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AS CIDADES E A TÁCTICA DO QUADRADO blogue Amigos d'Avenida (http://amigosdavenida.blogs.sapo.pt/ ) A táctica do quadrado, idealizada por D. Nuno Alvares Pereira e posta em prática na Batalha de Aljubarrota (1385), é um interessante exemplo de como um exército de muito menor capacidade pode vencer um opositor mais poderoso e com maior número de efectivos e recursos. A táctica implicou várias questões críticas: o exército uniu-se em torno de um valor colectivo (“a defesa do território e da independência face a Castela”); foi conduzido por uma forte liderança (D. Nuno Alvares Pereira) que seleccionou e preparou, tão bem quanto possível, o espaço físico onde se iria dar a batalha (um terreno com encostas de acentuado declive, o que obrigava o inimigo a afunilar o ataque; armadilhado com fossos – “covas do lobo”- mais de 1.000 feitos em menos de três horas, disfarçados com folhas) e organizou tacticamente de forma brilhante os seus parcos recursos humanos (no famoso quadrado, com uma vanguarda apeada que criava ao inimigo uma ilusória noção de vantagem – os cavaleiros castelhanos, com fortes armaduras, tornaram-se um alvo fácil quando perdiam os seus cavalos nas “covas do lobo”; protegidos pelas alas e rectaguarda onde se dispunham os besteiros e arqueiros que lançavam violentos ataques com flechas e pedras; as alas, localizadas em terrenos mais salientes, relativamente à linha da frente, cruzavam o tiro sobre a vanguarda avançada) 1 e 2 . Hoje em dia, as cidades (e, em particular, as portuguesas) também lutam em batalhas com armas desiguais. As nossas cidades devem, por isso, seguir o exemplo da Batalha de Aljubarrota e saber encontrar os projectos colectivos (“o porquê e o para quê") que sejam verdadeiramente mobilizadores do povo - da comunidade ("com quem"), devendo ser muito selectivas na escolha das suas armas (“fazer o quê”), do seu campo de batalha (“onde”) e da táctica mais adequada (“como e quando”). José Carlos Mota ([email protected] ) PS. Recomendo vivamente visita à Fundação Aljubarrota (http://www.fundacao- aljubarrota.pt/ )

As cidades e a táctica do quadrado

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Page 1: As cidades e a táctica do quadrado

A S C I D A D E S E A T Á C T I C A D O Q U A D R A D O blogue Amigos d'Avenida (http://amigosdavenida.blogs.sapo.pt/)

A táctica do quadrado, idealizada por D. Nuno Alvares Pereira e posta em prática na Batalha de Aljubarrota (1385), é um interessante exemplo de como um exército de muito menor capacidade pode vencer um opositor mais poderoso e com maior número de efectivos e recursos.

A táctica implicou várias questões críticas: o exército uniu-se em torno de um valor colectivo (“a defesa do território e da independência face a Castela”); foi conduzido por uma forte liderança (D. Nuno Alvares Pereira) que seleccionou e preparou, tão bem quanto possível, o espaço físico onde se iria dar a batalha (um terreno com encostas de acentuado declive, o que obrigava o inimigo a afunilar o ataque; armadilhado com fossos – “covas do lobo”- mais de 1.000 feitos em menos de três horas, disfarçados com folhas) e organizou tacticamente de forma brilhante os seus parcos recursos humanos (no famoso quadrado, com uma vanguarda apeada que criava ao inimigo uma ilusória noção de vantagem – os cavaleiros castelhanos, com fortes armaduras, tornaram-se um alvo fácil quando perdiam os seus cavalos nas “covas do lobo”; protegidos pelas alas e rectaguarda onde se dispunham os besteiros e arqueiros que lançavam violentos ataques com flechas e pedras; as alas, localizadas em terrenos mais salientes, relativamente à linha da frente, cruzavam o tiro sobre a vanguarda avançada) 1 e 2.

Hoje em dia, as cidades (e, em particular, as portuguesas) também lutam em batalhas com armas desiguais. As nossas cidades devem, por isso, seguir o exemplo da Batalha de Aljubarrota e saber encontrar os projectos colectivos (“o porquê e o para quê") que sejam verdadeiramente mobilizadores do povo - da comunidade ("com quem"), devendo ser muito selectivas na escolha das suas armas (“fazer o quê”), do seu campo de batalha (“onde”) e da táctica mais adequada (“como e quando”). José Carlos Mota

([email protected])

PS. Recomendo vivamente visita à Fundação Aljubarrota (http://www.fundacao-aljubarrota.pt/)