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1 junho.2020 Japão Tradição, cultura e esporte na terra do sol nascente

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junho.2020

JapãoTradição, cultura e esporte na terra do sol nascente

SUM

ÁRIO Impactos e desdobramentos do adiamento do

maior evento esportivo do planeta

o fim para mim 52

Vírus no pódio: medalha adiada 28

de praxe

26Fantasia ou Cosplay

CAPA 38Um tour no outro lado do mundo

18Tradição e essência

72Laços de amizade entre dois

tons de tomie1248 Strike didático

66 Nadeshiko: beleza em campo

O MESTRE AKIRA KURASAWA76

As artes marciais tem origem asiática, mas foram aderidas no mundo inteiro, inclusive no Brasil

caminho do guerreiro62

passado e presente japonês54

a estrela do ping-pong12

Respeito e tradição: valores japoneses são vantajosos no combate ao coronavírus

Do monte Fugi aos castelos tradicionais. Saiba tudo sobre

o turismo no Japão

na esportiva

a bordo60Uma barca de opções

Arquipélago japonês possui regiões repletas de diversidade cultural e geográfi ca

oito regiões, uma viagem20pensando bem

16Relevância do esporte

74Samurais modernos08 SE LIGA

Curiosidades 20

7

junho.2020

embarqueimediato

Um convite para descobrir novos

mundos entre Brasil e Japão.

Bem vindo a bordo

KAREN NERI

8 MIN

Editorial

s editoriais sempre foram minha parte favorita das

revistas. Talvez porque se asseme-lham com minhas amadas páginas de agradecimentos dos livros. Mas também porque justificam a exis-tência daquele material. É a página que transforma essa revista em um propósito e faz com que você, meu querido leitor, goste dela de verda-de, e não apenas desta edição.

A Contrastes nasceu de um grupo diverso e divergente em opi-niões, mas com uma única missão: te apresentar o globo. Foram ne-cessárias 24 pessoas trabalhando incansavelmente para que você pudesse ver, “pela janela”, o outro lado do mundo. Afinal, por onde mais poderíamos começar? Noi-tes em claro, ligações interminá-veis, revisões insuficientes, suor e lágrimas. Sorrisos também. Suspi-ros aliviados. Finalmente está em suas mãos nosso esforço e dedica-ção. Vou te contar de uma vez o que queremos com tudo isso: que você amplie seus horizontes. Que a informação abra seus olhos. E que você se divirta.

Mas essa tal janela que cons-truímos te mostra muito mais do que pontos turísticos e comidas gostosas. Mostra costumes, tor-cidas e pessoas. Mostra vitórias, lágrimas e momentos transforma-dores. Como esse. Como o ago-

ra. Assim como o mundo, que se reinventa para sobreviver em meio a uma pandemia mundial, nós também nos fizemos novos, quiçá pioneiros, ao escrever jun-tos mesmo espalhados pelo Bra-sil. Nessas páginas você encontra repórteres, alunos, fontes e pro-fessores desbravando o novo nor-mal. Meu eterno agradecimento a todos vocês.

No Japão você encontra adul-tos, crianças e idosos resilientes. Educados pela existência milenar. Esses, até então desconhecidos, nos ensinam sobre obediência, determinação e disciplina. Com leveza nos ensinam também so-bre arte, beleza e família. O exem-plo do povo japonês fez com que um grupo de jornalistas, sempre armados com as respostas na ponta da língua, refletisse sobre a necessidade de ouvir, começando por essa que vos escreve. Claro que também mostrou esportes inusitados, pratos inimagináveis e vistas estonteantes. Muito obriga-da a essa nação.

Talvez nenhum de nós espe-rava a transformação que a Terra do Sol Nascente faria dentro de si. Talvez você não ache que isso pos-sa acontecer. Aguarde pelas próxi-mas páginas.

Só me resta pedir que se prepa-re: lindas coisas estão por vir. Faça sua mala, mas só leve o que couber em sua mente e o que não te dei-xar pesado. Acomode-se, mas não muito. Lembre-se das meias para evitar pé frio. Essa é a primeira de muitas viagens. Yoi ryoko.

O

COORDENAÇÃO DE PROJETO:Ma. Andréia Moura

ORIENTAÇÃO:Dra. Karla Eheremberg

Ma. Andréia MouraDr. Ruben Dargã Holdorf

Me. Felipe CarmoEsp. Ana Paula Pirani

CONSULTORIA GRÁFICA:Ma. Andréia Moura

Esp. Ana Paula Pirani

LOGO:Felipe Rocha

EDITORA-CHEFE:Karen Neri

CHEFE DE REPORTAGEM: Gabriel Buss

SECRETÁRIAS DE REDAÇÃO:Letícia Leme e Thaina Reis

DIAGRAMADORES:Lucas Abrahão, Willian Silvestre e Victória

Almeida

REVISORES:Karen Neri, Gabriel Buss, Ana Carolina Delcasale, Letícia Leme e Thaina Reis

REPÓRTERES:Amanda Januário, Ana Carolina Delcasale, Andreza Melo,Ariane Brasil, Êmili Viana,

Eric Motta, Esther Fernandes, Felipe Carmo, Isabella Anunciação, Júlia Pio, Mahynara

Souza, Matheus Figueiredo, Rachide Incote, Rebeca Queiroz, Rebeca Freitas, Victória

Silva e Willian Silvestre

INFOGRAFIA:Lucas Abrahão, Victória Almeida, Eric

Motta, Matheus Figueiredo, Ana Paula Pirani e Andréia Moura

COLUNISTAS:Gabriel Buss, Letícia Leme, Felipe Carmo e

Lucas Abrahão

FOTOS:Unsplash, Pixabay e acervos pessoais

ILUSTRAÇÕES: Felipe Carmo e Andréia Moura

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junho.2020 junho.2020

De acordo com um cálculo realizado em 3 de junho pela companhia de informação de crédito Tokyo Shoko Research, foram regis-trados 210 casos de falência de companhias do Japão, decorrentes dos prejuízos gerados pela pandemia da covid-19. Contando ape-nas os que trabalham em tempo integral, cerca de 7,7 mil pessoas perderam seus em-pregos. Dentre as falências, há 34 redes de hoteis, 34 restaurantes, 24 empresas de ves-

tuário e empresas de ônibus.

A Liga Japonesa de Futebol con-firmou a volta das atividades para 4 de julho. O campeonato japonês foi paralisado por conta da pandemia da covid-19. O plano é a retomada de jo-gos entre equipes de cidades vizinhas, a fim de se evitar contaminações. Nas competições, será obrigatório o distanciamento entre todos os pre-sentes e haverá um número limite de pessoas dentro dos estádios. A Fede-ração Japonesa de Futebol acompa-nhará de perto todos os protocolos. A medida pode ser descartada caso aumentem os números de infectados

pela doença.

As companhias aéreas japonesas divulgaram medidas de segurança para prevenir contami-nações da covid-19 entre os passageiros. O vídeo educativo, produzido pela Scheduled Airlines Association of Japan, visa instruir os clientes acerca de como se prevenir da con-taminação dentro do avião. Os passageiros são aconselhados a usar o check-in online, o check-in automatizado e as máquinas de despachar bagagens para evitar o contato in-terpessoal. Os voos domésticos, reduzidos devido à pandemia, estão sendo retomados

gradualmente no Japão.

PREVENÇÃO A BORDO

fUTEBOL JAPONÊS

O governo japonês pretende fazer um investimen-to bilionário para tornar mais rápido o processo de pesquisa, desenvolvimento e a produção de vacinas contra o novo coronavírus. O Ministério da Saúde reservou cerca de 455 milhões de dó-lares em subsídios para instituições envolvidas no desenvolvimento de vacinas. O governo planeja dar início as vacinações no primeiro semestre de 2021. A pasta também destinou cerca de 1,3 bi-lhão de dólares em verbas extras para incentivar

instituições privadas na produção de vacinas.

Antídodo para covid-19 nota

NA PANDEMIAO ministro de Finanças do Japão, Taro Aso, comunicou em 4 de ju-nho que o país tem registrado sete mortes pelo coronavírus a cada 1 milhão de cidadãos. Segundo o ministro, a taxa relativamente baixa de mortalidade tem relação com os costumes sociais da na-ção. Aso compara os dados com o de outras localidades e afirma estar “bem abaixo dos EUA, Rei-no Unido e França”. De acordo com ele, alguns países precisaram impor multas sobre pessoas que quebraram as regras de lockdown, enquanto no Japão, não foi preci-

so tomar tal medida.

SE LIGA O Japão foi um dos países que optou

pelo isolamento social como forma de prevenir a propagação da covid-19. De acordo com estudos, a eficácia dessa ação no país se deve, principalmente, a conscientização dos japoneses. Muitos deles se sentem culpados por causarem preocupações ou por prejudicarem o próximo. Assim, as pessoas infectadas, principalmente àquelas que são figuras públicas, se sentem na obrigação de pedir desculpas em rede nacional ou por meio

de suas redes sociais.

DESCULPAS JAPONESAS Devido à pandemia, a montadora japonesa Nissan sofreu grande que-da na demanda de produção, o que causou um prejuízo anual bilionário. A Nissan já enfrentava outra crise interna, ocasionada pela detenção do ex-presidente da empresa. Con-tudo, os resultados são piores do que se esperava e, por este motivo, a montadora informou um plano de redução na sua produção mundial de até 20%. Além disso, até o ano de 2023, a companhia pretende fechar suas filiais na Indonésia e Barcelona, onde atualmente empregam 3 mil

funcionários.

Quer conhecer o japão?A economia e o turismo no Japão foram as áreas mais afetadas pelo novo coronavírus, causando assim o adiantamento dos Jogos Olímpicos para 2021. No entanto, como medida para reaquecer a economia, o governo japonês decidiu bancar 50% dos gastos de turistas com hospedagem, alimentação e passeios. Essa medida será válida para turistas estrangeiros in-teressados em visitar o país no pós-pandemia. Com essa iniciativa, o governo pretende investir mais de 12,5 bilhões de dólares para estimular a retomada

do turismo no país.

PRODUÇÃO REDUZIDA

eFEITOS DA PANDEMIA

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junho.2020 junho.2020

SE LIGA

A Prefeitura de Hamamatsu reali-zou uma pesquisa entre os residen-tes estrangeiros (nikkeis) para saber o nível do conhecimento do idioma nacional. De acordo com os dados, a amostragem contou com 427 pessoas e o resultado da pesquisa indicou que o nível de conhecimen-to desses é inferior comparado aos dos estagiários técnicos – os que recebem nos seus países de origem aulas do idioma e costumes. Diante desse cenário, a prefeitura considera a necessidade de fornecer educação pública da língua japonesa.

idiomas

Na madrugada de 6 de junho, os japoneses pude-ram apreciar a famosa Strawberry Moon – Lua de Morango. O fenômeno acontece quando o sol fica mais alto no hemisfério norte. Assim, a lua apare-ce “vermelha” porque segue a órbita mais próxima do horizonte. O evento astronômico é o segundo de quatro programados para acontecer esse ano. Além desse, os japoneses poderão contemplar eclipses solar e lunar e aproximação dos planetas ainda esse mês. O próximo eclipse, igualmente pe-

numbral, será em 30 de novembro.

Strawberry moon

O concurso de beleza, Miss Nikkey Brasil, será adiado para o ano de 2021, com data ainda a ser confirmada. O evento acontece-ria em 11 de julho, durante a 23º edição do Festival do Japão em São Paulo. Ele é um concurso de beleza nipônica com o objetivo de divulgar a beleza feminina nipo-brasilei-ra e assim preservar a cultura ocidental no Brasil. Todas as moças com descendência japonesa, mestiça e nipônica podem partici-par. A representante do Amazonas, Marjo-rie Honda, de 25 anos, foi eleita a mais bela

nipo-brasileira em 2019.

miss nikkey

escrita japonesaPara quem se interessa em apren-der sobre a escrita japonesa o site do portal NippBrasil oferece cursos gratuitos de língua japo-nesa. Lá você pode consultar 92 arquivos que ensinam passo a passo do Kanji (sistema de ide-ogramas chineses). Além disso, o site disponibiliza uma série de quatro módulos com 424 aulas sobre conversação, e um módulo exclusivo para ensinar Kanji no dia-a-dia japonês. O curso é pre-parado pelo Centro de Estudos da Língua Japonesa (CBLJ), e pode ser acessado pelo site www.

nippo.com.br.

Estão abertas as inscrições para o 14º Prêmio Internacional de Mangá. Elas acontecem de 06 de abril a 19 junho de 2020, na Embaixada ou Consulados Gerais do Japão. Os ganhadores serão divididos em três categorias: Gold Award, primeiro lugar, Silver Award para mais três obras e o Bronze Award que premiará onze obras com menção honrosa. O Gold Award e Silver Award receberão convites para viajar ao Japão, com estadia paga para 10 dias, a fim de que os vencedores possam conhecer artistas de mangá

renomados, bem como editoras locais.

Após a crise do novo coronavírus, as regras de conduta em lugares públicos se tornaram indispensáveis. No Japão, por exemplo, os parques de diversões emitiram uma nova regra para quando reabrirem: as pessoas estarão proibidas de gritar em montanhas russas. A re-gra foi divulgada por uma associação da categoria, que reúne grandes par-ques como a Disney e Universal Stu-dios. Além da proibição aos gritos, os japoneses implementaram ações de higienização e distanciamento entre as

pessoas.

sem gritos

prêmio mangá

Uma cena bem comum em todo o mundo: pedestres que tropeçam e que até mesmo provocam acidentes por estarem distraídos enquanto olham para as telas de seus smart-phones. Para evitar problemas como esses, a cidade de Yamato, que fica próxima à Yokohama, apresentou um projeto de lei que proibirá o uso de smartphones durante caminhadas. A decisão será tomada até o fim de junho. O projeto não estabelece al-gum tipo de punição, ele foi pensado com o intuito de conscientizar aque-les que não conseguem ficar sem o

celular enquanto caminham.

descarte das máscarasA empresa comercial japonesa Nasaranet criou

um saco de papel para descarte de máscaras de forma segura. Esse material tem alta resistência à água, dentre outras características. O saco de papel é branco com formato de um envelope, e tem processamento espe-cial aplicado na parte interior, tornando-o resistente à umidade. Esses sacos de descarte são comercializados em pacotes de cinco unidades por 165 ienes, equiv-alente a 7,50 reais. Depois do uso, o saco pode ser

descartado como lixo combustível.

smartphone

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junho.2020 junho.2020

“Era um passo im-portante para meu objetivo principal: ser jogador da se-leção brasileira.”

A estrela do ping-pong

Descendente de japonês, Hugo Hoyama com sete anos de idade praticava um esporte bem comum nos intervalos de aula na escola onde estudava: o tênis de mesa. Com o passar do tempo, começou a se aperfeiçoar naquela brincadeira e sonhar em conduzir aquilo como profissão, tornando-se um profissional do esporte. Mesmo com desafios, cumpriu o seu objetivo e finali-zou a carreira como ídolo do tê-nis de mesa brasileiro.

Eric Mota: Hugo, como brincadeiras nos intervalos da escola te conduzi-ram a se tornar um dos astro do tênis de mesa brasileira?Hugo Hoyama: Eu realmente co-mecei muito cedo brincando de ping-pong no intervalo de aula, na escola japonesa que estuda-va em São Bernardo do Campo. No meio dessa brincadeira, tinha um menino que jogava bem tênis de mesa e eu fui com ele no salão (Clube Palestra de São Bernardo) para ver como era o esporte. Era uma coisa muito legal e diferente do que eu praticava. Comecei a treinar todos os dias. O técnico co-meçou a gostar de mim e viu cer-ta habilidade. Então, com oito ou nove anos, praticava diariamente tênis de mesa.

E.M: Você participou de um programa de intercâmbio esportivo no Japão, em 1895. Como conseguiu ser aceito?H.H: Estava na minha programa-ção com 15 anos, de que, se chegas-se no nível exigido e vencendo al-guns torneios, teria a oportunidade de passar um ano no Japão. E deu tudo certo. Era um passo importan-te para o meu objetivo principal: ser jogador da seleção brasileira. Não apenas aprendi sobre o tênis de

mesa, como sobre vivência. Naque-la época não era fácil você estar lon-ge da família, não tinha como você entrar em contato com eles. Não tinha essa facilidade como hoje. Eu tinha que aprender a cozinhar, fazer compras, arrumar a cama. Esse tipo de coisa me ajudou muito. Me fez crescer como ser humano também.

E.M: Com relação ao tênis de mesa no Japão, quais foram as diferenças que você percebeu?H.H: O número de atletas de alto nível é maior. Isso fez com que eu aprendesse a jogar com vários es-tilos de jogo. O local de treino era muito bom. Não que aqui em São Bernardo não era. Principalmente na parte da disciplina. Foi puxado mas valeu muito a pena, porque assim que voltei fui convocado para seleção brasileira pela primeira vez.

E.M: Com objetivo alcançado de jogar na seleção, qual era sua próxima meta e os desafi os para cumpri-la?H.H: O próximo seria alcançar o nível para jogar de igual a igual con-tra os melhores do mundo. Para isso, deveria disputar mais torneios e realizar mais treinamentos fora, principalmente na Europa, China e Japão. A Confederação nos deu apoio total no que podiam, mas a gente precisava viajar mais para participar de outros campeonatos e treinos. Felizmente, meu pai pode me ajudar durante uma épo-ca, aquele famoso “paitrocinador”. Depois fui conseguindo bons re-sultados e alguns patrocinadores. Foi difícil essa caminhada, mas a gente nunca pode deixar de fazer a nossa parte, que é treinar e estar preparado para quando tivésse-mos a oportunidade, disputar um campeonato fora com esse pensa-mento que eu tive muito sucesso.

Entrevista com o astro do tênis de mesa e segundo maior campeão brasileiro do Pan americano

ERIC MOTTA

10MIN

Para os jogadoresda seleção, é importante ter experiência com outros clubes fora do país

ENTREVISTAwww.hugohoyam

a.com.br

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junho.2020 junho.2020

H.H: No primeiro momento a transição foi estranha, porque não houve aquela questão de terminar a carreira, dar um tempo e depois assumir a seleção feminina. Pra-ticamente, parei como jogador e virei técnico. O bom é que eu já conhecia as meninas. A gente chegou a treinar muito tempo jun-tos. Eu sabia como elas jogavam. Não posso estar com elas todos os dias, porque não temos um centro de treinamento da seleção. Cada uma treina no seu clube e nos en-contramos nas competições. Cla-ro que, antes de Olimpíadas e Pan americanos, a gente se reúne por um tempo para praticar. É dife-rente em termos de relacionamen-to e respeito, mas o foco principal sempre são as conquistas. O legal é que elas conquistaram grandes resultados, e eu estou feliz em ter ajudado em alguma parte.

E.M: Hoje o esporte no Brasil cresceu, mas quando vamos ver maior profi ssio-nalização do tênis de mesa por aqui? H.H: Isso é duro de acontecer, porque não temos uma liga na-cional de tênis de mesa. É caro montar uma equipe e precisa de um patrocínio master, muitas ve-zes da Confederação para arcar com as despesas. Temos torneios importantes aqui no Brasil, prin-cipalmente em São Paulo, mas em termos de profissionalização é difícil. Felizmente os principais atletas do Brasil podem se dedi-car 100% ao tênis de mesa. No masculino, todos os atletas atuam na Europa para elevar o seu nível e estar em contato com os prin-cipais jogadores. Mesmo assim, eles vêm para cá disputar algumas competições e incentivar os jo-vens ao vê-los jogando.

E.M: A sua carreira internacional co-meçou a tomar outros rumos em 1992, quando recebeu o convite para jogar na Bélgica. Como foi essa experiência?H.H: Para nós da seleção, era mui-to importante jogarmos temporadas na Europa. Eu joguei duas tempo-radas na Bélgica em um clube bem-sucedido onde o treino também era muito forte. Além disso, tive a oportunidade de treinar com a se-leção belga. Desde que eu comecei a jogar lá, o técnico da seleção de-les gostou de mim e, mesmo não sendo belga, sempre me convocava para os treinos. Como eu estava alí na Europa, era mais fácil me deslo-car em todo o continente e partici-par de mais torneios internacionais.

E.M: A sua melhor atuação nas Olimpí-adas aconteceu em 1996, quando der-rotou o sueco, na época quatro vezes campeão mundial, Jörgen Persson. O que isso proporcionou na sua carreira?H.H: Essa é uma das principais vitórias da minha carreira. Persson estava sempre entre os melhores do mundo. Eu sabia que se meu jogo encaixasse contra ele, princi-palmente nas primeiras bolas de ataque poderia vencê-lo. E foi o que aconteceu. Ele começou a partida melhor, mas eu consegui deixar a cabeça no lugar e virar o jogo. Realmente uma partida me-morável. Por ter vencido do Jör-gen Persson, um dos candidatos à medalha nas Olímpiadas, fui con-tratado por umas das mais fortes equipe na Suécia.

E.M: A sua história com os Pan Ameri-canos é forte. Quando você conquistou a competição pela primeira vez, em 1987, como foi a preparação?H.H: Eu já estava bem preparado psicologicamente para brigar por essa medalha de ouro. O técnico

colocou na nossa cabeça que preci-sávamos ganhar o Pan Americano. Eu tinha apenas 18 anos, era a pri-meira grande competição. A gente chegava lá, não saia do quarto pra-ticamente. Ficamos concentrados, pensando em cada jogo, e foi assim que ganhamos o torneio por equi-pes, disputando a final contra os Estados Unidos e, na dupla com o Cláudio Piano, conquistamos prata. Foi o primeiro grande passo para eu poder defender a seleção. Depois disso, pude participar de mais 6 edições do pan e olimpía-das. Esse foi o principal passo para eu poder realizar todos esses feitos.

E.M: O Pan de 2007, no Rio de Janeiro, não apenas rendeu a você a conquista da competição como o título de maior recordista de ouro brasileiro da com-petição. O que isso representou para o tênis de mesa brasileiro?H.H: Foi até uma surpresa um mesatenista ser recordistas em medalhas de ouro. No decorrer do tempo o esporte foi crescen-do, principalmente pela conquista nos pans. Mas ganhando no Rio, ao lado da nossa torcida, e me tornando recordista em medalhas de ouro, havia sido importante para mostrar que o trabalho estava sendo bem feito. Jogar em casa, a pressão e responsabilidade eram maiores, ao mesmo tempo bus-cava aquela energia com a torcida. Eu tinha disputado outras com-petições internacionais em outros países e vi como era duro jogar contra atletas locais.

E.M: Atualmente, você é o técnico da seleção feminina e conquistou com as meninas diversas competições, entre elas, a inédita Segunda Divisão Mundial. Contudo, como foi essa transição de jo-gador para treinador?

Por não terem um centro de treinamento,

atletas da seleção feminina treinam

em seus clubes e reunem-se

eventualmente

www.hugohoyam

a.com.br

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relevância do esporte

Enquanto no Brasil não há

valorização, no Japão o governo

estabelece como pilar

GABRIEL BUSS

5MIN

PENSANDO BEM

“O esporte é muito mais do que saúde, bem-estar e lazer. Es-porte é educação”. A frase é de um autor desconhecido, mas exem-plifica a visão dos japoneses. Di-ferentemente do Brasil, onde não há valorização do esporte e conse-quentemente dos atletas por parte do setor público, no Japão sua pas-ta está incluída no maior ministério do governo. Aqui, o esporte deixou o ‘status’ de ministério e passou a ser uma secretaria vinculada ao Mi-nistério da Cidadania desde 2019, na gestão de Jair Bolsonaro.

O MEXT (Ministério da Edu-cação, dos Esportes, da Ciência e Tecnologia) une pastas que estão entre as mais relevantes na visão dos japoneses e tenta ligar todos os temas para que, a partir disso, se desenvolvam políticas públicas nas-cidas por meio da parceria entre esses setores. Aliás, o incentivo ao esporte começa cedo no Japão. Os alunos têm possibilidades de se in-serir em clubes esportivos e, oposto ao Brasil - em que na maioria das escolas públicas há apenas aulas de educação física - tentam aprimorar o aluno e colocar em sua mente que terá apoio e poderá seguir a carreira de atleta se assim desejar.

No Japão, educação e esporte andam juntos. No entanto, quando o assunto é esporte, a Embaixada do Japão no Brasil é bem emble-mática. Para os órgãos governa-mentais, como a Embaixada, o fenômeno social desenvolve boa

disciplina, constrói caráter, encora-ja o jogo honesto e promove o es-pírito esportivo. Já na mentalidade dos governos brasileiros e de boa parte da sociedade, esporte é saú-de, bem-estar e “passatempo” em finais de semana.

Muitos podem pensar que isso é apenas discurso. Aliás, o brasilei-ro sempre despreza boas oratórias e palavras bonitas, cansado de ser lesado por anos e ver a diferença do que as autoridades e sites ofi-ciais dizem e o que de fato se reali-za. Entretanto, no Japão é possível perceber que existe harmonia en-tre o que setores governamentais pensam a respeito do esporte e a dedicação dos mesmos em promo-ver o esporte para a população.

Como mencionei, as atividades esportivas são incentivadas desde a educação básica até o ensino supe-rior. Além de incentivo, na maioria dos casos há boa estrutura para os atletas treinarem. Ademais, há fes-tivais e torneios nacionais para que os alunos possam mostrar seus re-sultados. E olhe que interessante: se o estudante consegue resultados e traz medalhas na sua modalidade, a escola recebe um investimento maior na área e com isso se torna uma referência para outras crianças que queiram seguir esse caminho. Há casos de precisar abrir uma seleção para aprovar novos alunos para algumas escolas.

Um país que entende a relevân-cia do esporte e o valoriza por meio de políticas públicas certamente é um país com educação, civilidade e desenvolvimento acima da média. Aprende, Brasil!

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Tradição e essênciaOs jardins japoneses encantam pela sua beleza e simplicidade

Mais que uma simples técnica de paisagismo, os jardins japoneses expressam equilíbrio e espirituali-dade. São enigmáticos e encantam quem aprecia essas expressões ar-tísticas sublimes da cultura oriental. Existem jardins orientais em várias partes do Brasil. O jardim botânico do Rio de Janeiro é um exemplo, sendo um dos mais importantes jardins de origem japonesa no país, com 5 mil metros quadrados.

Há possibilidade de cultivá-los em apartamentos ou no ambiente de trabalho, pois podem ser mon-tados como miniaturas, sem per-der o seu propósito de beneficiar a alma e a mente. É importante compreender os significados dos

elementos que compõem o jardim para poder ser conduzido melhor à meditação, calma e espiritualida-de. Um jardim oriental vai além de suas cores e texturas, por isso, os elementos filosóficos e religiosos fazem toda diferença ao identificá-los. Mas antes, é importante co-nhecer a história.

Arte milenarOs jardins orientais têm relação

direta com o budismo e xintoísmo. Conforme a religião, todos os ele-mentos que compõem a paisagem são sagrados, considerado morada das divindades naturais. As técnicas de jardinagem são uma tradição milenar, originária na China e aper-feiçoada pelos japoneses.

Existem dois modelos de jar-dins: os que contemplam mais o verde dos arbustos e das flores e os que apresentam neutralidade com predominância do branco das areias e o cinza das pedras. Um termo que os define é “jardim zen” que apareceu pela primeira vez no livro 100 Gardens of Kyoto, da escritora Loraine Kuck, em 1935. Desde então, o termo é usado no Ocidente e recebeu uma denomi-nação em japonês: Zen niwa.

Simbolismo Todos os elementos que com-

põem os jardins têm seus signi-ficados. As pedras simbolizam os ancestrais; a água representa a vida; as árvores a arte da contem-plação; os bambus a flexibilidade, expressando o ser humano diante dos problemas. Sakura, a famosa flor-de-cerejeira, simboliza a imper-manência das coisas, o transitório, o significado da vida. Existem tam-bém significados nas lanternas de pedras, conhecida como ishi-torô. Elas iluminam o caminho, e são para induzir à concentração e cla-rear os pensamentos.

O escultor Márcio Sodré, que trabalha com as ishi-Torô, há mais de quinze anos, apesar de não ter descendência japonesa, esculpe as lanternas respeitando o significado que elas representam. Sua paixão pela cultura e arte oriental vem de infância. “Sou fascinado por esta cultura. As artes marciais como ka-ratê, judô, da prática do bonsai e da literatura Zen Budista”, ressalta.

Pouco espaçoApreciar a arte de jardinagem

pode ser uma boa terapia. Embo-

ra pareça difícil, há possibilidades para quem não dispõem de tempo e espaço. Os jardins zen podem ser construídos com aspectos minima-listas como jardim de inverno ou serem terrários.

Os terrários, conhecidos po-pularmente como mini jardins, decoram casas, apartamentos e es-critórios, trazendo verde para am-bientes fechados. De acordo com pesquisas desenvolvidas pela Uni-versidade de Surry, cultivar mini jardins no ambiente de trabalho proporciona relaxamento e atua di-retamente na frequência cardíaca.

A gerente financeira Mary Leon, se interessou pela técnica como relaxamento, mas logo se tornou “uma terapia”. A paixão foi tanta que procurou fazer um curso online para se aperfeiçoar e, com as postagens de seu trabalho em suas redes sociais, começou receber pe-didos para venda. “Cada jardim, cada arranjo, faço com carinho como se fosse para mim”, destaca.

Como cuidar As Suculentas e bonsais são

plantas graciosas e encantam pelo tamanho. Apesar de requerer pou-co cuidado, é necessário seguir algumas dicas. Mary Leon explica que as plantinhas podem apodre-cer se regá-las jogando água por cima. Pode-se usar uma seringa para conseguir dosar melhor a quantidade de água e colocar so-mente na raiz. Uma dica é espetar um palito ao lado da planta, se sair sujo, não dê água, se sair seco, hora de regar. De acordo com a filosofia japonesa, deixar de cuidar do jar-dim reflete o mental e espiritual de uma pessoa.

MAHYNARA SOUZA

10 MIN

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O Hanami também acontece no Brasil. A festa para comemorar a fl oração da fl or-de-cerejeira acontece há 41 anos, no parque do Carmo, em São Paulo

VOCÊ SABIA?

Existem grandes plan-tações de pinheiros negros no Brasil. Estes arbustos são usados para fazer os bonsais

O termo suculenta designa toda a família botânica de plantas. Sendo assim, os cactos também são de sucu-

lentas

Existem no mercado plantas de plástico se-melhantes às suculen-tas que, de longe, po-dem ser confundidas

com as verdadeiras

DE PRAXE

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junho.2020

oito regiõesuma viagem

Do norte ao sul, o Japão surpreende qualquer estrangeiro que aceita viajar pelas maravilhas de seu arquipélago

essa tradição de educar os filhos”, relembra. Os ensinos aprendidos na infância se desenvolveram com certo regramento, motivados pelo pai e pelas escolas privadas confes-sionais que frequentou. Para ela, esse contexto de criação trouxe intimidade com a cultura japonesa. Em 2015, sua família decidiu mo-rar no país a trabalho. Apesar de possuir noção da cultura japonesa, sua visão mudou. “Eu nunca imagi-nei que viver no Japão seria um de-safio, há com certeza dificuldades a superar, vencer e a encarar”, conta.

Eliane está há cinco anos no país, mas seus costumes não pas-sam despercebidos pela população nipônica. Seu tom de pele denun-cia a raiz tropical. “Eu sou brasileira mesmo, então eles vão estranhar meu jeito de ser, de cumprimentar, sotaque, alimentação, minha rou-pa, dentre outras coisas”, afirma.

Essas características podem ser simples, entretanto a marca de uma nação encontra-se nas singula-ridades. Assim como no Brasil, em que cada região possui seus costu-mes, o Japão também possui pecu-liaridades – e que peculiaridades!

Embarque nessa aventuraNessa viagem rumo ao país do

sol nascente, vale ressaltar como o

arquipélago divide a sua extensão. A população japonesa ocupa um território no extremo da Ásia, que soma 377.815 km2. O conjunto de ilhas formam um arco localizado no noroeste do Oceano Pacífico.

O Japão esbanja diversidade cultural, ecológica e social. Uma das razões, segundo o geógrafo Ra-phael Félix, é que “os grupos étni-cos oriundos de diversas regiões da Ásia setentrional colaboram para miscigenação do país e que, até mesmo a chegada de comerciantes portugueses pode ser listada na his-tória cultural”, enfatiza.

E se você pudesse conhecer um pouquinho de cada região em alguns minutos, toparia? En-tão aperte o cinto que a viagem só está no começo! O trajeto começa pelo Norte até chegar ao Sul do país. Nosso ponto de partida é re-gião de Hokkaido. Seu território montanhoso com planaltos vulcâ-nicos – alguns deles ainda em ativa – é espaço para muitas fotografias. Caso tenha interesse em desbravar a natureza, prepare a mochila e um tênis confortável. Há trilhas, pontos para observar o gelo à deriva, flo-res alpinas, aldeias de pescadores e animais.

Nem todos curtem o clima sel-vagem da natureza, então vamos

Kansai “tem um povo mais extrovertido e mais bem humorado. A região é conhecida como o berço

da comédia japonesa”

osto largo, queixo quadrado e olhos puxados inclinados para cima não escon-dem a ascendência japonesa de Eliane Hosokawa Imayuki. Mãe de quatro fi-lhos, cresceu em São Paulo e, apesar das características físicas mostrarem sua ori-gem, é considerada estrangeira no Japão.

Seus avós eram japoneses e seu pai levou para a educação dos filhos alguns dos costumes orientais. Além disso, “a educação dele foi religiosa em colégio protestante, então ele também herdou

dar uma passadinha na maior cida-de da região. Sapporo fica no sudo-este do território e é considerado centro cultural, econômico e políti-co. Entre as atrações, o festival anual de neve atrai mais de 2 milhões de turistas. Ano após ano, a festa exibe centenas de estátuas de gelo com temáticas variadas. Sem sair da ci-dade, você pode visitar o Museu da Cerveja de Sapporo, o único do gê-nero no Japão. A região de Hokkai-do, conhecida pela sua diversidade, encerra muitas peculiaridades.

A parada agora é na região de Chugoku, chamada também de Sa-nin. Ela abriga a cidade conhecida como “rosa radioativa”. Hiroshima tem diversos locais turísticos. O Mu-seu Memorial da Paz de Hiroshi-ma, Estádio Mazda Zoom-Zoom e as grandes áreas de compras Ka-miyacho e Hatchobori. Caso bata a fome no meio do caminho, dá para comer a tradicional okonomiyaki, panqueca cozida na chapa.

E que tal gastar as energias desbravando as dunas de areia da cidade de Tottori? Se preferir, o trajeto pode ser feito a camelo. No caminho, não esqueça de apreciar o Museu da Areia. Se for verão, mais a frente dá para apreciar o festival Shan-shan. Nele, as pessoas se ves-tem com roupas típicas e dançam

RAMANDA JANUÁRIOISABELLA ANUNCIAÇÃO

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com guarda-chuvas que possuem pequenos sinos e metais presos a ele. Daí, o nome Shan-shan.

Parada em ChubuTalvez você esteja se pergun-

tando quando vamos chegar aos famosos templos japoneses. Uma boa notícia é que a região de Chu-bu oferece um combo de cultura japonesa e, ao visitar o Monte Fuji, você estará cercado de templos e santuários. Quem mora por perto também esboça admiração pelo local. Diana Kawasaki disse que o ponto que mais lhe chama aten-ção é justamente o Monte Fuji. “É inexplicável! Não nos cansamos de admirá-lo. Para os japoneses, ele é sagrado porque parece que muda de posição. E é visto de vários luga-res diferentes”, descreve.

Tohoku ocupa uma vasta re-gião montanhosa que engloba o norte do Japão. Seus esportes de inverno, festivais, a hospitalidade e a excelente comida o torna valo-rizado por muitos turistas. Sua po-pulação soma mais de 9 milhões de pessoas.

Ao sudoeste da província de Aomori e ao noroeste da província de Akita, localiza-se a cordilheira Shirakami-sanchi. Ela apresenta a maior floresta de faia virgem res-tante do mundo, onde um ecos-sistema foi preservado. Além de cachoeiras, podem ser achados o urso-preto e 87 espécies de pássa-ros. As inúmeras trilhas também

impressionam quem a visita, garan-tindo selfies incríveis.

Vale ressaltar o quanto a área de Tohoku valoriza a agricultura. Devido ao verão curto e inverno prolongado, a pesca e a silvicultura também são importantes. Muitas pessoas na região se intimidam ao usar o dialeto fora da cidade natal porque possuem o estigma de cam-poneses. E falando em agricultura, a brasileira Viviane Muroyama, re-lata as festas da colheita como uma das experiências mais marcantes no período que morou no Japão.

Muitas descobertas até aqui, não? Estamos chegando ao fim. As próximas paradas serão agitadas pela região de Kanto. Ela situa-se sobre a parte ao sul de Honshu e é dominada pela Planície de Kanto – a mais extensa planície do Japão. Considerada uma região bem po-pulosa, com cerca de 43 milhões de pessoas, a área caracteriza-se como um gigantesco bloco único de área urbana conhecida como Grande Tóquio.

MetrópoleTóquio, Kanagawa, Chiba, Sai-

tama, Ibaraki, Tochigi e Gunma formam as cidades do entorno de Kanto. Todas estão em expansão e em processo de urbanização, por isso, as atividades agrícolas en-traram em declínio nesta região. Entretanto, elas seguem produtivas nas áreas do leste ao norte. Segun-do o geógrafo Raphael Félix, o país desenvolveu “práticas agrícolas

modernas como o terraceamento (prática agrícola utilizada em terre-nos inclinados) destinado à produ-ção de arroz, frutas, legumes e até mesmo flores”.

A capital do Japão concentra a maioria das grandes corporações domésticas, empresas estrangeiras e a base para as mídias em massa. Além disso recebe prestígio como o centro da educação no país. A impressão que os youtubers Loh-gann e Prit tiveram foi que “Tóquio aparentemente é uma cidade mais séria, parece que todos estão de ter-no e gravata e sempre correndo”, explicaram.

Localizada no centro-oeste de Honshu, a região de Kansai é a se-gunda mais importante em termos de indústria no Japão. A viagem pode ficar ainda mais atrativa ao entender o mecanismo de funcio-namento. Sua população é de 22 milhões, divididos entre as cidades de Osaka, Kyoto e Kobe. No ca-minho, você pode compreender como a produção de arroz, frutas, madeiras e pescado são importan-tes para a economia da região.

A diferença de humor torna-se um fato curioso sobre a região. O professor de história Geraldo Lo-rena explica que, embora Kansai tenha sido mais avessa à moderni-dade e a ocidentalização, “tem um povo mais extrovertido e mais bem humorado. A região é conhecida como o berço da comédia japone-sa”, esclarece.

Shikoku, a menor e a menos populosa das quatro ilhas prin-cipais será nossa penúltima rota. O turismo se desenvolveu após a inauguração da ponte que a ligava à ilha de Honshu, em 1988. A prin-cipal economia gira em torno das atividades do setor primário. Na parte norte, planta-se arroz, trigo, cevada e frutas. Ao sul, as florestas fornecem matéria-prima para a in-dústria de papel e celulose.

Check outPara fechar com chave de ouro

e um pouco de medo, não pode-mos deixar de conhecer o Estreito de Naruto, que conecta a província de Tokushima e Awajishima, na província de Hyogo. Suas enor-mes turbinas chamam a atenção de qualquer um.

Nossa viagem chegou ao últi-mo destino. Espero que sua ba-gagem esteja repleta de conheci-mentos para compartilhar com seus amigos. Por fim, conheça Kyushu. Respire fundo mais um pouco e visite a vasta quantidade de montanhas e vulcões ainda ati-vos. E se sua pretensão é descan-so, você chegou no lugar certo, pois ela é rica em águas termais e praias. Vai se sentir em casa, já que os moradores são conhecido por sua simpatia e hospitalidade. Além disso, é possível conhecer castelos, a tradicional fabricação de cerâmicas artesanais e ativida-des ligadas ao ecoturismo.

“Até mesmo a chegada de comerciantes

portugueses pode ser listada na

história cultural do Japão”

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LUCAS ABRAHÃO E VICTÓRIA ALMEIDAARTE: ANDRÉIA MOURA

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RACHIDE INCOTE

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Fantasia ou cosplayA arte que cresceu no Japão e tomou conta do Brasil

Você já se deparou com al-guém fantasiado de personagens de desenhos animados, filmes, livros ou caracterizados de man-gás? Provavelmente você já en-controu um aspirante a Coringa por aí. Geralmente esses grupos se reúnem em shoppings, eventos de cultura pop vestidos das mais diversas personalidades. Em prin-cípio, pode parecer só uma festa à lá halloween, mas existem pontos a serem explorados para entender o fenômeno chamado de cosplay.

O termo entrega sua origem. A palavra provém da junção de duas outras do inglês: costume e roleplay (fantasiar e interpretar). Foi nos Es-tados Unidos que tudo começou.

Em 1936, na primeira convenção de ficção científica, dois dos prin-cipais editores do gênero, Forrest J. Ackerman e Myrtle R. Douglas chocaram o público com as ves-timentas. Ambos criaram roupas baseadas em sucessos cinematográ-ficos da época. Ackerman utilizava um figurino que ele pôs o nome de future costume, e Myrtle usava um vestido inspirado no filme Things to come. Logo os fãs compareceriam aos eventos semelhantes aos perso-nagens favoritos.

Essa moda viajou para o outro lado do mundo 42 anos depois. O produtor japonês de filmes e ani-mes, Nobuyuki Takashi, visitou um desses eventos que aconteciam em

Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele se impressionou com a criativi-dade das pessoas. Na volta para o Japão, escreveu à uma revista sobre esse fenômeno introduzido pelos norte-americanos. Takashi decidiu divulgar o movimento na maior feira de publicações independentes de quadrinhos do mundo, a Comic Markets. Pouco tempo depois, os japoneses saíam caracterizados de personagens de quadrinhos ou de-senhos típicos do país, denomina-dos de mangá e anime.

Chegada ao BrasilNa década de 1980, poucos

brasileiros se fantasiavam em fes-tas e programações do gênero. A moda pegou em 1990. Na época, um anime transmitido pela TV fi-cou muito famoso entre os jovens, “Os cavaleiros do zodíaco”. Com a alta audiência, outros desenhos ja-poneses surgiram na TV brasileira, bem como eventos que os reuniam. E foi justo na Segunda Convenção Nacional de Mangá e Anime (Man-gáCon) que apareceram os cos-players do Brasil. Com o passar dos anos, a tendência virou coisa séria e concursos passaram a existir. Em 2006, o país conquistou na World Cosplay Summit, o prêmio de me-lhor cosplay do mundo, tornando-se referência no meio.

Nem todos os cosplayers fazem disto profissão. Para alguns é um hobby. Lucas Lazzarotti é apaixo-nado por essa arte. “Faço cosplay como hobby desde a adolescência, mas eu tenho a minha vida normal, estudo e trabalho”, conta. Segundo ele, o mais divertido na prática é o reconhecimento das outras pessoas quando veem a fantasia dos seus

personagens favoritos. “Isso aconte-ce principalmente com as crianças que são o público favorito”, finaliza.

A maior dificuldade dos cos-players brasileiros começa no bol-so. Para a cosplayer Ana Catarina Barbosa, as maiores dificuldades no Brasil são financeiras e materiais. “Bons cosplays são caros e nem to-dos têm condições. Por mais que possamos comprar os materiais e costurar aqui no país, alguns itens precisamos importar. Já fiquei qua-se um ano juntando dinheiro para fazer um cosplay”, declara.

Em meio às dificuldades, o universo da fantasia continua se popularizando no Brasil e ganhan-do adeptos que participam dos eventos realizados em diferentes cidades. Para alguns é válvula de escape para fugir de problemas do cotidiano. Caso do professor de luta e natação Gabriel Melo. “Esses eventos são um refúgio para esquecer o mundo”, obser-va. Ele relembra que geralmente quem faz o cosplay entra numa persona e isso ajuda quem tem problemas de ansiedade, depres-são e timidez. Além disso, Melo reforça que, os que vão prestigiar, “acabam conhecendo pessoas no-vas, se divertem com seus amigos e compram itens do seu filme fa-vorito, série ou anime”.

No Japão, realiza-se um cam-peonato mundial de cosplay em de Nagoya, Aichi. O evento é denominado Cosplay Cham-pionship e aconteceu pela primei-ra vez em 2003 como resposta à popularidade internacional do cosplay feito por fanáticos de ani-me e mangá japonês.

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No dia 21 de julho é celebrado o dia nacio-nal do cosplay, os pra-ticantes e os cosmakers (confeccionadores de vestimentas) comemo-

ram o dia no Brasil

VOCÊ SABIA?

O primeiro concurso de cosplay no mundo aconteceu em 1979, quando Karen Sch-naubelt foi a uma con-venção vestida como a personagem de anime

Captain Harlock.

O termo cosplay em japonês signifi ca kosu-pure, a tradução literal para o português seria disfarçar-se de um per-sonagem, uma abre-viação de “costume

roleplay”

Há um estilo da varia-ção pobre do cosplay chamado “cospobre”. Consiste em produ-zir a caracterização priorizando materiais baixo-custo ao invés da semelhança fi el ao

personagem.

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Vírus no pódio: MEDALHA ADIADA

e pode ser que tenha se sentido em vantagem quando não preci-sou comparecer presencialmente no trabalho ou na universidade. Mesmo que algumas dessas reco-mendações não sejam seguidas à risca, algumas impossibilidades e rotas que a pandemia proporcio-nou valem o ressalte.

Dentro do universo do espor-te, Tóquio 2020 ficou só no nome. Os Jogos Olímpicos foram adia-dos para o ano seguinte e conti-nuam previstos para os meses de julho e agosto. As esferas que o adiamento desse evento atingem, revelam o que pode em muitas ocasiões, se mostrar velado: o pa-pel social, econômico e o impacto de nível internacional.

Ary Rocco, livre-docente em gestão de esporte, reporta com o resultado de suas pesquisas que a maior parte da população só vai voltar a frequentar eventos esportivos, se os promotores ga-rantirem que estão adotando as medidas de segurança estabeleci-das pela OMS.

Segundo Rocco, a questão do marketing de gestão de eventos e protocolos de saúde em jogos esportivos, no momento pós-pan-demia, seguem lado a lado. “Al-

guns comparecerão só quando tiver vacina, outros não irão de jeito nenhum. Mas a maior parte das pessoas querem ver os pro-motores dos eventos esportivos adotando os protocolos estabele-cidos pela Organização Mundial da Saúde”, ressalta.

No comparativo entre Tóquio 2020 e Rio 2016, Rocco pontua que os preparativos para os jogos no Japão primaram pela eficiência e pontualidade. Enquanto que no Rio de Janeiro houveram alguns atrasos nas instalações de infra-estrutura, “no Japão a entrega de tudo será dentro do cronograma, inclusive, existem uma série de instalações que já estão prontas”. Outro aspecto paralelo entre as duas edições é que os de Tóquio vão prezar pela sustentabilidade. As estruturas para as competições foram pensadas para serem reuti-lizadas em outros eventos esporti-vos ao redor do mundo. “Todas as instalações dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 foram idealizadas dentro de um critério de reapro-veitamento”.

Cenário dos atletasOs grandes eventos esportivos,

como as Olimpíadas e a Copa do

Na origem da competição, assim como em toda história da Grécia

Antiga, mito e realidade viram um emaranhado de contos e lendas

iscutir os aspectos e os desdobra-mentos da pandemia do coronavírus no mundo é entrar em um universo cheio de rotas. Um desses caminhos leva a abnegação. Se você segue as recomenda-ções da Organização Mundial da Saúde (OMS) e as advertências do Ministério da Saúde, você com certeza, abriu mão de algumas coisas. Se privou de ir para o almoço na casa dos seus pais no sábado, o churrasco de domingo com os amigos,

Mundo, são assistidas por quase todo o planeta simultaneamente. Segundo o Comitê Olímpico Inter-nacional (COI), os jogos de 2016 no Rio de Janeiro, foram assistidos por aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas do mundo todo. É co-mum ver famílias reunidas para prestigiar disputas de medalhas ou as cerimônias de abertura e encer-ramento. Amigos se reúnem em bares e restaurantes para torcer e vibrar com grandes jogos. Esse espí-rito de união é o que as Olimpíadas trazem ao mundo, um sentimen-to que apenas o esporte consegue proporcionar.

E tudo isso não seria possível sem grandes atletas. Não é apenas o patriotismo que reúne o público, também se espera ver as braçadas largas de Michael Phelps, a veloci-dade sobre-humana de Usain Bolt e as brilhantes jogadas do time de Bernardinho. Uma alta atuação nos jogos olímpicos transforma um atle-ta em um ídolo nacional, ou uma performance pífia pode pôr fim ao sonho. Ídolo, vilão ou apenas mais um, a vida do atleta olímpico con-siste em anos de preparação, trei-nos e abdicação da família.

Essa figura criada pelo imagi-nário do público em geral, que

HOJE EM DIA

VOs desdobramentos dos Jogos Olímpicos em um cenário de Pandemia e as expectativas futuras

15MINESTHER FERNANDES MATHEUS FIGUEIREDO

Usatoday.co

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vê apenas o atleta, nos faz achar que eles existem apenas para o nosso entretenimento. Mas, a vida deles não se resumem ape-nas aos 100 metros rasos de uma corrida ou a 90 minutos de um jogo de futebol. Depois que as luzes se apagam, o personagem se torna humano, volta pra casa e encontra com sua família e ami-gos. Retoma os treinamentos e a preparação longe dos holofotes e câmeras, que fazem a transmis-são de seus jogos para todos os países do mundo. Existe um ser humano por trás destes heróis.

A atleta de lançamento de disco, Andressa Oliveira, clas-sificada para participar de sua terceira olimpíada fala sobre o preparo para disputar compe-tições em outro país. “Quando vamos para lugares onde o fuso horário é diferente, temos que viajar dias antes do evento para o corpo acostumar”, destaca. An-dressa pratica um esporte atípico e comenta sobre o auxílio que o governo oferece, que segundo ela, não é suficiente. “Uma pes-soa que trabalha normalmente, tem sua aposentadoria garantida. Nós atletas, temos metas para alcançar e, se em um ano você não vai tão bem, acaba perdendo esse patrocínio e, consequente-mente, tudo.” O “bolsa-atleta” é um investimento do governo para profissionais que praticam esportes olímpicos. No Brasil,

ele dura oito anos e, quem rece-be o auxílio deve participar de jo-gos militares, olímpiadas e outras competições. Os resultados são avaliados anualmente e, quando termina o prazo, o atleta deve se aposentar.

Os Jogos Olímpicos são cheios de sonhos, superação e dedicação. Lá nascem heróis, vilões e ídolos. Tóquio 2020 teve que ter suas his-tórias adiadas por conta da pande-mia do coronavírus, mas eles estão confirmados para julho de 2021. Andressa, assim como milhares de outros atletas, teve que postergar sua agenda. “A preparação para os jogos é feita durante quatro anos. É uma pena que perdemos quase um ano de treinos, por conta do vírus. Mas eles continuam, o foco ainda é o mesmo. O bom é que posso ficar perto da minha famí-lia”, lembra.

Modalidades 2021A tradição dos Jogos Olímpi-

cos iniciou na cidade de Olímpia, Grécia. Na origem da competi-ção, assim como em toda história da Grécia Antiga, mito e realidade viram um emaranhado de contos e lendas. Por isso, várias versões se apresentam para explicar o come-ço das Olimpíadas. Em uma delas, o semideus Hércules presenteia o seu pai Zeus com jogos em uma forma de demonstração de hon-ra. Em suas primeiras edições, as modalidades eram desafios me-dievais. Em alguns deles, os atletas

corriam por 190 metros vestidos com armaduras e carregando ar-mas de hoplita, que eram as armas usadas pela infantaria de elite dos reinos gregos. As corridas eram disputadas e divididas entre bigas, carros tradicionais puxados por dois cavalos, e quadrigas, carros puxados por quatro cavalos.

Em 1890, Pierry de Frédy, conhecido como barão de Cou-bertin, era um aristocrata suíço que reestruturou a tradição grega. Sua crença era de que o esporte se transformaria em um instrumento para a paz mundial, pois o contex-to político da época era carregado de tensão entre as potências impe-rialistas. Alguns símbolos foram mantidos, como a cerimônia do acendimento da tocha. Mas os jogos só começaram seis anos de-pois, em 1896, entre os dias 25 de março e 3 de abril. A cidade sede foi Atenas, capital da Grécia. Di-ferente de suas primeiras edições no século VII, nós podemos ver a entrada de esportes que duram até hoje como o atletismo, natação, ginástica, entre outros.

Dentre as modalidades mile-nares presentes nos Jogos Olímpi-cos, o atletismo tem um destaque especial. Falar sobre o começo do atletismo é também discorrer sobre a origem do ser humano. Saltar, correr e arremessar, são movimentos presentes desde o iní-cio do mundo. Na reestruturação das Olimpíadas, a importância do

atletismo foi destacada pelo Barão de Coubertin: “É possível realizar uma Olimpíada só com provas de atletismo, porém é impossível com todos os outros esportes, sem o atletismo”.

Parte da relevância da moda-lidade nos jogos se dá pelo seu caráter acessível. A prática natu-ral do atletismo proporciona a países ricos e pobres, a atuação e o destaque dentro do esporte. O “esporte rei” abarca pessoas de todas as nacionalidades, homens e mulheres.

Nas primeiras edições das Olimpíadas Modernas, o protago-nismo norte americano levou os estadunidenses ao pódio nos jo-gos de 1932. Eles venceram cinco das seis provas com destaque para dois atletas: Thomas Tolan e Ral-ph Meltcalf, ocupando o lugar de primeiros super atletas da modali-dade. A participação, assim como a colocação de ambos ocasionou uma polêmica. Na prova dos 100 metros livres, os dois atletas esta-beleceram um novo recorde ao atingir a marca de 10,3 segundos. Apesar dos juízes decidirem a vi-tória de Meltcalf, o prêmio ficou com Tolan. Os possíveis motivos apontados são por ele ter tido tam-bém vitória nos 200 metros livres e participar de um time de atletas apenas brancos.

Nas edições mais recentes, o Quênia arrancou olhares de espec-tadores e juízes com suas perfor-

Entenda a linha do tempo de Tóquio 2020:

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09.06.2017

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09.05.2019

04.02.2020

11.03.2020

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13.03.2020

Tóquio é escolhida como sede dos jogos

Comitê Organizador é formado

Programa olímpico ofi cial tem 339 even-

tos e 33 esportes.

Japão realiza primeiro sorteio de venda dos

ingressos

OMS declara o surto de coronavírus, como emergência

de saúde pública

Comitê Organizador Tóquio 2020 cria força-tarefa para

lidar com o vírus

OMS eleva o surto de coronavírus para pandemia

Cerimônia de acendimento da tocha olímpica é realizada em Olímpia, na Grécia, sem

espectadores

Revezamento da tocha olímpica foi cancelado para não espalhar o vírus

24.03.2020 Os jogos são ofi cialmente

adiados por um ano

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mances dentro do atletismo. Nos jogos de Pequim 2008 e Londres 2012, o país atingiu 86 medalhas (25 de ouro, 32 de prata e 29 de bronze), indo 25 vezes ao pódio.

Na Era Moderna, a 32° edi-ção dos Jogos Olímpicos marcou a história por ser a primeira a ser adiada. Ary Rocco comenta que em outras ocasiões, os jo-gos foram cancelados e destaca o impacto na manutenção do ciclo olímpico. “Em 1940 e em 1944 os Jogos Olímpicos foram cancelados em razão da Segunda Guerra Mundial. Houve a edição de 1936 e só retomou em 1948. Os jogos possuem um ritual: com data certa, tocha Olímpica e também apresentam os famosos aros Olímpicos. Tudo isso ajuda a vender os jogos”, explica.

Apesar do contratempo, o pro-tagonismo do maior evento espor-tivo do planeta segue explorando algumas novidades para essa edi-ção. Tóquio 2021 terá 33 modali-dades, divididas em categorias de competição.

Escalada, beisebol, skate, surf e karatê são as novas modalidades a entrar no time dos esportes olím-picos. Além disso, o aumento da participação feminina levanta o as-pecto moderno que as olimpíadas têm adotado.

Para entender sobre a evo-lução da presença feminina, é preciso voltar um pouco no tem-po. A primeira edição dos jogos

olímpicos não tinha nenhuma participação feminina. Na época, as mulheres eram vistas como “sexo frágil” e os organizadores falavam que “esporte é coisa de homem”. Quatro anos mais tar-de, devido a falta de organização do COI, foi permitida a parti-cipação de mulheres. Mas elas podiam apenas praticar o tênis e o golfe, que eram esportes sem contato físico e vistos como “gra-ciosos”. Elas não recebiam me-dalhas e as vitórias não contavam no quadro geral. A participação era “extra-oficial” e era entregue um certificado após os jogos.

Então, em 1917, surge a figu-ra de Alice Millat, uma francesa que criou a Federação Esportiva Feminina Internacional (FEFI) para que mulheres pudessem competir no atletismo. Depois da criação dessa organização, em 1922, aconteceram os primeiros Jogos Olímpicos Femininos. De-vido ao sucesso de público da primeira edição, elas decidiram organizar mais duas edições, em 1926 e 1930. Mas só em 1932 foi organizado os primeiros Jogos Femininos Mundiais.

Com a popularidade dos jogos femininos, o COI passou a reco-nhecer as mulheres como atletas olímpicas de fato na edição de 1936 das olimpíadas. Mas apenas em 2012 as mulheres foram per-mitidas a participar de todas as mo-dalidades, sem exceção.

Um caminho longo, mas que finalmente pode ter seus frutos colhidos. As mulheres finalmente conquistaram seu espaço dentro do mundo do esporte. Em 2016, a delegação brasileira era composta 44,9% por mulheres. Foram 209 mulheres e 256 homens. Países como EUA e China, as tinham como maioria em suas respectivas delegações. A previsão do Comi-tê Olímpico é que, em 2021 elas sejam 48% do total de atletas. São esperadas, aproximadamente mais de 5.300 mulheres.

Como dito anteriormente, essa edição de Tóquio contará com a adição de novas modalidades, que não eram consideradas olímpicas. São elas: Beisebol, Skate, Surf, es-calada e Karatê. O que marca um novo capítulo na história do espor-te mundial.

Conversamos com o técnico da seleção brasileira de Karatê, Ricardo Aguiar. Ele comenta que os critérios exigidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) vão muito além de metodologias. Para que um esporte ingresse como modalidade é necessário observar o número de países par-ticipantes em campeonatos mun-diais, quantidade de praticantes no mundo e a realização de jogos continentais. Fora esses aspectos, segundo Aguiar, questões políti-cas estão mais que envolvidas na hora de trazer um esporte para as Olimpíadas. A questão financeira

também é um contribuinte para a entrada de qualquer modalida-de. “O karatê não é um esporte que tem um patrocinador master (onde existe um investimento de alto nível), ou um investimento representativo e isso dificulta a própria divulgação, e a própria venda”, enfatiza Aguiar.

Para o Karatê, a entrada como modalidade olímpica representa um momento de grande visibili-dade e crescimento para o espor-te. A participação nas Olimpíadas proporciona o ápice profissional de trabalhadores que estão dire-tamente ligados ao karatê. Aguiar atribui esse momento também a um ganho socioeducacional. “O fi-nal da cadeia é a parte social, mais gente praticando karatê, mais gen-te sendo educada a partir do espor-te e melhorando as relações sociais que envolvem o desenvolvimento humano”.

A espera para os Jogos Olím-picos em 2021 é atrelada a ex-pectativa de mudança no cená-rio esportivo e social. Esportivo, pois proporciona as novas moda-lidades uma visualização maior e, consequentemente, mais in-vestimentos. No campo social, porque as Olimpíadas levantam questões a serem discutidas como: acessibilidade, valoriza-ção dos profissionais do esporte, igualdade dentro e fora de giná-sio, e o desenvolvimento do es-porte como viés educacional.

Apenas em 2012 as mulheres foram

permitidas a participar de todas as modalidades,

sem exceção.

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JOGOS OLímpicosLinha do tempo dos

no período moderno

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Moscou (União Soviética)

Atenas

Roma

Los Angeles (EUA)

Pequim

Tóquio

Seul (Coreia do Sul)

Londres

Tóquio

México

Barcelona

Rio de Janeiro

Munique

Atlanta

Montreal (Canadá)

Sidney

80 países | 22 modalidadesO brasileiro recordista do salto triplo, João Carlos de Oliveira, ganhou bronze. Dizem que em um salto perfeito, os árbitros, todos russos, boicotaram o resultado para favorecer um atleta compatriota

201 países | 34 modalidadesA tocha olímpica viajou sete dias pela península do Peloponeso e por diversas ilhas até chegar ao estádio Panathinaiko.

93 países | 19 modalidadesO jovem Yoshinori Sakai, nascido em Hiroshima em 6 de agosto de 1945, dia em que a bomba atômica detonou a cidade, entrou no estádio carregando a tocha Olímpica.

159 países | 26 modalidadesCuba, Nicarágua e Coreia do Norte decidiram não comparecer às competições.

202 países | 26 modalidadesFoi a primeira Olimpíada que em todas as delegações participantes haviam mulheres.

121 países | 20 modalidadesHouve uma breve paralisação devido ao atentado terrorista de um grupo chamado Setembro Negro.

197 países | 30 modalidadesOlimpíada recordista de audiência sendo transmitida para 214 países, ganhando mais de 800 milhões de dólares.

99 países | 21 modalidadesA ginasta romena Nadia Comaneci, de 14 anos, foi a primeira ginasta a

conseguir uma nota perfeita.

199 países | 32 modalidadesFoi a segunda vez que as Olimpíadas aconteceram no Hemisfério Sul.

112 países | 20 modalidadesEssa edição *cou marcada como os jogos dos afro-americanos, por conta da

suas excelentes atuações e os protestos políticos que estavam acontecendo na época.

169 países | 32 modalidadesO Brasil ganhou o primeiro ouro coletivo com o volêi masculino.

Países 206 | 39 modalidadesUm concurso com 76 agências brasileiras de design foi realizado para

desenvolver a tocha olímpica.

83 países | 19 modalidadesA África do Sul foi banida devido o apartheid.

140 países | 24 modalidadesPor conta de um boicote, a romênia foi o único país comunista da

cortina de ferra a participar dessas olimpíadas

206 países | 28 modalidadesForam os primeiros jogos a serem transmitidos em alta de*nição.

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12

Paris

Melbourne (Austrália)

Paris

Amsterdã

Saint Louis (EUA)

Los Angeles (EUA)

Londres

Berlim

Estocolmo

Londres

Antuérpia (Bélgica)

Helsinki (Finlândia)

44 países | 17 modalidadesOlimpíadas tiveram um complexo esportivo no estádio Olímpico de Colombes.

72 países | 17 modalidadesO hipismo não ocorreu em Melbourne devido leis australianas relacionadas à quarentena de animais, que impediu dos atletas transportarem seus próprios cavalos.

12 países | 18 modalidadesFoi a primeira vez que foram dadas as medalhas de ouro, prata e bronze como conhecemos hoje

10 países | 9 modalidadesMulheres não podiam particiapar.

37 países | 16 modalidadesFoi lá que se criou a verdadeira vila olímpica da história.

22 países | 15 modalidadesA organização de jogos tirou boxe dessa edição, porque a legislação Sueca proibia esse esporte.

59 países | 15 modalidadesEsses jogos foram os primeiros a serem transmitidos pela televisão, com cerca de 500 mil telespectadores.

26 países | 22 modalidadesFoi primeira vez foi hasteada a bandeira Olímpica branca com os anéis coloridos.

69 países| 19 modalidadesAdhemar Ferreira da Silva conquistou uma medalha de ouro para O Brasil na

modalidade do salto triplo, que quebrou com um jejum de 30 anos.

22 países | 24 modalidadesFoi a primeira Olimpíada considerada bem organizada.

49 países | 19 modalidadesA competição foi aberta por Adolf Hitler, que esperava que os arianos ganhassem

tudo, o que não aconteceu

24 países | 20 modalidadesOs jogos de atletismo aconteceram em meio a bosques e árvores e a natação no

rio Sena.

44 países | 15 modalidadesPela primeira vez a chama Olímpica esteve acesa durante toda a competição.

1900

1936

1928

1908

1952

1920

1896

1924

1904

1948

1932

1912

1956

MATHEUS FIGUEIREDO E ERIC MOTTAARTE: ANA PAULA PIRANI

37

junho.2020

A trajetória de uma zelosa mãe e dedicada esposa que deixou o Japão para se tornar a “dama das artes” do Brasil

Tons de Tomie

asa e filhos. Filhos e casa. Filhos, tinta, pincel e qua-

dro. A trajetória de Tomie Ohtake nasce de um questionamento. “Só cuidar da família a vida inteira não está certo. Eu preciso fazer alguma coisa.” A alma de artista adormeci-da, quietamente, no íntimo do ser. Quieta? Não por muito tempo. O incômodo partiu do lugar mais sensível da artista e a intimou à uma mudança drástica. A vida pa-cata não saciaria esta sede. A per-turbação havia encontrado espaço grande em seu coração.

Tomie nasceu em Kyoto, no Ja-pão. Seu irmão, Masutaro Nakaku-bo, tinha fama de briguento e a mãe propôs que ele se mudasse para ou-tra cidade. Para surpresa da família, Masutaro decidiu morar no Brasil. Tomie veio visitar o irmão dez anos depois da transição. A viagem foi planejada como um passeio e, em 1936, deixou seu país de origem e ingressou em um mundo ocidental diferente de tudo que já havia visto.

Foram quarenta dias viajando de navio em direção ao desconhe-

C

cido. Despertando-se com os míni-mos detalhes das paisagens e cores, apaixonando-se pelas diferenças entre os países. O que Tomie não sabia era que a visita mudaria inten-samente o roteiro de sua vida.

IntuiçãoOs anos seguintes foram de

guerra e instabilidade no Japão. Por conta da situação, Tomie se enrai-zou aqui, casou e construiu família. Em 1961, aos 38 anos e com o fim do casamento, a pintura passou a ser seu foco principal.

Ao longo da trajetória um ele-mento norteou sua arte e vida. To-mie confiava na sua intuição. Sua arte era intuitiva. Por isso migrou rapidamente da Escola Figurativa para a Abstrata. Sua intuição a le-vou à arte. Para Rodrigo Ohtake, seu neto, a intuição foi o principal aspecto motivador. “Exemplo disto é quando meu avô foi embora e ela passou a pintar”, comenta. Decisões do dia a dia, a escolha de um restau-rante, e investida em uma amizade, tudo era através da intuição.

Em conversa com Rodrigo, ele não esconde que a volta da Tomie à pintura se dá em um momento de abandono. Quando jovem, ela des-

perta o interesse pela pintura, mas de maneira tímida. “Foi um proces-so natural de ela se dedicar à família e abrir mão de qualquer vontade pessoal [...] É difícil dizer se ela foi uma mulher à frente do seu tempo, quando isso é algo que toda mulher deveria poder fazer desde sempre”, observa. O que o neto defende é que todas as mulheres deveriam ter direito a desenvolver seus dons fora do círculo familiar.

Sabor amareloToda a experiência de contato

direto com elementos antes desco-nhecidos serviu como prato cheio para o brilhantismo na pintura. No saboreio das comidas e bebidas bra-sileiras, ela descreve que “tudo tem sabor de amarelo”, cor viva e brasi-leira que ganhou lugar privilegiado em seus quadros. Tomie sabia pin-tar o Brasil. Mesmo aos 101 anos, ela dizia sentir o amarelo brilhante no Brasil e gostar disso.

Suas distintas realizações ar-tísticas nunca receberam nome. Ato que cria laços conectivos com aqueles que a contemplam. To-mie sempre recusou responder as mais simples expectativas so-bre suas artes. Sua preocupação

não estava nos conceitos. Como ela mesma disse, “eu não penso muito em conceito. A experiên-cia do sentimento é o mais im-portante do que eu explicando, tanto que não coloco nenhum nome em pintura. Cada um sen-tir já está ótimo”.

Formas mágicasAvenidas, bairros, prédios e

estações de metrô. São os mais diversificados lugares onde estão expostas as pinturas e esculturas de Tomie. Perpetuando beleza e significado mesmo vistas com ra-pidez. Era essencial para ela que as exposições estivessem além das galerias, transmitindo paz, conexão, sentimento e incentivo artístico para as novas gerações.

Seu amor pelos detalhes é trans-cendente. Seu filho caçula, Ricardo Ohtake, explica que “ela nunca vê um quadro ou obra como algo pronto, sempre há espaço para retoque”, da mesma forma como os sentimentos sempre podem ser mais expressados. Tudo começa com uma forma em sua mente e, então, acontece a mágica das for-mas e pinturas que encantam dife-rentes olhares.

1936

Tomie vem ao Brasil visitar o irmão.

1957 1974 2001

Realiza as primeiras ex-posições no Museu de Arte Moderna de São

Paulo.

Primeiro prêmio de me-lhor pintor do ano pela Associação Paulista de Crí-

ticos de Artes.

Inauguração do Insti-tuto Tomie Ohtake.

ESTHER FERNANDES

10 MIN

ARIANE BRASIL

2008

Cria esculturas em comemoração ao Cen-tenário da Imigração

Japonesa no Brasil.

PERF

IL

Porque o Japão deve estar em seu roteiro de viagens

CAPA

Um tour no outro lado do mundo

a imaginação de uma criança, você pode chegar do outro

lado do mundo se cavar um buraco no chão. E quem aqui nunca ouviu falar que é lá onde o arquipélago ja-

ponês está? Pode até ser fantasia, mas quem já visitou o país do sol nascente tem a sensação de estar, não do outro lado, mas em outro mundo. O Japão é um país fascinante. Turistas de todo lugar se encantam com a capacidade que os 126,5 milhões de habitantes tem de viverem, harmoniosamente,

em um lugar onde o passado e o futuro caminham juntos. Tudo acon-

tece de maneira ordenada, tudo funciona.

N

ANA CAROLINA DELCASALEJULIA PIO

WILLIAN SILVESTRE

15MIN

40 41

junho.2020 junho.2020

Multifacetado, o Japão tem atra-ções turísticas tanto para os japone-ses quanto para estrangeiros. Isaac Yanamura, gestor de produção na empresa japonesa Nissey Delica, é brasileiro e mora no Japão há sete anos. Até hoje se encanta com tan-ta pluralidade. “O Japão é um país que exala turismo. Existe tanta be-leza que fica difícil de enumerar. Em cada canto existe um lugar maravilhoso para se visitar”, con-ta. A habilidade que os nipônicos têm de usar a tecnologia e preser-var as coisas do passado é algo que chama atenção. “O legal e bem in-teressante disso tudo, é que o país consegue mostrar toda sua tecno-logia sem perder suas origens. No mesmo local onde você é atendido por um robô verá ao lado estrutu-ras do século passado”, conclui.

A cada ano, o número de turis-tas estrangeiros cresce vertiginosa-mente no Japão. De acordo com informação publicada no portal Panrotas (panrotas.com.br), site tra-dicional no segmento de turismo, houve um crescimento de 7 para 32 milhões de turistas nos últimos 10 anos. O número de visitantes em 2019 foi de 31,8 milhões, le-vando o país a ver seu oitavo cresci-mento consecutivo, estabelecendo, então, um novo recorde nacional. Se não fosse o cancelamento dos Jogos Olímpicos, a expectativa para 2020 era de receber 40 milhões de turistas durante todo o ano.

O Japão é um dos países mais seguros do mundo. Em março de 2019, o Escritório das Nações Uni-das sobre Drogas e Crimes conta-bilizou um índice de 0,28 homicí-dios para cada 100 mil habitantes. Em agosto de 2018, um grupo de

pesquisas da revista britânica The Economist determinou Tóquio, capital do país, como a cidade mais segura do mundo. E se você pen-sa que isso se dá pela tecnologia de ponta que ali existe, com sensores e câmeras de última geração espalha-dos pelas cidades, se engana. O país possui leis rigorosas, policiamento preventivo e uma população cons-ciente que aprendeu desde o berço a respeitar o ser humano.

DNA dos nipônicosConhecidos como um povo in-

teligente, os japoneses carregam a fama porque aprenderam na infân-cia a disciplina. Mas essa conduta se aplica para qualquer área da vida e não apenas à educação. Não é à toa que os turistas, quando chegam no Japão, ficam deslumbrados com a organização do país. O funciona-mento do transporte público é sem igual. Os trens japoneses estão entre os mais pontuais do mundo: a mé-dia de atraso é de apenas 18 segun-dos! Inclusive, as empresas de trem costumam se desculpar se, por aca-so, algum trem parte da estação se-gundos antes do horário oficial.

A hospitalidade dos japoneses também é uma das característica que chamam a atenção de quem visita a terra do sol nascente. Omo-tenashi é um termo muito comum por lá e, embora seja conceito di-fícil de ser explicado, pode ser tra-duzido como hospitalidade. Mas vai muito além. Desde crianças são ensinados a manter essa conduta. Carregam em seus corações o ato de servir e agradar a todos sem que-rer nada em troca.

A postura de um funcionário de curvar a cabeça levemente falando

irashaimase para cada pessoa que entra em um estabelecimento é omotenashi. Nara Watanabe Soga é brasileira e mora no Japão há 30 anos, quando chegou no país ficou impressionada com essa ati-tude e até hoje isso chama atenção. “Quando a gente chega nas lojas, em qualquer lugar, a educação e atenção com que eles nos tratam é incrível”, declara. Nos hotéis você encontrará, à disposição, potes grandes de shampoo e condiciona-dor, por exemplo. Ou seja, fazem de tudo para que os turistas sintam-se bem vindos, fiquem satisfeitos e voltem mais vezes. Toda gentileza que você encontrar é omotenashi.

Patrimônio Mundial Mas o Japão não é só moder-

nidade e tecnologia. Dos países asiáticos é o que possui mais be-lezas naturais. Não foi à toa que a UNESCO classificou vários deles como Patrimônio Mundial. Não deixe de colocar em seu roteiro locais como o Castelo Himeji e os monumentos históricos de Kyotto, Nikko e Nara. Quando quiser ter um momento de reflexão, pegue o primeiro trem com destino ao Memorial da Paz de Hiroshima. O lugar, paradoxalmente, símbolo de uma das maiores atrocidades cometidas pela humanidade é tam-bém sinal de esperança. E há ainda o famoso Monte Fuji, verdadeiro cartão postal do país.

Uma imersão culturalAlém dos destinos turísticos,

a famosa culinária e cenários de filmes como os de “Silêncio” de Martin Scorsese, o Japão também oferece uma experiência de imer-são cultural única. Os costumes ja-

CONSEGUINDO O VISTO

- Passaporte válido;- Formulário de Solicita-ção de Visto assinado

conforme o passaporte ou assinatura do responsável, para

menores de idade;

- Uma foto 3X4cm nítida e recente;

- Carteira de Identidade RG ou RNE;

- Passagem de ida e volta ou print de reserva de todos os

trechos;

- Imposto de Renda Pessoa Física e extratos

bancários dos 3 últimos meses;

- Cronograma de viagem;

- Comprovante de renda;

- Comprovantes de renda do dependente

ou cônjuge;- Comprovante de

renda do fi nanciador da viagem;

- Documento que comprove a relação

familiar;

Idioma: Japonês

Moeda: Iene

País: Japão

Capital: Tóquio

Fuso horário: + 12h (horário de Brasília)

Localização: Ásia

Habitantes: 126,5 milhões

42 43

junho.2020 junho.2020

poneses vem de tradições culturais e religiosas milenares que persistem até hoje, mesmo com a evolução tecnológica. Por isso, para viajar ao Japão, é preciso ter em mente algu-mas peculiaridades locais.

A mais famosa de todas é a ma-neira como os japoneses se cum-primentam. Com o movimento de curvar as costas eles dizem oi, se despedem, demonstram gratidão ou arrependimento. Se curvar re-presenta respeito e encostar a mão em outra pessoa é considerado um contato íntimo. Quando feito em público, pode ser bastante ofensivo para os mais conservadores.

Esse respeito também é de-monstrado quando se tira os calça-dos ao entrar em uma casa, templo, ou mesmo em alguns restaurantes. Além de demonstrar respeito, tam-bém é um ato higiênico. E por falar em higiene, as crianças aprendem na escola a limpar seu ambiente de estudo. Limpas também são as ruas e calçadas japonesas. Apesar de haver poucas lixeiras nas ruas, é comum carregar o próprio lixo até que encontre um local apropriado para o descarte. Ah, não se esqueça da sua máscara! Com ou sem pan-demia, os japoneses as usam com frequência para evitar alergias ou passar doenças a outros.

É muito comum encontrar bicicletas sem nenhum cadeado nas ruas e calçadas japonesas. Ge-ralmente as pessoas deixam seus pertences em cadeiras de restauran-tes para ir a outro lugar e está tudo bem. Ninguém vai tocar porque a noção de propriedade no Japão é muito forte. Diner Ramos já visi-tou mais de 10 países e relata que

a cultura japonesa foi a que mais o impressionou. “A educação, orga-nização e respeito do povo japonês é incrível. Meu filho deixou um ce-lular novo na pia do banheiro e só voltamos lá no fim do dia. O celular estava exatamente no mesmo lugar. A experiência cultural é uma atra-ção a parte no Japão”, ressalta.

É muito comum ver pessoas pa-radas esperando o semáforo abrir para atravessar a rua, mesmo que ela esteja deserta. Se vir alguém atra-vessando a rua fora da faixa, prova-velmente trata-se de um turista. E sim, na capital e em pontos turísti-cos alguns japoneses falam inglês, precisar ser fluente na língua deles para “turistar” por lá é um mito.

Diferente? Temos!E por falar em mito, sushi e pei-

xe cru não são as únicas coisas que se come na terra do sol nascente. É possível encontrar diversos restau-rantes que servem as mais variadas comidas típicas e até pratos oci-dentais. Afinal, sentir novos gostos e novas experiências é a essência da viagem. “A viagem é a terra das primeiras vezes. Nada melhor que experimentar algo novo em outra cultura”, declara Diner. Mercados, restaurantes e muitas atrações turís-ticas são automatizadas e é comum você comprar ingressos, passagens e até comida em máquinas.

Ao visitar o Japão, é preciso estar atento a vários atos conside-rados desrespeitosos pelo povo. Como deixar os hashi (pauzinhos) no prato de comida. Mas como saber? Os japoneses respondem! A cidade de Kyoto criou um guia de etiqueta para turistas. O obje-tivo é orientar visitantes que aca-

bam ofendendo monumentos e pessoas, por não saberem como se portar. A cartilha está disponí-vel em chinês, japonês e inglês. O conteúdo vai desde orientações de onde sentar ou fumar, até coisas mais específicas sobre como pedir autorização para tirar fotos com as gueixas de Gion e proibições para nunca tocá-las sem permissão.

De maneira geral, os japoneses não esperam que os turistas sigam todas as regras de etiqueta cultural estritamente. Porém, quem as sabe e domina acaba tendo um bônus na experiência de visitar o país.

Konnichiwa“iiii”. Fazer esse som no Brasil

pode significar que algo está er-rado ou que você não gostou de alguma coisa. Em japonês isso é bom porque a palavra “ii” é fre-quentemente usada para pergun-tar ou indicar se algo está bom ou bem, como: ii desuka – “Está bom?”; e ii desu – “Está ótimo”.

Embora sempre haja pesso-as que falam inglês nas principais cidades e pontos turísticos, saber algumas palavras e frases no idio-ma local pode economizar tempo, estresse e evitar aquela vergonha. Sumimasen, por exemplo, é uma palavra com múltiplas utilidades que pode ser usada para pedir des-culpas, chamar o garçom ou o aten-dente em uma loja e pode também ser usado em uma abordagem para fazer uma pergunta a alguém, do tipo “me desculpe”.

Outra importante palavra é Nani. Ela significa “o quê” e pode ser usada em perguntas: Nani – O quê?; Kanojo wa Nani-jin desuka – “Ela é de qual nacionalidade?”;

“No mesmo local onde você é atendido por

um robô, verá ao lado estruturas do século passado”

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junho.2020 junho.2020

Nan ji desuka – “Que horas são?”. Se terminou de comer e está satisfei-to use Hai, que pode ser traduzido como “Estou satisfeito”. E se nada der certo e não conseguir se comu-nicar use Wakarimasen – “Não en-tendo”; Nihongo wa wakarimasen – “Eu não entendo japonês”.

Papelada e dinheiro em mãosÉ comum solicitar um visto de

turismo para entrar na maioria dos países, mas não no Japão. Devido a acordos políticos, alguns migrantes têm a isenção de visto, mas não os brasileiros. Para visitar o país você precisará de um visto de turismo, que lhe dará a permissão de perma-necer ali por até noventa dias, com validade de três anos.

O processo de solicitação do visto não conta com a fase de en-trevista. É preciso ir ao consulado japonês mais próximo ou enviar a sua documentação pelos correios.

A moeda oficial do Japão é o yen (ou iene) e é a única aceita no país. Um iene equivale a 0,047 reais, ou seja, um real equivale a 21,26 ienes. A forma mais comum de trocar dinheiro no Japão é pelos caixas eletrônicos. Eles podem ser encontrados dentro de diversas lo-jas, hotéis, conveniências e até den-tro de karaokês. Porém, uma boa dica é trocar real por ienes ainda no Brasil, ou comprar dólares ou euros e trocá-los quando chegar no Japão. Outro elemento que deve ser levado em conta é a cultura do pagamento em dinheiro, que ainda é muito forte por todo o país.

Voe alto – ande na linhaDevido a longitude do Japão

em relação ao Brasil, essa viagem

é considerada voo de longa dis-tância. Felizmente, as principais cidades japonesas possuem trens expressos, ônibus, táxis e locado-ras de carro, facilitando a chegada no local de estadia.

O país conta com oito aero-portos. Todos possuem mais de uma linha de trem disponível jun-to com um serviço de ônibus que atende aos bairros hoteleiros, ci-dades vizinhas e principais pontos turísticos. Há um destaque para o aeroporto de Narita, que possui seu próprio aplicativo chamado NariCo que serve como um guia aeroportuário de voz.

O jeito mais cômodo de viajar pelo Japão são as redes ferroviárias. As linhas do trem-bala shinkansen e Japan Railways (JR) conectam todas as principais cidades. “Nas estações de trem sempre tem um painel indicando a hora que o pró-ximo trem vai passar e o destino dele. Ele chega no momento exa-to, é muito difícil atrasar”, comenta Cristiane Bunno, cidadã brasileira que reside em Ibaraki há quatro anos. “Nos ônibus os motoristas fi-cam com fones de ouvido e falam a proxima parada, além de ter ar condicionado”, completa.

A companhia JR East Japan Railway permite que você reserve as passagens com antecedência. Há diversos passes de transportes pú-blico, como passagens pré-pagas e passes ilimitados.

Clima e festaPor ser um arquipélago dispos-

to de norte a sul e quase que inteira-mente cercado por mar, o clima do Japão muda constantemente. No

Ohayou gozaimasu “Bom dia”

Konnichiwa “Boa tarde”

Konbanwa“Boa noite”

IRASHAIMASE (Bem-vindo)

Watakushi wa (nome) to moshimasu

“Eu me chamo (nome)”

Ogenki desu ka “Como você está?

Korewa nan desuka? “O que é isso?”

Eki wa doko desu ka “Onde fi ca a estação de

metrô/trem?”

Toire wa doko desu ka “Onde fi ca o toilette?”

Ikura desu ka“Quanto custa(m)?”

Kurejitto kaado dekiru? “Aceita cartão de crédito?”

A maior referência em re-lação a artesanato é a Vila de Cerâmica de Ontayaki localizada na aldeia de Onta. As cerâmicas são caracterizadas por terem padrões geométricos. Lá você poderá ver ceramis-tas em ação fazendo pe-ças únicas, além de você poder fazer sua própria cerâmica a partir de 500

ienes.

Também conhecida co-mo “A Cidade das bone-cas” o famoso bairro de Saitama produz bone-cas de fofas menininhas a temíveis guerreiros desde o século XVII e são usadas em festivais por todo o Japão. Pró-ximo a Estação Iwatsuki também está localizado o Museu das Bonecas

de Togyoku.

Há vários espalhados por todo o Japão, mas o des-taque vai para Mercado de Tsukiji, ao sul de Estação de Tóquio e vizinho da região de Ginza.O mercado possui ofi cinas de fabricação de sushi, visita guiada, lanches que variam de omeletes a bolinhos de arroz e uma grande variedade de pro-dutos.letes a bolinhos de arroz e uma grande varie-

dade de produtos.

É o antigo lugar de transporte da cerveja Yebisubeer, mas at-ualemte é um santuário elegante da cidade de Tóquio. O local possui um Museu da cerveja Yebisu com direito a de-gustações durante a vis-ita, lojas e restaurantes, além do museu de arte e fotografi a de Tóquio. Ele está próximo à es-

tação Ebisu.

A rua comercial mais movimentada da ci-dade de Karuizawa. Um centro muito visitado conhecido pela varie-dade de boutiques, cafés e restaurantes e também pela mistura do rustico e o moder-no. Possui fácil acesso de trem por Tóquio na estação Karuizawa até Estação Karuizawa, a via-gem dura 75 minutos.

CERÂMICA IWATSUKI MERCADO LOCAL EBISU GARDEN PLACE KYU-KARUIZAWA

Tokyofugi

templo KinkaguCastelo

de himeji

memorial da paz de hiroshima

Castelo de shuri - naha, okinawa -

46 47

junho.2020 junho.2020

norte, o clima é caracterizado por verões intensos, invernos rigorosos e nevascas frequentes. O Japão cen-tral possui invernos curtos e verões úmidos. Enquanto na parte sul, os verões longos e úmidos e invernos amenos. Agosto e outubro são co-nhecidos como os meses de tufões.

Na hora de decidir a época da viagem, é bom levar em conta os festivais típicos que acontecem no país. Dependendo da estação do ano que for visitar o país, poderá aproveitar algum festival.

O verão é marcado por di-veesas opções. Um dos maiores celebrações do país ocorre nessa época, o Festival Gion Matsuri. Ele dura o mês de julho inteiro e as ruas de Kyoto viram uma gran-de festa com desfiles e muitas apre-sentações de música, dança com vestes tradicionais e teatro, além das barracas de comida e doces típicos. Segundo Cristiane Bunno, essa festividade é como o carnaval, só que japonês. Além das danças, a população se divide em grupos que adoram deuses ou princesas. “Aqui na minha região tem a ‘prin-cesa do arroz’, então as pessoas prestam um tipo de homenagem. Cada um tem uma forma de se ex-pressar”, explica.

Outro festival de verão famo-so é o Festival Nebuta de Aomo-ri, que acontece entre os dias 2 e 7 de agosto. A festa conta com apresentações de dança típica e gigantes bonecos de papel ma-chê. Também no mês de agosto acontece o festival Yosakoi na cidade de Kochi. Nesse festival vários times de dançarinos com-petem em seus carros alegóricos.

“A competição combina danças tradicionais japonesas com músi-cas modernas e utilizam um ins-trumento de percussão chamado Naruko”, comenta a japonesa Mayuna Zush.

No outono, a paisagem das ruas se transforma em um mar de folhas avermelhadas do bordo japonês. É nessa época que ocorrem os festi-vais em templos e santuários com desfiles que celebram história de região junto com apresentações de culinária. Essas festividades são o Festival de Outono de Fujiwara e o Festival Kawagoe.

No inverno, os flocos de neve e o gelo se tornam a atração prin-cipal dos turistas. No Festival de Neve de Sapporo, figuras históri-cas, marcos mundiais importantes e personagens de anime ganham suas esculturas feitas de gelo. Nes-sa mesma época, em 15 de janeiro, ocorre o Festival de fogos de No-zawa, caracterizado por confrontos inflamados entre homens de 25 a 42 anos. A batalha se dá pelos homens de 42 anos tentarem quei-mar, com tochas, um santuário improvisado, enquanto os homens de 25 anos precisam defendê-lo.

Com a chegada da primavera, as flores das Sakuras se tornam a principal atração do Japão. As ruas e parques se tornam um pon-to turístico graças às belas flores de cerejeiras. É nessa época que ocorrem os festivais de observa-ção das Sakuras em Hirosaki e Kakunodate. As pessoas reservam espaços para fazer piqueniques em parques enquanto admiram as belas flores que enquadram as exuberantes paisagens japonesas.

Japão Pós-Pandêmico Ao final da Pandemia o gover-

no Japonês pretende adotar uma série de medidas para incentivar o turismo de estrangeiros no país. A agência de turismo nacional irá criar um programa de subsídios com o orçamento de 12,5 bilhões de dólares com a finalidade de custear metade do valor gasto de viagem de cada visitante, desde que não ultrapasse 186 dólares. O projeto recebeu o nome de “Go To Travel Campaign” (campanha da volta a viajar).

A campanha visa os japoneses que querem viajar dentro do pró-prio país inicialmente, mas logo abrirá seu leque para aos visitantes estrangeiros que desejam conhe-cer o país.

De acordo com Mayuna, mes-mo após o crescimento de procura do turismo no Japão, o povo ainda está se acostumando a receber tan-tos estrangeiros. “Algumas regras foram mudadas para atender aos turistas. Em lugares de águas ter-mais (Hot Spring – Onsen), por exemplo, os japoneses tatuados não podem frequentar, mas para os tu-ristas isso não é válido. Nos locais estão colocando mais informações em inglês para facilitar a vida dos turistas”, conclui.

Seja no inverno, verão, outono ou primavera, o Japão está sempre de braços abertos para o mundo. Cultura, gastronomia, tradição, surpresa e espanto esperam os que gostam de menos rotinas e mais roteiros. Na terra do sol nascente você, de fato, entende o que Mário Quintana sentia ao dizer “viajar é trocar a roupa da alma”.

“Viajar é trocar a roupa

da alma” Mário Quintana

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junho.2020

complementar o ensino esportivo na educação de seus filhos.

Festival desportoNas escolas do Japão, toda 2ª

segunda-feira do mês de outubro é o feriado nacional denominado o Dia do Esporte. O principal foco é incentivar a saúde física para os fa-miliares dos alunos, por meio dos esportes. Até 2013, o Centro Uni-versitário Adventista de São Paulo realizou 16 eventos a fim de cele-brar o feriado para a comunidade japonesa que mora na capital.

“Durante o evento tocava músi-cas japonesas e em algumas tendas vendiam o bento (marmita japone-sas) e doces. Lembro que esperava todo o ano por esse evento, ado-rava participar e sempre ia com a minha irmã e com meus pais. Os brindes das gincanas esportivas sempre eram educativos, como materiais escolares, lápis, borra-cha, apontador, etc”, relembra a ex-aluna Karine de Freitas.

A orientadora educacional e dis-ciplinar japonesa Sanae Hirakawa comenta que hoje, trabalhando no Brasil, nota na prática a importân-cia de uma educação com espor-tes. “Acredito que o esporte ajuda na disciplina, porque tem regras e elas precisam ser obedecidas, e isso é imprescindível para eles. Através do esporte, eles enxergam o futuro e trabalham para levar o respeito e a educação para os alunos”. O es-porte faz parte da história da edu-cação japonesa, fruto do trabalho unido do Ministério da Educação e Esporte.

ARIANE BRASIL

10MIN

strike didáticoNo Japão, o trabalho do Ministério da Educação e Esporte criam uma metodologia de ensino incomum

Gambatte! Na cultura japone-sa, o esporte se insere no universo das virtudes que desenvolvem dis-ciplina, constroem caráter e esfor-ço. Trata-se de uma expressão de encorajamento, ensinada desde a educação básica nas escolas, com estrutura e orientação de professo-res japoneses. Gambatte é o grito entusiasmado de educadores que, vencendo ou perdendo, incenti-vam os alunos a fazer tudo com o “esforço sincero”.

Na grade escolar japonesa, a prática de esporte é uma discipli-na extraclasse que, apesar de não valer nota, é obrigatória do oita-vo até o primeiro ano do ensino

médio. Costumam acontecer em três dias da semana e nas férias. A estudante japonesa Diafanny Oka-zaki relata que os professores são presentes e acompanham o desen-volvimento esportivo dos alunos, sempre disponíveis, ajudando-os a alcançar o sucesso. Além disso, os estudantes com desenvoltura e interesse podem concorrer à uma bolsa de estudo para desporte.

Praticar esporte na escola “nos ensina respeito, a vencer e não é sempre que as coisas vão do jeito que a gente quer ou gostaria que fosse”, conta Diafanny sobre en-sinamentos que ela levou após se graduar. Dentre os esportes dispo-

níveis nas aulas extracurriculares, Diafanny relata que o ensino do beisebol é rigoroso por ser o mais popular e desejado pelos alunos.

Bastão educativoUma pesquisa de 2017 da As-

sociação Japonesa de Cultura Físi-ca do Ensino Ginasial mostra que, entre as 10,4 mil escolas avaliadas, 8,6 mil delas ensinam o beisebol como principal esporte. Jogo po-pular nas Américas do Norte e Central, ele chegou ao Brasil no século 20 com os imigrantes e hoje é uma modalidade olímpica.

Jogar beisebol demanda con-centração, atenção aos detalhes e velocidade. É um esporte com lições a serem aplicadas na vida, como o companheirismo, comu-nicação e ajuda ao próximo. Sua prática exige um taco e uma bola específica, somando a pontuação com o número de bolas e strikes. A agilidade, condicionamento fí-sico e precisão dominam os arre-messos, rebatidas, corridas e saltos.

A prática do beisebol ultra-passou os portões das escolas no Japão e é televisionada em tor-neios escolares, universitários e profissionais. A pedagoga Renata Mika narra sua experiência com o esporte desde a infância. “Por ser descendente de japonês, joguei softbol (beisebol feminino) dos 9 aos 16 anos. Mesmo não sendo na escola, às vezes era só um clube e eventos esportivos que envolvia toda família”. Ela comenta ainda que muitos imigrantes, ao virem para o Brasil, buscam formas de

48

O Dia do Esporte é co-nhecido originalmente como Undokai. Junção de Undo com Kai que signifi cam, respectiva-mente, movimento e

reunião

VOCÊ SABIA?

Os alunos japoneses aprendem a fazer Haiku e Shodo, poesia formal que envolve escrever caracteres com um pincel de bambu

em papel de arroz

O Japão é um dos três países que ocupam as primeiras posições do ranking na moda-lidade feminina do

beisebol

NA ESPORTIVA

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MODALIDADESSanda (boxe chinês)

Wing chun

Funcional

Kung fu

Boxe

O LIMITE

É UMA FRONTEIRA

CRIADA SÓ PELA

MENTE

(11) 98111-5605

ESCOLA DOS CAMPEÕES

Rua Raimunda Franklin de Melo, 202 | Parque Santo Antonio, São Paulo-SP

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o fim para mim

Daisuke Nishijima retoma a temática apocalíptica da 9a

arte japonesa com sua nova obra Corona-kun no Tsuioku por ocasião

da pandemia do corona-vírus

Qualquer profecia prevê o fim do mundo. No início de maio, época de instabilidade po-lítica e econômica por conta do novo coronavírus, a companhia QJWeb apostou nos oráculos de Daisuke Nishijima e lançou a série em quadrinhos Corona-kun. Em “Recordações de Corona-kun”, há reflexões solitárias da versão antropomórfica da Covid-19, que vagueia por um planeta assolado pela pandemia. Na narrativa, a hu-manidade não sobreviveu à amea-ça do vírus e sucumbiu indiferente às recomendações médicas e cien-tíficas. Como mangaká, escritor e cineasta, é a segunda vez que Nishijima expressa suas ansieda-des apocalípticas por meio da arte sequencial. Em 2004, ele ganhou o prêmio The Seiun Awards como melhor artista pelo mangá “A Bru-xa no Fim do Mundo”.

Em épocas de transformações, o profeta- poeta costuma romanti-zar o caos e elaborar obras apoca-lípticas que comuniquem reflexão e esperança para o seu tempo – como é o caso do Apocalipse de João, escrito em período de inten-sa opressão romana; ou das profe-cias de Nostradamus, que em seu tempo estava rodeado pela peste bubônica. Os especialistas em lite-ratura apocalíptica concordam que esse gênero surge em contextos de instabilidade e incerteza.

Talvez o Japão seja o primei-ro país a vivenciar uma distopia ocasionada pelo poder atômico, que forçou a população a viver a um contexto pós-apocalíptico nu-clear, que não poderia estar mais apta para expressar seus traumas apocalípticos por meio da 9a arte. De fato, os mangás são terreno fértil para a imaginação de realida-des distópicas desde a década de 1980 como, por exemplo, Akira, de Katsuhiro Otomo para citar os clássicos; ou mesmo o sucesso atual “Ataque dos Gigantes”, de Hajime Isayama. Em tais obras, a ameaça do exterior, o avanço tec-nológico ou as forças da natureza promovem instabilidade à vida humana ao inaugurar épocas som-brias e suscitar heróis messiânicos.

O traço simples e ligeiramente infantil de Corona-kun no Tsuioku, no estilo próprio de Nishijima, dis-farça sua profundidade. Ele afirma que, “às vezes, o amor leva à morte”, e por isso, talvez por pouco tempo, seja melhor que as pessoas deixem de “amar umas as outras”, afas-tando-se para o seu próprio bem. Trata-se de uma provocação ao ce-nário apocalíptico atual: a cultura in-dividualista – diversas vezes criticada por perspectivas mais coletivistas –, emerge como solução preventiva à disseminação da doença, de maneira que o apocalipse de Nishijima pode tomar proporções resolutivas se cada indivíduo se responsabilizar por sua própria existência. Resta ao leitor admitir ou não ser aconselhado pelo seu próprio assassino.

FELIPE CARMO

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PENSANDO BEM

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Passado e presente japonêsAntigas tradições japonesas se mostram vantajosas no combate à pandemia do coronavírus

HOJE EM DIA

s japoneses são classificados pelos costu-mes, crenças, tradições e culturas. Mas isso se deve a alguns fatores históricos importan-tes ocorridos entre os séculos 19 e 20. O Ja-pão passou por um processo de moderniza-ção sob influência norte-americana. Porém, isso não fez com que o país perdesse as raí-zes tradicionais.

Um período de desenvolvimento eco-nômico e de expansionismo, no qual se se-guiram as vitórias nas guerras sino-japonesa e russo-japonesa teve início em 1868. Dessa maneira ocorreram as conquistas da Co-

reia, das ilhas de Taiwan e de Saca-lina, mantendo o interesse do país sobre a Manchúria, vasta região no Leste da Ásia. Devido a esses fatos, o Japão seguiu com o projeto de império, tendo em vista que essa proposta ameaçaria os norte-ame-ricanos em expansão no Pacífico.

Em 7 de dezembro de 1941, o Japão atacou a base naval norte-a-mericana de Pearl Harbor, decla-rando guerra aos Estados Unidos. Em consequência do ataque, o país norte-americano adentrou na Segunda Grande Guerra. Depois que os norte-americanos obtive-ram bons resultados nas principais batalhas do Pacífico, o Japão co-meçou a se sentir ameaçado.

Mesmo diante de um cenário caótico, o país seguiu lutando, pro-vando que os japoneses prezam a cultura de persistência e honra. O doutor Lindener Pareto, profes-sor de História da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo (PUC-SP), comenta que “os japo-neses só se renderam depois que as bombas atômicas foram jogadas em Hiroshima e Nagasaki, ceifan-do a vida de milhares e deixando sequelas das variadas”.

Em 6 de agosto de 1945, um bombardeiro autorizado pelo go-verno dos Estados Unidos despe-

jou sobre Hiroshima uma bomba de urânio, apelidada de“little boy”. Três dias depois, chegou a vez de Nagasaki. O objetivo desses atos era forçar o Japão a se render e evi-tar uma provável invasão do país, o que resultaria em milhares de sol-dados aliados mortos.

Sem desculpas O ataque das bombas nucle-

ares causou danos físicos, econô-micos e culturais ao Japão. Ainda assim, o país conseguiu se recons-truir. O caso de Hiroshima e Na-gasaki é considerado o maior ata-que terrorista da história, já que o objetivo dos norte-americanos era aterrorizar a população japonesa.

Pareto esclarece que não hou-ve pedido de desculpas por par-te dos norte-americanos quanto aos bombardeios. Além disso, os ataques não foram reconhecidos como atos terroristas pelos EUA, tampouco por parte dos japone-ses, do ponto de vista político. “Ali-ás, quem reconstrói o Japão após a Grande Guerra são os próprios americanos”, enfatiza Pareto. A re-novação se tornou ameaça para a União Soviética e os EUA usaram como uma vitrine de glória.

Nos dias seguintes aos ataques, o contato com a radiação conti-

Viajar em busca de opções gastronômicas oferece

novas experiências culturais

nuou a disseminar vidas e os resis-tentes tiveram que conviver com doenças causadas pela radiação ao longo da vida. A população atingida sofreu o preconceito do restante da sociedade japonesa e precisou lutar por anos para que o governo arcas-se com os custos médicos.

Cultura de honraA derrota e ocupação do Japão

pelos Estados Unidos obrigou o país a ter mais contato com o mun-do ocidental. Existe um conceito de honra muito presente no Japão, de-terminante para o comportamento social coletivo. Após a Segunda Guerra, o Japão precisou renovar-se materialmente em novas bases, com influência da tecnologia oci-dental aplicada à cultural oriental.

O Japão é uma cultura com le-gados milenares, tradição de honra, respeito e equilíbrio em relação ao histórico de reconstrução. O país transmite a tradição como algo es-sencial. De acordo com o coorde-nador do curso de História do Cen-tro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), Elder Hosokawa, os japoneses carregam consigo a tradição de respeito aos mais velhos pela experiência e cabedal de infor-mações, além de terem a educação como um fator predominante. Há

O

REBECA FREITAS VICTÓRIA OLIVEIRA 14MIN

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O Japão é cultura milenar de tradição,

honra, respeito e equilíbrio ao

histórico de reconstrução

CoronavírusPresente entre os seres huma-

nos desde a década de 1960, os coronavírus são uma família de vírus caracterizados por uma alta taxa de mutação, ou seja, podem facilmente se adaptar e provocar novas doenças. Em epidemias an-teriores não havia confirmação de transmissão de pessoa para pessoa. Porém, na pandemia atual, já foi comprovada a transmissão via gotí-culas de saliva ou de espirro, o que torna tudo mais grave.

O tipo de coronavírus respon-sável pela pandemia estabelecida no começo de 2020, deu-se pelo sars-cov-2. Geralmente, a maioria das pessoas costuma apresentar fe-bre, dor no corpo, problemas res-piratórios desde a via aérea supe-rior, como coriza, espirro, perdas de olfato e paladar.

Têm pessoas que são afetadas pelo vírus, mas não desenvolvem qualquer sintoma da doença. Es-sas são chamadas de assintomá-ticas. Existem também pessoas que desenvolvem formas graves da doença, correndo risco de óbi-to. Ainda de acordo com Bueno, uma fração significativa dos infec-tados pode adquirir a forma mais grave da doença. “Cerca de 20% dos infectados desenvolvem a for-ma grave da doença, a ponto de precisarem serem internados em hospitais. Cerca de 5% precisam de UTI. Quanto à letalidade, esta pode variar conforme cada país, mas estima-se que ela fique em tor-

muita relação com a hierarquia. Eles respeitam, têm orgulho e mantém o que se criou por seus antepassados.

Hoje, com raízes na tecnolo-gia e afastando-se parcialmente da cultura chinesa, o Japão criou os próprios moldes e caminhos. Ape-sar da enorme tradição, se apoia na inovação. Ainda que encaram a modernidade, existem questões de cidadania e ética, interiorizadas pelos japoneses. Costumes que se-gam à risca por causa de sua histó-ria. A ética foi cedida pelo enfrenta-mento de situações difíceis, caso de Hiroshima e Nagasaki.

“A derrota na Segunda Grande Guerra trouxe uma humilhação ao Japão, considerado invencível até então, tendo conquistado terras da Rússia e China até o início do sé-culo 20”, explica Hosokawa. O Ja-pão, antes da guerra, já seguia uma cultura de reconstrução e honra, o mesmo se repete após os bombar-deios em Hiroshima e Nagasaki.

Mesmo em meio ao caos e destruição, as cidades japonesas atingidas conseguiram se reerguer, convertendo-se atualmente em símbolos de superação. De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), mais adiante o Japão ocupou a posição de quarto maior exportador e importador do mundo, além de ser o único país asiático membro do G7.

Hábitos japoneses Antes mesmo dos ataques a

Hiroshima e Nagasaki em 1945, o

Japão possuía tradição de hábitos saudáveis e respeitosos, além de uma cultura de cuidados com o corpo e mente. Devido aos bom-bardeios atômicos, alguns costu-mes tornaram-se predominantes e necessários. As bombas depo-sitaram radiação tanto no territó-rio como sobre os habitantes que sobreviveram. Muitos japoneses sentiram medo de contaminação e, por isso, o uso de máscara pas-sou a ser necessário, porém não obrigatório. “Culturalmente os japoneses usam máscaras quando estão doentes”, frisa Hosokawa. Esse hábito se dá até pela pela alta densidade demográfica no país e as consequentes aglomerações.

Diferente do Ocidente, países asiáticos apresentam um sistema de proteção e hábitos contra diver-sas doenças. Os japoneses cultural-mente não se abraçam na rua nem se cumprimentarem com beijos e apertos de mãos. Pareto ressal-ta que “de fato os asiáticos têm o senso de coletividade, o senso de disciplina, de autocontrole muito maior que o nosso. Isso ajuda em qualquer coisa”. Além do mais, o país sofre com problemas de ter-remotos, vulcões. Inclusive, o fator climático e natural interfere na dis-ciplina dessa sociedade, até mes-mo por se localizar em uma ilha.

Hosokawa exemplifica um dos hábitos nipônicos que corro-bora o combate ao coronavírus. “Os japoneses naturalmente se cumprimentam, curvando-se, sem

se tocarem. Beijos e abraços são tipicamente da parte do Oriente Médio, América Latina e Europa Oriental”, ressalta.

Dias atuaisAo contrário do século passa-

do, não há mais conflitos como à Segunda Grande Guerra ou ame-aças como a Guerra Fria, mas o mundo se encontra assolado por um vírus que aterroriza.

Não são todos os países que seguem a cultura de disciplina e respeito como o povo japonês. A terra do sol nascente permanece com tradições e comportamentos estabelecidos a partir de guerras. Hábitos que podem salvá-los.

A cultura de disciplina, rigor e distanciamento é encarada como vantagem no combate a diversas doenças. No Japão, desde a forma que eles se cumprimentam, até a maneira de pagar as compras, têm feito com que a taxa de letalidade pela covid-19 seja mínima.

O médico infectologista da Unicamp, André Giglio Bueno, comenta algumas das vantagens nipônicas no combate a infecções, já que no país o contato físico é considerado algo muito íntimo. “É normal que pessoas já tenham um certo distanciamento. Até a ma-neira deles se cumprimentarem é diferente. Estes aspectos culturais se tornam uma vantagem no com-bate às doenças, diferente do Bra-sil, onde estamos acostumados a abraçar, apertar as mãos e ficarmos próximos”, salienta.

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provocou a pandemia vigente. Se-gundo o Banco Mundial, o núme-ro de idosos no Japão representa 28% da população, fazendo com que o país tenha a maior popula-ção de idosos do mundo.

O arquipélago próximo da China intrigou o mundo com sua curva achatada referente ao núme-ro de infectados pelo novo coro-navírus. Em meio à crise de saúde mundial, o Japão mais uma vez se mostra uma nação mais forte que as adversidades e apresenta um baixo número de contaminados.

Os japoneses têm um progra-ma de discussão de políticas públi-cas que passa por outros tipos de doenças que se alastraram por lá durante o século 20. Esse progra-ma facilitou a defesa e controle dos japoneses em relação ao coronaví-rus. “Certamente eles têm muito mais condições de coletivamente se defenderem contra o vírus, do que o Ocidente liberalizado que acha que é imortal e que não tem vírus nenhum. Quer dizer, pelo menos boa parte do Ocidente pensa assim,” destaca Pareto.

Alguns países, por questões cul-turais, conseguem somente com orientações e medidas educativas fazer com que a população evite aglomerações. Porém, em outros lugares, medidas mais restritivas acabam sendo necessárias, como por exemplo o lockdown e multas, o que não é o caso dos nipônicos. Tudo isso em conjunto contribui para um baixo número de óbitos.

No Japão torna-se possível obser-var, de maneira clara, o impacto das questões culturais na temática da pandemia e esses velhos hábi-tos proporcionaram ao Japão uma realidade não tão nova assim.

Cultura sociológicaAlém da cultura de obediên-

cia e disciplina, o governo japo-nês ainda conserva os aprendi-zados obtidos com os ataques nucleares norte-americanos à Hiroshima e Nagasaki. Os bom-bardeios produziram uma nova mentalidade no povo japonês: a de investimento em tecnologias. De acordo com o sociólogo Ri-chard Leão, o Japão possui uma cultura caracterizada como a “cultura da preservação”, na qual aprenderam com os erros e não se envolveram mais em guerras, criando assim práticas pautadas no desenvolvimento tecnológico.

A sociedade japonesa introdu-ziu uma nova dinâmica nas rela-ções de trabalho com o toyotismo, modo de produção de acordo com a demanda, objetivando a não-a-cumulação de produtos e matéria prima. Os nipônicos impulsiona-ram o desenvolvimento tecnoló-gico voltado para o atendimento do cidadão comum. Além disso, os japoneses passaram a desenvol-ver uma nova mentalidade voltada para a preservação do outro.

Longevos japonesesExiste ainda outro fator deter-

minante na cultura japonesa que

fez com que a nação apresentas-se baixos índices relacionados ao coronavírus: a alimentação. Há-bitos alimentares saudáveis evi-tam a obesidade, fator de risco para a covid-19. Além disso, uma dieta adequada facilita o contro-le de doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes, confirma o infectologista André Bueno. Deter doenças crônicas de forma controlada significa um risco menor de adquirir a co-vid-19 com sintomas mais graves.

Do ponto de vista histórico, a disciplina Ajaponesa que envol-ve honra, senso de coletividade e responsabilidade, ajuda a com-bater o coronavírus ou qualquer outro tipo de intempérie. Em comparação aos brasileiros, os japoneses apresentam um posi-cionamento responsável em rela-ção ao vírus. Para Pareto, isso se dá por que “a própria população japonesa se conscientiza, fica em casa e se organiza para evitar a propagação do vírus”.

Hábitos que boa parte da população mundial precisou adquirir de maneira forçada fa-zem parte da rotina diária dos japoneses. Não é à toa que a expectativa de vida japonesa seja em média de 86 anos, a maior do mundo. Essa perspectiva de vida longeva apresentada hoje, encontra-se diferente da que os japoneses conheciam em 1945, no decorrer da guerra que os deixou sob ameaça.

no de 1%”, calcula o infectologista da Unicamp.

Ao redor do mundo, países adotaram diferentes estratégias para conter a pandemia e tentar minimizar a perda do bem mais valioso dos seres humanos: a vida. Tornou-se praxe que nações assu-mam o isolamento social, visando evitar aglomerações, pois, à medi-da que se reduz o contato entre as pessoas, faz-se possível controlar a transmissão da doença.

Alguns países, por questões cul-turais, conseguem somente com orientações e medidas educativas fazer com que a população evite aglomerações. No entanto, outras nações necessitam de medidas mais restritivas como, por exem-plo, o lockdown e multas, tornan-do obrigatório o uso de máscaras em qualquer ambiente.

O povo japonês em sua forma-ção a ética da responsabilidade. O doutor em Ciências Sociais pela Unesp, Richard Leão, enfatiza a diversidade entre os japoneses e os brasileiros. “É diferente da situação brasileira que não foi acometida por catástrofes naturais. Quando houve a gripe espanhola há cem anos, o brasileiro não aprendeu nada. Agora luta contra um inimi-go que também afeta a nossa pró-pria forma cultural de ser.”

Nova realidadeO Japão foi o segundo país a

ser afetado pelo sars-cov-2, causa-dor da covid-19, que por sua vez

Mesmo diante de um cenário caótico o país seguiu lutando.

Prova de que os japoneses prezam a

cultura de persistência e honra.

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criatividade para ajustar o cardápio. “Aqui adaptamos vários pratos, não pela falta de produto, mas pela culinária que é extremamente dife-rente.”, relata o sushiman.

Um exemplo das criações do chef Krysztal é o “Jô pistachi”, um o bolinho de arroz envolto de sal-mão com cobertura cream cheese e pistache moído, finalizado com maçarico e molho tarê.

Sushi à brasileiraO abrasileiramento da comi-

da japonesa não é só na forma de montar os pratos, mas também na modificação dos ingredientes que o compõem. Inserir frutas, usar outras proteínas ao invés do peixe e diferentes tipos de combinações são elementos explorados na cozi-nha. “Existem vários tipos de mis-turas: carpaccio, ceviche, mescla italiana, peruana, etc. É um meio infinito no Brasil, a criatividade vai além da tradição”, explica Krysztal.

Segundo Koichi Mori, pes-quisador de estudos da imigração japonesa no Brasil, a moda nos restaurantes se popularizou e, hoje, cerca de 75% dos restaurantes ja-poneses no estado de São Paulo fazem modificações no cardápio.

Em contrapartida, Fujino apre-senta outra visão sobre as adapta-ções. “Tenho dúvidas se os brasi-leiros realmente podem saborear o verdadeiro sabor da comida ja-ponesa. Eles comem comidas com tempero forte e a comida japonesa têm um sabor bem delicado. Só as pessoas que cresceram no Japão podem desfrutar do sabor autênti-co”, conclui.

JÚLIA PIO

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uma barca de opçõesComo os brasileiros adaptaram uma culinária que antes era considerada exótica

Os primeiros restaurantes japo-neses estabelecidos em nosso país tinham como objetivo atender aos imigrantes do Japão. Entretanto, foi em meados dos anos 80 que os brasileiros começaram a apreciar a culinária estrangeira. A introdução da população brasileira a pratos japoneses se deu através da apre-sentação da cozinha nipônica por meio dos nativos residentes no Brasil. Levavam colegas de traba-lho e subordinados para comer em restaurantes e foi assim que, pouco a pouco, brasileiros passaram a se interessar por esta gastronomia.

Enquanto a culinária brasilei-ra tem arroz e feijão como prato

principal, acompanhados de carne temperados com sal, alho e cebo-la, a culinária japonesa se baseia em uma alimentação com forte presença de frutos do mar, arroz, legumes e verduras. Os alimentos são temperados com shoyu (mo-lho de soja) e missô (pasta de soja). “Os brasileiros e os japoneses são o povo que mais comem arroz. Mas, a espécie de arroz e a maneira de preparar são diferentes”, descreve Masaaki Fujino, nativo Japonês.

Os brasileiros também pos-suem o costume de consumir pei-xe, mas enquanto os japoneses o comem cru, no Brasil é preparado cozido, frito ou, até mesmo, assa-

do. O sushi (peixe fermentado e arroz) e o sashimi (peixes e frutos do mar frescos, fatiados e servidos com algum tipo de molho) são tí-picas iguarias japonesas atrativas ao público nativo, mas que podem ser considerados estranhos na gastro-nomia brasileira.

Do garfo ao hashiOs restaurantes japoneses no

Brasil são caracterizados pela mis-tura de ambas culturas. Ao entrar nos estabelecimentos, os detalhes das combinações são notáveis des-de a arquitetura exterior ao design interior do local, os uniformes dos garçons, as opções de pratos dispo-níveis no cardápio e, até mesmo, na preferência dos hashis (palitos de madeira que substituem o garfo e faca) ao invés de talheres.

Os responsáveis que ficam na “linha de frente” desse choque cultural são chamados sushiman. Os profissionais da gastronomia especializados em técnicas e prepa-ro de pratos tradicionais japoneses também atraem brasileiros aos res-taurantes asiáticos. O convite é para contemplar a beleza da apresenta-ção dos pratos e degustar o sabor exótico da culinária japonesa.

“Sempre tempero bastante o peixe na primeira experiência do cliente, essa é uma boa técnica para introdução. Não deixa gosto do peixe cru na boca, que causa cer-to desconforto”, comenta Victor Hugo Krysztal, sushiman há mais de 20 anos na cidade de são Paulo.

Foi na hora de introduzir o bra-sileiro nesse novo estilo de cozinha, que os chefes tiveram que usar a

“Só as pessoas que cresceram no Japão podem desfrutar do

sabor autêntico”

VOCÊ SABIA?

O campeão de ven-das no Brasil é o sal-mão, pois ele é um peixe de cativeiro, não tendo gosto de

maresia

A arte do sushi está nos sabores do arroz japonês, nos peixes e na sutileza da apresentação

dos pratos

O nori (folhas de algas) é fonte de cálcio, ferro, vitami-na A entre outros

nutrientes

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A BORDO

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Caminho doGuerreiro

origem do termo artes marciais, ou “arte da guerra”, é vinculada ao deus da guerra greco-romano Marte, da mitologia grega. Eram artes ensinadas aos homens pelo deus Marte. O curioso, no entanto, é que não são os gregos fortalecem este co-nhecimento, mas sim os asiáticos.

Não se sabe ao certo como as artes marciais começaram a ser praticadas no Oriente, mas estudiosos relatam que, após o desenvolvimento agrícola no leste, os po-

vos utilizavam a “arte da guerra” para proteger os bens. Historiado-res confirmam que elas existem na Ásia há mais de cinco mil anos.Uma tradição milenar da nação.

Este tipo de prática começou a ser utilizada ao redor do globo por exércitos como parte do trei-namento de habilidades para guer-ras. Atualmente, o termo é usado para todos os sistemas de combate de origem oriental e ocidental com ou sem uso de armas tradicionais. No oriente existem outros termos mais adequados para a definição, tais como Wu Shu na China que significa “caminho do guerreiro”.

Luta como esporteAs modalidades esportivas que

têm origem nas artes marciais ba-seiam-se na defesa pessoal e têm como filosofia o enfoque princi-pal na formação do caráter do ser humano. No Japão, estas artes são chamadas de Bu-Dô ou “um cami-nho educacional através das lutas”.

O Bu-Dô, hoje, mantém as características técnicas de guerra tradicionais, mas tem como finali-dade o cunho educacional. Com a prática de suas técnicas, se cultiva o corpo, a mente e o espírito, pos-sibilitando a evolução do lutador.

Leonardo Oliveira, atleta e pro-fessor de kung-fu, conta que sua

vida se baseia nas filosofias das artes marciais desde os 5 anos de idade. Para ele, a maior dificuldade foi, e ainda é, encarar a luta como pro-fissão, pois a falta de patrocínio é comum, até mesmo com atletas de alto nível. “Apesar de ser algo belo de ver, atletas vivenciam uma roti-na muito intensa de horas de trei-namento e exaustão. Falhar com a disciplina pode colocar a carreira abaixo, já que ser atleta é trabalhar com seu corpo”, assegura.

KaratêA pequena ilha de Okinawa,

localizada ao sul do Japão, foi um centro de troca de cultura, conhecimento e tradição. Os ha-bitantes de Okinawa foram proi-bidos de portar qualquer tipo de arma. Criou-se então uma categoria de combate que utili-zava pés e mãos como forma de defesa. A palavra Karatê-Do se traduz em “mão chinesa”. Não se sabe ao certo quantos gêneros existem hoje, pois além dos esti-los tradicionais, existem também adaptações de diferentes regiões do mundo.

A história do mestre Gichin Funakoshi se confunde com a pró-pria história do karatê, por isso a ele é creditado o título de “pai e mestre do karatê moderno”, de-

O Bu-Dô, hoje, mantém as características técnicas de guerra

tradicionais, mas tem como fi nalidade o cunho educacional

vido aos esforços em divulgar esta arte ao mundo.

Após a derrota japonesa na Se-gunda Grande Guerra, as forças norte-americanas dominaram o Japão e proibiram a prática do ka-ratê. Porém, alguns alunos do mes-tre Funakoshi convenceram que o karatê era um esporte inofensivo. Além disso, alguns soldados nor-te-americanos se interessaram em aprender aquela nova arte marcial. Assim, com a imigração japonesa, o karatê se propagou pelo mundo ganhando adeptos de várias nações.

Arte suave letalO jiu-jitsu tradicional é uma arte

marcial que utiliza alavancas, pres-sões e projeções para dominar o oponente usando golpes traumáti-cos. Durante o período dos samu-rais no Japão, o combate tradicional de jiu-jitsu terminava, na maioria das vezes, com a morte de um dos competidores. Mas em 1850, as competições passaram a ter cunho mais esportivo, assemelhando-se às praticadas no judô, aikido e karatê.

Segundo alguns historiadores, o jiu-jitsu ou “arte suave” nasceu na Índia e era praticado por monges budistas. Preocupados com a auto-defesa, os monges desenvolveram uma técnica baseada nos princípios do equilíbrio, evitando o uso da

A

As artes marciais se baseiam na fi losofi a de um caminho de paz e harmonia entre as pessoas para a nãvo-violência e para a paz interior

REBECA QUEIROZTHAINA REIS 15MIN

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Ideologia das lutasA filosofia nas artes marciais

aponta para um caminho de paz e harmonia entre as pessoas, para a não-violência e paz interior. O pensamento de disciplina, respei-to, a busca pela perfeição e o de-senvolvimento do caráter são as principais bases. O judoca da sele-ção brasileira, Daniel Cargnin, tem o sonho de participar das olim-píadas. Há quinze anos a luta faz parte de sua rotina. “Meu sonho é ganhar uma medalha olímpica. Com isso, me tornei mais respon-sável. A cada queda eu me levan-tava e ficava mais forte. É isso que me motiva hoje.”

Segundo o ex-lutador e profes-sor de jiu-jitsu e judô, Krauss Man-sor, as artes marciais o ajudaram a diminuir os ímpetos. Para ele, qualquer um que comece a lutar aprenderá valores fundamentais. Disciplina, autoconfiança, auto-controle, humildade e hierarquia para com os outros. “Toda essa agressividade que eu tinha, aprendi a controlar”, explica.

As artes marciais japonesas que utilizam o Bu-dô como for-ma de filosofia são o judô, karatê, kung-fu, jiu-jitsu e outras. Dentre essas artes do Bu-dô as modali-dades olímpicas são o jiu-jitsu e o judô. Apesar de serem conside-radas artes marciais modernas, as técnicas são antigas. Os conceitos e finalidades da prática se adap-taram na busca pela evolução do ser humano como um todo.

“Não desista. Começos nunca são fáceis, mas

você vai melhorar. Mantenha-se fi el

aos seus objetivos”

força e de armas. Com a expansão do budismo, o jiu-jitsu percorreu o Sudeste asiático, a China e, final-mente, chegou ao Japão, onde se desenvolveu e se popularizou.

A história do jiu-jitsu no Brasil se relaciona com a Escola de Judô Kodokan em 1882. Jigoro Kano desenvolveu um método reunindo as técnicas menos perigosas do jiu-jitsu, o domínio da luta tanto em pé como no solo.

Em 1914, Mitsuyo Maeda chega ao Brasil e foi recebido por Gastão Gracie. Para agradecer a hospitalidade de Gastão, o mestre de judô lhe ensinou a nova arte marcial do jiu-jitsu. Em meados do século 20, Carlos Gracie transmitiu os seus conhecimentos marciais aos irmãos. Ao aprofundar os estu-dos, os irmãos Gracie desenvolve-ram o jiu-jitsu brasileiro.

A maior diferença entre os es-tilos tradicionais é o fato de que os japoneses privilegiam as quedas, enquanto a técnica dos Gracie, as lutas no chão. Nessa arte, as gradu-ações também são diferentes, com maior vínculo aos usos e tradições japonesas. Atualmente é uma das artes marciais que mais cresce em todo o mundo e a prática atrai mi-lhares de adeptos da modalidade.

Caminho suaveCriado pelo jovem Jigoro

Kano, o judô surgiu dos estudos de antigas formas de autodefesa baseadas em leis de dinâmica, ação e reação. O mestre selecio-nou e classificou as melhores téc-

nicas de jiu-jitsu em um novo estilo chamado de judô ou “caminho suave”. Kano fundou o Instituto Kodokan, que significa “um lugar para estudar o caminho”.

Além de tornar o ensino da arte marcial um esporte, Jigoro Kano desenvolveu uma linha filosófica baseada no conceito ippon-shobu (luta pelo ponto perfeito) e um có-digo moral. Assim, ele pretendeu que a prática do judô fortalecesse o físico, a mente e o espírito de forma integrada. Com o trabalho, Kano conseguiu criar uma modalidade que não se restringe a homens com vigor físico, estendendo-se à mu-lheres, crianças e idosos de qual-quer altura e peso.

Mestre Kano tornou-se o pri-meiro membro asiático do Comitê Olímpico Internacional em 1909 e trabalhou para a propagação do esporte no mundo todo.

Mulheres no tatameKeiko Fukuda, figura que lutou

contra estigmas e tabus para se tor-nar a primeira e única mulher do mundo a atingir a faixa preta, o 10º dan no judô, foi responsável por popularizar esta arte marcial que era praticada por pouquíssimas mulheres. Fukuda frequentoua escola de judô fundada por Kano quando tinha 21 anos. Muito ta-lentosa e perspicaz, ela aprendeu rapidamente o judô e, em pouco tempo, passou a ensiná-lo.

Antes do judô, ela cumpriu o destino das mulheres japonesas, aprendendo, até mesmo, a cerimô-

nia do chá. Já estava prometida em casamento a um homem quando mudou o destino ingressando na escola de Jigoro Kano e se tornan-do pioneira no judô feminino.

Ela faleceu em fevereiro de 2013, mas seu trabalho é conside-rado fundamental para que o judô atingisse o patamar de hoje. Jone Murua, faixa branca em jiu-jitsu, afirma que começou a lutar por-que queria ser capaz de se defen-der em situações de risco. A atleta latina revela os principais obstá-culos das artes marciais. “Lutar o tempo inteiro com homens é um desafio.” Ela explica que, na maio-ria das vezes, compete com mais homens que mulheres. Jone dei-xa uma mensagem para mulheres iniciantes na carreira: “Não desista. Começos nunca são fáceis, mas você vai melhorar. Mantenha-se fiel aos seus objetivos”, aconselha.

No livro “Mulheres no Tata-me”, as autoras Gabriela Souza e Ludmilla Mourão comentam que a diferença entre os gêneros, na luta, muitas vezes foi interpretada como incapacidade da equipe fe-minina, desestimulando as atletas. Catarina Costa, judoca da seleção portuguesa, pratica o esporte há treze anos. Para ela, o judô faz par-te da identidade. Catarina admite que seu tamanho interferiu na luta. “A maior dificuldade no início foi o fato de ser pequena e isso ser uma desvantagem quando lutava com os meus colegas, mas com oa anos competi com adversários do mesmo peso e categoria”, declara.

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deles é que as mulheres japonesas ocupem um espaço de destaque no futebol mundial,” afirma Anderson Passos, ex-jogador e ex-empresário de jogadores.

Em 2012, durante a cerimônia de melhores do mundo da FIFA, Homare Sawa, meia do time, foi eleita a melhor jogadora da Copa e também, recebeu a chuteira de ouro, como a maior goleadora da competição. O técnico das Na-deshiko na época, Norio Sasaki, foi premiado como melhor treinador.

Jogada de igualdadeNo ano de 2018, foram campe-

ãs da Copa do Mundo Feminina sub-20. Essas conquistas tornaram o Japão o primeiro e único país a ser campeão mundial em todas as categorias da Fifa no futebol femi-nino: profissional, sub-20 e sub-17. Alan Tamia, empresário e agente de futebol, explica o contraste en-tre o Japão e o Brasil. No Japão, “a maioria dos clubes são empresas. Diferentemente de outros países, o investimento é feito anualmente, mediante uma verba a ser gasta.” Além do mais, Tamia acredita que as condições são diferentes, pois “elas (japonesas) são muito aplica-das e determinadas”.

Mesmo que seja em passos lentos, o cenário tem se transfor-mado. Atualmente, as japonesas são lideradas por Asako Takaku-ra, ex-jogadora e responsável pela conquista da Copa do Mundo da categoria sub-17 em 2014. E Norio Sasaki, ex-técnico da seleção, têm trabalhado na direção de um proje-to de profissionalização do futebol feminino no país.

NA ESPORTIVA

ÊMILI VIANA

10MIN

nadeshiko: beleza em campoA ascensão e os desafi os das japonesas nos gramados mundiais

O futebol feminino no Japão teve início em 1980, com o primei-ro campeonato nacional. Algum tempo depois, já no final da déca-da (em 1989), houve a criação do primeiro torneio do país: a L. Lea-gue, atualmente composta por três divisões com 32 times cada. Alguns desses times, os que lideram a liga, possuem muitos torcedores. Uma curiosidade a respeito das equipes é em relação aos nomes escolhi-dos. O maior campeão da Liga, o clube NTV Beleza, utilizou o Bra-sil como referência. Há também outros times “aportuguesados”, como o Nagano Parceiro, Orca Kamogawa e Okayama Charme.

No Japão, o futebol feminino se popularizou por meio das me-dalhas conquistadas nos Jogos Asi-áticos e na Copa Feminina Asiática. A seleção passou a ser reconhecida no país. Por isso, a Associação Ja-ponesa de Futebol (JFA) disponibi-lizou uma consulta pública, a fim de escolher um apelido carinhoso para o time nacional. Em 7 de julho de 2004, as jogadoras receberam o apelido de Nadeshiko (espécie de flor). O nome é derivado da expres-são Yamato Nadeshiko, que signifi-ca “mulher japonesa perfeita”.

Mais medalhasAté 2009, as japonesas só ti-

nham alcançado as medalhas de

prata e bronze. Contudo, a as-censão do esporte veio a partir de 2010, quando a seleção conquistou a medalha de ouro nos Jogos Asi-áticos pela primeira vez. Durante suas cinco participações em copas, o máximo que o Japão conseguiu foram três vitórias. O mais próxi-mo de uma final, foi às quartas de final em 1995, quando foram der-rotadas pela seleção americana.

O ano de 2011 foi muito difícil para os japoneses. No dia 11 de março, o país enfrentou o aciden-te nuclear de Fukushima Daiichi, ocorrido na Central Nuclear de Fukushima I, causado pelo der-retimento de três dos seis reatores nucleares da usina. Além disso, também houve um sismo e um tsu-nami no país, causando milhares de mortes. No mesmo ano, a partir do dia 26 de junho, começaria a Copa do Mundo Feminina.

Reviravolta em meio ao caosMesmo muito abalada, dadas

as circunstâncias, a seleção japo-nesa participou da Copa. O time obteve um bom desempenho nos jogos e chegou à final. Em um jogo acirrado contra as americanas, a vi-tória foi decidida nos pênaltis com placar final de 3 a 1. Pela primeira vez na história, a seleção japonesa foi campeã mundial. Essa vitória trouxe felicidade aos japoneses, afinal um orgulho nacional, uma história mundial, incentiva uma sociedade a se reestruturar. “Os japoneses são muito evoluídos em todos os sentidos, então para eles é uma conquista ver as mulheres praticando esportes em alto nível como o futebol. (...) O objetivo

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“A globalização do futebol ela foi uma só em todos os lugares. A diferença está na

adaptação”

VOCÊ SABIA?

Em uma recente aná-lise feita pelo Fórum Econômico Mundial, o Japão ocupa o 121º lugar no Índice Global de Desigualdade de

Gênero

A história que as Nar-deshiko estão escreven-do ao longo dos anos, está sendo uma gran-de marca na história do

Futebol Feminino

“As mulheres que que-rem conseguem. Pois elas não procuram o fu-tebol como uma fonte de renda, e sim porque querem praticá-lo com

excelência”

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realizar seus sonhos. “Eu não sabia a língua, não tinha amizades com ninguém, então eu queria esse de-safio para mim. Por isso eu escolhi o Brasil para me testar”, relata.

Ele trabalhou em uma agên-cia japonesa chamada Jica, uma empresa de capital misto com o governo, mas que faz trabalhos dentro do território brasileiro. Ma-chida passou por várias dificulda-des. Dentre elas, o fato de não falar português e por isso ele carregava um dicionário no braço esquerdo para conseguir se comunicar.

Fenômeno dekasseguiTermo formado pelos japone-

ses, dekassegui tem como significa-do literário “trabalhando distante de casa”, ou seja, são pessoas que deixam sua terra natal para traba-lhar em outra região ou país. No Brasil essa pronuncia se originou no inicio dos anos 90, para deno-minar os descendentes japoneses que passaram a imigrar para o Japão. Rubens Arakawa, filho de japonês, trabalhou por alguns anos como dekassegui. Segundo ele, os trabalhos feitos pelos descenden-tes normalmente são serviços que os japoneses não querem fazer.

Os dekasseguis brasileiros ocu-pam o terceiro lugar no ranking de etnias que compõem a população japonesa, perdendo somente para os chineses e coreanos. Muitas das vezes, esse caminho realizado pelos descendentes se dá em de-corrência de crises econômicas, ou seja, eles procuram em outra nação uma melhoria de vida.

ANDREZA MELO

10MIN

Laços de amizade entre dois Em 1908 os primeiros imigrantes japoneses chegavam a bordo do navio Kasato Maru

A história da imigração japo-nesa teve seu marco inicial em 18 de junho de 1908 com a chegada do navio Kasato Maru. A embar-cação trouxe 165 famílias em uma viagem que durou 52 dias. Nesse momento os primeiros imigrantes, vinculados ao acordo imigratório, se estabeleceram nas fazendas de café no estado de São Paulo para trabalhar em atividades agrícolas. Marcos Bigotto, professor de his-tória da escola José Marcilliano da Costa Júnior, explica que a vinda dos imigrantes japoneses aconte-ceu por interesse dos dois países. Ou seja, o Brasil precisava de mão de obra para trabalhar nas fazen-

das de café e o Japão, por possuir um alto índice demográfico, neces-sitava aliviar a tensão social.

Dentre os destinos dos japone-ses, o Brasil se destaca, abrigando a maior população de imigrantes e descendentes fora do Japão. Se-gundo Bigotto, o termo imigrante é bem conhecido no território bra-sileiro, já que o país recebe migran-tes de todas as partes do planeta.

Este ano, as relações diplomá-ticas entre as duas nações comple-tam 125 anos. Em 5 de novembro de 1895, os dois países, junto ao go-verno francês, firmaram o tratado. Essa aliança criou uma relação de amizade entre o Japão e o Brasil.

Difi culdades enfrentadasNo entanto, a história da imigra-

ção japonesa para terras brasileiras foi marcada por inúmeras dificul-dades, a começar pelo trajeto entre os países, já que existe uma grande distância entre ambos. Os imigran-tes ficavam meses dentro de um navio, situação muito desgastante. As dificuldades aumentavam ainda mais quando eles desembarcavam em solo brasileiro.

Atualmente os japoneses pos-suem uma forte ligação com o Bra-sil e com a cultura. Naquela época, eles se depararam com problemas de adaptação diante de uma reali-dade totalmente desconhecida. A língua portuguesa se tornou um fator primordial entre todas as di-ficuldades relatadas, porém, a cul-tura, os hábitos alimentares e o cli-ma também eram obstáculos para muitos dos novos chegados.

Yoshizo MachidaConsiderado um dos mais res-

peitados professores de Karatê do Brasil, Yoshito Machida foi um dos milhares de imigrantes japone-ses que deixaram a terra natal para viver em um país desconhecido. Machida resolveu se aventurar nas terras brasileiras em 1968, com apenas 21 anos de idade. Quando estava prestes a terminar a faculda-de de Engenharia, surgiu a oportu-nidade de trabalhar no Brasil.

O mestre do karatê escolheu o território brasileiro como uma for-ma de testar a si mesmo. De acor-do com ele, este era um país de oportunidades, onde ele poderia

Em 5 de novembro de 1895, os ministros ple-nipotenciários dos dois países, junto ao gover-no francês, fi rmaram o

tratado.

VOCÊ SABIA?

O Brasil precisava de mão de obra para tra-balhar nas fazendas de café e o Japão, por possuir um alto índice

demográfi co.

Yoshito Machida foi um dos milhares de imigrantes japoneses que deixaram a terra natal para viver em um

país desconhecido.

Os primeiros imigran-tes, vinculados ao acor-do imigratório, se esta-beleceram nas fazendas de café no estado de

São Paulo.

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DE PRAXE

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Samuraismodernos

Como a mentalidade japonesa feudal

se fundiu à ideias modernas da

indústria para criar atletas

Quando o nome Japão é ci-tado, uma explosão de imagens acontece em nossa mente. É difícil ter uma conversa sobre a organiza-ção do Brasil e não levantar o país como exemplo. Nos esportes não são diferente. Através de conquis-tas nos jogos olímpicos, a excelên-cia em artes marciais e a impor-tação de esportes estrangeiros, o Japão mostrou que sua filosofia e estrutura social é capaz de superar qualquer desafio.

A tradição do Japão nos es-portes remonta ao início da Era Feudal, em que foram criadas as bases para algumas das artes mar-ciais que hoje são esportes. Sendo assim, a mentalidade japonesa, tan-to no esporte quanto em qualquer outra atividade, teve a sua influên-cia inicial no Bushido, o código de honra dos samurais da época. Entre as artes marciais transforma-das em esporte, está o kendo, o jiu-jitsu, o judô e o karatê, que apesar de não ser uma arte marcial criada por samurais, também seguia seus princípios filosóficos.

Com a derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão precisou rever os conceitos que o guiavam. Sua mentalidade de honra fez com que a rendição aos Estados Unidos se transformasse numa parceria. Começou assim o salto de desenvolvimento econômico, tecnológico e a importação de as-

pectos culturais, como o esporte. Além de seus esportes tradicionais, o Japão começou a se destacar em segmentos estrangeiros, como o beisebol e o futebol.

Esse vasto crescimento nos es-portes foi possível através da união dos ideais tradicionais, tais como: construção do caráter, busca da ex-celência e conceitos modernos da indústria japonesa, principalmen-te os criados por Toyoda Ohno, fundador de uma das maiores montadoras responsáveis pelo crescimento do Japão pós-guerra, a Toyota Motor Company.

O conjunto de ideias que re-gem este sistema é conhecido como Kaizen. Essa filosofia não é aplicada apenas na indústria, mas em qualquer atividade profissional. Cito três conceitos interessantes:

1) Terminar as tarefas na hora certa (nem antes, nem depois) - quando um atleta japonês tem de cumprir uma meta, organiza sua vida para cumprir no momento certo. Comportamento conhecido por estrangeiros, que enxergam como “pontualidade”.

2) Reconhecer o erro: quando um atleta japonês erra, ele expõe isso a colegas e treinadores.

3) Sempre melhorar: a filosofia Kaizen diz que você deve buscar o aprimoramento, aproveitando as falhas como uma oportunidade.

Através destes preceitos, o Ja-pão foi capaz de superar grandes crises sociais e econômicas e tam-bém conseguiu dar exemplo ao mundo de espírito esportivo, hu-mildade e resignação.

LUCAS ABRAHÃO

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PENSANDO BEM

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O mestreakira

kurosawaAs técnicas

de Kurosawa infl uenciaram o

cinema ocidental e incitaram à era de ouro

do cinema japonês

Em 1998 eu nascia. Neste mes-mo ano o mundo perdia um dos maiores diretores da história do cinema: o japonês Akira Kurosawa (1910-1998). Ele e sua primeira obra aclamada mundialmente, “Às Portas do Inferno” (Rashômon, 1950), incitaram à era de ouro do cinema japonês.

Como diria o cineasta america-no, Francis Ford Coppola, Akira Kurosawa se tornou inesquecível pelo fato de que não deu vida a apenas uma ou duas obras-pri-mas, mas sim a oito. Coppola não chegou a listar quais seriam elas, mas me atrevo a sugerir: Rashô-mon (1950); Viver (1952); Os Sete Samurais (1954); Trono Mancha-do de Sangue (1957); Yojimbo – O Guarda Costas (1961); Dersu Uza-la (1975); Kagemusha - A Sombra do Samurai (1980) e Ran (1985).

O ator Toshiro Mifune pro-tagonizou grande parte das obras que mencionei. Deu vida, de for-ma extraordinária, aos tantos per-sonagens criados por Akira, que lutaram contra as desigualdades sociais e a favor de causas, além daqueles que tinham dificuldades de se inserir em culturas diferen-tes e que constantemente refletiam sobre o sentido da vida. Tais temas eram frequentes nos roteiros de Kurosawa e, combinados à sua ori-ginalidade e brilhante direção, lhe renderam muitos prêmios.

No entanto, o que mais me impressiona em toda a bagagem

e ensinos deixados pelo diretor ja-ponês é o fato de que ele sempre se demonstrou conectado à sua cultura, povo e história. Ele manti-nha o ocidente e o oriente lado a lado, sem o menor sentimento de conflito, mesmo após os atentados liderados pelo Estados Unidos.

Outro fato interessante sobre ele é que nunca hesitou em tra-balhar com temas historicamente fortes, tal como o bombardeio de Nagasaki. No filme Rapsódia em Agosto (1991), o cineasta retrata uma senhora japonesa, marcada pelas lembranças da bomba. Em entrevista ao escritor Gabriel Gar-cia Marquez, ele revelou que neste filme pretendia transmitir os tipos de feridas que a bomba atômica deixou no coração do povo japo-nês, e como elas, gradativamente, começaram a se fechar.

Devo ainda dizer que enquanto escrevo, mal consigo conter o entu-siasmo em falar de Kurosawa e suas importantes contribuições ao cine-ma ocidental. Antes de concluir me sinto na obrigação de deixar ao menos uma delas: o japonês foi o pioneiro nos deslocamentos de câ-meras usados hoje em Hollywood e no cinema ocidental.

Vale ressaltar que a descoberta do cinema japonês pelo ocidente, impulsionada principalmente por Kurosawa, se configura o maior acontecimento cinematográfico mundial desde a eclosão do neor-realismo italiano, mas isso é assun-to para outra edição. Por ora, fica o convite para dar uma chance às obras do mestre.

LETÍCIA LEME

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PENSANDO BEM

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