Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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OS ESTUDOS AUTOBIOGRÁFICOS NA LITERATURA INFANTIL: ANÁLISES E REFLEXÕES DA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS PROFESSORES, CONTADORES DE HISTÓRIAS1
VENDRAME, Eliandra Cardoso dos Santos (UEM) PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira (Orientadora/UEM)
1 A arte de contar histórias
A contação de histórias é um dos recursos utilizados pelos homens, assim como
pelos professores, para reproduzirem a cultura e reinventá-la. Na Educação, por meio da
contação de histórias, os professores promovem às crianças a vivência da infância
através da fantasia e da promoção da imaginação. As histórias também auxiliam na
afetividade, nas expressões gestuais, motoras e culturais. Estes elementos possibilitam o
desenvolvimento infantil pleno.
O objetivo geral deste trabalho será apresentar a contribuição dos estudos
autobiográficos para análise da construção da identidade dos professores, contadores de
histórias. Dentre os objetivos específicos estão: apresentar as estratégias para contação
de histórias e compreender quem são os professores contadores de histórias. Os
fundamentos metodológicos desta pesquisa serão os estudos autobiográficos.
A contação de histórias nasceu com a humanidade. Ela permanece em nossa
sociedade e contribui para o processo de desenvolvimento da criança, isso pelo fato de
que, ao contar e recontar histórias da Literatura Infantil o professor, contador de
histórias, promove a mediação da linguagem, potencializa as interações e assegura o
desenvolvimento infantil. Essas atividades possibilitam as crianças interagirem com o
mundo da fantasia e dos símbolos, pois, através das histórias, elas apresentam suas
opiniões e sentimentos. Essas ações também permitem que elas possam compreender
melhor seus mundos e vivenciarem o exercício social da oralidade e da escrita.
A contação de histórias é uma prática importante para a promoção da leitura e
acesso a literatura. Os contadores precisam garantir o encantamento das crianças pela
descoberta do mundo literário e promover a elas, o processo de humanização.
1 Este artigo é parte de uma dissertação de mestrado em andamento do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá.
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Para contar histórias é preciso estratégias de mediação do professor, contador de
histórias. Para aqueles que se propõem a encantar pela leitura, literatura e arte de contar,
é necessário considerar que:
Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto e assim ela flui como uma canção... ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... É tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso, não é nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz. (ABRAMOVICH, 2009, p. 15)
Nesta perspectiva, a contação de histórias é uma ferramenta de promoção das
relações entre o universo literário e a promoção da criança humanizada. Para isso, é
preciso entender que a criança necessita ter acesso à literatura com qualidade de texto,
assim com qualidade nas ações dos contadores de histórias:
Para que o convívio do leitor com a literatura resulte efetivo, nessa aventura espiritual que é a literatura, muitos são os fatores em jogo. Entre os mais importantes está a necessária adequação dos textos às diversas etapas do desenvolvimento infantil/juvenil. (COELHO, 2000, p. 32).
A necessidade de conhecer a histórias e adequá-las ao desenvolvimento infantil é
fundamental, por isso, na ação do professor, contador de histórias, é preciso ter uma
seleção de histórias apropriadas e que sejam agradáveis as crianças.
Cabe ao professor que se dispõe a fazer uso da contação de histórias,
sistematizar, planejar, eleger conteúdos, a fim de que, com planejamento e ação
pedagógica, ele possa estimular e garantir o desenvolvimento da criatividade e
imaginação da criança. Quintiliano faz algumas orientações para os contadores de
histórias. Para Quintiliano apud Tahan (1961, p.10), as histórias precisam “instruir,
comover e agradar.”
É preciso pensar também que o processo de “sedução” do contador de histórias
não ocorre do dia para noite. Basta recordamos Sherazade e as mil e uma noites. De
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acordo com Gullar (2006, p.5) como se sabe: “A história das mil e uma noites é uma
reunião de fascinantes histórias inventadas e mantidas na tradição oral pelos povos da
Pérsia e Índia”. Através dos contos árabes de rainhas e sultões, gênios e monstros, lutas
e intrigas, em clima de magia e mistério, Scherazade conseguiu mudar seu destino, que
seria o de morrer após a noite de núpcias. Para que o professor, contador de histórias
tenha a mesma segurança que Sherazade demonstrou ao confiar no poder das suas
histórias para salvar a sua vida, eles precisam conhecer a si mesmos, conhecerem bem
as histórias que contarão e elaborarem estratégias dinâmicas e criativas.
Nesta pesquisa, optamos por descrever a construção da identidade dos
professores, contadores de histórias. A metodologia autobiográfica tem sido um
instrumento expressivo para a análise das práticas e construção da identidade dos
professores, contadores de histórias. A seguir descreveremos as características dos
estudos autobiográficos e suas contribuições para a educação.
2 Os estudos autobiográficos e a construção da identidade dos professores contadores de histórias
A metodologia autobiográfica nos permite a compreensão do sujeito professor
contador de histórias, a identificação do processo de conhecimento de si e a construção
de novos saberes. Esses estudos produzem o autoconhecimento e revelam o passado, e o
presente como marcas da trajetória que permitem a constituição dos professores,
contadores de histórias para poderem exercer com maior qualidade as suas ações
futuras. Sendo assim, a metodologia autobiográfica neste trabalho, justifica-se pelo fato
de que:
Entender as afinidades entre narrativas (auto) biográficas no processo de formação e auto formação é fundamental para relacioná-las com os processos constituintes da aprendizagem docente. Desta forma, as implicações pessoais e as marcas construídas na trajetória individual/coletiva, expressas nos relatos escritos, revelam aprendizagens da formação e sobre a profissão. (SOUZA, 2007, p. 4)
Na presença destes aspectos, os objetivos desses métodos da pesquisa estão
situados no desvendamento de estratégias de promoção de leitura, de escuta, de
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incentivo a participação nas histórias e humanização das crianças e dos contadores de
histórias. A contação de histórias, através das análises dos estudos e narrativas
autobiográficas, auxilia no desenvolvimento global dos professores, contadores, pois
considera as suas trajetórias de vida como processos de autoconhecimento e também, de
auto formação.
Quando descrevemos as narrativas autobiográficas, enfatizamos as maneiras
como os professores, contadores de histórias descrevem as suas trajetória de vida,
compreendem as construções de suas identidades e as transformações ocorridas ao
longo de suas histórias pessoais e profissionais:
O recurso à narrativa autobiográfica inscrevesse na idéia {sic} de que, ao narrarmos episódios com significado, os analisaremos de uma forma contextualizada, buscando que essa análise coloque em evidência emoções, experiências ou pequenos fatos marcantes, dos quais antes não nos tínhamos percebido (FREITAS e GALVÃO, 2007, p. 220).
A partir do entendimento de como esse processo ocorre, faz-se necessário
sistematizar as vivências dos professores, contadores de histórias para a compreensão da
contribuição das mesmas nas suas atuações. É preciso considerar também que há uma
satisfação imensurável nas contações, pois ao mesmo tempo em que os professores
contadores de histórias narram, eles descobrem o que as memórias representam nas suas
formações como sujeitos. De acordo com Josso (2010, p.38) “É porque nos
identificamos com nossas experiências, que nos fixamos nela.”
As descrições dos professores, contadores de histórias tratam de vivências
relacionadas às suas trajetórias de vida e profissão, das experiências registradas que
possibilitam a estruturação dos conhecimentos e dos modos com os quais eles
compreendem o mundo, a cultura e as mediações com os educandos e com os
espectadores das histórias.
Para Josso (2010) a experiência é uma vivência que recebeu um trabalho de
reflexão, sobre o que as pessoas passaram, os fenômenos que observaram, que
perceberam ao longo de suas vidas para lhes dar sentido.
Na possibilidade de narrar as vivências com intencionalidade, os estudos
autobiográficos buscam a solução da problemática anunciada na pesquisa. Essa
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perspectiva defende o conhecimento de si mesmo para o seu agir no mundo. Ao
considerar que, na formação dos professores, o pensar e o agir sobre o mundo
necessitam de reflexões constantes, Souza (2006, p. 98) propõe que:
Através da narrativa (auto)biográfica da vivência escolar torna-se possível desvendar modelos e princípios que estruturam discursos pedagógicos que compõem o agir e o pensar da professora em formação. Isto porque o ato de lembrar e narrar possibilita ao ator reconstruir experiências, refletir sobre dispositivos formativos e criar espaço para uma compreensão da sua própria prática.
A formação do professor, contador de histórias necessita de sentidos. A partir
destes aspectos, os estudos autobiográficos nos fizeram refletir sobre a temporalidade
das vivências dos sujeitos e aspectos de suas histórias. Desta modo, surgiram as
questões norteadores deste trabalhos: Quem são os professores, contadores de histórias?
Como se tornaram professores, contadores de histórias? Quais as estratégias utilizadas
para a contação de histórias? Quais os fundamentos teóricos utilizados para
sistematização de seus trabalhos? Como as histórias pessoais contribuíram para a
formação das suas identidades?
A partir desses questionamentos surgiram reflexões sobre a construção da
identidade dos professores, contadores de histórias.
3 A história de vida na construção da identidade do professor contador de histórias
O resgate de histórias de vida oportuniza e permite aos professores, contadores
de histórias, proferirem biografias e histórias. Nos estudos autobiográficos os aspectos
subjetivos e os aspectos sociais estão integrados. Quando as pessoas enfrentam
situações diversas, tanto de opressão, como também de afetividade, as quais lhe são
proporcionadas no seu dia a dia, essas experiências são transformadas em situações de
imaginação, de luta, de acatamento, de resistência, de ressignificação e criação.
Ao trazer à tona a história de vida do professor, contador de histórias, a
perspectiva teórico metodológica dos estudos autobiográficos, contribui para que o
professor entenda que a sua formação acadêmica é parte significativa de suas
experiências e da construção de sua identidade. Ele compreende também que a sua
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formação vai além da formação acadêmica. Essa formação ocorre desde a sua infância,
através das suas experiências. Conforme sugere Vasconcelos (2000, p. 12) a identidade
vai se:
forjando com múltiplos fios – relações familiares, de classes, condições de gênero, características relativas à idade, etnia, religiosidade, cidadania e outros -, cada um deles matizado de anseios, limites, rupturas e possibilidades.
Nesta condição, consideramos que a identidade do professor, contador de
histórias, está recheada de vivências. Quando pensamos no contador de histórias é
necessário pensar a relação que das histórias com a literatura e a arte. Podemos pensar
essa relação nas palavras de Coelho:
Literatura é arte e, como tal, as relações de aprendizagem e vivência, que se estabelecem entre ela e o indivíduo, são fundamentais para que este alcance sua formação integral (sua consciência do eu + o outro + mundo, em harmonia dinâmica) (COELHO, 2000, p. 10 - grifos do autor).
A identidade do professor, contador de histórias é um processo gradual que se
constrói a partir de experiências significativas com a literatura. Essa relação tem um
aspecto particular quando estamos tecendo fios a respeito da consciência de si, da
convivência com o outro e assim, manifestamos nossa compreensão de mundo.
Na revisão de literatura, encontramos os seguintes estudos autobiográficos de
professores, contadores de histórias: os escritos de Gomes (2012) “Cantares e contares:
brincadeiras faladas”; Yunes (2012) “Contar para ler”; Leite (2012) “Mala de
leitura”; Matos (2012) “Mergulhados em beleza”; Díaz (2012) “Uma vida de conto”;
Moraes (2012) “A voz do matuto”. Nessas obras encontramos referências sobre o papel
da literatura oral para a construção da identidade destas pessoas.
Para Bergamini (2011) a literatura oral é um conceito criado no final do século
XIX pelo francês Paul Sébillot. Nesta época, ele procurava diferenciar a literatura
escrita da literatura oral. Ou seja, a literatura oral, para o autor, se perpetuou na história
da humanidade por meio das vozes dos contadores de história, que eram pessoas que
não liam e não escreviam, mas contavam histórias como se estivessem fazendo arte.
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As vozes dos contadores de histórias na literatura oral permitem a construção da
consciência de si, o reconhecimento da importância do uso da tradição oral de geração
para geração, assim como de outras finalidades. Diante disso:
O conto de literatura oral serve a muitos propósitos, a começar pela formação psicológica, intelectual e espiritual do ser humano. Através do conto podemos valorizar as diferenças entre os grupos étnicos, culturais e religiosos, e introduzir conceitos éticos. O conto pode ser o estimulo que dará origem a estas e muitas outras reflexões. Serve também como elemento integrador de um trabalho em sala de aula, onde as diferentes áreas de conhecimento podem ser abordadas e pesquisadas. (BUSATTO, 2011, p. 37)
A diversidade cultural expressa através da literatura e a abordagem de diferentes
etnias permite que, através de diferentes histórias, as pessoas elaborem processos de
significação das suas histórias pessoais. Na busca por essa identidade, a relação com a
narrativa de histórias apresenta uma natureza indissociável com três elementos que
Moraes (2012, p. 15) define como: “a história, o narrador e o ouvinte.” Para ele, a
história é o texto a ser contado e pode ser produzida na forma oral ou originalmente
escrita, mas que será contada. O narrador e o contador de histórias são agentes que
produzem ou reproduzem o texto. O ouvinte é aquele que se dispõe a receber o texto
oral. (MORAES, 2012).
A relação estabelecida entre a tríade: história, contador de histórias e ouvinte,
passa a ser uma ação criativa que permite o original sempre, já que o contador de
histórias ao recontar uma mesma história, a um mesmo ouvinte tem diferentes
momentos de experiência que permitem o encantamento do ouvir.
Conforme propõe Josso (2010) as histórias de nossa infância são elementos de
aprendizagens que demonstram que o ser humano é capaz de criar as histórias que
representam as nossas concepções sobre a vida.
Ao longo da sua trajetória o professor, contador de histórias, através da literatura
oral, da leitura de livros, dos cursos de formação de contações de histórias e de sua
formação universitária, ele aprende a construir estratégias para contar histórias. A seguir
descreveremos algumas destas estratégias.
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4 O professor, contador de história e as estratégias para contar e encantar
Os adultos e crianças demostram com igual prazer, encantamento e curiosidade
quando são estimulados pelo poder de sedução de lindas histórias. Existem várias
estratégias de contação de histórias para que os professores, contadores possam fazer
uso destes recursos em suas ações pedagógicas, ou em diferentes ambientes que
extrapolam os espaços escolares.
Para isso é preciso conhecer as formas de apresentação das histórias. Coelho,
(1997, p.50) propõe que:
Contar histórias é uma arte, por conseguinte requer certa tendência inata, uma predisposição, latente. Aliás em todo educador, em toda pessoa que se propõe a lidar com crianças, além do conjunto de técnicas que a didática ensina, há determinadas qualidades que contribuem para a eclosão desse talento e podem ser estimuladas, desenvolvidas.
Na convicção de que contar histórias é uma arte que pode ser desenvolvida e
estimulada, estes elementos permitem várias definições a respeito da questão: quem é o
contador de histórias? Na introdução do livro “Contar e Encantar: pequenos segredos da
narrativa” de Busatto (2011), a autora nos apresenta “O Manifesto do Contador de
Histórias”. Ela descreve que:
O contador de histórias cria imagens no ar materializando o verbo e transformando-se ele próprio nesta matéria fluida que é a palavra. O contador de histórias empresta seu corpo, sua voz e seus afetos ao texto que ele narra, e o texto deixa de ser signo para se tornar significado. O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o tempo nos apresentando um outro tempo. O contador de histórias, como um mágico faz aparecer o inexistente, e nos convence que aquilo existe. O contador de histórias atua muito próximo da essência, e essência vem a ser tudo aquilo que não se aprende, aquilo que é por si só. (BUSATTO, 2011, p. 9 – grifo nosso)
Ao contar uma história, o professor, contador de histórias tem a possibilidade de
se sentir em outro tempo. É como se os sonhos se apresentassem pelas palavras que
embalam a contação, por este motivo o grifo no Manifesto. Esse grifo completa as
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palavras de Matos (2014, p. 01): “Os contadores de histórias são guardiões de tesouros
feitos de palavras, que ensinam a compreender o mundo e a si mesmos. Eles semeiam
sonhos e esperança.” Esses aspectos são essenciais ao ofício dos contadores de histórias.
Para Tahan (1961) o contador de histórias necessita de nove qualidades e
características que o tornam perfeito, são elas: 1ª Sentir a história e vivenciar com
entusiasmo; 2ª narrar com naturalidade; 3ª conhecer o enredo; 4ª dominar o auditório; 5ª
contar dramaticamente, sem exageros; 6ª falar com voz adequada, clara e agradável; 7ª
evitar e corrigir os defeitos da dicção; 8ª ser moderado nos gestos e 9ª Se emocionar
com a própria narrativa.
As considerações apresentadas nas ideias de Yunes (2012), Busatto (2011),
Matos (2014) e Tahan (1961), respondem quem é o professor contador de histórias, que
poderíamos definir como o socializador/mediador o qual apresenta as suas vivências e
nos leva a sonhar em tempos imaginários. Ele compartilha as belezas da vida que são
“tesouros” oriundos de palavras, e estas, permitem entender o que nos rodeia e a
construção da identidade, através da utilização de sutilezas que são apresentadas ao
ouvinte com todas as possibilidades.
Nas investigações a respeito da contação de histórias e busca pelo contar com
entusiasmo e encantamento, temos contribuições importantes de Sisto (2005) em
“Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias” que auxilia a compreender o
processo de construção da identidade do contador de histórias.
Sisto (2005) considera várias estratégias e aspectos que são fundamentais para os
contadores de histórias. Dentre esses aspectos estão: a emoção, a seleção dos textos e as
adequações as idades. No que diz respeito às atitudes corporais utilizadas na contação os
gestos, ele diferencia três tipos de gestos: ilustrativos, enfáticos e sintéticos. Outros
elementos também são apontados por ele como estratégicos: as entonações das vozes, a
forma do olhar, a espontaneidade, o ritmo, o clima, a memória, a credibilidade, as
pausas e silêncios, assim como os elementos estéticos.
Estes aspectos citados são fontes de apoio ao professor, contador de histórias.
Ao apresentar esses treze elementos, Sisto (2005) considera que eles são importantes
para a formação do professor, contador de histórias, e, ao mesmo tempo, nos fazem
compreender que a história envolve o ouvinte e o contador de histórias e desperta a
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emoção. Estes elementos na relação contador e ouvinte permitem que a história adquira
vida.
A história contada não é apenas a fala, é também o ler o texto. Ela é repleta de
significados que são atribuídos: a emoção, o texto, a adequação, o gesto ilustrativo, a
voz, o olhar, a espontaneidade, a naturalidade, o ritmo, o clima, a memória, a
credibilidade, as pausas e silêncios e o elemento estético. O encantamento pela história
está na reunião harmoniosa de todos estes elementos.
A contação de histórias é uma relação direta com o ouvinte, e essa relação é
essencial para o contador de histórias, visto que “O conto é a arte da relação entre
contador e seu auditório. É através dessa relação que o conto vai adquirindo seus
matizes, suas nuances” (MATOS e SORSY, 2009, p. 8). É necessário considerar que
ouvir histórias é importante no desenvolvimento global da criança. Quando pensamos
na contribuição que contar oportuniza ao desenvolvimento, podemos compartilhar o que
nos diz Abramovich (2009, p.18):
Ouvir histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... O livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é (ou pode ser) ampliadora de referenciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a ser resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma boa história provoca... (desde que seja boa).
É nesta certeza de que há todo este encantamento, que o contar e ouvir histórias
está envolvido em criar e recriar o mundo. Juntos, contador e ouvinte, percorrem esses
caminhos. Quando conta uma história, o contador compartilha sonhos e muitas vezes
experiências. Ele se apropria dos sonhos de um personagem e faz deles os seus próprios
sonhos. Assim, ele pode oferecer aos ouvintes a sedução de uma história contada.
A partir dessa articulação das estratégias de contação de histórias, é preciso
compreender também como são selecionados os livros, e quem são os professores,
contadores de histórias e para quem eles contam?
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5. Leituras e possibilidades do que contar e para quem contar
Da Educação Infantil ao Ensino Superior, as histórias têm se tornado um
instrumento dinâmico na docência e essa ação requer que sejam levados em conta os
interesses característicos de cada faixa etária.
Ao considerar o indicativo de faixa etária, com base nos estudos de (COELHO,
1997, p. 15) e chegamos a seguinte relação de faixa etária e interesse com as crianças:
pré-escolares e escolares.
Na etapa pré-escolar apresentam-se duas fases: a pré-mágica (até 3 anos) e a
mágica (3 a 6 anos). Na fase pré-mágica, as histórias necessitam de enredo simples,
vivo e atraente, nas quais as situações estejam relacionadas às vivências das crianças.
Esta fase vai até os três anos e as histórias que são bem sucedidas, apresentam ritmo,
repetição e música. As histórias de animais, objetos, seres da natureza que possuem
características humanas (exemplo a fala), histórias de crianças e histórias com objetos
sonoros (exemplo cascas de coco), são muito atraentes para as crianças pequenas.
De acordo com Matos e Sorsy, (2009, p. 40) os contos curtos são ideais, visto
que a concentração neste processo de desenvolvimento ainda não é muito desenvolvida.
As crianças desta fase se sentem atraídas por situações e fatos concretos.
Na fase mágica o pensamento é curioso e fantástico. As histórias são ouvidas
com interesse e encanto. Nesta etapa, a criança quer sempre ouvir a mesma história
repetida vezes. Para elas, podemos contar histórias de fadas, histórias de repetição e
histórias acumulativas.
Na etapa escolar, a qual corresponde às idades de 7 a 10 anos, as crianças têm
interesse por histórias de encantamento e enredos com príncipes e princesas. As lendas e
fábulas são bem sucedidas, pois as crianças nessa fase passam a apresentar o senso
crítico na busca pela compreensão de seus significados. Para elas podemos contar:
histórias de crianças, histórias de animais e encantamento; histórias de aventuras no
ambiente próximo, histórias de família, de comunidades; histórias de fadas com enredo
mais elaborado; histórias humorísticas e vinculadas à realidade; narrativas de viagens,
explorações, invenções; assim como fábulas, mitos e lendas; contos de fantasmas e de
assombrações.
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Para Matos e Sorsy (2009, p. 48) as histórias que envolvem resoluções de
problemas são de interesse dos adolescentes. As histórias que discutem a amizade, o
amor, a sabedoria e os mitos, são bem aceitas pelo público jovem.
A relação faixa etária e interesse que sugerimos neste estudo não pode ser rígida.
É necessário que o professor, contador de histórias esteja atento ao grupo de ouvintes
para assim identificar os interesses das crianças, dos jovens e dos adultos.
Na busca por responder as questões: O que contar? Para quem contar?
pesquisamos o que o Ministério da Educação (MEC) tem oferecido para as crianças em
espaços escolares destinados à Educação Infantil no que diz respeito a indicações e
programas de incentivo à leitura. Encontramos o Programa Nacional Biblioteca da
Escola (PNBE), que teve início no ano de 1997. De acordo com o site do PNBE:
O Programa Nacional Biblioteca da Escola tem o objetivo de promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência. O atendimento é feito em anos alternados: em um ano são contempladas as escolas de Educação Infantil, de Ensino Fundamental (anos iniciais) e de Educação de Jovens e Adultos. Já no ano seguinte são atendidas as escolas de Ensino Fundamental (anos finais) e de Ensino Médio. Hoje, o programa atende de forma universal e gratuita todas as escolas públicas de Educação Básica cadastradas no Censo Escolar. (BRASIL, 2015, p.01)
O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) tem, portanto, oferecido aos
espaços escolares um acervo literário pensado em cada etapa da Educação Básica2 e
permite aos educandos e professores o acesso à cultura escrita.
Conforme propõe o catálogo “Literatura na Infância: imagens e Palavras”,
(BRASIL, 2008) o programa PNBE é executado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pela Secretaria de Educação Básica do
Ministério da Educação (SEB/MEC).
Para Paiva e Soares (2008, p. 13) neste programa, foram incluídos nos acervos
destinados a Educação Infantil, livros das categorias: Prosa, que corresponde a 2 Conforme a Lei de Diretrizes e bases da Educação em seu Título V que trata dos níveis e das modalidades de Educação e Ensino, no capítulo I, da composição dos níveis escolares, artigo 21. A educação básica, é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. (BRASIL, 1996).
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pequenas histórias, novelas, contos, crônicas, textos de dramaturgia, memórias,
biografias. Os livros da categoria verso tratam de poemas, quadras, parlendas, cantigas,
trava línguas, adivinhas. E os livros da categoria imagem, trazem livros de imagens e
livros de histórias em quadrinhos para que as crianças possam vivenciar diferentes
gêneros textuais e desenvolverem conceitos, conhecimentos e habilidades referentes a
cada gênero textual presentes nos acervos.
Os livros foram selecionados mediante três critérios de qualidade: “Textual,
temática e gráfica”. O PNBE (BRASIL, 2008) foi composto por esses três acervos
destinados a Educação Infantil. Os livros selecionados para os acervos foram avaliados
pelos professores pesquisadores: Ligia Cademartori, Rildo Cosson e Hércules
Tolêdoestes. De acordo com Paiva e Soares (2008) esta equipe, por sua grande
experiência na área de leitura e literatura, fizeram dos acervos instrumentos ricos ao
encantamento do mundo das histórias.
Cada acervo é composto por vinte livros. No que refere ao PNBE (BRASIL,
2014) atual programa, o documento: “PNBE na escola: literatura fora da caixa”, trata-
se de um guia de apoio que possibilita aos professores conhecerem os acervos e indicam
orientações para o uso do acervo nos espaços escolares e extraescolares. Eles também
possibilitam o empréstimo dos livros para as crianças que frequentam a instituição de
Educação Infantil e também seus familiares.
No acervo atual foi ampliada a quantidade de livros de 20 (vinte) para 25 (vinte
e cinco) livros por acervo. Foram criadas quatro categorias para organizar os acervos.
Estas categorias são:
Categoria 1: Para as instituições de Educação Infantil que atendem creche foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras. Categoria 2: Para as instituições de Educação Infantil que atendem pré-escola foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras. Categoria 3: Para as escolas que oferecem os anos iniciais do ensino fundamental foram formados 4 (quatro) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 100 (cem) obras. Categoria 4: Para as escolas que oferecem educação de jovens e adultos foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras. (BRASIL, 2014, p. 8).
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Com base nessas categorias, os professores tem acesso a 100 (cem) obras
destinadas pelo Ministério da Educação (MEC), para a Educação Infantil. São 100
(cem) obras destinadas pelo Ministério da Educação (MEC), para o Ensino Fundamental
e Séries Iniciais e 50 (Cinquenta) obras destinadas a Educação de jovens e adultos.
Uma vez feita à escolha da história que será contada é preciso que os professores
contadores de histórias estudem a mesma. Para Coelho (1997) não se trata de decorar o
texto, palavra por palavra, mas sim de encontrar possibilidades e estratégias para
explorar a narrativa, para familiarizar o ouvinte com o contexto da história contada.
Acreditamos que com esses programas de incentivo à leitura possam ser
oferecidas estratégias e ações que auxiliem interessados em contações de histórias a
responderem dúvidas como, por exemplo: Que tipo de história contar para crianças de 0
a 3 anos, crianças de 4 a 6 anos, ou para adolescentes e adultos?
O incentivo às famílias por meio de projetos que as crianças possam levar
leituras de diferentes gêneros para casa são também possibilidades de promover o
acesso a leitura, ao gosto pela escuta da história que chega até o ouvinte por meio de
palavras contadas e por textos diversos os quais oportunizam momentos de
encantamento e imaginação.
Palavras Finais.
Neste trabalho buscamos apresentar a contribuição dos estudos autobiográficos
como análise para a construção da identidade dos professores, contadores de histórias.
Durante a pesquisa foi possível considerar que a identidade dos professores, contadores
de história quando pensada na perspectiva dos estudos autobiográficos, permite o olhar
sobre a prática, em especial no processo de auto-formação e de construção identitária do
professor contador de histórias.
Alguns elementos são importantes na formação e construção da identidade
como: a identificação e o estudo das estratégias para a contação de histórias. Estes
aspectos permitem entender e estimular a busca por mecanismos que fazem do
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professor, contador de histórias, um mediador da cultura, da arte e da oralidade
proferida por meio da contação de histórias.
A identidade relaciona “múltiplos fios” das pessoas, das vivências de suas
histórias as quais nos fazem pensar essa relação da arte e da cultura que o contar
histórias permite. Na relação de formação/construção da identidade com a consciência
de si, convivência com o outro e no modo como compreendemos o mundo ao qual
pertencemos é que construímos a nossa identidade.
A resposta para quem é o professor, contador de histórias é algo que necessita de
análise, reflexões constantes e aprofundamento teórico. Na busca por conceituar quem
são os professores, contadores de histórias, consideramos que eles são socializadores e
mediadores da cultura, de conhecimentos literários, de múltiplas aprendizagens e
emoções.
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