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ÀV.RIO BKAKCO, 213-39

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SETEMBRO, 9-1943 N> 167-

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ESPECIAL:

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nao morreu nem en-sariihou armas!tó

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íEntreviata com o coronelHutnik ej« tenente Nekola,

adido-, uuutare« tcuecoslG-ft.j. vaeos)

A invasão da Itália(Crônica de Xemo Canabarro,especial para-DIRETRIZES)

+¦ ¦ ' . ¦:'-- ¦' é, '¦

Mulheres espanholasi *s na prisão

.^4 (Impressionante relato sobrea vida nas prisões de

Franco)'-'¦(¦

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NO SUPLEMENTOLITERÁRIO

Um mundo perfeito(Conto de Lia Corrêa Dutra)

Um governo deve sairdo povo como a fu-

maça de umafogueira

i Sensacional entrevista com. Monteiro Lobato)

T. r$. Eliot e a ge-* ração solitária

(Pelo ensaísta mglèsEáWin Muiri

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PR0B1FMA OA UNIDADEJ^ESDE que o Brosil reconheceu o estado de beligerân-

cia cem o Eixo, a unidade nacional se impõe comemeio precisamente para se fazer a guerra. Acontece, entre-tanto, que as divergências sobre a forma mesmo dé reali-zar-se essa unidade não foram até boje liquidadas.A guerra atual, sendo de independência nacional,

pois se acha ern perigo a nossa independência como na-çaa, e ao mesmo tempo anti-fascista, pois o perigo temsua origem no regime fascista de ação expansionista mun-dial. Ninguém pode desprezar esse sentimento políticodo conflito.

A unidade nacional, para levar a efeito uma guerradeste caráter, teria ou terá de ser, obrigatoriamente, debase muito ampla e efetiva, mas também anti-fascista.Que esse objetivo não é entre nós fácil de ser atin-

gido indica nitidamente a experiência de um ano de luta.O balanço desse período de árdua peleja revela que as dis-sençoes permanecem, as competições pessoais não se aca-baram, o egoísmo cios políticos não cedeu lugar ao amorda patna . Por isso mesmo o que se apresenta como uni-dade nacional é qualquer coisa análoga ao famoso cavalode Tróia, em cujos vísceras se acomoda, solerta e ruminan-te, a quinta-eoluna .

Ora, quando se diz unidade anti-fascista náo se en-tende, nem se admite como tal uma unidade esquerdista.Deve ser uma unidade bastante ampla, sem sectarismo,por isso mesmo sem eliminar as diferenças ideológicas oude tendências políticas; um bloco amistoso e sólido, de queparticipem todos os que odeiam de fato o fascismo e quei-ram defender a pátria e a democracia. Os fascistas nãopodem participar dessa unidade, porque eles encarnam oinimigo. Por igual não o podem os filo-fascistas, porqueo seu coração se inclina para o inimigo. Excluindo estester-se-á, entretanto, posto foca da unidade nacional e anti-fascista apenas a súcia da quinta-eoluna. Nada mais.

Pretender a unidade nacional, sem a exclusão de taiselementos, é o mesmo que não querer a unidade. Primei-ro, porque numa unidade nacional, com a quinta-eolunadentro, com os seus disfarces, as suas astúcias e o seu ei-nismo, os democratas e anti-fascistas, os amantes da liber-dade não podiam permanecer, seriam afastados e calunia-doi exatamente pela quinta-eoluna, como aliás tem acon-tecido. Segundo, porque a principal tarefa da quinta-co-íuna e impedir, por esse ou aquele meio, que a guerracontra o Eixo se desenvolva à base da unidade interna anti-• fascista, torne-se concreta e dinâmica capaz de apressar amorte do fascismo. De modo que a quinta-eoluna, os fas-

pstas e íilo-fascisfas, no movimento de unidade nacionalcom as suas máscaras "democráticas", "social.stas" oucolehvistas", nada mais fará do que sabotar o esforço de

gueTra, a começar pela sabotagem da verdadeira un/dadenacional e anti-fascista.Mas, dirão: — nem todos os que não querem a uni-dade nacional com o caráter ant*-tqsc.sta não são fascis-tas e teem demonstrado mesmo inclinações democráticas

Ainda que assim seja, e aceitamos como honesta a obser-vaçao, devemos responder que tal unidade, limitada entrepessoas escolhidas, será uma unidade sem vida e até con-tradirória. Porque, quando não se quer que ela seta anti-fascista para que dela não participe o povo — e é o qu-acontece ¦-— ter-se-á excluído a maioria da nação, e náose pode, assim, chamá-la nacional.

A unidade nacional e anti-fascista somente se farácom o povo. Nenhum governo pode vencer o fascismo sema colaboração popular. Do mesmo modo nenhum governopode defender a independência nacional sem o apoio po-pular. E , portanto, o povo a verdadeira base da unidadenacional para a guerra contra o Eixo.A guerra a que fomos arrastados é uma só. Não se

pode atribuir-lhe caracteres diferentes para atender a ne-cessidades ou conveniências diferentes. Ela é uma guerradesencadeada pelo fascismo contra a independência dasnações livres e pela implantação do fascismo, que é a armade destruição dessa independência. E', portanto, contra ofascismo, antes de tudo, que deve ser dirigida a guerra.Ele o o verdadeiro inimigo. E' contra ele que todos os po-vos livres fazem a guerra. E' por isso ao,mesmo tempooue a quinta-eoluna se esforça para que a guerra não se-faça como deve ser feita — sem hesitação, sem piedadecontra o fascismo.O exemplo para a formação de uma verdadeira uni-dade nacional democrática vamos encontrá-la é em 1930.A Aliança Liberal congregou em suas fileiras, sob os es-tímulos de um programa democrático e progressista e da

presença nela da jovem ala tenentista treinada na açãoe na luta ao lado do povo, as camadas mais diversas e pro-fundas da população. E a prova de que os tenentes, fiéisoos princípios democráticos e às reivindicações populares,ainda desfrutam de grande prestígio coletivo, temo-lo, pareicitar apenas um exemplo, em Alcides Etchegoyen, 'honra

autentica do tenentismo, à frente de um cargo público dosmais ásperos e difíceis. ,^A vitória popular de 1930 é ainda ho(e como um soliluminando o caminho da unidade nacional para uma cau-sa que tem raizes longas e fortes no coração das grandesmassas do Brasil: a guerra contra o fascismo e pela res-tauração das liberdades populares, pela verdadeira demo-

cracia. A unidade nacional deve ser plasmada pelas mãosdo povo e de seus líderes legítimos.

L^jJlr AN0 Vl SETEMBRO, 9-1943 N.« 167

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lutando contra o Eixo.

A TCHECOSLOVÁQUIA NÃONEM ENSAR HOU

MORREURMAS!

fNJ AS terras da Bohemia eMoravia vive há séculos

um povo que se formou comonacionalidade trabalhando te-nazmente, elevando seu pa-drão de vida e desetr/olvendosua* letras, suas ciências esuas artes, asse povo consti-tuiu uma literatura própria,escrita em duas línguas irmãs,dois verdadeiros dialetos, quese distinguem apenas pornuances de pronúncia e quesão falados e compreendidosfacilmente pelos habitantes deuma e de outra região.

Entre os Séculos XII e XÍIIentraram na Bohemia os pri-metros colonizadores germà-nicos. Foram convidados pelosreis bohemios que desejavamsua ajuda para a exploraçãodas minas de prata existentesno pais.

De 1373 a 1415 houve naBohemia e na Moravia mulongo e aceso conflito religio-so. Chefiava essa rebelião JoãoHuss. filho de camponeses, quese tornou popular como prega-dor do Cristianismo. Falava alíngua do povo e era por Issoouvido e acatado pela genteda terra. Tanto bastou paraque o Concilio de Constânciao declarasse hereje. mandan-do queima-lo numa das fo-gueiras da Santa Inquisição.O povo da Bohemia e da Mo-ravia empenhou-se então nu-ma de suas primeiras lutas pc-Ia liberdade de crença Era aprimeira nação, em pleno obs-curantismo da Idade Média, acombatei por suas própriasconvicções em mataria reli-giosa.

Em 1526, tornando-se vagoo trono da Bohemia. nela sen-tou-se apressadamente o Ar-quiduque Fernando da Aus-tria. alegando direitos de heré-ditariedade. Inaugurou-se en-tão, no país que mais tardeseria a Tchecoslováquia. umalonga era de opressão, de per-seguições religiosas, de lira:-tacão de direitos, de estranirii-lamento de legitimas prerro-gativas populares. Era a pri-melra tentativa de germani-zação do país pela força, atra-^és da política seguida pelaCasa de Habsburgos. Jã na-

Sobre a imlenie resistência de seus compatriotascontra a dominação hitterista, falam a DlRETRl-ZSS o coronel Cenek Hutnik e o tenente RudolfNekola. "attachés" militares tchecoslôvacos. 4 mis-sao desses soldados no Brasil é incentivar a colabo-ração dos dois paises na luta pelo eamagamento danazi fascismo e na reconstrução do mundo, no após-guerra. Acham eles que as nações responsáveis pe-los problemas da paz. imbuídas de espirito progres-sista, devem agir em estreita colaboração com to-dos os povos, sem que haja preponderância de ne-iihum governo sobre os demais. "Entre as naçõesdeve também haver igualdade" — afirmam. E acres-centam: "O sacrifício dos que tombaram e dos queainda morrerão nesta guerra deve ser respeitado tnão deve tornar-se inútil. Nenhuma fórmula cola-boracionista còm os "gangsters" do Eixo deve sertolerada".

quela época, entretanto, o po-vo da Bohemia e da Moraviapossuía uma tradição de lutapela independência nacional econtra a opressão.

Em fins do século passado cno começo do século XX sur-gm no cenário político daBohemia e da Moravia a fi-gura de Massaryk, outro filhodo povo. como João Huss, poiso pai de Massaryk era cochel-ro. Trabalhador e estudioso,tornou-se dentro em pouco umativo lutador contra a auto-cracia de Viena e pela liber-dade de uma nova pátria deuma nova nacionalidade, queseria mais tarde a Tch.eçoslo-váquia. Massaryk em poucotempo congregou em torno desuas idéias as seus melhorescompatriotas, depois cie de-nunciar, publica e corajosa-mente, os Habsburgos como"uma corruta relíquia da IdadeMédia".

Depois veio a guerra. Mas oimperador Francisco José nãoconseguiu mobilisar o povoadaBohemia e da Moravia para agrande aventura em que seempenhava, ao lado de G*>i-lherme II. Os futuros eida-dãas da Tchecoslováquia. jáentão possuidores duma escla-recida conciência política,desertavam das hostes do ve-lho imperador e se passavam

para o lado dos que lutavamcontra os Impérios Centrais.Depois. Massaryk surgia àfrente do Comitê Revoiueipnâ-rio. secretariado por EduardoBénes, Mais tarde Massarykseria eleito presidente da no-va República, em pleito livre,pelo seu povo. A República daTchecoslováquia nascia comum programa de liberdade deorganização, liberdade de dis-cussão e de critica. Pela Cons-tituição da República (-entro-européia o Estado devia pro-teger o povo e não enquadra-Io num regime de exploraçãoeconômica e de opressão poli-tica.

Nada mais falso, portanto,do que apresentar a Tchecoslo-váquia como uma nacional;-dade artificial, saida de ,:mconluio, do Tratado de Ver-salhes. E justamente nor s,*risso uma falsidade, cònstitueessa in verídica versão uma dasteclas mais repetidamente fc3-tidas pela propaganda de Hi-tler.

Mas. vinte anos depois daprimeira guerra mundial.grandes modificações tinhahavido na política do VelhoMundo. E a República de Mas-saryic e de Benes estava cer-cada por governos ditatoriais

(Continua na pág;. S>

PAGINA 2 DIRETRIZES 9/9/1943

Governo eE

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scritoresO sr. Gilberto Freyre, que

escolheu a posição que todosnós esperávamos de um so-

ciólogo ede umverdadei-ro escri-tor, es-c r e -veu, hápoucoum pe-que-

no oii.j.j icferindo-se ao"elogio dei escritor" feito pe-Io Presidente da RepúblicaMexicana, sr. Ávila Cama-cho. Diz o autor de "Caso

Grande e Senzala": — "Fei-

to por um homem de palavracouta e justa, corYio o atualpresidente do México — umhomem que não é nenhumorador fácil e tronsbordantede adjetivos — o "elogio deiescritor" impõe esse militar eestadista fora do comum ásimpatia de todos os escrito-res americanos, de todos osescritores modernos.

"Para ele o novo Méxicoestá nascendo menos entre asmãos dos políticos, dos indus-triais, dos militares, que en-tre as mãos dos escritores cdos artistas. São, de todas asmãos as mais criadoras. Asmais cheias da capacidade, dofervor e da responsabilidadede dirigir a formação de u"ipovo, de marca-la com os si-nais de terra natal e, ao mes-mo tempo, de orientá-la paraa fraternidade com que osOutros povos".

Sente-se que já existe en-tre o governo mexicano e osescritores deste país uma iden-titicação que é o maior elo-gio dos regimes verdadeira-mente democráticos. A liber-dade de pensamento caracte-riza a situação atual das le-trás mexicanas que, por is-to, adquirem nas Américasurna admirável força e umaviva aproximação com o po-vo, sem o que não é possívela existência de uma literatu-ra de caracter e fiel ao seutempo.

Os escritores mexicanos nãoprecifiom corromper-se, nãoprecisi»BH curvar-se ou men-tir porá se aproximarem dogoverno, para lutarem ao seulado contra o fascismo, paratomar porte no esforço doMéxico pela sua democrati-zaçõo total. E aí poderemosver quanto ganham os escri-tores com a sua independên-cia, com a ampla desenvol-tura de seus meios de expres-,são, de suas opiniões, de seusargumentos e de seu apoiorevestido de outo-crítica esempre alerta diante de qual-quer tendência para a obe-diência cego, porá um con-formismo desfibrante e cor-rupto.

O sr. Gilberto Freyre indi-ca o contraste impressionai"!-te entre "as

palavras e os atosde um general mexicano que,no poder, volta-se com omaior respeito para os inte-lectuais e os artistas do seupaís e os palavras e atitudesde semi-literatos ou i ntele-ctuois frocassados; senhoresde Estodo ou províncias, nou-tros Repúblicos do conrinen-te; de professores indignos dascótedros conquistadas por suoaudácia; de "porlamentaris-

tas convertidos de repente ao. nazismo, no certeza do fáciltriunfo mundial dos princípiose métodos nazistas de go-verno e que até há pouco fa-ziam gala de seu desprezopor

"escritores" e "artistas".

Oportuníssimo, pois, o sr.Gilberto Freyre oo falar so-bre a posição do governo me-xicano ante os escritores dogrande país que soube aco-lher, em sua liberdade e emseu respeito' ao pensamento,grandes escritores da Espa-nha, como Bergamim, e ou-tros que Franco condenara ámorte".

f\ :. í: ii 4*4 2$ < i i S <€»""f íiáNEMO CANABARRO(Especial para DIRETRIZES)

A PÓS as conversações deQuebec, necessariamente

a Grã Bretanha e EstadosUnidos dariam um passo mi-litar de grande envergadura.— Onde, no teatro da Europaou no da Ásia?

Para quem se louvasse notexto oficial da declaraçãoautorizada pelos chefes degoverno que estiveram reuni-dos, uma iniciativa em largaescala corresponderia ao eu-deste asiático, pois que sedesignou um comando aliadoindependente para ali, sobLord Luis Mounbaten, e osentendimentos dos EstadosMaiores versaram, de prefe-réncia, sobre guerra ao Ja-pão e o auxílio à China.Quem relacionasse a confe-rência com a ocupação daSicilia, com o enfraquecimentointerno da Itália ocasionandopela destituição de Mussolini,enfim, com a seqüência queos aliados haviam de impri-mir às ofensivas da África,da Sicilia e do continente eu-ropeu, compreenderia que seeles se desviassem para oOriente, consentiriam que aItália se restabelecesse desuas feridas morais e o sobe-rano Terceiro Reich reenqua-drasse, na "Nova Ordem", aoscomparsas e satélites acome-tidos de vacilação. Os prepa-rativos de maior importânciavinham sendo feitos na GrãBretanha e no Norte da Áfri-ca. Substitui-los por outros,em bases extraordinariamen-te distantes, era obrar comreta ido e abandonar os russosna Europa.

Os exércitos da Rússia es-tavam atacando, haviam es-tendido o "front" de suaofensiva de verão para umalargura de 1100 quilômetros,como para aperrar as forçasgermano-fascistas e garantiro êxito dum desembarque an-glo - norteamericaho. Alemdisso, a aviação da Grã Bre-tanha intensificara a suaaplastante ofensiva às cida-des industriais alemãs e, des-de a conquista da Sicilia. asforcas aéreas anglo-norte-americanas da África hostili-savam as comunicações ferro-viárias italianas ao redor deNápoles e Roma. de maneiraa isolar o sul da Itália.

Pela materialidade da guer-ra sobre a Europa nalgunsou em diversos dos seus pon-tos de acesso, exercer-se-ia oesforço mais forte dos alia-dos. O discurso de Churchil, a31 de agosto, em Quebec, tra-çando as diretivas do 5o anode guerra, iluminou o ambi-ente: .. "os exércitos liber-tadores da Grã Bretanha edos Estados Unidos,' assegu-rou o primeiro ministro, atra-

*

vessarão a Mancha, com todoo seu poderio"..., afim de es-tabelecer uma segunda fren-te européia.

Eis o verdadeiro sentido dareunião de Quebec.

Seu iniciador ainda não re-gressou à Grã Bretanha. Es-tá em Washington arrema-tando as conclusões a quechegou na capita* do Cana-dá, com o presidente Fran-klin Roosevelt.

Sem embargo, forçai brita-nicas, — o destemido OitavoExército à testa —, entramna Italia Meridional. Altamadrugada, a 3 de setembro,os exércitos anglo-norteame-ricanos do Mediterrâneo ini-tüaram a invasão do comi-nente europeu, pela Calábria.

Estava-se na incerteza, so-bre se se entreteriam pelocordão de ilhas que rompe-ram com a tomada da Sicilia,ou se aproveitando o mal es-tar e desequilíbrio político in-terno da Itália, acometeriamaudaciosamente contra essaterra firme, para arrebatá-laao Eixo. no todo ou em par-te, enquanto rematassem adesmontagem de sua cobertu-ra insular.

A solução que acarretavamais rendimento foi a esco-lhida. Os aliados invadirama Calábria e em 48 horas do-minaram Reggio de Cala-bria, San Giovanni e Me-lito di Porto Salvo, ou se-ja uma cabeça de costa com50 quilômetros de largura,que aprofundaram para 16quilômetros na área de Reg-gio. Espera-se que. invadam aSardenha. Hão de desembarcarnoutras praias da -ponta debota" italiana

O sul da Itália 5hes inte-ressa, para que tapem a sai-da do Adriático e se dirijamà Albânia, ao oeste e sul daGrécia, em demanda das ro-tas para Athenas e Salônica.Nápoles e Tar anto. os princi-pais portos e bases navais daregião, tombando sob os in-vasores, colocam-na em seupoder. Outros objetivos estra-tégicos terrestres represen-tam excessivos para as forçasaliadas: o 8o 3 Io exércitosbritânicos, o corpo canaden-se, o 7o exército norteameri-cano e uma reserva de se-gundo escalão que se compõedo 5° exército dos EstadosUnidos, quiçá um outro exr-cito desta nacionalidade, econtingentes franco - africa-nos, é dizer, (4) quatro a (5)cinco exércitos, ou G00.0CN) a1.000.000 de combatentes.Podem a esquadra britânica ea aviação da Tunísia e Siciliasocorrê-los permanentemente,na medida das necessidades.E contra eles se oporão, nos

NOS QUA ODOCANTOS DO MUN

O APELO DE MRS. CHURCHILLEm uma irradiação feita do Canadá, a 22 de agosto, Mrs.

Churchill apelou para o povo britânico no sentido de conti-nuar a apoiar » Cruz Vermelha e as organizações de auxilioà Rússia. Ela declarou ter sido seu objetivo durante cercadc dois anos dar uma feição prática às "profundas emoçõesde admiração, gratidão c simpatia" do povo inglês pelos seusaliados russos. O apelo de Mrs. Churchill foi motivado pelachegada à Inglaterra, trazida pelo professor Sarkisov. daquarta lista de necessidades urgentes da Cruz Vermelha So-victica. Este apoio concreto dos aliados deve se intensificarainda mais agora que a vitoriosa ofensiva soviética ofereceraras oportunidades para abertura da Segunda Frente emlarga escala, oportunidades que os aliados parecem* estar de-rididos aproveitar, como mostra o desembarque efetuado nosul da Itália,

OS BELGAS E O MARECHAL ROMMEL

.O comandante alemão da província de Liége andou muitoaborrecido com um Incidente ocorrido na cidade dc Remi-court. Quando a« forças nazistas do "Afrilta Cõrps" deRommel estavam se retirando na Tripolitânia. os marcos eplacas dos arredores da cidade foram, em uma noite, enge-nhosamente trocados. Na manhã seguinte lia-se em todoseles Tiommelcourt (Rommel corre) em lugar de Remicourt,

DOS LIDERES EXILADOS AOS TRABALHADORESTCHECOS

No Dia do Trabalho os lideres trabalhistas exilados daTchecoslováquia enviaram um apelo aos trabalhadores de seup.iís. O manifesto estava assinado por 16 antigos membrosdo Parlamento, pertencentes aos Socialistas Tchecos, comu-nistas e social-democratas, e terminava conclamando os tra-balhadores a: *fl) Formem comitês unidos operâri«>s do mo-vimento de resistência subterrânea em todas as fabricas, mi-nas e outras organizações industriais e agrícolas; Z) Colo-quem estes comitês, nas cidades e no campo, à disposição doscomitês do povo, unindo todas as seccões do povo; 3) Comona Ucrânia. Byelo-Rússia, Iugoslávia, rolõnia, Noruega,França e outros países, formem por todas as partes destaca-mentos armados de populares; 4) Destruam com todos os meiosas indústrias aJemãs. transportes e suprimentos. Façam ira-cassar a conscrição trabalhista; 5) Intensifiquem a luta pelaorganização de greves. Que este Primeiro de Maio seja umprelúdio para uma luta organizada na frente interna/ Abaixocom as forças alemãs de ocupação! Morte ao invasor alemão/Vitória para todos os aliados da República Tchecoslovaca /Viva a República Tchecoslavaca! Viva o povo Ichecoslovaco!Viva a liberdade!".

iníROIS DA LUTA ANTI-FASCISTAO Jornal sueco "Svenska Dagbladet" entrevistou um ho-

mem que foi testemunha da execução de 11 noruegueses nafortaleza de Kristiamssten. em Trondheim. A testemunha contaque muitos dos condenados à morte foram maltratados, masque todos se conservaram corajosos. Um dos condenados. •dirigente de uma associação desportiva operária, pronunciouum pequeno discurso dirigido aos soldados alemães, e o pro-fessor Morseth praticou um serviço religioso.

choques e escaramuças preli-minares, uns poucos exerci-tos que foram grupados nosul da Itália, às ordens dopríncipe Humberto de Savoia,segundo as informações doq G. de Alger Com as suasestradas de abastecimentoconstantemente arruinadaspelos bombardeadores e belo-naves anglo-americanas, astropas do pretendente ao tro-no de Vitorio Emmanuel sóse movimentarão de vagar,

com uma velocidadeque a dos invasores.

menorJunto

ao litoral, ao longo das estra-das de Nápoles e Taranto, pe-los pontos em que se registra-rão os encontros mais porfla-dos, os canhões super-pesa-dos dos "dreadnoughts" bri-

ALEMÃO ?£xck*+va para DIRETRIZES

J ONDRES, Agosto — Constantino wn Neu-I rath, antigo pri7neiro ministro alemão e

primeiro "protetor^ da Tchecoslováquia,está sendo apontado como provável figura de proaque o 7iazisrno reserva para apresentar ao 7nun-do como representante do espirito conservadorgermânico quando se dér o inevitátrel colapso dohitlerismo. E' isto pelo menos o que se acreditaem círcirtos bem informados de Londres.

Ao mesmo tempo, o exército do partido nazis-ta, constituído pelas formações das S. S., estesendo reforçado para fazer frente às dificuldadesinternas que surgem à medida que aumenta «pressão aliada contra a imaginária Fortaleza daEuropa. %

Está fora de dúvida que Heinrich Himmler,chefe geral das organizações policiais alemãs, pre-para-se afim de enfrentar qualquer eventualida-de. dentro das fronteiras do Reich. Um dos ob-jetivos das ostensivas atividades de Himmler idar a entender, na Alemanha, que o partido na-zista, seus destacamentos armados, suas idéias eseus objetivos sobreviverão de qualquer maníHreno Reich de amanhã.

A recente promoção de von Neurath ao po»-

*lynn Mmm&mtmto de "Óbergruppefuehrer*' (chefe gerai dos çrru-pos de elite das S. S.) foi iTiterprelada por mui-tos alemães como sinal evidente de que von Neu-rath está sendo preparado para representar efacção | conservadora alemã com quem poderiamvir a negociar os lideres aliados. A promoção deNeurath saiu junta7nente com a de outros 17 che-fes nazistas, usualmente, essas promoções eramanunciadas em dias de grande festa na Alemanhanacional-socialista. A de von Neurath teve lugarquase que inesperadamente, enquanto os exércitosnazistas eram acossados 71a Rússia e o Vale do Ruhrtremia sob explosões de bombas inglesas e nor-te.americanas. Poucas semanas antes, havia càt-do a Tunisia. E a desmoralização do famoso Afri-ka Korps fazia seus efeitos nos círculos al(*nães.

"Die Zeitung", o semanário em lingua alemã pu-blwado em Londres, noticiou há poucos dias quevon Neurath ainda retém sua posição de presiden-te do gabinete secreto alemão — posição que foiocupar quando deixou o cargo de prirrwriro minls-tro — acrescentando, ao noticiar sua recente pro-moção, que von Neurath "poderia ser chamado aocupar importante função", caso o Fuehrer se

(Contínua n«- pág. Mj

tânicos . produzirão sempreuma incontestável superiori-dade de fogo sobre a artilha-ria dos italianos Ainda emdetrimento dos defensores, osolo estreito da península,muito r.ompartimentado pe-los Montes Apeninos. na sec-çãu meridional, proíbe desdo-brament.os de efetivos vastos.Ai prevalecerão, forçosamen-te, os aliados.

No entanto, mais para onorte, a península se alarga ea sua rompartimentação in-flue menos, quanto aos efetl-vos e às comunicações; E aItália tendo capacidade paramobilizar 2.000 000 de ho-mens, anteporá aos aliadosuma força pelo minimo duasvezes mais forte, em número,que a deles. Ficará impossi-vel conquistar todo o país,sem outros exércitos.

A finalidade buscada, nafase presente da ofensiva, te-rà de ser, portanto, mais po-lítica do que militar.

Paz ou derrota certa, é o di-lema de Roma. O grupo Ba-doglio derrubou Mussolini, pa-ra negociar um ajuste paci-íista e não para continuar aguerra. Apenas reluta, afim.de não se render à discre-ção.

Se os aliados transplan-tam as hostilidades para aterra italiana. Radoglio e osseus se persuadem de quonão adianta lutar O proble-ma se restringe assim, auma demão às agitações po-pulares de Roma. Nápoles,Milão, etc, que anule aos se-quazes de Badoglio como be-ligerantes.

Esta será a finalidade pre-cípua da ofensiva anglo-nor-teamericana, embora não seaviste, entre os respectivosexecutantes. um exército d*italianos livres, para sublevara nação italiana.

*v9/9 1343 ihrkta/us PAGINA 3

A TchecosIovaquia não morreu nem ensarilhou armas!(OntlrtuaeÃo (fa pi*. 1)

ou semi-ditatoriais, controla-do.s por Berlim.

Hitler, em plena ofensivadiplomática e cm febris pre-parativo;* pata o desencadea-mento da guerra, começou avociferar contra a Tchécoslo-váqüia, levantando a grõssel-ra questão dos sudetos ale-mães. Hitler precisava de qual-quer pretexto para eliminaraquele sólido bastião da demo-crucia, plantado no coração daEuropa e fincado num dos seusflancós. A ruinosa política deMunique permitiu que Hitlerinvestisse, com todas as suasforças, contra a isolada Tche-cos'ovár|iiia.

Von Neurath e Heydrich emseguida implantaram o terrorno bravo pais da Europa Cen-trai, Seu povo suoorta hoje osefeitos da mais cruel dasooressões. Suas riquezas fo-rum e continuam sendo sa-queadas. Mas a Tchecoslová-quia não morreu e nem ao me-nos ensarilhou armas, pois osseus cidíidãos de Irã mui'oparticipam nesta güerra< atra-vês c-e um exército organizadona Inglaterra, de outro exis-tente na Rússia e de váriasesquadrilhas que operam emco'aboração com a RAF. Seupovo tornou-se hábil nos mé-todos de luta subterrânea; Equando se tornar mais neces-sano. com a invasão dn Enro-ra iá iniciada no sul da Ttá-lia, com o.s exércitos russos emo"'*nsiva na frente oriental ostch^coslovacos terão um paD«--Imuito mais sírio a d\scmpe-nhar na luta por sua próprialibertação no esmagamento donari-fascismo em eseati infer-nac'onal e na reconstrução domundo.

FALAM A "nHtETKIZKS** oCORONEL HUTNIK E O TF-

NENTE NEKOI-AChegaram recentemente ao

Rio o coronel Cenek Hutnik eo **rimeiro tenente Rudolf Ne-kola. adidos militares da Tche-ce--'ovaquia em nosso pais.

O coronel Cene!: Hutnik e otemente Nckola são rioi.s sol-dados da heróica democraciacr-ftro-européia.. Quando o{governo tchecoslovaco do exí-lio declarou guerra ao Eixo, e.s-ses c'ol.s homens, nue ainda seeTV"0!it'*avntri em Pra*ía, atra-vessaram ilegalmente a fron-

tetra, expondo-se aos maioresperigos, afim de se juntaremao» concidadãos que no es-trangeiro organizavam forçasdestinadas a uma ativa cola-boração com as Nações Uni-das.

A posição da Tchecoslová-quia nesta guerra, que todosolhamos com simpatia, é co-nhecida. geralmente, de ummodo um tanto superficial Pm:

é uma nação de Indústria de-«envolvida. E' portanto natu-ral que muitos desses emigra-dos de guerra sejam bons ope-rárioS; Um dos nossos objeti-vos imediatos é organizar oesforço de guerra dos tche-eoslovacos aqui residentes, pa-ra uma colaboração com osbrasileiros naus tarefas de re-taguarda. Procuraremos faci-litar o aproveitamento, na in-

tàticias históricas muitas ve-ze» desviaxam nosso país doseu verdadeiro rumo. A dl-nastia dos Habsburgos no co-meço da primeira guerra mun-dial. atribuiu ao nosso país,contra a vontade do povo, •*>pepel de instrumento do prus-sianUmo. O sentimento aenosso povo sempre foi contra-Pio ao pan-germantsmo, quedendê o século dexeno-re ali-

KW&WÊÈ WÈm^m 11I%H í ^v MzáÊm mm J

W^flNMlB mm ^M^Mm f : JH má8*®íÉr"^q:;íí^^I^' 5:1éw 'SBÊêÊWÊ* iáss^iS9rm mwk S^i'^f*»M^..-7,«H\^.

ChurchUl visita soldados da Tchocoalováquia na Tiijfla.í«rra. acompanhado do presidente Bénes de Mon-senhor Sranicr, do sr. Haniman, represrnUntc de Kooscveit e. rio major-general Arnold. do exéreito n«r-leamericano. No mesmo ^ruço vè-se lambem .; senhora ChurchiU

isso julgamos interessante ou-vir os dois "attachés" rxiilil.a-res sobre o país que represen-tam.

O coronel Hutnik e o tenen-te Nekola. falando a DIRE-TRIZES, referiram-se. de ini-cio. aos efeitos da guerra nasrelações etitre o seu pais e oBrasil.

— Depois da guerra -- disse-nos o coronel Hutnik — au-montou a emigração de tche-coslovacos para o Brasil. Hojeé grande o contingente depatrícios nossos que vivemneste país. A Tchecoslóváquia

dústria brasileira, dos nossospatrícios especializado^ em vá-rias profissões. Será uma for-ma organizada de coperaçãodos dois paises empenhaaosnuma luta que visa os mesmosobjetivos. Como adidos rriilltà-res entraremos em contácto,também, com os tcheco.slova-cos fixados noutros pauses daAmérica do Sul.

UM POVO AMIGO I>ALIBKRDADE

— Meus compatriotas sem-pre foram um povo amigo daliberdade. Entretanto, clrcuns-

mentava idéias de dominarãomundial, com o predomínio ueuma raça eleita, a raça ger-manica, à qual se seguiam, eraescala descendente, na hierar-quia da pureza do sangue, ospovos escandinavos, os latinos,os slavos e outros menos co-tados... Os tcheco.vlovacosopuzeram-se vivamente a essapolítica, iniciando, dentro dopaís. em plena guerra de 1914,a luta armada contra a os**»dos Habsburgos e o prus*ua-nismo. E hoje. vinte anos de-pois. e.s tam os novamente emluta contra a prussianismo,

com Adolfo Hitler no lug*r deGuilherme II.

UMA POLÍTICA IMÍ PAZO governo de Praga sem-

pre foi partidário de uma po-lítica pacifista. Assim, manti-vemos alianças a oeste com aFrança, ao sul com a Rumaniae a Iugoslávia e a este com aRússia. Julgávamos possivel amanutenção da paz com aunião de todos os homens ho-nestos e dispostos a trabalharpela segurança coletiva. Masdepois velo Munique.

Hitler — continuou o co-ronel Hutnik — alegava quea Tchecoslóváquia constituíaum obstáculo para a Alemã-nha. Essas alegações de Hitlercontinham uma parte de ver-dade. A Tchecoslóváquia cons-tituia um obstáculo, sim. parao velho espírito prussiano re-forçado pela organização na-zlsta. A Tchecoslóváquia cons-titula um entrave para Hitlere consequentemente uma ga-rantia para a paz do mundo,para a liberdade, para a digui-dade humana, para a demo-cracia. O governo de Praííasempre procurou manter umapolítica de boa vizinhançacom os países fronteiriços, masnunca alimentou ilusões. Porisso. antes do acordo de Mu-nique. tínhamos todas as nos-sas fronteiras fortificadas.Nosso exército contava 40 di-visões equipadas com um ma-teria! que ainda hoje seriaconsiderado moderno. Tinha-mas mais 10 divisões de reser-va. No momento da capitula-ção estávamos com um milhãoe quinhentos mil homens emarmas. Possuíamos famosasfábricas de armamentos (Sko-da. Zbrofovka. Brno. etc.» ecinco fábric;*>.s de aviões. Ti-nhamos 4 divisões blindadas.A Alemanha, na mesma época,tinha 7 e a França apenasuma. Quanto à Rússia, não ha-via informações. As demaisnotências não tinham forcasblindadas. Naquele tempo nãose falava muito em defezapassiva e em formas organiza-das de luta contra paraau^dis-tas. Isso era assunto de pu-blicações militares. Mas, naTchecoslóváquia. já então, adefesa anti-aérea e a organi,-zaeão de brie;edas anti-para-quediátas era uma questão que

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O yovo de Piaga m*l oonitn^ sua indijs>»a«tM> m^néo w »hm*â<m (H^ortmi a oapiéal. A multo cusi« aMW re|>*»J«!» a*)s <*oMo«Jk»» de Mttl«r

potíeta k-.hoc«w»iov»tva iQ—iguOu a multmião que na rua, uiaui/^eía**

PAGINA 4 DIRETRIZEStinha saido das cogitações degabinete para o terreno dasrealizações.IMA DAS GRANDES MENTI-

RAS DE HITLER— Uma das grandes menti-

ras de Hitler foi a chamadaquestão sudeta. As minoriasalemãs sempre viveram muitob ni na Tchecoslováquia, ondegozavam de uma liberdade queos seus irmãos de raça, daAlemanha, depois do adventodo nazismo, deviam invejarmuito. Mas justamente essa li-herdade e um elevado stan-dard de vida que desfrutavamas minorias germânicas e to-co o povo da Tchecoslováquia,* deviam preocupar muito o ser-viço de propaganda hitlerista.Era um contraste muito cho-cante, na vizinhança do Gran-de Reich Nacional-Socialista,onde os super-homens nazis-tas apregoavam a divisa "ca-nhõss cm lugar de manteiga",com o povo passando priva-cõrs de toda sorte, sonhando,de estômago vazio, com a do-reinarão do mundo e onde aGestapo estilizava os maisabjetos métodos de espiona-gem e delação. Alem disso aposição geográfica da Tche-coslováquia sempre foi um mo-tivo de preocupação de todosexpansionistas prussianos. Bis-mark julgava imorescindivel aconquista da Bohemia paraquem pretendesse dominar aFuropa. O desenvolvimento po-litlco dos teheeoslovacos tam-bem preocupava muito os na-zistas. Eles sabiam que os nos-sos patrícios, vivendo em boasituação econômica, num regi-me de liberdade, não poderiamaceitar o fascismo. Teriam queser portanto dominados pelosíaseistas. esmagados pela for-ca. De 1935 cm diante. Hitlerfez repetidas ofertas de alian-ça ao governo de Praga. Es-sas ofertas foram sistemática-mente recusadas. O presidenteBénes não considerava justonegociar com paises cuja poli-tica estava em plena contra-diç.ao com a de seu povo e deseus principais aliados. Alemdisso ' não esquecíamos que,tradicionalmente, o prussia-ni; mo, agora representado porHitler, sempre desrespeitavaos tratados, "farrapos de pa-pel"...

IPOR OUE A TC1ÍECOSLOVA-

QUIA NAO LUTOU?

— Muita gente pergunta —-continua o coronel Kutnik —por que a Tchecoslováquia,bem armada eom estava, nãolutou quando os alemães cru-zaram suas fronteiras? ATchecoslováquia não lutouporque, diante da política deconcessões adotada cm Muni-que, teria que lutar sozinha.E, sozinha, não poderia resís-tlr por muito tempo. O presi-dente assumiu a responsabili-dade de seu ato. não resistindoà ocupação alemã. Ele sabiaque a guerra mais cedo oumais tarde deflagraria. Vendoas coisas com espirito realistae desanaixonadamente. cal-culou que o poderio militar eeconômico de nossa pátria, seresistíssimos, seria quase to-talmente destruído. Não resis-tindo à invasão, depois, quan-do outros povos se vissem for-çados a aceitar a luta armada,sempre restaria alguma coi-sa a ser posta na balança dasnações que se opuzessem a Hi-tier.

E o coronel Hutnik reforçasua declaração revelando queele próprio, como todos os seuscamaradas do Exercito, erampartidários da resistência. Sóse submeteram â decisão deBénes por uma questão dedisciplina. Os responsáveis porMunique foram os causadoresda situação difícil em que seencontraram os tchecoslova-cos. Hitler. alem do mais, nãopoude responsabilizar a Tche-coslováquia, como era de seudrsejo, pelo desencadeamentoda guerra no mundo. Mas onar^smo, para a realização deseus planos, necessitava deocupar todo o nosso país. Por

9/9/1943

O presidente Bem*, na Inglaterra, passa em revista nma unidade do exército de seu paín, que nuncaensarilhou armas ua luta contra os nazi-fascistas

isso, mesmo sem nenhum pre-texto, ocupou Praga e todas asregiões do pais a 15 de marçode 1939. Pouco depois come-cava a guerra. Então os mili-tares viram que Benes tinharazão. E o povo compreendeua mesma coisa e não desani-mou. Iniciando sua guerra sub-terranea contra o.s dominado-res nazistas. A sabotagem nasfábricas reduziu â metade a

produção industrial do pais.Floresceu logo uma imprensaclandestina, que serve paramanter sempre elevado o mo-ral do povo e para orientá-loem suas heróicas e perigosasformas de resistência aos bru-tais nacional-socialistas. Nosprimeiros dias o povo reagiude modo desorganizado, pormeio de desesperados atos lo-cais de resistência as tropas

de ocupação. Hoje, essas for-mas de luta foram substitui-das por outras mais inteligen-tes e mais produtivas.

Agora o coronel Hutnik e otenente Nekola referem-se àatitude admirável de seuscompatriotas, no momento emque o governo do exílio de-clarou guerra à Alemanha. Ochorando aos tchecos-slovacospara formação de forças des-

FRONT LI TEWrZLLS E A CONSTRUÇÃO DO MUNDO

wELLS é um autor para a mocida-de. Seus livros noj chio as via-

gens impossíveis, as imagens do futu-ro, as vidas que apenas imaginamos."A gue.ra dos mundos*', "A máquina deExplorar o Tempo';, "Os piratas doMar", "Uma história do.s Tempos Fu-turos.*.." Bom e fabuloso Wells. Seuslivros hão de permanecer porque nosdão sempre uma enorme capacidade deesperança que Júlio Vernc nos deu: ade podermos um dia dominar inteira-mente a nalure.:a, estender o nosso do-minto, não apenas o dominio da imagi-nação, mas da nossa técnica, da nossainteligência.

Wells nos deu ainda sua •'PequenaHistória do Mundo" na qual sintetiza asua filosofia da história, as suas con-vieções democráticas, o seu horror aosditadores e a sua crença em melhoresdias para a espécie humana.

Sua conduta politica na Inglater-ra sempre foi hostil e, com que febreromântica!, aos aventureiros nazistas.Cedo compreendeu a monstruosa sig-nificaçâo dos Estados Totalitários. Bur-guês do melhor tempo da burguesia so-cialista, Fabiano Wells gostaria de mo-rar na ilha de Thomaz Morus. Semprefoi um idealista com a sua fidelidade áclasse a que pertence, sem se tornar po-rem num nauseabundo reacionário.Não traiu as mais puras tradições desua geração de antes da guerra de 14,as tradições de uma classe que naqueletempo sabia dominar o mundo, conci-ente de si mesma e de posse de seusmelhores recursos na solução têmpora-ria de seus problemas.

Velho combatente, com seu ingênuoarrebatamento em apontar pequenosremédios para os grandes males quandoa crise social engendrou a guerra e in-ventou o fascismo, Wells pertence à ve-lha escola liberal dos que acreditavamque a democracia não tinha necessida-de de violência para fazer frente â vio-lência fascista, á tradição dos velhos li-berais financiadores de Hitler. Seu pa-ciflsmo foi sempre utópico à maneirado socialismo de Owen e Fourier. E"muito conhecida a sua conversação comStalin a respeito da New Deal e da sar-castiça observação de Bernard Shaw

que tanto o magoou. No entanto, nin-guem poderá esquecer que é um comUa-tente, um velho combatente pela liber-

I)k UtClDlO JURAND1Rdade do pensamento e da palavra, a fa-vor do livre exame e de uma soluçãorealmente popular' dos problemas maisimediatos, como a lome, a guerra, odesemprego c a ignorância das massas.

Wells viu bem o drama do povo in-glês sob os bombardeios e entendeu quea força da Inglaterra não está senão nadecisão de seus verdadeiros grupos de-mocráticos. Sabe, hoje, que o pacilis-mo, no velho sentido utópico, náo pou-de conter as armas fascistas que inva-diram a Abissinia, a China e a Espanhac ensangüentam, hoje, a Europa e aÁsia. Impossível destruir o nosso inhm-go com mensagens de paz, com con-grossos de Pen Club, com o platonismodas nossas idéias, com as ilusões danossa resistência, "acima da confusão".Wells encontra-se, agora, entre os quereclamam, com toda a paixão e comtoda a revolta, mais aviões, mais ca-nhões e mais tanques para a imediataabertura da segunda frente porque sãodez milhões de mulheres, crianças e jo-vens da Rússia mortos pelo fascismoque assim reclaniam, são as cidadesdestruídas, as aldeias arrasadas, os rc-fens trucidados.

Agora, os leitores brasileiros vão ler onovo livro de Wells apresentado pelaCia. Editora Nacional, "A construção domundo". O mesmo socialista da boavontade, o laborioso democrata que in-dica as tranqüilas soluções e nos obri-ga a sorrir um pouco de seu otimismode magro profeta político. Mas estamosdiante de uma obra sincera e que me-recc uma irrecusável seriedade de deba-tes. Wells, nesse assunto, nunca foi umpob.re de espírito e não pode ser inclui-do entre os participantes do Exércitode Salvação. "A Construção do Mun-do" traz ainda o sabor dos velhos li-vros socialistas Ingleses que ensinam aconstruir o mundo como se o mundofosse a Utopia e a Cidade de Sol oumesmo a ilha de Robinson Cruzoé. Sãodois volumes, porem, para os dias deagora, em que começam as discussões,cm que já se pensa criar uma paz comdignidade, a paz quente do sangue cdas fumegantes ruínas de povos e pai-ses devastados. Bom e fabuloso Wells,seu livro agradará milhares de leito-res que leram os seus velhos livros pa-ra a mocidade. Sua imagina/ão, suaboa vontade, seus combates", e seuamor pela vida e pelos homens não se-rão esquecidos.

tinadas à luta ao lado das Na-ções Unidas não ficou em vão.Milhares de homens, afron-tando perigos de toda sorte,atravessaram a fronteira clari-destinam ente. Enfrentaram aneve nas montanhas. Embre-nharam-se pelo mato e depoisde verdadeiras odisséias mui-tos conseguiram alcançar ameta final. Outros, porem, in-felizmente a maioria, foramalcançados pelas patrulhasalemãs e pagaram com a vidasua dedicação à pátria e àcausa dos povos que amam aliberdade. Essa é a história dossoldados da Tchecoslováquiaque se encontram lutando aolado de seus camaradas de ar-mas das Nações Unidas. Sãohomens que chegaram ao frontdepois de submetidos a umadura prova. Esse êxodo de com-batentes, saídos, debaixo damais tremenda vigilância, deum país encravado no cora-çao da Europa, afim de sealistarem entre os que, no es-trangeiro, combatiam contraas divisões germano-fascistas,pode ser considerado como umdos milagres de bravura des-ta guerra.

—Meu país entrou em guer-ra meses depois de oeuoado.Isso tornou muito difícil nos-sa ação. Mesmo assim, temoshoje um exército na Inglater-ra, um exército na Rússia" ealgumas esquadrilhas atuan-do com outras forcas aliadasdo cxího em colaboração cooia RAF.

PROBLEMAS DO APÔS-GUERRA

Agora, o coronel Hutnik e otenente Nekola referem-se aosproblemas do após guerra. Osdois "attacrris" militares daTchecoslováquia não conside-ram muito viável os prnietosde estabelecimento de

"umaespécie de Estados Unidos daEuropa. Essa forma de orga-nização, levada a efeito

"naAmerica do Norte, no México,na Venezuela e no Brasil, obe-deceu a condições locais favo-raveis. Na Europa de nossosdias isso não será muito fácil,pois a política do velho conti-nente é muito intrincada.

E o coronel Hutnik acres-centa:

O essencial é que a paz lu-tura seja feita em moldes pro-gressistas. Seria extravagan-te, por exemplo, tentar umarestauração do antigo ImpérioAustro-Húngaro. A Casa dosHabsburgos poderia ser repôs-ta. Mas seria necessário man-ter em torno desses remanes-contes do medievalismo umascinqüenta ou sessenta divisõesde prétoriànos encarregadosde vigiar e reprimir pela

"forcaos povos do antigo ImpérioCentral.

NOSSO PAÍS SERÁ' RE-CONSTRUÍDO

f— Os alemães fuzilaram,torturaram, prenderam e lan-çaram no exílio centenas demilhares de compatriotas nos-sos — continua o coronel Hut-nik. Nossas riquezas foram eestão sendo saqueadas pelosnazistas. Mas Hitler não con-seguiu destruir o solo da Tche-coslováquia nem exterminarpor completo o seu povo. Maisdia ou menos dia os hitleris-tas serão expulsos de nossapátria. E sobre as ruínas dei-xadas pelos sanguinários in-vasores, os teheeoslovacos re-construirão a grande pátriademocrática de Massaryk e

Bénes. Somos partidários deuma paz que se alicerce na so-lidariedade e na colaboraçãode todos os povos e de todosos dirigentes políticos hones-tos. E' preciso que o espíritoprussiano de Guilherme II, querenasceu com o nazismo, nãoressurja, depois da guerra, daspróprias cinzas nazi-fascistas.Devemos considerar os nazi-fascistas não apenas como ini-migos, pois o inimigo, na guer-ra, é muitas vezes digno dorespeito. Os nazi-fascistas nãosão "inimigos", no sentido mi-

(Continua na pág. 20)

0/í)/194.1 DIRETRIZES PAGINA 5

i-*~,i

íí\B "

// IVI cem anos para assistir aof\/y fim do barbarLsmo" foi com

esta frase curta que o cente-nário Teófilo Ribeiro encerrou a suaentrevista comigo, numa magníficatarde de Belo Horizonte. O simplesfato de um homem completar um sé-culo de existência não implica im-portància. Há muitas matusalensperdidos pelos recantos anônimos doBrasil, vivendo na modéstia de seuslares humildes. Teófilo Ribeiro viveuporém cem anos e ainda hoje podeperfeitamente falar sobre os acon-tecimentos que empolgam os moços,pregar com a ternura de sua voz so-bre os ideais que constituem o por-que desta luta em que estamos empe-nhados. Foi professor de Direito, fun-dador da Associação Comercial deMinas, diretor da Instrução, secretariode Estado em vários governos, jorna-lista, industrial, político. Minas re-cebeu esta admirável figura quandoeram ainda negros os seus cabelos etrazia nas face.s o brilho impetuoso deolhos perscrutadores. Hoje ele come-mora com alegria o seu centenário,admirado por todos, venerado pelasnovas gerações que vêem nele o es-pelho das mais puras virtudes cívicas.Foi testemunha de acontecimentosque não assistimos e sobre eles emitejuigo seguro; conviveu com as nobresfiguras dos políticos passados, sentiunas auroras dos movimentos liberta-dores a marcha da esperança de tan-tos sonhos que se perderam na dis-tancia do tempo.

Sua lucidez mental é impresslonan-te. Com cem anos, este homem aindalê os clássicas ingleses, comenta osprincipais trechos da célebre obra deJ. Story sobre a constituição dos Es-tado.s Unidos, está a par de todos osfatos do momento internacional comv. leiüra diária dos jornais, recita decór versos de Castro Alves, compre-eride objetivamente a necessidade daunião nacional contra o fascismo,conta anedotas e toma bonde andan-do. Afora essas prosaicas virtudes,Teófilo Ribeiro é um patrimônio mo-ral vivo de dignidade, coragem cívica,uma lição estupenda para os moços.Não há sombras no seu espírito, poisse lembra com exatidão dos episódiosde sua época. Transfigura-se quandoíala da Inglaterra, da Inglaterra queele conheceu na juventude. Sua voz

, adquire um hálito selvagem de ódioquando se refere aos "boches", hojeencamlzados e tangidos pelo bastãodo "borrador de casas" (é assim queele se refere a Hitler). Suas mãos tre-mulas afagam as longas e brancasbarbas no momento em que ressus-cita as caras recordações sepultadas.Parece que vive de novo aqueles diasgloriosos da Abolição, da República,da revolução de 30, da qual foi umdo.s patriarcas.

O repórter sente na presença destevarão a eloqüência de sua atitude em1930. Éramos garotos recem-saidos daescola primária quando por força deum castigo paterno fomos obrigadosa freqüentar a sede da Coluna Tira-dentes, organização civico-revolucio-nária da revolução de Outubro. Numadas noites em que se reuniam os "te-nèntes-paisanos'', com longos lençosvermelhos nos pescoços, encontramoslá um velho cercado pelos mais mo-ços, gesticulando, dando ordens, aler-tando as conciências. Era Teófilo Ri-beiro, que aos 87 anos, formava navanguarda dos revolucionários. Aminha irreverência de menino rebel-de silenciou diante de seu vulto e pelaprimeira vez eu admirava as barbasde um velho que irradiava simpatia.A figura de Teófilo Ribeiro revolucio-nário seguiu comigo pela vida aforae sempre me lembrarei de sua cora-gem como um apelo ao culto dasvirtudes cívicas.

Hoje ele me fala de um mundo queconheci nas páginas da história, metransmite o dever que temos de lutarcontra todos os regimes que despre-zam a liberdade como norma únicade bem viver.

NO CEARÁ HA UM SÉCULOSua biografia me foi por ele nar-

rada com abundância de detalhes,acentuando sempre que é apenas umhomem que cumpriu o seu dever.Com que simplicidade ele fala dosseus antepassados, dos seus amigos.Nasceu no Ceará', na cidade do Ara-cati, a 31 de agosto de 1843, e seuspai.s se chamaram Domingos TeófiloAlves Ribeiro, próspero comerciante,que mantinha largo intercâmbio coma Inglaterra, e dona Maria MendesRibeiro. Aprendeu o abe, as primeiras

m ¦ b

fim doA vida de Teofüo Ribeiro, que completou cem anos em Belo tio-monte, é todo o romance de várias épocas. — Testemunha da açãode Disraeli e dos discursos de Gladstone. — A Faculdade do Recifee os seus grandes vultos. — Um julgamento sobre Castro Alves euma briga com Tobias Barreto. — "Não sei como Castro Alves seengraçou com Eugenia Câmara, aquela portuguesa tão exquisita ".

— Uma. vida política. — A aventura industrial. — "O nazismo denoje nao passa do mesmo prussianismo agressor". — Como se deua União Nacionpil 710 governo de Wenceslau Braz — "No mundoai unsU''Ur°'

a f07'tuna Udo pode conti™ar a ser um pritnlégio deREPORTAGEM DE MARCELO COIMBRA TAVARES

(Do Sucursoí de DIRETRIZES em Belo Horizonte)

peraltices, os cantos de ronda, as his-tórias fantásticas no colo das muca-mas, as fugas para os divertimentos naensolarada cidade do certão cearense.Nesse tempo ouvia falar do meninoimperador, dos homens respeitáveis do2.° Império, das aventuras dos escravosque fugiam e quando voltavam tra-ziam no corpo as marcas punitivaspelo "crime" de terem tentado a li-berdade. Assistiu à luta entre os praiei-ros e saquaremas em Pernambuco, queculminou na revolução de 1848, e quelegaria à galeria de bravos o capitãoPedro Ivo, cantado por Castro Alves.Presenciou a guerra contra o tiranoLopez, viveu numa época em que oconforto da civilização era reduzido,era menino quando foram solenemente

fessores particulares, o menino cea-rense se preparava para a carreira quedesejava seguir: a engenharia. Pôdever de perto o vulto de Disraeli le-vando aos operários o direito do voto,as debates do Parlamento britânico,a elegância combativa de Gladstone,os nobres, os "gentlemen" na própriamodéstia do povo.Dizem que o senhor dansou umavalsa na corte da rainha Vitoria? pergunta o repórter.

Isso não quer dizer nada. Moçobem apresentavel, era natural que eudansasse. Lembro de que urna vez, emLondres, recebi um convite para umafesta na corte.

E com um sorriso ele relembraaqueles trajes complicados, aqueles

ansrao

Teófilo Ribeiro, que acaba de completar cem anos, foi colega dc Castro Alves e teveuma briga série com Tobias Barreto, que ele acusa de "vaidoso". Em Londres! TeófiloRibeiro escutou muitos discursos de Disraeli c Gladstone. Sempre foi um liberal, amigodos fracos e velho inimigo de todas as injustiças e arbitrariedades.Inaugurados os primeiros 16 quüême-tros de via férrea no Brasil.DANSANDO NA CORTE DA RAINHA

VITORIATeófilo faz uma pausa na evocação

de sua infância, empresta à voz umtom de lamento:

— Com a morte de meu pai em 1854,mudou-se o rumo. de minha vida.Meu irmão mais velho assumiu* a dl-reçao da casa de negócios e achouque seria bom fosse eu estudar na In-giaterra. Dois anos depois da mortede meu pai, partia para a Inglaterra.afim de estudar em Chester. Era aépoca do reinado da rainha MariaVitória, durante o qual se estruturouo sentido político do regime democrá-tico, com a reforma eleitoral de DLs-raell.

Teófilo Ribeiro educou-se no climada liberdade, no ambiente de respeitoá livre manifestação do pensamento.Seus olhos de adolescente assistiammaravilhados o espetáculo soberbo deum povo civilizado que traçava osprimeiras rumos seguros dos ideaisdemocráticos. Em Chester, com pro-

lords com tantas medalhas que fariaminveja ao integralista Gustavo Bar-roso.

BRIGOU COM TOBIAS BARRETOAs saudades do lar. a conclusão doscursos preliminares, a necessidade deprocurar uma carreira fizeram-no vol-tar ao Brasil. Regressou cheio do mo-'demo espírito inglês, leituras de pen-sadores liberais, o conhecimento deum padrão de vida mais humano le-varam-no a combater a escravatura.O seu primeiro artigo não tinha ocunho futil da narração de uma his-tória romântica, mas o sentido pro-fundamente político da questão daexploração do trabalho pelos ricos se-nhores. Teófilo Ribeiro matricula-se na Faculdade de Direito de Recife,em 1864. Na cidade tranqüila de en-tão, os estudantes eram a nota vivado pitoresco. As serenatas se perdiamnas penumbras suaves, das janelas co-lonais emergiam silhuetas de outrasjulietas ouvindo os madrigais dos seusromânticas romeus. Lord Byron, Vi-tor Hugo, o brasileiro Alvares de Aze-vedo, Fagundes Varela eram recitados

nas nott»s calmas do Recife provin-ciano.

Teófilo Ribeiro teve como compa-nheiro de turma Tobias Barreto, vindode Sergipe, com avultados conheci-mentos. Castro Alves tambem era desua época. Primeiro fala de CastroAlves:

— Um grande vadio, não sabia nadade Direito. Mas era poeta. Que vozesplêndida, arrebatadora. No grêmiocientífico-literárario que reunia alunose professores, Castro Alves declamavapoemas que provocavam a admiraçãock todos:

"Quebre-se o cetro do PapaFaça-se dele uma cruz".

Castro Alves tinha um temperamen-to essencialmente poético. P?na é quetenha se deixado levar pelos amoresde Eugênia Câmara. Conheci-a pes-soalmente e não sei porque Castro Al-ves se apaixonou por aquela portu-guesa esquisita. Já Tobia* Barretonão era poeta, apesar de ter feito poe-sias.

O professor Teófilo pára um pouco.Passa a mão pela peruca e começaa recitar uns versos. Declama bem.

— São os únicos versos aproveita-veis de Tobias Barreto — diz. "Noi-te de finados". A propósito quero lhecontar uma briga que tive com TobiasBarreto quando cursava o 3.° ano daFaculdade de Direito do Recife. Es-tavamos numa "república' palestran-do animadamente sobre Ca tro Alvese o seu gênio poético. Alguém do gru-IX) perguntou se Tobias Barreto erabom poeta. Na presença de VitorianoPalhares, outro bom poeta do meutempo, disse que Tobias Barreto tinhacultura mas era mau poeta. Falei na-queles péssimos verbos do sergipano-"Pernambuco agacha e toma o pesodo Paraguai..." Neste instante bate-ram na porta, fui atender. Era To-bias Barreto. Os companheiros se en-treolharam. Mas não me perturbei.Repeti minhas p: lavras a Tobias.Admirava o seu talento, a sua cul-tura, mas detestava os seus versos.Orgulhoso como sempre ele me res-pondeu: "— Uns me apreciam, outrosnão. Contudo, sou poeta e não me in-teressa o julgamento alheio". Ditasestas palavras foi-se embora sem sedespedir. Passado tempo, li numa fo-lha local um bom artigo de TobiasBarreto. Na Faculdade procurei feli-citá-lo pela firmeza dos conceitos con-tidos no artigo. Impertigado, com umolhar de superioridade, Tobias repetiua frase: "— Uns me apreciam, outrosnão. Não me interessa o julgamentoalheio." Fiquei aborrecido e perdi ocontrole. E dei-lhe o tratamento cam-broneano...''

Tobias Barreto nunca mais cumpri-mentou o colega de turma.

SANTO DE CASA NAO FAZMILAGRES

Em 1868 o bacharelando Teófilo Ri-beiro recebia em solene festividade oseu pergaminho de bacharel em cièn-cias jurídicas e sociais.

Voltou ao Ceará com aquela alegriaprópria dos recem-formados. Não secompreendia um bacharel fora dei po-litica. Conceituados chefes eleitoraispedem-lhe que seja emissário de im-portante incumbência na Corte. Deixaa província e vem ao Rio. Havíá umapromessa tácita da inclusão de seunome na chapa do partido. Mas oscoronéis — cheios de preconceitos eburrice — vetam o seu nome. O rapazfica desgostoso. Escreve ao seu irmãoque não voltará mais para Aracatí.Resolve ir para Minas, onde encontra-ria um povo muito próximo ao inglêsnos costumes e no culto à tradição,temperamento frio, e, às vezes, porconta da lenda, enigmático. Vai paraLeopoldina. Abre a sua banca de ad-vocàcia. a alegria das primeiras cau-sas acrescentada do romance comaquela que seria a sua esposa fizaraesquecer a ingratidão da terra natal.O histórico manifesto dos republica-nos de Itú repercute em Minas e Teó-filo Ribeiro funda em Leopoldina oClube Republicano, do qual foi pri-meiro presidente.

EM OURO PRETOA convite de Cesario Alvim, primei-ro presidente de Minas, no regime

republicano. Teófilo Ribeiro muda-separa Ouro Preto, passando a exerceras funções de diretor geral da Instru-ção. A cidade, que naquela época, játinha o seu Vicente Raciopi, o ciu-mento zelador das glórias e relíquias

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NOVE horas. O. sol brilha

apenas durante sete ho-ras e não com todo o

seu calor. Por isso, cobremfriorentamente suas espáduasas mulheres que esperam umasde pé, outras sentadas nos ba-tentes das portas fazendo"tricot", conversando, à espe-ra de que o quitandeiro abraas portas.

Já estão lá há muito tempo.Ontem, um rumor correu peloquarteirão. Disseram que tal-vez houvesse batatas no diaseguinte. Cerejas tambem, ealface. Uma pessoa qualquerafirmara ter visto o emprega-do cia quitanda voltando doMercado, com seus cestos car-regados. E os rumores foramConfirmados. Valia a pena le-vantar-se de madrugada, dei-xar a casa em desordem e saircom o estômago vazio. Serdas primeiras era o que tinhaimportância.

Mas como demora! Uma de-Ias boceja, outra suspira. To-das parecem resignadas.

Não adianta reclamar. E'sempre a mesma coisa.

E depois, quando se con-segue alguma coisa não se la-menta o tempo perdido.Sim, quando se conseguealguma coisa... Eu, ontem,esperei duas horas por um mó-lho de couves.

A nota pessimista foi lan-cada. Lamentam-se.

E com um tempo destes!...Sem falar no tempo "antes

do desmoronamento"... Olhe,"no ano passado tínhamos to-mates".

Então, uma voz dulçorosa,elevando-se, insinua-se porentre os sonhos multicoresque evocam todos os primoresde "antigüidade":

Ninguém é culpado. Hábons e maus anos. As geadas,as chuvas, tudo isso...

UMA MULHER TRANSMITESUA FÉ

IDe repente, o ambiente se

transforma. Uma onda de risoespalha-se de um ponto a ou-tro do grupo, tanto mais triun-íante quanto se seguiu a jere-miadas. Em certos momentos,o riso vale como um desafogo.

As chuvas. Ah! sim. aschuvas. E o bloqueio tambem,talvez. Como se nossos ali-mentos viessem da Indochinaou do Senegal! Fale-nos antes

.¦' V \ y

dos refugiados de Colônia. E'para eles que os caminhõessão requisitados. Fies q quese alimentam em detrimentode nossos filhos. Eles, sempreeles, quer sejam civis ou rhíli-tares.

Mas houve um movimentoqualquer, no armazém. Le-vantam-sc as cortinas de fer-ro, as portas se abrem. Emseguida, as melhores coloca-das entram, examinam, infor-mam às seguintes. A' excla-mação de entusiasmo provo-cada pela abertura sucede-seum suspiro de desencanto.

Há apenas dois caixotesde batatas, um de verdura, urade cerejas. Certamente, nãochegará para todos.

Uma mulherzinha magratem os olhos cheios de lágri-mas. Sua vizinha consola-a.com um empurrão amigável!:

Não vai chorar por cau-sa de uma salada, não?

Não, respondeu a outra,não é Isso. Mas lembro-meque lá, na Touraine, na Pás-coa, as cerejeiras estavamcobertas de flores. Todasaquelas flores converteram-seem belos frutos. E deram-nosa quem você sabe...

Foi justamente neste mo-mento que, na esquina da rua,desembocou um trio compostopor um militar e duas mulrje-res. Refugiados de Colônia,ou de outro lugar? Podia mui-to bem ser. Mas pareciam, naverdade, bastante contentes,muito bem nutridos paraquem tivesse sentido os horro-res de um êxodo. Náo esta-riam muito simplesmente emférias? "Visitem Paris, a maisbela cidade do mundo. Ambi-ente artístico, bom clima, bõaalimentação!"

Um rápido volver de olhosao armazém mostrou-lhes ocaixote de cerejas. Ah, quebôa coisa, de acordo com amanhã clara!

Entraram os três. sem olharpara a longa fila de mulhe-res que, desde manhã, tinhamo estômago vazio e os nervosexasperados. Admiram, vol-teiam os frutos entre os dedose mandam encher ura saco.

Saem conversando. Com gen-tileza de elefante, o soldadooferece .cerejas às suas com-panheiras. Elas se retorcem eriem, a boca cheia.

A senhora tem razão.Nãõ chegará certamente paratodas nós.

Vamos, isso seria triste— disse uma velha de rostoenérgico — se nós não tives-semos esperança, a nossa es-perança..

Vinte e três cabeças huml-lhadas levantaram-se. Osolhos brilharam.

Nossa esperança?? inter-roga uma voz-.

Parecia cética, essa mulher.Talvez, em sua cândida inge-nuidade, tivesse compreendidoque se tratava de Pétain.Tudo é possível, e nesse caso,evidentemente...

-— Sim, naturalmente, o ge-neral de Gaulle...

Quem pensaria em espan-tar-se, em protestar? Nin-guem. Mas uma delas ame-dronta-se

Oh, tome cuidado! Nãopronuncie esse nome. Pren-dem muita gente, fuzilamtambem. E' preciso descon-fiar de todo mundo, sabe?

Mas quem pode gabar-se deter impedido um francês defalar? E uma francesa, mui-to menos. Ela não ignora,por certo, que corre perigo,que uma de suas amigas foidenunciada por ter, ela tam-bem, falado em "Nossa espe-rança". Ela bem o sabia, dis-seram-lhe. Mas replica, agres-sivamente:

Ora vamos! Só para osdegaulistas de meu bairro, o'•Cherche-midi", a "Fresne" ea "Santé" não bastariam. Sequerem prender-nos todos,precisam construir novas pri-soes... Por que teria eu medosó por mim mesma, na-minhaidade?

Todos sabem o que fazem,todos sabem o que vêem. Falardaquilo que nos vai pelo cora-ção enquanto outros comba-tem pela França é o nossoconsolo. Já é bastante desa-gradavel permanecermos aqui,reduzidas a ocupar-nos so-

mente de alimentar-nos, sempoder prestar nenhum, servi-ço àqueles cuja vitória deseja-mos com tanta intensidade.Há momentos em que sintoódio, em que desejo fazerseja o que for para ajudá-los.Então, deixemos que as pala-vras saiam de nosso peito,deixemos que as palavras quenos sufocam formem certosnomes. E' um remédio mara-vilhoso. Depois disso, pareceque nos sentimos melhor, e de-pois, que já não temos tantafome.

A fila dissolveu-se empouco tempo. As mercadoriaseram tão poucas! No começode um dia, triste e duro comotodos os outros, uma mulhercomunicou a outras mulheressua fé inquebrantavel.

iA CIDADE SEM OLHOS

"Em nossa terra", dizia re-centemente um oficial alemão,"quando falamos de Paris, di-zemos que é a cidade semolhos, a cidade onde ninguémolha para nós".

Esta imagem é de uma ve-racidade marcante. Eles pas-sam: ninguém os olha. Espre-*mem-se no "metro", onde osdemais passageiros são for-çados a ficarem encostadosneles, peito contra peito. Maso olhar francês e o olhar ale-mão não se encontram nunca.Quando se exibem em paradasnos Campos Elíseos, a bandade música à frente, os rarospassantes param e fazem meiavolta.

— Olha. eis o circo — disseum dia um transeunte. E apalavra ficou,

Seria, aliás, exata a afirma-ção de que o soldado alemãobaixa os olhos. E a afirmativanão seria uma simples ima-gem. Olhai-os, esses compone-ses rústicos, mal à vontadeem seus uniformes. Embar-cam seguidamente no "metro",a mochila nas costas. Intro-duzem-se por entre as mu-lheres bonitas, os civis elegan-temente vestidos, os trabalha-dores que regressam ao lar.Tudo isso os desconcerta, osintimida, dir-se-ia. E, se por

acaso alguém os olha, num. momento de . distração, bài-

xam os olhos como pessoasque sentem que são demais.

Entretanto, isso é apenasuma aparência, porque a Ale-manha está em todos, os luga-res. Na rua como nos restau-rantes, nos escritórios comonas usinas... Baixam talvez, .osolhoSj mas para pousá-los so-bre as riquezas, sobre a pró-pria vida da França. Ê ofrancês, ele, ergue as páipe-bras, observa, e depois contao que viu. Repete, explica, elogo todo Paris fica sabendo.E, quando a verdade aparecemuito a luz do dia, quandonão é mais possível fazer ou-vidos de mercador, então osjornalistas a soldo da Alemã-nha imprimem desmentidos,afim, sem duvida, de que nin-guem a ignore mais. Afirmamque os "boatos" vêem de Lon-dres, lançados pelo "generalMicro". — E' ao general deGaulle que chamam assim. Otraidor de Stuttgart deve sero autor da expressão. Mas osfranceses bem sabem que issonão é verdade, e que as noti-cias de Paris, dadas por Lon-dres, apenas confirmam aqui-Io que já se sabe. Sabem tam-bem que De Gaulle age muitoe fala pouco.

Em Grenelle, uma mulherdo povo dizia, certo dia:

. — Se os alemães ganharema guerra, eu me suicido.

Tais palavras não eram umasimples fórmula. Perto haviahomens, mulheres, crianças.E todos, durante um segundo,elevaram os olhos para elàcomo para uma luz.

VIVA DE GAULLE!

Foi esse mesmo instinto po-pular que decidiu da sortede uma comerciante de arra-balde. A mulher recebeu, umahoite, a visita de um aviadoringlês abatido pela defesaanti-aérea alemã. Mandou-oentrar, serviu-lhe uma bebidaquente e foi prevenir a poli-cia. O aviador foi entregue ásautoridades alemãs. E daque-le dia em diante. ninguémtornou a pôr os pés na lojada traidora. O povo sabemuito bem que não se deveentregar um aliado, um sol-dado que procura refúgio.Ante este bom senso, ante esteimperativo do coração e da

(Continua na pag. 21)

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O falo mais importante da semana,pelo ícu caráter sensacional, foi a in-vasão, pelos aliados, da Itália própria-mente dita. Como a gente esperava,eles cruzaram o estreitíssimo estreitode Messina e caíram como um raio so-- .._ bre a Calábria.

Os fascistas queestavam do ou-tro lado, reagi-ram de maneirabiforme: os ias-cistas italianosjá se encontra-vam com sua ba-gagem pronta,tudo muito bemembrulha-do, e entrega-ranr-sc e n t r esorrisos e griti-nhos alegres; os

nazistas, ainda obedientes ao códigoprussiano, em vez de se entregarem,deram o fora, is$o é, entregaram oterreno. De forma qu.e o trabalho alia-do no sul da Itália tem sitio mais oumenos fácil. Alguns cavalheiros esper-tos, quando o primeiro soldado de 'Montgomery pisou im solo italiano,começaram a gritar que aquilo era osegunda frente tão esperada. Exagero,apenas. Hitler sempre considerou afrente do Mediterrâneo uma Lente desegunda importância. Ele espera a me-lódia, mas é po»r outro lado: pela coítanorte da França, por exemplo. Esta étambem a opinião de Moscou: o povosoviético, apesar de bater palmas aoassalto aliado contra o território me-trppolitano da Itália, continua aguar-dando que se inicie o verdadeiro assai-to á Fortaleza Européia. Segundo aImprensa soviética, a operação de de-sembarque na Calábria parece ternma tática de diversão, enquanto osquartéis generais aliados temperamcoisa mais importante. Que esta coisase dará, não se discute mais. E' talcerteza que tem emagrecido Hitler. Umjornalista norte-americano, que viveumuito tempo na Alemanha, acaba de

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receber notícias novinhas c pitorescasda frente interna germânica. Hitler es-tá se esvaindo a <>lhos vistos. Seusolhos estão mortos como os olhos deum impaludado. Sua face, antes tãocorada e brilhante, está flácida, e hámaiss rugas sobre elas do que afluen-tes no Danúbio. Uma recente portariado fuehrer explica que é proibido tirarinstantâneos do rosto de Hitler. Nadade close-upí, — Hitler só pôde ser fo-tografado na distância, pois que n%distância todos se parecem,

— oOo —

Finalmente Ciano foi encanado. To-go depois que Mussolini caiu do galho,começaram a correr vários boatos so-bre o paradeiro do genro. Ciano haviasido destituído da embaixada italianano Vaticano, mas ninguém sabia ondeele estava. As primeiras noticias, cer-tamente da United Press, informavamque Ciano chegara á Barcelona, ondefora recebido, com sorrisos de com-preensão, pelo super-general Franco,^Mais ta.de chegaram outras noticias:Ciano estava preso numa ilha, pescan-do trutas .Ciano fora detido na suaprópria residência, muito famosa pelpsseus esplendidos licores e por deter-minados caramanehões; finalmente, openúltimo boato informava que o con-de conseguira fugir de sua casa, dis-farçado de jardineiro, e se asilara naembaixada Argentina. Lá, Ciano in-formara que p.oeurara atingir a em-baixada do Japão ou mesmo a da Ale-manha. Mas como as duas ficavam dooutro lado da cidade, tão repleta deguardas e soldados, não foi possível.A Argentina tinha que ficar com oabacaxi.

Mas tudo isso era mais ou menos ei-nematográfico: a verdade é que, de-

pois que saiu dos pés do papa, danoescondeu-se na p;ópria Roma, ondeentrou em contacto com alguns ami-gos que, então, já não eram muitos.Um dia tinha que ser preso, e foi oque se deu. Outros cavalheiros fascis-tas tambem estão arquivados: Gal lia-ti. Starace, Rossini, Rottai, Arpinatti,Cienete, Piagi, Gazoti, Brandimente eScorza. O que não deixa de ser umacoisa ilógica, pois que Bagdolio estásolto eco chefe do governo italiano.

Já foi dado balanço na fortuna deCiano: o conde-genro possuía have-res e dinheiros que chegavam a algu-mas centenas de milhões de dólares.Somente nos regimens fascistas, tãoliberais, é possível a um simples adidode embaixada na China conseguir, emtão pouco tempo, tanta fortuna e tan-tas medalhas.

— oOo —O mais sério da guerra continua, ain-

da, a se desenrolar na frente oriental.,A ofensiva de verão dos soviéticosprossegue em negrito oito. Neste im.-tan te v vésperas do nosso almoço napensão Niagara, as tropas soviéticas lu-tam nos subúrbios de Stalino. Ko-notop c MaWiewk já estão no papo. Osmais recentes telegramas da Reutersinformam que toda a bacia do Donetzpassou por uma limpeza geral. A ba-cia está agora novamente nas mãosdos russos. Um pouquinho mais em ei-ma, os soviéticos se aproximam deKiev. .Tá estão ouvindo naquela cida-de o barulho da batalha, é o que di-/em os nazistas, e nem sempre ciesdizem mentiras.

Enquanto acontecem tantas bclez-sna frente oriental, volta-se a falar, cmWashington, num próximo encontro deRoosevelt e Churchill com o marechalStalin. Como sabeis, o marechal náo

pode tomar parte na conferência deQuebec porque estava muito ocupadoem derrotar nazistas á frente do seuexército. Isto leva a crer que os doisgrandes chefes democráticos irão aMoscou, o que dará esplendidas man-chetes. O próprio Roosevelt, na últimaentrevista que teve com os jornalistas,deixou entrever tal possibilidade. Den-tro de 48 horas, disse ele, tudo seriaresolvido. Esperemos, que não é mui-to tempo.

-oOo —Finalmente, o incidente entre a Ar-

gentina e os Estados Undos. A Argcn-tina mandara uma nota ao governonorte-americano pedindo os favoresdo "Lend Lease". Ela reclamava quotodos «*• nalses sul-americanos esta-

vam se armando, en-quanto que o exércitoargentino ia ficandopara trás. Ta! coisa,dizia a nota, redunda-rá num profundo de-sequilibrio armamen-tista dentro do conti-nente sul-americano,o que poderá trazerconseqüências poucoeor-de-rosa. Cabia,

portanto, aos EE. UTJ. mandarem ar-mas para a Argentina.

O governo norte-americano, pelavoz de Cordell Huíl, respondeu que rãoera possvcl. E enumerar dversos ra-zões, das quais Fão estas as mais im-portantés: o "Lend tease" só favoreçaas nações que estão direta ou indireta-mente metidas nesta guerra no blocodas Nações Unidas, o que não é o ca-so da Argentina; a Argentina náoatendeu ao que ficou estipulado em vá-rias conferências americanas, como ade Havana e a do Rio de Janeiro, prin-cipalmente esta última, que recomen-dava a rutura de relações com os pai-ses do Fixo em vista do ataque dsPearl Harbour. Po.- causa de tudo isso,os EE. UU. acreditam que a Argentinanão tem razão em pedir canhões ebalas.

t/t/mt DIRKTIIU» fAiUNA 7

SE EU FOS SE NELSON ROCKEFELLEROVANDO

>o governo dosEstados Unidos criou, em1940, o cargo de coorde-

nador dot Negócios Inter-Americanos, e indicou paraocupá-lo o sr. Nelson Rocke-fellcr, cujo interesse pela cul-tura e pelo comércio latino-americano já é conhecido, hámuitos anos, por nós, os sul-nm ir rira nos. Pensamos au* <cidéia era maravilhosa e queos Estados Unidos tinhamdado o primeiro passo para aconstrução de um hemisfériounido, para beneficio de todasas nações que dele fazem par-te. Mas, embora o coordenadortenha conseguido alguns pro-gressos, em sua maior parte otrabalho realizado nos dois úl-timos anos não tem sido sa-tisfatório, segundo o ponto devista da América 'do Sul.

Em seus esforços para esta-belecer melhores relações "co-merciais". t apenas justo afir-mar que os sucessos do coor-«tenador teem sido freqüentes.Todos os fracassos e todas a$dificuldades encontradas fo-ram devidos, largamente, «circunstâncias especiais cria-das pela guerra. Por exemplo,não seria correto acusar o co-crdenador por não termosnós, da América do Sul, rece-bido os vários tipos de maqui-naria de que necessitamos,desde que não há navios emnúmero suficiente para tra-ter-nos essa maquinaria,'que,aliás, em grande parte, já nãoestá sendo produzida. Nem se-ria igualmente correto acusare coordenador por nossa escas-sês de gasolina, quando o pro-duto 'i tão urgentemente ne-cessitado em outras partes domundo, na Rússia-, na Ingla-terra, va Austrália ou no Egi-to. Nós compreendemos quetais problemas são problemassem solução.

O coordenador foi mais e/i-' ciente na compilação de uma\ lista negra de firmas que de-

senvolviam, seja direta ou in-diretamente, atividades favo-raveis 'ao Eixo. Foi bem suce-dido quando conseguiu equipa-mentos e ajuda financeira, quesobe a oito milhões de dóla-res, para as companhias denavegação aérea nacionais daAmérica do Sul, causando, aomesmo tempo, a falência das

, companhias de propriedade doEixo. Este foi um gesto con-creto, que nos deu oportuni-dade para tomar posse denosso próprio espaço aéreo.Muitos outros triunfos foramconseguidos pelo coordenadorao conceder-nos crédito pormeio do Export-Import Bank,e ao abrir o mercado para osnossos produtos nos EstadosUnidos, estimulando assimnossa agricultura e nossa in-dústria de mineração.

Não tenho certamente a ín-tenção de negligenciar, nemmesmo numa vista de olhostão rápida como esta, as im-portantes atividades da "Divi-sion of Health and Sanitation"da Coordenação, que melhora-ram o "standard" de saúdedos trabalhadores de ambasas Américas. Por exemplo,quando uma perigosa epidemiade meningite irrompeu noChile, no mês de julho último,a "Division of Health" enviouimediatamente, por avião, osmedicamentos necessáriospura combatê-la.

Mas, se eu fosse Nelson Ro-ekefeller, não estaria cojnple-tamente satisfeito com o quetem sido feito no setor psico-lógico, mais dificil de atingirpor abstrato, e que está a car-go das Divisões de Imprensa,Rádio c Cinema da Coordena-ção. Compreendo perfeitamen-

te que ê muito dificil medir osresultados de atividades tãoimpalpaveis, como as que jo-gam com os temperamentos. Ké ainda 7nats difícil porquenós, sul-americanos, ternos ohábito de ser sempre amiga-veis, não proferindo verdadesdesagradáveis para não ferira boa vontade dos eslrangei-ros. Mas agora, durante estaguerra, quando o perigo amea-

da politiza de Boa Vietinhança.Tais possibilidades mostram anecessidade imperiosa de queexista um verdadeiro entendi-mento e uma verdadeira aml-zade entre os povos da Amé-rica.

Muito embora, os esforços docoordenador, no campo psico-lógico, consistiram num apeloaos governos de nossos paises,e não ao povo principalmente.

Todas as palavras espalhadaspelo mundo sobre a produçãode guerra dos Estados Unidosnão obteem efeitos tão reais,em nenhum caso, como os oí>-tidos por uma simples vitóriacontra o Eixo. E os súl-ameri-canos não devem ser obriga-dos a ler noticias a tal respei-to em publicações especiais daCoordenação; poderão lê-lasmuito anies em seus próprias

A Coordenação Tnteramericana. cro se* esforço Je aproximar os poros do Vovó Mundo U>mT£ MUma W*^™*^™** o-io valor histórico só muito mais tarde poderá ser apre.ciado. Mas a C oordenaçao Interamericana ta mbera tem cometido muitos erros aiguns deL^nrTIrH °*

™^? ^l™ ' QUC ai"--amc» P»'* »* benefício* por ela causados. Oautor do artigo que aqui publicamos analisa com alto critério c objetividade as vantagens edesvantagens do programa que vem sendo desenvolvido pela organização que o presidenta

ttÍT/r0;^ d°

? NeI "n *»*¦¦•&«¦. diretor da grande revista chi-

nZSLFSSXJ ^W>anC' Um dC8 me,faor<* Jornalistas do Chile, escreveu sobreNelson Rockefeller e seus esforços um oportuno r interessantíssimo artigo. E tamanha foi »TlT^°JTC

artíg° q°e V?^ n^"««*F«F*. "HarperN Maga/ne", resolveu traduÜZÁ ~2 L*™?*** P-^S-08*-» PaSf-na*. E é o que DIRETRIZES também faz ^uí.«mt>ora c«m certo atraxo, poj, nos parecem merecedoras do mator acatamento as opiniõesexpendidas peto noato colega chileno.

Artigo ée MÀN4&L S#OAWf, arorxáe jomoiwto cMeno

ça Igualmente todas as naçõesda América, creio que a nossaobrigação é sermos francos «oferecermos criticas constru-Uvas.

Para que exista umaverdadeira frente de-mocr.ática continental

A Coordenação percorreuuma grande distância no ca-rntnho que levará a uma me-lhor compreensão mútua, masnem sempre seguiu as ínstru-ções dos postes de sinais, e,muito freqüentemente, temenveredado por caminhos la-teraís sem saida. Aparente-mente, nunca se deu conta detal fato.

Os primeiros passos, verda-duramente dados em direçãoà solidariedade do hemisfério,partiram de Roosevelt e Wal-lace. quando exprimiram suaboa vontade e amizade paracom o povo da América doSul, passando, dejxyis, a pro-iwr o que dizia?n com açõesconcretas como (a) não inter-vencão no México durante oconflito petrolífero; (ò) aboli-ção da Lei Marítima e marcialda Nicarágua em 1933, e deHaiti mais tarde, e (c) a abo-lição do Regulamento Plattem Cuba. Estes foram fatos deeloqüência irrefutável. Mas fo-ram apenas os primeiros pas-sos. Tratava-se apenas doprincipio do fim de uma poli-tica tão desagradável para opovo do Norte como para o doSul. Tais atos ajudaram a dis-sipar nossas desconfiançaspara com a América do NorteMas, entre a desconfiança e acompreensão e a amizade, de-senrota-se uma longa e árduaestrada.

Nesse ponto, devemos notarque nem todos os países daAmérica do Sul são democra-cias; vários deles são simples-ir ente semi-democracias, e ai-guns estão sob ditaduras devariadas fonnas. Freqüente-mente, acontece também naAmérica do Sul que uma re-volução transforma um gover-no quase abruptamente. Scnão houver uma conciênciacoletiva entre o povo, paramanter a amizade inter-ame-ricana, será multo fácil paraum novo governo tomar posi-ção diametralmente oposta àpolitica até então seguida,bem como nos Estados Unidos,quando a administração dcRoosevelt fór substituída poroutra qualquer, possa vir 'a serabandonada com a mudança

M não há desculpas para isso.O caso não é tão complicadocomo pode parecer. Não hánecessidade de organizar umcomplexo sistema de propa-ganda para atingir os ouvidosde vários povos com seus vá-rios temperamentos, na Amé-rica do Sul. Temos nossas pró-prias organizações, nossos jor-nais e revistas no auge daluta contra o Eixo — muitosdeles. E' trágico, naturalmen-te, que o coordenador despreze

'¦'Í"^S^Ík«!ct^3a^i^HwH?**-*:-'«"'^ '^^^-I^Hp' ^^-tv*r*"•&'^''=í

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Nelson Ro#k«f»ller

essas armas na batalha con-tra Hitler, pois figuram indu-bitavelmente na lista das maisfortes armas da batalha de-mocrática na América do S*l,atualmente.

Esses jornais e essas orga-ni&ações falam a nossos povosem sevs próprios termos, eapelam para eles em causa dointeresse comum. E' lógico queum chileno interessar-se-ámuito mais em conhecer osefeitos da guerra sobre o ni-trato chileno do que na orga-nlzaçãc* do esforço feminino deguerra nos Estados Unidos; écert<> qwi um venezuelano de-sejará muito mais saber o queirá acontecer ao petróleo daVenezuela do que ficar cientedo número de aeroplanos pro-duzidos nos Estados Unidos.

jornais, 'tue sã* servidos pelasmesmas agencias telegráficasque servem aos doj EstadosUnidos.

Os grupos pró-democráticospodem, de melhor modo, sus-tentar forças similares nospaises vizinhos. E a soma to-tal de nossas repúblicas sul-americanas poderá, então, ser"coordenada" com as lulas de-mocráticas da América doNorte, criando assim uma ver-dadeira Frente Democráticado Hemistério Ocidental. En-tretanto, o coordenador cen-traHzou tudo em Washington,e todos os folhetos, revistas eartigos são escritos e publica-dos em massa para distribui-ção na Américo do Sul. Taisartigos e revistas são escritos,na maioria dos casos, por pes-soas que não conhecem espa-nhol ou português, ou que co-nhecem muito pouco estas lin-guas.

Há cerca de Syitocentas pes-soas empregadas na Coorde-nação, e delas somente deze-sete são sul-americanas. Talnúmero não atinge nem se-quer a média de um sul-ame-rieano para representar cadauma de nossas vinte repúbli-casf E dezess-is dentre elasocupam posições obscuras co-mo tradutores, vertendo meca-nicamente para espanhol eportuguês artigos escritos pornorte-americanos. Há apenasum sul-americano — um boli-viano — em toda c Coordena-ção. ocupando a posição deconselheiro de Assuntos Sul-Americanos!

A lingua é coisa excepcio-nalmente importante. Não so-mente reflete, como também.em muitos sentidos, condido-na o temperamento e os hábi-tos de um povo. Como podempessoas que náo nasceram coma nossa íngua c nossos costu-mes, que não pensam em ter-mos de nossa linguagem, pre-tender conhecer os meios dese dirigirem a nós com efi-cència9

Um dos principais meiosusados pelo coordenador parase dirigir a nós é constituídopela revi s t a "Em Guarda",uma ¦publicação muito custosae muito atraente, cheia de fo-tografias e artigos, e seme-lhando um tanto, quanto aoformato, à revista "Life". "EmGuaida" publica oitenta milexemplares mensalmente, aum prec-:> oue io':n enlóüque-cer um editor sul-americano.Mas. tanto quanto eu saiba,isso não passa de um desper-

dido de papel, tempo e di-nheiro, pois a revista não élida pelo povo. que se encon-tra mais aproximado dos Es-tados Unidos em suas aspira-çôes. Circula entre os fundo-nârios governamentais e asembaixadas estrangeiras naAmérica dc Sul. /¦.* uma revistalida por diplomatas e conser-vadores. o povo não a lê; e ospoucos que a procuram, irri-tam-se com o que vêem.

Por exemplo, recentemente,"Em Guarda" publicou um ar-tigo simpático ao general UM-co, o ditador da Guatemala.No artigo era mencionado osímbolo nacional da Guate-mala, o Quetzal, um pássaroque se afirma simbolizar a li-berdade porque morre logo qnec capturado e engaiolado. Du-rante um período de anos, c^.próprio general Ubico tem ca-pturado e aprisionado literal-mente milhares dc seus adver-sários políticos; e alguns des-tes, também, morreram emsuas gaiolas de ferro, não vo-luntariamente. como o Quet-zal. mas por ordem do ditadorUbico. Estas coisas são bemconhecidas na América do Sul,e somente por h umo ris mo ésarcasmo pode uma pessoaafirmar que o general Ubico épartidário da liberdade segun-do o modo de pensar latino-americano. Uma contradiçãoirônica como essa pode tersido causada seja pelo desejode agradar ao governo daque-le pais sul-americano em par-tieular. ou seja por uma igno-rância dos fatos Em qualquerdos dois rasos, o efeito foi omesmo: homens instruídos guesão realmente anti-totàlitâriose inimigos de Hitler. atiraramraivosamente a revista ernsuas cestas de papéis. E ou-tros. os sul-americanos que nãoestão certos do que está acon-tecendo, que não conhecem,estão preparados para recebera propaganda nazista depoisde ler um artigo como esse degue falamos. Os nazistas di-zem-lhes que os Estados Uni-dos teem intenções imperia-listicas em relação á Américado Sul, e estão conseguindo acooperação dos "homens for-tes" sul-americanos para aconsecução de seus fins.

Alem desses artigos de elo-glo prejudicial a alguns dita-dores. "Em Guarda" contémainda muitos argumentos quedemonstram a força potência1dos Estados Unidos. E issotambém, é alguma coisa de(pie os agentes nazistas podemfadlmenfe tirar vantagem domesmo modo.

A única solução real consis-te em afirmar e sustentar quco poder dos Estados Unidosestá a serviço da defesa dohemisfério e de uma grande ecomum aspiração democráti-ca. Até mesmo a palavra "de-mocracia" parece ter sido ex-cluida do vocabulário de apro-ximação psicológica, porquecolide com as idéias dos go-vemos de força a que estãosujeitos muitos paises sttl-americanos.

Por outro lado, jornais *ul-americanos que são lidos erespeitados pelos elementospró - democráticos — jornais,alem disso, que continuamenteconvertem outros elementos àssuas fileiras —• estão, ou re-duzindo sua circulação, oususpendendo tot(>nente a pu-blicaçáo. "Critica", um grandejornal de Buenos Aires, recen-temente teve que pedir em-prestado papel para podercontinuar circulando. Outrogrande jornal pró-democráticode Montevidéu foi forçado «

(Continua na pag. 12)

PAGINA 8 DIRETRIZES 9/9/1943

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EDITORA"DIRETRIZES" LTDARua 1.» de Março, 7 — 8» andaríBoco do.s Barbeiros. 6)Telefones: «-85J0 e 13-8198nircíor — SAMUEL WAINKRSecretário — .?OKL SILVEIRA

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RIlIIílíHISO MUNDO DE

AMANHÃO discurso do presidente Getulio Var-

gas, nc dia 7 tíe setembro abordou váriosproblemas de palpitante atualidade. Res-po7ideu mesmo tíe frente a 7nuitas i7iter-rogações que estavam há vir ses Ji0 ar.Neste tópico queremos destacar apenasuvia delas. E" a que se refere às preo-cupações de c.rta gente sobre como será• mundo tíe amanhã.

DIRETRIZES publicou já, há pOUCOtempo, alguns artigos sobre o assunto.Jornalistas 7nais ou menos arliquines-

cos andaram insistindo no tema de queo mundo tíe amanhã seria à imagem dis.to ou daquilo. A lenga-lenga fascistóide,pela teimosia e arrogância, parecia ser-7não encomendado. E7üão, fizemos vêrmodestamente que o mundo de amanhãserá organizado segundo as novas ruces-sidad.es, concepções e experiências e nãocorno querem os apressados e cav:iososfuncionários da propaga7ida ou do inver-so da propaganda.

Agora o essencial é Jazer alguma coi-íü, é faz. r o máximo para que o Bra-sil possa tambem ganhar a guerra — queé a única maneira de ganhar a paz e aliberdade.

Ainda acentuamos que a solução do pro-blema brasileiro esta é numa politica deapaziguamento, compreensão e tolerânciae nao em aventuras do tipo fascista, emgolpes grosseiros ou em arrivismos desla-vados. E isto é o que continuamos a afir-mar.

Sobre esse particular, o presidente. rJ>uôtnna resposta aos divertidos profetasneo-fascistas do mundo de amanhã, quan-do disse:— "Em plena luta, ao lado dosnossos aliados, correndo os mesmos ris-ces, a serviço dos mesmos principiar, cia-ram.nte definidos na Carta do Allânti-co. só essa luta nos deve preocupar sen-do desperdício de tempo e de energias for-mular prognósticos sobre as formas c pro-cessos da reorganização ão mundo Nin-gu m pode, a esta altura dos acon teci-mentos, prever com segurança os rumosgue tornarão cs povos atualmente açoita-dos pelo terrível flagelo da guerra'- Qsacontecimentos é que ditarão os rumosnaturalmente. Para os Mero/antes, istocausara tristeza; ficarão nervosos, comose pisassem em areia movediça. Mas quefazer?

E, como desenvolvimento lóqico realis-tico desta idéia, é que o presidente acres-canta: — "Os problemas i7Íternos de es-trutura definitiva do Estado, de cumplc-meni ação da ordem institucional, serãoresolvidos em tempo com o pronuncia-mento amplo de todas as forcas sociais1'.O sentido desta afmnaeüo é mie quemdecidirá, em, última análise, são as for.ças sociais, estimuladas i>èlos aconteci-mentos internos e externos. Numa si-tuação de emergência. na verdade, nadapode ser decidido de uma forma livre, des-de que. as franquias populares não seacham em pleno rigor.

O discurso do presidente leva-nos a ra-ctoeinar assim: as nações, no futuro, se-rão regidas no sentido de uma perfeitaharmonia entre elas; o mesmo aconteceráentre os grupos sociais e tambem entre osIndivíduos, que são parte desses grupos("a interdependência é lei infl xivel").E para gue o direi/o de texios seja tíefato assegurado tomarse-â imperativo oexercido deis liberdades populares, espe-de de "pedra de togue"' ou o meio tíe ex-perimentar a democracia 7io mundo deamanhã.

CAPITULAÇÃO

cheu a cidade e fez aumentar o júbilo domundo democrático i>elsi marcha da guer-ra contra as hortas totalitárias..A significação política da Itália vencida,esmagada, destronada — náo o povo italia-no inas o seu regime que o explorava eoprimia — vem marcar um verdadeiroacontecimento liistórico no qual se podefixar uma etapa conquistada pela democrá-cia na sua luta gigantesca, a queda deMussolini não significou a queda do fas-cismo, mas a capitulação de Bagdoüo ex-

prime que o fascismo chegou á sua real ago-nia e nao pode sobreviver ante a agitaçãoque levanta o povo italiano contra qual-quer sobrevivência fascista, inclusive aCasa dos Savoias. Toma-»e claro que deacordo com a Carta do Atlântico, os ita-lianas teem direito a, desde já, e em íun-çao da guerra levada até as fronteiras daAlemanha, constituir o seu governo demo-crático. realisando assim o principio deauto-determinação respeitado pelas NaçõesUnidas.

Ante a rendição incondicional da Itália,o espanto e o estarreci men to dominam ai-guns milhares de pessoas que tinham ain-da ilusões acerca do pretenso poderio doregime do calomelano e maganelo instau-rado por Mussolini nas alegres e lumino-sas terras de Mazzánj e de Garibaldi. Apropaganda fascista dava a impressão deque o fascismo seria capaz de fazer da Itá-lia uma espécie de Império Romano sol-tando legiões e legiões sobre o mundo. Oaparato das míMcios, das paradas .dos ni-nos, dos discursas, das fachadas e das agên.cias de turismo político escondia o martí-rio de um povo enganado, traído, envergo-nhado, ocultava a decomposição crescentede um regime que enriquecia apenas o con-de Ciano e meia dúzia de banqueiros In.temacionais nascidos na Itália.

Tratava-se, apenas, de uma ruidosa ca-mouflagem sustentada á custa de muitosangue, de muito terror, á custa de mi-lhares de prisioneiros políticos apodrecen-do nos cárceres do imenso campo de con-centração do. outróra, país de Matteotti.

Hoje,, dejxns que as forças aliadas toma-ram a ofensiva sente-se afinal que a ilu-são caiu totalmente. A democracia de-monstra politicamente, militarmenle. a suaforça e se aproxima da bastilha hitlerianae vai esmagar o monstro em seu própriocovil. Sob os terríveis bombardeias, traídapor Bagdoüo. sob o jugo de uma casa realdesmoralisada e aterrorisada. a Itália dáagora, ante a capitulação, os primeiros pas-sos para a libertação.

O povo italiano não se sente derrotadomas a caminho da liberdade, condição uni-ca para a sobrevivência dos povos. Rende-se não o povo que .sempre repudiou a guer-ra e que era dominado por uma tiraniasanguinária e abjeta ma.s o regime quequeria escapar da derrocada que por milmodos tentava protelar a independênciado paLs que aviltara, sugeria negociaçõesque ofendmm os princípios por que se ba-tem os soldados das frentes da África daSicília de Smolensk a Kuban. Para fas-cistos não há negociações honrosas. Fas-cistos são criminosos comuns que devemser varridos da terra pela barbaria quepraticaram, pe!a mentira, pela infâmia, portudo que impediu neste século a marchada civilisação a objetivos mais amotos emais seguros em benefício dos povos.A capitulação de Roma deve ser saúda-da pelos povos democráticos como a vés-pera da capitulação da Alemanha.

O mundo inteiro assiste a falência doregime até ontem proclamado por muitosresponsáveis e por muitos aventureiros co-mo o Esfado Forte, como a Nova Ordem.As tropas aliadas estão agora a caminhode Roma. Não para colocai outro Musso-lini mas para entregar o país ao seu po_vo. E' o que esperam os democratas em-penhados nesta luta de vida e morte en-tre as ultimas tiranias fascistas e os ho-meus livres.

IVEMOS tempo ainda para registar nes.B te número de hoje, a capitulação daItália Á noticia espalhada pe|o rádio en-

O POVO CHILENO, VON-TADE ORGANIZADA

Com a chegada do embaixador chilenoao Brasil que vem tomar parte nas festasda nossa independência, é oportuno des-tocar a aproximação cada vey. maior entrea nação brasileira e a república do Pací-fico. Esta aproximarão adquire maiorsignificação em virtude do caráter demo-crático de que se reveste o país amigo quenos dá exemplos de uma progressista or-ganização à base dos princípios da liber-dade e do apoio "popular.

A democracia chilena tem atravessadoperíodos críticos, tem lutado seriamentecontra os golpes e a emboscadas da quintacoluna e sai dessas lutas mais forte e maisconciente, gradas ao poder de organizaçãode seus partidos, de seus sindicatos, deseus clubes que se orientam no sentido dedesenvolver e assegurar no país as liber-dades democráticas. O espetáculo dasmassas organizadas no Chile é realmenteempolgante e revela o segredo da segu-rança com que o povo chileno vem afir-mando a sua opinião, vem se impondonas urnas, vem combatendo o fascismo eamplia a capacidade de seu governo. Semessa organização, sem essa distribuição deresponsabilidade por todos os democratasque se organizam em clubes, sindicatos, as-sociações. jornais e revistas, não seria pos-sivel enfrentar os destacamentos mercená-rios da quinta coluna. O povo se agitanas rua% mas se agita na base orgânicade seus partidos democráticos, e assim asua agitação resulta construtiva e cresceà proporção que essa base orgânica au-roenta de consistência e em profundidade...Por isso vemos que a aparência de (»risede gabinetes, as lutas eleitorais não sã»mais do que nrn sinal de vitalidade e deindependência do povo chileno que pen»»

ECONOMIA

COMÉRCIO E DISTRIBUIÇÃOA guerra popularizou vários capítulos da ciência econômica que se achava,,,dtdos nos tratados. Um. deles, a distribuição, é agora discutido sob vários

m escon*as.pectos Discute-se qual o modo de distribuir as utilidades, se racionando ou seaeixanao a cada um a faculdade de comprar o gue quer e pod,e. Mas discute-setambem o que modernamente se vem chamando a organização da distribuição A en-trega das mercadorias ao consumidor nos tempos modernos constitue simplesmente opapel comércio. De modo que, embora tal não pareça, organizar a distribuição é õmesmo que organizar o comércio. ^° c "

E' comum falar em organização da indústria, dos transportes, dos bancos e doseguro. Mas nunca se trata propriamente da organização do comércio E' gue o vo-cabulo organizar nao i sempre empregado para significar o ato de criar órgãosOs órgãos do comércio são tantos quantas são as casas comerciais existentes no

, pais. A quitanda, o açougue, o armarinho, a venda de secos e molhados a sapa 1 áriasão os instrumentos da atividade social que se chama a troca. A lavoura e a indústriacom suas fazendas e fábricas produzem e as "lojas" distribuem, "trocam por dinhei-ro", como diz a ironia popular, repetindo-o qne está nos livros.Se há poucas fábricas de um produto ou de outro, os técnicos e a imprensa looopedem que se desenvolva essa ou aquela indústria. Não se pede o aumento dai casascomerciais que vendem esses produtos. Por outro lado,quando uma indústria entra emcrise imediatamente se cogita de resolver os seus problemas organizando-a Ainnen-

A^Sn ^nrZlT-n ?** T^l

SeUS abalos traà-u2-*e atualmente por organizar a produção,entü!- e ^ordenar

tamhem crmr °* desenvolver mas igualmente regulamentar, oruNão é que o comércio tome atitudes mais rebeldes que as outras atividades eco-nomicas. De. vez em quando o Estado o substitue na venda de algum produto passon-do a distribui-lo por conta própria. As cooperativas alargam-se e, vez por outra tam-bem o substituem como agente distribuidor. E, além desses pois "substitutos"' maismodernos do comércio, a própria indústria invade o seu campo, fazendo ela mesma adistribuição de seus produtos. ET o caso das fábricas que. criam entrepostos e lojasvende7ido diretamente à clientela sem qualquer inter7nediário. As chamados organizaições verticais partem às vezes da matéria prima englobando em uma só empresa a m.tração, a transformação e a venda ao consumidor.A distribuição nesse caso se realiza sem o comércio propriamente dito, corno mdefinem os economistas. Comerciar é comprar um produto para vendê-lo intacto, sem

qualquer alteração on transformação. £* uma operação por natureza executada emplano horizontal.

A guerra nô-la apresenta, entregue a um imenso organismo espalhado em planoque cobre toda a Nação. Nos grandes centros urbanos, nas estações ferroviárias quasedesertas e nos caminhos e encruzilhadas do hinterland, lá estão as agências desse oi-gantesco organismo. Incumbido de passar o produto da mão do produtor para a dmconsumidor, sua tarefa i levar o produto onde exista quem dele necessite.

Não imporia que em grande maioria suas agencias sejam empresas autônomas.O que o caracteriza no sistema econômico é o seu papel de aparelhamento distribui-dor. E< com esse caracter que ele se apresenta em locais tão afastados onde o próprioEstado não o acompanha. Sua natureza è a d>e organismo aparentemente dispersamas de fato onipresente.

A guerra encontra o comércio com suas qualidades próprias c não lhe retiraseus atributos essenciais quando, por seu intermédio, institue. o racionamento <". aspricridades. As restrições t impedimentos recaem de fato sobre os órgãos da produ-cão — a lavoura, a pecuária, a extração e a indústria — e sobre os da circulação ousejam os transportes. Quando a rcgula7nentação da economia de guerra afeta o comer-cio é principlmente para atingir "por tabela" o sistema geral de elaboração dos pro-dutos ou para ajustar estes às nec&ssidades do consumo de guerra.

Nesse sentido a organização da distribuição não é urna criação 7iem um deseiu.volvimento. Mesmo nos casos em que o Estado chama a si alçruns setores da comprae venda o que se processa é uma transferência de comando. Trata-se de um grupo deagências da distribuição que o Estado asocia. Em técnica de organização é um fenô-meno dos mais comuns e que nunca importa em retirar os órgãos as suas funções e aoorganismo os seus verdadeiros fins. A guerra já o vem demonstrando.

e opina através do debate, do livre exame,da ampla discussão, da liberdade de pa-lavra e de pensamento. Ao mesmo tempoque pensa c discute, sabe agir ordenada-mente, sabe proceder como organização,não se dispersa em simples tumulto de ruamas se eorporifica em vontade organizada,em ação criadora. E é o que constituea vitória do povo chileno sobre o fascismo.

INDÚSTRIA EENGENHARIA

O Brasil encontra-se no inicio de 11171anova etapa econômica baseada na indus-tria pesada. Acontece, que se o ferro, ocarvão e o petróleo são os esteios de nos-sa emancipação econômica, essa emanei-pação não se fará sem a ajuda dos enge-nheiros. Não bastam os recursos mate-riais ca mão de obra (que entre nós pre-cisa aliás, deve ser aperfeiçoada), São in-dispensáveis a presença e a ação dos en-genheiros. As escolas de engenharia quepossuímos são precárias, não atendemmais às exigências da situação criada pelaevolução industrial do país. Pedem retor-ma da "raça", (cuja orientação, por cer-o Brasil dispõe, não cherram para as suasnecessidades atuais, rciaiivamente peque-nas, calcule.se o que acontecerá dentrode cinco ou dez anos.

O Ministério da Educação tem dispen-sado, por exemplo, maior zslo ao proble-ma da "raça", cuja orientação, por cer-to, depois da falência do racismo ou donazismo no mundo, terá de ser retificada)do que mesmo ao proble7na da formaçãode engenheiros, problema das escolas deengenharias. A nossa Escola Politécnicaprepara engenheiros que saem sabendode muitas coisas, tíe modo geral, teórico,mas não tudo que. é preciso de uma es'-pecialidade determinada, não capazes deentrar para um escritório ou para uma fá-brica e começarem a trabalhar como

ver dadc.ros engenheiros. Náo facilita a nos-sa Politécnica aos estudantes o treinamen-to, a parte prática da profissão, a técnicaao vivo. o que constitue, uma grandelacuna.

Vamos fabricar ferro e outros ineiais,mas.para isto precisamos maior quantitía-de de engenheiros de minas que orientema produção nas fontes dos minérios ede engenheiros de máquinas qne utilizem.o ferro na fabricação de máquinas, umavez que, se não chegarmos a produzir má-quinas, de pouco nos valerá Volta Redon-da.

Claro que não vamos deixar de lado os

engenheiros civis, os que cuidam da cons-trução de arranha-céus e de estradas.Mas todo o esforço, neste momento, deveser -èdirieiido no sentido da preparação deengenheiros de máquinas, engenheirosmecânicos, engenheiros de minas, enge-nheiros químicos, engenheiros ligados es-pecificamente aos ramos de indústria queteem por base o carvão, o ferro e o pc-iróleo. E' com certeza, por esse caminho^

o caminho da industrialização, que noBrasil iremos formar uma forte e grande"raça". A "raça" que, dispondo ic má-quinas, poderá obter uma produção maiorde alimentos e, alimentando-se melhor,será naturalmente forte e bela.

Cuidemos, poli, desde já, da "fabrica-cão", de engenheiros, como o problemanúmero um do ensino brasileiro. O 77ii7iis~tro Capanema, tão talentoso c patriota,não pode deixar de concordar com estapalpite de DIRETRIZES.

A GUERRA E O HO-MEM BRASILEIRO

Apesar de toda a longa e frenética cam-panha levada a efeito pelo integralismono sentido de amortecer a sensibilidadebrasileira e impedir os movimentos de de-fesa da nação quando atacada pelo nazi-fascismo, o Brasil não fracassou na horadecisiva. O presidente Getulio Vargas eraseu discurso de 7 de Setembro afirmou ca-tagoricamente: "os nossos problemas be-licos não são problemas de homens; esteasobram, prontos a combater".

Qs brasileiros invariavelmente deir.ons-traram amor verdadeiro à pátria e dispo-sição de servi-la nos momentos mais gra-ves e de perigo. Na guerra de indepen-dencia nacional, como a que ora eniren-tamos — quando um Inimigo cúpido e. erarelação a nós, muitos vezes superior eraarmas nas ameaça — esse sentimento cl-viço floresce admiravelmente. Como nopassado, agora tambem não faltou o vo-luntariado ao apelo solene das armas.

Alem disto, a guerra atual é ao mesmotempo em defesa da democracia, ameaça-da de destruição pelo fascismo sanguiná-rio e selvagem. O povo que fez a sua in-dependência, através de lutas que consti-tuem epopéias liberais imorredouras. nãopoderia falhar no instante em que a nu-manidade pede o seu esforço para salvara liberdade em risco de ser estranguladapelos gangsters totalitários.

Para a defesa da pátria e para a de-fesa da democracia, o povo brasileiro sem-

(Continua na pag. 27)

9/9/1943 DIRETRIZESPAGINA 9

áms

j\| O convento católico dasadora tnces ae Gerona,

ençonvra-se uma mulher es-parinola de quarenta anos deíuaue, invaliaa, com uma per-na ue madeira. De condiçãomodesta, esta senhora ganna-va a vida em outros temposcom a manufatura de meias,para o que dispunha dumamaquina própria para esteserviço. Era tida em muitaestima e consideração peloseu bom comportamento e erarespeitada por todos, motivopor que quando se instaurou aRepública foi uma das pri-meiras mulheres designadaspara tomar parte no jurado.Este é o único crime de.stasenhora e este foi o crimeporque a condenou o tribunalde Franco a trinta anos deprisão.

E' uma das 1.700 mulheresde diversas idades, entre osdezesseis e os sessenta anosde idade, atiradas em condi-ções inenarráveis num velhoedifício de três andares, con-vertido atualmente em prisão.Estas mil e setecentas muihe-res formam, por sua vez, par-te_ dos dois milhões de cida-dáos de ambos os sexos quepovoam os cárceres dos pre-sidios da Espanha do Caúdi-lho.

Minha esposa as conhecepois teve de passar um mescom elas. Ao atravessar afronteira para entrar na Es-panha, seu passaporte foi dis-ctitido e disseram-lhe que de-via ficar detida enquanto náolos.se investigada a sua en-trada na Espanha. Na frianoite de inverno em que estelato acontecia, náo prestoumuita atenção aó lugar paraonde a conduziam. Casas em

. ruínas, alinhadas ao compri-do da rua; sentinela.s arma-dos montavam guarda emum edifício cujas portas abriuuma freira para recebê-laMinha mulher teve de seguira freira por corredores som-brios, até que no fim se dete-ve no meio de um salão.Aproveitando um espaço livre.colocaram um colchão emmás condições sobre os ladri-lhos e este foi o lugar que lhedestinaram. A má impressãocausada por todo aquele des-conforto feriu seu espirito,fazendo-a volver â realidade.Deram-lhe um prato e um ca-neco de estanho. O vestibuloescassamente iluminado esta-va cheio de escuras sombras:mulheres com chalés sobre osombros, com lenços à cabe-ça, velhas e jovens, sentadas,agachadas e deitadas. Era umdesagradável conjunto dondesaiam vozes: todas as paredespareciam cobertas com som-bras de mistério.

A certa hora o vestibulo seesvaziou e minha esposa se-guiu àquele rebanho numa-no, chegando até o fim dumestreito corredor onde seachavam, em filas-de duas,quatrocentas mulheres deprato e caneco de estanho namão. De uma cozinha saíatanta fumaça -que as faziachorar. A freira disse umaoração, que foi respondidapelo murmúrio de quatrocen-tas vozes. Outras duas frpi-ras. indiferentes e frias, en-chiam os pratos de estanhocom o que retiravam de unsbaldes sujos. A comida nãopassava de um intragávelrancho de presos. Era umcaldo pobre e desagradável.Finda a comida as freirascontinuaram vigiando as mu-lheres na saída. Uma estran-geira! A prisão de Geronaacabara dc receber sua pri-meira hóspede estrangeira.Correu a noticia da chegada

garam a fraquíssima lâmpadae tudo ficou em um desagra-davel ajuntamento de tal for-ma que as cabeças de umasficavam entre os pés de ou-trás.

No fim de poucos dias o es-tragado colchão já não ser-via contra a fria humidadedaquele pavimento despido detodo e qualquer abrigo. Os-dormitórios não se arejavamnunca e muito menos os col-chões, pois que deviam servirdurante o dia de assento, vis-

uso de mil e setecentas mu-lheres, colocadas num dormi-tório. eom uma simples sepa-ração de cortinas sem papelde espécie alguma. Todas asmulheres deviam ficar em fi-Ias para poderem usar as la-trinas e a água dos baldes.

Para 1.700 pessoas havÉsomente duas enfermariascom sessenta leitos. As en-fermarias careciam absoluta-mente de calefaçáo. A maiorparte das camas estavaocupada por anciás, muitas

sopa de arroz, grão de bicoou couve. Cada dois dias for-neciam um pão pequeno, pre-to, compacto, de cinco a seisonças de peso. Tais raçõeseram apenas suficientes paraimpedir que as mulheres mor-ressem de fome. As que nãotinham recursos — a maioriaeram vitimas de fome perpé-tua. Estes sofrimentos pode-riam ser aliviados com dinhei-

ro ou alimentos vindos defora, mas as famílias das pre-sas não tinham recursos nem

Ernesto Schauer publicou na revista "Free \Vora reproduzimos sobre a vida das mulheresum documento vivo pois o grande repórter ammunhados por sua esposa, que esteve algunsadoraihces de Gerona. Agora, que os unglo-aquanto a. outrora orgulhor.n Werhmacht e levad> linhas", pela avalanche russa, è muito opcorno esses revelados na reportagem de S^hawrdos pelo espírito de rapina dos nazi-fascistas'seus baluartes. O fascismo, através de Francoamor aos detalhes, as mais legítÁTrms caraciefome, a opressão e uma intolerância religiosasição. Mas o fascismo parece estar com os se.da, enquanto subsistir o falangismo — uma sim/i c Roma — corno um rem.anesce7itj do reta e devastadora das guerras.

orld" de Nova York o impressionante relato quenas pnso.G políticas da Espanha de Franco E'ericano relatou em seu periódico episódios teste-dias detida no convvnto-masmorra das freiras¦ riericanos fir-mam pé no continente europeu, em-'Ia de roldão, num interminável "encurtamentoortuno chamar a atenção do povo para fatosA Espanha foi um dos primeiros paises atingi-e lá o fascismo internacional ainda tem um dosfez reviver na Espanha, revelando verdadeiroristrcas do obscurantismo da Idade Média: aque faz relembrar as fogueiras da SaTita Incrui-Us dias contados. E a Espanha terá que ser encara-.uação Í7nposta na Península Ibérica por Ber-gime que mergulhou o mundo na mais sangren-

to que alí não havia cadeiras,mesas, nem bancos de espe-cie alguma. À luz do dia po-dia ver-se o que cobria asparedes: embrulhos pendura-dos, caixas, cestas, calcados,vestidos e pratos.

Muitas outras coisas desço-briu minha esposa durantesua estada naquela horrivelprisão. Para uso das quatro-centas pessoas naquele horro-roso cárcere não havia maisdo que duas torneiras e uma

impossibilitadas de andar.Das que ficavam doentes só-

mente um pequeno numeropodia ocupar a enfermaria.As preferidas, eram as que ti-nham febre alta. O resto de-via deitar-se no chão frio eúmido. Pouco se pode fazerpara aliviar aquele descon-forto, deshumano _e crimino-so, pela carência absoluta deserviços médicos... Os mé-dicos e enfermeiras vinhamda prisão dos homens. A co-

para elas mesmas. Comprarpão ou fruta na cantina docárcere era quase impossívelpelo seu elevado preço. Al-gumas mulheres ficavam ex-teimadas ou contraiam enfer-midades do estômago de con-seqüências desastrosas. Algu-mas ficavam inchadas porfalta de nutrição. A mens-truacão desaparecia. Muitassofriam de persistentes mo-léstias da pele e de chagasque não cicatrizavam nunca.

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de uma senhora estrangeira ,todas as mulheres, às escon-didas, a cumularam das maisafetuosas atenções. Às escon-didas. deslizaram-lhe uma co-lher nas mãos'. Outra mulherse apressou em costurar ocolchão, que estava todoaberto. Proporcionaram-lhetravesseiros, lençóis e outrascobertas. Às dez horas apa-

bomba, no pàteo. Somentepermitiam lavar-se as mãos,os pés e a cara, sendo terml-nantemente proibido que fi-casse descoberta qualquer ou-tra parte do corpo. Assimtambem os trajos curtos e osmais leves decotes estavamproibidos. Algumas mulherespara se lavarem melhor leva-vam para as latrinas algunsbaldes d'água, mas somentehavia quatro latrinas para o

mida da prisão chama-serancho e é muito conhecidoem toda a Espanha de Fran-co: consiste em três recipien-tes com sopa. Às sete damanhã vinha um caldo ex-cessivamente claro com umpequeno pedaço de pão. Semnenhuma qualidade nutritiva,aquela água morna aqueciamomentaneamente mas nâoalimentava. As duas da tar-de c às oito da noite havia

De manhã havia uma longafila de mulheres na porta dodispensário. O que em geralsentiam era fraqueza gerai.No inverno a maior parte des-tas infelizes reclusas eraminfectadas de parasitas acuja destruição dedicavamlongas horas do dia. Haviaumas centenas de presas comdiversas obrigações de cara-cter oficial, selecionadas en-tre as de condenação não su-

perior a doze anos e um dia.Trabalhando como enfermei-ras, ajudantes de cozinha ouna carboneira podiam redu-zir a condenação à metade.Outra parte se dedicava aseus próprios projetos parapassar alí longos e penososmeses e anos. Quando faziabom tempo era permitido sairao páteo um pouco pela ma-nhã e à tarde, o que forma-va um ajuntamento tão hor-roroso como nos dormitórios.Muitas mulheres se dedica-vam à costura ou a outrostrabalhos semelhantes, mas amaioria não podia fazer ser-viço nenhum, por falta de di-nheiro para comprar os ma-teriais necessários. Algumasdaquelas infelizes mulherescompravam às freiras, por umpreço exorbitante, sacos vasiosde grão de bico. que desman-cha vam para utilizar os fiosna confecção de cinturões ar-tísticos. Velhas camponesasrecebiam pedidos de fora parafazer agasalhos, ganhandoassim algum dinheiro paraadquirir alimentos. Algumasrevelavam extraordinária des-treza. Com os mais primiti-vos materiais confeccionavamartigos admiráveis: animais,flores, bonecas, etc. Sentiamtal paixào pelo trabalno quesomente o interrompiam anoite e durante os domingos,quando era proibido traoa-lnar. Então jogavam cartasou dardos. Aos domingoseram forçadas a assistir amissa, celebrada num dosvestibulos do edifício. asqumtas-feiras pela tarde osacerdote fazia uma leituramuito rápida e mecânica detextos religiosos. Ao meio dia,antes das refeições, eramobrigadas a cantar com o braçolevantado, hinos fascistas atarde rezavam um terço, tam-bem por imposição regula-mentar, So se concedia cem-po as analfabetas para estu-aar de manhã, lecionadas poroutras presas. As que apren-diam a ler e a escrever mos-travam-se satisfeitas porqueassim poderiam manter cor-respondência com seus pa-rentes. Náo havia bibliotecanas prisões, mas apenas ai-guns livros muito elemeata-res e retrogados.

Existe um periódico naspnsoes "A Redenção", que sepublica semanalmente e quese destina à população penalda Espanha franquista e con-ta com minta circulação, vis-to que quase todas as fami-lias espanholas, teem no car-cere algum parente ou amigo.

O preço da subscrição e deduas pese tas por trimestre econstitue um estímulo podero-so. porque o assinante tem di-rei to a escrever duas cartaspor semana em vez de uma epode receber visitas seis ve-zes por mês em vez de qua-tro. O periódico publica no-ticias dos cárceres, louvoresdespropositados ao caudilhoFranco, à Igreja e às potên-cias do Eixo, assim como no-ticias da guerra favoráveis aHitler e seus satélites. Pre-ferem, quanto ás notícias, asque dão os rádios estrangei- .ros, que seus visitantes lhemurmuram ao ouvido duranteos dez minutos que duram asvisitas. Conservam sua dig-nidade e cumpre as penassem desanimar, porque náopodem admitir que deva cum-prir suas absurdas e longascondenações. Todas teem aabsoluta certeza de que have-rá uma radicai mudança poli-tica após a vitória dos aliadose a derrota do fascismo, o quelhes devolverá a liberdade.Tiveram conhecimento dasderrotas italianas na África,o que provocou um verdadeirologo de entusiasmo. As mu-lheres dos cárceres medievaisde Franco começam a forjarprojetos para sua nova vidaapós a libertação. Nem umadas mulheres recolhidas aocárcere de Gerona é crimino-sa no verdadeiro sentido dapalavra. São presas políticas,

(Continua na pás. 23)

PAGINA 10 DIRETRIZES 9/9/1943

-- uma revolução na economia dII MA das revoluções na eco-^"^ nomia nacional é atual-mente a expansão do zebú,nesse setor da riqueza mais acoberto das crises: a criaçãodo gado.

A historia da penetração doboi da índia em nosso país ébem recente, parecendo íorade dúvida que o pórtico deentrada íoi a baia de Guana-bara. Assim o Distrito Federale o Estado do Rio de Janeirotiveram .s primícias no rece-bimento e aclimatação do bo-vino destinado a revolucionarnossos rebanhos, que são dosmaiores do mundo.

Segundo dados colhidos porum zooteenista do Ministérioda Agricultura; q-.inspetor J.Rodrigues Calheiros, e pela So-ciedade Rural do TriânguloMineiro, entidade dos grandescriadores sediada em Uberaba,íoi em 1875 que se introduzi-ram os primeiros exemplaresdo gado indiano nas belaspastagens da mesopotâmia dabacia superior do Paraná, ouseja nas estepes de altitudeque forram, a mais de 800 e 900metros de altura as suaves on-dulações dos terrenos jurassicoe cretáceo que separam a ca-lha do Paranaiba da calha dorio Grande.

Os dois rios limítrofes doextremo sudoeste de MinasGerais, um servindo de fron-teira com Goiaz o outro comSão Paulo, con fluem para for-mar o Paraná de'sorte a daràquela secção da terra mineiraa forma de aríete apontadopara ocidente, para MatoGrosso, espécie de bico de tri-ângulo, donde a origem deTriângulo Mineiro para as ter-ras atualmente compreendidasnos municípios de It/uiutaba,Tupaciguara. Monte Alegre,prata, Frutaí, Araguari, Uber-lândia. Uberaba, Monte Car-melo, Estrela do Sul, Patroci-nio e Arax'NELORES, OS PRIMEIROS

Os primeiros exemplares se-bús dos campos triangulinosforam introduzidos por um doscriadores adiantados daqueiotempo, o major José Ignacio deMelo França, natural de De-semboque, aturl município deSacramento, na alta bacia dorio Araíniari, tributário do Pa-ranaíba.

Essa gente do Triângulo,nascida em horizontes lamino-sos e longínquos, que convidamo homem a andar, a pesquisarna paisagem, pois a estepe écobertura vegetal que estimulaao trânsito (e as savanas daspartes mais baixas dos ondu-lados da vasta regiãc — sava-nas do tipo Cerrado — .amberasão bastante transitaveis),conserva sempre temperamen-to andejo que, no século passa-do, levou-a?a povoar Goiaz,Mato Grosso e o oeste paulis-ta. Assim a melhor fazenda domajor José Ignacio era em Ja-taí, nas belas pastagens dosudoeste goiano, quadro decampinas similar às mais altaslombadas do Triângulo — fa-zenda Santa Rosa do Rochedo.

Estando de passeio r,clo Riode Janeiro em 1875 foi de ex-cursão ao extremo ocidentalpastoril do Distrito federal,campos de Santa Cruz, e ali,sionou-se com vários reprodu-numa ponta de gado, inrpres-tores zebú e levou-os no Tri-ângulo, vendendo-os a fazen -deiros do município de Ubera-ba, então ocupando área mui-to maior que a atual.

Tratava-se de exemplares daraça Nelore, que foi assim aprimeira a representar o boida índia nos pastos destinadosa aclimatá-lo adequadamentee a multiplicá-lo e difundi-lopor todo o pais.

Um touro vendido ao coronelCaetaninho tomou o nome deParanema, da fazenda do com-prador, outro foi vendido aornajor Cândido Rodrigues da

Cunha por 400$000 uns 6 con-tos ao valor de hoje; o majorJoaquim Carlos de oliveira pa-gou 200$000 por um casal, unstrês contos atuais, chamando-se Carlos Rodrigues da Cunha,João Quintino Teixeira, amboscoronéis, outros dois fazendei-ros que adquiriram os Neloreslevados dos campos cariocas.

AFFONSO VÁRZEAEspecial porá DIRETRIZES

vam seus fazendeiros a porfia-rem em busca de Sangue Novopara os rebanhos. Reproduto-

praça Tiradentes estava a ven-da um lote de vacas leiteiras.E' preciso que se saiba que osatuais escritórios de "andori-nhas" daquela praça represen-tam uma das mais antigas eexpressivas tradições do co-mercio loca], e do veteranoempregado desses escritórios,o sr. João Lopes da Silva, apu-

P m sua recente pesquisa geográfica aos divisores da falta ha-& cia do São Francisco, teve ocasião o professor Affonso Var-zea de prolongar seus estudos à mesopotâmia rio GrandePa-ranaíba, na alta bacia do Paraná, donde esta apreciação sobreo principal fator econômico da região, a pecuária, na forma dacriação e difusão do zebú brasileiro, notável riqueza do momento atual, mobilizando vultoso capital e a atividade de mui-tos milhares de trabalhadores do planalto.

PASSAM LOGO A GOIAZDeixando por algum tempo

a paz de suas campinas deSanta Rosa do Rochedo, viveuo major José Ignacio de MelloFrança uma fase de compra-dor e revendedor de gado, nes-se viajar que é um dos aspec-tos do nomadismo dos que la-butam nos meios pastoris, desorte que voltando à capital doImpério adquiriu exemplaresde outras rr.ças, da chamadaChina e da Holandesa, os quaisrevendeu a criadores do muni-cípio de Frutal, como fossem ocoronel Manoel Rodrigues daCunha, da Fazenda do Bura-cão, um irmão deste, e diversosmembros da família Theodorode Andrade.

res de outras espécies, localiza-dos em diversas parte do país,foram igualmente importadospara os uberes gramados entreRio Grande-Paranaiba. Assim,em 1888, representantes de umdos primores da pecuária in-glesa, a raça Enirham. entra-ram no município de Uberaba,por iniciativa do major Za-carias Borges de Araújo. Já seviu como o próprio major JoséIgnacio de Mello França trans-portara tambem para as este-pes nativas representantes dasraças China e Holandesa.NA COCHEIRA DtA PRAÇA

TIRA17ENTBSExplica outro estudioso da

história do zebú em nosso país,o dr. Fidelis Reis, banqueiro

rou DIRETRIZES que na alaque liga a rua Visconde do RioBranco com Carioca funciona-ra, no advento da República,uma cocheira, ali onde se achaagora o edifício da Inspetoriade Veículos. O sr. João Lopesda Silva foi para o local me-nino, em 1888, e lembra-se bemde que, na entrada do século, ogerente do depósito de quadru-pedes era um senhor Favila,passando depois o recinto a serpropriedade do sr. Mendes, oque teve tanta importânciacomo dono de carruagens até oaparecimento revolucionáriodos automóveis, proprietáriono Catete de uma vasta orga-nização chamada mesmo Com-panhia de Transportes e Car-ruagens.

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Soberbo exemplar de uma das cudclarias de Uberaba, cujo valor se expressa por centenas de milharesde cruzeiros.

Coube naturalmente a esteverdadeiro pioneiro do zebúnos pastos do Brasil central aintrodução do gado do Indos-tão nas terras goianas, o quefez em 1884 no município deJatai onde possuía muitos ai-queíres. Seu irmão Manoel Ig-nacio levou logo depois a se-gunda lev zebuista ao sudo-este de Goiaz.

Coincidia a entrada dos re-produtores do Bos Indicus noTriângulo, e logo a seguir emnosso Estado "lais central, comuma crise muito acentuada napecuária daqueles rincões, to-da ela padecendo de sintomasde degenerescência, que leva-

em Uberaba, e nome dos maisrespeitáveis e queridos ali, queesse gado China —- meudo e decor preta — era o mais fino atéentão conhecido pelos criado-res triangulinos, que muito oprocuravam, donde, na transi-ção de 1888 para 1889. dirigir-se ao Rio de Janeiro, afim defazer compras no Curato deSanta Cruz, um criador de ini-ciativas, o coronel Virgílio Ro-drigues da Cunha, vivendoatualmente em avançada idadena cidade de Uberlândia, a an-tiga Uberabinha.

Logo que se hospedou numdos hotéis da Corte, foi o fa-zendeiro informado de que na

A cocheira funcionou napraça até 1902 ou 1903, quandoacabou com ela a obra refor-madora do prefeito Passos. Aotempo da viagem do coronelVirgílio chamava-se Cocheirado Mouro, e nela o fazendeiromineiro deu com uma loto-grafia de um reprodutor daraça Nelore, ficando impressio-nado com aquelas linhas òrigi-nais, proporções e incontestebeleza.

Era um touro tão diferenterias silhuetas a que estavamhabituados do Bos Taurus queo coronel Virgílio, e seu com-panhelro de vingem, o sr. Teo-filo Rodrigues da Cunha, fica-

ram a conjeturar se não esta-riam diante de truc fot _,ra-fico, eoisa imaginária, incon-cebivel para experimentadosvaqueiros.

UM CRIADOR FLUMINENSE ,No páüo da cocheira estava um

toureiro, figura própria do Rio dofim do império, onde viviam em-presários .sonhando com tornar aatouradas um esporte da predile-ção carioca — e esse toureiro so-licitamente explicou aos forastei-ros que se tratava de animal ab-solütamente real, de um zebú,aconselhando-os a que fossem àn;a do Triunfo, ã procura de umcriador flluninen.se, o sr. Lengru-ber, o qual, como importador da-quele g?do, originário da índialongínqua e misteriosa, possuíanumerosas fotos interessantes ede mais ricos detalhes

Um Lengrúber — Manoel Ube-lardi Liengruber — do distrito deAparecida, município de Sapucaia,figura realmente como um doslançadores do gado Nelore emnosso pais.

Na visita feita ao cavalheiro In-dicado encontraram elementosque as deslumbraram — a pontode perderem qualquer interessepelo gado China, passando á pre-ocupação de levarem zebús a Ube-raba.

O ano da transição da monar-quia para a república foi real-mente decisivo na história de BoaIndus em nosso país, pois a co-meços dele o major Ernesto daSilva e Oliveira, tambem homemda mesopotâmia Paranaiba-RioGrande viu em Porto Novo doCunha, aonde fora a negócios daespecialidade dos nascidos nasgrandes pastagens do estremo oes-te de Minas exemplares de umaraça que lhe chamou a atençãopela singularidade rios traços.

Tratava-se do zebú. que. entra-do pela Guanabara e penetrandonas pastagens do Estado do Rio,já andava atravessando a fron-teira do Paraíba, esgueirando-.seem Minas Gerais pelos gramadosda Mantiqueira.

Comprou logo dois touros, quatransportou por trem até TreaCorações, daí sendo levados pelaspistas de carros de bois a Ube-raba. Um dos reprodutores foi lo-go revendido ao coronel JoaquimRodrigues de Barcelos, o qual nãochegou a aproveitá-lo por haverfugido para a Mata dos Dourados,a densa floresta marginal do rioGrande e mcujos pântanos lnvios,refúgio de feras, inclusive gran-des carnívoros, o animal extra-viou-se e morreu. O outro tourofoi para a fazenda dos TabuÕes etambem se desgarrou, indo mistu-rar-se às manadas do maj. OvidioIrineu de Miranda, pai. o qual,Jamais tendo tido notícia de se-melhante animal ficou na supo-sição de se tratar de um aleijão,de um raso teratoló^ieo na criade gado tresmalhado no cerrado,mais se robustecendo tal supò-sição por não haver marca nobovino Para que a degenerescên-cia não se propagasse resolveumandar castrar o exemplar. Ha-viam os touros custado 600$0OOcada um algo como 9 contos deréis cm dinheiro de hoje.

A MKCA DE PORTO NOVO í>0CUNHA

Mas a viajem de importaçãodo major Ernesto cia Silva e Oli-veira teve outra conseqüência,pois cruzando no itinerário comAntônio Fontoura, boiadeiro mui-to conhecido por Gachucha, mos-trou-se este deveras interessadapela novidade das zebús, dispon-do-se logo a adquirir espécimestambem

Depois de conduzir a Sapucaí aboiada de que estava encarrega-do, Fontoura tocou-se sem deten-ça para Porto Novo do Cunha,onde pegou 20 rezes logo vendi-das em Uberaba aos srs. DelfimGomes e Zeca Mendes, à razãode 8UO$üflO cada uma. Tambemfizeram aquisições vários mem-bros da família Rodrigues daCunha, de sorte que, no espaçode semanas, animais que pasciamno vale do Paraíba, nas proprie-da.dés dos fazendeiros Marcondese dr. Lontra, passaram a tosar arica forragem natural da alia ba-cia do Paraná, podendo-se entãoafirmar que os criadores ubera-benses rapidamente se convence-ram das vantagens do boi indianocomo elemento de regenerarão dosrebanhos do Brasi] Central.

Porto Novo passou a ser a mécados fazendeiros triangulinos, e aquota partida zebuista lá a foibuscar o coronel Teofilo da Cunhaassim enriquecendo sua fazendaGengibre, onde ficaram por conti-

D/9/ÍÍK3 DIRETRIZES PAGINA II

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nuadore.s na tarefa do melhorare multiplicar a pecuária do cxtre-mo oeste do Es ado. seus dois fi-lhos, coronéis Edmundo e Guio-mar Rodrigues da Cunha.

A Por' j Novo também se trans-portou o coronel Virgílio Ródri-gues ria Cunha, - comprando aocoronel Marcondes, já citado, otouro Fuicir. pelo qual foram pa-gos 10 -onos de réis, fato quepareceu tão extraordinário naépoca que foi noticiado por umdos jornais de mais expressão nonovo r-íglme republicano, "OPaís", do Rio de Janeiro.O FAICIR

O Tal:ir deslumbrou Uberaba,de.peruando ofertas de 22 a '3bcon as recusados pelo dono, oqual ainda hoje afLma q ; a li-nhágem do soberbo exemplar seuporte e proporções valeriam bemum milhão de cruz2lros. O coro-nel Virgílio em seu socegò atualc' i Uberlândia, gu. rd.i preciosa-mm te uma fotografia do Fakir.

Tjndo vendido bem sua partidao- beiodeiro Caehucha tornou-seum dos maiores propagandisias dozebú, dllatando-se um conceitoque levou o major Ernes'o da Sil-va e Oliveira a nova viajem aoEstado do Rio, do qual conduziuuma leva qje vendeu a diversosfazendsiros uberabanses a contode réis por cabeça, e mesmo mais.DOP dez exemplares dessa par-tida resultou nova conquista paraa Ia pão sempre crescente dos ze-buiòtasj pois o capitão AntônioBorges de Araújo pagou seu pri-miro touro indiano nessa oca.sião.

Porto Novo do Cunha pareciaInesgotável: o capiíão JoaquimVSloso de Rezende; tendo lá idoparar, checou a Uberaba a 29 denovembro de 18H9 com quatrocabeças, sendo deis teuros e umanovilha puros-san^ue. mais umger-ote 3/4 de sangue.

Ei'a leva marcou époea no Tri-fir*g*:lo por ser a primeira de "ti-p~\s puros de grandes orelhas".Umi das touros era o célebre Lon-tra. cu'o proprietário; capitão An-to-uo Borges de Araújo, rejeitouuma oferta de 42 contos centenas<< - milhares de cruzeiros hoje emdia, belo animal que. qual sem-pre repetiu o referido fa/ondei-rc, serviu de base ao amontoarde sua fortuna.

Tf buscar o Bos Indicus nc- valedo Paraíba fcornou-sè ura dosgrandes negócios de aventurososir-hdeiros frlangulinòs, alargan-do-se o manancial de Porto Novodo Cunha para as pastagens da-Serra do Mar no Estado do Rio.a medo que fazendas do munk-í-pio de Cantagalo feram percorri-des sofrégamente no afan de aqui-s^ã-s que a concorrência torna-va mais difíceis.

Chamaram os mineiros Matado Hio a essa zona fluminense,interpretando-a cemo pe.relha,alem do Paraíba, da Zona daMata mineira.

No valç do Rio Piabanha. pertode Petrópolis, o coronel Virgílio, játão nos^o conhecido, encontrounas propriedades de um fazen-deirò chamado Ernesto, bonsexemplares de gado Guzerat. logoadquirindo >odo o rebanho. A ou-tro fazendeiro, sr. Elias de Mo-rais fez compras ainda maiores,sendo que o coronel José Caetanocomprou uma vaca dessa partida]vr 5 contes de réisDESCOBERTA DA ÍNDIA

Era, sem dúvida, bom negóciopara os fazendeiros fluminensesrevenderem zebús aos criadorestriangulinos, mas estas pensaramnaturalmente em libertar-se riarevenda importando diretamente,como faziam seus colegas do Es-tado do Rio. Fieis a que o segredoé a alma do negócio, as primei-res não diziam nada quanfo aoselementos de importação, escon-dendo-os. despistando os minei-ros. a*"é que a tradicional astúciados últimos vingou-se bisbilho-tando uma carta, redigida em m-gl"s, aberta sobre a mesa do es-critério do sr. Lengruber, no Riode Janeiro.

Teria sido o sr. Carlos Macha-rie, na lembrança do coronel Vir-gilio, o solerte leitor e tradutor dacarta, pela qual apuraram que ozebú pedia ser importado direta-mente da Tndia, por intermédio deta's e tais elementos.

A descoberta da índia peloscriadores da mesopotamla rioGrande-Paranaiba fez com queem 18í>!) os fundadores da usinaCassú, e sócios da firma Borges& Irmãos, mandassem vir direta-mente do Indostão, por intermé-tíio da Casa Arens e da casa Ho-pkins Kauser seis ou oito tourosda raça Guzerat.

Em 18Í12 o coronel GeraldinoRodrigues da Cunha, valendo-seda Casa Arens. mandou vir da fa-bulosa terra do Oriente quatro ca-sais do boi giboso, e já no anoseguinte o primeiro comprador doTriângulo a isso fazer, o coronelTheophilo de Godoy. de Araguarí.demandava as plagas dos Maha-rajás comissionado por diversos

fazendeiros de Uberaba, para osquais adquiriu uma leva inteira.

Passando a comprar diretamen-te aos criadores indús. bem antesda entrada deste século, os fazen-deiros de Uberaba não cessaramsuas aquisições aos congêneres doEstado do Rio. poi.s em 190o o sr.Joaquim Machado Borges, de tra-dicional família zebuisla ubera-bonse, comprava rezes aos cila-dores coronéis Francisco "Marcõií- "des e Júlio César Lúttèrbach

Um Lutterbach — Antônio Lut-terbach, proprietário da fazendaTrês Barras — passa por ter sidoo primeiro criador das pastagensda Serra do Mar a se afeiçoar aogado giboso.

Cantagalo parecia tomar o postoque fora de Porto Novo do Cunha,poi.s outro de seus pecuaristas, no-me já citado, o sr. Manoel Len-gruber. vendeu mais exemplaresNelore.s ao sr. Borges, repetindo asvendas, juntamente com os coro-neis Marcondes e 1/Ut'erbach. aosr. Ovitíio Irineu de Miranda —Isto já agora em 1G06.

No mesmo ano maus gado Gu-zerat viera da índia, importaçãodo dr. Parton para os coronéisGeraldino e Theophilo Rodriguesda Cunha, e em 1907 saiu deUberaba verdadeira expediçãocomposta dos srs. Adolfo Mendesdas Santos. Segismundo Mendesdas Santos e Alaor Prata, com amissão de comprar no IndaUãoreproduiores das mais finas plan-teis.

Depois de trabalhar pelo zebú.como homem do extremo oestebrasileiro, o sr. Al,\or Prata fezcarreira na política de seu Estado,vindo a tomar parte na represou-tação federal e acabando comoprefeito da capital da República.ESTORVO r»,\ ROIADA

ÉM MARSELHAAté a primeira guerra mundial

a corrente uberabense de impor-tação direta do Bos Indicus niiuteve-se sustentada, donde rela-ções freqüentes com a penínsulafamosa do oceano Índico, lá indoparar vários especialistas nas ri-quezas rurais de Minas, como porexemplo o dr. Belo Lisboa, nometão ligado ao modelar institutoagronômico construído em Viçosa.

O dr. PidelLs Reis, autor de ver-daleira poliantéia ao zebú, conhe-ce episódios interessantes dessafase. inclusive algo de extraordi-nário relacionado com seu amigoe patente, sr. Armei Miranda. Sea importação e a difusão do gadogiboso em nop.so país tem seusaventureiros, um deles é, sem dú-

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Figura típica do trabalhador dezebú nas pasta sen» do Triãnçtdo

Mineiro.

vida, esse Miranda, em tempomuito ocupado em trazer exem-plares puros do país de origematé o Triângulo^ em outro tempoempenhado em disseminar taisreprodutores pelo Rio Grande do

Sul, não tendo dúvida em susten-tar as vantagens do Bos Indicuspara a região serrana do próspe-ro Estado meridional, enquantoas soberbas pastagens da Campa-nha aflrmam-se terreno Ideal pa-ra as raças mais famosas do BosTaurus.

Estava a primeira guerra mun-dial no apogeu, com o* submaàr4-nos de Von Arnokl de La Peyriéree outros diabos operando no Me-diterrâneo e no Atlântico, e ei» osr. Armei desembarcando emMarselha uma ponta de Guzeratae Nelores trazidos diretamente doIndostão. A descida do gado, porexigências da estiva e do conges-tionamento do milenar porto dosul da França, começou ao cre-púsculo e de repente, noite es-cura, a manada estourou numadas ruas estreitas, tortuosas elúgubres da Cannebiére, justa-mente quando do outro lado apon-tava um batalhão de zuavos queia tomar o vapor para Salonica.para a ofensiva que o marechalFranchet D'Esperey andava orga-nizando.

Aos gritos da marinhagem e domulheriq dos bordeis do cais, aosmugidos' e e-strepito de patas,juntou-se a fuzilaria da tropa —e no meio desse inferno o ube-rabense Miranda, multiplicamV-se numa energia espantosa de li-dador campeiro, conseguiu salvarum grande lote. Na rua ficarambois crivados de balas, como aefossem tanques alemães que hou-vessem investido contra & tropa.O BERÇO DO ZEBU'

BRASILEIROSe coube a centros de atividade

da faixa litorânea, como era na-tural. receber em primeiro lugaro zebú em nosso país, é fora dedúvida que a partir da proclama-ção da república começou a ini-ciatlva dos pecuaristas triangull-nos a concentrar o Bos Indicus emsuas lindíssimas pastagens, comocasionais encaminhamentas paraas estepes do sul e do sudoeste deGolaz. constituindo região natu-ral muito similar à da mesopota-mia Paranaiba-Grande.

Da aclimatação do boi gibosonas vastas campinas que cercamUberaba surgiram tão belos pro-dutos, que logo criadores locaisespecializaram-se em colocar lotesde suas crias em zonas bem afãs-tadas dali, merecendo destaqueneste particular o sr. LamartineMendes, a quem os conterrâneosse referem com orgulho como ho_mem que introduziu vitoriosa-mente o zebú em todos os cria-

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Ao alto. uni grupo de banqueiros na rua Artur Machado, rua úos bancos — a City de Uberaba, vendo-se daesquerda para a direita, o gerente da agência di» Panco do Brasil; o dr. Fidrlis Reis, o gerente di B.m;-.odo Triângulo; c o dr. Francisco Frederico, gerente do Banco da Lavoura. Em baixo, o sr. João IV^HChadoBorges, de tradicional famítia sr.cbilista, festeja o mt-lhor exemplar de um plantei de bezerros Gir, no posto

zootéonico de sua urooriedade, nos arredores da metrópole do Triângulo

tórios do Brasil, desde Marajó aoextremo meridiáo.

O mesmo se pode dizer de umdos varãos da bem conhecida fa-mília pecuarista, o sr. Joio Ma-chado Borges, que tem conduzidopartidas ao Rio Grande do Sul.a Goiaz, a Mato Grosso, a pontode dizer que conhece melhor osgramados pampeanos que os doTriingulo natal.

Alem de Uberaba ficaram comocentros de apuramento e disper-são do zebú brasileiro, os municí-pios de Conquista, Araxá. Uber-lâtwdia, Araguarí — todos no Tri-ângulo — Passos e Cássia no valedo Rio Grande, na "cona fronteiracom São Paulo.

Em Passos, por exemplo, resideo fazendeiro Antenor Machado,pai de ator-empresário multo co-nhecido do público que freqüentaum dos pequenos teatros cariocasde comédia, tendo recentementedado 500 mil cruzeiros pelo cam-peão Gir de uma exposição deUberaba. O criador desse touro,sr. Gastão Rodrigues da Cunha,assevera que um dos fatores doesplendor de sua cria residiu notipo de alimentação a que o sub-meteu, dieta na qual judicíosa-mente meteu determinada dosa-gem de rapadura, de acordo aliáscom experiência feita com ante-cedência de muitíssimos anos naszonas de mais pobres pastagensdo país. aquelas vestidas de sava-na desértica — a Caatinga — co-mo no vale do São Francisco me.dio e inferior, e na Interlàndiaressequida do peneplaino da Bor-borema, no leste do Brasil, onde arapadura salobra dos engenhos acéu descobertro, que se nutrem decanaviais que conseguem medrarnos oásis do solo calcinado, é bas-tante distribuída pelo gado.

Não só no setor alimentar, ondesouberam descobrir e cultivar asmelhores hervas para os rebanhos— capins Jaraguá, Gordura e Co-lonião — mas naturalmente emtodos os demais, desempenharamos criadores uberabenses rerda-deira função de leaders no pa-ciente e tenaz trabalho da acli-matação e aperfeiçoamento doBos Indicus.

A princípio guiando-se pelaintuição, e por processos empiri-cos legados por seus maiores, en-traram a cruzar Nelores, Guze-rats e Gir — até obter o tipo dozebú brasileiro, de grande esplen-dor físico e beleza, a ponto deespecialistas com conhecimentodos planteis indianos em sua pe-nínsula natal alegaram que, nanova pátria, o boi da giba ai-cançou uma envergadura verda-deiramente superior.

INTHTBERABA OUINDUBRASIL

Vários foram os criadores deIfberaba que trabalharam pelaconsolidação do zebú brasileiro,sendo de justiça que se destaqueos fazendeiros da grande família,Borges, assim como os Lemos deAraxá.

Entre 1925 e 192a uma questãoestritamente ligada ã técnica deapuramento do tipo novo desper-tou grande celeuma, verdadeirabatalha entre as criadores trian-gulinos. os quais se dividiram emdois campos, de acordo aliás coma cisão verificada entre os Bor-ges. E' que. dentre os últimas ocoronel Jaré Caetano propoz, emconclave realizado na metrópoletriangulina, que se consagrasse onome Induberaba para o produtodestinado a revolucionar os reba-nhas brasileiros, enquanto o coro-nel Jaquim Machado, levando emconsideração o alcance nacionaldo elemento renovador, batia-sepelo nome Indubrasil.

Parecia a guerra nomerulatu-rista flutuar num impasse, quandodecisão em favor do apelido maisnacional foi tomada pela inter-venção do coronel Thiers BcteLho,de Araxá Estava consagrado oIndubrasil a invenção esplêndidadas pastagens e das coudelanasuberabenses.

Embora a graude preferênciaatual pelo Gir, muito bom para acarne e paia o leite, as técnicosda Sociedade Rural do Triângu1oMineiro não cessam rie chamar aa'enção para a.s vantagens do In-dubrasil de perte superior, exis-tinrio mesmo, a respeito, interes-santas tabelas comparativas. Opelo desta raça está padronizadonas cores que seus criadores cha-mam Baio. Fumaça, Vermelho eAmarelo enquanto o Gir é verda-deiramente policromo. tendo po-rem tonalidades com nomes poé-ticas, como sejam Azulego, Corde Nuvem...

Aliás na ternura pela sua In-venção. os pecuaristas locais hr,odesenvolvido quase que uma li-toTOtura própria, cem expressõestais como: "o belo filho do Gan-ges"*. "o belo filho das índias",ou então na saudação do dr. Pi-delis Reis à expoínrão deste anoem sua cidade: "Disse Ferri. aocontemplar a.s lavouras de SãoPaulo, que o café representava o

(Continua na pág. &>>

12 1> I K £ T R I Z E S(Continuação da p«g. 7)

suspender a circulação porquesua reserva de papel esgotou-se. "Ercilla", de Santiago doChile, a revista que eu próprioedito, e que é pró-democrálicade coração, recentemente foiobrigada a reduzir sua circula-ção de cem ynil exemplarespara menos de setenta mil.forçada pela falta de papel. E,ainda ern Buenos Aires, "Ar-gen tina Libre", sem dúvida omais progressista de todos osjornais anti-ciristas da regiãodo Rio da Prata, com umagrande circulação em toda aArgentina, rio Brasil, no Uru-gnai, na Bolívia e no Chile,foi fechado pelo governo Cas-tillo na primavera passada. Ojornal conseguiu ix)ltar a cir-eu]gr cíjico semanas mais tar-dermas foi novamente fecha-do poucos meses depois. No

.total, "Argentina .Libre" foifechado cinco vezes no anopassado. Se este jornal tivesseapoio financeiro suficiente-mente forte, poderia lutarcontra a poderosa oposição re-acionária. Mas possue recursossuficientes apenas para asdespesas normais de publica-ção. e mais de uma vez viu-seimpossibilitado de pagar seuscolaboradores. que figuramentre os mel h o r e s e maisavançados escritores da Ar-oentina!

Este ê um concreto e práticoproblema da "coordenação"das forças pró-democrâticasdo hemisfério; nós. os sul-americanos, ternos necessidadede pavel. Pedimos avenas quenos dêem oportunidade parafabricó-lo nós mesmos, ouenos f o r n e ç a vi os créditosnecessários. E oh mis de nóstemos necessidade de as-sistênem econômica para lu-tar nesta luta contra o Eixocom sucesso. Não 'desejamos obelo, custoso, apergaminhadopapel em que é impressa ''EmGuarda"; podemos realizarnossa tarefa com o papel co-mnm. de porta. Oitenta milexemplares de "Em Guarda"curtam tão caro como um mi-Ihão de exemplares dc vossa*próprias revistas e jornais, outalvez mais caro ainda.

Insisto na afirmativa de quevma revista como "Em Guar-da", indiretamente (devido ãfalta de identificação espíri-tnnl com os paises em que cir-cuia) ajuda os nazistas naAmérica do Sul, com sua poli-tica editorial muito generall-zada. Nossos paises não for-mam nm todo homogêneocomo os Estados Unidos. Cadavm deles tem suas própriastradições, sva própria espécie.dc cultura, mesmo sua próprialíngua, num sentido atrito; e,embora haja alguma coisa co-mum a todos nós em nossatradição espanhola, formamosentidades separadas com asm-rações diferentes. Os .própriosnazistas são agudamente con-ciente?: de tais fatos. e. dirigemsua propaganda de acordocom eles. No Peru, espalhamrumores de oue o Chile estáse preparando para atacar acosta peruana com o fim dese apoderar das jazidas de pe-tróleo. e no Chile murmuram ¦que os Estados Unidos estãoarmando o Pcrú pena torná-locapaz de recuperar o territó-rio perdido durante a guerrachileno-peruviana de 1879. NoBrasil, os agentes nazistas fa-Iam do perigo argentino. E naArgentina discorrem alarman-temente sobre a* intenções doBrasil. Deste modo. tiramvantagem de uma confusão jáexistente e enfraouecem a so-lidariedade continental. "EmGuarda", entretanto, por suaprópria natureza como umapublicação especial para aAmérica Latina, tem de sergeneralizada: c as generalida-des não nos dizem nada, pelocontrário, tendem a desagra-ríar-no°. pois ficamos com aimpressão de oue alguém co-Tocado acima de nós mostra-nos coisas e tenta obrigar-nosa acrcúibar nelas.

./. política f^uWívJsor, "Em•Buarda" ditou também o en--vir», por parte da Coordenação,

9/9/1943

SEE RflPKfTFi I PDde abundante material jornalista-co pura nosso consumo. Manda-ram-nos centenas de artigos tra-duaiidos. editoriais, correspondên-cias .semanais de informações. Oprincipal objetivo parece ser:quantidade, e náo qualidade. Porexemplo, em setembro, um fun-cionário da Coordenação disse-me'que estavam muito contentespoi-que tinham ultrapassado o'•'.record" de agosto, tendo envia-do para a América do Sul pu-blicações que continham um to-tal de perto dc um milhão de pa-lavras. Km outubro, passaram amarca do milhão. E nos' mesesseguintes, registaram certamentenovos "recordsv. Mas nós temosum provérbio que diz: "A nozque produz mais ruido contemmenos alimento". Do mesmomodo, podemos dizer que essegrande jardim de palavras fio-rescentes produz muito pequenaquantidade de matérias primaspara alimentar um verdadeiro••front" ranti-fascista no Hemis-ferio Ocidental. Falha, porquenáo tem interesse local para opovo a que é .supostamente diri-girio, pois não se ocupa com seusproblemas especiais, nem o diri-ge em .suas lutas especiais.UMA ASPIRAÇÃO EM CO-

MUM COM O POVO NOfi-TE-AMERICANOO Divisão de Rádio da Coor-

denaçáo deixou-se cair nos mt-s-mos erros em que afundou a Di-visão dc Imprensa. E' muitomais fácil, e muito mais eoníor-tavel, para um sul-americano.sintõnisar uma de suas estaçõeslocais se1 desejar ouvir uma rum-ba, um tango, uni corrido ou umsamba. Mas. usualmente, naodeseja ouvir tais músicas, a me-nos que seja uni cubano, um ar-gentino, um mexicano ou umbrasileiro. Desejaria antes, ou-vir uma bõa comédia escrita porum conhecido escritor compa-triota, representada por atorestambém compatriotas. E. assimcomo o público dc rádio nor e-americano está aprendendo ooi-

sas acerca das tradições sul-ame-rieanas por meio de peças radio-fónieas que falam dc nossos he-róis, como San Martin e Bolivar,escritas e representadas por nor-te-amerieanos segundo as linhastradicionais do rãdio-teatro nor-te-amerieano, também nós. ossul-americanos, podemos apren-der coisas sobre as grandes fi-guras norteamericanas se fo-rem apresentadas em termos denossa tradição teatral. Nãoaprendemos nada, e às veiei fl-camos ressentidos com o modopor que nos são apresentadasnossas grandes figuras hi.stóri-cas através as ondas curtas, eo-mo se os norte-americanos nãodependessem de nós para conhe-cer-nos. Compreendo que as in-tenções são boas, t que o pro-grama é realizado como umgrande gesto de amizade naracom todo o 'hemisfério'; mas porisso mesmo é que está errado.Torna-se simplesmente um pro-grama para norte-americanos,para es quais somos apenas- es-trangeiros que o ouvem.

À guiza de exemplo, imagine-mos uma família de Filadélfiasintonizando seu aparelho dr on-nas curtas eom uma estaçãoemissora do Rio. E' um progra.ma em inglês, e todos sentam-seem roda do receptor, satisfeitose expectantes. Trata-se de umapeça histórica sobre a Américado Norte. Além disso, sua açãodesenrola-se justamente na velhaFiladélfia. A familia está agoraentusiasmada iodos de ouvidoatento. Prossèguindo a história,ficam eles sabendo que Berija-min Franklin era um Babitt —um belo, inteligente e progressis-ta tipo de Babitt. talvez, mas«m verdadeiro americano pre-cursor dos atuais "imnerialistas".Naturalmente, a família fica fu-riosa. De um modo meno.s su-mário e mais sutil, os programasri«; rádio organizados para nósnos Estados Unidos conteem asmesmas "gaffes", enganos causa-do?-, pela falta de conhecimentointimo da nossa história. Um

conhecimento geral, ou adquiri-do por meio dc livros, não podenunca servir para falar-se a umpovo que cresceu passo a passocom a tradição histórica.

A única maneira possivel deatrair-nos, a nós sul-america-nos, para esse Pan-Ameridanis-mo dramático e musical, consisti-ria em empregar nossos própriostécnicos como conselheiros; nos-sos próprios artistas para r>arti-ei par em programas destinadosespecificamente a lal ou qualpaís. E tais artistas deveriamser escolhidos entre os que jágozam de popularidade em seusrespectivos paises. Os spenkersqtie anunciam os programas de-veriam também ser escolhidos se-gundo o mesmo, sistema, pois éirritante .para. nós ouvir que. s.;dirigem a nós çm puro espanholcastelhano. Já se passaram maisde cem anos deSde que rompe-mos "com a Espanha, e temos or-gulho .suficiente para nas mos-'trarmois satisfeitos com a nossaprópria modalidade de espanholsem sermos lembrados de qtie"c" e "z" são. em castelhano,pronunciados corretamente como"th" em inglês. Nossa lingualibertou-se também conosco, egostamos de pensar neia comosendo uma lingua americana;não gostamos de constatar que adicção dos conquistadores, <mepensávamos ter desaparecido pa-ra sempre, está nos sendo força-da do exterior. E. embora issopossa parecer infantil, devemoslembrar que esses mesmos con-çuistadores representam paranós a mais opressiva espécie detirania, e que mesmo o simplessom de sua fala basta para tra-7.t-r imediatamente esta lem bran-ca ao nosso espirito.

Outros erios foram cometidosno programa de convites feitosa figuras sul-americanas de pies-tigio e importância para visitaros Estados Unidos .Certamente,alguns daqueles que foram.con-vidados teem .sido figuras de realimportância na v/ia cultural deseus paises. Mas outros teem

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DA SUCURSAL DE DIRETRIZES

NO número passado fizemos uma referência rá-

pida á Jornada de 1943 do Instituto de Or-ganização Racional do Trabalho de S. Paulo.

Trata-se de fixar, através do pensamento de per-son a lidades mais em evidência no mundo da.s ic-iras e das ciências, o verdadeiro comportamentodc Brasil em face cios problemas de após-giierra.

Já em 1939. ao inicio do conflito na Europa, aI. D. O. R T. enviou às entidades culturais e declasse rio pais e do estrangeiro un: apelo no sen-tido de se procurar manter intactos os padrões daética sancionados pelos diversos acordos interna-cionais.

Agora, conforme afirmam os diretores da I. D.O. R T.. "o plano do que deveremos fazer nos diasque se seguirem à cessação das hostilidades é deMima relevância "porque'' o próprio estágio deevolução em que já nos encontrávamos tornou maisagudos nnntos cios problemas que teremos de re-solver satisfatoriamente em futuro próximo e quesão essenciais para a nossa sobrevivência".

São Pculo, 4 de Setembro de 1943

profissional e moral, entendendo por outro laóo.que ainda que importantes, pertencem a segundoplano os debates sociais, políticos c econômicas.Briquet ]>ensa que a educação resolverá todos osproblemas de após guerra, mas se esquece de pen-sar que .sem a solução rio problema econômico náose chegará nunca à solução do problen-.a educado-nal. Mas Briquet é um idealista da velha guarda,do tempo em que acreditava que um discurso tleRui Barbosa podia substituir uma feijoada do Fer.ramenta.

Temos notado que o problema de ganhar apaz alanceia tanto quanto o problema de ganhara guerra. Temos pensado também que toda estaguerra não tem passado afinal de uma enormeguerra pela paz. Os pruridos desta interpretaçãojá se faziam sentir nos tempos do slogan sobre a"paz armada". Daí para cá houve apenas umaaplicação prática do conceito dessa paz em armas.Logo. lutamos pela paz, o que quer dizer que mes-mo antes do choque rios exércitos democráticos,aliados aos exércitos socialistas, contra os nazis detodas as camisas, mesmo antes do entrevero, jáhavia uma guerra interior, uma grande guerra me-diterrânea e mesopotámica arrancando os povos desua ansiada tranqüilidade. Essa guerra tinha vá-rios nomes, em vários países: fome. desemprego,dumtping, inflação, monopólio "trust", carestia.Era uma guerra surda sem tiros. Mas era umaguerra. A outra que veio depois e que aí está,leve apenas o pro-xvsito dc restabelecer a paz jádegringolada em muitas nações. E' verdade queela encontrou no nazismo o seu sentido brutal, maso nazismo só poude existir justamente pela incapa-cidade rios homens de antes rio nazismo em resta-belecer o equilíbrio da economia humana, que eraafinal o equilíbrio pela paz. o que. de certo, nãopermitiria que se usasse o pretexto ria fome paradar corpo a tão façanhudas ideologias.

•Almeida Júnior, catedrático da Faculdade deDireito de São Paulo, acha que "a.s providênciasfundamentais para aumentar a eficiência do bra-sileiro 1 física, moral, mental, profissional) eonsls-te em melhorar-lhe a nutrição". Mas. para isto,acrescenta "precisa haver a solução prática da or-ganização social da administração pública da pro-dução. etc".

Almeida Júnior parece menos lírico que o drBriquet.Elli.s Júnior declara que solucionando o pro-blema Homem "quer encarado no ambiente Inter-ro. quer encarado no ambiente externo" tudomarchará bem. Terra e povoamento são teses tam-bem essenciais. O que Elli.s Júnior entende porambiente interno é o lado subjetivo rio Homem eambiente externo o objetivo. Por outras palavras,afim cie soprar a poeira do hermetismo elLsiano*o lado moral e o lado econômico estão de mãosdadas. Mas acontece que se o Homem é de fato

q essencial, ele se apresenta como fim e não comomeio das soluções de após guerra, pok a luta pelapaz é justamente a luta pelas reivindicações doHomem.

A T. D. O. R. T. apresentou um ante-projetoque considera para os estudos da Jornada três di-retrizes: as sociais, as cuHuraAs e a.v econômicas.

A respeito do plano, disse Rrnil Briquet eraresposta á consulta da T. D. O. R. T. que os itensqu< ele entende de maior relevância são os quese referem ao aperfeiçoamento físico, intelectual.

O dr H. de Paula Souza, catedrático de HI-gíene da Faculdade de Medicina diz que "a quês.tão do povoamento, parece merecer a maior con-sidergção". Aqui. o sr. Paula Souza, apenas pro-cura um setor que lhe interessa de .perto, natu-ralmente como fonte de uma especialização part.l-cular. E nesta base achamos que de fato a quês-tao rio povoamento é importante, ainda que nadalambem se jxxssa fazer .sem o necessário reajusta-mento econômico.Eis alguns pontos de vista de eminentes per-sonahdades de São Paulo a respeito da enquet.eda I. D. O. R. T.Por aí .se vê que não deixa de ser palpitante1» Jornada de 1943. Abrir-se ão valorosas debates,

mas é preciso desde já aconselhar aos deputadosdesse emérito parlamento sem voto direto que apalavra clara e a franqueza rude são mais 7iece.s-sárias e esclarecedoras que o bisantlnlsmo e o ne-voeiro artificial de certos verbalismos que servemliara ilustrar, mas não para resolver.

ABOU AR BAS-FOS

sido "stuffed síhiri*", como sediz na América do Norte, e ou-tros ainda teem tido inclinaçãodecidida pelo fascismo.

Lembro-me de uma conversacom um funcionário do Departa-mento de Estado, que expressou-me sua surpresa pelo fato de te-rem vários desses hóspedes vol-tado para a América do Sul sempronunciar uma única palavra arespeito dos Estados Unidos. Al-guris deles — os solenes professo-ras — feoliaram-se num .frio eaustero silêncio, pois tinhamconstruído suas reputações comseus - trabalhos especializados, e

. não estavam acostumados a falarsobre assuntos de outra- espécie.Outros, os que atualmente sãopró-Eíxo falaram em altas vo-zes — contra os Estados Unidas,

Um de meus amigos, Luiz Rei-• nandi, jornalista argentino, es-creveu-me recentemente, comespanto e cólera, quando soubeque certo escritor argentino desegunda classe, homem que têmsido publicamente desmascaradoem numerosas ocasiões comopró-nazista, tinha sido com/da-do para ir á América do Nortecomo hóspede oficial rios EstadosUnidos,

Convites a indivíduos como essedesconcertam aqueles dentre pósque estão lutando sinceramentepara construir e manter a ciemò-era cia nos paises da América rioSul. Os homens que é-mais im-portanle sejam convidados paravisitar os Estados Unido;; sãoaqueles que teem interesse v talpela democracia — os escritores edemais elementos que estão dia-riamente iui trincheira, lutandopara derrotar Hitler e seus allà-cios em seus "fronts" espeeia s.Muitos desses homens são jovens,e náo possuem reputações enor-mes como os Ivomens mais ve-Ihos e mais conservadores. Massão eles os mais capazes dc an-gar ar aliados para a causa dosEstados Unidos, que é. afinal, anossa causa e a causa de Iode* ospovos democráticos.

A Divisão de Cinema da Coor-denação apresenta ou tio difícilproblema, criado pela indústriacinematográfica em si mesmadurante um período dc anos.Hollywood, em sua sede comer-ciai de produzir tantas películasquanto fosse possivel cada ano eoe atingir o maior público ix>s-si vel tem rebaixado com suaação o próprio povo norie-ame-ricano. O resultado íoi que, a^u-almente, nós, sul-americanos,pensamos que os Estados Unidossão um pais onde o divórcio la-vra como incêndio, destruindo avida familiar. onde apenas oshomens de negócios representama nata cultural da sociedade,onde o baseball. o futebol, e ascomédias musicais são as únicascoisas que interessam ao povo,com exclusão completa cie todasas atividades artísticas mais í.-ms. E eu sei que o cinema levouos americanos a pensar (pie nossomos um bando de mulatos pre-guiçosos e sensuais, cuja únicaprofissão é o tango e a nimba,que pensamos exclusivamente emandar atrás de mulheres e gas-tar dinheiro — que, por falarnisso, náo temos muito agora.

Eu sei que o Coordenador temdado alguns passos para corrigirtais enganos e que é apenas sãjustiça o dar-lhe crédito por ai-guns bons resultados. O filmede Walt Disney "Bons Amigas"(no Brasil, Alô, Amigos!), e urnamanifestação concreta deste bomtrabalho, e teve um antecedentenaquele ótimo filme sobre a

vida do apóstolo mexicano, Jua-rez. Mas. se as barreiras que lo-ram erguidas entre nós devemser destruídas, é preciso queapareçam; em muito maior mi-mero, películas sérias e hi.stóri-cas que façam viver os grandeshomens de ambas as Américas:filmes sociais como '-As Vinhasda Ira" e " Winterset", quemostram os desejos e lutas dopovo; e bons filmes documenta-rios. feitos com simpatia, quereflitam a natureza de nossosdiversos paises. Seguindo tal ca-minho, poderemos bem. com-preender e conhecer os norte-americanos, e eles a nós.

Se eu fosse Nelson Rockefellerhavia de encorajar, além dc tudoaquilo de que já falei, o "traveicíollar", providência que permi-tiria que milhares de sul-ameri-canos visitassem os Estados Uni-dos todos os anos sem as exi-gências e as dificuldades e con-troversias dos convites pessoais.Criaria um departamento deserviços especiais para esse.s tu-ristas, e publicaria dicionárioscom as mais essenciais palavrase frases, folhetos mostrando oque se pode ou deve ver nos Es-tados Unidos, e um guia de boi-so "Bom Vislnho" com esclare-cimentes sfjbre o povo e snapsicologia. e sobre as institui-ções e costumes norte-america-nos. tal como os guias de boLso

(Continua na pág. 24j

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UPLEMENTO LITERÁRIOíi!;»«*

Ano VI — N.° 167 — Setembro, 9 1943 — RIO DE JANEIRO

SACUDIDO pelo companheiro de banco,

ele acordou em sobresalto. O outrcgritava:

"Corre, corre, a policia vem

aí" — e ele, estremunhado, meio tonto ainda, poz-se a correr, esgueirou-se entre osbancos do jardim, atravessou a rua, meteu-se atrás do outro por uma viela, foi desem-bocar na Lapa. Lá, pararam, tomando fô-lego. 0 outro |he deu um tapa nas costas,ele levou a mão ao feltro sebento e separa-ram-se. Só então é que refletiu. Fugira co-mo se tivesse algum crime a pagar, algumaculpa a esconder. Não matara, não rouba-ra. não ofendera ninguém. Estava somentealí, dormindo no banco duro, porque há jádois dias vagava pelas ruas, despejado doporão em que um antigo conhecido o abri-gara. Não matara, não roubara, não ofen-dera ninguém. Sempre foro uma criaturamorigerada c tímida. Em pequeno, reco-Ihia os gatinhos abandonados na sargeta,levava flores para a professora, não joga-'va pedras, encapava os livros e os cader-nos, apanhava dos maiores sem denuncia-los. Depois de homem cumprimentava todomundo, aprovava as coisas que lhe diziam:¦— "E' isso mesmo, sim senhor. . . Perfei-tamente. Tem toda razão". — Esperava osinal para atravessar as ruas, andava sem-pre na mão direita, respeitava as filas, jus-tificava os diferenças de classe, noa mal-tratova os animais, não pisava nos can-teiros, não cuspia no chão, não fumavanos cinemas, não bolinava suas vizinhas debonde. Um indivíduo bem intencionado, te-mente a Deus e às leis de seu país,' semopiniões políticas que não fossem, pelo seugosto de concordar, os de seu interlocutordo momento; no fundo, governista em to-dos os governos. Dono das mais recomen-claveis virtudes cívicas, ficava em pé quan-do tocavam o hino (que, aliás, sabia todode cór), descobria-se diante da bandeira eao passar pelas igrejas, gostava de acom-panhar paradas e procissões. Ouvia discur-sos com prazer; quanto mais longos, maisconvincentes lhe pareciam. Tinha o cul-to da Hierarquia e da Família, a crença naJustiça e o amor pela Ordem.

Entretanto, com tudo isso, agora via, pen-sando melhor, que fizera muito bem de terfugido. Se o guarda o tivesse apanhado dor-mindo no banco, viria com as perguntashabituais: — "Nome? Profissão? Residên-Cia?" — e no fim ele sairia fichado na po-lícia: vagabuundo. — Achou dura essa ve-nficação; mas afinal era assim mesmo. Osbancos da praia podiam parecer feitos paraa gente se sentar; não havia lei nenhuma,riem siquer uma postura municipal, queproibisse a um homem, sentado no banco,de ceder ao cansaço e de pegar no sono.No entanto — embora ,a princípio, isso IKparecesse ilógico — só quem possue um«.residência fixa, uma profissão ou rendasque lhe assegurem o teto e a comida, aque-les que, em suma, não precisam dos ban-cos da praia porque têm, em casa, uma ca-ma à espera, esses é que gozam do direi-to de sentar à noite nos bancos e de dar umcochilo. Quem não tem lugar certo, legal,para dormir, não pode dormir em lugar ne-nhum.

Asstm, se andasse com boas roupas, bomcalçado, o rosto barbeodo, uma carteiracheia no bolso, quando o companheiro oocordasse, não precisaria fugir (o outro,olios, não ousaria acordá-lo) ; esperaria oguarda, e diria, espreguiçando-se: — "Es-tava aqui, aproveitando o fresquinho danoite. . . E, sem saber como, peguei no so-no". O guarda acharia muito natural: .*Pois então, seu doutor. . . O calor estáforte, e o sono chega que a gente nemsente". Chamaria assim mesmo :"seu dou-tor", e iria, de casse-tête em punho, des-pejar dos outros bancos os vagabundosadormecidos.

Sem revolta, o homem fechou mais altoo paletó sobre o peito sem camisa, aper-tou junto ao pescoço o alfinete de fraldaenferrujado que lhe vinha prestando tãobons serviços, enfiou as mãos nos bolsos emeteu-se pela calçada do Passeio Público.Estava caindo de sono.. Olhou para os gra-rhados com inveja, sacudiu a tentação, ar-rostou os pés cansados. Os rasgões dos sa-patos machucavam-lhe os dedos: cada pas-so trazia dores novas, fazia aderir a peleferida dos calcanhares ao couro ressecado.Voltou aos lugares por onde já passaraoquela mesma noite. Em caminho, reparouno relógio do arranha-céu: — duas e meia.A manhã ainda vinha longe. Como podiaparecer comprida uma noite sem teto, an-dando sem licença para parar! De dia eratudo mais fácil. Sentava-se. Via gente. Omovimento distraia-o. Mas as noites desdo-bravam-se devagarzinho, como um carre-tel de que ele ia puxando o fio em silêncioe que nunca mais acabava de desenrolar.As horas e os minutos davam para se mui-tiplicar; o valor do tempo se alterava ànoite. Parecia-lhe que já tinha passado poralí há muito .entretanto, 1 meia noite es-tiveru diante do Municipal, esperando a sai-

UM MUND0 PERFEITOCONTO DE UA CORRÊA DUTRA

ILUSTRAÇÃO DE PERCY DEANEda da Opera, para arranjar alguns níqueisabrindo e fechando portas de automóveis.Não fora feliz. Sua sujeira, seus farrapos,a barba de cinco dias impressionaram malàs senhoras vestidas de gala, embrulhadasem peles. Ouviu uma dizer ao marido (en-te sem malícia, para ele, todo homem queacompanha uma senhora na rua devia serseu esposo legítimo) : — "Que tipo repe-lente! Parece vagabundo de cinema". Narealidade, sua indumentária tão perfeita-mente miserável chegava a parecer artifi-ciai, coisa arrumada em bastidores por umcontra-regra competente. Outra, uma gor-dinha, de cabelos claros « rosas no decote,

começou a rodar. Isso lhe valeu ser «juasiatropelado pe4o Ford a gasogênio que vi-nha atrás. — "Cachorro.'

Quer morrer, dia-bo?" — gritara o chauffeur do Ford, « eleficara em pé, no meio do rua. branco desusto, apertarnio o dinheiro na mão ma-chucada.

0 inspetor de veículos mandou-o ernbo-ra, e, mesmo assim, quasi apai^hou de umsujeito alto, com boné numerado, que sedisse dono do ponto: — "Quem chamaautomóvel aqui sou eu, ouviu, seu penetra?Quem toma conta de carro, quem fecha por-ta de carro sou eu, tá ouvindo só? Vai tra-tando de dar o pira, que este ponto a meu.

tivera pena e pedira ao velho próspero qttelhe dava o braço: "Coitado! Deve e-Uar comfome. Dó uma esmola a ele, João" — Maso velho dissera alto, entrando no grandeautomóvel preto forrado de cinza: — "Vo-cê é ingênua, minha filha. Não conhece avida. Essa gente tem até dinheiro guarda-do. "Esse é capaz de ter mais do que eu".— 0 chauffeur fechara de propósito a por-ta em seus dedos, e, por mais ligeiro queos livrasse, ficara alí no indicador, ao ladoda unha, a mancha roxa de sangue pisado.O gesto brutal não lhe deu raiva nem re-volta; o carro era bonito, e pareceu-lhenatural que o outro, responsável por suaconservação, o defendesse. Apenas soprouo dedo, e correu para apanhar os quatrocentavos que a senhora gorduchinha lhe jo-gou às escondidas do velho, quando o carro

Yenho licença do Policia". — 0 homem nãosábio que até paro bater porta de àutomo-vel era preciso licença especial. Ficou uminstante perplexo, mas, como era um cida-dão morigerado, amante da Ordem, acabouadmirando a perfeita organização social queaquilo representava. Foi andando, submisso,apertando na mão os oito centavos que aintromissão nos negócios alheios sempre lhehavia rendido, pois ganhara o resto da quan-tia batendo a porta de uma baratinha. Maisadiante, um senhor de cache-nez branco, quea tudo assistira, deu-lhe uma prata de metocruzeiro, com a recomendação expressa: "Não

gjste tudo em bebida". Aceitou o dinheirocontrafeito, porque era esmola, nada fize-m paro o ganhar. Fechara as duas portas,quasi esmagara o dedo nessa tarefa, mas«• homem de cachez-ncz não prestara nem

siquer um simulacro.de serviço. Além dis-so, tomando-o por um ébrio habitual, o ho-mem lhe recomendara que não gastasse embebida. E de fato não gastou, embora, pen-sondo bem, seria melhor que o fizesse. Gos-tou em comida, um prato de sopa quenteque lhe caiu no estômago oco, e um peda-ço de pão, roido mais tarde, no banco dapraia. A comida lhe daria relativo confor-to por algumas horos, mas nunca os so-nhos, • esquecimento, o grande momentode felicidade que igual quantia, gasta emcachaça, poderia proporcionar-lhe Não be-bia. Mas via os bèbedos passando, tão con-tentes, rindo, engrolando frases confusas,cantando alto, desabafando os segredos,dirigindo-se a todos ,homens e mulheres,ricos t pobres, brancos e pretos, libertadosde qualquer complexo de inferioridade, dequalquer preconceito de classe, confrarerni-zando com a humanidade inteira ou desa-catando humildes « poderosos, olhando decima os grandes da terra. Sempre tiverahorror à bebida ;agora, desconfiava que sóela lhe faria esquecer a sensação nova, quea miséria lhe dava, de ser rejeitado, temi-do, posto de lado como um objeta inútil,evitado como um elemento nocivo.

Ficava remoer>do coisas de sua vida. Fo-ra dono de uma loja (uma porta num so-cavão da Rua Larga, com artigos de arma-nnho e miudezasi. Falira, fizera .dívidas.Desde então, a coda passo que dava, ia seembrenhando por um caminho que lhe pa-recía não ter fim nem espaço para dar avolta, a cada vez mais se afastara daquelepedaço de vida limpa que um dia fora asua. Tudo tinha sido rápido: em três anoschegara aonde estava. Perda do capital; per-da do crédito. Durante meses vivera da ven-da do que pudesse ter algum valor: móveis,o anel, o relógio, dois quadros, livros, rou-pas. Exgotou os empréstimos dos amigos;exgotou os amigos. Expulso do quarto nopensão, acolheu se provisoriamente no porãode um conhecido; lá teria ficado, se não otivessem posto na rua. E as coisas se precipi-taram: o terno que foi se gastando, esgar-gaçando nos cotovelos e nos joelhos, na golae nos fundílhos, em todos os pontos onde ocorpo roçava mais de perto a fazenda; ossapatos cujas solas furavam, cujos bicos sedescosiam, cujos cordões partiam eram subs-tituidos por pedaços de barbante; a camisaque só se lava de dois em dois dias, desemana em semana, e que nem se lavavamais, que acabava apodrecendo na pele; ocolarinho que ia amarelando, esfiapava jun-to ao pescoço, que sé virava pelo avesso,que afinal se arrancava e jogava no lixo,junto com a imprestável gravata '«ítorci-óa; e, por último, o cabelo comprido, obarba que era inútil raspar, pois não con-servava mais, em sua pessoa, nenhum si-nal de asseio, de repeitabüidade. A princí-pio, a esperança de tornar o uma situaçãoparecida com a que perdera, e as exigên-cias quanto ao emprego, menores i medi-da que o tempo ia passando. Oferecera-seem vários lugares: — "Tem carteira? Nãotem? Impossível". — Carteira para fazera escrita das padarias, carteira para medirfazendas, carteira para pesar gêneros nosarmazéns, carteira para embrulhar as com-pras, carteira para atender ao telefone nosconsultórios, carteira para entregar enco-mendas, carteira para espanar a poeira noslojas, carteira para vigiar empresas à noi-te, carteira para dirigir bicicleta, carteirapara bater porta de automóvel. Não, nãotinha carteira.

Durante uma época, por orgulho de nãoaceitar trabalhos braçais. recusara-se a en-cerar a casa do Major, a varrer o cimentodos quintais, a lavar os carros da casa gran-de da esquina. Depois, o desejo de aceitarfosse o que fosse, de ganhar alguns tos-tòés para matar a fome, e então os outrosé que se retraiam, com medo de seus far-rapos, de seus olhos enfiados nas órbitasfundas, perdidos no emaranhado de pelosdo rosto. A consideração se acabara com aroupa; seu desejo de fazer concessões crês-cera na razão inversa da boa vontade alheia.E assim, quanto mais procurava entrar naOrdem, fazer parte de novo daquela orga-nização social que tanto admirava, mais oempurravam para fora, mais o enxotavamdali.

Lembrou-se de repente do caso do Joli.em que não pensava desde menino. E des-cobriu que sua história era exactamenreIgual à do cachorro Joli.

Joli fora um vira-lata branco, pequeno,malhado de preto, em que se reconheciammuito atenuadas, as características da raçaTenerife, Os meninos da casa eram loucospor Joli; ele, de nove anos, brigava com aIrmã de dez (Carmelita, hoje; há quasivinte anos não a via) e com o irmão de se-te (morrera menino, no ano da gripe) pa-ra ter o privilégio de carregar Joli no colo,de dormir com ele na cama. Joli não era po-rem um cão fiel; de ascendência boêmiaguardara o gosto pela vagabundagem, pe-

(Cantina* n» pac. 23}

PAGINA 14

SÃO PAULQ, agosto.Monteiro Lobato guarda

várias e doces recordaçõesda sua intensa vida de edi-tor. E, entre todas, uma ou-tra lembrança," talvez nãomuito doce nem muito bela.Mas que ele revela com umsorriso:

*- Foi a época da minhavida em que mais menti.Puxa! Mentia diariamente.

Estamos no seu pequenosobrado da Aclimação, emSão Paulo, e o frio é terrívellá fora. Lobato — me disse

ia tomar urmbanho quen-te e se meter na cama,quando cheguei. Desce asescadas cochilando, a gra-vala desarranjada na cami-• sa. Sobe depois, para me con-seguir ifa máquina portátil,e quando volta está com as-pecto melhor: passou opente no cabelo, endireitouo colarinho, ajeitou a gra-vaia de grandes e vivas lis-tas azues. Seus cabelos es-tão se embranquecendo,mas há, sobre os olhos, aque-Ia famosa linha reta e negra das sobrancelhas, e háos próprios olhos, adoles-cen tes, muito vivos, que nãodormem."Foi a época em que maismenti*' — diz, e fica algunssegundos calado, estiradona cadeira, os olhos enter-rados no sorriso. Explicadepois:

A ARTE DE ENGANAR OAUTOR

— Você compreende: to-dos os dias, de todos os can-tas do país, chegavam à editora dezenas, centenas deoriginais. Tudo de genteinédita que queria aparecer.Contos, romances, ensaios,poesias. Como sempre acon-tece, oitenta ou noventa porcento daquela carga não va-liam nada. Esse era o jul-gamento invariável meu edos meus colegas de escolha.Mas os autores não pensa-vam assim. E' lei infalívelno mundo das letras: cadaautor se julga um gênio, do-no de uma obra que, quan-do revelada ao público, mar-cará nova era nas coisas li-terárias. Se o editor, poucodiplomata, chamar o cama-rada e falar claramente, di-zer que seu livro não valecoisa alguma, que ele erroude vocação, pronto, ganhouum inimigo figadal para oresto da existência. O golpeé tratar a coisa com jeito,com açúcar.

Lobato sorri novamente.Era o que eu fazia. Me

aparecia, por exemplo, umromancista, magnificamen-te datilografado em espaçoduplo. Deixava o originalcomigo, voltaria dentro deuma semana paia saber daresposta. E quando voltava,eu já estava preparado. Erasó soltar: "Achei seu livroesplêndido, meu caro. Nun-ca um romance nacional meimpressionou tanto. Na tu-ralidadc de narração, temanovo. idéias novas. O senhornão compreende o meu so-/rimento em não poder edi-tá-lo". E depois vinham asrazões para a recusa: "Todoo programa da editora, paraestes dois anos, está comple-temente cheio, inteiramentecheio. E' lógico que eu po-

"UM

deria substituir algum dwlivros programados pela suaesplêndida obra. Mas acon-tece que todos os autores aserem publicados pela nossacasa firmaram contrato. Nãoposso romper tais contratos,o senhor compreende". Erahorrivel, mas tinha que serassim. Nunca tive coragemde dar uma opinião contra.Coisa que é tambem uuestãode temperamento.

O MILAGRE

Monteiro Lobato não gos-ta de falar de sua pessoa.Amigos paulistas já me ha-viam prevenido sobre isto, eele próprio, quando telefo-nei daqui para São Paulo,pedindo a entrevista, foi ca-tegórico:

— Se fôr para um bate-papo sobre coisas gerais, po-de vir. Sobre minha pessoaacho melhor você não per-der seu tempo: já disse o quehavia para dizer.

Mas recomendo aos meusamigos repórteres que, aopretenderem arrancar deLobato algo de pessoal, nãovacilem: batam na tecla daeditora que ele fundou, le-vem a conversa para a suaação formidável como editor,iniciada em 1918. Ele en-treua inteiramente os oon-

»á vinte e tantos anos atraz,manteve contra os meda-Ihões, a Garnier e o Fran-cisco Alves.

— No princípio, eu penseisair derrotado. Era um ne-gócio ousado. Mas meus so-nhos diziam o contrário, e.os sonhos, tiveram razão.

Lobato, em poucas pala-

menos de um mes, tirei ou-tra edição. Logo depois tireimais outra. Era um mila-gre!

O MILAGRE TEM UMAEXPLICAÇÃO

Mas o miiagre tem sua ex-plicação. Diz Lobato:

um critério muito democrá-ta, um critério todo especial.LVocê sabe que naquele tem-,po, para alguém editar umlivro, tinha que possuir umadestas qualidades: ser rico,jter prestígio junto a um me-jdalháo, ou então ser filho dépai ilustre. Do contrárionada conseguia. Isto fez

Entrevista com Monteiro Lobato,, em São Panlo, no 25.° aniversáriodo "Urüpeê". — Recordações da vida de um ex-editor. — Foi o tem-pó em (/ue mais menti em toda minha existência. — A arte de enga~nqr o autor. — Um rapaz contra a Garnier. — Por que faliu a Mon-feiro lobato & Cia. — Nasce a Editora Nacional. — Otales Mar-condes e uma definição. — "O credito devia ser proibido". — 'Eupenso como Wilkie: um governo que não nasce do povo, é cavilação enão tem legitimidade". — " Um m indo" e suas idéias. — Considera-ções sobre o "Poder Soviético", d > Deão de Cantcrbury. — "Em ma-teria de Rússia, passei a jurar pe V> livro do Deão como os puritanosjuram pela Bíblia". — Uma carta de Osvaldo Orico. — Um escritor

que é um ido "o das crianças. .Reportagem de JOEL SILVEIRA — (Enviado especial de DIRETRIZES a São Paulo)

vras, conta como deu inicioà sua vida de editor.

— E' que eu tinha um 11-vro, um livro de contos. Otítulo era "Urupês". Alemdo livro, eu possuía, metidoscuidadosamente numa ga-veta. a módica quantia deum conto e quinhentos. Re-

cáí iliílll í fi^

Y^| < *^a.|" ;fc» ^0 >$Ís— ..-.'¦ §f^ '

Miimamfi.tr, Monteiro I.<.»>»t« c*t£ prrm hi*i<}«, mm e&r tm ordrm sn*volumosa «-orre*p«mdrnr»a. Fm rfnfc ? «inro *«<>* dr vida literária,I ¦¦• !•:".!<> s* t.orrr«p«r>drM rom ••ratrnas. na mrvmo milham dr intr-k>rtH»M. Atr rom Osvaldo Ortr*», poi-s iM>d» pn.ft^-,» (rn, ,«-*« r*t*tnhe«.

tos. Vé-se logo — é coisaque está nos seus olhos, noseu sorriso, nas seus gestos— que o seu grande orgulhoo verdadeiro orgulho, é teisaído vitorioso da luta que,

solvi então empatar a fortuna, tornando-me editordo meu próprio livro. A pri-meira edição do livro foi demil exemplares. Exgotou-selogo e dentro de poucos dias,

— Eu levava idéias novaspara o negócio editorial. Na-quele tempo, 1918, existiamem todo o país apenas umastrinta e poucas livrarias quedistribuiam as edições daGarnier, da Francisco Alvese dos livros franceses quechegavam com grande atra-zo. Comecei, então, a reco-lher endereços em todo oBrasil. Cavalheiros queeram apenas proprietáriosde pequenos armazéns do in-terior, papeleiros, farmacéu-ticos, todos começaram a re-ceber uma longa carta mi-nha onde eu fazia uma pro-posta encantadora: "Soueditor, dono de uma editora.Quero que o senhor seja o re-presentante da minha firmaaí na sua cidade. O senhorreceberá de cada edição daminha casa, tantos exem-plares. Por exemplar vendi-do, o*senhor terá trinta porcento. Se não vender nada,dentro de um certo prazo, osenhor me devolverá os li-vros. Como o senhor vê, éum negócio esplêndido, poiso senhor não poderá ter pre-juizo". A idéia foi recebidacom grande entusiasmo, edentro de pouco tempo aMonteiro Lobato & Cia.possuía, em todo'o pa^s, rioAmazonas ao Rio Grandeio Sul, via Mato Grosso eGoiaz, perto de dois mil re-presentantes. Esta foi umadas razões do meu sucessocomo editor. E' a tal histó-ria do ovo de Colombo.

Mas houve outras razões,entre as quais uma: é queo Brasil já estava farto dosmedalhões, da literatura es-trangeira que vinham noscargueiros, das edições ma-çudas das livrarias tradicio-nais. Lobato trouxe coisanova assinada por gente no-va. Tudo em edições leves,ilustradas, com capas colo-ridas. Era outra coisa:

— Como editor, eu seguia

com que se fosse acumulai!-,do, pelo Brasil afora, nasgavetas, uma porção enorme ide obras inéditas. Quando Janunciei que não editaria jmedalhões, e que só lança- jria os novos, os originais, |como já disse, começaram a i[chover. Chegavam todos,os dias, por todos os cor-reios. Tal coisa deu ao paísa impressão de uma verda-deira florescência literária.

NAO HOUVE FLORES-CÊNCIÀ!

Lobato toma o café emdois grandes goles, esfregaas mãos, levanta-se e con-tinua:

— Mas não houve flores-céncia nenhuma! Houveapenas a apresentação aopúblico de uma série de ca-valheiros que estavam meti-dos nas suas respectivas ga-vetas. Creio que a nos1- *firma soltou toda a produ- /ção literária do Brasil que

'estivera encalhada ou seconservara inédita durante/muito tempo. Foi depois dalminha "ousadia"*que a pro-;,dução se normalizou e òsieditores começaram a editar";o que ia aparecendo.

AS DESGRAÇASFaço uma pergunta um

tanto triste (Mas, afinal*por que a editora faliu?),mas Lobato, antes, quer daiet;uma idéia do que foi a vidamaterial da Monteiro Loba-to & Cia.

— Os resultados mate^riais foram esplêndidos. Já;disse que o capital emprega-do na firma foram apenasaqueles conto e quinhentos;da primeira edição do "Uru-pês''. Tudo o mais. dali por^diante, foi feito com o lucro;dos livros. O dinheiro pin-|gava diariamente, vindo dos|lugares mais distantes. Sóia edição inicial do "Narizi-1nhV' nos deu, em oito meses, |

um lucro líquido dc cemcontos. E olhe que o livroera vendido a dois mil e qui-nhentos. O negócio cresceutão vertiginosamente que afirma Monteiro Lobato &Cia., que era eu e o meu com-panheiro Otales Marcondes,teve que transformar-se emsociedade anônima: virou aImprensa Gráfica EditoraMonteiro Lobato. Saímosdas pequenas salas da "Re-vista do Brasil" para verda-deiros escritórios e resolve-mos montar uma oficina.

Nova pausa. Lobato ajei-ta um quadrinho na parede,diz:

— Mas náo seria apenasuma oficina gráfica. Seriaa mais completa e maior ofi-cina gráfica do Brasil! Foiaí que começou o nosso erro.A oficina, depois de monta-da, nos ficou em alguns milcontos de réis. Dinheiroque a gente ainda não ti-nha, pelo que todo o nego-cio foi feito a crédito. Cal-cularamos, antes, que todosos gastos seriam pagos emtrês anos com o produto dotrabalho das máquinas. Masaí aconteceu a tragédia.

A tragédia foi a seguinte:Deu-se uma grande se-

ca em São Paulo, parece queem 1923. Pela primeira vezna vida da cidade, a Lightse viu obrigada a cortar ofornecimento de força elé-trica de dois terços. Fica-mos nós, portanto, com ummaquinário enorme, todoele movido á eletricidade,sem poder trabalhar. Ten-tamos a vantagem de umgrande motor Diesel, mas atragédia continuava: depoisde instalado, o motor nãopôde funcionar porque a se-ca tinha privado todo o bair-ro do Braz, onde estava ins-talada a oficina, da águanecessária para o seu res-iriam en to.

Mas não foi só. Houveoutras desgraças:

Coincidiu tudo istocom uma terrível medida dogoverno Bernardes. O go-verno mudara de orientaçãofinanceira e proibira o Ban-co do Brasil de operar emredescontos. Todos os ou-tros bancos, vendo aquilo, seencolheram: ninguém que-ria descontar mais títulos oupromissórias. Uma manhã,quando chego ao escritório,encontro uma coleção enor-me de avisos bancários: to-dos me preveniam que, apartir daquele instante, nãodescontariam mais coisa ai-guma. Ficamos privados dorecurso da conta de caução.Em vista disso, resolvemosliquidar a companhia. Einiciar imediatamente umaoutra, mas na qual jamaisrecorrêssemos ao crédito.

Lobato faz um parêntesispara dar sua opinião sobre ocrédito: I

— E' a pior coisa do mun-do. O crédito é que arruinaos povos e as nações. Ocrédito existe para ser abu-sado, e o abuso traz a ban-carrota. Eu, se fcxsse donorio mundo, proibiria o cré-dito. Qualquer transação,só à vista!

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proibido". — " Eu>ovo, é cavilação e(tu. — Considera-buru.— "Em ma-orno os puritanoso. — Um escritor

TRIZES o São Paulo)

Mim que se fosse acumulan-,1r, pelo Brasil afora, nas.vetas, uma porção enorme

obras inéditas. Quando |íunciei que não editaria?dalhões, e que só lança-i os novos, os originais, |mo já disse, começaram aover. Chegavam todos, s

dias, por todos os cor- fos. Tal coisa deu ao paísimpressão de uma verda-ira florescência literária.

NAO HOUVE FLORES-CÊNCIÀ!

'x)bato toma o café ems grandes goles, esfregamãos, levanta-se e con-

ua:Mas não houve flores-

ícia nenhuma! Houvemas a apresentação aoDlico de uma série de ca-hei ros que estavam meti-

nas suas respectivas ga- >as. Creio que a nos*-na soltou toda a produ- '

literária do Brasil que '

ivera encalhada ou seiservara inédita durante,!ito tempo. Foi depois da]lha "ousadia" "que a pro-jíão se normalizou e òsltor es começaram a editarue ia aparecendo.

AS DESGRAÇASpaço uma pergunta umto triste (Mas, afinal*

que a editora faliu?),s Lobato, antes, quer darla idéia do que foi a vida!terial da Monteiro Loba-& Cia.

Os resultados mate-s foram esplêndidos. Jáse que o capital emprega-na firma foram apenaseles conto e quinhentos gprimeira edição do "Uru-". Tudo o mais. dali pdrlate, foi feito com o lucrolivros. O dinheiro pin-;a diariamente, vindo dosj

ares mais distantes. Soldição inicial do "Narizi-1

nos deu, em oito meses, j

um lucro líquido de cemcontos. E olhe que o livroera vendido a dois mil e qui-nhentos. O negócio cresceutão vertiginosamente que afirma Monteiro Lobato &Cia., que era eu e o meu com-panheiro Otales Marcondes,teve que transformar-se emsociedade anônima: virou aImprensa Gráfica EditoraMonteiro Lobato. Saimosdas pequenas salas da "Re-vista do Brasil" para verda-deiros escritórios e resolve-mos montar uma oficina.

Nova pausa. Lobato ajei-ta um quadrinho na parede,diz:

— Mas náo seria apenasuma oficina gráfica. Seriaa mais completa e maior ofi-cina gráfica do Brasil! Foiaí que começou o nosso erro.A oficina, depois de monta-da, nos ficou em alguns milcontos de réis. Dinheiroque a gente ainda não ti-nha, pelo que todo o nego-cio foi feito a crédito. Cal-cularamos, antes, que todosos gastos seriam pagos emtrês anos com o produto dotrabalho das máquinas. Masaí aconteceu a tragédia.

A tragédia foi a seguinte:— Deu-se uma grande se-

ca em São Paulo, parece queem 1923. Pela primeira vezna vida da cidade, a Lightse viu obrigada a cortar ofornecimento de força elé-trica de dois terços. Fica-mos nós, portanto, com ummaquinado enorme, todoele movido á eletricidade,sem poder trabalhar. Ten-tamos a vantagem de umgrande motor Diesel, mas atragédia continuava: depoisde instalado, o motor nãopôde funcionar porque a se-ca tinha privado todo o bair-ro do Braz, onde estava ins-talada a oficina, da águanecessária para o seu res-iriam en to.

Mas não foi só. Houveoutras desgraças:

— Coincidiu tudo istocom uma terrível medida dogoverno Bernardes. O go-verno mudara de orientaçãofinanceira e proibira o Ban-co do Brasil de operar emredescontos. Todos os ou-tros bancos, vendo aquilo, seencolheram: ninguém que-ria descontar mais títulos oupromissórias. Uma manhã,quando chego ao escritório,encontro uma coleção enor-me de avisos bancários: to-dos me preveniam que, apartir daquele instante, nãodescontariam mais coisa ai-guma. Ficamos privados dorecurso da conta de caução.Em vista disso, resolvemosliquidar a companhia. Einiciar imediatamente umaoutra, mas na qual jamaisrecorrêssemos ao crédito.

Lobato faz um parêntesispara dar sua opinião sobre ocrédito: I

— E' a pior coisa do mun-do. O crédito é que arruinaos povos e as nações. Ocrédito existe para ser abu-sado, e o abuso traz a ban-carrota. Eu, se fosse donorio mundo, proibiria o cré-dito. Qualquer transação,só à vista!

O GfcN*-o

Assim, desapareceu aGráfica Editora MonteiroLobato, e surgiu a Compa-nhia Editora Nacional.

— O capital da EditoraNacional era, inicialmente,de somente 50 contos de réis!Mas levávamos, eu e o Ota-

nos diz que, em toda sua vi-da de escritor e tradutor,foi um dos livros que maiso impressionaram.

— Wilkie nos traz gran-des novidades. Ele viajoupelos países mais importan-tes desta guerra: a Rússia,a China e o Oriente Médio.E, com a leitura do seu li-

¦ ¦¦;¦¦.• jWffW^ iIb^í* ^ÕrnáS ^»*'*3* WtáM¦¦SÈ^oSÊJ^^SS^^»^'W^'WS&<WWmk

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' MiS?--:'. '¦'¦¦':?sy'/slfà&'s$?-%Z£mlHpa*www*'- ¦•¦ 'O. '¦'•*¦ t* fwvvw, •^.-.. .¦^JJtBm*-)''-'"'Bi' - ., ¦'•'&£&¦*''•'%¦•¦%'j9S&^^m¦¦¦¦

de organização russa. Elecompreendeu o que a Chi-na está fazendo e porque es-tá fazendo.

Lobato resume sua admi-ração por Wendell Wilkie naseguinte frase:

Se eu fosse americanoe Wendell candidato à Pre-sidente da República, eu da-ria meu voto a ele.

Mesmo se Roosevelt secandidatasse novamente?

Bem, exceto no caso deuma nova candidatura deRoosevelt.

WILKIE CONTRA OSPERIALISMOS

IM

Monteiro Lobato, na matriz «Ia Editora Nacional, rm São Paulo aolado de Otales Marcondes. A opinião de Lobato sobre Otales c inva-riavel: "TraU-sc de um gênio comercial!'' E os exemplos que ele dájustificando tal entusiasmo, são bastantes convincente*.

les, um capital de experièn-cia de valor incaiculavelCreio que foi tal experiênci;?que deu impulso à Editoratransformando-a na grand*força que ela é hoje.

Lobato não faz mais par-te da Editora Nacional, istoé, não faz mais parte da fir-ma. Mas continua a ser umtrabalhador seu, traduzindoos seus melhores livros eeditando lá todas as suasobras.

Para mim, a EditoraNacional é minha filha, umafilha que fez um ótimo ca-samento com Otales Mar-condes Ferreira, o grandemagnata da indústria de li-vros no Brasil.

Lobato tem uma defini-ção invariável para OtalesMarcondes:

Trata-se de um gênio!E, para justificar o qua-lificativo, nos dá alguns

exemplos da genialidade co-mercial do seu ex-sócio.

Depois eu pergunto:Quer dizer que não éverdade que a Monteiro Lo-bato faliu por só ter editadogente nova?

Lobato nega imediata-mente:

—- Em abwoiuto! Pelo con- jtrário.

O LIVRO I>E WILKIE

Monteiro Lobato nos ex- *

plica qual o seu sistema detradutor: ele só traduz o quelhe agrada, o que acha bom.Então, propõe o livro à Edi-Una. Uma de suas últimastraduções, lançada há pou-cos dias. foi "Um mundo",de Wendell Wilkie. Lobato

vro, compreendi mais sobrea situação daqueles paísesdo que com tudo o que havialido até então. E' que Wil-kie, na sua rápida viagemde 49 dias, não abandonouas linhas gerais. E as linhasgerais, meu caro, é o que in-teressa. Wilkie revelou gran-de compreensão sobre a ver-dadeira situação da Rússia,sobre as razões da sua resistencia e sobre a capacidade

GABlrVKTK OO irCTOH |»K**A Í>ANSA OOX CVkiUHW^"

Monteiro Lobato acha queo livro de Wilkie deve serlido por todos, principal-mente porque é um livrootimista. Mas não de umotimismo exagerado. Umotimismo realista e cheio deum espírito de libertação.

— Wilkie não admitemais imperialismos: nem obritânico e nem sequer osimperialismos internos dosEstados Unidos. Quer umaextensão da liberdade hu-mana a mais larga possivel.Quer a liberdade da índia ede todos os povos coloniais,embora reconhecendo queem muitos casos essa liber-tação tenha que ser realiza-da gradativamente. Tam-bem não admite ele nenhu-ma espécie de ditaduras,não concebe nenhum gover-no que não seja de puraemanação popular. Um go-verno deve sair de um povocomo a fumaça de uma fo-gueira. Aliás, eu penso co-mo ele: governo que não forassim é cavilação, não temlegitimidade e está condena-do ao desaparecimento emconseqüência do inevitávelresultado desta guerra. Noseu livro, Wilkie contrariamuita gente, inclusive Roo-sevelt e ChurcbJU. Muita

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PAGINA 15

gente já acusou Wilkie depretender, com o seu livro,chamar as atenções cio povopara a sua candidatura àpresidência dos Estados Uni-dos. Não pode ser. Consi-dero "Um mundo" absoluta-mente sincero, porque neleWilkie defende pontos devista que até o podem pre-judicar perante o povo nor-te-americano. Um exemplo:um dos poderes mais inter-nos dos EE. UU. que ele con-dena, é precisamente a situa-ção de desigualdade entre onegro e o branco. Desigual-dade que ele não admite, co-mo também não admite apredominância de uma cias-se sobre outra.

Lobato diz:Quando um livro me

agrada, traduzo rapidamen-te. Traduzi o livro de Wilkienuma semana.

GOVERNO E POVOMas, sem dúvida, segundo

ele próprio confessa, o livroque mais o tocou, modifican-do muitas de suas idéias an-teriores sobre política, foi o"Poder Soviético'" do Deãode Canterbury.

Foi o primeiro livro ho-nesto e imparcial que li so-bre a Rússia. E eu, comotodo o mundo, tinha a ca-beca cheia de noções falsassobre o povo soviético, no-ções que por muito tempo aAJemanha inoculou nomundo através das suasquintas-colunas, e que omundo, com a maior inge-nuidade, absorveu, permitin-do que. desse modo, o fascis-mo fizesse o seu jogo. Masa grande simpatia que sem-pre tive pela Rússia, faziacom que tivesse muito cui-dado com o que se espalhavasobre ela e sua experiênciapolítica. O diabo, porem, eque eu não encontrava umlivro que me esclarecesse,pois todos os que lia sobreo regime soviético padeciamde dois males: de proselitis-mo contra otfa favor, exalta-cão sistemática do regime

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PAGINA 16 DIRETRIZES9/9/1943

» J. ILIU I LA**

! ./ ¦r AÇÃO SOLS. ELIOT é geralmente considerado o maior

poeta contemporâneo da Inglaterra. Asua obra, desde o seu início, vem assinalandouma continua transição. Parece apontar paraum objetivo que ultrapassa a sua própria essên-cia, e se escolhermos ao acaso alguns dos seuspoemas temos a impressão de que realmente re-presentam fases dessa transição. Mas, confor-me indicam as suas mais recentes produçõesEliot ainda se acha evoluindo sendo assim im-possivel, por enquanto, avaliar a sua verdadeiragrandeza como poeta. Limitar-he-ei, nestas i-geiras observações, a considerar o aspecto his-lórico da questão, procurando enquadrar essepoeta na geração a que pertence.

T. S. Eliot começou a escrever em 1909,isto é, aproximadamente na mesma ocisaão emque o fizeram outros escritores de talento queacabaram contribuindo decisivamente para' aorientação principal da literatura da sua época.Desses os mais talentosos eram o norteamerica-no Ezra Pound, o irlandês James Joyce, D. H.Lawrence, produto da classe trabalhista ingle-sa, e Virgínia Woolf, educada numa roda deintelectuais cuja tradição remontava quase queao século dezoito.

Todos os principais membros daquela ge-ração, excetuando-se Virgina Woolf, haviam si-do, até certo ponto desarraigados. Nesse as-pecto, como também em alguns outros, trata-sede uma das mais exquisiras gerações da litera-tura inglesa. Entre os seus membros desarrai-gados, todos, a não ser Eliot, vieram a fracas-sar de uma maneira ou de outra. Pound e Joy-ce, após haverem demonstrado, na primeira fa-se da sua produção, que eram dotados de verda-deiro gênio passaram mais tarde a produzir umaespécie de literatura que, no seu estilo exube-rante porém de linguagem estéril se assemelha àdegenerescência que às vezes se observa nas fio-res. Uma fatalidade semelhante ocorreu a D. H.Lawrence, cujas melhores produções foram es-critas em uma época em que ainda não se isola-ra totolmente da classe em que nascera. Odesasossego que o levou finalmente a procurarum país após outro, e as suas repentinas e efê-meras obsessões pela Itália, Austrália e México,fazem lembrar as concepções febris de um hi-pocondriáco, apresentando a mesma intensida-de e a mesma ausência de realismo. A época des-ses escritores foi definida por Wyndham Levvisque a ela também pertenceu, como a grande ida-de que se não materializou.

Foi essa a geração em que nasceu Eliot, ede cujos perigos foi salvo pela sua capacidadede evolução. Se for necessário um nome paradefini-la, poderemos apelidá-la de geração scli-tária ou abandonada. Aqueles que dela fizeramparte eram profundamente imbuídos do senti-mento de que o ser humano individual se acha-va isolado, sendo-lhes quase impossível emergirda sua solidão afim de participarem de uma co-munhão de qualquer espécie. O herói típico daépoca, tanto na poesia como na novela, eraconstituído pelo individualista isolado que nãoacreditava nem nele próprio nem na sociedade,e que permanecia sempre um individualista por-que qualquer outra escolha ainda teria sido pior.Ao mesmo tempo essse curioso herói tinha aconciencia de que havia existido, num períodoainda próximo, uma sociedade ligada por senti-mentos comuns. O mundo de Arnold Bennet eH. G. Wells era ainda bem recente, e o mundode Dickens, que acreditara que todos ingleses,a despeito de fantásticos contrastes sociais, seachavam imbuídos dos mesmos ideais, ainda nãose afastara demasiadamente. Esse herói, dotadode senso histórico, não ignorava, é claro, a rela-tiva falsidade da suposição de Dickens; mastambém sabia que antes de Dickens, antes daRevolução Industrial, talvez antes da Reformaexistira uma época em que todos haviam sido li- •gados por laços ideológicos e que a sociedadefora então realmente uma comunidade.

A convicção de que a sociedade já nãoconstituía um ambiente satisfatório para o serhumano tradicional, tal como a religião e ohumanismo o haviam moldado, foi igualmentedemonstrado por escritores de outros paises eu-ropeus. O austríaco Franz Kafka formulou, essaopinião em uma rápida alegoria. Referindo-seao homem da sua geração, Kafka declarou —"Outrora fez parte de um grupo monumental.

De EDWIN MUIR - (En«*i«ta britânico)C»pyrifhr - l.N.S. - Etxcl«is«v« pero "Diietrtxes"

Em redor de alguma personagem colocada nu-ma posição de destaque havia, em ordem signi-ficativa, efigies da classe militar, das artes, dasciências, dos ofícios manuais. Outrora fez. partedessas inúmeras figuras. Mos o grupo de hámuito que foi dissolvido, ou pelo menos o homem o deixou e caminha solitário pela vida.

fl Mi/ /fi ii *mi ¦i

jo um possue a sua antiga ocupação; com efei-to chegou a esquecer-se daquilo que outrora re-presentava".

Esse homem que já não sabe o que repre-sentou, esse individualista que não crê em indi-vidualismo e que continua a viver num mundoonde o grupo humano foi dissolvido, é o homem

ESCRAVIZADALONDRES, « (De Neil Kennedy, da Reuters) —'.

Organizado sob documentos apresentados pe-Ias Nações Aliadas, em Londres, à Assembléia Inter-nacional, o livro "Euroue in bondage ' oferece-nosum quadro realístico da Europa como ela é. real-mente e da Europa quo Hitler sonhou fazer.

O livro é ditado poi John Armitage e suas pá-giitas são um sóbrio exame da bestialidade nazista.O autor mostra que por toda a parte os alemães fo-ram recebidos pelos que se renderam, como na Di-namarca, por heróica resistência, como na Grécia,pelo colapso interno e na França idêntico foi o re-sultado. Apenas na Polônia os alemães variavam osseus objetivos. Em qualquer parte, em maior ou me-nor grau, os esforços nazistas dii^jiram-se semprepara a germanização das populações Na Tchecoslo-vaquia, por exemplo, o idioma alemão está rece-bendo precedência sobie o idioma do pais.Na Tchecoslóváquia, na Fiança, na Holanda eno Luxemburgo, o objetivo dos alemães » o de ex-torquir tudo quanto puderem do pais por ele? escra-visado. Na Polônia, porem, eles estão*determinadosa proceder de modo idêntico, mas de maneira amais cruel que lhes for possivel. Estão esforçando-se por fazer da Polônia um deserto intelectual. AYugoslavia também, a um certo respeito, está rece-bendo tratamento igual. Hitler não reconhece suaexistência como um Estado unificado. Trata separa-dam ente com os servios, croatas e slovenos

•Falando a respeito do programa cie rádio intitu-

(Continua na pés. 18)

moderno tal como o interpretou a geração deElliot. Dele e do seu estado temos um quadroilustrativo no poema de Elliot.

"The Waste Land" surgido alguns anos de-pois da guerra passada. Joyce o descreve minu-ciosamente em "Ulysses". Um dos detalhes maismarcantes nesse livro é que enquanto vamos en-contrar abundância de brilhantes diálogos, nãohá qualquer tendência para um estado de inti-midade entre os caracteres. Permanecem todosnuma espécie de isolamento estático. Lawrence,por sua vez, sentiu a existência de todo aqueleisolamento, e o seu gênio procurou uma infinitavariedade de estratagemas destinados a dominare a recapturar o "fluxo"

que outrora existira en-tre as relações humanas. Para conseguir o seu fimtentou aprofundar-se na vida da Itália e da Au»-trália, e finalmente na vida dos índios do México.Mas não tardou a se desiludir, regressando ao seusenso de isolamento.

E' aos escritores que mencionei que devemosrecorrer se quizermos um quadro do mundo rela-tivo ao período de, por exemplo, 1909 a 1930; eo fato desses escritores se sentirem "abandono-dos" não foi talvez um mero acidente. Por queo seu senso de abandono permitiu-lhes sentir, tal-vez com maior intensidade do que outros, álgu-ma cojsa que parecia estar acontecendo à' civili-zação; refletiam o sentimento de que essa civili-zação se estava tornando terrivelmente impessoal,que já não proporcionava um ambiente para a vi-da tradicional do homem, Joyce contentou-se emregistar as reações causadas a um artista puropor uma sociedade em que a existência de um ar-tista não passava de uma anomalia. O quadro quopintou da sua própria época é valioso pelo fatode ser desinteressado. Lawrence reagiu com vio-lência crescente contra tudo que o exasperavana sociedade e tentou encontrar um remédio nomisticismo dos instintos. A poesia de Pound tor-nou-se uma tagarela sem fim, obscura e alusiva,e em que se confundiam a cultura e a preven-ção. Era como se um sábio encolerizado pronun-ciasse uma série de frases incoerentes.

Resta agora o caso de Eliot. Foi o únicodentro desta infeliz geração que conseguiu tirarpartido dos seus dotes, e cuja poesia vem de-monstrando uma crescente tendência para atin-gir à perfeição. Poucas são as razões que pode-rei apresentar como explicação desse fato. Detodas a mais óbvia é que, diferente dos outrosescritores acima mencionados, Eliot enraizou-senuma comunidade; a comunidade secular da In-glaterra e a comunidade religiosa do Catolicis-mo Anglicano. Mas não se deve atribuir essaocurrência ao acaso; foi antes devido a qualida-des de caráter e de inteligência de que Eliot édotado. Também se deve atribuir uma parte aofotor sorte, que, segundo dizem, auxilia aque-les que se auxiliam a si próprios. Mas, desde oinício a atitude de Eliot em relação à civilizaçãona qual vivia contribuiu consideravelmente parao seu êxito. O seu esforço para compreenderessa civilização foi mais intensivo do que o dosseus contemporâneos. Eliot foi mais persistente,deixando-se antes de tudo governar pela sua in-teligéncia. Sente-se que era mais amigo da so-ciedade do que Joyce, mais admirador da razãodo que Pound, e mais fiel à verdade do queLawrence. O fato de ser um homem de brilhanteinteligência crítica lhe deve ter sido de valor ih-calculavel. Houve quem afirmasse que se Eliotfosse menos um crítico teria sido um poeta me-lhor; mas o inverso dessa afirmação talvez seaproxime mais da verdade. Com efeito, não fos-se Eliot um crítico de visão surpreendente, teriasem dúvida encontrado dificuldades bem maio-res para dominar a época extraordinária em queatingiu a sua maturidade.

São essas, portanto, algumas das qualida-des que esclarecem os motivos que permitirama esse poeta sobreviver os perigos da sua época,ao passo que tantos outros a eles sucumbiram.Contudo, é impossível apresentar uma exDÜca-ção satisfatória e completa. Porque a força queampara um escritor na sua luta pela perfeição éintangível. Essa força não pode ser definida. Po-deremos talvez adivinhar a sua natureza nospoemas mais recentes de T. S. Eliot. São poemasque registam uma intensiva consagração do cê-rebro e do sentimento, em um esforço que bus-ca uma finalidade verdadeiramente espiritual.

»/*/1043DIRETRIZES

D OIS gr andes empreend i men toseditoriais marcaram o mês quepaisóu — a divulgação das im-

pressões do prof. Miguel Osório de Al-naeidà, "ambiente de guerra"' do VelhoMundo, e a reedição, definitiva, de"Casa Grande & Senzala", de GilbertoFreyre. Dos Estados Unido* no* che-ta um psqueno miiagre de compreen-sãu — "Manoel and the Morning Star".de Anne Merriman Peck. — a históriarie um garroto da Baía, fascinado pelasaventuras no mar.

. — * <*%¦,-»»» m ** jf*

PAGINA 17

CRÍTICA LITERÁRIAPo, EDISON CARNÍ.hO _ Especiol poro DIRETR 2 ES

AMBIENTE DE GUERRA NA EUROPA' O prof. Miguel Osório de Almeida

leve oportunidade de visitar a Françae a Itália imediatamente aS vésperasria guerra e. mais tsrde. pôde assistirão ce. astre'francês, em junho de 1940.Este livro — escrito com a claresa, aprecisão cie estilo e a decência das idcliasque todos lho reconhecemos — e pio-clulò de um diário de impres. ões des-se tempo. O prof. Miguel Osório con-lesa quo foi assaltado por muitas dú-vidas antes cie publicar o livro, indecisoquantivà . ua importância para a com-preensão co conflito, e se mostra mui-to caulela^o quanto às suas impres-Sõe.s. "Não pas.:a pela mente dó autora idéia de que conhece pie a ver adeirasignificação dos acontecimentos a queassistiu. Por i so mesmo, .so uma atiiu-de é pos-ivcl: a de referir com absolu-ta sinceridade aquilo que sabe e como:sabe. E' muito pouco, mas é tudo o queha a fazer". Esta atitude do prof. Mi-guel Osório é absolutamente louv;.vel. aatitude que êè podia e.spirar de um ho-mem cie ciência.

E' verdade que os acontecimentosposteriores desautorJsaram uma sérierio conclusões rio prof. Miguel Osúrlo:"A maior surpresa d?:ta guerra de sur-presas íoi a de verificar o grau e onúmero de ilusões predominantes namaioria dos e-piritos" E não somenteriesautorisaram as conclusões que o-homens rie boa vontade podiam tirarem 1930-19-fO como ainda mo ificaramcompletamente o panorama da guer-ra, abrindo perspectivas completamcn-te insuspeitadas então.

Onde. então, o valor do livro do prof.Miguel Osório? Há nestas páginas dealta sinceridade, animara; do desejorie bem servir a humanidade, um soprode justiça, de dignidade, de defesa ciasconquistas da civilização, que não íepoderá perder. Há tambem episó/iose incidentes que. de uma maneira oude outra servirão para uma futurahistória desta guerra — uma h;stóriaque. como o reconhece o prof. MiguelO. ório, não pode ser escrita por en-quanto, com a imparcialidade que sefaz necessária ao historiador. Estamosnum momento de paixão envolv'dosppla propaganda atordoante da.s fac-c-ões em luta, animados das "ilusões"de que fala o autor, e.mais do que isso,uma série de acontecimentos escaoa in-teiranrnte ao no so controle, sria pore/<'arem deliberadamente adulteradospelos interessados, seja por não seremconhecidos senão de meia dúzia de pes-soas em todo o mundo. O vnlor cio li-vro cio prof. Miguel O. ório me pareceresidir na atitude do seu autor, na suamaneira de olhar o mundo, a guerra ea paz, na posição em que se colocapara discutir o seu assunto.

O mundo que a guerra destruiu __ omundo da Liga das Nações — é o mun-do do prof. Miguel Osório. Haverápouca gente, hoje, que se lembre deque um dia existiu es^a instituição in-Uvnacional, que durante tão largosanos foi um titere nas mãos cia Fran-ça e da Inglaterra e que se revelou im-potente para conter a corrida arma-mentista, para impedir a conquista daMandchúria e da Etiópia, para evitar agu?rra na Europa. O belo sonho deWilson se transformou no instrumen-to da "revanche" francesa, nas mãosde Oléttienceau e T.ioyd George. e sob© seu palavreado pacifista permitiu in-tervenções armadas, guerras parciais,"penetrações

pacificas". Sem forçaspara impor a sua vontade, — e .semvontade para impor, mesmo que dispu-«esse de forças. — a Liga das Naçõesestava condenaria. Desde a malfadada"comissão de neutralidade" anglo-francesa, que marcou a morte da Re-pública espanhola e a ascensão ao Po-der dos fascistas de Franco, até as con-íerencias de Munich, cm que Chamber-lain dispôs do destino da Tchesoslová-quia, a Liga das Nações era apenasuma relíquia do passado. Nem mesmoa França e a Inglaterra - - os animado-res do titere -- a sustentavam mais. Ea guerra atual _ passando por cimadas ruínas do instituto de Genebra veio apenas reconhecer um estado defato: não é possível manter a paz nummundo governado pelos fabricantes demunições.

Ora, sobre es4»a Ma maidade de hi-

.pocneia, a Liga das Nações construiuum mundo artificial. Se nada conse-guiu na aproximação entre os Este-"os. na solução das Mias riiver-ênciasminto conseguiu, na. aproximação en-tre os homens de boa vontade, entre o^verdadeiros amigos da píiz. E entreestes, se encontrava o prof. MiimelO-orio de Almeida, que com tanto bri-lho representou o Brasil na Comissãode Cooperação Intelectual. Este "Amv

biente de guerra na Europa" é a ar-gumentaç.ao rie um hom?m que àcrédi-tou - que talvez acredite ainda - -emque o organismo internacional crea-mQ^Í0^ravd0 de Vcr^-hes poderiamesmo impedir a guerra-e paciíifámen-te resolver rs dificuldades entre as na-çoes. E< te livro não chega a ser um gés-to de desanimo, nem cie descrença ru»^Sw, * L1*S das #açõe*. é ant**s ™grito de revolta.

O honrm da Liga da.s Naçõe, sC re-vela melhor quando.se refere â "guer-

ia mo-soviética ouao tratado de neu-?iahda<e germano-soviético de Í930ticos o prof. Migurl Osório se deixouenvolver pela propaganda organizadae.tendenc.osa" a que se refere no pre-facm do sai livro. Tudo mundo :abe,tre o Reich e a URSS nasceu da re-tem do r°]ÒV

de permitir * P*«*gem do Exercito rueso pelo seu terri-tono e mais rio que Rso. da atitu ecm geral dos aliados, em ií>39 rie mie-nlrà;ui

°f ruff°- "retirassem as caMa-ni as do fogo para entrega-las a n-\-

H™ri,c;h;'mboi'!ainTo:;» "'""*-• <™-St h ;

h°'C que a guerr* corri a Fin-landia. no inverno de 1930-40. foi umnmv.m-nio defensivo rios russo* paravi^veriSd(;LCn:n^docol,t^o i«e-.viuvei atpque alemão. Esta euerrncom a Finlândia provou, atifs que osrussos nao eram "aliado..-

tios alemães, mesmo naquela época já que sepreparav.-m para enfrentá-los como

veí«nrio T QUe *C qXÜ* dar ao «O-verno de Moscou, já que os vencedoreshefml h6- qUfb™da a Linha tfanneSii-seram apenas exigências limitadas eate mesmo devolveram a Finlándin asminas de níquel de Petsamo AS%™Sndia fnr^USS°S.na guerra com a Kn-J.uiriia foram outra ereação cia oro-^ganoaorrantariaeteiirienciosí--^ue

Eiiarnirn r • ez apenas com aemborf ?ívpc ^nm^ado e os russos,

taVam sempTvçnSo. S" ^ :"

ao. e recentemente os próprios alemãesreconheceram ter sido " enganados"com a guerra ha Finlândia Ò profMiguel Osório apoia & atitude cia Ar-gentina na ocasião, exigindo a expul-sao da URSS da Liga das Nações, como que teria salvo a "posição moral" doinstituto de Genebra, sem se lembrarda insistência com que Litvinof advo-gava a ".segurança coletiva" da Eu-ropa.

-A despeito desses erros de ponto deVLsta — que foram, alias, comuns nosdois prkneiro.s anos desta guerra —creio que as impressões cio proí. Mi-guel Osório constituem uma excelentecontribuição para o entendimento deincidentes parciais desta guerra — cfuturamente para apecialmente quantomadas ocidentais.

sua história -as poténcia.s

- es-cha-

CASA GRANDE & SENZALA

reconheceu o governo ftando prontamente o :*ultimatum

o mesmo ortcei-rus-

EUta edição "definitiva" em dois vo-lumes, de "Casa Grande êi Senzala"traz â aiscussáo, não mais o livro jáconsagrado pela critica, mas a obra deGilberto Freyre. tão vária, tão dispersae entretanto tão una, tão orgânica Enesse sentido, chegou a hora cie dizerque e.'te "Casa Grande & Senzala•: éo único dos seus livros que resistira aotempo, o único dos seus livros que real-mente trouxe alguma coisa de "novo"para a compreensão dos problemas doBresil. Um livro que inaugurou umanova época nos estudos científicos en-tre nos.

Com este livro de 1933. Gilberto Frev-re propôs e em parte resolveu o pro-blema da formação da família brasi-leira "sob o regime de economia pa-tria rea -. Era toda a vida brasileiraestudada de um ponto dP vista novomais compreensivo e mais humano —o cas relações das raças, 0 das suasreações diante rio novo ambiente físicoe social, — com o auxilio, senão de ummétodo rigidamente cientifico pelomenos de uma inteligência aberta deuma instituição porventura uenial 1 rieum estilo que aproximou essa obra rieestudo esse produto rie vasta experi-encia intelectual, da grande marsa dos

tSÍSfc* S Udand° ° Cül«^^dor por-tugue.s. o selvagem americano o neeroencravo separaciamente e nas suas re-

mü™Í!;CaS,ee0n?,ieas e sociais com£. ^ ,. e!cwjnpntos formadores éoearnarGllberí<) FrC}Te COnS3^iu ™-car para sempre as origens de algunsdas característicos mais significativosda vida social do nosso pais. ao rne^rnoempo qllc fazia justicaás "três r^çastrates que aqui se misturaramnrimeivos ,écu]o>s dç •berto Freyre realizou o desejo de

nosGil-Sil-

vio Homv.ro - foi procurar o Bra-sil nacosinha, no eito, nas matas, nas ruas,nessas atividade* anônimas que mar-cam tão decisivamente o caráter da na-cionalidade.

Pena é que o próprio Gilberto Frey-re tenha se incumbido de mostrar queé difícil continuar pelo caminho aber-to em "Casa Grande & Senzala". Comefeito com "Sobrados e Mocambos"Gilberto Freyre tentou continuar a obracomeçada, mas nada mais conseguiualem da aplicação das mesmos concei-tas de "Casa Grande & Senzala'' aaspectos menos importantes da pai-sagem social bra-sileira — e com mui-to menor força de convicção. Em "Nor-deste", Gilberto Freyre resumiu o quenos dois primeiros livros havia sobrePernambuco e adjacências, fazendouma espécie de "sumário"

para maiorcomodidade do estudioso. Fora disso.— e triste confessá-lo. o estudiosode "Casa Grande ii Senzala" se' limi-:tou a pequenos estudos de Caráter his-torico ou sociológico, simples repeti-ções dos mesmas temas, de interessemuno discutível. E' claro que sempreha aixuma coi.-a de aproveitável nessesestudos, mas não exatamente o que sepodia esperar desse pernambucano qúenum momento se viu o homem maishdo do pais. Não me refiro aqui ao*Guias' do Recife e cie Olinda, mas atrabalhos elementares como "Problemasbra.sileiros de antropologia" ou a essevolunip incrível que se chama "Açuca-r"ne simples receitas de doce. Os queainda lêem os artigos de Gilberto Frey-re notam a pobresa dos seus temas, aprecariedade dos seus assuntos, o de-sinteresse da,s suas opiniões Não sesabe onde está o excelente escritor quefez da leitura de um livro enorme comoCasa Grande «k Senzala" um verda-oeiro prazer -eé difícil imaginar quetenha sido es.se mesmo escritor queproduziu, por exemplo, a recente con-ferencia "Continente

e ilha'.- Passoutambem o tempo em que Gilberto Frev-SL??t ^ C0isa5 com franquesa, comuma liberdade de palavra que era umdas seus grandes mérito* como estu-dmso nas nossas coisas. Agora o ve-mos com tristesa, a falar em "ilustres"e brilhantes" senhores, em "eminên-cias . em "íntegros estadistas" utili-tri, V meSma "neua£em c o mesmoCasa Granoe & Senzala" representouuma reação tão salutar.E' provável que. por essa reviravoltasejam responsáveis o grande sucessoalcançado pelos seus primeiros livrose o espirito de clan dos seus'amigosnacionais e estrangeiros, que com osseus eternos elogio* estão prejuoican-oo — e talvez liquidando para sempre~ uma das inteligências mais compre-ensivas do Brasil. p c

E. daí que só se aproveite, de todaa obra de Gilberto Freyre. o primeirodos seus livros publicados no Rio tíevi^eir° T lím livro £»ue ° se" autor^em repetindo, esclarecendo ou ampli-ando em todos os livros, conferênciase artigos posteriores, de yma maneiraou de outra. --um livro que vale a pe-na ter vivico para escrever.

MANOEL AND THíi MORNING STAR

FKCÀQ

T. • RIO

ütiI1 I LilIUUll 1 J\— otra nesta Capital^^qu^nos Zà*^*^ E/ÍC°

í-íca ao lon-c" costuma Ul ..' ,ni Aconteceessa precaução. SerToue ^c iuiV,0

l"C**niio Não saneoess.lar viajar incógnito? * S* U° importante e famoso

d r. v. _affir na praça.Noticias", resolveuPena, ouvimos que vai vestir

Veríssimo se encon-que o autor de "Mú-

porque tomaa ponto de

Rio —como

Pergunta oele próprio

fardiia o ,nr

^>SarÍ° FUSC°- ***** ^um romance Ta" rt^cí" „S^° ^ "^^ de

o habito de monje * qUant° ao sr Cornclio

"Hhvidnos mais realistas d^na ni0 áSrfSr^ P°rem ^ os Poetas são ose sabe captar o que há de essè^cAlm/nt/ T° CnVOlve tod« ^ realíades«Ia y.da. Pensando que não faz ni Hr l

P°°V-°•em todas as ^nifestacôSpolítico, evitando a todo trle de f I r ^ f' -',n.K'ius Morai» P^«ca Svida dos poetas novos da InriaELJ r 3 P^es,a ins,esa diante da queira rí«berante que estão vivando MfalíS!? I

* Ú° terrivel mu"<10 "ií e ™"estranho, afinal, que ievit ?*"** Um poela a fal^ ^ ^ferA m\* 2-a vida poética Z homenslto^^ .^aLT "ÍS/" ' """- P-«ePoetas largados nesta hora, com a s.n«ntuiçao. Do contrario seria f", I?meomo Vinicius Morais não pôde viví

dossua

furtos

B E Belo Horizonte — Suas *aa«t nw-mniní lnl»tat^ ^- ^

Anne Merriman Peck. que já con-quistou o público do continente com oseu "Roundabout South America- es-

Z7«\ na basc da observação de pou-eus dias que passou na Baia. um pe-queno volume para a infância america-aa Manoel and the Morning Star"edição de Harper & Bros.. Nova York.'~a

hJ-Ume,que faz honra ao Brasil.a historia do pequeno Manoel e doM"nlírantaTem0 Pela ,<Estrela «aeon i,,.e Pelãs avent»r^ marítimas»r a inteligência e a boa vontade nncontinente. Nao somente a narrativacais' TTe nfÍde,tóad.e »° ambiente doscais e da parte baixa da Cidade daptí rof

°ftambem os desenhos de Mis,r-ecK retratam com segurança aspee-tos e co-tumes locais. E há ainda, nes-se «vro escrito para crianças, algumacoisa que lembra poderosamente a Baíaalguma coisa de indefinivel talvez omundo de ilusões e de desejas impôs-siveis ao pequeno Manoel, talvez essanecessidade de evasão que está em to-das suas personagens.Miss Peck dá razão ao ~New Yorknmes . que diz que a escritora viaia

pela America "in friendiy awareness"Este pequeno livro é um milagre decompreensão. — um milagre que sóacontece aqueles que. como a autorade "Manoel and the Mornihe Star",vêem ver o Brasil com o coração aberto'e o espírito largo rios verdadeiros ami-gos.

Endereço para a remessa de livros— Almte. Pereira Guimarães. 11, apt201 (Leblon) __ rí0 de Janeiro

PÁGINA 18 DIRETRIZES 9/0/1943

O

SR. EURYALO CAN.ABRAYA inaugurouhá pouco tempo uma série de ensaios oumelhor um infinito ensaio em que tenta fa-

zer um "itinerário filosófico". Trata-se de uma es-pécie cie crítica de idéias na qual o esdrúxulo pen-sador existencialista apresenta pelos velhos meto-dos de uma casuística dos piores tempos - de esco-lástica as suas análises do pensamento contempo-rânco e as suas conclusões de metafísico, de posseda verdade. Realmente o sr. Euryalo t annabrava re-flctc a posição de todos os semi-fiiósofos de uniaépoca de transição exibindo quantidades e quantida-des de leituras, um estilo adrede preparado, umaatitude nitidamente hostil às idéias em plena afio-rescência, tentando recuar os estudos filosóficos auma idade média pela sua imaginaçãc e pelo seuódio aos acontecimentos que se processam ao longodeste século em que o movimento operário se tornouefetivamente, para lembrar alguém, o herdeiro dafilosofia clássica alemã, do pensamento trances e daslutas históricas dos trabalhistas ingleses.

Sentimos no Brasil a falta de pensadores àmaneira de um Ponce que abriu na Argentina um .vasto campo de estudos, de debates de verdadeirapesquisa do conhecimento humano Andamos mui-ío tempo expondo Farias Brito que representaum movimento de contra-revolução espiritual tãometiculosamente continuado por Jaci'.son de Figuei>redo e Tristão de Ataíde, no mesmo momento emque se esboçou o movimento fi^scista Os melhoresfrutos da Escola de Recite foram esquecidos. En-tramos num período de estagnação, de regresso aotomismo, um tomismo sem ao menos a claridade deum Maritain, a uma contração de idéias, a umademagogia de cultura na qual o sr Tiisião de Atai-de foi um exemplar dos mais represemaiivos.

A REAÇÃO EM NOVAS APARÊNCIAS

O sr. Euryalo Cannabrava col(x*a-se muna po-sição aparentemente nova como crítico de idéias.Tenta superar o partido da reação organizado porJackson e Tristão, refletindo, no fum.-o, a atitudesempre conservadora das velhas tradições metafísi-cas, dos idealistas qne procuram a todo tempo re-vestir de novas formas e novas imagens o sceumundo estéril que nada transmite, nada nos jxxlcdar de conhecimento de vida, d.) homem, de orienta-

ção fecunda na atividade das idéias.O sr Euryalo Cannahrava situa-se no seu ilu-

sionismo filosófico carregando um estilo de tal for-ma petrificado que os geólogos teriam trahalho pa-ra identificar a camada de onde foi extraído tãocompacto mineral.

Pelo que se consegue ler em tão espesso e for-mal tnastigador de idéias mostra-se, sente-se que afilosofia é um privilegio para iluminados, que o co-nhecimento humano não passa de um jogo mísera-vel de especulação, separado do homem, do mundoterreno, a serviço, isto sim. das últimas forças quese agarram aos seus últimos bastiões para impediros povos de conquistarem a sua nova etapa de li-berdade, um pouco mais de conhecimento de suaspossibilidades no plano da cultura, de uma verdadeque não pode ser absoluta mas condicionada aotempo, às idéias e lutas pelas quais o homem se re-nova incessantemente e conquista a natureza.

A VERDADE EMPENHADA

Quantas vezes para enipalhar a verdade, para

ANORAMA DA CRITICAC itinerário do Sr. Euryaio Cannabrá va

reduzir a filosofia a simples luxo de espírito, a umaparatoso exercício de falsa dialética »em nenhumacomunicação com as nossas ansiedades, a nossa in-finita curiosidade intelectual, o nosso esforço derealizar o nosso destino e expulsar alguns fanlas-mas da nossa frente, os pseudo-filósolos os ímpia-ticaveis críticos de idéias, os espiritualistas afirmamque sem "uma

perfeita sintaxe metafísica" nada épossivel Fazer para levar a.s mortais criaturas luiiua-nas a "essa harmonia da natureza e da vida que re-

produz a ordem superior a que se submetem as coi-sas divinas".

O sr. Cannahrava nada dirá, dec-rto, aos queno Brasil, desejariam estudar filosofia o que cou-seguirão quando ela fôr estud; da e c-ompreencfclaem plena liberdade, em pleno debate. Que idéias,(pie vitalidade há nesse pobre escolás''cu revestidode existencialista, nesse demagogo da filosofia quequer aparentar profundidade no cipoal de suas pa-lavras, de suas citações e de seus recursos de dis-sertador? E' uni cavalheiro devorado pela SumaTeológica, capaz de, em nome de Kant. da santa es-

pceulação e da sinuosa e árida pesquisa da verdadeexistencial ajudar o reverendo Arlindo V eira a

queimar o Deão de Canterbury apenas porque oDcão escreveu um livro sobre a União Soviética.esse caos que a filosofia burguesa condenou parasempre. Com o seu Itinerário Filosófico o sr. Eu-ryalo Cannahrava demonstra que a filosofia é umcadáver conservado n< formol de seu.-» juízos, pro-posições e conceitos lógicos.

in visão É Europa escravizada(Continuação da páur. 16)

lado: "Rádio goes to war" de Charles Rolo, que oorganizou para os ouvintes do Centro de Prinecton,vetificamos que se trata de um interessante estudoquanto à propaganda pelo rádio. Mostra o autorque "os nazistas foram sempre pioneuos no empre-go do rádio como instrumento de conquista", quan-do o Nacional-socialismo lançou sua guerra náo de-clarada contra o mundo, em 1933 usando pe'a pri-meira vez o rádio como arma em ação.

E' um erro supor que os alemães sejam pobrespsicólogos. Sua propaganda, diz o autor, "procura

diligentemente as ambições das minorias descon-tentes, a corrupção dos lideres e o apoio da es-cumalha e dos fanáticos Por este meio exacerbamsuas queixas, exaltam suas paixões e apelam paraos ódios. Incitam *bs pobres contra os ricos .. oscapitalistas contra os proletários, infiltram ódios nogentio contra os judeus que pagam impostos, con-tra os governos voltam os soldados e estes contraseus generais e a mocidade de hoje- contra a ge-ração antiga, responsável pela política das nações.

A guerra ensinou que a guerra cie pensamentodo inimigo tinha que ser enfrentada e o foi poruma vigorosa contra-ofensiva.

"Como a BBC entr~u nesta guena?"Pensa Rolo que a chave do sucesso está em que

os governos deviam criar um coipo de oéritos. ásemelhança do Instituto Geo-politico do? alemães.o qual graças ao seu detalhado conhecimento dasnecessidade de cada um e de todos os países node-ria fornecer planos para as iradiaf-ões na di<ceão dapaz e os auais fossem aie*n dos Oito Principiei con-tidos na Carta do Atlântico.

Afinal o sr. Euryalo Cannab»ava se conduz^como um idealista de tradição dominante, mterpre-ta as tentativas, no plano filosófico de um podercondenado, as ilusões de uma corrente, (pie perdeuo sentido e forneceu algumas armas á reação fascis-ta, aos que lançaram ao mundo o terror bólchevistá.Entretanto pesa-nos dizer (pie não basta concluirque uma filosofia é falsa, é necessário livrar-nosdela. Assim afirmava uni "Jovem begeliano" (piesoube como se transformaria a dialética de llegei ecomo continuaria o pensamento de Diderol e atéonde iria o caminho de Descartes e a intuição de.Sp no/a E não uos foi possível ainda nos libertai*do sr. Çanabravá.

O SR. BARRETO FILHO VOLTOU A TORRE

Enfim o sr. Barreto Filho deixou a secção decrítica no "Diário le Notícias" Voltou á sua torre,recollieu-.se ao êxtase. Ninguém f Ib/.mentc sentiráfalta de tão alto príncipe das Letras qm- soube comopoucos tornar tão irreal, tão inacessível a página decrítica do popular jornal carioca

Uma surpresa foi a substituição do st*. Barre-to Filho pelo sr. Guilherme Figueiredo, romancista,cronista, teatrólogo, crítico musica' E !oi lealmeu-te simpática a estréia do autor le "Tiuiia anos sempaisagem", dizendo a respeito da criticu alguma coi-sa que será entendido pelo povo. O sr GuilhermeFigueiredo não se apresenta como cruico no rigo-roso sentido literário Prefere rantes --er um infor-mador, "capaz de cometer faltas graves'', ligado,afirma, a "uma

geração literária, eminentemente de-ni-ocrát ca, cujo pensamento pertence ai, mundo deamanhã" Ela tem. acrescenta o novo .rítico. pelosmestres um respeito que talvez seja puro, porquemais claro na sua admiração, e nu nos eivado decompromissos. Não procurou pactuar iphi o coníor-niismo de muitos consagrados, e pretende lazer ou-vir a sua voz precisamente jH>r sobie o «ulêncio des-sa.s consagrações tanto mais fáceis quanto mais unâ-nimes no conforto com (pie .-c proporcionaram cul-niiuãiicias inefáveis e sem disputa."

Se de vez em quando o sr. Guilherme Figuci-redo abusa da piada, da frase de espírito, tenta atrouvaijje, isto não impede (pie tente a crítica nabase do que tão lucidámènte prometeu. Quer sobre-indo. nas suas informações literárias. ,er claro parao povo, dizer a muitos leitores qual o livro que podeser lido. Espera dar á sua s-.vc.ao uma função po-pular. E isto já é um nobre esforço.

Fazendo a apoiogia do sr. Mario de Andrade,o sr Guilherme Figueiredo exagerou um pouco naSysuas observações a respeito cie certos escritores queapelaram para a terra, certos "aurores telúricos"saidos depois do movimento modernista. Claro (pie

para exaltar um escritor como Mario de Andradenáo é preciso diminuir o esforço de alguns escrito-res modernos como, por exemplo n do sr. JoséLins do Rego, cuja importância rio romance brasi-leiro é inegável. O sr Mano de Andrade é umadas figuras mais vivas da nossa literatura Denoisda sua conferência sobre o modernismo e das alitu-des (pie vem tomando de maneira tã<. corajosa, o

grande escritor brasileiro assumiu Dosição aindamais destacada e à altura de seu valor e de suas res-

ponsabilidades. Para falar bem do autor de "Ma-

curiaima" não vale a pena falar mal de "Bangüê'*.

Também poderemos ter interpretado erradamenteas intenções do sr. Guilherme Figueiredo.

— O regime do general Franco, na Ktvanha, ifortemente criLicadomo livro "Appeasing the child",da autoria de Thomas J Hamilton, que fez parteda redação do "Neio York Times" e deixou a E\pa-nha em agosto de'194'i. O autor propõe-se a mos-trar que os espanhóis softem pelo seu viav. gooer-no e a crílica por ele esboçada é a-ao depressiva.

Hamilton acusa o general Franco de não provi-denciar para manter i mão forte provisão de ali-mentos para as massas da população, dc-creven-do, em detalhes, o terrível abismo em que se achamergulhado o país, quando cie o deixou.

"Os ricos, escreve ele, continuam ricos se é quenão ficaram mais ricos ainda e os pobres conti-nuam mais famintos do que nos piores

'dias daguerra civil."

A Inglaterra e os Estados Unidos auxiliaram amitigar a situação de ven ária alimentar dos espa-nhóis, mas Hamilton queixa-se dos esforços feitospelos falangistas para ocultarem do •poro o auxí-lio material que aqueles dois paises lhes teem en-viado.

Na critica literária deste livro, aparecida nascolunas do Suplemento ilustrado do Times", ocrítico frisa que se vem notando ceria mudança deênfase nos recentes meses, na Espanha, em conse-quência das derrotas infligidas pelo Oitavo Exércitoao general Rommel, dos desembarques anglc-ameri-canos na África do Norte, da queda de Musso'ini eda invasão da Sicília. O general Franco tem semostrado mais cauteloso do que a maior parte dosfalangistas, não obstante haver afirmado, em cer-ta altura, aue "o Eixo haiia ganho a guerra".

LONDRES, G (De NIX KENNEDY, DAREUTEi:5)

Erpecial para D^FTRiZES

Não obstante isto ele manteve a Espanha fo-ra da guena e mesmo Hamilton, tendo muito acriticar sobre a personalidade e a podtica do Cou-düho, reconhece, no entftrdo, aquela verdade e dizque a regimentação que o sUif/ma totalitário deHitler e Mussolini advogam, não ê muito apropria-da ao alto individualismo dos espanhóis.

O livro fornece informações soore a ascensãoFranco. Na oposição deste ás aventurai de Suner,o general Franco teve o apoio do exercito.

A não ser isto. o povo espanhol, empobrecido emal tratado pela guerra dcsoladora que alemães eitalianos Unham encarado corno uma ocasnio paraexperimentar outras tática?, e an.ias, continuousempre e cada vez mais miserável.,

Hamilton encontra rnuiro material para criii-car a política britânica. Inclina-se o autor em res-ponsahilizar este país e a França paa derrota dosrepublicanos na guerra civil. Não procura, -porem,diminuir a perigosa situação que decorreu, em1910, da queda da Franca e do avanço dos alemãesabaixo dos Pirineus. prestando uma homenagem àmaneira pela qual «> Samuel Hoarc. embaixador

da Inglaterra, encarou e enfrentou a me*mq si-tuação.

Depois da queda da Fiança, o embaixador en-frentou "esta extraordinariamente difícil situaçãocom grande habilidade", diz Hamilton.

"Nos piores dias, e„e manteve seu sangue frioe espalhou a confiança ds que o seu pais, conquan-to sozinho, emergiria não derrotado".

"Isto era, apenas, uma ação dilatoria, mas Ha-milton diz que a "mesma foi levada a efito comadmirável habilidade".

A política britânica tem menos razões vara sercriticada do que a americana. Diz Hamilton que seos Estados Unidos tivessem podido escolher, teriampor último feito um acordo com o general Franco.

"A América eslava livre para adotar uma po-lítica mais audaciosa" e vara "exigir sequranndsadequadas antes de qualquer concessão ter sidofeita à Espanha".

Hamilton, escreve: "Embora sir Samuel Hçareesteja ainda fazendo excelente trabalho, os Esta-dos Unidos dominam a política aliada na direçãoda Espanha tanto quanto em relação a Vichy, qusfoi finalmente abandonado com a nossa .vr-t/pecâoda África do Norte.

Depois de haver deixado a Espanha. Hamiltone a queda de Serrano Suner cunhado do generalpassou alguns meses na América Latina, obsen-an-do que os falangistas exerciam forte propagandado seu credo nos referidos paises.

Por fim, Hamilton escreve: "O regím* deFranco pensou aumentar seu prestígio na AméricaLatina, por meio de ataques aos Estados Unidos.

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9/9/1943DI R ETRIZ E S PAGINA 19* mXMMX^n. IVOS TRADUTORES VITIMAS DOS EDITORES

Cj MOVIMENTObrasileiro cresce dia adia. As nossas livrarias en-

chem vitrinas de livros deguerra, romances célebres,artigos de primeira e últimaqualidade. O livro estrangei-ro domina o nosso mercado.Os editores mobilizam tradu-tores, fazem novas ediçõesótimas e péssimas e obteemêxito nos seus negócios. Afl-nal de contas, o comércio delivros não passa ainda decomércio mesmo. Os livrossão vendidos como mercado-rias e valem pelo que podemrender imediatamente aoeditor, nunca pela qualidadee importância do assunto e dasIdéias. E' claro que há mui-tas exceções, e por cima detudo isto está havendo umaverdadeira ofensiva de algunseditores contra os tradutores.Estes, na sua maioria, malpagos — e na sua maioriatambem apressados e descui-dados tradutores, acabam noíim perdendo na venda deseu trabalho. Acontece mais:os tradutores reclamam con-tra a apropriação indébita deseus trabalhos, que são reedi-tados sem sequer menciona-rem o nome de quem tradu-zlu. O tradutor não foi xon-fiúltado e somente sabe que asua tradução foi lançada àvenda depois que encontra olivro nas vitrinas.

Trata-se de fazer uma de-fesa mais séria dos direitosautorais e os de tradução. Oseditores seriam os primeiros atomar a sério esse movlmen-to, afim de acautelar os seuspróprios interesses, mantendoa_ dignidade de uma profissãotão árdua e tão mal compen-sada. que é a do tradutorUM CONTISTA ENTRE MIL EDUZENTOS CONCORRENTES

O escritor Elias Davidovichesteve em nossa redação enos fez algumas declaraçõesimpressionantes. O nosso en-trevistado é tradutor há lon-

. gos anos, trabalhando inten-J samente para diversas livra-rias desta capital e dos Esta-dos. Um dos tradutores maisconhecidos em todo o Brasil,pelos numerosos volumes lite-

j rários e científicos que temI traduzido. O autor de "Uns[homens que eram Deuses",falou-nos lastimando a incri-vel situação do tradutor sa-queado em seu trabalho. Enos declara:

— A leitura da entrevistaconcedida ao "Diário da Noi-te" pelo escritor Araújo Ri-beiro, sobre o furto de que foivitima, na reedição de "A len-da de uma quinta sonhorial",de Selma Lagerlof, por eletraduzida, deu-me um prazertalvez inédito. E' que, emverdade, meio por timidez,meio por modéstia, sempreme habifuei a figurar em se-gundo plano, a ser "menosque os outros"... Assim, porexemplo, no concurso de con-tos realizado pelo "Jornal doBrasil", aí por volta de 1929,enquanto o sr. Marques Re-belo tirava, entre cerca de1.2C0 concorrentes, se me nãoengano, úrri brilhante 2o prê-mio. eu me via discretamente *relegado â primeira das men-ções honrosas. De então paracá, tendo-me dedicado, pordiletantismo, ou por necessi-dade, a este ofício, mau gia-do houvesse traduzido para oportuguês a modesta bagagemde 97 obras, nunca me foiconcedido lugar de evidênciaentre os colegas tradutores, aponto de certos editores(Pongetti et caterva) até ho-Je nutrirem dúvidas sobre semeu nome é de molde a ins-pirar confiança como tradu-tor.

O ROUPO DAS TRA-DUÇÔES

Elias Davidovich exibe oslivros que traduziu, e que des-peitaram a cobiça de certoeditor. Volta a tratar da tra-duyão de Araújo Ribeiro: Ora,

neste escandaloso caso doroubo de traduções, levei apalma ao sr. Araújo Ribeiro:se a ele roubaram uma, amim me roubaram, só destaassentada, 3 traduções. Sinto-

"Uma Vida", de Guy de Mau-passant. O processo foi o mes-mo: achando que o nome dosr. Marques Rebelo é melhorchamariz do que o meu, osPongetti mandaram-no alte-

lizado para sua tipografia vá-rias tarefas, e contava, emmeu acervo, mais de 60 tra-duções já feitas, eles me con-fiaram a de "Confissões deum comedor de ópio", de

m^FÍMlFi%D^rUN.ZDÁSN0VENTA EQUATRO TRA-l7MWfTlíííS^^ APKLA PARA DIRETRIZES"TMÀr%nir?iJI%rj:£»Uãt D0S MA,S CONHECIDOSIKADUTORES BRASILEIROS. —CAMUFLAGEM NA CAPAPERARIA DE QUEM AS FEZ. - NÃO "AVANCEM" NO TRA RALHV ALHEIO

me bem em denunciar o fatoatravés destas colunas, ondejá se andaram expondo ascalvas de outros "gangsters":ha coleção da Editora Pon-getti, em que "avançaram"na tradução do sr. Araújo Ri-beiro e de outros, tambem mesurrupiaram a de "Rudine",de Ivan Ttirguéhev. a de"Werther", de Goethe, e a de

UM POE

rar uma, ou outra palavrinha dotexto, nem sempre em beneíi-cio deste, e zás!... locupleta-ram-se do meu trabalho, jaeditado pela Editora Guana-bara, em 1932. os dois primei-ros, e pela Editora Americana(hoje Guanabara), em 1931.Ora, os Pongetti não tinhammuita razão para fazê-lo. Em1935, quando já eu havia rea-

Thomas de Quincey, que edl-taram "sem qualquer altera-

ção em meu trabalho", hon-rando-me com opinião favo-ravel ao mesmo

NEM SENDO EDITOR DO"CÓDIGO CIVIL"...Elias Davidovich apresenta-

nos uma edição de -Mediei-na de Urgência", de 1936 econtinua:

JORGE MlLa canción de Harlem

Ah Harlemj tu carona de rio*, cuánta sombra,tu corazon de pieéra, cuairta ronda!

Y© vi, Harlem, tu lágrima escondidabojo tus ruínas de olvidadas cosasy tus pobres ofrendas decaídas

y tus rosas.

, Yo vi correr tus hombres aterradosj de aquel vivir sin talío de paloma,

yo vi tus limpios ojos derramadossobre loses.

Senti ovoniar tu sangre imaginadade dormido sonar por todas partes,tu sangre rerrible arroditiadacomo un angel.

| Tus casas levantadas como braxos

: eran ruína de rostros, dedos rotos.Ia sanridad dei pan ya devastadode abandono.

Harlem, Harlem, tus hemferas, qué alegria,assomam ei jacinto entre los dientes,y tan bravo que eres, maravilüarcomo fuente.

i Vi tus águas oscuras, tanto dueíem,que suenan que caen que nos gritan,que todo Io iimpian que J© cubrende cen«za.

Vi tus sombras em sombra coronadasde dulces manos amorosas, tantasque cailando tu gloria Ia besabancomo santas,

Árbol para ei viente, ob mar profundo,oh mortal grandeza de una fagrima,no olvidaré tu corazon de luto

ni tus almas.Ab Harlem? tu corona de rios, cuánta sombra.

tu corazon de píedra, cuánta ronda!

— Aliás, com este conceitome teem distinguido outraslivrarias: Guanabara, Globo,Meridiano, Flores & ManoCalvino, Vecchi, Cientifica,'Freitas Bastos... Devo citareste último? O editor FreitasBastos foi o primeiro que seaventurou a omitir-me o no-me no frontispicio de umatradução, e na mais desele-gante das condições: Tendoeu traduzido para sua livrariao tratado de "Medicina deurgência", de c. Oddo, lançadoem 1936, com a declararãohonesta de que o trabalho

^detradução era meu. esse editorachou de lançar-lhe a 2» edi-çao em 1939, sem pôr o meunome no frontispicio, talvezpara "valorizar" a obra Nocaso do sr. Freitas Bastos is-ti) é imperdoável, pois sua li-vraria se especializou em edi-çoes de Direito, inclusive doCódigo Civil Brasileiro" noqual se define claramente odireito de propriedade literá-ria do tradutor. Já no casodos Pongetti, entende-se Co-mo, certos outros editores senao são analfabetos, portam-*e como tal: teem a maioraversão aos livros 'principal-

mente o "Código Civil") Nãoos lêem, nem sequer queremvê-los. Assim, tendo pago aum "diretor de edições" pol-puda importância para "ca-muflar" o trabalho alheio,afim de evitar que o verdadei-ro tradutor se lembre de co-brar os direitos autorais: quando interpelados por esteao lhes apontar a indisfarca-

yel identidade entre os doistextos, respondem: "Mas eunao vi que ele não tinhaemendado!". Ele me garantiuser outra coisa!...""O QUE A LEI E A DECÉN-CIA OBRIGAM A FAZER"O nosso entrevistado con-clue as suas declarações as-sim:

— "Aliás, como bem acen-tuou o sr. Araújo Ribeiro,ninguém tolhia aos Pongettiou Freitas Bastos encomen-darem novas traduções deUma vida" ou "Medicina deUrgência", caso achassem másas minhas traduções. O quea lei a decência os obrigam alazer, no caso de quereremenriquecer à custa de nossolabor, e a, pelo menos, nãonos delapidarem o cabedal li-terário, deixando, no trabalhode longos meses, a assinaturace quem o fez."Quanto ao sr. Marques Re-belo, quiçá o maior contistabrasileiro vivo, nada me ani-ma contra ele: não foi o autor do furto __ foi apenascumphce."E sinceramente o lastimoporque é pena ver associado atao feio negócio o nome denm homem de letras, que de-veria estar do lado de seuscolegas, em defesa dos inte-resses comuns, ao invés de sebandear para o lado dos edi-tores, "para

ganhar a vida"como ele próprio o confessa'cera que o sr. Marques Re-bello ignora que os traduto-res tambem precisam ganhara vida, sabe Deus à custa deque duras penas? Não achaque e deselegante apontar-lhes

j de publico as falhas, enquan-to lhes lança os trabalhosquase sem alteração, na cole-çao que dirige, qualifican-do-os, na 4* capa, de "tradu-çoes primorosas"? (Grato pe-Jo conceito, no que tange às

, minhas três traduções . ane-xadas.)A SOMBRA DAS IGRE-

JINHAST

"O que há, em verdade, é. o seguinte: Em nosso pequpno

| ambiente literário, surgirami alguns vultos que. por méritoi próprio ou por circunstâncias| outras, se tornaram nomes• vitoriosos. Se a isto se limi-tassem, valendo-se do fato

j para ocuparem pacificamenteposições mais ou menos ren-dosas, para nelas produziremmelhor, ou fossilizar-se, ««? tal

(Continua na pstg. Z4>

1

i -

PAGINA 20 DIRETRIZES

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A TCHECOSLÓVÁQUIA NÃO MORREU ZEBU'- Uma revo-lução na economia

do Brasil

9/9/1943

NEM ENSÁRILHOU ARMAS!(Continuação da pág. *)

litar e político da palavra. Osnazi-fascistas são "ganps-ters" e como "gangsters"devem ser tratados. O na-zi-fascismo e todas as fór-mulas anti-democráticas cor-relatas representam uma ver-dadeira peste e um constanteperigo para a paz do mundo.Nos paises fascistas ou semi-fascistas e nas regiões domi-nadas pelas potências do Eixo,o regime do terror ins-tituido pelas polícias molda-das no figurino da Gestapo,massacrando intelectuais, ope-rários, mulheres e crianças,corrompendo a juventude edeformando o caráter dos in-divíduos de convicções demo-cráticas menos firmes, nãodeixará, em seu funesto In-ventário, apenas ruínas ma-teriaLs. Torna-se necessáriauma verdadeira reeducação,um verdadeiro trabalho de ele-vação do nivel ideológico emoral cios povos submetidos aanos e anos de aviltamento. Osacrifício dos que tombaram edos que ainda perderão a vi-da, ou se estropiarão nestaguerra, deve ser respeitado enão deve ser inútil. Nenhumafórmula eolaboracionista comos "gangsters" do Eixo deveser tolerada. A reconstrução domundo arruinado pela guer-ra de rapina ateada por Ber-lim, Roma e Tokio tem queser tarefa de todos os povos edos honestos dirigentes popu-lares. As nações encarregadasde reconstruir o mundo terãoque agir em estreita colabora-çao e sem prepojaderância denenhuma delas. Entre as na-ções deve também haver igual-dade.

f

UM DOS OBJETÍVOS DEHITLER

— Um dos principais obje-tivos de Hitler ao perceber aaproximação da derrota —continua o coronel Hutnik —é lançar a desunião entre nsaliados. Qualquer atitude queredunde, direta ou indireta-mente, conciente ou incon-cientemente, em ajuda a esseobjetivo de Hitler, será repu-diada com toda energia. De-vemos manter até o fim e atéa completa reconstrução domundo a mais perfeita, fra-ternal e honesta colaboraçãode todos os governos aliados.Devemos estar sempre emguarda às tentativas divisio-nistas de Hitler e de seus agen-tes. Se Hitler, nesta alturados acontecimentos, conse-gub.se, por meio de manobrasde sua diplomacia secreta, di-vidir os aliados, todo o sacri-fício dos homens que lutamnesta guerra gigantesca deve-ria ser considerado como per-dido. Pequenas diferenças,pequenos desentendimentos,não devem ser aproveitadospelos agentes do inimigo, de-sejosos em fazer com que es-queçamos os grandes objeti-vos pelos quais lutamos hoje.

O coronel Cenek Hutnik e. otenente Rudolf Nekola finali-zam a entrevista dizendo quese sentem felizes com o de.sern-penho da missão que lhes con-fiou o governo do presidenteBénes. Encontraram no Bra-sil um ambiente de simpatia.Acham que futuramente o Bra-sil e a Tchecoslóváquia devemconhecer-se melhor, pois os bra-sileiros e os tchecoslovacc-s sãodois povos trabalhadores, pro-gressistas, amigos de liberdade

e da fraternidade entre asnações. Uma inteligente cola-boração desses dois povos, geo-graficamente tão distantesum do outro, mas. ideológica-mente tão ligados pela tradi-ção brasileira e tchecoslovacade lutas pela independência epela liberdade, um entendi-mento mais estreito entre bra-sileiros e tchecoslovacos sópoderá ser muito benéfico pa-ra. a mr.nnstj-ncJín d> um muil-

do cruelmente mutilado, pelodiabólico espírito prussianoque Hitler reergueu na Alemã-nha, aprimorado em feroeida-de e agressividade pela orga-nização estatal nazi-fascista.tão bestial e sanguinária.

"RUGE A REVOLTANA FRANÇA"

UM LIVRO DE MADELEI-NE GEX LE VERRIER

(Edições "Dois Mun-dos", Rio de Janeiro)

O livro "Ruge a Revolta naFrança" é da última Diretora de"I/Europe Nouvelle", aquela jorna-lista francesa, Madéleine Oex LeVerrier, refugiada em Londres, de-pois de ter andado pela Françaocupada e a França livre a olhar,a sentir e a anotar, na sua sensibi-lidade e na sua ideologia, os a con-tecimentos da Pátria de Napoleão.

Apresenta-o, simbolicamente, oartista Anahory que lhe desenhouuma mão vermelha empunhandoespada negra, perfeitamente de har-monia com o títilo com que o ha-tizou a Senhora Le Verrier, sentin-cio a "Revolta" em toda a suaprofundidade e em toda a sua filo-sofia.

Traduziu-o a sra. Saudade Cor-tesão em frase correta e clara elançou-o a empreza editora "DoisMundos" que, assim, junta à cole-ção dos livros rie guerra mais este,como documento dum certo estadode alma.

E' um livro de jornalista, o queeqüivale a dizer que é uma repor-tagem, embora escrita sobre os pró-prios sentimentos da autora.

Livro de momento, ele nos dá no-tlcia do rugidò que se ergue dofundo das almas e que já prenunciaa qualidade social duma pnz queninguém sabe qurmo sangue teráris derramar no mundo após a pro-pria guerra.

(Continuação da pá#. II)

maior fenômeno econômico do sé-culo XX. Hoje o notável sociólo-go aplicaria com maior justas» aozebú o r-onceito então expendidoem relação ao café". No folcloreregional as quadras e descantesvaqueiros celebram o nobre e tãoútil ruminanteO CAMPEÃO CANA1>A'

A expansão do Bos Indicus ajor-midavel riqueza que,ele tam con-centrado e mobilizado, justificamamplamente a festa das letras em.sua honra. A fronteira internabrasileira que mais resistiu à difu-são zebúista foi a do rio Grande,pois na raia de Mtna,s com SãoPaulo plantou-se como defensordas virtudes do Caracú a voz po-derosa de Pereira Barreto. A lutade publicismo pecuarista que seseguiu a isso, repercutiu longa-mente através, o paus, até que acrise do café em 1929 derrubou abarreira, manadas vistosas do boigiboso começaram a cruzar emmassa o rio lindeiro. e criadoresde França selaram admiravelmen-te a paz efetuando o cruzamentoconciliador a que deram o nomede Carabú, aproveitando por coin-cidência outra criação literária, otítulo de uma canção norteameii-cana que fez época, no Rio. àsvésperas da primeira guerra mun-dial, assim apelidada devido aonome indígena da rena do Canadáe de certos Estados setentrionaisda União Americana: o Cariboo.

Milhões de pés de café foramderrubados no afan de uma eco-nomia de substituição apressadaem estender pastagens para o vi-torioso produto triangulino. HojeRibeirão Preto, outrora capital darubiácea, possue milhares de ca-b-jças de zebú, e mais alem, narira Rio Preto, o império do Girestá sclidamente 'estabelecido.

UM NOVO LIVRO DA "COLEÇÃO DO-CUMENTOS PARA A HISTÓRIA DA

GUERRA""üAOELEiNe

m lí VEMtER '

m HKgà

edições w/mmsm de mimMadéleine Gex Le Verrier, a conhecida diretora da revi«ta"I/Europe Nouvelle", descreve nesta obra a atmosfera da Fran-

ça ocupada, a política de Pétain e de Lavai, a influência doGal. De Gaule no povo francês que nunca aceitou a derrota econtinua em permanente revolta contra o invasor.

Conta-nos ainda a autora, em notas simples c objetivas dereportagem, o que foi a sua fuga de França até chegar ao des-lumbramcnío do Rio de Janeiro.

Livro de grande sucesso na Inglaterra, constitue um dosmelhores documentos da guerra atual.

À venda em todas as livrarias ao preço de Crf 18,00.Pedidos a Dois Mundos Editora, Ltda., Trav. do Ouvidor,

23, 1.° — Rio de Janeiro.

Existe mesmo ali a exaltação doGir. O nascimento do bezerro éesperado pelo fazendeiro e seus

UM GOLPE DE j^

UMA CAMA CONFORTÁVEL QUE IÍROTA DE UM ARMÁRIO LUXUOSO

POLTRONA - CAMA DRAGOMantemos larga íabricaçao de mo-

veis tipo econômico, ideaispara o caso de um hóspedeeventual. Estude as caracte-

rísticas deste móvel.São duas peças, pe-lo preço d-e uma rói

-^-íf^PU 'W T, l

O Armário Conjugado apura os famosos caracte-risticos dos Móveis Drago. Luxuoso, próprio paraambiente de requinte, é prático porque acomodaa nrtipa de duas pessoas. No centro, embutido,um admirarei sofá, transformavel numa ótimacama já guarnecida da própria roupa. Na linhados Sofás-Cama Drago, o Armário Conjugado éum mobiliário completo. Si quer mobiliar suacasa, apartamento ou palacete, visite a "Expo-sição Drago", onde encontrará tudo a seu gosto.E comprará á vista ou a prazo.

SOFÁ - CAMA

amigos de fita métrica em punho,no entusiasmo de medir a orelha.Entre cientistas de diversas es-

pecialidades, os geólogos lambemderam .sua palavra .sobre a revo-lução zebúista, procurando expli-car habitais, traçar raias diver-sas

Orville Derby chamou atençãopara o índice pluviométrico, bal-xo na bacia do São Francisco,mais elevado na bacia do rioGrande, estabelecendo em favordesta última — Triângulo Minei-ro, noroeste paulista — possibí-lidades de admirável amplitude.Em verdade o déficit de chuvas daprimeira condiciona uma evolu-ção desértica, ainda em fase moçacom o predomínio da manta daCaatinga.

O momento no linguajar cor-responde rigorosamente ao mo-mento na vida da comunidade, eentão achamos expressivo trans-crever esta passagem do anúnciode primeira página num dos jor-nais de Uberaba, ilustrado peloperfil do exemplar mais caro nacrônica brasileira do zebú, a qualconta mais de meio século:

Canadá expoente máximo daraça Gir, boi de pedigree bas-tante conhecido e cuja fotogra-fia foi publicada várias vezes,tem sido a atração máxima daduas exposições: a de 1942. eraÁgua Branca, e a IX Exposiçãode Uberaba. Animal de linha-gem impecável, com 3 e meioanos de idade, é o tipo do ra-çador para peso máximo de' carne, devendo ciar 75% de ren-dimento. Foi adquirido pelo so-ciedade por Cr$ 600.000,00 e jáforam vendidas 36 barrigadasdesse touro por Cr$ 1.280.ÒOO.OO.A .sociedade que o possue osten-

ta o próprio nome-do animal, e aexposição de Água Branca, um dosarrabaldes da metrópole paulista»é tida pela consagração da im-plantação vitoriosa do zebú eraSão Paulo, de onde tanto o guer-reou Pereira Barreto.

Da segunda página do mesmoexemplar tiramos este recorte quelembra a continuidade da velhaligação com os criadores do Es-tado do Rio, precisamente na raçaque penetrou primeiro nas pas-tagens triangulinas.

Josias Ferreira de Morais Se-gundo, comerciante de gado se-lecionado possue um bom lototipo Nelore, pura sangue (tipopadrão Fazenda Modelo) ori-ginário da Fazenda Indiana doEstado do Rio de Janeiro.

FABRICA:

EXPOSIÇÃO:

RUA MONCORVO FILHO, 51 - A( RUA DO CATETE, 141 - AI RUA 7 DE SETEMBRO, 209

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( '¦<ilttnirlit.il

Í

CONTRA A c'A5PAsrEVIDENTE EFFICÁOA

9/9/1.943 DIRETRIZES PAGINA 21

Leia!P IERRE GAXOTE, LA RÉVOtLU-

TION FRANÇAISE, 2 vols. (Amcric-Edil., Rio de Janeiro, 1943) — A Gran-de Revolução é sempre um assunto no-vo e apaixonador. Nesta obra de Gaxo-te, todo o longo processo revoluciona-rio, que derrubou o Tronco dos Luisese terminou com a aventura imperial deNapoleão, está estudado de maneiramuito compreensiva. Não se trata, evi-dentemente, de uma história da Re-volução, mas de um sumário — umsumário feito com rara inteligência —dos grandes acontecimentos que trans-foramad a França num exemplo parao mundo. Nesse sentido, "La Révolu-tion française"é muito interessantee um quadro da Revolução, sem as di-ficuldades, os pormenores, as suíilc-sas dos volumes de História. Uma notí-cia da Revolução — um grande movi-mento popular que passa sob os olhosdo leitor com toda a sua coerência, comtoda a sua veracidade. E' evidente queo autor procura, ao lado dos sucessospolíticos, os motivos profundos, sociaise econômicos, que lhes deram causa —e, no particular, é muito nova a suadefesa do "ancien regime"', a sua defe-sa do clero. Os dois volumes da Ame-ric-Edit se lêem com prazer e comproveito. Uma narrativa muito agra-davel, uma publicação muito oportu-na, — surgida no momento em que asforças patrióticas da França se arre-gimentam para sacudir os ombros «velho inimigo de além-Reno.

H. G. WELLS, A CONSTRUÇÃOJH) MUNDO. 2 vols., traduçã o deMonteiro Lobato (Companhia Edito-ra Nacional, São Paulo, 1943) — Ohomem de "A máquina do tempo'' eda "A ilha do dr. Moreau" há muitoque se vem dedicando à reforma domundo — mais exatamente, do ambi-ente físico, intelectual e social do ho-tnem. Nestes dois volumes H. Q.Wells estuda "o trabalho, a rique-sa e a felicidade do mundo", com avasta experiência de entendido dasciências e de descontente com a fisio-nomia atual das coisas. Continuandocom as pesquisas que iniciou com asua "Outline of History" e continuouem livros menores, Wells pôs a suayiva inteligência a serviço da reformados nossos modos de pensar e de agir,tendo como objetivo a felicidade da es-pécie. Num sobrehumano esforço deinteligência e de vontade, vemos ohomem da "A guerra dos mundos'' a,realisar pesquisas e a dar idéias —sempre muito aceitavnis — sobre oconsumo, sobre o trabalho e os seusproblemas, sobre finanças, sobre umasérfe de questões mais gerais, aindamais complexas, como a das diferençase antagonismos de classe, o potencialde trabalho que há no chamado "se-xo frágil", os governos do mundo e assua,ç possibilidades de cooperação, asperspectivas da educação, etc- "A hu-manidade vive ao acaso e na maior ig-norância" — diz Wells., Daí a sua"História Universal", daí a sua "Ciên-cia da Vida'', daí esta "Construção doMundo". — do "pequenino mundo doshomens".

EIJEZER Burla OS BRAÇOS SUPLI-CANTES, contos (Liv. José Olimpio,Rio de janeiro, 1543) — Este volumemereceu menção honrosa no PrêmioHumberto de Campos, mas é difícilclassificá-lo como Iívto de contos. São

BALANÇO LITERÁRIOantes impressões, narrativas, escritasde maneira que rovela o escritor, ohomem que domina perfeitamente osmeios de expressões de que serve. Hácerta doçura, certa simplicidade e es-pecialmente certo pudor de deformar arealidade que fazem com que algu-mas das melhores narrativas de íiliezerBurla escapem à classificação de con-to. "Os braços suplicantes", "Umabolha de sabão", "Revolução" são bemum exemplo disso, mas são tambem ai-gumas das páginas mais comovidas emais humanas já produzidas pela mo-derna geração brasileira.

Leia, Se QuiserGILBERTO

Freyre, ATUALIDADES>E EUCLILDES DA CUNHA, se-

gunda edição (Casa do Estudante doBrasil, Rio de Janeiro, 1943) — Estareedição da conferência de GilbertoFreyre de 1940, chega muito oportuna-mente, quando começamos a voltar osolhos para os nossos próprios proble-mas — da terra e do homem, — deque Euclides foi, de certa maneira, umpioneiro no Brasil. O retrato de Eu-clides, traçado por Gilberto Freyre, dábem a idéia desse homem nervoso evibratil, que entretanto penetrou tãoprofundamente em todos os assuntosque explorou. Revoltado com a chacinade Canudos, espantado com o mundoque descobrira na Amazônia, Euclidesfoi um estudioso e um lutador — duasqualidades que o tornam atual, que ofazem inesquecível quando se procuramrealizar os "milagres da engenharia eda biologia industrial" que o autor de"Os Sertões" previra para as regiõesdesoladas do país. Uma conferênciamuito interessante.

ARMANDO Borght, EIS MUSSO-LINI (Editora Oceano, São Paulo1943) — O autor deste livro, antigoanarquista, foi companheiro de Mus-solini quando o ex-Duce ainda era umsocialista e participou das grandes lu-tas sociais que se produziram na Ita-lia, nos anos imediatamente anterioresà implantação do fascismo. Livro decombate, escrito há mais de 10 anos,nem por isso o livro de Armando Bor-ghi é menos atual. Não somente contaa vida do caricato ditador, de.sde assuas andanças de socialista até o seurepúdio dos ideais da juventude, comodá um quadro claro do ambiente emque se preparou e se realisou a Marchasobre Roma e a reação feroz que sedesencadeou na península imediata-mente depois. O caso de Fiume. as de-sinteligências com D'Annunzio, o na-moro com a Monarquia, o terror poli-ciai estabelecido pelos sicários de Mus-solini, a cumplicidade do rei e dascamadas reacionárias da população,tudo está no vigoroso livro de Ar-man-do Borghl, desmascarando o fascismo eos seus chefes. Um livro oportuno, quemostra a verdadeira face desse Césaide opereta, que não foi alimentadocom o leite generoso da Loba de Roma,e que se apagou, desapareceu da cenade maneira inglória, depois ce levar oseu país a derrota e a vergonha. Umlivro qua pode ficar ao lado do grandelivro de Emilio Lussu, "A Marcha sobre

Roma... e arredores", ou do roman-ce de Ignazio Silone,' "Fontamara",no combate ao terror branco do fas-cismo italiano. — a civilização domanganello e do óleo de rícino, — porque Mussolini, o rei, o Marechal Ba-doglio e outras figuras de reacionáriossão responsáveis.

A FILOSOFIA DE WILLIAM JAMES,tradução de Antônio Ruas (Compa-nhia Editora Nacional, São Paulo,1943) — Este volume da Biblioteca doEspirito Moderno é uma "seleção dasobras principais" de William James,• homem do pragmatismo. Evidente-mente, o livro tem hoje um inferes-se simplesmente histórico, pois a fi-losofia de William James há muitofoi deixada para trás, não por nãoconter idéias e conceitos aproveita-veis. mas por ter sido afogada na ver-dadeira maré de ciências experimen-tais que vem avassalando o mundo.Este americano — que se vangloria-va apenas de ter achado "um nomenovo para antigos modos de pensar"

representou, aliás, de certa manei-ra, uma etapa do pensamento filosó-fico, quando o conhecimento das eoi-sas começava a se utilisar da termi-nologfa profana para caracterisar osfatos do pensamento humano. Filoso-fia jovial, esportiva, buscando a feli-cidade e a alegria, a obra de WilliamJames marcou decisivamente • perío-do de esplendor industrial dos EstadosUnidas, foi a sua representação ideo-lógica. O pragmatismo está, assim, in-dissoluvelmente ligado a uma fase daevolução do mundo — e mais especial-mente da América. Uma fase que pas-sou — desde a guerra mundial de1914-18, desde o "crash" de 1929, —e que hoje, quando as Américas se le-vantam em armas contra a agressãofascista, parece mais do que remota.

A tradução é do sr. Antônio Ruas,já conhecido pela sua excelente tradu-çao dos "Ensaios Históricos" de Ma-cauíay.

Paul Lesourd, HISTOIRE DE LÉGLT-SE (Americ-Edit., Rio de Janeiro, 1943)

Um livro de interesse naturalmentelimitado, escrito para o público cato-lico ou para os raros indivíduos quese disponham a conhecer, isoladamen-te a História da Igreja. T^esourd cem-segue, aliás, uni milagre — conta aHistória da Igreja de Roma em cercade 200 páginas, sem cansar o leitorcom detalhes inúteis ou sem impor-tancia na perspectiva histórica emque.se coloca. Lesourd, por outro lado,é um escritor agradabilíssimo. Mas aconclusão do livro é muito surpreen-dente: "Que. se conceba, enfim, porum instante, a História do mundo sema Igreja. Seria, há vinte séculos, otriunfo definitivo do Bárbaro, o esmá-gamenío de toda cultura e do que fazo encanto e a beleza a no~s?a civiii-sação, Quando se vê o que é o globoterrestre depois • de vinte séculos decristianismo, treme-se ao pensamentodo que seria sem a Igreja. A selva,provavelmente". Uma hipótese ab-surtia — e absolutamente estranha-vel num historiador.

Mazo de Ia Roehe. A HERANÇA DEWHITEOAK, tradução de Herman Li-ma (Liv. José Olympio Editora, Rio de

Janeiro, 1943) — Com este romance,inicia-se a publicação de uma sériede oito romances sobre a tribo dosWhiteoak, que tanto renome deu à suaautora. Um romance de grande vigor,que situa a romancista canadense en-tre as grandes romancistas do mundo.A paisagem do Ontário — e, dentrodessa paisagem, a família de pionei-ros. — O tradutor, num prefácio im-possível, se refere ao "árdego" capitãoWhiteoak e resolve deixar cm inglês onome e o título daquela personagemhistórica que todo mundo conhece sobo nome de Guilherme o Conquista-dor: "... um bando de normandos dotempo de William the Conqueror.. ."*

Uma boa idéia da Livraria JoséOlympio, a de trazer essa grande ro-mancista ao conhecimento do públicobrasileiro.

Léon Frapié. T.A MATERNFLLE(Americ-Edit.. Rio de Janeiro. 1943)

Um romance muito delicado e mui-to humano, sobre as angústias de umaprofessorinha de orfanato. Uma nar-rativa muito interessante, baseada naexperiência de muitos anos do mun-do da criança francesa. Nestas pági-nas palpita uma grande ternura pelascrianças e, mais do qu.e isso. uma pro-funda compreensão dos seus desejos,dos seus impulsos, do Universo que ospequeninos constróem para si próprios.A editora esclarece que "La Mater-nelle" obtave o prêmio Goncourt efoi transportada para o teatro e parao cinema. — Um romance muito bemíerto.

Não Leia!CanMmiro Barata. ESPUMAS (Pon-

get-ti. Rio de Janeiro, 1943) — Versos:sonetos com chave de ouro <de ouro?),longos poemas declamatórias, reticên-cias. pontos de exclamação... Versoscomo estes, sobre "Jesus":

Jesus nasceu, coitadinho,numa noite muito fria,assim como uma ovelhinhanas palhas da estrebaria.Jesus não tinha roupinha,como, meu filho, tens tu;causava pena e tristesavê-lo assimzinho tão nu!

Versos de uma pobreza de expres-são e de uma precariedade de inrpi-ração verdadeiramente invulgares.

^ Paul Reboux. LA MAISON DES DAN-SES (Americ-Edit., Rio de Janeiro,1943) — E' de lamentar que o eclétis-mo das edições d aAmeric levasse essaeditora a publicar qualquer livro dePau! Reboux. — um perfeito cavalhei-ro de indústria das letras, tipo daque-le desmoralisado cidadão francês quejá está desaparecendo da face do mun-do. Nada se aprende nos seus livros,senão, talvez, cabotinismo e cretini-ce. E' um batedor de moeda, um es-critor que busca o escândalo para Yen-der os seus livros ou se serve de títu-los conhecidos de obras imortais parabatisar os seus livros chôchos, sem ne-nhuma belesa. de forma ou de fundo.Um escritor que não devia ser publica-do em língua nenhuma e especial-mente em francês, exatamente agoraque os seus conterrâneos sofrem sobo jugo alemão e, em todo o mundo,os franceses assumem uma atitude derevolta e de co-mbate contra as influên-cias desmoraüsantes do fascismo. Umlivro que não vale o trabalho de ler,este "La Maison des Danscs".

A realização de CASA GRAN-tWE e SENZALA de Gil-¦Verto Freyre, constituiu unianota de maior destaque tiomovimento editorial nestes últi-mos dias. São dois volumesmagníficos da Editora JoséOlímpio, com desenhos de San-ta Rosa. "Casa Grande e Sen-sala" represerita um dos li-vros culminantes da nossa li-teratura moderna que nos dáa fisionomia de nossa socie-dade patriarcal, sugere deba-tes, mostrando um escritor,um sociólogo e um poeta aomesmo tempo em páginas tãolúcidas, tão saborosamentebrasileiras. Um dos livros maishumanos do nosso tempo.

*A Editorial Calvino. conti-

fritondo com o seu vitorianoprogravra de livros sobre aatualidade, acaba de lançar a

< obra de Ernil Mudwih sobreStalin, 'i7)ro de um repórterque tropeça muitas vezes emerros de análise mas apresenlaaspectos e Jatos palpitantes a

NOTÍ Cí AS LITErespeito da vida c da obra dogrande estadista, roviético.

*A Livraria Globo anuncia

para muito breve o lança-mento da importante obra deRoger Martin du Gard, "LesThibault". Trata-se de uma«érie de romances realmentemonumental.

*Algumas publicações do Gio-

bo: "Safira e escrava", deWilla Cather: "A História dasGrandes Obras", de ErnestNewman, três grossos volu-mes; "O caso da jovem Aris-ca", de Erle Stanley Gardner;"A história dum quebra-no-zes", de Alexandre Dumas; "Odesenho racional da Escola".de Ferdinand Liénaux; "A co-locação do pronome", de JoãoAlcides Cunha. Uma das maio-

res novidades dersa livraria foio lançamento de um volumede contos de Maupãssant assi-nalándo a pas.seoem do 50.°aniversário da morte do gran-de contista francês.

Dois., empreendimentos daLivraria Globo merecem enco-mios: a inclusão, na Bibliote-ca dos Séculos, das "ObrasCompletas de Flaubert" e das"Obras Completas de Balzac".Brevemente sairão as ediçõesbrasileiras de "Gideon Pia-nLsh". de Sinclair Lewis: "Aúltima vez que vi Paris", deElliot Paul: "A historia do Dr.Wassell", de James Hilton;"Sister Carrie", de TheodorDrelser.

*A Livraria José Olímpio pu-

blicou os seguintes Jivros: "Oa«-unhamento e a timidez", 3a

RÁRÍASedição, d L. A. Gratia: "Osbraços suplicantes" dc EHeserBurle, menção honrosa do con-curso de contos "Humberto deCampos"; "A vida de NossoSenhor", de Charles Dickens,tradução de Costa Neves;"Deuses de barro", de LloydLouglas 2a, edição. A mesmalivraria apresenta nova ediçãoda famosa autobiografia deIsadora Duncan, admirável-mente traduzida pelo escritorGastão Cruls. Tambem editouum livro de poemas da sra.Adalgisa Nery. "Ar do deser-to". "Sangue e Volúpia'' é onovo romance de Vicki Baum,tradução de Valdcmar Cavai-cante, que a referida editoiaapresenta aos leitores brasilei-ros. Outro livro, este mais im-portante, lançado nela JoséOlímpio é "Herança de Whí-

teçais", de «ma notável ro-mancista canadense. Mazo deLa Roche. Tradução de Her-man Lima.

+A Companhia Editora Na-

cional lançou os seguintes li-vros: "A filosofia de WilliairiJames", uma excelente biogra-fia sobre o grande democratanorte-a7nerica7io Thomas Je-ferson. e mais um volume daColeção Brasiliana, "Corres-ponúência Politica de Mauano Rio da Prata". Tambempublicou o primeiro volume de7ima obra científica. "O CorpoHumano". A aludida editorainaugurará muito 'breve umanova coleção denominadaGuerra e Paz cujo primeirolivro será o de Wendéll Wilkie,"Vm 7nundo só' .

+O sr. Hiltíebrando de Lima

foi alvo de uma homenagempor parte de seus amigos e ad-miradores e colaboradores pormotivo da publicação do 5.°

(Continua na pãç. 27)

PAGINA n HÍXITRIZIS

"Um governo aeve sair

como a fumaça de umado povo

fogueira"

"' " ¦¦ *¦"**¦ '¦¦' ¦ ' '• ini».' ¦-..".•.• ...•¦-T1 . •¦!,,! riiitti-xIxJijLLtlü-.'J*j?/M*f

(conunuafão <u pkg. 15) contra ele vale tudo). A cai-soviético ou condenação íor- ta diz o seguinte:mal e absoluta. E como nos "Lobatoextremos nunca está a ver- Mlle., envolta naquelle pa-

temente, que sua empresapoderia editá-lo. Eu lhe éli-minaria o primeiro capítulo,o post-scriptum e algumas

dade, conservei-me mais ou pelão, veio mais linda do passagens de interesse puramenos neutro em matéria que eu julgara aí. Sai comda Rússia. Um belo dia o retrato hoje para entrega-caiu-me às mãos o "Poder Io ao Álvaro, e mostrei a ai-Soviético". Li este livro co- guns de nossos amigos. To-movidamente. Não só por- dos elles, inclusive eu, esta-que concordava com o que mos acordes em affirmar queintimamente eu queria que a critica errou: — A tua me-a Rússia fosse, como porque- lhor obra não é o "Urupês".a lealdade e a sinceridade "Recebi novas noticias so-daquele homem eram coisas bre a "Dansa", que meinsuspeitas. De modo que, agradaram. Desencantou-daí por diante, em matéria se, afinal. Esse desencantode Rússia, passei a jurar so- augmentou-me a ansiedade,bre o livro do Deão, como "Tiveste uma feliz expres-

mente local. A revisão estátambem monstruosa.

"Remeto-lhe as opiniões, arespeito, do Anibal Fernan-des, o crítico mais idôneo donorte, do romancista LuciloVarejão, do dr. Maciel, ummédico de cultura, nascidono sertão descrito, e um re-talho de muita acuidade dojulgamento do "Jornal doRecife". Poderia enviar-lhedezenas de escritos da mes-ma generosidade de Per-

N ATONA

u Fv c ANEGRA

Á qrmmém conciomma mexicana q»a a URCAestá apresentando

os puritanos fazem com a sao a respeito dos versas pre- nambuco, Alagoas ParaíbaBíblia. Já sei o que é a Rús- miados pelo "Jornal" Opti- e{,c, Todos confirmam a fi-sia e nada mais abalará as mos. E estão de facto, ape- delidade de minha observa-minhas convicções e o meu sar do Augusto de Lima ção dos caracteres dos cos-entusiasmo. Entusiasmo que do Hermes Fontes náo con- tumes do dialeto etc Nãoe>e viu confirmado da ma- cordarem com o systhema foi o' trabalho divulgadoneira mais categórica pela de alexandrinas a que mui- ainda no Sul. Escrevi-o emmaravilhosa atuação da tas vezes recorro. menos de oito dias. MasRússia na guerra. Foi o "Acham elles que esse me- Caso ele mereça sua aceita-único pais onde não houve thodo lhes diminue a gravi- ção, prepararei, com maisdivergência, onde não houve dade; mas os versos estão, vagar e cuidado', outros trêscisão, onde o povo se colo- de facto, optimos. para sua empresa: uma so-cou da maneira mais inte- "São, pelo menos, um at- bre a vida nos engenhos dagral ao lado do governo. E testado evidente de que eu Paraíba, diferente do deisto prova que o governo da sei metrificar. Quando ap- Mario Sete, isto é, de Per-Rússia é o mais identificado parecer a "Dansa". que é, nambuco, outro de costu-com o povo que nós temos de facto, o livro onde estou, mes praieiros e o último dano mundo de hoje. leviano e sem pose, muito cidade. Poderão ter maio-

mais irônico do que própria- res dimensões, conforme seumente poeta, não poderão conselho. Desconfio que nasdizer que eu quebro os ver- "Reflexões de uma cabra"sos por não saber metrificar, abusei da crítica dos pro-"Quebro, porque os que- cessas de ficção, prejudican-No meio da tarde. Lobato ro; porque sinto uma von- do, por vezes, o fio da fabu-

me leva até a sua biblioteca, tade indomável de ser ma- lação. Corrigirei noutrasA grande mesa no centro da caco na loja de louças do esse defeito. Não me faltamsala está repleta de cartas e Parnaso. editores. Prefiro, porem, oenvelopes. E* que Lobato "Os estilhaços vão irritar, prestígio de sua edição,está botando sua correspon- por certo, as criaturas

Pindo; ei Ias não querem

UMA CARTA DE OSVALDOORICO

E DENTRO DE POUCAS SEMANAS, AESTRÉIA DO NOVO "SHOW .. FAN-

TASIA AMERICANA"RfSffftVAS D€ MfSÀS MELO T1L. 24-5550

U R C A—a—a—— —w qgagMMài

dencia em dia, coisa quenunca fez nestes vinte e cin-co anos de literatura. Poralguns instantes, esqueço

ber de electricos e automo-veis. Apressa, pois, essacousa, Lobato; tu és o con-

mpl"Seu grandíssimo admira-

genia Celso, Hekel de Lemos, cumento valiosissimo dada•idade lite-•amente as-

do Aqui na Capital do Estado R£"£^r^tr^ r-m-KS T*u«™.sa- foram vendidos, num só dia, °?"£ j3g"2S&

<**£* ?.* a TOSÍ* «P»P«ao- 1.200 exemplares da novela l?T\^F^á*l*?*> !'an* ^rdadeiran

Lobato sentado na cadeira, duetor de um vèhiculoe me afogo no mundo epis- cgual ao automóvel da As-tolar. Sei que ele está meio sistencia. Põe as rodas pre-arrependido de me haver paradas na tua formidávelsoltado naquele universo de machinaria. A campainha,coisas íntimas. Mas agora que ficou a meu cargo, jáé tarde. está prompta; os ouvidos

Cartas de toda gente, de dos passadistas, em breve,todas as idades. Entre elas, começarão a ensurdecer...uma de Osvaldo Orico, um Osvaldo",timbre lá em cima do papel Há um P. S. sem grandede Unho ciclamen: "Gabine- importância, embora tão ri-

Silva Ramos, João Ribeiro,Luiz da Câmara Cascudo,Afonso Celso, Egas Muniz,Cândido de Figueiredo, Hu-go Wast, Artur Neiva, Mar-tim Francisco, Alcides Maya,Coelho Neto, Medeiros e Al-buquerque. José Maria Belo,uma porção deles.

Numa de suas cartas a

diculo como a carta inteira.De onde se deduz que, em1922, Osvaldo Orico já era

do

te do autor de "A dansa dospiriiampos". Está datadade 4 de setembro de 1922,antes (averiguei depois) da uma risonha promessapublicação da referida Dan- que é hoje...sa. Orico, inédito, já pos- Há tambem uma carta desuia toda uma rica coleção José Américo de Almeida, es-de papel para cartas com crita em simpática caligra-aquele timbre tão solene fia num papel do Superiortão importante. Peço a Lo- Tribunal de Justiça da Pa-bato que me empreste a car- raiba do Norte. A data: 18ta por algumas horas. de julho de 1922. Enquan-

— Não senhor. Você nem to Monteiro Lobato fala nodevia estar mexendo aí. telefone (parece que com

Mas há uma telefonema Edgard Cavalheiro), datiio-providencial: e enquanto grafo rapidamente a carta

dorJosé Américo de Almeida(Rua Epitácio Pessoa,

512)".Li rapidamente várias de-

zenas de cartas outras: deOliveira Viana, Ribeiro Cou-to, Assis Chateaubriand,Tristão de Ataide, Lucilio Lobato, Cândido de FigueiVarejão, Gustavo Barroso, redo manda pedir, em perto Lobato-Raul de Leoni, Antônio Sa- de 10 folhas de papel, expli-les, Lemos Brito, Fábio Luz, cação para duzentos e tan-Gilberto Amado, Maria Eu- tos termos estranhos que ele

havia encontrado nos livrosdo autor do "Jeca Tatu".

tronômica, ja o vosso nomeamplamente conhecido emtodo o Universo. Uma res-posta a esta carta faria osmeus colegas "babarem deinveja", como diria nessecaso a gosadissima Emilia".

E há aqui, tambem muitorecente, o cartão comovidode um pai:

Exmo. Sr. Dr. Monteiro

Lobato vai lá em baixo, paraatendê-la, meto a carta deOrico dentro do bolso. (Lo-bato há de perdoar tal ati-

de José Américo. Diz ela:"Meu ilustre confrade:Mandei-lhe, há poucos

dias, minha novela — "Re-tude, um tanto ou quanto ílexões de uma cabra" — e,arbitrária. Mas ele, tão ex- antes de receber seu juizo,periente, deve saber o que timidamente solicitado, vol-fazer jus à profissão. Já to a importuná-lo. Assinadodevolvi a carta, pelo correio pela crítica do Nordeste, fa- \\aéreo, depois de fazer dela vorabilíssima a esse en?aio, ^o clichê que vai nesta repor- por seus órgãos mais autori- fe^J"-tagem. Quanto a Orico, zados, penso, talvez petulan-

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UM ESCRITOR E ASCRIANÇAS

As cartas de literatas aLobato enchem toda umacanastra. Mas há outras,muito mais numerosas, quese empilham, aos montes,pelas gavetas e pequenasmalas: são as cartas que, to-dos os dias, invariavelmente,ele recebe das crianças doBrasil. Trazem elas, geral-mente, o pedido de um auto-grafo. Quando estive naAclimação, Lobato acabarade receber a última, de umgaroto de Aracaju, em Ser-gipe. José Hilton Rocha,de doze anos de idade, dizia,entre outras coisas:"Ficaria muito honrado seo grande escritor patrício sedigna-se responder-me esta.sendo por mim um do-

Com os agradecimentos àcarta que V. Excia. se dig-nou enviar ao meu filhoLindbergh, dou-lhe a notí-cia de que essa missiva veioconcorrer imensamente pa-ra a sua cura. Diz ele queontem foi um dos dias maisfelizes de sua vida. Muitoobrigado. Respeitosamente— José Faria Ribeiro, RuaLoefgren, 1235 — São Pau-Io".

Monteiro Lobato diz quesó isso, só as cartas que ascrianças brasileiras lhe en-viam todos os dias, compen-sa escrever literatura infan-til. Ele guarda as cartas dosmeninos com um carinhoenorme. Tanto assim quetodas elas há muito que jáse encontravam catalogadase numeradas, trabalho quesomente agora Lobato estátendo com as cartas de es-critores e artistas que temrecebido nostes vinte e cin-co anos de literatura e tra-balho.

9-/9/WÍZ DIRETRIZESPAGINA••¦•23

^^

& í17

(Conünuaçâo da pá?*. 13),fos aventuras, pelos amores inconstantes com;fcadclas-,de outras ruas. Às vezes desapare-tia, levava sumiço, durante semanas. Os me-ninos saiam à sua procura, percorrendo to-Üo. o ,bairro: — "Joli !Joli! Quem, foi que.vio o Joli? — Indagavam de porta em por-ta, e geralmente regressavam em triunfo,puxando Joli. Os pais acolhiam Joli corrimuitos agrados. Outras vezes, Joli volta-va sozinho, como se nada fosse, sem remor-so algum, abanando o rabo, dando pino-tes; reintegrava o lar doméstico, engorda-va durante uns tempos, até que sentia sau-dades da rua, sumia de novo, para reapa-recer quando entendia, com a mesma in-consciência de mal-feito cometido ou a mes-ma confiança no perdão. Entrava pela salasoltando latidos curtos ,a língua pendura-do como um pedacinho de fita vermelha,cheio de festas que todos lhe retribuíam.

De uma feita, Joli desapareceu e levoumais de dois meses fora de casa. As crian-ças não pensavam mais nele, dando-o porperdido, quando voltou, imundo, coberto delepra, o pêlo caindo aos chumacos, a peleaberta em feridas, cercad o de moscas queespantava com o rabo triste, com o abanarhumilde das orelhas. Os meninos olhavamcheios de nojo para Joli; a mãe veiu, en-xotou-o de casa, e o pai declarou: "Essaporcaria não me entra mais aqui". Mas Jo-li era persistente. Agora, que não o queriam,é que ele tranebordava de ornor por todos.Mel ia-se no jardim, entrava com seu cor-tsjq de varejeiras, abanando o rabo, dandolatidos curtos. O pai tirava o cinto, esta-lavo-o no' lombo de Joli. E Joli saia

'ganin-

do, para tomar assim que podia. Durantesemanas cercou a casa, dormindo em frenrte ao portão, seguindo aos pulinhos os mo-radores que saiam, tentando acompanha-los quando entravam. Ficava em baixo dasjanelas, chorando uns uivos fininhos, arra-nhava a porta da cozinha, enfiando

'o foci-

nho pela fresta. Os meninos ouviam-lhe osejemidos, sentiam o coração apertar, fica-vam com vontade de recolher Joli. Espia-vorn-no, e o cachorro sarnoso que viam nãoparecia mais o antigo companheiro de brin-quedos. que dormia com eles abraçado nacama.

Um dia Joli pegou a porta aberta, en-trou na saia, mos sem aquela alegria anti-ga, sem aqueles pinotes — todo agochadono chão a barriga arrastando, e parou emfrente a eles, de olhos humildes, pedinchões.

Aos três meninos, parecia aue os olhos docachorro estavam dizendo: "Por

que vcoês'não me querem mais? Não sou o mesmoJoh? O mesmo Joli?" Os meninos inter-pretaram assim o seu olhar, e o coraçãodeles fraquejou; a menina começou a cho-

ror, mas o pai chegou, jogou Joli na ruacom um ponta-pé, e o cachorro foi cair lá

,,.em baixo, rolou embolado os cinco degrausda escada, e se agachou na sargeta, uivan-do alto. Os gritos foram decrescendo, trans-formaram-se num chorir.ho manso, e eleficou deitado, espantando as moscas com oabanar mole das orelhas, os olhos postos nocasa. Ficou assim uma semana,, rejeitandops restos de comida que os meninos lhe jo-gavem, até que a morte veiu, as orelhasaquietaram-se, o focinho enfiou-se entre ospatos dianteiras, todo o corpo ficou rígido,e os olhos continuaram abertos, fitos nacosa fechada.

Sua história era igual à do cachôYro Joli.Foi andando. Os pés doiam cada vez mais*

o corpo pedia pera se esticar. Atravessou aAvenida, sentou-se no escadaria do Con-selho Municipal. Precisava pensar nQ vida,encontrar uma solução para seu caso. Ti-nha só um níquel no bolso; nada *nais pas-suia no mundo, nem via de onde pudesselhe V,!r °uxili°- Fic0u prSplexo: — "Mas

eu,fui "eu"

que cheguei a esse ponto?" 'Não compreendia direito. Rolara tão de-vagarzinho que não podia cohncreender co-mo a coisa sucedera. Não fora uma quedacomo a do cachorro Joli, rolando os cincodegraus ao mesmo tempo, com um ponta-pé r,o lombo. Nisso a história deles diferia.Cairá um degrau de cada vez, numa suces-são de pequeninos tombos sem barulho, quenão davam parq, machucar muito. De'cadavez tinha a esperança de parar, de não des-cer mais, até mesmo de subir de novo. Eagora estava ali, sem roupas, sem rumo,sem ofício, com um níquel no bolso.

Apertou o rosto entre as mãos. A cabe-ça latejava, a boca tinha um gosto ruimdesarro, de cigarro apagado, o que erade estranhar, pois não íumava desde a vés-pera. Ainda não se identificara com a mi-séria a ponto de, fazer como os outros va-gabundos, que apanhavam no chão pon-tas de cigarro ainda' acesas, ainda húmidasda. saliva alheia. Essa aprendizagem tinhade ser feita aos poucos. Mais tarde sa-beria estender a mão, pedir sobros de co-mida, recorrer às instituições de caridade,às obras sociais. Tinha ainda nojos e es-crúpulos, preconceitos de classe que desa-pareceriam, como já tinham desaparecidoos outros sinais de respeitabilidade burgue-sa: o colarinho, a gravata, a barba feita.Nao trocara em tempo o paletó rasgadopor uma camisa de meia, os sapatos cam-baios por um par de tamancos novos; nãoquesera fazê-lo, agarrado aos últimos sim-bolos da situação perdida, e agora arre-pendia-se. Apegara-se ao terno de casemi-ra, ao calçado, ao colarinho, como se elespudessem salvá-lo da desclassificação. Che-

goro o momento de compreender, que aque-les mesmos objetos, respeitáveis quando no-vos, gasfanclo-se demais, produziam justa-mente, o efeito oposto. Por causa deJes ,po-recia um vagabundo, um homem extra-das-ses, aqueles que ricos e pobres enxotam coma mesma desconfiança, em quem ninguémreconhece um semelhante.

Sentado na escadaria, ia compreenden-do que sua integração na classe mais baixapoderia lhe trazer algum conforto. Desejariapossuir a camisa riscada e os tamancos quelhe dessem a aparência de um operário. Noseu amor pela Ordem, gostava das coisasrotuladas, das coisas que têm um lugar cer-to, um nome certo, uma função certa. 0 queo deixava assim desamparado era a sen-sação de estar solto na vida, de não fazerparte de nenhuma organização.

A estrutura social, quanto mais fechadase mostrava, mais admirável lhe parecia.Por que destino errado, ele, amigo da Or-dem e das Instituições, viera parar naquelaescadaria, sem teto. sem cama, sem em-prego, fugindo da policia, amedrontando ossenhoras que saiam do teatro? Entretanto,era o mesmo homem, a mesma de antes; aroupa é que rasgara, os sapatos é que fu-raram, a barba é que crescera; ele, porém,era o mesmo de antes. Lembrou-se de Jo-li, de seus olhos pedinchões, de sua caudaabanando de leve, de seu jeito espantadoque parecia dizer: — "Eu

sou o mesmo Jo-li..." — Mas aos olhos dos meninos nãoera mais Joli; era um xachorro leproso,cercado de moscas, perdendo o pêlo aos chu-maços.

"Que vou fazer amanhã? Que vai ser daminha vida?" — Não via solução alguma;mas devia haver uma soluçõo. O mundoparecia-lhe bem feito de mais para que seucaso não encontrasse concerto. Era como umjogo de "puzzle"

em que cada pedra achacobimento, engancha com outra pedra, con-tribue com. sua parte para formar o'dese-nho. Por que só ele nõo conseguia ajusta-mento, não entrosava no jogo bem deüneo-do? Não via os defeitos do traçado, nõotomava conhecimento das pedras

'mal ajei-

radas, nem do conjunto grosseiro, frouxo,provisório. Apesar do que lhe acontecera!era um grande mundo, aquele, e as cor-sas tinham o seu lugar determinado ;os coi-sas e as pessoas.

Caia de sono. Subiu a escadaria, ganhouo patamar em semi-círculo, protegido doolhar dos transeuntes. De um lodo já en-controu uma negra, toda encolhida, cober-ta pòr^ jornais, com uma criança nos braços— três ou quatro anos, magricela, comum pano amarrado na cabeça. Afastou-se,foi para o outro ledo, lá tombem encontrougente, um mulatinho de seus doze anos,

cinda acordado. Deitou-se perto, -fez -umtravesseiro com o chapéu dobrado e ma!reparou que o pequeno, com medo dele,descia as escadas, inde- procurar cama emputra parte. Adormeceu, um sono pesadoprofundo, sem sonhos, buraco de trevá ede silêncio em que mergulhou de repente

Acordou com o sol já claro, sacudido combrutalidade: — "Isto aqui nõo é hospeda-

ria. Va dormir no inferno". — Abriu o<olhos assustado, e deu com o guarda emsua frente.Precípitou-se pela escadaria abaixo fu-

gmdo, sem olhar o caminho. Atravessru arua. O choque foi tão rápido, que mal ,pou-de entender o que lhe acontecia. Ouviu umgnto, o ranger dos freios do caminhão erolou pela rua emborcado, foi parar nd sar-geta como o cachorro Joli.

Percebeu que a resposta viera, que seucaso encontrara a solução final. Ficou alieshrodo, a boca aberta, babando sanoue'Viu o guorda apitando, o povo que se aalo-merava sendo afastado. Sentiu mexerem-lhe nos bolsos, revistarem-no todo, escutouuma voz dizer: "não tem documentos" Pen-sou vagamente, na única tentativa de iro-mo que jamais ousora: "Será

que para "is-

so , também, vou precisar de carteird>" —Depois perdeu o sentimento das coisas sen-tiu-se embrulhado em silêncio e solidão

Mais tarde ouviu o rilirirár do carro doAssistência. Longe, muito longe, a ¦ cam-pamha tocava, como se estivesse envolvidaem Ias, como se viesse de uma distânciaenorme, como se atravessasse, para cheaarate ele, o nevoeiro cinzento que se formaradiante de seus olhos. E atrás daquele ne-voe.ro, que se esgarçou durante, alguns mi-nutos, para em seguida, se adensar de no-vo e lhe fechar, para sempre, a visão dasoc.sas, teve a última revelação de um mun-do perfeito. Viu o cordão de isolamento cpovo ret.do, preso dentro do espaço que lheconsentiam, um guarda apitando," outro fe-vondo preso o "chauífeur"

do caminhão ossinais luminosos da esquina mudando devermelho para omorelo e de- amarelo paraverde, uma carrocínha dQ Limpeza Públicacom o gan de uniforme, o automóvel bren-co da Assistência, os dois padioleiros deavental, o enfermeiro com a maleta o mé-d.co com a seringa nc mão. debruçado Pa-ra ele, os bondes seguindo devogarzinho so-bre os trilhos, o condutor fazendo a cebren-ça, os

^ p.ngentes" despencados do bolcú-.trepara ve-|0> os onibus passondo ^o outro ia-do, che.os de gente, que ia para o em-prego — tudo testemunhando de . umo cr-d—i absoluta, de umQ organização exem-plar. . .

LIA CCJtRÊA DUTRA.

Mulheres espanholas(Continuação da pát<r. 9)

condenadas por um suspeitotribunal fascista de guerra eentregues aus cuidados dasfreiras. Pouquíssimas partici-param na luta armada doGoverno legal da Republicacontra os bandos fascistas es-panhóis e seus amos alemãese italianos. A maior parte nàotez outra coisa senão cumprircom suas obrigações, realizan-do seus habituais deverescomo professoras ou -enter-meiras ou ocupando-se deseus lares como donas decasas.

A 'idade da maior parte os-cila entre os vinte e três eos quarenta e cinco anos. Háum enorme. número cie mo-çinhas que durante a guerrade intervenção fascista não-passavam de crianças de ten-ra idade e que hoje estãopresas. Há dois grandes dor-mitórios cheios de anciàs,avós, cuja "culpa" foi nula.

Chegaram ali desde todos osrincões da E.spanha limpas etrabalhadoras catalãs muitoparecidas com as francesasdo sul; ligeiras e gentis ma-d r i 1 henhas. principalmenteoperárias de fábricas, cujossofrimentos foram particular-mente da máxima crueldade:esposas, noivas, irmãs e Ü-lhas de valentes mineiros as-turianos — mulheres fortes,graves, sempre prontas paraprestar algum auxilio, anda-luzas de compleição africana,que cantam mais e trabalhammenos do que as outras e quenunca se cansam de pentearseus belos e brilhantes cabe-los negros.

Muitas daquelas infelizes

já passaram por outros cãr-ceres antes de irem para Ge-rona e se consideram ditosasporque ali ao menos as dei-xam sós, quando seus casosestão resolvidos. Mas estre-mecem ao ouvir falar de ou-trás prisões onde foram mal-tratadas de todos modos emaneiras, onde lhes raspam acabeça sem saber o crime quetenham cometido. Muitas ou-viram noutras prisões os gri-tos de dor e de grandes sofri-mentos físicos de infelizescompanheiras. Ouviram tam-bem disparos de pelotões defuzilamento. Contam muitaso que lhes poderia ter acon-tecido em vez de estarem noconvento das adoratrizes,

afastadas do convívio huma-no, condenadas a se consumi-rem no cativeiro — mulheresjovens privadas da liberdadepor espaço de trinta anos, ou-trás a mais. Algumas de ida-de, destinadas a se converte-rem em velhas desdenhadas.Muitas estão certas de que fo-ram consignadas à morte sem.ter cometido nenhum crimecontra a nação ou contraninguém, condenadas pelospiores criminosos da História,que são os fascistas. A brevenarração de uns quantos ca-sos é suficiente para demons-trar a fúria insensata que ofalangismo triunfante descar-regou de uma maneira bár-bara contra seus mais humil-des adversários, o crime deuma reclusa, mulher de unscinqüenta anos. doente do co-ração, consistiu em que seuesposo havia ocupado o car-

go de Diretor de cárcere deGerona. Por isto e somente

na pnsaopor isto foram condenados o.sdois, marido e mulher — adoze anos de prisão. Isto cia-ma a Justiça divina e huma-na. Outra havia desempe-nhado com seu esposo o car-go de porteira naquele pro-prio convento, quando foidestinado pela República parahospital militar do Governo.Somente por isto o casal foicondenado a dezesseis anosde presídio. Duas mocinhas, dedezessete anos. são as únicassobreviventes de um grupo desetenta que cumprira com seudever na qualidade de auxl-liares, atraz das linhas deMadrid. Todas foram fuzila-das. Duas irmãs,.com mais detrinta anos, criadas de ser-viço que regressaram de Fran-ça no fim da guerra, foramcondenadas a trinta anosporque seus irmãos, que eramda Catalunha, conseguiramfugir para a França.

Muitas destas infelizes mu-lheres estão expiando culpasde seus esposos, ou parentesrepublicanos, porque estesainda estão com vida e fugi-cios. Outras são desgraçadasque ficaram órfãs e

^abando-nadas durante a guerra, peloque acompanhavam as tropasrepublicanas, em busca decomida. Outras, vitimas deperversas denúncias. Uma ve-lha camponesa que costuma-va ir ao mercado pela manhãpara vender leite, em um bur-ro, foi denunciada por teramarrado à crina do animaiuma fita vermelha. Por estaculpa ainda anda às voltascom a '-justiça" de Franco.Outra foi condenada a dozeanos de prisão porque confes-

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sou ter tomado parte numpréstito socialista, há anos. Aguerra espanhola apaixonouo mundo inteiro. Foi umaguerra que custou um milhãoe meio de vitimas, sem contaras dezenas cie milhares deexecutados por Franco quan-do a luta acabou. E o mundointeiro sabe que a Espanhaestá morrendo de fome, queos cárceres espanhóis estãocheios três anos depois deacabada a guerra. Mas nãosabe o mundo que centenas demilhares de mulheres honra-das e simples vivem nos cãr-ceres fascistas de Franco emcondições miseráveis. Há oca-sioes em que a desesperacãodestas infelizes excede todo olimite. Há no com'ento-mas-morra de Gerona uma astu-riana de uns quarenta an^sque foi por duas vezes coloca-da no paredão das execuçõestendo ao lado um filho de de-zesseis anos e uma filha dequatorze, porque se negou adeclarar onde estava o mari-do foragido. Depois os fascis-tas de Franco fuzilaram o ra-

paz na vista da mãe e espan-curam brutal e barbaramentea mocinha, que morreu poucodepois em conseqüência dastorturas. A mulher foi conde-nada a 16 anos de prisão.Essa pobre senhora, no diade Natal, meio alucinada, gri-ta va. em altos brados: Inj ust i-ça! Injustiça! Vinham as frei-ras. com o seu andar caracte-nstico, arrastando macios sa-patos de feltro e oforecenciouma beberagem à velha astu-riana. que recusava a oferta,temendo, em seu desespero,que a envenenassem. Sómen-te aceitou um pouco de leiteque lhe ofereceu uma outramulher também presa. E mes-mo depois de abrandado oataque de nervoi continuoumurmurando, pela noite adentro, entre soluços: "Injus-tica! Injustiça!"

E assim vivem as mulheresespanholas nos cárceres fas-cistas do Caudilho Franco, de-pois de espiagada a heróicaRepublica pela ferrenha esanguinária intervenção deHitler e MussolinL

PÁGINA M DIRETRIZES

Serei Von N<eurd(Continuação da pãg. Z)

visse forçado a dedicar toda sua atenção aos as-suntos militares."Isso é muito significativo — acrescenta o"Die Zeitung" — porgue revela o plano de apre-sentar von Neurath ao mundo e ao povo alemãocomo o possivel chefe de um governo interino nomomento do colapso nazista". A mesma revistaacha que a nomeação de von Neurath para co-mandar as S. S. empresta ao antigo primeiroministro a responsabilidade de conduzir os nego-cios internos da Alemanha no após-guerra.

Alemães domiciliados na Inglaterra que acom.panham -pari passu" os acontecimentos do Reichcalculam gue as S. S. estão com os seus efetivosampliados para cerca de quinhentos mil homens..

Von Neurath foi um dos poucos diplomatas ealtos dirigentes alemães gue sem vacilação aderiramao regime nazista. Franz von Papen. o "fixer"nazista, atualmente embaixador na Turquia, foium outro.

Neurath, gue. tem 70 anos de idade, possuevastos conhecimentos nos círculos diplomáticosda Europa. Depois de haver ocupado inúmerospostos na diplomacia do Império e da Repúblicaalemãs, incluindo representações em Estambul,Copenhague e Roma, foi embaixador na Inglater-ra em Í9S0, permanecendo nesse posto dois anos.

Chamado a Berlim, foi nomeado ministro dasrelações exteriores, mantendo-se no ministério atéser substituído por Ribbentrop em 1938.

Von Neurath foi uni dos primeiros elementosnazistas a aceitarem posições depois da subida deHitler ao poder em 1933. Por isso, Himmler re-compensou-o com a patente de brigadeiro das S.S.. Sua atitude de confiança no hitlerismo abriucaminho a outros recalcitrantes gue por fim ode-riram aos homens da "swastika".

Além de von Neurath, outras figuras da Alemã-nha também alcançaram o posto de brigadeirodas S. S.. Anunciando a promoção de JuliusSchaub ao posto de "Obergruppenfuehrer", o ra-dio de Berlim disse gue esse fato estava ligado àpolítica de união de todas as classes na Alemanha,dentro do partido Nacional Socialista. Schaub èo chauffeur de Hitler. Sabendo usar muito bemseus punhos e uma metralhadora portátil, tomouparte em muitos tumultos em sua vida de homemde partido, recebendo por isso a denominação de

O Bâdogliio diemâo ?"protetor da vida de Hitler'*, o gue em rodas na-zistas considera-se um título muito honroso. Hit.ler raramente aparece em m'Mico sem esse cão deguarda.

Realmente, as nomeações de brigadeiros dasS. S. tinha um objetivo político. Assim, a nomea-ção de 18 "generais de polícia" só de uma cajada-da elevou a 50 o número de altas patentes dasSecções de Assalto. Este número era exageradoem comparação com os efetivos da tropa de cho-gue parda.

Outro brigadeiro também promovido foi Frle.drich Alpers, inspetor geral dos guardas flores-tais. Alguns observadores viram nisso uma ma-nobra no sentido de ligar essa corporação, cheiade elementos hostis ao nazismo, às hordas deHitler.

Outro contemplado com os alamares de chefesupremo de grupo foi Otto Hoffman, comendan-te das S. S. do sudoeste alemão « da provínciaanexada de Lorena, onde os esforços vizando afascisistização semjnre foram infrutíferas.

Hans Juettner, atingido na febre de promoções,era, nas Secções de Asfalto, unia espécie de chefede Estado Maior e sua escolha resulta natural-mente do crescimento rápido desse verdadeiroexército em formação. Ernst Kaltenbrunner, ou-tro general da mesma fornada, substituiu Hey-drich como chefe da Gestapo. Ernst WilhelmBohle, alto funcionário do ministério do exteriore chefe das organizações nazistas do estrangeiro(dirigente das guintas colunas), também foi con-templado. Os restantes são Joachim Eggeling,gauleiler do distrito de Halle-Mcrseburg e mríis osnazistas austríacos August Eigutber, Hugo Jurye Frledrich Rainer, considerados como talentososgauleiters..,

Pode-se destacar ainda entre os novos gene-rais das S. S. Karl Hermann Frank, presumível-mente recompensado por suas atividades terroris-tas na Tchecoslováguia, onde foi auxiliar do"reichprotctor". Outros nomeados não teem ne-nhuma notoriedade política.

Mas de todas essas promoções, incontestavelmen-te a mais importante foi d de von Neurath, guese considera, sem dúvida, o futuro Badoglio ale-mão, gue os nazistas reservam como um trunfotvrra a sua última cartada

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Noticias* 0'auest.a de W»'*e<

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In JSE EU FOSSE

ROCKEFELLERfContinuação da pag. 12)

do Exército Americano feitopara os soldados que vão para aInglaterra.

Já existe, eu sei, um folhetopaia pilotos americanos que en-sina os nomes, em lingua espa-nhola. das diversas partes deum aeroplano; mas, embora issoajude de algum modo a aproxi-mar dos americanos a nossa lin-gua, não tem infelizmente ne-nhum valor além do fim utilitã-rio a que se destina — ajudar osaviadores para que tenham seusaeroplanos reparados e conserva-dos quando estão na América doSul.

Eu faria com que esses turls-tas em "travei dollar" falassemcom pessoas de suas própriasprofissões ou de sua própria ar-te para assegurar-me de queiriam aprender o máximo possi-vel. Mostrar-lhes-ia o que estásendo feito pela juventude nor-te-americana. Depois, procura-ria encorajar organizações seme-lhantes na América do Sul, paraque os turistas norte-americanos,com a mesma facilidade, pudes-sem viajar pelo nosso continen-te e realmente vê-lo e com-preendê-lo.

Se eu fosse Nelson Rockefeller,organizaria também um serviçode intercâmbio e tradução dasmais fundamentais obras de li-teratura, história e cultura dasAméricas, difundindo-as entre osestudantes de cada país. Náo mecontentaria em subsidiar algunseditores para a publicação de li-vros sul-americanos, escolhidosem critério e com os olhos fixosnas suas possibilidades de ven-da nos Estados Unidos.

Adotaria métodos práticos paraa aprendizagem de nossas váriaslínguas, pois nisso está a chavepara conhecimentos de váriasnaturezas. Estabeleceria esco-Ias por toda a América do Sul,com aulas gratuitas de inglês, ecursos suplementares de psicolo-gia e cultura, segundo o ponto devista norte-americano. E pro-curaria fazer o mesmo pelasnossas línguas, a nossa cultura ea nossa psicologia nos Est-adosUnidos.

A palavra "coordenar" nãosignifica certamente "dar or-dens" ou "pôr em ordem a casa dealguém", Significa "agruparpartes separadas", tal como orelojoeiro coordena as peças deum relógio. EIu teria Isso emmente todos os instantes, tirandovantagem de todas as organiza-ções, periódicas ou individuaisque estão lutando contra o Eixo

í|m geral, nós, sul-americanos,desejamos lutar, « estamos lu-tando nesta guerra porque odia-mos o totalitarismo e a escravi-dão; pois sabemos o que é a es-cravidão, tanto econômica comopoliticamente. Muitos dos nos-sos paises estão agora através-sando a fase em que estavam osEstados Unidos entre 1860 e1880. Temos tanto desejo por li-berdade pessoal quanto os nor-te-americanos, e os nossos gran-des líderes e pensadores equipa-ram-se aos norteamerioanos. Enós, que estamos procurando

OS TKAlJU a w^o V ímTIMAS DOS EDI-

TORES(Continuação da páp. 19}

lhes aprouvesse, ainda bem!O diabo, porem, é que os taisse expandem, surgem em to-da parte, como se quisessemmonopolizar até a luz do soLSeu nome tem de aparecer emtudo quanto é brilhante, quercomo colaboradores, quer eo-mo diretores de qualquer cai-sa, ainda que essa direção se-ja a mais precária possivel,pois, conforme se lê na expli-cação do sr. Marques Rebel-Io publicada em DIRETRI-ZES, são os negociantes "di-rigidos" que resolvem a in-clusão das obras na malfada-da coleção, e ao invés de "en-carregar" alguém da revisão.é ele o "encaregado"... e éencarapitados em tais posi-ções que esses senhores seconvencem de que são donosde tudo o que foi escrito noBrasil... inclusive o que foiescrito pelos outros."

Paris que sofre,iutâ e espera

(Continuação da páff. 6)razão, esbarra toda a lei doinvasor. Tudo mais é ape-nas propaganda paga, tudomais é apenas mentira. Com.efeito, odeia-se na França amentira, mais do que nunca.Porque jamais se mentiu tan-to, e jamais, pode-se dizer,mentiu-se de tão alto.

Ouvindo essas noticias, Pa-ris sente-se reconfortado."Frondeur"? Por qne não?Irredutível. Mais do que nun-ca, sob o olhar do inimigo quanão se olha, mas que se ob-serva, que não olha paraninguém, mas que observatudo, e acaba por compreen-der. Resta-lhe sua propagan-da, seus absurdos, suas penasservís, suas publicidades hn-portunas. Tudo em pura per-da. O francês já compreendeuantes que apareçam os arti-gos, antes que sejam fixadosos avisos. São muito cômodos,afinal, o.s tais avisos em carta-zes. Muito cômodos para seescrever neles: "Viva De Gaul-le!" Três palavras que resu-mem tudo, que explicam eprometem tanto!

——. „,.—,., —,, _,.. , 1 ... ^

prosseguir no caminho tradicio-nal deixado por eles, temos umaaspiração em comum com o povonorte-americano, E' uma aspira-ção que liem sempre coincide comas aspirações de nossos governos.Mas é a aspiração das norte-americanas. E. se eu fosse Nel-son Rockefeller. procuraria coor-denar essas duas forças.

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.3 DIRETRIZES ¦*£»

A^--v

Rio-São Paulo..^ POR JURANDIR DOS SANTOS

k LIMA, DIRETOR DE S.A.N.T.A.(Especial paea DIRETRIZES)

A MARCHA silenciosa cio Destino pareço quererenvolver, de tempos a tempos, nas furnas do oi-vido, coisas do Brasil. Os "trinta anos" de es-quecimento dos nos3os primeiros tempos colo-niais já mostraram o fatalismo histórico que nos acom-

panharia através dos séculos...Quando, na ânsia do incognocivel, os homens das"bandeiras" arrebentaram a porta do sertão brasileirocom as suas botas de gigantes, traçaram, intencional-mente, as diretrizes das primeiras vias para dentro doBrasil...

São Paulo foi a terra das "bandeiras". <Os bandeirantes doutrora, devassadores de monta-nhas e florestas, desvendadores de sertões bravios; po-voadores, civilizadores, criadores de vida onde haviaapenas solidão; edificadores de civilização, onde haviasó a hostilidade da natureza espessa -— esperam dosbandeirantes de hoje, seus maiores, e dos homens aos

quais a Providência concedeu a honra de dirigir a mar-cha do progresso rodoviário do Brasil, que não deixemno olvido a necessidade premente, difícil de pròcrasti-nar, para tanta gente ainda inacessivel, mas não paraa inteligência e a razão que pensa e executa, que in-venta e realiza, que domina e produz: — o término daestrada de rodagem Rio-S. Paulo.A estrada existe — dir-se-á. Sim, existe; mas nãocomo uma estrada que liga as duas maiores capitais doPais; duas das mais belas cidades da América do Sul;e e, ao mesmo tempo, fator preponderante de progressoe de civilização e elo articulador de duas grandes popu-lações, entrelaçando outros muitos elos, unindo muitasoutras mais modestas populações.

A Rio-S. Paulo percorre, no Distrito Federal e noEstado do Rio, sobre imenso vale, mais ou menos 68quilômetros, subindo, rapidamente, até alcançar, noKm. 75, a cota de 430 ms., mantendo-se em altitude ele-vada, uma média de 460 ms., até atingir a capital pau-lista, na cota de 796.

Apresenta, assim, na sua topografia variada, pesadoencargo para p transporte coletivo. O desgaste de ma-terial e o consumo de combustível dispensam comenta-nos e, mesmo, não se compreenderia uma exposição mi-nuciosa, nas colunas deste semanário, cujo objetivo pri-mordia! consiste em lutar por um Brasil maior e me-lhor, apontando-lhe, se possível, novas diretrizes.A rodovia Rio-S. Paulo apresenta condições técnicasadmiráveis: largura — 3 ms., rampas máximas — 6%;raio mínimo das curvas: — 50 ms. "As rampas e contra-rampas sao concordadas por arcos de círculos ou de pa-rabolas, de forma a tornar insensíveis, aos veículos asmudanças de gradiente"'.Pavimentada, na sua totalidade, a Rio-S. Paulo, comcs seus 501 kms., líquidos, de percurso, isto é, do Km. 0,largo do Campinho, no Rio de Janeiro, à Penha, na ei-dade de São Paulo, virá a ser, sem dúvida, uma dasmais belas estradas do mundo e um do.s mais úteis fa-tores de civilização entre Rio e São Paulo, abrangendotrês Estados e o Distrito Federal, num total, incluídaa parte citadina de cerca de 550 quilômetros.E' uma grande estrada, no sentido econômico-finan-ceiro; nao pode ser relegada para planos inferiores, nem -

protelada a necessidade imprescindível de sua total pa-vimentação. vNão é necessário encarecer a influência que exercerásobre o progresso brasileiro, uma vasta rede de boas es-tradas; elas marcarão o início de novas eras na históriada nossa civilização, acelerando consideravelmente oritmo do progresso brasileiro.A Rio-São Paulo, no sistema rodoviário nacional jánão é, apenas, o nervo motor; é um símbolo da sua eclo-são. -Por ela hão de correr os fluidos de brasilidade quenutrirão, cada vez mais, o sentimento da unidade na-cional'*.

PAGINA 25

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Conforme fora amplamentedivulgado, realizou-se tia sema-na passada, na Faculdade Na-

4cIonal de Direito, a eleição uni-versai para escolha da primeiradiretoria do novo Centro Acadê-mico Cândido de Oliveira, que.em fase de org-anização, absorveuo Diretório Acadêmico e deverárestituir à Faculdade o seu an-tigo espirito universitário. Ascorrentes democráticas e anti-fascistas da Faculdade, que são,aliás, a quase totalidade dos es-tudantes dali, elegeram a se-guinte chapa: • -Presidente: Ru-bens de 'Sousa; Vice: Niel deAquinas Casses; Secret. Geral:Haroldo Duarte; 1« Secret.: Ro-berto Medeiros; 2* Secret.: Car-los Lopes da Mota; tesoureiro:George Shàlders. A plataformada "Chapa Democrática ' apre-sentou-se ao pleito baseada nospontos que se .seguem: Vitóriadas Democracias — Intransigên-cia com a 5" Coluna — Universi-tários unidos — IntensificaçãoCultural è Apoio da Classe.CONGRESSOS ESTADUAIS DE

ESTUDANTESAnualmente após a realize.ção.

nesta capital, do Conselho Na-cional de Estudantes, a.s UniõesEstaduais em seus respectivosEstados, fazem realiaar os con-claves estaduais da classe. Este

ano ja vão bem adiantados ospreparativos para a realização,em outubro próximo, de Congres-sos Estaduais nos seguintes Es-tados: Rio Grande do Sul. MinasGerais, Baía, Pará. Estado doRio. Paraná e Ceará. Os Con-gressos Estaduais teem a seucargo a eleição da nova diretoriapara a UEE e a ratificação dasresoluções tomadas pelos Conse-lhos Nacionais de Estudantes,ORGANIZAÇÃO DOS ESTU-

DANTES SECUNDÁRIOSQuando foi fundada entre nós,

há poucos dias, a Associação dosEstudantes Secundários do Dis-trito Federal, era comum ouvir-se alguns comentários meio céti-cos acerca da capacidade de or-ganização dos estudantes das es-colas secundarias. Para esses cé-ticos seria suficiente tomar co-nhecimento da existência de duasgrandes organizações de estudan-tes ginasianos que, em seus res-pectivos Estados. formam navanguarda de todos os movimen-tos cívicos anti-fascistas e repre-sentam dignamente a classe se-cundária. Queremos nos referirà Associação Pré-UniversitariaAlagoana e à Associação dos Es-tudantes Secundários da Eata,duas entidades cujas eficiênciae segura orientação não deixamdúvidas quanto, à capacidade deorganização dos estudantes gina-

sianes. Assim, devem os jovensescolares do Distrito Federal em-penhar-se decisivamente nos tra-balhos de sua novel entidade»afim de que. dentro em pouco,possa ela, como suas co-irmãs doNordeste apresentar a tedos umabeia folha de serviços prestadosà classe e à Pátria."GUERRA E RELAÇÕES DE

RAÇA"Em edição do Departamento

Editorial da UNE, foi distribuídoa todas as livrarias o último li-vro do prof. Artur Ramos, intí-tulado "Guerra e relações deraça". Incluindo em seu textoalguns artigosDEPARTAMENTO UNIVERSI-

TARIO PAULISTA DA S.A. A.Foi fundado em São Paulo,

com o apoio de todos os centrose uirevOj-iQs acadêmicos, o De-partamento Universitário Paulis-ta da Sociedade Amigos da Ame-rica, a cuja frente, como seu pre-sidente, encontra-se o acadêmicoGerminal Feijó. Os acadêmicosde São Faulo. unindo-se assimnum grande movimento cujas fi-nalidades são as mais justas, dãouma bela demonstração de pan-americanismo e filiam-se, de ma-n?ira organizada, n?s fileiras desque combatem, no Brasil, ativa-mente, o nazismo c o fascismo.

PÁGINA 26 DIRETRIZES

DÍRETRIZES, em seu número

de 36 do^-mès" passado, pu-bllcou no -Arquivo", queé, como o nome indica, uma co-iuna onde aparecem coisas ve-lhas, um pequeno trecho de umestudo ou artigo do sr. Luiz Au-gu.sto do Rego Monteiro, dtrè-tor geral do Departamento Na-cional do Trabalho sobre Mus-solini, o Estado fascista e o cor-porativwmo.

O artigo do sr. Rego Monteiro,sob o título "Em defesa do di-reito de Associação'., fora publi-cado no "Boletim do Ministériodo Trabalho, Indústria e Comer-cio, páginas 167-8, em junho de1938. Mas, com surpresa nossa,o autor náo gostou da lembrançado rsdator daquela tã0 apreciadaj»ecão de DIRETRIZES, e nosenviou uma carta bastante eru-dita e bem maior do que o tre-cho transcrito e, mesmo, do quetodo o "Arquivo".

Não atinamos até agora coma razão do desgosto do sr. LuizAugusto Rego Monteiro. O fas-cismo entusiasmou de tal formao diretor geral do DepartamentoNacional do Trabalho que cie oconsidera obra de um gênio (a"genialidade de Mussolini"), e aobra de um gênio aceita-se e nãose discute... Afinal, não que-remos retardar ao leitor o pia-eer da leitura da carta do sr.Rego Monteiro. Ei-la:

•-Ministério do Trabalho, In-dústria e Comércio — Departa-mento Nacional do Trabalho.

Rio de Janeiro, SI de agostode 1943.

Ao 1'mo. Senhor Samuel Wai-ner, DD, Diretor de "Dirctri?ses".Rua 1." de Março, 7 - 8,u. — Riode Janeiro.

Senhor Diretor:A lealdade cultural e democrá-

tica que essa revista, com tão

(AIM V 1H>$ LKITOKK0 "Arquivo", o Sr. Rego Monteiro e o fascismo

justa ênfase, propugna teria sidoplenamente atingida se, a suaedição de 26 do corrente, quehoje me veio ás mãos. em vesde destacar no "Arquivo" umtrecho isolado do contexto de umestudo que publiquei no Boletimdo Ministério do Trabalho emseus números 46, 47 e 48, duran-te o ano de 1938, tivesse dadoampla divulgação à tose nessemesmo estudo ->or mim explana-da e documentada cosa o mái.sassinalado espirito democrático,"em defesa do direito de asso-ciaçáo".

Nesse ensaio, quando náo .se fl-xará ainda a formula razoávele origina Ido nosso rergime sindi-cal e alguns pretendiam; semmaior exame, copiar o modelofascista, eu me opunha decidi-damente ã transplantarão desseregime exótico cujos sucessos naItália, quando o seu criador ain-da não consumara a sua traiçãoao gênio latino, não justificavam,entretanto, o dèscohhcéimehtodas nossas peculiaridades sociaise a rutura com as nossas tradi-ções

' democrá'icas, preservadas

pelo benemérito Presidente Var-gas.

A simples e fiel leitura daque-le meu ensaio, demonstrara comorejeitei a importação do fascis-mo. Esclarecerá como distinguio sindica'ismo c o corporativLs-mo — que são formas jurídicaspuras de estruturação social —do fascismo que era apenas umepisódio político monppartidàrioe um corporativismo imperfeito,salientando, oirtrossim, à ."super-íicutlidade de observação'- dos

que confundiam o "corporativis-mo" com o "fascismo", pois,conforme advertência de umcor por a ti vista e antifascista,"seule 1'ignorance de ce qu'est leregime corporatif, 1'ordre deslibertes corporatifs permet deparler des " corporations italien-nes'' — Georges Viançe — Li-bertés Corporativas et Unité Na-tionale — pág. 179 —¦ (Boletimdo M. TI. C. n. 46. pág. 166).

Defendendo o regime sindicale tentando esboçar uma análiseda Constituição de 10 de novvem-bro, recém promu gada Ct até en-tão náo interpretada, invoqueicritérios, fundamentos e concei-tos de índole democrática, comtanto maior sinceridade quantonaquela época náo contavam taL>razoes com o favor que hoje assagrariam.

Citando e comentando lavora-velmente autores como CariesMaxímiliano, Viance. Briefs, Bre-the de Ia Gressaye, Tristão detaide e Rogsr Bonnard. rcóu-tadas pensadores, sociólogas ejuristas insuspeitos do fascismoe mesmo alguns deles seus adver-sáiios declarados, preconizei umasolução extremada monte demo-crática. como se poderá apreciarna conclusão do mesmo estudo.constante do Bólèttim ri. 48, págs.127 a 144.

E' simplesmente lamentávelque tal estudo, meditado e seria-mente elaborado, viesse a ser ex-posto, em uma revista da réápóh-sabilidade intelectual de "Dire-trizes", à deformação do inadver-tidp comentário a qúé me referide inicio, com uma violação da

regra universal da hermenêuticae da sinceridade de citação: "In-civile est, nisi Lota lege persppcta,una aliqua partícula ejus mo-pósita, judicare, vel respondere";regra que, da hermenêutica júri-dica, se transpõe, com racionalevidência, a quaquer plano dacrítica literária ou de doutrina.

Enaltecendo, finalmente, comofiz, naquele meu estudo (.Boletimdo M. T. I. C. n. 48) a éricíciíca"Quadragésimo Ano" do imortalPio XI, a cujas amplas perspecti-vas sociais manifestei as liome-nagen.s maiores de minha admi-ração, assinalava eu, bem claro,uma atitude espiritual incon-fundivel e que corresponde ácoerente e continua vocação cria-tá da minha vida. baseada assimem uma concepção filosóficacujas emanações políticas tempor legenda as máximas da ver-dadeira democracia: — o respei-to à dignidade da pessoa huma-na e o idéa! da jusçiat.

Aguardando a publicação des-ta e confiante na reconsideraçãodo injustificado comentário, subs-crevo-me, atenciosamente,

ia» Luiz Augusto d» Rc;rt> *H«n-teiro, Diretor Geral.

O ".Arquivo" que provocou acarta do sr. Rego Monteiro e oseguinte:

193K

JUNHO

O sr. Luiz Augusto do RegoMonteiro está encantado com aItália. Aquüó é que é ordem,aquilo é que e regime político.

No número 46 do Bolefcitm do Mi-nisterio do Trabalho. Industria eComércio ele publicou um longoartigo, cheio de citações em ita-liano, onde da largas expansõesao sou encantamento. Ura pe-queno trecho do arf.gp e eae.quo diz muito ei»ã poucas linhas"O qua í* íneunu-.siavel e m-j-roce ser süb inhado é que na Itá-lia o primado do político sobreo econômico eleva-se a um pon-to tão alto de não podermos fa-lar em "função corporativa" naestrutura fascista. A idéia la-ciímerite divulgada e geralméusoíadmitida de que o regime poliu-co italiano é o corporativismo,apenas traduz uma superficial'.-dade de observação. A Itáliaatravessa, na verdade, um c-to ohistórico, impulsionado pela ge-n ia lidade de Musa «'ni, sinto-seadmirável das emoções secular os,e do heroísmo épico da alma la-tina. Em face do grande "Du-ce" rende-se toda a grande ps-trutura do Estado romano, pararefulgir somente o espetáculoimponente do Ccsarismo redivivo.Possuidor de uma verdadeiradoutrina política, Mussolini atuaas suas idéias ;>or meio das seuscompanheiros que constitue o"Gran Consiglio do! Fascismo''sob a sua própria presidência. 9este é o verdadeiro e único poderpolítico na Italia. O traço cor-porativista náo pode consequeu-temente constituir o título cá-racteristico da formação social daItália nova; antes e acima detodos os índices .secundários, oEstado italiano é "fascistat".

No mesmo artigo; o autor cha-ma Mthail Manoilesço do "nota-vel".

It"'Em defesa do direito de A.s-

sóciáção'*, Luiz do Rego .Montei-ro. Boletim do Ministério do Tra-balho. Indústria e Comercio,págs. 167-3).

(Continuação da pág. 5tde Vila Rica, era sede do Parlamentomineiro, reunindo por isso as mais ex-pressivas figuras de Minas como Afon-so Pena, Afonso Arinos, João Pinhei-ro, Bias Fortes, Cesario Alvim, DavidCa-mpista, Silviano Brandão, Camilode Brito, Gama Ccrqueira e outros.Teófilo Ribeiro participou da funda-ção da Faculdade de Direito cm 1892,foi seu professor durante muitos anos,lecionando as matérias economia poli-tica, hermenêutica jurídica e práticaíorense, história do direito nacional.Assistiu à luta dos ouropretanos con-tra a mudança da capital de Minaspara o despovoado Curral dei Rei.Veiu com a comitiva para Belo Ho-rizonte, acompanhou os seus primeirospassos e hoje aos cem anos contemplaa cidade que viu nascer, crescer. Teó-filo fala de Belo Horizonte com umcarinho de pai adotivo, acariciando oscabelos cacheados do menino adotado.A cidade não tem segredos para cie,conhece a sua história como o AbilioBarreto, envelheceu à sombra amigadas grandes árvores, pbou a sua terravermelha, presenciou a marcha doprogresso, representada pelo macadam« pslas picaretas.

A PAIXÃO PELA INDUSTRIAApesar de professor de Direito, di-

retor da revista jurídica "O Fórum".uma das primeiras do pais, funciona-rio público, Teófilo Ribeiro alimentavauma paixão irrefreável pela industriae comercio. Foi o introdutor da pri-meira máquina de torrefaeão de caféem Minas. Sua casa — ainda hoje nomesmo local — era o centro irradiadorde suas atividades — escritório de ad-vocácia, redação de "O Fórum", tipo-grafia, ponto comercial da máquinade torrar café, o laboratório de estu-dos das fibras vegetais. ¦ E' com sàú-dade que ele confessa:

— Muitos dos meus empreendimen-tos industriais não vingaram por íal-ta de apoio. A industrialização das fi-bras vegetais, tão em moda nos diasque passam, foi objeto de várias ini-ciativas e projetos de minha autoria.Para aperfeiçoar-me no estudo dequestões agrícolas realizei, no governodo sr. Francisco Sales, uma longaviagem pela Europa. Estados Unidos,México, visitando os principais cam-pos agrícolas experimentais. Na In-glaterra, importantes industriais se in-teressaram pela compra de nossas fi-bras vegetais, principalmente das pi-teiras que eu cultivava em grande es-cala, tendo plantado uns cem mil pésonde hoje é o bairro de Lourdes.

Delicadamente, o lúcido ancião 3a-menta a indiferença do.s estadistas daépoca pelr: suas iniciativas. Era as-sim.... Foi :-¦ oaixão pela industria queo levou a Lindar a /^socifçr.3 Oo -mércial de Mina.?, tendo sido o seuprimeiro presidente. Ainda há poucoTeófilo Ribeiro recebeu uma grandehomenagem dos .seus colegas. Ja com

"VIVI CEM ANOS'PARA ASSIS-TIR AO FIM DO BARBARISMO"os seus 99 agostos, ele pôde pronun-ciar um discurso que revela a inte-gridade mental, a vibração do espi-rito.

O entrevistado nos leva para umcanto do seu escritório. Da estantecheia de livras de Shakespeare, Char-les Dickens, os volumes da Enciciopé-dia Britânica, a coleção da "NationalGeography Magazine", livros de Direi-to. retira um volume encadernado, de-nunciando a visita noturna das tra-ças, e diz — "Neste volume reuni asminhas observações das viagens deestudos que fiz à Europa e â Américado Norte. Chama-se a "A agriculturano estrangeiro" e a sua terceira edi-ção acha-se esgotada.À VIDA NAO COMEÇA AOS QÜA-

RENTA.. .Entramos a fazer perguntas. Al-

teiamos a voz para que ele escutassemelhor. Falamos -sobre a vida, sobrea sua longevidade. Diz não ter se-gredos. que nunca levou vida asceta,pelo contrário gosta de uma boa mesa,

de vinho velho <de um bom "Wi.skey"tambe-m; é claro), fumava ate aos 97anos quando o seu médico recomen-dou-lhe o abandono do cachimbo quetrouxera da Inglaterra. Comenta o li-vio que lhe deram — "A vida começaaos quarenta — ..." Não gostou dolivro, achou interessante apenas o ti-tulo. A vida, rapaz, começa em qual-quer idade.

E' O MESMO MILITARISMOPRUSSIANO

Viveu vários períodos de guerra —a guerra do Paraguai, a guerra franco-prusianã de 1870, a grande guerra de14. Sua eloqüência se manifesta nacrítica ao militarismo prussiano hojerevivido pelo nazismo. Dá aos chefesdo nazismo o nome que eles merecem— capangas.

— Esta guerra é ainda conscquèn-cia do espírito prussiano. O regimede dignidade humana só é possivel noambiente de respeito ao direito alheio,no clima de inteira liberdade de pen-samento, na elevação do nivel de vida

FAÇA A SUA PERGUNTA(ConMnuaçJlo da pág. 17)

cação dos livros a que alude Brevemente sairá a nova edição de "Sobrados eMucambos". Daremos no próximo número informações detalhadas a respeitodo lançamento dos importantes livros de que fala.

(í. C. M. — Belo Hori/.onte — Temos publicado poemas em nosso suple-mento. Vamos estudar a sua sugestão sobre os Poemas ingleses de Guerra.Quanto â .tendência dos dois escritores de que fala temos a considerar que seacham aporá contra o fascismo. O poeta pode apresentar-se com uma tendeu-cia irresistível e de fazer bons poemas. O sociólogo não é de. tendência sócia-lista, no melhor sentido desta palavra. Acredita-se que Malraux se encontrana Europa. Quanto aos guerrilheiros eslavos podemos informar que Mikailovichapresenta as aspirações verdadeiramente populares de sua pátria. Tem ha-vido sérias denúncias contra ele. Talvez agora emende a mão.

Vic Ia) — A questão do divórcio, no Brasil, ainda não tem "situação";;anda precisamente à procura de uma. 4 aprovação a que se retere, no Ins ti-luto dos Advogados, não quer significar que o divórcio seja cogitação dos po-deres oficiais;

.*?-*) — Os próprios-termos* de sna pergunta conduziriam a uma conclu-são: por não ser civilizado. Um pouquinho forte, não?

3a) — Questão de oportunidade, apenas, Claro que somos pelo divórcio.

F. D. — Recife — Rubem Braga está escrevendo raras crônicas no "Diá-rio Carioca". Circunstâncias da época impedem que o cronista esteja á vontade.

P. Poli. Belo Horizonte — Não existe nas livrarias o livro de que fala.Rodo já foi. muito lido e pensamos que atualmente nüo seja muito procurado.João Pinto da Silva escreveu uni ensaio sobre o autor de "Motivos de Proteu".Aceitamos com muito prazer a sua sugestão para a criação de unia secçãode sociologia,

psda assistência à prole do; menos fa-vorecidos pela fortuna. O nazismo ten-lou roubar aquilo que nos caracteriza,que nos distingue cias demais espéciesanimais — a liberdade conciênte, in-tangível. Eduquei-me no amor á li-berdade e por isso não compreendo,não me sinto bem quando .-e extin-guem as liberdades públicas. Mas asNações Unidas restaurarão no mundoa ordem inspirada na liberdade, nadecência, na paz serena da comuni-dade internacional."

Acredita confiante na vitória dospovos que combatem os fasei. tes.

COMO COMPREENDE A UNIÃONACIONAL

A experiência o capacita para afirma-ções que se coadunam com o chania.ee»bom senso—não este bom tenso acaeianoamontoado de atitudes circunspectasde novos "paehecos". Relembra a ati-tude do Bra.il na outra guerra quan-do a máquina bélica não se revestiada perfeição aluai. Os inimigos vie-rum com o auxilio de uma poderosaorganizaão de espionagem e terped a-ram os nossos navios em nossas águasterritoriais.

No governo Wenceslau Braz. in-forma o professor Teófilo Ribeiro, asoposições colaboraram diretamentecom o governo no esforço de guerra.

Reafirmando a sua disposição nocombate ao prusianismo que desen-cadeou guerras na Europa, o vene-fando ancião fala íobre as vantagensde uma união nacional 'sincera comreciprocidade de tolerância, renúnciaçté arribas as partes, isto é. o governoe os elementos que se achavam afãs-tados do movimento político.A FORTUNA NAS MÃOS DE MUITOS

Seus olhos vivos pareciam mergulha-das nas distâncias do futuro, quandonos afirma:

— Pressinto que há qualquer coisade novo para estabelecer a concórdiauniversal, baseada na aproximação dásclasses sociais; A paz fera uma con-quista do povo compreendida nó .seusentido social, aglomerado de todasas classes A. fortuna não será privile-gio cie poucos, mas deverá se e tendera muitos.

Antes de encerrar as Suas declara-çõcc. o professor Teófilo Ribeiro, es-quecendo os seus cem anos; manifes-teu o desejo de vir para a praça pú-blica, participar da luta que os estu-dantes e os operários movem ao na-zismo. Como supre-ma esperança dasua velhice abençoada, quer apenas tera certeza de que deixou o mundo me-lhor para os seus descendentes e «quea liberdade seja ainda força vida dasgerações que os sucederem.

D?ixou-o sorrindo, olhando

O T. Niterói — Nice é como jtrijga. Poww?as veaes oota-bora nesta revista

D F. — São Paulo — Vehamos muito oportuno, ma verdade, a reedide "Cí»iento", um dos maiores romances que fixam unia grande época,

9/9/1943 DIIÍETRIZES PAGINA 27

|mj - jl ® ias(Continuação da pág. 21)

volume da série "Nosso Era-sil", destinado aos escolaresbrasileiros. A homenagemconstou de um almoço no Au-tomovel Clube ao qual compa-receram numerosos intele-ctuais, professores e jornaiLs-tas.

*"À Comédia Humana", deWilliam Saroyan, acaba desair numa edição da Epasa.Trata-se de um dos mais be-los romances destes últimostempos.

+"OESTE PAULISTA" — A.Tavares de Ahneida — Eisuma obra que se incorporaaos melhores trabalhos guetemos lido em 7natéria de pes-quisas, que se podem consti-tuir co77io tons elementos so-ciológicos sobre mna vasta re-fíião da terra paulista. O sr.A. Tavares de Ahneida esta-helece no seu livro experiên-cias sobre a etnografia e acultura do oeste de São Panlo,mas denota imediatamenteum critério cientifico honestona interpretarüo dos fatoresque ele reúne para a sua jus-ta e conciente exposição. Oautor esboça os prirteípios deuma defesa agrária organiza-da sem o que "não è possívelpensar cm 'grandeza do Brasileffelicidade de seu povo". Pro-Irlemas do latifímdio, do custodas terras, da adaptação dasetnias, as assimilações politi-cas e a questão japonesa emSão Paulo, são capítulos ondeo autor revela 7ião só o seuco7ihecÍ77iento marcadamenteobjetivo. co77io mna firme evigorosa mentalidade a servi-ço dos direitos ainda não con-veniente7ne7ite estudados dostrabaltuidores rurais de SãoPaulo.

*"OLHO DÁGUA" — JoãoAcioh _.2a edição — De novoa poesia. Mas a poesia cie JoãoAcioli está sempre procurandoa terra, os tipos, as cenas. E'uma poesia que anda, percor-re as paisagens humanas '..-omo ritmo que lhe dá o movi-mento da própria vida. O au-tor, há tempos, nos deu "BarroPreto", um romance. A fideli-dade da fixação dos costumesda terra goiana, vale, nessaobra, como uma afirmação dointeresse que desperta no au-tor as cenas cruas da reali-dade. Sua poesia, pois, aindaque rica de sensibilidade, nãose divorcia das coisas objeti-vas onde o poeta encontra re-cursos para vestir a sua ima-ginação. E/ uma voz que sealteia do roração das selvas,

PÂRÀ DEPD15--." y\ D o;BA MO

BEBÊ

das cidades, dos campos. Umavoz "que se embriaga cadavez mais

na poesia morenada terra!"

+Nossa sucursal em S. Paulo

recebeu e agradece: "EmGuarda", revista para o Bra-sil sobre a guerra; "Revistado Globo", semanário do RioGrande do Sul, que se apre-senta com magnífica orienta-ção, tanto na parte gráficacomo rcdacional; "S. Paulo''boletim do I). E. I. P.; "Brasi-lidade", revista da cidade deSantos, que se vem firmandocada vez mais, na sua novafase, e Folha do Povo", diáriode Bauru.

PUBLICAÇÕES"BRAZIL IN THE MAKING"

WASHINGTON — agosto —(Inter-Americana) — O servi-ço de referências da Bibliotecado Congresso, desta capital,publica a seguinte informaçãocrítica sobre o livro "Brazii inthe making", de autoria docônsul José Joblm:"O livro é dividido em qua-tro partes. A primeira consistenuma introdução que trata dorecente desenvolvimento eco-nômico do Brasil; a .segundaexamina os desenvolvimentosda indústria e do comércio; aterceira passa em revista asprincipais indústrias manufa-tureiras; e a quarta parte, es-crita depois de completado orestante do livro, descreve oBrasil em guerra.

O autor declara que o livroé uma tentativa para esclare-cer os principais aspectos daindústria brasileira, que já seergueu a um alto nivel. Em-bora faltem dadas exatamenteprecisos sobre a produção —escreve ele — as cifras estatís-ticas do comércio exterior bra-sileiro supriram grande partedessa deficiência A economiado Brasil está sé adaptandoinegavelmente com extraordi-nária rapidez às novas condi-ções criadas pela guerra Essaadaptação teria sem dúvidaencontrado numerosas dificul-dades, se o país não houvesseadotado nos anos seguintes a1930 uma política no sentidode atingir a uma forte posiçãpde auto-suficiència em muitosprodutos essenciais."

Entre as indústrias manufa-tureiras estudadas estão as degêneros alimentícios, fiação etecidos, couro, ferro e aço, ma-quinaria, vidro e cerâmicas,produtos químicos, matériasplásticas, papel, produtos demadeira e fumo. O autor fazum estudo detalhado de cadauma delas, com dados estatís-ticos sobre a produção e a ex-portação, tirando as conclu-soes necessárias.

O último capitulo, intitulado"O Brasil em guerra", apresen-ta um quadro dos atuais pro-blemas brasileiros. Como a In-glaterra. a França e os Esta-dos Unidos, o Brasil teve quemobilizar a sua economia de-pois que entrou na guerra. Osr. José Jobim escreve: "Aguerra revelou uma vez por to-das que um dos principaisproblemas do Brasil consistena falta de transportes devidaà nossa deficiência na indús-tria de combustíveis. O proble-

ma do combustível deve seratacado o mais cedo possível.O Brasil sofre no momento afalta de quatro coisas: metais,produtos químicos, combu.sti-vel e transportes. Seus abun-• dantes recursos minerais oabastecerão de metais, desdeque ele possa conseguir o equi-pamento para produzi-los Comos metais, o Brasil resolverásozinho — pelo menos presen-temente — os outros três pro-blemas Se dispuser da maqui-naria necessária à produção,o Brasi apodera colocar seusilimitados recursos na primei-ra linha da grande batalha daprodução. Isto representará oalinhamento econômico, sub-sequente ao politico, dos doismaiores paises do HemisférioOcidental."OLIVER WENDELL HOLMES

BOSTON (Massachussetts)—Agosto — (Iníer-Américana)— Na época em que floresciaa arte da conversação na re-gião dos Estados Unidos co-nhecida como Nova Inglaterra,quando os Liceus estavam noseu apogeu e se cultivava ohabito cias conferências, quan-do os jantares do SaturdayClub, composto pelos mais in-teligentes conversadores do sé-cuio XIX, se convertiam numatradição de Boston, havia umafigura que se destacava sobretodas as demais — era OliverWendell Jlolmes.

Holmes encontrava o maiorprazer de sua vida nas con-versas brilhantes e espiriíuo-Sas. A animação de uma boapalestra o despertava. Ele eraa delícia de muitos salões deBoston do século dezenove."Não, James", costumava eledizer a seu amigo James Rus-sell Lowell, "deixe-me falarsem me interromper". F. nâohavia ninguém que o acjisassede megalomania.

Nascido cm Cambridge, Mas-sachussetts, a 2f) de. a^o^tn de1809, Holmes pertencia "à cas-ta des Brahmane? de New En-gland". um famoso grupo deintelectuais. Formou-se pelauniversidade de Harvard, na"famosa classe de 1829". assimchamada porque produziu nu-morosos homens famosos

Depois de estudar direitodurante dois anos, Holmestransferiu-se para o curso demedicina, estudando dois anoscm Paris, e regressando depoisa Boston cheio de ambiçãoprofissional. Embora obtivesseapenas um sucesso moderadona clínica geral, tudo que es-creveu reflete seu espírito ar-guto e inteligente. Algumas desuas mais notáveis e inteli-gentes observações se encon-tram no seu volume de ensaiosmédicos. Neles descobriu ver-dades revolucionárias e fezsugestões que deixou aos mé-dicos mais pacientes o encar-go de levar às últimas conse-quências.

Como professor de anatomiae fisiologia. primeiro em üart-mouth, depois em Harvard,obteve significativos êxitos.Suas aulas eram vivas e cheiasde espírito.

Oliver Holmes foi ao mesmotempo médico, poeta e ensals-ta. Em 1830. escreveu "OldIronsfides", seu mais famosopoema. Foi .escrito de um sójato numa tira de papel, torodepois de ele saber q,,f" a fra-

Este livro, que é a mais completa e atual biogralia do chefecio povo russo, contem, como Apêndice, os textos completos dasnovas Constituições do Brasil e da URSS. Nas LivrariasCr$ 25,00 — Pelo Reembolso, Cr$ 26.00 — Editorial CalvihoLimitada — Caixa Postal, 1889 — Rio

gata "Constitution" ("Oldlronsides") tinha sido des-truida, e despertou o senti-mento patriótico de salvar onavio que tinha sido lança-do em 1797 para a posterida-de-. .

Em 1856, Holmes associou-sea James Russell Lowell paraeditar um magazine que rece-beu o nome de "Atlantic Mon-thly". No primeiro volumedessa revista apareceu a sériede escritos "O autocrata damesa de jantar".

O esplêndido êxito de "Oautocrata" inspirou trabalhossimilares, como "O Poeta" e o"Professor da mesa de jantar".Nesses livros Holmes escreveutal como costumava falar nossalões em que era recebido,embora talvez nem sempre tãobem. Muitos de seus poemasnos três volumes referidos con-q u i s t a ram admiradores emtodo o mundo.

Holmes escrevia poesias aintervalos mais ou menos re-gulares. Alem disso, escreveutambem três novelas. Seu es-tilo em prosa é admirável, ca-racterizando-se por uni perfei-to senso do valor das palavrase sua propriedade para a ex-pressão de um sentimento de-sejado.

Oliver Wendell Holmes ca-sou-se em 1840 e teve dessaunião três filhos. Esteve pos-teriormente na Inglaterra, on-de recebeu o título de doutor"honoris causa" pelas Univer-sidades de Cambridge, Edin-burgh e Oxford. Uma observa-ção tipicamente humorísticade sua viagem foi a que ele

fez a respeito do rei WiliiamIV: "O rei assooü o nariz duasvezes, e limpou o suor rea.!repetidamente de uma face..."

que é provavelmente a maiorregião ^civilizada da Ingla-.itterra".

A 7 de outubro tie 1874, mor-ria o "autocrata da mesa dejantar". Holmes foi sepultadona King's Chapei, de Boston,onde hoje se lê o seguinte epi-táf io:

"Em suas palestras *> em seusescritos revelou aguda visão,espírito, devoção à verdade,amor ao lar, aos amigos, à pá-tria e uma sã filosofia. Univerdadeiro filho da Nova In-glaterra, seus trabalhos decla-ram o lugar de seu nascinten-to e a época em que viveu, massua influência transcende demuito esses limites.**

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Tòpkos de "Diretrizes"(Continuação da pág. 8)

pre está pronto a lutar, qualquer que sejao sacrificio exigido. E' que ele sente, elesabe que defende coisas muito sérias: olugar onde viver e uma forma de viver.£ isto é defender a própria vida. Eis porque o homem brasileiro não fracassou. Aoapelo das armas, ele compareceu aos quar-téis. E em número tão grande que so-brou.

Esta constatação é feita, quando na Eu-ropa inicia-se a invasão continental. Asprimeiras tropas aliadas já deram o saltovitorioso sobre a Itália. Em breve, ou-tros pontos do continente serão atingidos.E' a segunda-frente em sua evolução irre-sistivel, Ai o homem brasileiro terá de

estar presente, pois o nosso objetivo supre,mo. como disse o presidente, "é ajudar aganhar a guerra e colocar o Brasil em po-sição de colaborar com aa nações vitorio-sas no restabelecimento da paz'. E ven-cer, portanto

REMUNERAÇÃO EVIDA CARA

A guerra tornou as condições de vidada população trabalhadora e das classesmédias verdadeiramente insuportáveis. AoMinistério do Trabalho teem chegado mui-tas representações áe sindicatos operáriossolicitando medidas no sentido da melho-ria dos salários tendo em conta a altavertiginosa do custo da vida. O DA SPa»da às voltas com apelos de setores di-ferente* do fonctonalfemo «om o mesmo

objetivo. As queixas contra » exploração,» a ganância ecoam pêlo país. A imioriada nação soíre as conseqüências da in-fiação e dos transtornos ocasionados pelaguerra, enquanto uma minoria de '"pro-fíteurs" enriquece ás custas desses mesmossacrifícios e de circunstâncias para elesfavoráveis decorrentes da guerra. Os lu-«ros de guerra constituem, em suma, ma-teria para livros e panfletos interessantis-simos.

O presidente Getulio Vargas em seu dis-curso do dia 7. entretanto, acentuou o se-guinte: — "O Poder Publico. al?m das im.penosas questões atinentes à defesa na-cional, precisa atender às exigências dohtsxn estar popular e da ordem interna.Tomba ter e encarec intento da vida, me-lhorar a remuneração do funcionalismo eêms taafealhaáores no comércio c na indús.

tria, retirar o maior proveito possível dostransportes, evitar o açambarcamento eas explorações dos aproveitadores, essas emuitas tarefas constituem programa deação imediata e enérgica".Quem esteve no estádio do Vasco da

Gama viu como dezenas de milhares depessoas ali presentes receberam tais pala-vras, São esses os problemas do povo, dasgrandes massas, e elas para a defesa e asolução dos mesmos dão ao presidente todoo apoio. Se precisamos "produzir mais emais. nas fábricas e na lavoura, afim determos quanto baste ao suprimento crês-cente das necessidades de guerra" é ne-cessário que os que trabalham disponhamde meios vitais, dos meios de subsistênciaque a crise atual reduziu de forma pro-funda e dramática. E é isto o que • pre-sidente promete.

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