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Universidade de São Paulo Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Análise de ortografia e fronteiras de palavras na edição semidiplomática de um manuscrito da capitania de São Paulo do século XIX. Relatório Final 1

Relatorio final 2 (1)

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Universidade de São Paulo

Faculdade Filosofia, Letras e Ciências

Humanas

Departamento de Letras Clássicas e

Vernáculas

Análise de ortografia e fronteiras de palavras na

edição semidiplomática de um manuscrito da capitania

de São Paulo do século XIX.

Relatório Final

1

Bolsista: Carla Regiane Dias

Orientador: Prof. Dr. Heitor Megale

Janeiro/2009 – São Paulo

Número do Processo: 08/51103-6

Índice I. Apresentação_________________________________________________3 I.1. Introdução______________________________________________3 I.2. Justificativa___________________________________________4 I.3. Objetivo________________________________________________5

II. Resumo do plano inicial e das etapas já descritas emrelatórios anteriores___________________________________________5

III.Resumo do que foi realizado no período a que se refereo relatório____________________________________________________ 6 III.1. Considerações sobre a Capitania de São Paulo__________7 III.2. O documento manuscrito______________________________9 III.3. Aspectos Ortográficos_________________________________9 III.3.1. Consoantes Duplicadas______________________________12 III.3.2. Variações na grafia das vogais_____________________16 III.3.3. Ditongos___________________________________________17 III.3.4. Uso da letra <y>___________________________________18 III.3.5. Uso da letra <h>___________________________________19 III.3.6. Uso do <ch> e <ph> gregos__________________________21 III.3.7. Grafemas Latinos___________________________________22 III.3.8. Grafia das sibilantes______________________________24 III.3.9. Representações gráficas de nasalidade______________27 III.4. Fronteiras de Palavras_______________________________30 IV. O tipo de edição________________________________________35 V.5.1. As normas de transcrição_____________________________35

2

VI. Detalhamento dos progressos realizados, discutindoeventuais dificuldades surgidas ou esperadas na realizaçãodo projeto

VI.1. Detalhamento dos progressos realizados________________38 VI.2. Dificuldades__________________________________________38

VII. Considerações Finais______________________________________39

VIII. Bibliografia_____________________________________________41

Anexo I________________________________________________________43

Anexo II_______________________________________________________48

I. Apresentação

Este é o relatório científico final da bolsa de

iniciação científica concedida a Aline Cristina Nunes de

Almeida e Carla Regiane Dias, pela Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O relatório tem

como objetivo descrever as atividades de pesquisa

realizadas entre o período de Maio a Dezembro de 2008;

apresentar a edição semidiplomática do documento manuscrito

“Instrucções dadas por Antonio Manoel d’mello Castro Emendonça sobre o

governo da capitania d’S. Paulo a Antonio Jose da Franca e Horta”, que se

encontra no Instituto de estudos Brasileiros da USP em

3

formato de microfilme na coleção “J.F. de Almeida Prado”, códice

24, o levantamento de dados e a análise sobre o uso

ortográfico e as fronteiras de palavras encontrados no

documento manuscrito.

I.1. Introdução

Durante algum tempo, a fala era a única forma de

expressão lingüística do homem, somente por volta do ano

3000 a.C., surge entre o povo sumério um conjunto de sinais

gráficos que irá marcar a história da humanidade. Segundo

Cagliari (1993:164), a escrita espalhou-se rapidamente pelo

mundo e cada sociedade tentava adaptar os símbolos gráficos

para melhor representar a sua língua. Isto foi um marco

para a História, pois através da escrita, passou-se a

segmentar a História e as civilizações de acordo com a

posse ou não de um sistema de representação gráfico da

fala. O homem pôde, então, perpetuar conhecimentos para as

gerações futuras através de documentos e uma das áreas que

contribui para a continuidade desse saber e facilita a

leitura desses documentos é a Filologia.

Para Faraco (1991: 9) “as línguas humanas não

constituem realidades estáticas; ao contrário, sua

configuração estrutural se altera continuamente no tempo.”

Ao pensar nessa afirmação, percebe-se o quão importante é o

trabalho da Filologia, que tem como intuito preservar os

registros através da preservação dos manuscritos originais

e/ou de cópias fidedignas desses manuscritos.

4

Os manuscritos podem dar informações valiosas não

somente acerca da História da sociedade em que foram

produzidos, mas também trazem dados lingüísticos que

permitem estudos detalhados da transformação das línguas e

mais especificamente, no caso do presente relatório, os

documentos manuscritos trazem dados da realidade

lingüística do Brasil em fins do século XVIII, início do

XIX.

Por muito tempo, o corpus para estudos em língua

portuguesa foi quase todo restrito a obras literárias de

autores conhecidos, relegando a segundo plano documentos

não-literários que são ricas fontes de estudos de língua.

Para ajudar a preencher essa lacuna, apresenta-se, aqui, a

edição semidiplomática de manuscritos da capitania de São

Paulo, datados do início do século XIX.

A edição desse texto, preparando-o para publicação,

torna-o acessível a estudiosos não só da língua, mas de

áreas afins tais como história, literatura, codicologia

entre outras. Como já foi dito, editar textos antigos

resgata não só a cultura de um povo, mas, principalmente, a

língua deste. Só através de uma edição responsável e

cuidadosa, podemos detectar dados lingüísticos e suas

variações e mudanças ao longo do tempo. Sem esse trabalho,

não há fontes confiáveis para os demais estudos. Sendo

assim, pretende-se, através dessa edição, fornecer mais

fontes de conhecimento para as mais diversas áreas e,

principalmente, para os estudos do português do Brasil.

5

I.2. Justificativa

O escopo principal dos estudos filológicos esteve por

muito tempo voltado a textos literários, relegando os não-

literários a um plano secundário. Estes, porém, fornecem

os mais “diversos usos da língua”, reconstituindo mais

fielmente o estado de língua de uma determinada época.

Visto que se trata de documentos cotidianos (cartas,

bilhetes) e ou oficiais (petições, instruções), os

documentos não-literários ampliam e diversificam os dados

lingüísticos apresentados pelos documentos literários.

Há, então, a necessidade de não só produzir lições

confiáveis de textos literários, mas também dos não-

literários, dado que estes últimos enriquecem o corpus para

os estudos de língua portuguesa.

A fim de ajudar a preencher e enriquecer ainda mais

tal corpus, esse relatório apresenta a edição segundo o

modelo semidiplomático (ou diplomático-interpretativo) dos

manuscritos “Instrucções dadas por Antonio Manoel d’Mello Castro

Emendonça sobre o governo da capitania d’S. Paulo a Antonio Jose da Franca e

Horta”, além do levantamento de dados e análise dos usos

ortográficos e de fronteiras de palavras, datados do início

do século XIX.

I.3. Objetivos

O projeto tinha como objetivo editar o documento

manuscrito, baseado nas “Normas para Transcrição de

6

Documentos Manuscritos para a História do Português do

Brasil", propostas durante o II Seminário para a História do

Português Brasileiro, em Campos do Jordão-SP, no período de 10 a

16 de maio de 1998, pela comissão de pesquisadores composta

por Heitor Megale (USP), César Nardelli Cambraia (USP),

Gilvan Muller de Oliveira (UFSC), Marcelo Módolo

(mestrando-USP), Permínio Ferreira (UFBa), Sílvio de

Almeida Toledo Neto (USP), Tânia Lobo (UFBa) e Valdemir

Klamt (UFSC). Esse conjunto de normas para transcrição de

documentos manuscritos encontra-se no primeiro volume da

Série Diachronica, A Carta de Pero Vaz de Caminha1. Além da

edição, pretendíamos fazer o levantamento e análise dos

critérios no emprego da ortografia e das fronteiras de

palavras.

II. Resumo do plano inicial e das etapas já

descritas em relatórios anteriores

O plano inicial do projeto consistia em fazer a

edição semidiplomática do documento manuscrito “Instrucções

dadas por Antonio Manoel d’Mello Castro Emendonça sobre o governo da

capitania d’S. Paulo a Antonio Jose da Franca e Horta” e o levantamento e

análise dos usos ortográficos e de fronteiras de palavras

encontradas ao longo do documento, tentando verificar se

havia ou não critérios de uso.1 CAMBRAIA, César Nardelli; CUNHA, Antônio Gerado da; MEGALE, Heitor.

A Carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Série Diachronica, 1, Humanitas, 1999. p. 23-6.

7

Para realizar este trabalho, o documento manuscrito

foi dividido entre as duas orientandas, Aline Cristina N.

de Almeida e Carla Regiane Dias, cabendo a orientanda Carla

Regiane Dias, a edição dos 33 primeiros fólios do documento

manuscrito, junto com o levantamento dos usos ortográfico e

de fronteiras de palavras destes mesmos fólios. Devido ao

caráter conservador da transcrição, o primeiro objetivo do

projeto visava oferecer uma edição fidedigna para futuros

estudos filológicos, lingüísticos e históricos. Para

executar esse plano de trabalho, dividiu-se o projeto

fundamentalmente em duas etapas:

A primeira etapa do trabalho (Maio a Agosto de 2008)

consistiu na transcrição do documento manuscrito,

acompanhada de anotações pertinentes quanto ao que se

propôs analisar.

Já a segunda etapa (Setembro a Dezembro de 2008)

consistiu na edição final do manuscrito de acordo com

o modelo semidiplomático e a análise dos usos do

escriba nos empregos das fronteiras de palavras e

ortográficos.

III. Resumo do que foi realizado no período a que

se refere o relatório

O presente relatório científico abrange as atividades

realizadas durante as duas etapas do projeto (maio de 2008

a dezembro de 2008). Nesse período, realizaram-se a

8

transcrição do documento manuscrito e a identificação dos

dados pertinentes à análise ortográfica e de fronteira de

palavras. Através dessa transcrição, pôde-se fazer algumas

observações quanto aos usos ortográficos e aos critérios

para as fronteiras de palavras que o escriba utilizou na

produção do texto.

Foram editados 33 (trinta e três) fólios que compõem o

corpus deste trabalho; realizou-se a edição semidiplomática

justalinear, objetivo maior desse projeto.

Para editar manuscritos os critérios de edição devem ser

rigorosos, pois ao fazer a edição, lidamos com outro estado

de língua. Ao longo da transcrição, perceberam-se algumas

marcas como: a ausência de fronteiras entre as palavras,

que também podem aparecer abreviadas ou ainda quase ou

totalmente apagadas, além de aspectos gráficos que divergem

do estado de língua atual, denotando algumas

características do período em que o documento foi escrito.

Essas características são facilmente observadas ao

longo do corpus; a edição semidiplomática foi escolhida a fim

de preservar ao máximo o estado de língua, não alterando a

fidedignidade da transcrição e, ao mesmo tempo, tornar o

documento manuscrito acessível a leitores e pesquisadores

não especializados.

Na primeira fase do projeto, período que compreende os

meses de Maio a Agosto de 2008, foi feita a primeira

leitura do manuscrito impresso. Terminada essa fase,

iniciou-se, a partir do mês de Setembro, a correção dessa

primeira leitura do manuscrito; para isso, conferiram-se os

9

trechos incompreendidos na primeira leitura com o documento

que se encontra no IEB em formato de microfilme.

Terminada a edição do manuscrito, foi feito o

levantamento de todas as palavras que apresentavam aspectos

gráficos que ajudam a remontar o estado de língua na época

em que o documento manuscrito foi produzido . Além disso,

fez-se o levantamento de todos os casos onde as fronteiras

de palavras eram desrespeitadas.

III. 1. Considerações sobre a Capitania de São Paulo.

O documento manuscrito intitulado “Instrucções dadas por

Antonio Manoel d´Mello Castro Emendonça sobre o governo da capitania d´Saõ

Paulo a Antonio José da Franca e Horta” faz uma reconstituição de

alguns aspectos da administração da Capitania de São Paulo

em fins do século XVIII, início do XIX.

Através dele, pode-se conhecer um pouco melhor a vida

social e econômica das regiões de São Paulo, litoral e

interior. O documento, segundo informa o escriba, foi

produzido por conta da transição do governo da Capitania de

São Paulo. O então governador Antonio Manoel de Mello

Castro e Mendoça, que havia tomado posse do governo a 28 de

junho de 1797 e exercera a função até 10 de novembro de

1802 deixou tais instruções àquele que tomaria posse do

governo, Antonio José da Franca e Horta. Neste tempo,

Castro e Mendoça foi cuidar dos interesses da coroa

portuguesa em outra colônia da metrópole, sendo nomeado

governador geral de Moçambique, ficando no cargo até 1812.

10

Uma vez que o projeto visava trabalhar com um

documento administrativo do governo da capitania de São

Paulo, faz-se necessário situar historicamente a posição do

Brasil e mais especificamente de São Paulo em fins do

século XVIII, início do XIX.

De acordo com Salgado (1985:40), Portugal encontrava-

se numa situação econômica delicada a partir de 1762, em

virtude da crise do ouro brasileiro. A fim de resolver esta

crise era necessário fazer reformas que aumentassem o poder

central da coroa portuguesa. Desta maneira, os esforços dos

governantes portugueses dirigiam-se em estabelecer a força

militar e econômica da colônia, acabar com o “desleixo” do

fisco, incentivar o aumento populacional, a melhoria nas

técnicas produtivas e a ampliação de gêneros voltados ao

comércio atlântico.

É sabido, porém, que a vila de São Paulo de

Piratininga viveu à margem da economia brasileira durante

boa parte do período colonial. Isolamento comercial,

distância do Porto de Santos e falta de uma atividade

econômica de exportação lucrativa faziam com que esta vila

vivesse basicamente do “escravo da terra” e da agricultura

de subsistência. A sobrevivência da capitania tornou-se

ainda mais difícil com a saída da população em direção às

minas. A migração da população causou na capitania um

enfraquecimento não só demográfico, mas também político-

econômico.

A coroa portuguesa, porém, não podia negar a

importância da região da Capitania de São Paulo, pois

11

segundo Caio Prado Junior em Formação do Brasil Contemporâneo,

São Paulo era um “nó de comunicações”, estrategicamente

situada próxima às colônias da Espanha e ainda servia de

“guarda” contra a ameaça da invasão de estrangeiros nas

regiões das minas.

Desta maneira, São Paulo, que desde 1748 havia perdido

sua autonomia administrativa, passando a ser comarca do Rio

de Janeiro, tem a autonomia reestabelecida e fortalecida em

1765, quando se inicia a mudança na vida econômica da

capitania de São Paulo.

O nobre português Dom Luis Antonio de Souza Botelho

Mourão, o Morgado Mateus, assume, então, o governo da

capitania e recebe ordens diretamente do Marquês de Pombal

para ocupar a fronteira oeste a fim de diminuir a ameaça da

presença espanhola, além disso, Morgado Mateus deveria

promover a militarização, exploração territorial e fomentar

a produção de um gênero exportável.

Fazendo uma retrospectiva econômica, Ana Paula

Medicci, em seu texto De Capitania a Província: o lugar de São Paulo

nos projetos de Império, 1782-1822, afirma que São Paulo, muitas

vezes tomada como uma província “decadente”, tem um grande

impulso a partir da segunda metade do século XVIII,

apresentando, já no início do século XIX, relatórios

favoráveis quanto à produção de gêneros de exportação e

altas taxas de crescimento populacional, relatórios

apresentados por Antonio Manoel Castro e Mendoça.

A preocupação em estabelecer e firmar a capitania de

São Paulo como forte centro econômico é percebida ao longo

12

do documento manuscrito editado. Capítulos como

“Agricultura” e “Caminho de Santos” transparecem a

preocupação do governador em aumentar e firmar a ligação

entre o interior e o litoral, através de melhorias na

estrada para Santos. É, também, preocupação do governador a

questão da produção do açúcar e da quantidade de dinheiro

perdida com a falta de investimento no transporte e na

fiscalização do produto.

É interessante notar que, através do manuscrito, vê-se

o acumulo e a variedade das funções administrativas por

parte do governador, obviamente submetido às vontades

reais. Assuntos tais como, educação, defesa, ordem, gestão

financeira, agricultura, infra-estrutura dos transportes

são presentes nos manuscritos, revelando o espírito daquela

época e os reflexos das decisões da Coroa portuguesa na

então capitania de São Paulo.

III. 2. O documento manuscrito

Como já mencionado, o corpus da iniciação cientifica

foi o documento manuscrito intitulado “Instrucções dadas por

Antonio Manoel d´Mello Castro Emendonça sobre o governo da capitania d´Saõ

Paulo a Antonio José da Franca e Horta”; faz uma reconstituição de

alguns aspectos da administração da Capitania de São Paulo

em fins do século XVIII, início do XIX. O documento

encontra-se no Instituto de Estudos Brasileiros da USP em

formato de microfilme na coleção “J.F. de Almeida Prado”, códice

24.

13

Esse documento manuscrito está dividido em sete

capítulos intitulados; que por sua vez estão subdividos em

parágrafos. Assim há: o Capítulo primeiro “Commercio”;

segundo “Meza de Inspeçaõ”; terceiro “Caminho de Santos”;

quarto “Agricultura”; quinto “Estado de Litteratura”; sexto

“Estador Militar” e sétimo “Finanças”.

Além desses capítulos, há ainda, uma espécie de

apêndice dividido em “Memoria relativa ao Estabelecimento

do Hospital Militar”, “Jardim Botanico” e o “Indice dos

capitulos e materias que fazem objecto destas

instrucçoens”; ao todo o documento possui 69 fólios.

O corpus deste relatório consiste nos cinco primeiros

capítulos do documento, sendo o maior deles o capítulo

primeiro com 23 parágrafos, e o menor, capítulo terceiro,

com apenas 3 parágrafos, compondo ao todo 33 fólios.

III.3. Aspectos Ortográficos

Propôs-se neste trabalho, apresentar alguns aspectos

ortográficos encontrados no documento manuscrito que

refletem características do contexto lingüístico em que o

ele foi escrito. Para isso, faz-se necessário tecer algumas

considerações quanto à história da ortografia portuguesa

até o início do século XIX.

14

Segundo a definição encontrada no dicionário Houaiss,

ortografia é um “conjunto de regras estabelecidas pela

gramática normativa que ensina a grafia correta das

palavras, o uso de sinais gráficos que destacam vogais

tônicas, abertas ou fechadas, processos fonológicos como a

crase, os sinais de pontuação esclarecedores de funções

sintáticas da língua e motivados por tais funções etc.”. Já

segundo Cagliari (1986:64), ortografia representa “um dos

usos de um tipo de escrita chamado alfabético. E este é

apenas um dos tipos de escrita que usamos na sociedade”

(CAGLIARI: 1986:64).

Estabelecer um sistema ortográfico não é um processo

rápido tampouco estático. Mesmo depois do estabelecimento

do conjunto de regras ortográficas, a língua continua a

evoluir e, consequentemente, surge a necessidade de grafar

o que se diz, gerando as várias reformas ortográficas que

línguas no mundo inteiro sofreram, tal qual aconteceu na

língua portuguesa.

Importa dizer que, segundo Maria Helena Mateus, em seu

artigo Sobre a natureza fonológica da ortografia portuguesa, o termo

ortografia surgiu de muito tempo na língua portuguesa, em

obras como a de Fernão de Oliveira Grammatica da Lingoagem

Portugueza, publicada em 1536 e no prólogo da gramática de

João de Barros, publicada em 1540, onde autor diz que

ortografia é uma das quatro partes em que os latinos

“partem a sua gramática”.

Segundo Ismael Lima Coutinho (1976:71) em Pontos de

gramática histórica, a ortografia portuguesa nunca foi

15

exatamente uniforme, por isso percebem-se tantas grafias

para a mesma palavra, até mesmo dentro de um único

documento. Segundo o autor “nos primeiros tempos, quando o

pseudo-etimologismo não havia ainda empolgado os espíritos,

observa-se nela uma grande tendência fonética.” (COUTINHO,

1976:71)

A partir do Renascimento, houve a busca pelos autores

latinos e, conseqüentemente, um aprofundamento nos estudos

da língua latina. A partir desse momento aparecem grafias

influenciadas pelas formas etimológicas, o que trouxe à

escrita do português o uso de letras existentes no latim ou

grego, emprego de consoantes duplas ou dígrafos como ph,

th, rh e ch. De acordo com Coutinho (1976:71), “as palavras

sofrem, a partir de então, a influencia etimológica,

apresentando uma indumentária mais rica de letras flagrante

contraste com a primitiva simplicidade”. (COUTINHO, 1976:

71)

Até o século XIX, ao escrever, as pessoas buscavam

grafar as palavras da melhor maneira possível. Percebe-se

que ora as “regras” de grafia obedecem ao ouvido, ora aos

conhecimentos sobre as línguas clássicas e aqueles que

tinham menos conhecimento sobre o assunto costumavam

recorrer à analogia, gerando muitas vezes confusões e

equívocos.

A grafia baseada num pseudo-etimologismo (pseudo-

etimologismo, uma vez que algumas formas etimológicas eram

mal interpretadas) perduram até 1904, quando Gonçalves

Viana publica Ortografia Nacional, que serviu de base para as

16

reformas ortográficas com tendências a simplificar a

escrita.

Segundo Renata Ferreira Costa (2007:95), em sua

dissertação Edição semidiplomática de Memória Histórica da Capitania de

São Paulo códice E11571 do arquivo do estado de São Paulo, partindo da

idéia de que as mudanças históricas e também as

ortográficas são caracterizadas pelo estilo sociocultural

que predomina em determinada época, alguns estudiosos

tentaram encaixar a ortografia portuguesa segundo a

ideologia em que se apoiava. Essa “rotulação” ora pretendia

enquadrar o período ortográfico da língua portuguesa

segundo as épocas histórico-literárias (critério cultural), ora

pelas “principais características que o diferenciam dos

outros períodos ou pelo aparecimento duma obra ou dum

escritor marcante” (critério formal ou literário). (COSTA 2007:95).

Coutinho (1976:80) afirma que foram estabelecidos para

a ortografia portuguesa três períodos:

a) Período Fonético: coincidente com o período do

português arcaico, que vai dos primeiros registros escritos

em português até o século XVI.

b) Período Etimológico ou Pseudo-etimológico: inicia-

se no século XVI e vai até o ano de 1904, com a publicação

da Ortografia Nacional, de Gonçalves Viana.

c) Período Reformado ou Simplificado: Inicia-se com a

publicação da obra de Gonçalves Viana e estende-se até os

dias de hoje.

No corpus deste relatório percebe-se a predominância

17

dos aspectos grafemáticos que apontam para a ortografia do

período pseudo-etimológico, período no qual o documento

manuscrito foi produzido, mas também foram observadas

algumas características correspondentes a resquícios do

período fonético, que serão mais discutidos no levantamento

e análise dos aspectos gráficos.

No período pseudo-etimológico, como já mencionado, há

a forte influência dos valores renascentistas, portanto, a

grande admiração pelos tempos clássicos, do grego e do

latim. Isso consolidou a influência do latim no português,

abrindo espaço para o “emprego de consoantes geminadas e

insonoras, de grupos consonantais impropriamente chamados

gregos, de letras como o y, k e w sempre que ocorriam nas

palavras originárias”. (COUTINHO, 1976:81).

Há, ainda nesse período, a “troca do s final por z em

palavras como, portuguez, etc., que brotou da imitação de

palavras como simplez, vez, fez, etc.”. (WILLIAMS, 1975:40).

A grafia utilizada nesse documento manuscrito, apesar

de apresentar muitas das características que encontramos

descritas nas gramáticas históricas de Coutinho e Williams,

também é muito próxima à utilizada atualmente.

As diferenças encontradas remetem ao período em que o

texto foi produzido, e é nelas que se foca a pesquisa na

segunda etapa do projeto. O trabalho de observação da

ortografia utilizada pelo escriba, da-se, portanto, em

relação às características ortográficas do português no

período peseudo-etimológico.

18

Nesse levantamento, conseguiu-se extrair alguns

exemplos ortográficos, que após uma análise mais atenta e

apurada dos dados, ajudou a compreender melhor a tensão

existente entre as normas ortográficas ditadas por uma

retomada dos estudos clássicos, baseados em concepções

gráficas do passado e a realidade fonética da língua.

Partindo do corpus, os dados encontrados foram elencados nos

tópicos a seguir:

III.3.1. Consoantes Duplicadas

O documento manuscrito traz o uso constante de

consoantes duplicadas, uma das marcas do período em que o

documento foi produzido. Segundo Coutinho, “o critério

adotado pelos que seguem a grafia etimológica é respeitar,

tanto quanto possível, as letras originárias da palavra,

embora nenhum valor fonético representem” (COUTINHO

1976:75). As consoantes duplicadas nesse período, que não

as consoantes duplas rr e ss, que tem a função de

“representar pela escrita sons que, sem essa precaução, se

confundiriam com outros” (SAID ALI: 1964: 43), podem ser

interpretadas como um reflexo da língua latina ou uma forma

de tornar a escrita das palavras portuguesas mais próximas

a do latim; fator que fornecia somente uma informação

visual, mas, sim, prestígio à língua portuguesa. Seguem

abaixo algumas ocorrências de palavras que apresentam

consoantes duplas intervocálicas que não possuem traço

distintivo:

19

Intervocálicas labiodentais e bilabiais:

(FF) – na duplicação dessa consoante, Said Ali (1964:44)

diz não ser “transparente a causa da geminação, usual por

essa época, de ff em benefficio, (...) quando ao mesmo tempo

se escrevia benfazer, fazer, etc.” (ALI 1964, 44). Feijó

(1824: 63) explica que se deve duplicar o f, primeiro: por

imitação às palavras latinas, segundo: “toda a palavra que

depois de A se segue F, com vogal adiante (...), depois de

A se seguir F, e L, (...) o mesmo será se depois de F se seguir R”

(FEIJO, 1824: 63). Feijó recomenda, ainda, que palavras

iniciadas por e, o e sa, sigam as mesmas regras daquelas

iniciadas por a. Ao todo foram encontrados 48 registros da

consoante f duplicada2, os exemplos de cada um dos

registros foram: <affecto> (842)3; <affiançar> (451);

<affinidade> (405); <differente> (199); <differentes>

(137); <difficuldade> (600); <difficultozos> (527);

<effeito> (182); <effeitos> (61); <efficaz> (346);

<efficazes> (507); <offerece> (118); <offerecem> (84);

<offerecer> (314); <offereceraõ> (523); <offereci> (99);

<officio> (444); <saffra> (362); <saffras> (356); <soffre>

(432).

(PP) – Segundo Coutinho (1976:71), a simplificação de2 Ao longo do relatório, só será posto uma localização de cada

palavra, entretanto alguns exemplos citados aparecem mais de uma vez.3 Os números entre parênteses, após cada palavra, indicam a linha

onde cada vocábulo se encontre nos folios.

20

consoantes duplas como o pp, bb, cc, dd, ff, gg, ll, mm, nn, tt, já

havia ocorrido na passagem do latim clássico ao vulgar, com

exceção do rr e ss. Deve-se lembrar, entretanto, no início do

século XIX havia a tensão entre uma grafia ditada pelos

estudiosos da época que preconizava o retorno à etimologia

grega e latina e a realidade fonética da língua, assim ora

encontra-se a mesma palavra com a consoante duplicada, ora

não, pois como já dito, a duplicação da maioria das

consoantes nada representavam foneticamente. Ao todo foram

encontrados 25 registros4 com a consoante dupla p -

appareceo (166); applicaçaõ (854); applicados (622);

applicar (534); applicassem (820); apprezenta (421);

apprezentar (22); approvaçaõ (665); approvadas; approvado

(54); mappa (234); mappas (180); supplicado (676); suppondo

(219); supposta (141); supposto (178).

Intervocálicas liquidas

(LL) – Said Ali (1964:63) afirma que o motivo da geminação

da consoante intervocálica l era obscuro, uma vez que as

obras latinas, fontes das referências ortográficas dos

escribas e escritores da época, “deviam antes induzir a

fazer uso do l simples” (SAID ALI 1964:43). Ele afirma,

ainda, ser possível que “em alguns vocábulos, ou em algumas

4 Nesse exemplo, como nos demais que aparecerão ao longo do relatórionão estão todas as localizações

das palavras encontradas.

21

ocasiões, a vogal junto a ll e ff recebia intonação ou icto

forte, mas muito rápido” (SAID ALI 1964:44). Além dos

exemplos aqui reunidos, as abreviaturas desenvolvidas de

Excellencia, Excellentissimo, trazem o l duplicado, uma vez que

costumava ser assim a escrita da época, ao todo são 119

ocorrências5 e os exemplos são: allegados (131); Angolla

(687); aquella (66); aquelle (535); argilla (404); bello

(100); cavallo (530); collecçaõ (252); daquella (157);

daquelle (125); della (140); dellas (192); delle (33); ella

(134); ellas (218); elle (281); elles (124); estabelleceo

(168); estabellecer (893); excellentes (448); fallecimento

(652); illaçaõ (179); illudem (378); illudir (484);

illustrissimo (18); Mello (3); naquella (754); naquellas

(325); nella (347); nellas (893); nelle (334); salla (231);

vigillante (336); villa (67); villas (181).

Intervocálicas nasais

(MM) – é comum encontrar no documento manuscrito palavras

com as consoantes nasais duplicadas, é interessante notar,

que algumas das palavras ora aparecem com a consoante

duplicada ora com a consoante simples, como é o caso da

palavra <commercio> (29), ou <comercio> (32). Coutinho (1976:75)

afirma que as consoantes que aparecem geminadas são f, l e

m. Sendo que esta última apareceria duplicada somente

quando precedida de vogal nasal. Segundo Feijó, “nas

palavras, que assim no latim, como no portuguez saõ5 Nessa contagem não foram consideradas as abreviaturas

desenvolvidas, com as abreviaturas são 187 ocorrências ao todo.

22

compostas das preposiçoens Con e In, e de dicçoens, que

principiem por M, mudaremos o N das preposiçoens em M, e

escreveremos dous (...) Commodo, Communicaçaõ (...)” (FEIJÓ,

1824:79). Ainda perceberam-se outras consoantes duplicadas,

além daquelas mencionadas por Coutinho. Ao todo foram

encontradas 25 ocorrências – commerciante (34);

commerciassem (139); commercio (29); commum (741);

communicaçaõ (524); grammatica (651); immediato (424);

recommendada (772); recommendavel (308).

(NN) – o número total de ocorrências foram 50, estes são

exemplos de cada caso: annualmente (74); annual (226); anno

(233); annuir (720); annos (256); innalteravel (255); canna

(366); annunciado (541); Marianno (889).

Intervocálicas palatais

(CC) – Segundo Feijó (1824: 51),

“ha humas palavras, que se escrevem com letra

dobrada de sua natureza, outras por analogîa com

as latinas, e outras pela composiçaõ, como já

díssemos no uso das preposiçoens; mas como nem

todos podem observar estas regras, constará essa

liçaõ só de propôr á vista todas as palavras ,

que se escrevem com C dobrado (...)” (FEIJÒ,

1824:51)

Depois dessa prescrição, Feijó faz uma lista de

23

palavras que deveriam vir escritas com o c duplo. No corpus

desse relatório foram encontradas ao todo 16 ocorrências de

palavras grafadas com o c duplicado, os exemplos são -

accidentes (334); accordada (701); accordo (794);

accreditar (307); accrescentar (938); occaziaõ (109);

occaziona (518); occazionadas (127); occazionar (334);

occupaçaõ (66); occupou (362); succo (366).

Intervocálicas dentais

(DD) – o único caso encontrado da duplicação da letra d é

o exemplo que se segue – <addiçaõ> (364).

(TT) – ao total foram encontradas 19 ocorrências - attençaõ

(752); comettida (693); ditta (836); ditto (654);

intrometter (689); litteraria (845); litterario (876);

litteratura (637); mattas (603); mettido (610); nottas

(781); remetter (775); remettidos (112); remettidas (231).

III.3.2. As vogais

Como já foi dito neste relatório, o intuito é fazer

um levantamento dos casos de grafia de palavras que

apresentem características que reflitam o estado de língua

em que o documento foi escrito. Logo à primeira leitura do

manuscrito, algo que chamou a atenção foi a alteração que

algumas palavras sofrem na grafia das vogais e e i. As vogais

24

podem ser classificadas de acordo com a sua posição, sendo

assim, temos as vogais em posição tônica, pretônica e

postônica. No documento manuscrito, percebeu-se alterações

referentes à posição pretônica e postônica. Há também um

caso de oscilação na grafia do vocábulo dentro do próprio

documento manuscrito.

Costa, ao citar Coutinho (2007:106), diz que “as

pretônicas são as que, pela sua própria natureza, por ser

bem mais frágeis, ficam expostas a alterações e quedas”.

(COSTA 2007:106). Desta forma, seria comum encontrar

palavras que apresentassem uma alteração vocálica na grafia

e até mesmo oscilação na grafia de algumas palavras. Apesar

de serem baixas as ocorrências de alteração vocálica, pode-

se observar alguns exemplos no corpus.

As alterações de vogais na posição pretônica

observadas foram na troca da vogal i pela vogal e. Além

disso, ainda houve a variação da grafia da palavra distrito,

que ocorre duas vezes no documento manuscrito, uma vez

escrita com e (destricto – linha 802) outra vez escrita com

i (districto – linha 244). Segundo Mattos e Silva a

variação entre e e i já era usual no português arcaico, e

poderia ocorrer em sílabas iniciais em que a vogal é

travada por nasal, sibilante ou em posição pretônica

interna.

“Quando na sílaba acentuada estão altas /i/

ou /u/. Essa variação deve indicar um alteamento

da pretônica, fenômeno fonético assimilatório

conhecido como harmonização vocálica e que já

25

aparece no século XVI.” (MATTOS E SILVA 1986

apud ASSALIM, 2007, 104)

Teyssier (2004:74) confirma que a variação entre <e> e

<i> pretônicos é um fenômeno freqüente no século XVI. Desta

maneira, haveria alteração entre <e> e <i> quando houvesse

uma vogal alta (i,u), ou semivogal, na sílaba seguinte, o

que provocaria um alçamento vocálico.

Quanto à mudança na posição postônica, no português do

Brasil, a vogal átona final e passa a ser pronunciada

como /i/, na primeira metade do século XVIII (TEYSSIER:

2004:70). Tal mudança não ocorre, entretanto, no português

de Portugal, onde se encontra a vogal central [ë], fato não

observado no Brasil. Os casos encontrados foram:

Posição Pretônica: <deminue> (467); <destricto> (802);

<devizaõ> (714); <empregnada> (411); <vecissitude> (127).

Posição Postônicas: <quazi> (370); <metropoli> (71).

Observou-se ainda um caso de alteração gráfica

composto por apócope, isto é, processo de mudança que

ocorre pela supressão de um seguimento fonético em posição

final da palavra, embora seja uma única vez, a palavra vale

é grafada por <val> (465).

III.3.3. Os Ditongos

26

Outras variações encontradas nos fólios é o que diz

respeito aos ditongos. Em posição pretônica, a única

variação encontrada foi a troca de ea em lugar de ia , na

palavra <creaçaõ> (832).

O número maior de ocorrências de ditongos em que há

alteração grafica foram aquelas que estão em posição

tônica. O caso com o maior número de ocorrências foi o

ditongo ae, formando o plural de nomes e adjetivos

terminados em –al, como era previsto em Lima (1736:112 apud

Costa:2004:109). Também Feijó traz esta recomendação “todos

os nomes, que no singular acabaõ em al, no plural acaba em

aes agudo como Canal, Canâes, Animal, Animâes (...)”. (FEIJO,

1824: 112). Ao todo foram encontradas 26 ocorrências de

palavras grafadas com o ditongo ae - <actuaes> (560);

<animaes> (122); <critaes> (422); <generaes> (645);

<geraes> (318); <paternaes> (451); <policiaes> (253);

<quaes> (25); <reaes> (10); <saes> (427); <tribunaes>

(496/497); <vegetaes> (366). Além desses ditongos, ainda

observaram-se os seguintes casos de variação em posição

tônica:

Variação <eo>/<eu> : De acordo com Lima (1736

apud Costa:2004: 110), no século XVIII a questão do uso de

eu ou eo é difícil e não há consenso entre os autores

daquela época. O autor estabelece que os pronomes “meo,

seo, teo” e os pretéritos “leo, estendeo”, entre outros

devem ser escritos com <eo>. Lembrando que o documento

manuscrito situa-se no início do século XIX, e talvez, por

27

isso, foram observadas apenas cinco ocorrências do uso do

ditongo eo para indicar o pretérito do verbo, e nenhuma

ocorrência em pronomes. Os exemplos foram: <appareceo>

(167); <estabelleceo> (168); <requereo> (836); <demoveo>

(716) .

Variação <ou>/<oi>: Segundo Teyssier (2004:63), o

ditongo <ou>, realizada como /ọ/ no português atual,

começou a sofrer esta monotongação provavelmente no século

XVII. “Todas as palavras que possuíam um ou foram atingidas

por esse fenômeno. Mas em algumas delas ou foi substituído

por oi, do que resultaram hoje os pares ou-oi” (TEYSSIER:

2004:63). No documento encontramos apenas uma variação do

ditongo ou por oi , a palavra Ouro aparece grafada por <

Oiro> (113).

Palavra grafada com <oe>: Foram quatro

ocorrências desse ditongo, todos contexto medial na palavra

<sincoenta> (469,470,471,558).

III. 3.4. Uso da letra <y>

A letra y foi encontrada em apenas quatro ocorrências

dentro do manuscrito, casos em que hoje, utiliza-se a letra

i. Vale lembrar que o uso da letra y , também reflete o

período no qual o documento foi produzido (período pseudo-

etimológico), onde “encontramos ch, ph, rh e y em palavras de

origem grega ou de suposta origem grega, e.g., chrystalino,

28

eschola, phrase, rhetorico (...)” (WILLIAMS: 1975:40). Os casos

encontrados foram:

Na palavra <Hydraulico> (820), o y possui

etimologia latina, derivado de Hydor, que

significa água, definido pelo dicionário Houaiss

como “lat. hydraulìcus,a,um 'movido por água' < gr.

hudraulikós,ê,ón 'do órgão, do instrumento

hidráulico', der. de húdraulis,eós 'órgão musical

hidráulico, ou seja, movido por água'; ver 1hidr(o)-

e aul(o)-; f.hist. 1713 hydraulico”.

Na palavra <Synoptica> (263), que como a anterior

também tem a sua origem etimológica nas línguas

clássicas, definida pelo dicionário Houaiss: “gr.

sunoptikós,ê,ón 'que permite ver o conjunto em um só

golpe de vista', prov. por infl. do fr. synoptique

'que é relativo a uma sinopse', doc. (1610) no

snt. tables synoptiques 'tábuas sinópticas'; f.hist.

1836 synoptico”.

Na palavra <Ley> (687). Segundo Costa (2007:115)

o y “seria utilizado em monossílabos (...), que

não tem outra razão senão o uso perpetuado por

homens eruditos (...).” (COSTA, 2007:115)

Na palavra Ytú (194, 673), que tem origem na

língua tupi, significando rio ou água.

29

III.3.5. Uso da letra <h>

Observou-se no documento manuscrito vários vocábulos

grafados com a letra h. Na época em que o manuscrito foi

produzido, o h, por vezes aparecia a fim de diferenciar

vocábulos, como prescreve Feijó: “(...) em que muitas he

preciso para differença de outras, que sem o H se

equivocaõ, como o E conjunção e He, terceira pessoa do

verbo Est, (...)” (FEIJO, 1824: 68). O h podia, ainda,

aparecer

“no início das palavras, de conformidade com aorigem latina, o que acontece menos vezes:

homẽes = homens; ora é omitido: omilde = humilde,

aver =haver. Por analogia com os vocábulos

latinos, em que ele é etimológico, grafavam-se

com h inicial outros em que se ele não explica

etimologicamente” (COUTINHO:1976:74).

Williams (1975: 35) opina que talvez o h antes de

vogais iniciais fosse usado para marcar o hiato com a vogal

final da palavra que a precedia, mais tarde acabou sendo

incorporado à grafia regular da palavra em casos como ha

por a (artigo), hidade, entre outras.

De acordo com Said Ali (1964), “o espirito da

Renascença, aproximando-se mais do latim, suprimiu h em

algumas palavras, e restabeleceu-o em outras. Ficaram

algumas excepções (...) com a dita letra, e sem elas outras

30

que etimologicamente a deveriam ter.” (SAID ALI:1964:45).

Além desses casos, pode-se observar, ainda, a letra h em

contextos variados podendo denotar: marcação de hiato,

marcação de sílaba tônica e falsa regressão e nos dígrafos

ch, lh e nh6.

H etimológico

Esse h provem de palavras originarias do latim e do

grego. Pode-se encontra-lo tanto na posição inicial, quanto

medial de substantivos, verbos e adjetivos. Segundo Said

Ali (1964:44), por vezes encontramos o h inicial sem que

este fosse determinado pela preocupação etimológica, por

isso em textos mais antigos pode-se encontrar variantes na

escrita de palavras como homem e hospital. No corpus não

houve qualquer variação desse tipo, palavras como

<homem>(652) e <hospital> (623) sempre aparecem grafadas

com o h inicial, assim como todas as formas verbais do

verbo haver7.

Alguns exemplos de h etimológico encontrados no corpus

foram: <ha> (82); <habitaõ> (26); <haja> (115); <haviaõ>

(72); <homem> (652); <honorario> (786); <honorificos>

(456); <honra> (22); <hospital> (623); <houveraõ> (240);

6 Os contextos em que o h formando os dígrafos aparecem são os mesmos daqueles utilizados

atualmente, por isso não serão elencados, aqui, nenhum exemplo.7 Segundo Said Ali (1964:44-45), a forma verbal ha do verbo haver,

já vinha grafada pelos quinhentistas, entretanto, o próprio verbo haver como as outras formas do verbo só

passaram a ser grafadas com h pelos seiscentistas.

31

<houverem> (602).

H Marcador de hiatos

Encontramos ainda algumas palavras em que o h tinha a

função de marcar o hiato em palavras como sahida, ou ainda,

quando aparecia em verbos tinha a função de destacar que

há a formação de outra sílaba, Costa, citando Lima (1736

apud 2007:118), diz

“porque, achando-se três vogais juntas , pode

surgir alguma dúvida relacionada ao tempo

verbal, como, por exemplo, no caso do verbo

<cahir>, ignorando-se se “caia” é o Imperfeito

do Indicativo ou terceira pessoa do Imperativo”.

(COSTA: 2007:118).

Alguns exemplos encontrados de h como marcador de

hiato foram: <contrahido> (91); <decahir> (125);

<extrahida> (779); <incoherente> (59); <sahe> (202);

<sahida> (849); <sahindo> (222); <sahiraõ> (870); <sahirem>

(143).

H Marcador de silaba tônica

Encontraram-se também, o h como indicador de

tonacidade da sílaba. Segundo Said Ali (1964:44), o h

inicial poderia denotar “o pequeno esforço com que

proferiam, ou supunham proferir, a vogal inicial de alguns

32

vocábulos (...) sobretudo dos monossílabos he, hũ, hi (ainda

hoje ahi).” (SAID ALI: 1964: 44). Além dos casos como os

mencionados por Said Ali, também foi encontrado o h em

contexto medial, conferindo tonacidade à sílaba em que ele

se encontra. Seguem alguns dos exemplos encontrados: <he>

(32); <hido> (76); <hũ> (931); <huã> (105); <hum> (50);

<huma> (84); rethorica> (756).

H - Falsa regressão

Novamente, por influência das línguas clássicas, e

pela intenção de conferir às palavras portuguesas comuns

uma origem “falsa”, acrescenta-se um h, que

etimologicamente não existe. Alguns casos observados foram:

<authorizar> (576); <authoridade> (40); <authorizado>

(505); <authorizava> (424).

III. 3.6. Uso <ch> e <ph> gregos

Foram encontradas, ainda, dentro do documento

manuscrito o uso da letra c no dígrafo ch que não

representa o som /ʃ/, mas sim o som /k/. Segundo Coutinho,

no período fonético, já se encontrava diversos usos da

letra c, dentre eles, o c “combinado com o h, conservava seu

valor velar: cerchal – cercal, nuncha = nunca” (COUTINHO,

1976:73).

De acordo com Costa (2007:121), esse ch é um grupo

consonantal grego herdado pelos latinos e transferido ao

33

português. Costa ainda ressalta que o gosto pelo uso do ch

é indício do cenário cultural e lingüístico do século

XVIII, que desejava luxo e extravagância ortográfica,

sintomas estendidos até o início do século XIX, como se

pode perceber nos exemplos encontrados no manuscrito:

<parochia> (181, 205); <chimica> (406, 825); <eschola>

(639); <escholas>657).

Como já foi citado, outro grupo consonantal encontrado

nesse período é o ph em palavras de etimologia grega que

corresponderia ao som grafado pela letra f latina. Sobre

esse caso, Feijó faz algumas considerações ao se referir a

letra f. Diz ele que os gregos, diferentemente dos latinos,

não tinham a letra f, e para representar o som desta letra

utilizavam o ph e pronunciavam com o som de /f/. Sobre o

caso de usar o f ou o ph, Feijó (1824:60) opina que

“também os latinos tinhaõ o mesmo F, de quem nós

usamos, e nem por isso deixáraõ de escrever com

Ph as palavras, que tiráraõ dos Gregos; talvez

para que em todo o tempo se visse pela

Orthographîa das palavras a sua origem Grega, e

melhor se soubesse a sua significaçaõ. E por

esta causa sería util introduzir no abecedario

portuguez o Ph dos Gregos (...)” (FEIJÓ, 1824:

60)

As palavras que encontramos grafadas com ph no corpus

foram: <pharmacia> (824); <philosophia> (439,743,756);

<topographia> (821).

34

III.3.7. Grafemas latinos

Como já foi dito no item III.3. “Aspectos

Ortográficos”, o período em que o manuscrito encaixa-se, ou

seja, o período pseudo-etimológico, valorizava e tentava

reproduzir as formas latinas e gregas na grafia dos

vocábulos. De acordo com Teyssier (2004:84), as formas

eruditas ou semi-eruditas entram desde na língua portuguesa

desde o princípio, uma vez que esta como diz Feijó é

“filha” daquela. As formas latinas ganham impulso no

renascimento, assim, percebe-se em muitas palavras a volta

de grafias latinas, ou a conservação delas. A seguir foram

elencados os grafemas latinos encontrados no corpus deste

trabalho.

Grafema Cç – ao todo foram encontrados 25 casos, em

que aparecem o grafema

cç, esses são os exemplos: <acçoens> (138);

<collecçaõ> (252); <conducçoẽs> (123); <direcçaõ>

(363); <exacçaõ> (238); <inspecçaõ> (245);

<instrucçoẽs> (01); <instrucçoens> (646) <introducçaõ>

(278); <producçoens> (457); <transacçoẽs> (25).

Grafema Ct – Feijó traz em sua ortografia a

recomendação de que se grafa “em

portuguez com ct aquellas palavras, que dos latinos

recebemos com a mesma Orthographia” (1824:56).

35

Entretanto, ele próprio não se contenta com tal regra,

, pois segundo ele, não é aplicável a todos e elenca

uma lista de palavras que também seriam grafadas com

ct. No documento manuscrito, foram encontrados, ao

todo, 73 casos de palavras grafadas com ct, os

exemplos são: <activa> (336); <actividade> (121);

<actuaes> (560); <actual> (13); <actualmente> (656);

<affecto> (841); <aspectos> (383); <contacto> (425);

<contradicta> (118); directamente> (139); <directo>

(71); <destricto> (800); <districto> (244);

<exactidaõ> (861); <exacto> (183); <extincta> (747);

<extractiva> (427); <factura> (340); <inspectado>

(501); <inspector> (792) <lectivo> (773); <objecto>

(31); <objectos> (11); <projectada> (526);

<projectado> (853); <productivo> (264); <productos>

(241); <projecto> (164);<respectiva> (260);

<respectivos> (230); <tractada> (602);< tractado>

(164) <tractar> (434); <tractarei> (339).

Grafema Gm – Feijó (1824:67) traz em sua gramática um

tópico tratando dos grafemas latinos gm e gn, onde ele

ressalta que se há empenho por parte dos falantes do

português em imitar na fala a língua latina, também

deve haver ao escrever “para que naõ só se ouça, mas

tambem se veja na uniformidade da cópia com o

exemplar. As palavras que se escrevem com Gm, e Gn

todas saõ participadas da latinidade, que no uso, e

pronunciaçaõ dos doutos naõ perderam esta

36

Orthographia, que nos leva ao conhecimento da sua

origem. (FEIJÓ, 1824:67). Os exemplos encontrados do

uso do gm foram 5 ao todo: <augmentando> (409);

<augmentar> (70, 324); <augmente> (122); <augmento>

(96).

Grafema Gn – foi encontrada apenas 1 ocorrência do

grafema gn, que assinala a ortografia da época

<assignar> (928).

Grafema Mn – Poucos foram os casos encontrados com o

grafema mn que, segundo Feijó (1824: 82) já na época

da publição de sua obra em 1734, já andava em desuso,

desuso contra o qual Feijó protesta, uma vez que por

ser tirada da grafia latina, não deveria deixar de ser

usada. Ao todo foram 3 casos encontrados com esse

grafema: <alumnos> (781); <damnificaçaõ> (513);

<imndenizar> (151).

Grafema Pt –. Ao todo 7 foram os casos encontrados. Os

exemplos são: <assumpto> (435); <escripturaçaõ> (905,

926, 931); <escripta> (697, 717); <exemptando> (153).

III.2.9. Grafia das sibilantes

Outro caso que chama a atenção no documento é a grafia

das sibilantes. Segundo Teyssier (2004: 59 - 61), no

galego-português medieval existiam quatro fonemas: /ts/

37

(ex.: cen), /s/ (ex.:sen), /dz/(ex.: cozer) e /z/

(ex.:coser). Já por volta de 1500, as sibilantes sofreram

uma evolução, perdendo os fonemas /ts/ e /dz/, contudo

ainda havia a distinção entre as surdas e sonoras pré-

dorsodentais e ápico-alveolares.

Já nos fins do século XVI, os fonemas das sibilantes

no português foram reduzidos a apenas dois, o surdo e o

sonoro pré-dorsodental, /s/ e /z/, respectivamente.

No português, contudo, o número de possibilidades em

grafar as sibilantes (surda e sonora) são várias, sendo

estes os símbolos aptos a representá-las c, ç, s, sc, ss, x, xc, xç e z;

isto gerou e ainda gera muita confusão na escrita.

Segundo Said Ali (1964:50), “pelo século XVII não

somente era nulo o critério do ouvido para decidir sobre o

emprego das mencionadas letras, mas ainda devia ir-se

enfraquecendo a influencia da grafia tradicional.” (ALI,

1964:50); ele ainda afirma que a melhor maneira de decidir

como grafar as sibilantes era recorrer à etimologia.

A discussão sobre a grafia das sibilantes acentua-se

no período pseudo-etimológico, onde de acordo com Silveira

(2004:108) , havia “duas correntes bem acentuadas, a

corrente etimológica, que defendia a grafia erudita, e a

corrente fonética, que preconizava a escrita tradicional de

acordo com a pronuncia” (Silveira: 2004:108 apud Costa

2007:125). Não só os ortógrafos tinham problemas em definir

quais eram as regras na grafia das sibilantes, mas

principalmente, aqueles que utilizavam a escrita. Said Ali

(1964: 50-51) afirma que os editores no século XVII já

38

estavam preocupados com essa questão, e tentavam ao máximo

ficar próximos da grafia antiga. A incerteza ou

esquecimento, porém, de como se grafava no português

antigo, aliado aos poucos conhecimentos etimológicos faziam

com que aqueles que utilizavam a escrita vacilassem na

grafia, ora escrevendo de uma forma ora de outra.

Apesar de o escriba do documento manuscrito, corpus

desta iniciação, ter uma homogeneidade na escrita, foi

observado um caso em que há uma oscilação na grafia; a

palavra acima aparece grafada das seguintes formas: <acima>

(251, 290); <assima> (287, 530). Ainda, observou-se um caso

em que o escriba confunde-se na grafia do verbo consertar,

onde ele grafa com c, querendo dar o sentido de reparar. Os

outros casos observados de alteração gráfica das sibilantes

foram:

Uso de <ss> ou <s> por <ç>: foram encontradas 28

ocorrências da palavra açúcar todas grafadas com ss

<assucar> (89), segundo Said Ali (1964, 49), mudou-se

“açucar em assucar, talvez por influência do francês

sucre. A palavra assucar vem do árabe as-sukar (as

alteração do artigo al), e não do latim saccharum (...)”

(ALI, 1964:49); o outro caso de troca do ç pelo ss foi

na palavra, encontrada uma única vez <melasso> (388);

já o s, apenas uma palavra foi grafada com s no lugar de

ç <calsar> (542) .

Uso de <z> por <s>: chama a atenção dentro do corpus o

39

número de palavras que atualmente escreve-se com s, e

consta no corpus com z. É interessante que ao consultar

a gramática de Feijó (1824: 92), há um tópico com

algumas considerações do s com som de z. Novamente a

regra geral é grafar com s em lugar de z toda a palavra

que originalmente no latim assim o era grafada, caso

não seja essa a grafia latina deve-se, então, grafar

com z. As considerações que ele faz são apenas sobre o

s intervocálico, quanto ao z ele afirma que os verbos

dizer, fazer, trazer e prazer e seus tempos verbais, que firam

a vogal seguinte, devem vir com z, além de alguns

plurais e femininos. Suas maiores observações são a

respeito do uso do z na terminação de palavras. Nesses

casos as regras devem obedecer mais aos ouvidos, uma

vez que depende da pronuncia. Por exemplo: “os nomes

acabados em Ez com som medio, ou acento circumflexo,

tambem se escrevem com Z” (FEIJÓ, 1824: 107). No

levantamento de dados do corpus deste trabalho,

percebeu-se que havia a tendência a grafar-se com z,

rechaçando o s intervocálico. Said Ali (1964:51)

observa que em algumas obras impressas no século XVIII

é comum encontrar o z querendo “usurpar o lugar do s

intervocálico. É a época em que Luíz Antônio Verney

propõe reforma ortográfica no qual inclui semelhante

modificação, e logo aplica a reforma em seus

escritos.” (SAID ALI,1964:51). Sobre essa questão,

Williams (1975:40) diz que “na mesma época, abundaram

falsas regressões ortográficas, e.g., th em thesoura e

40

em ethymolgia; y em phylosophia; duplo cc em occeano.

Dentre essas, inscreve-se a torça de s final por z, em

mez, portuguez, pos, etc, que brotou de imitação de

palavras como simplez, vez, fez, etc.” (WILLIAMS, 1975:40).

Ao todo foram encontradas 102 ocorrências de z no

lugar com s intervocálico, e 16 em que há a terminação

em z: <apezar> (131); <apprezenta> (421);

<apprezentar> (22); <aquoza> (371); <argiloza> (401);

<atravez> (411); <avizo> (55); <avizos> (737); <baze>

(128); <Brazil> (574); <cauza> (329); <caza> (220);

<cazo> (929); <cazualidade> (239); <coiza> (223);

<coizas> (325); <confuza> (370); <confuzo> (412);

<decizaõ> (677); <despeza> (894); <devizaõ> (714);

<dezeja> (116); <dezejaõ> (546); <dezejava> (188);

<dezenho> (824); <difficultozos> (527); <dispoziçoens>

(617); <excuzado> (567); <expuz> (490); <fizico>

(888); <Goiaz> (318); <impuzesse> (619); <lezado>

(479); <lixiviozos> (428); <mez> (233); <meza> (340);

<occaziaõ> (109); <occaziona> (518); <occazionadas>

(127); <occazinonar> (334); <paiz> (36); <pezo> (467);

<precizar> (136); <prezença> (841); <prezente> (177);

<profuzamente> (519); <propoz> (452); <propoziçaõ>

(378); <propozito> (460); <provizaõ> (173);

<provizoẽs> (671); <puzer> (571); <quazi> (370);

<quiz> (720); <quizerem> (788); <reprezentaçaõ> (575)

<rezultado> (177); <rezultados> (179); <rezultando>

(560); <rezultaõ> (157); <rezultar> (266); <rezultou>

(66); <rezumo> (264); <trez> (75); <uzo> (587) <vazos>

41

(74); <vizita> (771); <vizitador> (768); <vizitar>

(763).

Uso de <x> por <s>: foi encontrado apenas um caso em

que ocorre a grafia de x

por s - <excuzado> (567).

Uso do <s> por <c>: foi encontrado apenas um caso onde

o c é representado

por s na palavra cinqüenta que aparece 4 vezes no

documento grafado como <sincoenta> (469, 470, 471,

598) e na palavra cinco que aparece uma vez <sinco>

(588).

III.2.10. Representação de nasalidade

Para grafar a nasalidade no final de um vocábulo o

escriba utiliza o m e til (~) e no interior do vocábulo ele,

além das duas já citadas, também utiliza o n. Como já foi

observado anteriormente, o documento manuscrito apresenta

uma grafia muito semelhante à atual.

Desde quando as línguas românicas firmaram-se frente

ao latim, houve muita discussão para representar a

nasalidade, deve-se lembrar que a ortografia nessa época

ainda não era feita de regras oficializadas, desta maneira

42

foram observados alguns casos de oscilação na representação

das nasais.

As maiores oscilações observadas foram quanto ao

plural de algumas palavras feitas por terminação nasal e

algumas terminações verbais que chamaram a atenção. Pôde-se

constatar o seguinte:

M em lugar de N: Os casos observados em que havia a

troca do n pelo m foram

na palavra emquanto que aparece 3 vezes no documento

sempre grafadas com m <emquanto> (82, 145, 877) e

<comsigo> (412).

Grafias com aõ8 – Primeiro observou-se que em toda

palavra grafada com aõ, o

til (~) recai sobre a segunda vogal (o). Além disso, a

terminação verbal da terceira pessoa do plural no

indicativo e subjuntivo dos verbos da três conjugações

(exceto o verbo pôr e seus derivados9),

independentemente do tempo verbal que o escriba estive

8 Apesar de todas as vezes que a palavra administração tenha vindografada por aõ, o escriba ao

abrevia-la grafou a nasal por am sobrescrito, a fim de manter fiel atranscrição, ao desenvolver tal

abreviatura optou-se por deixar a forma sobrescrita - <admnistraçam>(844), o mesmo ocorreu em

<arrecadaçam> (844)9 Os casos em que aparecem o verbo pôr e seus derivados não apresentam

o uso do til (~) sobre qualquer uma das vogais, sobre esse caso, Feijó comenta que todos estes verbos

deveriam ser grafados com o til (~) sobre a vogal o para que se diferenciem de palavras como “Toem e

Soem” (FEIJÓ, 1824: 80-81)

43

usando, era grafada pelo ditongo aõ. Apenas uma exceção

a esta “regra” foi encontrada no documento manuscrito:

o verbo ser na terceira do plural no presente do

indicativo vem grafado como a forma atual <foram>

(183). Apesar de encontramos certa homogeneidade na

escrita deste documento manuscrito, grafar os tempos

verbais com –am ou aõ, gerava muita confusão até mesmo

entre os gramáticos. Ainda no século XVII, segundo

Vera (1633: 25v. apud ASSALIM 2007:135),

independentemente do tempo, os verbos deviam ser

grafados com aõ, uma vez que essa era a pronuncia

dada. Já Bento (1666:64 apud ASSALIM, 2007:135) afirma

que deveria, sim, haver distinção gráfica entre as

formas verbais. No século XVIII, a discussão

continua, a respeito do aõ Feijó comenta

“Duvidaõ muitos se as nossas palavras

portuguezas, que acabaõ em am, se haõ de

escrever sempre com am, ou com este dithongo

aõ . E a razão de duvidar he, porque no fim das

similhantes palavras sempre sôa hum O levemente

tocado na pronunciaçaõ ; o que naõ sucede na

pronunciaçaõ de am, quando se escreve no

principio, ou no meio das palavras: v.g. Amparo

(...) onde o am naõ sôa como o O final, como

nestas: Caõ, Falcão (...)”. (FEIJÓ, 1824: 79)

Ainda falando sobre o uso do aõ, ele discute qual a

diferença entre o /ãw/ tônico e átono no caso dos

44

verbos. Segundo Feijó não havia unanimidade quanto a

ortografia dos tempos verbais, sendo que alguns

ortógrafos defendiam o uso do ditongo aõ em qualquer

tempo e que a diferença seriam os acentos, outros

opinam que deveria haver a separação entre os que

“acabaõ com som breve, ou debil, como : Elles amam

(...). E escreveriamos com aõ os que acabam com som

forte, como Elles amaraõ (...)” (FEIJÓ, 1824:80). Feijó

posiciona-se a esse respeito dizendo:

“Eu porém (...) digo: que todos os nomes, que

acabaõ com som forte, ou em que carregamos mais

a pronunciaçaõ, se escrevaõ com ao como Alemão.

(...) Nas linguagens dos verbos, as que acabarem

breves, teraõ os mesmos accentos nas vogaes

penúltimas ao ditongo, como: Elles amarão, Ensinarão,

Lerão (...) do preterito; e as que forem longas

naõ teraõ taes accentos”. (FEIJO, 1824: 80)

Os casos de verbos grafados com aõ observados no

documento foram:

Passado do indicativo: <abandonaraõ> (65); <achavaõ>

(700); <alteravaõ> (413); <ampliaraõ> (738); <andaraõ>

(124); <costumavaõ> (242); <desceraõ> (293);

<entraraõ> (871); <enviaraõ> (79); <eraõ> (639);

<estavaõ> (285); <examinaraõ> (702); <existiaõ> (816);

<expediraõ> (253); <faziaõ> (128); <faziaõ> (128);

<fizeraõ> (521); <foraõ> (241); <foraõ> (736);

45

<formaraõ> (291); <formaraõ> (73); <haviaõ> (72);

<houveraõ> (240); <juntaraõ> (428); <mostraraõ> (702);

<nomearaõ> (655); <pagariaõ> (622); <passaraõ> (294);

<podiaõ> (138); <podiaõ> (504); <principiavaõ> (289);

<queriaõ> (62); <sahiraõ> (77); <seriaõ> (617);

<tinhaõ> (287); <tiraraõ> (241)

Presente do indicativo: <achaõ> (337); <achaõ> (804);

<chegaõ> (232); <confinaõ> (251); <constaõ> (739);

<cooperaõ> (331); <demandaõ> (269); <desejaõ> (546);

<entraõ> (185); <entraõ> (569); <exportaõ> (223);

<formaõ> (311); <frequentaõ> (778); <habitaõ> (27);

<navegaõ> (74); <passaõ> (193); <rezultaõ> (157);

<tiraõ> (377); <transitaõ> (316); <transportaõ> (291);

Presente do subjuntivo: <façaõ> (105); <hajaõ> (143);

<possaõ> (136); <queiraõ> (584); <sejaõ> (890);

<tenhaõ> (449).

Plural OEN ou OẼ10 - como já foi dito, o documento

manuscrito apresenta cer-

ta homogeneidade, entretanto, ao olhar atentamente os

plurais de alguns vocábulos, deve-se fazer a seguinte

observação: percebeu-se que o plural poderia ser feito

através da nasalização indicada pelo n ou pelo til (~). É

interessante notar que essa oscilação entre oens e oẽs

10 Assim como em aõ o til (~) recai sobre a segunda vogal e não sobre a primeira , apenas na palavra

<instruções>, na linha 1 do folio 1 o til em grafado em cima do o e não do e.

46

ocorre com freqüência no documento, ora uma palavra é

grafada de uma forma ora de outra. Feijó (1824: 111)

não traz caso algum de plural grafado por oens, apenas

dizendo que para o plural de aõ não há regra certa,

ora haveria plurais feitos em aẽs, aõs e oẽs. Ao fazer o

levantamento de dados, percebeu-se que a preferência

do escriba era por grafar o plural com oens, ao todo

foram 28 plurais feitos com essa grafia contra 9

vocábulos grafados em oẽ. Vale ressaltar que três

palavras apresentaram as duas grafias – embarcações,

instruções e relações. Das palavras terminadas em oens, os

exemplos são: <acçoens> (138); <administraçoens>

(153); <cirurgioens> (821); <conducçoens> (123);

<despoziçoens> (617); <embarcaçoens> (169);

<instrucçoens> (646); <liçoens> (442); <nocoens> (20);

<plantaçoens> (586); <porçoens> (432); <producçoens>

(457); <razoens> (437); <relaçoens> (215); <relaçoens>

(872); <remataçoens> (803). Dos vocábulos grafados

com oẽ, os exemplos são: <embarcaçoẽs> (86);

<instrrucçoẽs> (859); <provizoẽs> (672); <relaçoẽs>

(231); <transacçoẽs> (35).

Um caso interessante observado no corpus é que em

algumas poucas vezes a na-

sal, que, normalmente, vinha marcado pelas consoantes

n ou m, é indicada pelo til (~). Ao discursar sobre o uso

do til (~), Feijó (1824:110) adverte que “o Til nunca

suppre o M, que fere alguma vogal seguinte(...) e

daqui se segue hum argumento sem resposta, que nestas

47

palavras, Huma, Alguma, o M não fere a vogal

seguinte: porque se a feríra, naõ se podéra escrever

Hũa, Algũa, como escrevem homens doutissimos” (FEIJÓ,

1824: 110). Sobre esse tipo de grafia, e a oscilação

que observou-se no corpus, Williams (1975:34) traz uma

possível explicação: “o til foi usado pelo m

intervocálico para ganhar espaço num esforço de manter

a linha dentro dos limites da margem direita”

(1975:34), pode-se citar como exemplo desse caso a

palavra <abũ/dancia>(141/142)11, ou ainda os

monossílabos hum ou huma grudado à margem direita.

Apesar dessa possível explicação, observaram-se casos

que fogem a essa “regra”: a palavra <houvessẽ> (709),

<podẽ> (273); <conformã> (...) que não se encontrava

no fim da linha junto à margem direita. Os casos

observados foram: <abũ/dancia> (141/142); <acharẽ>

(484); <dalguãs> (364); <houvessẽ> (709); <hũ> (931);

<huã> (938); <indispẽ/savel> (210); <sẽ/pre> (384);

<trãs/porta> (36); <trãs/porte> (532).

VI Fronteiras de Palavras

De acordo com o projeto desta iniciação científica,

seriam levantados os casos dentro do corpus em que as

fronteiras entre as palavras não fossem observadas pelo

escriba.

11 A barra na diagonal posta no meio das palavras é para indicar onde há a separação no manuscrito.

48

Conforme a norma 3. das normas de transcrição, que

serão elencadas no item V.1, na transcrição não foram

estabelecidas as fronteiras entre as palavras que vieram

juntas. Como em alguns trechos do manuscrito era pouco

claro se havia ou não fronteira entre as palavras, julgou-

se que não havia fronteira, quando se observou no documento

manuscrito que não ocorreu o levantar o instrumento de

escrita, e ou o escriba emendou o traçado da última letra

da palavra ao início da letra da palavra seguinte, todos os

casos que havia o mínimo de espaço em branco entre o final

de uma palavra e inicio da outra (por menor que fosse o

espaço), sem nenhum traço que as unisse, julgou-se haver

fronteiras entre as palavras.

Conforme nos explica Assalim, esta maneira de grafar

as palavras permitia que linhas inteiras fossem escritas

num traçado contínuo.

“sem que o notário levante a pena do papel – ou

que a levante, para carregar a pena de tinta, ao

longo da escrita desses manuscritos e que,

muitas vezes, são responsáveis por

interpretações errôneas. (ASSALIM, 2007, p.22)

No levantamento feito, o intuito era observar se o

escriba tinha algum tipo de critério, visto que em alguns

trechos do corpus ele tendia ao traçado continuo e em outros

não.

A questão da união ou não de palavras na escrita é

49

algo complicado de se definir, pois como lembra Aguilera,

citando Cagliari, ao falar não existe separação entre as

palavras, por isso para dividir a escrita “um dos critérios

usados são os grupos tonais do falante ou conjunto de sons

ditos em determinadas alturas”. (AGUILERA, 1997:34)

Duarte Nunes Leão já desaprovava a ligação entre as

palavras, de acordo com ele apesar de “com ũa penada

fazerem muitas letras e em pouco espaço mais escritura

(...) de tal ligadura nasce confusão e obscuridade ainda em

letra de boa mão, e não lê depois senão o que se tira por

descrição”. (LEÃO, 1983:144).

Depois da primeira leitura e transcrição do

manuscrito, já se observava que normalmente o escriba

costumava “ajuntar” dois vocábulos, onde normalmente uma

delas era monossilábica e a outra independia do número de

sílabas.

A hipótese inicial é que a ligação entre as palavras

se fazia sempre ou quase sempre entre dois vocábulos, sendo

que o primeiro, normalmente um monossílabo, unia-se a

palavra seguinte. Para facilitar o levantamento de dados,

classificação e contagem, considerou-se apenas a primeira

palavra que vinha aglutinada com a seguinte. Exemplo:

<dasReas> (16) = monossílabo (preposição) + palavra com

número de sílabas qualquer.

Foram feitos três levantamento: primeiro considerando

só os monossílabos, segundo considerando só os dissílabos e

terceiro considerando mais de duas palavras aglutinadas.

Foram desconsiderados os casos em que a palavra vinha

50

aglutinada a um número como no caso <de1> (643)12. Abaixo

seguem três quadros com o número total de casos

encontrados, e alguns exemplos de cada caso:

Monossílabos + palavras comqualquer número de sílabas

Número total de casos: 505

Localização

Classificaçãogramatical domonossílabo

Exemplos: napurificação Linha428

prep. em +art.def. a

aalteraçaõ Linha517

art. def. a

emdesembaraçar Linha601

prep. em

Depagar Linha910

Prep. de

Quadro 1. Monossílabos

Dissílabo + palavras comqualquer número de silabas

Número total de casos: 19

Localização

Classificaçãogramatical do

dissílabo

Exemplos: mesmaCapitania Linha 13 Substantivofeminino

Annopassado Linha254

Substantivomasculino

Mesmose Linha281

pron.demonstrativo

Quazitoda Linha 370

advérbio

Quadro 2. Dissílabos

Duas ou mais palavras sem Localiza Classificação

12 Normalmente a preposição de aglutinava-se ao número que o seguia, essas casos foram

desconsiderados na contagem de vocábulos com e sem fronteira.

51

fronteiras entre si

Número total de casos: 15

ção gramatical daspalavras

Exemplos: hojeseacha Linha353

adv. + part.apassivadora + verbo

tiradasua Linha459

verbo + prep. (de +art.a) + pron. Poss.

Quadro 3. Duas ou mais palavras sem fronteiras

Além desse casos, durante o levantamento, foram

observadas duas ocorrências em que uma palavra polissílaba

unia-se às preposições mais artigo (na, da) e um em que a

palavra polissilábica unia-se ao artigo indefinido huma.

Encontraram-se, ainda, dois casos em que um enclítico uniu-

se ao verbo – conservandose (262); lembreime (823).

A partir do levantamento feito, pode-se perceber que

a hipótese inicial confirmou-se, ou seja, o escriba ao unir

as palavras costuma faze-lo apenas entre dois vocábulos.

Dos 544 casos em que observou-se a infração entre as

fronteiras de palavras, aproximadamente 93%, ocorria entre

um monossilábico e uma palavra com qualquer número de

sílabas.

Visto que a ligadura entre as palavras dava-se

majoritariamente no caso dos monossilábicos, resolveu-se

observa-los mais atentamente. Ao tentar especificar um

pouco mais os tipos de monossílabos encontrados, verificou-

se que em aproximadamente:

52

25,5% dos casos de ligadura entre palavras, o

monossílabo era a preposição de, do(s), da(s).

21,78% dos casos, o monossílabo era a palavra a13

20,9% dos casos, o monossílabo era a conjunção e

10,69% dos casos, o monossílabo era a palavra se

8,51% dos casos, o monossílabo era a palavra o

6,93% dos casos, o monossílabo era a preposição em,

no(s), na(s)

0,79% dos casos, o monossílabo era a palavra que

4,7% outros.

Dos 4,7% que foram classificados como outros

aproximadamente 54,1% eram as

preposições por e com, 12,5% eram o verbo ser e 33,3% eram

os pronomes me e lhe.

Levando em consideração apenas os monossilábicos,

tentou-se verificar com qual freqüência o escriba unia

monossílabos à palavra seguinte. Para isso foram levantados

todas as vezes em que os monossílabos (dessa vez não foi

feita separação entre as classes gramaticais) tinham a

“possibilidade” de unir-se a palavra seguinte, por esse

motivo, foram desconsiderados aqueles se encontravam ao fim

da linha junto à margem direita, os sucedidos por um sinal

de pontuação e os sucedidos por número.

Verificou-se que 2138 monossílabos presentes no corpus

que tinham a “possibilidade” de unir-se à palavra seguinte,

13 As palavras se, que, o, e a, foram contabilizadas sem levar em consideração a função sintática que cada

um deles pode exercer.

53

entretanto, eram grafados com fronteira e apenas 505 dos

monossílabos houve a não observância entre as fronteiras

das palavras14, sendo que 55,7% dos monossílabos eram

preposições e ou conjunções15.

Percebe-se, portanto, que quando havia a ligadura

entre um monossílabo e uma palavra de número de sílabas

qualquer, a tendência era unir os clíticos a palavra

seguinte, no caso os proclíticos. Segundo Said Ali

(1964:43), em fases anteriores da língua portuguesa de

acordo com a pronuncia, os proclíticos vinham

“freqüentemente ligados à palavra seguinte, como desseu por

de seu, asseu por a seu (...), e os enclíticos uniam-se à

palavra precedente não se recorrendo ainda ao emprego do

sinal do hífen (...) faziasse por fazia-se”. (SAID ALI:

1964:43).

No caso do corpus desta iniciação, verificou-se que

quanto aos proclíticos e enclíticos, em parte confirma-se a

afirmação de Said Ali, visto que a maioria dos casos onde

não há fronteiras de palavras são proclíticos, entretanto

houve uma “modernização” da língua portuguesa, pois não

havia o acréscimo de qualquer letra entre as palavras

aglutinadas e percebeu-se, também, o uso do hífen, apesar

de não ser um uso freqüente. Foram encontrados apenas 2

enclíticos unindo-se a palavra anterior, e 5 enclíticos

grafados com hífen.14 Na contagem dos monossilábicos que ligavam-se a outras palavras,

apesar de observar-se que algumas vezes ocorria a ligadura entre dois monossílabos, foi contabilizado apenas o primeiro monossílabo.

15 Aqui não estão contabilizados os casos em que o a funcionava como preposição,tampouco os casos em que o se e o que funcionavam como conjunção.

54

Dos dados levantados, percebe-se que a ligadura entre

as palavras é uma pratica relativamente baixa do escriba,

mas quando ele o faz, tende a seguir um padrão. Afirmar,

entretanto, que tratava-se de um critério do escriba em

unir monossílabos à palavra seguinte pode cair num

equívoco, uma vez que também foram observados alguns casos

em que era claro o esforço do escriba em manter a linha

dentro da margem direita. Pode-se pensar, também, que a

questão da união ou não dos vocábulos mais dependia da pena

“abastecida”, ou seja, num só traço escrever as palavras

sem levantar o instrumento de escrita do suporte até

esgotar-se a tinta e por isso, nas próclises, os

monossílabos aparecem ligados à palavra seguinte, mas isso

não explicaria porque tão poucos monossílabos aparecem

aglutinados. O razão da ligadura entre as palavras

permanece, portanto, sem explicação.

Todos os casos onde houve o desrespeito às fronteiras

de palavras estão anexados em Anexo I ao fim do relatório.

V. O tipo de edição

Ao escolher trabalhar com manuscritos e prepara-los

para a sua publicação, devemos sempre ter em mente qual é o

objetivo primeiro da filologia; a função primordial dela é

resgatar o texto que será editado, preocupando-se com tipo

de edição que deve ser feito e qual será o seu publico

alvo.

Ao partir dessa idéia propôs-se fazer uma edição

55

semidiplomática 16. A escolha pela edição semidiplomática tem

por finalidade o intento de tornar acessíveis documentos

manuscritos a pesquisadores e leitores não especializados,

pois o grau de interferência é médio, sem alterar, no

entanto, a fidedignidade da transcrição. As modificações

realizadas decodificam características originais, como as

abreviaturas, que não seriam facilmente interpretadas pelo

público não especializado (CAMBRAIA, 2005: 95). Esse tipo

de edição permite abranger um público que não

necessariamente é especializado em filologia ou

lingüística. Dessa maneira não só especialista, mas

qualquer pessoa que se interesse pelo estado de língua do

manuscrito ou pelo conteúdo descrito nele terá a

oportunidade de lê-lo sem maiores dificuldades.

V.1. Normas de transcrição

O critério adotado para a transcrição do corpus foi

extraído do livro A Carta de Pero Vaz de Caminha de Antônio

Geraldo da Cunha, César Nardelli Cambraia e Heitor Megale

(1999), somente a norma número 14 foi adaptada, pois

optamos por fazer uma edição justalinear. A transcrição do

manuscrito está anexado ao fim do relatório.

1) A transcrição será conservadora.

2) As abreviaturas, alfabéticas ou não, serão

desenvolvidas, marcando-se, em itálico, as letras

16 A transcrição do documento está em Anexo II, ao fim desse relatório.

56

omitidas na abreviatura, obedecendo aos seguintes

critérios:

1. Respeitar, sempre que possível, a grafia do

manuscrito, ainda que manifeste

idiossincrasias ortográficas do escriba, como

no caso da ocorrência “munto”,

que leva a abreviatura “m.to” a ser transcrita

“munto”;

2. No caso de variação no próprio manuscrito ou em

coetâneos, a opção será a

forma atual ou mais próxima da atual, como no

caso de ocorrências “Deos” e

“Deus”, que levam a abreviatura “D.s” a ser

transcrita “Deus”.

3) Não será estabelecida fronteira de palavras que

venham juntas, nem se introduzirá hífen ou apóstrofo

onde não houver.

Exemplos: “epor ser”; aellas”; “daPiedade”; “ominimo”;

dosertaõ”; mostrandoselhe”; “achandose”; “sesegue”.

4) A pontuação original será rigorosamente mantida.

No caso de espaço maior intervalar deixado pelo

57

escriba, será marcado [espaço]. Exemplo: “que podem

perjudicar [espaço] Osdias passaõ eninguem comparece”.

5) A acentuação original será rigorosamente mantida,

não se permitindo qualquer alteração. Exemplos:

“aRepublica”; “docommercio”; “edemarcando tambem

lugar”; “Rey D. Jose”; “oRio Pirahý”; “oexercicio”;

“que hé munto conveniente”.

6) Será respeitado o emprego de maiúsculas e

minúsculas como se apresentam no original. No caso de

alguma variação física dos sinais gráficos resultar de

fatores cursivos, não será considerada relevante.

Assim, a comparação do traçado da mesma letra deve

propiciar a melhor solução.

7) Eventuais erros do escriba ou do copista serão

remetidos para nota de rodapé, onde se deixará

registrada a lição por sua respectiva correção.

Exemplo: “nota 1. Pirassocunda por Pirassonunga”; nota

2. “deligoncia por deligencia”; nota 3. “adverdinto

por advertindo”.

8) Inserções do escriba ou do copista na entrelinha

ou nas margens superior, laterais ou inferiores

58

entrarão na edição entre os sinais < > na localização

indicada. Exemplo: <fica definido que olugar

convencionado é acasa depedro nolargo damatriz>.

9) Supressões feitas pelo escriba ou pelo copista no

original serão tachadas. Exemplo: todos ninguem

dospresentes assignaran”; sahiram sahiram aspressas

para oadro”. No caso de repetição que o escriba ou

copista não suprimiu, passa a ser suprimida pelo

editor que a coloca entre colchetes duplos. Exemplo:

fugi[[gi]]ram correndo [[correndo]] emdireçaõ opaço”.

10) Intervenções de terceiros no documento original

devem aparecer no final do documento informando-se a

localização.

11) Intervenções do editor hão de ser raríssimas,

permitindo-se apenas em casos extrema necessidade,

desde que elucidativas a ponto de não deixarem a

margem a dúvida. Quando ocorrerem, devem vir entre

colchetes. Exemplo: “naõ deixe passar neste [registo]

de Areas”.

12) Letra ou palavra não legível por deterioração

justificam intervenção do editor na forma do item

59

anterior, com a indicação entre colchetes: [ilegível].

13) Trecho de maior extensão não legível por

deterioração receberá a indicação [corroídas±5

linhas]. Se for o caso de trecho riscado ou

inteiramente anulado por borrão ou papel colado em

cima, será registrada a informação pertinente entre

colchetes e sublinhada.

14) A divisão de linhas do documento original será

preservada, ao longo do texto, na edição, pela marca

de uma barra vertical: | entre as linhas. A mudança de

fólio receberá a marcação com respectivo número na

seqüência de duas barras verticais: ||1v.||, ||2r.||,

||2v.||, ||3r.||17.

15) Na edição, as linhas serão numeradas de cinco em

cinco. Essa numeração será encontrada à margem direita

da mancha, à esquerda do leitor. Será feita de maneira

contínua por documento.

16) As assinaturas simples ou rubricas serão

sublinhadas. Os sinais públicos serão indicados entre

colchetes. Exemplos: assinatura simples Bernardo Jose

de Lorena; sinal público: [Bernardo Jose de Lorena].

17 A edição semidiplomática será justalinear à cópia do manuscrito,não sendo, portanto, respeitada a marcação das barras verticais.

60

VI. Detalhamento dos progressos realizados,

discutindo eventuais dificuldades surgidas ou

esperadas na realização do projeto

VI.1. Detalhamento dos progressos realizados

No período a que se refere o relatório, foi feita a

edição semidiplomática do manuscrito “Instrucções dadas por

Antonio Manoel d’Mello Castro Emendonça sobre o governo da capitania d’S.

Paulo a Antonio Jose da Franca e Horta”, junto com o levantamento de

todos os dados observados quanto a ortografia e as

fronteiras de palavras encontradas no manuscrito.

Depois da leitura do material já referido na síntese

bibliográfica, primeiramente foi feita uma primeira edição

do manuscrito com as anotações de alguns dados da

ortografia e de fronteira de palavras, a fim de melhor nos

familiarizar com o documento e o conteúdo nele tratado. Em

seguida, foi conferido o manuscrito que está em formato de

microfilme no IEB – USP, a fim de elucidarmos aqueles

trechos que não puderam ser bem compreendidos na primeira

leitura, feita através do manuscrito na forma impressa.

Então, organizamos a edição final do manuscrito, e buscamos

as bibliografias que corroboraram para fazermos o nosso

levantamento sobre a ortografia e as fronteiras de

palavras.

VI.2. Dificuldades

61

O documento manuscrito em questão apresentou-nos

poucas dificuldades quanto a sua leitura. No formato

impresso, e, principalmente, no de microfilme, a leitura

flui com facilidade, sendo poucos os trechos ou palavras

incompreensíveis. As maiores dificuldades surgiram ao

estabelecer a fronteira entre alguns vocábulos, pois

ficava, por vezes, pouco claro se havia ou não uma

separação entre as palavras.

Quanto à base bibliográfica utilizada para o estudo,

tivemos acessos a vários livros que tratam da história da

língua portuguesa, e ainda pudemos consultar a gramática de

João de Morais Madureira Feijó que foi bastante explicativo

em alguns pontos pesquisados sobre ortografia. A maior

dificuldade foi encontrar autores que tratassem mais

detalhadamente sobre as fronteiras de palavras em

manuscritos. De qualquer forma, através dos livros, teses

e artigos consultados pudemos elucidar as dúvidas que nos

surgiam ao longo da edição do manuscrito e embasar a

análise dos dados obtidos no corpus.

VII. Considerações Finais

Como já foi discutido, a escrita trouxe à humanidade

um marco, a partir do qual a História se divide. Graças a

ela, pôde-se e pode-se preservar e perpetuar a cultura e

costumes de um povo e de uma sociedade, dessa formar editar

manuscritos é fundamental a fim de difundir o rico conteúdo

deles. No Brasil, porém, muitos dos manuscritos se

perderam, outros se encontram em locais de difícil acesso,

62

por isso, torna-se importante, através da Filologia,

disponibilizar os manuscritos que se tem à mão a

pesquisadores de áreas diversas.

A edição semidiplomática do documento manuscrito

Instrucções dadas por Antonio Manoel d’mello Castro Emendonça sobre o

governo da capitania d’S. Paulo a Antonio Jose da Franca e Horta, objeto

desta iniciação científica, preparando-o para publicação,

torna-o acessível a estudiosos não só da língua, mas de

áreas afins, como história, literatura, gramática,

geografia, entre tantas outras.

Vale lembrar que o trabalho filológico objetiva

reconstituir o texto, tornando acessíveis os aspectos

importantes tratados no manuscrito, sejam eles lingüísticos

e/ou históricos. Por isso, além da edição e do levantamento

e análise de dados, achou-se necessário fazer uma breve

contextualização sobre a história da capitania de São Paulo

e do período da língua portuguesa em que tal documento foi

produzido.

Através da leitura do documento manuscrito e da

observação deste, percebeu-se a importância da edição e

preservação de tais documentos. Como já foi diversas vezes

mencionado, ao longo do relatório, o objetivo maior deste

trabalho era fazer a edição semidiplomática do documento

manuscrito; no decorrer do projeto, porém, constatou-se a

sua riqueza não só lingüística, mas também histórica.

O levantamento ortográfico e o de fronteira de

palavras ajudam a expandir ainda mais o corpus para os

estudos na língua portuguesa. Além disso, ao que se refere

63

à ortografia, apesar de o documento manuscrito trazer

marcas o que caracterizam dentro do período pseudo-

etimológico, há muita proximidade entre língua utilizada no

início do século XIX com a que está atualmente em uso,

semelhança tamanha que algumas características que se

pretendia encontrar ao início da pesquisa não se

confirmaram ao fazer o levantamento de dados.

Quanto à questão da fronteira de palavras, é muito

difícil definir se havia regras em estabelecer as

fronteiras ou não; pela observação que fizemos ao longo do

manuscrito, o que observou-se é um “padrão” ao infringir as

fronteiras (normalmente monossílabos ligam-se as palavras

que os precede ou sucede), mas isso não chega a ser uma

regra e não necessariamente é sempre que isto acontece.

Por fim, espera-se trazer, através dessa edição, não

só um contributo aos estudos de língua portuguesa, mas

também aos estudos de alguns aspectos da posição histórica

da Capitania de São Paulo no início do século XIX.

64

VIII. Bibliografia

ALI, Manuel Said. Gramática Histórica da Língua Portguesai. São

Paulo: Melhoramentos: 1964

ASSALIM, Clarice. A conservação de marcas gramaticais arcaicas em

manuscritos e impressos do português do século XVII: ortografia e nexos de

coordenação nos textos seiscentistas brasileiros. São Paulo: USP, 2007.

194 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia Letras e

Ciências Humanas, São Paulo, 2007.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37.ed. ver.

ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001

CAGLIARI, Luiz Carlos A ortografia na escola e na vida. In:

MASSINI CAGLIARI, G e CAGLIARI, L.C. Diante das da letras:

a escrita na alfabetização . Campinas, (SP): Mercado das

Letras ALB: São Paulo; FAPESP, 1986.

___________ Breve historia das letras e dos números. In: MASSINI

65

CAGLIARI, G e CAGLIARI, L.C. Diante das da letras: a

escrita na alfabetização . Campinas, (SP): Mercado das

Letras ALB: São Paulo; FAPESP, 1993.

CAMBRAIA, César Nardelli, Introdução à crítica textual. 1ª ed. São

Paulo: Martins Fontes, 2005.

___________ “Normas para Transcrição de Documentos

Manuscritos para a História

do Brasil”. In: Carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Série

Diachronica, 1,

Humanitas, 1999. p. 23-6.

COSTA, Renata Ferreira. Edição semidiplomática de "Memória histórica

da Capitania de São Paulo", códice E11571 do arquivo do Estado de São Paulo.

São Paulo: USP, 2007. 558 p. Dissertação (Mestrado) –

Faculdade de Filosofia de Letras e Ciências Humanas, São

Paulo, 2007.

COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. 5ed ver.

aum. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1962.

FARACO, Carlos Alberto. Lingüística Histórica (uma introdução ao

estudo da historia da língua). Editora Ática: São Paulo, 1991.

pp.9-86

FEIJO, João de Morais Madureira. Orthographia, ou arte de escrever,

e pronunciar com acerto na lingua Portugueza. Lisboa: 1824. [online]

Disponível na Internet via

WWW.URL.http://books.google.com.br/books?

id=SoYSAAAAIAAJ&pg=PA60&lpg=PA60&dq=ph+som+de+f+grego&sourc

e=web&ots=vNMYZ-OP1b&sig=2I1qxXUy-LB6IGjRM4QGt9ga1W8&hl=pt-

BR&sa=X&oi=book_result&resnum=3&ct=result#PPP9,M1 .

Acessado em: novembro, 2008

66

FLEXOR, Maria Helena Ochi. Abreviaturas: manuscritos dos séculos XVI

ao XX. São Paulo: Arquivo do Estado, 1991.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua

Portuguesa.Versão 1.0 Rio de Janerio: Objetiva, 2001 – CD-

ROM

MATEUS, Maria Helena Mira. Sobre a natureza fonológica da ortografia

portuguesa. [online] Disponível na Internet via

WWW.URL:http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2006-mhmateus-

ortografia_portuguesa.pdf. Acessado em: 13 de novembro de

2008.

MEDICCI, A. P. . De Capitania a Província: o lugar de São

Paulo nos projetos de Império, 1782-1822.. In: Costa, Wilma

Peres; Oliveira, Cecília Helena de Salles. (Org.). De um

Império a outro. Formação do Brasil, séculos XVIII e XIX. 1

ed. São Paulo: Hucitec/FAPESP, 2007, v. , p. 241-260.

MEGALE, H.. A Carta de Caminha. Edição semidiplomática de

Antônio Geraldo da Cunha, César Nardelli Cambraia e Heitor

Megale. São Paulo: Humanitas, 1999

MEGALE, Heitor; CAMBRAIA, César Nardelli Filologia portuguesa no

Brasil. DELTA, 1999, vol.15, no.spe, p.01-22.

MEGALE, Heitor. “O testemunho da dúvida; a busca da boa

edição”, in: Língua, Filologia e Literatura para Segismundo

Spina, São Paulo, FAPESP, EDUSP, Ilum

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 7ed. São

Paulo: Brasiliense, 1963

SALGADO, Graça (coordenação). Fiscais e Meirinhos. A

administração no Brasil Colonial. Arquivo Nacional. Editora

Nova Fronteira. 2ª Edição, 1985 - RJ

67

SPINA, Segismundo. Introdução à edótica. São Paulo: Cultrix,

1977.

SPAGGIARI, Barbara; PERUGI, Maurizio. Fundamentos de Crítica

Textual. 1ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

TOLEDO NETO, Sílvio de Almeida (Org.); MEGALE, Heitor

(Org.). Por minha letra e sinal. 1ª. ed. São Paulo: Ateliê

Editorial, 2005

WILLIAMS, Edwin. Do latim ao português. Tradução de Antônio

Houaiss. 3 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

Anexo I

68

Anexo I

Aqui estão todos os casos observados em que não houve

fronteira entre as palavras. Eles estão separados em

1.Monossílabos, 2. Dissílabos, 3. Mais de três palavras sem

fronteiras entre si.

Optou-se por coloca-los na ordem em que aparecem nos

fólios, fazendo apenas a indicação das linhas.

1. Monossílabos

69

deMello (15); dasRe/as (16/17)18; emobser/vancia (18/19);

daCarta (19); de Maio (19); edos (26); emais (31);

afranqueza (32); eos(36); lheparece (38); eprotegido (40);

edestes (48); aLiberdade (48); aca/da (49/50); senaõ (54);

aspessoas (62); eSão (67); deformar (72); ados (73);

aAgricultura (78); eque (79); aboa (80); deser (82); eo

(88); epor (89); oComercio (99); semanda (104); deexecutar

(109); dosal (113); sepode (114); ehaja (115); detanta

(116); omelhor (117); epara (119); deSaõ (123); eque (124);

comas (125); adecahir (125);abaze (128); eimportem (134);

deque (134); quehuma (135); sepodiaõ (138); elivre (146);

opodessem (149); eaqui (150); apagar (150); sejulgasse

(151); aindemnizar (151); detirar (152); deAdiministraçoens

(153); depremiar (154); aspessoas (154); osNavios (160);

aesta (160); oMinisterio (164); daMemoria; asEmbarcaçoens

(169); aoutra (169); omodo (173); comque (173); doE/rario

(173/174); seacha(176); decada (181); naforma (182);

quepara (182); meforam (182); detodos (185); porqualquer

(185); aexportaçaõ (187); deconhecer (191); deterem (196);

empagamento (199); dosprimeiros (199); deapreciar (202);

amelhor (203); emcal/culo (203/204); esahe (204);

dequalquer (204); esahe (208); seproduz (208); hetaõ (208);

aproporçaõ (212); dequem (213); eseus (217); emcalculo

(218); compreços (220); seconhecer (223); asua (223);

dosgeneros (224); ados (225); doseu (226); sepoder (228);

asmais (229); detodos (229); osgeneros (229); esahem (230);

echegaõ (232); omez (233); epor (233); detoda (235);

18 As barras em diagonal indicam que a palavra estava separada entre duas linhas.

70

nosMappas (237); amaoir (238); seachaõ (238); asnoticias

(238); eforaõ (241); emais (245); depon/derar (245/246);

oResgistro (248); edas (250); deSerra (250); aeste (252);

eassim; (252); seexpediraõ (253); detodas (258); osistemas

(255); damesma (264); ecom (265); decomparaçaõ (266); deque

(266); eexigem (270); asomma (270); sepodẽ (273); sepossa

(274); ofuturo (276); omeu (277); atransportassem (280);

eSaõ (284); amaior (286); aplanta/çaõ (289/290); deSerras

(290); noprimeiro (293); emque (296); setem (297);

dosEngenhos (297); dequa/ren/ta (300/301/302); afaltar

(303); aCarga (303); apode (305); ameia (305); efazer

(308); oseu (308); amelhor (310); epelo (310); epara (313);

deque (314); avantagem (314); epor (316); amesma (317);

oRio (317); epara (318); deMinas (318); eMatto (318);

oCommercio (324); seo (324); deAssucar (328); afatia (328);

oprimeiro (331); daparte (332); eo (333); aque (334); oseu

(334); aoprimeiro (335); evigillante (336); asemelhante

(336); epor (339); efactura (340); enella (347); sepodera

(349); deque (350); afalta (352); deconhecimento (352);

asua (352); ádecadencia (353); emque (353); ama (354);

deEngenho (355); seprepara (361); deMestre (363);

nadirecçaõ (363); nosucco (366); detal (368); setem (370);

aparte (371); queas (371); sefalsifica (372); emfazer

(373); omelhor (373); quelhes (373); aprepa/raçaõ

(374/375); oAlcali (375); dehumas (375); dapratica (376);

averdade (377); aporçaõ (381); devegetaes (383); aser

(383); dosal (384); hesẽ/pre (384/385); osucco (387); etem

(387); eno (393); setapa (394); separtica (395); equatro

71

(396); Poreste (396); senaõ (397); etendo (389); seprocede

(400); seforma (404); sepoem (404); daforma (405); epor

(405); dagrande (405); epartes (406); oAssucar (407);

dopardo (407); edeliqui/cente (407/408); debranco (408);

osucco (408); evai (411); egraxos (413); oAssucar (416);

efino (416); naquantidade (418); deque (422); aqual (425);

eainda (427); napurificação (428); doSucco (428); dehum

(429); detal (429); dogrande (431); eperdem (432); enaõ

(441); emque (441); etaõ (448); aperfeiçaõ (450); comque

(452); seproduz (452); deSua (454); ascul/turas (456/457);

dejamais (458); sepropoem (458); oSenhor (459); deEngenho

(459); oAssucar (463); edando (464); etorna (466); alucrar

(466); dopezo (467); epor (468); esincoenta (469);

lheproduzem (469); poreste (470); esincoenta (471); oseu

(472); noseu (478); afazer (480); sesente (481); ese (481);

ofu/turo (481/482); adecadencia (482); evigillante (486);

omal (487); osmei/os (489/490); ama (490); deNovembro

(493); oNumero (493); oSenhor (494); oseguinte (495); aMeza

(495); anova (497); poreste (499); sepode (499); deser

(501); detanta (501); daminha (503); meachava (505);

depoderar (507); ama (513); depropozito (514); lhefaziaõ

(514); eos (524); deSantos (524); afactura (524);

setransporta (529); poreste (531); denada (532); deSantos

(533); oCubataõ (533); seo (533); doCaminho (533); senaõ

(533); oque (534); noAvizo (539); emtoda (541);

deCommunica/çaõ (541/542); demandar (543); efazer (544);

seguardarem (545); eos (545); senaõ (546); sepôr (547);

empratica (547); setem (550); omeu (550); deCommunicaçaõ

72

(551); sefez (552); dames/ma (552/553); sefabrica (554);

aser (554); epernoitarem (556); oCommercio (568);

emparticular (568); eacanhada (571); senaõ (572); aminha

(576); deterras (578); oque (579); aqualidade (584);

adestinem (584); efazem (587); epode (588); epor (594);

aquantidade (598); emdesembaraçar (602); aterra (602);

atermos (602); alavrar (606); deser (611); amaneira (611);

depasto (512); ereceberem (614); deque (614); epor (618);

enaõ (628); poreste (630); aobservancia (631); emais (633);

senaõ (633); deDezembro (643); seabolio (643); amencionada

(644); noReino (645); ena (649); aeste (650); omeu (651);

daCosta (653); eo (656); oprimeiro (659); naqual (667);

odom (668); notempo (668); domeu (668); domez (669);

deIunho (669); eno (669); depassar (672); deGrammatica

(674); apersuadir (675); aqual (676); aque (680); eterem

(684); aminha (685); doque (686); deJunho (587); deNovembro

(688); aquem (689); acompetente (690); emSorocaba (698);

seachavaõ (701); emostraraõ (703); etendo (703); deAgosto

(706); mefoi (706); doSub/sidio (711/712); atempo (715);

emque (715); enaõ (718); anecessidade (719); senomearem

(719); serfeita (721); pormim (721); aminha (722);

oCapitulo (730); daMemori/a (730/731); eo (734); doGoverno

(736); emvirtude (738); edos (739); econstaõ (741);

daNomeaçaõ (741); naqual (744); epro/vemos (745/746);

daComis/saõ (749/750); aalgum (754); deGramatica (758);

deSe/tembro (767); dequalquer (770); seachar (770);

eparticularmen/te (774/775); noprincipio (776); defazer

(777); amandar (783); aMatricula (783); eaproveitamento

73

(784); naforma (785); deNovembro (785); eBis/pos (788);

emque (791); oPrelado (797); aprivativa (800); empequenos

(802); aque (803); emcada (803); avista (804); daJun/ta

(808/809); aspessoas (810); aquem (810); epoder (812);

adelibera/çaõ (812/813); seestabelecesse (815/816); epor

(818); deMathematica (826); eDezemnho0 (827); epara (828);

deAndrade (838); eSilva (838); aSua (839); deMarço (840);

aMencionada (841); eContadores (850); eo (850); naSahida

(852); deJulho (852); meachava (853); daFabrica (854);

detira (856); asua (857); amencionada (857); dequalquer

(858); deDezembro (863); comque (864); acobrança (865);

aqual (865); coma (866); atodas (867); ena (868);

deDezembro (868); aformalidade (869); ecom (871); amaior

(871); seformarem (875); eo (876); damesma (878); epor

(879); aprivativa (879); anão (880); aquem (881); afinta

(883); aFabrica (883); deferro (883); deSua (885);

secomprova (888); seacha (893); semandou (895), detal

(896); acargo (897); seconfirma (900); epor (901); sedeve

(902); seacha (903); apena (907); deser (907); detudo

(909); oque (909); esahe (910); daCapitania (910); eseus

(910); sepode (912); daContribuiçaõ (912); depagar (913);

eja (914); deprezente (915); meseja (915); emqual (916);

devista (923); seconhecer (923); equalquer (924); deser

(925); amaior (925); amais (929); dequatro (929);

anecessaria (931); eainda (931); deficar (935); detudo

(936); esahe (936); derender (939); dereis (939); eque

(939); amaior (940); evigillancia (940); aeste (945).

74

2. Dissílabos

mesmaCapitania (13); humadas (181); annopassado (254);

humapor/çaõ (403/404); mesmoSenhor (452); safframil (459);

esteAssucar (466); mesmoproducto (485); destemesmo (534);

estefim (534); destaReal (582); queiraõap/plicar (585/586);

annopagariaõ (623); humaCarta (666); atemesmo (675);

entremim (734); devemfa/zer (806/807); humaCadeira (816);

pelaqual (889).

3. Mais de duas palavras sem fronteiras entre si.

JosédaFrancaeHorta (9); ecomeste (113); queascar/regem

(143/144); comaPra/ça (161/162); quesemane/jem (273/274);

hojeseacha (353); tiradasua (459); aquetiver (608);

daSilvaGo/mes (656/657); daSilvaGomes (668); eporelle

(721); citadaCartaRe/gia (729/730); deseman/darem (821);

seapplicassem (822); doSub/sidioLiterario (878/879);

SenhorBispo (763)

4. Outros Casos

politicada (165); Capitaniahu/ma (219/220); conservandose

(262); especialidadenas (612); lembreime (824);

75

Anexo II

76