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APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA 1 APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

Diolema Ferreira Gomes de Oliveira Emília passos de Oliveira Bezerra

José Rogério Viana de Oliveira

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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78p. 21 cm. 1.Teoria Literária 2. Poética 3. Crítica 4. Estética

COPYRIGHT ©2007 BY EDITORA GRANDE FORTALEZA

ESTA OBRA OU PARTE DELA NÃO PODE SER REPRODUZIDA POR QUALQUER MEIO SEM A

AUTORIZAÇÃO DO EDITOR. FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE

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Bezerra, Emília Passos de Oliveira Bezerra; Oliveira, Diolema Ferreira Gomes de; Oliveira, Viana José Rogério .Aplicação da Teoria Literária . Fortaleza: Editora Grande Fortaleza FGF, 2007.

Catalogação da Publicação: Biblioteca CentralProfa. Antonieta Cals de Oliveira-FGF

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SUMÁRIO

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

Objetivo Geral.................................................. 9

UNIDADE I

A FORMAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

Objetivos.......................................................... 10

UNIDADE I

TEMA 1 TEORIA LITERÁRIA

Objetivos Específicos ...................................... 11

1.1 Introdução.................................................. 12

1.2 Resumo ..................................................... 14

1.3 Auto-avaliação........................................... 15

1.4 Bibliografia ................................................. 15

TEMA 2 A PERSPECTIVA HUMANÍSTICA DA

LITERATURA

Objetivos Específicos ...................................... 16

2.1 Introdução.................................................. 17

2.1 Retórica ..................................................... 17

2.3 Poética....................................................... 18

2.4 Estética...................................................... 19

2.5 Resumo ..................................................... 19

2.6 Auto-avaliação........................................... 20

2.7 Bibliografia ................................................. 20

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TEMA 3 A PERSPECTIVA CIENTÍFICA DA

LITERATURA

Objetivos Específicos ...................................... 21

3.1 Introdução.................................................. 22

3.2 História da Literatura ................................. 22

3.3 Crítica Literária .......................................... 26

3.4 Ciência da Literatura.................................. 27

3.5 Teoria da Literatura ................................... 28

3.6 Resumo ..................................................... 29

3.7 Auto-avaliação........................................... 30

3.8 Bibliografia ................................................. 30

TEMA 4 OS CAMPOS DE ESTUDO

Objetivos Específicos ...................................... 31

4.1 Introdução.................................................. 32

4.2 Resumo ..................................................... 34

4.3 Auto-avaliação........................................... 34

4.4 Bibliografia ................................................ 34

TEMA 5 A PRÁTICA DA ANÁLISE LITERÁRIA

Objetivos Específicos ...................................... 35

5.1 Princípios Gerais ....................................... 36

5.2 Resumo ..................................................... 40

5.3 Auto-avaliação .......................................... 40

5.4Bibliografia .................................................. 40

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UNIDADE II

O APARECIMENTO DAS CORRENTES

Objetivos.......................................................... 41

TEMA 1 CORRENTES TEXTUALISTAS

Objetivos Específicos ...................................... 42

1.1 Crítica Biográfica ....................................... 43

1.2 Crítica Determinista ................................... 43

1.3 Crítica Impressionista ................................ 44

1.4 Crítica Formalista....................................... 44

1.5 Estilística.................................................... 45

1.6 A “Nova Crítica” ......................................... 47

1.7 Resumo ..................................................... 48

1.8 Auto-avaliação........................................... 48

1.9 Bibliografia ................................................. 48

TEMA 2 CORRENTES ÉTICO-POLÍTICAS E/OU

SOCIOLÓGICAS

Objetivos Específicos ...................................... 50

2.1 Crítica Existencialista................................. 51

2.2 Crítica Marxista.......................................... 51

2.3 Crítica Sociológica ..................................... 52

2.4 Estética da Recepção................................ 52

2.5 Resumo ..................................................... 53

2.6 Auto-avaliação........................................... 53

2.7Bibliografia .................................................. 54

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TEMA 3 A TEORIA LITERÁRIA COMO CIÊNCIA

Objetivos Específicos ...................................... 55

3.1A Teoria Literária constitui ou não uma ciência?

......................................................................... 56

3.2 Resumo ..................................................... 57

3.3 Auto-avaliação........................................... 57

3.4 Bibliografia ................................................. 60

TEMA 4 A CONTRIBUIÇÃO DE ROLAND

BARTHES

Objetivos Específicos ...................................... 61

4.1O Prazer do Texto – Obra E Texto ............. 62

4.2 Resumo ..................................................... 64

4.3 Auto-avaliação........................................... 65

4.4 Bibliografia ................................................. 65

TEMA 5 OS CAMINHOS DA CRÍTICA

BRASILEIRA

Objetivos Específicos ...................................... 66

5.1 Breve Histórico ......................................... 67

5.2 Resumo ..................................................... 68

5.3 Auto-avaliação........................................... 68

5.4 Bibliografia ................................................. 68

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APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA Objetivo Geral • O módulo de Teoria Literária I propõe o amplo

estudo acerca da atividade crítica como método à interpretação do texto literário, a partir dos critérios desenvolvidos ao longo do processo de estruturação do tema enquanto disciplina.

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UNIDADE I

A FORMAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

Objetivos • Destacar o papel da Teoria da Literatura na

compreensão do fazer literário; as perspectivas humanística e científica e seus elementos formadores; o campo de estudos e os limites das disciplinas conexas como Lingüística, Sociologia, Psicologia etc.; bem como uma reflexão sobre a importância da prática analítica dos textos literários.

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UNIDADE I

TEMA 1

TEORIA LITERÁRIA Objetivos Específicos • Reconhecer a Teoria Literária como campo

metodológico à compreensão do fazer literário.

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1.1 Introdução Como compreender a natureza do literário segundo a Teoria Literária? Conhecida como Teoria Literária, Crítica Literária, às vezes, Teoria Crítica, esta disciplina propõe estabelecer uma base teórica capaz de compreender o fenômeno literário. Sabemos que toda interpretação parte de um método de estudo; no caso da interpretação literária, o objetivo da Teoria Literária é o de formular critérios consistentes, como: a relação autor e obra, a base temática que permeia o texto, as abordagens históricas, a relevância lingüística, sua caracterização, através da distinção dos elementos que a compõem, bem como os elementos inconscientes do texto etc.

Como atividade de investigação, a crítica se exerce no sentido de conduzir-se para dentro dos vestígios deixados pelo literário. Assim, a teorização sobre o objeto literário leva à constituição de um

método de estudo, decorrente do próprio objeto. Se nos voltarmos para a etimologia da palavra método, melhor apreenderemos o seu significado: do grego méthodos, de meta- e hodós estrutura-se a idéia de caminho para e por onde. Esse caminho de penetração na obra deve ser apontado por ela, deve atender à sua especificidade, não podendo, por isso, traçar-se aprioristicamente. A

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metodologia não pode pressupor o texto. O método, em sua atuação dinâmica, é o próprio objeto funcionando. Cabe à crítica literária desempenhar suas funções de caracterização da obra, objetivando reconduzi-la à sua origem, ao seu fundamento. Qualquer que seja a via de acesso escolhida (sociológica, psicológica, lingüística), deve ser entendida como um modelo de investigação dinâmico e aberto às inúmeras possibilidades. O investigador deve ter a consciência de que sua via de acesso à obra não é a única, nem a totaliza. Isto porque toda produção literária transcende as fronteiras do explícito e do implícito e nos guia incessantemente para o não-limite, para o velado território que se esconde na descoberta de cada imagem. A crítica conjuga um modo de ser (da obra) com um modo de ver (do crítico), ambos plantados historicamente. Vejamos um exemplo:

O Boi e a Rã:

Uma rã viu um boi que tinha uma boa estatura. Ela, que era pequena, invejosa, começou a inflar-se para igualar-se ao boi em tamanho. Depois de algum tempo, disse: — Olhe-me, minha irmã, já é o bastante? Estou do tamanho do boi: — De jeito nenhum. — E agora? — De modo algum. — Olhe-me agora. — Você nem se aproxima dele. O animal invejoso inflou-se tanto que estourou.

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(apud. Fiorin, 2003, p.101). Poderíamos perguntar: qual o modo de ser do texto em questão? Trata-se de uma história de animais ou de homens? Os personagens são as duas rãs e o boi, que são animais. No entanto, certos termos, como “invejosa”, “disse”, como querer igualar-se ao boi são elementos próprios do ser humano. Há no texto então um traço de significação humano, o que nos obriga a ler a fábula como uma história de gente. No plano humano, a rã não é a rã, mas o homem invejoso que faz tudo para igualar-se a quem ele inveja. Aspectos particulares ao formato do texto como o gênero narrativo, a base temática, os traços semânticos, a coerência lingüística, etc alicerçam as bases interpretativas inscritas no próprio texto em questão. Caberá ao leitor (ao “modo de ver”), agrupar os elementos significativos (temas, figuras, traços semânticos, linguagem particular etc), percorrê-los por inteiro, localizando suas recorrências e particularidades, a fim determinar um plano de leitura, de interpretação. Há textos que permitem mais de uma leitura. As mesmas figuras podem ser interpretadas segundo mais de um plano de leitura, outras não.

1.2 Resumo

A Teoria Literária é a disciplina que estabelece métodos de estudo à interpretação do texto literário, a partir de critérios como a relação autor e obra, a base temática, as abordagens históricas,

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os aspectos lingüísticos etc. Mas, é, sobretudo, a partir do próprio texto que a investigação literária deve acontecer.

1.3 Auto-avaliação

A que conclusões podemos chegar de acordo com o trecho: “a crítica conjuga um modo de ser (da obra) com um modo de ver (do crítico), ambos plantados historicamente”. Escreva um pequeno texto a partir das suas reflexões.

1.4 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

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UNIDADE I

TEMA 2 A PERSPECTIVA HUMANÍSTICA DA

LITERATURA Objetivos Específicos

• Identificar os elementos formadores do termo

Teoria da Literatura, tendo como parâmetros duas perspectivas: 1. a perspectiva humanística representada pelas disciplinas Retórica, Poética, Estética; 2. a perspectiva científica com as disciplinas História da Literatura, Crítica Literária e Ciência da Literatura;

• Delimitar seu campo de estudos e status enquanto disciplina e o estabelecimento dos seus limites com disciplinas conexas, como Lingüística, Sociologia, Psicologia, Antropologia, etc;

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2.1 Introdução As disciplinas humanísticas constituem a própria base do ideal de cultura representado pelo Humanismo. Essas disciplinas são a Retórica, a Poética e a Estética.

2.2 Retórica

A Retórica surge na Sicília no século V a. C., como estratégia discursiva de um fato

político-econômico, convinha ser eloqüente para

convencer; considerada como

habilidosa manipulação técnica

da linguagem, capaz de convencer e render admiração social pelo brilho dos efeitos verbais, mesmo quando a argumentação se põe em desacordo com a verdade. Logo após, torna-se instrumento dos profissionais da palavra, os especialistas do discurso, prestando com seu know-how serviços remunerados (cobravam as aulas de eloqüência), e dele auferindo reconhecimento social. “Segundo Barthes, a âmbito da Retórica comporta seis práticas afins: 1ª - uma técnica, ou arte, no sentido clássico (a arte da persuasão); 2ª - um ensino (foi matéria de exercícios, lições, provas); 3ª - uma ciência ou protociência (delimitado campo

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de observação dos efeitos da linguagem; classificação desses efeitos; metalinguagem); 4ª - uma moral (sistema de regras); 5ª - uma prática social (técnica que assegura aos segmentos sociais dominantes a propriedade da palavra); 6ª - uma prática lúdica — uso caricato do sistema de regras”. (apud SOUZA, 1987, p.30).

2.3 Poética

Retórica e Poética são disciplinas que nem sempre se apresentam com clareza. O primeiro tratado sistemático acerca da disciplina Poética é o de Aristóteles, que a entende como imitação do real. Na Idade Média, ela se dilui na Retórica com os tratados de versificação,

voltados para o inventário e descrição das formas poéticas consagradas na Antiguidade. A partir do século XV e início do século XVI, a Poética inicia seu ciclo final que se prolonga até o século XVIII. Hoje o nome Poética concorre com Teoria da Literatura, servindo para designar a disciplina contemporânea cujo campo é a Literatura.

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Poética também deve ser entendida, segundo Paul Valéry, como obra do espírito. O espírito vai e volta, modifica o que é produzido por seu ser mais interior, através da sensação particular do julgamento dos outros. É fruto de longos cuidados e reúne uma quantidade de tentativas, de repetições, de eliminações e de escolhas. Exigindo meses de reflexão e pode supor também a experiência e as aquisições de uma vida inteira.

2.4 Estética

Somente a partir do século XVIII a Estética é transformada numa disciplina autônoma. Ela comparece à cena da investigação da Literatura, como disciplina autônoma e individualizada pelo nome que lhe é próprio. Segundo estudos de Baumgarten, a Estética está circunscrita aos fatos ligados à sensibilidade e à percepção. Alinhada com um conceito de Arte, colocando-se em consonância tanto com a ordem da emergente Ciência moderna, quanto com a ideologia do Romantismo, a Estética se habilita a tomar, no campo da investigação da Literatura, o lugar até então ocupado pela Retórica e pela Poética.

2.5 Resumo

A Retórica, a Poética e a Estética são instâncias reflexivas, pois são disciplinas abrangentes da Filosofia. Inicialmente, a Retórica se cristalizou como a arte da oratória, e a Poética como a arte da poesia, embora sejam consideradas irmãs (quase siamesas). A Estética se habilita a tomar,

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no campo da investigação literária, o lugar ocupado pela Retórica e pela Poética, ao encaminhar um entendimento da linguagem como transparência aos fatos de razão e sensibilidade.

2.6 Auto-avaliação

De acordo com o estudo realizado, podemos dizer que as palavras que melhor definem as disciplinas Retórica, Poética e Estética são persuasão, imitação e percepção sensível? Explique.

2.7 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

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UNIDADE I

TEMA 3 A PERSPECTIVA CIENTÍFICA

DA LITERATURA

Objetivos Específicos • Identificar o processo de construção das novas

realizações de investigação da Literatura através da história.

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3.1 Introdução

A investigação da Literatura no século XIX se desenvolveu no sentido de desagregar a síntese construída pelos resultados convergentes das três disciplinas humanísticas já consideradas. Desse modo impõem-se novas realizações históricas de investigação da Literatura.

3.2 História da Literatura

Na História da Literatura cabe distinguir três diretrizes principais: biográfico-psicológica, a sociológica e a filológica. Ângulo biográfico-psicológico: Sobretudo a partir da convicção romântica de gênio, que se generalizou o estudo da Literatura como levantamento de biografias (história do indivíduo) bem como o estudo da Literatura não escapou à nova sedução da Psicologia concebida como Ciência total. Desenvolveram-se investigações da Literatura a partir de pontos de vista psicológicos, visando ao escritor, ao processo criador, ao conteúdo de psiquismo presente nas obras. Ângulo sociológico: Desde os primórdios oitocentistas que a sociologia tem prestígio junto aos estudiosos de Literatura. Segundo Antônio Cândido, é preciso uma correta restrição ao enfoque sociológico da Literatura, pois nem sempre é possível admitir relações diretas e do tipo causal entre o literário e o social, afirmando ser indispensável à “crítica” o seguinte: “... ter

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consciência da relação arbitrária e deformante que o trabalho científico estabelece com a realidade, mesmo quando pretende observá-la e transpô-la rigorosamente, pois a mimese é sempre uma forma de poiese” (apud SOUZA, 1987, p.73). No entanto, segundo o mesmo Antônio Cândido, há seis modalidades básicas, além das inúmeras variantes, de estudos da Literatura sociologicamente orientados: 1ª - Trabalhos cuja finalidade é estabelecer uma relação entre a Literatura e as condições sociais, tendentes a uma exposição paralela do social e do literário; 2ª - Estudo da literatura enquanto espelho da sociedade. Essa seria uma modalidade mais simples e comum, tendente mais à Sociologia elementar do que à Crítica Literária; 3ª - Estudo da relação entre a obra e o público; 4ª - Pesquisa da posição e função social do escritor, relacionando-as com a natureza de sua obra, a fim de, em última instância, estabelecer os vínculos posição-função social do escritor/obra/organização da sociedade; 5ª - Estudo da função política das obras e dos autores; 6ª - Investigação hipotética das origens da Literatura em geral ou de certo(s) gêneros em particular.

Vejamos o exemplo abaixo:

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Pivete (Chico Buarque

Composição: Francis Hime e Chico Buarque)

No sinal fechado Ele vende chiclete Capricha na flanela E se chama Pelé Pinta na janela Batalha algum trocado Aponta um canivete E até Dobra a Carioca, olerê Desce a Frei Caneca, olará Se manda pra Tijuca Sobe o Borel Meio se maloca Agita numa boca Descola uma mutuca E um papel Sonha aquela mina, olerê Prancha, parafina, olará Dorme gente fina Acorda pinel Zanza na sarjeta Fatura uma besteira E tem as pernas tortas E se chama Mané Arromba uma porta Faz ligação direta Engata uma primeira E até Dobra a Carioca, olerê Desce a Frei Caneca, olará

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Se manda pra Tijuca Na contramão Dança pára-lama Já era pára-choque Agora ele se chama Emersão Sobe no passeio, olerê Pega no Recreio, olará Não se liga em freio Nem direção No sinal fechado Ele transa chiclete E se chama pivete E pinta na janela Capricha na flanela Descola uma bereta Batalha na sarjeta E tem as pernas tortas

Ao analisarmos a canção Pivete, de Chico Buarque de Holanda, podemos observar elementos semelhantes que descrevem nossa realidade social. O personagem descrito pelo autor demonstra hábitos e atitudes das crianças abandonadas. Há uma exposição paralela entre o literário e o social. Ângulo filológico: A Filologia surgiu em função direta da Literatura, permanecendo como tal por toda a sua longa história. Mantém-se assim por causa da suposta neutralidade de investigação, garantida por seu rigor técnico, objetividade, submissão dos fatos, atenção exclusiva ao estabelecimento e explicação dos textos.

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Ângulo filológico: A Filologia surgiu em função direta da Literatura, permanecendo como tal por toda a sua longa história. Mantém-se assim por causa da suposta neutralidade de investigação, garantida por seu rigor técnico, objetividade, submissão dos fatos, atenção exclusiva ao estabelecimento e explicação dos textos.

3.3 Crítica Literária

No século XX, a investigação mais rigorosa e especializada do objeto literário tem evitado servir-se do termo Crítica Literária, por entendê-la como uma expressão comprometida com a atitude impressionista. Embora a restrição à prática da Crítica, conforme caracterizamos essa atividade, seja um dos traços identificadores dos estudos literários do presente, isso não significa que a palavra tenha sido banida do vocabulário técnico, permanecendo em uso na nomenclatura técnica de diversas línguas. No entanto, não escapa a um significado ambíguo, muitas vezes confundido com o de resenha jornalística, com intuito de divulgação/publicidade. Vejamos o que afirma Antônio Cândido sobre a crítica literária:

“Não posso aproximar-me da poesia, como crítico, sem sentir um certo constrangimento. Porque, para fugir a uma certa crítica detestável de impressões vagas e de tiradas sem sentido, o crítico vai se

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esforçando por se exprimir em conceitos, que são o resultado de análises em que o seu esforço foi - por mais que não o quisesse - o de intelectualizar as emoções.

Submeter a poesia ao processo de expressão crítica é, de certo modo, sacrílego e perigoso. Sacrílego, na mesma medida em que o é a crítica musical intelectualizada; perigoso, na medida em que o crítico sacrifica boa parte da sua experiência poética - passada em regiões e em termos inefáveis - e se intromete pela do leitor a dentro.

(Cândido Antônio, Revista do

Instituto de Estudos Brasileiros, São

Paulo, IEB, 1994, pp. 135-139.)

3.4 Ciência da Literatura

Há dois aspectos a considerar: o primeiro, o termo Ciência da Literatura constitui uma preferência léxica da língua alemã, enquanto

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realização histórica no campo dos estudos literários; o segundo refere-se à crise do historicismo à implantação da Teoria da Literatura, na qual é possível detectar certa vacilação na escolha entre os métodos e conceitos da prestigiosa História da Literatura.

3.5 Teoria da Literatura

A expressão Teoria da Literatura está ligada à ampla influência da obra homônima de Wellek e Warren, publicada em 1942. Desde o início do século XX, vieram-se desenvolvendo diretrizes de investigação da Literatura contrárias aos modelos biográfico-psicológico, sociológico e filológico. Essas diretrizes cristalizaram-se em grupos e movimentos (hoje tidos como correntes da Teoria da Literatura). Mas convém entender por Teoria da Literatura uma disciplina específica no campo dos estudos literários, cuja unidade se acha estabelecida pelo destaque dado ao texto e à linguagem, fundamentalmente uma construção de palavras, um arranjo verbal, um artefato de linguagem, ideal largamente compartilhado por inúmeras ideologias relativas à criação literária desenvolvida no século XX, inclusive as que se preocupam com as expectativas do receptor, bem como a maneira como a obra literária capta a realidade. Segundo Luiz Costa Lima, são os “filtros”, os que se colocam entre a obra e a realidade. Esses “filtros” não só permitem distinguir o literário do não-literário, mas também aponta tratamento específico para cada gênero. Por exemplo, a

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forma do soneto — presa aos catorze versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos — constitui uma forma fixa do gênero lírico. Vejamos o exemplo em que o eu poético utiliza-se da forma fixa do soneto para expressar à amada os seus sentimentos mais particulares e nobres — utilizando, portanto, o gênero lírico. Soneto do Amor Total

(Vinicius de Moraes Composição: Vinicius de Moraes)

Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim muito e amiúde, É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude.

3.6 Resumo

A investigação literária no século XIX desenvolveu-se inicialmente a partir das seguintes diretrizes: biográfico-psicológica (história do

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indivíduo/autor), sociológica (relação direta entre a obra e a sociedade) e a filológica (rigor técnico da linguagem). No século XX, a Crítica Literária confunde-se com resenha jornalística, com alto teor impressionista. Somente com os alemães, a Ciência da Literatura pôde se ampliada. Em princípio, como disciplina sistemática da Literatura, ligada a fatores históricos. Posteriormente, expressada como Teoria da Literatura, cujo campo de estudo é o texto e a linguagem.

3.7 Auto-avaliação Caro aluno, é possível detectar que a perspectiva científica da literatura é uma evolução da perspectiva humanística da literatura? Ou não, são perspectivas independentes, sem vínculos históricos? Pesquise e aprofunde os dados.

3.8 Bibliografia • AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura.

São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988. • BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca

imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

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UNIDADE I

TEMA 4 OS CAMPOS DE ESTUDO

Objetivos Específicos • Identificar a partir do texto literário os diversos

campos de estudo.

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4.1 Introdução Segundo Massaud Moisés, a rigor “toda análise textual é contextual”. Assim ensina a experiência. Um escrito constitui sempre um ser vivo, empregando regras, aberto a influxos de fora, da cultura em que foi produzido, da Língua em que foi elaborado, a sociedade que o motivou, dos valores em vigência no tempo, etc. Se a tudo isso que o envolve, que lhe informa a circunstância originária, se atribuir o nome do contexto, é imediato depreender que, efetivamente, toda análise textual acaba sendo contextual. As relações da análise literária com outras formas de conhecimento acontecem comumente. Se um texto implica questões psicológicas, obviamente o analista deve reportar-se à cooperação da Psicologia; se implica questões filosóficas, há de recorrer à Filosofia, e assim por diante. Mas, adotará tal procedimento “sempre que o texto o determinar, não porque a isso o arrastem suas opiniões e convicções ideológicas”. (MOISÉS, 1988, p.18). Sabemos que não é fácil abstrair ou neutralizar temperamentos e preconceitos, fantasias durante o processo de análise, mas cumpre ao analista assumir a isenção requerida pelo próprio movimento da sua inteligência e sensibilidade ao interpretar o texto que sua curiosidade elegeu. É preciso se esforçar por impedir que a deformação possa induzi-lo atribuir ao texto aquilo que não possui ou não pode possuir. Por exemplo: asseverar a existência de luta de classes nos romances machadianos, ou deixar de perceber o conflito social nas obras de Jorge Amado.

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Vejamos o poema abaixo:

Uma vez Uma fala

Uma foz Uma vez uma bala Uma fala uma voz Uma foz uma voz Uma bala uma vez Uma voz Uma vala Uma vez

(CAMPOS, Augusto de). In: SIMON, Maria &

DANTAS, Vinícius de Ávila. (Poesia Concreta, SP, Abril, 1982, p.28.).

Este poema apresenta como tema a violência urbana. Escrito na década de 50 propõe a valorização da mensagem a partir do som, da forma visual e da carga semântica das palavras, possibilita múltiplas leituras: a vertical, a horizontal, a diagonal; estabelece um contexto específico, com intenção social e política, própria ao momento, mas que se estende ao longo dos anos.

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4.2 Resumo

O texto literário traz em sua composição inúmeras questões. Cabe ao analista reconhecer quais são elas e de que forma são colocadas, pois o próprio texto encaminha sua temática a um ou outro campo de estudo, seja a Psicologia, a Filosofia. O contexto o qual está inserido é o próprio caminho para a análise.

4.3 Auto-avaliação Caro aluno pode dizer que o texto é ponto de partida e ponto de chegada da análise literária?

4.4 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São

Paulo. Ed. Ática, 1993. • Souza, Roberto Acízelo de. Formação da

Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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UNIDADE I

TEMA 5 A PRÁTICA DA ANÁLISE LITERÁRIA

Objetivos Específicos

• Propor uma reflexão sobre a prática da análise

literária.

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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5.1 Princípios Gerais

Para frutificar, a análise literária pressupõe sempre uma teoria da Literatura, porquanto sem ela conduz a nada, ou a superficialidades. Ao defrontar-se com o texto, o analista há de estar munido de aparelhagem adequada a seu trabalho. Acima de tudo, precisará estar seguro da orientação crítica a seguir e do conceito e limite dos gêneros literários. O bom senso deve conduzi-lo, pois a proposição de algumas normas metodológicas referentes ao comportamento analítico deverão ser abertas, e tão flexíveis quanto o é a própria matéria literária. Observemos o exemplo abaixo, trata-se de um fragmento de um capítulo de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:

O soldado amarelo

Era um facão verdadeiro, sim senhor, movera-se como um raio cortando palmas de quipá. E estivera a pique de rachar o quengo de um sem-vergonha. Agora dormia na bainha rota, era um troço inútil, mas tinha sido uma arma. Se aquela coisa tivesse tirado mais um segundo, o polícia estaria morto. Imaginou-o assim, caído, as pernas abertas, os bugalhos apavorados, um fio de sangue empastando-lhe os cabelos, formando um riacho entre os seixos da vereda. Muito bem! Ia arrastá-lo para dentro da caatinga, entregá-lo aos urubus. E não sentiria remorso. Dormiria com a mulher, sossegado, na cama de varas. Depois

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gritaria aos meninos, que precisavam de criação. Era um homem, evidentemente. Aproximou-se fixou os olhos nos do polícia, que se desviraram. Um homem. Besteira pensar que ia ficar murcho o resto da vida. Estava acabado? Não estava. Mas para que suprimir aquele doente que bambeava e só queria ir para baixo? Inutilizar-se por causa de uma fraqueza fardada que vadiava na feira e insultava os pobres! Não se inutilizava, não valia a pena inutilizar-se. Guardava a sua força. Vacilou e coçou a testa. Havia muitos bichinhos assim ruins, havia um horror de bichinhos assim fracos e ruins. Afastou-se, inquieto. Vendo-o acanalhado e ordeiro, o soldado ganhou coragem, avançou, pisou firme, perguntou o caminho. E Fabiano tirou o chapéu de couro. — Governo é governo. Tirou o chapéu de couro, curvou-se e ensinou o caminho ao soldado amarelo.

(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 51. Ed. São Paulo, Record, 1983. P.106-7).

Este é o fragmento de um capítulo de Vidas Secas, romance escrito por Graciliano Ramos. Sabemos que o romance é uma forma narrativa que, embora sem nenhuma relação genética com a epopéia, a ela equivale nos tempos modernos. E, ao contrário da epopéia, como forma representativa do mundo burguês, volta-se para o homem como indivíduo. O enredo, as personagens, o espaço, o tempo, o ponto de vista

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da narrativa constituem os elementos estruturadores do romance. O tema de Vidas Secas se confunde com o próprio título do romance, sendo ele constituído por aspectos essenciais na configuração do estado de “secura” socioeconômica e psicológica em que vivem os retirantes das secas do Nordeste brasileiro. O romance apresenta descrições, com as quais se representam personagens, objetos, espaço... Nele, o grande investimento do autor foi na relação entre o espaço físico (modificado pelas secas) e o humano (as vidas que se tornam secas também). Também podemos observar o destaque dado a cada membro da família de retirantes, mas é de Fabiano, seu chefe, que se faz um retrato físico e psicológico minucioso, a partir de quem se dão a conhecer todas as outras personagens. No trecho acima o narrador usou o recurso do discurso indireto livre. O texto em terceira pessoa, não anuncia os pensamentos do personagem, as interrogações apresentam-se na forma direta, para analisar objetivamente a atitude de Fabiano diante da polícia (medo, desejo de vingança, desprezo), mas, ao mesmo tempo, para revelar o íntimo do personagem, sua subjetividade. O discurso indireto livre permite-lhe uma análise objetiva que expressa o personagem. Quando o personagem fala: “— Governo é governo”, a impressão que fica é a de que o narrador, ao utilizar o discurso direto para citar a fala de Fabiano, pretende ressaltar que essa reação de submissão corresponde a uma real atitude de Fabiano e não ao produto de uma interpretação do narrador.

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O caráter inovador de Vidas Secas nos leva a lê-lo como um romance aberto, com seus vários quadros, centrado cada um em determinada personagem, como o exemplo acima. Por isso é chamado de romance desmontável. E como tal, possui um enredo cíclico, pois que o final da trama é uma retirada, como o princípio fora uma chegada, a sugerir o narrador a alternância inumerável de fuga da miséria e encontro da terra desejada, em função do ciclo das secas. Ao longo da narrativa, observamos recursos contemporâneos bastante utilizados como é o caso do monólogo interior. Este não tem intervenções, apresenta o que há de mais íntimo na personagem, mais próximo do inconsciente. Está muito próximo ao que a Psicologia denomina de fluxo de consciência. Assim, à análise é preciso levar em conta também cada gênero, espécie ou forma literária. A análise constitui um modo de ler, de ver o texto e de, portanto, ensinar a ler e a ver. Ensinar a ler implica conduzir o leitor ou o educando a ver, a escolher do texto o mais importante, mas não propriamente a julgá-lo, o que constitui desígnio da crítica literária. Vejamos: 1. A análise constitui um hábito, quase um vício intelectual, que enriquece o leitor com novas experiências. 2. Ensinar a ler implica conduzir o leitor a escolher do texto o mais importante, cabe ao professor propor sugestões de caminhos e processos.

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3. A análise deve abster-se de adjetivar, o emprego de qualificativos só é necessário para classificar e ordenar, nunca para estabelecer juízos de valor. Uma leitura em profundidade pressupõe sempre que o texto literário, sendo composto de metáforas, é ambíguo por natureza, ou seja, guarda uma multiplicidade de sentidos. Ler mal significa não perceber a extensão dessa ambigüidade, ou apenas percebê-la sem poder compreendê-la ou justificá-la.

5.2 Resumo

A análise literária sempre pressupõe um método que deve estar alicerçado, a princípio, pela maturidade intelectual e bom senso do leitor e, posteriormente, pelos aspectos formais que o próprio texto traz como gênero, espécie ou forma literária.

5.3 Auto-avaliação

O que você, caro aluno, entende pela assertiva: “A análise constitui um modo de ler, de ver o texto e de, portanto, ensinar a ler e a ver”.

5.4 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

UNIDADE II

O APARECIMENTO DAS CORRENTES

Objetivos

• Conceituar e propor a reflexão sobre as teorias críticas iniciadas no século XIX, orientadoras da leitura investigativa do texto literário.

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UNIDADE II

TEMA 1 CORRENTES TEXTUALISTAS

Objetivos Específicos

• Identificar as características das correntes

textualistas.

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1.1 Crítica Biográfica

Nas primeiras décadas do século XIX, com o Romantismo, a crítica literária passa a processar-se sistematicamente, destacando-se, então, o crítico francês Sainte-Beuve (1804-1868) e seu método biográfico: um processo de descrição que procurava explicar elementos da obra, através da vida do autor, fazendo uma abordagem da sua biografia. O desenvolvimento posterior da teoria literária mostrou que essa análise das obras era frágil e até contraditória.

Fonte da imagem:attambur.com/

1.2 Crítica Determinista

Sob a influência do Positivismo de Augusto Comte, cuja característica principal era o naturalismo, procurou-se aplicar à literatura os métodos das ciências naturais: da biologia, da física, da química, apontando como um precursor da

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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sociologia da literatura, pois seu exercício crítico consiste na procura das causas e leis da criação literária, havendo três fatores determinantes: a raça, o meio, o momento.

1.3 Crítica Impressionista

No final do século XIX, numa perspectiva oposta à postura científica e objetiva de então, desenvolve-se uma tendência crítica centrada na subjetividade do leitor, a quem cabia transmitir as

impressões que mais profundamente marcaram a sua sensibilidade, em contato com obras-primas de todas as épocas.

1.4 Crítica Formalista

Entendendo que a investigação da obra literária deva se fixar na própria obra, desenvolve-se, a

partir da função do Círculo Lingüístico de Moscou (entre 1914 e 1915), um movimento de crítica literária, estreitamente ligado aos movimentos artísticos de vanguarda, que se denominou Formalismo Russo. Os formalistas vão procurar distinguir, no próprio texto, as características que o

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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tornam literário, a sua literariedade. Vista por eles a obra como uma forma, isto é, um sistema em que todos os elementos se integram, não sendo, por isso, possível separar forma e conteúdo, a literariedade resultaria do procedimento de singularização, própria da linguagem literária, explicado em oposição ao automatismo da linguagem usual, decorrente da percepção automática do mundo, à qual nos acostumamos no dia-a-dia.

Crítica Formalista - a investigação da obra literária

deva se fixar na própria obra. Fonte da imagem: http://www.fcsh.unl.pt

1.5 Estilística

A estilística literária inicia-se com Karl Vossler (1872-1949), discípulo de Benedetto Croce (1866-1952). Trata-se de uma estilística literária, que se firmaria como crítica estilística e que se basearia na conceituação idealista de Croce, da arte como intuição-expressão. Seria a linguagem um ato espiritual e criador, expressão da fantasia individual.

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Estilística - linguagem um ato espiritual e criador, expressão da fantasia individual.

Leo Spitzer (1887-1960), reagindo à postura então predominante no estudo das obras literárias, que eram vistas como veículos para esclarecimento de outras realidades, que não as da própria obra, associa, em seus trabalhos, sob a influência das teorias freudianas, a criação literária ao psiquismo do autor, apreendendo-a como expressão de uma personalidade, mas sem cair no biografismo. Considerava a obra como uma totalidade, na qual todos os elementos se estruturavam organicamente. A estilística espanhola com Damaso Alonso concebe a existência de três graus de conhecimento da obra: o do leitor, que reproduziria a intuição do autor; o do crítico, como um leitor excepcional, capaz de exprimir artisticamente as intuições profundas, nítidas e totalizadoras da obra; e o da análise científica, tarefa da estilística, que, por ser científica, não atingiria a essência na obra, somente acessível à intuição.

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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Carlos Bousoño, discípulo de Damaso Alonso propõe a exploração da obra literária a partir da interpretação entre o eu individual e o eu social do escritor, a inclusão de elementos epocais, com o que procurou dar à crítica uma dimensão diacrônica e ideológica.

1.6 A “Nova Crítica”

A nova crítica se propõe a romper com a hermenêutica (interpretação de texto), com a ontologia (estudo metafísico ou do ser), com a filologia (interpretação a partir de figuras de linguagem previamente dadas) e com a leitura de texto que empresta a este a noção de “intenção do autor” ou se rege pelo perfil biográfico do mesmo. Dentro de uma noção de autonomia do texto estético, a Nova Crítica propõe para o texto poético uma “leitura microscópica”, isto é, imanente do texto literário, com uma análise a partir do significado do próprio texto, e não de um contexto histórico, biográfico ou externo a ele. A obra é próprio testemunho do autor. O crítico se aproxima do texto buscando compreender o seu elemento conceitual e denotativo, mais próximo da linguagem referencial, da prosa ou da razão, somado ao elemento conotativo, linguagem emotiva ou textura poética, noutros termos, a métrica, o ritmo, a prosódia, a rima. Assim, o objetivo da nova crítica é aproximar o crítico do texto poético e afastá-lo da interpretação ontológica ou hermenêutica, que especula sobre a essência, ou da interpretação sociológica ou histórica, que extrapola os limites do texto.

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1.7 Resumo

As correntes textualistas buscam compreender a obra a partir de conceitos específicos. Vejamos um breve resumo:

• Crítica Biográfica (relação entre a obra e o autor);

• Crítica Determinista (fatores determinantes da obra: raça, meio e momento);

• Crítica Impressionista (análise subjetiva do leitor);

• Crítica Formalista (a obra como forma—sistema particular de trabalhar a linguagem);

• Crítica Estilística (a arte como intuição, fantasia individual);

• Nova Crítica (explica a obra como resultado lingüístico, textual).

1.8 Auto-avaliação

Caro aluno, dentre as correntes textualistas, há alguma que você considera, atualmente, desnecessária à análise de uma obra literária? Explique.

1.9 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

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UNIDADE II

TEMA 2 CORRENTES ÉTICO-POLÍTICAS

E/OU SOCIOLÓGICAS Objetivos Específicos

• Identificar as características das correntes ético-políticas e ou sociológicas.

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2.1 Crítica Existencialista

O homem constrói o próprio destino. Concebe a literatura como o desvelar do mundo, comprometido com um modo de ação social, ético e político. Baseada nos estudos de Jean-Paul Sartre, a filosofia existencialista acredita que o homem constrói o próprio destino.

2.2 Crítica Marxista

No seu âmbito se contam desde simplórias apologias de uma Literatura pretensamente identificada com a causa do proletariado, até versões elaboradas de uma concepção sociológica construída com base nas noções centrais do pensamento marxista, na sua formulação clássica.

(Fonte da imagem: www.cimm.ucr.ac.cr)

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2.3 Crítica Sociológica

Entende-se por este termo todas as indagações sobre a Literatura que têm na questão do social seu horizonte comum, por seus compromissos explícitos com sistemas ético-políticos bem definidos. Convém lembrar que nela podemos incluir hoje o importante setor de pesquisas na área da chamada cultura de massa.

Fonte da imagem:

//www.dissonancia.com/58-04-002.jpg

2.4 Estética da Recepção

Também conhecida como Escola de Konstanz, cidade da Alemanha Ocidental em cuja Universidade o movimento teve início a partir de fins dos anos 60. A Estética da Recepção se propõe colocar no centro de suas pesquisas um pólo negligenciado pela Teoria da Literatura: o leitor. Não se trata de canonizar um leitor ideal, mas de, pela análise das múltiplas interpretações suscitadas por um texto, compreender a diversidade das constituintes de sentido,

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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entendida como etapas articuladas de “vivência/experiência/ação”.

Estética da Recepção-Propõe colocar no centro de

suas pesquisas: o leitor.

2.5 Resumo

Tais correntes têm como referencial analítico as concepções de ação social, ética e política. Em sua maioria lêem a obra literária como resultado direto dessas concepções. Somente a Estética da Recepção traz à cena dos estudos literários um componente novo: o leitor. Compreende que a interpretação de uma obra literária passa necessariamente pela “vivência/experiência/ação” do leitor, transformando-o em co-autor.

2.6 Auto-avaliação

Caro leitor, na sua opinião é possível analisar uma obra literária tendo somente como referência os seus aspectos sociais? Explique.

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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2.7 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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UNIDADE II

TEMA 3 A TEORIA LITERÁRIA COMO CIÊNCIA

Objetivos Específicos

• Reconhecer a importância da Teoria Literária

como Ciência.

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3.1 A Teoria Literária constitui

ou não uma ciência?

Conforme vimos demonstrando, a Teoria da Literatura não é uma espécie de enciclopédia dos estudos literários, mas uma das disciplinas desenvolvidas no âmbito dos estudos literários. Ela se apresenta como a primeira realização verdadeiramente científica no campo dos estudos literários, na medida em que pretende dispor de um objeto claramente constituído, de um aparato específico de conceitos, de métodos e de técnicas analíticas. Mas isso não indica que a Teoria da Literatura possua eficácia tecnológica, o que muitas vezes acontece com as propostas escolares, pois a Teoria da Literatura não é o projeto de uma máquina que, uma vez montada, venha a produzir análises literárias em série, principalmente porque a literatura trabalha com a palavra, um objeto gráfico pleno de sentidos, variável dentro de uma escala complexa de valores — um ícone. Vejamos o poema abaixo e possíveis leituras:

Tecendo a Manhã Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo,

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para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. (MELLO NETO. João Cabral de. Poesias Completas.

3. ed. Rio de Janeiro. J. Olympio, 1979. p.19-20) Pelas correntes descritas acima, deduzimos que existem vários planos de leitura. Se quiséssemos priorizar a Crítica Formalista (Unidade II - Tema 1 – Correntes Textualistas - Crítica Formalista) estabeleceríamos prioritariamente os planos morfossintático e fônico. Por exemplo, na primeira estrofe, podemos observar que no tocante aos elementos mórficos e à estrutura sintática ocorrem: 1. Nas duas primeiras orações: “Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.” (são coordenadas entre si e categoricamente afirmativas); 2. As orações entre o verso 3 e o 10 podem ser divididas em 3 blocos separados um do outro por ponto-e-vírgula; 3. Os dois primeiros blocos (verso 3 até a metade do 6) possuem uma estrutura sintática perfeitamente simétrica; 4. A palavra “galo” principia e encerra a primeira estrofe. Além disso, “galo” (singular) alterna com “galos” (plural), constitui o sujeito de todas as orações dessa estrofe e se distribui por toda ela,

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ocupando lugares variados de modo a configurar um esquema de entrecruzamentos: galo>galos>galos>galos>galo. No nível sonoro, a primeira observação é o destaque da vogal tônica a da palavra “galo”, que se distribui por toda a estrofe; além dela, ocorrem outras vogais tônicas abertas com certa freqüência; as consoantes oclusivas (/k/, /g/, /t/, /p/), ocorrem com alta freqüência em toda primeira estrofe; a partir do verso 3, o final de cada verso se encadeia no verso seguinte e se completa nele; a leitura vai ganhando velocidade e sofrendo menos cortes à medida que a estrofe vai se aproximando do final. Mas se quiséssemos priorizar outros planos de leitura, como as Correntes ético-políticas e/ou sociológicas ou a Estética da Recepção devemos compreender que há uma elaboração de produtos concretos como “Fios”, “tecer”, “tela”, “tenda”, “toldo”. Acrescidos a eles aparecem dois termos: “luz” e “manhã”. Luz é esclarecimento, ilustração, saber. É o produto intelectual. O verbo “tecer” tem como objeto um nome designativo de produto do intelecto, significa “compor”, “engendrar”. Isso nos permite interpretar o poema como o processo de fabricação dos bens culturais. Do conjunto de vozes emerge a obra cultural de uma época,que não é solitária (um fio), mas uma obra solidária (uma trama de fios). O nível fundamental que o poema trabalha são as duas oposições: individualidade x coletividade; dependência x autonomia. Nega-se a individualidade (“Um galo sozinho não tece uma manhã”), afirma-se a coletividade (“ele precisará sempre de outros galos”).

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3.2 Resumo

A Teoria da Literatura constitui-se como Ciência por estar alicerçada em conceitos, métodos e técnicas analíticas, no entanto, isso não significa que possa ser utilizada com eficácia tecnológica, pois a análise literária é o esforço do leitor por superar as barreiras interpostas naturalmente pelo texto.

3.3 Auto-avaliação

De acordo com a afirmativa “... a literatura trabalha com a palavra, um objeto gráfico pleno de sentidos”, como podemos analisar o poema abaixo: O bicho

Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão. Não era um gato. Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. (Bandeira, Manuel. Estrela da vida inteira. 4.ed. Rio de Janeiro. J.Olympio, 1973. p.196.)

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3.4 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

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UNIDADE II

TEMA 4 A CONTRIBUIÇÃO DE ROLAND BARTHES

Objetivos Específicos

• Analisar as idéias inovadoras de Roland

Barthes no que diz respeito ao conceito de obra e texto.

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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4.1 O Prazer do Texto –

Obra e Texto Barthes em seu artigo publicado na Revue d’Esthétique em 1971, “Da obra ao texto”, sintetizou as idéias que estariam detalhadamente desenvolvida no Prazer do Texto. O que é fundamental neste artigo é oposição entre a noção de obra e texto. Barthes contrapôs as diferenças em sete itens: 1. A obra é um fragmento de substância, ocupa uma porção do espaço dos livros (por exemplo, numa biblioteca); já o Texto é um campo metodológico. A obra segura-se na mão, o Texto mantém-se na linguagem; 2. O Texto é sempre paradoxal; 3. O Texto pratica o recuo infinito do significado, do jogo; 4. O texto é plural, pois realiza-se em travessia de significados (etimologicamente, texto é tecido); 5. A obra tem filiação; o Texto é uma rede de efeito combinatório; 6. A obra é objeto de consumo; o Texto é prática, produção, trabalho; 7. O texto está ligado ao prazer, pois participa a seu modo de uma utopia social. Vejamos na prática o que Roland Barthes teoriza:

Eu Sou Trezentos Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, As sensações renascem de si mesmas sem repouso, Ôh espelhos, ôh Pireneus! Ôh caiçaras! Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! Abraço no meu leito as milhores palavras,

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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E os suspiros que dou são violinos alheios; Eu piso a terra como quem descobre a furto Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos! Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, Mas um dia afinal eu toparei comigo… Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo. (Poesia Completas. São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p.189) Mário de Andrade produziu muito durante sua vida. Nasceu no dia 9 de Outubro de 1893 em São Paulo. Tem marcado seu nome em inúmeras obras em prosa, poesia e teatro, como — Memórias sentimentais de João Miramar (Romance), Serafim Ponte Grande (Romance), O homem e o cavalo (Teatro), Há uma gota de sangue em cada poema (Poesia), Amar, verbo intransitivo (Romance), Macunaíma (Rapsódia) etc. As obras, segundo Barthes são representadas pelo objeto em si, constituem a parte física de todos os textos que Mário escreveu. O texto estabelece o tecido das idéias há muito acumuladas pelas leituras, pela vivência, pelas viagens, pelas culturas locais e universais, estabelecendo o efeito combinatório. [ As obras, segundo Barthes são representadas pelo objeto em si, constituem a parte física de todos os textos que Mário escreveu. O texto estabelece o tecido das idéias há muito acumuladas pelas leituras, pela vivência, pelas

APLICAÇÃO DA TEORIA LITERÁRIA

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viagens, pelas culturas locais e universais, estabelecendo o efeito combinatório.

Mário de Andrade

Mário brinca com as palavras, realiza o jogo que Barthes fala, pois traz a linguagem própria do povo, realizando a aproximação do formal ao coloquial. Mas tudo isso, leva-o a trilhar os caminhos da própria identidade. O texto plural, preso à linguagem, eterniza-se pelo prazer da própria existência e pela obra filiada ao nome de Mário de Andrade.

4.2 Resumo

Barthes em sua obra O Prazer do texto conduz-nos a uma nova perspectiva sobre a compreensão dos conceitos obra e texto. Possibilitando a novos entendimentos acerca da análise literária.

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4.3 Auto-avaliação

Caro aluno, as assertivas de Barthes, no que diz respeito ao Texto, comungam com o que Massaud Moisés diz: “Toda análise textual é contextual”? Explique.

4.4 Bibliografia

• AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura.

São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988. • BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca

imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.

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UNIDADE II

TEMA 5 OS CAMINHOS DA CRÍTICA BRASILEIRA

Objetivos Específicos

• Reconhecer, por meio de um breve histórico, o processo de construção da crítica brasileira.

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5.1 Breve Histórico A consciência da busca da autonomia literária informou também a melhor crítica brasileira que, a partir do trabalho dos críticos românticos europeus que nos visitaram, seguido do esforço de historiadores como Silvio Romero e José Veríssimo (contemporâneos de Machado de Assis), da abertura de horizontes praticada pelos modernistas, como Mário de Andrade entre outros, e do trabalho de sistematização organizado pelos críticos mais recentes, já de formação universitária, acabou por moldar uma história da literatura brasileira. Em 1959, Antônio Cândido acentua e identifica o seu eixo analítico com a obra Formação da Literatura Brasileira. Momentos Decisivos (1750-1880). Não utilizou a literatura como veículo de uma interpretação cultural, respeitando a sua autonomia como obra de arte. Entre o juízo e o gosto estava a análise. O livro de Cândido trouxe a leitura fortemente analítica e judicativa. Assim procederam em 1960, Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari com a reflexão histórico-crítica de Antônio Cândido. Já em 1970, Alfredo Bosi, com a História Concisa da Literatura Brasileira, e em 1983-86, Massaud Moisés com a História da Literatura Brasileira, embora assumindo uma posição conservadora quanto aos métodos histórico-literários, aqui e ali conseguiram escapar da repetição e do lugar-comum historiográfico.

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5.2 Resumo

O percurso histórico na construção da crítica brasileira teve seu nascedouro com os historiadores europeus. Posteriormente, Silvio Romero e José Veríssimo tiveram importância decisiva quanto ao estabelecimento e definição da nossa literatura. Somente a partir da contribuição Mário de Andrade, com Antônio Cândido, a crítica brasileira acentuou o eixo analítico, respeitando a autonomia da obra de arte e prosseguindo com os concretistas Augusto e Haroldo de Campos; e mais recentemente com Alfredo Bosi e Massaud Moisés.

5.3 Auto-avaliação De acordo com o estudo de todo o módulo, a qual ou quais conclusões você, caro aluno, pôde chegar? Baseie suas reflexões no pensamento de Antônio Cândido: “A base do trabalho foram essencialmente os textos, a que se juntou apenas o necessário de obras informativas e críticas, pois o intuito foi não à erudição, mas a interpretação, visando o juízo crítico, fundado sobretudo no gosto”. (apud BARBOSA, João Alexandre. 1995 p.34).

5.4 Bibliografia • AGUIAR, Flávio. Panorama da Literatura.

São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988.

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• BARBOSA, João Alexandre. “A biblioteca imaginária, ou o cânone na história da literatura brasileira”. In: A Biblioteca Imaginária. SP: Ateliê, 1995.

• PLATÃO e FIORIN. Para entender o texto. São Paulo. Ed. Ática, 2003.

• MOISÉS. Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo: Ed. Cultrix, 1988.

• SAMUEL, Roger. Manual de Teoria Literária. R.J.:Vozes, 1989.

• SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo. Ed. Ática, 1993.

• Souza, Roberto Acízelo de. Formação da Teoria da Literatura. Niterói: Editora Universitária: EDUFF, 1987.