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102 GLOBO RURAL | setembro 2014 setembro 2014 | GLOBO RURAL 103
COMO CRIARVIDA NA
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AÇÃO
Atualmente, o mais indicado para cativeiro é o camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), que tem sabor mais leve em relação ao camarão de água salgada e é também conhecido como pitu e lagostim-de-água-doce”
A quicultores brasileiros têm na criação de ca-marão-de-água-do-ce uma opção para re-
alizar o manejo do crustáceo em qualquer lugar país adentro. Sem se limitar à costa litorânea, a prá-tica em tanques escavados per-mite a pulverização da atividade pelo interior do território nacio-nal, reduzindo custos logísticos e obtendo preços mais competiti-vos para as vendas do produto no comércio local.
Pequenos produtores e com pouca experiência, inclusive, po-dem se beneficiar da criação fa-zendo dela uma fonte de renda
extra. Lidar com o camarão-de- água-doce não tem muitas exi-gências e o seu manejo pode ser realizado em sítios e chácaras, desde que tenham condições ade-quadas, como espaço para um am-biente aquático e temperatura da água acima de 20 oC durante, pelo menos, seis meses consecutivos.
Em cativeiro, é comum o uso de viveiros escavados com o fun-do natural de terra, área na qual o crustáceo habita e também se alimenta. Sem sistema de drena-gem eficiente, represas e açudes são opções descartadas, pois pre-cisam ser esvaziados para reali-zar a despesca total – retirada de
todos os camarões no fim da fase de engorda.
No entanto, caso ainda não te-nha na propriedade, a construção de tanques deve ser providencia-da, sendo que a obra implicará uma recuperação do capital investido a longo prazo. Terreno plano, com solo argiloso e disponibilidade de água corrente e de qualidade são outros fatores importantes para o sucesso do manejo.
A criação do crustáceo tam-bém tem boa adaptação ao sis-tema integrado de cultivo com peixes, diversificando a produ-ção e ampliando as oportunida-des de mercado ao empreende-
MÃOS À OBRA>>> INÍCIO A recomendação para iniciantes é adquirir de laborató-rios comerciais camarões na fase de pós-larva, com cerca de 1 cen-tímetro de comprimento, quando estão prontos para serem leva-dos para os tanques de recria. O processo de larvicultura, no qual as larvas desovadas precisam ser mantidas em água salobra por cerca de 30 dias até ocorrer a metamorfose para as pós-larvas (correspondente aos alevinos), é tecnicamente complexo e exige altos investimentos.>>> AMBIENTE Ideal com tempe-ratura elevada, entre 28 ºC e 30 ºC, pois o camarão-de-água-doce não tolera abaixo de 15 ºC. São impor-tantes para o manejo fatores co-mo água de boa qualidade, abun-dante e com renovação, pH entre 7 e 9, dureza de 20 a 150 miligramas por litro e transparência de 20 a 40 centímetros; terreno com, no máxi-mo, 5% de declive e solo argiloso.>>> TANQUES Dê preferência pa-ra viveiros escavados com fundo de terra. Podem ter área variável en-tre 250 e 5.000 metros quadrados e profundidade de 90 centímetros a 1,3 metro.>>> POLICULTIVO É uma alterna-tiva para incrementar a rentabili-dade da criação. Dentro do mes-mo viveiro, camarões e espécies não carnívoras como tilápia, car-pa-comum ou prateada e peixes ornamentais podem ser criados li-vremente em espaços diferentes ou com instalação de tanques-re-des para confinamento dos pei-xes. Proteja os crustáceos de pre-dações povoando o viveiro com as pós-larvas do crustáceo, no mí-
nimo, 15 dias antes da estocagem com as demais espécies.>>> CUIDADOS A densidade de es-tocagem do camarão-da-malásia não pode ser muito elevada, devi-do ao risco de canibalismo da es-pécie. Para o monocultivo, reco-menda-se de oito a 12 pós-larvas por metro quadrado. No policultivo, deve variar entre três e seis cama-rões por metro quadrado. A aduba-ção química ou orgânica dos vivei-ros periodicamente contribui para a existência de micro-organismos no fundo do viveiro.>>> ALIMENTAÇÃO O camarão- de-água-doce gosta de comer tanto animais quanto vegetais. Po-rém, forneça rações peletizadas ou extrusadas de alta densidade pa-ra camarões marinhos. Como afun-dam, facilitam para os camarões que se alimentam somente no fun-do do viveiro, onde também conso-mem como um complemento ba-rato micro-organismos bentônicos – crustáceos, moluscos, larvas de insetos aquáticos, entre outros.>>> PRODUÇÃO Adote a despesca seletiva a partir do quarto mês de-pois do povoamento. Aos seis me-ses de criação, realize a despes-ca total. Em seguida, lave os cama-rões por dois minutos em solução de cloro a 5 miligramas por litro de água limpa. Para um choque térmi-co, faça a imersão deles em água gelada. Perecíveis, os crustáce-os podem ser mantidos em gelo por, no máximo, dois a três dias e a uma temperatura de cerca de 0 ºC. Além desse prazo, devem ser sub-metidos a um congelamento rápi-do e permanecer à -20 ºC por até seis meses.
Criação mínima: 100 milheiros de pós-larvas para povoar 1 hectare de espelho d’águaCusto: pode variar de R$ 20 mil a R$ 50 mil por hectare de espelho d’água, dependendo da infraestrutura existente na propriedadeRetorno: pode chegar a 7 anos, mas geralmente é de 4 a 5 anos entre os investimentos mais altosDespesca: a seletiva ocorre a partir de 4 meses e a total aos 6 meses de criação
RAIO X
Texto João Mathias * Consultores Marcello Villar Boock e Helcio Luis de Almeida Marques*
Com carne nobre e de alto valor comercial, o crustáceo pode ser criado em tanques escavados pelo sistema de policultivo com peixes
*Marcello Villar Boock é doutor em aquicultura e pesquisador científico da UPD de Pirassununga, Polo Apta Centro-Leste, Rua Virgílio Baggio, 85, CEP 13641-004, Pirassununga (SP), tel. (19) 3565-1200, [email protected]; e Helcio Luis de Almeida Marques, doutor e pesquisador científico do Instituto de Pesca, Av. Francisco Matarazzo, 455, Parque da Água Branca, Caixa Postal 61070, CEP 05001-970, São Paulo (SP), [email protected]
ONDE ADQUIRIR: Aquicultura PL Brasil, Piedade (SP), tels. (15) 98127-7999 e (15) 99712-2124; [email protected]; Fazenda Santa Helena, Silva Jardim (RJ), tels. (22) 2668-0414, (22) 9930-3235, (21) 8181-0589 e (27) 8165-0836, [email protected]; Cooperativa dos Aquicultores do Espírito Santo, São Domingos (ES), [email protected], [email protected], tel. (27) 3742-1065; e gtcad.word-press.com/tag/venda-de-pos-larvas/
MAIS INFORMAÇÕES: Criação de camarão de água doce. Mallasen, Margarete. Editora Funep, www.funep.org.br/visualizar_livro.php?idlivro=173
dor. No policultivo, o camarão-de- água-doce ainda consome parte dos resíduos gerados pelos peixes e os restos de ração, sem a neces-sidade de alimento específico em viveiro com três a seis camarões por metro quadrado.
Apesar da possibilidade de vi-ver em todas as regiões brasilei-ras, o camarão-de-água-doce não é recomendado onde o inver-no se prolonga por vários meses. Os custos com alimentação e mão de obra são os que mais pesam, já que a ração tem preço elevado e os tanques precisam de manutenção constante. Contudo, considerado de carne nobre, o crustáceo tem valor comercial alto.
Entre cinco e seis meses de vi-da, o camarão atinge de 25 a 30 gramas, peso ideal para iniciar a comercialização. Pós-larva, re-sultado da evolução das ovas em dois meses, é outro produto que serve para abastecer novos cria-dores. Atualmente, o mais indica-do para cativeiro é o camarão-da--malásia (Macrobrachium rosen-bergii), que tem sabor mais leve em relação ao camarão de água salga-da. Também conhecido como pi-tu e lagostim-de-água-doce, tem produção destacada nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
Camarão-de-água-doce