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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO
CRISTIANE ABRAHAO DIAS
ÁLCOOL E DIREÇÃO:
A Influência do Uso do Álcool na Condução de Veículos Automotores
MACEIO - AL
2013
CRISTIANE ABRAHAO DIAS
ÁLCOOL E DIREÇÃO:
A Influência do Uso do Álcool na Condução de Veículos Automotores
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
Orientador: Prof. Dr. Manoel Ferreira do Nascimento Filho
MACEIÓ-AL
2013
CRISTIANE ABRAHAO DIAS
ÁLCOOL E DIREÇÃO:
A Influência do Uso do Álcool na Condução de Veículos Automotores
Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.
APROVADO EM ____/____/____
______________________________________ PROF. DR. MANOEL FERREIRA DO NASCIMENTO FILHO
ORIENTADOR
_____________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________ PROF. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA
BANCA EXAMINADORA
DEDICATÓRIA
Aos meus pais
Ubiratan Dias e Iolanda Dias
A minha irmã
Elaine Dias
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela oportunidade realizar esta especialização e alcançar o título
de especialista em Psicologia do Trânsito.
Obrigado aos meus pais, namorado cunhado, amigos e professores pelo apoio,
incentivo e compreensão.
Obrigada à minha irmã por toda dedicação e ajuda no decorrer desta pesquisa.
Obrigado ao meu supervisor Prof. Dr. Manoel Ferreira do Nascimento Filho, pela
orientação e apoio durante a realização da minha pesquisa.
“Se beber, não dirija.”
(Ministério da Saúde)
RESUMO
Atualmente a ocorrência de acidentes de transito tem aumentado consideravelmente. Na medida, que podemos considerar que uma das causas principais da maioria dos acidentes está relacionada ao uso do álcool, devendo assim ser feita uma prevenção em relação a tal episódio. A presente pesquisa tem como objetivo verificar qual a influencia do uso do álcool na condução de veículos automotores, acreditando que este uso modifica o estado emocional, físico e mental do motorista, o que pode ocasionar acidentes, assim como uma redução das atividades cerebrais e conseqüentemente, o deixando com menos atenção no transito. Os capítulos abordados esclarecem a relação entre o álcool e direção; assim como um panorama dos acidentes do trânsito e o álcool; e por ultimo a prevenção do uso do álcool na direção A metodologia de pesquisa é de campo, com análise quantitativa acerca da influencia do uso do álcool na condução de veículos, com uma amostra de 70 pessoas portadoras de Carteira Nacional de Habilitação, com idade entre 25 a 69 anos. O Instrumento para coleta será um questionário com questões fechadas, sobre álcool e direção. Os resultados encontrados demonstram que há influencia do álcool na condução de veículos automotores, prejudicando habilidades como a atenção, concentração, os reflexos rápidos, e a coordenação motora, proporcionando também agressividade e impulsividade no transito onde se observa que a maioria dos motoristas ainda consumem álcool e depois dirigem. Conclui-se então que ainda há um índice grande de pessoas que misturam álcool e direção, porém para reverter este quadro os motoristas precisam ter mais consciência sobre as consequências do uso do álcool na direção e um maior respeito ao código nacional de transito, visando à saúde e segurança na condução de seus veículos. Palavras-chave: Álcool; Direção; Acidentes de trânsito.
ABSTRACT
Currently the occurrence of traffic accidents has increased considerably. To the extent that we can consider that a major cause of most accidents are related to alcohol use and should therefore be made in relation to preventing such an episode. This research aims to determine what influence of alcohol on driving vehicles, believing that this use modifies the emotional, physical and mental health of the driver, which can cause accidents, as well as a reduction in brain activity and consequently , leaving less attention in traffic. The chapters covered clarify the relationship between drinking and driving; well as an overview of traffic accidents and alcohol, and finally the prevention of alcohol use toward The research methodology is a field with quantitative analysis about the influence of using of alcohol on driving, with a sample of 70 people with Driver's License, aged 25 to 69 years. The instrument collection is a questionnaire with closed questions about drinking and driving. The results show that there is influence of alcohol on driving motor vehicles, damaging abilities such as attention, concentration, quick reflexes, and motor coordination, providing also aggression and impulsivity in traffic which shows that most drivers still consume alcohol and after driving. It was concluded that there is still a large index of people who mix drinking and driving, but to revert this drivers need to be more aware of the consequences of alcohol use and toward a greater respect for the national code of transit in order to health and safety in driving their vehicles Keywords: Alcohol, direction, traffic accidents
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICO 01 – Faixa etária dos condutores, referente à pesquisa sobre a influência
do uso do álcool na condução de veículos automotores...........................................43
GRÁFICO 02 – Distribuição dos condutores, em porcentagem, quanto ao Sexo,
referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos
automotores...............................................................................................................44
GRÁFICO 03 – Distribuição dos condutores, em porcentagem, quanto ao Estado
Civil, referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de
veículos automotores.................................................................................................44
GRÁFICO 04 - Na sua visão, a implementação da lei n 11705 (Lei seca), que proíbe
o consumo de álcool ao dirigir, reduziu a taxa de mortalidade nas estradas?
referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos
automotores .............................................................................................................. 53
GRÁFICO 05 - Caso você bebeu ou tenha bebido antes de dirigir, com a
implementação da lei você: referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool
na condução de veículos automotores. .....................................................................54
GRÁFICO 06 - O que você considera mais eficaz no controle do uso de álcool ao
dirigir veículos? Referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na
condução de veículos automotores ...........................................................................55
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 - Estudo comparativo entre as bebidas mais consumidas.....................24
TABELA 02 - Alcoolemia e manifestações neurocognitivas.......................................25
TABELA 03 - Profissão, referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na
condução de veículos automotores. ......................................................................................45
TABELA 04 – Influência do álcool na direção; consumo de álcool e direção; número
de vezes que bebeu e depois dirigiu; motivo de beber e dirigir; e o que sentiu ao
dirigir, referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de
veículos automotores.................................................................................................46
TABELA 05 - Tipo de bebida, Quantidade de cerveja, vinho, Chop e Destilados
ingerida, referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de
veículos automotores. ...............................................................................................49
TABELA 06 - Relação entre consumo de álcool na direção e acidentes de trânsito,
Acidente por consumo de álcool, Carro batido por condutor que ingeriu bebida
alcoólica, Resultado do acidente e Opinião sobre a lei Nº 11705; referente à
pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos automotores
....................................................................................................................................51
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO........................................................................................................12
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................14
2.1 Um Panorama Sobre os Acidentes de Transito.............................................14
2.2 Álcool e Direção: Efeitos Físicos e Psicológicos...........................................19
2.3 O Uso do Álcool e os Acidentes de Transito..................................................29
2.4 Prevenção do Uso do Álcool e a Lei Seca......................................................32
2.5 Intervenções e Segurança no Transito...........................................................38
3 . MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................41
3.1 Ética....................................................................................................................41
3.2 Tipo de Pesquisa ..............................................................................................41
3.3 Universo.............................................................................................................41
3.4 Sujeitos e Amostra.............................................................................................41
3.5 Instrumento de Coleta de Dados .....................................................................41
3.6 Procedimentos para Coleta de Dados .............................................................42
3.7 Procedimentos para Análise dos Dados..........................................................42
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................43
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................56
REFERÊNCIAS .........................................................................................................58
APENDICE.................................................................................................................60
ANEXOS.....................................................................................................................62
12
1.INTRODUÇÃO
Nos dias atuais a ocorrência de acidentes de transito deve ser
permanentemente lembrada e interpretada de maneira inteligente, buscando a
prevenção. Na medida, que podemos considerar que uma das causas da maioria
dos acidentes está relacionada ao uso do álcool, então informação é fundamental.
No decorrer deste trabalho, os capítulos serão abordados com a preocupação de
proporcionar reflexões que permitam aos jovens e adultos adotar comportamentos
mais seguros em relação ao transito, e também fornecer uma importante discussão
sobre o álcool e seus conseqüentes processos patológicos, além de seu impacto
sobre o corpo humano integralmente.
O binômio drogas- direção de veículos, incluindo álcool etilítico, é responsável
por grande parte dos acidentes de transito, especialmente os mais graves
(MOREIRA,2008). As pesquisas realizadas durante os últimos 50 anos mostram a
evidencia acumulada da relação direta do aumento da concentração de álcool no
sangue dos condutores e o aumento do risco de acidente (HOFFMANN;CRUZ;
ALCHIERI 2011) As diversas conseqüências do uso do álcool e suas repercussões
serão aqui amplamente consideradas, pois há muito além do” se dirigir não beba”
ou “ se beber não dirija”.
Atualmente, não é novidade para ninguém sobre a gravidade dos chamados
acidentes de transito no Brasil e suas conseqüências, tanto nos aspectos sociais
quanto nos econômicos. Um número que ultrapassa três dezenas de milhares de
mortos por ano, além de centenas de milhares de feridos, muitos com seqüelas
permanentes. Dentro deste cenário trágico, considera-se com significativa
importância a perigosa mistura álcool e direção, onde 70% dos óbitos em acidentes
de trânsito é constatada a presença do álcool ( MOREIRA,2008). Sendo que a lei
11.705/08 ( Lei seca), em defesa da vida e da segurança da circulação veio para
tentar solucionar esta caótica situação. É importante considerar que, uma educação
comprometida e voltada para o trânsito é essencial para o término deste triste
cenário.
A importância de atuar e formar opinião sobre os problemas que a sociedade
atual tem evidenciado a necessidade de Educação para o transito no contexto
educativo e social da pessoa, bem como de educação ambiental ou de educação
para a paz e direitos humanos. São enfoques que deverão ser contemplados com
13
urgência, nos programas educativos desde o ensino fundamental. ( FILHO e
HOFFMANN, 2011 apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011). A educação,
juntamente com intervenções voltadas ao uso indevido do álcool ao dirigir veículos é
de fundamental importância para a segurança e saúde no Transito.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é verificar qual a influencia do
uso do álcool na condução de veículos automotores, acreditando que este uso
modifica o estado emocional, físico e mental do motorista, o que pode ocasionar
acidentes, assim como uma redução das atividades cerebrais e conseqüentemente,
o deixando com menos atenção no transito. Proporcionando um falso sentimento de
confiança, e interferindo nas habilidades essenciais para a direção de um veículo.
Há um número crescente de condutores que dirigem alcoolizados e que
conseqüentemente sofrem acidentes de trânsito, precisando assim de maiores
informações sobre as conseqüências que o uso do álcool pode causar para o bem
estar e saúde no trânsito. Desta forma, os resultados esperados neste trabalho
estão relacionados à obtenção de conhecimentos de uma forma mais ampla dos
aspectos gerais do uso do álcool e como este influencia na condução de veículos,
assim como maiores conhecimentos sobre seus efeitos fisiológicos e psicológicos
sobre a ocorrência de acidentes de trânsito, e por fim, sobre a lei seca e educação
no trânsito.
14
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Um Panorama sobre os Acidentes de Transito
Segundo Moreira ( 2008), a ocorrência de acidentes de trânsito é interpretada,
hoje, como uma questão prioritária de saúde pública. Em 1999, o total de mortes
ocasionadas por estes acidentes alcançou o nono lugar no total de mortes do
planeta. A previsão da organização Mundial da Saúde para 2020 demonstra um
salto para o terceiro lugar.
A imagem da difícil situação mundial, onde acidentes de trânsito matam um
milhão e duzentas mil pessoas todos os anos, representando para a humanidade um
flagelo só comparável às grandes guerras. Desta forma, a Organização das Nações
Unidas, em Assembléia Geral, aprovou, em dezembro de 2005, a resolução 60/5,
que representa a busca de melhorias na segurança no trânsito. Este documento
caracteriza a situação mundial como crítica e faz recomendações de forma a
aumentar a segurança viária. Esclarece que ações das diferentes esferas de
governo precisam se somar às da iniciativa privada e organizações não
governamentais, na construção permanente de melhores condições de segurança
no trânsito.
Podemos considerar os acidentes de trânsito hoje como um gravíssimo
fenômeno sócio, econômico, tanto pelos elevados índices que tem atingido em nível
nacional e internacional, quanto pelas suas características. No mundo ocorrem ao
ano cerca de 700.000 mortes em conseqüência dos acidentes de trânsito e mais de
15 milhões de feridos (HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011 ).
Segundo a organização Mundial de Saúde (OMS), as lesões ocasionadas dos
acidentes de trânsito representam a segunda principal causa de morte de indivíduos
de 5 a 29 anos (PEDEN, 2004 apud FALLER, 2010). Desta Forma, os acidentes de
trânsito são um grave problema de saúde pública, considerando que
aproximadamente 1,2 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo em
decorrência deles. Estima-se que até 2020 as mortes de trânsito aumentarão em
80% ( WHO, 2009 apud FALLER, 2010).
De acordo com WHO ( 2003 apud HOFMANN ; CRUZ ALCHIERI, 2011), no
ano de 2000, mais de 1,2 milhões de pessoas morreram em decorrência de
acidentes de transito, fazendo com que esta se torne a nona causa mais importante
15
de morte no mundo, sendo que há previsão que no ano 2020 esta quantidade
duplique. Além do que as altas taxas de mortalidade, os traumatismos por acidentes
de transito representam uma das principais causas de perda da saúde e vultoso
gasto para o sistema de saúde.
“Em termos estritamente econômicos, o custo associado às intervenções cirúrgicas, os períodos prolongados de hospitalização e reabilitação ao longo prazo das vítimas, unido à perda de produtividade delas, pode-se quantificar em bilhões de dólares anuais. Este custo coloca gravemente em perigo as perspectivas de desenvolvimento”, afirma Brundtland( 2003, apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIER p..263)
Segundo Lemes (2011 apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011), no
trânsito, a rapidez com que você passa da saúde para a doença é, talvez, mais
rápida e imprevisível do que em todas as outras circunstâncias de risco que a vida
cotidiana oferece.
Considerado como entre as mais fortes economias mundiais e considerado
como uma potência emergente, o Brasil, no entanto, aparece como um dos países
mais violentos em acidentes de trânsito. Segundo a Associação Brasileira de
Departamento de Trânsito (ABDETRAN, 2001 apud HOFFMANN; CRUZ;
ALCHIERI, 2011), o país encontra dificuldade para diminuir os acidentes de trânsito
a níveis aceitáveis, pois participa com 3,3 % do número de veículos da frota mundial
e, no entanto, é responsável por 5,5 % de veículo envolvidos em acidentes com
vítimas fatais registrados em todo mundo.
Desde o ano de 1985, quando os registros já acusavam 25.000 óbitos no local
do acidente, por ano, este número vem aumentando de uma forma considerável
quando se somam os falecimentos como conseqüências desses acidentes. Um
número significativo de pessoas, 60% dos feridos no trânsito, na sua maioria em
faixa etária produtiva, fica mutilado ou incapacitado definitivamente (ABDETRAN,
2001 apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011). Ainda segundo essa fonte, desde
1988, o governo vem pagando por ano a média de dois bilhões de dólares em
indenizações a vítimas de trânsito. Os prejuízos sociais e matérias atingem a média
de quatro bilhões de dólares.
Segundo a Abramet ( 2001 apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011), 92%
dos acidentes de trânsito acontecem direta ou indiretamente pelo chamado fator
humano. Este fato aumenta a preocupação governamental, observada a flagrante
16
indiferença do cidadão brasileiro com respeito às leis de transito: os índices de
infrações e acidentes não diminuem, mesmo com várias propagandas educativas,
ações estaduais e municipais no intuito de educar o cidadão para o comportamento
no trânsito.
Os acidentes nas estradas e ruas brasileiras têm atingido pouco mais que
dados estatísticos ou discussões sobre aqueles que geram vítimas. Sendo que não
se leva em consideração o comportamento transgressor do motorista ao longo das
rodovias. Os meios de comunicação parecem não dá atenção ao tema na
atualidade e, assim, o escândalo e a indignação tornam-se parte apenas da vida de
pessoas que se tornaram vítimas. O comportamento sem responsabilidades das
pessoas ao dirigir parece ter se constituído em um hábito comum. ( LEMES,2011
apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011)
Apesar da gravidade dos problemas e das despesas despendidas, as
iniciativas oficiais à prevenção parecem voltar-se apenas à divulgação das
repercussões desses fatos, como estratégia de atemorização a motoristas e
pedestres.
Segundo Hoffmann (2011, apud HOFFAMANN; CRUZ; ALCHIERI 2011)
Dados estatísticos sobre acidentes em países industrializados mostram que os
acidentes de trânsito são a maior causa de morte entre pessoas abaixo de quarenta
anos de idade. Estes acidentes de trânsito são ocasionados por vários fatores, e
geralmente é a interação de duas ou mais variáveis que deriva na ocorrência de um
acidente. Onde a gravidade das mortes se somam outras conseqüências, por
exemplo, os múltiplos traumatismos, lesões medulares, traumas cranianos que
determinam quadros clínicos de longa duração, sendo que estes afetam os
condutores, famílias, pedestres, crianças, representando um significativo capítulo de
problemas físicos, humanos e sociais, que dão origem a um alto gasto social., o que
incentivou a Organização Mundial de Saúde( OMS), em seus objetivos de SAÚDE
para o ano 2000, caracterizar a condução perigosa como um dos tópicos de
preocupação prioritária. E, vários trabalhos têm relacionado trânsito com saúde
pública devido ao aumento do número de mortos em acidentes, atualmente
considerado a terceira maior causa de mortes no Brasil. Esta posição pode ser ainda
mais elevada em decorrência da prática de se computar apenas os óbitos ocorridos
no local do acidente, ao invés das vítimas que falecem posteriormente.
17
Considerados como problema de saúde pública, os acidentes de trânsito
tornam-se passíveis de ser tratados pela metodologia aplicada às doenças
epidêmicas, em conseqüência do número de feridos e mortes que eles causam.
Vários são os fatores que originam o elevado número de acidentes, desde o
crescente índice de motorização, o díspar acompanhamento da engenharia viária, a
falta de fiscalização e punibilidade ao avanço da tecnologia do automóvel, até a
segurança relativa dele, à educação para o trânsito.
De acordo com Moreira ( 2008), Os acidentes de trânsito deixam na média
de 5000.000 feridos por ano no Brasil. Uma porcentagem significativa destas
pessoas necessita de reabilitação por um grande prazo, sendo que muitos sofrem
como o estabelecimento de graves sequelas que determinam deficiências
permanentes. Os traumas de trânsito são responsáveis por um numero elevado de
atendimentos em serviços de emergência, representando umas das principais
despesas do Sistema Único de Saúde.
Um aspecto considerado particularmente grave é a ocorrência de
traumatismos raquimedulares, com a consequente instalação de deficiências graves
e permanentes, tais como a paraplegia e tetraplegia. Sendo que, no Brasil há uma
estimativa que aconteçam na média de 8.000 casos de traumatismos
raquimedulares por ano, onde 50% deles ocasionados por acidentes de trânsito.
A correlação entre determinadas doenças e deficiências e o surgimento de
restrições e prejuízos à capacidade de dirigir veículos é considerado um tema
relevante. A medicina do tráfego vem desempenhando papel fundamental na criação
de critérios e na avaliação individual de cada condutor. Atualmente existem normas
e diretrizes estabelecidas para avaliação destas condições. A associação Brasileira
de Medicina de Tráfego vem contribuindo para o desenvolvimento deste campo, com
reflexos muito significativos na luta pela diminuição do número e da gravidade dos
acidentes de trânsito ( MOREIRA, 2008)
Segundo Hoffmann e González ( 2011, apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI,
2011). O acidente sempre esteve relacionado a uma imagem de azar, de geração
espontânea e imprevisão implícita na sua própria definição. Também seria irreal
acreditar que os acidentes são acontecimentos do destino e que saem do nosso
controle, e não podemos fazer algo para evitá-los. Tanto o otimismo irrealista como
a aceitação fatalista favorece para que as pessoas não adotem os meios para evitar
a probabilidade de se envolverem em um acidente.
18
Estas crenças permaneceram na sociedade, durante grande parte do século
XX. Os especialistas neste fenômeno descobriram que os acidentes não são
acontecimentos imprevisíveis e dependentes da sorte, mas, ao contrário, eles
seguem parâmetros com características de distribuição, ou seja, o acidente é
sempre uma conseqüência.
O acidente pode ser considerado o resultado final de um processo em que se
encadeiam diversos eventos, condições e comportamento. Os fatores que
desencadeiam um acidente aparecem da complexa relação- veículo- ambiente-
normas/sinalização- regulação externa( fiscalização)- comportamento do condutor(
capacidades psicofísicas). Sendo assim, sob este ponto de vista, o acidente é
conseqüência de uma conjunção de diferentes fatores.
“ O ser humano tem papel principal na gênese dos acidentes. Seu comportamento definirá o risco de acidente e a cultura de determinada sociedade, num sentindo amplo, tem influencia direta sobre seus padrões de ocorrência e gravidade. Conduzir veículos de maneira preventiva pode evitar a grande maioria dos acidentes, sendo esta uma etapa importante e indispensável qualidade a ser cultivada e desenvolvida” (MOREIRA, 2008)
Existem vários dados que acreditam na hipótese de que a maior parte dos
acidentes acontece por falha humana (entendida aqui por erros e infrações, e
precisamente somado a eles, o uso indevido de substâncias como o álcool, as
drogas de abuso e os fármacos parecem ser as causas que, direta ou indiretamente,
explicam uma considerável porcentagem dos acidentes nas cidades, estradas e
rodovias (HOFFMANN, 2011 apud CRUZ ; ALCHIERI; HOFMANN 2011)
Moreira (2008) também acredita que nas causas do acidentes de trânsito há
tradicionalmente grande participação do fator humano, onde por ser responsável
pela construção e manutenção das estradas e carros, bem como de todo o aparto de
engenharia de tráfego, o ser humano é considerado responsável por 100% dos
acidentes.
O autor refere-se também à prevenção destes acidentes, onde considera que
esta prevenção se revela sob diversos pontos de vista: Humano; Social; Econômico;
Estratégico; e político. Sendo necessária a atuação permanente e articulação de
todos os envolvidos: Cidadãos; Estados; Empresas; Instituições; Sindicatos de
trabalhadores e Patronais; Ongs; Entidades de classe; Universidades; e Imprensa.
19
Buscar a prevenção beneficia pessoas, famílias e, em sentido mais amplo,
toda a sociedade, com a redução do número e da severidade dos acidentes de
trânsito e suas conseqüências. Conhecer os principais determinantes de ocorrência
e as principais formas de prevenção dos acidentes de trânsito possibilita a adoção
de comportamentos mais seguros. Sendo que podemos considerar, a imprudência,
negligência, imperícia, fadiga, uso de drogas, lícitas ou ilícitas e o consumo de
álcool, como principais determinantes da ocorrência de acidentes de trânsito.
Cabe destacar então, que os acidentes de trânsito, são classificados em
vários tipos, desde a falta do uso do cinto, a inexperiência do condutor, a falta de
atenção, o uso de celular, uso de álcool ou outras substâncias psicoativas
(SOARES,2004; BRASIL,2005 apud JUNCAL, 2009).
2.2 Álcool e Direção: Efeitos Físicos e Psicológicos
Segundo Hoffmann, Cruz e Alchieri ( 2011), na difícil atividade de dirigir um
veículo, praticamente todo o conjunto de fatores e processos psicológicos, que
fazem parte do sistema cognitivo humano, entra em funcionamento. As principais
funções psicológicas que entram em funcionamento durante a condução de um
veículo são:
- A arte de dirigir requer que o motorista tenha uma correta capacidade perceptiva e
atencional, na qual lhe favoreça captar o que acontece a sua volta e, também,
identificar e discriminar os estímulos relevantes que definem a situação ou problema
de trânsito, que ele deve solucionar.
- A partir do momento que a situação é percebida, o motorista deve realizar uma
correta interpretação e avaliação dela.
- Depois, o motorista precisa tomar uma decisão a respeito da ação ou manobra que
melhor se adéqüe, dentre todas as possíveis, para a situação ou problema
específico que enfrenta.
- Na medida em que a manobra mais adequada é escolhida, deve-se executá-la da
maneira mais rápida e precisa possível, o que se caracteriza como capacidade de
resposta do condutor (performance) e se refere ao conjunto de atividades sensório-
motriz e psicomotora que o motorista coloca em funcionamento para manter o
controle sobre o veículo e sua trajetória.
20
- Além de todos estes fatores, também deve-se levar em consideração todos os
processos e variáveis mediacionais ( personalidade, inteligência, estilos cognitivos,
motivação, aprendizagem, experiência, memória) que modulam o funcionamento
dos processos psicológicos implicados na condução, antes mencionados, aos
distintos níveis( inferiores e superiores), conferindo, de certa maneira, uma relativa
estabilidade ao processamento particular da informação que cada indivíduo realiza.
Entretanto, todas estas funções psicológicas que entram em funcionamento
duração a condução de um veículo podem ficar comprometidas pelo consumo do
álcool no volante.
Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas
(CEBRID,1987), existem registros arqueológicos que revelam os primeiros indícios
sobre o consumo de álcool pelo ser humano que datam de aproximadamente 6000
a.c, um costume bem antigo que tem persistindo por muitos anos.
Antigamente, as bebidas apresentavam conteúdo alcoólico relativamente
baixo, como o vinho e a cerveja, pois dependiam apenas do processo de
fermentação. Já com o surgimento do processo de destilação, introduzido na Europa
pelos árabes na idade média, apareceram novos tipos de bebidas alcoólicas, que
começaram a ser ingeridas em sua forma destilada. Neste período, este tipo de
bebida começou a ser um remédio para todas as doenças, sendo que aliviavam as
preocupações mais rapidamente que o vinho e a cerveja, fora que produziam de
forma mais eficaz um alívio da dor, surgindo assim a palavra uísque( do galico
usquebaugh, que significa” água da vida.”).
Com o início da Revolução Industrial, identificou-se um grande aumento na
oferta desse tipo de bebida, favorecendo um maior consumo e, conseqüentemente,
gerando aumento no número de pessoas que começaram a apresentar algum tipo
de problema em decorrência do uso excessivo de álcool.
Embora aconteça um desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o
álcool também é caracterizado como uma droga psicotrópica, pois atua no sistema
nervoso central, ocasionando mudança no comportamento de quem o consome,
sendo que também tem potencial para desenvolver dependência.
O álcool é considerado uma das poucas drogas psicotrópicas que possui o
seu consumo aceito e até incentivado pela sociedade, sendo este um dos motivos
pelos quais ele é interpretado de maneira diferenciada, no momento que é
comparado com as demais drogas. (CEBRID,1987)
21
Segundo Laranjeira, Barros e Surjan (2002 apud JAIR et. al, 2002), ao
contrário do que acontece com outras drogas, nem todo o consumo de álcool causa
danos ao organismo. A ingestão de baixas doses, especialmente na forma de vinho,
parece diminuir o risco de doenças cardiovasculares. Oitenta por cento da
população consome alguma quantidade de álcool, porém nem todas essas pessoas
são dependentes. Sendo assim, é importante fazer a diferenciação entre uso e uso
nocivo. O uso é qualquer uso de álcool, ainda que esporádico ou episódio, já o uso
nocivo seria o consumo em níveis que poderiam causar prejuízos recorrentes e
significativos ao indivíduo.
Os autores ainda esclarecem que para definir níveis seguros para beber,
costuma-se empregar o conceito de Unidade de álcool, que equivale a 10 ou12g de
álcool puro. Como a concentração de álcool varia em cada tipo de bebida, a
quantidade de álcool consumida também varia muito, onde por exemplo, 16 ml de
álcool puro equivalem a uma lata( 350ml) de cerveja ou a um copo( 150ml) de vinho
ou a uma dose( 40mL) de destilados. Desta forma, definiu-se quantas unidades de
álcool um adulto hígido pode ingerir por semana sem colocar sua saúde em risco.
Apesar de sua extensa aceitação por parte da sociedade, o consumo de
bebidas alcoólicas em doses excessivas, pode apresentar um grande problema.
Além de vários acidentes de trânsito e da violência relacionada a episódios de
embriaguez.. O consumo de álcool por um tempo muito longo, dependendo da dose,
freqüência e circunstâncias, pode ocasionar um quadro de dependência conhecido
como alcoolismo. O consumo inadequado do álcool é um importante problema de
saúde pública, principalmente nas sociedades ocidentais, acarretando elevados
custos para a sociedade e envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais
e familiares. (CEBRID,1987)
“Estima-se que quase14% da população americana preencha os critérios para dependência ou abuso de álcool em alguma época da vida. O uso de álcool constitui a terceira causa de mortalidade que poderia ser prevenida ( SURJAN; BARROS; LARANJEIRA,2002 apud JAIR et.al,,2002 p..67)
De acordo com o I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de
álcool na população brasileira (CARVALHO, 2008) verifica-se uma cultura de
consumo do álcool exagerada. Os jovens são os maiores afetados, iniciando seu
22
consumo mais cedo, e as mulheres são as que mais aumentaram seu padrão de
consumo.
A produção de bebida aumenta a cada ano, no Brasil - sendo destacado no
ranking mundial como o terceiro maior produtor de cerveja, com 10,5 bilhões de
litros/ano; e primeiro lugar na produção de destilados, cerca de 1,5 bilhões de
litro/ano. Um mercado que se mostra lucrativo e que trabalha nos meios de
comunicação com a propaganda massificada, direcionada especialmente ao público
jovem.
De acordo com o I Levantamento Nacional Domiciliar sobre padrões de
consumo de Álcool no Brasil ( FALLER, 2010), o consumo de bebidas alcoólicas
vem aumentando a prática de beber e dirigir, causando danos à sociedade
brasileira. Uma análise destes achados realizada por Perchansky et al.( apud
FALLER,2010) encontrou que a prevalência de beber e dirigir foi de 34,7%- 42,5%
nos homens e 9,2% nas mulheres.
“O uso do álcool, quando se dirige um veículo apresenta-se, segundo as estatísticas, em um dos maiores fatores de risco na condução. As estimativas revelam que 30 a 50% das mortes e acidentes estão associados direta ou indiretamente com o álcool” (HOFFMAN; CARBONELL; MONTORO, 1996B apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011,p..293 )
Segundo a legislação brasileira ( Código Nacional de Trânsito, que passou a
vigorar em janeiro de 1998), deverá ser penalizado todo motorista que apresentar
mais de 0,6g de álcool por litro de sangue. A quantidade de álcool necessária para
alcançar essa concentração no sangue é equivalente a consumir cerca de 600 ml de
cerveja( duas latas de cerveja ou três copos de chope), 200ml de vinho( duas taças)
ou 80ml de destilados( duas doses). (CEBRID,1987)
Segundo Peden ( 2004, apud FALLER, 2010) ,as preocupações têm
aumentado no que se refere à regulamentação dos limites de ingestão de álcool no
trânsito. Com o intuito de desencorajar a prática de beber e dirigir, e
conseqüentemente a ocorrência de acidentes de trânsito relacionados a esse
comportamento, realizou-se uma importante mudança na legislação brasileira.
O código de Trânsito Brasileiro ( CTB), instituído pela lei 9.503, de 23 de
setembro de 1997, em vigor desde janeiro de 1998, possui como objetivo jurídico a
manutenção da segurança viária, sendo preservado desta forma o direito a vida e a
integridade física dos demais usuários da via pública, direitos considerados
23
garantidos. Em 19 de junho de 2008 foi aprovada a lei 11. 705 chamada
equivocadamente de “ Lei Seca”, proibindo o uso do álcool e outras drogas por
condutores de veículos, ficando o infrator sujeito à pena de multa, à suspensão da
CNH por 12 meses, podendo sofrer detenção, dependendo da concentração de
álcool por litro de sangue( alcoolemia). (FALLER, 2010).
Segundo Moreira ( 2008), a recente implementação da lei n 11.705, assinada
em 19 de junho de 2008, que institui a redução da taxa de alcoolemia permitida pela
lei anterior( 0,6 de álcool por litro de sangue), para “ zero”, provocou, nos dois
últimos meses no Brasil, considerável mudança no contexto do consumo de bebidas
alcoólicas e condução de veículos automotores. Sendo que, foi possível constatar a
imediata redução da taxa de mortalidade nas estradas com a chamada “ lei seca”.
A referida lei se destina não ao consumo em geral, mas apenas ao dirigir sob
efeito do álcool, que apresenta evidente fator de risco em acidentes de trânsitos,
com maiores chances de vítimas fatais. No primeiro mês da entrada em vigor, esta
medida foi responsável por significativa redução do índice de mortalidade,
dependendo da região, cerca de 20 até 40%, representando milhares de
sobreviventes. Considerando os dados atuais de quase 40.000 mortes/ano, estaria
sendo evitado cerca de 8 a 10 mil mortes relacionadas aos acidentes de trânsito no
Brasil, que ocupa destacado lugar entre os países com maior taxa de mortalidade no
mundo.
Segundo Moreira ( 2008), a bebida alcoólica tem estrutura relativamente
simples, sob o ponto de vista da química orgânica, portanto, determina uma ampla e
complexa influencia sobre o indivíduo e a sociedade.
O Álcool da bebida alcoólica é o mesmo na cerveja, no vinho, na cachaça, no
conhaque ou em qualquer outra bebida alcoólica. Esta substância tem um grande
espectro de efeitos clínicos, com ação pronunciada sobre o sistema nervoso central,
sendo capaz de levar uma pessoa ao coma e à morte. A tabela 01 mostra que não
há diferença significativa em relação à quantidade presente no volume
habitualmente servido por dose( dose padrão)
24
Tabela 01 - Estudo comparativo entre as bebidas mais consumidas.
BEBIDA TEOR
ALCOOLICO
DOSE PADRÃO QUANTIDADE
DE ÁLCOOL
CERVEJA 4 A 5 % 300 ml 12 gramas
VINHO 12 a 14 % 150ml 14 gramas
CACHAÇA 40 a 50% 40 ml 14 gramas
Fonte: Livro Alcoologia- Uma visão sistêmica dos problemas relacionados
ao uso e abuso do álcool. Lima, JMB. 2003.
De acordo com Moreira ( 2008), o uso de bebidas alcoólicas pode levar à
morte tanto pelas complicações do alcoolismo quanto pelas conseqüências da
intoxicação. As suscetibilidades individuais ao álcool variam muito e muitas pessoas
podem sofrer conseqüências drásticas após ingestão de pequenas doses. A
ingestão de grande quantidade de álcool ( mais que duas doses-padrão) em curto
espaço de tempo pode matar em função da elevação da alcoolemia com o
conseqüente coma alcoólico que determina parada cardio- respiratória. Este tipo de
situação é comum entre jovens, sendo visto em todos os serviços de emergência.
No transito, contudo, uma única dose pode ser letal.
A utilização de bebidas alcoólicas pelos condutores durante a direção de
veículos tem sido apontada como causa de 30% de todos os acidentes de tráfego e
por aproximadamente 70% dos que resultam em feridos graves ou mortos.
Considerando que 50% dos mortos em acidentes de trânsito estavam fora dos
veículos, ou seja: mortes por atropelamento. Certamente o uso de bebidas
alcoólicas está, em grande proporção, relacionado a estas mortes.
O uso de bebidas alcoólicas é largamente difundido na população. Segundo
José Mauro Bráz de Lima (apud MOREIRA,2008), professor de Neurologia e
Presidente da Sociedade Brasileira de Alcoologia, renomado especialista brasileiro
no estudo dos problemas relacionados ao uso, abuso e dependência do álcool e
outras drogas, 90% da população faz ou fez uso de bebidas alcoólicas, seguindo
variados padrões de consumo, desde o consumo esporádico até a dependência,
passando pelo abuso. Os abstêmios somam cerca de 10% da população, número
equivalente ao alcançado pelos dependentes. Já os que abusam (uso nocivo)
perfazem cerca de 20% do total, enquanto os que fazem uso esporádico e irregular,
erroneamente chamados de bebedores “ sociais”, somam 60% da população.
25
Sendo assim, todos que consomem bebidas alcoólicas estão mais propensos
a causar ou envolver-se em acidentes de tráfego, tanto na direção de veículos ou
em deslocamentos como pedestres. A utilização muito difundida de bebidas
alcoólicas leva esta substância a merecer uma atenção especial no tocante à
prevenção de acidentes de trânsito.
Torna-se importante então, registrar alguns dos efeitos do álcool sobre o ser
humano que propiciam este perfil de causador de acidentes.
Segundo Moreira (2008), o álcool ocasiona no indivíduo uma redução da
capacidade de reagir adequadamente a estímulos (reflexos), diminui a visão
periférica, altera o controle corporal causando desequilíbrio e dificuldades de
marcha, aumenta a agressividade, causa sono e leva a embriaguez.. Tendo ação
sobre todos os tecidos, o álcool acaba exercendo marcadamente seus efeitos no
sistema nervoso.
Trata-se de uma substância depressora do sistema nervoso central, de uso
lícito com restrições, principalmente as colocadas em lei pelo Código de Trânsito
Brasileiro, consolidação das Leis do Trabalho e Estatuto da Criança e do
Adolescente. A substância determina vários sintomas neurológicos e
comportamentais amplos, diretamente dependentes do nível sanguíneo
(Alcoolemia). A tabela 02 mostra os sintomas em função do nível sanguíneo:
Tabela 02 - Alcoolemia e manifestações neurocognitivas.
ALCOOLEMIA
Gramas/ Litro
Manifestações Neurocognitas e
comportamentais
0,4 a 0,6 Gramas/ Litro Relaxamento; Perda de atenção e
concentração. Perda da autocrítica
0,6 a 1,0 Gramas/ Litro Euforia; Agressividade; Impulsividade
1,0 a 2,0 Gramas/ Litro Falta de coordenação; Variações de
Humor, Desorientação Tempo/espaço
Maior que 4,0 Gramas/ Litro Torpor, Distúrbios Cardio-
respiratórios, Coma.. Morte
Fonte: Reproduzido, com adaptações, do livro Alcoologia- uma visão sistêmica dos
problemas relacionados ao uso e abuso do álcool. Lima,JMB.
26
Neste contexto segundo Moreira (2008), estabelece-se, com facilidade uma
correlação entre o uso do álcool e a dificuldade para executar tarefas difíceis, como
conduzir veículos.
Os riscos do uso do álcool ao volante são bastante claros na dimensão
psíquica, na medida em que o condutor ao dirigir alcoolizado na maioria das vezes
infravalora os efeitos do mesmo sobre sua capacidade de rendimento. O álcool
produz no condutor um sentimento subjetivo de acreditar que tem melhor
capacidade para dirigir; onde aparece uma falsa segurança em si mesmo, fazendo
aumentar a tolerância ao risco, levando-o a tomar decisões mais perigosas do que
as habituais (HOFFMAN; CARBONELL ; MONTORO, 1996 apud HOFFMANN;
CRUZ ; ALCHIERI, 2011).
“O álcool, segundo Duailibi ( 2007 apud CARVALHO 2008, p. 4), mesmo em pequenas concentrações no sangue, proporciona um falso sentimento de confiança, e prejudica habilidades essenciais para a direção de um veículo como atenção, coordenação e tempo de reação. ...”Estas limitações ainda variam de acordo com outros fatores como cansaço, sono e má alimentação. De acordo com Lima (2007 apud Carvalho,2008,pg 4.), isto ajudaria a compreender o fato de que dois terços dos acidentes de trânsito ocorrem nos finais de semana, depois de festas.
As bebidas alcoólicas também estimulam as condutas impulsivas e
agressivas, ao mesmo tempo em que diminuem a responsabilidade, dando lugar a
um significante aumento das infrações. (HOFFMAN; CARBONELL; MONTORO,
1996 apud HOFFMANN; CRUZ ; ALCHIERI, 2011). Entre as infrações mais
cometidas, cabe destacar: a velocidade inadequada; sair das zonas de circulação, o
que pode resultar em atropelamento; circular em direção contrária ou por direções
proibidas; baixo ou nulo respeito à sinalização; iluminação e sinalização incorreta
das manobras, assim como condução errática ou ultrapassagens inadequadas, com
independência dos múltiplos comportamentos desrespeitosos e provocativos para
com os demais usuários das vias.
Com tudo isto, ainda se acumula outros efeitos perigosos ao nível físico
como: importantes alterações sensoriais, principalmente no órgão visual que impede
o motorista de medir corretamente a velocidade e a distância ou produz efeitos de
ofuscamento; notável diminuição na capacidade de reação, às vezes até 50%;
aparecimento de alterações perceptivas que dificultam o processamento da
informação; depressão geral que ocasiona maior cansaço, fadiga ou o aparecimento
27
de sonolência; dificuldades motoras e graves problemas de coordenação entre as
mãos, olhos e pés. (EVANS,1991 apud HOFFMANN; CRUZ ; ALCHIERI, 2011).
Segundo o CEBRID (1987) o consumo do álcool provoca vários efeitos, que
surgem em duas fases diferentes: uma estimulante e outra depressora.
Nos primeiros momentos depois da ingestão de álcool, podem surgir os
efeitos estimulantes, como euforia, desinibição e loquacidade ( maior facilidade para
falar). Com o decorrer do tempo, começam a aparecer os efeitos depressores, como
a falta de coordenação motora, descontrole e sono. Quando o consumo é muito
exagerado, o efeito depressor fica mais exagerado, podendo até mesmo provocar o
estado de coma.
A embriaguez varia de acordo com a quantidade de bebida ingerida e a
tolerância do organismo do indivíduo, e a irreflexão é gerada pelo efeito do álcool no
sistema nervoso central - é o que alerta Lima (2007, apud CARVALHO, 2008)
quando descreve uma questão essencial do efeito do álcool na capacidade de
discernir e avaliar riscos, função esta relacionada com o lobo frontal (área pré-
frontal). “Esta região, integrada com outras estruturas e circuitos neuronais, dá-nos a
noção de realidade comum e percepção de eventuais situações de risco, o que leva
uma pessoa conseguir dirigir embriagada. (LIMA, 2007, apud CARVALHO, 2008).
Os efeitos do álcool variam de intensidade de acordo com as características
pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada com o uso de bebidas alcoólicas
sentirá os efeitos do álcool com menor intensidade, ao se comparar com outra
pessoa que não está acostumada a beber, que provavelmente sentirá os efeitos com
maior intensidade. Um outro exemplo está relacionado à estrutura física: a pessoa
com estrutura física de grande porte terá maior resistência aos efeitos do
álcool.(CEBRID,1987)
O consumo de bebidas alcoólicas também pode desencadear alguns efeitos
desagradáveis, como enrubescimento da face, dor de cabeça e mal- estar geral.
Esses efeitos são mais elevados para algumas pessoas cujo organismo tem
dificuldade de metabolizar o álcool. Os orientais, em geral, têm maior probabilidade
de sentir esses efeitos.
A ingestão de álcool, apesar de ser em pequenas quantidades, diminui a
coordenação motora e os reflexos, dificultando a capacidade de dirigir veículos ou
operar outras máquinas. Pesquisas revelam que grande parte dos acidentes é
provocada por motoristas que haviam bebido antes de dirigir.
28
A pessoa que consome bebidas alcoólicas de forma excessiva, no decorrer
do tempo, pode desenvolver dependência, condição conhecida como alcoolismo. Os
fatores que podem levar ao alcoolismo são vários, envolvendo aspectos de origem
biológica, psicológica e sociocultural. A dependência do álcool atinge cerca de 10%
da população adulta brasileira.
Os indivíduos que consomem álcool com muita freqüência podem
desenvolver várias doenças. As mais freqüentes são relacionadas ao fígado (
esteatose hepática, hepatite alcoólica e cirrose). Também são freqüentes problemas
do aparelho digestivo (gastrite, síndrome de má absorção e pancreatite) e do
sistema cardiovascular (hipertensão e problemas cardíacos) Há ainda, casos de
polineurite alcoólica, caracterizada por dor, formigamento e cãibras nos membros
inferiores.
Segundo Moreira (2008), a farmacocinética desta substancia, ou seja, a forma
como se dá seu comportamento no organismo após a ingestão, é muito importante
para aqueles que buscam a prevenção de doenças, de agravos à saúde e de
acidentes, estando alertas então à informações muito relevantes para ter em mente:
O álcool é absorvido pela mucosa da boca, fazendo com que a pessoa esteja sob
seus efeitos praticamente no mesmo momento em que iniciou a ingestão; a
absorção entérica acontece, quase na sua totalidade, em até uma hora após sua
ingestão; após a absorção, o álcool alcança a corrente sanguínea e se difunde
rapidamente por todos os órgãos e tecidos do organismo, podendo causar doenças
em todos os aparelhos e sistemas.
Na perspectiva da direção veicular, os efeitos do álcool começam no exato
momento em que se inicia a ingestão, assim como o prejuízo por ele causado na
capacidade de conduzir veículos. A progressão da intoxicação pelo álcool
desenvolve-se na medida em que a absorção se realiza. Então se deve ter em
mente que, após a ingestão, a capacidade de conduzir veículos deteriora-se
progressivamente com o passar do tempo (MOREIRA,2008)
No que se refere a eliminação do álcool ingerido, o autor esclarece que
acontece principalmente por metabolização no fígado, que leva até duas horas, em
média, para retirar de circulação cada dose padrão ingerida. De acordo com
características individuais este tempo pode ser até mais longo. Duas doses
determinam a necessidade de quatro a seis horas para metabolização e podem
prejudicar a capacidade de conduzir veículos por mais de 24 horas, visto que o
29
álcool afeta significativamente a qualidade do sono e causa o conjunto de sintomas
conhecido popularmente como “ressaca”.
Entretanto, o mais importante é saber que os efeitos se mantêm por longo
tempo, devendo assim o indivíduo ficar longe da direção de veículos após a ingestão
de álcool, evitando assim acidentes e outros malefícios a sua saúde.
2.3 O Uso do Álcool e os Acidentes de Transito
Segundo Wright ( 1993 apud PANITIZ,.1999) aproximadamente na década de
80, os especialistas americanos de segurança no trânsito concentram suas atenções
em quatro áreas de interesse responsáveis pelo crescimento de acidentes de
trânsito, sendo uma delas a influência do álcool na direção.
“ Os acidentes de trânsito, cuja uma das causas está vinculada ao abuso de
álcool, foram lentamente se transformando de um problema de segurança pública
para um problema que necessitava de ações preventivas, dentro da saúde pública.”
(JUNCAL, 2009)
Segundo Moreira ( 2008), o uso, abuso e dependência química do álcool,
guardam uma correlação significativa com acidentes de trânsito, onde é muito
importante saber que a direção de veículos exige boas condições de atenção,
raciocínio e execução de tarefas complexas. Estes requisitos são muito facilmente
comprometidos pelo uso do álcool na direção, dificultando a capacidade de dirigir do
indivíduo.
O álcool é uma substância psicoativa que pode alterar percepções e
comportamentos, aumenta a agressividade e diminui a atenção. Acredita-se que no
mundo dois bilhões de pessoas sejam consumidoras de bebidas alcoólicas e já é
fato que o uso de álcool está relacionado com vários tipos de violência, incluindo os
acidentes de trânsito. (MOREIRA, 2008)
As pesquisas feitas no decorrer dos últimos 50 anos mostram a evidência
acumulada da relação direta do aumento da concentração de álcool no sangue dos
condutores e o aumento do risco de acidente. Existe um consenso científico de que
o álcool prejudica a habilidade de direção, começando em concentração de 0,50g/l
de álcool no sangue, interferindo em maior quantidade em concentrações de álcool
mais elevadas. Os efeitos do Álcool sobre o sistema nervoso central, interferindo
como depressor geral diminui a habilidade para dirigir. O Condutor sob os efeitos do
30
álcool processa de forma mais lenta e com menos eficiência tanto a aquisição de
informação como o processamento dela, ficando mais difícil de executar, sem erro,
as tarefas de “ atenção distribuída ou dividida”, tais como, girar o volante e frear no
mesmo momento. A influência do álcool sobre a conduta humana e emoções
desencadeia as atitudes desinibidas e eufóricas, favorecendo o aparecimento de
direção imprudente e temerária. (HOFFMANN, CARBONELL ; MONTORO, 1996ª,
1996B apud HOFFMANN ; CRUZ ; ALCHIERI, 2011).
Segundo WHO ( 1983, apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011), a
evidência epidemiológica disponível,de acordo com a organização Mundial da
saúde, indica que o consumo de álcool pelos condutores de veículo é responsável
por 31% a 50% dos acidentes com vítimas mortais, por 15% a 35 % dos que causam
lesões graves, e por 10% dos que não causam lesões.
Segundo Modelli (2007), com o aumento de álcool per capita, têm-se notado
um crescimento proporcional das lesões relacionadas aos acidentes de trânsito. Na
medida em que, uma pessoa sob efeito de álcool tem sete vezes mais chance de ser
vítima de um acidente fatal do que uma pessoa normal. Numerosos estudos, em
vítimas fatais de acidentes de trânsito, mostram que de 25 a 50% tem níveis
sanguíneos de álcool acima dos limites legais. Os acidentes relacionados com
álcool tende as ser mais sérios e mais severos. Com uma concentração sanguínea
de álcool de 0,8 g/l, o risco de acidente é vezes maior; com 1,0 g/l, o risco é sete
vezes; com 1,5 g/l, o risco é dez vezes e com 2,0 g/l, o risco é de 20 vezes maior.
A literatura comprova o efeito do álcool como bastante significativo na
etiologia dos acidentes, e em grande parte é provocada por motoristas que haviam
consumido bebida alcoólica antes de dirigir. Um dos estudos efetuados pela
Associação dos DETRANs do Brasil indicou que o álcool, mesmo em pequenas
quantidades, está por trás de 61% dos acidentes de trânsito, principalmente nos
grandes centros urbanos.
Segundo Moreira (2008), estatísticas indicam que em quase 70% dos óbitos
ocasionados por acidentes de trânsito, a presença do álcool é constatada nas
necropsias, sendo que o mais cruel desta estatística é que predominam vítimas na
faixa etária dos 15 aos 29 anos, com certeza a mais produtiva e promissora da
população. Esta combinação letal está destruindo a juventude, frustrando
expectativas e interrompendo sonhos e esperanças de milhares de famílias.
31
Os riscos de acontecer acidentes de trânsito aumentam se o condutor ingerir
bebida alcoólica. Condutores com alcoolemia igual ou superior a 0,2g/l apresentam
as habilidade necessárias para a condução prejudicadas, como funções de atenção
dividida, visuais e acompanhamento de movimento. O Risco de envolvimento em um
acidente fatal para condutores com alcoolemia entre 0,2 e 0,5g/l é de 2,6 a 4,6
vezes maior do que o de um condutor sóbrio.
A redução da capacidade de desempenhar funções cruciais para a direção de
veículos, como processamento de informações, se inicia com alcoolemias baixas, e
a maioria dos indivíduos se encontra significantemente debilitada com alcoolemia de
0,5 g/l. O risco de se envolver em um acidente fatal como condutor é de 4 a 10
vezes maior para motoristas com alcoolemia entre 0,5 e 0,7 g/l, se comparados com
motoristas sóbrios. (MOREIRA, 2008)
Segundo Berkelman ( 1985, apud MODELLI 2007) por intermédio de uma
trabalho analisando vítimas de mortes por causas externas, verificou que dos 54
motoristas que morreram após colisões simples, 78% tinham ingerido bebida
alcoólica. Entre os condutores, 65 % apresentavam concentração alcoólica maior de
0,1 mg/dl.
De acordo com Salleras ( 1982 apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011),
o aumento da probabilidade de sofrer um acidente de trânsito já é preocupante a
partir de 0,50 g/l de álcool no sangue. Com 1,0 g/l o risco é sete vezes maior do que
para os condutores que não consumiram álcool. A partir deste nível, o risco aumenta
de forma significativa: é de trinta vezes maior com 1,5 g/l, e setenta vezes maior
com 1,75 g/l. O aumento do risco visualiza-se em todos os tipos de acidentes,
entretanto as concentrações elevadas do álcool permanecem em maior freqüência
no acidentes graves e naqueles que na maioria das vezes estão envolvidos
majoritariamente os jovens com idades compreendidas entre 16- 24 anos.
A variabilidade biológica que existe entre os indivíduos produz diferenças
substanciais quanto ao efeito do álcool sobre eles, ficando difícil qualquer chance de
fixar um nível de concentração no sangue “ seguro” para os condutores, sendo que a
influencia do álcool sobre a capacidade de dirigir estaria diretamente ligada com o
perfil psicológico e a experiência individual com esta substância (HOFFMANN, 2011
apud HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI, 2011).
O álcool não apenas aumenta o risco de sofrer acidentes de transito, porém
está diretamente relacionado com a maior possibilidade de sofrer lesões traumáticas
32
graves. O condutor que ingeriu álcool é mais propenso à morte e a lesões graves,
uma vez ocorrido o acidente, do que o condutor que não consumiu álcool.
Segundo Caldas (1998 apud JUNCAL, 2009), o Código Brasileiro
implementado em 1998, foi uma tentativa do governo e da sociedade brasileira de
tentar reverter as alarmantes estatísticas de acidentes do trânsito no Brasil. Leis
mais severas, multas mais elevadas, possibilidade de perda da habilitação forma
alguns passos dados nesta direção, além de criação de mecanismos jurídicos mais
eficientes para punir os crimes de trânsito.
2.4 Prevenção do Uso do Álcool e a Lei Seca
Segundo Homel (1988, apud RISSER 1997), em seus estudos sobre a
Reabilitação de Motoristas Bêbados- Efetividade do programa e controle de
Qualidade, distinguem-se duas correntes principais de medidas contra dirigir
bêbado: medidas gerais preventivas e abordagens específicas com o fim de prevenir
a recaída. O apavoramento, como uma das medidas específicas preventivas
certamente tem seus limites: prisão e/ou punição provaram ser quase ineficientes.
Estando provado que tirar a CNH é eficiente em alguns casos, não em geral.
Alguns países introduziram uma checagem preditiva antes da retirada da
CNH: na Alemanha, realiza-se uma avaliação médico-psicológica para alguns
grupos definidos como de risco, por exemplo, os motoristas autuados por uma
infração DWI com 0,16% ou mais de taxa de álcool no sangue ( TAS).
Em 1986, foram introduzidos Programas para motoristas jovens com
delinqüência de álcool, quando a lei sobre CNH tinha sido aprovada. A lei exige que
cada motorista novato delinqüente de álcool siga um curso especial de 11 horas
sobre álcool e direção; aqueles que não realizarem, perderão o privilégio de dirigir.
(NICKEL,1990 apud RISSER,1997 ).
Segundo Winkler ( 1974, apud RISSER, 1997) programas de reabilitação
foram desenvolvidos em vários países no fim dos anos 60 e no começo dos anos 70
para reduzir o beber e dirigir em grupos específicos de risco. A maioria das
abordagens não levou em consideração a enorme diferença individual entre
motoristas, sua história prévia em relação ao beber e dirigir. De acordo com Caddy
(1979, apud RISSER 1997) isso sem dúvida foi uma das razões das falhas na
33
mudança relevante do comportamento e na redução do número de novas
condenações.
Por outro lado, Winkler et al.(1988, apud RISSER, 1997) acharam efeitos
positivos do tratamento, mudanças de atitudes em relação ao beber e dirigir,
aumentos de conhecimento a respeito do consumo de álcool e seus efeitos sobre a
direção, e uma mudança de comportamento altamente significativa.
No Código Brasileiro de Trânsito ( 2008, apud MODELLI,2007) , há artigos
que falam diretamente a respeito do álcool na direção de veículos ,na medida que
colocados em prática corretamente podem influenciar na diminuição dos acidentes
no trânsito e conseqüentemente na prevenção do uso álcool na condução de
veículos. Podem ser citados:
Artigo 165. Dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por
litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica.
INFRAÇÃO: Gravíssima PENALIDADE: Multa ( cinco vezes) e suspensão do direito
de dirigir; MEDIDA ADMINISTRATIVA: retenção do veículo até a apresentação de
condutor habilitado e recolhimento do documento de Habilitação
Artigo 277: Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito
ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de haver excedido os limites
do artigo anterior, será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia,
ou outro exame que por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados
pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado.
O CTB ( 2008, apud CARVALHO, 2008) também estabelece:
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de
álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 ( seis) decigramas, ou sob a
influencia de qualquer outra substancia psicoativa que determine dependência.
Penas- detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
34
“ Art. 1º
1º As margens de tolerância de álcool no sangue para casos específicos serão
definidas em resolução do Conselho Nacional de Trânsito- CONTRAN, nos
termos de proposta formulada pelo Ministro de Estado da Saúde.
Art 2º. Para os fins criminais de que trata o art. 306 da Lei 9.503, de 1997- Código
de Trânsito Brasileiro, a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia é a
seguinte:
I- Exame de sangue: concentração igual ou superior a seis decigramas de
álcool por litro de sangue; ou
II- Teste em aparelho de ar alveolar pulmonar ( etilômetro): concentração de
álcool igual ou superior a três décimos de miligrama por litro de ar expelido
dos pulmões.
Apesar de a lei proibir qualquer teor alcoólico, existe limites técnicos dos próprios
aparelhos de testagem que impossibilitam estipular em zero o valor aceito. Por este
motivo, a norma instituiu que o motorista flagrado com até 0,2 g de álcool por litro
de sangue não sofrerá qualquer punição. Se a alcoolemia estiver maior que 0,2g/l e
menor que 0,6g/l, o condutor será enquadrado no art. 165 do CTB, sendo-lhe
imputadas ações administrativas. Se o teor detectado foi igual ou superior a 0,6g/l,
contudo, caracterizar-se-á crime, com penalidades previstas no art. 306 do CTB.
Segundo Moreira ( 2008), a implementação da lei 11.705 em 19 de junho de
2008, que altera o código de trânsito brasileiro no tocante ao consumo de bebidas
alcoólicas e condução de veículos, traz uma oportunidade singular de reduzir da
maneira significativa as gigantescas e inaceitáveis taxas de mortalidade e morbidade
relacionadas ao trânsito no Brasil.
A partir desta lei, um condutor que ingerir qualquer quantidade de álcool e em
seguida conduzir veículos estará passível de punição. Se a alcoolemia, pesquisada
através do etilõmetro (bafômetro), for inferior a 0,6 grama por litro de sangue, o
condutor estará cometendo infração de trânsito gravíssima, terá sua habilitação
recolhida, o veículo retido até apresentação de outro condutor habilitado, pagará
multa pesada e terá seu direito de dirigir suspenso por um ano, que só poderá ser
recuperado após cumprimento de várias exigências administrativas e o transcurso
do prazo de suspensão. Quem se recusar ao teste sofrerá com as mesmas
conseqüências.
35
O autor ainda afirma que, uma pessoa com massa corporal mediana a partir
da segunda dose de qualquer bebida já pode estar atravessando este limite de
alcoolemia e , nesta condição, as novas normas determinam, adicionalmente, que se
tratará de uma crime de trânsito, com a conseqüente tramitação na esfera criminal,
com pena de detenção de seis meses a três anos.
Se, além disto, o condutor alcoolizado vier a se envolver em acidente de
trânsito que tenha em seu desfecho lesão corporal ou homicídio, responderá por
crime de trânsito e não poderá contar com julgamento nos juizados especiais
criminais, o que com certeza causará penas que irão respeitar mais a dignidade das
vítimas. Sendo assim, o novo comando da lei é claro: não se pode misturar álcool e
condução de veículos.
Diante deste comando, vale a pena ressaltar que existem várias alternativas
para deslocamentos pessoais na eventualidade de acontecer consumo de álcool:
transporte público, motoristas Amigo da Vez previamente designados que não farão
consumo de álcool e levarão os amigos em casa após os eventos, e a atual
tendência de sair para locais próximos aos domicílios sem precisar de veículos.
(MOREIRA,2008)
Alei 11.705/08 de tolerância zero para o consumo de álcool no trânsito
abordada por Moreira (2008) é sem margem de dúvida, a lei mais discutida e
comentada de todos os tempos, sendo que não é novidade para ninguém a
gravidade dos chamados acidentes de trânsito e suas conseqüências, tanto nos
aspectos sociais quanto nos econômicos. São casos de mortes provocadas por
imprudência, negligencia, imperícia e desobediência à lei. Dentro deste cenário
trágico do asfalto brasileiro, desponta com significativa importância a perigosa
mistura, álcool e direção, onde 70% dos óbitos em acidentes de transito, a presença
do álcool é identificado nas necropsias.
Desta forma, a lei 11.705/08 veio pata tentar dar um fim nesta situação.
Equivocadamente batizada de “ Lei seca” ela é, na verdade, uma lei em defesa da
vida e da segurança da circulação. Ela não proíbe a bebida. Ela só não permite- e
para isso é necessário todo o rigor possível- é que quem bebeu assuma o volante de
um veículo colocando em risco além de sua própria, a vida de pessoas inocentes.
“Muito mais Significativa do que a multa de 957,77 que será cobrada do motorista alcoolizado é a sua retirada de circulação naquele exato momento, tornando a via muito mais segura. O processo administrativo que
36
vai responder, e que certamente o manterá afastado da condução de veículos por 12 meses, deverá servir como lição definitiva para sua plena conscientização. Ao voltar será um motorista mais cuidadoso, pudente e não mais uma ameaça ambulante”( MOREIRA,2008).
Os dados dos efeitos da nova lei em seus primeiros meses da vigência já são
uma constatação inequívoca de seu poder preventivo. Os níveis de
morbimortalidade em todo o país em decorrência de acidentes de transito caíram
substancialmente. São constatações que garantem que a lei era necessária e que
veio para ficar. Sendo assim, após quatro semanas de sua promulgação, a
sociedade pode comemorar uma verdadeira revolução na saúde pública, indicada
pela notável redução de morbimortalidade causados por acidentes de trânsito.
O autor Moreira ( 2008) ainda relata que a lei 11.705/08 foi bastante eficaz no
sentido de reduzir as crescentes ocorrências de acidentes viários envolvendo
condutores alcoolizados. Nos primeiros trinta dias de sua vigência, o Brasil assistiu à
redução significante do número de mortos e feridos no trânsito, com índices
amplamente divulgados..
A lei, rotulada inicialmente como Lei Seca e mais recentemente nomeada Lei
da Vida, recebeu apoio da grande maioria dos segmentos da sociedade e a
população já visualiza a melhoria das condições de trânsito, principalmente nas
cidades.
A redução de mortos verificada em um estudo realizado no Instituto Médico
Legal de São Paulo chegou a um número impressionante: 63% dos desfechos fatais
foram evitados nas noites dos finais de semana.
“No Rio de Janeiro, o Instituto de Segurança Pública apurou redução de 57% das mortes no primeiro mês de vigência, computadas a partir dos registros dos acidentes durante todo o período. Isto representou 151 desfechos fatais evitados. No rastro desta redução, ocorreu também queda em todos os demais indicadores de violência interpessoal. Números semelhantes foram alcançados em Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte, Salvador e diversas outras cidades do país. Nas rodovias federais o número de mortos recuou 14,5%”.( MOREIRA,2008).
As virtudes das normas alcançarão, em seqüencia, o INSS, com redução de
pensões por morte e aposentadorias por invalidez; as seguradoras, com a redução
dos sinistros e do preço dos seguros e a saúde pública e privada, na mediada que
se pode esperar redução dos preços dos planos de saúde.
37
As conseqüências nas esferas administrativas e criminal, com possibilidade
de ocorrer até com quem se nega a colaborar com a fiscalização promovida pelos
agentes de trânsito, que podem ser melhor caracterizados como Agentes da Vida ,
aumentam consideravelmente os resultados positivos. Os agentes da Vida
conseguiram reduzir o número de socorros realizados pelos resgates em todo país,
as chamadas do SAMU, os atendimentos em salas de emergência e nos centros
cirúrgicos. Além de tudo, existiu uma redução das cenas terríveis nos necrotérios,
onde as famílias reconhecem seus entes que perecem. Estes geralmente são
jovens.
Desta forma, o apoio da sociedade mostra que a norma alcançou terreno fértil
e os frutos já são colhidos cotidianamente. Estes pilares são fundamentais e fazem
parte da sustentação desta norma e as únicas garantias de seu resultado.
O autor ainda relata, que a sociedade Civil espera que o Supremo Tribunal
Federal (STF) preserve a LEI DA VIDA em sua totalidade, defendendo também o
reconhecimento do transito como um espaço coletivo, onde todos o que desejam
conduzir veículos precisam estar preparados e dispostos a fornecer provas em seu
favor, sempre que for solicitado. Não é possível que alguém imagine o transito
seguro sem a fiscalização da combinação álcool e direção de veículos, fator principal
da acidentalidade, demonstrado em apenas um mês de vigência da Lei 11.705.
É imprescindível que se faça fiscalização eficiente no trânsito, até porque
nenhum motorista está proibido de consumir bebidas alcoólicas. A lei veda que
motoristas conduzam veículos após este consumo. Felizmente, o que há hoje no
Brasil são instrumentos normativos e de fiscalização que reduzem significativamente
a combinação álcool e direção de veículos.
Diante de tudo que foi relatado, observa-se que para a população, a Lei da
Vida ( Lei 11.705) não só “ pegou”, elas também se transformou em um “ bem
público”, algo que já contamos para nos proporcionar um trânsito mais digno e
seguro, onde poupar vidas no transito é gerar um bem comum.( MOREIRA,2008)
38
2.5 . Intervenções e Segurança no Trânsito.
Segundo a Revista Quatro Rodas ( 2007) existem algumas medidas práticas
de segurança no trânsito que já se mostram efetivas em outros países e que
também poderiam ser implantadas no Brasil, tais como:
- Aumentar a fiscalização.- A legislação do Brasil não deixa a desejar em relação à
de países desenvolvidos. O limite legal de álcool no sangue no Brasil é de 0,06 mg/l,
é até mais rigoroso que 0,08 mg/l permitido nos Estados Unidos, porém enquanto
cerca de 1,4 milhão de motoristas norte- americanos são presos por ano devido a
dirigirem alcoolizados, no Brasil sequer há dados a respeito, criando assim uma
sensação de impunidade. Sendo que na Austrália, a realização de exames
aleatórios de bafômetro nos últimos anos reduziu em até 42% as mortes
relacionadas ao álcool.
- Estabelecer Restrições para motoristas recém- habilitados- Austrália, Canadá
e Estados Unidos há algum tempo determinaram restrições a motoristas recém-
habilitados. Parte dos estados norte-americanos e australianos adotou uma restrição
de tolerância zero ao álcool para portadores de carteiras provisórias. Esta restrição
reduziu até 60% dos acidentes.
- Diminuir o consumo de bebidas entre os jovens- Uma medida que já se
mostrou eficiente em outros países é a restrição de horários e locais de compra de
bebidas alcoólicas. Nos Estados Unidos, o aumento da idade legal para beber em
quase todos os estados para 21 anos é considerado como um das soluções para a
redução das mortes no trânsito. A Suécia, com a entrada na União Européia, em
1995, se viu obrigada a reduzir sua rígida política de restrições à venda de álcool. A
conseqüência foi uma retomada das mortes no trânsito de 18% em 1997 para 28%
em 2002.
- Mudar o foco das campanhas de Educação- A mensagem de beber com
Moderação está se tornando um grande equívoco, pois no trânsito não há
quantidade segura de álcool. É preciso repensar a forma e o conteúdo das
campanhas, para que elas se aproximem mais do universo do jovem, procurando
assim encontrar uma fórmula mais eficaz de falar com este público. Campanhas que
usam imagens de acidentes, por exemplo, acabam distanciando-se do universo do
jovem. Ele não relaciona as cervejinhas que bebe na festa com situações tão
trágicas.
39
-Usar a tecnologia a favor da segurança— Países como Estados Unidos e Japão
investem em tecnologia para segurança no trânsito. A grande aposta são os
interlock devices,dispositivos que imobilizam o veículo caso o motorista esteja
embriagado. Para dar a partida, é preciso primeiro realizar o teste do bafômetro; se
o resultado for positivo; o carro não sai do lugar. Atualmente, 19 estados norte-
americanos obrigam infratores reincidentes a dirigir veículos que tenham o aparelho,
e arcar com os custos da instalação. A tecnologia já está disponível no Brasil, porém
a instalação custa cerca de 20000 reais.
Segundo Daros (1988) combinada com a educação e com a melhoria da infra-
estrutura deve ser desenvolvido um sistema implacável na identificação e punição
de infratores de trânsito. A Sociedade civil deve dar total e irrestrito apoio, mesmo
que venha a sofrer as conseqüências disso, pegando multas elevadas ou sofrendo
punições maiores.
Moreira ( 2008) descreve a seguir algumas intervenções que são importantes
para a prevenção do uso do álcool e diminuição dos números de acidentes.
Estratégias como suspensão da carteira, ações coercitivas realizadas pela polícia
como blitz de checagem de alcoolemia, diminuição do limite máximo permitido e
proibição da condução com qualquer concentração alcoólica têm efeito de reduzir
até 62% o numero de vítimas fatais em acidentes relacionados ao álcool.
Há pesquisas que demonstram que nos países desenvolvidos tem havido
uma apreciável diminuição no número de vítimas fatais nas ocorrências de trânsito.
A melhoria na conservação das estradas, equipes de APH( Atendimento Pré-
Hospitalar) melhor treinadas, leis mais severa e a nova tecnologia embarcada nos
veículos( cintos multipontos, airbags, carrocerias que absorvem impacto, etc.) foram
fatores determinantes nesta diminuição. Uma supervisão rigorosa do cumprimento
das leis sobre o consumo e a venda do álcool também contribui para diminuir as
taxas de óbitos por acidentes de trânsito.
As leis não devem ser somente promulgadas, mas divulgadas e aplicadas
(fiscalização) de forma constante. Mesmo quando há um efeito considerável na
redução de acidentes devido à entrada em vigor de uma lei, esse efeito pode ser
anulado após certo período de tempo, se houver percepção pública de impunidade
e/ou desconhecimento da lei vigente. Campanhas de publicidade e educação
pública e fiscalização severa são capazes de manter o sentimento de risco de
punição e resultam em um cumprimento maior da lei.
40
Do exposto acima, refletindo sobre a quantidade de informações existentes e
sabendo que há uma grande variabilidade dos efeitos devido à susceptibilidade
individual dos condutores ( sexo, peso, etnia, hábito ou não de consumir bebidas)
nos leva a afirmar que não existe concentração segura, sendo, portanto, a
alcoolemia zero o único padrão proposto de dirigibilidade sem riscos.
Jamais faça a mistura explosiva: álcool e direção de veículos. Se fizer uso de
bebidas alcoólicas aguarde pelo menos 12 horas sem dirigir. Se o consumo
ultrapassar duas doses pode ser necessário um período ainda maior.
41
3 . MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Ética
A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais
conforme determina o Conselho Nacional de Saúde - CNS nº 196/96 do Decreto nº
93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos:
A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa
a Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao
responder o questionário e todos os participantes concordaram em assinar o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
3.2- Tipo de Pesquisa
Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com dupla, combinação de
abordagens, , a saber quanti-qualitativa.
3.3 - Universo
O presente estudo abrangeu a cidade de Belém do Pará
3.4 - Sujeitos da Amostra
Os sujeitos da amostra foram 70 pessoas portadoras de Carteira Nacional de
Habilitação, com idade entre 25 a 69 anos.
3.5 - Instrumentos de Coleta de Dados
Construiu-se um instrumento estruturado, um questionário com questões
fechadas, sobre álcool e direção, onde pretendeu-se verificar o nível de
conhecimento destas 70 pessoas, acerca da influencia do uso do álcool na
condução de veículos.. Composto por 14 perguntas, que abrange a caracterização
42
dos sujeitos , cujas variáveis incorporadas tais como idade, sexo , estado civil,
tempo de carteira de habilitação e profissão .
3.6 - Planejamento para Coleta dos Dados - Na oportunidade, o questionário foi
entregue pessoalmente as pessoas portadoras de Carteira Nacional de Habilitação
,num total de 70 participantes, que concordaram em responder e participar da
pesquisa. Foram respondidos 70 questionários.
3.7 - Planejamento para a Análise do Dados – O software utilizado foi o SPSS,
para o tratamento estatístico (Média, Mediana e Moda). Quanto a parte qualitativa
recorreu se a análise de conteúdo enquanto técnica para dar sentido as falas dos
sujeitos entrevistados.
43
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O gráfico 01 apresenta a faixa etária dos condutores pesquisados, mostrando
a predominância de adultos, motoristas experientes, numa faixa etária entre 31 a 41
anos de idade. Embora que os resultados apresentaram um fato importante da
pesquisa, pois em função das idades serem bem variáveis, sendo no mínimo 21
anos e no máximo 71 anos de idade, torna-se perceptível que todos tem a
consciência neste processo complexo do trânsito, que o uso de álcool no volante é
irresponsabilidade, compromete a segurança e a cidadania no trânsito.
Gráfico 01 – Faixa etária dos condutores, referente à pesquisa sobre a influência do
uso do álcool na condução de veículos automotores.
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
No que se refere ao sexo dos condutores, gráfico 02, percebemos maior
predominância para o sexo masculino com 58,6% dos motoristas.
44
Gráfico 02 – Distribuição dos condutores, em porcentagem, quanto ao Sexo, referente à
pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos automotores.
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
No gráfico 03 tem-se os resultados em relação ao estado civil dos condutores,
pode ser observado que a maioria dos motoristas apresenta estado civil de casado,
equivalente a 55,7%. Cerca de 24,3% enquadra-se no ramos dos solteiros e 20%
não gostam de se manifestar quanto ao assunto.
Gráfico 03 – Distribuição dos condutores, em porcentagem, quanto ao Estado Civil, referente à
pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos automotores.
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
45
Ressalta-se também, que 13 (treze) dos 70 (setenta) participantes trabalham
como motoristas profissionais, conforme demonstra a tabela 03. Entretanto, verifica-
se que a pesquisa abrangeu um total de 26 profissionais de diferentes áreas de
atuação, que utilizam veículos automotores.
Tabela 03 - Profissão, referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na
condução de veículos automotores.
Profissão Quantidade Percentual
Motorista 13 18,6
Psicóloga 11 15,7
Servidor Público 7 10,0
Administrador de Empresas 5 7,1
Advogado 4 5,7
Contador 4 5,7
Analista de Sistemas 2 2,9
Economista 2 2,9
Fisioterapeuta 2 2,9
Médico 2 2,9
Militar 2 2,9
Professor 2 2,9
Assistente Social 1 1,4
Agropecuarista 1 1,4
Assistente Administrativo 1 1,4
Bacharel Direito 1 1,4
Consultor TI 1 1,4
Dentista 1 1,4
Dona de casa 1 1,4
Enfermeiro 1 1,4
Engenheiro 1 1,4
Estudante 1 1,4
Inspetor de Segurança 1 1,4
Nutricionista 1 1,4
Pedagoga 1 1,4
46
Técnico Segurança no Trabalho 1 1,4
Total 70 100,0
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
Verifica-se nos resultados apresentados na tabela 04, que a resposta que
mais prevaleceu, entre estes profissionais, sobre que a influência do álcool na
condução de veículos, foi que deixa os motoristas com menos atenção e
concentração, seguida da resposta que o álcool diminui os reflexos rápidos. Logo,
observa-se que a maioria das pessoas que dirigem e que se submeteram ao
questionário da pesquisa, sabe sobre as conseqüências que o álcool proporciona na
direção.
Segundo Moreira (2008), o álcool ocasiona no indivíduo uma redução da
capacidade de reagir adequadamente a estímulos (reflexos), diminui a visão
periférica, altera o controle corporal causando desequilíbrio e dificuldades de
marcha, aumenta a agressividade, causa sono e leva a embriaguez.. Tendo ação
sobre todos os tecidos, o álcool acaba exercendo marcadamente seus efeitos no
sistema nervoso. Podemos verificar também nas palavras dos autores Hoffman,
Carbonell e Montoro (1996, apud HOFFMANN, CRUZ & ALCHIERI, 2011) que as
bebidas alcoólicas também estimulam as condutas impulsivas e agressivas, ao
mesmo tempo em que diminuem a responsabilidade, dando lugar a um significante
aumento das infrações.
“O álcool, segundo Duailibi ( 2007, apud CARVALHO 2008, p. 4), mesmo em
pequenas concentrações no sangue, proporciona um falso sentimento de confiança,
e prejudica habilidades essenciais para a direção de um veículo como atenção,
coordenação e tempo de reação.
Tabela 04 – Influência do álcool na direção; consumo de álcool e direção; número de vezes
que bebeu e depois dirigiu; motivo de beber e dirigir; e o que sentiu ao dirigir, referente à
pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos automotores.
Variáveis Quantidade Percentual
Influencia do álcool na direção:
Porque deixa os motoristas com menos
atenção e concentração 61 30,0
Porque os reflexos rápidos diminuem 57 28,1
47
Porque prejudica a coordenação motora 42 20,7
Porque proporciona euforia, impulsividade
e agressividade. 43 21,2
Total 203 100,0
Você já consumiu álcool e depois dirigiu?
Sim 49 70,0
Não 20 28,6
Não Informado 1 1,4
Total 70 100,0
Caso sim, quantas vezes?
Uma vez 8 17,4
Mais de uma vez 35 76,1
Sempre 3 6,5
Total 46 100,0
Se a resposta da questão anterior for sim,
qual o motivo de você ter bebido e depois
dirigido?
Não tinha outra pessoa pra dirigir o carro 29 56,9
Considerei que seria capaz de dirigir,
mesmo na companhia de outra pessoa
habilitada para dirigir
22 43,1
Total 51 100,0
Depois que bebeu, o que sentiu ao dirigir?
Sono 21 30,9
Alegria 6 8,8
Confusão mental 12 17,6
Auto confiança 19 27,9
Nada 10 14,7
Total 68 100,0
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
48
Observou-se que a maioria das pessoas já bebeu e depois dirigiram, e que o
numero de vezes que beberam e depois dirigiram foi alto. Observando assim que os
condutores sabem que a mistura de álcool e direção é perigosa, mas mesmo assim
submetem-se a tal situação. O autores Laranjeira , Barros e Surjan (2002, apud
JAIR et. al, 2002 ) relatam que apesar de sua extensa aceitação por parte da
sociedade, o consumo de bebidas alcoólicas na direção, pode apresentar um grande
problema. Além de vários acidentes de trânsito e da violência relacionada a
episódios de embriaguez.
Em relação ao motivo da pessoa ter bebido e depois dirigido , verifica-se que
prevaleceu a resposta que não tinha outra pessoa para dirigir o carro, em seguida a
resposta que se consideravam capaz de dirigir, mesmo na companhia de outra
pessoa habilitada para dirigir . Verifica-se este resultado na fala dos autores
Hoffman, Carbonell e Montoro ( 1996, apud HOFFMANN, CRUZ ; ALCHIERI, 2011),
onde relatam que o álcool produz no condutor um sentimento subjetivo de acreditar
que tem melhor capacidade para dirigir; onde aparece uma falsa segurança em si
mesmo, fazendo aumentar a tolerância ao risco, levando-o a tomar decisões mais
perigosas do que as habituais.
Nos resultados apresentados, observa-se que a maioria das pessoas sentiu
sono, depois de consumir álcool e dirigir. O que pode ser observado nas palavras do
autor Evans ( 1991, apud HOFFMANN, CRUZ & ALCHIERI, 2011) que o consumo
do álcool na direção acumula efeitos perigosos ao nível físico como: aparecimento
de alterações perceptivas que dificultam o processamento da informação; depressão
geral que ocasiona maior cansaço, fadiga ou o aparecimento de sonolência;
dificuldades motoras e graves problemas de coordenação entre as mãos, olhos e
pés. Neste contexto, encontram-se dados na literatura afirmando que duas doses de
álcool determinam a necessidade de quatro a seis horas para metabolização e
podem prejudicar a capacidade de conduzir veículos por mais de 24 horas, visto
que, o álcool afeta significativamente a qualidade do sono e causa o conjunto de
sintomas conhecido popularmente como “ressaca”. O INCA também relata que
depois do consumo do álcool, com o decorrer do tempo, começam a aparecer os
efeitos depressores, como a falta de coordenação motora, descontrole e sono.
Analisando os dados apresentados na tabela 05, verifica-se que o tipo de
bebida mais consumido pelas pessoas antes de dirigir é a cerveja e, a quantidade de
bebida ingerida é de 3 ou mais latas de cerveja.. Segundo Laranjeira, Barros e
49
Surjan (2002 apud JAIR et.al, 2002) esclarecem que para definir níveis seguros para
beber, costuma-se empregar o conceito de Unidade de álcool, que equivale a 10
ou12g de álcool puro. Como a concentração de álcool varia em cada tipo de bebida,
a quantidade de álcool consumida também varia muito, por exemplo, 16 ml de álcool
puro equivalem a uma lata de 350ml de cerveja ou a um copo de 150ml de vinho ou
a uma dose de 40ml de destilados. Desta forma, definiu-se quantas unidades de
álcool um adulto hígido pode ingerir por semana sem colocar sua saúde em risco.
Tabela 05 - Tipo de bebida, Quantidade de cerveja, vinho, Chop e Destilados ingerida, referente
à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos automotores.
Variáveis Quantidade Percentual
Tipo de bebida
Cerveja 45 51,7
Vinho 10 11,5
Chop 14 16,1
Destilados 18 20,7
Total 87 100,0
Quantidade de Cerveja ingerida
Uma lata 3 7,5
Duas latas 11 27,5
Três latas ou mais 26 65
Total 40 100
Quantidade de Vinho ingerida
Uma taça 2 20,0
Duas taças 4 40,0
Três taças ou mais 4 40,0
Total 10 100,0
50
Variáveis Quantidade Percentual
Quantidade de chop ingerido
Dois copos 3 25,0
Três ou mais copos 9 75,0
Total 12 100,0
Quantidade de Destilado ingerido
Uma dose 3 16,7
Duas doses 5 27,8
Três ou mais doses 10 55,6
Total 18 100,0
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
Segundo o CTB ( 2008, apud CARVALHO, 2008), se a alcoolemia estiver
maior que 0,2g/l e menor que 0,6g/l, o condutor será enquadrado no art. 165 do
CTB, sendo-lhe imputadas ações administrativas. Se o teor detectado foi igual ou
superior a 0,6g/l, contudo, caracterizar-se-á crime, com penalidades previstas no art.
306 do CTB.
Verifica-se então que, nesta pesquisa, o nível de bebida consumido pelos
condutores ultrapassa o permitido, podendo assim trazer prejuízos para sua saúde e
para o trânsito.
Embora que a maioria dos profissionais submetidos a pesquisa considera
que há relação entre consumo de álcool na direção com acidentes de trânsito,
conforme os resultados apresentados na Tabela 06. Neste contexto, José Mauro
Bráz de Lima (apud MOREIRA, 2008), professor de Neurologia e Presidente da
Sociedade Brasileira de Alcoologia, afirma que todos que consomem bebidas
alcoólicas estão mais propensos a causar ou envolver-se em acidentes de tráfego,
tanto na direção de veículos ou em deslocamentos como pedestres. A utilização
muito difundida de bebidas alcoólicas leva esta substância a merecer uma atenção
especial no tocante à prevenção de acidentes de trânsito.
51
Tabela 06 - Relação entre consumo de álcool na direção e acidentes de trânsito, Acidente por
consumo de álcool, Carro batido por condutor que ingeriu bebida alcoólica, Resultado do
acidente e Opinião sobre a lei Nº 11705; referente à pesquisa sobre a influência do uso do
álcool na condução de veículos automotores
Variáveis Quantidade Percentual
Você considera que há relação entre consumo de álcool na direção
com acidentes de trânsito?
Sim 68 97,1
Não 2 2,9
Total 70 100
Você já bateu o carro porque consumiu álcool?
Sim 9 12,9
Não 57 81,4
Não Informado 4 5,7
Total 70 100,0
Seu carro já foi batido por alguém que consumiu álcool?
Sim 18 25,7
Não 51 72,9
Não Informado 1 1,4
Total 70 100,0
Se a resposta for Sim mas questões de 9 e/ou 10, no acidente houve
Feridos 9 21,4
Vítimas fatais 3 7,1
Danos Materiais 30 71,4
Total 42 100,0
52
Na sua visão, a implementação da lei n 11705 (Lei seca), que proíbe o
consumo de álcool ao dirigir, reduziu a taxa de mortalidade nas
estradas?
Sim 46 65,7
Não 24 34,3
Total 70 100
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
Percebe-se também que a minoria das pessoas respondeu que bateram o
carro ao dirigir sob o uso do álcool e/ou que foram batidas por alguém que usava
álcool, sendo que a maioria apenas sofreu danos materiais. Mesmo a minoria tendo
respondido que bateu o carro ou foi batida por causa do consumo do álcool,
observou-se que há um índice de acidentes devido à mistura de álcool e direção.
Estes dados obtidos corroboram com os dados obtidos por Who ( 1983, apud
HOFFMANN;CRUZ;ALCHIERI, 2011) quando afirma que a evidência epidemiológica
disponível, de acordo com a organização Mundial da saúde, indica que o consumo
de álcool pelos condutores de veículo é responsável por 31% a 50% dos acidentes
com vítimas mortais, com 15% a 35 % dos que causam lesões graves e, 10% dos
que não causam lesões. Modelli (2007) também complementa essa idéia, quando
relata que, com o aumento de álcool per capita, têm-se notado um crescimento
proporcional das lesões relacionadas aos acidentes de trânsito. Na medida em que,
uma pessoa sob efeito de álcool tem sete vezes mais chance de ser vítima de um
acidente fatal do que uma pessoa normal. Assim como Moreira (2008) que também
concorda com tal pensamento ao demonstrar estatisticamente que em quase 70%
dos óbitos ocasionados por acidentes de trânsito, a presença do álcool é constatada
nas necropsias, sendo que o mais cruel desta estatística é que predominam vítimas
na faixa etária dos 15 aos 29 anos, com certeza a mais produtiva e promissora da
população. Esta combinação letal está destruindo a juventude, frustrando
expectativas e interrompendo sonhos e esperanças de milhares de famílias. E, ainda
conclui, que não se deve misturar álcool e direção, quando relata que, se o condutor
alcoolizado vier a se envolver em acidente de trânsito que tenha em seu desfecho
lesão corporal ou homicídio, responderá por crime de trânsito e não poderá contar
53
com julgamento nos juizados especiais criminais, o que com certeza causará penas
que irão respeitar mais a dignidade das vítimas. Sendo assim, o novo comando da
lei é claro: não se pode misturar álcool e condução de veículos.
A resolução 60/5, na qual representa a busca de melhorias na segurança no
trânsito, recomendou uma especial atenção aos cinco principais fatores de risco no
transito: dirigir sob efeito do álcool, a não utilização de cinto de segurança e
dispositivos de proteção para crianças, a não utilização de capacetes, excesso de
velocidade e a falta de infra- estrutura viária. Tais fatores de risco são problemas
mundiais que se apresentam de forma muito expressiva em nosso cotidiano
brasileiro (MOREIRA, 2008). Pode-se obervar assim que tais fatores podem levar a
acidentes gravíssimos, tanto com danos materiais, ou com vítimas.
Os acidentes de trânsito são considerados hoje, como um gravíssimo
fenômeno sócio econômico, tanto pelos elevados índices que tem atingido em nível
nacional e internacional, quanto pelas suas características. No mundo ocorrem ao
ano cerca de 700.000 mortes em consequência dos acidentes de trânsito e mais de
15 milhões de feridos (HOFFMANN; CRUZ; ALCHIERI ,2011 ).
Foi observado nos resultados apresentados, e, agora destacado no gráfico
04, que a maioria dos condutores pesquisados (65,7%) consideraram que a
implementação da lei n 11705/08 (Lei seca), que proíbe o consumo de álcool ao
dirigir, reduziu a taxa de mortalidade nas estradas, o que podemos considerar que
apesar de grande parte delas beber e depois dirigir, ainda tem uma consciência que
a lei seca, foi uma estratégia eficaz para a redução da taxa de mortalidade.
Gráfico 04 - Na sua visão, a implementação da lei n 11705 (Lei seca), que proíbe o consumo de
álcool ao dirigir, reduziu a taxa de mortalidade nas estradas? referente à pesquisa sobre a
influência do uso do álcool na condução de veículos automotores
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
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Verifica-se estes dados estão de acordo com Moreira (2008), quando afirma
que a recente implementação da lei n 11.705, assinada em 19 de junho de 2008,
que institui a redução da taxa de alcoolemia permitida pela lei anterior ( 0,6 de álcool
por litro de sangue), para “ zero”, provocou, nos dois últimos meses no Brasil,
considerável mudança no contexto do consumo de bebidas alcoólicas e condução
de veículos automotores. Sendo que, foi possível constatar a imediata redução da
taxa de mortalidade nas estradas com a chamada “ lei seca”.
Portanto, ao analisar os dados apresentados no gráfico 05, observa-se que a
maioria dos condutores pesquisados (49,1%), com a implementação da Lei seca
parou de beber antes de dirigir Enquanto que, uma boa parte (41,5%), talvez por não
conseguir dominar o vício da bebida, apenas diminuíram a quantidade de bebida,
enquanto uma minoria (9,4%) não alterou a quantidade de bebida, demonstrando
nenhuma consciência em relação às normas da lei.
Gráfico 05 - Caso você bebeu ou tenha bebido antes de dirigir, com a implementação da lei
você: referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos
automotores.
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
Neste contexto, todos os condutores pesquisados concordam, que um
somatório de ações conjuntas, no controle do uso de álcool ao dirigir veículos, é a
melhor forma de conscientização dos motoristas sobre os malefícios do uso do
álcool na direção, assim como um maior respeito ao Código de Trânsito Brasileiro
(CTB), conforme os resultados apresentados no gráfico 06.
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Gráfico 06 - O que você considera mais eficaz no controle do uso de álcool ao dirigir veículos?
Referente à pesquisa sobre a influência do uso do álcool na condução de veículos
automotores.
Fonte: Dados da Pesquisa. Belém/PA. 2012.
Diante do exposto acima, concorda-se com Moreira (2008), que as leis não
devem ser somente promulgadas, mas divulgadas e aplicadas (fiscalização) de
forma constante. Mesmo quando há um efeito considerável na redução de acidentes
devido à entrada em vigor de uma lei, esse efeito pode ser anulado após certo
período de tempo, se houver percepção pública de impunidade e/ou
desconhecimento da lei vigente. Campanhas de publicidade e educação pública e
fiscalização severa são capazes de manter o sentimento de risco de punição e
resultam em um cumprimento maior da lei.
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5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo geral, fazer uma abordagem acerca da
influência do uso do álcool na condução de veículos automotores, perpassando
pelos efeitos físicos e psicológicos do álcool na direção; esclarecendo a relação
entre o álcool e acidentes de trânsito; e abordando sobre a lei seca e a educação no
trânsito.
Concluiu-se então que há influencia do uso do álcool na condução de
veículos, onde foi observado que o álcool prejudica algumas habilidades que são
utilizadas na direção, uma vez que, principalmente a atenção e concentração do
condutor são comprometidas, assim como seus reflexos rápidos e coordenação
motora, incentivando também a agressividade e impulsividade do condutor.
Assim, com todas estas funções comprometidas devido ao uso do álcool na
direção, pode levar à ocorrência de acidentes de trânsito, como foi verificado nos
resultados desta pesquisa, onde a maioria das pessoas afirmou que há relação entre
o uso do álcool e acidentes, sendo que alguns já foram batidos por carros e bateram
carros estando sob o efeito do álcool. Entretanto, estes acidentes poderiam ser
evitados se houvesse uma maior conscientização dos motoristas dos efeitos
negativos do uso do álcool na direção, e também uma maior respeito ao código de
trânsito brasileiro. Porém, foi observado nesta pesquisa que os condutores
consideram a lei seca eficaz e responsável por uma diminuição da mortalidade nas
estradas e, que a maioria parou de beber e depois dirigir.
A lei seca foi implementada e as campanhas educativas estão acontecendo,
porém deveria ter uma maior fiscalização com o uso do bafômetro e respeito às
campanhas, assim como mais campanhas deveriam ser implementadas, para a
prevenção do uso do álcool na direção. E, que a maioria dos motoristas ainda bebe
e depois dirige, como foi observado no decorrer dos resultados da pesquisa, porém
possuem consciência que o álcool influencia na condução de veículos, prejudicando
sua saúde, podendo levá-los a acidentes de trânsito. Sendo assim, estes condutores
acreditam que para diminuir, ou acabar com o uso do álcool antes de dirigir, deve
haver uma maior conscientização das pessoas sobre os malefícios do uso do álcool
na direção e um maior respeito ao código de trânsito brasileiro, porém este
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pensamento precisa ser colocado em prática, para assim se ter saúde, segurança,
respeito e responsabilidade no trânsito e na condução de veículos.
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REFERÊNCIAS
CARVALHO, Priscila Monteiro de. Loucura e violência no Transito: Mete( embriaguez) Apédia (imperícia) e ania( irreflexão) na ultrapassagem de todos os limites. Rio de Janeiro, 2008. CARVALHO, Claudio Viveiros de. Alteração do Limite Máximo de Teor Alcoólico da Lei Seca. Disponível na Biblioteca digital da câmara dos deputados. Centro de Documentação e Informação. Site: HTTP:// bd. Câmara. gov. Br Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Pscotópicas- CEBRID. Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrópicas. Leitura recomendada para alunos a partir da 6ª serie do Ensino Fundamental. Departamento de Psicobiologia da Unifesp. Universidade Federal de São Paulo- Escola Paulista de Medicina,1987. DAROS,E.J. Acidentes de transito e comportamento humano. Palestra proferida no I Encontro Nacional para prevenção de Acidentes de Transito e Primeiros Socorros ao Acidentado: Sociedade Nordestina de Neurocirurgia. Recife,1988 FALLER, Sibele. Psicopatologia e comportamento de risco em motoristas no Brasil- Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de mestre. Porto Alegre,2010 JUNCAL, Kleide Santos de Almeida. Comportamento de Risco e Acidentes de Trânsito. Trabalho apresentado como conclusão do Curso de Gestão educação e segurança no Trânsito. Iúna, 2009. HOFFMANN, Maria Helena; CRUZ, Roberto Moraes; ALCHIERI, João Carlos (orgs). Comportamento humano no trânsito. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. JAIR de Jesus Mari; et. al. Psiquiatria: Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar/ UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina.- 1ed. São Paulo: Manole,2002. Medidas de Segurança no Trânsito. Revista Quadro Rodas,2007. MODELLI, Manoel Eugenio dos Santos. Estudos dos níveis de Alcoolemia nas vítimas Fatais de acidentes de Trânsito no Distrito Federal. Dissertação ao programa de Pós- Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília,2007. MOREIRA, Fernando. A mudança Cultural que salva vidas: A lei que salva vidas e a “ Vacina contra a Violência do Trânsito. Rio de Janeiro: Arquimedes Edições,2008. PANITIZ, Mauri Adriano. A Segurança Viária e o Fator Humano- Verificação da Presença de Álcool- Direção no Sistema de transporte rodoviário do RGS. Dissertação para obtenção do titulo de Mestre em Engenharia .Porto Alegre,1999.
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RISSER,Ralf. Estudos sobre a avaliação psicológica de motorista. Monografias sobre a psicologia do Transito, educação para o Transito. Série de cadernos” Der
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APÊNDICE
QUESTIONÁRIO/ ÁLCOOL E DIREÇÃO Levantamento de dados para a construção da Monografia do Curso de Especialização em Psicologia do Trânsito. Sua opinião é de grande relevância para a Pesquisa. Obrigada! ______________________________________________________________________ Identificação: -Idade:_____ -Sexo ( )M( ) F -Estado Civil: ( )Solteiro( ) Casado ( ) Outros -Tempo de Carteira de Habilitação: ( ) Até 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) 10 a 15 anos ( ) 15 anos a 20 anos ( ) 20 anos ou mais - Profissão:__________________ ___________________________________________________________________ 1. Você considera que o consumo do álcool influência na condução de veículos? ( ) Sim ( ) Não 2. Se a resposta da questão anterior foi sim. Por que você acha que influência? Obs: Pode marcar mais de uma resposta. ( ) Porque deixa os motoristas com menos atenção e concentração ( ) Porque os reflexos rápidos diminuem ( ) Porque prejudica a coordenação motora ( ) Porque proporciona, euforia, impulsividade e agressividade 3. Você já consumiu álcool e depois dirigiu? ( ) Sim ( ) Uma vez ( ) Sempre ( ) Não ( ) Mais de uma vez 4. Se a resposta da questão anterior foi sim. Qual o motivo de você ter bebido e depois dirigido? ( ) Não tinha outra pessoa para dirigir o carro. ( ) Considerei que seria capaz de dirigir, mesmo na companhia de outra pessoa habilitada para dirigir ( ) Influência dos amigos. 5. Depois que você bebeu, o que sentiu ao dirigir? Obs: Pode marcar mais de uma resposta
( ) sono ( ) confusão mental ( ) Nada ( ) Alegria ( ) Auto- Confiança
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6. Qual o tipo de bebida que você bebeu ou bebe antes de dirigir? ( ) Cerveja ( ) Vinho ( ) Chop ( ) Destilados 7. Qual a quantidade de álcool que você ingeriu ou que ingere antes de dirigir? -Cerveja - Vinho - Chop -Destilados ( ) Uma lata ( ) Uma taça ( ) Um copo ( ) Uma dose ( ) Duas latas ( ) Duas taças ( ) Dois copos ( )Duas doses ( ) Três ou mais latas ( ) Três taças ou mais ( ) Três ou mais copos ( ) Três ou mais doses 8. Você considera que há relação entre o consumo de álcool na direção com os acidentes de trânsito? ( ) Sim ( ) Não 9.. Você já bateu o carro por que consumiu álcool? ( ) Sim ( ) Não 10. Seu carro já foi batido por alguém que consumiu álcool? ( ) Sim ( ) Não 11. Se a resposta foi sim nas questões 9 e/ou 10, no acidente houve: ( ) Feridos ( ) Vítimas fatais 12. Na sua visão, a implementação da lei n.11.705( Lei seca), que proíbe o consumo de álcool ao dirigir, reduziu a taxa de mortalidade nas estradas? ( ) Sim ( ) Não 13. Se caso bebeu ou bebia antes de dirigir, com a implementação da lei, você: ( ) Parou de beber antes de dirigir ( ) Diminuiu a quantidade de bebida ( ) Não alterou a quantidade da bebida 14. O que você considera mais eficaz no controle do uso do álcool ao dirigir veículos. ( ) Aumento da fiscalização, com o uso do bafômetro ( ) Campanhas Educativas sobre as consequências do uso do álcool na direção ( ) Maior conscientização dos condutores sobre os malefícios do uso do álcool na direção , assim como um maior respeito ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB)
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ANEXO
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