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Amiguinhos Alberto Cohen

Amiguinhos Alberto Cohen Ele travesso, moleque sem freios, ela menina comportada que ainda cuidava de bonecas. Não conseguiriam saber, jamais, quando

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Amiguinhos

Alberto Cohen

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Ele travesso, moleque sem freios, ela menina comportada que ainda cuidava de bonecas.

Não conseguiriam saber, jamais, quando e como se tornaram

amiguinhos. Moravam em casas próximas uma da outra e, de repente, eram inseparáveis.

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Brincavam, brincavam e, súbito, o garoto quebrava

uma vidraça com pedrada, ou amarrava latas velhas na

cauda de um cão, só para vê-lo correr pela rua,

desesperado, barulhando.

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E assim, muitas outras diabruras sob o olhar assustado da

pequena que jurava não contar a ninguém o malfeito cometido, colocando os

dedinhos em cruz sobre os lábios.

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Somente uma vez beijou-a ligeiramente, mas mesmo assim, ela fez o combinado

sinal do silêncio. Eram mesmo amiguinhos...

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Algum tempo depois as famílias mudaram-se, indo para bairros diferentes e desconhecidos dos

dois pequenos personagens que, desencontrados, partiram para

vidas diversas. Ela fez faculdade, casou, teve filhos. Ele findou

como habitante das ruas, depois viciado e assaltante.

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Décadas passadas, um casal que viajava num automóvel, ao parar

em sinal de trânsito, viu-se abordado por alguém que, de arma na mão, ordenava em linguajar de malandro: “Passa todo o grude, otário!” O motorista assustado entregou ao bandido tudo o que tinha de valor, dinheiro, celular,

relógio, etc.

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Foi aí que aconteceu o inusitado: Ao voltar-se o assaltante para a passageira com a finalidade de

roubá-la também, observou, incrédulo, que ela havia colocado os dedos cruzados sobre a boca, no velho sinal de promessa de

silêncio, de não comentar o ocorrido.

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O perigoso bandido sentou na calçada e chorou como há

muito não chorava.

O homem ao volante, ao perceber que o marginal quedava-se

estático, sem ação, arrancou com o veículo perdendo-se na

distância.

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Apesar de tudo, do tempo decorrido, do afastamento e da adversidade, ELA ainda era a sua amiguinha, sua

eterna amiguinha...

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Créditos: AmiguinhosDe Alberto Cohen

Formatação: Cláudia L. MoraesImagens: InternetMúsica: Chopin

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