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Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto. Viegas Fernandes da Costa

Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto

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Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto. Professor Viegas Fernandes da Costa ppt da palestra proferida aos professores do SESI / Blumenau em 24/07/2014.

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Literaturas africanas contemporâneas: o texto

lendo o contexto.

Viegas Fernandes da Costa

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Dunas de Galinhos – Rio Grande do Norte

Johanesburgo – África do Sul

Residência na periferia de Fortaleza - Ceará

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Conferência de Berlim – 1884 (África Colonial)

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Independência dos países africanos

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Características Gerais

A África possui uma rica e variada literatura.

Sua literatura escrita esteve sempre em débito com a literatura oral, na qual se incluem os contos populares, cujos personagens mais famosos são a tartaruga, a lebre e a aranha, difundidos por todo o continente e também no Caribe, Estados Unidos e Brasil, como resultado do tráfico de escravos africanos (é o caso, por exemplo, do jabuti que aparece nas Histórias de Tia Nastáscia, escritas por Monteiro Lobato em 1937).

A primeira literatura escrita aparece no norte da África e apresenta fortes vínculos com as literaturas latina e árabe.

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A categorização de José Endoença Martins

ARIEL COLONIZADO

CALIBÃ NACIONALISTA

EXU CRIOULIZAÇÃO

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Fragmentos

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José Eduardo Agualusa nasceu em Angola (1960). Estudou Silvicultura e Agronomia em Lisboa. Seus livros estão traduzidos em 25 idiomas.Escreveu várias peças de teatro: "Geração W", "Aquela Mulher", "Chovem amores na Rua do Matador" e "A Caixa Preta", estas duas últimas juntamente com Mia Couto.Beneficiou de três bolsas de criação literária: a primeira, concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para escrever “Nação Crioula”, a segunda em 2000, concedida pela Fundação Oriente, que lhe permitiu visitar Goa durante 3 meses e na sequência da qual escreveu “Um estranho em Goa”, e a terceira em 2001, concedida pela instituição alemã Deutscher Akademischer Austauschdienst. Graças a esta bolsa viveu um ano em Berlim, e foi lá que escreveu “O Ano em que Zumbi tomou o Rio”. No início de 2009 a convite da Fundação Holandesa para a Literatura, passou dois meses em Amsterdam na Residência para Escritores, onde acabou de escrever o romance, “Barroco Tropical”.

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José Eduardo Agualusa. Estação das Chuvas. Lisboa: Dom Quixote, 1996.

Falas da personagem Lídia ao Narrador.

“... a poesia surgiu entre a juventude como o mais óbvio caminho de afirmação cultural: ‘tiravam-nos tudo, a dignidade, as terras, os homens. E no fim o próprio rosto. (...) Tiravam-nos todo o passado e nós olhávamos em volta e não éramos capazes de compreender o mundo. Então começamos a escrever poesia. A poesia era o destino irreparável, naquela época, para um estudante angolano. (...) Os jovens poetas tinham a consciência do seu papel messiânico. ‘Escrevíamos para a história’.”

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Sobre o calibanesco personagem Antoine Ninganessa:

“estava sempre a dizer que as pessoas deviam deixar de imitar os brancos e ninguém devia vestir calças ou camisas, ninguém devia comer em pratos de alumínio, ninguém podia utilizar papel higiênico. As vezes exaltava-se e gritava que era preciso fazer tudo ao contrário dos portugueses. E então ele dava o exemplo e começava a andar para trás, como um caranguejo, ou sentava-se numa cadeira com as pernas dobradas ao contrário e virava a cabeça para as costas e falava não pela boca mas pelo ânus”.

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José João Craveirinha nasceu em 1922 em Maputo, e faleceu em 2006. Iniciou a sua carreira como jornalista no "O Brado Africano", e colaborou com diversos órgãos de imprensa em Moçambique. Teve um papel importante na vida da Associação Africana a partir dos anos 50. Grande parte da sua poesia ainda se mantém dispersa na imprensa, não tendo sido incluída nos livros que publicou até à data. Outra parte permanece inédita. Esteve preso pela Pide, de 1965 a 1969, na célebre Cela 1. Tem muitas obras publicadas, sendo considerado um dos grandes poetas de África e da Língua Portuguesa.

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Depoimento autobiográfico, Janeiro de 1977:

"Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Pela parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai fiquei José. Aonde? Na Av. do Zichacha entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres. Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. A seguir fui nascendo à medida das circunstancias impostas pelos outros. Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: o seu irmão. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique. A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra. Nasci ainda mais uma vez no jornal "O Brado Africano". No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noemia de Sousa. Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso. Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por causa da minha mãe só resignação. Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta. Minha grande aventura: ser pai. Depois eu casado. Mas casado quando quis. E como quis. Escrever poemas, o meu refúgio, o meu país também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse país, muitas vezes altas horas da noite."

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José Craveirinha.

Grito Negro

Eu sou carvão!E tu arrancas-me brutalmente do chãoe fazes-me tua mina, patrão.Eu sou carvão!E tu acendes-me, patrão,para te servir eternamente como força motriz mas eternamente não, patrão.Eu sou carvãoe tenho que arder sim;

queimar tudo com a força da minha combustão.

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Eu sou carvão;tenho que arder na exploração arder até às cinzas da maldição arder vivo como alcatrão, meu irmão, até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.Tenho que arderQueimar tudo com o fogo da minha combustão.Sim!Eu sou o teu carvão, patrão.

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Mia Couto nasceu em 1955, na Beira, Moçambique. É biólogo, jornalista e autor de mais de trinta livros, entre prosa e poesia. Seu romanceTerra sonâmbula é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Recebeu uma série de prêmios literários e, em 2013, foi vencedor do Prêmio Camões, o mais prestigioso da língua portuguesa. É membro correspondente da Academia Brasileira de Letras.

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Mia Couto. Venenos de Deus, remédios do Diabo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Trecho de uma conversa entre o arielista Bartolomeu Sozinho e Sidónio:

“ – A propósito da língua, sabe uma coisa, Doutor Sidonho? Eu já estou a desmulatar.E exibe a língua, olhos cerrados, boca escancarada. (...) a mucosa está coberta de fungos, formando uma placa esbranquiçada.– Quais fungos? – reage Bartolomeu. Eu estou é a ficar branco de língua, deve ser porque só falo português (...)” (p. 110-111).

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Paulina Chiziane nasceu em 1955 e cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo. Nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica. Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso.Participou da cena política de Moçambique como membro da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), na qual militou durante a juventude. A escritora declarou, numa entrevista, ter apreendido a arte da militância na Frelimo. Deixou de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicação das suas obras. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com as diretivas políticas do partido Frelimo pós-independência e em relação à falta de liberdade econômica da mulher.Iniciou a sua atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance.

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Paulina Chiziane. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Cia das Letras, 2004.

“Desperto na vã esperança de receber uma mão cheia de carinho, mas o sol deixou-me e partiu. O meu amor é fugidio como a sombra do sol. Sou uma mulher derrotada, tenho as asas quebradas. Derrotada? Não, nunca combati. Depus as armas muito antes de as empunhar, sempre me entreguei nas mãos da vida. Do destino. Nunca mexi nenhum dedo para que as coisas corressem de acordo com os meus desejos. Mas será que algum dia tive desejos?

A minha vida é um rio morto. No meu rio as águas pararam no tempo e aguardam que o destino traga a força do vento. No meu rio, os antepassados não dançam batuque nas noites de lua. Sou um rio sem alma, não sei se a perdi e nem sei se alguma vez tive uma. Sou um ser perdido, encerrado na solidão mortal.

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Meu Deus, ajuda-me a descobrir a alma e a força do meu rio. Para fazer a água correr, os moinhos girar, a natureza vibrar. Para trazer ao meu leito a luz de todas as estrelas do firmamento e deixar o arco-íris mergulhar-me em toda a sua imensidão.

Sou um rio. Os rios contornam todos os obstáculos. Quero libertar a raiva de todos os anos de silêncio. Quero explodir com o vento e trazer de volta o fogo para o meu leito, hoje quero existir.”

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John Maxwell Coetzee nasceu na Cidade do Cabo em 1940. Estudou na sua cidade natal até completar dois bacharelatos, um em língua inglesa e outro em matemática. Os anos 1962/65 foram passados na Inglaterra, trabalhando como programador de computadores.Em 1968 Coetzee completou o seu doutoramento em linguística das línguas germânicas na Universidade do Texas, em Austin, com uma tese sobre os primeiros trabalhos de Samuel Beckett. Em 2002 emigrou para a Austrália e ensina na Universidade de Adelaide.A sua carreira literária no campo da ficção começou em 1969, mas o seu primeiro livro, Dusklands, só foi publicado na África do Sul em 1974. Recebeu vários prêmios e foi o primeiro a receber o Booker Prize por duas vezes: primeiro por Life & Times of Michael K em 1983 e por Disgrace, em 1999. Em 2003 recebeu o Nobel de Literatura.

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J. M. COETZEE. À Espera dos Bárbaros. São Paulo: Best Seller, 1980.

Há uma época do ano, sabe, em que os nômades nos visitam para comerciar. Pois bem: visite o mercado então e verifique quem costuma ser roubado no peso das mercadorias, quem costuma ser enganado e maltratado, quem sofre ameaças. Verifique quem é obrigado a deixar suas mulheres no campo, por temor a que sejam insultadas pelos soldados. Veja quem são os bêbados jogados nas sarjetas, e veja quem os trata a pontapés. Contra esse desprezo pelos bárbaros, esse desprezo que é capaz o mais humilde estalajadeiro, o mais pobre camponês, é que me venho debatendo, como juiz, há vinte anos. Como erradicar os conflitos, particularmente se se trata de conflitos fundados em nada mais substancial que a diferença de comportamento à mesa ou a forma particular de suas pálpebras?

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Depois dos pés, começo a lhe lavar as pernas. Para tanto, ela tem de ficar de pé na bacia, apoiando-se em meu ombro. De alto a baixo, corro as mãos por suas pernas, do tornozelo até os joelhos, atrás e na frente, apertando-as, acariciando-as, modelando-as. São curtas e robustas, a barriga da perna é forte

Quanto a mim, ante seus olhos cegos, no íntimo calor do quarto, posso me despir sem embaraço, desnudando minhas pernas finas, meu sexo flácido, minha barriga, meu débil peito de velho, a pele avermelhada de minha garganta.