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Pessoas que machucam sem
bater
Martha Medeiros
É fácil deixar uma pessoa emocionalmente em
frangalhos.
É só mirar no peito e atirar com palavras.
Um dos maiores dramas femininos
é a violência dentro de casa.
Milhares de mulheres apanham
do marido e do namorado.
Não importa se são pobres ou ricas,
analfabetas ou cultas: apanham uma, duas, três
vezes e, em vez de fazerem a
malinha e darem um novo rumo
às suas vidas, mantêm-se onde estão, roxas e
orgulhosas.
A maioria suporta a situação porque não tem como se sustentar, não tem para onde levar os filhos, elas estão nesse
mundo sem pai nem mãe.
Mas há outro motivo curioso: muitas mulheres encaram a surra como um
contato íntimo.
Na falta de um beijo, aceita-se um tapa.
Dói, mas ninguém pode dizer que não existeuma relação a dois.
É uma maneira masoquista de se fazer notar,
de não se sentir ignorada pelo companheiro.
Apanho, logo existo.
Que é medieval, nem se discute.
Mas a humanidade convive há séculos
com essas armadilhas, com essas cenas
em que cada um interpreta como lhe convém.
Diga aí quem nunca
machucou,
quem nunca foi
machucado,
mesmo sem trazer
marcas visíveis.
Algumas pessoas são "experts"
em não deixar cicatrizar velhas feridas,
em fazer dor no ponto frágil.
Insinuações doem, acusações injustas doem, desapego dói, indiferença,
então.
É justamente dentro das relações mais íntimas
que se obtêm as melhores armas.
A vulnerabilidade é terreno fértil para surras
psicológicas.
Sabemos como reage nosso cônjuge,
o que costuma ferir nosso irmão,
onde nossos amigos fraquejam.
Basta uma frase, uma ironia, e o abatemos.
Deixar uma pessoa emocionalmente em
frangalhos,não é passível de
condenação.
Não é crime, não deixa marcas de sangue no
tapete.
Mira-se no peito, atira-se com palavras,
e os estilhaços caem para dentro.
A violência física não tem essa premeditação.
Ela caracteriza-se pela falta absoluta de controle.
No momento em que se agride alguém
com socos e pontapés, atravessa-se a fronteira do
racional: vigora a degradação, a
selvageria, o fim da civilidade.
Por isso, preferimos a
agressão verbal, que,
apesar de também
machucar, ao menos
mantém a ordem.
O ideal, no entanto, seria escaparmos ilesos
de qualquer brutalidade e convivermos apenas com
abraços, sorrisos e palavras gentis, coisa que acontece, apenas,entre quem mal se conhece.
A ternura "full time" só é comum entre
pessoas,cujas vidas não se
misturam, não trazem
consequênciasuma
para a outra.
Já a intimidade permite que a mágoa brote,
transformando rancor em munição.
Mike Tyson ao menos ganhava bem para bater e
levar.
Fora do ringue, Fora do ringue,
todo mundo perdetodo mundo perde . .
FORMATAÇÃO: Mima (Wilma) [email protected]
MÚSICA: Clair de luneInterpretação: Nana Mouskouri
(Repasse com os devidos créditos)
www.mimabadan.blogspot.comwww.slideshare.net/mimabadan