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3ª edição - Poder Político

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Este livro pretende ser uma troca de ideia informal sobre aspectos da comunicação política.

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Poder Político

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Paulo Corrêa

Copyrght @ Paulo Corrêa. 2015Editora IlluminareVinhedo (SP)E-mail: [email protected] Celular: (19) 97404-3634WhatsAPP: (19) 98878-2464

Texto revisado pelo novo acordo ortográfico.

Resumo do livro

Este livro pretende ser uma troca de ideias informal sobre aspectos da comunicação política. Vai interessar aos candidatos ao poder. Vai chamar atenção de quem já detém mandato. Busquei relembrar nestas páginas as virtudes da política e mostrar o quanto ela é útil no mundo contemporâneo. É uma tentativa de resposta contra quem prega o aniquilamento do fazer político no nosso cotidiano.

Dados Internacioanis de Catalogação na Pubicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Corrêa, Paulo.Um Diálogo: Poder políticoVinhedo: Editora Illuminare, 2015.

Índice para catálogo sistemático1. Brasil, Política - Democracia, sistema republicano, estratégias

eleitorais, candidatos, políticos, conduta, mandatos, comunicação governamental, voto distrital.

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DEDICATÓRIA

Esta obra é uma singela homenagem aos dias de superação e demonstração de força da minha mãe Lucidete Pena da Silva no final de 2013 e ao gigan-tismo do meu pai Paulo Sérgio diante dos desafios

cotidiano. À minha serelepe avó Maria Dias Corrêa, septuagenária e dedicada aluna do EJA.

Agradecimento especial à professora Lourdes Giraldello e ao grupo de professores do Cotil-Uni-

camp por terem me impulsionado na graduação no início dos anos 2000. Dedico também à memória

do meu irmão José Vitorino Magalhães Pena.

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Paulo Corrêa é graduado em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo. Pós-graduado na ABJL (Associação Brasileira de Jornalismo Literário) e com MBA em Marketing pela Unimep. Atuou como repórter político na RMC (Região Metropolitana de Campinas) e na RMVALE (Região Metropolitana do Vale do Paraíba). Foi editor de publicações semanais em Limeira e assessor de imprensa no setor sindical e privado. Integrou o núcleo de comunicação das campanhas eleitorais de Hortolândia (Executivo), Iracemápolis (Executivo) e Limeira (Legislativo) em 2012. Também foi redator publicitário em 12 campanhas eleitorais no interior de São Paulo.

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O Poder Político

O poder político requer a novidade: o político altivo | pag.

Evoé aos políticos altivos | pag.

Captar recursos é tão difícil quanto conquistar votos | pag.

Para começar, desenhe um plano de poder| pag.

Uma campanha de tema ou de pessoas? | pag.

Faça um diagnóstico do cenário eleitoral | pag.

Seja claro e objetivo em seu material de campanha | pag.

Candidato desconhecido, explore sua biografia | pag.

Invista em argumentos para conquistar o eleitor | pag.

Mensagem individual com caráter coletivo | pag.

Agenda, telefone e quem faz o que na campanha | pag.

Escolha a dedo o seu coordenador de campanha | pag.

Dê destaque no seu número nos materiais de campanha | pag.

Distribuição de material: uma vantagem competitiva | pag.

Piratear campanha é suicídio eleitoral | pag.

Convoque seu time e bote o bloco na rua | pag.

A imagem e a mensagem no horário eleitoral | pag.

Facebook ou Twitter? Vá de WhatsApp e Instagram | pag.

Exemplo de parlamentares com engajamento na Web | pag.

Qualifique o discurso dos seus apoiadores nas redes sociais | pag.

Eleitores mimados, candidatos neuróticos| pag.

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Seja um novo candidato mesmo sendo o de sempre | pag.

Pior do que perder a eleição é perder votos | pag.

Reposicionamento no mercado eleitoral | pag.

Com voto distrital, domicílio eleitoral será decisivo | pag.

Estratégia para reeleição a partir do voto distrital | pag.

Ensaios - Uma breve leitura sobre a construção do poder político

Em busca de uma voz política | pag.

Insista num só tema | pag.

Família como trunfo eleitoral | pag.

O marketing político e eleitoral na telona | pag.

Comunicação Governamental

Governos devem construir sua própria opinião pública | pag.

Governos devem construir sua própria opinião pública | pag.

É preciso assegurar hegemonia política | pag.

Os partidos perderam o poder | pag.

Estatísticas da decadência | pag.

O político: um ator | pag.

Cilada para o emergente político | pag.

Seja prudente em suas opiniões inteligentes | pag.

‘Maquiavel’ mesmo era Mazarin | pag.

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Desamor pela política | pag.

Crença na Política

O fazer político é uma virtude | pag.

A política está longe de ser o palco da justiça | pag.

A política é útil | pag.

Notas & Referências Bibliográficas

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Este livro é uma reflexão sobre os nuances da comunicação política. Trato aqui de aspectos utili-taristas do processo de conquista do voto e da co-municação governamental. O objetivo é a obtenção e manutenção do poder político.

Não, não há um caco de idealismo aqui. A obra pretende ser útil como uma lanterna em meio ao breu. Principalmente para quem detêm mandato ou para quem ambiciona chegar lá.

Não, não encare estas páginas como um guia. Elas buscam ser um bate-papo informal sobre temas recorrentes dentro da comuni-cação política. Principalmente no período pré-eleitoral e no decorrer do pleito.

Trato também sobre como construir uma marca para um mandato e aproveito para chamar atenção para a novidade: o surgi-mento do político altivo. Ele é liderado, não é líder. Tem ambição benigna pelo poder político. Tem aspiração pelo mandato, mas não infringe a ética.

Enfim, o poder é o eixo central desse diálogo. Ele é o elixir do ecossistema político. A ambição política é a nossa matéria orgânica. Comento aqui como o exercício dessa autoridade política produz vítimas. Porque política é também dominação. Esta dominação exer-cer pressão, coage, reprime e impõe obediência. Isso não sou só eu quem afirma. Vários autores renomados têm essa leitura. Todos es-

Apresentação

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tão listados nas últimas páginas deste livro. Mas existe também o outro lado.

O poder político revela generosidade, caridade e idealização da humanidade na construção de sociedades mais justas. É onde re-side a minha crença na política. Na arte de construção do consenso. Também dedico um capítulo sobre este assunto. Contudo, a história ensina que na política um ato de virtude não necessariamente irá pro-duzir um benefício na vida das pessoas. O contrário também é real. En-saio explicar esse parodoxo nestas páginas.

As ideias estãodentro da gente

Neste diálogo aberto não há assertividades sobre o poder. É obra crua. Sou um entusiasta do estudo e da prática da comunicação política. Minha formação acadêmica em marketing e em jornalismo me ajuda nesta tarefa. Mas meu maior mérito foi sentar e escrever, afinal, as ideias estão dentro da gente.

Estes assuntos e reflexões ficaram perambulando na minha cabeça um bom tempo antes de tomarem corpo. Nasceram a partir de conversas com especialistas em comunicação, consultores políticos, jor-nalistas, prefeitos, ex-prefeitos, políticos, professores, anônimos e pes-soas que adoram e destratam a política ao mesmo tempo.

Aliás, desabonar a política é uma tarefa simples e a simplifi-cação é uma doença poderosa e cada vez mais potente no nosso cotidiano. Ir de encontro a esse quadro é um atrevimento, sei bem disso. Mas nasci ali na borda do Rio Jarí, fronteira do Pará com o Amapá. Quem é daqueles torrões, não nasce, se atreve. Encaramos restrições de toda sorte. Vencê-las é uma praxe. Portanto, o atrevi-mento deste esforço editorial é natural.

Influências - Esta obra reúne referências de mais de 40 livros citadas nas páginas finais. As reflexões aqui descritas foram talhadas com maior grau de legitimidade possível. Boa parte delas ao som de Tom Jobim (álbuns Matita Pereira, Stone Power, Antônio Brasileiro),

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Milton Nascimento (álbuns Minas 1975, Clube da Esquina 1972, Pietá), Maria Betânia (álbum Amor, Festa e Devoção), Billie Holiday (Summertime), Dave Brubeck (Take Five), Jonh Coltrane (coletânea). A trilha sonora foi fundamental para o desenvolvimento deste projeto. Mas sentar e escrever foi o meu maior mérito.

Este atrevimento literário é também uma homenagem aos amigos afastados do meu convívio em 2012. Uso a saudade dos ausentes e da confiança dos novos e presentes amigos como matéria-prima para confeccionar estas reflexões.

Outrossim, te convido a conhecê-la agora.

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O caminho para a conquista do poder político irá testar seus escrúpulos. Mais ainda: seus limites, sua moral, aquilo que você acredita e sua crença. É fundamental persistir. Aliás, o poder político nasce da capacidade de resiliência de quem o ambiciona.

Resiliência atesta a força de se recuperar frente as adversidades. E a maior barreira para o candidato ao poder é a força financeira, econômica e política de quem já detém o poder político.

Para viver o poder político é inescapável a conquista de uma campanha eleitoral. Portanto, quem tem ambição política e não está no poder, precisa ou quebrar este ciclo ou juntar-se a ele. Ou ainda, construir uma terceira ou quarta via.

Escolha a trilha que escolher quero te alertar para uma verdade inconveniente: sem estrutura, não há campanha. E sem domar o pleito, não é possível viver o seu poder político. No cenário atual o poder político advém do poder econômico. E vice e versa. Juntos são metástase. Romper este ciclo ou consolidá-lo cabe a sua história pessoal. O meu metiê é te ajudar a chegar lá.

Adianto, portanto, que penso e faço a campanha eleitoral de

O poder político requer a novidade: o político altivo

O Político Altivo é o novo sujeito político. Ele defende a política. Reitera virtudes e valores da política diante dos detratores

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modo pragmático. Na minha leitura ela funciona, do aspecto comuni-cacional, como um ato promocional. Seja autopromoção do candidato ou da disseminação de uma tese ou causa.

Campanha eleitoral no sistema proporcional funciona assim. Não tem mágica. É investir em metodologias do marketing promocional, um conceito que aprendi com o celebrado especialista e coordenador do curso de mestrado em Marketing da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Antônio Carlos Giuliani, em seu livro “Marketing: Estudo de Casos e Exercícios”. Como o período eleitoral tem prazo de validade, ela tem início, meio e fim. Portanto, o candidato precisa viver e vivenciar uma ação de comunicação instantânea para conquistar o seu objetivo.

Quem ambiciona ampliar a sua hegemonia política necessita de outra estratégia. Uma estratégia inspiradora. E o meu metiê, como ia dizendo a você, aponta nesta direção quando se trata de comuni-cação governamental. Quem governa ou possui mandato precisa se voltar para o marketing público, um modelo pregado pelo Nizan Guanaes. Que é o avesso do marketing promocional. Este último abraça o eleitor. Já o marketing público abraça o cidadão.

Ressalto, é claro, que são utilizadas diversas ciências dentro de um processo eleitoral. O jornalismo é uma das mais poderosas. A comunicação política é multifacetada. Assim como a vida o é. Portanto, ela suga, como uma esbonja, diversos saberes para o processo. Mas estes dois conceitos são o ponto de partida do meu trabalho.

Reafirmando, nestas páginas o caminho é o do poder político. Não o do certo e do errado. Aqui não há idolatria ao maniqueísmo. Há uma troca de ideias sobre o que é útil e o que não é para uma cam-panha eleitoral ou para a comunicação governamental. Sei que o político trafega a sua jornada equilibrando ambições pessoais e convicções transformadoras da sociedade. O poder viabiliza ambos os caminhos, às vezes, concilia. Às vezes. Mas ele nunca conseguirá equilíbrio pleno. Essa é a sua sina. É sua obra permanente em pro-gresso. Sempre conflitante. A política se desenha deste modo porque é lapidada por homens, não por softwares.

Mas lembra que eu escrevi que o poder político advém da capacidade de resiliência do político? Quem tem essa capacidade é o Político altivo. Explico mais sobre ele na página seguinte.

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Evoé aos políticos altivos

A atualidade requer um novo sujeito político: o político altivo. O político altivo advoga em fa-vor das virtudes da política, renega a sua vilania. O político altivo notabiliza a função das instituições democráticas. Por isso, ele é bem-vindo!

O político altivo atua como um arqueólogo. A cena política dos dias atuais é o seu sítio de escavações.

É neste cenário caótico que ele decanta a ação política. Ele retira a poeira cética das instituições, órgãos públicos, dos símbolos. Esse novo sujeito político busca vestígios da política idealizada do passado no fazer político contemporâneo.

Cada evidência detectada é celebrada. Afinal, significa o fortalecimento da crença na capacidade da política em promover o bem ainda nos dias de hoje. O político altivo ressucita esse tônus. Porque ele é resiliente. Esta é minha crença.

Só para deixar claro interpreto este ‘bem’ a partir da concei-tuação do filósofo Cristian Ruby. Segundo ele, o papel do filósofo é tornar a política inteligível, por mais que ela parece caótica. “O filó-sofo tem o papel de ensinar ao futuro governante a conhecer o bem,

O Político altivo trabalha para valorizar as instituições e não desacreditá-las para garantir o seu espaço político dentro delas

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a fim de que ele seja refletido na Cidade sob forma de justiça, me-dida de uma boa política”. Logo, o bem deve ser lido aqui como uma ação política que trará harmonia à cidade e virtudes ao cidadão.

Passo longe de ser filósofo ou de pretender doutrinar qualquer governante. Contudo, é preciso ler para afiar a mente. E agradeço muito ao coordenador da Escola Legislativa da Câmara Municipal de Limeira, Fernando Campos, por me apresentar ao autor e sua obra “Intro-dução à Filosofia Política”.

Esta definição de Ruby me impulsionou a pensar no papel do político altivo e sigo de mãos dadas com ela. Há ali uma eviden-te inspiração na alegórica Calípole (Cidade Bela), descrita em “A República”. Cidade erigida pelos pilares da justiça e do bem, por isso, bem ordenada. Mas como é de conhecimento geral, Aristóteles escreveu que “toda cidade visa um bem”. Um bem para sí...

Mas o espaço aqui é de um entusiasta, não de um filósofo. A problemática do bem, passa ao largo desta obra. Afeiçoei-me pelo que Ruby escreveu e assim será. Já que o político altivo resgata essa idealização ao escarafunchar o que há de bom na ação política. Ele evidencia como os canais de cidadania funcionam. Argumenta como há fortes sinais da pulsação das nossas instituições. Diz ainda que há investigação e tribunais estão em pleno vigor.

O político altivo desmonta a tese de que a política é inútil. Discorda que o sistema é imprestável.

Cassações - Eu concordo com essa tese e questiono cada vez mais se realmente vivemos num país onde o senso comum grita o seguinte: “Nada funciona no Brasil”. E aqui vai um alerta para você que é candidato ao poder: fuja desse cilada.

Há motivos para legitimar a virtudes da política no interior das instituições públicas. Tanto no Legislativo, no Judiciário e Exec-utivo. Basta olhar com atenção. Vejamos o exemplo da AGU (Advo-

O sistema não é ideal. Apenas alerto para a necessidade de sair em defesa da política ao invés de desnutrí-la

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cacia-Geral da União) em ações de ressarcimento contra prefeitos cassados. A órgão federal vem cobrando deles os custos da eleição suplementar. E olha o que vem acontecendo: evoluiu em 153% quando comparado as eleições de 2012 e 2014.

As ações são movidas para cobrar de candidatos cassados ou barrados, após serem eleitos, os gastos da Justiça Eleitoral com a realização de um novo pleito. Foram R$ 116,9 mil recuperados em 2014 contra R$ 46,1 mil ressarcidos em 2012, ano em que a AGU assinou o acordo de cooperação técnica com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o ajuizamento das ações.

Quer outro dado animador? De um total de 92 prefeitos eleitos no Rio de Janeiro em 2012, 13 já foram cassados sumaria-mente (dados de Maio de 2015). Seis foram efetivamente substituí-dos. Aumentando a lupa para outros estados da federação, a CNM (Confederação Nacional do Município) publicou um balanço em janeiro de 2014.

A entidade apontou que um ano após a posse dos prefeitos eleitos em 2012, 125 (2,2%) deles não estão mais no comando do Executivo municipal. A maior parte deles, 107, teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, número que representa 85,6% dos af-astamentos. O estado líder de troca de prefeituras foi São Paulo (21), Minas Gerais e Rio Grande do Sul (13, cada um) e Mato Grosso (dez).

Ou seja, o sistema funciona. Não é o sistema ideal. Nunca disse isso. Apenas alerto para a necessidade de sair em defesa da política ao invés de desnutrí-la. Hoje temos canais legítimos partic-ipação. Embora sejam bons canais, como o E-cidadania, são poucos massificados. Mas servem de exemplo de desenvolvimento.

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E-cidadania - O e-Cidadania é um moderno canal de participação direta das pessoas na agenda do Congresso Nacional. A proposta que pede a regulamentação do uso recreativo, industrial e medicinal da maconha (Sugestão 8/2014) foi introduzida na agenda do país por meio do Portal e-Cidadania (endereço eletrônico www12.senado.leg.br/ecidadania). O texto (em Maio de 20145) seguia em tramitação na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

Ok, você pode não se entusiasmar pela pauta. Não está em jogo aqui o mérito da pauta, contudo a possibilidade de uma pes-soa sem mandato ou grupos organizados de pautá-la. Ou seja, uma evolução do ponto de vista de cidania. Portanto, o portal é vivo, tem funcionalidades. É um instrumento a ser valorizado. E há outros canais interessantes e surpreendentes em termos de participação.

A ferramenta “Alô Senado” recebeu 1,5 milhão de men-sagens em 2014 (Fonte Agência Senado). Todas elas destinadas aos senadores. Qual sentido disso? Na minha opinião as pessoas reconhecem, aprovam e se utilizam dessas plataformas para acom-panhar mandatos, cobrar e fiscalizar. No substrato deste contato está a crença no fazer político contemporâneo. Digo isso porque acredito que ninguém se ocupa com aquilo que não acredita. Logo, não haveria mensagens se não houvesse crença na funcionalidade da ferramenta.

Outros exemplos estimulantes vem do poder Judiciário.

Intolerância - Os resultados do órgão de controle e combate a corrupção atestam a força do nosso sistema. O quadro a seguir é um exemplo disso. A atividade do Ministério Publico Federal é in-tenso. A vigília é permanente e cada vez mais sofisticada. Essa pos-tura só reforça a tese da intolerância contra a corrupção. Ela é cada

Fonte: http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/estatistica

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dia maior dentro do poder público. Impulsionada por uma parcela da sociedade que acredita na viabilidade de melhorar o nosso sistema político e democrático. Essa é matéria-prima do político altivo.

Altivo - A gestação desse conceito do político altivo amadureceu após uma conversa com o comunicólogo João Miras em 2012. Com 25 anos de atuação no mercado, com mais de 100 projetos de co-municação (campanhas e contas públicas) dentro e fora do Brasil, o especialista apontava para uma necessidade de reeducação dos políticos.

Uma percepção atestada bem antes das jornadas de Junho de 2013. A partir daí todo este estado de coisa ficou bem evidente. A desitratação da política é feita pelos detratores do poder. Eles ocupam espaços vazios, abandonados por quem não tem coragem de defender as virtudes da política. O político altivo faz este enfren-tamento porque ele é um arqueólogo da ação política.

Altivo ou não, o político precisa domar o processo eleitoral. E para isso necessita captar recursos. Na página seguinte vamos falar sobre como fazer isso.

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Captar recursos é tão difícil quanto conquistar votos

Os experimentados em captação de recur-sos específicos para campanhas eleitorais têm lá suas metodologias para fazê-lo. Escrevo aqui para quem desconhece o funcionamento desta en-grenagem dentro de uma campanha eleitoral.

A depender da dimensão da sua cam-panha, teremos as seguintes opções para o núcleo de captação: faça você mesmo, escolha um membro da equipe para esta tarefa, utilize um comitê ou con-trate um consultor.

Em qualquer uma destas configurações, o meu entendimen-to é o mesmo. Para captar recursos é preciso criar uma campanha paralela sobre sua campanha. Sim, porque você precisa convencê-lo a financiar a sua causa. E antes disso, entender quais seriam os fatores que leveriam a doar.

Portanto, de acordo com sua capacidade organizacional, crie uma comunicação direcionada. Estou falando de uma carta de com-promisso. Ou melhor, de várias. Para cada pessoa física ou jurídica, você deve personalizá-la, mas mantendo o texto geral. O importante é o conteúdo. Este documento deve esclarecer principalmente a sua história (quem é você) e como a sua candidatura representa deter-

Os doadores têm preferidocontribuir com estrutura do que ajudar financeiramente

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minada agenda que está ligada com o seu pontecial investidor. Não esqueça de indicar metas do processo eleitoral (onde você está e onde pretende chegar nos últimos 15 dias para o pleito). Argumente firmemente neste documento como a contribuição desta pessoa física ou jurídica poderá impulsionar a sua candidatura. Mencione pessoas engajadas na sua campanha, aponte valores e indique ca-nais de transparência da sua receita eleitoral.

Há uma tendência crescente, desde 2012, de muitos do-adores constribuirem de outras formas ao invés de doar dinheiro. Muitos emprestam tecnologia (Internet ou sofwtare), cedem de pessoal (profissionais especilizados), equipamento (carros) e estru-tura (imoveis). Tudo isso pode e deve ser registrado na prestação de contas do comitê ou do candidato. E é legal. Esta foi uma saída nat-ural em virtude dos custos de campanhas. Um estudo feito na RMC (Região Metropolitana de Campinas) mostram que foram movimen-tados R$ 63 milhões durante o pleito de 2012. (Leia o infográfico).

Não perca de vista, portanto, que você deve identificar fontes de financiamento, elaborar proposta e criar mecanismo de prestação de contas para que o doador acompanhe como o seu recurso vem sendo utilizado. Convencer uma pessoa física ou jurídica a investir na sua candidatura requer habilidade. É preciso sensibilizá-lo, convencê-lo da necessidade e da importância da sua contribuição. Volto a reforçar: quem doa quer ser convencido de que sua doação será bem gerida. Por este motivo sugiro que você crie, em sua website, uma plataforma para registrar a movimentação das doações. Elas já existem e são comuns. Basta incrementar como um valor diferencial da sua campanha.

Lendo um artigo do especialista Hélio de Carvalho Matos, do Instituto Brasileiro do Terceiro Setor, ele escreveu o seguinte: “Meu conselho é que ao solicitar donativos você principie por aqueles que você tem certeza que farão uma doação, por menor que seja. Em se-guida, peça àqueles sobre os quais você não tem certeza de que darão alguma coisa, mas apresentando-lhes a lista do que já contribuíram. Finalmente, não descarte aqueles que você tem certeza de que não contribuirão com nada, porque em alguns casos você estará equivoca-do”. Matos atribui a autoria do conselho a Benjamin Franklin.

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Hora de desenhar um plano de poder

Antes de desenhar um plano de poder, eu preciso te dizer o seguinte: preste atenção ao par-tido pelo qual você irá concorrer. Saiba quem dita as regras e em quem pode vir a ditar. Esse é um ponto que precede a sua candidatura. Ok?

Agora vou te dar um outro alerta originado na minha vivência de mais de uma dezena de campanhas eleitorais: se você se considera uma celebridade da Internet ou alguém que tem muitos amigos, isso é ótimo. Parabéns. Mas saiba que essa popularidade nem sempre é revertida em voto nas urnas.

Dito estas duas situações, sugiro o seguinte: Desenvolva um raio-x da sua ambição política. Com o diagnóstico teremos em mãos um plano de poder. A partir desta estratégia materializada num papel, é que vamos conseguir dar um salto de qualidade em relação aos demais concorrentes - seja no Legislativo ou no Executivo. Existem empresas especializadas em traçar este estudo, se puder, contrate-as. Mas como sei que você não é nenhum tubarão político, é possível utilizar algumas ferramentas para desenhar um plano de poder básico. Vamos lá!

O primeiro passo é estabelecer uma bandeira política. Veja

Sugiro a leitura do livro do especialista José Nivaldo Júnior chamado “Maquiavel, o Poder - História e Marketing”.

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o exemplo no infográfico ao lado. A construção da sua imagem passa obrigatoriamente por estes elementos. Ajustar o foco é o segundo. Porque você precisa segmentar o público alvo. Marcar a posição é dizer ao eleitor e aos adversário o seguinte: estou aqui, sou candida-to e tenho um objetivo. Sem esse bê-á-bá comunicacional, o seu tra-balho eleitoral tende ao fracasso. Não dá para sair atirando à esmo.

Mesmo seguindo estas regras o eleitor, um ser naturalmente distraído, precisa assimilar a sua mensagem. ‘A-í’ vai outra dica: rep-ita sempre a sua bandeira. Bata na mesma tecla. Não tenha medo de ser repetitivo. O eleitor é volúvel. Portanto, passe sempre a mesma mensagem. O tempo de campanha é cada vez mais curto. Portante, crie um argumento poderoso.

Lembro aqui que ao criar estes argumentos vale lembrar o que escreveu José Nivaldo Júnior: “O que define a vitória eleitoral, que é a forma democrática da conquista do poder, mais do que truques de marketing e propaganda, é a proposta política com

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aderência às necessidades do povo”. A citação está em “Maquiavel, o poder - História e Marketing”, editora Martin Claret. Recomendo a leitura.

Logo, você que é candidato ao poder, precisa prestar atenção ao ambiente. Tenha conciência de que nem sempre aquilo que você acredita ser urgente é de interesse do seu eleitorado. Vasculhe, por meio da sua percepção, este desejo. Ao identificá-lo junte-se a ele.

Mas só ele não basta. A corrida eleitoral é cada vez mais in-tensa. Só na RMC (Região Metropolitana de Campinas), composta na época por 19 municípios em 2012, tivemos 74 candidatos a prefeito e quase 5 mil candidatos a vereador (veja o infgráfico). Portanto, é preciso criar vantagens competitivas. Uma delas é prever o tipo de campanha que virá. Entenda mais sobre esse tema a seguir.

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José Serra, 71, meteu uma calça jeans, vestiu um cardigã azul e foi para o viaduto do Chá. Sessão de fotos. Click, click, click. Uma das mãos no bolso, outra tentativa de sorriso. Click, click, click. O look buscava transmitir alguma jovialidade do candida-to a prefeito por São Paulo em 2012.

Esta imagem era uma tentativa de contra-ataque aos sen-tidos do slogan “Um homem novo” criado para Fernando Hadd-ad, 51 anos. O ex-min-istro de Lula ostentava um penteado meticulosamente bem cuidado e com raros cabelos brancos nas fotos. Era o embate entre o novo (um homem novo, um político novo, novas ideias)contra o velho (velho homem, velho político, velhas propostas) na eleição municipal da capital paulista.

Já em 2014 a eleição presidencial, a mais acirrada desde 1989, foi pautada pelo seguinte discussão: continuidade do governo atual ou a mudança. O profissional de comunicação política sabe fazer esta distinção. O palpiteiro não. O candidato a prefeito ou a candidata a prefeitura em qualquer cidade do Brasil deve ficar atento ao tipo de campanha que ele irá disputar.

Uma campanha de tema ou de pessoas?

Em 2014 tivemos uma eleição temática: continudade x mudança. Cada eleição tem sua conjuntura política. É preciso ficar atento.

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Busque pautar o tema da eleição municipal. Desse modo você estará na dianteira. Terá uma vantagem competitiva. Este é o cenário ideal: pautar. E só é possível construí-lo com uma equipe política e de comunicação bem afinados. Ambas conhecedoras da conjutura local.

Criar uma pauta que contamine todo o cenário eleitoral não é fácil. Primeiro ela precisa ser real. Precisa ter coerência com o seu autor. Só no gogó ela não pega. Pode passar em branco pelo eleitor.

Mas ao decidir fazê-lo, é necessário utilizar os canais de comunicação disponíveis para fazer o tema reverberar na imprensa e mobilizar seus apoiadores virtuais e físicos.

É preciso medir o time dessa estratégia. Além de moldar a proposta. Exemplo: durante o lançamento do plano de governo da sua candidatura à prefeitura defina como prioridade estratégica a construção de um hospital municipal.

Os seus adversários dirão que a cidade não tem capacidade financeira para isso. Mas jamais negaram a necessidade de um hospital. O que importa é que o tema saúde pública permeie toda a campanha. Ponto para você. Agora você deve mostrar como vai viabilizar o projeto e seguir em frente.

Busque pautar o tema da eleição municipal. Você

sempre estará um passo à frente dos seus adversários.

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Qualquer tolo com sorte pode nascer em meio ao poder, mas conquistá-lo para si dá trabalho

PODER POLÍTICO NA TELONA

FICHA TÉCNICASÉRIE: GAME OF TRONESPERSONAGEM: LORD VARYSAUTOR: R.R MARTIN

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Fuja da indústria do palpite

Em 2014 um candidato a deputado estadual da RMC (Região Metropolitana de Campinas) inves-tiu pesado no pleito. Tombou por uma diferença aproximada de 50 votos. Um dos motivos para o fracasso eleitoral dele foi a desprofissionalização.

O amadorismo corroeu principal-mente o seu núcleo de comunicação política. O mais curioso foi a postura adotada após o resultado das urnas. Não contente com o revés, o candidato ainda teve fôlego para enxoval-har o seu eleitorado por meio de um comunicado oficial publicado no jornal da cidade. Culpa do candidato? Em partes, mas o crédito total vai para os palpiteiros.

A indústria do palpite dentro de uma campanhas eleitoral é uma moléstia grave. Minha sugestão é: reúna bons conselheiros e delegue para a eles a interface com os palpiteiros de plantão.

Curar essa doença exige um esforço desnecessário. As pessoas gostam de ser ouvidas. E devem ser escutadas. Por isso o candidato precisa montar um time que possa realizar esse diálogo que costumo chamar de ‘fala que eu te escuto’. Portanto, leve a sério este conselho. Acho que é o melhor de todos que posso te dar: fuja da indústria dos palpites. Essa é a primeira lição para sedimentar o acesso ao poder ou permanecer dentro dele.

Existe ciência dentro e fora das campanhas eleitorais. Há

Ouça todos e esboce interesse pelas suas opiniões. Mas, no geral, adote a postura do filme “Pinguins de Madagascar”: acene e sorria.

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conhecimento também. A experiência é valida. Juntar estas quali-dades trará resultados melhores. Mas nunca tente fazer uma cam-panha com palpiteiros. Os palpiteiros mais perigosos são aqueles com algum laço de parentesco. Os palpiteiros de ocasião são os amigos do clube, da igreja e os vizinhos de muro. Ah, existem os palpiteiros de militância política que sabem tudo.

Como bom político ouça todos e esboce interesse pelas suas opiniões. Mas, no geral, adote a postura do filme “Pinguins de Mada-gascar”: acene e sorria. Em “Marketing Político: Manual da Campanha Eleitoral”, o especialista Ronald Kuntz oferece boas dicas sobre como despitar essa praga que atinge todas as campanhas. “Palpiteiros não são bem-vindos, mas evite descartá-los – faça-os sentir importante. O problema em ouvir a todos é que não existe estrutura que seja capaz de separar o joio do trigo e os conselhos avulsos, mesmo quando bons, na maioria das vezes, não se encaixam na estratégia e objetivos centrais da campanha”, alerta.

Por isso, preste atenção na hora de montar o seu time. Se for composto somente por palpiteiros, como aconteceu como este candidato a deputado estadual, certamente você poderá sair do embate eleitoral mais fraco do que entrou. Depois de afugentar os palpiteiros, é hora de de criar um diagnóstico do cenário eleitoral com ajuda dos conselho de cam-panha. Saiba como você pode fazer isso, sem gastar muito.

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A pesquisa é o coração de uma campanha. Ela é essencial para construir uma estratégia eleitoral. Entretanto, sei da dificuldade financeira de muitos comitês para contratar este serviço. Este livro não interessa aos tubarões políticos. Nem eu estou in-teressado neles. Então aqui segue um macete aos candidatos de parcos recursos.

Após os nome

dos candidatos concor-rentes ao cargo de prefeito serem oficial-izados, reúna seu time político. Sugiro cinco pessoas, além do candi-dato. (A quantidade fica a seu critério).

Escolha uma foto do candidato corrente. Pergunte ao seu time a principal Força deste adversário. O desafio é encontrar as principais competências, virtudes, vantagens e o que ele tem de melhor em relação a concorrência. Escreva tudo e vá para a segunda etapa.

Peça para o seu time falar das principais Fraquezas do mesmo candidato. O que atrapalha, desmotiva, descrendencia ou desabona para o processo eleitoral. Registre todos os apon-tamentos e siga para a terceira fase.

Faça um diagnóstico dos concorrentes

Faça uma análise do perfil da sua candidatura. Realce o que você tem de bom e tente não

expor seus defeitos.

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Agora é a vez do seu time oferecer uma leitura sobre o item Oportunidades. A missão aqui é identificar os fatores que podem melhorar a imagem deste candidato. Mas atenção: são fatores sobre os quais ele não tem controle. Exemplo: a Portu-guesa ser campeã e ele ser o único torcedor da Lusa na cidade. Este item exige bastante atenção. Capte todas informações.

O último passo deste macete é verificar as Ameaças. Aqui é só fazer a inversão. Você precisa discutir com o seu time fatores externos que podem prejudicar a imagem dele. Exem- plo: O advesário sempre disse ter se inspirado em Eike Batista

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para tocar seus negócios. Pronto, agora você tem um diagnósti-co bem legal para trabalhar sua estratégia de comunicação em relação aos concorrentes.

Sinceridade - Agora vem o mais difícil, o seu. Exija que o seu time seja sincero sobre suas fraquezas, chame o seu marido ou sua mulher para ajudá-lo neste ponto. Geralmente a família é mais sincera que os amigos.

Com este dados reunidos você terá informações ricas sobre a principal força do seu concorrente, a sua fraqueza, onde ele pode turbinar sua imagem e onde ele sairá arranhado. É claro que este macete não substitui uma pesquisa - um item que tem ajudar a inflar os custos de campanha que na RMC o volume financeiro movimentado pelas campanhas eleitorais chegou a R$ 63,4. Veja o infográfico.

Mas este capítulo é apenas uma dica para ajudá-lo a criar uma estratégia eleitoral básica que serve mais para candidatos a prefeito. A candidatura para Câmara Municipal é um troço complexo. Há centenas de variáveis. Nem sempre a disputa é direta. Às vezes, seu principal adversário é você mesmo. Mas eu tenho uma dica especial para quem sonha em ocupar uma vaga no Legislativo. Leia na próxima página.

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Seja claro e objetivo no seu material de campanha

Conta bancária aberta e com o CNPJ em mãos, não hesite em rodar o seu primeiro material: o cartão de visita. É a primeira peça que você deve trabalhar no início da sua jornada eleitoral. O cartão de visita da sua candidatura tem que destacar o número, ter sua foto, seu nome e campo para contatos. Só.

Tem muito sabichão que vai palpitar: “Pô, quem não sabe disso?”. Eu respondo: Tem muito candidato que pre-cisa de ajuda e tem muito ‘palpiteiro’ que consegue estragar até a comunicação num mero cartão de visita. Portanto, cuidado.

Evite cores abusivas no cartão de visita. Se você é daqueles candidatos espalhafatosos ou que representa uma personagem nas ruas, contenha seu impulso. Há peças, principalmente aquelas uti-lizadas na Internet, onde você pode abusar da criatividade.

Mas há peças que são chaves, como o cartão de visita com colinha no verso, que você precisa investir no layout que valorize o branco, o espaço e que as letras respirem. Assim, o leitor consegue visualizar todas informações básicas sobre você.

Quais são as peças chaves? Considere o cartão de visita na

É preciso ter atenção na hora de distribuir os santinhos. Uma boa medida é firmar parcerias para a

distribuição dos impressos.

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vertical (5,5 cm de largura x 9,5 cm de altura), um folder de três dobras em A4 (29,7 cm de largura x 21 cm de altura) e um santão em formato A5 (21cm de largura x 14,8 cm de altura).

É uma boa em termos de custo-benefício investir em pou-cos formatos de impressos. No cartão aplique só as informações fundamentais. Assim o eleitor lê só aquilo que é necessário. Sem distrações. Ao lado segue um modelo bem prático.

O santão, em formato A5, tem uma dimensão ideal. É fácil de transportar, não incomoda o eleitor pelo tamanho e tem custo bem interessante. Sugiro trabalhar a frente dele com o mesmo forma-to do cartão de visita e no verso aplique: minibiografia com cinco linhas; explique a bandeira da candidatura, uma foto padrão da campanha. Um terço do espaço deve ser preenchido pelo número.

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Lembre-se de não polu-ir o visual. Informe só o necessário.Folder- É um formato no qual você pode caprichar nas informações sobre sua biografia, incluir fotos com apoiadores, um item muito importante, destacar o tema da sua campanha, ou seja, destacar sua bandei-ra. Não esqueça de manter sempre o padrão de identi-dade visual da campanha. O cartão complementa o folder que fortalece o santão. Todos devem manter as mesmas carac-terísticas. É evidente que existem formatos mais sofisticados, mas essenciais. Seja qual formato escolher, invista no conteúdo. O candi-dato iniciante deve ficar atento a isto.

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Candidato desconhecido, explore sua biografi a

Candidato a vereador ou a prefeito de pri-meira viagem tem que ter eletricidade. Deve en-volver o eleitor com ideias, ideais ou gestos. Até produzir curto-circuíto. Até sair faísca! Até dar vida a um clarão. Uma luz própria que atinja coração e a mente do eleitorado.

Já fui contrato para elaborar a identidade visual de vários candidatos nas cidades da RMC (Região Metropoli-tana de Campinas). É uma tarefa prazerosa para mim.

O trabalho é de tiro curto e tenho a oportunidade de conhecer muitas histórias de vida. Principalmente quando envolvem candida-tos estreantes em campanhas eleitorais. Sempre incentivo este perfil de candidatos a explorar ao máximo sua biografia. A contar a sua história pessoal. É um grande trunfo. Às vezes, o candidato é dono de um bar, é um ex-jogador de futebol, um emergente, que ficou rico do dia para à noite, enfim, todos têm uma grande história de superação para contar.

As pessoas gostam de ouvir estes relatos. Elas se identificam.

Às vezes, o candidato é dono de um bar, é ex-jogador de futebol, é uma emergente, que fi cou rica da noite para o dia. Não importa, todos têm uma boa história.

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História de vida envolvente

Invista pesado na sua história de vida.Conte sua trajetória e crie um elo.Pessoas gostam de se identi�car tantonas di�culdades quanto na força.

Uma ideia vitoriosa

Uma só bandeira. Um só motivo.Uma só causa. Não confudao eleitor com várias propostas.

QUEM É VOCÊ?

POR QUE VOCÊ É CANDIDATO?

Engrenagens dos sonhos

Construa engrenagens para o seu sonho. Recrute amigos, parentes, voluntários e colegas. Envolva todos no seu sonho. Diga sonho, nunca projeto.

FAÇA ACONTECER

Resultados do trabalho

Mantenha seu pessoal informado. Dê boas notícias. O WhatsApp temferramentas de imagens e áudiopara serem exploradas a seu favor.Mas não exagere!

MOSTRE FORÇA

Muitas vivenciaram situações parecidas e projetam em você, candi-dato ou candidata, um semelhante. Basta revelar este elo e construir uma conversa entre iguais. Não mais entre um candidato e um eleitor. Assim você marca ponto. Avança. Já tem uma identidade compreendida pelas pessoas.

Descreva com detalhes pessoas com quem você aprendeu muito, onde estudou, trabalhos que fez, enfim, vasculhe pontes para criar este laço. Ninguém vota em desconhecido. Fale sobre você. Ninguém é uma ilha, certamente você possui conexões com o públi-co alvo do seu interesse. Criei este resumo para você compreender melhor este conceito.

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[Marlene Machado] Presidente do PTB Mulher

recebe primeira versão do livro

Encontro com Marlene Machado, do PTB-Mulher, em convenção em Santa Bárbara do Oeste em 2014

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Invista em argumentos para conquistar o eleitor

Seja na Internet, no rádio de pilha, na TV ou num folheto impresso o candidato não pode perder de vista o essencial: o argumento. A função de uma campanha eleitoral é dar argumentos. Independente-mente do meio no qual será transmitida a mensagem, seja digital ou não, a campanha precisa subsidiar o eleitorado de informações para que ele possa defender sua opção eleitoral em qualquer ambiente.

A figura clássica do formador de opinião (artistas, jornalis-tas, políticos veteranos, religiosos, escritores, juízes, médicos) perdeu espaço em razão da nova configuração da comu-nidade. A ampliação do acesso aos meios de pro-dução de informação e o novo modelo de consumo aumentou a independên-cia das pessoas no processo de escolha eleitoral.

A conversa entre iguais sobre o político mais confiável do pleito do momento influi decisivamente na audiência atenta ao diálogo. Um bate-papo na porta da escola dos filhos, nos clubes, na fila do supermercado, nas associações e até mesmo no barzinho é

A conversa entre iguais ganhou músculos sobre outros mecanismos de influência de votos e agora tem um poder

singular de conquistar o eleitorado dispersivo

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imantado de credibilidade. Quem ouve esse diálogo legitima o conteúdo da conversa por

ocorrer em um ambiente comum, em tese, isento da teatralidade e cacoetes políticos. Motivo: a troca de ideia em espaços do cotidia-no é considerada mais franca por não haver vantagem financeira entre os interlocutores. Já o formador de opinião profissional é remunerados, um comportamento reprovável dentro do complexo processo de decisão de voto.

A conversa entre iguais ganhou músculos sobre outros me-canismos de influência de votos e agora tem um poder singular de conquistar o eleitorado dispersivo. É hora de investir em argumen-tos. Um eleitor ou um simpatizante munido de informações sobre fraquezas e virtudes do seu candidato tem mais credibilidade para defender a sua escolha do que cabo eleitoral ou formador de opin-ião pago para fazê-lo.

É, são tempos duros para ganhar um voto. Tanto que há ex-periências interessante como o pedido de voto individualizado em material massificado. Não entendeu? Vou tentar explicar um pouco dessa prática a seguir.

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Mensagem individual com caráter coletivo

Criar mensagens específicas para pequenos gru-pos de eleitores é uma tarefa complexa. Porém, com alto poder de impacto. Campanhas enxutas dificil-mente teriam capacidade e estrutura para fazê-lo em escala industrial. O fato é que quanto mais customi-zada for sua abordagem junto ao eleitor, maior será o seu valor afetivo junto ao eleitorado.

A cabeça do eleitor médio tem vícios de consumidor. Qualquer escolha que faça tem um critério altamente pessoal. Portanto, você preci-sa construir um argu-mento claro para mostrar como ele irá se beneficiar daquele projeto ou da sua candidatura.

Quando o eleitor que tem filhos em idade de creche recebe uma carta no qual relata a existência de duas áreas públicas no bair-ro Via Láctea, uma na Rua de Touros e outra na Rua de Peixes, e que é possível lutar pela construção de uma unidade de ensino infantil nestes espaços, ele certamente irá gostar de saber que você entende o problema dele e sabe do que está falando.

Esta mensagem cria um vínculo. Embora seja coletiva, ela

Mensagem com este caráter criam um vínculo positivo junto ao eleitor. Embora seja coletiva, faça aparecer como sendo única.

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assume um caráter único. As pessoa gostam de ser tratadas como únicas. Então o desafio aqui é construir uma política pública para sociedade, mas que seja assimulada pelo eleitor como um benefício pessoal. Essa é a funcionalidade quando se constroi mensagens para microalvo de eleitores.

Adianto que sem banco de dados é impossível. E toda a dificuldade desta ferramenta é essa: obter banco de dados. Quando existe o banco de dados, geralmente ele está desatualizado. Quando está atualizado, muitos não conseguem transformar aqueles dados em conhecimento a ponto de criar estratégias de abordagem junto ao eleitorado.

Poucas agências especializadas em comunicação política no Brasil tem a expertise da aplicação do conceito Big Data em cam-panhas eleitorais como a Exata Inteligência, do estrategista Paulo Moura. Num mundo que desagua uma montanha de dados na Internet, Moura manuseia ferramentas inovadoras para capturar dados (postagens em redes sociais, cadastros em sites de compras, visualizações de vídeos, fotos georreferenciada) a fim de obter um formidável banco de dados. Para um leigo, apenas elementos ale-atórios. Para a Exata uma matéria-prima bruta que bem manejada será transformada em saber. Um saber sobre o comportamento das pesssoas. Com o olhar do consultor este conhecimento é trans-formado em estratégia de comunicação para a conquista de votos.

Se você está longe dessa organização todas, vamos conver-sar na página a seguir sobre um item básico e altamente relevante para a sua campanha: organização da agenda e dos telefones.

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Agenda, telefone e quem faz o que na campanha

A agenda é o dia a dia do candidato. Se a agen-da da campanha está confusa, é sinal de que você não está no caminho certo. A agenda não se resume a informação da localização do candidato ou do seu próximo compromisso. Ela é mais: ela tem a força de gerenciar a campanha.

O responsável pela agenda deve sugerir a forma e o conteúdo do diálogo a ser estabelecido com o eleitor. É por este motivo que o responsável pela agenda deve ser alguém experimentado em campanhas eleitorais. Muitas vezes ela, a agenda, fica na mão da secretária ou do palpiteiro do candidato a prefeito. É um equívoco.

Na maioria das campanhas que participei a agenda sempre foi foco de conflito. Portanto, o responsável pela agenda deve ser firme, ter conhecimento político e ser organizado. É difícil encon-trar este perfil na velocidade do processo eleitoral. Por este motivo mesmo, faço este alerta.

A agenda produz dados relevantes para o núcleo de comu-nicação das campanhas. Nomes completos, função, região onde mora, telefones de contato e reivindicação da liderança e um breve

Muitas vezes a agenda fica na mão do palpiteiro de plantão ou da recepcionista do comitê. É um

equívoco. É confusão na certa.

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histórico do contato. São campos de informação obrigatórios nas agendas de campanha.

Quem está na função também deve indicar quem poderia agregar valor durante a visita. Exemplo: em diálogo com um grupo de artista locais, é importante detectar no corpo da equipe quem é o elo político com este segmento. O mesmo vale para o segmento esportivo ou religioso.

Há uma porção de agendas virtuais que podem ajudá-lo nes-ta tarefa complexa. Todos podem ter acesso à informação por meio delas. Uma das mais utilizadas é o Google Calendar. Ela gratuita e tem boas ferramentas. Um outro canal de comunicação interno para a campanha eleitoral é o WhatsZapp. Além de útil e eficaz, ela tam-bém deve ser pensada pelo núcleo de comunicação como instru-mento de marketing interno da campanha. Com dados e mensagens para levantar a moral da tropa. Esta é uma atividade importante e pouco explorada nas campanhas. E melhor, não custa nada.

Organograma - A agenda é crucial, assim como é im-prescindível ter um organograma da campanha. O documento deve ser distribuído em todos os núcleos. Quem faz o que e telefone de contato. Parece uma ideia óbvia, e é. O problema é que ninguém faz.

Num momento de crise, como já testemunhei, ninguém encontrava o responsável pela entrega da mídia de rádio e TV para o horário eleitoral gratuito. Só se sabia o apelido do profissional e telefone estava na caixa postal! Resultado: estresse desnecessário. Simplesmente ele havia sumido e não havia como achá-lo e confir-mar a entrega das mídias.

Campanhas sofisticadas já tem estrutura pronta. Mas este livro aqui, como já afirmei, é uma troca de ideias sobre temas da comunicação dentro de uma campanha eleitoral. E um dos braços é o gerenciamento de pessoas. Nosso bate-papo é para alertar ou relembrar que estes deslizes são passíveis de correção. Campanha eleitoral é um trabalho veloz quanto menos erros, mais competitiva ela será na disputa. Detalhe este tema no capítulo seguinte.

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Coordenação, Financeiro, Logística, Comunicação...

A sua campanha precisa definir de modo claro o responsável por cada área. Cada campanha tem uma característica. Mas de modo geral é importante ter ao menos os seguintes núcleos: coordenação geral, setor financeiro, setor jurídico, setor logístico, setor de co-municação, mobilização e conselho político.

O coordenador de campanha é um líder nato, com pod-er decisão. Deve ser dinâmico, bem rela-cionado com diversos segmentos e ter prestí-gio político. O ideal é ele conciliar a competitividade de um executivo com a sabedoria de um político. Essas virtudes são essenciais para que ele saiba dirimir vaidades políticas dentro da equipe.

O conselho político tem que ser um time da pesada. O con-selheiros ajudam a construir os programas de governo, a fazer pon-te com lideranças de segmentos, fornecem informações sobre temas específicos e buscam saída para crises dentro e fora da campanha.

Cabe ao gestor financeiro fazer a engrenagem se movimen-tar. Ele planeja os recursos para aquisição do material de cam-panha, para a contratação de mão de obra, prevê os custos e indica onde conseguir recursos para fazer a maquina funcionar.

Cabe ao gestor financeiro fazer a engrenagem da campanha se

movimentar no ritmo adequado ao processo eleitoral

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O núcleo jurídico pode garantir tanto a vitória do candidato como também promover sua derrota, caso não oriente devidamente as ações da campanha a partir da ótica legal. O responsável deste setor tem que oferecer a segurança jurídica necessária para os de-mais profissionais trabalharem.

Tanto a Comunicação, o Jurídico e o Financeiro são núcleos que auxiliam diretamente o coordenador-geral da campanha nas tomadas de decisões. A construção dessa sinergia é fundamental. Sem essa sintonia os demais setores não funcionam.

Quem organiza a mobilização de rua, numa atividade traça-da pela Conselho Político, precisa ter o suporte do setor financeiro. Carros devem estar abastecidos e o vale-refeição garantido, caso, a atividade se prolongue no local. Ah, não pode faltar santinho ou planfetos. Tarefa da comunicação. O setor deve ser avisado com antecedência também para promover a cobertura da atividade onde estará o candidato. Enfim, é um ciclo virtuoso.

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Dê destaque no seu número nos materiais de campanha

O número deve ficar em evidencia em todas suas peças de campanha. As pessoas não votam no nome e sim no número. Reforce bem esse conceito em qualquer material. O nome vem em segundo plano e não invente moda. Invista naquele que você é mais conhecido. O slogan deve traduzir a campanha.

Siga estas regras em todos os materi-ais da sua campanha. Assim você não corre o risco de errar. Parece simples, né? Mas tem muita gente experiente que insiste no erro.

Parece óbvio a necessidade de reforçar o número em todo o enxoval (santinhos, botons, cartão de visita, Internet). Mas não é. É um erro comum em campanhas proporcionais. Ficar atento a este bê-á-bá comunicacio-nal evita um grande prejuízo eleitoral (os candidatos derrotados ou vitoriosos por um voto de diferença, sabem bem o significado de cada voto).

Já testemunhei candidatos recebendo constantes men-sagens pelo WhatsApp no dia da votação. Eram eleitores querendo confirmar o número da candidatura. É comum o eleitor sofrer uma amnésia neste momento. Por este motivo, candidato a vereador,

É comum o eleitor sofrer uma pane e esquecer o número do seu candidato em frente à urna. Realce o número, o nome vem em segundo plano.

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reforce o seu número em seus materiais. O nome fica em segundo plano. Sempre. O básico funciona. E bem.

Quanto ao nome a ser escolhido, não invente moda. Invista naquele que você é mais conhecido. Ou escolha a simplicidade. Essa dica vale para o candidato a prefeito também. Já acompanhei dis-cussões longas e improdutivas sobre este tema. Muitas vezes você opta por um nome na urna e acaba sendo conhecido por outro.

Acompanhei um caso de um candidato a prefeito estreante na cidade de Americana, região metropolitana de Campinas. O sobrenome ficou em evidencia nos veículos de comunicação. En-quanto que o primeiro nome, escolhido para estampar as peças da

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campanha eleitoral, ficou ofuscado. Motivo: os jornais utilizam o sobrenome para se referir a pessoas do sexo masculino. Exceto para personalidades. Por norma jornalística, pessoas do sexo feminino são tratados pelo primeiro nome.

Contei essa historinha para você também ficar atento. A comunicação eleitoral precisa ser muito bem pensada. Isso já acon-teceu com grandes políticos. Geraldo Alckmin, teve seu sobrenome limado durante a corrida presidencial de 2006. Eleitores com baixa escolaridade tinha dificuldade de pronunciá-lo.

Slogan - Especialistas relatam que campanhas são centradas em temas (aborto, por exemplo) e outras em pessoas (Collor e Lula em 1989). Eu acredito nisso. Ao produzir um slogan é preciso ter uma leitura do que pode vir a ser campanha. Essa frase de efeito vai acompanhar o candidato até o final da campanha. Por este motivo, muita atenção na hora de definí-lo. Criar um slogan é divertido e desafiador. Quando você acerta a mão, ele se torna maior que o candidato. Toma vida própria. Certa vez fui criticado por construir um slogan com oito palavras. A críti-ca, óbvio, veio do palpiteiro de plantão.

Inspirado na letra do Engenheiros do Havaí, expliquei ao palpiteiro que um slogan deve ter a dimensão e o sentido daquele refrão da canção a “‘Montanha’”: Nem tão longe que eu não possa ver/Nem tão perto que eu não possa tocar.

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Distribuição de material: uma vantagem competitiva

Recapitulando. Até agora falamos da necessi-dade de profissionalizar a campanha, de explorar sua biografia e de investir em argumentos inteligentes para conquistar a confiança e o voto dos eleitores. Outro ponto fundamental é pensar em como distribuir santinhos, planfetos e jornais da sua campanha.

Do que adi-

anta você receber milhares de santin-hos do partido ou do candidato ma-joritário se você não tem capacidade de distribuir este material de modo adequado? Sim, isso acontece. Geralmente este material é um santinho estampando a imagem do candidato principal e a sua - como dobrada de deputado gabarita-do ou como candidato a vereador que apoia o candidato a prefeito do partido.

No início você fica entusiasmado. Mas com o tempo, a euforia vira pesadelo. Sem equipe de distribuição, transporte, combustível e estratégia de dispersão do material a confusão está formada.

Já vi isso acontecer dezenas de vezes. E material dado não se esnoba. Então a dica é a seguinte: aceite o material e apresente uma

O santinho é um material caro, não deve ser disperdiçado. A sua distribuição deve ser balanceada.

Ora maciça, ora personalizada.

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proposta para rachar os custos de entrega das peças. Pense numa estratégia baseada no ganha-ganha.

Um exemplo: caso ofereçam 500 mil santinhos para você, proponha receber apenas parte deste montante. Sugira substituir uma fração do investimento em material impresso em logística. Aí, você pode dar a ideia de uma operação conjunta entre você e o can-didato principal. Você oferece mão de obra enquanto que o candida-to ou partido entra com apoio de transporte e combustível.

Positivo - Certamente o candidato com menor estrutura terá um resultado positivo. Muito mais eficaz do que fosse entregar todos os materiais sozinho e sem estrutura. Ao bolar essa estratégia, não es-queça de colocar tudo isso no papel, aponte ruas, avenidas e locais da ação em parceria. Desse modo você comprova que está organiza-do e está a fim de ajudar o partido. Ponto para você!

Se esta ideia não for útil, elabore uma proposta adequada ao que você tem em mãos. Os coordenadores gostam de ouvir a pala-vra “parceria”. O sistema “ganha-ganha” é melhor saída. Nada vem de graça. Pense muito bem neste ponto. O santinho é um material custoso, não deve ser disperdiçado. A sua distribuição deve ser balanceada, ora maciça, ora personalizada. Quer um exemplo? Um candidato a deputado federal na região de Campinas fez as contas. Percebeu que era muito mais vantajoso financeiramente contratar uma empresa especializada na distribuição do material do que contratar uma equipe para fazê-lo. A decisão foi acertada. Na fase inicial distribuiu maciçamente, na reta final, personalizou a entrega. Ficou de bom tamanho. Ele conquistou uma cadeira em Brasília.

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Piratear campanha é suicídio eleitoral

Cuidado com as soluções fáceis. Aplicar o con-ceito de uma campanha bem-sucedida do passado, na sua atual candidatura, é um suicídio eleitoral. Caso o staff da sua campanha insista, agradeça a sugestão, mude o time e me ligue para socorrê-lo.

Vou te dar um exemplo de como esta gambiarra comunicacional não funciona. O senador Lindberg Farias foi candidato, do PT, ao governo do Rio de Janeiro em 2014. Com o slogan “O Rio Pode Mais”, Lindberg incutiu a seguinte narrativa em suas peças public-itárias e discursos: vamos derrubar o muro que separa o ‘Rio do cartão postal’ do ‘Rio esquecido’.

Uma cópia descarada e errática da campanha exitosa do Fernando Haddad, em 2012, para Prefeitura de São Paulo. Com slogan um “Um Homem Novo, para um Novo Tempo”, a campanha resumiu o pensamento de mudança desejado pelo eleitorado pau-listano.

Lindberg, candidato a governador de estado fluminense, ten-tou surfar neste formato, mas empacou. A barberagem foi tanta que os programas de TV foram idênticos ao de Haddad. Dos GCs (Ger-

Esta gambiarra é sedutora. Copiar e colar ideias de campanhas na sua é mais que arriscado: é perder o foco e também dinheiro.

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ador de Caractere) até a trilha sonora, do plano americano (com o candidato andando em direção à câmera em um bairro periférico) até mesmo a narrativa do muro.

Haddad falava em “muro da vergonha que separa a cidade rica da cidade pobre” e Lindberg falava do “muro que separa o ‘Rio do cartão postal’ do ‘Rio esquecido”. Caso um gênio tente con-vencê-lo de uma ideia semelhante, tenha cuidado. Você pode gastar dinheiro à toa e jogar no lixo sua chance de ter sucesso eleitoral.

Agências de publicidade sem vivência política também cometem essas gafes. O candidato não é produto. Ele é um ser vivo e tem lá suas virtudes e seus limites. Não podem ser tratados como sabonetes. Então nada de copiar. Até o autoplagio às vezes deixa de ser atraente. Então, tome cuidado. Ok?

Ferramentas - Utilizar ferramentas e conceitos usados em experiências anteriores é uma proposta bem-vinda e necessária para fortalecer sua empreitada eleitoral. Mas cada campanha tem seus desafios. Importar cores, slogans, jingles, icnografia de uma campanha para a sua é apostar na tese falida de que o candidato se vende igual a um produto. Tenha cuidado com essas soluções fáceis.

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Convoque seu time e bote o bloco na rua

Mesmo sendo a mais modesta das campanhas para prefeito ou para vereador, é essencial você criar um evento de lançamento oficial da sua candidatura. A partir daí, é hora de colocar o bloco na rua. O publi-co-alvo desta atividade são os apoiadores, voluntári-os, famílias e potenciais aliados.

Pode ser na garagem da sua casa, numa chácara, no campo de futebol ou debaixo de uma ár-vore. Não me importa. O importante é mar-car posição. Mostrar força não só para os adversários, mas também fortalecer o seu time. Aproveite para fechar aquele apoio que ainda é incerto.

Um bolo com refrigerante ou um churrasco coletivo. Faça o que você tiver capacidade de fazer. É preciso demarcar seu território eleitoral. Tire proveito desse encontro para fazer o seguinte: treinar e qualificar o discurso de quem vai pedir voto para você. Em função do cansaço do eleitor em relação à política, é preciso municiar de in-formação o seu time para conquistar o voto do eleitor desconfiado.

É neste momento que aquele trabalho pré-campanha (de definir bandeira, foco em tema específico e explorar sua biografia)

Use a atividade para treinar e qualificar o discurso de quem vai pediro voto para você nas urnas.

É um momento importante.

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trará resultados práticos. Portanto, é ideal que o conteúdo do seu material de cam-

panha esteja bem definido. Esteja claro e objetivo. As pessoas têm de sair do evento sabendo de cor o seu número de campanha, seu slogan e as bandeiras que defende. Este é o seu principal desafio.

A depender do segmento do qual você faz parte, este lança-mento pode ser uma atividade esportiva. Exemplo: pedal de bike no parque da cidade. Ou uma caminhada na logoa do município. É possível até mesmo criar um evento virtual e transmití-lo pelas rede sociais. Ferramentas não faltam para isso.

Pessoas chaves - Liste nomes de pessoas com forte influência de vários segmentos (exemplo: mulher, sindical, esporte, acadêmico, esportistas) e de lideranças política regionais. Convide-as. Registre a presença de cada uma delas em seu evento. Divulgue nas redes sociais. Isso vai dar a percepção da musculatura da sua campanha.

Depoimentos - Colete depoimentos de apoio de quantas lideranças puder. Assim você terá, ao longo da campanha, bastante conteúdo para utilizar nas redes sociais ou num evento material impresso que você poderá produzir.

Perfurados e adesivos - Mantenha uma equipe mínima durante o lançamento da campanha para adesivar carros e aplicar os perfurados. É uma ação fundamental. Assim você já amarra o apoio e não deixa para depois. Tudo isso, claro, depende de uma boa logística de já ter o adesivos em mãos e também de ter estrutura com uma equipe de prontidão.

Kit-campanha - Entregue a todos que compareceram ao seu evento um kit-campanha. Santinho, Santão, cartão de visita e se for o caso, para candidatos a prefeito, uma prévia do plano de governo. Dessa maneira você mostra organização e inspira o comprometimento de quem ainda está em incerto sobre sua viabili-dade eleitoral.

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A imagem e a mensagemno horário eleitoral

Opte por uma camisa lisa. Se você nunca usa terno ou uma gravata, não faça isso no horário eleito-ral. O seu eleitor não irá reconhecer você. Caso use ocasionalmente, opte por ternos mais escuros ou use apenas uma camisa clara. As mulheres devem optar por maquiagens leves e sem adereços chamativos.

Não é regra,

mas de preferência utilize a mesma rou-pa estampada em seu material gráfico. Essa atitude ajudará o eleitor menos atento a reconhecê-lo. Se você é candidato ou candidata a vereador ou ver-eadora e tem 10 segundos para o horário eleitoral, não desperdice o espaço. Faça o básico para não errar.

Lá no plano de poder (início do livro) você definiu seu nome, slogan e bandeira da sua candidatura. Reforce isso na mensagem do horário eleitoral. Não precisa inventar moda.

Não há muita saída para o candidato a vereador. O tempo é curto, portanto, valioso. É apenas o mote de apresentação. No rádio repita a mesma operação. São segundos, o importante é se apresen-tar e destacar o seu número no horário da rádio e na TV. O objetivo é transmitir credibilidade.

O tempo do horário eleitoral é curto e valioso. Lembre-se: o

objetivo é transmitir credibilidade. Treine a postura e o olhar.

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Antes de ir até o estúdio, faça um teste de gravação em casa mesmo. Pegue o smarthphone e treine sua fala e, principalmente, o olhar para a câmera. Se você esboçar insegurança ou vergonha tanto nos olhos quanto na postura corporal, o telespectador vai notar do outro lado da tela. Ai você abre o caminho para ser ridicularizado e para a descrença. Se o contrário acontecer, você mostra sua viabili-dade como candidato. É uma dica bem importante.

Independente do seu tempo no horário eleitoral, você não deve perder de vista o conceito de que este holofote é indispensável aos candidatos e candidatas menos conhecidos.

Prefeitos - O primeiro programa para o horário eleitoral para os candidatos a prefeito exige um cuidado especial. Principalmente porque ele pode (deve) ser repetido durante a grade de pro-gramação. Logo, a estreia precisa, na minha opinião, se ater aos se-guintes eixos: a apresentação (biografia), marcar posição (situação, oposição ou terceira via), defender seu ponto de vista (argumento) e mostrar o candidato ou candidata com porte/postura de prefeito ou prefeita por meio de imagens fortes.

Minhas experiência na produção de programas para o horário eleitoral no rádio e na TV ainda requer aprimoramentos. Contudo, é de conhecimento amplo que a campanha eleitoral apre-senta um conceito, uma ideia ou uma causa que deve ser banhada de elogios. Não se esqueça que ela deve ser alicerçada com uma boa dose de jornalismo.

As inserções do horário eleitoral são uma mina de ouro. Elas jogam o candidato no meio da programação comercial. O esmero com as inserções são ainda maiores. Pense nisso na hora de con-tratar uma produtora de TV. Há muito que falar sobre programas televisivos, há livros e consultores especializados no tema. Essa é uma prosa introdutória. Não é possível esgotar o assunto aqui.

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Facebook ou Twitter? Vá de WhatsApp e Insta

Invista no WhatsApp e no Instagram. Estas são as duas ferramentas mais promissoras, na minha opinião, para se estabelecer uma conexão inovadora com nichos de eleitorado. Com ricos recursos de vídeo, imagem, áudio e compartilha-mento, estas plataformas podem ajudar a trans-formar a interação em eleitores.

O que mede o sucesso de uma conta na rede social não é número de curtidas em uma postagem, mas sim o volume de interação proporcionada entre o dono do perfil e quem o acompanha na rede. Transformar em voto o seu desempenho na rede social é um desafio dos grandes. Maior ainda para quem tem pouca estrutura.

Mas você candidata ou candidato pode utilizar a versatili-dade do WhatsApp para construir ou consolidar uma rede relacio-namento importante para a sua candidatura. O WhatsApp é um aplicativo que pode auxiliar muito na difusão da sua candidatura.

O Instagram é tão sofisticado quanto. Permite conversa Inbox, criação de uma hastag e até mesmo vídeo assim como outras redes sociais mais populares. As duas plataformas são rotas de fuga

A Prefeitura Municipal de Espírito de Santo inovou ao utilizar o Instagram em uma

campanha do governo

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da poluição do Facebook e do mal humor crônico do Twitter. Então é preciso pensar campanhas específicas para o Instagram e também para o Whats.

Mas como fazer uso dessa rede social para fins eleitorais? Fazendo um estudo para responder esta pergunta, encontrei um trabalho feito em Espiríto Santo focado em comunicação governa-metal que vale conversar sobre ele aqui.

A Prefeitura de Vitória (ES) inovou ao lançar no Whatsap a campanha #Vitória Alfabetizada. Uma ação de comunicação gover-namental reforçando o trabalho da administração contra o anal-fabetismo. A campanha foi compartilhada pelos usuários da ferra-menta. Ela teria aumentado, segundo seus criadores, em 10% o número de acesso ao portal do projeto num período de 15 dias.

Estratégia - Quando for criar uma ação de marketing no WhatsApp não esqueça uma regra fundamental: criar necessidade. Foi isso que o chocolate Sonho de Valsa fez.

Uma equipe ficou a postos para responder, em tempo real, às pessoas que pedirem dicas pelo WhatsApp para comemorar o dia 12 de junho. A equipe sugeriu restaurantes, frases românticas, presentes, criou cards exclusivos. O resultado? Segundo os cri-adores houve 9 mil interações durante um dia de trabalho.

A ação de marketing chamada de Barman Chivas estabeleceu também uma boa interação com os bebedores. Trocar ideia com bebedor sobre dicas de drinks e futebol são pautas constantes por meio do WhatsApp .

Quem usa WhatsApp gosta de compartilhar vídeos e imagens bem humoradas. Você que busca chamar atenção do eleitorado deve apostar muitas fichas nesta ferramenta. Mas reforço: não abra mão de outras redes sociais. É importante se posicionar em outras plataformas também. Uma pesquisa divul-gada no primeiro semestre de 2014 apontava que 27% dos congressistas não fazem uso das redes sociais. Um erro grave. Entenda mais na página a seguir.

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Exemplo de parlamentares com engajamento na Web

Anote aí: Anthony Garotinho, Romero Juca e Jean Wyllys. Ah, não se esqueça de dar uma bela espiada em como o Romário se relaciona com o seu eleitor nas redes sociais. Na minha avaliação, esses parlamentares são referências de sucesso na arte de se relacionar com o eleitorado na web.

Mas qual o camin-ho para ser um parlamen-tar bom de web? Bem, o primeiro passo é criar um espaço para cadas-trar o eleitor em seu site e, a partir daí, municiá-lo de informações sobre o andamento do mandato. Responder aos e-mails enviados pelo eleitor deve ser uma obsessão. Nunca deixe o eleitorado sem resposta. Mesmo que o canal de atendimento seja o Twitter, Insta-gram, WhatsApp ou Facebook.

Algo pouco usual, mas que amplia o relacionamento com o eleitor é fazer comentários positivos na timeline do seu seguidor. Mesmo que seja uma curtida no Facebook ou uma simples men-sagem positiva no Twitter. Vai melhorar também a sua imagem de parlamentar transparente a publicidade dos gastos do seu gabinete. Defendo o uso de ferramentas multimídia como vídeo e áudio com o

Nunca deixe o eleitorado sem resposta em qualquer rede

social. Seja interativo, nunca invasivo neste relacionamento.

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máximo de profissionalismo. Gravações improvisadas transmitem pouca confiabilidade.

Romário (PSB) tem mais de 2,1 milhões de visualizações no YouTube em sua página oficial de parlamentar. É o campeão de visualização entre os parlamentares.

A linguagem utilizada pela equipe do deputado nos comunica-dos direcionados aos eleitores é em tom informal, direto e desburoc-ratizada. Não à toa ele tem 559 mil seguidores no Facebook (2014).

É verdade que Romário não é um político tradicional. Mas cada vez mais estamos vendo nascer uma geração de políticos que têm carreira associada à Internet. O então senador e atual secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy, mantém vários mecanismos de interação com o eleitor que lhe con-ferem o título de um dos políticos mais influentes na Internet.

Uma pesquisa publicada pela Medialogue entrevistou 594 congressistas e descobriu que 163 deles não utilizam a Internet para se comunicar com o eleitorado. É um número expressivo. A pesquisa detectou que os políticos deixaram de usar o Twitter para investir mais no Facebook. Em 2011, 77% dos congressistas tinham páginas ativas no Facebook –hoje são 92%. Já o percentual de políticos que atualizam perfis no Twitter caiu de 70% para 62%, mostra a pesquisa.

Não é fácil investir nas plataformas digitais. O cuidado com a padronização da linguagem é um dos pontos principais. O verbete no Wikipédia do político deve ser o mesmo que ele usará no Insta-gram. O status no WhatsApp também deve ser idêntico ao que for usado no Twitter e por aí vaí. São detalhes como esse que vão ajudar a solidificar a identidade e a marca do mandato. Mas atenção tanto na dose da mensagem da sua conta pessoal quanto da sua rede de apoio. É preciso dosá-la na forma e no conteúdo.

Amplie o seu relacionamento. Faça comentários positivos

na timeline do seu seguidor. Mesmo que seja uma curtida no Facebook ou uma simples

mensagem positiva

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Qualifique seus apoiadores nas redes sociais

Muitos especialistas temem o clima de tensão nas redes sociais por parte de militantes mais exaltados e despreparados. Por isso, antes de botar a militância no ambiente virtual, é pre-ciso qualificá-las e unificar o discurso.

Perfis positi-vos associados à cam-panha devem demon-strar determinação, convicção, ânimo e adotar uma postura alegre. No ambiente virtual se assemelham aos antigos cabos eleitorais que utilizam com gosto camisas, bonés e outros adereços antigos do candidato. Esse comportamento desperta a atenção do eleitor e ajuda no processo de decisão do voto. O desafio do candidato será domar os militantes virtuais mais exaltados, mais agressivos e desprovidos de bons argumentos. São eles, que, apesar de bem intencionados, podem gerar repulsa do eleitorado ao candidato.

Muitos estrategistas eleitorais apostam na proliferação de embates mais duros nas redes sociais. Cresce, portanto, a per-cepção dos coordenadores de campanha da necessidade de qua- lificar apoiadores do candidato tanto para posicioná-lo estrategi-

É preciso entender bem o que o seu eleitor deseja. Ou ainda

convencê-lo de que ele precisa de algo que ainda desconhece

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camente no ambiente virtual quanto também para defendê-lo de ataques dos adversários.

Embora seja um novo campo de batalha por conquista de votos, a rede social é só mais uma. Para vencer este vale-tudo na web o candidato não pode perder de vista o essencial: oferecer argumentos para o eleitorado e repassar informações valiosas para que seus apoiadores a multipliquem. O grupo precisa saber detal-hes da plataforma da campanha assim como estar preparado para abordar temas delicados da trajetória do candidato. São precauções fundamentais para tonificar a musculatura e criar confiança em todas as células da campanha.

Os aplicativos terão um papel inovador. Além de serem um ancoradouro para uma geração habituada a buscar informações no smartphone, eles podem ajudar o candidato a produzir discursos segmentados de acordo com cada fatia do eleitorado.

Mas cuidado, não confunda a mente do eleitor. O ideal é investir num só tema para não saturá-lo com várias ideias. Na esteira desse processo, vamos pensar um pouco nos fatores que influenciam o foto do eleitorado. Leia o capítulo a seguir.

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Com André Skaf, durante a campanha eleitoral de 2014, em Campinas. Gravação de depoimento para o PDT.

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Eleitores mimados, candidatos neuróti cos

Eleitores são mimados e candidatos são neuróticos. A neurose dos candidatos advém do comportamento volúvel do eleitorado. Num piscar de olhos, sem nenhum constrangimento, o eleitor migra sua opção de voto. O candidato esquece que eleitores têm vícios de consumidores. E consumi-dores não são leais a marcas.

A maioria dos candidatos não tem dinheiro e nem tempo suficiente para desenvolver estratégias nas quais o eleitorado vivencie boas experiências. Mas, então, o que fazer? Conhecer como

FAMÍLIA

A opinião da famíliaé um dos fatores quemais pesam no processode decisão de escolhado voto.

AMIGOSExercem forte pesona decisão do voto.Eles são ouvidos principalmente pelo eleitor indeciso.

PUBLICIDADEPesquisas. Mensagens direcionadas. Fusão deinformação e emoçãoque falam direto ao coração e mente do eleitor.

IDENTIFICAÇÃO... pelo desejo de mudança,pela continuidade ou pela transparência,manutenção da proposta.

Fatores que influenciam o voto

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se comporta o eleitorado já é um bom começo para criar uma estratégia eleitoral. Os estágios do processo de decisão de voto guardam semelhanças com as etapas de decisão de compra de um produto. Dê uma boa olhada no infográfico.

Ao reconhecer a obrigatoriedade da sua participação no pleito (voto obrigatório), o eleitorado passa para a próxima fase: a complexa escolha de voto. Nesta etapa o eleitor vai a campo em busca de informações. Quer se identificar com algum candidato.

É aí que o candidato deve lançar mensagens específicas para determinados nichos inexplorados, consolidar o eleitorado simpáti-cos a ele e criar táticas de relacionamento com novos públicos. Cabe ao candidato mimar o eleitor, seduzí-lo e conectar suas ansiedades com suas bandeiras.

Criar Necessidades - Mas para isso é preciso entender bem o que o seu eleitor deseja. Ou ainda convencê-lo de que ele precisa de algo que ele ainda desconhece. Um exemplo: que o município pleiteie ao governo estadual o seu ingresso numa determinada região metropolitana. Motivo: a cidade será beneficiada com projetos específicos envolvendo a região como a instalação de câmeras de segurança ou ainda a informatização dos postos de saúde. Ou seja, uma necessidade desconhecida, porém que revela-da pelo candidato, emergiu como uma urgência.

Agora passamos para uma próxima fase desta análise. A evolução do seu perfil perante os olhos do eleitor. Como se posi-cionar frente a um eleitorado já ciente da sua história, das vir-tudes e da sua limitação. A minha dica é a seguinte: seja um novo candidato, mesmo sendo o de sempre. Sigamos para a próxima página onde disserto sobre este tema.

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Seja um novo candidato mesmo sendo o de sempre

O problema de ser sucessivas vezes candida-to a vereador é o risco de oferecer ao eleitor ape-nas o ‘recall’ (grau de lembrança do eleitor) do seu contínuo fracasso. Se sua votação estiver numa ascedente, de um pleito para o outro, isso é positi-vo. Mas se mantiver a média ou desabar, pode ser que você tenha atingido o seu teto de desempenho.

Você pode discursar sobre perserverança, persistência e garra. Em seguida decidir pela candidatura pela quarta ou quinta vez seguida. É legítimo, bonito e comovente até. Existem casos de êxito, você pondera. Acredito. Atuei como redator de um candidato a prefeito numa cidade do noroeste paulista. Ele só teve êxito eleito-ral na quinta tentativa.

Considere como caso isolado e só conseguiu porque reiven-tou-se. Era o mesmo candidato, mas com novas bandeiras e atitudes e com uma nova marca. Trabalho integrado junto com o núcleo de comunicação da campanha.

Mas nem sempre o final é feliz. Numa quinta candidatura você não será a novidade, assim como foi na primeira. Muito menos

O às de muitas campanhas, para um candidato já desgastado, não é ser o novo, entretanto, trazer algo de novo para o eleitorado

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terá a força da segunda. Na terceira, o eleitorado olhará com expec-tativa. Na quarta, o eleitorado terá um olhar apiedado sobre sua persistência. E na quinta, é batata, o seu capital político perdeu musculatura.

Lembre-se, queira ou não, milhares de eleitores são devotos da crença do voto útil. Além disso, seus adversários irão lembrá-los que você não tem mais chance. Xeque-mate.

Você me pergunta o que fazer. Bem, há várias alternativas. Porque há várias circunstância. Vou falar de uma opção, a qual é válida na minha opinião, para todos neste cenário: a cada eleição reiventar-se é uma obrigação.

Isto, necessariamente, não significa ser uma novidade, basta ter algo novo para mostrar. Sugiro, portanto, aos candidatos com este quadro de asfixia eleitoral, apresentar ao eleitorado um currí-culo em contínua melhora.

Assumir um cargo dentro de um partido é sinal de força política. Abocanhar uma função dentro de uma associação ou enti-dade também são atitudes importantes. Retomar os estudos no EJA (Educação de Jovens e Adultos) ou na faculdade é indício de grande-za. Você pode fazer valer tais mudanças ou exercê-las decorativa-mente. A opção é sua. Cada cabeça uma sentença.

O importante é reforçar o seu significado na opinião pública: atingir a leitura de projeção e respeito. Ambas são sinônimo de liderança. O segredo de muitas campanhas, para um candidato já desgastados nas urnas, não é ser o novo, mas trazer algo de novo para o eleitorado e para o cenário eleitoral. Esta é uma maneira de afastar o rótulo do candidato do quase ou daquele que foi sem nunca ter sido. Uma saída menos honrosa para esse impasse é construir uma aliança. Explico mais no capítulo seguinte.

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Candidatos desenganados e sofrendo com quadro de anorexia eleitoral tem de monte por aí. Não integre esse time. Faça melhor: estabeleça uma aliança com candidatos desenganados que não se deram conta do seu crepúsculo político.

Não há fronteira entre teimosia e perseverança. Tentativas inúteis de recuperar uma votação boa do passado se enquadram mais como autismo político. Um comportamento muito comum em políticos experimentados e que já tiveram prestígio um dia. Esse político pode ser útil para você que tem interesse em ascender politicamente.

Convença o mori-bundo a apoiá-lo. Com-prove sua decadência política com números, desenhe o tabuleiro político e diga claramente que é hora de construir um sucessor. Ele ficará orgulhoso. Mesmo sendo esta relação utilitarista, a aliança é estratégica e boa para ambos os lados. Não hesite em queimar até a última instância a gordura eleitoral do veterano.

Pior do que perder uma eleição é perder votos. Logo, esse conselho vale para você também que, mesmo numa situação de ascensão, pode ter atingido o limite do seu prestígio local. A conta-

Pior do que perder a eleição, é perder votos

Tentativas inúteis de recuperar uma votação boa do passado

se enquadram mais como autismo político.

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gem da urna eletrônica decretará esse estado de coisas. Em caso de declínio nas urnas, seu patrimônio eleitoral não

servirá nem para apoiar aquele candidato viçoso. É claro que a decisão de encarar um pleito é íntima. É uma escolha. Base de uma estratégia. Dizer não para a vaidade de sê-lo é um comportamento inteligente e tático em muitos casos.

E quando a derro-ta é inevitável? Um partido com uma longa hegemonia política tende a ter uma derrota do tipo arrasa quarteirão no declínio dos seus dias. A

queda dantesca arrebenta com o brio da militância e dos simpati-zantes do partido. Se reverter o quadro eleitoral é uma tarefa in-viável, é preciso in- vestir na estética da queda. Uma saída honrosa facilita a aglutinação de forças para a próxima disputa. Conviver com o vexame da perda cavalar de votos num pleito é conviver anos com uma ressaca eleitoral quase incurável. Só muita terapia para mobilizar o pessoal novamente. E dá um trabalhão.

No caso de candidatos em busca de um poder, dizer não para a vaidade é um corte na carne necessário. Você pode até me pergun-tar: Ah, mas vou ficar relegado ao ostracismo político durante todo este tempo? Bom, eu destrincho este tema em “Reposicionamento no mercado eleitoral: um desafio”.

Se reverter o quadro eleitoral é uma tarefa inviável, é preciso investir na estética da queda

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Reposicionamento no mercado eleitoral

Lançar-se numa empreitada em busca de uma vaga na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal é uma estratégia recorrente de candidatos que saíram bem posicionados depois das eleições municipais. O objetivo é garantir reposicionamen-to no mercado eleitoral. Mas nem sempre esta é uma boa escolha.

Expor seu reduto eleitoral a uma candidatura sabida-mente postiça pode criar um estresse desnecessário em seu nicho. Em primeiro, lugar você precisa proteger o seu eleitorado. Em segundo, defender seu patrimônio político. Uma saída é se colocar como um apoiador de peso da campanha do deputado escolhido pelo partido. Alegações para isso não faltam: risco para negócios, falta de apoio da família e falta de recursos financeiros em razão das dívidas da campanha passada.

Se você tiver prestígio dentro do partido, a sigla pode pres-sioná-lo a assumir uma candidatura. Se não o fizer, criará desconfi-ança e obstáculos para suas intenções políticas no futuro. É preciso

Expor seu reduto eleitoral a uma candidatura sabidamente postiça pode criar um estresse desnecessário em seu nicho.

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costurar uma saída de cena de um modo que o partido considere estratégico e que você demonstre que está empenhado em engordar votos da legenda no pleito daquele ano.

Ser utilizado como escada numa eleição faz parte do fazer político. Apenas enquanto você não dita regras. Portanto, se não houver como contornar esta situação você precisa agir para tornar esse momento menos traumático para o seu eleitor. É uma tarefa essencial. Um estudo feito pelo consultor político Ronaldo Kuntz, publicado em seu livro Marketing Político, aponta que por ano cada candidato perde em torno de 10% dos votos .

Portanto, mais do que ganhar votos, o especialista alerta para a necessidade de se criar mecanismos para conter a perda de eleitores. Uma das principais causas da evasão é o estresse do eleitorado com a política do cotidiano. Ninguém está imune à estafa com o candidato, nem mesmo um fenômeno de votos ou um ídolo. Lançar-se numa campanha eleitoral não significa estar bem postado na corrida. Embora a vaidade diga o contrário. Proteger seu patrimônio pode ser uma saída mais inteligente do que expor seu capital político.

Agora se você está realmente decidido a encarar uma eleição, faça o seguinte: pensa um pouco mais sobre o cenário existente. O novo desafio agora é eleger-se, você que é candidato a vereador, a partir do sistema distrital.

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Com voto distrital, domicílio eleitoral será decisivo

Aos candidatos a vereador com perfil de vo-tos pulverizados em toda a cidade, é vital, com o advento do voto distrital, que ele identifique onde é mais competitivo. Ou seja, escolher seu domicílio eleitoral no município será estratégico a partir da instituição do novo sistema.

É o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) quem define a quantidade de distritos no município. Quem oficializa os candida-tos nos distritos eleitorais são os partidos. Portanto, cabe aos candidatos mostrar as agremiações partidárias sua viabilidade eleitoral. Sendo mais claro: sua musculatura em termos de votos.

Quem tem mandato sai na frente daqueles que sonham em ocupar uma vaga no Legislativo municipla. Como sua força política, eles podem usar da sua influência partidária para abocanhar um distrito seguro para sua recondução ao cargo.

Uma tarefa muito difícil para quem não tem mandato. Por-tanto se você já foi candidato a vereador, sugiro uma avaliação criteriosa do boletim de urna, conhecido como B.U. Extraia dados sobre sua votação. Construa uma mapa da sua votação. Entenda

Construa uma mapa da sua votação. Entenda em quais colegios eleitorais você é mais competitivo.

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quais colegios eleitorais você é mais competitivo. Esses dados serão decisivos na hora da construção do diálogo com o partido a fim de conquistar o direito de ser candidato. Pode ser que a partir destes dados você mostre que é muito mais viável como candidato em determinado destrito do que o candidato de preferência da sigla. O mapa de votação será a sua carta na manga.

Inversão de papeis - Assim como o partido pode ter um candidato de preferência e os pré-candidatos terão que lutar para ser candidato, pode-se também assitir uma inversão de papeis.

O TRE poderá constituir distritos eleitorais onde não haverá nenhum candidato de preferência ou que tenha viabilidade eleito-ral. Os partidos então irão disputar o passe eleitoral de lideranças dentro deste distrito. Portanto, o domicílio eleitoral é um item decisivo para quem almeja disputar o pleito no sistema distrital.

Nova paisagem eleitoral - É comum termos uma bancada médica ou do Direito nas Câmaras Municipais. Até mesmo represen-tantes da classe artística ou da educação. Estes trabalhadores e também profissionais liberais terão muito mais dificuldades neste novo modelo de pleito. Geralmente a maioria dos seus eleitores estão espalhados pela cidade. Dificilmente estão centrados em uma só região. Portanto, profissinais com esta identidade precisarão investir em um banco de dados qualificados para focar a sua cam-panha. Assim como estudar o seu mapa eleitoral e definir um domicílio eleitoral são vitais também.

Quem pode ser privilegiado, em tese, são as lideranças comunitárias. Já que estes participam do cotidiano do bairro e das ruas. Eles têm ações regionalizadas. Porém, ao mesmo tempo, eles precisarão comprovar sua eficiência de votos. Logo, a disputa interna nos partidos será intensiva para oficilizar a candidatura.

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Estratégia para reeleiçãoa partir do voto distrital

Rever a estratégia de campanha para con-quistar votos no distrito é apenas um dos desafios dos vereadores que desejam ser reconduzidos aos cargos a partir da implementação do voto distri-tal. Dialogar com estes grupos de eleitores será uma tarefa inédita nesta nova correlação de força.

Os vereadores eleitos no sistema propor-cional compunham sua votação a partir de um eleitorado fragmentado em diversos colégios eleitorais da cidade. Pois como bem retrata o especialista Ferreira Pinto, na revista “Comentários à Constituição Brasileira”, o sistema proporcional tem a possibilidade de assegurar a representação dos grandes partidos e a sua coex-istência com as minorias ideológicas, ou seja, proporciona uma representação de diferentes formas de pensamentos.

Principalmente aqueles que têm um histórico de defesa de bandeiras específicas. Cito os mandatos de vereadores pautados pela atenção ao movimento LGBT, sindical ou dedicado a classe artística.

Um distrito, composto por eleitores de diferentes perfis, dificilmente estaria somente preocupado em construir uma política

Parlamentares com bandeiras políticas terão que fazer a junção com demandas do cotidiano das comunidades

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pública para temas etéreos em detrimento da busca da solução para problemas de sempre: a instalação de lombada na avenida, a construção de uma creche no bairro ou a realização da poda de árvores. Reiventar a identidade política - Fica evidente a necessi-dade de reorganização e do redirecionamento do discurso dos candidatos a reeleição. Conciliar seu tema parlamentar e as necessi-dades do distrito eleitoral como bandeira do seu futuro mandato é um dos caminhos para garantir a manutenção do seu poder político.

Em um artigo publicado em junho de 2000, na revista Inter-esse Nacional, o professor Renato Janine Ribeiro lembrou que ser um político eleito pelo voto distrital não satisfizer a população que nele votou, ele poderá ser submetido a um processo de revogação de seu mandato pelos eleitores de seu distrito. “Isso não é simples, mas é, pelo menos, uma hipótese. E, se não houver recall previsto em lei, manifestações e protestos contra podem levá-lo a rever sua atuação, de modo a atender melhor as demandas de seus ele-itores”, destacou.

Sendo mais franco: você terá que reinventar sua identidade política. O tema de interesse geral e os temas específicos terão que caminhar juntos no seu mandato. Caso você não promova essa junção, os eleitores dificilmente criarão vínculo com o seu projeto eleitoral. Eles podem até respeitar sua relevância, eloquência e envergadura para discutir e defender tais temas. Entretanto, entenderão que você não tratará de temas considerados relevantes para o distrito como, por exemplo, a legalização de terrenos na zona rural para que eles possam ser explorados turisticamente.

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Ensaios

Uma breve leitura sobre a construção do poder político

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Em busca de uma voz política

Antes de ser eleita ao senado americano pelo estado de Nova York em 2000, a primeira-dama Hillary Clinton lidava com obstáculo particular: a busca da sua voz política.

Embora tivesse um brilho próprio, perceptível desde sua aparição no cenário político norte-america-no ao lado do marido, um então desconhecido jovem democrata na década de 90, Hillary nunca havia enfrentado uma empreitada eleitoral. Foi no cotidiano conflituoso da campanha que a voz política de Hillary se descorti-nou. O embate é da natureza da política. É nesse ambiente de luta, nessa câmara que amplifica e viabiliza a disputa pelo controle dos mecanismos de comando e opressão, ao ponto de muitas vezes levar os interesses à hostilidade, ao choque aberto ou à guerra, é que a voz política nasce .

No caso da senadora norte-americana, não foi de outro jeito. Numa igreja do Harlem, antes mesmo de ser formalmente indicada como candidata ao Senado dos Estados Unidos, Hillary emergiu. “Nova York tem um problema sério e todos nós sabemos qual é”,

É no ambiente de hositlidade, do choque aberto ou na guerra, é que a voz política nasce.

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falou. “Todos nós, menos o prefeito, ao que parece”. O templo irrom-peu em aplausos. A primeira-dama havia partido para o ataque contra o prefeito Giuliani. A política de segurança dele vitimou um homem negro chamado Patrick Dorismon. Era mal vista pela comu-nidade negra. Ao invés de adotar um discurso de união da cidade, o então prefeito decidiu divulgar a lista corrida do homem morto – a tal da capivara.

Hillary observou bem um problema regional e aglutinou apo-io por toda sorte de cidades do estado de Nova York. “Eu me sentia como se estivesse pegando o jeito e descobrindo a minha voz políti-ca”, escreveu em seu livro de memórias “Vivendo a História” (2003). A descoberta dessa fala interna precisa enfrentar o desgosto do político com a política. A reeducação política é um caminho necessário para que os atores contemporâneos se conheçam. Daí advém a urgência de haver uma evolução do fazer político em substituição do jogo político.

Barack Obama relata o seu momento mágico de descoberta da voz interna: “Algo em mim mudou depois disso. Era o tipo de mudança importante não porque altera as circunstâncias concretas (saúde, segurança, fama), mas porque mostra o que é possível e, portanto, nos motiva, além de todo o entusiasmo imediato, a ultrapassar as decepções subsequentes, a buscar aquilo que já tivemos em nossas mãos, mesmo que por um breve momento. Aquela viagem de ônibus me manteve estimulado. Acho que ainda estimula”, escreveu em sua obra “A Origem dos Meus Sonhos”.

No livro, ele descreve como conseguiu injetar ânimo por cidadania em moradores de um conjunto habitacional de Chicago. Era a voz política de Obama surgindo e desdobrando para o fazer político. Uma reeducação que o ajudou, certamente, a até chegar ao poder em Washington. São os novos sujeitos políticos em voga. Aqueles que são liderados e nem líderes.

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Insista num só temaO ensaio oferece o passaporte para a especu-

lação. Aproveito esse salvo-conduto para fazer uma reflexão pontual e relatar percepções da cam-panha de reeleição da chanceler Angela Merkel, no segundo semestre de 2013, na Alemanha.

A análise será feita a partir do materi-al disponível nos canais oficiais de comuni-cação da candidata. Todas capturadas na Internet. Angela Merkel postulava o cargo de primeira-ministra e foi reconduzida pela terceira vez ao posto com o slogan Gemeinsm Erfolgreich - em tradução livre “Uma time de sucesso”.

O triunfo eleitoral de Angela Merkel foi cimentado, segundo George Soros (Valor Econômico, 08 de Outubro 2013), ao “garantir a sobrevivência do Euro, e o fez ao menor custo possível para a Alemanha – um feito que lhe valeu o apoio dos alemães pró-euro-peus, bem como daqueles que nela confiam para proteger os interes -ses alemães” . A saúde da economia, portanto, pautou a campanha alemã em virtude do desdobramento da crise cambial na comuni-dade europeia.

O eleitorado alemão viveu uma campanha centrada num tema. A vitória da CDU, a União Democrática Cristã, foi avassaladora pela fabricação do consenso, por meio das estratégias eleitorais, sobre a capacidade da chanceler em domar os mercados e criar condições de empregabilidade para as pessoas.

A disputa pelo poder revelou uma chanceler austera e uma candidata perdulária

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O adversário social-democrata, Peer Steinbruek, atirou pesado contra os baixos salários, a densa evasão escolar existente no país, a viabilidade da indústria 4.0 (tecnológica), a constituição de novas matrizes energéticas e outros temas (No total foram nove bandeiras: Bom Trabalho, Bom Salário, Avanço pela Educação, Família, Controle dos Mercados Financeiros, Igualdade, Evasão Fiscal, Economia e Crescimento, Posições e Papeis, Cidade Suste-ntável) como igualdade e regulação dos mercados financeiros .

Embora pertinente, a agenda Steinbruek não foi páreo para a loquacidade do governo alemão. O governo Merkel se apoderou de uma marca de austeridade. Esculpida em carrara no rosto da líder da União Democrática (No cartaz: A chanceler da Alemanhã). A ideia foi exitosa. Legitima ou não, essa identidade também foi refletida nas peças de propaganda política da chanceler. Na homep-age da candidata existem dois campos: o político e o pessoal. No primeiro nada de propostas mirabolantes. São oito tópicos (Liber-dade, Segurança, Trabalho, Família, Sonhos, Experiência, Alemanha, Resultados) com mensagens comedidas.

Plataforma eleitoralNo item Trabalho, cinco linhas, numa tradução livre, busca

reforçar a imagem da condução correta da economia pelo governo e como isso pode beneficiar a comunidade alemã: “É importante que todas as pessoas do nosso país tenham a possibilidade de melhorar a vida de suas famílias. Ampliar a oferta de trabalho é a nossa principal meta: vamos lutar por trabalhos seguros e com boa remuneração. Nós avançamos muito nesse sentido e quere-

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O canal do You Tube e o perfil do Facebook da chanceler foram utilizados ostensivamente para atingir o eleitorado por meio de mensagens poderosas. “O Euro assegura a prosperidade da Alemanha e nossos empregos”, publicou a chanceler no dia 01 de Setembro de 2013.

O tom emocional nas peças é escasso, para não dizer nulo. A imagem sóbria da líder é explorada em conjunção com sua sólida e destacada trajetória política. Uma mulher hábil e disciplinada. Com a capacidade de pensar que “um país de sucesso precisa de duas coisas: a curiosidade do jovem e da experiência das pessoas mais velhas. A experiência das pessoas mais velhas é boa para nós no trabalho, na família e no voluntariado”.

Angela Markel caminha na direção daquilo que pontua-mos neste ensaio como novo sujeito político. A matriz dela nasce na comunidade pela qual ela é li- derada. Mas a política é dominação. O novo sujeito político tam-bém usa o encantam-ento para seduzir a massa. Usa o seu po- der para con-tagiá-la e sua matéria-prima é a esperança. Na seção “Sonhos” da sua homepage Angela instiga o eleitorado: “Eu quero que as pessoas usem todas as

Peer Steinbruck, do SPD, mostra o dedo do meio numa entrevista à Revista Süddeutsche Zeitung. Uma resposta agressiva ao gesto-assinatura de Angela Merkel chamado de

Diamante de Merkel, na qual ela junta polegares e os indicadores e que se tornou uma marca registrada.

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oportunidades oferecidas pelo seu país para realizarem seus sonhos e seguirem seus próprios caminhos”, cita a candidata, em mais uma vez uma tradução livre. E completa numa espécie de chamamento ao povo: “Cada pessoa é importante e precisamos de todos os talentos. Assim, os sonhos de hoje serão a realidade de amanhã”.

A disputa pelo poder revelou uma chanceler austera na administração da máquina pública e uma candidata perdulária dentro do governo.

O site português Esquerda.Net lembrou que antes de se lançar na campanha de reeleição, a primeira-ministra trabalhou forte para aprovar no Parlamento Alemão um aumento da despesa de quase 5 mil milhões de euros no orçamento, aumentando as pensões dos idosos ameaçados pela pobreza, atribuindo um subsí-dio mensal de 100 euros às donas de casa que são mães, abolindo taxas moderadoras e aumentando os gastos com transportes.

A manutenção do poder exige um esforço monumental. Chegar lá também. Isso também significa até mesmo utilizar a família como trunfo. Veja no próximo capítulo como o prefeito de Nova Iorque Bill Di Blasio fez isso.

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Família como trunfo eleitoral

Pessoas elegem pessoas. Elas não elegem questões. Elas gostam de pessoas. O que elas que-rem fazer é olhar alguém nos olhos e dizer: gosto dele . Pessoas elegem também histórias redentoras, querem reconhecer no protagonista um pouco de si e dar a ele (o candidato) superpoderes (votos) para completar sua jornada heroica.

A eleição de Bill Di Blasio para prefeito de Nova Iorque resvalou no simbolismo em que o herói busca ocupar um lugar desejado, como ensina Joseph Campbell em “Poder do Mito” . No caso de Di Blasio, o lugar foi a cadeira de prefeito da cidade mais poderosa do mundo. Para chegar lá, Di Blasio atiçou o conflito racial usando a própria família, mudou de nome três vezes , virou por-ta-voz da classe média e ameaçou os milionários com mais impos-

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tos. Mas o que levou o eleitorado nova-iorquino a eleger um defen-sor público rotulado de progressista para prefeito, após ter eleito um promotor linha dura (Rudolph Giuliani) e, em seguida, um milionário excêntrico para o cargo (Michael Bloomber)? O editorial do The New York Times do dia 26 de Outubro de 2013 dá uma pista: “O Sr. de Blasio já uniu Nova Iorque. Os eleitores de todos os bairros apoiam sua campanha esmagadoramente. (...) Se ele combinar seu carisma, com uma liderança corajosa, ele vai ganhar o apoio da ci-dade, ele já tem o nosso” , relata o texto.

Di Blasio conquistou essa façanha expondo a família, vítima da intolerância racial da Polícia de Nova Iorque. Uma afronta viven-ciada regularmente pelo eleitorado negro, hispânico e imigrante da cidade. A estratégia foi avassaladora. Criou uma identificação com o eleitorado que foi a chave para a ascensão eleitoral de um candidato considerado progressista por empunhar bandeiras sociais (habitação a preços acessíveis, ampliar acesso à educação pré-escolar, investir numa rede mais inteligentes de transportes), temas alheios aos 12 anos de mandato do prefeito Michael Bloomberg acusado de governar apenas para Wall Street (a elite).

O democrata branco, casado há 19 anos com a poeta negra Chirlane McCray (que era gay antes de se casar), é pai de Chiara, uma jovem universitária, e de Dante, um estudante do colegial com cabelo estilo black power. O filho adolescente de Di Blasio foi a estrela da campanha, após gravar um depoimento garantindo que o pai seria o único capaz de acabar com a política Stop-and-Frisk (abordagem aleatória) – uma tática impopular na comunidade latino-americana, negros e pessoas pobres da NY . O instrumento era uma marca da política de segurança da era Bloomberg. A es-tratégia eleitoral do candidato também empurrou para o holofote a esposa Chirlane. A ativista cativou a comunidade negra nova-iorqui-na. Di Blasio tem sido considerado um político carismático, de esquerda, com uma voluptuosa capacidade de se conectar com a classe média, jovens, negros e eleitores latinos-americanos. Foi esse eleitorado que se identificou com a jornada de Di Blasio e com slogan: Nova Iorque, onde todos crescem juntos.

Além dos desafios administrativos, quem assume um gover-no precisa criar uma opinião pública. Entenda no capítulo a seguir.

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Comunicação Governamental

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Governos devem construir sua própria opinião pública

Um dos principais desafios de um governo novo é construir uma nova opinião pública. Mag-netizar a sociedade em torno de temas de interes-se da nova gestão é essencial nos primeiros meses do mandato. E este é um papel da nova opinião.

A nova opinião pública contribui de modo expressivo no manejo do pensamento das massas. O governo ganha agilidade e fluidez em suas respostas para públicos heterogêneos. A construção dessa nova opinião pública não é feita de modo pacífico.

O enfrentamento com a antiga classe dominante é inevitável. Afinal, o que está em jogo é a hegemonia política. A nova opinião pública dará sustentáculo para a lógica que preside as ações do governo. Os argumentos para esta nova opinião pública devem aparecer nas estratégias de comunicação habituais:

1) Investimento no marketing governamental, com peças publicitárias e matérias pagas 2) Assessoria de Imprensa ocupando espaço na mídia com matérias e artigos 3) Interação maciça em redes sociais 4) Agendas positivas conectadas com o tempo político de uma realização (campanhas eleitorais)5) Comemorações/festas que visem aproximação do chefe do Executivo com servidores/população

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Esse pacote vai oferecer o subsídio para que a nova opinião pública invista seu posicionamento sobre setores populares, além de se infiltrar em segmentos que não se sentem representados pela administração recém empossada. Se ignorar a necessidade de construção desse novo pensamento local o governo corre um sério risco de se inviabilizar.

Você vai encontrar esses formadores de opinião na sua rede de apoiadores da campanha. São eles que o governo deve subsidiar com informações privilegiadas. Eles vão ajudar a difundir a marca do governo e oferecer argumentos importantes contra quem busca retomar o poder. Fique de olho também em membros de alto es-calão que gostam de palpitar sobre tudo. Uma frase mal construída pode colocar em risco a imagem governamental.

A disputa pela hegemonia política é repleta de energia. Por isso, manejá-la, é uma tarefa cirúrgia. Entenda mais no próximo capítulo do livro.

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É preciso assegurar hegemonia política

A opinião pública fundamenta um governo. “Os governantes nada têm para respaldá-los senão a opinião pública”, argumenta Noam Chomsky em “Contendo a Democracia” (Record, 2003). Logo, o fortalecimento de uma hegemonia política de-pende do controle da opinião pública.

Não à toa os grupos dominantes investem pesado para construir uma doutrina. Para ser mais claro: uma verdade. O manejo da opinião pública viabiliza a defesa e o fortalecimento das ações governamentais. A finalidade desse jogo é fabricar consensos.

No cenário eleitoral a construção dessa unicidade se dá por meio dos argumentos. Num ambiente de alta fertilidade e veloci- dade de informações, o formador de opinião (o jornalista, a atriz, o professor, o líder religioso, o médico, o pastor, o chefe da maçona- ria) perdeu parte do seu poder de indução. Os iguais têm agora acesso a um volume de dados (verdades) que os encorajaram a moldar “sua própria opinião”. Portanto, o papel dos governos é construir verdades, ou melhor, argumentos para serem utilizados pelos iguais. Vai vencer uma campanha quem produzir os me-

A construção do consenso é uma necessidade para assegurar a hegemonia

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lhores argumentos. Essa tática continua presente na gestão.No âmbito governamental a estratégia se repete. O desafio é

arquitetar consensos por meio de verdades em cada célula social (no conselho do transporte coletivo, na associação de moradores, na diretoria do clube, no campeonato de futebol amador, no cineclube, no encontro ecumênico) para atingir ou fortalecer sua hegemonia. O objetivo é instruir cada segmento sobre aquilo em que se deve acreditar.

Conhecimento - A indução do pensamento é vital para viabili-zar ou fortalecer uma hegemonia. A matéria-prima para manter essa devoção é a ignorância, constata Chomsky. Quem custeia, por óbvias vantagens, esse panorama é o tônus financeiro e político. A arquitetura do consenso por meio do sistema financeiro se dá pelo manejo do conhecimento. Vários “especialistas” verbalizam o con-senso dos poderosos, como já escreveu o diplomata norte-america-no Henry Kissinger.

Esse conhecimento se projeta hoje nas redes sociais, em sites de celebridades, em canais de entretenimento, no You Tube e nas superproduções do cinema. Assim como no passado por meio dos antigos meios de comunicação: livros, peças de teatro, anúncios e crônicas. Os iguais bebem dessa fonte para construir sua verdade. Essa fonte é abastecida pelo tônus financeiro e político. Repito o que escreveu Russel Jacoby em “O Fim da Utopia”: A verdade nunca se encontra fora do poder.

No cenário contemporâneo o poder vem mudando de mãos. O político altivo deve ficar atento a este cenário. Comento este assunto na página seguinte.

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Os partidos perderam o poder

Diferente dos anos 80, na segunda década dos anos 2000, a maioria dos políticos brasileiros fracassaram em desempenhar o papel crucial de ser conector entre os interesses das pessoas e ações de governo. Os partidos também perderam conexão e novos concorrentes surgiram no hori-zonte da arena política.

O diagnóstico do escritor venezuelano Moisés Naim, em sua obra “O Fim do Poder” (Editora Leya, 2013), descortina o fim da he-gemonia dos partidos políti-cos. “Os canais que ligam as pessoas ao governo são agora muito mais curtos e mais diretos do que antes e surgem cada vez mais atores capazes de intervir nesse processo e competir com os partidos no desempenho desse papel (de conexão). Cada vez mais as pessoas podem fazer sentir seus desejo e defender seus interesses sem necessidade da interme-diação dos partidos políticos”.

A resignação frente à consolidação desse quadro é uma pequena amostra de como a classe política e os partidos políticos vêm perdendo poder, analisa o venezuelano e prestigiado colunista

A classe política e os parti-dos vêm perdendo poder, analisa Moisés Naim em seu livro “O Fim do Poder”

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do El Pais. As novas formas de participação política e de organi-zação minaram o poder de partidos políticos tradicionais. Isso significa maior interferência e, por sua vez, autonomia de pequenos grupos, seja de ativistas religiosos, executivos de novas tecnologias, celebridades engajadas ou blogueiros. Vale citar o enriquecedor depoimento do ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos, sobre essa nova forma de participação política.

“Quanto mais as Ongs têm o poder de perse-guir seus objetivos unidimensionais, menor é o po- der do governo para governar. Muitas Ongs são gru-pos de interesses com um só objetivo, com maior agilidade-política, melhor domínio da mídia e maior flexibilidade no plano internacional do que a maio-ria dos governos. Sua proliferação deixa de mãos e pés atados a máquina governamental e limita muito seu leque de opções. Tive uma experiência pessoal disso quando fui presidente e vejo-o agora em minhas viagens quando falo com outros chefes de Estado e ministros. No geral, as Ongs são benéficas à sociedade, mas sua visão bitolada e as pressões que têm de exercer para mostrar resultados às suas ba-ses e doadores podem torná-las muito rígidas”

O enfraquecimento da classe política tradicional abre caminho para o fortalecimento dos políticos antiquados. Eles se misturam aos novos atores da arena política. Muitos aportam no embate com uma força devastadora. São carismáticos, bem finan-ciados, símbolos de sucesso capitalista e falam diretamente às pessoas. São os políticos messiânicos, que adoram liderar ao invés de serem liderados.

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Estatísticas da decadência

Campinas se destaca pela sua liderança na RMC (Região Metropolitana de Campinas). É uma cidade rica, polo tecnológico e também cultural. Apesar de ter uma população atenta e participa-tiva, em 2010, a imagem da cidade foi jogada na lama pelos inúmeros casos de corrupção que vi-eram à tona na administração pública.

Frustrado com a classe política, o eleitora-do sumiu das urnas em 2012 no pleito municipal. Subiu de 5% em 2008 para 12% em 2012 o número de votos nulos. As abstenções também foram expressivas: em 2008 representavam 15% e em 2012 chegou a 19,5%. Os votos em branco saltaram de 4% no pleito de 2008 para 5,8% em 2012. Esses números do processo eleitoral representam o desalento das pessoas com a classe política.

O desapreço pelo processo eleitoral é idêntico em cidades que passaram pelo mesmo trauma político. Limeira, por exemplo, é um município que integra o Aglomerado Urbano de Piracicaba e en-frentou um processo idêntico ao período de instabilidade na políti-ca campineira. O comportamento de desânimo nas urnas também se repetiu.

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O estresse das cidades vítimas de escândalo político, muitas delas arremessadas de supetão no cenário nacional, em razão do mau comportamento dos seus políticos profissionais, provocam sequelas irreversíveis.

O sentimento de declínio e de vergonha também se soma ao instinto de reação. Uma busca pelo novo sujeito político. Alguém que seja liderado, não um líder. Afinal de contas, o fazer político é uma virtude e devemos lembrar das qualidades proporcionadas pela política.

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O marketing político e eleitoral na telona

A política avança sobre o cinema. A trajetória de lideranças políticas sempre rendem boas histórias e é possível extrair muito aprendizado sobre marketing político e eleitoral das suas vidas.

O primeiro deles

é o “A Dama de Ferro” (2012). Uma obra cine-matográfica com men-sagens importantes sobre a entrega do candidato a uma campanha. Para quem não viu ou para aqueles que viram e não perceberam, vale a pena ver como os irmãos Saatchi, em 1979, dois publicitários relativamente desconhecidos da grande mídia de Londres, ajudaram a criar um ícone político mundial.

É da lendária agência Saatchi & Saatchi o anúncio com a ima-gem de uma enorme fila de desempregados com um título com fon-tes fortes: Lobour ins’t working. A peça teve uma repercussão brutal e ajudou Margereth Tacher chegar ao poder na Ingraterra. O anún-cio chegou até ser reutilizado por adversários do presidente Barak Obama durante sua campanha de reeleição com a frase exclamativa: Obama isn’t working.

Muitos especialistas consideram que Thatcher elevou o marketing do ponto de vista profissional. Peças impressas e a divul-gação dos candidatos eram feitos com direcionamento estratégico a partir de contribuições gratuitas dos simpatizantes. O longa-metra-

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gem é estrelado pela norte-americana Meryl Streep. A atriz recebeu a estatueta pela interpretação da estadista.

Já com uma pegada mais analítica, o documentário “Arquite-tos do Poder” (2010) traça um panorama das relações entre mídia e política no Brasil a partir das eleições de Getúlio Vargas, em 1950, até as eleições de Lula, em 2002. O filme é repleto de boas infor-mações sobre o marketing político e o marketing eleitoral. Um dos trechos mais interessantes são os depoimentos do publicitário Pau-lo de Tarso, responsável pela campanha do sindicalista Luis Inácio Lula da Silva e do jornalista Claudio Humberto, chefe da comuni-cação do governador da Paraíba, Fernando Collor.

“Comecei a imaginar uma rede de TV que olhasse tudo do ponto de vista do povo. Qual eram os interesses do povo, como eram as coisas feitas pelo o povo e tomei uma decisão de radicalizar a linguagem para a esquerda”, explicou Tarso sobre o surgimento da Rede Povo que surgiu numa conversa casual na casa dele entre amigos. “Copiamos toda a padronização visual da Globo e a gente brincava entre nós: Já que é para escolher um adversário, vamos escolher logo o principal que é a Globo. Naquele momento (A Globo) era muito mais radical para o lado de lá”, disse.

A campanha de Collor também foi inspirou no modelo dos programas da Rede Globo. “Agente tentava fazer um programa que fosse atraente buscando uma linguagem de Globo Repórter, mis-turada com Fantástico. A gente procurava fazer um programa que fosse atraente para o espetador”, disse Claudio Humberto.

Por fim o longa-metragem “Invictus” (2009) traz lances capitais do marketing político. O presidente da África do Sul, Nelson Mandela, encontra no rugby o canal para domar um país mergulha-do pelo apartheid. Mandela tinha conquistar a confiança da minoria branca e poderosa no país e aplacar o sentimento de violência e revanchismo do resto da população negra. O prêmio Nobel da Paz de 1993 encontrou no rubby um mote para fazer da nova África do Sul uma nação orgulhosa de si. Num trechos do filme a secretária do presidente pergunta: “Esse rugby continua sendo sua política?”. O presidente persiste apesar das desconfianças dos assessores diretos e o time antes desacreditado, vence o campeonato mundial.

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Etiquetasdo Poder

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O político: um ator

O político é um ator em tempo integral. O olhar compreensivo é um arremedo do real. A caminhada mati-nal faz parte da sua esquete.

O seu traje é um figurino. A relação do político com o público também é cênica.

Ao desprezar a atividade cênica o político permite a exposição de suas fragilidades. Debili-dades que devem ficar ocultas dos seus adversários e do público. “O príncipe não precisa ter de fato todas as qualidades imaginadas pelas pessoas, mas deve se esforçar ao máximo para convencer parecer tê-las”, ensinou Maquiavel em seu tratado político “O Prínci-pe”, datado de 1513. Tão importante quanto não menosprezar a performance teatral é somar um rico repertório para o exercício da sedução. A sedução é inerente à política. A conquista do apoio da comunidade ou o ato de governar passam necessariamente pelo encantamento proporcionado pelo político.

O político tal como o poeta é um fingidor. Os poetas descor-

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tinam suas dores fictícias enquanto os políticos lutam para manejar sensações. O cardeal Jules Mazarin em sua obra “Breviário dos Políticos”, datada de 1684, não pode ser mais claro: “Não mostres para ninguém teus sentimentos reais. Disfarça em teu coração como se disfarça um rosto. Que as palavras que pronuncias, as próprias inflexões de tua voz participem do mesmo disfarce. Jamais esqueças que a maior parte das emoções se leem no rosto. Assim, se sentes temor, reprime-o repetindo-te que és o único a ter consciência disso. Faz o mesmo em relação a todos os outros sentimentos”.

A encenação é utilizada para atiçar paixões, para estimular o sonho, para apa-ziguar ou mobilizar a socie-dade a despeito de supostas vantagem. Ela deixa um legado. A habilidade teatral do venezu-elano Hugo Chavez cooptou boa parte da população e está viva até hoje no imaginário do país. A figura de Luiz XIV é lembrada pela sua magnitude e como cada ato do seu reinado tinha um esforço grandi-oso para brilhar. Luiz XIV era própria personificação do astro. Não à toa se portava com o rei-sol e assim passou para a história da hu-manidade. A performance do político, independentemente do palco em que estiver, é fundamental para atingir sua ambição.

Dentro do contexto da arte cênica a qual todo político está mergulhado e do objetivo prático dela que é aparentar aquilo que não é ou reforçar uma imagem, a opinião do historiador Laurence Rees em seu livro “Vende-se Político” deve ser pensada: “Pessoas elegem pessoas. Elas não elegem questões. Elas gostam de pessoas. O que elas querem fazer é olhar alguém nos olhos – pela televisão, é claro – e dizer: gosto dele.”. Todo político sonha com esse magnetismo. Compreender o poder da inter-pretação é primordial para a conquista do poder. Mas é preciso estar atento às armadilhas do poder.

O ato cênico é utilizado para atiçar paixões, apaziguar ou mobilizar a sociedade

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Cilada para o emergente político

O emergente político é um boçal que pingou Viagra no nariz. Você já topou com ele por aí. Se antes ele andava com os ombros caídos, hoje ele dá até parecer em documentos governamentais. Mais que isso: agora ele opina também. O emer-gente político escreve diletantemente. Vê-se como um formidável dialético. Crê que ser dialético é ser diletante e vice-versa.

O emergente político muda de penteado para que as pessoas possam res-peitá-lo. Fala mais palavrões, já que agora transita no establishment institucional. Versa com presteza sobre frivolidades. Acha-se inteligente. Usa crachá depois do expediente. Você já topou com um emergente político. Antes era miúdo e prestativo. Hoje é esnobe e ostensivo.

O emergente político é uma espécie que abomina ser con-frontado. Assimila um discurso vitimista para justificar ações injustificáveis. Dispensa autocriticas e não mede esforços para fingir-se ocupado no smarthphone mais caro do mercado.

Os emergentes políticos estão lotados no segundo escalão, no terceiro e até no primeiro escalão. São truculentos com os emer-

Fuja das armadilhas do fascínio do poder, busque ser um novo político

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gentes de um escalação abaixo e com servidores concursados. Você já topou com um emergente político.

Eles carregam uma coragem de plástico dentro de si. Sentem pavor de voltar a pedir licença e por favor algum dia. Você conhece o emergente político. Ele acha que se conhece – e guarda em silêncio o seu medo de lidar com o personagem estra-nho que está em frente ao espelho todos os dias que acorda. Fuja dessas armadilhas que afeta os novatos que detêm algum tipo de poder político. Seja prudente inclusive com suas opiniões.

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Seja prudente em suas opiniões inteligentes

“E quando você for trepar sem camisinha/ E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba/Pense no Haiti, reze pelo Haiti”. Os versos finais da canção “Haiti”, do cantor Caetano Veloso, são sarcásticos e servem de alerta para quem se projeta em direção a qualquer vitrine política.

Arbitrar sobre temas de alta complexi-dade é autosabotagem e opinar à queima roupa sobre temas arquitetados para serem relevantes por 10 minutos é imprudência. Portanto, é preciso ser prudente ao emitir falsas opiniões inteligentes.

A abundância de informação não é conhecimento. Delete a ideia de utilizar redes sociais (Instagram,Tumblr, Facebook, Askme, Twitter) como fonte de informação. Simplesmente o que se diz lá não é confiável. Elas são um termômetro. As redes sociais revelam em tempo real qual é o interesse de uma parcela da comunidade sobre um determinado tema. Um tema multiplicado mi-lhares de vezes demonstra o quanto o assunto é atrativo. Isso não quer dizer que ele é crível.

Um tema multiplicado milhares de vezes mostra que ele é atrativo. Não quer dizer que ele seja crivel.

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É mais prudente checar os dados em jornais, revistas e veícu-los de comunicações sólidos (o negócio deles é vender informação confiável, não achismo). Ao constatar algo procedente, é preciso ter em mente que estar a par do assunto não significa tê-lo dominado. Novamente o remédio é a prudência. Ser prudente é ser honesto. Ser prudente é ser justo. Com o tempo a prudência foi associada erroneamente ao sujeito inseguro demais ou excessivamente incer-to. É um equívoco. Ao opinar é preciso ser prudente para não come-ter injustiças.

Apresentar ‘sua participação inteligente no bloqueio a Cuba’ pode leva-lo à ruína se feita de modo equivocado ou expressa de um modo desastrado. Rapidamente emagrecerá seu prestígio, reduzirá sua autoridade ou pior: causará constrangimento ao seu reduto político. Um grupo de apoiadores pode ser desmoralizado a partir de uma informação mal apurada e emitida numa reunião ou por uma postagem infeliz na rede social.

Antes de emitir uma opinião é preciso ter argumentos vivos. Na falta deles, é mais seguro ancorar seus pensamentos a uma entidade, uma instituição ou livro com notoriedade. Para quem busca projeção na comunidade é essencial escutar como rever-beram as vozes brotadas aqui e ali na opinião pública. Valorizá-las e destacá-la é uma tática mais rentável. No meio da comunidade circulam vários tipos de lideranças. “Formadores de opinião verti- cais teriam a capacidade de incutir nas massas ideias, valores e informações que o conjunto da população absorveria sem maiores críticas ou decodificações”, analisa Rubens Figueiredo em seu ensaio “O Marketing Político: entre a Ciência e a Falta de Razão” (Fundação Konrad. 2000).

Ao conseguir extrato desses pensamentos é possível apre-sentar ‘sua participação inteligente no bloqueio à Cuba’ de um modo muito mais poderoso e convencer a opinião pública daquilo sobre a qual ela já está convencida. Como bem lembra Laurecen Rees (Vende-se Política. Revan, 1995) neste caso quem busca pro-jeção não lidera, mas é liderado pela opinião pública.

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Maquiavel mesmo era Mazarin

Os conselhos do cardeal e primeiro-ministro de Luiz XIV da França, Jules Mazarin, em sua obra “Breviário dos Políticos” são inescrupulosos. O francês escreveu um guia para cativar poderosos, aumentar poder dentro do organismo público e atingir a hegemonia muito mais maquiavélico do que se comparado ao popular “O Princípe”, de Nicolau Maquiavel.

Para Mazarin, o candidato ao poder, ou aquele que exerce algum tipo de poder jamais pode deixar transparecer aquilo que sente ou pensa. “Arranja-te para que teu rosto jamais exprima nenhum sentimento particular, mas apenas uma espécie de per-pétua amenidade”, ensina o cardeal. Mazarin é descrito por Umber-to Eco como uma figura extremamente desprezível e avalia sua obra como instrumento “esplêndido” sobre como “obter poder pela manipulação do consenso”.

A sofisticação da manipulação política sugerida em “Bre-viário dos Políticos” pode ser medida pela orientação de Mazarin para quem pretende dar uma guinada em sua trajetória. “Se cogitas uma mudança de orientação política, procura preliminarmente – e em segredo – um teólogo ou uma pessoa entendida e obtém sua aprovação plena e cabal. Depois dá um jeito para que seja ele quem te faça essa sugestão diante de testemunhas, ele que te incite a isso

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e – melhor ainda – que pareça abertamente fazer pressão sobre ti”, escreveu. Cínico, não?

A doutrina do italiano não para por ai. É dotada de outras recomendações. “Ter informações sobre todo o mundo, não confiar teus próprios segredos a ninguém, mas colocar toda a tua persever-ança em descobrir os dos outros”, redigiu o Cardeal como instru-mento essencial para atingir ou manter o poder.

Ele prega ainda que a moderação é um remédio para não ser esquecido dentro do exercício da política. “Jamais esqueças que a prudência exige não atacar vários inimigos ao mesmo tempo. Assim, enquanto trabalhas para a ruína deste, reconcilia-te com todos os outros – provisoriamente”, orienta.

Em sua obra Mazarin elenca uma série de comportamentos apreendidos por ele durante seu esplendor político na França. Vão desde como se portar diante de bajuladores, instruções sobre como corrigir o modo de olhar, dissuadir ordens para que você cometa crimes, como abater um concorrente ao mesmo posto e criar rela-cionamentos utilitários. Assim, reza a cartilha para o político ine-scrupuloso. Em parte é ele o responsável pelo desamor da política.

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Desamor pela política

Ser contra a política é um clichê, um mantra e um lugar-comum. Essa verdade universal (de que a política é imprestável) é alimentada, inclu-sive, por atores do ambiente político. Aliás, estes são seus piores algozes. Rasuram a reputação da política para não serem acossados por amigos e parentes numa roda de conversa, no clube de cam-po ou na fila do banco.

Contraditoriamente, aqueles que sonham em conquistar um cargo eletivo também contribuem para a marginalização da política. Contudo, mantêm firme seu propósito eleitoral. A discrepância é grande. É a mesma coisa que pensar num operador do direito às raias com a justiça, num romancista descrente com a literatura ou num jogador de futebol que despreza o gol. Não faz sentido. Como explicar esse paradoxo? Sobra oportunismo de um lado e covardia por outro? Sim. Mas não é só isso.

A tendência de simplificar temas complexos é uma praga do nosso cotidiano. Pior, produz preconceitos. Advogar em favor da política é abraçar suas qualidades, não sua vilania. Contudo, é muito mais simples tê-la como vilã. Cai bem para uma sociedade adorado-ra de rótulos e fã da simplificação: isso é bom, isso mau, aquilo é descolado ou aquilo é antiquado. Não somos dados a pensar além da superfície. É uma espécie de anorexia cognitiva.

Acontece que os políticos ainda são idealizados na atuali-dade como guias. Não à toa são citados em metáforas como pas-tores, médicos, ou em outras posições, onde são associados à sabe-

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doria, experiência e uma boa capacidade de fazer a coletividade sonhar com o bem. Daí advém a vigília monumental sobre o político. Ao capitular moralmente o político alimenta a indústria do escânda-lo que por sua vez nutre o nosso ceticismo, faz agonizar a política e escoa o poder aos detratores da política.

A estafa gene- ralizada com os efeitos contraproducentes da política chega às raias da beligerância. Nasce daí um desejo incan-descente das pessoas pela erradicação da política do nosso cotidi-ano. E há quem patro-cine esse sentimento para atingir a hegemonia ou tonificar seu domínio político. De fato no seio da política não reside justiça. A política não é boa, a política não é má. A política sequer é romântica, mas inspira a aventura humana a engendrar ideais.

Mas a política é útil e cheia de virtudes. Você aí interessado em ter acesso ao poder ou mantê-lo não destrate a política. Pelo contrário, ressalte suas qualidades. Por meio da política conseguim-os fabricar o consenso, em contrário viveríamos em ambientes totalitários. Mas não devemos idealizar demais a política. A política não se basta em si. O efeito dessa frustração aparece em estatísticas assustadoras.

A tendência de simplificar temas complexos é uma praga do nosso

cotidiano. Pior, produz preconceitos. Advogar em favor

da política é abraçar suas qualidades, não sua vilania.

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Minha Crença na Política

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O fazer político é uma virtude

Em uma entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, no livro “Os Segredos dos Presi-dentes” (Editora Globo, 2005), o ex-presidente Fernando Collor de Mello, considera como um dos seus principais erros a postura intolerante do seu governo com o Congresso Nacional.

Desde que tomou posse até sua derrocada na Presidência, o hoje senador da República manteve, inadvertidamente, um relacionamento ruim com o poder Le- gislativo. Motivo? No ápice da sua trajetória como político, Collor não apreciava o fazer político.

Talvez o ex-presidente seja o exemplo mais popular de um crescente agrupamento de políticos em rota de colisão com a políti-ca. Sim, políticos às turras com a política vêm se proliferando nas cidades. Não é raro ouvir desabafos inusitados de ocupantes de cargos eletivos em assembleias legislativas ou mesmo em prefeitu-ras do interior de São Paulo, queixas sobre a necessidade de fazer política para atingir um resultado desejado. Frases desalentadoras

É preciso preservar a notabilidade da política a fim de protegê-la dos seus detratores. A crença na política

é compreender o seu poder de comunhão com as pessoas.

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como “Tudo é política, né?” são comuns.Esta incongruência é fabricada pelo reducionismo cara-

cterístico da nossa época de farto conhecimento e pouca reflexão. O vazio de conhecimento sobre a essência da política é latente. Políti-ca é uma ciência e uma arte. Política também é gesto, como escreveu certa vez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O fazer político é o campo onde se apaziguam as diferenças. É uma aventura em que há embates, há participação popular e se constitui o instru-mento conhecido pelo homem no qual se inicia a organização social. A política é repleta de virtudes.

O grande desafio da política é criar as condições para que se passe da defesa dos interesses particulares para a construção e a defesa do interesse geral, escreveu o Marco Aurélio Nogueira em sua obra “Em Defesa da Política” (Unesp, 2001). É ela, ainda segun-do o professor, que nos ajuda a integrar desejos, vontades e inter-esses numa convivência coletiva.

Cabe lembrar que esta tese contestada pela postura opor-tunista de estrategistas interessados em fazer ruir a política apenas para privilegiar a classe política vigente. Esse oportunismo deliber-ado tem como ambição beneficiar os velhos políticos. Cabe ao político altivo denunciar esta prática e não ceder a frases feitas que associem política ao horror.

É preciso preservar a notabilidade da política a fim de prote-gê-la dos seus detratores. A crença na política é compreender seu poder de comunhão com as pessoas.

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A política está longe de ser o palco da justiça

Neste texto volto num tema que delinea toda esta obra: a associação da política com a justiça. Bem, primeiro é preciso entender que a engrena-gem da política é movida por forças ambíguas. O embate é o seu oxigênio. Quem exerce o poder impõe obstáculos à igualdade de condições neste enfrentamento.

Outra coisa: a construção de uma hegemonia é uma batalha contínua e impõe tanto ao aspirante ao poder como a quem o exerce a arte da sedução, a necessidade de domesticar sentimentos, manter segredos, ser invisível, simular e ser dissimulado. De novo: a política nunca foi o palco da justiça.

É um exercício de dominação e dominar necessariamente exige seduzir, controlar, persuadir e dissimular. O fazer político que eu acredito não tem interseção entre a persuasão e a manipulação. Ponto. E você aí que tem tesão pelo ambiente político precisa fugir dessas armadilhas do senso comum.

A política busca a construção do consenso e nunca o sabor amargo da intolerância. “A política não está errada ao procurar tecer coesão. Não pode, entretanto, eliminar as fontes de divergências”, escreveu o estudioso Christian Ruby em seu livro “Introdução à Filosofia Política” (Unesp, 1998). Particularmente confio bastante nesta ideia. A idealização da justiça dentro da política não me inco-moda. A ação política carrega essa mensagem embutida em seu

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DNA. Um recado salpicado de uma espécie de verdade do grupo que se articula em favor da manutenção do governo ou que planeja sua derrocada. A beleza da política é a disputa.

Não faço apologia nestas páginas ao vale-tudo e ao extermí-nio da ética. Nem me preocupo com o chilique da turma politica-mente correto e sua visão maniqueísta do universo. Quando digo que a política não é palco da justiça é porque historicamente a construção da verdade foi tecida por quem está no poder, ou seja, pela classe dominante. Rotular quem está na hegemonia de um grupo cândido é uma ingenuidade.

Como ensina José Nivaldo Júnior em “Maquiavel, o poder” (1999), nem mesmo o autor de “O Príncipe” propôs um governante distante da ética. “Não julgamos correto afirmar que ele exterminou a ética no seu pensamento político. Acreditamos expressar melhor o sentido da ética em sua obra quando considerarmos que ele trans-fere a ética dos meios para os fins. O fim visado por ele, em última análise, é fortalecimento do Estado. Considera que os homens, por si mesmos, são maus. (...) Se os homens são maus por natureza, a única salvação para a sociedade é um Estado centralizador, sim-bolizado por um governo forte, capaz de tudo pela glória, pela vitória. Esse é o sentido mais abrangente do trabalho de Maquiavel”, analisa Nivaldo Júnior. Mas, como reforço em todo este trabalho, é preciso cuidado para não simplificarmos temas complexos como a política. Porque ela é útil.

O fazer político que eu acredito não tem interseção entre a persuasão e a manipulação.

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A política é útil

O fazer político é tenaz em fabricar con-vergências. Eis aí uma virtude única da política e uma habilidade singular dos políticos: construir o consenso. Um oásis numa era de abundante he- terogeneidade, de veloz transformação e com gos-to atroz pela simplificação.

O desuso do fazer político fortalece a intolerância. Nutre um sistema empenhado em tecer apatia e estrangula os mecanismos de participação popular. Reavivar as essências do fazer político é a vocação do político altivo. Para alguns, advogar em favor da política é marchar contracorrente. A estafa generalizada com os efeitos contraproducentes da política chega às raias da beligerância. Nasce daí um desejo incandescente das pessoas pela erradicação da política do nosso cotidiano. E como venho alertando ao longo desse livro, há quem patrocine esse sentimento para atingir a hegemonia ou tonificar seu domínio político.

O patrocínio dessa tese dissemina a associação entre im-pureza e política. É uma equação coerente pelo volume de maland-ragens atribuídas ao ponto de chegada da política: o poder. Notada-mente a política já foi possuída por tudo que é nêgo torto, do mangue ao cais do porto, como diz os versos da canção “Geni”, do Chico Buarque.

Mesmo injustiçada e vítima de lixamento público, a política carrega em sua gênese o pendor da redenção. O mesmo acontece com a personagem da canção. Ambas carregam glórias em sua jornada. De fato, no seio da política não reside justiça. A política não

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é boa, a política não é má. A política sequer é romântica, mas inspira a aventura humana a engendrar ideais. A loucura, o amor, a espe rança, a ilusão, a perversidade, a bondade são nuances da política. Juntos, eles constituem um filme. Ao ser projetado no presente reve-la-se a psiquê de uma civilização.

A política é a paisagem construída a partir destes movimen-tos. Não à toa é untada em contradições e configurada por forças distintas. Por esta razão nela reside o conflito, afinal, ela é feita por homens e não por softwares.

O historiador e critico social Russel Jacoby acha que não há nada a fazer para restaurar a utopia. Porém isso não significa que nada deverá ser pensado, imaginado ou sonhado daqui para adiante. “O empenho em vislumbrar outras possibilidades de vida e sociedade continuam sendo urgentes”. O recado também vale para a política, principalmente quando incitamos aqui seu valor num momento de veloz transformação e com gosto atroz pela simplificação. O fazer político fabrica consenso e espanta o fantasma do messianismo.

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Em busca de uma voz política• Nogueira, Marco Aurélio. Em Defesa da Política – São Paulo. Senac São Paulo. 2001.

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Insista num só tema, não confunda a mente do eleitor• Soros, George. “A Vitória de Pirro de Angela Merkel”. Disponível www.portaldoeconomista.org.br/comunicacao/noticias_detalhes.php?notId=1783. Data de acesso 29 de novembro de 2013• Peer Steinbrueck. Disponível em www.peer-steinbrueck.de. Acessado em 29 de novembro de 2013

|Referências

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Verdade e manejo da opinião pública• Noam Chomsky recorrer ao filósofo David Hume em Princípios Básicos de um Governo para referendar seu pensamento• “O poder e a política saturam tudo o que existe. A própria verdade é uma função do poder”, escreveu Russel Jacoby em “O Fim da Utopia” em alusão a con-cepção do poder total de Foucault

Seja prudente com suas opiniões inteligentes• Figueiredo, Rubens. “O Marketing Político: entre a Ciência e a Falta de Razão”. Fundação Konrad, São Paulo. 2000.

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Obras consultadas para compreensão do contexto político brasileiro

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denava Geni agora se aproxima da prostituta. Usando argumentos persuasivos e explorando a boa índole anti-heroína, convencem-na a se deitar com o comandante. Ela salva a todos e depois volta a ser desprezada pela elite. 13. Jacoby, Russel. O Fim da Utopia / tradução Clóvis Marques – Rio de Janeiro: Record, 2001. Salomão, Waly. Armarinho de Miudezas. São Paulo. Editora Rocco. 1993.14. Nogueira, Marco Aurélio. Em Defesa da Política – São Paulo. Senac São Paulo. 2001.15. Giddems, Anthony. Mundo em Descontrole. Editora Record: 2013. Rio de Janeiro.16. Disponível em www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ribeirao-preto/2013/08/1329409-tre-de-sao-paulo-cassou-13-prefeitos-e-absolveu-4.shtml. Acessado em 08/12/2013.17. Cardoso, Henrique Fernando. A Arte da Política – Editora Record. 2006.18. Disponível www. jmjcampinas.org.br/discursos-e-homili-as-do-papa-francisco-no-brasil-por-ocasiao-da-jmj

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