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Fábio da Silva
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Copyright © 2013 by Fábio da Silva
TÍTULO ORIGINAL
A Mata
EDITOR
PerSe
DIAGRAMAÇÃO
Fábio da Silva
CAPISTA
Fábio da Silva
GÊNERO
Romance / Literatura
Brasileira
EDIÇÃO
2ª
Todos os direitos reservados à
Fábio da Silva
http://blogdofabiodasilva.blogspot.com/
A Mata
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Dedicatória
Dedico também esta segunda obra à minha
família: meu pai e grande conselheiro Ayrton, que é um exemplo para mim; minha muito dedicada mãe Adelvair que, apesar de todas as suas limitações físicas, mantém-se inabalável em sua fé, servindo-me de inspiração; meu irmão, amigo e companheiro Wagner, que superou todas as adversidades para estar junto de sua esposa e filhos; meus dois sobrinhos, o alegre e esperto Pedro e a pequenina e doce Alice, que em breve completará o seu primeiro aninho de vida. E a um futuro promissor, de harmonia, de união e de felicidade para todos nós.
A Mata
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Agradecimentos
Quero agradecer aos meus dois companheiros de viagem, sem os quais este livro não seria possível: meu amigo Cleiton e seu pai Manoel, que, em janeiro de dois mil e onze, me proporcionaram conhecer a cidade de Corumbá, “Capital do Pantanal”, no estado de Mato Grosso do Sul, local que é o palco de nossa história. Sem esquecer a senhorita Jacqueline, prima deles, a simpática moça que trabalha como Gestora de Atividades em Turismo, junto à prefeitura daquela cidade, e que me forneceu material de grande importância para minhas pesquisas. E, por último e mais importante, agradeço a Deus pelo que conquistei até o presente instante, por tudo de bom que ainda está por vir e por me permitir dispor as letras de nosso alfabeto, nestas páginas, de forma que meus leitores possam compreender meus humildes pensamentos.
A Mata
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A Mata
Dentre as matas, tu és a mais bela. Mata de folhas tenras e de frutos doces.
Mata de perigos e de prazeres. Sei que dentro de ti escondes um lago de segredos. Enfrentarei a onça e a serpente para encontrá-lo.
E quando a este lado chegar, Nos teus cabelos negros, vou mergulhar.
Nos teus olhos castanhos, vou me banhar. Na tua pele morena, vou me afogar.
Serei teu maior explorador. Ó Mata! Ó Mata!
Mata-me de amor!
Fábio da Silva
A Mata
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Sumário
1........................................................................11 2........................................................................23 3........................................................................42 4........................................................................57 5........................................................................71 6........................................................................88 7......................................................................100 8......................................................................112 9......................................................................124 10....................................................................138
Fábio da Silva
10
11....................................................................155 12....................................................................165
A Mata
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1
Era dia na Fazenda Santa Helena. Com a espingarda em punho, Eduardo Ribeiro –
um jovem alto e branco, de cabelos
castanhos, por volta dos trinta anos –
pulou a cerca da propriedade e seguiu
correndo velozmente em direção ao
casarão, que se encontrava lá adiante.
Suas roupas estavam sujas e amarrotadas.
Seu semblante era de desespero. Quando
Eduardo finalmente invadiu correndo a
sala do casarão, Dalva – uma senhora
morena e forte, por volta dos cinquenta
anos, que usava um vestido de alças - se
assustou e deixou o pequeno vaso de
plantas que segurava cair no chão.
Súbito, uma voz feminina gritou. Um
rugido de onça ecoou. O rapaz subiu a
escada apressadamente até o segundo
andar, onde deu um ponta-pé na porta de
um dos quartos, no qual entrou, mirou e
atirou. Eduardo abaixou a espingarda e a
soltou no chão. Pôs-se de joelhos e,
chorando, lamentou:
- Me perdoe! Me perdoe, Marília! Me
perdoe!
Uma poça de sangue aproximava-se de
Eduardo.
- Eu, que sempre fui um homem
racional, arrisquei tudo por causa dela,
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dela e da minha vaidade. Isso foi há um
ano, mas tudo continua tão vivo em minha
mente como se tivesse acontecido ontem.
Um ano antes...
Era final de tarde. Um avião vindo do
Rio de Janeiro aterrissava na pista do
Aeroporto Internacional de Corumbá, em
Mato Grosso do Sul. No desembarque,
dentre os passageiros, surgia Eduardo
Ribeiro – já descrito no início de nossa
trama -, que era recebido por sua noiva
Marília Gonçalves de Alencar – uma bela
jovem, alta e branca, de longos cabelos
negros e olhos azuis, tinha por volta
dos trinta anos e vestia-se
elegantemente. Ambos se abraçaram e se
beijaram calorosamente.
- Saudades, Marília?! – perguntou
Eduardo.
- O que você acha, Edu?! – respondeu
a moça - Fez boa viagem?
- Foi ótima! Mas a recepção aqui em
Corumbá foi bem melhor.
Caro leitor, antes de prosseguirmos
com a nossa história, permita-me fazer
uma breve descrição de Corumbá.
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Localizada a mais de 400 quilômetros
da capital do estado de Mato Grosso do
Sul*, Campo Grande, a cidade, que se
desenvolveu às margens do Rio Paraguai,
já contabiliza uma população de mais de
100.000 mil habitantes.
Fundada em 1778, foi chamada, em suas
primeiras denominações, de Arraial de
Nossa Senhora da Conceição de
Albuquerque e de Freguesia de Santa Cruz
de Corumbá.
Sua ocupação teve início, ainda no
Século XVI, quando os portugueses
tencionavam encontrar ouro na região.
Posteriormente, com o intuito de
defender as terras das invasões
espanholas, fixaram-se pontos militares,
estabelecendo-se o domínio português.
Na segunda metade do Século XIX, a
região foi ocupada e destruída, em
virtude da Guerra do Paraguai, como
consequência a navegação pelo Rio
Paraguai foi interrompida,
desestruturando assim o comércio. Finda
a guerra, a cidade foi reconstruída e a
navegação restabelecida, ocasião em que
começaram a chegar imigrantes latino-
americanos e europeus, alavancando o
desenvolvimento da cidade.
*O estado de Mato Grosso do Sul foi criado apenas em
1977, a partir de um desmembramento de Mato Grosso.
Fábio da Silva
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Devido a sua localização fronteiriça,
a única forma de comunicação da região
era através dos rios, motivo pelo qual,
até a década de 50 do século passado, a
cidade era influenciada pelos países da
Bacia do Prata, herdando seus costumes,
linguagem e música.
No início do Século XX, com a
construção da Estrada de Ferro Noroeste
do Brasil, o transporte fluvial ficou em
segundo plano, logo o comércio deslocou-
se do sul do, até então, estado de Mato
Grosso para Campo Grande. Por
conseguinte, Corumbá voltou-se para a
mineração e as atividades rurais. Nos
dias de hoje, dedica-se também ao
turismo.
Na década de 40, a cidade iniciou
suas atividades industriais, explorando
principalmente o calcário e outras
riquezas minerais.
No final dos anos 70, iniciou-se a
exploração da atividade turística, o que
viabilizou a restauração das construções
antigas pelos empresários desse
segmento. O turismo firmou-se nos anos
80, mudando de vez a economia da cidade,
gerando uma infra-estrutura para atender
melhor os seus visitantes.
Embora o ecoturismo ainda não tenha
alcançado o seu potencial máximo, vale
ressaltar que é no Rio Paraguai onde
A Mata
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encontramos as regiões mais procuradas
para o turismo no Pantanal.
Basicamente, a pecuária do gado de
corte é a única atividade exercida nas
fazendas, enquanto que no centro urbano,
o mercado de trabalho é voltado para a
prestação de serviços e o comércio.
Tombados em 1992, os casarões e
sobrados, construídos numa época
próspera, revelam a beleza da influência
do estilo europeu em Corumbá. Os prédios
que compõem sua paisagem estão dispostos
nas ditas partes alta e baixa.
Atualmente, sua arquitetura é um
misto do antigo e do novo, com modernas
edificações emergindo na cidade.
Falar de Corumbá é falar do Pantanal.
Sendo a maior planície alagável do
planeta, o Pantanal avança por terras
brasileiras, paraguaias e bolivianas. No
Brasil, abrange os estados de Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, sobretudo a
cidade de Corumbá.
Esse paraíso ecológico destaca-se por
apresentar uma grande diversidade de
espécies de fauna e flora.
Uma característica peculiar do
Pantanal é seu ciclo de cheias e secas.
De modo geral, a região apresenta
períodos mais chuvosos de novembro a
abril e de maior estiagem de maio a
outubro. O verão caracteriza-se por ser
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bastante quente, enquanto que o inverno
pode ser muito frio.
Chamada de “Cidade Branca” - pelo
fato de sua terra ser rica em calcário,
conferindo-lhe uma cor clara -,
considerada pelos corumbaenses como
“Capital do Pantanal” - em virtude deste
paraíso ecológico ocupar, em grande
parte, o seu território -, a cidade de
Corumbá será o palco da nossa
história...
Retornando do aeroporto, a
caminhonete vermelha de Marília seguia
pela estrada de terra em meio às
propriedades rurais. Ela estava ao
volante, e Eduardo, no banco do carona.
- E como você ficou essa semana, Edu?
Alguma evolução? – perguntou a moça.
- Nada, Marília. Nada. Parece que vou
continuar no atendimento ambulatorial
por um bom tempo. – respondeu
desanimado.
- Você fez o que pode, Edu. Aliás,
nós fizemos. – tentou confortá-lo.
- Eu sei, Marília. Eu sei.
Eram médicos num renomado hospital do
Rio de Janeiro. Ela corumbaense de
nascença, mas carioca de coração, fora
cursar medicina na Universidade Federal
do Rio de Janeiro e, depois de formada,
acabou se estabelecendo por lá. Ele,
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carioca da gema e oriundo de uma família
de classe média alta da Zona Sul,
cursara medicina na mesma universidade
que Marília. E, embora colegas de curso,
não tiveram nenhum envolvimento, pois a
moça já se encontrava enamorada por
outro e, ao que parecia, iria dar em
casamento. Perderam contato depois de
formados, reencontrando-se tempos
depois, quando foram trabalhar juntos no
mesmo hospital. Na ocasião, ambos
estavam livres e puderam dar início a um
relacionamento, que evoluíra para
noivado há alguns meses. E já estavam
com o casamento marcado para daqui a um
ano.
Eduardo, sempre exigente consigo
mesmo, era um cirurgião de destaque e
respeitado pelos colegas; mas,
infelizmente, depois daquele trágico dia
em que perdera, pela primeira vez, uma
paciente, naquela emergência de
hospital, sua vida ficou marcada para
sempre. Considerou aquela perda uma
derrota e fazia seis meses que não
conseguia realizar um procedimento
cirúrgico.
Por fim, a caminhonete vermelha de
Marília atravessou uma grande porteira
com a placa contendo a inscrição
“FAZENDA SANTA HELENA, SEJA BEM-VINDO!”,
seguiu propriedade adentro, parando em
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frente ao casarão em estilo colonial,
que era a morada dos Gonçalves de
Alencar – uma tradicional e respeitada
família corumbaense. Lá, os aguardavam
os pais da moça e três empregados.
Marília e Eduardo desceram do veículo e
subiram o pequeno lance de degraus até a
varanda; foram recebidos por Francisco
Gonçalves de Alencar – um senhor de
estatura mediana, branco, forte, de
bigode, por volta dos sessenta anos, que
usava aquele típico chapéu de fazendeiro
– e sua esposa Ângela Gonçalves de
Alencar – uma bela senhora, alta e
branca, de olhos azuis, por volta dos
cinquenta e igualmente elegante como a
filha; Dalva – já descrita no início - e
sua filha Ritinha – uma bela moreninha,
de cabelos negros, por volta dos vinte
anos, que trajava um vestidinho de
alcinhas; e Toninho – um moreno, magro,
por volta dos trinta, que usava roupas e
chapéu surrados.
- Ora, ora! Até que em fim! –
exclamou Francisco.
- Pensávamos que não viria mais,
Eduardo. – disse Ângela.
- Seu Francisco! Dona Ângela! Como
estão?
Cumprimentaram-se. Marília
acrescentou:
- Ele não faria uma maldade dessas
comigo, mamãe.
A Mata
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- Como foi de viagem, meu rapaz? E
como anda a cidade maravilhosa? –
perguntou o sogro.
- Fui bem, Seu Francisco. Obrigado! E
o Rio continua agitado como sempre.
- Certo, certo. – e volvendo para a
filha - Sabe, Eduardo, alguém aqui não
se aguentava mais de saudade.
- E quem seria essa pessoa? – brincou
o médico.
Todos riram. Naquele instante, Ângela
apontou para os três empregados.
- Eduardo, estas são Dalva e a filha
Ritinha, nossa afilhada.
- Tudo bem? – disse o rapaz
cordialmente.
- Seja bem vindo, Doutor! – falou
Dalva com um sorriso.
Ritinha apenas sorriu.
- E aquele é o Toninho. – completou a
sogra.
Francisco acrescentou:
- Também conhecido como frouxo.
- Ô Chico! – disse Ângela em tom de
repreensão.
Toninho sorriu sem graça. Ângela
completou:
- Agora, vamos entrando que você deve
estar cansado e faminto.
- Pois bem! – disse Francisco -
Eduardo, não se preocupe com a bagagem.
O Toninho vai levar suas coisas pro
quarto de Marília.
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Enquanto todos entravam no casarão,
Toninho dirigia-se a caminhonete
vermelha de Marília a fim de pegar a
bagagem do médico.
Chegara a noite. Na cozinha de uma
humilde construção, uma jovem mulher, de
pele alva, lavava a louça. Seu esposo
Jorge – um moreno, por volta dos
quarenta – entrou pela porta dos fundos.
- Ué mulher! Já jantou sem mim? –
disse.
- Cansei de te esperar, Jorge! –
justificou-se a mulher - Todo dia é a
mesma coisa!
- Ai, ai, mulher, não vai começar com
esse sermão de novo.
Sua esposa pegou a colher de pau, que
acabara de enxaguar, e apontou para
Jorge, dizendo:
- Você prefere ficar se entupindo de
cachaça com aqueles seus amigos a estar
comigo. Vocês homens são todos iguais.
Jorge agarrou a mulher pela cintura e
tentou beijá-la.
- Vem cá, meu amor. Me dá um
beijinho.
E a esposa, afastando Jorge de si:
- Me larga, homem! Em vez de gastar
dinheiro com cachaça, devia comprar o
leite das crianças.
- Caramba, mulher! – irritou-se -
Você é uma chata!
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- Não grita, homem! Vai acordar as
crianças! – advertiu.
- Quer saber? Eu vou lá pra fora
fumar um cigarro.
- Com esse cheiro de cachaça você vai
acabar explodindo.
Recostou-se numa das colunas de
madeira, que sustentavam o telhado da
varanda de sua casa. Por fim, Jorge
acendeu um cigarro. Deu uma profunda
tragada e soltou a fumaça lentamente,
tentando relaxar. Contemplava a noite
enquanto os grilos cantavam. A seguir,
Jorge desceu o pequeno lance de degraus
da varanda e começou a caminhar pela
propriedade, onde havia vegetação por
todos os lados e a iluminação era
precária. Sua vizinhança era composta
por algumas casas distantes. Enquanto
caminhava, um galho estalou no meio do
mato.
- Tem alguém aí?! – perguntou Jorge.
Não obteve resposta. Então, deu uma
última tragada, jogou o cigarro no chão
e pisou nele. Subitamente, um rato saiu
correndo do mato assustando-o.
- Mas que diabo! Maldito rato!
Respirando ofegante, sorriu aliviado.
Retomou sua caminhada. Novamente, grilos
cantavam. Outro galho estalou no mato.
Os grilos silenciaram-se. Jorge volveu
na direção do barulho. Pegou um pedaço
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de madeira que estava no chão.
Aproximou-se da vegetação.
- Agora te pego, seu rato safado.
Súbito. Algo enorme pulou da
vegetação sobre Jorge, que começou a
gritar. Rapidamente, sua mulher surgiu
na varanda. E vendo o esposo sendo
atacado pôs-se a gritar também.
- Jorge!!! Jorge!!! Ai, meu Deus!!!
Jorgeee!!!
Desesperada, a mulher abaixou-se
chorando, agarrando-se a uma das colunas
de madeira, que sustentavam o telhado da
varanda.