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Revbea, São Paulo, V. 10, N o 1: 20-41, 2015. revista brasileira de e ducação a mbiental 20 AVANÇOS E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA ENTRE A RIO92 E A RIO+20 Patricia Bastos Godoy Otero 1 Zysman Neiman 2 Resumo: O artigo discute os avanços e os desafios do campo da Educação Ambiental (EA) brasileira, no período entre as duas grandes Conferências sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e realizadas no Brasil, a Rio-92 e a Rio+20, que aconteceram respectivamente em 1992 e 2012. O principal objetivo foi analisar a evolução da Educação Ambiental brasileira no período entre as duas grandes Conferências, elaborada a partir da sistematização de informações de documentos oficiais, reportagens publicadas pela mídia sobre os dois eventos e entrevistas com lideranças ambientalistas, políticos e técnicos que estiveram nos eventos e que atuam com, destaque no campo da Educação Ambiental do Brasil. Palavras-chave: Educação Ambiental; Sustentabilidade; Desenvolvimento Sustentável. 1 Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal de São Paulo, Campus Diadema. E-mail: [email protected].

Avanços e Desafios Da Educação Ambiental

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    AVANOS E DESAFIOS DA EDUCAO AMBIENTAL

    BRASILEIRA ENTRE A RIO92 E A RIO+20

    Patricia Bastos Godoy Otero1 Zysman Neiman2

    Resumo: O artigo discute os avanos e os desafios do campo da Educao Ambiental (EA) brasileira, no perodo entre as duas grandes Conferncias sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento promovidas pela Organizao das Naes Unidas (ONU) e realizadas no Brasil, a Rio-92 e a Rio+20, que aconteceram respectivamente em 1992 e 2012. O principal objetivo foi analisar a evoluo da Educao Ambiental brasileira no perodo entre as duas grandes Conferncias, elaborada a partir da sistematizao de informaes de documentos oficiais, reportagens publicadas pela mdia sobre os dois eventos e entrevistas com lideranas ambientalistas, polticos e tcnicos que estiveram nos eventos e que atuam com, destaque no campo da Educao Ambiental do Brasil.

    Palavras-chave: Educao Ambiental; Sustentabilidade; Desenvolvimento Sustentvel.

    1Universidade Federal de So Carlos, Campus Sorocaba. E-mail: [email protected] 2Universidade Federal de So Paulo, Campus Diadema. E-mail: [email protected].

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    Introduo O Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e

    Responsabilidade Global (TEASS), emanado da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992) considera que a EA para uma sustentabilidade equitativa um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educao afirma valores e aes que contribuem para a transformao humana e social e para a preservao ecolgica.

    Segundo Nieves-Alvarez (2002), necessrio que a escola assuma um comportamento adequado, pois educar em uma perspectiva ambiental significa assumir novos conceitos e novos conhecimentos, aplicar procedimentos diversos e criar atitudes, valores e normas que levem a comportamentos que favoream o meio.

    A Educao Ambiental (EA) eminentemente interdisciplinar, participativa, comunitria, criativa, crtica da realidade vivenciada, formadora da cidadania.e valoriza a ao, ou seja, orientada para a resoluo de problemas locais (GUIMARES, 1995). transformadora de valores e atitudes por meio da construo de novos hbitos e conhecimentos, criadora de uma nova tica, sensibilizadora e conscientizadora para as relaes integradas ser humano/sociedade/natureza objetivando o equilbrio local e global, como forma de obteno da melhoria da qualidade de todos os nveis de vida.

    A educao, como instrumento de preservao ou de transformao da sociedade, objeto de discusso antiga e est novamente no centro das sugestes de redefinies ou reorganizaes do pensamento da humanidade. A viso holstica de EA orientada pelo processo, ao contrrio de ser orientada pelo produto revisando e reavaliando a educao e o aprendizado como intrnsecos vida (ROSA, 2001).

    Segundo Ramalho (2004), na viso holstica, o sujeito, ao conhecer-se a si mesmo objetivo fundamental da educao desperta para a cidadania consciente por meio de prticas baseadas na verdade e no descomprometimento com valores sociais que perpetuam a destruio cada vez maior do meio ambiente.

    Para Mininni-Medina (2001), o conceito de EA incorpora a complexidade das inter-relaes sistmicas da problemtica ambiental, a anlise de suas potencialidades socioculturais e ambientais e a necessidade de construo de novas modalidades de relao dos homens entre si e com a natureza, formuladas a partir do paradigma da sustentabilidade. A prtica da EA, para a autora, tem como um dos seus pressupostos, o respeito aos processos sociais, culturais, tnicos, caractersticos de cada pas, regio ou comunidade.

    A integrao dos diversos enfoques cientficos e comunitrios, num processo interdisciplinar, se d por meio da construo de um modelo mental baseado na ideia de interao entre os diferentes fatores que incidem num problema. um processo cclico, em que duas ou mais espcies de conceitos

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    evoluem conjuntamente e conduzem compreenso de um novo nvel de complexidade (BOVO, 2007). A transversalidade e a interdisciplinaridade so, nesse sentido, modos de trabalhar o conhecimento que visam reintegrao de dimenses isoladas uns dos outros pelo tratamento disciplinar.

    A EA traz consigo uma nova pedagogia, segundo Leff (2001), que surge da necessidade de orientar a educao dentro do contexto social e na realidade ecolgica e cultural onde se situam os sujeitos e atores do processo educativo.

    Foi na Conferncia de Tbilisi (Ex-URRS) em 1977 que o termo meio ambiente foi definitivamente ampliado, passando a incluir as dimenses antrpicas, ticas, estticas, histricas etc. Esta compreenso foi reiterada pelo TEASS. Em 2012, na Conferncia da ONU denominada Rio+20, esse documento foi novamente debatido e revalidado. O objetivo deste artigo discutir os avanos e desafios da EA ante o amadurecimento do debate sobre seus pressupostos e modos de ao, e o processo de estabelecimento de polticas pblicas no Brasil entre 1992 e 2012, intervalo entre as duas grandes conferencias internacionais ocorridas no pas.

    As grandes conferncias Rio92 e Rio+20 e a Educao Ambiental no perodo Rio92 e o Frum Global das Organizaes No Governamentais

    Conforme colocado por Moura (2000), a Conferncia do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em 1992 foi um inquestionvel indutor para a abordagem ambiental no mundo. Na Rio92 ou Cpula da Terra, como ficou conhecida, teve a participao de 172 pases, mais de mil e quatrocentas ONGs e dez mil participantes. Foi realizada entre 3 e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro (RJ) e reuniu 108 chefes de Estado que buscavam meios de conciliar o desenvolvimento socioeconmico com a conservao e proteo dos ecossistemas da Terra.

    A Rio92 inseriu o Brasil no debate ambiental global, abriu espao para que entidades da sociedade civil participassem mais das negociaes entre os governos preparando um terreno frtil para o florescimento das organizaes no governamentais ambientalistas. L foram elaborados a Agenda 21 e a Carta da Terra, que tiveram impacto direto no desenvolvimento e consolidao da EA brasileira como estratgia transversal para as mudanas propostas, dando origem a aes coordenadas em rede, globalmente e no Brasil: a Rede Brasileira de Agendas 213 e a Rede Brasileira da Carta da Terra, esta ltima lanada na Rio+20.

    O Frum Global das Organizaes No Governamentais contou com a participao de 15.000 profissionais da rea ambiental. Nesse evento foram ratificados 32 tratados, dentre eles TEASS, que teve e tem especial influncia na EA brasileira.

    3 REBAL - http://rebal21.ning.com/ e Rede Bras. da Carta da Terra http://www.cartadaterrabrasil.org/.

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    Um dos impactos da Rio92 e do Frum Global foi a disseminao inicial da ideia de organizao em rede, padro que vem sendo favorecido pela conectividade intensiva proporcionada pelo desenvolvimento das tecnologias de Internet. No Brasil, houve a criao da Rede Brasileira de Educao Ambiental REBEA, criada na atmosfera de grande mobilizao que antecedia a Rio92 e que adotou como padro organizacional a estrutura horizontal em rede. Nos ltimos anos, esta rede experimentou um processo de expanso e fortalecimento de suas articulaes no pas inteiro, tendo se transformado numa rede de redes com mais de 50 outras redes de educadores ambientais. A REBEA completou 20 anos em junho de 2012.

    Rio+20 e a Cpula dos Povos A Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel

    foi realizada entre 13 e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 foi assim conhecida porque marcou os vinte anos de realizao da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92). Seu objetivo foi a renovao do compromisso poltico com o desenvolvimento sustentvel, por meio da avaliao do progresso e das lacunas na implementao das decises da Rio92 e o tratamento de temas novos e emergentes.

    A Conferncia teve dois temas principais: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentvel e da erradicao da pobreza; e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentvel. A Comisso Nacional para a Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel teve a atribuio de articular os eixos da participao do Brasil na Conferncia. A sociedade civil foi parte integral da Comisso Nacional, contando com cerca de quarenta membros, representantes de diversos setores sociais, selecionados em processo transparente e inclusivo.

    Cerca de 110 mil pessoas foram ao Rio de Janeiro para os eventos oficiais. Aproximadamente 45 mil pessoas estiveram presentes no Riocentro, local que sediou a conferncia da ONU, e mais de 1 milho de participantes estiveram nos eventos paralelos, com destaque para a Cpula dos Povos, no Parque do Flamengo, e para o Espao Humanidade2012, no Forte de Copacabana.

    De acordo com a prefeitura do Rio de Janeiro, foram registradas 23 manifestaes, sendo que o protesto que reuniu maior nmero de pessoas foi o realizado no dia 20 de Junho de 2012, quando 50 mil ativistas, indgenas, professores e estudantes ocuparam as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. A Rio+20 rendeu cerca de 700 compromissos voluntrios entre ONGs, empresas, governos e universidades. Isso significa um investimento de US$ 513 Bilhes para aes de desenvolvimento sustentvel nos prximos 10 anos.

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    200 universidades de 50 pases se comprometeram a tornar a Sustentabilidade o eixo norteador dos projetos pedaggicos e PDIs4.

    O principal documento elaborado foi a declarao O Futuro que Queremos, assinado por 188 pases. As avaliaes sobre o evento reconhecem perdas e ganhos resumidamente analisadas nos prximos pargrafos.

    Ban Ki-moon Secretrio-Geral ONU5, no encerramento da Rio+20, considera que o documento final demonstra convergncia na criao de Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel. O Secretrio enfatizou a adeso voluntria s proposies, pois todos assumiram quase 700 compromissos, representando centenas de bilhes de dlares.

    Segundo relata Leito (2012), eventos ocuparam toda a cidade do Rio de Janeiro, como nunca antes no campo ambiental: 220 mil pessoas e suas famlias passaram mais de 3 horas nas filas dirias para a exposio Humanidades2012, no Forte de Copacabana; quinhentos cientistas de vrios pases passaram dias trocando informaes na PUC; pessoas decidiram mudar de atitude; empresrios compararam prticas, e prefeitos se comprometeram a mudar a realidade local. Para a jornalista,

    isso no mudar o mundo, nem deter a mudana climtica, mas tornar cada vez mais penoso para os governos adiar a inadivel adoo de polticas pblicas e decises polticas que reduzam o risco que corremos. A ao individual tem impacto! O intangvel legado da Rio+20 este. Seus milhares de eventos paralelos podem ter tocado pessoas. Quem sabe quantas crianas vero o mundo com outros olhos? E isso pode ser decisivo (s/p).

    Para Viana (2012) a Rio+20 promoveu uma enorme penetrao da temtica da sustentabilidade para alm do territrio de ambientalistas, eclogos e alguns poucos lderes visionrios de outros setores. Para o jornalista, era difcil imaginar, por exemplo, que presidentes de grandes bancos, como o Bradesco e BNDES, gastariam cada vez mais tempo com temas relacionados sustentabilidade, ou que a CNI reuniria em um evento paralelo mais de 1.100 lderes empresariais para apresentar propostas concretas para uma produo industrial realmente sustentvel.

    A Presidente Dilma Rousseff, no entanto, de acordo com a mdia nacional, reconheceu a morosidade dos processos decisrios num mundo que precisa de rapidez nas decises para enfrentar os desafios ambientais, sociais e econmicos e destacou o multilateralismo como uma das principais

    4 Fonte: Editorial do Jornal O Estado de So Paulo, 24/06/2012.

    5 Site da ONU: http://www.onu.org.br/rio20/rio20-termina-e-documento-final-o-futuro-que-queremos-e-

    aprovado-com-elogios-e-reservas/

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    conquistas da Rio+20. No jargo diplomtico, a presidente afirmou que a Rio+20 uma conferncia de partida, ou seja, que lana processos para que alguns assuntos - como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel - sejam tratados e definidos nos prximos anos.

    J Gro Brundtland, que coordenou o relatrio Nosso Futuro Comum, avaliando os produtos das duas conferncias, Rio92 e Rio+20, declarou: uma comparao entre esse novo documento e a Agenda 21 aprovada em 1992 inevitvel, com grande vantagem para os 40 captulos da velha agenda (MARCONDES, 2012: 1).

    Na mesma matria, Marcondes (op. cit.:1) cita o diretor executivo do Fundo de Populaes das Naes Unidas, o nigeriano Babatunde Osotimehin, para quem o crescimento das demandas de consumo, principalmente nos pases emergentes, refora uma enorme presso sobre os recursos naturais:

    Planejar para as mudanas previstas no tamanho da populao e tendncias como o envelhecimento, migrao e urbanizao uma condio indispensvel para estratgias sustentveis de desenvolvimento (MARCONDES, 2012, p.1).

    Houve tambm participao de muitas empresas, o que para alguns evidenciou que a Rio+20 foi uma oportunidade para o capitalismo apresentar uma verso mais sustentvel. A ex-ministra Marina Silva disse que a conferncia foi capturada por interesses corporativos (MARCONDES, 2012, p.1).

    Iniciativa importante apresentada foi a criao, pela Universidade da ONU e parceiros, de um ndice de Riqueza Inclusiva (IWR), que acrescentar aos atuais mtodos de avaliao do desenvolvimento - crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e ndices de Desenvolvimento Humano do PNUD, indicadores para avaliar a situao dos recursos naturais, sua preservao ou perda (NOVAES, 2012).

    A Cpula dos Povos foi o evento paralelo Rio+20, organizado por entidades da sociedade civil e movimentos sociais de vrios pases. Aconteceu entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, com o objetivo de discutir as causas da crise socioambiental, apresentar solues prticas e fortalecer movimentos sociais do Brasil e do mundo. Recebeu quase 23 mil inscritos, dos quais foram selecionados 15 mil representantes da sociedade civil, vindos de vrias partes do mundo, em especial das Amricas, Europa e norte da frica, alm dos cerca de 300 mil visitantes. O grupo responsvel pela organizao foi o Comit Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 (CFSC).

    Durante a Rio+20 e a Cpula dos Povos aconteceram quatro eventos relacionados II Jornada e Educao Ambiental, entre eles o lanamento da Rede Planetria do Tratado de Educao Ambiental, durante a mesa redonda

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    Educao para sociedades sustentveis na Agenda Rio+20 e Voc: O Tratado de Educao Ambiental e as Metas do Desenvolvimento Sustentvel como Diretrizes nas Iniciativas de Responsabilidade Social Ambiental.

    Outro ponto de destaque foi o acordo em que as instituies de ensino superior do Brasil e do mundo se comprometem a incluir o tema sustentabilidade assumindo o compromisso com prticas sustentveis nas Instituies de Ensino Superior.

    Como contraponto ao resultado oficial da Rio+20 foi lanada a Unio Global pela Sustentabilidade6 movimento internacional aberto que promove a unio de foras entre pessoas, organizaes no governamentais, empresas e governos locais, a partir de objetivos e compromissos voluntrios de aes de mudana, em prol do desenvolvimento sustentvel.

    Educao Ambiental Brasileira da Rio92 Rio +20 Entrevistas com especialistas na temtica ambiental

    Para a realizao desta etapa da pesquisa, entramos em contato com lderes ambientalistas que militam na EA e que estiveram presentes em ambos os eventos (Rio92 e Rio+20), de modo a resgatar o contexto histrico que vivem e viveram os depoentes, e cruzar informaes e lembranas das duas Conferncias, para se configurar o cenrio dos desafios da EA de acordo com essas lideranas. Cada um foi entrevistado individualmente, entre 23 de junho de 2012 e 13 de maio de 2013, tendo seus depoimentos gravados e transcritos (alguns enviaram suas respostas j por escrito).

    So os seguintes os entrevistados e as datas nas quais deram seus depoimentos:

    Aron Belinky (12 de maro 2013): Articulador da Rio+20, pesquisador e consultor, tem formao em Administrao Pblica pela FGV-SP e Geografia pela USP;

    Doroty Martos (23 de junho 2012): Mestre em Educao pela UMESP e Gestora Ambiental pela FMU/SP.

    Fbio Feldmann (24 de outubro de 2012): Advogado (USP) e administrador de empresas (FGV) foi eleito Deputado Federal por trs mandatos consecutivos (1986 1998), chefe da delegao brasileira dos parlamentares na Rio92;

    Monica Pilz Borba (21 de abril 2013): Pedagoga pela PUC/SP e especialista em EA pela FESP/USP. Criou e coordena o Instituto 5 Elementos;

    Nilo Srgio de Melo Diniz (13 de maio 2013): Comunicador Social (UNB) e fundador FBOMS. Diretor do Departamento de Educao

    6 Site da Unio Global pela Sustentabilidade: http://www.globalunionforsustainability.org/

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    Ambiental da Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental do Ministrio do Meio Ambiente;

    Pedro Jacobi (21 de abril de 2013): Cientista social e economista, Professor Associado da Faculdade de Educao (USP). Mestre em planejamento Urbano pela Graduate School of Design Harvard University e doutor em sociologia (USP).

    Thais Corral (03 de dezembro de 2012): Fundadora e Coordenadora da Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH). Fez Administrao (FGV), especializao pela Universidade de Camerino, (Itlia), mestrado pelas Universidades de Chicago (EUA), Los Andes (Colmbia), e Harvard.

    O roteiro de entrevistas era comum a todos, e constava basicamente das seguintes questes: 1) Em sua opinio, o cenrio sociopoltico em 1992 possibilitou a emergncia de prticas sociais que contriburam para gerar processos de Educao Ambiental? 2) Quais foram os eventuais avanos do campo da EA no perodo entre a Rio92 e a Rio+20? Houve a almejada construo de outra relao da humanidade com o meio ambiente, ou seja, a transformao de pessoas em prol de uma sociedade sustentvel? 3) Quais so os desafios e as dificuldades que voc apontaria para a EA nesse perodo? 4) Passado esse perodo voc se considera otimista ou pessimista com os avanos/retrocessos da questo ambiental e da EA? Porque?

    Para tentar elaborar um quadro reflexivo que possa responder a essas perguntas, procuramos ouvir a opinio de especialistas, que foram entrevistados atravs de uma abordagem semiestrutural, de modo a responder como cada um entendia os avanos e/ou retrocessos da EA nesse perodo. Depois de colhidos os depoimentos, esses foram sistematizados, registrando a opinio e a memria social em estilo mais narrativo, de acordo com Bosi (2003). As opinies dos entrevistados foram ento confrontadas com os principais fatos relativos s polticas pblicas de EA nesse perodo, de modo a compor o painel que se segue.

    Cenrios: Eco92 e Rio+20 Uma evidncia que surge aps os depoimentos dos entrevistados

    que em 1992 havia uma clara conscincia da crise, que fez acontecer a prpria Rio92 numa tentativa de pases membros da ONU de negociarem uma agenda para lidar com os problemas ambientais,

    Em 1992 havia um ambiente muito otimista, o momento que estvamos vivendo, era quase de euforia, comeo da globalizao, com internet chegando, Constituio Brasileira de 1988 recm-aprovada, redemocratizao do Brasil, queda do muro de Berlim. Pegada muito positiva no mundo, impulso positivo, pensando nos espao da cidadania (Aron Belinky).

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    A elaborao do texto da Poltica Nacional de Educao Ambiental (PNEA) comeou em 1992, por iniciativa do Deputado Federal Fbio Feldmann, sendo aprovada apenas em 1999 (Lei n 9.795, regulamentada pelo Decreto n 4281/02) (BRASIL, 1999), e proporcionou a abertura de um espao institucional para tratar a EA como uma poltica de governo (MENDONA, 2004).

    A Rio92 abriu espao para que entidades da sociedade civil participassem e dialogassem nas negociaes entre os governos. Fbio Feldman, autor do texto da PNEA, considera que a mobilizao da sociedade civil no Frum Global, foi uma das grandes contribuies da Rio92, pois se

    [...] demonstrou a vitalidade das organizaes no governamentais, de personalidades e lderes de todo o mundo que criaram um evento paralelo, muitas vezes confundido com a prpria reunio dos governos, a Rio92, realizada no Riocentro [...]. A partir do Frum Global, a sociedade civil ganhou uma legitimidade incontestvel, passando-se a reconhecer que as sociedades nacionais no tm, nos seus governos, seus representantes nicos e exclusivos [...] (Fbio Feldmann).

    Nilo Diniz comenta sobre o Frum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS), afirmando que o mesmo foi

    uma articulao intersetorial indita no pas, preparatria da sociedade civil para a Conferncia da ONU. Do lado do Governo Federal, sob a orientao do Secretrio Nacional de Meio Ambiente (SEMA), o ambientalista Jos Lutzemberger, formou-se uma equipe para elaborar o documento governamental preparatrio, que tinha a frente um brasileiro, Roberto Guimares, administrador pblico e cientista poltico, capaz de reunir contribuies que tratavam das questes ambientais articuladas com aspectos sociais e econmicos. Essa abordagem socioambiental associada dimenso econmica, portanto, presente no olhar das entidades da sociedade civil e do Governo Federal, poca, foi decisiva para consolidar uma mudana importante nos contedos e tendncias da EA praticada at ento. A vertente conservacionista que, de certa forma, prevalecia at final dos anos 1980, passou a ter que dialogar com outra vertente socioambiental, que agregava novos contedos, mas tambm novos atores.

    Para Nilo, os trabalhos da comisso Brundtland lanados no relatrio intitulado Nosso Futuro Comum (CMMAD), aproximou as dimenses do desenvolvimento sustentvel para a EA, como levantado abaixo

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    Um aspecto a se observar sobre a importncia deste relatrio Brundtland para o tema da EA foi a associao mais evidente entre as dimenses sociais, econmicos e ambientais, no contexto de uma crise global. Isso foi muito pertinente, ao menos no Brasil, porque, ao lado da alta relevncia que uma conferncia da ONU representava, por si s, para governo e sociedade, incentivou uma ampla articulao entre os diferentes movimentos sociais no Brasil, ambientalistas ou no, que haviam passado por um processo de retomada na dcada anterior, com a democratizao e a Assembleia Nacional Constituinte (Nilo Diniz).

    Aron Belinky, aponta que, quanto ao evento oficial (Rio+20), a sociedade civil e os representantes das naes participantes, no estavam convictos das possibilidades do evento.

    A Rio+20, ela estava quase que num caminho inverso, por que o ambiente no qual foi construda, nos 2 anos que a antecederam, foram anos em que a mobilizao nas Naes Unidas, frente ao sistema multilateral, estava baixa. [...] Aquilo que estvamos aguardando e acreditvamos, ou seja, que na Rio92 fez diferena ter acordos internacionais [...], j no parecia ser to importante, pois percebemos logo que havia uma baixa capacidade de implantao dos acordos que pudessem surgir. [...] O que eu acho que ns, nesses 20 anos, acabamos, do ponto de vista dos impactos, tocando e at ultrapassando os limites seja do planeta de um lado, seja os limites do sistema Estado-Nao como instituio por outro lado, pois o mesmo no mais suficiente, no d conta...(Aron Belinky).

    Em 2012 a organizao da sociedade civil, melhorou sua capacidade de interveno, controle social e qualificao para atuar em temas complexos. Paralelamente, h maior profissionalizao dos militantes e profissionais que trabalham com a questo ambiental, apontando solues para os que consideram que o tema seja um empecilho para o desenvolvimento.

    Quanto a Conferncia da ONU, Thais Corral entende que

    o evento oficial, foi restrito e tmido, nos resultados. O governo brasileiro criou os dilogos. Os que participaram gostaram. Mas quem garante que os pactos sero implementados? H necessidade de consolidao da emergncia de novos atores [...] reconhecer melhor onde esto as melhores competncias.

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    O perodo analisado testemunhou a criao de polticas pblicas e marcos regulatrios para a gesto da EA brasileira como a normatizao institucional da rea ambiental, a criao de polticas setoriais para gerenciamento das guas, resduos slidos, e mudanas climticas, por exemplo. No entanto, ainda h um significativo desafio quanto estruturao adequada dos rgos responsveis para a implantao das polticas propostas. Assim, temos uma situao em que este cenrio reflete por um lado avanos, subtrados de atrasos e recuos.

    Aliar os projetos de EA s polticas pblicas ainda um grande desafio, pois os governos tm tantos dficits que nossas aes parecem estar num segundo plano. A Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) tem metas ousadas de extinguir os lixes das cidades at 2014 e isso poder ajudar muito a implantar polticas educacionais eficientes para ampliar a participao do cidado (Monica Pilz Borba).

    Os projetos, nas suas mltiplas dimenses e possibilidades, devem, na medida do possvel, abrir-se para o dilogo e sensibilizao das pessoas face aos temas que intervm no seu cotidiano, como o caso dos resduos slidos, da poluio do ar e da perda de biodiversidade (Pedro Jacobi).

    Avanos do campo da Educao Ambiental Atravs das anlises recolhidas encontramos evidncias de que h uma

    ao persistente tanto na institucionalizao da EA como no engajamento de pessoas no campo de atuao durante o perodo analisado.

    Em 1997, aps dois anos de debates, os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram aprovados pelo Conselho Nacional de Educao, elaborados por professores, especialistas em Educao, contratados pela Secretaria da Educao Fundamental do Ministrio da Educao (MEC) (SOUZA, apud BRASIL, 1997: s/p). O objetivo do Tema Transversal Meio Ambiente, para Fontanela (2001), compreender o ambiente como uma grande teia, da qual o ser humano representa um elemento, e tem como pressuposto que o ser humano faz parte do Meio Ambiente. Os Parmetros em Ao: Meio Ambiente na Escola (PAMA), segundo Mendona (2004), foi o primeiro programa de formao do MEC a trabalhar com um tema transversal.

    Tambm em 1997, durante a 1 Conferncia de Educao Ambiental, realizada em Braslia, foi produzido o documento Carta de Braslia para a Educao Ambiental. No mesmo ano, aconteceu em Guarapari (ES), o primeiro dos Fruns Brasileiros de Educao Ambiental, realizado pela REBEA.

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    Como avano mais marcante vejo a realizao dos Fruns de Educao Ambiental, promovidos pela REBEA e que ocorreram em So Paulo, Esprito Santo, Gois, Rio de Janeiro e Bahia, sendo que em breve haver um no Norte do pas, alm dos diversos encontros estaduais (Monica Pilz Borba).

    Nessa mesma perspectiva, Nilo Diniz acredita que o Frum de EA importante devido a sua capilaridade e importncia que tem em todo o pas:

    Logo depois da Rio92, os Fruns Brasileiros de EA da REBEA, foram construindo um dilogo nacional dando oportunidade para Redes de EA se firmarem pelo pas trazendo diferentes realidades slidas nas aes de EA (Nilo Diniz).

    Em 2001 realizou-se uma parceria entre redes de EA e o MMA, tendo e vista a implantao e alimentao do Sistema Brasileiro de Informao em Educao Ambiental SIBEA7. O Fundo Nacional do Meio Ambiente financiou cinco projetos de redes de educadores e um diagnstico nacional da EA, com o intuito de alimentar o banco de dados do SIBEA. Em junho de 2002, a Lei n 9.795/99, da Poltica Nacional de Educao Ambiental, foi regulamentada pelo Decreto n 4.281.

    No ensino universitrio surge a Rede Universitria de Programas de Educao Ambiental (RUPEA), criada em 1997. A Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Educao (ANPEd) cria grupos de trabalho temticos sobre EA em 2002.

    O interesse que despertou na comunidade acadmica se refletiu em pesquisas, dissertaes e teses produzidas. [...] Tambm h de se considerar a importncia que assumem os debates e a emergncia de diferentes abordagens tericas que se contrapem, na medida em que assim como se constroem argumentos pautados pelo conceito de Desenvolvimento Sustentvel e suas possibilidades, emergem crticas a estas abordagens, porque no propem questionamentos estruturais em relao ao modelo existente. Muitos encontros tm sido realizados em nvel nacional e internacional e nestes espaos se criam oportunidades para a multiplicao de ideias e de posicionamentos, assim como de aes concretas nos campi e a possibilidade da temtica ser inserida nas atividades curriculares. [...] Como avano, o que considero mais importante, percepo das possibilidades de pesquisa e ensino numa perspectiva interdisciplinar. (Pedro Jacobi).

    7 Site do SIBEA: https://sites.google.com/site/aabrasilma/Home/planos-de-acao/cidadania/educacao-

    ambiental/sistemabrasileirodeinformacaoemeducacaoambiental-sibea

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    Desde 1994 funciona o mestrado do Programa de Ps-graduao em Educao Ambiental, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e em 2005 foi criado o doutorado.

    Como expresso desta atividade incessante no campo da EA ocorre a realizao constante de seminrios, congresso, fruns, conferncias temticas nos mbitos municipal, estadual e nacional. Sites, blogs, perfis dedicados aos temas ambientais nas mdias sociais, campanhas digitais, grupos eletrnicos, revistas eletrnicas so formas atuais da comunicao de educadores ambientais que aproveitam das facilidades da web para disseminar, interagir e educar para a sustentabilidade.

    Um aspecto muito importante desse perodo foi a capilaridade da EA. Houve expanso sim, muita gente hoje, independente de formao especfica na rea, procura se informar e buscar subsdios para trabalhar a educao, pois toda educao tem que ser ambiental (Doroty Martos).

    Nos 20 anos estudados ocorreu tambm uma expressiva expanso da EA no ensino fundamental brasileiro. Recentemente (2012) houve a aprovao da proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Ambiental8, pelo Conselho Nacional de Educao. Pedro Jacobi reconhece ainda como avano do campo da EA

    [...] a multiplicao de professores que percebem a importncia de articular suas atividades docentes com o tema da EA, educao ou aprendizagem social para a sustentabilidade. O mais importante que a temtica no se restrinja a alguns especialistas, mas que se amplie de forma horizontalizada (Pedro Jacobi).

    Em relao s polticas de meio ambiente comea a ocorrer a realizao de projetos e programas voltados aos municpios e suas articulaes regionais, como os consrcios e comits de bacia hidrogrfica.

    Avanos tambm podem ser identificados na rea da responsabilidade socioambiental das empresas (no se trata especificamente de EA, mas tem ligaes diretas com essa temtica), como a adoo dos relatrios anuais sobre sustentabilidade, os estudos de impacto ambiental e a prpria evoluo tecnolgica.

    8 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Ambiental:

    http://www.icmbio.gov.br/intranet/download/arquivos/cdoc/biblioteca/resenha/2012/junho/Res2012-06-18DOUICMBio.pdf

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    Nas empresas e suas aes com visibilidade pblica, se distinguem aquelas que podem ser denominadas de greenwashing e aquelas que apresentam aes mensurveis e que indicam compromisso institucional (Pedro Jacobi).

    Ainda como poltica pblica, atravs de uma Instruo Normativa do Ibama, foi estabelecido que a EA componente do processo de licenciamento ambiental, com atividades educativas para que os diferentes grupos sociais afetados por empreendimentos participem e percebam as consequncias de riscos e danos socioambientais decorrente de empreendimentos. Nilo Diniz reconhece como avano

    a EA nestes processos de gesto ambiental em especial no licenciamento ambiental (Nilo Diniz).

    Dificuldades e desafios da EA Sorrentino et al. (2005) citam alguns programas desenvolvidos em

    conjunto pelas agncias e comisses dos Ministrios do Meio Ambiente e da Educao como o caso dos Municpios educadores sustentveis e a formao de educadores ambientais. No entanto, apesar do visvel avano nas polticas pblicas, pelo menos no que concerne legislao e aos documentos de referncia produzidos, cabem as perguntas: essas leis, documentos e fruns criados so efetivos e atuantes?; Quais as concepes de EA esto por trs de cada um?; O que muda no Brasil?; Os brasileiros se apropriaram disso?; Qual exatamente o avano qualitativo entre as duas conferncias?

    A EA nasceu como crtica a ausncia da abordagem dos problemas ambientais pela sociedade, e esta dificuldade apontada por Pedro Jacobi:

    Ainda se observa pouca percepo na sociedade sobre as mudanas que se colocam como essenciais para aproximar-se de uma sociedade que d importncia sustentabilidade. As iniciativas que se multiplicam, sejam nas escolas, nas universidades, nas empresas, nas ONGs, representam pontos de convergncia para a aproximao e dilogo de mltiplos atores face um mesmo objetivo: promover mudanas nos hbitos, nas prticas sociais atravs de estratgias sensibilizadoras e mobilizadoras. [...] O discurso da economia verde e da importncia de perceber os riscos potenciais que coloca a mudana climtica compem atualmente uma agenda para modificar a viso de mundo das pessoas e integr-las em novas polticas e aes sustentveis (Pedro Jacobi).

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    Nilo Diniz considera que a crise parceira da EA, pois mobiliza estratgias (Nilo Diniz).

    Para Aron Belinky,

    a EA est desafiada a fazer frente a 2 ceticismos: um em relao ao Estado, s polticas pblicas capacidade de interveno; e outro quanto ao que um projeto, uma proposta ambientalista de convivncia dentro dos limites do mundo. Isso porque, de certa maneira, as pessoas jovens urbanas percebem com muita clareza que a vida moderna tem vantagens (autonomia, liberdade, tecnologia). Elas tm condies de se expressar de se mover e tomar decises infinitamente maiores, e elas so conscientes disso. Mas esses mesmos jovens, por valorizar esta autonomia, so refratrios s cosias que vo em direo oposta, de conteno, cuidado no avance, reduza... Esse discurso vai contra a liberdade e autonomia (Aron Belinky).

    Ainda segundo o raciocnio de Aron Belinky, h a necessidade de uma transio para outra forma de abordagem.

    A EA tem que ser capaz de chegar e se colocar, no como uma coisa de limitao, uma imposio moral, mas como um caminho para o bem estar. No discurso, a questo no salvar o planeta, mas sim viver melhor... O vamos salvar o planeta1 est ultrapassado. Em 1992 soava muito bem, mas hoje uma besteira enorme. Primeiro porque no temos esta capacidade, nem de destruir, nem de salvar. [...] O que so 2000, 5 ou 10 anos de humanidade? [...] A questo salvar a ns mesmos, viver melhor... tem a ver com o sentido de voc estar menos sujeito crises, inundaes, epidemias, trnsito na cidade, violncia, seca, falta da gua... Tem um monte de coisas que as pessoas no gostam ou tem medo... Estamos vendo coisas diferentes, como internet, mdias de massa de mobilizao e ainda no as sabemos usar. Estamos comeando a aprender a us-las. nisso que vejo um caminho de esperana, de onde podem surgir coisas novas. Os cidados esto se percebendo, comeando a interagir com pessoas do mundo inteiro. Antes de ser um brasileiro, italiano ou americano, eu sou um jovem que me interesso por direitos humanos, ou EA, sustentabilidade, natureza. (Aron Belinky).

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    A coordenao da Poltica Nacional de Educao Ambiental est a cargo do rgo Gestor (OG), dirigido pelos Ministrios do Meio Ambiente e da Educao, tendo como referencial o documento ProNEA. Neste contexto

    um grande desafio para o campo da EA manter dia a dia o dilogo entre as Secretarias de Educao e de Meio Ambiente. (Nilo Diniz).

    Apesar dos avanos quanto ao financiamento e realizao de projetos em EA, Monica Pilz Borba, chama a ateno quanto ao tempo de durao desses projetos:

    Para promover mudana de comportamento em uma comunidade o projeto tem que acontecer a mdio prazo (2 a 4 anos) aliado a polticas pblicas locais, promovendo diferentes prticas de sustentabilidade com linguagem adequada a pblicos diversificados (Monica Pilz Borba).

    Otimista ou pessimista com os avanos/retrocessos da questo ambiental e da EA?

    A EA nos impe muitos desafios: o da complexidade e o das relaes entre os fatores econmicos, ecolgicos, socioculturais, geogrficos e polticos. E o tempo todo, o campo de atuao dos educadores expe estas contradies das sociedades, mas com um grande potencial para promover as mudanas socioambientais, com significativo horizonte de possibilidades, como demonstra este testemunho.

    Acredito que as EAs (critica, socioambiental, conservadora), so complementares e cada vez mais integradas, articuladas nos dilogos. Momento bom, interessante... Estou otimista com a EA pois h mais segmentos comprometidos, movimentos sociais do campo, meios de comunicao, escolas, parceiros no formais por exemplo (Nilo Diniz),

    Monica Pilz Borba otimista com os avanos da EA e sua trajetria profissional associada a este sentimento como neste comentrio

    Estou otimista, seno no poderia continuar a atuar nesta rea, apesar de verificar que nossos resultados so muito pouco frente ao desafio que temos. De qualquer forma percebo que a maioria dos problemas que a sociedade de consumo enfrenta tem como raiz a falta de conscincia socioambiental, a ausncia de um pensamento sistmico de como tudo acontece aqui neste planeta (Monica Pilz Borba).

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    Pedro Jacobi considera que

    Os avanos nas prticas educativas so importantes, mas nem sempre na velocidade desejada seja no universo escolar, nas universidades e nas empresas. [...] Nas escolas depende principalmente de liderana na direo e de professores engajados, e se pode observar que na sua maioria dependem de aes pautadas pelo voluntarismo. Nas universidades no muito diferente, e tambm depende de lderes e projetos multiplicadores (Pedro Jacobi).

    Apesar de encontrarmos tantas iniciativas importantes, muitas delas estruturantes do ponto de vista da implementao da EA como poltica pblica, quando analisamos os depoimentos, deparamos com avaliaes crticas e, por vezes, alguma frustrao.

    Pedro Jacobi, por exemplo, fala sobre a lentido como um entrave:

    Na gesto pblica os resultados so diversos. Muitas prefeituras tem promovido aes inovadoras que estimulam co-responsabilizao, outras focadas em aes concretas que promovem transformaes no modus operandi. Mas no geral se observa que as mudanas so lentas, errticas e quase sempre vinculadas a agendas polticas, e que na sua maioria depende de gestores inovadores que visam associar sua ao a uma poltica de cidades sustentveis (Pedro Jacobi).

    J com relao ao mbito federal,

    A Poltica de Educao Ambiental e a Gesto de Resduos Slidos um tema estratgico do Departamento de Educao Ambiental, num dilogo entre a EA e a Comunicao Social, as diretrizes da Poltica Nacional de Resduos Slidos, novas mdias, e participao social tem-se tratado de forma articulada e participativa esse tema (Nilo Diniz).

    Quanto educao formal, observa-se que uma das fragilidades que emergem nas reflexes sobre a implantao da EA a falta de formao adequada dos professores para que ela deixe de ser uma iniciativa paralela ao currculo e que a escola consiga formar geraes preparadas para viver a sustentabilidade. Para Fbio Feldmann,

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    no caso da EA, a minha crtica continua a mesma de vinte anos atrs: teramos que de fato trabalhar na formao dos professores, com a educao formal, para voc criar de um currculo inovador que permitisse trabalhar com a EA como deveria ser. Nesse sentido existe ainda um desafio que preparar esses professores para que eles, enfim, possam trabalhar a EA no sentido de formar geraes (Fbio Feldmann).

    Vemos ainda na constituio deste campo concepes que hipervalorizam a capacidade da EA em promover mudanas complexas na humanidade.

    Deveramos implantar um sistema educacional com base na alfabetizao ecolgica, pois nosso impacto to pesado na atualidade, que somente uma mudana profunda no sistema educacional poderia ajudar a solucionar a continuidade pacfica dos seres humanos na Terra (Monica Pilz Borba).

    Pode-se dizer que a institucionalizao da EA est presente em diversos processos e muita coisa aconteceu e a conscincia sobre temas ambientais da sociedade em geral diferente de 20 anos atrs. De acordo com Crespo (2012), o indicador mais evidente est no nmero de pessoas que espontaneamente no sabiam mencionar um problema ambiental no Brasil, na sua cidade ou no seu bairro. Este nmero variou de 46% em 1992 para 10% em 2012. Conceitos sofisticados como desenvolvimento sustentvel, consumo sustentvel ou biodiversidade j fazem parte do repertrio de muitos brasileiros, e que este percentual tende a evoluir pelas mdias que vem dando mais espao ao tema e traduzindo para o dia a dia a aplicao de tais conceitos. A autora a ponta que a noo de meio ambiente a que mais sobressai quando os brasileiros pensam na Rio+20, e que esse meio ambiente cada vez menos naturalista emitem mais preocupao com o lixo, o saneamento e outros problemas urbanos.

    No entanto, aes e opinies no parecem ser suficientes para criar o entendimento cientfico que poderia embasar uma compreenso do mundo e da vida adequados para a superao da crise ecolgica. Em alguns casos a mobilizao ainda gerida pelo temor das catstrofes ou por uma adeso moral:

    Ns conseguimos, nesses vinte anos, fazer com que as pessoas dialoguem sobre algumas questes, principalmente mudanas climticas que, por mais que as pessoas no entendam o conceito, ou exatamente o que so gases de efeito estufa, elas hoje refletem. Por exemplo, quando h desmoronamento nas reas de risco, as pessoas refletem: falta a mata, vegetao das encostas, e essas so reas que esto expostas, e isso elas j vinculam questo das mudanas climticas (Doroty Martos).

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    Em outro momento de seu depoimento, Aron Belinky problematiza este assunto, que, segundo ele,

    [...] aparece nas pesquisas: as pessoas tem medo, da poluio, de cair a encosta, enchente... Esse medo pode ser um vis importante, no para ser pontecializado e aterrorizar as pessoas, no este o ponto, mas no sentido de voc dizer olha vamos viver bem, felizes, sem estas coisas todas (Aron Belinky).

    Outro aspecto abordado pelos entrevistados referente a no mudana de comportamento das pessoas para diminuir a pegada ecolgica individual e coletiva. Em relao aprendizagem, a mudana de comportamento um indicador efetivo: podemos dizer que no havendo mudana, no houve aprendizagem.

    os processos de Educao Ambiental deixam muito a desejar, pois a mudana de postura avanou muito pouco no perodo analisado. Aumentou a conscincia do brasileiro, mas no h o reflexo dessa conscincia na prtica, ainda no... Ainda h o desejo de consumo de carros, por exemplo, e no vejo as pessoas fazerem opes que poderiam reduzir o impacto negativo de sua forma de vida sobre patrimnio natural (Thais Corral).

    Valendo-se principalmente dos depoimentos recolhidos, podemos concluir que, sem dvida, os 13,5 milhes de pessoas e 21 mil escolas que participaram das Conferncias Nacionais Infanto-juvenis pelo Meio Ambiente nos anos 2003, 2006 e 2009, os 163 painis selecionados que foram apresentados na categoria Educao Ambiental Escolarizada do VII Frum Brasileiro de Educao Ambiental (FBEA), e a implantao das 5.679 Comisses de Meio Ambiente e Qualidade de Vida / ComVida, um espao educador sustentvel que potencializa as aes de EA no ensino fundamental e no ensino mdio, nos mostram uma dinmica relacionada aos temas da sustentabilidade acontecendo nas escolas brasileiras.

    Concluses Procuramos, at aqui, trazer ao debate a reflexo sobre como se

    constituiu o campo da EA no perodo e sobre a influncia das Conferncias, a partir dos autores referenciados, das anlises de jornalistas, dos especialistas pesquisados e das lideranas. Entendemos que os elementos apresentados sinalizam avanos, o campo vem se aprofundando qualitativamente, de modo diverso e rico.

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    Por se tratar de um processo de educao permanente, a EA est em curso, enfrenta desafios, e deve abordar questes emergentes com relao a segurana climtica, acidentes ambientais, entre outros. Porem preciso considerar a urgncia de internalizar a conscincia desenvolvida e transform-la em mudana de fato. No entanto estamos cientes de que 20 anos ainda pouco tempo para que as mudanas culturais e transformadoras da sociedade estejam plenamente implantadas.

    Em relao aos objetivos formulados no incio desse estudo, verificamos que a partir de 1992 houve a emergncia e a consolidao de vrias prticas sociais e de polticas pblicas que favoreceram o desenvolvimento da EA no Brasil. No entanto, a anlise permitiu enxergar que ainda permanecem algumas inquietaes, pois os avanos que aconteceram no decorrem exclusivamente da EA, que muitas vezes hipervalorizada em sua capacidade de promover mudanas complexas.

    Outro aspecto relevante que, embora seja generalizada a concordncia quanto existncia de uma crise ambiental e social contempornea, notrio que os entendimentos sobre as causas e solues para esta so muitas vezes divergentes. Nos 20 anos que se passaram entre as duas Conferncias da ONU, muito foi feito pela EA, por parte de alguns governantes e pela prpria capacidade natural de adaptao e mudana dos sistemas culturais e econmicos da sociedade, buscando sua sustentao e reproduo.

    Cremos, por fim, que a Educao Ambiental vem influenciando o pensamento e a vida dos brasileiros, e deve seguir adiante a tarefa mais difcil dos educadores ambientais: sua prpria superao enquanto agente transformador da sociedade.

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