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 ISSN 2177-2851 REVISTA ESTUDOS POLÍTICOS Nº 6 (2013/01) Entrevista Artigos Editorial 6, 2013/01 [3-4] Editorial 6, 2013/01 [5-6] Entrevista com Fernando Henrique Cardoso [7-21] Interview with Fernando Henrique Cardoso [22-36] Pedro Luiz Lima As implicações de ressentimentos acumulados e memórias de violência política para a descentrali zação administrativa em Moçambique [162-180] The implications of accumulated grievances and memories of political violence to the administrative decentralization in Mozambique [181-199] Victor Igreja O triângulo Irã-Israel-Azerbaijão: implicações para a segurança regional [200-214] The Iran-Israel-Azerbaijan triangle: implications on regional security [215-228] Maya Ehrmann, Josef Kraus e Emil Souleimanov O retorno do confito: a democracia republicana [229-244] The return of conict: republican democracy [245-260] Maria Aparecida Abreu Introdução [37-40] Introduction [41-43] Bruno Carvalho A interface entre raça e identidade nacional no Brasil e na África do Sul [44-60] The interface of Race and National Identity in Brazil and South Africa [61-76] Graziella Moraes De Gramsci à Teoria das posses essenciais: política, cultura e hegemonia em “os 45 cavaleiro s húngaros” [77-101] From Gramsci to the theory of essential possessions: politics, culture and hegemony in the ‘The Hungarian Knights’ [102-125] Raquel Kritsch Limites da Política e esvaziamento dos confitos: o jornalismo como gestor de consensos [126-143] The limits of politics and the deation of conicts: journalism as a manager of consensus [144-161] Flávia Biroli Dossiê Cultura e Política, organizado por Bruno Carvalho Interview Articles Culture and Politics dossier, organized by Bruno Carvalho

6p345-353

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  • ISSN 2177-2851REVISTA ESTUDOS POLTICOSN 6 (2013/01)

    Entrevista

    Artigos

    Editorial 6, 2013/01 [3-4]

    Editorial 6, 2013/01 [5-6]

    Entrevista com Fernando Henrique Cardoso [7-21]

    Interview with Fernando Henrique Cardoso [22-36]

    Pedro Luiz Lima

    As implicaes de ressentimentos acumulados e memrias

    de violncia poltica para a descentralizao administrativa

    em Moambique [162-180]

    The implications of accumulated grievances and memories

    of political violence to the administrative decentralization

    in Mozambique [181-199]

    Victor Igreja

    O tringulo Ir-Israel-Azerbaijo: implicaes para a

    segurana regional [200-214]

    The Iran-Israel-Azerbaijan triangle: implications on

    regional security [215-228]

    Maya Ehrmann, Josef Kraus e Emil Souleimanov

    O retorno do conflito: a democracia republicana [229-244]The return of conflict: republican democracy [245-260]Maria Aparecida Abreu

    Introduo [37-40]

    Introduction [41-43]

    Bruno Carvalho

    A interface entre raa e identidade nacional no Brasil

    e na frica do Sul [44-60]

    The interface of Race and National Identity in Brazil

    and South Africa [61-76]

    Graziella Moraes

    De Gramsci Teoria das posses essenciais: poltica, cultura

    e hegemonia em os 45 cavaleiros hngaros [77-101]

    From Gramsci to the theory of essential possessions: politics,

    culture and hegemony in the The Hungarian Knights [102-125]

    Raquel Kritsch

    Limites da Poltica e esvaziamento dos conflitos: o jornalismo como gestor de consensos [126-143]

    The limits of politics and the deflation of conflicts: journalism as a manager of consensus [144-161]

    Flvia Biroli

    Dossi Cultura e Poltica, organizado por Bruno Carvalho

    Interview

    Articles

    Culture and Politics dossier, organized by Bruno Carvalho

  • ISSN 2177-2851REVISTA ESTUDOS POLTICOSN 6 (2013/01)

    Artigos A Economia poltica da dcada bolivariana: instituies,

    sociedade e desempenho dos governos em Bolvia, Equador

    e Venezuela (1999-2008) [261-277]

    The political economy of the bolivarian decade: institutions,

    society and government performance in Bolivia, Ecuador and

    Venezuela (1999-2008) [278-293]

    Dawisson Belm Lopes

    Dois liberalismos na UDN: Afonso Arinos e Lacerda entre o

    consenso e o conflito [294-311]Two types of liberalism in the National Democratic Union (UDN):

    Afonso Arinos and Lacerda between consensus and conflict [312-329]Jorge Chaloub

    Breve roteiro para redao de um projeto de pesquisa [345-353]

    Brief guidelines for drafting a research project [354-362]

    Jairo Nicolau

    Projeto, democracia e nacionalismo em lvaro Vieira Pinto:

    Comentrios sobre Ideologia e desenvolvimento nacional

    [330-336]

    Project, democracy and nationalism in lvaro Vieira Pinto:

    Comments on Ideologia e Desenvolvimento Nacional [Ideology and National Development] [337-344]Joo Marcelo Ehlert Maia

    Edio facsimilar de Ideologia e Desenvolvimento Nacional

    [facsimile]

    Alvaro Vieira Pinto

    Pesquisa e

    projeto

    Isebianas

    Articles

    Research and research project

    Isebianas

  • REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851

    Breve roteiro para redao de um projeto de pesquisaJairo Nicolau

    Jairo Nicolau

    Professor Titular do Departamento de Cincia Poltica da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro.

  • BREVE ROTEIRO PARA REDAO DE UM PROJETO DE PESQUISA

    Jairo Nicolau

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    REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851

    Escrever projetos de pesquisa uma atividade recorrente na vida de um profissional de Cincias Sociais. Os principais programas de Cincia Poltica, por exemplo, exigem que, em algum momento da sua formao, o aluno apresente um projeto de pesquisa para se qualificar ao ttulo de doutor. No Brasil (e provavelmente em todo o mundo), os pesquisadores dedicam um bom tempo na redao de projetos para serem submetidos s

    agncias governamentais e organizaes privadas.

    Algumas instituies definem a estrutura do projeto nos editais de seus concursos. Mas esta no a regra comum. Quase sempre, cabe aos pesquisadores e aos alunos definirem a estrutura do projeto que ser submetido. Tenho frequentemente participado de bancas e lido muitos projetos de pesquisa e percebo que eles apresentam alguns problemas recorrentes.

    Boa parte deles poderia ser evitado se o pesquisador tomasse algumas precaues.

    Acredito que dois fatores tm contribudo para que os projetos fiquem aqum do desejado pelos avaliadores. O primeiro, j mencionado, que as organizaes de pesquisa e os programas de ps-graduao no tm o hbito de apresentar os parmetros do que esperam como um bom projeto. O segundo que os alunos quase nunca so treinados durante a sua formao para redigirem projetos de pesquisa. Percebo em certos ambientes uma naturalizao da redao desse tipo de texto. A verso mais ou menos a seguinte: basta que o aluno encontre o seu tema (o problema de pesquisa) que, a seguir, projeto

    aparece. Ou seja, o projeto gerado por fiat.

    Infelizmente, boas ideias de pesquisa acabam sendo prejudicadas por projetos frgeis. O propsito deste texto apresentar um roteiro para auxiliar alunos de ps-graduao a elaborar um projeto de pesquisa. Ele foi escrito prioritariamente aos alunos que esto elaborando projetos de doutorado. Mas creio que ele possa ser adaptado para pesquisadores

    que pretendem submeter os seus projetos de pesquisa s agncias de fomento.

    O texto esta dividido em dois segmentos. O primeiro trata especificamente dos diversos componentes do projeto: resumo, objetivos, justificativa, reviso da literatura, hipteses, mtodos e estrutura dos captulos. O segundo explora trs tpicos de interesse geral: o

    tamanho a apresentao do projeto e as relaes com o orientador.

  • BREVE ROTEIRO PARA REDAO DE UM PROJETO DE PESQUISA

    Jairo Nicolau

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    REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851

    Os componentes do projeto

    1. O resumo

    Vale a pena dedicar tempo para fazer o melhor resumo possvel. Ele um atalho

    fundamental para os avaliadores de seu projeto. Um resumo bem feito prende a ateno

    do leitor e o estimula a ir adiante na leitura.

    No caia na tentao, to frequente, de cortar e colar trechos do projeto no resumo.

    Rediga um texto curto (entre 100 e 300 palavras) e original, enfatizando os trs

    aspectos fundamentais da pesquisa: o que voc pretende fazer; por que importante

    fazer; e como ser feito.

    2. Os objetivos da pesquisa

    O principal tpico que um leitor de um projeto quer saber : qual o propsito da

    pesquisa? No deixe o leitor passar por vrias pginas (em geral de reviso bibliogrfica) para encontrar, escondido, no meio de um pargrafo, a frase esperada: o objetivo da

    pesquisa ..... Seja explcito e dedique pelo menos um pargrafo discorrendo sobre o que

    voc pretende fazer.

    Muitos projetos insistem em diferenciar os objetivos gerais e especficos. A distino entre os dois quase sempre imperceptvel e pouco esclarecedora. Minha sugesto que

    voc se concentre em apresentar os propsitos gerais da pesquisa, deixando de lado a

    enumerao dos a sub-objetivos da pesquisa.

    Alguns preferem abrir uma seo unicamente para tratar dos objetivos da pesquisa.

    Outros diluem os objetivos na discusso mais geral da pesquisa. Escolha o que achar mais

    conveniente. O mais importante deixar claro para o leitor, o mais rpido possvel, o que

    pretende fazer com a sua pesquisa.

    3. A justificativa

    A justificativa uma das sees mais importantes de um projeto. Nela o pesquisador deve salientar qual a relevncia da pesquisa. Ou seja, as razes intelectuais e sociais pelas

    quais o projeto deve ser aprovado e, na maior parte da vezes, financiado.

    Nas cincias sociais, a discusso sobre o que uma pesquisa relevante tem, muitas

    vezes, levado a um debate estril. Minha sugesto o que aluno aponte a relevncia

    da pesquisa em uma das duas dimenses (social e intelectual) salientados por King,

    Keohane, & Verba (1994, p. 15):

    Idealmente, todos os projetos de pesquisa em cincias sociais devem satisfazer a dois critrios.

    Primeiro, um projeto de pesquisa deve apresentar uma questo que importante no mundo real.

    O tpico deve ter consequncias para a vida poltica, econmica e social, para o entendimento

    de algo que significativamente afete a vida de muitas pessoas, ou para predio de eventos que

    podem ser negativos ou benficos. Segundo, um projeto de pesquisa deve fazer uma contribuio

    para uma literatura acadmica identificvel, que aumente nossa habilidade coletiva para construir

    explicaes cientficas sobre algum aspecto do mundo.

    Sempre que possvel apresente a relevncia social de sua pesquisa. Para alguns temas,

    esta tarefa mais fcil. Um aluno que estuda programas de combate a pobreza, avalia

    determinados programas sociais ou discute modelos de participao poltica no ter

    muitas dificuldade em apont-la. Para outros temas de pesquisa, a tarefa mais difcil.

  • BREVE ROTEIRO PARA REDAO DE UM PROJETO DE PESQUISA

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    Mas um projeto no pode deixar de assinalar a relevncia intelectual da pesquisa.

    Procure deixar claro para o leitor qual a contribuio da sua pesquisa para ampliar o

    conhecimento de uma determinada rea. Por isso, sugiro que a justificativa deve estar associada ao levantamento do estado da arte da bibliografia sobre o tema a ser estudado.

    4. A reviso da literatura

    Realizar um cuidadoso levantamento bibliogrfico condio necessria para se realizar uma boa pesquisa. Para fazer um nova contribuio ao estoque de conhecimento de

    um determinada rea, fundamental que voc esteja familiarizado com a literatura

    pertinente. O conhecimento do estado da arte da pesquisa j realizada sobre o seu tema

    reduzir as chances de que voc perca seu tempo repetindo esforos j feitos ou oferea

    contribuies irrelevantes. Alguns temas pouco tratados exigiro cuidadosa pesquisa

    bibliogrfica. Outros assuntos mais cannicos tm sido frequentemente resenhados em revistas especializadas e livros1.

    Embora a reviso da literatura seja decisiva, sou da opinio de que ela no deve ser

    apresentada exaustivamente no projeto. Faa uma pesquisa bibliogrfica detalhada e tente buscar as referncias mais recentes sobre o seu tema de estudo. Organize essas referncias

    do jeito que preferir: notas, fichamentos, resenhas, listas bibliogrficas. Compartilhe-a com seu orientador e com colegas. Mas no esquea que o projeto de pesquisa no lugar para

    demonstrar erudio e controle de uma determinada subrea de conhecimento.

    No projeto trate apenas da literatura que tem associao direta com o seu problema

    de pesquisa. Por exemplo, em um projeto que pretende investigar a estrutura interna

    de um partido brasileiro, voc no precisa fazer uma reviso de todos os textos sobre

    organizao partidria j escritos; algo como: de Robert Michels aos nossos dias. Neste

    caso, talvez seja mais relevante localizar textos mais recentes que discutam a organizao

    partidria em novas democracias, ou uma tipologia que inclua novos formas de partido em

    regimes polticos de baixa institucionalizao partidria.

    Uma sugesto conectar a reviso da literatura justificativa do projeto. A estrutura de argumentao pode seguir o seguinte roteiro: o meu tema Z; identifiquei na literatura uma ausncia de estudos ou um tratamento insuficiente sobre Z; minha pesquisa pretende cobrir esta falha (ou ausncia) da maneira X.

    Para este esforo de localizar o seu problema de pesquisa no interior de uma

    tradio intelectual no h regras de quantos trabalhos mobilizar. Para alguns temas,

    provavelmente voc precisar usar um grande nmero de autores. Para outros, basta

    a referncia a umas poucas obras. Na dvida, seja parcimonioso e no perca de vista a

    conexo de seu problema de pesquisa com a literatura.

    5. As hipteses

    Nos estudos quantitativos muito comum que os autores apresentem seus argumentos

    em forma de hiptese. Nestes textos, lemos frases, tais como: minha hiptese que

    existe uma associao negativa entre votos nulos e analfabetismo; minha hiptese que

    quanto mais urbanizada a regio, mais votos os partidos de esquerda recebem. Este

    tipo de pesquisa se prope a testar um conjunto de hipteses. O intuito verificar em que medida certos padres de associao entre variveis esperados (pelo senso comum

    ou por uma determinada teoria) sero encontrados (ou no) pela pesquisa. O padro

    confirmatrio das pesquisas de cincias sociais conhecido. Em geral, no relatrio final, a

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    pesquisa acaba confirmando a maioria das hipteses apresentadas. Mas no momento de

    redao do projeto, claro que as hipteses tm que ser apresentadas como perguntas a

    serem respondidas.

    Se voc est fazendo uma pesquisa quantitativa, a apresentao de hipteses a respeito

    da relao entre um conjunto de variveis pode ajudar a organizar a pesquisa. Mas seja

    parcimonioso, e evite numerar (Hiptese 1: .; Hiptese 2: ...) as hipteses de pesquisa.

    Embora isso d um aparente carter de cientificidade ao texto, na prtica, dificilmente ajuda a chamar a ateno para os aspectos fundamentais que norteiam a relao entre as

    variveis (King, 2006).

    Vejo alunos de todos os tipos em busca de uma hiptese que possa guiar suas pesquisas.

    Nesta busca obsessiva pela hiptese, j escutei coisas do tipo: minha hiptese que o

    conceito de dominao carismtica de Weber deriva de ...; ou, minha hiptese que o

    pensamento de Gilberto Freire foi influenciado por.... Fora do contexto das pesquisas

    orientadas para variveis (ou seja, pesquisas quantitativas), a formulao de uma

    hiptese quase nunca passa de uma apresentao de proposies triviais sobre um

    determinado assunto.

    Se voc tem um banco de dados e acredita que a apresentao de hiptese o ajudar no

    desenvolvimento da pesquisa, tudo bem. De outro modo, melhor no utilizar este formato

    para apresentar seus argumentos.

    6. Os mtodos de pesquisa

    Definido o que se quer fazer, e por que importante fazer, fundamental para o leitor saber como a pesquisa ser desenvolvida. Ou seja, o pesquisador deve apresentar os mtodos e

    fontes que ele selecionou para utilizar na pesquisa. Essa uma das sees mais importantes

    de um projeto, mas infelizmente a que, tradicionalmente, recebe menos ateno.

    comum ler projetos que, na seo de mtodo (as vezes chamada de metodologia),

    apresentam uma lista de tcnicas de coletas de dados. Em uma pesquisa sobre um

    determinado sindicato, por exemplo, leremos algo do tipo: a pesquisa utilizar entrevistas

    com lideranas polticas, visita sede do sindicato e anlise das atas das reunies do

    sindicato. Seja muito mais cuidadoso e dedique algumas pginas (pelo menos duas ou

    trs) para discutir os mtodos que sero empregados em sua pesquisa.

    Um projeto de pesquisa quantitativa exige a montagem de um banco de dados. Hoje

    existem milhares de bancos de dados organizados e disponveis para consulta em diversos

    sites. Caso voc escolha um destes para trabalhar, apresente as razes da escolha. importante apresentar uma lista das variveis que sero utilizadas na pesquisa. Ainda que

    inevitveis mudanas sejam feitas ao longo da pesquisa, essa primeira listagem oferece

    elementos mnimos para quem avaliar o seu projeto.

    Se a pesquisa pretende organizar um novo banco de dados, apresente a fonte de onde

    as informaes sero coletadas e uma lista das variveis que faro parte do banco. Caso

    a realizao de uma pesquisa de opinio seja parte decisiva da pesquisa, sugiro que o

    questionrio (ainda que em sua verso preliminar) seja apresentado como anexo. Com

    isso, voc pode deixar mais claro o que pretende saber e ainda receber sugestes de seus

    avaliadores para aperfeioar o questionrio.

    Evite apresentar anlise de dados no projeto. Tabelas, grficos e testes estatsticos s devem fazer parte do projeto em casos extremos, quando seus resultados estiverem

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    associados substantivamente ao problema de pesquisa. Mas em qualquer circunstncia

    dedique pelo menos um pargrafo para apresentar as possveis tcnicas estatsticas

    que sero utilizadas para anlise do banco de dados: estatstica descritiva; estatstica

    inferencial; sries temporais; anlise multivariada (regresso linear; logstica), etc.

    Cientistas polticos tendem a naturalizar o uso de mtodos de coleta de dados no-

    quantitativos. Existe uma extensa literatura sobre o uso de etnografia, entrevistas, anlise de documentos e fontes histricas em cincia poltica. Coletar evidncias e

    dar um tratamento adequado ao material qualitativo exige um bom treinamento. Leia

    algumas obras de referncia sobre estas tcnicas e deixe claro que tem um conhecimento

    satisfatrio daquelas que pretende utilizar na pesquisa.

    Se sua pesquisa pretende fazer um estudo de caso, ou comparar um nmero reduzido de

    casos, minha sugesto apresentar uma boa razo intelectual para faz-lo. Seja cuidados

    ao apontar a justificativa para a seleo de seus casos. Lembre-se que a escolha de um caso, ou de um nmero reduzido de casos, trar inevitveis perguntas: o que voc pode

    aprender sobre o funcionamento do presidencialismo, comparando Brasil e Argentina?

    Por que somente estes dois pases, e por que no incluir os vizinhos Uruguai e Chile?

    Por que no toda a Amrica Latina? Por que no todos os pases presidencialistas?

    Hoje existe uma extensa literatura sobre as virtudes e os limites dos estudos de caso

    e sobre como selecion-los de maneira cuidadosa (George & Bennett, 2005; Gerring,

    2006; Gerring, 2008). Leia estes textos e tente conectar os problemas metodolgicos

    apresentados com a escolha do seu caso (ou casos).

    7. O cronograma e o esboo dos captulos

    Ao final do projeto apresente um cronograma das atividades que sero desenvolvidas nos meses de pesquisa. Uma sugesto colocar todas as informaes em um quadro,

    preferencialmente apresentado em uma nica pgina (ver o exemplo baixo). Alm de

    facilitar a leitura, o cronograma apresentado desta maneira oferece a possibilidade de

    obter uma viso geral das atividades que sero desenvolvidas.

    Para os alunos que esto preparando o projeto de pesquisa para a tese de doutorado

    fundamental fazer um esboo da estrutura da tese, com uma breve descrio (de poucas

    linhas) do que ser feito em cada captulo. Este pequeno exerccio ajuda muito os alunos

    a dimensionar a pesquisa futura. Lembro de um aluno que, aps organizar o seu quadro-

    cronograma, se deu conta de que seria impossvel escrever os 12 captulos planejados nos

    dois anos e meio que restavam para acabar seu doutorado.

    Exemplo de quadro com o cronograma da pesquisa:

    Meses Atividade

    Janeiro - Abril. Pesquisa bibliogrfica. Organizao Banco de Dados

    Maio - Setembro. Redao da Primeira Verso do Captulo 1

    . Anlise dos Dados e gerao primeiros testes estatsticos

    Outubro - Dezembro. Redao do Captulo 2

    . Reviso da Primeira Verso do Captulo 1

  • BREVE ROTEIRO PARA REDAO DE UM PROJETO DE PESQUISA

    Jairo Nicolau

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    REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851

    8. Os produtos

    Se voc pretende submeter o seu projeto de pesquisa a uma organizao de fomento

    pesquisa, procure dizer, de maneira mais detalhada possvel, quais sero os veculos para

    divulgao dos resultados.

    Com a consolidao do Portal do Scielo (http://www.scielo.br/) ficou fcil acessar as melhores revistas cientficas publicadas no Brasil. Hoje, elas se tornaram a mais popular forma de divulgao das pesquisas de cincias sociais feitas no Brasil.

    Por isso, alm dos tradicionais seminrios e workshops, onde os resultados da pesquisa sero compartilhados com os colegas, vale a pena se empenhar para redigir pelo menos um artigo,

    com os principais achados da pesquisa, para ser publicado em uma revista acadmica.

    9. A bibliografia

    Houve um tempo em que um estudante passava dias para organizar a bibliografia do

    seu trabalho. Hoje este esforo no mais necessrio, pois existem diversos programas

    que podem organizar suas anotaes, anexar textos e o melhor de tudo gerar

    bibliografias automaticamente.

    Se voc ainda no tem um programa de referncia bibliogrfica hora de providenciar. Existem muitos programas para este fim. Entre eles, destaco o Zotero (http://www.zotero.org/) e o Mendeley (http://www.mendeley.com/). Ambos so gratuitos, ficam sincronizados em mais de um dispositivo e so amplamente utilizados pela comunidade acadmica de

    todo o mundo. Instale um dos dois programas e gaste um dia para aprender como utiliz-lo.

    Com isso, voc se protege de ter que ouvir no dia da defesa que: diversas referncias em

    seu projeto no esto na bibliografia, ou os nomes e datas no conferem.

    Algumas instituies exigem que o projeto siga alguma norma bibliogrfica especfica (ABNT, Chicago, Turabian, APA). Neste caso, no tem escapatria a no ser se adequar

    s normas. Mas se voc tiver liberdade de escolher, sugiro adotar algum sistema autor-

    data. So aqueles que depois do nome coloca-se o ano da obra e, se for o caso, a pgina

    da citao: (Dahl, 1956: 27). Siga o mesmo sistema nas notas de rodap. Este o sistema

    mais simples e evita os insuportveis idem, ibedem, op.cit, que confundem qualquer um. Outra vantagem que ele evita que o texto fique carregado de notas que reproduzem integralmente (ou parcialmente) a referncia bibliogrfica.

    Gosto, particularmente, do modelo da American Psychological Association (APA), que utilizada neste texto. A propsito voc pode melhorar bastante a apresentao de seu

    projeto se consultar o Manual de Estilo da APA (APA, 2006).

    Lembre-se: da bibliografia devem constar apenas os textos citados no projeto. Textos que voc pretende ler, ou foram lidos, mas no foram citados, no devem fazer parte da bibliografia.

    Tpicos gerais

    O tamanho do projeto

    Muitas instituies ainda valorizam projetos longos (entre 12 mil e 20 mil palavras) quase

    sempre recheados por uma extensa reviso2. Eu tenho preferncia por projetos mais

    curtos (cerca de 8 mil palavras). Para se ter uma ideia, este mais ou menos o nmero

    mximo de palavras definidas por algumas importantes revistas internacionais de cincia poltica para aceitar um artigo para publicao3.

  • BREVE ROTEIRO PARA REDAO DE UM PROJETO DE PESQUISA

    Jairo Nicolau

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    REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851

    Uma srie de razes podem ser apresentadas para justificar a preferncia por projetos sintticos. A primeira delas est associada prpria natureza de um projeto de pesquisa.

    As imagens so um pouco desgastadas, mas v l. Um projeto uma espcie de mapa de

    navegao, um roteiro de viagem. Ele deve apresentar uma viso clara do que a pesquisa,

    as razes de sua importncia, e as linhas gerais de como ela ser implementada. Acho

    que raramente algum necessita de mais de 8 mil palavras (em torno de 20 pginas) para

    realizar essas tarefas.

    Uma segunda razo de carter pragmtico. O pesquisador no deve se esquecer que,

    em muitas situaes, seu projeto concorre com outros por recursos limitados. Imagine,

    por exemplo, uma banca de seleo para um concurso de doutorado com 50 candidatos.

    Os avaliadores devem ler, alm do dossi de cada candidato, os respectivos projetos.

    Nestas circunstncias, projetos mais concisos e objetivos tm maior probabilidade de

    despertar mais interesse e ateno.

    Uma terceira razo diz respeito ao precioso tempo das pessoas envolvidas na avaliao

    dos projetos. Todos hoje andam soterrados por leituras de teses por fazer, projetos para

    escrever, artigos para dar parecer, e-mails para responder. A leitura de um projeto de 20 mil

    palavras (cerca de 50 pginas) consome, pelo menos, meio dia de trabalho de um avaliador.

    A apresentao

    Utilize a apresentao padro dos textos. Escolha o formato da fonte; espao 1 e 1/2 e

    fonte 12. Alguns autores gostam de subdividir o texto em sees numeradas (1,1.1, 2, 2.2,

    2.3...). Particularmente, eu prefiro utilizar fontes maiores para definir as sees e menores para demarcar as subsees. Escolha a que voc preferir.

    Procure manter uma certa sobriedade na apresentao. Evite firulas, tais como capa plstica, letras muito exticas ou ilustraes triviais.

    No se esquea de fazer uma reviso de estilo. Se voc tem dificuldades de redigir com clareza, no confie exclusivamente no corretor ortogrfico do processador de texto. Contrate algum para fazer uma reviso profissional. muito desagradvel ter que ouvir do avaliador durante a defesa do projeto, ou do parecerista que leu o projeto, que o

    projeto est mal redigido e que contm erros de portugus.

    Lembre-se de que um projeto mal redigido e mal apresentado tem alta probabilidade de

    irritar o os leitores. Inevitavelmente, eles deixaro de fazer o que se espera deles: ler e

    criticar os aspectos substantivos do projeto de pesquisa.

    O orientador

    Uma dvida de todo aluno que est preparando seu projeto de doutorado quando enviar

    as verses escritas para o orientador. Muitos orientadores estabelecem regras especficas para receber e comentar as verses escritas pelos alunos. Recentemente, participei de

    uma banca em que a orientadora confessou que leu 14 verses do projeto do orientando!

    O e-mail tem facilitado a comunicao entre alunos e orientadores. O lado negativo

    que muitos alunos, sobretudo no comeo da fase de redao, submetem apreciao do

    orientador, cada pequena mudana que fazem no projeto. Ainda que ele tivesse tempo de

    sobra para ler cada verso, est no um boa opo. A razo simples. A cada releitura de

    um texto semelhante, a tendncia que a ateno do leitor seja decrescente. Tendemos a

    no ser to atentos em partes que j vimos muitas vezes. Por isso, deixamos passar erros

    banais quando trabalhamos muito tempo no mesmo texto.

  • BREVE ROTEIRO PARA REDAO DE UM PROJETO DE PESQUISA

    Jairo Nicolau

    353

    REVISTA ESTUDOS POLTICOS N.6 | 2013/01 ISSN 2177-2851

    Minha sugesto que, antes de mais nada, voc discuta a estrutura geral do projeto com

    o seu orientador. Depois disso, gaste semanas (ou meses) preparando uma a primeira

    verso completa para apreciao. Verso completa significa com bibliografia e notas e anexos, se for o caso. Isso permitir que o seu orientador tenha uma viso conjunta do seu

    trabalho e possa fazer comentrios mais pertinentes para aperfeio-lo.

    Depois de receber o texto comentado do orientador (preferencialmente acompanhado

    de uma conversa) voc ter elementos para redigir uma ltima (ou penltima) verso

    do projeto. No creio que um aluno necessite de mais de duas leituras atentas do seu

    trabalho. Isto, claro, se ao comear a redigir o projeto ele j tiver respondido as trs

    perguntas bsicas que devem orient-lo ao longo de toda a pesquisa: O que vou fazer? Por

    que vou fazer? Como vou fazer?

    Notas

    1. Ver, por exemplo: Boletim de Informao Bibliogrfica (BIB); Annual Review of Political Science; e Annual Review of Sociology.

    2. No Brasil temos o hbito de estabelecer limites dos trabalhos pelo

    nmero total de pginas. O problema que as pessoas utilizam todos

    os tipos de recurso (tipo e tamanho da fonte, formatao, espao) para

    escrever mais ou menos do que o estabelecido. Uma pgina padro

    (Arial, Fonte 12, espao 1 e 1/2) tem cerca de 400 palavras.

    3. O sistema universitrio e as revistas americanas e inglesas costumam

    estabelecer nmero de palavras como norma. Por exemplo, o European

    Journal of Political Research aceita manuscritos de no mximo 8 mil

    palavras; o Comparative Polital Sudies, de no mximo 10 mil palavras;

    o British Journal of Political Research sugere que o artigo tenha entre

    5.000 e 12.000 mil palavras.

    Bibliografia

    APA. (2006). Manual de Estilo da APA: Verso Concisa do Guia Oficial de Estilo da American Psychological Associaton. Porto Alegre: Artmed.

    GEORGE, A., L., & Bennett, A. (2005). Case Studies and Theory Development in the Social Sciences. Cambridge: The MIT Press.

    GERRING, J. (2006). Case Study Research: Principles and Practices. Cambridge: Cambridge University Press.

    GERRING, J. (2008). Case Selection for Case-study Analysis: Qualitative and Quantitative Techniques. In J. Box-Steffensmeier, M., H. E. Brady, & D. Collier (pp. 645-684). Oxford: Oxford University Press.

    KING, G., KEOHANE, R. O., & Verba, S. (1994). Designing Social Inquiry. Princeton: Princeton University Press.

    KING, G. (2006). Publication, Publication. PS: Political Science and Politics, XXXIX(1), 119-125.