes têm uma taxa de crescimento maior no início do desenvolvimento, que diminui

com o aumento do tamanho, o que condiz com a equação de segunda ordem obtida para

as medidas de tarso. Ele encontrou um pico de crescimento com seis dias de idade e a

taxa máxima de crescimento entre nove e doze dias, sendo a endotermia atingida em

onze dias. A plumagem cobre o corpo entre 13-21 dias, depois do que a regulação de

temperatura requer menos energia, e a taxa de crescimento declina rapidamente.

MCKILLIGAN (1996) encontrou que, depois de 12 dias de nascimento, os filhotes

tendem a fugir de seus ninhos se perturbados. No presente estudo eram capazes de ser

capturados com até cerca de três semanas de idade. A data de abandono do ninho obtida

por MCKILLIGAN (1996) foi de seis semanas, correspondendo ao observado para os

filhotes de Brejão. TELFAIR (1994) resume que depois de 14-21 dias, os filhotes

conseguem escalar os galhos e freqüentemente deixam o ninho, mas permanecem

próximos. Entre 5-6 semanas de idade, os filhotes estão tão grandes quanto os adultos e

violentamente confrontam seus pais durante a alimentação, e começam a voar com 25

dias. Esse padrão também foi semelhante ao observado para os filhotes da colônia de

Brejão.

111177

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Comparando-se os resultados obtidos a partir das medidas de tarso, com os

obtidos utilizando as relações de cúlmem de KOPIJ (1997) para a determinação da idade

em função do tamanho do filhote, tem-se pequenos atrasos pelo segundo método. Isto

pode estar relacionado a erros decorrentes do crescimento diferencial do cúlmem, ou à

imprecisão dos seus agrupamentos (já que foram feitos pela idade em semanas, ao invés

de dias), ou ainda pela inadequação das relações obtidas para tarso. Segundo TELFAIR

(1994) a taxa de crescimento é mais rápida para o cúlmem do que para o tarso. Outros

estudos também colocam o tarso como um bom indicador de idade (RICKLEFS, 1979;

CUSTER & PETERESON, 1991 apud PARSONS, 1995).

Dentre os fatores que causam a mortalidade de ninhegos e atuaram na colônia de

Brejão temos: fome, queda dos ninhos e predação. A fome é indicada como a maior

causa da mortalidade dos filhotes de garça-vaqueira (GEORGANNA et al., 1991;

MCKILLIGAN, 1987; JENNI, 1969). No presente estudo a fome provavelmente contribuiu

para o elevado número de filhotes encontrados mortos nos meses de setembro e outubro.

A queda dos filhotes dos ninhos ou quando perambulam pelos galhos foi observada e é

citada na literatura como outro fator importante de mortalidade (GEORGANNA et al.,

1991; JENNI, 1969).

A predação também controla o número de ninhegos, Coragyps atratus (Urubu-

de-cabeça-preta) foram observados pegando muitos ninhegos vivos dos ninhos por

GEORGANNA et al. (1991). As carcaças encontradas na colônia de Brejão, com sinais de

predação, talvez tenham sido vitimas de Cathartes aura (Urubu-de-cabeça-vermelha) ou

Caracara plancus (Caracará), predadores avistados rondando a colônia, que, contudo,

devido a pouca freqüência, não apareceram como um fator importante no controle do

número de filhotes da colônia.

MCKILLIGAN (1987) observou que predadores pegam os ovos das garças, mas

raramente filhotes. A predação de ovos por Porphyrula martinica (Frango-d’água-azul)

foi relatada por dois estudos (FREDERICK & COLLOPY, 1989; JENNI, 1969), mas apesar

da presença desta ave no açude de Brejão, essa interação não foi observada.

MMOOVVIIMMEENNTTAAÇÇÃÃOO DDEE RREETTOORRNNOO

Neste estudo verificou-se que o horário de retorno varia ao longo do ano,

conforme a alteração do comprimento do dia. O padrão geral de distribuição dos

111188

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indivíduos no horário comporta-se como uma parábola, onde poucos indivíduos iniciam

o retorno no fim da tarde, o que vai aumentando em número, até atingir um horário onde

a maioria das garças está chegando à colônia, para depois decrescer, até o fim da

movimentação, geralmente coincidindo com o início da noite. LEHMANN (1959)

observou que depois das 19h toda a atividade pára na colônia e não se ouve mais

barulho durante a noite. A garça-vaqueira é um forrageador ativo e voraz, normalmente se alimentando

em agregações frouxas de pequenos a grandes bandos (10-100 aves), mas pode

forragear em pequenos grupos ou individualmente (TELFAIR, 1994). No fim do dia essas

garças se agrupam nos locais de forrageamento para o retorno à colônia (VINCENT,

1947). Estes bandos forrageadores retornando a colônia de Brejão apresentaram uma

grande variedade de categorias de tamanho, sendo mais freqüentes os grupos

constituídos de poucos indivíduos (grupos de um a dez, seguidos por grupos de até 20

indivíduos e assim sucessivamente), mas apesar da menor freqüência, bandos de até 200

indivíduos tiveram considerável contribuição na composição dos indivíduos da colônia.

Deve-se levar em conta que no momento em que estão se aproximando da

colônia estes grupos podem se transformar, se agrupando ou se dissolvendo, e que assim

as freqüências obtidas na composição dos grupos não refletiriam nenhum

comportamento de deslocamento ou agrupamento de bandos forrageadores. Para tal

confirmação seria necessário acompanhar as garças desde suas áreas de forrageamento

até a colônia, ou pelo menos, poder avistar os grupos chegando a uma distância maior,

antes de se aproximarem da colônia.

O forrageamento a grandes distâncias favorece a alimentação social, sendo os

vôos grupais freqüentes para esta espécie (ERWIN, 1983). LEITÃO & FARINHA (op. cit.)

estimaram um raio de 10 a 12 km a partir da colônia como área de forrageamento e

segundo a telemetria realizada por BATEMAN (op. cit.) essas garças viajam pelo menos

de 26-32 km numa direção para procurar alimento durante a estação reprodutiva. Assim,

ERWIN (1984) considerou surpreendente a baixíssima freqüência dos vôos em grupo

para garça-vaqueira encontradas em seus estudos, justificando que a falta de grupos

voando poderia ser devida à proximidade entre a colônia e a área de forrageamento. Da

mesma forma, a elevada freqüência de grupos pequenos no presente estudo poderia

representar que a maior parte das aves forrageam nas proximidades da colônia (em

111199

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bandos menores), e outra parte viaja maiores distâncias em busca de alimento

(correspondendo à freqüência encontrada para os grandes bandos).

A direção de chegada mostrou uma variação ao longo do ano, com diminuição

gradual dos grupos vindos de Leste/Sudeste e Sul e aumento gradual dos grupos vindos

de Norte. Esse comportamento pode estar associado à mudança nos ventos da região,

fazendo com que os bandos de garças escolham uma ou outra direção devido à direção

do vento. Podem ter havido mudanças nas áreas de forrageamento, fazendo com que

grupos se deslocassem para diferentes localidades, e a direção de chegada na colônia

seria representativa da direção onde os indivíduos teriam procurado alimento. Apesar de

algumas aves mudarem o curso logo depois de partirem da colônia, ERWIN (1984) em

seus estudos já assumiu que a direção registrada estaria representando a direção para o

local de alimentação.

Outra hipótese seria a de que houve uma mudança na população que ocupava

esta colônia, já que a inversão Leste-Nordeste, se dá exatamente no mês em que houve

interrupção da atividade reprodutiva. Assim, as aves que se reproduziam (que seriam

representadas pelos grupos vindos de Leste), poderiam ter abandonado a colônia (em

busca de alimento ou fugindo das perturbações sofridas na colônia), aumentando a

representatividade dos grupos vindos de Nordeste.

Para testar estas hipóteses seria necessário verificar como se comporta a direção

do vento nessa área ao longo dos meses do ano, acompanhar os bandos forrageadores e

verificar quais as áreas utilizadas para forrageamento pelas garças que ocupam essa

colônia, e ainda como se comportam os deslocamentos migratórios e dispersores das

populações de B.ibis no Nordeste do país. Infelizmente nenhuma dessas informações foi

obtida durante o presente estudo.

112200

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69

66..33.. CCOOMMPPOOSSIIÇÇÃÃOO DDAA DDIIEETTAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO

O alimento é obtido oportunisticamente por B. ibis dependendo de muitas

variáveis envolvendo habitat, disponibilidade de presas, técnicas e estratégias

alimentares, e a ampla individualidade na escolha da presa pode refletir: (1) idade, sexo,

tamanho e experiência; (2) busca por itens favoráveis; (3) diferença entre macro e micro

habitat de alimentação; (4) associação ou dissociação com animais pastadores; (5)

atividade do gado (e.g. alimentando-se ou descansando); (6) hora do dia; (7) estação; (8)

densidade, tamanho, conspicuosidade e palatabilidade do item alimentar; (9) movimento

da presa e (10) suscetibilidade da presa potencial (BROWDER,1973; TELFAIR, 1983).

A habilidade de explorar as fontes de alimento é uma das razões mais

freqüentemente sugeridas para a seleção do habitat por aves (CARACO, 1980). A garça-

vaqueira é uma das garças mais versáteis no forrageamento. É conhecido o uso de pelo

menos 14 tipos de comportamento, além de forragearem em associação com uma

variedade de animais e outros objetos de movimento lento (KUSHLAN, 1979).

Apesar de nenhum estudo indicar competição por alimento com as garças

nativas (JENNI, 1973; BURGER, 1978), devido ao seu comportamento alimentar

oportunístico, estudos de hábitos alimentares localizados são importantes para

determinar efeitos potenciais em comunidades de presas de vertebrados e invetebrados

(GASSET et al., 2000).

VVAARRIIAAÇÇÕÕEESS NNOO NNÚÚMMEERROO EE VVOOLLUUMMEE DDOOSS IITTEENNSS PPOORR RREEGGUURRGGIITTOO

A análise da composição alimentar a partir dos regurgitos de filhotes e não de

conteúdos estomacais de indivíduos adultos poderia não ser representativa dos hábitos

da espécie. Porém, os filhotes de garça-vaqueira não são alimentados com alimento

digerido ou semidigerido (TELFAIR, 1994), e outros estudos indicam que a dieta do

jovem está intimamente relacionada à das aves adultas, sendo que estas empregam as

mesmas estratégias de alimentação quando têm jovens no ninho e em outros momentos

(FORGARTY & HETRICK, 1973; SIEGFRIED, 1971 apud JENNI, 1973).

Os resultados indicam uma certa homogeneidade no volume apresentado pelos

regurgitos, frente ao número de itens. Muitos itens de pouco volume ou poucos itens

112211

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com grande volume parecem responsáveis por esta relação, talvez na tentativa de

manter-se o mesmo balanço energético a partir de diferentes tamanhos de presas.

Outro fator que pode ter influenciado no balanço entre o número e o tamanho

dos itens, é o tamanho do filhote que forneceu o regurgito. Ninhegos mais jovens

poderiam apresentar regurgitos de menor volume e número de itens, ou em razão de seu

tamanho ou porque perdem na luta pelo alimento com irmãos maiores no momento da

entrega pelos pais, resultado da assincronia na eclosão apresentada pela espécie. De

acordo com TELFAIR (1994), o número de itens varia com o tamanho dos filhotes;

pequenos filhotes comem maiores quantidades de gafanhotos e menos itens por refeição

e com o aumento de tamanho, eles são capazes de engolir sapos e outros vertebrados.

Em outubro de 2002, foi obtido um elevado número de itens e volume por

regurgitos, paralelamente, a maior parte da prole presente na colônia nesse momento foi

constituída de juvenis, ou seja, filhotes com o tamanho máximo. Assim, o maior número

de itens e volume por regurgito deste mês poderia ser explicado pelo maior tamanho dos

filhotes fornecedores.

SIEGFRIED (1972 apud TELFAIR, 1994) encontrou que os pais não selecionam o

tamanho ou a espécie de presa para ajustar à idade (tamanho) dos seus filhotes. Eles às

vezes regurgitam itens muito grandes para os jovens engolirem, e os pais podem re-

engolir e regurgitar muitas vezes, com o mesmo resultado. Esse comportamento

provavelmente explica a presença dos dois anfíbios encontrados nos ninhos, por terem

volume elevado não puderam ser engolidos pelos filhotes, que assim, abandonaram tais

presas.

Apesar das diferenças no tamanho amostral, as variações apontadas nas

freqüências relativas ao longo dos meses de coleta podem estar refletindo variações na

disponibilidade dos tipos de presas capturadas durante os diferentes meses.

Para avaliar a disponibilidade de presas, ter-se-ia que entender como a população

destas varia nessa época do ano. De maio a agosto a presença de chuva durante os

períodos de coleta de dados foi constante, setembro apresentou uma diminuição, e em

outubro a falta das chuvas já se fazia notar pelo aspecto seco da vegetação. A

distribuição das chuvas pode ser um fator importante controlando a disponibilidade de

presas. Entretanto não explicaria os elevados valores de representatividade de todos os

grupos de presa no mês de outubro, já que devido à falta de chuvas, seria esperada uma

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menor disponibilidade do alimento. Contudo, poderia ser a causa da diminuição na

proporção dos Orthoptera frente aos outros grandes grupos de presa apresentados nos

meses de setembro e outubro, se apenas este item fosse influenciado pelo regime das

chuvas. Mesmo assim quando avaliamos o número e o volume de Orthoptera por

regurgito, esses meses não apresentam diminuição. Dados mais precisos de temperatura

e pluviosidade, relacionados à distribuição dos grupos de presa, seriam necessários para

elucidar as relações de disponibilidade e preferência dos itens que compõem a dieta da

garça-vaqueira no Agreste.

Infelizmente não foi objetivo do presente trabalho elucidar as relações entre

estas variáveis (tamanho do filhote e disponibilidade de presas) podendo-se apenas

sugerir estes fatores como fonte das variações observadas e que em futuros estudos

possam ser testadas.

OORRTTHHOOPPTTEERRAA

O oportunismo de B. ibis, se interpretado como hábito alimentar generalista, fica

atenuado quando se focaliza a constância na predominância de Orthoptera na sua dieta

no Agreste pernambucano, assim como em diferentes partes do mundo.

Somando-se os Orthoptera às ordens que compõem o grupo de invertebrados

menos representativos, tem-se mais do que 80% da dieta em todos os estudos

apresentados, apontando o hábito insetívoro de B. ibis, com indiscutível predominância

dos Orthoptera. JENNI (1973), baseando-se na constância de Orthoptera em diferentes

amostras, considerou que a garça-vaqueira é carnívora, sendo os gafanhotos sua presa

principal.

Comparando as relações de número e volume obtidas para os diferentes grupos

de presas neste estudo, os Orthoptera foram os que apresentaram menor variação ao

longo dos meses de coleta. O que pode estar relacionado à disponibilidade eqüitativa

desse grupo ao longo dos meses, ou a seletividade por estes itens pode estar agindo no

sentido de manter a constância em número e volume. Este último seria mais um

argumento para a especialidade alimentar de B.ibis em relação aos Orthoptera.

Apesar de relativa manutenção da representatividade entre as diferentes famílias

de orthopteróides, variações foram observadas na composição dos grupos de Orthoptera

112233

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ao longo das coletas. No mês de maio a família Acrididae apresentou menor

representatividade em volume por regurgito do que em outros meses, que foi

acompanhada pelo número (porém em menor escala). Poucos Tettigonidae também

foram observados nesse mês. Um maior consumo em volume de Gryllidae, pode ter

compensado essas diminuições, não alterando assim, a proporção de Orthoptera nos

regurgitos deste mês, frente aos outros grupos. Da mesma forma o baixo número de

grilos em setembro, poderia ter sido compensada por um maior consumo de gafanhotos

e esperanças, apesar deste mês ter uma proporção menor de Orthoptera presente nos

regurgitos e assim, a menor ocorrência de Gryllidae poderia ter sido compensada por

um maior consumo de outro Orthoptera, ou de outro grupo de presas.

Segundo A. VASCONCELOS (com. pess.) as espécies identificadas cobrem a

variedade completa dos tipos de habitat explorado pelos gafanhotos (Acrididae) da

região. Estiveram presentes nessa amostra gafanhotos que vivem próximos à água, em

arbustos, abrigados em folhagem, no solo, e os de zonas abertas como as pastagens.

Assim, a garça-vaqueira teria desenvolvido técnicas para exploração de todos esses

ambientes na procura por gafanhotos, já que nem todos estes seriam pegos em

associação com o gado. Deste ponto de vista pode-se dizer, novamente, que ela é uma

“especialista” na obtenção de gafanhotos para alimentação, explorando todos os tipos de

nicho ocupados por essa família no Agreste pernambucano.

Os grilos (Gryllidae) possuem hábitos noturnos, vivem no solo (sob pedras ou

perfuram galerias) e no interior de habitações, algumas espécies são aquáticas e outras,

arborícolas. Os grilos são bons nadadores e quando perseguidos mergulham

escondendo-se na vegetação submersa (BUZZI, 2002). Apesar dos grilos encontrados

nas amostras não terem sido identificados até a categoria de espécie, o hábito noturno

da família sugere que B. ibis, ave forrageadora diurna, teria que procurar e capturar os

grilos abrigados, ou que, o movimento do gado pelas pastagens seria capaz de expulsar

os grilos de seus abrigos, tornando-os acessíveis às garças.

Muitos Orthoptera são pragas altamente nocivas sob o ponto de vista agrícola

(BUZZI, 2002). Das espécies identificadas destacam-se Rhammatocerus sp. que ataca

pastagens e Schistocerca pallens que ataca flores, folhagens, hortaliças, gramíneas e

pastagens. A família Gryllidae também possui espécies que atacam plantações, porém

não se sabe se correspondem às obtidas nesse estudo.

112244

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MCKILLIGAN (1997) associa a reduzida mortalidade de ninhegos com uma

média alta de representação dos acridídeos e de ninfas com elevado peso corporal na

dieta dos filhotes, e recomenda estas duas variáveis, em combinação com a influência

da chuva no ciclo dos acridídeos, como índices da quantidade de alimento disponível

para os filhotes. Com isso ele propõe um modelo conceitual sobre a ecologia

reprodutiva da garça-vaqueira: a chuva provê as condições necessárias para o

crescimento das pastagens, que por sua vez favorecem o crescimento da população de

gafanhotos e pesos corporais maiores das ninfas. Sob essas circunstâncias as garças

encontram condições relativamente favoráveis de como prover adequadamente alimento

a seus filhotes, assegurando boa sobrevivência e um alto sucesso reprodutivo.

AACCAARRIINNAA

A única espécie de Acarina, que ocorreu nas amostras de regurgito, Boophilus

microplus, é o carrapato comum que parasita os bovinos, também conhecido como

Carrapato-do-boi. A fêmea desta espécie, que se ingurgita de sangue para a formação de

ovos, chama-se teleógina. A teleógina se desprende do corpo do animal e cai no solo

para fazer a postura. Este período entre a queda do corpo do animal até o inicio da

postura é onde a teleógina em geral é severamente atacada pelos predadores naturais,

entre eles, a garça-vaqueira (GONZALES, 1995). Esta descrição representa a situação dos

carrapatos encontrados nos regurgitos analisados, todos são fêmeas capturadas quando

já desprendidas do corpo do hospedeiro. MEYERRIECKS (1960) já havia descrito tal

cenário, dizendo que as garças se alimentariam apenas de poucos carrapatos e

principalmente daqueles que estão ingurgitados e caídos recentemente, mais do que os

pegos diretamente do mamífero hospedeiro.

Com menor representatividade que a obtida no presente estudo, GASSET et al.

(2000) encontraram 3,7% de freqüência relativa de abundância e 1,15% de volume de

Boophilus microplus, analisando 44 conteúdos estomacais. Destes 84% tinham sido

removidos diretamente do hospedeiro por terem o hipostômio (parte do aparelho bucal)

quebrado e presença de cones de cimentação (formados como parte do processo de

fixação). Isto não foi observado nos carrapatos encontrados, já que o aparelho bucal

encontrava-se intacto em toda a amostra.

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VINCENT (1946), na África, observou que essas aves não se empoleiravam, nem

pegavam carrapatos no gado, mesmo quando o gado estava recolhido e envolto por

garças. No Texas, apenas dois carrapatos foram recolhidos de 1000 regurgitos (TELFAIR,

1994). Já FOGARTY & HETRICK (1973) não encontraram nenhum carrapato em 841

estômagos, assim como JENNI (1973) em 200 regurgitos analisados, ambos estudos

realizados na Flórida, rebatendo a idéia de que eles seriam importantes na dieta.

Essa inconstância na participação dos carrapatos na alimentação de B. ibis, além

de sua pouca contribuição em termos de volume, colocam este item como de pouca

importância relativa na composição de sua dieta. Apesar de em algumas localidades

esse item aparecer com uma representatividade relevante, como no caso do presente

estudo.

GONZALES (1995) sugere que a garça-vaqueira tem participação importante na

predação dos carrapatos, podendo controlar este elemento influente na dinâmica da

pecuária. E apesar de Boophilus microplus ser a espécie que parasita o gado bovino os

resultados não indicam que estes seriam pegos diretamente do corpo do animal,

retirando qualquer participação deste item na base da associação da garça com o gado.

Indica apenas a relação da garça com o ambiente de forrageamento (pastagens).

AARRAANNEEAA

A ordem Aranea teve presença constante na composição da dieta de B. ibis, com

a família Lycosidae como maior representante, a qual é caracterizada por aranhas

errantes, encontradas no chão, com algumas espécies se aventurando em plantas. São

numerosas em ambientes de savana e freqüentemente encontradas em agro-

ecossistemas. Algumas licosas vivem em tocas enroladas por seda. Quando descansam

são usualmente encontradas sob rochas ou escombros no chão. Possuem hábitos

noturnos ou diurnos (DIPPENAAR-SCHOEMAN & JOCQUÉ, 1997). DONDALE & REDNER

(1990) acrescentam que essas aranhas ocupam habitas úmidos tais como pântanos e

brejos.

Já as Araneidae, segunda família de Aranea em termos de representatividade,

são conhecidas entre as aranhas por serem as melhores construtoras de teia. As aranhas

pertencentes à subfamília Argiopinae são diurnas, encontradas no centro de suas teias

durante o dia (DIPPENAAR-SCHOEMAN & JOCQUÉ, 1997).

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Dentre as famílias de menor representatividade, as Salticidae são também mais

ativas durante o dia (FOELIX, 1996). As Theraphosidae têm a maioria das espécies

vivendo no chão, seus esconderijos consistem de câmaras forradas com seda, outras são

feitas sobre rochas ou árvores (DIPPENAAR-SCHOEMAN & JOCQUÉ, 1997). As aranhas da

família Oxyopidae são principalmente residentes de plantas, comumente encontradas na

grama, arbustos ou árvores. Indivíduos de Oxiopes spp. são usualmente ativos à noite.

Philodromidae são errantes, comumente encontradas em plantas, em troncos de árvores,

galhos baixos ou arbustos (DIPPENAAR-SCHOEMAN & JOCQUÉ,1997).

Segundo A. BRESCOVIT (com. pess.) todas as espécies encontradas nos

regurgitos dos filhotes são comuns de ambientes abertos (campos, pastagens) e

antropizados, possuindo hábitos noturnos.

Com essas descrições tem-se um quadro da variedade de hábitos e habitat desse

grupo de presas, devendo-se considerar, porém, que na maioria essas são descrições

gerais, não necessariamente se aplicando aos exemplares encontrados. A presença do

hábito noturno subentende que durante o período de atividade da garça-vaqueira, parte

destas aranhas estaria escondida, sendo que as garças precisariam encontrar os abrigos,

tocas, esconderijos, para então capturá-las. Apesar de parte destes indivíduos poder ser

capturada em associação com o gado (os que vivem na vegetação das pastagens),

acredita-se que outra (indivíduos noturnos, enterrados, em tocas ou relacionados à

vegetação aquática) poderia ser obtida através do desenvolvimento de outras técnicas de

forrageamento.

OOUUTTRROOSS IINNSSEECCTTAA

As demais ordens de Insecta (exceto Orthoptera) que se apresentaram em menor

número na composição da dieta de B. ibis em Brejão, também foram encontradas em

várias localidades, e a variação observada de sua representatividade, pode, mais uma

vez, estar relacionada à disponibilidade de presas no local de cada estudo.

O uso de Lepidoptera na dieta de B. ibis traz um potencial benefício às lavouras,

já que, na fase larval, estes são vorazes herbívoros (BUZZI, 2002), e, se disponíveis em

grandes quantidades (momento onde se tornam extremamente prejudiciais às

plantações), provavelmente se tornarão presa abundante para as garças.

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O controle da população de moscas, que também podem apresentar problemas

para o homem, foi analisado por BURNS & CHAPIN (1969), que concluíram que o

número de moscas ingeridas pela garça não parece ser valioso na redução das

populações de Diptera. A avistagem de garças descansando próximas a bovinos

provavelmente esteve associada à obtenção deste item.

A contribuição das moscas na composição dos regurgitos foi elevada no mês de

outubro, o que coincide com a observação de um grande número destas na colônia,

assim, esta representatividade pode estar relacionada mais uma vez a um aumento da

disponibilidade. Não se sabe, porém, se o número de dípteros se tornou elevado na

colônia devido à presença de carcaças de filhotes, ou se reflete uma época de

abundância de seu ciclo, o que significaria maior disponibilidade no ambiente de

forrageamento, além da área da colônia. FOGARTY & HETRICK (1973) viram garças

junto a carcaças de gado, capturando moscas atraídas pelos animais mortos.

A ordem Blattariae teve representatividade elevada no presente estudo frente ao

obtido em outras localidades, o que pode apresentar uma nova adaptação nas

preferências alimentares da garça ou simplesmente, maior disponibilidade deste item no

ambiente.

VVEERRTTEEBBRRAATTAA

Os vertebrados compõem em volume uma parcela representativa na dieta de B.

ibis em várias localidades do mundo, apesar do baixo número de indivíduos. Sendo os

anfíbios e lagartos os itens mais comuns.

Como no presente estudo, GASSET et al. (2000) também encontraram apenas um

mamífero no material analisado e JENNI (1973) na Flórida não obteve nenhum, o que

sugere, que mamíferos são um item pouco freqüente na alimentação da garça-vaqueira.

Apesar de não serem regulares na composição da dieta de B.ibis, nos estudos de

BOUKHEMZA (2000), na África, os mamíferos tiveram maior representatividade que os

anfíbios e répteis.

De maneira semelhante aos mamíferos, a presença de aves é reportada em

diversos trabalhos (HARRINGTON & DINSMORE, 1975; CUNNINGHAM, 1965; FEARE,

1975), apesar de não apresentar regularidade na sua contribuição na dieta de B. ibis.

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TELFAIR (1994) diz que podem compreender 44-80% da dieta em peso especialmente no

inverno e outono. Acreditando-se que apenas em situações onde outros tipos de

alimento não estejam disponíveis, como é o caso das referências citadas (todas em

ambientes insulares) B. ibis irá selecionar este item. O canibalismo entre filhotes foi

reportado, mas é raro (DUSI 1968; TELFAIR 1994).

Já os peixes, que não foram encontrados na amostra analisada, aparecem em

poucos estudos, e segundo FOGARTY & HETRICK (1973), em sua maioria a informação

pode ter vindo de observações da ave se alimentado e não da análise de conteúdos

estomacais, acreditando que as garças podem ser forçadas a se alimentar de peixe sob

certas circunstâncias, mas não selecionariam este item para sua dieta.

AMPHIBIA

No presente estudo foram os anfíbios que contribuíram com a maior parcela de

representatividade dentre os vertebrados. Esse padrão também foi observado por JENNI

(1969 e 1973) na Flórida.

A participação dos anfíbios nos diferentes meses é relativamente constante,

apesar da sua ausência em agosto, que pode ter ocorrido devido ao menor número de

regurgitos analisados neste mês. JENNI (1973) também observou relativa estabilidade no

volume de anfíbios, quando comparando a composição da dieta em quatro regiões

diferentes.

As famílias identificadas neste estudo também ocorreram na dieta em outros

locais: Hylidae nos estudos de FOGARTY & HETRICK (1963) e JENNI (1969 e 1973) na

Flórida, GASSET et al. (2000) nas Ilhas Virgens e BOUKEMZA et al. (2000) na Algéria;

Leptodactylidae foram encontrados no trabalho de GASSET et al. (2000) e Bufonidae em

FOGARTY & HETRICK (1963).

Esses animais dependem da presença de água para o seu ciclo de vida, passam o

dia abrigados em tocas no solo, troncos de árvore e na vegetação, iniciando sua

atividade com o pôr do sol (A. C. CARNAVAL, com. pess.). Assim, apesar de viverem no

ambiente pecuário, acredita-se que apenas parte destes indivíduos seria capturada em

associação com o gado, e que paralelamente a garça para obtê-los teria que procurar e

conhecer seus esconderijos. Cabe aqui lembrar da elevada freqüência de avistagem das

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garças próximas à água, sendo que neste momento elas poderiam estar somando

anfíbios a sua dieta.

REPTILIA

A espécie Mabuya agmosticha, presa responsável pela representatividade dos

répteis no presente estudo, foi recentemente descrita por RODRIGUES (2002) ocupando a

caatinga semiárida do Nordeste do Brasil.

De maneira semelhante à representatividade do scincídeo M. agmostichia nos

regurgitos da garça-vaqueira no Agreste, GASSET et al. (2000) encontrou uma espécie

de lagarto (Anolis acutus) ocorrendo em 61,4% das suas amostras. Essa tendência a

monoespecificidade no conteúdo de répteis poderia estar associada a algum padrão de

distribuição destes nos ambientes, ou a algum outro fator da relação presa-predador que,

porém, não foram examinados neste estudo.

Nos estudos de FOGARTY & HETRICK (1973), répteis ocorreram em pouca

quantidade, menos que 1% do volume total, sendo as famílias identificadas semelhantes

ao presente estudo: Iguanidae, Scincidae, Anguidae e Colubridae.

Os lagartos possuem um mecanismo de defesa, anti predação: quando se sentem

ameaçados, soltam a cauda e tentam a fuga. Este mecanismo está bem exemplificado

pelo conteúdo dos Scincidae nos regurgitos analisados, com um maior número contendo

apenas a cauda, frente ao número de indivíduos inteiros (que contribuem com maior

volume). Por esse quadro temos um testemunho da eficiência do mecanismo de

autotomia dos lagartos, impedindo que um maior número se tornasse presa das garças.

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79

CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS SSOOBBRREE AA DDIIEETTAA DDAA GGAARRÇÇAA--VVAAQQUUEEIIRRAA NNOO AAGGRREESSTTEE

Em termos da freqüência de ocorrência dos itens nos regurgitos dos diferentes

meses, temos os Orthoptera (Tettigonidae, Gryllidae, Acrididae), Aranea (Lycosidae),

Acarina (Ixodidae), Amphibia (Leptodactylidae), e Squamata (Scincidae) presentes em

todos os meses de coleta. E quando os regurgitos foram analisados separadamente o

único grupo com mais de 80% de ocorrência foi o de Orthoptera. As aranhas aparecem

em 78% dos regurgitos, e, com mais de 50% de ocorrência tem-se os Acarina e

Amphibia, sendo os Squamata encontrados apenas em 7% dos regurgitos (de setembro e

outubro).

Tenta-se com isso resumir (e retomar) a distribuição dos itens de presas da dieta

da garça- vaqueira, sendo essa, composta por grupos de presas bem definido, que

variam sua representatividade na individualidade do regurgito e nas amostragens

realizadas nos meses, sem com isso alterar a constância e predominância na

representação dos Orthoptera, seguida pelas aranhas, carrapatos e, por fim, os anfíbios.

Apesar do ‘oportunismo’ de B. ibis, a proporção entre os grupos animais que

compõem sua dieta indica que poucas categorias têm a maior participação, com um

baixo índice de amplitude de nicho de Levins, característica de animais especialistas.

Quando foram agrupadas as diversas ordens de Insecta menos representativas,

diminuindo o número de categorias de presas, os Índices indicam menor grau de

especialidade, mantendo-se num ponto intermediário entre especialista e generalista.

Essa diferença traz atenção para o fato dos agrupamentos serem arbitrários, podendo

não representar a hierarquia de escolha de alimento pela garça, ou seja, para a ave o

incremento energético e a técnica de captura (gasto de energia), podem ser semelhantes

para grupos taxonônomicos diferentes, ou mesmo diferentes dentro do mesmo grupo.

Além do fato já comentado que para uma análise mais acurada seria necessárias

informações sobre a disponibilidade das presas. Mesmo assim, a preferência sobre os

Orthopteras emerge na amostragem realizada.

A despeito da sugestão de TELFAIR (1994) de que provavelmente presas noturnas

e crípticas estão disponíveis apenas quando perturbadas pelo gado pastando, não parece

que o caminhar dos pastadores seria responsável pela diversidade de presas com hábitos

noturnos, que em muitos casos se mantém enterradas ou escondidas durante o dia,

apresentadas com considerável estabilidade nos conteúdos dos regurgitos analisados. O

que parece, é que B. ibis obtém uma variedade de itens que são espantados pelo gado

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pastando, mas também explora o ambiente pecuário de outras formas em busca de

presas que não são fornecidas por esta associação. Desta maneira, algumas das espécies

de gafanhotos, aranhas, carrapatos (que não pulam quando o gado forrageia) e anfíbios

seriam obtidos pelas garças forrageando sem a ajuda do gado. Inclusive, a partir do

forrageamento em locais de concentração de água, já que muitos dos itens consumidos

são de grupos restritos a ambientes úmidos, além da freqüência observada da presença

das garças nesses locais. E não obstante nidificarem nas margens do açude, com

exceção dos juvenis, as garças não foram observadas forrageando nas proximidades da

colônia.

Assim, a partir das análises realizadas, a garça-vaqueira no Agreste

pernambucano apresentou uma dieta bem definida, supostamente resultante do

desenvolvimento e aprendizado de técnicas de captura especializadas, com preferência

por poucos grupos de presa, acreditando-se que parte destas seria obtida em associação

com o gado, e parte por outras técnicas de forrageamento.

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66..44 OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA DDEE BB.. IIBBIISS NNOO AARRQQUUIIPPÉÉLLAAGGOO DDEE FFEERRNNAANNDDOO DDEE

NNOORROONNHHAA

CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS SSOOBBRREE IIMMPPAACCTTOOSS PPOOTTEENNCCIIAAIISS SSOOBBRREE AA FFAAUUNNAA NNAATTIIVVAA

É bem conhecido o efeito de algumas espécies exóticas introduzidas,

principalmente pelo homem, em ambientes que evoluíram na sua ausência, causando

grande impacto à fauna e flora nativas, podendo determinar o desaparecimento de

populações naturais e culminando com a desestruturação do bioma.

Nesse contexto tem-se a problemática acarretada pela rápida e ampla ocupação,

pelas garças-vaqueiras, de um ambiente que vivia anteriormente sem esse grande

número de ardeídeos. O que traz conseqüências decorrentes, principalmente, da

competição por sítios reprodutivos com aves nativas, da competição por alimento e da

predação de populações da fauna nativa.

Na questão da competição por sítios reprodutivos com aves nativas, B. ibis pode

estar prejudicando a reprodução de outras espécies, seja pela ocupação em massa desses

sítios, espantando as aves que ali se reproduziam anteriormente, ou pela competição

acarretada por essa ocupação dentro da própria colônia reprodutiva (luta por território,

predação de ninhos e filhotes). Essas pressões podem agir no sentido de diminuir o

sucesso reprodutivo das aves relacionadas.

Quanto à competição com outros predadores por alimento, alguns autores (e.g.

FOGARTY & HETRICK, 1973) afirmam que a garça-vaqueira quase monopolizou esse

nicho das pastagens anteriormente desocupado e altamente produtivo em termos de

alimento. Porém, como assinalado por LOWE-MCCONNELL (1967) muitos animais

parecem compartilhar desse nicho alimentar em torno do gado doméstico antes de B.

ibis chegar, como Crotophaga ani, Quiscalus lugubris e Leistes militaris, apesar de

nenhuma dessas espécies serem ardeídeos. SICK (1997) também afirma que nada indica

uma competição com as garças nativas, por terem hábitos alimentares diversos, apesar

de compartilharem os sítios de reprodução.

Além de outros animais dependerem da mesma população de presas que a

garça-vaqueira no ambiente pecuário, deve-se salientar que essas aves também ocupam

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outros ambientes. Sua expansão parece ter sido impulsionada pelo crescimento da

indústria pecuária, mas a garça não se restringiu a ocupação apenas de áreas desmatadas

para as pastagens. Nesses locais onde o ambiente ainda não foi severamente modificado,

B. ibis pode ter um grande efeito competitivo sobre a fauna nativa, e o homem estaria

indiretamente afetando a conservação dessas áreas, através da ocupação pela garça.

No que se refere ao impacto sobre a população de presas tem-se dois aspectos

relevantes: primeiramente, populações de presas que viviam em equilíbrio antes do

aparecimento da garça-vaqueira podem estar sofrendo declínio. O segundo aspecto pode

ter um efeito positivo, pois, como já citado (item 6.3), a garça parece poder controlar a

população de insetos herbívoros, muitas vezes pragas (SICK, 1997), prováveis

competidores primários com o gado pelas pastagens (JENNI, 1969). Além de terem

participação importante na predação dos carrapatos quando já desprendidos do corpo do

gado (GONZALES, 1995), trazendo assim um benefício para a atividade antrópica.

AARRQQUUIIPPÉÉLLAAGGOO DDEE FFEERRNNAANNDDOO DDEE NNOORROONNHHAA

A origem da população de B. ibis existente no Arquipélago de Fernando de

Noronha é desconhecida e pode estar tanto em grupos vindos do Brasil continental,

quanto da África, assim como de ambos. O que fica evidenciado por essa ocorrência,

além da capacidade irradiativa, é a velocidade do estabelecimento desse ardeídeo. Em

maio de 1987, ANTAS et al. (1990) observaram 12 garças-vaqueiras no Arquipélago,

porém em nova visita, em julho do mesmo ano, nenhum indivíduo foi avistado. De um

visitante ocasional, se tornou residente e, num curto intervalo de tempo, a população se

multiplicou, sendo observada inclusive a reprodução no Arquipélago. Em 2000, foi

observada a colônia reprodutiva na Ilha Cabeluda (J. M. SILVA, com. pess.) e, apenas

em fevereiro de 2003, foi detectado o estabelecimento do segundo sítio reprodutivo, na

Ilha Sela Ginete, o que demonstra que essa população de garças-vaqueiras continua se

expandindo.

Apesar da inexistência em Fernando de Noronha de ambientes semelhantes ao

da pecuária do Agreste nordestino, a biologia da garça-vaqueira permitiu sua adequação

e a exploração de locais alternativos para sítios reprodutivos e forrageamento. Uma

colônia de garças se estabelece em determinada área quando existe uma estrutura para a

construção de ninhos e um habitat de alimentação adequado (LEITÃO & FARINHA,

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1998), sendo observado que no caso da garça-vaqueira, uma variedade de ambientes

pode preencher estes requisitos.

Apesar de caracteristicamente B.ibis reproduzir em colônias mistas com outros

ardeídeos, existem relatos de colônias exclusivas de B. ibis (ARENDT & ARENDT, 1988;

LEHMANN, 1959; WEBER, 1975; BACHIR et al., 2000), como ocorreu nas colônias de

Ameixas e São Bento do Una, e com outras aves (KOPIJ, 1997. VISSCHER, 1977; PETRY

& HOFFMANN, 2002), como as colônias observadas em Fernando de Noronha, porém,

acredita-se que este seja o primeiro registro de reprodução em agrupamentos junto com

S. sula.

Como já comentado, a ocupação por B.ibis de áreas de descanso e reprodução

das garças nativas tem causado preocupação entre ornitologistas desde meados do

século XIX (FOGARTY & HETRICK, 1973). BENNETTS et al. (2000) mostram que o

sucesso reprodutivo de um ardeídeo está declinando desde a chegada da garça-vaqueira

e, em outro caso, a ocorrência dessa diminuição é atribuída à competição e ao aumento

do distúrbio causado pela agressividade de B. ibis na colônia (BURGER, 1978). Aspectos

dessa relação interespecífica podem emergir da singular ocorrência de nidificação junto

com S. sula em Fernando de Noronha, com potenciais conseqüências sobre o sucesso

reprodutivo da espécie nativa.

Em Fernando de Noronha, onde não existe uma indústria pecuária, a maioria das

garças estava associada em bandos intraespecificos, explorando outras fontes

disponíveis de alimento. Porém, sempre que foram avistados grupos de bovinos,

caprinos ou eqüinos no Arquipélago estes estavam acompanhados por garças-vaqueiras.

A baixa proporção de garças associadas ao gado, nesse caso, parece conseqüência da

pequena ocorrência destes pastadores, mais do que da preferência das garças por outros

locais para forrageamento.

Como fontes alternativas de alimento em Fernando de Noronha, as garças

encontraram principalmente o capim existente em torno da pista de decolagem e o

depósito humano de resíduos. A vegetação existente no aeroporto pode ser comparada

às pastagens encontradas no Agreste, onde ao invés do gado, as garças aprenderam a

acompanhar os cortadores de grama (TELFAIR, 1994; KUSHLAN, 1979). BURGER &

GOCHFELD (1983) sugerem que o hábito da garça de forragear com grandes ungulados

preadaptaram-nas para se alimentarem ao lado desses veículos. B.ibis constituem um

risco para aviões quando seguem tais equipamentos em grandes bandos ou quando

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voam através das pistas de decolagem (DUSI, 1982). Aves são uma ameaça a aviões

próximos ou nos aeroportos (BURGER, 1985); logo, atenção deve ser dada a esta

ocorrência em Fernando de Noronha.

Garças-vaqueiras têm sido observadas se alimentando de insetos (POMEROY,

1975) e de detritos orgânicos (BURGER & GOCHFELD, 1983) encontrados nos depósitos

humanos de resíduos sólidos. Em Fernando de Noronha a garça-vaqueira foi avistada se

alimentando apenas de larvas de insetos, porém estudos mais detalhados se fazem

necessários para avaliar se poderiam estar também se alimentando de carniça ou outros

resíduos orgânicos em decomposição.

Apenas um indício da perturbação causada pela garça em ninhais de aves

costeiras foi observado no Arquipélago de Fernando de Noronha (na Ilha do Morro do

Leão), mas em outras ilhas garças-vaqueiras são vistas se alimentando de pássaros, ovos

e ninhegos (CUNNINGHAM, 1965; FEARE 1975). CUNNINGHAM (1965) propõe que nas

Dry Tortugas (Flórida) a garça pode ter desenvolvido o hábito de matar aves saudáveis

como resultado da experiência adquirida por se alimentar daquelas encontradas em

estado debilitado ou mortas, freqüentes na localidade. O cleptoparasitismo por B. ibis de

filhotes de Sterna fuscata foi observado por FEARE (1975), sendo mais um aspecto da

grande amplitude de hábitos alimentares adquiridos por esta espécie.

A presença da garça-vaqueira no Agreste parece trazer benefícios para a

atividade pecuária. Porém, um efeito contrário estaria trazendo a um ambiente como o

Parque Nacional de Fernando de Noronha. A introdução de espécies exóticas e o

aumento da população humana constituem as principais ameaças à fauna nativa do

Arquipélago (STTATERSFIELD et al., 1998). As atividades humanas possibilitaram a

ocupação pela garça-vaqueira desse ambiente insular que evoluiu sem sua presença, o

que se assemelha, de certa forma, ao processo de introdução de uma espécie exótica, e

suas conseqüências. Além dos impactos potenciais descritos de B.ibis sobre as colônias

de aves costeiras, considerações também devem ser feitas sobre a avistagem dessas

garças se alimentando de Euprepis atlanticus, Scincidae (J. M. SILVA, com pess.),

lagarto endêmico do Arquipélago, que evolui sem a presença de predadores.

113366

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66.. 55 CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS

Assim, a constância na composição alimentar da garça observada no Agreste se

torna questionável quando se verifica o que acontece com os hábitos forrageadores desta

ave em Fernando de Noronha, e em outros ambientes onde ortopteróides inexistem ou

são raros, onde não há atividade pecuária em grande escala, ou seja, locais onde suas os

itens que apresentaram “indiscutível preferência” não podem ser obtidos.

A garça-vaqueira se comporta como um especialista, tendo sua dieta

representada por poucos tipos de itens, porém quando em ambientes onde essas presas

não são disponíveis é capaz de abdicar de suas preferências e remodelar sua alimentação

para suprir suas necessidades energéticas, deixando assim emergir seu hábito

oportunista. Sendo sim uma especialista, porém na aquisição de diferentes técnicas para

a obtenção de alimento.

BOUKHEMZA (2000) sugere que a garça-vaqueira é um oportunista que, onde a

presa é abundante, escolhe as que lhe dão os melhores requerimentos nutricionais, mas

pode explorar outros itens quando o alimento se torna escasso. Ou seja, em ambientes

onde Orthoptera, outros invertebrados e anfíbios estão presentes a garça vai manifestar

o seu poder de escolha, porém na ausência, ela é capaz de explorar outras fontes, sendo

especialmente capaz de tirar vantagem dos distúrbios antropogênicos que podem criar

emersões na disponibilidade de presas (LOMBARDINI et al., 2001). E com isso ela é

capaz de manter sua população e seu sucesso reprodutivo.

O mesmo raciocínio se aplica à uniformidade observada no estabelecimento de

colônias reprodutivas no Agreste pernambucano, frente à nidificação em ilhas

desprovidas de água doce e proteção contra a presença de predadores terrestres. Assim

como a grande variação apresentada na extensão de seu período reprodutivo.

Portanto, tanto a biologia alimentar quanto a biologia reprodutiva de B. ibis

apresentam padrões regrados, bem definidos trazendo conclusões de uma pequena

amplitude de nicho, que porém, se tornam totalmente flexíveis frente às necessidades ou

oportunidades ambientais.

Em suma, essas observações evidenciam a enorme plasticidade, e a velocidade de

aquisição de novos hábitos como ferramentas para exploração, adequada para a espécie,

de diversos habitats. Residindo nessa adaptabilidade o sucesso para a expansão e o

estabelecimento desse ardeídeo durante o último século em diferentes partes do mundo.

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Soma-se a essa capacidade, as mudanças ambientais devidas às atividades

humanas, que devem ser consideradas em qualquer avaliação sobre o sucesso da garça-

vaqueira (LOWE-MCCONNELL, 1967). Inicialmente representadas pelo desmatamento e a

introdução do gado e, subseqüentemente, pela disponibilização de locais com

concentração de resíduos (FEARE, 1975). Existe apenas uma minoria de espécies de aves

que têm se beneficiado das conseqüências das atividades humanas (POMEROY,1975),

entre elas a garça-vaqueira.

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