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impulso nº 29 99 O PÓS-MODERNISMO E AS CIÊNCIAS SOCIAIS: ANOTAÇÕES SOBRE O ATUAL ESTADO DA DISCUSSÃO Postmodernism and the Social Sciences: notes on the state of the debate Resumo Este artigo apresenta uma visão geral da contribuição de autores clássicos do pós-modernismo, no que concerne à interpretação das novas configurações do social, no último quartel do século XX, bem como em referência às suas estratégias de pro- dução de análise científica. Tentamos mostrar aqui os eventuais pontos de contato entre as teorias pós-modernas do social e as diversas contribuições dos clássicos das ciências sociais, em geral, e da sociologia, em particular, chamando a atenção para os limites im- postos, pelos momentos históricos em que são elaboradas as interpretações mencio- nadas, tanto ao primeiro quanto ao segundo grupo de teóricos. Palavras-chave PÓS- MODERNISMO TEORIA SOCIOLÓGICA METODOLOGIA. Abstract This article presents a general approach of the contribution of postmodern classic authors on the interpretation of new configurations of societies in the last quarter of the Twentieth Century as well as the strategies for their scientific analysis production. We try to show here some points of contact between the postmodern social theories and the several contributions of the classics of Social Sciences, specially Sociology, seeking to demonstrate the limits that the historical moments in which the mentioned interpretations are elaborated impose both to the first and second groups of authors. Keywords POSTMODERNISM SOCIOLOGICAL THEORY METHODOLOGY. LEMUEL DOURADO GUERRA SOBRINHO Doutor em sociologia, professor adjunto do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFPB, Campus II [email protected]

ARTIGO - O Pós-modernismo e as Ciências Sociais - Lemuel Dourado Guerra

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O PÓS-MODERNISMO E AS CIÊNCIAS SOCIAIS: ANOTAÇÕES SOBRE O ATUAL ESTADO DA DISCUSSÃOPostmodernism and the Social Sciences: notes on the state of the debate

Resumo Este artigo apresenta uma visão geral da contribuição de autores clássicos do

pós-modernismo, no que concerne à interpretação das novas configurações do social,

no último quartel do século XX, bem como em referência às suas estratégias de pro-

dução de análise científica. Tentamos mostrar aqui os eventuais pontos de contato entre

as teorias pós-modernas do social e as diversas contribuições dos clássicos das ciências

sociais, em geral, e da sociologia, em particular, chamando a atenção para os limites im-

postos, pelos momentos históricos em que são elaboradas as interpretações mencio-

nadas, tanto ao primeiro quanto ao segundo grupo de teóricos.

Palavras-chave PÓS-MODERNISMO – TEORIA SOCIOLÓGICA – METODOLOGIA.

Abstract This article presents a general approach of the contribution of postmodern

classic authors on the interpretation of new configurations of societies in the last

quarter of the Twentieth Century as well as the strategies for their scientific analysis

production. We try to show here some points of contact between the postmodern

social theories and the several contributions of the classics of Social Sciences, specially

Sociology, seeking to demonstrate the limits that the historical moments in which the

mentioned interpretations are elaborated impose both to the first and second groups

of authors.

Keywords POSTMODERNISM – SOCIOLOGICAL THEORY – METHODOLOGY.

LEMUEL DOURADO GUERRA

SOBRINHO

Doutor em sociologia, professoradjunto do Departamento deSociologia e Antropologia da

UFPB, Campus [email protected]

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INTRODUÇÃO

s múltiplas maneiras das quais o termo pós-modernismo temsido usado tornam impossível a tarefa de destacar algunspoucos ensaios, ou um livro específico, como exemplos in-questionáveis do pós-modernismo na sociologia. Reconhe-cendo que a variedade de significados associados aos termospós-modernidade e pós-moderno tem suas raízes na polisse-mia do conceito de modernidade, defende-se neste artigo aidéia de que, ao invés de concentrar esforços na tentativa de

precisar os aspectos conceituais da discussão sobre a emergência da pós-mo-dernidade e do pós-moderno, é mais frutífero destacar uma série de questõescolocadas pelos autores eventualmente classificados como pós-modernos àteoria e à pesquisa social. É a isso que se propõe este artigo, reconhecendo-se os limites ligados ao espaço exíguo para uma discussão desse escopo.

Embora os pós-modernos insistam numa proposta de desconstruçãoda sociologia, ao nosso ver, na verdade, existem pontos que aproximam os di-versos elementos da análise pós-moderna dos principais constituintes da tra-dição sociológica. Em muitas de suas manifestações, aquela se direciona aomesmo tipo de questões que inquietaram a imaginação sociológica, desde osurgimento da disciplina no século XIX. Essas questões incluem as referentesà natureza e extensão das transformações em larga escala nas sociedades oci-dentais, aos seus efeitos correspondentes sobre a natureza da interação e aconstrução das identidades, e à necessidade de novas estratégias metodoló-gicas. Vistas desse modo, as perspectivas pós-modernas mostram, se exami-nadas propriamente, um notável paralelismo com os projetos de Marx, We-ber, Simmel, Durkheim e outros da tradição sociológica clássica, que lutarampara encontrar novas maneiras de entender as mudanças sociais na estruturasocial e no cotidiano, cada um em seu tempo e à sua maneira.

Assim, é possível destacar como algumas das principais mudanças es-truturais enfatizadas nas abordagens pós-modernas as seguintes: o declínioda eficácia política dos Estados-Nação que apareceram na modernidade (tan-to internamente quanto externamente), as transformações econômicas nosprocessos de produção e na organização das relações de produção, e, no cam-po da cultura, o progressivo estabelecimento do consumismo, provavelmen-te a principal atividade social e simbólica das sociedades contemporâneas,mediada pelos meios de comunicação de massa. Tudo isso provocando algu-mas alterações na natureza das categorias sociológicas convencionais, comoas de classe, status, gênero e partidos políticos.

No nível da interação, os autores do pós-modernismo enfatizam o quevêem como uma crescente superficialidade nas relações sociais e as conseqüênciasdestrutivas para a formação da identidade individual. Seu diagnóstico crítico é ba-seado largamente numa extensão da análise de Marx e de Simmel dos efeitosdesintegradores da inexorável mercadorização na vida moderna, aceleradapela forte influência dos meios de comunicação de massa, especialmente datelevisão, nas sociedades contemporâneas. Mead, o teórico clássico que ana-

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lisou a construção da identidade com mais detalhes,postulou essa consideração sobre o desenvolvimen-to das identidades organizadas no que ele chamoude “atitudes sociais generalizadas” da comunidade.Embora Mead tenha reconhecido a crescente com-plexidade do processo de autodesenvolvimento nasaltamente mutáveis sociedades modernas, atribuiu-lhe a produção de indivíduos mais racionais e autô-nomos. Para os pós-modernistas, a perda dos pa-drões gerais comunitários, e sua substituição pelasimagens mercantilizadas produzidas pelos meios decomunicação, inibe a construção de identidades so-ciais estáveis, como sugerido em seus anúncios de“fim de social” e de “desaparecimento do homem”.

Vários ensaios que focalizam as relações entrea produção das ciências sociais e as teorias do pós-moderno discutem muitos desses pontos destaca-dos acima, provendo exposições detalhadas e críti-cas dos maiores representantes do pós-modernismoda teoria social pós-moderna e dos seus métodos,numa tentativa de articulá-los com os cânones daprática do que às vezes é chamado de epistemologiatradicional.

Muitos dos recentes comentários sobre a teo-ria pós-moderna feitos pelos teóricos da sociologiamais convencional têm sido altamente críticos,quando não destrutivos. Alguns negam a validadesubstantiva do pós-modernismo como uma descri-ção da sociedade contemporânea,1 enquanto outroscondenam a crítica proposta pela teoria pós-moder-na como autodestruidora.2 Uma exceção notável éSeidman, que propõe uma profunda reorientação dateoria sociológica baseada nas narrativas pós-mo-dernas, que contam histórias sobre a sociedade comum significado moral, social, ideológico e, talvez,mais diretamente político.3 Na linha de inspiraçãomarxista, destacamos Eagleton, que apresenta umarefinada crítica política e teórica do caráter extrema-mente ambivalente do discurso do pós-modernis-mo.4 Segundo ele, esse discurso é capaz de soar tãoradical quanto conservador. Anderson, ao adotaruma perspectiva mais historiográfica do surgimento

do(s) conceito(s) de pós-moderno,5 faz uma análiseseguindo basicamente a linha jamesoniana, que, evi-tando uma avaliação moral do pós-modernismo,prefere trabalhar no sentido de entender as condi-ções sociocultural-históricas da emergência e do es-tabelecimento do debate a respeito das temáticas etransformações sociais concretas, tornadas objetoda consideração dos teóricos da pós-modernidade.

Entre os temas clássicos na discussão sobre aarticulação das propostas teórico-metodológicas noâmbito do pós-modernismo, destacaremos, com abrevidade imposta pelas limitações do espaço desteartigo, os seguintes: 1. Foucault e suas questões ins-piradas no pós-estruturalismo; 2. o pós-modernis-mo extremista: Baudrillard, a questão do fim do so-cial e o vale-tudo epistemológico proposto por Lyo-tard; 3. a cultura no pós-modernismo: as contribui-ções de Bell e de Jameson; 4. os questionamentosdos pós-modernos à Teoria Social; 5. metodologiaspropostas pelos pós-modernos: a desconstrução e asociossemiótica; 6. o impacto das propostas meto-dológicas pós-modernas sobre a teoria social: o casoda etnologia.

FOUCAULT E AS QUESTÕES DE INSPIRAÇÃO PÓS-ESTRUTURALISTA

O entendimento de Foucault sobre pós-mo-derno, a despeito de sua negação dessa classificação,também pode ser justificado pela sua crítica à racio-nalidade do iluminismo, às abordagens totalizadorasda história e da sociedade, e às teorias humanísticasdo sujeito.6 Todas essas críticas são temas-padrõesdas teorias pós-estruturalistas, mas um aspecto, pelomenos, contribui para distanciar a abordagem deFoucault daquelas dos outros pensadores franceses,entre eles, Baudrillard, Lyotard, Deleuze e Guattari:mesmo falhando na distinção entre as diferentesformas de conhecimento e poder, e tendo escritopouca coisa sobre a sociologia como disciplina, Fou-cault disse muito a respeito da sociologia da disci-plina, abrindo a possibilidade de várias aplicações doseu pensamento na construção da abordagem socio-lógica do mundo contemporâneo.

1 Cf. GIDDENS, 1990; e CALHOUN, 1992. 2 Cf. COLLINS, 1990; e ALEXANDER, 1991.3 SEIDMAN, 19991, p. 141.4 EAGLETON, 1998.

5 ANDERSON, 2000.6 Cf. BEST, 1994.

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É desnecessário afirmar a relevância do traba-lho de Michel Foucault para as ciências sociais con-temporâneas, em geral, e, particularmente, para a so-ciologia. Sem querer fazer aqui uma síntese do pen-samento foucaultiano, cabe destacar alguns pontosrelativos à sua trajetória e contribuição, que justifi-cariam sua inclusão no conjunto de autores pós-modernistas. Em primeiro lugar, podemos localizarnas mudanças do pensamento de Foucault, quandoele passa dos primeiros estudos arqueológicos aoenfoque genealógico sobre as intrincadas relaçõesentre as formas de discurso e o poder, que ele re-nuncia a seus interesses na gênese abstrata do con-ceito de subjetividade nas sociedades modernas, emfavor de uma preocupação maior com a gênese prá-tica das modernas representações do sujeito e damoralidade, dentro do contexto das estratégias so-ciais de dominação.

Em uma entrevista concedida por Foucaultcinco meses antes de sua morte, ele declarou que arelação entre a questão do conhecimento e a do po-der não era mais o problema de maior importânciapara ele, a não ser como instrumento de entendi-mento do problema mais fundamental das relaçõesentre sujeito e verdade.7 Essa descrição de Foucaultsobre a sua principal preocupação intelectual ajuda aclarear o que muitos comentadores viram como[um complicado distanciamento da análise do po-der observada em seus últimos livros, colocando-ojunto com outros pós-modernos que promovem acentralização da discussão referente ao sujeito, à(s)subjetividade(s), integrados ambos na consideraçãoda questão do corpo e da identidade, no âmbito dasciências sociais.8

A abordagem foucaultiana das maneiras pelasquais os indivíduos modernos se constituem comosujeitos e objetos do conhecimento, sua reflexão so-bre a natureza do poder na modernidade e sua ver-são do nascimento das ciências humanas lançaramnova luz sobre algumas das principais preocupaçõesda sociologia clássica. A exemplo de outros pós-modernistas, Foucault tentou dar conta das imensasmudanças na economia, tecnologia e cultura das so-

ciedades capitalistas do século XX, elaborando umacrítica contundente dos valores do iluminismo e dealguns aspectos da teoria social moderna.

A teoria sociológica pode lucrar muito valen-do-se de uma confrontação com o pensamentopós-moderno em geral. Em Foucault, que não eraespecificamente um sociólogo, é possível encontrarpelo menos três aspectos inspiradores de uma socio-logia da sociologia, podendo ser utilizados na recon-figuração do campo, no sentido de criar nele condi-ções capazes de garantir a validade e a relevância dasatividades dos sociólogos. O primeiro deles é suasugestão implícita de uma abordagem sociológicaque adote uma visão multiperspectivística da reali-dade, combinando as abordagens da filosofia, dahistória e da ciência política; o segundo, sua propo-sição de desmantelamento da idéia de sociedadecomo unidade ou totalidade, chamando a atençãopara o fato de ela se constituir apoiada num amálga-ma de discursos, instituições e práticas. Isso podeajudar os sociólogos a refazer suas estratégias deanálise e a recompor os vocabulários com base nosquais as interpretações do mundo social são por elesconstruídas; o terceiro, sua contribuição para que ossociólogos aprendam a suspeitar das operações depoder, da racionalidade, do conhecimento e dasnormas sociais, das estratégias de construção dossujeitos e mesmo das propostas de emancipaçãoformuladas no âmbito da sociedade. A perspectivasugerida e praticada por Foucault tem a vantagemde recusar o hiper-relativismo de muitos dos seuscolegas pós-modernos, na medida em que enfatiza aconcretude das práticas de poder e subjugação. Des-se modo, pode contribuir também para a redefini-ção do papel do sociólogo, que, na sua visão, nãodeve se dar ao luxo de produzir análises sociais pordiletantismo, mas tem a obrigação de colaborar,com seus trabalhos, para os movimentos de resis-tência política.9

Embora ligados a uma mesma tradição teóri-co-filosófica, e partilhando da mesma cultura, Lyo-tard e Baudrillard, autores que serão comentados aseguir, tomarão direções que se distanciam da visão

7 FOUCAULT, 1988.8 Cf. EAGLETON, 1998.

9 Política aqui é entendida no sentido foucaultiano: lutas de resistência aosmecanismos de poder e de subjugação que se encontram pulverizados emtoda a extensão do tecido social.

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foucaultiana dos tempos pós-modernos. Vamos aeles!

OS PÓS-MODERNOS EXTREMISTAS: BAUDRILLARD E LYOTARD

A dramática afirmação, feita por Lyotard, deque as fontes de legitimação da ciência e da filosofiano ocidente, nos moldes estabelecidos pelo ilumi-nismo, não seriam mais viáveis10 e a provocativa tesede Baudrillard de a sociologia e seu objeto, o social,serem obsoletos11 são duas das citações mais bom-básticas dentro das contribuições da literatura pós-moderna.

Embora Lyotard e Baudrillard tenham ambosse preocupado em fornecer abordagens antifunda-cionistas que questionam a relevância das formastradicionais de teoria sociológica, cabe aqui lembrartambém que há uma diferença significativa nas tra-jetórias intelectuais desses dois teóricos, sempreomitidas nos comentários de suas obras. EnquantoBaudrillard direciona sua análise pós-moderna paraconclusões lógicas e niilistas, Lyotard permanecesensível à necessidade de modelos, caracterizado emseu mais recente trabalho, em que busca uma teorianão-representacionista de julgamento, que ainda en-contra lugar para uma crítica política e social.12 Nele,Lyotard exibe uma sensibilidade às complexidadesda teorização e da política pós-modernas no declí-nio das metanarrativas, que parece faltar na recenteproposta de abordagens antifundacionistas à teoriana sociologia contemporânea.13

Aspectos da Contribuição de Jean Baudrillard à Teoria do Pós-moderno

Dois aspectos merecem ser destacados no queconcerne à teoria do pós-moderno de Baudrillard. Oprimeiro deles é o fato de que, partindo da teoriza-ção de Marx a respeito do capitalismo, Baudrillardatua no sentido de “atualizar” as análises marxistasao que chama de capitalismo tardio, ou capitalismode consumo. Para Baudrillard, num sentido marxis-ta, isto é, aquele segundo o qual os teóricos somente

podem enfrentar problemas cujas soluções estejaminscritas no próprio conjunto de possibilidades ob-jetivas históricas, Marx não podia antecipar o que eleconsidera o lado escuro da dialética, revelado so-mente na pós-modernidade, que determinou umaevolução do fetichismo racionalista da mercadorianão na direção do telos da revolução, baseada naemergência da consciência do papel revolucionárioda classe proletária, mas na de uma progressiva se-paração entre os signos e a produção, e entre os sig-nos e o valor de uso. Essa cisão entre o regime dossignos e o da produção, para Baudrillard, determinao tipo de problema enfrentado na pós-modernida-de: não mais os ligados à dinâmica interna da esferada produção, mas aqueles relacionados ao desejo eao significado.

Um segundo ponto da contribuição de Bau-drillard à teoria da pós-modernidade difere do pri-meiro aqui citado, porém, se relaciona com ele. Daanálise desse regime de separação entre signo e sig-nificado, o autor infere que alguns problemas ex-tremamente significativos serão enfrentados pelasciências sociais pautadas na análise das sociedadesmodernas. Para ele, as estratégias de representaçãodo real advogadas pela sociologia moderna tor-nam-se inteiramente obsoletas num mundo ondeos indivíduos “existem unicamente como partesindiferenciadas no seio das massas” e elas mesmas“somente existem como pontos de convergênciade tudo o que as ondas da mídia as descrevem”.14

Essa descrição dos indivíduos na sociedade con-temporânea corresponderá ao que Baudrillardanuncia como o “fim do social”. Ele afirma que asmassas silenciosas são agora “a-sociais”, resistentesa qualquer pedagogia, a toda educação socialista. Oque configura a impossibilidade de aplicação dosprocedimentos epistemológicos ligados à tarefa ra-cionalista da sociologia moderna de construir repre-sentações do mundo social numa conjuntura emque tudo é reduzido a um simulacro de si mesmo.

Lyotard e o Fim das Narrativas Totalizantes

Afirmando, como Baudrillard, que o marxis-mo não responde mais às exigências de uma teoria10 LYOTARD, 1988.

11 BAUDRILLARD, 1994.12 LYOTARD, 1996.13 Cf. SEIDMAN, 1991. 14 BAUDRILLARD, 1983, p. 39.

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de entendimento do contemporâneo, Lyotard criti-ca Marx em sua pretensão de universalidade. Essatendência totalizante caracteriza, segundo o autor, amodernidade, que ele irá negar, alinhando-se nessatarefa com Foucault,15 Rorty16 e Feyerabend.17 As-sim como eles, Lyotard combate a tendência da fi-losofia de trabalhar no sentido da reconstrução mí-tica da “missão” da prática científica. O que ele co-loca em discussão é se o discurso científico é unica-mente privilegiado e se é necessário enfrentar aquestão sobre as maneiras pelas quais a relação entreele e a verdade de seus referentes se estabelece e sefirma.

De acordo com Lyotard, o discurso autoritá-rio, quer se defina quer não como “científico”, nãopode sustentar-se sem referência a narrativas quesão parte e emergem do mundo real. O cientistatende a resistir a essas narrativas, classificando-ascomo “selvagens, primitivas, subdesenvolvidas, atra-sadas, alienadas, atravessadas pela opinião, costu-mes, autoridade, preconceito, ideologia”.18 Isso sig-nifica que a narrativa “científica” têm como pressu-posto manter sua legitimidade fora da discussão, en-quanto promove a construção de regras cada vezmais rigorosas, objetivando a colocação da legimiti-dade de outras narrativas sob avaliação constante.

Valendo-se dessa contestação ao caráter únicodo discurso científico, Lyotard defende a emergên-cia das práticas científicas pós-modernas, que se ca-racterizam por serem heterogêneas e variadas, combase não na idéia de plausibilidade e validade totali-zantes, mas numa visão de ciência como jogo, o queimplica uma definição incluindo a incerteza e o aca-so. Essa proposta, vinculada ao conceito de jogos delinguagem, elaborado por Wittgenstein, exige tam-bém a proposição de um novo critério de legitima-ção, ligado à performatividade:

Podemos dizer hoje que o processo de la-mentação se completou. Não há necessida-de de começar tudo outra vez. A força deWittgenstein está no fato de que ele não op-tou pelo positivismo que estava sendo de-

senvolvido pelo círculo de Viena, mas deli-neou em sua investigação sobre os jogos delinguagem um tipo de legitimação que é ba-seada no desempenho. É nisso que se baseiao mundo pós-moderno.19

Como vemos pelo exposto acima, Lyotard eBaudrillard podem ser considerados em termos deuma divisão de trabalho dentro da teoria pós-mo-derna-francesa: enquanto Lyotard se concentra es-pecialmente numa metacrítica da teoria social e da fi-losofia moderna, Baudrillard enfatiza as conseqüên-cias das mudanças definidas como caracterizadorasdo estabelecimento da pós-modernidade. Ambostrabalham com a idéia de que, nas sociedades capi-talistas avançadas, declina o consenso legitimadordas sociedades burguesas modernas, o que os rela-ciona às contribuições de dois dos mais importantescomentaristas do pós-modernismo nos EstadosUnidos, Fredric Jameson e Daniel Bell.

A CULTURA NA TEORIA PÓS-MODERNA: BELL E JAMESON

Mais especificamente em referência ao campoda cultura nos tempos da pós-modernidade, duasteorias merecem ser salientadas, a de Bell e a de Ja-meson. Os dois pensadores têm visões divergentesa respeito do papel da cultura na promoção da de-sintegração do consenso normativo nas sociedadescontemporâneas. Bell localiza a origem da culturapós-moderna no espraiamento das tendências re-beldes da estética moderna, que, de acordo com ele,anteriormente limitavam-se apenas ao trabalho e àsvidas de grupos seletos de artistas e escritores, masa partir dos anos 60 levaram a contracultura para ocotidiano das massas. Sob a direção das elites cultu-rais comercialmente orientadas, mais proeminente-mente pelos meios de comunicação de massa, a or-dem moral da sociedade burguesa, segundo Bell, es-taria sendo substituída por uma imoral “pornoto-pia”, na qual virtualmente tudo é possível.

Jameson também descreve a cultura pós-mo-derna em termos de uma ruptura normativa nas so-ciedades capitalistas avançadas, no entanto, ele teo-riza sobre seu advento mais diretamente como um15 FOUCAULT, 1973 e 1980.

16 RORTY, 1989.17 FEYERABEND, 1975 e 1987.18 LYOTARD, 1984. 19 Ibid., p. 41.

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efeito cultural de transformações fundamentais nomodo capitalista de produção. Sua análise dessasmudanças deriva da teoria de Mandel a respeito docapitalismo multinacional como a fase mais pura eabstrata do capitalismo. Visto dessa forma, o caráterfragmentário e superficial da cultura contemporâ-nea pós-moderna é o correspondente de um siste-ma econômico descentralizado, cujos constituintessão crescentemente difíceis de localizar e definir,uma vez que as fronteiras entre a produção materiale a produção e circulação de signos são objeto deuma crescente imbricação.

Jameson e Bell, em seus estudos críticos da“pós-modernidade”, partilham a idéia da necessida-de de construir narrativas generalizadoras para com-preender e colaborar na transformação da sociedadee da cultura pós-modernas. Essa preocupação os di-ferencia da corrente de teóricos franceses, segundoos quais qualquer tentativa nesse sentido será tantohistoricamente obsoleta quanto politicamente peri-gosa. Bell prevê e propõe o retorno à religião – queforneceria uma base para a reconstrução de umamoral coletiva – como a única maneira de superar astendências perturbadoras na cultura pós-moderna,embora ele não seja suficientemente preciso a res-peito da maneira que o “religioso” irá retornar, nemsobre como suas próprias tendências destruidoraspodem ser evitadas.20

A análise de Jameson do momento pós-mo-derno levou-o a enfatizar as transformações da es-fera da cultura em suas articulações com a dinâmicado sistema capitalista. Ele caracteriza a cultura pós-moderna com base em algumas marcas básicas, to-das relacionadas à mais recente fase de desenvolvi-mento do sistema capitalista. A primeira delas é asuperficialidade, denotada no caráter fundamental-mente anti-hermenêutico dos produtos e teorias ar-tísticas contemporâneos. Essa marca também podeser encontrada, segundo Jameson,21 nas transfor-mações teóricas denominadas pós-estruturalistas. Asegunda é o enfraquecimento da historicidade, queproduz, tanto no âmbito da coletividade quanto noda subjetividade, sociedades com uma tendência pa-

tológica à incapacidade de lidar com o tempo pre-sente e a história, como também à fragmentação dosujeito, substituto pós-moderno do fenômeno mo-derno da alienação.22

Uma terceira marca da cultura na pós-moder-nidade é uma nova tecnologia diferenciada daquelasdos períodos anteriores, pelo fato de não ter ne-nhum poder visual ou emblemático representacio-nal. Essa nova tecnologia é significativa, pois é metá-fora apenas do novo estilo de organização econômi-ca-política-cultural: a emergente rede informacional,descentrada e global do capitalismo multinacional.O computador e a televisão são encenações do tiponovo de sociedade, para o qual nosso equipamentoperceptivo ainda não está preparado, formado quefoi com base em noções completamente diferentesde tempo, espaço e velocidade.

Fundamentando-se nesse esboço da culturacontemporânea, do momento pós-moderno, Jame-son estabelece o que deve ser a tarefa da teoria socialpós-moderna: dar nome ao sistema, classificá-lo,produzir uma organização em meio à confusão dossignos e das novas conjunturas. Com o reconheci-mento das dificuldades enfrentadas pelos indivíduospara definir seu status de sujeito nessa nova ordem,constituída pelo estabelecimento de uma sociedadede rede global e da intensificação crescente da con-figuração multinacional do capital, Jameson propõecomo uma saída possível a estética política do ma-peamento cognitivo.23 Essa proposta prevê a produ-ção do sentido de localização individual local e na-cional, mas que inclua uma compreensão partindoda percepção do contexto mais próximo e imediatoem referência ao contexto espacial mais amplo. Paraele, esse mapeamento cognitivo é conditio sine quanon à renovação das estratégias políticas socialistasna pós-modernidade.

A seguir, passaremos a comentar algumaspropostas e objeções metodológicas levantadas noâmbito da contribuição dos pós-modernos às ma-neiras de conduzir a pesquisa social ligadas às ciên-cias sociais modernas.

20 BELL, 1980.21 JAMESON, 1991.

22 Cf. idem, 1984.23 Ibid. e 1991.

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METODOLOGIAS PROPOSTAS PELOS AUTORES PÓS-MODERNOS: A SÓCIOSSEMIÓTICA E A DESCONSTRUÇÃO

O impacto do pós-modernismo como estra-tégia metodológica fica mais evidente na etnografiacontemporânea e nas abordagens feministas. Maisuma vez, tem havido aqui uma reação defensiva porparte de alguns pesquisadores mais convencional-mente orientados,24 chegando a ponto de elogiar,como mérito de dois livros recentemente publica-dos, o fato de “não darem nem um milímetro deatenção à sedução atualmente exercida pelo pós-modernismo e pela desconstrução”.25 Outros, to-davia, têm sido mais abertos a estratégias alternati-vas de representação do mundo social em seus pró-prios trabalhos, incorporando, seletivamente, al-guns temas pós-modernos.26 Duas principais pro-postas metodológicas têm sido discutidas comoestratégias de pesquisa social pós-moderna, a saber,a sociossemiótica e a desconstrução.

Aspectos da Metodologia Sociossemiótica

É inegável o significado da semiótica nas aná-lises pós-modernas. Sua dupla origem, nos escritosde Saussure e nos de Peirce, determina as diferençasentre seus aportes, particularmente quanto ao statusdo mundo externo. A formulação de Peirce, defen-sora da inclusão do mundo externo dos objetos ma-teriais na teoria da significação, é, ao nosso ver, maisutilizável na análise concreta dos fenômenos sociaise culturais do que a de Saussure.

Concordamos com Gottdiener na crítica àmaneira pela qual alguns sociólogos têm empregadoa semiótica como uma estratégia metodológica pós-moderna, ligando sua apropriação a visões saussurea-nas idealistas, seguindo o viés dos pós-estruturalistasfranceses, especialmente o de Baudrillard.27 Esse au-tor propõe um uso mais conseqüente da semióticana pesquisa social pós-moderna, sugerindo-lhe umterreno empírico mais firme, mediante a sociosse-

miótica, cujas premissas básicas apresentamos a se-guir:

1. Os signos capturam a articulação entre osuniversos de significados e o mundo material. Póstrás do infinito regresso do significado existe ummundo real objetivo ou referentes objetivos, comosugere Peirce, mesmo se o objeto é um elemento defantasia construído, como um unicórnio, que existeparte como um texto, parte como uma imagem.Isso significa que pelo menos alguém deve ter vistouma imagem do unicórnio, ou alguma descrição le-xicográfica, de modo a poder “saber” como um uni-córnio é. Ao contrário da desconstrução, que lidacom a filosofia da consciência, fazendo uma análiseda “culturalista” da cultura, ou, em outras palavras,criticando representações, ou imagens mentais, va-lendo-se de um intérprete independente da cultura,sem nenhuma necessidade de conexão com o con-texto social ou com a prática social, a sociossemió-tica preocupa-se em abordar a articulação do mentale do extra-semiótico, da dimensão material da vidacotidiana com as práticas significativas dentro decontextos sociais mais amplos.

2. Os sistemas de significação são estruturasmultinivelares que determinam os signos denotati-vos e, além disso, os códigos particulares nos quaisse inscrevem os valores sociais, ou, no dizer de Bar-thes, as ideologias conotativas da cultura. Para a so-ciossemiótica, todos os significados emergem dessadimensão mais codificada e mais articulada. A posi-ção epistemológica principal da sociossemiótica é ade que a conotação precede a denotação. Tanto omundo objetivo, produzido nele mesmo, quanto onosso entendimento dele derivam de ideologias co-dificadas, que são aspectos constituintes das práticassociais.

3. Embora haja o nível da vida cotidiana, ca-racterizado pelas complexas conotações do hiper-real – modos de representação que focalizam a ima-gem e sua manipulação pela mídia, como afirmaBaudrillard –, isso não implica que as coisas signifi-cadas não existam. Os significados são eles mesmosbaseados na experiência do cotidiano, que é o en-contro do mundo material, que dá origem e suporteaos sistemas de valores e códigos da cultura. Novossignificados estão sendo constantemente criados

24 Cf. LOFLAND, 1993. 25 Ibid., p. 3. 26 Cf. RICHARDSON, 1990; DENZIN, 1991 e 1992; CLOUGH,1992; PFOHL, 1992. 27 GOTTDIENER, 1985.

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pelas pessoas por meio de suas interações sociais eexperiências vividas.28

4. Os signos circulam em sociedades avança-das entre o nível da experiência vivida, o de sua cria-ção através dos valores de uso na vida cotidiana, e ode sua expropriação pelos sistemas hierárquicos depoder, incluindo seu uso como valor de troca nomercado de bens de consumo. Assim, os signos nãosão apenas expressões simbólicas, mas também sím-bolos expressivos, utilizados como ferramentas parafacilitar processos sociais.

A premissa geral da sociossemiótica é que qual-quer objeto cultural é tanto um objeto de uso em umdeterminado sistema social com uma genealogia eum contexto quanto um componente em um certosistema de significações. A base da sociossemiótica éa polissemia e a necessidade de analisar a articulaçãodos objetos culturalmente dados com os vários siste-mas de signos, partindo-se do ponto de vista do pro-dutor e do consumidor de cultura.29

A análise sociossemiótica aponta para algunsdesenvolvimentos futuros da pesquisa social, pro-pondo, em primeiro lugar, a consideração da culturamaterial com base na análise da circulação dos sig-nos, dando atenção, inclusive, aos significados resi-duais, e, em segundo, a interpretação da cultura ma-terial em suas relações com as ações comunicativas.Isso significa reconhecer que as ações organizadasfundadas no uso de objetos como meios de expres-são caracterizam muito da cultura. Em último lugar,sugere um aporte metodológico capaz de dar contada polissemia que marca a pós-modernidade, foca-lizando, inclusive, o papel das relações de poder nadefinição dos significados que serão legitimados edos que serão relegados à obscuridade e enviados àsmargens do discurso social.

Aspectos da Metodologia da Desconstrução

Outra proposta metodológica ligada ao pós-modernismo é a desconstrução. Alguns autores

têm procurado demonstrar como ela pode ser em-pregada enquanto estratégia interpretativa de pes-quisa sobre textos culturais. De acordo com Derri-da e outros pensadores pós-estruturalistas, a defini-ção de textos culturais inclui tratados científicos epolíticos, bem como produções artísticas e literárias,sendo o critério para transformá-los em objetos dadesconstrução o da representação científica equivo-cada de seus conteúdos como únicos e fixos, supri-mindo, por isso, outras possibilidades de interpreta-ção.

A aplicação da desconstrução em disciplinasacadêmicas além da filosofia tem obedecido duas li-nhas gerais. A primeira, liderada pelos críticos lite-rários da Yale, Geoffrey Hartman e J. Hillis Miller,defende uma abordagem interminavelmente abertae infinita de leitura de textos, celebrando o impulsolúdico dionisíaco do pensamento de Nietzsche. Asegunda apropriação, defendida mais enfaticamentepelo teórico de literatura britânico ChristopherNorris, critica a abordagem lúdica pelo fato de que,nela, qualquer coisa cabe, propondo em seu lugaruma maneira mais rigorosa de desconstrução detextos que identifique um número limitado de in-terpretações alternativas.30

O desconstrucionismo, assim como o pós-mo-dernismo e o modernismo, é um termo complexo. Éum conceito intimamente ligado às análises filosó-ficas de Jacques Derrida,31 cujo trabalho consiste,em certo sentido, numa continuação do ataque deHusserl à crise do empiricismo no Ocidente. Tam-bém é influenciado pela teoria estruturalista da lin-guagem elaborada por Saussurre, na investida radicalde Nietzsche aos sistemas objetivos de verdade e doconhecimento, na crítica de Freud ao sujeito auto-consciente e na de Heidegger à metafísica ocidental.

Metodologicamente, o desconstrucionismodirige-se à interrogação de textos. Ele envolve a ten-tativa de escavar e revelar os significados implícitos,os vieses e os preconceitos que estruturam a manei-ra pela qual um texto conceitua sua relação com o

28 Cf. Ibid. 29 Gottdiener oferece um exemplo das vantagens das estratégias de pes-quisa semiótica baseadas em Peirce, apresentando o que ele chama de umaanálise sociossemiótica da Disneylândia, ao relacionar a construção do seudesign e a escolha dos seus temas à biografia de Walt Disney e aos códigosde consumo dominantes da cultura de massa dos Estados Unidos (1982).

30 Um bom exemplo da aplicação da concepção de Norris, acima citada, éa leitura de Denzin do filme The Morning After, bem como o seu últimotrabalho, em que associa a análise desconstrucionista com os estudos cul-turais. Cf. DENZIN, 1992. 31 DERRIDA, 1976; e DERRIDA et al., 1981.

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que ele descreve. Isso requer que os conceitos tra-dicionais, a teoria e a compreensão que cercam umtexto sejam revelados, incluindo a suposição de quea intenção de um autor pode ser facilmente deter-minada.

As estratégias-chaves da desconstrução, oudo desconstrucionismo, incluem: 1. romper com asfórmulas que fazem corresponder palavras escritas apalavras faladas, palavras faladas a experiências men-tais, e a voz ao pensamento; 2. demonstrar a inde-terminação fundamental do significado; 3. indicar aprodução textual do sujeito como um sistema de di-ferenças; 4. atacar a capacidade mimética de um tex-to em relação à representação da experiência; 5. de-senvolver o que Derrida chama de gramatologia,uma ciência do estudo da escrita, da fala e dos tex-tos, que possibilite a reescrita da história da escrita,desenvolvendo uma nova teoria da escrita e umconjunto de práticas desconstrutivistas gramatoló-gicas.

Como foi visto anteriormente, o pressupostobásico que precisa ser aceito para a desconstruçãoser utilizada na pesquisa social é que a cultura, assimcomo as relações sociais, possam ser encaradascomo textos. Esse princípio se articula à desilusãopresente nos autores pós-modernos com a ciência,concebida como um esforço no sentido de explicarfenômenos subordinando-os a leis gerais. Um dosproblemas que precisam ser enfrentados pelos de-fensores dessa proposta de aplicação do desconstru-cionismo ao entendimento do social é como ligar ostextos às experiências da vida cotidiana dos indiví-duos e aos contextos sociais dentro dos quais aque-les se tecem. Da capacidade de superar a distânciaentre os textos lidos e as narrativas das experiências,do substrato que lhes dá origem dependem a utili-dade e o sucesso do empreendimento desconstru-cionista em termos de pesquisa social.

O IMPACTO DAS PROPOSTAS METODOLÓGICAS PÓS-MODERNAS SOBRE A PRÁTICA DA ETNOGRAFIA

Em termos metodológicos, tem sido signifi-cativo o impacto do pós-modernismo sobre asabordagens etnográficas na antropologia e na socio-logia. Em nenhuma esfera, nas ciências sociais, a in-

trodução da problematização pós-modernista teveefeitos mais profundos do que na reavaliação decomo as etnografias são produzidas. Nessa área, arevisão pós-estruturalista das maneiras convencio-nais pelas quais os autores e textos têm sido defini-dos tem originado várias novas formas de represen-tar os sujeitos da pesquisa de campo.

Convivendo com a maneira tradicional defazer etnografia tanto na antropologia quanto na so-ciologia,32 pelo menos três tipos gerais de etnografiapós-moderna têm ganhado significativa visibilidade:1. o trabalho de campo pós-moderno, que enfatizaa problemática do status do etnógrafo como autor;2. a etnografia radical, que alarga o enfoque da abor-dagem etnográfica no sentido de incluir filmes, pro-gramas de televisão, ficção, sonhos e outras fontesnão convencionais de dados; 3. a etnografia pós-moderna feminista, que desconstrói o viés patriarcalna autoridade etnográfica.

O Trabalho de Campo Pós-modernoPara classificar as maneiras pós-modernas de

fazer trabalhos etnográficos de campo, são usadosconceitos como etnografia interpretativa, experimen-tal, polifônica, epifânica e minimalista.33 O que se so-bressai em todas essas modalidades é a visão do “au-tor” como problemática, sendo atacada o que os et-nógrafos consideram como a falácia do trabalho decampo tradicional, a influência autoritária do etnó-grafo sobre o relato e a interpretação dos dados, me-diante a tentativa de reduzir a influência do pesqui-sador pela criação de oportunidades para que os na-tivos falem por eles mesmos tanto quanto possível.O objetivo é produzir uma “polifonia” de vozes, aoinvés de ouvir uma única voz ou poucas, concebi-da(s) como representativas do universo. Outra ino-vação no trabalho de campo pós-moderno é a ma-neira de escrever os relatos dos contatos com os na-tivos. Nos pontos obscuros, em vez de apresentaruma interpretação, o autor levanta uma série de ques-tões, convidando o leitor a participar do processo in-terpretativo por meio da construção de eventuais res-

32 MANNING, 1989 afirma que muitos etnógrafos não leram os pós-estruturalistas franceses, o que permite à etnografia tradicional continuarsendo um modo proeminente de trabalho de campo.33 Cf. MARCUS & FISCHER, 1986; e DENZIN, 1989.

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postas, capazes de possibilitar uma compreensão pes-soal do contato com os informantes.

Etnografias Radicais ou MultitextuaisUm segundo grupo de etnografias pós-mo-

dernas estendeu a noção de polifonia aos modos evariedades de dados usados em abordagens etnográ-ficas. Já que a vida cotidiana é um texto para ser ana-lisado como qualquer outro,34 o objeto da pesquisaetnográfica pode incluir uma grande multiplicidadede textos. Na antropologia, essa visão tem possibi-litado o uso de poemas, filmes e romances.35

As transformações acima indicadas são maisuma expansão das preocupações já existentes nosetnógrafos tradicionais do que pontos de partida in-teiramente novos em relação ao campo. A despeitode suas diferenças internas, os etnógrafos clássicos,embora bastante confiantes tanto na legitimidadequanto na viabilidade de seu trabalho, já esboçavamuma certa compreensão dos limites e problemasinerentes aos seus métodos.36

As questões morais levantadas pelos etnógra-fos pós-modernos são igualmente objeto de con-trovérsia, na medida em que eles questionam as ma-neiras pelas quais os etnógrafos têm tradicional-mente legitimado seus empreendimentos. Se a et-nografia não pode mais justificar sua ação deaumentar a compreensão e a cooperação entre dife-rentes grupos e culturas, por que continuar comela? Embora isso não se constitua numa questãoimportante para muitos pós-modernistas, é umponto crucial para aqueles que querem continuar fa-zendo etnografias, mesmo que, eventualmente, nosmoldes pós-modernos.

CONCLUSÃONesse momento final do texto, gostaríamos

de tecer alguns comentários rápidos sobre as impli-cações políticas da ênfase na heterogeneidade e nadiferença, presente tanto na teorização propriamen-te dita quanto nas metodologias pós-modernas. O

argumento principal em muito da recente literaturapós-moderna sugere que o conceito marxista de he-gemonia está obsoleto, já que a abrangente frag-mentação nas culturas contemporâneas e nas nor-mas sociais impediria a possibilidade da dominaçãoideológica por um só grupo ou classe. Caberia, por-tanto, valendo-se do reconhecimento da impossibi-lidade de pensar o mundo com base em esquemasde polarização binária, a exemplo da dicotomia mar-xista das classes sociais, propor análises da sociedadeque privilegiem uma consideração das relações e dosarranjos sociais fundada na heterogeneidade e nafragmentação.

Chamamos aqui a atenção dos estudiosos dasociedade para o fato de que tão importante quantoreconhecer esses princípios gerais como os prevale-centes na conjuntura social atual é pensar nas pos-sibilidades abertas pela disseminação dessas idéiasem relação a esse momento “pós-moderno”, emtermos de sua eventual instrumentalização pelosgrupos de interesse e de poder. Concordamos comGoldman e Papson, que questionam a solução daheterogeneidade normativa e do culto ao pluralismopolítico como propícia a produzir nos cientistas so-ciais, e nos indivíduos, em geral, expostos ao discur-so deles, uma atitude ingênua e, eventualmente, en-ganosa.37

Para dar suporte a essa idéia, esses autores fa-zem uma análise de como a hegemonização do dis-curso da heterogeneidade e do pluralismo pode serextremamente útil, por exemplo, à esfera do consu-mo nas sociedades capitalistas ocidentais.38 De acor-do com eles, a condição pós-moderna de ambigüi-dade radical é, inclusive, empregada por publicitáriosnão apenas para vender seus produtos, mas, funda-mentalmente, para reproduzir a ideologia consu-mista do capitalismo contemporâneo.

Goldman e Papson demonstram seu argu-mento por meio de avaliação detalhada de um co-mercial do tênis Reebok, veiculado pela televisão noano de 1988.39 O comercial, carro-chefe da campa-nha da marca citada para aquela temporada, é orga-nizado, como demonstram esses autores, em ter-34 BROWN, 1986.

35 Cf. MARCUS & FISCHER, 1986.36 A própria etnografia “pré-pós-moderna” colocava dúvidas tanto denatureza moral quanto de natureza epistemológica. Geertz, por exemplo,afirma: “os antropólogos adicionaram à preocupação com o ‘isto édecente’ a questão ‘isto é possível?’” (GEERTZ, 1988, p. 135).

37 GOLDMAN & PAPSON, 1991 e 1994.38 Ibid.39 Idem, 1994.

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mos da estética pós-moderna do pastiche, enfati-zando a morte dos afetos, do desejo, da idéia de co-letividade e da esquizofrenia lingüística, além daretirada dos valores e de qualquer proposta de sen-tido intencional dos textos culturais. Eles descre-vem o comercial como um metacomercial, já que eletransforma a atitude céptica e cínica do público emuma mercadoria significativa.

Embora extremo, esse exemplo representa omodo pelo qual os publicitários atualmente se apro-priam das críticas pós-modernas e as convertem, emseus comerciais, num estilo estético, com o objetivode vender seus produtos. Essa nova estratégia podeser situada historicamente como uma resposta à in-tensificação da competição pela preferência dosconsumidores num ambiente de prevalecimentocrescente da cultura do consumo contemporânea, oque exige dos publicitários uma contínua produçãoda diferenciação de suas mercadorias, em um campodos signos comerciais crescentemente povoado ediversificado.

No sentido de avaliar alguns pontos da pro-posta dos teóricos da pós-modernidade, cabe aquimencionar que uma das deficiências da semióticapós-moderna e das abordagens desconstrucionistasé a falha delas em conectar a proliferação de imagense o simulacro na cultura de massas com os proces-sos econômico-políticos de produção de mercado-rias que lhe subjazem. Concentrando suas análisessomente no mundo hiper-real dos signos e dos sig-nificantes, essas abordagens proclamam, equivoca-damente, o fim da produção nas sociedades con-temporâneas. Agindo desse modo, os métodos depesquisa pós-modernos reproduzem, não intencio-nalmente, o empiricismo ingênuo que eles criticamnos métodos de pesquisas positivistas e impedem apossibilidade de uma crítica social e política.

Partilhamos com Mills a convicção de quemuitas de nossas categorias de análise derivam dagrande transição histórica da Idade Média para aIdade Moderna e não são mais generalizáveis paraos nossos dias.40 Todavia, isso não significa dizerque os sociólogos precisam escolher entre uma so-ciologia pós-moderna e uma sociologia do pós-mo-

derno. Ao nosso ver, qualquer abordagem da natu-reza da sociedade e da cultura contemporâneas deveser tanto uma quanto outra, estimulando a forma-ção de novas estratégias analíticas informadas pelasproposições pós-modernas, como a semiótica e adesconstrução, bem como a reprodução de estraté-gias tradicionais e a consideração de teorizações an-teriores, no que elas se revelarem eficientes.

Uma compreensão das perspectivas pós-mo-dernas tem vital importância para futuros projetosde pesquisa social contemporânea, inclusive em seuspontos de contato e de continuidade com a tradiçãonas ciências sociais, em geral, e na sociologia, emparticular, e baseada em uma visão crítica da relaçãoentre as mudanças ocorridas no campo intelectual ede sua articulação com o estado do mundo real.Nesse sentido, um dos pontos a serem considera-dos com bastante cuidado é a recusa dos autorespós-modernos em incluir, em sua proposta de leitu-ra das culturas como textos, a necessidade de ir alémdos mesmos, incluindo suas possíveis bases no âm-bito do mundo da produção. Mesmo nos shoppingcenters contemporâneos, que alguns teóricos identi-ficam como emblemáticos do hiper-espaço pós-moderno, a sociedade do espetáculo é subsidiadapelo pagamento de salários abaixo do mercado aosproletários dos serviços urbanos. Consideramosnão menos importante do que o reconhecimentodas mudanças que caracterizam o nosso tempocomo diferente de outros anteriores, o que exige doscientistas sociais um investimento ousado num es-forço de teorização e explicação do mundo contem-porâneo, a tarefa de considerar a temática da desi-gualdade e da exploração na configuração dos atuaisespaços públicos de glorificação e de reprodução dosistema de mercadorias-signos-valores.

Embora uma parte significativa da crítica dospós-modernos à sociologia moderna possa ser con-siderada válida, argumentamos aqui que ela apresen-ta com freqüência um retrato excessivamente redu-tor das teorias de pensadores como Marx, Weber,Durkheim e Simmel. Se lidos corretamente, é pos-sível encontrar também nesses teóricos o reconhe-cimento das limitações da representação do mundosocial, a visão da existência social como resultadoprecário de forças integradoras e fragmentadoras, e40 MILLS, 1961.

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a percepção dos sujeitos como possuidores de umalimitada racionalidade, e parcialmente integrados eauto-articulados, dependendo sempre de condiçõeshistóricas mutáveis.

Falhando em reconhecer esses aspectos desua própria proposta, no afã de marcar a originali-dade e a independência de suas abordagens de quais-quer outras que as precederam – sendo nesse pontomuito mais modernos do que pós-modernos –, oscríticos da teoria social moderna, os pós-modernis-tas pecam por confundir alguns elementos essencia-listas das abordagens fundantes com o todo da teo-rização clássica do social.

Assim como é possível um olhar crítico sobrea contribuição dos sociólogos clássicos, determina-dos e limitados pelo tempo em que escreveram,nosso olhar sobre o momento atual do pós-moder-no – pois podemos observar as transformações dastendências teóricas assim classificadas – indica que ateoria pós-moderna pode, ela mesma, ser vistacomo uma abordagem especificamente histórica,representando uma reação ao fim da era pós-guerraou uma produção teórica influenciada por uma visãopessimista dos regimes conservadores que atualmen-te governam as superpotências do Ocidente.

Ao nosso ver, uma posição sensata não podese eximir de considerar as objeções propostas pelos

teóricos da pós-modernidade tanto à teoria socialmoderna quanto às metodologias de pesquisa socialtradicionais delas resultantes. Ao mesmo tempo, nolugar de adotar uma visão excessivamente fragmen-tada e a-histórica, ela implica assumir a tarefa de pro-por a construção de uma teoria social contemporâneacompreensiva, que descreveria simultaneamente asestruturas institucionais centrais da sociedade e ela-boraria diacronicamente seus modelos e processoscentrais de desenvolvimento.

Essa teorização sobre o tipo de sociedade glo-bal seria, a um só tempo, sensível às preocupaçõespós-modernas em relação aos preconceitos clássicosdo iluminismo e capaz de perceber as eventuais pos-sibilidades de identificar as continuidades em ter-mos de organização dos diversos arranjos sociais.Além de permitir a consideração das novas configu-rações da tecnologia, da cultura e das experiênciassociais, ela permitiria o resgate do que, na teoria so-cial clássica, permanece válido não somente pelasafinidades eletivas dos pesquisadores da sociedadecom essa ou aquela corrente teórica, mas tambémporque se revelam eficazes na construção de um en-tendimento claro sobre o mundo contemporâneo,inclusive em referência à aspiração por mudançassociais eventualmente consideradas necessárias, oque dá à teoria social sua vitalidade e significado.

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