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Lacan e a Psicanálise:interlocuções com a contemporaneidade
Tema:
Seminário 5 (As formações do inconsciente): a instância do significante e
o Outro Coordenação Alexandre Simões
ALEXANDRE SIMÕES
® Todos os direitos de autor reservados.
No Seminário 5 (06-11-1957 a 02-07-1958), Lacan vai enfatizar a presença da função
simbólica no campo psicanalítico para, daí, verificar os efeitos do simbólico
sobre o sujeito
Para tal, dando sequência ao retorno a Freud, Lacan empreenderá um debate mais intenso
com duas produções de Freud:
A psicopatologia da vida cotidiana (1901)
e
Os chistes e sua relação com o inconsciente
(1905)
Nesse debate, tanto na perspectiva do dito espirituoso quanto na do esquecimento de
palavras (ato falho)
Lacan reconhecerá o que Freud já havia
introduzido no momento d’A
interpretação dos sonhos (1900):
o simbólico nos afeta e a experiência humana
do desejo é uma decorrência dessa
condição.
A marca crucial do simbólico sobre o humano será abordada por Lacan por intermédio dessa
figura chamada de o
Grande Outro (A).
Este Grande Outro apresentará, ao longo do ensino de Jacques Lacan, várias faces.
Em algumas circunstâncias, ele se mostrará como lugar; em outras, como função ou operação.
Notemos que são estas perspectivas (lugar-função-
operação) que, entrecruzadas,
demarcarão o estatuto do Grande Outro na
psicanálise lacaniana
O Outro como distinto do pequeno outro (-> o semelhante, o próximo, sua imagem, o reflexo do
próprio corpo) tende a se mostrar como anônimo, universal e abstrato.
Todavia, sob uma perspectiva mais fina, Lacan nos proporá que o
Outro é limitado. É desde o seu
próprio limite que o Outro funciona.
Vale lembrar que o Seminário 5 de Lacan é concomitante à elaboração
de um texto publicado na coletânea dos Escritos, que vai
estabelecer um importante diálogo com o conteúdo das lições:
A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud (1957)
A partir da articulação da Psicanálise com a Linguística, Lacan vai formalizar as leis do inconsciente. A proposta de Lacan nesse
seminário (e também no próximo) será definir uma topologia do funcionamento (impacto) do significante no sujeito.
Topologia em Jacques Lacan:
É uma forma de apresentar o sujeito em função de suas
conexões.
Daí, a articulação do ‘dentro’ com o ‘fora’, do ‘perto’ com o ‘longe’,
do ‘íntimo’ com o ‘estranho’.
Trata-se de uma importante decorrência da argumentação
apresentada por Freud no artigo sobre ‘O familiarmente estranho’
(1919)
O grafo, que será construído em várias etapas ao longo do
Seminário 5 de Lacan,
é um prenúncio do uso que, mais tarde, ele fará da topologia para
pensar (e sustentar) a experiência psicanalítica
Em suma, com o grafo e a topologia (por vir) Lacan vai problematizar a relação do fora (a linguagem tida como aquilo que já é dado) com o
dentro (o psíquico), do anterior (o discurso, a sexualidade) com o posterior (o corpo, a zona
erógena).
Mas, o que é um grafo ?
Um grafo é representado como um conjunto de pontos (chamados de vértices) ligados por retas (chamadas de arestas). É comum se apresentar as arestas de maneira
direcionada; neste caso, elas são representadas por setas.
Para apreendermos a elaboração do grafo que Lacan irá construir
Devemos considerar que ele é composto por diversos níveis, vetores, relações, elementos e
posições.
Toda a maquinaria é cartografada no intuito de se propor como que se dá
o efeito do significante no sujeito.
Primeiro nível do grafo: fluxos e refluxos, com pontos de sobreposição
“Um discurso não é apenas uma matéria, uma textura, mas requer tempo, tem uma dimensão no tempo, uma espessura. (...) Por exemplo, quando começo uma frase, vocês só compreenderão seu sentido quando eu a houver concluído. (...) Isso
nos dá o exemplo mais tangível do que podemos chamar de ação nachträglich do significante.”
(Seminário 5, p. 17)
O ponto de estofo: primeiro efeito do significante:
a produção de significado
Detalhamento do primeiro nível do grafo: a significação e o Outro
O Outro como lugar do código:
“Decerto é preciso que o código esteja em algum lugar, para que possa haver audição do discurso. Esse código está, muito
evidentemente, no grande Outro (A), isto é, no Outro como companheiro de linguagem. É absolutamente indispensável que
esse Outro exista, e, rogo-lhes que o observem, não há nenhuma necessidade de chamá-lo por esse nome imbecil e
delirante de consciência coletiva. Um Outro é um Outro. Basta apenas um para que uma língua seja viva. (...) Pode-se
continuar a fazer tiradas espirituosas numa língua mesmo quando se é o único a possuí-la.”
(Seminário 5, p. 19/20)
Primeiro nível do grafo mais completo:
Em um dado momento de sua elaboração, Lacan localiza no ponto de partida inferior do grafo o ‘assujeito’: “Pois bem, digo
que a criança se esboça como assujeito. Trata-se de um assujeito porque, a princípio, ela se experimenta e se sente como profundamente assujeitada ao capricho daquele de
quem depende, mesmo que esse capricho seja um capricho articulado.” (Seminário 5, p. 195)
“Desde o primeiro gemido, o recém-nascido articula-se com a mãe, de quem receberá o uso da
cadeia significante.” (Seminário 5, p. 528)
O impulso para o segundo nível do grafo:
Prosseguiremos no próximo encontro com o tema
Seminário 5 (As formações do inconsciente): a instância do significante e o Outro
Até lá!
Acesso a este conteúdo:www.alexandresimoes.com.br
ALEXANDRE SIMÕES
® Todos os direitos de autor reservados.