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Nº 405 Junho / 2014 FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS As ideias e opiniões expostas nos artigos são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo a opinião da Fipe Roberto Luis Troster analisa a atuação do Banco Central do Brasil e de- fende que os candidatos à presidência apresentem metas para o desem- penho da instituição, que não se restrinjam apenas às metas de inlação. Aglomerações Industriais Relevantes do Brasil – Parte II E M G S As Atuais Mobilizações e Seu Condicionante Político I N C O Idoso Brasileiro no Mercado de Trabalho e na Previdência Social: Uma Análise de 1992 a 2012 C F S, E D B Instituições Fiscais Independentes: o Próximo Passo para a Melhora na Qualidade da Política Fiscal? F R análise de conjuntura Política Monetária R L T Nível de Atividade V M S Na segunda parte do trabalho sobre aglomerações industriais no Brasil, Ednaldo Moreno Góis Sobrinho analisa a evolução da coniguração espacial da indústria brasileira. Carolina Fernandes dos Santos e Edvaldo Duarte Barbosa revelam o peril do idoso brasileiro com ênfase no mercado de trabalho e na estrutura de contribuição à Previdência Social. p. 20 p. 22 p. 3 p. 6 Iraci del Nero da Costa apresenta um marco interpretativo da gênese das atuais mobilizações, que se enquadram na forma de condução da vida política do País pelo Partido dos Trabalhadores. p. 12 p. 38 Vera Martins da Silva analisa o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre de 2014 e avalia que o atual modelo de crescimento dá sinais de esgotamento. Fabiana Rocha discute a importância das instituições para a melhoria da qualidade da política iscal brasileira e sugere a criação de um conselho iscal independente.

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Artigos de economia da revista FIPE edição 2014

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Page 1: Artigos - FIPE

Nº 405 Junho / 2014FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS

As ideias e opiniões expostas nos artigos são de responsabilidadeexclusiva dos autores, não refl etindo a opinião da Fipe

RobertoLuisTrosteranalisaaatuaçãodoBancoCentraldoBrasilede-

fendequeoscandidatosàpresidênciaapresentemmetasparaodesem-

penhodainstituição,quenãoserestrinjamapenasàsmetasdein�lação.

Aglomerações Industriais Relevantes do Brasil – Parte II

E������ M����� G��� S�������

As Atuais Mobilizações e Seu Condicionante Político

I���� ��� N��� �� C����

O Idoso Brasileiro no Mercado de Trabalho e na Previdência Social: Uma Análise de 1992 a 2012

C������� F�������� ��� S�����, E������ D����� B������

Instituições Fiscais Independentes: o Próximo Passo para a Melhora na Qualidade da Política Fiscal?

F������ R����

análise de conjuntura

Política Monetária

R������ L��� T������

Nível de Atividade

V��� M������ �� S����

NasegundapartedotrabalhosobreaglomeraçõesindustriaisnoBrasil,

EdnaldoMorenoGóisSobrinhoanalisaaevoluçãodacon�iguraçãoespacial

daindústriabrasileira.

CarolinaFernandesdosSantoseEdvaldoDuarteBarbosarevelamoper�il

doidosobrasileirocomênfasenomercadodetrabalhoenaestruturade

contribuiçãoàPrevidênciaSocial.

p.20

p.22

p.3

p.6

IracidelNerodaCostaapresentaummarcointerpretativodagênesedas

atuaismobilizações,queseenquadramnaformadeconduçãodavida

políticadoPaíspeloPartidodosTrabalhadores.

p.12

p.38

VeraMartinsdaSilvaanalisaodesempenhodaeconomiabrasileirano

primeirotrimestrede2014eavaliaqueoatualmodelodecrescimento

dásinaisdeesgotamento.

FabianaRochadiscuteaimportânciadasinstituiçõesparaamelhoriada

qualidadedapolítica�iscalbrasileiraesugereacriaçãodeumconselho

�iscalindependente.

Page 2: Artigos - FIPE

junho de 2014

Conselho Curador

JuarezA.BaldiniRizzieri(Presidente)AndréFrancoMontoroFilhoCarlosAntonioRocca

DenisardC.deOliveiraAlvesFernandoB.HomemdeMeloFranciscoVidalLunaHeronCarlosEsvaeldoCarmoJoaquimJoséMartinsGuilhotoJoséPauloZeetanoChahad

INFORMAÇÕES FIPE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA DA FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS – ISSN1678�6335

Conselho Editorial

HeronCarlosE.doCarmoLeninaPomeranzLuizMartinsLopesJoséPauloZ.ChahadMariaCristinaCacciamaliMariaHelenaPallaresZockunSimãoDaviSilber

Editora-Chefe

FabianaF.Rocha

Preparação de Originais e Revisão

AlinaGasparellodeAraujo

Produção Editorial

SandraVilasBoas

žhttp://www.�ipe.org.br

SimãoDaviSilberVeraLuciaFava

Diretoria

Diretor Presidente

CarlosAntonioLuque

Diretor de Pesquisa

MariaHelenaPallaresZockun

Diretor de Cursos

JoséCarlosdeSouzaSantos

Pós-Graduação

PedroGarciaDuarte

Secretaria Executiva

DomingosPimentelBortoletto

Indicadores Catho-Fipe

Os indicadores Catho-Fipe, desenvolvidos pela Fipe em parceria com a Catho, oferecem uma visão mais apro-

fundada e imediata do mercado de trabalho e da economia brasileira. As informações disponíveis em tempo

real no banco de dados da Catho e em outras fontes públicas da Internet permitem agilidade na extração e

cálculo dos números. Desta forma, é possível acompanhar a situação imediata do mercado de trabalho, sem

a necessidade de se esperar um ou dois meses para a divulgação dos dados ofi ciais. Todos os indicadores são

divulgados no último dia útil de cada mês, com informações sobre o próprio mês.

O primeiro indicador é uma estimativa para a taxa de desemprego calculada pelo IBGE, a Taxa de Desempre-

go Antecipada. A Fipe calcula também um índice que acompanha a relação entre novas vagas e novos currí-

culos cadastrados na Internet, o Índice Catho-Fipe de Vagas por Candidato (IVC). Este indicador é mais amplo

do que a taxa de desemprego, porque traz informações sobre os dois lados do mercado: a oferta e a deman-

da por trabalho. Além desses dois indicadores, o Índice de Salários Ofertados permite o acompanhamento

dos salários oferecidos pelas empresas que estão em busca de novos profi ssionais.

Maiores Informações:

É:(11)3767-1764

œ:catho�ipe@�ipe.org.br

Page 3: Artigos - FIPE

3análise de conjuntura

junho de 2014

Política Monetária

R������ L��� T������ (*)

Àmedidaqueoperíodoeleitoralse

inicia,umdostemasdacampanha

éopapeldoBancoCentral.Alguns

debatespúblicosjácomeçaram.A

preocupaçãosubjacenteécomo

cumprimentodasmetasdein�la-

çãoeadinâmicadadeterminação

dosjuros.

Analisa-sequaldesenhoinstitu-

cionalseriamaisproveitoso.É

umtemaabrangentequeincluias

questõesdagovernança,dasres-

triçõesoperacionais,daautonomia

orçamentária,datransparênciae

dasrelaçõescomoutrasinstitui-

çõespúblicaseprivadas.

Éfatoincontestequeaestabilidade

damoedaéumproblemasérioque

necessitaserresolvido.Ain�lação

estánumpatamarde6%aoano

epodesuperarotetodabanda(é

bemprovável),comoagravantede

quehámais1,5%dein�laçãorepri-

midaeadinâmica�iscaléfraca.

Opapeldeumbancocentralcomo

guardiãodamoedaéprimordiale

deveserreforçado.Amaiorquali-

dadequepodeambicionaréainvi-

sibilidade−ocumprimentodesua

missãosemproblemas,passando

quasedespercebido.

Nocontroledain�lação,aatuação

doBancoCentraldoBrasilévisí-

velemexcesso,asreuniõespara

decidirovalordataxaSeliceseus

efeitossãomancheteseasdemais

atividadesdaautoridademonetá-

ria�icamofuscadaspeloseufraco

desempenhonoregimedemetas.

Alémdaestabilidadedepreços,

aautoridademonetáriatambém

deve fomentarasestabilidades

bancáriae�inanceira,ae�iciência

daintermediaçãodepagamentos

edecréditoeaequidade(inclu-

são).Entretanto,essaautoridade

nãoéumpropulsordaeconomia,

apenascriaascondiçõesequanto

maisdespercebidaforsuaatuação,

melhor.

Atualmente,oBancoCentraldo

Brasiltemfunçõesemqueéquase

invisívelemereceelogios.Uma

dessasfunçõesépromoverae�i-

ciênciadosistemadepagamen-

tos,queéoperadopelosbancos

efuncionabem;sãodezenasde

milhõesdetransaçõespordiaque

transcorremnumambienteseguro

eestável.

Asolidezdosistemabancáriobra-

sileiroéoutroativoimportante

paraoPaís;apoupançadopúblico

estágarantidacomaltosíndicesde

solvênciadasinstituiçõesquetêm

Page 4: Artigos - FIPE

4 análise de conjuntura

junho de 2014

capacidadedeabsorverchoques

adversos.Éfrutodoesforçode

muitosanos,passadespercebidoe

émeritório.

Naavaliaçãodainclusão,oresul-

tadoéambivalente.Porumlado,o

desempenhoépositivonoquesito

acesso.Atualmente,existem284

milhõesderelacionamentosban-

cáriosativos,maisdenoveemcada

dezbrasileirostêmpelomenosum.

Poroutrolado,énegativonautili-

zação;apenasumemcadaquinze

clientesusaocréditobancárioe

aconcessãoestáconcentradaem

grandestomadores.

Ae�iciêncianaintermediaçãode

créditonoBrasiléruim:osprazos

deconcessãosãocurtos−maisda

metadetemduraçãoinferioraum

mês,acunhabancáriabrasileira

éumadasmaisaltas(piores)do

mundoearelaçãocréditoPIBestá

nametadedeseupotencialees-

tagnada.

Éumaquestãofundamental,que

precisasertratadacomurgência,

paraqueoBrasilsaiadaincômoda

situaçãodetersimultaneamente

umdossistemasmaisso�isticados

domundoeserumdospioresna

qualidadedocrédito.Aeconomia

estáanêmicaeosbancostêmcon-

diçõesdefazeradiferença.

Opotencialparareverteressasitu-

açãoexiste.Hácapacidadeociosa

paraemprestarnosbancoseas

correlaçõesentrecrescimentodo

créditoedoPIBsãorespectiva-

mentede0,16paraasinstituições

públicas,0,61paraasprivadasna-

cionaise0,41paraasestrangeiras.

Mesmoconsiderandoabaixaefeti-

vidadedosbancoso�iciais,elessão

osprivilegiadosnapolíticaban-

cária.Nomêsdemarço,maisde

R$200bilhõesforamnegociados

entreoTesouroeoBNDESàtaxa

de5%aoanoeaomesmotempo

nãosetomamaçõesparaaprimo-

raraofertadosbancosprivados.

Insiste-senaestratégiadebaixar

taxaspordecreto.Consideran-

doqueamargemlíquida(lucro

líquido/receitatotal)dosistema

�inanceiroéde8,7%,apressãopor

reduçãodocustotemcomoconse-

quênciadiretamaioresexigências

paraconceder�inanciamentose

umenxugamentodaofertadessas

instituições.

Issoexplicapartedosmotivos

pelosquaisaofertadecréditoé

umadasmaiscarasdomundo.Há

outrosagravantescomoafaltade

transparência,abusosemalguns

nichos,indexaçãoeabaixae�ici-

ênciadojudiciário.Nosúltimos

doisanos,houvequedanarelação

crédito/PIBdosbancosprivados.

Asdistorçõesnosistemabancário,

secorrigidas,podemreverterrapi-

damenteoquadroecolocarosetor

nasmelhoresposiçõesdomundo

emqualidadedocrédito,comga-

nhosparatomadores,operadores

eparaoPaís.

Agravandooquadro,oPaísvive

umproblemadesuperendivida-

mentocomconsequênciasdanosas.

Deacordocomlevantamentoda

ConfederaçãoNacionaldoComér-

cio,umaemcadacincofamílias

temcontasatrasadaseumaem

cadaquatorzenãotemcomopagar

suasdívidas.

Asanotaçõesporatrasosdepaga-

mentosdepessoajurídicaemclas-

si�icadorasderiscoestãoaumen-

tando.Issofazcomqueocréditose

canalizeparagrandesoperações

de�inanciamento,piorandoasi-

tuaçãodepequenostomadores.O

créditocaro,curtoeescassoestá

as�ixiandoocrescimentodoPaís.

Acunhabancáriabrasileiraéa

segundamaisaltadomundo,con-

forme levantamentodo Fórum

EconômicoMundial.

As taxascobradasporemprés-

timosdespencariamcomazera-

gemdasalíquotasdetributação

de�inanciamentosedosrecolhi-

mentoscompulsórios−recursos

congeladosnoBancoCentralcom

umvolumesuperioraototalde

créditopessoalnaeconomia(R$

389,7bilhõeseR$326,8bilhões,

respectivamente).Dependeapenas

devontadepolíticadoExecutivo.

Sehouverapretensãoderedução

da inadimplência, umamedida

urgenteéa implantaçãodeum

programadeconsolidaçãoerees-

truturaçãodedébitos.Atualmente,

33,9%dasoperaçõesrenegociadas

Page 5: Artigos - FIPE

5análise de conjuntura

junho de 2014

apresentamatrasossuperioresa

quinzedias. Issomostracomoa

portadesaídadamoratóriaées-

treita.

Acombinaçãodeumsistemade

informaçõesconsolidado(umca-

dastropositivointerativo)coma

padronizaçãodecondiçõeseuma

coordenaçãodasaçõeséviável,

desdequeestaengenharia�inan-

ceiranãoimpliqueperdasparaas

instituiçõeseaomesmotemponão

induzaacomportamentosirres-

ponsáveis.

Emboraosistema�inanceiroseja

solvente,eleéinstável,tantona

ofertadecréditoquantonospre-

çosdosativos�inanceiros;avolati-

lidadeéelevadaquandocompara-

dacomoutrosmercados.

Acausabásicadodesempenho

fracodosistemabancárioéaob-

solescênciadoquadroinstitucio-

nal;seumarcotemmeioséculode

idade,édadécadade1960.Teve

umpapelimportantenopassado,

mas jáestáesgotadoemvários

aspectosedeveriaseratualizado.

Nopróximogoverno,osetorpode

serumpropulsorouuma trava

paraoPaís,dependedapolíticaa

seradotada.Umacoisaécerta:só

aautonomiadaautoridademone-

táriaeumametadein�laçãocrí-

vel,pormaisbemconcebidasque

sejam,épouco,muitopouco,parao

potencialqueosbancosoferecem.

Énecessáriaumanovaarquitetu-

rainstitucionalemsubstituição

àatual−umacolchaderetalhos

resultantedeumperíodoemque

oPaísestavavoltadoapenaspara

administrarturbulências.Mantém-

-seoquefuncionabemeredese-

nha-seoqueépossívelaprimorar.

Anodeeleiçõesétempodedebater

ofuturo,quandocadacandidato

àpresidênciaapresentaseupro-

jetodegoverno.Paraocapítulo

intermediação�inanceira,alémde

metasdein�lação,oscandidatos

poderiamproporoutrasquatro

metas,quanti�icandoseusobjeti-

vosparaaatuaçãodoBancoCen-

traldoBrasil.Seriammetasde:a)

e�iciênciadaintermediação–de

reduçãodasmargens(spreads)de

crédito;b)estabilidadedaoferta

de�inanciamentos–alongamento

deprazosemais imunidadeaos

choquesdeliquidez;c)menorvola-

tilidadedepreçosdeativos;ed)de

inclusão–usodocréditobancário

porparcelasmaioresdapopulação

edoempresariado.

Asmetasseriamcomplementadas

comumdiagnósticoeumprojeto

depolíticaparaosetor,detalhando

asaçõesaseremadotadaspara

atingirosobjetivosenunciados.

Oconjuntodemetasepropostas

possibilitariaanálisescriteriosas

sobreaconveniênciaeconsistência

decadaplano.

Osprojetostornarãoopleitomais

técnicoepossibilitarãoescolhas

maisobjetivasparaoseleitores.

Umbancocentralmaisinvisívelé

umdesejocomumatodososcida-

dãoscomprometidoscomofuturo

doBrasil.

Mais importantequeumamon-

toadodemedidaséodesenhode

umapolíticabancáriatratandode

tributação,atuaçãoerepresentati-

vidadedoBancoCentral,metasde

margemedeinclusãoederespon-

sabilidadesdesuaexecução,faxina

regulatória,tratamentoabancos

pequenose instituiçõeso�iciais,

puniçãodeabusos,transparência,

redesconto,créditos�iscais,e�ici-

ênciadojudiciário,indexação,bal-

canizaçãodomercado�inanceiro,

cadastropositivointerativo,dire-

cionamentos,varasespecializadas,

subsídioscruzados,certi�icação

paraaconcessãodecrédito,etc.A

listaéextensa.

Aintermediaçãobancáriaéuma

atividadecomplexa.Atítuloilus-

trativo,aleiquereformaosistema

�inanceironorte-americanotem

maisdemilpáginas.Opontoéque

épossívelmelhorarapolíticamo-

netárianoBrasilsemprejudicara

rentabilidadedosbancose,dessa

forma,gerarganhospolpudosao

País.

(*)Fipe.(E-mail:[email protected]).

Page 6: Artigos - FIPE

6 análise de conjuntura

junho de 2014

Nível De Atividade: Economia Brasileira, Devagar e Sempre... Se Ajustando

V��� M������ �� S���� (*)

Aeconomiabrasileiracontinua

apresentandocrescimentomodes-

toedásinaisdeesgotamentodo

modelodecrescimentoancorado

noconsumodasfamílias.1Doismo-

tivosexplicamessefenômeno:1)a

in�lação,que,aoseaproximardo

tetodametaestipuladaparaoano,

passaacorroersigni�icativamente

arendadasfamílias,que,emsua

maioria,játêmpartedeseuorça-

mentocomprometidocomdívidas

passadas,e2)deterioraçãotanto

nosmercadosdebensdeconsumo

durável(anteriormentebene�i-

ciadosporreduçõesdeimpostos

equeestãoprestesaenfrentaro

retornoaalíquotasmajoradasdo

ImpostosobreProdutosIndustria-

lizados-IPI)quantonomercado

imobiliário(cujospreçoscomeçam

acair,apósafasedealtaexpressi-

va,algoquepodesercaracterizado

comoumdesmanchedeumabolha

imobiliária).Asfrequentes“liqui-

dações”nomercadoimobiliáriosu-

geremque,defato,estáocorrendo

aíumajustedepreçosemfaceda

quedadasvendasnosetor.Então,

considerando-sequeossetoresau-

tomotivoeimobiliáriotêmgrande

pesonaeconomiabrasileira,nãoé

desurpreenderqueoiníciodoano

de2014tenhasidodominadopelo

esfriamentodaeconomia.

Alémdisso,aseca,queafetouaca-

pacidadedoabastecimentodeágua

eenergia,adescon�iançaemrela-

çãoàpolítica�iscaleosperíodos

diferenciadosdeCopaeeleições

nesteano, tudoissocontribuiu

paraumaperspectivapessimis-

tasobreopresenteeofuturoda

economia.Nadúvida,osagentes

econômicosnãoousamentrarem

grandesnovosprojetos,manten-

do, tantoquantopossível,suas

posiçõesrelativas.Doladodocon-

sumidor,ascomprassãomaisfor-

tementecontroladas,quandonão

encolhem;doladodasempresas,os

investimentosapenasseguemseu

padrãohistórico,apesardossub-

sídiosoferecidospelogovernopor

meiodeseusinstrumentos�inan-

ceiros.Comessequadro,depreços

pressionados,expectativaspessi-

mistasebaixodesemprego,aeco-

nomiabrasileiraestáseajustando,

demodoqueumjáesperadobaixo

crescimentoocorreunapassagem

doúltimotrimestrede2013parao

primeirode2014:osúltimosdados

disponíveisdãocontadeumcres-

cimentodeapenas0,2%doProdu-

toInternoBruto(PIB)trimestral,

entreoquartotrimestrede2013

eoprimeirode2014.Masnãose

podedizerqueaatividadeeconô-

micadespencou;aocontrário,está

semantendo:quandoseobservam

ascomparaçõesdoPIBdoprimeiro

trimestrecontraomesmoperíodo

de2013,houvecrescimentode

1,9%,e,noacumuladoemquatro

trimestres,ocrescimentofoide

2,5%,omesmoresultadojárevisa-

dodoanode2013.

OGrá�ico1mostraocrescimento

doPIBtrimestralbrasileiroede

seussetorescomponentes.Oque

sevêéumatendênciadeclinante

apartirde2010.Aindústriatem

apresentadodesempenhosofrível,

eaagricultura,setorimportante

noprimeiro trimestreem fun-

çãodascolheitasdeverão,tem

apresentadooscilaçãoexpressiva.

Note-sequeodesempenhopositivo

daagriculturanoprimeirotrimes-

trede2014ocorresobreumabase

elevada,poisoresultadodopri-

meirotrimestrede2013haviasido

excepcional.OGrá�ico2ilustrao

desempenhodosdiversossetores

emtermosabsolutos,destacando-

-seque,apesardeimportanteno

referenteaosresultadosdopri-

meirotrimestre,aagropecuária

tempesomenornoconjuntoda

economiabrasileira.Opredomínio

dosetordeserviços,comnotável

expansãoapartirdoséculo21,é

evidente.Sinaldequeaeconomia

Page 7: Artigos - FIPE

7análise de conjuntura

junho de 2014

brasileiraé,desdeentão,umaeco-

nomiadeserviços.

Quantoàdesindustrialização,o

Grá�ico2mostraqueaindústria

continuacrescendo,masdeforma

muitolenta,perdendosuaimpor-

tânciarelativamenteaosserviços.

OGrá�ico3mostraessa“desindus-

trializaçãorelativa”,comlentode-

clíniodaindústrianaparticipação

dovaloradicionado.Noentanto,

temsetratadodeumfenômeno

relativoenãoabsoluto,doponto

devistadacomposiçãodovalor

adicionadogeradopelaeconomia.

Obviamente,issopodeseacelerar

ounão,dependendodaevolução

futuradevariáveis-chavecomo

câmbio,custosinternoseprodu-

tividadedossetores,bemcomo

mudançasempolíticaseconômi-

cas,taiscomotributação,acordos

comerciaisemelhorianoambiente

denegócios.Dentrodaindústria,

éa indústriadetransformação

−amaisrelevanteemtermosde

montantesproduzidos−,quetem

sidoamaissujeitaasazonalidadee

crises.Aconstruçãociviledemais

segmentosligadosàurbanização,

comoenergia,água,esgotoelim-

pezaurbana,têmexperimentado

umcrescimentosistemático,assim

comoaindústriaextrativamineral

(verGrá�ico4).

Aindústriaextrativamineraltem

seudesempenhomuitoin�luencia-

dopelosetorexternodaeconomia,

destacando-seas exportações,

especialmenteparaaChina,oque

noslevaaexaminarascomponen-

tesdademandadoPIB.

OGrá�ico5mostraqueoconsumo

dasfamíliastemsidoefetivamente

ocomponentemais relevantee

commaiorcrescimento,enquanto

oconsumodogovernotem�icado

relativamenteestávelemrelação

aoPIB;aformaçãobrutadecapital

voltouaseuníveldosanos90,após

umdecréscimonosanosiniciais

doséculo21.Noentanto,asexpor-

taçõeslíquidasdebenseserviços

passaramasernegativasapartir

de2009,anoemqueacrise�inan-

ceira internacional impactoua

economiabrasileiradeformamais

contundente.Então,apolíticaanti-

cíclicaimplementadapelogoverno

federalteveefeitopositivosobreo

consumo,masoinvestimentoape-

nasretomouseupadrãoanterior,

demodoqueosincentivos,espe-

cialmentedecréditosubsidiado

peloBNDES,tiveramimpactonão

sobreomontantetotaldeinves-

timentos,mashouveumatroca

defontesdeseu�inanciamento,

passando-seaousoderecursosde

origempúblicaaoinvésdeusodo

mercadodecapitaisdoméstico.E

mais,passou-seautilizarapou-

pançaexternacomofontede�inan-

ciamentoparao�inanciamentodo

BalançodePagamentoseparafe-

characontadodesequilíbrioentre

poupançadomésticaeinvestimen-

to.Apartirdoquartotrimestrede

2009,oresultadocomorestodo

mundotemsidosistematicamente

negativo,conformepodeservisua-

lizadonoGrá�ico5.

OGrá�ico6mostracomoapou-

pançadomésticatemsido inca-

pazde�inanciaro investimento,

destacando-seoperíodopós-crise

internacionalde2008.Noprimeiro

trimestrede2014,houveredução

nominaldapoupançabruta,que

atingiuR$152,6bilhõescontraR$

153,3bilhõesnomesmoperíodode

2013.Comoresultadodabaixaca-

pacidadedepoupançadomésticae

domovimentodecapitaisinterna-

cionaisàprocuraderentabilidade

superioràquelaoferecidaemseus

paísesdeorigem,nãohouvemaio-

resdi�iculdadespara�inanciaro

dé�icitemTransaçõesCorrentes,

queatingiu4,3%doPIBnessepri-

meirotrimestre.Combinando-se

adeterioraçãodasTransaçõesCo-

renteseareduçãodapoupança

doméstica,anecessidadede�inan-

ciamentodaeconomiaatingiuR$

66,3bilhõesnesseiníciodeano,

superioraosR$56bilhõesdoano

anterior.Ébomlembrarqueesse

ajustepelapoupançaexternaé

possível,poisaseconomiasame-

ricanaseeuropeiasaindaestão

mergulhadasemcrisesdiversase,

aosolhosdosinvestidoresinterna-

cionais,oBrasilaindaofereceuma

perspectivapositiva,oqueéum

contrastefavorávelcomavisão

pessimistaaquidentro.Oproble-

maéumapossívelreversãodesse

movimento,comaanunciadamu-

dançadapolíticamonetáriaame-

ricanaemfunçãodesuaesperada

recuperação.

Seoremédioanteriorerao in-

centivoaoconsumo,pareceestar

Page 8: Artigos - FIPE

8 análise de conjuntura

junho de 2014

nahoradeincentivarapoupançadomésticaeoin-

vestimento,sejaelenaconstruçãocivilcomo,prin-

cipalmente,nainfraestrutura,cujosefeitospositivos

podemseespalharportodaaeconomia.Maséuma

agendaparaonovogoverno,sejaqualfor.Aindaneste

ano,restasaberseosetorautomotivovaiconseguir

prorrogaralgunsbene�ícios,jáque,emvolume,asven-

dascaíram5,3%noacumuladodoanoejáébemco-

nhecidoopoderdepressãodessegrupodeinteresse.2

Gráfi co 1 – Variação em Volume do Trimestre em Relação ao Mesmo Trimestre do Ano Anterior % (1º Tri 2010 - 1º Tri 2014)

Page 9: Artigos - FIPE

9análise de conjuntura

junho de 2014

Gráfi co 2 – Valores Adicionados Setoriais - a Preços de 1995 - R$ Milhões

Gráfi co 3 – Participação Setorial no Valor Adicionado Trimestral % (1996-2014)

Page 10: Artigos - FIPE

10 análise de conjuntura

junho de 2014

Gráfi co 4 – Evolução do Valor Adicionado pelos Segmentos Industriais - R$ Milhão (1996-2014)

Gráfi co 5 – Participação dos Componentes de Gastos no PIB Trimestral %

Page 11: Artigos - FIPE

11análise de conjuntura

junho de 2014

Gráfi co 6 – Poupança e Investimento Sobre Renda Bruta Disponível % (1º Tri 2000-1º Tri 2014)

1Ataxadecrescimentodoconsumodasfamíliasnoprimeirotrimes-tredoanoteveumaquedade0,emrelaçãoaoúltimotrimestrede2013.Entretanto,tomando-seoprimeirotrimestredesteanocontraoprimeirotrimestrede2013,ataxaéaindapositiva,tendocrescido2,2%.Atendênciademenorcrescimentodoconsumodasfamílias�icabemmaisevidentequandosevêamédiadecrescimentodostrimestrescontraomesmoperíododoanoanterior:crescimentomédiode7%em2010,caindopara4,1%em2011,3,2%em2012e2,6%em2013.

2 Ocomérciovarejistaampliado,quealémdosdemaisramosdocomé-rcioincluivendasdeveículos,motos,peçasematerialdeconstrução,apresentouresultadomuitomodesto,dopontodevistadovolume

devendas,que,noacumuladodoanoobservadonomêsdeabril,

cresceuapenas1,6%e2,5%em12meses.Estassãomaisindicações

doprocessodeajustejáemcursonaeconomia.

(*)EconomistaedoutorapeloIPE-USP.

(E-mail:[email protected]).

Page 12: Artigos - FIPE

12 temas de economia aplicada

junho de 2014

Aglomerações Industriais Relevantes do Brasil – Parte II1

E������ M����� G��� S������� (*)

Naprimeiraparte,discutiu-sea

importânciadaseconomiasde

aglomeraçãoparaalocalizaçãodas

indústrias.Agora,nessasegunda

parte,observar-se-áaevolução

dalocalizaçãodasindústriasbra-

sileiraseirásedetalharomodelo

utilizadoparaanalisarosdados

espaciaisdaindústria.Osresulta-

dosdessaanáliseserãodiscutidos

naterceiraeúltimapartedesse

trabalho,napróximaedição.

1 A Confi guração Espacial da In-dústria Brasileira

Éconsensoqueadistribuiçãoterri-

torialdaindústriabrasileiraresul-

toudeumacombinaçãodefatores

econômicosepolíticos-institucio-

nais(AZZONI,1986;CANO,1977;

DINIZ,2000).Emfunçãodosfato-

reseconômicos,a�imdeaproveitar

daseconomiasdeaglomeração,o

padrãogeográ�icodaindústriana-

cionalfoicentrípeto,concêntricoe

hierárquico,emqueacidadedeSão

Paulotornou-seoprincipalcentro

polarizador.Adistribuiçãodas

atividadesindustriaisfoidotipo

centro-radial,emfunçãodopapel

dascidadesnahierarquiaurbana

nacional(LEMOSetal.,2005).Já

osfatorespolítico-institucionais

foramaprincipalforçacentrífuga

nessacon�iguração,comapartici-

paçãoativadoEstadonatentativa

de integrareconomicamente o

territórionacional,apaziguandoa

fortetendênciaconcentradorada

industrializaçãobrasileira,mesmo

resultandono�inaldeumaforte

segmentaçãoefragmentaçãoeco-

nômica(DINIZ,2000;MARTIN;

ROGERS,1995;PACHECO,1999).

Ahistóricadesigualdadedaindus-

trializaçãoentreasregiõesémais

umadaspersistentesdesigual-

dadesbrasileiras;contudo,esse

quadrocomeçouasealterar,ainda

quelentamente,apartirdadécada

de1970.SegundoCano(2008),a

desconcentraçãoespacialdaindús-

triadoBrasilnoperíodode1970

a2005podeserdivididaemtrês

fases:

1970-1979:desconcentraçãopo-

sitivaouvirtuosa,comnotávelau-

mentodadiversi�icaçãodaestru-

turaprodutiva,fortalecimentodos

nexosinter-regionaisemaiordimi-

nuiçãodasdesigualdadesentreas

regiões,tendoaproduçãodosbens

decapital,intermediáriosedurá-

Page 13: Artigos - FIPE

13temas de economia aplicada

junho de 2014

veisdeconsumocrescidomaisdo

queosnãoduráveisdeconsumo.

1980-1989:desconcentraçãoes-

púria,devidoaobaixocrescimento

econômicodadécada,negativo

paramuitossetoresindustriais.

Comooprincipalparqueindustrial

doPaísestavalocalizadonoEstado

deSãoPaulo,essefoimaisafetado

pelacrisedoqueo restantedo

País,fazendocomqueopequeno

decréscimodaparticipaçãoda

indústriadeSãoPauloemvários

setoresdecorressesimplesmente

dodiferencialdetaxasnegativas

entreosEstados.Azzoni(1997)

apontaparaindíciosdeque,em

períodosderápidocrescimento,

haveriaumaumentodaconcentra-

çãodasatividadeseconômicaseda

rendanosprincipaispolosdoBra-

sil,ouseja,prevalecendoos“efeitos

polarizadores”sobreos“efeitos

deespraiamento”,porém,semre-

jeitarahipótesedequearedução

navelocidadedeconvergênciada

rendanopróprioperíododerápido

crescimentosejaseguidanosanos

posterioresporumaumentodessa

velocidade.Alémdisso, inicia-se

nesseperíodoaGuerraFiscalentre

osEstados,comcadaumtentando

atrairempresaspormeiodein-

centivos�iscais,subsídioseoutros

bene�ícios,alterandoassimarti�i-

cialmentealocalizaçãodas�irmas

egerandoumadesconcentração

fragmentadadaindústria,preju-

dicandoaintegraçãodomercado

nacional.

1990-2005: desconcentração

aindapredominantementeespú-

ria,combaixocrescimentomédio

anualdoProdutoInternoBruto

(PIB)de2,4%emtermosnacionais

eaindamaisbaixoparaoEstado

deSãoPaulo(1,8%),ondeocres-

cimentofoinotadamentemenorna

indústriadetransformação.Vale

ressaltar,maisàfrente,osefeitos

quantitativosequalitativossobre

adesconcentraçãodaindústria

nesseperíododaaberturacomer-

ciale� inanceira;davalorização

cambial;doabandonodoproje-

tonacionaldesenvolvimentista;

dasprivatizaçõesediminuiçãodo

Estadonaeconomia;daredução

daspolíticasdedesenvolvimento

regional;daconsolidaçãodoMER-

COSUL;daintensi�icaçãodaGuerra

Fiscal,entreoutros.

Acon�iguraçãoespacialdaindús-

triano�inaldesseperíodoindica

certascaracteríst icasdecomo

ocorreu essadesconcentração,

característicasessasqueestãoen-

globadasnosconceitosde“descon-

centraçãoconcentrada”deAzzoni

(1986)ede“desenvolvimentopoli-

gonal”deDiniz(1993).

Azzoni(1986)concordavacoma

observaçãodeRedwoodIII(1985)

dequeascidadesmédiasapre-

sentavamumcrescimentomais

dinâmiconadécadade1970doque

ascidadesdeSãoPauloeRiode

Janeiro,asduasmaioresaglomera-

çõesurbanasdoPaís.Noentanto,

discordavadequehouveuma“re-

versãodapolarização”,poisessa

desconcentraçãoestavalimitada

principalmenteaumaexpansão

dasáreasgeográ�icasmaisindus-

trializadasdoPaís, emcidades

próximasdaRegiãoMetropoli-

tanadeSãoPaulo(RMSP),nosul

deMinasenaregiãodeCuritiba.

Logo,osprincipaiscentrosurba-

nosnãoperderamsuaatração,com

asindústriasprocurandoselocali-

zarpróximodessescentros,apro-

veitandoareduçãodoscustosde

transporteeevitandooaumento

dasdeseconomiasdeaglomeração

noepicentrodeSãoPaulo.

Diniz(1993)desenvolveaideiade

“desenvolvimentopoligonal”,em

queadesconcentraçãoiniciadano

�inaldadécadade1960começou

comrelativoespraiamentoindus-

trialparaopróprio interiordo

EstadodeSãoPauloeparaquase

todososdemaisEstadosbrasilei-

ros.Noentanto,posteriormente,

ocorreuumarelativa“reconcen-

tração”nochamadoPolígonoIn-

dustrialdoSul-Sudeste.Alémdo

aumentodasdeseconomiasna

RMSP,asoutrasquatroprincipais

forçasnesseprocessoforam:adis-

ponibilidadesdiferenciadasdere-

cursosnaturais;opapeldoEstado,

atravésdepolíticasregionaisexplí-

citasepelaconsequênciaespacial

indiretadeoutrosinvestimentos;

mudançasnaestruturaprodutiva;

concentraçãodapesquisaeda

renda.

Page 14: Artigos - FIPE

14 temas de economia aplicada

junho de 2014

OtrabalhodeCroccoeDiniz(1996)

mostra quea desconcentração

inter-regionalfoimaisnotávelnos

anos70,enquantoadesconcentra-

çãointrarregional,principalmente

dentrodoPolígonoIndustrial,tam-

bémfoiimportantenessesanose

aindamais importantenosanos

80e90,comomostramAndradee

Serra(1999),paraoespraiamen-

todaindústria.Pacheco(1999)

adicionaaaberturaeconômicaea

consolidaçãodoMERCOSULcomo

elementosatuantesdessaconten-

çãodoprocessodedesconcentra-

ção.

Assim,osgrandesinvestimentos

eminfraestruturadetranspor-

tes,energiaetelecomunicações

possibilitaramumanovaetapade

industrializaçãopautadanades-

centralizaçãodasatividadesdos

antigoscentrosurbanosdinâmicos

paranovascentralidadesurbanas

subnacionais,respaldadaainda

maispelossubsídioseincentivos

públicos.Porém,foramosEstados

doSuledoSudestequemaisconse-

guiramampliarparaosmunicípios

doentornodosprincipaiscentros

urbanosascondiçõestecnoprodu-

tivasedeinfraestruturademan-

dadaspelaprodução industrial

(DOMINGUES;RUIZ,2008).

Para a décadade2000, Cruz e

Santos(2009)concluíramquea

maiorpartedasmicrorregiões

quemaisreduziramoemprego

industrialestãoconcentradasno

Sudeste,emespecialemSãoPaulo.

Noentanto,asregiõescombase

industrialrelevantenointeriorde

SãoPaulo,mesmoasquetenham

reduzidosuaparticipaçãonoem-

pregoindustrial,aumentarama

suaparticipaçãoemindústriasde

maiorconteúdotecnológico,que

procurammaisosbene�íciosdas

economiasdeaglomeração,princi-

palmentedevidoaosimportantes

transbordamentosdeconhecimen-

to,doqueosincentivos�iscais.

Assim,percebe-seumaalteração

noprocessodedesconcentração

nadécadapassada,comreestru-

turaçãoere-especializaçãodeal-

gunsdosantigoscentrosurbanos

dinâmicos,alémdealgumascen-

tralidadesurbanassubnacionais

doperíodo1970-2000ganharem

representatividadenacional.O

EstadodeSãoPauloconcentra

umaparcelasigni�icativadosser-

viçosespecializadosedassedes

dasprincipaisempresasnacio-

naisemultinacionaissituadasno

País,fortalecendoseupapelcomo

centrodecomandodaeconomia

nacional(CAMPOLINA;PAIXÃO;

REZENDE,2012).

Campolina, Pa ixão e Rezende

(2012)tambémmostramevidên-

ciasdedesconcentraçãointer-re-

gionalsigni�icativanoperíodode

1994-2009.Veri�icandoaexistên-

ciadeumaelevadaespecialização

daestruturaprodutiva localde

ummunicípionumadeterminada

indústria,utilizandooemprego

industrialformal,elesobservaram

que,dos286clustersveri�icados

em1994,apenas9%delesestavam

foradasregiõesSuleSudeste.Em

2009,onúmerodeclustersaumen-

toupara576,sendoqueesseau-

mentofoirelativamentemaiorfora

doSul-Sudeste,queaumentousua

participaçãononúmerodeclusters

para14%.OsEstadoscommaior

crescimentodonúmerodeclusters

foramBahia,Pernambuco,Goiás,

MatoGrossoeParaná.Porém,os

Estadoscomomaiornúmeroabso-

lutodeclustersaindaserestringem

àsregiõesSuleSudeste:SãoPaulo,

MinasGerais,Paraná,SantaCata-

rinaeRioGrandedoSul.Notável

tambémque,emrelaçãoapenas

aosclustersnacionais(aquelescom

partic ipaçãomínimade1%no

empregonacionaldosetor),ototal

dessesnoSul-Sudestemanteve-se

praticamenteestávelnoperíodo,

enquantohouveumagrandeevo-

luçãonototaldelesforadoperíme-

tro,de6para15.

Adesconcentraçãoespacial da

indústriaentreosmunicípiosna

últimadécadacontinuougradativa,

mascontínua,comopodeserob-

servadopelasCurvasdeLorenzno

Grá�ico1enosíndicesdeGinina

Tabela1doValorAdicionadoBruto

(VAB)industrialdosmunicípios

entre2000e2010.

Page 15: Artigos - FIPE

15temas de economia aplicada

junho de 2014

Em2000,apenasos200municípiosmaisindustria-

lizadosacumulavam74%daproduçãonacional,

reduzindo-seminimamentepara71%em2010.

Observa-secomoaconcentraçãodoVABindustrial

entreosmunicípiosdiminuiunessadécadaeconsis-

tentementeaolongodosanos,conformeasCurvas

deLorenzafastam-sedoeixodasabscissasentreos

anosselecionados.Aindaassim,oíndicedeGini,que

temomaiorvalorde1pararepresentaramáxima

concentração,foide0,9158em2000,mostrandoa

gigantescaconcentraçãodaproduçãoindustrialno

Brasil,reduzindo-sedeapenas1,59%noperíodo,indo

para0,9012em2010.

Tabela 1 – Índice de Gini do VAB Industrial dos Municípios, 2000-2010

Ano Índice de Gini Variação do Gini

2000 0,9158 -

2003 0,9107 -0,56%

2005 0,9096 -0,12%

2008 0,9078 -0,20%

2010 0,9012 -0,73%

Variação do Gini entre 2000 e 2010 -1,59%

Fonte:PIBmunicipal(IBGE).Elaboraçãodoautor.

Gráfi co 1 – Concentração Municipal do VAB Industrial, 2000-2010

Fonte:PIBmunicipal(InstitutoBrasileirodeGeogra�iaeEstatística-IBGE).Elaboraçãodoautor.

Page 16: Artigos - FIPE

16 temas de economia aplicada

junho de 2014

Lemosetal.(2005),utilizandodadossobreovalorde

transformaçãoindustrial(VTI)dosmunicípios,iden-

ti�icaramapenas15manchasdealtaconcentraçãode

produçãoindustrialem2000,denominadasaglome-

raçõesindustriaisespaciais(AIE)equesãoconcen-

traçõesgeográ�icasdeindústriasquepossuemcapa-

cidadedetransbordamentoespacial.Apenasdentro

doPolígonoIndustrialencontraram-sesetedasAIEs.

ForadasregiõesSuleSudeste,existemapenasquatro

AIEs,todasnoNordeste,eque,juntas,representaram

6%doVTInacional,enquantoasseisAIEsdoSudeste

representaram57%doVTInacionalde2000.Ototal

das15AIEsacumulava76%.Essesresultadostambém

fortalecemaobservaçãodequeadesconcentração

até2000ocorreumaisacentuadamenteintradoque

inter-regionalmente.

2 Metodologia

AAnáliseExploratóriadeDadosEspaciais(Explora-

torySpatialDataAnalysis-ESDA)éumferramental

usadoparatrabalharcomdadosgeorreferenciados,

permitindoidenti�icarpadrõesespaciais,comoagru-

pamentosdeobservaçõessemelhantes(clusters)e

heterogeneidadeespacial,assimcomodescreverdis-

tribuiçõesespaciaisdosdados(ANSELIN,1998).

Dentrodessearcabouço,oIdeMoran(Moran’sI)é

umamedidadeautocorrelaçãoespacialglobaldos

dados,averiguandoseháefeitosdetransbordamentos

entrevizinhosequaléadireçãodaautocorrelação:se

positivaounegativa,ouseja,sevizinhoscostumam

apresentardesviosemrelaçãoàmédiadodadosendo

analisadonomesmosentidoouemsentidooposto.

Logo,umIdeMoranpositivopodesigni�icaraexis-

tênciadeclustersnosdados.OIdeMoranéde�inido

como:

Emque éodadodeinteresseparacadalocali-

dadeiej, amédia,nonúmerodeobservaçõese

sãooselementosdamatrizdevizinhançaW.

Amatrizdevizinhançaestabeleceospesosespaciais

entreaslocalidades, ,emqueoselementosdadia-

gonalprincipalsãoiguaisazeroeoselementosfora

dadiagonalindicamaformacomoaregiãoiestáespa-

cialmenteconectadacomaregiãoj,ouseja,oseugrau

devizinhança.Portanto, éamédiaponderadados

valoresdosvizinhos.OIdeMorantambémpodeser

observadocomoocoe�icienteangulardaregressão

de contray,indicandoograudeajustamento,que

dependerá,pois,damatrizWescolhida.

Porém,parasedeterminarospadrõeslocaisdeauto-

correlaçãoespacial,utilizam-seosIndicadoresLocais

deAssociaçãoEspacial(LocalIndicatorsofSpatial

Association–LISA)(ANSELIN,1995e1996),permi-

tindoobservarpadrõeslocaisqueaestatísticaglobal

IdeMoranpodeesconder.Entreessesindicadores,

oIdeMoranLocal(LocalMoran)éoindicadorlocal

cujasomatotaléproporcionalaoindicadorglobalI

deMoran,possibilitandoadeterminaçãodeclusters

espaciaislocaisedaslocalidadesquemaiscontri-

buemparaaexistênciadeautocorrelaçãoespacial

nosdados.OIdeMoranLocalparaumadeterminada

localidadeipodeserde�inidocomo:

Assim,autocorrelaçãoespacialpositiva( )sig-

ni�icavaloressimilares(acimaouabaixodamédia)

entrea localidadeobservadaeamédiaponde-

radadosvizinhos; jáumaautocorrelaçãonega-

t iva ( )signi�icavaloresopostos(umacima

damédiaeoutroabaixo).Pode-seentãodeterminar

quatrocasos:

Page 17: Artigos - FIPE

17temas de economia aplicada

junho de 2014

a. com e :cluster

dotipohigh-high(HH),ondeovalordalocalidade

emanáliseeamédiadosvizinhossãosemelhantes

ealtos;

b. com e :clus-

terdotipolow-low(LL),ondeovalordalocalidade

emanáliseeamédiadosvizinhossãosemelhantes

ebaixos;

c. com e :

observaçãoatípicaououtlierespacialdotipohigh-

-low(HL),ondeovalordalocalidadeemanáliseé

alto,porémamédiadosvizinhosébaixa;

d. com e :

outlierespacialdotipolow-high(LH),ondeovalor

dalocalidadeemanáliseébaixo,porémamédiados

vizinhoséalta.

ConformeKrugman(1991,p.57)enfatizou“States

aren’treallytherightgeographicalunits”,sendoauni-

dadegeográ�icarelevanteparaabordareconomiasde

aglomeraçãoascidades(KRUGMAN,apudAUDRETS-

CH,1998).

Portanto,pretendendo-sede�inirasconcentrações

industriaismaisrelevantes,comaltaproduçãoin-

dustrialecompossíveisefeitosdetransbordamento

espaciaisentrevizinhoseeconomiasdeaglomeração,

determinaram-seosclustersdemunicípioscomau-

tocorrelaçãoespaciallocalnoVABindustrialdotipo

HHestatisticamentesigni�icante,delimitando-seas

AglomeraçõesIndustriaisRelevantes(AIRs)comoos

municípioscontíguosdotipoHHeosmunicípiosime-

diatamentedoentorno,conformeacon�iguraçãocen-

tro-radialdaindústriabrasileira.Seguindoostraba-

lhosdeLemosetal.(2005)eDomingueseRuiz(2008),

estabeleceu-seoníveldesigni�icânciaem10%.

Alémdisso,utilizou-seumamatrizdevizinhançabi-

náriadotipoRainha(Queen),emqueosmunicípios

quecompartilhamfronteira,sejaumtrechoouum

nó(vértice),sãoconsideradosvizinhoserecebem

umpesoespacialiguala1,enquantotodososoutros

municípiosrecebempesozero.Outrasespeci�icações

paraamatrizdevizinhançasãoamatrizdotipoTorre

(Rook),emquesãoconsideradosvizinhosapenasos

municípiosquecompartilhamumtrechodafronteira;

amatrizdedistância,queatribuiumpesoigual

paratodoi, j,emque éadistânciaentreiej,sendo

que,quandomaiorovalordoexpoentex,maioraim-

portânciadosvizinhosmaispróximosemenorados

maisdistantes;eamatrizqueconsideraoskvizinhos

maispróximas,ondeosmunicípiosmaispróximosaté

onúmerok(quepodemounãocompartilharfronteira)

recebempeso1eorestante,zero.

Finalmente,foramconsideradasapenasaquelasque

tinhamumarepresentatividadenacionalnaprodução

industrial,utilizando-secomocritérioderelevânciao

ÍndicedeParticipaçãoRelativa(IRP):aparticipação

percentualdaAIRnoVABindustrialnacional.O�iltro

escolhidofoiiguala0,5%doVABindustrialdoBrasil.

ForamutilizadososdadosdoPIBmunicipaldoIBGE

para2000e2010,queosdecompõememimpostos,

líquidosdesubsídios,sobreprodutos,valoradicio-

nadobrutodaagropecuária,valoradicionadobruto

daindústriaevaloradicionadobrutodosserviços,

inclusiveadministração,saúdeeeducaçãopúblicase

seguridadesocial.OVABdaindústriaenglobaosseto-

resdeextrativamineral,indústriadetransformação,

serviçosindustriaisdeutilidadepúblicaeconstrução

civildasContasNacionaisdoIBGE.Essesdadosforam

utilizadosparasedeterminarasAIRsem2010ea

evoluçãodelasedasregiõesemrelaçãoàprodução

industrialnadécadade2000a2010.

OutrobancodedadosutilizadofoiaRelaçãoAnualde

InformaçõesSociais(RAIS)doMinistériodoTrabalho

eEmprego(MTE)paraseobteronúmerodeempregos

Page 18: Artigos - FIPE

18 temas de economia aplicada

junho de 2014

formaisnaindústriapormunicípio

em2000e2010,considerandoos

mesmossetoresdoIBGEacima.

Essesdadostambémforamobti-

dosporClassi�icaçãoBrasileirade

Ocupações2002(CBO2002),ao

nívelde4dígitos(famílias)epelos

setoresdaindústriaextrativae

detransformaçãodaClassi�icação

NacionaldeAtividadesEconômi-

cas2.0(CNAE2.0),aonívelde2

dígitos(divisões),a�imdeseob-

servarcaracterísticasdaindústria

edamãodeobradasAIRs.Dados

doCensoDemográ�ico2010eda

PesquisaNacionalporAmostrade

Domicílios(PNAD)doIBGEforam

utilizadosparaseobservarcarac-

terísticassobreoníveldeeducação

einfraestrutura.

Paraogeorreferenciamentodos

dados,a�imdesecalcularasma-

trizesdevizinhançaeaplicara

ESDA,foiutilizadaaMalhaDigital

Municipal2007doIBGEparatodo

oterritóriobrasileiro,compreen-

dendoos5.564municípiosbrasilei-

rosde2007.2

Napróximaeúltimaparte,osre-

sultadosdessemodeloserãode-

talhadoseextensivamentediscu-

tidos.

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MTE,RAIS. <http://portal.mte.gov.br/rais/.>2013.Acessoem:out.2013.

Page 19: Artigos - FIPE

19temas de economia aplicada

junho de 2014

PACHECO,C.A.Novospadrõesdelocalizaçãoindustrial?Tendênciasrecenteseindicadoresdaproduçãoedoinvestimentoindustrial.Brasília:IPEA,1999.(TextoparaDiscussãon.633).

REDWOODIII,J.Reversióndepolarización,ciudadessecundariasye�icienciaeneldesarrollonacional:unavisiónteóricaaplicadaalBrasilcontemporáneo.SantiagodoChile:RevistaEURE,1985.

1 TrabalhodesenvolvidocomopartedadissertaçãodemestradoemTeoriaEconômicanoIPE/USPsobaorientaçãodoProf.ºDr.CarlosRobertoAzzoni,doDepartamentodeEconomiadaFEA/USP.Agradeçotodaasuaajuda,colaboraçãoesugestões.Qualquererroremanes-centeéderesponsabilidadedoautor.

2 Adiferençaentreonúmerodemunicípiosdosdadosde2007e2010éacriaçãodomunicípiodeNazária,doPiauí,em2008.OterritóriodessemunicípiofoidesmembradodacapitalTeresina.Porisso,a�imdecompatibilizarosdadosde2010comaMalhaDigitalMunicipal

de2007,osdadosdeNazáriaforamagregadosaosdeTeresina,re-movendoonovomunicípiodasanálisesdedeterminaçãodasAIRs.

(*)GraduadoemCiênciasEconômicaspelaUFPE,mestrandoemTeo-riaEconômicanoIPE/FEA/USP,integrantedoNEREUS/USPebolsista

daFIPE.(E-mail:[email protected]).

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20 temas de economia aplicada

junho de 2014

As Atuais Mobilizações e Seu Condicionante Político

I���� ��� N��� �� C���� (*)

Aoqueparece,asmobilizações

veri�icadasnosúltimosmesescal-

cam-senaveri�icação,porparte

dosreivindicantes,dequeosgo-

vernosdoPToptaramporumapo-

líticade“doações”damaisvariada

ordema�imdeobteremaliadose/

ouapoiopolíticoporpartedepar-

celasexpressivasdapopulação,do

empresariadoedospolíticos.1

Arespeitode taisaçõesdevem

serlembradasquatrodelascomo

expressõesclarasdesteestilode

conduziravidapolítica:asme-

didasdecaráterassistencialista,

aprofundadassobretudoapóso

episódiodomensalão,dirigiram-

-se,comosabido,àscamadasso-

ciaismaisdesfavorecidas;jáaprá-

ticadejurosaltospropiciadosaos

investidoresemtítulospúblicos

oferecidospelaSecretariadoTe-

souroNacional(TesouroDireto)

edeempréstimoslargamentefa-

voráveisaostomadorespropor-

cionadospeloBNDESdestinou-se,

basicamente,aoempresariadoque,

noiníciodoprimeirogovernopre-

sidencialpetista,descon�iavadas

intençõesdocandidatovencedor;o

aparelhamentodoEstadofoidetal

ordemquedisseminounosórgãos

públicosaine�iciênciae,nocaso

daPetrobras,odesmandogenera-

lizado;por�im,deve-seassinalar

apráticadedistribuiçãodecargos

públicoseMinistérios,cujonúme-

rofoiaumentadoinjusti�icadamen-

te,comomeiodegarantiramaioria

noâmbitodascasasquecompõem

oCongressoNacional.Paratal�im,

oscomponentesdoPTchegaram

mesmoaestabeleceraliançascom

políticosanteriormentetidoscomo

desafetoscomosquais“jamais”

poder-se-iaefetuaracordos.

En�im,umapartesigni�icativado

grandepúblicopercebeuqueos

petistasalçadosaopodergover-

namental incorporaramavelha

práticade“comprar”seguidores,

mas−eaquivaiaoriginalidade

introduzidapeloPT−atornaram

universal,valedizer,transforma-

ramumtipodeatitudeanterior-

mentedirigidasobretudoàselites

nummododeoperarcomtodasas

camadassociais,inclusiveasdes-

privilegiadas.

Sendoassim,nadamaisóbviodo

quepromoversistematicamente

amobilizaçãodirigidaaopoder

públicocomoformadealcançaros

objetivoseasmercêsperseguidas.

Detalconstataçãoresultou,como

avançado,aproliferaçãodemani-

festaçõesreivindicatóriasquere-

únemdesdeumpequenogrupode

reivindicantesatémilharesdeles,a

dependerdeinteressesespecí�icos

deumnúmerolimitadodepessoas

atéreivindicaçõesdecarátergeral

ouqueenvolvammuitosinteressa-

dosemtalouqualpropostaquese

quervermaterializada.2

Dissoseconcluiquetaismanifes-

taçõesnãosãotópicas,poisatraem

asmaisvariadascamadassociais

e/ousegmentospro�issionais,nem

podemsertidascomopassageiras,

poisemanamdasprópriasbases

sobreasquaisseassentaapolítica

esposadapelopodercentralda

Nação.Aideiaquesubjazatalati-

tudeésimples,diretaegrosseira:

“Porqueelesenãonós?”

Osmovimentoscaracterizados

acimavieram,portanto,somar-se

àquelescostumeiros,preexisten-

tes,eque,porviaderegra,têm

suasraízesassentadasnossindi-

catosedemaisórgãosrepresen-

tativoscujos integrantesvisam

interessespro�issionaisespecí�icos

aliadosaaumentossalariais.

Assim,nomomentohistóricopre-

sente,estamosaconheceruma

somatóriademobilizaçõesenão

ummeroaumentoouumain�lexão

dostradicionaisprocessosreivin-

dicatórios.Talfatoexplica,anosso

ver,aestupefaçãodequefomos

Page 21: Artigos - FIPE

21temas de economia aplicada

junho de 2014

tomadosdepoisdaexplosãoespontâneaeautônoma

ocorridaemjunhode2013aqualmarcouoiníciodas

intrigantesmobilizaçõescomasquaisoranosdepa-

ramos.

Por�im,cumprenotarqueaindanãoestãoclarasas

interaçõesentreosantigosprocessosdefundosin-

dicaleosnovosmovimentosembasadosnaspráticas

decorrentesdocomportamentointroduzidopeloPT

nestaúltimadécada.Épossível,porexemplo,que

reivindicaçõesdeteorsindicalsejammultiplicadas

noquadrodosmuitosmovimentosdeprotestooravi-

venciado.Deoutraparte,pro�issionaismenosafeitosa

ganharasruastalvezdisponham-seafazê-loemface

doaludidoquadro;correlatamente,novossegmentos

populacionaisdedespossuídospodemserestimulados

amobilizar-sedadoocrescimentodasreivindicações

deelementosmaisabonados.Valedizer,asinterações

referidasacimapodemassumirumcarátermultifa-

cetadoe,muitoprovavelmente,tenderãoainsu�lar

mobilizaçõescomasmaisvariadasroupagens.

1 Semcomprometê-locommeuserroseenganosagradeçoaleituracríticadaversãopreliminardestacrônicaefetuadapeloProf.JulioManuelPires.

2 Comosabido,passaramajuntar-seàsmanifestaçõesqueseseguiramàsmobilizaçõesiniciaisdejunhode2013gruposdeletériosecrimi-nososcompostosoupormarginaisouporaqueles integradosporindivíduosdesprovidosdequalquerperspectivaideológicaequeseservemdatáticaBlackBloc;sobreestesúltimosveja-se,deminhaautoria,acrônica“Brasil:atáticaBlackBloceaordeminstituída”publicadanaversãoemportuguêsdoPravda.ruonline,28deoutubrode2013,disponívelem:<http://port.pravda.ru/cplp/brasil/28-10-2013/35507-black_bloc-0/>.

(*)ProfessorLivre-docenteaposentadodaFEA-USP.(E-mail:[email protected]).

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22 temas de economia aplicada

junho de 2014

O Idoso Brasileiro no Mercado de Trabalho e na Previdência So-cial: Uma Análise de 1992 a 20121

C������� F�������� ��� S����� (*)E������ D����� B������ (**)

1 Introdução

Nosúltimosanos,omercadode

trabalhobrasileirovemexperi-

mentandomudançasgradativase

importantes,fruto,algumasdelas,

dofortalecimentodaeconomiae

demudançasdecomportamento

dapopulação,taiscomo:busca

maistardiadoprimeiroemprego,

aumentodaparticipaçãofeminina

nospostosdetrabalhoecresci-

mentodapopulaçãoidosa2econo-

micamenteativaempatamares

maioresqueapopulaçãoeconomi-

camenteativatotal.APrevidência

Social,devidoàsuaforteligação

comomundodotrabalho,precisa

estaremsintoniacomessasmu-

dançasepromoverajustescapazes

deampliaraproteçãosocialsem

perderofoconasustentabilidade

doregimeemlongoprazo.

Emrelaçãoaostrabalhadorescom

60anosoumais,focodestetraba-

lho,ashipóteseslevantadaspara

suapermanêncianomercadode

trabalhosãovárias.Deumponto

devistademográ�ico,oenvelheci-

mentodapopulação,comcrescente

expectativadevidaebaixataxade

natalidadetenderáagerar,cada

vezmais,oportunidadesparaque

aspessoascontinuememseuspos-

tosdetrabalho,mesmocomidade

maisavançada.Nocampoprevi-

denciário,certamenteexisteuma

parceladeidososqueseguetra-

balhandopornãohaveratingido

otempomínimodecontribuição

paraaaposentadoriaouporconsi-

derarquearendadaaposentadoria

nãoésu�icienteparaatendersuas

necessidades.Outropontorelevan-

tenoBrasiléqueaAposentadoria

porTempodeContribuição(ATC)

possibilitaaaposentadoriaemida-

desbaixas,emtornode54anos,e,

contrariandotodaalógicaprevi-

denciária,passaaserconsiderada

peloaposentadocomoumcomple-

mentoderenda.

Oobjetivodestetrabalhoéanalisar

oper�ildosidososbrasileiroscom

ênfasenomercadodetrabalho,as

taxasdeatividadedessesidosos,as

principaisocupaçõesporelesexer-

cidaseaevoluçãodorendimento

dessegrupo.Alémdisso,traçarum

paraleloentrecontribuintesjovens

eidosos,exaltandosuasparticipa-

çõesnascontribuiçõesaoRegime

GeraldePrevidênciaSocial(RGPS),

exporasmudançasdapirâmide

etáriadosaposentadosportempo

decontribuiçãoeanalisarasprin-

cipaiscategoriasdecontribuintes

aoRGPS.

Esteartigoestádivididoemquatro

partes.Aprimeiracorrespondea

estaIntrodução.Asegundaparte

analisaaparticipaçãodoidosono

mercadodetrabalhobrasileiro,a

partirdosmicrodadosdaPesquisa

NacionalporAmostraDomiciliar

(PNAD)dosanos1992, 2002 e

2012.Nessaparte,sãoapresen-

tadosoper�ildoidoso,ataxade

atividadedapopulaçãoidosapor

gênero,aproporçãodeidososapo-

sentadosporgêneroeclassesetá-

rias,opercentualdeparticipação

doidosonomercadodetrabalho,

asprincipaisocupaçõesdoidoso

nomercadodetrabalhoeoren-

dimentomédiodo trabalho.Na

terceiraseção,érealizadauma

análisedoscontribuintes jovens

(de16e29anos)edoscontribuin-

tesidosos,comparando-osaototal

decontribuintesdoRGPS,de1996

a2012.Aseguir,evidencia-sea

pirâmideetáriadosaposentados

doRGPSportempodecontribui-

çãonosanos1992,2002e2012e,

�inalmente,exprime-seopercen-

tualdecontribuintesempregados

econtribuintesindividuaisde60

anosoumais,emrelaçãoacada

Page 23: Artigos - FIPE

23temas de economia aplicada

junho de 2014

categoriaapartirde1992até2012,segundoregistros

administrativosdoMinistériodaPrevidênciaSocial.

Naúltimaseção,sãoapresentadasasconsiderações

�inais.

2 A Participação do Idoso no Mercado de Trabalho Brasileiro

Apopulaçãobrasileiratemenvelhecidorapidamente,

oque,semdúvida,estáampliandooperíodoecono-

micamenteativodotrabalhador,quegozademelhor

qualidadedevidaemfunçãodosavançoseconômicos

esociaispelosquaispassaoPaís.Em2002,para

ambosossexos,aexpectativadevidaaonascererade

71,0anoseaexpectativadevidaaos60anosaponta-

vaparaumadicionaldevidade20,5anos,ouseja,a

pessoaqueatingisse60anosviveria,emmédia,atéos

80,5anos.Em2012,aexpectativadevidaaonascer

chegoua74,6anoseaexpectativadevidaaos60anos

ganhaumadicionalde21,6anos,ouseja,81,6anos.3

Con�irmandoessarealidade,dadosdaPNADmostram

queapopulaçãoidosa,em1992,eradeaproximada-

mente11,5milhões,evoluindopara16,2milhõesem

2002ealcançando24,5milhõesem2012(Grá�ico

1).Essaevoluçãomostraumcrescimentodemaisde

113%em20anos.Importanteobservarqueocresci-

mentopercentualnaprimeiradécadafoide41%,ena

segundadécada,de51%,oquemostrabemavelocida-

decomqueapopulaçãoestáenvelhecendo.Apopula-

çãoidosafemininaapresentoumaiorcrescimento,de

117%,emcomparaçãoàpopulaçãoidosamasculina,

queapresentoutaxadecrescimentode109%.

Gráfi co 1 – Evolução da População Idosa Brasileira, Segundo Sexo – 1992, 2002 e 2012

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Relacionarapopulaçãoidosacomoutrossegmen-

tosdapopulação,especialmentecomapopulação

economicamenteativa,permiteumaanálisemais

detalhadadessapopulaçãoemrelaçãoaomercadode

trabalho.Apopulaçãototalcresceu18,7%de1992a

2002eapresentouumcrescimentode11,4%de2002

para2012.Jáapopulaçãoidosacresceunoprimeiro

período40,6%,enosegundo,51,8%.Emrelaçãoà

populaçãoeconomicamenteativa(PEA),veri�ica-se

ummovimentosemelhante,ouseja,aPEAnoprimeiro

períodocresce24,1%,enosegundo,menorcrescimen-

tode14,1%.NaPEAidosa,registra-secrescimentode

Page 24: Artigos - FIPE

24 temas de economia aplicada

junho de 2014

23,2%de1992para2002ecrescimentoaindamaior

de32,8%,de2002para2012.Emrelaçãoaonúmero

totaldeidosos,aPEAidosarepresentava31,3%em

2002.NacomparaçãodaPEAidosacomapopulação

idosaveri�ica-separticipaçãode2,9%em2002ede

3,5%em2012.JánacomparaçãodaPEAidosacom

apopulaçãoidosapercebe-semenorparticipaçãoem

2002(31,3%)doqueem2012(27,3%).

Tabela 1 – População Total e População Idosa – 1992, 2002 e 2012

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

a

Emrelaçãoaomercadodetrabalho,deummodogeral,

umaboamedidaéataxadeatividadequedetermina

opesodapopulaçãoeconomicamenteativasobreo

totaldapopulaçãocom10anosoumaisdeidade.4Em

relaçãoaosidosos,essataxafazumarelaçãoentreo

totaldapopulaçãoidosaeconomicamenteativaeo

totaldapopulaçãoidosa.ConformeapontadonoGrá-

�ico2,paraosanosde1992,2002e2012,observou-se

queataxadeatividadedeidosos,deambosossexos,

declinoumaisde12%em20anos.Essaquedaémenos

acentuadanapopulaçãofeminina,deaproximadamen-

te4,98%,emcomparaçãoàtaxadeatividadedapopu-

laçãomasculinaidosa,queapresentoudecréscimode

8,34%nomesmoperíodo.

Aretraçãodataxadeatividade,de1992para2012,

entreosidosostemrelaçãodiretacomcenárioeco-

nômicoecomascondiçõesdomercadodetrabalho

formaldecadadécadaanalisada(1992-2002e2002-

2012).Naprimeiradécada,oPaísconviviacomalto

níveldeinformalidadeebaixossalários,oquesem

dúvidaobrigavaotrabalhadorapermanecermais

tempoematividade.Apartirde2002,essecenáriose

inverte,compossíveisefeitossobrearetraçãodataxa

deatividadeentreosidosos.

Page 25: Artigos - FIPE

25temas de economia aplicada

junho de 2014

Gráfi co 2 - Brasil: Taxas de Atividade dos Idosos por Sexo - 1992, 2002 e 2012

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Ataxadeatividade,aoguardarrelaçãocomomercado

detrabalhoecenárioseconômicos,tambémguarda

intrínsecarelaçãocomaprevidênciasocial,pormo-

tivosóbvios.PeloGrá�ico3,observa-seque,entre

1992e2012,alinhavermelhacontínuaealinhaver-

melhatracejadavãoseafastandoaolongodotempo.

Odecréscimoproporcionaldastaxasdeatividadeda

populaçãoidosafeminina,de22,16%para17,18%,foi

acompanhadopelaexpansãodastaxasdeproteção

previdenciária5de64,75%para75,30%,entre1992

e2012.Nosprimeirosdezanosdeanálise,percebe-

-sefortecrescimentodaproteçãosocial,principal-

menteentreasmulheres,oquepodeserexplicado

pelaampliaçãodaprevidênciasocialrural,incluindo

oconceitodeseguradoespecial.Jáentre2002-2012,

atendênciaobservadaparahomensemulhereséde

estabilidade.

Page 26: Artigos - FIPE

26 temas de economia aplicada

junho de 2014

Gráfi co 3 – Brasil: Taxas de Atividade dos Idosos e Proporção de Idosos Aposentados e/ou Pensionistas por Sexo – 1992, 2002 e 2012

52,16%

45,94% 40,21%

22,16% 19,71%

17,18%

73,68%

79,33%77,57%

64,75%

76,28% 75,30%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

1992 2002 2012

homens idosos exercendo atividade mulheres idosas exercendo atividade

homens idosos beneficiários (aposentadoria ou pensão) mulheres idosas beneficiárias (aposentadoria ou pensão)

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Astaxasespecí�icasdeatividadeindicam,naestru-

turaetáriadapopulação,deformaclara,comoostra-

balhadoreseconomicamenteativosestãointeragindo

comapopulaçãototalemdeterminadafaixadeidade,

aolongodasuavidalaboral,indicando,inclusivemu-

dançadecomportamento,conformeapontadonacom-

paraçãodosanos1992,2002e2012paraapopulação

brasileiramasculina(Grá�ico4)efeminina(Grá�ico5).

Emrelaçãoàpopulaçãomasculina,registra-seretra-

çãodataxadeatividadede1992a2002ede2002a

2012.ApartirdoGrá�ico4,percebe-sequeoshomens

aolongodos20anosdeanálisepassaramaingressar

nomercadodetrabalhocadavezmaistarde.Enquan-

toem1992,73%doshomensde15a19anosestavam

exercendoatividade,em2002essataxadeclinapara

59%,eem2012,para50%.Esseprocessopodeestar

relacionadoaoaumentodaquali�icaçãodoindivíduo

(estudandomaisparaomercadodotrabalho).Napri-

meirafaixaetáriadosidosos,de60a64anos,astaxas

deatividadeforam70%,66%e62%,respectivamente

paraosanosde1992,2002e2012.

Page 27: Artigos - FIPE

27temas de economia aplicada

junho de 2014

Gráfi co 4 – Brasil: Taxas Específi cas de Atividade dos Homens – 1992, 2002 e 2012

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Entreasmulheres,astaxasespecí�icasdeatividade

seguemamesmatendênciadeaproximaçãoaoeixo

dasabscissasnodecorrerdosanos(Grá�ico5).Ou

seja,asmulheresestãocomeçandoaexercerativi-

dadecadavezmaistardeeaproporçãodeidosas

exercendoatividadeécadavezmenor.De15a19

anos,aproporçãodeidosasexercendoatividadefoi

de46%(em1992),41%(em2002)e37%(em2012).

Apartirdos60anos,astaxasdeatividadesofrem

retraçãocomopassardosanos.Outropontoaser

ressaltadoéquenasfaixasetáriasintermediárias

(dos20aos59anos)asmulherespassaramateruma

taxadeatividademaiorem2012quandocomparado

aosdemaisanos.

Gráfi co 5 – Brasil: Taxas de Atividade Específi ca das Mulheres – 1992, 2002 e 2012

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Page 28: Artigos - FIPE

28 temas de economia aplicada

junho de 2014

Nacomparaçãodastaxasdeatividadeespecí�icaentre

homensemulheresapartirdos60anos,aproporção

demulheresexercendoatividadeéconsideravelmente

inferioràproporçãodehomens.Enquantomulheres

de60a64anos,em2012,apresentavamtaxadeativi-

dadede30%,oshomens,nessamesmafaixa,apresen-

tavamtaxade62%.Essecenárioéumaconsequência

diretadetodaavidalaboraldehomensemulheres.

Essassempretiveramumapresençamenornomerca-

dodetrabalhodecorrentedosafazeresdomésticose

afastamentosporcontadamaternidade.

OGrá�ico6mostra,porgênero,entreosidososapo-

sentadosquantos(emtermospercentuais)aindaeram

economicamenteativosemcadafaixaetáriaem1992,

2002e2012.Considerandocomouniversoapenasos

idososaposentados,percebe-sequeatendência,tanto

paraapopulaçãomasculinaquantoparaapopulação

feminina,édedecréscimodastaxasdeatividade.No

casodoshomens,essatendência�icamaisclaraapar-

tirdos65anos.NoGrá�ico6,éobservadoqueapartir

dessaidadeascurvas(azuis)vãoseaproximandodo

eixodasabscissasanoaano.Acurvapontilhada(de

1992)estámaisafastadadoeixodasabscissas,mas

em2002acurvafoiseaproximando(curvatracejada)

eem2012(curvacontínua)háamaioraproximaçãoa

esseeixo.

AindanoGrá�ico6,atendênciaentreasmulheres,que

estãorepresentadaspelacurvavermelha,éobser-

vadaapartirdafaixade70a74anos.Ascurvasvão

seaproximandodoeixodasabscissasanoapósano,

indicandoquecadavezmaisasmulheresaposentadas

estãoproporcionalmenteexercendomenosatividades

econômicas.Essatendênciaéexplicadapelofatode

que,comopassardosanos,hánaturalmenteaperda

dacapacidadelaborativatantoparahomensquanto

paramulheres.Nocasodoshomens,apartirdos79

anos,veri�ica-seumaquedamaisacentuadaquepode

estarassociadaaotipodetrabalhodesempenhado

pelohomemque,emmuitoscasos,exigemaioresforço

�ísico.

Gráfi co 6 – Brasil: Percentual de Participação dos Idosos Aposentados no Mercado de Trabalho – 1992, 2002 e 2012

Fonte:PNADs1992,2002e2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Page 29: Artigos - FIPE

29temas de economia aplicada

junho de 2014

Outroaspectoquemerecedestaqueéaaproximação

entreascurvasdehomensemulheresnacomparação

entreostrêsanosanalisados.Issosedeveamaior

inserçãodasmulheresnomercadodetrabalhoe,con-

sequentemente,maioracessoaosbene�íciospreviden-

ciários,especialmenteasaposentadorias.

Asprincipaisocupaçõesexercidaspelapopulaçãobra-

sileira,idosaounão,podemservisualizadasnoGrá�i-

co7(homens)eGrá�ico8(mulheres),porfaixaetária

em2012.Observa-sequeaocupaçãomaiscomum

entreosjovensqueestãoiniciandoavidalaborativa

éade“empregadosemcarteira”,posiçãoessaqueé

rapidamenteultrapassadapelaocupação“empregado

comcarteiradetrabalhoassinada”.Aocupação“em-

pregadocomcarteiradetrabalhoassinadaӎamais

frequenteentreosindivíduosdos20aos54anos.A

partirdos54anos,aocupaçãomaiscomumnapopula-

çãoeconomicamenteativa(PEA)éadecontaprópria.

Entreosidosos,outraocupaçãoquesedestacaéade

trabalhadornaproduçãoparaopróprioconsumo.

Resumidamente,asocupaçõesmaisfrequentemente

adotadaspelaPEAsão:noiníciodavidalaborativa,

dos15aos19anos,adeempregadosemcarteira(42%

daPEA);e,noperíodointermediáriodavidalabora-

tiva,istoé,dos20aos54anos,adeempregadocom

carteira(comproporçõesdaPEAquevariamde54%,

dos20aos24anos,a35%daPEA,nafaixados50aos

54anos).Apósos54anos,háumaquedaabruptada

curvaquerepresentaaproporçãodeempregadoscom

carteiraeascensãodacurvarepresentativadeconta

própria.Alémdocrescimentodecontaprópria,houve

aumentodetrabalhadoresnaproduçãoparaopró-

prioconsumo.Essaconstataçãopodeindicarqueas

atividadesporcontaprópriasãomaisatrativaspara

apopulaçãoqueestájáaposentadaouqueestámuito

próximadaaposentadoria.

Gráfi co 7 – Brasil: Distribuição da PEA por Posição na Ocupação por Idade dos Homens – 2012

Fonte:PNAD2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Page 30: Artigos - FIPE

30 temas de economia aplicada

junho de 2014

Gráfi co 8 – Brasil: Distribuição da PEA por Posição na Ocupação por Idade das Mulheres – 2012

Fonte:PNAD2012.Elaboração:SPPS/MPS.

OGrá�ico8representaaproporçãodasprincipais

ocupaçõesdasmulhereseconomicamenteativaspor

faixaetáriaem2012.OsGrá�icos7e8guardamal-

gumassemelhanças.Assimcomonocasodoshomens

(Grá�ico7),entreasmulheresaprincipalocupação,

nafaseintermediáriadavidalaborativa,éadeem-

pregadacomcarteiradetrabalhoassinada.Entreas

mulhereseconomicamenteativasde20a24anos,

55%sãoempregadascomcarteiraassinada,eentre

asmulheres45a49anos,cercade28%têmessa

ocupação.

Entreasmulherescomidademaiselevada,apartir

dos70anos,hásuperaçãodaocupaçãodetrabalha-

doranaproduçãoparaopróprioconsumoemdetri-

mentodasmulherescontaprópria.Odesempenho

deatividadescomocontaprópriaeproduçãoparao

próprioconsumoéesperadoparaumapopulaçãopre-

dominantementeaposentada.

Aanálisedorendimentomédiototaldapopulação

masculinaporfaixasdeidadeemcomparaçãocom

astaxasdeocupação,em2012,podeserverifica-

danoGráfico9.Observa-sequeacurvatracejada

vermelha,querepresentaastaxasdeocupaçãoa

partirdos15anos,temaspectoascendentedos15

aos34anos,eéacompanhadaporumrendimento

médiofortementeascendente.Dos35anosaos44é

observadacertaestabilidadedataxadeocupaçãoe

crescimentodorendimentomédiototal,masame-

norestaxasdecrescimentoatéatingiroseumaior

nível,entre55e59anos,deaproximadamenteR$

2.300,00.Apartirdos59anos,astaxasdeocupação

apresentamforteretração,oqueéesperadodevido

aoaumentodasaposentadorias.Apartirdos59

anos,aquedamaisacentuadadataxadeocupação

temrelaçãodiretacomosdecréscimosnarenda

totalmédia, jáqueumaparceladessesindivíduos

vaicontarapenascomaaposentadoriaenãoestará

maistrabalhando.Aos70anos,arendamédiaestá

nopatamardosR$1.850,00,omesmoverificadona

faixados35aos39anos.

Page 31: Artigos - FIPE

31temas de economia aplicada

junho de 2014

Ataxadeocupaçãodasmulherescomeçaadeclinar

apartirdos40anos,masésomenteapartirdos49

anosqueessaquedaseacentua(Grá�ico10).Apesar

dessaqueda,observa-sequearendamédianãocaina

mesmaproporção.Inicialmente,apósos49anos,há

estabilidadedorendimentomédioatéos59anos.A

partirdos60,orendimentomédiocomeçaacair,mas

comoscilações,enquantoastaxasdeocupaçãoapar-

tirdos60sofremreiteradasquedas.

Comparativamenteaoshomens,pode-seperceberque

osdecréscimosdastaxasdeocupaçãodoshomens

sãoacompanhadosporumaquedamaisacentuadado

rendimentomédio,enquantonocasodasmulheresos

decréscimosdataxadeocupaçãoestãorelacionados

aumaquedasuavedosrendimentos.Essasuavidade

podeestarrelacionadaàmaiortendênciadeasmu-

lheresreceberempensões,quepodem,inclusive,ser

acumuladascomaposentadorias.

Gráfi co 9 – Brasil: Rendimento Médio de Todas as Fontes e Taxa de Ocupação dos Homens por Idade – 2012

Fonte:PNAD2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Page 32: Artigos - FIPE

32 temas de economia aplicada

junho de 2014

Gráfi co 10 – Brasil: Rendimento Médio de Todas as Fontes e Taxa de Ocupação das Mulheres por Idade – 2012

Fonte:PNAD2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Aimportânciadarendadotrabalhoprincipalnarenda

totalparaambososgêneroséapresentadanoGrá�ico

11.Apartirdos60anos,tantohomensquantomulhe-

resapresentaramquedanaproporçãodarendado

trabalho,masparaasmulheresessaquedamostrou-

-semaisacentuada,principalmentedaprimeirapara

asegundaclasseetária.Homensaos60anostêm75%

desuarendacompostaporrendaprovenientede

trabalho,eaos80essaparticipaçãocaipara55%.No

casodasmulheres,éobservadaumaretraçãoabrupta

darendaorigináriadotrabalhonaparticipaçãoda

rendatotal.

Gráfi co 11 – Brasil: Participação da Renda do Trabalho Principal na Renda Total por Sexo e Idade – 2012

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

60-64 65-69 70-74 75-79 80 e mais

Homens Mulheres

Fonte:PNAD2012.Elaboração:SPPS/MPS.

Page 33: Artigos - FIPE

33temas de economia aplicada

junho de 2014

3 Regime Geral de Previdência Social – Contribuin-tes Além dos 60 Anos de Idade

ApartirdosregistrosadministrativosdoRegime

GeraldePrevidênciaSocial(RGPS)jáépossívelper-

cebertendênciasdemudançasnaestruturadecontri-

buintes,especialmentenacomparaçãodedoisgrupos

etáriosmaisextremos,umdeaté29anoseoutro

acimados60anos,ouseja,osidosos.Mesmoemuma

sériecurta,de1996a2012,veri�ica-sequeogrupo

maisjovemtendeasermenosrepresentativo,emrela-

çãoaototaldecontribuintesdoRGPS,aopassoqueo

grupode60anosoumaiscaminhanosentidoinverso

(Grá�ico12).

Gráfi co 12 – Percentual de Contribuintes Entre 16 e 29 Anos e de 60 Anos ouMais em Relação ao Total de Contribuintes, de 1996 a 2012

Fonte:AnuárioEstatísticodaPrevidênciaSocial

Elaboração:SPPS/MPS.

Page 34: Artigos - FIPE

34 temas de economia aplicada

junho de 2014

Em2012,oRGPScontavacom2,6milhõesdecon-

tribuintespessoa�ísica(empregadosecontribuintes

individuais)com60anosoumais,sendo1,6milhão

(62%)dehomense1,0milhão(38%)demulheres.

EmrelaçãoaototaldecontribuintesdoRGPS,esses

2,6milhõesrepresentamapenas4%dototaldecon-

tribuintes.Em1996,essenúmeroerade901,7mil

contribuinteserepresentava3,4%dototaldecon-

tribuintes,ouseja,umcrescimentopercentualmuito

pequenoem16anos.Aquestãomostra-serelevante

aosefazeramesmacomparaçãocomoscontribuintes

maisjovens(16a29anos).

PeloGrá�ico13,observa-seque,em1996,oscontri-

buintesdeaté29anosrepresentavam40,4%donú-

merodecontribuintesdoRGPS,eem2012passaram

a34,3%. Assim,em1996,oRGPScontavacom12

contribuintesdeaté29anosparacadacontribuinte

acimados60anos.Jáem2012essamesmarelação

estavaem8,6,evemapresentandotendênciadequeda

desde2002.

Gráfi co 13 – Relação Entre Contribuintes de Até 29 Anos e Contribuintes de 60 Anos ou Mais

Fonte:AnuárioEstatísticodaPrevidênciaSocial.

Elaboração:SPPS/MPS.

Adiminuiçãononúmerodecontribuintesmaisjovens

podeestarsendoin�luenciadapelaentradavoluntária

maistardianomercadodetrabalho,epareceapontar

paraumamudançadecomportamentosocial,expe-

rimentadacomamelhoriadaeconomiabrasileira,

quebuscatrabalhadoresmaiscapacitados.Osjovens

estão,aparentemente,comapoiofamiliar,retardando

aentradanomercadodetrabalhoparainvestiremsua

capacitação.

Entreoscontribuintesacimade60anos,em2012,

46%eramcontribuintesempregados.Jáentreoscon-

tribuintesdeaté29anos,osempregados,nomesmo

ano,representam90%dototaldecontribuintes.

Essaprevalênciadecontribuintesindividuaisfrente

Page 35: Artigos - FIPE

35temas de economia aplicada

junho de 2014

aoscontribuintesempregados,

comidadeacimade60anos,pode

apontarparaalgumashipóteses,

entreelas:ocontribuinteindividu-

altemmaisdi�iculdadeparacom-

pletarseutempodecontribuição;

aexperiênciapro�issionalémuito

importanteparateropróprione-

gócio;depoisdaaposentadoria,os

trabalhadoresconstituemnegócio

própriocomoformadecontinuar

trabalhandoedeaumentarseus

rendimentos.

Em1996,oscontribuintesempre-

gadosde60anosoumaisrepre-

sentavam1,8%do totaldesua

categoria,eem2012passarama

2,3%(Grá�ico15).Entreoscon-

tribuintesindividuais,namesma

faixadeidade,comparadosàsua

categoria,opercentualem1996

erade8,0%,esobepara9,1%em

2012.Observa-sefortetendência

decrescimento,paraasduascate-

gorias,especialmenteapartirde

2005.

Gráfi co 15 – Percentual de Contribuintes Empregados e Contribuintes Individuais de 60 Anos ou Mais, em Relação a Cada Categoria

Fonte:AnuárioEstatísticodaPrevidênciaSocial.

Elaboração:SPPS/MPS.

Page 36: Artigos - FIPE

36 temas de economia aplicada

junho de 2014

Notocanteàsaposentadorias,épossívelvisualizar

naspirâmidesetáriasmaiorconcentraçãodasApo-

sentadoriasporTempodeContribuição(ATC)nas

idadesentre54e59anosnoGrá�ico14.Outravisu-

alizaçãoimportanteéacrescenteparticipaçãodas

mulheresnessaespéciedebene�ícios.Em1996,as

mulheresrepresentavam25,4%dosbene�iciáriosda

ATC,em2002eram29,6%,eem2012,32,6%.

Gráfi co 14 – Pirâmide Etária dos Aposentados do RGPS por Tempo de Contribuição nos Anos 1992, 2002 e 2012

-80,00 -60,00 -40,00 -20,00 ,00 20,00 40,00 60,00 80,00

Até 19 Anos20 a 24 Anos25 a 29 Anos30 a 34 Anos35 a 39 Anos40 a 44 Anos45 a 49 Anos50 a 54 Anos55 a 59 Anos60 a 64 Anos65 a 69 Anos70 a 74 Anos75 a 79 Anos80 a 84 Anos85 a 89 Anos

90 Anos e Mais

Aposentadoria por Tempo de Contribuição - 1992

-80,00 -60,00 -40,00 -20,00 ,00 20,00 40,00 60,00 80,00

Até 19 Anos20 a 24 Anos25 a 29 Anos30 a 34 Anos35 a 39 Anos40 a 44 Anos45 a 49 Anos50 a 54 Anos55 a 59 Anos60 a 64 Anos65 a 69 Anos70 a 74 Anos75 a 79 Anos80 a 84 Anos85 a 89 Anos

90 Anos e Mais

Aposentadoria por Tempo de Contribuição - 2002

-80,00 -60,00 -40,00 -20,00 ,00 20,00 40,00 60,00

Até 19 Anos20 a 24 Anos25 a 29 Anos30 a 34 Anos35 a 39 Anos40 a 44 Anos45 a 49 Anos50 a 54 Anos55 a 59 Anos60 a 64 Anos65 a 69 Anos70 a 74 Anos75 a 79 Anos80 a 84 Anos85 a 89 Anos

90 Anos e Mais

Aposentadoria por Tempo de Contribuição - 2012

Mulher Homem

Fonte:AnuárioEstatísticodaPrevidênciaSocial.Elaboração:SPPS/MPS.

4 Considerações Finais

Oestudomostraqueoelevadoacréscimodapopu-

laçãoidosabrasileiraentre1992e2012foiacompa-

nhadodediminuiçãodaparticipaçãoproporcional

deidososnomercadodetrabalho.Naverdade,houve

crescimentotantodonúmerodeidososquantodo

númeroidososnomercadodetrabalho;porém,o

crescimentonapopulaçãoidosafoimaisacentuado,o

queéesperadotendoemvistaoprocessodetransição

demográ�icaobservadanoBrasil.

Adicionalmente,constatou-sequeaentradanomerca-

dodetrabalhotemsidopostergadacomopassardos

anos,oquepareceestarrelacionadoaoaumentoda

quali�icaçãodosjovens,comoconsequênciadacres-

centedemandapormãodeobraquali�icadanoPaís.

Analisandoaparticipaçãodoidosonomercadode

trabalhoporgênero,observa-seque,comoavanço

daidade,aquedadaparticipaçãodoshomensno

mercadodetrabalhoémaisabruptadoqueaqueda

dasmulheres.Paraoshomens,apartirdos79anos,

Page 37: Artigos - FIPE

37temas de economia aplicada

junho de 2014

veri�ica-sequedamaisacentuada,quepodeestarassociadaaotipodetrabalhodesempenhadopelohomemque,emgeral,exigemaioresforço�ísico.Outroaspectoquemerecedestaqueéaaproximaçãodopercentualdeparticipaçãodosidososaposentadosnomercadodetrabalhode1992a2012,oquesedeveamaiorinserçãodasmu-lheresnomercadodetrabalhoe,consequentemente,maioracessoaosbene�íciosprevidenciários,es-pecialmenteàsaposentadorias.

Napopulaçãomasculinaidosa,aocupaçãopredominanteédecontaprópria(apartirdos54anos),se-guidopelaocupaçãodetrabalha-dornaproduçãoparaopróprioconsumo(apartirdos69anos).Nocasodapopulaçãoidosafeminina,aocupaçãomaiscomumde59a70anoséadecontaprópriae,apartirdos74,éadetrabalhadoranapro-duçãoparaopróprioconsumo.

Emrelaçãoaorendimentomédiodetodasasfontes,percebe-sequeomesmoacompanha,comcertadefasagem,omovimentodataxadeocupaçãoparaambosossexos.Particularmenteentreasmulhe-residosas,aquedanorendimentomédioémenosacentuadadevidoapercepçãoderendaoriundadepensão,oqueépoucorepresenta-tivonacomposiçãodarendatotaldoshomensidosos.

ORGPS,em2012,contavacom2,6milhõesdecontribuintespessoa�ísica(empregadosecontribuintesindividuais)erepresentavaapenas4%dototaldecontribuintes. Em1996,essenúmeroerade901,7

milcontribuintes,erepresentava3,4%dototaldecontribuintes,ouseja,umcrescimentopercentu-almuitopequenoem16anos.Aquestãomostra-serelevanteaosefazeramesmacomparaçãocomoscontribuintesmaisjovens(16a29anos).Em1996,oscontribuin-tesdeaté29anosrepresentavam40,4%donúmerodecontribuintesdoRGPSe,em2012,passarama34,3%. Assim,em1996oRGPScontavacom12contribuintesdeaté29anosparacadacontribuin-teacimados60anos.Jáem2012essamesmarelaçãoestavaem8,6,evemapresentandotendênciadequedadesde2002.Ficaevidentequeaparticipaçãodoscontribuin-tes idososnoRGPSéumcontra-pontoimportanteàpostergaçãodaentradanomercadodetrabalhodosmaisjovens.

Entreoscontribuintesacimade60anos,em2012,46%eramcontri-buintesempregados,ouseja,maisdametadeeramcontribuintesin-dividuais.Jáentreoscontribuintesdeaté29anos,osempregados,nomesmoano,representavam90%do totaldecontribuintes. Essaprevalênciadecontribuintesin-dividuaisfrenteaoscontribuintesempregados,comidadeacimade60anos,podeterrelaçãocomotipodeatividadedesempenhadapelosidosos,commaisautonomia

e�lexibilidadedehorário.

Referências

BRASIL.Leinº8.842/99,de04dejaneirode1994.PolíticaNacionaldoIdoso.Dis-ponívelem:<http://www.planalto.gov.

br/ccivil_03/Leis/L8842.htm>.Acesso

em:05abr.2014.

CAMARANO,A.A.Oidosobrasileironomer-

cadode trabalho.Riode Janeiro: IPEA,outubrode2001.TextoparaDiscussãon.830.

IBGE.Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/>.Acessoem:03abr.2014.

MPS.AnuárioEstatístico daPrevidênciaSocial.Brasília:MPS,2012.

1 Asideiaseopiniõesexpressasnestanotasãodeinteiraresponsabilidadedosseusautoresenãore�letemaposiçãodequalquerinstituiçãoàqualestejamvinculados.

2 OestudoadotaoconceitodeidosopresentenaLein°8.842,de4dejaneirode1994,ouseja,aquelesindivíduosqueemcadaumdosanosestudadostinhampelomenossessenta(60)anosdeidade.

3 Fonte: InstitutoBrasileirodeGeogra�ia eEstatística(IBGE).

4 Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/conceitos.shtm#pea.Acessoem:03abr.2014.

5 Fonte:Nesse artigo, considera-se taxadeproteçãoprevidenciária entreos idososapercentagemde idososaposentadosoupensionistasemrelaçãoàpopulaçãototaldeidosos.

(*)CoordenadoradePesquisasPreviden-ciáriasdaCoordenaçãoGeraldeEstudos

PrevidenciáriosdaSecretariadePolíticasdePrevidênciaSocialdoMPS.BacharelemEco-nomiapelaUniversidadedeBrasília(UnB).(E-mail:carolina.dossantos@previdencia.

gov.br).(*)AuditorFiscaldaReceitaFederaldoBra-sil,lotadonaCoordenaçãoGeraldeEstudosPrevidenciáriosdaSecretariadePolíticasdePrevidênciaSocialdoMPS.(E-mail:edvaldo.

[email protected]).

Page 38: Artigos - FIPE

38 temas de economia aplicada

junho de 2014

Instituições Fiscais Independentes: o Próximo Passo para a Me-lhora na Qualidade da Política Fiscal?

F������ R���� (*)

Aestruturainstitucionalquego-

vernaaexecuçãodapolítica�iscal

desempenhaumpapelimportan-

teparaaqualidadedas�inanças

públicas.Desta forma,regrase

instituições�iscaisbemestabele-

cidasedotadasdecredibilidade

sãofundamentais.Estaspodem

evitargastosedé�icitsqueacabem

resultandoemumsetorpúblico

grandeeine�iciente,podemgaran-

tiraestabilidadedapolítica�iscale

podemreduziroescopoparaativi-

dadesderentseeking.

Semsombradedúvida,forammui-

tososavançosrealizadospara

melhoraraqualidadedas insti-

tuiçõesdestinadasapromovero

equilíbrio�iscalnoBrasil.Entre

essesavançosépossíveldestacar

oafastamentodoBancoCentral

do� inanciamentodasdespesas

�iscais,acriaçãodaSecretariado

TesouroNacional,osprogramasde

extinção/privatizaçãodeempresas

públicasebancosestaduais,opro-

gramadeajuste�iscaldeEstadose

municípioseaaprovaçãodaLeide

ResponsabilidadeFiscal(LRF).

NocasoparticulardaLRF,existem

evidênciasdequeoslimitesesta-

belecidostiveramimpactospositi-

vossobreoequilíbrio�iscal,resul-

tandoemaumentodaarrecadação

tributáriaereduçãodasdespesas

decapital(NAKAGUMA;BENDER,

2006).AadoçãodaLRFparece

tambémteratuadopositivamente

aoreduziraprociclicalidadedapo-

lítica�iscal.(ROCHA,2009)

Adespeitodeterrepresentadoum

mecanismo importantede res-

triçãodogastocompessoalede

acumulaçãoexcessivadedívida,a

LRFpode,contudo,acabarperden-

doacredibilidadedevidoaouso

dedispositivoscasuísticospara

contornaroslimitesdegastoses-

tabelecidoseimpediraaplicação

daspenalidadesprevistasnocaso

dedescumprimentodasmetas

�ixadas.Alémdisso,anãoregula-

mentaçãoplenadosdispositivos

presentesnaLeipodefazercom

queelapercarelevância.Aprinci-

pallacunaderegulamentaçãocon-

sistenafaltadeimplementação,

conformeprevisto,doConselho

deGestãoFiscal(CGF).OCGFteria

comotarefaprincipalcuidardos

problemaspráticos(operacionali-

dade)paraocumprimentodaLei

eestabelecernormaseorienta-

çõesquepermitissemacorreção

derumos,alémdedeterminara

formaemqueasinformaçõesse-

riamorganizadaseconsolidadas.

Seupropósitoseriagarantirqueos

limitesdegastoeendividamento

estabelecidosfossemdetalhados

detalformaaserementendidose

atendidosigualmenteportodosos

Estadosemunicípios.Comanão

constituiçãodoCGF,ainterpreta-

çãodosconceitosdedespesade

pessoal,dívidalíquida,etc.éfeita

arbitrariamenteedaformamais

convenienteparaque,pelomenos

emteoria,asexigências�ixadas

sejamatendidas.

Diantedarecentedeterioraçãodas

�inançaspúblicas,umapergunta

quesurgeimediatamenteécomo

fortalecerosincentivosàdisciplina

�iscaleaumentaratransparência

eacredibilidade. Odilemaése

bastaaprimoraraLRF,permitindo

asuaimplementaçãoeaplicação

integrais,ouseéprecisorecorrer

anovasalternativasinstitucionais

pararesolverosdesa�iosqueapo-

lítica�iscalatualapresenta.

Wyplosz(2002)traçaumparalelo

extremamenteinteressanteentre

apolíticamonetáriaeapolítica

�iscalquepodeajudaraentender

comoépossívelavançarnacondu-

çãodapolítica�iscal.

Page 39: Artigos - FIPE

39temas de economia aplicada

junho de 2014

Paracomeçar,osdesa�ioscomque

ambasaspolíticassedefrontam

sãofundamentalmentesimilares.

Seadequadamenteconduzida,a

políticamonetáriapode,nocurto

prazo,terumaaçãocontracíclica

importante;semalusada,pode

gerarcustosde longoprazona

formadein�lação.Apolítica�iscal,

porsuavez,nocurtoprazopode

desempenharumpapelimportan-

tenaestabilizaçãodoproduto;no

entanto,seoperacionalizadainade-

quadamente,nolongoprazopode

levaraumcomportamentonão

sustentáveldadívidapública.O

desa�io,portanto,écomogarantir

umcomportamentoadequadono

longoprazoaomesmotempoem

quealgumas(oumuitas)vezesé

precisodesviardocomportamento

previstonocurtoprazo.

Duranteosanos70e80,aindaque

devidoarazõesdiferentes,avisão

quegradualmentepassouadomi-

narfoiadequeamelhorformade

conduzirapolíticamonetáriaera

atravésdaadoçãodeumaregra.

Aregrapermitiriaconferircre-

dibilidadeaoscompromissosde

longoprazoegarantiria,aomesmo

tempo,umpoucoda�lexibilidade

requeridanocurtoprazo.

Doisaspectos,entretanto,di�icul-

tamoparaleloentreapolíticamo-

netáriaeapolítica�iscal.

Oprimeiroéofatodequeaevi-

dênciaindicaqueapolítica�iscal

érelativamenteine�icaz.Istopor-

que,aocontráriodoqueocorria

nosanos60,acon�iançanahabili-

dadedapolítica�iscaldesuavizar

ocicloeconômicoepromovero

crescimentofoicrescentemente

questionada.

Apartirdodebatedaequivalência

ricardiana,começou-seaacreditar

queosefeitosdapolítica� iscal

dependememgrandemedidade

comoosagenteseconômicosper-

cebemasaçõesdepolítica�iscal.

Aumentostemporáriosnosimpos-

tossãoine�icazesporquelevamos

agentesprivadosaajustaremsuas

poupanças.Assim,oaumentona

poupançadogovernoécompen-

sadoexatamenteporumaredução

napoupançaprivadasemefeito

agregadoalgum.Aumentosper-

manentesnosimpostos,poroutro

lado,carecemdecredibilidade.

Paratornaraquestãoaindamais

complicada,apolítica�iscalenvol-

veriaaindaumaspectodesinaliza-

çãoquenãodeveriasermenospre-

zadoequeimplicaria,naverdade,

efeitoscontráriosaoskeynesianos

tradicionais.Emmuitospaíses,de

fato,cortesgrandesnosgastosdo

governofeitoscomopartedepro-

gramasdeestabilizaçãolevarama

expansõesaoinvésdecontrações

�iscais.Sãoexemplosdeexperiên-

ciasde“contrações�iscaisexpan-

sionistas”:aDinamarcaem1983-

86,aIrlandaem1986-89,aGrécia

em1990-94eaSuéciaem1986-87.

Poroutrolado,algunsajustamen-

tos�iscaispodemsercaracteriza-

doscomo“expansões�iscaiscon-

tracionistas”:Suéciaem1990-93,

Finlândiaem1977-80e1990-92,

Suéciaem1977-79,Japãoem1990-

94eAustráliaem1990-94.

Estasexperiênciasderaminícioao

que�icouconhecidocomo“visão

expectacionaldapolítica�iscal”,

umavezquepartiadapercepção

dequeaanálisekeynesianatradi-

cionalignoravaoaspectodesinali-

zaçãodoaumentonosgastose/ou

cortenosimpostos.Aideiaéqueo

efeitodeumaumentonogastodo

governo,porexemplo,dependedo

aumentoresultantenasobrigações

futurasdeimpostos;maisespeci-

�icamente,osindivíduosreagema

umsinal�iscalmudandosuasdis-

tribuiçõesdeprobabilidadepara

todososgastoseimpostosfuturos.

Suponhaqueaumentosgrandesno

gastopúblicosejamtomadoscomo

sinaldetransiçãoparaumregime

degastosmaisaltose,portanto,

impostospermanentesmaisaltos,

enquantoespera-sequeaumentos

pequenossejamrevertidosnofu-

turo.Seesseéocaso,umaumento

grandenosgastosreduzoconsu-

moprivadoeumaumentopequeno

nosgastosnãoafetaoconsumo

privado(FELDSTEIN,1982).1

Estudosempíricoscon�irmaram

quecontrações�iscaisexpansio-

nistaseexpansões�iscaiscontra-

cionistasefetivamenteacontecem

etentaramresponderàquestão

desobquecondiçõesumaconso-

lidação�iscalimplicaum“boom”

ou,contrariamente,umaexpansão

�iscaltrazumarecessão.2Umdos

determinantesapresentadosna

Page 40: Artigos - FIPE

40 temas de economia aplicada

junho de 2014

literaturaparaaexistênciadenão

linearidadesdapolítica�iscaléa

composiçãodoajustamento�iscal

(ALESINA;PEROTTI,1995,1997

eALESINA;ARDAGNA,1998).3

Ocorteemitens“intocáveis”do

orçamento(comotransferências,

seguridadesocialesaláriosdos

funcionáriospúblicos) sinaliza

queumamudançaderegimeefe-

tivamenteocorreu,estimulando,

então,oprodutoatravésdeuma

ondadeotimismo. McDermott

eWescott(1996)tambémargu-

mentamqueconsolidações�iscais

têmmaiorprobabilidadedeserem

bem-sucedidas4quandoamelhora

orçamentáriaéobtidacortando-se

osgastosdoquequandoéconse-

guidaaumentando-seos impos-

tos.Alémdisso,quantomaiora

magnitudedaconsolidação�iscal

maioraprobabilidadedesucesso.

MinShi(2002)procuraanalisar

osajustamentos�iscaisempaíses

latino-americanos,seguindoAle-

sinaePerotti(1995)eAlesinae

Ardagna(1998).Osdadosrejeitam

fortementeahipótesedequeaper-

tos�iscaisconduzemàcontração

macroeconômicanocurtoprazo.5

Nãosefaz,contudo,qualquerinfe-

rênciacomrelaçãoàimportância

dacomposição.

Osegundoaspectoquedi� icul-

taoparaleloentreaspolít icas

monetáriae�iscaléofatodeas

medidas�iscaisestaremsujeitas

aumlongoprocessodecisório,o

quenãoocorrecomasmedidasde

políticamonetária,quepodemser

de�inidasdeformabastanterápi-

da.Alémdisso,nãoéfácilavaliara

restriçãoorçamentáriacomquese

defrontaosetorpúblico,egrande

partedasmudançasnecessáriasna

esfera�iscaldevemseraprovadas

peloCongresso.Oresultadoéum

altograudepolitizaçãoquena-

turalmenteenvolvediferençasde

opiniãoeinteressesequetambém

abreasportasparaatividadesde

lobby.

Fatoéque,adespeitodasmaiores

di�iculdadesenvolvidasnacondu-

çãodapolítica�iscalecomcerto

atrasoemrelaçãoàsregrasmo-

netárias,asregras�iscaisnosúlti-

mosanosganharamimportância,

passandoaseradotadasporuma

sériedepaíses.AHolanda,aNova

Zelândia,aSuécia,oReinoUnidoe

osEstadosUnidosestabeleceram

limitesanuaisparaosgastos.A

NovaZelândiaeaPolôniaintrodu-

ziramregrassobresuasdívidas.Os

paísesmembrosdaUniãoMonetá-

riaEuropeiaestãosujeitosaoPacto

deCrescimentoeEstabilidade,

queformalizaoprocedimentode

dé�icitexcessivoespeci�icadono

TratadodeMaastricht.Dealguma

forma,regras�iscaisjáestãoem

vigorhámuitotempo.Programas

doFMI,emgeral,incluemobjeti-

vos�iscaisquantitativos,comuma

sançãoexplícitanocasodenão

cumprimento(asuspensãodopro-

gramadeempréstimo).

Naprática,regras�iscaistêmsido

adotadasporumasériederazões:

1)paragarantirestabilidadema-

croeconômica,comoocorreuno

Japãonopós-guerra;2)paraga-

rantiracredibilidadedapolítica

�iscaleajudarnocontroledosdé-

�icits,comoemalgumasprovíncias

canadenses;3)paraalcançara

sustentabilidadedelongoprazoda

política�iscal,especialmentedado

oenvelhecimentodapopulação,

comonaNovaZelândia,e4)para

reduzirasexternalidadesnegati-

vasdentrodeumafederaçãoouar-

ranjointernacional,comonaUnião

MonetáriaEuropeia.

Regras�iscaispodemserde�inidas

comoumtarget(outargets)para

apolítica�iscal,assimcomoum

conjuntodecondiçõesquedevem

serseguidascasoestetargetou

targetsnãosejamalcançados.6

Aadoçãoderegras�iscaislevanta

umasériedequestõessobre�lexi-

bilidade,credibilidadeetranspa-

rência.7Regras�iscaisnãopodem

serextremamenterestritivase

limitarahabilidadedogoverno

deadotarumapolítica�iscalcon-

tracíclicaquandonecessário,o

queseriatotalmentelegítimo.Por

outrolado,aindaquealguma�le-

xibilidadesejadesejávelparaque

aregrasejaoperacional,�lexibili-

dadedemaispodefazercomque

arestriçãosejasimplesmenteine-

�icaz.Regras�iscaisdevemainda

sertransparentes,oqueimplica

quenãodevemserextremamente

complicadas,devemserfáceisde

monitoraredevemserde�inidas

emtermosdeindicadores�iscais

quepodemserfacilmentecompre-

endidos.

Page 41: Artigos - FIPE

41temas de economia aplicada

junho de 2014

Aabordagemmaismodernade

bancoscentrais,dadastodasestas

questões,substituiuasregrasmo-

netáriasporinstituiçõesadequa-

das.Seguindoocaminhoaberto

pelaNovaZelândia,umnúmero

crescentedepaísesdelegouacon-

duçãodapolíticamonetáriaaum

ComitêdePolíticaMonetáriain-

dependentequetinhacomotarefa

claraebásicamanteraestabilida-

dedepreços.Instituiçõesaparece-

ram,então,comoumaalternativa

àsregrasnosentidodeforneceros

incentivosparaqueaautoridade

monetárianãodesviassedosseus

compromissos.

Seguindoatendênciaobservada

naconduçãodapolíticamonetária,

passou-seasugerirqueapolíti-

ca�iscalacompanhasseomesmo

caminho,sendoasregras�iscais

complementadaspornovasinsti-

tuições�iscais.Estasinstituições

� iscais,denominadasconselhos

�iscais( �iscalcouncils)seriamor-

ganismospúblicosindependentes,

cujosobjetivosseriampreparar

previsõesmacroeconômicaspara

oorçamento,monitorarodesem-

penho �iscale/ouaconselharo

governoemassuntos�iscais.Estas

instituiçõesseriambasicamente

�inanciadasporfundospúblicose

seriamfuncionalmenteindepen-

dentesdasautoridades�iscais.

Defato,observou-serecentemente

ummovimentoanível interna-

cionaldeadoçãodeinstituições

�iscais independentes( �iscalwa-

tchdogs)comatarefademonitorar

as�inançaspúblicas.

Denovousandooparaleloentre

aspolíticasmonetáriae �iscal,é

importanteumaressalva.Apolí-

ticamonetáriaémuitomaissim-

plesdoqueapolítica�iscal.Apo-

líticamonetáriatratadequestões

macroeconômicascomoin�lação,

crescimentoetaxadecâmbio.A

política�iscal,poroutrolado,en-

volvetambémfunçõesredistribu-

tivas.Assim,adecisãosobreota-

manhodosgastos,ade�iniçãodos

objetivosqueosgastosdevematin-

gir,aescolhadequegastosdevem

serpriorizadoseadecisãosobre

aestruturadosistematributário

nãopodemserdelegadasaum

únicoagente.Contudo,apolítica

�iscalenvolvetambémumafunção

queémacroeconômicaeestapode

serdelegadaaumúnicoagente

–oconselho�iscalindependente.

ComoosComitêsdePolíticaMone-

tária,osconselhos�iscaisdeveriam

incluirumpequenonúmerodepes-

soasquali�icadas,escolhidaspara

exercerummandatolongoenão

renovável.Teriamoapoiodeum

grupotécnicoquedeveriaproduzir

suasprópriasprojeçõesdascondi-

çõeseconômicasedasvariáveisor-

çamentárias.Operariamsobuma

restriçãoexplícitaquegarantiriaa

sustentabilidadedadívidaaolongo

deumhorizonteapropriado,�ican-

dolivrenocurtoprazoparaoptar

pordé�icitsesuperávits,desdeque

justi�icadospelassuasanálisesda

situaçãocorrenteefuturadaeco-

nomia(WYPLOSZ,2002).

Emsuma,aprogramaçãoeaexe-

cuçãodapolítica�iscalsãores-

ponsabilidadedoExecutivoedo

Legislativoeassimdevemcon-

tinuarsendo.Aoconselho�iscal

independentecaberiaamelhorada

qualidadedapolítica�iscal,forne-

cendo,porexemplo,estimativasda

receitaorçamentáriaeavaliação

degastos.

Háumagranderesistênciaamu-

dançasnaavaliaçãoeconduçãoda

política�iscalnoBrasil.Aexperiên-

ciabem-sucedidadealgunspaíses

comasinstituições�iscaisindepen-

dentesapontaumaalternativaeo

momentoémaisdoqueapropriado

para,pelomenos, fazermosuma

re�lexãosobreela.

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1 Outrasreferênciasnaliteraturasobreefei-tosantikeynesianosdapolítica�iscalsão:BertolaeDrazen(1993),Sutherland(1997),Perotti(1999),Giavazzi,JapelliePagano(2000).

2 Osestudosempíricossobreepisódios�iscaispodemserclassi�icadosemduasaborda-gens:

1)Procuradistinguirosepisódioscombaseemcritériosexpost(porexemplo,osucessoda consolidação�iscal emreduzira razãodívida/PIB)edescreverascaracterísticasdoimpulso�iscaleocomportamentoassociadodeváriasvariáveisendógenas.

2)Procuradistinguirosepisódios�iscaiscombasenum critério exante (porexemplo,o tamanhoouapersistênciadoestímulo�iscal)e,então,avaliaroefeitodaaçãodogoverno sobrevariáveis endógenas, taiscomooconsumoprivadoeoinvestimento.

3Outras razõesapontadas pela literaturaparaqueumaconsolidação �iscal tenhamaiorprobabilidadedeser expansionistasão:umadívidapúblicaaltaouquecrescerapidamente(PEROTTI,1999)eotamanhoeapersistênciadoimpulso�iscal(GIAVAZZI;PAGANO,1990,1995).

4 Consolidações �iscaisbem-sucedidas sãode�inidas comoaquelascontrações �iscaisque fazem com quea razão dívida/PIBcomeceadeclinarecontinuecaindonumatendênciadeclinanteporcausadamudançadiscricionárianapolítica�iscal.

5 Consolidações �iscaisbem-sucedidasouduradourassãoaquelasqueduramporpelomenosdoisanosdepoisque começaram,ouseja, começamnoano teduramatéoanot+kcomk>=2.Osdemaisajustamentos�iscaissãode�inidoscomomalsucedidosoude curtaduraçãoou temporários.Assim,paraMinShi(2002),sucessoéde�inidoem

termosdasustentabilidadedoajustamento�iscal.

6 Regras�iscaisdevemservistascomoobje-tivosintermediáriosedevemsercumpridasparaque sejamalcançadosos objetivosfundamentais: sustentabilidade �iscaldelongoprazo,e�iciência,equidadeemtermosdebem-estarparaasdiferentesgeraçõeseaformaçãodepoupançaprecaucionalparalidarcomcontingênciasinesperadas.

7 Paraumarevisãoextensivadosargumentosafavorecontraaadoçãoderegras�iscais,assimcomoparaaavaliaçãodaexperiênciadealgunspaísesqueadotaramregras�iscais,verKennedyeRobins(2001).

(*)FEA-USP.(E-mail:[email protected]).