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como síntese do como síntese do nascente nascente pensamento pensamento burguês. Elementos burguês. Elementos introdutórios para introdutórios para a compreensão do a compreensão do pensamento pensamento kantiano. kantiano. Flávio Roberto Batista

Aula 1 a obra de kant como síntese do nascente pensamento burguês

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A obra de Kant como A obra de Kant como síntese do nascente síntese do nascente

pensamento burguês. pensamento burguês. Elementos introdutórios Elementos introdutórios para a compreensão do para a compreensão do pensamento kantiano.pensamento kantiano.

Flávio Roberto Batista

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A dualidade da obra de KantA dualidade da obra de Kant• A produção intelectual de Kant pode ser A produção intelectual de Kant pode ser

didaticamente dividida em uma vertente que didaticamente dividida em uma vertente que poderia, anacronicamente, ser chamada de poderia, anacronicamente, ser chamada de epistemológica (representada especialmente epistemológica (representada especialmente pela “Crítica da razão pura”) e outra vertente pela “Crítica da razão pura”) e outra vertente moral/jurídica, expressa numa quantidade moral/jurídica, expressa numa quantidade muito superior de obras (“Fundamentação da muito superior de obras (“Fundamentação da metafísica dos costumes”, “Crítica da razão metafísica dos costumes”, “Crítica da razão prática”, “Paz perpétua” e “Doutrina do prática”, “Paz perpétua” e “Doutrina do direito”, principalmente).direito”, principalmente).

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A dualidade da obra de KantA dualidade da obra de Kant

• O foco desta aula será a exposição desta O foco desta aula será a exposição desta primeira vertente da obra. A tarefa será primeira vertente da obra. A tarefa será cumprida apontando-a como uma síntese cumprida apontando-a como uma síntese epistemologicamente dialética de duas epistemologicamente dialética de duas correntes filosóficas aparentemente correntes filosóficas aparentemente opostas, mas que puderam ser opostas, mas que puderam ser sintetizadas porque se propunham a sintetizadas porque se propunham a exprimir o pensamento da burguesia que exprimir o pensamento da burguesia que se afirmava como classe dominante no se afirmava como classe dominante no século XVIII.século XVIII.

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O ambiente da obra de KantO ambiente da obra de Kant• A obra de Kant constitui uma reação radical ao A obra de Kant constitui uma reação radical ao

empirismo em sua vertente cética (representado empirismo em sua vertente cética (representado especialmente por Locke e Hume e mais especialmente por Locke e Hume e mais desenvolvido na Inglaterra) e ao racionalismo desenvolvido na Inglaterra) e ao racionalismo (mais desenvolvido na França, especialmente (mais desenvolvido na França, especialmente com Descartes e Pascal).com Descartes e Pascal).

• Tais correntes de pensamento coincidem Tais correntes de pensamento coincidem temporalmente com a acumulação primitiva de temporalmente com a acumulação primitiva de capital e constituem tentativas de compreensão capital e constituem tentativas de compreensão do mundo pós-religiosas (algumas nem tanto), do mundo pós-religiosas (algumas nem tanto), adequadas à classe que caminhava para se adequadas à classe que caminhava para se tornar dominante.tornar dominante.

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O ambiente da obra de KantO ambiente da obra de Kant• O racionalismo e o empirismo estão na O racionalismo e o empirismo estão na

origem do que se entende hoje por ciência origem do que se entende hoje por ciência moderna . Ambos estiveram presentes na moderna . Ambos estiveram presentes na fundamentação do movimento filosófico fundamentação do movimento filosófico que ficou conhecido por Iluminismo, uma que ficou conhecido por Iluminismo, uma vez que, embora radicalmente opostos em vez que, embora radicalmente opostos em suas pressuposições, acabavam em suas pressuposições, acabavam em determinado momento convergindo para determinado momento convergindo para soluções práticas e econômicas comuns.soluções práticas e econômicas comuns.

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O racionalismo – DescartesO racionalismo – Descartes• Descartes fundamenta a certeza do Descartes fundamenta a certeza do

conhecimento na expressão universalmente conhecimento na expressão universalmente conhecida por sua citação latina: cogito ergo conhecida por sua citação latina: cogito ergo sum, ou penso, logo existo. Por trás de tal sum, ou penso, logo existo. Por trás de tal postulado encontra-se o ceticismo postulado encontra-se o ceticismo metodológico cartesiano, a necessidade de metodológico cartesiano, a necessidade de colocar constantemente em dúvida todo e colocar constantemente em dúvida todo e qualquer conhecimento obtido, que somente qualquer conhecimento obtido, que somente pode ser considerado verdadeiro na medida pode ser considerado verdadeiro na medida em que for demonstrado.em que for demonstrado.

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O racionalismo – DescartesO racionalismo – Descartes• ““Por desejar então dedicar-me apenas à pesquisa da Por desejar então dedicar-me apenas à pesquisa da

verdade, achei que deveria agir exatamente ao contrário, e verdade, achei que deveria agir exatamente ao contrário, e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, supor a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, não restaria algo em meu crédito que fosse completamente não restaria algo em meu crédito que fosse completamente incontestável. Ao considerar que os nossos sentidos às incontestável. Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis presumir que não existia nada que vezes nos enganam, quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, por existirem fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, por existirem homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria, e cometem refere às mais simples noções de geometria, e cometem paralogismos, rejeitei como falsas, achando que estava paralogismos, rejeitei como falsas, achando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões sujeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações”.que eu tomara até então por demonstrações”.

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O racionalismo – DescartesO racionalismo – Descartes• ““E, enfim, considerando que quaisquer pensamentos que nos E, enfim, considerando que quaisquer pensamentos que nos

ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos, sem que exista nenhum, nesse ocorrer enquanto dormimos, sem que exista nenhum, nesse caso, que seja correto, decidi fazer de conta que todas as caso, que seja correto, decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava”.algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava”.

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O racionalismo – DescartesO racionalismo – Descartes

• Ceticismo cartesiano não é absoluto: Ceticismo cartesiano não é absoluto: admite a possibilidade de certeza baseada admite a possibilidade de certeza baseada na razão humana.na razão humana.

• A razão, certeza primeira, confere certeza A razão, certeza primeira, confere certeza ao conhecimento por meio de sua ao conhecimento por meio de sua demonstração em um encadeamento de demonstração em um encadeamento de proposições: o método cartesiano, além proposições: o método cartesiano, além de racionalista, é dedutivo.de racionalista, é dedutivo.

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O racionalismo – DescartesO racionalismo – Descartes• ““O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos

objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros. E o último, o de efetuar em toda parte relações naturalmente uns aos outros. E o último, o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir. Essas longas séries de razões, todas simples e fáceis, que de nada omitir. Essas longas séries de razões, todas simples e fáceis, que os geômetras costumam utilizar para chegar às suas mais difíceis os geômetras costumam utilizar para chegar às suas mais difíceis demonstrações, tinham-me dado a oportunidade de imaginar que todas as demonstrações, tinham-me dado a oportunidade de imaginar que todas as coisas com a possibilidade de serem conhecidas pelos homens seguem-se coisas com a possibilidade de serem conhecidas pelos homens seguem-se umas às outras do mesmo modo e que, uma vez que nos abstenhamos umas às outras do mesmo modo e que, uma vez que nos abstenhamos apenas de aceitar por verdadeira qualquer uma que não o seja, e que apenas de aceitar por verdadeira qualquer uma que não o seja, e que observemos sempre a ordem necessária para deduzi-las umas das outras, observemos sempre a ordem necessária para deduzi-las umas das outras, não pode existir nenhuma delas tão afastada a que não se chegue no final, não pode existir nenhuma delas tão afastada a que não se chegue no final, nem tão escondida que não se descubra”.nem tão escondida que não se descubra”.

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O racionalismo – DescartesO racionalismo – Descartes• A consequência de depositar a esperança de A consequência de depositar a esperança de

certeza na razão é a necessidade de certeza na razão é a necessidade de demonstração racional de todo o conhecimento, o demonstração racional de todo o conhecimento, o que leva Descartes a construir uma espécie que leva Descartes a construir uma espécie particular de formalismo. Somente deve ser objeto particular de formalismo. Somente deve ser objeto do conhecimento o que dependa exclusivamente do conhecimento o que dependa exclusivamente da razão para um conhecimento certo e da razão para um conhecimento certo e indubitável. Daí porque Descartes concebe um indubitável. Daí porque Descartes concebe um método científico universal que possui a método científico universal que possui a capacidade de conhecer e ordenar toda a capacidade de conhecer e ordenar toda a realidade: a matemática.realidade: a matemática.

• Essa ideia será central séculos mais tarde na Essa ideia será central séculos mais tarde na constituição teórica do positivismo científico.constituição teórica do positivismo científico.

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O racionalismo – PascalO racionalismo – Pascal

• Pascal nasce depois de Descartes e começa Pascal nasce depois de Descartes e começa a elaborar sua obra quando o cartesianismo a elaborar sua obra quando o cartesianismo começa a se tornar hegemônico.começa a se tornar hegemônico.

• Há disputa entre os autores em torno da Há disputa entre os autores em torno da relação entre os dois filósofos, mas há uma relação entre os dois filósofos, mas há uma diferença clara entre eles, que é relevante diferença clara entre eles, que é relevante para sua relação com Kant: o papel da para sua relação com Kant: o papel da religiosidade, marginal em Descartes e religiosidade, marginal em Descartes e estruturante em Pascalestruturante em Pascal

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O racionalismo – PascalO racionalismo – Pascal

• Pascal sustenta seu pensamento em uma Pascal sustenta seu pensamento em uma antropologia religiosa, que está antropologia religiosa, que está fundamentada no pecado original, na fundamentada no pecado original, na natureza imperfeita do homem e na natureza imperfeita do homem e na impossibilidade de que este viva de forma impossibilidade de que este viva de forma plena a perfeição, a verdade e o plena a perfeição, a verdade e o conhecimento, reservados à esfera divina. conhecimento, reservados à esfera divina. Por isso, ele divida a realidade em regiões Por isso, ele divida a realidade em regiões passíveis ou não de cair sob o domínio da passíveis ou não de cair sob o domínio da razão.razão.

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O racionalismo – PascalO racionalismo – Pascal• Na região da realidade à disposição do Na região da realidade à disposição do

conhecimento pela razão humana, Pascal é conhecimento pela razão humana, Pascal é cartesiano: o método que elege para tanto é cartesiano: o método que elege para tanto é a geometria, de maneira análoga à a geometria, de maneira análoga à matemática cartesiana. Pascal, entretanto, matemática cartesiana. Pascal, entretanto, antecipa a incognoscibilidade da coisa em si antecipa a incognoscibilidade da coisa em si que estará na base da epistemologia que estará na base da epistemologia kantiana. Ele é, por isso, de certa forma, um kantiana. Ele é, por isso, de certa forma, um precursor do relativismo, pois foi o primeiro precursor do relativismo, pois foi o primeiro pensador a lidar com a multiplicidade pensador a lidar com a multiplicidade metodológica.metodológica.

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O empirismo - LockeO empirismo - Locke

• Pressuposto metodológico aparentemente Pressuposto metodológico aparentemente oposto ao racionalista: todo conhecimento oposto ao racionalista: todo conhecimento deriva da razão deriva da razão vsvs todo conhecimento todo conhecimento deriva da experiência.deriva da experiência.

• Diferença fundamental nos procedimentos Diferença fundamental nos procedimentos de desindividualização: universalização de desindividualização: universalização vs vs generalização.generalização.

• Conceito de Conceito de tabula rasatabula rasa

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O empirismo - LockeO empirismo - Locke

• ““Suponhamos, pois, que a mente é, como Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco, dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma ideia; como ela será suprida? nenhuma ideia; como ela será suprida? (...) A isso respondo, numa palavra: da (...) A isso respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso conhecimento experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio fundamentalmente o próprio conhecimento”.conhecimento”.

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O empirismo - LockeO empirismo - Locke• ““As palavras começam, então, a revelar marcas externas de As palavras começam, então, a revelar marcas externas de

nossas ideias internas, sendo estas ideias apreendidas das nossas ideias internas, sendo estas ideias apreendidas das coisas particulares. Se, porém, cada ideia particular que coisas particulares. Se, porém, cada ideia particular que apreendemos devesse ter um nome distinto, os nomes apreendemos devesse ter um nome distinto, os nomes seriam infinitos. Para que isto seja evitado, a mente seriam infinitos. Para que isto seja evitado, a mente transforma as ideias particulares recebidas de objetos transforma as ideias particulares recebidas de objetos particulares em gerais, obtendo isto por observar que tais particulares em gerais, obtendo isto por observar que tais aparências surgem à mente inteiramente separadas de aparências surgem à mente inteiramente separadas de outras existências e das circunstâncias da existência real, tais outras existências e das circunstâncias da existência real, tais como tempo, espaço ou quaisquer outras ideias como tempo, espaço ou quaisquer outras ideias concomitantes. Denomina-se a isso abstração, e é através concomitantes. Denomina-se a isso abstração, e é através dela que as ideias extraídas dos seres particulares tornam-se dela que as ideias extraídas dos seres particulares tornam-se representações gerais de uma mesma espécie e seus vários representações gerais de uma mesma espécie e seus vários nomes aplicam-se a qualquer coisa que exista em nomes aplicam-se a qualquer coisa que exista em conformidade com essas ideias abstratas” .conformidade com essas ideias abstratas” .

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O empirismo - LockeO empirismo - Locke• ““Podemos observar que as ideias simples Podemos observar que as ideias simples

existem unidas em várias combinações, existem unidas em várias combinações, tendo, deste modo, a mente poder para tendo, deste modo, a mente poder para considerar várias delas reunidas numa única considerar várias delas reunidas numa única ideia, não apenas como se acham unidas ideia, não apenas como se acham unidas nos objetos externos, mas como elas se nos objetos externos, mas como elas se acham por si mesmas unidas. As ideias acham por si mesmas unidas. As ideias formadas pela reunião de várias simples formadas pela reunião de várias simples denominam-se complexas, tais como beleza, denominam-se complexas, tais como beleza, gratidão, homem, exército, universo”.gratidão, homem, exército, universo”.

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O empirismo - LockeO empirismo - Locke

• A experiência enquanto fonte do A experiência enquanto fonte do conhecimento também será uma ideia conhecimento também será uma ideia relevante na conformação do positivismo relevante na conformação do positivismo científico.científico.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Kant assume o principal pressuposto empirista: “Que todo o Kant assume o principal pressuposto empirista: “Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há nosso conhecimento começa com a experiência, não há dúvida alguma, pois, do contrário, por meio do que a dúvida alguma, pois, do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através de objetos que tocam nossos exercício senão através de objetos que tocam nossos sentidos e em parte produzem por si próprios sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em parte põem em movimento a atividade do representações, em parte põem em movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos que se impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo ele conhecimento em nós precede a experiência, e todo ele começa com ela”.começa com ela”.

• Não à toa, nomeou sua principal obra filosófica de “Crítica da Não à toa, nomeou sua principal obra filosófica de “Crítica da razão pura”, uma reação radical ao racionalismo cartesiano.razão pura”, uma reação radical ao racionalismo cartesiano.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Entretanto, reage também ao empirismo: “Mas embora todo o Entretanto, reage também ao empirismo: “Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso ele nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso ele se origina justamente da experiência. Pois poderia bem acontecer se origina justamente da experiência. Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento da experiência seja um que mesmo o nosso conhecimento da experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento não impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo aditamento não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha tornado atento a ele e nos tenha tornado aptos à sua nos tenha tornado atento a ele e nos tenha tornado aptos à sua abstração. Portanto, é pelo menos uma questão que requer uma abstração. Portanto, é pelo menos uma questão que requer uma investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo investigação mais pormenorizada e que não pode ser logo despachada devido aos ares que ostenta, a de saber se há um tal despachada devido aos ares que ostenta, a de saber se há um tal conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência”.posteriori, ou seja, na experiência”.

• Kant acredita na razão.Kant acredita na razão.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Marcuse sobre essa reação de Kant: “O Marcuse sobre essa reação de Kant: “O idealismo alemão defendia a filosofia dos idealismo alemão defendia a filosofia dos ataques do empirismo inglês, e a luta ataques do empirismo inglês, e a luta entre as duas escolas não significava entre as duas escolas não significava simplesmente o choque entre duas simplesmente o choque entre duas filosofias diferentes, mas uma luta em que filosofias diferentes, mas uma luta em que estava em jogo a filosofia como tal”. estava em jogo a filosofia como tal”.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Marcuse sobre essa reação de Kant: “O Marcuse sobre essa reação de Kant: “O contra-ataque do idealismo não foi contra-ataque do idealismo não foi provocado pela posição empirista de provocado pela posição empirista de Locke e Hume, mas por sua refutação das Locke e Hume, mas por sua refutação das ideias gerais. Tentaremos mostrar que o ideias gerais. Tentaremos mostrar que o direito que assistia à razão de dirigir à direito que assistia à razão de dirigir à realidade dependia da capacidade do realidade dependia da capacidade do homem sustentar verdades válidas em homem sustentar verdades válidas em geral”. geral”.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Para Kant, o material colhido pela consciência por Para Kant, o material colhido pela consciência por meio dos sentidos é organizado pela razão, meio dos sentidos é organizado pela razão, valendo-se de ideias inatas, intituladas por Kant valendo-se de ideias inatas, intituladas por Kant de conhecimento a priori.de conhecimento a priori.

• Principal exemplo: princípio da causalidade. A Principal exemplo: princípio da causalidade. A causalidade não pode ser captada pelos sentidos causalidade não pode ser captada pelos sentidos nem obtida com certeza a partir de nenhuma nem obtida com certeza a partir de nenhuma abstração da realidade. Ela pertence à razão abstração da realidade. Ela pertence à razão anteriormente a qualquer experiência concreta, e anteriormente a qualquer experiência concreta, e isso lhe atribui sua certeza e sua universalidade.isso lhe atribui sua certeza e sua universalidade.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Principal desdobramento filosófico do Principal desdobramento filosófico do conhecimento racional apriorístico: parte conhecimento racional apriorístico: parte do mundo real, caoticamente percebido, do mundo real, caoticamente percebido, não pode ser organizado pelas categorias não pode ser organizado pelas categorias da razão, mormente no que tange às da razão, mormente no que tange às contradições, já que as categorias da contradições, já que as categorias da razão são lógicas e não admitem a razão são lógicas e não admitem a contradição. Tratam-se das aporias.contradição. Tratam-se das aporias.

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Principal desdobramento político de tal Principal desdobramento político de tal conclusão: a possibilidade de crítica conclusão: a possibilidade de crítica racional da experiência e da tradição, a racional da experiência e da tradição, a possibilidade de universalização além da possibilidade de universalização além da generalização leva ao questionamento da generalização leva ao questionamento da ordem estabelecida. “O idealismo alemão ordem estabelecida. “O idealismo alemão foi considerado a teoria da Revolução foi considerado a teoria da Revolução Francesa” (Marcuse).Francesa” (Marcuse).

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Kant e sua relação com a filosofia Kant e sua relação com a filosofia anterioranterior

• Daí porque Kant ter dedicado a outra Daí porque Kant ter dedicado a outra vertente de sua obra para discutir os vertente de sua obra para discutir os problemas práticos da organização social, problemas práticos da organização social, legando à humanidade, com isso, uma legando à humanidade, com isso, uma das últimas tentativas sistemáticas de das últimas tentativas sistemáticas de tratamento científico da moral e do direito.tratamento científico da moral e do direito.