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Barbosa 2010

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Cleber BarbosaVolume 1

Análise Macroeconômica

2ª edição

Apoio:

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ELABORAÇÃO DE CONTEÚDOCleber Barbosa

COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Cristine Costa Barreto

DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISÃO Alexandre Rodrigues Alves

COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICODébora Barreiros

AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICOLetícia Calhau

Referências Bibliográfi cas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.

Copyright © 2006, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.

Material Didático

2010/1

B238aBarbosa, Cleber.

Análise macroeconômica. v. 1 / Cleber Barbosa. – 2. ed. - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.

158p.; 19 x 26,5 cm.

ISBN: 978-85-7648-422-3

1. Macroeconomia. 2. Sistema monetário. I. Título.

CDD: 339

EDITORATereza Queiroz

REVISÃO TIPOGRÁFICACristina FreixinhoDiana CastellaniElaine Bayma

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃOJorge Moura

PROGRAMAÇÃO VISUALAndréa Dias Fiães

ILUSTRAÇÃOSami Souza

CAPASami Souza

PRODUÇÃO GRÁFICAPatricia Seabra

Departamento de Produção

Fundação Cecierj / Consórcio CederjRua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001

Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725

PresidenteMasako Oya Masuda

Vice-presidenteMirian Crapez

Coordenação do Curso de AdministraçãoUFRRJ - Silvestre PradoUERJ - Aluízio Belisário

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Universidades Consorciadas

Governo do Estado do Rio de Janeiro

Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia

Governador

Alexandre Cardoso

Sérgio Cabral Filho

UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIROReitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho

UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Vieiralves

UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman

UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Motta Miranda

UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROReitor: Aloísio Teixeira

UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles

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Aula 1 – Conhecendo a Macroeconomia .................................................... 7

Aula 2 – Medindo as atividades econômicas ...........................................35

Aula 3 – O PIB e os componentes da demanda agregada ...................... 53

Aula 4 – Determinação da renda e da produção de equilíbrio .....................71

Aula 5 – Os investimentos e as taxas de juros .........................................97

Aula 6 – O sistema monetário ..................................................................113

Aula 7 – A demanda por moeda ...............................................................135

Referências............................................................................................155

Análise Macroeconômica Volume 1

SUMÁRIO

Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fi ctícios, assim como os nomes de empresas que não sejam explicitamente mencionados como factuais.Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam.

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Conhecendo a Macroeconomia

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

identificar as quatro variáveis que acompanham o estudo da Macroeconomia;

isolar as decorrências dessas variáveisna dinâmica de um sistema econômico;

articular duas ou mais variáveis a fim de solucionar problemas reais;

identificar problemas econômicos nacionais de interesse da Macroeconomia;

explicar o funcionamento de órgãos do governo, como o Banco Central.

1objetivos

AU

LA

Meta da aula

Apresentar as questões econômicas abordadas pelo campo da Macroeconomia através de quatro

conceitos-chave: o crescimento econômico; a inflação; as relações externas (dívida externa);

a distribuição de renda.

1

2

3

4

5

Pré-requisitos

Naturalmente, você se recorda do que estudou em Formação Econômica Brasileira. Pois os princípios abordados naquela matéria, vistos sob a ótica da escassez, que permeia o uso de todos os recursos

econômicos, vão ajudá-lo a entender o que será discutido nesta aula. Pronto para aprender?

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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

INTRODUÇÃO

Figura 1.1: Da tela de Albrecht Dürer, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a Guerra, a Fome, a Peste e a Morte. No estudo da Macroeconomia, a Inflação, a Recessão, o Endividamento Externo e a Desigualdade Social.

Ao iniciarmos o estudo de algum fenômeno ou teoria, precisamos, em primeiro

lugar, definir um ponto de partida. Provavelmente, você tem bastante claro

que a Economia trata do comportamento do mercado. No entanto, se

quiser se ocupar dessa reflexão por mais um momento, vai perceber que o

conhecimento macroeconômico parte de princípios gerais que se aplicam a

outros ramos do saber.

O que é a Economia?

O termo “economia” vem do grego, oikos = casa e nómos = distribuição,

administração.!!A Economia, grosso modo, é a arte de administrar a casa, o ambiente em que

vivemos. Repare que conhecer a origem do termo nos ajuda a compreender

nosso alvo de estudo como algo mais próximo, mais palpável. Ou você duvida

de que a ecologia, por exemplo, também tem algo a nos dizer sobre a maneira

como cuidamos de nossa casa, o planeta?

A Economia lida, como princípio, com a noção de escassez, que permeia todas

as atividades econômicas. Por escassez queremos dizer que não há recursos

disponíveis suficientes para suprir todas as nossas necessidades, sendo

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AU

LA 1necessário, portanto, que saibamos priorizar objetivos e lidar com todas as

variáveis envolvidas no processo.

Ainda sobre a origem dos termos, pense: será que economia e ecologia têm

algo a oferecer uma à outra?

Economia ou sistema econômico?

Lembre-se: ao longo da aula, você vai conviver com um uso convencionado para o

termo “economia”. Compreenda que, ao utilizar esse conceito, estamos nos referindo a um sistema econômico – ou ao conjunto de atividades, de bens e de serviços que

movem uma economia. Essas atividades são exercidas pelas empresas e pelo governo, e envolvem todos

os indivíduos (consumidores e produtores) concentrados em uma determinada região

(um país, um estado, uma cidade).

!!O QUE É A MACROECONOMIA?

Em termos gerais, a Macroeconomia representa o estudo das

grandes variáveis econômicas. Mais precisamente, das variáveis

econômicas agregadas.

Observe: o termo “agregada” vem do verbo “agregar”, que

significar somar, reunir. Assim, as variáveis econômicas agregadas são

a soma dos valores de cada um dos elementos que contribuem para a

formação de um panorama.

Por exemplo: tomemos um gênero alimentício como o arroz. No

mercado, o arroz tem seu preço, que varia conforme a dinâmica de todo

o sistema. Quando estudamos a Macroeconomia, no entanto, não nos

concentramos apenas no nível de preços do arroz. Estudamos como cada

fator envolvido no sistema econômico afeta o nível de preços do arroz,

do feijão, da carne, dos ovos. Ao longo desta aula, você será capaz de

perceber que os preços – ou o nível de preços de um país – podem variar

como um todo. Dessa forma, podemos considerar a variável agregada

“preço” como um fator homogêneo.

A Macroeconomia pode ser entendida segundo quatro variáveis

agregadas: o nível de preços, o nível de emprego, a taxa de câmbio e

a taxa de juros. Esses elementos se relacionam de forma que um afete

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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

todos os outros. Como você verá mais adiante, as interações entre as

variáveis macro trazem grandes efeitos à economia.

Quatro importantes variáveis da macroeconomia

– nível de preços; – nível de emprego;

– taxa de câmbio; – taxa de juros.!!

MACROECONOMIA OU MICROECONOMIA?

A Macroeconomia consiste no estudo do comportamento da

economia como um todo, ou seja, de maneira agregada, interdependente.

A Microeconomia, por sua vez, concentra-se no comportamento dos

consumidores e das empresas, sempre sob a ótica desagregada ou

setorial.

A Macroeconomia estuda a inflação como problema nacional.

A Microeconomia se preocupa com os efeitos das variações de preços

sobre as empresas e os consumidores.

A Macroeconomia e a Microeconomia constituem a base da

teoria econômica.

O PREÇO

Definidos os conceitos de Economia, Macro-

economia e Microeconomia, vamos analisar, uma a uma,

cada variável econômica agregada. Para começarmos,

apresento a você, neste momento, um importante

conceito: o preço.

Na forma agregada, o preço representa a soma

de todos os preços de todas as empresas que operam

em um mesmo sistema econômico (ou em uma mesma

economia). Desse modo, encontra-se a variável agregada

preço, ou, simplesmente, o nível de preço.

Figura 1.2: O preço das ervilhas é determinado pelo lucro do feirante e pelo nível do preço da vagem em todo o mercado.

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LA 1

Figura 1.3: A inflação faz seu dinheiro perder o valor.

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Quanto custa hoje?

Ontem você saiu de casa com dois objetivos muito claros e bem distintos: comprar dez quilos de arroz para uma feijoada para a qual você vai contribuir e sondar o preço daquele automóvel importado que você sonha comprar. Ao passar por dois supermercados, você tem uma surpresa desagradável: o arroz está 10% mais caro. Ainda assim, você compra o arroz e parte em direção a uma revendedora da marca de automóveis que lhe interessa. Chegando à loja, você descobre que o preço do automóvel desejado subiu, embora as outras marcas nacionais tenham mantido seus preços.

Dito isso tudo, com base no que vimos sobre preços e inflação, discorra sobre os casos do arroz e dos carros. Em algum ou em ambos os casos pode-se concluir que há um processo inflacionário?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Atividade 11 4

Sobre a variável preço, vale notar que um dos efeitos de sua

dinâmica de alteração é a inflação.

A INFLAÇÃO

A inflação refere-se a um aumento no nível geral de preços. Opõe-se

à deflação, que se refere à diminuição do nível geral dos preços. Ambos

os conceitos são conseqüências da alteração do valor do dinheiro – da

moeda – e não do valor dos bens. Um exemplo: um quilo de feijão que,

na virada do mês, passe a custar 20% a mais em qualquer supermercado

onde se procure é uma referência de inflação, caso os outros produtos

tenham aumentado 20% em média.

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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

Resposta ComentadaNão há elementos suficientes para identificarmos com precisão se estamos diante de um

processo inflacionário. Se observarmos uma grande quantidade e variedade de produtos

poderíamos suspeitar que está havendo um aumento generalizado de preços. Quando o

aumento ocorre em um ou poucos dos produtos, o caso pode ser de aumento de preços

relativos. Isto é, alguns produtos ficaram mais caros em relação aos outros. Uma seca que

tenha atingido a plantação de arroz pode ter prejudicado a colheita do arroz repercutindo

para o mercado em elevação de preços. Isso não é inflação. Será se o aumento do preço

do arroz causar aumento do preço de um almoço no restaurante, que por sua vez causar

aumento no preço do táxi porque o taxista almoça naquele restaurante, e tal aumento no

táxi implicar aumento na obturação do dente posto que o dentista vai para o trabalho de

táxi e assim por diante.

O EMPREGO

Uma economia, como um automóvel, precisa de combustível para

funcionar. Se tomarmos as empresas como o ambiente onde a economia

é impulsionada, vamos concluir que o trabalhador é um dos importantes

fatores que movimenta a economia. Vale então definir de forma clara o

conceito de emprego.

O emprego se refere às posições destinadas ao trabalhador – ou à

mão-de-obra – como fator de produção dentro de um sistema econômico.

Dentro de uma economia, o nível de emprego depende das expectativas

dos empresários em torno do que vão produzir (extensão do ambiente

empresarial, do número e do tamanho) das empresas que operam ali e

até da utilização de tecnologia que substitua o trabalho humano. A luta

por melhores colocações no mercado de trabalho e por níveis mais altos

de R E N D A permeia toda a história do sistema de produção capitalista.

RE N D A

Provavelmente você já ouviu falar em renda, embora talvez não consiga definir o conceito de forma clara. Pois a renda se refere aos ganhos provindos do trabalho. A renda depende também de inúmeras variáveis, desde a demanda do mercado por trabalhadores de um determinado setor até a oferta de trabalhadores disponíveis para determinada atividade. A desigualdade de renda dentro de uma economia é a base de nossa tão conhecida diferença de classes. Ao longo da História, teóricos dos mais diversos campos tentaram explicar e solucionar o problema da diferença de classes, provindo das diferentes funções que trabalhadores exercem dentro de um sistema econômico e dos diferentes níveis de renda que decorrem dessas atividades. Já houve os que defendessem uma igual remuneração para atividades bastante diferentes entre si, assim como houve os que entendessem o abismo que separa ricos e pobres como uma característica imutável do sistema produtivo. Essa é uma discussão em aberto, que vale ser travada com seus colegas, tutores e professores.

Figura 1.4: Sua renda é quanto seu trabalho paga.

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AU

LA 1

Figura 1.5: O uso do vapor na produção industrial foi o primeiro grande avanço tecnológico em direção às economias modernas.

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Onde quer que precisem de mim

Você é um metalúrgico. Seu país está vivendo um surto de industrialização, e o mercado pede cada vez mais metalúrgicos. No entanto, sua esposa, agrônoma, recebeu uma oferta de trabalho irrecusável em outro país, onde a economia é principalmente rural. Ali, o pequeno mercado ligado à metalurgia fez aparecer cursos práticos ligados à sua profissão. Há metalúrgicos trabalhando, mas há poucas oportunidades de emprego. Suponhamos que, nesse novo país, você acabe conseguindo na sua área um emprego bastante semelhante ao que você tinha no Brasil. O que deve acontecer com a sua renda nesse novo emprego, em seu novo país? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaProvavelmente sua renda vai cair. Se há muitos trabalhadores disponíveis para uma mesma

função e se há poucos postos de trabalho à disposição da categoria, provavelmente o empresário

pagará menos aos trabalhadores. Como sua renda provém do trabalho assalariado, é seu

valor no mercado que vai determinar seu nível de renda.

Atividade 21 2 3

CRESCIMENTO ECONÔMICO X RECESSÃO

O processo produtivo que se percebe dentro de uma economia é

algo dinâmico: certos períodos podem apresentar desempenho melhor ou

pior, em comparação a períodos anteriores. Daí perceba que, se sob um

primeiro olhar trabalhadores e empresários encontram-se em oposição,

é o desempenho da economia como um todo que vai determinar seus

ganhos e suas perdas. Períodos de alto desempenho para a produção, em

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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

princípio, beneficiam a todos e geram o que se chama de “crescimento

econômico”.

O crescimento econômico representa o aumento das atividades

econômicas de um país durante um período de tempo (normalmente um

ano). Muitas vezes é medido pelo produto interno bruto (PIB), conceito

que abordaremos em nossa segunda aula.

Por ora, guarde que o contrário de crescimento econômico é a

recessão. Em períodos de recessão, de um ano para o outro, ao invés

de produzir mais, o país apresenta níveis de produção e emprego

menores.

A TAXA DE CÂMBIO

Outra de nossas importantes variáveis econômicas agregadas é a

taxa de câmbio, ou o preço da moeda nacional em relação à estrangeira.

A taxa de câmbio expressa quanto se deve pagar em moeda nacional para

adquirir uma unidade monetária de outra moeda, ou seja, de quantos

reais precisamos para comprar um dólar, por exemplo.

Para cada moeda estrangeira haverá uma taxa de câmbio. Tudo

se passa como se a moeda estrangeira fosse uma mercadoria qualquer.

A desvalorização da taxa de câmbio significa que a moeda estrangeira

encareceu. A valorização do câmbio nos diz que a moeda estrangeira

está mais barata.

No Brasil, esse equilíbrio entre moedas é administrado pelo Banco

Central, em Brasília. Para entender a dinâmica do câmbio, podemos

partir de um exemplo bastante simples: imagine que você coleciona um

álbum de figurinhas. Você tem o álbum quase completo e tem na manga

uma figurinha premiada, a ser trocada por uma outra que lhe falta para

completar uma página. Mas então quanto vale aquela figurinha, no ato

de trocá-la por outra? Depende.

Figura 1.6: Em momentos de recessão, quem mais sofre com os baixos níveis de emprego são os jovens. Por quê?

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AU

LA 1

Entendendo a taxa de câmbio

Uma moeda fraca, desvalorizada, tem menor poder de compra, o que quer dizer que fica mais caro

importar. Se um real vale um dólar, uma máquina fotográfica de 900 dólares custa 900 reais. Mas se dois reais são iguais a um dólar, a mesma máquina de 900 dólares sai pelo dobro do preço para nós,

brasileiros: 1.800 reais.

Por outro lado, uma moeda forte, valorizada, estimula a importação, ao mesmo tempo que desestimula a exportação. Se um real vale dois dólares, por exemplo,

produtos brasileiros tendem a vender menos no exterior, já que quem trabalha em dólar precisa usar mais dinheiro para comprar um produto

fabricado aqui. Voltemos à máquina fotográfica: uma máquina brasileira custa 900 reais. Um real vale dois dólares. Logo, um

cidadão norte-americano que queira comprar uma máquina no Rio de Janeiro vai precisar pagar

900 reais, ou 1.800 dólares.

Depende de quantas figurinhas iguais àquela estão

circulando entre seus amigos. Pois é basicamente assim que o

Banco Central opera: se há muitos dólares circulando no país,

o preço do dólar cai. Todo mundo tem dólares, ninguém quer

comprar, então o valor do dólar vem abaixo. Pois se o Banco

Central deseja elevar o preço do dólar, tornando o real mais

barato, ele compra dólares no mercado e os soma à sua reserva.

O exato oposto acontece quando há poucos dólares no mercado

– o que equivale a dizer que o dólar está caro em relação ao

real. Neste caso, o Banco Central vende dólares de sua reserva

por valor mais baixo do que o praticado pelo mercado.

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Figura 1.7: O dólar, que era usado como moeda padrão nas negociações internacionais, vem perdendo terreno para o euro, a moeda da União Européia.

??CÂMBIO: O PREÇO DE SE NEGOCIAR EM OUTRA LÍNGUA

O valor e a aplicação de moedas estrangeiras em um país referem-se

às nossas relações comerciais com o resto do mundo. Para entendermos

melhor a função do câmbio, podemos nos reportar ao que aprendemos

sobre preços e à sua função clássica em qualquer transação econômica:

a de coordenar os papéis de compradores e vendedores e a de ajudar a

elaborar as decisões de consumidores e produtores.

O valor de uma moeda estrangeira então é seu preço. Pois se

estamos falando em comércio entre dois países, podemos presumir que

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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

cada país vai partir de sua própria moeda para

calcular se vale a pena ou não “fazer negócio”.

A atratividade de um país para o comércio

exterior, assim como o controle que se exerce sobre

o fluxo de entrada e saída de capitais, é determinado

pelo que se chama de balanço de pagamentos.

O balanço de pagamentos é o registro

sistemático de todas as transações econômicas

envolvendo um país e o resto do mundo (países

estrangeiros) durante determinado período.

As exportações, as importações e o pagamento

dos juros das dívidas contraídas no exterior são

alguns dos itens contabilizados no balanço de

pagamentos.

Tomemos um exemplo prático: se ao Brasil interessa ampliar a

venda de algodão ao exterior, por exemplo, e se o país encontra-se em

um momento em que as importações em geral superam as exportações,

vale a pena baixar o valor do real em relação ao dólar. Fazendo isso,

compradores estrangeiros precisarão de menor volume de suas moedas

para comprar um produto avaliado em reais. Se o valor do real está mais

baixo, fica mais barato comprar algodão brasileiro.

Figura 1.8: Imagine que uma balança em equilíbrio tem, de um lado, as importações e, de outro, as exportações.

Câmbio Fixo x Câmbio Flutuante

A administração da taxa de câmbio depende de uma postura muito definida por parte do governo: a de se instituir o chamado

“câmbio fixo”. Neste caso, o governo define um valor estável para a moeda, a partir do qual as operações vão ser realizadas. O contrário existe

e chama-se “câmbio flutuante”. Em regimes de câmbio flutuante, o valor da moeda

oscila segundo as tendências do mercado exterior.

!!

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AU

LA 1

O gargalo das exportações

Você é o presidente do Banco Central. Em seu gabinete, uma comitiva de grandes produtores brasileiros de soja o aguarda. Eles estão furiosos: suas exportações caíram quase 30% nos últimos meses. Todos eles defendem que é preciso mexer na taxa de câmbio. O dólar, no patamar em que se encontra, inviabiliza a compra da soja por países estrangeiros. O que você faria? Elevaria ou derrubaria o valor do dólar? E como você faria isso, vendendo ou comprando dólares do mercado?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada A soja ou qualquer outra mercadoria a ser exportada está submetida a uma comparação

entre duas moedas: a do exportador (aquele que vende para fora) e a do importador (aquele

que compra de fora). Se o comprador está pagando muito caro pela soja, é sinal de que sua

moeda está fraca em relação à do vendedor – ou do exportador (no caso, os produtores

brasileiros de soja). A partir daí, conclui-se que é preciso desvalorizar a moeda do exportador, em

relação à do importador. Derruba-se o real e valoriza-se o dólar. Assim fica mais fácil exportar.

Duro será convencer a comitiva de importadores de automóveis, que o aguarda no lobby do

banco, presidente. Já vimos também como se altera o valor de uma moeda: vendendo-a ou

comprando-a no mercado. No nosso caso, queremos que o dólar tenha seu valor aumentado.

Logo, precisamos retirar dólares do mercado. O que equivale a dizer que o Banco Central,

nesse caso, deve comprar dólares.

Atividade 31 2 3 4 5

A TAXA DE JUROS

Preço, emprego, taxa de câmbio. Uma quarta variável econômica

que está no centro de nossas preocupações desta aula é a taxa de juros,

ou, sob a ótica do consumidor, quanto o mercado embute no preço de

produtos e serviços em função de compras a crédito.

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Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

Já estudamos o conceito de inflação. Vimos que ele se refere

ao aumento da moeda circulante em um país, acompanhado de sua

conseqüente desvalorização. Pois a taxa de juros é uma das formas que

o mercado encontra para compensar perdas diante da inflação.

Quando você deposita uma parte de seu salário em uma caderneta

de poupança, sabe que aquela é uma aplicação segura e que rende sempre

alguma coisa, por mais modesto que seja esse rendimento. Pois esse

rendimento são os juros que você recebe do banco. Aqueles mesmos juros

dos quais você reclama quando compra alguma coisa a prazo ou quando

toma um empréstimo bancário. É que aí é você quem paga os juros.

Vimos então que uma elevação da taxa de juros prejudica as

pessoas que compram a prazo. Esses consumidores vão pagar mais

caro por seus financiamentos. Por outro lado, aqueles que aplicam seus

recursos no mercado financeiro ficarão muito contentes ao receber mais,

graças ao aumento dos juros.

Comprando devagar

Deu no jornal: os juros subiram mais de dez por cento. Absurdo. E você ainda precisa comprar um fogão novo, é urgente. Na caderneta de poupança, você tem três vezes o valor do fogão, embora tenha se planejado para não usar esse dinheiro. Sua idéia era pagar prestações a partir do seu salário, já que em poupança não se mexe. Mas e agora? Será que com os juros muito mais altos do que aqueles que você viu no mês passado continua valendo a pena comprar a prazo?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaEmbora seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança venha render o aumento dos juros,

nas compras a prazo implicará pagar muito mais por um determinado produto. Se você tem

o dinheiro para cobrir o preço do fogão, vale mais a pena comprar à vista e depositar na

poupança o que você havia planejado usar nas prestações.

Atividade 41 2 3 4

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AU

LA 1Mercado Financeiro e Especulação

No filme Rogue Trader (1999), do diretor inglês James Dearden, um operador da Bolsa de Valores do sudeste asiático joga de forma arriscada com tendências do mercado financeiro e acaba por causar a falência de um dos maiores bancos da Grã-Bretanha. A história é real e serve para ilustrar o funcionamento do mercado de ações.

A Economia em Desequilíbrio

Um bom exemplo do que acontece com uma economia em desequilíbrio está no documentário Roger & Me (1989), do diretor americano Michael Moore. No filme, uma cidade do interior dos Estados Unidos sente os piores efeitos de uma indústria especializada que fecha suas portas: desemprego, esvaziamento econômico, depreciação imobiliária; a economia local vem abaixo.

Sugestão: visite ao site http://www.imdb.com/title/tt0131566/]

AS VARIÁVEIS E SUAS DECORRÊNCIAS

Essas quatro variáveis agregadas das quais a Macroeconomia se

ocupa (guarde, vai ser útil: nível de preços, salários, taxa de câmbio, taxa

de juros) irradiam seus efeitos sobre grandes questões nacionais, como o

crescimento econômico do país, a inflação, o comércio exterior, representado

pelo balanço de pagamentos, e a distribuição de renda.

Hoje, uma das maiores preocupações nacionais ao redor do

mundo é a competição pelo ambiente industrial perfeito. No momento,

as Américas encontram-se negociando acordos multilaterais, dentre os

quais a Alca e o Nafta se destacam. A idéia, que segue a tendência atual

de que países se organizem em blocos, tenta regular as relações comerciais

e culturais entre os países da região, de modo que o crescimento e o

desenvolvimento econômicos sejam sentidos por todas as nações

envolvidas de forma relativamente eqüânime. A agilidade ou a lentidão

desse processo está submetida a uma enormidade de fatores, dentre os

quais e de forma prioritária os políticos.

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20 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

O caso mexicano

Acompanhe um caso: nos últimos anos, o México assumiu uma posição mais próxima da economia

americana, investindo nessa crença de que faria parte de um sistema econômico maior. Como as leis de defesa ambiental mexicanas

são mais flexíveis do que as americanas, e como a mão-de-obra mexicana é mais barata do que a empregada nos Estados Unidos, o México acabou se

tornando um belo ambiente para a instalação de indústrias dedicadas a finalizar produtos feitos nos Estados Unidos.

No México, essas indústrias receberam o nome de maquiladoras – ou “maquiadoras”, em bom português. As maquiladoras foram responsáveis pelo

aquecimento da economia mexicana durante um determinado período. No entanto, diante da eterna busca pelo melhor ambiente industrial, o México vem perdendo terreno para países emergentes como a China, onde a mão-de-obra é

ainda mais barata. O processo pode não ter fim. Enquanto isso, nos Estados Unidos, em áreas anteriormente dedicadas à produção industrial, já se

fala no surgimento de um Cinturão de Ferrugem (Rust Belt). Para saber mais sobre esse tema, digite “cinturão de ferrugem” ou

“rust belt” em um mecanismo de buscas da internet. Há artigos nos jornais O Estado de S. Paulo e

The Washington Post.

??Já está claro que a instalação de indústrias ou de qualquer outro

incremento a sistemas econômicos locais está subordinada a variados

fatores, desde regras de proteção ambiental até facilidade de transportes,

preço da mão-de-obra, proximidade dos mercados consumidores, clima.

Tudo influencia no desenvolvimento da economia. Então, ao ler jornais ou

assistir à TV, fique atento para perceber que um surto de desenvolvimento

local nunca acontece por acaso ou milagre.

Figura 1.9: Quando uma grande indústria fecha suas por-tas, não são só suas instalações que sentem os efeitos.

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LA 1AS VARIÁVEIS APLICADAS

A taxa de juros sobre o mercado

A taxa de juros, ou seja, aquilo que se paga de juros por

pegar dinheiro emprestado, afeta os investimentos dos empresários.

Acompanhe: se houver elevação da taxa de juros, os empresários que

precisarem recorrer aos bancos para conseguir dinheiro a fim de comprar

novas máquinas, por exemplo, vão verificar que está mais caro investir.

Logo, tendem a ficar desestimulados para tal. Ainda que eles tenham o

dinheiro, poderão perceber que aplicar no mercado financeiro, ou poupar,

em vez de investir na compra de máquinas, pode ser mais lucrativo.

Assim, a elevação dos juros inibe os investimentos em recursos

produtivos (aqueles destinados a aumentar a produção) e estimula a

poupança.

Muito bem: se os empresários investem menos, como conseqüência,

a produção deverá crescer menos. E como produção menor implica

menos emprego, percebemos como a taxa de juros pode afetar o nível

de emprego de uma economia. Leia isso de novo. Visualize.

Juros, para que te quero?

Atividade 5

2 3 4 5

Foi dado pelo Banco Central o sinal verde para

mais um aumento na taxa de juros. Diferente do que havia declarado há uma

semana o presidente do BC, Henrique Meirelles, a partir de amanhã o mercado opera com um aumento de 0,25 ponto percentual.

ECONOMIA

BC anuncia aumento de 0,25 ponto na taxa de juros

Page 24: Barbosa 2010

22 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

Tomando por base os dois fragmentos de notícia, reflita e responda: de que maneira uma elevação da taxa de juros, acompanhada das restrições para a exportação, pode influenciar no preço da geladeira e na sua idéia de comprar uma geladeira?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaSe os juros subiram, isso significa que o financiamento para as compras a prazo está mais caro.

Logo, quem pretendia comprar a prazo vê-se estimulado a poupar mais para se beneficiar dos

juros pagos pelo banco, até que possam comprar sua geladeira à vista. Ao mesmo tempo, se

o mercado dos produtores brasileiros de geladeiras na Argentina foi limitado, isso equivale a

dizer que a procura por geladeiras caiu, o que fará aumentar a oferta dela no Brasil. Se já há

um estoque formado, é possível que os produtores sejam obrigados a baixar os preços, a fim

de escoarem a produção. No meio disso, talvez você consiga até comprar a geladeira

à vista.

Em mais um capítulo da dura negociação comercial entre Brasil e Argentina, o presidente argentino Néstor Kirchner declarou ontem ser necessário frear o que classificou como uma “invasão brasileira”. O alvo da vez é o setor de eletrodomésticos, que tem na Argentina um de seus

principais compradores. A partir de segunda-feira, passam a vigorar naquele país taxas mais altas para a importação de refrigeradores brasileiros. Retornam hoje, pelo porto de Santos, dez cargueiros carregados de refrigeradores brasileiros que foram retidos na Argentina.

MUNDO

Argentina quer frear "invasão brasileira"

A RENDA E A QUESTÃO SALARIAL

Os salários são uma via de mão dupla: de um lado, representam a

fonte de renda da maior parte da população. De outro, uma importante

variável de custos para as empresas. Da mesma forma, um reajuste salarial

estimula o consumo, ao mesmo tempo que eleva os custos da empresa.

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C E D E R J 23

AU

LA 1Voltando ao caso do México e ao que explicamos sobre ambientes

industriais perfeitos, perceba que países como a China hoje representam

um bom espaço para montar uma indústria multinacional, inclusive

porque ali a mão-de-obra é muito mais barata do que nos países de

origem dessas empresas.

Mais adiante: já vimos que um aumento salarial eleva os custos de

produção. Agora perceba que esse aumento no custo pode ser repassado

para os preços. Se isso se repetir como um processo contínuo e geral (em

toda a economia), pode-se assistir ao início de um momento de inflação.

A inflação, como você já viu, refere-se ao aumento da moeda

circulante em um país. Então perceba: se você ganha mais e o empresário

repassa para os preços o novo custo que você gerou, tudo fica mais

caro. Se você ganha mais e tudo fica mais caro, o dinheiro vale menos.

Acompanhou?

Esse processo acaba retirando mais uma vez o poder aquisitivo dos

trabalhadores, que, novamente, vão reivindicar outros reajustes. No final

da bola de neve, pode se formar um círculo vicioso e inútil de “salários

versus preços”, tal qual um cão que tenta morder a própria cauda.

A discussão mais detalhada sobre esse aspecto é um dos grandes

temas da economia, mas não trataremos dele agora. O que nos interessa

saber, no momento, é que os salários são fonte de renda para as famílias

e custo para as empresas. Podem, em momentos de elevação, atrair

novos empregos e gerar mais consumo. Porém, ao mesmo tempo, causar

maiores custos e repasses aos preços.

Parabéns, você está um pouco mais rico. Este é seu contracheque. Dois salários mínimos.

Atividade 61 2 4

Page 26: Barbosa 2010

24 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

Esta é a geladeira dos seus sonhos:

Isso você leu hoje no jornal:

E agora? O que deve acontecer com o preço da sua geladeira Brasfreezer? Justifique sua resposta.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaProvavelmente, o preço da sua geladeira vai subir junto com seu salário. Você é o consumidor

do produto que ajuda a fabricar. Se o patrão precisa aumentar seu salário, ele vai passar por

uma elevação em seus custos, o que precisa ser compensado de alguma forma. Logo, a

menos que seu patrão esteja disposto a ver seu lucro diminuir, ele irá repassar o aumento

do custo salarial para o preço da geladeira. Portanto, se de um lado você está ganhando

mais, porém os preços das coisas estão mais elevados, é possível que seu poder

de compra fique como antes.

ECONOMIA

Novo salário mínimo é de 350 reais

Em pronunciamento em rede nacional de TV, o Presidente

Luis Inácio Lula da Silva anunciou, na noite de

ontem, um novo patamar para o salário mínimo. A partir desta segunda-feira, o mínimo passa a 350 reais, nível mais alto desde...

Page 27: Barbosa 2010

C E D E R J 25

AU

LA 1

Maior remuneração e menor inflação?

Talvez você esteja se perguntando se é possível que, em algum caso, um aumento na remuneração não

seja inflacionário.

A resposta é: claro que sim.Pense em um trabalhador produzindo, por dia, mil mercadorias que, vendidas, valem R$ 1.500,00 (desconsidere qualquer outro custo de

produção que não seja o do trabalho).

Se sua produtividade – ou quanto o trabalhador produz em média a cada período de trabalho – for dobrada (duas mil mercadorias por dia), o trabalhador

pode receber um aumento de renda de até 100%, e tal aumento não será inflacionário. Isto porque ele está reivindicando para si apenas o acréscimo de lucro

que sua produtividade gerou.

Você está ganhando em cima de um crescimento econômico que gerou com seu trabalho.

Moral da história: os aumentos de remuneração em função da produtividade não representam aumento de custos. Portanto, não são inflacionários.

!!

A TAXA DE CÂMBIO E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

A taxa de câmbio (ou o valor, o preço da moeda nacional em

relação ao da estrangeira) afeta o nível de preços e as exportações. Veja

que quando o preço do dólar aumenta (nosso câmbio desvalorizado),

comprar um produto importado no supermercado fica mais caro.

Exemplo: suponha que a taxa de câmbio esteja assim: 1 dólar =

1 real (U$ 1: R$ 1). Daí, um uísque importado ao preço de um dólar

valerá, no supermercado, exatamente um real (desconsidere o lucro do

supermercado e outros itens de custos). A partir daí, se houver uma

desvalorização do real de forma a cotar 1 dólar = 2 reais, então você

pagará 2 reais para adquirir o mesmo uísque. Como os preços dos

importados aumentam, é de se esperar que aqui se comprem menos

importados. Assim, diminuem as importações.

Page 28: Barbosa 2010

26 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

Agora, se a taxa fosse 2 dólares = 1 real (valorização

cambial de nossa moeda), o uísque estaria custando 50

centavos de real. Seria um produto importado mais barato

do que o similar nacional, o que nos estimularia a comprá-lo,

em detrimento daquele genérico brasileiro.

Mas veja, a desvalorização do câmbio é um dos fatores

que podem afetar a inflação.

Eis um caso: o trigo é um insumo importado para a

produção do pão, uma matéria-prima. Se houver desva-

lorização da moeda nacional, o preço do trigo importado

aumenta, e, por conta disso, poderá haver o repasse desse

aumento para os preços na padaria.

Em geral, com a desvalorização, todas as matérias-

primas importadas sofrerão aumento de preços, com repasses

para os preços dos produtos manufaturados, finalizados.

Leo

nar

do

No

vaes

Figura 1.10: O trigo que seca nos campos não vira pão, vira aumento de preço.

O salário é “imexível”

Você trabalha no Banco Central. O presidente, em reunião ministerial, anuncia sua intenção de reduzir a inflação. Só que ele não aceita instituir mecanismos de redução salarial, tampouco admite aumento nas taxas de juros. Através da taxa de câmbio, o que você pode sugerir? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaAo vender dólares no mercado e ao valorizar a taxa de câmbio, o real subirá na cotação em

relação ao dólar. Assim, tudo o que se compra em dólares precisará de menos reais na hora

da conversão de uma moeda à outra (a taxa de conversão é a taxa de câmbio), ou seja: os

produtos importados, as passagens aéreas ao exterior, as compras que se fazem quando se

está em outros países etc. estarão mais baratos. Nos efeitos sobre a inflação, pode-se afirmar:

ela deverá diminuir. Os produtos importados que servem como matéria-prima ou como insumo

à produção estarão mais baratos. Isto implica dizer que os custos com as compras de bens

importados estarão menores, o que possibilita queda nos preços. Conclusão: a valorização

cambial tem um efeito antiinflacionário, posto que os custos com matérias-primas e insumos

importados diminuem. Pode-se, portanto, repassar essa diminuição de custos aos preços,

ocasionando a redução da inflação.

Atividade 73 4 5

Page 29: Barbosa 2010

C E D E R J 27

AU

LA 1O nível de preços e seu bolso vazio

São vários são os efeitos da elevação de

preços. Por ora, vamos citar a redução do poder

de compra dos salários e a conseqüente queda na

demanda agregada (a demanda total da população

por um determinado item), ou seja: a redução dos

níveis de compra.

OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE

Recessão. Inflação. Dívida externa alta. Níveis complexos de

concentração de renda. Ao falar desses problemas, você se recorda

de algum país que esteja passando – ou que tenha passado – por tais

situações?

Se pensou no Brasil, meus parabéns: você está atento ao que

acontece ao seu redor. Ainda assim, posso dizer: dos cerca de 200

países existentes no planeta, a ampla maioria enfrenta ou já enfrentou

tais desafios. Vale também dizer que todos esses precisam da análise

macroeconômica para ajudá-los a solucionar os problemas de baixo

crescimento econômico, desemprego, dívidas externas e má distribuição

de renda.

A recém-criada União Européia, por exemplo, está reorganizando

os fluxos produtivos e populacionais do Velho Mundo. Cidades como

Frankfurt, na Alemanha, têm suas ruas próximas às estações de trem

tomadas por imigrantes do Leste europeu, que, liberados pelo fim da

barreiras impostas pela extinta União Soviética, acorrem à Europa

Ocidental em busca de oportunidades melhores de emprego. Muitos

deles começam a formar uma nova população de desabrigados e

desempregados (ver tabela).

Tess

Figura 1.11: Se o nível de preços da economia sobe, os efeitos são sentidos nos mercados e em sua geladeira.

Page 30: Barbosa 2010

28 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

Países da União Européia (EUR 15)

Taxas de desemprego e distribuição do emprego

Total pelos setores de agricultura, indústria e serviços – 1993

Tabela 1.1: Taxas de desemprego e de emprego por setores dos quinze países que integram a União Européia

País Taxa de Desemprego (%)

Emprego na Agricultura (%)

Emprego na Indústria (%)

Emprego nos Serviços(%)

Bélgica 9,4 2,9 30,9 66,2

Dinamarca 10,3 5,2 27,4 67,4

Alemanha 7,2 3,7 39,1 57,2

Grécia 7,7 21,9 25,4 52,8

Espanha 21,8 10,1 32,7 57,2

França 10,8 5,9 29,6 64,5

Irlanda 18,4 13,8 28,9 57,1

Itália 11,1 7,9 33,2 59,0

Luxemburgo 2,6 3,1 29,6 67,3

Holanda 8,8 3,9 25,2 70,9

Áustria 3,6 7,1 35,6 57,4

Portugal 5,1 11,5 32,6 56,0

Finlândia 17,9 8,6 27,8 63,5

Suécia 8,1 3,2 26,6 70,1

Reino Unido 10,4 2,2 30,2 67,5

Fonte: Eurostat/IPEA.

O Brasil já se consagrou campeão mundial de futebol, vôlei e

boxe, não é mesmo? Mas é também medalhista em outros esportes: já foi campeão em maior inflação, maior taxa de juros, menor salário

mínimo, maior concentração de renda...!!TRADE-OFF: OS PÉS OU A CABEÇA?

Você já ouviu falar do problema do “cobertor curto”? Numa

noite de inverno, ao dormir com um desses ingratos elementos

macroeconômicos, você passa por um difícil e nunca satisfatório dilema:

Page 31: Barbosa 2010

C E D E R J 29

AU

LA 1ou bem cobre a cabeça, deixando os pés ao frio, ou faz o contrário.

Isto significa que não há solução ótima. Pois na Macroeconomia isso

também ocorre.

O trade-off é uma expressão inglesa que, em economia, representa

uma situação-dilema (ou um conflito de decisão), em que uma ação em

proveito de alguma coisa dificulta uma outra.

Você poderia pensar: basta que os economistas tomem medidas

para baixar a inflação, estimular a iniciativa privada (nossos empresários),

aumentar a produção e o emprego, elevar as exportações para adquirir

dólares para saldar a dívida externa e distribuir a renda. O caso é que,

infelizmente, há algo que complica um pouco essa história: é o chamado

trade-off, que ocorre na hora de procurar resolver tais problemas

econômicos.

Creio que já reunimos os elementos básicos para entender um

pouco da complexidade que envolve os problemas macroeconômicos.

Pois se um país tem como metas diminuir a inflação, o desemprego, a

dívida externa e melhorar a distribuição da renda, o que se deve fazer?

Se utilizarmos as variáveis juros, câmbio, preços e salários,

podemos até amenizar um desses problemas. No entanto, fatalmente a

gravidade de algum dos outros irá se aprofundar. Como assim?

Suponha que a política econômica de um país seja a de elevar a taxa

de crescimento econômico. Ao diminuir a taxa de juros, os empresários

irão investir mais, aumentando o emprego e a produção. Isso é positivo,

mas outras coisas não tão positivas também podem ocorrer: taxas de

juros mais baixas aumentam o consumo, o que estimula os empresários

a aumentar os preços. Esta última relação será tanto mais forte quanto

mais intenso for o crescimento da demanda pelos produtos e serviços.

Quando os empresários produzem mais, além de contratar mais

pessoas, eles também compram mais insumos importados. Desse modo,

gastam dólares que poderiam ser utilizados para pagar a dívida externa.

Tudo isso pode acontecer em maior ou menor grau de intensidade.

Tudo depende de em que nível esteja o desenvolvimento do país em

questão ou sua situação econômica.

Se o objetivo do país for baixar a inflação, então é preciso conter

o nível salarial da população, para que não haja pressão de custos sobre

os preços. Parece um pouco chocante, mas lembre-se de que, para a

empresa, salário é custo.

Page 32: Barbosa 2010

30 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

A diminuição da margem de lucro dos empresários também

contribui para reduzir a inflação. Essa diminuição pode ser feita com um

volume maior de importações, já que isso impõe uma maior concorrência

às empresas nacionais. Ao mesmo tempo, fazer isso é desestimular o

crescimento econômico local.

Outra séria conseqüência de uma redução no nível salarial é

o aumento da concentração da renda da população, problema que

conhecemos bem.

Em suma, temos aí o trade-off do “cobertor curto”: ao se resolver

um problema, quase sempre acentua-se algum outro. É preciso priorizar

o que se quer: primeiro combater a inflação e depois fazer o país crescer?

Ou o contrário?

Essa é uma discussão que permeia todos os momentos políticos

dos países, e normalmente é solucionada nesse mesmo ambiente político.

Vale notar que, até pela natureza do “cobertor curto”, não há solução

puramente técnica para os impasses de que trata a Macroeconomia.

CONCLUSÃO

Crescimento ou desenvolvimento?

Trecho retirado da edição 236 (25/11/02) da revista Época:

“Provocado a comparar suas idéias com as do ministro preferido dos militares, Delfim Netto, e as do ex-minstro Pedro Malan, o atual ministro

da Fazenda Antonio Palocci faz uma didática culinária. ‘Nem acreditamos que primeiro é preciso crescer o bolo para depois repartir (tese dos anos verde-oliva), nem que o bolo se divide sozinho (tese de Malan). Vamos dividir o

bolo durante o crescimento.’ Em outras palavras: Palocci pode até usar o idioma de Malan e receber elogios de Delfim, mas

promete ser diferente.”

??Figura 1.12: Em Economia, há sempre um pé que fica de fora. A grande questão é decidir qual deles.

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Page 33: Barbosa 2010

C E D E R J 31

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LA 1

Quatro problemas (macro) econômicos nacionais

– inflação; – crescimento econômico baixo;

– dívida externa alta; – má distribuição de renda.

!!A Macroeconomia trata as questões econômicas de maneira

agregada. Estas são inter-relacionadas e constituem um desafio à política

econômica. Muitas vezes, ao se tentar resolver um problema macro,

um outro pode surgir. Muitas vezes, esse dilema é posto de maneira

a exigir uma escala de prioridades, já que não se consegue resolvê-los

simultaneamente.

Ao final desta aula, tendo visto os temas ligados à Macroeconomia

e compreendido alguns dos processos de interação entre as variáveis

macroeconômicas, eis algumas colocações no mercado de trabalho a

serem ocupadas por economistas:

• no Ministério da Fazenda, assessorando o ministro em questões

nacionais;

• em empresas multinacionais, onde tenha a função de estudar o

comportamento econômico das empresas concorrentes;

• no mercado financeiro, pois ali terá que verificar quais títulos

financeiros darão maior rentabilidade com o menor risco;

• em bancos comerciais (ex.: Banco do Brasil), uma vez que

sua tarefa diária será estimar o volume de recursos que podem ser

emprestados aos setores público e privado;

• no setor imobiliário, no departamento de lançamentos de prédios

de luxo.

Cada um desses itens, em maior ou menor intensidade, pode

representar algo que utilize o conhecimento macro adquirido.

Page 34: Barbosa 2010

32 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia

(...) os indicadores da atividade mostram que a economia brasileira,

com variação de mais de 5% do PIB em 2004, vive auspicioso momento

expansionista que induz a maior investimento, maior emprego e maior

consumo. Isso é tudo o que um governante torce para ter e o que toda

sociedade almeja, desde que não implique na [sic] volta da espiral

inflacionária (jornal Valor Econômico, editorial, p. A14; 18/12/05).

Com o que você estudou nesta aula e munido das informações contidas no texto,

explique o porquê do risco da espiral inflacionária.

Resposta ComentadaA citada variação de mais de 5% do PIB significa a magnitude do crescimento econômico do Brasil

em 2004. Como sabemos, quando a economia cresce, os empresários vendem mais e fazem mais

investimentos. Claro que ao vender e investir mais, eles estão contratando mais funcionários. Com

mais salários, o consumo aumenta no país. O risco da inflação está na pressão desse maior consumo

sobre as vendas. Afinal, se há maior demanda, há maiores vendas e o risco de proporcionar maiores

preços. Com o aumento de preços pode-se ter mais inflação, o que fará o poder aquisitivo dos

salários diminuir. A partir daí, pode ser gerada uma corrida de reajustes de salários que acabem

representando um aumento de custos e preços, ou seja: está presente na notícia do jornal a relação

entre a meta de crescimento econômico e o efeito colateral de gerar inflação.

Atividades Finais

54

A Macroeconomia consiste no estudo e na análise das variáveis econômicas

de forma agregrada (juros, salários, câmbio, preços) e dos principais

problemas econômico-sociais (crescimento econômico, inflação, dívida

externa, distribuição de renda). As variáveis tratadas aqui influenciam os

problemas econômicos de maneira tal que podem, ao mesmo tempo, reduzir

a gravidade de um e acentuar outro.

Todo o estudo da Economia, seja a macro ou a micro, aborda o problema da

escassez, princípio segundo o qual não há recursos suficientes para atender

a todas as demandas geradas em um sistema econômico.

R E S U M O

321

Page 35: Barbosa 2010

C E D E R J 33

AU

LA 1

A Economia lida com a articulação entre suas variáveis, e é assim, de

forma combinada, que tenta resolver problemas em um ou outro setor

de atividades.

Cada variável econômica agregada apresentada nesta aula interfere nas

demais, e a forma como vão ser aplicados os conceitos econômicos vai ser

sempre bastante particular, levando em conta as características próprias de

cada sistema econômico.

INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA

Ao longo desta disciplina, você terá uma visão geral do que se estuda em

Macroeconomia, uma das mais importantes disciplinas estudadas pelo

curso de Ciências Econômicas. Ali, a Macroeconomia está dividida em três

semestres. Nós, por outro lado, preferimos enfocar esta matéria no nível

do interesse e da importância que se observa para um futuro administrador

de empresas.

Na próxima aula, começaremos a abordar a produção e o crescimento

econômico de um país. Veremos ainda como se mede seu nível de atividade

econômica. Você já ouviu falar em PIB (Produto Interno Bruto) na disciplina

Formação Econômica do Brasil, certo? Pois vamos voltar a falar disso na

Aula 2.

Page 36: Barbosa 2010
Page 37: Barbosa 2010

Medindo as atividades econômicas

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

definir produto interno bruto (PIB);

verificar a utilidade do PIB como indicador das atividades econômicas;

diferenciar PIB real, PIB nominal, deflator do PIB e PIB per capita.

2objetivos

AU

LA

Meta da aula

Apresentar o conceito de Produto Interno Bruto, suas aplicações, suas variáveis e

seus desdobramentos.

1

2

3

Page 38: Barbosa 2010

36 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

INTRODUÇÃO

Quem nunca se viu, mesmo quando bem jovem, diante de um lampejo de

curiosidade sobre algum fato econômico? Ainda que nunca tenha estudado

uma única linha sobre economia, quem nunca se perguntou, por exemplo,

algo tão esdrúxulo quanto “qual seria o valor somado de todos os salários ou

rendas do Brasil”? E se existisse um megamilionário tão afortunado quanto

excêntrico que desejasse comprar tudo o que o Brasil produziu em um ano?

Como você poderia chegar a esse valor?

Por trás dessas inusitadas perguntas estão outras um pouco mais técnicas:

como se avalia o crescimento econômico de um país? Por que a renda de um

país é exatamente igual à despesa? Qual o peso da produção industrial ou

agropecuária na produção total do país?

O elemento básico para responder a tais perguntas está na sigla econômica

mais popular de todos os tempos: de uma forma ou de outra, não há quem

nunca tenha ouvido falar do PIB.

O QUE É O PIB?

O produto interno bruto (PIB) representa a estimativa do valor

de tudo que foi produzido por um país em determinado período. Este

valor é calculado com base nos preços de mercado, leva em conta apenas

os bens e serviços finais (aqueles destinados diretamente ao consumidor

final); o período tomado como base pode ser anual, semestral etc.

COMO SE CALCULA O PIB?

Tudo se passa como se contratássemos alguém para, desde o

primeiro até o último dia de um ano, anotar os preços de todos os

bens e serviços finais gerados dentro do território nacional. Nesse caso,

teríamos o PIB anual do país.

Figura 2.1: Carregamento embarcado em contêineres, rumo a mercados externos.

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Page 39: Barbosa 2010

C E D E R J 37

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LA 2Para efeito ilustrativo, suponha que, no ano X, um país tenha

produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:

Assim, o pib desse país seria:

PIB = (2 x 2) + (4 x 3) + (1 x 5) = R$ 21

Lembre-se de que o PIB se refere à soma de tudo o que foi produ-

zido em um país.

Assim, poderíamos dizer que o valor de tudo que foi produzido

naquele país, durante o ano, foi de R$ 21,00.

O CONCEITO EM DETALHES

Vamos esmiuçar um pouco alguns dos termos que definem o que

seja PIB.

Para começo de conversa, é importante guardar que o PIB é

avaliado em termos do valor de mercado, ou seja, a partir dos preços

que são praticados no mercado de bens e serviços. Os preços que você

vê nos supermercados, feiras, lojas etc.

Quando falamos em bens e serviços finais, queremos mostrar

que nossa conta não inclui os bens intermediários, já que estes já estão

inseridos nos preços dos bens finais.

Por exemplo: o valor do trigo, que serve de matéria-prima à

produção do pão, não é contabilizado no cálculo do PIB. Como no

valor do pão já está embutido o valor do trigo, o trigo acaba sendo

considerado indiretamente.

Perceba: se somássemos o valor do trigo (insumo do pão) ao do

pão, estaríamos contando o trigo duas vezes. Isso acarretaria o que se

chama de erro de dupla contagem no cálculo do PIB.

Produto Quantidade produzida (q)

Preço de mercado (p) R$

A 2 2

B 4 3

C 1 5

Page 40: Barbosa 2010

38 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

QUAL O EFEITO DOS PREÇOS SOBRE O PIB?

A essa altura, você já guardou que o PIB é uma medida da atividade

econômica ligada à produção de bens e serviços finais. Pois como este

indicador é calculado com base nos preços dos bens e serviços, é coerente

pensar que seu valor será influenciado pela variação de preços.

Então note que, por ser um índice relacionado à produção e ao

nível dos preços no mercado, a elevação dos preços irá afetar o valor

do PIB, mesmo que a quantidade produzida permaneça a mesma de um

ano para o outro.

Voltemos à primeira tabela:

Suponhamos novamente que, no ano x, um país tenha produzido

apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:

Produto Quantidade produzida (q)

Preço no mercado (p) R$

A 2 2

B 4 3

C 1 5

Com quantos pneus se faz um carro

Uma montadora de automóveis compra de outra empresa os pneus para a produção de seus veículos. Cada carro, é importante lembrar, chega ao consumidor final com cinco pneus: um em cada roda, mais um estepe. O conjunto de cinco pneus é vendido à montadora por R$ 500. Os carros, depois de prontos, são cotados por R$ 5 mil. Agora responda: para o cálculo do PIB, qual será o montante a ser considerado na produção de dois automóveis?

Resposta ComentadaNo cálculo do PIB, o valor a ser considerado para a produção de dois automóveis é de R$ 10

mil. Se o preço final de cada carro é de 5 mil e se os pneus são bens intermediários à produção

dos carros, então os pneus já estão incorporados ao preço final dos carros. Caso somássemos

a esses R$ 10 mil os bens intermediários (ou dez pneus, cinco para cada carro), teríamos para

o cálculo do PIB o valor de R$ 11 mil, o que causaria certa discrepância na soma final. Este é

um exemplo do erro da dupla contagem. Ou seja: neste caso, os pneus teriam sido contados

duas vezes: na venda para a montadora e na venda para o consumidor final.

Atividade 11

Page 41: Barbosa 2010

C E D E R J 39

AU

LA 2Assim, o PIB desse país seria:

PIB = 2 x 2 + 4 x 3 + 1 x 5 = R$ 21,00

Agora suponha que todos os preços tenham dobrado,

mas que a quantidade produzida tenha permanecido a

mesma. Observe que, neste caso, o PIB terá dobrado (PIB

= R$ 42). Essa discrepância causará uma grave distorção

para um indicador com a função de informar a variação

da produção total (agregada).

COMO ISOLAR O PIB DO NÍVEL DE PREÇOS?

Uma forma de evitar a influência da variação de preços sobre o

cálculo do produto interno bruto consiste em medir o PIB em termos

reais. Daí, surgem dois conceitos de PIB: um seria o PIB nominal,

que representa o PIB a preços correntes, ou o PIB baseado nos preços

praticados pelos mercados. O outro, que denominamos PIB real, consiste

no valor do produto interno bruto em termos de preços constantes, a

partir de um ano considerado como base de referência.

Guarde então: suponha que, em 2003, a produção brasileira de

bananas tenha chegado ao patamar recorde de x toneladas. Se em 2004

o preço das bananas tiver dobrado no mercado, ainda que a produção

tenha se mantido a mesma do ano anterior, nossa soma de todo o dinheiro

gerado pela produção de bananas vai dobrar junto com os preços. Uma

pessoa desavisada poderia olhar esse novo valor do PIB e concluir que

o país alcançou novo recorde produtivo, mas, na verdade, o patamar

da produção de bananas é exatamente o mesmo, o que se alterou foi o

valor do PIB nominal.

Se quisermos avaliar apenas o nível de produção de bananas

brasileiras, precisaremos comparar pelo menos dois anos. Então

contabilizamos a produção de 2003 e, em 2004, consideramos os preços

de 2003. Assim se calcula o PIB real.

Aumento na produção ou nos preços?

Se o PIB aumentou de um ano para o outro, pelo menos uma das duas coisas ocorreu: ou o país elevou

a quantidade produzida em sua economia ou os bens e serviços sofreram aumentos

de preços. !!

Page 42: Barbosa 2010

40 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

Ano Bananas(QB) Preço (PB) R$

Veículos (Qv)

Preço (Pv) R$

PIB= (PBQB+PVQV) R$

2002 100 1 20 50 1.100

2003 120 2 30 60 2.040

2004 140 3 40 70 3.220

PIB REAL: UM EXEMPLO SIMPLES

Suponha que, ao longo de três anos, um país tenha produzido

apenas dois bens (bananas e veículos). A quantidade produzida, os

preços e, por conseguinte, o PIB nominal em cada um desses anos estão

relacionados a seguir:

Sendo:

QB a quantidade de bananas produzidas;

PB o preço das bananas;

QV a quantidade de veículos produzidos;

PV o preço dos veículos no mercado.

Inicialmente, observe que o PIB nominal aumenta de um ano para

o outro. Essa elevação deve-se ao crescimento da produção, mas também

à elevação de preços. Se o nosso interesse for calcular o aumento real

da produção, ou seja, aquele não-afetado pelo crescimento dos preços,

temos que utilizar o conceito de PIB real.

O primeiro passo será escolher um ano-base, ou de referência.

Os preços dos produtos naquele ano é que serão utilizados como

referência para o cálculo do PIB real nos anos subseqüentes. Para o

cálculo do PIB real, portanto, não utilizamos os preços do ano vigente,

mas sim os preços do ano de referência. De resto, procedemos da mesma

maneira que procedíamos para o cálculo do PIB nominal (preço do

produto x quantidade do produto).

Page 43: Barbosa 2010

C E D E R J 41

AU

LA 2

A partir da tabela abaixo, tome o ano de 2002 como seu ano-base. A partir daí, como você calcularia o PIB real em cada um dos períodos seguintes?

Resposta ComentadaEm 2002, o PIB real é 1.100. Como? (100 x 1) + (20 x 50) = 1.100; em 2003, é 1.620. Como?

(120 x 1) + (30 x 50) = 1.620; e em 2004, o PIB real é 2.140, já que (140 x 1) + (40 x 50) =

2.140. Como você já viu, o PIB nominal utiliza os preços vigentes em cada ano, enquanto o PIB

real fixa os preços de um ano como base para calcular apenas as variações nas quantidades

produzidas a cada período. Assim, o PIB real torna-se uma medida mais adequada para estimar

a produção total de bens e serviços finais de um país.

Atividade 22

Ano Bananas Preço R$

Veículos Preço R$

PIB Real*(PBQB+PVQV) R$

2002 100 1 20 50

2003 120 2 30 60

2004 140 3 40 70

O DEFLATOR DO PIB

Como vimos até aqui, variações nos preços dos produtos

representam um importante fator a ser considerado no cálculo do PIB

de um país. Agora perceba que, quando comparamos um período a

outro, somos capazes de identificar comportamentos e tendências dos

mercados. Para que tenhamos uma medida da elevação média do nível

de preços do final de um ano para o outro, basta que calculemos o que

se denomina deflator do PIB.

Na aula anterior, você viu que o conceito de inflação se refere

a uma gradual perda de valor do dinheiro, diante de um aumento

generalizado de preços. Agora note que o deflator do PIB é o índice

destinado a isolar o fator inflação do cálculo do produto interno bruto

de um país, em um determinado período. O deflator nos dirá qual parte

do aumento do PIB nominal cabe somente ao crescimento dos preços e

nos ajudará a perceber quanto do aumento do PIB se deve a uma elevação

real no nível de produção.

* Ano-Base 2002

Page 44: Barbosa 2010

42 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

O que calcula cada PIB?

O PIB real calcula o crescimento econômico, a partir do aumento ou da diminuição do nível real de produção

de um país. O deflator do PIB faz referência ao crescimento médio dos preços da economia. O PIB nominal capta

tanto o crescimento do volume da produção quanto a variação de seus preços.!!

Note que, a partir do deflator do PIB, é possível inferir a taxa de

inflação de um período.

A fórmula de cálculo do deflator é:

DEFLATOR DO PIB = PIB nominal x 100

PIB real

Veja como obter o deflator do PIB a partir dos valores já

apresentados nas tabelas anteriores desta aula:

Por esses valores, no ano-base do PIB real (2002), o deflator do

PIB é igual a 100. Por definição, em todo ano-base, o deflator será sempre

100 (os preços do ano corrente são os preços do ano-base).

Em 2003, o deflator do PIB é 125,92. Em 2004, é 150,46.

Agora veja: de 2002 a 2003, o deflator passou de 100 para 125,92.

Logo, pode-se inferir que os preços aumentaram, em média, 25,92%.

Da mesma forma, em 2004, como o nível de preços passou de

125,92 para 150,46, o nível médio de preços aumentou 19,48% em

relação a 2003.

Fica claro então que o deflator do PIB pode ser interpretado como

um indicador da variação do nível médio de preços de um país. Isto é

nada mais nada menos do que dizer que o deflator do PIB consiste em

uma indicação da taxa de inflação do período.

Deflator do PIB

Ano deflator = (PIB nominal / PIB real) x 100

2002 deflator = R$ 1.100 / R$ 1.100 x 100 = 100

2003 deflator = R$ 2.040 / R$ 1.620 x 100 = 125,92

2004 deflator = R$ 3.220 / R$ 2.140 x 100 = 150,46

Page 45: Barbosa 2010

C E D E R J 43

AU

LA 2O PRODUTO NACIONAL BRUTO

Já vimos que o PIB expressa o total da produção, a soma de toda

a renda criada dentro dos limites geográficos de um país. Pois parte dessa

renda gerada dentro do país pode ser enviada ao exterior. Isso acontece

quando parte da renda pertence a empresas estrangeiras que estejam

produzindo no país. Nesse caso, essas empresas podem enviar parte de

seu lucro para o exterior.

O produto nacional bruto (PNB), por sua vez, representa a

produção cuja renda correspondente é de propriedade dos indivíduos

residentes no país de forma definitiva. Ou seja: o PNB é a soma de tudo

o que é produzido aqui e fica aqui.

Portanto, a diferença entre PIB e PNB é a renda líquida enviada

ao exterior (RLEE ou a renda que é mandada para o exterior menos

aquela procedente do exterior).

Um exemplo: um país sul-americano cuja indústria seja exclusivamente

dedicada à siderurgia tem um PIB de R$ 1 milhão. No entanto, suponha

que, ao longo do ano, esse país tenha importado R$ 200 mil em minério

de ferro e exportado R$ 300 mil em aço. Quando calcularmos o Produto

Nacional Bruto, chegaremos ao valor de R$ 900 mil.

Veja:

PNB = 1 milhão – 300 mil + 200 mil = 900 mil

Ou ainda:

PNB = PIB – RLEE

O PRODUTO INTERNO LÍQUIDO

Parte do valor dos bens e dos serviços gerados em um determinado

período pode ser perdida, seja pelo desgaste, pela perda de utilidade

por uso, ação da natureza ou ainda por obsolescência. Pois o produto

interno líquido é precisamente o produto interno bruto decrescido

dessa depreciação. Assim, nem toda produção acrescenta uma maior

quantidade de bens ou serviços à economia ou faz ela crescer. Com um

aumento na produção, pode-se apenas estar repondo o que foi depreciado

no período.

Ou ainda:

PIL = PIB – depreciações.

Page 46: Barbosa 2010

44 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

EXISTE PIB NEGATIVO?

Você já viu que o PIB é o somatório de todas as riquezas produzidas

por um país em um determinado período. Compreendeu também que

há uma sigla destinada a medir apenas o que é produzido e fica no país

(PNB) e outra que considera ainda o que é perdido ou se torna obsoleto

(PIL). Quando a taxa de crescimento do PIB é negativa – o PIB real de

um ano é menor do que o do ano anterior, diz-se que houve recessão.

Isto equivale a dizer que a atividade econômica diminuiu entre um ano

e outro. Agora veja: se isso ocorreu, devem ter ocorrido também menor

produção, mais baixo nível de empregos, falências de empresas etc.

Este quadro de baixa atividade econômica recebe também o nome

de depressão. Não há uma determinada taxa de crescimento negativa

que caracterize o processo de depressão. Para efeito de curiosidade, uma

“piada econômica” define a expressão assim: “Recessão ocorre quando

pessoas estão sendo desempregadas. Depressão é quando eu também

perco o meu emprego”.

O QUE O PIB NÃO MEDE?

Como já foi mencionado, o PIB mede o valor da produção de

bens e serviços finais de uma economia. Todavia, há toda uma parcela

da produção nacional que não é incluída no cálculo do produto interno

bruto: é o que se convencionou chamar de economia informal. Drogas,

jogos de azar e contrabando são atividades desconsideradas pelo PIB,

como seria coerente supor, mas a produção informal não se refere

Figura 2.2: Em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, os Estados Unidos mergulharam no que ficou conhecido como “A Grande Depressão”, cujos efeitos foram sentidos ao redor de todo o mundo. O Brasil soube minimi-zar os males da crise através de políti-cas estatais que visavam a defender os preços do café no mercado interna-cional. O governo brasileiro chegou a comprar e a queimar grandes volumes de grãos, a fim de reduzir a oferta do produto no mercado. Saiba mais no site www.culturabrasil.pro.br/estadonovo.htm.

Page 47: Barbosa 2010

C E D E R J 45

AU

LA 2somente à ilegalidade. Pensemos, por exemplo, nas donas de casa ou nos

vendedores ambulantes, que mantêm seus negócios à parte dos impostos

e das contribuções. Esses não são contados quando se calcula o PIB.

Hoje, estimativas apontam para uma equação assustadora: cerca

de 50% da economia brasileira podem estar ligados à informalidade.

Repare que as dimensões de uma economia informal podem significar

a divisão de um país em dois: um real e um oficial. O crescimento da

informalidade pode representar um verdadeiro problema administrativo

no âmbito governamental, já que apenas uma parcela da população

contribui com impostos, por exemplo, mas é a totalidade das pessoas

que precisa ser beneficiada pelas políticas públicas.

O PIB DESMEMBRADO

O PIB também pode ser desmembrado por setores de atividade.

Na Tabela 2.1, você encontra o crescimento do PIB brasileiro por setores,

em 2003 e 2004.

Os dados mostram, por exemplo, que o PIB agropecuário – o

valor da produção total de bens e serviços finais do setor agropecuário

– cresceu 4,5% em 2003 e 5,3% em 2004.

A tabela revela ainda que o PIB brasileiro cresceu 0,5% e 5,2%

em 2003 e 2004, respectivamente.

A senhora do lar

Explique a razão da frase: “Se um patrão demitir sua empregada doméstica, que tinha carteira assinada, e casar-se com ela, reduz-se o valor do PIB”.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaO serviço de empregada doméstica é uma atividade profissional com valor de mercado.

Logo, entra no cálculo do PIB. Demitida, passada à informalidade e casada com o patrão, a

empregada passa a ser dona de casa e deixa de ser assalariada. Assim, o PIB cai de valor

pelo cancelamento da despesa que o ex-patrão deixa de ter com a nova esposa.

Atividade 3

1 2

Page 48: Barbosa 2010

46 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

Tabela 2.1: Crescimento do PIB brasileiro total e por setores nos anos de 2003 e 2004 (%)

O VALOR DA RENDA É IGUAL AO VALOR DO PRODUTO

Além do valor dos bens e dos serviços produzidos na economia,

o PIB também mede a renda total gerada no processo da produção. Na

verdade, o valor da renda é exatamente igual ao valor do produto.

Como assim?

Observe que tudo o que se gasta para produzir um bem encontra

sempre contrapartida em alguém que está recebendo exatamente tal valor.

Vamos a um exemplo: suponha que um refrigerante custe

R$ 1,00. Nesse preço, estão embutidos o custo e o lucro. Se o custo de

sua produção for de 80 centavos, o restante (20 centavos) será a renda

do empresário. Os 80 centavos de custos são divididos em pagamento de

funcionários (renda) e pagamento das matérias-primas. Essas matérias-

primas têm o mesmo aspecto do refrigerante, isto é, seu preço é composto

de custo e lucro, que representarão futuras rendas, e assim por diante. Já

os 20 centavos de lucro do comerciante serão pagos por você.

Vamos explicar o mesmo fenômeno (valor da renda igual ao

valor do produto) de uma maneira “macro”: em um sistema econômico

simplificado, os consumidores compram bens e serviços nos mercados.

O valor das vendas, que é recebido pelas empresas, é destinado ao

pagamento dos seus funcionários, à remuneração dos indivíduos que

alugaram o espaço físico das empresas e aos lucros dos empresários.

Essas somas são transferidas para os chamados MERCADOS DOS FATORES

D E P RO D U Ç Ã O – as imobiliárias, as agências de emprego etc.

Setores 2003 2004

agropecuária 4,5 5,3

indústria 0,2 6,2

serviços 0,6 3,7

comércio -1,9 7,9

transporte 1,4 4,9

demais 1,0 2,9

PIB Total 0,5 5,2

O ME RC A D O D E FA T O RE S D E PRO D U Ç Ã O

Representa os locais onde se negociam a oferta e a procura por fatores de produção. São as agências de emprego, as imobiliárias, que vendem ou alugam imóveis comerciais etc.

Fonte: IPEA

Page 49: Barbosa 2010

C E D E R J 47

AU

LA 2Por outro caminho: o total da renda gerada nesse sistema

econômico é reutilizado pelas famílias, por meio da compra de bens e

serviços no mercado de produtos – os supermercados, as lojas etc. Estes,

por sua vez, irão fluir novamente para o mercado de fatores de produção.

Como num fluxo circular.

O PIB pode ser medido de duas formas: somando as rendas pagas

pelas empresas dentro do mercado de fatores (de produção), ou pelo total

dos gastos dos consumidores no mercado de bens e serviços.

Ainda que na prática haja mais complexidade (há impostos, as

famílias não gastam tudo o que ganham, nem tudo o que é produzido é

vendido etc.), cada transação tem uma espécie de comprador e vendedor, de

forma que o valor do bem ou do serviço coincida com o valor da renda.

A seguir, vê-se um diagrama do fluxo circular da renda e dos

bens e serviços de um sistema econômico. As setas externas ilustram o

fluxo circular da renda. As setas internas representam o fluxo de bens

e serviços.

Mercado de Produtos

Famílias (consumidores)

Despesa = PIB Empresas

(Unidades Produtivas)

Salário, lucro e aluguel

Mercado de fatores de produção

Bens e Serviços

Bens e Serviços

Insumos

Trabalho

Capital

TerraRenda = PIB

Receita = PIB

Fluxo Circular da Renda e do Produto

Despesa

Page 50: Barbosa 2010

48 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

Entre 2003 e 2004, o Brasil passou de 15º colocado

no ranking mundial do PIB para 12º, ultrapassando a Índia, a Coréia do Sul e

a Holanda. No entanto, em 1998, o Brasil estava em 8º lugar. Ou seja: mais próximo

dos países de maior atividade econômica no mundo. !!

AS MAIORES ECONOMIAS DO PLANETA

Através do PIB, podemos relacionar os países de maior produção

no mundo. Ou seja, as maiores economias do mundo. A Tabela 2.2,

embora incompleta, dá o ranking para o ano de 2004.

Tabela 2.2: Os países de maior atividade econômica em 2004

País Produto Interno Bruto (US$ trilhões)

1 Estados Unidos 11,757

2 Japão 4,780

3 Alemanha *

4 Reino Unido *

5 França *

6 Itália *

7 China 1,543

8 Espanha *

9 Canadá *

10 México *

11 Austrália *

12 Brasil 0,605

Fontes: IBGE; FMI; GRC Visão Consultoria

* Dados não disponibilizados.

Valores em US$

Page 51: Barbosa 2010

C E D E R J 49

AU

LA 2A RENDA PER CAPITA

A renda per capita é a quantia em reais que cada habitante

receberia caso o PIB fosse dividido igualmente entre toda a população.

Note que a renda per capita é uma média, uma estimativa, uma vez que

desconsidera o fator distribuição de renda.

Abaixo, os números da renda per capita no Brasil, durante a

década de 1990.

CONCLUSÃO

A partir do conceito de PIB, podemos medir o nível de atividade

econômica de um país, ou o “tamanho” de uma economia.

A partir do cálculo do PIB anual e de comparação com períodos

anteriores, é possível monitorar a evolução da capacidade produtiva de

um país, assim como a influência do comportamento dos preços sobre

os mais variados setores da economia.

Do produto interno bruto depreendem-se indicadores diversos,

capazes de informar até sobre nosso balanço de pagamentos ou sobre

o estado geral da população. É o caso do produto nacional bruto, que

desconsidera toda a produção enviada ao exterior; é o caso da noção

de renda per capita, que estima a média de remuneração dos habitantes

de um país.

O cálculo do somatório das riquezas produzidas em um país é

um bom caminho para traçar a trajetória de um sistema econômico, o

que, já aprendemos, é algo dinâmico e marcadamente identificável em

nosso dia-a-dia.

Período PIB Per Capita US$

1990 3.243

1991 2.771

1992 2.605

1993 2.847

1994 3.546

1995 4.542

1996 4.924

1997 5.022

1998 4.793

Fonte: www.ipea.gov.br

Page 52: Barbosa 2010

50 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

O PIB e as metrópoles nacionais

A tabela a seguir informa dados oficiais para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro

(2002).

Agora, a partir dos dados fornecidos, responda:

1. Como foram obtidos os valores da renda per capita nesses estados?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

2. Seria possível ocorrer um aumento do PIB nominal ao mesmo tempo que houvesse

diminuição do PIB real?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

3. Por que razão quanto mais inflacionária for a economia de um país mais correto

será utilizar o PIB real (ao invés do nominal) para medir seu crescimento?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Estado PIB (milhões) Renda Per Capita

População

Rio de Janeiro

170.114 11.459 14.761.862

São Paulo

438.148 11.353 38.306.233

Atividades Finais

321

Fonte: www.ibge.gov.br

Page 53: Barbosa 2010

C E D E R J 51

AU

LA 2

Resposta Comentada1. Os valores da renda total são obtidos dividindo o PIB do estado por sua respectiva população.

Os resultados diferem um pouco dos apresentados na tabela, posto que os dados do PIB estão

arredondados.

2. Sim, basta que o efeito da elevação dos preços seja maior do que a queda na quantidade de bens

e serviços gerados no período. Lembre-se de que dois elementos afetam o PIB nominal: os preços e

as quantidades. No PIB real, só as quantidades se alteram, pois os preços são mantidos constantes,

dado o ano-base. Quer um exemplo? Veja a tabela a seguir, com os dados sobre os anos de 1991

e 1992. Apesar do enorme salto no PIB nominal entre 1991 e 1992, a taxa de crescimento real do

PIB foi negativa. Ou seja, houve recessão. Observe o ritmo do crescimento médio dos preços através

da variação do deflator do PIB: naquela época, a inflação era extremamente alta.

3. Quanto mais alta a inflação, mais os preços estarão influenciando os valores do PIB nominal.

Sendo assim, o mais adequado é utilizar o PIB real, pelo mesmo motivo citado na resposta

anterior.

Ano Crescimento do PIB %

Variação (%) do deflator

PIB

PIB nominal

1991 1,0 416,7 165.786.498

1992 -0,5 969,0 1.762.636.611

O produto interno bruto (PIB) expressa o valor de mercado de todos os bens

e serviços finais realizados em um território (ou país), em um determinado

período.

Como em toda transação há um comprador e um vendedor, o PIB mede a

despesa total da economia na produção de bens e de serviços, além da renda

total gerada com a produção de tais bens e serviços em um dado período.

O PIB nominal utiliza os preços correntes, enquanto o PIB real usa preços

constantes de um ano-base para medir os bens e serviços realizados.

A razão entre o PIB nominal e o PIB real avalia o crescimento médio de

preços de um período. É denominado deflator do PIB.

A partir dos conceitos de PIB real e nominal, é possível calcular ainda o deflator

do PIB, que mede a alteração no nível dos preços e podemos ainda calcular

também a renda per capita, uma estimativa da renda média da população.

R E S U M O

Fonte: www.ibge.gov.br

Page 54: Barbosa 2010

52 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas

INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você vai estudar os principais elementos que constituem

o PIB. A partir deles poderemos reconhecer os fatores que podem fazer a

atividade econômica aumentar de forma vigorosa.

Page 55: Barbosa 2010

O PIB e os componentes da demanda agregada

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

listar os componentes do cálculo do PIB;

distinguir os elementos que compõem a demanda agregada e identificar seu papel e seu peso na economia de um país;

avaliar a importância do relacionamento das empresas com mercados internos e externos no cálculo do PIB.

3objetivos

AU

LA

Meta da aula

Descrever a equação de composição do Produto Interno Bruto (PIB) a partir da

renda e da demanda agregada.

1

2

3

Page 56: Barbosa 2010

54 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

INTRODUÇÃO

Imagine-se comprando um sanduíche. Pense que você saiu de casa com cinco

reais na carteira e que os entregou ao balconista de uma lanchonete. Em um

primeiro momento, você pode pensar: eu tinha um dinheiro em mão, mas não

o tenho mais. Comi o sanduíche e estou cinco reais mais pobre.

No entanto, perceba: o balconista da lanchonete tinha um sanduíche à sua

espera. Depois que você abriu a carteira, o sanduíche passou a não mais

existir para ele. Ainda assim, no lugar do sanduíche, o balconista recebeu

cinco reais. Fica fácil notar que comprar um sanduíche é equivalente a vender

cinco reais.

Transponha agora essa compreensão para o campo da Macroeconomia, que lida

com o fator “sanduíche” de forma agregada (ou a partir de todos os sanduíches

produzidos em um país). Como vimos estudando desde a primeira aula deste

curso, o produto interno bruto (PIB) expressa o valor de tudo que um país

produz, em bens e serviços, em um determinado período. Todos os sanduíches,

todos os empregos de balconista, tudo o que o dono da lanchonete investe em

seu estabelecimento, os impostos pagos pela lanchonete ao governo etc.

Agora veja: assim como acontece em nosso exemplo da lanchonete, quem se

apropria desses bens e serviços produzidos pelo país? De que forma isso ocorre?

De onde partem os recursos que movimentam a economia? Que importância

tem para um país o nível de poupança de sua população? As respostas a essas

perguntas você terá ao longo desta aula.

OS COMPONENTES DO PIB

Depois de ter estudado o conceito de PIB e algumas de suas

aplicações, veja uma maneira de segmentá-lo em seus componentes.

Figura 3.1: No espaçoso carrinho do PIB, cabem sua renda, tudo que você compra e contrata, os investimentos que você faz em nome de seu negócio, tudo que o governo gasta em nome do seu bem-estar, o que é vendido para outros países e o que é comprado de fora.

San

ja G

jen

ero

Page 57: Barbosa 2010

C E D E R J 55

AU

LA 3

ID E N T I D A D E

É a equação que é sempre verdadeira,

quaisquer que sejam as circunstâncias

ou as hipóteses estabelecidas. Numa identidade, os lados

das equações são inequivocamente

iguais.

Para início de conversa, podemos dizer que todo bem e todo serviço

produzido em determinado país é utilizado para consumo das famílias e

investimento por parte das empresas, além de poder ser adquirido pelo

governo ou exportado (vendido a outro país).

Note que, quando falamos em exportação, assumimos que

exportamos uma fração do que produzimos. Pelo mesmo raciocínio,

podemos concordar que também adquirimos parte da produção de

outros países.

Consideremos então esse princípio e expressemo-lo em termos

matemáticos. Daí chegaremos à seguinte I D E N T I D A D E :

PIB = C + I + G + (X – M) (1)

Sendo:

PIB, o produto interno bruto;

C, o consumo agregado;

I, o investimento agregado;

G, o consumo do governo;

X, as exportações; e

M, as importações.

Ou seja: o valor do PIB é igual à soma do consumo agregado,

do investimento agregado e do consumo do governo com o total das

exportações, decrescido do total das importações.

Ficou claro então quais fatores entram em nossa conta. Agora

sigamos em frente e expressemos mais objetivamente o significado de

cada um deles:

O consumo é uma variável bastante simples e palpável: diz respeito

à despesa das famílias com a compra de bens e serviços, sejam eles

geladeiras ou técnicos especialistas em geladeiras, por exemplo.

Os investimentos referem-se exclusivamente às empresas: são as

despesas com máquinas, equipamentos, plantas industriais (FORMAÇÃO

BRUTA DE CAPITAL FIXO) e estoques. Ou seja: são todas as despesas envolvidas

no funcionamento de uma empresa, a não ser as relativas à remuneração

da força de trabalho e ao pagamento de impostos. Sobre os investimentos,

trataremos mais detalhadamente na próxima seção.

FO R M A Ç Ã O B R U T A D E

C A P I T A L F I X O

São os investimentos feitos pelas empresas

em equipamentos, bens de capital,

edificações etc. que visam a aumentar

sua capacidade produtiva.

O conjunto desses fatores é o que se costuma chamar

também planta industrial.

Page 58: Barbosa 2010

56 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

O consumo do governo é a despesa do Estado (nos âmbitos federal,

estadual e municipal) com compras de bens e serviços. Imagine, por

exemplo, a contratação de uma empreiteira para a realização de obras

públicas. Esse é o tipo de despesa que entra em nossa conta.

As exportações são os valores das vendas dos bens e dos serviços

para outros países ou o total de produtos e serviços que se originam

em solo nacional mas que serão consumidos em outras

partes do mundo.

E, por fim, as importações representam os valores

do que se compra do exterior, ou tudo que é produzido

em outros países e vai ser consumido aqui. Importações

e exportações trataremos mais à frente.

OS INVESTIMENTOS

Já vimos, de forma geral, os componentes do cálculo do PIB.

Vimos que um deles se refere aos investimentos por parte das empresas.

Agora cabe fazer uma diferenciação sobre os tipos de investimentos

existentes.

Quando você monta uma empresa, conta com seu capital inicial,

com seu maquinário e com a mão-de-obra. No entanto, em um mercado

aberto e competitivo, é necessário que você destine regularmente

recursos que serão revertidos a esse negócio. Vale então ter claro que há

investimentos de dois tipos: realizados e desejados (ou planejados).

Pela CO N T A B I L I D A D E NA C I O N A L , os investimentos são a soma do

valor dos gastos das empresas com edificações e equipamentos (Formação

Bruta do Capital Fixo) mais os investimentos em estoques.

Os investimentos em estoques representam todos os bens

produzidos que não foram vendidos. Estes podem ser investimentos em

estoque planejados, ou não planejados.

Os estoques não planejados (ou involuntários) são aqueles

produtos destinados à venda mas que, por não terem sido vendidos,

incorporaram-se ao estoque. Ou seja, o estoque involuntário é a variação

involuntária do estoque por falta de compradores.

Os estoques voluntários são aqueles bens produzidos para compor

o estoque. A diferença entre investimento planejado e realizado é dada

justamente pela existência dos estoques involuntários.

Figura 3.2: O café é tradi-cionalmente nosso herói de exportação. Ao longo da história do Brasil, intervenções do governo visaram a manter o status do produto no mercado internacional. Após a crise de 1929, foram a ação do Estado e o desempenho do café nos mercados inter-nacionais que nos defen-deram da recessão que se abateu sobre o mundo. Você pode ver mais sobre o assunto no site www.culturabrasil.pro.br/vargas.htm.

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CO N T A B I L I D A D E NA C I O N A L

É a metodologia oficial de classificação das variáveis econômicas nacionais, as chamadas contas nacionais. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) faz o levantamento

CO N T A B I L I D A D E NA C I O N A L

É a metodologia oficial de classificação das variáveis econômicas nacionais, as chamadas contas nacionais. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) faz o levantamento estatístico das contas nacionais.

Page 59: Barbosa 2010

C E D E R J 57

AU

LA 3

A Abragel e o mercado

De forma mais simples: se toda a produção destinada à venda for

efetivamente vendida, os estoques involuntários (variação de estoque)

serão zero. Nessas condições, os investimentos planejados serão iguais

aos realizados.

Perceba:

Ir = Ip + ∆estoque

Ir – Ip = ∆estoque

Sendo:

Ir, o investimento realizado;

Ip, o investimento planejado;

∆estoque, a variação (∆) de estoque.

Atividade 11

Nestor Antártico, consultor da Abragel, defendeu ontem, em reunião da

entidade, que as empresas do setor

devem investir 20 milhões de reais em estoques. Segundo Antártico, o novo aumento do salário-mínimo deve aquecer o mercado.

Abragel recompõe estoque (15/06/2006)

2 3

A A s s o c i a ç ã o Brasileira dos Fabricantes de

Geladeiras (Abragel) divulgou ontem nota em

que declara a intenção de investir 100 milhões de reais em edificações e equipamentos.

Fabricantes de geladeiras planejam investir 100 milhões de reais no setor

(10/06/2006)

Em entrevista coletiva à imprensa, na noite de ontem, o consultor

da Abragel Nestor Antártico lamentou o que qualificou como “decepcionante desempenho de

nossas geladeiras no mercado externo”. Segundo Antártico, metade das geladeiras produzidas neste trimestre encalhou nos estoques.

Dólar baixo prejudica exportações (20/09/06)

Page 60: Barbosa 2010

58 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

Agora, presumindo que todos os conselhos de Nestor foram seguidos pela entidade, responda às perguntas a seguir:

a. De quanto foi o investimento planejado pela Abragel?

___________________________________________________________________________

b. Quanto foi investido de forma planejada em estoque?

____________________________________________________________________________

c. E de forma não planejada?

_____________________________________________________________________________

d. De quanto foi a variação não planejada do estoque (em reais)?

_____________________________________________________________________________

e. Qual foi o investimento realizado pela Abragel?

______________________________________________________________________________

Respostas ComentadasSe você articular as três notícias de jornal, verá que a Abragel investiu 100 milhões de reais em

planta industrial e 20 milhões em estoque. Você já aprendeu que os investimentos planejados

são a soma desses dois fatores. Portanto, o investimento planejado pela Abragel foi de 120

milhões de reais (a). Da segunda notícia, depreendemos que investiram-se 20 milhões de

reais nos estoques das empresas. Repare que se chegou a esse montante por decisão de

consultores. Logo, estamos falando sobre investimento planejado em estoque (b). Na terceira

notícia, lemos que o mercado não se comportou como a entidade esperava, o que resultou

no encalhe de metade do estoque. Como já definimos que o estoque era de 20 milhões de

reais, chegamos aos 10 milhões de reais encalhados (c). Ao longo da aula, você já viu que a

variação não-planejada do estoque se refere a quanto do estoque formado não conseguiu ser

vendido. Logo, neste caso, estamos falando de 10 milhões de reais (d). Por fim, como já vimos

que o investimento realizado é igual ao planejado acrescido da variação involuntária dos

estoques, chegamos ao número de 130 milhões de reais (e).

Page 61: Barbosa 2010

C E D E R J 59

AU

LA 3AS IMPORTAÇÕES E AS EXPORTAÇÕES

No cálculo do PIB, é de praxe considerar as exportações e as

importações de forma conjunta. Comumente, referimo-nos a essa dupla

de fatores sob o termo exportações líquidas (X-M), que representa as

compras dos produtos nacionais feitas pelos estrangeiros (exportações),

descontadas as compras de bens estrangeiros realizadas pelas famílias

nacionais (importações).

Sendo mais claro: a exportação líquida de geladeiras é igual à

soma de todos os aparelhos que se vendem para fora, descontados os

que se compram de fora.

Agora pense: qual a relevância das importações para a equação

que descreve os destinos do PIB?

A resposta é clara: as famílias, as empresas e o governo compram

produtos nacionais, mas também podem importar. Como o PIB diz

respeito aos bens e serviços produzidos em um país, é necessário descontar

desse cálculo o valor de tudo que foi importado. Se não houvesse o

desconto dessa despesa, não teríamos uma identidade. Veja como.

Imagine uma família comprando um automóvel Audi A8. Essa será

uma despesa com importações, pois esse carro não é fabricado no Brasil.

Supondo que esse veículo custe 50 mil dólares, essa despesa (convertida

em reais) estará associada a duas variáveis da equação 1: em um primeiro

momento, representa um item de consumo (C) das famílias, mas, como

tal valor também será descontado do item importações (M), a equação

do PIB estará representando adequadamente a igualdade entre o valor

da produção e o total das despesas.

Note: se nessa identidade não houvesse o item importações, o

item consumo traria consigo o valor do carro, que não é um produto

nacional.

Perceba:

PIB= (C + 50mil) + I +G + (X – 50 mil)

Lembre-se da equação original:

PIB = C + I + G + (X – M) (1)

Page 62: Barbosa 2010

60 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

A compreensão de que produtos importados não podem ser

contados como se tivessem sua origem na indústria nacional pode parecer

secundária. No entanto, note que um carro importado pode representar

consumo em solo brasileiro, mas os investimentos feitos pela indústria

que o fabricou, por exemplo, são contabilizados no cálculo do PIB de

seu país de origem.

A tabela a seguir mostra a participação dos componentes na

formação do PIB de 2004, no Brasil.

A partir desses dados, reflita:

Fica claro que o fator que mais pesa na contagem do PIB brasileiro

é o consumo das famílias. Mas o que dizer sobre o governo? Em

comparação às exportações e aos investimentos da indústria nacional,

na sua opinião, o governo gasta muito ou pouco? Saiba que, no cálculo

dos investimentos, soma-se o item formação bruta de capital fixo (FBCF)

à variação dos estoques.

Comparando-se o quanto se consome internamente e o quanto

se exporta, é possível dizer que o Brasil é um país eminentemente

exportador? Repare que as exportações e as importações referem-se a

bens, mas também a serviços.

E o que dizer sobre nossos níveis de importação? Pelo que você

observa na tabela, o Brasil está muito dependente ou pouco dependente

Figura 3.3: Novas “carroças” - nos primeiros 15 dias de mandato, o ex-presidente Fernando Collor de Mello lançou um pacote econômico que bloqueou – ou “confiscou” - o dinheiro de pessoas físicas e jurídicas depositado na poupança e em contas correntes. Entre suas primeiras medidas para a economia, figurava também a abertura do mercado brasileiro às importações, o que, associado ao confisco, gerou graves efeitos sobre a indústria nacio-nal. Ficou famosa sua afirmação de que os brasileiros, à época, dirigiam “carroças”.

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Fonte:www.ibge.gov.br

Consumo das famílias (C) 55,3

Gastos do governo (G) 18,8 Investimento (I) 21,3Exportações (X) 18,0Importações (M) 13,3

Page 63: Barbosa 2010

C E D E R J 61

AU

LA 3dos mercados externos? Há quem defenda que essa dependência é

maléfica, há quem diga que é o caminho inevitável e que o que importa

é a maneira como a gerenciamos.

O PIB A PARTIR DA RENDA

Na introdução desta aula, você viu que uma despesa que você

faça é igual à receita de outra pessoa. Perceba agora que tudo o que

você gasta provém do que ganha. Suas despesas, qualquer dona de casa

tem isso bastante claro, precisam “caber” no seu orçamento. Seguindo

o mesmo raciocínio e visto o PIB pela ótica dos gastos, veja que ele pode

ser descrito também pela ótica da renda.

Você já viu: o valor de tudo que é produzido com bens e serviços

tem como contrapartida a remuneração de quem os produziu (direta

e indiretamente). Logo, o valor do PIB é distribuído em renda para as

famílias. Ou seja, sua renda pode ter apenas três destinos: o consumo

(C), a poupança (S, do inglês savings) ou o pagamento de impostos (T,

do inglês taxes). Dessa maneira, tem-se outra identidade:

PIB = C + S + T (2)

Sendo:

C, o consumo agregado;

S, a poupança agregada;

T, a arrecadação de impostos do governo.

Agora veja: como as duas equações, (1) e (2), possuem o mesmo

lado esquerdo, elas podem ser igualadas:

(1) PIB = C + I + G + (X – M)

(2) PIB = C + S + T

Logo,

C + S + T = C + G + I + (X – M) (3)

Para que você não se perca: assumimos aqui que os três destinos

da sua renda equivalem ao conjunto consumo das famílias + gastos do

governo + investimentos das empresas + exportações líquidas. Jamais

perca de vista que estamos tratando de um fenômeno cíclico. As riquezas

circulam dentro de uma economia.

Page 64: Barbosa 2010

62 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

A poupança e as exportações

Lidando com os fatores que compõem o cálculo do PIB – equações (1) e (2) – chegamos à seguinte

equação:

C + S + T = PIB = C + G + I + (X – M) (3)

Observe: a partir dessa identidade, podemos chegar a ainda outra:

(S – I) + (T – G) = (X – M) (4)

Perceba que dividimos o setor privado (S e I) e o setor público (T e G). Esta igualdade diz, entre outras coisas, que as exportações serão superiores às

importações quando:

• o nível de poupança for maior do que o que se gasta investindo (S – I); e/ou • o governo gastar menos do que arrecada (T - G).

A partir da mesma igualdade, perceba:

(S + T) – (I + G) = (X – M) (4a)

Ou seja: se o nível de poupança da população e a receita advinda dos impostos (mecanismos de financiamento) superarem os investimentos feitos pelas empresas e os gastos do

governo (gastos internos), teremos maior produção e, por conseguinte, melhores condições para exportar. No caso contrário, teremos carência de recursos, o que nos

levará a importá-los. Para que fique mais claro, um país será

exportador de recursos

A poupança e as exportações

Lidando com os fatores que compõem o cálculo do PIB – equações (1) e (2) – chegamos à seguinte

equação:

C + S + T = PIB = C + G + I + (X – M) (3)

Observe: a partir dessa identidade, podemos chegar a ainda outra:

(S – I) + (T – G) = (X – M) (4)

Perceba que dividimos o setor privado (S e I) e o setor público (T e G). Esta igualdade diz, entre outras coisas, que as exportações serão superiores às

importações quando:

• o nível de poupança for maior do que o que se gasta investindo (S – I); e/ou • o governo gastar menos do que arrecada (T - G).

A partir da mesma igualdade, perceba:

(S + T) – (I + G) = (X – M) (4a)

Ou seja: se o nível de poupança da população e a receita advinda dos impostos (mecanismos de financiamento) superarem os investimentos feitos pelas empresas e os gastos do

governo (gastos internos), teremos maior produção e, por conseguinte, melhores condições para exportar. No caso contrário, teremos carência de recursos, o que nos

levará a importá-los. Para que fique mais claro, um país será

exportador de recursos

??

Figura 3.4: “O direito de andar com as próprias per-nas”

A decisão do governo brasileiro de não renovar acor-do com o FMI é a manchete principal dos jornais de hoje, que destacam ainda a decisão da administração Lula de manter o rigor fiscal sob o monitoramento do Fundo. O Globo informa que, depois de quase sete anos de acordos com o Fundo Monetário Inter-nacional (FMI), o governo brasileiro anunciou ontem que não vai renovar seu programa com a instituição. Segundo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, um novo acordo é desnecessário porque o Brasil passa hoje por um ciclo de crescimento produtivo, com redução da vulnerabilidade externa, equilíbrio fiscal e evolução positiva das contas externas e dos índices de inflação. Para deixar claro que acaba o casamento com o FMI mas permanece o compromisso fiscal, Palocci anunciou que fará a divulgação quadrimestral de metas fiscais de todo o setor público - e não apenas do governo federal.

Do clipping da Secretaria de Comunicação da Presidên-cia, em 29/3/2005. A frase que abre a legenda foi dita pelo Presidente Lula em pronunciamento a empresários.

O D É F I C I T P Ú B L I C O

Ocorre quando os gastos do governo são superiores ao que ele arrecada com impostos. Ou seja, quando o governo gasta mais do que arrecada.

Page 65: Barbosa 2010

C E D E R J 63

AU

LA 3

para o resto do mundo quando sua atividade econômica apresentar um bom nível

de poupança e/ou um governo sem déficits em seu “caixa”. De outro modo, um país com D É F I C I T P Ú B L I C O e nível de poupança insuficiente

para contrabalançar os investimentos privados terá necessariamente um nível de importações maior do que o de exportações. Como assim?

Pense: se um país está consumindo mais do que produz, é preciso que alguém (o exterior) esteja fornecendo parte desse produto. Vale registrar

que tal situação ocorreu no Brasil durante a década de 80 do século passado.

DA DEMANDA AO PONTO DE EQUILÍBRIO

Para efeito de simplificação, desprezemos, por um momento, os

mercados externos. A partir dos conteúdos desta aula, já depreendemos

que, na economia, como dizia sobre a química o francês Lavoisier, “nada

se cria, tudo se transforma”. Se tomarmos como certo que famílias

recebem uma renda, somos levados a pensar no comportamento dessas

famílias diante do mercado.

A demanda agregada, por definição, é o desejo dos indivíduos

de adquirir os bens e os serviços produzidos em um país dentro de

um determinado período de tempo. Chega-se a ela através de três

componentes: o consumo agregado (C), o investimento das empresas

(I) e os gastos do governo com bens e serviços (G). Logo,

DA = C + I + G.

Há um modelo simples que descreve algumas condições que trazem

a economia ao equilíbrio, o que equivale a dizer que, nesses casos, a

oferta agregada corresponde ao que se pretende de demanda agregada

– o que está à disposição no mercado encontra respaldo no desejo das

pessoas de consumir. Esse modelo estipula que há equilíbrio quando o

produto (PIB), que aqui representaremos por Y, for igual à demanda

agregada (DA).

Então, quando o PIB está em equilíbrio,

Y = DA = C + I + G (5).

A equação (5) é a forma simplificada da equação (1), que continha

as exportações líquidas.

Lembre-se: PIB = C + I + G (1)

para o resto do mundo quando sua atividade econômica apresentar um bom nível

de poupança e/ou um governo sem déficits em seu “caixa”. De outro modo, um país com D É F I C I T P Ú B L I C O e nível de poupança insuficiente

para contrabalançar os investimentos privados terá necessariamente um nível de importações maior do que o de exportações. Como assim?

Pense: se um país está consumindo mais do que produz, é preciso que alguém (o exterior) esteja fornecendo parte desse produto. Vale registrar

que tal situação ocorreu no Brasil durante a década de 80 do século passado.

Page 66: Barbosa 2010

64 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

Agora, mais uma vez, voltemos ao exemplo do sanduíche, exposto

no início desta aula. Como você viu ali, o valor do produto é igual ao

valor da renda (o sanduíche equivale aos cinco reais). A renda, por sua

vez, como você também já viu, é utilizada em consumo (C), poupança

(S) e em pagamento de impostos (T). Isto é:

Y = C + S + T (6)

Isso é o mesmo que dizer que o PIB é igual ao consumo, à poupança

e aos impostos somados.

Vale ainda:

Y – C = S + T (6a)

Neste caso, observe que Y – C descreve o total da renda não gasta

em consumo (a renda revertida para poupança e impostos).

Igualando as equações (6) e (5), temos que:

S + T = I + G (7)

A equação (7) mostra, entre outras coisas, que a parcela da renda

das famílias que não é gasta em consumo é igual ao montante de gastos

nos dois outros setores (empresas e governos). Assim, a produção está em

equilíbrio (oferta de produtos = demanda agregada). Não ficou claro?

Entenda um pouco mais o sentido da equação (7). Você já aprendeu

que o valor dos bens e dos serviços produzidos reverte-se em renda

destinada às famílias (salários, lucros etc.). Pois bem: com essa renda, as

famílias realizam compras no mercado (demanda), o que fecha o fluxo

circular. A partir daí você pode ficar em dúvida: “mas e se parte da renda

que as famílias recebem não for gasta, como esse círculo é fechado?”

A resposta estaria na equação (7): se o que as famílias deixam

de gastar em consumo e impostos, ou seja, o que

elas poupam, for exatamente aquilo de que os

empresários precisam para investir, e desde que as

contas públicas estejam equilibradas (G = T), haverá

equilíbrio. O que as famílias estão deixando de

comprar porque estão poupando será equivalente

ao que os empresários comprarão, embora com

dinheiro que eles não receberam como renda. Daí

segue o princípio de que é preciso que o país tenha

poupança, pois ela representa a sobra de recursos

que pode ser utilizada para investimentos.

Figura 3.5: Se o que as famílias poupam for exatamente aquilo de que os empresários pre-cisam para investir, atingimos o ponto de equilí-brio. A poupança representa a sobra de recursos que pode ser utilizada para investimento, daí sua importância para o crescimento econômico.

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Page 67: Barbosa 2010

C E D E R J 65

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LA 3

Poupança, um negócio do Japão

Certa vez , um presidente do Brasil deu a seguinte declaração aos jornais:“...o Brasil, para atingir o crescimento econômico de que tanto precisa e merece, necessita que a taxa de poupança aumente em níveis como os da taxa do Japão”.

Agora responda: que ligação você percebe entre o hábito de poupar e o crescimento econômico?___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaA poupança (ou o que podemos chamar “taxa de poupança bruta”) é o resultado da conta

“renda menos consumo e impostos”. Quando uma pessoa poupa, ela deixa seu dinheiro

no banco. Este disponibiliza tal quantia para empréstimos. Parte desses empréstimos deve

se destinar a empresários que precisem investir para aumentar a produção, mas que não

disponham dos recursos. Assim, quanto maior a taxa de poupança de uma população maior a

possibilidade de financiamento dos investimentos. E quanto maior o investimento maiores serão

a produção e o emprego gerados no futuro. A partir daí, gera-se mais crescimento econômico.

O Japão, por exemplo, tem uma das maiores taxas de poupança do mundo.

Atividade 2321

O DESEQUILÍBRIO ENTRE OFERTA E DEMANDA

Entendidos o conceito de demanda agregada e seus componentes,

analisado o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, vamos examinar

os efeitos de um excesso de produtos em relação à demanda agregada

(ou ao desejo ou propensão de compra de todos os agentes da economia).

Como você já viu na seção sobre investimentos, se parte do que

foi produzido não foi consumido, não foi utilizado para investimento

(planejado) ou para aquisição do governo, servirá de acúmulo

Veja um exemplo: uma pessoa poupa dez reais. Quando poupa

(ou aplica) essa importância, a agência bancária, como intermediário

financeiro, tenta emprestar os dez reais para alguém, que pode ser um

empresário que precise do dinheiro para investir. Nesse caso, o que a

pessoa deixou de consumir para poupar deverá ser gasto pelo empresário,

sob forma de investimentos. Daí o equilíbrio.

Page 68: Barbosa 2010

66 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

Ir = Ip?

O investimento realizado só será igual ao planejado quando a demanda

agregada for igual à oferta do produto.!!

involuntário de estoques. Nesse caso, haverá um desequilíbrio (oferta

de produtos maior que demanda por produtos) cuja sobra significará um

investimento em estoque não planejado. Logo, o investimento realizado

será maior do que o investimento planejado.

Em situação inversa, se a demanda agregada ultrapassa os níveis

de produto, haverá a completa utilização dos estoques planejados, que

serão vendidos para atender ao excesso de demanda. Assim, haverá

variação negativa de estoques. Ou seja, os investimentos realizados serão

menores do que os planejados.

Repare que, se em dado momento as empresas

estiverem acumulando (ou reduzindo) seus estoques, no

período subseqüente deverão produzir um pouco menos

(ou mais) para reduzir (ou aumentar) essa variação de

estoques não planejada.

O nível do produto se alterará enquanto houver

qualquer desigualdade entre a demanda agregada e o nível de

produto ofertado no mercado. Somente quando a demanda

agregada igualar o produto é que a produção corrente não

deverá variar. Aí encontraremos a posição de equilíbrio.

Figura 3.6: Entre o encalhe e as enco-mendas de última hora, existe o nível ideal de estoques. O que o determina é a demanda por aquele produto em um dado momento.

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Brasil, país do futuro

Atividade 3321

Em 2006, o Brasil alcançou a auto-suficiência na produção de petróleo. Em 2008, foram os gêneros alimentícios. Em 2010, praticamente todos os setores da economia brasileira eram auto-suficientes. Foi a partir de 2020 que se disseminou entre os brasileiros a convicção de que não devíamos nem importar nem exportar mais nada.

Page 69: Barbosa 2010

C E D E R J 67

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LA 3

De posse desses fatos “históricos”, analise esses dados “concretos”:

O Estado brasileiro gasta 30 bilhões de neorreais ao ano.

O nível de poupança do Brasil está na casa dos 60 bilhões de neorreais.

Os impostos pagos ao Estado chegam à marca dos 80 bilhões de neorreais.Agora responda: diante desse quadro, de quanto os empresários dispõem para investir na potente indústria nacional?

Resposta ComentadaAntes de mais nada, vale comentar que o primeiro dado, sobre a auto-suficiência do Brasil

na produção de petróleo, é real. Agora vamos em frente: ao longo desta aula, você trabalhou

em cima da substituição dos fatores que compunham a seguinte equação: PIB = consumo +

investimentos + gastos do governo + exportações líquidas (PIB = C + I + G + (X – M) (1)).

Viu também que, em uma economia em equilíbrio, o PIB se iguala à renda e à demanda

agregada (PIB = Y = DA). Viu ainda que a renda das famílias se desdobra em consumo,

poupança e impostos. Logo,

PIB = Y = DA = C + I + G + (X – M)

Y = C + S + T

C + S + T = C + I + G + (X – M)

S + T = I + G + (X – M)

Mas como já definimos que o “novo Brasil” não importa nem exporta,

S + T = I + G

Ou, a partir dos valores apresentados,

60 + 80 = I + 30

140 = I + 30

I = 110

Logo, os empresários deverão dispor de 110 bilhões de neorreais para fomentar a

produção nacional em seus mais diversos setores.

CONCLUSÃO

A economia de um país é regida pelos mesmos princípios que

norteiam a administração de qualquer mercado de bens e serviços: oferta

e demanda precisam ser niveladas a todo momento, a fim de que os níveis

de preços se mantenham em patamares interessantes para vendedores

Page 70: Barbosa 2010

68 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

1. Dados do IBGE informam que a participação do consumo no PIB brasileiro caiu de 58% em 2003 para 55,3% em 2004. A média histórica da participação do consumo é de cerca de 65%. Considerando que o IBGE acusou, no período, um crescimento do PIB de 4%, comente se essa redução do consumo representa uma perda de bem-estar das famílias.

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Resposta Comentada

Não necessariamente. O consumo pode aumentar, ainda que em proporção ao PIB ele diminua

(dados mostram elevação de 4% do consumo em 2004). Se o consumo cai em proporção ao

PIB, a taxa de poupança pode ter aumentado. Se esta última foi maior que a taxa de investimento

(FBCF), então a taxa a mais de poupança foi destinada a financiar os gastos do governo (déficit

público) ou foi enviada ao exterior (por exemplo, para reduzir a dívida externa).

Sobre o panorama descrito, que se refere ao caso real brasileiro, saiba: segundo declarou o

economista Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA), em entrevista ao jornal Valor Econômico (5/4/2005), “a taxa de poupança é

muito importante porque mostra que o Brasil tem sido capaz de gerar domesticamente a poupança

necessária aos investimentos”.

Pelos dados do IBGE, a taxa de investimentos contabilizada (apenas) pelo FBCF foi 0de 19,6%, e

a da poupança, de 23,2%. Em termos de dados macroeconômicos, essa situação é confortável,

pois indica que o investimento privado não precisou de recursos externos e que a poupança

interna deve ter contribuído para melhorar as contas externas.

Atividades Finais

e consumidores, e estoques precisam ser escoados ou abastecidos,

dependendo do nível de demanda por cada produto.

Quando calculamos o produto interno bruto de um país, devemos

levar em consideração todos os gastos realizados pelas famílias, a

arrecadação de impostos e os gastos feitos pelo governo. Como todos esses

fatores atendem a uma equação de identidade, é o bom gerenciamento

dos recursos que vai proporcionar uma equação em equilíbrio.

A administração pública tem um papel muito importante no fluxo

de capitais de um país, na medida em que contas públicas deficitárias

interferem nas importações e nas exportações e podem levar a economia

a depender de organismos internacionais, que costumam trazer consigo

compromissos a serem assumidos pela administração local que vão

interferir até no valor dos impostos pagos pela população.

Page 71: Barbosa 2010

C E D E R J 69

AU

LA 3

Para ser uma situação negativa, o nível de consumo das famílias precisa estar abaixo de um patamar

socialmente aceitável. Ainda assim, lembre-se de que níveis elevados de poupança e de investimento

são elementos favoráveis ao crescimento econômico, e que, no longo prazo, permitem elevar o

padrão de vida da população.

2. Reflita: o investimento em estoques pode assumir valor negativo? Em que caso isso

ocorre?

________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Resposta Comentada Sim, investimentos em estoques representam os produtos que foram produzidos porém não

vendidos ou utilizados em determinado período. Quando ocorrer o contrário disso, ou seja, bens

que sejam vendidos sem que tenham sido produzidos naquele período, tem-se o investimento

em estoque negativo. Para que isso ocorra, basta que a demanda seja maior do que a produção

planejada. Nesse caso, os empresários procurarão atender a esse excesso de demanda com

a venda de seus estoques.

Consumo, investimento, gastos do governo e exportações líquidas

representam os componentes da demanda agregada em relação ao PIB.

A renda gerada na produção dos bens e serviços é utilizada para o consumo,

para a poupança e para o pagamento de tributos.

A conjugação das equações dos componentes do produto e da renda leva a

múltiplas e importantes relações que ajudam a ter controle sobre a atividade

econômica de um país.

A poupança das famílias é importante não apenas para elas mesmas, pois

financia o investimento e pode financiar os gastos do governo ou contribuir

para saldar os compromissos externos.

Sempre que a poupança for insuficiente para financiar a demanda por

investimentos, ao mesmo tempo em que houver déficit público, haverá

importações em valores superiores às exportações.

O consumo é o item da demanda agregada de maior peso no PIB brasileiro

e mundial.

R E S U M O

Page 72: Barbosa 2010

70 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada

INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você continuará a estudar os componentes da demanda

agregada. Vamos abordar como é determinada a produção ou a renda

de equilíbrio. Estudará ainda o que se conhece como modelo keynesiano

simplificado de determinação da demanda agregada. Serão estudados os

fatores que afetam o consumo e como este afeta a renda de equilíbrio.

LEITURA RECOMENDADA

Nesta aula foi citado o FMI. Se você quiser saber um pouco mais sobre o

que faz o Fundo Monetário Internacional, bem como ter acesso a dados de

outros países, visite o site do fundo: www.imf.org (em inglês).

Page 73: Barbosa 2010

Determinação da renda e da produção de equilíbrio

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

determinar a variação do consumo em uma economia, a partir do modelo keynesiano;

identificar o valor da renda de equilíbrio, o nível de poupança (na condição de equilíbrio) e o efeito do aumento da poupança na economia de uma nação;

analisar o processo de multiplicação de renda a partir da comparação entre diferentes tipos de multiplicadores;

aplicar o modelo keynesiano a situações hipotéticas dentro da economia de um país.

4objetivos

AU

LA

Meta da aula

Descrever o modelo simplificado de determinação da renda de equilíbrio.

1

2

3

4

Pré-requisito

Esta aula utiliza os conceitos apresentados na Aula 3, além de fazer uma aplicação da soma de uma extensa

série de termos. Caso alguma dificuldade persista após o término desta aula, uma breve consulta aos

elementos que compõem o cálculo do PIB pode ajudar.

Page 74: Barbosa 2010

72 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 73

AU

LA 4INTRODUÇÃO

MO D E L O E C O N Ô M I C O

Segundo o Dicionário Aurélio, é a representação simplificada de relações entre variáveis econômicas, em geral sob a forma de um sistema de equações, e que, com o uso de técnicas econométricas, pode fornecer simulações ou previsões.

Figura 4.1: Várias são as maneiras de se determinar o nível de atividade econômica de um país, seja a partir do que se produz, seja a partir do que se consome. Qualquer que seja o caminho escolhido, é preciso ter em mente que um sistema econômico é composto por peças que se encaixam segundo uma lógica específica. (foto site http;//www.sxc.hu #133388, sem autor)

Na aula passada, desmembramos os fatores que compõem o cálculo do Produto

Interno Bruto (PIB). Agora chegou a hora de investigarmos um pouco mais a

fundo os fatores que fazem com que a produção nacional seja alterada de um

período a outro. Para isso, estudaremos o modelo de determinação da renda ou

produto de equilíbrio. Vamos partir de um MODELO ECONÔMICO simplificado,

a que se convencionou chamar keynesiano, por conta de seu idealizador, o

economista John Maynard Keynes.

O modelo keynesiano, sistema de equações desenvolvido por Keynes, enfatiza

que a demanda por produtos tem papel fundamental na determinação do nível

de produção e de renda de uma economia. Segundo o modelo, se a demanda

agregada aumenta, as empresas procuram atender a essa elevação por meio de

mais produção e de mais empregos, o que, por sua vez, faz aumentar a renda,

possibilitando sucessivas expansões de produção, até que a economia chegue

a um novo ponto de equilíbrio. É importante notar que o modelo formulado

por Keynes é uma simplificação do funcionamento dos mercados, uma vez

que estabelece várias hipóteses que reduzem suas características a elementos

passíveis de serem analisados em um modelo macroeconômico.

Você lembra da aula anterior? Pois então, vamos retomar algumas considerações

sobre os componentes da demanda agregada. Para tal, vejamos inicialmente o papel

do consumo para entender o conceito de demanda dentro deste contexto.

Page 75: Barbosa 2010

72 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 73

AU

LA 4

O CONSUMO

Imagine uma pequena cidade chamada Queinópolis. Agora

suponha que cada morador gaste exatamente metade de sua renda na

cidade. Suponha ainda que uma fábrica tenha se instalado em Queinópolis

e que a folha de pagamento de seus empregados seja de R$ 500 mil. Todos

os empregados contratados pela fábrica moram na cidade.

Agora pense: de quanto é o aumento na renda dos moradores de

Queinópolis proporcionado pela fábrica?

Certamente, os R$ 500 mil representam uma renda adicional

para os assalariados daquela empresa. Mas a história não pára por aí,

pois a totalidade das pessoas que receberam seus salários deverá gastar

R$ 250 mil (metade de sua renda) localmente, quantia que representará

uma renda adicional para lojistas, encanadores, professores, advogados

etc. Pensando dessa maneira, a renda dos moradores de Queinópolis

agora aumentou para R$ 750 mil. Lojistas, encanadores, professores

e advogados, por sua vez, irão gastar R$ 125 mil reais com outros bens e

serviços, acarretando um aumento de R$ 875 mil na renda dos moradores

da cidade. O processo continua, até que a renda total dos moradores de

Queinópolis se aproxime de R$ 1 milhão.

Renomado economista inglês, John Maynard Keynes publicou, em 1936, sua Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. A obra aborda temas contemporâneos ao período entre guerras, quando uma severa crise econômica espalhava-se pelo mundo. Para ele, o alto desemprego decorrente da Grande Depressão, no final dos anos 20, era devido à insuficiência generalizada da demanda agregada na tarefa de absorver o total de bens e serviços produzidos ao redor do mundo. Dado o quadro de grave recessão, não havia quem estivesse propenso a adquirir o que era produzido. Para Keynes, a demanda agregada era baixa principalmente por conta do baixo nível de investimentos. Segundo o economista, a receita para restabelecer a prosperidade estaria no papel dos gastos do governo, que, alcançando patamares mais altos, impulsionariam a produção e o emprego, permitindo que a economia retomasse o rumo do crescimento.

Figura 4.2: John Maynard Keynes (1883-1946).

??

Page 76: Barbosa 2010

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C E D E R J 75

AU

LA 4

Note que os R$ 500 mil iniciais irão se expandir para quase R$ 1

milhão (se continuarmos aplicando o efeito de aumento proporcional),

uma vez dentro do sistema econômico da cidade. A esse fenômeno

chamamos efeito multiplicador. O tamanho do efeito multiplicador

na nossa pequena cidade de Queinópolis depende diretamente da

porcentagem da renda que os moradores gastam localmente; nesse caso,

50%. Quanto menor a porcentagem, mais rapidamente a renda adicional

sai do sistema econômico da cidade e menor o valor do multiplicador.

Para entendermos bem essa idéia, é importante pensar o quanto

de sua renda cada pessoa está disposta a gastar na cidade. O modelo

matemático que estima esse tipo de comportamento representa o que

chamamos função de consumo. Essa função diz que a quantidade de

gastos de uma pessoa depende de sua renda, e, conforme essa renda

aumenta, também aumenta o consumo.

Você, com certeza, já percebeu como a economia influencia a vida de toda e qualquer comunidade, certo? Para que isto fique ainda mais claro, você pode ver o filme Roger & Me, dirigido por Michael Moore (1989). Para produzir este filme, Moore filmou, ao longo de cinco anos, a história de como a depressão econômica e o desemprego atingiram a cidade de Flint (onde nasceu). A cidade natal de Moore vivia só de uma indústria de automóveis, e quando a General Motors, maior fabricante de carros do mundo, fechou as instalações, a cidade ficou arrasada.

a. Renda adicional R$ 500.000,00b. Aumento da renda para consumo R$ 250.000,00 (50% de a)

Total R$ 750.000,00 (a + b)

c. Aumento da renda de terceiros R$ 125.000,00 (50% de b)

Agora vamos utilizar outro exemplo. Analise com atenção a Tabela

4.1, que representa uma estimativa do comportamento de consumo e

poupança do morador de uma outra cidade, ao longo de um ano. A tabela

mostra que, se esse morador espera uma renda de R$ 10.000 anuais, seu

consumo será de R$ 12.500. Repare que esse comportamento somente

é possível porque ele foi obrigado a despoupar, ou seja, utilizar recursos

Page 77: Barbosa 2010

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AU

LA 4além de sua renda, como por exemplo sacar dinheiro de uma poupança

para atender ao seu consumo básico.

Continue analisando a tabela. Se a renda anual desse morador

aumentar em R$ 2.000, ou seja, passar para R$ 12.000, o consumo básico

dele aumenta também, e ainda é necessário despoupar. O consumo

básico de uma pessoa varia conforme sua renda e tende a aumentar

conforme seus rendimentos aumentam.

Vamos agora fazer alguns cálculos básicos.

O primeiro aumento na renda anual desse morador foi de

R$ 2.000, certo? De R$ 10.000 para R$ 12.000. Seu consumo, por sua

vez, aumentou em R$ 1.500. De R$ 12.500 para R$ 14.000. Se você

reparar bem, 1.500 representam 3⁄4 de 2.000 (1.500 / 2.000).

Se continuarmos a fazer esses cálculos, vamos notar que, em todas

as situações analisadas, o aumento do consumo é sempre equivalente a

3⁄4 do aumento da renda anual do morador. Basta fazer as divisões para

perceber. Por que você não tenta conferir?

A fração de renda adicional que uma pessoa gasta possui um nome

especial: a PROPENSÃO MARGINAL A CONSUMIR ou (PMc).

Renda anual esperada(em R$)

Consumo anual(em R$)

Poupança anual (em R$)

10.000 12.500 -2.500

12.000 14.000 -2.000

20.000 20.000 0

30.000 27.500 2.500

A propensão marginal a consumir pode ser calculada da

seguinte maneira:(1) PMc = (mudança no consumo) /

(mudança na renda)!!

PRO P E N S Ã O M A R G I N A L A

C O N S U M I R

A propensão marginal a consumir

mede quanto da variação da renda será utilizada para

aumentar o consumo. Seu intervalo de

variação é de 0 a 1. À medida que o consumo aumenta, dados os limites da renda, a propensão

marginal a consumir diminui. Um

indivíduo que tenha ganhos bastante

limitados, após suprir suas necessidades básicas, terá uma

propensão marginal próxima de zero.

Tabela 4.1: Diferentes valores de consumo e de poupança estimados a partir da variação na renda anual esperada por um indivíduo. Conforme aumenta a renda anual, também aumenta o consumo até que se atinja uma situação em que é possível poupar.

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Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

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AU

LA 4O CONSUMO AUTÔNOMO

Outra informação importante é que existe um consumo que

sempre ocorrerá, mesmo que a renda esperada de uma pessoa seja

equivalente a zero. É uma indicação do consumo de subsistência ou

vital desse indivíduo, que denominamos consumo autônomo.

Como uma pessoa pode consumir alguma coisa sem ter renda?

Parece impossível, mas a resposta é simples: ela pode sacar dinheiro de sua

poupança, pedir emprestado, receber doações etc. Considera-se, portanto,

que haverá sempre algum nível de consumo em um determinado período

de tempo, mesmo que o indivíduo não obtenha renda.

Vamos tornar nossa análise um pouco mais complexa e imaginar,

então, que o consumo autônomo do morador mencionado na Tabela 4.1

seja equivalente a R$ 5.000 anuais. Esse é um valor fixo, que não muda

conforme a renda aumenta. Podemos representar a função de consumo

demonstrada na tabela por meio de uma equação:

Consumo = $5.000 + 3 (renda recebida) 4Se substituirmos a renda esperada por qualquer dos valores

apresentados na tabela, chegaremos ao mesmo resultado de consumo

apresentado:

Consumo = $5.000 + 3 .($10.000) = $5.000 + $7.500 = $12.500 4

Repare que, nessa equação, está representado o valor da propensão

marginal a consumir, que nesse caso é 3⁄4. Como o resultado da equação

varia dependendo dos valores de consumo autônomo, propensão

marginal a consumir e renda esperada, podemos representar essa função

de consumo da seguinte maneira:

C = Co + cY

C representa o consumo;

Co representa a parcela de consumo que não depende da renda, ou seja, o consumo autônomo e se refere aos gastos essenciais (arroz, feijão, conta de luz etc.);

c mede a variação do consumo em relação à variação da renda, a propensão marginal a consumir (PMc).

Y é a renda esperada.

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AU

LA 4A RENDA DISPONÍVEL

A partir deste ponto da aula, podemos refinar ainda mais o

conceito de renda. Na aula passada, vimos que a renda tem três destinos

possíveis: consumo, poupança e pagamentos de impostos. Chamemos

então de renda disponível tudo o que resta às famílias, descontados dos

ganhos totais os impostos diretos (imposto de renda, CPMF etc.), ou

seja, vamos assumir que a renda disponível, que pode ser revertida para

o consumo ou para a poupança, é a principal variável envolvida na

determinação do nível de gastos (ou consumo) de um indivíduo. É certo

que outras variáveis, como a taxa de juros, também afetam o consumo,

mas, neste modelo simples, apenas a renda será considerada.

Para resumir o parágrafo anterior, modificamos um pouco a

expressão matemática que havíamos apresentado anteriormente e

descrevemos o consumo como uma função que depende da renda

disponível, como se segue:

C = Co + cYd

POUPAR OU CONSUMIR?

Que tal entendermos um pouco mais acerca dos P A R Â M E T RO S

da função de consumo? Lembre-se de que o consumo autônomo (Co)

pode ser interpretado como a quantidade de bens e serviços consumidos

mesmo que os indivíduos estejam sem renda (renda zero). Isso seria uma

indicação de consumo de subsistência ou vital.

A propensão marginal a consumir (PMc), por sua vez, expressa

a disposição da população para alterar seu nível de consumo dado um

acréscimo de renda. Veja, é senso comum: a renda de um indivíduo é

destinada ao consumo ou à poupança. Um aumento da renda disponível

A única diferença entre esta expressão e a anterior

é justamente a forma como a renda é expressa: Yd é a renda disponível, ou seja, a renda apropriada pelas famílias,

descontados os impostos diretos pagos ao governo.!!

PA R Â M E T RO S

Valores que determinadas

variáveis ou constantes podem

assumir em uma equação.

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AU

LA 4normalmente faz com que uma parte seja direcionada ao consumo e que

outra vá para a poupança (lembre-se de que não existe outro destino

da renda que não seja um desses dois, a menos que se rasgue dinheiro,

o que não seria um comportamento racional). Perceba que alguém que

ganhe muito pouco provavelmente destinará grande parte ou a totalidade

de uma variação positiva da renda ao consumo, a fim de satisfazer suas

necessidades, enquanto outra pessoa que seja muito bem remunerada

tenderá a destinar seus novos ganhos à poupança.

Além do conceito de propensão marginal a consumir, os

economistas também se referem à propensão marginal a poupar, que

representa a fração da renda adicional que uma pessoa destina à

poupança. Uma vez que as pessoas ou gastam ou poupam sua renda

adicional, a soma da propensão marginal a consumir com a propensão

marginal a poupar deve ser equivalente a 1. Vamos entender melhor

essa idéia?

O valor da propensão marginal a consumir normalmente está

entre 0 e 1. Como a PMc é uma fração, o valor 1 indica que nenhuma

parcela da renda adicional será poupada; toda a quantia será gasta.

Para você não ter dúvidas quanto a esses valores, basta lembrar que

a propensão marginal a consumir é calculada dividindo-se a mudança

no consumo pela mudança na renda. Se minha renda adicional foi de

R$ 1.000, e eu gastá-la por completo (-R$ 1.000), o resultado da divisão é

1 (1.000/1.000). Para algumas pessoas, o valor de PMc igual a 1 é razoável,

e significa que toda a renda adicional recebida é gasta. Para outras, o valor

0 também é razoável, e significa que uma renda adicional de R$ 1.000 foi

integralmente destinada à poupança (0/100), na Tabela 4.1, a PMc era

igual a 3⁄4, ou seja, 1⁄4 da renda adicional não foi gasto, mas destinado

à poupança.

Valores de PMc extremos, como 0 ou 1, não são comuns a

todas as pessoas; de forma geral, esse valor está entre 0 e 1. Perceba: um indivíduo sozinho até

pode se comportar como um autêntico pão-duro (PMc = 0) ou como um tremendo gastador (PMc = 1), mas em termos agregados (para a população

como um todo) tais extremos são improváveis.

!!

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AU

LA 4Pensando em termos nacionais, se a propensão marginal do país

para o consumo for de, digamos, 0,8, e se a renda nacional variar 10 u.m.

(10 unidades monetárias, uma moeda qualquer), o consumo agregado

no país deverá aumentar 8 u.m.. Simples, concorda? Exatamente o

mesmo cálculo que fizemos anteriormente, levando em conta apenas

um indivíduo.

Em suma: vimos que um aumento da renda disponível pode se

reverter para o consumo. Vimos também que há um segundo caminho,

a poupança. Como o aumento da renda se converte em mais consumo e

mais poupança, o que não for destinado ao consumo vai necessariamente

para a poupança, e vice-versa.

Disto resulta:

c + s = 1

Nessa equação, a nova variável s (do inglês savings) é a propensão

marginal a poupar, que significa a parcela da variação da renda que será

destinada à poupança.

Consumir ou poupar?

Explique, no nível de compreensão de uma pessoa leiga, como é que, pela teoria keynesiana, um aumento no consumo autônomo de R$ 10,00 pode resultar em um aumento nas vendas totais de uma economia em mais de R$ 10,00.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada Uma pessoa, ao comprar um produto, gera renda para quem vende. Esta última irá gastar

parte do que recebeu efetuando outras compras. E esse comportamento se repete até que

esse processo termine, ou seja, quando as vendas adicionais cessarem. Espera-se que as

novas compras diminuam a cada fase, posto que nem toda renda é gasta; parte dela pode

ser utilizada para poupar ou importar.

Atividade 11

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AU

LA 4A função poupança

Antes de passarmos ao tópico seguinte desta aula, vamos rever

uma equação que aprendemos na aula passada, que relaciona renda,

consumo, poupança e impostos na economia de um país, de modo que

fique mais fácil compreendermos como devemos representar a poupança

no modelo keynesiano:

Y = C + S + T

(renda = consumo + poupança + impostos)

Se simplesmente rearranjarmos os termos dessa igualdade,

facilmente perceberemos que:

Y – T = C + S

Ora, Y – T nada mais é que a representação da renda disponível (Yd),

conforme discutimos anteriormente, ou seja, a renda disponível

para as famílias, deduzidos os impostos a pagar, lembra? Então, podemos

escrever ainda que:

Y – T = Yd = C + S

Isso equivale a dizer que a renda disponível é igual a consumo +

poupança, ou que a renda disponível é igual à renda total, descontados

os impostos. E isso tudo nós já havíamos aprendido antes, certo? Então

vamos adiante.

Você se lembra da equação que define a função de consumo, que

estudamos anteriormente nesta aula?

C = Co + cYd

Se retomarmos as igualdades que representam a renda disponível

e nos concentrarmos no lado direito da equação

Y – T = Yd = C + S,

veremos que é possível substituir a variável C, conforme descrita

na função de consumo, de forma a chegar a uma nova equação:

Yd = Co + cYd + S

Ou ainda, se a rearranjarmos:

S = - Co + (1- c)Yd

Esta última equação é o que se chama FUNÇÃO POUPANÇA . Observe

que, se a renda disponível for zero, a poupança será de -Co. Isso fica

bastante claro se voltarmos ao que dissemos: o consumo autônomo se

FU N Ç Ã O P O U P A N Ç A

A função poupança representa a poupança como dependente do nível de renda. Esta relação é positiva, ou seja, quanto maior a renda, maior o nível de poupança. A função assume valores negativos para níveis demasiadamente baixos de renda disponível, o que pode ser entendido como uma “despoupança”.

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AU

LA 4refere aos gastos essenciais. Um indivíduo sem renda não poderá gastar

com nada que não se encaixe nesse tipo de despesa.

A RENDA DE EQUILÍBRIO

Agora chegamos a um ponto importante da nossa aula, no qual

vamos discutir uma situação de equilíbrio, segundo o modelo de Keynes.

Para isso, vamos voltar a analisar a Tabela 4.1, que reproduzimos

a seguir.

Se a função consumo é dada por C = 60 + 0,5 (Y - T), expresse a função poupança correspondente.

Resposta A poupança é obtida por Y – C.

S = Y - 60 + 0,5 (Y - T) = - 60 + 0,5(Y - T)

Atividade 2

2

Renda anual esperada(em R$)

Consumo anual(em R$)

Poupança anual (em R$)

10.000 12.500 -2.500

12.000 14.000 -2.000

20.000 20.000 0

30.000 27.500 2.500

Tabela 4.1: Diferentes valores de consumo e de poupança estimados a partir da variação na renda anual esperada por um indivíduo. Conforme aumenta a renda anual, também aumenta o consumo, até que se atinja uma situação em que é pos-sível poupar.

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AU

LA 4Nesse exemplo, em qual situação a renda esperada equivale aos

gastos efetuados pelo morador? Repare que, para uma renda esperada

de R$ 20.000, o consumo é de mesmo valor. Essa situação representa a

renda de equilíbrio.

Antes de continuarmos, pense que, se uma pessoa espera receber

determinada renda mas acaba gastando mais do que recebe, é razoável

supor que haja uma mudança de comportamento de forma a atingir

um equilíbrio lógico, em que a renda esperada seja equivalente à renda

recebida. Em termos macroeconômicos, a renda de equilíbrio representa

uma situação em que o nível de renda vigente na economia proporcione

a oferta de bens e serviços igual à respectiva demanda (tudo o que se

produz é consumido, sem faltas nem sobras).

Como se alcança a renda de equilíbrio?

Vamos voltar a alguns conceitos discutidos anteriormente e

somar elementos às equações que constituem nosso modelo. O consumo

não é o único tipo de gasto observado em um país. As empresas, por

exemplo, fazem gastos sob a forma de investimentos, o governo faz

gastos variados e a economia de um país também é influenciada pelas

transações que realiza com outras nações. O governo, ainda, cobra

impostos da população.

Todos esses fatores aumentam a complexidade de um modelo

que prevê o funcionamento de qualquer economia, embora a lógica a

ser considerada seja sempre a mesma. Da mesma forma como tomamos

decisões acerca de como e quanto consumir, as decisões dos empresários

acerca dos investimentos a serem feitos dependem da renda esperada

para a empresa em determinado período.

Para completar o modelo, é necessário adicionar o governo, pois

este afeta o fluxo econômico de uma nação de duas maneiras: soma à

renda do país (por meio da compra de bens e serviços) e retira dinheiro do

sistema (por meio dos impostos). Os gastos governamentais incluem, por

exemplo, a compra de veículos, o pagamento de salários e a construção

de estradas. A adição dos gastos e impostos governamentais implica um

papel na determinação da renda nacional. Quando o governo aumenta seus

gastos, a renda nacional é elevada e também sofre o efeito multiplicador

mencionado anteriormente. Se o governo aumenta os impostos, a renda

nacional esperada diminui e as pessoas tendem a reduzir seu consumo.

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LA 4A renda de um país, portanto, deve ser considerada a partir da

incorporação dos investimentos empresariais e dos gastos governamentais,

além do consumo nacional, naturalmente: I + G + C (Investimento +

Gasto + Consumo).

Voltando à questão do equilíbrio, nós argumentamos que tal

situação, no modelo keynesiano, é aquela em que a renda esperada é

igual à renda obtida. Uma outra maneira de olharmos para essa condição

é considerar que a renda esperada é determinada por três fatores: os

impostos (que afetam a renda negativamente, diminuindo-a), o consumo

e a poupança esperada, ou:

Yexp = T + C + Sexp

Havíamos mencionado que a renda real (do inglês, actual) é

decorrente de três fatores: consumo, investimento e gastos gover-

namentais, ou:

Yact = C + I + G

No equilíbrio, estas duas equações são iguais, ou:

T + C + Sexp = C + I + G

Eliminado C de ambos os lados, temos a condição de equilíbrio

expressa sob a forma:

Sexp + T = I + G

Em outras palavras, essa equação diz que o equilíbrio existe

naquele nível de renda em que a quantidade de dinheiro que as pessoas

tendem a retirar do fluxo de gastos, seja na forma de poupança seja

na de impostos, equivale àquela que elas intencionam adicionar a este

fluxo como investimento, seja por meio das empresas, seja por meio dos

gastos governamentais.

Nesse modelo, os investimentos empresariais e os gastos

governamentais significam entrada de renda (influxo) e os impostos

e poupança esperados significam saída de renda (perda). Conforme

Yexp = renda esperada (do inglês expected)

T = impostos

C = consumo

Sexp = poupança esperada

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AU

LA 4aumenta a entrada de renda para um sistema, também aumenta sua

saída, sob a forma de poupança esperada.

Da mesma maneira como há apenas um nível de água em um

balde no qual o vazamento equivale à entrada de líquido, há apenas um

nível de renda no modelo no qual a saída de renda equivale à entrada.

Esta é a situação de equilíbrio.

GASTOS AUTÔNOMOS E EFEITO MULTIPLICADOR

A voz de uma pessoa falando pode ser ouvida como um mero

sussurro ou por todo um estádio de futebol, dependendo da amplificação

a que é submetida. Um carro com um bom sistema de amortecimento

pode trafegar suavemente mesmo sobre uma rua toda esburacada.

E a economia de um país, o que você acha? Comporta-se como um

carro que amortece solavancos ou como um amplificador dos menores

sussurros? Essas são analogias que nos ajudarão a compreender melhor

os conceitos que continuaremos a discutir em nossa aula.

Um conceito importante é o de gastos autônomos, ou seja, os gastos

em uma economia que independem de flutuações de renda no sistema.

Lembra do conceito de consumo autônomo? Pois dentro do modelo

keynesiano, o consumo autônomo (Co), os gastos governamentais e as

exportações, entre outros, são considerados gastos autônomos.

Gastos governamentais

Investimentos

Impostos Poupança

Renda de equilíbrio

Figura 4.3: O equilíbrio do modelo de renda e gas-tos equivale àquele de um balde d'água vazando. O influxo de água deve equivaler à perda de líquido.

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84 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

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AU

LA 4Agora vamos imaginar um incremento em qualquer item dos

gastos autônomos, como por exemplo gastos governamentais, que

representam uma entrada de renda no sistema. Essa despesa adicional

do governo indica que alguém está recebendo mais renda. Vamos

retomar o processo que discutimos anteriormente nesta aula. Diante de

um aumento de renda, o indivíduo eleva seu consumo de acordo com

sua propensão marginal a consumir, lembra? Isso significa que, além

desse indivíduo, haverá outras pessoas se beneficiando desse consumo

adicional por meio do recebimento de renda. Essas pessoas, por sua vez,

também gastarão essa renda com mais consumo, dada a sua propensão

a consumir. Daí em diante, outras pessoas receberão como renda tais

aumentos de consumo, e assim sucessivamente. Da mesma forma ocorre

quando o governo incrementa a renda do sistema com o aumento de

gastos (como infra-estrutura, por exemplo).

Na situação descrita, um aumento nos gastos autônomos gerou

um efeito multiplicador sobre o consumo, o que, por sua vez, acarreta

uma diminuição não planejada nos estoques de diferentes produtos, e

assim surge a necessidade de uma nova produção por parte das empresas,

alterando o sistema econômico e conduzindo a uma nova condição de

equilíbrio de renda.

Agora que entendemos o conceito de gastos autônomos e suas

implicações para o equilíbrio de um sistema, vamos tentar voltar às

equações que constituem nosso modelo e representar esses componentes

do ponto de vista matemático. Começaremos retomando duas equações

que já vimos nesta aula:

Y = C + I + G

C = Co + cYd

Vamos a um exemplo prático para você entender melhor. Imagine que o governo contratou a

empreiteira Toda Obra S.A. para construir 1.000 casas populares. A empreiteira, para dar conta da obra, contratou mais 100 funcionários,

comprou mais cimento e tijolo da distribuidora Tem Tudo Ltda. Esta firma, por sua vez, precisou refazer seu estoque, e para tal contactou a olaria Barro Bom Ltda. para repor o produto da distribuidora. A olaria, por

conseqüência, teve de aumentar sua produção para atender à demanda, e assim por diante. Ficou clara a idéia de

efeito multiplicador?

!!

Page 88: Barbosa 2010

86 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 87

AU

LA 4Se combinarmos essas duas equações, percebemos facilmente

que:

Y = Co + cYd + I + G

Para relembrarmos ainda que a renda disponível é a renda menos

os impostos, devemos recuperar uma outra equação:

(Yd = Y - T)

Fazendo uma nova substituição de termos, temos que:

Y = Co + c (Y – T) + I + G

Y = Co + cY – cT + I + G

Y – cY = Co – cT + I + G

Se você gastar alguns minutos desenvolvendo ainda mais essa

equação, chegará facilmente à igualdade abaixo, que descreve as variáveis

que determinam a renda na situação de equilíbrio (Ye):

Para que você entenda um pouco melhor do que estamos tratando,

vamos separar o lado direito dessa igualdade em duas partes:

e Co – cT + I + G

O primeiro termo ( ) é chamado multiplicador dos gastos

autônomos (m). Ele recebe esse nome porque o valor da renda de

equilíbrio será m vezes o valor dos componentes autônomos da equação

(consumo, gastos governamentais etc.), representados pelo segundo termo

(Co – cT + I + G).

O multiplicador dos gastos mostra o efeito de uma variação nos

gastos autônomos sob a forma de uma variação ainda maior na renda.

Como a fração será sempre um valor maior que um (daí se chamar

multiplicador), o produto dessa fração pela variação nos gastos autônomos

naturalmente resultará em um aumento na renda de equilíbrio maior do

que apenas a elevação dos gastos autônomos propriamente ditos.

Ficou mais fácil entender a equação agora? Então voltemos a ela:

YecCo cT G=

−− + +1

11( )

11− c

11− c

YecCo cT G=

−− + +1

11( )

Page 89: Barbosa 2010

86 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 87

AU

LA 4Como mencionamos, o segundo termo do lado direito dessa

equação diz respeito aos gastos autônomos. Em termos matemáticos,

podemos perceber com essa equação que a renda de equilíbrio varia

linearmente em função da variável T (os impostos). Como o coeficiente

que acompanha o termo linear T é negativo (-c), a renda de equilíbrio

diminui linearmente à medida que o valor de T aumenta. Em termos

concretos, isso equivale a dizer que quanto mais se aumentam os

impostos, menor será a renda disponível para o consumo e, assim,

menor será a renda de equilíbrio.

Mexendo na poupança

Considerando os dados a seguir,

Y = C + I + GC = 100 + 0,8 YI = 150G = 50T = 0

determine:

a. o valor da renda de equilíbrio;

b. o nível de poupança na condição de equilíbrio.

c. Suponha que foi feita uma campanha nacional para que todos poupem mais (elevem sua taxa de poupança). Sendo bem-sucedida tal campanha e considerando que os gastos autônomos serão os mesmos, qual seria o efeito dessa campanha sobre a renda ou o produto dessa nação?

Atividade 33

Page 90: Barbosa 2010

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Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 89

AU

LA 4

Resposta ComentadaObservando que Y nesta questão é a renda disponível, a letra a é resolvida utilizando a

equação ( ), da qual resulta que a renda de equilíbrio deve ter valor

de 1.500 u.m.

A função poupança dada pela equação S = – Co + (1- c)Yd, por sua vez, determina o nível

de poupança em 200 u.m.

Por fim, vamos à resposta da letra c: um aumento da propensão a poupar acarreta simultânea

diminuição na propensão a consumir (lembre-se de que elas estão inversamente relacionadas).

Em outras palavras, se as pessoas estão poupando um pouco mais com o mesmo salário

que recebem, apenas o valor de C se alterou (nesse caso, diminuiu). O consumo diminui e no

final a renda de equilíbrio também cairá, dado que o multiplicador diminuiu. Isto é conhecido

como paradoxo da parcimônia. Com base nesta atividade, podemos constatar que o nível da

renda de equilíbrio dado pela equação depende da propensão marginal a consumir e dos

componentes dos gastos autônomos. Quanto maior o valor de algum desses itens, tanto maior

será o valor da renda de equilíbrio.

ALTERAÇÃO NOS IMPOSTOS

Você deve ter percebido que, até aqui, consideramos os impostos

como gastos autônomos. Pois agora, visto o comportamento dos

indivíduos diante de variações na renda, suponha uma mudança na

política fiscal do governo (uma variação nos impostos). Examine a seguir

a expressão que indica o efeito da alteração dos impostos sobre a renda

de equilíbrio, expressa pela equação que você já conhece bem:

Como você sabe, mudanças, em qualquer variável, são

representadas pelo símbolo ∆ (delta). Dessa forma, se considerássemos

que todos os elementos constitutivos dos gastos estivessem variando, a

variação da renda de equilíbrio seria representada da seguinte forma:

Como apenas consideramos a variação dos impostos, todas as

outras alterações assumem valor zero e, dessa forma, a equação que

representa a variação de renda de equilíbrio passa a ser expressa assim:

YecCo cT G=

−− + +1

11( )

YecCo cT G=

−− + +1

11( )

∆Y = 1 (∆Co – c∆T + ∆I + ∆G) 1– c

Page 91: Barbosa 2010

88 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

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AU

LA 4

Ou ainda:

Em termos concretos, essa equação equivale a dizer que um

aumento nos impostos cobrados pelo governo diminui a renda

nacional, pois reduz o nível de consumo para qualquer nível de

renda da população.

MODELO DE DETERMINAÇÃO DA RENDA COM IMPOSTOS EM FUNÇÃO DA RENDA

Nesse ponto, é importante compreendermos um pouco mais acerca

de como os impostos interferem na renda de equilíbrio. Vamos considerar

que a arrecadação tributária de um país hipotético seja proporcional à

renda. Ou seja: quem ganha mais paga uma alíquota maior “ao leão”, e os

impostos, portanto, devem ser expressos em função da renda, assim:

T= tY (0< t < 1)

onde t denota “alíquota do imposto de renda” (ou fração da renda

total destinada ao pagamento de impostos).

Recuperando a equação que representa a renda disponível Yd (ou

seja, renda subtraída de impostos) e substituindo T conforme expresso,

facilmente chegamos à conclusão de que:

Yd = Y – T = Y – tY

Fazendo uma nova substituição na equação que representa a

função de consumo, chegamos à equação a seguir:

C = Co + cYd = Co+ c (Y – tY)

A condição de equilíbrio (renda = demanda agregada), como já

vimos, é:

Y = C + I + G

Logo,

Y = Co + c (Y – tY) + I + G

Depois de colocarmos em evidência os termos com a variável renda

e os isolarmos, como fizemos no modelo anterior, teremos o seguinte

resultado:

∆∆

= −−

YT

cc1

∆Y = 1 (– c∆T) = – c ∆T 1– c 1– c

Page 92: Barbosa 2010

90 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 91

AU

LA 4

Co, I e G, como já vimos, são os gastos autônomos. Continuamos

a ter um efeito multiplicador representado (1 / 1 – c (1 – t) que, nesse

caso, assume um valor diferente (menor) que o multiplicador anterior.

Todo esse desenvolvimento foi para você perceber que as relações

implicadas na equação anterior nos dizem que toda vez que haja uma

mudança nos gastos autônomos, toda vez que estes aumentem a renda, os

impostos absorverão parte dessa renda, limitando o consumo adicional.

Yec t

Co G=− −

+ +11 1

1( )

( )

Certo como a morte e os impostos

Considere os dados da atividade anterior, exceto os impostos, que passam a ser calculados em função da renda.

Y = C+ I + GC = 100 + 0,8 YdI = 150G = 50T= t Y = 0,3Y

Determine o nível de renda de equilíbrio e compare os valores dos multiplicadores com e sem os impostos em proporção da renda.

Resposta Comentada Y = 100 + 0,8 (Y – 0,3) + 150 + 50

Ye =1

1- 0,8(1- 0,3)(300) = 681,8

Observe que a renda caiu e que o multiplicador dos gastos, também.

Perceba: quando não considerávamos os impostos em função da renda, o multiplicador era

5. Agora, o multiplicador dos gastos autônomos é 2,27. É fácil perceber, pela expressão do

multiplicador, que, com os impostos proporcionais à renda, o valor do multiplicador se reduz.

Intuitivamente, se a alíquota fosse de 100%, todo acréscimo de renda seria absorvido pelo

imposto, não restando nada para gerar novos gastos e renda. No outro extremo, se a alíquota

fosse zero, teríamos o multiplicador do modelo mais simples (impostos independentes da

renda). Portanto, quanto maior a alíquota, menores os gastos induzidos, em razão de

alterações nos gastos autônomos.

Atividade 4

Page 93: Barbosa 2010

90 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 91

AU

LA 4O SETOR EXTERNO NA DETERMINAÇÃO DA RENDA

Até aqui, estamos tratando de um sistema econômico fechado ou

que trave todas as suas relações econômicas com outros países. Quando

o setor externo é levado em consideração no modelo keynesiano, admite-se

que as importações são dependentes do nível de renda da população.

Seguindo esse raciocínio, à medida que os indivíduos vão aumentando sua

renda, mais bens importados são adquiridos. Desse modo, considera-se

que as importações são uma função crescente da renda.

Veja como: considere as exportações como dependentes da demanda

de outros países, isto é, imagine que as exportações não sejam alteradas

por nenhuma variável composta na equação da renda de equilíbrio

(ou seja, as exportações são uma variável EXÓGENA). Elas dependem apenas

de indivíduos inseridos em outro sistema econômico que apresentem

propensão a adquirir nossos produtos nacionais. Como vimos na aula

anterior, o saldo das relações econômicas de bens e serviços externos

de uma economia é denominado Balanço das Transações Correntes.

É o saldo de movimentos da balança comercial (exportações menos

importações) e de serviços como pagamento de juros da dívida externa.

A equação que expressa o Balanço das Transações Correntes (BTC) é:

BTC = X – M

Lembre-se de que, nesta equação:

X = exportação de bens e serviços

M = importação de bens e serviços

Considere agora que existe uma fração da renda que é destinada às

importações. Assim como para o consumo e para a poupança, chamamos

esta fração de propensão marginal a importar (o que varia também de

acordo com um acréscimo na renda). Assim, vamos considerar agora

a expressão:

M = mY (0 < m < 1)

Nesse caso, m é a fração da renda (Y) destinada às importações (M).

Como agora estamos incorporando o setor externo à demanda

agregada, a condição de equilíbrio que discutimos anteriormente passa

a assumir a seguinte expressão:

Y = C + I + G + X – M

VA R I Á V E L E N D Ó G E N A E

E X Ó G E N A

Diz-se que uma variável é endógena

quando seu valor é determinado no

interior do modelo. A variável é exógena

quando seu valor não é determinado

ou afetado pelo sistema de equações

do modelo. Por exemplo, o consumo

autônomo é uma variável exógena,

pois seu valor não se altera, qualquer que

seja a renda. A variável consumo,

por sua vez, é uma variável endógena,

já que seu valor depende do nível de

renda.

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92 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 93

AU

LA 4Se partirmos do que já desmembramos de cada uma dessas

variáveis, chegaremos a:

C = Co + c (Y – T)

T = tY

M = mY,

Substituindo C e M abaixo, e considerando agora que I, G e X

são variáveis autônomas ou fixas, elas passam a ser representadas por

Io, Go e Xo. Observe:

Y = Co + c(Y – T) + Io + Go + Xo – mY

Considerando T = tY, temos:

Y = Co + c(Y – tY) + Io + Go + Xo – mY

Colocando Y em evidência na expressão c( Y – tY), chegamos a:

Y = Co + c(1 – t) Y + Io + Go + Xo – mY

Passando todos os termos em Y para o lado esquerdo da igualdade,

teremos:

Y – c(1– t) Y + mY = Co + Io + Go +Xo

Agora colocamos Y em evidência do lado esquerdo da equação

para encontrar

Y(1– c(1 – t) + m) = Co + Io + Go + Xo

Finalmente, isolamos Y dividindo o lado direito da equação por

(1– c(1 – t) + m)

Da mesma maneira que estudamos anteriormente, a fração do lado

direito da equação representa o multiplicador dos gastos. Por incorporar

a propensão a importar, é conhecido como o multiplicador de gastos

com a E C O N O M I A A B E R T A . O valor desse multiplicador é menor que os

anteriores, posto que, agora, parte de qualquer aumento de renda também

é gasto com os produtos de outros países. Isso ocasiona um “vazamento”

no valor do multiplicador e na renda de equilíbrio (lembre-se da figura

do balde d’água). Nesse caso, em vez de gastar internamente todo o

adicional de renda disponível, uma parcela é destinada ao exterior.

Finalmente, repare ainda que a soma da propensão marginal a

Yc t m

Co Io Go Xo=− − +

+ + +11 1( )

( )

EC O N O M I A A B E R T A

Expressão utilizada pelos economistas para se referir a países que mantenham relações econômicas com outros. A economia é aberta quando há fluxo de exportações e importações de bens e serviços.

Page 95: Barbosa 2010

92 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 93

AU

LA 4consumir com a propensão marginal a poupar e a importar assume o

valor 1. Isto decorre do fato de que uma unidade a mais de renda é

destinada ao consumo de produtos nacionais (∆∆

=CY

c ) e/ou produtos

importados ∆∆

=MY

m ) ou à poupança ( ∆∆

=SY

s ). Isso significa dizer que,

uma vez que há um acréscimo de renda, só existem três maneiras de

utilizá-las: consumindo nacionalmente, poupando ou importando – a

soma dos três assume o valor 1. Isto é: c + s + m = 1.

CONCLUSÃO

O modelo keynesiano enfatiza a demanda agregada como

elemento que eleva a renda e a produção de equilíbrio. Para tal, é

preciso que haja possibilidade de expansão na produção para atender

eventuais crescimentos da demanda. Ou seja, no modelo de determinação

da renda de equilíbrio, a existência de capacidade ociosa é importante

para que não haja limitações do lado da oferta e assim possam vigorar

os resultados previstos pelo modelo.

É justamente o efeito multiplicador proposto por Keynes

que possibilita entender a capacidade de aumento de consumo e os

desdobramentos macroeconômicos que são gerados.

Desconstruindo o país

1. Um país, em determinado ano, apresentou os seguintes dados nacionais (em $):

Investimentos = 50;

Dispêndios do governo = 40;

Impostos =10;

Função consumo: C = 10 + 0,4 Yd

Atividades Finais

Page 96: Barbosa 2010

94 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 95

AU

LA 4

1. A partir desses dados, calcule:

a. o nível da renda de equilíbrio e o valor do multiplicador dos gastos autônomos;

b. o valor da nova renda de equilíbrio caso o investimento aumente em 10 u.m.

2. Imagine que haja uma denúncia de que terroristas estariam sabotando os produtos

de todos os países que exportam para o Brasil. Se os brasileiros tomarem essa notícia

como verdadeira, qual seria o resultado disso em termos do valor da renda nacional?

E qual seria o efeito sobre o multiplicador dos gastos externos?

3. Para que a teoria keynesiana da demanda agregada como determinante da renda

e do produto nacional seja plenamente aceita, torna-se fundamental supor que as

empresas tenham capacidade ociosa (ou economia com desemprego). Explique.

4. Dado o modelo keynesiano estudado, se em determinado ano a demanda

agregada for menor que a produção agregada, qual o comportamento esperado

em direção ao produto de equilíbrio?

Page 97: Barbosa 2010

94 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

C E D E R J 95

AU

LA 4

Respostas Comentadas

1. a. nível da renda de equilíbrio

Y = 10 + 0,4 (Y-10) +90

Ye = 160

O multiplicador:

1. b. se o investimento aumenta em $10,00, então a renda aumentará em 16,667 (1,6667 x 10).

Portanto, a nova renda de equilíbrio assumirá o valor de 176,667.

2. A renda nacional aumentaria, posto que a parcela de compras com produtos importados

tenderia, em parte, a ser destinada a produtos nacionais. Assim, aumentaria a demanda agregada

por produtos nacionais. O multiplicador, por sua vez, diminuiria, pois na sua composição carrega

a propensão marginal a importar, que nesse caso estaria reduzida. Como a propensão a importar

diminuiu, o valor do multiplicador aumenta.

3. Suponha que as firmas estejam produzindo com todos os seus recursos disponíveis. Assim, se

houver novos pedidos de produção, as empresas terão de adquirir novos recursos, com grandes

possibilidades de terem custos adicionais. Estes serão repassados aos preços, de forma a inibir (pelo

menos em parte) o crescimento da demanda. Em situação de capacidade ociosa, os empresários

só precisariam dar ordens de elevação na produção, sem necessidade de elevar preços. Quanto

mais intensa a capacidade ociosa, menos necessidade o empresário terá de aumentar preços.

4. Se a oferta em determinado ano for superior à demanda, haverá uma acumulação involuntária

nos estoques das empresas. No ano seguinte, os empresários produzirão um volume menor,

para diminuir o total de estoques e ajustar sua produção ao volume demandado. Há uma

tendência ao ajuste da oferta em relação à demanda.

Page 98: Barbosa 2010

96 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio

LEITURA RECOMENDADA

Se você quer conhecer um pouco mais sobre a teoria keynesiana, procure

algum dos livros-texto de Macroeconomia. Todos contêm capítulos sobre

o tema. Como uma sugestão, vale o Capítulo 10 de A era do economista,

de Daniel Fusfeld.

As mudanças nos gastos autônomos da demanda agregada são os elementos

mais freqüentes nas alterações dos níveis de equilíbrio da renda. Com o

impacto do multiplicador de gastos, as variações nos gastos autônomos

induzem a outras mudanças. Isto ocasiona um aumento na renda de

equilíbrio tantas vezes superior à variação inicial dos gastos autônomos.

O valor do multiplicador é a expressão da intensidade da variação da renda

de equilíbrio em relação à mudança do dispêndio autônomo inicial.

Apesar de simplificado, o modelo proposto por Keynes possibilita e

potencializa o entendimento básico do funcionamento do processo de

geração de produção e renda de equilíbrio. Modelos mais completos são

construídos sobre tais princípios, especialmente quando comparamos

o paradigma keynesiano ao complexo funcionamento da economia de

um país, posto que a variável renda é afetada por diversos fatores, como

gastos e investimentos públicos, aumento de impostos e influência externa

(importação e exportação) – ou seja, a balança comercial.

R E S U M O

Page 99: Barbosa 2010

Os investimentos e as taxas de juros

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

listar os fatores macroeconômicos que afetam os investimentos;

identificar a importância dos investimentos como fator de aumento na produção agregada;

distinguir taxa nominal e real de juros.

5objetivos

AU

LA

Meta da aula

Explicar a influência das taxas de juros e da inflação sobre os investimentos

realizados pelas empresas.

1

2

3

Pré-requisito

Ajuda a compreender esta aula uma breve revisão da tabela que mostra o PIB

brasileiro desmembrado (Aula 3) e o modelo keynesiano, apresentado na Aula 4.

Page 100: Barbosa 2010

98 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

INTRODUÇÃO

No final do século passado, a publicidade resumiu em uma frase o que

podemos entender como quase uma revolução na área de administração: “a

propaganda é a alma do negócio”. Podemos nos aproveitar dessa máxima e

afirmar: “O investimento é a alma do crescimento econômico”. Você verá, ao

longo desta aula, que esta nossa máxima se justifica: enquanto a propaganda

estimula a preferência pelo produto e gera a prosperidade nos negócios, os

investimentos representam a possibilidade de maior capacidade produtiva e

maior prosperidade na economia. Quando há investimento, há a expansão da

empresa, o que gera mais emprego, renda e produção.

Nesta aula, vamos analisar o papel dos investimentos na economia de um

país. Para isso, precisamos, entre outras coisas, identificar os elementos que

os estimulam. É o que vamos desenvolver a seguir.

POR QUE INVESTIR?

Em primeiro lugar, você sabe definir o que é I N V E S T I M E N T O?

Em Macroeconomia, investir significa adquirir capital novo.

Capital é o bem cujo destino é a produção de outro bem. São exemplos

de B E N S D E C A P I T A L o maquinário, as edificações, os equipamentos etc.

Quando uma empresa resolve aumentar o tamanho de sua fábrica, ela

está investindo.

Os investimentos têm dupla função na economia: são um

importante elemento de demanda agregada (como visto na aula anterior)

e proporcionam incremento na capacidade produtiva. Esta última função

dos investimentos se dá por conta de se aumentarem os recursos disponíveis

– estoque de capital – destinados à produção de bens e serviços.

IN V E S T I M E N T O (P RO D U T I V O)

É o acréscimo de bens de capital à empresa, como novas máquinas ou a construção de uma planta industrial (a fábrica). O investimento proporciona aumento da capacidade produtiva do país gerando o que se denomina Taxa de Acumulação de Capital. Os investimentos podem ser desdobrados em investimentos em bens de capital (Formação Bruta de Capital Fixo) e em variação de estoques. Lembre-se de que tratamos disso rapidamente quando desmembramos o PIB brasileiro (Aula 3).

Figura 5.1: Investir em uma empresa pode ser uma operação de risco. Diante do cenário macro-econômico em que esteja inserida, no entanto, há certos fatores que podem ser observados a fim de que se diminuam as incertezas sobre o futuro.

Hen

nin

g B

uch

ho

lz (

ww

w.s

xc.h

u)

BE N S D E C A P I T A L

São os bens cujo destino é a produção de outros bens. O capital pode ser físico (máquinas e equipamentos) ou financeiro (aplicações em ações, títulos públicos ou financeiros etc.). Quando os investimentos são em capital físico, denominam-se investimento produtivo. Quando são em capital financeiro, costuma-se denominá-los investimento financeiro.

Page 101: Barbosa 2010

C E D E R J 99

AU

LA 5Podemos dividir os investimentos em duas fases:

A primeira ocorre quando há despesas com a compra de capital,

o que impulsiona a demanda agregada (ainda não há o resultado dos

investimentos em termos de aumento da produção). A segunda se nota

após a maturação dos investimentos, o que resulta em aumento da

produção (oferta agregada) e da capacidade produtiva da economia.

Ou seja, você pode entender o investimento também como a ação

que eleva a oferta agregada e o estoque de capital no sistema econômico.

São exemplos disso os gastos com instalações industriais, aquisições de

máquinas ou equipamentos, variações de estoques etc.

Saiba ainda que o investimento pode ter duas dimensões: pode

ser bruto ou líquido. Considerando que o estoque de capital também

se deprecia, a diferença entre investimento bruto e líquido é dada pelo

montante de investimento destinado a cobrir o que se desgasta ao longo

do tempo, ou seja, a depreciação.

A equação a seguir mostra a relação entre investimento bruto e

líquido.

IL = IB – D

sendo:

IL = investimento líquido

IB = investimento bruto

D = taxa do estoque de capital depreciado no período.

Em termos concretos: se, por exemplo, os investimentos totais

de um país forem da ordem de 10 bilhões de dólares e, em média, 10%

dos investimentos servirem apenas para cobrir o desgaste do capital,

teremos:

IL = 10 – 0,1 (10) = 90

Caso você se sinta mais à vontade com um raciocínio baseado em

equações, pode-se dizer que a definição de investimentos é dada por:

It = Kt – Kt-1 (1)

onde:

Kt = o estoque de capital no período t

Kt-1 = o estoque de capital no período t-1 (período anterior a t)

Page 102: Barbosa 2010

100 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Como o estoque de capital aumenta na proporção do montante

dos investimentos líquidos realizados, o papel dos investimentos se torna

claro pelo fato de permitir uma elevação na capacidade produtiva da

economia ao longo do tempo.

O ACELERADOR DOS INVESTIMENTOS

O que leva um empresário a desejar ampliar seu estoque de

capital?

A verificação ou expectativa de que a demanda pelo seu produto

está em elevação torna-se um estímulo para ampliação de seus recursos

produtivos; entre estes, o estoque de capital necessário para essa

ampliação. Uma vez identificado o nível adequado de estoque de capital,

os investimentos são realizados em função de alcançar tal nível.

Em geral, o estoque de capital desejado pelo empresário guarda

relação com o nível de produto:

(2)

onde:

= estoque desejado de capital no período t;

= coeficiente da relação entre capital e produto e α > 0;

Yt = nível de produto no período t.

Supondo que, no período anterior, o estoque de capital tenha

seguido o mesmo comportamento em relação a seu respectivo nível de

produto:

(3)

Agora veja: se utilizarmos as equações (2) e (3) na equação (1),

temos:

(4)

Analisando a equação (4), percebemos que os gastos com

investimentos são feitos em função de uma taxa de variação do produto.

Se o produto (ou PIB), em um determinado período, cresce 10 unidades

monetárias (u.m) e a razão capital produto (α) é 3, os gastos com

investimentos serão, portanto, de 30 u.m.

Page 103: Barbosa 2010

C E D E R J 101

AU

LA 5

Invista em Marte

Observe os dados a seguir:

Atividade 1

Você deve observar que, quando há um gasto com investimentos, a

renda e o produto deverão aumentar por conta do multiplicador dos gastos

(lembre-se do que vimos na aula anterior sobre o modelo keynesiano). Agora

estamos falando que, quando o produto aumenta, os investimentos também

aumentam. Ou seja, desencadeia-se um processo de aceleração, já que, ao

elevar o estoque de capital, a oferta de produto aumenta também.

O princípio acelerador dos investimentos estabelece que uma taxa

de crescimento do produto (PIB) causa uma elevação nos investimentos,

o que, por sua vez, aumenta os níveis de produto, o que acelera os

investimentos mais uma vez, como mostra a equação (4).

O gráfico a seguir apresenta a taxa média dos investimentos no

Brasil entre os anos de 1980 e 2000. Repare que, quanto mais alta a

taxa de investimentos, mais o Brasil esteve ampliando o seu potencial

de crescimento econômico.

Taxa média de investimento (% do PIB)

1. A Aço Marciano S.A. é uma empresa que se dedica a atender dois mercados consumidores de aço: o dos fabricantes de satélites e o dos fabricantes de naves espaciais.

2. De 2055 a 2056, a demanda por satélites cresceu 3%. Já a demanda por naves aumentou 1%.

21

Taxa

méd

ia d

e in

vest

imen

to

1980 1985 1990 1995 2000 Anos

30

25

20

15

10

5

0

Fonte: Froyen (2001)

Page 104: Barbosa 2010

102 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Agora que você está a par do cenário macroeconômico de Marte, responda:

Qual produto dependerá de maior investimento bruto a fim de que sua demanda seja atendida? De quanto deverá ser esse montante?

Qual produto apresentará investimento líquido mais próximo do bruto? Explicite ambos os valores.

Resposta Comentada Partindo do pressuposto de que tanto os satélites quanto as naves espaciais responderam

por RM$100 do PIB de Marte em 2055, podemos depreender que a demanda por satélites,

em 2056, passou a RM$ 103, enquanto a demanda por naves chegou a RM$ 101. Já vimos

que, no cálculo dos investimentos, há um importante fator chamado coeficiente da relação

entre capital e produto. Este índice visa a estipular quanto deve ser investido para que se

alcance uma unidade de produto. No caso dos satélites, é preciso que se invistam RM$ 412

para atender a uma demanda de RM$ 103. No caso das naves, basta que se invistam RM$

202 para que se atenda à demanda de RM$ 101. Logo, as naves dependem de menor

investimento bruto para que sua demanda seja atendida. No entanto, vimos que satélites

depreciam 10% ao ano, enquanto naves perdem 50% de seu valor no mesmo período. Logo,

se já aprendemos que o investimento líquido é o bruto descontado da taxa de depreciação,

chegamos ao resultado que diz que RM$ 412 investidos em satélites geram RM$ 370,8 de

investimento líquido. No caso das naves, RM$ 202 investidos (investimento bruto) geram

RM$ 101 de investimento líquido. Logo, os satélites apresentam uma relação mais

próxima entre investimento bruto e líquido.

3. O coeficiente da relação entre capital e produto para as naves é de 2. Para os satélites, é de 4.

4. Uma nave espacial tem depreciação anual estimada em 50%. Um satélite tem depreciação anual estimada em 10%.

5. Em 2055, cada um desses dois setores respondeu por 100 reais marcianos (100 RM$) do PIB daquele planeta.

Page 105: Barbosa 2010

C E D E R J 103

AU

LA 5A TAXA DE JUROS

Já vimos que investir requer um desembolso financeiro inicial.

Uma empresa pode investir com recursos próprios ou de terceiros. Em

ambos os casos, a taxa de juros exerce um papel importante na decisão

de investir ou não. Veja como: se a empresa precisar recorrer aos bancos

para financiar a aquisição do nível de capital desejado, ela precisará

pagar os juros de tais empréstimos. Nesse caso, a taxa de juros será um

importante indicador dos custos de investir. Bastante claro, concorda?

Existe, no entanto, uma outra forma de fazer investimentos. Ela

ocorre quando a empresa dispõe de lucros do período anterior retidos em

nível suficiente para bancar seus gastos com investimentos. Ainda assim, a

taxa de juros afetará a decisão de investir. Isso ocorre porque

o empresário irá avaliar a possibilidade de aplicar esses lucros

retidos em títulos que rendam em ritmo igual ao das taxas de

juros. Se esses títulos tiverem uma rentabilidade com os juros

maior do que a rentabilidade esperada com a maturação dos

investimentos na produção, o empresário pode decidir por não

investir na produção e sim nesses títulos. Sendo assim, com

recursos próprios (lucros retidos) ou de terceiros (empréstimos),

a taxa de juros representa o custo de investir.

Agora guarde: o conceito de taxa de juros recai sobre duas

vertentes: a taxa nominal e a taxa real.

A primeira é definida como aquela expressa em termos de quantas

unidades monetárias são pagas como juros. Um empréstimo de 100 u.m.

com taxa de juros de 10% representa juros de 10 u.m. Estes últimos são

os juros nominais, aqueles pagos no mercado.

A taxa real de juros, por sua vez, mede o quanto realmente se

paga, levando em consideração o poder aquisitivo do dinheiro antes

e depois de pago o empréstimo. Isto é, considera-se a perda do poder

aquisitivo do dinheiro dada a inflação entre o momento em que se pegou

e o momento em que se pagou pelo empréstimo. Se aquele empréstimo

de 100 u.m., com taxa de juros (nominal) de 10%, tivesse sido realizado

em um ambiente de inflação de 10%, o valor real do que se emprestou

seria 110 u.m. (pois os preços aumentaram em 10%).

Entendido isso, repare: ao se pagar 110 u.m. (100 u.m. da parcela

principal e 10 u.m. de juros nominais) não se estaria na realidade pagando

juro real nenhum.

Figura 5.2: É nas Bolsas de Valores que se acompanha o desempenho dos títulos e das ações das empresas.

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Page 106: Barbosa 2010

104 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Desprezando-se uma pequena imprecisão matemática (consulte o

boxe explicativo a seguir), considera-se a taxa real de juros como:

r = n - π (5)

onde:

r = taxa real de juros

n = taxa nominal de juros

π = taxa de inflação

Então, se são dados os juros nominais e se há uma taxa alta de

inflação, os gastos efetivamente realizados com os investimentos serão

menores. O que importa para o empresário são as taxas de juros reais,

pois ela mede o valor real dos juros que precisaram ser pagos. Lembre-se

de que os preços dos produtos que o empresário vende devem estar

acompanhando o ritmo inflacionário.

A equação das taxas de juros nominal e real

A definição analítica de taxa de juros real (ρ) é:

1 1

1+ = +

πn

(6)

onde:n = taxa de juros nominal

π = taxa de inflação

Como já foi dito, a taxa de juros nominal é a taxa divulgada no mercado, isto é, aquela expressa em unidades monetárias.

Para extrairmos ρ vamos desenvolver a equação (6):

1 1 1

1 1

1

+( ) +( ) = +( )+ = + + +

+ = −

= −+

ρ π

π ρ ρπ

ρ ρπ π

ρππ

n

n

n

n

Para baixos valores de inflação, a taxa de juros real pode ser entendida como:

ρ π≈ −nA leitura da equação anterior é de que a taxa de

juros real é aproximadamente a taxa de juros nominal descontada a taxa

de inflação.

??

Page 107: Barbosa 2010

C E D E R J 105

AU

LA 5Por essa razão, os dispêndios com investimentos dependem da taxa

real de juros. Observe que, se a economia do país apresenta baixa taxa

de inflação, a diferença entre juros reais e nominais deverá ser pequena;

sendo assim, nesse caso, tanto faria entender os investimentos a partir

da taxa real ou da nominal.

Note que quanto maior e mais instável for a taxa de juros, maior

será a importância de distinguir os efeitos do juro nominal e do real

sobre novos investimentos.

Os juros e o mercado

A partir desses dois fragmentos de notícia, determine a taxa de juros real do cheque especial e verifique a diferença entre os valores das taxas de juros, considerando todos os termos que a compõem e a equação que a define como um valor aproximado.

Atividade 2321

Foram divulgados na noite de ontem os números do Índice Nacional de

Preços ao Consumidor (INPC/IBGE). Segundo o índice, a taxa de inflação deste mês fica na casa dos 2,68%.

IBGE anuncia queda na inflação

Segundo o opera-dor da Bolsa de Valores Jorge Stressman, “o mercado financeiro se

ressente das taxas atuais”. De acordo com Stressman, os títulos que mais renderam no mês pas-sado não conseguem competir com uma taxa nominal de 7,79% para o cheque especial.

Cheque especial é a melhor opção para o consumidor

Page 108: Barbosa 2010

106 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Resposta Comentada A taxa de juros real, como já vimos, é dada por ρ

ππ

= −+n1

.

Ou seja, a partir dos dados que apresentamos, temos:

ρ = −+

=0 0779 0 02681 0 0268

0 049766, ,,

, ,

o que, em termos percentuais, corresponde a 4,9%.

Considerando o valor aproximado (numerador da equação acima), a taxa de juros real seria

0,0511, ou ainda 5,11%. Ou seja, tratamos aqui de uma diferença pouco significativa.

OS DETERMINANTES DO INVESTIMENTO

Você deve ter notado que os investimentos são afetados por

algumas variáveis, descritas na seguinte função:

I = f ( Y , n, π, Kt-1) (7)

A equação (7) informa que o investimento depende das variáveis

nível de produto (Y), taxa de juros nominal (n), inflação (π) e estoque

de capital do período anterior (Kt-1).

A relação entre cada uma destas variáveis e o nível de investimento

é descrita a seguir:

• um aumento no nível do produto estimula os investimentos;

a elevação do produto se traduz em mais vendas e, assim, um estoque

adicional de capital é desejável;

• mantida fixa a taxa de inflação, quanto maior a taxa de juros,

maior será o custo de investir. Como efeito, será menor a motivação para

investir. Quanto menor a taxa de juros, menor será o custo de investir.

Como efeito, será maior a motivação para investir;

• mantida a taxa nominal de juros, uma elevação na taxa de

inflação diminui o valor real do que se pagará com os empréstimos para

investir. Como efeito, por estar mais barato investir, o nível desejado

de investimentos deve aumentar. E uma redução na taxa de inflação

aumenta o valor real do que se pagará com os empréstimos para investir;

conseqüentemente a tendência é de diminuir o nível de investimentos; e

• quanto menor o estoque de capital (no período anterior), maior

será a necessidade de investir para cada nível de produção desejada.

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Page 109: Barbosa 2010

C E D E R J 107

AU

LA 5Agora pense: um empresário percebe que a demanda pelos

seus produtos está aumentando e, assim, considera que é uma boa

oportunidade para realizar novos investimentos em sua fábrica. Ele

precisa recorrer aos bancos para financiar seus investimentos. A taxa

de juros é de 100% ao ano. O empresário espera que os preços dos seus

produtos subam 80%. Quanto ele estará pagando de juros reais?

A resposta é simples: o cálculo da taxa de juros real será a taxa de

juros nominal decrescida do índice de preços dos produtos do empresário,

ou seja, 20%.

Saiba, no entanto, que essa taxa não é a que normalmente se

chegaria, visto que não está sendo considerada a taxa de inflação.

Todavia, essa conta é mais apropriada para aquele empresário como

indicação do custo de investir. Isso ocorre porque o índice de preços

de seus produtos reflete com mais precisão o que ele receberá por seus

produtos para abater na taxa de juros nominal.

Veja outro exemplo: um empresário vai financiar a compra de

uma máquina no valor de 100 reais, com taxa de juros de 100%. No

momento do empréstimo, o preço do produto que vende é de 10 reais.

Então, o empréstimo representa o faturamento de dez produtos.

Suponha então que os preços dos seus produtos subirão 150%.

O que o empresário no final vai pagar com o empréstimo, 200 reais,

equivalerá a oito produtos. Isso reflete mais precisamente o custo de

investir do que se o empresário utilizasse a taxa de inflação do período,

que poderia diferir do aumento de preço daquele produto específico.

Lembre-se de que a inflação é uma média, é uma variável agregada.

A TAXA DE JUROS E A ILUSÃO MONETÁRIA

Alguns meses antes do início do governo Collor, a taxa média

de inflação mensal era de cerca de 80%. Como a poupança no Brasil

rende correção monetária (calculda por uma taxa que visa referenciar

a correção) acrescida de 0,5% de juro real ao mês, os indivíduos que

tinham caderneta de poupança recebiam mensalmente cerca de 80,5%

(dos quais 80% devidos à inflação no período e 0,5% de juro real). Se,

por exemplo, um depositante tivesse naquela época, o equivalente a

1.000 reais de hoje, ao final de um mês de aplicação na poupança ele

verificaria que sua conta passou para 1.805 reais.

Page 110: Barbosa 2010

108 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Quando o então presidente Collor assumiu o comando do país,

implementou uma controversa política antiinflacionária (bloqueou

todos os tipos de contas bancárias que excedessem determinado valor)

que reduziu, pelo menos nos primeiros meses daquele plano, a taxa de

inflação. A taxa mensal de inflação baixou então para cerca de 10%.

Dessa maneira, a remuneração da poupança passou a ser de 10,5%.

Grande parte dos aplicadores sentiu que a poupança estava rendendo

menos. Afinal, se antes, com 1.000 u.m. eles receberiam 1.805 u.m.,

agora eles receberiam apenas 1.105 u.m.

Mas você acha que eles estavam realmente recebendo menos?

O entendimento dessa questão é a distinção entre taxa de juros

real e nominal. Ou, em um nível mais abstrato, entre variável econômica

nominal e variável econômica real.

Veja como: se você depositou R$ 1.000 em uma caderneta de

poupança cuja taxa de juros de mercado, após um ano, foi de 10%, sua

poupança totalizou R$ 1.100.

Então, será que você ficou mais rico com o resultado da aplicação

na poupança?

Vamos pensar: imagine que, no mesmo período em que foi feita a

aplicação, a taxa da inflação foi de 100%. Com isso, fica fácil perceber

que os R$ 1.100 do final da aplicação valem menos do que os R$ 1.000

que você depositou, não é? Ou seja, apesar de ter mais em termos

nominais (valor expresso em unidades monetárias), o poder aquisitivo

do valor que você aplicou na poupança diminuiu (valor em termos

reais). Por que isso aconteceu? Isso aconteceu por conta da inflação,

que reflete o aumento médio dos preços dos produtos no período. Se a

inflação atingiu a casa dos 100%, isso indica que, em média, os preços

dobraram de valor.

Para que no final da história o valor do que você depositou tivesse

sido o mesmo com a aplicação a taxa de juros, ele teria que ser reajustado

em 100%. Em outras palavras, se a taxa de juros fosse de mais de 100%,

você teria aumentado o seu poder aquisitivo com a poupança. Caso

contrário, teria perdido com a aplicação.

Nesse exemplo dado, a taxa de juros de 10% paga pelo banco

é a taxa nominal. A taxa real será a taxa nominal deduzida da taxa de

inflação, como diz a equação (5) (r = n - π). Portanto, a taxa de juros real

foi de –90%. Isto é, com a aplicação na poupança, o poder aquisitivo

diminuiu em 90%.

Page 111: Barbosa 2010

C E D E R J 109

AU

LA 5

Variáveis reais e nominais

Em economia, as variáveis podem ser classificadas como nominais ou reais.

As variáveis nominais são aquelas expressas em unidades monetárias. As reais são as expressas em

termos de poder aquisitivo ou poder de compra. As variáveis reais são obtidas a partir das variáveis nominais. Para chegar à

variável real, basta dividi-la por um índice de preços (deflacionar) e obtém-se a variável real. A tabela a seguir apresenta três das mais

conhecidas variáveis nominais/reais na economia.

Exemplos de variáveis nominais e reais

Saiba que salário real é o salário medido pelo poder de compra. Em outras palavras, seu contracheque indica

o seu salário nominal (quanto em u.m. você esta recebendo). O que você compra com o

salário que recebeu evidencia o seu salário real.

No caso do período Collor, a taxa de juros nominal caiu, embora

tenha acompanhado a queda da taxa de inflação na mesma intensidade.

Isto quer dizer que a taxa de juros real (a que mede a variação do poder

aquisitivo) permaneceu a mesma.

Em termos reais, não houve qualquer vantagem ou desvantagem

em receber juros nominais mais elevados em ambiente de inflação mais

elevado. Diz-se que há uma ilusão monetária quando o individuo só

verifica a taxa de juros nominais e não percebe a taxa de juros real.

Nominal Real Forma da variável real

PIBn PIBr PIBr=PIBn P

Juros (n) Juros (ρ) ρ = n−π ou ≈ n − π 1+π

Salário (W) 1Salário real (w) w=W P

??P (índice de preços no período) representa um índicede preços como o INPC, IPC, IGP etc.

Page 112: Barbosa 2010

110 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Não se iluda

Reflita e responda: o que você prefere, um salário nominal maior ou um salário real menor? Justifique sua resposta. _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta ComentadaNão é possível responder com precisão a essa questão sem que se tenha mais informações

sobre tais valores de salários. De qualquer forma, você pode argumentar o seguinte: o salário

nominal é apenas um número de unidades monetárias. O que vai dizer se esse número vale

muito ou pouco será o nível de preços. Afinal, de que adianta eu receber milhões de u.m.

se os preços das coisas são bem maiores? O salário real, por sua vez, refere-se justamente

ao poder de compra do meu salário. Assim, o salário real maior é garantia de maior poder

de compra do salário. Pode ocorrer uma situação de aumento de salário nominal de 40%

em período de 80% de taxa de inflação, ou redução do salário real em 10% sem qualquer

aumento de salário nominal, o que seria preferível à primeira, pois a redução do salário real

seria menor neste caso.

Atividade 3321

CONCLUSÃO

Os investimentos são uma importante variável macroeconômica,

pois se constituem em um elemento da demanda agregada, como também,

em um elemento da oferta agregada. Portanto, além de estarem presentes

no modelo keynesiano, os investimentos estão presentes em modelos

de crescimento e desenvolvimento econômico ainda não abordados em

nossas aulas.

Nesta aula, atribuímos à taxa real de juros e ao crescimento do

produto os fatores que afetam os investimentos. Entram nessa conta o

efeito multiplicador de gastos (o aumento de investimento eleva a renda)

e o efeito acelerador (o aumento da renda devido ao multiplicador leva a

novo aumento de investimentos) presentes na relação entre investimento

e nível de renda ou produto.

Page 113: Barbosa 2010

C E D E R J 111

AU

LA 5

1. Em determinado país, um trabalhador recebia salários mensais de

R$ 1.000. Um ano depois, seu salário foi para R$ 2.000, enquanto a

inflação atingiu a taxa de 80%. O que aconteceu com o salário nominal e o salário

real nesse caso?

________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

2. Economicamente, um empréstimo pode ter taxa de juros nominais negativa?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

3. Por que a taxa de juros é o custo de investir, mesmo se a empresa tiver recursos

próprios para tal?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Respostas Comentadas 1. O salário nominal aumentou em 100%. O salário real aumentou em 20%.

2. Sim, embora essa situação se refira a um equívoco da parte de quem empresta. Se a taxa real

de juros foi negativa, então o valor real do que se emprestou foi menor do que o valor do que se

recebeu com o fim do empréstimo. Sendo assim, quem emprestou perdeu. Isso ocorre quando

quem empresta não percebe ou erra na previsão da inflação que deve ocorrer no período de

vigência do empréstimo. Economicamente, ninguém estaria disposto a emprestar, digamos, a uma

taxa nominal de 10% se estiver imaginando que a taxa de inflação no mesmo período deverá ser

maior do que 10%.

3. Porque o empresário leva em consideração o que poderia receber se aplicasse no mercado

financeiro o dinheiro destinado a investir. Por exemplo, se o mercado financeiro estiver remunerando

as aplicações com uma taxa mais alta do que a taxa de lucratividade que ele espera receber como

resultado dos seus investimentos, ele pode preferir aplicar no mercado financeiro, ao invés de

se voltar para o mercado produtivo.

Atividades Finais

321

Page 114: Barbosa 2010

112 C E D E R J

Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros

Os investimentos são importantes para o sistema econômico porque são

um componente de demanda agregada (estimulam o crescimento do PIB

pelo lado da demanda) e porque, por outro lado, aumentam a capacidade

produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.

Quando há aumento na produção, os empresários procuram manter uma

relação entre a produção e seu estoque de capital. Quando a produção

aumenta, o estoque de capital desejado tende a aumentar. Tal mudança

de estoque de capital é justamente o investimento.

Os mais importantes fatores que influenciam o nível de investimentos são: a

taxa real de juros – que por sua vez depende da taxa nominal e da inflação

— e o crescimento do produto.

A existência da inflação faz nascer dois conceitos de taxas de juros: a

primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo

comércio e pelos bancos. A segunda é a taxa real, que considera o poder

aquisitivo da moeda ao longo do período dos empréstimos. A taxa real

é aproximadamente igual à taxa nominal decrescida da taxa de inflação.

Quanto mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.

Sem investimento, não há como obter crescimento econômico durável. Em

outras palavras, “o investimento é a alma do crescimento econômico”.

Os investimentos são importantes para o sistema econômico porque são

um componente de demanda agregada (estimulam o crescimento do PIB

pelo lado da demanda) e porque, por outro lado, aumentam a capacidade

produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.

Quando há aumento na produção, os empresários procuram manter uma

relação entre a produção e seu estoque de capital. Quando a produção

aumenta, o estoque de capital desejado tende a aumentar. Tal mudança

de estoque de capital é justamente o investimento.

Os mais importantes fatores que influenciam o nível de investimentos são: a

taxa real de juros – que por sua vez depende da taxa nominal e da inflação

— e o crescimento do produto.

A existência da inflação faz nascer dois conceitos de taxas de juros: a

primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo

comércio e pelos bancos. A segunda é a taxa real, que considera o poder

aquisitivo da moeda ao longo do período dos empréstimos. A taxa real

é aproximadamente igual à taxa nominal decrescida da taxa de inflação.

Quanto mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.

Sem investimento, não há como obter crescimento econômico durável. Em

outras palavras, “o investimento é a alma do crescimento econômico”.

R E S U M O

Page 115: Barbosa 2010

O sistema monetário

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

listar as funções da moeda;

analisar o papel dos bancos na circulação da moeda;

identificar o papel do Banco Central no controle da oferta do meio circulante.

6objetivos

AU

LA

Meta da aula

Descrever o funcionamento básico do sistema monetário.

1

2

3

Page 116: Barbosa 2010

114 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

INTRODUÇÃO

MO E D A

É todo meio utilizado pela sociedade para realizar a compra de bens e serviços (ex.: papel-moeda e depósitos nos bancos, também chamados de moeda escritural).

Não é um pouco estranho ir a uma agência de automóveis, adquirir um

tremendo carrão em troca de um cheque (que não deixa de ser um pequeno

pedaço de papel)? Ou então depositar uma grande soma em dinheiro e o

caixa do banco lhe entregar um minúsculo papel e você ser obrigado a confiar

que aquele seja um autêntico recibo? O dinheiro que utilizamos para fazer as

transações não são papéis e níqueis especiais que satisfazem a vida material de

tantas pessoas? Pois nesta aula você estudará a importância, as características,

os tipos e as finalidades da moeda.

O QUE É MOEDA?

Está claro que, em nossa sociedade, indivíduos com muito

dinheiro são tidos como ricos, ou seja: quanto mais MOEDAS possuírem,

mais bens e serviços poderão comprar. Dessa forma, para a economia,

a moeda representa o dinheiro e todas as outras formas de pagamento

ou recebimento de que dispomos.

Os economistas apregoam que a moeda tem três funções: é um

intermediário de troca, serve como unidade de conta e funciona como

reserva de valor. Dito isso, vamos explicar e evidenciar cada uma dessas

três importantes funções.

Como intermediário de troca, a moeda transforma as transações

em trocas indiretas. Veja: se você trabalha como professor e precisa

comprar pão, você não precisa dar uma aula para o padeiro para que ele

Figura 6.1: As relações que envolvem a moeda estão dentro de um conjunto de situações a que chamamos sistema monetário. A confiança das pessoas no valor da moeda, no sistema monetário e no sistema bancário é justamente o fator que garante o funcionamento desse sistema.

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Page 117: Barbosa 2010

C E D E R J 115

AU

LA 6lhe forneça pão. Ao trabalhar como professor, você será capaz de, com

o seu salário, adquirir pão. Se não houvesse a moeda, não haveria essa

intermediação de troca; você teria de encontrar um padeiro de desejasse

aprender o que você ensina.

Com a moeda, portanto, as trocas são indiretas: o professor dá

aulas (ou troca aulas por dinheiro) e depois troca dinheiro por pão.

É por todos aceitarem o dinheiro que se diz que a moeda é um meio

de troca, isto é, a intermediação pode ser também compreendida como

a moeda exercendo a função de meio de troca. A função da moeda como unidade de conta deriva do fato de que

ela expressa os valores das mercadorias e de todos os ativos em geral

pela sua própria unidade. Veja um exemplo: quando você vai a um

supermercado, observa o preço do arroz em unidades monetárias (por

exemplo, R$ 2,00 por quilo) em vez de, digamos, “meio quilo de alcatra”.

Os preços “de tudo” estão em termos da unidade de conta (unidade

monetária) da moeda. Esta é, portanto, uma atribuição da moeda: cotar

os valores (unidade de conta) em unidades monetárias.

Por último, como reserva de valor, a moeda pode ser utilizada em

vários períodos de tempo. A pessoa com a posse da moeda pode utilizá-la

no futuro. Como assim?

Quando você recebe o seu salário em dinheiro, pode guardá-lo

para gastar mais tarde. Então, a moeda serve como uma reserva de valor;

pode-se transferir o poder de compra do presente para uma outra data

no futuro.

Você deve observar que o valor da moeda (poder aquisitivo) é

inversamente proporcional ao nível de preços. Toda vez que o nível

de preços sobe, simultaneamente o valor da moeda é reduzido. E se os

preços recuam, o valor da moeda aumenta. Ou seja:

onde M e P representam, respectivamente, o valor da moeda e o

nível de preços.

Quando há inflação, a quantidade de dinheiro que você mantém

no bolso continua a mesma; porém, o poder aquisitivo dela diminui na

mesma proporção em que aumentam os preços dos produtos que você

consome. Com isso, você já pode entender por que, em períodos de alta

MP

= 1 ,

Page 118: Barbosa 2010

116 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

Vamos pegar um cineminha?

Não é novidade que Gerson está de olho em Marinalva. Mas ontem foi diferente: o homem reuniu coragem, livrou-se da timidez e convidou a moça para uma sessão de cinema. Sorte que Marinalva aceitou prontamente. O programa, segundo ele, transcorreu muito bem. Hoje Gerson contou que estão namorando.

Agora pense: quais foram as funções da moeda utilizadas nessa situação? Justifique sua resposta.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada No exato momento da compra dos ingressos, o dinheiro de Gerson atuou como meio de

troca. Foi com dinheiro que o rapaz conseguiu os ingressos, percebeu? Talvez, no entanto,

antes do convite, dado seu interesse em Marinalva, Gerson tenha procurado saber quanto

custava o cinema. Naquele instante, a moeda lhe serviu como unidade de valor (ou conta).

Veja: para calcular quanto seria gasto com sua paquera, Gerson precisou utilizar a unidade

que lhe serve de referência em todos os momentos em que pretende adquirir um bem ou

serviço. Mas há ainda mais: se Gerson guardou um pouco mais de dinheiro, especulando

que poderiam ocorrer outras distrações após o cinema, esse dinheiro de reserva serviu à

função de reserva de valor.

Atividade 11

inflação, como o que ocorreu no Brasil durante a década de 1980, um

país troca de moeda várias vezes.

Moedas brasileiras

O Brasil já passou por vários períodos de alta inflação. Em vários meses, a taxa de inflação mensal ultrapassou os 50%, o que já é considerado uma situação de hiperinflação.

Diz-se que a inflação destrói as funções da moeda.

Atividade 21

Page 119: Barbosa 2010

C E D E R J 117

AU

LA 6

De posse dessas informações, você seria capaz de responder como e quais funções da moeda são destruídas quando se tem uma inflação demasiadamente alta, como a que ocorreu no Brasil dos anos 1980 e da primeira metade da década de 1990? Justifique sua resposta.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada Quando a inflação é muito alta, em primeiro lugar é a função de unidade de reserva da

moeda que se deteriora: ninguém vai querer guardar moeda para transações futuras se os

preços crescem a cada instante. Nesses casos, as pessoas procuram antecipar as compras

e fazer estoques. Esse fenômeno foi percebido naquela época, quando, nos primeiros dias

dos meses (quando são pagos os salários), os supermercados andavam lotados, o que

contrastava com os corredores às moscas nas últimas semanas do mês. Com a incidência e

a elevação persistente da inflação, a referência de preços pela moeda nacional também vai

deixando de existir. Saiba que, no Brasil, na época de mais alta inflação, muitas mercadorias

foram cotadas em dólar ou até mesmo em títulos do governo, como as chamadas ORTNs

(Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional). A esse respeito, lembre-se de que, na época

próxima ao lançamento do Plano Real (primeiros meses de 1994), havia a URV (Unidade

Referencial de Valor), que servia para cotar os preços das mercadorias. Isto quer dizer que

se utilizava outro fator para servir de unidade de conta para os preços, e não a moeda

propriamente dita. Por fim, se continuasse o ritmo de hiperinflação, seria perfeitamente possível

que as pessoas rejeitassem a moeda como meio de troca, pois a assustadora elevação dos

preços fatalmente faria com que a moeda perdesse o valor rápida e profundamente. Assim,

a inflação é um fenômeno monetário que destrói as funções da moeda. Felizmente, o Brasil

parece ter se livrado do tsunami monetário que é a hiperinflação.

Figura 6.2: Alguns países, como a Áustria e a Alemanha, passaram por altíssimas taxas de inflação, em certos momentos do século XX. A foto mostra um alemão que, diante da desvalorização do marco após a Primeira Guerra (1914-1918), preferiu forrar as paredes de sua casa com notas a pagar por um papel de parede convencional.

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3) e

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Page 120: Barbosa 2010

118 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DE UMA MOEDA?

Ao longo da história econômica, várias mercadorias foram

utilizadas para servir de moeda antes de evoluir para a forma atual.

Alguns exemplos são o sal, o gado, o ouro e a prata. Hoje, a moeda

disseminada pelo mundo é o papel-moeda. Agora pense: que características

essenciais deve possuir a moeda para que ela exerça as suas funções de

forma plena? A resposta a que a socidade chegou é clara: a moeda precisa

ter durabilidade, aceitação universal e ser de difícil falsificação. Precisa

ser durável para que possa ser utilizada ao longo do tempo. Veja como:

imagine que você a tenha em mãos, mas que saiba que ela não dura mais

de dois meses. Aí estariam comprometidas as funções de meio de troca

e reserva de valor. Como reserva de valor, a moeda seria inviável, já que

não poderia ser guardada por muito tempo; não serviria também como

meio de troca, porque as pessoas que não tivessem planos de utilizá-la

em espaço de tempo menor que a sua perecibilidade poderiam não

se interessar em recebê-la em uma transação econômica. Esse foi um

dos problemas enfrentados quando o gado foi utilizado como moeda:

e se ele morresse?

Outra característica bastante clara da moeda é que ela precisa

ser aceita por todos para que funcione como tal. Isso requer que tenha

baixo custo de estocagem e que possa ser utilizada facilmente para

pequenas e altas transações. Por exemplo, se a moeda for o gado, como

cotar o preço de um chiclete? E depois, como transportar ou guardar

várias somas de dinheiro sem que se tenha alto custo? Ou seja: para ter

boa aceitação, a moeda precisa ter elevada durabilidade, baixo custo

de operação e se mostrar adequada para transações de baixos e altos

valores monetários.

Por fim, a difícil falsificação é fundamental para a estabilidade do

valor da moeda. Isso ocorre porque um volume muito grande de moeda

em relação ao produto existente retira-lhe valor e coloca sua existência “em

xeque” (na aula sobre inflação, você verá mais questões a esse respeito).

Page 121: Barbosa 2010

C E D E R J 119

AU

LA 6AS MOEDAS METÁLICAS E O PAPEL-MOEDA

Na época em que o ouro era utilizado como moeda metálica, não

havia problemas quanto à questão da aceitação universal deste metal. No

entanto, seu valor intrínseco estimulava que as pessoas lhe retirassem um

pedaço, antes de se desfazerem dela na hora das transações. Até mesmo o

governo lançava mão de políticas de redução do peso do ouro contido na

moeda como forma de aumentar a quantidade de moeda em circulação.

Outro problema que havia na época é que o transporte de grandes somas

em ouro causava um significativo volume de carga, o que facilitava os

assaltos e os saques em viagens (lembre-se dos filmes de faroeste, em que

os bandidos atacavam as diligências procurando os tesouros).

No intuito de evitar tais problemas, evoluiu-se para o papel-

moeda. Este último consistia em certificados que correspondiam a

determinada quantidade de ouro, ou seja, garantiam sua conversibilidade

em ouro (o que se convencionou chamar de lastro). Hoje, o sistema já

não funciona assim: a aceitação dessa modalidade de moeda foi tamanha

que a conversibilidade com o ouro deixou de existir. No entanto, não

pense que essa transição foi natural e espontânea: a aceitação do papel-

moeda passou a ocorrer pela força da lei ou por decreto governamental.

A partir de um determinado ponto, todos estavam obrigados a receber

moeda como forma de pagamento (a título de curiosidade, perceba como

sua “veia de cidadania” aumenta quando algum comerciante diz que

não aceita cheque ou cartão de débito). Nos dias de hoje, portanto, o

papel-moeda não tem qualquer VALOR INTRÍNSECO.

Atualmente, o papel-moeda em circulação é a moeda manual

(as cédulas e as moedas). No entanto, isso não esgota o total do que é

considerado comumente como moeda. Resta ainda, como já vimos, a

denominada moeda escritural.

VALOR INTRÍNSECO DA

MOEDA

A moeda-mercadoria (mercadoria que assume a função

de moeda) tem obrigatoriamente

valor intrínseco, ou seja, tal mercadoria,

mesmo não sendo utilizada como

moeda, tem algum valor de troca. Hoje em dia, quando um papel-moeda deixa

de existir como moeda, deixa de

ter qualquer valor (exceto para os

colecionadores). Assim, seu valor

intrínseco é zero. O valor extrínseco da

moeda, por sua vez, é o poder aquisitivo do seu valor de face

(que vem sempre indicado: um real,

dez reais etc.).

Page 122: Barbosa 2010

120 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

A MOEDA ESCRITURAL

É fato comum: o comércio aceita em larga escala os cheques como

forma de pagamento. Os cheques representam o que você tem guardado

em seu banco comercial. Repare: você pode levar toda a sua riqueza em

uma única folha de cheque, o que, na época da moeda-ouro, teria de ser

feito em enormes e pesadas malas. Tal praticidade é o que chamamos de

moeda escritural (ou depósitos à vista, como veremos a seguir).

O chamado depósito à vista representa o saldo em conta corrente

bancária que pode ser utilizado por meio de cheque para pagamentos ou

recebimentos. Dessa forma, opõe-se ao que se chama DEPÓSITO A PRAZO.

OS BANCOS COMERCIAIS

Como você já viu, os cheques representam os valores relativos

aos depósitos em conta corrente bancária. São os chamados depósitos

à vista. Basta apresentá-los ao caixa, que recebe o papel-moeda,

DEPÓSITO A PRAZO

É aquele em que o cliente só pode resgatar o que depositou após um certo período de tempo estipulado. Por isso rende juros. Os bancos utilizam esse recurso para suas operações de empréstimos e aplicações em títulos. Um exemplo de depósito a prazo é o CDB (Certificado de Depósito Bancário).

O fim do bimetalismo e a história da “moeda má que

expulsa a boa”

Em meados do século XVII, o ministro francês Jean-Baptiste Colbert exerceu grande influência sobre o sistema de moeda

chamado bimetalismo. Esse sistema significava a existência conjunta da moeda-ouro e da moeda-prata. Como, à época, o ouro tinha maior valorização e atração do que a prata, os indivíduos mantinham guardada a moeda-ouro o

máximo de tempo possível, procurando se desfazer apenas da moeda-prata. Isso fez com que houvessse um certo transtorno por falta de moeda suficiente para atender às

necessidades de troca. Depois de muito tempo, tal fenômeno foi percebido e reconhecido por Colbert como “moeda má que expulsa a boa”. Assim, extinguiu-se o bimetalismo para

dar lugar ao monometalismo (apenas uma moeda metálica).

Algo um pouco parecido com “a moeda má que expulsa a boa” ocorre quando o Banco Central lança moedas que a população desaprova ou as cédulas demasiadamente

desgastadas ou a ponto de rasgar. As pessoas passam a “livrar-se” delas no primeiro momento em que vão gastar. Quem as recebe procura fazer o mesmo. Perceba

que, algumas vezes, dentro de um ônibus, os cobradores procuram encher sua mão de moedinhas e que você torce o nariz ao

recebê-las. Provavelmente, você trata de vingar-se, transferindo-as ao cobrador da próxima viagem que fizer. Com um pouco

de exagero, pode-se dizer que, no ônibus, “a moeda má expulsa a boa”.

??

Page 123: Barbosa 2010

C E D E R J 121

AU

LA 6no valor estipulado no cheque. Denomina-se banco comercial todo

estabelecimento bancário autorizado pela AUTORIDADE MONETÁRIA a

receber depósitos à vista. São exemplos: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú,

Unibanco e tantos outros.

A atividade principal de um banco comercial é realizar empréstimos.

Os bancos recebem depósitos à vista (e também a prazo) e deixam

parte destes guardados sob a forma de reservas (também chamadas de

encaixes), precavendo-se de que os clientes que os depositaram possam

vir a precisar daquela parcela mantida em reservas. A outra parcela que

se estima que vá ficar sem uso pelos que depositaram é emprestada a

terceiros. Estes últimos pagam juros sobre o quanto estão solicitando

como empréstimo. Para os bancos, esses juros representam os ganhos

brutos com empréstimos.

AU T O R I D A D E M O N E T Á R I A

É a instituição designada para supervisionar e

regular o sistema monetário ou bancário. No

Brasil, o Banco Central exerce o

papel de autoridade monetária.

Banco Central do Brasil (Bacen)

Nosso Banco Central é uma autarquia federal criada em 1964. Até 1985, exercia, juntamente com o Banco do Brasil, as

funções de autoridade monetária. A atual Constituição de 1988 assegura ao Bacen a exclusividade de instituição emissora de moeda no país.

É possível listar algumas de suas principais funções: ??

1) Banco dos bancos. O Banco Central empresta aos bancos (o que se chama redesconto de liquidez);2) Guardião das reservas internacionais. O que o país recebe de moedas estrangeiras (reservas internacionais) é mantido no Bacen;3) Banco do governo. O governo deposita no Banco Central seus recursos referentes a impostos e taxas (recursos do Tesouro Nacional). O Bacen realiza empréstimos ao governo (nos níveis federal, estadual e municipal) e mantém e opera os títulos do governo;4) Emissor de moeda (manual e etálica).

Os bancos não mantêm em reservas a totalidade do que recebem

em depósitos, pois sabem que apenas uma parcela de tudo que é

depositado não é movimentada. Grosso modo, podemos dizer que,

enquanto um cliente está retirando dinheiro no banco, outros tantos

estão depositando. Apenas em raríssimos casos as retiradas serão maiores

do que os depósitos. No momento em que o banco empresta para outro

Page 124: Barbosa 2010

122 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

A OFERTA DE MOEDACompreendidas as características e as funções da moeda e

analisados os princípios que regem a atividade bancária, veja agora

alguns conceitos que contribuirão para o entendimento dos mecanismos

que geram a oferta de moeda em um país.

A moeda, que nada mais é do que os meios de pagamento (M),

pode ser delimitada como o total do papel-moeda em poder do público

(PMPP) mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ou seja:

M = PMPP + DVBC (1)

Definindo como Base Monetária (B) o PMPP e o total de reservas

mantidas pelos bancos comerciais (R), temos:

B = PMPP + R (2)

Pensando com a cabeça do banqueiro

O Banco Pereira-Silva lançou a seguinte campanha publicitária: Cliente com saldo gordo ganha mais sorrisos e cafezinhos. "O que se passa na cabeça do Sr. Pereira, diretor-presidente" da instituição? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada Já vimos que o saldo médio representa a parcela dos recursos depositados pelos clientes que

pode ser utilizada pelos bancos, já que fica ociosa na conta corrente. É desses recursos que

o banco se utiliza para fazer empréstimos a terceiros – recursos cujos juros representarão,

no final das contas, o lucro da instituição bancária.

Atividade 32

cliente, há a criação de moeda. Isso ocorre porque o cliente está recebendo

moeda e o depositante que deu origem à possibilidade do empréstimo

também detém a posse (contábil) da moeda. Esse mecanismo, que será

detalhadamente explicado mais adiante, é denominado multiplicação dos

meios de pagamento. Em resumo: dados os depósitos bancários, uma

parte destes é retida em forma de reservas. Uma outra parte é utilizada

como empréstimos, que se converterão em novas formas de meios de

pagamento, ou seja, em moeda.

Page 125: Barbosa 2010

C E D E R J 123

AU

LA 6

A quebradeira de bancos na crise dos anos 30

(Grande Depressão) e o feriado bancário.

No século passado, durante a famosa crise mundial que se deu entre o final dos anos 1920 e início dos anos 1930, houve um grande corrida aos bancos americanos. Vários deles quebraram.

Os clientes, tomados de pânico pela notícia de que os bancos estavam falidos, resolveram então, todos ao mesmo tempo, transformar seus depósitos em papel-moeda. Mesmo os

bancos em boa situação financeira não contiveram os inesperados saques e, por estarem com apenas uma fração dos depósitos (as reservas) em caixa, não tiveram outra saída senão

fechar as portas. Este fato serviu de lição para as autoridades monetárias: em momentos de desconfiança geral da população ou de grandes boatos, decreta-se o feriado bancário (os bancos ficam fechados por um período determinado pelo governo,

em geral três dias). Dessa forma, procura-se impedir a corrida inesperada e impensada de clientes em busca de seus ativos, o que põe em risco o

funcionamento dos bancos. No Brasil, os mais recentes feriados bancários ocorreram por ocasião do

Plano Collor (1990) e do Plano Cruzado (1986). Na crise argentina de 2002, também foi decretado feriado bancário. Naquele

caso, não podendo entrar nos bancos, fechados por decreto, os argentinos optaram por quebrar as

agências. Sim, literalmente.

??Figura 6.3: Crianças posam para a câmera na extinta favela de Hooverville, nascida às margens do rio Hudson, em Nova York, durante o período da Grande Depressão.

Bib

liote

ca F

ran

klin

Del

ano

/Ro

ose

velt

/EU

A

M é um múltiplo de B (DVBC, como já vimos, é bem maior que

R). A diferença entre elas é justamente o fenômeno da multiplicação da

moeda decorrente das operações de empréstimos bancários.

Observe que PMPP é o volume do papel-moeda emitido menos

as reservas dos bancos.

Page 126: Barbosa 2010

124 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

O MULTIPLICADOR DOS MEIOS DE PAGAMENTO

O Banco Central, como já vimos, é a instituição que autoriza a

emissão de moeda no Brasil. Porém, pelo que foi dito anteriormente, ao

emprestar parte dos depósitos que recebem de seus clientes, os bancos

comerciais também criam moeda. Esse mecanismo bancário de criação de

moeda ocorre porque apenas uma fração dos depósitos é mantida como

reservas, emprestando-se o restante. Esses novos empréstimos acabam

se transformando em novos depósitos que, pela regra dos bancos de

manter apenas uma parcela como reservas, acabam gerando novas

rodadas de empréstimos–depósitos–reservas–empréstimos. Ou seja, os

bancos criam meios de pagamento adicionais. Isso é o que se conhece

como multiplicador bancário ou dos meios de pagamento. Veja como

se dá esse processo com um pouco mais de detalhe.

Os bancos comerciais possuem três tipos de reservas (ou encaixes)

para estarem aptos a responder pelos seus compromissos de guardiões

dos depósitos:

• encaixes em caixa: são os caixas das agências bancárias. Eles estão

lá para atender aos que vão sacar ou trocar os cheques por papel-moeda;

• reservas voluntárias: são aquelas mantidas no Banco Central (até

1986 eram mantidas no Banco do Brasil) para fins de compensação de

cheques. Toda noite, os cheques de diversos bancos são confrontados.

Aqueles que devam pagar mais do que receber podem lançar mão das

reservas voluntárias;

• reservas compulsórias: por determinação da regulação bancária,

o Banco Central estipula obrigatoriamente a retenção de uma porcentagem

dos depósitos à vista como encaixes compulsórios, que devem ser recolhidos

no Banco Central.

Quando anteriormente dissemos que uma parcela dos depósitos

é mantida como reservas, estávamos nos referindo a esses três tipos de

reservas. Por intermédio de um exemplo, você vai entender o mecanismo

da multiplicação dos depósitos que leva à expansão dos meios de

pagamento.

Um indivíduo vai ao banco e deposita R$ 1.000,00 em sua conta.

O banco possui a regra de converter em encaixes totais 20% de tudo que

é depositado, emprestando o restante. Dessa forma, são emprestados R$

800,00 a uma outra pessoa. Esta, por sua vez, deixa depositada a metade

desses empréstimos no próprio banco. Uma vez que 20% de depósitos são

Page 127: Barbosa 2010

C E D E R J 125

AU

LA 6

Indivíduo Depósitos (DV)Reservas (20% DV)

Empréstimos (80% DV)

1º 1.000 200 800

2º 400 80 320

3º 200 40 160

reservas (20% de R$ 400,00), o banco mantém R$ 80,00 como encaixes

e disponibiliza R$ 320,00 para emprestar a um terceiro indivíduo. Este

saca imediatamente R$ 120,00 e deixa o restante guardado no banco

como depósito. Por fim, o banco efetua o encaixe de R$ 40,00 e empresta

R$ 160,00 para alguém que saca todo o empréstimo sob a forma de

dinheiro. Veja quanto foi gerado de novos depósitos apenas com essa regra

de comportamento de encaixes, empréstimos e clientes do banco.

No total das operações com empréstimos, gerados a partir do

depósito de R$ 1.000,00, foram contabilizados R$ 1.600,00.

Com algumas simplificações a mais, pode-se estabelecer um

método de contagem dos depósitos, como se segue:

Suponha que a regra e o comportamento dos clientes sejam

invariavelmente os mesmos: cada depósito implica 20% de reservas e

80% de empréstimos. Cada empréstimo se transforma em novo depósito

(como se o cliente que recebeu o empréstimo abrisse uma conta corrente

com o empréstimo). Desse modo, a geração de depósitos seria:

Indivíduo Depósitos (DV) Reservas (20% DV)Empréstimos (80%

DV)

1º 1.000,00 200,00 800,00

2º 800,00 160,00 640,00

3º 640,00 128,00 512,00

4º 512,00 102,40 409,60

5º 409,60 81,92 327,68

6º 327,68 65,53 262,14

... ... ... ...

Exemplo de multiplicação dos depósitos bancários (Em R$)

Exemplo de multiplicação dos depósitos bancários (Em R$)

Page 128: Barbosa 2010

126 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

A soma dos depósitos à vista é o resultado da criação de meios

de pagamentos por intermédio dos bancos. O quadro anterior evidencia

uma relação de progressão geométrica (PG) de razão (q) igual a 0,8, da

seguinte forma (em reais):

O que essas contas mostram é que os R$ 1.000,00 iniciais

possibilitaram uma expansão de depósitos para R$ 5.000,00. Tendo

ocorrido o sistema bancário de empréstimos, os depósitos foram

multiplicados por cinco, que é o resultado da fração:

O multiplicador será tanto maior quanto menor for a parcela dos

depósitos retidos sob a forma de reservas bancárias. Se as reservas fossem

50% dos DV, o multiplicador seria igual a dois. Então, os R$ 1.000,00

iniciais levariam, com o tempo, a novos depósitos que totalizariam

R$ 2.000,00.

O entendimento da relação entre reservas e o tamanho do

multiplicador dos depósitos (ou dos meios de pagamento) é bastante

intuitivo: quanto maiores as reservas, menos recursos o banco terá para

emprestar. Por conseqüência, menor será o número e o valor de depósitos

adicionais. Se, por exagero, 100% do depósito fosse mantido como

encaixe, não haveria o que emprestar e o multiplicador seria 1 (nesse

caso, não multiplicaríamos nada).

Agora suponha que cada cliente mantenha 10% do que recebe

de empréstimos em papel-moeda, deixando o restante sob a forma de

depósitos. O quadro a seguir ilustra essa situação:

Indivíduo Depósitos (DV)Reservas (20%

DV)Empréstimos

(80% DV)

1º 1.000,00 200,00 800,00

2º 720,00 144,00 576,00

3º 518,40 103,68 414,72

4º 373,24 74,64 298,59

... ... ... ...

10 2,

Exemplo de multiplicação dos depósitos bancários (Em R$)

DV = + + + + +∑ 1 000 800 640 512 409 6. , ...

DV DVq

=−

=−

= × = × =∑ 11

1 0001 0 8

1 000 10 2

1 000 5 5 000.,

.,

. $ .R

Page 129: Barbosa 2010

C E D E R J 127

AU

LA 6Assim, os depósitos teriam a seguinte soma:

Dessa soma infinita de termos resulta uma PG de razão 0,72 (basta

dividir um termo por outro subseqüente), isto é:

Você pode verificar que o multiplicador bancário diminuiu em

comparação com o exemplo anterior (passou de 5 para 3,517). Isso

se deve a um vazamento no sistema (que ocorre quando os clientes

usam mais papel-moeda do que antes), o que reduz o total de recursos

disponíveis para empréstimos bancários.

No caso anterior, o multiplicador (m) assume a seguinte expressão

(veja a dedução no boxe explicativo):

(3)

onde:

d representa a fração dos depósitos em relação ao total dos meios

de pagamento (M);

r representa as reservas como fração dos depósitos à vista.

O que o multiplicador dado pela equação (3) nos diz é que, quanto

maior a razão entre depósitos à vista e meios de pagamentos, maior será

o multiplicador; e quanto maior a fração das reservas bancárias sobre o

que se recebe de depósitos à vista, menor será o multiplicador. Em outras

palavras, quanto maior d (relação entre o total dos depósitos em razão do

total dos meios de pagamento) e quanto menor r (fração dos depósitos

que são retidos em reservas bancárias), maior será o multiplicador dos

meios de pagamento.

A dedução do multiplicador dos meios de pagamento

Considerando as equações (1) e (2):

M = PMPP + DVBC (1)B = PMPP + R (2)

md r

=− −( )1

1 1

DV = + + + +∑ 1 000 720 518 4 373 24. , , ...

DV =−

= × =∑ 1 0001 0 72

1 000 3 51714 3 571 42.,

. , $ . ,R

??

Page 130: Barbosa 2010

128 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

O CONTROLE DA OFERTA DE MOEDA PELO BANCO CENTRAL

Já vimos que, por meio de empréstimos, os bancos podem alterar

a oferta de moeda em um país. Mas será que o Banco Central (Bacen),

como autoridade monetária, não pode controlar a influência dos bancos

E definindo:

proporção dos meios de

pagamento que são papel-moeda;

proporção dos meios de pagamento que são depósitos à vista;

R = r DVBC as reservas como uma fração r dos depósitos à vista,

Temos:

Dividindo ambos os lados de (1) por M

(4)

De (4) em (2)

B = cM + rDVBC = (1 – d)M + r dM

Observe que R = r DVBC = r dM

Colocando M em evidência:

B = M (1 – d – rd)

O que dá

O multiplicador (m) representa o quanto os meios de pagamento são mais elevados que o total da base

monetária (moeda manual existente na economia).

c = PMPPM

d = DVBCM

1 1= + = = +PMPPM

DVBCM

c d

B M d r= − −( ) 1 1

MB d r

=− −( ) =11 1

m (3)

Page 131: Barbosa 2010

C E D E R J 129

AU

LA 6na questão da oferta de moeda? A resposta é sim. O Bacen exerce tal

controle de três modos:

Operações de open market (mercado aberto)

Open market é a operação em que o Bacen compra ou vende títulos

do governo no mercado de títulos. Quando o governo vende um título,

como a Letra do Tesouro Nacional (LTN) ou a Obrigação do Tesouro

Nacional (OTN), recebe o valor da venda do título em dinheiro, o que

retira tal montante de moeda de circulação. Assim, há uma diminuição

nos meios de pagamento. De forma inversa, quando compra os títulos

do público, está injetando moeda na economia, o que significa aumentar

a oferta monetária.

Você deve observar que a cada R$ 1,00 colocado na economia

(por exemplo, pela compra de título pelo Bacen), se essa importância

for totalmente mantida em dinheiro, a oferta monetária irá aumentar

em igual valor. Todavia, depositado o dinheiro em um banco, ao longo

do tempo, o processo multiplicador dos depósitos elevará a oferta

monetária para valores acima dos que foram injetados com a operação

de open market.

Reservas compulsórias

De acordo com o Banco Central, todo banco precisa reservar

uma fração dos depósitos que recebe. As reservas compulsórias são a

fração das reservas do banco regulamentada pela entidade. Essa fração

é definida segundo os interesses de política monetária do país. Por afetar

a disponibilidade dos recursos para empréstimos, o valor dessas reservas

influencia o multiplicador bancário.

Se o Bacen determinar que as reservas compulsórias serão de 0%

do DV, haverá grande volume de recursos para empréstimos. Se tal taxa

de reservas, por outro lado, for de 100%, os bancos não terão como

oferecer empréstimos com os depósitos que recebem em suas agências.

É simples, concorda?

O Bacen modifica a exigência de reservas compulsórias

freqüentemente, em função justamente do controle monetário que visa

a estabelecer. Se ele pretender contrair a oferta monetária, pode elevar

o recolhimento compulsório das reservas bancárias. Se quiser ampliá-la,

pode consegui-lo por meio da diminuição dessa taxa.

Page 132: Barbosa 2010

130 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

Taxa de redesconto

Ainda que não seja tão freqüente, é possível que, em determinado

momento, os bancos se vejam sem moeda suficiente para atender aos

saques de seus clientes. Nessa situação de insuficiência eles podem

recorrer ao Bacen para receber empréstimos de liquidez. O Bacen os

atende, mas cobra uma taxa de juros em função desse empréstimo. Essa

taxa é denominada taxa de redesconto de liquidez.

A taxa de redesconto é, portanto, a taxa de juros que os bancos têm

de pagar ao Bacen quando estão sem liquidez (ou sem moeda suficiente)

para atender aos clientes.

A taxa de redesconto funciona como um instrumento de controle

monetário. Veja por quê: se o Bacen não cobra nada ou muito pouco para

socorrer os bancos em momentos de insuficiência de caixa, os bancos

terão mais folga para destinar mais recursos oriundos dos depósitos para

empréstimos. Afinal, com mais recursos para empréstimos, maior volume

de empréstimos e mais juros os bancos receberão. Por outro lado, se o

Bacen fixar uma taxa significativamente alta, os bancos assumirão mais

cautela na hora de decidir quanto deixam de reservas totais e quanto

destina para empréstimos, pois, em situação de baixa liquidez, ficará

muito caro recorrer ao Bacen.

Portanto, um aumento na taxa de redesconto tende a elevar as

reservas bancárias e, assim, a diminuir o multiplicador e os meios de

pagamento.

O país em guerra

Atividade 432

BANCOS: Brasileiros não querem aderir à campanha militar

O anúncio sobre o engajamento dos bancos comerciais no esforço

de guerra brasileiro fez com que, na tarde de ontem, centenas de milhares de pessoas fossem às agências bancárias e esvaziassem suas contas correntes.

Page 133: Barbosa 2010

C E D E R J 131

AU

LA 6

Agora responda: o que aconteceria com um banco caso todos os seus clientes, em um só tempo, fossem fazer retiradas sobre seus depósitos efetuados? E quais seriam, nas palavras do Sr. Prata, “todos os recursos disponíveis” de que o Banco Central poderia lançar mão, a fim de evitar o pior?

Resposta Comentada As corridas repentinas dos clientes aos bancos são motivo de terror para o bom funcionamento

dessas empresas. Mesmo que o banco esteja em situação de lucratividade, em circunstâncias

assim, ele pode “quebrar”. Isto porque o banco trabalha “alavancado”, ou seja, com parcelas de

recursos de terceiros bem maiores do que as de recursos próprios. Sendo assim, o banco não

tem liquidez suficiente para atender a todos os clientes ao mesmo tempo. Em uma situação

assim, a saída seria fechar as portas ou solicitar ao Banco Central que se decretasse um

feriado bancário. Assim, o banco teria tempo para adquirir empréstimos do Banco Central,

de fontes externas, ou mesmo para acalmar seus clientes.

O presidente do Banco Central, Gastão da Prata, disse ontem, em entrevista coletiva à imprensa, que a entidade

está disposta a enfrentar a crise no sistema financeiro. Segundo Prata, o Bacen deve lançar mão de todos os recursos disponíveis.

BC se coloca à disposição

CONCLUSÃO

A moeda é parte integrante e diária da vida das pessoas. Por

intermédio dela, fazem-se os pagamentos e recebimentos. Todavia, o

valor da moeda está intimamente ligado ao nível de preços dos produtos

e serviços. Zelar pelo nível de preços (inflação) é zelar pela sobrevivência

da moeda ao longo do tempo.

Os bancos comerciais exercem destacada importância no sistema

monetário, pois, por intermédio de suas atividades de empréstimos

bancários, ampliam a oferta de moeda na economia.

O Banco Central, que, no Brasil, exerce a função de autoridade

monetária, tem a função de garantir o funcionamento do sistema como

um todo.

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132 C E D E R J

Análise Macroeconômica | O sistema monetário

Dinheiro elástico

1. Segundo o relatório do Banco Central (março de 2005, vol. 7 número 1), os meios

de pagamento totalizaram R$ 120,7 bilhões, ao final de fevereiro de 2005. A base

monetária alcançou, em igual período, o saldo de R$ 23,6 bilhões. Diante desses dados,

de quanto os meios de pagamento aumentariam ao longo do tempo, caso houvesse

a transferência de R$ 1,00 de PMPP para deposito à vista?

Resposta Comentada O multiplicador bancário ou dos meios de pagamento representa de quanto cada real depositado

em um banco comercial irá ampliar a quantidade de moeda na economia. O valor do multiplicador

é obtido pela divisão entre os meios de pagamento e a base monetária. Sendo assim:

Ou seja: após um período suficiente de tempo, cada real retirado do bolso (PMPP) e depositado

no banco (DVBC) elevaria os meios de pagamento em pouco mais de R$ 5,00.

2. Os bancos comerciais de um país receberam 10 milhões de u.m. em novos depósitos.

Por determinação de sua autoridade monetária, eles retêm 10% dos depósitos como

reservas totais. Qual será o valor do multiplicador dos meios de pagamento caso todos

os indivíduos mantenham seu dinheiro sob forma de depósito à vista? Ao longo do

tempo, em quanto irão se alterar os meios de pagamento?

Atividades Finais

m MB

= = =RR

5,1$ ,$ ,120 723 6

Page 135: Barbosa 2010

C E D E R J 133

AU

LA 6

Resposta Comentada O multiplicador (m) é dado por:

No entanto, dada a hipótese em que os novos depósitos gerados sejam todos convertidos ainda em

outros depósitos, como visto na exposição desta aula, o multiplicador assume a expressão:

m = , ou seja, m = =10

Então, como o multiplicador afirma, cada R$ 1,00 depositado gera R$ 10,00. Logo, o acréscimo de

R$ 10 milhões irá gerar R$ 100 milhões a mais no total de meios de pagamento.

Você viu a moeda é um ativo de alta liquidez. Utilizada como meio de

pagamento ou de recebimento, possui três funções: intermediária de troca,

unidade de conta e reserva de valor. Em geral, a moeda consiste em papel-

moeda em poder do público e depósitos à vista nos bancos comerciais.

O total de moeda ou meios de pagamento é bem maior do que o total de

moeda manual e metálica existente (papel-moeda emitido pelo Bacen).

Isso se deve ao multiplicador bancário ou dos meios de pagamento, que

consiste na multiplicação dos depósitos por parte dos bancos, o que leva a

que o saldo dos meios de pagamento seja maior do que a base monetária

(papel moeda emitido).

O multiplicador bancário é influenciado pela reservas totais sobre os

depósitos. Uma diminuição na fração das reservas sob depósitos diminui o

multiplicador, pois sobram mais recursos para os empréstimos bancários.

De forma semelhante, quando o público resolve manter moeda sob a forma

de depósitos à vista, o multiplicador aumenta.

O Banco Central (Bacen) é a instituição que zela pelo funcionamento

do sistema monetário. Por isso recebe também o nome de autoridade

monetária. Dentre suas atribuições está a função de banco dos bancos

(empresta aos bancos) e do governo (depositário dos recursos do Tesouro

Nacional) e a de guardião das reservas internacionais.

O Bacen controla a oferta de moeda por intermédio de operações de

open market, da taxa de redesconto de liquidez e pelo nível das reservas

compulsórias que impõe aos bancos comerciais.

R E S U M O

md r

=− −( )1

1 1.

10 1,

Page 136: Barbosa 2010
Page 137: Barbosa 2010

A demanda por moeda

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

listar os motivos que levam as pessoas a guardar moeda quando poderiam, alternativamente, estar com o dinheiro aplicado;

analisar os custos de manter moeda em ambiente de inflação e taxa de juros elevada;

estabelecer a relação entre quantidade de moeda e crescimento no nível de preços de uma economia.

7objetivos

AU

LA

Meta da aula

Descrever o processo que leva à demanda por moeda e definir a Teoria Quantitiva da Moeda.

1

2

3

Page 138: Barbosa 2010

136 C E D E R J

Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

INTRODUÇÃO Você acaba de receber a notícia de que ganhou sozinho na loteria. O prêmio,

deixado em aplicações financeiras, rende R$ 20 mil mensais. Imagine que,

mesmo rico, você queira usar sua riqueza da forma mais lucrativa possível (não

quer desperdiçar ou esbanjar). Sendo assim, com toda essa bolada na mão,

quanto você retiraria em dinheiro e quanto deixaria em aplicações? Ou seja,

quais os fatores que o motivariam a preferir manter sua riqueza em dinheiro,

em vez de aplicá-la em títulos que rendam juros? Grande parte desta aula

auxilia você a responder perguntas como essa.

Na última aula, estudamos o que é moeda e analisamos os mecanismos que

geram a oferta de moeda. Agora, para completar nossos estudos sobre o sistema

monetário, abordaremos o processo que leva à demanda por moeda.

A DEMANDA POR MOEDA

Admitindo a popularmente conhecida “lei de Gerson” (“é preciso

levar vantagem em tudo”), podemos concordar que ninguém quer moeda

se pode manter sua riqueza em qualquer aplicação financeira que renda

juros. Sendo assim, vamos levantar os fatores que levam à demanda por

moeda (ou a que os indivíduos decidam converter seus rendimentos ou

na riqueza sob forma de moeda).

A teoria monetária (segmento da teoria econômica que estuda

as questões relacionadas a moeda, preços e taxa de juros) enfatiza que

a demanda por moeda se dá por motivos de transação, precaução e

especulação.

De início, compreenda que, quando utilizamos a expressão

"demanda por moeda", estamos falando sobre quanto de sua riqueza

ou renda as pessoas desejam manter sobre a forma de moeda.

Figura 7.1: Por que as pessoas querem moeda? Como as famílias se decidem por acumular mais moeda e menos títu-los financeiros (ou aplicações)? E como se dá o inverso?

Pau

l Pas

iecz

ny

(ww

w.s

xc.h

u)

Page 139: Barbosa 2010

C E D E R J 137

AU

LA 7Por exemplo: imagine que uma pessoa tem como riqueza dois

imóveis, um automóvel, uma caderneta de poupança com saldo de

R$ 5.000,00 e uma renda mensal de R$ 1.000,00. Se mensalmente ela

retira do seu salário R$ 800,00 em dinheiro, podemos dizer que sua

demanda por moeda corresponde a esse valor.

De outro modo, se essa pessoa resolve vender um apartamento,

pois pretende dar a volta ao mundo, naquele período a demanda por

moeda terá aumentado em igual valor ao da venda do imóvel, ou seja,

a demanda por moeda representa o quanto da riqueza será mantido em

moeda em vez de estar alocado em outros ativos (títulos ou imóveis,

por exemplo).

OS MOTIVOS QUE LEVAM À DEMANDA POR MOEDA

Já aprendemos aqui que uma parcela dos rendimentos dos

indivíduos é convertida em moeda. Pois agora veremos que essa

proporção não é gerada ao acaso. Existem três motivos que levam uma

pessoa a demandar moeda. Tratemos agora de cada um deles.

O motivo transação

No dia em que recebe seu contracheque (comprovante de

rendimentos), quanto você pensa em sacar se, por exemplo, sua ida ao

banco é apenas semanal? Provavelmente, o primeiro pensamento recairá

sobre as contas que terá de pagar (aluguel, mensalidade escolar, taxas

de luz), algumas despesas com alimentação e lazer etc. Neste momento,

estamos falando de quanto você demandará de moeda por motivo de

transações planejadas, isto é, a demanda por moeda compreende um

fator chamado motivo transação. Demanda-se moeda pela facilidade que

ela proporciona para efetuar transações econômicas. Hoje em dia, com

as várias opções de formas de pagamento disponíveis no mercado, essa

questão tem uma complexidade um pouco maior: o quanto de moeda

será demandado dependerá do seu hábito de utilizar cartões de crédito,

caixas automáticos etc. Mas, grosso modo, a demanda por moeda por

motivo transação é o montante de moeda suposto como o suficente para

efetuar os gastos planejados por um certo período de tempo.

Page 140: Barbosa 2010

138 C E D E R J

Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

Na aula passada, já vimos que o indivíduo precisa da moeda

porque ela é o melhor meio de troca (pelo menos do ponto de vista

da aceitação universal). Considerando que as transações dependem

positivamente da renda, isto é, quanto maior a renda, maior o nível

desejado de transações, podemos dizer que a demanda por moeda

depende positivamente do nível de renda.

Observe que o quanto se demandará por motivo transacional vai

depender da quantidade de transações desejadas. Todavia, as transações

são cotadas em preços, e estes podem se alterar. Assim, a demanda por

moeda será maior quanto mais os preços das transações se elevarem e vice-

versa. Portanto, o nível de preços afeta de maneira direta a demanda por

moeda. Quanto maiores as transações desejadas pelos indivíduos, maior

a demanda por moeda. Por outro lado, quanto menores as transações

desejadas pelos indivíduos, menor será a demanda por moeda.

O motivo precaução

Analisado o motivo transação, saiba que a demanda pode ocorrer

também pelo motivo precaução. A demanda por moeda por precaução

se dá pela ciência de que fatos imprevistos podem ocorrer. Quando não

sabemos com exatidão o que iremos precisar gastar ou mesmo quando

iremos receber nossos rendimentos, demandamos alguma quantidade de

moeda para fazer frente a essas incertezas. Esse volume de dinheiro é o

que chamamos de encaixes (saldos) monetários por motivo de segurança

ou precaução. Vale dizer que esses encaixes também dependem do nível

de renda. Quanto mais rica for a pessoa (ou maior a empresa), maiores

serão os encaixes por motivo de precaução.

Agora veja: como a renda é a variável comum aos dois motivos de

demanda por moeda, podemos expressar a relação da seguinte forma:

Mt+pd = k Y k > 0 (1)

onde:

Mt+pd representa a demanda por moeda pelo motivo transacional

e precaucional

Y representa a renda monetária

k representa a proporção média da renda que será destinada à

retenção de moeda, pelos motivos já vistos.

Page 141: Barbosa 2010

C E D E R J 139

AU

LA 7

A função da demanda por moeda

Ao reunir (agregar) os três motivos pelos quais as pessoas retêm moeda, temos:

Md = Mt+pd + Md

e

Md = ky + h i k > 0 e h < 0 (3) Ou seja: a demanda total por moeda depende positivamente

da renda e é afetada de forma inversa pela taxa de juros.

O motivo especulação ou portfólio

Além dos motivos transação e precaução, perceba que as pessoas

podem desejar reter moeda a fim de E S P E C U L A R (aproveitar uma

oportunidade de ganhar dinheiro a partir das circunstâncias do momento

ou do futuro). Se, por um lado, a moeda não rende juros, por outro é um

ativo sem riscos, principalmente em ambiente não-inflacionário (onde

há baixa perda de poder aquisitivo ao longo do tempo). Normalmente,

para diluir os riscos (“não colocar todos os ovos em uma cesta só”), os

indivíduos procuram diversificar suas aplicações. Para que fique mais claro,

perceba: se o indivíduo acredita ou percebe que determinado ativo (imagine

um imóvel, por exemplo) vai, em algum momento, baixar de preço, ele

pode reter moeda para estar apto a aproveitar essa oportunidade. Esse

comportamento se refere à demanda por moeda por motivo de especulação,

isto é, à parcela da demanda por moeda que o individuo guarda com

objetivo de ser beneficiado por algum ganho futuro.

Perceba agora que, quanto maior a taxa de juros das aplicações,

menor será a propensão dos indivíduos a manter moeda em vez de

adquirir títulos. Assim, a demanda por moeda por motivo de especulação

(também denominada motivo portfólio) possui relação inversa com a

taxa de juros, ou seja:

Mde = h i h < 0 (2)

sendo:

Mde representa a demanda por moeda especulativa

h representa a sensibilidade do mercado diante de um aumento

na taxa de juros e vice-versa.

i representa taxa média de juros.

A equação (2) informa que um aumento na taxa de juros reduz o

comportamento de demandar moeda. Já uma redução na taxa de juros

estimula a procura por moeda.

DE M A N D A P O R M O E D A

P O R M O T I V O E S P E C U L A Ç Ã O

Também denominado motivo portfólio,

representa a fração dos encaixes

monetários (demanda por moeda) que as pessoas retêm com

o objetivo de se apropriar de algum

ganho futuro na aquisição de títulos financeiros ou com

a valorização ou desvalorização de

outros ativos (imóveis, automóveis etc.).

??

Page 142: Barbosa 2010

140 C E D E R J

Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

Carro a preço de banana

a. Suponha que você tenha em casa R$ 5.000,00. Está juntando dinheiro para comprar um automóvel. Em um belo dia, um vizinho bate à sua porta informando que, por estar em uma situação de emergência, oferece seu automóvel, que acabara de comprar por R$ 50 mil. Agora ele aceita vendê-lo em troca dos seus R$ 5 mil. Se você aceitar tal proposta, qual dos três motivos de reter moeda você diria que prevaleceu na sua decisão?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

b. Por que o caso descrito anteriormente não seria (ou seria?) uma situação de demanda por moeda por motivo especulativo?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

Resposta Comentadaa. O motivo de precaução evidencia a retenção de moeda em nome de imprevistos.

Desconsiderando o fato de seu vizinho estar em uma situação de emergência, do ponto de

vista estritamente econômico tal situação representaria uma boa oportunidade para você, que

fatalmente compraria um automóvel. Portanto, a retenção de moeda se deu por motivo de

precaução.

b. Você estava com o dinheiro retido em casa e acabou pagando R$ 5.000,00 por um produto

que valia dez vezes mais. Logo, você auferiu lucro com o negócio. Ainda assim, esta não é

uma situação de motivo especulativo, já que você não imaginou que um dia o seu

vizinho bateria à sua porta e lhe faria tal proposta.

Atividade 11

A DEMANDA POR MOEDA É A DEMANDA POR ENCAIXES REAIS

Tecnicamente, diz-se que a demanda por moeda é a demanda

por encaixes reais. Veja: as pessoas retêm moeda não pelo seu valor

nominal (valor de face ou o valor expresso em unidades monetárias).

O que importa, nesse processo, é a demanda real, ou seja, o poder de

compra da quantidade de moeda de que se precisa para fazer frente aos

Page 143: Barbosa 2010

C E D E R J 141

AU

LA 7

I L U S Ã O M O N E T Á R I A

Ocorre quando as pessoas confundem

aumento de variável nominal com

aumento de variável real. Por exemplo: se os salários e os preços aumentam

em um mesmo montante, as pessoas

são iludidas pelo aumento do salário

nominal (quanto estão ganhando em

moeda). Acham que estão ganhando mais

apenas porque seus salários nominais

subiram, não percebecendo que os

preços subiram na mesma proporção, o que faz com que,

no fim, o salário real permaneça o mesmo.

gastos. Considerando a demanda por moeda como demanda por encaixes

reais, estamos dizendo que as pessoas não são acometidas pelo que já

conhecemos como I L U S Ã O M O N E T Á R I A .

Considerando a demanda por encaixes reais, perceba que, caso

não haja variação na renda real, não haverá alteração na demanda por

moeda. Incluindo, portanto, a demanda por moeda como a demanda

por encaixes reais, a equação (3) assume a seguinte forma:

k > 0; h < 0 (4)

onde:

P representa o nível geral de preços.

A equação (4) nos diz que a demanda real por moeda, a demanda

pelo poder aquisitivo da moeda, é uma função positivamente relacionada

ao nível de renda real e negativamente relacionada à taxa de juros.

Os parâmetros k e h expressam, respectivamente, a magnitude com que

a renda real e a taxa de juros afetam a demanda por moeda, isto é, uma

elevação na renda real deve aumentar a demanda real por moeda em k

u.m.; Já uma elevação na taxa de juros deve reduzir a demanda real por

moeda em h u.m.

Na seção a seguir, vamos estudar uma das questões clássicas mais

conhecidas sobre a moeda: a teoria quantitativa da moeda, que estabelece

uma relação entre a quantidade de moeda e os valores que terão as

transações (ou produtos) que são trocadas por elas em uma economia.

Figura 7.2: Sua coleção de notas pode até crescer, mas, caso os preços aumentem junto, você não estará ficando mais rico.

Ch

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om

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Page 144: Barbosa 2010

142 C E D E R J

Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

A equação da demanda

Admitindo que a demanda dos indivíduos por moeda assuma a seguinte expressão:

M d = 0,6Y - 2i,

a. interprete a equação acima.

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

b. Qual seria a equação da demanda por moeda, caso a renda fosse de 1.000 u.m. e a taxa de juros do mercado estivesse na casa dos 15%?

Resposta Comentadaa. A equação informa que a demanda por moeda depende da renda e da taxa de juros.

No caso exposto, uma elevação da renda aumenta a demanda por moeda em 0,6 de cada

unidade monetária (u.m.) de renda a mais. Por sua vez, cada ponto percentual a mais de juros

diminui em 2 u.m. a demanda por moeda.

b. M d = 0,6 x 1000 - 2 x 0,15

M d + 600 - 0,3 = 599,7 u.m.

Atividade 22

A TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA

R. J

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chu

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Page 145: Barbosa 2010

C E D E R J 143

AU

LA 7Quantas vezes, no intervalo de um ano, uma nota de real é utilizada

para fazer pagamentos ou recebimentos? O número de vezes que uma

moeda passa de mão em mão nos negócios em que é utilizada recebe

o nome de VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO, ou velocidade-renda da moeda.

A maneira mais usual de calcular a circulação da moeda consiste em

dividir o PIB nominal pela quantidade de moeda (meios de pagamento).

Assim, a velocidade de circulação da moeda é dada por:

VPYM

= (5)

onde:

V é a velocidade de circulação da moeda;

P representa o nível de preços;

Y representa o nível da produção agregada ou PIB;

M representa a quantidade de moeda no país.

Um exemplo pode ajudar a compreender o conceito de velocidade-

renda: suponha que um país tenha produzido e consumido 1.000 dúzias

de bananas, ao preço de R$ 2,00 por dúzia. Estipulemos que a quantidade

de moeda existente era de R$ 100,00. Nesse caso, a velocidade de

circulação de moeda (V) seria:

Isto quer dizer que, com o PIB nominal de R$ 2.000, 00 e um

estoque de moeda de R$ 100,00, cada real teve de circular em média

vinte vezes para atender às transações que se efetivaram naquele ano.

Da equação (5) chega-se facilmente a:

M V = P Y (6)

A leitura da equação (6) nos diz que a quantidade de moeda

multiplicada pela velocidade em que ela circula é exatamente igual ao

PIB nominal (produto x quantidade produzida). Agora perceba: se a

economia estiver em atividade (ou produção) máxima e se a velocidade de

circulação da moeda for constante (V), qualquer aumento na quantidade

de moeda elevará os preços na mesma proporção.

Uma pequena manipulação algébrica da equação (6) é dada

por:MP V

Y= ×1 (7),

VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO

Taxa pela qual a moeda “gira” pela economia

em determinado período.

VR= × =$ .2 1 000

10020

Page 146: Barbosa 2010

144 C E D E R J

Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

o que pode ser simplificado por:

,

onde

Observe que o k é o mesmo da equação (1) (Mt+pd = k Y k > 0),

ou seja, representa a taxa da renda que será retida sob forma de moeda.

O valor de k é dado pelo inverso da velocidade da moeda. Isto quer dizer

o seguinte: quando a moeda está com alta velocidade de circulação é

porque as pessoas estão retendo pouca quantidade de moeda em razão

da renda. Está claro que, quando a inflação está muito elevada, ninguém

quer ficar com dinheiro nas mãos, já que a perda de seu poder aquisitivo

é grande. Com todos tentando se livrar da moeda, isso significa que a

velocidade da moeda está alta.

MT+P

D = K Y

A equação (1) nos diz que a demanda por moeda (motivo transação e precaução) depende positivamente do nível de renda.

A batata alemã

Dizem que, durante o período de hiperinflação alemã, o dinheiro era como “batata quente nas mãos das pessoas”. Explique essa expressão, tendo em vista a velocidade da moeda e a relação inversa com a demanda por moeda.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada Quando falamos em hiperinflação, inferimos automaticamente que estamos lidando com um

processo de rápida elevação dos preços. Como os preços alemães aumentavam rapidamente,

o valor da moeda reduzia-se na mesma intensidade; as pessoas procuravam antecipar os

pagamentos, com o propósito de evitar que tais aumentos recaíssem sobre a moeda que já

detinham em mão. Dessa forma, ao receber moeda, as pessoas tratavam de se desfazer dela

logo, comprando o mais rapidamente possível, antes que o dinheiro perdesse seu poder de

compra. Assim, como esse comportamento era estendido a todos, diante de cenário nacional

tão terrível, a moeda era tida como “uma batata quente”.

Atividade 3321

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C E D E R J 145

AU

LA 7

O monstro da hiperinflação

Costuma-se definir como hiperinflação as taxas inflacionárias que alcançam patamares superiores a 50%

mensais. Essa taxa, mantida constante ao longo de doze meses (o que se denomina taxa anualizada), equivale a cerca de 1.300%,

em termos anuais. Ao longo do século XX, quatro países passaram por ambientes de hiperinflação: Alemanha, Grécia, Hungria e Polônia.

A Alemanha atingiu taxa mensal de inflação de 322% (de agosto de 1922 a novembro de 1923); a Hungria, taxas mensais de 19.800%

(de agosto de 1945 a 1946); a Polônia chegou a taxas mensais de 81% (de janeiro de 1923 a janeiro de 1924) e a Grécia

registrou taxa de 365% entre novembro de 1943 e o início de 1944.

??A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) estabelece como hipótese

que a velocidade de circulação da moeda é constante (hipótese mais

aceitável no curto prazo). Partindo dessa pressuposição, o resultado de

uma expansão monetária (aumento na oferta de moeda) depende de a

economia estar ou não operando a plena capacidade produtiva.

Se a economia estiver com capacidade ociosa zero (recursos

plenamente utilizados), a elevação em M causará apenas aumento de

preços (ver equação 6). Ou seja:

, (7)

onde os traços em cima da variável V e Y indicam que elas, por

hipótese, mantêm-se constantes.

A equação (7) ilustra a versão clássica da Teoria Quantitativa da

Moeda, pois está considerando V como constante e a renda e o produto

como sendo o pleno emprego dos fatores. Admitindo-se tais hipóteses, mais

moeda implica maior nível de preços. Grosso modo, esta é a teoria monetária

da inflação: emissão monetária causará tão-somente mais inflação.

A explicação intuitiva da TQM é simples: a economia (pessoas,

empresas, governo), com mais dinheiro em mão, desejará comprar mais.

Como já se está no nível máximo de produção, a pressão da demanda

apenas elevaria os preços.

Page 148: Barbosa 2010

146 C E D E R J

Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

Se relaxarmos um pouco a hipótese de a economia encontrar-se

no nível de pleno emprego dos fatores de produção (existe alguma

capacidade ociosa), pode-se admitir que a expansão monetária, de

alguma maneira, acabe resultando em elevação no nível de preços.

Nesses casos, suponha que haja uma estimativa de que a economia

vá crescer 5%. Se o governo aceitar uma taxa de inflação de até 10%,

de quanto ele teria de expandir a oferta monetária para permitir essas

previsões de crescimento econômico?

Pela TQM:

M V = P Y

A TQM, em termos de variação, pode ser dada por,

aproximadamente:

Você deve observar que , pois a V é constante por hipótese.

Portanto, a oferta monetária deverá crescer 15% para permitir o

crescimento econômico de 5%, dada a meta de inflação de 10%.

Você com mais dinheiro na mãoSuponha que o governo coloque mais dinheiro na economia, ou seja, que faça uma expansão monetária (o governo pode fazer a expansão monetária resgatando os títulos que vendeu anteriormente ou comprando ativos do público pagando em moeda). Você conseguiria argumentar como uma expansão monetária poderia aumentar a produção, em vez de apenas gerar inflação?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Atividade 4321

∆ = ∆ + ∆∆ = +∆ =

M P Y

M

M

% % %

, ,

,

0 1 0 05

0 15

Page 149: Barbosa 2010

C E D E R J 147

AU

LA 7

Resposta Comentada As pessoas que receberam o adicional de moeda irão ao mercado comprar mais bens e

serviços. Se os empresários podem atender ao aumento da demanda sem que tenham

novos custos e caso estejam com os estoques muito elevados, podem não se sentir

estimulados a aproveitar o acréscimo de demanda para aumentar preços. Quanto mais

capacidade ociosa e concorrência o mercado tiver, menos estímulos terão os empresários

a aumentar preços. Nesse ambiente econômico, é possível que a expansão monetária leve

ao crescimento da produção. Essa não foi tão fácil, concorda? Então cabe ressaltar que este

ponto constitui-se de um dos infindáveis debates da teoria econômica: a moeda pode ou

não elevar a produção?

DEMANDA POR MOEDA: TAXA REAL OU NOMINAL DE JUROS?

Como vimos, a taxa de juros tem relação inversa com a demanda

por moeda. Se a taxa de juros de um título financeiro (caderneta de

poupança, CDB etc.) aumenta, será mais vantajoso colocar ali o máximo

de dinheiro, visto que serão recebidos os generosos juros de tal aplicação.

Assim, a demanda por moeda tende a diminuir. De forma contrária, se

a taxa de juros cai, a remuneração dos títulos diminui, de maneira que

manter moeda em reserva não representará tanto uma perda.

Sabemos que o rendimento real de uma aplicação (título) é a taxa

real de juros, ou seja, é o que se ganha em termos de poder de compra com

o resultado da aplicação. Seria então a taxa real de juros a componente

que afeta a demanda por moeda?

A resposta é não. Veja um exemplo: suponha a inflação com taxa

mensal constante de 20%. A taxa de juros do CDB apresenta também

valor constante, mas de 30% ao mês. Se você manteve R$ 100,00

guardados em sua gaveta durante todo o mês, qual o custo de ter retido

essa importância?

Em primeiro lugar, cabe verificar a taxa nominal e a taxa real de

juros. A taxa nominal é de 30%. A taxa real será a nominal menos a

inflação, o que, nesse caso, resulta em 10%.

Qual dessas duas taxas influencia a demanda por moeda? Se você

tivesse aplicado em CDB, ganharia 10% de taxa real de juros, ou seja,

seu poder aquisitivo teria aumentado nesta taxa. Porém, esse não é o

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Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

custo total de se reter moeda. Se você não aplicou, perdeu o que ganharia

com a aplicação e também perdeu o que a moeda se desvalorizou com

a inflação. Mesmo que não houvesse qualquer aplicação, você perderia

20% do poder aquisitivo da moeda por tê-la guardada em casa.

Assim, a perda que representa o ato de manter moeda é composta

por duas parcelas: a taxa real de juros (o que se deixou de ganhar por

não ter aplicado) e a desvalorização da moeda no período (a taxa de

inflação). Logo, o custo de demandar moeda é composto por:

C = r + ∏ (8)

sendo:

r representa a taxa real de juros;

∏ representa a taxa de inflação;

C representa o custo de manter moeda.

Lembrando que a taxa real de juros é a taxa nominal descontada

a inflação, ou seja:

r = i - ∏ (9)

e combinando (9) e (8), temos:

C = i

Ou seja, o custo de reter a moeda é dado pela taxa nominal de

juros.

A taxa nominal de juros é, portanto, a taxa apropriada que

evidencia o custo de manter moeda, quando alternativamente poder-se-ia

estar aplicando em títulos. Quando dizemos que quanto maior a taxa

de juros menor deverá ser a demanda por moeda e que quanto menor

a taxa de juros, maior a demanda por moeda, estamos nos referindo à

taxa nominal de juros.

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LA 7

Dinheiro da noite para o dia

No Brasil, no final dos anos 1980, as taxas de juros nominais de aplicações financeiras eram altas tanto por conta da inflação quanto pela própria

necessidade de manterem-se juros reais elevados para manter os investidores aplicando nos títulos do governo. Nessa época, as pessoas poderiam aplicar

em curtíssimo prazo. Os bancos faziam aplicações ou resgates diários para seus clientes, o que era chamado de aplicações no overnight (aplicações da noite para o dia). Como os juros nominais eram elevados e era possível aplicar e resgatar a qualquer tempo, grande parte da população ia ao banco praticamente todos os dias. Naquela época, manter moeda no bolso era sinônimo de perda diária de riqueza. Como a inflação era muito elevada (chegava a 70% ao mês) e era fácil

aplicar e resgatar títulos, a demanda por moeda era muito baixa. Os bancos, então, percebendo que os saldos em conta corrente estavam baixos,

passaram a remunerar com juros os depósitos à vista. As taxas nominais eram tão altas que várias pessoas, além de procurar consumir o mínimo possível, até vendiam seus carros para aplicar no “over”

(ter o carro era deixar de ganhar os rendimentos que poderiam receber com a sua venda). Esse momento

na história econômica recente do Brasil ilustra como a taxa de juros nominal afeta a

demanda por moeda.

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Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

Cédula - em papel

Denominação Quantidade Valor

1,00 593.855.459 593.855.459,00

2,00 312.406.788 624.813.576,00

5,00 238.810.124 1.194.050.620,00

10,00 609.646.294 6.096.462.940,00

20,00 196.677.616 3.933.552.320,00

50,00 783.857.653 39.192.882.650,00

100,00 19.333.125 1.933.312.500,00

Total = 2.754.587.059 R$ 53.568.930.065,00

As cédulas e moedas metálicas em circulação (em poder do público

e da rede bancária) na data de 4 de julho de 2005.

Moeda – 1ª. família (inox)

Denominação Quantidade Valor

0,01 1.977.365.087 19.773.650,87

0,05 1.315.147.298 65.757.364,90

0,10 1.398.022.892 139.802.289,20

0,25 425.920.678 106.480.169,50

0,50 480.162.332 240.081.166,00

1,00 41.466.525 41.466.525,00

Total = 2.754.587.059 R$ 613.361.165,47

Moeda – 2ª. família

Denominação Quantidade Valor

0,01 1.168.942.947 11.689.429,47

0,05 1.041.623.481 52.081.174,05

0,10 1.109.644.844 110.964.484,40

0,25 575.521.191 143.880.297,75

0,50 380.834.189 190.417.094,50

1,00 341.181.307 341.181.307,00

Total = 4.617.747.959 R$ 850.213.787,17

Total da moeda circulante (exceto as comemorativas): a soma do

total de cada quadro.

Fonte: www.bcb.gov.br

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LA 7

CONCLUSÃO

Nesta aula, apresentamos os motivos e os custos de manter-se a

riqueza em forma de moeda. Você viu que a taxa nominal de juros e a

taxa de inflação são importantes elementos na determinação de quanto da

riqueza de um indivíduo será mantido em moeda. Uma maior ou menor

demanda por moeda implica efeitos de menor ou maior velocidade de

circulação da moeda. Você viu: mudanças na quantidade de moeda e/ou

na velocidade de circulação na economia podem causar alterações no

nível de preços de um país.

Endereços de portais sobre os bancos e a moeda:

www.ie.ufrj.br/moeda.

www.caringi.com.br/aberj/bancos.htm.

www.bcb.gov.br/pre/educação/cadernos.

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Análise Macroeconômica | A demanda por moeda

A velocidade da economia brasileira

Analise os seguintes dados:

a. O Banco Central do Brasil, em seus relatórios sobre o comportamento do sistema

monetário, define a velocidade–renda da moeda como a razão entre o PIB acumulado

de 12 meses (cotado pelo IGP-DI) e o saldo do total de meios de pagamento. Dessa

maneira, é extraída a velocidade-renda mês a mês, de fevereiro de 2002 a fevereiro

de 2005, o que é ilustrado pelo gráfico a seguir.

b. Em fevereiro de 2005, o saldo dos meios de pagamento (M) atingiu R$ 120,7

bilhões.

Agora, de posse dessas informações, faça uma interpretação da velocidade-renda no

Brasil e calcule o valor do PIB nominal no período

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Resposta Comentada A velocidade-renda dos meios de pagamento no Brasil durante os meses de fevereiro de 2002

a fevereiro de 2005 esteve dentro da faixa de 15 a 20 vezes, o que dá indicações de que o total

de moeda existente (tecnicamente denominado agregado monetário) circulou em média de 15

a 20 vezes no decorrer do período estimado (media móvel de 12 meses). Ao final de fevereiro

de 2005, a velocidade-renda (V) alcançou 15 vezes. O saldo dos meios de pagamento (M),

como já definimos, chegou a R$ 120,7 bilhões. Como a multiplicação entre M e V resulta

no PIB nominal, estima-se que este tenha sido de cerca de R$ 1,8 trilhão.

Atividades Finais

20

15

10

5

0

fev/02 ago fev/03 go fev/04 ago fev/05meses

Velocidade-renda

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LA 7

A demanda por moeda é justificada por três razões: transação, precaução

e especulação.

Os motivos de transação e precaução se explicam pelo fato da não-

coincidência e da incerteza entre os recebimentos e os pagamentos dos

bens e serviços de que as pessoas necessitam. A demanda por moeda por

motivo de transação e precaução depende positivamente do nível de renda.

Quanto mais alta a renda, mais elevada será a demanda por moeda, e

vice-versa.

A demanda por moeda por motivo de especulação é afetada pela relação

inversa com a taxa de juros. Quanto mais elevada a taxa de juros, menos

as pessoas desejarão reter moeda, pois a retenção de moeda não rende os

juros que alternativamente poder-se-iam ganhar, caso a riqueza estivesse

concentrada em títulos financeiros.

A demanda por moeda é uma demanda por encaixes reais, ou seja, as

pessoas não se importam com o valor expresso pela moeda e sim pelo seu

poder aquisitivo. Assim, a demanda por moeda não considera o fenômeno

da ilusão monetária.

A Teoria Quantitativa da Moeda revela que a quantidade de moeda

multiplicada pela sua taxa de circulação (velocidade-renda) é igual ao

valor das transações ou ao PIB nominal. Essa equação determina que uma

expansão na quantidade de moeda, mantida constante a velocidade-renda,

implica elevação no nível de preços, aumento na quantidade produzida ou

uma combinação dessas duas variáveis.

R E S U M O

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Análise Macroeconômica

Referências

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156 C E D E R J

Aula 1

DEU na mídia. Jornal Valor Econômico, São Paulo, p. A14; 18 dez. 2005.

FROYEN, Richard T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2001. 635 p. Cap. 1.

MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Campus, 1999. Cap. 1 .

SITES RECOMENDADOS

ECONOMIANET: pesquisas e conceito. Disponível em: <www.economiabr.net/economia>. Acesso em: 18 jul. 2006.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:

<www.ibge.gov.br>. Acesso em: 18 jul. 2006.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Disponível em:

<www.ipea.gov.br>. Acesso em: 18 jul. 2006.

Aula 2

LOPES, Luiz Martins; VASCONCELOS, Marco Antonio Sandoval (Orgs). Manual

de macroeconomia: nível básico e intermediário. São Paulo: Atlas, 1988. 388 p.

Aula 3

FUSFELD, Daniel. A era do economista. São Paulo: Saraiva, 2001. 356 p.

Aula 4

FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 630p.

Aula 5

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C E D E R J 157

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso

em: 5 jun. 2006.

SIMONSEM, Mário Henrique; CYSNE, Rubens Penha. Macroeconomia. São Paulo:

Atlas, 1995.

Aula 6

FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 630p.

Aula 7

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