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Chuteiras Fora de Foco, uma experiência pioneira no cursode Comunicação Social, Jornalismo em Multimeios do DCHII|
UNEB
Céres Santos1
RESUMO
A execução do Projeto Chuteiras Fora de Foco e seusresultados, trás para o debate, não apenas a importância eausência do Jornalismo Esportivo do currículo do curso deComunicação Social, Jornalismo em Multmeios\UNEB,mastambém, a necessidade que os\as discentes têm em praticar,em vivenciar o cotidiano do fazer jornalismo. Nessesentido, este artigo relata a experiência dessa iniciativa,voltada para a cobertura dos jogos da Copa dasConfederações\2013, realizados em Salvador\BA e,principalmente, reflexão dos impactos provocados por megaeventos, desnudando, visibilizando a realidade daspopulações que vivem na capital baiana. Também refletesobre os legados sociais desses eventos e os resultados doprojeto.
PALAVRAS-CHAVE – Copa das Confederações, impactos, legadossociais.
1. APRESENTAÇÃO
Ao elaborar o Projeto Chuteiras Fora de Foco, minha
preocupação principal não foi, apenas, pensar na
contribuição da iniciativa para a formação dos\as
estudantes do curso de Comunicação Social, Jornalismo em
1
Multimeios\UNEB em Jornalismo Esportivo. Eu sabia da
carência dessa disciplina na grade curricular, mas o que,
de fato, me seduzia era pensar na possibilidade de
capacitar um grupo de estudantes para a cobertura dos jogos
da Copa das Confederações, em junho de 2013 em Salvador\BA,
mas desfocar os holofotes do campo da Arena da Fonte Nova e
movimentá-lo para a população soteropolitana e, assim,
poder refletir sobre os impactos dos mega eventos na
sociedade, saber suas reações favoráveis ou não,
identificar ou não processos de exclusão.
Era para esse lugar, o da ação humana, ou produção de
‘matérias de ambiente’, motivadas pela Copa das
Confederações, que imaginei poder interferir, mais
intensamente, na formação dos\as estudantes tensionando e
aproximando. pelo menos, quatro áreas: informação,
comunicação, conhecimento e análise crítica de contextos
(MEDIAÇÕES). Tudo isso, associado à prática das rotinas
produtivas, como produção de pauta, definição de fontes,
enfoque da matéria, foto, redação, revisão, edição,
titulação e postagem. Esses foram os componentes que
poderiam levar o grupo a realizar o gol, ou chutar na trave
Em síntese, o Projeto Chuteiras Fora de Foco previu a
formação de 12 estudantes de jornalismo a partir de uma
carga horária de 190 horas\aula, nas seguintes áreas:
jornalismo esportivo, fotográfico, uso de equipamentos
(câmeras fotográfico e vídeo), produção de texto para
rádio, TV e jornal de matérias esportivas e de ambiente. Na
carga horária já estavam incluídas atividades de campo,
como cobertura de jogos realizados em Juazeiro\BA e
Petrolina\PE. A proposta culminou com a ida da equipe para
Salvador, de 16 a 21 de junho, acompanhada pela coordenação
do projetoi.
O projeto foi executado de novembro de 2012 a agosto de
2013, e desde os seus primeiros dias foi envolto a muitos
problemas e inseguranças que, em vários momentos,
interferiram na motivação da equipe: Chuteiras Fora de Foco
foi um dos 14 projetos aprovados em Edital, Legados da
Copa, financiado pela SECOPA (Secretaria Estadual para
Assuntos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014) em parceira
com a UNEB, através da PROEX (Pró-reitoria de Extensão).
Orçado em R$ 50 mil o projeto, ainda hoje a divida prevista
com pagamentos de professore\as e coordenação não foi
saldada. E a viagem programada para as cidades do Rio de
Janeiro e Salvador teve que ser limitada a capital baiana.
E o pior: a sua confirmação só ocorreu quatro dias antes da
partida.
Se não bastasse, tive que me deBater com persistentes
barreiras, que não consegui reverter, a negação da FIFA em
credenciar o grupo. Mesmo que no final da viagem, o grupo
tenha assistido a todas as três partidas da Copa das
Confederações realizadas em Salvador, graças ao apoio da
Federal Baiana de Futebol (FBF), o que tratarei mais
adiante, o afastamento das áreas de atuação dos\as
jornalistas esportivos na Arena Fonte Nova provocou
mudanças nos conteúdos das pautas em campo e, também no
humor da equipe. Um sentimento coletivo de desanimo
envolveu o grupo que sabia que a experiência poderia ter
tomado um outro rumo. Apesar desses imprevistos, os saldos
do trabalho demonstram não só a superação mas a capacidade
do grupo em criar novas alternativas que não seriam
propostas e realizadas em um outro cenário.
Nesse caso, recorremos ao artigo de Anderson Gurgel Campos,O Papel do Jornalismo nos Megaeventos Esportivos quando define mega eventos:
... Para uma primeira reflexão sobremegaeventos esportivos, vamos adotar o verbetede mesmo nome, apresentado pelo Atlas do Esporte noBrasil, importante repositório de informaçõessobre esporte6, organizado pelo especialistaLamartine aCosta. No verbete, édito quemegaeventos são aqueles eventos “cuja magnitudeafetam economias inteiras e repercutem na mídiaglobal”7. Por esse raciocínio, que praticamentesintetiza o que sãoessas atividades, podemosentender que os Jogos Olimpícos e Copas doMundo, mais que atividades esportivas, sãoimportantes para as estratégias econômicas egeopolíticas dos países e são maximizados pelaexposição nos meios de comunicação de massa.(pág.2)
1.1. DA SELEÇÃO ÀS OFICINAS
Já no processo de seleção da equipe, pude observar alguns
sinais de aceitação junto aos\as estudantes. Tive que
realizar três etapas até definir o grupo enfrentar até
ameaças de processo judicial.
Um outro momento inicial do projeto foi o de pensar e
escolher os conteúdos das oficinas. Mesmo tendo pouca
intimidade a área esportiva, desde criança gostava de
futebol , basquete, vôlei e tênis. Cheguei a praticar
algumas modalidades do atletismo,e, talvez, por isso, me
inquietava a ausência da disciplina Jornalismo Esportivo da
grade curricular do curso, bem mais do que a não oferta de
disciplinas como os jornalismos Cultural, Político e
Econômico.
Aos poucos fui me aproximando do fazer Jornalismo Esportivo
e constatei a crtica, ainda presente de Paulo Leandro (xxxx
) de que faz pouco tempo que a área esportiva deixou de ser
marginalizada em relação as demais do jornalismo. “Ainda
assim, igualmente como atividade menor dentro da imprensa
brasileira, o esporte foi encontrando seu espaço,
consolidado com a chegada do profissionalismo no futebol em
1933” (idem).
Ninguém tem dúvidas de que, pelo menos na mídia impressa, a
editoria de Esportes está entre as mais lidas, mas no meio
acadêmico, a bibliografia é pequena, assim como a oferta de
cursos de graduação que oferecem essa disciplina. Menor
ainda a oferta de cursos de pós-graduação. Esse contexto,
por si só, já é tema de uma oficina com carga horária de 20
horas. Afinal, como se formam, por exemplo, locutores,
comentaristas e repórteres esportivos¿
Herodoto Barbeiro e Patrícia Rangel (2006) vão afirmar, na
introdução do livro que:
... Jornalismo é jornalismo, seja eleesportivo, político, econômico,social. Pode ser propagado emtelevisão, rádio, jornal, revista ouinternet. Não importa. A essência
não muda porque sua natureza é únicae está intimamente ligada às regrasda ética e ao interesse público (pág.13).
A afirmativa está correta, mas o Jornalismo Esportivo,
assim como o político, o cultural e de economia, tem suas
especificidades muitas alicerçadas em suas próprias
trajetórias históricas dentro do Jornalismo brasileiro. O
fazer jornalismo esportivo segue as mesmas técnicas das
rotinas produtivas de outras editorias. No entanto, exige
do repórter um maior conhecimento de várias modalidades
esportivas, intimidade com várias tecnologias e redes
sociais e, muita ética. Afinal é na área esportiva, em
especial no futebol onde se registra uma sequência de
denúncias de atos de corrupção, vide as manchetes sobre os
dirigentes da FIFA.
Outras inquietações latentes no momento de definir os
conteúdos das oficinas de Jornalismo Esportivo referiam-se
a legislações, como o Estatuto do torcedor, a linguagem
esportiva e ao uso de termos técnicos. No jornalismo
Esportivo não basta saber as posições e papéis de um
jogador de futebol em campo – atacante, centro-avante,
armador, beque, por exemplo – dominar as expressões
“concluir uma ação ofensiva”, “deu uma bicada’, “cama-de-
gato”, “chuveirinho”. É preciso saber a trajetória
profissional de cada jogador nessas posições e os
contextos, os momentos em que em uma partida faz uma das
jogadas citadas acima.
A experiência de Paulo Leandro, que ministrou as oficinas
ajudou na montagem da Ementa que ficou assim: Histórico do
jornalismo esportivo, no Brasil e no Mundo, normas de
redação e produção de textos para jornalismo esportivo.
Termos técnico; cobertura de jogos de futebol. Entrevistas
coletivas, entrevistas com jogadores e técnicos.
Para as oficinas de Fotojornalismo Esportivo, ministradas
por Márcia Guena, as preocupações eram de que os conteúdos
dessem a equipe um certo domínio dos aspectos técnicos da
fotografia esportiva, no caso, o futebol. Esta oficina
precisava contemplar aspectos técnicos do futebol e
questões aparentemente mais simples, como observar os
pontos que os fotógrafos ocupam nos estádios e a análise
técnica das fotos publicadas em jornais e revistas
especializadas. Nesse caso a Ementa destacou aspectos
técnicos que envolvem o fotojornalismo esportivo, análise
de publicações esportivas e, ainda, realizou saídas
fotográficas. A equipe fez a cobertura de três jogos:
Juazeirense x Vitória, Juazeiro x Bahia, ambos realizados
no estádio xxx (BA) e do time do Zico, no estádio, em
Petrolina (PE). Essas atividades práticas foram
transdiciplinares: envolveram a maioria das oficinas:
jornalismo esportivo, fotojornalismo e produção de matérias
esportivas prata TV, rádio e jornal.
A Oficina de fotografia ministrada para o projeto Chuteiras
Fora de Foco tevo como principal objetivo permitir que os
alunos desenvolvessem uma técnica acurada de cobertura de
eventos esportivos e do seu entorno. Assim, procuramos
despertar espírito crítico sobre a cobertura fotográfica
esportiva; descondicionar o olhar com relação às
possibilidades de um evento esportivo contemplando o seu
entorno.
Ao longo da oficina trabalhamos o panorama da fotografia
esportiva no Brasil, em particular de futebol, a partir das
coberturas realizadas por publicações impressas. Um dos
autores trabalhados foi Evandro Teixeira, fotógrafo que já
cobriu diversos eventos esportivos, como olimpíadas e copas
do mundo.
Realizamos uma revisão das técnicas básicas de fotografia,
priorizando o controle manual. Para isso, utilizamos como
principal referência HEDGECOE (1996). Desta parte da
oficina também fez parte a cobertura de jogos em Juazeiro.
Acompanhamos duas partidas, quando os alunos puderem
exercitar diferentes estilos, priorizando as fotos
congeladas, no caso dos jogos e executando pautas
fotográficas determinadas voltadas para o comércio de
ambulantes, para a torcida e segurança durante os jogos,
entre outros aspectos. Certamente esse foi um dos
exercícios mais importantes, pois representaram uma
cobertura jornalística em tempo real.
Ao retornar à sala de aula, avaliamos o trabalho realizado
através da crítica às imagens produzidas, quando tivemos a
oportunidade de reajustar o exercício fotográfico para um
evento esportivo, que requer agilidade e bastante atenção
na execução das imagens no tempo exigido.
Para pensar a produção de pautas voltadas para o entorno da
copa das Confederações trabalhamos com autores que pensam a
desconstrução do olhar, como André Rouillé e Villem
Flusser. Esses autores permitem pensar a fotografia como
uma composição autoral, possível de existir fora dos
clichês, muitas vezes determinado pelas fotos pousadas. A
cobertura de rua em um evento dessa magnitude exigia um
olhar atento e descondicionado. Para isso, também
revisitamos os grandes fotógrafos do século XX no Brasil e
no mundo, utilizando o site da Agencia Magnum de fotografia
e o livro Labirintos e Identidades, de Rubens Fernandes, no
qual traça a trajetória dos fotojornalistas brasileiros dos
anos 40 aos anos 90.
O resultado da oficina foi bastante positivo. O grupo
conseguiu realizar coberturas factuais dos jogos e treinos,
mas, de forma preponderante, construiu imagens
fotojornalísticas para reportagens sobre temas diversos do
entorno da copa. Deve-se dar particular atenção aos
ensaios, através dos quais puderam explorar a fotografia
autoral estética e tecnicamente falando.
As demais oficinas, como produção de matérias esportivas
(texto e imagem) para tv, rádio e jornal, ministradas por
Fabíola Moura, também seguiram essa lógica que associava o
conteúdo teórico e técnico com a prática. As oficinas
ministradas por Luiz Adolfo, por exemplo, foram mais
técnicas e focaram o uso de equipamentos, câmeras
fotográficas e vídeo, para o jornalismo esportivo tendo
como referência os equipamentos disponibilizados pelo
curso.
Já Gislane Moreira foi responsável por ministrar as
oficinas de Língua Espanhola. A proposta era de que em um
evento internacional a equipe de estudantes pudesse fazer
entrevistas com turistas internacionais. Nesse sentido, o
grupo teve uma carga horária de 40 horas e recebeu
conteúdos de elementos básicos da conversação em Língua
Espanhola direcionados ao universo do Jornalismo Esportivo.
Também coube a mesma professora e a mim, ministras as
oficinas de Seminários Temáticos. A proposta era ampliar a
criticidade do grupo com relação aos impactos sociais da
Copa das Confederações em Salvador, assim como o padrão
internacional dos eventos promovidos pela FIFA. Vários
temas foram elencados, associando os legados sociais do
evento, com saúde, segurança pública, mobilidade,
acessibilidade aos jogos, habitação, moradores de rua,
geração de emprego e renda, entre outros.
Para realizar as 190 horas aulas do projeto foi preciso
montar um criterioso cronograma. Afinal elas ocorreram
simultaneamente ás aulas regulares da equipe nos meses de
abril, maio e junho de 2013. A maioria aos sábados e
domingos e em duas ou três noites durante a semana.
Felizmente, todo o grupo manteve-se ativo e presente. O
desanimo ocorreu sim, pelos motivos já expostos nesse
artigo.
2. ENTRADA EM CAMPO
Para além do desgaste natural da equipe para entrar em
campo, a coordenação precisou dialogar tanto com a PROEX\
Uneb, direção do DCH III\UNEB, Secopa, como outros setores
institucionais e, mesmo assim, não consegui o
credenciamento da equipe e nem consegui ter a certeza de
que a grande entrada da equipe em campo para a cobertura
dos jogos da Copa das Confederações. Essa incerteza, causou
alguns estragos no projeto que previa a produção e
divulgação de matérias antes e durante a realização do
evento, nos mídias locais e da grande imprensa baiana e
nacional. A equipe tinha receio de, até mesmo postá-la no
blog criado pelo projeto.
Apesar das incertezas conseguimos montar um amplo roteiro
de pautas em um contexto de novidades, como o crescimento
singular das manifestações populares ocorridas em todo o
país no mês de junho de 2013, registrando violências
policiais também singulares, momento em que a mídia
internacional centrava sua atenção a realização da copa das
Confederações no Brasil, a exclusão da Arena Fonte Nova das
baianas do acarajé e dos tradicionais vendedores
ambulantes, por conta do padrão FIFA, a proibição do que
seria o símbolo do evento, as caxirolas de Carlinhos Brown,
entre outras matérias.
Mesmo nesse clima de suspense, a equipe agendou várias
outras entrevistas, entre elas com integrante da equipe da
Nigéria, uma das seleções que jogou em Salvador, com
profissionais responsáveis pelos esquemas de receptivo aos\
as turistas, de saúde, transporte e com lideranças de
vários segmentos dos movimentos sociais. A equipe precisa
estar preparada para o melhor e o pior. Finalmente, quatro
dias antes do dia da viagem, 16 de junho, veio a
confirmação.
O desanimo desapareceu, apesar do grupo saber que não teria
acesso aos três jogos da Copa das confederações na Arena
Fonte Nova. Com malas e equipamentos em mãos e muita
expectativa, o grupo chegou a Salvador para viver uma
experiência, cujos resultados serão destacados a seguir.
3. ROTINAS PRODUTIVAS E RESULTADOS
Instalada em hotel localizado próximo ao Campo Grande, a
equipe fez de seus quatros, salas de redação. A rotina era:
pela manhã, reunião de pauta, definição das matérias e
equipes que iriam a campo para entrevistar, filmar e
fotografar. De volta para o almoço no hotel, as matérias
eram redigidas, as imagens selecionadas pelos\as
estudantes. Já a coordenação, fazia revisão, titulava,
postava no blog e divulgava para as mídias do Sertão do São
Francisco, baianas e nacional. A tarde, a mesma rotina. Ao
final de seis dias de trabalho conseguimos a seguinte
produção:
PRODUÇÃO TOTALPRODUÇÃO TOTALMatérias (texto, rádio e Matérias (texto, rádio e tv)tv)Equipe 51 Coordenação 14
65 Produção de um making offFotografia Fotografia Ensaios fotográficos 5 Todas as 65 matérias com fotos
Dados extraídos do relatório final do
projeto
CLIPPAGEM (impressos e internet)
Março 1Abril 1Maio 7Junho 21
TVWeb tv\UNEB 2
TV São Francisco 1TV Grande Rio - 1
RádioPrograma Panorama – Petrolina-FM 1
Ponte das Cidades - Ponte FM 1
Um outro resultado, que causou um impacto positivo junto a
equipe foi o acesso de leitores\as ao blog:
Países (15) de acesso ao blog Alemanha – 21
Argentina
Austrália Brasil - 5.071
Estados Unidos – 1831 França - 19 Holanda - 10
Japão Moçambique Polônia
Portugal - 17 Reino Unido - 09 Rússia – 260
Suíça Ucrânia – 4º - 53
Total de acessos : 7.675 (até 27.8)- Cinco mil só na semana da Cobertura)
Período: junho a agosto\2013 Fonte; Relatório Final do Projeto
3.1. FORMAÇÃO DA EQUIPE E ENTRADA NOS JOGOS NA ARENA FONTE NOVA
A equipe selecionada foi formada pelos seguintes
estudantes: Adeilton Gonçalves da Silva Jr., Alexandre
Borges Cavalcante, Alieny Aparecida da Silva, Carlos
Humberto Félix de Souza; Eriskarine Barbosa do
Nascimento ; Jacqueline Santos da Silva; Lícia Lara Dantas
Barros, Maria Akemi Yamakawa, Patrícia Laís de Souza
Gonçalves, Paulo César Pedroza Marques, Raiane Barbosa de
Sousa e Uilson Viana de Sousa. Alguns\mas já tinham alguma
experiência em jornalismo Esportivo, como Alieny, Maria
Akemi, pois estagiavam no blog de Carlos Humberto, um ex-
jogador de futebol de Juazeiro e ativo e reconhecido
profissional na área do jornalismo Esportivo.
Foi, inclusive essa experiência que abriu algumas portas ao
Projeto Chuteiras Fora de Foco junto a FBF e a família do
jogador da seleção brasileira Daniel Alves. Da FBF a equipe
recebeu os ingressos para assistir a dois jogos da Copa das
Confederações. Já os ingressos à primeira partida foram
dados pela SECOPA, no dia do jogo entre as seleções da
Nigéria e Uruguai. Por sua vez, os pais de Daniel Alves
conseguiram que equipe assistisse ao treino da seleção no
Brasil no estádio Metropolitano de Pituaçu Professor
Roberto Santos e fizesse entrevistas e intercâmbio com
jornalistas das mídias nacional e internacional.
A exemplo das rotinas das redações de jornalismos, algumas
pautas agendadas não foram concluídas, como a entrevista
com o músico Carlinhos Brown e com o radialista esportivo
mais antigo da Bahia, Zé Ataíde. Novas pautas surgiram, a
exemplo da denuncia formulada em entrevista do projeto com
o Comitê Popular da Copa 2014\Bahia, sobre a retirada de
mendigos das ruas de Salvador, por funcionários da
Prefeitura municipal da capital baiana e que levou o
Ministério Público a visitar o local onde essas pessoas
foram abrigadas.
Outras pautas, como a cobertura da concentração das
manifestações populares realizadas em Salvador, em dois
dias de jogos na Arena Fonte Nova, a favor do passe livre,
contra a PEC 37 e os gastos do Governo brasileiro com as
obras de novas arenas em todas as capitais que acolheram
partidas da Copa das Confederações e a viagem no trem do
Subúrbio de Salvador, para a coleta de dados sobre a
ausência dos\as tradicionais torcedores baianos\as dos
jogos da FIFA, causaram certo receio da equipe. Mas ambas
foram feitas e contribuíram para contextualizar, trazer
novos elementos a realidade, fazendo o grupo refletir sobre
os impactos do mega evento e seus legados a sociedade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do projeto a coordenação teve vários encontros com
a equipe para avaliar a execução do Chuteiras Fora de Foco.
Ela foi unânime em afirmar que a iniciativa foi
extremamente importante para a sua formação pessoal e
profissional, destacando o impacto provocado na vida da
maioria dos\as integrantes, jovens estudantes, oriundos de
pequenas cidades nordestinas.
Também destacou que a práxis propiciada pelo projeto
permitiu a vivência do fazer jornalismo esportivo, embora o
grupo ainda se sentisse fragilizada para a produção de
matérias de cobertura de jogos.
A dinâmica da rotina produtiva foi alvo de críticas do
grupo pois a coordenação não conseguiu dar conta das
tarefas de revisão, titulação e postagem da produção diária
e, ainda acompanhar o grupo na produção das matérias.
Os dados dos acessos ao blog superaram as expectativas da
equipe.
Já a coordenação, resolveu dar continuidade ao projeto a
partir da elaboração de dois projetos de extensão. Um para
continuar atualizando o site com matérias esportivas,
produzidas por uma reduzida equipe e pela equipe do
Chuteiras, além de promover encontros de estudos. O outro
será para a formação de uma nova equipe para a cobertura da
Copa do mundo, de 2014, com o mesmo formado do que ora se
encerra, incluindo mais uma cidade de atuação, a do rio de
Janeiro.
i
1.1. DA SELEÇÃO ÀS OFICINAS
Já no processo de seleção da equipe, pude observar alguns sinais
de aceitação junto aos\as estudantes. Tive que realizar três
etapas até definir o grupo enfrentar até ameaças de processo
judicial.
Um outro momento inicial do projeto foi o de pensar e escolher os
conteúdos das oficinas. Mesmo tendo pouca intimidade a área
esportiva, desde criança gostava de futebol , basquete, vôlei e
tênis. Cheguei a praticar algumas modalidades do atletismo,e,
talvez, por isso, me inquietava a ausência da disciplina
Jornalismo Esportivo da grade curricular do curso, bem mais do
que a não oferta de disciplinas como os jornalismos Cultural,
Político e Econômico.
Aos poucos fui me aproximando do fazer Jornalismo Esportivo e
constatei a crtica, ainda presente de Paulo Leandro (xxxx ) de que
faz pouco tempo que a área esportiva deixou de ser marginalizada
em relação as demais do jornalismo. “Ainda assim, igualmente como
atividade menor dentro da imprensa brasileira, o esporte foi
encontrando seu espaço, consolidado com a chegada do
profissionalismo no futebol em 1933” (idem).
Ninguém tem dúvidas de que, pelo menos na mídia impressa, a
editoria de Esportes está entre as mais lidas, mas no meio
acadêmico, a bibliografia é pequena, assim como a oferta de cursos
de graduação que oferecem essa disciplina. Menor ainda a oferta de
cursos de pós-graduação. Esse contexto, por si só, já é tema de
uma oficina com carga horária de 20 horas. Afinal, como se formam,
por exemplo, locutores, comentaristas e repórteres esportivos¿
Herodoto Barbeiro e Patrícia Rangel (2006) vão afirmar, na
introdução do livro que:
... Jornalismo é jornalismo, seja eleesportivo, político, econômico, social. Podeser propagado em televisão, rádio, jornal,revista ou internet. Não importa. A essêncianão muda porque sua natureza é única e estáintimamente ligada às regras da ética e aointeresse público (pág. 13).
A afirmativa está correta, mas o Jornalismo Esportivo, assim como
o político, o cultural e de economia, tem suas especificidades
muitas alicerçadas em suas próprias trajetórias históricas dentro
do Jornalismo brasileiro. O fazer jornalismo esportivo segue as
mesmas técnicas das rotinas produtivas de outras editorias. No
entanto, exige do repórter um maior conhecimento de várias
modalidades esportivas, intimidade com várias tecnologias e redes
sociais e, muita ética. Afinal é na área esportiva, em especial no
futebol onde se registra uma sequência de denúncias de atos de
corrupção, vide as manchetes sobre os dirigentes da FIFA.
Outras inquietações latentes no momento de definir os conteúdos
das oficinas de Jornalismo Esportivo referiam-se a legislações,
como o Estatuto do torcedor, a linguagem esportiva e ao uso de
termos técnicos. No jornalismo Esportivo não basta saber as
posições e papéis de um jogador de futebol em campo – atacante,
centro-avante, armador, beque, por exemplo – dominar as expressões
“concluir uma ação ofensiva”, “deu uma bicada’, “cama-de-gato”,
“chuveirinho”. É preciso saber a trajetória profissional de cada
jogador nessas posições e os contextos, os momentos em que em uma
partida faz uma das jogadas citadas acima.
A experiência de Paulo Leandro, que ministrou as oficinas ajudou
na montagem da Ementa que ficou assim: Histórico do jornalismo
esportivo, no Brasil e no Mundo, normas de redação e produção de
textos para jornalismo esportivo. Termos técnico; cobertura de
jogos de futebol. Entrevistas coletivas, entrevistas com jogadores
e técnicos.
Para as oficinas de Fotojornalismo Esportivo, ministradas por
Márcia Guena, as preocupações eram de que os conteúdos dessem a
equipe um certo domínio dos aspectos técnicos da fotografia
esportiva, no caso, o futebol. Esta oficina precisava contemplar
aspectos técnicos do futebol e questões aparentemente mais
simples, como observar os pontos que os fotógrafos ocupam nos
estádios e a análise técnica das fotos publicadas em jornais e
revistas especializadas. Nesse caso a Ementa destacou aspectos
técnicos que envolvem o fotojornalismo esportivo, análise de
publicações esportivas e, ainda, realizou saídas fotográficas. A
equipe fez a cobertura de três jogos: Juazeirense x Vitória,
Juazeiro x Bahia, ambos realizados no estádio xxx (BA) e do time
do Zico, no estádio, em Petrolina (PE). Essas atividades práticas
foram transdiciplinares: envolveram a maioria das oficinas:
jornalismo esportivo, fotojornalismo e produção de matérias
esportivas prata TV, rádio e jornal.
A Oficina de fotografia ministrada para o projeto Chuteiras Fora
de Foco tevo como principal objetivo permitir que os alunos
desenvolvessem uma técnica acurada de cobertura de eventos
esportivos e do seu entorno. Assim, procuramos despertar espírito
crítico sobre a cobertura fotográfica esportiva; descondicionar o
olhar com relação às possibilidades de um evento esportivo
contemplando o seu entorno.
Ao longo da oficina trabalhamos o panorama da fotografia esportiva
no Brasil, em particular de futebol, a partir das coberturas
realizadas por publicações impressas. Um dos autores trabalhados
foi Evandro Teixeira, fotógrafo que já cobriu diversos eventos
esportivos, como olimpíadas e copas do mundo.
Realizamos uma revisão das técnicas básicas de fotografia,
priorizando o controle manual. Para isso, utilizamos como
principal referência HEDGECOE (1996). Desta parte da oficina
também fez parte a cobertura de jogos em Juazeiro. Acompanhamos
duas partidas, quando os alunos puderem exercitar diferentes
estilos, priorizando as fotos congeladas, no caso dos jogos e
executando pautas fotográficas determinadas voltadas para o
comércio de ambulantes, para a torcida e segurança durante os
jogos, entre outros aspectos. Certamente esse foi um dos
exercícios mais importantes, pois representaram uma cobertura
jornalística em tempo real.
Ao retornar à sala de aula, avaliamos o trabalho realizado através
da crítica às imagens produzidas, quando tivemos a oportunidade de
reajustar o exercício fotográfico para um evento esportivo, que
requer agilidade e bastante atenção na execução das imagens no
tempo exigido.
Para pensar a produção de pautas voltadas para o entorno da copa
das Confederações trabalhamos com autores que pensam a
desconstrução do olhar, como André Rouillé e Villem Flusser. Esses
autores permitem pensar a fotografia como uma composição autoral,
possível de existir fora dos clichês, muitas vezes determinado
pelas fotos pousadas. A cobertura de rua em um evento dessa
magnitude exigia um olhar atento e descondicionado. Para isso,
também revisitamos os grandes fotógrafos do século XX no Brasil e
no mundo, utilizando o site da Agencia Magnum de fotografia e o
livro Labirintos e Identidades, de Rubens Fernandes, no qual traça
a trajetória dos fotojornalistas brasileiros dos anos 40 aos anos
90.
O resultado da oficina foi bastante positivo. O grupo conseguiu
realizar coberturas factuais dos jogos e treinos, mas, de forma
preponderante, construiu imagens fotojornalísticas para
reportagens sobre temas diversos do entorno da copa. Deve-se dar
particular atenção aos ensaios, através dos quais puderam explorar
a fotografia autoral estética e tecnicamente falando.
As demais oficinas, como produção de matérias esportivas (texto e
imagem) para tv, rádio e jornal, ministradas por Fabíola Moura,
também seguiram essa lógica que associava o conteúdo teórico e
técnico com a prática. As oficinas ministradas por Luiz Adolfo,
por exemplo, foram mais técnicas e focaram o uso de equipamentos,
câmeras fotográficas e vídeo, para o jornalismo esportivo tendo
como referência os equipamentos disponibilizados pelo curso.
Já Gislane Moreira foi responsável por ministrar as oficinas de
Língua Espanhola. A proposta era de que em um evento internacional
a equipe de estudantes pudesse fazer entrevistas com turistas
internacionais. Nesse sentido, o grupo teve uma carga horária de
40 horas e recebeu conteúdos de elementos básicos da conversação
em Língua Espanhola direcionados ao universo do Jornalismo
Esportivo.
Também coube a mesma professora e a mim, ministras as oficinas de
Seminários Temáticos. A proposta era ampliar a criticidade do
grupo com relação aos impactos sociais da Copa das Confederações
em Salvador, assim como o padrão internacional dos eventos
promovidos pela FIFA. Vários temas foram elencados, associando os
legados sociais do evento, com saúde, segurança pública,
mobilidade, acessibilidade aos jogos, habitação, moradores de rua,
geração de emprego e renda, entre outros.
Para realizar as 190 horas aulas do projeto foi preciso montar um
criterioso cronograma. Afinal elas ocorreram simultaneamente ás
aulas regulares da equipe nos meses de abril, maio e junho de
2013. A maioria aos sábados e domingos e em duas ou três noites
durante a semana. Felizmente, todo o grupo manteve-se ativo e
presente. O desanimo ocorreu sim, pelos motivos já expostos nesse
artigo.
Referencial:
HEDGECOE, John. Guia completo de fotografia. São Paulo, Martins Fontes,1996.
FERNANDES JÚNIOR, Rubens. . Labirinto e identidades: panorama da fotografia no Brasil.
São Paulo: Cosac & Naify: Centro Universitário Maria Antonia da USP, 2003. 229 P.
ROUILLÉ, André. A fotografia: entre o documento e arte
contemporânea. São Paulo, Editora SENAC, 2010
SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo. Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Porto, 2002.