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Programa de Português do Ensino Secundário: novos desafios e novas abordagens ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS E FRANCÊS “Ligações dialógicas para a sala de aula do futuro”

Programa de Português do Ensino Secundário: novos desafios e novas abordagens

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Programa de Português do Ensino Secundário: novos desafios e

novas abordagens

ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS E FRANCÊS

“Ligações dialógicas para a sala de aula do futuro”

Defende-se uma perspetiva integradora do ensino do Português, que valoriza as suas dimensões cultural, literária e linguística.

DOMÍNIOS Oralidade Leitura Escrita Educação Literária Gramática

Articulação curricular horizontal e

vertical dos conteúdos

Adequação ao público-alvo e promoção

do exercício da cidadania

Texto complexo

Opções fundamentais

Géneros textuais

Texto complexo

Defesa explícita da centralidade do texto complexo

“Apesar de seguir a média, no documento [Relatório PISA 2012] pode ler-se que em Portugal os alunos são melhores a usar o seu conhecimento para “planear e executar” uma solução do que a adquirir, eles próprios, esse conhecimento, a questioná-lo, a gerar e a experimentar alternativas. Mesmo focados, motivados e persistentes, o desempenho relativamente fraco na resolução de problemas que requeiram o processamento de informação abstracta sugere que se deve dar prioridade ao desenvolvimento da habilidade de raciocínio, de aprendizagem autodirigida, e de verdadeira resolução de problemas.”

in Público n.º 8755, de 2 de abril de 2014

Desenvolvimento de uma literacia mais compreensiva e inclusiva

Programa de Português

Trabalha a relação com o texto através de uma exigência de complexidade textual: gradação crescente que vai do “não complicado” ao “desafiante” e ao “complexo”, correspondendo o último ao horizonte para o qual tender no ensino secundário.

A complexidade textual apresenta-se como uma das variáveis decisivas na compreensão da leitura e, concomitantemente, na produção textual, em particular escrita. Permite o desenvolvimento de capacidades de compreensão mais elaboradas e robustas, que tenderão, naturalmente, a refletir-se nas opções realizadas ao longo da vida, dentro e fora da escola:

(...) pode ser duro para os alunos confrontarem-se com um texto que os obriga a deterem-se nele, selecionando palavras, destrinçando frases, esforçando-se por estabelecer conexões. Os professores podem sentir-se tentados a facilitar a vida aos estudantes evitando textos difíceis. O problema é que o trabalho mais fácil não torna os leitores mais capazes. O professor tem de estimular a persistência dos alunos, especialmente quando o trabalho se torna mais exigente. A recompensa resulta da capacidade de perseverar.

Shanahan, Fischer e Frey 2012, The challenge of challenging text. Educational Leadership, 69(6): 59. (tradução dos autores)

URL:http://www.ascd.org/publications/educational-leadership/mar12/vol69/num06/The-Challenge-of-Challenging-Text.aspx

Géneros textuais

Não são exclusivos do discurso literário

Entendidos numa ótica de complexidade textual crescente

Oralidade Leitura Escrita Educação Literária

Desenvolvimento de capacidades de compreensão mais elaboradas e robustas

Géneros textuais Os géneros são entendidos como formatos textuais socialmente reconhecidos e aceites para as diferentes situações de comunicação, formatos esses elaborados pela atividade de gerações precedentes e sincronicamente disponíveis, em termos de arquitexto, como modelos mais ou menos estabilizados (numa determinada época e numa determinada cultura) de que dispõem, de forma mais ou menos controlada, os agentes de produção e de interpretação dos textos: reportagem, documentário, anúncio publicitário, síntese, debate, notícia, requerimento, diário, conto, romance…

Lista aberta (em expansão)

Género ≠ Tipo de texto (classe fechada com características específicas e elementos regulares → tipo/protótipo/sequência/bloco narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo, injuntivo, dialogal).

ORALIDADE – Compreensão do Oral

Objetivo

1. Compreender textos orais de complexidade crescente e de diferentes géneros, apreciando a sua intenção e a sua eficácia comunicativas.

Conteúdos

10.º Ano Reportagem Documentário Anúncio publicitário

11.º Ano Discurso político Exposição sobre um tema Debate

12.º Ano Diálogo argumentativo Debate

ORALIDADE – Expressão Oral

Objetivo 2. Utilizar uma expressão oral correta, fluente e adequada a diversas situações de comunicação. 3. Produzir textos orais de acordo com os géneros definidos no Programa.

Conteúdos

10.º Ano Síntese Apreciação crítica (de reportagem, de documentário, de entrevista, de livro, de filme, de exposição ou de outra manifestação cultural)

11.º Ano Exposição sobre um tema

Apreciação crítica (de debate, de filme, de peça de teatro, de livro, de exposição ou de outra manifestação cultural) Texto de opinião

12.º Ano Texto de opinião Diálogo argumentativo Debate

LEITURA

Objetivo 4. Ler e interpretar textos escritos de complexidade crescente e de diversos géneros, apreciando criticamente o seu conteúdo e desenvolvendo a consciência reflexiva das suas funcionalidades.

Conteúdos

10.º Ano Relato de viagem

Artigo de divulgação científica

Exposição sobre um tema

Apreciação crítica (de filme, de peça de teatro, de livro, de exposição ou de outra manifestação cultural)

11.º Ano Artigo de divulgação científica

Discurso político

Apreciação crítica (de filme, de peça de teatro, de livro, de exposição ou de outra manifestação cultural) Artigo de opinião

12.º Ano Diário

Memórias

Apreciação crítica (de filme, de peça de teatro, de livro, de exposição ou de outra manifestação cultural)

Artigo de opinião

ESCRITA

Objetivo 5. Produzir textos de complexidade crescente e de diferentes géneros, com diversas finalidades e em diferentes situações de comunicação, demonstrando um domínio adequado da língua e das técnicas de escrita.

Conteúdos

10.º Ano

Síntese

Exposição sobre um tema

Apreciação crítica

11.º Ano Exposição sobre um tema

Apreciação crítica

(de filme, de peça de teatro, de livro, de exposição ou de outra manifestação cultural)

Texto de opinião

12.º Ano Exposição sobre um tema

Apreciação crítica

(de debate, de filme, de peça de teatro, de livro, de exposição ou de outra manifestação cultural)

Texto de opinião

Programa de Português Géneros textuais

Géneros

10.º Ano 11.º Ano 12.º Ano

CO EO L E CO EO L E CO EO L E

Reportagem

Documentário

Anúncio publicitário

Relato de viagem

Artigo de divulgação

científica

Diário

Memórias

Discurso político

Síntese

Exposição

Apreciação crítica

Texto/artigo de

opinião

Diálogo

argumentativo

Debate

Exploração de um mesmo género em diferentes domínios

Transferência de aquisições feitas no domínio da Leitura para o domínio da Oralidade e vice-versa, por exemplo.

Perceção da língua como sistema aberto de reenvios, em nome de um desenvolvimento articulado e progressivo das capacidades de interpretar,

expor e argumentar.

A convergência, nos domínios apresentados, “de textos pertencentes aos mesmos géneros ou a géneros afins pretende surgir como uma estratégia de reforço sistemático das operações cognitivas mais complexas, havendo, pois, vantagem em explorar, de forma estruturada, as relações entre os diversos domínios”. (Programa: 9)

A maior ou menor familiaridade com um determinado género – isto é, com as regularidades situacionais, funcionais e organizacionais que lhe estão associadas – funcionará como fator facilitador, tanto na perspetiva da produção como na da interpretação.

Abordagens Apreciação crítica 1.º momento: Leitura • Feira medieval / Peça de teatro 2.º momento: Oralidade (Expressão oral) • Peça de teatro / Música medieval 3.º momento: Escrita • Projeto de Leitura: “D. Quixote de la • Mancha” / “O último Cabalista de Lisboa”

Educação Literária “Farsa de Inês Pereira”

ou “Auto da Feira” Gil Vicente

Leitura e Oralidade O domínio da Leitura é visto como estratégico na organização do

programa pela análise e pela observação de textos complexos de diferentes géneros.

Articulação com as escolhas realizadas no domínio da Oralidade, onde a aprendizagem do oral formal é e deve ser determinante. Objetivos: o treino das capacidades de avaliação crítica, de exposição e de argumentação lógica, quer através da sua observação em textos orais e escritos (Compreensão do Oral e Leitura), quer através do treino da produção textual.

Valorização do trabalho realizado pelo aluno na turma, que permite o treino tanto das apresentações formais sobre tópicos relevantes, como de debates com diferentes graus de formalidade, em pequenos ou grandes grupos.

Escrita Prioridade: capacidades de expor e argumentar – parte-se da síntese

para o aprofundamento da capacidade de expor de forma planificada e coerente, elegendo-se a apreciação crítica e o texto de opinião como ponto de chegada de uma pedagogia consistente da escrita para este nível de ensino.

Orientação não somente para o produto, mas também para o processo e para a finalidade: primado da estruturação do pensamento e do discurso (planificação, produção e reescrita).

O percurso adotado deriva da convicção de que a escrita tem, a este nível, dois grandes objetivos: “aprender” e “pensar”. Escrever para aprender e escrever para pensar, na sua articulação com o ler para escrever, são capacidades que o programa elege como centrais, e pressupõem o concurso de todos os outros domínios.

Texto literário Repositório essencial da memória de uma comunidade.

Inestimável património que deve ser conhecido e estudado.

Domínio decisivo na compreensão do texto complexo e na aquisição da linguagem conceptual.

Permite o estudo da rede de relações (semânticas, poéticas e simbólicas), da riqueza conceptual e formal, da estrutura, do estilo, do vocabulário e dos objetivos que definem um texto complexo.

Organização diacrónica dos conteúdos: reconhecimento da historicidade dos textos, o que pressupõe a sua contextualização, e não deverá traduzir-se em leituras meramente reprodutivas ou destituídas de sentido crítico.

Desafios

‒ Terá de ser feita uma adequada contextualização das obras, pela pertinência do contexto para a sua compreensão, sem se incorrer, contudo, em excessos.

‒ Dever-se-á promover a aquisição de vocabulário técnico específico dos

estudos literários sem, no entanto, ter a pretensão de transformar o aluno num experto, mas sim provê-lo daquilo que é essencial para a compreensão dos textos, permitindo-lhe a sua fruição, e, mais importante, para a reflexão acerca da leitura efetuada.

O aluno deverá ser capaz de mobilizar os conhecimentos adquiridos e encontrar, muitas das vezes, um paralelo com o mundo atual, tomando consciência da importância do texto literário enquanto testemunho, não só de uma época histórica específica, mas também do comportamento do ser humano enquanto ser social.

«[…] estudar literatura significa, acima de qualquer teoria, lei, regulamento ou doutrina, estar disponível para gostar de literatura como porta de acesso a um conhecimento do mundo que não tem de ser dado por via instrucional ou por voz alheia.»

«Por isso é possível aprender a ser melhor líder, a ser melhor gestor, a ser

melhor em qualquer profissão que envolva troca de conhecimento, comunicação interpessoal e vivência colectiva se conhecermos os melhores exemplos da literatura e com eles assimilarmos valores de que provavelmente não tínhamos total percepção; é possível ser mais bem-sucedido no mundo dos negócios se alargarmos os nossos horizontes de relação com os outros através de cenários ficcionais onde todas as situações já estão experimentadas; é possível fazer melhor marketing se conhecermos técnicas de persuasão ilustradas na literatura de todos os tempos; é possível sermos mais perspicazes na vida política se conhecermos os jogos de poder e as variações de autoridade profusamente documentados na melhor literatura universal.»

Carlos Ceia, Profissão: professor de literatura, ENTRELETRAS, jan./jul. 2012

«[...] é na literatura e na sua matéria ficcional e artística que a língua mais amplamente revela a sua capacidade de construir universos onde estão representados os valores, os comportamentos sociais e as mais diversificadas realidades humanas. Conhecer os textos maiores de uma época é, pois, o mais eficaz veículo de acesso às formas de viver e pensar dessa época e pode constituir-se, também, como a melhor forma de perspetivar comparativamente o nosso tempo e os nossos valores, lendo-os em função da tradição e do legado que a literatura preserva.

A formação de cidadãos de hoje não poderá nunca prescindir dessa memória, dessa coleção de exemplos orientadores da vida e do pensamento das novas gerações. E, no tratamento didático desse património de experiência humana, a atenção de professores e alunos ao contexto de produção e receção das obras garantirá uma visão mais sólida da relação existente entre cada texto e a realidade do seu tempo, para que, na descoberta das grandes alterações que a vida em sociedade tem conhecido, o aluno sinta a literatura como lente de aumento de tudo o que é especificamente humano e possa, através dela, formular os seus juízos sobre a História e rodear-se de instrumentos orientadores para um exercício livre e autónomo da sua cidadania.»

José Augusto Cardoso Bernardes e Rui Afonso Mateus, Literatura e Ensino de Português,

Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013, pp. 82-83

GRAMÁTICA

Objetivo 8. Desenvolver a consciência linguística e metalinguística, mobilizando-a para melhores desempenhos no uso da língua.

Conteúdos

10.º Ano

1. O português: génese, variação e mudança Principais etapas da formação e da evolução do português Fonética e fonologia: processos fonológicos Etimologia Geografia do português no mundo

2. Sintaxe Funções sintáticas A frase complexa: coordenação e subordinação

3. Lexicologia Arcaísmos e neologismos. Campo lexical e campo semântico Processos irregulares de formação de palavras

11.º Ano

1. Retoma (em revisão) dos conteúdos estudados no 10.º ano

2. Discurso, pragmática e linguística textual

Texto e textualidade: a) coerência textual b) coesão textual Reprodução do discurso no discurso

Dêixis: pessoal, temporal e espacial.

12.º Ano

1. Retoma (em revisão) dos conteúdos estudados no 10.º e no 11.º anos

2. Linguística textual

Texto e textualidade: a) organização de

sequências textuais b) Intertextualidade

3. Semântica Valor temporal Valor aspetual Valor modal

Dos géneros à gramática Sistematização gramatical

necessidade de trabalho especificamente orientado para esse fim (isto é, diretamente centrado sobre aspetos da estrutura e do funcionamento da língua).

Oralidade, leitura, escrita e educação literária

podem ser ocasião de aprofundamento ou de consolidação de conteúdos gramaticais desde que estes não sejam preferencialmente tratados a propósito da ocorrência em textos.

O trabalho com géneros de texto – em termos de oralidade / de leitura / de

escrita / de educação literária – não poderá dispensar o recurso (consciente) a questões de gramática (ou de conhecimento explícito da língua).

PROJETO DE LEITURA

Espaço privilegiado de diálogo intercultural.

Leitura, por ano, de uma ou duas obras de literaturas de língua portuguesa ou traduzidas para português, escolhida(s) da lista apresentada no Programa.

Formas de relacionamento com a Educação Literária: ‒ confronto com autores coetâneos dos estudados; ‒ seleção de obras que dialoguem com as analisadas; ‒ existência de temas comuns aos indicados no Programa.

Formas de relacionamento com o domínio da Leitura:

‒ proposta de obras que pertençam a alguns dos géneros a estudar nesse domínio (por exemplo, relatos de viagem, diários, memórias).

Articulação com a Oralidade e a Escrita:

realização de atividades inerentes a estes domínios.

O estudo do texto, literário ou não-literário, concentra-se em torno de operações cognitivas complexas, em contextos onde a estruturação do

pensamento e do discurso é prioritária.

Oralidade, Leitura, Escrita e Educação Literária são, assim, entendidas e valorizadas como formas de intervenção e socialização.

Final da apresentação