Aplicação da Teoria Literária

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    FACULDADE INTEGRADA DAGRANDE FORTALEZA

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    Diolema Ferreira Gomes de Oliveira

    Emlia passos de Oliveira BezerraJos Rogrio Viana de Oliveira

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    78p. 21 cm.1.Teoria Literria 2. Potica 3. Crtica 4. Esttica

    COPYRIGHT 2007 BY EDITORA GRANDEFORTALEZA

    ESTA OBRA OU PARTE DELA NO PODE SERREPRODUZIDA POR QUALQUER MEIO SEM A

    AUTORIZAO DO EDITOR.FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE

    FORTALEZADireo GeralRenata Peluso de Oliveira

    Direo do Ncleo de Educao a Distncia (NEAD)

    Marina Abifadel BarrozoDireo Acadmica

    Paulo Roberto Melo de Castro NogueiraCoordenao Pedaggica do

    Ncleo de Educao a DistnciaJoo Jos Saraiva da Fonseca

    Snia Maria Henrique Pereira da FonsecaEditora Responsvel

    Renata Peluso de OliveiraCoordenao de Divulgao Acadmica

    Maria das Graas Freire de OliveiraCapa

    Clio Gomes VieiraEDITORA GRANDE FORTALEZA FGF

    Av. Porto Velho, 401 - Joo XXIII-Fortaleza/CE -CEP. 60510040

    Tel. (85)3299-990/Fax. (85)[email protected]

    Bezerra, Emlia Passos de Oliveira Bezerra; Oliveira,Diolema Ferreira Gomes de; Oliveira, Viana Jos

    Rogrio .Aplicao da Teoria Literria . Fortaleza:Editora Grande Fortaleza FGF, 2007.

    Catalogao da Publicao: BibliotecaCentralProfa. Antonieta Cals de Oliveira-FGF

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    SUMRIO

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    Objetivo Geral.................................................. 9

    UNIDADE I

    A FORMAO DA TEORIA LITERRIA

    Objetivos.......................................................... 10

    UNIDADE I

    TEMA 1 TEORIA LITERRIA

    Objetivos Especficos ...................................... 11

    1.1 Introduo.................................................. 12

    1.2 Resumo ..................................................... 14

    1.3 Auto-avaliao........................................... 15

    1.4 Bibliografia................................................. 15

    TEMA 2 A PERSPECTIVA HUMANSTICA DA

    LITERATURA

    Objetivos Especficos ...................................... 16

    2.1 Introduo.................................................. 17

    2.1 Retrica ..................................................... 17

    2.3 Potica....................................................... 18

    2.4 Esttica...................................................... 19

    2.5 Resumo ..................................................... 19

    2.6 Auto-avaliao........................................... 20

    2.7 Bibliografia................................................. 20

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    TEMA 3 A PERSPECTIVA CIENTFICA DA

    LITERATURA

    Objetivos Especficos ...................................... 21

    3.1 Introduo.................................................. 22

    3.2 Histria da Literatura ................................. 22

    3.3 Crtica Literria .......................................... 26

    3.4 Cincia da Literatura.................................. 27

    3.5 Teoria da Literatura ................................... 28

    3.6 Resumo ..................................................... 29

    3.7 Auto-avaliao........................................... 30

    3.8 Bibliografia................................................. 30

    TEMA 4 OS CAMPOS DE ESTUDO

    Objetivos Especficos ...................................... 31

    4.1 Introduo.................................................. 32

    4.2 Resumo ..................................................... 34

    4.3 Auto-avaliao........................................... 34

    4.4 Bibliografia................................................ 34

    TEMA 5 A PRTICA DA ANLISE LITERRIA

    Objetivos Especficos ...................................... 35

    5.1 Princpios Gerais ....................................... 36

    5.2 Resumo ..................................................... 40

    5.3 Auto-avaliao .......................................... 40

    5.4Bibliografia .................................................. 40

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    UNIDADE II

    O APARECIMENTO DAS CORRENTES

    Objetivos.......................................................... 41

    TEMA 1 CORRENTES TEXTUALISTAS

    Objetivos Especficos ...................................... 42

    1.1 Crtica Biogrfica ....................................... 43

    1.2 Crtica Determinista ................................... 43

    1.3 Crtica Impressionista ................................ 44

    1.4 Crtica Formalista....................................... 44

    1.5 Estilstica.................................................... 45

    1.6 A Nova Crtica ......................................... 47

    1.7 Resumo ..................................................... 48

    1.8 Auto-avaliao........................................... 48

    1.9 Bibliografia................................................. 48

    TEMA 2 CORRENTES TICO-POLTICAS E/OU

    SOCIOLGICAS

    Objetivos Especficos ...................................... 50

    2.1 Crtica Existencialista................................. 51

    2.2 Crtica Marxista.......................................... 51

    2.3 Crtica Sociolgica..................................... 52

    2.4 Esttica da Recepo................................ 52

    2.5 Resumo ..................................................... 53

    2.6 Auto-avaliao........................................... 53

    2.7Bibliografia .................................................. 54

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    TEMA 3 A TEORIA LITERRIA COMO CINCIA

    Objetivos Especficos ...................................... 55

    3.1A Teoria Literria constitui ou no uma cincia?

    ......................................................................... 56

    3.2 Resumo ..................................................... 57

    3.3 Auto-avaliao........................................... 57

    3.4 Bibliografia................................................. 60

    TEMA 4 A CONTRIBUIO DE ROLAND

    BARTHES

    Objetivos Especficos ...................................... 61

    4.1O Prazer do Texto Obra E Texto............. 62

    4.2 Resumo ..................................................... 64

    4.3 Auto-avaliao........................................... 65

    4.4 Bibliografia................................................. 65

    TEMA 5 OS CAMINHOS DA CRTICA

    BRASILEIRA

    Objetivos Especficos ...................................... 66

    5.1 Breve Histrico ......................................... 67

    5.2 Resumo ..................................................... 68

    5.3 Auto-avaliao........................................... 68

    5.4 Bibliografia................................................. 68

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    Objetivo Geral

    O mdulo de Teoria Literria I prope o amploestudo acerca da atividade crtica comomtodo interpretao do texto literrio, apartir dos critrios desenvolvidos ao longo doprocesso de estruturao do tema enquantodisciplina.

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    UNIDADE I

    A FORMAO DA TEORIA LITERRIA

    Objetivos

    Destacar o papel da Teoria da Literatura nacompreenso do fazer literrio; as perspectivashumanstica e cientfica e seus elementosformadores; o campo de estudos e os limitesdas disciplinas conexas como Lingstica,Sociologia, Psicologia etc.; bem como umareflexo sobre a importncia da prticaanaltica dos textos literrios.

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    UNIDADE I

    TEMA 1TEORIA LITERRIA

    Objetivos Especficos

    Reconhecer a Teoria Literria como campometodolgico compreenso do fazer literrio.

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    1.1 Introduo

    Como compreender a natureza do literriosegundo a Teoria Literria?Conhecida como Teoria Literria, Crtica Literria,s vezes, Teoria Crtica, esta disciplina propeestabelecer uma base terica capaz decompreender o fenmeno literrio.Sabemos que toda interpretao parte de ummtodo de estudo; no caso da interpretaoliterria, o objetivo da Teoria Literria o deformular critrios consistentes, como: a relaoautor e obra, a base temtica que permeia o texto,as abordagens histricas, a relevncia lingstica,sua caracterizao, atravs da distino doselementos que a compem, bem como os

    elementos inconscientes do texto etc.Como atividade deinvestigao, a crtica seexerce no sentido deconduzir-se para dentrodos vestgios deixadospelo literrio. Assim, ateorizao sobre oobjeto literrio leva constituio de um

    mtodo de estudo, decorrente do prprio objeto.Se nos voltarmos para a etimologia da palavra

    mtodo, melhor apreenderemos o seu significado:do grego mthodos, de meta-e hods estrutura-sea idia de caminho para e por onde. Esse caminhode penetrao na obra deve ser apontado por ela,deve atender sua especificidade, no podendo,por isso, traar-se aprioristicamente. A

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    metodologia no pode pressupor o texto. Omtodo, em sua atuao dinmica, o prprioobjeto funcionando.Cabe crtica literria desempenhar suas funesde caracterizao da obra, objetivando reconduzi-la sua origem, ao seu fundamento. Qualquer queseja a via de acesso escolhida (sociolgica,psicolgica, lingstica), deve ser entendida comoum modelo de investigao dinmico e aberto sinmeras possibilidades.O investigador deve ter a conscincia de que suavia de acesso obra no a nica, nem a totaliza.Isto porque toda produo literria transcende asfronteiras do explcito e do implcito e nos guiaincessantemente para o no-limite, para o veladoterritrio que se esconde na descoberta de cadaimagem.

    A crtica conjuga um modo de ser (da obra) comum modo de ver (do crtico), ambos plantadoshistoricamente. Vejamos um exemplo:

    O Boi e a R:

    Uma r viu um boi que tinha uma boa estatura.Ela, que era pequena, invejosa, comeou a inflar-se para igualar-se ao boi em tamanho. Depois dealgum tempo, disse: Olhe-me, minha irm, j o bastante? Estou do tamanho do boi:

    De jeito nenhum. E agora? De modo algum. Olhe-me agora. Voc nem se aproxima dele.O animal invejoso inflou-se tanto que estourou.

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    (apud. Fiorin,2003, p.101).

    Poderamos perguntar: qual o modo de ser dotexto em questo? Trata-se de uma histria deanimais ou de homens? Os personagens so asduas rs e o boi, que so animais. No entanto,certos termos, como invejosa, disse, comoquerer igualar-se ao boi so elementos prprios doser humano. H no texto ento um trao designificao humano, o que nos obriga a ler afbula como uma histria de gente. No planohumano, a r no a r, mas o homem invejosoque faz tudo para igualar-se a quem ele inveja.Aspectos particulares ao formato do texto como ognero narrativo, a base temtica, os traossemnticos, a coerncia lingstica, etc aliceram

    as bases interpretativas inscritas no prprio textoem questo.Caber ao leitor (ao modo de ver), agrupar oselementos significativos (temas, figuras, traossemnticos, linguagem particular etc), percorr-lospor inteiro, localizando suas recorrncias eparticularidades, a fim determinar um plano deleitura, de interpretao.H textos que permitem mais de uma leitura. Asmesmas figuras podem ser interpretadas segundomais de um plano de leitura, outras no.

    1.2 Resumo

    A Teoria Literria a disciplina que estabelecemtodos de estudo interpretao do textoliterrio, a partir de critrios como a relao autor eobra, a base temtica, as abordagens histricas,

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    os aspectos lingsticos etc. Mas, , sobretudo, apartir do prprio texto que a investigao literriadeve acontecer.

    1.3 Auto-avaliao

    A que concluses podemos chegar de acordo como trecho: a crtica conjuga um modo de ser (daobra) com um modo de ver (do crtico), ambosplantados historicamente. Escreva um pequenotexto a partir das suas reflexes.

    1.4 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A biblioteca

    imaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao daTeoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE I

    TEMA 2A PERSPECTIVA HUMANSTICA DA

    LITERATURA

    Objetivos Especficos

    Identificar os elementos formadores do termoTeoria da Literatura, tendo como parmetrosduas perspectivas: 1. a perspectivahumanstica representada pelas disciplinasRetrica, Potica, Esttica; 2. a perspectivacientfica com as disciplinas Histria daLiteratura, Crtica Literria e Cincia daLiteratura;

    Delimitar seu campo de estudos e statusenquanto disciplina e o estabelecimento dosseus limites com disciplinas conexas, como

    Lingstica, Sociologia, Psicologia,Antropologia, etc;

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    2.1 Introduo

    As disciplinas humansticas constituem a prpriabase do ideal de cultura representado peloHumanismo. Essas disciplinas so a Retrica, aPotica e a Esttica.

    2.2 Retrica

    A Retrica surge naSiclia no sculo V a.C., como estratgiadiscursiva de um fato

    poltico-econmico,convinha sereloqente para

    convencer;considerada comohabilidosa

    manipulao tcnicada linguagem, capaz de convencer e renderadmirao social pelo brilho dos efeitos verbais,mesmo quando a argumentao se pe emdesacordo com a verdade. Logo aps, torna-seinstrumento dos profissionais da palavra, osespecialistas do discurso, prestando com seuknow-how servios remunerados (cobravam asaulas de eloqncia), e dele auferindo

    reconhecimento social.Segundo Barthes, a mbito da Retrica comportaseis prticas afins: 1 - uma tcnica, ou arte, nosentido clssico (a arte da persuaso); 2 - umensino (foi matria de exerccios, lies, provas);3 - uma cincia ou protocincia (delimitado campo

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    de observao dosefeitos dalinguagem;classificao dessesefeitos;metalinguagem); 4 -uma moral (sistemade regras); 5 - umaprtica social(tcnica que assegura aos segmentos sociaisdominantes a propriedade da palavra); 6 - umaprtica ldica uso caricato do sistema deregras. (apud SOUZA, 1987, p.30).

    2.3 Potica

    Retrica e Potica so

    disciplinas que nem sempre seapresentam com clareza. Oprimeiro tratado sistemticoacerca da disciplina Potica o de Aristteles, que a entendecomo imitao do real. NaIdade Mdia, ela se dilui naRetrica com os tratados deversificao,

    voltados para o inventrio e descrio das formaspoticas consagradas na Antiguidade. A partir dosculo XV e incio do sculo XVI, a Potica inicia

    seu ciclo final que se prolonga at o sculo XVIII.Hoje o nome Potica concorre com Teoria daLiteratura, servindo para designar a disciplinacontempornea cujo campo a Literatura.

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    Potica tambm deve ser entendida, segundo PaulValry, como obra do esprito. O esprito vai evolta, modifica o que produzido por seu ser maisinterior, atravs da sensao particular dojulgamento dos outros. fruto de longos cuidadose rene uma quantidade de tentativas, derepeties, de eliminaes e de escolhas. Exigindomeses de reflexo e pode supor tambm aexperincia e as aquisies de uma vida inteira.

    2.4 Esttica

    Somente a partir do sculo XVIII a Esttica transformada numa disciplina autnoma. Elacomparece cena da investigao da Literatura,como disciplina autnoma e individualizada pelo

    nome que lhe prprio. Segundo estudos deBaumgarten, a Esttica est circunscrita aos fatosligados sensibilidade e percepo. Alinhadacom um conceito de Arte, colocando-se emconsonncia tanto com a ordem da emergenteCincia moderna, quanto com a ideologia doRomantismo, a Esttica se habilita a tomar, nocampo da investigao da Literatura, o lugar atento ocupado pela Retrica e pela Potica.

    2.5 Resumo

    A Retrica, a Potica e a Esttica so instnciasreflexivas, pois so disciplinas abrangentes daFilosofia. Inicialmente, a Retrica se cristalizoucomo a arte da oratria, e a Potica como a arteda poesia, embora sejam consideradas irms(quase siamesas). A Esttica se habilita a tomar,

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    no campo da investigao literria, o lugarocupado pela Retrica e pela Potica, aoencaminhar um entendimento da linguagem comotransparncia aos fatos de razo e sensibilidade.

    2.6 Auto-avaliao

    De acordo com o estudo realizado, podemos dizerque as palavras que melhor definem as disciplinasRetrica, Potica e Esttica so persuaso,imitao e percepo sensvel? Explique.

    2.7 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A biblioteca

    imaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria.So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao daTeoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE I

    TEMA 3A PERSPECTIVA CIENTFICA

    DA LITERATURA

    Objetivos Especficos

    Identificar o processo de construo das novas

    realizaes de investigao da Literaturaatravs da histria.

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    3.1 Introduo

    A investigao da Literatura no sculo XIX sedesenvolveu no sentido de desagregar a snteseconstruda pelos resultados convergentes das trsdisciplinas humansticas j consideradas. Dessemodo impem-se novas realizaes histricas deinvestigao da Literatura.

    3.2 Histria da Literatura

    Na Histria da Literatura cabe distinguir trsdiretrizes principais: biogrfico-psicolgica, asociolgica e a filolgica.

    ngulo biogrfico-psicolgico: Sobretudo a

    partir da convico romntica de gnio, que segeneralizou o estudo da Literatura comolevantamento de biografias (histria do indivduo)bem como o estudo da Literatura no escapou nova seduo da Psicologia concebida comoCincia total. Desenvolveram-se investigaes daLiteratura a partir de pontos de vista psicolgicos,visando ao escritor, ao processo criador, aocontedo de psiquismo presente nas obras.

    ngulo sociolgico: Desde os primrdiosoitocentistas que a sociologia tem prestgio junto

    aos estudiosos de Literatura. Segundo AntnioCndido, preciso uma correta restrio aoenfoque sociolgico da Literatura, pois nemsempre possvel admitir relaes diretas e dotipo causal entre o literrio e o social, afirmandoser indispensvel crtica o seguinte: ... ter

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    conscincia da relao arbitrria e deformante queo trabalho cientfico estabelece com a realidade,mesmo quando pretende observ-la e transp-larigorosamente, pois a mimese sempre umaforma de poiese (apud SOUZA, 1987, p.73). Noentanto, segundo o mesmo Antnio Cndido, hseis modalidades bsicas, alm das inmerasvariantes, de estudos da Literaturasociologicamente orientados: 1 - Trabalhos cujafinalidade estabelecer uma relao entre aLiteratura e as condies sociais, tendentes a umaexposio paralela do social e do literrio; 2 -Estudo da literatura enquanto espelho dasociedade. Essa seria uma modalidade maissimples e comum, tendente mais Sociologiaelementar do que Crtica Literria; 3 - Estudo darelao entre a obra e o pblico; 4 - Pesquisa da

    posio e funo social do escritor, relacionando-as com a natureza de sua obra, a fim de, emltima instncia, estabelecer os vnculos posio-funo social do escritor/obra/organizao dasociedade; 5 - Estudo da funo poltica dasobras e dos autores; 6 - Investigao hipotticadas origens da Literatura em geral ou de certo(s)gneros em particular.

    Vejamos o exemplo abaixo:

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    Pivete(Chico Buarque

    Composio: Francis Hime e Chico Buarque)

    No sinal fechadoEle vende chicleteCapricha na flanelaE se chama PelPinta na janelaBatalha algum trocadoAponta um caniveteE atDobra a Carioca, olerDesce a Frei Caneca, olarSe manda pra TijucaSobe o BorelMeio se maloca

    Agita numa bocaDescola uma mutucaE um papelSonha aquela mina, olerPrancha, parafina, olarDorme gente finaAcorda pinel

    Zanza na sarjetaFatura uma besteiraE tem as pernas tortasE se chama Man

    Arromba uma portaFaz ligao diretaEngata uma primeiraE atDobra a Carioca, olerDesce a Frei Caneca, olar

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    Se manda pra TijucaNa contramoDana pra-lamaJ era pra-choqueAgora ele se chamaEmersoSobe no passeio, olerPega no Recreio, olarNo se liga em freioNem direo

    No sinal fechadoEle transa chicleteE se chama piveteE pinta na janelaCapricha na flanelaDescola uma bereta

    Batalha na sarjetaE tem as pernas tortas

    Ao analisarmos a cano Pivete, de ChicoBuarque de Holanda, podemos observarelementos semelhantes que descrevem nossarealidade social. O personagem descrito pelo autordemonstra hbitos e atitudes das crianasabandonadas. H uma exposio paralela entre oliterrio e o social.ngulo filolgico: A Filologia surgiu em funodireta da Literatura, permanecendo como tal por

    toda a sua longa histria. Mantm-se assim porcausa da suposta neutralidade de investigao,garantida por seu rigor tcnico, objetividade,submisso dos fatos, ateno exclusiva aoestabelecimento e explicao dos textos.

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    ngulo filolgico: A Filologia surgiu em funodireta da Literatura, permanecendo como tal portoda a sua longa histria. Mantm-se assim porcausa da suposta neutralidade de investigao,garantida por seu rigor tcnico, objetividade,submisso dos fatos, ateno exclusiva aoestabelecimento e explicao dos textos.

    3.3 Crtica Literria

    No sculo XX, a investigao mais rigorosa eespecializada do objeto literrio tem evitado servir-se do termo Crtica Literria, por entend-la comouma expresso comprometida com a atitudeimpressionista. Embora a restrio prtica daCrtica, conforme caracterizamos essa atividade,seja um dos traos identificadores dos estudos

    literrios do presente, isso no significa que apalavra tenha sido banida do vocabulrio tcnico,permanecendo em uso na nomenclatura tcnicade diversas lnguas. No entanto, no escapa a umsignificado ambguo, muitas vezes confundido como de resenha jornalstica, com intuito dedivulgao/publicidade.Vejamos o que afirma Antnio Cndido sobre acrtica literria:

    No posso aproximar-me dapoesia, como crtico, sem

    sentir um certoconstrangimento. Porque,para fugir a uma certa crticadetestvel de impressesvagas e de tiradas semsentido, o crtico vai se

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    esforando por se exprimir emconceitos, que so o resultadode anlises em que o seuesforo foi - por mais que noo quisesse - o deintelectualizar as emoes.

    Submeter a poesia aoprocesso de expresso crtica, de certo modo, sacrlego eperigoso. Sacrlego, namesma medida em que o acrtica musical intelectualizada;perigoso, na medida em que ocrtico sacrifica boa parte dasua experincia potica -passada em regies e em

    termos inefveis - e seintromete pela do leitor adentro.

    (Cndido Antnio, Revista doInstituto de Estudos

    Brasileiros, SoPaulo, IEB, 1994, pp.

    135-139.)

    3.4 Cincia da

    Literatura

    H dois aspectos aconsiderar: oprimeiro, o termo Cincia da Literatura constituiuma preferncia lxica da lngua alem, enquanto

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    realizao histrica no campo dos estudosliterrios; o segundo refere-se crise dohistoricismo implantao da Teoria da Literatura,na qual possvel detectar certa vacilao naescolha entre os mtodos e conceitos daprestigiosa Histria da Literatura.

    3.5 Teoria da Literatura

    A expresso Teoria da Literatura est ligada ampla influncia da obra homnima de Wellek eWarren, publicada em 1942. Desde o incio dosculo XX, vieram-se desenvolvendo diretrizes deinvestigao da Literatura contrrias aos modelosbiogrfico-psicolgico, sociolgico e filolgico.Essas diretrizes cristalizaram-se em grupos emovimentos (hoje tidos como correntes da Teoria

    da Literatura). Mas convm entender por Teoria daLiteratura uma disciplina especfica no campo dosestudos literrios, cuja unidade se achaestabelecida pelo destaque dado ao texto e linguagem, fundamentalmente uma construo depalavras, um arranjo verbal, um artefato delinguagem, ideal largamente compartilhado porinmeras ideologias relativas criao literriadesenvolvida no sculo XX, inclusive as que sepreocupam com as expectativas do receptor, bemcomo a maneira como a obra literria capta arealidade.

    Segundo Luiz Costa Lima, so os filtros, os quese colocam entre a obra e a realidade. Essesfiltros no s permitem distinguir o literrio dono-literrio, mas tambm aponta tratamentoespecfico para cada gnero. Por exemplo, a

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    forma do soneto presa aos catorze versos,dispostos em dois quartetos e dois tercetos constitui uma forma fixa do gnero lrico. Vejamoso exemplo em que o eu potico utiliza-se da formafixa do soneto para expressar amada os seussentimentos mais particulares e nobres utilizando, portanto, o gnero lrico.

    Soneto do Amor Total(Vinicius de Moraes

    Composio: Vinicius de Moraes)

    Amo-te tanto, meu amor... no canteO humano corao com mais verdade...Amo-te como amigo e como amanteNuma sempre diversa realidade

    Amo-te afim, de um calmo amor prestante,E te amo alm, presente na saudade.Amo-te, enfim, com grande liberdadeDentro da eternidade e a cada instante.

    Amo-te como um bicho, simplesmente,De um amor sem mistrio e sem virtudeCom um desejo macio e permanente.

    E de te amar assim muito e amide, que um dia em teu corpo de repenteHei de morrer de amar mais do que pude.

    3.6 Resumo

    A investigao literria no sculo XIXdesenvolveu-se inicialmente a partir das seguintesdiretrizes: biogrfico-psicolgica (histria do

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    indivduo/autor), sociolgica (relao direta entre aobra e a sociedade) e a filolgica (rigor tcnico dalinguagem). No sculo XX, a Crtica Literriaconfunde-se com resenha jornalstica, com altoteor impressionista. Somente com os alemes, aCincia da Literatura pde se ampliada. Emprincpio, como disciplina sistemtica da Literatura,ligada a fatores histricos. Posteriormente,expressada como Teoria da Literatura, cujo campode estudo o texto e a linguagem.

    3.7 Auto-avaliao

    Caro aluno, possvel detectar que a perspectivacientfica da literatura uma evoluo daperspectiva humanstica da literatura? Ou no, soperspectivas independentes, sem vnculos

    histricos? Pesquise e aprofunde os dados.3.8 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A bibliotecaimaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

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    UNIDADE I

    TEMA 4OS CAMPOS DE ESTUDO

    Objetivos Especficos

    Identificar a partir do texto literrio os diversoscampos de estudo.

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    4.1 Introduo

    Segundo Massaud Moiss, a rigor toda anlisetextual contextual.Assim ensina a experincia.Um escrito constitui sempre um ser vivo,empregando regras, aberto a influxos de fora, dacultura em que foi produzido, da Lngua em que foielaborado, a sociedade que o motivou, dos valoresem vigncia no tempo, etc. Se a tudo isso que oenvolve, que lhe informa a circunstncia originria,se atribuir o nome do contexto, imediatodepreender que, efetivamente, toda anlise textualacaba sendo contextual.As relaes da anlise literria com outras formasde conhecimento acontecem comumente. Se umtexto implica questes psicolgicas, obviamente oanalista deve reportar-se cooperao da

    Psicologia; se implica questes filosficas, h derecorrer Filosofia, e assim por diante. Mas,adotar tal procedimento sempre que o texto odeterminar, no porque a isso o arrastem suasopinies e convices ideolgicas. (MOISS,1988, p.18).Sabemos que no fcil abstrair ou neutralizartemperamentos e preconceitos, fantasias duranteo processo de anlise, mas cumpre ao analistaassumir a iseno requerida pelo prpriomovimento da sua inteligncia e sensibilidade aointerpretar o texto que sua curiosidade elegeu.

    preciso se esforar por impedir que a deformaopossa induzi-lo atribuir ao texto aquilo que nopossui ou no pode possuir. Por exemplo:asseverar a existncia de luta de classes nosromances machadianos, ou deixar de perceber oconflito social nas obras de Jorge Amado.

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    Vejamos o poema abaixo:Uma vez

    Uma falaUma foz

    Uma vezuma bala

    Uma falauma voz

    Uma fozuma voz

    Uma balauma vez

    Umavoz

    Uma vala

    Uma vez

    (CAMPOS, Augusto de). In: SIMON, Maria &DANTAS, Vincius de vila.

    (Poesia Concreta, SP, Abril, 1982, p.28.).

    Este poema apresenta como tema a violnciaurbana. Escrito na dcada de 50 prope avalorizao da mensagem a partir do som, daforma visual e da carga semntica das palavras,possibilita mltiplas leituras: a vertical, a horizontal,

    a diagonal; estabelece um contexto especfico,com inteno social e poltica, prpria aomomento, mas que se estende ao longo dos anos.

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    4.2 Resumo

    O texto literrio traz em sua composio inmerasquestes. Cabe ao analista reconhecer quais soelas e de que forma so colocadas, pois o prpriotexto encaminha sua temtica a um ou outrocampo de estudo, seja a Psicologia, a Filosofia. Ocontexto o qual est inserido o prprio caminhopara a anlise.

    4.3 Auto-avaliao

    Caro aluno pode dizer que o texto ponto departida e ponto de chegada da anlise literria?

    4.4 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988. BARBOSA, Joo Alexandre. A biblioteca

    imaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao daTeoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE I

    TEMA 5A PRTICA DA ANLISE LITERRIA

    Objetivos Especficos

    Propor uma reflexo sobre a prtica da anliseliterria.

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    5.1 Princpios Gerais

    Para frutificar, a anlise literria pressupe sempreuma teoria da Literatura, porquanto sem ela

    conduz a nada, ou a superficialidades. Aodefrontar-se com o texto, o analista h de estarmunido de aparelhagem adequada a seu trabalho.Acima de tudo, precisar estar seguro daorientao crtica a seguir e do conceito e limitedos gneros literrios. O bom senso deve conduzi-lo, pois a proposio de algumas normasmetodolgicas referentes ao comportamentoanaltico devero ser abertas, e to flexveisquanto o a prpria matria literria.Observemos o exemplo abaixo, trata-se de umfragmento de um captulo de Vidas Secas, de

    Graciliano Ramos:

    O soldado amarelo

    Era um faco verdadeiro, sim senhor, movera-secomo um raio cortando palmas de quip. Eestivera a pique de rachar o quengo de um sem-vergonha. Agora dormia na bainha rota, era umtroo intil, mas tinha sido uma arma. Se aquelacoisa tivesse tirado mais um segundo, o polciaestaria morto. Imaginou-o assim, cado, as pernasabertas, os bugalhos apavorados, um fio de

    sangue empastando-lhe os cabelos, formando umriacho entre os seixos da vereda. Muito bem! Iaarrast-lo para dentro da caatinga, entreg-lo aosurubus. E no sentiria remorso. Dormiria com amulher, sossegado, na cama de varas. Depois

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    gritaria aos meninos, que precisavam de criao.Era um homem, evidentemente.Aproximou-se fixou os olhos nos do polcia, que sedesviraram. Um homem. Besteira pensar que iaficar murcho o resto da vida. Estava acabado?No estava. Mas para que suprimir aquele doenteque bambeava e s queria ir para baixo? Inutilizar-se por causa de uma fraqueza fardada quevadiava na feira e insultava os pobres! No seinutilizava, no valia a pena inutilizar-se. Guardavaa sua fora.Vacilou e coou a testa. Havia muitos bichinhosassim ruins, havia um horror de bichinhos assimfracos e ruins.Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado eordeiro, o soldado ganhou coragem, avanou,pisou firme, perguntou o caminho. E Fabiano tirou

    o chapu de couro. Governo governo.Tirou o chapu de couro, curvou-se e ensinou ocaminho ao soldado amarelo.

    (RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 51. Ed. SoPaulo, Record, 1983. P.106-7).

    Este o fragmento de um captulo de VidasSecas, romance escrito por Graciliano Ramos.Sabemos que o romance uma forma narrativaque, embora sem nenhuma relao gentica com

    a epopia, a ela equivale nos tempos modernos.E, ao contrrio da epopia, como formarepresentativa do mundo burgus, volta-se para ohomem como indivduo. O enredo, aspersonagens, o espao, o tempo, o ponto de vista

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    da narrativa constituem os elementosestruturadores do romance.O tema de Vidas Secasse confunde com o prpriottulo do romance, sendo ele constitudo poraspectos essenciais na configurao do estado desecura socioeconmica e psicolgica em quevivem os retirantes das secas do Nordestebrasileiro.O romance apresenta descries, com as quais serepresentam personagens, objetos, espao... Nele,o grande investimento do autor foi na relao entreo espao fsico (modificado pelas secas) e ohumano (as vidas que se tornam secas tambm).Tambm podemos observar o destaque dado acada membro da famlia de retirantes, mas deFabiano, seu chefe, que se faz um retrato fsico epsicolgico minucioso, a partir de quem se do a

    conhecer todas as outras personagens.No trecho acima o narrador usou o recurso dodiscurso indireto livre. O texto em terceira pessoa,no anuncia os pensamentos do personagem, asinterrogaes apresentam-se na forma direta, paraanalisar objetivamente a atitude de Fabiano dianteda polcia (medo, desejo de vingana, desprezo),mas, ao mesmo tempo, para revelar o ntimo dopersonagem, sua subjetividade. O discursoindireto livre permite-lhe uma anlise objetiva queexpressa o personagem. Quando o personagemfala: Governo governo, a impresso que fica

    a de que o narrador, ao utilizar o discurso diretopara citar a fala de Fabiano, pretende ressaltarque essa reao de submisso corresponde auma real atitude de Fabiano e no ao produto deuma interpretao do narrador.

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    O carter inovador de Vidas Secasnos leva a l-locomo um romance aberto, com seus vriosquadros, centrado cada um em determinadapersonagem, como o exemplo acima. Por isso chamado de romance desmontvel. E como tal,possui um enredo cclico, pois que o final da trama uma retirada, como o princpio fora umachegada, a sugerir o narrador a alternnciainumervel de fuga da misria e encontro da terradesejada, em funo do ciclo das secas.Ao longo da narrativa, observamos recursoscontemporneos bastante utilizados como ocaso do monlogo interior. Este no temintervenes, apresenta o que h de mais ntimona personagem, mais prximo do inconsciente.Est muito prximo ao que a Psicologia denominade fluxo de conscincia.

    Assim, anlise preciso levar em conta tambmcada gnero, espcie ou forma literria.A anlise constitui um modo de ler, de ver o textoe de, portanto, ensinar a ler e a ver. Ensinar a lerimplica conduzir o leitor ou o educando a ver, aescolher do texto o mais importante, mas nopropriamente a julg-lo, o que constitui desgnio dacrtica literria.

    Vejamos:

    1. A anlise constitui um hbito, quase um vcio

    intelectual, que enriquece o leitor com novasexperincias.2. Ensinar a ler implica conduzir o leitor a escolherdo texto o mais importante, cabe ao professorpropor sugestes de caminhos e processos.

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    3. A anlise deve abster-se de adjetivar, oemprego de qualificativos s necessrio paraclassificar e ordenar, nunca para estabelecerjuzos de valor.Uma leitura em profundidade pressupe sempreque o texto literrio, sendo composto demetforas, ambguo por natureza, ou seja,guarda uma multiplicidade de sentidos. Ler malsignifica no perceber a extenso dessaambigidade, ou apenas perceb-la sem podercompreend-la ou justific-la.

    5.2 Resumo

    A anlise literria sempre pressupe um mtodoque deve estar alicerado, a princpio, pelamaturidade intelectual e bom senso do leitor e,

    posteriormente, pelos aspectos formais que oprprio texto traz como gnero, espcie ou formaliterria.

    5.3 Auto-avaliao

    O que voc, caro aluno, entende pela assertiva: Aanlise constitui um modo de ler, de ver o texto ede, portanto, ensinar a ler e a ver.

    5.4 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A bibliotecaimaginria, ou o cnone na histria da

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    literatura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao daTeoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

    UNIDADE II

    O APARECIMENTO DAS CORRENTES

    Objetivos

    Conceituar e propor a reflexo sobre asteorias crticas iniciadas no sculo XIX,orientadoras da leitura investigativa dotexto literrio.

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    UNIDADE II

    TEMA 1CORRENTES TEXTUALISTAS

    Objetivos Especficos

    Identificar as caractersticas das correntestextualistas.

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    1.1 Crtica Biogrfica

    Nas primeiras dcadas do sculo XIX, com oRomantismo, a crtica literria passa a processar-

    se sistematicamente, destacando-se, ento, ocrtico francs Sainte-Beuve (1804-1868) e seumtodo biogrfico: um processo de descrio queprocurava explicar elementos da obra, atravs davida do autor, fazendo uma abordagem da suabiografia. O desenvolvimento posterior da teorialiterria mostrou que essa anlise das obras erafrgil e at contraditria.

    Fonte da imagem:attambur.com/

    1.2 Crtica Determinista

    Sob a influncia do Positivismo de Augusto Comte,cuja caracterstica principal era o naturalismo,procurou-se aplicar literatura os mtodos dascincias naturais: da biologia, da fsica, daqumica, apontando como um precursor da

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    sociologia da literatura, pois seu exerccio crticoconsiste na procura das causas e leis da criaoliterria, havendo trs fatores determinantes: araa, o meio, o momento.

    1.3 Crtica Impressionista

    No final do sculo XIX,numa perspectiva oposta postura cientfica eobjetiva de ento,desenvolve-se umatendncia crticacentrada nasubjetividade do leitor, aquem cabia transmitir as

    impresses que mais profundamente marcaram a

    sua sensibilidade, em contato com obras-primasde todas as pocas.

    1.4 CrticaFormalista

    Entendendo que ainvestigao da obraliterria deva se fixarna prpria obra,desenvolve-se, a

    partir da funo do Crculo Lingstico de Moscou(entre 1914 e 1915), um movimento de crticaliterria, estreitamente ligado aos movimentosartsticos de vanguarda, que se denominouFormalismo Russo. Os formalistas vo procurardistinguir, no prprio texto, as caractersticas que o

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    tornam literrio, a sua literariedade. Vista por elesa obra como uma forma, isto , um sistema emque todos os elementos se integram, no sendo,por isso, possvel separar forma e contedo, aliterariedade resultaria do procedimento desingularizao, prpria da linguagem literria,explicado em oposio ao automatismo dalinguagem usual, decorrente da percepoautomtica do mundo, qual nos acostumamos nodia-a-dia.

    Crtica Formalista - a investigao da obra literriadeva se fixar na prpria obra.

    Fonte da imagem: http://www.fcsh.unl.pt

    1.5 Estilstica

    A estilstica literria inicia-se com Karl Vossler(1872-1949), discpulo de Benedetto Croce (1866-

    1952). Trata-se de uma estilstica literria, que sefirmaria como crtica estilstica e que se baseariana conceituao idealista de Croce, da arte comointuio-expresso. Seria a linguagem um atoespiritual e criador, expresso da fantasiaindividual.

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    Estilstica - linguagem um ato espiritual ecriador, expresso da fantasia individual.

    Leo Spitzer (1887-1960), reagindo postura entopredominante no estudo das obras literrias, queeram vistas como veculos para esclarecimento deoutras realidades, que no as da prpria obra,associa, em seus trabalhos, sob a influncia dasteorias freudianas, a criao literria ao psiquismodo autor, apreendendo-a como expresso de umapersonalidade, mas sem cair no biografismo.Considerava a obra como uma totalidade, na qualtodos os elementos se estruturavamorganicamente.A estilstica espanhola com Damaso Alonsoconcebe a existncia de trs graus de

    conhecimento da obra: o do leitor, que reproduziriaa intuio do autor; o do crtico, como um leitorexcepcional, capaz de exprimir artisticamente asintuies profundas, ntidas e totalizadoras daobra; e o da anlise cientfica, tarefa da estilstica,que, por ser cientfica, no atingiria a essncia naobra, somente acessvel intuio.

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    Carlos Bousoo, discpulo de Damaso Alonsoprope a explorao da obra literria a partir dainterpretao entre o eu individual e o eu social doescritor, a incluso de elementos epocais, com oque procurou dar crtica uma dimensodiacrnica e ideolgica.

    1.6 A Nova Crtica

    A nova crtica se prope a romper com ahermenutica (interpretao de texto), com aontologia (estudo metafsico ou do ser), com afilologia (interpretao a partir de figuras delinguagem previamente dadas) e com a leitura detexto que empresta a este a noo de inteno doautor ou se rege pelo perfil biogrfico do mesmo.

    Dentro de uma noo de autonomia do textoesttico, a Nova Crtica prope para o textopotico uma leitura microscpica, isto ,imanente do texto literrio, com uma anlise apartir do significado do prprio texto, e no de umcontexto histrico, biogrfico ou externo a ele. Aobra prprio testemunho do autor. O crtico seaproxima do texto buscando compreender o seuelemento conceitual e denotativo, mais prximo dalinguagem referencial, da prosa ou da razo,somado ao elemento conotativo, linguagememotiva ou textura potica, noutros termos, a

    mtrica, o ritmo, a prosdia, a rima.Assim, o objetivo da nova crtica aproximar ocrtico do texto potico e afast-lo da interpretaoontolgica ou hermenutica, que especula sobre aessncia, ou da interpretao sociolgica ouhistrica, que extrapola os limites do texto.

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    1.7 Resumo

    As correntes textualistas buscam compreender aobra a partir de conceitos especficos. Vejamos umbreve resumo:

    Crtica Biogrfica (relao entre a obra e oautor);

    Crtica Determinista (fatores determinantesda obra: raa, meio e momento);

    Crtica Impressionista (anlise subjetiva doleitor);

    Crtica Formalista (a obra como formasistema particular de trabalhar alinguagem);

    Crtica Estilstica (a arte como intuio,

    fantasia individual); Nova Crtica (explica a obra como

    resultado lingstico, textual).

    1.8 Auto-avaliao

    Caro aluno, dentre as correntes textualistas, halguma que voc considera, atualmente,desnecessria anlise de uma obra literria?Explique.

    1.9 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A bibliotecaimaginria, ou o cnone na histria da

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    literatura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao daTeoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE IITEMA 2

    CORRENTES TICO-POLTICASE/OU SOCIOLGICAS

    Objetivos Especficos

    Identificar as caractersticas das correntestico-polticas e ou sociolgicas.

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    2.1 Crtica Existencialista

    O homem constri oprprio destino.Concebe a literaturacomo o desvelar domundo, comprometidocom um modo deao social, tico epoltico. Baseada nosestudos de Jean-PaulSartre, a filosofiaexistencialistaacredita que o homem constri o prprio destino.

    2.2 Crtica MarxistaNo seu mbito se contamdesde simplrias apologiasde uma Literaturapretensamente identificadacom a causa doproletariado, at verseselaboradas de umaconcepo sociolgicaconstruda com base nasnoes centrais do

    pensamento marxista, nasua formulao clssica.

    (Fonte da imagem:www.cimm.ucr.ac.cr)

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    2.3 Crtica Sociolgica

    Entende-se por este termo todas as indagaessobre a Literatura que tm na questo do socialseu horizonte comum, por seus compromissos

    explcitos com sistemas tico-polticos bemdefinidos. Convm lembrar que nela podemosincluir hoje o importante setor de pesquisas narea da chamada cultura de massa.

    Fonte da imagem://www.dissonancia.com/58-04-002.jpg

    2.4 Esttica da Recepo

    Tambm conhecida como Escola de Konstanz,cidade da Alemanha Ocidental em cujaUniversidade o movimento teve incio a partir defins dos anos 60. A Esttica da Recepo seprope colocar no centro de suas pesquisas umplo negligenciado pela Teoria da Literatura: oleitor. No se trata de canonizar um leitor ideal,mas de, pela anlise das mltiplas interpretaessuscitadas por um texto, compreender adiversidade das constituintes de sentido,

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    entendida como etapas articuladas devivncia/experincia/ao.

    Esttica da Recepo-Prope colocar no centro desuas pesquisas: o leitor.

    2.5 Resumo

    Tais correntes tm como referencial analtico as

    concepes de ao social, tica e poltica. Emsua maioria lem a obra literria como resultadodireto dessas concepes. Somente a Esttica daRecepo traz cena dos estudos literrios umcomponente novo: o leitor. Compreende que ainterpretao de uma obra literria passanecessariamente pela vivncia/experincia/aodo leitor, transformando-o em co-autor.

    2.6 Auto-avaliao

    Caro leitor, na sua opinio possvel analisar uma

    obra literria tendo somente como referncia osseus aspectos sociais? Explique.

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    2.7 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A biblioteca

    imaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao da

    Teoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE IITEMA 3

    A TEORIA LITERRIA COMO CINCIA

    Objetivos Especficos

    Reconhecer a importncia da Teoria Literriacomo Cincia.

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    3.1 A Teoria Literria constituiou no uma cincia?

    Conforme vimos demonstrando, a Teoria da

    Literatura no uma espcie de enciclopdia dosestudos literrios, mas uma das disciplinasdesenvolvidas no mbito dos estudos literrios.Ela se apresenta como a primeira realizaoverdadeiramente cientfica no campo dos estudosliterrios, na medida em que pretende dispor deum objeto claramente constitudo, de um aparatoespecfico de conceitos, de mtodos e de tcnicasanalticas.Mas isso no indica que a Teoria da Literaturapossua eficcia tecnolgica, o que muitas vezesacontece com as propostas escolares, pois a

    Teoria da Literatura no o projeto de umamquina que, uma vez montada, venha a produziranlises literrias em srie, principalmente porquea literatura trabalha com a palavra, um objetogrfico pleno de sentidos, varivel dentro de umaescala complexa de valores um cone.Vejamos o poema abaixo e possveis leituras:

    Tecendo a Manh

    Um galo sozinho no tece uma manh:ele precisar sempre de outros galos.

    De um que apanhe esse grito que elee o lance a outro; de um outro galoque apanhe o grito de um galo antese o lance a outro; e de outros galosque com muitos outros galos se cruzemos fios de sol de seus gritos de galo,

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    para que a manh, desde uma teia tnue,se v tecendo, entre todos os galos.

    E se encorpando em tela, entre todos,se erguendo tenda, onde entrem todos,se entretendendo para todos, no toldo(a manh) que plana livre de armao.A manh, toldo de um tecido to areoque, tecido, se eleva por si: luz balo.

    (MELLO NETO. Joo Cabral de. Poesias Completas.3. ed. Rio de Janeiro. J. Olympio, 1979. p.19-20)

    Pelas correntes descritas acima, deduzimos queexistem vrios planos de leitura. Se quisssemospriorizar a Crtica Formalista(Unidade II - Tema 1 Correntes Textualistas - Crtica Formalista)estabeleceramos prioritariamente os planosmorfossinttico e fnico. Por exemplo, na primeiraestrofe, podemos observar que no tocante aoselementos mrficos e estrutura sintticaocorrem:1. Nas duas primeiras oraes: Um galo sozinhono tece uma manh: ele precisar sempre deoutros galos. (so coordenadas entre si ecategoricamente afirmativas);2. As oraes entre o verso 3 e o 10 podem serdivididas em 3 blocos separados um do outro porponto-e-vrgula;

    3. Os dois primeiros blocos (verso 3 at a metadedo 6) possuem uma estrutura sintticaperfeitamente simtrica;4. A palavra galo principia e encerra a primeiraestrofe. Alm disso, galo (singular) alterna comgalos (plural), constitui o sujeito de todas asoraes dessa estrofe e se distribui por toda ela,

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    ocupando lugares variados de modo a configurarum esquema de entrecruzamentos:galo>galos>galos>galos>galo.No nvel sonoro, a primeira observao odestaque da vogal tnica ada palavra galo, quese distribui por toda a estrofe; alm dela, ocorremoutras vogais tnicas abertas com certafreqncia; as consoantes oclusivas (/k/, /g/, /t/,/p/), ocorrem com alta freqncia em toda primeiraestrofe; a partir do verso 3, o final de cada versose encadeia no verso seguinte e se completa nele;a leitura vai ganhando velocidade e sofrendomenos cortes medida que a estrofe vai seaproximando do final.Mas se quisssemos priorizar outros planos deleitura, como as Correntes tico-polticas e/ousociolgicas ou a Esttica da Recepo

    devemos compreender que h uma elaborao deprodutos concretos como Fios, tecer, tela,tenda, toldo. Acrescidos a eles aparecem doistermos: luz e manh. Luz esclarecimento,ilustrao, saber. o produto intelectual. O verbotecer tem como objeto um nome designativo deproduto do intelecto, significa compor,engendrar. Isso nos permite interpretar o poemacomo o processo de fabricao dos bens culturais.Do conjunto de vozes emerge a obra cultural deuma poca,que no solitria (um fio), mas umaobra solidria (uma trama de fios).

    O nvel fundamental que o poema trabalha so asduas oposies: individualidade x coletividade;dependncia x autonomia. Nega-se aindividualidade (Um galo sozinho no tece umamanh), afirma-se a coletividade (ele precisarsempre de outros galos).

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    3.2 Resumo

    A Teoria da Literatura constitui-se como Cinciapor estar alicerada em conceitos, mtodos etcnicas analticas, no entanto, isso no significaque possa ser utilizada com eficcia tecnolgica,pois a anlise literria o esforo do leitor porsuperar as barreiras interpostas naturalmente pelotexto.

    3.3 Auto-avaliao

    De acordo com a afirmativa ... a literaturatrabalha com a palavra, um objeto grfico pleno desentidos, como podemos analisar o poemaabaixo:

    O bicho

    Vi ontem um bichoNa imundcie do ptioCatando comida entre os detritos.

    Quando achava alguma coisa,No examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.

    O bicho no era um co.No era um gato.

    No era um rato.

    O bicho, meu Deus, era um homem.

    (Bandeira, Manuel. Estrela da vida inteira. 4.ed. Rio deJaneiro. J.Olympio, 1973. p.196.)

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    3.4 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A biblioteca

    imaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao da

    Teoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE II

    TEMA 4A CONTRIBUIO DE ROLAND BARTHES

    Objetivos Especficos

    Analisar as idias inovadoras de RolandBarthes no que diz respeito ao conceito deobra e texto.

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    4.1 O Prazer do Texto Obra e Texto

    Barthes em seu artigo publicado na Revue

    dEsthtique em 1971, Da obra ao texto,sintetizou as idias que estariam detalhadamentedesenvolvida no Prazer do Texto. O que fundamental neste artigo oposio entre a noode obra e texto. Barthes contraps as diferenasem sete itens:1. A obra um fragmento de substncia, ocupauma poro do espao dos livros (por exemplo,numa biblioteca); j o Texto um campometodolgico. A obra segura-se na mo, o Textomantm-se na linguagem;2. O Texto sempre paradoxal;

    3. O Texto pratica o recuo infinito do significado,do jogo;4. O texto plural, pois realiza-se em travessia designificados (etimologicamente, texto tecido);5. A obra tem filiao; o Texto uma rede deefeito combinatrio;6. A obra objeto de consumo; o Texto prtica,produo, trabalho;7. O texto est ligado ao prazer, pois participa aseu modo de uma utopia social.Vejamos na prtica o que Roland Barthes teoriza:

    Eu Sou TrezentosEu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,As sensaes renascem de si mesmas sem repouso,h espelhos, h Pireneus! h caiaras!Si um deus morrer, irei no Piau buscar outro!

    Abrao no meu leito as milhores palavras,

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    E os suspiros que dou so violinos alheios;Eu piso a terra como quem descobre a furtoNas esquinas, nos txis, nas camarinhas seus prpriosbeijos!

    Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,

    Mas um dia afinal eu toparei comigoTenhamos pacincia, andorinhas curtas,S o esquecimento que condensa,E ento minha alma servir de abrigo.

    (Poesia Completas. So Paulo: Crculo do Livro, s.d.p.189)

    Mrio de Andrade produziu muito durante suavida. Nasceu no dia 9 de Outubro de 1893 em SoPaulo. Tem marcado seu nome em inmerasobras em prosa, poesia e teatro, como Memrias sentimentais de Joo Miramar(Romance), Serafim Ponte Grande (Romance), Ohomem e o cavalo (Teatro), H uma gota desangue em cada poema (Poesia), Amar, verbointransitivo (Romance), Macunama (Rapsdia)etc.As obras, segundo Barthes so representadaspelo objeto em si, constituem a parte fsica detodos os textos que Mrio escreveu. O textoestabelece o tecido das idias h muitoacumuladas pelas leituras, pela vivncia, pelasviagens, pelas culturas locais e universais,

    estabelecendo o efeito combinatrio. [As obras, segundo Barthes so representadaspelo objeto em si, constituem a parte fsica detodos os textos que Mrio escreveu. O textoestabelece o tecido das idias h muitoacumuladas pelas leituras, pela vivncia, pelas

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    viagens, pelas culturas locais e universais,estabelecendo o efeito combinatrio.

    Mrio de Andrade

    Mrio brinca com as palavras, realiza o jogo que

    Barthes fala, pois traz a linguagem prpria dopovo, realizando a aproximao do formal aocoloquial. Mas tudo isso, leva-o a trilhar oscaminhos da prpria identidade. O texto plural,preso linguagem, eterniza-se pelo prazer daprpria existncia e pela obra filiada ao nome deMrio de Andrade.

    4.2 Resumo

    Barthes em sua obra O Prazer do texto conduz-nos a uma nova perspectiva sobre a compreenso

    dos conceitos obra e texto. Possibilitando a novosentendimentos acerca da anlise literria.

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    4.3 Auto-avaliao

    Caro aluno, as assertivas de Barthes, no que dizrespeito ao Texto,comungam com o que MassaudMoiss diz: Toda anlise textual contextual?Explique.

    4.4 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

    BARBOSA, Joo Alexandre. A bibliotecaimaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.

    So Paulo. Ed. tica, 2003. MOISS. Massaud. Guia Prtico de Anlise

    Literria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988. SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.

    R.J.:Vozes, 1989. SOARES, Anglica. Gneros Literrios. So

    Paulo. Ed. tica, 1993. Souza, Roberto Aczelo de. Formao da

    Teoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.

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    UNIDADE II

    TEMA 5OS CAMINHOS DA CRTICA BRASILEIRA

    Objetivos Especficos

    Reconhecer, por meio de um brevehistrico, o processo de construo dacrtica brasileira.

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    5.1 Breve Histrico

    A conscincia da busca da autonomia literriainformou tambm a melhor crtica brasileira que, apartir do trabalho dos crticos romnticos europeusque nos visitaram, seguido do esforo dehistoriadores como Silvio Romero e JosVerssimo (contemporneos de Machado deAssis), da abertura de horizontes praticada pelosmodernistas, como Mrio de Andrade entre outros,e do trabalho de sistematizao organizado peloscrticos mais recentes, j de formaouniversitria, acabou por moldar uma histria daliteratura brasileira.Em 1959, Antnio Cndido acentua e identifica oseu eixo analtico com a obra Formao daLiteratura Brasileira. Momentos Decisivos (1750-

    1880). No utilizou a literatura como veculo deuma interpretao cultural, respeitando a suaautonomia como obra de arte. Entre o juzo e ogosto estava a anlise. O livro de Cndido trouxe aleitura fortemente analtica e judicativa.Assim procederam em 1960, Augusto e Haroldode Campos e Dcio Pignatari com a reflexohistrico-crtica de Antnio Cndido. J em 1970,Alfredo Bosi, com a Histria Concisa da LiteraturaBrasileira, e em 1983-86, Massaud Moiss com aHistria da Literatura Brasileira, emboraassumindo uma posio conservadora quanto aos

    mtodos histrico-literrios, aqui e ali conseguiramescapar da repetio e do lugar-comumhistoriogrfico.

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    5.2 Resumo

    O percurso histrico na construo da crticabrasileira teve seu nascedouro com os

    historiadores europeus. Posteriormente, SilvioRomero e Jos Verssimo tiveram importnciadecisiva quanto ao estabelecimento e definio danossa literatura. Somente a partir da contribuioMrio de Andrade, com Antnio Cndido, a crticabrasileira acentuou o eixo analtico, respeitando aautonomia da obra de arte e prosseguindo com osconcretistas Augusto e Haroldo de Campos; emais recentemente com Alfredo Bosi e MassaudMoiss.

    5.3 Auto-avaliao

    De acordo com o estudo de todo o mdulo, a qualou quais concluses voc, caro aluno, pdechegar? Baseie suas reflexes no pensamento deAntnio Cndido: A base do trabalho foramessencialmente os textos, a que se juntou apenaso necessrio de obras informativas e crticas, poiso intuito foi no erudio, mas a interpretao,visando o juzo crtico, fundado sobretudo nogosto. (apud BARBOSA, Joo Alexandre. 1995p.34).

    5.4 Bibliografia

    AGUIAR, Flvio. Panorama da Literatura.So Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

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    BARBOSA, Joo Alexandre. A bibliotecaimaginria, ou o cnone na histria daliteratura brasileira. In: A BibliotecaImaginria. SP: Ateli, 1995.

    PLATO e FIORIN. Para entender o texto.So Paulo. Ed. tica, 2003.

    MOISS. Massaud. Guia Prtico de AnliseLiterria. So Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

    SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literria.R.J.:Vozes, 1989.

    SOARES, Anglica. Gneros Literrios. SoPaulo. Ed. tica, 1993.

    Souza, Roberto Aczelo de. Formao daTeoria da Literatura. Niteri: EditoraUniversitria: EDUFF, 1987.