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O_POPULAR 06/03/2011 - GERADA POR: MARIO (05/03/11 19:33) 10 POLÍTICA / O POPULAR GOIÂNIA, domingo, 6 de março de 2011 Carlos Eduardo Reche A falta de consenso em tor- no dos temas centrais da pro- posta de reforma política em discussão na Câmara dos De- putados e no Senado deve, mais uma vez, inviabilizar as discussões ou reduzir a abran- gência das mudanças do siste- ma político e partidário, afir- mam especialistas. Para os analistas ouvidos pelo POPU- LAR, ainda que haja altera- ções, elas não devem abordar pontos importantes, como a chamada cláusula de barreira, que reduziria o elevado núme- ro de legendas em funciona- mento no País (leia quadro). A proposta de reforma polí- tica chegou a ser colocada em votação no plenário, em 2007, mas acabou não sendo aprovada em função de pro- funda polêmica em relação a pontos como o financiamen- to público e exclusivo de cam- panha e a lista pré-ordenada nas eleições para vereadores e deputados. As duas propostas foram rejeitadas pelo plená- rio da Câmara. Neste ano, ou- tra proposta que encorpou as discussões foi o fim das coliga- ções proporcionais, na esteira das liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que suplentes dos partidos e não das alianças, to- massem posse com a saída dos titulares. Segundo o senador Demóstenes Torres (DEM), que integra a Comissão Especial da Reforma Política instalada no Senado, a Casa tem hoje mais de 500 propostas de parlamen- tares relativas à reforma políti- ca. Entre elas estão o voto dis- trital, a unificação das eleições estaduais e presidenciais com as municipais e o voto faculta- tivo. “Se aprovar uma refor- ma, ela deverá ter quatro ou cinco pontos centrais”, afirma Demóstenes. Membro da Co- missão Especial instalada na Câmara, o deputado federal Rubens Otoni também reco- nhece que não é possível afir- mar que a reforma será aprova- da, em função das “grandes di- vergências” em torno do tema. Para o professor Marco An- tônio Villa, da Universidade de São Carlos (UFSCar), a aprovação da cláusula de bar- reira já representaria uma “re- volução” no sistema partidá- rio brasileiro. “Com a aprova- ção da cláusula de barreira, te- ríamos um reforma tão radi- cal que já mudaria tudo”, afir- ma. “Só isso derrubaria, redu- ziria o número de partidos com representação no Con- gresso para cerca de oito e is- so criaria um outro tipo de re- lação com o Poder Executivo, marcada hoje pela troca de fa- vores”, afirma. Segundo ele, a redução do número de partidos “aqueles donos” de legendas de “alu- guel desapareceriam”. A cláu- sula foi aprovada pelo Con- gresso, mas acabou derruba- da pelo Supremo Tribunal Fe- deral (STF), em 2007, sob a ale- gação de que o procedimento legal correto seria a aprova- ção de uma Proposta de Emen- da Constitucional (PEC). Para o presidência da Co- missão de Direito Político e Eleitoral da Ordem dos Advo- gados do Brasil (OAB) em Goiás, Danilo de Freitas, ou- tro ponto fundamental para a reforma política seria a apro- vação do fim das suplências para senador. Atualmente, em caso de renúncia, cassa- ção ou morte dos membros do Senado, a vaga é ocupada pe- lo suplente, que não disputa as eleições. Os especialistas criticam o fato de que tem sido comum a escolha de suplentes fora do mundo político, em geral pa- rentes ou financiadores das campanhas. “Existe a possibi- lidade de se retirar a suplên- cia, por si só, e aí, quando ne- cessário, se faz uma eleição para eleger aquele novo sena- dor ou poderia assumir o se- gundo colocado”, enumera. PONTOS EM COMUM Entre as propostas que en- contram respaldo dos parla- mentares estão o financia- mento público e exclusivo de campanha, a lista pré-ordena- da para as eleições proporcio- nais (ou lista fechada) e o fim das coligações proporcionais. O deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), que coordena os trabalhos de seu partido na Comissão Especial da Câma- ra, afirma que as três propos- tas “fortaleceriam os parti- dos” no País e representariam um grande avanço para o sis- tema político. O democrata é um crítico, por outro lado, do voto distri- tal, afirmando que não have- ria critérios claros para a divi- são dos Estados em distritos. Ele alerta para o fato de a divi- são ser feita a partir da atual ló- gica política, em que já há áreas sob grande influência de lideranças e partidos, o que po- deria desequilibrar a disputa. Pelo voto em lista, o partido formaria, antes da eleição, uma relação ordenada de can- didatos, segundo critérios defi- nidos internamente. Após o re- sultado, seriam considerados eleitos o número de candida- tos definidos a partir do quo- ciente eleitoral, na ordem da lista. Assim, por exemplo, se o partido A elegesse cinco depu- tados, estariam eleitos os cin- co primeiros nomes da lista. Os demais seriam os suplentes. Sobre esse critério poderia ser aplicada ainda a regra do fim das coligações partidárias, com lançamento das chama- das chapas puras, sem legen- das agregadas. Dessa forma, ar- gumentam os defensores da proposta, não haveria dúvidas de que o mandato seria do par- tido, o que reforçaria ainda a te- se da fidelidade partidária. Otoni disse que pretende apresentar uma proposta mis- ta para a lista fechada. Segun- do ele, a ideia é fixar o voto no partido e no candidato. “O eleitor votaria primeiro no partido e depois em um candi- dato do partido segundo a sua preferência”, explica. Segun- do o deputado petista, isso amenizaria o impacto da mu- dança do eleitor, “habitua- do”, lembra o deputado, com o voto aberto e no político e não no partido. “Seria um meio-termo para a lista fecha- da”, afirma ele, acreditando que essa proposta alternativa tem mais chances de prospe- rar. “A lista pré-ordenada é o ponto mais delicado do deba- te, porque ela aparece para viabilizar o financiamento pú- blico de campanha”, diz. Com a lista pré-ordenada ou lista fechada, os recursos públicos para a realização das campanhas eleitorais seriam transferidos para os partidos, que depois poderiam distribuí- los internamente de acordo com a competitividade de seus candidatos. Pela propos- ta, os recursos seriam exclusi- vamente públicos. O valor re- servado para a eleição seria calculado a partir do gasto por eleitor. Atualmente, o financia- mento é misto: os partidos dis- põem de um fundo partidário e da garantia de horário gratui- to para apresentação de pro- postas no rádio e na televisão, mas podem captar recursos de empresas e pessoas físicas, se- gundo critérios pré-estabeleci- dos e com regras para a presta- ção de contas. Os especialistas também cri- ticam o elevado número de par- lamentares envolvidos na dis- cussão da reforma. São duas comissões separadas, uma no Senado e outra na Câmara. Nesta, há 41 deputados na con- dução dos trabalhos, alguns deles envolvidos em escânda- los de corrupção, como é o ca- so de Paulo Maluf. “Deveria ha- ver uma Comissão Mista. É a mesma situação de partidos com muitos candidatos. Quan- do há muitos, é porque não há nenhum realmente bom”, afir- ma Villa, da UFScar. A Câmara instalou sua pró- pria Comissão Especial da re- forma após críticas de que as mudanças, se ficassem ape- nas a cargo do Senado para posterior apreciação pelos de- putados, se dariam sobre te- mas de interesse sobretudo das eleições proporcionais. Numa espécie de retaliação a eventuais mudanças que desa- gradem a Câmara, os deputa- dos falam em mexer em pon- tos como, exatamente, os das suplências de senador. Entre as propostas em dis- cussão na reforma política que encontram mais acolhi- da entre os parlamentares es- tá o fim das coligações pro- porcionais. A tese foi reforça- da a partir das liminares do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor dos suplentes dos partidos e não das coliga- ções, que vem alterando a composição dos Legislativos em todo o País. A grande dú- vida é se o fim das coligações será aplicado também para as eleições majoritárias. Pela regra das coliga- ções, diversos partidos po- dem se reunir para disputar as eleições como se fossem uma única legenda. Até as li- minares do Supremo, os su- plentes assumiam as vagas deixadas pelos titulares na ordem de votação. A Corte, no entanto, acatou o argu- mento apresentado a partir da regra da fidelidade parti- dária, que afirma que o man- dato é do partido. Para os crí- ticos do entendimento do Supremo, vale a regra de que o efeito das coligações se estende para após o resul- tado das eleições. O deputado federal Ronal- do Caiado (DEM) apresen- tou uma Proposta de Emen- da Constitucional (PEC) no mês passado para garantir a manutenção do resultado das eleições em coligações proporcionais. Para o presi- dente da Comissão de Direi- to Político e Eleitoral da Or- dem dos Advogados do Bra- sil (OAB) em Goiás, Danilo de Freitas, apesar de o argu- mento acatado pelo Supre- mo ser plausível, ele não le- va em conta casos como os dos deputados titulares de coligações que não têm su- plentes de seus partidos. “Para entendermos a dis- cussão da forma que o Supre- mo está decidindo, precisa- ríamos primeiro acabar com as coligações”, afirma Dani- lo, argumentando que o re- sultado da eleição propor- cional no modelo atual é “uma cesta de votos” dos di- ferentes partidos. “A legisla- ção estabelece que o parti- do, em coligação, é como se um partido fosse. Ou seja, o partido do eleito é o partido coligação”, afirma. “Há uma análise profunda a ser feita pelo Supremo nesse sentido”, diz. O deputado federal Ru- bens Otoni (PT) defende o fim das coligações propor- cionais sob o argumento de que elas “distorcem o siste- ma proporcional”. “O gran- de mérito, a grande vanta- gem do sistema atual é o vo- to proporcional. Ou seja, de- terminada porcentagem de votos dá direito a um deter- minado número de cadeiras no Legislativo, alto ou bai- xo, mas de forma que todos sejam representados”, expli- ca o deputado. A proposta de reforma polí- tica em tramitação no Con- gresso Nacional deixa de lado vários pontos essenciais para o sistema político, afirma o presidente da Comissão de Di- reito Político e Eleitoral da Or- dem dos Advogados do Brasil (OAB) em Goiás, Danilo de Freitas. Segundo ele, entre os pontos que a entidade consi- dera fundamentais para a re- forma está a restrição às con- sultas feitas no Tribunal Supe- rior Eleitoral (TSE), que, afir- ma, causam instabilidade no processo eleitoral. “Existe um prazo para as consultas. O Código Eleitoral proíbe ao TSE responder con- sultas em ano eleitoral”, afir- ma. “E foi exatamente a con- sulta respondida em ano eleito- ral que criou, por exemplo, to- do o imbróglio da (Lei da) Fi- cha Limpa (que veda as candi- daturas de agentes públicos condenados por colegiados em segunda instância)”, cita. “Há uma inversão (nas regras). Em vez de nos pautarmos a partir de casos concretos, nos pautamos por respostas de consultas”, afirma. “Exata- mente para não acontecer o que aconteceu no caso da Fi- cha Limpa é que a consulta é proibida pelo Código Eleitoral em ano de eleição”, afirma. Além da Ficha Limpa, a re- gra da fidelidade partidária também foi estabelecida a par- tir de consulta respondida pe- lo TSE. “Alguns dizem que is- so é uma resposta do Poder Ju- diciário à letargia do Congres- so Nacional. Mas isso seria uma violação da independên- cia dos Poderes”, afirma. “Questões processuais pode- riam ser discutidas, mas não serão”, afirma Danilo. Entenda a reforma política Novela sem fim MENSALÃO NO DF Dez. 2009 Descoberta do esquema de pagamento de propina a integrantes do governo do Distrito Federal reabre debate sobre reforma. O PT defende a convocação de Assembleia Constituinte para votação de mudanças no sistema político. MUDANÇAS EM RETALHOS Jun. 2010 Depois de adiar para este ano a votação de temas políticos da proposta de reforma política, Câmara aprova reforma eleitoral para as eleições de 2010. REFORMA DO GOVERNO Ago. 2008 Palácio do Planalto envia proposta de reforma política para o Congresso. Texto previa financiamento público de campanha e a instituição da cláusula de barreira. SEM CONSENSO Fev. 2007 Câmara inclui proposta de reforma política na pauta da Casa, mas votação é adiada para a agosto por falta de consenso. As discussões acabam deixadas de lado. AMBULANCIOTERAPIA Ago. 2006 Discussão da reforma política volta à baila após CPI dos Sanguessugas denunciar participação de 72 parlamentares acusados de receber propina em troca da apresentação de emendas para a compra de ambulâncias. Em meio às eleições, discussões não avançam. MENSALEIROS Jun. 2005 O escândalo do mensalão estimula a retomada das discussões sobre a reforma. A proposta acaba deixada de lado em meio à onda de CPIs e denúncias contra mensaleiros. SEM APOIO 2004 Reforma política é aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados. Relatada pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), a proposta não vai adiante no plenário. OS PONTOS EM DISCUSSÃO AS PROMESSAS DE APROVAÇÃO Coligações proporcionais Está em discussão no Congresso o fim das coligações para as eleições para vereador e deputados estaduais e federais. Cada partido concorreria às vagas no Legislativo em chapa própria e única. Financiamento das campanhas O financiamento público e exclusivo das campanhas eleitorais é um dos pontos da reforma com maior adesão. Um fundo reuniria os recursos, que seriam distribuídos entre os partidos. Hoje o financiamento é misto (público e privado). Fidelidade partidária A fidelidade é defendida na Câmara e no Senado sob o etendimento de que o mandato é do partido e não do político. Mas há discussões sobre brechas que permitam trocas partidárias antes da aprovação da regra. Lista fechada Pela proposta, outro ponto polêmico da reforma, os partidos definiriam em uma lista a ordem dos parlamentares eleitos. Dela sairiam, em ordem pré-definida, os parlamentares eleitos pelo partido. Voto distrital É um dos pontos mais polêmicos. Prevê que os Estados sejam divididos em distritos de acordo com o número de deputados estaduais e federais, com eleição majoritária (vence o mais votado). Há proposta de voto distrital misto, com uma parte das vagas para disputa proporcional e a outra para majoritária. Cláusula de barreira Derrubada pelo STF em 2007, a regra é considerada de difícil aprovação. A cláusula prevê que somente os partidos com ao menos 5% dos votos em determinado número de Estados tenham direito aos recursos do fundo partidário e a tempo no horário partidário e eleitoral. A cláusula reduziria drasticamente o número de partidos. Suplentes de senadores Cresce no Congresso a proposta de acabar com a figura do suplente de senador. Em caso de renúncia, morte ou cassação, haveria eleição extemporânea para a escolha do novo ocupante da vaga aberta no Senado. ESPECIALISTAS ACREDITAM QUE ALTERAÇÕES NO SISTEMA POLÍTICO SERÃO POUCAS DEVIDO À FALTA DE CONSENSO Impassesdevemdificultarreforma Debate sobre fim das coligações avança Propostadeixa de lado váriospontos essenciais GOIÂNIA, domingo, 6 de março de 2011 CIDADES / O POPULAR 3 Carla Borges O número de vagas para carteiros que a Empresa Brasi- leira de Correios e Telégrafos (ECT) deve contratar para Goiás – 190, conforme anun- ciou ontem em entrevista ao Face a Face do POPULAR o di- retor regional da empresa, Eu- gênio Walter Pinchemel Mon- tenegro Cerqueira – é insufi- ciente para atender o déficit atual. A avaliação é do secre- tário-geral do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Telégrafos e Similares (Sin- tect) de Goiás, Eliseu Pereira da Silva. “Se o número contra- tado for esse mesmo, a popula- ção continuará sofrendo atra- sos na entrega de correspon- dências”, acredita. Os constantes atrasos, ex- plica, devem-se quase que ex- clusivamente à carência de profissionais, especialmente de carteiros. Só no ano passa- do, computa o sindicalista, cerca de 150 trabalhadores deixaram a empresa em Goiás, dos quais 108 no pro- grama de demissão voluntá- ria e o restante por outros mo- tivos. Eliseu explica que as- sim como os Correios têm suas ferramentas para medir o número ideal de trabalhado- res por setor – de acordo com a população atendida e volu- me de correspondências entre- gues, entre outros –, o sindica- to também tem as suas, basea- das na visita direta às agên- cias e centros de distribuição. Na conta do Sintect, se- riam necessários, para contra- tação imediata, 330 carteiros, dos quais 200 deveriam co- brir o déficit em Goiânia e o restante no interior do Esta- do. Segundo levantamento do sindicato, Goiânia tem ho- je em torno de cem bairros ou totalmente descobertos com a entrega de correspondências ou atendidos precariamente, com rotas semanais. “É preci- so que a empresa faça um con- curso sério”, diz Eliseu. “Um concurso para 190 carteiros não vai resolver o déficit e a população continuará sofren- do”. Ele diz que a entidade vê com reservas a realização do concurso. A dúvida é motiva- da pelos vários problemas que envolveram o último con- curso, anunciado desde 2008, que recebeu mais de 1 milhão de inscrições, foi adiado por duas vezes e depois cancela- do. Na entrevista ao Face a Fa- ce, Montenegro diz que a pro- gramação é para que o concur- so seja aberto até o dia 15 des- te mês, com previsão de que as provas sejam realizadas no dia 15 de maio e que os novos empregados comecem a traba- lhar a partir de agosto. Coordenador-geral do pre- paratório Tese Concursos, o professor de raciocínio lógico Pedro Menzel Galvão acredi- ta que o concurso dos Cor- reios desta vez vai sair. “Até porque é um concurso cujas vagas foram criadas há bas- tante tempo e a necessidade é real”, justificou Pedro ao PO- PULAR. Depois de lembrar que o fortalecimento dos Cor- reios é uma promessa de cam- panha da presidente Dilma Rousseff, ele acrescenta que os Correios são uma empresa pública, que tem arrecadação, por isso o concurso não deve ser afetado pelo corte de gas- tos do governo federal. O secretário-geral do Sin- tect em Goiás rebateu as decla- rações do diretor regional dos Correios a respeito das condi- ções de trabalho dos emprega- dos. Em resposta a uma per- gunta de Ronney Quirino da Silva, funcionário dos Cor- reios, sobre a falta de condi- ções de trabalho, Montenegro afirmou que “Goiás permite uma situação para o trabalha- dor bem mais confortável den- tro de suas instalações” do que as de outros Estados. “Há casos de cidades do in- terior em que os carteiros têm de fazer entregas em seus pró- prios carros, porque não têm como colocar caixas de 30, 40 quilos, sobre a bicicleta”, diz. Veja vídeo na versão flip do jornal. www.opopular.com.br Vagassãoinsuficientes,dizsindicato Há quatro meses, a profes- sora Ana Gomes de Oliveira, de 38 anos, assumiu a árdua tarefa de administrar um con- domínio em Goiânia com 216 apartamentos, cuja taxa de inadimplência é de 48%, em média. Ou seja, quase a meta- de dos mais de mil moradores deve para o condomínio. Sem recurso em caixa e com tanto dinheiro para receber, as obras necessárias à melhoria da qualidade de vida de todos os moradores do condomínio não têm data para começar. Os últimos levantamentos feitos por ela em conjunto com a assessoria contábil do condomínio estimaram em aproximadamente R$ 300 mil a dívida que a administração tem para receber de condômi- nos em débito com as taxas. Há dívidas que foram contraí- das há dez anos e nunca fo- ram pagas. Isso faz com que a taxa de condomínio seja bas- tante elevada para o padrão de edifício administrada por Ana: cerca de R$ 300,00 por mês. “Eu ainda estou tentan- do descobrir uma forma, uma maneira de resolver o proble- ma. Individualizamos algu- mas contas, como a de água e gás, para ver se conseguimos reduzir ao menos um pouco a taxa”, afirma. Pela primeira vez, os débi- tos foram parar num escritó- rio de cobrança, ressalta a sín- dica. “Foi a forma que encon- trei de conseguir receber ao menos parte da dívida. Tudo o que for entrando nos próxi- mos meses pode nos ajudar a reduzir o enorme déficit que tem ficado”, explica. A sala de Ana, desde então, virou uma via-crucis. Cada condômino em débito com suas taxas tem um problema para apresentar e uma justificativa também. “Ninguém gosta de ser cobra- do, mas não há outra forma de tentar resolver a questão.” O condomínio administra- do por Ana tem 20 anos e apre- senta sérios problemas de ma- nutenção. Mas o uso contí- nuo dos 10% da receita do condomínio destinados ao fundo de reserva deixou sem condições de a administração investir na manutenção da área comum do edifício. A res- tauração da área externa do condomínio, tida como priori- dade, nas diversas assem- bléias do condomínio, não po- derá ser realizada tão cedo. Charles Abrão Miguel, de 42 anos, administra um con- domínio com taxa de inadimplência um pouco me- nor, o que não significa que ele também não tenha de ad- ministrar muita chateação e dor de cabeça. “Os apartamen- tos de dois condôminos em dé- bito com as taxas estão para ir a leilão judicial”, diz. A dívida de cada um com taxas de con- domínio supera R$ 20 mil. Al- guns dos devedores acumu- lam dívidas de dez anos, res- salta Charles Abrão. O síndico calcula que a ta- xa de condomínio no edifício que administra poderia ser, em média, 15% mais barata, não fosse a inadimplência tão grande. Como administrador, Charles sabe que quem não pa- ga condomínio considera a ta- xa a última na lista de priori- dade nas despesas mensais. Para garantir o recebimen- to da dívida, Charles adota a cobrança judicial dos débitos transcorridos 90 dias de venci- mento da taxa. No entanto, com 30 dias de atraso, o con- dômino já recebe notificação de cobrança extrajudicial fei- ta por escritório contratado para essa função. FALTA DE RECURSOS IMPEDE REALIZAÇÃO DE BENFEITORIAS PARA A COLETIVIDADE. CONDOMÍNIO TEM R$ 300 MIL PARA RECEBERDE TAXAS FACE A FACE Obrasemperradasporinadimplência

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10 POLÍTICA / O POPULAR GOIÂNIA, domingo, 6 de março de 2011

CarlosEduardoReche

A falta de consenso em tor-no dos temas centrais da pro-posta de reforma política emdiscussão na Câmara dos De-putados e no Senado deve,mais uma vez, inviabilizar asdiscussõesou reduzir a abran-gênciadasmudançasdosiste-ma político e partidário, afir-mam especialistas. Para osanalistas ouvidos pelo POPU-LAR, ainda que haja altera-ções, elas não devem abordarpontos importantes, como achamada cláusula de barreira,quereduziriaoelevadonúme-ro de legendas em funciona-mentonoPaís (leiaquadro).

Apropostadereformapolí-tica chegou a ser colocada emvotação no plenário, em2007, mas acabou não sendoaprovada em função de pro-funda polêmica em relação apontos como o financiamen-topúblicoeexclusivodecam-panha e a lista pré-ordenadanas eleições paravereadores e

deputados. As duas propostasforam rejeitadas pelo plená-rio da Câmara. Neste ano, ou-tra proposta que encorpou asdiscussões foio fimdascoliga-ções proporcionais, na esteiradas liminares concedidaspeloSupremo Tribunal Federal(STF) para que suplentes dospartidosenãodasalianças, to-massem posse com a saídados titulares.

Segundo o senadorDemóstenesTorres (DEM),queintegraaComissãoEspecialdaReforma Política instalada noSenado, a Casa tem hoje maisde500propostasdeparlamen-taresrelativasàreformapolíti-ca. Entre elas estão o voto dis-trital, aunificaçãodaseleiçõesestaduais e presidenciais comasmunicipaiseovoto faculta-tivo. “Se aprovar uma refor-ma, ela deverá ter quatro oucinco pontos centrais”, afirmaDemóstenes. Membro da Co-missão Especial instalada naCâmara, o deputado federalRubens Otoni também reco-nhece que não é possível afir-marqueareformaseráaprova-da,emfunçãodas“grandesdi-vergências”emtornodotema.

ParaoprofessorMarcoAn-tônio Villa, da Universidadede São Carlos (UFSCar), aaprovaçãodacláusuladebar-reira já representariauma“re-volução” no sistema partidá-rio brasileiro. “Com a aprova-çãodacláusuladebarreira, te-ríamos um reforma tão radi-calque jámudaria tudo”, afir-ma. “Só isso derrubaria, redu-

ziria o número de partidoscom representação no Con-gresso para cerca de oito e is-so criaria um outro tipo de re-lação com o Poder Executivo,marcadahojepela trocade fa-vores”, afirma.

Segundo ele, a redução donúmero de partidos “aquelesdonos” de legendas de “alu-gueldesapareceriam”.Acláu-sula foi aprovada pelo Con-gresso, mas acabou derruba-da pelo Supremo Tribunal Fe-deral (STF), em2007, sobaale-gação de que o procedimentolegal correto seria a aprova-çãodeumaPropostadeEmen-daConstitucional (PEC).

Para o presidência da Co-missão de Direito Político eEleitoral da Ordem dos Advo-gados do Brasil (OAB) emGoiás, Danilo de Freitas, ou-tro ponto fundamental para areforma política seria a apro-vação do fim das suplênciaspara senador. Atualmente,em caso de renúncia, cassa-çãooumorte dosmembros doSenado, a vaga é ocupada pe-lo suplente, que não disputaaseleições.

Os especialistas criticam ofato de que tem sido comum aescolha de suplentes fora domundo político, em geral pa-rentes ou financiadores dascampanhas. “Existeapossibi-lidade de se retirar a suplên-cia, por si só, e aí, quando ne-cessário, se faz uma eleiçãopara eleger aquele novo sena-dor ou poderia assumir o se-gundocolocado”, enumera.

PONTOSEMCOMUM

Entre as propostas que en-contram respaldo dos parla-mentares estão o financia-mento público e exclusivo decampanha,a listapré-ordena-da para as eleições proporcio-nais (ou lista fechada) e o fimdas coligações proporcionais.O deputado federal RonaldoCaiado (DEM), que coordenaos trabalhos de seu partido naComissão Especial da Câma-ra, afirma que as três propos-tas “fortaleceriam os parti-dos” no País e representariamum grande avanço para o sis-temapolítico.

O democrata é um crítico,por outro lado, do voto distri-tal, afirmando que não have-ria critérios claros para a divi-são dos Estados em distritos.Ele alerta parao fatode adivi-sãoser feitaapartirdaatual ló-gica política, em que já hááreassobgrande influênciadeliderançasepartidos,oquepo-deriadesequilibraradisputa.

Pelovoto emlista, opartidoformaria, antes da eleição,uma relação ordenada de can-didatos,segundocritériosdefi-nidosinternamente.Apósore-sultado, seriam consideradoseleitos o número de candida-tos definidos a partir do quo-ciente eleitoral, na ordem dalista. Assim, por exemplo, se opartidoAelegessecincodepu-tados, estariam eleitos os cin-coprimeirosnomesdalista.Osdemaisseriamossuplentes.

Sobre esse critério poderiaser aplicada ainda a regra do

fimdas coligações partidárias,com lançamento das chama-das chapas puras, sem legen-dasagregadas.Dessaforma,ar-gumentam os defensores daproposta, não haveria dúvidasdequeomandatoseriadopar-tido,oquereforçariaaindaate-sedafidelidadepartidária.

Otoni disse que pretendeapresentarumapropostamis-taparaa lista fechada.Segun-doele, a ideia é fixarovotonopartido e no candidato. “Oeleitor votaria primeiro nopartidoedepois emumcandi-datodo partido segundo a suapreferência”, explica. Segun-do o deputado petista, issoamenizaria o impacto da mu-dança do eleitor, “habitua-do”, lembra o deputado, como voto aberto e no político enão no partido. “Seria ummeio-termoparaa lista fecha-da”, afirma ele, acreditandoque essa proposta alternativatem mais chances de prospe-rar. “A lista pré-ordenada é oponto mais delicado do deba-te, porque ela aparece paraviabilizarofinanciamentopú-blicodecampanha”, diz.

Com a lista pré-ordenadaou lista fechada, os recursospúblicospara a realização dascampanhas eleitorais seriamtransferidos para os partidos,quedepoispoderiamdistribuí-los internamente de acordocom a competitividade deseus candidatos. Pela propos-ta,os recursos seriamexclusi-vamente públicos. O valor re-servado para a eleição seria

calculado a partir do gastoporeleitor.

Atualmente, o financia-mentoémisto:ospartidosdis-põem de um fundo partidárioedagarantiadehoráriogratui-to para apresentação de pro-postas no rádio e na televisão,mas podem captar recursos deempresas e pessoas físicas, se-gundocritériospré-estabeleci-dosecomregrasparaapresta-çãodecontas.

Osespecialistastambémcri-ticamoelevadonúmerodepar-lamentares envolvidos na dis-cussão da reforma. São duascomissões separadas, uma noSenado e outra na Câmara.Nesta,há41deputadosnacon-dução dos trabalhos, algunsdeles envolvidos em escânda-los de corrupção, como é o ca-sodePauloMaluf.“Deveriaha-ver uma Comissão Mista. É amesma situação de partidoscommuitoscandidatos.Quan-do há muitos, é porque não hánenhumrealmentebom”,afir-maVilla,daUFScar.

ACâmara instalousuapró-pria Comissão Especial da re-forma após críticas de que asmudanças, se ficassem ape-nas a cargo do Senado paraposteriorapreciaçãopelosde-putados, se dariam sobre te-mas de interesse sobretudodas eleições proporcionais.Numa espécie de retaliação aeventuaismudançasquedesa-gradem a Câmara, os deputa-dos falam em mexer em pon-tos como, exatamente, os dassuplênciasde senador.

Entreaspropostasemdis-cussão na reforma políticaque encontram mais acolhi-daentreosparlamentareses-tá o fim das coligações pro-porcionais.Atesefoireforça-da a partir das liminares doSupremo Tribunal Federal(STF) em favor dos suplentesdospartidosenãodascoliga-ções, que vem alterando acomposição dos LegislativosemtodooPaís.Agrandedú-vidaé seo fimdascoligaçõesserá aplicado também paraaseleiçõesmajoritárias.

Pela regra das coliga-ções, diversos partidos po-dem se reunir para disputaras eleições como se fossemumaúnica legenda.Atéas li-minares do Supremo, os su-

plentes assumiam as vagasdeixadas pelos titulares naordem de votação. A Corte,no entanto, acatou o argu-mento apresentado a partirda regra da fidelidade parti-dária,queafirmaqueoman-datoédopartido.Paraoscrí-ticos do entendimento doSupremo, vale a regra deque o efeito das coligaçõesse estendepara apóso resul-tadodaseleições.

OdeputadofederalRonal-do Caiado (DEM) apresen-tou uma Proposta de Emen-da Constitucional (PEC) nomês passado para garantir amanutenção do resultadodas eleições em coligaçõesproporcionais. Para o presi-dente da Comissão de Direi-

to Político e Eleitoral da Or-demdosAdvogadosdo Bra-sil (OAB) em Goiás, Danilode Freitas, apesar de o argu-mento acatado pelo Supre-mo ser plausível, ele não le-va em conta casos como osdos deputados titulares decoligações que não têm su-plentesdeseuspartidos.

“Para entendermos a dis-cussãodaformaqueoSupre-mo está decidindo, precisa-ríamosprimeiro acabar comascoligações”, afirmaDani-lo, argumentando que o re-sultado da eleição propor-cional no modelo atual é“umacesta de votos” dos di-ferentespartidos. “A legisla-ção estabelece que o parti-do, em coligação, é como se

um partido fosse. Ou seja, opartido do eleito é o partidocoligação”, afirma. “Háuma análise profunda a serfeita pelo Supremo nessesentido”,diz.

O deputado federal Ru-bens Otoni (PT) defende ofim das coligações propor-cionais sob o argumento deque elas “distorcem o siste-ma proporcional”. “O gran-de mérito, a grande vanta-gem do sistema atual é o vo-toproporcional.Ou seja, de-terminada porcentagem devotos dá direito a um deter-minado número de cadeirasno Legislativo, alto ou bai-xo, mas de forma que todossejamrepresentados”, expli-caodeputado.

Apropostadereformapolí-tica em tramitação no Con-gressoNacional deixa de ladovários pontos essenciais parao sistema político, afirma opresidentedaComissãodeDi-reitoPolíticoeEleitoraldaOr-dem dos Advogados do Brasil(OAB) em Goiás, Danilo deFreitas. Segundo ele, entre ospontos que a entidade consi-dera fundamentais para a re-forma está a restrição às con-sultas feitasnoTribunalSupe-rior Eleitoral (TSE), que, afir-ma, causam instabilidade noprocessoeleitoral.

“Existe um prazo para asconsultas. O Código Eleitoralproíbe ao TSE responder con-sultas em ano eleitoral”, afir-ma. “E foi exatamente a con-sultarespondidaemanoeleito-ral que criou, por exemplo, to-do o imbróglio da (Lei da) Fi-cha Limpa (queveda as candi-

daturas de agentes públicoscondenados por colegiadosem segunda instância)”, cita.“Háumainversão (nasregras).Em vez de nos pautarmos apartir de casos concretos, nospautamos por respostas deconsultas”, afirma. “Exata-mente para não acontecer oque aconteceu no caso da Fi-cha Limpa é que a consulta éproibida pelo Código Eleitoralemanodeeleição”,afirma.

Além da Ficha Limpa, a re-gra da fidelidade partidáriatambémfoiestabelecidaapar-tir de consulta respondida pe-lo TSE. “Alguns dizem que is-soéumarespostadoPoderJu-diciárioà letargiadoCongres-so Nacional. Mas isso seriaumaviolaçãoda independên-cia dos Poderes”, afirma.“Questões processuais pode-riam ser discutidas, mas nãoserão”,afirmaDanilo.

Entenda a reforma política

Novela sem fim

MENSALÃO NO DFDez.2009Descoberta do esquema depagamento de propina aintegrantes do governo doDistrito Federal reabredebate sobre reforma. O PTdefende a convocação deAssembleia Constituintepara votação de mudançasno sistema político.

MUDANÇASEM RETALHOSJun.2010Depois de adiar para esteano a votação de temaspolíticos da proposta dereforma política, Câmaraaprova reforma eleitoralpara as eleições de 2010.

REFORMADO GOVERNOAgo.2008Palácio do Planalto enviaproposta de reforma políticapara o Congresso. Texto previafinanciamento público decampanha e a instituição dacláusula de barreira.

SEM CONSENSOFev.2007Câmara inclui proposta dereforma política na pauta daCasa, mas votação é adiadapara a agosto por falta deconsenso. As discussõesacabam deixadas de lado.

AMBULANCIOTERAPIAAgo.2006Discussão da reforma políticavolta à baila após CPI dosSanguessugas denunciarparticipação de 72parlamentares acusados dereceber propina em troca daapresentação de emendaspara a compra de ambulâncias.Em meio às eleições,discussões não avançam.

MENSALEIROSJun.2005O escândalo do mensalãoestimula a retomada dasdiscussões sobre a reforma. Aproposta acaba deixada de ladoem meio à onda de CPIs edenúncias contra mensaleiros.

SEM APOIO2004Reforma política é aprovada emcomissão especial da Câmarados Deputados. Relatada pelodeputado Ronaldo Caiado(DEM-GO), a proposta não vaiadiante no plenário.

OSPONTOSEMDISCUSSÃO ASPROMESSASDEAPROVAÇÃO

Coligaçõesproporcionais

Está em discussão no Congressoo fim das coligações para aseleições para vereador edeputados estaduais e federais.Cada partido concorreria àsvagas no Legislativo em chapaprópria e única.

Financiamentodas campanhas

O financiamento público eexclusivo das campanhaseleitorais é um dos pontos dareforma com maior adesão. Umfundo reuniria os recursos, queseriam distribuídos entre ospartidos. Hoje o financiamentoé misto (público e privado).

Fidelidadepartidária

A fidelidade é defendida naCâmara e no Senado sob oetendimento de que o mandatoé do partido e não do político.Mas há discussões sobrebrechas que permitam trocaspartidárias antes da aprovaçãoda regra.

Lista fechada

Pela proposta, outro pontopolêmico da reforma, ospartidos definiriam em umalista a ordem dos parlamentareseleitos. Dela sairiam, em ordempré-definida, os parlamentareseleitos pelo partido.

Votodistrital

É um dos pontos maispolêmicos. Prevê que os Estadossejam divididos em distritos deacordo com o número dedeputados estaduais e federais,com eleição majoritária (venceo mais votado). Há proposta devoto distrital misto, com umaparte das vagas para disputaproporcional e a outra paramajoritária.

Cláusuladebarreira

Derrubada pelo STF em 2007, aregra é considerada de difícilaprovação. A cláusula prevê quesomente os partidos com aomenos 5% dos votos emdeterminado número deEstados tenham direito aosrecursos do fundo partidário e atempo no horário partidário eeleitoral. A cláusula reduziriadrasticamente o número departidos.

Suplentesde senadores

Cresce no Congresso a propostade acabar com a figura dosuplente de senador. Em casode renúncia, morte oucassação, haveria eleiçãoextemporânea para a escolhado novo ocupante da vagaaberta no Senado.

ESPECIALISTASACREDITAM QUEALTERAÇÕES NOSISTEMA POLÍTICOSERÃO POUCASDEVIDO À FALTADE CONSENSO

Impassesdevemdificultarreforma

Debatesobrefimdascoligaçõesavança

Propostadeixadeladováriospontosessenciais

GOIÂNIA, domingo,6demarçode2011 CIDADES / O POPULAR 3

CarlaBorges

O número de vagas paracarteirosqueaEmpresaBrasi-leira de Correios e Telégrafos(ECT) deve contratar paraGoiás – 190, conforme anun-ciou ontem em entrevista aoFaceaFacedoPOPULARodi-retor regionaldaempresa,Eu-gênioWalterPinchemelMon-tenegro Cerqueira – é insufi-ciente para atender o déficitatual. A avaliação é do secre-tário-geral do Sindicato dosTrabalhadores dos Correios,Telégrafos e Similares (Sin-tect) de Goiás, Eliseu PereiradaSilva. “Seonúmerocontra-tadoforessemesmo,apopula-çãocontinuará sofrendoatra-sos na entrega de correspon-dências”, acredita.

Os constantes atrasos, ex-

plica,devem-sequasequeex-clusivamente à carência deprofissionais, especialmentede carteiros. Só no ano passa-do, computa o sindicalista,cerca de 150 trabalhadoresdeixaram a empresa emGoiás, dos quais 108 no pro-grama de demissão voluntá-ria e o restantepor outrosmo-tivos. Eliseu explica que as-sim como os Correios têmsuas ferramentas para medironúmero idealde trabalhado-res por setor – de acordo coma população atendida e volu-medecorrespondênciasentre-gues, entreoutros–,osindica-to tambémtemas suas,basea-das na visita direta às agên-ciase centrosdedistribuição.

Na conta do Sintect, se-riamnecessários, paracontra-tação imediata, 330 carteiros,

dos quais 200 deveriam co-brir o déficit em Goiânia e orestante no interior do Esta-do. Segundo levantamentodo sindicato, Goiânia tem ho-je em torno de cem bairros outotalmentedescobertos comaentrega de correspondências

ou atendidos precariamente,com rotas semanais. “É preci-soqueaempresa façaumcon-curso sério”, diz Eliseu. “Umconcurso para 190 carteirosnão vai resolver o déficit e apopulaçãocontinuará sofren-do”.

Ele diz que a entidade vêcom reservas a realização doconcurso. A dúvida é motiva-da pelos vários problemasqueenvolveramoúltimocon-curso, anunciado desde 2008,que recebeu mais de 1 milhãode inscrições, foi adiado porduas vezes e depois cancela-do.NaentrevistaaoFaceaFa-ce, Montenegro diz que a pro-gramaçãoéparaqueoconcur-so seja aberto até odia15 des-te mês, com previsão de queas provas sejam realizadas nodia 15 de maio e que os novos

empregadoscomecematraba-lharapartirdeagosto.

Coordenador-geral do pre-paratório Tese Concursos, oprofessor de raciocínio lógicoPedro Menzel Galvão acredi-ta que o concurso dos Cor-reios desta vez vai sair. “Atéporque é um concurso cujasvagas foram criadas há bas-tante tempo e a necessidade éreal”, justificou Pedro ao PO-PULAR. Depois de lembrarqueo fortalecimento dos Cor-reios é umapromessade cam-panha da presidente DilmaRousseff, ele acrescenta queos Correios são uma empresapública,que temarrecadação,por isso o concurso não deveser afetado pelo corte de gas-tosdogoverno federal.

O secretário-geral do Sin-tectemGoiásrebateuasdecla-

rações do diretor regional dosCorreios a respeito das condi-çõesde trabalhodosemprega-dos. Em resposta a uma per-gunta de Ronney Quirino daSilva, funcionário dos Cor-reios, sobre a falta de condi-ções de trabalho, Montenegroafirmou que “Goiás permiteumasituaçãoparao trabalha-dorbemmaisconfortávelden-tro de suas instalações” doqueasdeoutrosEstados.

“Há casos de cidades do in-terior em que os carteiros têmdefazer entregas emseuspró-prios carros, porque não têmcomocolocar caixas de 30, 40quilos, sobreabicicleta”, diz.

Vejavídeona versãoflipdo jornal.

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Vagassãoinsuficientes,dizsindicato

Há quatro meses, a profes-sora Ana Gomes de Oliveira,de 38 anos, assumiu a árduatarefadeadministrarumcon-domínio em Goiânia com 216apartamentos, cuja taxa deinadimplência é de 48%, emmédia. Ou seja, quase a meta-de dos mais de mil moradoresdeve para o condomínio. Semrecurso em caixa e com tantodinheiro para receber, as

obras necessárias à melhoriada qualidade de vida de todosos moradores do condomínionão têmdataparacomeçar.

Os últimos levantamentosfeitos por ela em conjuntocom a assessoria contábil docondomínio estimaram emaproximadamenteR$300mila dívida que a administraçãotempara receber de condômi-nos em débito com as taxas.

Hádívidasque foramcontraí-das há dez anos e nunca fo-ram pagas. Isso faz com que ataxa de condomínio seja bas-tante elevada para o padrãode edifício administrada porAna: cerca de R$ 300,00 pormês. “Eu ainda estou tentan-do descobrir uma forma, umamaneira de resolver o proble-ma. Individualizamos algu-mas contas, como a de água egás, para ver se conseguimosreduzir ao menos um pouco ataxa”,afirma.

Pela primeira vez, os débi-tos foram parar num escritó-riodecobrança, ressaltaa sín-dica. “Foi a forma que encon-trei de conseguir receber aomenosparteda dívida. Tudoo

que for entrando nos próxi-mos meses pode nos ajudar areduzir o enorme déficit quetemficado”, explica.A saladeAna, desde então, virou umavia-crucis. Cada condôminoem débito com suas taxas temum problema para apresentare uma justificativa também.“Ninguém gosta de ser cobra-do,masnãoháoutra formadetentar resolver aquestão.”

O condomínio administra-doporAnatem20anoseapre-sentasériosproblemasdema-nutenção. Mas o uso contí-nuo dos 10% da receita docondomínio destinados aofundo de reserva deixou semcondições de a administraçãoinvestir na manutenção da

áreacomumdoedifício.Ares-tauração da área externa docondomínio, tidacomopriori-dade, nas diversas assem-bléiasdocondomínio,nãopo-derá ser realizada tãocedo.

Charles Abrão Miguel, de42 anos, administra um con-domínio com taxa deinadimplência um pouco me-nor, o que não significa queele também não tenha de ad-ministrar muita chateação edordecabeça.“Osapartamen-tosdedoiscondôminosemdé-bito com as taxas estãopara ira leilão judicial”, diz. Adívidade cadaumcomtaxas de con-domínio superaR$20mil.Al-guns dos devedores acumu-lam dívidas de dez anos, res-

saltaCharlesAbrão.O síndico calcula que a ta-

xa de condomínio no edifícioque administra poderia ser,em média, 15% mais barata,não fosse a inadimplência tãogrande. Como administrador,Charlessabequequemnãopa-gacondomínioconsideraa ta-xa a última na lista de priori-dadenasdespesasmensais.

Para garantir o recebimen-to da dívida, Charles adota acobrança judicial dos débitostranscorridos90diasdevenci-mento da taxa. No entanto,com 30 dias de atraso, o con-dômino já recebe notificaçãode cobrança extrajudicial fei-ta por escritório contratadoparaessa função.

FALTA DE RECURSOS IMPEDEREALIZAÇÃO DE BENFEITORIAS PARA ACOLETIVIDADE. CONDOMÍNIO TEMR$ 300 MIL PARA RECEBER DE TAXAS

FACEAFACE

Obrasemperradasporinadimplência