A Deusa Demeter e os mistérios Eleusis

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  • 8/3/2019 A Deusa Demeter e os mistrios Eleusis

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    A Deusa Demeter e os mistrios Eleusisdeldebbio | 22 de setembro de 2008

    Acredita-se que o culto Demter tenha sido trazido Grcia vindo de Creta durante operodo micnico, carregando consigo o seu nome.. Sendo assim, ela descendentedireta da Deusa-Me cretense, que com suas virgens e sacerdotisas, empunhavamserpentes e prestavam culto ao touro. Neste caso, podemos afirmar que Demterrepresentaria a sobrevivncia da religio e dos valores matriarcais durante a cultura

    patriarcal guerreira dos gregos clssicos.

    O hino homrico relata que ela teria chegado a Eleusis disfarada de anci, na poca emque as pessoas vinham do outro lado do mar, de Creta.

    A filha de Demter, Persfone, tambm nasceu em Creta, e a lenda arcaica da unio deZeus, em forma de serpente, com sua filha tambm teve lugar em Creta. O filho que

    nasceu dessa unio foi Dionsio. As coincidncias demonstram que existe uma conexoentre a Demter documentada em Creta e a que conhecida na Grcia.

    Na Grcia antiga, Demter era responsvel por todas as formas de reproduo da vida,mas principalmente da vida vegetal, o que lhe rendeu o ttulo de Senhora das Plantas,A Verde, A que atrai o fruto e A que atri as estaes. As pessoas a honravam aousar guirlandas de flores enquanto marchavam pelas ruas, geralmente descalas.Acreditava-se que pisar na terra descalo aumentava a comunicao entre os humanos ea Deusa.

    Para os gregos, Demter era a criadora do tempo e a responsvel por sua medio emtodas as formas. Seus sacerdotes eram conhecidos como Filhos da Lua.

    Outro vestgio da antiga conscincia matriarcal da Deusa-Me, foi transmitido nadevoo catlica popular da Virgem Maria entre os povos do Mediterrneo. Quasecertamente h uma continuidade psquica entre Maria, a Me de Deus, as antigas deusasda Grande Me no Mediterrneo e no Oriente Prximo e a deusa Demter. Mas emborase conhea muitas representaes medievais de Maria com cereais e flores, ela no

    possui o poder emocional das antigas Mes da Terra e suas filhas.

    Demter era a protetora das mulheres e uma divindade do casamento, maternidade,amor materno e fidelidade. Ela regia as colheitas, o milho, o arado, iniciaes,renovao, renascimento, vegetao, frutificao, agricultura, civilizao, lei, filosofiada magia, expanso, alta magia e o solo.

    O RAPTO DE PERSFONEQuando falamos de Demter, devemos falar de duas Deusas. O cerne do mito e do cultoa Demter, era o fato dela ter perdido sua adorada filha Cor (donzela, em grego). Aintimidade entre me e filha ressalta o carter profundamente feminino dessa religio econstelao mitolgica. Cor mais tarde passa a ser conhecida como Persfone.

    O mais antigo documento que narra este mito o belo Hino Demter homrico, quenos fala tanto da Deusa Demter como de sua filha Cor. O objetivo deste poema explicar a origem dos mistrios de Elusis.

    A jovem Cor, diz a narrativa, encontrava-se colhendo flores, quando foi atrada por umnarciso muito belo, mas ao estender a mo para peg-lo, a terra se abriu e Pluto

    (Hades), Senhor dos Mortos, em sua carruagem de ouro puxada por dois cavalos negros,arrebatou-a e levou-a para ser sua noiva e Rainha do Subterrneo. Cor lutou e gritos,

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    mas nem os deuses imortais como os homens mortais, ouviram seus clamores. Demters pode ouvir o eco do apelo de sua filha e ento apressou-se para encontr-la. Procurousua filha por nove dias e nove noites, no parando para comer, dormir ou banhar-se, sandando errante pela terra, carregando em suas mos tochas acesas. Porm quando seapresentou pela dcima vez a Aurora, encontrou-se com Hcate, Deusa da Lua Escura,

    que lhe diz:-Soberana Demter, dispensadora das estaes, de esplendidos dons, quem dosdeuses celestes ou dos homens mortais raptou Persfone e afligiu teu animo? Ouvi a

    sua voz, porm no vi com meus olhos quem era. Em breve vamos desfazer esse

    engano.

    Assim falou Hcate que partiu com Demter, levando em suas mos as tochas acesas.As duas ento chegaram at Hlio, o deus do sol, que compartilha esse ttulo com Apoloe a me aflita perguntou:

    -Sol, respeita-me tu ao menos, como Deusa que souA filha que pari, encantadorapor sua figuraouvi sua vibrante voz atravs do lmpido ter, como a de quem se v

    violentada, mas no a vi com meus olhos. Porm tu que sobre toda a terra e por todo omar diriges desde o ter divino a olhar de teus raios, diga-me sem enganos se teriavisto a minha filha querida em alguma parte; quem dos deuses ou dos homens mortais

    ousou captur-la para longe de mim, contra sua vontade, pela fora.

    Hlio ento respondeu:

    -Filha de Rea, ..pois grande o meu respeito e compaixo que sinto por ti, aflita comoests por tua filha de esbeltos tornozelos. Nenhum outro dos imortais mais culpado

    que Zeus fazedor de nuvens, que a entregou Hades para que se torne sua esposa

    Assim que tu, Deusa, d fim a teu copioso pranto. Nenhuma necessidade h de que tu,sem razo, guarde ento um insacivel rancor.

    Deu a entender para a Demter que ela deveria aceitar a violao de Persfone, poisHades, no era um genro to sem valor, mas a Deusa no aceitou seu conselho e agorasentia-se trada por Zeus. Retirou-se do monte Olimpo, disfarou-se de uma mulheranci e vagou sem ser reconhecida entre as cidades dos homens e os campos. Um certodia, ela se aproximou de Elusis, sentou-se perto do poo Partenio e foi encontrada

    pelas filhas de Cleo, o governador de Elusis. Quando Demter disfarada lhes revelouque procura um emprego de bab, ela a levaram para casa, sua me Metanira, paracuidar do um irmozinho chamado de Demofonte.

    Sob os cuidados da Deusa, Demofonte criou-se como um deus. Ela o alimentou comambrosia e secretamente o colocou em um fogo que o teria tornado imortal no tivesse

    Metanira entrado no local e gritado por medo do filho. Demter reagiu com fria,reclamou Metanira por sua estupidez, e revelou sua verdadeira identidade. Aomencionar seu nome mudou completamente seu visual revelando sua beleza divina. Seucabelo dourado caiu pelas costas, e seu perfume e esplendor encheram a casa de luz.

    Imediatamente Demter ordenou que fosse construdo um templo s seu e lpermaneceu envolta em sua dor e no permitindo que nada germinasse na terra.

    Zeus, tendo conhecimento da situao enviou sua mensageira ris at Demter, pedindoque Demter retornasse ao Olimpo. Como no concordou, um a um dos deusesolmpicos vieram at ela, trazendo ddivas e honras. Mas a cada um Demter fez saberque de modo algum retornaria ao monte Olimpo, at que sua filha lhe fosse devolvida.

    Finalmente Zeus resolve enviar seu mensageiro Hermes at Hades, ordenado-lhe quetrouxesse Persfone de volta para que quando sua me a visse com seus prprios olhos,

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    abandonasse a sua raiva. Hermes ao chegar ao mundo de Hades, encontrou-o sentadoprximo Persfone que se encontrava muito deprimida.

    O Senhor dos Mortos, antes de libertar Persfone, deu-lhe uma semente de rom paracomer, o que faria com que ela voltasse para ele. Assim, foi-lhe permitido voltar paraDemter dois teros do ano e o restante do ano no mundo das trevas com Hades.

    Com a satisfao de recuperar a filha perdida, Demter fez com que os cereaisbrotassem novamente e com que toda a Terra se enchesse de frutos e flores.Imediatamente mostrou esta feliz viso aos princpios de Elusis, Triptolemo, Diocles eao prprio rei Celeo e, alm disso, revelou-lhes seus sagrados ritos e mistrios.

    O amor entre Demter e Cor um sentimento que somente uma me e uma filhapodem realmente compartilhar. No importa o quanto um pai ame e adore sua filha,jamais chegar perto do estreito vnculo que existe entre me e filha. Ao dar luz, ame, v a si mesma em pura inocncia naquela pequena pessoinha. Jung nos diria queuma me v em sua filha a percepo de seu prprio self feminino transcendente, a

    perfeio do ser feminino.

    Podemos afirmar, com convico, segundo Carl Jung, que em toda me j existiu umafilha e toda a filha contm sua me e que toda mulher se estende para trs em sua mee para frente em sua filha. A conscientizao destes laos gera o sentimento de que avida se estende ao longo de geraes e provocam a sensao de imortalidade.

    ARQUTIPO MATERNAL

    No momento que a mulher recebe em seus braos o seu beb, o poder arquetpico deDemter plenamente despertado. As dores do parto, consideradas como uma transioinicitica, desaparecem e uma irradiao de amor demtrico tudo abrange. Estar aqui eagora desperta para uma nova fase de sua vida: ser me. Uma vez me, permanecer

    sempre me, pois nada apaga a emoo de carregar um filho sob o corao.O arqutipo da Me era representado no Olimpo por Demter. Embora muitas Deusastenham sido mes, nenhuma se compara esta Deusa, pois ela deseja ser me. Quandoest grvida ou criando seus filhos, Demter atinge o pice de sua plenitude enquantome. Ela orgulhosamente proporcionou vida nova e novas esperanas suacomunidade. No antigo simbolismo de seu ciclo, ela corporifica agora a lua cheia, etambm o vero abundante com frutos da terra. O clice da fora vital dentro de si esttransbordante.

    Este arqutipo no est restrito me biolgica. Ser me de criao ou ama seca,permite que outras mulheres expressem seu amor maternal. A prpria Demterrepresentou este papel com Demofonte.

    ME-NATUREZAO povo grego. ano aps ano, via, com natural pesar, os dias brilhantes do verodesvanecer-se com a tristeza da estagnao do inverno. Ano aps ano, saudava aexploso de vida e cores da primavera. Habituado a personificar as foras da natureza ea vestir suas realidades com roupagem de fantasia mtica, ele criou para si um panteode deuses e deusas, de espritos e duendes, que oscilavam com as estaes e seguiam asflutuaes anuais de seus fados com emoes alternadas de alegria e tristeza, queexpressava na forma de ritual e de mito. Um destes mitos o da Deusa Demter. Osromanos a conheciam como Ceres.

    O smbolo principal de Demter era um feixe de trigo e, em seus mistrios em, Elusis,uma nica espiga de milho. retratada como uma mulher bonita de cabelo dourado evestida com roupo azul, considerada a Senhora das Plantas. Seu animal sagrado o

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    porco, que representava um sacrifcio de fertilidade em todo o mundo por causa de seusmltiplos teros. Seu animal sagrado marinho era o golfinho.

    AS TESMOFORIASO festival grego da Tesmoforias era celebrado anualmente em outubro, em honra aDemter e era exclusivo para mulheres. Se constitua de trs dias de celebraes pelo

    retorno de Core ao Submundo.Neste festival, os iniciados compartilhavam uma beberagem sagrada, feita de cevada ebolos.

    Uma das caractersticas da Tesmoforia era uma punio aos criminosos, que agiamcontra as leis sagradas e contra as mulheres. Sacerdotisas liam a lista com os nomes doscriminosos diante das portas dos templos das Deusas, especialmente Demter e rtemis.Acreditava-se que aqueles desta forma amaldioados morreriam antes do trmino de umano.

    O primeiro dia da Tesmoforia era celebrado o kathodos(baixada) e o

    nodos(subida), um ritual em que as sacerdotisas castas levavam leites para seremsoltos dentro de grutas profundas cheias de serpentes e os restos decompostos dosporcos do ano anterior eram recolhidos.

    O segundo dia era chamado de Nesta, nele as mulheres jejuavam, sentadas no cho,imitando a forma ritual dos processos da natureza e, de acordo com uma perspectivamitolgica, representando a dor de Demter pela perda da filha, quando, inconsolada, sesentou ao lado do poo. O ambiente era triste e, portanto, no se usavam guirlandas.

    No terceiro dia, se celebrava um banquete com carne e os leites recolhidos (do anoanterior) eram espalhados na terra arada, e se invocava a Deusa de belo nascimento,kalligeneia.

    MISTRIOS ELEUSIANOSO propsito e o significado dos Mistrios Eleusianos era a iniciao uma viso.Eleusis, significa o lugar da feliz chegada, de onde os campos Elseos tomam seunome. O termo Mistrios provm da palavra muein, que significa fechar tanto osolhos como a boca. Faz referncia ao segredo que rodeia as cerimnias e aconformidade requerida do iniciado, ou seja, se exige de ele ou ela permita que se faaalgo: da se deduz o significado de iniciar. A culminao da cerimnia consistia naexposio de objetos sagrados no santurio interno mos do sumo sacerdote ouhierofante (hiera phainon), o que faz que os objetos sagrados apaream. Era somente

    permitido fazer aluses indiretas sobre o que ocorria. Entre elas, a fundamental era queDemter falava sua filha e se reunia com ela em Eleusis. Mas, alguns escritores

    cristos violaram essa regra e um assinalou que o ponto culminante da cerimniaconsistia em cortar uma espiga de trigo em silncio.

    Qualquer pessoa podia assistir os Mistrios, desde que falasse grego, mulheres eescravos inclusive, desde que no tivessem as mos sujas de sangue por nenhum crime.Os Mistrios eram realizados uma vez ao ano para mais ou menos trs mil pessoas. Sesabe que esses iniciados no formavam nenhuma sociedade secreta, eles vinham detodos os pontos da Hlade, participavam da experincia e logo se separavam.

    Os Mistrios menores, que se celebravam at o final de inverno no ms das flores, oAntesterion (nosso fevereiro) e era pr-requisito para a participao nos Mistriosmaiores, que se celebravam no outono. Esses Mistrios exploravam o que havia

    acontecido Persfone, Deusa do Mundo Subterrneo, quando estava colhendo floresem Nisa. Se diz que ela foi raptada por Hades enquanto colhia um narciso de cem

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    cabeas. Os gregos chamavam de narciso toda a planta que tinha propriedadesnarcticas.

    Esse rapto representa vrias idias, uma o processo que experimenta a semente ao cairna terra e decompem-se para voltar de novo vida. Que se representavasimbolicamente como as primeiras npcias entre os reinos da vida e da morte.

    Porm, tambm representa o rapto exttico que proporcionavam certas substncias queestavam relacionadas com Dionsio, deus da embriaguez, que por sua vez era Senhor deHades por sua relao com tudo que apodrecia, fermentava e se transformava em outracoisa.

    O primeiro estgio da iniciao no Mistrios menores era o sacrifcio de um porcojovem, o animal consagrado Demter, que substitua simbolicamente a morte doprprio iniciado. Como nas Tesmoforias esse rito se ajusta variante rfica do mito,que associava a morte do leito com o rapto de Persfone.

    O segundo estgio da iniciao era uma cerimnia de purificao na qual o iniciado era

    vendado. As sucessivas etapas dos ritos de iniciao so descritas, atravs de aluses,inteligveis para os j iniciados, porm no para os profanos. O acontecimento centraldos Mitos Eleusinos era a noite em que se consumia a poo sagrada Kykeon. Osingredientes dessa poo se constituiu um segredo durante esses 4 mil anos.

    Os Mistrios maiores se celebravam a princpio cada cinco anos. Mais tarde passarama celebrar anualmente, no outono: comeava no dia 15 do ms Boedromin (nosso msde setembro) e duravam nove dias. Se reuniam iniciados de todos os lugares do mundohelnico e romano, e se declarava uma trgua entre as cidades estado gregas durantequarenta e cinco dias, desde o ms anterior at o ms seguinte.

    Na vspera do incio, se levavam os objetos sagrados, o hier, de Demter em

    procisso desde Eleusis at Atenas.1- dia 15 do boedromion: Agyrmos, reunio. Proclamao:Nesse dia tinha lugar a convocao e preparao dos iniciados. Os hierofontesdeclaravam o prorrhesis, o incio dos ritos.

    2 dia- 16: Elasis ou Helade Mistay: Ao mar, iniciados!No segundo dia os iniciados se purificavam no mar (Falero), num rito chamado deexpulso. Durante nove dias fariam estas ablues na gua do mar, nove dias comoDemter peregrinou pela terra em busca da verdade sobre o rapto de Persfone. Nessemesmo dia, os iniciados sacrificavam um leito enquanto o hierofante os instava:Helade, Mysthai!

    3 dia- 17: Hiereia Deuro: SacrifcioParece que nesse dia se celebravam o sacrifcio oficial em nome da cidade de Atenas.

    4 dia- 18: AsclepiaEsse dia era chamado de Asclepia em honra de Asclepio, deus da cura, era outro dia de

    purificao.

    5 dia- 19: Yacs ou Pampa, procissoEsse era um dia de celebrao onde se realizava um grande procisso que inciava emCeramico (Cemitrio de Atenas) at Eleusis, seguindo o itinerrio sagrado. Percorriamuns 32 Km. Algumas sacerdotisas levavam as hiers em kistasfechadas, ou cestas,rodeadas por uma multido que danava e gritava o nome de Yaco, cuja esttua,

    coroada de myrto e carregando uma tocha.

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    Yaco era o outro nome de Dionsio que, segundo a lenda rfica, era filho de Persfone eZeus, pai da mesma. Fui concebido em uma noite em que o deus se aproximou de umacaverna subterrnea transformado em serpente. No se tratava de Dionsio, deus dovinho e do touro (cujo equivalente o cretense Zagreo), deus que desmembrado,

    porm vive de novo. Era Dionsio como criana de peito mstico, o deus que morre e

    vive eternamente, imagem da renovao perptua.Na fronteira entre Eleusis (era uma cidade pequena 30km noroeste de Atenas) eAtenas, pessoas mascaradas parodiavam a procisso. Encenavam o mito que relatavacomo Yambe ou Baubo animou Demter. Como em tantas festas de renovao,

    preparavam o nascimento do novo para substituir o velho. Quando as estrelasapareciam, os mystai (iniciados) rompiam seu jejum, pois o dia vigsimo do mshavia chegado e segundo as Ranas de Aristfanes, o resto da noite passavam entrecantos e bailes. Os templos de Poseidn e rtemis se abriam para todos, porm atrsdeles estava a porta que dava ao santurio, e nada, exceto os iniciados, poderiam passarsob pena de morte.

    6 dia 20: Telete (mysteriodites Nychtes)Esse era um dia de descanso, jejum, purificao e sacrifcios, de acordo com o mito dejejum de Demter, representando o ritual de esterilidade do inverno. O jejum se rompiacom a bebida de cevada, mel e poln (Kykeon) que preparavam e ento se permitia queos iniciados entrassem no santurio sagrado. Essa celebrao acontecia em um lugarchamado de Telesterion, chamado assim porque aqui se alcanava o objetivo outelos. Era um local enorme, que podia albergar milhares de pessoas e onde se exibiamos objetos sagrados de Demter. No centro estava o Anactoron, uma construoretangular de pedra com uma porta em um de seus extremos, que s o hierofonte podia

    passar. Essa era a parte mais reservada dos Mistrios eleusianos.

    Mas o que exatamente ocorria neste momento?Seria o comeo da prpria iniciao?Parece que se desenvolvia em trs etapas: drmena, o feito (Ao); legmena, o dito(texto falado); deiknmena, o mostrado (viso). Depois tinha lugar uma cerimniaespecial conhecida como epopta, o estado de haver visto, se celebrava para osiniciados do ano anterior.

    Em drmena os iniciados participavam de um desfile sagrado pelo qual se representavao relato de Demter e Persfone. Os legmena consistiam em invocaes ritualsticascurtas, pequenos comentrios que acompanhavam o desfile e explicavam o significadodo drama. Os deiknmena, a exibio dos objetos sagrados, culminava na revelao

    proferida pelo hierofante, cuja difuso era proibida. Os epopta tambm incluiam aexibio de hier, no se sabe ao certo o que eram esses objetos sagrados. Segundo as

    fontes arqueolgicas de A. Krte (Zu den Eleusinischen Mysterien, Archiv frReligions Wissenschaft 15, 1915, 116) supe-se que a enigmtica cesta que tomavamos iniciados, entre outros objetos, havia um que representava o rgo sexual feminino, oqual, em contato com o corpo dos mystai, contribua com a sua regenerao e passavama ser considerados filhos de Demter.

    M. Picard (Lpisode de Baub dans les mystres dpleusis, Revue dhistoire desreligions 1927, 220-255) adiciona o rgo masculino. O iniciado tocariasucessivamente os dois objetos, simbolizando assim a verdadeira unio sexual.

    7 dia- 21: EpopteiaSomente tarde tinha incio os ritos secretos. Em determinado momentos deviam

    pronunciar uma contra-senha sagrada:Jejuei, bebi o kykeon, o tomei do canasto(calathus) e, depois de prov-lo o coloquei de novo no canasto e dali, ao cesto.

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    Misteriosas palavras, que sem sombra de dvida, tinham grande significado para osiniciados. Todo o resto do dia era passado em compasso de espera e somente noite osiniciados entravam no santurio. Um muro sua direita impedia que vissem o local daRocha sem alegria (local em que se supe que a Deusa Demter esteve sentada).Ouviam lamentos procedentes dali. Chegavam ao Telesterion e depositavam os leites

    nas mgara, uma espcie de sto do templo. Em seguida peregrinavam fora doTelesterion em busca de Core (Persfone), na escurido e com a cabea coberta comuma carapua que no lhes permitia ver nada, cada iniciado era guiado por ummystagogo. Imagine andar na escurido, totalmente desorientado, esperando emsilncio, at que um gongo soa como um trovo e o hierofonte clamando por Core, atque o mundo inferior se abre e das profundezas da terra aparece a Deusa. Da um clarode luz enche a cmara, crescem as chamas da fogueira e o hierofonte canta:

    -A Grande Deusa deu luz a um filho sagrado: Brimo pariu Brims. Ento, em

    silncio profundo, levanta com a mo uma espiga de trigo.

    Para que entendam, Brimo era uma Deusa do Mundo Inferior em Teslia, ao norte. Os

    nomes Brimo e Brims sugerem introduo da agricultura e de que nos Mistrios daGrcia houve influncia tesalia.

    Mas que esto fazendo Brimo e Brims em Eleusis?

    Kernyi diz que Brimo fundamentalmente um nome que designa a rainha do reinodos mortos, atribudo Demeter, Core e Hcate em sua qualidade de Deusas do MundoInferior. Nesse caso, o filho o esprito da renovao concebido no Mundo Inferiorcomo testemunho vivo de que na morte h vida, j que est na riqueza da colheita, otesouro do conhecimento intuitivo espiritual.

    Brimo, portanto, foi o nome dado ao filho de Persfone, ao qual ela deu luz no infernoem meio as chamas. Esse nome parece referir-se Dionsio, o deus de vida

    indestrutvel.8 dia 22: Plemochoai

    Era dia de sacrifcio e festa. Sacrificavam-se touros Demter e Persfone (Core) eoutros animais, especialmente leites. Este festival era chamado Plemochoai, porqueesse era o nome dado aos vasos (ou taas) que o sacerdote enchia com um certo lquidoe, virando-se para oeste e depois para leste, derrama ao solo o que continham. O povo,olhando para o cu, grita chuva! e, olhando para a terra, grita concebe!, he, ke.

    Harrison escreve que o rito do matrimnio sagrado e o nascimento da crianasagrada.era o mistrio central. Entretanto, a cerimnia final nos mostra omatrimnio simblico da chuva celestial com terra, que havia de conceber o filho dogro (da semente), porm existia a possibilidade se ser celebrado esse casamentosimblica ou literalmente, entre o hierofante e uma sacerdotisa antes do regresso deCore.

    9 dia 23: EpistrofeNeste dia os iniciados voltavam Atenas. Eleusis voltava a velar-se em seus mistrios,enquanto se despedia dos visitantes, agora renascidos, levando consigo as experinciasde vinculao com as divindades. Assim acabam os Mistrios de Eleusis.

    A gesto desse culto era exclusiva das famlias aristocrticas, com funes definidaspara cada uma delas. O sumo sacerdote, o chamado hierofante, devia pertencer a famliados Eumlpidas, enquanto a famlia dos Crices procediam dos sacerdotes de traoimediatamente inferior, o portador da tocha. A sacerdotisa vivia sempre no santurio. Ohierofante ostentava o privilgio de escolher seus iniciados. Sobre todos eles se

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    sobrepunha uma outra figura, o chamado arconte rei (archon basileus) no eleusino, queera ateniense (era os atenienses que controlavam o culto), ao qual assiste uma equipe decolaboradores (epistatai), encarregados das finanas.

    MORRER PARA RENASCERMorrer para renascer, esse o sentido da iniciao. O sangue dos animais sacrificados

    simbolizavam a prpria morte do iniciado. Plutarco que nos diz que morrer seriniciado. S atravs da morte se regressa luz. Clemente e Foucart realmente esto deacordo com essa idia: representar a busca de Demter e identificar-se com Persfone

    precisamente vagar no mundo subterrneo da morte, do mesmo modo que encontrarCore retornar vida depois da morte.

    Esse mito grego recupera um mito bem mais antigo conhecido como a Descida deInanna, que vai e vem entre ambos os mundos. Persfone aqui a faceta da me quedesce e regressa de novo me, configurando uma totalidade nova. Se percebeclaramente uma continuidade nessa relao: vida em morte e morte em vida. Se vatravs de uma a outra, e isso liberta a humanidade de sua natureza de entidades

    antagnicas. Quando me e filha se percebem como uma nica realidade, nascimento erenascimento se convertem em fases que provm de uma fonte em comum: atravs dadita percepo se transcende a dualidade.

    A DEUSA TRPLICEA triplicidade pode ser vista na lua, que : crescente, cheia e minguante. E, no fato daDeusa reger o mundo superior, a terra e o mundo inferior. Ela era tambm a Donzela ouVirgem, a Me e a Anci, as trs principais fases da vida de toda a mulher. PoisDemter se v Donzela em sua filha Cor. Me desta filha e de tudo que brota ecresce. Mas, ao perder sua filha Cor para Hades, torna-se Anci associadadiretamente com a morte.

    Para cada fase ou ciclo h perdas que devem ser vivenciadas por todas as mulheres. Noprimeiro ciclo, visualiza-se a morte da donzela, que torna-se uma jovem nubente e uma iniciao para fase seguinte, que se tornar me, abenoada com seus prpriosfilhos. Quando a Me no pode mais conceber (menopausa), passa a tocha damaternidade para filha, transferindo para ela todos os poderes da fecundidade. A morteda me, constitui a mulher idosa que tem agora o potencial para ingressar na esferaespiritual das ancis, guardis dos mistrios da morte.

    Hoje estes ciclos raramente so reconhecidos e vividos plenamente pelas mulheres, pelofato de habitarem um mundo predominantemente masculino. A realidade moderna ecientfica tornou a Me uma mquina biolgica de produo de bebs, que favoreceou prejudica a poltica financeira de uma determinada sociedade.

    DEMTER HOJEPor mais belo que se pinte um quadro de uma me com o filho nos braos, ele estarlonge de ser a realidade para a maioria das mes das sociedades industrializadas eurbanas do Ocidente. As presses financeiras, privam a mulher de permanecer no seioda famlia, cuidando de seus amados filhos. At a licena-maternidade, atravs de duras

    penas conseguida, possui um tempo vergonhosamente limitado, pois a volta ao trabalhoquase de imediato, no permitem que a me acompanhe o desenvolvimento de seu beb.Alm de ser estigmatizada por tal feito, pois ter um filho em nossos dias, significa estarfora de ao, inativa e lhes somente permitido olhar saudosamente para o mundo quecaminha sem elas.

    Demter sofre com o eclipse em nossa civilizao. As mulheres que representam seumodo de ser, no tm condies de competir com as mulheres mais instrudas, pois a

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    Demter natural no to intelectualizada. Ela adora apenas criar seus filhos e acabaficando muito sentimentalizada, tratada com condescendncia e destituda do poder porsuas irms feministas.

    Demter nas antigas comunidades agrrias, tinha dignidade, autoridade e uma vidabastante gratificante. Tudo se perdeu numa sociedade onde tudo subserviente s

    exigncias econmicas do monoplio do consumo.Por Rosane Volpatto.

    http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/09/22/a-deusa-demeter-e-os-misterios-eleusis/

    http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/09/22/a-deusa-demeter-e-os-misterios-eleusis/http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/09/22/a-deusa-demeter-e-os-misterios-eleusis/http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/09/22/a-deusa-demeter-e-os-misterios-eleusis/http://www.deldebbio.com.br/index.php/2008/09/22/a-deusa-demeter-e-os-misterios-eleusis/