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Administração de Marketing| MBA – UNA | 0
Administração de Marketing| MBA – UNA | 1
Sumário
UNIDADE 1 Gestão de Marketing como Ferramenta Competitiva .......................................... 2
UNIDADE 2 Marketing Estratégico ........................................................................................ 6
UNIDADE 3 Adequando o Mix de Marketing ao Posicionamento ......................................... 20
UNIDADE 4 Comportamento do Consumidor e os Segmentos de Mercado .......................... 34
UNIDADE 5 Criando Clientes Fiéis: O Marketing de Serviços e de Relacionamento ............... 56
UNIDADE 6 Sistemas de Informação de Marketing.............................................................. 79
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 86
Administração de Marketing| MBA – UNA | 2
UNIDADE 1 Gestão de Marketing como Ferramenta Competitiva
Visão de Marketing
Derrapagem
A Audi alcançou um enorme sucesso ao entrar no Brasil em 1993, pelas mãos do piloto Airton Senna. Apesar disto, nos últimos dois ou três anos, tem sido sistematicamente batida pela BMW e Mercedes-Benz, concorrentes com um histórico de vendas menor que o seu. A Audi é hoje a montadora de carros de luxo que menos vende no Brasil.
Ao trazer a marca para o país – em uma época em que os brasileiros apenas começavam a conhecer os carros de luxo – Senna conseguiu dotá-la de uma aura de requinte e prestígio.
Em 2003, a empresa resolveu encerrar a produção no Brasil e controlar toda a operação a partir da matriz, rompendo o relacionamento com a família Senna. Com pouca autonomia, os executivos brasileiros passaram a ter dificuldades para adequar preços e produtos à realidade brasileira. O Audi A3, modelo que até então custava R$ 60.000,00, passou a custar R$ 110.000,00, enquanto um modelo equivalente comercializado por sua concorrente Volvo era vendido por R$ 89.000,00. No período em que o mercado automobilístico cresceu de modo importante no Brasil, a Audi encolheu.
Muitas empresas encontram grandes dificuldades para conseguir identificar e satisfazer as
necessidades dos clientes e manterem operações lucrativas. Fatos como esse acima nos fazem
perceber que, apesar de o marketing estar na boca de muitos gerentes, poucos entendem
efetivamente o que ele significa ou conseguem adotá-lo em termos práticos.
As últimas décadas foram marcadas por intensas mudanças, e a competitividade passou a ser
uma preocupação cada vez mais próxima e real. Para as organizações, isso tem significado uma
sequência de desafios gerenciais e há necessidade de constantes readaptações e
transformações em suas estratégias, processos, culturas e estruturas.
Pense nisto!
Até a década de 70, o marketing preocupava-se essencialmente em facilitar o processo de venda de mercadorias, uma vez que existia um enorme mercado disposto a consumir. O foco era então conquistar mais e mais consumidores no que era denominado marketing transacional. Nesta época, o objetivo era estimular vendas através de ofertas em massa de produtos e serviços. Em uma situação onde existia farta demanda e as empresas tinham segurança de que venderiam tudo o que produzissem, o foco recaía sobre a
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eficiência de produção e vendas, e o marketing passava a ser a menor de suas preocupações.
A partir da década de 70, empurradas pela concorrência crescente, as empresas lançaram-se em um jogo estratégico, baseado na diferenciação de produtos e no aumento da produtividade. Este fato determinou uma disponibilidade crescente de produtos no mercado, seu barateamento e a aceleração de sua obsolescência.
Na medida em que ocorriam grandes transformações no mercado fornecedor e na intensidade da concorrência entre as empresas, o mercado consumidor também passava por mudanças.
Muitos mercados atingiram a maturidade, o que significava um número cada vez menor de “novos clientes” – aqueles recém-chegados ao mercado de consumo. Para fazer crescer suas bases de consumidores, as empresas passaram a ter de conquistá-los, subtraindo-os da concorrência. Como resultado, as empresas já não conseguiam conquistar e reter clientes, baseando-se apenas em uma estratégia de inovação de produto. Para reter clientes, elas precisavam de uma estratégia neles centrada. Naturalmente a diferenciação de produtos, o acompanhamento e o entendimento da concorrência continuavam fundamentais para o sucesso de uma empresa, mas as empresas já não podiam mais colocar esses elementos em primeiro lugar.
Alguns dados mostram em números esse novo contexto. Segundo Tronchin (2000, p. 10),
pesquisas realizadas pela Michaelson & Associates mostram que 69% dos clientes trocam de
fornecedor como consequência de um atendimento sofrível, enquanto pesquisas do The
Tecnical Assistance Research indicam que apenas 4% dos clientes insatisfeitos permanecem
em carteira (TRONCHIN, 2000, p. 14). Dos clientes insatisfeitos, 65% a 90% nunca mais voltam
a comprar com o mesmo fornecedor.
Essas pesquisas apontam ainda a existência de uma forte correlação entre satisfação e
retenção de clientes.
Por exemplo, um estudo recente determinou que 95% dos clientes que classificam o serviço
como ‘excelente’ irão comprar novamente da empresa e dificilmente irão mudar para outra
empresa fornecedora do produto ou serviço. Para aqueles que classificaram o serviço como
‘bom’, o número decai significativamente – para 60% (BROWN, 2001, p. 25).
Os clientes não buscam mais apenas bons produtos e serviços. Eles privilegiam aquelas
empresas que oferecem ao mercado produtos e serviços considerados excelentes.
Esses fatos nos indicam novas tendências. O mercado consumidor se torna muito mais
exigente em relação ao comportamento das empresas. Em resposta, várias empresas passam a
cortejar seus clientes, a fim de que eles lhes dediquem sua preferência e fidelidade.
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O marketing passa a se preocupar muito mais com a qualidade e adequação dos produtos do
que com a quantidade ofertada, buscando cada vez mais intensamente conhecer, servir e
corresponder às necessidades dos clientes. Mas a que custo?
O que parece fácil no discurso, se mostra muito mais complexo na prática. A tentativa das
empresas de se tornarem voltadas para o cliente ou “orientadas para o mercado” tem nos
mostrado que o marketing é “uma abordagem de negócio encantadoramente simples, mas
frequentemente bem mais difícil de ser posta em prática do que parece à primeira vista.”
(SAUNDERS e HOOLEY, 1996, p. 6).
Visão de Marketing
Falando sério
Quando concebido, o Hopi Hari foi considerado uma ótima ideia. Projetado para ser o maior e mais moderno parque de diversões do país e situado próximo à cidade de São Paulo, tinha como objetivo proporcionar uma opção de lazer diferente, mais ousada, para os moradores da região – considerados os brasileiros de maior poder aquisitivo do país. O que era para se transformar em um grande sucesso, na prática, não se mostrou um negócio tão bom assim.
Seus idealizadores esperavam que 2,5 milhões de pessoas o visitassem por ano. A realidade, no entanto, foi bem outra. Em 1999, primeiro ano de funcionamento, o parque atraiu apenas 1,5 milhão de pessoas – 1 milhão a menos que o projetado. Em 2003, este número havia subido para 2 milhões de pessoas, mas não sem antes a empresa penalizar suas margens com a distribuição maciça de ingressos.
O que aconteceu? Segundo especialistas, os custos envolvidos em um dia de diversão mostraram-se elevados mesmo para os padrões do público almejado pelo parque, situação agravada pela crise econômica de 1999. A empresa demonstrou não conhecer seu mercado-alvo e não conseguir prever seu comportamento.
Como a Audi e o Hopi Hari, muitas empresas não conseguem resolver a complexa equação de
manterem-se próximas dos seus clientes, fato que dificulta a tarefa de entender como se
comportam e o que os motiva. Isso se torna ainda mais crítico na medida em que aumentam
de tamanho. Para contornar essas dificuldades e manter maior proximidade com seus
mercados, as empresas têm deixado de enxergar o marketing como uma área isolada dentro
da organização, fazendo-o assumir um novo significado – uma filosofia de negócio a ser
disseminada por toda a empresa.
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Apesar dos esforços, implementar o marketing como filosofia de negócio não é algo fácil, pois
envolve uma profunda mudança de cultura, com reflexos na estrutura das empresas. Para o
sucesso desse novo modelo, o corpo diretivo das organizações deve fazer do cliente o centro
de suas preocupações e operações, buscando manter um ajuste viável entre a satisfação
desses clientes e os lucros que almejam. Deve fazer com que toda a organização se
comprometa com este objetivo, tornando todos pessoas de marketing.
Nesta nova situação, os gerentes de marketing se deparam com problemas complexos, pois
identificar os clientes e suas necessidades não é mais uma tarefa nem fácil, nem óbvia.
Em um passado recente, uma vez determinados os clientes da empresa, bastava oferecer-lhes
os produtos e serviços produzidos pela empresa. Hoje, a seleção do mercado-alvo é apenas o
início de um complexo processo de satisfação de necessidades. A partir deste momento, os
gerentes de marketing enfrentam inúmeros outros desafios: como desenvolver produtos e
serviços cujos atributos representem os maiores benefícios possíveis para os clientes, de forma
a atraí-los e fidelizá-los? Como identificar e aproveitar as oportunidades de mercado capazes
de promover o crescimento da empresa?
A resposta? O “planejamento estratégico orientado para o mercado”.
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UNIDADE 2 Marketing Estratégico
O sucesso no marketing não costuma acontecer por acaso, é preciso gerenciá-lo
estrategicamente e de forma eficaz.
Algumas empresas antes orientadas para a produção podem achar que basta “fazer algum
marketing” quando as condições comerciais pioram. Na verdade, nos negócios bem
gerenciados, o marketing é um processo permanente, continuado (...) (PALMER, 2006),
estratégico.
O sucesso demanda que a empresa, reconhecendo suas capacidades, entenda o que consiste o
valor para o cliente, de tal forma a criá-lo, entregá-lo adequadamente e sustentá-lo ao longo
do tempo.
Se considerarmos que os mercados estão sempre mudando, isto se mostra ainda mais
complexo. Os clientes se tornam diferentes a cada ano, esperando das empresas coisas
diferentes. Isso significa que “a estratégia vitoriosa do ano anterior pode ser hoje o caminho
mais certo para o fracasso.” (KOTLER, 2000, p. 15). Portanto, descobrir o que o mercado quer é
um processo sem fim.
O processo de planejamento estratégico auxilia a empresa a assegurar que, apesar do
contexto de constante mudança, suas capacidades estejam de acordo com o ambiente de
negócios e com as demandas do mercado consumidor, não apenas em um momento
específico, mas durante um período de tempo relativamente longo.
O desenvolvimento de uma estratégia adequada é um processo que acontece em três níveis:
1) estabelecimento de uma estratégia central; 2) a criação de um posicionamento competitivo;
3) e a implementação e controle da estratégia (definição e implementação do mix de
marketing).
Conceito Planejamento estratégico orientado para o mercado é o processo gerencial de desenvolver e manter um ajuste viável entre os objetivos, experiências e recursos da organização e suas oportunidades de mercado mutantes. O propósito do planejamento estratégico é moldar e remodelar os negócios e produtos da empresa com objetivo de crescimento e lucro (KOTLER, 1998).
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Planejamento estratégico corporativo
Para corporações que envolvem a operação de mais de um negócio anteriormente à definição
da estratégia central, é necessário determinar o seu portfólio de negócios ideal.
Por que iniciar o planejamento identificando as unidades estratégicas de negócio de uma
empresa? Para que a empresa saiba em que e como investir seus recursos!
Várias corporações optam por desenvolver diversos negócios paralelos. Muitas optam por
diversificar seu portfólio para se protegerem das oscilações inerentes a eles. Outras optam por
gerenciar vários negócios, a fim de aproveitar diferentes oportunidades de mercado. No
entanto, nessas empresas, é comum que coexistam negócios muito bem sucedidos com
negócios que representam apenas boas promessas.
Como cada negócio possui um potencial de lucro, de geração de caixa e de crescimento
diferente, a empresa deve avaliar cuidadosamente cada um deles, considerando o potencial de
crescimento do mercado, a posição atual e futura (potencial) de cada um, para então alocar
adequadamente seus recursos entre as diferentes unidades de negócio. Em função da atuação
presente e expectativa futura de cada negócio, a corporação irá definir sua estratégia de
investimento.
Para auxiliar os gerentes a realizar essa análise, duas ferramentas são mais frequentemente
utilizadas: o modelo do Boston Consulting Group (Matriz crescimento – participação de
mercado); e o modelo de Portfólio Multifactorial da GE.
Uma vez definido o portfólio de negócio, a empresa parte para a delimitação da estratégia
central de cada um deles, o que a auxilia a alocar os recursos financeiros de forma apropriada
à sua condução.
Como proceder? Via de regra, a matriz da corporação é responsável pela condução do
processo de planejamento estratégico corporativo (definição da estratégia corporativa). Após
essa definição, a definição das estratégias centrais para cada uma das unidades de negócio
pode ser conduzida de forma distinta por diferentes corporações.
I- Algumas corporações dotam suas unidades de negócio de autonomia e liberdade para
definir seus objetivos, metas e estratégias.
II- Outras corporações encarregam-se de estabelecer os objetivos e metas para as
unidades de negócios, mas as encarregam de definir suas próprias estratégias.
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III- Um terceiro tipo de corporação se envolve não somente na definição de objetivos e
metas de suas unidades de negócio como também na definição das estratégias para
alcançá-las.
Definição da estratégia central
O estabelecimento de uma estratégia central consiste em um processo com cinco etapas,
conforme mostrado na figura 2.1.
Figura 2.1 – Processo de planejamento estratégico do negócio Fonte: adaptado de Kotler (1998)
Definição da missão e do negócio
A definição do negócio e da missão da empresa é o primeiro passo de um processo de
planejamento das unidades de negócio. Ela tem profundas implicações para o marketing, visto
que todas as definições posteriores em termos de produtos, preço, distribuição e comunicação
dela derivam.
A organização existe para realizar algo, e a definição da missão a ajuda a especificar o seu
negócio, deixando claro o seu propósito. Pensar a missão de uma empresa implica em refletir
sobre algumas perguntas: “Em que negócio e mercado estamos?” “Em que negócio e
mercado queremos estar ou devemos estar?” “Quem é nosso consumidor e o que ele
deseja?” “O que consiste valor para ele?”
A missão de uma organização precisa especificar sua intenção estratégica, definindo onde a
empresa deseja estar em um futuro previsível. Deve definir seus valores éticos e morais e
evidenciar suas competências mais pronunciadas (importantes e distintivas). Deve ainda
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definir com clareza os consumidores-alvo que a organização pretende atender, bem como
especificar seu posicionamento.
Ao definir a missão e o negócio, é preciso que a empresa entenda o produto ou serviço total
que o cliente está comprando – a necessidade que o produto busca satisfazer – evitando cair
na armadilha de adotar uma definição de negócio cujo escopo seja muito limitado. Quando a
empresa define seu negócio em função de um produto específico e não de uma necessidade a
satisfazer, deixa de prestar atenção a outros produtos que poderiam satisfazer as mesmas
necessidades ou passam a apresentar dificuldades em acompanhar as evoluções tecnológicas
neste mercado.
Análise do ambiente externo (identificação das oportunidades e ameaças)
Uma vez definida a missão e o negócio central da empresa, é importante que se inicie um
processo de avaliação criterioso e detalhado das forças externas que atuam sobre ela. As
forças externas são constituídas de:
I- forças macroambientais (demográficas, econômicas, tecnológicas, políticas, legais,
sociais, culturais e naturais);
II- forças microambientais (consumidores, concorrentes, fornecedores, canais de
distribuição).
Este momento é importante e delicado, uma vez que essas forças e a forma como a
organização lida com elas, podem influenciar de forma positiva ou negativa no negócio.
Pense nisto!
É inequívoco que as mudanças ocorrem a uma velocidade cada vez mais intensa, provocando uma complexidade crescente no campo gerencial, o que gera possibilidades concretas de turbulência ou descontinuidade dos negócios. O desenvolvimento e a combinação de diferentes tecnologias têm diminuído os ciclos de vidas de produtos e influenciado de maneira decisiva as características e comportamentos dos consumidores, bem como a forma de atuação dos concorrentes. Estas mudanças podem significar muitas oportunidades para empresas inovadoras, mas podem significar ameaças concretas àquelas que as ignorarem ou tentarem detê-las.
As dificuldades que os gestores enfrentam hoje, no entanto, não derivam apenas da intensidade das mudanças. Derivam também do enorme volume
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de informações que precisam gerenciar. Que informações coletar? Que variáveis analisar? Quais são as variáveis fundamentais para a condução do negócio?
Esse tem se mostrado um desafio adicional para os gestores, pois não é difícil perder o foco em meio a tanta informação. Qualquer engano nesta análise pode levar a empresa a ignorar oportunidades importantes ou investir equivocadamente seus esforços. O resultado é a perda de competitividade.
Uma vez que a turbulência provocada pelas mudanças e pelo excesso de informações torna
difícil a tarefa de fazer previsões, a pergunta que cabe realizar é: ‘Como conduzir o processo de
planejamento? Qual a sua validade, considerando a volatilidade do mercado?
Para contornar estas dificuldades, os horizontes do planejamento estão sendo reduzidos – até
recentemente, em mercados relativamente estáveis, o planejamento de longo prazo chegava a
atingir um período de 10 a 15 anos. Hoje, mesmo para estes mercados, não é possível planejar
além de alguns poucos anos.
Paralelamente, para lidar com a difícil tarefa de mapear e analisar as informações pertinentes
ao negócio, torna-se fundamental que a empresa desenvolva um eficiente sistema de
inteligência de marketing, a fim de identificar e rastrear as tendências relativas ao seu setor ou
aos setores no qual pretende atuar. Uma vez adequadamente informada sobre o seu setor, a
empresa poderá enfrentar com maior desenvoltura as ameaças dele provenientes, bem como
aproveitar melhor as oportunidades que dele derivam.
O que se sabe é que, embora realizar o planejamento empresarial e especificamente o
planejamento de marketing esteja ficando cada vez mais difícil, essas atividades têm se
tornado mais vitais do que nunca para o sucesso do negócio. Isso porque o planejamento
tende a tornar a empresa mais flexível para lidar com o contexto de mudança, proporcionando
condições para que ela aproveite as oportunidades que despontam.
As oportunidades e ameaças surgem normalmente em decorrência de alterações importantes
nos mercados consumidores ou em função da dificuldade dos concorrentes em atender às
demandas existentes. Nesse sentido, a definição da estratégia central parte da análise
detalhada tanto do mercado consumidor (clientes) como dos concorrentes. Para aproveitar as
oportunidades que emergem dessa análise, a empresa precisa estar preparada.
Segundo Abell (apud SANDERS e HOOLEY, 1996), existe um timing ideal para que a empresa
consiga aproveitar adequadamente as oportunidades. Esses momentos são denominados pelo
autor de “janelas estratégicas”.
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Existem apenas períodos limitados durante os quais a sintonia entre as necessidades do
mercado e as capacidades da empresa estão no ponto ideal. O investimento deve ser
programado para ocorrer nos períodos em que tais janelas estratégicas estejam abertas.
Inversamente, deve-se considerar a possibilidade de desinvestimento tão logo a sintonia ideal
tenha se degradado. (SANDERS e HOOLEY, 1996, p. 45).
Da forma equivalente, as ameaças também decorrem de tendências ou desenvolvimentos
desfavoráveis do mercado ou de eventos que a empresa não consegue ou não está apta a
acompanhar. As ameaças devem ser analisadas e classificadas em função do seu grau de
importância para o negócio ou segundo a sua probabilidade de ocorrência. Para lidar com as
ameaças mais importantes e urgentes, a empresa deve se preparar antes que ocorram ou
durante sua ocorrência, desenvolvendo planos adequados. As ameaças de menor importância
e/ou mais improváveis não exigem planos imediatos, mas devem ser acompanhadas com
cautela.
Análise da empresa (ambiente interno)
Uma vez definidos a missão e o negócio e realizada a análise do ambiente externo à
organização, os gestores de marketing devem se voltar para a identificação das aptidões e
capacidades que distinguem a empresa de seus concorrentes, definindo áreas que em
apresenta bom desempenho (pontos fortes). Isto ajuda os gestores a identificar as opções
estratégicas onde seus pontos fortes podem ser otimizados.
As competências da organização podem estar em qualquer uma das áreas da empresa –
marketing, finanças, produção, negócios – ou em várias destas áreas. Para definir estratégias
eficazes, a empresa deve estar ciente de suas aptidões, mas também conhecer em
profundidade suas limitações. A grande questão que se evidencia nesta fase é se a empresa
deve se limitar a buscar negócios para as quais possui as forças necessárias ou se deve
desenvolver novas forças para explorar outras oportunidades melhores.
Um aspecto importante a ser considerado é que a análise dos pontos fortes e fracos decorre
da identificação das competências centrais (distintas) da organização e das fraquezas centrais
em suas operações, em comparação com outras organizações concorrentes. Por isso, é
fundamental que a empresa compreenda claramente as suas capacidades e as capacidades
dos concorrentes. “A competência que distingue a organização é uma declaração daquilo que
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ela faz melhor ou incomparavelmente bem. Esses fatores formam a base de uma vantagem
competitiva no mercado”. (SAUNDERS e HOOLEY, 1996)
Formulação dos objetivos e da estratégia central
A realização da análise do ambiente externo permite que a empresa identifique os fatores que
são considerados vitais para que possa conduzir eficazmente o seu negócio, denominados
fatores-chave para o sucesso (FCS). Estes fatores compreendem os atributos ou ações que uma
empresa precisa necessariamente possuir ou realizar, de forma especialmente bem, para
prosperar em seu mercado.
Como as empresas vivem sob intensa competição, elas são impelidas a desenvolver métodos
de produção mais eficazes que os concorrentes, os melhores canais de distribuição, dentre
outros atributos, que permitam a elas competir com êxito. Esses fatores são definidos, via de
regra, pela análise das melhores práticas desenvolvidas pelas empresas mais bem sucedidas do
setor. Uma vez definidos os FCS, estes devem orientar a construção dos objetivos e das
estratégias da organização.
Visão de Marketing
Entrega rápida
Um dos fatores chave para o sucesso de uma empresa de comércio eletrônico é, sem dúvida, seu sistema logístico. Sabendo disso, o grupo Pão de Açúcar anunciou um investimento de R$40 milhões em sua área de e-commerce, sendo a maior parte destinada ao seu sistema logístico. Com este investimento, a empresa pretende reduzir o tempo de entrega dos pedidos e aumentar a participação deste canal no volume de vendas total da companhia.
Batizado de “Entrega Extra Rápida”, o sistema vai permitir aos clientes da cidade de São Paulo que efetuarem suas compras até às 15h, receber seus pedidos no mesmo dia. Já para os clientes que moram em outras capitais como as capitais da região Nordeste, as encomendas, que antes levavam até 8 dias para serem entregues, serão entregues em apenas 1 dia.
Um dos fatores chave para o sucesso de uma empresa de comércio eletrônico é, sem dúvida, seu sistema logístico. Sabendo disso, o grupo Pão de Açúcar anunciou um investimento de R$40 milhões em sua área de e-commerce, sendo a maior parte destinada ao seu sistema logístico. Com este investimento, a empresa pretende reduzir o tempo de entrega dos pedidos e aumentar a participação deste canal no volume de vendas total da companhia.
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Batizado de “Entrega Extra Rápida”, o sistema vai permitir aos clientes da cidade de São Paulo que efetuarem suas compras até às 15h, receber seus pedidos no mesmo dia. Já para os clientes que moram em outras capitais como as capitais da região Nordeste, as encomendas, que antes levavam até 8 dias para serem entregues, serão entregues em apenas 1 dia.
Conhecidos os fatores-chave para o sucesso do negócio, as ameaças a serem enfrentadas, as
oportunidades que a empresa buscará aproveitar, bem como suas capacidades e fraquezas, os
gestores estarão prontos para definir seus objetivos estratégicos de marketing. Os objetivos
devem ser pensados em dois níveis distintos:
I- objetivos de longo prazo – definem o rumo da organização (responde à pergunta
“Aonde queremos chegar?” e são definidos para prazos mais longos – 2 a 5 anos);
II- objetivos de curto prazo – compreendem os objetivos intermediários que ajudarão a
empresa a atingir seu objetivo de longo prazo (responde à pergunta “O que
precisamos fazer para chegar lá?”) e são definidos para um horizonte mais curto (1
ano).
Os objetivos de curto prazo devem ser definidos de tal forma que a simples realização dos
mesmos ajude a empresa a atingir seu objetivo de longo prazo. No entanto, conseguir essa
sinergia não é tão simples quanto parece.
Faça perguntas a você mesmo: “Em sua empresa, os objetivos de curto prazo o ajudam a
atingir o objetivo de longo prazo? Ou o que acontece é exatamente o contrário? Os objetivos
de curto prazo dificultam a realização do objetivo de longo prazo?”.
Em muitas empresas, ao estabelecer os objetivos de curto prazo, os executivos se esquecem
de que estes devem ajudar a empresa a atingir o seu grande objetivo estratégico (longo prazo).
Nessas empresas, os objetivos de longo e curto prazo são estabelecidos de forma isolada,
como se não houvesse relação entre eles e, muitas vezes, atingir os objetivos de curto prazo
inviabiliza que o objetivo de longo prazo seja alcançado. Os executivos são avaliados apenas
pelas suas metas imediatas – via de regra, traduzidas em lucros, rentabilidade ou volume de
vendas – o que tende a fazê-los esquecer o objetivo maior da organização. Isto é um risco para
o negócio.
Para definir bons objetivos, é importante que a empresa fique atenta a alguns aspectos
importantes:
a- os objetivos de curto prazo devem ser pensados de tal forma que conduzam a
empresa naturalmente ao alcance de seu objetivo estratégico ou de longo prazo;
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b- os objetivos devem ser, sempre que possível, definidos de acordo com critérios
quantitativos, de tal forma que seja possível à empresa acompanhar sua realização;
c- devem ser realistas, decorrentes de uma análise acurada das oportunidades e ameaças
do ambiente;
d- devem ser consistentes com o negócio e
e- devem ser priorizados, hierarquizados, do mais importante ao menos importante.
Uma vez traçados os objetivos, a empresa deve definir a estratégia central que dirá de que
forma eles serão atingidos. Os objetivos e metas indicam o que uma unidade de negócio
pretende atingir; a estratégia representa o plano de como chegar lá.
Embora muitas sejam as estratégias possíveis, Porter (1986) identifica três tipos genéricos que
fornecem um bom ponto de partida para os gestores:
a) liderança total em custos: a empresa busca maior participação de mercado através da
oferta de preços melhores que os dos concorrentes. Para isto, empenha-se na busca
contínua pela redução dos custos de produção e distribuição. O grande desafio dessa
estratégia é conseguir manter seus custos sempre menores que os custos dos
concorrentes e, assim, impedir uma guerra de preços que prejudique suas margens;
b) diferenciação: neste caso, para ganhar participação de mercado, a empresa busca
alcançar desempenho superior em uma importante área de benefício, valorizada por
grande parte do mercado consumidor. Esse tipo de estratégia demanda profundo
conhecimento das competências distintivas da organização, visto que a área a ser
desenvolvida deverá utilizar essas competências, gerando vantagem competitiva;
c) foco: essa estratégia demanda que a empresa identifique um ou mais segmentos
menores de mercado ainda não atendidos pelos concorrentes e para os quais, através
do conhecimento profundo de suas necessidades, consiga desenvolver liderança em
custos ou desenvolver alguma forma de diferenciação.
A definição da estratégia central deverá considerar as competências da empresa, colocando-as
a serviço dos fatores-chave do sucesso. Como a organização está em constante mudança e
evolução, a estratégia central pode ser alterada ao longo do tempo, passando por diferentes
estágios em função do estágio do ciclo de vida no qual se encontra a organização ou do ciclo
de vida de seus produtos. Em determinado momento, a empresa pode priorizar o crescimento
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do seu volume de vendas e adotar uma estratégia focada em custos ou, uma vez satisfeita com
seu volume de vendas atual, optar por aumentar a lucratividade das vendas que realiza através
da adoção de uma estratégia de diferenciação. A investida agressiva de concorrentes, por sua
vez, pode levar a empresa a defender sua posição de mercado, através da adoção de
estratégias defensivas, como a diferenciação.
Criação de um posicionamento competitivo
Em um setor industrial conhecido pela competição intensa, como uma pequena empresa
enfrenta grandes líderes, sem provocar uma guerra de preços e prejudicar sua rentabilidade?
a) Buscando menores custos
b) Buscando diferenciar-se de seus concorrentes em aspectos especialmente
valorizados pelos consumidores
Visto a intensa competição existente na maior parte dos mercados, essa é uma pergunta
pertinente também às grandes empresas, e a resposta é única: através da diferenciação de
produtos e serviços, da construção de algo que o mercado perceba como único e que dê à
empresa vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
Concorrência. Neste ponto do processo estratégico, essa é a palavra chave.
Segundo Porter (1986), a atratividade de um mercado depende fundamentalmente da
dinâmica entre cinco forças:
poder de barganha dos fornecedores;
poder de barganha dos clientes;
rivalidade interna (número de concorrentes existentes, a força e agressividade destes
concorrentes);
ameaça de novos entrantes e
ameaça de produtos substitutos (Figura 2).
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Figura 2.2 – Forças que dirigem a concorrência na indústria Fonte: PORTER, 1986, p. 23.
Três das forças existentes no modelo de Porter (1986) tratam da concorrência e da
importância do seu monitoramento para o sucesso de um negócio. É claro que o foco ainda é o
cliente, no entanto as empresas começaram a prestar mais atenção em seus concorrentes.
Entender o cliente e o que eles desejam, deixa de ser suficiente e passa a ser apenas o ponto
de partida. Por outro lado, conhecer os concorrentes passa a ser crítico para a construção de
vantagens competitivas que sejam realmente distintivas. As empresas buscam entender como
os concorrentes estão lidando com as demandas dos clientes, suas forças e fraquezas e as
forças e fraquezas dos concorrentes, para, então, explorando os pontos fortes da empresa e os
pontos fracos dos concorrentes, estabelecerem formas de diferenciarem-se destes últimos e
atrair a atenção e preferência dos clientes.
Existem diferentes maneiras de diferenciar-se dos concorrentes – design, desempenho,
durabilidade, confiabilidade, estilo, imagem de marca, preço, canais de distribuição,
características e funcionalidades dos produtos e serviços – no entanto, em qualquer uma
delas, a empresa deve considerar suas aptidões para desenvolvê-las e sustentá-las ao longo do
tempo. Como a base pela qual a empresa se diferencia com o tempo pode se tornar menos
importante para o consumidor ou pode ser superada por outras bases desenvolvidas pelos
concorrentes, é fundamental que a empresa crie um sistema de acompanhamento constante
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dos clientes e da concorrência. Um sistema de inteligência de marketing pode auxiliá-la a
encontrar vantagens que são mais facilmente defensáveis e, portanto, mais duráveis.
Estrategicamente a empresa pode criar vantagem competitiva por duas vias principais – a
liderança em custo ou a diferenciação.
A liderança em custos cria uma vantagem essencialmente financeira para a empresa e para os
clientes, mas costuma ser muito difícil de ser sustentada ao longo do tempo. Os concorrentes
poderão tentar superá-la através da adoção de tecnologias e processos semelhantes ou
melhores, e o surgimento de novas técnicas pode tornar mais fácil a entrada de novos
concorrentes. Optar pela liderança em custos pode ser também arriscado, se os clientes
estiverem dispostos a pagar mais por produtos diferenciados – a diferenciação cria motivos
para que os clientes comprem mais frequentemente e em maiores quantidades, o que a
liderança em custos não proporciona.
A diferenciação, por sua vez, cria condições para que a empresa pratique preços mais altos e,
desta forma, obtenha margens maiores. Os produtos e serviços diferenciados, por serem mais
valorizados pelos clientes, evitam a concorrência baseada simplesmente em preço e criam
motivos para a compra. Por outro lado, embora seja uma estratégia mais fácil de se manter ao
longo do tempo, se não for suportada por ativos realmente distintivos, pode ser facilmente
imitada pelos concorrentes. Caso a empresa não se informe sobre novas tecnologias ou
produtos, mudanças nas necessidades e desejos dos clientes ou sobre a atuação dos
concorrentes, poderá ver seu critério de diferenciação perder força para novos produtos ou
serviços.
Um risco adicional da adoção da estratégia de diferenciação é a supervalorização, por parte da
empresa, de seus produtos e serviços. A empresa precisa analisar de forma criteriosa o valor
que o produto diferenciado possui para o seu mercado, pois, se supervalorizá-lo, o custo de
diferenciação pode superar o valor percebido pelos clientes.
Para evitar essas armadilhas e manter produtos e serviços exclusivos e valorizados pelos
clientes, a empresa deve monitorar o seu mercado, mantendo um diálogo constante com ele.
Para tanto, é necessário saber com precisão quem são os seus clientes e como acessá-los.
Uma das definições estratégicas mais importantes de uma empresa consiste na escolha do
mercado ou dos mercados nos quais pretende atuar. O mercado consumidor moderno é
caracterizado pela existência de diferenças significativas nas necessidades e desejos dos
clientes ou em suas atitudes e comportamentos em relação às diferentes ofertas. Entender
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como o mercado se segmenta e como os diversos segmentos se diferenciam entre si, em
termos de desejos e demandas, pode ajudar a empresa a encontrar oportunidades nas quais
suas capacidades possam gerar maiores benefícios e vantagens competitivas mais defensáveis.
As empresas tentarão desenvolver diferenciais cujos apelos são mais fortes para os seus
mercados-alvo e, uma vez definidos esses diferenciais, buscarão desenvolver estratégias de
posicionamento focadas nessas diferenças.
O posicionamento pode basear-se em uma proposta única – de produto (design,
funcionalidade, confiabilidade, desempenho ou estilo), de preço, estrutura de venda, imagem
de marca, método de distribuição – ou qualquer combinação destes fatores que garantam a
diferenciação dos produtos e serviços oferecidos pela empresa.
Para auxiliar na correta definição do posicionamento, a empresa pode construir mapas de
posicionamento que mostrem as posições adotadas pelos seus produtos em relação aos
principais concorrentes e em relação aos mais importantes critérios de avaliação dos clientes,
conforme exemplo exposto na figura 2.3.
Figura 2.3 – Mapa de posicionamento de lojas de departamento no Brasil, de acordo com seu preço e variedade de produtos (variedade de produtos)
Fonte: Adaptado de Palmer, 2006.
Conceito Posicionamento é o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de maneira que ocupem uma posição competitiva distinta e significativa nas mentes dos consumidores-alvo (KOTLER, 1995, p. 265).
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A C&A, por exemplo, optou por se diferenciar das demais lojas de departamentos oferecendo
a seus clientes moda a preço justo. A empresa concentrou seu portfólio em produtos de moda
– venda de roupas (femininas, masculinas, infantis) e acessórios – diferentemente de outras
lojas de departamentos como as Pernambucanas e as Lojas Americanas, que optaram por um
portfólio mais amplo. Em relação ao preço, posiciona-se como uma empresa que vende moda
a preço justo, apresentando preços menores que outras cadeias como a Zara e a Renner. O
resultado final desse posicionamento? É a criação de uma proposição de valor bem definida e
adequada às expectativas de mercado. Quem procura a C&A hoje sabe exatamente o que
encontrará.
Para adotar uma estratégia de posicionamento realmente eficaz, focada, a empresa precisa
decidir quais diferenças irá promover, o que deve refletir as necessidades e expectativas dos
clientes, a atuação dos concorrentes e, principalmente, as capacidades da empresa.
Quantas diferenças uma empresa deve promover? Muitos autores acreditam que a empresa
deve escolher e promover apenas um benefício para o mercado-alvo. Como o objetivo do
posicionamento é criar uma imagem referência da empresa na mente do consumidor, fazer
com que o mercado-alvo a reconheça por uma característica específica, a empresa deve
escolher um atributo e promovê-lo consistentemente.
No entanto, em situações onde dois concorrentes estejam divulgando ser os melhores em um
determinado atributo, pode ser conveniente que a empresa explore o “posicionamento de
benefício duplo ou triplo”. Neste caso, a empresa precisa entender o seu ambiente
competitivo e adotar a estratégia de posicionamento mais adequada ao ambiente em questão.
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UNIDADE 3 Adequando o Mix de Marketing ao Posicionamento
Para implementar e defender o posicionamento escolhido, a empresa deve detalhá-lo em
programas de marketing, definindo seu orçamento e alocando adequadamente os recursos
financeiros entre as diversas ferramentas do composto de marketing.
O composto ou mix de marketing, cuja constituição mais conhecida envolve as definições de
produto, preço, promoção e distribuição, determina os meios pelos quais a empresa
transformará sua intenção (expressa pela estratégia central), em um esforço de mercado. Uma
vez definido o valor a ser entregue ao mercado-alvo, a empresa deve buscar adequar as
características de seu(s) produto(s), de sua estratégia de preços e dos seus sistemas de
distribuição ao posicionamento definido. Posteriormente, a empresa deve empregar seus
esforços para comunicá-los e promovê-los no mercado.
O produto
O primeiro e mais básico elemento do composto de marketing é o produto ou serviço ofertado
pela empresa. O produto é o meio pelo qual as organizações buscam satisfazer desejos e
necessidades dos consumidores, estabelecendo o primeiro vínculo empresa x cliente. Ele não é
necessariamente um bem tangível. O produto pode ser um serviço, uma ideia, uma
organização, um lugar ou uma pessoa.
Um produto não possui valor em si mesmo. Seu valor aparece quando alguém o percebe como
algo capaz de satisfazer uma necessidade. Por isso, nas empresas mais bem sucedidas, o foco
do marketing está em seus clientes e em suas necessidades.
Os produtos são elementos complexos e oferecem diferentes níveis de benefícios aos clientes
(figura 4.2). Cada nível acrescenta mais valor ao produto, construindo o que se chama de
“hierarquia de valor para o consumidor”. (KOTLER, 1995; KOTLER, 2006)
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Figura 2.4 – Os cinco níveis de produto Fonte: KOTLER, 2000, p. 367
Como um produto existe para satisfazer uma necessidade, a sua construção deve partir de um
benefício central que a sua posse pode proporcionar. Neste sentido, alguém que compra um
hambúrguer está esperando satisfazer sua fome. A partir do benefício central, a empresa
buscará desenvolver um produto genérico, básico, que venha satisfazer esta necessidade –
neste exemplo, o produto genérico é representado pelo sanduíche (o pão, os molhos, a carne
e tudo que o constitui), sua aparência e o local onde é oferecido.
Ao escolher uma lanchonete, no entanto, o consumidor não busca apenas o sanduíche. Ele
busca um conjunto de atributos e condições que normalmente envolvem a oferta daquele
produto – os consumidores esperam que o sanduíche seja saboroso, que o local esteja limpo,
seja de fácil acesso e que os atendentes sejam atenciosos e ágeis. Ao conjunto destes
atributos, o mercado denomina produto esperado. Como esses atributos são oferecidos por
todos ou pela maior parte dos fornecedores, eles fazem parte das exigências mínimas do
cliente para adquirir o produto e não são suficientes para provocar a preferência do
consumidor. Em uma situação onde os fornecedores oferecem apenas o produto esperado, o
consumidor tenderá a escolher o fornecedor mais barato ou o mais conveniente.
Para conseguir a preferência do consumidor, a empresa precisa desenvolver um produto que
não somente atenda as suas necessidades, mas que ultrapasse suas expectativas. Neste
sentido, a lanchonete do nosso exemplo pode oferecer área de entretenimento para crianças,
sanduíches infantis diferenciados, sanduíches light, drive thru, entre outros serviços,
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construindo o que os autores chamam de produto ampliado (KOTLER 1998; KOTLER 2006;
PALMER, 2006).
Os consumidores demandam mais que apenas soluções técnicas para seus problemas. Eles
buscam também mais conforto, maiores benefícios e menores custos. Analisando
constantemente a maneira como o consumidor adquire e utiliza o produto, a empresa pode
desenvolver novos atributos ou melhorar as suas funcionalidades, ou ainda agregar novos
serviços. Desta forma, é possível oferecer soluções mais completas e eficazes que os
concorrentes, conseguindo a preferência do cliente.
É importante considerar que a concorrência hoje não acontece mais no nível do produto
esperado, ela acontece no nível do produto ampliado, pois este é o nível em que a empresa
conseguirá se diferenciar. É importante considerar que trabalhar na ampliação de um produto
gera custos para a empresa e a mesma deve se questionar se os consumidores estarão
dispostos a pagar mais pelos benefícios adicionais. Além disso, esse é um processo sem fim. As
ampliações que a empresa realizar em um determinado momento, tenderão a ser absorvidas
pelos concorrentes no momento seguinte e se tornarão, no futuro, benefícios esperados.
Para dar continuidade ao processo de diferenciação, as empresas mais inovadoras buscam
desenvolver constantemente novos atributos ou funcionalidades ao produto, trabalhando no
que se denomina produto potencial. Esse nível trabalha essencialmente com pesquisa e
desenvolvimento e envolve ampliações que o produto deverá sofrer no futuro para
permanecer competitivo. O produto potencial envolve características que poderão ser
agregadas a ele, de tal forma a torná-lo melhor que o do concorrente.
Adequar o portfólio de produto às necessidades do mercado não é um processo fácil. A
definição do composto de produtos de uma empresa envolve decisões sobre a variedade de
produtos que ela pretende oferecer para o mercado em termos de sua abrangência, extensão,
profundidade e em relação à consistência de seu portfólio.
I- A abrangência do composto de produtos diz respeito à quantidade de linhas de
produtos que uma empresa vai oferecer ao mercado. Uma seguradora pode decidir
ofertar seguros de vida, seguros patrimoniais e planos de previdência privada.
A quantidade e essência das linhas de produtos que a empresa irá trabalhar dependem
dos seus objetivos. Se estiver buscando formas de otimizar a rentabilidade de sua base
de clientes, intensificar os vínculos com estes clientes ou se defender dos efeitos das
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oscilações econômicas, a empresa pode decidir trabalhar várias linhas diferentes que
permitam vendas cruzadas ou que reajam diferentemente aos eventos econômicos.
II- Uma vez definidas as linhas de produtos que a empresa irá trabalhar, ela precisará
decidir sobre a extensão de seu portfólio – número total de itens (produtos
individuais) que serão ofertados. A seguradora do exemplo anterior pode decidir
oferecer 10 produtos, divididos em três linhas de produtos diferentes, como mostrado
na Tabela 2.1
Seguros de Vida Seguros patrimoniais Previdência Privada
Seguro de Vida Automóvel PGBL
Seguro de Vida Resgatável Automóvel – Valor de mercado VGBL
Seguro Educação Seguro Lar
Seguro Saúde Renda Garantida
Tabela 2.1 – Abrangência e extensão do mix de produtos da seguradora Fonte: Adaptado de Kotler, 1998.
III- As decisões sobre profundidade do composto de produtos dizem respeito ao número
total de produtos que a empresa pretende trabalhar por linha. Ao oferecer uma linha
de produtos, a empresa desenvolve um módulo básico, a partir do qual pode
desenvolver diferentes produtos para atender a diferentes necessidades dos
consumidores. Neste sentido, dentro da linha de seguro de vida, a empresa de
seguros optou por oferecer o Seguro de Vida Tradicional, o Seguro de Vida
Resgatável, o Seguro Educação e o Seguro Saúde. Todos eles utilizam a mesma
dinâmica de funcionamento, mas são desenhados e desenvolvidos para atender a
diferentes demandas dos clientes.
As linhas de produtos tendem a se expandir com o tempo, a fim de permitir que a
empresa usufrua algumas oportunidades, como o aproveitamento de capacidade
produtiva ociosa. Os revendedores podem contribuir também para a expansão da
linha de produtos, pressionando a empresa a oferecer uma linha mais completa a fim
de atender as diferentes necessidades dos seus clientes. Este processo, no entanto,
encontra um limite que é imposto pelo crescimento dos custos de projeto,
processamento de pedidos, armazenagem (dentre outros) ou pela limitação da
capacidade de produção.
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IV- Em relação à consistência do portfólio, a empresa precisa decidir quão sinérgicas
serão as diversas linhas de produto em relação à tecnologia de produção, canais de
distribuição, mercados-alvo ou qualquer outro critério que a empresa julgue
conveniente.
Além das decisões sobre a abrangência, extensão, profundidade e consistência do portfólio de
produtos, a empresa precisa tomar algumas decisões sobre suas linhas de produtos. Por linha
de produtos entende-se um grupo de produtos que desempenham funções similares, para um
mesmo grupo de consumidores, e são comercializados pelos mesmos canais de distribuição
em uma faixa de preço semelhante.
A primeira decisão relativa à linha de produtos envolve o desenvolvimento, a manutenção ou
eliminação de alguns de seus itens. Isto depende fundamentalmente do percentual de vendas
do produto avaliado sobre o total de vendas da linha e da sua lucratividade individual. Uma
linha de produtos com um número muito pequeno de itens pode se mostrar muito vulnerável
às influências ambientais e pode se deteriorar à medida que seus produtos forem
envelhecendo. Por outro lado, uma linha com muitos itens de baixa representatividade
individual pode ser uma linha pouco lucrativa. Os gestores, neste caso, precisam encontrar o
número muito bom de produtos para otimizar a lucratividade da linha e garantir a sua saúde
ao longo do tempo. Isto pode envolver a decisão de incluir novos itens, trabalhar a
manutenção de outros ou eliminar alguns itens pouco representativos em termos de
vendas/lucro ou muito representativos em termos de custos. Decisões apropriadas sobre os
produtos individualmente podem otimizar os resultados gerais de toda a linha.
Outra decisão importante relativa à linha de produtos de uma empresa refere-se à escolha dos
atributos que a diferenciarão dos produtos concorrentes. A empresa deve avaliar a posição de
seus produtos em relação à qualidade, ao design, à embalagem, à funcionalidade e a outros
atributos valorizados pelo mercado.
O preço
O preço é o elemento do composto de marketing que afeta mais diretamente os resultados
financeiros de uma empresa. Qualquer falha na definição do preço de venda de um produto
poderá afetá-la negativamente. O estabelecimento de preços muito baixos pode gerar um
volume de vendas apreciável, no entanto poderá prejudicar os lucros da organização e
influenciar a imagem e aceitação do produto. Por outro lado, a definição de preços muito altos
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pode levar à redução do volume de vendas e impedir que a empresa atinja o seu ponto de
equilíbrio.
O estabelecimento do preço é uma tarefa complexa que, além de técnica e objetividade,
envolve a intuição dos gestores, principalmente quando o produto está sendo lançado e não se
conhece a reação história dos consumidores às diferentes possibilidades de preços. O
estabelecimento do preço deve levar em consideração diversas variáveis, dentre elas:
1- os objetivos de preço da empresa;
2- a estrutura do mercado no qual atua a empresa (monopólio, oligopólio, concorrência
monopolista ou imperfeita e concorrência pura);
3- a demanda existente para o produto em questão (número de pessoas que desejam e
podem efetivamente adquirir o produto em um determinado intervalo de tempo,
considerando certas condições do produto);
4- a estrutura de custo da empresa;
5- o grau de diferenciação do produto;
6- a elasticidade da demanda;
7- a influência da regulação sobre os preços.
Fixação dos preços
Kotler (2006) apresenta um procedimento de seis etapas para a fixação do preço, conforme
exposto na figura 2.5.
Figura 2.5 – Estabelecimento de uma política de preço Fonte: Kotler, 1998, p. 437.
Primeiro passo: o primeiro passo deste processo é a seleção dos objetivos de preço. A
empresa precisa decidir o que deseja alcançar com uma determinada estratégia de preço. Ela
pode priorizar a sobrevivência, se estiver enfrentando uma concorrência intensa ou se seus
consumidores deixaram de comprar o produto repentinamente.
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Para aumentar o giro dos estoques, a empresa pode optar por reduzir o preço. Nesse caso, ela
estará disposta a prejudicar sua margem de lucro em curto prazo para garantir sua
sobrevivência. Por outro lado, ela pode optar por maximizar seu lucro, selecionando o preço
que proporcionará o maior lucro e as maiores taxas de retorno sobre o investimento. Em
alguns casos, isso pode representar preços maiores. A empresa pode optar ainda por
maximizar seu faturamento. Neste caso, a definição do preço dependerá da estimativa de sua
função demanda (como a demanda reagirá a um aumento ou queda no preço praticado pela
empresa).
A intenção de maximizar o crescimento das vendas implicaria na cobrança de preços menores.
Nesse caso, a empresa partiria da hipótese de que menores preços levariam a maiores
volumes de venda, à redução dos custos e produção e distribuição e desencorajaria os
concorrentes a investirem neste mercado.
Se a empresa deseja desnatar o mercado, ela pode optar por introduzir um novo produto ao
preço mais alto possível. Nesta estratégia, acreditando que o seu novo produto possui
diferenciais concretos em relação aos produtos concorrentes, a empresa define o preço mais
alto possível. Ao longo do tempo, assim que o consumo do produto mostra um
desaquecimento, a empresa reduz o preço visando estimular a demanda no segmento
imediatamente inferior.
A empresa pode visar à estratégia de preço alto/qualidade. Neste caso, a empresa busca
vender produtos de qualidade superior, de forma a justificar preços mais altos que os preços
dos concorrentes.
Segundo passo: uma vez definido o objetivo de preço, a empresa deve determinar a demanda
que resultará do preço a ser praticado. Via de regra, preço e demanda são variáveis
inversamente relacionadas – quando o preço aumenta, a demanda tende a cair e vice-versa.
Em algumas circunstâncias, no entanto, esta relação não se verifica. Por isso, a empresa deve
buscar estimar a sua curva de demanda para entender como variações no preço afetarão a
demanda do seu produto.
Vários são os métodos que permitem a estimativa da curva de demanda, dentre eles a análise
estatística dos dados históricos (adequado aos produtos mais antigos do portfólio), a condução
de experiências de preço (a empresa, após variar os preços para cima ou para baixo, registra os
resultados obtidos) e, finalmente, a realização de pesquisas junto aos consumidores, situação
em que a empresa questiona aos consumidores sobre a intenção de compra do produto (em
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unidades) em diferentes situações de preços (método adequado à produtos que estão sendo
lançados).
A estimativa de demanda para um determinado produto indica o preço máximo que a
empresa pode praticar para o produto em questão, no entanto, não consegue estabelecer o
preço mínimo a partir do qual não vale a pena a empresa ofertá-lo. Esta definição depende dos
custos de produção, distribuição e venda do produto, considerando uma remuneração justa
pelo esforço e risco do negócio.
Terceiro passo - a estimativa dos custos de determinado produto constitui o terceiro passo do
processo do estabelecimento de seu preço.
Quarto passo – esta etapa demanda que a empresa se volte para os seus concorrentes, uma
vez que os custos, o preço e as ofertas praticadas por eles podem afetar a aceitação do seu
preço pelo mercado consumidor. Ao analisar a oferta dos concorrentes, a empresa pode
decidir se praticará preços maiores, iguais ou inferiores a eles. Caso a empresa identifique que
seu produto possui determinadas características mais valorizadas pelos consumidores que o
de seus concorrentes, poderá optar por cobrar preços mais altos. Por outro lado, ofertas
piores tendem a fazer a empresa cobrar preços menores que os concorrentes.
Quinto passo: definidos os objetivos de preço da empresa, analisada a demanda, os custos da
empresa e o preço x oferta praticado pelos concorrentes, a empresa estará apta para
selecionar o seu preço. Para isto precisará selecionar um método que a auxilie a determinar o
seu preço ótimo. Vários são os métodos possíveis, dentre eles:
1) preço de markup: a empresa resolve adicionar um markup padrão ao custo do
produto. Esse, no entanto, não é um método eficaz, pois ignora fatores importantes
como a demanda existente, o valor percebido pelo cliente e os preços praticados pela
concorrência;
2) preço de retorno-alvo: a empresa estabelece uma taxa de retorno desejada e, na
sequência, determina o preço que possibilitaria o alcance deste objetivo. Esse método
também tem suas limitações. A empresa pode errar na sua estimativa de vendas, por
ignorar a elasticidade da demanda e o preço dos concorrentes;
3) preço de valor percebido: este método leva em conta o valor percebido pelo cliente e,
para tanto, precisa entender em profundidade o seu processo de tomada de decisão.
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Para conseguir praticar o preço ideal, a empresa deve conseguir levantar a percepção
de valor – na perspectiva do cliente;
4) determinação de preços com base no valor: neste sistema, a empresa conquista
clientes cobrando um preço relativamente baixo por uma oferta de alta qualidade.
Esse método de precificação é muito adequado para empresas que adotam a
estratégia de custo, pois a determinação do preço com base no valor não se resume a
cobrar preços baixos. É fundamental que a empresa reduza seus custos operacionais
para conseguir reduzir seu preço de forma consistente;
5) determinação de preço de mercado – a empresa estabelece seu preço tomando como
base o preço dos concorrentes;
6) determinação do preço por leilão.
Sexto passo: após a definição do método de precificação, a empresa define seu preço de
venda, levando em consideração os outros elementos do mix de marketing.
Distribuição
Muitos fabricantes não possuem os recursos necessários para comercializar seus produtos
diretamente, acreditam que alcançarão retornos maiores investindo em seu negócio principal,
ou simplesmente não julgam viável a comercialização direta de seus produtos. Por todos estes
fatores, a empresa decide terceirizar seu processo de vendas, o que demanda a escolha de
canais apropriados de distribuição.
A decisão sobre os canais de marketing a serem adotados pela organização é muito delicada.
Essa escolha tende a afetar todas as outras decisões de marketing – as decisões relativas a
preço, dimensionamento da força de vendas e ao grau de investimento em comunicação
dependem das definições sobre os revendedores que irão comercializar os produtos da
empresa.
Atualmente, pressionadas pela concorrência, as empresas têm adotado uma estratégia de
multicanais ou de canais híbridos. Com isto, se habilitam a atender diferentes necessidades
dos clientes relativas ao processo de compra. No entanto, para que a estratégia de multicanal
agregue valor à oferta da empresa, ela deve garantir que eles funcionem em harmonia.
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Para projetar um sistema de canais realmente eficaz, é fundamental que a empresa identifique
e entenda as necessidades dos seus clientes, estabeleça os objetivos de canal, identifique e
avalie adequadamente as suas principais alternativas. A empresa deve mapear as necessidades
dos clientes em relação a:
I- número de unidades adquiridas: alguns canais permitem que os clientes comprem
peças unitárias, enquanto outros permitem somente a compra por lotes. No Brasil,
algumas empresas têm optado pela adoção dos dois tipos de canais em paralelo,
oferecendo sortimento de produtos e preços diferenciados entre os dois canais. A
preferência por um ou outro tipo de canal depende das características individuais do
comprador e dos demais elementos do mix de marketing;
II- tempo de espera para receber o produto: os clientes tendem a preferir os canais cuja
entrega é mais rápida. No entanto, podem aceitar prazos mais longos se isto implicar
em preços menores ou se estiver esperando produtos com características especiais ou
exclusivas;
III- conveniência espacial no que diz respeito a facilidade de acesso aos pontos de venda:
normalmente, empresas cujo número de pontos de venda é maior são preferidas pelos
clientes, pois o acesso tende a ser facilitado;
IV- variedade de produtos disponíveis para compra e serviços de apoio: canais que
oferecem uma variedade maior de produtos e um número maior de serviços adicionais
tendem também a gerar a preferência dos consumidores.
Uma vez mapeadas as necessidades e preferências dos clientes em relação aos níveis de
produção de serviços dos canais de marketing, a empresa deve estabelecer os objetivos e
limitações dos canais. Os objetivos do canal variam em função do produto que a empresa
comercializa – produtos perecíveis, mercadorias cujo manuseio é mais difícil e produtos
desenvolvidos sob medida para os clientes exigem canais mais diretos. Nesses casos, muitas
vezes a própria empresa se encarrega da comercialização dos produtos. A empresa pode
escolher, entre uma grande variedade de canais, aquele ou aqueles que são mais adequados.
Além das características dos produtos da empresa, a decisão de que canais adotar deve levar
em consideração critérios econômicos (uma vez que diferentes canais gerarão níveis
diferentes de vendas e custos), critérios de controle (a utilização de empresas independentes –
representantes, distribuidores, lojas de varejo – tende a diminuir o controle que a empresa
possui sobre a qualidade das vendas e a quantidade vendida) e a capacidade/necessidade de
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adaptação da empresa ao mercado (empresas que atuam em mercados altamente voláteis
precisam adotar canais que a dotem de elevada adaptabilidade).
Uma vez definidos os canais mais apropriados aos seus objetivos e características, a empresa
deve selecionar criteriosamente os intermediários, treinando-os, motivando-os e criando um
sistema de acompanhamento e avaliação que permita à empresa identificar os pontos que
precisam ser ajustados.
Comunicação
A comunicação é o quarto elemento do composto de marketing e tem como objetivo informar
e promover os produtos da empresa junto ao mercado-alvo. Um posicionamento consistente,
que consiga diferenciar os produtos e/ou serviços da empresa em relação aos da concorrência,
precisa ser comunicado com qualidade. Considerando que os consumidores são
constantemente bombardeados por inúmeros estímulos de comunicação, isto não é tarefa
fácil.
Um composto promocional bem planejado deve garantir que a empresa se comunique com os
consumidores de forma coerente. Isto significa que os consumidores devem escutar da
empresa uma única voz e não uma gama de mensagens desencontradas. Como a comunicação
ocorre não somente através das atividades promocionais, mas também por meio dos
produtos, do preço e da dinâmica de distribuição adotada, o planejamento da comunicação
deve garantir a sinergia entre todos estes elementos. Neste sentido, as atividades
promocionais estão diretamente ligadas à estratégia central e de marketing da organização, de
forma a dar o apoio necessário a sua divulgação e execução.
São objetivos da comunicação:
I- conscientizar as pessoas em relação à existência da organização e de seus produtos;
II- transmitir os benefícios de se comprar um produto;
III- construir uma imagem positiva da organização e de seus produtos;
IV- influenciar a eventual compra de um produto;
V- diferenciar, dos concorrentes, a empresa e seus produtos;
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VI- lembrar às pessoas a existência da organização e de seus produtos. (PALMER, 2006, p.
343)
Para ser eficiente, a comunicação deve definir com precisão a fonte da mensagem,
representada pelo indivíduo ou organização que emite a comunicação; deve identificar o
público a que se dirige e como a mensagem é codificada pelo emissor e decodificada pelo
receptor, deve escolher a mensagem que deseja emitir, bem como os canais utilizados para
transmiti-la. Por fim, deve determinar a resposta desejada do público, como também criar
meios para identificar a resposta real emitida por ele. Esse feedback ajudará a empresa a
realizar ajustes nas comunicações futuras.
A fonte de uma mensagem nem sempre é a empresa. Ela pode ser a própria empresa ou uma
personalidade considerada poderosa, confiável e querida o suficiente para gerar uma
determinada reação/comportamento no público-alvo. É comum que as empresas utilizem
personalidades em seus processos de comunicação, porque os consumidores têm a tendência
de atribuir ao produto as qualidades da pessoa que emitiu a mensagem.
A identificação do cliente com a fonte da mensagem auxilia, mas não garante que a
comunicação seja percebida e compreendida. Para que isto ocorra, a empresa deve se
preocupar com o seu conteúdo, sua estrutura e forma. O conteúdo bem trabalhado em uma
comunicação bem estruturada (coerente e fluida), na forma correta, prende a atenção e
influencia a atitude do consumidor em relação ao que está sendo comunicado.
O desenvolvimento de comunicações efetivas demanda da empresa um processo estruturado
que envolve:
1- a identificação da audiência-alvo: em função da audiência-alvo e da imagem que os
consumidores possuem sobre a empresa e/ou produto comunicado, serão tomadas as
decisões sobre o que comunicar, quando, onde, como e a quem comunicar;
2- a determinação dos objetivos da comunicação: a empresa deve definir o que esperar
da comunicação, qual a resposta final a ser emitida pelos clientes – compra, lembrança
de marca/posicionamento, mudança de atitude em relação ao objeto da mensagem,
comunicação boca a boca, aumento dos níveis de satisfação, dentre outras respostas;
3- o desenvolvimento da mensagem: o comunicador deve buscar desenvolver uma
mensagem eficaz que atraia a atenção, prenda o interesse, desperte o desejo e
conduza o receptor à ação. Embora isso seja o desejável, na prática, poucas
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mensagens possuem a capacidade de percorrer todo este caminho. Para isto a
empresa precisa pensar no que dizer para atrair a atenção (conteúdo), como dizer
corretamente (estrutura), como dizer simbolicamente (formato) e quem deve dizê-la
(fonte);
4- a seleção dos canais de comunicação: a empresa deve combinar canais diferentes e
complementares em seus processos de comunicação, adotando canais de
comunicação pessoal (envolvem a comunicação direta entre duas ou mais pessoas) e
canais de comunicação impessoais (conduzem a mensagem sem contato ou interação
pessoal);
5- o estabelecimento do orçamento promocional: as empresas utilizam mais comumente
4 métodos de orçamentação – o método de disponibilidade de recursos (o orçamento
é definido a partir das disponibilidades da empresa para um período determinado,
ignorando outros fatores importantes para a definição dos recursos a serem
empregados); método da porcentagem sobre o faturamento (a definição do
orçamento leva em consideração a disponibilidade financeira da empresa, bem como a
relação custo da promoção x preço de venda x lucro unitário); o método da paridade
competitiva (o orçamento da empresa é definido de tal forma que ele seja equivalente
ao orçamento dos concorrentes); método do objetivo e tarefa (o orçamento leva em
consideração os objetivos de comunicação traçados pela organização e as tarefas
necessárias para alcançá-los);
6- as decisões sobre o composto promocional: nesta etapa a empresa precisará decidir
quais ferramentas promocionais irá utilizar (propaganda, promoção de vendas,
relações públicas e publicidade, força de vendas e marketing direto) e como dividirá o
orçamento entre elas. Essa decisão é fortemente influenciada pelo tipo de mercado no
qual atua a empresa (mercados consumidores x mercados de bens industriais), pela
estratégia de distribuição adotada pela instituição (empurrar x puxar), pelo estágio de
aptidão apresentado pelo comprador em relação ao produto/empresa, pelo estágio do
ciclo de vida no qual o produto se encontra e pela classificação da marca da empresa
em relação a seus concorrentes;
7- a mensuração dos resultados da promoção;
8- a administração e coordenação da comunicação de marketing integrado: a
segmentação crescente dos mercados tem exigido que as empresas substituam a velha
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forma de definir o composto promocional – apoiada principalmente em uma ou duas
ferramentas promocionais – e adotem práticas mais abrangentes, que utilizam uma
variedade maior de ferramentas de comunicação, de forma a obter máxima clareza,
consistência e impacto de suas estratégias.
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UNIDADE 4 Comportamento do Consumidor e os Segmentos de Mercado
O objetivo fundamental do marketing é satisfazer necessidades e desejos dos consumidores.
Considerando a enorme diversidade de consumidores e, consequentemente, a diversidade de
necessidades e desejos, a empresa precisa empenhar-se em entender como os consumidores-
alvo escolhem, adquirem, utilizam e descartam os produtos e serviços que consomem, a fim
de desenvolver esforços de marketing adequados.
Por que estudar o comportamento do consumidor? Peter Drucker, em 1954, já afirmava que o
propósito de um negócio é criar um cliente. Muito embora o comportamento do consumidor
seja intencional e direcionado a um objetivo específico, o marketing pode afetá-lo, caso
consiga atender as suas necessidades e expectativas. Segundo os autores, “um sucesso de
vendas ocorre porque a demanda já existe ou está latente e esperando a ativação pela oferta
de marketing adequada.” (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000, p. 8). Assim, o estudo do
comportamento do consumidor pode auxiliar a empresa a adquirir o conhecimento necessário
para definir produtos, preços, canais e comunicações adequadas ao público selecionado e criar
novos clientes.
Para entender o comportamento do consumidor, muitos estudiosos buscaram desenvolver um
modelo que representasse o processo de decisão de compra e as variáveis que o afetam. Esse
modelo contempla os passos que a maior parte dos consumidores segue para tomar decisões
de consumo, assim como as variáveis – internas e externas – que afetam a maneira como eles
pensam, avaliam e agem. Esse é um modelo nem sempre fácil de decifrar, pois, embora
algumas vezes o processo de tomada de decisão do consumidor seja racional, envolvendo a
avaliação cuidadosa dos atributos do produto, em outras ocasiões esse processo pode ser
totalmente orientado pela emoção ou um misto de racionalidade e emocionalidade.
Conceito Comportamento do consumidor é entendido como as atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor de produtos e serviços, incluindo os processos decisórios que antecedem e sucedem estas ações (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000, p. 4)
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O processo de decisão do consumidor
A tomada de decisão do consumidor consiste em um conjunto de processos contemplados em
sete etapas, conforme Figura 4.1:
Figura 4.1 – Modelo do processo de decisão do consumidor
Mesmo que tudo indique que o processo de compra vá ocorrer, nem todos os processos de
decisão levam a uma compra, uma vez que os indivíduos podem encerrar o processo em
qualquer estágio. Assim, algumas vezes o processo de decisão de compra não inclui
necessariamente todas as cinco etapas – pessoas envolvidas em soluções de problemas
ampliados (referentes a compras complexas, como a escolha da escola dos filhos)
normalmente passam por todas as etapas do processo decisório, enquanto aquelas engajadas
em soluções de problemas limitados e no comportamento de resposta rotineira podem omitir
alguns estágios.
1- Reconhecimento da necessidade: o processo decisório é iniciado quando um cliente
reconhece um problema a ser resolvido ou uma necessidade a ser satisfeita. O
reconhecimento da necessidade depende da discrepância existente entre um estado
desejado pelo consumidor e a situação real vivenciada por ele. Quando esta discrepância
atinge certo grau, o consumidor reconhece uma necessidade. O processo decisório,
portanto, é iniciado por um estado de desejo, privação, desconforto ou falta (seja física
ou psicológica) sentido por uma pessoa. A partir do momento em que reconhece o
problema, o cliente percebe que precisa empreender uma ação específica para voltar ao
estado normal de conforto – esta ação pode envolver uma compra.
É importante considerar que o reconhecimento da necessidade não leva
necessariamente a uma ação de compra. Isto dependerá da importância da necessidade
ou da percepção que a pessoa possui sobre a sua capacidade de resolver o problema.
O estado de necessidade ou desejo pode ser estimulado por características pessoais
como motivação, personalidade, valores e estilo de vida, ou por influências ambientais,
principalmente pelas interações sociais.
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2- Busca de informação: depois de identificar o problema, os consumidores iniciam um
processo de busca para obter informações sobre meios que os permitam eliminar o
problema. A busca inclui fontes de informações internas e externas.
O processo se inicia por uma busca interna, etapa na qual o consumidor acessa a memória
para verificar se conhece alguma opção que permita a solução do problema sem que sejam
necessárias maiores buscas. É possível que o consumidor se lembre de uma experiência
anterior com o produto ou tenha na memória informações obtidas por meios de comunicação
ou comentários de amigos e familiares. Se o consumidor entender que possui as informações
necessárias, ele interrompe a busca e parte para a próxima etapa. Caso ele perceba que não as
possui, ele parte para o processo de busca externa.
Embora muito conveniente, a busca interna raramente inclui todos os produtos e marcas
existentes, apresentando limitações. Na busca interna, os clientes consideram apenas um
seleto subconjunto de produtos e marcas que já conhece e dos quais se lembra no momento
de tomada da decisão. Dos produtos e marcas lembrados, nem todos são considerados
capazes de satisfazer às suas necessidades. Os que são considerados inadequados são
imediatamente eliminados. Isto restringe muito as alternativas, o que pode gerar a
necessidade da busca externa de informações.
Em que momento o consumidor passa para o processo de busca externa? Isto depende
fortemente das diferenças individuais dos consumidores ou das circunstâncias ambientais que
cercam a compra. Se um consumidor potencial é muito cauteloso e demanda informação
extensa e detalhada para tomar decisão, ele tenderá a empreender uma busca externa por
informações, de forma a aumentar a sua certeza em relação ao produto a ser consumido.
Outros consumidores menos detalhistas e que demandam menos informações, em uma
situação de compra semelhante podem mostrar-se satisfeitos com as informações prévias que
já possuem sobre o produto.
Ao empreender um processo de busca externa, os consumidores tendem a considerar, dentre
outras fontes, as informações que os fornecedores disponibilizam por meio de seus esforços
de marketing (propaganda, embalagens, vitrines de lojas, materiais de ponto de venda, equipe
de vendas), por isso a necessidade de desenvolvê-los adequadamente. A empresa deve
desenvolver estratégias para ter sua marca no conjunto que o consumidor realmente
considera ao tomar uma decisão de compra (conjunto evocado). Deve identificar as outras
marcas no conjunto de escolha do consumidor para que possa planejar apelos competitivos.
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Além disso, a empresa deve identificar as fontes de informação que o consumidor utiliza e
avaliar sua importância.
A empresa não é a única a fornecer informações para o processo de tomada de decisão do
consumidor. Outras fontes externas importantes compreendem os amigos, colegas, opinião de
especialistas, publicações, relatórios de pesquisa. A internet tem crescido em relevância nos
últimos anos. Embora a empresa não tenha o controle destas fontes, é importante que ela as
monitore para intervir quando necessário e possível.
Os tipos básicos de informações procuradas na busca externa são informações sobre produtos
e marcas alternativas, sobre os critérios de avaliação com o qual comparar produtos e marcas
e o desempenho das marcas quanto aos atributos.
Os consumidores agora escolhem entre mais produtos do que antes. Essa variedade pode
confundir e complicar a análise necessária para diminuir a variedade de suas escolhas. Em vez
de comparar uma ou duas marcas, um consumidor frequentemente enfrenta um arranjo
atordoante de marcas e submarcas. Os produtos que antes só incluíam uma ou duas categorias
– café normal versus descafeinado – agora estão disponíveis em muitas formas diferentes –
cappuccino, latte, café com sabores, expresso, café gelado, só para citar algumas
possibilidades (...) os profissionais de marketing encontram um desafio difícil ao passar pela
bagunça que distrai os consumidores. Eles precisam encontrar maneiras criativas de penetrar
no conjunto evocado de alternativas do consumidor. (BOONE e KURTZ, 2009)
Não basta que a empresa disponibilize a informação para o consumidor. Uma vez realizada a
exposição da mensagem, ela percorre um longo caminho até que possa exercer sua influência
efetiva sobre o comportamento de compra. A meta da organização não deve ser simplesmente
emitir a mensagem, mas garantir que ela seja percebida, compreendida, aceita e armazenada
na memória, de forma a ser considerada pelo consumidor no momento da compra.
3- Avaliação de alternativas: no estágio de avaliação das alternativas, o consumidor compara
as opções identificadas como potencialmente capazes de resolver o problema,
identificadas durante o processo de busca. É difícil separar a etapa de avaliação de
alternativas da etapa de busca de informações, porque à medida que o consumidor vai
coletando as informações, ele faz naturalmente as avaliações dos produtos e marcas,
segundo determinados critérios.
Nesta etapa, os consumidores precisam desenvolver o conjunto de critérios que os auxiliará no
processo de avaliação e seleção das alternativas. Esses critérios envolvem tantos fatores
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objetivos, quanto subjetivos – o nome da marca, os atributos do produto, o desempenho do
produto, a simpatia pelo fabricante, o estilo, etc.
A influência dos diversos critérios utilizados para a avaliação das alternativas geralmente difere
em intensidade uns dos outros e de pessoa para pessoa (saliência do critério). Alguns critérios
têm impacto maior do que outros. A qualidade do corpo médico pode ser uma variável
fundamental e de forte peso na escolha de um hospital, enquanto os aspectos estéticos
podem ser menos relevantes. A importância dos aspectos estéticos, por sua vez, pode ser
avaliada diferentemente por diferentes pessoas – um consumidor pode avaliá-los como pouco
importantes, enquanto outros o consideram bastante relevantes.
A definição e saliência dos critérios de decisão por parte dos consumidores dependem de
vários fatores:
I- influência situacional: os critérios utilizados para a escolha de uma marca de bebida
podem variar em função da ocasião de uso;
II- similaridade das alternativas de escolha: um consumidor pode precisar decidir entre
alternativas tão diversas quanto as diferentes atividades a realizar nas férias, ou pode
estar envolvido na escolha de uma marca dentro de uma categoria de produtos – que
automóvel comprar entre as diferentes opções de carro 1.0 disponíveis no mercado;
III- motivação: a presença ou predomínio de motivações utilitárias ou hedonistas podem
influenciar os critérios utilizados em uma compra. Um consumidor mais utilitário pode
privilegiar critérios como desempenho e preço. Consumidores mais hedonistas podem
priorizar os sentimentos provenientes do processo de avaliação das alternativas;
IV- Envolvimento: quanto maior o envolvimento do consumidor com a compra, maior
tende a ser o número de critérios utilizados na avaliação das alternativas. O tipo de
critério também pode ser influenciado pelo envolvimento;
V- Conhecimento: quanto mais acostumado e informado o consumidor, maior a
possibilidade de ele desenvolver seus próprios critérios de avaliação.
Os consumidores apresentam limitações quanto a sua capacidade de avaliar alternativas de
escolha. Portanto, alguns estudiosos acreditam que os consumidores nunca comparam as
alternativas de forma totalmente consciente.
Avaliações geralmente refletem crenças e atitudes.
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É comum que os consumidores já tenham armazenado em sua memória julgamentos ou
crenças sobre as alternativas de escolha em consideração. Quando não possuem, precisam
buscar informações externas para formar crenças sobre o desempenho de uma alternativa. Os
profissionais de marketing podem tentar influenciar este processo de três maneiras: tentar
influenciar os consumidores na escolha dos critérios utilizados durante o processo de
avaliação; a partir da identificação dos critérios utilizados pelo consumidor para avaliar uma
alternativa, tentar mostrar que uma marca específica preenche tais critérios; tentar expandir o
conjunto evocado para incluir o produto/marca da empresa.
4- Decisão de Compra: após o cliente ter avaliado as alternativas, ele cria preferências
entre as marcas que foram selecionadas para fazerem parte do seu conjunto de escolha.
A decisão de compra será tomada levando em consideração estas marcas.
É importante considerar, no entanto, que nem todas as compras são consumadas, pois o
consumidor sempre pode resolver abortar o processo neste ponto – suas motivações podem
mudar ao longo do processo, as circunstâncias da compra podem ser alteradas (o consumidor
passa a não contar mais com os recursos necessários para realizar a compra, ou outra variável
circunstancial pode impedi-lo de concretizar seus planos), novas informações surgem e a
avaliação de alternativas é considerada falha, ou as alternativas desejadas não se encontram
mais disponíveis.
Vencidas estas dificuldades, o processo de compra compreende novas decisões:
I- o que comprar (decisão de marca e de quantidade);
II- onde comprar (decisão em relação ao revendedor);
III- quando comprar ;
IV- como pagar.
Muitas compras ocorrem de maneira totalmente planejada (normalmente fazem parte deste
grupo compras de alto envolvimento e solução de problema ampliada) e o comprador sabe
Conceito Crença é um pensamento descritivo que alguém mantém a respeito de alguma coisa. (KOTLER, 2000, p. 191) Atitude corresponde às avaliações, sentimentos e tendências de ação duradouros, favoráveis ou não, a algum objeto ou ideia. As atitudes predispõem as pessoas a gostar ou não de um objeto, o que as aproxima ou afasta dele. (KOTLER, 2000, p. 191)
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exatamente o que quer – o que, onde e quando comprar e como pagar. No entanto, em
outras, embora planejadas, a decisão de que marca comprar pode ser feita no ponto de venda.
Nestes casos, a decisão final depende fundamentalmente dos estímulos existentes no ponto
de venda, como as promoções, reduções de preço, displays, embalagens e argumentação das
equipes de vendas. O consumidor pode realizar um terceiro tipo de compra, denominada
compra não-planejada.
5- Consumo e avaliação pós-compra: o processo de avaliação não se encerra no consumo
do produto. Após a compra, os consumidores passam a avaliar o produto ou serviço
para se certificarem de que seu desempenho real atende aos níveis esperados. O
resultado desse estágio gera algum nível de satisfação ou insatisfação, estado que
influenciará na probabilidade de recompra ou na forma como o consumidor irá se
referir a ele ao se comunicar com outros possíveis consumidores.
Considerando o fato de que a maioria das compras é realizada de forma repetida, e que a
satisfação pós-compra é determinante para a decisão de recompra, torna-se muito importante
que a empresa assegure que o apelo do produto ou serviço represente fidedignamente seu
provável desempenho. Portanto, é nesta etapa que a empresa deve se questionar: as
expectativas dos compradores foram atendidas?
Até muito recentemente (e isto é realidade ainda hoje para muitas empresas), as experiências
do consumidor com o produto após a sua aquisição não atraíam muito a atenção dos
profissionais de marketing, cujo objetivo principal era a venda. Com a intensificação da
competitividade, houve uma drástica mudança nas percepções e atitudes destes profissionais
em relação à satisfação e retenção dos clientes. Eles sabem que o fracasso de desempenho de
um produto não é aceito facilmente pelo consumidor e, nesta circunstância, ele tenderá a
trocar de fornecedor. Para assegurar a preferência dos seus clientes, as empresas têm se
preocupado cada vez mais intensamente com os processos de pós-compra.
Além das variáveis que interferem na decisão do consumidor ao longo do processo e
dificultam a venda pela empresa, é comum que, após a compra, os consumidores passem por
um processo de ansiedade, resultado de um desequilíbrio entre conhecimentos, crenças e
atitudes. Esse processo acontece quando o consumidor percebe que os vários outros modelos
ou marcas que foram descartados durante o processo possuem características desejadas que o
produto comprado não apresenta. Pode surgir também quando o consumidor considera que
despendeu um volume significativo de seus recursos financeiros para adquirir o produto, ou
quando este percebe um risco alto de fracasso e insatisfação. A esta situação de desconforto
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dá-se o nome de dissonância cognitiva e, uma vez não combatida, pode levar o consumidor a
excluir o produto ou marca em uma próxima ocasião de compra.
Para auxiliar o consumidor a passar por este processo, a empresa pode desenvolver ações no
sentido de deixá-lo mais confiante, oferecendo-lhes apoio e atenção após a compra,
fornecendo informações que apoiam a alternativa escolhida ou permitindo a eles rever sua
decisão.
6- Descarte: Como a grande e maior parte dos produtos possuem uma vida limitada, o
destino dos resíduos dos produtos sempre foi um problema. No entanto, somente
muito recentemente ele passou a ser fonte de preocupação por parte dos consumidores
e empresas, principalmente devido às preocupações com a escassez de recursos e com
a degradação ambiental. Existem basicamente três alternativas de descarte: descarte
direto, reciclagem e remarketing (o produto volta a ser comercializado – exemplo:
mercado das pulgas ou brechós).
Fatores que influenciam o comportamento de compra
As pessoas não tomam decisões de consumo ao acaso. Embora, muitas vezes, não se tenha
consciência disto, todas as decisões de consumo são influenciadas por uma grande quantidade
de fatores internos e externos. Estes fatores influenciam o consumidor durante todo o
processo de consumo, sendo que cada fator individualmente possui de forma diferenciada
cada uma das diversas fases do processo.
Engel, Blackwell e Miniard (2000) agrupam os fatores influenciadores do comportamento do
consumidor em dois grandes blocos: as influências ambientais e as diferenças individuais
(conforme exposto na figura 4.2).
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Figura 4.2 – Fatores influenciadores do processo de decisão de compra
Influências Ambientais
1- Cultura: a cultura é o fator determinante do comportamento e dos desejos de uma
pessoa. Ela compreende os valores, as crenças, os costumes e comportamentos que
uma sociedade usa para lidar com seu ambiente e que são passados de geração para
geração.
A cultura tem uma influência nos motivos que levam as pessoas a comprar, bem como afeta os
produtos específicos que consumem. Também influencia a maneira como os consumidores
compram e usam produtos e serviços, e a suas percepções em relação à satisfação após o uso.
Como a cultura até certo ponto determina o que se compra, como se compra e as formas de
utilização de produtos e serviços, as mudanças culturais afetam o desenvolvimento, a
promoção, a distribuição e o apreçamento desses produtos e serviços.
Através da disseminação e internalização dos valores, as pessoas reconhecem o que é
importante, o que se espera delas, o que é certo e errado e o que deveriam fazer em
diferentes situações. Neste sentido, através da provisão de normas ou regras de
comportamento, a cultura concede uma regularidade à sociedade, pois ajuda a definir os
comportamentos aceitáveis, inclusive os comportamentos de compra. Os profissionais de
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marketing precisam compreender os valores essenciais que orientam os motivos e
comportamentos dos diferentes mercados-alvo que atendem, pois através desta compreensão
poderão responder adequadamente às necessidades e costumes específicos de cada um.
Cada cultura é constituída por subculturas, que fornecem critérios de identificação e
socialização mais específicos para seus membros. Diferentes nacionalidades, religiões, raças e
classes sociais apresentam valores distintos dentro de um agrupamento maior, formando as
subculturas. Muitas subculturas, à medida que crescem e se tornam influentes, passam a
representar importantes segmentos de mercado. As empresas, a fim de atendê-las de forma
mais precisa, desenvolvem programas de marketing focados, uma vez que diferentes
subculturas podem reagir diferentemente ao mesmo estímulo de marketing.
Dentro dos agrupamentos que formam as subculturas, a classe social representa um fator
importante na determinação do comportamento das pessoas, formando uma subcultura
específica. Os membros de diferentes classes sociais são criados sob regras e normas
específicas, o que torna seus membros bastante homogêneos em termos de valores, condutas
e comportamentos. Embora, ao falar em classe social, seja comum pensarmos em pessoas que
possuem renda semelhante, as classes sociais não refletem apenas a renda, mas
compreendem outros indicadores como ocupação, grau de instrução, propriedades e
orientação para valores. Pessoas de uma mesma classe social tendem a apresentar um
comportamento semelhante entre si (e diferente dos membros de outras classes),
demonstrando preferências nítidas por determinados produtos, serviços e marcas.
2- Influências pessoais/sociais e grupos familiares: as empresas vêm descobrindo que
algumas pessoas apresentam uma enorme influência, direta ou indireta, sobre o
comportamento de compra dos consumidores. Isso porque a opinião de pessoas com
quem os consumidores se identificam possui grande credibilidade, sendo uma das
formas mais eficientes de influenciar esse comportamento em uma direção específica.
Essas pessoas fazem parte dos grupos de referência daqueles consumidores.
Um grupo de referência pode servir como um ponto de comparação do indivíduo e como fonte
de informação. O comportamento do consumidor pode mudar para ficar mais compatível com
as ações e as crenças deste grupo.
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Os grupos de referência de uma pessoa são aqueles que exercem alguma influência direta ou
indireta sobre as atitudes ou o comportamento do indivíduo. Os grupos que exercem
influência direta são chamados de grupos primários ou de afinidade e são formados pela
família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho como as quais a pessoa interage contínua e
informalmente. Neste grupo as pessoas interagem porque existem coesão e participação
motivada, e seus membros exibem grande semelhança em relação às crenças e atitudes.
Os grupos secundários também apresentam interação cara a cara, mas ela é menos intensa,
mais esporádica e sua influência sobre crenças, atitudes e comportamentos é menor. Bons
exemplos de grupos secundários são as associações profissionais e religiosas.
Muitas vezes, o consumidor apresenta comportamentos orientados por normas e valores de
outros indivíduos com quem espera associar-se. A este grupo de pessoas dá-se o nome de
grupo aspiracional. Embora a influência deste grupo seja indireta e as aspirações de admissão
não estejam sempre presentes, ele pode apresentar importância significativa na escolha de um
produto pelo consumidor. Paralelamente, existem pessoas com as quais o consumidor quer
evitar qualquer tipo de associação e cujos estilos de vida tende a evitar. Produtos e serviços
que representam este estilo de vida são recusados pelos consumidores.
A internet tem promovido a oportunidade para que os indivíduos formem novos grupos em
função de interesses comuns. Esses grupos podem influenciar fortemente a intenção e
comportamento de compra dos consumidores, através do compartilhamento de experiências
e informações.
Visão de Marketing
A internet pode matar o seu negócio
Ao ligar pela primeira vez seu novo computador, um laptop Dell, o jornalista americano Jeff Jarvis percebeu que a máquina estava com defeito. Acionou imediatamente o serviço de assistência e ouviu como resposta que de nada adiantaria a visita de um técnico. Após dezenas de conversas telefônicas, e
Conceito Um grupo de referência é formado por qualquer pessoa ou grupo de pessoas que influencia, significativamente, o comportamento de um indivíduo (BEARDEN e ETZEL apud ENGEL, BLACKWELL E MINIARD, 2000, p. 461)
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ainda sem solução para seu problema, Jarvis concordou em enviar o computador para o conserto, mesmo tendo desembolsado uma quantia extra pela comodidade da assistência doméstica. O PC voltou com diversas peças trocadas mas ainda com defeito. Jarvis persistiu. Envolveu-se numa longa troca de e-mails, nos quais era chamado pelo nome errado, e que naturalmente não resolveu seu problema. Foi o limite de sua paciência.
Jarvis blogou.
Em seu site pessoal, o blog BuzzMachine, ele começou um relato
detalhado do seu calvário, sob o sugestivo nome de Dell Hell (inferno da Dell). Outros blogueiros leram, encheram os espaços de comentários com relatos semelhantes e começaram a espalhar a história do Dell Hell pelos quatro cantos da internet. O blog de Jarvis rapidamente se tornou uma parada obrigatória para consumidores insatisfeitos com a empresa, maior fabricante de computadores do mundo. O zunzunzum na blogosfera tornou-se tão intenso que o assunto virou notícia nas páginas de jornais como o New York Times, Washington Post e Wall Street Journal. Hoje, seis meses depois da primeira mensagem de Jarvis, quem procurar Dell Hell no Google vai encontrar mais de 7 milhões de resultados. O que começou como uma reclamação de um único consumidor se transformou em uma discussão nacional sobre a qualidade dos serviços da Dell. A transferência das centrais de atendimento para a Índia foi questionada e o fórum para consumidores que existia no site da Dell saiu do ar, tamanho o veneno das críticas. Coincidência ou não, as vendas da empresa caíram e a Apple de quem Jarvis tornou-se cliente superou a Dell em valor de mercado. (GUIMARÃES, 2006)
Até que ponto o grupo de referência afeta uma decisão de compra? Isto depende da
visibilidade do produto e da suscetibilidade de um indivíduo à influência do grupo de
referência. Geralmente, quanto mais visível, maior a capacidade de atribuir status ao
comprador, maior a probabilidade de que a decisão de compra será influenciada por grupos de
referência.
3- Família: a influência da família tem um impacto direto e intenso no processo de decisão
de compra do consumidor. É possível distinguir duas famílias na vida do comprador. A
família de orientação, que consiste nos pais e irmãos de uma pessoa e a família de
procriação, formado pelos cônjuges e filhos.
Da família de orientação derivam as preferências e decisões do consumidor em relação à
religião, política, economia e uma noção de ambição pessoal, valor pessoal e amor. Mesmo
que o comprador não esteja mais interagindo com seus pais, sua influência no comportamento
de compra pode ser significativa. Pais que moram com filhos adultos podem ter uma influência
substancial.
O grupo familiar de procriação exerce uma influência mais direta no comportamento de
compra diária. Nessa estrutura familiar, a decisão sobre o consumo pode ser da mulher, do
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marido, dos filhos ou pode ser uma decisão conjunta, processo que varia em função do tipo de
produto. No entanto, é comum a participação de vários destes sujeitos no processo de
compra, cada um exercendo um papel diferente: iniciador (identifica a necessidade e coleta
informações que ajudem na decisão); influenciador (pessoas cujas opiniões são importantes e
influenciam o processo de compra); decisor (aquele que tem o recurso e autoridade para
determinar o produto e marca a ser comprada); comprador (a pessoa responsável por acessar
o canal de venda e trazer o produto para casa); o usuário (as pessoas que utilizam o produto).
Para serem efetivas em seus esforços de venda, as empresas devem se comunicar com os
sujeitos envolvidos no processo de compra.
A forma como o grupo familiar se comporta em um processo de compra é influenciada por
muitos fatores, entre eles a composição familiar e o tamanho da família, as condições
econômicas, os estágios do ciclo de vida familiar no qual se encontra.
Diferenças individuais ou fatores pessoas
1 - Recursos do consumidor: os profissionais de marketing precisam entender se os
consumidores possuem os recursos necessários para comprar seus produtos, pois é mais fácil
vender para pessoas com os recursos necessários para concretizar a compra do que para
consumidores desprovidos destes recursos. Os recursos considerados chave são divididos em
três grupos: recursos econômicos, recurso temporal e recurso cognitivo (capacidade de
processar e usar a informação).
O estudo do comportamento do consumidor tem demonstrado que existe uma relação
estreita entre renda familiar e a distribuição da renda entre as diferentes categorias de
produto (comida, roupas, moradia, educação, saúde, recreação, e assim por diante). Com o
tempo e o desenvolvimento econômico do país ou da renda familiar, os padrões de gastam, se
alteram. Famílias com renda menor tendem a gastar uma proporção maior dos recursos
financeiros com comida e roupas. Com a melhoria dos padrões de renda, as famílias tendem a
gastar mais com moradia e outros tipos de produto.
Embora consumidores com renda mais alta teoricamente possam comprar mais de tudo,
praticamente eles não conseguem fazê-lo, pois fazer mais coisas exige um recurso adicional –
tempo. Os estilos de tempo referem-se à maneira como os consumidores alocam o seu tempo
entre as diversas atividades que necessitam desempenhar. Desenvolver produtos que facilitem
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a vida do consumidor e reduzem o tempo de compra e, às vezes, de consumo, pode favorecer
o aumento das vendas destes produtos pelo simples fato de torná-los acessíveis a um número
maior de consumidores.
O último grupo a ser considerado envolve os recursos cognitivos. Esse grupo compreende a
“capacidade mental disponível para empreender atividades de processamento de informações
variadas. Os profissionais de marketing precisam conseguir a atenção dos consumidores e, no
mercado de hoje, tal tarefa pode ser difícil” (ENGEL, BLECKWELL e MINIARD, 2000, p. 214). A
capacidade de uma pessoa para perceber e processar informações é limitada. Isto significa que
boa parte dos estímulos e informações que os consumidores recebem é ignorada. Portanto,
ganhar a atenção do consumidor é um dos maiores desafios que um profissional de marketing
pode enfrentar, e isto só se mostra possível se houver um entendimento dos fatores que
podem influenciar o foco da atenção.
2- Motivação e envolvimento: o processo de motivação ocorre quando uma necessidade é
despertada e o consumidor deseja satisfazê-la. Uma vez ativada a necessidade, um estado de
tensão impulsiona o consumidor a tentar reduzir ou eliminar a necessidade (KOTLER, 2000).
Cada consumidor possui diversas necessidades que passam a ser um motivo para a ação,
quando o estado de tensão atinge um determinado nível. O estado final desejado é o objetivo
do consumidor, e é o que impulsiona o consumidor ao ato da compra.
Entre as inúmeras teorias de motivação desenvolvidas ao logo dos tempos, a pirâmide ou
hierarquia das necessidades de Abraham Maslow é uma das mais utilizadas pelos profissionais
de marketing. Em sua essência, esta teoria diz que todas as pessoas nascem com um conjunto
de necessidades: fisiológicas, de segurança, sociais, de autoestima e realização pessoal. Essas
necessidades são dispostas em uma hierarquia, em ordem de prioridade (importância). As
pessoas tendem a satisfazer as mais importantes em primeiro lugar. Uma vez satisfeitas,
buscam satisfazer a próxima necessidade mais importante. Sendo assim, um homem que
apresenta necessidades fisiológicas ativadas como a fome ou sono, não apresenta necessidade
de autorrealização. Uma vez satisfeito em suas necessidades fisiológicas, tenderá a perseguir
um novo objetivo. A teoria de Maslow está apresentada na figura 4.3.
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Figura 4.3. A Hierarquia de Necessidades de Maslow Fonte: Administração de Marketing (KOTLER, 2000).
Outras teorias são igualmente importantes na tentativa de explicar o comportamento
humano. Sigmund Freud faz considerações importantes sobre a racionalidade do processo
decisório do consumidor. Segundo ele, ninguém consegue entender por completo suas
próprias motivações, pois as forças que impulsionam o comportamento das pessoas são
basicamente inconscientes. Desta forma, a reação das pessoas aos atributos dos produtos
pode derivar de certas associações e emoções que não podem ser facilmente justificados. Para
contornar essa dificuldade, os profissionais de marketing vêm desenvolvendo e utilizando
diversas técnicas para identificar os diferentes motivos que levam um consumidor a optar por
um determinado produto em detrimento de outro.
3 - Conhecimento: as empresas encontram dificuldade para vender um produto desconhecido
pelo consumidor, principalmente se existem outras opções que são mais familiares a ele. Por
isso, as empresas buscam constantemente desenvolver estratégias para divulgar informações
que possam influenciá-lo positivamente em relação aos seus produtos.
Desenvolver as estratégias adequadas para aumentar o nível de conhecimento dos
consumidores exige que a empresa desenvolva uma compreensão completa do que os
consumidores sabem ou não sabem a respeito dos produtos. Ao identificar as lacunas no
conhecimento do consumidor em relação ao produto, a empresa pode agir no sentido de
informá-lo ou de esclarecer equívocos nas informações que podem minar a atratividade do
produto.
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4 - Personalidade, valores e estilo de vida: O foco no mercado fez as empresas perceberem
que os consumidores são diferentes em suas necessidades e demandas e, a partir desta
constatação, elas passaram a considerar essas diferenças no desenvolvimento dos produtos e
dos esforços de marketing para disponibilizá-los e divulgá-los. No entanto, atender de forma
individual às necessidades de um grande grupo de consumidores normalmente não se mostra
viável. Para resolver esse problema, as empresas buscam identificar e atender necessidades
semelhantes apresentadas por um grupo razoavelmente grande de consumidores.
A consideração de variáveis como valores, personalidade e estilo de vida podem ajudar as
empresas a encontrar grupos homogêneos de consumidores que possam atender com maior
possibilidade de sucesso.
A personalidade é definida como respostas consistentes a estímulos ambientais (...) É o padrão
particular de organização que torna um indivíduo único e diferente de todos os outros. A
personalidade proporciona uma consistência de respostas baseada em características
psicológicas internas duradouras. (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000, p. 283)
Toda pessoa tem uma personalidade distinta que influencia seu comportamento de compra e
que é descrita em termos de traços, como autoconfiança, autonomia, sociabilidade,
amabilidade, resistência, adaptabilidade e postura defensiva. Esses traços são comuns a
muitos indivíduos, são relativamente estáveis e exercem influências universais sobre o
comportamento, independentemente da situação ambiental na qual o indivíduo está inserido.
Portanto, a personalidade pode ser uma variável útil para analisar o comportamento do
consumidor, uma vez que os tipos de personalidade podem ser classificados com precisão e
existem fortes correlações entre a personalidade do indivíduo e suas escolhas de produtos,
serviços e marcas. A ideia de que as marcas também possuem uma personalidade própria,
reforça esta teoria. O consumidor tende a escolher produtos, serviços e marcas cuja
personalidade combine com a sua e cujos aspectos simbólicos refletem a sua autoimagem
(real ou ideal).
O estilo de vida é outra variável muito utilizada para identificar grupos de consumidores que
apresentam comportamentos de compra semelhantes e têm forte impacto sobre muitos
aspectos do processo de decisão de compra. O estilo de vida, expresso nos padrões a partir
dos quais as pessoas vivem e gastam tempo e dinheiro, se reflete em suas atividades,
interesses e opiniões. Esses padrões comportamentais influenciam a forma como vivem,
afetando suas necessidades, suas preferências por diferentes marcas, a forma e o momento
em que o consumidor compra. Ao contrário dos valores – que são relativamente duradouros –
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o estilo de vida muda mais rapidamente, em resposta às necessidades das pessoas de se
adaptarem e responderem a ambientes diferentes.
Os valores, assim como a personalidade e o estilo de vida, podem explicar por que os
consumidores se comportam de determinada maneira e preferem determinados produtos e
marcas em detrimento de outros. Os valores contemplam as crenças das pessoas sobre a vida
e delimitam o que consideram como comportamento aceitável. Influenciam seus motivos e as
maneiras apropriadas para atingir suas metas. Dessa forma, determinam os desejos dos
consumidores e orientam suas escolhas.
5 - Atitude: assim como as empresas precisam saber “se” e “o que” os consumidores
conhecem de suas marcas e produtos, é importante que elas identifiquem “se” e “o que” eles
gostam ou não gostam em relação a essas marcas e produtos. Isto porque, ao tomar suas
decisões de compra, os consumidores optam por aquelas marcas, produtos e fornecedores
que são avaliados de maneira mais favorável.
A atitude pode ser entendida como a avaliação geral que um consumidor desenvolve em
relação a determinadas marcas e produtos, o sentimento e o comportamento que adota em
relação a eles. Os indivíduos desenvolvem suas atitudes por meio de suas experiências e da
interação com outras pessoas.
As atitudes predispõem as pessoas a gostar ou não de um objeto, o que as aproxima ou as
afasta dele. Entendê-las pode auxiliar a empresa a influenciar as opções dos consumidores.
Segmentação de mercado
Os consumidores são diferentes em seus motivos e comportamentos de compras, e o estudo
de seu comportamento auxilia a empresa a entender como as pessoas diferem em relação ao
processo de consumo. No entanto, não é viável financeiramente ou operacionalmente que a
empresa desenvolva estratégias baseadas no comportamento individual dos consumidores.
Como transformar essa dificuldade em oportunidade? Se a empresa for capaz de agrupar os
consumidores em segmentos relativamente homogêneos em relação às suas preferências e
desenvolver uma capacidade superior para atendê-los, ela melhorará a sua posição
competitiva.
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“Onde existem diferenças nas necessidades e desejos dos clientes ou em suas atitudes e
predisposições em relação às ofertas no mercado, existem oportunidades para segmentar o
mercado.” (SAUNDERS e HOOLEY, 1996, p. 191)
A segmentação de mercado é a única ou a melhor opção para todas as empresas? Embora o
ambiente de negócios atual nos leve a acreditar que sim, a resposta é NÃO.
Em mercados onde existe farta demanda por produtos e serviços, a adoção do marketing de
massa geralmente se mostra uma estratégia eficaz. Em muitos países ainda é possível verificar
essa realidade, principalmente em economias em desenvolvimento. Nesses países, fornecer
benefícios básicos e funcionais a um preço baixo o suficiente, de maneira que as pessoas
tenham condições de pagar por eles, mostra-se bastante adequado. Por outro lado, em
mercados ou países em que a maior parte dos consumidores já possui os produtos básicos, o
marketing de massa tende a se mostrar menos eficaz e a necessidade de segmentar o mercado
torna-se maior.
Essa segmentação ajuda a empresa a compreender de forma mais profunda os seus
consumidores, suas preferências e possíveis respostas aos esforços de marketing, aumentando
a efetividade das ações de vendas e a eficiência dos custos relativos à conquista de mercado.
Ao conhecer mais detalhadamente o mercado-alvo, fica mais fácil para a empresa acompanhar
seus concorrentes específicos e desenvolver respostas mais competitivas. Esses benefícios, no
entanto, podem ser penalizados, caso a empresa não gerencie seus custos com cuidado. A
pulverização dos esforços em múltiplos mercados tende a aumentar os custos com marketing
e dificultar o processo de gestão.
Para minimizar os riscos envolvidos em uma estratégia de segmentação de mercado, a
empresa deve avaliar e escolher adequadamente os segmentos nos quais pretende atuar.
Quatro critérios auxiliam a empresa a realizar este processo:
Conceito A segmentação de mercado consiste na divisão do mercado total em grupos menores e relativamente homogêneos (BOONE E KURTZ, 2009, p. 308) Segmentação de mercado é o processo de projetar ou caracterizar um produto ou serviço que exercerá uma atração especialmente forte para alguma subparte identificável do mercado total. (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2000, p. 461)
Administração de Marketing| MBA – UNA | 52
mensurabilidade: a empresa deve garantir que existam informações suficientes e claras
sobre o tamanho do mercado (incluindo informações sobre a natureza e o
comportamento dos consumidores que fazem parte deste mercado);
acessibilidade: os segmentos devem ser fáceis de serem alcançados pelos canais de
distribuição utilizados pela empresa;
substancialidade: geralmente, quanto maior o mercado, mais atraente ele é. Mercados
maiores permitem que a empresa otimize seus custos, aumentando a sua margem. No
entanto, algumas circunstâncias tornam atraentes mercados menores, principalmente
quando a empresa consegue praticar preços maiores por uma característica de produto
considerada muito valiosa pelos clientes;
congruência: os segmentos devem apresentar similaridade das características e
comportamentos apresentados pelos membros do segmento. Quanto maior o nível de
congruência, mais homogêneas serão as respostas dos consumidores daquele grupo aos
programas de marketing desenvolvidos pela empresa.
Bases para a segmentação
Muitas variáveis podem ser utilizadas para segmentar um mercado. As empresas selecionam e
desenvolvem seus programas de marketing normalmente apoiadas em segmentos que
combinam mais de uma variável. As mais comuns utilizadas para o processo de segmentação
são: geográfica, demográfica, psicográfica e comportamental.
1- Variável geográfica: a segmentação geográfica agrupa os consumidores com base no local
onde vivem. No varejo, ela pode ocorrer levando em consideração países, estados, cidades,
bairros, ou regiões (vizinhança). Acreditando que as pessoas realizam suas compras nos locais
próximos a sua moradia ou ao local onde trabalham, a estratégia da empresa consiste em
distribuir os pontos de venda de forma a aproximá-la dos clientes. A empresa pode optar
então por atuar em uma, algumas ou em todas as áreas geográficas, tomando o cuidado para
adequar-se às variações locais.
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Visão de Marketing
Festa no interior
Nesta última década, o Brasil presenciou um fenômeno econômico inédito, com reflexos diretos no ambiente de negócios: o crescimento do mercado de consumo no interior do Brasil. Fora das nove maiores capitais, moram sete de cada dez brasileiros, que já respondem por 61% da demanda de alimentos, bebidas e artigos de higiene e limpeza produzidos em massa no país e, mantido o ciclo virtuoso da economia e o vigor de setores como o agronegócio e a mineração, devem consumir cada vez mais.
O progresso do interior se materializa em consumo de todo tipo – mas a melhor notícia para as empresas é que o potencial ainda é imenso. Hoje, 132 milhões de pessoas moram fora das regiões metropolitanas – o equivalente às populações somadas da Itália e da Alemanha.
Para uma empresa acostumada ao mercado brasileiro, conquistar o consumidor do interior parece infinitamente mais fácil do que atrair compradores na China, na Índia ou na Rússia. Mas é um equívoco crer que todos os brasileiros têm hábitos de consumo idênticos, independentemente da geografia. Isso fica evidente ao se analisar como o consumidor do interior lida com o crédito. A pesquisa da LatinPanel mostra que 29% dos pagamentos a prazo são feitos com a arcaica caderneta. O uso de cartões de crédito e cartões de lojas ainda é exceção. “O consumidor de pequenas e médias cidades é mais conservador”, diz Ana Cláudia Fioratti, diretora da LatinPanel. “Sua renda é menor que a do consumidor da cidade, mas ele também gasta menos e poupa mais.”
Parte das empresas que seguem rumo às entranhas do país já percebeu as adaptações que precisa fazer na operação. No caso da Portobello, o plano de expansão no interior foi iniciado há dois anos. As primeiras 25 lojas inauguradas, embora menores, tinham o mesmo modelo das unidades de cidades como São Paulo – basicamente um showroom, onde clientes conhecem os produtos da marca e os encomendam. O tempo mostrou que o consumidor das cidades menores tem outras vontades e características. “Ele prefere pagar à vista e quer levar a mercadoria na hora”, diz Juarez Leão, diretor da Portobello Shop, braço varejista da empresa. Para se adaptar ao mercado, a empresa criou o Empório Portobello, uma franquia com estoque, área de liquidação e visual mais popular. “No interior, o hábito de consumo é mais simples, e o nosso modelo tradicional era visto como elitista”, diz Leão. Nos planos da Portobello para os próximos dois anos, Sinop e Mossoró estão entre as candidatas mais fortes a receber Empórios. (STEFANO E PADUAN, 2008)
A análise geográfica constitui um processo simples para dividir o mercado em possíveis
segmentos-alvo. De fato, características regionais podem impactar fortemente o consumo de
determinados produtos, mas em muitos casos, a variável geográfica por si só não é suficiente
para delimitar segmentos com um nível de congruência alto.
2 - Variável demográfica: o agrupamento de pessoas a partir de variáveis demográficas leva
em consideração o sexo, a escolaridade, a renda, a idade, o tamanho e ciclo de vida da família,
a cor, a religião, entre outros fatores, como critério de segmentação de mercado. Esse é um
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critério muito usado, uma vez que as variáveis demográficas são facilmente verificadas e
medidas. No entanto, nem sempre estas variáveis estão relacionadas com as necessidades e os
comportamentos de compra dos consumidores.
Muitos países possuem estudos estatísticos muito bem estruturados sobre as populações e
suas características demográficas, o que favorece e facilita o trabalho das empresas na
localização e na avaliação dos segmentos quanto a sua substancialidade e acessibilidade (no
Brasil, veja o site www.ibge.gov.br ).
3 - Variável psicográfica: a segmentação psicográfica se pauta pela divisão dos consumidores
em função da classe social à qual pertencem, ao estilo de vida que demonstram e às suas
características de personalidade. Pessoas do mesmo grupo demográfico ou que residem em
uma mesma região ou cidade podem apresentar perfis psicográficos diversos. Embora
compartilhem características comuns quanto à idade, sexo, estado civil ou bairro onde moram,
considerando unicamente estas variáveis, os profissionais de marketing não podem explicar os
motivos que levam uma pessoa a optar por um ou outro produto. A análise psicográfica, por
sua vez, levanta as características emocionais e comportamentais que justificam um
determinado comportamento.
A maior parte das pesquisas e trabalhos que envolvem critérios psicográficos utiliza variáveis
estilos de vida, personalidade, valores e tendências.
Alguns autores citam o sistema de segmentação psicográfica denominado VALS (valores e
estilo de vida), como uma abordagem eficiente no agrupamento por estilo de vida. O estudo
desenvolvido e comercializado pela SRI Consulting Business Intelligence é considerado um dos
mais significativos na área de segmentação por estilo de vida. O estudo classificou os
consumidores em oito grupos principais, de acordo com suas características demográficas e
psicográficas, conforme demonstrados no Quadro 4.1.
INOVADORES Pessoas bem sucedidas, sofisticadas, ativas e independentes, com espírito de liderança e grande autoestima. Suas compras frequentemente refletem gosto apurado por produtos e serviços de luxo.
CONSCIENTES Pessoas maduras, satisfeitas, reflexivas e motivadas por ideais, que valorizam a ordem, o conhecimento e a responsabilidade. Buscam durabilidade, funcionalidade e valor nos produtos.
EMPREENDEDORES Pessoas orientadas para o sucesso na carreira e para o trabalho, que valorizam o consenso e a estabilidade. Favorecem produtos de prestígio que demonstrem o sucesso alcançado em seu círculo social.
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EXPERIMENTADORES Pessoas jovens, entusiastas e impulsivas, que buscam variedade e excitação. Gastam grande parte de sua renda em roupas, entretenimento e socialização.
CRÉDULOS Pessoas conservadoras, convencionais, com crenças concretas. São comprometidas com a família e, como consumidoras, favorecem produtos nacionais e marcas estabelecidas.
LUTADORES Procuram ter estilo, gostam de diversão e se preocupam com a aprovação dos outros. Têm poucos recursos econômicos, mas gostam de produtos que imitem os adquiridos por quem tem mais posses.
BATALHADORES Práticos, autossuficientes, vivem em um contexto tradicional de família, trabalho e lar. Favorecem produtos básicos, práticos e funcionais.
SOBREVIVENTES Pessoas mais velhas, resignadas, passivas, que veem as mudanças com preocupações. São fiéis às suas marcas favoritas.
Quadro 4.1 – Estilo de Vida – VALs Fonte: adaptado de Kotler, 2000
4 - Comportamental: na segmentação por critérios comportamentais, os consumidores são
agrupados segundo seus conhecimentos, atitudes, uso e respostas a um produto. Inúmeras
são as variáveis utilizadas na segmentação comportamental, entre elas as ocasiões de uso de
um produto (os consumidores podem ser classificados em relação à ocasião em que sentem
uma necessidade, adquirem ou usam determinado produto); benefícios procurados; status do
usuário (não-usuário, ex-usuário, usuário potencial, usuário iniciante e usuário regular); índice
de utilização (light-user, medium-user, heavy-user); estágio de prontidão (nível de
conhecimento e interesse demonstrado pela compra de um determinado produto ou marca);
status de fidelidade (fiéis convictos, fiéis divididos, fiéis inconstantes, infiéis) e atitude em
relação ao produto (entusiasta, positiva, indiferente, negativa, hostil).
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UNIDADE 5 Criando Clientes Fiéis: O Marketing de Serviços e de Relacionamento
O contexto dos negócios propicia o surgimento de um consumidor cada vez mais exigente e
menos fiel. A lealdade dos clientes a determinadas marcas vem diminuindo sensivelmente na
medida em que eles percebem a proliferação da oferta e a similaridade entre os produtos.
Hoje o mercado é regido pelo comprador e não mais pelo vendedor. Assim, as empresas têm
se empenhado continuamente em criar valor para seus clientes.
A empresa deve trabalhar arduamente para entender as necessidades do cliente e então
traduzi-las em novos produtos e serviços. “O objetivo é desenvolver o produto correto para
atender àquelas necessidades – não somente uma versão melhorada dos produtos dos
concorrentes” (OHMAE, 1998, p. 76). O marketing de relacionamento surge como uma
estratégia eficaz para a criação de valor para o cliente.
Embora o tradicional marketing voltado para as massas também gere valor para os clientes,
esse processo difere muito, se analisado sob a perspectiva do relacionamento. No marketing
de massa o valor para o consumidor é criado a partir da fábrica ou dentro do escritório,
através do desenvolvimento de produtos e serviços básicos e funcionais que são
posteriormente vendidos aos consumidores. A principal função do marketing neste sistema é
“distribuir valor”. No marketing de massa os clientes são anônimos e a meta é fazer com que
escolham uma marca entre as outras marcas concorrentes no mercado. Esse enfoque define
uma relação um tanto conflituosa entre clientes e empresa, uma vez que a empresa tenta
persuadir o cliente a comprar não exatamente o que ele deseja, mas o produto que ela tem
para oferecer.
Visão de Marketing
O custo de ignorar o cliente
A Volks custou a enxergar um problema que os consumidores perceberam logo após o lançamento do FOX, e agora corre contra o tempo para
Conceito Marketing de Relacionamento é o processo contínuo de identificação e criação de novos valores com clientes individuais e o compartilhamento de seus benefícios durante uma vida toda de parcerias. (GORDON apud BOGMANN, 2002, p.24)
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preservar a sua imagem. Na época, a empresa foi notificada por um cliente que, ao soltar o encosto do banco para rebater o assento, foi ferido a ponto de perder um dos dedos. A empresa decidiu não agir naquele momento, por considerar o acidente um caso isolado. Ignorar um cliente, por si só, já se mostrou uma atitude equivocada.
Questionada, a empresa argumentou que as regras corretas para o rebatimento dos bancos constavam no manual do proprietário, demonstrando um grande desconhecimento acerca de seu público. A empresa insistiu na argumentação de que o problema era dos clientes, que não souberam acionar o dispositivo corretamente.
Vinte e dois acidentes depois e uma grande pressão dos consumidores e da sociedade, fizeram a empresa repensar sua decisão. No entanto, o desgaste da imagem da empresa já era considerado inevitável pelos especialistas da área. O carro que havia sido o terceiro mais vendido nos primeiros três meses de 2007, caiu para quinta posição no mesmo período de 2008.
Na perspectiva do marketing de relacionamento, a criação de valor para os clientes não se
realiza em fábricas, mas ocorre através do relacionamento, da interação entre a empresa e
seus consumidores e na possibilidade da descoberta efetiva do que o cliente considera valor. O
foco do marketing deixa de ser distribuir produtos e passa a ser dar apoio ao processo de
consumo. Neste sistema, o cliente participa ativamente do processo de criação de valor ao
lado da empresa, o que dificulta o surgimento de conflitos.
De forma objetiva, marketing de relacionamento significa incluir o cliente no processo de
criação de valor trazendo-o para dentro da organização, garantindo que suas necessidades e
expectativas sejam atendidas. Significa criar, manter e acentuar sólidos relacionamentos com
os clientes e outros públicos, utilizando para isso várias técnicas e processos de marketing,
vendas, comunicação e cuidado com os clientes. Tudo isso permite que a organização
identifique clientes de forma individual e nominal, criando um prolongado relacionamento
entre a empresa e seus clientes, de forma bem administrada, e garantindo benefícios para as
duas partes. O marketing de relacionamento baseia-se na gestão do relacionamento com cada
consumidor.
Visão de Marketing
O cliente constrói a beleza
Na era da internet e das redes sociais, os blogs exercem um papel fundamental na construção ou destruição de marcas. Mesmos sem serem convidados, os consumidores passam a participar do desenvolvimento e divulgação de produtos.
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Embora ainda não possua um blog, a empresa O Boticário é uma das que mais acreditam em sua força, pois acredita que este é um terreno fértil para a interação com os clientes. Ela possui um sistema que monitora em detalhes tudo o que é falado e publicado sobre a empresa nos diversos canais – redes de relacionamento como Orkut, fóruns e blogs.
De posse destes dados, a empresa os utiliza para estabelecer contato com os consumidores, desenvolver ou melhorar produtos. Segundo Sérgio Augusto Rolim Valeixo, Gerente de Relacionamento com os clientes, “muitas vezes as empresas não se dão conta do valor das informações que correm nestes meios”.
Em sua essência, o marketing de relacionamento não pode ser estabelecido apenas porque a
empresa o diz fazer. A empresa precisa acreditar nisso e tornar seus esforços orientados para o
relacionamento, garantindo que o cliente perceba isso. A orientação para o relacionamento
tem que ser traduzida em atitudes.
“O principal objetivo do marketing de relacionamento é reter clientes (VAVRA, 1992. p. 45) (...)
e obter um valor pleno de duração de cada cliente. O segundo objetivo é aumentar o valor de
duração de cada cliente e manter essa duração crescente ano após ano. O terceiro objetivo é
usar os lucros excedentes do sucesso nos dois primeiros objetivos para custear a conquista de
novos clientes a um custo mais baixo. O objetivo em longo prazo é a sobrevivência e o
crescimento rentáveis (VAVRA, 1992, p. 36).
Para cumprir esses objetivos, a essência do fenômeno do relacionamento é o processo de
interação com os clientes, que propicia compras continuadas, vendas cruzadas e mais
oportunidades de relacionamento, alimentando um círculo virtuoso.
As empresas que praticam o marketing de relacionamento desenvolvem melhores habilidades
para compreender, atrair e manter clientes. Demonstram estar alinhadas com seus mercados
presentes e futuros, sendo que todas as pessoas e áreas dentro da organização estão
impregnadas dessa concepção.
A finalidade é, primeiramente, a atração e satisfação dos consumidores como meio para se
obter a manutenção de seus principais clientes. O lucro é visto como consequência de opções
estratégicas saudáveis que visam ao desenvolvimento da fidelidade dos clientes através do
estabelecimento de uma relação de confiança mútua, compromissos e intensa comunicação.
Por que o marketing de relacionamento tem se mostrado uma estratégia tão importante e
cada vez mais comum?
Os consumidores perceberam que o contato com a empresa não precisa terminar mais no
processo de compra. A compra torna-se apenas o primeiro passo do processo. O cliente sente
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a necessidade de manter uma relação continuada com a empresa, mesmo após o término do
processo de compra, criando uma maior sensação de segurança em relação à compra
realizada. Quando o produto adquirido é um item importante para o consumidor ou
representa um valor considerável em relação ao seu orçamento, a continuidade da relação
com a empresa se mostra ainda mais importante. Como a empresa pretende contar com novas
oportunidades de negócios com o cliente, ela investe na interação pós-venda, ou no chamado
pós-marketing. Neste contexto, o pós-marketing torna-se um elemento fundamental do
processo de negócios da empresa.
Mas o que é o pós-marketing? Consiste em uma estratégia de longo prazo cujo objetivo é
assegurar a satisfação do cliente, garantindo que este tenha adquirido o produto adequado às
suas necessidades e gerando novas oportunidades de vendas futuras. É o processo de
“expansão do produto” através da agregação valor/serviços.
O crescimento de interações com os clientes, proporcionado pelas atividades de pós-
marketing, faz com que um número maior de pessoas dentro da organização se relacione com
ele. Desta forma, a responsabilidade pelo cliente e pela sua satisfação distribui-se por
diferentes pessoas, funções e departamentos dentro da empresa, escapando aos limites dos
departamentos de marketing. A satisfação e manutenção de clientes, mais uma vez, torna-se
responsabilidade de todos.
Com a mudança da extensão e da importância da atividade de relacionamento com os clientes,
o grande desafio das organizações está em desenvolver em todas as pessoas, em todos os
níveis, a capacidade de utilizar as informações disponíveis para produzir serviços orientados e
adequados às necessidades do consumidor. Essa é a essência da grande mudança provocada
pelo marketing de relacionamento. É uma mudança de capacidade, de mentalidade e de
cultura.
O processo do relacionamento
Praticar o marketing de relacionamento envolve algumas etapas:
1. pesquisar o mercado para identificar clientes que sejam potencialmente lucrativos para
um primeiro contato;
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2. estabelecer um primeiro contato com o consumidor (captura de clientes), de forma que o
relacionamento seja iniciado;
3. manter o relacionamento existente com os clientes valiosos para a organização e que
pretendem continuar fazendo negócios com a empresa;
4. aprofundar o relacionamento com o cliente através da prestação de serviços e da venda de
novos produtos;
5. restabelecer o relacionamento com aqueles clientes que desejam deixar a organização
(quando de interesse da organização).
O relacionamento com o mercado demanda que a organização desenvolva uma capacidade
mais elevada para compreender, atrair e manter clientes. O desenvolvimento dessa
capacidade depende da gestão de três elementos-chave: a cultura; as aptidões específicas
para ler, compreender e relacionar-se com o mercado; e o desenvolvimento de uma estrutura
compatível com a orientação para o relacionamento.
Cultura
Segundo Vavra (1992, p. 276), “a cultura organizacional é composta por valores, crenças e
papéis compartilhados pelos empregados. Ela é construída por processos formais (a partir de
treinamento e descrição de tarefas) e por processos informais (o modo de conduta existente
entre os funcionários, que não é desencorajado ou é incentivado pela administração)”. Para
desenvolver a orientação para o mercado, a empresa precisa desenvolver uma cultura
orientada para fora, tanto por processos formais quanto informais, onde os comportamentos e
valores enfatizem a entrega de valor superior aos clientes e a busca constante por novas
fontes de vantagem competitiva. Em uma empresa orientada para o mercado, o foco na
entrega de valor superior ao cliente deve impregnar tudo e todos.
Como desenvolver uma cultura voltada para o mercado e para o relacionamento?
Conceito Cultura organizacional tem sido defendida como os valores e crenças compartilhados que ajudam os indivíduos a entenderem o funcionamento organizacional e assim proveem a eles normas de comportamento na organização. (DESHPANDE e WEBSTER apud SLATER, 2001, p. 03)
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A adequação da cultura para o relacionamento pode ser feita através da redefinição de cinco
princípios operacionais:
1- ouça, compreenda e responda aos clientes: desenvolva ferramentas de banco de dados
capazes de entender as necessidades dos clientes, entender seus comportamentos e
prever suas tendências comportamentais;
2- defina um serviço superior e estabeleça uma estratégia de serviço, comunicando, de forma
constante e intensa, este compromisso a clientes e funcionários;
3- estabeleça padrões e medidas de desempenho centradas no cliente;
4- selecione, treine e encarregue funcionários para trabalhar junto aos clientes na entrega de
valor superior. Envolva os funcionários no processo e delegue a eles responsabilidade;
5- reconheça e recompense as realizações, reforçando o compromisso com os clientes.
Aptidões específicas para ler, compreender e relacionar-se com o mercado
O desenvolvimento de aptidões específicas para sentir o mercado permite que a organização
antecipe continuamente os riscos e oportunidades existentes no ambiente, adotando sempre
uma estratégia proativa, propiciando condições para que a organização crie e mantenha
relacionamentos duradouros com seus clientes.
Sentir o mercado implica manter constantes pesquisas, buscando a identificação de tendências
e oportunidades de mercado. Pressupõe uma análise cuidadosa das ações dos concorrentes,
levando em consideração não somente produtos e participação de mercado, mas também os
valores, atitudes e processos gerenciais. Pressupõe ouvir constantemente o pessoal da linha
de frente, que lida diretamente com os clientes e estão em contato com suas reclamações e
sugestões.
Estrutura
Desenvolver uma estrutura que possibilite que a organização inteira antecipe mudanças nas
exigências dos clientes e nas condições do mercado é outro ponto relevante a ser trabalhado.
A estrutura é o elemento que integra os demais elementos de uma empresa orientada para o
Administração de Marketing| MBA – UNA | 62
mercado – cultura, aptidões e processos – proporcionando que a empresa alcance o sucesso
através do perfeito alinhamento desses elementos.
A estrutura de uma empresa orientada para o mercado possui foco estratégico, de forma a
oferecer valor mais elevado ao cliente, e garante que “todas as atividades e investimentos
funcionais façam parte do modelo operacional dominante centrado no mercado” (DAY, 2001,
p. 25).
A estrutura orientada para o mercado também possui coerência de fatores, garantindo que
seus elementos, cultura, aptidões e processos se complementem. Por fim, a estrutura deve ser
flexível, capaz de adaptar-se constantemente às mudanças no mercado, gerando respostas
velozes.
Desenvolvendo a capacidade de relacionamento
A fim de garantir o desenvolvimento da capacidade de relacionamento, a organização deve
cumprir algumas etapas.
a. Engajar toda a organização – mentes e corações. Esta etapa consiste em mostrar à
organização que a retenção é função de todos, derrubando o mito de que a solução de
problemas e a retenção de clientes são responsabilidades de áreas ou pessoas
isoladas. Todos devem responsabilizar-se por estas interações.
Para que isto seja possível, é fundamental que a delegação de autoridade e responsabilidade
dentro da organização seja revista e ajustada, de forma a permitir de fato o engajamento de
todos nesse processo. É fundamental também que isso seja acompanhado de uma revisão
profunda dos processos falhos, pois eles funcionam como ralos por onde escapam os recursos
da organização que, de outra forma, seriam destinados aos clientes.
A necessidade de gerar o compromisso de todos da organização para com a retenção do
cliente pode ser obtida com ações simples – através da promoção/divulgação das pequenas
vitórias obtidas ao longo do processo. Estabelecer objetivos muito ambiciosos pode tornar-se
uma armadilha, pois torna os resultados longínquos. Assim, é saudável que a organização não
objetive a perfeição e aceite o erro, desenvolvendo processos focados na resolução de
problemas de clientes. Pesquisas da Technical Research Assistance Programs (FURLONG, 1994,
p. 15) sugerem que “um cliente cujo problema foi resolvido poderá se mostrar mais leal do
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que o cliente satisfeito com um bom serviço comum”. Neste processo, o cliente precisa de
acompanhamento constante, sendo fundamental manter contato com ele –qualquer tipo de
contato. Programas de cross selling são ideais, pois quanto mais produtos um cliente possuir,
menor a probabilidade de ele trocar a empresa por outro fornecedor.
O envolvimento da alta administração também é essencial nesta etapa, pois aumenta o
envolvimento dos níveis inferiores tanto pelo exemplo quanto pela autoridade. Algumas
atitudes são importantes. Além do achatamento da estrutura e, consequentemente, a
atribuição de maior autonomia a todos, reformular o sistema de recompensas visando reforçar
esse envolvimento pode mostrar-se muito eficaz, assim como comunicar constantemente as
novas diretrizes e estimular a proatividade através do desenvolvimento de sistemas de
incentivo adequados.
1- Ajustar a estrutura organizacional: todos os elementos da organização influenciam a
forma como a organização funciona e as pessoas comportam-se. Para alterar a aptidão
da organização para o relacionamento, cada elemento da estrutura deve ser revisto e
reajustado. A empresa precisa rever seu processo de delegação de autoridade, uma vez
que as pessoas vão precisar de maior autonomia para que o processo de
relacionamento seja bem sucedido;
“Marketing de relacionamento requer um compromisso organizacional para com as técnicas
de pós-marketing (...) É improvável que isso ocorra facilmente em uma estrutura
organizacional convencional. De fato, uma das piores decisões possíveis é instruir programas
de pós-marketing sem funcionários ou recursos adequados para apoiar as atividades
envolvidas. Agir dessa forma é arriscar-se a desapontar os clientes substancialmente ou ser
vista como empresa que age com falta de sinceridade. Provavelmente, é melhor não iniciar
programas de pós-marketing do que dar os primeiros passos e fracassar no acompanhamento
correto de cada cliente” (VAVRA, 1992. p. 255).
2- Fazer da aprendizagem uma prioridade: sempre existem melhores formas de se fazer as
coisas. Para obter a melhoria constante, a empresa precisa mergulhar em um processo
de aprendizado contínuo.
3- Atualizar e manter bancos de dados: o relacionamento desenvolve-se a partir do
conhecimento, e o banco de dados é a ferramenta correta para proporcionar o
conhecimento necessário sobre os clientes. No entanto, o processo de manutenção
desse recurso é complexo, dada a velocidade com que ele se deteriora. Empresas que
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desenvolvem relacionamento com seus clientes dependem mais do banco de dados,
mas, por outro lado, possuem melhores condições de mantê-lo atualizado e funcional.
4- Desenvolver a interatividade: “interatividade e relacionamento são quase sinônimos”. O
diálogo ajuda a empresa a aprender sobre o cliente e a desenvolver uma proposta de
valor que se apoie em informações descritivas a seu respeito. Assim, manter canais de
comunicação constantemente abertos para os clientes é fundamental para o marketing
de relacionamento.
Dos cinco pontos apontados anteriormente, talvez o mais relevante seja construir um
conhecimento profundo do cliente e disseminar esse conhecimento por toda empresa. Isto se
torna possível através de uma estratégia consistente de banco de dados, desenvolvido
adequadamente ao conhecimento das necessidades do relacionamento.
“A tecnologia oferece suporte ao novo modelo de negócio e possibilita o desenvolvimento de
uma infraestrutura estratégica com informações eficientes. A tecnologia funciona como uma
plataforma para transformar os dados em conhecimento” (BROWN, 2001, p. 35).
A tecnologia de banco de dados propicia a formação de uma memória digital sobre os clientes,
capturando suas informações, analisando-as e ajudando a empresa a definir o estilo de
relacionamento a ser desenvolvido com cada cliente da organização. Permite ainda que todos
na empresa tenham acesso às informações coletadas, orientando o tratamento a ser dado a
cada cliente.
O registro das interações com os clientes e a construção de uma memória sobre cada um
individualmente propiciam a geração de relações de aprendizado. Cada vez que o cliente
interage com a empresa, esta aprende um pouco mais sobre ele, entendendo melhor suas
necessidades e gostos.
Mas, o que é um banco de dados adequado? É, sem dúvida, aquele que antecipa as principais
necessidades de informações da empresa. É flexível e permite mudanças de forma facilitada.
Não é um banco de dados grandioso, mas sob medida para as necessidades da empresa e que
entra em operação em um prazo relativamente curto, trazendo resultados em curto prazo. E,
finalmente, é um instrumento de trabalho de acesso facilitado, uma vez que todos na
organização devem utilizá-lo.
Administração de Marketing| MBA – UNA | 65
Para operacionalizar esse processo, os sistemas de gestão do relacionamento (conhecidos
como CRM) são divididos em três grandes blocos, cada um desempenhando uma função
específica:
1- CRM analítico: determina quais são os clientes que devem ser priorizados pela empresa.
Os clientes são diferentes em seu valor para a empresa e em suas necessidades. O CRM
analítico permite que sejam identificados e selecionados os clientes de maior valor para a
empresa e os clientes de maior potencial. É composto pelo Data Warehouse e Data Mart ;
2- CRM operacional: são os sistemas em operação nos “centros” de contato com os clientes,
por exemplo: sistemas de automação da força de vendas (SFA), centro de interação com
clientes (CIC ou SAC), sites de comércio eletrônico. Muitas vezes a implantação desses
sistemas pouco ou nada tem a ver com as necessidades ou conveniências dos clientes,
embora, se bem implementadas, possam trazer benefícios reais para estes. Mas o que
ocorre é que o objetivo das empresas, ao implantarem essas soluções, resume-se à
racionalização e otimização dos processos da empresa, não existindo foco no cliente;
3- CRM colaborativo: são os sistemas de interação com os clientes – Ura, conferências via
Web, e-mail (gerência de respostas), fax, etc.
A estratégia do relacionamento
Do ponto de vista do negócio, o conceito de gestão do relacionamento constitui-se de quatro
áreas essenciais:
1- Geração de oportunidades ou busca de clientes em potencial: procura de novos clientes
utilizando-se para isto principalmente das técnicas de segmentação (com base nas
necessidades dos prospects) e seletividade (visando identificar quão lucrativo o prospect
é para a organização).
2- Execução e incentivo de negócios ou reconquista de clientes: processo que visa
convencer o cliente a permanecer na organização quando este está pronto para
abandoná-la (interromper o serviço). Das quatro categorias, a reconquista é a que exige
maior sensibilidade com relação ao tempo.
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3- Consolidação de vendas ou Cross-selling/Up-selling: constitui a oferta de novos
produtos ou up grade de produtos já consumidos por um cliente em particular. A
natureza da oferta depende do segmento da necessidade do cliente.
4- Fidelização do cliente: visa evitar que este abandone a organização e utiliza para isto
três elementos essenciais: segmentação com base no valor, segmentação com base nas
necessidades do cliente e dispositivos de previsão de desistência. Essa é a área de maior
dificuldade de mensuração por parte da empresa.
Para executar com êxito essas tarefas, é fundamental um diálogo coerente com o cliente,
independentemente do canal de contato escolhido por ele. É indispensável que toda a
empresa realize um discurso uniforme e, por isso, o arsenal tecnológico e informacional
assume importância tão intensa. Porém, os sistemas de CRM por si não são suficientes para
proporcionar a integração da empresa frente ao objetivo de relacionamento com o cliente: é
fundamental o envolvimento das pessoas responsáveis por ele.
A informação também assume um papel estratégico, visto que ela é o centro de todo o
processo de relacionamento com o cliente. A maior dificuldade não está na tecnologia nem no
papel operacional da implementação, mas na qualidade da informação que se tem a respeito
do cliente: “É comum o empresário achar que tem um dado importante sobre o cliente
quando, na verdade, está longe disso. Se não há informação, não há relacionamento. Ninguém
começa a se relacionar com alguém que não conhece”. (TRONCHIN, 2000, p.11)
“A chave para prolongar a liderança competitiva é usar as informações dos clientes em um
nível granular – quanto mais detalhes, melhor” (BROWN, 2001, p. 21). Estas informações
detalhadas, obtidas de inúmeras fontes, não estarão disponíveis para os concorrentes e
implicarão na transformação da organização em um empreendimento inteligente para o
mercado. O empreendimento inteligente “começa com uma visão centrada no cliente, cria
uma estratégia centrada nessa visão e monta processos e sistemas que sustentem e
implementem essa estratégia por toda a organização. A organização desenvolve novas
competências centrais e novas medidas de desempenho que guiam melhorias e estratégias
contínuas” (BROWN, 2001. p. 21).
Oito fatores devem ser observados em um processo de implantação da estratégia de
relacionamento:
1- o comprometimento dos principais executivos (conforme mencionado anteriormente),
com a missão de criar a visão e comunicá-la para toda a organização;
Administração de Marketing| MBA – UNA | 67
2- o entendimento da cultura, em termos de prontidão e habilidade para a mudança: é
importante entender como e quanto as mudanças nos processos operacionais e de
negócio vão afetar as pessoas para que elas não se sintam ameaçadas e trabalhar junto a
todas as pessoas da organização, mostrando a importância do projeto e evidenciando os
impactos gerados e como eles serão tratados;
3- as mudanças dos processos de negócio da empresa, que devem ser alterados de forma a
serem coerentes com a nova estratégia e com a nova tecnologia. Nem sempre as
empresas conseguem compreender as implicações da mudança que estão adotando, o que
ocasiona dificuldades operacionais posteriormente. É importante que seja designada uma
equipe de projetos, que entenda detalhadamente quais serão os impactos nos processos
de negócio e redesenhe esses processos;
4- o gerenciamento das expectativas e a comunicação da intenção do projeto: a empresa
deve promover encontros onde são discutidas a importância do novo processo e a
profundidade das mudanças dele decorrentes;
5- a escolha de uma equipe de gerenciamento adequada: deve ser montada uma equipe
multifuncional, com elementos das mais diversas áreas da empresa, para que todas as
áreas envolvam-se com o projeto;
6- os executivos devem proporcionar o suporte necessário ao programa: uma liderança ativa
pode definir o sucesso ou fracasso do projeto;
7- o treinamento de todos os envolvidos: as pessoas precisam aprender os novos modos de
operação, bem como conhecer o sistema como um todo. Isto permite que elas entendam
mais profundamente a essência da nova estratégia, criando envolvimento e
comprometimento com o projeto;
8- a condução da mudança: é importante verificar constantemente se as pessoas estão
envolvidas.
Avaliando a estratégia do relacionamento
Os vendedores de software e consultores de marketing de relacionamento afirmam que os
melhores clientes são os leais. O custo de servi-los é menor, eles normalmente concordam em
pagar preços mais altos que outros consumidores e, normalmente, trabalham a favor da
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empresa através da propaganda boca a boca. Assim, a consequência inevitável da fidelização
de clientes é o aumento da lucratividade, correto? Isto nem sempre é verdade, embora muitos
executivos estejam assumindo essas afirmativas como dogmas.
Através de estudos que buscavam correlacionar lealdade e lucratividade, descobriu-se que a
relação entre essas duas variáveis é muito mais fraca do que se supunha. Descobriu-se
“pequena ou nenhuma evidência que sugerisse que os consumidores que compravam
repetidamente da empresa eram necessariamente mais baratos de serem atendidos, menos
sensíveis a preço ou particularmente eficientes em trazer novos negócios para a organização”
(REINARTZ e KUMAR, 2002, p. 5).
Embora poucas pesquisas tenham sido realizadas sobre os critérios de avaliação das iniciativas
de relacionamento, sabe-se que muitas empresas falham em suas iniciativas. A crença nas
premissas citadas acima e a falha na definição de métricas que avaliem corretamente os
ganhos obtidos com as iniciativas de relacionamento podem estar fazendo com que as
organizações desperdicem enorme volume de dinheiro.
Mas a estratégia de fidelização de clientes não é lucrativa para a organização? Segundo
Reinartz e Kumar (2002), após pesquisa realizada junto a quatro empresas, o coeficiente de
correlação encontrado entre as variáveis foi de fraco a moderado.
Após estudo de cada uma das premissas que embasam a fidelização de clientes, concluiu-se
que elas não apresentavam fundamentos. Vários advogados do CRM afirmam que atender
clientes fiéis custa menos para a organização, uma vez que o custo para a conquista daquele
cliente é amortizado por um grande número de transações e que, por ele estar familiarizado
com a organização, os custos com a resolução de dúvidas ou problemas é menor. O que se
verificou na prática, no entanto, é que o custo para se manter o relacionamento com clientes
de forma individual é muito alto, e que clientes fiéis sabem o seu valor para a organização e
costumam pressionar por melhores serviços, o que gera custos para a empresa. Eles esperam
algo em troca de sua fidelidade.
Com relação à segunda premissa, que afirma que os consumidores fiéis estão dispostos a
pagar preços mais altos pelos produtos e serviços da empresa fornecedora, também não
foram encontrados indícios de que ela seja verdadeira. Aqueles que compram sempre,
principalmente em situações que envolvem altos valores, pressionam por preços melhores e
normalmente pagam preços entre 5% a 7 % menores em alguns casos. Assim, clientes fiéis são
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na realidade mais sensíveis a preço que os clientes ocasionais. Pesquisas constantemente
mostram que os clientes fiéis merecem melhores preços.
Finalmente, a terceira premissa também não se mostrou tão determinante, pois a relação
entre longevidade do cliente e propensão para realizar propaganda boca a boca também não
se mostrou forte.
Todos esses dados não significam que a estratégia da lealdade não seja uma boa estratégia.
Muitas vezes é a única estratégia possível. No atual estágio competitivo, é difícil para as
organizações construírem vantagem competitiva baseada em produtos, a não ser que a
empresa possua domínio tecnológico ou vantagens de reserva de mercado, situações que não
são muito comuns. No entanto, é fundamental que as empresas questionem as premissas que
suportam tais estratégias, criando suas próprias métricas em função de seus objetivos.
As razões pelas quais a relação entre lealdade e lucratividade é fraca têm a ver com os
métodos que as organizações utilizam para definir quando manter ou não manter o
relacionamento com clientes. Normalmente o fazem analisando a frequência de compras dos
clientes e quanto eles gastam. Mas a decisão de continuar investindo no consumidor precisa se
basear na sua lucratividade e não na receita que ele gera. Ou seja, é fundamental definir os
parâmetros, os indicadores corretos para selecionar adequadamente aqueles clientes com os
quais vale a pena manter o relacionamento.
A evolução das iniciativas de CRM passa por três estágios distintos. O estágio no qual a
empresa encontra-se determina a forma como ela trata seus clientes, os elementos que
caracterizam o sucesso da iniciativa e define os sistemas mais apropriados para a mensuração
dos resultados. No Estágio I a aquisição de clientes é o enfoque principal. O Estágio II foca a
retenção dos clientes conquistados durante o primeiro estágio. Finalmente o Estágio III é
caracterizado pela dependência do cliente em relação à empresa, e é nesse estágio que o
atendimento estratégico ao cliente torna-se cultura e prática em toda a organização.
O conceito de sucesso varia em função do estágio em que a empresa se encontra e as medidas
de fidelidade utilizadas devem variar em função desse estágio. No estágio I, de aquisição de
clientes, o sucesso configura-se através do volume de clientes conquistados, dada uma
segmentação específica. As medidas de desempenho devem enfocar as transações do cliente
como mudança de posição, sendo a lucratividade medida através da margem de lucro do
produto adquirido.
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No estágio II, caracterizado pelo esforço para a retenção de clientes (tanto no que se refere à
reconquista quanto às atividades de Cross-selling e Up-selling), o sucesso depende da
quantidade de produtos adquiridos e da fidelidade do cliente. A medida focada no
relacionamento é o índice de satisfação do cliente e a medida de lucratividade passa a ser o
gasto pessoal, ou a proporção de gastos frente ao potencial do cliente.
No terceiro e último estágio – atendimento estratégico ao cliente – as normas do valor do
cliente confundem-se com as da empresa. A medida de lucratividade baseia-se na duração do
relacionamento (LTV – Life Time Value ou tempo de vida do cliente na empresa).
Este estágio é considerado o mais avançado (e final) no processo de implementação do
marketing de relacionamento e tem como critério absoluto de sucesso a fidelidade do cliente,
medida através do LTV. Definimos fidelidade como “um compromisso forte em recomprar ou
repatrocinar um produto ou serviço preferido consistentemente no futuro, apesar das
influências circunstanciais e tentativas de marketing que podem acarretar um comportamento
de troca” (BROWN, 2001, p. 55). Sendo assim, a definição de sucesso de uma iniciativa de
relacionamento é a fidelidade dos clientes da organização, medida através de seu LTV.
As experiências mostram que as medidas de fidelidade do consumidor devem incluir, no
mínimo, uma medida relacionada ao consumo e uma medida relacionada à satisfação do
cliente. Utilizar somente a medida do valor gasto pode levar a conclusões errôneas, se a
empresa não estiver lidando com uma fidelidade verdadeira. Isso pode ser facilmente
observado em mercados monopólicos, onde a fidelidade do cliente é obtida pela
impossibilidade de escolha de outros fornecedores. Por essa razão, as medidas de valor gasto
são frequentemente complementadas com as medidas de satisfação do cliente.
O relacionamento através do marketing de serviços
No contexto dos serviços, o relacionamento com os clientes sempre está presente. No ato da
produção dos serviços, o contato com o cliente é algo inerente ao processo e sempre ocorre
em algum momento de forma cooperativa entre fornecedor e cliente. Por isso, as empresas
que buscam atender ao que os clientes desejam, satisfazer e antecipar as suas necessidades
são empresas orientadas para serviços.
O serviço tem sido considerado essencial na estratégia de marketing de relacionamento e
inerente à orientação para o mercado. “A interação continuada pós-venda é uma parte muito
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importante do pós-marketing e é tão necessária quanto a venda, se uma organização deseja
contar com oportunidades continuadas de negócio com o mesmo cliente no futuro” (VAVRA,
1992, p. 32). O serviço preserva a lealdade à marca e, neste novo contexto empresarial, todas
as empresas tenderão a se converter em prestadores de serviço, de forma a criar a satisfação
do cliente e a lealdade à empresa.
Todos os produtores hoje oferecem serviços para seus clientes. Até pouco tempo atrás, o valor
do produto originava-se no processo de produção, no processo de transformação da matéria-
prima em solução. Hoje os fornecedores têm percebido que oferecer apenas o produto não é
suficiente para diferenciar a sua oferta da oferta dos outros fornecedores. O serviço é o
elemento capaz de agregar valor ao produto, diferenciando-o dos produtos concorrentes,
oferecendo aos clientes o que eles desejam. Componentes do produto, serviços agregados,
informações, atenção pessoal ao consumidor, entre outros elementos, estão sendo
combinados na oferta total de serviços ao cliente. A oferta total torna-se uma oferta de
serviço, embora muitas vezes a sua essência seja um produto físico.
O desenvolvimento tecnológico tem dupla influência neste processo. Por um lado, o fácil
acesso às tecnologias de produção levou ao nivelamento dos processos produtivos em termos
de custos, produtividade e qualidade dos produtos, tornando relativa a sua importância no
desenvolvimento de diferencial competitivo para as organizações. Por outro lado,
proporcionou condições para que a empresa desenvolvesse melhores e mais variados serviços
aos clientes. “As tecnologias de serviços oferecem aos gerentes inteligentes novas opções para
baixar preços, reestruturar suas organizações e redefinir o foco de sua estratégia” (QUINN et
al, 1998, p. 319).
Em uma empresa orientada para serviços, o marketing é a principal competência a ser
desenvolvida pela organização, de forma a orientar e coordenar as funções de projeto do
produto e operações no desenvolvimento de uma solução integrada para o cliente.
Pense nisto!
Não é a inovação — disso temos certeza. Esse é um tema que está na mente de todo mundo hoje em dia. O mesmo vale para a tecnologia, a globalização e a participação do empregado no dia-a-dia da empresa. A qualidade já não chama tanto a atenção como no passado, mas isso se deve, provavelmente, ao fato de ser algo já incorporado pela maioria das corporações. E a estratégia? Bem, no mundo de hoje, onde as coisas caminham à velocidade da luz, as pessoas parecem estar dando a ela a atenção merecida.
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Sabe o que ainda é tratado de forma negligente? O relacionamento com o cliente. Apesar de esse tema já estar entre nós há algum tempo – com nomes como “retenção do cliente” e “lealdade” – ele ainda não foi capaz de deixar os executivos tão obcecados quanto deveriam. O que é um problema, já que esse tipo de relacionamento pode virar o jogo. Ele faz com que uma empresa deixe de ter um modelo com base apenas em transações comerciais e adote outro mais duradouro e mutuamente benéfico, em que ela melhora a receita e as margens ao melhorar a competitividade do cliente.
Na verdade, o único problema desse tipo de relacionamento é que ele não é nada fácil de criar. Contudo, pedimos licença para sugerir algumas maneiras de obtê-lo.
Em primeiro lugar, esse relacionamento depende da boa e velha qualidade do serviço – algo que provavelmente não é uma grande revelação para você. O que chama a atenção, entretanto, é o grau de excepcionalidade, de consistência e de inventividade que a prestação de serviços deve ter para se destacar hoje. Veja o caso da Mitchell’s, uma cadeia de roupas de Connecticut, nos Estados Unidos. Sua administração tem por objetivo ultrapassar a concorrência no disputado mercado de classe média de Nova York. Para isso, oferece “adicionais” como ajustes nas roupas no mesmo dia e entrega da mercadoria em domicílio. Numa escala bem mais ampla, a rede de hotéis Four Seasons conquista corações e carteiras no congestionado mercado de hotéis de luxo, proporcionando, invariavelmente, experiências ininterruptas de alta qualidade.
Em se tratando de fábricas, o serviço ao cliente tem importância ainda maior – e pode resultar em ganho ainda mais significativo para os dois lados. Para isso, é preciso passar de um enfoque centrado apenas no produto para outro centrado também na prestação de serviços de longo prazo, assegurando aos clientes ganhos de produtividade. Uma fabricante de máquinas, por exemplo, deve estimular seus engenheiros a construir equipamentos cada vez mais rápidos e poderosos. Deve apostar no talento deles para projetar e produzir atualizações que gerem aumentos de produtividade para seus clientes no decorrer dos anos. Não é um desafio pequeno, mas, se a coisa certa for feita, haverá um ganho enorme para todos os envolvidos. (WELCH e WELCH, 2008)
Marketing de serviços
Embora alguns autores definam serviços como produtos não-tangíveis, a distinção entre bens
e serviços nem sempre é tão clara. Bens e serviços se completam na oferta de valor da maior
parte das empresas, sendo muito difícil fornecer um exemplo “puro” de um ou de outro.
Empresas de serviços, como restaurantes, oferecem bens tangíveis, como o cardápio e a
própria comida. Por outro lado, empresas que produzem bens tangíveis oferecem aos
consumidores serviços agregados como a entrega e a garantia.
Apesar da dificuldade de defini-los e diferenciá-los, produtos físicos ou bens são definidos
como objetos, dispositivos ou coisas. Serviços, por sua vez, são definidos como ações, esforços
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ou desempenho. Ao contrário dos produtos físicos, que podem ser tocados e experimentados
anteriormente ao momento da compra, aqueles produtos só podem ser experimentados no
momento em que são adquiridos – eles são predominantemente intangíveis. Como resultado,
as pessoas tendem a buscar sinais da qualidade dos serviços comprados em aspectos de apoio
como as instalações nos quais os serviços são realizados, as pessoas que os produzem, os
materiais de comunicação, os preços e em qualquer outra característica que possa torná-lo um
pouco mais tangível. Neste sentido, gerenciar uma operação de serviços tende a ser um
processo mais complicado do que gerenciar uma empresa que produz e comercializa bens
físicos. A empresa, através da utilização de elementos que possam se transformar em
evidências concretas de qualidade, precisam “tangibilizar o intangível”.
À medida que as economias evoluem, uma proporção cada vez maior de suas atividades se
concentra na produção de serviços, sendo este um setor bastante variado. As prestadoras de
serviços têm se tornado, cada vez mais, o combustível da economia mundial. Mesmo as
empresas produtoras de bens físicos, ao incorporarem serviços a seus produtos, tornam-se, de
alguma forma, empresas prestadoras de serviços.
Esse fato deriva da dificuldade cada vez maior que as empresas enfrentam para diferenciar
seus produtos. O serviço surge então como uma estratégia viável de diferenciação dos
produtos. As empresas buscam criar uma boa reputação através de um desempenho superior
nos serviços de apoio, garantindo, por exemplo, a eficiência da rede de assistência técnica ou a
agilidade das entregas, respostas melhores e mais rápidas para consultas e solução ágil para
reclamações.
Além da intangibilidade, os serviços apresentam outras três características marcantes: a
inseparabilidade, a variabilidade e a perecibilidade.
De maneira geral, os serviços são produzidos e consumidos simultaneamente. Não existe como
produzi-los e estocá-los para serem consumidores posteriormente. Uma vez que são
produzidos no ato do consumo, a pessoa encarregada de prestar o serviço e o cliente são
partes dele. Neste sentido, a interação prestador de serviços x cliente é uma característica
Conceito Um serviço é um processo, consistindo em uma série de atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre, ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de serviço e/ou recursos ou bens físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como soluções para problemas do cliente (GRÖNROSS, 2003, p. 65).
A aquisição de um serviço não resulta na propriedade de nada e a sua execução pode estar ou não ligada a um produto físico.
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especial do marketing de serviços, para o bem e para o mal. Qualquer dificuldade enfrentada
pelo prestador do serviço no momento da sua produção, pode comprometer o seu resultado e
afetar a satisfação do consumidor.
Como dependem intensamente de quem os produz e das condições ambientais onde são
produzidos, os serviços apresentam alta variabilidade, o que torna mais incerto o seu
consumo. Para reduzir os riscos inerentes ao consumo de serviços, os consumidores buscam se
informar mais detalhadamente sobre o serviço prestado.
Embora a variabilidade dos serviços seja naturalmente maior – se comparada à variabilidade
dos bens físicos, que são produzidos em ambientes mais controlados – a empresa pode adotar
algumas medidas para reduzir esta variabilidade e, consequentemente, a incerteza do
consumidor.
A empresa pode investir nos processos de contratação e treinamento dos funcionários,
visando à adequação destes à atividade que desempenham. “Os funcionários devem mostrar
competência, interesse, capacidade de resposta, iniciativa, habilidade para solucionar
problemas e boa vontade.” (KOTLER, 2000, p. 401)
Visão de Marketing
Terra de encantamento
“O grupo Walt Disney não é apenas um negócio, segundo seus diretores, mas uma força que dá forma à imaginação de todas as crianças do mundo”. (REINCKE, 1998)
Sobre esta filosofia Roy e Walt Disney criaram uma das mais queridas empresas do mundo, que conta com 45 mil funcionários somente nos parques temáticos. Essa filosofia é visível onde quer que se olhe. A orientação é que se dê atenção máxima a todos os detalhes, garantindo uma experiência inesquecível aos clientes.
“Cada detalhe é perfeitamente cuidado, como o fato de a loja que vende e conserta máquinas fotográficas estar localizada na entrada. Ou das janelas maiores do que o normal – para que as crianças possam ver tudo sem incômodo (delas e dos adultos). Ou os bancos espalhados por todos os cantos, para que as pessoas possam se sentar e descansar (...) A preocupação com os detalhes também é visível no final do passeio, depois que o visitante dá a volta no castelo e depara com a estação de trem. A ideia é proporcionar-lhe o conforto do trem, já que depois de passar o dia no parque, ele estará exausto e querendo andar o menos possível”.(REINCKE, 1998)
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Um outro caso muito expressivo mostra a preocupação da empresa com os detalhes. Uma pesquisa revelou que muitas pessoas esqueciam suas chaves dentro do carro – no ano de 1995, foram 19 mil casos. A empresa criou então um sistema que permite a recuperação das chaves em menos de três minutos. Isto impede que a felicidade de um dia no parque seja prejudicada por um evento tão trivial e desagradável.
O sucesso Disney, no entanto, não acontece por acaso. A empresa investe muito para agradar os quase 25 milhões de pessoas que visitam o parque todos os anos, e o treinamento dos funcionários recebe boa parte deste investimento. “O treinamento da Disney a um candidato a condutor de barco, por exemplo, supera em muito o preparo oferecido por inúmeras empresas aos operadores de suas máquinas mais sofisticadas (...) Os funcionários são treinados para perceber as emoções dos visitantes e tratar cada emoção de modo adequado.” (REINCKE, 1998)
Contam que certa vez, na fila de um brinquedo, uma família passou por um momento de estresse, rapidamente resolvido por um funcionário atencioso e bem treinado. Após uma espera relativamente longa, a filha menor se recusou a entrar no brinquedo, pois não queria deixar para trás o sorvete que estava tomando. Deixar a filha para fora do brinquedo impediria um dos pais de divertir-se. O funcionário, percebendo a situação, se ofereceu para segurar o sorvete da criança até que ela saísse do brinquedo. Quando a criança saiu do brinquedo, lá estava o funcionário com o sorvete. Debaixo de um sol de mais de 30 graus, obviamente o sorvete devolvido para a criança já não era mais o sorvete que ela havia deixado com o funcionário.
A empresa pode padronizar o processo de execução do serviço em toda a organização e então
treinar as pessoas na execução do processo. Finalmente, a empresa deve criar sistemas de
acompanhamento da satisfação dos clientes, identificando os aspectos que precisam ser
melhorados.
A última característica dos serviços é a perecibilidade. Serviços não podem ser estocados. Isto
tende a ser um problema quando a demanda pelos serviços é instável, sazonal ou quando é
afetada por um evento específico que faz sua demanda aumentar ou cair muito e
repentinamente. Quando a demanda oscila, as empresas prestadoras de serviços buscam
desenvolver estratégias que equilibrem novamente a relação demanda x oferta:
preços diferenciados para épocas de alta e de baixa demanda;
adição de serviços complementares ou o desenvolvimento de algumas rotinas que
podem auxiliar a empresa a reduzir os gargalos em época de demanda intensa;
desenvolvimento de sistemas de reserva para gerenciar a demanda;
contratação de mão-de-obra temporária.
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Gerenciamento da qualidade em serviço
A qualidade pode ser uma característica distintiva da organização no mercado no qual atua, no
entanto, não é uma meta fácil de ser alcançada. Cada cliente possui uma percepção particular
sobre a qualidade, sendo assim muito subjetiva e pessoal. No entanto, buscá-la e mensurá-la é
fundamental para o sucesso do negócio, e a satisfação do cliente é o indicador mais eficiente.
A qualidade percebida em relação ao serviço é o resultado da comparação entre as percepções
e as expectativas do cliente. Os clientes criam expectativas em relação aos serviços a partir das
experiências anteriores, propagandas ou pelo depoimento de amigos e conhecidos. Se o
serviço percebido não atender às expectativas (for inferior ao serviço esperado), o consumidor
se frustrará com o fornecedor e tenderá a procurar outro. Por isso, é importante que se faça o
serviço bem feito da primeira vez, com eficiência e eficácia, evitando o retrabalho e
aumentando o grau de confiança do cliente para com a empresa.
A confiabilidade não é o único determinante nas avaliações do cliente em relação à qualidade
do serviço recebido. Os pesquisadores identificaram cinco fatores capazes de influenciar a
avaliação da qualidade:
confiabilidade: a capacidade de prestar o serviço prometido de modo confiável e com
precisão, conforme o prometido;
tangibilidade: a aparência física de instalações, equipamentos, pessoal e materiais de
comunicação;
capacidade de resposta: a prontidão e disposição para ajudar o cliente e proporcionar
com presteza um serviço, dentro do prazo estabelecido;
segurança: o conhecimento e a cortesia de empregados e sua habilidade de transmitir
confiança ao cliente;
empatia: a atenção e o carinho individualizados proporcionados aos clientes.
Apesar da importância de oferecer ao cliente uma experiência memorável, existe uma faixa ou
“zona de tolerância” em que o consumidor percebe o serviço como satisfatório. Esta zona é
delimitada pelo nível mínimo de serviço que os clientes toleram.
Executar serviços excelentes demanda que todos dentro da organização estejam envolvidos no
processo, para que se tenha um resultado positivo em relação a satisfação do cliente. A
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empresa precisa cuidar com carinho dos serviços que presta, pois um cliente insatisfeito é
capaz de propagar essa informação a muitas pessoas, prejudicando a credibilidade da
empresa, arranhando a sua imagem. Neste caso, a intangibilidade trabalha contra a empresa.
Como os consumidores constroem suas primeiras impressões sobre as informações que
recebem – este é um recurso de que se utilizam para tangibilizar os serviços e reduzir os riscos
– qualquer informação negativa sobre a qualidade do serviço pode afastá-lo definitivamente
da empresa.
A percepção da qualidade do serviço é formada pelo serviço efetivamente prestado e pela
comunicação transmitida ao cliente durante ou após o processo. A prestação de serviço é a
principal responsável pela percepção do cliente. Ela é construída em cada um dos momentos
em que o cliente entra em contato com qualquer aspecto da empresa fornecedora de serviços
– que os autores chamam de momentos da verdade. Durante a prestação de serviços o cliente
vivencia uma série de momentos da verdade, que ocorrem em sequência, e essa sequência
rebebe o nome de "ciclo do serviço". Este fato evidencia a importância do cuidado com os
detalhes, pois qualquer descuido em qualquer um destes momentos pode influenciar
negativamente a percepção do cliente e comprometer o relacimento empresa x consumidor.
A comunicação transmitida ao cliente é outro aspecto a ser gerenciado, pois pode modificar
sua percepção. Muitas vezes os clientes não estão cientes de tudo o que acontece no sistema
de operações, e podem ser surpreendidos negativamente.
O modelo SERVQUAL de avaliação da qualidade em serviços
Parasuraman Berry (2002) desenvolveu um modelo que contempla os aspectos mais
importantes para a prestação de serviços de alta qualidade. Para garantir a qualidade dos
serviços, a empresa precisa estar atenta a alguns pontos importantes, que os autores
denominam lacunas:
1- lacuna entre as expectativas do consumidor e as percepções da gerência – é comum
que a gerência não consiga entender com precisão o que o cliente deseja;
2- lacuna entre as percepções da gerência e as especificações dos serviços – uma vez que a
gerência tenha entendido corretamente os desejos do consumidor, ela pode não
conseguir especificar corretamente os padrões de desempenho esperados;
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3- lacuna entre as especificações da qualidade e o serviço entregue – uma vez bem
especificados, a execução do serviço pode apresentar falhas;
4- lacuna entre a entrega dos serviços e a comunicação externa – é importante que a
empresa atenda as expectativas dos consumidores, formadas por informações externas
provenientes de declarações de amigos ou conhecidos ou da mídia em geral. Ao se
comunicar com o cliente através dos meios de comunicação, a empresa precisa tomar o
cuidado de não criar expectativas que não possa atender;
5- lacuna entre o serviço percebido e o serviço esperado – o cliente pode não perceber a
qualidade do serviço.
Em relação a esta última lacuna, os autores desenvolveram um instrumento para medir como
os clientes percebem a qualidade de um serviço. Esse instrumento tem como base sete
variáveis, e busca comparar as expectativas dos clientes em relação a cada uma destas
variáveis e a sua percepção sobre a experiências com o serviço (a percepção de como o serviço
foi prestado).
A escala ServQual apresenta-se em forma de um questionário estruturado e leva em
consideração os sete itens da qualidade em serviços propostos por Parasuraman et al. (1985).
- Confiabilidade: executar o serviço de acordo com o combinado;
- Rapidez: está voltado para a velocidade em que o cliente é atendido;
- Tangibilidade: relaciona as evidências físicas a que o serviço está inserido, como funcionários
e equipamentos;
- Empatia: manter uma cordialidade e atenção junto ao cliente;
- Flexibilidade: ser flexível com o cliente de acordo com as suas necessidades, ter a apacidade
de adaptar-se.
- Acessibilidade: ter facilidade de entrar em contato com o serviço;
- Disponibilidade: ter facilidade de encontrar pessoas para um pronto atendimento.
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UNIDADE 6 Sistemas de Informação de Marketing
Considere as seguintes situações:
1 - Uma empresa está sistematicamente perdendo participação de mercado para seus principais concorrentes. A partir desta constatação, identificou o seguinte problema gerencial: o que a empresa pode fazer para lutar contra a concorrência e melhorar a sua participação de mercado?
2 - Um gerente de vendas recém-admitido em uma empresa de cervejas precisa estabelecer suas metas de vendas para o próximo exercício. Qual a meta adequada?
3 - O ano de 2008 foi marcado por uma profunda crise financeira mundial e as perspectiva para o ano de 2009 não se mostram muito positivas. Em virtude dessas perspectivas, um laboratório farmaceutico precisa decidir se mantém os investimentos em novas estruturas produtivas ou se suspende os planos de investimento por tempo indeterminado. Qual é a decisão mais adequada e menos arriscada?
Para as três situações descritas acima, tente responder às seguintes questões:
1 - Que tipo de informação a empresa precisa em cada um dos casos?
2 - Cite possíveis fontes a partir das quais a empresa poderia resolver esses dilemas gerenciais.
A necessidade de informações é intensa nas organizações, e coletar, organizar e disponibilizar
as informações necessárias para a tomada de decisão é um desafio. Para reduzir as
dificuldades inerentes ao processo decisório, as empresas, uma vez identificadas suas
necessidades de informações, buscam desenvolver sistemas de informações de marketing para
auxiliá-las neste processo.
A função de um sistema de informação de marketing (SIM) deve ser – a partir da avaliação das
necessidades de informação da empresa – coletá-las e distribuí-las, dotando os gestores dos
recursos necessários para a tomada de decisão, no momento certo. Como o SIM existe para
solucionar os problemas de informação dos profissionais de marketing, esses profissionais
devem participar ativamente do seu desenvolvimento.
Conceito SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE MARKETING consiste de pessoas, equipamentos e procedimentos para coletar, selecionar, analisar, avaliar e distribuir informações de marketing que sejam necessárias, oportunas e precisas para os tomadores de decisão de marketing (KOTLER, 1998, p.111).
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Muitas das informações necessárias para a tomada de decisão encontram-se dentro da
empresa e são reunidas, organizadas e disponibilizadas pelos sistemas de registros internos.
Ciclo de pedidos, volume e distribuição das vendas, níveis de estoque, contas a pagar, contas a
receber, solicitações e reclamações de clientes – todas essas informações resultam da
operação da empresa (são subprodutos) e precisam ser organizadas para que os
administradores de marketing possam utilizá-las quando necessário. São informações
importantes, uma vez que auxiliam a empresa a detectar oportunidades ou problemas.
Diferentemente do sistema de registros internos (que compila dados internos sobre os
resultados da operação da empresa), o sistema de inteligência de marketing tem como foco o
ambiente externo da organização e provê os gestores de informações sobre aspectos
pertinentes ao ambiente de marketing. Os sistemas de inteligência de marketing reúnem
informações provenientes de diversos canais internos e externos como, por exemplo, livros,
jornais, revistas técnicas, feiras, clientes, fornecedores e equipe de vendas (interna e externa).
Esses canais de informação são importantes e facilmente acessados.
A empresa precisa cuidar para que o sistema de inteligência de marketing esteja
adequadamente estruturado e formalizado, a fim de garantir que as informações não se
percam ou que elas estejam acessíveis no momento certo. Isto demanda a criação de
procedimentos para que as pessoas envolvidas no processo coletem e registrem
adequadamente essas informações. É importante que, munidas de bons processos para a
coleta e registro dos dados, a empresa treine e motive os sujeitos envolvidos na captação das
informações – força de vendas, revendedores, distribuidores e clientes fantasmas – garantindo
que elas sejam registradas no sistema.
Para melhorar a qualidade e quantidade das informações dos seus sistemas de inteligência de
marketing, as empresas podem optar por contratar fornecedores externos. Normalmente
estes fornecedores possuem maiores volumes de informações e informações mais
estruturadas que os dados gerados pela própria empresa.
As pesquisas de marketing constituem mais uma importante fonte de informações para a
empresa. Frequentemente os administradores precisam de informações que não estão
disponíveis de forma imediata e, por isso, precisam encomendar estudos formais sobre
determinados problemas ou oportunidades.
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A pesquisa de marketing se desenvolve em cinco etapas:
1- definição de problemas e objetivos;
2- desenvolvimento do projeto de pesquisa;
3- coleta de informações;
4- análise das informações;
5- apresentação dos resultados.
Definição do problema e dos objetivos
A pesquisa de marketing é sistemática, o que significa que ela deve seguir um caminho
previsível. Por isso deve ser detalhadamente planejada e documentada. O planejamento parte
da definição do problema de pesquisa (ou problema de marketing a ser solucionado), que
consiste em entender o propósito do estudo e as questões básicas que surgem com ele.
As questões básicas levam a algumas reflexões do tipo: “O que levou à pesquisa?” e “Que tipo
de decisão esta pesquisa favorecerá?”. A administração deve definir entre uma definição mais
ampla ou mais restrita do problema.
Uma pesquisa será ampla se pretender reunir dados preliminares que permitam ao
pesquisador levantar hipóteses. Perguntas do tipo: “Que fatores levam os consumidores a
consumir determinado produto?” ou “Por que nossos clientes estão deixando de comprar
nossos produtos?” são amplas e não possuem hipóteses a priori.
Este tipo de pesquisa é denominado pesquisa exploratória e costuma ser utilizado quando a
gerência tem um problema, mas não sabe quais as causas possíveis.
Conceito A pesquisa de marketing é a identificação, a coleta, a análise e a disseminação sistemática e objetiva das informações; e esse conjunto de ações é empreendido para melhorar as tomadas de decisão relacionadas à identificação e à solução de problemas (MALHOTRA, 2005, p.4).
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Como a empresa não sabe ao certo que informações são necessárias, as pesquisas
exploratórias costumam ser flexíveis e não-estruturadas. Uma vez que aborda uma amostra
muito pequena, seus dados não são representativos e seus achados devem ser considerados
apenas o ponto de partida para uma pesquisa mais abrangente.
Uma pesquisa é restrita se busca apurar certos aspectos pré-definidos do problema. Tome
como exemplo os seguintes problemas: “Definidos determinados estímulos de marketing,
quantos consumidores reagirão positivamente à oferta?”ou “Os consumidores aumentariam
seu volume de compra se determinada variável do composto de marketing fosse alterada?”. O
gênero de pesquisa proveniente deste tipo de problema, ao contrário das pesquisas
exploratórias, que não possuem hipóteses, é desenvolvido para testar hipóteses. O
pesquisador já possui um conhecimento anterior e uma compreensão precisa do problema a
ser investigado e sabe exatamente que informação precisa coletar. Como normalmente são
formais e estruturadas e envolvem grandes amostras representativas, suas conclusões podem
ser generalizadas. Este tipo de pesquisa é denominado pesquisa conclusiva.
Existem dois tipos de pesquisa conclusiva: a pesquisa descritiva e a pesquisa experimental. A
primeira (pesquisa descritiva) tem como principal objetivo a descrição de um fenômeno ou a
descrição da relação entre variáveis – descrever o cliente e o mercado (características e
percepções) e medir a frequência de comportamentos.
A pesquisa causal destina-se a esclarecer relações de causa e efeito. Este tipo de pesquisa
demanda a construção de um modelo causal, no qual as variáveis causais (ou independentes)
são isoladas e manipuladas para verificar o efeito que geram sobre as variáveis dependentes.
Este tipo de pesquisa exige que o ambiente de pesquisa (no qual ocorre a manipulação da
variável) seja controlado, para impedir que outras variáveis interfiram no processo e alterem
os resultados.
Desenvolvimento do projeto de pesquisa
Após a definição do problema e dos objetivos, o gerente de marketing deve desenvolver o
plano mais eficiente para reunir as informações necessárias à conclusão da pesquisa. Isso
envolve a definição de diversos aspectos.
I- Fonte de dados a ser utilizada. Uma pesquisa pode optar por dois tipos distintos de
dados: os dados primários e os dados secundários. Os dados primários são coletados
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para a pesquisa em questão. O pesquisador opta por fontes primárias quando os dados
necessários para responder ao problema de pesquisa não existem ou estão
desatualizados.
Os dados secundários foram coletados com outro propósito que não a pesquisa em
questão, já estão disponíveis anteriormente à realização da mesma, mas são apropriados
para responder ao problema de pesquisa. Este tipo de dado é menos oneroso e
apresenta a vantagem de estar disponível.
II- Abordagem de pesquisa. Define como os dados primários serão coletados. Eles podem
ser coletados de quatro maneiras diferentes: pesquisa por observação – os
pesquisadores coletam os dados a partir de observações que realizam sobre os grupos ou
fenômenos a serem pesquisados; pesquisa de grupo-foco – o pesquisador reúne um
grupo de pessoas conduzido por um moderador, para discutir sobre o objeto de
pesquisa; pesquisas de levantamento – são utilizadas em pesquisas descritivas, cujo
objetivo é descobrir conhecimentos, crenças e preferências, e para identificar e mensurar
características da população; pesquisa experimental – é o tipo de pesquisa mais válido
cientificamente, pois envolve o controle do ambiente no qual a pesquisa ocorre. Consiste
na seleção de grupos amostrais que serão submetidos a tratamentos diferentes, de
forma controlada, com o objetivo de checar se as respostas variarão em função da
variação dos estímulos.
As pesquisas por observação e as de grupo-foco são mais apropriadas para pesquisas
exploratórias, enquanto as de levantamento e os experimentos são maneiras de coleta
de dados adequadas às pesquisas conclusivas.
III - Instrumentos de pesquisa. Existem diferentes instrumentos de coleta de dados à
disposição dos pesquisadores: questionários, instrumentos mecânicos, roteiros de
entrevista (estruturados, semi-estruturados e desestruturados) e roteiros de observação.
Cada um destes instrumentos é apropriado para um tipo específico de pesquisa e de
coleta de dados.
O questionário reúne um conjunto de questões cuidadosamente desenvolvidas e
dispostas em uma sequência tal que permite que os objetivos traçados sejam alcançados.
Uma vez desenvolvido, deve ser testado e corrigido antes de ser aplicado em larga escala.
Sua elaboração exige que as questões sejam cuidadosamente planejadas em relação ao
conteúdo, à forma (perguntas fechadas, abertas ou mistas) e à sequência em que serão
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realizadas. Qualquer problema em um desses três elementos pode influenciar as
respostas dos sujeitos pesquisados, tornando os resultados inválidos.
Os instrumentos mecânicos são menos utilizados em pesquisas de marketing e,
normalmente, são aplicáveis para avaliar/medir sentimentos e percepções dos
consumidores em relação a determinados estímulos.
Os roteiros de entrevista são elaborados a partir de perguntas abertas, formuladas para
serem realizadas através de uma conversa face a face com o entrevistado. Os roteiros
estruturados exigem que as perguntas sejam realizadas da forma e na sequência exata
em que foram elaboradas. Já os roteiros semiestruturados e desestruturados são mais
flexíveis e orientados pelos objetivos. O roteiro semiestruturado permite que o
pesquisador inclua, exclua ou mude a ordem das perguntas durante a entrevista, se este
perceber que os objetivos não foram atingidos durante a aplicação do roteiro original. Já
o roteiro desestruturado não possui questões pré-definidas e o entrevistado é convidado
a falar livremente sobre um tema específico.
IV - Plano de amostragem. Ao planejar uma pesquisa, o gerente de marketing deve definir sua
unidade de amostragem (quem será pesquisado – a população-alvo da pesquisa), o
tamanho da amostra (quantas pessoas devem ser pesquisadas) e os procedimentos de
amostragem (como os respondentes devem ser escolhidos – amostra probabilística
selecionada por critérios aleatórios de escolha/amostra, não-probabilística por
conveniência ou acessibilidade).
Métodos de contato. Esta definição responde à pergunta: “Como os entrevistados serão
contatados?”. Cada método possui vantagens e desvantagens e a sua definição depende dos
recursos destinados à pesquisa, das características do instrumento de coleta de dados e do
público-alvo da pesquisa. Os meios mais comuns são: correio, entrevista por telefone,
entrevista pessoal, internet.
Coleta das informações
Esta tende a ser a fase mais difícil da pesquisa. Nesta etapa, o pesquisador se depara com a
dificuldade de encontrar os sujeitos selecionados para compor a amostra. Quando localizados,
os respondentes podem se negar a participar da pesquisa ou podem responder às perguntas
de forma negligente ou incorreta.
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Outra dificuldade comum nesta fase é a falta de qualificação do entrevistador/pesquisador.
Intencionalmente ou não, o pesquisador pode errar ao aplicar o instrumento de coleta de
dados, influenciando a resposta do pesquisado, ou pode errar ao registrar as respostas
emitidas pelos entrevistados.
Análise das informações
Uma vez em posse dos dados coletados, o pesquisador deverá tabulá-los e analisá-los de
forma a extrair respostas às perguntas realizadas na primeira fase da pesquisa. A técnica de
análise de dados a ser empregada dependerá do tipo de pesquisa realizada. Pesquisas
exploratórias, cujos dados são coletados através da realização de entrevistas, demanda
técnicas qualitativas para análise dos dados. As técnicas qualitativas não se prendem à
quantificação dos resultados (à frequência com que determinada resposta é emitida pelo
sujeito pesquisado). Técnicas qualitativas analisam o conteúdo das mensagens (os seus
significados) e a intensidade com que são emitidas.
Já as pesquisas descritivas, cujos dados foram coletados pela aplicação de questionários,
tendem a utilizar técnicas estatísticas quantitativas para análise dos dados.
Apresentação dos resultados
Por fim, os resultados da pesquisa devem ser apresentados aos interessados. Nesta fase, o
pesquisador retorna aos objetivos traçados para a pesquisa para garantir que todos foram
atingidos. As informações devem ser apresentadas de forma simples e objetiva, facilitando o
entendimento dos resultados obtidos.
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