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Capa: 1 A Voz do Poeta: 2 Ecos Poéticos: 3 / Bocage: 4,11,15,16,17,18 / Rota Poética: 5 / Cantinho dos Poetas: 7,8 / Tribuna do Vate: 9 / 10ª Aniversário: 10 / Faísca de Versos: 12 / Contos e Poemas: 13,14 / Rádio: 19 / Ponto Final: 20 SUMÁRIO EDITORIAL «JANELA ABERTA AO MUNDO LUSÓFONO/UNIVERSAL» Amora - Seixal - Setúbal - Portugal | Ano X | Boletim Mensal Nº 100 | Agosto 2018 www.confradesdapoesia.pt - Email: [email protected] «Este é o seu espaço cultural dedicado à poesia» Deixamos ao critério dos autores a adesão ou não ao “Novo Acordo ortográfico” FICHA TÉCNICA Boletim Mensal Online Propriedade: Pinhal Dias - Amora / Portugal | Revisão: Conceição Tomé A Direção: Pinhal Dias - Fundador Colaboradores: Adelina Velho Palma | Albertino Galvão | Albino Moura | Alfredo Mendes | Amália Faustino | Ana Pereira | Ana Santos | Anna Paes | António Barroso | António Boavida Pinheiro | António Martins | Arlete Piedade | Arménio Correia | Artur Gomes | Carla Carvalho | Carlos Alberto S Varela | Carlos Fraga- ta | Conceição Tomé | Damásia Pestana | Daniel Costa | David Lopes | Filipe Papança | Filomena Camacho | Graça Maria Costa | Helena Fragoso | Ivanildo Gonçalves | João Coelho dos Santos | João Furtado | José Caldeira | José Chilra | José Jacinto | José Maria Gonçalves | Luis Fernandes | Maria Alexandre | Maria Fonseca | Maria Fraqueza | Maria Margarida Moreira | Maria Rita Parada dos Reis | Maria Vit. Afonso | Miraldino Carvalho | Paco Bandeira | Pedro Valdoy | Rita Celorico | Rogério Pires | Rosa Branco | Rosélia Martins | Silvino Potêncio | Teresa Primo | Tito Olívio | Vitalino Pinhal | Vó Fia | Zzcouto | … Ver restantes no site. CONFRADES DA POESIA Para nós não existe concorrência. Existem parceiros de actividade! Nesta edição colaboraram 62 poetas Tribuna do Vate …. página 9 Rádio Confrades da Poesia O BOLETIM Mensal Online (PDF) denominado "Confrades da Poesia" foi fundado com a incumbência de instituir um Núcleo de Poetas, facultando aos (Confrades / Lusófonos) o ensejo dum convívio fraternal e poético. Pretendemos ser uma "Janela Aberta ao Mundo Lusófono e outros países “; explanando e dando a conhecer esta ARTE SUBLIME, que pratica- mos e gostamos de invocar aos quatro cantos do Mundo, apelando à Fraternidade e Paz Universal. Subsistimos pelos nossos próprios meios e sem fins lucrativos. Com isto pretendemos enaltecer a Poesia Lusófona, no acréscimo da Poesia Universal e difundir as obras dos nossos estimados Confrades que gentilmente aderiram ao projecto "ONLINE" deste Boletim. Promovemos PazA Direcção Ofertas de Livros Pág. 15

Amora Seixal Setúbal Ano X Boletim Mensal Nº 100 | Agosto 2018 … · 2018-07-31 · O BOLETIM Mensal Online (PDF) ... Na loucura que invade estes meus dias Lá fora, a chuva, brancas

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Capa: 1 A Voz do Poeta: 2 Ecos Poéticos: 3 / Bocage: 4,11,15,16,17,18 / Rota Poética: 5 / Cantinho dos Poetas: 7,8 / Tribuna do Vate: 9 / 10ª Aniversário: 10 / Faísca de Versos: 12 / Contos e Poemas: 13,14 / Rádio: 19 / Ponto Final: 20

SUMÁRIO

EDITORIAL

«JANELA ABERTA AO MUNDO LUSÓFONO/UNIVERSAL»

Amora - Seixal - Setúbal - Portugal | Ano X | Boletim Mensal Nº 100 | Agosto 2018

www.confradesdapoesia.pt - Email: [email protected]

«Este é o seu espaço cultural dedicado à poesia»

Deixamos ao critério dos autores a adesão ou não ao “Novo Acordo ortográfico”

FICHA TÉCNICA Boletim Mensal Online Propriedade: Pinhal Dias - Amora / Portugal | Revisão: Conceição Tomé A Direção: Pinhal Dias - Fundador Colaboradores: Adelina Velho Palma | Albertino Galvão | Albino Moura | Alfredo Mendes | Amália Faustino | Ana Pereira | Ana Santos | Anna Paes | António Barroso | António Boavida Pinheiro | António Martins | Arlete Piedade | Arménio Correia | Artur Gomes | Carla Carvalho | Carlos Alberto S Varela | Carlos Fraga-ta | Conceição Tomé | Damásia Pestana | Daniel Costa | David Lopes | Filipe Papança | Filomena Camacho | Graça Maria Costa | Helena Fragoso | Ivanildo Gonçalves | João Coelho dos Santos | João Furtado | José Caldeira | José Chilra | José Jacinto | José Maria Gonçalves | Luis Fernandes | Maria Alexandre | Maria Fonseca | Maria Fraqueza | Maria Margarida Moreira | Maria Rita Parada dos Reis | Maria Vit. Afonso | Miraldino Carvalho | Paco Bandeira | Pedro Valdoy | Rita Celorico | Rogério Pires | Rosa Branco | Rosélia Martins | Silvino Potêncio | Teresa Primo | Tito Olívio | Vitalino Pinhal | Vó Fia | Zzcouto | … Ver restantes no site.

CONFRADES DA POESIA

Para nós não existe concorrência. Existem parceiros de actividade!

Nesta edição colaboraram 62 poetas

Tribuna do Vate …. página 9

Rádio Confrades da Poesia

O BOLETIM Mensal Online (PDF) denominado "Confrades da Poesia" foi fundado com a incumbência de instituir um Núcleo de Poetas, facultando aos (Confrades / Lusófonos) o ensejo dum convívio fraternal e poético. Pretendemos ser uma "Janela Aberta ao Mundo Lusófono e outros países “; explanando e dando a conhecer esta ARTE SUBLIME, que pratica-mos e gostamos de invocar aos quatro cantos do Mundo, apelando à Fraternidade e Paz Universal. Subsistimos pelos nossos próprios meios e sem fins lucrativos. Com isto pretendemos enaltecer a Poesia Lusófona, no acréscimo da Poesia Universal e difundir as obras dos nossos estimados Confrades que gentilmente aderiram ao projecto "ONLINE" deste Boletim.

“Promovemos Paz” A Direcção

Ofertas de

Livros

Pág. 15

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«A Voz do Poeta»

Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

SER CRIANÇA

Ser criança

É ter vida na mão

Vive-la sempre com um sorriso

Faze-la girar como um pião

E toca-la como um guizo

Ser criança

É beber sol em cada dia

Pintar de verde a lua

Chorar de alegria

E acariciar cada pedra da rua

Ser criança

É guardar no bolso o mar

E ter no peito mil corações

É ter um castelo para guardar

E esconder nele as ilusões

Ser criança

É ser homem e menino

É sonhar acordado todo o dia

É fazer o universo pequenino

É banha-lo de alegria

David Lopes - Massamá

Quero abraçar-te ( meu Portugal )

A alvorada rompia

Em Portugal era dia

Ia tudo labutar

Também eu labuto

O meu contributo

É para ti cantar

És o meu país

Minha jóia querida

Quero-te cantar

Seria feliz

O resto da vida

Em ti eu passar

Viste-me nascer

Ver-me-ás morrer

Se Deus quizer

Mas vivo a sonhar

Que hei-de voltar

Um dia qualquer

Refrão

Bom dia Portugal

Bom dia, bom dia

Com muita alegria

Canto-te afinal

Porque estou ausente

Quero-te lembrar

Toda a nossa gente

Eu quero abraçar

Contigo estar

Que bom seria

Contigo cantar

Bom dia, bom dia.

Chico Bento - Suíça

INGRATIDÃO

Quando o raio cortou a noite escura,

Desflorando a dor de tantos medos,

Girava a minha luz em vã procura

Para afugentar os barcos dos rochedos. A tua barca branca, solitária,

Zurzida pelas vagas da procela,

Trazia rota a proa mercenária

Do vento da desgraça e solta a vela. A luz do meu farol foi um aviso

E fosse só por sorte ou por mestria

Guinaste para a praia, duro piso,

E ali ficaste, exausta, até ser dia. Beijei os teus cabelos noite fora,

Irmão da tua dor, tua desdita,

Sentindo que acalmavas, hora a hora,

E te dava o que a mágoa necessita. Veio a manhã radiosa, resplendente,

Na bonança que segue a tempestade.

Olhaste então o céu... E no silente

Mar voltaste a sonhar a liberdade. Rumaste ao horizonte indefinido

A bússola nos olhos, pachorrenta,

O lindo rosto aberto, em sal curtido,

Em busca de um ocaso de magenta. Foste-te embora assim, aura de sonho,

Nas dobras do desdém, na dor agreste

Que vestiu o farol, triste, bisonho...

Partiste assim... e nem adeus disseste!...

Tito Olivio - Faro

PECADO

Nesse dia, que amanheceu

Cheio de promessas,

Só encontrou tédio por chão e céu.

Perguntou amargurado:

- Qual terá sido o meu pecado?

Enquanto por ironia,

A luz se afogava no mar a cumprir pena

Por crime não cometido,

Assim, também se sentiu ferido

Por não saber como fugir

Ao seu pecado.

Triste fado!

Altruísta e indulgente tantas vezes,

Com o pensamento em tumulto

Ou ferido por estigma ignominioso

De pequenas covardias,

Excluiu-se, pôs-se de lado.

Chorou lágrimas amargas,

Engoliu palavras ferinas

E, assim, adormeceu o seu pecado.

João Coelho dos Santos - Lisboa

TRISTEZA

Mote

"Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

Um sino dobra em mim, Ave Marias!

Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,

Faz na vidraça rendas de Veneza...

(Florbela Espanca)

Glosa

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

Cai chuva dos meus olhos lentamente

Como se o céu se abrisse de repente

Num esgar de nuvens prenhes de estranheza

Um sino dobra em mim, Ave Marias! E eu rezo com a voz de quem não sente

A saudade daquele amor ausente

Na loucura que invade estes meus dias

Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,

Afaga a face, canta melodias

E subtilmente, a sombra do luar

Faz na vidraça rendas de Veneza... Tricotando gotas d'água sem notar

Que chove em mim como em toda natureza.

Maria Graça Melo - Lisboa

Vamos falar de amor

Sublime esperança erguida

Pelo mundo a compor

A dar sentido à vida.

O amor é o produto

Fraternidade em flor

A raiz o caule o fruto

Não há maior esplendor.

Mas plo mundo outras correntes

A guerra o ódio... O amor

Enfrenta várias frentes.

Enorme seja o valor

Infelizmente é incapaz

De acudir a tanta dor.

Aires Plácido - Amadora

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3 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«Ecos Poéticos»

AMIGO

Amizade pura, é rara;

E muito querida também;

Palavra que sai bem cara,

Porque muito amor contém.

Amigo é aquele braço,

Que está estendido p'ra nós;

Que ampara o nosso fracasso

Quando ele se torna atroz.

Amigo é o beijo dado,

Sem esperar retribuição,

Com carinho povoado,

No jardim do coração.

Amigo, aquele que atura

Nossa injustiça á toa.

E mesmo assim não censura,

E mesmo assim só perdoa.

Amigo é o respeito,

Do homem, p'lo semelhante,

E todos têm direito,

A um respeito constante.

Amigo, é não deixar,

Que um pé nos sobreponha,

Para nos poder chutar,

Lá, p'ró mundo da vergonha.

É aquele que pressente

Nossa dor e sofrimento;

O que está sempre presente,

Ao mais pequeno lamento.

Mesmo se tem outro amigo,

Não deixa de nos querer bem:

Amigo, não vai contar,

A nossa vida a ninguém.

Amigo se entristece,

Se passamos mau momento;

Amigo se regozija,

Se há em nós contentamento.

Um amigo não desdenha,

Na amizade põe zelo;

Não critica, não maldiz,

Não tem dor de cotovelo.

Sou teu amigo, não esqueças!

Diz Jesus: "Eu estou aqui!"

E que tenho os meus braços,

Sempre estendidos p'ra ti.

Anabela Dias - Paivas

EXISTO POR TI

És a força vital que me conduz,

O motivo primeiro p'ra viver,

A pintura mais digna de se ver,

És poema maior, és riso e luz!

Os sublimes momentos de prazer,

Numa loucura sã que me seduz,

São o meu paraíso e minha cruz,

Minha doce vitória e meu perder...

És a essência, cor, sal e sentido,

A base, o alicerce em minha vida;

Antes de ti, não lembro ter vivido!

Terei sido, talvez, ave ferida

Que pelo fogo tenha perecido

E regressou, das cinzas renascida!!

Carlos Fragata - Sesimbra

Educados Filhos da Escola. (Armada Portuguesa)

Eram tempos de esmola,

de barriga magrinha

rapazes alistados na Marinha

educados, filhos da escola…

Da recruta à especialidade

ITE e primeiro grau,

com alunos de moralidade.

Com as sortes do ultramar

Lá iam os homens do mar…

No Geba patrulhas na Guiné-Bissau,

onde o coco era tombado por pau…

O Comando da Defesa Marítima da Guiné

por um desafio de novas listas

com sinaleiros e telegrafistas…

Uma Província de psico e não de guerra

por lá havia festa, num ronco que encerra.

Ao terminar a comissão o comandante era a favor

de assinar a caderneta com um louvor…

Pinhal Dias (Lahnip) PT

Régio ser

É a consciência de nada ter

Que nos transfigura em régio* ser;

Porque nos faz tudo n’Ele ver,

Confirmando tudo n’Ele haver.

Então nossa alma vive o prazer

Que deriva de Deus conhecer.

Olhos que estas letras estás a ler,

Isto é o que Deus te quer conceder.

* Próprio de rei.

C.M.O.

O amor não grita...

Um quarto, calado, com cortinas cegas...

Janelas fechadas à rua indiscreta...

Estores passivos à luz indireta

Certezas crescendo abafando negas...

A roupa atirada para os pés da cama

Desejos acesos, a luz apagada,

As horas batendo na noite apressada...

Dois corpos submissos à paixão em chama...

E o tempo não pára quando a noite morre

E o sonho se embrulha na manhã que acorda

Com silêncios velhos que a culpa recorda...

Mas o amor não grita porque a vida corre

Por caminhos novos, novas aventuras,

Conquistando espaço vencendo amarguras

Abgalvão - Fernão Ferro

São Tomé

Que o Sol apareça e brilhe

Neste dia especial

Que a paisagem maravilhe

Esta “menina” sem igual

Que a poesia perfilhe

Autora tão excepcional

E que ela connosco partilhe

Seu amor ambiental.

Relatando a Natureza

Sempre com a maior beleza

Esta poeta é um encanto.

Já de si és boa e bela

Tua alma, grande estrela

Meus parabéns, eu te canto.

MariaVitória Afonso - Cruz de Pau

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«BOCAGE»

Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

PASSEI PELO SONO

Passei pelo sono e sem pestanejar,

fechei os olhos,

e vi-te abraçar-me como se fosse a última vez

que o fazias.

Deixei-me ir….

Entreguei-me de corpo e alma,

e voei naquele abraço que me pareceu totalmente real.

Ainda tenho comigo o sabor dos teus beijos,

e odor do teu corpo entrou neste bailado

onde deslizei de alto abaixo as minhas mãos!

Ouvindo a minha voz

na delicia do meu sorriso,

foi preciso continuar a permanecer naquele voo ,

de olhos fechados,

para sentir o êxtase duma realidade irreal!

De olhos semi abertos,

De pernas esticadas,

com as mãos no peito,

voltei o corpo para o outro lado,

para o lado onde não estava ninguém,

e disse de baixinho para mim:

Que pena não ter sido verdade!

Que pena.

Que pena…

Joellira - Amora

MIUDO DA RUA

É um jovem, ainda uma criança

Mas queria ser homem de verdade,

Não enfrentar a dura realidade

Dos jovens sem família e sem esperança.

Do pai existe apenas a lembrança

Dum homem que morreu na mocidade,

Da mãe-amor-carinho, só saudade,

Saudade que é um fardo que não cansa.

Ficou só, na cidade que o rejeita

E rouba o pão que a vida lhe roubou,

Já que esmola não quer em sua mão.

Nos bancos de jardim é que se deita...

E o poeta que um dia o encontrou

Outro dia, irá vê-lo na prisão!

Nogueira Pardal - Verdizela

A FLOR SECA

Andei a remexer no meu quintal

E estão lá flores secas do passado,

Com nomes num cartão nelas pregado,

Mas sei que quando os leio fico mal.

Tivesse esta manhã lido, deitado,

As tristes novidades do jornal,

Que nunca ficaria em estado igual

Ao deste, tão amargo e transtornado.

Cavei a terra à roda dum pé alto

E logo uma saudade, num só salto,

Pegou-se à minha mão. Salto certeiro.

Estava num buraco de amargura,

E trouxe à minha alma uma secura,

Que andou colada a mim o dia inteiro.

Tito Olívio - Faro

O silêncio

O silêncio escapou por entre os meus dedos,

O vento cumpriu os desejos da montanha Estrela,

Enfeitiçou o meu sossego.

Agora, desde o mais alto cume

Só as palavras sibilantes me acompanham

Num ritmo de tambores frenéticos.

Transformo-me em pássaro

Preparo-me para voar para o infinito,

Para o vazio…

Não esqueço o silêncio fortalecedor.

Em cada gesto um novo alento,

Em cada mão novos mundos.

Voo agora em palavras que sufocam.

O silêncio ficou perdido no tempo.

O silêncio

(na montanha Estrela)

Surge nos rebanhos que pastam em sintonia

Por entre os vales de urze.

Anabela Gaspar Silvestre - Covilhã

Pelo mundo viajei

por ser marinheiro bem sei

mas de consciência tranquila

era um marujo reguila

mas sem ter nenhuma maldade

nunca roubei propriedade

e os meus camaradas amei,

mas foi com muita amizade

não cometendo crueldade

que pelo mundo viajei

Vitalino Pinhal - Sesimbra

Confissão

Tinhas razão em partir,

Porque eu não te merecia,

Passei o tempo a traír,

Esse amor que me sorria.

Mostraste sempre ternura,

Aos meus falsos juramentos,

Com teu amor e alma pura,

De elevados sentimentos.

Quis esquecer-te por vingança,

Roguei-te pragas sem fim,

E agora resta-me a’sp’rança,

Que não te ‘squeças de mim.

Nesta minha confissão,

Rogo a Deus p’ra seres feliz,

Quero pedir-te perdão,

Por todo o mal que te fiz.

Aceito seja o que fôr,

P’ra te mostrar que mudei,

Quero pagar-te com amor,

Os desgostos que te dei.

Francisco Manuel Neves Jordão

Luxemburgo 21-12-2002

(fado pechicha)

Oliveira Do Cordel

esse grande poeta

que é uma pessoa correta

e cordelista fiel.

Esse grande Menestrel

hoje faz aniversário.

Eu vi no seu calendário

muito amor à poesia.

Essa concreta fantasia

do nosso meio literário.

Gilberto Nogueira de Oliveira

Bahia/BR

(excerto do poema glosado “O Cacilhei-

ro” Do Inolvidável José Viana)

Quando eu era rapazote,

Eu emigrei lá do Norte,

P’ra esta “Lisbia” tão Garrida!

- E logo que aqui “xiguei”,

- por ela me apaixonei...

P’ró resto da minha vida.

Silvino Potêncio

Transmontano/Natal/BR

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«Rota Poética»

Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

Amora Cidade Amiga

I

Amora cidade amiga

Do Seixal está confirmado

É uma amizade antiga

Que nunca se desliga

No presente e no passado

II

Mesmo de frente à baía

Amora tem um moinho

Quando a maré está vazia

A reserva se enchia

Nunca parava sozinha

III

Amora tem casas modestas

Como quem lá vivia

Muitas são como estas

Ali se fazem as festas

Mesmo à frente da baía

IV

Tinha quintas da nobreza

Eram de gente de bem

Ali trabalhava a pobreza

Que lhes davam a riqueza

Hoje parecem de ninguém

V

No estaleiro do talaminho

Muitas reparações se fazia

Hoje está ali sozinho

De terra é o caminho

Mesmo de frente à baía

VI

Para uma caminhada

O que antes não havia

É uma obra que agrada

Mesmo ao lado da estrada

Frente há sua baía

VII

Parabéns à freguesia

Pela obra que tem feito

Depois daquele dia

É obra de mais-valia

Merece o nosso respeito

Miraldino Carvalho - Corroios

FADO DO MEU FADO.

(Dedicado à ilustre fadista

D. LINA ALMEIDA)

Quando o fado se canta,

Da raiz do nosso peito,

Logo a saudade se levanta,

N’um clamor vivo sem jeito!

Quem canta o fado assume

Co’a voz que o orienta,

Pra ocultar o ciúme,

Que dentro de si rebenta!

É triste o nosso fado,

Qu’ecoa dentro de nós,

Por vezes tão delicado,

Que não nos sentimos sós!

Cantei a pensar em ti

O fado triste do meu fado,

Nem imaginas o que senti,

De não te ver a meu lado!

Dizem que o fado nasceu

N’uma taberna em Alfama,

O Marceneiro que ali viveu,

O consagrou, deu-lhe fama!

A guitarra nasceu pró fado,

Com todos seus segredos,

Pra que seja dedilhado,

Por quem tenha finos dedos!

É assim que o fado rola,

Desde os tempos da Severa,

Co’a guitarra e viola,

Tem outra atmosfera!

Fado é das descantes,

Que o povo tem apego,

Nasceram co’os estudantes,

No Choupal do Mondego!

A lenda do nosso fado,

Tem tanta, tanta história,

Por Amália elevado,

Aos píncaros da glória!

Nelson Fontes - Belverde

Banalidades

Tudo na vida se tornou banal

As amizades

As relações familiares ou sociais

Os problemas de cada um em geral

A educação e a informação

Os discursos dos políticos

As discussões no parlamento

Os casos complicados na saúde,

E o deboche nos hospitais,

O aproveitamento de tudo para fazer greve

A exigência de ter de cumprir em pouco tempo

O que outros poderes levaram mais tempo a destruir,

Tudo, mas mesmo tudo se tornou

Inexplicavelmente banal

Menos uma ou outra coisinha

Futebol, seleção, Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo

O resto é tão banal

Que eu acredito já nem merecer atenção

Seja de quem for,

Acordem todos, a vida não é só isso

E mal damos pela coisa pode ser tarde demais!

Regina Pereira - Amora

Parabéns Confrades

Parabéns, Confrades

Foram muitos os Poetas

Gente de sãs veleidades

Atingindo suas metas

Com tais invulgaridades.

Dez anos servindo a poesia

Em Portugal de lés alés

E também no Brasil

Divulgado em terras mil

Com toda a sua magia-

Que continues a encantar

Com toda a própria euforia

Dos poetas a levedar

Pão do espírito romântico

A transpor o Atlântico.

Dez anos pré-adolescente

Confrades, maturidade

É sempre muito premente

E encanta muita gente

Que hoje vai festejar

Conjugando o verbo amar

E vai cantar A POESIA

Neste dia de alegria

Maria Vitória Afonso - Cruz de Pau

Saudade, tenho saudades

Dos dias que já vivi

Saudades, duras verdades

Por vos ter longe de mim!

Amargos dias

Felismina mealha - Lisboa

Eu aprendi a comer

o peixe assado com os dedos

para mim não tem segredos

sejam sardinhas ou carapaus

agora não consigo aprender

nem mesmo gosto de ver

a comer peixes com paus

Vitalino Pinhal - Sesimbra

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6 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«BOCAGE»

Monte alentejano

Nasci num monte pequeno

Bem pertinho do montado

Onde havia pasto e feno

Azinheiras e sobrado

No concelho mais bonito

Que o baixo Alentejo tem

O mais belo, eu acredito

Santiago do Cacém

Passei lá tempos felizes

Em casa de meus padrinhos

Ouvindo o cantar dos búzios

E das velas dos moinhos

Moendo os cereais na mó

Fazendo a fina farinha

Abençoado seja aquele pó

Que delícias faz na cozinha

Papas, bolos, massas e pão

Que satisfazem toda a gente

Dão calor e alimento ao coração

No inverno frio, e no tempo quente!

Regina Pereira - Amora

No Monte do Couto

a Fonte do Padre “Antonho”

À meia encosta do monte,

Por entre juncos e silvados,

Brotava água da fonte!....

A vida p'ra homens e gados!

Paradisíaca paisagem...

Eden dos sonhos, em embrião,

Onde o vulto da imagem,

Nos penetrava o coração!

As aves canoras felizes,

De lindas cores e matizes,

Neste Jardim das Delícias,

Eram um ornamento maior,

Quando entre árvores em flor,

Partilhavam doces carícias!...

José Caldeira – Fernão Ferro

MINHA FLOR, MEU AMOR

Como é triste em claras noites de luar

Estar aqui no meu Monte amado!

Estou só - Amor - mas bem recordado

Dos dias d'amor neste nosso lar.

São saudade infinda tais momentos

Jamais esquecidos por tanto amor!

Éramos dois jovens (vidas em flor)

Comungando os mesmos sentimentos.

Tão breves anos hoje recordados

Por quem te amou tanto nesta vida

Boa parte neste rincão sagrado.

Aqui te conheci, fomos namorados.

Foste tu a minha Flor mais querida

Neste jardim de amor por nós criado.

JGRBranquinho - “Zé do Monte”

Monte Carvalho - Ribeira de Nisa

Preciso de ti agora

penso em ti a cada momento

não sabes o meu sofrimento

por de mim estares ausente

vem e fica presente

mesmo por escassos momentos

para saberes dos meus sofrimentos

e deles tu ficares crente

sabes que estou doente

com uma dor que me atormenta

mas o que mais me violenta

é de mim estares ausente...

Vitalino Pinhal - Sesimbra

Tem gente

Tem gente que me amou e eu não amei...

Tem gente que eu amei e não me amou;

Tem gente que não sabe o que eu sei,

Tem gente que nem sabe quem eu sou.

Tem gente que partiu ou que ficou,

Tem gente que ficou... mas já partiu,

Tem gente que não viu o que olhou,

Tem gente que olhou o que nem viu.

Tem tanta gente vendo o que não vê,

Ou crendo no que pensa que não crê,

Que eu vou reconstruindo o que eu sonhar,

Meu pé sempre pisando o mesmo chão

Que faz do meu momento, um coração

Que pulsa na emoção do meu olhar.

Luiz Poeta- Luiz Gilberto de Barros

RJ/BR

O MEU FIM...

Batem as ondas agrestes...

No rochedo da minha alma!

Dias de solidão!...

Da maresia mais salgada...

Sinto o mar do infinito que me leva...

Que vence treva...

E rompe a manhã!

Faço do infinito o finito

Sinto a lágrima de cristal

No fundo da nuvem!...

Agarro o sal da vida...

O mar da solidão..

Visto-me de algas...

Quando o mar abrir...

Eu serei onda que regressa...

Sem receio de partir!...

Nos meus versos, beijos de gaivota

Que hão-de flutuar na Barca da Vida!

Traços firmes da rota...

Que percorre horizontes sem limites

De barcos perdidos...

Em marés de cetim… que me transmites

Que navegam dentro de mim

Vendavais vencidos...

Nos corpos trazidos na maresia...

Com as Rosas de Santa Maria...

Na Rota da Agonia...

Eu sou o Fim!

Maria Fraqueza - Fuzeta

A Carantonha da Correnteza

Quinta da Maria Pires lá atrás

Bem na frente o nosso Rio

Á esquerda a Tia Perpétua

E á direita o meu tio

Quem vinha do Correr d´água

Trabalhar no Pampolim

Trazia sempre lembrança

Que deixava para mim.

Na minha memória arquivo.

A vida na Correnteza

Fosse o Raul Vindima vivo

E essa carantonha feia

Vinha pro chão de certeza

Artur Gomes - Amora

Amor falso

Se tiveres amor à vida

Não ames a falsidade

Porque fazem-te a partida

De te amar sem ser verdade

Poeta Selvagem – Alentejo

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7 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«Cantinho dos Poetas»

Imaginando

Subindo lentamente pelas rimas,

fecho os olhos… vejo-a linda,

de sorriso cativante.

De olhos fechados chamo-a,

procurando o seu sorriso.

Em minhas mãos abertas

sinto o aveludado da sua pele

como uma chuva de pétalas.

Tateio em sua boca

o hálito perfumado das palavras

no silêncio da noite,

em gemidos de ditongos por decifrar,

famintos dos seus beijos.

Lentamente abro os olhos,

mas nada vejo,

fico triste, mas continuo imaginando.

Arménio Correia - Seixal

Com(passo)

Escrevo

Enquadro

Apago

Abr)o( com(passo)

)lento(

Giro

Num esquadro

90 graus

Encho o espaço

Traço

Desisto

Não é isto.

Apago

Recomeço

Num com(passo) aberto

360 graus

Revejo...

Que traçado indecente!

Não apago!

Giro

(É a vida...

Em círculos... sem fim!)

Anna Paes . Brasilia/BR

HORA DE DAR AS MÃOS

É hora de parar e ao redor,

Deitarmos um olhar bem complacente,

Para se constatar que muita gente,

Mergulha num constante mar de dor.

Velhinhos que se encontram sem amor,

Abandonados á sorte intransigente!

Crianças sem lar! muito inocente,

Naufragando em ondas de amargor.

É hora de parar e dar as mãos!

E sermos mais amigos, mais irmãos,

Plantar amor, onde a dor causa danos.

Abracemos a lei da igualdade

Haja que raça houver, o que é verdade,

É que todos nós, somos, seres humanos.

Anabela Dias - Paivas

ATÉ SEMPRE

Desde ontem,

Malanje conta mais uma Lágrima

de Filho Dela que partiu.

Tem junto, igual, outra lágrima de Pombal,

onde Filho Dela viveu

e ensinou a valer.

Na África e no Mundo,

sua dádiva foi de diamante.

Hoje, as gerações de Lá e Cá

estão tristes,

mas Vítor Duarte, apenas se mudou.

Mano que estava junto

foi na frente, mas não está distante.

Descansa em Paz, Nosso Amigo.

José Jacinto “Django”!

Casal do Marco

Quem dera ter...

No delicado encanto deste amor

que tenho, sem te ter!... Quem dera ter

asas fortes, soltar-me, ser Condor

e aninhar no teu colo de mulher

p’ra ter-te só p’ra mim e em ti compor

canções p’ra te cantar e te dizer

que aqui, longe de ti, a minha dor...

é nela, na almofada, podes crer

que algum consolo busco, normalmente,

e que me beija as faces, docemente,

quando me entrego a ela já cansado

e sereno adormeço, lentamente,

para emprenhar uns versos, mentalmente,

e em sonhos possuir-te... relaxado

Abgalvão - Fernão Ferro

Sem amarras

Não sou cativa de nada,

Nem sequer de mim o sou.

Sigo o meu pensamento,

A todo o lado que vou.

Sonhei com a terra inteira

Para me elevar às alturas.

Sou minha própria bandeira,

Tripudiei as amarguras.

Não sou cativa de nada

Nem sequer de mim o sou

Ando livre pela estrada

Que a vida já me traçou.

Os meus sonhos? que ideia,

No mar alto naufragaram.

Os meus castelos de areia,

As ondas também levaram!

São Tomé - Corroios

Prepassa o gesto do vento

Como a asa do sol

Que no mar imenso

Num repente ficou parado

Na palma da minha mão

Albino Moura - Almada

Fernando teu nome Pessoa

Pelas Arcadas do Martinho ecoa

Poemas, prosas, lamentos

Castigas teu corpo ao vento

Cai o verde do teu absinto,

Sobre os corpos da tua batalha

E choros sobre a tua mortalha.

Mário Juvénio Pinheiro – Amora Pintura - Fernando Pessoa Autor: Mário Juvénio Pinheiro

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«Cantinho dos Poetas»

Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

D. ANA

Lembrei-me de D. Ana.

como a recordo tantas vezes,

mas hoje manifesto a saudade.

Um “General de mais

de 1000000 de estrelas brilhantes de bondade,

continuante pela vida fora, aqui

e no Céu está lá, de verdade.

D. Ana, a Ama das minhas filhas,

das 5 e meia da Sofia

que ia de Vale de Milhaços a Corroios

embrulhadinha num cobertor

e de autocarro e dormia

só até a Centro de Saúde….

Depois, a pé, no bolso, no abraço,

no andar ao colo, outra vez adormecia

até À Quinta de S. Nicolau....

E D. Ana, 6 horas da manhã,

nos recebia…

Paz e Amor na entrada,

e embora, sossegado, eu ia.

Ama da minha Claudinha,

“pintinha” depois da varicela,

com Ela esteve protegida, depois

E só não foi “Pimentinho Bravo: Belinha,

D. Ana estava cansada, mesmo.

Queria ficar sossegadinha.

Mas tal qual Mãe, Avó, especial

D. Ana dava-me sermões inesquecíveis,

com carinho excecional,

conhecedora das minhas vadiagens repetíveis

se chateava e quando me apanhava a jeito,

com a santidade anulando qualquer meu argumento,

dava a ordem de General:

Zé, , não se esqueça, ande por onde andar,

mesmo que não dê importância,

vem cá passar o Natal.

Se não…. quando cá aparecer

“Já lhe dou o arroz”!

E pronto. Obediente, a Ela

de surpresa, lá aparecia.

E aquela porta com grades,

e alarmes se abria e Ela sem abraço

porque uma bondade tão grande não cabe

dentro dos braços,

me dizia: Já acabou a encharia (Vadiagem)?

e sorria e ...senta-te!

Tenho saudade desses dias.

Da nossa Ana.

Descansa em Paz “General”.

José Jacinto “Django”!

Casal do Marco

Sonho meu

I

Na calada da noite…

Linda mulher me apareceu!!!

Visão?

Aparição?

Sonho meu!!!

II

Tarde vieste ao meu encontro…

Ò Beleza tão antiga e tão nova

Tarde Te encontrei!

Tarde sonhei …

Pequena réstia de Sol de Outono …

Será que ainda é possível sonhar?

Não será o sonho uma ilusão?

Haverá ainda Luz na estrela que se apaga?

Dolorosa espera …

Suave brisa matinal…

Leve crepitar da Esperança.

Confiança Renascida.

Sorriso de criança!!!

Filipe Papança - Lisboa

Humanos tão desumanos!

Toureiro

É carniceiro,

Que exerce sua profissão

A cavalo ou com os pés no chão,

No meio dum redondel,

Face a grande multidão,

Que se excede em gritaria.

Como é triste este papel,

Com tanta velhacaria!

Toureiro

Ou carniceiro

São para mim profissões

Iguais, de pouca valia.

Nem que eu ganhasse milhões,

Eu jamais praticaria!...

Hermilo Grave - Paivas

Sonho

Hoje sonhei com ela,

estava linda!

Deitada sobre um manto

de nuvens brancas

banhada pelo luar.

Era luz que refulgia

como estrela a brilhar.

Ouvi seu doce cantar

angelical sinfonia

duma beleza sem par,

e eu ali tão perto dela

sem a poder alcançar,

misto de dor e alegria,

era a pura nostalgia

Que me fazia sonhar.

Quebrei as grades do tempo

só para poder ficar,

junto de ti meu amor

Para em ti me enlaçar.

Arménio Correia - Seixal

Como este amor me fascina

Tão puro e profundo

Olhas-me sem me olhar

Beijas-me sem me beijar

Estendes o braço sem mão

Deslumbro-me sem saber

Se respiro para te ver

És a sombra sem sombra

Que me vem proteger

A onda que me enrola

Em algodão de espuma

Para não quebrar o encanto

Desse abraço de pluma

Levas-me fantasiada

Ao sabor do vento

Em voo lento

Com doçura perfumada

Damásia Pestana – F. Ferro

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«Tribuna do Vate»

Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

Rádio Confrades da Poesia

Rádio Confrades da Poesia

P’la locução de Pinhal Dias

Que nos dá muita primazia

Ouvir músicas de alegrias.

Luís Fernandes – Amora

Vivo por ti

Preso à maré, olho o mar,

Com a lua e o sol a brilhar,

Na tua praia dourada,

Trago no coração a nostalgia.

Cego de paixão deixa-me andar

Sereno e sempre a sonhar

Contigo minha terra querida

Numa outra vida caída.

Baloiça na alma uma saudade…

No chão que piso, sem vaidade,

Minha voz tem ar adormecida

Ao meio da vida já cansada.

Sou um poeta que tenho bondade,

Vivo por ti nesta ansiedade,

Como emigrante distante

Rogo a Deus por ti, docemente.

Luís Filipe N. Fernandes - Amora

A terra desejada

Desperta na minha mente

O meu sonho de paixão quente.

Existe para lá do horizonte

Sob o sol na ilha, por achar.

Eu, murmuro o céu e o ar

Esse ar que ninguém vê,

Esse ar que ninguém sente.

Deixo aqui o meu pranto!...

Vejo a terra poluída cruelmente,

Vítima quantas vezes tens tragado?

Por ti, sinto-me magoado,

Pelo mundo estou comovido,

Não sei onde está a luz da vida…

O tempo avança e não agrada

Ao futuro da criança

Meu riso é eco mudo.

A indicar o descontentamento

De quem está caído no mundo

Todas as dores passam…

Pela terra degenerada!

Luís Fernandes - Amora

Sonhos de Outrora

A noite estava serena,

O Céu estava estrelado,

E eu?

Por uma estrela

Fiquei encantado…

Pois ela era aquela

Estrela, que eu vi brilhar,

Nessa noite de luar!

Adormeci a cantar para mim,

Uma melodia suave e leve.

Frágil como uma ave,

Que a gente até não sabe:

O que a sonhar senti…

No canto da minha amada,

Flor do meu amor,

Em que nós festejamos,

Os beijos que trocamos…

Sob o Céu que ainda alumia,

Onde o mar ondeia,

Os sinais que fizemos!

Ai despertei e verifiquei

Que também estava dormindo!

E nesse sonho sonhado

Realizei que era um sonho lindo!...

Luís Fernandes - Amora

Sob o Sol

Sob o Sol da Graça Divina…

Deus do homem espera mudança,

Onde floresce a compreensão.

Em qualquer dia de cada estação

Nos olhos de uma criança…

Existe cada vez mais esperança,

De o homem dar atenção

À vida da nova geração.

Luís Neves

Lágrimas

de sangue.

O amigo

do amigo

enxuga

a lágrima,

mas o verdadeiro

amigo

é aquele que

vai segurando

essa lágrima…

Deus

criou as mães

para enxugar

as nossas lágrimas…

Pinhal Dias

Amora

Um rio de poesia.

Poesia…tu és um rio de boa nascente

Fonte de água pura e cristalina…

Entram os peixes, de maré crescente

Pescadores pescam, com disciplina

Rio de Judeu no seu posto e reposto

Pla voz timbrada do declamador

Veia poética no devido posto

Amora com um rio de esplendor

Fortes correntes: - enchente e vazante

Da nascente à foz és mais hilariante

Braço do mar, com vida e cortesia

Flui as margens banhadas de cultura

Com vozes poéticas de postura

Deixa o rio satisfeito de poesia

Pinhal Dias (Lahnip) PT

Bagatela do negrume.

São esses grupinhos

que são acrescentados de fofoquices

por más línguas de tolices…

Quando a língua entra em acção

dá xeque mate ao coração…

Heroísmo!?

Tombou nesse protagonismo…

Palavras malditas

que caem no chão,

mais tarde serão choradas

nas quatro tábuas de um caixão…

Essa bagatela do negrume

com palavras soltas ao lixo,

onde a madeira é ruída pelo bicho…

E falem agora,

do certo ou errado

este poema será o seu fado

que já nasceu malfadado…

Por danças e festas

lá vão bebendo uns copinhos

a falsa turma dos grupinhos…

Romper com esse mundo da explosão

os iluminados filhos da luz,

que abafam essa escuridão…

E se o mar está calmo!? …

Canta-lhe um salmo…

Pinhal Dias - Amora

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10 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«X Aniversário» 1/8/2008/1/8/2018

10º

Aniversário

1/8/2008

1/8/2018

Pioneiros do 1º Aniversário dos Confrades da Poesia

A.Pinto de Almeida - Agostinho Moncarcho – Alfredo Louro - Américo Lourenço - Ana Cristina Videira – Ana Rita - Ana San-

tos – António Bicho – António Mestre – Berta Rodrigues - Carlos Leite Ribeiro - Carmindo Carvalho - Cecília Rodrigues - Ce-

leste Vieira - Clarisse Barata Sanches - Conceição Tomé - Efigênia Coutinho - Elvira Santos - Fernanda Lúcia - Fernando Reis

Costa - Filomena Camacho – Francisco Rosário - Isidoro Cavaco - Ivanildo Gonçalves - João da Palma - Joaquim Evónio - Joa-

quim Sustelo - Jorge Vicente - José Jacinto - José Manangão – Luís Fernandes - Luís Vieira (Foreval) - Manuel Silva - Manuela

Silva Neves – Maria de Lurdes Brás – Maria de Lurdes Vieira – Maria Petronilho – Maria Sesimbra - Maria Vairinho - Maria

Vitória Afonso - Miraldino de Carvalho - Natália Vale – Nelson Fontes Carvalho - Nogueira Pardal – Piedade Vaz - Pinhal Dias

– Pinto da Rocha - Preciosa Gamito - Quim D’Abreu – Rogério Miranda - Rosélia Martins – Sara da Costa

Aos Confrades que fizeram a sua história nos Confrades é essa história que preservamos na Biblioteca dos Confrades...

Dia do cão:Cão o melhor amigo

Neste mundo tão cheio de ilusões,

De sórdidas, perfídias, de perigo,

Quem dera que entre tantos mil varões,

Eu encontrasse um verdadeiro amigo.

É duro declarar, porém, mal digo,

Para sempre essas más ocasiões,

Eu que matei a sede e dei abrigo,

A certos tipos, todos canalhões!

No entanto , eu agradeço a tais senhores,

Porque dando-me paga aos meus favores,

A aspirar sempre os sais da ingratidão,

Me ensinaram a estimar um perdigueiro,

Que tem sabido ser meu companheiro,

Embora tenha a condição de cão!

Nelson Fontes - Belverde

Um dos Confrades não relatado aqui… Deu o seu silêncio...

Douro

Vinhedos circundam cada monte,

Que elevam arredondadas cristas,

Até tocarem a linha do horizonte,

Deixando extasiadas nossas vistas.

Longos socalcos, mapa de muitas rotas,

Feitos de xisto (inspiração divina),

Suportam as ingremes encostas,

Cobertas por diáfana neblina,

Onde homens de rostos tisnados,

Recolhem o néctar dos divinizados.

Vales profundos abrem caminho

E vencem obstáculos sem parar,

Para o Douro passar de mansinho,

Na longa caminhada até ao mar.

Acompanhando o curso do rio

E a roçar a superfície molhada,

Uma serpente de ferro, em desafio

Sibila, ao passar em disparada!

São Tomé - Corroios

LÁGRIMA

é só uma lágrima

não é mais que uma lágrima

tem a cor de quem a chora

é translúcida ametista

é arte

só não sei se é de rir se é de morte

pouco tempo tem de vida

nasce e morre

na vertigem

do espaço que ocupa

Carlos Bondoso - Alcochete

Ser amigo de verdade

é um bem adquirido

é um ser que nos é querido

e nos faz muito feliz

mas o velho ditado diz

não há amigos de verdade

e se nele houver falsidade

corta o mal pela raiz

Vitalino Pinhal - Sesimbra

SAUDADE. Saudade é um passarinho que esqueceu o gorjeio

e vem pousar no telhado do nosso coração.

Filomena Gomes Camacho - Londres

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Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 11

Primavera

Quando a primavera se inicia

Há certa ordem e obediência:

Chega tempo de florir e parir,

Floresce árvore, sem se vestir.

E folhas novas, tementes ao frio.

Espreitam do ventre tolhendo o brio

Mas, a tempo, soltam a exuberância,

E em obediência ao tempo, a aparência.

Obedecendo a ordem da natureza,

Cada planta, sua flor, cor e beleza

Cumprindo a diversidade programada,

Floresce variada cor, não segregada.

Obedecendo a cena política sazonal

As folhas velhas de Outono

Se esvaem no turbilhão do abandono

Assim floresce, nua, a árvore afinal.

Vai de bengala a esfarrapada Idosa,

Gente de cor, visivelmente amorosa…

Apoio? Só de quem quer parecer na vida!

Floresce, decresce e parece escurecida.

Usufruto dum eventual subproduto?

Oferta? Nem se for a flor de aqueduto,

Que natureza tudo valoriza com primor

Que até de mão de cor tem mais amor.

Amália Faustino – Praia/Cabo Verde

«BOCAGE»

PARABÉNS

Um dia, outro, o tempo vai passando,

A vida entra por nós sem que vejamos

Que em busca do futuro, caminhamos

Umas vezes vivendo outras sonhando.

P’ra chegar mais além vamos andando

Em busca do futuro que almejamos,

Algumas vezes sofremos e choramos

Outras vamos felizes e cantando.

E um dia em cada ano que vivemos

Sentimos junto a nós tudo o que queremos

Ao festejar um dia especial.

Aquele dia certo no calendário,

Que é o dia do nosso aniversário

O dia que, por nós, foi de Natal.

Nogueira Pardal - Verdizela

Negros Caminhos

A vida é um deslizar de momentos

envoltos na loucura de ser

turbilhões que envolvem sentimentos

e os fazem cair ao amanhecer

é tempo de revolta e amor

princípio e fim de cada estação

desordem que marca a dor

mortifica e sangra o coração

é tempo perdido no deserto

dos sonhos que se idealizaram

mãos cheias de preces sonho perto

mas que no vácuo se perderam

Meu canto semeado neste tempo

aos poucos vai perdendo energia

tombam as forças num lamento

para onde corres oh alegria?

passados que são os dias e os anos

neste tempo que é o nosso viver

apenas sinto a noite dos desenganos

onde fica a esperança do alvorecer?

nestes negros caminhos vamos

caminhando um pouco sem fé

era o ontem passaram os anos

por eles sigo sem saber onde é.

Rosélia M. G Martins

P.StºAdrião

GRANDE DESAFIO

*

Deixa dar-te um elogio

Pinhal, nesta ocasião.

Pelo grande desafio

Na Rádio, que tens à mão!

*

Pelas belas emissões,

Que nos enchem de alegrias

Fado e lindas canções,

Recitando poesias!

*

Pelo grande empenhamento

Na Rádio, horas sem fim!

E o vasto conhecimento

Como o dominas assim!

*

Darei o meu contributo

Sempre que possa, eu aludo

Mas vejo neste reduto…

O Pinhal, como Escudo!

*

Se o Pinhal não existisse,

Tinha de ser inventado

Para que a gente o visse

Em Amora, ou outro lado!

*

João da Palma - Portimão

PARA SE VIVER

Fogo incandescente

Riqueza orgulhosa

Jogo d’Alma

Ardente como o Sol

Quem te tem não fica no deserto

Tens a virtude

De te deixares envolver...

Tua a glória que brilha

No poder d’esta terra

São carícia…são delícias

Amor em que se acredite

P’ra aos Deuses se oferecer...

Naquele perfeito ser amado

Dominado pelo desejo

Ninguém se vai afastar

Sem a felicidade d’Amar…

Na flor desta idade

O poeta vai cantar

Elevar às alturas da felicidade

A graça de conhecer

Riqueza adornada p’ra se viver…

Carlos Alberto S Varela (CASV)

10º Aniversário dos Confrades da Poesia

Agosto 2008 – 2018

Dez anos de vida são contados,

Que dois devotados poetas,

Em busca de novos horizontes,

Encontraram as primeiras metas

Em terras de Trás - os - Montes.

Perto do céu e longe do mar,

Entre rios, montes e vales,

Com vestígios dos Celtiberas.

E, tocados pela magia do luar,

Das belas ninfas, musas e quimeras,

Criaram o Boletim em certo dia,

Que deu origem aos “Confrades da Poesia”!

São Tomé - Corroios

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12 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«Faísca de Versos»

Adeus mundo cada vez pior.

A poesia navega plo mundo fora…

E a cultura?!

Será vista com bons olhos?!

Será que este mundo não melhora?!...

Adeus mundo cada vez pior…

A sociedade questiona:

- “Será que este mundo vai melhorar”? …

…corrupção…delinquência juvenil

Ódios, invejas é o prato do dia

Numa dança de melodia

Hoje…

Com os cravos murchados de abril…

A educação?

A ética moral?

Ambas ficaram adormecidas

À sombra d’um apadrinhado…

A cultura ficou sentida…

Afogada nas suas metas

No horizonte dos poetas…

Se o mundo anda a coxear!? …

Como poderá um coxo ajudar outro coxo!? …

Se o faminto quer trabalhar!?

É o amigo que ensina a pescar! …

Adeus mundo cada vez pior…

Pinhal Dias (Lahnip) PT - Amora

Há sorrisos...e sorrisos!

Com um sorriso, talvez,

se pode alegrar alguém

ou suprir-lhe a timidez

que o oprime e faz refém!

Sorrir não doi nem magoa

se sorrimos com franqueza!

Com sorrisos se perdoa

e se mitiga a tristeza!

Vê somente como irmão

quem por ti na rua passa

e sorri com afeição

sem olhar ao credo e raça!

Há sorrisos...e sorrisos!...

Os bons de amor ou amigo

e os que são reles avisos

os “amarelos”... vos digo!

Quando sorrimos trocamos

palavras sem serem ditas

sejam de amor quando amamos

ou se odiamos...malditas!

Com um sorriso se engana

sorrindo também se trai

e num sorriso se emana

o que na alma nos vai!

Há sorrisos que nivelam

prazer, amor emoções

e há sorrisos que revelam

o amargo das frustrações

Num sorriso nos perdemos

se nos transmite paixão

mas há outros que sabemos

serem focos d’ilusão!

Dos sorrisos vou lembrando

que o mais belo sei qual é!

O da mãe amamentando

com enlevo o seu bebé!

Abgalvão – Fernão Ferro

E A SAGA CONTINUA

Visualizei o mundo, e então

Eu tive um sonho especial.

Lindo povo unido, meu irmão.

Gente honesta em minha nação,

Honrando o nome “PORTUGAL”

Quero um povo mais feliz,

Acima de tudo soberano.

Do mundo não sou juiz…

Só desejo para o meu país,

Mais alegria no ser humano.

Mas o país anda às avessas,

Os “vigaros” fora da prisão.

Andam por portas e travessas,

Os políticos fazem promessas

Ninguém acredita nelas, não.

Nada muda nem pela Grei.

Levam o país à falência.

Temos corruptos, fora da lei

São tantos que já não sei

Até quando haverá paciência.

Porque o Zé Povinho é que paga

Grandes desfalques de alguém.

Enquanto a corrupção estraga,

Nunca terminará a saga:

«Deixar o pobre sem vintém».

Maria de Jesus Procópio - Paivas

Ruas de cumplicidade

As ruas da cidade são a minha fuga

Delas não sei o nome, nem das casas

Caminho nelas sinto a sua ajuda

Sou ave livre que não perdeu as asas

Conheço bem os recantos mais secretos

Onde me escondo no negrume da tristeza

São esconderijos de miseráveis espectros

Que já viveram na opulência da riqueza

Entrei nas catedrais ouvindo as preces dos perdidos

Revi-me nelas e na sua sonolência

Sofri na carne o silêncio dos gemidos!

Nada deixou cicatrizes ou remorsos

Tudo apaguei com coragem de apagar

Doeu na carne, na alma, e até aos ossos

Mas sei que o tempo se encarregará de apagar!

Regina Pereira - Amora

“MOMENTO DE CAÇAR”

Vamos à caça aos “primeiros”

Que são os que comem mais,

Porque dos milhos rasteiros,

Restos de ricos, rendeiros…

São comidos p’los pardais!

Vamos à caça de quem,

Nesta vida não trabalha

E a riqueza lhe advém

Do povo, e de mais ninguém,

Prenda-se essa canalha!

Prenda-se a corrupção,

Doces, azedos e salgados…

Que sugaram a Nação

E ainda há muito ladrão,

Que têm de ser caçados!

Vamos caçar os ladrões

E, pegá-los de cernelha…

Políticos e aldrabões

Que nos cortaram milhões,

Vamos metê-los na grelha!

João da Palma - PT

“TEMOS OS COFRES CHEIOS”

De desemprego, trabalho precário

De insegurança, e muita emigração.

De jovens sem futuro, servidão…

De muito compadrio e corrupção.

Evidentemente! Nem tudo é mal

Em Portugal, há quem ufano!

O filho de fulano e de beltrano…

De mo cra ti ca men te!

A “cunha” à frente…

Aires Plácido - PT

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Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 13

«Contos e Poemas»

SAUDADE…

Saudade da minha gente que, não tendo a complexidade tecnológica, se socorria de meios naturais tais como:

O discernimento de se guiarem, durante o dia, pelo sol; à noite, pelas estrelas.

Da mestria de fazerem a previsão do tempo olhando as nuvens, a cor do céu, escutando o canto das aves...

Da habilidade de conhecer as pegadas dos animais.

Saudade de possuir um rio, onde havia os peixes que, para além de alimentar e de mitigar a sede, também se oferecia límpido e

cristalino para que os corpos se banhassem…corpos que tinham a destreza de correr pelo mato emaranhado e a agilidade de tre-

par árvores gigantescas.

Corpos imunizados pelas intempéries do calor, do frio… resistentes à escassez de víveres e da água, durante a seca…

Saudade de uma comunidade onde as alegrias e as tristezas eram de todos…

Onde a dor da perda, a alegria de um nascimento, a captura de um animal, a abundância ou a escassez, os infortúnios das calami-

dades provocadas pela Natureza - ainda que atingindo apenas alguns - eram vividos, sentidos e partilhados por todos como se

este fosse somente um corpo homogéneo e apenas um só espírito.

Saudade daquela comunidade onde, a transparência das pessoas, não se restringia só na linguagem corporal, mas também na lin-

guagem da alma…

Filomena Gomes Camacho.- Londres

A Tia Fortunata

Engraçado recordar a Tia Fortunata, agora que tenho talvez a idade que ela tinha quando aconteceu o que vou contar…

E é a saudade, e o facto de ser a primeira a ouvir esta história tão trivial mas que ficou no imaginário da família. Ela deu à tia

uma aura de protagonismo, que recordo, ao reviver um passado, que dourou a minha infância.

Rua de Relíquias, uma rua de casas baixinhas, e onde não morava nenhum rico. Era a rua onde morava a tia.

A Tia Fortunata era minha tia-avó por afinidade pois era a esposa de meu tio Joaquim Algarvio. A história desta alcunha era, ao

fim e ao cabo, a história da família da minha avó paterna. Minha bisavó, natural de Salir, Algarve, mãe de sete filhos, enviuvara

lá e para garantir o sustento de sete filhos pequenos aceitara a proposta de viver com um rico lavrador também viúvo Como esse

lavrador também possuía terras em Colos, passaram todos a viver nesta zona do Alentejo.

Aí cresceram todos, se casaram e constituíram família.

E sempre ouvi mencionar o primeiro nome de meus tios avós seguido do aposto linguístico – ALGARVIO – que sendo um ele-

mento de proveniência étnica atestava a região de onde eram oriundos. Assim o tio Manuel Algarvio, cadeireiro, isto é fazedor

de cadeiras de buinho, o tio António Algarvio trabalhador rural, o tio Chico Algarvio lenhador, e finalmente o tio Joaquim Al-

garvio, almocreve, este o marido da tia em questão. Curioso era que as manas da avó não ganharam a alcunha Eram apenas

Constança e Ana.

Mas vamos à tia Fortunata: É dos meus sete anos a viva recordação da minha primeira visita. A sua vivacidade e originalidade

fascinaram-me desde os primeiros momentos. A tia era cheia de encantos; tinha uma voz rouca e lembrava as avozinhas dos con-

tos de fadas que a avó me contava... Era simpática e um pouco gaga. O que me encantava pois não conhecera ninguém assim.

A avó não chamava à tia Fortunata o que ela lhe era por afinidade – mana cunhada. Eu sempre lhe ouvi dizer a Comadre Fortu-

nata pois era madrinha de seu filho.

A casa da Tia Fortunata era ainda mais humilde do que a da avó. Entrava-se para “a casa de fora”, havia uma cozinha e um quar-

to de dormir. O quintal era extenso.

A tia encontrava-se só, pois o tio saíra para um frete de alguns dias na sua vida de almocreve.

E naquele dia ela tinha algo de grave para nos contar. Adivinhava-se na sua expressão fisionómica. Algo simultaneamente dra-

mático, irónico, picaresco...

E lá começou a desfiar a sua malfadada história, isto é, o acontecimento daquele dia aziago para ela...

E eu que na escola aprendia as primeiras sílabas pensei logo que a tia ao falar, soletrava as palavras com que exprimia as suas

ideias. E contou por monossílabos, dissílabos, trissílabos destacados pela sua gaguez a história da galinha que saída do quintal

atravessara a cozinha, a casa de fora e saltara para a rua sem a tia dar por isso.

Passara um automóvel, muito raros por ali, nesses tempos de carroças e carros de parelha e matara-lhe a galinha.

A tia Fortunata contava que depenando a galinha a metera na panela e a cozinhara como só ela sabia, ficando deliciosa. O tio não

estava para a ajudar a comer…

Então dizia a Tia:

– Olhe Comadre Tomásia “panhei uma ralia tam grande que com os nervos comi-a toda”

A avó teve um sorriso irónico (era muito crítica em relação aos desmandos da cunhada).

E ao irmos para minha casa, contou a meus pais a história que os deixou mortos de riso.

Maria Vitória Afonso - Cruz de Pau/Amora

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14 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«Contos e Poemas»

[Carta a quem sofre pelos erros cometidos]

...........................

Sabes?

Daquela vontade de chorar que chega de repente?

Daqueles momentos em que queremos estar sós mas em que tanto precisamos de um abraço?

Chora-se por revolta. Por a vida não ser o que dela se pretendia.

Carpem-se as mágoas mas os espinhos continuam cravados onde mais dói.

Infelizes somos! julgamos. Porca de vida! lamentamos.

Na realidade a nossa vida é o que é. Nem tudo o que hoje somos é fruto de escolhas pessoais.

As contingências do destino são imprevisíveis e tolos são aqueles que julgam que a sua vida só foi marcada por este ou aquele

erro. Se esse erro não sucedesse estaríamos disponíveis para cometer outro, porventura ainda mais gravoso. Quantas vezes opta-

mos entre dois erros?

Toda a gente, se pudesse, regressaria ao passado. Pelo menos assim o afirmam.

E todos dizem que a sua vida seria outra. Que seriam mais felizes. Que mudariam muitas coisas.

Quão tolos somos. Quão ingénuos somos. Valemos tão pouco assim?

Por certo que as asneiras cometidas não seriam repetidas.

Mas há tantas asneiras à nossa espera. Tantos obstáculos.

Tantas portas hoje abertas que se iriam fechar; outras barreiras que se iriam levantar.

Ah, claro que não teríamos as mesmas cicatrizes. Mas abriríamos outras feridas que doeriam tanto ou mais que as que hoje os-

tentamos no corpo e no espírito.

Olha!

Nunca te arrependas das opões que tomaste!

Nem dos equívocos a que essas opções te levaram!

No momento em que decidiste era exactamente aquilo que querias. Será que a outra opção era assim tão melhor?

Se voltasses atrás, não cometerias os mesmos erros. Mas outros, sim. Porque erramos todos os dias e continuaremos a errar en-

quanto decisões tivermos de tomar.

Fica a pergunta. Estaríamos melhor acompanhados se retificássemos alguns erros do passado?

É tão fácil dizer que a água do regato está fria depois de molharmos o pé. Mas se saltasse-mos o regato como iriamos saber que

a sua água estava assim tão fria?

…………………..

Rogério Pires - Arrentela

À ESPERA

Hoje fui surpreendido por um rompimento de um silencio que me quebrou a rotina de tantos silêncios rotinados, habitua-

dos aos ecos sem sons, e às mesmas coisas de tantos dias.

Senti os ombros quebrarem-se de alegria quase envergonhada,

doce e paciente pelo toque adormecido em lilás acetinado.

E a flor,

fez-se mulher no jardim que ainda cresce.

Ouviu-se a voz da vida, e em ritmo do passado,

do presente, dançou-se palavras para um novo amanhã

onde a rotina endiabrada faça gerar novos caminhos!

Hoje fui surpreendido,

e muito bem-sucedido

num abraço entre outro abraço!

E pela janela do olhar, deu-se um forte abraço familiar!

Joellira - Amora

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Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 15

«BOCAGE»

Mafarrico

A vinha do verde vinho

Traz a verdade ao de cima

A pinha do verde pinho

Só de olhá-la nos anima.

Viu-se na televisão

A famosa discussão

Que se deu no Parlamento

Provocada por conflitos

Acesos nesse momento

Que trouxe à baila os palitos.

Protestava o deputado

Invocando mil razões

Contra as argumentações

Do ministro que, zangado,

Não gostando dos protestos,

Não economizou gestos

E nem deles fez segredos,

Levantou sobre a cabeça

Os indicadores – os dedos –

Num sinal que disse tudo,

Não é coisa que se esqueça.

O povo, primeiro mudo,

Logo fez a tradução

De tal gesto estranho e raro,

Desatando a rir, é claro.

Resultado: a demissão.

Das hilariantes cenas

Que a Assembleia produziu,

Exibir o par de antenas,

Coisa que nunca se viu,

Não dá muito boa imagem,

Mas é acto de coragem

– coragem a dois por cento,

Como se pode entender,

Pois coragem a valer

É o que falta em São Bento.

Fez lembrar um mafarrico,

Porém, convencido fico

De que há por lá muitos mais,

Mas não querem dar sinais.

Oh, que desvariação

No coruto da nação!

Lauro Portugal - Lisboa

BRINDO À SORTE

Tragam-me a taça verde de cristal

Com rubro vinho tinto especial!

Quero brindar à sorte que não vem,

Me fez promessas vãs, inda em criança,

Quando o sorriso tinha a confiança,

Que a vida fez perder neste vaivém.

A sorte me enganou de forma vil.

Encheu-me de ilusões, mas era ardil.

Bem cedo me deu auras de riqueza,

A mim, que sempre fui ambicioso

E muito trabalhei pra ser famoso,

Saltar fora das asas da pobreza.

Falhou no prometido? Ai, isso não.

Por certo uma varinha de condão

Encheu a minha vida de alto tom

E nos degraus da escada fui subindo.

Ora em paragem, ora regredindo,

A rota nunca foi doce bombom.

Podia ser melhor. Para outros foi

E, porque me esforcei, demais me dói.

Mas isso, agora, já pouco interessa.

Brindo à sorte por tudo que me deu

E peço que, se nunca me esqueceu,

De livrar-se de mim, não tenha pressa.

Tito Olívio - Faro

A DÉCIMA VIDA!...

À minha dedicada esposa DOLORES

com mais 100 vidas

Tudo o que sabemos do amor

o amor é tudo que existe.

O verdadeiro amor nunca se desgasta.

Quanto mais se dá mais se tem.

(Antoine de Saint-Exupéry)

DOLORES:

Meu amor, que pena, que essas sete vidas,

Que a lenda diz, alguns são dotados a gozar,

Não tenham sido por Deus a nós of’recidas

Pra que a nossa felicidade se prolongar!

Isso mesmo, sete vidas em nada reduzidas,

Porque fomos emigrantes, foi só trabalhar,

Anos! Meses! Dias! Noites, e noites perdidas,

Não houve tempo o momento certo de amar!

Contigo, sempre ao lado a vida passou veloz,

Apesar das apuros houve sempre entre nós,

Diálogo, compreensão com justos compassos!...

Por isso peço a Deus a décima vida segura,

Pra morrer Matusalém, com tua ventura;

Pr’assim, morrer tranquilo, feliz nos teus braços!

Nelson Fontes – Belverde/Amora

Amor é flor

Um amor de verdade dura uma eternidade

Na seca ou na umidade e permanece na idade;

O amor é uma flor perene que desabrocha

Em qualquer estação, com água ou na rocha.

Um amor de verdade dura uma eternidade

Na pobreza ou na riqueza mantém qualidade

Elástico da vida e vigor da saúde em paridade

A marcar passo ao ritmo da longevidade.

Se sentes que podes amar-me a sério

Porque chegou a tua vez no império,

Sê amor da minha vida, com humildade

Sacode a piedade e reforça a benignidade.

Então vem, mas vem p’ra ficar só comigo

Que eu prometo ficar apenas contigo

E pelo resto da minha vida vou te amar

Mesmo se atribulares, vou te acalmar.

Amália Faustino – Praia/Cabo Verde “O Cristo não ensinou

A fazer mal a alguém

Morro “pobre” porque sou

Mais “rico” do que ninguém”

Silvais – Alentejo

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16 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«BOCAGE»

O Silêncio Também Tem Voz

Há dias em que é preciso

Escutar só o silêncio

Aumentar a auto estima

Encarar com serenidade

As agressividades da vida

Sem nunca perder a fé .

Caminhar devagarinho

Sobre as pedras do caminho

Mesmo que ela se quebre

E te deixe em mil pedaços

Junta ,remenda e costura

Segue em frente, que ela é curta .

Recebe com gratidão

Cada novo amanhecer

Mesmo sem te apetecer

Sorri e dá gargalhadas

Ainda que te chamem louca (co

O silêncio é a voz do tempo).

E só a maturidade

Permite olhar com leveza

Com muito mais clareza

Ao que que se passa em redor

É que nada pode passar

Despercebido à alma .

Há que abrir o coração

Olhar o seu interior

Deixar florir as flores

Transforma-las em amor

E se ele não for reciproco ...

Não reclame ,não sofra .

Que isso não é o fim

Cada um dá o que tem

Até o sol ao nascer

É igual para toda a gente

Mas há quem o veja mais facilmente

E o deixe brilhar a todo o instante .

Outros mesmo sendo dia

Só vê uma nuvem negra

Só olham para o seu umbigo

Falta-lhe ,coragem motivação

A força determinação

Para aceitar a mudança .

Mas amanhã é outro dia

Com mais uma folha em branco

Cheia de oportunidades

Para não cair no abismo

E nos mostrar o caminho

Perdoar e ser feliz!

Fátima Monteiro – Vila Pouca de Aguiar

CRAVOS ETERNOS

ou

FILHO DE ABRIL

Eram bem negras as grades da cadeia

Onde o prenderam só por ter nascido

Num país que parecia apodrecido

Onde o sol era a luz duma candeia.

Morria-se de fome lá na aldeia,

Escravidão o futuro prometido,

Mas cresceu e depois de ter crescido

Partiu atrás da sua Dulcineia.

Não era quixotesco mas real,

Consciente, muito forte e natural

O sonho de lutar por paz e pão.

Voltaram a prendê-lo, mas que importa,

Aquele Abril de sonho abriu-lhe a porta

E anda por aí, cravo na mão.

Nogueira Pardal - Verdizela

ANGOLA

Crianças com muita fome

Muito pouco para comer

Tenho dor, tenho revolta

Por pouco poder fazer

Tanta pessoa indiferente

Por esses seres “pequeninos”

Ossos sustidos por pele

São como aves sem ninho

Se vivem num país rico

Com uma boa situação

Onde da Terra sai riqueza

Porquê, tanta fome então?

Morrem por falta de tudo

Cheios de febre, sobre a Terra

Música para os seus ouvidos?

Tiros, mais tiros, só guerra

Não pares caneta, não pares

Faz sair estes lamentos

E também nós portugueses

Que os ajuda em alimentos

E tu bom português abres teu coração

Repartes feliz, num naco do teu pão

Sendo a vida de tantos, dolorosos trilhos

E, mesmo assim, do pouco que tu tens

Tiras um pedaço à boca dos teus filhos

Ivone Mendes - Setúbal

"Ser feliz"

Ser feliz eu quero ser,

contigo os meus dias viver,

como dois apaixonados

e eternos namorados,

ver o céu e as estrelas,

acender todas as velas

e ao mundo poder gritar,

como é tão bom amar,

o homem que roubou o coração,

e fez dele poema e canção,

devolveu a esperança e alegria,

sou feliz mais do que poderia,

porque ele é tudo para mim

e o que me dá não tem fim,

chegou sem sequer avisar

mas fica aqui a certeza, que ele veio para ficar.

Rita Celorico - Tavira/Amora

ESTRADA DA VIDA

Olho a estrada toda bordejada,

De jasmim e camélias e rosas também,

Toda ela bem longa sem fim e sem nada,

Onde não se vê viva alma, nem bicho, ninguém.

Lá longe só se houve as ovelhas balindo,

E o ladrar dos cães nas quintas vazias,

E o meu rosto, sem querer, fica sorrindo,

Lembrando as noites tristes, longas e frias,

Mas dentro de mim ainda sentindo,

As doces caricias do vento que vinha,

Trazendo as poesias que estava ouvindo,

Vindas lá do monte que poeta não tinha.

Então olho a montanha de verde vestida,

Salpicada de estevas que o vento plantou,

Que de longe parecia que bem cedo acordou,

Feliz com as flores que a tornavam florida,

Trazidas pelo vento dos caminhos da vida.

E a brisa soprando, o rosto acariciou,

Deixando o doce cheiro que o nariz inalou,

Fazendo esquecer o que do passado,

Nas pedras do caminho lá ficou agarrado,

Pois nada do que era, no tempo, por cá ficou.

José Carlos Primaz – Olhão da Restauração

ESTOU AQUI

Estou aqui

sentado no vazio

dos sonhos que nutri

e nunca realizei,

de tudo o que aprendi

e já não sei.

Tito Olivio - Faro

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Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 17

«BOCAGE»

Quadras soltas

“Passas o dia sentado,

Sentado estás tão bem

Não mereces o castigo

Não fizeste mal a ninguém

A vida é uma luta

Corre e passa sem avisar

Traiçoeiro é o mar

No seu belo volutear

Quando fede o odor

Abutres pairam ao redor

A inveja é coisa feita

Não sustém a dor

Rugas da alma se escondem

Bem dentro do coração

Água limpa mata a sede

Não mata a corrupção

O poder tem cheiro fino

Aguça a avidez

Sonhas alto cantas alto

O que és tu mais que um maltês

Julgas o teu semelhante

À tua imagem, ao teu feitio

Vem junta-te aos indigentes

Faço-te esse desafio

Sempre que vais à igreja

Te curvas perante o altar

Desprezas o teu semelhante

Desvias o teu olhar

Olhar a pobreza arrepia

A sarna coceira dá

Anda tudo como quer

Sem rumo ao deus dará.”

Teresa Primo - Lisboa

Corações distantes

Ouço o teu chamar

Mas não consigo caminhar

Pela esteira de prata

Que a lua deixa no mar

Mas estou sempre atento

Ao segredar do vento

E ouço o teu murmurar

Que num doce lamento

Me conta do teu penar

Vou buscar o meu bote

Envergar o meu capote

E remar, remar, remar

Até te conseguir achar

Espera por mim numa penha

E acena-me com o teu lenço

Não há mar que me detenha

Porque é a ti que pertenço

Se houver um contratempo

E na tempestade naufragar

Tens de pedir um desejo

E um beijo ao vento ofertar

Porque só a força de um beijo

Molhado em lágrimas de sal

Consegue vencer o temporal

...................................

Rogério Pires - Seixal

TU, QUE TUDO PODES!

É a Deus quem eu peço forças

qual sabedoria para não

julgar a ninguém -sendo julgado

por igual e pela mesma forma.

O que me pedem, não tenho;

Minha casinha é muito pobre:

De entre as mais pobres: a ilusão

de me julgarem julgando-me.

Sem o saber caminho caminhos.

Todo eu sou luzes em crescendo.

Abertas as janelas e portas ao léu.

Magnânimo, Tu És, oh, meu Pai!

Que tanta paixão Despertas.

Ensina-me a viver, uma outra vez…

Jorge Humberto - Santa-Iria-da-Azóia

Século XXI (d.C.)

No Século do LOUCO

-os loucos atacam

(indiscriminadamente…)

-e vidas sacam

(barbaramente…)

São seres doentes

(inimputáveis…)

armados até aos dentes

(insaciáveis…)

Terrorista

é célula cancerosa

(da Sociedade)

-está contra

o Organismo…

e age

sem piedade

(pelo domínio

do mesmo…)

É uma guerra

sem quartel

(e sem rosto)

mergulhada

-no ódio

-no fel

-no mosto…

-o que podemos fazer ?

-como podemos

evitar ?

além de :

-estupidamente morrer ?…

-temerosamente

suportar?…

Santos Zoio

Quadras Soltas

Fazer quadras para quê?

Já está tudo escrito.

Mais toque menos retoque

Fica tudo mais que dito.

Isto cá entre amigos,

Pouco trabalho é preciso

É ouvir o pensamento

Está o caso resolvido.

E nem parece verdade

Que está a acontecer

Esta folha era branca

E já tem algo que ler.

Amadeu Afonso – Cruz de Pau

De Menina a Mulher

De menina-botão a mulher-flor,

desabrochaste por decretos santos,

de irisado matiz hauriste a cor,

e ornada de asas, redobraste encantos.

Avezinha sagaz, voando em espantos,

o mundo descobriste ao teu redor,

pisaste o vale, alçaste a picos tantos,

e elegeste o meio-céu, teu corredor.

Não quiseste ser águia lá na altura,

nem pássaro na pedra enlodaçada,

assisada, pairaste na planura.

De lá emanas trinados de doçura,

manter do amor, vestal no céu talhada,

Ave-Mulher, plasmada de ternura!

Carmo Vasconcelos - Lisboa

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18 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

«BOCAGE»

Dia Feliz Hoje e Amanhã Também.

Se não fosse Ela,

Se não fossem Elas,

Não seríamos.

Este dia só devia anoitecer no infinito.

E mesmo assim…só Ela não ia desistir.

Porque sim, só Elas

Nos fazem correr tanto…

E às vezes, em troca,

não Lhes damos alegria, mas pranto...

E resistem e…que maravilhosas sois,

com vosso eterno encanto,

Mulheres da minha Vida

de quem gosto tanto.

Um beijinho.

José Jacinto – Casal do Marco

O Sonho de uma Criança...

Sou criança no meu lar abençoado

e os meus pais me envolvem de carinhos

por tudo aquilo que eles me tem dado,

amá-los-ei quando já forem velhinhos.

O meu corpo é ainda delicado,

e pequeno é o meu narizinho,

o cabelo levemente ondulado,

adejando, sou traquino passarinho.

Os meus olhos se abrem maravilhados

e minha boca gosta tanto de sorrir...

voam meus sonhos coloridos e alados

imaginando como é lindo o porvir...

Quero ser grande e de todos ser amigo,

viver num tempo de Paz e não de dor,

ver as crianças sorrir e ter abrigo,

e os velhinhos tratados com calor.

Quero ajudar os amigos, toda a gente,

talvez um dia ,chegue até a ser Doutor!

Ai, como eu sonho um mundo tão diferente

sem haver guerra, apenas Paz e muito Amor...!

Natália Parelho Fernandes – Portalegre

Mar nosso

Chegou numa visita oficial,

Tal qual Homem que Veio lá do Frio,

Do austero país e maquinal,

Mas não veio apenas ver o rio,

É outro seu desígnio: o Atlântico,

Nos trazendo o primeiro tomo dântico,

Nessa intenção que é, afinal, ruim.

Os da casa, solícitos, que sim,

Que viesse, rainha, que as abelhas

Cá têm passadeiras das vermelhas

E palmas e acenos de cabeça.

É isso que ela quer, quem lhe obedeça.

E aportou, tal qual tanque de guerra,

E confirmou o que sabia, em terra,

Dos pequenos e fracos descendentes

Dos marinheiros altos e valentes

Antigamente donos dos oceanos.

Já sabia que, após centenas de anos,

O nosso mar deixou de ser estrada

Da nossa frota de que resta nada.

Não nos preocupássemos, que o peixe

Os europeus haviam de nos dar,

Desse erro ainda há quem não se queixe,

Solitário, a queixar-se, está o mar.

O mar! O nosso mar! O nosso mar!

Nosso? – vem a pergunta. – Nosso mar?

Nós temos mar quando não temos garra?

Continuemos a assistir à cena

No forte de São Julião da Barra:

Depois de opíparo, solene almoço

Em que o peixe encimava extensa lista,

“Vamos sair!” – a visitante ordena

Ao servil português e dócil moço.

Olha o mar até onde alcança a vista,

E cogita, do alto do seu sonho,

No prenúncio mais louco, mais medonho:

“É este mar, ó portugueses, vosso?

O que fizestes para merecê-lo?

O que fizestes vós para retê-lo?

Pudésseis vós, iríeis derretê-lo

Como outrora fizestes ao império.

O vosso mar um dia há-de ser nosso,

Também a terra, iguais bem poucas há,

Vão terra e mar duma assentada, ja!”

Assumindo semblante grave e sério,

Isto pensou e disse-o entre dentes,

Aos bons anfitriões tão sorridentes.

E num gesto mecânico, ergue o dedo

indicador em riste, em tom de aviso:

“Tem de se fazer já o que é preciso!”

Submissos, os de cá, cheios de medo,

Disseram: “Quer o mar? leve-o de graça

e tudo leve, menos a desgraça

deste povo incapaz de ser feliz.”

O mal já vem do tempo em que não quis

Ter a vontade sua, e, sujeito,

Deixou de ser o Lusitano Peito.

Ao pressentir as coisas neste estado,

Até o mar ficou desvariado,

Contra o forte rugindo, no desnorte,

Furioso, avisando que é mais forte.

Lauro Portugal - Lisboa

TOCO-TE

Toco-te com os dedos ...

Percorro teu corpo

Como se fosse palavras

Sussurradas em silêncio !...

Toco tua pele

Deslizando suavemente...

Pele sedosa

Macia ...

Recordo todos os dias !...

E passo os dedos

Lentamente

No meu corpo ...

Como se as tuas mãos

Estivessem presentes

Em cada momento !...

No meu dia ...

Sinto o teu suave perfume ...

Sinto-te !...

Presença Viva de sonho e luz !...

Toco-te com carícia

Magia ... e Imaginação ...

Neste mórbido

Prazer irracional !...

Cheio de desejo

De um encontro

Sem igual !...

Toco-te e perco-me

Neste prazer final !...

MAGUI - Sesimbra

Um Poema

O Poema Ah! O poema

que derrama pétalas

de palavra a palavra

de sons em sons

Como sentimentos

como sorrisos

declamados serenos

no véu suave

Poemas sim poemas

como o saltitar viril

de um pardalito

bailarino de ramo em ramo

São cravos vermelhos

que brilham no ar

de sílabas soltas

rimadas ou não…

Pedro Valdoy - Lisboa

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«Rádio»

Fundada: a 28/04/2017- Fundador: Pinhal Dias

RÁDIO CONFRADES DA POESIA - 24 HORAS ONLINE

GRELHA DE PROGRAMAÇÃO DEFINITIVA

Dom. - 24 HORAS ONLINE

2ª F - 21/22h - "Ecos Musicais"

3ª F - 21/22h - "Ecos Musicais"

4ª F - 21/22h - “Ecos Musicais”

5ª F - 21/22h - “Récitas dos Confrades”

6ª F - 21/21:30h - “Poesia Para Todos”

6ª F - 22/23h “Sintonia”

Sábados e Domingos - DJ Automático 24 Horas Online

b) – “Sujeita a Directos Especiais, com hora anunciar”

.../...

Locutor - Joel Lira - Locutor - Pinhal Dias

Pioneiros Colaboradores e Patrocinadores - RCP

Pioneiros Colaboradores : »»» Amália Faustino - Ana Pereira - Carlos Alberto S Varela - Carmindo Carvalho - Conceição Tomé -

Damásia Pestana - Daniel Costa - Donzília Fernandes - Filipe Papança - Francisco Jordão - Hermilo Grave - Joel Lira - José Bento -

José Branquinho - José Carlos Primaz - José Jacinto - José Maria Caldeira - José Nogueira Pardal - Lúcia de Carvalho - Luís Fer-

nandes - Margarida Moreira - Maria Rita Parada dos Reis - Maria Rosélia Martins - Miraldino de Carvalho - Nelson Fontes de Car-

valho - Pinhal Dias - Regina Pereira - Silvino Potêncio - Tito Olívio

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NOTA DE AGRADECIMENTO

Livros ofertados à Biblioteca da nossa Rádio Confrades

da Poesia pelos Confrades: Filomena Gomes Camacho

“Divagando Pelas Letras”:

Artur Manuel Gomes “Pequenos Nadas”

poemas dos livros serão lidos aos microfones da Nossa

Rádio.

O nosso Bem-Haja!

Links para ouvir a Rádio Confrades da Poesia

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http://tunein.com/radio/Radio-Confrades-da-Poesia-s292123/

http://www.radios.com.br/ao…/radio-confrades-da-poesia/47066

http://www.radioonline.com.pt/regiao/novo/…

Mais 5 livros ofertados à nossa Rádio de José Maria Caldeira Gonçalves - ”Malpica que minhas saudades teces”; “Ter Saudades”;

“Malpica poemas de amor e saudade” de Damásia Pestana - “Nas Asas do Tempo”; “Chama-me” … Poemas que vão ser lidos na RCP

O Nosso Bem-Haja!

Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018

Page 20: Amora Seixal Setúbal Ano X Boletim Mensal Nº 100 | Agosto 2018 … · 2018-07-31 · O BOLETIM Mensal Online (PDF) ... Na loucura que invade estes meus dias Lá fora, a chuva, brancas

«Rádio Confrades da Poesia»

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“RCP” online desde 28/042017 http://www.radioconfradesdapoesia.comunidades.net/

RCP – RÁDIO CONFRADES DA POSIA

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Enquanto você navega pela Internet poderá ser um fiel ouvinte e participativo da nossa RCP que é um espaço criado para o seu

entretenimento Musical e Poético, que estará online 24 horas por dia, sem fins lucrativos.

DJ - Pinhal Dias; fará semanalmente cinco emissões em directo online; poderá acrescer um especial directo...

«Ponto Final»

Feitura do Boletim

O Boletim será sempre colocado à disposição dos nossos leitores mensalmente!

Futuramente os Confrades enviarão os seus trabalhos em word até final do mês a decorrer.

A feitura do Boletim será a partir do dia 1 até ao dia 2, que corresponderá à data de saída...

Os seus poemas devem vir sempre identificados com o seu nome ou pseudónimo e localidade de onde escreve seu poema.

O Tema continua a ser Livre! Para sua orientação sugerimos que consulte as páginas das Efemérides e Normas no site dos Con-frades... Durante o ano corrente, é acrescido do “ESPECIAL NATAL “

http://www.confradesdapoesia.pt/normas.htm

Amigos que nos apoiam

«A Direcção agradece a todos os que contribuíram

para a feitura deste Boletim».

As fotos deste Boletim

são dos autores e

outras da Internet

www.fadotv.pt

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Voltamos a 2/9/18

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